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PROCLAMAR LIBERTAO

Nesta srie foram publicados aux l ias homilticos para textos escolhidos das sries de perfcopes indicadas, nos seguintes volumes:
111 IV V V 1VII VIII IX -

Per fcopes V 1 e 1, 236 pginas, 2 edio, 1981


Perfcopes 1eli,292 pginas, 2 edio, 1983
Per fcopes 11 e 111, 355 pginas, 1979
Perfcopes 111, 317 pginas, 1980
Perfcopes IV, 244 pginas, 1981
Perfcopes V, 366 pginas, 1982
Percopes VI, com suplemento "Quer seja oportuno, quer
no", com 12 temas mensais, (no prelo), 1983

Su pi emento 1 : Aux l ias Horn ilticos para o Catecismo Menor de


Martim Lutero, 224 pginas, 1982
Literatura afim:
GUIA DO PREGADOR, Adolf Sommerauer. Uma orientao prtica
para leigos e telogos, 120 pginas, 2 edio, 1979
VAI E FALA, Nelson Kirst, 51 prdicas para o Ano Eclesistico, 302
pginas, 1978
LANAREI AS REDES, Lindolfo Weingaertner. Sermonrio para o
lar cristo. 64 sermes, 244 pginas, 1979
EDITORA SINODAL

PROCLA AR
LIBERTA O
1

proclamar
libertaco
A U X ! L I O S

H O M I L

T I C O S

Volume I-II
Textos escolhidos das
S~RIES

DE PER!COPES IV, V e VI

Editado pela
FACULDADE DE TEOLOGIA
em colaborao com pastores da
Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil
Coordenao de
BALDUR VAN KAICK

EDITORA SINODAL
1983

PREFCIO SEGUNDA EDIO

1983
EDITORA SINODAL
Rua Epifnio Fogaa, 467
93000 - SO LEOPOLDO - RS
Conselho editorial da presente edio:
WALTER ALTMANN
NELSON KIRST
Direitos reservados
pela Faculdade de Teologia
_
da Igreja Evanglica de Confissao Luterana no Brasil.
A reproduo do todo ou em parte _
s e permitida mediante autorizaao
da Faculdade de Teologia

Os volumes I e II de PROCLAMAR LIBERTAO foram publicados pela primeira vez em 1976 e 1977 e representaram, naqueles anos, urna iniciativa pioneira no campo de auxlios
homileticos.
No s abamos ainda em 1976 quo grande seria a procura
des ta srie e cr es cente a expectativa - tambm de leitores
no do mbito da IECLB - em relao a cada novo volume lan
ado.
A ra~idez com que se esgotaram os volumes at agora publicado s , apesar do constante aumento da tiragem, bem atesta a lacuna que esta serie veio a preencher. O Volume III,
aps duas edies, encontra-se esgotado.
a pedido de inmeros leitores que no conseguiram ad
qu1r1r os primeiros volumes, que apresentamos agora a segun
da edio conjugada dos volumes I e II desta srie.
Fazernos votos que os 56 aux1lios homileticos reunidos neste vul
toso livro continuem a prestar bons servios aos pregadores
em nosso pas.
A ttulo de orientao cabe-nos acrescentar ainda o se
guinte:
1. Os textos sobre os quais se baseiam os auxlios homilticos deste livro pertencem s Sries de Percopes IV,
V e VI da Ordem de Percopes em vigor na IECLB. so textos
das epstolas, dos evangelhos e do Antigo Test i~en t o .
2. ~obe seis tex tos o volume oferece estudos parale los de autores diferentes. O livro contm tambm auxlios
es peciais para a Festa da Colheita (Ao de Graas), Con firmao, Finados, 19 de Maio e 7 de Setembro.
3. O estudo introdutrio ao Evangelho de Mateus, de au
toria do Dr. G. Brakemeier , foi includo no corpo do livro
para ser lido em conexo com os auxlios homileticos sobre
textos de Mateus.
Agradecemos a todos os leitores de PROCLAMAR LIBERTAO
que :olaborararn conosco at aqui, enviando-nos crticas, su
gestoes e incentivos. Agradecemos de modo especial Edito-=ra Sinodal, que preparou a presente reedio e desde o come
o tem apoiado esta srie de Auxlios Homileticos.

So Leopoldo, dezembro de 1978.

Paldur

van

Kaick

fNDICE
Prefcio ............................................... .
Sexta-feira Santa: 2 Corntios 5,14-21
Lindo 1fo Wei ng!::lrtner ................... ............ .. .
Domingo de Pscoa: 1 Corntios 15, 19-28
Walter Altmann/GUnter Wehrmann ...................... .
Domingo Jubilate: Atos 17,16-34
Wi lhe l m Bl::lsemann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Domingo de Pentecostes: Romanos 8,1-11
Manfredo Siegle .......................... ..... ........
Dia da Ascenso
Hilmar Kannenberg .....................................
29 Domingo aps Trindade: l Pedro 2, 1-10
Gottfried Brakemeier/Dario Schaeffer ......... . ........
Dia de Aes de Graas: Gnesis 8, 15-22
Uwe Wegner/Bertholdo Weber ... , ........................
79 Domingo aps Trindade: 1 Corntios 6,9-14 (15-17) 18-20
Erhard S. Gerstenberger/Edson Streck ..................
109 Domingo aps Trindade: Romanos 11 ,25-32
. Klaus van der Grijp ................................. ..
Oi a.da Independncia: 1 Pedro 2, 13-17
R' cha rd Wangen ....................................... .
169 D~mingo aps Trindade: 29 Corntios 1,3-7
D' Erv1no Schmidt ......
'.da Reforma: Glatas 5, 1-11
.W1lfrid Buchweitz/Arnoldo M~dche ..................... .
0 '~os Finados: Filipenses 3,20-21
Ehlert~Martin Volkmann ......................... .
01 H~inz
timo Dom. apos Trindade: Apocalipse 4,1-8
Ba 1du r van Ka i ck
19 Domingo. de Adven ~~; l saas
1 5-1 6 ( ~ 64 ,1 -4a
Nelson K1rst
Natal: Lucas 2,i~i4'

63:

l 9)

3
7
16
34
39
47
55
68
85
102
109
119
125
143

.'s' .. 153
159

Ne 1son Ki 1pp ......................................... . 168


Observaes Introdutrias ref. ao Evangelho de Mateus
Gottfried Brakemeier .................................. 176
Confirmao: Filipenses 3, 12-16
Lindolfo Weing:::lrtner .......... ...... ....... . .......... 187
Sexta-feira da Paixo: Isaas 50,4-9a(9b-ll)
Mi 1ton Schwantes ............................ .......... 195

Domingo de Pscoa: Lucas 24,1-12


Gottfried Brakemeier . ..... . . .... ......... ........ ..... 201
Domingo Misericordias Domini: Joo 10,1-5.27-30
Reinhard W. Friedrich ... .... . ............. ............ 207
Dia do Trabalho: 1 Corntios 7,29-32a
Werner Fuchs .......................................... 213
Domingo Cantate: Mateus 21,14-17
Harald Malschitzky .................................... 219
Domingo Rogate: Mateus 6,5-13
Wi 1frid Buchwei tz ..................................... 224
Dia da Ascenso: Joo 14,1-12
Hermann Brandt ........................................ 230
Domingo Pentecostes: Mateus 16,13-20
Wa 1te r A1t ma n n . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 239
Domingo da Trindade: Lucas 10,21-24
Martin N. Dreher ...................................... 249
Dia de Aes de Graas: Joo 4,31-38
Heinz Ehlert .......................................... 256
19 Domingo aps Trindade: Ezequiel 2,3-8a; 3,17-19
Nelson Kirst .......................................... 263
29 Domingo aps Trindade: Mateus 10,7-15
Baldur van Kaick ...................................... 271
39 Domingo aps Trindade: Lucas 19,1-10
A1brecht Baeske .. ...... .. ............. . ............... 279
49 Domingo aps Trindade: Mateus 18, 15-20
Bertholdo Weber ....................................... 290
69 Domingo aps Trindade: Isaas 43,1-7
Ricardo Nl::lr .. ... ...... ..................... ........... 299
79 Domingo aps Trindade: Marcos 9,43-48
Slvio Schneider ... .... .. ...... ...... ......... ........ 305
S? Domingo aps Trindade: Jeremias 23,16-29
Klaus van der Grijp ................................... 311
99 Domingo aps Trindade: Mateus 13,44-46
GUnter K. F. Wehrmann .................................. 317
119 Domingo aps Trindade: Mateus 23,1-12
Richard Wangen .. ... ............... .. . .... . .. ... ....... 325
Dia da Independncia: 1 Timteo 2,1-4
Silvio Meincke
336
149 Domingo aps T~l~d~d~; i's~~~~i 2:i~ia
Martin Weing~rtner ......... ............ . . ........... . . 343
159 Domingo aps Trindade: Mateus 19,16-26
Dario G. Schaeffer ........... .. ....... ....... ......... 349

- 7 16'? Domingo aps Trindade: Joo 11,1.3.17-27


Breno Dietrich ........................................ 355
18'? Domingo aps Trindade: Mateus 5,38-48
Ul rico Sperb .......................................... 360
20'? Domingo aps Trindade: Joo 6,37-40. (41-43). 44
Ro 1f DUbbers .......................................... 36 7
21'? Domingo aps Trindade: Gnesis 32,23-32
Erhard S. Gerstenberger ............................... 374
Dia da Reforma: Joo 8,31-36
Rodolfo J. Schneider ..................... . ............ 383
Antepenltimo Domingo do Ano Eclesistico: Mateus 12,38-42
Martin Vo 1kmann . . ...................... . .............. 392
Penltimo Domingo do Ano Eclesistico: Mateus 25,14-30
Gerd Uwe KI i ewer ............................ . ....... . 400
1'? Domingo de Advento: Hebreus 10, 19-25
Joach i m Fischer ....... . ......... .. ........... 40 8
3'? Domingo de Advento: Apocalipse 3,7-13
Renatus Porath ....... . ............... ................ 416
4'? Domingo de Advento: Isaas 62,1-12
Manfredo Si eg 1e .. ..................................... 423
Natal: Tito 2, 11-14
Ervino Schmidt ........................................ 430
Relao dos Textos Bbl icos Tratados ................. . .. 436
Relao dos Colaboradores .............. . ................ 437

F E 1 R A

S E X T A

11

o r

Lindolfo
1

n t i o s

S A N T A

5' 14-21

Weing~rtner

Exegese

14 Pois o amor de Cristo toma conta de ns - os que


chegamos concluso de que um morreu por todos e que ,
por conseguinte, todos morreram.
15 E por todos morreu para que os que vivem, no ma
is vivam para si prprios , mas para aquele que em seu
favor morreu e foi ressuscitado .
16 Por conseguinte , daqui em diante j no conhecemos ningum confarme os critri os da carne . Mesmo que te
nhamos conhecido a Cristo conforme os critrios da car~
ne, agora no mais o conhecemos assim .
17 Deste modo, se algum existir em Cristo - tornou
se nova criatura ( "criao ") . O antigo passou - nova realidade se fez .
18 Ma s tudo ( obra) de Deus , que nos reconciliou
consigo em Cristo e que nos deu o minis trio (a diaconia) da reconciliao .
19 Pois Deus es tava em Cristo, reconci liando o mundo consigo mesmo, no atribuindo aos homens as.suas trans
gresses e erguendo entre ns a palavra da reconcilia .
20 Assim servimos de embaixadores por (hyper - em
lugar de , em nome de) Cristo, sendo que Deus conclama
por ns . Por Cristo, pois , rogamos : Reconci lia1:-vos com
Deus .'
21 Aquele que no conhecia peeado - (Deus) o fez pe
cada por ns, para que nele nos tornemos justia de Deus.

A pericope
O "recorte" bem poderia iniciar com o vers. li, mas
o intuito de deli~itar o texto ao m x imo pos
s1vel para facilitar o acesso ao seu contedo central.O_trecho no apresenta variantes de peso teolgico,
exceao feita, eventualmente, do versculo 17 - onde os
e~tende-se

- 8 manuscritos ocidentais, evidentemente numa interpolao


secund ri a, acrescentam 11 ta panta 11 - 11 tudo 11 se tornou no
vo. Este 11 ta panta 11 poderia ser entendido como tendo di-:rrenso cosmolgica resp. ontolgica neutra, enquanto Pau
lo tem em rrente a nova realidade na qual passou a viver
a pessoa que est em Cristo.
Observaes exegticas
14: O genitivo

de Cristo" dever ser entendido


em
primeira linha como genitivo subjetivo (o amor de Cristo
para ns) - base para o nosso amor a Cristo. Este 11 ser
constrangido", 11 ser encampado 11 pelo amor de Cristo, iden
tifica o apstolo, qualifica o seu s:rvio - inclusive oseu esforo de defender o seu ministerio perante aqueles
que se gloriam de sua riqueza espiritual, e nos olhos dos
quais ele parece fraco e desprezvel. Em contraposio
aos seus adversrios, que 11 se gloriam na aparncia 11 (v.
12), Paulo no tem nada pelo qual possa gloriar-se. Se
antes tinha - agora no tem mais, pois ele sabe que morreu com Cristo . Agora um encampado, um constrangido,
que se desfez do amor-prprio pelo amor de Cristo.
A afirmao de que Cristo morreu por todos e que,por
conseguinte, todos morreram, tem sua analogia em Romanos
5,12-21 , onde Cristo, o representante da nova humanidade, contraposto a Ado, representante da antiga ( 11 corporat i ve persona 1 i tyJ
15: No h transio nem continuidade natural entre
a vida antiga e a existncia nova do homem. A morte de
Cristo implica em nossa prpria morte. Esta a antropo
logia radical do evangelho. Em verdade, a morte do Cris
to implica na morte de todos os homens, pois tudo que os
homens so e representam por si, acaba de ser condenado
e desfeito pela morte de Cristo. Mas os que chegaram a
ser impelidos pelo amor de Cristo, aceitam este fato de
bom grado e com gratido. Os que ainda no se deixaram
11
encampar 11 por Cristo, ainda se agarram existncia an
tiga , tentando viver para si e esquecendo-se de que a-=qui lo, que procuram segurar, j no vida, mas sim mor
t e. A vida verdadeira deixou de girar em redor da exis-=t ncia antiga , mas tem seu centro em Cristo, que morreu
e ressuscitou por ns . Morte e ressurreio aqui se a11

).

- 9 cham inseparavelmente entrelaadas, como em todos os escritos de Paulo, mesmo onde no o diz ex pr essis verbis.
16: J que todos morreram, Paulo pode ignorar os 11 va
lores 11 da carne, que para ele j no so valores. Ele no
conhece mais ningum conforme os critrios da carne - nem
a si prprio. De igual forma, no tenta moldar a Cristo
segundo os critrios da carne - mesmo que porventura o te
nha feito antes (no tempo antes de sua converso?). Deve
ser excludo totalmente o evidente desli ze exegtico (Emi 1 Brunner - Der Mittler), que identifica Jesus de Naza
r, o Cristo histrico, com um pretenso "Cristo segundo carne". Um Cristo segundo a carne no existe. Est fora de cogitao que Paulo queira esvaziar a pessoa hist
rica de Jesus de Nazar. O "segundo a carne" adjunto adverbial de "conhecer" - no adjetivo de 11 Cristo 11
17: O contedo da pregao de Paulo a nova vida em
Cristo. Por isto mesmo ele tem de afirmar a morte do homem antigo - para que no se qualifique de vida o que j
superado e condenado. A nossa pregao jamais poder
fugir a essa premissa fundamental.
18: A iniciativa de Deus na obra da reconciliao
de importncia bsica . Os pagos reconciliam, eles prprios, os seus deuses por meio de suas ofertas (pacifica
re deos). Deus age em Cristo como se o homem fosse o o-:
fendido - pedindo, convidando, reconciliando mesmo o que
no o procurara . A palavra grega correspondente a 11 recon
ci 1 iar 11 (katal lagein) contm a raiz 11 al los 11 - 11 di ferente".
Reconciliar tem, pois, o sentido de criar uma situaodi
ferente - de fazer a paz - que antes no existia. com"
a aliana estabelecida com Israel. Ela criada por Deus;
no produto de um convnio entre dois parceiros .
19: Deus no deixou Cristo pagar os pecados do mundo
como um inocente 11 terceiro 11 Ele estava - subsistia - em
Cristo - totalmente identificado com a obra da reconcilia
~o. Esta no o resultado de uma poltica de concesses
mutuas, que por fim devem levar ao estabelecimento de um
acordo (Cristo no um super - Kissinger, que advogue a
reconci 1 i ao a passos pequenos ... ). Deus reconci 1i ou os
homens - de uma vez por todas. Neste fato o homem no pod: mexer m~is. t a base de qualquer palavra de reconcilia
ao - tambem a que proclamamos hoje.

lo 20: O portugus no permite a traduo congenial de


11 presbeuomen 11 (servir de embaixador). Convm lembrar que
uma forma verbal que no permite pensar em 11 embai xadores11 institucionalizados que falem em nome ou em lugar
de um Cristo imaginado ausente. O termo 11 parakalein 11 tem
o duplo sentido de admoestar e de pedir. Neste pedir de
Deus, sua 11 kenos i s 11 chega a culminar: O Deus onipotente
pede a sua criatura, que o ofendeu, que com ele se recon
ci lie. No servio de embaixador, que ns prestamos, Deus
permanece com a iniciativa. Neste servio deveremos ter
a certeza absoluta de que Deus que est falando (Lutero: Haec Deus dixit!). Nosso pedir se enquadra no pedir
de Deus, insofismavelmente identificado com o morrer humilde de seu Filho. No nos resta alternativa, a no ser
pedirmos dentro da mesma humi Idade de Deus. O pregador,
que pede junto cruz de Cr~sto, perder o apetite_ por
truques retricos ou psicologicos para motivar a fe
de
seus ouvintes. E no ter necessidade deles.
21: Que Deus tenha feito o seu Cristo ''pecado''
por
ns, representa a afirmao cristolgica mais afoita que
se encontra no Novo Testamento. mais radical do que 0
testemunho do Batista - do Cardei rode Deus que carrega
os pecados do mundo. Talvez Paulo tenha formulado este
conceito radical em vista de uma 11 teologia da glria 11 existente em Corinto, na qual Cristo era visto como "theios aner 11 - o homem divino, o esprito elucidado, o taumaturgo bem-aventurado, de cuja vida os "espi ri tuais"par
ticipavam como por analogia natural, enlevados pela mes-=~a realidade pneumtica. Com sua for mulao, Paulo bota
agua na fervura do entusiasmo. Nossa justia no nossa.
Ela no cresceu qual centelha incentivada por uma chama
ainda mais clara. Ns fomos feitos justia, porque Cristo
foi feito pecado~ Esta bendita troca (Lutero) significa
quebra de continuidade - exclui qualquer possibi !idade
de autoglorificao - mas justamente por isto representa
a base para a reconciliao do pecador.
11 - Meditao

O texto , o pregador e os ouvintes


Fa ze ndo uso de uma formulao de Bonhoeffer, que ele

l l

quer ver aplicada na escolha de textos para prdicas (Fi~


ke nwalder Homiletik), poderemos afirmar que nosso texto e
' 'um barco carregado ate- as b or d as, que vem, a navegar 11 , portanto, um texto para pregao, por e~celnci~. Obar
co est to carregado que o pregador devera ter cuidado
para no f a z-lo sossobrar nas guas profundas da cristologia sistemtica (com seus mui tos rec~f~s subme~s?s), a~
t e s que o consiga levar ao porto. Seu un1co propos1to deve r ser o de fazer 11 0 barco to c ar a terra" - conforme os
dizeres do profundo hino medieval - e descarregar o
seu
contedo para os ouvintes de hoje e de agora.
Por ser um texto para a Sexta-Feira Santa, o pregador
dever levar em conta que entre seus ouvintes haver muitos que no freqentam a igreja em outras ~portunidades.
A tradio luterana - em continuid~de historica com a.catlica faz com que neste dia tambem os membros que vivem
na periferia da comunidade venham igreja e participem
da Santa Ceia - seja por um s e ntimento vago de que neste
dia lhes permitido particip~r de um evento ce~tral (pe~
do de pecados anual - uma ideia de rec:>nciliaao, mesmo
que deturpada), ou seja por pura tradiao, talvez com fo~
te componente mgico. - Levar o barco a esta praia - rasa
ou pedregosa - no ser tarefa fci 1. Muitos d?s_ouvintes
j tero o seu "Cristo" - adaptado a suas cond1oes e pr~
f erncias. Poucos estaro dispostos a morrer, como pede o
t ex to. S por um milagr e - que no ter caractersticas
r etricas - as praias sero livradas do entulho acumulado
pelas ondas de um ambiente religioso sincrtico,_permiti~
do descarregar o barco e levar a carga precio~a a terra .
Mas - a situao de Paulo no foi outra. Tambem ele teve
de dar o recado a cristos que haviam moldado uma imagem
de Cristo (e em conseqncia disto uma doutrina de salvao e de reconciliao) deturpada - que no s precisava
de correo, mas que necessitava ser desalojada.
O escopo do texto? No nos preocupemos com um escopo
formal - um filtrado abstrato, que sintetize este trecho
to saturado de eventos concretos e de linguagem no menos concreta.
A "queda" do texto est propensa a levar o pregador a
identificar-se com a "exclamao de arauto" do vers. 20:

13 -

12 11

Por Cristo, pois, rogamos: Reconciliai-vos com Deus 11


Este versculo serve bem como frase querigmtica, na qual
se alinha a prdica. Mas os vasos comunicantes existentes
para com os demais versculos centrais impediro uma prdica simplesmente coercitiva ( 11 Convertei-vos! Entrai agora! A porta est aberta! 11 ) . O convite evangel stico perme
ar o todo da prdica. Mas, para evitar uma prdica mon="
tona, sem contornos especficos, recomendamos proceder co
mo Paulo, isto , usar a forma de homilia - com alguma lT
berdade quanto colocao das nfases e da seqUncia (co
locaramos o vers. 21 antes do vers. 20, de modo que apre
dica termine e culmine com este).
Eventualmente o vers. 16 ( 11 conhecer Cristo segundo a
carne 11 ) poder ser preterido, ou tocado s margem, Para
no sobrecarregar os ouvintes. Mas haver muitas maneiras
de 11 abordagem 11
Aproveitemos tambm a oportunidade que nos d o vers.
15 de sublinhar a ligao entre a morte e a ressurreio
de Cristo. O fato de que na Pscoa nossas igrejas costumam ser freqUentadas s por uma frao dos membros que en
chem as suas bancadas na Quinta- e na Sexta-feira Santasdeveria deixar-nos pensativos. Apesar dos argumentos vl
dos de Kaesemann - no combate a uma teologia de ressurrei
o que se esquece da cruz - tambm existe a tentao in-=versa - de pregarmos a morte de Cristo, excluindo a sua
ressurreio. Os ouvintes devem notar que a s:xta-feira
Santa o incio da Pscoa - no s no calendario eclesistico, mas tambm na existncia crist.

A caminho da prdica
Um homem morre - entre dores e suplcios. Abandonado
pelas pessoas que ama, condenado pelos representantes do
poder e da religio - morre morte solitria, pregado numa
cruz. Cruz, que no representava nenhum smbolo santo,mas
que era o instrumento de tortura comum para castigar rebeldes e criminosos. - Alguma novidade? Aparentemente,no.
Milhares j haviam morrido na cruz, antes de Jesus. Mi lha
res morreram morte violenta e injusta depois dele. ave
lha histria, que se prolonga at os nossos dias: Aqueleanimal, chamado homem, odeia, tortura, mata. Por qu? Sabe ele, por qu? Para fazer justia? Dentro dele mesmo h

justia? Ou ele simplesmente pe para fora o que h dentro dele: dio a si mesmo - dio de Caim que odeia tudo:
a Deus, a si mesmo e ao seu irmo Abel ... Homem que vive
na revolta, na inimizade, na inquietude interna - assim
como o peixe vive dentro da gua? Mesmo que ele no se
d conta disso?
A mensagem de hoje que na cruz de Cristo houve novidade - e h novidade. A bem dizer a nica novidade real neste velho mundo.
_I. Cristo no morreu como simples vtima, apagada pe
lo odio. Ele morreu morte ativa - morreu por amor. No morreu para si - por um alvo, um ideal seu. Morreu pelos
homens. E aqui a novidade chega a ficar quente para ti e
para mim: Ele morreu por ti e por mim - morreu por seu
irmo Caim. Pelo rebelde, que vi rara as costas para Deus,
em revolta e desprezo. E a novidade que os que se deixam vencer por este amor, aceitando a morte de Cristo por
eles, recebem a graa de poderem e de quererem - morrer
com Cristo - junto com sua rebelio, seu desespero, seu
medo, seu dio, sua injustia. O velho Ado no consegue
morrer por si. Ele o consegue quando experimenta a maior
graa de Deus - que em Cristo lhe dado o golpe de mise
ricrdia. Aceitamos a graa de podermos morrer com Cris-=to - tu e eu?
2. Mas a cruz de Cristo no s morte. t vida. Deus
o Deus da vida e o Deus dos que vivem. Com a Sexta-fei
ra Santa comea a Pscoa. Nova vida brota do sangue
de
Cristo - vida libertada da revolta do homem antigo - do
homem que quis viver para si e que achou que isso era vi
da: O homem que aceita a morte de Cristo - que morre com
ele - chega a viver de verdade. A experincia do amor de
Cristo to poderosa que no nos deixa outra aiternativa - a no ser de vivermos para ele. Sincronizados com
seu amor.
3. Paulo chama esta vida VIDA EM CRISTO. Como antes
o ~o~m vivera 11 em si mesmo 11 ( 11 ensimesmadc1 1 ) ' preso
na
prrsao do EU, na qual ele mesmo se escondera e se entrin
chei~ara para no precisar olhar a face de Deus, para no
precisar enfrentar a verdade sobre si mesmo e a sua vida
falhada - ele agora passa a viver em uma nova realidade:
EM CRISTO. Lembramos: 11 Como o peixe vive na gua 11 - seu

14 -

15 -

elemento de vida. Ele precisa de gua para poder sobreviver. E ele no quer outra coisa. O homem se entrega a esta nova r~alidade EM CRISTO, na qual os demnios do deses
pero, do odio, do medo, da solido no governam mais. Aan
tiga realidade passou! ... Passou mesmo? Mas eu ainda
sinto - ela me sobressalta, me tenta ... Sim - fora de Cris
to ela ainda existe, e todos ns a experimentamos. Mas EM
CRISTO ela foi superada. Em Cristo o homem pode viver para Cr'.st~ - e isto signifTCa: no amor de Cristo - paraseus 1rmaos.
4. Pois Deus estava - e est - em Cristo, e com o seu
poder e com o seu amor desfaz a antiga realidade escravizadora. O milagre: O mundo se tinha levantado em revolta
~ont '." Deus_ - e Deus no espera, sentado em seu trono de
JUSti?, ate que o mundo venha para ele - para pedir paz.
E1e v~ 1 ao seu encontro para reconc i li ar o homem rebe 1d e.
Isso e mais do que oferecer paz. E'. dar paz. Deus vai at
0 ~onto da maior perdiao do homem -:-Onde o dio parece
tri~nfar. E no momento em que toda a real idade humana parecia provar: Deus voltou as costas ao mundo - ele abando
nou .homem definitivamente, entregando-o a seu destino ~recido - neste momento Deus diz: Eu estou aqui, contigo.
uero reconciliar-me contigo. V que eu falo srio - v o
preo que pago: Meu Filho, que morre em teu lugar . No se
g~res mais a tua vida antiga. Solta as barras de tua pri-=sao. Solta a ti mesmo. Segura a minha mo. V os braos
estendidos de Cristo. So meus braos estendidos para receber a ti, o rebelde. V - eu fui ao teu lugar - identifiquei:me contigo em teu maior desespero. Tomei sobre mim
0
qu~ e teu. Tiro de ti o teu fardo todo - para dar-te
o
que e i:eu: minha justia, minha paz, meu amor. Recebe-o
~ara ti e passa-o adiante. V que eu te peo. Nas palavras
e meus mensage~ros eu te solicito: Reconcilia-te comigo.
5. Uma canao de cristos negros dos Estados Unidos:
''E stavas presente, quando o pregaram
'
cruz?
Estavas presente, quando lhe trespassaram as mos?
Estavas presente, quando ele gritou: Meu Deus, por
que me abandonaste ?''
11
s vezes acontece que eu estou presente - e ento
tremo, tremo, tremo ... 11

A morte de Cristo realidade para tremer mesmo. Porque nela se revelam o juzo e a graa de Deus . E na presen
a de Deus muito natural que tremamos. - Ests presenteonde o Cristo morre, onde o juzo de Deus se manifesta? O
teu corao t.reme? Tua cansei nci a te acusa? Tua vi da ego
cntrica, tua falta de amor te condenam? Bem-aventurado s, se assim for e se agora no te esconderes de Deus. Pois ele est voltado para ti, no levando em conta a tua
culpa, no exigindo prestao de contas de tua vida antiga
- s levando em conta o seu amor - que no quer destruir,
mas salvar. - E escuta: Deus pede. Ele pede a ti, o culpa
do, para que te reconcilies com ele. De uma vez para sem
pre. E eu estou aqui para dar-te o recado. S para isso.Estou aqui como embaixador de Deus para em humildade oferecer a ti o que foi oferecido tambm a mim. Reconciliao incondicional com Deus, meu e teu Pai e Criador. - E
no s eu recebi a tarefa. Todos os cristos a receberam.
E tudo o que falarem, tudo o que fizerem, dever e poder
traduzir aquele pedido de Deus: 11 Reconci li ai-vos comigo 11
A reconci 1 iao entre os homens? Entre ti e teu esposo ou
tua esposa, teu vizinho, teu colega de trabalho? Esta reconciliao est feita, consumada, no momento em que acei
tares a reconciliao que Deus te oferece. Porque ela
que permite que vivamos uma vida em comunho onde o seu a
mor a fonte de nossas aes - de nossa nova existncia~

16 -

DOM

N G O

lCor1nt

DE
o s

PSCOA
15,19-28

Walter Altmann
1 - PARA A REFLEXO MOTIVADORA

Em caso de necessidade, poder-se-ia - formulando ex~


geradamente - imaginar um Novo Testamento que contives~e
to-somente a histria e a mensagem pascoais, mas jamais
um tal que no os contivesse" (Karl Barth, KD 111/2, 531)
11
A ressurreio to certa quanto Deus Deus. Se D~
us apenas uma concepo que o homem forma para si , . a ! 1 m
de possuir desse modo um conceito de ordem para a ex1st~n
cia do mundo ou um garantizador para a lei moral ou ent~o
um juiz sobre bem e mal ou ainda um consolo para_sua tr 1-.
bul ao - se Deus apenas isso, ento de fato nao necess _:_
tamos de ressurreio a l guma 11 (Hans Joach i m 1 wand, Luthe rs
Theologie, p. 203).
11
Qual o ministrio (do Cristo ressurreto e exaltado)?
Est sentado l em cima numa cadeira dourada, mandand<:> os
anjos tocar (msica) e apresentar-se diante dele, ou e 0 ~
cioso? No ... Ele efetua duas coisas, a saber, levou cati voo cativeiro, e ainda no deixou de fazer isso, mantendo (-o) cativo sem cessar isso a primeira coisa. E a 0~
tra: concedeu dons aos ho~ns, concedendo-os ainda sem ce~
sar at a consumao do mundo e distribuindo-os entre
os
seus cristos . . . 11 (Lutero, Prdica em WA 23,705,6-13)
11
Da glria de Deus o homem s se torna participante,
quando sempre de novo deixa para trs de si o que j e o
que encontra como estado do seu mundo. No atravs da fuga
ao mundo, mas atravs de ativa transformao do mundo, que
a expresso do amor divino, do poder de seu futur~ so~re
o presente atravs de sua transformao em direo a gloria de Deus 11 (Wolfhart Pannenberg, Grundfragen systemati~
cher Theologie, p. 398).
11

11 - CELEBRA~O DA PSCOA E A MENSAGEM EVANG~LICA

Quando o pastor adentra a igreja numa data eclesisti-

17 -

ca festiva, encontra-a repleta de gente. Na Pscoa haver menos gente do que dais dias a ntes, na Sexta-feira da
Paixo mas ainda sero mais do que nos domingos 11 comuns 11
Muit os ' rostos, o pastor no se reco rda de jamais have-los
visto. Mas ele no se surpreende. J o esperava. A experincia de anos anteriores no lhe permitiu se equivocar.
Ar mou-se intimamente para a grande chance qu~ lhe proporcionada ou ento pa~a o i nev i tve l d~ a de a rduo t :aba1ho (f r ustrando o convivi o com sua fam1 lia). Mas afinal,
o que fazer desse culto de Pscoa, mais um numa seqncia de todos os anos?
O que traz ao culto aquelas fisionomias desconhecidas
e o que aumenta nesses dias a e xpectativa dos participantes costumeiros? Por certo, podemos mencionar o peso
da
tradico a reminiscncia do passado, da infncia. Isso
est cer~o; mas ainda no identifica o corao que mantm
vivas e atuantes a tradio e a reminiscncia. Trata-se,
a meu ver, da fora da religio como compensao pela rdua vida. Festeja-se algo misterioso: na Pscoa a ressu..!:..
reiao de Cristo, que no se compreende bem, est basta~
te distante, mas d um certo alvio igualmente inexplicavel, tamb m misterioso. Nesse conte xto, a Santa Ceia
ou
me smo a confirmao, se praticadas nesse dia, servem para
intensificar essa sensao.
Est claro que a Pscoa e ma i s algumas datas espordi
cas (Sexta-feira da Paixo, Finados, Natal, etc.) j sao
muito pouco para preencher as lacunas de religiosidad: abertas com a crescente agitao da vida urbana, relaoes
de t r abalho esgotantes, mecanizao acompanhada de parale
lo aviltament o do ser humano nas regies rurais, falta de
perspectiva de ascenso profissional e social, insegurana econmica (endividamento, compromissos de prestae s),
bloqueio das possibilidades de participao na vida pbli_
ca, exposio propaganda comercial desenfreada e psicologicamente programada, incapacidade de educao dos f ilhos no novo contexto com seu simultneo desequi l(brio f a
miliar. Eu dizia que as datas de pra xes li t rgicas tradi-:cionalmente oferecidas j no conseguem compensar a acel~
radamente crescente presso e opresso que pesa sobre no~
so homem. Conseqe ntemente no conseguem satisfazer
sua
progressiva necessidade 11 religiosa 11

18 Da porque ja comeamos a sentir o esvaziamento de nossos


cultos nessas datas. A freqncia j no a rnesma de h
anos atrs. E neste ano possivelmente sero menos do que
no ano passado.
O que aconteceu? Para cada vez mais gente a quant idade de mistrio que a nossa igreja proporciona fica em des
proporo s exigncias traumatizantes que o restante da
v~da impe. Procuram ento outras prticas, cheias de mis
teria, que satisfaam sua crescente necessidade religiosa
compensatria. Tal prtica pode ter aparncia bem secular.
Natal e Pscoa, por exemplo, vo sendo progressivamente
transformados em festas rituais familiares e sociais. Nem
por isso so menos 11 religiosas 11 no sentido que estamos em
pregando aqui, mas esvaziam as igrejas.
Para me tornar mais claro, exemplefico com a loteria
esportiva. O relacionamento de nosso homem com ela niti
damente de intensa religiosidade. A loteria esportiva a-campanha, por assim dizer, toda a vida do apostador. Desde 0 momento em que consultou os palpites dos 11 especi ali~
11
tas no jornal ou no rdio (variante secular do horscopo!), passando pelo momento de marcar o carto (com aquel~ palpite particular e mstico da 11 zebra 11 que lhe possi
b1 1"
,
- ~tara a fortuna!), alcanando a hora da 11 revelao hi~
tor1ca11 em que se acompanha a mag1
- . ca dos go l os que so f re
0
~ marca qualquer time ignoto em algum confim deste Brasi], encerrando o ciclo com a verificao de quantos ace!:_
tadores houve (quanto menos acertadores maior a emoo!~
~ar~ ~e imediato comear tudo da frente outra vez. E
nao
e dificil divisar na contagem de pontos ( 11 fiz onze pon111
tos
- pelos treze pontos que se perd em con
. ) a compensaao
t1nuament

- sabido

- que o consumo d e d
_e na vida. - E
tambem
rogas e uma forma de recolhimento e criao de um mundo
novo compensatrio para o mundo real experimentado como a
gressivo.
Ou ento o homem procura outras religies, cujo espec
trovai desde as prticas orientais de meditao (recolhi
menta a um mundo interior) at a umbanda (com seu xtasedesenfreado), passando pelo pentecostalismo (batismo
do
Esprito S~nto, glossolalia) e o espiritismo (comunicao
com os esp1ritos de falecidos). Sempre h a criao de u-

19 -

ma outra real idade a compensar as frustraes da vida. Em


face disso, o catolicismo ainda tem maiores reservas "sacramentais11 do que a igreja evanglica e pode recorrer
venerao de santos e outras prticas populares. A igreja
evanglica, porm, extremamente pobre em recursos dessas espcies . Vantagem ou desvantegem? Que fazer?
certo que devemos procurar novas formas de convivn
eia comunitria, em que nossos membros realmente se sintam aceitos e livres para participao ativa, em que podem exteriorizar seus afetos e descarregar suas atribulaes . Seria errado, porm, querer competir com todas
as
correntes religiosas existentes, aumentando a oferta
de
mistrio e rec lus o em mais alguma variante "luterana 11 .
Cultos e liturgias com efeitos emotivos calculados, tcni
cas de movimentao entusistica de massas devem ser re-=n~nciadas de antemo. No s porque inevitavelmente perde
riamos a competio . . . Mas antes de tudo porque a postura
religiosa que est por trs de todos esses movimentos,com
sua negao do mundo e procura de compensaes, radical
mente anti-evanglica, contrastando com o Deus que amou o
mundo, com Jesus Cristo se identificou com o pecador
e
com o Esp(rito Santo que no liberta da vida, mas para a
vida .
A alternativa que nos cabe empenharmo-nos incessantemente pela l oca lizao da fonte da esperana em meio
desesperana, transformando a frustrao em perseverana
e a resignao em impulso de renovao. Trata-se de viver
o Cristo ressurreto na realidade alienante, remindo o tem
po . preciso encontrar o amor em meio ao dio e contra
l e; a justia em meio injustia e contra ela; a liberda
de em meio opresso e contra ela; a dignidade em meio
tortura e contra ela; a vida em meio morte e contra ela.
Quem transmitir e receber dentro da "velha 11 realidade es1
sa ' nova' 1 realidade vitoriosa, esse conhece o ressurreto
cr nele. A ocorre para ns hoje Pscoa (sem suprimir '
S e x t a - fe i r a d a P a i x o) .
A prdica do domingo de Pscoa atingi r seu objetivo,
se conseguir evocar essa nova realidade estabelecida com
a ressurreio de Cristo. A anti-bblica dissociao entre profano e sagrado precisa ser superada. Os participan
tes do culto procuram a fuga e uma compensao do mundo -

20

- 21

dirio - fica subentendido que nem todos se enquadram a


- no podem ser fortalecidos na resignao e no acomodamento frustrante. Pelo contrrio, devem ser remetidos de
volta ao mundo (o que de qualquer modo inevitvel) ,mas
sabendo que este um mundo amado por Deus, pelo qual
Cristo morreu e ressuscitou; para cuja redeno o Espri
to nos envia. Assim se ser fortalecido para viver perma
nentemente a esperana e a certeza da vitria de C~isto.
(t evidente, por fim, que esta no ser uma predica
do pastor para a comunidade, mas ser um ouvir da Palavra de Deus por parte do pastor junto com a comunidade.
Ningum est pronto. Pois tambm o trabalho do pastor,
i~clusive sua prdica de Pscoa, pode ser fuga e resign~
ao, que precisam ser vencidas pela ressurreio, para
se tornar libertadora e transformadora.)
Ili - Uma parfrase: CRISTO LIBERTA E COMPROMETE;

com sua teologia da cruz. Pois com a postura de exaltao


espiritual deixa-se de reconhecer o lugar prprio na 11 ordem" (v. 23), desconsideram-se os inimigos, potestades,po
deres e mor~e (v. 24 e 26). E quem os desconsidera, quem
se arroga ja ter chegado ao alvo, continua preso a
este
mundo que s conhece e admite a glria, o xito, osucesso.
De outro lado, porm, Paulo tampouco advoga para
o
crente uma posio de espectador na luta de Cristo contra
os poderes. Isso seria resignar diante da injustia,do pe
cada, dos poderes e da morte. Justamente no captulo 15,em que aborda a ressurreio de Cristo e a nossa ressurreio pela ao de Deus, Paulo no deixa de mencionar seu
u intenso trabalho (v. 10), sua exposio a perigos (v.
30), sua luta com feras (v. 32). 11 Dia aps dia morro~" Es
sa sua experincia atual da ressurreio de Cristo (v.3 l) .
B. Percope

A LUTA PERDURA, A VITRIA t CERTA

11

A. Contexto
lmp~icitamente ja estivemos falando de nosso texto.
A l Cor1ntios culmina com o captulo 15. A ressurreiao
de Cristo corno fonte de nossa esperana e pugna o tem~
da carta. A cruz de Cristo sua base, enunciada no capi
tulo 1 (18-25). Da cruz ressurreio, assim transcorre
essa carta. Contudo, no como um relato distanciado
de
um aconteci menta surpreendente e mi racu 1oso, mas sim como~ determinao de Deus para a vida da comunidade de
Corinto. E para a nossa vida. Ns, comunidade de Cristo
morto e ressurreto, nos dias de hoje, somos marcados, to
macios e jogados em movimento por essa dupla realidade:
morte e a ressurreio. Andamos sempre da cruz para
a
pascoa.
inerente f no ressurreto o impulso para frente.
Sempre que queremos dissolver essa realidade dupla, auto
nomamente, camos na morte. Os corntios no negavam dou
trina~iamente a ressurreio, como pode parecer. Pelo contrario, afirmavam que j tinham a ressurreio pronta,
a:abada, em seu entusiasmo, na exaltao, na fora do Esp1 ri to. Paulo inverte a direo, quebrando a exaltao

Se a nossa esperana se limita apenas a esta vida,so


mos os mais infelizes dos homens'' (v. 19). Por qu?
Nao
porque devssemos olhar para um 11 outro mundo", fugindo a
li
.
es t e li , ~as porque os f atos d o presente vistos
sem Deus,
sem a aao vitoriosa do Cristo ressurreto em andamento,
s:mpre parecem contradizer a esperana crist. A mera apa
rencia, o simples momento sempre nos ensina simplesmenteque a ganncia triunfa, os maus prosperam, o poder correm
pe e esmaga, a injustia oprime, o dinheiro escraviza, ~
mor te t r i un f a .
11
Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sen
do ele as primf cias dos que dormem'' (v. 20). A ressurrei-=o de Cristo no ocorreu fora do tempo e do mundo,
mas
dentro deles. De modo que agora o ressuscitado est presente, embora oculto na cruz, ainda confrontado comas for
as que lhe resistem tenazmente.
Por isso a esperanado cristoestdepositada, como diz
Lute~o no Catecismo Maior, numa promessa divina "contra a
aparencia". O presente est marcado por ambas as realidades: a ~a morte e a da ressurreio (v. 21 e 22). No se
trata s1mple:me~t: de uma simultaneidade subjetiva para o
crente como . 1nd1v1du?, mas uma duplicidade que caracteriza
t?d~ a realidade. Cristo luta contra todos os poderes e i
n1m1gos supra-individuais (v. 24 e 25). E assim como
o

22

individuo envolvido por tais poderes, tambm e env ~ l v i


do pela realidade da ressurreio de Cristo~ as pri m ~ci~s.
Paulo no descreve simplesmente uma visao apocal 1p t 1 ca, um drama final para aps o tempo, mas ele qual i f~ ca o
espao de tempo entre a ressurreio de Cristo e o fim (v.
24). O fim vir aps a destruio dos inimigos, que . ocorre no nosso nterim. Neste nosso espao de tempo Cristo
reina e luta contra os poderes, para depois entregar o
reinado a Deus (24 a 28).
.
O nosso tempo , pois, caracterizado por sua local 1 z ~
o entre a ressurreio de Cristo e o fim 11 em que Deu ~
ser tudo em tudo" (v. 28, traduo divergente de Almeida). Essa caracterizao escatolgica d comunidade
crist a perseverana. Nutre-se ela simultane~ment e do fu
tur~ e do passado. O futuro ser a mani!esta~o ~len a da
vi toria, mas s a esperana no futuro nao :er1a 1mpu _ls o
suficiente para envolver no combate da vitoria. O rein o
de Deus ainda seria uma possibilidade aberta, dependent e
de nossos esforos . Mas com igual razo fracassaria tambm_pela nossa resignao e desistncia. Por i:so para
a fe a certeza do futuro se baseia num acontecimento do
passado, ocorrido: a ressurreio de Cristo.
Paulo no desvia do presente (para o futuro, para 0
alm), nem confirma o presente (pelo entusiasmo), mas f?..C.
talece para um caminho. No se retira para a esfera . pri~ada, mas vive e proclama o envolvimento. No:so caminho
e um engajamento esperanoso junto aos que nao conseguem
t er esperana, porque nao
- sabem d_a v~ t oria
- sobre os pode
i-:res inimigos. A esperana onde nao ha esperana, o cam
nho onde parece s haver barreiras, a perseverana 0 !:1de
tudo parece frustrao - isso para ns a ressurreiao
de Cristo.
~ O 1 t i mo i n i mi g0 a s e r d e s t r u d ~ a mo r t e 11 ( v : 2 6 )
Tambem foi o primeiro, na ressurreiao de Cristo: Sim, a
morte quem sempre de novo nos ameaa, por detras_de to
das as misrias e injustias, de todo pecado e ego1smo .
Contra a morte que contraditoriamente queremos nos pr~
caver quando compactuamos com as potestades e poderes
que so em verdade os instrumentos da morte. 11 De nosso
medo diante da morte todo establishment toma seu poder 11
(Walter Hartmann, PTh 57, 1968, p. 295). Por causa desse
1

- 23 inimigo e preciso que tambm o crente olhe para o futuro


(o fim no reino de Deus) e para o passado (Pscoa), ~ara
confessar com o Salmo 8,6: "Deus todas as coisas tera sujeitado debaixo dos ps de Cristo 11 , porque "todas as coisas lhe sujeitou''(v. 27, fazendo uso de duas modalidades
de traduao do perfeito hebraico).
IV - Uma atualiza o possvel:
VIVEMOS OU MORREMOS CONFORME NOSSA ESPERANA
A. "A esperana a ltima que morre"
Esse ditado de nossa lngua nos diz duas coisas:
1. No podemos viver sem esperanas.
Quando perdemos a esperana, f .1camos ''d esespera d os 11 .
Sob essa ameaa, aferramo-nos nossa esperana enquanto
d. 11 A esperana a ltima que morre" nos serve de luta
e resistncia. Quando a esperana se frustra, nosso empenho fracassa, substitumos a esperana eerdid~ por outra
esperana. Essa nova esperana ser entao ~"ultima que
mor re 11 um processo doloroso, mas i nev i tave 1 para continuar vivendo. (Um suicida, por exemplo, no conseguiu
efetuar tal substituio: morre com sua esperana.)
Exemplo: O jovem que sonha com uma moa como sua namorada . No sendo correspondido em sua esperana, restalhe a frustrao, que precisa ser elaborada, at que uma
outra moa lhe evoque uma nova espe~ana de vida. Ou ento : A elaborao de um projeto poli tico. A esperan~ evocada frustrada pela ao de foras maiores anta~oni
cas. A esperana ser abandonada (acomodamento) ou r:el~
borada (mudana de ttica, reviso de prazos, autocr1 tica) .
2. Nossas esperanas de fato morrem, nem que sejam
por ltimo.
Assim tudo quanto fazemos de antemo ambguo: j
est marcado tanto pela esperana quanto pela frustrao.
(Exemplo: Toda a medicina em seu empenho pela vida uma
luta constan~e com uma esperana j sempre marcada pela
morte inevitavel; como modelo mais claro cite-se um caso
de cncer incurvel) . E quando chega a hora da morte da
esperana, entregam-se os pontos e assume-se a postura

- 24 de acomodao e resignao que os demais experimentam como falsidade e traio, mas que o prprio experimenta como rendio numa guerra pessoal perdida.
Exemplo: O jovem crtico e abnegado que se torna um
profissional acomodado e interesseiro. Ou: O estudante de
teologia crtico que se torna um pastor ditatorial ourotineiro. No so s interesses prprios e egosmo que motivaram tal mudana; so tambm esperanas mortas que
a1
se expressam.
3. H situaes de desesperana que violentam a digni
dade do homem. (Vide tudo quanto foi dito na parte 11.)
Estabelecem-se poderes e sistemas que no do margem
a participao e criatividade do homem, vendo-se este for
ado s compensaes religiosas pelas esperanas frustra-=das .. A se v que o t~ma esperana - desesperana no af~
ta simplesmente individuas e circunstncias particulares
de sua vida, mas coletividades inteiras, todo um povo (por
exemplo, sob uma ditadura) ou at mesmo a humanidade (por
exemplo, a ameaa provinda dos problemas ecolgicos)
B. "Nossa esperana no morre jamais 11
Dessa esperana nos fala o apstolo Paulo.
l. No precisamos viver sem esperana.
Aqui se inserem as reflexes sobre o nosso momento co
mo nterim entre a ressurreio de Cristo e o fim no Rei-=no de Deus (parte 111 B). Toda frustrao foi absorvi da
pela morte desse um: Jesus Cristo. No h profundidade de
desespero que no estivesse nele, que no pudesse ser la~
~a~a_sobre ele, acarretando libertao. H aqui a substiui ao de ~odas as nossas esperanas que morrem {por depe~
derem de nos) por uma esperana de que narti ci pamos at i vamente, mas est decidida por quem j e ser vitorioso.
Conseq"uen t emente nossas frustraes so transformadas. As
causas pa~a elas continuam: nossos fracassos, rejeies
que experimentamos, poderes que nos so adversos. No entan
to, todos eles j no levam frustrao desesperada, massao restringidos tribulao com sentido (Rm 5,3).
2 . A esperana certa leva perseverana.
Aqui se inserem as reflexes sobre o nosso momento como caminho entre a Pscoa e o fim (parte 111 B). Cristo e
ja agora senhor do mundo. Ainda contestado. Por isso

~empo d~

25 -

l~ta, em que_Cristo no admite espectadores:


Quem nao e por mim, e contra mim" (Mt 12,30). Justamente porque os crentes participam da luta que lhes advm
tribulaes. Mas participando da luta tambm se lhes tor
na claro que esto participando da vitria. A aparnciado fracasso se desfaz para a f que divisa o triunfo.
Assim a tribulao produz a perseverana (Rm 5,3), enquanto que a frustrao leva ao desespero.
3 . As situaes de desesperana so rompidas.
Aqui se inserem as reflexes sobre o nosso momento co
mo engajamento. A conseqncia para o crente e a comuni-=dade crista nao "comamos e bebamos" (v. 32), mas 11 assu
m~r o bom combate'' da "justia, piedade, f, amor, cons-=tancia, mansido" (1Tm6,lls), no conformar-se comeste sculo mas vencer o mal com o bem (Rm 12,2 e 21). Colocar-se do lado do pobre (Evangelho de Lucas), chorar
com os que choram (Rm 12, 15), servir os pequeninos (Mt
25). Isto , ser como aqueles para os quais valem as bemaventuranas: humi Ides, pobres, sofredores, misericordiosos! ~ersequidos ... (Mt 5). Assumindo a desesperana dos
opr1m1dos, brota a esperana vitoriosa e 1 ibertadora. A
se rompem as cadeias, a os poderes so vencidos, a
a
luz brilha nas trevas.

- 27 -

- 26
DOMINGO

o r

n t

DE
i o s

PSCOA
15,19-28

Gnter K. F. Wehrrnann
1 -

Traduo e cornparaao de tradues

V 19: Se somente par>a esta vida que esper>amns


m
Cristo, somos os mais rniser>veis de todos os home ns .
V 20 : Agor>a, por>m, Cristo foi r>essuscitado dentre os
mor>tos , sendo ele as primicias (is to o pr>imei r o ) entr e
aqueles que mor>r>er>am.
V 21: Visto que a mor>te v eio por um h omem, tanbm p o r
um homem veio a r>essur>r>eio dos mor>tos .
_ V 22 : Pois assim como em Ado todos morrem, assi m tam
bem em Cristo todos ser>o vivificados .
V 23 : Mas cada um na sua ordem : Como primeiro Crist o ,
depois os que so de Cristo, na sua volta .
V 24 : Ento vir> o fim, quando ele entr>egar> o rie in o
~o Deus e Pai , depois que tiver> destruido todo prin c ipado,
em como toda potestade e poder> .
V 25 : Porque preciso que ele r>eine at que ti v er
posto todos os inimigos debaixo dos s eus ps (cf Sl 110 , 1) ;
V 26 : o ltimo inimigo a ser destruido a morte .
~ 27 : Porque todas as coisas sujeitou debaixo dos se ~ pes ( Sl 8, 7) . E quando diz que todas as coisas lhe
sao su~eitas, evidente que com exceo daquele que l h e
suh o~d&nou tudo (ist o Deus) .
_V 28 : Quando porm, todas as coisas lhe so sujeitas ,
entao tarribm o Filho s e sujeitar quele que lhe sujeit o u
todas as coisas , a fim de que Deus seja tudo em todos .

. ~d l~: O_terrno "infelizes" fraco, leia melhor com o NT


Ta1ze 11 rn1seraveis 11 ; isto expressa melhor o termo grego.
ad 20: Leia "Agora, porm ... " para destacar o contras
te com o_v 19; leia" ... foi ressuscitado ... " para expres
sara aao de Deus. O termo "as primcias", apesar de pou
co conhecido, convm de;xar, pois expressa os trs senti~

dos: l) Cristo o primeiro; 2) o primeiro caso constitutivo para os outros; 3) at agora ele o unico .
ad 23: Agora convm ler" ... como primeiro . .. ", po i s
trata-se de ordem; sugiro l er " ... na sua vo 1ta", pois el e j veio;
ad 24: Sugiro ler 11 dep o is que tiver destrudo todo principado, bem como toda potestade e poder", po is tra
ta-se de poder qualquer, fora de Deus;
ad 25: O termo "convm" mui to fraco, no expressa a
dequadamente o termo grego; leia como NT Taiz "Porque e
preciso . .. ";
ad 28: " . . . a fim de que Deus seja tud o em todos" esta a traduo mais fi e l e compreensiva. As outra~
tradues so mais limitadas no sentido, embora sejam uteis para a medi tao:" . .. seja absolutairente supremo"
(assim NT Vivo) ou" ... Deus reinar completamente sobre
tudo" assim a Bbli a na linguagem de Hoj e ).
11

Conte xto

Sabemos que Paulo em 1 Cor~ntios trata de perguntas,


dvida s e problemas da comunidade. Assim, ne ste 15~ captul o, e le fa la da ressurrei o dos mortos, que est sendo
negada por um grupo na comunidade (v 12). De onde veio e~
ta negao? Wilck e ns, com raz o , diz qu e ela provavelmente depend i a da prpria prega o missionria, que acentuava a ress ur reio de Cristo, porm po uco a dos mortos, a~
sim que os tessalonicenses j se pre oc up avam com a ques to (cf 1 Ts 4,13ss) referente aos falecidos. A Paulo
concluiu da ressurreio de Cristo a re ss ur re io dos mor
tos, a qual realizar-se-ia na vo lta de Cri sto.
Os cristos judaicos conseguiram aceitar ist o como
consolo, pois no judasmo se cria que Deus t er ia o poder
de ressuscitar os mortos. Par a no judeus, porm, era d i fci 1 crer na ressurreio do cor po; pois criam na i mo rta
lidade da alma (assim ainda hoje os catlicos e at irem-bros de nossas comunidades). Alm disso os corntios, entusiasmados, achavam qu e j tinham a salvao escatolgica (4,8) e desta forma dissolviam a tenso entre a salvao de "j agora" e "ainda no 1 1 Assim eles reJ e l tava m a
f na ress urreio do s mortos, mas no a de Cristo - assim
e 1es pensavam.

- 28 Paulo, porm, acentua no incio (15,l-ll) o consenso


comum da ressurreio de Cristo como fundamento comum.
Partindo dali, dialoga a questo da ressurreio dos mor
tos no fim dos tempos (15, 12-34)' alegando que negar
a
ressurreio dos mortos no apenas negar uma partezinha
pouco importante do evangelho, mas, sim, negar e trair
o evangelho todo (v 14). A ressurreio dos mortos conseqncia lgica e evidente da de Cristo. Quem nega uma,
tambm nega a outra. Caso no, v a pregao, e os qu e
faleceram, crendo em Cristo, esto perdidos. Portanto,
crendo em Cristo apenas referente a esta vi da e no vi n
doura, somos os mais miserveis ... (v 19).
Em v 20-28, Paulo d a justificativa para a ressurrei
!dos mortos: Cristo as primcias dos que dormem. Ele
e primcias nos trs sentidos j mencionados sob ad 20.
Como outro argumento servem ainda a tipologia de Ado e
Cristo (v 22) e as citaes de SI 110,l (v 25) e Sl 8,7
(v 25 e 27).
Em v 29-34, Paulo alega que, se no houvesse ressu r reio dos mortos, no faria sentido batizar nem ele ter
lutado pela causa de Deus em feso onde estava preso.
Em v 35-49, Paulo prova a ressurreio corporal luta~
do contra a fi Josofia sobre a imortal idade da alma (Plato). E continuando nesta linha (v 50-58) argumenta que
os que ainda vivero quando Cristo voltar, sero transfor
mados. Deduzindo de tudo isso, Paul o diz que p9r isso
o
trabalho da propagao do evangelho no e em vao.
li 1 - Palavras-chaves de nosso trecho
"Os mais miserveis 11 (v 19), neste caso, no so
os
que merecem a compaixo de Cristo, pelo contrrio: so os
que merecem o julgamento de Cristo devido sua cegueira.
O termo em alemo seria 11 die bemitleidenswertesten 11 Temos compaixo com eles e testemunhamos o evangelho a eles.
11
Cristo foi ressuscitado dentre os mortos" (v 20) - o
verbo 11 eguero 11 significa em primeiro lugar: despertar, a
c~rdar , levantar-se, e mui tas vezes um sinnimo de "cm=
h ~ste'!}'l. " Em alguns lu~ares a LXX usa esta palavra em cor
relaao com ressurreiao dos mortos. No NT, muitas vezesPCincipalm:nte nos evangelhos, o termo usado como no AT.
Ja ali, porem, mostra-se que Jesus o Senhor sobre a mor-

29 -

te (p. e x ., ressurreio da filha de Jai ro), usando ames


ma palavra (eguero). E i s so nos leva leva ao testemunhadas cartas do NT que usam o mesmo termo quase e xclusivamente em relao ressurreio dos mortos. A ressurreio de Cristo o centro da pregao paulina (confira
Co 15, 1); por este evangelho somos salvos. A ressurre1ao
de Cristo testemunhada por muitos, e por causa dela haver conseqentemente a ressurreio dos mortos (l Co 15,
13-17 .20-23).
O termo 11 anstasis 11 usado semelhantemente. J nos
Salmos, de vez em quando, mas expressamente em Ez 37
e
Dn 12, 1 o termo est relacionado com a ressurreio dos
mortos. No tH o termo est sendo usado como o de 11 eguero11. No centro est a ressurreio de Jesus, j anunciada por ele mesmo, e depois testemunhada pelas mulheres,
pelos discpulos e apstolos. At no evangelho seg. Joo,
que tem uma certa tendncia para a escatologia presente,
observa-se que a ressurreio de Cristo a condio para a ressurreio geral que est por vir. E no se trata
d~ uma continuao da vida da alma, mas sim da ressurrei
ao corporal.
Quando ser esta ressurreio? H duas linhas no NT:
a) quando Cristo voltar para julgar (Ap 20, 11-15 e
Mt 2 5 , 3 l - 46) ;
b) alm disso o NT tambm fala de uma primeira ressur
reio dos justos (Lc 14,14), dos mortos em Cristo (l Ts4,16 e provavelmente l Co 15,23); Ap 20,5ss diz que Cristo, no incio do reino dos mil anos, ressuscitar os seus,
e eles vivero e reinaro com ele, sero iguais aos anjos
e estaro com Deus etc. Como ser este novo corpo? Fato
que Deus cuida da identidade da pessoa. O que haver entre minha morte e ressurreio? Isto se torna pouco impor
tante pelo fato de o homem, a partir da hora da morte,no
ser mais submisso ao tempo. Importa unicamente que o homem, Pactindo desta vida, estar frente a Cristo, o qual
lhe sera ou juiz ou salvador.
'~Todos sero vivificados 11 - vida uma palavra central
na B1blia toda. Aqui queremos apenas observar corno Paulo
usa este termo. Cristo ressuscitou dos mortos, vencendo o
eode: ~o pecado e da morte. Cristo, como o segundo Ado,
e o 1n1cio da nova vida para a humanidade (1 Co l5,20ss e

- 31

30

Rm 5,12 ss}. Cristo vive em ns e ns nele. Est a nov a vida de Cristo recebemos atravs da palavra da vida (Fp 2,
16; 2 Tm l,10) e do poder criador do Esprito que vi v ifica (Rm 8,2.6. lOss; 1 Co 15,45). Esta nova vi da no se r e tira do dia-a-dia neste mundo, mas serve a Deus em qualquer situao e 1 ugar, amando ao prxi mo. Vi vemos em e com
Cristo ( 11 syn 11 ) .
Esta nova vida vivemos de maneira dialtica, isto e:
pela f j participamos da nova vida de Cristo e conviven
do com Ele estamos sendo tranformados, j agora. Ainda vi
vemos, porm, neste mundo, no qual h tentao por parte
do mal, e portanto tambm h possibilidade de cair, afastando-nos de Cristo. Por isso Paulo insiste no indicativo
11
do J agora 11 , deduzindo dele o imperativo para lutarmos
na fe, vencendo a velha vida. A tenso, porm, entre o
11
j agora 11 e o 11 ai nda no 11 continua existindo. Quem a d is
solve, torna-se gnstico ou incrdulo.
Mas a ressurreio de Cristo a garantia de nossa
ressurreio para a vida eterna (l Co 15,22). Esta nova
vida que Cristo nos d j hoje (perdo, paz, comunho c o m
Deus e os homens) aponta para a vida eterna ou um ref 1~
xo dela, mas no ela mesma. Pois o alvo, o fim, a finalidade que Cristo derrube e elimine totalmente o maior
inimigo, a morte. Assim, vida eterna j temos hoje, em
parte, e a teremos entao na sua plenitude.
. A mudana desta vida passageira para a eterna Paulo!._
mag1na confor~a a tradio apocalptica (Cf 1 Ts 4). A vi_
da eterna sera corporal (l Co 15,35; 2 Co 5, lss), ser um
ve'. de face a face (l Co 13, 12), ser justia, paz e aleg'.1~ lRm 14, 17), glria (doxa - 2 Co 3 8s)
ou um ser glo
r1f1 ca d o (R.m 8 ,17,
) mas sobretudo ~er ' um . ser
'
co~ Cristo( 1 Ts 4,17, 2 Co 5,8; Fp 1,23). Hoje em dia se diz que es
tes ~erm?s seriam pouco adequados por serem apocal pticos
ou m1tologicos. Pois bem, so inadequados e s o podem
ser, porque o ser humano s pode falar humanamente do eterno . E, sabendo que so inadequados, pode e deve-se falar em qua~ros que por si deixam transparecer o eterno.
Caso contrario, fala-se de maneira abstrata e fria, ou
deixa-se de falar; e ambas as coisas so contra a vontade
de Deus .
Os termos ''entregar o reino ... 11 , ''depois de terdestrudo . .. 11, 11 reine .. . 11 , 11 sujeitar 11 , 11 subordinar 11 (v 24-28)

expressam d o mnio e so ligados com os da ressurreio


dos mortos em v 20.23; assim fica evidente que ressurreio dos mortos nada menos que a revelao do senhorio de Deus, o domnio de Deus. Deus reina atravs do
Cristo vivo j hoje e reinar em glria e majestade no
fim, quando Cristo entregar o reino ao Deus e Pai (v 24).
Pois, ento, a histria de Deus com o mundo chegar
sua finalidade. Ento, 11 Deus ser tudo em todos 11 , ser
honrado por todos, reinar em majestade. Ento, o primei
ro mandamento chegar sua finalidade. Deus ser tudo em todos os homens e em todas as coisas. Isto ser eternidade, ser o novo mundo de Deus, sem pecado, alienao
ou morte. Ento a vontade de Deus ser feita. Ento no
haver mais a discrepncia entre tempo e eternidade.
IV - Escopo
A mensagem do texto ja foi expressa, refletindo sobre as palavras-chaves, assim que nos resta formular o
escopo:
Cristo foi ressuscitado. Desde ento iniciou para a
humanidade a nova vida, sobre a qual a morte no mais te
r o ltimo dispor. Esta nova vida, na sua pleni tude,che
gar a seu fim e sua final idade, quando Cristo voltar. E
le o garantidor dela. Os que nele crem, j agora, par
ticipam dela apesar de ainda serem tentados; e eles espe
ram pelo 11 dia 11 em que Deus ser completamente tudo em to
dos e em todas as coisas.
V - Meditao sobre o texto e os ouvintes e o caso
Nas partes tratadas j temos meditado, em parte, sobre o texto, assim que agora h oportunidade de refletir
sobre o caso da Pscoa e os ouvintes.
Na Sexta-feira Santa, os cultos estiveram superfreqentados; vieram pessoas que quase no se viam durante
o_ano todo,_ 11 cumprindo a sua obrigao re .l igiosa 11 Na
Pascoa, porem, os cultos so pouco freqUentados, comparados com a Sexta-feira Santa. Por que ser? Talvez por
que h mais identificao com o Cristo morto do que com
o vivo - sobre isso deveria se refletir na Sexta-feira
Santa, e no tanto na Pscoa, porque o endereado no

- 33 -

- 32 estar presente na Pscoa, pois a estaro mais os "fiis11. Seria bom pensar se no seria conveniente pregar
sobre este texto na Sexta-feira Santa, destacando especialrrente os vs 19 e 20.
Se pregarmos sobre este texto na Piiscoa, no adi antar xingar os fiis pelo fato de a igreja estar vazia (alis, isto nunca recomendvel), mas deve-se testemunhar
o evangelho da Pscoa; deve-se dizer que no meio de um .
mundo ameaado e circundado pela efemeridade e caracter~
zado por esperanas enganadoras e frustradoras e por me do
de doena e morte, existe um ''Agora, porem
... 11
Cristo foi ressuscitado em favor de ns (lembre-se do
triplo sentido de primcias). Esta a base firme de nossa esperana pela nova vida, j agora e ento.
_
Convivendo com Cristo hoje, j agora temos perdao,paz
e unio com Deus e homens; isto um reflexo, sim, um antegozo da eternidade. Ainda estamos, porm, neste mundo
e
conseqentemente somos tentados por aqueles poderes destruidores supra-citados. Assim sofremos, mas no perecemos. A ltima palavra sobre o nosso destino temporrio e
eterno no tero, porm, estes poderes; pois a ltima palavra sobre o nosso destino o Cristo ressurreto j disse no
v 26 e dir no fim dos tempos. O ltimo inimigo ser destrudo totalmente; a morte ser eliminada; Cristo nos re~
suscitar com novo corpo, corpo que no mais peca nem mo_c
re. Ento no mais haver alienao; estaremos com D=us.
Ento Deus se r tudo em todos e todas as coisas. En tao to
das as prorressas, anunciadas pelos profetas e pelo ~rp'.io
Jesus, sero cumpridas. Ento a vontade de Deus sera fet ta. Ento haver paz, justia, alegria, amor sem fim.
Este evangelho capacita e anima os cristos para se
deixarem envolver por Cristo, j vivendo, em parte, esta
nova vida e se deixando enviar como testemunhas autnticas (em palavra e ao), assim como as mulheres, voltando
do sepulcro, anunciaram: 11 Ns vimos o Senhor ressuscitado".
teste o testemunho do qual a nossa comunidade, a igreja
e o nosso mundo necessitam.
VI - Sugesto de disposio para a prdica
A - Introduo: Quando os missionrios na frica (Togo) , conforme costume, perguntavam ao cacique: "Quais
as

nova s na ald e i a ?, e l e costumava respond e r: 11 Nada, a no


s e r que ho me ns mo rrem". - Todo mundo s ab e da rea~ idade da
morte mas no tem uma resposta. E pare ce que hoje a gente es~ s e desviando desta realidade, fugindo para diverses, ativismo, religiosidade, etc. Mais cedo ou mais tar
de vem 0 triste acordar: Vivemos num mundo circundado e a
meaado por efemeridade e morte. A vida no tem rumo, nao
tem alvo, nem tem sentido, etc.
B - 1 - Nesta situao Deus nos diz o "Agora, porm ... ''.
Cristo foi ressuscitado em favor de nos (triplo sentido
de p ri m c i as) .
11 - Ele vive~ Eu posso conviver com ele e assim tenho um reflexo da nova vida j hoje (perdo, paz, unio,
esperana).
_
111 - Mas ainda n30 estamos no cu (contra 11 Sc:hw~r
mer11). Sofremos, mas no perecemos (esperana).
IV - Pois temos a esperana inabalvel: Cristo ressu~
citou a morte foi e ser destruda por ele. Ele ressusci
tar-n~s- com novo corpo, quando ele voltar. Ento Deus
ser tudo em todos e todas as coisas.
C - Desta mensagem o mundo necessita: "Quem quer ser
o meu mensageiro" em palavra e ao? (cf Is 6,8).
VI 1 - Bibliografia

Bblias: Trad. de Joo Ferreira de Almeida, ed.revista e


atualizada no Brasil, e A Bblia na Linguagem de Hoje: O
Novo Testamento, ambas da Soc.Biblica do Brasil. - O Novo Testamento Vivo. Ed.Mundo Cristo, S.Paulo. - O Novo
Te stamento (Taize). Ed.Herder, S.Paulo, 1970.- Biblias
em alemao: ZUrcher Bibel; trad. de Martin Luther, revisa
da; trad. de Hermann Menge, Ulrich Wilckens e J8rg Zink~
- SCHLATTER, Adolf. Die Korintherbriefe. ln: ErlMuterungen zum N.Testament, vol.6.Calwer Verl.Stuttgart. - WEN~
LAND, Heinz Dietrich. Die Briefe an die Korinther. ln
NTD, Vandenhoeck, G8ttingen.- STIDILIN, Wilhelrn. Predigthilfen II.- Predigtstudien, ed.por Ernst Lange e outros,
vol.IV/2, Kreuz-Verlag, Stuttgart.- Gepredigt den V8lkern,
ed.por Georg F.Vicedorn e outros, vol.IV/2.- Begriffslexikon z.N.Testament.- BAUER,Walter. Griechisch-dt.W8rter buch zum NT, T8pelrnann.- NESTLE,Eberhard. Novum Testa rnentum Graece. WUrttb,Bibelanstalt, Stuttgart.

- 34 DOMINGO

At o s

J U B 1 L A T E

17,16-34

Wilhelm B!jsemann

Preliminares

1) A percope est prevista para o domingo Jubi late,


dia em que no ano de 1976 ser comemorado o 11 Di a das Mes11 Esta cincidncia provavelmente, de acordo com
os
costurres locais, obrigar o pregador a decidir-se em favor de um outro texto. A incluso de consideraes
em
11
torno do Dia das Mes 11 numa prdica sobre Atos 17, 16-34
significaria necessariamente um desviar-se da mensagem
central da percope.

2) Para a interpretao do texto Atos 17, 16-34 a que~


to da historicidade secundria. Antes se trata daques
tao teolgico-missionria: Como pode a mensagem de Cris-=to s7r anunciada a um gentio que desconhece as sagradas
escr 1turas do Antigo Testamente? Qua 1 o ponto de parti
d~ para um pregador ou missionrio se, aparentemente, es
ta.faltando toda base para a compreenso da mensagem
de
Cristo?
11 - O texto
V 16-21: Na sua segunda viagem missionria Paulo che
ga Atenas, cidade que naquela poca tinha em torno
de
5 mil.hab~t?ntes. A presena de Paulo em Atenas, o centro fi loso!1co do mundo grego, cidade de grandes pensado
res como Pericles e Plato, significa um confronto entre
a mens~gem de Cristo e o paganismo helenstico. Passando
pela c~dade, Paulo v o grande nmero de dolos. Esta ob
servaao provoca nele uma revolta. Ele no pode concor-dar com o fato que os cidados de Atenas colocam no
lugar do nico Deus um grande nmero de ' 1daimonia 11 (parece
significativo que no v 18 no usado 11 theoi 11 !).
Paulo
veio a Atenas para falar de Jesus e da ressurreio. Con
seqentemente surge uma discusso entre ele e os repre-sentantes de duas escolas fi losficas, os 11 epicureus 11
e

- 35 os "esticos". Os dois grupos reagem de maneira diferente pregao de Paulo: 11 Que quer dizer esse tagarela?
(esse conversador) 11 . Os outros esto interessados, presu
mindo que Paulo seja representante de 11 daimonia 11 at ento
no conhecidos por eles. Eles gostariam de ouvir mais s~
bre a nova doutrina. Por isso Paulo levado para o monte chamado ''Arepago", antigamente 1oca l do foro e de d i ~
cursos pblicos. Paulo no se nega de ir junto,_e sim,~
provei ta a oportunidade para anunciar aos cidadaos de Atenas o verdadeiro Deus.
V 22-31: Como ponto de partida Paulo escolhe a extr~
ordinria religiosidade dos seus ouvintes. Ele faladeum
altar que, por causa da inscrio, chamou a ~ua ateno:
"Ao Deus Desconhecido". Esta inscrio lhe da o tema para a sua pregao. O termo "theos" em vez de "daimonia~
(v 18) e a forma do singular em lugar do plural (questoes muito discutidas entre os exegetas) fazem com que Pau
lo possa identificar o DEUS DESCONHECIDO com o Deus daBi
blia. Ele pressupe que os gentios no esto sabendo quem
este DEUS, aparenteme~te u~:ntre ~uitos, no o Deus de
todos os deuses. Mas a 1nscr1ao esta aberta para o conceito cristo do Deus universal. Esta abertura Paulo aprovei ta e, portanto, o tema da sua pregao na realidade no "O Deus Desconhecido", e sim "0 Deus universal"
(veja Calwer Predigthi lfen , Vol. 8, pg. 239). Este t~
ma agora desenvolvido a partir do v 24: O "Deus Desconhecido" o Deus "que fez o mundo e tudo o que nele existe". Ele 0 "Senhor do cu e da terra". Usando o te.!:_
11
mo kosmos 11 ele se serve de um dos termos gregos mais
'
.
centrais, interpretando assim aos seus ouvintes _pagaos a
passagem Is 42,5. Alm disso, a palavra "tudo" e usada
de maneira acentuada: Deus fez "tudo" o que existe nomun
do (24), "todos" receberam a vida dele (25) e ele fez "t:o
da" a raa humana para habitar sobre toda a face da terra.
Este Deus no se deixa prender em temp 1os (24) , ele
no se deixa "trabalhar" (manipular) "pela arte e imaginao do homem" (29). Deus no se deixa medir com medi da
humana, ele universal. Mas como Deus universal ele est perto de cada um, "nele vivemos, e nos movemos, e ex i s ti mos" ( 2 7s) .

36 -

Depois desta sua interpretao de Is 42,5 (e, comi~


so, do prirreiro Artigo do Credo Apostlico), Paulo chega
ao objetivo, ao alvo de sua pregao: Se Deus o Senhor
do 11 kosmos 11 , ento ele tambm o juiz do 11 kosmos 11 Aco~
seqncia que 11 todos em toda parte" (30) devem arrepe~
der-se, devem voltar para ele. Esta verdade fundament~
da pela ressurreio de Jesus (cujo nome no citado).
Ele, Jesus, a quem com a sua ressurreio foi dada
toda
a autoridade no cu e na terra, proclama o que outro~a
(nos tempos da ignorncia) estava oculto: que ele 11 ha de
julgar o mundo com justia" (31). Neste citado (Sl 96!13)
o acento no est na palavra 11 julgar 11 (em contraposiao
11
a salvar 11 ) , mas sim na "reivindicao senhorial" que De
us faz e realiza com a ressurreio de Jesus. A ressurreio de Jesus revela que Deus o Senhor do mundo e po~
sibilita a f no Deus universal. Isto significa, ao mes~o tempo, que exigido o arrependimento universal. "Ele
e poss 1ve l, porque Deus no levou em conta os tempos
da
ignorncia". (Compare Calwer Predigthi lfen, vol. 8)
V 32-34: As reaes pregao de Paulo diferem: uns
"escarneceram" (zombaram dele); outros gostariam de ouvir mais sobre o Deus universal e sobre o 11 varo 11 ressus
citado; alguns poucos se juntam a Paulo e crem.
111 - Meditao

O centro da percope , como vimos, a pregao de_Pai:_


lo sobre<_? tema: 11 0 Deus universal". Esta pregao so :'.
compreens1vel com base na ressurreio de Jesus. Deus
e
? Deus.universal, porque, com a ressurreio, Jesus foi
intron~zado por ele como Senhor do mundo. O senhorio de
Jesus e tambem a razo das viagens missionrias de Paulo e da sua estada em Atenas. Toda a humanidade devesa
ber que o ressuscitado o Senhor do mundo. Toda misso
da igreja tem a sua razo na universalidade de Deus.
Uma meditao sobre esta percope pode partir do fato que toda a humanidade, hoje talvez mais do que nunca,
est em busca de algo que possa dar segurana, uma base
firme para uma unio universal. E isso numa poca em que
as distncias entre os povos e os continentes se tornam
cada vez menores. A tcnica faz com que nos aproximemos
de uma civilizao e cultura mundiais. Este desenvolvi-

- 37 menta no nada negativo, no contra a vontade de Deus. A universalidade j foi prevista pelo criador na cria
o: 11 de um s fez toda raa humana" (26). Desde a cri a~
o a humanidade era uma.
Apesar da univers"ffzao atravs da tcnica e
das
cincias, a humanidade permanecer desunida,no entanto,
"enquanto no venerar um Deus, uma verdade, uma justia".
O nosso problema talvezno sejam tanto os 11 1dol<_?s 11 , mas,
como os atenienses, tambm a humanidade de hoje e, a seu
modo, "acentuadamente religiosa". No f<1lt.::im construes
filosficas, ideolgicas e religiosas que prometem a comunho e a unio universal, justia e paz. A comunho,po
rm, no ser estabelecida atravs de sistemas fi losfi~
cose ideolgicos nem religiosos. Ela acontecer unicamente por meio daquele Senhor que, desde a Pscoa,
o
Senhor de toda a humanidade, e no por pensamentos humanos. Deste fato parte a misso mundial da igreja. Ela no
propaga pensamentos humanos, nem a si prpria. Ela
no
tem a sua motivao na perdio do h?rrem. ~la quer some~
te uma coisa: anunciar que o Ressusc1 tado e o Senhor
e
que somente nele a humanidade pode encontrar a comunho
e unio desejadas.
Reconhecer que Jesus o Senhor do mundo arrepender-se, renunciar aos outros "deuses". Os gentios de A
tenas prenderam Deus em santurios "trabalhados pela ar~
te e imaginao do homem". A crista~dade corre o perigo
de prender Deus em sistemas doutrinarias e formas culturais. Por isso ela deve perguntar-se se no vale tambm
para ela o chamado para o arrependimento.
IV - A prdica
O domingo Jubi late cai na poca ps-pascal. A perco
pe oferece uma boa possibi !idade para o pregador de fa~
lar mais uma vez sobre a ressurreio de Jesus, mais pre
cisamente: sobre o significado da ressurreio para ah~
man idade.
A introduo deveria conduzir o ouvinte da sua isola
o interna para o horizonte universal da mensagem
de
Cristo. A seguir poderia ser mostrado que a humanidade
constantemente (religiosamente!) est procura de algo
que d segurana, uma base firme para todos (nacional is-

- 39 -

- 38 mo, socia lismo, religies), procur~ e ssa, porm, que s~~


pre ' ser em vo, que inclusive esta p~ovocando o contrario do procurado e esperado: a desuniao. - A rnensage~ da
ressurreio de Jesus liberta_ o homem.~a t~refa de ainda
ter que cri ar antes a comunhao. Ela J a ex 1s te_ em
Jes ~s,
o Senhor do mundo, possibilitando e ex igin do fe. O cam1 nho que leva unio o arrependimento, no uma ativi da
de ferrenha (arrependimento= reconhecer que Deus fez
Jesus o Senhor do mundo) .
_
e
Pode ser lembrada a segunda estrofe do hino "Deus
castelo forte e bom": ''A minha fora nada faz, sozinho _
estou perdido ... " Esta renncia tambm para ns hoje
e
uma 1i o di f ci l. - Ento pode ser falado do fato
que
Paulo se dirige com a sua prdica aos habitantes de uma
cidade pag: Misso uma conseqncia necessria ~esta
mensagem. (Compare Calwer Predigthi lgen, vol. 8, pag.

de

243s.)
V - Bibliografia

BRElT, Herbert & GOPPELT, Leonhard: eds . Calwer Pr e digthilfen. Stuttgart, Calwer Verlag, vol. 8, pag. 238ss.
- SOUCEK, J. B.: Meditao sobre At 17,16-34. ln: Gtlttinger Predigt-Meditationen. Gtlttingen, Vandenhoeck
& Ru preht, 1964, caderno 2. - HAENCHEN, Ernst. Di e Apost e lg e schichte. ln: Kritisch-exegetischer Kommentar Uber das Ne ue Testament. Gtlttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1961. STIDiLIN, Gustav. Die Apostelgeschichte . ln: Das Neue Testament Deutsch. G8ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1962.
- VERBAND der Ev. Pfarrervereine in Deutschland e . V.,
ed . Deutsches Pfarrerblatt. Ano 70, pg. 45.

DOM

N G O

R o ma n o s

DE

P E NT E COS T E S

8, 1-11

Manfredo Siegle

Traduo

1) Agora, pois , Ja no h nenhuma condenao para aqu~


les que esto em Cristo Jesus.
2) Pois a lei do Espirita da vida em Jesus Cristo te
libertou da lei do pecado e da morte .
3) Porque o que era impossivel lei, no que estava
enfraquecida pela carne , Deus fez , enviando seu prprio
Filho, em nome da carne pecaminosa, e condenou o pecado
na carne ,
~) para q~e as ordens da lei s e cwrrpriss em totalmente
em nos , que nao andamos segundo a carne , mas sim s egundo
o Espirita .
5) Porque aqueles que vivem s egundo a carne, pensam
de acordo com a carne, mas os que vivem de acordo com o
Espirita , pensam de acordo com o Espirita .
6) Porque a propenso para a carne produz morte, a
propenso para o Espirita produz vida e paz.
7) Por is s o o pendor para a carne inimizade contra
Deus, porque Deus no est sujeito lei , nem mesmo pode
estar .
8) Aqueles que esto na carne no podem agradar a De
us.
J9 ) Vs , porm, no podeis estar na carne , mas sim no
Ese&rito, porque o Espirita de Deus habita em vs. Se al
guem no tem o Espirita de Cristo, es s e no dele .
10) Contudo se Cristo est em vs, o corpo est morto , por causa do pecado; o Espiri ta, porm, vida, por
causa da justia .
11) Se habita em vs o Espirita daquele que ressusci
tou a Jesus dentre os mortos, dar vida tambm aos vossos
corpos mortais , por mei o do s eu Espirita , que habita no
meio de vs.

- 40 l - Diviso do texto
V l: O 11 estar em Cristo 11 tem como conseqUncia: ser
arrebatado da condenao eterna.
Vss 2-4: Caracterizam a nova vida daquele que coloca sua vida sob o senhorio de Cristo.
Vss 5-8: Revelam o que significa vida verdadeira ou
morte. Quem tiver sua vida estampada pelo Espri to
de
Deus, tem a vida verdadeira, tem paz e comunho com Deus. Quem, por outro lado, tiver sua vida marcada pela _
carne, pelo 11 Eu 11 , que procura justificar-se por si_proprio perante Deus, tem metas humanas, que conduzem a mor
te e no tem futuro.
Vss 9-11: Somos de Cristo, se o seu Esprito se assenhoreou de ns. Este Esprito em ns (=este Cristo
em ns) tem poder de transformao e de renovao.
Obs. O 8C: captulo da carta aos Romanos est_inser~
do no grupo de percopes que inicia com o 5<? cap1 tu lo e
trata da vida no novo on. A nossa percope fala, em=~
pecial, da libertao do homem da morte e da condenaao
eterna.
11 - Exegese
V 1: O captulo 8 inicia com as palavras "agora, pois", indicando tratar-se da confirmao de algo j expresso anteriormente, mais precisamente nos versculos
l a 6 do captulo anterior. Para os que "esto em Cri sto", isto , para aqueles que vivem sob o senhorio
de
Cristo (e no em unio mstica com Cristo~) o pecado,
despertado no homem pela lei (Rm 7,7ss), est condenado.
Paul o l:mbra-se, em espec ia 1 , do evento de G l gota. P ara o apostolo, 11 estar em Cristo11 idntico ao "estar
no Esprito 11 (V 9) ou permitir que o 11 Esprito de Deus 11
habite em ns (V 9). Uma trplice realidade, mas que em
seu contedo expressa uma nica verdade . O versculo em
apreo j revela o ar de libertao, que emana da percope toda. Libertao para uma nova existncia, caract~
rizada pelos termos 11 paz e vida verdadei ra 11 (V 6).
Vss 2-4: Libertao 11 da lei do pecado e da morte 11
o que experimentam aqueles que 11 esto em Cristo". A lei
do Esprito no separa s da morte e do pecado, mas tam

41

bm da lei mosaica. A liberdade crist est orientada no


para uma nova lei, mas sim para o prprio Senhor. Segundo
a concepo paulina, o homem 11 sem Cristo 11 aquele que s
pode exclamar: "Desventurado homem que sou! (Rm 7,24). O
11
Eu 11 , a autojustificao, no mais o ponto de partida
para quem 11 est em Cristo"; esse, porm, pode iniciar
a
sua nova existncia sob o senhorio do prprio Cristo.
A
vinda de Cristo 11 em carne pecaminosa" (V 3) o incio de
uma nova realidade. Onde Deus comea a agir, ali a grande
za terrena chega ao seu fim (Jo 3, 16ss; Gl 4,4).
A 11 carne pecarni nosa 11 no somente superada, mas si rn
condenada na cruz de Glgota. Este Cristo que trouxe a li
bertao 11 da lei do pecado e da morte 11 nasceu 11 em carnepecaminosa11, isto , ele tinha natureza carnal. No era
somente semelhante ao homem de carne pecaminosa, mas o era efetivamente. Cristo teve de nascer como homem, ser 11 um
de ns 11 , porque a lei no trouxera a libertao do homem.
Deus teve que escolher um outro caminho, e o caminho esco
lhido foi o envio do prprio Filho. Este no sucumbiu pe-=rante o pecado, mas venceu-o. Como sucedeu isto? Morrendo
na cruz! Atravs da sua morte Cristo tem o poder de renovar a todos que no mais se deixam 11 guiar pela carne 11 O
homem em sua natureza pecaminosa trouxe a bancarrota
da
lei; ao passo que o Esprito de Deus, a libertao da car
ne. A ao de Deus no visa destruio do homem, e sim ani~ui lar o pecado no homem.
A comunidade de Cristo torna-se o lugar da ao salv
fica. O Esprito de Deus nos revela isto e ''atualiza cons
tantemente a nossa aceitao da parte de Deus 11 (E. Kaese-=mann: An die Roemer, pg. 209). Agora existe para ns
um
lugar onde vivemos livres da condenao. Paulo caracteri11
za este lugar 11 de ''estar em Cristo". Deste novo fundamen
to testemunha a comunidade crist.
Vss 5-8: algo natural que o ser humano deseja viver
uma vida verdadeira. Mas como ser estampado pela carne e carne como lugar vivencial do pecado - ele s produz a
morte. Assim, quem tiver a sua existncia marcada pela
car~e, tem em mente metas humanas; e quem vive segundo
o
Esp1 ri to de Deus, tem vida verdadeira, paz e comunho com
Deus. O apstolo v um antagonismo entre carne e Esprito.
Ou vivemos sob o poder da carne, e somos inimigos de Deus

- 42 (V 7), ou vivemos sob o poder do Esprito, recebendo gratuitamente "paz e vida" (V 6). Levar uma vida marcada pela ca~ne afasta de Deus, ao passo que vida vivida segundo
o Espirita dele aproxima.
A comunidade crist para o apstolo Paulo um "corpus permi xtum", onde h fa 1sas testemunhas e membros i ndi gnos, mas ao mesmo tempo o campo onde atua o poder
do Esprito.
Vss 9-11: Discpulo aquele que tem o Esprito;
"quem no o tiver no dele" (V 9). O Espri to que se a~
senhoreia do discpulo no uma grandeza que atua isoladamente no ser humano. Muito pelo contrrio, o Espri to
sempre deve;r estar colocado sob a ao do prprio Cristo.
Cristo esta presente, neste mundo, atravs do Esprito.
11
11
Estar no Esp1rito
'
nada mais e- do que um sinnimo
para
11
:star em Cristo 11 No poderemos ser discpulos se o Espi_
rito, ou melhor, se Cristo no estiver em ns. J no Batismo fomos presenteados com o Esprito (Rm 6, lss). Quem
for vivificado pelo Esprito de Deus, agir segundo a von
tade de Deus, isto , agir "em justia 11
~aulo cr numa transformao total do homem (Fl 3,21).
0 _apostolo baseia esta sua esperana no fato de Deus, atra
ves do seu Esprito, ter ressuscitado a Jesus Cristo den-tre os mortos. Do nada, do caos, Deus criou o mundo (Gn 1);
d? silncio da morte, da sepultura, Deus criou nova vida,
vida verdadeira, que no est limitada pelo poder da morte.
Para o apstolo Paulo o ato de salvao no consiste
no fato de ter sido o homem 1 iberto do seu corpo, mas sim
do pecado e ~a morte. Este ato no concedi do, paulatinamente, atraves de um processo interior no homem, mas nos
dBad?, de graa, atravs do renascimento no Esprito - no
at1smo.
1 - Escopo
O que a lei de Moiss no conseguiu fazer - i mpe 1 indo
homem a construir por conta prpri a um mundo novo (e um
homem novo) - Cristo o fez. O homem que no vive a partir
da imposio do seu "Eu", mas que confessa o senhorio de
Cristo,_est livre para viver em paz consigo mesmo e sera
um embaixador da paz e da justia neste mundo.
0

43 -

Numa realidade de vida e de mundo, onde existem srias


dvidas quanto a possibi ]idade de sua transformao, o
Esprito de Deus tem poder de renovar e de transformar.
O Esprito de Deus criativo e o presente da criativid~de tambm foi concedido ao homem (e igreja), atraves do evento de Pentecostes.
111 - Meditao
O texto, at agora exposto, dever servir de base
para a prdica no Dia de Pentecostes. Deus envia seu Es
prito sobre os discpulos, que sentiam-se atnitos
e
sem ao frente morte, mais precisamente frente ao fa
to de Cristo, seu mestre e guia, no mais estar presen-=
te, de carne e osso, em seu meio.
Se observarmos, por outro lado, a atuao dos disc
pulos aps a "descida do Esprito Santo 11 , em Pentecos-tes, notamos uma sensao de liberdade. De repente, os
discpulos sentem-se to livres e to vontade, para a
nunciar a verdade do Evangelho a 11 toda multido que pa-=
ra l afluiu" (At 2,6.14ss).
A nossa percope evidencia claramente um testemunho
do apstolo Paulo, testemunho este que fala da libertao do homem "em Cristo". A ao do Esprito concebida como agente da 1 i bertao do homem. Libertao de qu?
Libertao da lei que leva ao pecado e tem a morte como
f~t~ro. A meta de Deus sempre foi - o Antigo Testamento
ja e testemunha disto - felicidade plena (no aparente)
e vida verdadeira. Segundo a concepo bblica, foi dada ao homem a chance de viver em paz e em harmonia com
o seu Criador. Deus quis o homem um homem feliz. O ser
humano, no entanto, sucumbiu frente tentao. O xodo
do povo de Israel do Egito teve novamente como meta: a
felicidade, a paz e o bem-estar do povo eleito.
Importa saber que Deus no visa a chegar aos seus
objetivos como um dspota, um ditador, usando de autori
tarismo: passando ~implesmente por cima daqueles
que;
lhe seriam um obstaculo. A ao de Deus neste mundo
e
totalmente contrria de um ditador autoritrio. Ele
quer usar o homem como um instrumento a seu servio.

- 45 -

- 44 O ser humano, desde a sua gnese, fora convidado a colocar-se ao la~o de Deus, vivendo a sua vontade. Por esta
razo, o Criador estabeleceu ordens e mandamentos como
sinal da aliana com o seu P:'. Foi exatamente em relao a este pedido de cooperaao, colocando-se ao 1 ado de
Deus, que o homem fracassou. Ele entende~ os mandamentos
como um trabalho a ser concludo; conclui da esta tarefa,
pensou que tivesse feito o suficiente e que agora pudesse realizar o que bem entendia e viver a seu bel-prazer.
O apstolo Paulo chama este tipo de vida de "viver ~egu~
do a carne". O homem perverteu a lei. Destarte a lei
de
Deus, que originalmente era boa, resultou em 11 lei dopecado e da morte". Ao invs de aproximar, a lei afastou
de Deus. Nesta situao Deus poderia !er a~iqui lado o ho
mem desobediente. A ao de Deus, porem, nao tem como o~
jetivo destruir o homem em si, mas sim destruir o pecado,
aquelabarreiracolocadaentre Deus e o homem. E o <:m~ate
contra o pecado deu-se atravs do envio do seu propri o
Filho, Jesus Cristo. A luta contra o poder do pecado re~
liza-se na vida humana, onde o pecado age.
Agora existe para ns um lugar onde experimentamos a
libertao da condenao eterna. Para o apstolo este lu
gar idntico ao 11 estar em Cristo". Quem vive sob o senhorio de Cristo, no mais procura ver-se livre de Deus,
aps ter executado, talvez com esmero, o seu trabalho,
dando cumprimento s leis de Deus. Ao mesmo tempo em que
Cristo torna-se Senhor das nossas vi das, d-nos o seu Es
prito. O homem que foi colocado sobre um novo fundamento, e cujo Senhor agora Cristo, no mais ser impelido
a construir, comas prprias mos, a estrada que conduz
a Deus. Essa tentativa no ter a 1 iberdade como fruto,
mas sim resultar num beco sem futuro e sem esperana.
A igreja institucionalizada tambm se v, com freqncia, tentada a viver por conta prpria, procurando
impor-se, procurando isolar 11 os chatos 11 , aqueles que incomodam em seu sei o (vi de M. Lutero) . A funo e a mi sso da igreja no a de isolar, mas de prestar servio.
Uma igreja que procura impor-se, somente para conseguir
maior prestgio, maior brilho exterior e maiores favores,
na concepo paul ina "vive segundo a carne 11 , e vi ver segundo a carne tem corno futuro a morte (V 6). A vi da
da

igreja realiza-se no na procura de imposio do seu pres


tgio e poder, e sim no servio que eresta, com liberdade
e com coragem, sem medo do poder pol1tico. Como igreja
no poderemos colocar os holofotes sobre nossas ~achadas,
de modo que bri !hemos intensivamente, mas para nos mesmos.
Seramos, ento, nada alm do que_uma igreja de !ach~da:
brilhantes, porm sem muito conteudo. Nossa missao nao_e
brilhar para ns mesmos, e sim para aqueles que necessitam da nossa luz. possvel servir de luz ao outro,_poI.
que Deus promete estar presente em nos~o meio, !r~ves _
do seu Esprito. Deus o promete, e_env1a seu Esp~r1to a
igreja, porque tem interes:e e~ u:a-la como seu instrumento. O Esprito de Deus e cr1at1vo e tem poder de tran~
formar e de renovar (V 11). Ele faz com qu: a igreja, c~
mo lugar de atuao do Esprito, seJa tambem criativa. A
igreja de Cristo no vive de tradioes (que podem ser uteis) e de um passado glorioso ( 11 antigamente_tudo era me
Jhor 11 , 11 havia mais f 11 , etc.), mas vive tambe~ de experincias_novas, gue podem s~r consideradas.ate me:m? r~
volucionarias (nao necessariamente no sentido p~l 1t1co.).
Uma igreja que no vive sob o impacto de 11 injeoes novas 11
torna-se montona e sem fora.
Vida e paz (V 6) so a expectativa de uma igreja controlada pelo Esprito, so dois componentes ~este futuro,
pelo qual somos reseons~vei_:;. 11 Paz e v~da 11 nao acontecem
somente dentro de nos,naosaoalgo particular que guardamos para ns. Deus no so quer uma vida de paz interior
(paz de esprito). Ele ~lmeja um mundo marcado pel~ paz.
e pela vida, urn_mundo nao estampad? eor guerra (s7Ja fria
ou quente), mi seria, fo~, subnutr1ao, an~lfabet1~rno, e~
plora~o e morte. O Espirita de D7us ~est~oi barreiras .
(tambern as confessionais), as quais nao tem corno meta vida verdadeira e paz. A igreja tem esta grande responsabilidade e tarefa de ser o primeiro lugar onde transparece
esta atmosfera de paz e de vida, possvel sob o senhorio

li

11
de Jesus Cristo, que une e reune.
Paz e vida
nao
sao
1deais extravagantes e visionrios, mas sim j podem ser
real idade vivida aqui e agora.
IV - Plano de Prdica

(corno sugesto)

Pentecostes: O Festival da Libertao

- 47 -

- 46 a) do medo, da insegurana e da incerteza (At 2)


b) da condenao eterna - fruto da perverso da lei
1Rm 8, l s)
e) da necessidade de imposio do 11 Eu 11 (8-3. 10)
d) para o testemunho do senhorio de Cristo sobre a
vida humana (8,3)
e) para o servio ao homem (paz, vida, justia)

TB"";b)
f) para a criatividade daquele que est "em Cristo"
18,ll)

V - Bibliografia
ALTHAUS, Paul. Der Brief andieRlmer. ln: Das Neue Testament Deutsch. 109 ed., G8ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht,
1966. - BARTH, Karl. Kurze Erkllfrung des RIJmerbriefes .MUnchen/Harnburg, Siebenstern Taschenbuch-Verlag, 1967. - BUL_!
MANN, Rudolf. Theologie des Neuen Tes tamentes. 49 e d. , TUbingen, 1961. - KAESEMANN, Ernst. An die Rlmer. ln: Handbuch zum Neuen Testament. Tlibingen, 1973. - TlBBE,Jo~
Geist und Leben (E1ne Auslegung von Rlmer 8). ln: Biblische Studien. Neukirchen, 1965.

AS C E NS O

o s s e n s e s

l '15-23

Hi lmar Kannenberg
1 - P re l i mi na re s
A carta aos Colossenses volta-se contra uma heresia
que proclama poderes alheios f crist ("principados
e_potestades") como determinantes no mundo. Para os cris
ta?s i~t? tem consequncias na vida: Prticas ascticas-:lei s r1g1das sobre comida, bebida, circunciso etc a se
rem respeitadas; em uma palavra, legalismo.
. A heresia atinge em cheio a exclusividade do senhorio de Jesus Cristo, escravizando novamente o homem libertado da ]e i.
. O centro da proclamao da carta uma decorrncia
direta desta situao entre os cristos de Colossos
procedentes do helenismo e do judasmo e agora competa~nt: ab~lados com as doutrinas dos herejes, de procedn
eia Juda1co-sincretistas.
Cristo o nico Senhor do universo e da igreJa como
nov a criaao;


Cristo
e- o pr1me1ro
entre as criaturas de
Deus (e, portanto, nenhuma potestade pode sequer estar
seu lado) e o primeiro entre as novas criaturas de
D~us (os ressurretos). Ele derrotou todos os poderes cs
m'.cos. Por conseguinte os crentes esto livres do lega-11 smo.
Toda esta argumentao parte de uma "profisso de f 11
(v l 4-20)' a qua 1 forma o centro de toda a carta, assim
subdividida:
Saudao ( l s), ao de graas (3-8) e intercesso (9-11) conduzem ao "credo" (12-20) , o ne
d Cr1stoeprofes
d o como Criador
sa
S
1
d
.
do ueos .-.
e avaorun1versaleemconseqncia
de (21-23) f1e1s devem viver de acordo com esta realida Segue uma palavra pessoal do autor, onde el e mostra a tarefa 0
..
(1 24 2 S)
'
regozijo e a afliao do apostolado
0
-~ agora vem o confronto direto e polmico
com os ereJeS (2,6-23), onde o batismo como morte para
t pedcado e ressurreio para a vida forma o centro mosran o que
11

,
a c 1rcunc1sao de Cristo" aconteceu como der-

' 'h

48 -

rota de todos os poderes csmicos. O confronto termina


em tom irnico com a prtica dos herejes (2, 16-::23)
A
parte parentica da carta se estende de 3,1 ate 4,6. E
o encerramento da carta longo: 4,7-18.
..
A maioria dos exegetas considera Cl uma carta l e ~!_
tima do apstolo Pau ! o. H, contudo, muita terminolog1 a
diferente (34 termos so exclusivos em todo NT e 2 5 dos
escritos paulinos), cc_:inceitos teolg~co: incomuns em Pa~
lo, argumentao teologica (Cristo nao e o corpo, mas o
cabea do corpo), o conceito d~ apostolado, etc , que
pem em dvida a autoria do apos t olo.
Colossos se localiza no Vale Licos, todo ele cristianizado por alunos de Paulo. A comunidade ~e ~l foi
fundada por Epafras, conforme faz supor a propr1a carta.
tfeso mais provve 1 do que Roma como local em que a
carta foi escrita, e a data em que foi redigi da deve ser
definida de acordo com o autor: Se foi Paulo, deve ser
datada o mais tarde pos s ve 1; se foram seus alunos ' o
mais cedo possvel na poca ps-apostlica.
li - Consideraes sobre o texto.

Uma alternativa sugerida para a pregao da Ascenso


sao os vs 21-23, ou seja, a conseqncia prtica d o_"cr~
do" no Cristo Criador e Salvador universal. Se alguem
optar por um texto meramente parentico, ento escolha
outro , mais preciso e claro. Este aqui s poder s~r usado como base de prdica em relao ao texto anter1 or.
Os pesquisadores concordam que os versculos 12 a 20
encerram um texto existente antes da redao de Cl Concordam , contudo, tambm que o "credo" comea real mente
com o v 15 . Assirr. vivel a proposio da percope a
pa r tir deste versculo .
H uma sugesto do te x to origina 1 do "credo" . .~ Ns a
reproduzimos oom os acrscimos do autor entre parentes es . Is to facilita a sua compreenso:
15 Ele (Jesus Cr i s to ) a i magem do Deus invis-.ve ?..,

o primognito de t oda a cri ao;


16 poi s nele foram criadas todas as cois as
nos cus e sobre a terr a,
(as v isivei s e as invi s ivei s ~ se j am tronos , so-

49 -

beranias, principados ou potest ades . Tu.do foi


criado p01 ele e para ele ).
17 Ele antes de todas as coi s as
e nele tudo subsis te .
18a Ele o cabea do corpo , (da igr e ja) .
18b Ele o principio,
o primognito de entre os mortos ,
para que em tudo ele fosse o primeiro;
19 pois nele decidiu residir toda a p leni tude
20 e atravs dele reconciliar tudo para ele ~
faz endo a paz atravs dele (p elo sangue de sua
cruz)
sobre a terra e nos cus .
So duas estrofes com paralelismos bem expressos ,
formados pelos vs 15-18a e l8b at 20 . Ambas iniciam com
um predicativo sobre Cristo: 11 Ele a imagem ... ; ele
o p r incpio 11 O segundo verso de dada estrofe comea com
a palavra 1 1primognito 1 1 : Cr i sto o primognito na criao (v 15) e o primognito da ressurreio ( 18b) .
Estas afirmaes sobre Jesus Cristo so fundamentadas nos vs 16ss e 19s: 11 Pois nele foram criadas todas as
coisas ... 11 , e: 1 1pois nele decidiu r esidir toda a plenitu
de .. . 11
1

1 1 - Me d i ta o

Os termos empregados nestas duas estrofes so pouco


comuns na teologia paul ina. Eles provm do contexto religioso grego e principalmente judeu. Citando o 11 credo 11
e ampliando-o de acordo com a exigncia da situao, o
autor entra completamente em conceitos e linguagem sincretistas da heresia colossense. Acata termos e modifica-os em seu contedo . Aceita conceitos e os reinterpreta de acordo com o senhorio absoluto de Jesus Cristo .
O que se dizia da sabedoria , na verdade deve ser di
to de Jesus Cristo : Ele a imagem do Deus invisvel tornada visvel e revelada nele. Da mesma forma louva~se
a ~abedoria como pr-existente e como a primeira coisa
cr~ada eor Deus (Pv 8,22-31). E isto no ~ possfvel , pois
C~1st? e~ realizao de todo anseio, de toda especulaao f1losofica ou religiosa de querer ver Deus (Jo 1, 18 ;
2 Co 4,4 e 6), de saber como Deus age em relao aos

- 50 homens. Pois: "Ele e a imagem d~ Deus invisvel". E como tal no existe outra revelaao para o crente fora d e
Jesus Cristo, nem a sabedoria, nem qualquer outro poder
ou principado.
.
.
Todos os poderes e principados, filosc:?f1as e 1d=o~o
gias foram destronados. Acontece que ele e o primog~n1to.
11
Ele est acima e por cima de tudo e de todos.
Ele e o
cabea de todo o principado e potestade (2, 10); ele os
derrotou, os exps publicamente e triunfoLJ sobre eles na
cruzC) 11 (2,15).
_
Alis, no poderia ser diferente. Como pode alguem
ou alguma coisa arrogar para si o direito de primognito
e com isto de poder, se nJo passa de uma mera e simples
criatura do primognito da criao? Acontece qu: to~as
as coisas foram criadas nele. Por conseguinte nao ha nada igual e muito menos superior a ele.
_
_
Assim dito aos crentes de Colossos que nao ha p o deres nos cus e sobre a terra, no h coisas visveis
ou invisveis, corno tronos, soberanias, principados ou
potestades, que sejam iguais ou mesmo si mi lares a Jesus
Cristo . Ele tudo fez. E mais do que isso: Ele quer que
tudo esteja a seu servio e sob a sua ao, pois tudo e xiste graas a ele . Ningum pode arrogar-se o direi to de
querer qualificar poderes que assumam a chefia ou influncia na igreja. A igreja o seu corpo e como tal
tem um s Senhor: Jesus Cristo.
Tudo se concentra em Cristo. Dele tudo vem e para
ele tudo vai . Ele a base de tudo, o encontro entr e
Deus e o mundo, entre Deus e o homem. Encontro que se
torna visvel na igreja, da qual ele o cabea.

1 greja existe por causa do cabea, no por causa do


interesse comum de um grupo de pessoas. No o ideal
comum ou o sofrimento conjunto que transforma um grupo
de pessoas em igreja. 1 sto s acontece por ao do cabea da igreja, de seu criador. Corno criador universal.
ele t ambm cria a igreja , d a ela dinmica, forma e
direo . Assim ele tambm o princpio, aquele que iniciou a comunho dos santos, aquele que ressuscitou primeiro .
Com a ressurreio do primognito dentre os mortos,
ab r iu a brecha da salvao para os crentes. O Criador

51

e o Salvad o r so idnticos. O Se nhor sobre o mundo


tamb m o Se nhor s obre a vida e a morte. Esta a plenitude e e sta a reconciliao. No h outra, mesmo
que haja quem assim o afirme. Cristo o primeiro na
Cria o. Ele tambm 0 primeiro na ressurreio.
Agora , a reconciliao, a ao do Criador em favor de sua criatura, no acontece em declarao solene,
e m filosofia, em poder csmico , em principado ou potestade. A reconciliao acontece em lugar muito humano.
To humano que rejeitado po r homens que no compreendem a profundidade desta realidade: A reconciliao acontece na cruz!
A cruz com sofrimento, paixo e morte a edificao
da reconciliao. Nela tudo se concentra, nela tudo se
resume. O homem procura por liberdade e vai busc-la na
sabedoria, na ideologia, em foras e poderes, e, principados e em sistemas polticos. Mas, libertao est ali
onde o Senhor de tudo e de todos vai s maiores profundezas da vida humana, morte, para buscar a vida; ali
na cruz est a libertao.
O homem procura fugir de seu destino inexorvel, de
sua vida s e m opo, porque sujeita ao implacvel sistema de causa e efeito,e se entrega ao sincretismo religioso, onde lhe so anunciados poderes redentores, os
quais no passam de 11 coisas 11 criadas e sem fora alguma.
Fa z isto porque sente vergonha em buscar a lib e rtao
no mais simpl e s e modesto de tudo: Na cruz de Cristo!
O homem , construtor da mquina, procura libertar-se da ditadura que ele estabeleceu sobre sua pessoa: Ela determina o ritmo, hora e velocidade do trabalho; ela
programa tudo para ele. Ento recorre meditao transce ndental, que o ensina um caminho para safar-se a si mesmo com autosalvao. Ele deveria recorrer humilhante
realidade da cruz para ento saber-se senhor sobre tempo
e coisas.
A cru~ a r eal ascenso, a verdadeira entronizao, a
proclamaao definitiva do senhorio de Jesus Cristo. Ela
no fica na esfera particular e pessoal. A cruz lugar
da reconciliao, do restabelecimento da paz "sobre a
terra e nos cus 11 A cruz universal.

- 52 testa ascenso pela humilhao da cruz que transfo.!:_


ma os colossenses, co~o estranhos e ini~ig'?s por n~ture
za em santos inculpveis e irrepreens1ve1s. Faz isto
se'eles viver~m esta realidade que se manifesta na preg~
o do evangelho. Ascenso_qui:r ser viv~da aqui, na ~u
mi lhao da cruz. A salvaao e a elev~ao_do cr~nte a ca
tegoria de filho de Deus. Esta elevaao so se vive na
baixa categoria da cruz de Cristo.
IV - Prdica
O centro da mensagem o seguinte:
No h nenhuma fora capaz de 9eterminar vida pre~en
te ou futura dos crentes nos ceus e sobre a terra
Jesus Cristo o nico e universal Senhor. Este senhorio universal se manifesta no acontecimento da
cruz. Crer neste senhorio viver a realidade libertadora e servidora da cruz.
A situao dos ouvintes determina a acentuao de um
ou de outro ponto. f'. possvel que a influncia do sincr!;_
tismo :m algumas comunidades seja to acentuad'? que sera
necessario falar exclusivamente sobre o senhorio de Jesus Cristo como primognito da criao e criador de todas as coisas.
.
Em situao assim nunca ~e deve o~itir a diferena
fundamental entre a f crista e relig1ao. Nosso t=xto_
deixa isto bem claro em sua interpretao: Ascensao nao
a sada de Cristo deste mundo, mas a sua presena permanente como Senhor! A salvao vem a ns. Cabe-nos dar-lhe uma resposta com a nossa vida. Isto quer dizer:. Deus
age e ns reagi mos. No caso da re 1 i gi o, o homem va 1
procura da sa 1vao. Consegue ga 1ga r diversos degraus
em. sua_direo, graas a seu esforo e z~lo. Cada ato c~
pridoe um passo realizado para a salvaao. Quem salva e
o prpr i o homem. Este o caso do espi ri tismo, desde o
mais elevado ao mais baixo, como umbanda, etc. Mas este
tambm o caso de todo e qualquer tipo de religio orie~
ta l to em moda, em verso e prosa, como Xi no-Ou-l, etc.
A nossa resposta est na salvao exclusiva por parte de
De us. Querer salvar-se a si mesmo desprezar a ao sal-

- 53 vadora de De us na cru z de Cristo. E mais: pode ser tambm


uma fuga da prpria cruz, que sempre uma conseqUncia
da resposta positiva que damos cruz de Cristo. Cada
cristo um servidor.
Com isto fica claro o seguinte: Condenamos a ju~tifi
cao peias obras, mas tambm devemos condenar a inercia
decorrente da falsa interpretao de que Deus tudo fez
por ns e que, portanto, tudo est feito. Ascenso o
dia do Senhor e Libertador de todos os poderes que nos
coloca a caminho para combater os falsos senhores e libertadores com o servio da cruz. S quem capaz de
dar-se pelo outro vive a sua libertao por Cristo. (Veja Cl 1,22 e 23, onde "permanecer na f" condio).
Por outro lado, bem possvel que o dia da Ascenso nos possibilite a fazer frente a nossos deuses prediletos e preferidos de hoje: Produo, renda, consumo,
progresso. O progresso se consegue - e esta a regra do
jogo - sempre s custas de algum. Se no fosse s custas
de algum ningur1 progrediria to rapidamente e todos
ficariam no mesmo nvel. O progresso hoje a potestade
mor, seguido por um batalho de prncipes, formando um
verdadeiro principado. Este principado est a servio de
si mesrro. Ele sujeita os homens a suas leis e os escravi
za a suas determinaes . t evidente que no h fuga i-deolgica. A fuga hippie como soluo global impossvel, e a soluo ideolgica muda apenas a cor ou o nome
dos poderes e do principado. A soluo deve ser dada s
pessoas aqui e agora. Elas devem saber quem o Senhor e
constatar, por conseguinte, a funo real destes poderes
endeusados por todos e condenados pela ascenso da cruz
de Jesus Cristo .
. No importa qual a atualizao escolhida, se a religiosa ou se a desenvolvimentista, ou nenhuma das duas. O
que interessa que tenhamos coragem de inverter os valo
res: Subir ao cu agir na terra, e ser grande ser um
serv~dor; viver morrer, e reconciliar separar. Se
com isto os homens comearem a andar de pernas para o ar,
menos mau. t sinal de que alguma coisa est comeando a
mudar e de que os valores comeam a ser outros. E afinal,
por que subir no poderia significar o mesmo que descer?
Cito a definio do catecismo para adultos (Evange-

- 55 -

- 54 1i scher Erwachsenenkatech i smus, pg 40 5) sobre a asc e nso


de Jesus. t uma boa ilustrao, a qual deve ser lida como preparo prdica, apesar de ser em alemo:
"A subida no vai em direo s estrelas, de modo
que um astronauta possa encontrar Jesus por l. A vi agem
vai para o futuro. Com a ressurreio Jesus superou todo
e qualquer conceito de tempo.
Agora toda a histria converge nele 11
Hino sugerido: "Jesus Cristo Rei e Senhor", Hinrio da IECLB, n<? 112).

V - Bibliografia
KXSEMANN, Ernst. Kolosserbrief. ln: Die Re ligion in
Geschichte und Gegenwart (RGG), enciclopedia ed. por
Kurt Galling e outros, tomo 3, col 1727/28, 3~ ed., Ve rl
Mohr, 1959. RENDTORFF, He inrich. Der Bri ef an di e
Ko losser. ln: NTD, Vandenhoeck & Ruprecht, Gl::lttingen, 1955.
MARXSEN, Willi. Einleitung in das Neue Testament, 2 ~ ed,
Giltersloher Verlagshaus, 1963. Calw e r Predigthi l fe n, tomo 8, pg 238-244, Calwer Verlag, Stuttgart, 1969.

2'?

D O M 1 N G O

P e d r o

A P S

T R 1 N D A D E

2, 1_10

Go ttfri e d Brakemeier
Preliminares

1 -

A primeira carta de Pedro se dirige a cristos e comu


nidades de vrias provncias romanas situadas na sia Me-=nor (1, 1). Estas comunidades enfrentavam dificuldades. So
f r iam difama o e hostilidade e existia a perspec t iva de
uma pe rseguio em grande esca l a (cf 2,21ss; 3, 14; 4, 13;
5,9; etc). A finalidade da carta consiste em fortalecer,
cons o lar e exortar os leitores, a fim de que permaneam
firmes e aprove m a sua f num mundo hosti 1. Para tanto o
autor lembra os sofrimentos de Cristo, conscientiza as co
munidades da graa recebida e da esperana que lhes ~r~
pria, e recorre ao batismo para elucidar o que o cristao
a partir dele . Alis, correntaristas acreditaram ser
a
primei r a carta de Pedro, em grande parte, o protocolo de
uma alocu o batismal. Nesta tese correto que a carta
se dirige a comunidades jovens; no entanto, difcil con
ce b-la como depoimento de uma prdica a recm-batizados~
Esta tese, ultimarrente, no aceita sem fortes ressalvas.
Pe lo que tudo indica, 1 Pedro foi r edigida em Roma (cf
5, 13 - Babi lnia um pseudnimo para a capital do Imprio
Romano). Devido ao forte parentesco da teologia destacarta com a teolog i a de Paulo, quase se exclui a possibi lidade de ela ser da autoria do apstolo Pedro. Ainda assim
no admite dvidas que a carta pertence aos documentos teo
l ogicamente mais importantes de todo o NT, o que j M. Lu-=tero constatou. Apesar do sofrimento que sobreveio s comunidades, forte alegria permeia esta carta. E j pode ser
adiantado: Uma prdica sobre um texto de 1 Pedro ser boa
na medida em que ela conseguir transmitir esta alegria,ven
cedora das adversidades e provinda da verdadeira f.
11

Observaes exegticas
O trecho 2, 1-10 d continuidade a uma srie de exorta-

- 57 -

- 56 -

oes gerais. Estas, porem, jamais se resumem em simples


imperativos. O autor da carta faz questo de sempre de
novo ressaltar que o cristo pode o que deve, pois a pa
1avra viva de Deus deu aos 1e i tores a poss i b i 1 idade e
fora para uma nova conduta no mundo. Tambm em 2, 1-10
isto fica inequivocamente claro.
Os V l-3 formam a primeira subunidade e esto em es
treita ligao com a exortao anterior que conclamarapara a prtica do amor (1,22-25). 11 Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas,
edetodasortedemaledicncias ... 11 (V 1). Os vcios,
aos quais os cristos devem abdicar, so antes de mais
nada as obras, resultantes da falta de amor fraternal.
Mas a exortao principal deste trecho outra: 11 Desejai
ardentemente, como crianas recm-nascidas, o genuno
leite espiritual para que, por ele, vos seja dado cresc~mento para salvao 11 (V 2). As palavras 11 crianas recem-nascidas11 so uma figura, lembram o renascimento,do
qual em l,23 tinha sido falado, e qualificam os leitores de 11 novatos 11 na f. Tambm o termo 11 lei te 11 deve ser
entendido em sentido figurativo. J o adjetivo 11 espi ritual11 demonstra isso. Os leitores so exortados a busca
remo a!imento_indispensvel para a sua maturao na fe.
Este al 1mento e a palavra de Deus que tem em Jesus Cri s
to o seu contedo. Em evidente aluso ao batismo segue~
no V 3, a fundamentao da exortao: Os 1e i tores j co
nhecem aquele alimento, eles j experimentaram a bondade de Jesus Cristo que, no batismo neles se manifestou
visivelmente.
'
O bat~smo, P<?rm, no algo semelhante a uma forma
tura na_fe; ele e, muito antes, um incio a ser aprova-=do no dia-a-dia do cristo. Por isto os leitores so
chamados ao uso contnuo da palavra do evangelho, sem o
qual a sua ex~stncia crist iria morrer mngua. E: im
portante, porem, que o anseio pela palavra e o uso
da
mesma andam d: mos dadas com o despojar-se de toda ma 1
dade (V l). Nao existe vida crist sem reflexos concre-=tos na conduta. Mas a palavra de Deus que habilita pa
ra is to. A bondade do Senhor o poder renovador, e os
cristos podem ser exortados e renunciarem a toda malda

de, p~rque este poder uma realidade. Vivendo-se dela,


havera um crescimento para salvao, isto , haver um
crescimento em que a salvao j concedida por Deus se
torna sempre mais visvel e firme.
Nos V 4-8 a figura muda. Alis, muito provvel que
tenhamos de corrigir a traduo de Almeida e entender os
V 4 e 5 igualmente como exortao: 11 Chegai-vos para ele,
a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para Deus e lei ta e preciosa, e permiti que vs, como
pedras que vive~, sejais edificados casa espiritual para
serdes sacerdocio santo, a fim de oferecerdes sacrifcios espi ri tua is, agradveis a Deus por intermdio de Je
sus Cristo 11 . A exortao diz: Sede comunidade! Justamen::
te po~que_nova vida se exterioriza na prtica do amor (V
1), nao ha existncia crist fora da comunidade. Desta
falado na figura da casa espiritual, sendo Cristo a pedra
angular (V 6 - cf Is 28, 16) e cada cristo individualmen
te uma pedra viva, construda sobre ele.
Novamente chama ateno que tudo depende da obra de
Deus. Ele colocou em Sio aquela pedra que possibilita a
constru~o da casa. ~ pedra viv~ - C:isto vive, porque
r~ssusc~tou. Se tambem os cristaos sao chamados pedras
v~vas,_e porque Cristo lhes deu a sua vida. O autor, porem, nao deixa de lembrar que a pedra angular tambm a
que la que os homens rejeitaram (V 4 e 7 - cf Salmo l 18,22) _e ainda rejeitam. A hostilidade, da qual a comunidade e objeto, e o sofrimento que ela suporta, esto
em
conformidade com a sorte de Cristo. Deus, porm, transformou a pedra rejeitada em pedra angular de sua casa,
tornando-se ela assim motivo de tropeo para os que a re
jei taram (V 8 - cf Is 8, 14. 15). Para a comunidade
isto
significa que ela participa do sofrimento de Deus no mun
do. Ao mesmo !empo, porm, ela participa do poder de De::
us que constroi mesmo onde homens rejeitam, odeiam e matam. A comun~dade s pode descobrir tropeo e perdio
onde Cristo e rejeitado.
figura da casa (ou seja tambm do templo de Deus)
se associa outra: a do povo de Deus. J no V 5 este aspecto aparece, mas nos V 9 e 10 ele se torna predominan
te. A comunidade sacerdcio real e santo. Isto signifi
ca que ela tem acesso a Deus, dispensando todos os media

- 58 dores humanos, pois em Cristo Deus mesmo veio aos homens.


