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Teste Nº2

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Teste Nº2

Contemplo o lago mudo


Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece.

O lago nada me diz,


Não sinto a brisa mexê-lo.
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.

Trémulos vincos risonhos


Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
A minha única vida?

Fernando Pessoa, Poesia do Eu (edição de Richard Zenith),


Porto, Assírio & Alvim, 2014, pp. 204-205

1. Comprove que o “lago” é o ponto de partida para uma análise introspetiva,


levada a cabo pelo sujeito poético.
R: É ao observar o lago, a realidade concreta, que o sujeito se evade através do
pensamento e inicia uma reflexão de natureza existencial. Questiona a maneira
de ser feliz e a irrealização dos sonhos nos quais fundamentou a sua vida e,
portanto, não viveu porque a construiu com base nos sonhos. Esta ideia
percebesse nos dois últimos versos (“Por que fiz eu dos sonhos / A minha única
vida?”) que formam uma espécie de lamento e de autorreprovação. Por isso,
mesmo inserido numa realidade física concreta, o “eu” não encontra aquilo que o
motive e o faça sair da angústia existencial em que vive. Por isso lamenta o ter
vivido uma vida fundada em sonhos.

2. Explicite de que modo se podem articular as temáticas “sonho e realidade”


e “a dor de pensar”.
R: Logo na primeira quadra surgem duas realidades distintas: a do lago (física e
concreta) e a do “eu” que pensa, sendo esta a sobrepor-se à primeira, uma vez
que afirma “Não sei se penso em tudo / Ou se tudo me esquece”, onde
claramente se percebe que o pensamento perturba a razão e os sentimentos,
facto que remete para a dor de pensar. Já na última estrofe, o destaco é para
o sonho, expressando a ideia de que a vida do sujeito poético foi feita de
sonhos que o impediram de viver: a realidade acabou por conflituar com o
sonho, fazendo com que os sentimentos disfóricos se apossassem deste “eu”
que revela desconforto, tristeza e angústia por não saber viver

3. Evidencie o recurso à personificação e explique a sua expressividade.


R: A personificação é visível em vários versos já que são atribuídas
características humanas ao lago, à brisa e à água. Assim, expressões como “o
lago mudo” (v. 1), “uma brisa que estremece” (v. 2) ou “água adormecida” (v. 10)
são ilustrativos deste recurso expressivo, sugerindo o modo como o sujeito
poético perceciona a realidade física que o rodeia. Ao mesmo tempo, permite
perceber o alheamento dos elementos naturais face ao estado de espírito do
“eu”, parecendo até contribuir para acentuar ainda mais o negativismo que o
domina.

Ainda o apanhamos!

O suplemento Atual do último Expresso traz um artigo extremamente interessante


de Carlos Reis, intitulado “Os Maias depois de Eça”. Carlos Reis é, sem dúvida, um
dos maiores especialistas contemporâneos da obra de Eça de Queirós e coordena a
edição crítica das suas obras, em curso na Imprensa Nacional – Casa da Moeda,
sendo autor de vários textos definitivos sobre o romancista.
O propósito evidente do artigo é o de “legitimar” (o que talvez não fosse tão
necessário quanto isso...) a iniciativa que o Expresso tomou ao convidar seis
notáveis autores a escreverem uma “continuação” do romance queirosiano até 1973,
ano da fundação do semanário.
A questão fulcral parece ser a de saber se Os Maias são um romance
“definitivamente ‘fechado’” e o que é que explica a sua fulgurante permanência no
cânone, para além de leituras mais ou menos superficiais a que a obra foi dando
lugar durante mais de cem anos. E Carlos Reis afirma que “Os Maias parecem ter
sido escritos para serem continuados”, apontando passagens que poderiam indiciá-
lo e vendo em Carlos Fradique Mendes, na esteira de António José Saraiva, a
consubstanciação de um prolongamento de Carlos da Maia.
Sem estar inteiramente de acordo com Carlos Reis, acho que a ideia de propor a
continuação da obra de Eça constitui um desafio interessantíssimo quer para os
autores quer para os leitores. Não estou inteiramente de acordo com o professor
de Coimbra porque, na última página do romance, a célebre exclamação de Carlos da
Maia e de João da Ega, “– Ainda o apanhamos!”, enquanto se esfalfam a correr para
o americano, de modo a não faltarem ao jantar combinado no Bragança, não
envolve apenas o desmentido da conversa que eles acabam de ter sobre a falta de
sentido de qualquer esforço: reduz também a tragédia amorosa e familiar por que
Carlos passou a uma mera trivialidade e está nisso uma poderosa manifestação,
tanto da ironia de Eça, como do cinismo comportamental que ele confere a essas
duas personagens.
Ora, partindo desta leitura, parece-me que seria difícil conceber uma continuação,
não obstante a obra parecer suficientemente “aberta” ... Todavia, nada há que a
impeça: a ideia em si é aliciante e há precedentes ficcionais com Os Maias e outras
obras de Eça, sem falar em adaptações ao teatro e ao cinema: por exemplo, em
Madame, Maria Velho da Costa põe em cena Maria Eduarda, personagem de Eça, e
Capitu, personagem de Machado de Assis, ocorrendo-me também, embora
neste caso sem relação direta com Os Maias, o romance Nação Crioula, de José
Eduardo Agualusa, que em 1997 “prolonga” a correspondência de Fradique Mendes,
fazendo-o reviver e escrever em exóticas paragens.
Vasco Graça Moura, in DN, edição online de 31 de julho de 2013

