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A Casa Que Os Maias Vieram Habitar em Lisboa

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A casa que os Maias vieram habitar em Lisboa, no

outono de 1875, era conhecida na vizinhana da rua de


S. Francisco de Paula, e em todo o bairro das Janelas
Verdes, pela casa do Ramalhete ou simplesmente o
Ramalhete.
In Os Maias, 1888

Lisboa, Rua das Janelas Verdes - princpios do sc. XX


A. desc., [ca 1903]. - 1 fotografia : p&b
AML - ARQ. FOT. A242

O Ramalhete est simbolicamente ligado decadncia moral do Portugal da


Regenerao. O ramo de girassis que ornamenta a casa simboliza a atitude do
amante que, como um girassol, se vira continuamente para olhar o ser amado;
girando sempre, numa atitude de submisso e de fidelidade para com o ser
amado, o girassol associa-se incapacidade de ultrapassar a paixo e a falta de
recetividade do ser amado, ligando-se assim a Pedro e a Carlos. Os mveis do
escritrio de Afonso esto cobertos de panos brancos que so comparados a
mortalhas com que se envolvem cadveres, prenunciam j a morte que se
abater na famlia Maia. Concentra em si o peso da fatalidade familiar que lhe foi

atribuda por Vilaa num relatrio sobre a casa que enviou a Afonso, o qual se riu
da observao; mas de facto l que morre Pedro na sequncia do abandono de
Maria Monforte e l tambm que Afonso vai morrer de desgosto aps descobrir o
incesto dos netos.
O jardim do Ramalhete rico em simbologias. Numa primeira e ltima fases,
este espao evidencia a tristeza e o abandono e, na desolao do jardim,
sobressaem trs smbolos do amor puro e imortal. O cipreste (smbolo da morte) e
o cedro (smbolo do envelhecimento), unidos entre si por laos quase mticos que
se perdem nos anais da mitologia grega, inseparveis em vida, envolvidos num
amor puro e forte e cuja recompensa foi a unio incorruptvel das suas razes,
que a tudo resistem, emblematizando o Amor Absoluto; podendo ainda estar
ligados ao mundo romntico por serem rvores de cemitrio conotadas com a
morte, acabam por simbolizar duas personagens romnticas mas que na teoria, se
dizem realistas e que no final da obra ficam to ss como estas duas rvores:
Carlos e Ega. Velada por este par imortal, encontramos Vnus Citereia, deusa do
amor, ligada seduo e volpia, liga-se igualmente s trs fases do Ramalhete:
numa primeira fase relaciona-se com a morte de Pedro enegrecendo a um
canto; numa segunda fase, e aps a remodelao, aparece em todo o seu
esplendor simbolizando a ressurreio da famlia para uma vida feliz e harmnica
(a sua recuperao coincide com o aparecimento de Maria Eduarda), deixando
adivinhar prenncios de uma desgraa futura, enquanto smbolo da feminilidade
perversa; na terceira e ltima fase, enquanto smbolo do Amor e do Feminino,
aparece aos nossos olhos coberta de ferrugem, simbologia negativa, assumindose como duplo de Maria Eduarda, ltimo elemento feminino que, atravs do amor,
destruiu para sempre a frgil harmonia da famlia Maia. O facto de a esttua ser
de mrmore simboliza o universo clssico, numa ntida tentativa de relembrar a
tragdia clssica; por outro lado, o mrmore liga-se ao cemitrio por ser frio
como a morte e por ser o material usado nas campas. A cascata , na tradio
judaico-crist, smbolo de regenerao e de purificao; cheia de gua, conota-se
com o choro, com as lgrimas, num ntido prenncio da tristeza que se abatera
sobre os Maias; como numa clepsidra, a gua fluir gota a gota, marcando a
passagem inexorvel do tempo e, acentuando melancolicamente, o implacvel
Destino d Os Maias, condenados ao desaparecimento, aps a doura ilusria de
um instante que durou dois anos.

Pginas 171 - 175 do manual Aula Viva, Vol. I

Publicada por Fernanda Reis (s) 11:41 Sem comentrios:

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Etiquetas: EA DE QUEIRS, OS MAIAS, SIMBOLISMO
QUARTA-FEIRA, 24 DE FEVEREIRO DE 2016

"OS MAIAS": ROMANCE MAIS OU MENOS NATURALISTA?