Os sacrifcios espirituais desta comunidade consistem nas
oraes, no louvor a Deus, no anncio das suas "vi rtudes 11
(melhor: dos seus feitos maravilhosos).Ela realiza o seu
culto no no secreto, mas publicamente, desafiando assim
o mundo. A rigor, ela s pode testemunhar o que nela foi
feito: Ela foi conduzida das trevas para a luz, foi esco
lhida para ser povo da propriedade de Deus, e ela e xperT
rrentou a grandiosa misericrdia divina.
Resumo: l Pedro 2,1-10 chama o cristo ao crescimento atravs do alimento da palavra do Evangelho, crescimento este que se realiza essencialmente na construo
da
comunidade de Deus. As exortaes so fundamentais naquilo que Deus fez, de modo que o trecho no glorifica nem o
cristo nem a comunidade, mas Deus, do qual a comunidade
recebe a sua vida e por quem capacitada para desafiar o
mundo atravs do seu culto.
1 li - Consideraes para a prdica
A prdica difici !mente poder esgotar a riqueza deste
texto to carregado, razo pela qual o pregador dever co..!2_
centrar-se no importante e principal. O texto quer encorajar e chamar para sermos comunidade . Tambm os V 1-3 se in
cluem nesta temtica, pois a exortao para procurar o a(~
rrento da palavra tem em vista a comunidade que se congrega
em torno do evangelho.
No entanto, existe um problema neste texto, do qual
o
pregador deve conscientizar-se: O que afirmado sobre
a
comu~idade, via de regra no coberto pela nossa realidade . E verdade que as comunidades da IECLB (ou outras)
so
o templo de Deus no mundo, um sacerdci o real, povo de Deus, etc? O desequilfbrio entre o que as nossas comunidades
deveriam ser e o que elas realmente so pode seduzir
o
pregador a queixar-se amargamente sobre o 11 status quo' 1 da
IECLB e a confrontar os ouvintes uni lateralmente com o imperativo:_Devemos ser mais comunidade! Desta forma, porm,
ele ficara devendo o evangelho aos participantes do culto,
produzindo uma atmosfera de depresso, que conf li ta com a
alegria to em evidncia neste texto. Por outro lado
a
desconsiderao da nossa realidade pode levar perd~
de
crdito do pregador. Se ele preconiza a comunidade como p~
vo de Deus e sacerdcio real, prepare-se para responder a

- 59 -

pergun t a, onde na p r t ica isto se verifica. A prdica de ve pe r manecer autn ti ca. Ambos os pe rigos indicados poder o se r ev i tados unicamente atravs de rgida observao
da inten o do texto: Ele no fal2 daqui lo que nas comuni
dades da sia Menor acontece, seja em sentido positivo ou
negativo, mas daqui lo que produz comunidade. Ele fala daque la realidade, a partir da qual comunidade pode viver e
que lhe dada na medida em que se estribar no evangelho.
Cer t ament e t a mb m naquelas jovens comunidades do pr imeiro
sculo nem tudo ia de bem a melhor (vejamos os problemas
com os quais o apstolo Paulo se debate nas suas comunida
des!). Entretanto, comunidade, em ltima anlise, no vi=
ve do que ela por si mes ma ,ela vive do seu Senhor e
isto significa tamb m: Ela vive do perdo dos seus pecados. No h razo para se i 1ud ir s obre a realidade precria de muitas das nossas comunidades, mas tambm no
h
razo para resignar; pois, embora sintamos dolorosamente
a nossa imperfeio, sabemos que o esteio da comunidade
est e m Cristo, no em ns.
Por isto no aconselhvel comear na prdica com o
imperativo. O p regador mostre, muito antes, o que a comunidad e pode e capaz de ser.
Para tanto alguns exemplos:
a) Ela tem as condies de ser o lugar onde se renuncia a toda maldad e . Qual a necessidade que temos de maledicncias, hipocrisias, etc? Por que destrumos
comunho? Deus assim no procedeu para conosco. Maldade
nao
precisa ser.
b) Ela possui uma fonte de vida sem igual. Ela pode
ter um alimento que sacia e proporciona vida mais rica.
Se este alimento existe, no loucura desprez-lo?
c) Ela pode constituir-se em casa espiritual. Ela pode ser lar, onde possvel sentir-se "em casa" neste mun
do pela comunho de irmos. Esta comunho surge onde
a
maldade extinta e onde se sabe que vivemos de cada pala
vra que pr ocede da boca de Deus (Mt 4,4). Na sua qual ida=
de de casa espiritual ela ser o lugar da presena de Deus. _Ela pode ser isto, pois a pedra angular, Jesus Cristo,
esta lanada.
d) Ela tem a chance de ser comunidade viva. Pois se
Cristo vive (se ele a pedra viva) , no h razo para ser
mos mo rtos.

- 61 -

- 60 e) Ela pode ser sacerdcio santo e real . Isto s i gnifica que ela encarregada_de r:nde~ culto a _Deus n o mun
do atravs de palavra e aao, nao so aos domingos, mas.
tambm nos dias teis da semana. Deus destinou a comunidade a ser sacerdcio . Cada qual realizar este sace r dcio de modo diferente e, no obstante, todos com a me sma
finalidade e todos na mesma solidariedade. Qual o obstculo que impede a realizao deste sacerdcio?
f) A comunidade tem o privilgio de louvar a Deus no
mundo, de anunciar o poder de Deus do qual ela vive. Ela
tem a honra de transmitir o chamado de Deus que transfere das trevas para a luz, e de proclamar os dire i tos
de
Deus neste mundo.
Tudo isto, porm, nem sempre tarefa fcil, pais De
us encontra resist~ncia neste mundo . A pedra angular
d~
comunidade tambm a pedra de tropeo. No esqu~a~os.
isto para no cair em iluses. Deus encontra res1stenc1a
- inclusive na comunidade, em cada um dos membros, em c~
da um de ns (tambm na pessoa do pregador). No entanto,
esta uma realidade. A outra a realidade criada por
Deus em-Cisto, a saber, aquelas possibilidades muito_r~
ais , das quais falamos e as quais a comunidade, sem duv_!_
da, j experimentou. E agora o momento de introduzir o
imperativo: Se estas chances e x istem, agarrai-as! Pois
estas chances so a nossa salvao. Tende o desejo do a1i mento espiritual e permiti que sejais edificados casa
espiritual. Vs sois povo de Deus; vivei, pois, como tal.
A prdica no tem a tarefa de iludir nem de des t ruir.
Ela dever fazer o ouvinte alegre sobre o fato de existir o poder de Deus que nos d a chance de sermos d i ferentes - de sermos comunidade. Esta a melhor maneira
de conduzir ao arrependimento e de construir comunidade
hoje .

DOM1 NGO

2~

A P

TRINDADE

l Pedro 2, 1-10
Dario G. Schaeffer

Sugesto de traduo

Colocando de lado, agora, toda a maldade, tudo o .


que machuca, a hipocrisia, a inveja .e todas a~ destr~&
es , desejem ar>dentemente, como c~anas recem-nasc&da~
0 leite espi r itual, sem maldade, para que nele ~cresam
par a a salvao, caso "j exper i mentar am como e bom o
Senhor".
Vo chegando- se a ele , a p ed~a que vive, rejeita~
por homens , mas por Deus "escolh&Ba como _(sendo) pz:ec1.-osa "; tambm vocs , como pedras viv~s, sao cons t ru&dos
(como) casa espiritual, para sacerdoci~ s ~n to , para que
ofertem sacrifcios espirit uais, a:rradave&s a Deus, por
i~termdio de Jes us Cristo .
Por isto est escrito na escr itura : "Vejam, coloco
em Sio a pedr a escolhida, pedra fundament al preciosa,
e aquele que cr er nela no ser enver gonhado ".
Par a
vocs, port anto, os que cr em, pr ecios idade , ma~ z:ara
os que no crem "a pedr a que os cons trutor es r eJe'Z-taram
trans fo Pmou-se na pedra fu ndarrent aZ " e "a p edra ~da of e'!!:._
sa e a pedra do escndalo ". Os que desobedecem a palavra
t r opearo, para o que t arribm f oram determinados . .
Vocs por m so raca eleit a, sacer>dot es do Re&,ncr
o santa: povo ~ara pos~e (de Deus), para que proclamem os f eitos milagr osos daquele que _os c:_hamou das s om br as para a sua mar avilhosa luz. Voce s nao e~am p ~vo ~
mas agor a s o povo de Deus. No haViam r eceb1.-do m1.-S er1.-crdia, mas agor a r eceber am misericrdia.

- 63 -

- 62 11 - A carta de Pedro em geral


Escrita pela comunidade de Roma (Babilnia - 5, 13)
a comunidades da Asia Menor, certamente entre 90 e 100
d.C. Era poca das persegui es aos cristos, evi~ente
mente, o que tambm atestado pela carta: sujei ao s
autoridades (2, 13ss; 18ss). 3, 15 reporta-se ao caso_ de
cristos serem interrogados. Isto tudo mostra uma epoca em que os cristos entravam em conflito com a soei~
dade em que viviam por causa de sua confisso e
seu
respectivo modo de vida. Incluam-se nesta sociedade as
autoridades constitudas que torturavam os que seguiam
a nova f (2,20ss).
Os cristos, numericamente poucos, j comeavam a
tornar-se um problema social por transgredirem normas
at a ainda sagradas. Com isto a sociedade da poca se
chocava e a tendncia natural era a de eliminar o cancro que ameaava crescer com persistncia e argumentos
que exigiam o emprego da fora.
Este background temos qu ter em vista para enten der 1 Pedro 2,1-10.
No podemos esquecer tambm que o prprio fato do
ser cristo trouxe consigo situaes diffceis que nem
sempre conseguiram ser resolvidas, como por exemplo na
famflia, onde a esposa crente deveria subordinar-se a
seu marido, pois no parece ter havido possibilidade de
soluo.
A primeira carta de Pedro mostra a preocupao de
manter os cristos como cristos, fazer de tudo para que
fiquem na f adquirida e no venham a sair dela de novo, por ela exigir demais deles. Talvez com isto se ex
p~iquem posies que para ns possam parecer no cris-=tas, no primeiro mandarrento, como p.ex. a sujeio s
autoridades civis, ou a de escravos a seus senhores.
No podemos naturalmente esquecer que no poss vel - de ~do fundamentalista - extrair programas sociais - pro ou contra o status social e poltico - diretamente da Bblia para a nossa poca. Mas mesmo assim
fica a pergunta referente ao fato de a ao crist na
poca da carta concordar com situaes de injustia.
Diversos comentrios (G. Barth, "A prirrei ra epstola de Pedro", So Leopoldo, 1967; K.B.Kuemmel , 11 Einlei_

tung indas N.T."; W. Ullmann, Predigtmeditationen",~


derno 3, 1970,pg.28Sss} procuram explicar o assunto colocando o peso nas admoestaoes para o servir, e caracterizam da a carta. E este servir deve acontecer
em
qualquer situao, naquela situao em que nos encontr~
mos.
Acredito, no entanto, tambm, que a realidade da poca colocava os cristos frente a duas alternativas:Ou
lutar por aqui lo que achavam certo, e sucumbir - deciso tomada por milhares de cristos; ou permanecer
no
unde rground , obedecendo e sendo fiis s estruturas que
no conseguiam mudar e com isso viver, servindodesserre_
do onde era possvel. E a l Pedro optou pela segunda al
ternativa.
Que a subordinao, no entanto, tinha seus limites,
a prpria histria da igreja crist registra em suas
perseguies e mortes em massa. Nenhuma carta neotestamentria, no entanto ( de estranhar!), fala desta pos.i._
o anti-governarrental da poca. Pelo menos_notoclaramente como falam da posio de subordinaao dos cristos.
11

t 1 t - O texto

a - Tudo o que prejudica outras pessoas deve


ser
deixado de lado, deve ser abolido pelos que se confes sam a Cristo. Deve-se apontar neste contexto para duas
existncias contraditrias:
filosofia humana - o velho (vers. l)
11
leite espiritual 11 - o novo (vers.2)
O novo homem, que depende da palavra - como o recm
-nascido do leite - desiste da desumanizao do outro.
b - Salvao um processo e no um acontecimento
nico e indelevel (vers.2). E'. realizada existencialmente por aqueles que 11 experimentaram 11 que salvao pro vm da bondade de Deus com o mundo.
c - A vontade e a aceitao de Deus - que d vida
mostra-se naquilo que rejeitado pelo homem.Quem sabe,
procurando-se entre aqui lo ou aqueles que so rejeitados pela sociedade diariamente encontramos hoje a pedra
viva - o Cristo? (vers.4)
Os que veem os sinais divinos no dia-a-dia de sua

- 64 existncia e os que procuram com ansied~de por eles,_


tambm sero "pedras vivas" na cons tr uao d o temp 1 o, s ao
"sacerdcio santo", que "ofertam sacrifcios a Deus'' etc.
d - O vers. 4 fundarrenta 1 para a prdica - comp r~
enso de igreja e culto. Perguntas crticas a serem feitas e, quem sabe, respondidas: Quem igreja (casa espiritual)? Que culto (sacrifcio agradvel a Deus)?
Agradar a Deus no significa apaziguar um Deus raivoso com boas obras. Agradve 1 a Deus vi da se~undo a
sua vontade, vida sem religiosidade, vida que nao procura formalizar cultualrrente a f crist, mas que molda
a existncia secularizada na vontade que Cristo nos re velou.
11
e - "A sociedade humana no pode prescindir da f
um reconhecimento da psicologia. Mas que tipo de f poce
ser normativa e tem o direito de s-lo? A f crist ainda vive to livre de instituies e de construes que 11
possa fazer "raa eleita", "nao santa", "povo de Deus
dos brasileiros? (vers.9)
f - A compaixo e a misericrdia de Deus so grandezas seculares, dirias, necessidades urgentemente ~medi
atas do "povo de Deus" (vers.10). A pobreza, a miseri a
0
a solido por um lado, o egosmo, a pobre riqueza e
exagero em todos os sentidos por outro lado, clamam por
sentido e soluo: por misericrdia. O povo de Deus

recebe - e por isso pode d-la.


IV - Pregao
Para a pregao deste texto escolheria como temtica
central "Igreja e culto", baseado na oferta direta dos
vers. 4 e 5 - "vocs tambm so sacerdcio santo e casa
espiritual". A partir da pode-se seguir os seguintes
pontc:s (As idias abaixo tero conseguido seu intento_
tambem se o leitor chegar a concluses diferentes ,quia
opostas, levado por elas):
a - Anlise:
"Culto" feito em "igreja", em determinado morrente.
S o fato de pessoas se revoltarem quando so feitos
'cultos em formas novas" j diz o que se pensa com respeito a esta tradio sacrossanta em si. E pode-se at

- 65 chegar ao pont9 de afirmar, depois de um "culto de deba


tes": "Eu vou a igreja para ouvir o pastor, e no para
pensar!" Isto pode s e r sintomtico ...
O "culto dominical" rene elite religiosa, muito pre
ocupada em manter presena. O necessitado de ajuda,o so-:::
litrio, o necessitado de calor humano, de comunho real e no terica , procura um crculo religioso mais ntimo, como o oferecem as religies orientais ... ou
um
bar! Raramente a igreja.
As mudanas na vida de nossa igreja so na maioria
das vezes mudanas de organizao (remodela o da Secretaria Geral, preocupao acentuada com Caixa Central ,com
os veculos dos pastores, escolha de candidatos para esta ou aquela vaga). So formal idades. Deveriam acontecer
mudanas de contedo - olhemos para a igreja catlica ...
P.. "pedra que vive" ainda chama outras "pedras que
vivem" e constri igreja - povo de Deus. Mas tambm na
IECLB? Ou nossas preocupaes principais so outras?
Quais as preocupaes maiores de nossas comunidades? Alm do pastor, quantas pessoas se preocupam com o culto?
b - Todo cristo (ou toda pessoa rejeitada pelos
homens?} responsvel por culto. No por culto com talar, agenda, velas, hinos sacros. Mas por culto-vida ,
constante, insistente, desafiador, confrontador, incmodo mas consolador, areia na engrenagem desumana e por
isso humanizante. Realidade-Deus fazendo a realidade-ho
mem.
Culto dos que so pedras vivas, tornadas vivas pelo
constante exerccio do convvio com a realidade-Deus,
deixar de lado aqui lo que desumaniza e colocar em
seu
lugar a ~alvao". Se no, culto hipocrisia. Tambm
domingo na igreja!
Salvao acontece aqui e agora. (Salvao que acontece apenas depois da morte alienao religiosa.)Salvao de errinhos e erres.
Mas ningum salva-se a si prprio. Aqueles que sabem
das possibilidades de Deus e das chances que ele d podem
ser salvos e podem salvar outros. Salvao
dilogo
restaurado com umfi lho; o arrependimento de
uma fofoqueira, a humanizao do trabalho operrio; salrio medJ
do na necessidade essencial e no na capacidade produ -

- 67 -

- 66 tiva; o perdo a quem errou,o abrao amigo e uma palavra


de apoio a um solitrio. Deus est presente no homem em
crise, no horrem rejeitado. Culto de salvao acont e ce
l. Com ou sem pastor. Sem liturgia prefixada. Na ao no "sacrifcio agradvel a Deus 11 Na comunho de braos,
mos e crebros que se entendem engajados por Cristo
para serem igreja onde o homem mais necessita dela
l onde se mostra mais fraco.
c - Mudana de culto no questo formal.
t que~to de rrentalidade.
Saber que fgreja construfda com vida humana a s e rvio de Deus saber que culto possibilitar a existncia e a coexistncia humana. E neste trabalho, louvar a
Deus.
Igreja formada por pessoas cujas vidas so moldadas no confronto com o evangelho.
Poderia-se ficar abatido e desesperado ao comparar
cifras: gente que sabe o que igreja e culto versus
gente que pensa que sabe o que igreja e culto.Massa~endo que somos "raa eleita 11 , isto , batizados e por
isso aceitos e perdoados, devemos nos alegrar com sinais
e.pistas da ao de Deus. No apag-los com nosso pessimis'2.1 Mas cuidar para que cresam 11 das sombras 11 da i gnorancia para a 11 maravi lhosa luz de Deus 11
~ trabalho rduo e ingrato, mas no podemos esperar
de mao beijada um mundo perfeito, pronto para nos receber. Precisamos, isto sim, lutar por um mundo perfeito
- o mundo de Deus. Como loucos.
Assim, se algum ainda ora, precisamos ajud-lo para que ore certo, Se algum ainda l a Bblia, orientlo para que veja nela evangelho, boa nova, e no
lei
q~e.escraviza. Se algum ainda fala de Deus em sua fam~lia, na firma, na roa, como pastor, fazer com que
nao seja hipocrisia religiosa.
.
~rocu~ar com ansiedade por estas pistas construir
igreja - e construir uma sociedade e um mundo novo (talvez pedra por pedra - mas pedra viva).
d - O p~vo que posse de Deus no agUenta a dicotQ
mia entre fe crist e vida social. Mas faz a vida social
ficar dependente da f crist, isto , a misericrdia
divina misericrdia para o mundo e identifica aqui o

povo de Deus. E este povo aproveita tudo para concretizar esta identidade.
Isto culto.
E onde acontece este culto h igreja.

TEOLOGIA NA EDITORA SINODAL


GERAL
INTRODUO TEOLOGIA EVANGLICA . Karl Barth
ANTIGO TESTAMENTO
INTRODUO AO ANTIGO TESTAMENTO. Klaus Homburg, 3~ edio
HISTORIA
DE ISRAEL. Manfred Metzger, 2-a ediao

GRAMTICA ELEM. DA LNGUA HEBRAICA. Hollenberg/Budde, 3~ edi.


NOVO TESTAMENTO
INTRODUO AO NOVO TESTAMENTO. Eduard Lohse, 2~ edio
TICA DO NOVO TESTAMENTO. Heinz Wendland
SNTESE TEOLGICA DO NOVO TESTAMENTO. W.G.Kilmmel
O QUE ENSINOU JESUS REALMENTE? Norman Perrin
HISTRIA DA IGREJA
A F CRIST ATRAVS DOS TEMPOS . Bernhard Lohse, 2~ edio
LUTERO E SUA TEOLOGIA
LUTERO. Franz Lau
A JUSTIA DA F. Hans-Joachim Iwand
F ATIVA NO AMOR. George W. Forell

- 68 -

AO

DE

Gnesis

GRAAS

- 69 (em ambiente rural)

8, 15-22

Uwe Wegner
1 -

Consideraes sobre a traduo de Almeida

Vers. 16 - Verbalmente, deveria ser traduzido p o r:


"Sai da arca, tu, tua mulher, teus filhos e as mulheres
de teus filhos contigo".
Vers. 17 - A traduo" ... faze sair a todos ... " deve ser substituda por:" ... faze sair contigo ... ".
Vers. 18 - No final, leia: " ... e as mulheres de seus filhos com ele".
Vers. 19 - von Rad (ATD, 104) sugere, com ajuda do
aparato crtico, a seguinte traduo: "E todo o (animal)
selvagem, e todos os passaras, e todos os rpteis que ra..
tejam sobre a terra, segundo as suas especies saam da ar
ca' .
_,
Vers. 20 - Literalriiente deveramos traduzir: " . e
tomou de todo o gado limpo e de todos os pss aros limpos ... "
Vers. 21 - Ao invs de "suave cheiro" (= Almeida) tra
duza por: "cheiro da aquieta~o" (niho -h = apazig~amento,
aplacamento, calma, aquietaao, prazer). A expressao "e
disse Deus consigo mesmo" deve ser traduzida literalmente
por:" .. e disse Deus a seu corao ... ".
11 - Contexto
O contexto imediato e dado pelos captulos precedentes: 6-8 , 14. O contexto da histria teologicamente a
tenso entre juzo (6,5-7) e graa (8, 15-22), tenso esta que, alis, permeia toda a proto-histria (3,3. l6ss; e
ll , l-9 em relao a 12,1-3). Em 8,20-22 temos o fim
da
histria do dilvio segundo o Javista. O captulo posterior, Gn 9, apresenta o fim da histria do dilvio segun
do o Escrito Sacerdotal. Para a prdica, o captulo 9
prescindvel.

111 - Crtica li t erria


Os estudiosos separam na histria do di lvio duas fon
tes distintas: o Javista (J) e o Escrito Sacerdotal (P) ,sendo que para o nosso trecho os verss. 15-19 pertencem a
P e os verss. 20-22 ao J. Esta separao de fontes depreende-se facilmente pelos nomes diferentes aplicados a Deus: Nos verss. 15-19 fala-se de 11 Elohim 11 , enquanto que nos
verss . 20-22, de "Jav" (veja von Rad, ATD, pg . 92ss, e
Klaus Ha mburg, Introduo ao Antigo Testarrento, pg.38ss).
IV - Questes exegticas
Vers. 15 - A sada dos animais bem como de No e fam
lia se do por iniciativa soberana de Deus. Com o di lvio
a terra deixou de ser o lugar natural do domnio do homem
(von Rad, ATD, pg. 106). Da se explica que Deus mesmo
precisa tomar a iniciativa e ordenar a sada da arca .
Verss. 16-18 - Por que justamente No salvo por Deus, e no qualquer outro? P responde em 6,9 e 8, l; J responde em 6,8 e 7, 1. A salvao dom gratuito de Deus (6,
8: "No, porm, achou graa diante de Deus"; 8, l: "Lembrou-se de No ... 11 ) , o que no exclui a responsabi 1 idade
humana ("No era horrem justo e ntegro entre seus contemporneos": 6,9; 8, 1). No caso dos contemporneos de No,
esta responsabilidade faltou (cf. 6,5.11-13)!
A famlia de No salva juntamente com ele. Bem idn
tico tambm em 19, 12 com referncia famlia de L. Deus
irradia a sua misericrdia tambm sobre a descendncia da
queles que o amam (tx 20,6).
Verss. 17. 19 - A sada dos animais e a ordem para a
sua fecundidade e multiplicao esto estreitamente rela
cionados com Gn 1,22. P quer mostrar que apesar de terDeus enviado uma catstrofe csmica (7 11) a terra no
sucumbiu novamente ao caos (l,6ss), e,~im, 'recebeu de De
us. no~amente suas funes originais. Ou seja: A sada das
a~1ma1s e o mandamento para a fecundidade e multiplicao
s~o_a.prova de que Deus ratifica e assegura tambm aps o
d1 luv10 sua palavra criadora e sua bno (1,22).
_Vers. 20 - O primeiro ato de No aps a salvao
da
catastrofe consistiu no levantamento de um altar para Deus com oferta de holocausto (olot). Holocaustos (halos-to

- 71 -

- 70 do, inteiro, e kaio =queimar) eram sacrifcios em que os


animais eram queimados inteiramente sobre o altar, se m
participao do efertante na comida.
Quanto ao sentido desta oferta de holocaustos no contexto do captulo 8, os comentaristas opinam d e duas maneiras: Uns acentuam mais o carter da gratido na oferta
(Dankopfer), enquanto que outros j o entendem mais como
sendo um sacrifcio de arrependimento e expiao (Suehno~
fer), tendo em vista, principalmente, as palavras do vers.
21: "Deus cheirou o cheiro da aquietao" (veja tambm Ez
5, 13). von Rad (TAT 1, pg. 268s) constata que holocaustos podiam ser ofertados por motivos vrios. 1 sto nos pe~
mite aventar a hiptese de ter tido a oferta de No tanto
um como o outro sentidos: ela , a um s tempo, oferta de
gratido e de propiciao (O sentido reconciliatrio da~
fert~ deve ser preservado, no por ltimo, pelo seguinte:
A sa1da da arca ainda no posse da salvaao. A palavra
final de graa no dita antes, e sim, somente aps a oferta de No, no vers. 21!)
Vers. 21 - As palavras proferidas por Deus retratam~
ma deciso com vistas ao trmino de toda a catstrofe.
A
conexo com o vers. 20 dada pe 1o fato de ter Deus che i rado o "cheiro da aquietao". Mas as palavras ~e Deus
que seguem no so resposta direta ao ato de Noe no vers
20, e sim, relacionam-se com toda a catstrofe, ou melhC
com toda a histria do dilvio. (Uma interpretao contr~
ria faria do sacrifcio de No um prottipo do sacrifcio
de Cristo, o que teria conseqncias para a prdica)
lmpr7s~iona nestas palavras de Deus que ele fundamen t a
su~ decisao de misericrdia com os mesmos motivos que
no
prologo_usou para fundamentar o seu juzo, quais sejam, a
corrupao interior do homem desde a sua infncia (cf. 6 ,5)
Entre pr~l~go e eplogo h, pois, uma tenso. a tenso_
e~tre o Ju1zo e a graa de Deus que permeia a proto-hist~
ria (compare Gn 3,3.16-19 com 3,21; 4,lls com 4,15; ll,1-9
com 12, 1-3), a Bblia toda, culminando com o evento de Jesus Cristo.
Mas como entender estas palavras de Deus? Trata-se de
uma capitulao, de um conformismo?
Antes de mais nada, trata-se de um reconhecimento. Deus reconhece que a maldade inerente ao homem. Em segun-

do lugar, trata-se de uma aceitao paciente e misericordiosa: Deus aceita a existncia deste homem maldoso. A hiptese da capitulao ou do conformismo errnea. Ela seria vivel se Deus no tivesse outras alternativas. Mas a
histria do dilvio nos mostra que Deus tinha outras alter
nativas!
Quanto ao mais, preciso cuidar para no superinterpretar. Um comentarista adverte: O vers. 21 no afirma que
Deus no castigar a maldade. Afirma s que Deus no destruir mais totalmente a humanidade!
Vers. 22 - Este versculo concretiza a misericrdia de
Deus. Segundo ele a misericrdia divina se revela na preservao das leis da natureza, uma preservao que o di lvio havia posto em cheque.
V - Avaliao do contedo teolgico
A. A salvao de Deus
Nosso trecho mo~tra um~ progresso na salvao de Deus:
sua bondade para Noe, a fam1 lia eo reino animal e estendida
nos verss. 21s para todos os viventes. Assim sendo, os cita
dos versculos testemunham o carter universal da bondadedivina.
No vers. 21 a bondade de Deus qualificada como bondade misericordiosa, graciosa. Deus no preserva qualquer
humanidade, e sim, concretamente, uma humanidade pecadora.
Paradoxalmente, a progresso da maldade na humanidade faz
crescer em Deus a sua bondade. A maldade do homem progri
de da mentira de um casal (Gn 3) para o fratricdio entr;
Caim e Abel (Gn 4), culminando com a corrupo de todo o
vivente (Gn 6). Assim tambm a bondade de Deus: vai de Ado e Eva, passando sobre Caim, recaindo finalmente sobre
todo o ser vivente na histria de No e sua arca. Semel~ante a Mt 5,43ss temos aqui o testemunho de um amor que
nao pode ser racionalizado. o amor divino que rompe as
barreiras do calculismo meritrio e se derrama graciosamente sobre todas as criaturas. Este amor gracioso o mi
lagre que Deus realiza com a humanidade. Longe de repre-sentar uma reao natural, resulta o mesmo de uma luta in
terior do prprio Deus, onde em meio a um juzo aterrador
(Gn 6,5-7.12s) prevalece, inexplicavelmente, a bondade .

- 73 -

- 72 Positivamente, este amor gracioso de Deus sobr e todo


o ser vivente se manifesta:
1) naresoluodenomais destruir totalmente ahumani
dade (vers. 21). A expresso 11 enquanto durar a terra"
(vers. 22) aponta, segundo Westermann (pg. 78), tanto pa
ra o fato de a terra ser somente criao e, portanto, e~
tar sujeita a um fim, como para o fato de que doravante
nenhum poder ou fora humanos podero mais destru-la por
completo, ou seja: Deus se arroga o direito de permanecer
o nico Senhor sobre sua criao;
_
2) na preservao das leis da natureza. Esta preservao
e funcional, pois s por intermdio dela que ao homem
garantido o sustento e a vida.

B. O comportamento de No
Teologicamente o comportamento de No expressa a aao
d: Deus em sua sa 1vao. No sentiu em meio a todo o ep 1sedio da catstrofe a ao bondosa e salvfica de Jav.
Por isso o seu primeiro ato no o preparo de um banque~e, e sim, de um altar. A oferta de sacrifcio tem para a
e~oca a fin~lidade de possibilitar relao com Deus eatr~
ves dela Noe expressa, a um s tempo, a sua gratido e seu
desejo de propiciao.
VI - Meditao

A. O culto de ao de graas em ambiente rural

(CAG)

O CAG realizado comumente aps a colhei ta. A sua data varia de regio para regto, parquia para parquia
~endo deterrni nada pe 1a poca da co 1hei ta dos produtos '
_data de realizao do CAG , pois por natureza fl~x 1 ve J N~ma regi -ao de produao
- de feljao/mi
' ' ri a
lho pode
ser real~zado entre janeiro e maro; onde o principal
produto e soja, em junho/julho; onde se cultiva o trigo,
em out~br?/novernbro. De acordo com a produo regiona J
as paroqu 1as ge~a l~nte convencionam determinadas pocas
para a sua real1zaao. Parece-me que normalmente reali
zado no inverno.
A forma exterior do CAG igualmente flexvel e var i ada. Tradicionalmente temos o costume de colocar sobre
o altar oferendas (legumes, frutas, verduras, saquinhos

de feijo, arroz, mi lho, etc.) que aps o culto so leiloadas, sendo o lucro destinado para fins diversos. Uma
outra forma consiste na distribuio de envelopes antes
do culto, sendo que cada pessoa agradece pela colheita
com uma ddiva em dinheiro, recolhida em lugar da coleta.
Alm destas, existem ainda muitas outras formas possveis
de realizar o CAG, as quais so aplicadas em maior ou menor intensidade nas diversas parquias, dependendo, principalmente, do grau de tempo, criatividade, interesse
e
estmulo dos pastores, diretorias e comunidades.
O sentido do CAG , por excelncia, a gratido a Deus
pela colheita, ou seja, pelas ddivas da criao. Warth
(pg. 208) comenta: 11 A festa de agradecimento pela colhei
ta a festa do primeiro artigo da f. Convm lembrar que
no realizamos uma festa para Baal, na qual so honradas
as foras e os poderes da natureza, e, sim, que agradecemos ao Criador, Pai de Jesus Cristo, pelas suas ddivas 11
B. A palavra de Gn 8, 15-22 frente situao
Os trechos clssicos da proto-histria (Ado e Eva; C~
im e Abel; o di lvio e a construo da torre) so conheci
dos pela maioria dos ouvintes. Por isso a associao
do
trecho com a catstrofe do di Jvio se dar automaticamente com a leitura da passagem proposta.
Urna associao imediata do trecho com a situao dos
ouvintes dada pelos verss. 16-19.22: farnl ia, rnulher,fi
lhos, animais, gado, pssaros, sementeira, colheita, in-verno, vero, etc. O trecho est permeado pelo mundo vive~
eia! do agricultor.
Que atualidade tem nossa percope para os agricultores? Trs aspectos nos parecem merecer destaque:
1) Deus permanece ainda hoje Senhor absoluto sobre a

sua criao
Creio que o agricultor percebe isto. t certo que ele
trabalha cada vez mais com os benefcios da mecanizao,
adubos, inseticidas, etc. Mas um domnio absoluto sobre
a criao ele est ciente de no ter. Uma tempestade, urna ~huva de granizo, as pragas, as secas continuam impre
vis1~eis e pairam como constante ameaa sobre os planti-=os. E verdade: amanh ou depois a tcnica talvez consiga

- 74 corr 1g1r e assegurar a lgumas destas _ameaas. Mas ningum


se iluda: outras tantas estaro pela frente. Bast a
ler
um tratado sobre ecologia! Perguntamos: Que s e nti do
t m
estes problemas e ameaas que continuamente paira m sobre
os plantios? Parece-nos que eles so sinais. Sinais
com
os quais Deus quer nos abrir os olhos e nos fazer ver.que
a ltima deciso sobre o sucesso ou malogro dos plant1os
pe rmanece na mo do Criador. Ao mesmo tempo eles so si nais da 11 outra alternativa" possvel, da a lt ernativa do
juzo, ou - neutramente - da destruio. Estas ameaas
querem nos fazer ver que nada natura 1, que ex i s te m outras possibilidades que unicamente o sucesso d e nosso
plantio e que, portanto, toda boa colhei ta um "milagre".
2)

Deus agracia uma humanidade pecadora

Deus no quer ser somente o Criador, e, si m , tambm 0


Senhor sobre suas criaturas. Deus Senhor sobre agri c ultores quando a sua vontade obedeci da, seu a mor vi vi do .
Mas qualquer retrato de uma comunidade do interior (de t~
das, alis) sempre um retrato obsc uro, manchad o edistante do ideal. Estas 111anchas e estas obsc uridades , que V!!_
riam de comunidade para comunidade, ratificam as palavras
de Deus: 11 porque ma u o desgnio ntimo do ho mem des
de a sua moei dade 11 (Gn 8 ,21). Tambm a atual comunidade
rural comunidade sob o signo do p ecado, da maldade:
O
segundo motivo de agradecimento da comunidade r u ra 1 e 0 f a
to de que Deus permite justamente tambm para ela, n~ ~U!!_
lidade de comunidade pecadora, a colheita e os bene f 1c1os
da terra . Ou seja: No a colhei ta, mas o fato de t-la D~
u~ ~oncedido para o AGRICULTOR o segundo moli vo da gra t 1da o, o verdadeiro 11 mi l agre' 1
Ser que o agricultor captar este milagre, que
D e ~s
abenoa uma humanidade pecadora, da qu a l e l e faz i:iart e '.~
tegrante? Depende mui to. Para quem toda colhei ta e um mi l a gre (cf. acima), para quem a natureza - inclusive _o ho:
mem - tem a ver alguma coisa com o Criador, no sera difi
cil. Mas existem tambm membros de comunidades que participam no s cultos por mera tradio e para os quais uma a~
sociao naturez a-criatura-Criador no pode ser pr es supo~
ta. Ne stes , aque l e ca l cu li smo mer i trio que Deus justame~
te ro mpe na verdade o s ta t us confe ssioni s : "Que m no tr~

- 75 ba l ha, :-1o deve comer, mas quem trabalha dig~o ~e seus!!.


Jrio"! No que isto e steja errado . Mas onde ha so_isto,o
verdadeiro mil a gr e de n ossa pe r cape no encontrara ~ o ra:
es receptivos . Pa ra tais pessoas_u ma bo~ co~heita _ e_ so
aqui lo a que e l es fazem jus; uma ma colh~1 ta e uma inJus t i a. Nestes casos uma m colh e i t a no da "si na 111 nenhum
(vide acima), pe l o contrrio: ratifica muitas vezes que o
bondoso e jus to De us uma i 1uso ...

3)

No pr ot tipo daqueles que se reconhecem agracia-

dos por De us
No constri um altar para o Senhor e oferece holocau~
tos . Wester ma nn (pg . 77) comenta: "Este ato daquele qui:
fo i salvo um culto . O sacrifcio a maneira usad~ na epo ca para ex press~r que No reconhec~u a sua salvaao das
guas como uma aao de Deus ... Ele tin ha que responder
a
esta ao: sua respost~ e ra o culto" . Segundo_Westermann
a hist r ia de No contem inclusive um dos motivos fu ndamentais do culto, qual seja, a expe r incia humana ~a salva o frente morte. E e l i: conclui (op . c it .): "Ha uma
conexo p rof unda e inseparavel entre a oferta de louvor
de No e a comemorao da santa ceia na igreja, a qual igualmente g ir a em torno de uma :alvao 11

Concordamos com es ta reflexao. Mesmo assim temos que


cons tata r qu e No objeto de uma salvao particular, P~
ra n o dizer, especial. Os ouvi n tes so, porm, segundo o
texto , obi etos de uma salvao geral, que Deus est~nde
gracios ame nte a todas as criaturas (Mt 5,4~) ~traves da
preservao das leis da natureza . Uma alusao a santa c~
ia (c urv a cristo l gica?) me par e ce prescindvel ju:tamente para preservar este carter geral da misericordia
d ivina a que o texto (v e rs s . 21s) alude . Mas que import ncia teria neste caso a atitude de No para esta hum~
nidade globalmente agraciada por Deus?
No o pr ott ip o daqueles que se reconhecem agrac i adas por De us. Os qu e s o agraciadas por De us ( es pontaneamente? Weste rmann) tendem a lhe prestar reverncia,
cu l to. Assim tambm os agricultores tendero a pre s tar
reverncia e culto a De us quando reconhecerem na colhei
ta uma graa de Deus.

- 77 -

- 76 E:m No a oferta foi um misto de gratido e propicia


o (Dankopfer + Suehnopfer). Onde em meio a pecados

homem agraciado, a gratido que ignorar o pecado ser


uma gratido cega. Por isso, enquanto o homem pertencer
a uma humanidade pecadora, toda gratido por benefcios
11
recebidos de Deus ter que ser sempre gratido
1 uz do
pecado 11 , ou seja, gratido que busca o arrependimento e
a reconciliao com Deus. Gratido (inclusive culto de~
o de graas) que no tenha este objetivo torna a graa barata e Gn 6,5-7. 12s uma brincadeira.
C. Sugesto para a prdica

1) Ref. ao Bl da meditao - O pregador poderia inJ_


ciar com uma aluso catstrofe do di lvio: 40 dias
e
noites de chuva. A aluso chuva da ri a a conexo com as
a~aas sobre o plantio na atualidade. Apesar de ter h~
v1do considerve 1 avano tcnico, a dependncia da nat~
re~a permanece_praticamente a mesma hoje, corno na an~i
gu1dade. O domtnio da natureza no escapou para as maos
d~ criatura: permanece na mo do Criador. Esta dependn
c~a, embora nos d dores de cabea e mui tas preocupa- oes,_tem um sentido positivo: Ela o sinal que Deus
nos da para lembrarmos a sua soberania e o seu amor
N~ experimentou soberania e amor de Deus na arca
que
na? sucumbiu, naufragou: Ele foi salvo. A nossa arca,~
quilo que nos protege, assegura e mantm a vi da - no ca
so do agricultor, o seu cho a sua terra - tambm
n
sucumbiu. Deus protegeu tarrb~m a nossa arca!
~) ~ef. ao B2 da meditao - Mas a histria de No
n?o_e so.h~stria de salvao.
d1ao e JUtzo N - _

tambem historia de pe..!:_


ter tid D
oe nao fot salvo por acaso, e, sim, por
0
human i d d eus agrado em sua vi da (Gn 6 ,9) . A vi da que a
e ao seu redor levava era porm vida dissolu
ta b e corrompi
d a p or 1sso Deus a condenou.
'
' Ao pregador.
ca eria, na parte que segue, mostrar comunidade:
a) que i:mpouco desta vida dissoluta e corrompi da germi
na mbno coraao
de
cada
um (vers 21) A comun1"d a d e, h oje,
.
ta em a1n~a nao e o que devia ser. Ns nos sentimos 1 i
gados a Noe por uma salvao, embora por mui tas vezes n~s encontramos distantes de No no que se refere a uma
v1 da que agrade e que seja de acordo com a vontade
de

Deus;
b) que Deus - acolheitaomostra- est inexplicavelmente abenoando esta comunidade (O cidado que no obe
dece as leis vai para a cadeia; o filho que no obedece
seu pai, recebe castigo; uma comunidade que est em dvi da com Deu_s abenoada!?);
_
c) que nos, justamenteporestarmosemdvidacomDeus,
nao temos direi to de exigir colheita. Que proveito tem
Deus de uma rendosa colheita, se a famlia que a recebe
leva vida que lhe desagrada? Se ns, como pecadores, re
cebernos colhei tas, Deus no est cumprindo um dever, e~
sim, est nos querendo abrir os olhos para o seu amor.
3) Ref. ao B3 da meditao - Foi o que aconteceu com
No. Ele no fez colheitas, mas foi igualmente salvo de
catstrofe da natureza. E com esta salvao Deus lhe abriu os olhos para o seu amor. A resposta que No deu a
Deus foi a construo de um altar com a oferta de sacri
fcios. Antigamente era este o costume usado para agra-=decer. Hoje, a comunidade se encontra reunida pelo mesmo motivo: Ela quer responder a Deus, quer agradecer. A
qui o pregador deveria lembrar comunidade que ela a-=gradece a Deus em vistas de sua condio pecadora.
Ela
agradece a um Deus para o qual o pecado 11 pesa no corao11 (Gn 6,6). E poderia haver agradecimento mais agra
dvel para este Deus, do que tirar-lhe o referido peso
do corao?

Bibliografia
RAD, Gerhard von: ATD, Teilband 2/4 (Das erste Buch Mose
- Genesis), Goettingen 1967 8 . - RAD, Gerhard von: Theologie des Alten Testaments - TAT -, vol. I, Muenchen 19665,
- WARTH, Walter: 1 Mose 8,15-22, em Calwer Predigthilfen,
vol. 2, pag. 201-208, Stuttgart 1963. - WESTERMANN, Claus:
Die Sinflut und die Gegenwart (1. Mose 6-9), em Calwer
?redigthilfen, vol. 6, pag. 69ss, Stuttgart 1971.

- 79 -

- 78 A AO

DE

G n e s i s

GRAAS

{em ambiente urbano)

8, 15-22

Berthol do Weber
O dia da graa pela colheita (Erntedankfest) temoseu
lugar vivencial 11 no contexto de festas tradicionais, ali
~ muito antigas, cultivadas especialmente entre a popul~
ao rural por ocasio da 11 sega dos primeiros frutos"
ou
da colheita 11 quando recolheres do campo o fruto do teu tr!!_
ba l ho 11 (tx 23, 16) .
Em Israel - isso importante ainda para ns! - os pr~
0
fetas lutavam contra a tendncia de transformar Jahv'
D:us que age com o seu povo na histria, em divindade paga, que garantiria a fertilidade da natureza (Baal). Sendo uma festa tipicamente agrria - qual o sentido de um
cult?_especial de aes de graa pela colheita no ano
~
clesiastico? Tem ela uma mensagem tambm para os habi tantes. da cidade em nossa era tecnol gi ca, caracterizada por
r ac 1 on l ~zaao,

dom1nio
sobre a natureza e automaao
cre~
cente? Nao sao
- as obras criadas pelo homem em nossos d'ias
as que causam a nossa maior admi rao?
_
Em nossas comunidades rurais este dia e
comemorado
por um culto especial, com a oferta de frutos e verduras
que enfeitam o altar em sinal de gratido ao Criador
e
d~ador de todas as boas ddivas {do qual nos falam especialmente os salmos, p. ex. Salmo 104,27-33). Mas
ser
quel este dia da graa tem senti do somente para os a gr i cu tores. e a popu 1aao
rural, que sente - ass 1 m se d 1 z d e mane 1 ra m d

.
ais 1me 1ata sua dependenc1a
de f atores natu
- .
fr a 1 s e con d i oes
meteorolog1cas,
portanto d e um , , po d er 1 , ora do seu alcance? O habitante da cidade, que COrrlJra
os prod~tos agrcolas prontos no armazm ou no supermercado, nao sente tanto na prpria carne esta dependncia
como o colono - assim se poderia pensar. E realmente,
a
festa da colhei ta para mui tos moradores da cidade se tornou estranha! uma festividade da colnia artificialmente
transplantada para a cidade, que lhes diz muito pouco pa
ra sua vida urbana.
-

11

Para os ex-colonos, que se mudaram do interior, esta festa apenas desperta saudades nostlgicas dos "bons tempos"
quando ainda cultivavam suas terras.
De fato, a vida do habitante da cidade, seu xito pr~
fissional como comerciante, industrialista, empregado,fun
cionrio etc., no dependem em primeira linha de fatoresda 11 natureza 11 Mas seria precipitado concluir da que
o
colono, por ser mais ligado natureza, estivesse automaticamente mais prximo de Deus, e que por outro lado o ho
mem moderno, envolvido no processo econmico racionaliza-=do e na produo mecanizada, no possusse mais uma 11 ante
na 11 para Deus. O Deus da Bb 1 ia, em todo caso, no um
divindade restrita aos acontecimentos da natureza, e "san
gue e solo" podem transformar-se em dolos to bem coro
o motor, o progresso econmico, a produtividade e o consu
mo na sociedade moderna...
O dia de aes de graa tem por finalidade agradecer
a Deus por tudo o que temos recebido em bens materiais,se
ja diretamente da terra ou em forma de produtos manufatu~
rados, e em bens espirituais que o Senhor nos confiou como dons para administr-los responsavelmente em benefcio
do nosso prximo, de todos enfim. Mesmo se no colhermos
frutos ou verduras no quintal com os quais poderamos en
feitar o altar, temos motivo de agradecer e de ouvir
o
que Deus nos quer dizer neste dia.
O texto da prdica no nos fornecido pelos frutos do
campo e no atravs dos produtos que chegamos a conhecer o corao e a benignidade do Senhor, mas abrindo a B
blia e ouvindo a sua palavra, sua verdade libertadora. A
partir desta palavra do Deus vivo chegamos a co1r4Jreender
que a natureza tudo menos um poder independente e autnomo, mas determinada e mantida pela ordem daquele que
criou~ quer conservar a vida. Sua promessa de fidelidade
invariavel nos d a confiana na bondade da vida que fundamenta a certeza: na raiz da realidade, da criao, i1r4Je
ra, apesar das desordens e da experincia do absurdo, um
ordem fundamental e permanente. Compreendemos luz desta
palavra que no 11 naturaJ 11 que, se plantamos, tambm co1hemos, que no 11 l gi co 11 que o dia segue aps a noite,
e que apos a tempestade reaparece o sol.

- 80 -

- 81 -

At r s e a e i ma de t ud o que o h ornem ' 'e s e l a re e i d o' ' eh a ma de


"leis da natureza", na verdade est aquele do qua 1 o sa_!_
mista confessa: "Tu me cercas por trs e por diante,
e
sobre mim pes a tua mo." "Quo maravilhosas so as. tuas obras, Senhor!" Toda a nossa existncia e a d a e r 1ao inteira depende, inclusive o nosso trabalho e esforo, em ltima instncia, dos cuidados, da bonda~e.e
da
bno do Pai, que no somente o doador das dad1 '.:'.s e~
pi rituais, mas tambm do po de cada dia. Todos, nao.somente o colono, no somente os cn~ntes e piedosos, vivem
desta fidelidade generosa e imerecida de Deus, "que
faz
nascer o sol sobre bons e maus e chover sobre jus tos
e
injustos". Este reconhecimento nos torna gratos e hu mi Ides, nos conscientiza da nossa responsabilidade que
temos na administrao dos bens da terra em nossos dias.
Onde falta essa gratido e responsabilidade do h ornem como cooperador e mordomo de Deus, onde ele mesmo quer ser
seu prprio senhor que acumula bens mate ri ais e explora
' a est em jogo o mundo e a vid ne
os seus semelhantes,
le existente.
As primeiras pginas da Bblia nos relatam de cor:io 0
homem provocou, por sua rebelio e desobedincia, 1 ra
e 0 juzo de Deus, em forma do dilvio. Disso fala 0 no~
so texto:
Gnesis 8,15-22
_
O contexto nos mostra que neste tre<; h .na 0 se trata
apenas de um relato de uma catstrofe cosm1ca, da qual
falam tambm mitos e sagas de outros povos. A Bblia i~
terpreta todo este evento corro o juzo de Deus sobre uma
h uman1d ade perversa; a separao e o distanc1c::m~n

t o
do
homem de seu criador, da qual nos fala a histori~ da q~;
d?, tem as suas conseqncias em todas as di mensoes
.
vida: "~terra estava corrompida vista de Deus e c~e'.a
~e v~olencia" . A situao no era dife~e~te da ~e hoJe~Assim como nos dias anteriores ao di luv10, comiam e b
bi~m , casavam e davam-se em casamento, at o dia em que
Noe entrou na arca" (Jesus). E, como hoje, "adoravam
e
serviam a criatura, em lugar do Criador" (Rm 1,25) Deus
se arrepende de ter feito 0 homem e, vendo que toda a ma_!_
dade do homem se havia multiplicado na terra e que era
mau todo desgnio de seu corao, resolve faz-lo desap~

recer da face da terra. E veio o di lvio, que manifesta


de modo inequvoco quo srio Deus toma o pecado da rebeldia de suas criaturas, mas tambm revela sua vontade
salvfica e sua graa em meio ao juzo destruidor. Sua
misericrdia e fidelidade triunfam sobre sua ira de ju
zo: No salvo, porque achou graa diante do Senhor (b,
8), e com ele seus filhos e as criaturas que garantem a
continuidade da criao. Tambm agora Deus toma a inic..!_
ativa, abre a arca e faz sair dela todos os seres sobr~
vi ventes para um novo comeo de vi da. Com os seus "hol~
caustos" No quer propiciar a Deus e agradecer-lhe pela
salvao. E Deus, aceitando este sacrifcio reconciliador, faz, de 1 ivre e espontnea vontade, uma aliana com
No cuja atitude corresponde a est: pacto_de Deus. E n7~
ta aliana de Deus com o homem esta inclu1da toda a cri~
o restante. Aqui transparece a conexo do ?e:tino
do
homem com as demais criaturas, sua responsab111dade pela
preservao da vida e sua esperana de redeno (Rm 8).
Tambm agora continua sendo verdade - e~ autor par~
ce auscultar a disposio resignada do coraao de Deus :
" mau o desgnio ntimo do homem desde a sua mocidade".
Mas em face da oferta de No, Deus resolve conter a sua
santa ira: "No tornarei a ferir todo o vi vente,
como
fiz". - "O corao do homem mau" - esta verdade no d~
ve ser atenuada por um humanismo romntico que afirma ser
o homem bom "de natureza". Justamente este o milagre da
graa para com este homem: Deus faz prevalecer sua paci~
eia, transige e cede, dando-lhe uma chance no futuro. A
humanidade, que merecia ser extinta da face da terra, est agora, com toda sua maldade, includa na aliana
de
sua graa, carregada pela pacincia divina.
_
Deus no se retirou do mundo depois da criaao, deixando-a entregue a seu prprio destino, como o relojoeiro
o relgio, mas continua fiel sua criao; e nem a mald~
de do corao, nem a infidelidade e ingratido do homem
podem desfazer a sua vontade de preservar e recuperar
a
sua criao cada. Nesta vontade salvfica se baseia_a or
dem da natureza: Sua fidelidade nos sustenta e nos da
a
confiana no viver, trabalhar e planejar. Ns todos vivemos desta fidelidade nas ordens estabelecidas por Deus:

- 82 "Serrenteira e ceifa, frio e calor, verao e inverno, dia


e noite. 11 Sem esta fidelidade contnua no haveria condies para a vi da humana. Apesar dos des gn i os maus do
homem Deus resolve no mais extinguir os vi ventes e entregar o mundo aos poderes do caos, que destruio ...
Deus concede e garante a continuidade da vida por seu
amor e por sua bno contida nas ddivas da natur~
za.
Certamente Deus no dispensa o nosso t raba 1ho e
o
nosso suor para ganhar o po de cada dia. Ele quer a no~
sa cooperao criativa, o emprego de nossas foras e da
nossa razo. A f que tudo depende de Deus no nos torna passivos, mas nos mostra a nossa responsab i 1 idade que
temos_pela humanizao da vida neste mundo.
Nao podemos comemorar o dia da graa sem refletir s~
b~e a situao de nossos dias. No precisamos ser fut~
rologos para conscientizar-nos da gravidade da si tuaao
atual e futura. A humanidade se torna sempre mais uma
grande famlia caracterizada pela interdependncia dos
povos. (Crise provocada pelo petrleo). As reservas da
nat~re~a, assim os cientistas no-lo provam, no so ine~
rtave1s, elas diminuem tanto mais rapidamente quanto m~
71 cresce
a populao do mundo. No entanto a terra poder .
1 imentar todos os viventes deste planeta se todos
tivessem a possibilidade de participao justa nos bens
produzidos e na renda global.
. Conscientes de que a produo agrcola constitui
o
alicerce primeiro, sobre o qual haver de assentar-se o
processo do desenvolvimento integral, ns, neste dia,
dando louvor e graas ao Criador tambm queremos reconhece r 0 esforo e a rude lida do' homem que trabalha a
terra. O po de cada dia o po comunitrio e antes de
chegar em nossa mesa, em nossa casa, tudo o que
'
necess i ~amos para a subsistncia da vida passa pelas mos cal~
J~das de nossos irmos. Sabemos tambm que no so s a
m? sorte , as intempries e as prticas superadas no cult~vo da terra que obstaculizam a integrao e participaao, de uma alta percentagem da populao marginalizada,
do bem-estar social eda prosperidade reservada ainda a u
ma minoria privilegiada. Estamos ainda longe de uma jus-=tia social eficiente . Todos tm o direi to de viver uma

- 83 -

vida digna da pessoa humana e participar da justa distribuio dos bens. Formamos uma famlia de filhos do Pai c~
jo amor e bondade no so discriminatrios e diante
do
qual no vale o que temos, mas o que somos pela vivncia
de f em comunho e amor. Ele, neste dia, tarmm nos pergunta pelo nosso irmo necessitado, injustiado e oprimido, o faminto e espoliado. Nossa gratido a Deus no pode
consistir s em palavras, nem limitar-se a uma esmola oportunamente dada a um pobre mendigo . A misericrdia imerecida do Criador, que nos faz colher o que plantamos,nos
obriga a empenharmo-nos em solidariedade eficaz pela sorte de nossos pr x imos, vtimas de uma voraz sociedade de
consumo, de estruturas injustas, de egosmo e de discrimi
nao social. Ag radecer a Deus repartir o po com o po:
bre, engajar-se por uma justia social mais concreta, e
dar ao outro uma chance de viver corno filho de Deus.
Mas no nos i 1 udarros: 11 0s des gn i os do corao do homem so maus". E aqui no adiantam apelos morais visando
a 11 mobi lizao das foras construtivas da sociedade".
O
pecado um poder dominador. E no logramos sair da nossa
situao de escravos do pecado, se o Filho de Deus no_nos
libertar para uma nova vida. Deus conserva~ sua criaao
cada com pacincia, mas o que lhe importa e a nova criao inaugurada na morte~ ressurreio d: Crist~. S homens renascidos pelo Espirita de Deus, so coraoes em que
Cristo o Senhor, so capazes de ser testemunhas, em palavra e ao, desta nova criao, do novo cu e da nova
terra em que reinam justia e paz.
Quando seu amor nos conquista e orienta podemos contribuir com nossa parcela para a renovao da sociedade
e do mundo. Deus t e m uma pacincia incrvel com esta humanidade, que hoje como nos tempos de No mereceria
o
juzo. No sabemos que tempo futuro Deus reservou em seus desgnios para os homens. Em parte o futuro se decide
j no presente. O equi lbrio ecolgico abalado, a poluio e o caos do trnsito tornam a vida das grandes c~
dades sempre mais problemtica. A defasagem entre os ricos, seja em bens materiais ou espirituais, e os pobres
e analfabetos aumenta e cria um clima de mal-estar social. Aquele que reconciliou o mundo consigo nos chama para sermos seus cooperadores, mensageiros da salvao do

- 84 horrem inteiro: ele necessita to bem do po de cada dia


como do Po da vi da, da vi da plena em comunho com Deus
e os irmos. A cristandade toda e cada membro em seu lu
gar tm hoje a misso de testemunhar, com sobriedade e
pela vivncia do dia-a-dia, o reino daquele que o Senhor do mundo e da histria e que nos proporciona o po
e a paz. Nossa gratido consiste no servir a Deus
nos
irmos, repartindo fraternalmente a riqueza da bno
que Deus em sua bondade proporciona a todos ns. Suas
ddivas que nos sustentam so sinais de sua pacincia e
espera que voltemos quele que na cruz sofreu o juzo
em nosso lugar e no qual Deus oferece a vi da ao mundo.

TEOLOGIA NA EDITORA SINODAL


TEOLOGIA SISTEMTICA (DOGMTICA E TICA)
DINMICA DA F~. Paul Tillich
LIBERDADE PARA VIVER. Wolfgang Schweitzer
MORTE. Eberhard Jllngel
O RISCO DO ESPRITO. Hermann Brandt
TEOLOGIA APLICADA (PASTORAL)
A PRTICA DA CONVERSAO PASTORAL. Faber /Schoot, 2~ edi.
A PRTICA DO EVANGELHO ENTRE POLTICA E RELIGIO. M. Josuttis
GUIA DO PREGADOR. Adolf Sommerauer, 2~ edio
CULTO E MISSO. J.G. Davies
DINMICA DA SANTIFICAO. William E. Hulme
ESPIRITUALIDADE. Hermann Brandt
ECUMENISMO
DESAFIO S IGREJAS . Coord. por W.Altmann/B.Weber
OS NOVOS MOVIMENTOS TRANSCONFESSIONAIS E AS IGREJAS

- 85 D O M

o r

N G O
n t

o s

AP S

T R 1 N D A D E

6,9-14. 18-20

Erhard S. Gerstenb e rger


1 - Apstolo e igreja
Paulo foi um bom pastor? Como pod e intervir to r1g1
damente nos n e gcios da congregao em Corinto? lnclusi-=ve proferind o sentena sobre um malfeitor (5,3-5)? O Apstolo n o abusa do seu mandato missionrio, desrespeitando a no va e xperincia dos cristos em Corinto, que se
manifesta pelo entusiasmo da congregao (v 6, 12; 4,8;
14, 12; 15, 12 etc.)? Grandes telogos tambm podem errar;
os pensame ntos e sentimentos do povo proletrio, apesar
de todas as manifestaes entusisticas, poderiam conter
um ncleo de verdade (cf W. J. Hollenweger, Lebendige
Symbole des Heiligen, Luth. Monatshefte 14, 1975, pgs.
423-426).
Precisamos verificar os argumentos do Apstolo com
cuidado. Na primeira carta aos Corntios ele est preocu
pado com vrios assuntos concretos da vida comunitria:Comea com o fracionamento interno da congregao (l,lls),
atinge, p . e x ., qu e stes de casamento (7, 1), de usufruto
da carne sacrificial (10,23ss), de glossolalia (14) etra
ta finalmente da insistncia de alguns membros de que "os mortos no vo ressusci tar 11 ( 15, 12; aparentemente es
to convictos de que a ressurreio j se realizou pela
f em Cristo e pelo regime vigente do Esprito). Nesta
pluralidade de temas atuais o trecho 5, 1 at 6,20 consti
tui um bloco mais ou menos independente. So dois aconte
cimentos concretos que provocam a violenta reao do A-:pstolo: Um "certo homem est vivendo com a sua madrasta"
11
(5,1) e um irmo leva ao tribunal (no-cristo) a queixa contra o outro" (6,6). Estes fatos, relatados a Paulo ,
quando ele estava mo r ando em feso (At 19, l), levam-no a
expor a sua teologia da libertao e da responsabilidade,
da incorporao ao corpo de Cristo e da moral sexual, do
rei no de Deus e do regi me de Esprito (6 ,9-20) .
Mais uma vez: O Apstolo tem uma legitimao para in

- 87 -

- 86 tervir? Como relacionar com isso o papel do pastor (ou:


funcionrio eclesial) de hoje referente vida da congr~
gao? Trata-se, em ltima anlise, de uma questo
da
estrutura eclesial, baseada na f crist. Consideremos os
seguintes fatores: No tempo de Paul o ainda no havia uma
hierarquia eclesial; sob a impresso da vinda imine~t~ de
Cristo no se pde desenvolver aquela escala dos 0!1c1os;
o "corpo comunitrio cristo", conforme Paulo, esta sob
a direo exclusiva do seu ''cabea'', Cristo (Ef 4, 15s; 1
C~ 12,12-31; Rm 12,5); nas decises concretas a congreg~
ao crist tem que cooperar com todos os seus membros,c~
jas funes e poderes individuais certamente so diversas (cf 5,4; 12,27-31). Portanto, Paulo no um autocr~
ta infalvel; ele se acha incumbido dum cargo especial
(cf l, l; 3, 10; 4,9; 2 Co 3,7ss), isso certo. Mas a autoridade de suas exortaes apostlicas sempre depen_de d~
autorizao divina, pela direo do Esprito. Quer dizer.
Cada afirmao do Apstolo pode ser verificada pela congregao, que , na verdade, a parceira de Deus. ". t~
d~s as coisas pertencem a vocs: Paulo ... (etc) ev~
ces pertencem a Cristo", 3,2lss; "vocs sabem que so 0
- 11
t emp l o de Deus, e que o Esprito de Deus vive em voces
'
3, 16.
Aplicando este modelo de autoridade nossa si tuaao,
podemos dizer: Cada cristo, corro um membro de Cristo,d~
v~_atuar na certeza de ser guiado pelo Esprito. Consequencia: s vezes ele vai lutar contra a maioria da congregao. - Por outro lado: - Cada cristo deve estar
consc~ente da vida da igreja toda e buscar a ntima : 00 peraao entre todos os membros. Conseqncia: Ele~' ser
ca~a~ de exercer autocrtica e tolerar outras funoe~
e
at~vt~ades na sua comunidade. Em resumo: A congregaao
cr'.sta est peregrinando em conjunto, a fim de apreend e r
ma 1 s ~ m~ i s as ma n i festa e s d o Es p r i t o . No se u c a mi n h 0
os crtstaos podem praticar a democracia do povo de Deus.
Quanto ao papel do pastor de hoje: Como os outros membros
da co~unidade crist, 0 pastor tambm pode asseverar
a
sua f: e os seus conhecimentos especiais. Mas, em contr~
Pc:?siao ao desejo popular, que quer torn-lo um super-apostolo , ele vai limitar as suas funes e encorajar a~
tividade de todos os membros.

11 - A per fe i o crista

Purificar uma congregao? Admitir s os moralizadores? Excluir quaisquer malfeitores (cf 5,6-13; 6,9-lO)pa
ra garantir a pureza corporal e paroquial e, conseqnte
mente, a coabitao do Esprito na igreja (6,18-20)? Mas
impossvel separar mal e bem neste mundo! (cf Mt 13,24-30
e 25,31-46). Ainda mais importante, a funo da comunida
de crist no justamente oposta: Aceitar o pecador,per
do-lo e reabilit-lo (cf Sl 51; Mt l8,2ls; Rm 14,10; 2
Co 2,5-l l)? Alm disso, se ns vemos esses vcios, que,
conforme Paulo, provocavam a expulso da igreja (cf 6,9s;
5, l l; Gl 5, 19s; Rm l ,29.31), temos que protestar enfaticamente. Pelo menos a nossa atitude em relao aos "homo s se x u a i s 11 , 11 bbados 11 e 11 ma r g i na i s 11 ( 6 , 9s , t r a d . d a 11 B
blia na linguagem de hoje"; Almeida: "efeminados", "soda
mi tas", "bbados", "roubadores") est mudando. Sabemos que alguns "vcios" so hereditrios e, conseqentemente,
"naturais", enquanto outros so produtos da mesma sociedade que os condena. A igreja, portanto, deveria integrar
alguns tipos de "malfeitores" como membros regulares;tal
vez at ordenar pastores homossexuais para servir esta classe dos homens. Em outros casos a igreja deveria recu
perar os fracos das margens da sociedade e conscientiz:
la, a fim de eliminar as condies da marginalizao.
Mas ns entendemos mal a argumentao de Paulo, se,
de modo casustico, copiarmos as suas motivaes para a
purificao e disciplina eclesial. Devemos perseguir as
suas idias raiz teolgica e cristolgica, para sermos
capazes de julgar os resultados concretos, inclusive a
tica de Paulo. O julgamento mesmo vai levar-nos tambm
adoo e criao de regras oportunas para edificar a igr~
ja.
111 - A nova realidade
Correspondendo ao ensino do prprio Jesus, Paulo anun
eia a chegada do Reino de Deus j realizada em Cristo (GT
4,4; 2 Co 5, 17; l Co 5,7), porm, ainda no completamente
conhecida e finalizada (cfFp3,l2-l4; l Col3,12).Assim o Re
ino de Deus uma fora dinmica e atual (4,20) que no sofre
a presena do mal; o Reino de Deus liberta todos os fiis

- 88 a si mesmos, ao seu ser original; o Reino de De us e oposto a toda corrupo do mundo. A partir d a t radi o e
da
experincia do Deus nico do AT, Paulo cr nu m De us onipotente, a quem subjugado cada poder no universo (Rm 8,
37-39). Ele em si perfeitamente incontestv e l e puro.
O mal se mani f esta em cada aberrao da vontade d e De us,
em cada contradio sua salvao. Deus mesmo, a suprema realidade saudvel para a humanidade, vai super a r
to
das as contradies. Ele exige que os seus fi is, o s li::bertados de toda impureza humana, tambm sejam p e rf e itos.
A medida para av.:ili.::ir o comportamento do cristo e d a i~reja , conseqentemente, o amor ltimo e a s antidade
ultima de Deus mesmo (cf tambm Mt 5-7).
Enquanto o testemunho de Paulo acerca do Reino de De
us relativamente plausvel, torna-se di f1-ci l entenderas deta~hes de sua tica. Bornkamm (op. cit. 210s) indica as varias fontes de onde o Apstolo retira as regras
de comportamento, quase i nd is cri mi nadamen te: Do AT,
da
f~losofia estica, dos costumes populares, da revelao
din:~ta, da tra~io crist. "Tudo o que bom e me rece~
logios: o que e verdadeiro, digno, justo puro, amvel e
honesto" ~Fp 4,8), ele o recomenda s su~s congregaes.
Isso, porem, significa que a suprema medida do comportamento cristo sempre permanece o Reino de Deus; quer di ze'., Deus mesmo - como ele se manifesta na salva o
de
Cristo e pela orienta o do Esprito. Conseqent e mente as
re~ras concretas deve m ser verificadas na real idade das
a~o~s de Deus. Para ns isso tambm significa uma variabilidade das regras ticas dentro do imutvel amor de Je
sus Cristo. Cada poca, de novo, deve apr e nder e articu-=lar os seus ma~damentos especficos dados pelo Esprito;
cada congregaao deve participar na busca do 11 que bom''
na presente situao .
IV - O corpo comunitrio cristo
Paulo descreve ainda a realidade do ser cristao de um
ou t ro aspe cto. Cada cristo pertence no a si mesmo mas
ao ~enhor, ao seu co~po (6, 13.15)_; este, ao mesmo tempo,
e sta ani mado e possu1do pelo Espirita Santo (6,19). A af inidade dos cristos com Jesus Cristo, no s simbol icamente , mas na verdade, tem uma qual idade corporal. Quer

- 89 di zer, Paul o n o f ala sobre uma unio mstica; nao ind i ca s uma liga o e spiritual. O cristo de fato incorpo
rado a Cri st o, pel o batismo (6, ll; Rm 6,3) e, conforme
o
seu usufruto do c o rpo de Cristo, na santa ceia (ll, 16s;
cf 12, 12ss). Esta comunho dos cristos com o Senhor e entre si mesmos, s e gundo Paulo, produz uma imunidade 11 biol
gica 11 contra o mal e os malfeitores. No para excluir aqueles qu e no corr e spondem pureza do corpo de Cristo,
mas para assi milar e puri f ic-los . "Alguns de vocs eram
assim" (6,11), mas, devido incorporao em Cristo, a vi
da antiga desapareceu. As foras ms permanecem fora
do
corpo de Cristo. Enquanto o homem tem pecado, ama o pecado e est subjugad o ao pecado, ele no tem parte no Cristo. O homem incorporado no Senhor verdadeiramente est
morto para a fora do mal (2 Co 5, 17) e participa - como
um homem libertado inteiramente na existncia renovada de
Cristo. As sim pa re ce lgico que Paulo quer excluir sobretudo todas transgresses sexuais (6, 18). Cada perverso
sexual atinge profundamente a corporalidade da associao
crist. Para Paulo, e para todas as tradies ascticas
no antigo judasmo, a sexualidade do homem suspeita em
si (7, lss; cf tambm Mt 22,30), ela permanece uma
fora
sedutora de primeira importncia. Por isso o mal no deve
entrar no corpo de Cristo atravs do desejo sexual.
Acho que pode mos, com alvio, concordar com Paulo na
avaliao do corpo de Cristo: Por demais tempo a igreja
pe rseguiu uma falsa espiritualidade, descuidando o corpo
humano com todas as suas carncias e possibi !idades.
Ao
mesm~ tempo temos que considerar as alegaes de alguns
psicologos e socilogos de que a represso da sexualidade
no cr~stianismo levou a neuroses e, num desenvolvimento
contrario, ao culto do sexo (cinema!). Portanto, na teolo
g i a de hoje, ns no vamos exagerar a importncia da vida
sexual, quando falamos da corrupo do homem. O abuso do
sexo, que danifica todos os envolvidos, s um modo
de
sujar a comunho com Cristo, alm de todos os~rimes contemporneos contra o homem e a sociedade. Buscando clarea~ os verdadeiros pecados de hoje, ns tambm devemos ouv1 r o test~munho do AT: a sua atitude tranq~i la e positiva quanto a sexualidade, bem como a sua denncia violenta
de atos anti-sociais e egostas. (Quanto mudana da mo-

- 90 ralidade e da estrutura social, cf S. Kei 1 e C. A. de Medi na, op. c i t.) .

V - Excomunho evanglica?
Que comportamento pode ser considerado 11 c ris to 11 hoje?
ou pecaminoso? Sob o enfoque da comunidade perguntamos :
Que maneiras de viver, que atitudes so tolerveis dentro
da igreja? Que atos provocam a excluso do culposo? Podemos, sem dvida,aceitar todas as pressuposies fundamentais
de Paulo: O Rei no de Deus ,a participao do homem no corpo de Cristo e o regime do Esp1rito. Podemos concluir,tam
bm, que a nova realidade, cri ada por Deus, no per mi te tais atitudes, atos ou pessoas que contradizem o amor de
Deus. So inflexivelmente iguais as manifestaes de desa
b:dincia? No, no so iguais. Conforme mudam as condi-oes da vida humana (cultura, tecnologia, sociedade, espe
rana, f, etc.), assim no se mudam somente as regras do
que bom,mas tambm os modos de rebelio contra o Reino
de Deus: a salvao por Cristo. Sim, possvel ainda
que alguem proteste contra Deus por 1 ibertinagem ou sadis
mo sexual. Em geral, contudo, os protestos de hoje aconte
cem (muitas vezes sob formas religiosas ou pseudo-religio
sas) nos campos econ3mico, cientfico, etc. Assim temos que definir e praticar a exclusividade da comunho crist
principalmente nestes setores. Seria impossvel, p. ex.,
que algum racista poderia ser um membro da igreja crist.
Porque o racista, obviamente, nega o evangelho do amor de
Deus e o fato da unificao dos cristos no nico
corpo
de e rtsto.

Da mesma forma: O que deveria acontecer para a


qu~les que oprimem e exploram os semelhantes para o pr-prio enriquecimento ou a auto-satisfao? Isso vale
para
as relaes entre homens e mulheres, pais e crianas, empregadores e operrios, donas-de-casa e empregadas, professores e estudantes, etc. Mais ainda: Como tratamos
aqueles que abandonam o prximo carente? Com~ aqueles
que
se apro~eitamde qualquer fabri~ao ou comercio de meios
destrutivos (armas, drogas, remedias preJ"udiciais
filmes
b
.
'
rut?1s, utens1lios ruins, etc.)? E aqueles que vivem de
mentira, falsa propaganda, especulaes criminosas? E a~uel:s qu~ p~egamdio, irreconciliabilidade, vingana? A
1. greJa crista certamente a assemblia dos fracos e pec~

- 91 dores, dos homens que esto sofrendo numa vida culposa.


Mas, com certeza, a igreja tambm no pode suportar ou a
poiar atitudes e atos contra o Reino e amor de Deus; ela
tem que se afastar daqueles que vivem em contraposio a
e 1e s ( cf , p o r e x . , a s n e g a e s d e 1 1 1 1 i c h ) .
VI - Pregar o Reino de Deus hoje
Cada culto uma tentativa de atualizar o testemunho
bblico. Cada atualizao implica uma viagem at o texto
e sua situao, uma apreenso da mensagem ~riginal no a~
biente antigo e um retorno para o nosso proprio tempo. 8_
qui, dentro da nossa situao particular, esta mensagem
de antigamente deve ser reconstruda e divulgada.
Infelizmente, o presente trecho sugere, nas cabeas
de muitos ouvintes, que as leis de comportamento sejam de
cisivas na vida crist. (Perverso do evangelho em lei!)-:A nova traduo ''na linguagem de hoje", por causa da sua
compreensibi !idade, pode reforar esta falsa impresso:
Cada ouvinte conhece aqueles "imorais, dolos, adlteros,
homossexuais, ladres, avarentos, bbados, difamadores,
ma r g i n a i s 11 ( 6 , 9 s ) ; c a d a ou v i n te i me d i a t a me n te f i xa a s u a
ateno nos maus, que "no herdaro o Reino de Deus" e~
benoa a si mesmo por n o ser "avarento, desonesto nem J_
moral, como os outros homens" (Lc 18,11). A prdica cris
t, portanto, vai expor o erro desta atitude, seja explT
citamente ou implicitamente; vai destacar a nova real ida
de do Esprito vigente no corpo de Cristo. Assim se ini~
eia um processo de conscientizao de que ns mesmos fo~
mamos uma comunidade salva de ansiedade, libertada por
Cristo e, conseqUentemente, aberta para todos os aflitos
e culposos, mas fechada para cada tipo de orgulho e auto
nomia humanos. Quer dizer: Temos que pensar, na prdicae nos dilogos com os membros da congregao, sobre adi
nmica da nova vida, as suas oportunidades e obrigaes;
temos que pensar sobre a construo adequada da igreja
(cf A. Gregory), e o problema da 11 excomunho 11 , na grande
maioria dos casos, vai ser resolvido automaticamente: Os
"malfeitores de hoje" vo fazer penitncia ou sair daigreja.
A respeito da moral individual, que uma c~nseqUn
cia (no pressuposio!) da vida comunitria, nos temos

- 93 -

- 92 que insistir: Precisa~os definies certas dos pecados~


tuais; sobretudo, porem, definies concretas do amor de
Deus, que nos obriga e facilita am-lo a Ele e aos nossos
semelhantes (cf D. von Oppen; S. Keil).
Bibliografia
BORNKAMM, G. Paulus. Stuttgart, 1969. - GONZLES-RUIZ, J.
M. O sentido biologico da moral de Sao Pau lo. ln: FABRO,
N., ed. A redescoberta do homem. Petrpolis, 1973. - ILLlCH, I. Gelebraao da consciencia. Petrpolis, 1975.-:
KAESEMANN, E. Meditaao sobre 1 Co 6,19-20. ln: Exe getische Versucheund Besinnungen. 39 ed., Gt:lttingen, 1964,
vol. 1, p. 276-279. - KEIL, S. Sexualitl:it, E rk e nntnisse
und Masstlibe. Stuttgart, 1966. - MEDINA, C. A . de. Familia e mudana. Petrpolis, 1974. - OPPEN, D. von. Moral.
Stuttgart, 1973. - SCHMITHALS, W. Die Gnosis in Korinth.
29 ed., Gtlttingen, 1965. - WENDLAND, H. D. Di e Bri efe an
die Korinther. ln: Das Neue Testament Deutsch. 129 ed.,
GBttingen, 1968.

7~

D O M

o r

-n
1

N G O
t

o s

A P S

TRINDADE

6,9-14. (15-17) .18-20

Edson Edlio Streck


1.0 - CONSIDERAES EXEGtTICAS
]. l - Quanto ao Contexto e Delimitao
O texto l Co 6,9-14. (15-17) .18-20 est contido na pr_!_
rreira parte da primeira carta escrita pelo apstolo Paulo
aos corntios, que fala a respeito de irregularidades que
aconteciam na comunidade crist de Corinto. Paulo tomou
conhecimento de atitudes tomadas por cristos de Corinto,
e no pode deixar de recrimin-las (5, l) . Houve um caso
de incesto, e Paulo opina que a pessoa que cometeu tal ato deva ser expulsa da comunidade (5, l-5), justificando a
sua opinio (5,6-13) . Irmos na mesma f vo a juzo, pr~
curando justia em tribunais no cristos (6,l-6). Paulo
no admite que isso possa acontecer entre cristos, just_!_
fica a sua opinio e alerta a comunidade (6,7-ll). Condena o indevido uso que cristos de Corinto fazem de seu
corpo, principalmente em relao a prostitutas (6, 12-20).
No captulo 7 tem incio uma segunda parte de l Co,na
qual Paulo responde a perguntas que lhe foram feitas pelos cor;ntios.
O final desse texto, portanto, est claramente delimi
tado: encerra em 6,20, j que em 7, 1 Paulo aborda novos
assuntos. O mesmo, entretanto, no ocorre com a delimitao do incio do texto: Ele abrange uma parte do trecho em
que Paulo fala da relao dos cristos frente a tribunais
no cristos (9-ll); inclui a primeira e terceira partes
do trecho em que o apstolo condena o mau uso do corpo
(12-14 e 18-20), omitindo a sua segunda parte (15-17).
Nota-se claramente que o texto parece uma colcha de
retalhos. Isso impede que fiquemos presos demais a contextos menores (processos, prostituio). Por outro lado
permite que o analisemos principalmente dentro do seu co~
texto maior (repreenses e opinies de Paulo sobre casos
de imoralidade existentes na comunidade).

- 95 1.2. - Quanto aos Destinatrios e ao Remetent e


Telogos que pesquisaram a fundo as cartas de Paulo
aos corntios chegaram a algumas concluse s, cuja ver acidade no contestada, a respeito dessas cartas, pri~
cipalrrente de 1 Co:
No mnimo Paulo escreveu quatro cartas aos co rntio3,
uma das quais anterior atual l Co. Outras dua~ ~~ta~
contidas em 2 Co. Salvo mnimos detalhes, essa o piniao
a da maioria dos telogos.
_
1 Co foi redigida durante a estada de Paulo em Ef~s<_?,
durante a sua terceira viagem missionria, e d ata do in~
cio da primavera (para ns, outono) de 54 ou 55 d.C.
Da mesma maneira ningum contesta a autenticidade_de
1 Co: Ela obra de Paulo de Tarso, fundador da comunid~
de crist de Corinto.
de vital importncia para a prdica que seja_a~ali_
sacia a situao concreta em que viviam os destinatarios
dessa carta de Paulo .
Corinto: uma cidade famosa, rica, um dos maiores ~e~
tros do mundo do NT capital da provncia de Acai ci da
- as d e 9~ an
d e POrtuaria.
E como' todas as cidades portuar1
de movimento Corinto tinha aspectos que inclusive hoje
'
t o de
e:t~o presentes em grandes centros: eonto ~e encon r
varias culturas filosofias e religioes . Nao lhe f alta
v~m o desnvel de classes sociais e a imoral idad e tambem caractersticas dos grandes centros, especialmente
portu~rios . E justarrente nas ca~adas mais baixas da P=
pulaao se encontrava o maior numero de pessoas conver
~ida7 ao cristianismo, s quais Paulo se dedic?u com maior Intensidade por ter sido recebido de maneira nada
hospitaleira peios judeus residentes na cidade (cf. l ,Z 6
ss; 7,21 e 12, lJ; 12,2; 16, 12).
Pa~lo havia permanecido durante um ano e meio
entre
os cor1ntios. Depois desse perodo seguiu viagem' ten t~~do 1evar o evangelho a outras pessoas, em outras
re91 oes . Aps a sua partida de Corinto aconteceram
fatos
que preocuparam bastante a Paulo, levando-o inclusive
a
redigir 1 Co. Apolo, natural de Alexandria, atuou na c~
munidade. Sua atuao, porm, gerou, sem a sua
intenao,
a formao de grupos entre os cristos de Corinto.Paulo

abordou esse pr o bl ema em l Co 1, lss e tentou solucionlo.


Atravs do s prpri o s cristos de Corinto Paulo chegou a tomar conhecimento de alguns problemas que afetavam a vida da comunidade. Eles pediam o seu parecer sob re as fac es ex istentes na comunidade, sobre casos de
imoralidade (incesto, disputas entre cristos perante
tribunais pagos, pessoas que mantinham relaes se x uais
com prostitutas). Nos primeiros seis captulos de l Co
Paulo d o seu parecer sobre es s es casos, inadmissveis
em uma comunidade crist. As palavras dess ~ texto so,
portanto, respostas concretas a perguntas concretas, que
querem solucionar problemas tambm concretos.
Essa a inteno e a atuao de Paulo em 1 Co: Como
responsvel que se sente pela vida dessa comunidade, ele
deseja a oikodom, como diziam os gregos; a "edificao",
como diramos ns. Edificar, construir, corrigindo erros:
a me ta de Pau 1o.

1.3 - Quanto ao Contedo


A prirrei ra parte, o primeiro dos trs retalhos que
compem o texto-base para a prdica, compreende os vs 911:

9 - Ou no sabeis que injustos no herdaro o Reino


de De us? No vos enganeis : nem imorais (p rostituidores) ,
nem idlatras , nem ad lter os , nem e f eminados , nem homos sexuais ,
10 - nem ladres , nem avarentos , nem bbados , nem di
famadores , nem salteadores herdaro o Reino de Deus .
11 - E assim fostes alguns de vs . Mas f ostes lavados , (mas f ostes) santi ficad os, (mas fostes) justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espirita do nosso
Deus .
Semelhante a GI 5, 19-21 Paulo faz um "catlago de vcios" que, segundo Wendland (p. 45), deve ter sido uma
forma fixa, presente nas suas prdicas missionrias. Paulo segue aqui a linha da pregao de Joo Batista, que
chama ao arrependimento, e dos sermes escatolgicos de
J~sus (Mt 13,4ls; Mt 25,41-46). Esses textos no deixam
duvidas de que tambm aqui se fala de um reino futuro, do

- 97 -

- 96 juzo ftnal. Essa tese reforada pela palavra "herdaro" o Reino de Deus.
No v. 11 Paulo refresca a memoria de seus lei tores,
comentando que muitos deles tinham tais vcios e defeitos antes de serem batizados e aceitos como membros
de
uma comunidade crist. Chama-os responsabilidade
que
assumiram por ocasio de seu batismo: Fostes lavados,
santificados, justificados em nome de Jesus Cristo (Bul.!_
mann, p. l38s). Dois estados se chocam e lutam entre si
a:rastando consigo e pondo em perigo a vida de cada cri~
tao: o estado an'terior ao batismo, sob o signo do peca~o; e o novo estado, aps o batismo, caracterizado pela
Justificao do pecador.
O segundo "retalho" do texto compreende os vs
12-14:

12 - Todas as coisas me so licitas , mas nem todas q_s


coisas convm. Todas as coisas me so licitas, mas eu nao
me deix&ei dominar por nenhuma de las__ .
_
13 - Os alimentos so para o es tomago , e o es tomago
P&a os alimentos. Deus, porm, destruir tant o ~s te como
aqueles. O corpo, porm, no para a p r os ti tui ao, mas
Para o Senhor, e o Senhor para o corpo.
b- l 4 - E Deus to bem ressuscitou ao Senhor, como tamem ressuscitar a ns pelo seu poder.
Inicialmente Paulo ataca o problema da

liberdade.

s:-

g~n~o Bultmann (p. 343) a frmula "todas as cai sas me s~o


~!_Citas'~ era provavelmente um tpico defendido pe!o~ ~ri~
aos gnosticos de Corinto. Tambm em 10,23 Paulo

ini eia~

ma.f:~se com as mesmas palavras, s quais contrape a sua

opintao: 11 mas nem todas edificam". Paulo leva, portanto,


~eus leitores a repensarem esse conceito de liberdade, c~
ocando trs ressalvas: "Todas as coisas me so l ci tas,
mas ~em todas as coisas convm" (6, l2a; t0,23a); ". mas
~u nao me deixarei dominar por nenhuma delas" (6, l2b) ~ .
mas nem todas edificam11 (l0,2Jb). Paulo, a pr incipio,
con~orda com essa definio de liberdade, mas faz-lhe as
d~v~das .!:estries. Ele mostra as duas faces de tal definiao, nao permitindo que ela se torne uma 1 ibertao de
todos os laos ou a entrega a uma vontade apenas subjetiva . O cristo deve fazer correes a essa definio de li_
berdade, pois como membro do corpo de Cristo, como batiz~
do, ele sabe que nem tudo conveniente. Ele saber tam-

bm dominar- se , para no ser dominado por outras coisas.


E co~o cri trio para saber o que lhe lci to, o que lhe
convem, o que no d eve domin-lo, est a palavra-meta de
11
l_Co :
edifica o 11 O que servir, portanto, para edifica
ao, tanto do cristo como da comunidade, isso lhe l~
eito.
Val e ress a lt~r que assim como h uma diferena funda
~nta 1 entr e po 11 ti ca e politicagem, assim h tambm uma
d~ferena fundamental entre 1 iberdade e libertinagem. Af1 rmar q~e '.'todas as coisas me so lcitas" pode signifi
caro pr1me 1 1-~ pas so para a libertinagem, isto , para a
cond ut a que nao se sente presa a nenhuma ligao, a nenhum co~promisso. Na situao especial dos corntios essa maneira de pensar e de viver levou a abusos
a vrios
cas~s de imo r al idade, os quais Paulo combate j~stamente
aqui Paulo tenta corr ig ir esse perigoso conceito de liberdade, dizendo que a liberdade de um cristo deve ser
v i vi da na responsab i 1 idade assumi da no batismo.
P~ulo no permite que se faa uma comparao entre
os ai 1mentos e a prostituio. Para tal ele contrape
11
11
barriga e 11 corpo 11 (Wendland , p. 46). Ambos, tanto est
mago como alimentos, sero destrudos, ao passo que ns
(".'nossos corpos) (cf. Bultmann, p. 196) seremos ressusc1 tados pelo p o der de Deus. Por esse motivo o nosso corpo, a _nossa pessoa , o nosso Eu, no deve ser entregue
a
p r os t 1 t u t as ( v s . 15 - 1 7) , mas a o Se n h o r .
A redao dos vs. 12-14 acompanha um raciocnio lgi
co surpree~dent emente claro, quase matemtico. A cada te
se dos cor1ntios ele apresenta uma anttese e finalmente
faz u~a sntese, orientado por uma convico slida e in~balavel: "Deus to be m ressuscitou ao Senhor, como tam
bem ressuscitar a ns pelo seu poder" .
Resta salientar que para Paulo o corpo o homem como um todo, e ~u como uma parte separada da 1 'alma 11
O
que Deus quer e o homem integral, total. Por isso os ali
mentas. pa:a. o estmag~ no podem ser comparados,
mui to
menos Just1 ficar relaoes sexuais com prostitutas. O cor
po (o homem cri ado e a ser ressuscitado por Deus) no de
v~ ser entregue a prostitutas, mas ao Se nhor. Paulo con~
tinua fundamentando o seu ponto de vista a esse respeito.
O terceiro bloco abrange os vs. 18-20 :

- 99 -

- 98 18 - Fugi da pY'ostituio .' Qua lque r' p ecado que o h o-

mem come ter fica fora do corp o; mas aquele que prat i c a a
prostituio peca contra o s e u prpri o co rp o .
19 - Ou no sab eis que o voss o corp o wn tc 1?1p lo do
Espirita Santo que est em v~s , o qual teme s po ""' pa r>t e
de Deus , e que no sois de vos mesmo s?
20 - Pois fostes comprados por um pre o . Glo rifi cai ,
pois , a Deus em vosso corpo .'
. tum ponto final, um ltimo argumento de Paulo arespeito da conduta do cristo em relao a prostitutas. O
p~nt~ ~o qual Paulo quer chegar claro: "Fugi da pros11
titui a~!
Para reforar essa advertncia e seu pedi do
aos cor1nt1os,

Paulo lana mais argumentos. O contato


~essoal com prostitutas atinge o prprio homem, em sua
1 nt
d
11
- egri ade, pois no ato sexual ele passa a formar
um
so corpo11 com ela (v. 16). um pecado que o homem comete contr~ si mesmo. Outros pecados no atingem 0 corpo,
porq~e nao chegam a ser uma comunho completa corno a que
se da numa relao sexual . "Pelo fato de o relacionamento sexual significar uma comunho completa, o contato
11
com
pro s t"itutas se diferencia de todos os outros peca dos
(
/ Stange, citado por Wendland, p. 47). Uma pessoa que
az parte do corpo de Cristo no pode, portanto, ser ao
mesmo :empo llum s corpa1 i com uma p ros ti tu ta ( vs. l 5- 16) .
Dos do1 s um.
Com uma pergunta retrica Paulo ataca mais urna vez 0
pensamento existente entre cristos de Corinto, principa~
mente os de tendncias gnst i cas
que no davam o devi do
valor a 0
'
E 5 -1 1
seu corpo: 11 0 vosso corpo um temp 1o do
P r to . Santo
que
- 11 . Por fim Paulo recor d a que
o
__ esta- em vos
cr1dstao nao e dono de si mesmo J" que foi resgatado, com
Pra o por
.
_ '
.
um preo. A 1 mportanci a dessa af1 rmaao nao es
ta no a- 1 to v a 1or do preo do resgate, mas na 1n d 1 caao
de
que apos o batismo o cristo pertence a Cristo. E~se resgate lembra a compra de escravos (7,23). Os cristaos foram comprados por Cristo da escravido do pecado, certamente (cf: Rm 7, 14; cf. tambm Gl 3, 13 e 4,5).
Resumindo: Liberdade crist s existe se for compreen
~ida co~o ~ompromisso com Cristo, e com ningum mais, po-=1s o cr1stao foi libertado do pecado e no para o pecado.
ConseqUentemente o cristo deve dar 0 devid~lor ao seu

corpo, qu e e a ci ma d e tudo um membro do corpo de Cristo e


um templo para o Esprit o Santo que habita nele.
2.0 - MEDITAO
No pode passar desp e rcebido que as palavras de Paulo
contidas nesse te x to s o dirigidas comunidade de Corinto, visando solucionar proble mas especficos nela existen
tes. Isso, contudo, no nos impede de pregarmos sobre es-=se te x to; pelo contrrio, nos leva a uma comparao entre
a comunidad e de Corinto e as comunidades em que ns vivem~s e atuamos . Ex ist e m os mesmos problemas? Seno vejamos:
Sao as noss a s cidad e s centros onde convergem e vivem vri
as culturas, vrias religies (confisses) e vrias filo-=:ofias? Existem em nossas comunidades vrias faces que
as vezes chegam inclusive a se combater? Existem em nossas ~o~unidades pessoas que se enquadrariam no 11 catlogo
11
de v1c1os
dos vs. 9-10? Sem dvida!, a nossa resposta.
Uma pergunta apenas: So os membros de nossas comunidades
predominantemente das classes mais baixas?, no recebeuma resposta afirmativa, exceto em raros casos. H, portan
to, traos em comum entre a comunidade de Corinto e as nossas comunidades. No esqueamos que Paulo deu respostas concretas a problemas concretos. Uma prdica sobre es
se texto no pode ser uma divagao, mas deve estar carre
~ada de concreticidade. Doa a quem doer, ela deve trazera tona tais problemas reais e indicar o caminho que leva
a uma soluo.
_ Na parte exegtica vimos que Paulo, ao falar 11 herdarao o Reino de Deus 11 , nos vs. 9-10, se refere claramente
a um Reino de Deus futuro, em conexo ao juzo final.
importante, entretanto, voltar a falar, tambm nesse texto, do Reino de Deus j presente, inaugurado por Jesus.
Em primeiro lugar, porque Paulo est totalmente empenhado na c?ns!ruo, ou melhor, na edificao de uma comunidade crista terrena, e no apenas 11 celestial 11 Em segundo
lugar, porque alcolatras, adlteros, homens que freqUentam a zona do meretrcio, ladres, etc., no s deixaro
de h~r~ar o Reino de Deus futuro, como tambm j deixam
de vive-lo aqui na terra, no momento presente, construindo com as suas aes no seio de suas famlias e de sua co
munidade situaes que podem ser classificadas como o in-=-

- l 00 -

- 1 ol -

ferno aqui na terra. Ento, se o inferno e possvel entre


ns, mui tas vezes graas a esses vcios enumera dos
po:
Paulo, por que o abandono desses v1 c os nao pode levar a
construo de uma situao, tambm pos s ,- ve 1 e re a 1 , do Re _!_
no de Deus aqui e agora?
O fato de Paulo relembrar que alguns cristos de Co11
rinto levaram, antes do seu batismo, a conduta dos
catalogados11 nos vs. 9-10, nos leva a repensarmos o sent~do
do batismo e da confirmao em nossas comunidades Sao e0
les, batismo e confirmao, realmente uma pedra sobre
passado e o passo para uma nova vida? Difcil de responder!
A respeito do perigoso conceito de liberdade, que levava cristos de Corinto a cometer abusos (!'todas as co ia
s~s me_sao 11citas 11 ), cabe-nos pergu~tar: Na? e a m~sm~os
firma~ao o po~to de partida da atuaao de mui tos ~ri~t:
de hoje? Se nao o fosse estariam empregadores cri stao
ex p 1orando empregados cristaos?
'
Ou cabe a cu l pa d es se velho: eterno problema apenas sociedade em que vi':'emos?
S~ ~ao o fosse, haveria famlias arrasadas, destruidas e
dificeis de reconciliar, muitas delas levadas a esse ponto pelo abuso ou mau uso da liberdade?
L'b
o_ 11 tu1 _erdade, um conceito to velho como o homem.
do me e lcitd' j est presente nas histrias de Adao
e
Eva, Caim e Abel, e atravessa como um punhal, dei x ando um
rastro de sangue, toda a histria da humanidade. Paulo
contra-ataca com 11 mas nem tudo edifica 11 , tentando tr~v~r
es~a maneira de agir e de justificar atitudes arbitrarias
e.irresponsveis. Infelizmente essa maneira de definir
a
1
iberdade continua viva. Talvez deva constar na prdica~
ma des cri ao
da situao de nosso mundo, se todos agi ss em
de acord o com esse principio.
- o
Para tal nao
e- necessar1
pensar

b damui to: Basta trazer, mais uma vez, as J tao


~adas manc~etes de jornais, ou fatos ocorridos na r~giao
~a-comunidade em que se vive. Para ressaltar, entao, 0
c~iterio que deveria ser usado e seguido por todo o cristao, apresentado e defendido por Paulo em 1 Co: 11 mas nem
tudo edifica".
Paulo no pode admitir que um cristo consciente mantenha relaes sexuais com prostitutas, por vrios motivos:

Trata-~e de uma afronta contra Deus, que criou nosso


corpo (= nos) e o ressuscitar. Por isso esse corpo,
a
ser_ressusci tado, deve ser entregue e dedicado ao Senhor,
e nao a prostitutas. Trata-se de uma afronta contra Jesus
Cristo. Todo o cristo, aps o seu batismo, passa a fazer
parte do corpo de Cristo . E sendo membro do corpo de Cris
to, pode o cristo ser ao mesmo tempo um s corpo com uma
prostituta? Trata-se de uma afronta contra o Esprito San
to, pois o nosso corpo um templo do Esprito de Deus que habita em ns. Trata-se de uma afronta contra a comunidade, pois se fizermos parte do corpo de Cristo e ao
rresmo tempo de uma prostituta, estaremos deixando de cumprir com responsabi 1 idade nossa tarefa na comunidade, impedindo a criao de uma situao semelhante ao Reino de
Deus, traindo ao mesmo tempo a nossa fidelidade a Cristo.
Trata-se, finalmente, de uma afronta contra si prprio,
po~s, como vimos na exegese, a relao sexual indevida
o unico pecado que afeta o prprio corpo, a prpria pessoa, de quem o pratica, por ocorrer no ato sexual a comunho mais ntima e completa entre duas pessoas.
Naturalmente impossvel abordar em uma s prdica
todos esses aspectos importantes comentados por Paulo nes
se texto. Aps traar um paralelo entre a comunidade cris
t de Corinto e nossas comunidades, cada pregador deveria
escolher um desses aspectos (lista dos que no herdaro o
Reino de Deus, e que j deixam de constru-lo; liberdade
e libertinagem; prostituio), escolhendo aquele que
no
momento atinge o problema mais concreto de sua prpria co
muni da de.

Bibliografia:

BALZ, Horst R. Christus in Korinth. J. G. Oncken Verlag,


Kassel 1970. - BRAKEMEIER, Gottfried. Polgrafo sobre 1
Corntios. So Leopoldo 1973. - BULTAMANN, Rudolf. Theologie des Ne ue n Tes taments. 69 ed., TUbingen, J. C --~
Mohr (Paul Sieb eck), 1968. - FEINE, Paul; BEHM, Johannes;
KUMMEL, Werner Georg. Einleitung in das Neue Testament,
Quelle & Meyer, 169 ed., Heidelberg 1970. - WENDLAND,
Heinz Dietri ch . nie Briefe an die Korinther. NTD vol. J.
7/9, Vandenhoeck & Ruprecht, G~ttingen 1959.

1 O?

D O M 1 N G O

Romanos

1 02 -

A P S

T R 1 N D A D E

11,25-32

Klaus van der Grijp


1 - O destino de Israel
Nos captulos 1-8 da epstola aos Ro manos, Paulo d u
ma longa e xposiao sobre o plano salvfico de De us_e _sobre a f em Jesus Cristo, mediante a qual a salvaao e oferecida ao homem pecador. No fim do captulo 8, que trata da certeza da f, ele parece atingir um cl ma x absoluto, uma altura espiritual que no mais poder ser superada. Mas logo a seguir, no captulo 9, surge uma per~unta
angustiante: Se a promessa da salvao foi feita pr1 mor~
dialmente a Israel, e a promessa se cumpriu em Jesus Cr~~
to, como se explica ento que a maioria do velho povo nao
quis reconhecer Cristo como seu Messias? O que torna este
Pr<?bl~ma to grave para o apstolo em primeiro lug~r
a
propr1a.credibilidade do evangelho, que parece desafiad~
pela atitude negativa dos judeus; em segundo lugar tambem
a pr<?funda afeio que Paulo est sentindo por este po~o,
q~e e seu prprio povo e com cujo destino ele se sabe int1ma~ente solidrio. Segue-se, portanto, uma profunda reflexao sobre o lugar de Israel no plano salvfico de Deus,
qual !inalrnente resumida nalgumas concluses. E estas
conclu~oes constituem o nosso trecho. A primeira palavrachav: e o "endurecimento" que veio sobre Israel. Com isso,
o aeo~tolo consegue dar nome ao enigma que atormentava s:u
esp1r1to; e dando-lhe nome
lhe tira o horror abismal. Nao
aconteceu na~a ~mprevisto, 'nada que estorvasse inesperadamente os d~s1gn1os de Deus. A rejeio de Cristo_da par~e
de Israel~ uma fase necessria no processo salv1fico; e
um C:~tec1mento que Deus disps, ou permitiu, e que Ele
usara a ~ua maneira para a realizao de seus objetivos.
Por isso Paulo ganha plena confiana para formular a
tese de que "todo o Israel ser salvo". Nas reflexes anteriores, a constatao do endurecimento 0 obrigou a adm~
t i r a noo do "remanescente" (9,27; ll,5-10): s uns po~

l 03 -

cos dentr e o povo eleito alcanariam o cumprimento da pr~


messa, como tambm os profetas o haviam anunciado. Mas a~ora Paulo pode declarar que essa noo no a verdade
ultima com
respeito ao plano de Deus; ela uma necessidade provisria, ela pertence "estratgia" da salvao,
mas um ~ia a salvao se tornar extensiva a "todo o Israel". E usado aqui um termo hebraizante, que no Antigo
Testamento se refere ao povo reunido em santa assemblia
diante do Se nhor. Deus se lembrar das suas promessas,da
sua aliana com os pais, e lhes guardar fidelidade.
A
citao veterotestamentria alude aliana de Jr 31,33,
que e aliana nova e ao mesmo tempo prolonga a antiga,
porquanto a desobedi~ncia do povo no pode anular a fide
lidade ~e Deus. "Porque os dons e a vocao de Deus soirrevogaveis". Existe na Bblia a noo de que Deus pode
revogar certas decises suas, ou arrepender-se delas. Por
tanto Paulo no argumenta aqui com a imagem de um Deus im
passvel, eternamente imutvel, como o Deus dos fi lso~
fos. Mesmo acompanhando os homens ao longo da histria,
mesmo sentindo dor, desiluso e aborrecimento, Ele permanece fiel sua palavra empenhada. Os dons que Ele deu os "carismas", diz o texto original - so como semente
que Ele espalhou um dia no campo do mundo; semente que to
dos os espinhos da maldade humana no podero sufocar.
sua voca}o sempre vocao eficaz, ela evocadora como
a sua propria palavra, e no voltar vazia para Deus.
Mas Paulo sabe dizer mais sobre o endurecimento de Is
rael. ~o se trata de um simples incidente no processo da
sal~aao, de uma simples retardao, que Deus previueve~
cera. O endurecimento de Israel est positivamente relacionado com a salvao dos gentios, que entraro na glria enquanto os primeiros convidados se demorarem. retar
dao, sim, mas uma retardao expressiva da longanimidade
de Deus; pelo endurecimento Ele se manifesta como um Deus
paciente, um Deus que sabe esperar. Entra o fator tempo
como expresso da graa do Senhor. O prprio tempo que
transcorre entre o endurecimento de Israel e a sua salvao final como um convite para os gentios se converterem. Assim se estabeleceu um nexo entre a exposio de Rm
1-8, sobre a justificao pela f em Cristo, e a problem
tica levantada nos captulos seguintes. A atitude negati-=-

- 104 va de Israel, longe de contestar a verdade do evangelho,


cria as condies para que este possa se tornar operante
entre os gentios. E a salvao dos gentios, por sua vez,
efetuar misteriosamente o cumprimento da promessa para
11
todo o Israel". Parece que Paulo est descobrindo ~ tr~
ma escondida da histria salvfica: dados que de inicio
eram julgados irreconciliveis, mutuamente exclusivos,~
parecem agora como sucessos complementares dentro de
um
plano divino perfeitamente coerente. E eis que da reflexo do apstolo sobre o destino do seu povo endurecido
resulta uma mensagem bem eloq\Jente para os cristos dentre os gen ti os.
11 - Conseqncias para a igreja
Chegamos a entender o lu~ar da igreja na histria da
salvao. A igreja como ela e hoje em dia, a igreja composta de no-judeus e ocasiona 1mente tambm de i:ns poucos judeus conversos, a nossa igreja, um episodio
no
plano de Deus com Israel. Ela o lado positivo daquela
mesma ao divina que no endurecimento do povo escolhido
en::ontra o seu lado negativo. Paulo nos demonstra que as
raizes do evangelho se encontram no Antigo Testamento ~
na aliana de Deus com Israel. As suas colocaes decis_!_
vas.com respeito eleio, aos carismas, vocao, fi
delidade de Deus se baseiam no Antigo Testame~to. Va~e
p~ra a igreja tanto como para Israel que "vira de Si ao 0
Libertador". A igreja no uma grandeza independente,que
nasce da palavra 11 verticalmente 11 em qualquer tempo e lu
gar; muito menos ela uma insti~uio salvfica autnoma, capaz_de reclamar exclusivamente para si a autoridade dos apos~olos. Certo, ela nasce da palavra, mas de uma palavra inserida na histria, de uma palavra que
ganha a sua profundeza apenas se a entendemos a partir da
Pr~messa feita a Israel. Ela se baseia na autoridade dos
apostolas, mas j a prpria composio do colgio dos D.9_
ze nos recorda o seu relacionamento com as doze tribos
de Israel (cf. Mt 19,28 par). A igreja possui o seu
t~
souro apenas por participao nos bens confiados a Israel. Julgar de outro modo seria incorrer no erro do docetismo, ou seja: no erro de no levar a srio a encarnao

- 105 da palavra de Deus na histria. E efetivamente, a tentao do docetismo grande. Muitas vezes consideramos
o
Antigo Testamento, na prdica e na devoo pessoal, como
uma simples introduo ao ''prprio" evangelho, como propedeuse que, em ltima anlise, seria dispensvel. Ou li
mi tamo-nos a uma leitura "edificante" dos Salmos, sem en
xergar que estes tambm querem ser entendidos, antes de
mais nada, como cnticos de angstia e esperana do velho povo.
At aqui falamos principalmente em termos de histria. A igreja prolonga hoje o que Israel experimentou ou
trora. Usamos um esquema diacrnico ou de sucesso tempo
ral dos fatos. Mas esse esquema no expressa toda a rea~
lidade da relao igreja-Israel. O Libertador no veio a
penas uma s vez, l no passado, de Sio, para residir doravante no sagrado recinto da igreja. Para ns, ele con
ti nua sendo Aq ue 1e que vem e Aquele que vir (assim
nonosso texto; observe-se que, no original hebraico da pas
sagem citada, o perfeito consecutivo presente e futuro
ao mesmo tempo). No Advento a igreja costuma meditar sobre essa trplice vinda do Senhor. E Sio est relaciona
da com os seus trs aspectos. Igreja e Israel so grande
za: :imultneas na histria da salvao. O esquema dia-cronico deve ser completado por um esquema sincrnico.
Trata-se de confrontar a igreja de hoje com o Israel de
hoje, e de reconhecer que eles continuam sendo como
os
dois lados da mesma moeda. Paulo enfatiza isso com a palavra_"agora", trs vezes repetida nos vss. 30-31.
Os
cristaos gentlicos alcanaram misericrdia "agora"
em
vista da desobedincia dos judeus; e assim tambm estes
"agora" foram desobedientes, para que igualmente aqueles
"agora" alcanassem misericrdia (o terceiro "agora" fal
ta na traduo de Feriei ra de Almeida, mas consta nos ~
lhores ma~uscri tos gregos assim como tambm, por exemplo,
n~ traduao brasileira divulgada pela comunidade de Taize). Admitindo-o ou no, encontramo-nos em tenso dialtica com o velho povo da aliana, entrelaados uns
com
os outros pela vontade salvifica de Deus. Essa tenso mui
tas vezes foi dolorosa no decurso da histria. Muitas vezes os judeus tiveram que assumir o papel de "inimigos por nossa causa". Pensando, porm, na realidade da elei-

106 -

o, no podemos deixar de am-los. Ns, cano Brasil, te


m~s poucas sinagogas em nosso rreio. Mas mesmo assim deve-=riamos fazer o possvel para enxergarmos os fios espi ri tu
ais que nos ligam com Israel, dando-lhes e x presso vis1vel quando houver ocasio.
E assim a igreja pode se entender como a "plenitude
dos gentios", ou dos "povos", que entra na glria, enquan
toqu.e ls~ael est temporariamente afastado. A plenitude dos
gentios e o numero pleno e completo dos eleitos, ao
qual
aludem os apocalipses judaicos e tambm o de Joo (6, 11;
7,4; 14,1). O que significa concretamente para ns o fato
de pertencer a essa "plenitude"? Significa em primei ro 1~
gar ~ue pertencemos ceifa que o Senhor est reco 1hendo
em vista dos ltimos dias, ou seja, que como igreja estamos ~empreendidos na dinmica englobante da Misso de Deus. As vezes a igreja est fraca, estagnada, desanimada;
as ~ezes parece que ela perdeu a coerncia por dentro e
.orientao por fora. Mas em tais ocasies a igreja deve
~:a ~e le~:ar de que ela faz parte de um movi~nto hist::
co_salv1f1co que nenhum poder no mundo podera parar;que
ela e~ por definio, ''plenitude dos gentios 11 a caminho
da- gl oria.

Em segundo lugar quer-nos parecer que a expre~


11
sao
p
l

en1tude
dos gentios" nos ensina algo com respe1~0
,
estru~u:a ecumnica da igreja. "Gentios", que nas
linguas originais da Bbl ia tambm quer dizer "povos", sem~:e t~m uma conotao de unidades tnicas'::! c~lturai~,de
mun 1d ades de pessoas; dessas comunidades e d 1 to aq u 1 que
~oda:' elas so reunidas para formarem uma "plenitude",que
e igreja. S a plenitude igreja no sentido autntico!
E com~nidade particular igreja na medida em que ela vi_
ve tambem a dimenso de comunidade uni versai. Em terceiro
lugar - seja dito aqui de novo em outro contexto - o fator qu: unifica as nossas comu~idades, que nos converte
numas? plenitude, o povo de Israel no seu duplo papel
de eleito e recusante. Israel , em certo sentido, a pedra angular do ecumenismo cristo.
111

- A graa soberana

Assim que todos so um s corpo: patriarcas e aposto los, o povo da ve 1ha e da nova a 1 i an a, a nossa comun i -

107 -

daoes eas comunidades em outras partes domundo, a comunidade parti cu 1ar e a comunidade uni versa 1 , igreja e 1s rae 1 . Todos somos. um s corpo, no em virtude da nossa opo, nem por
amoraoun1versalismo, mas por sermos todos, na mesma medida,
objeto do amor de Deus. Deus encerrou a todos na desobedincia, a f im de usar de misericrdia para com todos.
Quer dizer que todos ns nos encontramos diante de Deus
no duplo estado de desobedientes e indultados, de pecado
res e justificados. Todos ns estamos confrontados com
ira de Deus, aquela ira abismal que se reflete, no nosso
texto, em conc e it o s como "endurecimento" e "inimizade" e
que resumida finalmente na expresso: "Deus a todos en
cerrou na desobedincia 11 a ira perante a qual o homem
se sabe culpado e condenado, mesmo nas suas melhores intenes. Mas tambm aquela ira na qual, como diz Lutero, se escond e o amor de Deus. ~ o amor de D~us que
se
i~flama contra o pecado, que nos persegue e nos cerca, a
te ter-nos "encerrado na desobedincia", para s ento se revelar como misericrdia sublime e inaudita, comogra
a soberana que justifica o pecador. Queremos confiar
nosso destino a esse amor, individualmente, mas tambm e
sobret~do como integrantes da plenitude dos gentios, eem
comunhao com 1srae1.
E para terminar, voltemos ao in1c10 do nosso texto
"No quero, irmos, que ignoreis este mistrio". Repar~
~s uma vez na ambivalncia desta expresso. Um mistrio
e por definio uma verdade impenetrvel, inconhecvel.
Mas i::iesmo assim, este mistrio no fechado para ns.
O_apostolo "no quer que o ignoremos". A gente sabe,
e
nao :abe. Essa a forma na qual o agir de Deus nos co
nhec1 do! Deus no- lo d a conhecer, e ao mesmo tempo omis
teria permanece mistrio. Nunca passa a ser um conheci-menta objetivo, nossa livre disposio. mui to importan~e lembrarmo-nos disso quando meditamos o plano da sal
v~ao. Porque existe o perigo de sermos "presumidos
em
nos mesmos". Pr~sumido em si mesmo aquele que fala
do
plano da salvaao como se fosse um sistema racional e ex
plicvel. H pessoas que usam a Bblia como um compndio
de doutrinas que inclusive podem ser reduzidas a um fci 1 esquema sintico: a eleio na coluna direita, are-

l 08 -

provao na coluna esquerda. H tambm pessoas q_:ie sa~em


qualificar exaustivamente o judeu com dois ou tres adjetivos de cunho tradicional, do mesmo modo como eles sab~
riam qualificar o negro, o romanista ou o yankee. Tudo
isso presuno, desrespeito verdade de Deus, que
vem at ns em forma de mistrio, na forma de um testem~
nho vivo, e no de um sistema fechado. Queremos abrirnos para o agir de Deus como Ele se nos d a conhecer
Queremos fixar os olhos no nosso Libertador, em Aquele
que veio, vem e vir de Sio, e no qual Deus manifestou
a sua misericrdia para com todos ns.

D 1 A

D A

P e d r o

109 -

NDEPENDtNC

2, l 3- l 7

Richard Wangen
1

1 nt

roduo

Fazer exegese de um texto apresenta um problema em_


relao ao texto em si, contexto, lugar vivencial e ~r_:_
tica de formas. Fazer exegese em vista de uma situaao
ou ocasio determinada apresenta outro problema,_pois
logo existe uma moldura diferente que determinara a interpretao do texto e, concomitanterrente, um condicionamento do intrprete, o que tambm determinar o senti
do do texto para aquela ocasio. Tudo isto influi, em
ltima anlise, sobre o desfecho final de um texto, que
a prdica. Levanto o problema porque a tarefa de que
fui incumbido pesquisar e meditar sobre um texto designado para 7 de setembro, semana da ptria. Em si o
assunto j bastante delicado. Segundo Paul Tillich, a
f poderia ser distorcida quando uma coisa finita 11 reivindica infini tude para si 11 l
. Isto acontece_com maior
facilidade com as pessoas quando empregam o s1mbolo que
11
chamamos
nao 11 11 0 del rio nacionalista pode gerar
um estado em que o sujeito
quase tragado pelo obje~
11 2
to
Consciente deste dilema, o autor navega por aguas turbulentas com o leitor, asei !ando entre dois plos. Fortes paixes atraem o pregador para ambos os lados, conforme a tomada de posio dele. Por conseguinte,
seria desonesto no alertar o leitor para esse perigo.
1 Pedro , sem dvida, uma obra pseudnima 3 Ela
no tem destinat~rio determinado. t,antes, uma circular
dirigida aos cristos dispersos em pequenas comunidades
da sia Menor. Essas comunidades constitu~am uma per:
centagem pequena numa populao cuja maioria era paga.
A rea toda estava sob a dominao do governo romano.
A epstola em si parece ser uma homilia, sobretudo
parenti ca, endereada a cristos novos (ou catecrrenos)
a respeito de sua relao com a comunidade :ecular. Conforme o contedo, os destinatrios desta epistola passaram por sofrimentos. Alguns comentaristas utilizam esses

- 11

o-

indcios de sofrimento como recurso para data r a c a rta.


Embora haja dificuldades em precisar a dat a , a ma i o ri a
dos pesquisadores situa a composio durante uma d as
grandes perseguies do governo romano. 1s to pod e ria ter
si do durante o governo de Nero (60-65), de Domi c i an~
(81-96) ou de Trajano (98-117) 4 Devido ao c o nteudo _
de 1 Pe 4,12-5,11, a data 98-117 parece ser mais pro~a
v:l, pois ~urante esse tempo houve~ pri~i~a p e rs e gui~
ao sistematica aos cristos
isto e, cr1staos c o mo tais,
e no como uma seita judaica' s . No entanto, os sofrime.!2_
tos tambm poderiam ser conseql.inci a de um "pogrom" l ~cal 6_ . Essas datas so importantes para_ a cons 1d eraao
exegetica na comp~rao com Rm !3,1-7, j~ ~ue ~mb o s os
textos pertencem a mesma tradiao catequet1 ca
No caso do apstolo Paulo e especialmente no aut o r
do evangelho de Lucas possvel constatar uma forte
preocupao no sentido de demonstrar, partindo do eva.!2_
gelho, uma lealdade possvel e at obr~gatri~, q~e. cor
responde ao reconheci menta da f crista como
reli g 1 0
licita" 8 O famoso texto de Paulo em Rm 13 , l-7 trat~
desse relacionamento com o estado romano duma forma basica.
Contudo, quando a carta de 1 Pedro foi enviada s
comunidades, a situao tinha mudado. No tempo de ~aula
havia uma lealdade includa na catequese dos cristaos,
pois ainda no havia, nos decretos romanos, algo que comprometesse a conscincia crist. Agora o c~l to. Cesar, imperador romano, tinha assumido proporoes t~I~
que ameaava a vida do cristo que no levasse a ser1?
o dec~eto. ~sta nova situao espelhada de uma mane~
ra mais :_ut1l, mas clara no texto de 1 Pe 2, 13-17. Ja
que a epistola uma homllia, difcil extrair um trecho sem relacion-lo com 0 seu contexto.
Passamos a considerar os dois textos, Rm 13,!-7 e .
Pe 2, 13-17, apontando a modificao da tradi ao man1 festa na l . a epstola de Pedro 9 .
No texto de Romanos, que contm instrues para o
relacionamento dos cristos com 0 Estado, destacam-se
os seguintes pontos: em primeiro lugar, fala-se de
~
exusiai s - poderes soberanos que receberam sua existencia de Deus (13, 1). Quem se ope a essas autoridades

111 -

ope-se ord em de Deus (13,2). Quem faz o bem, no tem


r azo de temer e sas autoridades (13,3), pois elas receberam sua e x istncia com o fim de agir contra o mal
(13,4). ~s magistr a dos so ministros de Deus (13,4-6).
Os cri~taos devem sujeitar-se a eles (13, !) , porque
necessario "por obrigao de conscincia 11 (13,5): Dai a
todos o que lhes devido: tributo a quem compete tribu
to, imposto a quem compete imposto, temor a quem compe-=te temor, honra a quem compete honra (13,7).
_ As linhas bsicas deste texto foram usadas na
l~
epistola de Pedro, porm a nfase foi modificada de acor
do com a nova situao.
Quando se fala em autoridade, o texto usa anthrpine
kt is ei - criao humana. Onde esta autoridade quer arrogar para si pod e r divino, o cristo lembrado de que
es~e~ ~adere~, embora respeitveis, so "criaes", e a
suje1ao radical deve-se ao Deus Criador. "Em todo ocaso, Estado e imprio so aqui demitizados, e isso justam:nt~ numa situao caracterizada por uma crescente tendenc1a d: superexaltao religiosa do poder estatal" 10
Nesta epistola todas as autoridades so relativizadas
com ho ky ri os - o Senhor. Tambm as autoridades esto
colocadas numa escala de valores, so mais precisamente
denominadas do que
em Rm 13, porque todas so 11 cr ia
es humanas" . Pe 1a prtica do bem (agathopoi ein ), os cristos devem fa z er calar os boatos sobre eles. A parnese alcana seu auge em 2, 16 - como 1 ivres (hs eleutheroi) - hs theou do u loi , os cristos so escravos de
Deus e pertencem a ele somente - no so, portanto, escravos de homens - e so responsveis unicamente para
com Deus, mas devem autenticar sua f crist praticando
o bem. Se no fizessem o bem, os cristos estariam agindo contr~ Cristo e abusando da liberdade por ele outorg~da. Alem disso, frente perseguio iminente, a prtica do bem poderia eventualmente desviar a truculncia
dos opressores. Mas, mesmo que isto no acontecesse, sofr~mento sem culpa ainda tem sentido para o cristo, pois
Cr1st~ ~ornou este caminho e permanece vitorioso na ressurre~ao (3, 18-22). Os versculos que concluem este trecho sao precisos e poem todo o relacionamento do cristo
com a comunidade no seu devido lugar. Respeitai a todos ,
0

- 112 -

amai aos irmos - nota-se aqui que nao dito que eles
devem ser amados por todo o mundo, mas pelos i rmos.
Ton theon fobeiste~ ton basilea timat e - mais uma vez a
escala obedecida. Temei a Deus, honrai o rei: honra e
estima para a autoridade criada, mas somente a Deus deve-se terre r.
Em confronto com a situao histrica e com o texto
de Rm chegamos a compreender o valor e a acuidade do te~
to de 1 Pe. A comparao entre os dois textos dernonstr~
tanto a continuidade como desenvolvimento. Para ver mais
nitidamente a linha mestra desta reflexo, colocaremos
a seguir os pontos chave: 11
1 1 Pe no contm nenhuma instruo tica que c?mpromet:sse o cristo com 0 status quo , pois isto seria
constrario sua proclamao bsica sobre a esperana
em Cristo e a descrio do cristo como peregrino.
_ 2: O g~ver~o do imprio romano e a order;i .
mo narqu1 ~a nao sao projetados como mode 1o po 11t1 c~ (como
analo~1a para o Reino de Cristo) ;mas como cri aao humana, sao relativizados frente a Cristo.
. ~~irmandade (2, 17; 5,9) colocada como ~~iva e
exigencia da comunidade mas no como ordem pol1t1ca.
Conforme a carta ai rm~ndade baseia-se na ddiva do evangelho e na f.pela qual o cristo aceita essa ddiva.
4. A comunidade crist atua na sociedade por meio
de seu testemunho em palavra e ao (2 ,9). Desta manei ra, e!a afe~a tambm a ordem poltica. O camin~o dessa
atuaao esta marcado pelos passos de Cristo: fe' verdade, amo~, sofrimento, que devem ser autenticados na ordem pol1tica concreta.
Po'.t?n~o, absteno da vida poltica torn~-se uma 1mpo~s1~1 !idade tanto para a comunidade crista como
par~ o 1nd1v1?~ Recuo espontneo frente sociedade.
seria desobed1encia contra a incumbncia dada por Cristo.
6. Cabe ao cristo preocupar-se em viver na sociedade e em viver em paz com as estruturas de poder. Esta
preocupao serve tanto para espalhar 0 evangelho como
para construir a sociedade. "Por causa do Senhor 11 o
cristo deve sujeitar-se s instituies humanas.