1. O texto tem marcas de (D)


(A) exposição sobre um tema.
(B) discurso político.
(C) memórias.
(D) artigo de opinião.

2. A ideia de dar continuação a Os Maias (A)


(A) merece algumas reservas a Vasco Graça Moura.
(B) foi do professor Carlos Reis e de mais seis autores.
(C) entusiasmou o autor do texto e os envolvidos na iniciativa.
(D) nasceu da natureza do romance, já que a obra é aberta.

3. Para o autor do texto parece difícil dar continuidade a Os Maias (B)


(A) recordando adaptações falhadas do romance.
(B) embora acabe por aceitar essa possibilidade.
(C) porque a forma como termina é conclusiva.
(D) dada a inexistência de outros finais ficcionais.

4. Os processos fonológicos que se verificam na evolução de opera para “obra” (l. 3)


são (B)
(A) prótese e epêntese.
(B) síncope e sonorização.
(C) crase e apócope.
(D) dissimilação e sinérese.
5. O termo sublinhado em “saber se os Maias” classifica-se como (B)
(A) conjunção subordinativa condicional.
(B) conjunção subordinativa completiva.
(C) pronome possessivo.
(D) pronome pessoal.

6. Ao utilizar o nome “Carlos Reis” (l. 14) e “o professor de Coimbra” (l. 16), o autor
assegura a coesão (C)
(A) interfrásica.
(B) temporal.
(C) lexical.
(D) frásica.

7. A utilização das aspas em “Ainda o apanhamos” (l. 17), justifica-se por se tratar
de uma (A)
(A) citação.
(B) opinião de um autor do texto.
(C) frase em discurso indireto livre.
(D) frase em discurso direto.

8. Classifique, delimitando, as orações presentes em “que a ideia de propor a


continuação da obra de Eça constitui um desafio interessantíssimo” (ll. 14-
15).
R: “que a ideia / de propor a continuação da obra de Eça/ constitui um desafio
interessantíssimo” são ambas subordinadas substantivas completivas.

9. Indique o referente do pronome pessoal presente em “Todavia, nada há que


a impeça” (l. 24).
R: O pronome pessoal “a” refere-se a “uma continuação”.

10. Identifique a função sintática do constituinte sublinhado em “põe em cena


Maria Eduarda” (l. 26).
R: Complemento oblíquo.
GRUPO III
Tal como Vasco Graça Moura reconhece, são muitas as adaptações
cinematográficas ou teatrais de obras literárias.
Num texto de opinião, de 170 a 250 palavras, refira-se à importância ou à
transgressão decorrentes dessas adaptações, utilizando, no mínimo, dois
argumentos e, pelo menos, um exemplo significativo, para cada um deles, de modo a
defender convenientemente o seu ponto de vista.

Introdução – Tendência para adaptações de obras literárias e razões subjacentes

1º argumento: vantagens das adaptações – contacto mais aliciante e motivador

Exemplo: versão cinematográfica e teatral de Os Maias para o público escolar

2º argumento: desvantagens decorrentes das adaptações – alteração do conteúdo e


consequente interpretação errada

Exemplo: a novela brasileira baseada no romance queirosiano ou a versão


cinematográfica de A tempestade

Conclusão – Os aspetos ficcionais ou a fidelidade à obra não reduzem o valor à


obra, mesmo que adaptada.

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