Ser com base no ambiente que rodeia os vrios


episdios e na educao que Ea caracterizar e
analisar a sociedade do seu tempo. Deste modo, Os
Maias surgem como um romance realista ao retratar
os espaos sociais da alta burguesia do sculo XIX e
que recorre frequentemente esttica naturalista
com algumas personagens como produto de factores
"naturais",sobretudo do meio, da hereditariedade e
da educao.
Pedro da Maia disso o melhor exemplo
numacaracterizao imposta
pelo
romance
experimentalnaturalista. O meio social, de
um Romantismo decadente e "torpe", levou-o a
vaguear pelos "lupanares e botequins" e a dedicar-se
bomia ou, em alternativa, s visitas do
"lausperene" e outras leituras de "Vida de Santos". A
educao tradicionalista e conservadora de Pedro
deformou-lhe a vontade, tornando-o devoto, piegas e
fraco, arrastando-o para um casamento apressado,
instvel
e
falhado,
que
acabou
no
suicdio. Hereditariamente, o retrato de Pedro
assemelha-se em tudo ao de sua me, Maria Eduarda
Runa, inclusive nos seus estados mrbidos.
Ler "Ficara pequenino e nervoso como Maria
Eduarda (...) a paixo pela me."
Ainda seguindo o modelo naturalista est Maria
Eduarda quando se faz referncia sua educao
num convento ao p de Tours e aos ambientes

duvidosos da "casa da mam, no Parque Monceaux,"


que "era na realidade uma casa de jogo mas recoberta
de um luxo srio e fino".
A caracterizao de Carlos da Maia foge
esttica naturalista embora seja possvel verificar
que, quer o factor hereditariedade quer o meio,
contribuem para o seu dilentatismo e dandismo ou
factores educacionais que o preparam para a vida.
A rutura com o Naturalismo surge igualmente com a
alterao do narrador omnisciente que d lugar
focalizao interna. Tambm a caracterizao interna
ou o recurso ao tempo psicolgico do prova desta
rutura.
Publicada por Fernanda Reis (s) 08:38 Sem comentrios:
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Etiquetas: DA OBRA..., EA DE QUEIRS, OS MAIAS, REALISMO E NATURALISMO
TERA-FEIRA, 23 DE FEVEREIRO DE 2016

O SIMBOLISMO EM "OS MAIAS" - 1 PARTE

O simbolismo n' Os Maias

Maria Eduarda a terceira figura feminina na panplia de trs


geraes da famlia Maia apresentadas na obra. Simbolicamente, o nmero
trs o nmero da completude e implica a conjugao de trs momentos
temporais: o passado, o presente e o futuro, ou seja, a mulher surge na
obra como um fator de transformao do mundo masculino, conduzindo
esterilidade, estagnao. O terceiro elemento feminino torna-se a
revelao simblica dos outros dois que foram nefastos famlia.
ainda interessante ver a relao simblica que, metonimicamente,
se pode estabelecer entre os trs lrios brancos que Carlos v dentro de
um vaso do Japo quando, pela primeira vez, tem acesso ao espao fsico
onde Maria Eduarda se movimenta, a sua casa na Rua de S. Francisco, e as
trs mulheres que penetram na famlia Maia. Apesar da brancura dos lrios
(conotada na tradio oriental com o luto), as flores murcham num vaso do
Japo. A cultura europeia presente na decorao contracena com a
cultural oriental, na qual a alvura representa a morte: a morte fsica de
Maria Eduarda Runa e de Maria Monforte e a morte moral e espiritual (num
tempo futuro) de Maria Eduarda Maia. Os lrios brancos, partida
conotados com a pureza, perdem a sua conotao positiva ao murcharem e
passam e simbolizar a morte. O lrio concentra a ideia de prosperidade da
raa, continuada de gerao em gerao. Por outro lado, o facto dos trs
lrios brancos se encontrarem num vaso do Japo aponta j para o incesto,
pelo exotismo que representa esta pea decorativa, pois insere no espao
fsico de Maria Eduarda uma cultura estranha cultura ocidental.
Saliente-se que Carlos e Maria Eduarda tero os seus encontros quer
na Toca, marcada por uma decorao excntrica e exuberante, quer no
quiosque japons, pelo que retoma a simbologia de uma cultura estranha
neste espao.
A toca o nome dado habitao de certos animais, apontando
desde logo para o carter animalesco do relacionamento amoroso entre
Carlos e Maria Eduarda. Carlos introduz a chave no porto da Toca com
todo o prazer, sugerindo no s poder mas tambm o prazer das relaes
incestuosas ( de lembrar que a chave um smbolo flico). Da segunda
vez que se alude chave, os dois amantes experimentam-na o que passa a
simbolizar a aceitao e entrega mtua. Os aposentos de Maria Eduarda
simbolizam a tragicidade da relao, estando carregados de pressgios: nas
tapearias do quarto desmaiavam, na trama de l, os amores de Vnus e
Marte; de igual modo, este amor de Carlos e Maria Eduarda estava
condenado a desmaiar e desaparecer; ... a alcova resplandecia como o
interior de um tabernculo profano... misturando o sagrado e o profano
para simbolizar o desrespeito pelas relaes fraternas. Assim, a descrio
do quarto tem traos prprios de um local dedicado ao culto: a porta de