.s.

113 -

7. O poder mundano relativizado no texto - o cristo forasteiro e guarda, portanto, distncia, mas ao
rresmo tempo tambm solidrio na sociedade.
Escopo : O cidado cristo deve viver como pessoa livre, o que significa que ele est livre para envolver-se
em sofri1~ie nto ativo em prol do outro, como servo de Deus.
11 - Me d i ta o

A meditao sobre o texto gira em torno de dois fatores: 1) a utilizao de uma tradio catequtica expr~
saem Rm 13,1-7 e 1 Pe 2,13-17 e sua modificao de nfase diante de duas situaes histrico-contextuais diferentes; 2) a considerao prtica do bem (agathopoi ein)
perante a legalidade e as normas comuns de cidadania atual.
1) A problemtica geralmente demonstrada no tocante
s relaes Estado-igreja parte de um desejo caracterstico do homem, o de ter seus limites ticos claramente
demarcados - o que posso e o que no posso fazer. Para
evanglicos, contudo esse delineamento no pode ser tra
ado, a no ser em linhas gerais. A formulao evangli-:ca para determinadas situaes e contextos permanece dinmica e viva, nunca legalista. Este aspecto se v novamente como resultado da pesquisa do texto em pauta. Infelizmente essa dinmica evanglica no to evidente
na atuao da igreja na histria, e a exegese de 1 Pe
2,13-17 nem sempre revelou essa dinmica. Sem considerar
duas si tuaes histricas nitidamente diferentes! ~,por
tanto, duas interpretaes desta tradio cateque~1ca, em
quase todos os trabalhos sobre a posio do cristao para
com o Estado se interpreta praticamente s_Rm 13". Es se relacionamento resume-se, ento, a uma serie de princpios imutveis. No h dvida de que o autor de 1 Pe
se apoiou fortemente no texto de Rm. Esta dependncia
seguramente modelou as relaes Estado-igreja j cedo
em sua histria. Podemos at levantar a pergunta sobre a
influncia que esses textos provavelmente tiveram na legalizao da igreja crist no imprio roamno sob o reinado de Constantino.
Todavia, a comparao acima colocada entre_os dois
textos ilumina de uma maneira diferente a poss1vel
11

- 114 i~terpretao

do nosso texto e expressa a dinmica evangelica adequada nova situao em que a igreja se achava. Hermeneuticamente, este fator demonstra como j dentro das prprias Escrituras havia reformulaes de linhas
mestras que orientavam a vida do cristo no seu contexto
social. Embora no seja possvel precisar com exatido a
data da composio da epstola, claramente evidente que
as comunidades crists estavam sofrendo, e a parnese levou a srio esse sofri me nto 1 advertindo os crentes sobre
0 perigo de idolatria que a nova situao apresentava
(c~lto exigid<_? ao imperador). O texto deixa b e m claro que
0 importante e o senhorio de Jesus Cristo sobre
pase

anthrpine ktisei.
Nem o rei nem os governadores podiam arrogar para si
0

_l~gar deste nico Senhor! A nova conjuntura em que os

sudi tos romanos foram abri gados a prestar culto ao i mperador como sinal de fidelidade levou os cristos a uma
verd?deira situao revolucionria. A prioridade do se nhorio de Cristo forou uma deciso. Como diz Jacques
Ellul
h
d as1tuaao

_ Est esenor1oeoelementoobjet1vo
. :."
crista revolucionria, assim como a esperana seu elerrento subjetivo, e somente isto nos permite assumir nossas
di ferent es pos1oes
. .
.
pol1ticas
em nossos sucessivos
Julga~ntos dos problemas concretos da poltica e da e conom1 a'.'
Homileticamente falando convm frisar dois pontos
quanto a esta parte:
'
a) l~olatria permanece um dos maiores proble mas do
mundo ' nao ob s ta n te v 1ve r mos em p 1e no se- cu 1o XX Mt 6 , 2
.
co- 1oca o pr obl ema em palavras simples:
"Porque on d e es0
~a
~eu tesouro, a estar tambm o teu corao". To. osf n'.?s, nos dias de hoje sofremos mais do que nunca a
1n. lue nc ia de uma propaganda
'
suti ]mente d.1 r1 g1d a com o
f 1m de a 1 i_c i ar d1sc1pul

f oros . Este fator torna-se mais


t e onde h a_ con t roe

1 uni lateral dos meios de comunic a ao


~~ ?nde ha cens~ra, especialmente quando h falta de no1 ~1? s e comentarias de d iversas fontes que pod er iam equ1 l1brar_as informaes.
A naao torna-se com faci !idade o centro da nossa e xistncia e assume suti Irrente um papel prioritrio n ~

115 -

nossa lealdade. Nos Estados Unidos e costume colocar duas


bandeiras nc coro da igreja. Uma a bandeira nacional e
a outra a bandeira crist. Se fosse tirada a bandeira nacio~al, na maioria dos casos haveria mais alvoroo nacomu~1d~de do que se o mesmo acont e cesse com a bandeira
crista: Os destinatrios desta epstola foram lembrados
do perigo desta idolatria nacionalista. No v 11 eles so
adver~ido:: Vs sc:?is paroikous kai parepidemous . "Ns somos c1dadaos do ceu", disse Paulo (Fl 3,20). A distncia
r~comendada pela identidade crist d-nos ampla perspectiva para sermos bons patriotas, no melhor sentido da palavra, ~arque o nosso amor e honra pelo pas seriam dia
ton kyrion , por amor ao Senhor.
b) Mesmo correndo o risco de repisar "cho batida1',
gost~r~a novame~te de levantar e salientar a mudana de
trad1ao catequetica da igreja primitiva (Rm at 1 Pe)
frent: a nov~s situaes hodiernas. Tendemos a legalizar
.par:nese b1bl ica em termos de regras e leis. A casustica e.semp~e mais fci 1 do que uma deciso perante uma
nov~ s1tuaao. O que significante na minha prpria comunidade hoje, perante um programa da semana da ptria
que rrerece uma nova deciso face ao evangelho de Jesus
Cristo? Ousemos, com as diretrizes esboadas na parte
que segue~ com a criatividade motivada pelo Esprito San
to, refletir esta realidade na prdica ou nos estudos
:om os r:iembros da nossa comunidade. Qual a diferena ho
Je em d1? frente ao fato de que cristos e membros da nos
sa co~un'.dade fazem parte dessa instituio (criao) que
const1:u1 o governo? Qual a responsabilidade dessas pes
5 ?s d~a ton kyrion (por causa do Senhor) perante a comu-=n idade secular? Qual deve ser o agathopoiein, a prtica
do bem, dessas pessoas?
2) A prtica do bem ( agathopoiein).
Entre cristos, o assunto mais falado mas talvez menos conhecido, o da prtica do bem. Serla difci 1 encontrar um? pess~a de qualquer classe, elite ou pobre, que
negasse a 1mportancia de praticar o bem. At mesmo malandros e criminosos concordariam que no h virtude mais importante para a pessoa humana do que praticar o bem. Contudo, em geral, a maioria das pessoas pra de perguntar

- 116 adiante. O que fazer o bem? As veze s imaginamos uma


patrulha de e scoteiros fazendo sua boa ao diria. Mas
qual o padro para fazer o bem? As leis dos escote~ros?
Os dez mandamentos? O ponto paradoxal deste assunto e que
apesar de aflrmar a importncia de prati c ar o b':m, poucas
pessoas compreendem o perigo e a coragem necessari a_ para
de fato fazer o bem. A rreu ver, subentendemos pad roes de
ao no baseados nas Escrituras, mas num conceito das~
ciedade, baseada, na maioria das vezes, na lei do estado.
Identificamos irrefletidamente o maior bem com aqueles
p~eceitos comuns ditados por uma sociedade que visa_coi-.
bir maiores distrbios nas praas pblicas. Se alguem foi
levado ao crcere, o que pensamos? O sujeito praticou 0
mal Ma: por que a pessoa no pode ri a ser encarcerada
pela.pratica do bem? Impossvel, vo:: diz. Por que encara
lei do Estado como regra ltima? As vezes achamos uma
sombra de idolatria escondida atrs dum julgamento devalor.
Como que vamos encarar seriamente uma srie de encarceramentos na Bbl ia? No podemos dizer que foi devi do
a_um Estado primitivo em que a justia ainda n'? e~a.con
siderada. Vamos deixar uma coisa bem clara: ''O imperio r~
ma~o_dos primeiros anos da era crist era uma das_insti~
tuioes mais estveis liberais e humanas da historia <1!2.
cluind~ nosso prprio' sculo). Esse foi o pero? 0 da 'pa~
romana a paz de Roma quando devi do a uma at 1 tude sur
'
'
P re en d entemente tolerante
e liberal
para com os povos que
lhe estavam sujeitos, o imprio romano e xistiu numa paz
quase total por muitas dcadas. A lei romana, com a qual
os
. d
cristaos estavam se envolvendo continuamente, e um os
melhores produtos do intelecto humano, o mo delo e fundamento da maioria das leis do mundo ocidental de hoje'.'
O que diremos ento? Que aquela srie de pessoas encarceradas que encontramos no livro dos Atos foram para_o
x~drez porque praticaram o mal? Vejamos s: "Pedro e Joao
sao_p:es~s no cap 4, novamente presos e aoitados no cap 5;
Estevao e preso e apedrejado at a morte nos cap 6 e 7?
seguem-se muitas prises e encarceramentos no cap 8. Tiago e Pedro so presos no cap 12 e Tiago executado. Paulo e Si las so presos no cap 16, e novarrente no cap 17. O
rre s mo acontece de novo com Paulo em 18. E assim continua:

117 -

prises, julga me ntos , e spancamentos, encarceramentos, uma


longa luta co m a l e i. Muitas das epstolas do Novo Testamento foram escritas de celas de prises, enquando que o
livro do Apocalipse foi a obra de um prisioneiro cristo
nas minas de sal da ilha de Patmos".
chocant e confrontarmo-nos com o nosso prprio modo
de pen s ar. Com que facilidade chamamos outras pessoas de
criminosos? O nosso Senhor Jesus foi crucificado - como
criminoso. Ns sabe mos que ele praticou o bem. Qual foi o
bem que ele praticou? O testemunho de Lucas cita Jesus
na sinagoga l e ndo do 1 ivro de Isaas: "O Esprito do Senhor est sobre mim , pelo que me ungiu para evangelizar
aos pobres; env~ o u-me para proclamar liberta~o aos cativos e restauraao dLJ vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitvel do Senhor"
(Lc 4, 18s). A 1 ista dos cristos que sofreram pela prtica do bem longa, e continua at o presente momento. Inclui pessoas como Dietrich Bonhoeffer e Martin Luther
King. Mas esta lista chega muito mais perto de casa. Sabemos que inmeros cristos brasileiros sofreram e esto
sofrendo por causa da prtica do bem (agathopoi ei n ).
O fulcro do testemunho da 1~ epstola de Pedro no
acha seu ponto central em hypotasses thai (sujeitar-se),
mas em agathopoie in (praticar o be m).
A prtica do bem testemunhada pelo autor da carta
transcende as leis do Estado, transcende as normas comuns,
que, no final das contas, apenas visam a sobrevivncia de
cada um (e nem isto), numa sociedade que precisa disto
para continuar sua prpria existncia institucional (anthropine ktisei ) . Em contraste, o cidado cristo, pela
prtica do bem, promove a vida do outro. Ele est livre
para fazer issso porque do ulos tou theou (escravo de
~e us), e de nenhum outro. Logicarrente, o desfecho disto
e sofrimento (a cruz), que est inclui-do na liberdade
crist.
Qua~ ento a rrensagem de boa nova neste trecho? Digo que e a esperana que o cristo tem em direo ao novo
mundo. Confiando nas obras de Cristo sua morte e ressur'
reiao, "alegrai-vos na medida em que sois participantes
dos sofri~ntos de Cristo, para que tambm na revelao
de sua gloria vos alegreis exultando" (4,13).

A comunidade crist, como sinal do Reino de Deus no


mundo, leva a srio sua cidadania neste mundo. Portanto,
a prdica tambm precisa furar qualquer chauvinismo que
que promover a salvao pelo falso patriotisrro (idolatria ~ nao) e precisa enfatizar o verdadeiro testemunho pela prtica do bem. Lembramos o te x to de Isaas 8,
11-13: "Porque assim o Senhor me disse, tendo forte a
mo sobre mim, e me advertiu que no andasse pelo caminho deste povo, dizendo: No chameis conjurao a tudo
quanto este povo chama de conjurao; no temais o que
ele terre, nem torne is isso por temvel. Ao Senhor dos Exrcitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja
ele o vosso espanto 11
Notas:
l. Paul Tillich, "Dinmica da F, pag 12; 2. lbid;
3. Gerhard Barth, 11 A Primeira Epstola de Pedro, pg 12;
4. Karl Philipps, 11 Kirche in der Gesellschaft nach dem
ersten Petrusbrief", pg 12; 5. Norman Perrin, 11 The New
Testament, an lntroduction 11 , pg 257; 6.The lnterpreter's
Dictlonary
. of the Bible, vol K-Q, pg 762; 7. Gerhard
Barth, Op Cit, pg 62; 8. Karl Philipps, Op Cit, pg 29;
9. Apresento aqui um resumo de Karl Phil ipps op ci t cujos
argumentos considero claros, lgicos e coe rentes; 10 .
K~rl Phillpps, Op Cit, pg 31; 11. Karl Philipps, Op Cit,
pag 33.
111 -

118 -

Bibliografia

BARTH, Gerhard. A Primeira Epstola de Pedro. So Leo


poldo , 1967 . BlITTRICK, George A. (Redator Chefe). Th e Interpreter' s Dictionary of the Bible, vol K-Q. Nashville,
1962 . ELLUL , Jacques . The Persence of the Kingdom. Nova
York, 1967 . MOFFAT, James. The General Epist les. 7. a ed.
Londres, 1953. PERRIN, Norman. The New Tes tament, an Introduction. Nova York, 1974. PHILIPPS, Karl. Kirche in
d e r Gesellschaft nach dem ersten Petrusbri e f. Aug sbur g ,
1971 . SCHLATTER, Adolf. Die Briefe des Petrus, Judas, Jak obus, der Brief an die Hebraeer. Berlim, 1953. SCHWEIZER,
Eduard. Der erste Petrusbrief. Zuercher Bibelkonnnentare,
Zur iq ue , 1972. TILLICH, Paul. Dinmica da F. So Leopold o , 1974 .

16<?

DOMINGO
Cor1ntios

119 -

A P S

T R l NDADE

l '3-7

Ervino Schmidt

A doxologia, no incio de nossa percope, lembra Ef


1,3 e l Pe l ,3. Se, porm, compararmos as passagens, notaremos que a formulao de Paulo difere das outras. Ele
especifica "Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo", acrescentando: 11 0 Pai de misericrdias e Deus de toda con
solao" (v 3). Paulo deve ter tido motivos para essa
especificao. Podemos perceber, por entre as linhas da
doxologia, um tom polmico, mesmo tratando-se da carta
de reconciliao 1
1

) Para podermos situar melhor o assunto, necessar10 refe::irmo-nos ,em b:eves traos ,ao problema literrio da
2~
epistola aos Cor_:ntios .H mui to fala-se de ser a nossa epstola uma c omposiao de diversas cartas .Conforme a teoria de
G.Bornkannn,que hoj e e amplamente aceita trata-se de trs car
..
.
'
tas d1st1ntas. Apos t e r e scrito 1 Co, Paulo recebeu a not-=cia de uma invaso d e adversrios em Corinto. Pretensos aps
tolos judaico-cristos uniram-se s tendncias entusiastas
que ha~ia na comunidade. Apresentaram-se com cartas de recom~nda~o. Sua mensagem diferia da que Paulo trouxera (euange
llon heteron, 11,14) ,a quem negavam a autoridade do seu a-=postolado.- A estas alturas Paulo escreve uma apologia do
seu_apostolado.Argumenta de maneira calma e objetiva . Esta e ..P.Ei.!Il~_i_r_a_~E!~ ( 2, 14-7, 4) das atualmente reunidas na
2 Co. Os adversarias ganham terreno.A teologia dos intrusos parece mesmo ter agradado aos corntios. Paulo faz uma
visita comunidade. - Deve ter havido tID1 serio contratem
po (2,5.7). Devolta a feso,escreve a carta intermedi-:E~~ ~a carta das lgrimas, cap. 10-13)~--~;~~I<l<le--se
corrige Paulo recebe notcias surpreendentemente boas (7,
5 ~s), o que o leva a escrever umaE~!!~-ci~E~~~~S:~.1:!.~S~.2(1,
1 2,13 e 7,5-16). - Um problema a parte sao os cap.8e9.

120 -

Talvez o apstolo tenha em mira os espiritual is tas na c~


munidade aos quais se uniram adversrios, vind o s de fora.
Ele no prega um Deus abstrato e distante, um Deus que~
liena. No permite uma desvinculao da realidade . O Deus do evangel~o soberano, mas ao mesmo tempo humilde.
Soberano exatamente na sua humi Idade~
Ele sempre o Emanuel to Deus conosco)~ Ele se compadece de ns, sem no entanto arrancar-nos da nossa real i~a
d:. Paulo bendiz o Deus que, em sua mi se ri crdi a (pa~er
toon oiktirmon - pai das misericrdias), penetra ate as
p~ofundezas do nosso sofrimento, 0 Deus de toda consolaao. Deus consola como uma me consola (Is 66, 13) Mais
ainda, ele pode consolar, porque se tornou homem.
_
. Paulo escreve aos corntios, apontando para os seus pr~
pr10: sofrimentos (Cf 11, 16-12, 10). Mas no o faz para
glor1ar-~e.a si mesmo como heri que soube e~frentar todas as dificuldades. No~ Aponta, pelo co~trario!. p~ra,a
sua fraqueza. Paulo sabe o que tribulaao (thl1ps1s~
Em ll,23ss enumera os seus sofrimentos. Interessante e
que, apesar_dos mesmos, fala do Deus "bendito". Agradece
p~la salvaao em todas as dificuldades. Menciona, inclu~iv~-u1:'1a situao de extremo perigo de vida (1,8-10).
o 1n1c10 de suas outras cartas
o apstolo dos gentios
costuma a ~ra decer pelo bem-estar' espiritual e mater1a
l
das comun1~ad7s. Aqui' porm, ele agradece pelo. consolo
que ele p~opr10 tem recebido nos mltiplos sofrimentos
pelos
quais tiv_era que passar. Com .1sso, a carta em ques
_
tao assume
- carat er b astante pessoal. p au 1o retoma a concepao vetero-testamentria do sofrimento em favor da
bondade e da ve d d
.
_ r a e de Deus
mas sem de 1 xa r margem para
um~ especu 1aao em torno de ~r i tos. Em sua tribulao
vo ta:s~ para Deus. O sofrimento um sinal da tenso e~
catolog17~ da existncia crist Esta tenso conhecemos
c?mo ."Ja agora" e o "ainda n~". Os adversrios em Cor 1nto J u l 9avam-na s~perada e se vang 1or i avam das s ':!s obras re~l1zada~. Gloria e no cruz! Quo profunda e a
concepao P?ul1~a em vista disso! No sofrimento so arrasadas a: 1 !usoes de se poder contar com a grandiosidade das propr1as ob~as e de fazer dos sucessos impulsos
para o trabalho. Nao se pode descobrir motivo de consolo
em si mesmo ou por si mesmo.

1 21

Os corntios gostariamdeeliminar amiseria de umaexis


tncia sobre a qual ainda cai a sombra da morte. Gostari
am de deixar totalmente de lado este "ainda no 11 da nossa salvao. Gostariam de transformar o que ainda est
por vir em algo j presente de forma absoluta e definiti
va. No sabem o que inventar com a 11 nkroosis tu leesu11
(4,10) . A negao, a cruz poderiam deixar valer, em lti
mo caso, como urna passagem para a glria. Mas no passa~
ria disso. Para Paulo, pelo contrrio, exatamente a nega
o constitutiva para a f que vive da graa e do con~
solo de Deus.
H. J. lwand diz, acertadamente, ser toda a segunda
carta aos corntios um ajuste de contas com um "cristianismo positivo" que se tenta estabelecer alm da cruz,
da misericrdia e da 11 thlpsis 11 O apstolo dos gentios
jamais ser encontrado do lado deste cristianismo positivo.Sirva-nos isto de advertncia! Onde no se quer
deixar valer o Deus das misericrdias, no ser ouvido
o testemunho de um servo humilde como o era Paulo.
r

Os sofrimentos do apstolo esto numa correlao com


os sofrimentos de Cristo (v
5). Evidentemente no so u
ma simples analogia ou uma continuao dos sofrimentos de
Cristo. A partir da, no se pode falar de uma mstica da
paixo em Paulo (Cf Rm 8, 17 e Fp 3, 10). Temos, antes, o
reconhecimento que ainda vivemos num mundo cheio de sombras ameaadoras. Os discpulos no podem esperar um caminho de glri a se o prprio Senhor Jesus foi persegui do
e morto. Os discpulos precisam tomar a sua cruz, negarse a si mesmos e arriscar a vida por causa de Cristo
e
do evangelho (Me 8,34ss). Os sofrimentos do apstolo so
os sofrimentos de Cristo, pois acontecem na era messini
ca e por causa de Cristo. Assim est estabelecida uma co
munho no sofri menta.
Nessa comunho h esperana, pois nela se compartilha dos sofrimentos daquele que ressuscitou. Essa esperana tambm o alvo da consolao (parklesis) recebebida de Deus. Gostaria de chamar a ateno para como Pa~
lo joga com os termos consolo e consolao at chegar a

122 -

fa 1ar na esperana (_e 1p1- s ) . Vemos, d1ante de ns, um h_o


11
mem abandonado por sua autocon f .1 ana, p or seu kuchee11
ma , reencontrar a esperana.
.
Deus vive! Esta certeza nunca se pode tornar roti~a,
nunca algo natural! Diariamente precisamos experii:nentalo, como se fosse pela primeira vez. Entregar-se incondicionalmente nas mos de Deus, deixando de lado
toda
falsa segurana isso contar com o Deus vivo Po~e~s
contar com Deus' CUJ 0 poder manifesto na ressurrei ao
' na escuridao
' - da morte e na noi t e das
de Jesus, penetra
nossas tentaes.
.
Essa consolao Paulo no a tem para s 1 mesmo so' sofrimentos pelos quais

t iv era
mente. Acentua que os
que passar' e o consolo que recebera' fi zeram-n:i capaz
de consolar outros "Mas se somos atribulados, e p~ra
'o_ vosso conforto e . sa 1vaao;
se somos con f or tados ' e tam
bem para o vosso conforto" (v 6)
.
e
Tudo esta entrelaado. Os sofrimentos de C~1st 0
d0
consolo que deles resulta Deus vive!; os sofrimentos o
apstolo que preparado ~ara ser o por~ador da pa!avra
da consolao e, finalmente, a edificaao da comunidade.
111

a) O sofrimento caracteriza a igreja de Cri~to


O que significa tudo o que acabam:is. de anal 1 sar para
a nossa situao? Em todo caso, na predica, deveria ser
ressaltad~ o aspecto do sofrimento.
.
Poderiamas iniciar com a pergunta pelo que ma1 s chama a ateno na igreja. O que, por exemplo, um.estanho
per~ebe na igreja? Que que mais lhe cai na vista. No
ser 1am as construes suntuosas tanto dos templos coi;i~
das_casas pastorais e os dispendiosos aparatos organ1
zatorios? Talvez o lmpressionem tarrom o "movimento" e
a~ pro~r~maes soei ais. Dificilmente ser mencionada a
disposiao para o sofrimento.
_ M. Lutero considerou 0 sofrimento como uma caract~r1stic~ (nota) da verdadeira igreja. A igreja ~er~ade1ra esta sempre sob a cruz. Sabemos como nos pr1me1 ro~ anos do cristianismo os homens que decidiam ser cristaos

123 -

tiveram qu e enfrentar srios problemas. Sofreram presso


dos vizinhos pagos e das autoridades. Temos muitos doe~
rrentos sobre condenaes e execues de homens e mulheres
por causa da sua f em Cristo. Ser verdadeiro cristo sem
pre foi algo arriscado. No existe ~ristianismo se~ cruz!""
Este estado de coisas vale tambem para hoje. Nao
se
precisa pensar logo em perseguies polticas, se bem que
elas existam. O sofrimento pode apresentar-sede muitas m~
neiras. Sempre, porm, se trata de um sofrimento por amor
de Cristo. Faci !mente se entende que existem certos problemas, dos quais no se pode fugir. Isso at mesmo um~
teu poderia admitir. Mas que se sofra por amor de Cristo,
isso no to natural. Os corntios, por exemplo, achavam que uma vi da com seu Senhor deveria ser uma vi da marcada somente pela glria. Tanto mais difcil se torna a
questo, se considerarmos que o sofrer por amor de Cristo
pode ser evitado. Cessa no momento em que se nega o nome
de Cristo. Esse negar no precisa necessariamen~e ser um
claro rompimento. Penso mais em termos de traiao. Poderia ser um acomodar-se em determinada situao, um calar
onde deveramos erguer a voz, com o objetivo de consegui_c_
mos, em troca, paz e tranqUilidade para ns, individualrrente, ou para a Igreja toda. Fechar os olhos diante_ de
injustias, no se envolver quando corajosamente teriamas que nos engajar com palavras e aes, pode ~vitar_que
soframos. O preo, porm, que pagamos al~o. Da-se a1 n~
da menos que a negao de Cristo. A tentaao de querer fu
gir do sofrimento grande.
_
Mas o sofrimento no somente sofrimento. Ele e tambm alegria. Somente se reconhecermos que se trata de um
padecer na comunho com Cristo, encontraremos a riqueza
nele contida. O cristo, como justo na f, toma sobre si
o julgamento. Isso lhe traz dores enquanto a realizao
total do reino ainda no se deu. A disposio para sofrer
injustamente uma declarao de guerra, em nome de Cri~
to, contra o pecado. 1sso torna o nosso sofrimento alegre, pois a que est a comunho com os sofrimentos do
nosso Senhor. Em meio ao padecimento, temos consolo. Assim os cristos, juntamente com Paulo, podem louvar
a
Deus mesmo 11 i n ext remis".

124 -

b) Consolo e esperana para todos!


Paulo acentua que os sofrimentos, pelos quais tivera
que passar, por amor de Cristo, e o consolo recebido, f_!_
zeram-no capaz de consolar outros (v 4). Isso vale tambm para a igreja de hoje e para todos os seus membros,
individualmente. Quem uma vez experimentou toda a profu~
didade do sofrer injusto e o consolo que Deus d, esse
saber consolar outros em situaes de conf 1 i to. E e las
no so poucas! O que vemos ao nosso redor, mui tas vezes
desanimador, mesmo dentro da prpria igreja. Humaname~
te falando, teramos que desesperar.
Para finalizar: Olhando para ns, s nos resta o "ky
rie eleison 11 , mas, olhando para o Deus de toda a consol~
o, somos conduzidos ao "glria in excelsis Deo".
B.i bliografia
LOHSE, E. Introduo ao Novo Testamento. Editora Sinodal,
1974. - WINDISCH, H. Der zweite Korintherbrief. ln: Kritisch-exegetischer Kommentar Uber das Neue Tes t ament. 99
ediao, G~ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1924. - LIET~
MANN, H. An die Korinther !-II. ln: Handbuch zum Neuen
Testament. 49 edio, Tlibingen, J. C. B. Mohr (Paul Si~
beck), 1949. - WENDLAND, H. D. Die Briefe an die Korinther. ln: Das Neue Testament Deuts eh. G8t tingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1968. - IWAND, H. J. Meditao sobre
2 Co 1,3-7. ln: G!:lttinger Predigt-Medi tation e n. G8ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1957/58, ano 47. KOCSIS, E.
Meditao sobre 2 Co 1,3-7. ln: Gl::lttinger Predigt-Meditationen. G8ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1964, ano 53.
- VOIGT, M. Meditao sobre 2 Co 1,3-7. ln: G8ttinger Predigt-Meditationen. G8ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht,
1970 , ano 59.

Ga

D A

Wi l fr id
1

a s

125 -

R E F O R MA

5' 1-11

Buchwe i tz

Consideraes sobre o te x to
O te x to

O texto no apresenta maiores problemas em matria de


traduo e inte r pretao, ao menos no em aspectos relevantes para a prdica.
O versculo 5 tem provocado alguma divergncia na tra
duo. Optaria pelo seguinte: "Porque pe lo Es p.rito aguar
damo s em f a esp e r an a da j us tia ". A Bblia na Lingua-gem de Hoje traduz mais corretamente do que Almeida. Lute
ro diz: 11 0 primeiro que recebemos o Esprito de Deus. f
le cria a f em ns, e agora olhamos em direo ao futuro
e aguardamos a vida integral com Deus 11
Em torno do final do versculo 6 tem havido discusso
se a f ou so as obras de amor que pesam, so vi tais,
i mportam. Mas parece que o texto est claro: A f em Jesus Cristo a chave e atua, tem como conseqUncias obras
de amor.
Sobre a limitao da percope e x istem diversas sugestes. Para esta meditao so sugeridos os vers~culos 111. H quem sugira 1-12. Outra proposio 1- 15. Outro
de opinio que isso demais e que seria legtimo limitarse a 1-6. H mesmo quem optou pelo versculo 1 apenas.
De qualquer maneira, no se pode isolar o texto
do
contexto. A idia central de qualquer forma Cristo
ou
lei, liberdade em Cristo ou servido na lei. O pregador
ter que decidir sob que enfoque quer ou acha que deve abordar este tema. Cada um ter que se decidir. Eu fico
com 1-11 .
O contexto
O contexto maior em que o nosso trecho est colocado
comea em 3, 1 e vai at 5, 15 e tem como assunto a rela-

- 126 -

- 127 -

o de lei e evangelho, lei e promessa, lei e f, lei e


1 iberdade, lei e Cristo.

Foi precisamente por isso que Cristo veio substitu-lo


quando se tornou homem. Por isso Cristo traz uma nova
possibilidade.
Mesmo ~ssim os glatas esto a ponto de dar um pas
so para tras, de voltar todo um caminho j percorrido-:Paulo coloca toda a sua pessoa, toda a sua autoridade, o am?r pe~os glata~, a r:sponsabi ]idade de aps
tolo na af1 rmaao de que isso nao tem cabimento.
Aquele que est atrapalhando os glatas sofrer a
condenao por isso (v 10).
Se algum disse que ele, Paulo, tambm admite a cir
cunciso, ento isso no verdade. Prova disso que
est sendo perseguido pelos defensores da circunci-sao (v 11). E admitir a circunciso seria eliminar o es
cndalo da cruz.
A grande preocupao de Paulo proclamar o novo es
~ado de coisas: a libertao da lei por Jesus Cristo. t
importante que os glatas permaneam firmes nisso.
Agora existe uma s "lei", um s "mandamento": o amor, no qual o prprio Cristo est presente.
Para quem se coloca sobre esta base, at a circunci
sao pode ter sentido (At 16, 1-3).
Em Cristo Paulo confia nos glatas, de que permanecerao firmes.

O contedo
Seria bom ler a epstola desde o incio, em todo o
caso a partir de 3, 1.
A percope o ponto alto, parte final do que Paulo
aborda e discute anteriormente.
O centro, o fundamento, ao mesmo tempo o alvo da vi
da dos glatas fora Jesus Cristo. Neste sentido "vs cor
reis bem" ( v 7) .
Isso est ameaado agora, surpreendentemente (1,6)
O novo estado de coisas, a vida nova, a renovao, a sal
vao, tudo isso est em perigo. Por incrvel que ~area,
h gente que est atrapalhando os glatas, que esta indu
zindo-os a darem um passo atrs, um passo sem sentido e
esperana . Est ocorrendo uma volta lei judaica. Cert~
mente no h inteno de impor aos glatas todas as leis
judaicas. Pensam apenas em algumas das mais importantes
talvez apenas a da circunciso. Esta era to fundamental
para o judeu que at podemos compreender a dificuldade
de elimin-la no novo Israel.
Mas Paulo lembra e insiste que agora vale outro fundamento: Jesus Cristo. t ou Ele ou a lei!
Cristo oferece e possibilita uma nova ordem no Re~~o
de Deus. O Reino no mais construdo base da obed1e~
ci a lei .
O Reino de Deus nesta nova ordem constitudo
por
Jesus_Cristo atravs do Esprito Santo presente na f do
cr~stao. A n~va justi~a no obra do homem, mas~de Jesus
Cristo atraves do Espirita Santo, que torna poss1vel ao
horrem a obedincia e o arrependimento. Justia plena se
efetivar apenas no juzo final e por enquanto alvo de
esperana.
_ Qualquer volta lei, mesmo que parei al, despreza e
poe em perigo o acontecido em Jesus Cristo (v 4). Por is
so, ou se baseia na lei, no cumprimento total da lei, ou
em Jesus Cristo, totalmente em Jesus Cristo. Misturar
estes dois esquemas no vivel.
Na realidade o esquema da lei tambm no vivel.

1:

O escopo

\'
1

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Perma


necei, pois, firmes e no vos submetais de novo a jugo
de escravido (v 1).
. Porque em Cristo Jesus, nem a circunciso, nem a in
circunciso, tm valor algum, mas a f que atua pelo amor (v 6).
1 1 - Med i ta o

O texto est prescrito para o Dia da Reforma. Sabemos


que Reforma teve seu incio quando Lutero leu a Epsto
~a aos Romanos. Entre outras, a passagem de 3,28 teve um
impacto re~ovador decisivo. Mas a Epstola aos Glatas
que po~ter1ormente ganhou importncia especial na vida e
teologia de Lutero e que chegou a ocupar um lugar todo

- 129 -

- 128 -

especial.
A partir da Epstola aos Glatas _que ~utero chegou
a concluses capazes de provocar decisoes basicas da Reforma. Lutero chega a afirmar: 11 A Epstola aos Glatas
minha epstola, a que me confiei. minha Catarina Bora".
Lutero achou sua liberdade da escravido da igreja
romana, do papa, do medo, de Carlos V, para uma nova dimenso da vida na f que atua no amor.
Especialmente nos textos de Romanos e Glatas a Reforma teve sua origem. Glatas 5, 1-1 l um texto centra!
da Reforma. O Jesus Cristo libertador e doador da f
e
base e fonte da salvao do homem, no o homem cumpridor
das leis.
Hoje o texto e o Dia da Reforma so colocados na fren
te das comunidades da IECLB.
Durante sculos o Dia da Reforma foi festejado como
dia de reflexo sobre as descobertas evanglicas de Lutero; ~ambm dia de procura para novas descobertas. Mas foi
tambem ~m dia anti-catlico, dia da condenao da teologia cat?lica! inclusive dia de protesto.
.
~ s1tu~~o mud~u. O Cristo libertador est em ao na
igreja cato!1ca. _Ha uma renovao constante e impression~nte em muitas areas da igreja catlica, renovao a par
tir do 7v~ngelho e coerente com o evangelho. Um documento
da arquidiocese de Vitria publicado em 1975 sob o ttu que a gente quer",
'
.l o "A. i greja
tem o que dizer a qualquer
igreja luterana.
Ao!~ disso existe ainda o catolicismo dogmtico e
0
catolicismo popular, com influncias no evanglicas so
bre me~bros de comunidades da IECLB.
. A igreja luterana a igreja do "s Cristo" 11 s Esc t
li
li
'
ri ura so graa 11 , "s f 11 , "sem as obras da lei 11
Essa verdade teolgica continua. Nas igrejas luteranas, no entanto, ela foi mal entendida, mal vivida. Pare
ce que ~evou a_uma graa barata, que muito pouco atua em
amor: Nao se veemconseql.lncias da graa. Parece haver mui
ta fe se~ ob~as: O Cri:to libertador parece no estar pre
sente. Nao h~ l1bert~ao de certas coisas para outras coT
sas.
Impressiona
o numero de reunies congressos , conc1-::

1 10 ~ em.igrejas
l~te~anas_que tm como tema central 11 obras 11 ,
11
a igreja frente a s1tuaao social", 11 frente fome no mun

f rente a mi nor i as 11 , etc.


H comunidades onde a tradio tem mais fora condicionadora do que Cristo como libertador. Que que est
por detrs deste apego tradio? Provavelmente isso v~
ria de situao para situao. A tradio pode fazer as
duas coisas, ela pode proteger, amparar, ou pode prender
e travar.
A IECLB ainda uma igreja onde os pastores enfeixam
quase todo o trabalho e toda a responsabi !idade nas suas
mos. No fcil para os pastores sair desta posio,
h diversos motivos para isso, e no fcil para os mem
bros da comunidade assumirem o seu papel de sacerdcio de todos os crentes.
A IECLB vive e trabalha ao lado de outra igreja lute
rana no Bras i 1. As duas igrejas 1uteranas ainda no
se
deixaram libertar por Jesus Cristo para testemunharem
juntas a f que atua pelo amor. H situaes em que elas
se combatem e anulam mutuamente.
A IECLB est sofrendo com a situao de apatia, igno
rncia, passividade de suas comunidades e de seus membros.
O Catecumenato Permanente foi declarado prioritrio. Vai
ser necessrio muito empenho, muita mudana de mentalida
de, vai custar muito sofrimento para pastores, comunida7
des, direo da igreja a implantao do catecumenato per
manente. No h atalhos e solues mgicas. S o poder do Cristo libertador poder trazer algo de novo.
A IECLB olha com inveja o crescimento dos grupos pen
tecostais, ou com arrogncia; olha com medo os terreiros
de umbanda.
H muita insatisfao entre pastores e membros da IE
CLB, muito desnimo. Isso leva irritao, agresso,des
confianas, impacincia. H confuso e no sabemos ondecomear primeiro. De tantas rvores no vemos mais o mato.
A situao social dos membros da comunidade to di
v=rsa. Alguns so escravos do muito que possuem; outrossao escravos da misria, economicamente, culturalmente,
espiritualmente, moralmente.
Muitas vezes confundimos liberdade com arbitrariedade . O que vale e a minha liberdade em que o outro tem
que embarcar.

do 11 ,

11

- 130 -

Ou confundimos liberdade com l lbertinagem, como s e


Cristo tivesse derrubado todas as ordens.
s vezes nos recolhemos a pequenas ilhas, fechando
os olhos para o todo da IECLB e da realidade brasileira .
s vezes sobrecarregamos nossas comunidades com problemas do Nordeste, quando elas no tm fora de suportar
os problemas locais.
A situao poltica no nos interessa e deixamos de
dar a nossa participao responsve 1. Fa 1 ta-nos liberta
ao por Cristo.
Muitas coisas, muitas 11 circuncises 11 ocupam mais a
nossa vida do que Jesus Cristo. Muitas coisas nos impedem de continuar a obedecer verdade. Ou nem comeamos?
A nossa massa est levedada por muitos fermentos em
vez de ns sermos fermentos no mundo.
Cada comunidade ter que colocar o texto diante de
situaes diferentes no Dia da Reforma.
Ser que ns, pastores, estamos suficientemente libertos para sermos to zelosos como Paulo? Jogamos todo
o nosso amor, toda a nossa autoridade, responsabilidade
na balana? bom analisar com que paixo Paulo se diri
ge aos glatas, est sofrendo com eles e por eles. Que importncia ele d atitude que eles tomam! S Cristo
pode libertar e conservar 1 ivre!
111

Bibliografia

BEYER, He rmann Wolfgang. Der Bri e f andi e Gal a t e r. ln:


Das Neue Testame nt Deutsch. 59 e d., G8tting e n, Van d enho~
e ck & Ruprecht. - DlBELlUS, Otto. Predica sobre Gl 5,1-11.
ln: MUELLER-SCHWEFE , H. R., ed. Zur Zeit oder Unzeit.Stutt
gart, Kreuz Verlag, 1958. - LUTHE R , Ma rtin. Konune ntar
zum Galaterbrief. ln: Calwer Lutherausgabe. MUn c hen/Hamburg , Siebenstern Taschenbuch-Verlag, 1968, vol. 10. SCHLATTER, Adolf . Der Brief an di e Galater. ln: Schlatters ErlHuterungen zum Neuen Testament. 59 ed., Stuttgart,
Cal~er Vereinsbuchhandlung. - STECK, Karl Gerhardt. Me ditaao sobre Gl 5,1-11. ln: G8ttinger Predigtmeditationen.
G8ttingen, Vandenhoeck & Rup r echt, 1970, ano 24, cad e rno

4.

- 13 l D

DA

Gala t a s

REFORMA
5,1-11

Arnoldo Madche
1 -

Consideraes sobre o texto

_ O aparato fornece para o primeiro versculo trs opoes de leitura. Os comentaristas consultados (Schlier ,
Ragnar e Oepke) aceitam a verso dos manuscritos "egpcios11, qu e apresentam e nto o seguinte sentido: 1) Cristo trouxe 11 liberdade 11 que cabe aos emancipados (filhos
1 i vres ~) e 2) Com a consumao desse ato surge a tarefa de se
orientar na l i berdade e de se viver como homem livre. K.
H. Rengstorf comprovou (ThLZ 76,1951, cal. 659-662) que
se encontra implci to nessa passagem o termo t c nico do
direito judeu a respeito da escravido: a compra da liberdade~ O direito exige um ato de 11 compra 11 , mas tambm
assegura uma nova situa o de vida e ao aos beneficiados.
O texto, no entanto, confirma uma segunda realidade
sempre presente para o crente cristo: a ameaa da liberdade! E Paulo em suas cartas cita trs ameaas: 1) A
ameaa do pecado (Rm 6, 18-23; Jesus em Jo 8,31-36); 2)A
ameaa da lei (Rm 7,25 a 8,2; Gl 2,4; 4,21-31); 3) A ame a a da morte (Rm 6,2lss e 8,21). Em nosso te xto ela
ra a re ferncia da lei da circunciso como ameaa li~
berdade que Cristo resgatou. Os glatas e squeceram (4 , 9!)
que Deus o: aceitou em Cristo, na graa, por meio dopo
der do Esp1 rito de Deus que age na f e se exprime no
mor. A colocao de Paulo radical: ou Cristo ou a lei'
E com isso chega ao "status confess i onTs 11 da fcri st .
ou seja, a prega o da cruz suficiente para a salva~o
do homem: No~ versculos 5 e 6 h uma"espe rana" de que
Deus a~e1tara Paulo e acompanhantes na sua graa. A "liberta ao11 , p ois,

- e- propriedade dos
emb ora consumada, nao
11
11
~C:me~s. _Ela permanece como um poder que existe na f . A
~ n?o e um estad? perene. Ela acontece e sofre a descon
t1nu1dade . O vers1culo 11 um tanto obscuro . Os coment~

- 132 -

- 133 -

ristas no apresentam uma sada clara. Seria, por acaso,


uma passagem dita aos entuslastas que prete~diam ignorar
qualquer tipo de disciplina? Seria a necessidade de ser
perseguido como "sinal" de apostolado (vid: 2 Co ~2~12)?
Teria algum relacionamento com a ci rcuncisao de T1moteo
em 16,3? Permanece, no entanto, o fato de que para Paulo h o contraste entre a cruz, que vlida para todos
os povos, e a lei, que vlida exclusivamente para ?s
judeus (Bring). A lei quer substituir a gra~a, e por 1~
so h trguas na acusao de Paulo. No vers1culo 12 ele
sugere uma rredida sarcstica e absurda para justamente
acentuar esta incompatibilidade entre cruz e lei

cro-realidades - no especfico de cada dia. O macro no


micro. A libertao assim colocada deveria, pois, mexer
muito mais com os nervos e msculos da comunidade. Penso nesses muitos pequenos agricultores que vegetam por
falta de terras mais produtveis! Por que a Reforma Agrria, anunciada por sucessivos governos, fica no verbal ismo demaggico? Penso nos sindicatos sem poder de
reivindicao, descaract e rizados e m agncias assistenciais?! Penso nas escolas de baixo nvel pedaggico, bi
tolando geraes inteiras! Penso na religiosidade expio
rada em termos de supersties e crendices, com a convT
vncia das autoridades pblicas! Penso na misria esta-=belecida como regra a longo prazo. Penso nas arbitrarie
dades, na corrupo ad ministrativa massacrando o peque-=no homem e enriquecendo o desonesto!
A teologia da libertao (movimento de origens lati
no-americanas) tem procurado motivar uma libertao que
ultrapasse os valores csmicos da me t afsica e magia dos
recintos fechados do culto irresponsvel a Deus. Indica
concreta mente que a libertao inicia tambm com a elimina o de tudo aqui lo que impede o homem de ser mais
humano. Eliminar uma palavra muito concreta no Tercei
ro Mundo! Duvido que possamos passar por ela sem arranhes ou sem carregarmos um pe dao da cruz de Cristo.
Para que surjam novas realidades imprescindvel que
estejamos dispostos a agir comunitariamente , jogando pe
la janela as realidades desajustadas e imprestveis. Avia negativa, que inclui eliminao, no deve ser completamente estranha s comunidades. Os mandarrentos do
Sinai no so assim entendidos pelas comunidades? S
possvel negar o furto, a prostituio, o assassinato,
eorque existe o primeiro mandamento. Da mesma forma s
e possvel eliminar realidades injustas, porque Cristo
nos libertou para isso. A via negativa, por m, no esgota o servio da comunidade. Creio que o versculo 6
('.'.f que age por meio do amor") fala de uma ao positiva e reintegradora. A eliminao deve ser completa
d~ P:lo instrumento do amor. A comunidade que a~e em fe nao pode se negar ao amor. A comunidade da fe como
c~munidade do amor fruto da liberdade "comprada" para
nos por Cristo. E so muitas as prticas de amor naco-

11 - Meditao
Eu creio que a libertao trazida por Cristo significa concretamente um estar-a-servio permanente no Rei_
no de Deus. Permanente naquele sentido do "orai sem ce~
sar 11 ll Ts 5, 17). E nesta ocupao com e no Reino de D~
us no nos so exigidas "coisas de anjos", mas sim coisas bem humanas como: boa vontade, disciplina, humi Idade, coragem, alegria, choro, luta ... A reunio dessa m~
nifestao difci 1 de se encontrar na vida da comunidade em que tradicionalmente vivemos.
Por isso acho fundamenta 1 propor aos rremb ros, ns ~e~
mos , a meditao sobre o tema da liberdade. E nisto nao
podemos esquecer as situaes bem concretas da vi d a atual . Onde est a liberdade que Cristo me present ~ ou P~
ra viver na comunidade? Onde est a lib e rdade para ter
tempo para Deus e para o prximo? Encontramos pessoas
real~nte super-ocupadas profissional e socialmente (i~
c~usive pastores) . Mas a questo decisiva : Cristo me
libertou para viver o Reino de Deus~ A falta de tempo,
a:gument~ bsico para se omitir do engajamento na com~
nidade, e a falta de prioridade para Deus! A luta pe1~ "status" social e econmico no justifica a acomoda
ao e omisso no Reino de Deus.
O apstolo Paulo um homem de seu tempo e que reag~u segundo sua cultura. Ele falou do trinmio: 1 iberta
ao da lei , do pecado e da morte. So realidades e valo
res de seu mundo . Hoje e perante a comunidade somos cha
macios a comunicar essas dimenses universalistas - ma--

- 134 munidade, mesmo que estejam escondidas institucionalmente: as coletas beneficentes, a Santa Ceia como ato de in
tegrao, o apadrinhamento como responsabi ]idade
pelos
outros, o exerccio coletivo de viver em comunidade assu
mindo compromissos humanos e de f. So formas tradicio-=nais que possuem o potencial do amor. A tentao est_em
adorar o meio, que a forma, e esquecer o fim, que e o
amor.Onde o objetivo no for mais realizvel, ali chegado o momento da 11 libertao 11 , melhor, da eliminao.
Lutero nos deixou essa frase conscientizadora: 11 0 cris
to senhor de tudo, e no est submeti do a nada;... o
cristo o servidor fidelssimo de todos, o servo de to
dos 11 Vejo aqui a correspondncia de que a 1 i berdade de-=ve ser completada pelo servio do amor.Esta
tradio
neotestamentria, assumida pelo luteranismo, faz
parte
de nossa identidade. E nessa identidade no pode
haver
concessso - seja de correntes teolgicas ou de partida rismo s6cio-po1tico dentro da IECLB. Lutero tambm disse: 11 Um cristo no vive em si mesmo, mas em Cristo e em
seu prximo; em Cristo, pela f; no prximo,pelo amor. 11
S resta comunidade assumir sua identidade.
Usar
sua inteligncia de f e a criatividade da fantasia so
questes prticas de cada qual. A questo central
para
todos, porm, permanece: Cristo j nos libertou como promessa, e para o que cr nessa promessa is to j hoje i mp 1 i ca conseqncias para o Reino de Deus que age por meio
do amor!
li 1 - Para a pregaao
Creio que para a pregao de plpito bastaria a leitura dos versculos 1 a 6 (idem Steck, GPM, ano 59,cader
no 8, agosto de 1970, pginas 415-424), e isso pelas se-=guintes razes: 1) Os assuntos 11 libertao 11 e 11 f
que
age por meio do amor 11 esto ali concentrados; 2) as difi
culdades exegticas do versiculo 11.
Deveriam transparecer trs momentos. Na primeira par
te , ocupar-se com o texto de Gl 5. Os temas j acentuados
na meditao so mais concretos do que discutir o assunto Cristo ou lei. No segundo passo, enfocar Lutero e sua
liberdade de crtica s estruturas vigentes, seus
passos concretos de eliminao e construo para uma
nova

35 -

comunidade. Como terceiro passo, refletir a identidade da


comunidade atual com a linha neotestamentria e da Reforma. Uma questo fundamental para toda a pregao colocar o desafio da f contando com as chances reais de rea1 i zao entre os ouvintes. Uma exigncia fora da real ida
de apenas cria mais acomodao e permanece no campo
da
11
mor a l i na 1 1

- 136
D

DOS

NADOS

pen s e s 3,20-21

Heinz Ehlert
1 - Consideraes exegticas
O trecho indicado parte da per1cope da Srie Antiga de Epstolas prescrita para o 23~ domingo aps Trinda
de, compreendendo Fp 3, 17-21. Via de regra os mesmos ver
sculos (17-21) so considerados um conjunto de pensamen
tos e trecho final do captulo 3 (cf. texto original de
Nestle; Bblia, traduo de Almeida, Edio Revista e At~alizada no Brasi 1, NTD - N. Goettinger Bibelwerk). Sem
duvida os versculos em apreo foram extrados da perco
pe devido ao seu contedo escatolgico com vistas ao dia
dos finados.
N9 contextoda_Epstola faz parte de advertncias contra
a~uaao de adversarias qualificados no trecho como 11 inimi gos da cruz de Cristd' (V 18). Est em foco o 11 andar 11
dos cristos, a sua vida e conduta.
Ad~ertindo e exortando, o apstolo transmite a mensagem
de.estimulo e esperana referente ao futuro, s ltimas
coisas. Reconhecendo que os crentes precisam de modelos
para a sua vida na f, o apstolo coloca-se a si mesmo
como modelo e aos que andam como ele.
Sem podermos definir exatamente as afirmaes ou dou
trinas dos adversrios em questo, so caracterizados,no
entanto, como os que 11 s se preocupam com as cousas terr~n?s11 (V 19). Quem reduz o evangelho, na verdade o falsifica. Isto ter necessariamente conseqncias para
a
co~duta dos fiis. Por isso a advertncia insistente do
~postolo. Uma mentalidade carnal e terrena contraposta
a mentalidade da f em Jesus Cristo. Esta se dirige para
.celestial (cf Cl 3, 1-4). Dali a conduta nos dias atuais recebe a sua orientao.
_o termo 11 politeuma 11 no original, que na Bblia, tradua<;> de Almeida, corresponde a 11 ptria 11 , pode designar
tambem a comunidade civi 1, o estado, referindo-se vida

- 137 e existncia dos cidados. A nfase, no caso, estaria


mais no convvio das pessoas do que no lugar. O pensamento tem muitos paralelos no NT (Fp 1,23; 2 Co 5, 1-8;
Jo 14,1-6; Hb 13,14; 1 Pe l,3-5 e 2,11). t claro que a
preciosidade desta ptria consiste no fato que ela eterna e que l os remidos podem estar junto ao
Senhor
para sempre (1 Ts 4, 17).
Os crentes em Cristo no se preocupam apenas com o
fut~ro (ou at com um alm nebuloso), mas aguardam, isto e, esperam com toda a certeza por algum que est
por_vir: O Senhor glorificado. A esperana do convvio
11
(
patria 11 ) celestial em momento algum pode esquecer que
o Senh~r crucificado e ressurreto foi para o Pai e que
voltara. O fato da vinda do Senhor (ou o Dia do Senhor),
tao importante na teologia do apstolo Paulo em geral
(1 C<? 11,2~; Fp 1,6; 1 Ts 2, 19; 2 Ts 2, 1-2; 1 Tm 6, 14),
tambem esta presente na sua escatologia (1 Co 15,23; 2
Co 5, 10; 1 Ts 4, 15-17). Especialmente neste trecho a es
perana dos cristos caracterizada por este aguardardo Senhor, que aqui chamado de salvador.Este predicad~, que nos escritos neotestamentarios aparece em relaao a Deus, o apstolo Paulo aplica tambm em relao a
Cristo (Ef 5,23; Fp 3,20; 2 Tm 1, 10; Tt 2, 13 e 3,6). O
que s~gnifica no contexto? t a identificao do Cristo
por v1 r com o Cristo que derramou o seu sangue, morrendo na cruz para remir-nos do pecado e da morte. O termo
grego_original que corresponde ao 11 aguardar 11 usado pe
lo apostolo para designar a esperana da redeno final
(Rm 8,19-25; 1 Co 1,7; Gl 5,5). Assim salvador o Cris
to esperado dos cus para levar a cabo a redeno.
O ~to salvfico final o descrito no V 21: a trans
formaao do 11 corpo da humi lhao 11 , isto , da existncia
ter~ena, humana. O prprio Cristo vai operar a transfor
maao. O fato de se falar em transformao do corpo jdemons~r~ q~e 11 corpo da humi lhao 11 no visto em cont.!:"P?s1ao a 11 alma imortal 1' da filosofia grega. A existencia terrena que se inclina para a morte passar por
?utro ato criador do Cristo Salvador. Ele lhe dar nova
imagem conforme o modelo do corpo da glria do Cristo
:essurreto ~veja tambm 1 Co 15,35-49 e 2 Co 5,1-4) .Com
isto chegara ao alvo a obra redentora de Cristo, o que

- 138 -

para os cristos j se torna determinante nesta vida.


O fluxo das afirmaes sugere que a transformao acima descrita se liga diretamente vinda do Senhor. O a
pstolo aparentemente no reflete sobre o estado dos fa-=lecidos entre morte e ressurreio. Tudo indica que
a
transformao aludida vale tanto para os falecidos como
para os ainda vivos na sua vinda (cf. l Co 15,51). Disso
e de outras passagens resulta que o apstolo, na intensa
expectativa da vinda do Senhor (cf. Fp 4,4), no atribuiu nenhuma importncia pergunta pela existncia entre
morte e ressurreio. Uma coisa, no entanto, parece ind~scutvel: Qua!quer que seja a nossa situao, a ligaao entre os fieis e seu Senhor no pode ser destruda
por circunstncias externas, nem mesmo pela morte (Rm 8,
31-39; 14,7.8; l Ts 5,9.10). A garantia para isso reside
na proclamao do prprio Cristo e no fato que ele
demonstrou a eficcia do seu poder vencendo a morte e
as
outras potestades que ameaam a vida dos crentes (2 Tm
l,10) e os fez ''idneos parte que vos cabe da herana
dos santos na luz" (C l l, 12). No admira que desta espera~a resulta uma alegria contagiante de vida, que ale
gria no Senhor, descrita no captulo seguinte.
Escopo: Os cristos podem viver em alegre esperana,
porque aguardam a vinda do seu Senhor e Salvador para se
rem por ele igualados sua existncia de glria, no dia
da ressurreio.
11 - Meditao
1.

~~!l~~~2-~~l!!l~~-~2~r~_2_!~~!2

Cristos, isto , crentes em Jesus Cristo se distinguem de outras pessoas pela sua mentalidade em relao
ao fu~uro. A sua mentalidade determinada pela sua
f
em C~ist? Cristo deu um novo contedo e uma nova perspectiva a vida humana. Nova em relao quilo que os homens ~or si t~m como ideal e importante. Tambm em nossos dias convem analisar os contedos e as perspectivas
h~manas e co~par-los com o que a mensagem crist anuncia. Ver-se-a que existem diferenas fundamentais.

- 139 -

O interesse e a ateno das pessoas esto voltados es


sencialrnente para este mundo e o que ele oferece. Gozar e
usufruir as riquezas, os bens, os divertimentos, a felici
dade do mundo terreno a mentalidade. Sonham com um pa~
raso terreno. Como a gente no pode obter facilmente estes bens, vem-se envolvidos numa luta e concorrncia de
uns contra os outros.
Ns mesmos, embora cristos, apanhamo-nos dominados
por esta mentalidade bastante egosta e materialista. Segundo ela, importante o que posso comer, comprar e vender, que me d prazer, que me diverte, que me faz esquecer, ainda que por pouco tempo, os dissabores, que me tira a preocupao pelo amanh. Os homens de hoje esto
prontos a denunciar a mensagem da Igreja, que promete
o
cu, como uma tentativa de fuga da realidade dura em que
vivemos. Caracterizam-na at como imoral, um tipo de entorpecente para pessoas oprimidas e exploradas, que destarte no se revoltam contra os seus opressores.
Por outro lado nos defrontamos com um exercito de pro
pagadores de ritos e prticas ocultistas. Propagam urna re
1 igio mstica, que promete sade e sucesso na vida atual
e felicidade e perfeio no alm. Basta submeter-se s su
as prticas e a um processo que inclui uma srie de mor-tese reencarnaes. Dirigem-se aos doentes, aos desiludi
d~s, aos enlutados. Prometem soluo de seus problemas,
nao raro as pessoas so exploradas descaradamente em sua
credulidade. Aos enlutados se promete comunicao com os
seus entes queridos arrancados pela morte: O espiritismo
e os cultos sincretistas (umbanda, candombl e macumba).
Cristo nos trouxe uma outra perspectiva. Libertou-nos
tanto da busca de um paraso terreno, como de um consolo
b?rato_ou duvidoso, como tambm de uma religio mgica e
m1ster1osa (ocultista) que atemoriza e confunde. Ele nos
lego~ ? evangelho claro da redeno. O homem pode ser reco~ci l1ado com o seu criador graas ao ato redentor
de
Cristo. O homem sente-se libertado e tem certeza do amor
do Pai ~ece~e o perdo de Cristo para a renovao da vida. l lum1naao e fora de seu Senhor para melhor interpre
tare enfrentar a realidade em que vive, inclusive os po-=deres ad~ersos. t necessrio, porm, que leve bem a srio
a comunhao com o Cristo vivo.

- 140 -

- 141 -

O cristo tambm sente a doena e a morte c~m? verdadeiros problemas. Igualmente d i ficuldades econ?m1cas.e a fo
me, que cada vez mais se alastra no mundo, 1nclus1ve em
nosso pais. Debate-se com :ies, ma: tem on~: :ecorre'..
No precisa para isso de mediuns, 1ntermed1ar1os duvidosos. O evangelho est ao seu alcance. Esta fonte con~ta~
te de orientao e consolo aponta para o Senhor no ceu.
Promete e oferece amparo no presente e vida com Deus ag~
ra e no futuro: a "ptria" celestial. A mente n~tu'.al
terrena no consegue faci ]mente imaginar esta patr1a, e.:_
ta vida celestial. Um reino onde as adversidades e inju~
tias, mas tambm as prprias limitaes e ma!c~as esto realmente excludas e superadas. Dentro de nos,
no
entanto, existe um desejo profundo de participar de tal
convvio celestial.
disto que o nosso texto fala. Mas liga esta mensagem estreitamente a Cristo e sua segunda vinda. Lembra o
que no costumamos levar muito a srio: Jesus foi para o
Pai depois de sua r~ssurreio e prometeu vol~ar. Tendo
vencido a morte, ressurgiu com um corpo de gloria,
bem
diferente do que tinha antes e do que ns atualmente te:
- " :. E . . e
mos e que o texto chama de 11 corpo de humi lhaao
mesmo. Sofremos tanto porque esta nossa vida esta sujeita a tod9 tipo de doenas, s tentaes _para ? mal'
ao
engano , a morte! Este sofrimento chegara ao fim quando 0
nosso Senhor voltar .
Este um assunto por demais importante de nossa !.
Contar com a volta dele com toda a certeza, isto o apostolo Paulo chamaria de mentalidade crist. A vida plena,
redeno cabal est inseparavelmente ligada ao Cri:to.
E~tar sempre junto ao Salvador deve ser a_grande asp1raao.das pessoas. utopia aspirar um para1so ~erren?. t
perigoso entregar-se a prticas que me atemorizam, 1mpo~
d~- me sucessivas reencarnaes para alcanar uma perfei:
ao duvidosa. Ns podemos apegar-nos a uma pessoa que ja
esteve neste mundo, ao Senhor Jesus Cristo, que provou
que ele tem toda a autoridade. Merece confiana e amor.
Morreu na cruz por amor aos homens e ressurgiu da morte
para dar - lhes vida eterna. Isto importante especialmen
te em v ista da morte que reconhecemos inevitvel. t dolo

roso que os nossos entes queridos morrem, s vezes


sob
circunstncias trgicas, p. ex., em acidentes de trnsito. A separao repentina deles pode at J:var a situaes de desespero os que ficam. A nossa propria morte p~
de preocupar.
O texto indica o que vai acontecer: Cristo vem e com
pleta a redeno. Jesus, que em seu amor morreu por nos,
importa-se tambm com o nosso corpo, a existncia em ca..!:_
ne e sangue, a existncia terrena.
O apstolo anuncia que no fim, na vinda de Cristo, alm
da ressurreio dos mortos vai acontecer ~m novo ato cria
dor, no menos maravi Jhoso do que a criaao de nossa vida terrena: A transformao de nosso corpo. Concordamos
que este nosso corpo terreno frgi 1. Concordamos que
no vale muito. Aprendemos, no entanto, que Deus o valoriza. O apstolo Paulo, p. ex., afirma que deve ser
um
templo do Esprito Santo. Ento j nesta vida acontece~
ma santificao, quando no corpo podemos servir ao Senhor.
Mas esperamos mais: A transformao para participar
do
convvio celestial eterno com um corpo igual ao do Senhor
em glria. Isto acontecer no dia da ressurreio, quando Cristo voltar.
Ficam abertas pergunt~s: O q~e feito dos falecidos
at que o Senhor vem? Sera que tem uma existncia cansei
ente conforme alegam por af? Contra isso devemos perguntar: Ser que importa saber mais do que o texto anuncia?
Ser que no basta saber que Deus nos ama e no nos deixa, nem mesmo na morte? Assim sendo podemos recomendar
os nossos falecidos, e a ns mesmos, s mos de Deus-Pai.
Assim aguardaremos com alegre esperana o nosso Salvador
dos cus. Pensar no futuro ento sinnimo de pensar no
Cristo que vem para completar a nossa alegria .

Levamos em considerao que o texto deve ser pregado


em Finados. Talvez at no culto de cemitrio, muito em u
so nas nossas comunidades. Poderamos iniciar apontando fato que todos os homens so iguais num ponto : Tm que
enfrentar a morte. Mesmo assim Jogo aparecem as diferen -

- 143 -

- 142 a s

A maneira como reagem a esta realidade!


Poderamosaseguirfalarsobre aqui l oquesegu ndo a nos_
sa experincia considerado importante pelos ho~ns para
a sua vida - agora e no futuro. Sempre tendo em vista que
a vida ter um fim. Alguns exemplos bastariam.
Sem demorar-nos demais nesta anlise, anunciar a esp~
rana crist da ressurreio e da vid~ vindoura. Deve ser
sublinhada a coerncia entre o ministerio terrestre
de
Cristo, sua morte e ressurreio, e a vinda para a glria.
Aceitar a Cristo como Salvador traz perspectivas novas P~
ra o futuro. Nisto o cristo se distingue de outros. Tem
sempre algo de que se alegrar.
_
Incluir nesta altura uma advertncia mui to se ri a que
vemos baseada no texto: H distores desta ~ensagem: Religies e doutrinas de hoje misturam suas ideias pagas
com elementos cristos e confundem mui tos. Aproveitam para isto - embora a inteno possa ser boa - morrentes
de
dor e fraqueza humana: Espritas e umbandistas,_p. ex. Em
confronto com o evangelho claro a sua mensagem e desmasc~
rada como engano e perigosa l uso.
Esclarecido isto, terminar a pregao com a m:nsagem
do
texto sobre a ptria celestial e a transformaao do
11
nosso corpo de humi lhao 11 em corpo de g l r ia. Cabe uma
palavra sobre os falecidos em Cristo. Acentuar que o que
importa morrer na certeza que nada nos pode separar do
amor de Deus. Ele nos acompanha na morte e estar ao nos
so lado na ressurreio.

3. B9!~l~9_e~-~~_e~~~l~
Tema: Outra vida
I

Partes: Introduo
1. Esperanas de vida
11. A outra vida - que
- que
1 li. A transformao da
e no futuro.

em face da morte
Cristo oferece
outros apregoam
existncia no presente

III - Bibliografia
GNILKA, Joachim. Der Philipperbrief. ln:
Herders
Theologischer Korrnnentar zum Neuen Testament. Freiburg Basel-Wien, 1968. - HEINZELMANN, Gerhard. Der Brief an
die Philipper. ln: Das Neue Testament Deutsch.8ttingen,
Vandenhoeck & Ruprecht, 1949. - QUERVAIN, Alfred de
Philipper 3,17-21. ln: EICHHOLZ, Georg, ed. Herr, tue
meine Lippen auf. Wuppertal-Barmen, Emil MUller Verlag,
2~ edi., 1959, vol. 2

DOS

p e n s e s

N A D O S

3' 17-21

Martin Volkmann
1 - Questes preliminares

Os versculos prescritos para a rreditao do dia dos


Finados - Fp 3,20-21 - so os versculos finais de
um
conjunto maior. Segundo K. Barth em seu correntrio, p.85,
esse conjunto maior inicia em 3, lb e inclui tambm o ver
sculo seguinte, 4, 1, com o ttulo 11 justia da parte deDeus11. A maioria dos comentrios delimita a percope da
seguinte maneira: 3, 17-21. Nessa delimitao tambm est
previsto como texto de prdica para o 23? domingo aps a
Trindade. Pode-se reduzir essa percope aos dois verscu
los finais, desvinculados da admoestao inicial em 17-19? Incio e fim dessa percope no podem ser separados
simplesmente. Pois se os vers. 20-21 so vistos para si,
desvinculados da admoestao contida nos vers. 17-19, po
dero dar uma imagem falsa da comunidade crist: Ela poderia
esquecer-se de que ela est a caminho. E durante esse
11
es tar a cami nho 11 vale a admoestao dos vers cu 1os ante
riores, no s do contexto menor, mas tambm do contexto
maior, a partir de 3, lb. A exegese dever comprovar isso.

- 144 11 -

Anlise exegtica

Vers. 17: Paulo conclama os membros da comunidade de


Filipos a serem seus 11 imitadores 11 (veja l Co ~,16; 11,l;
l Ts 1 6 2 14; 2 Ts 3, 7; Gl 4, 12; Fp 4,9). Nao se ~xpre~
' ' uma' certa arroganc1a
- do aposto
l o.7 Olh an d ~ 1sol _a
sa nisso
damente esse versculo, tal poderia s:r a impressao. Mas
preciso ver essa afirmao em conexao :om 3,2-14, .em e~
pecial com o vers. 9. Portanto, no o apostolo - e Junto
com ele todos 11 os que andam segundo o modelo que tendes
em ns 11 - est no centro das atenes,como se ele fosse
critrio e ponto de referncia que determinam a conduta
dos fi li penses. Ele no os conclama para o imitarem no
sentido de fazerem exatamente o que ele faz, mas para,
junto com ele, que tambm est a caminho (vers. 12), seguirem para o alvo diante deles (vers. lJs. 20s)
.
Paulo no se coloca a si mesmo como um ideal a ser segu_!_
do, mas aponta para Cristo, que a determinante da vivncia crist (Gl 2 20). Poder-se-ia, pois, acrescentar_
- e':! sou_ d e C r IS
aqui, semelhante a 'l Co 11, l, "como tambem
_
to". Porm, aqui essa 11 cristocentricidade 11 ja esta gara~
tida pelo que fora dito em 3,7-11. Considerando em especial 1 Ts 1,6; 2, 14, bem como a situao que se_reflete
em certas partes da carta aos Fi li penses, ond: e acentuada a persistncia nas tribulaes e perseguioes, pod~-~e
pensar tani>m aqui nesse senti do: Pau 1o cone 1ama os ~ 1 1 1penses
a seguirem junto com ele e com_ 11 todos que assim an
11
dam mesmo em tribulaes e perseguioes.
Vers. 18-19: H 11 mui tos 11 que andam exatamente em .con.
traposio maneira para a qual Paulo conclama o~ f1lipenses. A palavra central do vers. 18 a que esta traduzida por 11 andam11 e que j aparece no vers. 17. Com isso
Paulo consegue contrapor os dois grupos usando para ambos
a mesma palavra. Enquanto principalmente nos evangelhos
essa palavra tem o sentido original de 11 perambular 11 , 11 caminhar11, em Paulo ela expressa um modo de vida (veja Rm
6 , 4., 8 , 4 .' 1 Co 3 ' 3., 2 co 4 ' 2., l o, 2 ; G1 5 , 16 ; 1 T
s 4,1 . 12) .
11
E o seu modo de vida os caracteriza como sendo 1n1m1gos
da cruz de Cri sto 11 . Por qu? Porque na vi da concreta - no
andar - no tiraram as conseqUncias prticas da mensagem
da cr uz . Neles h uma dicotomia entre o ser e o viver:

- 145 dizem que so algo - libertos pela cruz de Cristo-! mas


no vivem segundo a cruz de Cristo. O seu andar esta radicalmente oposto ao andar de Paulo descrito em 3,4-14.
Para ele a "cruz de Cristo" significa uma mudana de 180
graus. O que antes era a sua glria, Paulo considera per
da, refugo (vers. 7-8). Enquanto isso, os 11 in~migos
da
cruz de Cristo 11 fazem de sua infmia a sua gloria. Aparentemente eles j se encontram no alvo; mas qua~do eles
realmente estaro l, notaro que o seu alvo sera a perdio. O alvo, o fim idntico ao juzo (veja Rm 6,21;
2 Co l l, 15). Por j estarem no alvo, no novo mundo, ~
corpo considerado como sendo algo sem valor, que nao
pode macular o ser da pessoa. Por isso pode entregar-se
livremente a seus desejos e paixes. O termo 11 ventre 11 r~
presenta aqui o corpo. E com esse procedimento, que quer
expressar uma maneira de ser do liberto, na realidade
~
li coisas

t errenas li . 1sso
procedem como pessoas presas as
, em outras palavras, o mesmo que Paulo exeressara
no
vers. 3 com "confiamos na carne 11 (veja tambem o vers. 4;
2 Co 1,9). Em resumo: Mesmo considerando-se "espi ri tuais 11 ,
j libertos, j no alvo, na realidade esto pres~s ca~
ne, terra; a existncia deles, em verdade, esta determinada no pelo Cristo, mas pela confiana em si mesmos.
O fim, o alvo para onde se dirige a existncia crist e
onde eles j presumem estar, mostrar a real caracteriz~
o deles: perdio, infmia.
Vers. 20-21: Aqui Paulo volta novamente a caracterizao mais detalhada dos verdadeiros cristos do vers. 17.
(Em 17-21 h, pois, uma estrutura clara: 17 - 11 andar 11 dos
cristos; 20-21 - alvo para o qual eles se dirigem; 18 11
11
andar dos "libertos"; 19 - alvo para o qual eles se dirigem. Isso acentuado tani>m, lingUisticamente, pela i~
cluso da conjuno "pois" toda vez que so contrapostos
os dois grupos: no vers. 18 para contrapor o 11 andar 11 dos
11
espirituais 11 ao dos verdadeiros cristos; no vers. 20 , pa
ra evidenciar o contraste entre os alvos de ambos os gru~
pos. Nesse versculo o contraste acentuado tani>m pela
anteposio, no grego, do pronome pessoal - veja vers. 3.
Com isso fica comprovada a vinculao ntima dos vers. 2021 com os versculos anteriores).

- 147 -

- 146 Do ponto de vista do contedo o ace~to_es~ colocado na


expresso "nos cus" em contraposi ao_as co~sas terre~
nas" (vers. 19). Barth, em seu comentario,_d1 z a respe~
to: 11 no em suas mos, no presente, nao em seu poder. Permanecer na verdade ... significa viver nesse ~o~
traste: no 'agora' que ainda nao
e- 1 out~ora 1 , .no 1 a q u 1 1
que ainda no 1 l' procurar o que esta em cima; saber
que sua vida est nas mos de Deus, junto com Cristo"
(p. 112, verso prpria). Isso , em outras palavras, o
mesmo tema dos vers. 8-9.
Paulo denomina de "ptria" aquilo, ao qual os cristos devem apega r-se (o termo s ocorre aqui no NT) O
sentido no que os cristos formam um corpo estranho,
como se fossem uma colnia de estrangeiros fora da terra
natal. Nesse caso os cristos formariam uma 'ptria cele~
te' no meio do mundo. E nesse momento seria grande - e P~
rigosa - a proximidade com os "espirituais", que defendem
uma escatologia realizada (presente). O sentido da ~a lavra figurado: ela expressa "a distncia interna (1nnere
Frerrdheit) dos cristos no em relao ao estado terreno,
mas ~om relao ao ambiente terreno em geral e (expres~a
tambem) a sua ligao para com o reino celestial de.Crist~, ao qual eles, por assim dizer, pertencem ~orno c1dadaos" (Strathmann, ThW VI, p. 535 - verso propria) Por
estarem determinados pela ptria celestial, ~qual eles
ainda no tm plenamente, eles esperam dos ceus "o Salvador, o Senhor Jesus Cristo". Isso Paulo acentua em contr~
posio aos "espirituais'' que no tm mais nada a espe rar
e qu:, portanto, no acreditam na parusia do Senhor que
trar~ a libertao plena e total. O termo "esperar" sei:ipre: usado por Paulo para expressar a esperana com vistas a libertao total (veja Rm 8, 19.25; 1 Co 1,7; Gl 5,5)
_ Em que consiste essa libertao total? Na t~ansforma
ao_do nosso corpo (veja 1 Co 15,5lss). Corpo nao se ref~
reaparte corprea em contraposio parte espiritual
(fi 1<:,>sofia grega), mas designa toda_a pessoa. _E essa.pe~
soa e denominada "corpo de humi lhaao", isto e, a ex1s~e~
eia passageira, destinada morte. Essa existncia sera
transformada (=mudana radical =) numa existncia "igual
ao corpo de sua glria", isto , uma existncia plena,
no mais destinada morte e que engloba todo o ser da

pessoa. Essa transformao se dar graas ao poder de


Cristo, ao qual tudo est subordinado (veja 2,9ss; 1 Co
15 ,27s; Ef 1,22).
t interessante observar que essa percope desemboca
num certo hino de louvor de trs versos (alguns exegetas acham que Paulo cita um hino prefixado): no primeiro verso (20) predomina o ns ; no segundo (2la), o ns
j perde de peso (s aparece como adjunto) e se destaca
a ao 1 ibertadora de Cristo; no terceiro (21b), s mais o Cristo com seu poder universal est no centro das
atenes. Ns, por assim dizer, somos engolidos e_engl~
bacios pelo Cristo libertador, sendo ele tudo, e nos,con
seqentemente, tambm tudo, mas somente nele e por ele-:111

Meditao

1. Esse texto est previsto para a pregao no dia


de Finados. Qual o significado desse dia para a comunidade crist?
Sem dvida, osignificadooriginal desse dia a recordao daquelas pessoas que no vivem mais; a lembrana de entes queridos que deixaram de compartilhar canos
co a trilha da vida. E com isso ns corremos o risco de,
na pregao, nos perder em perguntas e reflexes ao redor dos mortos: onde esto? que ser deles? Baseados nes
sas perguntas poderemos ser induzidos numa divagao a-cerca da existncia espiritual dos mortos; da "ptria ce
lestial" onde se encontram os mortos. Para tal os vers.20-21 , tomados i so 1adamente, podero seduzir fac i 1mente.
Diante disso necessrio considerarmos duas coisas . Em
primeiro lugar, tais divagaes so teologicamente incor
retas. A mensagem crist no conhece uma existncia "es-=pi ritual", uma alma desvinculada do corpo. Ns no podemos fazer especulaes acerca de onde os mortos esto
nem do_que lhes ir suceder. A nica coisa que podemos
dizer e que tambm para eles ns esperamos a libertao
plena e :otal da parte de Deus. Por isso a pregao nesse dia nao pode ser uma pregao de lstima, de choro,de
desespero, mas uma pregao de esperana e de confiana.
Portanto, o dia de Finados, na perspectiva crist, no
pode prender os nossos olhos nos mortos, impedindo-nos

- 148 de olhar alm. Em segundo lugar, tal tambm nao e a per~


pectiva do texto. Fp 3,20-21 no fala da morte, mas
da
vida. Tomados isoladamente, os vers. 20-21 poderiam levar
a uma compreenso errnea dos mesmos, como se falassem da
vida depois da morte. A exegese nos mostrou que esses ve_c
sculos esto intimamente ligados aos versculos anterio
res. E esses versculos falam da vida, da vida concretano d i a-a - d i a ( 11 andar 11 ) E a par t i r d essa re f l e x o Pau 1o
chega a falar do alvo para onde a vida do cristo se dirige. Por isso os vers. 20-21 no devem ser isolados de
seu contexto, mas a pregao deve estar baseada em 3, 1721.

2. A pregaao no dia de Finados pregao para os


vivos. Isso parece algo suprfluo de se dizer. Mas isso
deve ser dito e entendido nesse exagero como continuao
do que foi dito acima: no dia de Finados falamos para os
vivos a respeito da vida ameaada pela morte. Fp 3, 17-21
fala da vida tendo em vista o seu alvo.
A pergunta central que norteia toda a percope : o que
determina a nossa existncia? A vida ou a morte? Paulo
contrape duas maneiras de se autocompreender. Os termose h av:s estao
colocados com as palavras "cousas terrenas l i
11
e patria nos cus". Enquanto os primeiros se baseiam em
si mesmos - no obstante se considerarem libertos
por
Cristo-, os outros sabem-se determinados pelo Cristo: a
sua vida, a sua justia eles no tm de si mesmos, mas as
receberam do Cristo.
Essa determinao da existncia se evidencia na vi da coQ
ereta. Na vida diria se mostra se ns somos determinados realmente pelo Cristo ou no. Porque os "inimigos da
cruz de Cristo" exatamente se dizem determinados pelo
Cristo; mas no 11 andar 11 do dia-a-dia se mostra que no
a cruz de Cristo que os norteia, mas so eles mesmos, a
sua glria, os seus desejos. E com isso, na realidade, e
Jes j esto na morte (veja abaixo no ponto 4). Enquanto
isso, os que so determinados pelo Cristo carregam a cruz
de Cristo diariamente. Sua vida uma vida na paixo: ain
da no esto no alvo, mas, mesmo aparentemente vencidos,sao os vencedores, porque aqui lo que os mantm a justia que o Cristo concede. A sua justia est nas mos de
Deus e no nas suas prprias.

- 149 -

Exatamente por isso os cristos necessitam da admoestao. A base da vida deve determinar o andar dirio. Por
que, se falta essa admoestao, o constante ser lembradode que ns ainda no estamos no alvo, pode dar a falsa imagem na qual caram os "inimigos da cruz de Cristo", de
que ns j temos tudo, j estamos l. E com isso jogamos
novamente tudo fora, prendendo-nos nossa prpria justia. Por isso a constante necessidade de se colocar sob a
palavra: o cristo precisa do confronto com a palavra, do
qestionamento pela palavra para permanecer sob a palavra.
Mas a admoestao no pode estar desvinculada da esperana. Se faltar essa, a admoestao redunda em moralina
e
novamente em 11 inimizade da cruz de Cristo11 A vida que se
sabe liberta por Cristo espera, tem certeza de que para e
la tambm vir a consumao, o dia da ressurreio da cruz.

J. Quem so os 11 inimigos da cruz de Cristo 11 hoje?


So os que no tiram as conseqncias. So os que afirmam
que a sua ptria est nos cus, mas permanecem com a vida
diria em suas prprias mos. So, por exemplo, os 'cristos de domingo' ou os 'cristos das festas' que s
se
lembram do Cristo na hora do culto, no domingo ou nos cul
t~s especiais (Natal, batismo, confirmao), mas que nO
dao lugar para o Cristo no seu agir dirio. So os pastores qu: encaram o seu pastorado como mera profisso, que
lhes da uma vida assegurada economicamente. So os 'revolu~ionrios' que acham estar em suas mos a edificao do
Reino de Deus aqui na terra. t a Igreja como estrutura se
toda a sua atividade se resume em aprimorar e manter a es
trut~ra ao invs de a mesma estar a servio do mundo,
a
se:v1~ ~a cruz de Cristo no mundo. 11 lnimigo da cruz
de
Cristo e o mundo ocidental que se chama de cristo
mas
o~de o Cristo negado a cada esquina de quadra. Os, 11 inimigos da cruz de Cristo 11 so os que no tm mais esperana, ~ melhor7 que no esperam nada do futuro, de Deus,
dos ceus, mas qu~ s eseeram em si mesmos. So aqueles
que, .eor_consegu1nte, nao necessitam de admoestao, porque Ja tem tudo; ou melhor, no tm nada.
4. Finados nos lembra que caminhamos para a morte. E
la uma ameaa constante para a nossa vida num duolo sen
tido: a morte o fim da vida terrena e ela nos lana

- 151 -

150

pergunta pela esperana crist. Ser a mort e o fim d e tudo, ou ns cremos numa vida plena e total, na "transforma
o do nosso corpo de humilhao para ser igu a l ao c o rp ode sua glria"? Por outro lado, a morte j nos pode a tingir mui to antes de expirarmos. '. a morte 1 espi ritual 1 , a
situao daquela pessoa que, por si s, procura a r e sposta pelo sentido da vida. a situao dos 11 ini migos
da
cruz de Cristd 1 , pois vida - e vida s e x iste l ond e
a
morte perdeu a chance - s se obtm na cruz de Cristo.
Talvez seja este o rrel hor ponto de entrada no te xto nesse
dia de Finados.
IV - Bibliografia
BARTH, Karl. ErklMrung des Philipperbrief e s, 19 28 . FRIEDRICH, Gerhard. Der Brief an di e Philipper. ln: Das
Neue Testament Deutsch. G8ttingen, Vand e nhoeck & Rup~
recht, 1968. - GNILKA, Joachim. De r Philipperbrief. ln:
Herders Theologischer Konunentar zum Neuen Testame nt.
Freiburg-Basel-Wien, 1968. - IWAND, Hans Joachim. Philipper 3, 17-21. ln: Predigt-Meditationen, p. 272-276. LOHMEYER, Ernst. Der Brief an die Philipp e r. ln:
Kritisch-exegetischer Kommentar b e r das Neue Testam e n--i:1964. - QUERVAIN, Alfred de. Philipper 3,17-21.
ln:
EICHHOLZ, Georg, ed. Herr, tue meine Lipp e n auf. Wupp e r
tal-Barmen, Emil Milller Verlag, 2~ ed., 1959, vol. 2.

L T

MO D O M1 N G O A P S

A p o c a

p se

T R 1 N DA DE

4,1-11

Baldur Van Kaick


1

Exegese

A estrutur a do texto e- clara . l-2a: Ordem para o vidente subir e ver o que haver de acontece r; 2b-8a: A
viso do trono; 8b-ll: A proclamao dos quatro seres vi
ventes e a reao dos ancios. Ser bom entrar em deta-lhes.
l. A ordem para subir e ver o que haver de acontecer. 11 Depois disso 11 nao designa um espao de tempo determinado. A e xpresso tem a funo de relacionar a viso que segue com os aconteci mentas anteriores. 11 Depoi s
disso olhei 11 introduz sempre uma viso (7, 1.9; 15,5). A
imagem da ''porta celestial" freql..lente em vises apocalpticas (cf Lohmeyer, pg 44). A voz que fala a
mesma mencionada em 1, 10. 11 Sobe aqui 11 aponta para o fato de que o vidente ainda se encontra na terra: convidado a subir ao cu, que imaginado como templo ou
palcio. "E mostrar-te-ei" indica que agora iniciaro as
vises. Em Ap 2-3 o vidente anotou as coisas 11 que so 11
Em 4-20 escreveu as coisas que ho de acontecer, aqui lo
que agora testemunhar. A tarefa de escrever ambas as
coisas fora recebida em l, 19. 2a parece ser uma observao retardante: por que repetir que o vidente se achou
1
'em esprito", se j em _l~ ele est em xtase? A obsservao quer dizer que e agora que inicia propriamente a viso.
2. A viso do trono. O trono se encontra no centro
da sala celeste. Ele nao descrito. 11 E nesse trono estava sentado (algum)" revela a deciso de no citar o
nome de Deus, o que nenhum judeu podia fazer. Mas a nfase est no 11 sentado 11 Estar sentado caracterstica
de divindades. Representa poder. Quem governa, quem
rei ou juiz est sempre sentado. "Reis e juzes exercem
a sua funo sentados. Aquele que est no cu sentado no
trono s pode ser por isso o Rei dos reis, aquele que tem

- 152 poder sobre todo o mundo e o julga" (Lohse , Die Off e nbarung, pg 36). O brilho de pedras preciosas serv: para
descrever o aspecto de Deus. O jaspe tem coloraao vermelha. Em Ap 21, 11 designa, no entanto, urna ped~a crist~
lina e transparente corno o vidro. Talvez tarnbern o no:so texto se refira ao brilho de um cristal branco. O sa_c
dio (e no sardnio) tem cor vermelha. Ao cintilar branco/vermelho juntam-se os raios de luz verde-esmeralda,
em feixe, do arco-ris ao redor do trono. "Semelhante"
lhomoios) indica que esta descrio s aproximativa. O
olhar recai em seguida (v 4) sobre o espao em torno do
trono. Sobre 24 tronos esto sentados 24 ancios (presbyteroi). Tambem esses tronos representam poder, mas no
poder independente do poder de Deus. 1s to se torna c laro ~o v 10: Os ancios se prostram diante de Deus.= depositam as coroas diante do trono de Deus. Os anc1aos r~
presentam um conselho celestial (cf Is 24,23). T:ata:se,
na opinio do vidente, provavelmente de anjos. 11 ~~0 ~ao
quia homens transfiqurados e ento talvez ecles1asticos
transfigurados e nem cardeais romanos, portanto, nem pastores luteranos, nem presbteros reformados, - rnas,_de
~corda
1nd b.1 com o lugar, falar e fazer que lhes atribui
- do,
u tavelmente anjos, sendo que o vidente chamara em
7,14 um deles expressamente de kyrios {Senhor) (Karl
Ba~th, KD 111/3, pg 542). No entrarei na discusso da
Origem e do significado do numero 24. V 5 descreve O e~
P~o
entre o trono e os 24 ancios. "Relmpagos" e ''trovoes11 s
h
empre acompanham a revelao de Deus . As 7 toe as
de fogo so identificadas com os 7 espritos que servem
a Deus: Talvez se trate de anjos. O v 6 descreve o espao diante do trono . A idia original de que o trono de
ce 1este
(cf
Deus f 1utua~a sobre as ondas do oceano
L~hmeyer, pag 48) anterior ao vidente, sendo que ele
nao a conhece mais. Aqui s restou ainda a idia de algo
c~mo um mar defronte do trono. Com relao aos 4 seres
v i ventes pode-se conferir Ez 1. Eles representam servos
de Deus que tudo vem . No v 7 eles so descritos. Em 8a
assumem o aspecto de serafins (cf Is 6).
Os v 2b - 8a so o centro da viso apocal ptica de noss a per i cope. Deus e descrito como aquele que est sentado em um trono . Tudo o mais gira em torno do seu trono.

- 153 -

A des c ri o tem durante todo o tempo o trono como.ni:o


ponto de referncia. Esse trono simboliza de maneira 1mpar a majestade e o poder absoluto de Deus. O s:u pod:r
no tem limites, e todos os outros poderes do ceu estao
a ele subordinados.
3. A proclamao dos quat~o.sere~ viventes e a reao dos anciaos . A e xpressao dizem 1ncessante~nte de
dia e de noite" (v 8b) lembra que a proclamaao que_agora ouvida pelo vidente e incessante. ~ohmeyer, pag:
49, comp rova que a idia de uma procla~a~a~ constan~e.e
generalizada na poca. Observemos_o tr~s~g10: Sem duvida Is 6,3 serviu de modelo, mas ha mod1f1c~o~s: ~ 11 Santo, sant'?, santo" permanece: Se~hor do Exe ~c1 tos foi
substituido pela tripla des1gnaao de Deus 1 Senhor Deus,
0 Todo-poderoso" (kyrios ho theos_h,? ~anto~rator): "Toda a terra est cheia de sua
gloria 1
fo1_subst1tu1do
pois o louvor acontece no cu. _Em co~p~nsaa? ~emos
"aquele que era, que e e que ha de VI r . Ver1 fiquemos
os detalhes: 11 0 Todo-poderoso" (pantokrator) aparece 9
vezes em Ap como designao de Deus, somente uma vez
no restante do NT. Em comparao o termo "Pai", que no
NT aparece mui tas vezes, em Ap s se encontra 5 vezes
como designao de Deus. Parece que somos testemunhas .
de uma transformao na man:ir~ d~ ver D~us na comunidade primitiva. Deus em Ap nao e visto mais tanto como
o Pai dos cr e ntes, mas como o Senhor so~erano que tem
poder sobre tudo e todos. Como tal ele e proclam~do pelos quatro s eres viventes. "Aquele que era, que e e que
h de vir" indica que Deus no est preso s limitaes
da vida humana . Ele viveu e agiu no passado: criou o mun
do (v 11); ele vive no presente e determina o curso da histria da humanidade; ele vir: "ho erchomenos" indica que Deus no ser no futuro, mas que ele vi r . Ento
ser o fim dos tempos . Aqui transparece o qu~carac
terstico para o Ap, que o fim dos tempos se aproxima .
"Quando" (hoten) no v 9 lembra que a doxologi a que segue no constante, mas uma reao proclamao dos
quat r o seres viventes . A doxologia dos ancios s sucede nos pontos altos do louvor a Deus (S,8.14; 11,16;19,4)
Vejamos
a doxologia: os termos "glria", "honra" e "po1
der' designam p red i e a dos de Deus. "Tu s digno ... de
11

- 154 receber 11 no , portanto, uma expresso qu: afi rma_que


Deus
digno de receber algo que ainda n~o possui'
.
t em. i 1pomas expresso que reconhece o que Deus J-.
der 11 (dynami s) a fora de Deus que des t :01 os poderes inimigos e conduz o mundo de encontro a sua r~de~
o. No AT a fora de Deus que molda e faz a historia 1 cf Grundmann, pag 293.308). Os ancios reconhecem
'
i 1seque Deus
digno de ter esse poder. A expressao
11
nhor e Deus nosso (ho kyri os kai ho theos hemon) mer:ce ser observada com ateno. Normalmente, quan _do ap. 11 cados a Deus os termos 11 Senhor 11 e "Deus 11 no sao 1 1ga11 e 11 . Exce a- o: Jo 20 !. 2 8 : O 11 e. 11
, part1cula
dos atravs da
liga os dois termos, porm, quando a expressao e aplicada
ao imperador que desde Domiciano era inti tula~o
11
Dominus et deus noster 11 . A presente doxologia esta aplicando o ttulo do imperador a Deus. Aclamando~
com o ttuto que normalmente atribudo ao imperador,
fica claro que se nega ao imperador, em nome de Deus, 0
que o seu titulo expressa: que ele Senhor e D~us. A
doxologia deixa, em continuao, claro que tambem se
~ega ao imperador tudo o mais o que e- recon h ecid 0 como
inerente a Deus, ou seja, a glria, a honra e o ~oder.
':to combina claramente com o cap 13, onde Roma e c?ns1 derada a i1besta do abismo11. A doxologia cita no fim o
motivo porque Deus merece louvor: por que Deus tudo
criou.
Se na parte central da viso o poder se tornou v'.sual atravs da descrio do trono, ent~o na pa:t~ '. 1nal 0 poder de Deus manifestado atraves do trisagio
e.da doxologia. Ao mesmo tempo negado de maneira in~
direta to~o o poder e toda a glria e divindade aos 11deres pol1ticos romanos da po~a. Deus e o Senhor Todo-poderoso, nem um outro homem na terra tem poder ao
seu 1ado.
11 - Meditao

_o

texto proposto para a prdica abrange os v 1-8. A.


tem, no entanto, uma
cadncia natural que vai
ate o v ll. Eu me decido pelo texto todo como texto de
prdica . Para a prdica ser importante observar o sepe~1cope

- 155 guinte: No v l a voz promete introduzi~ o vide~te :macontecimentos futuros. Em lugar de faze-lo de 1med1ato,
o vidente confrontado primeiro com a viso do_ Deus e~
tronizado. A prdica poder aprov~itar esta visao ~nes
perada e fazer da pergunta 11 Quem e Deus? ~or que nos_
falamos de Deus" o tema da prdica. A visao fornecera
bons subsdios neste sentido.
A atualidade do te xto, com relao pergunta feita, est em dois pontos:
l. A viso nos confronta com um Deus majestoso e po
deroso, que determina o curso da histria da humanidade
{v 8). Ele tudo criou (v 11) e digno do seu pod~r.
Deus hoje, em comparao, visto mais como um pa~ b?ndoso, que se preocupa com a vida de cada um. Ele e visto pelo prisma das preocupaes pessoais. O texto nos
confronta com uma outra maneira de ver Deus. Talvez tenhamos que soletr-la de novo: Deus no s determina o
curso de uma vida pessoal, mas o caminho de toda a humanidade. Ele estabelece o seu caminho e o seu !im. Para ns talvez seja difcil aceitar esta concepao de
Deus. Vemos guerras e a fome mundial, e tudo indica que
no Deus quem determina o caminho dos povos, mas os
poderes econmicos, as grandes empresas, os poderes polticos e militares. Na prdica teremos que transmitir
a confian a de que no assim, de que todo o governo
est nas mos de Deus. Teremos que convidar a louvar
este Deus. Os cap 2-3 fornecem material p~ra mais um a~
pecto: Deus conduz tambm a sua igreja. Nos t:mos muitas perguntas em relao igreja: El a ainda e igreja?
Ela vive a partir da Palavra? Ela tem um futuro? Ela
no s fala corretamente, mas tambm vive o que diz? Ela no se acomoda demais sociedade? Ela no determinada demais por razes hum~nas? Existem mi! motivos
para abandonar a igreja, tanto para um pastor como para
membros de comunidades, motivos para vacilar e duvidar
dela. Por que, apesar disso, permanecemos nela? O texto fornece um argumento teolgico que na verdade uma
nova perspectiva: Porque ela guiada por Deus. Deus a
conhece, a chama ao arrependimento e lhe promete futuro (cf cap 2-3) ! Esta a perspectiva do Ap com relao

- 156 -

igreja, representada em Ap pelas 7 igrejas da sia Menor. Por isso faz sentido trabalhar nela, convidar outras
pessoas a participarem de sua vida. Para ter nela e com
ela futuro, um futuro aberto por Deus. Em uma poca em
que h acentuada tendncia de se perder a noo do todo
e de viver s em grupinhos pequenos, seja na famlia ou
em crculos cristos isolados, o Ap diz claramente q~e
Deus tem em vista a IGREJA e a ela promete futuro, nao
indivduos ou grupinhos. Talvez no vejamos Deus assim.
Talvez no falemos dele desta maneira. Mas, por isso
possvel falar de Deus: porque ele se interessa pelo
carni~ho da humanidade e da igreja. O texto e o contexto
contem um convite para aproximar esta maneira de ver
D:us do ouvinte e lhe abrir assim as portas para uma caminhada - no mundo - com a igreja - esperanosa .
.. - ~ A viso do vidente nos confronta com uma conseq~enci~ da maneira acima esboada de ver Deus. A do x~lo
gia.deixa transparecer que em oposio reivindicaao _
d? imperador, Deus o nico que digno de honra e gloria e~ ~eus aquele nome que no legitima, mas~
~honra e gloria e poder a qualquer outro nome que reclama honra glria e poder para si. Deste modo cada lo~
v~r Deus, cada afirmao de que De us compete m a gloria e 0 poder, ao mesmo tempo um protesto contra todos
0
s poderes polticos que reclamam para si o que de
0eus.

. Na igreja uma outra tese tem tradicionalmente mais P!:.


so. a - de. que De us l eg1. t1ma
.
- .
os poderes pol1t1cos
e o
exerc1c1o de 0 d
d
sub. P er de homens sobre homens, a ponto e
- mis sao aos poderes institudos ser considerada em
C 1 rcu 1os
crist - Acris~a~s a unica atitude compatvel com a fe
b"
~
posi ao do Ap, que v em Roma a "besta do a~
sm:>
(cap
13) nos totalme nte estranha. Talvez tamb ern isso
tenh
de novo por nos: que
Deus nao legi at.1que ser soletrado
rna o exerc1cio de poder absoluto de h omens
b
so re h~mens, mas lhe tira toda a legitimao. Cf Cul Jmann, pag 65, aps a interpretao de Ap 13: "Ao mesmo tempo o Apocalipse condena todo o imprio terrestre,
de qual qu7r_poca, no momento de assumir o papel de poder total1tario 11 t claro: As situaes no se repetem

- 157 simplesmente. Ns nao vivemos mais a situao que viveram as comunid~des da As i a Menor. Os governantes de hoje
no reivindicam mais para si o ttulo "Senhor e Deus nosso'' e a conseqnte adorao como Deus. Em 1ugar de i rnpe radores autocrticos temos democracias com maior ou me
nor grau de liberdade e participao do povo. A crticaque o hino dos ancios deixa transparecer no se restri~
ge, porm , a formas de governo passadas que
express i s
verbis assumiram a posio de Deus. O nome Deus aquele
nome que coloca tambm no presente em xeque todo e
qualque r exerccio de poder absoluto e arbitrrio de homens sobre homens. Onde o nome de Deus e mencionado,
onde ele no presente objeto de louvor e_adorao, ali
negado a qualquer outro nome honra e gloria e poder.
A prdica de hoje ter que aprender a exprimir isto
de uma maneira nova e evanglica; ter que diz-lo deuma man e ira tal, que o ouvinte seja - a longo prazo envolvido em um processo de aprendizagem. Concretamente
isto, porm, tambm significa: A prdica no s mostrar
que a partir de Deus no legitimado o uso de poder e
de presso de homens sobre homens, mas tambm, sempre
de novo, apontar para as vtimas do poder absoluto e
pa r a as classes sociais que vivem em misria . Ela no
far de conta que tudo est bom corno esta e que o mundo
no e reformvel. Ela mostrar que a cada um compete
- com amor, com dedicao, com esperana, com imaginao
e sem medo - trabalhar para gue a vida no pas em que
cada um vive seja uma vida tao boa quanto possvel para
todos. O evangelho se preocupa com a relao Deus-homem.
Negando, porm, em nome de Deus, o exerccio de poder
absoluto de homens sobre homens, ativa para uma participao responsvel na vida poltica . A prdica encoraj~
r para isso.
Quem Deus? Por que falamos de Deus? Deus aquele
que determina o curso da histria da humanidade e nos
deixa p~rticipar dela com esperana. t aquele que d
futuro a igreja. Deus aquele em quem somos convocados
a ver que todos os poderes absolutos so limitados atravs do prp ri o Deus. Deus aquele em cujo nome podemos
fazer o possvel para criar um mundo mais justo. Talvez

- 159

- 158 a viso de De us do vidente seja bastante autoritria e


medieval. Mas ela nos abre novas perspectivas para a
nossa misso de anunciar o nome de De us.

l?

Ili - Bibliografia

Nelson Kirst

BARTH, Karl. Die kirchlich e Dogmatik. V 111/3, zUrich,


EVZ-Verlag, 1961. - CULLMAf!N, Oscar. Cristo e Poltica.
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Johannes. ln: Das Ne ue Testarnent Deutsch. 2a. ed , Gettingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1966. - LOHSE, Eduard.
Introduo ao NT . So Leopoldo, Edi tora Sinodal, 1974.

DOM
s a

a s

N G O

63, 15-16;

DE

A DV E NT O

19b-64,3

1 - Te xto
Traduo:

( 15) Olha 1 dos cus e v 2 , da residncia 3 da tua sant i dade 4


e dq_ tua glria 5 .' Onde est tua paixo 6 ~ tua f or>a 7 , a comoao 8 dos teus sentimentos 9 e da tua comiserao 10 ? No
te contenhas 11 .' (16) Pois tu s noss o pai .' Abrao n.o nos
conhece e Israel no sabe de ns 1 2 Tu, Jav , s nosso pai .'
"Nosso libertador 13 desde a eternidade " o teu nome . ( 19
b) Ah , s e rasgasses 1 4 os cus e descesses 15 , para que dian
te de ti estremecessem 16 os montes .' (64 , 1) Como o f ogo faz
arder 1 7 ramos s ecos ~ como o f ogo faz ebuiir 18 as guas .' Pa
ra t ornar conhecido 9 teu nome aos te us inimigos e para que
d~ante de t~ s e apvorem 20 os povos . (2) Realizando 2 1 f enomenos tenrivei s que no esper>amos 22 , ( 3) como no se ouviram desde a eternidade . Nenhum ouvido 23 ouviu 24 , nenhum
olho viu um Deus alm de ti , que age em fav or daquele que
por ele espera 25 !
Ob servae s quanto traduo: 1) imp hi nb~ - 2) imp qal
r'h - 3) z"bul - 4) qoda's - 5) ti f 'arah .- 6) qin'ah - 7)
g "_!:urah - 8) hmovn - 9) me' !:ih, interior - 10) dihl:lm - 11)
~f. apar~to, 'fq, conter-se, refrear os sentiment~s - 12)
1mpe:f hi n_!:r - 13) pt q Rl g'l - 14) qr' - 15) yrd - 16)
pf ni zll - 17) inf qal qdh - 18) imperf qal b'h crescer
'
trans b or d ar - 19) inf cs hi. yd', a rigor, "para fazer
co- '
nhecer" - 20) imp erf q a l rgz - 21) inf cs qal 'sh - 22)
imperf pi qvh - 23) cf. aparato - 24) pf hi 'zn - 25) pt
pi ~_!:h.
Antes de mais nada: a contagem dos versculos na Biblia
Hebraica (BHK) , que a d atamos acima, no confere com a de
Alrn:=ida. No trecho_que nos interessa especialmente arelaao entre ambas e a seguinte (primeiro o nmero de BHK,

- 160 depois o de Alrreida): 63, 19a = 63, 19; 63, 19b = 64, l; 64,
1 = 64,2; 64,2 = 64,3; 64,3 = 64,4 .
O trecho 63,7 - 64, 11 , todo ele, uma larnentaao do
povo (LP), dentro da qual 63,7-14 se apresenta quase como um salmo histrico autnomo, fazendo um retrospecto
dos atos salvficos do passado. A LP propriamente dita c~
rrea, pois, no v 15 e apresenta a seguinte est~utura:
15
16
splica pela dedicao de Jave e asseverao de confiana
17 - 19a
l~rrentao
_
_
19b - 64,4a suplica pela intervenao de J~ve
4b - 6
confisso de culpa com acusaao a Jave
7
a~severao da confi~na
_
8
suplica pela dedicaao de Jav~
9 - 10
lamentao por Sio e Jerusalem
11
pergunta final.
Seja qual for a diviso que se faa, cortar uma uni~~
de, tomando apenas alguns trechos como base para uma predica~ sempre foi um mau costume. Se aqui propomos dois bl~
c?s iso!ados da LP, fazemo-lo com base nas seguintes consideraoes: a) o texto todo demasiadarrente longo e com~
plexo para nue a comunidade possa acorrpanh-lo com prove~
to, apenas ouvindo; b) com os dois trechos indicados, to~mos 0 _elemento que nos parece central nesta LP! qual s~
Ja, suplica por dedicao e interveno de Jave. Os outros elementos podem neste caso ser considerados compl~
rren t ares, embora sejam
'
'
d evem
importantes
e, se poss1vel!
ser considerados na prdica (lamentao e confissao
de
c~\p~) N~ srie de percopes ainda se indica 64,4a (que
nao incluimos por ser um provvel acrscimo que vem desl~
c~r ~m ta~to o sentido da splica original) e 64,8 (que
0
nao incluimos para no termos que recortar ainda mais
texto e p ara nao
- sermos obrigados a entrar na questao
d~
c~ 1pa, 0 que implicaria num acmulo de assuntos para apr~
d 1 ca).
Is 63s forma, J'unto com a LP de Is 59, a moldura para
as p 1avras de graa dos captulos 60 a 62, que sao
- ? P?!:.
te_central do complexo de escritos pertencentes a Tri toisaias (Is 56-66) . Nossa LP surgiu, em seu cerne, provaveJ_
rrente logo aps a queda de Jerusalm, em 587, no perten-

- 16 l cendo, pois, em sua origem, a Tritoisaas. Ela representa o texto de um ato litrgico, cultuai, no qual a comunidade se rene para diante de Deus lamentar uma calamidade pbl ica (no caso, a destruio do templo e da cidade) e suplicar pela dedicao e interveno benigna
de
Jav. Esta a situao que devemos pressupor. (Sobre o
exposto neste ltimo pargrafo, cf. Westermann, ATO 19,
p. 236ss, 306s e 311).
15: A LP de uma linguagem singularmente passional,
arrebatadora. A comunidade investe tudo para chamar a ateno de Jav sobre a sua situao e induzi-lo ao.
Chamamos a ateno para as seguintes consideraes:
a) A comunidade salienta a distncia e santidade de
Jav, que habita em glria, nos cus. to Deus intocvel,
distante, longe das lidas cotidianas, humanas, imperscr~
tve l.
b) No restante do v 15, a comunidade apela para uma
srie de atitudes da parte de Deus. Ela fala da paixo de
Deus - pelo seu povo, claro. Fala da fora que Deus
capaz de investir - em favor do seu povo. Fala da convul
so dos sentimentos de Deus e da sua comiserao - em f
vor do seu povo. Mas sobre essas atitudes diz a comunida
de: onde esto? Que significa isso? Abandono. A comunida
de se sente rf, abandonada por seu Deus. A ponto de pe
di r que ele deixe de refrear seus sentimentos, sua pai-xo, para novamente dedicar-se ao seu povo.
c) Deduz-se da algo mui to importante: Embora no sin
ta agora a sua presena benigna, a comunidade sabe a respeito de tais atributos de Deus; do contrrio, como pode
ria sentir falta deles? Ela deve ter tido notcia.
Ja
houve os que, talvez num passado remoto, experimentaram
a paixo, a fora, a comiserao de Deus. Destes a comunidade deve ~er recebido informao. Por isso ela pergun
ta: onde estao?
16: Do abandono assim expresso, da dolorosa falta de
Deus, a comunidade se atira nos braos desse mesmo Deus:
"Pois tu s nosso_pai ! 11 Nesta situao de nada adianta
s:r descendente f1sico de Abrao ou pertencer a uma naao chamad~ r:rael. Importa agora que, apesar de tudo, a
pesar da d1 stanci a e do abandono, Jav "nosso pai".

- 163 -

- 162 A concepo da paternidade de Jav nica no AT. Os isra


elitas no gostam de falar de seu Deus nesses termos para
evitar a possibilidade de uma compreenso mtica de
tal
paternidade, como acontece entre os povos vizinhos. lmpo.!:.
tante para a interpretao ver claramente o que que~
qui se entende por pai. No h nada de aucarado e abstr~
to nesta imagem. No conceito 11 pai 11 a splica concentra t~
das aquelas expectativas, atitudes e qualidades de Deu~
que, conforme o v 15, deseja ver manifestas: intervenao
pelos seus, dedicao passional, fora na proteo, comiserao, afeto incontido. t muito real e concreto o que a
comunidade imagina, ao chamar Jav de 11 pai 11 a dedicao e interveno na situao concreta do momento. Isto
fica expresso tambm na designao que segue: 11 nosso libertador desde a eternidade 11 A rigor deveramos dizer
nos~o resgatador 11 O go 1 el 0 que compra, que resgata
alg~em~ tirando-~ assim de uma situao de dificuldade,
carenc1a, opressao .
Importante: A comunidade no pede que Jav seja o pai
ou. liber~ador. Ela o constata, pura e simplesmente. O ser
P~ 1 ?u l1~ertador, de Jav, no objeto de esperana. ou
supl i ca. E um fato. Um fato, a partir do qual a comunidade argumenta: Por ser pai e 1 ibertador, Deus no deve re:rear sua dedicao. A comunidade ouviu falar e sabe. Por
isso se atira nos braos de Deus, contra toda aparncia,
apesar de todo seu abandono .
Termina assim a parte da splica. Segue-se, em 17-19a,
uma lamentao pela situao vigente : Jav permitiu que
seu povo_se desviasse; povos estranhos adentraram e devas
taram ate o templo; a comunidade sente-se como se no tivesse relao alguma com Jav; sente-se rf.
~3 , 19b-64~3: Comea agora uma nova splica pela inte.!:.
venao de Jave . Tal interveno imaginada aqu~ nos mold~s de uma t:ofania, ou seja, de uma manifestaao de Deus
ligada a fenomenos extraordinrios e temveis da natureza.
No nosso c~so : rasgar os cus , fazer estremecer os montes,
f ogo , 11 fenomenos temveis 11 E, como conseqncia, os povos estranh os devem apavo r ar-se. Este trecho no vem acrescentar nada de novo ao que j fora dito na splica de
63, !Ss. Contudo, veste~ esperana de uma interveno de
Jave na roupagem antiq1ssima de uma teofania (cf.,
por
11

exemplo, o cntico de Dbora, em Jz 5). uma linguagem


que, a esta altura, no se fala mais em Israel. So con
cepes que h muito no esto em voga. A splica lana
mo delas como que para mexer nas razes de sua relao
com Jav, assim como j fizera ao design-lo 11 libertador desde a eternidade", desde os primrdios, desde as
origens. Apelando para tais recursos, a LP pretende, po
is, colocar sua splica e esperana nos termos
mais
drsticos que a linguagem e a tradio oferecem. Obrado deve ser o mais alto, o mais estridente possvel, de
ve zunir nos ouvidos para no deixar de ser atendido. "Que no esperamos 11 , v 2, significa provavelmente: que
j no ousamos mais esperar, ou que ultrapassam nossa i
maginao. A primeira parte do v 3a pede fenmenos que
superem qualquer coisa ouvida do passado. O trecho termina, na segunda parte do v 3, com uma expresso de lou
vor pelas intervenes de Deus nas teofanias do passado,
nas quais Israel e xperimentou que a caracterstica prin
cipal de Jav agir em favor dos que por ele esperam.Termina, assim, esta splica numa manifestao de confiana, assim como a primeira splica culminara com
a
constatao "nosso pai", "nosso libertador".
Quanto ao restante da LP, cf. acima a estrutura.
impor~ante ter as demais partes sempre em mente, ainda
que nao as aproveitemos de modo direto na interpretao
e atualizao.
Escopo: O povo sabe que no passado Jav se revelou
um ~eus que age em favor dos seus. No momento, porem, esta em situao calamitosa e sente-se abandonado
por Deus. Apesar disso, baseado no que sabe do passado ,
sup ! i ca a i n~erveno de Jav e assevera a confiana nes
ta 1ntervenao .
c~mo

11 - Meditao:
Arrolamos a seguir, a ttulo de meditao, alguns
pontos que podem conduzir o pregador na atualizao do
te xto:
1. A situao dos suplicantes do nosso te xto de du
pla calamidade :
a) num plano e x terior, invaso de inimigos , destruj

- 164 -

- 165 -

o da cidade e do templo, ocupao e opresso de estran


geiros, conseqentes dificuldades econmicas, habi tacio-=nais e outras, vergonha nacional, afinal, tudo o que se
pode imaginar como resultado do que descrito em 64,9:
_ b) num plano interior, sentimento de abandono por
Jave, de orfandade espiritual, noo da prpria culpa,do
afastamento dos caminhos de Jav, a experincia do Deus
abscndito, que esconde o seu rosto e nada mais quer com
seu povo.
2. Na comunidade que nos ouve encontramos certamente
uma situao idntica, at os mnimos detalhes, com
a
descr~ta acima em 1 b). O pastor que conhece sua gente
s~be~a melhor_ do que_ningum quais os problemas, as
a~
gust1as e man1 festaoes dessa orfandade espiritual na sua
comunidade.
3. E quanto calamidade fsica, exterior, material?
Ela dificilmente existir em propores sequer aproximad~s no mbito de comunidades da IECLB. Portanto, num sen
tido exterior e material, a comunidade no far suas es-=sas palavras do texto.
~ C?n!udo, ela no poder deixar de perguntar por si
tuaoes
_ 1d~n t 1cas ao seu redor. Seria cega a comunidadeque nao quisesse ver a calamidade fsica e material
ao
se~ redor, em termos de habitao, educao, subemprego,
baixo.poder aquisitivo etc. Para uma reflexo desse tipo
o documento i nt i tu 1ado "Nossa Responsab i 1 ida de
ssugeri
]lmos
i
0 .1
~
el~borado pela Comisso de Responsabi ]idade ~~1 lca e_env1ado_aos pastores pela IECLB. Caberia, entao,
comunidade, nao tanto suplicar por si mas interceder
pelos outros
- pode
'
haver oraao
_
E se e- verdade que nao
sem a~ao, nosso texto teria implicncias srias para a
comunidade .

5. Os suplicantes do nosso texto sabem de aes de Deus

~~m pa:s~do remoto! em_favor do seu povo. Baseados em t~

noticias, que nao sao expressamente mencionadas


mas
claramente pressupostas e subentendidas atrevem-se nao
s? a suplicar~ interveno de Jav em ~ua situao cala
m1t~sa: mas at~ a manifestar sua confiana contra toda
parenc1a na aao apaixonada de Jav, seu 11 pai 11 e 11 liber-=tador'' , em seu favor.

.6. Em qu: basearamos ns a splica e confiana deu1nterv:nao_de Deus? Evidentemente, naquele que para
nos a noticia ultima, terminante e definitiva sobre Deus:
Jesus Cristo. Temos que perguntar e refletir com a comuni
dade: A notcia que temos sobre Deus, atravs de
Jesus
Cristo, contm algo de relevante para a nossa situao de
calamidade interna, de orfandade espiritual? E pode dizer
algo de relevante para a situao de calamidade exterior,
material, fsica, que nos cerca? Essa notcia nos permite
suplicar e confiar numa interveno de Deus?
7. Se a reflexo sobre a atualizao do texto nos leva necessariamente a Jesus Cristo, por que no ficamos lo
go num texto do NT? Que que este nosso texto tem de bem
prprio, de modo a tornar uma prdica sobre ele algo
de
singular? Os seguintes aspectos podem ser ressaltados como o 11 proprium 11 , que d a este texto seu carter peculiar:
A teimosia dos suplicantes, esse desesperado e confiante agarrar-se ao Deus de que se tem notcia, mas que es
t to ausente, do qual no momento no h sinal;
a paixo da splica, o emprego de todos os recursos,
num ingente esforo de persuaso;
a coragem de confiar contra toda evidncia;
a indicao clara de que este Deus tem algo a ver com
a misria espiritual e material/fsica dos que nele esperam.
Se esses_traos eeculiares conseguirem chegar comunidad: atraves da predica, teremos uma pregao nica, ir
repet1vel, que no poderia ser a mesma se baseada sobre outro texto.
8. A partir de Cristo teramos base e autoridade para
potenciar e radicalizar ao extremo cada um dos itens menciona~os no pargrafo anterior. Pelo que sabemos de
Deus
atraves de Cristo, a teimosia pode ser tanto mais ferrenha, o Deu~ abscndito tanto mais supervel, o esforo
de persuasao pode ser ainda mais entusiasmado, a confian~ ~ode ser mais firme, a solidariedade de Deus com a miser1a global do homem chega ao ponto da identidade.
m~

111 - Sobre a prdica

Os pontos arrolados no captulo 11 oferecem subsdios

- 166 -

para a confeco da prdica. Resta-nos tratar apenas da


estrutura.Antes disso,porern, importante i:mbrarque
a
pregao se destina ao l<? domingo de Advento,epoca de espe~a
epreparaoparaacelebrao da_vinda de Cristo. Apredica deve ser enfocada sob esse angulo, o que, em vista
do exposto, no dever representar dific:ildade. O texto
todo fala de espera. Que melhor preparaao para o Natal
do que a splica teimosa, apaixonada e c~nfiante
pela
interveno de Deus? Que melhor preparaao do.que sondar o alvo da sua interveno, ocorrida em Cristo: nossa misria espiritual e material/fsica?
Os pontos relacionados no captulo anterior superam
as possibi ]idades fsicas (=tempo) de abordagem de uma
prdica. Sobretudo ser difcil tratar a contento, numa
mesma ocasio, de aspectos to diversos como item 2,de
um lado, e 3 e 4, de outro. O pregador ter que seleci~
nar, sem abandonar o escopo do texto. Sem de~prezar~o~
a possibilidade de uma concentrao na questao da mi seria espiritual interior, expomos, para completar, um de
senvolvimento possvel para um enfoque a partir dos
1tens 3 e 4:
l) Anlise da calamidade material e fsica ao redor
da comunidade. (No comear com a leitura eura e simples
do texto, pois a comunidade no tem condioes de entend-lo, sem a devida introduo.) Um bom auxl io para ta~
to pode fornecer o documento mencionado acima em ~1/4.
Perscrutar as reas de conhecimento geral e em nivel
bem local e irnediat~, onde se verifica tal calamidade.
2~ Traa~ um paralelo com a situao de cal~midade
material e f1sica, aps a destruio de Jerusalem. Apontar a semelhana de problemas.
3) Mostrar como naquela vez a comunidade dos que re~
t~ram em Jerusalm se reuniu para suplicar pela interve~
ao de Deus. Depois desta introduo, ler o texto. Expl~
c-lo com base na exegese apresenta da acima em 1 , e
no
exposto no ponto 11/5 e 7.
_
4) Verificar se uma tal splica tambm seria poss1vel hoje, numa comunidade crist, em vista da calamidade
material e fsica ao nosso redor. Ver se depois de Cristo Deus tambm tem algo a ver com isso. Ver com a cornuni_
dade corno em Cristo Deus se identifica com o que sofre

- 167 em tal calamidade e a ele se dedica. Cf. item 11/6.


5) Se Deus tem algo a ver com essa calamidade, ento
podemos - no como a comunidade de Jerusalm, que sofria,
ela prpria, a situao e que p~rtanto sup!icava por _s'.;
nossas comunidades geralmente nao se constituem das v1 t1mas da verdadeira calamidade - interceder e pedir a inter
venao de Deus para transformar tal calamidade. Isto ce
lebrar Advento, preparar a vinda de Cristo aos homens.
6) Se verdade que intercesso sem aao nao passa de
mero palavreado, temos que entender que estamos, nesta li_
nha de pensamento, comprometidos a agir pelos que sofrem
a ca 1ami d ade ao nosso redor. Podemos, assim, servir dei ns
trumentos de Deus em favor dos que sofrem na calamidade material e fsica. imprescindvel que a comunidade entenda que tudo isso no tem nada de 11 p i edoso 11 e senti menta]. No se trata de ter pena dos outros, sentir compaixo. Aqui se fala de coisas concretas, de dedicao que
custa suor, tempo, dinheiro, horas de lazer e muito incmodo. Ser intermedirio do amor de Deus pelos homens - po
de haver maneira mais adequada de celebrar Advento, de di
monstrar num gesto frgil e imperfeito um sinal do que pode ser sua vinda ltima e definitiva?

- 168 -

11

N A T A L
L u c a s

- 169 -

2' 1-14

Nelson Ki lpp

Lc 2, 1-14 est previsto para cada dois anos . Este te~


to pode ser pregado tambm na vspera de Natal e. no 2?
dia de Natal. A percope est mal deli~itada, pois'. pelo
contedo, o trecho vai at v 20: O anuncio dos anjo: aos
pastores e a indicao do sinal requerem a veri f icaao
deste sinal e a comprovao do anncio por parte dos pastores ( vs 16s) .
Quanto crtica textual, existem duas variantes importantes, que alteram o sentido do texto. No v 5 a maio
dos textos querem ressaltar que Maria
era "noiva"
de
ria
h
Jos (Sinatico, B, C, D, L, al, sa, bo, sypes ) , enquanto que outros (a, b, c, syS) afirmam ser ela ''esposa" de
Jos, e ainda outros combinam estas duas formas em "esposa comprometida" (Koin lat). Talvez haja, por parte dos
textos que apresentam 11 ~oiva 11 , uma preocupao em resgua_;
dar o dogma da virgindade de Maria. No v 14 deve ser or~
g i na 1 a 11 1e c ti o d i f f i c i 1 i o r 1 1 ou seja , a lei tu r a que . t mb m Nestle traz, apresentada.por importantes manuscritos
antigos. A traduo literal: "entre os homens.de boa vo~
tade" (Vulgata: "bonae voluntatis 11 ) deve ser 1nterpr~ta
da: "entre os homens da benevolncia de Deus" (cf. 1 i turgia do culto dominical: "entre os homens a quem Ele quer
bem") Os adeptos da comunidade de Qumran se entendiam c~
mo "filhos da benevolncia de Deus".
Lc 2, 1-14 esta dividido em duas partes: a primeira
parte (vs 1-7) um relato histrico, humano, terreno.~~
t escrito em estilo seco e pretende transmitir fatos h1~
t ricos. , por assim dizer, um prlogo para a ~eg~nda
parte (vs 8-14), que a mais importante. O anuncio do
anjo aos pa~tor e s interpreta cristologic~mente o_e~ento.
O fato historico do nascimento, por si so mudo, e interpretado e anunciado aos pastores: veio o Messias.

Lucas p r etende colocar o acontecimento decisivo_de D~


us dentro da grande histria do Imprio Romano. Jose foi
a Belm e m obedincia a uma ordem do imperador. Deus age
dentro da histria humana. A pesquisa histrica, atualmen
te, est mais inclinada do que antes a aceitar o relato
de Lc 2 como fato his t rico verdadeiro.
Lucas denomina o imperador Ca i us Julius Caesar Octav i an us pe 1o seu cognome, "Augusto". O cognome "Augusto"
(em grego 11 Sebastos 11 ) o imperador recebeu em 27 a. C. do
Senado Romano e significa: "digno de ser adorado". O imp~
rador Augusto era conhecido tambm como o que trouxe
a
paz ao Imprio Romano, sufocando cruelmente todas as gue..!:.
ras civis e abafando com mo de ferro todas as revoltas
populares - era a afamada e cruel 11 pax Romana". Talvez L~
cas tivesse a inteno de contrapor Augusto a Jesus, que
verdadeiramente digno de ser adorado e traz uma paz tot almente diferente.
Muitos historiadores negam a possibilidade de ter havido um censo na poca do nascimento de Jesus. No temos
provas concretas, mas bem provvel qu: tenha iniciado
em 7 a. C. um recenseamento romano tambem na Palestina.
Mais ou menos em 27 a. e., dentro do processo de reforma
global do Imprio, Augusto inicia um recenseamento na Glia, que durou mais que 40 anos. No mesmo tempo! prov~ve~
mente, houve tambm um recenseamento no Egito. E poss1vel,
ento, que tambm na Palestina comeasse, ainda antes do
nascimento de Jesus, um recenseamento de toda a populao.
O historiador Flvio Josefa parece indicar que o censo so
mente teria sido realizado nos anos 7/8 d. C. Mas ele se
refere somente ao ato final de todo o processo de recense
amento. O termo usado por Lucas para censo 11 apograf 11 , que deve ser entendido como o registro de todas as pessoas que possuam propriedades e de todos os bens imveis
tributveis. J que era o primeiro recenseamento romano
realizado na regio, e sta 11 apograf 11 inclua tambm a rdua e complicada tarefa de medir as propriedades territoriais. ~sta era somente a primeira etapa do recenseamento,
uma etapa muito penosa e demorada. esta a etapa que Lucas menciona. A etapa final, que consistia na tributao

- 170 -

- 171 -

em si, chamava-se 11 apotmesis 11 . O censo cabe bem dentro


da reforma do sistema tributrio romano da poca.
O encarregado de fazer o recenseamento em todo o Oriente provavelmente foi Publius Sulpicius Qui rinius, que e
ra, alm de governador da Sria, incumbido pelo Senado
mano de supervisionar e colaborar com os governadores e procuradores das cidades e provncias menores de todo o
setor do Oriente. Como tal ele estava capacitado a realizar o censo tambm na Palestina. O recenseamento romano
teria ~niciado ainda no tempo do rei Herodes, o Grande,
na Judeia (falecido 4 a. C.).
Neste contexto bem possvel que Jos tenha se locomo~ido 9esde a cidade onde residia, Nazar, na Galilia,
ate Belem, na Judia. Muitos afirmam que Belm est no r!::_
l~to de Lucas por ser um postulado dogmtico: o Messias
tinha que nascer em Belm (Mq 5,1, na verso do Almeida
Mq 5~~): Havia, no entanto, tambm outras expectativas
me~sian1cas que no mencionavam Belm. Se Jos fosse da
t'.ibo de Davi - o que possvel, porque os judeus valorizavam a sua procedncia; muitos at possuam 1 istas de
seus an~ecessores - tambm possvel que Jos tivesse
que registrar-se na cidade dos davididas, Belm. A lei r~
ma~a rezava que os donos de propriedades tinham que regi~
tra-las na mesma llcivi tas11 (11Estado11 ou llcidade11) em que
estas.se.enc~ntravam. E o davidida Jos provavelmente tinha d~reito as propriedades tribais coletivas de sua tribo. A~nda era assim que as propriedades de uma tribo eram
cole~:vas, de modo que tambm no podiam ser vendidas por
ocas1ao
de urna _mudana de res1.d-enc1a.
.
E
st~s questoes histricas
no entanto, so mui to con'
trovertidas. Pro vave 1 mente nunca
teremos plena certeza se
. rela~o de Lc 2 confere totalmente com a real idade hist
rica . . conhec i da a expresso 11 Jesus, o Nazareno 11 , da
q~al muito~ deduzem que Jesus tenha nascido em Nazar e
n~o em Belem. N? ~ossumos, at agora, argumentos suficientes ~ara dec1~1r definitivamente por uma ou por outra versao. Na predica de Natal, no entanto, no devem
ser abordadas estas questes histricas, porque a situaao exige que o acento seja colocado em outro ponto.

Ro

111

Os motivos, as expresses e o estilo de Lc 2 provm


de Mq 4 e 5, na verso da Septuaginta. Mq 4,8 fala da tor
re do rebanho e em Mq 5,4 (Mq 5,5 no Almeida) aparecem se
te pastores. base destes textos Lucas provavelmente com
pilou a cena dos pastores no campo (v 8). Mq 5, l (2) fa-=la da cidade de Belm; Mq 5,2 (3), do tempo do parto; em
Mq 5,3 (4) mencionada a fora do Senhor e a sua majesta
de ( 11 doxa 11 ) ; e finalmente em Mq 5,4 (5) est o termo-cha-=ve 11 schalom11 , 11 paz 11 Lucas est bastante influenciado pela expectativa messinica de Miquias. E por estar baseado em Mq 5,2 (3), Lc 2 no se interessa tanto pelo tema
da virgindade de Maria, baseado em Is 7, 14.
Lc 2 provavelmente era uma tradio isolada no 1n1c10.
Ela deve ter surgido no seio de uma comunidade helenista.
Alguns ~omentadores afirmam que a tradio de Lc 2 tem
suas ra1zes em uma antiga lenda judaica que conta a histria de alguns pastores que encontram, dentro de uma man
jedoura, no campo, uma criana recm-nascida, perdida e
bando~ada, mas que, por milagre de Deus, est enfaixada.Atraves de uma epifania os pastores foram incumbidos de a
dotar esta criana divina. No temos, no entanto, certeza
de que esta lenda, de fato, existiu e se ela pde ter de
terminado o relato de Lc 2.
Os pastores eram pessoas desprezadas pelo povo e considerados trapaceiros e impostores. Estavam no mesmo nvel moral dos ladres. No podiam servir de testemunhas
em um julgamento. E estes desprezados, que no esperam
que Deus esteja a seu favor, so escolhidos por Deus para
rec:eb~rem, como representantes de todo o povo (v
10), o
anun~10 da boa nova do nascimento do Messias esperado.
Com isto, os socialmente marginalizados foram reintegrados, .por Deus, na sociedade: os que no eram dignos de
se:v1 :em como testemunhas em julgamentos humanos foram as
pr1me1 ras .testemunhas do acontecimento decisivo de Deus.
Os anJ?S encontramos, na Bblia, sempre no limite entre_a real idade humana e a realidade divina. Caractersti
coe~ contraste.entre luz e trevas na cena da apario d9 anJ o: a luz d 1vi na ~ 11 doxa 11 , 11 kabod 11 ) penetra na escur i
dao dos homens. A reaao humana normal manifestao da-

- 172 majestade divina o medo (v 9). Aqui, no entanto, a manifestao da "kabod'' divina no vem para o castigo dos
homens, mas para "grande alegria d: todo o povo" _ .
Todo o peso dos vs 8 a 14 esta_colocado no. an~nc10
do anjo. Este anncio tem por conteudo uma pcom1ssa~ messinica: Hoje nasceu o Salvador. E este 11 soter 11 - titulo
tambm usado para designar o imperador e governad~res romanos - o esperado por todos, o Messias. O nascimento
do Salvador o primeiro passo dado por Deus para a concretizao da salvao dos homens. No centro do anncio
no est tanto o fato do nascimento da criana, mas a :ua
importncia como sinal que indica em direo salvaa~
futura. A salvao esperada no futuro, com a instalaao
do Messias no poder.
_
O anncio do anjo aos pastores a interpretaao dos.
fatos histricos dos vs 1-7. Os fatos histricos, ~or SI
somente, no so claros, mas carecem de interpre~a~o. O
sinal do Redentor - as faixas e a manjedoura - nao e verdadeiramente um sinal que pudesse comprovar aos pastores
que este, de fato, o Salvador. Somente comparado com o
anncio do anjo que os pastores, atravs da f, podem
ver neste sinal um sinal de condescendncia divina, uma
confisso pobreza e fraqueza humanas. No assim que_a
simples apario do anJo substitusse qualquer ato de fe
0 re l to
dos pastores. Devemos ter em conta de que tambem
natalino foi escrito sob a perspectiva da f sur~ida p~r
ocasio do acontecimento de Pscoa. A festa da Pascoa ~
anterior festa de Natal, tanto histrica como teologi camente.
A doxologia do v 14 composta de duas partes ligadas entre si por um "kai", "e". Aos homens Deus mani festa a s~a boa vontade, benevolncia, agrado, graa. lmpo~
tant: e a conjuno aditiva 11 e 11 : a paz sobre a terra exi~
t: la onde a glria dada a Deus. A paz entre os homens
nao foi conquistada por esforos humanos, mas se concretiza pela atuao do Salvador. Em cont rap os i o ao "pac ~ 11
ficador Csar Augusto, o relato de Lc 2 afirma: a paz e
Cristo (cf. Mq 5,4 (5) ).
IV
A comunidade reunida no dia de Natal e muito diversa.

- 173 Por ocasio do Natal se renem muitas pessoas que, em ou


tras ocasies, at evitam os cultos e as programaes e-=
clesisticas. O Natal , portanto, uma situao missioni
ria 11 sui generis 11
A maioria das pessoas, principalmente estas que sorne~
te visitam o culto por ocasio do Natal, perderam o verdadeiro sentido da festa natalina. Em vez de ser uma festa de alegria, o Natal tornou-se vazio e_montono. Isto
se torna evidente no prprio seio da fam1 lia. Estas pessoas esperam por um novo sentido para a tradicional festa natalina. Aquele que procura a igreja no dia do Natal,
de certa forma espera encontrar l satisfao de seus de
sejas ntimos insatisfeitos; espera por um sentido mais
profundo para a sua existncia; espera reencontrar-se e
pensa encontrar esta chance no culto.
A estas pessoas o pregador no deve dar pedras em vez
de po. Muitos acham que precisam carregar dogmaticamente
a pregao natalina, visando recuperar os atrasados daqu~
les que quase nunca aparecem aos cultos. Creio que, com
esta atitude farisaica, o pregador afugenta mais ainda e~
te tipo de ouvintes. A estes deve ser pregada a grande oferta de Deus, que dada, incondicionalmente, a todos,
no Natal.
A histria natalina est presente na conscincia deu
ma larga camada popular. Talvez seja a histria bbl ica
mais conhecida de nossos membros. Por esta razo o espinho do inconformismo com as ordens e estruturas deste mun
do, s em dvida presente na mensagem natalina, perdeu seuvigor. A histria no causa mais impacto. Por esta razo,
creio que surgiram as assim chamadas prdicas sociais e
polticas, que protestam contra a sociedade de consumo,
contra as diferenas sociais entre pases desenvolvidos e
subdesenvolvidos, acusam a contradio entre os presentes
de Natal e a pobreza existente no mundo, a contradio en
tre o luxo da festa e a misria - o peru de Natal uma traio aos famintos da fndia e do Paquisto. Este tipo
de prega~o, no entanto, a meu ver, no consegue dar novo
sentido aquelas pessoas vazias que so incapazes de feste
jar o Natal. No podemos, simplesmente, pregar a lei sem
transmitir a boa nova de Cristo.
O escopo da mensagem do Natal a encarnao: o Verbo

1 74

se tornou carne. A realidade de Deus torna-se profana. O


Deus todo-poderoso se mescla com a misria da existncia
humana. Deus entra na aflio do mundo, para que o mundo
veja a sua glria. Mas Deus se revela contra toda a expectativa humana. Sontra a expectativa dos zelotes, ele
se enquadra dentro de uma ordem existente: at aquele que
ainda no nasceu j est dentro de uma ordem imperial . E~
quanto que toda humanidade colocada em movimento por _um
decreto de Roma, o centro do Imprio e do mundo de entoo,
Deus escolhe a margem deste Imprio para l iniciar a sua
obra salvadora - contra toda a expectativa dos grandes e
poderosos da poca. Deus se dirige inicialmente aos desprezados pela sociedade e no aos considerados 11 bons 11 des
te mundo - contra toda a expectativa dos sa cerdotes e religiosos. Deus se manifesta no como De us onipotente, mas
como um Deus que se identifica com os humildes, como um_
Deus aparentemente fraco: o 11 Deus absconditus". A mise-::
ria do Filho at impede um reconhecimento de Deus . Est e e
o mi 1agre da humanidade de Deus.
A mensagem da encarnao cap~z de dar um novo sent~
do ao Natal. A pregao deve, portanto, tentar abrir os~
lhos da f para este Deus que se tornou homem. importa~
te que se_veja o relato natalino a partir da f pascal'.
como tambem Lucas o faz. Somente a f pode afirmar: Ho~e
vos nasceu o Salvador, que Cristo, o Senhor. Sem a fe
pascal a histria de Natal no passaria de uma bani ta le~
da. Os termos-chaves que Lucas uti 1 i za - Belm, cidade de
Davi, mulher grvida - deixam transparecer c larament e
~odo judeu que aqui se trata do Messias esperado. E isto
e uma confisso de f.
_o Messias vai trazer a salva o . O contedo desta sa~
vaao podemos deduzir do v 14: 11 schalom'', "pa z". A paz e
uma nova criao do mundo por part e de Deus : do mundo novo, c~mp~eto! inteiro, ileso, so, justo, salvo. Esta ~o
v~ c:iaao ja confessada agora pela f. Em contraposiao a ''pax Romana" e concepo de paz dos zelo te:_s , a
paz de Cristo aparenta fraqueza. A paz de Cristo e, em
primeir o lugar, paz com Deus: Deus se reconcilia com os
homens. Deus no revela a sua ira, mas a sua benevolncia
e graa. Mas a paz de Cristo tambm inclui a paz pol tica
e a paz social, baseada na justia entre os homens. A paz

- 175 pol tica entre os homens deve ser vista em estreita relao com a paz com De us . A reconciliao possibilita e espera por uma paz pol t ica e social entre os homens . Creio
que s podemos louvar a Deus (v 14) quando no mundo esta
mos preparand o o caminho da paz, iniciado por Deus atra-ves de seu Filh o .

Obs .: Encerra- se aqui a parte referente s s ries de percopes IV e V, anti go volume I. Seguem
textos
escolhidos das sries de per co pes V e VI, do anti
go volume II.

- 176 -

- 177 -

OBSERVAES 1NTRODUTRI AS REFERENTES AO EVANGELHO DE MATEUS

ento, a apresentao de Joo Batista e de sua proclamao,


o batismo de Jesus e, finalmente, a histria da tentao
(3, l-4, 11). Tambm nesta parte temos algumas ampliaes,
mas elas so bem mais expressivas no segundo bloco, que tem
por tema o ministrio de Jesus na Galileia (Mt 4, 12-20,34;
cf. Me 1, 14-10,52). Este bloco, alis, pode ser subdividido em duas partes:Os cap.4, 12-13,58 tratam propriamente da
atuao de Jesus na Galilia, enquanto que nos cap. 14, l20,34 vemos Jesus em diversas viagens pela Galilia e ci rcunvizinhanas e para Jerusalm. Mt intercalou a maior parte do seu material exclusivo (e da fonte Q) na primeira
destas partes (cap. 5, l-11,30). A partir do cap. 12 (=Me
3), o evangelista comea a seguir com maior rigor a estrutura de Me, ainda que no faltem grandes incluses. O terceiro bloco (cap. 21, 1-25,46) relata sobre o agir de Jesus
em Jerusalem (cf. Me 11-13) e os conflitos com os grupos
lderes do povo judaico. Estes levam priso, paixo e cru
cificao de Jesus, acontecimentos estes que, juntamente com a histria da pscoa, perfazem o contedo do quarto bloco (cap. 26, l-28,20; cf. Me 14, l-16,20). Mt encerra o seu
ev. com a grande comisso e a promessa do ressuscitado de
estar com os seus discpulos at a consumao dos sculos
(28, 16-20).
Uma das particularidades do ev. de Mateus consiste nos
amplos sermes, nos quais o evangelista concentrou boa parte do =nsi~o ~e ~e~us. So eles o ser~o do monte (cap.5-7),
o serm~o m1ss1onar10 (cap. 10), o sermao parablico (cap. 13),
o s:rr:iao sobre a conduta da comunidade (cap. 18), o sermo
polem1co (cap. 23) em conexo com o sermo escatolgico
(cap. 24 e 25). _Estes sermes so concludos estereotipadamente com uma formula em mais ou menos os seguintes termos
llQ uan d o J esus aca b ou de proferir estas palavras ... 11 (7,28s;.
l~ ,2; 13,53; 19, 1; 26, 1). Trata-se evidentemente de composioes de Mt, para as quais apenas em parte existiam modelo~ nas suas !antes. N~ caso do sermo parablico, Mt ampl 1ou a coleao d'.: parabolas j encontrada em Me 4. O mesm~ vale com refe~encia ao sermo escatolgico (cf. Me 13) e
finalmente
- d o monte estava de certo modo '
tambem o se rmao
.
prefigurado na fonte Q como o demonstram as passagens paralelas em Lc 6 e 11.
Ainda assim, os sermes permanecem sendo uma caracte-

Gottfried Brakemeier
Na anlise dos evangelhos (= ev.) sinticos, a hiptese das duas fontes bsica. Conforme esta 1 os evangelistas
Mt e Lc usaram duas fontes literrias comuns: o ev. de Me
e um outro documento, reunindo mormente pronunciamentos de
Jesus (=fonte Q). Da se explicam as grandes semelhanas
entre os trs ev. sinticos (ex.: Me 1,1-6; Mt 3,1-6; Lc
3, 1-6) bem como uma poro de convergncias entre Mt e Lc
em material excedente a Me (ex.: Mt 3,7-10; Lc 3,7-9). Mas
tambm as divergncias entre os sinticos acham soluo.
Elas tm as suas causas em dois fatores: Mt e Lc ampliaram as suas obras mediante material
coletado por eles individualmente e certamente proveniente da tradio oral (=
material exclusivo). No menos importante o segundo fator: Nenhum dos evangelistas se deu por satisfeito com a
simples cpia das suas fontes. Querendo anunciar o Evangelho, eles recontaram(!) a histria de Jesus, atualizando
o ~aterial das suas fontes e imprimindo-lhe o cunho de seu
proprio testemunho. Por isto a redao dos ev. no se re:ume num processo de reproduo mecnica da tradio, ela
e, ~ui to antes, um processo de proclamao, no qual a tradiao reinterpretada. Alm de coletores de material, os
evangelistas eram telogos que refletiram sobre o Evange~
lho e que se empenharam em diz-lo de maneira nova dentro
de sua poca e dentro de seu mundo especfico.
1) Contedo e estrutura
De um modo geral, Mt se atm estrutura do ev. de Me,
na qual ele incorpora tanto o material da fonte Q como tam
bm o seu material exclusivo. Essas incluses, por vezes,
rompem a estrutura de Me. Ainda assim esta nitidamente
visvel. Podemos distinguir quatro bl~cos:
O primeiro constitudo pela assim chamada pr-histria (cap. 1,1-4,ll), que fala dos antecedentes ao ministrio pblico de Je~us. _Em comparao com Me (1, 1-13), este
bloco sofreu cons1deravel ampliao pela histria do nascimento e da "paixo 11 do menino Jesus (cap. 1 e 2). Segue,

- 178 -

- 179 -

rstica do evangelho de Mt, pois o volume_dos mesmos_ ult~:


passa em muito o dos seus modelos. Eles sao_uma m~ne~r~
sistematizar e ordenar o material da tradiao, princip i o
este que pode ser verificado tambm em o~tr~s. casos. m~~:
cap 8 e 9 Mt reuniu preferencialmente historias de
e, seguindo
.
gres,
o evange lh o d e Me, o eva ngel is ta apre)
senta um ciclo de controvrsias no cap. 22 (cf._Mc 12
.
Outros exemplos poderiam
ser acrescenta d os. E ' nao obstan-d
. d o_que a vonta e
te, em tais agrupamentos se expressa mais
.

t
de s1stemat1zar o mater1a , pois a es ru turaao do mesmo,
de colocar enbem como as ampliaoes,
revertem em maneiras
fases teolgicas. Nos cap. 5-7 Mt apresenta Jesus com~ 0
Messias da palavra, nos cap. 8 e 9 como Messias da aao, e
b
amos
os complexos preparam a resposta d a d a Por Jesusd aos a
- Batista
.
.
d 1sc1pu 1os de Joao
que o .interrogam acerca a su
messianidade (cap 11 2ss)' Em especial, porm, os numero
' ev. denunciam claramente 0 in teressos sermoes
no primeiro
se de Mt: O ensino de Jesus de importncia fundamenta 1
. que o Jesus ressurreto encarr ega os seus
eom .isto condiz
d .1sc1pulos expressamente da tarefa de ensinar os povos a
guardarem todas as coisas que lhes ordenou (28,20) Porest as razoes,
as grandes inclusoes
de Mt no P 1 an o _de Me e as
alteraes na estrutura no so apenas uma questao forma 1
E l as nao
- deixam de ser uma expresso da teologia

de Mt e
de sua compreenso do Evangelho.
r

2) O autor

Nae x istem informaes seguras sobre o autor do primeiro


evangelhoque,nasuaobra no revela asua identidade. A lgre
J. a antiga
transmitiu este' ev. sob o nome de Mateus e via ne0
J
d
'
_e
iscipulo de Jesus pertencente ao grupo dos d oze. Fato
e que todas as listas d~s nomes daquele grupo mais achegado
a Jesus mencionam um certo Mateus (cf. Me 3,18ss e par.; Atos l,13). No entanto, difcil admitir ser o ev. de Mt
obra de um~ testemunha ocular, pois 0 autor trabalha ~o~
fontes e nao escreve as suas memrias. Tambm uma noticia
de Ppias, bispo na As ia Menor por volta de 130/140 d.C.,
no nos adianta. Ele diz o seguinte: 11 Mateus ps em ordem
os 1 logia 1 em lngua hebraica, e cada um os interpretava
como podia.'' Quais so estes 11 logia 11 (pronunciamentos)? O

ev. de Mt, sob hiptese alguma, pode ser considerado como


sendo uma simples composio de palavras de Jesus, e tambm
no h indcios de uma verso anterior que tivesse sido redigida em hebraico. A notcia dePpias incompatvel com
a forma do atual ev. de Mt. Por isto devemos confessar: O
ev. foi escrito por um telogo, cuja identidade desconhecemos.
Alis, uma pergunta deve ser feita com justas razes:O
autor do primeiro ev. era um gentlico-cristo ou um judaico-cristo? Trata-se de uma pergunta muito controvertida.H
os que defendem a procedncia judaica de Mt com os seguintes argumentos:
a) Mt no e xplica costumes judaicos e questes rituais
onde a estes alude ; Ele os pressupoe como sendo conhecidos.
b) Mt acentua fortemente a validade da lei.
e) As profeci.as do AT so muito importantes para Mt. Ele
se esfora por mostrar que em Jesus o AT se cumpre.
Para tanto so significativas as assim chamadas citaes de refle xo, introduzidas por palavras como:
11
lsto aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta ... 11 O valor dado concordncia com
o AT naturalmente se explica bem melhor num ambiente de tradio judaica do que num ambiente gentlico-cristo.
d) Mt transmite palavras que limitam o raio de aao de
Jesus expressamente ao povo de Israel (cap. 10,5;
15 ,24).
e) Mt usa a e xpresso 11 reino dos cus" (expresso judaica) e m lugar de 11 reinodeDeus 11 , porque os judeus evitavam, na medida do possvel, a meno do sagrado
nome de Deus.
Mas h tambm argumentos que apontam antes para um ambiente gentlico-cristo como lugar de origem do ev. de Mt :
a) Mt usa o At grego (a Septuaginta), no o AT hebraico.
Ele nem consulta o te xto em sua verso original, no
se dan~o conta, portanto, das diferenas que h entre
a versao grega e hebraica do AT.
b) Aramasmos (ou semitismos) no so mais freqUentes em
Mt do que em Me. Isto significa que a probabilidade
de o aramaico ser a lngua materna de Mt mnima.

- 181 -

- 130 c) O ev. de Mt mostra claramente que a comunidade crist se sabe separada do judasmo. Mt pode falar dosescribas como sendo 11 os escribas deles 11 (=dos judeus).
O reino de Deus passou para outro povo (21 ,33ss), e
a mensagem crist se destina a todos os povos.
Ambos os tipos de argumentos tm sua validade e parecem
conduzir a um impasse. Considerando-se, porm, a forte herana judaica, to em evidncia no ev. de Mt, e o fato de
no ser necessrio pressupor que um judaico-cristo deve
ter tido conhecimentos de hebraico e aramaico, os argument~s a favor da tese que defende a procedncia judaico-crista do autor, so mais fortes. Mt e as comunidades a que se
d~rige
vivem nas tradies do povo judeu. Para estes cristaos tem validade o que os escribas ensinam, embora no se
d:v~ seguir o exemplo deles (23,3), e a lei vtero-testamentaria continua em vigor ao menos em sua essncia (cf.5, 18).
De outro lado, porm, estas comunidades falam o grego,
d~ q~e se conclui que elas so originais do judasmo heleni~tico. Apesar_de convictas das prerrogativas do povo judaico, elas es~ao profundamente atingidas pela crise dopovo de De~s, crise esta que se consumou na rejeio de Jesus
de Nazare e nocas t.1go 1nfl igido por Deus ao povo na catastrofe da guerra judaica e da destruio de Jerusalm pelos
rom~nos no ano de 70
d.C. (22 lss). Oeste Israel ascomunidades se sabem separadas. Ma~ elas se entendem como o
novo Israel e mostram, assim que existe um vnculo entre
elas
d.f .e 0 an t.igo povo de Deus.' Sob esta perspectiva no
1 ~ci l colocar os argumentos acima arrolados sobre um de~o~i~ador ~om~m: Mateus deve ser membro de uma comunidade
JU aic~~crista, vivendo num ambiente helenstico.
d MAli~s, h~uve quem defendesse a tese dizendo que o ev.
~ t nao foi redigido por apenas um autor mas que ele ser 1a o fruto
do
- 1co de uma 11' esco l a 11 , na qua 1
.
. t r b a l ho teol og
s e teria cultivado o tipo de interpretao do AT particular
de Mt. No entanto, apesar de a existncia de 11 escolas 11 teolgicas no cristian1sm o pr1m1t1vo

ser comprovada pela escol~ ~e Paulo e pel~ :scola de Joo, no h demonstrao suf1 c1ente para a h1potese de uma escola de Mateus. t possvel que .pensamento teolgico de Mt tenha sido comparti lhado por muitos ~ut~o~ proeminentes telogos daquela poca.
Mas faltam os 1nd1c1os que nos permitissem falar numa esco-

la em sentido preciso . Enquanto estes nao existem, atribumos a redao do primeiro evangelho autoria de um homem alis de considervel capacidade teolgica - de nome Mateus.
3) Lugar e data da redao
No que se refere data e ao lugar da redao, dois fatos so incontestveis: O ev. de Mt foi escrito num ambiente em que se falava grego, e ele foi escrito depois de Me.
Assim sendo, a Palestina como lugar de origem deve ser excluda. Foi pensado em Pela, na Transjordnia, para onde a
comunidade crist se havia refugiado em vista do perigo de
guerra que sobreveio Judia a partir dos anos 66 d.C. Mas
a maioria dos comentaristas localiza a origem do ev. na Sria. E, com efeito, a presena macia de tradio judaica
no evangelho e o fato de a existncia de um cristianismo helenstico com fortes vinculaes com a histria d~ povo eleito no poder ser admitida demais distante da Palestina,
indicam a Sria como provvel ptria do evangelho de Mateus.
Quando Mt escreve , a destruio da cidade de Jerusalm
fato consumado.Portanto, o ev. foi redigido depois de 70
d.C. Por outro lado, Incio da Antioquia, que sofreu a morte de mrtir no ano de 110 d.C., conhece o ev. de Mt. Isto
significa: Mt escreveu entre os anos de 70 e 110 d.C. Visto que Mt est baseado em Me e mostra em relao a este um
estgio adiantdo de reflexo teolgica sobre certos assuntos (como por ex.: sobre o fenmeno da Igreja), indicam-se
as ~uas dcadas de 80 at 100 d.C. como data da redao, ou
entao os anos por volta de 90.

4)

Linhas mestras do pensamento teolgico de Mateus

J foi f~isado que Mt d mxima importncia ao cumprimento dos ~nuncios do AT na histria de Jesus. t digno de
nota_que nao_s~ cumpre apenas a salvao profetizada, mas
t~m~e~ u~a serie. de detalhes e episdios de relativa insign1f1canc1a na vida de Jesus. A fuga para 0 Egito, por
exemplo, sucedeu para que se cumprisse a profecia de Os 11
11
l: 00 Egito chamei o meu fi lha1 1 (Mt 2, 15). As trinta moe-'
das de prata, oferecidas a Judas em troca da traio
bem
como o campo d~ oleiro, comprado pelo dinheiro devolvldo
(Mt 27,3ss), sao preanunciados pelo AT (cf. Zc 11,12 e 13).

- 182 Tais exemplos poderiam ser multiplicados.


Que significa este freqUente recurso ao AT? Duas coisas
devem ser mencionadas: Em discusso direta ou indireta com
o judasmo, Mt faz questo de mostrar que o /\T se cumpr~u~a
histria de Jesus e que, por esta razo, a Igreja crista e
a herdeira legtima do antigo povo de Israel. Jesus o Messias de Israel, profetizado pelo AT, enviado s ovelhas perdidas deste povo, mas rejeitado pelos judeus. A Igreja crist o novo Israel que obedece ao Filho de Deus e por isto
no nega os devi dos frutos a Deus (Mt 21, 33ss).
Em ~egundo lugar, porm, o uso refletido do AT significa tambem uma certa historizao. Com isto queremos dizer o
seguinte: Mt distingue claramente dois perodos, o perodo
da profecia e o perodo do cumprimento. O evangelista tem
um interesse histrico no AT. Este no somente a Sagrada
Escritura, na qual a vontade de Deus se manifesta, ele
tamb~m um 1 ivro histrico que anunciou coisas futuras. Isto
tambem significa que Mt enxerga a histria de Jesus de uma
:erta distncia. Ele est ciente do tempo que separa a Igreja daqueles eventos to significativos para o povo judeu co
locado na opo de arrepender-se e dar ouvi dos a Jesus ou de
escolher a sua desgraa. Esta sensibi 1 idade para coisas passadas ainda est ausente em Marcos - ao menos ela no achou
forma to expressiva como em Mt
O interesse histrico de Mt.se revela j no incio 90
ev., na genealogia. Ponto de partida a figura de Abraao,
do qual a salvao passa, atravs de Jesus, a todos os p~
vo~ (Mt 28, 18ss). A histria da salvao inicia com Abraao,
acna 0 seu ponto central na histria de Jesus e tem a sua
con~i~uao na Igreja crist que tem carter universal e
es. t a 1 ~cum_b ida de catequ1sar
.
' todos os povos. Do particula
ris mo judaico a histria da salvao passa ao universal ismo do Evangelho, tendo a histria de Jesus por centro. O
AT conduz a ele e a Igreja crist dele se deduz.
A cristologia de Mt est em conformidade com esta concepo. O trao mais marcante a nfase dada ao ensino de
Jesus . Este ensino o legado de Jesus aos povos e, em particular, Igreja. Quem se firma sobre este fundamento
como o homem que construiu a sua casa sobre a rocha (7,24
ss). A comunidade de Mt logicamente vive do Cristo presente em seu meio (18,20; 28,20), ela tem a promessa da sua

- 183 assistncia (cf. 8,23ss), mas ela tambm olha para trs
ao mestre Jesus de Nazar, recordando e guardando as su~s
palavras e vivendo de acordo com as mesmas.
Em outros termos, Jesus para Mt o divino mestre que
com autoridade singular interpretou a lei e definiu a vontade de ~eus. Entretanto, Jesus no s ensinou a lei, mas
e 1e ta mb em a cu mp r i u ( 5 , 17) . Pa r a cu mp r i r a 1e i J e s us se
submete ao batismo de Joo (3,5). Jesus o justo (27, 19),
d~ ~odo que a messianidade de Jesus, para Mt, no se torna
v1s~~el. ta~to nos milagres por ele operados, mas na sua ob:d1enc1 a 1nte~ral a Deus. Naturalmente tambm os milagres
sao documentao:s da dignidade messinica de Jesus, no entanto, eles estao praticamente subordinados doutrina de
J=sus~ Via de regra
eles possuem funo paradigmtica,eles
nao sao contados com o intuito de simplesmente impressionar
nem de mostrar o poder excepcional de Jesus. Eles trazem
u~a ~e~sagem atual, neles a comunidade pode aprender o que
s1gn1:1~a crer, eles servem de advertncia, so sinal da
c~mpa1xao de Jesus, etc . Em todo caso, os milagres de Jesus
nao pode~ ser compreendidos parte da sua palavra.
Considerando mais de perto o ensino de Jesus, constatamos que~ para Mt, tanto a proclamao do reino por Jesus co~o tambem a sua vigorosa reinterpretao da lei de Deus so
1mportantes:
a) A proximidade do reino de Deus exige o arrependimento do hom:m, isto , uma volta no rumo de vida. O reino de
Deus trara o juzo (cf. 13,47ss; etc.). Mas graa que est~ arrependimento possvel. Jesus oferece o perdo e convida para aceitar a chance dada por Deus aos homens pecadores (18,23ss; 21,31 e 32; etc.) E'. para isto que Jesus veio,
a saber, para procurar os perdidos (15,24; etc.) e para prometer. o reino de Deus queles que nada mais querem ser do
que f1 lho: humildes do seu Pai celeste (18, lss). Bem-aventurad~s s~o os pobres de esprito, os que tm fome e sede
pela Justia, etc. (5,3ss), porque o reino dos cus ser
del~s. No entanto, Mt enfatiza, mais do que os outros evangelistas, que o reino de Deus exige uma nova 11 justia 11 (=
conduta), melhor do que a dos fariseus e escribas (5,20).
Sempr: ~e novo Mt insiste no cumprimento da vontade de Deus.
Sem duvida, a misso do Filho de Deus significa uma nova
chance, ela sinal da incrvel pacincia de Deus para com
o seu povo desobediente, ela equivale ao perdo dos pecados ,

- 184 mas a resposta do homem a esta ao de Deus deve ser o arrependimento e o cumprimento da vontade de Deus.
b) Mas qual esta vontade de Deus? Com esta perg~nta
abarcamos um dos elementos mais importantes da teologia de
Mt: a sua compreenso da lei. Mt luta contra duas frentes:
Por um lado, ele combate tendncias liberais dentro da propria comunidade crist. Contra estes elementos ele lan7 a
terrvel ameaa: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor.
entrar no reino dos cus mas aquele que faz a vontade de
meu Pai que est nos cus'. 11 Tendo em vista crculos cris~
tos que, aparentemente, tinham divorciado o crer e o agir,
Mt insiste na validade da lei: 11 At que o cu e a_terra passem, nem um i ou um til jamais passar da le~, ate que tudo se cumpra" (5, 18). A lei do AT, codi fi caao da vontade
de Deus, permanece vlida. Quem dissolve a lei e d~i~a de
cumpri-la, dever ouvir a maldio do juiz escatolog1co:
"Apartai-vos de mim, os que praticastes a iniq\.lidade 11 (7,
23).
.
Por outro lado, porm, Mt combate no menos rigoroso
hipocrisia dos fariseus e dos escribas (cf. cap. 23) Ele
critica no s a disparidade que h entre o seu falar e a.
- a sua cegueira incapaz de d:sco.b rir

gi:
mas ~ambem
os pi-recei tos mais importantes da lei a saber, a JUst1a, m.
sericrdia e a f (23,23). Poi~ tambm para Mt, a despe~to
da passagem 5,18, o cumprimento da lei se resume no due mandamento do amor, e no na observao da letra. Mt nao e
legalista.
Existem, alis, indcios para o fato de a comunidade
de Mt ter continuado observando o sbado (24,20) d~ ter
fr~q~entado o culto no templo, ou, pelo menos, de ~a~ ter
r~Je1tado este culto (5,23ss)' etc. Portanto, a prat1ca_da
p~eda~e_ju~aica aceita e acompanhada. _Mas o q~e.yesa_e
m1ser1cord1a e o amor. Este ser o criterio no JUIZO final
(25,3lss) Implicitamente Mt distingue entre a lei ceremonial (leis rituais, leis de purificao, leis referent:s .
aos alimentos, ao culto, etc) e a lei moral. De importanc1a
primria esta, no aquela, sendo que do duplo mandamento
do amor dependem toda a lei e os profetas (22,40). Por e:tas razes justo que se afirme: Em Mt a co~preensao
da lei ou da vontade de Deus genuinamente crista, superando o legal ismo judaico, e isto apesar da forte insistncia no agir e no cumprimento da vontade de Deus em termos

- 185 da lei. Dos discpulos, isto , dos cristos, exigida a


justia (5,20; 6,33) que excede a dos fariseus e dos escribas no quantitativamente mas qualitativamente.
'Mt compreendeu bem que Jesus no se satisfez com uma
obedincia formal orientada apenas nos pargrafos da lei.
Este o erro dos fariseus e de seus semelhantes, que exteriormente parecem ser justos, mas interiormente esto
cheios de hipocrisia e iniqUidade (23,28). Jesus requer
a transformao do corao - nada menos do gue i:to,pois
onde o dio for substitudo pelo amor, ali nao mais pode
acontecer assassnio (cf. 5,2lss); ritos destinados a protegerem o homem da contaminao com coisas impuras, tornam-se
irrelevantes se a fonte de impureza humana, a saber, ocorao, for r~novada (15, 16ss). Assim c~mo em ~aulo, assim
tambm em Mt somente o amor pode cumprir a lei (cf.Rm 13,
8ss; etc), e com isto Mt reproduz, sem dvida alguma, a concepo do Jesus histrico. Todo o rigorismo de Mt deve ser
visto a partir deste ponto central e no pano de fundo ~e
sua dupla polmica contra um cristianismo indiferente a vontade de Deus por um lado, e contra a hipocrisia e o formalismo legal do farisasmo por outro.
Finalmente deve ser abordado a.inda a eclesiologia deMt.Enquanto em Me a 1greja ainda no objeto de:_ reflexo _expl ci.ta,
Mt revela acentuado i nte resse naquele fenomeno que e a 1g reJ a.
Ele o nico entre os evangelistas a usar o termo lg~e
ja" (16,18; 18,17).De especial importncia a reaao
de Jesus confisso de Pedro, que no tem paralelos nos
outros ev.: Mt 16, 17-19. Conforme estes versculos, a Igreja uma instituio prevista e intencionada pelo Jesus terrestre, fundada pelo Jesus ressurreto e baseada na rocha
que Pedro. Os problemas desta passagem no podem ser discutidos nesta oportunidade. Constatamos apenas que a Igreja
vista por Mt como instituio de Cristo. Ela tem o poder
das chaves (16, 19 e 18, 18) e uma certa organizao (cap.18).
Mas a concepo eclesiolgica deMt aparece relac~onada
no s com o termo 1greja, tambm o termo discpulo e de alta relevncia. A ordem do Cristo ressurreto vazada nas palavras: 11 1de, portanto, fazei discpulos de todas as naes
11

Logo, os cristos so,porexcelncia, discpulos do


mestre Jesus. Eles ainda no so os definitivamente perfeitos, antes continuam em constante processo de aprendizagem,
tendo o juzo final sua frente . Este juzo futuro recebe
forte nfase em Mt. Todos os sermes no ev. terminam com a

- 187 -

- 186 perspectiva do juzo final. Pela mesma razo o evangelista transmite uma srie de parbolas com justamente este tema ( c f . l 3 , 2 4s s ; l 3 , 47s s ; 2 5 , l s s ; etc . ) . A 1g reja no a
comunho dos que j alcanaram a meta, ela antes um conjunto de maus e de bons, sendo que somente o juzo final_
vai revelar quem ser aprovado e quem ser rejeitado. Serao
aprovados os que seguem a Jesus no seu caminho, os cumpridores da 11 justia 11 , os que procuram o reino de Deus (6,33).
Portanto, a Igreja de Mt sabe que ela ainda no vive no
reino de Deus. Ela passa por aflio e perseguio (5,lOss),
pois a vontade de Deus est sendo desrespeitada nesta terra, razo pela qual tambm Jesus teve que sofrer e morrer.
Mas ela compreende Jesus, a sua vinda, o seu ministrio, a
sua morte e ressurrelo como sinal da graa de Deus que_
libertou a comunidade para uma nova obedincia, a qual nao
mais procura as prprias coisas, e sim o prximo, bem como
o reino de Deus e sua justia.
Mt foi um telogo de extraordinria fora sistemtica
e de profundeza de pensamento. A orientao eclesiolgica
deste evangelho tem lhe garantido uma certa preferncia na
Igreja crist. Mt foi um mestre em atualizar a histria de
Jesus para o seu tempo - e no s para este. Ele o fez em
oposio a um legalismo formal e a um antinomismo 1 ibera!
perigos sempre latentes entre os cristos. E o que significa ser discpulo de Jesus, -i sto a Igreja deve aprender em
todos os tempos de novo.
Bi b 1 i og r a f i a :
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- WALKER, R. Die Hei lsgeschichte im ersten Evangel ium.
FRLANT 91. Gl1ttingen, 1967.

R MA O

C O N F

p e n s e s

3, 12-16

Lindolfo Weing'rtner
1 -

Texto

. No que j (o) tenha alcanado ou que j estivesse perfe1 to. _Mas toco adiante, a fim de alcanar o alvo - uma vez
que fu1_alcanado por Cristo Jesus.
1 rmaos:
ainda no creio que tenha chegado ao alvo. Mas
uma coisa (es~ certa): Esqueo o que est atrs (de mim)
e e:tendo-me aqui lo que est em minha frente. Corro em direao ao alvo, o prmio da vocao de cima, que parte de
Deus em Jesus Cristo.
. Assim, todos que somos perfeitos, sejamos conscientes
disso. E ~aso em algum ponto tiverdes opinio diferente,
Deus tambem vos revelar aqui lo.
Apenas - quanto ao que temos alcanado - vale: viver de
acordo! 11
11 - Contexto

A percope, um ''recorte'' nao muito satisfatrio, cuja


s se justifica por motivos prticos, deve ser
entendida a partir dos versculos antecedentes: O apstolo, d=sde o seu encontro com Cristo, passou por uma transmuta~o t?tal de valores, por uma revoluo to radical (por
que nao d1~er: por uma crise de identidade fundamental),
que nada f1~ou de sua vida passada, em que, no presente,se
P~desse apoiar, que lhe pudesse servir de ponto de orienta~o. Ele rompeu com seu passado: o que lhe fora saldo positivo, se lhe tornou negativo - por causa de Cristo. O termo, com o qual qualifica os valores do passado (skybala e~cremen tos - m.... ) i mp 1 i ca em rejeio to ta 1 em 11 d i o a
s 1 mesmo''
.
(F reu d compreendeu parte do assunto ' que est sendo visado em Joo 12,25 e Lucas 14,26, interpretando-o dentro _d~ se~s horizontes, que no so os de Cristo). Mas este odi? nao o deixa parai isado, a roer as suas mgoas , a
consumir-se em frustraes e negaes estreis. A sua vida
recebeu nova orientao e novo contedo em Cristo .
brevid~de

- 188 O cantus firmus, que passou a dominar~ sua vida, se


acha formulado no "hino de Cristo", no cap1 tu lo 2,5-11. A
vida do Cristo passou a ser a sua vida. A comunho com os
seus sofrimentos, 0 ser conforme a sua morte, simultneo
expeincia do poder de sua ressurreio, so o contedo e
a razo de ser de sua existncia e de sua luta. Assim, o
alvo que pretende alcanar, no nenhuma coisa nebulosa ou
indefinida - nenhuma saudade idealista de perfeio espiritual._O alvo a "ressurreio dentre os mortos'' (vers.
11) - nao, como o ex-fariseu o havia imaginado - mas "mediante a f em Cristo". E'. uma dialtica sui generis:Paulo
persegue um alvo que j 0 alcanou, que j tomou conta dele. O alvo a nova vida plena, que o Cristo conquistou e
que os que lhe seguem, havero de alcanar, apegando-se
ele.
111

- Situao

Parece evidente que entre os leitores da carta se enpessoas que se consideravam perfeitas, prontas,
maneira de correntes existentes na comunidade de Corinto. Pessoas que se orientavam no prprio passado, cristos
~ea1 i zados", cujos mritos, reais ou p resumi dos, os conv 1 da~am a acomodar-se no presente. No se pode excluir que
o apostolo tambm tenha visado cristos que j se consideravam ressurgi dos ( 11 Tm 2 18 "asseverando que a ressurreio j se realizou"). P~ra.eles, a pregao de Paulo
representa uma verdadeira ducha fria. Se ele, o fariseu imaculado e zeloso de outrora considerava o seu passado
uma mcula e uma perda - que~ poder ter a cara para apoiar-se em alguma coisa sua em mritos acumulados no passado -_em_justia prpria,' afinal1 - Mas o tenor da perc?pe_nao e a condenao de atitudes do passado, nem a conf1ssao de imperfeies do presente. e convite a prosseguir
rumo ao alvo, com a bssola norteada em Cristo.

:ontra~am

11

IV - Consideraes exegticas
V. 12: Ser essencial que vejamos este versculo em conexo lgica com o antecedente. Tal j ser necessrio por
motivos formais e estilsticos. O verbo katantao (alcanar,
chegar), usado no versculo 11, da mesma categoria dos

- 189 verbos lambano,katalambano (tomar conta, alcanar) e dioko


(prosseguir), empregados no versculo 12: Implica movimento em direo a um alvo que por ora ainda se acha fora de
alcance. Este alvo est claramente definido no vers. ll:E'.
a "ressurreio entre os mortos". - E'. difcil compreender-se que haja exegetas que tacitamente ignoram o vers. 11
(Manfred Mezger, GtHtinger Predigtmeditationen 1962 8 nem
o menciona: "elabon hat kein Objekt und braucht kei~e; 11 ).
A conseqUncia sera, quer que o exegeta queira, quer no,
que os versculos de nosso texto adquiram um carter indefinido, que pairem no ar, suscetveis a muitas interpretaaos - seja no sentido de uma filosofia de vida crist
de carter idealista, seja no sentido de Lessing, que no'
quis alcanar ou possuir a verdade, contentando-se com 11 a
eterna procura" da mesma. Certamente no nos ser permiti d~ apoderarmo-nos do alvo, em antecipao indevida 11 vocaao de cima". Nem o pintaremos com cores apocalpticas,
nem o defini remos como um cu platnico, que haveremos de
alcanar aps a dura luta neste mundo material. O que valer, que nos movamos dentro dos horizontes cristolgicos do apstolo - caracterizados por sobriedade e esperana - pela "vocao de cima, que parte de Deus em Cristo Jes us 11 . N-ao ?eixaremos de ver, em nenhum caso, que nosso correr, que visa alcanar o alvo da ressurreio, se baseia
no fato que j fomos alcanados por Cristo - aquele Cristo
que j consumou a corrida - que em verdade representa o alvo. O "ainda no 11 , assim, no implica s incerteza humana
implica antes o reconhecimento de que estou sendo moldado:
qu~ vou sendo aperfeioado por Deus em Cristo; e o fato de
Cristo me ter alcanado a garantia de que esta obra de
Deus, que se manifesta em meu buscar e em meu correr ser consumada - que a procura no um fim em si mesm;,mas
que o alvo ser alcanado.
Vv.13-14: O apstolo no banca nenhum ser agraciado,que
por mero acidente ainda se encontra nesta terra imperfeit?. Ele confessa: Ainda no alcancei o alvo. Isso no quer
dizer: Uma distncia geogrfica ou um espao de tempo ainda me separam da vida plena em Cristo. Quer dizer: Ainda
sou pecador, criatura imperfeita, ambgua, totalmente carente da nova criao que em Cristo Jesus se realiza Mas
uma coisa ele deixa bem clara: No se compraz com u~a atitude confortvel de agnstico, que se aninha na real ida-

190 -

de incontestvel do seu 11 ainda no''. Ele to ma posio. Volta-se decididamente do seu passado, qualificado por mritos
mais ou menos questionveis, estendendo-se para aqui lo que
est em sua frente (a saber , a vida plena e m Cristo). Ele
no nenhum 11 tronco ou pedra 11 , passivo e insensvel ante
a mo do divino artista que o molda sua image m. Ele se enquadra, se norteia conscientemente rumo ao alvo, ao '' e scopo11tkata skopon). Ele quer esquecer - ele quer correr: e o
que assombra e que es"'te""Seu correr e seu agir no obscurecem a ao de Deus, "a vocao de cima, que parte de Deus
em Cristo Jesus".
V. 15: O termo 11 perfeitos 11 (teleioi)no vers. 15 sera 1ronia? Bem poderamos imaginar que o apstolo tivesse colocado a expresso entre aspas - caso houvessem sido uso
no grego. Mas bem possvel que Paulo entenda o termo na
dialtica entre o 11 j 11 e o 11 ainda no'': Os perfeitos (teleioi contm a palavra telos =alvo!) se caracterizam por
saberem que ainda no sao perfeitos em si - que o so unicamente por se apegarem a Cristo. V. 15b: O cantus fi rmus
dos que seguem a Cristo, em demanda do alvo, permite o contraponto de melodias individuais contanto que sejam disciplinadas, e sincronizadas com o ~antus fi rmus - por Deus.
V. 16: A semntica usada neste versculo parece esttica - estranhamente divergente do "dinamismo" dos versculos precedentes. Mas precisamos considerar que o verb~
ephtasamen (alcanamos) aoristo. Indica um incio - nao
uma posiao assumida. O versculo basicamente diz a mes ma
coisa que os precedentes: Em nossa vida mantenhamos a direo em que fomos colocados por Deus em Cristo.
V - A nossa situao
Conforme a previso dos editores, o nosso te x t o dever servir de base para uma prdica de confirmao. ~ prime ira vista parece uma percope feita sob medida para tal
oportunidade: o jovem, que ainda tem a vida pela frente , se
v compreendido por um apstolo muito humano, que no se
agarra a nenhu ma tradio, que no se acomoda, que entende os anseios mais profundos do jovem, o qual partiu para a longa jornada da vida, a procura de horizontes distante s . . .
Es te ser justamente o recife submerso, no qual o bar-

- 191 -

co do pregador pod e r encalhar. A procura de um ponto de


cont~to, de_ 1 i~ao (Anknuepfungspunkt) entre o texto e a
realidade b1ologica do ouvinte poder deixar os jovens 11 acomod~dos" :m seu ritmo de vida natural, em seus anseios
~ecul 1ares a sua fa~x~ etria, poder idealizar o que no
e e o que nunca sera ideal: a vida humana natural - com
sua primavera, seu vero, seu outono - e com seu inverno
seu declinar na morte. A tentao de confundirmos a rea-
lidade carnal, e x istencial, histrica de nossos ouvintes
com.sua real idade pneumtica e soteriolgica se torna especialmente g~ande, porque a expectativa da comunidade (a
pre-compreensao existente) costuma seduzir o pregador a enveredar por ca minhos condicionados pela biologia e pela
psicologia: "Vocs, jovens, ainda esto no incio da caminhada. A~nda no alcanaram a meta. Vo passar por muitas tentao:s . e por muitas lutas at chegarem ao alvo distante. Mas e 1s:o que o jovem quer. Vejam como o apstolo
conhece.os anseios de moos como vocs ... " - Se no quisermos trair o te!to, deveremos deixar claro que o ser jovem
ou ser adulto nao tem a ver nada com a corri da e com o alvo a ser
alcanado - que tanto o adulto como o jovem vo sendo colocados por Cristo em um novo caminho - o do discipulado cuja meta final a vida plena em Cristo consumada em sua
r:ssur~eio, e a ser consumada em nossa'prpria ressurreiao. So neste caminho o "ainda no" e o 14 j" tero a vali dade que nosso texto lhes confere.
VI - Sugestes para a prdica
Contemos a histria de Ferno Dias Pais Leme (bandeirante do sculo 17), o "caador de esmeraldas": Ele tinha
ouvido falar de uma i mensa jazida de esmeraldas, existente numa serra p~rdida nas matas do Brasil central. Um sonho, uma obsessao se apoderara dele: Preciso descobrir as
pedras prec!osas, custe o que custar! - Ele se pe frente de bande1 ras, que passam anos a fio no serto bravio
enfrentando perigo, doena e morte, procura do tesour;
fabuloso. Velho e _exausto, afinal encontra uma mina de pedras ~erdes, que Julga serem esmeraldas. Morre na iluso
de afinal ter realizado o grande sonho de sua vida - embora s~us. comp~nhei ros desiludidos j tenham descoberto
que a Jazida nao continha esmeraldas, mas sim, pedras ver-

- 192 -

des, sem valor. - Um sonhador, um idealista, destinado a


falhar, porque se agarra a um ideal irreal, s existente em
seus sonhos e anseios.
11 Maldita a vida,
que promete e falta 11 (Guerra Junqueiro).
"Passamos a vi da a buscar e a perguntar - at que nos
tapem a boca com uma p de terra. Mas aqui lo ser resposta?'' (Fr. Nietzsche).
( 11 AnknUpfong i m \~i derspruch 11
a ilustrao mostra o
queacorridadafno)-Jesus Cristo tambm pe os homens
em movimento. Noosdeixa satisfeitos consigo mesmo, "realizados" com seu prprio trabalho, suas inclinaes, s~us
hobbies. Exemplo: os discpulos que chama para lhe seguirem: Deixam as redes, deixam sua vida antiga, deixam tudo
que os amarrara ao passado - para seguir a Jesus e para anunciar o seu evangelho. No sero eles semelhantes ao "caador de esmeraldas"?
Vejamos o caso do apstolo Paulo: Ele j tinha sido um
"corredor" antes de seu encontro com Cristo. Mas ele tinha
co~rido numa direo errada. Tinha corrido, seguindo o seu
p~oprio corao, que ainda no tinha sido iluminado pela
fe em Cristo. Sua vida assim tinha sido marcada pelo fanatis~o e pelo dio. Eie julg~ra que era dono da verdade~
que t1~ha tudo, que estava cumprindo a vontade de Deus.E
um fariseu - e os fariseus tanto no tempo de Jesus como
em nossos_tempos, so os q~e pensam que j c~egaram_ao a~
vo: que :ao perfeitos - ou que sua corrida nao prec1sa_d
or1entaao nenhuma - j que eles tm a orientaao em si .
mesmos, em sua vida antiga, em sua prpria justia. - Foi
a um tal homem que Jesus se ps no caminho, fazendo-o parar e acabando de vez com sua vida antiga. Depois de seu
encontro com Jesus, a vida de Paulo mudou. Mudou para valer mesmo. Antes ele tinha agido como se el~ mesmo era o
dono da v~rdade. Agora descobre que Cristo e a verdad~,que
a verdadeira vida s se encontra com ele. Antes ele tinha
bancado 0 _mestre. Agora se transforma em aprendiz. E_sabe
que devera ser aprendiz por toda a sua vida. A sua fe em
Cristo, a sua convivncia com ele e com o povo de Jesus lhe ensinamque_eleno poder parar nunca,satisfeitoe ~co~o
dado, como se ja tivesse chegado ao alvo. Apesar de ja viver nesta nova vida, marcada pelo perdo e pela graa,ele
sabe que ainda no chegou aoalvo.Sabeque ainda no temo que

- 193 -

Deus lhe quer dar no fim da corrida. Sabe que continua um


homem fraco e falho. Diz, em sua carta aos Filipenses:"No
que j o tenha alcanado ou que j estivesse perfeito. Mas
toco adiante, a fim de alcanar o alvo - uma vez que fui
alcanado por Cristo Jesus. 11 Notamos que Paulo no olha
mais para trs. Ele mesmo no precisa. No precisa mais ligar o prprio passado. Cristo lhe perdoou as falhas de ontem. Paulo nem liga as falhas e fraquezas do presente (que
eram muitas; ele era um homem adoentado e idoso). Liga Jesus Cristo. E s. Corre para a frente, em direo ao alvo:
a vida plena em Jesus Cristo. E aquele alvo no uma coisa sonhada. Ele j sente o poder daquele alvo, que j tomou c~nta dele - como ele diz: que j o alcanou.
Ha um dia em nossa vida em que Cristo tambm nos alcana; em que nos chama para desistirmos de seguir os nossos
sonhos de grandeza e de realizao prpria; em que nos convida a lhe seguirmos, em f e obedincia. Ser o dia de hoje? O dia da confirmao pode ser a grande oportunidade de
nossa vida de aceitarmos o caminho de Cristo e de prosseguirmos orientados por seu evangelho. Deus nos quer confirmar neste caminho da f. Quer dar uma orientao clara a
nossa vida. No quer que corramos sem alvo, toa, ou que
nos deixemos levar por qualquer onda ou bossa - ou que nos
acomodemos, como faz tanta gente, jovem ou idosa, que j
nao quer nada com nada.
Claro que ns no podemos programar o dia em que Deus
nos encontra e em que ns nos deixamos alcanar por ele.t
um mi l~gre, quando acontece o que aconteceu com Pedro, Tiago, Joao e Paulo. r um milagre, quando uma Sandra e um Ju1 iano, uma Cludia e um Ricardo se do por achados e entregam sua vida a Cristo. Mas ns podemos ficar com os ouvidos e com o corao abertos - prontos para o milagre, desejosos que ele acontea. E bom sabermos que no precisamos ir ao longe, procura de um Cristo distante. Cristo
est muito perto de ns. Ele est agindo entre as pessoas
que n~s rodeiam. Poderemos ter a certeza que o seu evangelho nao ~os vai 11 deixar em paz". Que vai fa:zer arder o nosso coraao, quando nos desviarmos para caminhos que no do
em lugar nenhum - "sombra e gua fresca" que o dinheiro prom~te, honrarias e posio social, com as quais nossa ambiao nos engana. O evangelho de Cristo no nos vai deixar
em paz, nesta falsa paz, em que o homem to faci ]mente se

- 194 vai acomodando. Pelo evangelho de Cristo, Deus quer nortear


a nossa vid a para um alvo definido e claro. Um alvo que s
ser revelado totalmente na ressurreio, na vida plena do
novo mundo de Deus. A bssola - cada um a recebeu por Deus
mesmo . Ela foi sensibilizada no tempo da doutrina. No joguem essa bssola fora. Deus no quer que vivamos uma vida
sem rumo . Cada um de n6s foi chamado para viver uma tal vida norteada por Cristo. Nada importa que sejamos i mperfeitos ou fracos. Os discpulos de Jesus tamb6m foram. O que
importa que fiquemos no caminho da f, junto com mu itos
outros - que no tiremos o olhar daquele que v ai em nossa
frente, que garante que chegaremos ao alvo que Deus preparou para aqueles que o amam.

Tillich, Paul, Dinmica da F. Trad. de Walter O. Schlupp,


Editora Sinodal, 1974, 86 paginas.
A fe sera algo vivel em nossos dias? Mais que isso, nos
diz o autor: A f esta presente, e necess ria, em todos os perodos da histria da humanidade: quer como fora integradora, que une e d forma a todo s os elementos
intelectuais, emocionais e corporais do ser pesso~l perant: o ~nfinito e incondicional; quer em distoro es , c~
mo fe ~dolatra no voltada para 0 infinito, manif es tand~
se entao como fora que desintegra e destri. Leia-s~ ~~
m~ 0 autor chega a tai s conclus~es partindo d e
dcf1nioes positivas e negativas da f; dos smbolos adequados
para tratar da fe ; descrevendo vrios tipo s de f, qu e
po: s uave: geram vrios tipos de ao, atitudes e comunhoes de_f~; desenvolvendo a relao e tenso e ntr e certeza e duvida; entre f e razo entre verdade de f
e
verdad es ~~entfica, histrica~ filosfica; conclui nd o
que uma c:encia que permanece cincia no pod e contradizer uma fe qu e permanece f. Poi s a f se justifica a si
mesma e pode ser atacada s em nome de outra f . Este e
~ triunfo_da din~mica da f: Que toda n egao da f
ja
e ex pressao de f e . Tal assunto de extrema atualidade .

- 195 SEXTA-FE
s a a s

R A DA

PAIX7\0

50,4-9

Milton Schwantes
(1) Ao apresentar a traduo do texto, procuro salientar sua diviso:
O Senhor Deus me deu
lngua de aprendizes,
para que eu saiba responder ao cansado.
De manh em manh desperta meu ouvido
para que eu oua como os aprendizes.
O Senr.or Deus abriu meu ouvido.

E eu no fui rebelde,
nao recuei .
Dei minhas costas aos que batiam
e meu rosto aos que arrancavam (a barba).
No escondi meu rosto
de afrontas e cuspidas.
Pois ,o Senhor Deus me ajuda:
por isso no serei vencido
por isso fiz de minha cara'uma pedra.
E assim experimento que nao serei envergonhado.
Perto esto que me declara justo (=Deus):
Quem far processo contra mim?
Apresentemo-nos juntos!
Quem meu adversrio de processo?
Aparea diante de mim!

t isso! O Senhor Deus me ajuda:


Quem me poder condenar?
(t isso! Todos eles iro se decompor como um vestido
(velho).
A traa os comer.)
(2) Este texto e a experincia de uma pessoa. Sabe-se
preparada e enviada por Deus (vv.4-Sa). t torturada por outros (vv.Sb-6). Mas ao mesmo tempo descobre que Deus no a

- 196 abandona na tortura (v.7) e que a ~ibera para ~m ~esafio


contestante (vv.8-9). Esta descriao do ~e~to e simples.Mas
prepara duas valiosas decises para a predica:
Primeiro: Nosso texto fala de um 'eu', de uma pessoa
que no que diz de si se coloca na tradio dos profetas.Mas
nao fala de si como sendo o 'servo de Jav'. ?or isso een- se faz necessar10
-
1nc 1 u1 r na p r dica a_ questao
soque nao
do 'servo de Jav' apesar de que estas infor maoes de pano

de fundo podem ser' abordadas no preparo. p ois


cos tuma-se
- 1
d
rsos
ver em Is 50,4-9 um dos 'hinos do servo de Jave . 1:.Pe (
no livro do profeta do exlio babilnico Deuteroisaias Is
40-55, apro x imadamente entre 550 e 540 a.C.) Trata-se de
Is 42 1-4 49 1-6 50 4-9 52 12-53,12. Todos estes textos
'
'
' pela
'
'
' de ' ligaao
- com o contexto. Ne( 1es
se caracterizam
falta
f
especialmente controvertida a identidade deste :ervol c .
. ele o pr.opr10
- . Deutero1saias.

'?Seria eeo
At 8 ,3 4)
! Seria
te
Israel do exlio (cf Is 49 3!)? Seria ele uma parte des
'

( cf. Is 53,4-6)? Ou se deveria


contar 1nclus1ve
com u.ma mudana de identidade nos diversos textos? Mas, valha isto
como pano de fundo. Pois a pessoa que fala em nosso tex~o
no assume ttulo tambm no o de discpulo, de aprendiz.
'
. e- uma categor ia a ser
O f .inal do v.4 o evidencia:
aprendiz

torna-osv 4corn
com~ar~ d a com o_ autor de nosso texto;_ o ouv '. r, .
se0
parave1s, mas nao os identifica. Tambem no in1c10 d . .
percebe que o autor no se intitula de aprendiz. Aqui, re
alidade que interessa no a do aprendiz, mas a da 1 ingua.
Essa uma 1 ngua treinada 1 ngua de eruditos (Almeida).
Assim, discpulo uma reaiidade a comparar. ConseqUentemente no se deveria partir do discpulo na prdica.

~egundo: A segunda deciso est preparada na pri me ir:~


Respeitando-se o fato de que em nosso texto relata um~ pe .
soa sem se caracterizar como 'servo de Jav', no convem ver
nela a pref~gurao de Jesus, como o NT o faz,espe~~almen
te em relaao ao ltimo dos 'hinos do servo de Jave em Is
52,13-53,12 (cf. Lc 22,35ss)."Jesus" noest escr~to em nosso texto. Vejo nisto uma grande chance, pois nos da a tarefa de pe netrar em seus segredos sem aquele prisma que, ?
mesmo tempo que vai centralizando tudo nu ma determinada imagem de Jesus, uniformiza as experincias do povo de Israel. E nisto reside um desafio inquietante, que ode perceber

- 197 em Is 50,4ss perspectivas que requeiram que se fale de Jesus.


(3) O autor de Is 50,4-9 fala , antes de mais nada, de
sua experincia com o Senhor. O interesse primrio est voltado para o Senhor. Da experincia com ele que basicamente se fala. Estas frase s soditadospelamaneirade ser de nosso texto. Pois cada uma de suas partes encabeada por algo que Deus faz: "D e us me deu" (v.4), "Deus me ajuda" (vv. 79), ''Perto est o que me declara justo" (v.8). Assim o autor torna evidente que o texto que temos diante de ns produto do agir de Deus. Disto a prdica no pode fugir. Penso que este compromisso, que nos colocado, no seria c~m
prido atravs do uso incessante da palavra Deus. A questao
tentar perceber no texto e no hoje quem Deus, em que
real idade vivido e de que maneira peculiar articulado.
Estou tentando dizer que o sermo sobre Is 50,4ss pressupe a procura por um posicionamento quanto maneira de falar de Deus hoje. Vejo no texto indicaes que ajudam nesta caminhada.
(4) O autor de nosso te xt o relaciona a seu rosto o que
diz de si. Recebeu 1 1 ngua ',e os 'ouvi dos 1 ( 1 ngua antes
dos ouvidos!) lhe foram constantemente acordados e abertos
pelo Senhor (vv. 4-5a). t'. surrado no 'lombo', desonrado na
'face', cuspido na 'cara' (v.6). Mas, devido ao auxlio do
Senhor, pode fazer de seu 'rosto' uma pedra dura (v.7). O
que ocorre com esta pessoa ocorre em seu rosto. Seu rosto
comprome tido, desprezado, endurecido. Realizao e
tortura a se concentram, com o que est dito que, quando
se fa la do rosto no se fala de uma parte, mas do todo da
pessoa. Dizamos acima que Is 50,4ss basicamente fala do
Senhor. Agora deve mos dar um passo a mais, dizendo que a
experincia do agir de Deus uma experincia de expresso,
uma descoberta do rosto. Assim, em poucas palavras, a questo que se apresenta, tambm para a prdica, : Como posso
ter cara? Como ser gente? Nisto o autor nos transmite experincia, aprendizado:
(5) Seu incio est no preparo e na terefa, dados por
Deus ao autor de nosso texto (vv.4-5a). H insistncia no
preparo. t contnuo, de manh em manh. A tarefa a de fa-

- 198 lar, de usar a lngua e de responder. Em tudo isso a descrio de preparo e tarefa tem certo sabor terico; quase tudo
se desenvolve entre Deus e o autor. O carter terico do vv.
4-Sa tambm se evidencia a partir do todo do texto: acontece que nele no se retorna ao incio.Ond e isto poderia ocorrer (nos vv.5b.7.8), se recorre a outra terminologia. ConseqUentemente a prdica no se pode prend er aos vv . 4-5Ll.Deve saber l-los na dimenso do restante do aprendizado. E
nele, nada de belo. A vida se apresenta ao nosso autor em
sofrimento e humilhao (v.6). t duro ficar firme (v.5b),
com o que a dor sofrida no admitida como destino, mas
na luta. Luta e dor no estavam previstas no pr e paro e na
t~refa dos vv.4-Sa. Por isso, dos vv.4-5a para os vv.Sb-6
ha uma mudana radical. Seu motivo no explicitado no
te xto. Mas pode-se deduzi-lo. Os que na tarefa haviam sido
de~ignados de 'cansados' passaram por uma transformao.Os
: x i lados cansados (cf. Is 40,28s) se evidenciaram como crueis i~imig~s, e o permaneceram. Os que perguntavam (v.4)!
por f1r:1, tem de ser desafiados (vv.8-9). Esta transformaa_o
p~ra pior que ocorre com os ouvintes de se observar na predica. P arece -~e importante procurar pela identidade atual
destes adversarias. Is 50,4ss insiste em que no os desta~uem~s dentre o mundo, mas dentre o prprio povo, a prpria
1g reJ a.
Er:1 luta_e dor, o autor de nosso texto chega a uma nov~ art1cul~ao_do que lhe o Senhor (v.7, observe quelinguagem e identica dos salmos). Nesta nova articulaao
nada do qu~ fora colocado nos vv. 4-Sa reaparece. O que ag_?ra vale e ~ e~perincia de ajuda. Esta ajuda, porm, nao
tem car~cter1st1cas de vitria. No ajuda de vitria, mas
d~ s~f:imento. Em l~ta e dor, para o autor a ajuda de Deus
sign 1! 1ca que :1e nao ser vencido, que no sumi r na lama,
que nao perdera sua cara. Se observo bem o final do v.7 o
r~sume de ~aneira fundamental: "eu sei (~xperimento, vive~
c10) que nao serei envergonhado." Trata-se de um saber pratico da companhia de Deus no sofrer. E aqui se vai descobrindo que a partir de Is 50,4ss se faz necessrio falar
de Jesus. Esta prdica precisa estar na vivncia da cruz.
No desafio culmina o aprendizado de nosso autor (vv.
8-9). Se observo bem, este desafio se dirige aos 'cansados '
(v.4) que viraram torturadores (v.6). A linguagem jurdica. t possvel que o autor de fato tenha estado envolvido

- 199 -

em proces ~~ sendo ento este o motivo de sua maneira de falar. Mas Ja que falta o juiz terreno (quem declara justo
Deus) e como no v .9 (tambm nos vv.lOs) se pode observar uma
passagem para_outra linguagem, parece-me ser mais provvel
que o autor so faz uso de palavras jurdicas, sem que se tenha que_ co~tar com a real idade de um processo. Seja como for,
o de~af1 0 e ~l~ro. E e l e impressiona, pois vemde uma pessoa
sofrida e_reJeitada, da qual se esperariam lamentos e no
c~ntestaoe~. Que.esta_cara quebrada - contornando expectativas norma i s - ainda e capaz de desafiar, provocar e contestar rni lagre. Para entend-lo, o autor aponta para 0
Senhor. A p e rse~erana e a liberdade de quem fala em nosso
texto se devem a ex per incia da ajuda de Deus. A companhia
de Deus o l eva a agUentar a humilhao. E esta companhia leva ao de safio . A justia que o Senhor atesta (v.8) liberta
para o des afi~; a provoca o vem desta certeza de justia.
Deus lhe mantem e garante a cara, com isso tem cara para
provocar: A 1 iberdade de apanhar (v.6) envolve a de contestar e gr~tar (vv . 8-9). Is 50,4ss fora a observar que o libertado e contestador. Muita coragem para a prdica!

(6) Tudo o que foi dito at aqui est em funo da predica. Para ~ i m, Is 5?~-9 parece convidativo para a prdica
de S~xta-f e1 ra da Pa1x~o, porque fala do crucificado sem 0
mencionar e porque, alem de exigir que se fale do crucific?do, f~ra a falar da~ cruzes dirias, dos rostos em desf1~uraao. Is 50,~ss _nao fala diretamente de Jesus, mas seu
a gir ~ertamente nao e outro do que o do v. 7: experimentamos
~ue nao est~mos abandonados na desgraa. Em outras palavras
isto quer dizer: o poder do pecado est quebrado. O novo da
c:uz d~ Jesus que o seu sofrer vigente para ns. Esta
d1mensao do sofrer em favor de outros falta em Is 50,4ss e
faz com que e:t~ texto passe por renovao a partir de Jes us. Mas eu d1z~a que o convidativo em Is 50,4-9 tambm
o fato de que nao admite falar do crucificado sem incluir
as cruzes dirias, sem incluir nossa cara. E a o te xto a pres~ n~a. todo um aprendizado na experincia com Deus. Este 1n1c1a pelo preparo e pela tarefa de falar e redescobre no sofrimento pela tarefa a presena de Deus como liberdade para o grito, o desafio provocador. Nesta dor renovada a e x perincia de Deus e a concreticidade da tarefa
com o que o s ofrer dei xa de ser destino para ser percebldo

- 201 -

- 200 como possibilidade tranformadora. Nesta dimenso, a prdica, ao meu ver, deveria falar de doena, rejeio social :
opresso econmica, como sendo cruzes dirias, maneiras de
perder a cara.

HOLLENBERG-BUDDE-BAUMGARTNER: Gramtica ~!e


mentar da lngua Hebraica, traduo de Nelson Kirst,
461 pp., 22 x 15 cm, Editora Sinodal, So Leopoldo, RS .

3.::1 edio,
Apresentar uma gramtica hebraica em portugus, publicada no
Brasil, no tarefa freqente . . .
Merece calorosos aplausos o Dr.
Nelson Kirst, professor na Faculdade de Teologia Evanglica, que
com um grupo de abnegados alunos
tomou sobre si a fadiga insana de
apresentar uma gramtica hebraica
ei;t por~ugus a todos os que entre
nos se mteressam pelo idioma bib~ico .do A. T. Segundo tudo o que
vi e li, o trabalho foi realizado com
extremo cuidado e acribia: no m e
lembro de ter encontrado um erro
nos textos hebraicos: sapienti sat!
Como as gramticas hebraicas
e~ geral, tambm a presente traduao de Hollenberg-Budde-Baumgartner a presenta primeiro a parte
gram~t~cal propriamente dita com
a fon~t1ca, morfologia, sintaxe e os
pa radigmas ou modelos respectivos.
Esta part~ !laturalmente extre
ma!llen~e anda, mas o aluno tem a
satisfaao de encontrar em seguida
muitos exerccios e trechos de leit~ra em car~cteres hebraicos, que 0
a1udam a por em prtica e exercitar o que aprende, a pouco e pouco
na parte gramatical. Tambm h'.
trechos no vocalizados e por sinal
so trechos do livro de Tobias e do
N. T. , a inscrio do canal de Sil o
e trechos dos escritos de Qumrn ,
logo passos que o aluno no vai
encontrar na sua Bblia hebraica e
porta nto deve interpretar por es-

1978

foro prprio. A ltima parte, tambm ela muito valios a , abrange os


diversos vocabulrios hebraico-portugus e vice-versa, em. o_r~em alfabtica, o que constitui otimo r~
curso para o aprendizado de vocabulos e significados .
Por conseguinte professor e alunos tm mo um timo m a nua l
para o aprendizado desta lngua
biblica. Aprender o hebraico ~ ~ m
pre custa um grande es foro (Ja S.
Jernimo o sentiu . . . ) e mesmo
tentativas recentes para torn a r o
aprendizado mais dir:eto e vivo , como se procede nas 11ngua s modernas, no dispensaro esforo ~ ~a
diga ; mas com uma gr~mat1ca
assim muita coisa se facilita: o
professor no precisar procu_n~.r
afanosamente frases de exerc1c10
ou pequenos trechos de leitura nem
o aluno ter de manusear manuais
em alemo, franc s ou latim.
Seja-me permitido exprimir um
desideratum: o tipo dos modelos do
verbo e dos subst a ntivos (pp. 194215) parece muito pequeno ; certamente tem a vantagem de apresentar o modelo numa s pgina.
R esta fazer votos de que com este
auxilio mo muitos se abalancem
a estudar o hebraico , para apreciar
melhor a palavra de Deus na lingua original e pene trar-lhe melhor
os segredos e todos os matizes.
P. J. Balduino Kipper, S. J.

da revista "Perspectiva Teolgica"

DOM

N GO

L u c a s

DE

P S C OA

24, 1-12

Gottfried Brakemeier
1 - Da verdade da Pscoa depende a f crist. 11 se Cristo
no ressusci tau, v a nossa pregao e v a vossa f 11 ( 1 Co
15, 14). Sem a Pscoa, a cruz de Jesus Cristo nada mais seria
do que o exemplo de mais uma tragdia humana. Ela seria apenas a confirmao de que o mal costuma triunfar por sobre o
bem e que a morte onipotente . Entretanto, a Pscoa 11 i ncrve 111 em sentido literal, pois conflita com as nossas experincias, com o que vemos dia a dia. Quem nos garante que
a notcia da ressurreio de Jesus no seja mera 11 conversa 11
(Lc 24,11)? P scoa, realidade ou fico?
O pregador no pode fugir desta pergunta . Certamente ele
mesmo se defronta com ela. Em todos os casos, porm, ele deve resposta comunidade e, atravs dela, tambm sociedade.
Em toda pessoa se esconde potencialmente um Tom incrdulo
(Joo 20,24 ss) que procura por evidncias. E isto de modo
algum condenvel. Pois a incredulidade de Tom e de seus
semelhantes faz jus ao fato de a Pscoa ser o totalmente anormal neste mundo. F pascal s existe como incredulidade vencida - assim as histrias de Pscoa n-lo mostram. Se crer
na ressurre1ao for fcil, certoque a Pscoa no foi entendida em todo o seu alcance. Importa suportar o escndalo que
a mensagem pascal representa (cf. Atos 17 , 31 ss). Ela tambm
no permite o desvio para uma interpretao que lhe extrai
apenas verdades gerais ou um significado metafrico.APscoa
no diz que aps as chuvas o sol voltar abri lhar para todos, ela no significa que seremos vitoriosos a despeito das
nossas derrotas e ela tambm no expressa a certeza de a causa justa finalmente ser coroada de xito desde que a persigamos com tenacidade.APscoa nem fala em primeiro lugar de ns,
mas da ressurreio de Jesus, de um acontecimento, portanto 1
que teve lugar num determinado momento da histria, ''no terceiro dia" aps aquela sexta-feira, na qual Jesus morreu (1
Co 15,4), ou seja, no primeiro dia da semana (Me 16,2 ; Lc 24,1).
Est claro que este acontecimento se reveste de profundo significado para a humanidade, pois abre o caminho para verdadeira esperana. Mas impossvel isolar o significado da Ps-

202 -

coa do acontecimento que o fundamenta. Que sabemos a respeito dele, e qual a real idade a ser testemunhada?
A resposta dificultada pelas divergncias entre osevangel i stas,
especialmente flagrantes nos relatos da Pscoa.
O testemunho mais antigo de Paulo, que menciona uma srie
de aparies do Jesus ressuscitado (1 Co 15, 3b ss). Em comparao com esta notcia sucinta, os relatos pascais dosevangel i stas
apresentam, em escala bem maior, refle xo da comunidade. Os evangelistas (e j a tradio por eles usada)
fundiram a notcia da Pscoa com o seu prprio testemunho.
Mas vejamos isto na percope proposta como texto de prdica.
11. O contedo de Lc 24, 1-12 , em sntese, o seguinte:
Na madrugada do primeiro dia da semana tendo observado a lei
do descanso no sbado, mulheres vo ao' tmulo de Jesus com a
inteno de embalsam-lo. Os nomes de trs delas so n~ncio
nados no v. 10. Encontram a pedra removida e o tmulo vazio.
Estand~ elas ainda perplexas, aparecem dois jovens, cujas ve s tes ~ri lhantes_os identificam como mensageiros de Deus e que
e~pl~cam 0 !enome~o: "Por que buscais entre os mortos ao que
vive. Ele nao esta aqui' mas ressuscitou11 (v. 5b.6a). Lembra m
eles que Jesus, estando ainda na Galilia falava a respeito
da necessidade de o Filho do homem ser en~regue nas mos de
pecadores, ser crucificado e ressuscitado. As mulheres entendem e.voltam aos onze discpulos anunciando-lhes o que vira m
e ouvira~. Mas estes consideram ~s suas palavras como convers a
t~la e nao lhes do crdito. Pedro porm, corre ao sepulcro,
ve apenas os len
-. de 1 inho e se ' admira. Alias,
.. 1
e- poss1ve
. ~ois
que 0 v. 12 SeJa incluso posterior no texto de Lucas. Ele fal~a_em alguns manuscritos e parece ser formulado a partir de
0 0 2
0,3ss. Mas a incluso no altera o sentido do texto de
L~ca:: A_descoberta no produz em Pedro a f, ele permanece
tao 1ncredulo como os d ema1s
ao terem ouvido
.
as palavras das
mulheres.
O presente trecho tem paralelo em Me 16, 1-8 (cf. tambm
Mt 28,l~s;Jo.20,llss), mas algumas diferenas caem na vista.:.
Lucas nao mais fala da preocupao das mulheres com a remoao
da pedra. Em vez de um jovem intrprete,aparecem dois. r comum a a~bos os evangelistas que s mulhe~es anunciada a ressurreiao de Jesus, mas enquanto em Me as mulheres so encarregadas de levar aos d~scpulos a ordem de se dirigirem Galilia, onde estes verao Jesus, em Lc os jovens ape nas lem-

- 203 -

bram do_preanncio de Jesus e evidenciam que os acontecimentos estao em conformidade com o plano de Deus. E finalmente
h uma divergncia na reao das mulheres: Conforme Marcos:
as mulheres, possudas de temor, nada disseram a ningum,conforme Lucas elas foram aos discpulos e relataram o acontecido sem, no entanto, poder convencer.
No procuraremos explicar aqui as divergncias. Na maioria dos casos elas deixam entrever o que para os evangelistas particularmente era importante e o que eles quiseram
acentuar.Tomando por base o te xto de Lucas, tentaremos mostrar o que este enfatiza e o que vlido para a histria de
Pscoa em geral.
Todos os evangelistas concordam na afirmao de mulheres terem descoberto o tmulo vazio na madrugada do primeiro
dia da semana (Joo fala apenas em Maria Madalena). Mas esta decoberta em si no o motivo para a f na ressurreio
de Jesus. Um tmulo vazio ambguo. Por isso existe a necessidade de interpretao, dada em Lc por dois jovens: Ele ressuscitou. O sepulcro vazio um sinal, mas no demonstrao.
Como surgiu ento a f na ressurreio de Jesus? O nosso trecho no fala disto, sendo por esta razo incompleto como texto de uma prdica no domingo de Pscoa. Ele deve ser interpretado dentro do seu contexto. E a fica claro que os discpulos chegaram a crer em virtude das aparies de Jesus (Lc 24,
13 ss; 34; 36 ss; 1 Co 15,3b ss). Tambm a mensagem dos jovens deve ser compreendida a partir destas aparies. Ela aponta para o que os discpulos em breve iriam experimentar e
, por isso, o centro do trecho .
Jesus, portanto, se evidencia aos discpulos como vivo.
Esta evidenciao igualmente no deve ser confundida com uma
demonstrao da verdade da Pscoa. Tal demonstrao no existe, pois as aparies pascais tambm poderiam ser explicadas
de maneira "natural", como vises subjetivas dos discpulos,
etc. Mas o que no condiz com isto o fato incontestvel que
todos o~ discpulos preferiram o martrio negao da sua f.
na Pascoa nada aconteceu, isto se torna imcompreensvel.
Ha p~is evidncias da ressurreio de Jesus, mas no demonstraoes cientficas ou racionais.
Esta, porm, ainda no toda a verdade sobre a Pscoa.
Lucas, neste texto, ressalta mais dois aspectos fundamentais:
1) Desde a Pscoa Jesus deve ser procurado no entre os
mort os, mas sim entre os vivos (v.5). Isto representa uma pro-

s:

- 204 messa para toda a humanidade. As apa~ies pascais tiveram o


seu tempo, elas no se repetiram em epocas posteriores (cf.
1 Co 15,8). E, mesmo assim, f pascal no se baseia apenas
no que os apstolos e as mulheres disseram. Pois Jesus no
deixa de revelar-se como vivo aos que nele depositam a sua
confiana. A Pscoa tem duas dimenses: Ela um acontecimento do passado e concomitantemente uma realidade dinmica
do presente. No Esprito Santo o Cristo vivo vem a ns (cf.
At 2,1 ss; Jo 14,16 ss; etc.).Por isso a Pscoa no se resume
11uma notcia do passado, a sua verdade se nos evidencia ao
e xperimentarmos o poder do Esprito . Em termos da nossa percope:Desde a Pscoa no mais encontraremos Jesus entre os
mortos. Quem o tratar como morto, no o achar. Quem falar
de Jesus, deve falar dele como vivo. No tmulo ele no est.
2) A Pscoa abre os olhos para o verdadeiro significado
do agir, do pregar e do morrer de Jesus (v . 6 s). A Pscoa revela que, em Jesus, Deus mesmo agiu neste mundo. Fica evidente que Jesus no falou e agiu em qualidade particular, mas
que Deus estava em sua palavra e ao. Ele esteve tambm na
morte de Jesus, na cruz - no que Deus mesmo fosse diretamente responsvel pela crucificao de Cristo. Foram os homens que assassinaram Jesus. Mas Deus entregou (!) o seu Filho nas mos de pecadores por amor a estes (cf. Lc 20,9-18).
A cruz mostra o amor daquele Deus que sacrifica a vida de seu
Filho, e a Pscoa mostra que 0 amor de Deus vence a maldade
hu~ana. Por isso existe agora esperana: O amor de Deus
m~1s forte do que pecado e morte (cf. Rm 8,38 s; 1 Co 1 ,25).
Nao somos destinados a morrer em virtude dos nossos crimes
e d~s de outros . Somos destinados a viver. Deus nos ressuscitara da nossa morte . Por isso, pregar o evangelho significa
11
anunciar e m J e su s a ressurreio dentre os mortos" (.A t 4,2).
111 Pscoa, real idade ou fico? Depende do que reconhecemos como sendo 11 a realidade 11 Ex iste a realidade da
cru7 9e Je s us Cristo. Ela est presente em toda a parte:
Tra1ao, suborno, violncia, abuso do poder, dio, cinismo,
sadismo e assassnio de um lado, e sofrimento, abandono de
Deus e morte horrvel de outro. Todos e xperimentam de uma ou
de outra forma o que na histria da pai xo de Jesus descrito , uns mais , outros menos. Uns participam dos crimes praticados por Judas , os sumo-sacerdotes, Pi latas, os soldados ro-

- 205 manos, outros so vtimas e participam do sofrimento de Jesus. A rigor, participamos todos de ambas as coisas, tanto
dos cri mes como tambm do sofrimento, embora em propores
difer e ntes. Assassinar e morrer, causar e agUentar sofrimento, trair e ser trado, vencer e ser vencido - esta a
realidade determinante neste mundo? Ela to forte e to
bvia que nos faz duvidar da Pscoa .
No entanto, a Pscoa justamente quer levar - nos a duvidarmos desta realidade. No como se ela no e x istisse. A
Pscoa no declara a cruz de Jesus ine x istente, mas ela vence a cruz . Naquele primeiro dia da semana, h quase dois mil
anos atrs, uma outra realidade surgiu neste mundo, mais forte do que os poderes que metam, mas poderosa do que a morte.
to poder de Deus que ressuscitou ao Senhor Jesus e que tambm a ns ressuscitar (1 Co 6,14). Solido, inferno sofrimento, opresso e morte - no necessrio demonstr~r que
tudo isto muito real. Mas a pergunta em qual das realidades ns cremos: Na onipotncia da morte ou na onipotncia
de Deus? Ns nos conformamos com o jugo de pecado e morte
neste mundo ou temos a coragem de nos fiar na realidade da
Pscoa?
Se a Pscoa se tornar a realidade determinante para ns ,
a nossa ~ida muda. Seremos capazes de agUentar o aspecto da
morte e nao mais precisamos fugir dela. Um dos principais
problemas do ser humano que ele se encontra em permanente
fuga da morte: Procuramos suprimir o pensamento da morte em
ns e nos portamos como se fssemos i mortais. Evitamos na medida do possvel o contato com o que nos lembra a morte, com
doentes,_com a misria e com os desesperados. Nutrimos esperanas vas , temos medo do envelhecer e nos refugiamos no mundo dos nossos sonhos . Cada um procura construir o seu paraso como pode - no raro s custas dos outros. Fugimos da morte em vez de oferecer resistncia a ela, fugimos, porque somos fracos e sabemos que qualquer dia seremos a sua presa . Fugimos enquanto d . Onde esto os que so capazes de ver e de
agUentar a morte, porque nela no precisam crer? Por que no
h mais combate, ao assassnio, injustia ao dio violnci~, em suma, morte neste mundo? Queir~ Deus pe~doar-nos
por vivermos tantas vezes como se a Pscoa no e x istisse e
c9mo se Jes~s estivesse ainda entre os mortos. Graas a Deus ~
nao som~s nos que devemos produzir a Pscoa neste mundo.Deus
fez a Pascoa para ns e ele pode ressuscitar-nos dos nossos

- 207 -

- 206 fracassos to bem como do tmulo que em qualquer parte j


nos aguarda.
IV. A prdica poder tomar o seu ponto de partida na mensagem dos jovens: 11 Por que buscais entre os mortos ao que vive?'' Pois aqui .entram em coliso a nova real idade e a velha_.
O sepulcro o smbolo da onipotncia da morte, mas: 11 Elenao
est aqui" - estas palavras denunciam a derrota da morte.Que
Jesus ressuscitou, que o seu tmuloestvazio,distovive comunidade crist. O pregador no deveria problematizar excessivamente a questc histrica da ressurreio de Jesus, por
outro lado, porm, ele tambm no deveria abrandar ou minimizar o 11 escndalo 11 , ou seja, o desafio que a Pscoa representa. Somente sendo o realmente novo, a Pscoa ter fora
para mudar a nossa situao. Para ressaltar isto, o pregador dever procurar por concreticidade inspirada na situao
especfica de sua comunidade. Como se manifesta a antiga real idade na sua existncia, como ela experimenta o jugo da morte, ao qual Jesus na cruz se submeteu? E o que significa a
Pscoa nesta situao? Prdica de Pscoa deve ser realista e
no obstante (ou justamente por isto) estar imbuda da certeza da vitria que Deus nos d atravs do nosso Senhor Jesus Cristo (1 Co 15,55.57).

D O M 1 N G O
J o a o

M1 S E R 1 C O R D 1 AS

D O M 1 N 1

10, 1-5.27-30

Reinhard W. Friedrich
- O texto
Delimitao, composio e traduo
O texto, conforme prescrio, est bem delimitado. A sugesto que foi feita, vrias vezes, no passado, de pregar sobre Joo 10,1-11 traz algumas dificuldades, porque o ver s culo 2 se refere a Cristo , que entra como o verdadeiro past o r pe~ porta, enquanto o versculo 7 afirma que ele mesmo~ a porta.
Esta contradio pode ser explicada assim: O evangel ista Joo junta diversas palavras das quais dispe e cujos motivos so do pastor, da porta e das ovelhas, para formaresta percope. Por isto recomenda-se deixar fora da prdica o
contexto dos versculos 7-11.
Talvez pela mesma razo explica-se o fato de que nos versculos 1-5 o texto fala na terceira pessoa, e a partir do versculo 27 as palavras so colocadas na boca de Jesus, e ele fala na forma do "ego eimi 11 , portanto na primeira pessoa. Podemos supor que o texto foi composto por vrias palavras, das
quais Joo dispunha.
Os versculos 1-5 so uma parbola pura e este motivo de
1-5 volta, mais uma vez, em 27-30, onde o evangelista, atravs desta composio, confirma na forma da primeira pessoa que
o pastor dos versculos 1-5 idntico ao verdadeiro pastor,
enviado por Deus. Ele quer expressar com isto: Jesus no um
pastor entre muitos, mas fundamentalmente Q bom pastor. E o
que isto significa ele expressa nos versculos 27-30: Cristo e os seus vivem numa relao bem especial e ntima.
Recomenda-se usar como te xto a traduo do "NT na Linguagem de Hoje", com uma pequena modificao:
No versculo 4 deveria ser includo, conforme o texto
original :"Ento ele leva 11 as suas 11 para fora". t importante
que o pastor chama o seu rebanho para fora, separando-o de
um rebanho maior. (veja: eclesia).

- 209 -

- 208 No possvel usar a traduo de Almeida, pois quem de


nossa gente sabe o que "apri s co"? Quem entende: " e le vai
adiante delas''?
2. O fundo histrico-religioso
Embora sendo possvel uma influncia helenista (R.Bultmann), o fundo histrico-rei igioso o smbolo do pastor no
Antigo Testamento. Neste smbolo do Antigo Testamento o past1o1 r pode ser: a) Jav mesmo (Sl 23; Jr 31,10; Ed 34,11; ls40,
e Sl 8 0,1.
b) aquel~s que Jav encarrega para e xecutar os seus planos de salvaao, como Moiss, Aro e Davi Is 63 11 1 Sm 13
14.
.
'
'
'
c) os libertadores polticos de Israel: Mq 5,4; Is 40,41.
Quando Jesus reclama para si a autoridade de ser ele o
pastor de Israel, ele rene em sua pessoa o cumpri me nto de
dua~esperana s :nele se cumpre a esperana da vinda do prprio
Jave ~d~ ~inda do Messias. O smbolo do pastor, portanto,
soteriolog1co e escatolgico. Este pastor no tem nada a ver
com "o doce pastor das almas 11 do Pietismo.
Por outro lado, o nosso te xto contm elementos que no
seh podem e~pl icar com a imagem do pastor do AT. Aquele estrand o conhec1ment o mutuo
entre o pastor e as ovelhas, e o fato
(~oq4) as ove~has pertencem a este pastor j desde o incio
.- ' 'tudo isto tem algo a ver com a teologia de Joo.que
J aparece no prlogo do evangelho.
.
3 Deliberaes sobre a predicabil idade
- dcve pensar que com esta imagem do pastor a) Od pregado
. . r nao
se
po
e
r1
a
int
e os se
A
e~pretar e esclarecer a relaao entre Jestls
us.
o
contra

arbol d
_rio, e a esconde mais do que revela. A
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- .
.
.
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da a ot pastor e_uma para-b o 1a en1gmat1ca,
que precisa
a1n1n
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d
l
.
.
b) E f
' e esc arec1 me ntos e da concret1zaao .
. n Nrentamo~ a ~egunda dificuldade com a imagem dopastor em s1. o Brasil
.
. o pastor que cuida de s.eu
_
nao existe
mais
b
h
O
re
an
o
.
que
e
conhe
"d
t
- .
ci o e o retrato senti mental que enconram~~ emdvaria: casas de nossos membros e que tem como base
0 mo 1 ~ 0
a parabola da ovelha perdida. A prdica deve procurar ev 1ta. r que s u rJ a es t a imagem na mente do ouvinte. A prdica deveria tornar claro que este pastor de Joo 10 nos quer

proteger contra toda e qualquer tentao de cair em ideologias escravizadoras e humanas. Cristo nos quer abrir os olhos para os lderes perigosos, que se nos oferecem mas que
em si so ladres e assaltantes. A prdica devers~ tornar
uma prdica altamente 11 poltica" e anti-ideolgica.
c) Existe a tentao de se alegorizar este texto (principalmente os vv. 1-4), isto : querer explicar e interpretar cada ~etalhe: Quem o porteiro? O que significa a porta?
Isto nos e ~roibido, porque o nosso te xto no uma alegoria,
mas uma parabola, ou melhor, uma comparao. S num nico ponto ele qu~r comparar. Isto dificulta a pregao, porque a interpretaao depende ainda mais do ponto de vista teolgico e
individual de cada pregador. Nossa parbola quer chamar a ateno apenas para a diferena entre o verdadeiro.e o falso
pastor e guia.
Agora surge a pergunta: Quem o falso guia? Uma prdica fu~damentalista diria: o representante do mal, o diabo.Uma predica aberta mencionaria todas as foras dentro da sociedade humana que deixa de lado a viso do reino de Deus.
Depender, sobremaneira, de cada pregador, como ele concretizar e encher de vida esta parbola do bom pastor.
1 1 - Exegese do texto
v. 1 Em Jo 10, 1-5 descrito o verdadeiro pastor, primeiramente atravs daquilo que oposto a ele: do ladro e assaltante, que age em favor de seu prprio bem, mas que no
procura o bem das ovelhas.
v.2 O verdadetro pastor se mostra, entrando pelo acesso legtimo no curral das ovelhas; a porta ser aberta para
ele.
v.3 Ele as chama pelos seus nomes e as conduz para fora
do curral, separando-as de um nmero maior de outras ovelhas
que no reconhecem a voz do pastor.
v.4 Ele vai na frente delas, conduzindo-as por suas palavras. Elas o seguem. Este fato salientado,mais uma vez,
pel~ contrrio: v.5 Ao falso pastor no seguem, elas fogem
~e nao aceitam o convvio oom ele.
No dito qual o fator que faz com que elas escutem
e reconheam a sua voz. Ex iste, porm, uma profunda pertena
das ovelhas a este pastor.

- 210 A pertena preexistente, mas ela se torna e vidente e


eficaz somente pelo chamado. A Igreja estabelecida e aqueles que ouvem o chamado no so idnticos, mas o rebanho verdadeiro formado por aqueles que escutam o chamado s empre
de novo e lhe respondem com seu discipulado.
O mundo em geral no pode compreender e aceitar estepastor, mas somente a verdadeira comunidade, aqueles que foram
chamados e tambm saram 11 para fora 11 Estes so pertencentes
a Cristo, sim, quase idnticos a ele.
Jo 10,27-30: Pelo ouvir a voz do Cristo, - esta voz sem
par-, que diz quem o verdadeiro Senhor e Salvador, surge
a f, que tem a sua certeza em si mesmo. Quem ouve este pastor e tem a confiana de seguir e crer, participa da unio
com Deus, pelo fato de este pastor e Deus serem um s.
Por Isto este pastor tem o direito de dar aquela vida
indestrutvel que s ele pode dar: a vida eterna. Aqueles
q~e ~ertencem ao filho pertencem co m isto a Deus, porque ~a
fe nao se pode distinguir entre Pai e Filho. Por esta razao,
todos os pertencentes ao Filho no podem ser arrancados da
mao do Pai. Deus mais forte do que tudo e todos.
1 l l - Meditao

l. E~t: nosso texto Jo 10, l-5. 27-30 , de certa forma, a


descriao da verdadeira Igreja de Cristo (A. Schlatter).Ele
descreve 0 seu fundamento, a sua fora o seu objetivo e a
sua.verdadeira comunhao. O fundamento: 'minhas ovelhas ouvem

a minha voz' a _fo ra:eu as conheo; o obj e tivo:


e l as me seg~em; comunhao eterna: Ningum as pode arrancar da minha
mao.
Todos os homens na terra pertencem de antemo, a este
Senhor ' mas soment e a 1guns estao
- ouvindo
.
' a voz, 11 0 chamado
para fora'' da sociedade ''normal''.
A gente , em geral, est muito mais disposta a ouvir a
vo~ daqueles que afir~am que_so pastores, 1 deres e salvadore ' mas na verdade sao ladroes e assassinos.
Eles fazem o contrrio daqui lo que o bom pastor faz:
a) roubam, pois as ovelhas no so deles (so propriedade do ~om pastor), e por isso cada tentativa de se apoderar
delas e roubo da propriedade de Deus.
A histria est cheia de 11 lderes 11 que se apoderaram de

- 211 homens atravs de suas ideologias e conseguiram uma lavagem


mental, que no final levou sempre a um grande desastre.
b) matam, quando no se quer seguir de livre e espontnea vontade. Eles no querem saber de discipulado livre e espontneo. Eles querem uniformizar 11 os seus 11 Com isto entra
o poder da morte, 11 pois a morte torna todos iguais 11
c) arrunam.Enquanto Cristo leva para for a , para os pastos onde 11 jamais se provar a morte" (8,52), lderes que nao
entram pe la porta estragam vida, trazem destruio e morte
(H.-J. lwand).
Cristo chama a nossa ateno para todos aqueles l deres
perigosos que se oferecem como pastores e salvadores . A gente os reconhece pelo fato de desprezarem o homem e roubarem
a glria e o poder de Deus. Com isto traze m enfim destruio
e morte.
2. Qual agora o critrio para reconhecer a voz do bom pastor? Ex iste um sinal fora de comum na voz deste Senhor e pasto r?
a) A voz certa sempre a voz daquele que veio, no para ser servido, mas para servir (Me 10,45). ta voz do Cristo crucificado e ressuscitado e~ favor dos homens.
S aquelas vozes que transmitem ao mundo o seu servio
em favor dos homens, so as vozes legtimas e verdadeiramente crists. Estas vozes querem chamar-nos para fora da sociedade 11 norma J 1 1 , para ns servirmos novamente ao mundo e nos englobarmos no 11 serviouniversal da reconciliao 11 (Elmer Kosc is em GPM) .
Quem ouviu, uma vez em sua vida, este chamado sabe para todos os tempos a quem pertence e a quem dever seguir com
toda a sua e x istncia.
No troquemos este servio com aquele, por e xemplo,que
feito em clubes como Rotary e Lions . (Mesmo pastores da
IECLB no ouviram o chamado 11 para fora 11 Uma sociedade que
desvia talvez 10 % daquilo que consumido em jantares , para
uma finalidade beneficiente, ainda no ouviu a voz que nos
chama ao amor do prx imo como a si mesmo).
b) O bom pastor chama para fora, para pastos onde h
vida nova em plenitude. O chamado de Cristo sempre visa deciso e discipulado. Onde se ouve este chamado, l sempre surge a crise: Va mos ficar dentro do curral ou vamos tentar um
xodo, vamos ficar nas tradies religiosas ou procurar no-

- 212 vos horizontes?


Seguir a Cristo tem como conseqUncia o xodo das estruturas antiquadas, significa abandono de preconceitos tradicionais, significa sada das formas antigas de ser lgr:ja.
.
Vamos refletir uma vez sobre a nossa introversao eclesistica, sobre nossa teologia intelectual, sobre nossa 1 inguagem arcaica na prdica, sobre o nosso recei~ de lut~~ p~la justia em nossos municpios, sobre a burocracia ecles1ast1ca que
devora o carisma e a ao da Igreja.
Onde ressoa o chamado de Cristo para fora 11 do curral 11 ,
velhas posies devem ser examinadas e transformadas.
_
Este Cristo com sua palavra vai na nossa frente pelos seculos e nos conduz pelas situaes mais diversas da nossa vida e da nossa histria. Ser que a estagnao na Igreja atual
falta de f no pastor que anda nossa frente?
3. Quem ouviu este chamado de Jesus Cri to, quem continua escutando o seu chamado para decises sempre novas em s~a vida,
pode confiar na promisso de que no perder a comunhao com
Deus. 11 Que Deus maior do que tudo e todos no uma frase
dogmtica, mas quer ser experimentada cada dia em nossa existncia crist. 11 (GUnter Harder em 11 Ht)rer1 und Fragen 11 ) .
Para aquele que ouve o chamado e lhe obedece, Deus se
torna cada dia mais importante.
Obedincia a Deus produz riscos para o discpulo dentro
da sociedade humana, porque , muitas vezes, uma luta contra
os influentes e poderosos 11 ladres da glria de Deus 11
Mas quem arrisca a sua existncia neste sentido, sente
que est guardado numa mo que mais forte e mais protetora do que todas as mos ameaadoras deste mundo. Tal existncia traz vida e alegria eternas.
IV - Bibliografia:
BULTMANN,Rudolf. Das Evangelium des Johannes. Gettingen,
Vandenhoeck & Ruprecht, 1964. - IWAND,Hans-Joachim. PredigtMedi tationen. Gettingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1966. -EICHHOLZ/FALKENROTH, eds. Heren und Fragen. Vol. 5. NeukirchenVluyn ,N eukirchener Verlag, 1967.-LANGE,Ernst. ed. Predigtstudien. Srie de Percopes V. Stuttgart, Kreuz Verlag, 1971. GB'ttinger Predigtmeditationen.Ano 60, Caderno 2, fev.de 1971.

- 213 D

DO T R A B A L H O

o r n

i o s

7,29-32a

Werner Fuchs
Conjeturado h meses por jornalistas e economistas, cercado de mistrio pelos rgos governamentais, ansiosamente
esperado pelo povo, e finalmente revelado por uma instncia
suprema, o percentual de aumento do salrio mnimo recebe
cunho escatolgico. Empresrios e investidores, por um lado, dele esperam segurana e estabi !idade para suas fontes
de lucro. Inmeros assalariados, por outro, anseiam pelo seu
poder de multiplicar os pes de cada dia ou aliviar o fardo do aluguel e das prestaes do televisor.
O advento do novo salrio, no entanto, no reverte em
evento salvfico. No acompanha o r~tmo da inflao, nem
barra o aumento do custo de vida. Nao faz justia ao trabalhador, nem dignifica o suor do seu rosto. No impede que
o sustento da famlia citadina retorne cada vez mais ao regime de subsistncia do minifndio: at filhos em idade escolar precisam trabalhar. Nem pratica as proezas social izantes de valer os pobres e nivelar classes sociais: quem
percebe salrio vinculado, p. ex., a dez salrios mnimos,
a c~da l~ de maio se distancia mais do operrio de remuneraao mnima.
Convm no se deixar ludibriar pela retrica dos avantajados. Afinal, poltica salarial apenas um msculo menor do corpo felino da conjuntura econmica.
11

11

0 homem tem em suas mos a sua salvao e sua dignidade enquanto se declarar responsvel. t preciso trabalhar,
a gente se salva por acrscimo. 11 Sartre.
''Quando os meios de produo pertencem sociedade ... ,
o homem inicia a libertar-se da situao opressora em que
v o trabalho somente como meio de satisfazer suas necessidades animais. Comea a reconhecer-se a si mesmo atravs de
seu trabalho e a compreender sua magnitude humana atravs
do objeto criado, do trabalho realizado ... , poder humano
que vendido e que j no lhe pertence mais. Agora, porm ,
o trabalho torna-se extenso dele mesmo, uma contribuio
vida da comunidade, a realizao plena do seu dever soei-

- 214 -

al ... Ele no mais tratar, como no passado, de libertar-se da alienao por meio da arte e da cultura: (No passado)
ele morria durante oito ou mais horas, cada dia, par~(d~r~n
te o tempo 1 ivre) ser ressuscitado atravs de sua cr1ativ1dade espiritual.
Na nova sociedade, a consciente partic~paao do ~ornem _
em todos os mecanismos de produo e di reao~ r~fleti r-se-a
concretamente em seu assenhorear-se de sua p~opr1 a natur:za~
atravs do trabalho 1 ibertado, e na expressao de sua propria
condio humana atravs da arte e da cultura."
Ernesto Guevara."Deus de modo algum ordena que se deve trabalhar por trabalhar. O prprio fato de que Deus ordena algo, indica para o critrio predominante: quando se cumpre
essa ordem, serve-se a Deus. ~nisso e no no sucesso que
a princpio se mede o valor do trabalho . 11 Wolfgang Schweitz e r , op. c i t. , p. l 07.
"Cumpre ao cristo encarar o 'peso d o d .ia e do calor' _
da vida operria, como condio normal de quem vive a renuncia evanglica, com esprito de sacrifcio, e procurando,
com os sofrimentos que suporta, 'completar o que ~h ~ c~be
na paixo de Cristo', pois 'na medida em que participais ..
dos sofrimentos de Cristo, alegrai-vos ... 1 (1 Pe 4, 13) .c:-isto quer ser operrio e pobre para melhor revestir a condio humana e nela sofrer para que aprendssemos que sem sofrimento no h reden~ 1 O.Geraldo M.M. Pen ido, c e i 114,
mai o/76.
Qual ser a mensagem vlida neste dia do t~abal~o?M~
nosprezar os preguiosos e, assim, incen tivar a ganancia.
Condenar o esprito asctico dos que vivem para trabalhar?
Acordar do fatal ismo os que trabalham para sobreviver? lncut~r esprito de sacrifcio e vocao messinica em quem
esta sendo estraalhado pelas leis econmicas? Enaltecer 0
homem realizador e livre? Apelar para tiradas testas de
uma ordem divina ao trabalho? Sonhar com facilidades e qual idades do trabalho numa sociedade futura? Cair numa teologia ldica e escap i sta? Cultivar a crtica sociedade tecnificada? Chamar ao bom-senso e ao realismo?
Uma mensagem crist, para ser 1 ibertadora, no pode publicar dogmas, radicalizaes, idealismos ou adequaes ao
estado vigente. Para dentro da problemtica levantada pela
ocasio concreta , cabe-lhe trazer primordialmente uma re-

- 215 flexo et1ca fundamental: delinear a base e as caractersticas do posicionamento cristo no mundo, esclarecer a natureza das relaes e aes de pessoas e comunidades :oloca~
das sob o senhorio de Cristo. Desse modo tornar-se-a tambem
inteligvel a instruo para uma situao especfica.
1 11

O contexto maior de 1 Corntios 7,29-32a inicia em


7, l, trazendo respostas e conselhos do apstolo comunidade. Ela perguntara sobre a relao do cotidiano com a nova
vida em Cristo. Na questo de casamento e celibato, Paulo
no recomenda mudanas no estado civil, embora conceda excees: casamento para os 11 abrasados 11 (v.9) e divrcio para
possibilitar a paz (v.15). Como regra geral, cada cristo
deve permanecer naquela posio social em que se encontrava ao ser atingido pela vocao de Deus, que o liberta d~
escravizaes (vv. 17-24). Por causa da "angustiosa situaao
presente 11 (v.26), o solteiro pode melhor cuidar_de como agradar ao Senhor (v. 32b), mas o que se casa, nao comete pecado ( v. 36) .
Traduo: v. 29 - Oi go-1 hes is to, irmos: o tempo breve.
Doravante, quem tem esposa, viva como
se no a tivesse;
v. 30 - quem chora; como se no chorasse;
quem se alegra, como se no se alegrasse;
quem compra, como se nao o possus~e;
v. 31 - e quem faz uso do mundo, como se nao
o usasse.
Pois a configurao deste mundo est
passando.
v.32a - O que quero que vocs sejam 1 ivres
de preocupaes.
O 11 como se no 11 (hs m) expressa uma relao dialtica com
o mundo, que permite continuar firme na idia do mundo coco criao de Deus e ao mesmo tempo participar no desprendimento dele atravs da participao no evento es~atolgico
(Bultmann). Trata-se de evitar uma fuga e negaao do mundo,
um dual ismo ou uma tica libertinista, e possibilitar o agir responsvel com o amor mostrado por Deus (Jo 3, 16). Isso no possvel sem um distanciamento dos vnculos mundanos, que se apresentam, para o homem religioso, tanto no le-

- 216 galismo, como num ativismo preocupado. O distanciamento se


fundamenta na cruz de Cristo, na qual foi crucificado o mundo (Gl 6, 14). Somos impelidos a pensar na orao sacerdotal
de Cristo: continuamos no mundo,mas no somos do mundo (Jo 17, 11.
16). Ou, em termos de liberdade crist, Lutero definiu essa
relao dialtica pela afirmao de que o cristo 11 se~hor
livre sobre todas as coisas 11 , mas, por amor de Cristo, e
11
servidor de todas as coisas e sujeito a todos".
Paulo fundamenta o 11 hs m 11 com o argumento da transitoriedade deste mundo (v. 3lb). Com o mesmo argumento fi lsofos esticos podiam fazer recomendaes semelhantes s de
Paulo: o verdadeiro sbio tem o ideal da impassibi !idade e
ataraxia diante dos bons e maus momentos da vida. Contudo,
fci 1 observar que Paulo no est pensando na nossa experincia cotidiana de que prazos se esgotam e obras humanas
r~em. Ele sabe da brevidade do tempo e do fim da configuraao deste mundo, porque vive na esperana pela parusia imediata (1 Co 15,Slss; 1 Ts 4, lSss - cf. Bornkamm, op. ci t.,
p.~l~). Tribulao e angstia (v. 26) so-lhe sinais do fim
prox1mo~ assim como com a ressurreio de Cristo j comearam os ultimas dias, as coisas do velho ''on 11 passaram, hou11

ve n~va cri aao 11 ( 11 Co 5, 17). Por causa dessa tensao escatologi ca _entre o 11 j agora" e o "ainda no 11 , o 11 hs m 11
de.Paulo nao pode ser entendido com desprezo pelo mundo,
pois conta com a presena da salvao (Wendland).
Entretanto, no podemos acompanhar mais o apstolo na
e~pe~ana imediata da segunda vinda de Cristo. Nossa vivncia e de que o tempo no breve (O povo diz: h mais tempo do que vida.), e por isso muitas de suas concepes (p.
ex., do matrimnio em 1 Co 7) nos so estranhas e irreais.
Seus . esforos _e
d aconsel h amento et1co
- .
recebem talvez nosso
1
e ogio,_mas nao nossa adeso. Se bem que reconheamos que
Paulo nao se preocupa com detalhes e data da parusia (cf.
1. Ts 5~ lss), podendo tambm ser muito flexvel em sua terminologia (11 Co 5,2), no nos sentimos vontade para aceitar seu~ ~e~samentos. Sabemos que precisamos trabalhar com
as poss 1b1 11 dades q~e o mundo nos oferece, embora esperemos
por um futuro que nao est em nossas mos. Um estudo mais
aprofundado da teolog~a ~aulina, porm, evidencia que abase d? sua esperana nao e a segunda vinda de Cris'to,mas exclus1 vamente a graa de Deus (Brakemeier). Ento o homem
hodierno poder acompanh-lo e dizer: Estou bem certo de que
nem morte, nem vida , nem anjos, nem principados, nem cousas

- 217 do presente, nem do porvir ... poder separar-nos do amor de


Deus, que est em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8,38s). A
Palavra justificadora de Deus , qualitativa e temporalmente, o 11 ltimo 11 , que julga e salva as coisas 11 penltimas 11
deste mundo (Bonhoeffer).
Nosso texto pede um distanciamento do mundo, para
que a nova vida possa obter lugar, para que com a nova existncia o cristo participe no encontro de Cristo com o mundo. Livre da morte, dos poderes do mundo, do medo, da escravido s comodidades e riquezas (Me 10, 17-27) e livre das
preocupaes (cf. Sl 127,2; Mt 6,25ss), ele pode considerar
seu lugar social como a esfera de atividade que lhe foi atribuda por Deus (1 Co 7, 17). Mais ainda: pode alegrar-se
com os alegres e chorar com os que choram (Rm 12, 15) e identificar-se com todos os grupos sociais e culturais, para cooperar com o evangelho (1 Co 9,21-23).
Da mesma forma poder, em responsabilidade prpria, adotar uma conduta de acordo com o bem, a justia, os val9res sociais e as virtudes dignas de louvor (Fp 4,8) .O 11 hos
m 11 preserva-o da ansiedade e do ativismo, por um lado, e
de atitudes entusiastas, por outro (cf. a insistncia de
Paulo no trabalho, numa carta em que passar a descrever a
parusia: 1 Ts 4, lls).
O adjetivo 11 cristo 11 , por conseguinte, no caber em
determinada ordem social ou forma histrica de trabalho e
remunerao, mas na atitude e no exemplo eficaz e libertador de pessoas e grupos dentro e diante delas, dominados
pela graa e guiados pela esperana no novo mundo de Deus.
IV

A prdica poder desfrutar o impacto inicial da leitura. Em seguida, h duas possibilidades para a aproximao
vivencial ao ouvinte: a) Continuar a seqUncia de frases
com o 11 como se no": Quem trabalha, como se no trabalhasse, quem educa os filhos, quem estuda, quem formula teorias,
quem reclama um direi to, quem se preocupa com a igreja, etc.
Convm tambm deixar doer a primeira das sentenas (v.29b),
pois modernamente as pessoas procuram demais o conforto e
consolo no matrimnio, os quais s a graa de Deus d plenamente. Em seguida o pr.e gador ter que corrigir uma possve 1 compreenso fa 1sa: O 11 como se no11 no fuga, nem f i ngi mento, nem "fazer de conta 11 Antes viver mais consciente, mais livremente, nessa relao dialtica . ~poder dar

- 219 -

- 218 valor ao presente, por causa da abertura para o futuro_ de


Deus. Mas requer desprendimento, meia-volta, arrepen~1men
to. b) Aps observar que prdicas 11 escatolgicas 11 nao esto em moda nos nossos plpitos (Por qu? Apenas medo de plagiar os Testemunhas de Jeov?), lanar a pergunta: Que fa~ia
voc, que fariam as pessoas, se viessem a saber que amanha
acabaria o mundo? Honestamente, estariam tranqUi los? Que seria do trabalho, da casa construda pela metade, das dvidas? - Esboar as reaes as mais diversas:. de~crena, bebedeiras, pnico, rezas. A tranqUi l idade far1sa1ca e a autocrtica do publicano. Lutero hoje plantaria uma macieira.
Tanto a) como b) podem ajudar o ouvinte a se testar a
sim mesmo, a se perguntar se ele capaz de largar tudo porque o tempo davindado reino breve; se ele dei xou a graa
de Deus se tornar to poderosa em si que a riqueza, a aposenta doria, 0 lazer, ou a realizao pessoal se tornaram secundrias face ao llchorar com os que choram"; se Cristo passou a viver nele (Gl 2,20) no sentido de que carrega para a
cruz todos os pecados e as futi 1 idades do mundo; se ele est oferecendo sacrifcio vivo renovado e no conformado com
este velho mundo (Rm 12 ls). Na prdica a partir de (no 11 sobre11) 1 Co 7,29-32a pre~ador e ouvinte podero, ento, dar-se as mos e, contritos mas confiantes, dirigir-se ao ''Deus~HomemJesusCristo que real e por meio do qual o mundo
'
e conservado tanto ' tempo at que
seja maduro para o_seu f.im li
(~onhoeffer). Se o dar-se-as-mos for sincero, tambem lutara por melhores condies de trabalho para o prximo, por
fora da graa divina.

DOM

NGO

Ma t e u s

CANTATE
21 , 14-1 7

Harald Malschitzky
1

Consid eraes gerais

Dentro da estrutura do Evangelho de Mateus, o texto em


questo faz parte daqueles que nos mostram um afunilamento
em direo do desfecho final. Desde o princpio do captulo
21, Jesus pe prova a pacincia das lideranas judias. O
trao caracterstico de Mateus em sempre.de novo apontar ~a
ra as Escrituras (Antigo Testamento) e simultaneamente a incompreenso e a no aceitao de Jesus por parte dos judeus,
alcana, daqui para frente, o seu ponto alto, que acaba de sembocando na condenao de Jesus morte.
1 1 - Conte xto
Nosso texto antecedido pela purificao do templo,que
marca o incio da 11 atividade 11 de Jesus em Jer usalm em sua
ltima semana de vida. Em seguida (v.23)
formulada clara e agressivamente a pergunta pela autoridade de Jesus, o
que mais uma vez mostra a irritao das lideranas oficiais,
afinal tudo acontece no centro da atividade religiosa e poltica da poca, a sa ber, o templo e seus arredores.
11 1

O Texto

Bibliografia
JAFitzmeyer e
REBrown The Jerome Bibl ical Commentary,vo l.
l I' Bombaim 1972. - HRBa'lz, Christus in Kor inth, oncke~,Kas
sel. 1970. - RBultmann, Teologie des Neuen Testaments,6 ~d.
TUb1ngen 1968. - H.-DWendland, Etica do Novo Testamento,Sao
Leopoldo 1974.-WSchweitzer. Liberdade para Viv er, Sao Leopoldo 1973. - WTril lhaas, Ethik, 3a. ed. Berlim 1970. - D.Bonhoeffer, Ethik, 7~ . ed.---;::;unlque 1966. - GBornkamm, Paulus,
Stuttgart 1969.-GBrakemeier, A es~erana na segunda vinda de
Cristo e sua importncia para a teologia de Paulo, em: Estudos Teologi cos 1969/l - UHac k, art. 11 Arbei t 11 em TRT, vol. l,
2~. ed. G~ttingen 1974.