comunicao em arco de capela, donde pendia uma pesada lmpada da


Renascena conferindo maior solenidade. Com o sol, o quarto
resplandecia como (...) um tabernculo. Carlos mostrava-se indiferente
aos pressgios, inconsciente e distante, mas Maria Eduarda impressiona-se
ao ver a cabea cortada de S. Joo Baptista, que foi degolado por ter
denunciado a relao incestuosa de Herodes, e a enorme coruja a fitar,
com ar sinistro, o seu leito de amor (lembre-se que a coruja considerada
uma ave de mau agoiro, que surge aqui para vaticinar um futuro sinistro
para este amor). O dolo japons que h na Toca remete para a
sensualidade extica, heterodoxa, bestial desta ligao incestuosa. Os
guerreiros simbolizam a heroicidade, os evangelistas, a religio e os
trofus agrcolas, os trabalhos que tero existido na famlia Maia (e no
Portugal). Os dois faunos simbolizam os dois amantes numa atitude
hedonista e desprezadora de tudo e de todos. Na primeira noite de amor
entre Carlos e Maria Eduarda, a qual se d precisamente na Toca, d-se
uma grande trovoada como que a pressagiar um mau ambiente que se
criaria resultante deste incesto.
Maria Eduarda tem receios, desconhece a sua verdadeira identidade,
mas que perscruta o futuro atravs da anlise de pormenores das coisas ou
das pessoas, anlise essa que assume um valor simblico ou premonitrio,
como acontece quando ela descobre semelhanas entre Carlos e a sua
me.
Pginas 171 - 175 do manual Aula Viva, Vol. I (adapt.)

Publicada por Fernanda Reis (s) 07:56 Sem comentrios:


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Etiquetas: EA DE QUEIRS, OS MAIAS, SIMBOLISMO
SEGUNDA-FEIRA, 22 DE FEVEREIRO DE 2016

"OS MAIAS" - ESTILO QUEIROSIANO

- Esttica naturalista de Zola


- Prosa realista de Balzac e Flaubert :

Influenciaram Ea de Queirs

1.
2.

Impresses captadas;
Importncia da cor, luz, objetividade e construes impessoais.

A sua prosa procura adaptar-se ao ambiente social e situao, tentando vitaliz-la


atravs de uma linguagem expressiva e sugestiva de novos sentidos.
Linguagem:
. pitoresco - estrangeirismos - vernaculidade
- para denunciar a pretensa cultura burguesa das personagens
- influncia pessoal dos hbitos, costumes e modos de viver que foram os seus
em Inglaterra e em Frana.

Estilo Indireto Livre um dos meios favoritos de Ea para dar vida s suas
personagens, colocando-as a falar ou a pensar, sem recorrer ao dilogo ou ao monlogo.
Para evitar a monotonia, recorre alternncia entre o Discurso Direto e o Discurso
Indireto Livre.
Oralidade que no s torna o estilo mais coloquial como cria uma certa familiaridade
com o recetor / leitor.
A nvel sinttico
frase flexvel recorrendo a uma organizao nova e expressiva dos

o
vocbulos.

frases curtas e a vrgula surge como elemento importante para a


obteno do ritmo e para a expressividade de certos grupos lgicos.
o
oraes com verbos dinmicos, utilizando-os para introduzir o dilogo.
A nvel do estilo
o

ironia atravs da utilizao de certos adjetivos inslitos ou repetidos em ordem

o
inversa.
o
o
o

verbos de grande valor expressivo como uivar ou rosnar.


neologismos de diferentes categorias gramaticais.
diminutivos advrbio de modo adjetivao expressiva dupla ou mltipla,
sinestesias, hiplage, aliterao*, traduzindo sentimentos e sensaes.
aliterao* - () Um rude trovo rolou, atroou, a noite negra.

ADJETIVO

uso constante da hiplage (transferncia de sentido do adjetivo para um


substantivo quando, na realidade, se deveria atribuir a outro), servindo-se de vrios
processos, como o de juntar adjetivos de ndole psicolgico a substantivos fsicos e
inanimados;
Ex: as tias, fazendo as suas meias sonolentas
uso do adjetivo com funo de advrbio de modo;
Ex: e puxou-lhe uma fumaa furiosa

emprega quase sempre adjetivao dupla, algumas vezes tripla;


Movia o leque com um ar dolente e vago

a adjetivao dupla utilizada por Ea para caracterizar objetos,


exprimindo duas faces da realidade: objetiva / subjetiva o que so e a impresso que
causam no nosso esprito.

ADVRBIO DE MODO

- MENTE ( utilizado de vrios modos e significados)


1 no princpio, no meio ou no fim da frase;
Ex: Afonso apoiava-o gravemente
2 com ironia;
Ex: a radiosa criatura estava caninamente enamorada
3 na funo de superlativao do adjetivo;
Ex: Cambray arrisca uma palavra atrevidamente tmida.

carter novo e mais expressivo cabelos magnificamente negros;


o advrbio surge aos pares, sendo que o segundo apoia e intensifica o
primeiro sorri regeladamente, lividamente. Surgem no interior da frase, separados por
vrgulas; pode surgir tambm a srie tripla.
O
DIMINUTIVO

Os diminutivos podem assumir trs significados na Lngua Portuguesa:


o
o
o

pequenez; Ex: Apesar de antigo, o meu carrito ainda rola bem;


carinho ou ternura; Ex: Est-se fazendo tarde, Carlinhos.;
ironia, depreciao: Ex: Eusebiozinho; as perninhas flcidas.
NEOLOGISMOS

- gouvarinhar;
- escrevinhador;
- adulteriozinho;
- excessozinho.
CARACTERSTICAS DO DISCURSO INDIRETO LIVRE

No plano formal:

absoluta liberdade sinttica do escritor;

do discurso direto encontramos a expressividade coloquial


atravs das interrogaes e das exclamaes, das reticncias e
expresses de apoio;
do discurso indireto encontramos o uso da 3 pessoa, o
pretrito imperfeito, o pretrito mais-que-perfeito, o presente do
condicional e ainda os pronomes, determinantes e advrbios que
exprimem afastamento (esse, amanh, etc)
No plano expressivo:
o narrador aproxima-se da personagem, parece fundir-se com
ela;
o narrador evita as repeties dos que(s) e o emprego do
verbo declarativo que substitui, muitas vezes, pelos dois pontos;
a narrativa resulta mais fluente, com maior ritmo e
artisticamente melhor elaborada;
contribui para a expressividade dos monlogos interiores;
o seu uso deve ser analisado num determinado contexto;
a expressividade maior se aparece articulada com os
discursos direto e indireto.
Publicada por Fernanda Reis (s) 13:01 Sem comentrios:
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Etiquetas: EA DE QUEIRS, ESTILO QUEIROSIANO, OS MAIAS
DOMINGO, 21 DE FEVEREIRO DE 2016

"OS MAIAS": FACTORES DE INFLUNCIA NO CARCTER


INDIVIDUAL E COLETIVO DAS PERSONAGENS

Agora que j verificmos de que forma o


ttulo
e
o
subttulo
da
obra Os
Maias se
entrelaam
servindo
os
objetivos
de
Ea
de
retratar
a
sociedade
do
sc.
XIX,
podemos
continuar a nossa anlise.
O trajeto da famlia Maia desenvolve-se
ao longo de trs geraes sucessivas Afonso, Pedro e Carlos - ao mesmo tempo
que assistimos
evoluo
de uma
sociedade que continua em busca de um
rumo de modernidade sem, no entanto, o
conseguir.