Via de regra, em 1 ivros teolgicos bem como na pregao, Mt 21, 14-17 tratado apenas como apndice purificao do templo. Isso fica claro quando se tenta en~ontrar,
especialmente na 1 iteratura especfica de med itaoes,algo
sobre o texto. Realmente h uma ligao intrnseca entre
um e outro. A purificao do templo tem a caracterstica
de um 11 ato proftico" (J. Schniewind) atravs do qual a autoridade messinica de Jesus realada, o que vem a ser confirmado atravs das curas (v. 14) e da aclamao das crianas (v.15). Jesus, citando o Sal mo 8, responde aos que perguntam em tom de ironia e indignao, dando desta forma razo s crianas e no aos seus critrios. Entretanto, para

- 221 -

- 220 -

se entender esta indignao em toda a sua profundidade


bom fazer algumas consideraes tanto histricas como exegticas.
a) O Templo
No centro da vida religiosa e tambm poltico-nacional
do povo de Israel estava o templo. Embora inicialmente tenham coexistido com o templo os santurios locais, o templo
de Jerusalm foi tomando sempre mais um lugar central, especialmente porque as trs festas maiores do povo (Pscoa,Pentecos tes e a Festa das Cabanas) eram ce 1eb radas neste templo.
Este templo era regido e organizado por uma ordem rgida
que classificava as pessoas de acordo com o status, profisso, sexo e sade. As reas eram rigorosamente delimitadas
para os sacerdotes, os escribas, as mulheres, os estrangeiros, _as crianas, os doentes. Especialmente doentes, mas
t~mbem mulheres e crianas, deveriam manter o seu lugar previsto.
b) Os doentes
Os d~entes, bem como todo tipo de enfermidade, eram
olhados nao sob o ponto de vista mdico, mas sim religioso.
A~tes de ~ais nada e em termos mais amplos, doenas e enfermidades sao conseqUncias 11 normais" do afastamento do homem
de Deus (Gn 3,16-19). Portanto uma pessoa doente estava carregando uma maldio ou ento era vtima de maquinaes do
prprio dia~o (J l,5-6). Estando sob a maldio, os doentes no podiam participar da vida religiosa de seu povo, a
menos que doena fosse curada e que a cura fosse constatada por um dos sacerdotes responsveis pela manuteno da pureza do culto e do templo (cf. Lc 17, llss e a respectiva lei
em Lv 13 e 1~) A c~ra de uma enfermidade era, pois, mais do
que apenas l 1bertaao de um mal qualquer (afinal ningum gosta de estar doente!!!), mastsobretudo, a reintegrao na vida do povo, especialmente na vida cultual.

de bobo, simples, inexperiente, carente de ajuda, no emancip~ No Antigo Testamento nos vamos encontrar diversos
termos, cujos significados muitas vezes se tocam e e~tre-.
cruzam outras vezes se excluem (cf. G. Bertram, artigo Nepios n~ TWB). No Novo Testamento quase sempre o sentido gira em torno de inexperiente, no emancipado, simples. Isso,
por sua vez, tem um sentido teologico, pois Jesus veio ajudar e salvar aqueles que esto perdidos e marginalizados _
(note-se que PERDIDO um termo muito mais amplo do que nos
o entendemos normalmente: ele est margem da sociedade
tanto eclesial como civil!) e entre estes esto justamente
os doentes (eles esto imundos e no so aptosparticipao
no ~ulto) e as crianas (elas no so emancipadas e ainda
no entendem as coisas). Mas, o termo criana significa tambm sem preconceitos, aberto, franco.
d) Cone 1 uso
O Novo Testamento nos d um testemunho muito claro de
que Jesus no se identificou com as espe~anas mess1an1~as
existentes na poca sobretudo entre os lideres do povo ~u
deu. Agindo assim, ele logo caiu em 11 desgraa 11 nestes c1rculos. Entretanto, mais espcie causou o seu comportamento
em relao aos fracos, aceitand~-os, cu~and~-~s e, com isso, reintegrando-os naquela sociedade tao r1g1damente organizada e subdividida. Este trao evidencia~se no nosso texto. Primeiramente - assim nos relatado - Jesus cura doentes no templo (eles certamente estavam no lugar que lhes cabia dentro da estrutura do templo!) e os reintegra, isto ,
lhes devolve a 1 iberdade de participar da vida cultuai, desmarginal izando-os; depois ele aceita o louvor e toma a srio crianas (smbolo de fraqueza, inexperincia, etc.) .Todavia h mais: Agindo assim, Jesus se coloca dentro da mensagem proftica da restaurao e reintegrao cultuai (Is
35,6; Jr 31,8; Mq 4,6-7) o que fica patente em Mateus (11 ,5;
15,30).

IV - A caminho da pregaao

c) As crianas
O termo criana (grego: nepios) no grego profano tem
toda uma gama de significaes, sendo que se sobressaem as

Embora quase dois mil anos nos separam da poca em que


se situa o nosso texto, vivemos em uma sociedade rigidamente dividida, na qual tambm se procura colocar cada um no

- 222 -

seu devido lugar, o que no tem outra conseqUncia do que


a marginalizao dos mais fracos.
Como igreja crist hoje, muitas vezes no: damos os ares de uma igreja triunfante. Neste contexto nao posso me
furtar de chamar ateno aos amplos relatrios de a~ivi
dades que nos so apresentados e que apresentamos nao sem
uma boa dose de orgulho e auto-satisfao. Temos algo com
que argumentar! E justamente assim sempre de novo nos fechamos ao Cristo que vem e est e ntre ns. 11 No nos dei xe mos enganar! A Filha de Sio, a Igreja de Cristo, o Povo
de Deus sempre estava envolto por um mundo inimigo. Talvez
o tempo perigoso para a igreja t e nha sido e seja aquele que
reconhece a igreja com todo o respeito, mascarando de cristos os seus prprios atos terrenos e levando ao grande engano de que tudo est em ordem( ... ). A verdadeira comunidade de Cristo formada por aqueles que no esperam ajuda
de uma profisso sacral, um trabalho sacral, uma mentira
piedosa ou uma conscincia piedosa. Ela formada pelos cegos e pelos mancos que s podem ser ajudados por um milagre"
(F.M. Dobis, em GPM,p.199).
Coloco algumas perguntas que eventualmente poderiam
dar um esboo de pregao sobre o te x to:
a) Nossas comunidades no esto estruturadas em profisses sacrais, trabalho sacral,conscincia piedosa e muitas mentiras sacra is?
b) No estamos enredados em um monto de atividades
que tantas vezes nos tapam a viso para os mais fracos e
marginalizados?
c) Nosso louvor - justamente no domingo de Cantate! nao , tantas vezes uma "menti ri nha" sacra 1 sem as me nores conseqUncias? '
d) At quando nos vamos fechar ao milagre de que Deus
veio ao mundo para salvar o que estava perdido?
e) Por que ser que ns no nos expomos muito mais e
completamente s "irradiaes" deste milagre de Deus?
V - Bibliografia
BERTRAM, Georg. Artigo NEPIOS. ln: R.Kittel, ed.Theologis ches Wl:frte rbuch zum Neuen Tes tamen t. Vo 1 . 1V, S t ut tga rt,
1942 . - BERTRAM , Georg. Artigo THAUMA. ln: R. Kittel, ed.

- 223 Theologisches Wtlrterbuch zum Neuen Testament. Vol. 111.


Stuttgart, 1938. - DOBIAS, F. M. Meditaao sobre Mateus 21,
14-17. ln: Gthtinger Predigt-Meditationen. Ano 54,caderno
n':' 2,1965. - HERING, J. Artigo TEMPLO . ln: J. J. v. Al lmen,
ed. Vocabulrio Bblico. So Paulo, 1963. - ROUX, H. Artigo ENFERMIDADE. ln: J. J. v. Allmen, ed.Vocabulrio Bblico. So Paulo, 1963.

- 225 -

- 224 -

Ma

ROGATE

NGO

DOM

e u s

6,5-13

Wi lfrid Buchweitz
1 -

O contexto literal

O contexto maior o do prprio evangelho de Mateus.


Aponto para o artigo de G.Brakemeier "Ob s ervaes introdutrias referentes aoevangelho de Mateus'', neste volume.
O contexto menor o do Sermo do Monte, cap. 4,23 7,27. Temos a o Cristo da Palavra, 0 Cristo que ensina e
prega "como quem tem autori dade 11 (7 ,29).
Diminuindo o crculo, podemos citar o bloco de 6, l 18, sob o ttulo "(falsas e) verdadeiras obras de justia".
11 -

O texto

,o texto parte de uma espec1e de poesia que vai ~o


versiculo 2 ao 18 . Ele fala da esmola (vv. 2-4) da oraao
(~v.S-8) e do jejum (vv.16-18). Intercalada e~t a "oraao-modelo11 do Pai Nosso (vv. 9 _15 ).
A estrutura textual dos trs assuntos a mesma. Basta fazer a c~mparao.
Quanto traduo, no h maiores dificuldades. H
p~que~as variantes em alguns dos textos antigos, mas elas
nao cegam a mudar substancialmente o sentido.
A doxologia no fim do Pai Nosso no consta nos primeiros text?s conhecidos do evangelho de Mateus. Mas os e xegetas afirmam
. no fim
. das oraoes
. que praxe da doxolog1a
h
erarn
conec1daeml

(
li)
d

srae 1 e que muito cedo seculo


a
~xod 1ogNTiaD como final do Pai Nosso est documentada (Schniew1n ,
,p.9).
8
111

O contexto histrico-teolgico

_As palavras de Jesus so ditas para dentro de uma sit uaao em . q~e o povo israelita, e principalmente seus expoentes rel1g1osos, os fariseus e escribas davam muito peso
?cu mprimento da lei mosaica. A p~eocup;o era cumpri-la
i ntegralmente como um ato de obediencia total a Deus. Es-

mola, orao e jejum no faziam propriamente parte da lei,


mas eram oportunidade, instrumento e expresso do culto a
Deus, servio a Deus. Eram momentos importantes na vida devoc!onal do israelita. Deus era o alvo, de maneira toda especial ,_nesta praxe. Por isso ela dava crdito especial, na
concepao israelita. Este culto a Deus era um "algo mais" a
favorecer um saldo positivo especial. Mais do que isso: a est~ tipo de obras atribua-se o peso de pagamento por infraoes da lei; elas podiam apagar a dvida de atos desrespeitosos lei (Grund mann,p.191).
Era importante que todos cumprissem as leis. Os israe1 itas se entendiam como povo e por isso sentiam-se responsveis um pelo outro. E um diante do outro. Observavam-se mutuamente. Quem cumpria a lei merecia honras, e quem no a
cumpria merecia repreenso (Schlatter, p. 87) .
O fariseu tinha determinadas horas de orao. Quando
este tempo chegava, a orao tinha que ser realizada nas
formas prescritas, no importando onde, mesmo que fosse em
lugares pblicos.
Jesus nodesaprova a oraao, como no desaprova a esmola e o jejum. Mas ele desaprova o esprito com que estas
coisas so feitas.
Os fariseus e escribas se tornaram vtimas de sua condio de povo escolhido, vtimas de seu uso da lei e de suas
prticas de culto a Deus. E eles vivem este papel irresponsavelmente. A atitude, forma e contedo de sua f no resposta a Deus. Por conseguinte, Deus no pode responder a
e les,pelo contrrio, tem que recus-los, conden-los. Deus,
para eles, no mais Deus. Por isso Deus no pode ser mais
Deus para eles. Outras coisas ocupam o centro da vida: formas e locais de culto e, em ltima anlise, eles mesmos.
IV - Contedo teolgico
Jesus no nega valor a esmola, oraao e jejum. O alvo
e que precisa ser redefinido.
No caso da orao, os fariseus estabeleceram como alvos ~si mesmos, como autores e alvos ao mesmo tempo. Numa
oraao autntica o alvo Deus. O que ora procura Deus,foca Deus, tanto quanto ele conhece Deus, tudo o que conhece
de Deus. A partir da surge o segundo alvo, a comunho entre orador e Deus, comunho atravs da Palavra e de pala-

- 226 -

vras. E agora surge o terceiro alvo, o contedo da oraao,


que pod e ser splica, agradecime nto,_ adorao.
.
Os fariseus no oravam assim. Nao chegavam, nem quer1amchegar ao alvo Deus. No se estabelecia comunho,_e por
isso no aconteciam splicas, agradecimento, adoraao. A
oraovisavaaeles mesmos, revertia a eles mesmo:. Deus
era desconsiderado.Os 11 espectadores 11 eram desconsiderados,
logrados, usados para poder promover uma imagem prpria.A
Palavra e as palavras ficavam vazias,at elas eram desconsid e radas. O nmero das palavras vem a ser importante, nao
o seu contedo.
Por isso a orao dos fariseus no orao. r um expediente de auto-promoo. r farsa, mentira, endeu:am~nto
prprio, negao de Deus e do prx i mo. O termo hipocr1ta
no injusto, como talvez parea primeira vis~a. 11 Eles
j receberam a recompensa 11 significa que Deus nao tem_nada a ver com eles. Eles mesmos O eliminaram. A separa ao
est concretizada. Da parte de Deus no h mais o qu= fazer. Em vez de auto-promoo aconteceu auto-destruiao.
11
E'. possivel e necessrio 1 ibertar-se desse tipo de orao11
E'. possvel enfocar o Pai, ter comunho com Ele e
abord~roque v~i no orador: adorao, splica, agradecimento. Nao s: es~a preso a lugar, horas especiais, formas, pa-.
lavras. Nao ha ne:essidade de promoo prpri~, po~q~e 0 Pai
P'.o~ove 0 ~rador a condi o de filho, e isso e a ma~1ma condi ao pos s ivel. Isso pode acontecer num quartinho, a par!e,
sem_as:istncia. O quartinho pode at favorecer uma oraao
autent~ca ou ser o sinal de oraes autnticas.
Nao quer dizer que se pode orar s em quartinhos. Em
outras passagens da Escritura somos conclamados a invocar
Deus e louv-lo em assemblias festivas no meio do povo,
p~ra teste m u~har publicamente nossa f e gratido e incentivar, atraves ~e nosso exemplo outros a fazer o mesmo
( Ca 1vi n, p. 204) .
'
A orao do filho ao Pai torna a forma e o n mero de
p~lavras secundr~o. No se precisa impressionar Deus:Mas
nao torna a oraao desnecessria. Quem no ora destroi a
rela'!o filho - P~i. A relao filho- Pai, por outro lado,
tambem torna poss1vel oraes autnticas no meio da comunidade, mesmo que fossem centenas de pessoas. A vida gira
em torno de Deus. Poder orar , portanto, um novo estado
de coisas, que rege a vida toda. Toda a minha vida se tor-

- 227 -

nou um di5logo com Deus, e ele nao pode terminar at a e ternidade (Heim, p.52).
No entro mais a fundo no Pai Nosso. E'. impossvel fazer
justia ao contedo especfico do Pai Nosso em uma prdica
s6. Seria necessria uma srie de pregaes. O que poderia
ser !eito mencionar o Pai Nosso como exemplo, modelo de
oraao em que esto presentes os elementos que os fariseus
deixam de lado. Deus como alvo, Seu nome, Seu reino, Sua
vontade, Seu perdo, Seu amparo, o Doador do po de cada
dia. A e st o Pai ao qual o filho pode chegar com confiana e alegria.

V - Meditao
O texto e o domingo - Rogate - convidam orao.
Oro eu? Oramos ns pastores? Oram os membros de nossas comunidades? Oram as pessoas fora de nossa Igreja?
Como oro? Como oramos? Como oram?
O pecado de Ado atravessa a Bblia, e a histria.Querer ser igual a Deus, pr-se no lugar de Deus. Certamente
o pastor no est mais seguro do que qualquer outra pessoa.
O fatal, o desagradvel que, quando o pastor cai vtim~ da tentao de promover-se, ele o faz na orao, na pregaao, na diaconia, no servio que por natureza est especificamente destinado a promover Deus e o prximo. Quando algum se promove atravs de seu emprego no comrcio, na indstria, no servio pblico, coisas que como cristos tamb:m _entendemos como servio a Deus e ao pr6ximo, a situaao_ e diferente. Quando o pastor se promove atravs da atuaao na Igreja, isso parece mais grave. Ser que ?
Estes dias algum mencionou que seria interessante fazer uma pesquisa entre os pastores para descobrir por que
eles preferem certos trabalhos e se estes trabalhos so ou
no aqueles onde o pastor mais se destaca, mas aparece,
observado, admirado, tem mais poder. H ocasies em que us~mos a comunidade para nossa pr6pria promoo e satisfaao n~ culto, no enterro, na construo de uma igreja, no
automovel bonito, numa bonita casa paroquial?
O homem, s vezes, pe em funcionamento um mecanismo
de auto-promoo impressionantemente sutil e refinado.

- 228 Afinal ,os fariseus no foram nem uns grosseiros nem uns irresponsveis, humanamente falando. Tenho eu conscincia disso? Acontece comigo isso? Onde? Quando?
Como me vejo quando toda a comunidade olha para mim?
COITO me vejo quando me criticam? Que significa se pego os
velhos manuais de culto e simplesmente leio as oraes de
dcadas atrs, com uma 1 inguagem e problemtica estranhas
ao homem de hoje? ~ orao isso?
Que significa orar durante o culto, orar quase que profissionalmente, mas no orar com a prpria famlia ou no
orar no gabinete de trabalho?
Certamente o nosso problema no orar nas esquinas.
Mas, s~ no oramos, ou oramos pouco, esta no pode ser uma
tentativa de emancipao igual dos fariseus?
~e digo que no posso orar, significa isso que, de fato, nao posso, ou significa que no quero orar?
Se_ou~ro diz que a orao no lhe significa nada, tenho o ~1re1to de logo tax-lo de no-cristo?
Ha outros meios de orao que no sejam palavras e pensamentos?
. Quando os membros de nossas comunidades no sabem orar,
mu. 1tos de 1es_ a o menos o d1zem,sera

- que isso nao


- po d e s1gn
if 1ca r que nos p t

' as ores, damos tao pouco credito a oraa- o


que nao l~es ensinamos? Naturalmente h abusos~ Existe
compreensao m-ag1ca

d a oraao.
. Existe a oraao-om1ssao,
em
vez de eu agi r,me engajar,
.
empurro o problema para Deus. _
_Quan~o os membros de nossas comunidades no oram, sera
que isso e conseqUncia da nossa pregao? No conseguimos
revelar o Pai que ouve e entende qualquer linguagem?
C orar na ag1taao

- de nossos dias? Como ensinar

? orno
a
0
rar. s vezes no agUentamos ficar em silncio, a ss com
0eus, no quarto.
Po~ que temos vergonha de orar? Topamos com a vergonha
da oraao da mesma forma como nos defrontamos com o abuso.
~e 0 trabalho de pastor s vezes parece to impotente,
pode isso ser co~seqUncia de que a comunidade no nos acompanha em oraao?
At ond~ estou viciado em oraes individualistas e
que pensam soem mim mesmo? Incluo o meu prximo na minha
orao?
Quais sao as formas de hipocrisia na oraao hoje?
Que oraao autntica hoje?

- 229 VI - Bibliografia
BECKMANN,Joachim. Meditao sobre Mt 6,5-13. ln: H~ren
und Fragen. Vol. 5.Neukirchener Verlag, 196~ - CALVIN, Johannes. Evangel ien-Harmonie. ln: Auslegung derHei ligen Schrift.
Vol~ 12.Neukirchener Verlag, 1966. - FURST, Walter. Meditaao sobre Mt 6,5-13. ln: Gftinger Predigt-Meditationen.
Ano 60, Caderno 2, Vandenhoeck & Ruprecht,197l~GRUNDMANN,
Walter. Das EvangeliumnachMatth\:lus. ln: Theologischer Handkommentar zum Neuen Testament. Evangelische Verlagsanstalt,
1968. - BULTMANN,Rudolf. Die Geschichte der synoptischen Tradition. 3~ ed., Vandenhoeck & Ruprecht, 1957. - HEIM,Karl .
Die Bergpredigt Jesu. Furche Verlag, 1946. SCHABERT,Arnold.
Die Bergpredigt. MUnchen, Claudius Verlag, 1966.- SCHLATTER,
Adolf. Das Evangel ium nach Matth\:lus.
ln: Schlatters
a
. Erl\:lute.
rungen zum Neuen Testament. 1- parte. Stuttgart, Calwer Verlag, 1947. - SCHNIEWIND, Julius. aDas Evangelium nach Matth\:lus.
ln: Das Neue Testament Deutsch.5- ed., Vandenhoeck & Ruprecht, 1950.
Wendland,
.
- Heinz-Dietrich: TICA DO NOVO TESTAMENTO , uma
introduao,
trad. de Werner Fuchs, Editora Sinodal , 1974 ,
- .
159 paginas.
Na Teologia contempornea, ~a tica do Novo Testamento
na fon;ia do presente livro e algo de novo - e de oportu
no: Pois a abordagem deste tema acerta com uma situaO
~u~to receptiva, j que reina incerteza em questes
de
etica e moral, e muitos anseiam por respostas orienta dor~s para sua realizao humana, nestes tempos de plural~smo e relatividade. Na parte introdut5ria o autor
defin~ a metodologia que haver de respeitar o carter
p~culiaE das exigncias ticas do Novo Testamento. Ex poe ent~.. tema base da pregao de Jesus, da Comuni
dade.Primitiva, de Paulo e das cartas deutero-paulinas-:de.Tiago e dos =scritos joaninos. Conclui elaborando a
unidade e a vigencia permanente dos princpios ticos
do Novo Testamento.

230 -

ASCENSO
Joo

14,1-12

(14)

He rmann Brandt
A l -Afesta da Ascenso na vida eclesial presente
H, do meu conhecimento, apenas poucas comunidades na
IECLB que de fato realizam a festa da Ascenso exatamente
na quinta-feira entre Rogate e Exaudi. Se a festa lembrada, isso acontece nos domingos antecedentes ou posteriores;
e~ alguns c~5os, porm, a
festa totalmente esquecida. Assim, parece que a festa da Ascenso est em vias de desapare~er.da vida de nossa Igreja como festa especial com tema
propr 1o.
Qual o motivo disso? Ele pode residir l? no fato de
que um feriado no meio da semana difci 1 de ser festej~do. d
Pode
.
.isto e,
' . ' em 2 1 ugar, res1 d.1r no tema desse dia,
na ifi~uldade de compatibi 1 izar a idia da Ascenso com a
concepao
hodiern do muno.
d
.
A piada barata definindo Crist
a como o p r i me i r o astronauta aponta para essa problemat1-
ca.
Temos
. motivos
.
que possivelmente tornam
.
' ass i m, dois
comp 1 1cada real i
h .
ceno M
- zar OJe um culto e uma prdica sobre a As- desempenham um pape 1
decisiv. 0 asQ s ao motivos externos. Nao

ue
uma
fe
s
t
1

- cabe bem dentro


de um cal d- .
a ec es1astica nao
en ar 1 0 ou q
.
1
sa concepo de mu
ue.e a, ~parentemente, contradiz nosto teolgic
ndo, isso nao constitui ainda um argumenAs dificuld~dcontra e~sa festa (mas tambm no a favor!).
indcio de umes.exteriores podem ser antes entendidas como
censo de nos~oiSnsehgurana teolgica-: O que nos diz a Asen or?
2 - Qual o contedo teolgico da Ascensao?
Qualo"specifi
"
-.
postas da teolo i
.cu~ !eolog1co da Ascensao? As res.
g crista nao se apresentam aqui to unnimes como no Natal e na pte que a Ascenso
ascoa. Vale tambm teologi~amen. _ . conforme o exemplo de Lucas se s 1tua
no ano_ec l es1ast1c~ entre a Pscoa e Pentecost~s: a interpretaao da Ascensao oscila entre Pscoa e Pentecostes. (Oi-

- 23 l -

ferente, porm , em c) - confira o que segue.) Menciono algumas possibilidades tpicas de entender a Ascenso.
a) Ex iste, por um lado, a tese: O contedo da Ascenso
totalmente idntico com o da Pscoa: Deus enalteceu Jesus.
Aqui a Ascensao nada mais do que um 11 dublet 11 da Pscoa.
b) Entende-se a Ascenso principaimente como despedida de Jesus de seus discpulos. Aqui pode ento tornar-se
tema para reflexo a dolorosa separao entre o Senhor e
seus discpulos. Se ele no est mais visivelmente entre
eles, como se definir ento sua presena?
c) O interesse teolgico pode voltar-se para o fim dessa separao,
isto , para a volta visvel de Cristo no fim
dos tempos. Aqui na Ascenso se torna principalmente importante que ela oferece o modelo para o retorno de Cristo ao
mundo ( cf. At 1 , 1 1 ! )
d) Onde o interesse se concentra menos no retorno de
Cristo no fim dos tempos e mais no seu 11 eu estou convosco 11
(cf.b), a compreenso da Ascenso pode aproximar-se mais,
do ponto de vista do contedo, do evento de Pentecostes. A
Ascenso ento, por assim dizer, a condiao previa, a possibi l itao do envio do Esprito, o qual representa o Senhor
da Igreja, ausen!e fisicamente, durante a era da Igreja.
e) A Ascensao pode, finalmente, ser entendida como a
festa de entronizao de Jesus Cristo: Nesse dia ele se torna
governante universal do mundo, sentando-se direi ta de Deus.
11
Jesus Cristo~ Rei e Senhor 11 (Hinrio da IECLB, 112) um
hino de Asc e nsao tpico para esse tipo de compreenso. Confira tambm a explicao de Hi lmar Kannenberg sobre Cl 1,
15-23 no primeiro volume de Proclamar Libertao, pp.47-54.
Essas diferentes acentuaes refletem, por sua vez, o
testemunho variado do Novo Testemanto.

3 - O testemunho do Novo Testamento


Falando do testemunho mltiplo do Novo Test ame nto sobre a Ascenso, estamos dando a entender: o relato lucnico no a nica referncia sobre o assunto. Antes, a influncia do relato lucnico afastou, em grande escala, as restantes referncias do Novo Testamento sobre a Ascenso da
conscincia da Comunidade. Tambm as que no se e xpressam
- _P~ is Mateus e Joo nada dizem sobre a Ascenso no senti do l ucan 1co. Marcos, em seu final 11 no autntico 11 , apresenta

- 233 -

- 232 -

apenas uma formulao rala e ab s trata, em forma de confisso ("foi recebido no cu", Me 16, 19). Sobretudo, porm, devemos lembrar que, ao lado do esquema lucnico, surge noNovo Testamento um outro esquema, inverso. Lucas dizia: da terra ao cu, e novamente terra. Em Fp 2, Ef 4, IPe 3, Jo 3 temos, por sua vez: Do cu terra , e novamente ao cu. lssosig
nifica: Aqui - ao contrrio de Lucas - a subida ao Pai
pensada como algo definitivo. (O credo eclesistico, o Apostlico, por e xemplo , combinou ambas as concepes: Do cu
(pre: x istncia) para a terra (encarnao\ para o cu (Ascensao), e novamente para a terra (vinda de Cristo para o
juzo) . )
Alerte-se ainda para a concepo novame nte diferente
da carta aos Hebreus. Aqui, atravs da ressurreio (13,20)
sucede a superao do sacerdcio vetero-testamentrio: Cristo como sumo sacerdote atravessa o cu e aparece,em nosso
favor' diante da face de Deus ( cap. 9) .
A lenda lucnica sobre a Ascenso no Novo Testamento ' port_ano,
t apenas uma entre muitas formas de expressao
- de
que fe fez_uso para testemunhar a exaltao de Cristo e
suas conseqUencias.
Tambm nosso texto de Jo 14 um tal testemunho.

1: 14 ' 1-4: o seguimento dos discpulos est sob a


promessa de Jesus.
11: 14,4-14: Jesus a unidade de caminho e meta - a
verdade se revela no caminhar .
Na explicao quere~os ver exegese e meditao conjuntamente. Os textos de Joao prestam-se de maneira especial
para passar ao longo do texto. Na prdica sobre um texto
to carregado de contedo naturalmente no poderemos considerar com a mesma intensidade todos os pontos de vista.

2 - Exegese e meditao

a. Jo 14 f
.
lavras de des ~ parte do complexo das assim cham~das pa14: a desped~e~ida de Jo 13-17. Cap. 13: o lava-pes; cap.
Esprito S 1 a, cap. 15: a videira e os ramos; cap 16: o
- sacerdatal d J anta como nosso advogado; cap 17: a oraao
e
esus
A
p
t
d
portanto

ar 1r esse contexto nao pode remos,


' menospreza r na expl1caao
.
- o elemento da d espe d"1da.

Nosso texto sobre as palavras de despedida de Jesus reflete a s~tua~o da Quinta-fei~asantaantes da crucificao do
Senhor. Nao e essa uma situaao diferente da da Ascenso
de Jesus? Para o evangelista Joo, no. Para ele coincidem
o enaltecimento no sentido da ereo da cruz (3, 14-16) e o
enaltecimento para o senhorio e a glria (12,32) ! Assim,
torna~se possvel que nosso texto, correspondendo situao
da Qu1nta-fei ra santa, ajude a comunidade a entender o que
significaaAscenso. Alm disso, o termo portugus Ascenso
corresponde melhor inteno do Evangelho de Joo do que a
p a 1a v r a a 1e m ' 'H i mme 1f ah r t 11
Ambas as vezes o 11 ir embora" de Jesus (14,2-4) significa, portanto,despedida. Ambas as vezes :ssa despedida
de Jesus provoca junto aos seus a preocupaao e o medo de
serem deixados sozinhos. A Ascenso de Jesus significa para os seus o fim da comunho visvel e concreta com o seu
Senhor. Como ele poder estar conosco at o fim do mundo,
se vai embora? Essa pergunta abala os discpulos, atrapalha -os, "perturba-os" (v.l, cf. v.27! ).

b. Originalment
~
assim tambee per1cope se delimitava ate o v. 14
nas
prd
i
d
m
or mai
cas e Lutero sobre o texto. Ten ho
P
s
corre
ta
es
s

- do que a propos1ao
- da
r.ova ord
d
~
a d e 1 1m1taao
~m. e per~copes.que deixa terminar o te xto j com
0 _v . 12 b.
ois, sera possvel finalizar a prdica com a vis ao. s o) re a c o n t 1nu' ~ade das "obras" (veja a explicao aba i xo (e sua )superaao - e deixar fora a orao em nome de
J e s us vv . 13s ? !
c. Podemos estruturar o texto em duas partes principais :

O v. la olha justamente para a situao daqueles que


temem ser abandonados pela "ida" de seu Senhor: "No se
t~rb~ o vosso corao." 1mportante que essa nossa si tuaao e re~elada pelo prprio Jesus: Ele sabe como est o nosso coraao. (E_que nossa insegurana e dvida pertencem ao
tema da Ascensao, isso nos confirmaro mais tarde as duas
pergu~tas dos discpulos nos vv. 5 e 8.) Atravs de sua revelaao somos "al ienados 11 ao mundo. No mundo no somos mais

B 1 - Contexto, delimitao e estrutura

- 234 do mundo. E justamente isso que provoca_as perguntas e


dvidas. Por que devemos nos orientar entao? Devemos, po~
assim dizer , emigrar interiormente, dirigindo-no~ a uma instncia no alm? No seria essa a nica possibilidade, s~
experimentamos, com a revelao, uma ruptura com o mundo.
Ou ser que devemos negar essa ruptura? No deveremo_s fazer
isso, se quisermos cumprir nossa misso no mundo? ~ao devemos, antes, nos identificar com o mundo? Essas sao perguntas que provm ~a 11 i da 11 de Jesus.
_ .
.
e
Mas a revelaao dessas perguntas e duv1d a s (ant1gament
dizia-se 11 tribulao 11 ) es t, desde o incio, circundada
por e contida na promessa de Jesus. Ela e- formula d a imp erativamente como um apelo. A traduo do v. lb , no entanto ;
controvertida. Almeida traduz: 11 Credes em Deus, crede tambm em mim. 11 Isso possvel, conforme o teor. Correspo~
deria melhor, porm, formulao quistica do texto original traduzir imperativamente nas duas vezes: 11 Crede em
Deus e em mim crede!' J aqui a caracterstica que retorna:
a unidade ent~e ~esus e o Pai. Mas agora como chamado, ~o~
mo incentivo a fe; justamente na situao de 11 perturbaao
onde somos tentados a nos agarrar em tudo, -nos dito: segurar-se no que no se pode 11ver1 (20,29) ~ Ou, ma is corre11
tamente: saber-se seguro por esse invisvel 11 (Voigt)
No temos mais facilidade - nem dificuldade! - do que
os discpulos pessoais de Jesus em seguir 0 seu cham~do.
Como os discpulos do Jesus 11histrico11 visvel, tambem
n~s , depoi: de se u "enaltecimento11, no pode mos evitar o
risco da fe. Mas qu em realmente se dei xa orientar por esse ~hamado est colocado num caminho que conduz para fora
de incerteza e perturbao. Este no precisa mais preo c upar-s~ com pe:gunta se haver para ele um lugar na casa
do Pai (v.2) Distanciando-se de ns J es us mantm um lugar livre.para ns. E ma is do qu e is~o: ele prepara tudo._
-_Se preci samos mudar para um lugar distante, ou se nas fer~as alugamos urn2 casa est ranha, surge a pergunta: Como _s e ra? O que encontraremos? E aqui temos algum em qu em conf1 amos e que nos diz: No se preocupem, eu mesmo cuido de tudo, prepararei tudo. Eu mesmo receberei vocs (v. 3a) Assim as preocupaes so tomadas de n s. Nos sa perturbao,
o medo de permanece r soz inhos e sem orientao no tem motivo de se r! Assim, a caracterstica da despedida na Ascens o n o a s e para o de J e s us de ns, mas sua de s pedida

- 235 11 atrai-nos 11 a e le para a casa de seu Pai. Ele segue adiante de ns, rec e be-nos e, ao mesmo tempo, vai junto conosco, 11 para que onde eu estou estejais vs tam~m 11 Agarrar
essa promessa significa duas coisas. Quem cre nessa promessa reconhece na "ida" de Jesus, no seu enaltecimento na cruz,
sue ida ao Pai. E a f reconhece, ao mesmo tempo, o caminho
em que seguir a Jesus. esse duplo sentido que o v.4 expressa. Em primeiro lugar: Onde vocs estaro comigo, disso vocs no podem ter dvidas,pois vocs sabem aonde eu vou (cf.v.
3). Mas vocs no s conhecem a meta; vocs sabem, em segundo lugar, tambm o caminho at l. Esse segundo ponto torna-se,a seguir, o tema em si, e isso assim que se fala 11 dele 11 :
ele o caminho.
11

O v.4 expressa o que o crente deveria saber - mas nao


sabe! Isto , devemos ser conscientizados sobre o que j nos
foi dado. Assim provocada a pergunta ~e Tom (v.5). Nos
todos somos - sempre de novo - este Tome. Pergunta~os pelo
que vem depois da morte - pela eternidade, pelo al;m: Justamente por 11 nada sabermos 11 sobre isso esperamos not1c1as de
alm do limite da morte. Esperamos respostas do espiritismo e/ou de fenmenos parapsicolgicos. Como se ainda no
tivssemos obtido a resposta!
Mas a pergunta de Tom esclarece tambm o aspecto positivo: Saber o caminho verdadeiro depende do fato desabermos para onde ele vai. E assim Jesus dirige a pergunta
de Tom, nossas perguntas e especulaes, pa~a si mesmo:
"Eu sou o caminho a verdade e a vi da; n i nguem vem ao Pai
seno por mim. 11 J~sus diz: Eu sou 11 0 11 acesso a Deus, isto
, o nico.
Ns facilmente compreendemos isso assi m como se ele
fosse o caminho exigido de ns. Desse modo, nosso seguir
torna-se condio para participarmos de sua verdade e_de _
sua vida . Ento Jesus seria o portador de uma nova lei , nao
do Evangelho. Nosso texto, porm,quer dizer: Jesus ocaminho que nos dado. Crendo nele, cuja morte foi sua i da
para casa, para o Pai, sua verdade e su~ vi da torna~-se para ns a ponte para a eternidade, isto e, o enaltecido na
cruz transforma nossos perturbados caminhos terrenos no caminho da luz e da liberdade.

- 234 -

do mundo. E justamente isso que provoca_as perguntas e


dvidas. Por que devemos nos orientar entao? Devemos, po~
assim dizer, emigrar interiormente, dirigindo-nos a uma instncia no alm? No seria essa a nica possibi 1 idade, se
experimentamos com a revelao, uma ruptura com o mundo?
'
Ou sera- que devemos
negar essa ruptura? Nao
deveremo_s fazer
isso, se quisermos cumprir nossa misso no mundo? ~ao devemos, antes, nos identificar com o mundo? Essas sao perguntas que provm da ''ida'' de Jesus.
Mas a revelao dessas perguntas e dvida s (antigamente
dizia-se "tribulao") est desde o incio, circundada
por e contida na promessa de ' Jesus. Ela formu 1a d a im perativamente como um apelo. A traduo do v. lb , no entantoi
controvertida. Almeida traduz: "Credes em Deus, crede tambm em mim." 1sso possvel, conforme o teor. Correspo~
d~ri a melhor, porm, formulao quistica do texto original traduzir imperativamente nas duas vezes: "Crede em
Deus.e em mim crede!' J aqui a caracterstica que retorna~
u~idade.ent:e Jesus e o Pai. Mas agora como chamado, : 0 ,,
mo incentivo a f; justamente na situao de "perturbaao
onde somos tentad~s a nos agarrar em tudo, -nos ~ito: se=
gurar-se no que nao se pode "ver" (20,29) ! Ou, mais corre
tament::: "saber-se seguro por esse invisvel" (Voigt) ~
.Na~ temos mais facilidade - nem dificuldade! - do que
os discip~lo~ pessoais de Jesus em seguir o seu charn~do.
C~mo
os d1sc1pulos do Jesus "histrico" visvel, tarnb em
nos d

. ' epoi: de se u "enaltecimento", no podemos evitar 0


risco da fe. Mas quem realmente se deixa orientar pores~e ~hamado est colocado num caminho que conduz para fora
e incerteza e perturbao. Este no precisa mais preocupdarp-s~ com pergunta se haver para ele um lugar na casa
o ai. (v 2) D"1 s t anc1ando-se

de nos
Jesus mantem
um lugarl1vrepaa '
d
. r nos. E mais do que isso: ele prepara tu 0 _
- . se precisamos mudar para um lugar distante, ou se nas ferias alugamos um;:i casa estranha, surge a pergunta: Como _ser? O que encontraremos? E aqui temos algum em quem conf1 amos e que no~ diz: No se preocupem, eu mesmo cuido de tudo, pre parare i tudo. Eu mesmo receb e rei vocs (v. 3a) Ass i m as preocupaes so tomadas de ns. Nossa perturbao,
o me do de permanecer sozinhos e sem orientao no tem motivo de se r! Ass i m, a caract er stica da despedida na Ascenso n o a se par a o de J es us de ns, mas sua despedida

- 235 "atrai-nos" a ele para a casa de seu Pai. Ele segue adiante de ns, recebe-nos e, ao mesmo tempo, vai junto conosco "para que onde eu estou estejais vs tambm". Agarrar
es~a prome ssa significa duas coisas. Quem cr nessa promessa reconhece na ''ida" de Jesus, no seu enaltecimento na cruz,
sua ida ao Pai. E a f reconhece, ao mesmo tempo, o caminho
em que seguir a Jesus. esse duplo sentido que o v.4 expressa. Em primeiro lugar: Onde vocs estaro comigo, disso vocs no podem ter dvidas,pois vocs sabem aonde eu vou (cf.v.
3). Mas vocs no s conhecem a meta; vocs sabem, em segundo lugar, tambm o caminho at l. Esse segundo ponto torna. e isso assim
que se f a 1a ''de 1e' 1
-se, a seguir, o tema em s1,
ele o caminho.
11
O v.4 expressa o que o crente deveria saber - mas nao
sabe! Isto , devemos ser conscientizados sob~e o que j nos
foi dado. Assim provocada a pergunta de Tome (v.S). Nos
todos somos - sempre de novo - este Tom. Pergunta~os pelo
que vem depois da morte - pela eternidade, pelo al~m: Justamente por "nada sabermos" sobre isso esperamos not1c1as de
alm do limite da morte. Esperamos respostas do espiri!ismo e/ou de fenmenos parapsicolgicos. Como se ainda nao
tivssemos obtido a resposta!
Mas a pergunta de Tom esclarece tambm o aspecto positivo: Saber o caminho verdadeiro depende do fato desabermos para onde ele vai. E assim Jesus dirige a pergunta
de Tom, nossas perguntas e especulaes, pa~a si mesmo:
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguem vem ao Pai
seno por mim," Jesus diz: Eu sou 11 0 11 acesso a Deus, isto
, o nico.
Ns faci ]mente compreendemos isso assi m como se ele
fosse o caminho exigido de ns. Desse modo, nosso seguir
torna-se condio para participarmos de sua verdade e_de _
sua vida. Ento Jesus seria o portador de uma nova lei, nao
do Evangelho. Nosso texto, porm,quer dizer: Jesus ocaminho que nos dado. Crendo nele, cuja morte foi sua ida
para casa, para o Pai, sua verdade e su~ vida tornai;i-se para ns a ponte para a eternidade, isto e, o enaltecido na
cruz transforma nossos perturbados caminhos terrenos no caminho da luz e da liberdade.

- 236 Assim, j
no assim

11

agora Jesus nos abre o acesso ao Pai. Mas

que ele possibilitou o acesso para ento tornar-

-se dispensvel 11 11 Mas ele de tal forma o caminho que ao


mesmo tempo a meta 11 (Bultmann). Pois ele tambm a verdade e a vida, - a verdade como realidade revelada de Deus;
a vida como a real idade divina. Todos os tres termos: ca11
minho, verdade, vida, estao entrelaados no 11 eu Assim,
Jesus o caminho sendo a meta, e a meta sendo o caminho.
11
11 Nele 11 ,
no em qualquer outro caminho (possivelmente mais
rpi do 11 ou 11 mai s di reto 11 ) reconhece-se Deus.
Isso significa tambm: O 11 caminho 11 no se torna suprfluo por causa da meta,ou seja, verdade e vida. A verdade
e a vida no constituem um bem separvel do caminho. Jesus
permanece o caminho para ns. Mas simultaneamente: 11 No andar do caminho est atingida a meta 11 (Bultmann). No se pode, pois, captar num caminho d1reto,encurtado, o que a verdade e a vida. Esclarece-se aqui uma diferena entre o reconhecimento da f e, digamos o reconhecimento da cincia.
A cincia pode construir sobr~ resultados de outros -( 11 dos
pais 11 ) . Ali possivel pressupor e transmitir os efeitos j
1
'7onfirmados 11 . Ao contrrio disso, o caminho verdade e
11
vi~a cada um deve andar sozinho. Esse 11 andar sozinho ningu~m pode tomar-nos, nesse caminho ningum pode nos substi~ui r: ~em a Igreja, nem um dogma - tambm no um dogma da
sc~nsao corporal de Jesus. Tambm nesse aspecto desmorona
d~ferena entre os discpulos da poca da vida de Jesus
e nos hoje.
Portanto, Jesus no diz simplesmente a verdade - ele

- e- 11 sabermos 1 1 a ver d a-e a verdade Por isso, d--.


ec1s1vo
nao
de' mas llsermos11 d a ver d a de. E .isso se decide no posicio. .
namento que. assumimos agora e hOJe
. para com aquele que nos
revela caminho, verdade e vida. Isso sublinhado novamente pelo v.7 que , ao mesmo tempo, provoca a compreensao
- errada e a pergunta do segundo discpulo, Filipe. Jesus o
revelador porque nele o P~i e~t presente: Se os discpulos
ore~onhe~era~,Jesus, entao ja reconheceram o Pai (cf.v.9).
Aqui esta, po1s~_no~amente o tema: revela-se aos perturba11
d~s o_que eles Ja tem, mas o que o crente na 11 perturbao
nao ve ou menospreza! No est a f de mos vazias? O que
11 tem 11 ela, agarrando um Senhor que partiu para o Pai? No
precisa a f mais do que apenas o caminho?
Justamente esse o argumento de Filipe (v.8). 11 Somen-

- 237 :e o ~aminho ao Pai voc ? M~lhor mostrar-nos o Pai agora


entao creremos com prazer. 11 Jana resposta a Tom Jesus havia
mostrado_p~ra si me~m~. O mesmo faz
sua palavra a Filipe.
Jesus rejeita uma v1sao direta, imediata de Deus! Ele o
acesso - e a meta. E isso o v.9 acentua. Jesus no quer ser
nada, e sim revelar Deus. Assim, na comunho com ele temos
a possibilidade de ver a Deus: Quem v a mim este v o
Pai. Je~us e o Pai so um (v. ll). E para e~sa f que 0
evangel 1sta conclama: que o homem encontrou Deus no encontro com Jesus. A ao do Pai realiza-se na palavra de Jesus; o que Jesus , revelao do Pai. TSso dito no v.
10 em forma de pergunta; o v. 11 repete-o agora na forma de
um imperativo (cf. v. lb).
'
O que so as 11 obras 11 ? 11 Conforme o v.10 elas nada mais podem ser do que a ao de Jesus como revelador da palavra 11
(Bultmann). Olhar para as obras significa, ento, ver o que
o~era essa palavra - ou seja, a demonstrao de nossa real 1dad: (cf.o que se disse acima sobre o v. l). O v.12 se ref~re ~existncia missionria da comunidade, a qual, sob a
d1 reao do paracleto, continuar a obra de Jesus (cf.15,
26s; 16,4ss). Dessa forma, na ao dos seguidores de Jesus
mostrar-se- sempre mais a fora do agir do Pai, que teve
em Jesus o seu incio (v. 12b; cf. 16,7-11).
111

Mesmo assim, essas 11 obras maiores" em verdade permanecem sendo as obras daquele sem o qual nada podemos fazer
(15,5). Tudo o que produzimos e continua sendo 11 dado 11 .
Isso acentua nos vv. l3s a promessa de atendimento s oraes. Tambm aqui a orao dirige-se a Jesus mesmo, no ao
lado dele 1 11 diretamente 11 a Deus. Com isso protege-se a prom;ssa das ~bra~ maiores da compreenso errada de que os disc1pulos agiam independentemente e distantes de Jesus dent:o de uma relao particular com Deus. Mesmo aps a'Ascensao, Deus permanece sendo acessvel apenas atravs de Jesus.
C. Elementos de uma prdica
1. A Ascenso de nosso Senhor ao Pai descerra a situao da f no que tange o medo de ser abandonado. Da

- 239 -

- 238 nossas receptividades para todos os consolos substitutivos


por parte do espiritismo, da magia, mas tambm por parte de
ideologias "seculares".
2. Ao mesmo tempo, a Ascenso de nosso Senhor fundamenta a verdadeira confiana no nosso discipulado. Sua despedida traa-nos, na nossa vida terrena, o caminho ao Pai.
11 l. No seguir a Jesus abre-se aqui e agora o caminho a Deus. Nosso reconhecimento de Deus existe apenas como caminho a ele.
- Fora desse caminho Deus no realmente reconhecido. Isso como resposta opinio (tipo Tom) de que haja outros caminhos a Deus, alm do seguir a Jesus.
2. No seguir a Jesus j atingimos a meta. Nosso caminho j o reconhecimento de Deus.
_
~Basta 11 , portanto, seguir a Jesus. 1sso como resposta a ideia (tipo Fi 1 ipe) de que a meta captvel independentemente do caminho. Antes, no caminho j estamos na meta .
111 1. Por isso, a ida de Jesus ao Pai no nos deixa
sem coragem e olhando angustiosamente para um alm, mas liberta-nos, em nosso mundo, para um discipulado ativo.
2. Esse novo discipulado a obra de nosso Senhor enaltecido para a glria do Pai (v.13) . Esse o nosso consolo e nossa promessa no dia da Ascen s o (cf. 1, 1).
1

Bibliografia
BULTMANN,Rudolf. Das Evangel ium des Johannes.Gettingen, 1941,pp.462-473.- KANNENBERG, Hi lmar. Medi taao sobre
Cl 1, 15:::23 . ln: v.Kaick, Baldur (ed). Proclamar Libertao.
Vol .1. Sao Leopoldo, Editora Sinodal, 1976,pp.47-54.-TRI LLHAAS, Wolfgang. Dogmatik. 3 ed., Berlin, 1972, pp. 320ss.
VOIGT, Gottfried. Die grasse Ernte. Parte 1 . Gettingen, 1970,
pp.247-254.

DOMINGO
Mateus
\.J a l ter
1

DE

P E NT E COS T E S

16' l 3-20 ( -23)

A l t ma n n

Para quem proclamar?

H, no mnimo, trs complexos de referncia para a pregao deste te x to.


1) Em primeiro lugar, o texto previsto para o Domingo de Pentecostes. Se Karl Barth, quase no fim de sua vida e de sua portentosa obra teolgica, reconheceu a necessidade de uma "teologia do terceiro artigo 11 (p. 311 s; vide bibliografia), tanto maior o dficit teolgico a esse
respeito num ambiente marcado cada vez mais pelo impacto
do pentecostal ismo. A pergunta decisiva que o pentecosta1 ismo parece estar dirigindo s igrejas tradicionais se
no prenderam Deus e Jesus Cristo no passado, na teologia
e na instituio, utilizando-os como racionalizao justificante para suas prprias descobertas e seus prprios programas. O comeo da superao positiva do desafio pentecostal seria ento o renovado reconhecimento da 1 iberdade e
da iniciativa de Deus tambm hoje, entre ns.
No entanto, a escolha do texto para Pentecostes surpreende. Pelo menos, primeira vista. Pois, embora extenso o
texto no menciona explicitamente o Esprito Santo. Cont~
do, a central idade da confisso em Jesus como o Cristo, bem
como o entendimento do Cristo como o sofredor, parecem ser
tambm o corretivo fundamental que o pentecostalismo est
a carecer, quando programa e fixa a ao do Esprito Santo
ou quando baseia sua prpria proclamao e expanso nos
triunfos carismticos, ao invs de no Cristo sofredor.
2) Em segundo lugar, este texto tem sido central para
a tradicional eclesiologia catlica,muito em especial para
a fundamentaao b1blico-teologica do papado.No catolicismo
tem sido utilizada a palavra de Jesus a Pedro, nos vv. 17
a 19, como justificao para uma estrutura hierrquica e
autoritria da igreja, qual pirmide com seu pice decisivo no papado~ O protestantismo, por sua vez, a comear por
Lutero,_ t~m~em tem violentado o texto, eclipsando o apostolado, m1n1m1zando a figura de Pedro, desprezando o aspecto

- 240 -

institucional da igreja e reduzindo o escopo da percope


f em Jesus Cristo.
. .
Com 0 Conclio Ecumnico Vaticano 11, o catol 1c1s~o. embora ainda certas hesitaes - fundam:ntalmente def1n1u o
ministrio hierrquico como eclesial inao pessoal) e :obretudo como um ministrio de servio (nao de poder~. A 1~r~
ja evanglica far bem em ouvir essa auto:co~reao ~ato~i
ca como uma cctica s suas prprias tendenc1as de 1nst1tucional izao de poder, paradoxalmente ~eforadas co~ a
alegao da correo da f e da proclamaao, o que seria o
bastante e o decisivo, segundo CA VI 1. Se Hans KU~g aponta
para a continuao nos vv. 22 e 23, como a tentaao de uma
11 piedosa teologia de satans 11 (p. 315), esta afeta tanto a
evanglicos quanto a catlicos.
A semana que antecede Pentecostes tradicionalmente a
Semana da Orao pela Unidade Crist. Mesmo naquelas comunidades que (ainda) no praticam a orao ecumnica pela .
unidade, pelo menos o culto de Pentecostes no deveria deixar de lembrar, na prdica e na orao, o Esprito San~o
como constitutivo da igreja de Cristo, cuja unidade foi rompida e assim se mantm por obra de "carne e sangue" (v. 17),
de ambos os lados. A polmica , portanto, totalmente desrecomendve 1 .
3) A Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasi 1
J h alguns anos se pergunta por sua identidade. Nessa procura ela de modo algum est s. A questao e essenci~l em
tempos de transio e de crise. Tal nossa situaao._A
nova conscincia ecolgica e o conhecimento da 1 imitaao
dos recursos naturais transferiram tambm para as camadas
privilegiadas e os poderes estabelecidos, bem como para os
pases ricos, a percepo de que nos encaminhamos celeremente para um impasse, de onde possivelmente s uma profunda
e dolorosa transformao nos tirar. Tais crculos de interesse encaram o impasse com temor, refugiando-se, freqUentemente , numa angustiosa atitude de "salve-se quem puder''.
Sua profunda crise de identidade reflete-sena desesperada
reteno de privilgios e conseqUente violenta manuteno
da ordem , como atestam os numerosos regimes de poder estabelecidos nos ltimos anos, particularmente na Amrica Latina . De outra parte, porm, para as camadas espoliadas e
aqueles que no tm poder, bem como para os pases mantidos
em subdesenvolvimento, o impasse pode servir de impulso pa-

- 241 ra uma deste mida a ao em favor de uma transformao pela


qual Ja ansiavam. Sua igualmente profunda crise de identidade reflete-se na insistente procura de redistribuio de
bens e poderes, com uma conseqUente ordem de justia, como
atestam as igualmente numerosas transformaes sociais,polticas e econmicas, particularmente na Asia e na Africa.
(Escrevo no dia, em que o jornal noticia a morte de mais
um padre, por mo policial, em regio de colonizao do Mato Grosso, por ter intercedido em favor de mulheres torturadas. Sinal dos tempos?)
A pergunta pela identidade da IECLB muito pouco tem sido vista nesse contexto mais amplo, embora seja sem dvida
tambm uma parte daquela problemtica. H, de um lado, a
possibi 1 idade de procura confessionalizante, com o fim de
encontrar no passado as razes justificantes para o desejado empenho de preservao do 11 status 11 eclesial alcanado
(por exemplo: estrutura da IECLB). De outro lado, possvel colocar-se a pergunta pela identidade no sentido de
procura daquela tarefa de transformao que nos poderia caber como IECLB, como Igreja de Jesus Cristo no Brasil, no
contexto scio-cultural e poltico-econmico brasileira .
O texto reporta significativamente a questo da identidade da igreja ao Cristo, indicando-lhe que sua identidade
no est garantida com sua instituio e estrutura nem com
a ordem vigente e os desafios de transformao, mas concedida gratuitamente por aquele que permanece sendo o senhor
da igreja ( 11 minha igreja", v.18). No entanto, o dom gratuito compromete total e perpetuamente. A identidade recebida
s~ comprova na identidade vivida. Da a ind i cao imprescind1vel ao sofrimento vicrio (v. 21). Fugir dele, contorn-lo ou combat-lo significa a troca de Cristo por Satans.
Concluso: Qualquer uma das trs perspectivas muito
ampla. (Ainda haveria outras possveis: a revelao de Deus
como quebra e libertao da absolutizao da autonomia humana; a responsabilidade da proclamao do perdo de Deus
e suas conseqUncias, a partir do conceito de "ligar" e "desligar", no v.19; a possibilidade de despreocupao da igreja ~onsigo mesma e sua sustentao pela promessa divina; e
assim por diante.) No possvel, de modo algum, esgotar
todas as perspectivas em uma prdica s. r preciso optar
por uma delas ou ento pregar sobre este mesmo texto durante domingos sucessivos. No entanto, para qualquer uma das

- 243 -

- 242 . l que a percope, prevista


perspectivas parece-me essenc~~ v. 23. Emb o ra assim a
at O V. 20, seja estendida ate o
.
e torne ainda mais complexa,
. .
_ a
problemtica se amp l 1e e s
.
de
Pedro
e
sua
recr1m1naao,
_
- .
restenso entre a con f 1 rmaao
por parte de Jesus, irrenu nci avel. Uma pr:d1ca que,.
.
l
e as tensoes' assumisse
tringindo -s e ate o v. 20, nive ass
, .
.
taria
um tom triunfalista e permanecesse acr1tic~,,,v(ol~;)
o texto para ela valeria o "arreda, Satan~s
~
.ler
'

O pregador
precisa
"sofrer_11 com o texto So entao va
para sua prdica a promissao dos vv. 17-19.
11

- O que proclamar?

O "sofrimento" do pregador comea com a exegese, poi~,


.
"na c xposiao
precisamente
desse tex t o, tem-se a sensaao
.
. do", _"t u do quanto . pensamos
de estar pisando em um campo mina
11
divisar e principiamos a dizer, tudo e controvertido
(Steck, p. 325).
Esse marcadamente o caso com a de l .1m .1 t aa- o da. pc r .- _
.
. .
d e d o re l a to . t: i n t e re u~
s
cope e a pergunta pela h1stor1c1da
sante ter diante de si uma sinopse dos eva ng e lhos . A seq e~
eia dos assuntos a seguinte;
Mateus
Pergunta de Jesus
respostas diversas
conf iss o de Pedro
promisso de Jesus
a Pedro
ordem de calar
anncio da paixo
Pedro recrimina
Jesus
Jesus rechaa
Pedro
Lucas
Pergunta de Jesus
respostas diversas
confisso de Pedro

Marcos
Pergunta de Jesus
respostas diversas
confisso de Pedro
ordem de calar
anncio da paixo
Jesus fala abertamente
Pedro recrimina
Jesus
Jesus rechaa
Pedro
ordem de calar
anncio da paixo

A promiss~o de Jesus a Pedro, central em Mateus, falta


no relato de Marcos. Mateus tambm, mediante acrscimo no
rechao de Pedro, por pa rte de Jesus, acentuou dramaticamente a tenso entre prnmisso e rejeio. J o relato de
Marcos, porm, mu ltifacetado . Trpico o assim chamado
"segredo messi nico" marquino,aqui caracterizado pelo
contraste entre advertncia ao silncio da messiandade
de J es us e o anncio aberto da paixo. (Mateus e Lucas
suprimem o versrculo Me 8,32.)
A cena da confisso de Pedro e o an ncio da pa1xao
so, ao qu e tudo indica, originariamente elementos independentes. Segundo Bultmann (p. 276s), Marcos criou a
ordem de calar, o anncio da paixo, inclusive o rechao
de Pedro. A messiandade de Jesus assim centralizada na
paixo e ressurre io, algo ainda inadmissvel para Pedro,
no tempo da peregrinao de Jesus. A polmica contra Pedro seria devida a uma polmica anti-judaico-crist, que
tambm seria a responsvel pela supresso da promisso de
Jesus a Pedro. Esta, preservada em Mateus, seriao"final
original" (p. 277) do relato da confisso de Pedro, tradio anterior a Marcos. No entanto, segundo Bultmann,
tambm o relato da confisso de Pedro tem carter secund
rio, j que Jesus pregava o reino de Deus e chamava ao arrependimento, mas no discorria sobre si. Tratar-se-ia
de uma "lenda da f", em que os discpulos representam
a comunidade: "a f na messiandade de Jesus retro-projetada a uma histria da primeira confisso mess1an1ca,
que Pedro efetivou diante de Jesus" (p. 276). Portanto,
a histria toda, incluindo a promisso de Jesus a Pedro,
seria "uma histria pascal", que testificaria ser "a vivncia pascal de Pedro a hora do nascimento da f no Messias, por parte da comunidade primitiva".
Em sendo correta essa viso de Bultmann, teramos impor
tantes conseqUncias para a interpretao: a f no ressurre
to seria o elemento constitutivo da comunidade crist. SerTaJ
por exemplo, ilegtimo perguntar pelas implicaes polticas que uma confiss~o messinica teria tido em vida de Jesus,
e seus reflexos anlogos para a comunidade de seus seguidores.
Erich Dinkler, por seu turno, entende que a perrco pe
remonta a uma situao histrica na vida de Jesus. Uma

- 244 -

confisso messinica por parte de Pedro, com todas as.suas


conseqUncias polticas, teria recebido de Jesus o mais
- de satanismo.

1sto .
veemente rechao mediante a acusaao
.!.
- o J esus h 1stor1co
-
t er1a,

con s c, 1-.
significaria entao
que J
ente e radicalmente, recusado qualquer expectativa pol it~
ca que os discpulos de fa t o estavam depositando ~ele.
Es~a construo porm no me parece plausvel, po~s esv!
'
'
ziaria, em grande
parte,
o .impacto que a cruel f ~ca~a o de
Jesus viria causar na f e nas esperanas dos d1scipulos,
do que os evangelhos nos do um testemunho to eloq~ente.
Esse impacto teria que ser antecipado; para tanto ha poucos indcios. Alm disso, se tivesse havido uma recusa.
explcita de Jesus sua messiandade, como se expli~aria
a volta da comunidade ps-pascal a essa reivindicaao'.
ainda mais se considerarmos a necessidade que teria tido de simultaneamente reinterpretar, a partir de cruz e
ressurreio, o ttulo de Messias (= Cristo2?
J Cullmann divisa em Mateus a combinaao de duas situaes histricas: uma a confisso da messiandade de Jesus por parte de Pedro, outra a confisso de ser Jesus 0
filho de Deus, com a expressa aprovao deste ~os . vv. 17
19. No entanto admitir o r e lato como reminiscenc1a de um
ou dois episdlos histricos causa dificuldades na~a meno- soas

e reres . Nao
evidentes interferencias
de composiao
d aao,
indicadas

no
acima, depoem contra essa pr~su
O relato, assim como est indubitavelmente antecipa tanto_o
choque da paixo, qua~to sua superao pela ressurreiao
de Jesus.
Talvez tenhamos nesta percope a elaborao dada pela
tradio a duas experincias simultneas e aparentemente
contraditrias, feitas pelos discpulos, ao acompanharem
Jesus em ~uas andanas, pregaes e aes. De um lado,
ci
a percepao de que nesse Jesus, a quem seguiam,algo de de_
sivo estava em jogo. Esta lembrana preservada no relato da confisso de Pedro. De outra parte, a reticncia
em aceitar a renncia e o despojamento,que o seguimento
desse Jesus lhes acarretavam. Esta lembrana preservada
no relato da recriminao de Pedro a Jesus. A cruz acent~
ou ao extremo essa contradio da e xperincia, e em assim
fa z endo a solucionou: o decisivo ocorreu na morEe de Jesus.
o c r ucificado o Messias. Contudo, a contradiao nao e

- 245 -

dissolvida na ex pe r1 e ncia prtica dos crentes, onde e la permanece inarred a vel mente: agraciados , e justamente assi m comprometidos com t oda a vida. Portanto, a tradio ps-pascal
manteve a aparente contradio, pretendendo evitar a a mbigUidade de uma confisso verbal me nte correta da f e m Jesus como o Cri s to, com si 1.1ultnea negao da confisso concreta, em despojame nto e solidariedade sofredora. Assi m h
tambm um motivo e xegtico central para estendermos a percope at o v. 23.
Tambm a historicidade de Mt 16, 17-19 discutida. A
base indubitavel mente semtica ("carne e sangue" para ser
humano; o jogo de pai avras Pedro - pedra, em ara maico 11 Cefas1 1; 11 1 i ga r 11 e 11 des liga r 11 como expresso de auto ri d a de doutrin ri a e disciplinar). A partir da, diversos e xegetas defendem a autenticidade histrica desses versculos (cf. Cullmann, p. 180ss). Jesus ter-se-ia entendido como o Messias,
escolhido os Doze pelo aspecto da representatividade de Israel, e este teria sido o momento de instituio da igreja.
J para Bultmann a autenticidade desssa palavra de Jesus ''totalmente impossvel 1' (p. 150), pois reconhece r a
11
igreja 11 j antes da pai xo seria a perda de seu "sentido
radicalmente escatolg i co1', em favor de uma "sinagoga e s pecial de um indivduo". (A forma futrica "edificarei" estaria a trair a origem ps-pascal da palavra. Excetuando Mt
18, 17, onde se refe re comunidade, o termo "igreja" tamb m
nico na boca de Jesus) . O local de origem dessa palavra
de Jesus teria sido "os debates a respeito da lei, na comunidade palestinense 11 (p. 148), e xpressando-se a conscincia
escatolgica desta de ser a "comunidade dos justos do t empo final 11 A forma de um relato histrico teria o sentido
de assegurar tradio petrina a liderana na comunidade.
(Como j vi mos, Marcos teria supri mido esse aspecto.)
A pesquisa neotestamentria predominante, porm, assume uma posio intermediria (cf. Borkmann, p. 173-175) .Mesmo se Mt 16, 17-19 for original de Jesus, sua perspectiva
futura, isto , aponta para aps a Pscoa ("edificarei, darei, ligares, desligares"). Mais import ante, contudo, do
que a questo histrica em si, a relao entre o Jesus
terreno ( 11 histricol 1) e o Cristo ps-pascal ( 11 querig mtico11) .
Nem a identificao plena, que deprecia cruz e ressurreio,
nem a presuno de uma contradio parecem ser condi ze ntes.
De um lado, no se pode conceber Jesus (terreno) sem chama-

- 247 -

- 246 do, comunidade,seguimento,oque tem continuidade na comu~i


dade ps-pascal. De outro lado, porm, cruz e ressurreiao
so o evento salvfico, cuja proclamao perfaz a dignidade da igreja e que tambm constituem o contedo da experincia vivencial do crente. t disso que a igreja e o crente
tambm hoje vivem, no de sua instituio nem de seus programas. Caso contrrio, se desqualificam como seguidores
de Cristo.
Passamos agora a uma parfrase do te xto :
Andando os discpulos com Jesus, este os confronta com
sua prpria pessoa: 11 Quem sou? 11 Tentativas diversas de respostas, por parte dos homens em geral, recebem a sua mais
intensa 11 radicalizao 11 (Karl Barth) no crculo dos discpulos, atravs da confisso de Pedro: Jesus de Deus; no
confronto com ele tudo se decide.
Essa resposta, obtida no processo de 1 ida e andana com
Jesus, no ,contudo, resultado do esforo intelectual nem
da vivncia. r revelao divina. As respostas humanas nunca chegam a essa radicalidade, pois no conseguem ultrapassar aquelas respostas provisrias.Nemtodas as respostas humanas
so exp~esso de rejeio de Jesus. Muitas expressam a procura e sao por isso respeitveis. No entanto, embora a re~
posta verdadeira no possa ser alcanada autonomamente, e
nesse mesmo expor-se a Jesus que a resposta concedida por
Deus.
Pedro passa a ser detentor da promessa de Jesu s . Sobre
e le se edificar a igreja, que a morte no poder destruir.
~ ~rom~ ssa, porm, no se transforma em posse de Pedro, mas
e. m: diata me nte vinculada ao seu apostolado, isto , sua
missao: a_proclamao do reino e a sua vivncia aqui. Na
procl
. . ':1aao, e- central a vinculao ao Jesus sofredor pe 1a
Inju s tia humana e por amor aos homens. Ele tambm o ressurreto, mas a ressurreio passa pela morte. Assim, tamb m
faz parte da vivncia crist o sofrimento pela injustia,em
solidariedade e amor aos homens.
_ ~ nesse cominho permanece vlida a promessa. E es ta
nao e qarantia. Pedro desvirtua a f e a prome ssa , no tan to por querer evitar o sofrimento para si; est, inclusive ,
disp os to a correr os riscos de uma luta. Pedro desvirtua a
f e a promessa, porm, quando quer evitar o sofrimento de
Jesus, quando em vez de recebedor comprometido quer ser"""O'
defensor vitorioso de Jesus. Esse o caminho satnico, 11 a
1

segunda queda no pecada1' (Romano Gua rd i n i), em que a ao


libertadora de Deus no seguida, mas substituda pelo empreendimento do homem. Isso ocorre com Pedro e no corao
da igreja.
1 li - Como proclamar?
O 11 sofrimento 11 do pregador talvez se acentue na confecao da prdica. J disse acima que este texto se presta a
mltiplos temas. Apresento a seguir uma possibi !idade, que
procura manter a tenso entre promisso e rejeio, inerente ao texto. Na elaborao, as consideraes da primeira
parte deveriam ser tomadas em conta, embora nem todas possam ser assumidas.
l) P roeu ra e f
A pergunta pela nossa identidade, quem somos?, se decide no confronto com Jesus, quem ele . H entre os homens
mltiplas respostas: mestre, irmo, revolucionrio. So respeitveis expresses de procura, freqUentemente muito mais
autnticas do que a resposta rpida dos lbios, mas longe
do corao: 11 fi lho de Deus 1 ' .
Jesus no rebate tais respostas, embora sejam parciais
e insuficientes. Na lida e na andana com ele, ocorre ento
a 11 radicalizao 11 das respostas, concedida por Deus: ele
aquele que se entrega por inteiro a ns, por ns.
Qual a confisso necessria hoje? 11 Jesus Cristo liberta e une 11 pode ri a ser a forma condizente hoje de expressar
Jesus como Cristo.
2) Promessa e tentao
Nada ha de mais elevado do que a promessa de Jesus. No
confronto com Cristo, tudo se decide definitivamente. No
h necessidade de novos cristas, sua ao permanece na proclamao e na vivncia da igreja e de seus seguidores.
No entanto, a est Pedro - pedra da igreja e pedra de
tropeo, representante de Deus e de Satans. A estamos nos.
Da correta confisso mais profunda deturpao - menos d~
que um passo. A confisso daquela igreja que permanece, nao
s correo dogmtica nem apenas disposio a riscos pessoais, mas verdadeira 11 ab-negao 11 , renncia a si. A igreja
sofre com a causa de Cristo, ou ela no .

- 249 -

- 248 3) Fracasso e compromisso


.
Quando uma comunidade est mais interessada em sua edificao material e respeitabilidade social do que na pro~la
mao e vivncia do reino de Deus em s e ~ ~ei~, tem a legitimidade de se chamar "comunidade evangel1ca? Quando u~a
igreja est interessada na solidifica~o de sua institu~ao
ou se orgulha de seu progresso, ainda e fiel? Quando c:1stos se preocupam mais com o seu 11 status 11 e sua ascensao
social do que com o testemunho da justia e do amor, ainda
tm o direito de se chamarem de cristos?
Sim fracassamos.Bendito seja este reconhecimento! Pois onde o fr~casso confessado, a tem incio o caminho da cruz,
o caminho de Jesus. Esse caminho poderia representar um~
profunda mudana de vida para pastores, membros de comunidades, as prprias comunidades, a igreja. Talvez a pobreza?
E claro, a pobreza da comunidade e da igreja pelo egosmo contribuinte de seus membros no nenhum sin~l de autenticidade. Mas a pobreza da igreja, porque atraves dela
flusse liberalmente, 11 ab-negadamente 11 , o sacrifcio abun.
.
a
dante de seus membros, para o estabelecimento da JU~t1a,
superao da "pobreza imposta" a tantas e tantas cri aturas
de Deus, bem poderia ser hoje o sinal da fraqueza em que_
Deus forte a fonte da autenticidade, o poder de redenao.
Consegui :emas isso? Por certo, no consegui remos. Mas
talvez nos seja dado. Creiamos.
IV - Bibliografia
BARTH, Karl. Posfcio Schleiermacher-Auswahl, Siebenstern 113/114, Munique/Hamburgo, 1968, p. 290-312. BORNKAMM,
GLinther. Jesus de Nazar . Petrpolis, 1976. BULTMANN, Rudolf. Die Geschichte der synoptische Tradition.7 :d. ,G~ttin
gen , 1967. CULLMANN, Oscar. Pedro . Discpulo - Aposto!o
Mrtir. So Paulo, 1964. DINKLER, Erich.Petrusbekenntn1s
und Satanswort. ln: Zeit und Geschichte. Festschr. R. Bultrnanns,
1964, p. 127-153. GOPPELT, Leonhard.Teologia do Novo Testamento.
1: Jesus e a Comunidade Primitiva. Sao Leopoldo/Petropolis, 1976. KUNG, ~ans: A Igreja, 29 vai.Lisboa,
1970 . STECK, Karl Gerhard. Med1taao sobre Mt 16,13-20.ln:
Heren und fragen, 5? vol. Neuki rchen-Vluyn, 1967, p. 324332 .

D O M

N G O

L u c a s

DA

TRINDADE

10,21-24

Martin N. Dreher
1 - Sugesto de traduo
21. Naquela hora ele jubilou no Esprito (Santo) edisse: Louvo-te, Pai, Senhor do cu e da terra,
porque ocultaste isso aos sbios e entendidos,
e o revelaste a pequeninos.
Sim, Pai, porque tal foi a tua boa vontade.
22. Tudo me foi transmiti do por meu Pai.
E ningum reconhece quem o Filho, a no ser o Pai,
e quem o Pai, a no ser o Filho,
e a quem o Filho o quer revelar.
23. E ele voltou-se, especialmente, a seus discpulos e
disse: Bem-aventurados os olhos que vem o que vedes.
Pois eu vos digo:
24. Muitos profetas (e reis) quiseram ver o que vedes,
e nao o viram,
e ouvir o que ouvis,
e nao o ouviram.
11 - Contexto
Setenta discpulos so enviados para preparar a vin?a
de Jesus. O envio destes setenta tem em mente o mundo 1ntei ro, pois, segundo Gn 10, existem 70 povos (LXX=72). O
envio dos setenta, relatado por Lucas, nos apresenta, er:i .
oposio a Mateus e a Marcos, uma nova dimenso da histori~
de Jesus. (Mt 10,5: "No tomeis rumo aos gentios,nem entreis
em cidade de samaritanos. 11 ) Lucas v nos enviados de Jesus
mensageiros que preparam a pregao ambulante de Jesus:~s
ta pregao engloba, aps o final da atividade na 9alile1a,
grandes partes da SamarJa e da Judia alm de regioes da
Galilia que ainda no foram atingidas. Lucas rompe, pai~,
com a concepo de que Jesus tenha sido enviado somente as
cidades judaicas.
Jesus envia os setenta como um rei (kyrios). Os enviados so arautos que anunciam sua vinda. Sua funo no se

- 250 restringe apenas a conseguir hospedagem, mas ela est a servio da vinda do prprio Jesus. Uma das funes dos arautos
a de anunciar a vinda do reino de Deus. Como, porm, estes
arautos devem preparar a vinda de Jesus ,nota-se aqui que para
Lucas, em Jesus, o reino de Deus chegado (Lc 10,9) !
Se em Jesus o reino de Deus chegado, ento esse fato
significa o finaldoreinadodeSatans. Satans perdeu seu
poder sobre os homens (v.19), Jesus o kyrios (v.17). Os
discpulos, porm, que de Jesus receberam o poder de expulsar demnios (exorcismo) como um sinal de sua vinda, no
devem basear sua alegria no fato de que venceram demnios,_
mas no fato de que so conhecidos por Deus.
(Schlatter:"Nao
o diabo afugentado que os torna aleores mas o Deus que
est a p~ra eles" = Lk. - Ev., p. 28). Os nomes dos discpulos estao escritos no rol celestial; Deus os conhece como
amigos e como sua propriedade.
A orao jubilosa de agradecimento feita por Jesus (10,
21) segue imediatamente aps haver sido descoberto o motivo
da alegria em os discpulos se saberem conhecidos e arrolados por Deus. f por isso que Jesus jubila.
11 1 - O texto

Nosso texto formado por trs ditos isolados: uma oraao de graas, um dito de revelao e um maca rismo. Aparentemente estes ditos parecem estar interligados seu estilo
e conteudo,
'
porem,
nos mostram o quanto um diverge
do outro.
O primeiro dito, v. 21, tem a forma de um hino de graas como o conhecemos dos Salmos 33 2 75 1 (BHK 75,2); 138,
1 o s
.
' ' ao ' estilo de d1scur.

egundo dito,
v. 22 assemelha-se
so. apoc~l ptico do helenlsmo e soa a um dito joanino. O terceiro dito, vv . 23-24, um macarismo.
No que !oca sua origem, pode-se afirmar que estas palavra s provem da tradio palestina. Isso pode ser demonstrado nc: estilo e nas peculiaridades lingusticas. Isso vale tambem para o segundo dito, pois sua semelhana com Joo
deve ser explicada de tal maneira que Joo assumiu esta maneira de falar a respeito do Pai e do Filho da tradio da
Pale st ina e no vice-versa (cf. Hahn, Hoheitstitel, p.321e
ss).
-0 sentido da 1 igao desses trs ditos nos pode ser mostrado por uma exegese mais detalhada.

- 251 O motivo do agradecimento de Jesus citado por duas oraes que comeam com a conjuno subordinativa causa 1 "porque" (hti ).Jesus louva a Deus no estilo dos salmos de agradecimento. Ele louva a Deus tendo em vista o resultado de
sua atividade:
"porque ocultaste isso aos sbios e entendidos,
e o revelaste a pequeninos ...
porque tal foi o teu agrado." - A revelao de Deus, que
possibilita salvao por intermdio deJesus,no foi feita
aos"sbios", aos qu e a deveriam conhecer ( essa uma designao feita aos esc ribas) e aos "entendidos", aos que possuem discernimento, a capacidade de discernir. Deus esconde o sentido do envio de Jesus a todos os que o querem calcular. Ele escapa ao homem ''entendido" que se quer apossar
dele. f este o seu juzo sobre o homem que quer sua autojusti fi cao e este tambm o seu juzo sobre o homem que
seguro de si mesmo (Jo 9,39). Deus se manifesta em Jesus
aos "pequeninos" que, qual crianas, esperam pelas ddivas
do Pai. Os "pequeninos" so os "pobres" das bem-aventuranas, os Anawim. Eles no representam uma classe social. As
"classes" dos pobres, dos "pequeninos" e dos "entendidos"
e "sbios" surgem do confronto com a atividade de Jesus.
A segunda orao iniciada com a conjuno subordinativa causal ("porque tal foi o teu agrado") caracteriza o acontecimento sucedido atravs da atividade de Jesus como
expresso da eudokia de Deus, de seu plano salvfico. Qual
, pois, o sentido desse versculo? Ele louva o plano salvfico de Deus, isso , a maneira pela qual Deus oferece e
concede salvao atravs da atividade de Jesus. Deus agiu
de acordo com as bem-aventuranas: Ele se revela a todos
que, ante a atividade de Jesus, se tornam pobres, que cremcomo o Centurio de Cafarnaum, e escapa aos que esto seguros de si mesmos e que ante a atividade de Jesus mais seguros de si ainda esto.
O tema 11 reve1 ao 11 1 i ga o l '? e o 2'? ditos. Deus "tudo"
transmitiu a Jesus, i., Jesus o representante plenipotencirio de Deus. Ele age e fala, j nos dias terrenos,
com poder (Lc 4,32). Ele se relaciona de uma maneira toda
esp_:cial e nica com Deus, "o Pai". Ele 11 0 Filho" em rela~o a Deus, 11 0 Pai 11 1 de maneira absoluta (note-se a colocaao do artigo!). A esse relacionamento corresponde tambm
um conhecimento exclusico e recproco.: "Ningum reconheceu

- 252 quem e 0 Filho, a no ser o Pai, e quem o Pai, a no ser o


Filho, e a quem o Filho o quer revelar". O dito nos qu:r afirmar o poder de Jesus. "Ningum conhece o Filho, a nao ser
o Pai" significa, portanto: Somente Deus foi quem escolheu
a Jesus e lhe deu plenos poderes.Isso no foi feito por.h?mens. "Ningum conhece o Pai, a no ser o Filho" sign1~ica,
por seu turno: Somente ele reconhece Deus e vive a partir
da comunho com ele. Por isso que somente ele pode rev~
lar Deus,i ., possibilitar a outros comunho com De~s ~gig
noskein, hebr. jada' , um conceito existencial e nao intelectual!)
-Quem so essas pessoas a quem Jesus possibi ! it~ a comu;;_
nho com Deus? O v. 23 nos d a resposta: os d1sc1pulos.

~
10 s
quele que segue a Jesus, revelado o Pai. Os d1sc1pu
so os que recebem a revelao do Pai atravs do Filho. Aos
discpulos permitido ver aqui lo pelo que os anunciadores
da promessa, os profetas, ansiavam e pelo que os portadores
da promessa, os reis, pediam.
Os discpulos vivem na poca em que se inicia a :oncretizao escatolgica; eles so 11 pequeninos",aosquais e dada
a revelao. Neles que ocorre a eleio dos pobres (Lc
l,46ss; 2,4-7; 2,34s). A posio de Jesus fre~te.a.pecad~~e
res e justos, a "pequeninos" e "entendidos" s1gn1f1ca
voluo 11 escatolgica.
IV - Para a meditao
O texto resume toda a atividade de Jesus a partir da
relao de Jesus com o Pai. E por isso a prdica, que de
modo algum vai poder reproduzir toda a riqueza do texto,
deveria partir da afirmao do v.22: Somente Jesus nos po?e
possibilitar revelao de Deus! A prdica poderia principiar
com a frase: "Ningum conhece o Pai, a no ser o Filho, e a
quem o Filho o quer revelar". Como podemos ns, hoje, compreender esta pretenso, ou melhor, esta oferta?
Durante muito tempo ns falamos a respeito de Deus como algo dado, normal. Mas, que queremos dizer quando dizemos "Deus"? Nossa vida diria a tentativa de vivermos sem
Deus. Toda a correria desenfreada de nossa sociedade no
aponta para isso? Atravs de organizaes e atravs da pesquisa procuramos dominar o mundo. - Quando falamos em Deus,
no Brasil, ainda pensamos no Pai de Jesus Cristo? Quando

- 253 nossas comunidades fa 1am em "Deus", ainda pensam no Pai de


Jesus Cristo? (H 8 anos, quando Lindolfo Weingi3rtner escreveu seu livro 11 Umbanda. Synkretistische Kulte in Brasilien eine Herausforderung f\.lr die christliche Kirche." .Erlangen, 1969, ele ainda podia afirmar que nossas co~un1da
des quase no eram atingidas pelo movimento sincret1sta denominado por alguns de 11 religio brasileira". Passados 8 anos a realidade outra. Em nossas comunidades comea-se
a c~nfundi r Jesus Cristo com um Orix.) Ou ser que "Deus"
nada mais que o 11 S up remo Arquiteto do Uni ve rso 11 ? Quant?
mais o homem fala em Deus, menos o compreende. Quanto mais.
ns o procuramos colocar dentro de nossas normas, tanto mais
ele foge aos nossos paradigmas.
Jesus agradece ao seu Deus pelo fato de que o ser pensante, chamado homem, no se pode adonar de Deus (v.21) .Ele
tambm no o pode compreender na atividade de Jesus. O agradecimento de Jesus uma palavra dura e chocante para todos
os que procuram com o seu raciocnio perscrutar_a vida. Isso, no entanto, corresponde exatamente situaao de Je:us:
Os escribas ( 11 os sbios e entendidos") rejeitam-no, e tao
somente 11 pequen i nos" e pessoas carentes de recursos o seguem.
Jesus no
quer eliminar a mente e o raciocnio, mas
espera que ns aprendamos a pensar de modo diferente_(metanoein!).
Deus s pode ser conhecido medida que e reconhecido (l Co 8,2s: 11 Se algum julga saber alguma coisa,_com
efeito no aprendeu ainda como convm saber. Mas se alguem
ama a Deus, esse conhecido por ele. 11 )
Jesus faz com que a autojustificao sucumba, e libe:ta
atravs da maneira como concede reconhecimento de Deus:Nao
d informao e tambm no um revolucionrio que torne o
mundo melhor. Ele no fala a respeito de Deus, Deus fala
por seu intermdio. Jesus no o homem ideal, nem fala ou
age como se tal fosse. Ele fala e age a partir de sua_relao pessoal (persona!) com Deus: E~e o Filho, Deus e'!
Pai. A relao entre Deus e Jesus e expressa n~m. conhecimento mtuo; conhecer no sentido vtero-testamentar10 (v.22).
Assim que Jesus se apresenta na histria: incompr:endido
esolitrio-vigrioplenipotencirio de Deus. Deus e aquele que fala e interpela por intermdio de Jesus. Em Jesus,
Deus no se apresenta para fazer justia e eliminar o mal
por meio da fora, mas para fazer ou estab:lecer uma nova
comunho com o homem atravs da demonstraao de amor. (Com

- 255 -

- 254 seusmilagres,por exemplo, Jesus nunca castigo~, sau~il_iou).


Deus se nos apresenta em Jesus em fraqueza, i.e, na at1v1dade de um homem. O orgulho que se baseia em poder, justia e
sabedoria destrudo. O contato com Deus somente encontra
quem passa a fazer parte da comunho de amor, da nova aliana, quem se torna 11 pequenino 11 , filho do Pai, po bre no sentido das bem-aventuranas (l Co l, 18-25).
Jesus declarou seus discpulos bem-aventurados e isso
de uma maneira que nos faz pasmar. Pois, olhando bem, haveremos de constatar que eles no eram grande coisa. E, mesmo
que consentssemos que eles levavam grande vantagem em relao aos judeus e aos gentios de ento,pelo fato de o Evangelho de Jesus Cristo lhes ser algo novo, mesmo assim t:mos
que ficar sem jeito caso caracterizarmos a nossa si tuaao
de discpulos do sculo XX com tais predicados: todas a~ e~
peranas e toda a f do passado nada significam frente ~qui
lo que vos foi revelado e dado de presente! Ns te mos : isso
sim, dificuldades para articular nossa f e representa-la
perante outros. As vestes dos discpulos primitivos, que foram chamados e declarados bem-aventurados por Jesus, parecem ser grandes demais para ns. Que fazer?
A resposta s pode consistir no convite de Jesus a que
nos tornemos 11 pequeninos 11 , pobres no sentido da be m-aventurana. Quando encontramos a Deus, ou antes, somos encontrados por Ele , atravs de Jesus ento podemos ver, com os o1 h os da fe,
- seu dedo agindo em' nossa vida e nos a contecimen
.
tos do mu ndo, sua pacincia, s ua ira e, principalment:, seu
amor. O que vemos no podemos provar a outros ne m a nos.Ap:n~s o compreenderemos quando f for
concedi do o P ri vi 11
legio de ve r 11 11 Verdadeiramente tu s um Deus abscndito
(Almeid~: misterioso) 11 (Is 45, 15). Deus realmente o deus
absconditus no sentido de Lutero abscndito sob o absurdo.
Para a razao hu ma na, est abscndito sob o absurdo rla cruz.
Para o crente, est misericordiosamente abscndito sob a
cruz,para ser reconhecido pela cruz. Jesus, o pobre, l e va
a Deus todos os que diante de Deus se tornam pobres.

lhre Geschich te im frUhen Christentum. 4~ ed. 1 G~ttingen,


1974. - GOPPELT, Leo nhard. Die verborgene Offenbarung.ln:
BREIT,rierb ert /GOPPELT,Leonhard, eds. Calwer Predigthilfen.
Stuttgart, 1968, vol. 7, p.85ss.

Culto e Miss.o, por J . G . D av ie s. Co-edio de Concrdia e Editora


Sinodal, Porto Al egre 1977, 1 vol. br., 155 x 215 mm, 150 p. - O A . aborda
um probl e ma real n a moderna diviso r eligiosa do trabalho: culto signific a a dim e n so da f voltad a para d e ntro e a mi sso signifi ca a dim en so da
f vo lta da p a r a fora. Todo o esforo qu e empreend e para mo~trar que ambas
as dim e ns es se ex ig em e formam uma unidade fundame n tal. A diviso
fruto d e conce ito s defectivos seja de mi sso seja de c ulto. A reviso litrg ica
d e v e tambm ori e ntar-se a ser mais do que pastora l, d eve ser mi ssion ria.
E toda misso deve levar o homem ao servio de D eu s, ao culto do Senhor
qu e salva o mundo e os home ns.
G.D.B .

V - Bibliografia
11

GRUNDMANN,Walter. Das Evangelium nach Lukas.Berlin,1971.


- RENGSTORF, Karl Heinrich. Das Evangelium nach Lukas.G~ttin
gen, 1968 . - HAHN, Ferdinand. Christologische Hoheitstitel.

Revista Eclesistica Brasileira 11 , 38/151/1978.

- 256 D 1 A

J o -a o

DE

E S

DE

GRAAS

4,31-38

Heinz Ehlert
1 - Consideraes e xegticas
A tradio do texto da percope no apresenta maiores
problemas. O aparelho crtico no traz variaes dignas de
nota em relao ao te xto grego na edio de Nes t 1e ( 16~ Edio) .
O contexto o seguinte: Jesus, conforme relato neste
quarto captulo, se encontra na Samaria, de passagem (da
Judia para a Galilia). Nos vv. 1-30 narrado o cl e bre
dilogo de Jesus com a mulher samaritana na fonte de Jac.
Este d~logo veio a causar admirao aos discpulos: Um rabino nao faria tal cousa(v . 27). Esta conduta inconveniente~no entender dos discpulos
..
' porm , no os leva a formul .!."uma cr1_tica ou pergunta sequer. A mulher, em virtude do
dialogo hav1do , temmuita pressaemchegar cidade para contar
asuaexperincia,deixandoatoseu cntaro ali na fonte
vv. 28-29) O fato de lhe ter falado, de conhecer o seu passado
e de se referir ao Messias levou a mulher pergunta:
11
Ser e:te, porventura, o Cristo' 11 O fluxo da narrao interrompido com o v. 30. Os vv. 39-42 completam o relato sobre mulher samaritana, contando as conseqUnci a s dotestemunho dela .
O trecho a estudar representa um interldio. A ligao
com 0 anterior encontramos no convite dos discpulos a Jesus para comer. E'. que os discpulos se haviam ausentado justamente para a cidade de Sicar para comprar alimentos (v . 8)
Na volta encontraram Jesus falando com a samaritana.
_
"Comi?a" ser o conceito chave para desenvolver o_dia~og~ seguinte . Mas o contedo da e xposio de Jesus nao esta diretamente relacionado com o acontecimento contado.
Se a conversa de Jesus com a mulher samaritana causou
admirao e at estranheza aos discpulos, agora eles tero
mais um motivo para se admirar: Jesus declina de comer. Justifica alegando que tem outro tipo de comida que os discpulos no conhecem. A maneira um tanto enigmtica de se expressar serve para desafiar a ateno e a imaginao deles.

- 257 Logo eles t a mb m c o me am a conjetura r entre si: Ser que algum 1he trou xe a 1go para co me r? Mas is to no pode ser! A reao mostra qu e a ima g inao deles no capaz de se desligar
do alimento fsico para satisfazer a fome do corpo. O autor
mostra que Jesus precisa continuar para tornar compreensvel
a sua mensagem.
Teria Jesus menosprezado o alimento fsico?
Teramos aqui um indcio de que Jesus sugere um ascetismo,
isto , uma vida que se caracteriza por p r ivaes, jejuns,
abstinncias? O test e munho do Novo Testamento outro. O
prprio Evangelho de Joo mostra Jesus nu m casamento (cap.
2) e conta a multiplicao dos pes (cap. 6). No pode,p o is,
ser esta a inteno de Jesus.
Ele ap o nta para a vontade de Deus (v . 34). Aos que esto
preoe upados com a comida como meio de sobrevivncia parece
querer indicar que h outra razo de ser da nossa existncia. Ex iste algo que mais do que a comida fsica necessrio para a vida. Aqui caberia a lembrana de Mt 4,4: 11 No
s de po viver o homem, mas de toda palavra que procede
da boca de Deu s . 11
"Fazer a vontade daquele que me enviou'' e 11 completar a
sua obra 11 lembra o ministrio e a misso de Jesus. Sem se
referir, perante os discpulos, ao que tratou com a samar~
tana, Jesus com estas palavras fala do mesmo assunto: Ele e
o enviado de Deus para completar a obra de Deus, proporcio:
nar verdade ira vida aos homens. Deus agiu no passado. Ele e
o criador de todas as cousas. Tambm da vida do homem, da
comida que o alimenta e sustm. Mas a sua obra no est no
fim. Enviou o Filho para a obra da redeno . Esta esperada do Messias por judeus e samaritanas.
Esta obra envolve inclusive os discpulos. Participar
nela representa a sua misso. Podemos dizer que com o v . 35
Jesus passa a e xplicar o ministrio dos discpulos. Este ministrio tem o dele como premissa. Deus agiu, Jesus agiu e
age - a ao dos discpulos deve seguir. 11 Fazer a vontade
daquele que me enviou 11 no compete s ao Filho. Ele possibilitou a ao dos discpulos. Ceifa (v.35) - a comparao
sugestiva para a mensagem que Jesus pretende transmiti~ .
Tempo de ceifa (colheita) tempo de trabalho e de alegria
ao mesmo tempo. Importante reconhecer que o tempo da ceifa j chegou! Ser que Jesus quis referir-se ao que ficou

- 258 -

expresso
na parbola do semeador dos evangelhos sinticos
(Me 4, 1-20; Mt 13, 1-23; L.c 8,4-15), fazendo ver que ele mesmo semeou a palavra?
O trabalho dos enviados (dos ceifeiros) mais recompensador. A eles cabe colher o fruto onde outros trabalharam antes (v.38). Mas a alegria tanto do semeador como dos
ceifeiros. Do Senhor e dos seus enviados (v.36).
Em que consiste esta ceifa? Quais so os "campos" q~e
"j branqueiam para a ceifa''? o povo, so os homens, sao
as naes (Mt 28, 19; Me 16, 15). Trazer-lhes a luz e v-los
iluminados, trazer-lhes a comida para a vida eterna e perceb-los alimentados,proclamar-lhes libertaoev-lo: livres_,
conduzi-los enfim,ao Pai eenaltecer com eles aadoao de filhos, eis a' alegria da ceifa. O mundo precisa disto, o mundo anseia por isto.
O ministrio de Jesus na terra - consumado na cruz criou as condies,possibi l itou a ceifa.
Participar do trabalho j significa colher frutos para
a vida eterna.
No se pode ficar na preocupao pelo po de ~ada dia
quando "o po da vida" oferecido (Jo 6,35.48). Nao se pode ficar absorvido na luta pela sobrevivncia e perder a
chance de participar da colheita escatolgica, onde importa trabalhar na misso de Cristo: chamar e conduzir pessoas
ao Pai que cria, salva, ~enova e santifica para a vida eterna.
11

Meditao
a. Reflexo meditativa sobre o texto

A percope fala de comida, de ceifa, de semeador e ceifeiros. Esta seqUncia tornou, sem dvida, o trecho sugestivo para uma pregao no dia da colheita. Em vista da pregao de Cristo, da mensagem da salvao, qual o significado e o valor do trabalho, da luta pela sobrevivncia, do fruto do trabalho?
Os discpulos saram em busca de comida naquela cidade
samaritana . Devemos imaginar que isto aconteceu depois de
longa e e xaustiva caminhada. Talvez fazia tempo que tinham
feito a ltima refeio . O prprio Jesus esteve cansado e

- 259 -

certamente com fome quando descansou junto ~ fonte de Jac,


como descreve o evangelista. Arranjar comida teve, aparentemente, a aprovao dele. Mas no meio tempo, enquanto eles
(parece que todos eles) buscam comida, Jesus tem oportunidade de dialogar com uma pessoa da Samaria.
Pa~a surpresa desta mulher e nossa, a partir de uma
coisa tao corriqueira como pedir um pouco de gua para matar a sede resulta um dilogo profundo que trata do assunto mais palpitante: vida. A vida que e que podia ser.
Quais so as esperanas e possibilidades de vida que
os homens t~m?Esta pergunta adquire um sentido muitoespecial
em nossos d 1 as ,onde de um 1ado existe abundncia exuberante e
desperdcio de comida, e de outro grande carncia de alimentos e gente morrendo de fome. Num mundo onde em muitos lugares o crescimento da produo de alimentos no consegue
nem de longe acompanhar a exploso demogrfica. A comida,
neste c~ntexto, se torna uma preocupao prioritria.Aes
11
como Pao para o Mundo", congressos mundiais que debatem o
problema da fome enchem as manchetes dos jornais. Ns, na
maioria dos casos, no sabemos nem o que fome. E isto faci lmen!e conduz a uma atitude de acomodao em dois sentidos: Nao nos preocupamos com os milhes que morrem de fome
ou que sofrem de subnutrio. Do outro lado aceitamos como
natural. que temos o su:iciente ou mesmo superabundante, mesmo que isto custou o maior esforo de trabalho.
__ Esquecemo-nos faci !mente que tambm o alimento fsico
e d~di va de Deus. A mensagem de Jesus no presente trecho,
porem, quer evidenciar outra realidade.
t di fci 1 para ns, como foi para os discpulos, compreender o que Jesus quis dizer. Ele mesmo no desprezou a
comida. Pode-se at dizer que gostou de comer. E na orao
que ensinou aos discpulos incluiu uma prece pelo po de cada dia (Mt 6, 11). Mas ao mesmo tempo adverte contra a ansiosa solicitude pela vida, dizendo: "Buscai, pois, em primeiro luga~ o seu reino e a sua justia e todas estas cousas
vos serao acrescentadas (Mt 6,33) .''
Parece que h uma coerncia entre esta afirmao e a
mensagem de nosso trecho. O trabalho pelo sustento, o cuidado pela produo de alimentos tem o seu lugar, tambm na
vida do discpulo. Mas ele tem a ganhar ou perder mais do
que esta vida fsica. E isto est intimamente ligado com a

260 -

obra de Deus que o Filho veio completar. Esta a mensagem


primordial do Evangelho. A humanidade, hoje como outrora,
precisa to desesperadamente ganhar a outra vida,que Deus
oferece, como busca a sobrevivncia fsica. Mas que "no
s de po viver o homem 11 no parece to evidente por si.
Ex iste, talvez, uma percepo disto, principalmente quando
se tem po fci 1 e em abundncia. Mas que a busca do reino
de Deus ajuda ao mesmo tempo a soperar a fome e suprir as
necessidades do corpo - esta 1 io todos temos que reaprender. Isto implica na disposio de modificar a nossa filosofia de vida e atentar para a vontade de Deus. Que esta
acontea o mais importante para Jesus. Deve ser tambm o
mais importante para os discpulos. Por qu? Porque ele o
criador. A vida - toda vida - depende dele.
O trecho em pauta no deixa nenhuma dvida que Deus quer
a vida eterna para os homens. No s a fsica. Uma vida onde
a luta pela sobrevivncia foi superada pela vivncia com Deus.
Agora, neste tempo, de maneira ainda imperfeita e acompanhada
de sofrimentos, mas, no reino eterno, de maneira plena.
Esta vivncia com Deus que inclui ac e itao, perdo
dos pecados, consolo nos sofriment-0s e e sperana de vida futura, ao mesmo tempo representa participao na sua obra.
E' tempo de colheita. Os campos 1 'branqueiam para a col~eita" - ~sto_Precisamos enxergar. 'As vezes temos a impressao que nao ha mais fruto a recolher para a vida eterna,em
nosso ambiente. Ou achamos que todos j se encontram de uma
ou outra forma (numa ou noutra igreja) nesta vivncia com
Deu:, ou sentimos que o nosso trabalho no recolhe fruto.
Sera que Jesus no repetiria as mesmas palavras sobre a col~eit ~oje? Quantos em nosso derreder ou quantos no mundo
ainda naosabem nada deste outro tipo de comida de que Je:us
falou , deste outro tipo de vida que ele mencionou? Qual e a
e~perana de vida que as pessoas, que grande parte da humanidade tem? Seja como for, a nossa impresso menos importante do que a mensagem e incumbncia de Cristo. Ele afirmou que e x istem os campos e que tempo de colheita. Alm
disto nos permite a participar, quer que trabalhemos com
ele como ceifeiros. Isto, alm de representar um grande privilgio, promete e xperincia de si~ular alegria. Al is,vemos isto confirmado quando presenciamos como uma pessoa
sai das trevas e entra na 1uz de Deus (por exemp 1o, da superstio e medo para a liberdade da f), da escravido

261

do dio para _o alvio do perdo, da tristeza da descrena


para a alegria da esperana em Cristo, do domnio das coisas deste mundo para a liberdade dos filhos de Deus.
Por isso a colheita, que nos enche de gratido pelo
fruto de nosso trabalho, que dadiva de Deus, criador, ao
mesmo tempo nos lembra a obra que Deus tem no mundo com os
homens. O mais importante Cristo j realizou, quando morreu na cruz e ressurgiu dos mortos. Cabe a ns testemunhar
este fato para que homens de hoje aceitem a vida que Deus
oferece e que no se pode ganhar ou manter com a comida
que perece. Mas que se pode ganhar e manter buscando a vontade do Pai.
b. Escopo homi ltico
Colhei ta e produo de alimentos so importantes e do alegria, porque oferecem condies de sob revivncia. Existe
uma comida que Jesus aceitou e proporcionou. Ela d condies de vida com Deus. Repartir com os outros nossa missao.
c.

Indicaes para a prdica

Sendo a festa da colheita, a pregao ter que aludir


a este fato. Isto de maneira alguma violenta a mensagem
do texto. Pelo contrrio. E' boa oportunidade para refletir
com os membros, que talvez trouxeram frutos de seu trabalho
ao altar, sobre o sentido de tudo isso, sobre o sentido de
nossa existncia.
__ Poderamos comear constatando que uma boa colheita
nao e a coisa mais normal, mas a coisa mais desejada. A seguir analisar o que ela representa para o homem do campo
em: investimentos, esforos (eventualmente decepes),esperanas, alegrias. Mostrar o lugar e o papel do homem e o
papel de Deus na colheita, no produto de nosso trabalho.O
lugar da gratido que disto resulta. Nesta altura lembrar
que nem todos tm o p3o de cada dia e o que isto implica
num dia de aes de graa e em vista do papel de Deus na
colheita: O compromisso de repartir.
Apontando para as estranhas afirmaes de Jesus no texto (vv.32 e 34), mostrar que o discpulo tem mais a ganhar

262 -

e a perder do que esta vida fsica. Jesu~ conh e ceu e deu~


conhecer uma comida diferente do ~ue o ~ao para o c~rp~,tao
importante para ns. Esta afirmaLJo aqui no texto nao e uma
afirmao isolada.
Encontramos muitas semelhantes entre as palavras de
Jesus, A partir disto mostrar a outra vida que Deus tem a
oferecer, em Cristo.
~
Finalmente falar do compromisso que dai resulta. Assim como devemos repartir o po com os famintos, devemos
repartir o que Deus em sua graa no~ o!erec~: vida em sua
comunho. Explicar que a nossa missao e de 1 r aos ca~pos,
participando da colheita que de Deus. f claro que isto deve ser mostrado de maneira concreta. Cabe um testemunho de
alegria sobre um fruto concreto de nossa ao missionria.
111

- Roteiro para uma prdica


Tema: Alimentos para a vida
Introduo
1. Colheita e sobrevivncia.
a) Deus e o homem na colheita
b) Gratido, alegria e compromisso na colhei ta
11. Alimentos para o corpo e alimentos para a vida.
a) O que Jesus afirmou
b) O que os homens precisam
c) O que Deus fez em Cristo
111 .Repartir os alimentos para a vida.
a) "Os campos branqueiam para a colheita"
b) Alegrias de ceifeiros

IV - Bibliografia
BUECHSEL, Friedrich. Das Evang e liurn nach Johannes. ln:
Das Neue Testament
Deutsch. 5~ ed. , G~ttingen, Vandenhoeck
& Ruprecht, 1949 - BUELCK, Walter. Das Johannes - Evangelium
und die Gegenwart. 2~ ed.,
Hamburg, Agentur des Rauhen Hauses, 1948. - LOEWE, Richard. Meditao sobre Joo 4,31-38.
ln: Eichholz/Falkenroth, eds. Hdren und Fragen. Vol 5.Neuki rchen- Vluyn,Neukirchener Verlag, 1967.

I'?

D O M

E z e q u

N G O
e

A P Ci S
2,3-8a;

263 -

TRINDADE
3,17-19

Nelson Ki rst
1 - Consideraes exegticas
Traduo:
(3) Ento ele me disse: Filho do Homem, eu te envio a
casa de Israel, aos (povos)b rebeldes que se rebelaram contra mim, eles e seus pais (se desviaram de mim)b ate este
preciso c
dia. (4) (E aos filhos de rosto crue1'd e corao d~roe eu te envio)b e dize a eles: Assim falou (o Senhor)
Jav._(5) E eles - qyer ouam, quer deixem (de ouvir), pois sao Casa Rebelde
- reconhecero que tu foste
profeta em seu meio. (6) Quanto a ti, Filho do Homem, no
tenhas medo deles e no tenhas medo de suas palavras, quando espinhos te cercarem e estiveres sentado sobreg es.h
corp1oes . Nao tenhas medo de suas palavras nem te espantes1 dos seus rostos, pois eles so Casa Rebelde,(?) mas
dize-lhes minhas paJavras - quer ouam, quer deixem (de ouvir), pois so CasaJ Rebelde. (8a) Tu, porm, Filho do Homem, ouve o que eu te digo: No sejas rebelde como a Casa
Rebelde. (3, 17) Filho do Homem, coloquei-te como atalaial
para a casa de 1 srael. Quando ouvi resm da minha boca uma
palavra, adverti-los-s de mim. (18) sen eu falar ao m11
pio:
Certamente morrers! 11 P e tu no o advertiste e no
te manifestaste no sentidoq de advertir ao mpio do seu
caminhar, para que vivas, ele, o mpio, morrer por causa
da sua culpa, mas da tua mo exigi rei o seu sangue. (19)
No entanto, se tu advertiste ao mpio e ele nao se converteut de sua impiedade e do seu caminhar, ele morrer por
causa da sua culpa, mas tu salvasteu a tua vida.
Observaes: a) com LXX - b) as partes entre () so
a:rscimos; faltam na LXX; pelo menos no trecho 2,3-5 convem omiti-las para facilitar ao ouvinte a compreenso do
texto; embaralham a fluncia do pensamento - c) 1 sm =ossos
nesta com9~~ao representa um reforo - d)amea~dor, vio-'
lento, .qasah - e)~zq, adj, a rigor: duros de corao f) em s1: de rebeldia, mriy - g) ler v 1 1 - h) 1 aqrb - i)

- 264 juss ni htt - j) cf. esp. 2,5.6; 3,9. 26.27; 12,2.3 - 1)


part qal sfh - m) perf cons - n) b - o) i n f c s qal - p) inf
abs t imperf qal mvt - q) l - r) cortar hrs 'h, com LXX - s)
l + inf qal hyh t suf - t) perf qal svb - u) perf ni n?l.
Ezequiel foi deportado em 597 pelos babilnios, juntamente com um grupo de compatriotas, para Tel-Abibe, s margens do rio Quebar. Sua voca o ocorre no 5? ano de sua deportao, e ele atua durante cerca de 20 anos e ntre os exilados. Nossos trechos encontram-se no mbito direto do relato de vocao (l,l -3,15). A temos, no cap. 1, a majestosa viso da glria de Deus, e em 2, 1 - 3, 15 o envio do profeta. Os israelitas deportados viviam e m terra e stranha e
"impura". Para eles, Jav e seu cuidado f icara m l na ptria distante. Havia um impasse religioso. Mas agora, com
sua vocao e atuao, Ezequiel significa para os deportados: a glria de Jav no est limitada a Jerusalm; ela
tambm se estende e quer manifestar-se aos israelitas deportados; nisso s e e xpressa a fidelidade de Jav; ele quer
~l;anar seu povo, ainda que distante, com sua palavra de
Juizo, a oferta de converso e o vislumbre de uma nova realidade.
Nosso pri meiro trecho vem logo aps a viso do cap. 1
e representa um dos blocos principais do prprio relato
vocacional. Em 2,3-5 temos o envio e a tarefa do profeta;
em 2 ,6-7, a exortao "no temas! 11 O v. 8a, em si, faz parte da unidade seguinte mas pode ser mantido uma vez que
seu contedo no destoa. No bloco que segue' ao nosso trecho, ~.8 -3,3, temos a narrao bastante estranha de como
Ezequi~l come o rolo de um 1 ivro. Trata-se de um ato que
deve s1mboliz ar o seguinte:

o profeta assume total e 1nt1mamente a mensagem que lhe confiada e tambm a aprova.
O t:echo 3,4-15 pode ser entendido co~ uma simple s leitura
e nao carece de e xplicao especial.
Nosso segundo trecho aparece logo na unidade subseqUente. ~parte de 3, 17-21, onde Ezequiel institudo como at?la1 a de_lsrael. O te xto de redao posterior, pois al 1a cont e udos que se encontram em 33,7-9 e no cap. 18 (33,
10-20~ A combinao d~ste trecho com o primeiro, como
sug e r~da para a pregaao, justificvel, uma vez que aqui,
na figura do atalaia, sobressai um trao que especialmente caracterstico para a incumbncia de Ezequiel ,qual
seja , o da sua responsabilidade pessoal, como atalaia.

- 265 Assim, 3,17-19 ampli a e caracteriza de modo especial a funo do profeta, que enviado e recebe sua incumbncia em
2,3-7. Para o pregador imprescindvel a assimilao cuidadosa do conte x to de nossas duas passagens.
2,3-5 - Envio e tarefa do profeta
Importante: as palavras que aqui enviam e do tarefa
ao profeta prov m do Deus que se manifestou no evento narrado no cap. 1. Trata-se do Deus fiel, Jav, que busca seu
povo mesmo na terra estranha. t: nesta sua fidelidade que
ele envia o profeta.
Ezequiel d e nominado 11 Fi lho do Homem", aqui como em
diversos outros lugares do 1 ivro. A e xpresso pretende ressaltar a pequenez do ser humano Ezequiel, como criatura,em
contraste com a majestade de Jav. A inclinao a este "Filho do Homem" manifesta, assim, a condescendncia deste
Jav que vai em busca dos seus.
O que Jav diz pode ser dividido em trs tpicos:
l?) Jav e n v i a Ezequiel a determinados d e s t i n a t r i o s. O profeta profeta, porque enviado. Atrs
do seu agir proftico est a autoridade de quem o
envia. O profeta no vai porque quer:novai movido por interesses prprios, por qualquer motivao subjetiva. O profeta vai porque Jav o envia, esta a nica explicao para o seu agir. A partir daqui entendem-se os dois tpicos
seguintes.
O envio tem destinatrio concreto. Ezequiel deve ir
11
Casa de Israel que se rebelou contra mim". No por acaso que o g r upo de deportados recebe a designao Israel.
Ela traz consigo a lembrana de uma histria percorrida em
conjunto entre Jav e o povo: promisses feitas e cumpridas, proteo e cuidados, acordos e compromissos, obedincia exigida e negada. Aquele que envia o profeta tem com
os destinatrios uma histria comum que desaparece passado a dentro. Como diz o texto, "eles e seus pais, at este preciso d i a 11
Dessa histria percorrida, o trao que agora resta
negativo: "eles se rebelaram contra mim". Colocada ass~m, no contexto de Israel como um todo, atravs da,hist oria, fica claro que a rebelio aludida no se reflete a
este ou aquele ato isolado. Trata-se de uma atitude fundame~tal; :er. rebelde contra Jav parece fazer parte da prpria essenc1a de Israel, desde o seu surgimento. t: o que se

- 266 -

- 267 hostilidade dos que devem ouvi-lo? No, fugindo. No, com
a esperana de um eventual sucesso posterior. Nem sequer,
com a promessa do auxlio de Deus. Ezequiel superar o medo pura e simplesmente cumprindo a incumbncia de Jav. Poderamos peri frasear assim: "Em vez de temer, dize-lhes as
minhas palavras!".
Ainda um detalhe relevante: Ezequiel no precisa mais
do que "dizer as minhas palavras". No de sua responsabilidade converter os mpios e traz-los de volta a Jav.Jav
no lhe cobrar essa tarefa impossvel, nem ele mesmo precisar cobr-la de si prprio. Ezequiel deve "dizer as minhas pa 1 av ras" - nada mais e nada menos.
O v. 8a exorta o profeta a no cair na mesma rebeldia
dos seus compatriotas. Pela sua obedincia, deve ele contrastar com o comportamento do povo. Ele, como profeta,deve ser assim como o povo no . Com isso, deve ele ser o
sinal de como se ri a o povo, se fosse obediente.
3, 17-19 - O profeta como atalaia
O cargo do atalaia muito bem descrito em 33,1-6, que
todo intrprete do nosso texto deveria ler. Atalaia aquele que, em caso de guerra, fica na espreita e deve al:rtar os habitantes da cidade, quando observar a aproximaao de um ataque. Caso alertar e algum desprezar o alerta, o ata~aia est isento de culpa. Em no alertando, ele
o responsavel pela desgraa.
No nosso caso, o profeta que deve ficar na espreita
como um atalaia, e caso observar o ataque de uma palavra'
proveniente da boca de Jav, deve alertar. Assim, 17b explica o que ser atalaia (17a). J o v. 18 desenvolve a
que:_to no sentido negativo e o v.19, no positivo. O texto e sufic'.ent:=mente s~mples e claro; dispensa, pois, maiores expl 1 caoes _e da margem s seguintes consideraes:
a) O profeta so tem a responsabi ]idade de dar 0 alerta ao destinatrio certo; e isto, no momento em que perceber a ameaa da palavra.
b) A atuao do profeta no isenta os ouvintes de sua
deciso individual.
_ .c) O prof~ta no advertir as pessoas a partir de criterios pessoais de qualquer ordem. S advertir se ouvir
"da minha boca uma palavra''.
d) Vida ou morte das pessoas dependero da advertncia do profeta. A deciso ltima do indivduo. Mas este

expressa tambm na designao "Casa Rebelde", que to gritantemente contrasta com "Casa de Israel".
2'?) "Dize a eles: Assim falou Jav." Apenas isso. Ainda no h interesse pelo contedo. O que importa aqui, aparentemente, ressaltar duas coisas: a) ao profeta compete f a l a r. O profeta no planeja, no organiza, no
lidera, no estuda. O profeta fala. Mas no fala qualquer
coisa. b) Ele deve falar o que vem
d e
J a v . Assim, retorna aqui o que j tnhamos salientado em 1'?), no
tocante ao enviar. Importante: como se depreende faci lmente do texto, essas poucas palavras do v. 4b pretendem expressar o essencial da atuao proftica. Ser profeta
falar o que vem de Jav a determinados destinatrios.
. 3'?) O v.Sb fala da finalidade do envio. O que fora des~
cr1to em 3 e 4 tinha por f i na 1 i d a d e o reconhecimento de que Ezequiel foi profeta em seu meio. Ezequiel
0 env'.ado de_Jav. Reconhecero, portanto, que atravs de
E~equiel Jave veio busc-los na terra estranha. Reconhecerao '.idelidade de Jav. E isto, "quer ouam, quer deixem
de ouv-1 r" Re con h ec1mento

1nescapavel.
Nem mesmo com to d a
rebe l 1ao ou i n d1 f erena de1xarao
.
de perceber e terao
que
a~estar que Jav veio ao seu encontro, que manteve a fide1 1d ade. ' po i ~este e- um Deus que nas palavras do propr10
-
Ezeq u 1e1 ' n ao quer a morte do perverso,
'
.
mas deseja que
ele se converta do seu caminho e viva (18,23e33,11).
2,6-7 e 8a - A exortao "no temas!"
Este bloco contm exortaes ao profeta com vistas
aos destinat

d e sua mensagem. Ja- os conheci


'
~
rios
amos do bl o.
co ante r 10 r vv 3 5 A .
.
_ .
.
'
- qu1, porem, os dest1natar1os sao caracter1 zados mai s espec1. f"1 camente: suas palavras podem causar ~:do ao profeta; eles so perigosos como espinhos e escorp~oes. ~zequiel no deve contar com seguidores. Encontrara reaao neg a t"1va. E nao
- apenas .1nd1ferena
.
ou desprezo, m~s hostilidade verbal e fsica: acusaes, ataques,difam~oes; cerc:amento de movimento e ao (espinhos o cercarao); agressao fsica onde se encontrar (escorpies).
.Dentro dessa s'.tuao no se percebe aqui nem sequer o
apoio que um Jeremias recebeu (1 ,8: 11 eu estou contigo
para te liv_i:-ar"). Apenas a exortao "no temas!". Contu~o, ~ relaao e~tre o v. 6 e o 7 mostra que Ezequiel no
e dei x ado sem ajuda. O v. 7 deve comear com "mas" ou "em
vez disso". Como que Ezequiel superar o medo frente

i.

--

- 268 nao poder decidir-se, se no tiver ouvido o alerta.


e) Nada dito sobre o contedo da advertncia. Ele deve ter algo a ver com a rebeldia da qual falava 2,3-5. De
qualquer forma, o fato de ser feita ainda uma advertncia
deve ser visto como expresso da fidelidade de Jav apesar de tudo, como sinal da sua pacincia, como um ato de
graa.
11

Contedo teolgico e atualizao

A percope, assim como nos sugerida, com os dois blocos, apresenta trs ncleos temticos. Para cada um deles
poderia ser extrado um escopo prprio. A seguir sero desenvolvidos os trs ncleos, com suas possibilidades de atualizao:
l?) O e n v i a d o. Caberia aqui desenvolver aqueles
pontos que so fundamentais para a existncia proftica:
que aparecem em nosso texto: o profeta enviado por Jave
(2,3) a determinados destinatrios (2,3); sua tarefa falar (2,4 e 7); ele deve falar o que vem de Jav (2,4) ;seu
dever co~siste em simplesmente 11 dizer as minhas palavras"
( 2 ' 7) i nao deve contar com sucesso
mas com insucesso e host.1l .1d
(
,
ade. 2,6); o profeta superar o medo eventual diante
d~s d:s~inata:ios unicamente pela obedincia pura e simp :s. 1ncurnbenci a recebi da (2, 7) . No curto espao de uma
p~edica.nern ser possvel elaborar todos esses pontos.Sera. preciso se 1ec1onar

os acentos. Na atual izaao


sera- prec~so per~un~ar corno e at que ponto a comunidade e o indi.
.
dviduo cr1staos
. , .P d em ser considerados
como enviados.
Nao
e ve se: dific1l demonstrar que o discpulo de Cristo por
e 1. e denviado Fet

1 o isto, os pontos arrolados acima


po d erao
aJu ar co~preender toda a dimenso do ser enviado. Talve~ pelo acumulo de assunto que tudo isso representa sej~
m?is acons7lhvel concentrar-se num dos dois ncleos temat1cos seguintes.
. 2 ?) O a t a l a i a. Aqui caberia desenvolver essencialmente 0 que encontramos em 3, 17-19, podendo-se, para
tant?, des=nrolar ~s pontos a) at e), expostos acima, nas
cons1deraoes exegeticas. Este ncleo temtico poderia ajudar a levar uma comunidade crist a refletir sobre seu
papel. Funo de Ezequiel era auscultar e alertar, quando
percebesse que a vontade de Jav representava condenao e

- 269 juzo sobre algum. No tem a comunidade e o indivfduo cristos, a partir de sua f, uma funo semelhante? O pregador
no ter dificuldade em demonstrar que uma tal funo efetivamente lhes cabe. Bastar apontar,por exemplo, para o chamado ao arrependimento, que vem do NT. Mais ainda: a prpria
ao salvadora de Cristo, se de um lado representa graa, de
outro significa juzo justamente sobre as situaos das quais
ele redi~e. Se a comunidade crist prega a Cristo, deve pregar ~ambem o juzo que ele representa. Cabe-lhe, pois, uma
funao de alertar, semelhante de Ezequiel. Por isso, 3, 17-19 podem ajudar uma comunidade a entender melhor o que ela
deveria ser e fazer. Por saber a respeito de Deus e de sua
vontade, uma comunidade crist sabe mais do que a sociedade em que se encontra. A partir deste seu saber mais deriva-se seu papel de atalaia para a sociedade. A partir da deve
a comunidade crist auscultar onde a vontade de Deus, que se
reve~o~ em Cristo, arremete contra a situao vigente.Desnecessar10 citar exemplos. Todo pregador deve ser capaz de detectar, na situao local e nacional, aquilo que no condiz
com a vontade de Deus.
Num ponto, porm, a comunidade crist difere fundamentalmente ~e Ezequiel. Ao mesmo tempo em que atalaia, a comunidade nao deixa de ser tambm ouvinte do alerta. Seu papel
duplo, e ela dever ter a hurni ldade de reconhec-lo, deve saber-se no mesmo nvel que a sociedade, corno destinatri~ do
alerta - e deve demonstrar sociedade corno se reage ao alerta.
Com tais e 1ementas, este nc 1eo ternt i co, se bem desenvo 1 vi do,
pode transformar-se numa prdica bastante atual e palpitante.
3?) A f i d e l i d a d e
d e
D e u s. Pela atuao de Ezequiel,os israelitas deveriam perceber que Jav foi
ao seu encontro, atravs de um profeta (2,5); montrava-se nisso a fidelidade do Deus que percorreu longa histria comess: povo (2,3), e cuja dedicao sempre de novo colheu rebeld~a (2,3.5.6. 7). (Mais detalhes na exegese de 2,3-5.) Uma prdica :rn torno desse ncleo temtico poderia desenvolver-se
atraves dos seguintes pontos:
_ a) Olhando ao nosso redor, vemos que vivemos urna situaao sob o juzo. Exemplos disso so as inmeras adversidades que vivemos e presenciamos, especialmente nas relaes
entre as_pessoas, os grupos sociais e as naes, mas tambm
na relaao entre os homens e as demais criaturas. (A prdi-

- 271 -

- 270 -

ca deve ser muito concreta neste ponto.) Tais fenmenos so


fruto do desgarramento, da desobedincia. Eles acontecemquando o homem age por prpria conta, sem o norteio da vontade
de Deus, pois ao afastar-se de Deus ele se afasta do seu semelhante e das demais criaturas.
b) J houve situao idntica. Durante o e x lio babilnico os israelitas viviam tambm numa situao sob o juzo, fruto de sua desobedincia. Com seu Deus tinham percorrido uma histria de constante decadncia, e encontravam-se
agora numa situao sem perspectivas. A aparece o profeta
Ezequiel.
e) Leitura do te x to.
d) Ezequiel personifica a fidelidade de Jav. Nele o Jave desprezado corre atrs dos que o rejeitaram . f como se o pai
do filho prdigo fosse procur-lo, entre os porcos, para propor um novo comeo. (Desenvolver aqui os pontos mencionados
nas consideraes exegticas sobre 2,3-5.)
e) Para ns, que vivemos tambm em situao sob juzo,
Deus demonstra igualmente sua fidelidade. Deus tamb m corre
atrs de ns. Mas conosco diferente. No recebemos apenas
o envio de um profeta-atalaia, de algum que reafirma a vontade de Deus. Ns recebemos a vinda de Cristo que, pela sua
entrega, tambm nos habilita ( ! ) obedincia, torna-nos apto~ para obedecer. Tambm neste ponto a prdica dever ser
mui te;> concreta. Ela poder terminar por aqui, no sem antes
reaf1 rmar ~ fidelidade deste Deus que corre atrs de ns.
Lanando mao do ncleo temtico anterior, poder-se-ia lembrar aqui ainda que o alerta do atalaia no isenta o ouvinte de um ato consciente e decidido de converso. O mesmo deve valer tambm aqui: a fidelidade de Deus graa imerecida, mas quer uma resposta decidida e consciente.

2'?