Se, com Caetano da Maia, encontramos a


figura
representativa
do
portugus
antigo, defensor do absolutismo j em
queda, com Afonso da Maia conhecemos
uma gerao que lutou pela implantao
do liberalismo o qual vir a fracassar
na gerao do seu filho, Pedro da Maia,
caracterizada
igualmente
por
uma
mentalidade frustrada de um romantismo
que comea a apreciar-se na falncia e
na catstrofe. A Regenerao, com os
ambientes e os hbitos de uma sociedade
de uma sociedade em crise poltica,
social e cultural, surge com a gerao
de
Carlos
da
Maia.
Como
j
foi
referido
nem
mesmo
personagens
como
Carlos
ou
Ega
conseguiram alterar o rumo desta crise
e, j no final d'Os Maias, Ega confessa
a sua admirao por Alencar, a quem
tanto criticou o Romantismo, movimento
que representou ao longo da obra.
Ea prova assim que no fcil
deixarmos de estar em consonncia com o
tempo em que vivemos. Ega e Carlos
procuraram outro rumo mas acabaram por
constatar que no alteraram muito uma
conduta e um esprito tradicionalmente
aceite:
"E que somos ns? - exclamou Ega. - Que
temos ns sido desde o colgio, desde o
exame de latim? Romnticos: isto ,
indivduos inferiores que se governam

na vida pelo sentimento,


razo..." (p.714)

no

pela

O Romantismo surge, uma vez mais,


criticado mas agora, no como movimento
esttico mas como um modo de estar na
vida e como sendo a causa do mal
nacional.
O

PAPEL

DA

EDUCAO

A
educao
tradicionalista
e
conservadora
desvalorizou
a criatividade
e
o
juzo
crtico,
deformou a vontade prpria, arrastou os
indivduos para a decadncia fsica e
moral.
Em Pedro da Maia, por exemplo, levou-o
a uma devoo histrica pela me e
tornou-o
incapaz
de
encontrar
uma soluo para a sua vida quando
Maria
Monforte
o
abandonou;
em
Eusebiozinho,
tornou-o
"molengo
e
tristonho", arrastou-o para uma vida de
corrupo, para um casamento infeliz e
para
a
debilidade
fsica.
Pelo contrrio, a educao inglesa
procurou "criar a sade, a fora e os
seus hbitos", fortalecendo o corpo e o
esprito. Foi graas a ela que Carlos
da Maia adquiriu valores do trabalho e
do conhecimento experimental que o

levaram a formar-se em Medicina e a


dedicar-se
a
projetos
de
investigao, de empenhamento na vida
literria,
cultural
e
cvica.
A vida de ociosidade de Carlos e os
contnuos fracassos de trabalho no
resultaram da educao mas da sociedade
em que se viu inserido. A ausncia de
motivaes
no
meio
em
que
se
movimentou,
o
prprio
estatuto
econmico que no lhe exigia qualquer
esforo, a paixo romntica que o
seduziu foram causas suficientes para,
apesar de culturalmente bem formado,
desistir,
sentir
o
desencanto
e
afastar-se das atividades produtivas.
Mas, ao contrrio do seu pai, Pedro da
Maia, que perante o fracasso amoroso se
suicidou, Carlos procurou um novo rumo,
tomando por base uma filosofia de vida,
a que chama "fatalismo muulmano": Nada
desejar e nada recear. No se abandonar
a
uma
esperana
nem
a
um
desapontamento. Tudo aceitar; o que vem
e o que foge, com a tranquilidade com
que se acolhem as naturais mudanas de
dias agrestes e de dias suaves.
Publicada por Fernanda Reis (s) 09:53 Sem comentrios:
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Etiquetas: EA DE QUEIRS, EDUCAO E SOCIEDADE, OS MAIAS
QUARTA-FEIRA, 17 DE FEVEREIRO DE 2016

"OS MAIAS": NAS 2/3 AULAS COM A OBRA FRENTE


(PARTE 2)

Ainda sobre o ttulo e o subttulo...