D O M

Ma

e u s

NGO

A P S

TRINDADE

10,7-15

Baldur van Kaick


1 -

Consideraes e xegticas

A percope Mt 10,7-15 um recorte do Sermo Missionrio no captulo 10 de Mateus. Os versculos iniciais doSermao (vv.5-6) n~ foram includos no recorte. A restrio neles contida ("nao tomeis rumo aos gentios") revogada em
28, 19 ("fazei discpulos de todas as naes"). Importante
observar o contexto maior do Sermo. Nos captulos 5-7 temos o Jesus da palavra, nos captulos 8-9 o Jesus da ao.
Em 9,35, que precede o nosso texto, encontra-se um resumo
desta atividade dupla de Jesus: "E percorria Jesus todas as
cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenas e enfermidades." Segue ento a descrio da situao aflitiva da
multido (9,36) e, em 10,l-5a, a convocao, capacitao e
o envio dos discpulos.
A percope 10,7-15 se divide em trs partes: l'? Enviados para pregar e agir; 2'? O chamado despreocupao; 3'?
O procedimento dos portadores da paz.
l. Enviadas para pregar e agir (vv. 7-8)
Kerussein significa pregar, anunciar. O termo aparece no NT sozinho ou combinado com outra palavra: anunciar
"a palavra", anunciar "a palavra do Senhor", anunciar 11 0
Sen~or :_ O contedo da pregao aqui : 11 0 reino dos cus
esta prox imo. 11 Jesus usava tambm uma ou outra vez, em lugar da expresso 11 reino dos cus 11 ou "reino de Deus 11 a expresso 11 vida 11 Assim, em Me 10 17 11 herdar o reino d~ Deus 11
substitudo por 11 herdar a vid~ eterna 11 Em Me 9,43.45 encontra-se a e xpresso 11 entrar na vida 11 Em Joo o termo 11 reino dos cus 11 foi substitudo quase que por completo pelo termo 11 vida 11 , 11 vida eterna 11
_
O !ermo 11 vida 11 j aponta para o contedo do reino dos
ceus. Sao, no entanto, as bem-aventuranas que falam clara11

- 272 mente da essncia do reino dos cus. "A primeira bem-aventurana anuncia aos pobres a participao no reino de Deus :
'Bem-aventurados os pobres; pois deles o reino de Deus! 1
As duas bem-aventuranas seguintes anunciam aos famintos
que sero fartos e aos tristes que sero consolados. Se pensarmos na relao desses anncios com a participao no reino de Deus, veremos que h apenas uma resposta: O saciar a
fome e o consolo so promessas para o tempo da graa. Tudo
isso ocorre quando vem o reino de Deus. Nas promisses das
bem-aventuranas se desdobra, portanto, como no espectro
de um arco-ris, o que trazido pelo reino de Deus." (Goppelt, p. 102) "O reino de Deus traz o consolo que afasta
toda a dor e a saciedade que pe fim a toda fome. Cada um
dos evangelistas acentua um aspecto especfico desse estado de graa; Lucas, a fome de po; Mateus, a fome de justia. A promisso de Jesus, porm, se refere a fome e sofrimento de maneira to generalizada como as tradi es vtero-testamentrias que esto por trs dela. O reino de Deu~
por conseguinte, traz um estado de graa corporal e espiritual, i ., um novo mundo sem carencia e sofrimento, um mundo de paz e ju:_tia. 11 (Goppelt, p. 102)
Eggiken nao significa "chegou", mas "se aproximou". Os
disc1pulos sao enviados para anunciar que o reino de Deus
se aproximou. "O reino no est presente visivelmente ainda; ele pode e tem que ser anunciado ainda. Mas ele est
to prximo que pode ser anunciado com cert e za." (Conzel mann , p. 129)
Terapeuein a atividade de curar tratar medicinalmente os doentes. Jesus tinha o poder de curar e incumbiu
os discpulos de curar. Em 10,l eles so antes ainda capacitados pa~a curar. Curando, Jesus se ope doena, e os
discpulos sao instrudos e capacitados para fazeremomesmo . Atravs das curas de Jesus, o reino de Deus irrompe no
mundo de sofrimentos. Egeirein significa ressuscitar. Conforme Billerbeck, tambem aos rabinos foi reconhecida a capacidade de ressuscitar mortos. Jesus mesmo ressuscitou a
filha de Jairo (Mt 9,23-26), o jovem de Naim (Lc 7,11-17)
e Lzaro (Jo 11). Jesus no se curva ante a morte, mas
diz a sua antipalavra. Ele ataca a morte e quebra o seu poder. Jesus transforma a situao por ela dominada. Os discpulos tambm so enviados para no se curvarem ante a
morte. Porque Jesus no se calou, por isso os discpulos

- 273 no ~evem ca lar-se, mas atacar a morte, transformar a situaao po r ela dominada. Eles e5to a servio da vida. Ressuscitar mortos significa promover a vida. Daimonia so espritos independ e ntes e intermedirios que, conforme a crena popular, entr~m ~as pessoas e causam doenas, principalmente doenas ps1qu1cas (Bauer). Jesus expeliu demnios e
mand~u os discpulos fazerem o mesmo. Confira Me 5,5, adescriao de um endemoninhado, com Me 5,15, a descrio doestado de esprito do endemoninhado curado: "Andava sempre
de noite e ~e dia, clamando por entre os sepulcros e pel~s
montes, ferindo-se com pedras." - "Indo ter com Jesus viram
o endemoninhado, o que tivera a legio, assentado, vestido
em perfeito juzo." Este o efeito da expulso de demnio~:
a paz. vo~ta a habitar na vida ~o atingido. Pertende prxis
dos d1sc1pulos e xpulsar os demonios que existem nos homens
e que tiram a sua paz interior. Conforme 12,28, na atividade de Jesus, de e xpelir demnios, o reino de Deus anuncia'
do como pro-x .1mo, se torna presente.
J nos sumrios da atividade de Jesus, em 4,23-24 e 9,
35, pregar e curar aparecem lado a lado, assim como em Mt
5-7 aparece o Jesus da palavra e em Mt 8-9 o Jesus da ao.
Mas agora os discpulos mesmos so incumbidos de pregar e
agir. Os discpulos so continuadores da obra de Jesus incumbidos e capacitados por ele para isso.
'
Mt 7,22-23 mostra que o poder de e xpelir demnios e fazer milagres muito depressa se desligou de uma vivncia crist. H aqueles que curam, mas no fazem a vontade de Deus.
Para estes vale: "Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqUidade." Milagres e a prtica de e xpulsar demnios no tornam ningum aceitvel diante de Deus. J na comunidade primitiva houve o perigo de sobreestimar atos de poder em detrimento de uma vida crist autntica. Mas no isso que
nos cabe acentuar aqui. O que o te xto acentua que ao lado da palavra est a pr x is evanglica, o agir teraputico,
a promoao da vida, a aao que devolve a paz ao homem transtornando. Ser enviado por Jesus significa, por isso, sempre:
pregar e agir, e estar capacitado para ambos.
2. O chamado despreocupao (vv . 9-10)
Em uma srie enftica, em que cada membro da serie
introduzido com um "nem", os enviados recebem instrues pe s -

,-- 274 -

- 275 -

de ousoa' s. Chrusos ' arguros e chalcos representam . moedas


..
de prata e pequenas moedas de cobre. Os d1sc1p~los r7ro bem

- se preocuparem com d1n he1 r o , v 1 instruoes


para nao
ce
sando talvez financiar a missao
.
.
Pera um saco de viagem. Chiton designa uma cam1s~ta
longa-:-LJSada diretamente sobre o corpo. Uma segunda_cam1seta (Almeida: tnica) era levada junto c?mo_pr~t7ao.c?n
tra 0 frio. Os enviados, descritos ~orno m1ss1onar1os 1t1nerantes, so instrudos para nao levarem sac~ de
viagem, nem sandlias, nem duas tnicas, nem ~ordao.Tam
bm 0 uso de sandlias desrecomendado. Os disc1pulos devem colocar-se a caminho, levando somente o estritamente necessrio. No devem preocupar-se com coi~as exteriores~ Devem dedicar-se exclusivamente sua missao. Esses vers1culos tm uma conotao muito forte com Mateus 6,25 e 32? onde lemos as palavras: "No andeis ansiosos pela vossa vida,
quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vos~o c~r
po quanto ao que haveis de vestir." "Porque os gentios e
que procuram todas estas cousas; pois voss~ Pai celes:e sabe que necessitais de todas elas. 11 Os vers1culos contem um
convite despreocupao.
O dito popular "Porque digno e o trabalho do seu alimento11, que agora aparece como enunciado de Jesus, apc:nta.
para uma poca em que a misso j mais organizada.Ja existem regras na misso (cf. l Co 9, 4ss). Note-se, no entant~,
a diferena de Lucas para Mateus. Lucas (10,7) fala de s~la
rio (mistos) onde Mateus fala de alimento (trofe) . Isto e: o
discpulo enviado tem direito ao alimento, mas no pode fazer de sua misso uma fonte de renda.
Assim, os discpulos so chamados despreocupao. Devem dedicar-se integralmente misso. Eles recebero o suficiente para viver.
3. O procedimento dos portadores da paz (vv. 11-15)
Ao entrarem em uma cidade, os discpulos devem ter por
regra informar-se preliminarmente quem nela 11 di2no'~. Axios
(digno) designa o comportamento adequado em relaao aquele
que procura hospedagem. Os textos paralelos em Me (6,10) e
Lc (9,4) no mencionam esse levantamento prelimin~r da situao que deve ser feito pe~~s discpul?~
acresci~o em
Mt reflete que a comunidade Ja fez exper1enc1as negativas

na misso e pretende evit-las no futuro. Aspazomai significa saudar. Lc 10,5 mostra que a saudao consistia novoto de paz: "Paz seja nesta casa!" O v. 13 torna claro que
no se trata de um desejo somente, mas, ao formularem a promisso de paz, a paz se desprende dos discpulos e vem sobre os habitantes da casa. A concepo parece ser um tanto
mgica. Em todo o caso: Os enviados so vistos aqui como
portadores de paz, da paz que provm da proximidade do reino de Deus. Com os enviados vem a paz! "Digno", no v.13,
designa a atitude de aceitao da paz oferecida. Se algum
no a aceitar, a paz voltar para os discpulos. A paz no
se impe a ningum, ela no fora a pessoa. Ela oferecili
da e espera ser aceita. O gesto de "sacudir o po- dos pes
simboliza a supresso de toda a comunho (Bauer) com os mo radores da casa onde no foram recebidos. Onde os portadores da paz no foram aceitos, no existe possibil idade_de
comunho. Tambm aqui se espelha uma real idade da missao da
primeira comunidade. Nem sempre os missionrios foram aceitos. A meno do juzo, no v.15, esclarece que no possvel recusar os discpulos e a sua palavra sem se colocar
sob o juzo. No existe uma zona neutra entre aceitao 7
no-aceitao. Ou se est sob a paz, proveniente da proximidade do reino, ou se vai de encontro ao juzo.
Assim, os discpulos so pessoas que tm algo a oferecer que ningum mais tem a dar: a paz que provm da proximidade de Deus. A sua oferta pode ser aceita ou rejeitada. Quem a rejeita caminha de encontro ao juzo.
11 - Consideraes homilticas
Qual a verdade deste texto para ns hoje? Onde est
a sua atual idade? Ser possvel desdobrar em uma prdica _
todas as instrues que o texto contm? Ou o pregador tera
que fazer uma seleo? O que pensam os membros da comuni~a
de, por outro lado, da proximidade do reino? E se eles tem
dvidas sobre a proximidade do reino, de que adiantaria confront-los na prdica com a mera incumbncia de anunciar a
proximidade do reino? A mesma pergunta vale em relao s
outras instrues que o texto contm.
Para mim a atualidade do texto est principamente nos
vv.7-8. A comunidade tem duas tarefas especficas: a de pre-

- 276 -

- 277 gare a de agir. O que ela ~em.que preg~r e como ela de~e
agir, isso 0 te~to_nos ,podera ajudar a d1zer._Mas com~ so
aqueles que estao 1 mb~1dos _de uma verdade estao capacitados para pregar, eu nao vejo.outra alternativa do que a de
confrontar a comunidade reunida em uma primeira parte da
prdica com a prpria mensage~ da pro ximidade do reino,para em uma segunda parte, entao, confront-la com os impera~ivos do texto. Assim os que tm dvidas ouviro a mensagem e s ento recebero as instrues para pregar e agir. Uma vez que o te xt o s contm imperativos, teria que
ser achado, por outro lado, um meio de confrontar a comunidade com a mensagem do reino, o que pod eria suceder logo
com as primeiras frases da prdica, mais ou menos da seguinte maneira: 11 Aque 1es que aqui so enviadas no so pessoas
do pas sado, mas somos ns mesmos. E antes de todas as instrues, que depois tambm ainda receberemos, -nos dito
aqui: vocs, que so chamados para proclamar a outros que
o reino de Deus est prximo, vocs mesmos so pessoas que
se encontram sob esta grande promisso; para vocs mesmos
vale: Deus quer chegar ao seu alvo com o mundo e com vocs
- o reino de Deus est pr x i mo. 11
O que esta mensagem concretamente quer dizer, poder
ser desdobrado em seguida em diversos tens.
Sempre houve escritores e poetas que tentaram exprimir
de mane ira profan a as esperanas dos homens por um mundo
melhor. Thiago de Mel lo, um deles, possui em sua Antologia Potica 'Faz escuro mas e u canto' um texto que exprime
bem nitidamente essa esperana humana. Trata-se de um texto
intitulado 'Ato Institucional Permanente', de 14 artigos,
idealizado pelo autor (cf. pp.61-64). Dois dos artigos deste Ato tm o seguinte teor: 11 Fica decretado que agora vale
a verdade, que agora vale a vida e que de mos dadas trabalharemos todos pela vida vercfadeira. 11 (Artigo 1) 11 Por decreto irrevogvel fica estabelec ido o reinado permanente da
justia e da claridade, e a alegria ser uma bandeira para
sempre desfraldada na alma do povo. 11 (Artigo VI 1)
Em dilogo com este texto poderia ser mostrado: l ? Nisto a espera na dos poetas no se distingue da esperana no
NT: o mundo s ter chegado ao seu alvo, quando houver vida , quando prevalecer a verdade (cf. a exegese); 2? Tambm
em um o utro ponto a esperana no NT no difere da do poeta:

quando o mundo chegar ao seu alvo, ento no haver s um


p~uco de alegria, para alguns escolhidos, mas a alegria ser~
alegria de todo o povo. Ento no s algumas vidas serao novas, mas tudo ser renovado. Haver um estado de graa (cf. a exegese)! 3? S em um ponto o poeta no tem razo:
Ele espera tudo como um Ato Institucional Permanente. O que
a~ui, no entanto, decretado por homens, para Jesus est
11gado_ao nome 1 Deus 1 O que para o poeta o resultado de
uma aao humana, para Jesus ser atingido quando Deus tiver
chegado ao seu alvo com o mundo. Isto : quando Deus tiver
estabelecido no mundo a sua justia, ento tambm o homem
ter alcanado a justia, a vida, a claridade e ter chegado ao seu alvo.
No final da primeira parte da prdica o ouvinte poderia ser confrontado com as primeiras conseqUncias desta
mensagem: 11 Se isso tudo verdade, que o reino de Deus se
aproxima - e esta a promisso de Jesus - e com ele o reinado da justia, da vida, ento s uma coisa tem ainda sentido: no continuar a cultivar as nossas pequenas esperanas e continuar desanimados, esperando to pouco de ns e
quase nada de Deus, mas levantar e caminhar e confiar de
maneira bem nova! 11
Na segunda parte da prdica poderiam ser verbalizadas
agora as instrues que o texto contm. l? Enviados para
pregar; 2? Enviados para agir; 3? Portadores da paz.
A primeira parte poderia ser iniciada com uma referncia ao anterior: 11 Ver o nosso mundo assim ver as nossas
vidas como vidas que vo de encontro a um.alvo, isto tira
de ns toda a mudez!"A comunidade crist porta-voz de uma
mensagem de esperana. Discute-se na igreja o que pregar.O
nosso texto claro: Que o reino de Deus est prximo. Que
Deus quer chegar ao seu alvo com o mundo!
Segundo: Ver o mundo assim, isto significa por outro lado:No
cruzar os braos ,mas agi r!A comunidade crist tem uma tarefa,a tarefa de (a) ag ir de maneira teraputica no mun do e (b) de promover a vida. S uma coisa no possvel: No fazer nada .
Estar acomodado. Aqui poderia ser desenvolvido o que foi descoberto na exegese. Ns sabemos hoje, por outro lado, que
o poder da morte se manifesta j em meio nossa vida:como
agresso contra ns mesmos ou contra outros. Ressuscitar mortos significa por isso tambm promover em outros a vontade

- 279 -

- 278 de viver, e evitar comportamentos que desintegram a vida alheia. Aqui poderia ser mencionado que a comunidade crist
v com so lidariedade o trabalho de md icos, enfermeiras,
trabalhadores sociais, aconselhadores, etc. Ali s, t ambm
na orao final eles deveriam ser lembrados. Ser cristo
significa ter um compromisso com a vida!
Na terceira parte poderia ser destacado o qu e diferencia a comunidade crist de outros que agem de maneira seme lhante: "Muitos outros tambm agem assim. Isto tudo no
comportamento exclusivo dos cristos. Eles inclusive t m
muito a aprender de outros, de humanistas, etc. Os cristos,
no entanto, esto comprometidos com estas atitudes devem
empenhar-se neste sentido (cf. vv . 9-10),e eles par~icipam
destas atividades como portadores de algo que ningum mais
pode '.ere~e:: como portadores da paz. No se trata de uma
paz ps1colog1ca ou social. A paz que os cristos recebem
para ~ransmitir adiante a paz que provm da proximidade
do. reino de Deus, a paz que provm de Deus mesmo. Porque o
reino de Deus est pr x imo, por isso os cristos tm paz a
0 '.erecer." De modo que o reino no um reino em um futuro
distante
- agora somos presenteados com a paz que pro mas J
vem de s ua prox 1m1d ade - e podemos dar esta paz adiante.
Nem sempre esgotamos em uma prdica um te xto. Ou dizem?s menos do que o texto expressou na situao original ,ou

- sao
- mais
. simplesmente
.
dizemos mais , pois as s1tuaoes
nao
as mes~as. O esboo acima traado de pregar a partir deste
t~xto e uma possibilidade entre outras. Cada pregador, consi~er~ndo a sua situao especfica, ter que achar o seu
p'.oprro caminho - e ento talvez outros aspectos do te xt o
ainda venham a falar .
111 - Bibliografia
CONZELMANN, Hans. Grundriss der Theologie des Neuen
Testaments. MUnchen, Chr. Kaiser Verlag, 1968. - GOPPELT ,
Le~nhard . Teologia do Novo Testamento. 1. So Leopoldo/Petropolis, Sinodal/Vozes, 1976. - KlSEMANN Ernst. Matth~us
evangel ium. (preleo no autorizada pelo.autor) . Gtlttingen. - MELLO,Thia90 de: ~a~ escuro mas eu canto . A cano
do amor armado. Rio , C1v1l1zaao Brasileira, 1966. - STEPHAN,Gerhard. Meditao sobre Mt 10,5-15. ln: FUr Arbeit
und Besinnung. Ano 25. 1971, pp. 229-236.

3'?

DOMINGO

Lucas

AP S

T R 1 N D A D E

19,1-10

Albrico Baeske
P re 1 i mi na res
Se preciso ter cuidado diante de qualquer texto, par~ nos: repetir aquilo que a Comunidade j_cansou de ou:
vir, entao maior deve ser o esforo em relaao a esta pericope' aparentemente conheci da, t ransp.a rente e concreta
A sua plasticidade atrai muito, pode envolver de tal.
forma que se torna difcil achar a sada para a sua atua~i
zao. A fim de transp-la nossa situao, acho necessario evitar os seguintes becos sem sada:
l) deixar que o v. 10 leve a discursos em termos :a~ .
bidos at a exausto a respeito da obra reden~ora de C~is o.
todos somos perdidos, Deus inconsolvel
queren o 1. - e tnao
0 para nos sa
morte do pecador, manda o seu Filho Un1gen 1
var no Calvrio
ensangUentado
a'inda a
umentar1a
Al em de se chatear os ouvintes, se
nvenc-los
s ~a d es1 l usao
- para com a Igreja se se ten.tasse co ue "Chris- '
0
dizendo simplesmente, mas com muito entusiasm ' qhecer Cristum _c ognoscere, beneficia eius cognoscer e'anchthon),
recon
sem
to e reconhecer os seus benefcios" (F. M~l
da presente
que~estes sejam, ponto por ponto, transc~it~~m determinado
P:r1cope para o momento da sua proclamaao moldada por uma
dia dentro de uma certa Congregao, tanto
.
t ura especifica
~
da. mesma
con JUn
quanto
moldadora
a
de conver2)
_
11h 1stor1
.
i1
en~rar n~ apresentaao d: uma
em Existem 91versao a mais refinada glorificaao do hom - 'da a mais fres
t'
5
dUVI
'
?s ipos desta encenao religiosa. em
quente na IECLB esta:
_ .
e a qualquer
Z
.
ananc1a,
b
aqueu se Joga, por gosto e por g
essoa de em e,
preo, numa profisso abominvel' que cad:.pcolaborar_desasobretudo, piedosa, probe a si e aos s:u ~a espoliaao d~s
ve~go~hadamente com as foras de ocupaao portanto , ele e
propr1os concidados, a fim de enriquecer~ para sempre como
moralmente aniquilado, separado dos outro

- 281 -

- 280 por uma parede invisvel; seu simples aparecimento em pblico faz subir no povo, sedento de vingana, o puro dio,
faz cerrar os punhos atrs das suas costas e contar os dias
at o seu extermnio completo.
O "maioral dos publicanos", sensibilizado per tais con" -- .
seq~enc1as,enxerga
aos poucos o seu estado pecaminoso; ocoraao, profundamente abalado, grita por salvao. A passagem de Jesus pela cidade o enche de esperana e o encoraja
a vencer todos os obstculos para v-lo - e o Salvador no
decepciona o desejo ntimo, persistente, do pecador contrito.
1

A Personagem Central

l) Apenas quando Jesus, espontanea e surpreendentemente, olha para Zaqueu, o chama e se oferece para i r casa de1e, este chega a se conhecer de verdade. Antes foi como o
"Cavaleiro sobre o L~go de Constana", ignorante do perigo
mortal de andar qu~lometros a fio em cima do gelo. De Jesus
~epende tudo. Ele e o escopo da vida deste homem e de todos;
e 11 autor e consumador da f 11 (Hb 12,2). Sua iniciativa no
P~~gu~ta ~ar.nossa dis~osi~o e preparao para receb-lo,
P se cr1at1va e suscita, inclusive, a estas.
2~ Nisso uma pregao comprometida com a Teologia Reformatori a _necessita ser decididamente clara. Se no me engano, tambem neste ponto ela comea a ruir nas fileiras da
IECLB. Por isso parece oportuno lembrar:
a) que, segundo M. Lutero, to pouco algum consegue
c~er em Deu: a,partir de si prprio, quanto crescer nest~
f~ e . aperfeioa-la; ou, como afirma J. Calvino, o homem e
tao inc~paz . para a f como o burro o para a sinfonia.
Mais ainda: 11 Tudo o que empreendes pecado e continua
sendo pec~do, por mai~ brilhante que seja; faze o que qui sere s - nao podes senao pecar 11 (Lutero);
b) que o homem por si mesmo no tem a m1n1ma idia de
que ou quem Deus: ele 11 brinca de cabra-cega com Deus, s
erra e jamais acerta o golpe, denominando Deus o que no
Deus, e dei xando de denominar Deus o que Deus. Assim cai
na burla, concedendo nome e honra divinos quilo que lhe
parece ser Deus, jamais acertadno o Deus verdadeiro, mas
se mpre Satans ou sua prpria presuno inspirada por Satans11 (Lutero).

Mais ainda: "Non potest homo naturaliter velle, deum


esse deum, imo vellet se esse deum et deum non esse; o homem natural no pode querer que Deus seja Deus; ele at
quer que, embora Deus exista, Deus no exista 11 (Lutero);
c) ao nos chamar f, Deus nos d concomitantemente 0
prprio rgo receptor da f: ele nos coloca o tesouro sobre a mesa - como Lutero gosta de dizer - oferecendo tambm
a possibilidade de o tomarmos nas mos; 11 aquele que est
disposto a dar o benefcio (da f), esse tambm cria a mo
para receb-lo" (H. F. KohlbrUgge);
11
d) que fides ex auditu a f vem do ouvir: F sempalavra (de Deus) no vl id~. A f no pode existir sem a
palavra; e onde existe a palavra, tambm deve existir a f 1 ~
11 Pensando ou agindo incorres em erro; h somente uma situao em que no erras: quando ouves! 11 (Lutero);
.
e) que o crente confessa: "eu no sei se creio,11 sei,
Porm, em quem eu creio 11 (P. Althaus), em Deus.que no
11 nos
Pode esquecer, antes teria que se esquecer a si mesmo (Lutero) .
.
Por isso 11 devemos agarrar-nos palav~a ai~da que trevas nos envolvam e que tudo indique: essa fe seral tua runa,
.
untar pe a verdade
essa nao e a verdade1 ra fe~ Por que perg
111 (K
1
ou falsidade de minha f? Eu pergunto pela P? avra.t
ohl- ,.
ura rica, re a, san. 11
a
palavra
e
integra
e
P
'
b rUgge ) . Pois
.
prende, se torna tal
ta e alva, ae sorte que o que a ela se
reto sant

l
..
a l vo ,
,
o
qual a propr1a pa avra: integro, puro, torna vermelho e ad'
etc.. Corno o ferro colocado no fogo se
rvo sendo
ca e adquire
'
P
requ 1 re to d as as qua 1 d
1 a d es do fogo, co mo o elho
tato, quando colocado no fogo se trona ~erm rre com a f f
das as qual idades do fo~o, assim tarnbern ~~~o, pela pala~raa
~endo com que o homem fique totlamente 1 e conforme inte''

d que s
1Penetran d o e aperfe1coando-o de ~o o
ode censurar a palaramente com a palavra; e, como nao se P 11 (Lutero).
Vra, tambm no se pode critic-lo a ele
l 1

Jesus e os 11 rnurmuradores 11

,
ovo comea a fantaJesus muito falado em Jerico. O passagem atr~i todo
Siar a seu r~sp~ito (?f. 18,~Sss). sua ~z subir em arvores.
mundo; a cur1os~dad~ impele as ruas e f resena da popula1) Jesus nao fica embevecido pela P) n~o se faz Jovj 1
o inteira e do seu aplauso (cf . 18,43 '

'

- 282 misturando-se com o povo, nem se preocupa em como saudaras


autoridades locais. Ele rejeita a imagem que se tem dele:
pregador ambicioso e curandeiro das multides. Triunfar sozinho e para si lhe impossvel. Ele segue o seu caminho,
sbrio e inabalvel, com olhos abertos para os outros, para os totalmente diferentes.
S pra ao ver aquele que em outras ocasies e invejado, bajulado e solicitado devido sua riqueza e influncia
e agora se v forado a "subir a um sicmoro", empurrado para a periferia; aquele cuja culpa perante a lei de Deus e
dos homens, cuja separao aberta e conseqente excluso silenciosa de Comunidade e sociedade esto sendo lembradas, e
se sente que todos o consideram perdido, incorrigvel, escria, verme. Jesus pra e o chama pelo nome: Zaqueu/Zaca11
rias, 0 Se_nhor recorda". Jesus chega para "materializar'~ esta recordaao. Zaqueu de maneira alguma esquecido. Ele e dedicadamente procurado. Ele est beira da estrada de Jesus,
"pois tambm filho de Abrao", a quem Deus permanece fiel.
Sua fidelidade absoluta e supera a infidelidade de Zaqueu.
Deus no est sujeito a afetividades seu amor de uma fiana imutvel. Este o impulsiona a hon~ar Zaqueu a ponto de
hospedar Jesus na sua casa. Pois "Jesus s mora entre pecadores" (Lutero).
"Aqui nos ilustrado qual a maneira de ser de Deus,
.saber,.que_ele_olha c eara baixo. No pode olhar para
cima, po~s n~o h~ nada ~lem dele; no pode olhar para o seu
lado, pois n1nguem lhe e igual. Por isso olha apenas para
baixo de si. Ento, quanto mais baixo tu ests e quanto mais
inferior tu s, tanto mais claro os olhos de Deus te vem 11
(Lutero) Isto Jesus vem exemplificar em Jeric: aponta em
Zaqueu, o mais baixo e mais inferior, o amado de Deus, "no
monstro o homem, no inimigo o irmo, e 0 desafia" (E.Lange).
2) Os habitantes de Jeric, descontentes e carrancudos
em conseqncia das suas expectativas frustradas "murmuram".
Eles apenas esto curiosos. Tm suas idias sobr~ Jesus,mas
no sabem quem ele de verdade. E, mesmo ao observar como
ele , se consi~eram ainda preteridos per ele, em vez de enganados pela propria fantasia. Continuam a achar ter direito visita dele nas suas casas, em detrimento de Zaqueu.Esto convictos de que no convm a Jesus "se hospedar com
homem pecador". Com isso demonstram que pretendem dirigilo nas suas caminhadas.

- 283 "Murmuradores" que so, se escandalizam sobrT a maneira de Deus se recordar e olhar para baixo. Conseqentemente, desaprovam o resultado desta atitud~, a saber: o perdido buscado e salvo, o justo, porm, nao (cf.31s; 19,10).
Ne ama divindade de Deus, que reside exatamente ~a derrug de qualquer vangloria
- humana e na demonstraao dde que
bada
11
11
ningum faz jus sua graa. Desta feita 0 : ~urmura.o~es
_
. .d
pela alteraao as pos1oes
sao, sem o notarem, at1ngi_os
. os e primeiros
tradicionais: "ltimos virao a ser primeir '
sero ltimos" (13,30).
. - finalmente para 0
- os ha bt
'
Cegos sao
1
an tes de Jerico,orresponsabilidade
fato de que "murmurar" reflete suaDccerto este desejava
pela situao desastrosa de Z~que~~ ~ofisso. M~s, uma vez
ser "publicano" e fazer carreira - p
outros nao o aceiabraada ela, no pode voltar at~a~,o~~igam a ficar consitam mais, se fecham perante ele
seu emprego, o pecador
quem
go mesmo. Eles 0 ident1f1ca m ''com
. o - pergunta mais
.
k)
nguem
11N
)
,.
1
(
L
com o seu pecado" M.
1n
11 (J. Tibbe . e. quase
Zaqueu isto todo o mundo s~be . t fantico de sobrevi' que ele entao,
inevitvel
num 1. nst1nm
canalha, o quero ser
1
vncia, jure: se os demais m: J~i~:s
de que ele permanea
_
tambm. Assim chegam a ser cump
aqui lo que e goste de o ser. - vital a nos, os pregado(A se levanta a interrogaaoD us? At que ponto estares: Somos imunes ou abertos pafra.t~s? podemos dser surpreen.seus e1
conta o assombramos J acostumados com os
realmente de Jesus? Vemo
didos ainda por ele? Nos d~rn~sso o alvo
os cristos~
so de que o imoral e irrel 1910 comunistas,nsveis da 1 e
inca
gre. ] "stas e os
na sua 1uz os capita ~
os membros li iosidade e rnoraquatro rodas e os ateistas,
rpria re ~murmurar"?
. e, nao
- por ultimo,
- .
a nossa- p tenta dos a stenc1al
.
Ja
prepar
i
1 .1 d a d e.? Resumindo: es tamos nos reflexa- o ex unidade
com tal a
Quer me parecer q ue estaf ontar a com_ corno f orrnulou cermel hor para a ousadia de con riceres
da
religio 11 . )

os a 1 sa mor a l e
acontecimento
que
arrasa
.
.
_ 11 nos
to presidente paroquia 1
111

11

Hoje 11

r de
recor d a
Quando Deus decide se
ele
perder, nem para Jesus nem para

zaqueu, nao h tempo~


....

- 285 -

- 284 11

11

l) Jesus 11 tem de ficar hoje em 11 sua cas~ ;_por_isso o


intima: 11 desce depressa!" Deix-lo para amanha nao da, por
causa de Zaqueu. S existe um tempo importante para ele - e
este hoje. Hoje de singularidade i~ext~nguvel. Unica-.mente hoje lhe cedido prazo, outro nao ha. Agora mesmo, J
determina sobre ele para sempre. O que ora e deixado nenh~
ma eternidade devolve. Se Zaqueu perde o dia de hoje, esta
definitivamente perdido.
.
Jesus se dirige a ele no cega e fatal isticamente, ~ois
repara na vontade pessoal de Deus, a que se sujeita na vida
e na morte. Nesta posio reconhece o seu plano salvfi~o
com o mais inferior - e nisso o motivo da entrada (providencial, de verdade) em Jeric. Por meio da hospedagem comprova ao homem aquilo que este jamais tinha sonhado: ser recordado pelo prprio Deus.
2) Zaqueu, estupefato, 11 desce a toda a pressa e recebe a Jesus com alegria 11 De uma s vez se lhe abrem os olhos
para perceber, em tempo, que este est aqui apenas de passagem. Subitamente compunge-se-lhe o corao no sentido de
que 11 0 Evangelho como uma tromba d 1 gua passageira" (Lutero) Lhe dado aproveitar o instante decisivo. t sua e xperincia:
11
~o ~o meus os anos que o tempo me tomou.
Nao sao meus os anos que possam chegar ainda.
O momento (da presena de Jesus) meu: e se eu tomo
cuidado com ele, ento meu aquele que fez ano e eternidade.'' (A. Gryphius)
IV -

11

Salvao 11

l) A hospedagem de Jesus traz a Zaqueu 11 sa l vao 11 , aqui


e agora .
a) O "maioral dos publ icanos 11 11 salvo 1 ' do seu passado . Jesus o perdoa. Ele extingue 11 a maldio do crime de continuadamente precisar gerar o mal" (F. v. Schiller); bem como revoga a concepo dos convencidos da moral ou dos fanticos da reincarnao de que culpa implique em punio.
Em virtude do perdo de Jesus, Zaqueu 11 consegue aqui lo
que tanta gente no consegue: fixar a vista no seu passado'
(Link); sim, domin-lo, resultando em no mais recalcar nem
renegar, mas francamente aceitar ~ sua vida estragada. De:ta feita se lhe desobstru o portao para um bom futuro.Pois
1

o que, em regra, transforma a vida dos homens em inferno e


tanto escurece as suas perspectivas 11 so as desesperadas auto-acusaes que, sempre de novo, rememoram toda a desgraa. Ns no nos perdoamos as nossas fraquezas, os nossos
fracassos, a nossa culpa - e como o poderamos? Ao Zaqueu
foi perdoado; por isso ele pode (tranqilo) receber a si
prprio 11 (Link).
b) Com a capacitao de ser 1 ivre dos aperreias do s~u
passado, oferecido ao 11 maioral dos publ icanos 11 a condiao
para a vida, embora no a prpria vida. Para viver, se precisa mais do que perdo. Pois existir sozinho uma barbaridade; necessita-se do prximo. Deste, Zaqueu privado. Comunidade e sociedade, por suas razes, o discriminaram e se
retiraram dele. Conseqentemente foi condenado a colocar a
si prprio como prximo; ao que, no fim das contas, se acostumou, at gostar e preferir que nunca fosse diferente. Ao
isolamento que sofre da parte dos outros, adapta-se com seu
auto-isolamento.
Hospedando-se na casa de Zaqueu, Jesus rompe o seu isolamento. Ele se apresenta como o seu prximo. Este acontecimento chama-lhe a ateno para o seu estado de 11 incurvatus
in se ipso, curvado para dentro de si 11 e de "homo versus ad
se et ad sua, homem voltado para si e para o seu 11 (Lutero).
Mostra-lhe que, de agora em diante, desnecessrio se~ a:sim. Sobretudo: j que Jesus o seu prx-imo por excelenc1a,
o liberta logo desta desgraa. 11 Zaqueu , de forma mais simples, reintegrado dignidade de ser homem, de receber e dar,
de ser amado e amar 11 ( Lange) . E1e vo 1ta a ser soei ve l no
sentido pleno.
2) Zaqueu comprova a sua sociabilidade ao descobriras
demais prximos.
a) Ele resolve 11 dar aos pobres 11 - no ao templo! Muitos levam a oferta justamente para l, tentando alcanar
uma boa conscincia com o emprego do resto do seu dinheiro,
inclusive se for por explorao de semelhantes - e nem sequer so chamados a sua primeira responsabil~dade com at_ransformao da estrutura da misria e da situaao dos miseraveis. Primrio mudar o mundo, secundrio preservar o temp~o. t imperativo, pois, se 1 ivrar de qualquer ~1 templ ismo 11 ;
nao existe 11 templismo 11 bem intencionado ou ingenuo: Deus
quer que lhe sirvamos nos pobres; esse o culto verdadeiro,

- 287 -

- 286 bem melhor e mais importante do que con s truir igre jas e celebrar 1 iturgias". No precisamos fazer boas obras para Deus
nem para a Igreja, mas sim "aos homens, aos homens, aos homens - no ouves? - aos homens" (Lutero) .
b) Zaqueu d "a metade dos" seus 11 bens 11 - no aquilo
que lhe sobra, nem da sua abundncia e nem ainda apenas o
dzimo! As posses se lhe revelam como centro motor da sua
vida e perdem a atrao sobre ele (veja 1 Co 6, 12). A ganncia de ter desaparece. O possesso dos seus bens se torna
possuidor dos mesmos. Zaqueu chega 11 1 iberdade maravilhosa
dos filhos de Deus" (Rm 8,21): ter, como se nada tivesse
(cf. 1 Co 7 ,30); a sua esquerda ignora o que faz a sua direi ta (cf. Mt 6,3) e a calamidade dos necessitados prescreve medida e alvo do seu sacrifcio pessoal.
Em verdade: "Maldita e condenada ao inferno seja a vida que vive e xclusivamente para si mesma, pois isso prprio do gentio, e no do cristo" (Lutero).
c) O "maioral dos publicanos" restitui "quatro vezes
mais" queles "que tem defraudado''. A sua "justia excede
em muito a dos escribas e fariseus" (Mt 5,20). Estes, apoi~ndo~se em Lv 6,2ss, consideram bastante a restituio por
1nte1ro mais a quinta parte.
Pro~tificando-se a dar o qudruplo, se coloca ao lado
dos ladroes.que, conforme t x 22,1, so obrigados a devolver
quatro ou cinco vezes o roubado.
r
Zaqueu c~ega concluso de que a sua propriedade
oubo . Isso nao o leva ao desespero a desfazer-se dela toda ~obamente e emigrar, mas o incit~ ao seu uso no sentido
social ajudando os espoliados a recuperar a sua dignidade.
E~e . desc~bre que propriedade particular tem carter provisori~ , visto que Deus e x ige prestao de contas sobre seu
surgimento e sua aplicao. Zaqueu curado da idia fi xa
9,e que ela seja santa e inviolvel. Ele coloca o bem geral
~-f~ente . dorduvidoso direito propriedade privada. Porque
e 1nadm1ss1vel que um folgue enquanto o outro trabalha;
que um seja rico enquanto o outro passa penria''. ''O que
t~mos deve :star a servio (do prximo); no estando a servi o, estara roubando" (Lutero).
Tudo Zaqueu faz por gratido e amor, pois amado primeiro ; recorda , pois recordado; v, pois visto; procura,
po i s procurado .
A liberdade e 1 iberal idade em relao aos seus bens

nao condio nem conseqncia, mas parte integrante da


"salvao". Sim, a conduta transformada de Zaqueu a sua
"salvao".
Lutero: "Toda a doutrina, ao e vida crist resume-se
nestas duas partes - crer e amar - pelas quais o homem
colocado entre Deus e o seu prximo, como meio que recebe
de cima, e passa adiante em bai xo, assemelhando-se a um vaso ou tubo atravs do qual deve fluir incessantemente o manancial dos bens divinos a outras pessoas".
"As obras exteriores no so outra coisa que sinais da
f interior. As obras no fazem o homem crente, porm revelam que sou crente, e testemunham que a f dentro de

c:rta!' "Sendo certa a f, segue logo a ao. Quant<_: ma1ora


f~, tanto maior a ao. Nada impossvel para a fe; ela
~ao pra nem descansa." "Somente a f justifica , mas
J~m~is est s (vem sempre acompanhada do amor)." "Assima
fe e o agente, o amor a ao."
_
Coerentemente 11 impossvel separar da f as obras; e
tao impossvel como separar do fogo a chama e a luz." Por
t sso e- fictcia a f daqueles "que gostam de ouvir
e e ntender a doutrina da graa pura (de Deus), mas no comeam
servir o semelhante, justamente como se quisessem sal~ar:
se pela f sem obras no se dando conta de que sua fe nao
f, mas mera image~ de f, comparvel a uma imagem no espelho, que no o rosto, mas a sua imagem."

m!m

e!a

j -

V - Concluso
. ""Jesus Cristo
Na predica
sobre a sua passagem em Jerico
.
entra nas nossas cidades e vilas. Atravs dela quer, 11 aqui
e agora, trazer "salvao'' e ganhar os ''murmuradores
d "Zaqueu,
1) Jesus Cristo "tem de ficar hoje" na casa e - 1 )
maioral dos publicanos" entre ns, no (desta vez, nao : na
do presidirio 1 ibertado do homossexual, da me solteira,
do deso::upado e do boa-vida.
'
Deus se recorda e Procura com
11
sa 1vaao'':
-os que vivem custa do suor, da fome e da fraqueza
dos homens;
-os que, buscando mais lucro, calcam aos ps homens como 1 i xo da rua;
-os que se vendem e so os seus prprios Jegislador~s ;
-os que mantm na ignorncia , retendo ou sufocando in-

lS,
)-

- 288 formaes e troca de idias, publicando estatsticas


e dados artificiais;
-os que, correndo atrs de seu modelo de desenvolvimento, passam sobre pessoas humanas como se fossem, degraus
de escada;
-os que desqualificam, caluniam, perseguem e silenciam
os contestadores do seu modelo pol tico;
-os que consideram "o povinho" indolente, e xcluindo-o
da participao da renda nacional, negando-o o direito de opinar e o poder decisrio sobre o seu destino.
2) Jesus Cristo convida aqueles que ''murmuram" a se
deixar abrir os olhos para a sua situao (como os abre aos
"Zaqueus" para a deles). Pois a sua "cristologia" e "teologia", que j os torna insensveis quanto a Cris to, Deus e
os prximos, tendem a lev-los rejeio definitiva d:les - e isso, sem nem sequer o saberem e desejarem; o que e o
mais perigoso.
Movidos agora pela cristologia e teologia que Jesus
Cristo vive, terminam de "murmurar" e lhes convm 11 se hospedar com homem(-ns) pecador(es)":
_
assim reconhecem a sua participao na criao da coaao, amada e maldita ao mesmo tempo, em que aqueles se enc~ntram (como ~ais profunda exposio de todas as impl ~c~
oes e conseqencias desta situao verdadeiramente trag1ca me ocorre a pea de Max Frisch, "Andorra". Recomendo a
sua leitura, imprescindvel transposio desta perte para os nossos tempos.)
e chegam , conforme Lutero, at a ser "um Cristo para
o prximo", os 11 publ icanos 11 e seus "maiorais".
Depois que os "Zaqueus" entraram na experincia da
"salvao''., os que deixam de "murmurar" tm um papel de
igual envergadura: acompanh-los na manuteno da sua vida
diferente. Para tal, zelam que os tabus e anseios, convenes e ideais do seu ambiente, enfim, toda a situao social e econmica, sim, poltica, no cooperem para a recafda dos "salvos". Se este for o caso, eles se empenham para
a sua transformao. (A respeito de como a situao global
em que a lgum se encontra o condiciona, no conheo coisa
mais elucidativa do que a obra do jovem B. Brecht, em especial 11 A pera dos Trs Vintns", "Me Coragem e seus Filhos",

- 289 -

"A Vida de Galileu". Considero igualmente a sua l eitura indispensv e l transposio deste detalhe para os nossos dias.)
Po rque a "salvao" dos "Zaqueus" quer ser vivida doravant e , precisam eles "no s da solidariedade pessoal, mas.
tambm do e nga jamento poltico (no sentido mais amplo) " (Link)
dos que param de "murmurar".

Editora Sinodal (Run


Justi,.a tia f po r Hans Joachim I w n <li. bi 155 X 215 mm. '
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poucas pa lavras
1
Epifnio Fogaa, 467) Porto Al egre 19
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E stamos diante d~ um vigoros o trab a li10 q u e t cn
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apresentar a rac!ical in tu io de Lute '. ~ c.}, u n; cerne que seJaDeus
O A . sofr e com a divi so das _I g r cias, al~:dara, como.~~~ c2~:cincia
dado revelado; e a a ponta a fe como s t .0 tinh a a nitH .
calado e
cl pa~ a lib c 1t :u-. o hom l'm. N este sent ido L~e c i meu no me . scl~tcro? Po is
d ? n ~o se r cnaclo r d e n ada: Pc5o qc cristo. Qu e e idade a nica
nmgu cm se ch~11e. d e lu terano, sen ao _d nto com a coi:u un( . ). o livro
4
se a doutrin a nao e mi nh a ... s u stc ni;o JU . n osso m es~r.c p qu e correm
e comum doutrina el e Cristo, o qu a l s o ele_cimente catollc~s, convocao
m uito til a todos os telog os , cspec ia e rel er a cnoi me
G .D .B .
o ri sco de prolongar v elhos preconceitos e p
r e forma qu e no s v e m d e Lutero.
J\

" Revista
.
Eclesi stica Brasileira "'

38/151/1978.

- 290 -

4'?

D O M

M a t e u s

NGO

A P

TRINDADE

18,1 5- 20

Bertholdo Weber
1 - Traduo do texto:
15. Se, porem, o teu irmo pecar, vai argU -l o ent-re ti e ele
so . Se ele te ouvir, ganhaste o teu irmo.
16. Se, porem, ele no te ouvir, toma ainda contigo um ou
dois, para que sob (o) depoimento de duas ou trs testemunhas toda palavra se estabelea.
17. E, se e le no os atender, dize-o com unidade; se, porm, tambm no atender a comunidade, ele seja para ti
como gentio e publicano.
18. Amm, eu vos digo: quaisquer coisas que ligardes na terra, tero sido ligadas no cu, e quaisquer coisas que
desligardes na terra, tero sido desligadas no cu .
19. (Amm) novamente vos digo:Se dois dentre vs ,sobre a terra,
concordarem acerca de qualquer co is a que acaso pedirem,
ser- lh es - feita por meu Pal que est nos cus.
20. Porque onde dois ou trs estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles.
11 - Oservaes r e lacionad as ao texto
_As palavr~s eis s, no v. 15, so mui to provavelmente
ui;ia 1nt erpo l~ ao no texto origina l, talvez feita pelo co p 1s t a a Pa r t 1 r d o us o p a r a l e l o e i s e m no v . 2 l ( ou Lc J 7 ,
3). O v. 20 ap~r ece numa forma diferente em a lgumas variantes (D, Syr. s 1n , Sa e Cl): "Porque no h dois ou trs reunidos em ~eu nome , sem que eu no esteja no meio deles."
Ta lvez seja esta a forma mais antiga, mas no muda 0 sentido da palavra.

- 291 111 - O conte x to


O cap. 18, geralmente denominado de "Ordem comunitria",
e um discurso dirigido aos discpulos que aqu i atuam como
representantes da ekk lesia, ou seja da comunidade local .Sob
0 ponto de vista da histria da tradio este discurso form~ um conglomerado de elementos heterogneos de procedncia _d'. versa. A composio redacional revela dependncia literar1a tanto de "Mc11 como da fonte de ditos isolados independentes (Q), complementada, enfim, por material particular de Mt, de formao anterior redao por Mt. Todo es te mosa ico, porm, d a perceber niti~ament~,.pelo modo de
usar seus subsdios, por sua disposiao tema~1:a e ge~s enfoques e anexos redacionais, os motivos teo~og1:os or1ent~dores da composio de Mt que visam_consc1ent~zar a comunidade do seu dever de cuidar dos irmaos pequeninos e falt~sos. As regras de disciplina comunitria (18,15-17.18) est~o em sensvel tenso com o seu contexto_imediato (a parabola da ovelh
d.d
18 J2s e a parabola subseqUente,
18
aper1a,''
Prueoesco,23ss)' que forma uma espcie de mo~dura. - olqpelo irmo
po de ambas as parbolas o cuidado incansadve (18 21)
que falt
- .
trita de per oar
,
,
ou e a disposiao 1 rres
b.d d Deus A pomot
i d a pe a graa imerec1. damen te rece 1 a e t de
re. _va
1
s1a d
deste contex o
_o a regra disciplinar dentro - deve amenil eva nc1a
exegetico-teologica.
eer tamente nao
se conta: PoJrnente
za r a poss1 b.1 .idade com a qu a 1 a regra- reauJtima instanc1a
_ . ,
1
co
t
.
.
u
a
ate
a
e
a
d
n ecer que 0 rrmao cont1n '
perdao sem se nem s
.
. _
.d
que torna o
.
. ua 1mpen1tencia endureci a,
18 15-17 tem em mira
t 1do a 1gum. Nao
- pode haver duv1
- da . que .t nte da comunidade
1
( exc 1uso defini t j va do pecador ~mpen ~o lgica ("no cu")
ex comun h-ao ) e com isso da sa 1va ao. esca
l
s o texto deste
E o
se 'so amo
.
que nos poderia assustar "tao dar a este i rseu
_ contexto - e- que parece fora de dcog1a no futuro.
mao uma c h ance e possibi lida de de mu an
d pe.
ma te r .1a 1 J pre-forma
.
"o
,. na "neutralizar a
Mas ainda que Mt recorra a
l a tradio, sua composio no ten c ' ante a todo o Evanreg ra d e d"
.
- .
canso
de ter
. isc1plina
comunitar1.
~o do redJtor so_P
gelho(cf.1ntroduo) esta composl~
to indispensav~l_da
o sentido de apresentar tal proced1men mo uma possib1 lidacom unid ade, em funo de sua pureza,~~ um mome nto sequer,
de extrema, que no deve fazer esquecmu~ id ade: a graa que
o Esp1~ rito
.
que rege a vida to da da co

'!

- 292 pe rd oa . Iso l ado deste contexto evangl i co a regra disciplinar


se transformaria em mero caso jurfdico, se deformaria em l egalismo se ctri o ou na t e nt a tiv a farisaica de querer a nt e cipar o Juzo Fin a l e separar, a ntes do tempo, os justos
dos inju stos ( cf . Mt 13,24-30; 36 -43, 47-50 ). Para Mt igreja um corpus mixtum e 11 esta interpretao tir a todo opat os farisaico da disciplina comun it r i a, por e l e definida,
como por nenhu m o utr o do N.T., em 18, 15-20 e 22 , 11-14 11 ( L.
Goppelt) ~Se bem qu e a disciplina comunitria uma neces s idad e em determinados casos, e l a j amais deve ser prat ic a da , seg und o Mt, para reunir o 11 r emanesce n te sa nt o 11 na l gre j a.

A nossa per cope um exempl o como o eva nge li sta ass ume uma tradio judaica (crist), mas agora determinada.
pelo es prit o da mensagem e da v ivnc i a de J esus : sua so lida ri e da de integral com os pe ca dores, seu c hamado humi Id ade, se u man dame nto de amor e perdo sem limit es , sua es pe rana na prx i ma vinda do Reino e do Ju zo Fin a l, no qu a l
seremos perg un ta dos pela pr ti ca da mi ser icrd ia para com
os irmos mais pequ e nino s .
Assim temos em Mt 18 uma 11 0rd em comunitria 11 que e
formada pe l a me nsagem fundamental de J es us :
l) a verdadeira grandeza no re in o , seu c hamado a dar
me i a volta e hu mi Id ade (18, 1-5 );
2) seu ma nd ame nt o de amor e o cuidado dos pequeninos
(18 ,6 -14);
3) a cens ur a dos fa lt osos ( 18, 15- 20) e
4) sua ex i g nc i a de es t ar pr on t o para o per do ili mita do ( 18 ,2 1-35). E i sso tu do na cer t e z a da pr ese na do Senho r ressuscitado presente ell s e u me io e
na e xpectativa do reino vindouro.
IV - Considerees exegt ic as
Dentro do g rup o de d i tos em 18,15- 20 , collposto de par tes de natureza diferente, a diretriz disciplinarnosvv.15-17
fo r ma uma unidade, desdobrando-se e m trs degraus ( in stn c i as). Se u lu gar vivencial a comunid a de j ud aico - c ri st e
provavelmente se de se nv o lve u do logi on par ., qu e e ncontr a mos em Lc 17 ,3 (Q), onde, como em Mt 18 , 15 , se conta com a
possibilidade de terminar o conflito j na pri me ir a in s tnc i a. Mt 18, 15 , porta nt o, poderia ser ape nas uma variante

- 293 de Lc 17,3, seguindo, porm, mais estreitamente a exortao


de Lv l9,l7s. A comparao sintica demonstra que Lc'l7,l3
p:rtence a uma fase anterior a de Mt 18,5. As palavras lucani cas tm carter tico-escatolgico e so motivadas pelo
amor e a disposio de perdoar: 11 Se teu irmo pecar contra
ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. 11 Esta
provavelmente a forma mais original e mais simples, ao
passo que em Mt encontramos um estgio de evoluo j formulado em direo a mais outras instncias (vv. 16 e 17) na
tramitao processual. A tendncia dos ditos Mt 18,15-17
visa, sem dvida, a e xtrema possibilidade disciplinar: a
excomunho do pecador impenitente pela assemblia da comunidade qual dada a autoridade de 11 ligar 11 e 11 desligar 11
com val idez tambm no Juzo Final.
V -

Mt 18, 15-17 e Qumr

A formulao de Mt lembra a instruo da uRegra magna 11


de Qumr (5,24-6, l): 11 Cada um deve repreender o seu prximo em verdade e humi Idade ... Ningum denuncie o seu prximo assemblia sem antes ter pedido satisfao dele na presena de testemunhas 11 (cf. tambm o escrito de Damasco, 10,
2). Quando se tornou necessria a repreenso de um membro da
comunidade de Qumr, as regras de procedimento neste caso
seguiram prescries rgidas. Os trmites legais passaram
por trs instncias: l) a ss; 2) perante testemunhas; 3)
na presena de toda a assemblia reunida em culto. Encontramos a mesma tramitao gradual em Mt 18,15-17: A pessoa
que tem conhecimento da ofensa tem o dever de repreender o
ofensor. Se isto no lograr efeito, ele deve arg-lo na
presena de testemunhas (cf. Dt 19, 15); ese isto tambm falhar, o caso deve ser comunicado comunidade reunida . Todos estes trs degraus do processo tm por objetivo levar
o malfeitor ao arrependimento. Contudo, se todas as medidas tomadas no derem resultado positivo, ele no mais ser considerado membro da igreja. Se a comunidade no poder
obter satisfao, no lhe resta seno dei xar de t-lo em
conta de irmo ( 11 Gentio' 1 : contrrio de israelita , prova ,
juntamente com os termos ligar e de s ligar, que se trata de uma comunidade judaico-crist, que se considera o
verdade iro 11 lsrael de Deus ... 11 Gentios e publicanos so vis tos pelos piedosos como 11 pecadores 11 , excludos da comunho

- 294 tnico-religiosa)..
O v. 18 uma variante de Mt 16, 19, porta nto um l og 1on
indep e ndente deste contexto. A autoridade de li ga r e desligar que segundo Mt 16 confiada a Pe dro corno pedra da igr e ja (potestas clavium), aqui confiada comunidade l oca l
inteira, reunida em culto. S a e la cabe o dir e i to de exc l1.Ji r o irmo impenit e nte. Este v. 18 foi, muito prova vel:
me nt e, acrescentado regra disciplinar j a nte s da re daao
de Mt. - Os termos tcnicos "li ga r" e " des 1 i gar" s i gn i fi cam no rabinismo a autoridade conferida aos escr ib as de decidir tanto sobre assuntos doutrinais corno tambm sob r e disciplinares. Em Mt 18,18 essa autoridade se r efe re disciplin a, em Mt 16, 19 trata-s e da qu e sto de doutrina . L
falado da ekkles ia em termos de igre ja univ e r sa l, aqui se
trata da assem bleia da comunidad e loca l.
Mt l8,l9s igua lmente um dito (duplo) indep e nden!e,
de significado particul a r: a promessa de a t e nd er a oraao
comunitria t em seu fundamento na pres e na do Senhor res suscitado entre os que esto reunidos em seu nome . A pequena comunidade no se ren e em torno da tora , mas em nome
de Je s us, na f que o confes sa e tem certeza de sua pr ese na. O logion formulado em anttese ao ditado judaico :
" Se dois estao reunidos para ocupar-se com palavras da~
~. a schechina (presena de Deus) est no mei o deles."
A. tora foi substituda pe lo "nome " de Jesu s, e o lugar da
schec hin a ocupa Ele mes mo, o Senhor exaltado e prese nt e na
com unid a de reunida no cult o (o que car ac teriz a espec i a l~e n
te a comunidad e he l e nstica). Em Mt 18, 19 ace ntuad o nao
ta~to a promessa de ser ouvida a orao comum, mas a comunh ao da _ comunidade congrega da em nome de J es us e sua pl e na
co nc or dancia a resp e it o daqui l o qu e ped em. Est a co munidade r e unida e unida na pre se na de J es us , em se u Es prito,
tem autoridade par a reso lv e r os casos dif ce i s em ma t ri a
de di scip lina comunitria.
Assim os vv. 18,19 e 20 tm a funo espec i a l de funda me ntar o poder de ligar e des li ga r na terra - com consequncias escato l g i cas. Mas a s ubstitui~o da Lei (tora)
pelo nome de J es us e a presena do Ky ri os , exa lt a do em se u
meio no revoga, mas torna obr i gatr i 0s os ma nda me ntos da
l e i cumprida e int er pretada por J es us. O direito qu e aqui
se ma nifesta disciplina pe nit e n c ial e aj ud a fraterna
poi mn ic a ao mesmo t empo. A comunidade aqui n o s ub st itui

- 295 s implesmente o tribunal secular. r o Esprito que ordena


e 1 imita o dir e i to e por ser o Esprito do Senhor no se
formulam sentenas, mas exigida a metnoia (volta).
Toda a comunidade se sabe responsavel pela conduta de
se us membros individuais. Em verdade, o prprio Senhor
exaltado e manifesto no Esprito que, pela mediao de sua
comunidade, "liga" e "desliga''. Da parte do Esprito, i.,
da pr esena de Cristo implantado direi to e ordem, e em
relao a esta ordem (direi to) no possvel invocar a liber dade do Esprito no sentido de um entusiasmo emancipado
e arbitrrio. A ordem da disciplina comunitria tem sua base na prpria presena de Cristo ( a alternativa entre R.
Sohm ou Roma est errada), e a ig reja definida como disciPulado e s eg uimento permanente.
VI - Refle xes para a prd i ca
No se pode afirmar que a questo da disciplina comunitria ocupasse um lugar central na vida das nossas_comunidades. Em conseqUncia do mal-entendimento da funao do
Pastor, o "fac-totum" de uma comunidade espiritualmente
Pass iva os eventuais casos disciplinares so geralmente
delegad~s a ele s (e ao presbitrio). Em casos de escn:
dalo pblico ou de impenitncia obstinada de um membro s?o
tomadas sanes oportunas em forma de excluso da participao na Santa Ceia, ou ainda de negao do bati:mo, da
confi rmao,da bno nupcial ou do enterro. O carater d~
~asi adamente jurdico-causustico de muitas ordens ecle:1asticas encobriu por tendncias legais a dimenso evange1 ica da disciplina comunitria, ~eu in~eresse poimnico de
recuperar 0 irmo errado e de reintegra-lo na vida da comunidade. Lutero rejeitou a "gran~e e xcomunho" do pap~ , _
mas valorizou a "pequena e xcomunhao_verdadeiramente crista ,
qu e consiste em excluir peca dores publicas e obstinados da
Sa nta Ceia e da comunho da igreja, at qu e eles se emendam e fogem do pecado. Os ~inis~r~s no ~eve m misturar e~
te castigo es piritu a l com 1mposi oes punitivas seculares
(A. S.) .

Com i sto so indicados os dois objetivos da discipl 1 na comunitria que se condicionam e limitam mutuamen te . A
comunidade dos "santificados e eleitos" chamada a comba:
t e r o mal e o pecad o que s empre ameaam destru r a comunhao,

- 296 e ao mesmo tempo ela tem a tarefa de cuidar do ir mo e,se


ele caiu em culpa, levant-lo e reconduzi-lo comunidade.
Nenhum destes dois objetivos deve ser absolutizado ou isolado do outro. A tentao de fazer do corpus mi x tum da igreja, j antes do Juzo final, a igreja pura dos justos, a
11
noiva imaculada 11 , resulta geralmente na formao de c rculos sectrios, da 11 panelinha 11 que julga facil mente os outros do grupo com idias perfeccionistas. E nesta luta contra o
pecado, freqUentemente negligenciado o cuidado pelo irmo.
Ma~ t~mbm existe o perigo oposto: Se o empenho de ganhar
o 1 rmao, que faltou, embotar a vigilncia constante contra
o pecado, toda a relao da comunidade com Deus, que ama o
pecador mas odeia o pecado, est ameaada ou at rompida.
A_graa se torna barata sem o processo dinmico da santifica~o da co~unidade. E~sa_mtua correlao entre os dois motivos: cuidado pelo 1rmao e luta contra 0 pecado, est presente em_Mt 18,15-17 e mantm o equilbrio em todo o processo ate o passo extremo.
11
Se teu irmo pecar ... 11
f importante ver que aqui no se trata de uma ofensa
~es~oal do outro, mas o imperativo de procurar ganhar o
1
'.m?o se refere ao pecado do outro em si. E a comeam as
dificuldades _ qu~ nos levam a escrpulos srios:
Qual 0 1 rmao que no peca? Est correto limitar-se s
casos conhecidos publicamente? - E os pecados secretos ... ?
Como posso saber deste pecado do outro, se no quero deixar anganar-me por boatos e fofocas? Certamente no quere~~s volt~r.a uma_es~cie de inquisio para espionar a vido prox imo. Nao e disso que se trata nem de abranger
todos os pecados

f azer valer o' carater


.
ma s sim,
exe mp 1ar
de toda me?1da disciplinar. No cabe a ns garantir por
n?ssas medidas a continuao da igreja . Ela garantida unicamente por Deus mesmo. Mas isto inclui o compromisso de
todos os membros de, no caso de pecado aberto e conhecido,
levantar um sinal e tirar conseqUncias cabveis e concretas.
ArgUir e convencer o irmo faltoso a ss um dever
poimnico, do qual nenhum membro do sacerdci~ universal
pode esquivar - se para dei xar que outros, tambm inteirados
do acontecido, resolvam o caso. Tambm fria a desculpa
que eu tenho que me cuidar primeiro a mim mesmo do pecado.
Lutero comparou a comunidade com um hospital onde todos es -

- 297 to doentes e precisam de cura, mas onde todos se ajudam mutuamente. A velha escusa de Caim: Sou eu tutor de meu irmo ? no aceita por Deus, e na comunidade de Cristo cada
irmo tambm responsvel pelo outro. A graa recebida tem
carter compromissivo. H em nossas comunidades muitos irmos que sofrem sob o peso de uma culpa de pecado no perdoado, e, por no serem reconduzidos pelo perdo, que h
em Cristo, ao seio da comunidade, se afastam sempre mais
e endurecem seus coraes em impenitncia incorrigvel.
Um dos pressupostos imprescindveis de toda a disciplina comunitria a observncia do sigilo de confisso,
seja entre duas ou mais pessoas. S neste clima de mtua
confiana possvel reconduzir o irmo do caminho errado
a Cristo e sua comunidade. preciso falar com ele e no
sobre ele a outros. Arguir, repreender e cilVencer o irmao de sua culpa no tem a ver nada com desmascaramento
pblico para comprometer o outro. Posso ganhar o outro s
na base de solidariedade, ciente de que a tentao espreita a todos ns, mas que Cristo venceu o tentador e que vencer tambm em ns e por ns.
Caso o irmo no atender, tornam-se necessar1as outras
medidas. Talvez ele se defenda, argumentando que pecado
um conceito relativo e que outros so piores mas sabem camuflar sua malcia sob falsas aparncias, e que, no mais,
ele no admite que outros se intrometam em seus assuntos
pessoais etc. Mas o texto no aceita tais argumentaes,
pois sempre o pecado de um membro toca toda a comunidade.
P~r isso, passando 2~ instncia, prevista a participaao de mais outras pessoas idneas que tm o dom de achar
palavras acertadas, de poder convincente, que servem como
testemunhas e representantes da comunidade.
Na 3~ instncia o caso assume carter 11 oficial 11 na
presena da comunidade, que procurar por todos os meios
possveis 11 ganhar o irmo 11 Se ele no atender, previsto, como extrema possibilidade, exclu-lo da comunho de
irmos unidos pelo vnculo do batismo, da santa ceia, do
perdo dos pecados. Quem no aceita com arrependimento sin~ero e f confiante o perdo que lhe oferecido em Cristo,
se exclui a si mesmo do reino da graa e da comunho com
os irmos. A funo de 11 ligar 11 neste caso apenas a cons tatao que o irmo nega ser 11 des 1 i gado 11 por Cristo e com
isso nega o convite da comunidade a ser reintegrado e par e

- 298 ticipar da vida escatolgica. A comunidade constatar esta negao com muito pesar e no sem ouvir tambm ela o
chamado da metnoia, mas ela no pode, to pouco como seu
Senhor o fez,forar algum a entrar em suas fileiras. O
que ela deve fazer distanciar-se claramente do pecado, e
isto em nome e na presena de Cristo. Sua responsabi lidade tanto maior porque
esta sua deciso tem consequncias "no cu"; mas tambm este o seu consolo: que na presena do Senhor seu procedimento valido e autorizado. A
toda a comunidade foi confiado o "poder das chaves" (confisso), de ligar resp. desligar, que se realiza pela palavra humana, contudo um acontecimento r ea l porque o Se nhor presente, ao qual foi dada toda a autoridade, se
identifica com esta palavra. Reunida em seu nome e un~ni
me no que pedir na orao, a comunidade mais do que o
nmero de seus membros; ela o vaso da presena de Cristo no Esprit oJsempre quando congregada em culto. f aqui
que o Senhor es t presente, onde dois ou mais se renem,
oram, cantam e comungam em seu nome. Sua misso e sua autoridade de lutar contra o pecado, de perdoar e, se necessrio, excluir~ela as recebe da sua promessa de ouvir a
sua orao, da sua presena no meio dela at consumao
dos sculos.
VII - Bibliografia
BORNKAMM,GUnther.Die Binde - und Loesegewalt in der
Kirche des Matthaeus, in: Die Zeit Jesu. Festschrift fuer
H. Schlier, Herder, 1970 . - BULTMANN,Rudolf. Die Geschichte der synoptische Tradition, G~ttingen,Vandenhoeck & Ruprecht. - MANSON,T.W. The Saying of Jesus, London 1957. HUMMEL,R. Die Auseinandersetzung zwischen Ki rch e und Judentum im Matthaeusevangelium, Muenchen 1966. - LUTHER,Martin. Die Schmalkaldischen Artikel .-DIETZFELBINGER,Wolfgang.
Meditaao sobre Mt 18, 15-20, ln: Ei c hholz/Falkenroth, eds.
H~ren und Fr ~ge n. Vol. 5. Neuk i rchen-Vluyn, Neukirchener
Ve r 1a g , l 96 7.

- 299 DOMINGO

A P

TRINDADE

1 s a as 43, 1-7
Ri car do

N~r

Te xto
E agora, assim diz Jav , _
aquele que te criou, Jaca,
e aquele que te formou, Israel:_
No temas, porque eu te libertei
chamei -te pelo teu nomePe rtence s a mim!
2 Quando passares pela gua, contigo estarei,
quando (atravessares) os rio:,eles no te submergiro.
Quando andares pelo f 0 go, ~ao te queimars,
e a flama no te chamuscara.

3 Pois eu, Jav, sou teu Deus,


o Santo de srael' teu Salvador ..
Eu dou Egito como resgate para ~ 1
Cuxe e Seb para ti como tuas cidades.
1

4 Pois s preciosa em meus olhos,


merecedora de honra, e eu te amo,
dou povos para ti,
e naes para tua vida.

5 N~o temas! porque contigo estou eu,

a Partir do nascente trago tua descendncia


e do poent e te reuno.

6 Digo ao norte: D (c)!


e ao sul: No detenha!
Traz e i os meus filhos de l onge,
e minhas filhas dos confins da terra.

7 Tudo

0 que chamado com o meu nome,


p r a mi n h a h on r a cri e i , s i m, f i z !

11

- Preliminares
Dutero-lsaas (Dtis), profeta desconhecido que atuou

- 300 -

entre os e x ilados na Babilnia apos a destrui o de Jerusalm em 587, anuncia o presente oraculo de salvao em contraposio percope precedente, 42, 18-23 (24-25), que
trata da culpa antiga agora perdoada .
O orculo de salvao tem seu lugar vivencial na liturgia de um culto de lamentao no qual o indivduo (ou a comunidade cultuai) expressa a sua dificuldade (perseguio,
doena, ameaa de morte, etc.) bem como o seu pedido por auxlio divino, atravs de te x tos (salmos) j e x istent e s.Em
seguida, o oficiante do culto, como porta-voz divino, anuncia a resposta de Deus em forma de orculo. Todo o ato litrgico, formalmente rgido, encerra-se com o voto de agradecimento por parte do indivduo (ou povo).
A percope forma uma unidade tanto em contedo como em
forma. Os pontos de contato nos versculos l e 7 estabelecem o fecho da unidade:
aquele que te criou ... - para minha honra criei ...
chame i - t e pelo teu nome ... tudo o que chamado-cm;;- o meu nome ...
A estrutura da percope compe-se das seguintes partes:
v. la (in t rodu o), vv. lb - 3a (parte J), vv. 3b - 4 (parte 2), vv. 5 - 6 (parte 3), v.7 (objetivo).
O te x to trata do retornodopovode Israel terranatal:no
h empecilho intransponvel no caminho (parte 1), mas sim
resgate em quantidade (parte 2), de forma que os que esto
dispersos vm de todos os lugares (parte 3).
11 1 -

Observaes exegticas

V. l - Entre os exilados, a crise de f era um fato evidente diante de uma situao que se configurava definitiva.
Den~r~ ~este conte x to, o 11 no temas 11 adquire carter e x traord1nar10. A mudana, o novo que agora vem, introduzido
pelo 11e agora 11, pois "assim diz Jav". Aquele que se revela como o Criador, portanto,como o nico Deus levar tudo
a termo seg~ndo a_sua vontade soberana. Ser ~m segundo xodo e m di reao patria, mais importante do que 0 primeiro (52,
1-12) .
A criao mais do que um ato isolado no incio do mundo . t a interveno de Deus sempre renovada no desenrolar
dos acont e cimentos. A libertao de Israel tambm ato criador (cf.44,24) .
Como pano de fundo da expresso 11 chamei -te pelo teu nome11 est , provave lmente, um costume jurdico no qual aquele

- 301 -

que d o nome assume a obrigao pela subsistncia e a proteo jurdica, semelhana de uma criana adotiva, sobre
aquele que recebe o nome . Israel como um todo, resultado da
fuso anfictinica,no tratado como massa impessoal, mas
como povo composto de indivduos.
O carter peculiar de Israel que apenas a esse povo
Jav chama pelo seu nome.
V. 2 - Absolutamente nada impedir Israel de percorrer
o caminho do e x lio terra ptria. Jav o criador e senhor da natureza. A designao de dois elementos naturais
contrrios, no idioma hebraico, pode ser indicao para a
total idade. O perigo atravs de gua e fogo abrange toda
a gama de ameaas s quais o povo estar exposto quando do
regresso Palestina. Os riscos aqui descritos fazem lembrar
Ex 14, tambm Lc 10, 19.
V. 3 - O v. 3a sublinha mais uma vez o efetivo cumprimento da promessa. O 11 Santo 11 , para Dtis, Jav como aquele que tem poder ilimitado para realizar a sua vontade.Ao
denominar-se o 11 Santo de Israel", ele revela que a sua vontade tem por alvo especfico este povo, sendo q~e o teor
11
desta vontade encontra-se explicitada na aposiao teu salvador11. A exclusividade de Jav adquire ainda maior relev~n
cia ao se considerar o meio ambiente no qual a mensagem do
Profeta anunciada, repleto de deuses, bem como a situao
de fracasso e fraqueza dos exilados.
Para a libertao pertence tambm, natura~mente , opagamento. Jav concede fabuloso resgate: pela pequena ~srael ,
.grande Egito mais Cuxe e Seb (designativos para pa1se~
ricos), portanto, todo o ento conhecido nor?este da Afr1ca .
V. 4 - A linha de pensamento interrompida com a fundamentao em 4a que no apenas diz porque Jav paga o resgate como tambm certifica o seu amor
_ Israel no tem valor em si mesmo, mas 11 nos olhos de Ja 11
~e11. Pensamento enfatizado no segmento seguint e : (porque
es) digna de honra 11 .
O amor de Deus no se baseia na reciprocidade . Israel
faltou no seu relaci.onamento com Deus. Independentemente diss~, porm,permanece inabalvel 0 comportamento i~compreens 1vel de Jav - fato que se constitui em verdadeiro conso1~ para a comuni9a~e e x lica. Aqui se v cl?ra~e~te o significado de 11elei~ao: um grupo pequeno e ins~gn1~1cante recebe a declaraao de amor de Deus: 11 a voces, justamente

302 -

- 303 -

a voces que eu amo" . Deste modo estabelecido o contraste:


Jav, o Senhor da histria - Israel,
o povo no exlio. Nes te ponto se fundamenta a proclamao do profeta (40, l).
O v. 4b no s atesta o mesmo qu e o v. 3b como o ultrapassa. Israel de tal forma valiosa para Jav que ele se
dispe a dar ainda mais povos e naes.
Tudo indica ser Ciro o recebedor do resgate (44,28; 45,
1ss) .
Vv. 5-6 - O dito de sulvao em 5a segui do pelo anncio
que promete o retorno dos exilados dispersos pelos quatro
pontos cardeais.
Com o "no temas", o profeta anuncia aos exilados a m~s
ma maravilhosa presena de Jav que os pais puderam experimentar quando das "guerras santas" .
V. 7 - "Tudo o que chamado com o meu nome" = 1srae1
O acento do todo est colocado na honra de Jav. Aquele que
criou Israel tambm se preocupar em manter o seu povo livre de necessidades. Jav quer um povo no qual ele possa
revelar ao mundo a sua magnificncia. Tudo realizado para
que Deus seja honrado (cf. o paralelo com Joo 12,28)
Escopo: Jav criou o seu povo (v. 1) e, como ele ama
a sua cria.o (v. 4), conduz ir tudo para a sua honra (v.7) .

ria d s a "lvfica. Sabemos tambe-m , atrave-s do NT , que o conceito e povo de De us" foi estendido a todos os que creem em
Jesus Cristo (1 Pe 2,7-10).
O tpico da a~eaa da existncia humana, para dentro do
qual penetra o nao temas'', pode r servir de ponto de cont~to entre o te x to e os ouvintes de hoje. O profeta fala
nao apenas de um povo_que perdeu a sua terra mas, fundament~lmente, su~ relaao com Deus. Decisivo, portanto, no
se? ods aconstehcimentos externos, mas o relacionamento com o
ria ore en or da vida.
Q~ais so os "medos 11 de hoje? Sem dvida eles apresentam sintomas diferentes dos de ento mas a raiz a mesma
em todos os tempos: a ruptura com a base do ser Deus.
Neste
tocar no aspecto da
' angustia,
-
. contexto se po d er1a
do sentim~nto de vazio, da solido e abandono, to marcantes nos dias atuais e

"N'
anunc1 ar a declaraao do amor de Deus:
ao temas ... chamei-te pel t
li
s
existe
1 gum que nos conh
o eu nome...
1 m,
Aq u .1 se deve terece, que
nos chama pelo nome!
.
- da que:0 cu1d a do de evitar
_
a reduao
1
taoD~? ptanofapenas do indivduo. Inegavelmente, a pregaao
de
dis Dem orte conotao pessoal, porm aqui falado do
povo e e~s como um todo.
A pa rt 1 r de l b
r
o referente ao batpossivel tambem d~senvolver uma prega_ um des d
ismo. Tal empreendimento, contudo, ser' A
_vi o 0 sentido original que o texto apresenta
pe~1 cape 43, 1-7, se b
.
6 . em. que prevista
o . Do
rn 1 n go apos Tri n d a d e e- ap
. , para
.
'
ro~ r 1 ada para o 1n1c1 o do ano ou
a novos i n
p a r er cope f c i os
- o_ que e va-1 .1d o para qua 1quer epoca.
'
d
1
P. p possibi l~ta aao sa lvadora de Deus. E Deus aquele
q ue trada no"1 a- novos inr1c 1os - sempre de novo! A pregaao
,
cen
nao temas ' 1
. 10 e aleg
El
. _, sera permeada por um carater de jubl
ria.
a1rad
. d
direo
h
escrever a grande g1 ra a de Deus
ern
aos omens i
.
_ alamidad
nstaurando
uma nova real idade em meio
a e
e. 0 aspecto .
rsidad es nat
.
importante nao e a superaao das ad..,;e
ura1s
desc

(f
ri tas no texto
agua e ogo ) ou ous quaisque
t ra
r, mas a P 1
h
.
medo e dando-Ih
avra que acalma o ornem tirando-lhe
o
' e esperan
Quem profere est
a.
Palavra Jav, o Criador, o Senhor
5 acontecimentos
d forma definitiv' 0 Deus que se voltou em amor aos homens
de 55 oa! Por isso e em Jesus Cristo - o "e agora" de Deus em
P:mP mesmo em si~~= ~alavra permanece vlida ao lon~o do
t
oes de perigo, ameaas e tentaoes

IV - Meditao
A palavra de Deus no AT sempre projetada para dentro
de uma situao concreta, no caso em questo, para o povo
de Deus no e x lio. A percope anterior, 42, 18-25, afirma
que Deus teve que castigar o seu prprio povo to duramente
porque ele se distanciara do seu Senhor. A perda de vnculo c:im Deus gera surdez e ceguei ra ,enquanto que a convergncia a ele faz abrir os olhos(cf. li Co 3,l6).
A nova rea lidade com Deus estabelecida em 43, 1-7: a
lib e rta o proclamada, e, co m isso, a culpa antiga apagada (cf. tambm 40, 1-11). A mensagem de Dtis quer t irar
o medo do povo de Israel bem como lhe recobrar a confiana
na plena ao salvfica de Deus. O profeta, na verdade, no
tem r es post a s ua que possa ajudar os ex ilados em sua situao crtica. O que ele faz anunciar, com poder proftico,
o "e agora" de Jav.
Se bem que esta palavra dirigida especificamente a Israel ,ela temval id ade para todos os tempos.Um aspecto: tempos de
privao, vistos a partir de Deus, so fases da sua hist-

11

- 304 pelas quais o povo de Deus passou e continua passando. Povo este disperso por todo o mundo e a caminho de volta para 11 casa 11
Deus o nico condutor da ao salvfica. Ele quem
cria, forma, livra, chama. A ele, pois, toda a honra (v.7)
- ponto culminante do texto!
Ao homem cabe aceitar o que Deus d.
Aqui vale a observao de que o ' 1no temas" no rei vindicao ou imperativo - mas afirmao! Apelos so por demais batidos e devem ser evitados. Alm disso, sua influncia negativa para a correta compreenso desta alegre proclamao de 1 ibertao.
Um esquema de prdica:
a) Medo:caractersticas, causas.
b) Consolo: Deus, aparentemente oculto, nao permanece
no silncio. Ele declara o seu amor.
e) Esperana: O povo de Deus, mesmo ainda em meio ao
11
exlio 11 , j ouviu a sua libertao. A comunidade
crist lugar de esperana - Deus fiel.

- 305 7~

Ma r e o s

A P S

TRINDADE

9,43-48

Slvio Schneider
Te x to
43- Se tua mo te faz tropear, corta-a.
t melhor entrar~s maneta na vida do que,
t e ndo as duas maos, ires para o inferno
para o fogo inextinguvel.
'
45- E, se teu p te faz tropear, corta-o.
t melhor en~rar:s aleijado na vida do que,
tendo os dois pes, seres lanado no inferno.
4 7- E, se um de teus olhos te faz tropear, arranca-o.
t melhor entrares no Reino de Deus com um dos teus
olhos do que,
tendo os dois, seres lanado no infe rno,
48- onde no lhes morre o verme
ne m o fogo se apaga.

Bibliografia
WESTERMANN,Claus. Das Buch Jesaja. ln: Das Alte Testament
Deutsch.Vol. 19. Vandenhoeck & Ruprecht, Gtlttingen, 1966.DUHM,Bernhard. Das Buch Jesaia.5~ ed., Vandenhoeck & Ruprecht, G~t ti ngen,1968. - VON WALDOW, Hans Ebe rha rd. 11 Denn
1eh Erl~se Oi eh." Ei ne Auslegung von Jesaja 43. Neuki rchener Verlag, 1960. - ELLIGER,Karl. Jesaja 11. ln: Bibl ischer
Kommentar.NeukirchenerVerlag, 1973.- CAL\./ER PREDIGTHILFEN.
Vol. 3.Calwer Verlag, Stuttgart, 1965.- PREDIGTSTUDIEN.
Ano 1970/1971.

D O M 1 N G O

11

Ob se rvaes relacionadas ao texto

_Nestl eom ite os vv. 44 e 46, idnticos ao v. 48, uma citaao ~ e Is 66,~4. Os ma nuscritos que apresentam os vv. 44
e 46 sao secundari?s. O v. 43d tambm pode ser relacionado
com Is 66, 24. Assim, proponho qu e por ocasio da leit
do. texto na prdica sejam
os vv. 44 e 46 . Aponutra
_ omitidos
(
o
ainda para a boa traduao apesar de j ser int e rpreta - ')
de A BrBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE, pg. 129.
ao.
111

Consideraes exegticas

_ ~e 9,43-48 pertence categoria das palavras de advertenc a de Jesus . Confor me R. Bu l tmann (Ges h d
80)

e er syn.Trad.,
pag.
pertencem ainda ao mesmo gnero Lc 4 23 . 6
.
.
31 16
Mt 10,16b;ll,24;etc.
' ' ' ' ' 9'
No texto em apreo, temos uma seqUncia de t res pa l avras
so b re a mao,
o
pe
e
o
olho,apresentad
.
os como membros que po- '
d em conduzir o homem ao pecado Trata-s

e, portanto , de tres
estro f es, cada uma estruturada da se g u 1 n te mane .1 r a
a - o tropeo de um dos membros.

- 306 b - o i mp e r a t i v o r a d i e a l p a r a a mu t i l ao .
e - a razo da mutilao.
Observe-se que a mesma advertncia tambm consta em Mt
5,29-30 e Mt 18,8-9, em conte x tos cornpl~tamente diferentes
do apresentado por Marcos. A contraposiao em Mt 5,29-30,
por exemplo feita assim: "E'. me lhor voc perder um membro
do s e u corp~,do que todo o seu corpo ir para o_ inferno." A
alternativa : "Um membro ou todo o corpo." A enfase reside em que o homem evite ir paro o inferno.
J em Me 9,43 -48 a contraposio feita assim: "E me lhor voc perder urna mo do qu e ter as duas e no ter vida
=ser lanado no inferno." O mesmo dit o sobre o pe . Na
lti ma estrofe explicado o qu e se entende por vida, asaber, entrar no Reino de Deus: "E'. melhor voc perder um o lho
do que ter dois e no entrar no Reino de Deus."
Marcos apresenta uma concepo mais positiva e com menor sabor legalista do que Mateus. Por se tratar da vida,
da participao no Reino de Deus, no i mporta que um dos
membros se perca. A obteno da vida to incomensuravelmente ma ravilhosa e preciosa ctue sua perda seria i rreparvel. Perder um membro ainda insignificante diante do valor da vida. A nfase reside na obteno da vida (zoe),que
entenderemos como causa, e no no ir para o inferno (geena),
que entenderemos cOili'()""feito. A dimenso positiva destapalavra de Jesus ainda pode ser observada formalmente quando
da substituio do termo vida (zoe) nos vv. 43 e 45 por Reino de Deus (basi leia tau theou) no v. 47. Ambos os termos
de screvem a mesma grandeza e se explicam mutuamente: trata-se da vida eterna que o fertada com a vinda do Reino de
Deu s em e com a pessoa de Jesus. Em outras passagens no NT
esta mesma grandeza descrita com outros termos, como chara (Mt 25,21), do xa (Me 10,37), e i rene (Rm 14, 17).
A partir da, o ouv int e ou leitor de Me 9 ,43-48 j
pode ter uma idia do que efe tivamente est em jo go: a sua
vida.
Em contraposio vida (zoe), ao Reino de De us (basii e ia tau theou), colocada a Gee na, o inferno. O termo Gee na, traduzido por inferno, corresponde ao termo hebraico
"G e -b en -hinnon", literal me nte Vale do Filho de Hinnon.D e s i gna uma local idade, um vale ao Sul de Je r usalm (cf. J s
15,8; 18,16), onde eram oferta dos sacrifcio: a_divindades
pags. Mais tarde o lugar foi alvo de advertenc1as e amea-

- 307 as de p rofetas (Jr 7,32; 19,6), que lhe designariam de Val e da Matana. No pe rodo da apocalptica surgiu a crena
de que ali ocorre ri a o Juzo Final. Posteriormente passou a
ser o local em que eram executados os condenados, os mpios.
A partir da pode-se ter uma idia do que significaria para
um judeu ir para a Geena: maior vergonha e abandono era inconcebvel. Ningum desejava ir para a Geena. Desse modo
se torna compreensvel a citao de Is 66,24, onde diz assim: "Eles (toda a carne que vir adorar perante mim) sairo e vero os cadveres dos homens que prevaricaram contra
mi m; ~arque o seu ~erme nunca morrer, nem o seu fogo se apagara; e eles serao um horror para toda a carne, diz o SENHOR." Viver distan~e de Deus, sem sua comunho, sem ~arti
cipao no seu povo e o mesmo que viver na Geena, ou nao viver.
Jesus no enfatiza a crena no fogo do inferno, muito
menos em termos de ameaa, mas a preciosidade de sua oferta, a p~rticipao na vida, no Reino de Deus. O f ogo do inferno nao pode ser usado na prdica como elemento de ameaa sobre os ouvintes, como alternativa oferta da vida.
Seria bom, no preparo da prdica, ler Rm 11,32 e/ou 1 Tm 2,

4.

Como, ento, entender a advertncia de Jesus? A alternativa est entre a pe:da.d~ um membro e a participao no Reino de Deus. Qual o s1gn1f1cado dessa colocao radical?
Qual o sentido de decepar uma mo, um p, ou arrancar
um o lh o? Segundo Dt 25,lls, o decepar de uma mo tem cart:r de pu~io. Des~e m?do se estaria antecipando uma puniao que ainda deveria vir sobre o homem. Os rabinos tambm
entendiam o ~ecepar de ~mam~ como uma punio, algo como
umacompensaao por uma 1nfraao cometida. Nachum de Gimzo
(Bill:rbeck_I, pg. 779s) relata que almejou ficar cego ,
s~m maos: pe~ e olhos, e ainda leproso, porque seus olhos,
maos e pes nao se compadeceram de um pobre. Nesse relato
se pode observa~ que os so!rimentos do presente so uma forma de compensaao da puniao que aguarda uma pessoa na eternidade, causa da p~r sua impiedade nesse mundo.
Me 9,43-48 nao permite_compreendermos a mutilao como uma
forma de compensaao do castigo vindouro. Por um
lado porque a mutilao s ocorria como pena judicial na
epoca
J~sus. E por outro lado porque tal compreenso estaria 1med1atamente associada com a salvao por obras me -

?e

- 308 - . Nesse sentido Me 9 , 43-48 estaria completamente


r1tor1as
.
isolado dentro da tradio das primeiras comunidades.
Me 9 43-48 no est interessado em dizer o que deve ser
feito de~ois de o pecado ter sido cometi~o, pois n~sse ca
mencionadas outras situaoes~. Enfat1za,entreso d ever1amser
tanto 0 que o discpulo deve fazer para evitar o pecado.~
muti l~o de me mbros no objetiva qu e o ~ornem ~e puna a s 1
prprio por pecados cometidos. De que ad1antar 1a_arrancar
um olho? Sempre permaneceria o outro para conduzir o ~ornem
ao pecado. Por isso a ad~ertncia de Jesus sobre ~s ~aos,os
ps e os olhos expressao da necessidade de o cr1stao lutar contra si prprio para evitar o pecado. Segundo conc:po palestina, os membros do co~po ~ssumem o lugar do pro- _
prio homem, e por isso a luta nao e contra um ou outro_m~rn
bro do corpo (estes apenas abedecem ao comando do coraao.),
mas contra o prprio homem inclinado para o pecado.
Observando a percope em apreo em seu co nt ext~, pode-se observar que est() palavra endereada aos disc1pu l os:
Estes,porta nt o,so vocacionados para se decidirem a um d1scipulado radical e a uma luta contra o que oprime o homem,
o pecado, e com isso conscientizados de que devem combater
as causas, e no contentar-se em remediar efeitos. Essa lu~
ta comea consigo mesmo. Desse modo a pre sente per1cope
e hega objetivamen te perto dos textos sobre o discipulado de_Mc
8,34ss. Me 9, 43-48 pode ser entendido como concretizaao
de Me 8,34ss, A mesma radicalidade no discipulado a Jesu s
tambm verificve l no Sermo do Monte (Mt 5-7), cujo escopo pode ser assim enunciado: 11 NO OUVIR E NO PRATICAR DA ~A
LAVRA DE JESUS DECIDE-SE QUEM, AFINAL, t DISClPULO, ist o e,
QUEM CONSTROI SUA CASA SOBRE ROCHA E QUEM CONSTRI SUA CASA
SOBRE A AREIA". (Mt 7,24ss)
IV - Meditao
A vocao ao di sc ipul a do chamado salvao, vida.
Por se tratar da vida, isto , do sab e r-se participante do.
Reino de Deu s, nenhum sacrifcio gra nd e dema is. No signi fica que o Reino de Deus possa ser conseguido mediante a
mut ilao de um ou mais membros do prprio corpo. Mas o prazer de um moment~, ?u a inclina o ego st ica, o tira~ van- e
tagem para si propr10, o ~ransformar os outros em objetos:_
sua tirania e soberania nao podem fazer com que se menospr

- 309 ze o u minimize a grande ddiva de Jesus. A palavra de Me 9,


43ss quer fazer com que os discpulos levem extremamente a
sr i o a promisso da vida. Para exemplificar isso, observe-se a Parbola do Tesouro Oculto, Mt l3,44ss. Uma vez que
alg u m descobriu a grandeza e a importncia do Rei~o de De~s,
no poupar meios nem esforos para conseguir mante-lo.Sera
tarefa da prdica desenvolver esse aspecto do texto: a oferta do Reino de Deus coloca o homem perante uma conseqUente
deciso pelo seguir a Jesus. Me 9,43ss concret~za essa deciso na luta do cristo contra o pecado, isto e, contra o
prprio corao pecaminoso, mencionando mos, ps e olhos.
No dito diretamente como esses membros fazem o homem tropear. Poder ser desenvolvido concretamente na prd~ca~ sem
cair em falsos moral ismos. O imperativo do texto esta f1 rmemente ancorado no indicativo do discipulado e da oferta do
Reino de Deus. E esta concreticidade pode ser enunciada a
partir da observao do campo de vivncia de um cristo.
Seu relacionamento com cristos e no-cristos o contexto
em que se decide seu discipulado. O relacionamento inter-humano o campo concreto em que se decide o discipulado, no
servio (Me 9,35), no reconhecimento da pessoal idade e humanidade do outro (9,41), na possibilidade de engajamento do
outro no Reino de Deus (Me 9,42) e, com isso, no saber-se
co-responsvel por e com ele (Me 9,37 e 42). A questo sempre : Ou combatemos causas, ou contentamo-nos em remediar
efeitos. Nesse sentido caberia refletirmos aqui a clebre
questo Homem x Estrutura. Programas pol ticos e ideologias
se caracterizam por entenderem que mudan do estruturas, quaisquer que sejam, podemos tornar o homem mais feliz.Boa parte
de cristos rebatem tal posicionamento afirmando que no
a estrutura que deve ser modificada, mas o prprio homem.Surge da uma compreenso de f crist aptica e alheia ao mundo em que vivemos. Me 9,43-48 no permite, nesse sentido,compreendermos a questo Homem e Estrutura como alternativas . O
homem vocacionado por Jesus ao discipulado, que se conscientiza da ddiva do Reino de Deus, tambm saber valorizar tal
ddiva e viv-la autenticamente transformando o mundo em que
vive, e isto implica em combater estruturas pecaminosas que
opr i mem e faz e m o homem tropear. Nesse sent id o cabe ao pregador e nun c iar o que, a nvel individual e coletivo, no seu
contexto opri me e faz o homem tropear . No raras vezes a estrutura de vida de um contexto faz com que as pessoa s mini-

- 311 -

- 310 -

miz em o se r cr i sto, p rocuran do justificativas para a sua apat ia e de toda a sua com unidad e com afirmaes qu e j setornaram lug ar -com um: "Todo mu ndo s pe ns a em dinheiro, em ficar rico, todo mundo ex plora"; porque todo mund o faz, vale tarnbm para ns? Ser discpul o i mplica em sacr i f c ios, e ne nhurn
grande demais quando se trata de viver a ver da dei ra vida,o5
valor es do Re in o de Deus, no r e l ac i ona me nt o com os outros. A
pergunt a : Preciso sempre ganhar custa da derr~ta do o ut ro? A f cris t no entende a vida como competiao: podemos
ganhar juntos, desde que junt os l evemos a s rio o ser cristao, o discipulado.
V - Bibliografia
BARTH,Gerhard. Au x lio hom i ltico sobre Me 9,43-48. ln:
Eichholz/Falkenroth, e ds. HU re n und Fra ge n.Vol 5.Neukirch~n
-Vluyn,
Neukir che ne r Verlag, 1967 . - BULTMANN, Rud o lf.~
Gesch ichte de r synoptische Tradition. GUtting e n, Vandenh oe ck
& Ruprecht.
SCHWEIZER,Eduard. Das Evangelium nac h Mar kus. GUtt i ngen, Vand e nhoeck & Rup re cht, l %7 . - SCH LATTER,
Ad o lf. Das Ev ange l ium nach Markus und Luk as. ln:Schlatt ers
Erl~ut er ungen zum Neuen Te s t ament. Stuttgart.

8'? D O M 1 N G O
J e

r e m i a s

AP S

TRINDADE

23,16-29

Klaus van der Grijp


1 - Consideraes e xegticas
O conte x to da percope Jr 23, 16-29 constitudo pelos
captulos 21-25.Amaioriadas profecias contidas nestes captulos foi proferida quando Zedequias era rei de Jud (597587 a.e.). Era anos de humilhao nacional. Em 605 as hostes
de Nabucodonosor tinham derrotado as do Fara-Neco (Jr 46,2),
e na rea da Sria- Palestina a supremacia egpcia fora substi tuda pela da BabilSnia. Oterritriode Jud fora penosame nte diminudo, e Zedequias era rei pela graa do soberano
babi Jnico. Jeremias recomendava submisso ao poder estrangeiro, porque via nele o instrumento de Jav, e em Nabucodonosor, o servo de Deus (27,6). Na opinio dele, Israel estava recebendo o castigo merecido pelos seus pecados , e devia
humilhar-se diante dos juzos de Deus. Mas havia outros que
pensavam diferente. Julgavam que Jav, independente do comportamento do povo, se identificaria com a sua causa nacional. E nes ta confiana eles incitaram Zedequias a revoltar-s e contra a Babi 1nia. Revestiam s uas opinies de uma roupagem religiosa. "O Senhor disse: Paz tereis ... No vir mal
sobre vs 11 (23, 17). Diante de uma me nsagem to otimista,
compreensvel que Jerem ias se tornasse impopular (37, ll-16).
E 1 verdade qu e o rei ainda o consultava de vez em quando.Mas
fazia-o em secreto, receando a opinio pblica (37, 17-21 ;
38 , 14-27), e acabou cedendo s instncias da ma ioria . Sua
insur~ei o contra Nabucodonosor ia provocar, em 589 , uma expediao punitiva daquele monarca (2 Rs 25, l), com 0 conhecido desenlace fatal .
Na nos sa percope assistimos luta de Jere mia s co ntra
a atuao daqu e les_que, em nome de Jav, trans mitia m ao povo uma s eg urana va. Antes (23, 9-15) ele censurou 0 comportament~ imoral desse~ pse udo-profetas; agora critica-lhes a
pr egaao . Jeremias nao sugere que os seus adversrios sejam
impostores conscientes. Alguns deles, sem dvida a lguma, eram de boa f; temos a o exemplo de Hananias em Jr 28. As
suas palav ra s so " men tiras" (vv.25-26) no sentido objetivo,

- 313 - 312 nao segundo a int eno subjetiva daqu~ l es q~e fa l am . A cri tica de Jeremias dir i ge - se contra a 1ngenu 1dade com que os
pseudo-profetas confund i am suas fantasias_com a ~ a l avra 11 r ~
vela da do Senhor. Um verdadeiro prof eta nao confia nas v ises do seu corao" (v . 16) nem no s sonh os qu e e l e sonhou
(v . 25), mas o uv e a Pal avra e nquan to ele es t "n o conselho
do Senhor" (vv. 18; 22). Parece temeridade afi r ma r que um ser
humano tem acesso ao con se lho do Senhor, e as perguntas do
v. 18 quase poderiam ser in terpretadas corno retr icas, tendo resposta negativa. Todav i a_o v.22, e tam~m u~a passa~em
como Am 3, 7, esc larecem que tao alto privilegio e conc ed i do
ao profeta. Se os adversrios de Jeremias est i ves~em a:entos
Pa l a vra do Senhor, compreenderiam que e la anuncia o Julgamento aos perversos , exortante - os a vo ltare m do se u ma u c aminha (vv.19-20; 22). A exc l a ma o "eis a tempe sta de do Senh 0 '
pod e ri a s i gn i fica r que o profeta r eco nh ece j os s in a i s da
ira d ivina na s ituao poltica do mome nto. O er ro dos.! al sos profetas que eles reclamam Deus par a suas conv e n1 en cias part iculares, esq uecen do que e l e , a nt es de ma is nada,
o Deus sa nto, so berano, univ e rsal. No texto masortico, o v.
23 di z liter a lme nt e : "Acaso so u um De us de perto, diz o Se~
nhor, e no de lon ge'?" A inteno dessas pal avras fica ma rs
c l ara se no int erca l amos o " a pe na s ... tambm" que consta na
verso de Ferreira de Almeida. Deus, qu e conhece os escond e rijos da ama humana, sabe onde nascera m aque l as profecias .
sonh adas que e nga nam o povo (vv. 25-27), s ub stit uind o o "tr igo" da Pa l avra pela "p a lh a" das inv e nes prpri as (v . 2~) .
A verdadeira Palavra do Senho r - d ito aqu i de novo - inclu i a purif i cao e o j u l gamento: ela fogo, ma rt e l o
que esm ia a penha (v .29) .
li - As vises do co ra o
Ap li car a percope Jr 23, 16-29 nossa s i tuaao parece
uma tarefa to i mporta nt e quanto difcil. El a i mporta nt e,
porque a nossa soc i edade caracter i za - se pelo pluralismo r e- _
ligi oso, havendo ne l a vozes "proft icas " muit o var i a das e ate
co n traditr i as . Nem todas e l as podem ser profecia a ut ~ n tica :
algumas, a maioria talvez, dev em ser desmascaradas como falsas. Mas como fazer isso? A est a d i f i cu ld ade ! Quem do no da verdad e no mercado li vre das idias? Todos usam uma l inguagem de cunho or todo xo, como aq ue l es contemporneos de Je-

remias que falavam nas promessa s do Senhor e na sua fidel idade ao po vo eleito . Todos tamb m reclamam para si a autori dade divina . A afirma o "o Senhor disse" de uns ope-se ao
11
0 Senhor disse" de outros. Quem pode dize r com certeza que
"esteve no conselho do Senhor"? O nico critrio, que nos
dado para distinguir a falsa profecia da ve r dadeira, a sua
confiana no motivada. Esses profetas anunciam a paz aos
qu e desprez am Deus, e no exortam o povo converso. Eles
usam o nome de Deus para tranqUil izar o povo numa hora de angstia nacional, para fazer-lhe ouvir aqui lo que o povo deseja ouvir nesse momento. Talvez possamos dizer: os profetas
fazem ouvir ao povo o que eles me smos desejam ouvir. Da a
objeo do v. 16: eles "falam as vises do seu corao, no
o que ve m da boca do Senhor".
No essa uma situao bem conhecida nos nossos meios?
t a religio a servio das momentneas necessidades humanas,
a religio qual a gente recorre para ganhar uma sensao
de bem- estar, talvez para escapar de um impasse da vida ou
dos aborrecimentos do dia-a-dia. r a religio que as pessoas
consome m nas quantias que elas julgam convenientes. As igrejas servem-lhes de "posto de servio", onde elas vm abastecer-se quando h necessidade. Mas no essa a funo que a
Pa lavra do Senhor quer des empenhar n a noss a vida. A Palavra
do Senhor nunca serve de escape para os nossos i mpasses. Ao
co ntrrio, ela nos mostra a nos sa responsabilidade para com
o aqui-e-agora, revela-nos as nossas falhas e chama-nos ao
ar rependimento. A Palavra de_Deus no apare ce como produto
dos no ssos sonhos, como 11 visao do corao''. Esse o mal-en tendi do daque l es que julg am ter um "Deus de perto" , um Deus
qu e vem nos confir mar nas _nossas esperanas e nos nossos ideai s . O "Deus de longe" e um Deus cuja Palavra vem antes para nos incomodar. Ele tempestade, fogo, martelo. Ele nos
faz duvidar sistematicam:nte de tudo o que "nosso" : esperanas, ideais, real i zaoes, certezas, para que aprendamos
a contentar-nos com o que Ele quer ser para ns . Ele a trama que, vert i calmente, se insere na urdidura da nos sa vida ,
para lhe dar um tip o de firmeza que a urdi dura, na sua horizo ntalidade, nunca alcanaria. E~e um Deus "de longe" , "do
a lto" , dif erente de tudo o que nos sonh vamos.
111

Eis a tempest ade do Senhor!


"Tempestade do Senhor" a interpretao que Jeremias d

- 315 -

- 314
ntura
situaao
angustiante
do reino de Juda- naque 1 a conJU
.-ripoltica . Talvez seja til sublinhar que a dimenso P~ 1 1 in- d es d e o comeo, inerent e a- sua pro f ec1a
, para na 0 naca e,

corrermos no erro de uma espi rituali zao prematura,_ 0 uia"


d1stingu1

r en t re uma "essenc rnesque 1e ou t ro erro que se ria
espi ritual da mensagem e as "decorrncias" po l t ic~s da sima.
A real idade humana uma e indivisa. Quais sao as
no
tuaes angustiantes que hoje inquietam o nosso povo? E 1 so
so difceis de identificar. Os que 11 desprezam 11 o Se~h~uras,
os mesmos que, na nossa sociedade, desprezam suas cria que
e os que "andam na dureza do seu corao" so os mes~os sohoje seguem a linha dura de uma economia de exploraa 0 :
a
0
d e humilhante dep endenc1a
.
.
bretu d O a Sltuaao
com re: pe i t zepotncias estrangeiras fci 1 de transferir do Juda de vel
dequias para a Amric a Latina de hoje. H situaes no ne
local ou regional que o pregador poder int erpretar ness
mesmo sentido: "Eis a tempestade do Senhor!"
rn?
Atrevemo - nos a dar esse nome aos males que nos e erc e-
H-a diversas
.
Gera l mente, nao.
maneiras para contornar sem um
l h ante .1nterpretaao.
- .
somoses
Uma e a do otimismo eufor1co.
..
.
.
1

pais que vai pa~a frente. Reconhecemos as nossas 1mpe r feno


mas em comparaao com outros pases do continente elas - A
- tao
- graves. Muitos problemas esto em vias de so luao.lasao
eco no mia continua crescendo e potencialmente toda a poP~ poao
po d era- integrar - se nesse' processo. No fundo, apen as erebre_ qu:m quer. Se a Igr e ja se descuida um pouco, ~sua P pagaao e absorvida por esta viso da realidade nacional. 0 xpel que a doutrina poltica oficial lhe adjudica o de .. ela
- ps1cossoc1al

' pressao
do poder nacional, Junto
com~ Fa m1 1sen
a Escola e outras instituies. Ela faz parte do sistema~ "
d o conv1. d ada a pregar: "Paz tereis, nao
- vira- ma l so b r e vos .
.
- a Igreja ter a ingr ata tarefa de preg ar urna
Nesta s1tuaao
d
me nsage m que no expresse "as vi ses do corao" . Em vez e
_ o dedo na f er1. da e fazer
pregar a paz, a sua missa_ o sera_ por
11
o povo vo l ta r do seu mau caminho" .
d
d a h a- outra maneira

Mas a1n
para contornar a 11 t em pesta e
do Senhor". Ela consiste em reconhecer os ma l es da no :_sa
soc i edade, exp licando- os, porm, exclusivamente como ma - V~~=
tade de cima para baixo. Os opressores so maus, mas a~re 1
tamos firmemente na bondade dos oprimidos. Se algu ma coisa es - persegue o:_ vert errada no Brasil, porque o governo nao
dadei ros interesse s do povo. Tudo o que nasce do povo e bom,

a:

comea ndo pela religiosidade popular e continuan do at s~a


aspirao de derrubar as estruturas opressivas. A 1 iberta~ao
em todos os sentidos vem a partir do povo. Teologia crista
comparvel com a maiutica de Scrates: ela ajuda as verdades salvficas a sarem do tero que ainda as escondia. Ora,
quem prega nesse sentido, no fundoobscurece tambm aquela
mensagem do juzo que parte integrante do Evangelho. Mesmo
reconhecendo a realidade das foras inimigas, ele diz ao povo: "Paz tereis, no vir mal sobre vs." Ignora o fato de
que o pecado penetrou em toda ~riatura, rico e pobre, :en~or
e dependente, e que a l ibertaao no sentido integral nao e
uma potencialidade imanente da nossa convivncia humana.Quem
realmente prega o Evangelho ao povo, ter que abrir - lhe os olhos diante da tempestade do Senhor, diante dos sinais da ira
divina, que no se desvia at executar e cumprir os seus desgnios, diante daquele fogo que queima e purifica, diante do
martelo que esmia o rochedo da nossa prpria rel igiosidade.
IV - O Deus de longe

A verdadeira profecia difcil de encontrar. Quem o


pregador que, na situao em que estamos, se atreve a dizer
que a sua palavra vem da "boca do Senhor"? Constantemente somos tentados a confundir os nossos sonhos com a voz da profec i a . Portanto, o pregador far bem em no id entificar - se apressa damente com Jeremias, nem a sua pregao com a profecia cor reta. r caracterstica da Palavra de Deus que ela ultrapassa todas as constataes humanas, at as mais ponderadas. Ela nunca fruto dos nossos pensamentos. Ela vem at
ns "de longe" , entrando na nossa existncia como Palavra estranha, imprevista, perturbadora. Essa a Palavra que setornou carne em Jesus Cristo. No ato da encarnao, a Palavra
sondou o mistrio abismal do pecado. Na cruz de Cristo tornou-se man ifesta ai ra de Deus sobre o pecado, mas tambm o
amor com o qual Ele busca o homem perdido. Sem aquela ira no
h amor, no h sa l vao. A proximidade sa lvadora de Deus cons iste justamente em que Ele vem at ns "de longe". A sua ira
nos compele ao arrependimento e condio, obriga-nos a abandonar as vises do nosso corao e a esperar somente n'Ele.
Ouvindo essa Palavra, seremos capazes de enfrent ar, como cristos, a complicada situao em que o nosso povo se encontra.

- 317 -

- 316 -

Poderemos, sem subestimar de modo algum os males que o esto


fustigando, falar-lhe palavras de consolao. Em sol idariedade com os que sofrem, acompanharemos toda iniciativa do governo, ou de outras instncias, que visa aliviar-lhe o sofrimento. Analisaremos as estruturas opressivas da nossa sociedade sem idealizarmos a potencial idade dos oprimidos.Aprenderemos a ver nos sinais dos tempos a 11 tempestade do Senhor 11 ,
sem adotarmos por isso uma atitude de conformis mo ou de resignao. Pois sabem~s que a ira de Deus se descarreg~u ~ma
vez para sempre em Gol gota. Em Jesus Cristo chegou ate nos o
verdadeiro Profeta, aquele que 11 esteve no conselho do Senhor 11
e que vem nos revelar toda a vontade de Deus para conosco.
V - Bibliografia
BREIT, Herbert. Meditao sobre Jeremias 23, 16-29 . ln: Calwer Predigthi lfen. Stuttgart, 1964, vol. 3. - HULST, AleXrlder Reinard. Meditaco sobre Jeremias 23, 16-29, ln: Herr,
tue meine Lippen auf , (ed. Georg Eichholz). Wuppertal-Barmen 2,
1961, vol. 5. - OSSWALD, E. Falsche Propheten im AT. TUbingen, 1962. - QUELL. G. Wahre und falsche Propheten, Versuch
einer lnterpretation. ln: Beitr~ge zur Fl:frderung christl icher
Theologie. GUtersloh, 1952, vol. 46/1. - RAD, Gerhard von.
Theologie des AT. MUnchen, 1960, vol. 2, pgs. 203-232. - RU_
DOLPH, W. Jeremia. TUbingen~ 1958. - WEBER, Otto. Predigt-Meditationen. Gl::htingen, 1967, pgs. 111-114. - WEISER, Artur.
Das Buch Jeremia. ln : Das Alte Testament Deutsch.G~ttingen 5 ,
1966.

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TRINDADE

13,44-46

K. F. Wehrmann

1 - Traciuo e comparao de tradues


v.44 - Com o reino dos cus acontece assim como com 1
um tesouro escondido num 2 campo; certo homem o encontrou,
e o escondeu (de novo); ento, na sua alegria 3 , foi 4 evendeu4 tudo o que tinha e comprou 4 aquele campo.
vv.45-46 - Com o reino dos cus acontece tambm assim
como com 1 um comerciante que andava procura de belas prolas5 - tendo encontrado uma prola preciosa, de grande valor 6 , foi e vendeu tudo quanto possua e a comprou.
ad l _ 11 omoios estin 11 - cf. Jeremias em 11 Die Gleichnisse Je~ p.100 - no se pode traduzir 11 es ist gleich ... ",
mas sim deve ser traduzido 11 es verh~lt sich mit dem Ktlnigreich der Himmel wie mit. .. 11 Assim traduz tambm Ulrich
Wi l ckens em "Das Neue Testament 11
ad 2 - cf. Jeremias, p.7-A2 eBl. Db. 255,1 - o artigo determinado onde esperaramos o artigo indeterminado; isto t1p1co na comparao semtica. Em tais casos o semita
pensa de maneira expl ci ta, tendo em vista o caso concreto.
ad 3 - cf. W. Bauer em 11 Wdrterbuch zum NT 11
acfLf - o tempo destes verbos 11 praesens historicum 11 cf. Jeremias,p.198.
ad 5 - cf. traduo do NT de Taiz e Wilckens.
ac1b - cf. W. Bauer
1 1 - Conte xt o e te x to
No cap. 13, Mt _apresen~a o bloco parablico, ampl i ando a coleao de parabolas ja encontradas em Me 4. Sete das
parbolas tratam do reino dos cus, das quais cinco so particularidade deMt (osvv. 24-52). Especialmente nestas mos tra-se a ligao entre aspectos escatolgicos e eclesiolgicos. O contraste entre discpulos e Israel, tpico em todo o Ev. de Mateus 1 recebe aqui e xplicao especial. Os dis-

- 31 8 cpulos sao os que vem, ouvem e compreendem, e os judeus


so os cegos e os surdos. Mas, ao mesmo tempo, dit o claramente (nas parbolas do joio - 13,24-30.36-43 e da rede - 13,47-50) que a igreja ainda um "corpus mixtum'~, indo em direo~ separao dos bons dos maus, a qual nao deve ser antecipada (cf. "Uberl ieferung und Auslegung im Mt.
Ev . " , d e Fl o rn k a mm, p . 16) .
_
As nossas duas parbolas, do tesouro e da perola, postas entre a do joio e da rede, que apontam para o juzo final, aparentemente querem ilustrar o comportamento daqueles que "ento resplandecero como o sol, no reino do_ se~
Pai, corno os justos" (Mt 13,43)., - o comportamento dos d1sc1_pulos:2ntrega total e obedincia radical.Jeremias,en~"Die Gl ~ 1ch
nisse Jesu" (p.89), afirma que as nossas duas parabolas sao
uma parbola dupla, cada uma trazendo o mesmo pensamento,
porm atravs de um quadro diferente, embora a mud~n~a.de
tempo dos verbos deixe duvidar que ambas, desde o 1n1c10,tenham sido transmitidas juntas, o que amparado tambm pelo
fato de que ambas constam no evangelho de Tom em lugares
diferentes. Mt, porm, 1 iga as duas parbolas pela palavra
"pal in". Mas da mesma forma ele liga a parbola seguinte (a
da rede) com as nossas duas pela palavra "pal in"; razo pela qual poder-se-ia pensar que as 3 parbolas juntas deveriam formar a percope de uma prdica; o ponto alto da parbola da
rede.porm, outro, semelhante ao da parbola do joio. Portanto, justa a delimitao de nossa percope (13,44-46) e
consider-la parbola dupla.
Antes de penetrarmos nos detalhes do texto, parece-me
indispensvel que nos preocupemos com a pergunta:
111

O que uma parbola sobre o reino dos cus?

Durante muito tempo, interpretavam-se as parbola s de


maneira alegrica; este mtodo j veio dos ~regos. Mas a trs da alegoria grega encontra-se uma filosofia que diferencia entre mundo material e ideal, procurando por uma correlao entre os dois. Este mtodo foi aplicado, com varia6es, desde os alexandrinos at JUl icher; e quando no mais
se podia pen sa r numa realidade supra-natural (transcendental) perguntava-se pelo contedo humano geral; conseqUentement e a i n t e r p r e t a o d e s t as p a r b o 1 as t o r n a v a - s e mo r a 1 i s t a - i s -

- 319 to, quem s abe, ainda justificad~ pel~ fato de que j no NT


visvel a linha do querigma a parenese. Mas as parbolas, indubitavelmente, querem falar do reino dos cus e ilustr-lo. A pergunta ento esta: Eu devo saber o que
a "basi leia toon uranoon" para entender a parbola? Ou a
parbola a nica maneira de eu poder enxergar algo e falar do reino dos cus? Percebe-se como esta pergunta nos
questiona a respeito de nossa escatologia. Ou o "eschaton"
est presente, por j ter acontecido (perfectum), ou o "eschaton" se realiza hoje, amanh e at o fim dos tempos. Ligada com isto est a questo: Como posso pensar a correlao entre este mundo imanente, verificvel com os nossos
sentidos, e aquele mundo transcendente, no verificvel com
os nossos sentidos? Observe-se que a bblia fala do "mistrio do reino dos cus" com os verbos "apocalyten e gnoonai". Conclumos, portanto, que o reino dos cus um mister1 o que no se deixa verificar anal iticamente,mas sim deve ser revelado a ns e ser reconhecido e percebido. Jesus,
falando do reino dos cus em parbolas, portanto da opinio que o reino dos cus se revela atravs das parbolas.
Elas so a nica maneira adequada de falar do mistrio.
Reino e rei so palavras com valor simblico. O smbolo quer expressar algo que, em ltima anlise, no se pode expressar ou apresentar. O smbolo em si no aqui lo
que para ser apresentado, mas sim transparente para aqui lo e aponta para aqui lo. Portanto, desta forma, h uma
correlao entre o smbolo e o simbolizado, de modo que,
atravs do smbolo, podemos "enxergar e perceber" o simbo1 i zado.
O que se pode tornar smbolo nas parbolas de Jesus?
Tudo aqui lo que faz parte do mundo natural e humano
(colheita, convivncia entre pessoas) - resumindo: a vida
natural e humana. No um acaso que o evangelista Joo no
fala de "reino dos cus". e sim de "vida".
Onde o reino dos c~s acontece, realiza-se vida. Deus
reina como rei, possibi 1 itando e garantindo a vida do povo
e exigindo a sua obedincia. Assim~ para Jesus, "basi leia
toon uranoon'' o abso 1 uto mesmo, e Deus mesmo.
IV - Observaes exegticas
- "o reino dos cus" - cf. tem

111.

- 32 l -

- 320 - "tesouro" e "prola" - estes quadros, j no AT, so


usados para glorificar a s abedoria (Prov 8, 18. 19; 2,4;3,15)
- o reino dos cus um tesouro to grande que se pode sacrificar tudo em favor dele.
- "escondido num campo" - Jeremias, em "Die Gleichnisse
Jesu" 1 p. 197, diz que pode-se pensar num vaso fechado e
cheio de moedas de prata ou pedras preciosas, o qual foi escondido em poca de perigo (por exemplo : na guerra) .
- "certo homem o encontrou" - pode-se imaginar um agregado lavrando, e o arado bate contra o vaso, de modo que
o lavrador precisa parar e tirar o "obstculo"; este se re vela como grande tesouro, encontrado por acaso, sem ser procurado.
- "e o escondeu (de novo)" - cf. Jeremias - o semi t 1 co,
que no conhece compsi ta, no expressa o gra u ("nunace")
"de novo", mesmo quando ns o acharmos indispensvel. O homem escondeu o tesouro rapidamente para que este no fosse
observado por ningu m, nem roubado. Sobre a situao legal
no se ref l e t e .
11
na sua alegria, foi e vendeu ... e comprou ... 11 - vendeu tudo o que tinha (o existenc i al), tornou-se pobre, sacrificou tudo para poder comprar o campo com o tesouro. Assim age o discpulo de Cristo, sendo confrontado com o reino dos cus, com Deus. Tudo o que o homem era e tinha antes,
torna-se de pouco va l or em comparao com aqui lo que encontrou e quer possu i r. Observe-se a entrega total! Isto sacrifcio, ou at loucura? Para pessoas no atingidasspode
parecer ass i m. Deus compromete totalmente (cf . Mt 10,37.39).
Ma: para o ~ornem alegria. Este paradoxo tpico quando o
reino dos ceus se realiza. Isto fica evidente tambm na segunda parbola.
- "comerciante que andava procura de belas prolas"
- Pode tratar - se de um comerciante de prolas ou de um comerciante q~alquer que tem o 11 hobbyl 1 de adqu i rir belas prolas. Mas e ev id ente que ele r i co e que ele por paixo
por prolas est procur a .Obs erve - se a diferen a do encontrar! O l avrador achou por acaso, o comer ciante achou procurando, aparentemente "sab e ndo" da existncia de tal pro la. Mas o seu procurar no pode ser considerado mrito, e
a surpresa de uma certa forma tambm aqui existe.
11
uma
preciosa prola de grande valor 11 - havia prolas de i me nso valor. Diz em que Clepatra possua uma p-

rola no valor de 90 ou 100 mi lhes de cruzeiros.


11
foi e vendeu tudo ... e a comprou" - vale o mesmo
que j dissemos acima. L o pobre vendeu tudo, o existencial, aqui o rico vendeu tudo, inclusive o existencial,para poder comprar a prola. Tudo o que possua, para ele
torna-se pouco, ou nada, em comparao com aqui lo que encontrou e quer possuir. Entrega total! Isto sacrifcio,
ou at loucura? Para pessoas no atingidas s pode parecer
assim. - Mas l, na outra parbola, falou-se em 11 na sua alegria" e aqui no. Mas mesmo no sendo expresso aqui, s
pode ser o mesmo motivo: ser vencido - por quem? - pelo reino dos cus, por Deus revelado em Cristo.
Jeremias, em 11 Die Gleichnisse Jesu 11 , p.199 , destaca
que o importante na parbola dupla no o fato de os 2 homens sacrificarem todos os seus bens ,mas sim a motivao para esta resoluo: o ser vencido pela grandeza daqui lo que
e ncontrar am. Por causa disso nenhum pr eo lhes pareceu alto demais. Sem pensar muito, e com a maior evidncia entregaram tudo que possuam. - Sem dvida, isto impo~ta n
te! Se no fosse assim,a atitude dos homens tornar-se-ia
uma 11 boa obra 11 Mas me parece que Jeremia s corre o perigo
de nivelar um pouco o escndalo desta pa ~ bola. St~hlin,em
11
Predigthi lfen 11 1, pp.94 s., admoesta no seguinte sentido:
Aqui lo que ns imanentemente consideramos leviano e imprudente, o quadro adequado para a imensa importncia e necessidade da salvao, a qual de maneira a lgu ma pode ser um
objeto de troca ou negcio. t perigoso se colocarmos a alegria pelo tesouro achado e pela prola encontrada muito perto da prudncia humana e assim recomendarmos o discipulado
como a prudn~ia da vida. Pois tamb~ esta_pa r bo l a dupla,
como todas, nao descreve aquilo que e razoavel, mas sim 0
"grotesco e paradoxd 1 de que se trata sempre na confrontao com o reino de Deus.
V - Escopo
Levando em considerao aquilo que foi dito, tentemos
formular o escopo:
O reino dos cus est oculto,mas foi revelado em Cristo.
J aqui reside o escndalo. Cristo, porm, pode e quer ser
encontrado, seja por gente que est procura, seja por gente que no procura. O encontro sempre ser surpresa. A con -

- 322 frontao com Cristo, na perspectiva humana nao deixa de


ser um esc~ndalo, pois ela nos compromete totalmente, e as sim ela nos quer vencer totalmente ,m udando toda a nossa es cala de valores. Onde isto acontecer, acontecer o reino dos
ceus e haver alegria e vida nova.
VI - Meditao
Muitas vezes pode-se ouvir pessoas dizendo: ''Eu no
sinto, no vejo, nem ouo Deus. S ouo falar dele de forma abstrata e intelectual." - No demos logo a respos ta,
mas tent e mos ouvir o que est sendo dito! As nossas pregaes aparentemente no ~sto pos~ibi li~and~ ~ue as ?es~
soas "sintam,vejameouam o Deus v1vo.Ser1af a c1l dema1sd1zermos que as pesso;:is no querem ouv ir e a legarmos que elas
so gente com o corao endurecido. Ser que ns nos esquecemos do fato de que se trata de um mistrio, sobre o qual
no podemos dispor de maneira lgica e analtica?! O prprio Jesus fala do reino doscus em quadros, em smbolos,_
em parbolas, e lembremo-nos do porqu!Jesus fala de mane ira que os seus possam ''ver, sentir e perceber" aqu i lo de
que ele est fa lando! E ns, na preparao da prdica, tambm estamos ''vendo,sentindoe percebendo" em sua totalidade aqui lo de que ele est falando? Ou usamos logo as nossas "ferramentas" para exami nar o te x to de mane ir a anal tica, sem perceber que se trata de quadros do reino dos
cus? Quem sabe, talvez seja por isso que as nossas prdicas se tornam to intelectuais, abstratas e moralistas.
Seria importante ns vermos o campo e o agr~gado l avrando, suando para ganhar o seu po cotidiano. Ele passa
por cima do campo no qual est escondido o tesouro de sua
vida, sem o saber . Deus est escondido para ele, e quem sabe para ns tambm, apesar de sermos telogos. No que diz
respeito ao re in o dos cus, nada evidente - assim como para ns evidente que 1 kg de carne d uma boa sopa. Muitas
vezes Deus parece estar morto; isto ns tambm j exper i men tamos, no ? Por isso muitos dei xa ram de "procu r ar ", deixa ndo a espera na de encontrar :J "prola", conformando-se
com esta vida sem se ntido e esperana. Mas vejamos novame~
te o campo, o tesouro est ai i escondido! O homem no o ve
ainda, mas est perto dele. O seu arado bate contra um "obstculo"; o homem pra, curva-se para tirar aquela "pedra a-

- 323 trapalhadora". E veja, o que h a ? Um vaso, uma caixa nervoso ele abre . .. um tesouro imenso!
O tesouro escondido, coberto com terra, l ele no ser vi a para nada. Mas agora ele est sendo visto, agora ele est trabalhando en1nosso agregado vencendo-o, libertando-o ,
tomando conta dele, atra ind o-oa ponto de ele ficar "louco
de alegria". Assim tambm age a prola no negociante. Ambos so total e completamente vencidos, vencidos por aquilo que encontraram.O tesouro e a prola levam os dois homens a fazerem aquilo que nenhum homem sensato far i a (observe - se que o moo rico de Mt 19, 16-30 t:Jmbm no o fez
por prprio esforo). A inclu sive pra a nossa mora l e
alegamos a res ponsabilidade para com o mnimo necessrio
para a existncia, etc. Mas os dois homens largam tudo,no
sentido da palavra, assim como os discpulos dei xaram tudo quando Jesus os chamou.
Isto o risco da f, a coragem da f. Isto eu no
tenho a partir de mim mesmo nem consigo pelo prprio esforo, mas me dado! Portanto, isto s pode ser considerado
loucura, imprudncia e irresponsabilidade por aqueles que
no ''viram, nem encontraram, nem foram atingidos, nem vencidos". Isto um escndalo inevitvel.
Mas para os dois homens e para tantos outros era alegria, era verdadeira vida viver com este Cristo. Pois assim eles experimentaram um refle xo, um antegozo do eterno,
em meio de um mundo passageiro. Hoje o nosso arado bate
tambm contra um "obstculo" (concretize -o). Voc e eu, ns
queremos parar e verificar o que . Pode se r o incio de
uma libertao e transformao em nossas vidas, o inci o de
a l egria verdadeira.
VI

Sugestes para a disposio de uma prdica.