Os Maias, ttulo que nos remete para a histria
trgica que serve de pretexto para desenvolver a
comdia de costumes que o subttulo, "episdios da
Vida Romntica", sugere.
A obra desenvolve-se com base em trs temas:
1 - Histria de uma famlia;
2 - Paixo e tragdia de Carlos;
3 - Comdia burguesa e lisboeta (comdia de
costumes).

1 - Histria de uma famlia


Inicia-se com Caetano da Maia e assistimos
decadncia do absolutismo.
Seu filho, Afonso da Maia, casa com Maria Eduarda
Runa. O Romantismo comea a despertar,
acontecem as revolues liberais numa clara reao
ao absolutismo.
Deste casamento nasce Pedro da Maia que viria a
casar-se com Maria Monforte. O Romantismo
conhece o seu apogeu,as crises liberais anunciam a
sua decadncia. Regenerao.
Filhos de Pedro e Maria, Carlos e Maria Eduarda...
D-se
a
decadncia
do
liberalismo.
Ultrarromantismo, Realismo. Regenerao.

MAIS TARDE...
A desagregao da famlia com:

Morte de Afonso;
Separao de Carlos e Maria Eduarda.

2 - Paixo e tragdia de Carlos


O percurso de Carlos ser determinado pelas
opes que os seus pais foram fazendo na vida.
Tudo ter incio na paixo entre Pedro e Maria
Monforte, seguida da separao de ambos.
Maria foge com a filha, Maria Eduarda, deixando
Carlos com o pai que entretanto se suicida.
a partir destes acontecimentos que o texto
ganha caractersticas prprias da tragdia clssica...
* PERIPCIAS - paixo de Carlos.
** RECONHECIMENTO - conhecimento da
identidade de Carlos e de Maria Eduarda atravs da
carta deixada por Maria Monforte.
*** CATSTROFE - incesto dos irmos que ser a
causa da morte de Afonso da Maia.

3 - Comdia burguesa e lisboeta (comdia de


costumes)

# "Episdios da vida romntica", da sociedade do


ltimo
quartel
do
sculo
XIX.
todos os episdios j referidos.

A par desta desagregao familiar outra acontece: a


de um pas, Portugal, devido s mentalidades
retrgradas que nele proliferam, um Pas
necessitando
de
uma
Reforma.
A incidncia sobre este mundo social e poltico de
Lisboa prova que este no foi capaz de superar a
crise de personalidade e de autenticidade cultural do
Romantismo e apesar de personagens como Ega ou
Carlos, que se mostram defensoras do Realismo e
do
Ultrarromantismo.
Deste modo, a histria da famlia Maia entrelaa-se
com a histria do sculo XIX, servindo trs geraes:
Afonso - Pedro - Carlos. Mostra que a sociedade
continua a no encontrar um rumo certo de
modernidade.
Em

resumo:

- Caetano da Maia, portugus antigo; apoiante do


absolutismo.
- Afonso da Maia, lutou pela implantao do
liberalismo.
- Pedro da Maia, fracasso do liberalismo e a
mentalidade
frustrada
de
um
romntico.