A
O escndalo : O reino dos cus, Deus, est oculto .
B 1) O reino dos cus est presente; ele pode e quer
ser encontrado.
2) Na confrontao com o reino dos cus verifica-se
que se trata de um tesouro to precioso que ultrapassa tudo aqui l o que poderamos esperar o u imaginar.
3) Este tesouro nos vence por completo, nos lib e rta e transforma e nos d uma nova escala de valores.

- 325 -

- 324 -

DO M1 NGO AP S

l l?

TRINDADE

4) Isto torna-se escndalo e loucura para os nao


atingidos; para os atingidos e vencidos, porm, torna-se
alegria e vida verdadeiras.
C
Hoje o seu e o meu arado batem contra um "obstculo", - vamos parar e verificar de que se trata?

Ma

VI 11 - Bibliografia

1 - Observaes Litrgicas

BORNKAMM,GUnther/e outros. Uberl ieferung und Auslegung


im Matth'lus-Evangel ium. 5~ ed., Neuki rchener Verlag, 1968.
- HANSSEN,Olav. Gleichnisse (anotaes de prelees). Hermannsburg.-JEREMl AS ,Joachim. Die Gleichnisse Jesu. 7~ ed.,
Gettingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1965.- LOHMEYER,E/SCHMAUCH ,W. Das Evangel ium des Motth'lus.Gettingen, Vandenhoeck
& Ruprecht, 1967. - SCHLATTER,Adolf. Der Evangelist Matth'lus. Stuttgart, Calwer Verlag, 1963. - THIELICKE, Helmut.Das
Bllderbuch Gottes. Stuttgart, Quell-Verlag, 1957. - IWAND,
H. -J. Predigt-Meditationen. 3~ ed., Gettingen, Vandenhoeck
& Ruprecht, 1966. - LANGE,Ernst, ed. ?redigtstudien. V/2,
Stuttgart-Berl in,Kreuz-Verlag, 1971. -ST'AHLINlWi lhelm.Predigthi lfen. Vol 1. Kassel, Joh. Staude Verlag, 1958. - VOIGT,
Gottfried. _QJ _e grosse Ernte. Gettingen, Vandenhoeck & Ruprecht, 1970. - SCHNIEWIND,J. Das Evangelium nach Matth'lus.
NTD. G~ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht. 1964.

Este domingo conclui o segundo ciclo da poca de Trindade, cujo ensino se preocupa com os aspectos da nova vida
de justia. Deve-se utilizar como intrito pelo menos os
primeiros seis versculos do Salmo 68. As leituras bbl icas, tanto Lucas 18,9-14 como 1 Corntios 15,1-10, correspondem bem ao escopo da prdica. O contraste refletido nos
dois textos prepara os participantes para ver mais claramente a lio entesourada obscuramente no texto da prdica. De relevo especial seria o texto de 1 Corntios, no
qual o Apstolo Paulo afirma no v. 10: por certo no eu, porm a graa de Deus comigo.
Como alternativa orao-coleta indicada no manual
antigo sugerimos a seguinte:
"Onipotente e eterno Deus, que sempr: ests mais pronto a ouvir do que ns a suplicar, e nos das mais do que desejamos ou merecemos: Derrama sobre ns a tua misericrdia,
perdoando o que nos pesa na conscincia. Renova a nossa comunho em Jesus Cristo e com o prximo, doando-nos as bnos que no somos dignos de pedir, seno pelo merecimento
de Jesus Cristo, Teu Filho, Nosso Senhor. Amm."

e u s

23, 1-12

Richard Wangen

1 1 - Consideraes exegticas
Feita a introduo ao Evangelho de Mateus, passaremos
diretamente ao especfico do texto que temos em maos, a saber, Mateus 23, 1-12. O captulo 23 faz parte do terceiro
bloco (cf. obs. introdutrias), que relata sobre o agir de
Jesus em Jerusalm e os conflitos com os grupos-lderes do
povo_judaico. Mateus se baseia em Me 12,37b-40. Alguns comentarias apresentam o captulo como parte de um bloco de
ensinamentos ligado aos caps. 24 e 25 e estruturalmente colocado nesta ordem para corresponder li tera riamente ao Sermo
da Montanha. De modo semelhante, o sermo do cap. 23 inclui
o povo e os discpulos. O intuito primordial de Mateus

- 326 dar testemunho ao seu ambie nte jud~ico de que Jesus _o Messias. Em termos gerais, o autor vai ao encontro do le'. to:
do evangelho respondendo seguin~e pe~gu~ta: O que s1gn1fica este evangelho para~ comunhao cr1sta.~o ~u~ se refere a expresso da nossa fe e da nossa obed1enc1a.

o tema obedincia desempenha um i mport ante pap e ~ no


e vangelho de Mateus. Esse_p~p~l em sua ntim~ 1 ig~ao com
a l e i caracteriza este s1not1co de uma maneira singular.
Este fato, por sua vez, d margem a srios equvocos de interpretao. A briga entre Jesus e os fariseus apresenta-se, no primeiro evangelho, quase com? o motivo con~~to:
t evidente que o autor do evangelho tinha uma exper1enc1a
vivencial com os fariseus.
_
Alguns comentaristas alegam qu e o apo~o que Jesus d~
ao ensino dos escribas e fariseus (23,3) nao pode conferir
com uma expresso dele, e qu e a crtica aos fariseus t ampouco corresponde realidade 1 Porm, a atitude de Mateus reflete a sua situao peculiar. Bornkamm comenta:
"nos seus primeiros versculos, o discurso (sobre os fariseus) demonstra claramente que a congregao no se considera desligada da unio com o judasmo (23,1-3). Mas, ao
mesmo tempo, em contraste com a hipocrisia dos fariseus e
escribas, demonstra a natureza de comunidade crist." 2
Parece que o evangelho em si e especialmente o captulo 23
so endereados s comunidades crist s cujas estruturas e
diretrizes sofreramdo utrin ar iament e forte i mpacto dos fariseus. Estes, depois da destru i o do templo em 70 d.C., assumiram a liderana no judasmo em disper so 3
Mateus
escreve ento seu evangelho vendo a situao atravs deste prisma.
Cons id e re mos o texto em pauta tendo em mente qu e o
captulo inteiro pesa na int e rpretao. Deve-se le mbrar
tambm que, conforme o intuito de Mateus, a estrutura do
s eu evange lh o possui uma forte consistncia interior.
Parti nd o de 23,1,notamos uma difere na e ntre os ender e ados neste trecho, que so as multides e os discpulos,
e os do Sermo da Montanha (5, l), onde apenas os discpulo s so endereados vista (o u na presena) das multides.
t e vidente que o nosso texto abrange tambm o povo e no
soine nte os di sc pulos . V.2: "na cadeira de Moiss''. Esta
no uma expresso puramente figurada. Este m vel realmen-

- 327 te existia na sinagoga. Ele representa a autoridade magist er ial de Moiss e a inferncia aqui refere-se a uma instituio que reivindica para si a ltima instncia em termos
de estipular o padro da verdade e do comportamento .
V. 3: "fazei e observai". E'. duvidoso que Jesus de fato tenha mandado obedecer os escribas e fariseus. 4 No entanto, uma tal interpretao seria possvel se Jesus queria dizer que se l e vasse o ensino at suas ltimas conseqUncias no sentido do mandamento duplo (cf. 22.38). "Mas
no imiteis as suas obras'' - As suas obras levam a uma falsa segurana, e no a uma confiana total em Cristo.
V. 4: "fardos opressivos" - um retrato representando
a acumulao de leis que os escribas e fariseus exigem do
povo, e pintado como um feixe de lenha que vai se acumulando nas costas do portador 5 "Sem nenhuma vontade de modificar" - uma forte indicao da arrogncia dos fariseus e
escribas em manter sua posio de amarrar e controlar a
conscincia do povo sem a mnima vontade de alivi-la. Enfatizada aqui a falta de misericrdia deles em contraste com o perdo libertador de Cristo.
Vv. 5-6-7: "para serem vistos pelos homens" - Estes
trs versculos demonstram as maneiras ostentativas que os
fariseus utilizam para atrair ateno sobre si. Retrata incisivamente seu egosmo. Em contraste, vemos os trs pr x imos ve rs cu 1os . 8-9 -1 O - "Vs , porm! 11 Os 1ti mos 5 ve rs culos do texto ' esto endereados diretamente comunidade
crist. Esse procedimento cristo e comunitrio contrastado com o procedimento farisaico e tem carter de regra
para a comunidade 6 Os vv. 8 e 10 talvez faam parte da reda o de Mateus, pois so dirigidos aos "irmos" (adel f oi)
- as multides (hoi ochloi) no entenderiam essas palavras. 7
O v.9 fortalece a linha do texto na sua Teo-Cristo-Centricidade. A expresso "os irmos" refere-se aos membros da Igreja e, neste versculo, ressalta que a nica autoridade reside em De us. Mateus cuida para manter a anttese "aqui na
terra" e "o que est nos cus". Uma posio notvel na crtica de Jesus aos fariseus que o critrio do Evangelho
exterior a ns, o que significa que no possumos a ltima
me dida com a qual seremos julgados, ao contrrio dos fariseus e escribas, que reivindicavam essa regalia para si mesmos. (Algo semelhante acontece hoje em dia com alguns que
"tm Jesus no corao" e arroCJam para si o direito de se r em

- 329 -

- 328 o nico depsito da verdade!)


Os vv. 11 e 12 indicam de que maneira deve ser "praticada" a sua f. No em ostentaao, mas em servio.
V. 11: "o maior dentre vs ser aquele" - Esta frase
tem um sentido duplo, representando um ponto-chave para
a interpretao deste texto. Por um lado, ela indica ounico caminho para a comunidade crist. Este caminho e o
caminho do servio. Isto se torna um imperativo para ns.
Por outro lado, o nico que conseguiu cumprir este servio
de maneira plena Jesus, o Messias. Isto o indicativo
para ns, anterior a qualquer servio nosso em prol da
nossa f. Somente assim a comunidade crist poder desempenhar sua funo instrumental. Os verbos estai , hypsoosei ,
tapeinoothesetai, futuros indicativos, demonstram o sentido
escatolgico destas passagens. A direo deste versculo
aponta para o futuro, em contraposio dos escribas e
fariseus. Este sentido leva a um rompimento com o passado
e pe a lei e a obedincia em funo do futuro em Cristo.
Em resumo, qual o nosso confronto com o evangelista
Mateus que poderia construir uma ponte para o apelo deste
texto para hoje? O que que Mateus queria testemunhar para a sua situao vivencial? Se captamos o esprito que perpassa todo o evangelho de Mateus, ento podemos depreender
o segui~te: Mateus se defronta com dois problemas que ameaam a fe de sua comunidade. Um a forte presena da comunidade judaica que quer se impor doutrinariamente sobre os
cristos: tambm poder-se-ia denomin-los judaizadores. A
outra ameaa to perniciosa quanto a primeira: a de anomia, ou ausncia de lei, uma queda completa para o libertinismo. Parece que est entre estes dois perigos o ponto ao
qual o evangelista quer nos conduzir.
O alerta torna-se mais aguado se percebemos que o estilo parablico de Mateus no visa simplesmente uma diatribe me nos suti 1 contra os escribas e fariseus, isto , dedar
os de fora. t m~is provvel que a caricatura dos fariseus
seja uma pasquinada contra a prpria comunidade crist. Se
for este o caso, o alvo deste captulo centra na Igreja e
os escribas e fariseus so as figuras leigas que representa m o atesmo prtico mascarado de piedade. Compara-se o
captulo com o profeta Nat, do Antigo Testamento, que aponta o dedo para Davi e diz: Tu s o homem! (cf. 11 Sm 12,7)~

Escopo: Somente em Cristo a graa ativa a comunidade


crist para um empenho aberto e salvador em prol do mundo:
111 - Meditao
O texto levanta para ns uma poro de reflexes atinentes situao da Igreja no seu contexto brasileiro. O
primeiro fenmeno deste contexto se refere espiritual idade do povo. Esta atitude to arraigada conduz a duas ex~resses anmales frente ao apelo do Evangelho. Uma delas
e o sincretismo que se evidencia visualmente atravs de
despachos, terreiros, procisses. A propaganda de TV, jornais, rdio e outros meios, leva o povo a confundir a f
com o bem-estar. O problema do alto custo do atendimento
mdico, a baixa renda e a ineficincia do INPS ou a falta
de sentido de vida conduzida por uma tecnologia desumanizada, impelem o povo para a magia e solues imediatas que
encobrem sua vassalagem a uma sociedade de consumo.
A outra sada fugir deste mundo para o alm-tumulo
em termos de legalismo e sentimentalismo que narcotizam e
divorciam o crente de sua realidade diria, precisamente
onde Cristo requer sua atuao como praticante da lei dupla
(Mateus 22,37-39). A escatologia implcita no texto de fato
subentende galardo, porm no pressupe uma fuga do mundo,
nem oferece margem para abstrair-se da realidade.
A estranha tenso que Mateus mantm entre a escatologia crist e a lei se torna importante para ns em vista
dos interesses apocalpticos promovidos no meio do nosso
povo. Exemplificados pela literatura tal como a de Hal Lindsay, ''A Agonia do Grande Planeta Terra", e Arthur E. Bloomfield, "O Futuro Glorioso do Planeta Terra". Mateus no visa a escatologia como uma sada fcil para o alm-tmulo,
que nos libertasse do engajamento neste mundo. Tampouco no
considera a lei como uma possvel segurana para a salvao
pessoal. Ao contrrio, a lei tem uma funo instrumental do
a~or de Deus para com Seu mundo. (A lei desempenha uma funao bem diferente no evangelho de Mateus do que nas epstolas de Paulo). Bornkamm comenta sobre esta tenso no primeiro evangelho: "Bem-aventurana e exigncia so sem dvida
uma unidade oculta" 9
O outro fenmeno parte da ndole da nossa prpria igreja. Ela se sente inserida como corpo estranho na cultura

- 330 brasileira. Se esta alienao proviesse da sua fidelidade


ao Evangelho, ela seria defen s vel. Infelizme nte, na maioria das vezes, este no o caso. Ela se encaram uja na sua
tradio e etnicidade. Ela foge do engaj a mento requerido
pelo Cri sto para um mero "cumprimento do de ver". Muitas
vezes ouvi da boca dos nosso s membros depois de um culto
de Santa Ceia na Sexta-feira santa: "Bem, cumpri o meu dever e me sinto melhor". Precisamente neste sentido acusa
Jesus os fariseus: "Dizem e no praticam". Esta atitude conduz para uma comunidade exclusivista e divorciada dos afazeres do dia a dia. Alm disso, o cunho individualista ainda predomina entre ns; a responsabilidade comunitria
muitas vezes afogada pela mesquinhez e competividade oriunda de padres egostas de racismo, status, sex ismo e "galguismo" econmico. Enfim, a comunidade "no um fim em si,
ela antes possui funo instrumental" declara o documento
do Catecumenato Permanente 10 Isto confere com o texto em
pauta. A este ponto voltamos agora.
Estas reflexes levam-nos a perguntar qual o princpio que caracteriza a nossa comunidade. Um pri~cpio de excluso ou um princpio de incluso? Pois a per1cope perante ns tem especificamente esta preocupao em mente. Ela
questiona o nosso exclusivismo. 11 0 grande debate com os fari se us em Mateus 23 se determina pela preocupao insistente que a vontade de Deus seja feita" 11
Esta vontade nao permite e xclusivi smo , e s i m, nos l eva a aplicar a nossa obedincia l e i em termos de um princpio de comportamento tico ou, nas palavras de Goppelt,
"tica de relao'' 1 2 . Esta tica de relai:o "determina o
meu exc lusivis mo ou inclusivismo ou o da minha coiuunidade.
Tentemos compreender estes dois princpios para a nossa situao atual. Apesar de nfase colocada na obedincia
e na lei , Mateus no prope uma comunidade fechada ou exc 1 us i vis ta como modelo. Em termos concretos, o que significa ria o princpio de excluso?
O princpio de exc lu so em pessoas ou em comunidades
caracteriza-se por uma poro de man i festaes facilmente
id e ntificveis. O "exclusivista" estaria, em tese, contra
qualquer inovao, ev idenciada em pessoas, estilos de vida, valores, idias, programas ou organizaes. Ele essencialmente antivida e antidilo go porque tem medo . Todas
as suas relaes se expressam de maneira defensiva. Ele

- 331 sempre precisa ter razo. No tolera i mperfeio nos outros,


naqueles que lhe so ntimos, e sobretudo em si mesmo. A tend ncia dele de diminuir a compaixo pelos outros e os seus
preconceitos aumentam. O pa ssado e as suas normas se tornam
uma obsesso. Perguntamos: o que que o exclusivista exclui?
Ele rejeita pessoas, especialmente pessoas de outras raas e
religies. Ele rejeita novas idias, valores e experincias.
Um culto em nova forma, por exemplo, no seria aceito. Classes de pessoas marginalizadas seriam julgadas como malditas
e irrecuperveis. Ele se sentiria bem com estruturas rgidas, seguras e controlveis, tanto de governos, quanto de
igrejas. O pior para ele que ele se coloca como juiz sobre outras pessoas e eventos e, deste modo, automaticamente
exclui participao (comunho) de outros na sua vida ou se
exclui dos afazeres deles. Desta maneira, ele tolhe toda
possibilidade de crescimento, mas, pior ainda, ele usurpa
o lugar de Deus e desobedece o primeiro mandamento. Este
quadro serve tanto para caracterizar uma pessoa, como uma
comunidade.
Em contraste, como que podemos encarar o princpio
de incluso? Em primeiro lugar, o "inclusionista" est vol~ado para o futuro ao invs do passado. Podemos dizer que
e escatologicamente orientado. Est aberto para novas idias, novas possibilidades. O seu ponto de vista no fechado ou dogmtico. Ele se conhece a si mesmo porque est sempre aberto para auto-crtica. Sua vida est em processo e
em crescimento. Ele est consciente da necessidade da com u~ho, participao, apoio e crtica dos outros para a sua
propria integridade. Mas, pergunta-se, um inclusionista no
seria um oportunista, fraco e sem opinio prpria , um obsequiado perante os poderes deste mundo, vacilante e inapto
P~ra liderana ou para o Reino de Deus? Certamente Cristo
nao estava preconizando este tipo para o discipulado na sua
desavena com os fariseus? 13
No existem traos importantes na tradio que devemos
guardar? Ser que devemos jogar tudo fora? Reuel Howe res~onde que "o inclusionista" sabe que ele necessita das rai ze: e perspectivas da tradio para tratar questes contemporaneas de uma manei ra informada. Ele percebe que as formas pelas quais a tradio chegou a ns talvez tenham que
mudar, mas o inclusionista tambm est pronto a admitir que
a superao (death) destas formas j est inerente s suas

- 332 -

prprias estruturas e que sua lealdade primordial s e de ve


quilo que vital no seu contedo e perspectiva da tradio".14
Intimamente ligadas tradio esto as instituies,
em nosso caso, as instituies religiosas. Como a tradio,
a instituio tambm t e nde a colocar categorias que e xcluem
outros a fim de perpetuar sua prpria e x istncia. Toda a vida de Jesus representou um ato de incluso. Ele rompe categorias de excluso que at hoje temos srias dificuld a des
em abandonar. O texto contesta as tentativas dos escribas
e fariseus de formarem critrios para controlar pela lei
quem deve ser ajudado e quem no. A distncia e de maneira
calculista, eles querem decidir quem era o prximo. Para
Jesus, a obedincia lei significa que "os homens setornam prximos um do outro atravs da situao histrica especfica, no atravs de uma casustica, mas quando Deus
lhes poe no caminho um homem que necessita de au x lio abnegado (Lc 10,30 e Mt 25,35ss)" 15 .
Tocamos de leve nos dois princpios, o de excluso e
o de incluso. Vale a pena meditar mais profundamente sobre est~s dois princpios em relao a nossa prpria comunidade
Temos nos colocado categorias (abertas ou acultas) de excluso que no coadunam com a vontade de Deus?
_Se parssemos neste ponto, teramos que dizer que adistorao do texto seria total. Infelizmente muitos o fazem. A
tenso que Mateus mantm em todo o seu evange lho entre lei
e_ Evangelho, irritante. No entanto, assim que o evangelista consegue o seu alvo, o de demonstrar com preciso,baseado no pensamento legalista dos judeus, que Jesus , de
fato, o Messias.
Este problema no menos grave hoje. Especialmente num~ igreJa onde tradio e etnicidade desempenham um papel
a1n~a tao marcante. Em primeiro lugar, no levamos a lei to
a serio; pior ainda, nosso individual ismo e origem tendem
a envergonhar-nos de receber algo de graa (1 iteralmente falando) .
-Perante uma economia que exige produo e consumo, aprendemos bem o dom de dar, pois muitas vezes isto se torna sinal do nosso poder - dou com orgulho porque eu tenho
o controle deste dar; ganho eu prestgio perante os outros pois nos conformamos com este sculo e indicamos o nosso
status mostrando o nosso poder de produo. No entanto, des-

- 333 prezamos aquele q~e no pode produzir. O nosso dar anulado pelo fato de nao sabermos receber. Nisto reside a nossa pouca f - a falta de vontade de receber a graa de Cristo. Por isto os fariseus foram retratados como leigos ateus
com mscara de piedade. Eles no partiram da graa imerecida de Cristo para a prtica das suas obras, mas suas obras
partiram da falta de f. Partiram de um egosmo centralizado no seu prprio poder de salvar-se. Bornkamm comenta sobre este fato: "A obedincia se torna algo que se pode medir, que se pode demonstrar, a ao transforma-se em obra,
as obras se renem em um capi ta1" 16
No de admirar que os telogos da 1 ibertao acentuam
a solidariedade de Jesus com os pobres! Quem mais hoje em
dia sabe receber esta obra de Cristo (Mateus 5,l7b - no vim
revogar mas cumprir)? Esta afirmao de Jesus precede tudo
o que dissemos acima 11 0 evento do cumprimento j est presente!1111. A parte mais difcil comunicar comunidade com
clareza esta anterioridade de Jesus (Joo l, 12 - mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus). S podemos partir desta graa, mas tambm
a obedincia desempenha um importante papel para o cristo.
Como importante insistir com o nosso povo que no existe
nenhum ti 1 da lei que sejamos capazes de cumprir! Ao mesmo
tempo, -nos exigido o cumprimento total dela. Unicamente
assim somos confrontados com a necessidade do 11 arrependimento total", e podemos compreender que a "entrada no servio
do reino de Deus, liberta tambm para o prximo" 18 Somente
assim pode a "inclusividade 11 do cristo ser compreendida em
toda a sua radical idade!
IV - Um possvel roteiro para a prdica
Tema: Vamos vivenciar a graa de Cristo!
1. Quais as garantias abertamente declaradas e sub-entendidas que o mundo oferece para dar segurana nossa vida?
A.As Promessas do mundo secular.
B.As seguranas que a religiosidade oferece.
1. A religiosidade que nos cerca (espiritismo, pentecostal ismo, etc.)

- 335 -

- 334 2.A segurana que as tradies evanglicas of e recem


(Batismo, contribuio, enterro - a raa?) .
Essas garantias valem para todos?
A. Privilgios para poucos.
B. Privilgio para os evanglicos.

11.

111.A reivindicao radical do evangelista Mateus - 5,


48: "Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai Celeste perfeito".
A. O cumprimento desta lei exigido (cf. a falsa segurana dos escribas e_fariseus) de to~os?
B. Cristo cumpriu o que nao podemos cumprir - a Graa.
IV. A prtica da lei em Cristo.
A. A graa nos liberta para servir o nosso prox1mo.
1. No precisamos servir a ns mesmos, pois Cristo
o nosso servo!
2. Viso - os olhos se abrem para os e xcludos da comunidade.
B. Na "tica de relao 11 (uma nova comunho) erguemos
no meio da sociedade um sinal do reino dos cus.
l. A formao de Cristo se efetua entre os irmos (cf
Bonhoeffer).
2. An solidariedade de Cristo para conosco recebemos
foras para aceitar a cruz.
V - Notas bibliogrficas
l. J.C.Fenton, Saint Matthew, p. 85
2. Bornkamm, Tradition and lnterpretation in Matthew,
p. 21.
3. Reinhart Hummel, Die Auseinandersetzung ... ,p . 31
4. J.C.Fenton, Saint Matthew, p. 366
5. Schniewind, p. 225
6. Schniewind, p. 226
7. M1 Neile, The Gospel according to St. Matthew, p. 33
8. J.C.Fenton, Saint Mathew, p. 364-65
9. Guenther Bornkamm,Jesus de Nazar, p. 10
10 . Documento Catecumenato Permanente, p. 5
l l. Gerhard Barth, Tradition and lnterpretation in Matthew, p. 6

12. Leonhard Goppelt, Teologia do Novo Testamento,


p. 136
13. Reuel L. Howe, Survival Plus, pp. 25-41
l 4 . 1b i dem, p. 38
15. Leonhard Goppelt, Teologia do Novo Testamento,
p. 137
16. Guenther Bornkamm, Jesus de Nazar, p. 98
17. Leonhard Goppelt, Teologia do Novo Testamento,
p. 132
18. 1b idem, p. 136
VI - Bibliografia
BARTH,Gerhard. Matthews understanding of the Law, ln:
Tradition and lnterpretation in Matthew. The Westminster
Press, Phi ladelphia, 1963.-BORNKAMM,Gnther. Jesus de Nazar. Petrpolis, Vozes, 1976.-COMISSAO Catecumenato Permanente. Pol grafo Discipulado Permanente.:. Catecumenato Permanente. 1975. - FENTON, J.C.Saint Matthew. The Pelican New
Testament Commentaries. London. Penguin Books lnc. 1963.
- GOPPELT, Leonhard. Teologia do Novo Testamento, Jesus e
a Comunidade Primitiva. So Leopoldo, Editora Sinodal ,1976.
HOWE, Reuel L. Survival Plus. New York,Seabury Press, 1971.
- HUMMEL, Reinhardt. Die Auseinandersetzung zwischen Ki rche
und Judentum im Matthaeus - Evangelium. Mnchen, Chr. Kaiser Verlag, 1963. - M1 NEILE, Alan Hugh. The Gospel According to St. Matthew. New York, Macmi llan, 1965. - RE5D, Luther D. The Lutheran Liturgy. Philadelphia, Muehlenberg
Press, 1947 - SCHNIEWIND,Julius. Das Evan~elium nach Matthaeus. ln: Das Neue Testament Deutsch. 12- ed. Goettingen,
Vandenhoeck & Ruprecht, 1968.

- 337 -

- 336 1 1 1 - Te x to
D

N DE P E N Dt N C 1 A

DA

m o t e o

2, l -4

S i l vi o Me i n cke
1 - O endereo da carta
Fosse oer.ereadc ex clusivamenteTimteo e Paulo no careceria de acentuar a l eg iti midade do se u apostolado (1, l;
2,7) junto a este seu grande colaborador e 11 verdadeiro fi lho na f 11 ( 1,2), a quem j encarregara de importantes tarefas (1 Tm 3. ls; 1 Co 4, 17s; 16, lOs; At 19,22; Fp 2, 19s)
que foi co-autor de v ri as de suas cartas ( 1 e 11 Ts; 11 Co;
Fp; Cl; Fm) e de cuja fidelidade, bom relacionamento e comunho de f o apstolo d testemunho (Fp 2, 19-23).
Quando Paulo lhe dirige a carta, Timteo e ncontra-se na
funo de dirigente de Igreja nas comunidades da As ia Menor.
Ali ordena ao ministrio (1 Tm 5,22) e vela sobre a disciplina eclesistica (1Tm5,19).
Conclui-se que a carta foi escrita a Timteo e, atravs
dele, a estas comunidades.
11 - Situao e contexto
No incio a vida comunitria nas comun idades primitivas
processava-se livremente sob as manifestaes dos dons es pirituais. Cedo, no entanto, mostrou - se a necessidade de
pr escries mais definidas, devido a uma s ri e de dificuldades surgidas, conforme nos relata 1 Co 11. Os captulos
2 e 3 de 1 Tm mostram-nos a mais antiga Orde m de Vida Comunitria. O cap. 2 r egu lamenta a vida do culto. O cap. 3 a
vida e o procedimento dos ministros.
No cap. 2 enco nt r amos a seg uinte diviso:
2 l-7 Int ercesso em favor de todos os homens.
2:8
O comportamento dos vares no culto.
2,9-14 O comportamento das m~lheres no culto.
A vida dos que professam a feno Deus da ordem (1 Co
14 33) deve tambm processar-se em ordem, tanto no ambiente' da vida familiar, quanto na vida comunitria e de culto
( 1 Tm 3, 4-5. 12. 15) .

V. l - Antes de tudo deve ter o seu lugar na ordem do


cu 1 to a intercesso. 1ntercesso em favor de todos os homens, sem discriminao, conforme o amor universal de Cristo. O te x to usa quatro termos diferentes para ressaltar a
importncia da orao sob todos os seus aspectos.
V.2 - A intercesso inclui 11 os reis e todos os que se
acham investidosdeautoridade 11 O texto no nos diz diretamente do contedo da orao (o que devemos orar pelos reis
e pelas autoridades), mas diz-nos do motivo (por que e para
que) da orao: a) orar pelos reis e pelas autoridades, porque tambm eles esto includos no desejo do Senhor de que
11
todos os homens sejam salvos e alcancem o pleno conhecimento da vcrdade 11 (v. 4). b) 11 para que vivamos vida tranqUi la e
mansa, com toda piedade e respeito. 11 Est nisto expressa a
confiana de que Deus, ao dirigir a histria dos homens,dirija os atos das autoridades no sentido de que a comunidade possa crescer em paz.
O plural (1 Tm 2a) faz concluir que a intercesso independe de posicionamento poltico da comunidade e de atuao
poltica das autoridades. Tambm independe do bom ou mau
uso que as autoridades fazem do seu poder.
V.3 - 11 lsto 11 (a prtica da intercesso) 11 bom e aceitvel diante de Deus nosso Senhor 11
V.4 - 11 0 qual deseja que todos sejam salvos e conheam
a verdade 11 - aceitem e confessem a verdade de Cristo. Convico de que no s os justos, conforme se pregava na sinagoga, nem s os sbios, conforme pregava o gnosticismo,
mas todos esto no plano salvficodeDeus. Acruz de Cristo o preo desta oferta universal da salvao; preo de
resgate, justamente de pecadores.
Resumo: Dentro da necessria ordem do culto cabe destaque intercesso em favor de todos os homens, porque o
plano de Deus, centrado no seu amor universal e realizado
na cruz, de salvao para todos; em especial cabe destaque intercesso em favor das autoridades para que,alm
de includas neste plano,seja m tambm guiadas por Deus,para
ma nt e rem a paz ne cessria para o tranqUi lo desenvolvimento
da comunidade.
IV- Meditao
A orao faz parte da vida do cristo e da comunidade

- 338 crist. t mais do que apenas parte de uma Ordem da Vida da


Comunidade. A orao pertence prpria essncia da vida
crist.
Mas orar todos os religiosos oram, com adi ferena de
que para muitas religies a orao no passa de uma forma
de meditar profundamente sobre aspectos importantes da exis tncia humana. A orao crist mais do que isto. to dilogo com Deus, onde quem ora abre o seu ser ao seu Senhor
vivo, de quem espera ao.
O cristo e a comunidade crist sao tambm chamados a
estarem a para o outro, a amar o outro como a si mesmos.
med i da em que compreenderem isto, seu ser estar 1 i gado
ao ser dos outros, sua existncia estar irmanada existncia dos outros, seus anseios englobaro os anseios dos ou tros e o seu dilogo com Deus inclui r a lembrana do outro.
Alis, a orao , certamente, o nico lugar onde consegu imos cumprir efetivamente a nossa misso de estar a para os
outros .
A consequncia da incluso dos outros no nosso dilogo
com Deus certamente nos levar tambm disposio para o
dilogo com os outros, sem discriminao e sem barreiras.
Quem ora para ~lgum tambm encontrar disposio para estender-lhe a mao. E, para faz-lo, devemos conh ecer os que
nos cercam, em suas virtudes, em seus anseios, em seus fracassos, em seus medos, em seu trabalho, em suas restries,
em suas capacidades. E assim as barreiras, os preconceitos,
os rancores e as discriminaes sero vencidos atravs do
dilogo:
- dilogo de Deus conosco, atravs da sua palavra,
dilogo nosso com Deus, atravs da orao,
dilogo nosso com Deus, em favor dos outros, atravs
da orao,
dilogo nosso com os outros, sem discriminao, como
fruto do dilogo atravs da orao.
Os cristos da Asia Menor so exortados a orar pelos
seus reis e por todas as autoridades. Autoridades pags,
no raro hosti s f cr i st e perseguidoras dos cristos.
Apesar de tudo, tambm estes esto enquadrados no plano de
salvao de Deus e tambm a e l es Deus ama. Seu plano salvfico e seu amor incluem tambm aqueles que para a nossa
compreenso humana, parecem no merec-lo. A cruz de Cristo concede-lhes a graa do amor e a graa de serem inclu-

- 339 dos no plano salvfico.


Tambm os cristos das comunidades de Timteo vive m da
cruz. ~omente a compree~so vivencial desta verdade pode
prepara-los para a oraao pelos seus reis e pelas suas autoridades, porque torna-os gratos e a gratido leva-os ao
desejo de que outros e todos experimentem a mesma verdade
por.que os 1 i berta da ne,:essidade de comparao que qu~r
medir mer 1tos para a salvaao; porque lhes d foras para
o:ar onde a~ fo:as humana: f~lham nas suas rea es afet 1vas e emoc1ona1s em relaao as pessoas por quem devem orar; p~rque experimentam uma graa e um amor divinos que
tr~nspoem barreiras e 1 imites para os humanos intransponveis.
O nosso texto est previsto para o culto do dia 7 de
s:te~bro. Muitos, neste dia, tomam a palavra para exaltar a
Patr1a, pa~a exortar o povo a amar ou at a adorar a Ptria .
Pa~a ~os, a Ptria povo. A Ptria que merece 0 nosso
amor nao e nenhuma grandeza abstrata e separada do homem
como mui tas veze: parece ser entendida. A Ptria que mer~
c~ o nosso amor e o povo, com as suas caractersticas socia1 s, culturais e religiosas, que habita a nossa terra.Este
povo, com os seus problemas econmicos, suas dificuldades
seu trabalho, sua esperana, sua luta, seu progresso ou f~l
ta de progresso, sua riqueza, seus desencantos merece 0 nosso amor. Ptria Brasileira cada um de ns, desde a mais
a~ta autoridade nacional at o mais humilde caboclo do sertao.
O cristo no adora, a no ser a Deus Criador, revelado em Cristo e presente no Esprito Santo. No adora a Ptria. Mas intercede pela Ptria, ou seja, pelo compatriota,
pelo povo de sua terra, pelos dirigentes do povo inclu sive.
Quando o cristo intercede pela suaPtria,ento o faz no sentido
de pedira Deus que leve o povo de sua terra 11 ao pleno conhecimento da verdade". Uma verdade que liberta. Liberdade que
se man if esta em vrias faixas:
- na faixa esp iritual: esta liberdade acontece onde o
homem se sabe aceito por Deu s, apesar de suas restries,
dos. seus erros, dos seus fracassos. Liberdade espiritual,
advinda da certeza de que a sua aceitao por Deus no depende do cumpr imento de leis, preceitos e xitos, mas sim
do amor que Deus tem por ele. Certeza de amor que liberta
de todos os medos, da superstio e dos falsos deuses,de

- 340 todos os comprometi mentos, de todos os preconceitos. Que


leva a entregar a sua vida confiantemente nas mos de Deus,
a quem se sabe comprometido unicamente.
- na faixa da instruo: liberdade da escravatura dos
poucos recursos intelectuais, de todo tipo de restries,
dos estreitos li mites de viso do mundo . Liberdade para desenvolvimento dos dons e das habi 1 idades, que recebe de Deus
e com que serve a Deus. Liberdade para a independncia da
boa ou m vontade dos outros que sabem mais que ele; 1 iberdade, sem a qual no poder participar da dignidade de ser
criativo e parceiro de Deus na criao, para o qual o Criador o destinou.
- na faixa econmica: liberdade da carncia de recursos ;
1 iberdade para a independncia da caridade dos outros na luta pela subsistncia.
Portanto, o cristo, ao interceder pela Ptria, o far
pelos seus campatriotas, no sentido de que Deus intervenha
na plena ~ ibertao dos mesmos. Sua orao ser sempre c:ntrada no interesse do homem, jamais no interesse de instanci as .
As autoridades so todas aquelas pessoas que decidem
pelo povo, em circunstncias ideais como portavozes dopovo.
O ~ontedo da orao ser em favor da liberta o , da
salvaao do povo e das autoridades e do seu pleno conhecimento da verdade. Ela no acontecer em distanciada neutral id ade da~ui lo que deve preocupar ao cristo, relativamente
ao P roce d mento do povo e das suas autoridades mas aconte cer~ sob a fora da cruz, que derruba barreira~. Tambm no
sera uma orao de quem se posiciona como juiz, mas sim de
quem se posi~iona corr:_o agraciado e carente de igual graa.
Tampouco sera uma oraaoque simplesmente abenoa todos os
atos do povo e das autoridades, mas sim uma orao que confia na orientao e iluminao divina para atos e procedimentos concordes com a vontade de Deus e responsveis perante ele.
Uma orao fundamentada neste posicionamento e que sabe e xpressar este posicionamento ter chances de no ver
sua sinceridade prejudicada pelas naturais barreiras, eventualmente existentes na comunidade, em relao a grupos ou
indivduos que compem o povo e em relao s autoridades.
Barreiras (desprezo, desconfiana ou at dio) oriundas do
1

- 341 procedimento destes grupos ou indivduos (marginais, criminosos, autoridades prepotentes) ou do posicionamento poltico ou ideolgico divergente entre eles e membros da comunidade.
A prdica naturalmente no poder omitir a mensagem central do plano salv fico de Deus, centrado no amor por todos
os homens e realizado na cruz, no qual est baseada a exortao do nosso texto.
A comunidade que ora entra em dilogo com Deus, que ele
estabelece com os homens por meio de Cristo e pela sua men sagem . A comunidade que ora expe a Deus, neste dilogo, as
suas alegrias e esperanas; as suas tristezas e dores; as
suas perguntas e dvidas; os seus anseios e medos, enfim,a
sua eKistncia. A comunidade que intercede por outros leva
ao dilogo com Deus a existncia do outro, v com os olhos
do outro e assume como seus prprios os anseios, as vitrias
e os fracassos do outro. E este dilogo com Deus em favor
dos outros derruba as barreiras que nos querem separar do
outro e leva compreenso do mesmo e ao dilogo com ele.
A prdica exemplif icar anseios, tropeos, dores, luta
e medos do povo brasileira, que comemora a sua independncia poltica. Citar autoridades (cargos, no necessriamente no mes) pelos quais somos exortados a orar.
Paixes religiosas, polticas e ideolgicas; extremism0s de grupos e partidos; desnveis sociais e econmicos.
Eis algumas barreiras que perpassam o povo brasileira . A
com unidade que sabe levar os anseios do povo em dilogo a
Deus, assumi r estes anseios, livre da tentao de deixar-se arrastar para dentro do torvelinho de paixes, eventualmente advindas destas barreiras.
Assim, aquele que ora estar acendendo sua pequena chama de verdade, alimentada pela grande chama da verdade,revelada por Deus, e estar levando-a ao mundo e aos homens,dando a sua parcela de contribuio para que todos os homens
cheguem ao pleno conhecimento da verdade, participando, como instru mentos, na concretizao do plano que Deus tem para todos os homens.
A prdica ser aut ntica, na medid a em que o pregador
souber posicionar-se como algum que sincera e honestamente assumiu os anseios do povo e no como algum que, vivencialmente distanciado do povo, em posio de expectador
neutro, apenas obediente percope, exorta outros no sen-

- 343 -

- 342 tido de que anseios devam ser assumidos.


O dia favorece a colocao de todo o culto, como uma
unidade compacta, sob o tema da prdica, inclusive oraes,
confisso de pecados e confisso de f, que no deveriam
simplesmente ser copiados da agenda.

14~

S a m u e

sobre a morte cios ltimos a no s. O A . a bord a , primeira mente , a morte


con:io probl em a da vida (minh a morte ) e em segu id a a mo r t e como f a to
social (a morte do outro) . Em seguid a r efaz criticame nte a inte rpretao tra dicion ada no Ocidente da morte como separao do corpo e da
a lma. Face a isso apresenta o conce ito bblico d e mo r t e, p en sada sob r e
a exp erincia do home m p ecador. N este contexto se inse re a morte de
Cristo como o evento d e morte que vence a morte. Aqui se prope a r essurreio como o especfico da f crist no triunfo e culminncia da
vida em D eus. E s t a f implica r esponsabilid a d e no apenas para a vida
mas princip almente pelo des dobramento das potenci a lid a d es d a vida.
O livro excelente, escrito com paixo p ela vida num estilo t am b m
fascinante.
G .D .B .

"Rev i sta Eclesis tica Brasil e ira", 33/151 /197 8 .

A P S

TRINDADE

2' 1-1 o

Martin Weingaertner
l.

A morte, por E. J n g e 1. Editora Sinod a l, Porto Al egr e 1977, 1 vol. br.,


155 X 215 mm, 130 p. - E s t a mos di a nte d e um a el as m a is s ri as r eflex 0s

D O M 1 N G O

Verso
- Ento Ana orou, dizendo:
'Alegra-se o meu corao no Senhor;
Minha fora exaltada pelo Senhor.
Abro a minha boca contra os meus inimigos,
porque me alegro de tua salvao.
2 - No h santo como o Senhor
pois no h outro alm de ti
e no h rocha como o nosso Deus.
3 - No multipliqueis vosso falar orgulhoso,
nem saiam palavras atrevidas de vossa boca,
porque o Senhor Deus do conhecimento!
Todos atos so avaliados por ele:
4 - O arco dos poderosos quebrado,
mas os cambaleantes cingem-se d: poder!
5 - Os fartos empregam-se por pao,
enquanto que os famintos deixam disto para sempre!
A estril d luz a sete,
a que tem muitos filhos murcha!
6 - O Senhor tira a vida e vivifica,
faz descer sepultura e faz subir!
7 - O Senhor enpobrece e enriquece,
rebaixa e tambm eleva!
8 - Ergue do p o fraco,
do lixo tira o necessitado,
para assent-lo com os chefes
e dar-lhe o lugar de honra,
porque do Senhor so as colunas da terra
e ele assentou nelas o mundo!
9 - Os ps de seus fiis ele proteger,
porm os descrentes far emudecer na escurido,
pois o homem no vencer pela sua fora!
10 - O Senhor destruir os que o combatem;
sobre eles far trovejar dos cus!
O Senhor julgar os confins da terra,

- 344 dand o poder ao seu rei


e engran decendo a fora de seu escolhido.
2. Anlise
A tradio veterotestamentria nos legou este sa lmo como orao de Ana, a me de Samuel. Es te fato por s i j implica numa int erpretao qu e de modo algum poderemos i gnorar, se realmente quisermos transmitir a mensagem bfbl ica:
Ns ouvimos este salmo da boca de Ana, e ass i m ele quer ser
mensagem para nos.
2. l. Conte xto
Num pri me iro passo queremos sintetizar a situao de
Ana (1 Sm l): Seu problema no era apenas o simples fato da
este rilidade, nem tampouco as provocaes de Pe nin a, s ua
rival. Se considerarmos a importncia da promisso de fi lh 5
no agir salvfico de Deus no AT (p.ex.: Gn 12), e nto compreenderemos que a crise de Ana era crise de f: Sem fi lh0 5
ela no estaria margem da salvao? Se filhos so ddiva
de Deus, s inal de s ua graa, e se 1 o Senhor lhe havia cerrado a madre' (v. 6), isto no evidenciava que ela estaria
fora da graa?
Precisamente este o horizonte teolgico da petiao
de Ana por um filho, bem como de seu cntico qu e nos propomos a int e rpretar.
2.2 . Enfoque detalhado
V. 1 - Ningum pode dar alegria a si mesmo . Ela sempre
resposta e fruto duma ddiva recebida. A alegria qu e en che a vida de Ana alegria 'no Senhor'. Em Deus ela reconhece a fonte doad ora de sua alegria. r importante observar mos que a a legria de An a no gira em torno do filho qu e recebera; e la no mera alegria de ter-se tornado me. A ddiva do filho foi ape nas a chave para uma d escoberta maior,
pois agora ela sabe estar inclufda na 'salva o ' de Deus.O
filho foi meramente sinal desta graa, e por ist o no pre cisamos estranhar que ele no seja mencionado mais n a ora o de Ana. O agir gracioso de Deus f o i descortinado ante
se u s o l hos,e, agora, e l a sabe que sua vida fdz parte da o-

- 345 brade Deus: Por intermdio de sua serva, Deus dera uma lder ao seu povo. Esta experincia gratificante enche sua
vida de alegria, pois a palavra 'corao', em hebraico 'leb\
abrange tanto o sentimento e desejo como a razo e vontade
do homem. Assim, a integridade da vida de Ana transformada pe la alegria.
'A boca fala do que est cheio o corao' (Lc 6,45). A continuao do salmo confirma o dito de Jesus: A alegria no
Senhor comunicativa, abrindo a boca outrora fechada para
a exaltao de Deus. O testemunho fruto da grande descoberta que no pode permanecer oculta nem mesmo diante dos
's e us inimigos 1 Como ainda veremos mais adiante estes inimigos so adversrios da obra do Senhor e soment~ como tais
tambm adve rsrios da testemunha.
V.2 - Este testemunho essencialmente louvor a Deus,
que transcende toda experincia pessoal. O louvor de Ana
nao se limita ao que tem experimentado pessoalmente dopoder de Deus, pois seus olhos foram abertos para a plenitude da obra de salvao de Deus da qual ela, agora, tinha
certeza de estar participando. Assim Ana l o uva a Deus, crendo que ele ultrapassa toda experincia e todo entendimento
humano: Deus incomparvel! At os nossos conceitos 'santo' e 'rocha' somente servem para descrev-lo, se for negado simultaneamenteque haja outro santo ou outra rocha alm dele.
Vv. 3 a 8 - A exaltao do poder de Deus implica no fim
d e todo org ulho humano. Quem aprendeu a louvar ao Senhor, reconhece ao mesmo tempo que toda auto-afirmao deve si lenciar. Disto tambm resulta a advertncia aos outros. Advertncia esta que visa chamar para a descoberta da alegria no
Senhor e para o louvor a Deus, pois, enquanto que ela soa,
ainda tempo de graa: Deus e st no centro e ele julga tod?s _os egocentrismos. Este jufzo uma verdadeira revoluo
d1v1na que derruba todos os usurpadores de poder e po, de
fecundidade e vida, de capital e honra. Isto , destitui
todos os usurpadores das ddivas de Deus. Deus mesmo derruba os que querem apoderar-se de sua criao, para conced-! a aos que a recebem de sua mo. Este juzo dos que querem
'vencer pela prpria fora', e a agraciao dos fracos so
exemplificados em seis majestosas antteses que poderamos
resumir com as palavras de Paulo em 1 Co l, 27ss.: 'Deus
esco lheu as cousas loucas do mundo para envergonhar os sbios, e escolheu as cousas fracas do mundo para envergonhar

- 347 -

- 346 2.3 as fortes; e Deus escolheu as cousas humi Ides do mundo, e as


desprezadas, e aquelas que no so, para reduzir a nada as
que so; a fim de que ningum se vanglorie na presena de
Deus. '
A exaltao do Deus que agracia e julga, no se baseia
em anlises da real idade, nem em constata~es empfricas.
Isto confisso de f. Ana testemunha o poder de Deus, b-seada na f no criador, e ela o faz at mesmo contra as aP
rncias da real idade. Mesmo que os poderosos ainda oprimam
e os abastados ainda festejem, mesmo que a morte grasse corn
violncia e os maches se gabem como nunca, mesmo que ocapital domine e todos honrem os 'chefes', Deus, o criador,os
'far emudecer na escurido'. Ana confia no seu Senhor, que
excede todo entendimento, pois ele assentou o mundo em suas
'colunas'. Esta expresso descreve a criao na terminologia da cos111oviso dos antigos, que entendia o mundo fundado no mar csmico sobre colunas qual plataforma martima
da Petrobrs no oceano.
Vv. 9 e 10 - O poder do criador no est 1 imitado ao
presente. Como ele garantiu e garante a sua salvao e, corn
isto, a alegria no Senhor dos que dela participam, assim
Deus garantir tambm sua obra e a nossa participao da
mesma no futuro.
A mudana de tempo dos verbos nos ltimos dois versc~
los quer conduzir-nos a compreender esta perspectiva da fe,
da alegria no Senhor. Assim como Deus em sua gra a a concedeu no passado e no presente, assim tambm a 'proteger' no
futuro. Os 'fiis' so justamente aqueles que no garantem
nada, mas que aceitam que Deus os garanta, enquanto que os
'descrentes' procuram assegurar seu futuro 'pela sua fora'
Tambm no futuro, os 'self-made men 'estaro sob o jufzo de
Deus, que alcanar at mesmo os ltimos recantos da terra.
Esta proteo e este juzo no futuro esto confiados ao
obscuro personagem do 'rei' e 'escolhido' de Deus. No ignoramos que aqui ele seja descrito com auxlio de terminologia proveniente do cerimonial de entronizao de um soberano, mas o alcance da incumbncia deste 'rei' nos proibe identific-lo com um rei histrico de Israel. O personagem
do futuro de Deus, vislumbrado por Ana, ainda no tem contornos claros. Apenas uma cousa est clara : Em sua 'fora' Deus
g uardar
os seus fiis. Isto j o bastante para Ana.

Inteno querigmtica

Pelo filho que lhe nascera, Ana descobre que sua vida
participa da salvao de Deus. Esta descoberta gratificante enche sua vida de alegria no Senhor e resulta no louvor
de Deus,que agracia e julga. Atravs do louvor e da advertncia, Ana chama o ouvinte de seu cntico a mesmo descobrir esta alegria no Senhor.

3 - Meditao
Quem ouve este cntico,post Christum natum,no poder
ignorar que Deus continuou sua obra de salvao. O personagem que Ana
apenas vislumbrava no futuro, por quem ela
esperava, foi revelado e est diante do que tiver olhos para ver: Jesus Cristo o' rei 1 e 'escolhido' de Deus. Por
seu intermdio Deus agracia e julga. Ele o protetor da alegria no Senhor. Em sua morte e ressurreio foram destitudos todos os usurpadores da criao de Deus, e lhe foi
conferido 'todo o poder no cu e na terra! Nele Deus real iza sua salvao, a agraciao dos fracos. Sem margem de dvida, a proximidade literria do cntico de Maria (Lc J,4655) com este salmo de Ana motivada por esta certeza.
lnevi tavelmente a pregao crist confrontada neste
texto com a justifiao por graa. Somente a doutrina da
justificao nos possibi J ita entender verdadeiramente este
salmo. E este, por sua vez, focaliza a justificao dum ponto de vista singular: Apenas a justificao por graa impede que a alegria no Senhor seja pervertida em 'Schadenfreude' do piedoso sobre o descrente. Da emboscada do farisaismo que espera por uma compensao da f - ao menos no alm-,
somente escapa quem reconheceu que os cambaleantes e os famintos, a estri 1 e os moribundos, o pobre e o fraco no
so agraciados por algum mrito seu, mas sim desmerecida e
gratuitamente. Nisto a agraciao divina se distingue da
humana, que contempla o benemrito. A graa de Deus somente
podemos receber de presente, si Jenciando toda a vaidade e
entoando o louvor a Deus.
Na IV Assemblia da Federao Luterana Mundial em Helsinki, ficou patente que temos dificuldades de comunicar a
doutrina da justificao ao nosso tempo. Estas dificuldades
nos levam a procurar por uma nova terminologia, por novos

- 349 -

- 348 odres para transmiti-la. O cntico talvez pode ajudar-nos


nesta busca: Ele fala da alegria no Senhor qu e de maneira
singular expressa justificao por graa. Esta alegria no
fruto de esforo prprio, mas sim um presente recebido
de Deus. Esta alegria , portanto, a nica e verdadeira resposta ansiedade por felicidade.
Num aspecto a situao de Ana e a nossa conferem: Tambm ns esperamos pela revelao plena do agir de Deus.Nossa alegria no se funda na real idade visvel, mas se baseia
na f em Jesus Cristo, que garanti r nossa alegria contra
todas as aparncias. Neste interim em qu e a real idade de
Deus ainda no est plenamente revelada necessitamos do convite e da admoestao 'Alegrai-vos sempre no Senhor; outra
vez digo, alegrai-vos' (Fp 4,4). para no desanimarmos e
permanecermos na graa.
4. Esboo da Prdica
Nosso anseio por felicidade nao saciado (Introduo).
Ex.: Propaganda na TV ('Coca-cola que ! ... Ah! .. 1 ) promete felicidade, mas, o mais tardar, quando t omamos a coca,
descobrimos a iluso.
A procura da verdadeira felicidade.
a. O caso de Ana: contexto e texto.
b. Alegria no Senhor - um presente a ser descoberto em nos5a vida (v. 1).
c. Esta descoberta abre a boca para o louvor (vv. 2-8).
d. O louvor implica no fim da vaidade( v.3).
e. Esta alegria protegida pelo rei para sempre(vv.9-10) .
5. Bibliografia
BUBER,Martin. Bl.lcher der Geschichte. K~ln, 1956. - GUTBROD,Karl. Das Buch vomK~nig: Das 1. Buch Samuel.Stuttgart,
1956. - HERTZBERG, Hans W. Die SamuelbUcher. Gottingen, 1956.
- ST~HLll~, Wi lhelm. Predigthi lfen 111. 2~d., Kassel, 1963.
- STOEBE; Hans J. Das erste Buch Samuels.G\.lterloh, 1973. WARTH, Walter. Auxilio homiletico sobre 1 Samuel 2,1-10.ln:
Calwe r Prediqthilfen. Vol. 3. Stuttgart, 1964.

l 5:'

D O M

N GO

A P OS

TRINDADE

M a t e u s 19, 16-26
Dario G. Schaeffer
Pensamentos exegticos
O texto, como o temos atualmente nossa frente, de
redao bastante recente e no provm totalmente do prprio
Jesus. Apenas algumas frases, contidas no todo de nossa percope, so realmente palavras de Jesus. (Cf. o trabalho
introdutrio de Brakemeier e outros comentrios.) Assim,
comparti lhamas da compreenso de que esta histria foi elaborada abordando um determinado problema bem concreto da
comunidade de Mateus. Pois o redator, 11 de extraordinria fora sistemtica", "foi um mestre em atualizar a histria de
Jesus para sua poca" (Brakemeier). No presente caso, a problemtica est ligada profundamente posse de riquezas.
O homem que quer saber o que de bom deve fazer, tem em
sua memria o uso e a tradio judaica, conforme os quais
com obras boas, caridade e religiosidade formal o homem pode chegar mais perto da vida eterna ou at consegui-la. Jesus, no entanto, precisa fazer uma nova colocao. Sua compreenso daqui lo que bom no corresponde compreenso do
homem. Bom apenas Deus. Isto significa que no possvel
ao homem, com sua religiosidade, com seu af de agradar a
Deus, chegar vida eterna. 11 Tu no consegues saber o que
bom, nem consegues ser bo~',poder-se-ia parafrasear o dito
de Jesus.
Alm disso, existe atrs da pergunta do homem (jovem) a
idia de que se poderia fazer algo mais do que Deus j exige normalmente, algo que supere o que Deus espera do homem.
Existe a a compreenso de que h uma necessidade muito grande de supercompensar as falhas que se faz. Jesus simplesmente lhe indica os mandamentos (em nosso texto os da segunda tbua e a regra urea - 19b). Isto , Jesus diz com isso, claramente, que no se pode passar adiante e alm dos
mandamentos. Mandamentos no so lio de casa, no devem
ser apenas decorados e com isso absolvidos, superados. Ao
contrrio, os mandamentos so indicaes de modo de vida,
abrangendo e ocupando toda a existncia da pessoa. No h

- 351 -

- 350 nada acima deles.


Entret a nt o, para o jovem, pr eocupado em agradar, em fazer com que J esus lh e desse regras ma i s fortes do que as
conhecidas, a 1 i o j estava feit a . El e c ump r i a os ma ndamentos. E queria mais. J es us lhe indi ca e nt o a conseqUnc ia lgica e radical de uma vida de acordo com a vontade
de Deus : segui-lo. E isto i mp li ca va, para o jovem rico, em
l a r ga r as amarras, em li v r ar - se daquela segurana que provinha de suas posses e era,ao mesmo tempo, um compromet imento ex istenc ia l.
Deveria dar aos que no tm tudo o q ue tinha . Trocar o compro met i me nt o , que as coisas lhe impunham, e a sua segurana,
pe lo compro metiment o nico e perfeito com o senhor das coisas , o senhor tambm de suas posses. Seg uir Jesus significa va assumir a ins eg uran a , ass im como os discpu l os a t inha m
ass umido (=abandonaram o velho pai e as redes, dei xa ram
os mortos enterrar seus mortos; no teriam o nd e recl ina r
s ua cabea, etc .)
~evid e n te que com esta colocao J es us co n fro ntou o
jovem rico com a condio de preencher 0 que d i z o primeiro
m~n damento. Deus o Senhor das coisas; se por causa dele
nao conseguir l argar ou superar o domnio que os bens tm
sobre ele, estar falhando na pre mi ssa estar fa lhand o na
condio " si ne qua non" para entender e ace it ar os outros
ma~ da me ntos. Pois apenas algum qu e se compromete em prime iro lugar com Deus capaz de aceitar e vi ver os ma ndamentos. E no fazer de l e s apenas uma oc up ao religiosa para sa lva r a a l ma .
Pedir o cumprimento do pri meiro mandame nt o, em sua total atualidade, fo i demais para nosso personagem . No havia
com~ dar o passo ini c i a l para ser perfeito. Ser que havia
entao condies para cumprir realmente os outros ma nda men tos? Em todo caso, nosso tex t o n o fa l a que o cumpri me nt o
dos ma nda me nt os lh e tenha adiantado alguma coisa no seu
int e nt o de co nseg uir a vida eter na . Pelo contrr i o, a co nversa de J es us com seus di sc pul os de i xa c laro que no h
co ndi es pa r a um rico e ntra r nos c us . A comparao exage rada de um came l o passa ndo pe lo fu nd o de uma agu lh a com o
rico entrando no cu de i xa isso ma is do que c laro. Mas a
cha nce dada. O caso que ela no aproveita da. Por i s so ta lvez se possa dizer que a af ir mao radical de J esus
no deva ser generalizada . Ela va l e apenas para aqueles ri 1

cos que nao conseguem se livrar da priso , da opresso, da


esc rav ido, qu e sua riqueza.
Em oposio ao dilogo com o jovem rico, que tinha uma
se qU ncia l g ica, 0 dilogo com os discpulos, a seguir, no
parece mais obedecer muito ordem anterior. Isso se dev e
ao modo de redigir expresses e ditos de J_esus. Por isso,
agora di fci 1 de enten der por que os discpulos se apavoram
com a afir mao de Jesus e se _sentem includos na dificuldade de entrar no reino dos ceus. Sabemos perfeitamente
que eles no eram ricos. Contudo, sabemos tambm que no renunci a ram totalmente s suas posses. Tambm eles tinham um
tesoureiro. E talvez vissem tambm nisso um compromisso que
afasta do seguir a Cristo. No seria j um prenncio daquilo que aconteceu com Judas? Isto mostra que os temores dos
discpulos no eram infundados.
Existe tambm a exp licao de que este temor no prove nha do s discpulos que estavam com J esus, mas daqueles
que redigiram a presente histria. Pois sabiam da impossibilidade do homem conseguir, com prprias foras, entrar no
reino doscus (Kaesemann) .
Em todo o caso, a resposta de Jesus no aquela que se
poderia esperar, ou seja, que ele dissesse em pri meiro lugar: "Vocs que sabem o que segu ir - me , estaro comigo no
reino dos cus." (v.28) Mas ele responde, antes de tudo,
com algo qu e parece tirar o fio da faca conti do nos vv.23s:
"Para De us possvel o que para os ho me ns impossvel."
Para Deu s pos s v e l quebrar a sistemtica de que imp oss v e l um rico ser aceito por e l e . Quem tem a possibilidade
de salvao e d e ace ita o na mo Deus e no o homem.
Para ele o impossvel se torna possve l. A ao de Deus ,
para a comp ree nso hu ma na, paradoxa, ilgica. E este paradoxo que no s mostra a gra ndeza de sua misericrdia, de
s ua salvao.
Cabe a qui, embora mui to rapidamente, algum pensamento
sobre a compreenso de "vida eterna","tesouro no cu" e
''reino dos cus' 1 , que parecem se confundir em nosso texto
e que provavelmante tm um significado muito aproximado . A
preocupao do homem rico a preoc upao de qualquer judeu
r e ligioso: a de participar da vida co mpleta com Deus , depois
desta vida terrena. Isso , ele est consciente da transitoriedade da vida e que dever se pr e parar para o que vi r.
Esse modo de se preparar inc e ntivar e, me lhor ainda , su-

- 352 -

- 353 -

perar-se em sua religiosidade.


_
A compreeno, que transparece em Mateus, e que, para
entrar de modo totai na vida, necessrio desvenci Jhar-se
de comprometimentos com as coisas. A f deve l e var a esta
libertao. O reino dos cus, a vida etc. s~o compen~ao
suficiente para aqui lo que se deixa para tras. Havera nesta nova vida pagamento pelos bens que se "perdeu".
Alm disso a vida eterna acontecimento secula r tambm. f aqui e agora que esta vida comea. No se pode separar vida terrena de vida eterna, no se pode s eparar vida diria de vida religiosa. Por isso, o rico precisa assumir a conseqUncia da aceitao da vida eterna, ou seja,
dar o que tem aos pobres.

desta passagem e, com isto, tambm a argumentao para o


que se disse acima: Mateus 19,16-26 escolhe um rico, uma
pessoa de muitas propriedades (v. 22) para colocar nela o
alerta de Cristo. No qualquer um que no vai entrar no
reino de Deus, mas o rico (v. 24). E se foi escolhido o rico, isto deve ter algum significado especial, alm de ser
exemplo para todas as outras dependencias que existem.Disse na exegese que o v. 24 "vale apenas para aqueles ricos
que no conseguem se livrar da priso que sua riqueza."
A pergunta que se coloca agora, no entanto, se existe algum rico que consegue se livrar disso. Ser que h algum
de mui tas posses que seria capaz de - em conseqUncia de
sua f - colocar disposio de necessitados suas posses
e suas propriedades? Encontrar algum assim ser to difcil quanto o para um camelo passar pelo fundo de uma agulha. Este caminho para a vi da eterna est fechado para sempre. O rico, "por sua prpria razo ou fora", no consegue
se livrar do poderio da coisa.
A real idade de nosso pais deixa isso muito claro. So
os donos de muitas propriedades, os ricos, que tm na mo
o poder. O poder de fazer leis, de fazer a poltica, de fazer a histria de nosso povo. E naturalmente em proveito
prprio que acontece essa histria. O desenvolvi mento bras~ lei ro no provm do amor ao prxi mo . Ser que h condioes reais de se fazer uma distribuio de renda justa em
nosso pas? E se houver, por que deveriam os ricos, os poderosos, concordar com isso? No h cond i es para que isto acontea, enquanto houver uma compreenso de vida que
s admite vida produtiva. Quanto mais produtiva a vida,mais
valor ela ter . Ou enquanto houver a compreenso de que a
justia que vale para um povo a justia dos ricos e poderosos. Ou enquanto a economia do pas estiver baseada no lucro conseguido pela explorao da credibi ]idade das massas
(cadernetas de poupana; vendas a crdito com conseqUentes
juros altos e aumento de preos; o lucro do Banco do Brasil
no l<? semestre de 1976 foi de 7 bilhes de cruzeiros!); ou
ento no uso da mo de obra barata, na qual se enquadram
pelo menos 50 % dos trabalhadores do Brasil.
Portanto, a escolha do jovem rico para fazer essa colocao no tem valor apenas exemplar e geral, mas tem endereo certo: aquele que alm das coisas no v mais nada .
Mesmo assim, o reino dos cus acontece parcialmente a-

11 - Meditao
Procurou-se,na Antiguidade, minimizar a radical idade da
afirmao desta passagem. Colocou-s e , por exemplo, no v. 24,
no lugar da palavra grega " kamelos'' (=camelo), a palavra
"kami los" (= corda para amarrar navios). Ou ma is recentemen.
. que existia 'um portao
- no mute, um comentarista
descobriu
ro de Jerusalm que tinha o nome de "fundo de agulha".Estas
colocaes podem parecer um tanto simplrias, mas mostram
que tambm a igreja estava comprometida com os ricos e, direta ou indiretamente, com as riquezas. A histria da igreja
tambm vem comprovar isso. O comprometimento com seu nico
Senhor de i xa va de ser to firme, no momento em qu e , em nome dele, deveriam ser questionadas e mudadas as relaes com
os ricos e as riquezas.
Talvez algum diga que isto pertence ao passado. Todavia, lendo-se comentrios de hoje (vide bibliografia) encontraremos uma grande ma ioria (principal me nte os pertencent es
a uma sociedade desenvolvida, de consumo) tentando generalizar as afirmaes desta passagem para toda e qualquer depe ndncia das coisas. Num certo sentido,no deixam de ter
razo esses comentaristas, pois como a riqueza, qu e muitas
vezes domina e governa pessoas, existem inmeras outras coisas, das quais no somos independentes. Diria que vlido,
a partir deste texto, o alerta para todos os que so comprometidos com o que no importante, com as coisas.
No entanto, existe um fato que no deve ser desconhecido e no pode ser mini mizado, sem que se tire a autoridade

- 355 -

- 354 qui no mundo. Exatamente l onde a vida - pelo fato de ser


vida criada por Deus - levada a srio. Onde a justia
a justia de Deus, onde as condies de vida so boas para
todos. Mas algum que entra neste reino dos c~us, nesta mental idade, neste modo de vida, ter que assumir as conseq Uncias. Tais conseqUncias J esus resume em: "Vai, vende o que
tens e d aos pobr es."
As conseqUncias atuais no so outras, ap esa r de que
se possa diversific-las. Mas para ns, povo d o chamado
Terceiro -Mundo, habitantes de um pas subdesenvolvido, va i e em te r mos g e r a i s o que J e s u s d i s s e . E: a me n s agem r a d i c a l ,
sem meios -termos, aos ricos e poderosos, donos do Brasil.
Ser que vai mudar alguma coisa? Depende da confiana
que temos no Deus, para o qual tudo possv e l . At mudar
a mental idade de um poderoso .
111

Bibliografia

DAVIES,W.D. Die Bergpredigt. MUnchen, 1970 - KSEMANN,Ernst.


Matth~usevangelium 1. Anotaes de preleo. Gthtingen.- LANGE, Ernst. Predigtstudien.V/2. l~ ed., Stuttgart-Ber l in,1971.
NIEBERGALL,A. Meditaao sobre Mt 19,16-26. ln: Predigtmeditationen. Caderno 4. 1971. - SCHABERT, Arnold. Das Markus evangel iu m. I~ ed. ,MUn chen, 1964 . -SQJE,N.H. Christliche Ethik . 3~ ed., MUnchen, 1965. - ZIMMERMANN, Wolf-Dieter.MarkUSUber Jesus. GUtersloh, 1970.

16? D O M 1 N G O
J o a o

ll' l.

A P S

TRINDADE

3. l 7-2 7

Breno Dietrich
1

Cont exto

O captulo l l e uma unidade. O certo seria tomar todo


o cap tulo como texto de prdica. Martin Lutero o fez duas
vezes. Mas ele mesmo disse:"es istviel drin,das aufein predigt nicht sagen lesst. 11 Por isso precisamos delimitar o texto. Na dei imitao do texto j estamos constituindo o seu
escopo, a sua mensagem.
O texto em questo um resumo do captulo li. Na prdica no podemos, no entanto, perder o sentido do captulo
todo. Uma med i tao sobre o captulo todo importante na preparaao da prdica. O cerne do texto est nos versculos 2526.
11

Exegese e comentrios

v.l - O "tis" indefinido e poderia ser traduzido corno


"um certo Lazaro"; o autor do texto queria simplesmente dizer que algum estava doente. Este algum, porm, prestes a
morrer, era fie l a Jesus. Disto conclumos que tambm o discpulo, o membro mais fiel da I greja pode entrar numa situao semelhante. Isto mostra que a f, a fidelidade a Cri sto
no uma garantia automtica para o nosso viver. A f nos
d, isto sim, uma nova viso da vida e no,a priori, segurana fsica e materia l . Este e x emplo poderia ser e xem plificada
um pouco mais na prdica.
v.3 - As irms de Lzaro notificam Jesus da situao em
casa. Esta notificao um chamado: "Jesus, vem depressa! 11
As duas irms apelam ao amor que Je sus tem por Lazaro e no
vice-versa. Aqui pode surg ir um perigo para a interpreta o
do te x to. O amor de Jesus universal (Jo 3, 16). Jesus ama a
11
todos. El e no tem preferncias.
Todos devem ser salvos e
chegar ao pleno conhecimento da verdade 11 O amor de Cristo
dirige-se ao indivduo sem distino.

- 357 -

- 356 -

Na prdica deve transparecer claramente a pergunta que


muitos cristos fazem quando sofrem os golpes da vida: "por
qu"? O pregador no pode silenciar sobre este aspecto. O
pregador no pode dizer: "isto falta de f". Uma tal resposta seria fuga. A doena e a morte de Lzaro tm uma fina1 idade. A doena e a morte de Lazaro querem levar a Jesus,
ao escopo do texto.
v. 17 - Jesus no atendeu o chamado das duas irms. A doena levou Lzaro morte. Jesus estava perto de Betnia,
meia hora a p. Jesus deixou Lzaro morrer. Lzaro foi se11
pultado. Estava j quatro dias
na sepultura e "cheirava mal
No quarto dia no havia mais esperana. Trs dias aps a mor te havia ainda uma leve esperana de retornar vida, conforme compreenso judaica. Agora tarde demais.
v.19 - Muitos vieram consolar Marta e Maria. Aqui temos a
histria dos consoladores baratos. Esse consolo de nada adianta, pois no muda a situao. Aqui o pregador pode alertar
os consoladores tradicionais para que o seu consolo no seja
vazio. Acentuar o aspecto da solidariedade humana (Gl 6,2)
v.20 - Jesus vem! A vinda de Je sus faz com que a histria
no termine com o sofrimento . O chamado das irms no garantiu a vinda de Jesus. At mesmo a f no prende Jesus a ns.
Jesus vem por si, na hora que lhe convm. Concluso: no a
f que faz vir Jesus; mas a vinda de Jesus renova e desperta a f. A verdade de Cristo verdade para a f; a verdade
de Cristo constitui o contedo da f. A verdade no uma decorrncia da f separada de Cristo. Cristo e o autor e o contedo da f.
Na prdica no h lugar para explorar a diferena entre
Marta e Maria. Uma vai ao encontro de Jesus e a outra fica
sentada dentro de casa. Isto no decisivo em nosso texto.
Decisiva e a palavra e a ao de Jesus.
v.21
Neste versculo Marta praticamente acusa Jesus:
onde estiveste quando mais precisvamos de ti 11 ? Marta manifesta uma f bastante crtica e agressiva. Marta no es11
tava enclausurada no seu 11 por qu e disposta a sucumbir.
Marta no estava presa na sua lamentao. Ela no estava
11

a<.::_omodada e conformada. A sua f estava em


nao expressa nenhum pedido diretamente.

11

polvorosa 11 Ela

v.22_ - Aqui. a cr~ticidade de Marta diminui um pouco.Marta amen~za a s1 tuaao. Ela faz um pedido muito vago. Ela no
se expl1ca._Mas s:: al~o acontecer ento ela o atribui ao poder da oraao e nao d1 retamente a Jesus. Ela est decepcionada com Jesus .
vv 23-24 - _Jesus diz que Lzaro ressuscitar. Marta ,por
vez, traz a tona os seus conhecimentos sobre a ressurreiao. Nisto ela cr. O que Jesus diz no encerra aparentemente nenhuma novidade. Os outros consoladores j haviam dito o
mesmo. Os mestres da rei igio j o haviam ensinado.
_
Isto acontece ainda hoje: ns ficamos presos na nossa
fe, nos nossos conhecimentos e conceitos e no deixamos as
palavras de ~esus valer para o nosso viver dirio. Assim
~emo: a tendencia_de solidificar a_nossa f cada vez mais.
or isso somos muitas vezes como Lazaro: nossa f tem cheirode mc:fo, de podrido. O pregador precisa insistir no redescobrimento e na renovao da f.
s~a

~v. 25-26 Trata-se aqui do cerne, do alvo do texto e do


capitulo todo.EssacolocaodeJesusrompe comtodosos concei11
tc:is e
regula fid'.:i 11 Os "ego eimi" so expresses cristolg~cas e sob este angulo precisam ser interpretadas. Tudo es~a concentrado em Jesus. Ele mesmo a f, ele a vida, ele
e a ressurreio. Ddiva e doador so inseparveis.
_
Com estas palavras dos vv.25-26 Jesus derruba todas as
formulas e conceitos de Deus; Jesus derruba os deuses e pr i nc p~os humanos. O pregador deve ver onde na sua comunidade
e:tao estes deuses e princpios enraizados e como eles se manifestam e impedem uma vida de comunho. Esses deuses e princ1pios devem ser contrastados com o "ego eimi' 1 dos vv.25-26.
A essas alturas podem ser explorados os aspectos da doena,
morte, _pod eres escravizantes, tendncias absolutistas que influenciam e prejudicam a 11 communio sanctorum". Cristo precisa ser proclamado como Senhor.
Este ~enhor no d_apenas contentamento e satisfao
das necess1d~des; ele nao afasta apenas as preocupaes do
homem; ele nao atende apenas vontades, desejos e aspiraes
humanas. J esus vai muito alm das necessidades, anseios e

- 358 dor dos homens. Cristo torna as suas ddivas reais.


O homem sempre sonha encontrar a vida, mesmo diante da
real idade da morte. Mas somente em Jesus h verdadeira vida.
Quem cr e aceita isto, este libertado do poder da morte .
Onde a f comea a cair, a desmoronar, ali Cristo cria uma
nova f. A verdadeira vida j concedida agora. Vida verdadeira acontece ali onde irrompe o mundo de Deus. Este mundo
de Deus j est em andamento, em formao, atravs de Cristo, que "faz novas todas as cousas".
Os vv.25-26 no podem ser divididos como se se referissem vida antes e aps a morte terrena. O que cha mamos de
vida~ganha, em Cristo, j agora, um significado totalmente
novo.

v.27 - Marta colocada diante da pergunta: "crs isto"?


Jesus no pergunta se isto se enquadra ou no nos seus esquemas de pensamento, conhecimento e f. Marta convidada
e desafiada a romper os 1 imites de sua f. A resposta de M~r
ta uma autntica manifestao da f renovada, pois ela nao
discorre sobre a vida, nem sobre si mesma, mas aponta di retamente para o tu, para a fonte da fe,
para Jesus: 11 tu es
o
Cristo .. . 11
A pergunta pela f - crs isto - sempre de novo precisa
ser feita. Na colocao desta pergunta no pode ser i~norado
o conte xto no qual vive o crente. Sempre de novo preci s amos
tambm arriscar uma resposta. A re s posta, porm, deve_ser co~
te x tual e vivencial, no podendo ser uma mera repetiao ouco
pia da resposta de Marta. Precisamos evitar, a todo o custo,
respostas pr-fabricadas.
Muitas vezes a realidade da doena e da morte aparenta
ser mais forte do que a promessa da ressureio e da nova vida em Cristo. A doena e a morte tendem a encobrir a f. Por
isso muitas vezes no podemos esperar outra resposta do que
esta: "ajuda-me na minha falta de f". A prdica precisa trazer este aspecto; tambm a f fraca e vacilante desafiada
e motivada para uma renovao.
111

Sugestes para a pdi ca

Na elaborao da prdica podemos seguir a ordem dos versculos . Na e xplanao , versculo por versculo, chegaremos

- 359 ao alvo, ao escopo do texto. Podemos acentuar os seguintes


aspectos:
- as i rma s comunicam
a Jesus o estado de Lzaro;
- as i rms esperam que Jesus atenda ao chamado;
- o amor de Cristo universal;
- J esus estava perto de Betnia (em Jerusalm);
- Lzaro, na ausncia (abandono?) de Jesus, morre;
quando Jesus chega, Lzaro est sepultado h quatro dias;
- tarde demais;
- a casa das duas irms estava cheia de gente: consoladores;
- decepo de Marta; Jesus falhou;
- Marta estava presa presena fsica de Jesus; nao conseguia crer sem ver e sentir Jesus por perto;
- Jesus no pronto-socorro nem quebra-galho;
- Marta cr no poder da orao;
- Marta no ente nde a profundidade das palavras de Jesus:
teu irmo vai ressuscitar; sua f limitada e est presa aos conceitos e conhecimentos ministrados pela religio judaica;
- Jesus desmascara a tradio religiosa;
Jesus corrige, renova e aprofunda a f de Marta;
- Jesus se manifesta como "Cristo, o filho de Deus" (25-26);
- Jesus rompe com os princpios e dogmas religiosos;
- nossa vida presente e futura se decide em Cristo;
- a ressurreio futura j est presente: hic et mune~
- para o crente, a morte no um desastre;
- Cristo liberta do pecado e da morte;
- para ressuscitar precisamos antes morrer;
- a ressurreio um processo que se realiza tanto a curto
como a longo prazo;
- precisamos passar pelo processo de renovao como Marta;
- crs isto?

- 360 -

18'? D O M

N G O

M a t e u s

A P

TRINDADE

5,38-48

U l r i co Spe rb
1 - Consideraes e x egticas
A int~oduo a este texto est em Mt 5,17-20. Jesus diz
(vers .17)_: " ... no vim para revogar, vim para cumpri r.''Seguem-se varias frases que comeam com ''Ouvistes que foi d i to" (vers.21 ;27;33). E o
texto para este domingo apresenta os dois ltimos "ouvistes que foi dit o" (vers.38;43).
Jesus cita ento v e lhas leisdopovojudaico.Corrige-as ou leva-as ao extremo.Neste aspecto j notamos que nossa percope se
divide emduas partes:vers. 38-42 evers.43-48.Na primeira Jesus corrige a lei fundamental da sobrevivncia humana "ol~o
por olho, dente por dente". E na segunda parte Jesus corrige a velha tradio do "amars teu prximo e odiars teu inimigd'. Estas duas partes esto relacionadas entre si pelo fato de abordarem o relacionamento com pessoas de difci l re 1ao.
Vers. 38: Na lei mosaica encontramos fundamentado o direi to vingana (x 21,24; Lv 24,20; Dt 19,21). Os juize~
tm o dever de impor castigos que equivalham ao ma l cometido. No s a lei judaica, mas tambm a grega e a romana, alm de outras, mantinham este fundamento. Esta uma lei
bsica. Sem e la os cdigos penais seriam fracos e ineficientes para ma nter a ordem na sociedade.
Vers.39: E esta lei bsica contestada por J es us. "Eu, porm, vos digo ... " Jesus, porm, no instituiu o princpio
da no-resistncia. Tambm no se pode confundir este texto
com fatal is mo . Aqui no se trata, por outro lado, de abdicar da justia. Jesus quer, isto sim, tirar de seus seguidores pensamentos de vingana. Os discpulos devem, po rtanto, aprender a suporta r a inju stia . Pois quem segue a J~
s u s pode contar com perseguies. Oferecer a outra face e
a at itude daquele que segue a Cristo. Esta a maneira crista de faze r frente injustia.
Ve r s .4 0: Esta atitude reforada por J esus: prefer-

- 361 vel suportar do que praticar uma injustia. A figura usada


deixa claro que por causa de Deus pode ser necessrio entregarmos tudo, mesmo que f .1quemos ''d espt. d os li .
.
,
Vers.41: Supe-se que os rabinos exigiam dos seus d1sc1pulos o acompanhamento. O discpulo tinha o dever de ir junto com seu mestre. O que era uma lei Jesus transforma num
princpio voluntrio: a disposio de prestar qualquer servio
mesmo que seja o mais simples.
Vers. 42: Sempre de novo pode-se encontrar o pedido de
ajudar os necessitados. No s n~ tra~io israelita,_mas
entre todos os povos. Jesus, porem, nao quer apenas ct tar
um lugar-comum. Nesta frase Jesus quer deixar claro que segui r seus ensinamentos i mp l i ca numa 1 i be rdade perante os
bens materiais.
Vers. 39-42: Jesus no prega simplesmente novas virtudes. A lei mosaica estabelece antes de mais nada a relao
do is rae 1 i ta com Deus. Nestas frases Jesus expressa que a
obedincia a Deus tem um cunho mais profundo do que se possa imaginar. A relao com Deus implica em todos os campos
da vida e no apenas em fatos superficiais. E isto Jesus
explica a seus discpulos, aos que o seguem. Seguir a Jesus, portanto, significa estar disposto a assumir um caminho difci 1, o caminho da paixo.
Vers. 43: O mandamento do amor ao prximo est ancorado na lei de Moiss (Lv 19, 18). No tem, no entanto, o lugar de destaque que assume no Novo Testamento, A frase 11 0di ars teu inimigo" no encontra respaldo no VT. Jesus,entretanto, no a inventou. Ela se baseia na tradio de que
o amor s vale ao prximo (irmo, parente ou amigo).O inimigo automaticamente odiado. O amor na tradio israelita tem limites. Dirige-se ao prximo, e quem no for prximo no precisa ser amado.
Vers.44: E este esquema ques~ionado por Jesus. Mais
ainda, Jesus rompe com esta situaao da vida humana. E ele
mesmo d o exemplo, orando pelos seus algozes (Lc23,34).
Quem se prope a seguir a Jesus tem que contar com inimigos e perseguidores.E,ao invs de reagir contra eles,deve
estar disposto a am-los eorar por eles. Isto, porm, s
pode ser vi venci ado. No se pode fazer de conta como se o
inimigo fosse amado.
Vers.45: Os filhos de Deus sabem amar tambm aos inimigos. Deus no instalou em sua criao sistemas climticos

- 362 com capacidade de distinguir entre bons e maus, justos e


injustos. A ao de Deus baseia-se na bondade. E a ao dos
filhos de Deus tambm se baseia na bondade.
Vers.46: Jesus de modo algum quer insinuar pensamentos
calculistas nas pessoas. Ou seja: amar os amigos no traz
lucros; a recompensa est no amor aos inimigos. Trat~-se,
isto sim de uma crtica ao amor interesseiro dos fariseus
'
que somente
amavam aos_seus colegas~ amigos. Por .1ss~ a
quase irnica comparaao com os publ 1canos. O verdade1 ro
amor no faz clculos e por isso se dedica a todos. Tambm aos que no oferecem lucros.
Vers.47: A saudao mais um exemplo que Jesus usa.Ela
no apenas um gesto formal, vlido para os amigos e conterrneos. Quem segue a Jesus, quem filho de Deus, ca~
paz de saudar tambm aos seus perseguidores e inimigos.Alem
disso temos que levar em considerao a saudao israelita:
"Paz seja contigo."
Vers.48: Aqui no se pensa na perfeio conforme a filosofia grega: como ausncia de erros. Para Jesus a perfeio reside no convvio com Deus. Ser perfeito, portanto,
significa dedicar-se totalmente a Deus.
Vers.44-48: Amar o inimigo no uma nova virtude instituda por Cristo. t, isto sim, uma nova maneira de encarar a vida: assim como Deus misericord ioso, ns tambm
podemos viver e ser misericordiosos. E'. uma nova maneira de
relacionar-se com o outro, a partir de nossa relao com
Deus. E nisto Jesus inclui uma nova mensagem sobre Deus:
Ele o Pai bondoso.
Vers.38-48: Jesus anuncia neste trecho do Sermo do Monte o aspecto do Evangelho que se refere ao amor que no se
vinga, nem se desforra. E ao amor que ultrapassa o li mite
do normal e lgico,para aceitar tambm o inimigo. Este
um evangelho estranho, realmente novo . Ating e e rompe estruturas de vida. As atitudes preconizadas por Cristo somente so possveis para quem o segue e seu discpulo.
No se pode fazer delas leis. Pois elas se tornariam estticas. No so exigncia de vida, mas sim possibilidade
de convvio. Por isso justamente so Evangelho.
11 - Atualizao

Seria um erro transformar as palavras de Jesus numa doutri-

- 363 na de virtud es e deveres ou numa tica de bens e valores.


Facilmente pode-se descambar para o legal ismo neste texto.
A percope puro Evangelho: ela mostra uma possibilidade de vida completamente nova.
E'. uma iluso pensarmos que vivemos num mundo melhor do
que o mundo de Jesus de Nazar. Tambm hoje imperam a vingana e o dio ao inimigo.
A - Por isso caracterizamos o mundo atual com base nos
vers.38 e 43.
1. A justia cega: ela no precisa ver, pois para ela
basta pesar a culpa e colocar como contrapeso o castigo na
balana. O "olho por olho, dente por dente'' encontramos na
justia por conta prpria, quando algum faz justia com
as prprias mos. Encontramo-lo na justia civil que tem
carter meramente punitivo. Encontramo-lo na justia poltica que elimina de uma ou de outra forma todos que divergem da opinio oficial. Encontramo-lo na justia econmica,
onde i mpera a luta da concorrncia. Encontramo-lo na justia internacional, onde naes exploram outras e onde h desejos de explorar.
2. O amor dirigido e delimitado normal em nossa vida.
Os homens de hoje odeiam do mesmo modo como os de ento. 0d ia r o ini migo parece to irreal. Mas visualizemos uma vez
quem tudo pode ser o inimigo: - to vizinho que contesta
as fronteiras da propriedade. E'. o patro que explora o empregado. E'. o empregado que no corresponde s ordens do
patro. E'. o concorrente que impede maiores lucros.to motorista que no deixa ultrapassar. E'. o cnjuge que no se
adapta mais. E:' o filho que no se enquadra. E'. o pai ou a
me que no quer entender. E'. o preto que estorva o branco
e vice-versa. E:' aquele que no aceita os nossos pensamentos.
3. Vivemos to envolvidos nas pequenas e grandes vinganas, nos pequenos e grandes dios que j nem notamos o
que se passa conosco e ao nosso redor. Com que facilidade
se exige a pena de morte de uns e se aceita a 1 i berdade de
outros! _Ainda hoje vale a justia do mais forte, daquele
que esta no poder. Todos lutam para estar por cima. E para
subir preciso derrubar. E'. a que surgem as mgoas,os ressentimentos, as vinganas e os inimigos. Isto vale tanto
para a vida individual, como para a coletiva, bem como para as relaes internacionais.
B - Para dentro deste mundo em que vingana e dio sao

- 364 normais, e anunciada a possibi ]idade de romper com esta misria. E: a alternativa que no foi inventada pelo homem.Foi
proclamada e exemplificada por Jesus Cristo. No mais preciso revolver-se no crculo vicioso das desforras. Jesus proporciona a possibilidade de libertao deste esquema.Vejamos este aspecto do Evangelho conforme os vers.39-42 e 44-

-48 .

l .Seguir a Jesus significa encontrar no caminh o r e ssoas


que vivem conforme os mtodos descritos acima. Como e xemplo
quero citar quo faci ]mente difamado ou at ta xado de comunista o cristo que a partir de sua f trabalha para superar as exploraes sociais. Para tais pessoas Jesus anuncia que melhor no resistir ou desistir, mas sim continuar
dentro de suas convices. Mesmo que isto signifique receber mais golpes. E assim vai surgir a liberdade frente ao
que dizem e pensam de ns. Quando nos preocupamos pela nossa imagem, no estamos livres para agir.
Mesmo que a perseguio chegue ao m x imo (vers.40), o
cristo sabe-se amparado por Deus (Mt 5, 11. 12). Jesus inclusive promete liberdade dos bens materiais. Porque os homens
esto muito presos a suas posses, no conseguem viver livremente.
2.0s inimigos no devem ser amados porque merecem uma
chance. Este critrio seria muito subjetivo. Eles so amados por causa de nossa relao com Deus. Porque Deus nosso Pai, nosso amor no est restrito afrontei ras por ns
~r~~das . O fator evanglico sobressai aqui, porque no amor
1l1m1tado encontramos a verdadeira comunho com Deus. Em
outras palavras: amor no pode ser lei. No posso ordenar a
outro: ~me~ O amor um estado de esprito. Por isso evangelho: e concedido a quem quer receb-lo.
C - Ser cristo na sociedade brasileira no to fcil
como_n~s par~ceu at agora. Justamente porque dei xamos valer od10 e vingana que no nos batem na face nem nos
tiram a roupa , tampouco nos obrigam a trilhar c~minhos preestabelecidos. Nossa pregao tem se restringido vida individual ~ familiar. No mexemos na sociedade, porque traz
perseguioes e inimizades. O Evangelho nos leva a amar nosso inimigo. A orar por ele. Isto so verbos que refletem
aes e no somente palavras. Amar tambm significa corrigir , admoestar e anunciar o Evangelho. Quando algum abusa
de seu poder e de sua autoridade, ento devemos dizer-lhe

- 365 isto. Orar por algum inclui ir falar com ele e nao mandar
Deus em nosso lugar. Significa deixar-se enviar por Deus.
Seguir a Jesus Cristo no Brasil significa dar aos que
pedem e emprestar a quemo deseja.Os luteranos brasileiros
de um modo geral tm um nvel de vida bom. Principalmente
se os compararmos com grande parcela do povo brasileiro.O
que os luteranos, no entanto, no sabem muito bem repartir e compartilhar. So muito presos ao seu dinheiro. E fundamentam isto numa tica do esforo. E: muito importante uma
palavra evanglica para dentro desta situao.
Jesus Cristo viveu de uma maneira bem simples para anunciar a mensagem de seu Pai. E ns, pelo contrrio, temos
mui tas exigncias na vi da. Por isso fi camas presos ao campo de fora do "olho por olho" e do "dio ao inimigo". Porque nos amamos demais, no conseguimos a verdadeira (perfeita~ comunho com Deus. E consequentemente no temos a
relaao correta com os outros.
Certa vez ouvi a frase: a ausncia de perseguies
Igreja muito perigosa. Quando tudo vai bem, camos facilmente na tentao do acomodamento. Esta a situao aparente no Brasil. Digo aparente, porque ou a 1greja no autntica ou os autnticos so perseguidos.Muitos que procuram
vi venci ar o Evangelho so persegui dos. E s vezes em nome
~'?prprio Jesus Cristo. H cristos que no sul do Brasil
J a nem podem ser mencionados. E o que faz com que no desistam? Sua prpria vontade ou se r que no Deus quem
os impulsiona?
O Evangelho tem grandes verdades a nos revelar. Ele nos
faz encarar a vida e o mundo com maior (auto-)critica. Se
di:sermos que no temos inimigos, enganamo-nos a ns mesmos.
Pois Jesus sabia muito bem o quanto provocava a inimizade
dos poderosos com suas palavras.
~ se no estamos incomodando os poderosos, ento estamos incomodando os oprimidos. Algum em todos os casos est
sofrendo com nossa omisso.
111 - Prdica
_A pregao sobre esta percope necessariamente acarretar~ em alguns proble~as ao pregador. Ou ele agradar a com~n1dade e desvirtuara as palavras de Jesus. Ou ele prega-

ra aqui lo que tem a dizer e com isto cai r no desagrado dos

- 367 -

- 366 ouvintes. O Evangelho desmascara muitas situaoes, com as


quais somos coniventes.
Alguns aspectos que podemos abordar em nossa prdica.
l .O caminho do cristo no marcha triunfal. O caminho do cristo passa pelo fracasso da cruz, rduo e escandaloso. A liberdade do cristo est no perdo de Deus.A
cruz leva em seu aparente fracasso at De us. r necessrio,
porm, que aceitemos esta cruz.
2.Jesus Cristo anunciou nova vida a todos que querem
segui-lo. r muito importante para ns que superemos preconceitos, para de fato irmos ao encontro daqueles que normalmente desprezamos e marginalizamos. E muitas vezes os
tratamos pior do que a um inimigo. Para o cristo~ inimigo
aquele que impede ou persegue por causa da f. Doravante
podemos am-lo e orar por ele. Pois ele ainda no chegou
onde ns estamos: com Deus. Os inimigos no Brasil so os
que no querem mudar sua vida para o bem de todos. So os
gananciosos que relegam milhes condio de sub-vida.
3.Jesus Cristo anunciou a alternativa ao dio. Esta
uma nova justia - a do perdo. A alegria consiste em perdoarmos, em no resistirmos. Ela no reside na satisfao
da vingana. No Brasil os difamadores e acusadores so os
que nos batem na face.A eles podemostranqUi lamente oferecer a
outra face. Pois eles no nos podem separar de Deus.
4.Seguir a Jesus Cristo luz deste le xto 1 iberta do
dio e da vingana - ocasiona paz. Paz que provm do ~onv
vio com Deus. E este deve ser o ponto chave da pregaao.
Por causa de nossa relao com Deus. estamos livres da vingana e do dio. Mais ainda, estamos em condies de ajudar
a todos indistintamente.

2 O'? D O M

J o a o

BRAKEMEIER,G. Observaes introdutrias referentes ao evangelho de Mateus, publicado neste livro. - BULTMANN,R.Jesus.
Munique, 1964.- BULTMANN,R. Theologie des Neuen Testaments.
6~ ed., Tuebingen, 1968.- SCHNIEWIND,J. Das Evangel ium nach
Matthaus. Gottingen, 1964. - THIELICKE,H. Das Leben kann
noch einmal beginnen.Stuttgart, 1965, pgs. 65-80.

A P S

TRINDADE

6,37-40 (41-43) 44

Rol f DUbbers
- Traduo
37 (Jesus lhes diss e :) Tudo o que o Pai 111e d (ou:der)
vir a mim; e a quem vi er ter comigo jamais repelirei,
38 Porque desci do cu, no para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou.
39 Esta , pois, a vontade de quem me enviou: que eu
nada de que me deu perca, mas que eu o ressuscite no ltimo dia.
40 Esta, certamente, a vontade de meu Pai: Qualquer
um, vendo o Filho e crendo nele, tem vida eterna, e eu o
ressuscitarei no ltimo dia.
41 Murmuraram ento os judeus contra ele, por ter dito:
11
Eu sou o po da vida descido do cu! 11
42_E d~ziam: "Este no Jesus, o filho de Jos, cujo
pai e mae nos conhecemos? Como diz agora: Do cu desci !? 11
_
43 Respondeu Jesus e lhes disse: "No murmureis entre
vos! Ningum pode vir a mim se o Pai, quem me enviou, no
o atrair; e eu o ressuscitarei no ltimo dia."
45 "Est escrito nos profetas: E todos sero ensinados por D~us . Quem ouve do Pai e aprende, vem a mim.
46 Nao que algum tenha visto o Pai; s quem de Deus
- este tem visto o Pai."
11

Bibliografia

N G O

A percope

, Parec e . qu e o "palco" da passagem dentre a qual nossa


pericope
foi uma 11 reunio 11 em Cafarnaum(11 s 11 foi escolhida
.
n agog~ , sem artigo, cf. v. 59, significa uma reunio fora
do.pr ed io sinagoga!?) E' necessrio lembrar os ouvintes de
h~J e deste conte x to local. A inteno do autor evidente:
Nao devemos compreender o discurso de Jesus e o seu dilogo com os judeus como uma pregao colocada na boca de um
Jesus posterior. O autor quer que se considere o ambiente,
C]ue.se compr ee nda, pois, o que relata, como ocorrido e proferido dentro de um lugar e um tempo bem determinados, por
1

- 368 pessoas que se conhecem mutuamente: uma reunio, talvez numa sinagoga (prdio), em Cafarnaum, cidade na qual Jesus morava (2,12: Mt 4, 13), na qual era um cidado bem conhecido,
ele mesmo como tambm seus pais; e um auditrio que, apesar
11
de murmurar 11 , concordava com Jesus em muitos pontos, como
por exemplo: a realidade de Deus, a inacessibilidade e invisibilidade de Deus. Concordava ta mbm com Jesus na convico bsica da teologia de Jsrael: Deus, apesar de ja ma is
ser visto por algum, tem falado por profetas. A meu ver,
seria til incluir na percope os versculos 45s por dois
motivos:
_Um seria a referncia 11 aos profetas 11 , conte x to indispensavel para compreender melhor o que oferecido aos homens na pessoa de Jesus, porque este contexto, 11 as letras
sagradas de lsrael 11 , desconhecidas s comunidades domini11
cais_ de hoje.!.
tm o poder de co municar a sabedoria que conduz a salvaao pela f em Cristo Jesus 11 ( 11 Tm 3). Vejo ova
lor permanente destas 11 letras sagradas'' na sua profunda teolo~ia e na sua no menos profunda antropologia, indispensveis para compreender o que a 11 salvao 11 que o Pai oferece no e pelo Filho.
Outro motivo para incluir os versculos 4Ss seria a
referncia importante humildade da teologia bblica, tanto do ~T co~o do NT: Ningum jamais viu a Deus! Cuidado,pois,
~om. afi rmaoes humanas sobre o que Deus pensa e pode! Esta
umildade faltou aos que 11 murmuraram1 ' contra
Jesus. Se en11
tendo bem, um dogma teolgico 11 deles foi que o 11 Divino 11 , se
ap~re~er na terra, jamais se revesti r de uma 11 forma pessoal
tao natural, to histrica e to humana dentro do vaivm das geraes.
No aconselhvel 11 eliminar 11 os versculos 41-43.Pois
el~s apon~am para dois fatos importantes para o pregador de
hoje: um e 0 quanto levada a srio a existncia 11 carnal 11
de. J~s~s, e 0 outro: contra Jesus surgiram protestos desde
o 1n1 c1 o.1
Sobre 0 ~so _problemtico das pe r copes escreve Bohren:
Certa~ente nao e por acaso que a falta de atual idade e o
abstra1mento da pregao contempornea andam de mos dadas
com um afeto pelas percopes. 11
11

- 369 1 11 -

Exegese medi tat i va

Parec e - me de suma importncia com o levada a srio a existncia histrica, a origem 11 carnal 11 de Jesus!Ser possvel compreender o protesto dos primeiros ouvintes
das afirma es de Jesus como sustos incero, ou j estaro
zombando? Seja como for, ouvintes ou leitores posteriores
desta passage m joanina podero sentir certo alvio ao notar qu:: j aos ouvintes de ento,aos contemporneos de Jesus, nao foi possvel aceitar sem mais nem menos o discurso do filho de Jos e de Maria. Um cidado cuja ascendncia
carnal nao e posta em dvida - nem por ele mesmo! - afirma:
Do cu desci ! Pode um homem de incontestada e i ncontes tve l origem histrica, e ainda to mo desta, ser o enviado, o
representante, o executivo do cu? E dele depende a nossa
sorte final? (A li s, estamos passando pelas mesmas perguntas quanto autoridade 11 divina 11 e a origem "carnal" dos
documentos bblicos!)
Nossa percope um comentrio observador e narrador do c ern e da teologia joanina: Ho logos sarx
egeneto! (l,14)
Mas o Verbo no elimina a carne, nem a carne o Verbo, ou, com outras palavras: A Autoridade Divina fala e age no humi Ide filho do casal Jos e Maria. E age salv~ndo, sanando como po da vi da a natureza humana de que m
vi er ter com o Filho, ouvindo e crendo.
Nesta mensagem est o escopo da percope: O Eterno se
encontra entre ns no homem J es us, o Divino na existncia
terre~a.deste filho de Jos, o Grande Distante est perto
no prox11110 Jesus, o Pai invisvel se tornou visvel num co ~ci dado nosso por no me J esus . E a meta de sua desci da no
e sa~var a Deus, mas servir de 11 po' 1 aos que se acham subnutridos~ ma~ nutridos quanto a um comportamento agradvel ao Pai e util aos irmos.
Mas, confrontando os ouvintes de hoje com esta percope, ~ pregador se deve lembrar de uns pontos bsicos nesta
per1co~e que no
foram problemticos para os ouvintes
de.entao.' a f im de no e~igir demais dos ouvintes de hoje,
pois ser1 a falta de sobriedade e de misericrdia . Ningum
s~ entr:gue a iluses no tocante ao 11 vcuo 11 bblico -no
digo: vacuo religioso! - das nossas comunidades' Este vcuo bblico no foi o mesmo em Cafa rnaum. o "ab i smo 11 que
se abriu entre o filho de Jos de um lado e os seus ouvintes de ento, do outro lado: no nos dev~ levar a es-

- 370 quecer o que


unia Jesus e este povo, apesar das murmuraes.J mencionamos convices que tinham em com um. Repetimos e ainda acrescentamos: A f na realidade de Deus, a
certeza de Deus ter falado, a convico de Deus ser capaz
de conceder ao homem uma nova existncia alm-tmulo.Sobre
estas convices no houve discusso alguma na sinagoga em
Cafarnaum!
Hoje,porm,se deve considerar: Para aquele que nega a
realidade de um Deus independente das leis da natureza e da
histria, a nossa percope es t ultrapassada; pois ele nega naturalmente qualquer "descida" de um 11 ser 11 de um cu
imaginado por ordem de um Deus irreal. O reconhecimento consciente da realidade divina permanece a conditio sine quanon
para estar disposto a ouvir percopes como a nossa. t realm~nte ~ssim ~o~ afirma a carta aos Hebreus que, uma vez perdidos
os primeiros rudimentos dos orculos de Deus"
no
consegui,m~s mais compreender a linguagem evanglica. 'E 11 f
em Deus
e, segundo a carta aos Hebreus
um dos artigos fundamentai~, um ensinamento elementar a r~speito de Cristo.
Creio que devemos J'udar o nos s o povo
na sua pobre11
1 - 11
'
za
teo og1ca , a,se 11 0 Pai atrair os ouvintes", compreen11
derem melhor a salvao 11 oferecida por Deus a todos no seu
hc:mem ~esus:. A.meta_ profunda desta salvao - 11 Eu o ressuscitarei no ultimo dia!"- dificilmente ser compreendida se
crermos num Deus "minimizado"
no temido e no reconhecido
por ningum.
'
Mas como poderemos vencer a nossa pobreza teolgica? Lembr? .conte x to teolgico do NT: t o conceito de Deus no AT,
principal m:nte como o encontramos no declogo e nos profet~s. Com~ e profunda a teologia do declogo! Mas profundas
sao_tamb~m a ~ntropologia, a sociologia, a psicologia do
decalogo. Seria uma boa e sbia a titude poimnica lembrar
0 que c~amamos 0 primeiro mandamento do declogo. Estaramos assim de acordo com experincias da pri me ira cristandade: "Sabe~os, com efeito, que a lei boa se for usld a como uma_ le~" (1 Tm 1). Refi rome compreenso do "Divino 11
nas primeiras passagens dos Dez Mandame ntos. No h linguagem nem objeto que possa corresponder grandeza divina. Segundo a teologia joanina, o prprio Filho declarou: 11 0 Pai
111
maior do que eu.
Mas, conforme o testemunho apostlico,
Jesus se compreendeu como Filho do Deus do declogo. E a

- 371 nossa p7rcope proclama a encarnao histrica do nico Deus


verdade1 ro, Senhor permanente e independente no vaivm de
mil geraes, em um cidado da nossa terra. Fato interessante que a nossa percope no impe a f na concepo deste Filho no corpo vi rgern de Maria pela ao do Esprito Santo. Creio que esse fato pode ser mencionado, sem devermos
pr em dvida a confisso e convico da cristandade.
O fato da ao divina no Filho proclamado sem violar
. 1 iberdade humana. Se fosse violada, as murmuraes teriam
sido logo sufocadas. Mas a censura,
a crtica se levantou:
"No duvidamos de que pode haver descidas do cu. Pois cremos que para Deus nada impossvel! Mas tu - tu s simplesmente um terreno. 11
Como Jesus enfrenta e sta censura?
Ele salienta em primeiro lugar a ao indispensvel do
prprio Deus que o enviou: "Ningum pode vir a mim se o Pai
11
no o atrair !
Mas ao mesmo tempo ressalta tanto a sua prpria disposio de aceitar a quem se aproximar dele como tambm a responsabi 1 idade do homem que dele ouvir. Depende agora do prprio homem se o enviado do Pai ter lugar na sua
vida, se cr aprendendo e aprende crendo. A quem recusar
ouvir, convm lembrar 3,36b!
As promessas dadas ao que aceitar o Filho so universais e ultrapassam, sem neg-la, a realidade amarga da morte.
O ato da f no , pois, segundo a teologia joanina
si mp 1es questo de boas disposies humanas. t obra de D~us.
Requer a ao do Pai. Mas o mesmo ato exige tambm a ao
do homem: aproximar-se daquele que merece esta confiana,
que veio para ser pr ximo .
IV -

Sugestes para a prdica

"Eis a raz verdadeira da tragdia universal: Deus se


cala!" (Mi~uel de Unamuno, 1864-1936). Pode-se partirdes11
t'.:
acus aao'' do pensador espanha 1 e acrescentar consideraoes _so~ re _as convices do povo de 1srae1 que pertencem
t~mbem a fe ~a cristandade: "Foi aos judeus que foram conf1 adas os oraculos de Deus" (Rm 3). E os prprios orculos
reve 1 am que os pensamentos e caminhos de Deus se referem a
t~dos os povos, e no somente a um nico.' Surgiu a acusaao "Deus se cala" de uma omisso nossa? Silenciamos o fa-

- 372 to de Deus ter fa l ado e qu e r e r falar aos home ns?


Nossa p e rcop e pro c lama ainda llla i s : Somos convidados a
aceitar o Filh o de Deus que d es ceu do Pai . O qu e esta visita divina na pessoa de Jesu s , oferece ao ho me m ul trapas'
, .
sa o que Deus oferece ao homem pela natureza e pelo conv1v10
humano. Oferece vida eterna.
A oferta universal, mas no "mgica".' i: graa divina
ser atrado pelo Pai ao Filho, cidado sem crime (Jo 18-19).
Alis, pergunte-se cada um o que ou quem o atrai?.' Homem que
no atrado por isto ou aqui lo no exist e ! Mas h atraes
que prejudicam, arrunam. Cremos que far bem nossa natureza, ao nosso carter sermos atrados a Jesus. Mas depende
tambm de n s ,se nos aproximamos dele. O Pai de Jesus no
viola a liberdade que nos concedeu. O que espera antes de
tudo: ver, vir, ouvir, aprender o que ele oferece humanidade na pessoa de Jes us, homem verdadeiro.
Que esta oferta divina no fica sem protestos orgulhosos e risadas da parte de homens "teologica e
sociologicamente11 seguros - a nossa percope j o revela.
. . Mas o homem no espere que Deus pea descu 1pas aos ch~u
v i nistas ,~terrc:ristas, telogos desiludidos, cidados ~n~i
ferentes a miseria humana aos fariseus sem amor ao pro ximo
e_aos pecadores sem temor.de Deus, etc., por ter resolvido ~i
sitar o mu ndo e agir mediante o Filho tal qual fez e contin~a a fazer. O homem far bem em se lembrar sempre quo faci l~ente, para desgraa nossa e do nosso ambiente, somos atrai dos PC:r loucuras religiosas, polticas, filosficas, por
tant~s vaidades masculinas e femininas. Desgraa no ser
atraido pelo Pai ao Filho. Graa ser aproximado do Filho_
e permanecer, confiando, a prendendo obedecendo, na comunhao
com ele: Esta comunho faz suportar.as desgraas desta vida
passageira e liberta das trevas do "ltimo dia".
O Pr:gador deve tornar bem claro, suplicando sempre a
colaboraao do Pai, que no existe motivo justo para duvidar d~ tarefa salutar do Filho. Ele qual po e, como ser
perfe1t~ment: humano, est tambm perfeitame nte a par da
nossa s1 tuaao humana.
O nico perigo para ns, no caminho para a salvao,
no parte nem do Pai nem do Filho. Est em ns mesmos. Seria unicamente uma falta de fome, uma comodidade ntima que
diz: 11 Comunho minha com Jesus e dele comigo? Estou saciado} De nada ma is preciso~ (Lc 6,25; Ap 3,17).

- 373 V - Biblio grafia


BEA, Agostinho. A historicidade dos Evangelhos. Edies Pauli nas, 1967. - BOHREN, Rudolf. Predigtlehre. Chr. Kaiser,1971.
- FEUILLET, A. O Prlogo do Quarto Evangelho. Edies Paulinas, 1971 - HEINTZE, Gerhard. Meditaao sobre Joo 6,37-40
(41-43)44. ln: Eichholz/Falkenroth, eds. Htfren und Fragen.
Neuki rchener Verlag,196 7. - SCHLATTER, Adolf. Der Evangelist
Johannes~ Cal w, 1930.- SCHLATTER, Adolf. Der Glaube im Neuen
a
Te s ta me n t . 5- e d . , Ca l w, l 9 6 3 .

F ativa no amor, por G.W. Forell. Concrdia-Editora


Sinodl, Porto Alegre 1977, 1 vol. br., 115x200mm, 190 p.
Trata-se de um estudo que discute as vrias interpretaes dadas tica social de Lutero. O A., conhe:;ido
pesquisador de Lutero nos USA, mostra que Lutero nao pode ser reduzido ao simplismo de ser o animador do espri
to capitalista ou que entregou a tica ao seu
prprio
curso, indiferentemente ao que ensina o Evangelho. O A.
segue um mtodo acertado de buscar a estrutura subjacente ao pensamento de Lutero sempre que pensa a relao fsociedade. A se configura claro que Lu tero coloca o pro
blema no em termos de lei mas de compromisso do amor
Deus e a obedincia aos ditames revelados. Como o ttulo
diz, a f ativa no amor constitui a formula bsica da
tica social do grande Reformador. O A. nao entra na dis
cusso moderna que s e elabora fora dos quadros confessio
nais dentro de um discurso cientfico. A poder-se-ia si
tuar Luterc. mais do lado da indignao tica e proftica
do que da atitucle poltica que exige analise da realidade e passos tticos para a concretizao do projeto
da
justia.

G.D.B.
"Revista Eclesistica Brasileira",

38/151/1978.

- 375 -

- 374 perigoso.
21~

DO M1 N G O

G n e s i s

A P OS

TRINDADE

32,23-33 (Almeida:vv.22-32)

Erhard S. Gerstenberger
A lenda de Jac e da sua luta com Deus constitui uma
"pedra primordial" dentro da literatura bblica. E: bem difcil entend-la. Por isso, deixemos de lado, tanto quanto possvel, os nossos prprios sistemas de pensar, de sentir e avaliar, to nitidamente organizados, e reflitamos
livremente a mensagem de Deus.
1 . Reflexo exegtica.
l. 1 A cena, as figuras e as intenes do cont o sao m!s~e
riosas: Jac, como chefe e retaguarda da caravana fam1l 1 ~r,
atacado no vau de Jaboque antes 11 do romper do dia". Muitas geraes narraram e conseqUentemente interpretaram a
luta do patriarca com o elemento annimo e demonaco (cf.
o v.25; a enumerao dos versculos segue a Bblia Hebra~
ca). A origem do conto obviamente anterior f ja~s~i
ca; no incio o conto falava simplesmente de uma res1stencia herica a um demnio da noite ou do rio. Mais tarde
agresso foi atribuda a Jav mesmo (cf. vv. 28-31) Os mesmos motivos mostrandoDeus comoautordemisria imerecida,tambm se en:ontram em Ex 4,24; 1 Sm 16,14; Am 3,6_etc. _A:sim
s:ndo,a fe israelita preservou traos da rel igiao an1m1sta.
Nao existe uma doutrina quimicamente pura e intele~tual no
AT nem deve existir. Pois todos os tipos da religiao hu~a
na (alm de constiturem desvios na busca de Deus) contem
idias verdadeiras. Em casos concretos bom que a B(bl ia
ainda inclui aafirmaodequeDeusmesmosepode torna~ inimigo do homem - inexplicavelmente e sem a justificaao pronta na base do pecado humano (cf. J l9,l9ss; Mt 26,28s; 27,
46). A nossa prpria experincia testemunha um Deus nem se~
pre misericordio~o
por isso calculvel), mas um Deus l 1vre, e duro,e ate, as vezes,arbitrrio e cruel (pens~mos em
catstrofes, em guerras, doenas e acidentes etc, vistos
da perspectiva do indivduo inocente). Lutero descr:veu de
vez em quando o 'deus escondidd 1 como um poder horr1vel e

Je

1.2 Aps a adoo do conto pelos israelitas, esta a nossa viso da histria traditiva do texto, acrescentou ou acentuou-se a final idade humana nesta luta. Jac aceita o desafio divino. Quase superando o seu adversrio transumano,
ele exige de forma ultimativa a bno de Deus (v.27). Isto significa: H camadas antigas no AT que mostram uma confiana inabalada nas capacidades do homem. A criatura quase se torna um parceiro igual para Deus (cf. Gn l,26-28;
Sl 8; Ex 24 ,9-11). Esse homem tem traos do tit que conhecemos da mitologia grega; ele no s domina a natureza,
mas ele tambm pode ameaar a soberania deDeus(cf. Gn 3,4;11,
6). Partindo uni lateralmente da 11 onipotncia 11 de Deus, a
nossa teologia tende a ocultar esse fato. Mas a Bblia
bem clara neste ponto. Ela admite que o homem traz consigo, para a luta inevitvel com Deus, poder a ponto de o
Senhor sair derrotado, oprimido ou abandonado (cf. Jr 2,5
ss; 4,19-22; Me 8,31; 1 Co 15,3; Hb 9,14). O homem, por sua
vez, apesar da sua autonomia, no pode controlar-se a si mesmo (Gn 3,6; Sl 14; Rm 7,15). Infelizmente essa anlise do
homem poderoso ainda corresponde muito bem nossa prpria
real idade.
l.3 Em outro processo traditivo realizaram-se interpretaes etiolgicas da luta de Jac. Isto : Costumes ou fatos do ambiente contemporneo foram explicados e justificados atravs de referncia aqueles acontecimentos. Assim,
um certo 11 nervo do quadri 111 (v.33) foi lio medo de tocar
gado ao deslocamento da coxa de Jac (v.26). Certo, o ferimento do lutador humano pode servir de advertncia perptua de que o homem no sair da luta com Deus impune .Mas
alm disso no podemos compreender mais nem o referido costume nem a sua justificao. Basta lembrarmo-nos aqui de
que sempre existem, em todas as camadas sociais, tabus e ansiedades que s vezes recebem racionalizaes semelhantes
(cf. as nossas proibies do incesto ou do homossexualismo).
- As duas etiologias restantes tm um carter etimolgico,
isto , elas querem explicar palavras existentes. Jac
renomeado em 11 lsrael 11 (v.29). O mesmo acontece em Gn 35,9,
sem explicao etimolgica no entanto. A interpretao oferecida pelo nosso texto 1 contudo, puramente imaginativa;ela

- 376 parte do som do nome "Israel", colocando "Jac" como sujeito da frase "sarah (com) 'el'', "(ele brigou (com) Deus".Na
realidade a combinao de-'-'sarah +'el" significa "Deus luta (em favor do nomeado)". A interpretao de "Peniel" (v.
31) luz da luta entre Jac e Jav parece mais inc6ngrua
ainda. O nome deste lugar, que talvez foi um ant i go santurio, provavelmente se refere a urna viso de Deus seme lhante quela de Gn 28, lOss. O nome em si no insinua um enco ntro agressivo ( nem um encontro com Jav especificamente).
Mesmo sendo erroneas ,essas i nt2rpretaes comprovam a preocupao contnua em entender e aplicar este trecho. Em conjunto com Os 12,3-5, uma denncia radical do patriarca,essas observaes do uma certa idia dacompl ic a da histria
da transmisso do nosso conto.
1.4 Na forma atual, o texto interrompe a narraao que quer
relatar a reconciliao entre os irmos Jac e Esa (Gn 3233) Na redao final do Pentateuco vrias vezes fora destacado o conflito entre eles: J no ventre mater no os gmeos
11
lutaram 11 pelo domnio (Gn 25 , 22). Depois, jovens ainda,
eles fizeram um contrato duvidoso a fi m de transferir ao
mais novo o direi to da primogenitura (Gn 25,29-34). Tambm
nesta ?cas~o Jac age da posi o mais forte e com a mesma
determ1naao que j encontramos em nosso trecho (cf. Gn 25,
31 ,33; 32,27). Finalme nte, em Gn 27, Jaccons egue defrauda r a heran a patrimonial de s e u irmo. Nos captulos Gn 3233, no e nt.::nto, a reconciliao com Esa preeminente. O nosso trecho e claramente uma insero do redator entre Gn 32,21
e 33,l: Agora o conto da luta com Jav serve como momento
r~tardador no fluxo da narrao. Qual foi a int eno d~ comp1 lador colocando a "luta" aqui? Ele quis destacar mais uma
vez a fora e a astcia do heri? Ou ao contrrio, quis expri~ir a sua opinio de que Jac tinha que pr estar contas a
Jave antes de aproximar-se do irmo? Em todos os casos,a figura. ambgua.de Jac est no centro.da narrao. El a mostra
defeitos e v1 rtude s bem hu manos ela consegue , contudo, ar ranjar-se com De us e torn a r- se (co nf orme o plano divino e
graas pacincia de Deus) 0 fundador do povo eleito. Na
figura de Jac os israelitas comemoravam a prpria alma ambgua.

].5

M.Noth supoe que os contos sobre Jac e Labo, bem como

- 377 aqueles sobre Jac e Esa (Gn 27-33), surgiram na terra nova, ao ~este do rio ~ord?. Pouco tempo depois da imigrao
em Canaa, al2u mas tribos israelitas comearam a colonizar
aquelas regioes praticamente inabitadas. O vale de Jaboque
era uma entrada importante para este campo. Como sempre
acontece, os colonos enfrentaram condies duras na terra
selvagem. Os contos de_Jac, ento, se localizam principalmente ao leste do Jordao (Gn 31,23: montanha de Gileade;Gn
31,49: Mispa; Gn 32,3; Maanaim; Gn 32,31: Peniel; Gn 33,17:
Sucote). Por isso, a tese deNoth parece plausvel. ConseqUentemente podemos considerar tambm as implicaes teolgicas deste "lugar vivencial". Pioneiros na colonizao
via de regra parecem ser menos sofisticados e mais realistas nos seus pensamentos. Os contos de Jac conforme Noth
mostram justamente essas qual idades. Eles f~lam de modo gr~s
sei ro de Deus e dos homens, so orientados para o homem e
seu destino, mostram admirao por aquele que se impe no
seu ambiente. Em resumo, eles refletem a luta pela sobrevivncia bem como a alegria e o orgulho na vida pioneira.
11. Refle x o sobre a situao atual
2. l Onde e como ns encontramos o Deus atacante? Essa questo possivelmente provoque uma averso instintiva entre cris~os bem e~tabelecidos. Deus somente castiga com razo; ele
e justo, nao pode ser inimigo arbitrrio. Os amigos de J
pensavam neste sentido, dentro de um sistema teolgico bem
organizado. J recusou veementemente essas idias. O
membro simples e marginal da nossa comunidade s vezes sabe melhor do que os telogos que Deus pode atuar sem motivao compreens ve 1. As frustraes profundas da nossa poca, os acidentes e as catstrofes cruis, os sofri mentas
imerecidos e inumerveis de nosso mundo no cabem num sistema teol gi co . Ser culpa do prprio homem que ocorrem tantas tragdias de dia para dia? Sim, mas o homem que sofre
sente que o abalo de sua existncia causado por uma fora alheia, horrvel e transumana. Ao escrever estas linhas
ouve-se, outra vez, que um avio com dezenas de turistas caiu, matando todos a bordo. Entre eles estavam quatro casais
italianos, recem-casados e em viagem de lua-de-mel. E quem
sabe quantas crianas, no mesmo dia, so vitimadas pela fome, pela desnutrio? Quantos inocentes so torturados , quan-

- 379 -

- 378 tos desesperados permanecem sem conforto? Em todos esses casos, a fora maior atrs dos acontecimento: p~de :er aquele Deus que ataca o homem individual sem d1st1ngu~r en~re
bons e maus. Ou sera- que um Sata- faz tu d o 1 sso.? Nao ad 1an.
ta muito implantar um esprito hostil para expl ic~r a e x istncia do mal no mundo. Pois a responsabilidade final sem
f 1qu e mos com o Deus
pre esta- como Deus todo-po d eroso. Ass1m,
atacante do nosso trecho e admitamos que este De~s pode agredir-nos sem motivao compreensvel ou imagina~el. Cer:
tamente a nossa prpria culpa, to cara na pregaao evange1 ica, no serve para resolver o problema.
2.2 Curiosamente o homem atacado no se contenta em simplesmente resistir~ agresso de fora, por e xemplo para manter o "status quo" da sua vida. No, ele desenvolve, d~ ~e
pente, uma estratgia ofensiva para combater o poder _divino e, se for poss ve 1, ocupar o 1ugar de Deus. 1sso ~ 0 testemunho claro do AT (cf. 1 .2). O homem aceita o desafio d~
Deus, reage e exige participao no poder de Deu:.
pedido de ser abenoado exatamente implica essa exigen~ia. O
poder humano se deriva de Deus mesmo, poder parc1al~nte concedido, parcialmente roubado. Neste sentido, a situao atual da humanidade muito significativa.O homem chego~
ao ponto de mais ou menos substituir Deus na administraao
do globo. As cincias e a revoluo industrial subseqUente constituem sinais do poder crescente do homem. Na su~ luta moderna para obter a bno de Deus, o homem consegui~
sucessos impressionantes e ao mesmo tempo cometeu brutalidades inditas contra a natureza e os semelhantes. Na real idade, o homem de hoje um srio concorrente de Deus, lutando contra doenas e inclusive a morte, conquistando e
mudando a face da terra estendendo o seu domnio ao espaco
' no ponto alto do desenvo 1 vime
nto
celestial. Mas justamente
tcnico, no momento da sua vitria sobre Deus, o homem tem
que reconhecer a prpria vulnerabilidade (como Jac m~ito
antes!) . O progresso aparentemente i 1 imitado da human 1dade cria mais problemas do que ele pode resolver. Podemos faci ]mente ocupar a lua, mas no temos condies de assegurar bem-estar, paz e justia na terra.