- Carlos da Maia, regenerao com os ambientes e


os hbitos sociais em crise poltica, social e cultural.
Publicada por Fernanda Reis (s) 13:47 Sem comentrios:
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Etiquetas: EA DE QUEIRS, ESTRUTURA DA OBRA vs SCULO XIX, OS MAIAS

"OS MAIAS": NA 2 AULA, COM A OBRA FRENTE


(PARTE 1)

TTULO E SUBTTULO
Aparentemente, conta-se a histria de uma famlia
atravs de trs geraes mas, o segundo ttulo,
indica uma segunda inteno, a de descrever certo
estilo de vida o romntico atravs de episdios,
mas admite duas hipteses: que tais episdios
pertenam histria d Os Maias ou que decorram
margem, num pano de fundo.
O ttulo justifica-se porque o heri / anti-heri
aparece integrado numa famlia, explicado por
antecedentes familiares e cuja tragdia implica a
morte do av. Este o fator de unidade pois
atravs dele que se evoca o passado.
Justifica-se o subttulo visto que o romance nos
oferece
mltiplos
casos,
cenas,
atitudes,
considerados tpicos de um Romantismo que
continua
vivo
em
1875-76.
Existe um elemento de coeso que reside no facto
de, tantoOs Maias (Carlos em particular) como esses
episdios e os figurantes da comdia lisboeta,
representarem
uma
personagem
encoberta:

Portugal, a grande personagem latente na obra de


Ea, sua maior preocupao.
ESTRUTURA DE OS MAIAS
- 14 meses (Outono 1875 a fins de 1876
- 14 meses de ao (Carlos e M Eduarda)
Noes

complementares

- ocupam mais de 590 pp..


- antecedentes familiares (1820 a 1875) ocupam 85
pp..*
- eplogo, 10 anos depois, em 1887, ocupa 27 pp.
(quase
todo o Cap. XVIII).
*A analepse termina na p. 95. Tudo quanto fica nas
85
pp.
anteriores uma simples preparao constituda
pela
histria

ESPAO(S)

em flash

back da

famlia.

Fsico

O Ramalhete surge na obra por trs vezes,


correspondendo cada uma delas a uma descrio e
a um perodo de mudana na ao. O Ramalhete
constitui um marco de referncia na vida da famlia
Maia e o seu apogeu e/ou degradao acompanham
o percurso da referida famlia.
A maior parte da narrativa situa-se em Portugal
Lisboa, Sintra e Olivais, arredores de Lisboa e a
sua
ligao com os acontecimentos que ocorrem a
alguns dos elementos da famlia Maia, bastante
importante. Vejamos como:
- em Lisboa que se do os acontecimentos que
levam Afonso ao exlio (p. 14);
- em Lisboa que decorre a vida de Pedro e
ocorrem os marcos principais da sua existncia:
casamento, abandono e suicdio.
conhece Maria Monforte (p. 23);
casamento (p. 30);
suicdio (p. 52).
- em Lisboa que decorre parte da vida de Carlos o
que
facilita
o
encontro
com Eduarda.
** o estrangeiro um recurso para resolver
situaes complicadas:

Afonso refugia-se em Inglaterra para fugir


intolerncia
miguelista. (pp. 14-15)
Pedro e Maria vivem em Itlia (p. 30, depois do
casamento).
-----------------------Paris (p.32, capricho de Maria
relao com cultura feminina).
Maria Eduarda vai para Paris quando se descobre
o incesto (p.685).
Carlos viaja, depois de ter sido descoberto o
incesto
(p.
688).
Fixa-se em Paris para resolver a sua vida, depois de
uma breve passagem por Santa O. (p. 689).
** em Portugal, a ao sai de Lisboa por trs vezes:
- quando Pedro e Maria pretendem mostrar M
Eduarda a Afonso, este viaja para Santa Olvia
(p.34);
- Afonso vai para Santa Olvia a seguir ao suicdio
de Pedro (p. 52);
- sada para Celas, devido formatura de Carlos
(imposta por exigncias extrnsecas), (p.95);
- Carlos parte para Santa Olvia depois de conhecer
a relao incestuosa (p. 687).

** Santa Olvia escolhida pelos intervenientes


como estncia de efeitos teraputicos.
- Social
Toda a ao e as diversas aes decorrem em
ambiente e com personagens identificveis com a
alta burguesia, com a elite portuguesa. Estes sociais
no precisam de trabalhar para viver e vivem sem
dificuldades.
exceo do Captulo III, onde sobressai a elite
rural, todo o resto do romance dominado pela
presena da elite citadina lisboeta, assistindo o
leitor ao desfilar de vrios mundos da capital e dos
elementos
que
os
representam.
De referir que no aparece no romance qualquer
referncia consistente a problemas de ordem social.

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