2.3

A vida brasileira parece ser uma variante

fiel desta

luta com Deus parl obter a supremacia. A partir de vrias


heranas culturais, da Europa,da Asia, da Africa e dos prprios indgenas, o homem brasileiro de hoje luta em duas
fronteiras. Ele quer vencer a natureza, o mato grosso, e
implantar, em todas as regies da ptria imensa, o p~prio
padro de crescer, c~iar e pro~u~~r. _Na out~a.fronte1:a.
ele quer superar quaisquer def1c1enc1as ~oc~a1s, :conom1cas e po 1 ti cas ainda e x istentes em re l aao as naoes 11 desenvo l vi das". Ele quer absorver o subdesenvolvimento (Furtado). Nesta luta j se mostravam grandes sucessos, demonstrveis em cifras de produo e progresso. Por outro lado,
revelavam-se as fraquezas especiais do homem da nossa regio.
Srgio Buarque de Holanda descreve, por exemplo, a mentalidade natural do brasileiro: Ele gosta de aventura e prefere um trabalho "predatrio", isto ,ele gosta de ganhar
1 ucros fceis e imedi atos. "Todos querem extrair do solo
excessiv0s benefcios sem grandes sacrifcios . . . . queriam
servir-se da terrl ... 's para a desfrutarem e a deixarem
destruda' . 11 (op.cit. p.21). Por outro lado, na fronteira
industrial luta-se com a mesma determinao e o mesmo jeito. O alvo comum competir com as outras naes, ganhar
posies de poder e de excelncia, vencer pobreza,analfabetismo, dependncia, limitaes. O economista Celso Furtado v as conseqUncias assim: "Entretanto, como a tecnologia ... escapa ao centro interno controlado!:" da: decises
econmicas, a intensificao da capitalizaao nao significa necessariamente criao de empregos. Significa sim,quase necessariamente, maior concentrao da renda, ou seja,
um aumento mais que proporcional da produo de bens suprfluos." (op.cit. p.8) " ... de um lado est a massa da populao, cujo poder de compra mdio permanece praticamente
estagnado; de outro est a minoria privil:giada com altos
padres de consumo em rpida diversificaao. 11 (op. cit.p.27s).
Os estudos citados sobre o centro urbano de So Paulo e a
zona chamada "Alta Sorocabana" no estado de So Paulo sao
ilustrativos para os fatos alegados por Celso Furtado e
Buarque de Holanda.
2.4 No basta, porm, considerar a luta do homem com Deus
somente sob perspectivas globais e estruturais. Cabe, sim,
refletir a posio e os sentimentos do indivduo envolvido
nesta 1 uta de vi da e de morte. Podemos constatar, portan-

- 381 -

- 380 que num quadro mundial e x istem duas categori~ s ~e hoUma minoria participa ativamente na
para a supremacia no mundo, enquanto uma maioria na o tem condies de aplicar fora, mas objeto passivo ~o ~roc:sso
revolucionrio do desenvolvimento e da industr1al1za ao. _
Qual a situao do indivduo em ambos os grupos?
luta

edor ativo investe toda a sua e x 1s tenc1a,


e mpen ha. muitaitanergia a fim de participar e permanecer na cor~ida ag
d
da. Ele se acomoda de corpo, esprito e alm a as r~gr~s
competio a renda pessoal e fami 1 iar se torna_a ultima
'

s ganhas _
medida da verdade.
Ele tem medo de perder pos1oe
Por tudo isso vive sob a presso de aumentar os s:u: recu r
- eco nom1
sos, de consolidar e perpetuar a sua v1tor1a
_ ca 0 s
ferimentos recebidos incluem: afastamento consideravel ~a
real idade desequi 1 brio psquico mecanizao das relaoes
'
' outro lado, o 1 u ta dor
humanas; isolamento
de Deus. - Por
. _
11
passivo 11 e marginalizado tambm investe toda a sua exis
tncia na luta para sobreviver. Ganha os meios de sus~en
tar-se com a sua faml ia, meios escassos que no per~i~em

- da- para acumu 1 ar reserv as A mi. ser 1a


uma v1d a digna
. Nao
-

ten tat 1vas de


e- uma ameaa real e d1ar1a.
Havendo muitas
evad1. r-se do estado opressor fracassado, o h o rne m gradualmente se acomoda humi 1dade indigna. Foge de 1e ~ espera~
a, e chegam a apatia e o fatalismo, que so rom~idos ape
nas pelas iluses oferecidas pela loteria esportiva, por
. .
- .
crenas superst1c1osas,
e x tat1cas
e apoca l pticas e por
. . outras substituies. O ciclo vicioso de salrio_insuficiente , falta de sade e de formao produz geraoes de lu-d
d des etadores frustrados e e x plorados por grupos e soc1e
senvolvidas.

~~~s

concor~encia

2.5 Precisamos abordar ainda o papel da igreja e das ~o~


munidades crists nesta luta para viver e dominar. Ad mitimos de incio que a igreja faz parte integral do mun~o e
da atual luta econmica e tcnica com Deus. Existe~ inu~~
rveis laos entre a sociedade e a comunidade de fe. A im
de subsistir como organizao respeitvel, por e x emplo~ a
igreja tem que usar tambm os meios financeiros, comunic~
dores e ideolgicos disponveis . No h nenhuma alternat 1:
va ; a igreja no pode nem deve sair de~te ~undo. Apesar di~
so porm ela deveria ser uma comunhao libertada e aber
ta : vivendo da capacidade de ouvir a voz viva do Senhor. A

igreja deve ri a a) e ntender a natureza verdadeira da luta


com Deus confo r me os testemunhos bblicos; b) ana 1 i sar corretamente a r e al idade de hoje; c) definir atualmente a legitimao d o con f lito entre Deus e o homem. Este terceiro
ponto precis a de u ma elaborao agora. luz da Bblia podemos dizer qu e Deus jamais quis criar um escravo subserviente, mas s i m u ma criatura capacitada de at desafiar o
criador. O ho me m de fato ad ministrador do mundo e como
tal pareei ro e companheiro de Deus. A luta legtima e necessria entr e os dois, contudo, no visa destronar Deus
e deificar o homem. Esta a transgresso perptua do homem. A luta orienta-se .. isto sim, para uma certa co-respons ab i 1 idade do homem n a manuteno (que no deve tornar-se
destruio) do mundo. O homem deve participar no poder divino, mas deve - ex igncia urgentssimaevital -reconhecer
as suas 1 imita es.
2.6 Para explicar o ltimo ponto e assim encerrar as ref 1e xes exeget 1 c a s e atuais convm chamar ateno para o
exemplo de Jesus Cristo. Ele tambm lutou com Deus (Mt 26,
36-46): Este trecho da histria da paixo pode ser lido e
entendido luz de Gn 32. So muitos os pontos de convergncia e de d i ve rgn c ia entre ambos os textos. Jesus ,bem
como Jac, alcanam uma certa harmonia entre resistir a
Deus, entregar-se e finalmente obter a bno; no caso de
Jesus Cristo, atravs do sofrimento at a morte e a ressurreio. Jesus no e x agera a luta a fim de impor-:_e ao
adversrio como vemos nos contos de Gn 3 e 11. lambem em
Gn 32,23-33 aparece a tendncia humana de explorar a vantagem ganha; o lutador divino tem que paralisar a coxa de
Jac ( v. 26) para evitar a humi 1hao nas mos do homem. Jesus tambm pede socorro, mas ele no insiste na posio
forte e aceita a recusa de Deus (Mt 26,39). Jac, bem como o homem moderno, sui vitorioso; Jesus,escondendooseupoder verdadeiro (tambm na cruz!), somente ora a Deus (Mt26,
39.42 . 44). Em resumo, ambos os lutadores acham uma certa
harmonia entre resistncia e submisso. Ambos aprendem,cada um sua maneira, que o homem no deve ultrapassar os
seus limites. Ele:em ltima anlise, no autnomo, mas
sim interdependente com Deus. A busca de participar no poder divino legtima. Mas a ocupao do trono div~no . (tentao mais grave atualmente) seria fatal para o propr10

- 382 -

- 383 A

D A

homem.

Bibliografia

Joo

BARTHES,R./MARTIN-ACHARD,R. Anl is is estrutural Y e x~.


b-bl
Buenos Aires
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Rodolfo J.

Uma N ova Dana, por Johnson Gnan abara n a m . T r a d do alemo.


_
0r
Editorial Sinodal, Porto Alegre 1970. 1 vol. br. 135 x 220 mm, 81 PP
A um professor hindu, pastor evanglico-lute rano, qu e ~enta. rcve 1s
a~ povo d a lndia o J esus de Nazar. P ara isso, u sa expressoes, imag~n.
comparaes e m etforas prprias de seu povo . e um g~ n e ro 11terar10
s ias
igualmente adap t a do m en talid a d e indi a n a. Ass im, a traves d e poe de'
a
lcance
par bolas e exemplos, r econta o Eva n gel ho e o co 1oca a 0
h . de
seu povo. D a, surgiu u ma obra gostosa d e ler literariamentedec ce~~oc a r
sabedoria e sabor regional, um belo exemplo de como se po
0 Cristo com s u a mensagem dentro d a m entalid a d e d e um P-Ir_~ Baggio

"Revista Eclesistica Brasileira", 34/133/197 4

REFORMA

8,31-36
Schneider

1- O te x to
Quanto tradu o ou quanto clareza para a compreenso,
o texto no contm maiores problemas.
Devemos perguntar pela unidade da nossa percope . Poderia
ser includo o v. 30, mas isto implicaria o exame do relacionamento da no ssa p er cope com o texto anterior. Mas importante o relaciona me nto do nosso tex to para alm do v.
36. Porque l somente a situao conflitante dos judeus contra Jesus rec ebe a sua l ti ma e mortal acentuao. No entanto,
j no v. 33 se mostra claramente a raiz do conflito
que culminar com o rompimento definitivo e irreparvel entre os judeus e Jesus. Assim devemos ter presente a continuao dos acontecimentos narrados alm do v. 36; no precisamos, porm, deter-nos na prdica mais detalhadamente com
esta continuao.
Devemos perguntar tambm, se as pessoas que formulam a
resposta do v. 33 so as mesmas das quais nos vv. 30 e 31 se
11
consta ta que
creram em Jes us 11 H e x egetas que negam esta
identidade. No entanto, ao meu ver iramos privar o nosso
texto da sua real p rofund ida de, se e x clussemos os que "creram" (v. 31) dos que tomam a posio conflitante do v. 33.
A exigncia d e J es us e o dire i to que ele reivindica para si
so to enormes e absolutos, que tambm a leve e rpida inclinao de f (vv. 30 e
31 ) no podia aceitar e admitiresta exigncia.
A unidade do te xto deve comprovar-se pelas suas afirmaes. E, neste particular, o texto apresenta algo de especfico. No tanto pelo fato que no Evangelho de Joo s aqui
encontramos a palavra 11 ser livre''. Alis, a palavra"liberdade11 nem to f reqllen te no Novo Testamento. Mas h uma outra particularidade no nosso te x to.
Ele no fala s de 11 discpulos11,
mas do "ser verdadeiramente um discpulo" (v.31),
ele no fala s da "liberdade", mas de "ser verdadeiramente
livre" (v.36). Naturalmente, uma chave bblica nos mostrar
que estes dois advrbios "aletos 11 e 11 ont0s' 1 no se encontram

- 384 somente aqui, e que eram tambm palavras da 1 inguag e m ~i'.ia


do povo. Mas na nossa passagem bblica, estes dois adverbias
recebem uma acentuao e nfase toda especial.
.
11
Ser verdadeiramente seu discpulo 11 - 11 ser verdade1 ramente 1 ivre 11 Na clara diferenciao entre um discipulad~ fals~
e um 11 ser verdadeiramente seu d i se pul 0 11 , e entre uma er ronea 11_berdade e o ''serve rdade i ramente l i v re'' consiste e reside a d i nami ca do texto.Cada pregador queira precave_r-se con!ra ~ma compreenso muito rpida desta diferenciaao. Ela e mais p:o-.
funda do que a anl i se do pregador rotineiro faz supor a pr1 meira vista.
1 1 - A situao e o contexto

Jesus est em Jerusalm na festa dos tabernculos. Essa


festa, que durava sete dias e era a mais popular entre os
judeus, era celebrada no ms de outubro como o fim da colheita.
A Galilia tinha rejeitado Jesus. Por isso ele transfere
a sua atividade a Jerusalm. Essa atividade se apresenta
como uma longa e rdua luta com as camadas influentes dos judeus, entre as quais os fariseus eram a fora preponderante.
O povo oscila indeciso de um lado para o outro. _
Na primeira fase da luta na festa dos tabernaculos (cap.
7, 14-52),
Jesus continua com a sua auto-revelao, ini c iada
no cap. 5, e intensifica cada vez mais os seus ataques contra os judeus incrdulos. Os judeus no lhe podem negar a su a
admirao pelo seu conhecimento das letras sagradas (7, 15).
r dramtico o relato da polmica, da controvrsia e~tre Jesus e os judeus; a insegurana nos ouvintes quant~ a perg~n
ta de quem seja este galileu: blasfemador ou o Cristo. Muitos 11 creram 11 nele (7,31) por causa dos seus mi lagr:s. _Natu~
ralmente, esta 11 f 11 base dos sinais milagrosos nao e a '.e
crist no seu sentido pleno. Mas os fariseus e demais maiorais do povo temem a subverso da ordem e querem prend-lo.
O grupo de policiais, no entanto, que recebeu a ordem de
prend-lo, ficou to profundamente impressionado pela personalidade de Jesus, que no executa a ordem. Mas os subordinados no tm o direi to de ter um critrio prprio. A conscincia do subordinado so os seus superiores hierrquicos,
os seus chefes, e estes, por sua vez, se sentem plenamente
seguros , porque eles conhecem a lei - e naturalmente a pra-

- 385 ticam.De que maneira, no entanto, pode haver entendimento


e sintonia com esta plebe maldita (7,49), que ignora a lei?
- ~nsto se resume a tirania arrogante dos fariseus no seu
culto lei. Esta tirania fantica se dirige tambm contra
qualquer um das suas prprias fileiras (7,50) que se atreve
a propor um
levantamento imparcial da situao.
Joo 7, 53 - 8, 11 (a mulher adltera) uma intercalao
posterior no ev. de Joo e no nos precisa preocupar na apreciao do contexto (cf. por exemplo "Das Evangelium nach Johannes11 (NTD) 8~ edio, pg. 141).
A segunda fase da luta relatada no cap. 8, 12-59. Neste contexto se encontra a nossa percope. A festa dos tabernculos j terminou (7,37 ss), e as cenas do cap. 8 acontecem imediatamente depois da festa. A tenso e a atmosfera
da situao anterior continuam. Mas doravante o opositor direto de Jesus outro. No cap. 7 esse opositor direto foi o
povo,
que estava fortemente impressionado por Jesus. Os fariseus e o grupo dos sacerdotes ficaram mais na retaguarda.
No cap. 8 no lemos mais nada da multido, do povo. Mas agora so os fariseus, que enfrentam Jesus diretamente (8, 13).
Nos fariseus e no seu dio mortal contra Jesus devemos pensar, quando no nosso texto se fala "dos judeus", tambm,
quando se fala de "judeus que haviam crido nele" (v. 31). Esta f somente um rpido movimento de admirao. Contra estes fariseus Jesus concentra agora os seus ataques. As formulaes no cap. 8 tm, por isso, um carter muito agressivo,o que no o caso no cap. 7. Desde o incio essas formulaes
tendem em direo a evidenciar claramente o contraste existente e a provocar o rompimento definitivo. Assim no fim do
cap. 8 nos defrontamos com a deciso dos fariseus de apedrejarem Jesus por blasfmia contra Deus. S de uma maneira secreta e inexplicvel Jesus consegue contornar esse destino.
O alvo do cap. 8 , portanto: evidenciar o contraste
existente e
provocar o rompimento definitivo. E isto se processa em trs cenas distintas. Na primeira cena (cap. 8,1220) Jesus apresenta-se como o absoluto e nico Senhor: 11 Eu
sou a luz do mundo". Nos ouvidos dos fariseus, este pronunc i a me n to se i d e n t i f i cava c 1 a r a mente com 1s a as 4 5 , 18 . Em
tom grave e solene, reivindicando para si a suprema autoridade de Deus, Jesus formula est.:i palavra e faz lembrar os
seus o~vi ntes a cena da vocao de Moiss na sara ardente,
e tambem a pa 1 avra de 1saas 49,6: "tambm te dei como luz

- 386 para os gentios, para seres a minha salva o at e x tremidade da terra'' (ver tambm Isaas 60, 1-3). !l luz do mundo.
A reivindicao, a exigncia, absoluta, e x clusiv a e, por isso, sumamente agressiva.
Os fariseus ainda consegu e m dominar-se e refutam o seu
testemunho com uma argumentao formal stica.
_
A segunda cena nos vv. 21-29 no se liga di reta me~te a
argumentao anterior. Mas o abismo entre Jesu~ e o s . Judeus
se acentua mais e mais. E o motivo para este d1stanc1amento
cada vez maior est no contraste da procedncia dos dois:
"vs c de bai x o, eu l de cima" (v. 23). Por isto h e~tre
ambos duas esferas vivenciais opostas . Os judeus mo rrerao
nos seus pecados (v.24). Uma maneira , apenas uma,haveria,
para fugir deste destino:-zr::-er "que eu sou" - e novamen~e os
ouvidos dos fariseus sentem a formulaao paralela a !saias
- ha- s a 1 va d or 11
43, 11: "Eu, e u sou o Senhor, e fora de mim nao
O abismo entre ambos est claramente definido. Trata-se
de um contraste de mortal e x clusividade. Isto se torna evidente na terceira cena (3l-4la), onde encontramos a nossa percope.
1 1 1 - Meditao exegtica
V. 31- "Aos judeus". Jesus est falando aqui aos fariseus
(cf. v. 13). Sempre que os evangelhos nos relatam a confrontao de Jesus com os fariseus, estamos diante d e um fato qu e nos deve abalar: Jesus no foi morto pelos ateus. Justamente os "piedosos", os mais devotos na prtica re~ igiosa
dos judeus o levaram cruz. J 100 anos antes de Cristo, o
partido popular dos fariseus fundou sociedades para apres- .
sar a vinda do
reino de Deus atravs de aes piedos~:.mais
convictas e conscientes. Eles qu e riam ser zelosos e f1e1s no
cumpri me nto da lei de Deus. E, na disputa com Jesus, certamente mui tos del e s s-e esforaram s e riamente para e x aminar a
"verdade" deles luz da palavra de Deus. Eles cometeram
"apenas" um e rro: no reconheceram com quem se confrontaram em
Jesus . Apenas isto. Mas esse erro foi decisivo. Nenhum esforo ou seriedade na interpretao da lei, nenhum engajamento social (e certamente o havia)
teria mais valor frente a esse erro capital.
E desses fariseus alguns creram nele. Certamente no foi
uma f n o sentido de Rm 1, 16 e 17. Mas ao menos havia, em um

- 387 e outro, uma r ea o d e simpatia e compreenso para


J
d

.
com esus. Nao
ev1 a Je s us cultivar essa tenra fasca? p
0 r que e 1e
1h
d
, ,N .
r

nao, es
1z :
o s quere mos, em pr1nc1p10, o mesmo 1 t

d
. , s o e,
. r:1~0 e D~us. Vos, apena~, d~1s enfase demasiada s cer1~n1as, o importante, porem, e a seriedade ntima
_
,,7 E
d.
. .
, o co
raao .
m vez
isso Jesus rejeita qualquer possibilid d
a e
.
.
de enten d 1me nto. At1 ra-lhes ao rosto o que mais prof nd
.
.
_
u amen _
te d ever1a f e rir a sua consciencia presa na Tora. Uma
.
d
''b 1
f- .
"
f
seq en
c~a
e
as e m1 a s
e de o ensas se abate sobre eles. "Se
11
vos permanec e rdes na minha pa.!_avra ...
Corno? E a Tora as
palavras reveladas a Moises (E x 20)? No aprenderam ees
.
d esta pa 1 avr~ de Deus: " Ponde, pois, estas minhasa parespeito
lavras no vosso c o ra ao e na vossa alma ... ensinai-as a vossos filhos ... Porque, se diligentemente guardardes todos estes m~ndame~tos, ning~m vos poder resistir ... ''?(Dt ll,18ss)
E aq~~ a~guem c<;>ntrapoe as sua~ palavras s de Deus e exige
obed1enc1a? O f1 lho de um carpinteiro de Nazar? Um homem de
carne e sangue e x ige que os fariseus se tornem os seus seguidores.

u- _

E, somente se permanecerem nesta sua palavra (em vez de


1he ~ed i ca r u m rp ido pensamento de adrni rao), sero verd?d~ 1 ram:n te ?s seus disipulos e v.32 - o cmulo da arrogncia:. - so assim conhecerao a verdade e a verdade os libertara.
"As tuas palavras so em tudo verdade desde 0 princpio'' (Sl 119, 160) . Toda a palavra da To ra contm a verdade
e este blasfemador e x ige para si o que s compete a Deus? '
''E_a verdade - a minha verdade - vos libertar." - Para 0
apostolo Joo "verdade" no um termo filosfico, definv~l pela teoria do conhecimento. "Verdade" um termo religioso. Designa a misericordiosa realidade de Deus corno ela
se tornou vis ve 1 em Jesus. 11 E o Verbo se fez ca r~e" a comunicao de Deus, a sua auto-reve 1ao se tornou ca ~ne tomou forma humana, neste Jesus. Jesus a verdade, que D~us
apresenta aos homen s , para poderem solucionar os problemas
da sua vi d~. No h mais outra verdade, nem a da Tora, porque esta nao salva. E quem permanecer na sua palavra, te m a
promessa de reconhecer nele esta nova verdade de Deus . Este "permanecer'' lembra a outra promisso: "Se algum quiser
fazer a vontad e dele, conhecer a respeito da doutrina, se
el~ e de Deus ou se eu falo por mim mesmo". (Jo 7 17) Uma
analise terica da palavra no salva. A eficincla da verdade salvfica d e Deus e m Jesus fic a comprovada s atravs

- 388 da prtica. A verdade dinmica, vivencial do no~so rel~~io


namento pessoal com Cristo, esta ' 1verdade vos l 1bertara
Para os fariseus, este relacionamento da 11 ve1-dad e " com a
"liberdade" sem ne xo. V.33 - Irritados el e s_reagem'. p~r- em xeque a sua conv1c

ao da
que esta afi rmaao
poe
_ d1gn1da.
de singular de seu povo, comprovada pela d:scend e ~cia do
grande patriarca lcf.Mt 3,9). Ce rta mente nao queriam negar
a sua dependncia poltica. Ante s l e gies romanas em Jerusalm isto seria ridculo. Mas nem por isso se tornaram
escravo~. Eles tinham conservado a sua dignidade huma~a e
sua liberdade ntima, no se curvando a tradies alheias ou
ao culto pago do imperador romano. Com orgulh~ podiam relacionar a sua existncia de Abrao, pai da fe, exemplo
de fidelidade a Deus, cuja descendncia no foi apenas bendita (Gn 22 17s), mas tambm declarada e xpressamente ~ovo
escolhido d~ Deus (Dt 14,ls). Indignados, rejeitam, poi~,
oferta de Jesus.
V.34 - Mas Jesus pe o dedo numa ferida.
h am c onsc1que nenhum fariseu negaria (cap. 8)7s ) . Todos t1n
ncia do pecado. "t mau o desgnio do homem desde a sua mocidade". (Gn 8,21) Quem comete o pecado,
o seu escravo.
V.36 - E seja qual for a situao dos judeus e dos hom:ns
frente liberdade a verdadeira 1 iberdade s existe _la onde esta dependncia ' de escravo for cortada - e isto s? poder realizar-se atravs do Filho. Porque s o Filho fica pa- na comun h-ao com 0 eu s - Toda
ra sempre na casa, isto e,
_ esta
.
argumentao de Jesus devia provocar a mxima repugnancia
nos seus ouvintes. Que eles deixassem de ser filhos, apes~r
do pecado - nunca. "Ns no somos bastardos; temos um pa 1
que Deus" (v . 41).
E nos seus ouvidos ressoa a pal~vra de
Isaas (41,9): "Tu s o meu servo, eu te escolhi e nao te
rejeitei". E, quanto libertaao do pecado, a palavra ~a.

d1 a '
lei clara: "Ao Senhor, nosso Deus, pertence a m1ser1cor
e o perdo"(Dn9,9;cf.Sl 130,4). Este blasfemador pretende
colocar-se no lugar que compete unicamente a Deus.
IV - Subsdios para a prdica
l. "Pecado" se tornou um vocbulo inexpressivo. No culto surge , no ma x 1mo, um sentimento indefinido de culpa. Os_
dois as pectos perderam o contedo, tanto o ''Pequei contr~ ti '
contra ti somente" (Sl 51,4),
como tambm a concretizaao
do pecado na vida diria . Estamos muito n1ais dispostos a

- 389 aceitar a t e 1-minologia da psicologia ou da sociologia, para


definir as noss a s mltiplas dependncias, do que colocar
tudo isto sob o ttulo do pecado. Em ltima anlise, s debaixo da cruz reconheci do o que o pecado. No entanto, devemos contribuir, na medida do possvel, a esclarecer o seu
significado com argumentao elucidativa. O telogo Karl Heim
usou a seguinte e x emplificao: Digamos que tu tenhas um rival,
um concorrente na indstria. Durante anos, as duas
empresas, a tua e a dele, se desenvolveram iguais. De repente ele comea a modificar as suas instalaes, consegue
substituir as suas mquinas antigas por outras bem modernas
e com isto elevar consideravelmente a sua produo. Tu notas que o teu atraso se acentua sempre mais. Para acelerar a
sua exportao,
ele empreende uma viagem ao exterior. Pouco depois recebes esta notcia:
teu concorrente sofreu um
acidente e est internado num hospital, gravemente ferido.
A primeira reao, bem l no teu ntimo, vai ser de alvio
e contentamento. "Isto h de sustar, ao menos temperaria mente, o seu progresso~" - S mais tarde, ao te lembrares da
sua famlia, sentirs compaixo. Mas esta primeira fa:sca
tornou evidente quem tu s na realidade. E as palavras de
Jesus, no Sermo do Monte, por exemplo,tmjustamenteesta
inteno: descobrir as ramificaes mais secretas da inveja,
do dio em teu e em meu corao.
2. "Se vs permanecerdes ... 11 (v.31) .Um versculo bblico muito apropriado por exemplo para a Confirmao, para
ser emoldurado e, s vezes, ser lembrado com alguma emoo.
No entanto, na situao em que foi dita aos fariseus, foi
uma palavra de guerra cheia de provao, interpretada pelos
zelosos telogos da poca como blasfmia diablica. E, em
verdade, na boca de qualquer outro homem teria sido uma blasfmia d i ab li ca; apenas no na boca de Jesus. Mas o que credenciava Jesus, autorizando-o a estas afi rmaes? Ele no
trazia na testa o carimbo da santidade. "Se vs permanecerdes'1, ou cf. cap. 7, 17: "Se algum quiser fazer a vontade ... "
O remdio da salvao deve ser tomado. Uma anlise terica
da sua composio no salva ningum.Jesus se credencia e identifica apenas com aqueles, que a ele recorrem em seu desespe11
ro.
0s aparentemente sos no precisam de mdico" (Lc 5,31),
e tambm no reconhecem nele o mdico (o caminho, a verdade,
.2.. vi da). E ns? Quem Jesus para ns? No somos, geralmente,
sos, que s como atores casuais desempenham o papel de do-

- 391 -

- 390 ente? A tradio, a rotina da vida crist, fez de ns atores que j no tm mais perspiccia para descobrir o cncer
na medula do nosso ser.
3. 11 S se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres" (v. 36). "Na palavra de Jesus pode mos e devemos permanecer, porque na palavra de Jesus retorna a ns a nossa
ptria perdida. No mais assim que ns dev s semos procurar a ptria,onde todos pudssemos permanecer; mas esta ptria
vem a ns na palavra de Jesus e nos envolve de todos os lados, pondo um fim a todas as nossas aspiraes, perguntas e
desejos por outras moradias'' (K. Barth, "Frchte Dich nicht".
Prdicas dos anos 1934 - 1948, Muenchen, 1949, pg. 29~).
4. Dia da Reforma. Uma prdica no Dia da Reforma nao se
pode_deter em procurar os eventuais traos paralelos da si-.
tua~o dos judeus (presos em sua tradio) com J es us e da s1tuaao de Lutero frente Igreja e ao Papa h 400 anos. Tudo
isto tambm j se tornou tradio e, por conseguinte, entra
em _::onflito com a oferta de Jesus. "Somos descendncia de Abr~ao e jamais fomos escravos de algum; como dizes tu: sereis livres? 11 (v.33)
O cristianismo esteve, sempre de novo,
no perigo de compreender e interpretar a revelao da vontade salvfica de Deus como uma posse, um santo domni?.Os
lavradore s qu erem ser os proprietrios da vinha e d::cid~r :obre a sua administrao. Mas a descendncia de Abraao nao e
~ma posse. "Destas pedras Deu s pode suscitar filhos a_Abraao" (Mt 3,9) . A verdadeira liberdade n o uma situaao esttica, racionalmente demonstrvel
herdada dos pais ou legada pela tradio, mas consiste n~ relacionamento dinmico,
pes soal, vivencial com a verdade de Deus- Cristo. As tradies rel!giosa:, tambm as tradies bblicas, no s~ a_casa do pai, a_patria eterna, nem podem conduzir-nos ate la.
Estas tradioes se transformam nas mos dos homens, em escravi?o, e no podem vencer; pecado. Apenas o filho nos
conquistou o direito de permanncia na casa do pai.
"Cristo somente!" A Igreja da Reforma a Igr e ja do "somente Cristo", 11 somente pela f sem as obras da lei", "somente pe la graa", "soment e a Escritura". Mas isto no pode servir mais no Di a da Reforma com base de controvrsia e
polmica contra a Igreja Catlica. A promisso do discipulad o verdadeiro e da verdadeira liberdade uma incumbncia reformatria para todas as confisses crists.
O Dia da Reforma deve testemunhar o que Lutero descre-

Veu da seguinte maneira: "No meu corao domina e dever dominar este nico artigo, isto , a f no meu amado Senhor
Cristo, o qual o comeo, o centro e o fim do todos os meus
Pensamentos espirituais e divinos, que eu possa ter sempre
de dia e de noite. Todavia eu sinto que da altura, profundidade e largura desta incomensurvel, incompreensvel e il irni tada sabedoria s consegui captar um insignificante e fraco comeo, e mal e mal pude trazer luz alguns pequeninos
degrauzinhos e pedacinhos desta mina mais preciosa e rica".
(WATi 6 Nr. 6608 Muenchen Georg Mueller 1925, l~ edio, torno 8 , p g . 3 9 8) .
V -

Bibliografia

HEIM, Karl. Sti l le im Sturm. 5~ ed., TUbingen, Osiander 1 sche


Buchhandlung. - STECK, Karl Gerhard. Auxlio homiltico sobre Jo 8,31-36. ln: Htlren und Fragen. Vol. 5. NeukirchenVluyn, Neuki rch e ner Verlag, 1967. - STRATHMANN, Hermann. Das
E~angel ium n~ch Johannes. ln: Das Neue Testament Deutsch.
8- ed. , Gl)t t 1n gen, Vandenhoeck & Rup recht.

Kirst, Nelson, VAI E FALA. 51 predicas. Editora Sinodal


1978, 302 pginas.

As prdicas foram proferidas no decorrer de vanos anos,


para si tuae s e ouvintes bem determinados. Veja o pro prio leitor n estas pg inas como o testemunho
original
das Escrituras torna-se vivo, atual e eficaz para os nos
sos dias atravs destas aplicaes.
O livro ser bem-vindo aos pregadores (formados ou

lei-

go~) busca de idias para a atualizao de um texto ,

pois sempre haverelllos de incentivar-nos e enriquecer-nos


mutuamente. Alm disso, estas predicas constituem leitura profcua para todos quantos queiram aprofundar-se no
c~nhec~m~nto da ~b lia :: ver novas dimenses na aplica ao pratica da fe crista em nossos dias.

ANTEPENLTIMO DOMINGO
Mateus

DO ANO ECLESISTICO

12,38-42

Martin Volkmann
1

392 -

Preliminares

l. Esta passagem e seu paralelo em Lc l l ,29-~2 no so


as un1cas que nos relatam a respeito da sol icitaao de um sinal da parte de Jesus. O mesmo assunto nos
apresentado em
Me 8,11-13 = Mt 16,1-4. Alm disso o motivo do sinal aparece em outras passagens do NT, principalmente em Joo (2, 18;
3,2; 4,48; 6,30; Lc 23,8; ICo 1,22). Comparando as quatro passagens dos sinticos que nos relatam especificamente o pedido por um sinal, podemos observar o seguinte:
- em Me o pedido negado categoricamente;
_
- em Lc e Mt, em ambas as passagens, o pedido tambem e
negado , mas h a referncia ao sinal de Jonas.
.
No entanto, Mt e Lc divergem entre si com relao ao sentido do sinal de Jonas:Paralcasemelhana consiste em que "como Jonas foi sinal para os ninivitas
assim o Filho do homem o ser para esta gerao''. Para M~ (somente em nossa passagem) ~ elemento de comparao entre Jonas e o Filho ~o ho~
mem esta dado com a permanncia durante trs dias e tres noites no seio do peixe, respectivamente, da terra.
Que se conclui disso? Essa percope se desenvolveu no decorrer da tradio, tendo sido aproveitada pelos Evangelist~s.de forma diversa, coerente com o todo da mensagem especifica de cada qual. No temos mais a palavra original de Jesu~, mas t~mos aqui trs formas de como a palavra de Jesus
foi entendida e transmitida pela comunidade primitiva (cp.
Bornkamm, p. 276/277).
2 . Qual a forma mais antiga dessa palavra de Jesus? Com
ou sem a referncia a Jonas?
Quanto interpretao desse "sinal de Jonas". tanto em
Mt quanto em Lc, evidente que isso um acrsci~o desses
Evange!istas . A pergunta que permanece se a referncia a
Jonas e original ou no. Ns temos essa passagem tanto em Me
quanto na fonte de ditos de Jesus (Q) donde Mt e Lc tiraram
a presente percope. E nas duas vezes em que Mt a apresenta

393 -

- em 16, 1-4 b a s e de Me e aqui base de Q - h a referncia


provvel que a meno de Jonas seJa
ori g 1
na l e qu e Mt nao
do texto
d
tenha feito uma adaptaao
e Me em 16, 4 base de Q. Assim, Me teria deixado fora es~a referncia no faci ]mente compreensvel, porque para ele
importa que o "Jesus histrico, que age como algum que tem
(~tor idade, seja aceito na f como sendo o Fi 1ho de Deus"
ornkamm, p. 277).
3. Mt e Lc apresentam essa percope, acrescida da meno
dos n1n1v1
tas e da rainha do Sul (em seqUnci a diversa ) , em
c~nexo com a histria da expulso de um demnio e a acusaao Por parte dos lderes judeus de que Jesus o faz ''pelo poder de Be 1 zebu" ( v. 24) , o que Me apresenta em outro contexto. Lc tem uma exposio mais curta: cura (v.14), acusao
(v.15), pedido por sinal (v. 16), defesa de Jesus(vv. 17-23),
vo
- da mulher
( 1ta d o esp1.. r1 to imundo ( vv. 2 4 -26 ) , exclamaao
vv. 27-28 material exclusivo) e a resposta ao pedido por si~al (vv. 29-32). Em Mt temos uma exposio mais ampla, inclu1ndo passagens que Lc apresenta em outro contexto (pecado
contra
E sp~ri
.. . t<? S anta - vv. 31-32; arvore
_
e seus f rutos - ~v.
3 ~ 37) Alem disso ele apresenta a questo da volta do esp1~l to imundo (vv. 43-45) depois de nossa percope, ligando amas atravs de "esta gerao perversa" (vv. 39 41 42 45). A
mesma
'
'
..
questao
- quem esta- ao lado de Jesus - e- ' levantada
na
jeri cape subseqllente (vv. 46-50), que trata dos fami 1 iares de
esus. Assim, essa anlise nos mostra a vinculao ntima de
nossa passagem com o seu contexto imediato evidenciando esse f"'vermelho: o posicionamento das pessoas
'
diante de Jesus.

~ Jonas. Por isso bem

. . A ligao dessa percope com as palavras acerca dos nin1v1tas


e da ra1n
" h a d o Sl

1 mas J
.- constava
.
u nao
e- or1g1na,
assim em Q. Alterando a seqUncia das duas sentenas Mt consegue dest acar a1n
d a mais

aqui1 o que motivou


a ligaao
dessas suas pa 1 avras autonomas
..
e essa per1 cape: a meno de Jonas O r1~1nalmente

elas eram palavras de acusao contra "esta
geraa o " que nao
.
F
recon h ece o momento especial
dessa hora.
ormalmente essas sentenas so muito semelhantes s de Mt
1 2 1-24 e Lc 10,13-15. Em ambas h um estribilho ao redor
dl,
0 iua! gira o assunto: "aqui est quem maior do que Jonas
(Salomao)" - "no dia do juzo haver menos rigor" (11,22 +24;
cp. Bultmann, Die Geschichte der synoptischen Tradition,p.118).

- 394 11

- Consideraes exegticas

1. O pedido por um sinal dirigido a Jesus pe l os lderes judeus. Eles so os responsveis pela orientao teolgica da comunidade e, como tais, eles devem analisar criticamente todo aquele que se apresenta como profeta ou messias
(Dt 13,2ss). Portanto, atrs desse pedido no se esconde a
curiosidade pelas qual idades e xt raordinrias desse milagreiro.
Isso pde ser comprovado h pouco na cura do endemoninhado.
Mas eles querem uma comprovao de que Deus est atrs dele,
ou melhor, eles querem de Deus uma
prova de que ele mesmo
est falando a eles. Isso est e x presso mais claramente em
11
Me e Lc: "um sinal do cu 11 . Mt o expressa pelo passivo: ne11
nhum sinal lhe ser dado . Com isso esse pedido visa esclarecer a relao entre Deus e Jesus de um lado, e das pessoas
interess~das no sinal
e Jesus, por outro lado. O que :1es
es~eram e que Deus confirme claramente que esse Jesus e alguem autorizado por ele,para que eles, por sua vez, possam
se definir claramente a favor de Jesus.
2. A~esar dessa motivao aparentemente sria do~ q~e pedem um sinal, Jesu o nega. Porque aqui lo que eles objetivam
- crer nele base do sinal - no f, mas exatamente falta
d~ f. t falta de f, porque se exige de Deus que ele justif~que a s~a forma de agir. No f, porque se pensa pod~r
por De~s a prova fazendo-lhe exigncias. Exatamente por isso
~le: sao "uma gerao m e adltera 11 (Os 2,2ss; 5,3-4): Ao
inv~s de viverem com e na dependncia de Deus, ouvindo o_seu
enviado e lhe dando ouvidos, eles se afastam dele (adulterio)
e passam a agir contra a sua vontade (maldade).
3. A negao categrica do pedido limitada, sob certa
forma, c~m a referncia "seno o do profeta Jonas 11 . Co~o :e
entende isso? Essa aficmao um jogo de palavras e nao e_
~ma resposta clara; ela , sob certa forma, uma charada. So
e compreensvel para aquele que tem ouvidos para ouvir. E isso exatamente o que falta aos escribas e fariseus. Porque
ao e x 1g1rem um sinal parapoderemcrernele eles exatamente
evidenciam que no h sintonia entre ambo~. Se houvesse tal
sintonia , eles compreenderiam essa charada. Mas ainda, eles
nem sequer e x igiriam um sinal. As sim sendo, ele prprio, Jesus, o Fi l~o do homem, o sinal no sentido de que nele os
ouvintes sao confrontados co m o prprio Deus. Jesus o sinal
de que o reino de Deus est a (veja Mt 11 ,4ss) .

- 395 Mas ser qu e a referncia de Mt comparando a permanncia


de Jesus no corao da terra com a permanncia de Jonas no
ventre do pei xe ( v. 40) no uma certa concesso ao pedi do por
sinal? Sem dvida, isso um acrscimo de Mt no qual ele interpreta esse s inal de Jonas. E ele o faz citando literalmente Jn 2,1. Is so no estranho em Mt. Seu Evangelho est
cheio de tais citaes, pois ele objetiva mostrar que a histria de Jesu s a continuao lgica, o cumprimento do AT.
Assim tambm aqui ele visa conquistar pessoas de procedncia
judia mostrando qu e , sob certa forma, o escndalo da morte
e ressurreio do messias j est prefigurado no prprio AT.
Mesmo assim isso no um sinal especial, uma concesso de
11 p ara e le morte e ressurreio fazem parte do misM~,.porq ue
terio encerrado no envio de Jesus da parte de Deus 11 (Ar.Falkenroth, p. 556). E xa tamente na morte e ressurreio de Jesus, Deus desvenda o mistrio que envolve esse Jesus tornando m~ni festas o seu poder e sua compaixo, legiti~ando o
seu env 1ado ( cp. G rundmann, Mateus, p. 334).
Assim, o no categrico de Me e a referncia ao sinal de
Jonas acrescida da interpretao em Mt (v. 40) no so conflitantes entre si, mas dizem a mesma coisa: Deus no atende um pedido p~r sinal que seja desvinculado da pessoa de
Jesus e do escandalo que ela encerra em si (J. Jeremias,ThW
I l i , p. 413).
~ Os dois versculos finais (41-42) referem-se ao juzo final. ~esta oportunidade os ninivitas e a rainha do Sul
comparecer<:_o juntamente com 11 esta gerao" diante de Deus e
prevalecerao, enquanto os outros no permanecero (cp. Mt 8,
l?;_Lc 4,25ss; Rm 2,27). 11 Esta gerao 11 no se refereespec1 f1 camente aos contemporneos de Jesus, mas aos judeus em
geral, q~e constantemente estavam sendo confrontados com
Deus e nao o reconheceram. 11 Um profeta eu enviei a Nnive
e ele a _fez voltar em arrepen di mento. E estes israelitas ~m
Jerusa~em - quanto: profetas eu enviei a eles!11 (Midr. Lamentaoes lntroduao n'? 31, v eja em J. Jeremias ThW Ili p.
11
411 nota 17).
Esta gerao 11 pede um sinal para: assim, ~e
p9sicionar frente a Jesus, enquanto exatamente aqueles que
nao tm as premissas

11 esta geraao
- 11 possui se vem
q~e
desafiados pela pregaao de um profeta ou pela saedoria de
11
um rei
E eis aqui est quem maior do que Jonas (Salomcl 11 .
Es s~s _d ?1 s vers 1
r
cu los destacam, pois, a majestade, o extraordinar10 que se apresenta com Jesus: aqui se apresenta no

- 396 masopro-priomessiasd e Deus; aqui


um pro f eta ou um rei,
se oferecem a misericrdia e a sabedoria de Deus encarnadas
na pessoa de Jesus. E, solicitando um sinal para credencia~
esse Jesus como ta 1, "esta gerao" no reconhece que e 1e e
o messias em pessoa e com isso corre o risco de ser c~nde. premis
s a s e em si tuaoes menada por pessoas que, sem tais
nos explcitas (aqui ... maior do que), reconheceram o desafio de Deus.
111

Reflexes para a pregaao

1. As "condies" para a f
.
O pedido por um sinal manifestado pelos escriba~ e :ariseus evidencia as condies sob as quais eles es~ao dis
de _ conpostos a entrar em dilogo com Jesus. Essa .1mpos1ao
dies acompanha todo o caminho de Jesus, desde a tenta~ao.a
t a cruz onde ele saudado pela blasfmia e p~lo escarn~o
dos lderes religiosos (Mt 27,42). Essa imposiao de condies a caracterstica do homem frente aos desafios e questionamentos do mesmo. Antes de se expor preciso ter garantias; antes de correr o risco preciso estar certo de que
vale a pena.
Onde se manifestam essas "condies 11 hoje? Onde, sob 0
pretexto de salvaguardar a f e a doutrina certa (tar~f~
dos escribas e fariseus!), ns impomos as nossas condi?es?
Al guns exemplos para a reflexao
sem quererem se r af1 rmaes categricas: O fanatismo religioso, de um lado,.e relativizao da f, por outro cada qual fechado em si me:m~,
podem ser formas de impor a ~ua condio. O_fant~co religioso se concentra cada vez mais em sua rel igiao e nao observa
onde ela enveredou por um beco sem sada, por exemplo,f~lta
de engajamento social, excluso de pessoas que pensa~ diferente, etc. A relativizao da f encara cada vez mais essa
f como enfeite, um calor de domingo, e esquece que, pel~ con'
trrio, a f uma vivncia diria. Tal f relativizada e esquizofrnica, sem conseqUncias. - O pedido por um sinal tambm pode estar escondido atrs de oraes atendidas. Numa necessidade concreta eu oro a Deus para que seja libertado da
situao aflitiva.
Solucionado o problema, est a a comprovao da minha f e a prova de Deus para eu cont~nuar na
mesma f. No pode estar oculta a uma certa imposiao de con'
dies a Deus?!
Isso no est muito distante das promessas

- 397 cujo 11 pagame nto 11 podemos comprovar a cada dia nos


ou lugar es d e romaria. - O pedido por um sinal tambem pode estar ocu 1 to a trs de nossas dvidas de f. Por que
essas injusti as? Po1- qu e eu sofro tanto? Tu realmente tencionas o bem do homem? Qual o sentido disso tudo? Soluciona
os meus problemas e eu me exporei a ti! - Lembrando a meno
de Jonas, tambm e l e , preso em seu dogmatismo, impe as suas
condies a Deus, sendo vencido por ele. Por que esses 11 ninivitas11 tm v ez? Por que esses marginais, ateus, explorados e exploradores, sectrios e adeptos de religies orientais tm vez? Por que eles so participantes de tua misericrdia?
feitas

j<:rnai~

2. A incondicional idade da f
Porm, nessa tentativa de ter certeza e de no correr o
risco de errar, respectivamente, no medo de se expor ao
qi_:estionamento da posio assumida se manifesta a falta de
fe. Os escribas e fariseus se aproximam de Jesus com intenes srias, srias demais. Porque, sob a necessidade desa 1vaguarda r a doutrina certa, ficam to presos a si mesmos, to 'introvertidos 1 que no vem a urgncia do momento. O seu dogmatismo os ofusca e fecha para toda e qualquer crtica que
procura mostrar a estreiteza e conseqUente perda de rumo de
:ua posio. Por isso o firmar p nessa convico para pSr
a prova o desafio colocado por Jesus no evidncia de f,
mas opo contra a f, contra Jesus, contra a vida; opao pela r.iorte.
A opo por Jesus i ncond i c i ona 1 , porque toda a nossa
pessoa, com todos os condicionamentos e na condio em que
se encontra, est em jogo. A opo que se coloca a opo
de vida ou morte; a prpria pessoa est em jogo.
O 11 sinal 11 de Jonas no um sinal, mas antes umenigm~,
uma charada. Por ser o relacionamento com Deus algo
tao sublime, por ser Deus o 11 totalmente diferente", ns o
coloca mos 1 1 on ge. Ns e remos que o encontro com Deus deve
dar-se numa esfera fora de nossa situao miservel e pouco
divina.Mas exatamente nessa situao concreta,na pessoa de
Jesus, se d esse encontro: no Jesus morto e ressurreto o
prprio Deus est presente. Ns impomos as nossas 11 condies 11
- deve concordar com nossa dogmtica; deve atender a nossos
anseios de f; deve corresponder s nossas expectativas;no

- 398 -

- 399 -

pode p2.r em dvida a nossa religiosidade, etc. - e no vemos que nessa condio concreta de nossa vida se d o "sinal de Jonas' 1.

gischer Handkommen tar z u m Neuen Testament. Berlim, 1968.JEREMIAS, J. - J o na s . ln: Theologisches Woerterbuch zum Neuen Testament, 111.
RENGSTORF, K.H. - Semeion. ln: Theologisches Woerterbuch zum Ne uen Testament, VI 1. - SCHNIEWIND,
J. - Das Evangel iu m nach Matthaeus, ln: Das Neue Testament
Deutsch . Vol. 2, Vandenhoeck/Ruprecht, Goettingen, 1964.

3. O momento especial
Esse desafio foi compreendido por pessoas que no tinham
as condies para tal: os nini vi tas e a rainha do Sul, portanto pagos, compreenderam que eles mesmos em pessoa esta vam em jogo. Nisso consiste a vantagem deles sobre "esta gerao11.
A nossa situao atual muito seme lh ante da percope.
Ns somos o novo povo de Deus. Ns somos os portadores da
mensagem da cruz.Ns nos denominamos com base no Cristo - cristos. Mas a pergunta que se nos l evanta essa : de que lado
ns estamos? Ns pertencemos a "esta gerao" ou fazemos parte do sqito dos ninivitas e da rainha do Sul? Trs tpicos
para exemplificar isso:
Como Igrejas tradicionais somos perguntados se com toda
a nossa tradio, nossa teologia, nossa estrutura, damos possibilidade a que as pessoas sejam confrontadas com o Cristo.
O crescimento das Igrejas pentecostais, das seitas, de grupos esotricos no ser um alerta para ns de que outros se
levantaro no juzo com nossa gerao e nos condenaro?
Nossa Igreja desafia seus membros a tal ponto de seu
cristianismo no ser simples "vestimenta de domingo", mas o
elemento motivador para toda a vida e todos os momentos da
vida?
Esse Jesus morto e ressurreto Deus em nosso meio, a
resposta a todo o procurar humano. At que ponto ns reconhecemos isso para ns e vivemos essa novidade de vida a tal
ponto de sermos testemunhas deste Cristo na amplitude de toda a nossa vida e de todo ambiente universal. De que forma
ns tornamos visvel: este o momento especial!?
Bibliografia
BORNKAMM,G. Meditao sobre Mt 12,38-42. ln: Gttinger Predigtmedi tationen , 1958/59, pp. 276-279.- BULTMANN, R. -Die
Geschichte der synoptischen Tradition, 3 ed. 1 Vandenhoeck/
Ruprecht, G~ttingen, 1957. - FALKENROTH, A. - Meditao sobre Mt 12 , 38-42. ln: Hoeren un Fragen. Vol. 5, pp. 549-557.
- GRUNDMANN, W. - Das Evangelium nach Matthaeus. ln:Theolo-

INTRODUO TEOLOGIA EVANGLICA, Karl Bar th, trad. Lindolfo Weing!:l.rtner, Editora Sinodal 1976, 2':- ed. 1979, 163
pginas.
A ltima preleo feita por Karl Barth em Basileia,
no ano de 1962, seu " canto de cisne", oferece um resumo
su_:into de suas ideia s bsicas. A humanidade de D.eus,sua
aao-palavra , ~renunciada em J~sus Cristo de uma vez pa
ra sempre' tambem nestas preleoes representam centro
ponto-de-partida. Mas estas ideias, em contraste com
a
vultosa obra da "Dogmtica da Igreja", so desenvolvidas
a partir do trabalho do telogo, do abalo que este
vem
sofrendo, de sua dvida, su'.: tentao, sua orao e seu
estudo - sob o aspecto da fe, da esperana e do amor. Po
der~mos toma~ a _ liberdade de colocar em lugar do telogo
? simple~ c:._ristao: Em todo o caso encontraremos uma boa
i~troduao a obra de Karl Barth, de sua prpria formula ao. Este legado se revela como livro eminentemente pess?al, de c~rter profundamente poimnico, Mais que cincia - contem sabedoria.

-1
- 40 l -

PENLTIMO

Ma

Gerd

te

DOMINGO

u s

DO ANO ECLESIASTICO

25, 14-30

Uwe Kliewer
O CAPITALISMO

DO

REINO DE

DEUS

1 - Texto e contexto
A parbola dos talentos encontra em Mateus a sua formulao mais orgnica e consistente . O relato paralelo em Lc
19, 11-27 parece um pouco confuso, entremeado com outros~
lementos e colocado numa situao diferente. A minha meditao se baseia, por isso, no texto de Mateus, considerando
Lucas s marginalmente. Se e com que propsito Jesus contou
esta parbola e se as suas intenes eram as mesmas que
tradio da comunidade de Mateus deu mesma, no o uso r:sponder. H concordncia geral de que ela se refere ao Reino
de Deus. As variantes do texto so muitas, mas nenh~ma me
parece ter importncia exegtica . A mensagem da parabola
no reside tanto nas palavras quanto nas imagens e no enredo. O que ela nos diz depender de como transferi rrnos as
imagens realidade.
O enredo: Um homem, ao ausentar-se da sua terra, chama
os seus trs servos (hoje seriam empregados) e lhes e~trega os seus bens.
D a cada um conforme as suas capac 1 dades
e habilidades: ao primeiro 5 talentos, ao segundo 2, ao ter ceiro l talento (que corresponde a mais ou menos 20 kg de
ouro, Cr$ 200.000,00). No lhes d instrues e xelfcitas ~
respeito de como proceder com este dinheiro; sera que su~oe
que eles o sabem? (Em Lucas os servos
recebem a incumbencia de fazer negcios com o dinheiro).
Sem instrues precisas, os servos assumem atitudes diferentes a respeito do
recebi de: Os dois primeiros se lanam a trabalhar com o seu
lote e duplicam-no. O terceiro cava um buraco na terra e esconde o talento recebido. Depois de muitos anos volta o senhor e ajusta contas com os seus empregados. Os dois primei-

ros, sem que no s seja re l atada uma explicao ou justificativa sua (as suas palavras no expressam mais que orgulho),
devolvem o dobr o da soma recebida. O senhor os elogia: 11 Muito bem, servo bom e fiel, foste fiel no pouco, sobre muito
te colocarei : entra no gozo do teu senhor.'' No h dvida
de que o senhor considera a atuao deles como certa. O_ terceiro, com temor, vem devolver o talento que guardara tao seguro na terra, ex plicando: "Senhor, sabia que s um ho~em
exigente, que c e ifa onde no semeou, que ajunta onde nao
distribuiu. Tendo medo desta tua severidade, escondi bem o
11
teu talento, para poder devolv-lo inteirinho. Aqui est.
E o senhor? Responde-lhe: "Servo mau e preguioso! Conhecias as minhas exigncias; por que no levaste ento o dinheiro aos banqueiros, para que pelo menos eu o recebesse de
volta com juros? Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao gue
tem dez! 11 - O que segue, no v. 29, j uma interpretaao,
uma tentativa de refletir e resumir o significado em forma
de um ditado popular (j conhecido tambm da explicao da
parbola do semeador, Me 4,25 pars.), e o v. 30 repete um
motivo predileto de Mateus : "lanai-o para as trevas, l fora, onde haver chor-o e ranger de dentes 11 (Mt 8, 12;22, 13;
24,52).
A parbola est colocada, juntamente com outras, entre
o anncio da parusia, a in stituio definitiva do Reino de
Deus (Mateus sempre usa "Reino dos Cus"), precedida pela
grande
tribulao, e o infcio da paixo do Senhor. Ela se
situa, portanto,
num contexto escatolgico (o que, provavelmente, mot iv ou a colocao desta perfcope no fim do ano
eclesistico) . Ao anncio da parusia precedem dias de relativo sucesso e mostras de poder de Jesus em Jerusalm (entrada triunfal, purificao do templo). Isso pode ter despertado esperanas entre os seus segui dores, mas Jesus, nas
suas palavras profticas, deixa claro que o Reino de Deus
ainda no est estabelecido; viro sofrimentos, perseguies,
Provaes, morte. Ele desaparecer, mas para voltar em glria para o jufzo fina l. As parbolas dos caps. 24 e 25,bem
como a descrio do grande julgamento, querem ento ensinar
e exemplificar as atitudes a serem tomadas pelos seus discpulos,
durante a sua ausncia. As exigncias do Reino no
tempo da espera so: vigilncia, preparao, dedicao, prtica do amor ao prximo.

- 403 -

- 402 -

11 - Meditao
l. O que a parbola nao pretende:
a) Apesar de o v. 29 exprimir exatamente a l ei do capital ismo ( 11 Ao que tem ser dado e ter em abundncia, mas
quem no tem, at o que tem lh e ser ti rado 11 - basta s observar o desenvolvimento da distribuio de renda no Brasil
nos ltimos anos para confirmar essa lei do nosso s ist ema
econmico), a parbola no se presta (felizmente~) para uma
defesa do sistema capital is ta.
Todavia, no h dvida que ela se refere prtica capitalista do tempo de Jesus. A expanso do Imprio Romano e
a relativa paz estabelecida dentro dele permitiram o desenvolvimento de um comrcio florescente, que dava bons l~c:os
ao investidor hbil. Temos notcias de um sistema bancarto
incipiente e de um forte fluxo de mercadorias no Imprio,
como tambm de uma explorao econmica efetiva. Surgiram_
atividades capitalistas (economias de mercado simples, pre-capit~l istas,di riam os mar xistas), ligadas principalmen~e
ao comercio, que proporcionavam oportunidades de apl icaao
de d!nheiro e de acumulao de capitais, com riscos altos,
mas iguais chances de lucro. Podia-se "trabalhar com o seu
dinheiro 11 . E jexistiamos 11 executivos 11 ,
os ''oikonomoi 11 ,
servosqueadministravamcapitais alheios.A nossa parbola
u:a os conceitos e imagens da real idade econmica contemporanea para ilustrar uma das atitudes exigidas pelo Reino
de o:u~. resta atitude que interessa, no o pro cedimento
economtco descrito.
b) A parbola tambm no se presta para mostrar como
~eus distribui entre os seus os diversos 11 talentos 11 , isto
e, dons, capacidades, inteligncia etc., para depois mostrar
que 0 i mporta nte no quantos dons cada qual recebeu, mas
se e como ele os desenvolve e aplica na vida. O talento da
nossa parbola no 11 aptido natural ou habilidade adquirida11 (Aurlio). r dinheiro, e querer equacion-lo com o
nosso conceito atual de 11 talento 11 no d certo. Po r qu?
Porque os trs servos j tm os seus ''talentos", as suas
aptides e capacidades particulares(= dynamis, v.15), que
servem de critrio para comissionar-lhes o dinheiro em lotes
correspondentes .

2.

O qu e e nto a parbola pretende

ensinar?

Ela ilustra um fato a respeito do Reino de Deus, j presente neste mundo, mas ainda no realizado plenamente. Qual
este fato?Procurareiu ma resposta, tentando aplicar as image ns rea l idade.
Os servos sem dvida representam os discpulos de Jesus.
Podemos i den ti ficar -n os com eles.
O senhor que se ausenta
e volta,dentro do conte x to, pode ser interpretado como
sendo Jesus Cri sto. Ele parte e deixa os seus servos encarregados de adm ini strar as suas posses. J esus no faz o mesmo?
At a, tudo bem. Mas o que so os talentos? Em outras
palavras, qual a moeda corrente do Reino de Deus (pois dele fala a parbola)? A resposta fundamental para o entendimento. Conforme um socilogo alemo, N. Luhmann, os sistemas soei ais complexos necessitam de meios de comunicao,
cdigos simblicos, que ligam os diversos subsistemas e garantem o seu relacionamento e intercmbio. 1) Para o sistema
econmico este meio o dinheiro, o instrumento de permutao, o smbolo capaz de representar e expressar todos os valores produzi dos e em uso na economia. Em termos concretos:
pelo dinheiro se realiza o intercmbio entre mo-de-obra, fabrica, produto e consumidor, ele que permite o funcionamento de um sistema econmico to complexo como o nosso. Luhmann , pensando sobre os sistemas religiosos, chega concluso de que o me io de comunicao destes a f.
Seria e nto a f o equivalente real do talento? Cabe
aqui outra considerao a respeito do dinheiro. Este, em
espec ial nosso papel-moeda, no possui valor verdadeiro, mas
tem o seu valor some n te porque, por consenso geral e instituio oficial, representa simbolicamente valores de mercadorias reais e pode ser usadoparaaaquisiodelas.Ea f? Conforme Mateus,
e la se relaciona ao anncio do Reino de Deus
por Jesus, ao seu ens ino e prtica correspondente:arrependimento e grea, cumprimento da vontade de Deus, salvao integra l, a prtica do amor,
a dinmica de expanso (fundamenta l para a estabilidade de qualquer moeda). Esto a os valores reais que fundamentam a moeda do Reino, a f. Deles a
f a repres entao (e a manifestao) simblica. Que eles
tm a sua situao neste mundo, nos acontecimentos do dia-a-

- 404 -dia, permeando todas as estruturas e sistemas, nao se discute mais, basta ler os relatos dos evangelhos.
O senhor, depois de equipar cada servo com uma soma de
dinheiro, conforme a sua capacidade, se ausenta. Assim tambm o nosso Senhor deixou este mundo, incumbindo-nos, cada
qual com seu talento, de trabalhar para o Reino de Deus. Agora ns estamos na vez
(cf. Mt 28, l9c). E de novo vale 0
paralelismo com o dinheiro. Este s adquire valor real, qu~n
do for transformado em capital, isto , em meios de produ~o
e produtos. Abstrado do seu par, o capital produtivo, o dinheiro no nada nulo, pois capital tem que ser, por definio, produtiv;. O valor produzido, porm,tem que s:r rea-_
l izvel no mercado, para o capital dar lucro. O lucro e o mo
tordo sistema. O mercado, contudo, pode no absorver o produto, por ser mal feito, no corresponder s neces~idades etc.
Transformar dinheiro em capital sempre inclui um r1sco_de~
tro do sistema capitalista. A gente pode perder tudo, 1 r a
falncia, se no estiver altura das exigncias do mercado._
O talento do Reino de Deus tambm exige ser empregado pa
ra virar capital. Tem que ser aplicado s situaes ees~oais
e interpessoais, s estruturas sociais e polticas, ~s 1 ~s
tituies, tanto seculares quanto eclesisticas. ~nt~o vira
produto - amor ao prximo solidariedade, rnisericord1a, men- - ou melhor
'
- - g ru pos de
sagern de sal vaao
ainda me .1o de p roduao
conscientizao, SICA: CESE, DIACdNIA. Assim d luc:o, cresce o Reino de Deus. Mas s colocando o talento em r1sco,_abrindo a mo do dinheiro, se chegar a estas concretizaoes.
Tenho que entrar no mercado com o meu lote, aceitar o desafio da concorrncia - outras ideologias, instituies adve:sas; corro o perigo de ser derrotado, de naufragar com a min~a f, de perd-la.Sujarei as mos no esforo de fazer i:r~du
z1 r o meu talento, s vezes at com o sangue do meu prox1rno,
corno aconteceu com Camilo Torres e outros, que levaram o seu
compromisso at a ltima conseqUncia. Em casos corno estes
ficaremos em dvida se o talento foi bem empregado. Talvez
no nos sobrar nada mais que frustrao, decepo. Mas posso tambm lucrar, alcanar urna vida mais plena, comunicativa, alegre, antecipao do gozo final. E, se vencer, o Senhor me contar entre os servos bons e fiis. Ser fiel, ento , no significa cuidar, guardar bem os talentos recebidos,
mas po-los em risco, a prova, livrar-se deles para faze los
circular no mundo.

- 405 Arriscar, p o r m, parece no ser algo para todos, principalmente e m ma t ria de f. E'. impressionante quantos cristos
procuram, na su a r e ligio, urna coisa segura, firme, imutvel
- tal vez em comp e nsaao de toda a insegurana e mudana, em
que foradamente vi vem. Uma moeda estvel em toda essa inflao, moeda qu e ma ntm o seu valor inalterado, prpria para a economia tran s cendental. Mas o talento do Reino de Deus
no possui estabi 1 idade absoluta. Depende, como qualquer moeda, dos valor e s produzidos com o capital que representa (quem
produz com o capita 1 naturalmente o homem). H, porm, os
que no se conscientizam disso, vem no talento_do Reino um
valor absoluto, to pr-ecioso que resolvem guarda-lo, enterr-lo num lugar seguro, o mais seguro que conhecem. No tempo de Jesus isso era uma cova na terra. Hoje, provavelmente,
seria uma cai xa -forte, de ao, prova de fogo, com fechadura de segurana.
Enterrar o talento do Reino, que vem a ser isso? Parece-me que um lugar, onde podemos enterr-lo hoje 1 so,a~ estruturas eclesisticas.Transforrnamo-las em armaoes r1g1das,
i rnutave is, de cone reto armado, prova dos fogos do tempo,
das intempries do processo histrico, e depositamos nelas o
talento do Reino. L ele est seguro,seguradoporuma seguradora transcendental (o nosso grande engano!). Colocamos ainda algum pessoal especializado em cuidar dele, em mant-lo
brilhante e limpo, e depois, de vez em quando, em ocasies
especiais, nos ace reamas para abrir o cobre (ou o buraco na
terra), para ver se ainda est a. Apreciamo-lo, rendemos-lhe culto,certificamo-nos de que est disposio para o
dia da prestao de contas. Alis, no se deveria esquecer
que tambm uma Faculdade de Teologia pode servir de cofre do
talento, mantendo-o lustroso e claro, mas improdutivo.
Muitos no confiam no "cofre pblico 11 da igreja. Abrem
o seu buraco particular, meio s escondidas, o seu crculo
pietista ou bblico, de orao,ou se empenham, neste crculo,
a preservar e defender a sua f; olham, analisam, viram e revi rarn o seu talento, mas no o arriscam, no abrem mo dele.
E 1e a garanti a da sua re 1ao com o Senhor (no foi ele
quem
lhos deu?). Como ento desligar-se dele, p-lo em risco?
No me entendam mal (pelo menos no mais do que necessrio).
No falo contra as estruturas, os crculos, mas contra a sua transformao em cova do talento do Reino. Assim

- 1- 407 -

- 406 como a terra no esconderijo, mas antes de tudo fonte de


vida, de produtividade, assim as estruturas e crculos podem ser instrumentos, meios de produo no Reino de Deus,na
medida em que abrem mo de seus talentos, vo ltando-se para fora, para o mercado. E xami n emos uma
vez
os oramentos das nossas comunidades e da Igreja. Que
parcela da receita est voltada para dent ro, para manuteno de servios internos, preservao, e qu e parte vai para fora dos seus limites?
Vejo ainda outra maneira de enterrar o talento do Reino.
Posso afund-lo na terra mesmo, isto , nas estruturas terrenas, no 11 Reino deste Mundo''. Obtenho ento uma " cr istandade", uma 11 civilizao crist 11 , uma ' 1 cultura acidenta~ com os
seus valores inspirados nos ideais cristos". A entao 0 t alento tambm produz, mas no para o Reino de Deus. Outra vez
podemos traar um paralelo teoria sociolgica de~- Luhmann. Diz ele que tambm os sistemas polticos, os : 1 stem~s
de ~oder, ~recisam do seu meio de comunicao, que e urna id eo~- A fe crist pode entrar nesse papel; sim, faz e fez_
bons servios como ideologia de sistemas de poder. E, se n~o
me engano, tenho ouvido ultimamente vozes se levantando ma is
uma vez em defesa dos 11 altos valores cristos contra 0 ataque do comunismo".
a _Ma s como, perguntar algum, o talento no ~ever ser
plicado neste mundo, o Reino de Deus no devera perrne a ~
as estruturas seculares? Claro que sim, respondo, mas nao
enterrando-se, aprisionando-se nelas. O talento feit~ rnoed~
c?rrente do Reino deste Mundo mais que enterrado, e falsificado, alienado. Torna-se instrumento de interesses de classe, de Poderes contrrios transformao do nosso mundo,
conforme a venta d e de Deus. Se alia
.
com o 11 status quo 11 O.
talento, para gerar os produtos correspondentes, tem que ficar moeda do Reino de Deus.
Resta dar uma olhada para os trs servos reunidos perante 0 seu senhor,
Os dois que duplicaram seu capital de giro se manifestam. Entram para a festa final, suponho eu, e
se ~proveitam (ser que eles j no se aproveitaram antes?
Sera que entregaram todo o lucro?). Somente o terceiro sente-se impelido a justificar-se: "Senhor
sabendo quanto
valor ds aos teus bens, conhecendo a tu~ severidade, no
ousei arriscar o teu talento. A tens o que era e continua

te u. 11 No este qu em maio1- respeito mostrou para com a ddiva recebida? O medo de que fala deve t-lo acompanhado todo o
t empo da ausncia do Senhor. (E no observamos, freqUenteme nte, este medo naq u e 1es que to ansiosamente se empenham
a guardar, a d efe nd er a sua "f"?) Era justificado este medo do senho r?
t'. verdade, ele exigente, severo, zeloso para com os seus bens. Mas no no senti do em que o servo o entendeu. Ele n o que1- t emor , respeito reverncia sua ddiva. No quer v-la transformada em smbolo da sua existncia,
em garantida d e sua volta. Quer v-la transformada em capit al, em obras de amor, de esperana, em sinais do Reino de
Deus. No se inc omoda que o talento original se perca,desde
que em lugar d e l e lhe sejam devolvidos outros tantos. O servo no conheceu bem o seu senhor, no entendeu o que ele
pretendia ao distribuir os seus bens. E por isso perde tudo
e termina '.'l fo~a, nas tr:=vas, onde haver choro e ranger de
dentes." Sinto do dele.
Nao seria a hora da misericrdia
da ~raa? O~vi amente no. E'. hora de juzo. De graa , nes~a
parabola, nao se fala.
111

Para a prdica

A par~b<?la um "con~o", que, de forma alegrica, procura expl 1 c1 tar uma r ea l idade, uma mensagem superior ao seu
enredo. Usei novas imagens alegricas para aproximar-me a
es ta mensagem. Parece-me que o texto se oferece para contar
'' casos", i:to ~. concret~zar ainda mais as comparaes feit~s na med1taao, aumenta-las e transform-las,sempre partindo da r~alidade scio-econmica e religiosa do ouvinte.
Este devera reconhecer, nas imagens e nos ''casos" apresentados, as atitudes suas e de seu grupo, para formar no melhor dos casos,
critrios de auto-avaliao.
'
1) Cf. N. Luhmann, Gesel lschaftl iche Evolution und reli gil)#
se Dogmatik (Manuscrito mimeografado).

- 408 l '?

D O M

N GO

Hebreus

DE

ADVE NT O

10,19-25

Joachim Fi sc her
A. A s ituao da comunidade: As comunidades s quais se dirige a Carta aos Hebreus, lutara m e sofre r am, no passado,por
causa da f crist (10, 32-34).Naquela lutaos cr i stosesta~arn
disp ostos asuportar tudocomalegriapor causa do Senhor.: Mais
tard e, por m, o zelo de f diminuiu bastante. Os cristaos e nfraqueceram e cansaram (cf. 12,3 e 12 s.) Comea ra m a duvida r da possibilidade de a lc a n a r a meta da f e vid a c rist (cf. 3,14; 10,36). Desist ir am da "co nfis so da espera na "
(cf. 10,23) . Algun s abandonaram as r e unie s d a comunidade,os
cultos (10,25), ou apostatara111 da f (6,6; 10 ,29) . Ap a r en teme nte houve tambm tendncias sectrias.
~ual a situao da nossa comunidade hoj e? Quais _s~o
os principais perigos que a ameaam? No h resposta valida
P~ra todos os casos. Ca be a cada pregado r recon hece r e ana1 isar clara e francamente a situao de sua comunidade.Mas
podemos fazer duas observaes.
a) Em cada comunidade, provavelme nte, haver pocas em
que di minui o zelo de f, e nfraquecem f e vida c r ista, surge um cristianismo meramente tradicional e p ass ivo.
. ~) Ta mb m pode se r que uma comunidade seja afl i g~da
prin c ipalme nt e pe las atividades de outras Igr e jas, seitas
e_ religie s, ou que haj a o perigo de ela sucumbir s ~en~a
oes doatesmoprticoquesemanifestanaatitudematerialista
danossapoca;entomembros da nossa comunidade filia m-se a
outras congregaes religiosas ou ficam sem f alguma.
Esses pensamentos no necessariament e precisam ser concentrados na parte introdutria da prdica. Com uma a nlise
demasiadamente pessimista do mundo, da comunidade ou do homem o pregador poderia "matar" os ouvint es antes de chegar
mensagem evanglica. Mas nos devidos lugares da prdica
deve-se falar claramente dos perigos que ameaam a comunidade, para que cada qual saiba de que se trata.
B. A inteno da prdica: Numa situao de tentao e aflio , o autor da Carta aos Hebreus est profundame nt e preocupado com a vida espiritual e prtica das comunidades. Quer
fortalec- l as, para qu e possam re s istir a todas as tempest a -

- 409 des. Por isso exo rta-as apros seguiremataofim a caminhada


de f que ini c i a ram . Mas n o lh es apresenta simplesmente uma list a de admoesta e s e advert ncias. Por isso tambm a nossa
Prdica no se pod e concentrar nisso. Numa situao em que
as comunidades devem ser exortadas, o autor parte de reflex es teol~gic as bem p1-of undas (cf.principalmente7,l-lo,18).A
compreensao renovada da real idade de Jesus e de sua obra salvfica leva a convices fi rrne s e a decises claras justamente
em situae s difceis. A atitude e o comportamento prtico
da comunidad e, port a nto, t~m sua base na reflexo teolgica. Essa, por sua v ez, esta orientada para a prtica da f
e tem finalidades po i mn i cas. Dessa maneira o autor procede tambm em nosso te x to.Primei r amente aponta salvao que nos dada (vv.19-21). De pois chama os cristos f (v.22), esperana (v.23) e ao amo r (vv.24-25 a). Termina com a persP~ct i va. d~ vind a de ~ es us ( v. 25b). Essa ao mesmo tempo 0
dia do JUIZO. I sso diz e m os vv. 26 ss. que, no entanto no
pertencem percope da prdica. Trata-se, portanto d~ ddiva que receb emos e receberemos, e da tarefa que t~mos devi do ddiva.
Visando a prdica, eu interpretaria o texto como um
resumo breve, mas completo da existncia e da caminhada do
povo de Deus (a comunidade ou a Igreja) e de cada cristo.
A caminhada parte da obra salvfica de Cristo (vv.l9-2l)e
leva, E'e lo caminho da f, da esperana e do amor ( vv. 222Sa), a meta do 11 dia 11 que se aproxima, o advento de Cristo
(v. 25b) . Dessa maneira, tentaria motivar os membros a uma
nova vida espiritual e ~tiva (no caso do cristianismo tradicional ~passivo) ou a perseverana na f, na esperana e
na comunhao (no caso do perigo da apostasia).
C. A estrutura da prdica

~- Trata-s e :J~ u~a prep-dic? no Advento, isto , no incio


1
~ anod edc.es1ast1co.
or isso eu comearia com a perspect ~ va o
1 a do advento de Jesus que se aproxima. Qu h
. e oras
sao na v1d a d a comun1d a d e e dos cristaos?
Geralmente a poca do Advento tida como poca alegre.
l~a:_ os ~v. 26ss. des~acam que o advento de Jesus poca de
JU1zo:
Vem Ele ao JUlgament~ do que despreza a cruz" (hino 6). Deve-se ressai tar tambem em nossa situao concreta
o fato de que Jesus condena os que pecam deliberadamente?

- 410 -

Ou devemos colocar no centro das nossas refl exes a idia


.
s?
de que devemos dar contas a Jesus do que cremos e v1ve~o
Em todo caso no devemos amedrontar a comunidade. Cristaos
medrosos no servem para nada. Nossa tarefa proclamar a
boa nova. Por isso tambm poderamos partir da idia de que
Jesus, por cujo advento esperamos, o sumo sacerdote.Abri~
para ns o acesso a Deus, e diante de Deus intercede por nos.
Seu advento, bem como sua cruz, significa m a salvao.
O advento da salvao precedido por sinais que podem
ser percebidos claramente: "Vedes que o dia se apro xi ma."
Que sinais podemos ver?
a) Tal sinal pode ser a indiferena quanto vida comunitria, isto , o "costume" de pertencer comunidade apenas nominalmente, sem participar mais de sua vida, sobretudo do culto e da Santa Ceia . O sinal pode ser tambm o
rompimento completo com o cristianismo, a incredulidade.Em
ambos os casos deve-se anunciar francamente o julgamento
daquele comportamento. Mas seria um erro muito grande amedrontar os presentes com o juzo de Jesus. Pois justamente.
eles no abandonaram o culto, o acontecimento central da vida comunitria. Antes seria recomendvel refletir criticamente, junto com os ouvintes, sobre os fenmenos mencionados.
b) Os sinais do advento de Jesus podem ser os multiformes sofrimentos espirituais e ma teriais aos quais as pes:oas
esto sujeitas dentro e fora da comunidade. Podemos mencionar: doena, fome, opresso, explorao, falta de op~rtuni
dades de desenvolver seus dons, etc. Nesse caso a predica
do advento de Jesus precisa ser prdica de salvao para
os que sofrem, prdica de juzo para os responsveis pelo
sofrimento, se esse for causado por homens.
Quais so, numa determinada situao, os sinais m~is
claros, somente pode ser dito tendo em vista a respectiva
comunidade.
11. Jesus, atravs do sacrifcio de sua vida, abriu-nos a
entrada no "Santo dos Santos", o acesso a Deus (vv. l9s.)
Conforme a re 1 i g io dos judeus, Deus morava no ''Santo dos
Santos", a parte mais sagrada do templo de Jerusalm. Um
vu separava o "Santo dos Santos" do resto do templo (t x
26 , 33) , is to , separava Deus e a comunidade reuni da. Somente uma vez por ano o sumo sacerdote entrava, pelo vu,
no "Santo dos Santos". Para o autor da carta aos Hebreus.

411

o obstculo qu e i mp oss ibilita o acesso a Deus, a "carne"


de Jesus, ou seja, sua n at ureza humana. Num sentido mais
ge ral podemos dizer qu e o mundo terrestre e material esconde Deus aos nossos olhos.
Podemos falar assim ainda hoje? Tambm o mundo ma teria 1
f oi criado por Deus; portanto, no simplesmente alheio e
contrrio a Deus. Qual o "vu" que~ separa de Deus hoje? E'. nossa culpa, cuja conseqUncia am conscincia(v.22).
assa culpa t em formas b em concretas: so nossas omisses e
fa lhas, nossa arrogncia e nosso egosmo em nossa convivncia com nossos pr x imos diante de Deus, nossa incapacidade
e i nd i spos i o de servir adequadamente a Deus e aos irmos,
n ossa indiferena em questes de f e amor. Tambm o sofrime nto pode ser um obstculo que nos separa de Deus; pois nem
sempre o sofrimento ensina a orar. Finalmente poderamos pensar nos "cuidados do mundo" e na "fascinao das riquezas''
de que fala Mt 13,22. Em todo caso, Deus fica inacessvel
sem e fora de Cristo.
Agora, porm, Cristo removeu o obstculo "pelo seu sangue", isto , pelo sacrifcio de sua vida na cruz. Superou
a separao. Abriu-nos o acesso direto a Deus. Trata-se de
uma nova pos si b i 1 i d ade e rea 1 idade, um 11 cami nho novo e vi vo 11
Na f em Jesus, temos o direi to e a autorizao de ap~oximar-:nos a Deus. Por causa dessa autorizao, temos entao tambem a "intrepidez" subjetiva quanto ao acesso a Deus.
O texto portugue s expressa apenas o aspecto subjetivo do assunto. Mas o texto original contm tambm o pensamento objetivo da autorizao: "Tendo, pois, irmos, autorizao e,
conseqUentemente, intrepidez para entrar no Santo dos San11
tos ...
O acesso livre a Deus no nossa inveno ou conquista, e sim, presente de Jesus, que nos abre a porta.
Nest e senti do,Jesus o "grande sacerdote sobre a casa de Deus"
(v: 21). Cabe-lhe ser o Senhor da comunidade, governando-a
e intercedendo por ela junto a Deus (cf. 7,25 ; 9,24). Acompanha a comunidade, que a "casa de Deus", no caminho que
Ele mesmo iniciou . Em meio aos seus, compartilha as fraquezas e as tentaes que os pem em perigo.
1 1 1 Dos fatos do acesso livre a Deus e da proximidade do
advento de Jesus podemos tirar trs cone l uses quanto ao
nosso comportamento prt i co, em forma de trs exortaes.

- 412 1. "Aproximemo-nos!" (v.22) Somos admoestados a ter um "corao sincero", isto , a entregar-nos total e irrestritamen te a Deus, assim como somos, e a caminhar na estrada da ~as
sa vida de maneira franca e sincera, sem segundas intenoes,
diante de Deu s e dos homens. Somos admoestados a levar uma
vida "em plena certeza de f", o que no te x to original sig nifica uma vida de f intensiva. Deus oferece -n os a comu nho com Ele; por isso devemos pratic-la e cultiv-la (culto!) (cf. 4, 16).
O que se deve entender sob uma vida "em plena certeza
de f", mostrado na "grande nuvem de testemunhas" do cap.
11 com sua famosa 11 defi ni o" da f (v. 1). Na prdica tambm podemos citar exemplos da Histria da Igreja ou do ambiente em
que vivemos. Na f trata-se da oferta e apropriao pessoal
da salvao. Na f aprovamos e aceitamos sempre de novo a
promisso divina em meio presso do nosso tempo e apesar
de todas as dificuldades interiores e exteriores. Assim s:guimos.a.Jes~s. A manifestao visvel do seguir a Jesus e
a part1c1paao no 11 culto 11 da comunidade no sentido amplo da
palavra (cf.Rm 12,l). Os exegetas destacam sobretudo, como
formas concretas do seguir a Jesus, a participao no culto
domi~ical, com a proclamao da palavra e a Santa Ceia, e a
oraao. Alguns acrescentam ainda 0 colquio fraternal (confisso_ou aconselhamento pastoral) como ajuda especial na.
tentaao. Tudo isso faz parte do aproximar - se a Deus, da vida da f e na f.
Por que podemos ap roximar-nos a Deus? Po rque fomos interior e exteriormente purificados pelo perdo dos pecados
11
(
tendo os coraes purificados de m conscincia 11 ; cf.9,14)
e pelo batismo ( 11 tendo l a vado 0 corpo com gua pura' 1 ) Ambas as coisas so inseparveis. Somos renovados por Deus.
Dessa maneira destaca-se mais uma vez que no podemos superar! nem sequer com as mais esforadas atividades, a ~ep~
raao entre ns e Deus. O acesso a Deus nos dado; nao e
conquistado por ns! Justamente os pecadores recebem a ddiva de Deus. Na f experimentamos essa renovao como real idade em meio nossa vida. Tal ddiva liberta-nos para o
verdadeiro servio a Deus e aos homens.
A exortao do v.22 quer que no fiquemos parados no
caminho da nossa vida crist: cristianismo progresso!
Quer que no recuemos em vista das muitas dificuldades ~ue
encontramos na prtica da f. Quer que no seja mos margina-

- 413 l izados da comunid ade, visto que h o acesso ao centro da


p resena d e De u s . Mas certamentenoadiantarianadaapresent: ar aos ouvit1tes u111 cristianismo ideal. No podemos deixar
de lado o fato d e qu e mui tas vezes no vivemos a f em toda a sua pl e nitud e n em em toda a sua pureza, e sim, de uma
ma neira bem hu mana, t e ntados por dvidas, ameaados de div ersos modos. Mas j ustamente por is so i mportantc encoraj ar os ouvintes para a f e par<:i a perseverana na f.
2. 11 Guardemos f i r111e a confisso da esperana! 11 (cf. tambm
4, 14) A f " a certeza de cousas que se esperam11 (11, 1).
A esperana, p o i s , um e l eme nto essencial da f. Em Hb 6,
19s. cha mada d e " ncora da al111a 11 , pela qual estamos ancorados em De us mesmo . A f conta com aqui lo que Deus far.
J agora podemos e= deve mos preparar-nos para a salvao,pe1 a qua 1 esperamos 1 's em vac i 1ar' 1 Nesse senti do o presente
est grvido do futuro, por assim dizer. Vida crist significa regozijar- se na esperana (Rm 12, 12).
A confisso da es perana poderia ser um credo formulado, talvez o credo usado no batismo. Mas parece-me que o
autor da Carta aos Hebreus no quer acentuar esse fato. Somos exortados a manifestar publicamente que somos cristos.
a prdica pode-se concretizar essa idia. Poderia ser a
realidade religiosa brasileira, por exemplo, que exige nossa confisso. Nesse contexto poderamos falar do nosso relacionamento com outras lgrejas,com as assim chamadas seitas e com congregaes religiosas no-crists, se assim 0
ex igir a situao da nossa comunid<:ide. Esse campo, no entanto, muito va sto . O preg 3 dor, pois, deve tomar cuidados para nao se perder no matagal do caos religioso do Bras i 1.
No guardamos firme a confisso da esperana por causa do nosso herosmo de f. Se confiarmos em nossa prpria
firmeza, poderamos, de repente, pertencer queles que ret rocedem (v.39). Apelos morais no adiantam nada. Tambm
no podemos deduzir a certeza da nossa esperana dos progressos que acreditamos fazer em nossa vi da de f. Nas tentaes ajuda-nos apenas a f ide 1 idade com que Deus nos acompanha. Nossa confisso nossa resposta sua fidelidade.
3. 11 Cons ide remo-nos uns aos outros, para nos estimularmos
ao amor e s boas obras! 11 Cristos sempre vivem na comunho dos irmos, so responsveis uns pelos outros, e ass im 1 i gados uns aos outros . A admoestao tornou-se neces-

- 415 -

- 414 sria, porque entre alguns dos destinatrios da Cart a aos


Hebreus j se tornou 11 costume 11 no particip ar mais das reunies comunitrias e da vida da comunidade em geral, sobretudo dos cultos. Nisso manifesta-se uma fraqueza perigosa e, em ltima anlise, mortal da comunidade (cf.vv.26
ssJ. Qual a situao da nossa comunidade quanto comunho e responsabilidade mtua dos membros? No ano passado o Conselho Diretor da nossa Igreja constatou que nossa
vivncia comunitria fraca. Um e xemplo bblico de ir res ponsabilidade em relao ao irmo Ca im: 11 Aca so sou eu tutor de meu irmo? 11 (Gn 4,9) Na comunidade crist, os membros
assumem responsabi !idade espiritual e humana uns pelos outros (cf. l Co 12,24). Consiste em ajuda po i m nica mtua
11
(
faamos_admoestaes 11 ) e estmulo para atividades de a-_
mor ao proximo na vida diria. r verdade que nossa comunhao
sempre de novo est exposta a provas e tentaes. To rnamo-nos indiferentes,porque cada um est preocupad o exclusiv~me~te consigo mesmo. Ou reparamos no outro, mas no para
Juda-lo, e sim, para control-lo ou feri-lo justamente em
seu ponto fraco. Visto que o amor ativo ao pr x imo est ameaado de fracassar, os cristos sempre de novo devem ser
chamados a engajarem-se em favor do prx imo, a partir da
palavra de Deus. Trata-se da superao do nosso ego smo em
~u~_quere~os impor ao pr x imo a nossa vontade e as nossas
ideias . Nos mesmo~ sempre de novo precisamos de ajuda pel~
pa~avra e pela aao. Assim a comunidade deve mostrar qu e e
mais do~que um clube ou uma associao que defende interesses ego1stas.
No seria bom cr1ticar a comun1d a de por causa de suas
fraque:as para depois apelar boa vontade de seus membros.
Tentaoes ~fraqueza da vida comunitria s podem ser superad~s ~m vista do Senhor, cujo advento festejamos (v.25 b)
Ass~m Justamente no incio de um novo ano eclesistico haveria uma boa oportunidade de exortar a comunidade a dei xa r
levar-se por Jesus para um novo comeo na realizao prtica do amor ao prximo .
Na estruturao da prdica podemos orientar-nos nas
seguintes perguntas (que a prdica deve responder):
Somos comunidade do advento de Jesus?
1. Esperamos pelo advento de Jesus?
11 . Temos 1 ivre acesso a Deus?
111 . 1 .Aproximamo-nos a Deus?

2. Guardamos a esperana?
3. Vivemos n a comunho dos irmos?
Bibliografia
Para a e l aba rao da meditao foram usados os coment ri os de Fritz Laubach (Wuppertaler Studienbibel, 19b'7).'"
Otto Michel (Kritisch-exegetischer Kommentar ueber das MT
13,8a. ed., 1969), Adol f Schlatter(Erlaeuterungen zum NT 9,
1953) e Hermann St rathmann (Das Neue Testament Deutsch 9,
8a. ed., 1963); monografias de ErnstKaesemann(Das wandernde Gottesvolk, 2-. ed., 1957) e Gerd Theissen (Untersuchungen zum Hebraeerbrief, 1969), meditaoes de Egon Brandenburqer/Klaus Bal tzer/Friedemann Merkel (Goettinger Predigtmeditationen 1971/72), Ge rhard Friedrich (GPM 1959/60),Werner Krusche (GPM 1965/66), Karl Gerhard Steck (Herr, tuemeine Lippen auf 4, 5a. ed., 1965) e Gottfried Voigt (Die neue
Kreatur, 1965) .
--

Cre r l-Io j e, V rio s Autores. Editora Sinoda l, S. L eopoldo 1973. 111 PP


E ' o C r e do c r bto e xplic a do p a r a a a tua lid ade, numa linguagem
simples e acess ve l na t e ntativa de auxiliar na prestao de contas
sobre a nossa f 'e n a compreenso da mensagem d e salvao e de
lib ert ao t estem unh a da pelos profetas e apstolos ~.

"Revista Eclesistica Brasileira

11

- 417 -

- 416 3'? D O M 1 N G O
Apocalipse

DE

A DV E NT O

3,7-13

Renatus Porath
Preliminares
Raramente proposto um texto do Gltimo livro d a bblia
no calendrio eclesistico. Apenas a poca do advento, por
causa do motivo 1vinda 1 faz-nos lembrar dos te xtos apocal pticos. J pelos reform~dores, 0 livro do Apocalipse foi tratado com certa cautela, mas no lhe negaram a canonicidade.
Com certeza, ele tambm no nossa leitur a predileta. Por
isso cabem aqui algumas notas explicativas. "Apocalipsis 11
significa revelao. Sua nfase sempre foi a histria. J
no apoc~lipsismo judaico, onde 0 Apocalipse joanino tem
s~as _r~izes, ~preocupao estava voltada para o futuro da
hist?ri~ . . Em epocas difceis, homens interpretavam o curso
da historia e previam acontecimentos do futuro para daresperana aos que viviam no presente difcil. O apocalipsismo, visto a partir da perspectiva do evento de Jesus Cristo, no mais particular, restrito ao povo de Israel Ele
r?mpeu os limites e tornou-se interpretao da histria u~iversal. O Ap?ca~ipse preserva a herana do AT que Deus
e um D~us_d~ historia. A salvao deste Deus faz com que
essa h1stor1a se movimente para um alvo. A partir desse cent~o, devemos avaliar todos os detalhes do apocalipse, para
nao nos perdermos
.
em 1ncansaveis
especulaoes.
Na atualidade, o tema do Apocalipse "esperana" ultrapassou ?s muros cristos e desempenha um papel importante
n~ mar x ismo. Es se , por sua vez
desafia a comunidade crista a recobrar .Potencialidade ~ue a esperana cristcon.2_
todas as suas implicaes "aqui e agora". Neste sentido_nao
s: deve ver 0 apocalipse como consolo barato para um alem
d~s~ante , mas como testemunho de que Deus Senhor da historia e que as rdeas no lhe escaparam de suas mos. A promessa que encontramos no Gltimo livro no nos leva passividade, mas nos impulsiona em direo ao que foi afianado
j na realidade social em que vivemos. Este texto do Apoca1 ipse pode nos contagiar com a dinmica da esperana que
pulsa nesse livro.

1.1 -

Conte xto

A percope (3,7-13) est inserida na primeira parte do


onde o autor trata das coisas presentes (1,19 11asque
sao'').
A segunda parte perfaz o tema principal, tratando de
eventos futuros. Essa abrange Ap 4, 1 a 22,5. A carta a Filadlfia a penltima das sete cartas dirigidas s comunidades da sia Menor. Mesmo que Ap l, 19 sugere esta diviso,as
cartas foram es critas luz das coisas que esto por acontecer. Toda frase est cheia de expectativa e de espera pela vinda do Cristo exaltado. "Venho sem demora", ele mesmo
diz (~, 11). As sete cartas no circularam independentemente,
mas ja foram compiladas dentro do corpo maior que o livro
deAp. Assim todas ~s comunidades receberam ao mesmo tempo
as sete cartas. O numero sete significa a totalidade. Disto
presume-se que so dirigidas a toda a igreja, representada
pelas sete. Suas referncias s comunidades so histricas
mas isto no impecilho para que continue escrito de exor~
tao para a igreja de todos os tempos at que ele venha.
l~vro,

1.2 - Texto
O texto apresenta uma estrutura clara: a) Ordem de escrever - v. 7a; b) Auto-apresentao daquele que d a ordem
- v.7b_! e) Elogios comunidade - vv.8-9; d) Promessa e exortaao - vv.10-1 l; e) Conclamao vitria e promessa_
vv. 12-13.
v.7 - A carta dirigida ao anjo da comunidade. Para
a~guns ele o bispo que a representa. Comparando-se, porem, este termo com uma outra paralela (1,20), percebe-se
que '~anj 0 11 aqui representa o que E. Schwei zer chama de "e><i stenc ia espiritual 11 Como os 7 espritos (1,4) perfazem
a total idade do agir de Deus em relao s comunidades
ss~m os 7 anjos correspondem respo:ta dada ao agir sav~
f1co.:. E'., em outras palavras, a realidade criada pela int _
v:na~ l~bertadora de ~eu:. Si~nif~ca que a comunidade~~
F1 l.::de~f1a deve sua ex1stencia a aao de Deus em Cristo.Filadelf1a provavelmente foi a cidade de menor porte e de menor importncia em relao s demais cidades citadas. Sabemos que recebeu seu nome do fundador Atalo 11, chamado Filadel fos de Prgamo
(159-138 a.C.). Era assolada freqUentemente por terremotos e por isso tinha que recorrer aju-

- 418 da estatal. A pequena comunidade crist, l existente, recebeu ainda mais tarde, de Inci o de Antioquia, o mesmo elogio. S elogios so atribudos a essa insignificante comunidade, como igualmente aconteceu com Esmirna.
Quem fala a ela o prprio Cristo Exaltado. Ele se apresenta com predicados repetidos vrias vezes no 1 ivro. 'Santo' e 'verdadeiro' so ttulos divinos. Esses atributos ele
quer atribuir aos que lhe pertencem. Ele quer abarcar oh~
mem com sua santidade e sua verdade. S por isso a comunidade pode corresponder s caractersticas de Cristo. A autoapresentao continua, citando Is 22,22. Aqui significando
o poder que lhe assiste de dar ou no acesso ao reino me:sinico. Ele abre a porta comunidade de Filadlfia. Alem
de ser autodesignao, ela encerra uma promessa.
_
v.8 - O elogio se refere s obras que so a e x pressao
da vida da comunidade. Pode parecer estranho que uma_comunidade com 11 pouca fora 11 (dinamis) recebe um juzo tao positivo. Ser que se pensa no pequeno nGmero? Ou seus membro~ n~o eram pessoas de destaque? Ou talvez faltam cert~s
c~ri:maticos no sentido de 1 Co 1,4? Este pequeno potencial
nao e camuflado, nem escondido. Fala-se abertamente sobre
sua situao. Isto em si J' uma obra positiva: aceitar.
11
f
sua pouca fo ra 11 como dada por Deus. Mas a ob r~ es pec 1 1 camente positiva : 11 Guardaste minha palavra e nao n~ga~te
o_meu nome 11 Este o real motivo de todo o elogio a Fila~
delfi~. Est~ o critrio para avaliar at onde uma com~ni
dade_e ou nao autntica e verdadeira. uma completa inversao de nossos valores. A vida da comunidade consiste em
receber (palavra) e no dar (testemunho). A igreja tem 0 tant? quanto ela der adiante. No deve ser coincidncia, se Esmirna, que tambm s elogiada, uma comunidade pobre ( 2 ,
9) A pobre e a de pouca fora, segundo o juzo do Senhor
e x ~ltado, c~rrespondem mais aos traos da comunidade ve~da
dei ra e autentica. Exatamente assim se manifesta a real ~da
de de Deus em Cristo (li Co 11 30 12 5). A Filadlfia e pro. d li
,
'
'
l i
Q
meti a uma porta aberta, a qual ningum pode fechar uan11
11
do Paulo fala em porta aberta (1 Co 16,9; 11 Co 2,12)_,
ele pensa em novas perspectivas para a atividade missiona11
11
ria. Aqui
POrta aberta 11 tem um sentido mais amplo. A P0 u11
ca fora tem seu lugar nos grandes planos do Pantocrator.A
pequena Filadlfia est inserida no grande evento da vinda
do Reino de Cristo neste mundo. O reino messinico para 0

- 419 qual o Cristo exa ltado abriu a porta (v.7), j irrompeu e


abrange a atividad e missionria de Filadlfia.
_
v.9 - A co munidad e triunfar sobre todos seus adversarias que agora a a flig e m. Entre eles so mencionados os judeus que nos p1- i111e i ros decnios eram os perseguidores mais
ferrenhos. Ele s n o s o mais povo de Deus, mas Sinagoga de
Satans. "Satans" o poder que quer destruir o que pertence a Deus. Trata-se da p e rgunta: quem so os verdadeiros judeus - os que assim s e d e claramouos cristos? A deciso da
carta : A comunidad e crist o verdadeiro Israel e no os
judeus. Os cristos no so homens melhores ou mais piedosos do que os out1-os . Mas eles sabem que so amados (escolhidos) imerecidamente. Quem reconhece isto no mais adversrio, mas se torna testemunha do amor de Deus em Cristo.
vv. l O/ l l - A comunidade com 11 pouca fora 11 orientou
sua vida conforme a palavra deste Jesus que a convoca a perseverar. Experime ntou assim que na comunho com Jesus recebe fora para aguentar. Como recompensa, o Senhor quer
guard-la na hora da provao que sobrevir a todos os habitantes da terra. O conflito entre os comprometidos com Deus,
atravs de Cristo na comunidade, e os separados de Deus, sem
Cristo no mundo, perpassa toda a historia (conforme o Ap.) e
vai se intensificar no seu fim. Esta a provao constante
da comunidade, viver no mundo sem ser do mundo. At a breve
vinda do Senhor vale segurar-se na palavra, e o Senhor desta palavra promete segur-la na provao mxima que atingir a todos. A comunidade no ser poupada desta provao,
mas ser sustentada
(cf. tambm Jo 17,15).
vv . 12/13 - Como todas as demais cartas, esta tambm
termina com as promessas para o vencedor. O autor vale-se
da figura da competio no estdio, onde o atleta no poupa esforos para sair vencedor. Essas promessas para 0 vencedor querem, por u~ lad<?, mostrar a gravidade da luta e, por
outro lado, estimula-lo a esperana no futuro de Deus. Com
isso estamos dentro do tema do Apocal~pse: A esperana no
futuro que pertence a Deus quer determinar o presente da
comun i d ade.
Cristo mesmo quer fazer do vencedor 11 coluna no santurio de meu Deus 11 e acrescenta expressamente: 11 e da jamais
sai r 11 No j uda srno, Abrao e os piedosos eram chamados co1 unas. Tambm os apstolos na comunidade primitiva (Gl 2 9

' '

- 421 -

- 420 Ef 2,19-22). Na arquitetura, a coluna tem a fun~o.de s~s


tentar a construo.Aquele que sair vencedor se~a . 1nclu1do
no todo do santurio onde assumir a responsab1l1dade de
'
.
sustentar. Provavelmente 11 santurio 11 e "cidade" sao identicos. Referem-se ao Reino de Deus consumado, a cujo servio
a comunidade de Filadlfia est agora. Com o nome de D:us,
so designados propriedade exclusiva dele. E a inscr~ao do
nome "nova Jerusalm" lhes confere cidadania nesta cidade.
A esperana crist no algo individualista. Isto o emprego do termo "cidade" nos probe. A esperana e o fu~uro dos
cristos no idntico com alguma das melhores soc~eda?es
,.
.
.

t uaoes 1deposs 1ve1 s, nem um projeto ou expectativa por s1


ais. Esperana crist esperana em nome de Deus P?r ai.
f
que
go novo que homens no podem arquitetar. Isto s1gn 1 ica
a cidade de Deus tem algo a ver com nossas cidades. A fuga
da real idade negao do nome daquele em quem esperamos .

Neste sentid o o futuro prometido determina


a VIda do homem
~

So ascom seus planos, suas construes e seus proje!os.


_
sim os cidados das cidades onde vivem os cristaos cre~ao
naquele que vai criar novo cu e nova terra . Vale, enfim,
ressaltar que a pessoa no esquecida ao ser integrada defini t~vamente na futura comunidade, isto , na nova cidade.
Atraves do recebimento do nome a pessoa permanece com seu
devido valor. Ao viver esta esperana, 0 cristo tem que
~evantar :ua voz quando a pessoa esmagada nos grandes projetos aqui e agora.
A promessa deste futuro absoluto de Deus o estmulo
que pode conservar a cabea erguida de uma comunidade com
'pouca fora' e ameaada por todos os lados.

Escopo:

c?munidade com "pouca fora" corresponde_mais s

caracter1s~1cas de seu Senhor, porque est atenta a sua pa-

lavra. Ass~m ela pode confessar seu Senhor e este lhe_promete ampara-la nas provaes e lhe garante participaao no
futuro de Deus.

te r a sua atual id ad e .Como as sete cartas so dirigidas totalidade da Igr e j a, tambm a nossa est inc l uda.
b) O fund amento nos une diretamente quelas comunidades
da Asia Menor. O mesmo Senhor que criou e sustentou a comunidade de Fi 1 adl fia o que ainda hoje cria e sustm sua comunidade.
c) Temos comunidad es com muitos recursos e ao lado dessas existem inmera s que poderiam ser equiparadas de pouca fora em Fi ladelfia.Pouca participao em relao ao nmero de inseri tos .Poucos colaboradores.Pouca penetrao diante dos grandes desafios.Este texto confronta a comunidade coma
avaliao da Palavra deDeus:fraco,mas forte;pobre,mas rico!A
comunidade , nest~ sentido, a visualizao da prpriavidade
Jesus.
O texto nao quer suscitar a autocompaixo com nossa fraqueza, mas estimular o pequeno grupo a ater-se pal~vra. Somos uma igreja que se declara viver da palavra,mas
nao usa este critrio para medir at onde autntica e verdadeira. Continuamos aplicando critrios muito prprios de
nossa sociedade: poder, imponncia das edificaes, retrica dos pregadores, ativismo. Para o texto a 'nota ecclesiae'
"guardar a palavra 11 e sua imediata implicao: "No negar
s:u nome 11 . Ate- que ponto uma comunidade que se torna uma potenc'. a no est negando seu Senhor? Cada pregador deve descobr1 roque em_s~u meio significa: negao de Jesus Cristo.
d) Outra d1 f1culdade que a comunidade encontrar ser
qu~nto parusia de Cristo. No se pode negar que a vinda de
Cristo foi desc~i ta com cores vivas e com imagens presas ao
mundo contemporaneo do autor. Cabe ao pregador falar commuita.sobriedade do futuro de Deus que na ressurreio de Jesus
Cristo teve seu incio. L Deus manifestou sua soberania sobre a morte e sobre todos os poderes destruidores, criando
do nada algo novo. A esperana crist - que na poca de advento recebe a~enito especi ~1 -: esperana no Deus que cria
algo novo que e o alvo da historia.

2.1.2 - Sobre a Prdica


2.1 - Meditao
2.

1. l - O texto e a Comunidade

a) Provavelmente a nossa comunidade nao receberia apenas elogios, como Filadlfia. Nem por isso a carta deixa de

Talvez se deva partir do pensamento central e excluir


alguns detalhes. Quase se impe como tpico principal: "pouca fora" da comunidade. Esta pouca potencialidade, a comunidade recebeu. Sabe l que pregadores, que: recursos, que
classe de pessoas a constituam. Aceitar isto j louvvel,
porque corresponde ao caminho seguido por seu Senhor em sua

- 422 encarnao. A ''pouca fora" tambm no legitima qua~quer fuga para outros grupos ou potncias, cuja contribuiao aparentemente mais influente na sociedade.
O recado deste texto que ainda vale a pena apegar-se
palavra. Onde a comunidade no tem su~ fonte na palavra,
ela perde sua contribuio especfica que ela tem a dar. t
importante que sejamos convencidos a derivar toda e qualquer atuao na sociedade da palavra. As maiores atividades
podem ser negao a Jesus Cristo, em vez de testemunho. A
existncia da comunidade examinada por um critrio, aparentemente mui to canse rvado r aos nossos o 1 hos: 11 Gua rda r a
palavra e no negar seu nome". Ser que nossa comunidade seria aprovada diante de um exame destes?
Esta a comunidade que vive no advento, isto , a ela
prometido o futuro. Esta pequena comunidade tem part1c1pao na vinda do reino definitivo de Deus. A esperana no!uturo definitivo determina seu presente de lutas e provaoes.
Esta esperana leva a comunidade a viver a promessa de uma
nova cidade. A esperana e o futuro em Deus vo determinar
nossos planos e projetos parciais. Apenas a comunidade qu:
presta este testemunho ser ouvida quando falar do novo ceu
e da nova terra.
Bibliografia
HBNER, Eberhard. Meditao sobre Ap 3,7-13. ln: GUttinger
Predigt-Meditationen. G~ttingen, Vandenhoeck & Ruprecht,1971
ano 60. - LILJE, Hanns. Das Letzte Buch der Bibel. 4'? ed.'
Furche Verlag, Hamburg, 1955.-LOCHMANN, Jan Mil ic. Marx Begegnen: Was Christen u. Marxisten eint u.trennt. GUtersloher Verlagshaus Gerd Mohn, GUtersloh, 1975.-LOHSE, Eduard.
Die Offenbarung des Johannes. ln: Das Neue Testament Deutsch.
Vol . IV. l ed., Vandenhoeck & Ruprecht, G~ttingen, 1963. VOIGT , Gottfried. Die Neue Kreatur. 2~ ed., Vandenhoeck &
Ruprecht, GUttingen, 1971.

- 423 4~

D O M

Isaas

N G O

D E

A DV E NT O

62' 1-12

Manfredo Siegle
1 -Preliminar es
l)

A situao do pov ~ de Deus

Quem anal isa um recorte, mais detalhadamente, tem a


tarefa de verificar o que est em torno deste recorte. to
que pretendemos fazer. Os captulos 60 - 62 so considerados o cerne deTritoisaa s, cujo incio localizamos no captulo 56, estendendo-se at o captulo 66. No ano 538 o rei
Ciro da Prsia estabeleceu, em decreto, que o templo de Jerusalm, destrudo em 587, poderia ser reconstrudo. Alm
disso permitiu que o povo levado ao cativei ro,na Babilnia,
re~re~sasse, o que aconteceu no ano seguinte, 537, quando o
primeiro grupo de israelitas retornou cidade de Jerusalm.
A transformao (salvao) esperada, no entanto, ainda no
acontecera. O povo que havia retornado continuava a viver
numa situao c alam itosa e sobremodo difcil.
Para dentro desta realidade fala um desconhecido um
profe~a, o.qual de~om'.namos de Tr~toisaas. A poca d~ sua
atuaao cai nos p~1me1 ros anos apos o fim do exlio. Ele
P~oclama libertaao e salvao a um povo machucado e oprim~do (61, ~). Relaciona esta salvao com o futuro. O reluz1 r d~ gloria de Deus sobre o seu povo est por acontecer
e tera como conseq\Jncia o fim das dificuldades materiais
(62,8s), da insegurana poltica (60,10.18), da devastao
(61,4), dos v~xam~s, pelos quais o povo passou (62,4; 61,7).
A tr~nsformaao ha de acontecer, os povos vizinhos sentir-se-ao envolvidos (universal ismo): 60,3; 61,9; 62,2 (sobre
o exposto, cf. C. Westermann ATD, 19, pp . 236ss).
2)

Contexto

O captulo
j foi descri to
cus aoes contra
d i o e castigo

62 faz parte do cerne de Tritoisaas, como


acima. Em meio s lamentaes do povo, s aos sacrlegos, em meio ao anncio de perdas povos, o profeta proclama palavras de

- 424 -

- 425 -

salvao e de libertao. A moldura direta para os captulos 60 a 62 seriam os captulos 59 e 63/64, os quais contm
lamentaes do povo, nascidas dentro do culto.

p ovos todos (v.2) v e rao o respl:ndor e a salvao. Jerusalm


ser considerada uma jia na mao do Senhor, e ele haver de
alegrar-se com esta jia. Sim, Jerusalm ser dotada compredicados, dos mais festivos: "minha delcia, desposada".
Vv. 4 e 5: O contraste que transparece atravs do nome
antigo e do novo est baseado no fato de Jav, o Senhor, pod er aproximar-s e e afastar-se do seu povo. A situao de penria e de dificuldades um sinal de que Jav est afastado (ausente) do seu povo. De uma forma mui to pessoal o profeta pode falar da re 1ao Jav - Si o. Usa para expressar
esta relao
pessoal os termos noivo - noiva. O pareei rode
Deus nesta relao no o indivduo, mas sim uma coletividade.
Vv. 6 e 7: O mesmo profeta (do v.1) continua falando,e
11
os guardas" so os mesmos que ho de "fazer lembrado o Senhor" (6c). Ambos so admoestados: "jamais se calaro". Jav deve ser lembrado das suas promisses. Quem haver delembr-lo? Poderamos pensar muito bem nos prprios ouvintes da
mensagem proftica, atravs dos seus cnticos de louvor e por
meio das suas o raes constantes e perseverantes.
Vv. 8 e 9: Se nos versculos anteriores a salvao objeto de proclamao,nestes a salvao descrita como situao: "jurou o Senhor" (perfeito). Ambos os versculos falam
das privaes e das conseqUncias da ocupao militar, as
quais o eovo experiment~u. Os inimigos apoderaram-se daquilo que nao era seu. Jave, no entanto, proporcionou uma mudana. Trouxe um novo rumo histria do povo. Essa transformao da situao ter conseqUncias, inclusive na vida
de cult~ do povo de ~eus: "louvaro o Senhor". A presena do
Senhor e motive: de jubilo. Face proximidade de Jav, a comunidade podera alegrar-se novamente.
Vv. 10 a 12: So um desfecho da mensagem de Tritoisaas. O profeta traduz ealavras do seu mestre (Is 40, 3.9-11)
para de~tro_da sit~aao atual. Aqueles que j.regressaram a
Jerusalem sao convidados a "pn~parar o.caminho e a limpar
as pedras da estrada.11 E'. anunciada a vinda do Salvadorleia-se,ori ginalmente, "salvad 1 A Septuaginta introduzi~es
ta modificao. Jav fez uma auto-correo de atitude em
relao ao seu povo. A iniciativa dele; o povo presenteado!

3) Forma 1 i ter1-i a
O cap. 62 de Isaas reflete uma unidade quanto ao ash
a "despecto literrio. Dentro do todo, os vv. 8 e 9 cegam
toar" um pouco. O mesmo assunto volta a- tona no cap. 65 2ls
A harmonia de pensamentos, porm, no quebrada. Se.o cap.
62 prima por harmonia e pela unidade, no podem9s afirmar 0

s que
nao fazem parmesmo dos demais cap1tulos d e T r1to1sa1a
_
te do bloco central (60-62). Duas partes sao col<?c~d~s lado a lado em nosso texto: vv. 1-5 e vv. 6-12. O inicio de
ambos semelhante:
V. la: 11 Por amor de Sio me no calarei",
V. lb: "at que ... "
d
"
V. 6 : "S o b re os teus muros, Jerusalm, pus guaras
V. 7: 11 at que ... 11
Quanto ao autor, possvel asseverar que uma pessoa
so, falamos em Tritoisaas, tenha redigido este captulo.

11 - Observaes Exegticas
Vv. l a 3. Por amor a Jerusalm (Si o), o profeta ~ao
pode calar. De forma semelhante, o autor do Salmo 137 afirma que no podia esquecer-se de Jerusalm (v.5), quando assentado s margens dos rios da Babi lnia (v. l)
Por que o profeta no pode calar? Deduzimos a resposta
de Is 61,1-3. Sente-se enviado para trazer uma boa rnensag~m
''aos quebrantados, proclamar libertao aos cativos e a por
e~ liberdade os algemados." Isso razo suficient~ para
nao calar. A acusao que pesava contra o povo cat:vo so:reu
correes; agora est em tempo de proclamar salvaao e libertao . Jerusalm vive sob nova promisso. O profeta parte desta promisso e prende-se mesma. O autor entende-se como al- que nao
guem
pode calar , porque o Senhor deve ser "l em b ra do"
(v . 6c) : "At que saia a sua justia como um resplendor, a _
sua salvao como uma tocha acesa}' A pregao do P!ofeta e
relacionada com o futuro (partcula ad). A sua missao deve
ser levada em frente, "at que ... 11 O resplendor e_a salva o no vo pairar, exclusivamente, sobre Jerusalem, mas os

- 426 - Escopo
A proximidade do Senhor transforma. Transforma o mo do
de ser e de viver de indivduos e de povos inteiros. Todo
aquele que encontrado por Jav, depara com um Senhor_di~
mico e livre; to livre a ponto de 11 corrigir 11 suas propr1as atitudes. Um instrumento nas mos deste Senh or jamais poder calar.
111

Meditao
1 - Quando Jav est ausente .. .

Essa frase pressupe que o Senhor pode ausentar~se do


seu povo e, ao mesmo tempo, pressupe que ele pode viver.
bem pr x imo, no meio do povo. A epoca de cativeiro, ~ossi
velmente, seja um dos e xemplos mais vivos desta real idade.
Jav um Deus livre. No h povo que possa faz er de le a ~ua
propriedade.Estar longe ou prximo do povo,da comunidad~ e_
liberdade sua~ A iniciativa sua,no do povo.O Senhornaoe
sol~citadoaausentar-se do povo,como tambm no impe condioes para o seu retorno.
Jav afastou-se do povo, ora eleito (Is 59,2) . Reti r~u
-se aoseu "habitat" . ao 11 cu" (Is 63, 15). A comunidade nao
mais se sente orientada e dirigida pelo Senhor. Sente, isto
si~, uma distncia, uma ruptura. Esta realidade tem conseqUencias para o prprio povo, conseqUncias que atingem profunda me nte a sua existncia.
Seu afastamento, sua distncia e m relao comunidade , fazem com que esta se "desvie dos seus caminhos 11 e te m
como fruto"coraes endurecidos"( Is 63, 17) . O povo de Deu s
sente-se d:samparado, como se jamais tivesse sido seu povo.
Sente-se tao perdido como se jamais tivesse s ido pr oc urado
pelo seu Senhor (62, 12). A comunidade de Jerusalm, da qual
fala direta me nte o noss o te xto, viv e a sua 11 fossa 11
Por isso haver aqueles que f a ro lembrar o Senhor
sem descansar (62,6). Jav deve ser 11 lembrado 11 , ele no pode "esquecer da sua comunidade". A sua ausncia dei xa transparecer ira, e a ira de Deus conduz o homem culpa e ao
"endurecimento de corao 11
2 - Quan do Jav est presente ....
A a us ncia do Senhor pressupe, assim o colocamos , a

- 427 possibilidade de estar tambm bem prox1mo sua comunidade.


Essa pro x imid a d e no leva a uma tranqilidade passiva, a uma
segurana int e rior, a uma f introvertida, mas tem conseqUncias bem concr e tas no relacionamento inter-pessoal. A presena de Deus - s o fato da comunidade ter esperana nessa proximidade - j faz com que ela sinta, dentro da situao calamitosa na qu a l vive, um novo nimo e uma nova perspectiva de
vida. Sentir o Senho r perto de si sinnimo de transformao,de libertao e no conduz a uma piedade festiva que olha para si ,por m cega para com a real idade dentro da qual se vive.
Some nt e a presena de Deus junto sua comunidade capaz de mud ar a situao de opresso e de escravido que pesam sobre os seus ombros (v . ls). O seu advento ser sempre
motivo de transformao e de renovao na comunidade. At mesmo o nome do povo sofreria uma mudana (vv. 4 e 12). Jav pode realizar uma auto-correo de atitudes para com o povo;
uma conseqUncia do seu modo de ser absolutamente livre,a1m de reve 1 ar a 1go da bondade e do amor do Senhor. A prox imidade de Deus junto ao povo conduz a uma nova viso e
n~va aceitao do prprio Deus. A presena do Se~ho~ ~arca
nao somente o indivduo, mas o povo todo e sua h1stor1a.Tudo isso leva a uma situao de tenso e de impacincia. O
fato do profeta conclamar 11 os guardas a se colocarem sobre
os muros de Jerusalm, para fazer lembrado o Senhor",revela algo desta impacincia frente ao advento do Salvador (ou
melhor da salvao): v.11. A notcia do advento do Senhor
sempre gera tenso e e x pectativa,alegria e tristeza, certeza e insegurana, comunho e separao, vitria e derrota,
vida e morte.
Face ao adven t o da salvao, o profeta no pode calar
e muito menos acomodar-se. A proximidade do Senhor mexe com
os homens, tornando-os semelhantes gua que ferve e borbulha, indicando poder e ao. Leva-os a proclamar libertao! Ao menos o profeta fez disto a sua misso.

3 - A validade da mensagem proftica (A.T.) e a nossa


situaao como comunidade crista (N.T.)
Sabemos que no tempo de vi da do profeta no aconteceu
a salvao por ele proclamada e esperada. O Salvador continuava ausente. Somente a comunidade ligada nova alian a
pde ser testemunha
viva deste Salvador. O 11 cu que con-

- 428 tinuava fechado 11 abriu-se sobre a estrebaria naquela cidade sem importncia e expresso, chamada Belm. Estamos conscientes de que a real idade histrica de Tritoisaas no
exatamente a nossa. A preocupao do profeta em proclamar
a salvao era tambm a preocupao de Jesus Cristo, o Messias, e continua sendo a preocupao dos seguidores deste
Cristo. Neste ponto somos convidados solidariedade como
profeta. A comunidade crist, mesmo que no possa ser identificada com a comunidade da cidade de Jerusalm, continua
proclamando o advento do Salvador. 11 Uma Igreja que no espera impacientemente o advento do Senhor uma Igreja moribunda11 (HJKraus:Hlren und fragen, Vol. V, p.9).
Creio que chegada a hora de perguntarmos pela presena, pela proximidade e tambm pela ausncia do Senhor
na Igreja institucionalizada, concretamente na IECLB. A
c~~oc~o d~s nossos valores, das nossas t;adies ecles1ast1cas nao pode ser, por vezes, motivo para que Deus
se ausente da Igreja que diz defender a sua causa? A falt~ de_vida e de vivncia evanglica, em nossas comunidades,
nao sao sinais gritantes de que o Senhor da Igreja nem se
faz presente! mesmo que falemos tanto da sua proximidade?
As preocup~oe~ conosco mesmo, com as nossas aparncias
exter~as nao sao tantas que, neste meio-tempo, Deus diz adeus_ a lgrej~? t, sem dvida, uma pergunta que nos deve levar reflexao, quando falamos em uma srie de remodelaes
e de implantao de uma poro de novos programas. A preocupaao excessiva pelas fachadas externas pode ter como resultado o esvaziamento de contedo verdadeiro nas bases da
lgr:ja. A_ preocupao principal do profeta era anunciar salvaao e l ibertaao do status quo. Neste sentido o nosso povo est e:perando muito mais. Como obreiros de uma Igreja
que nos.da bastante segurana, talvez nem nos sintamos sempre m?tivados a uma proclamao que revela criticidade e
questionamento!
A preocupao de Cristo era trazer (e viver!) o evange!ho, com tod~s as suas conseqUncias. Ser que seus seguidores poderao fazer outra coisa?

- 429 ren und Fr-agen. Vol. V. Wuppertal-Barmen, 1967. - RAD, Gerhard von. Theologie des AT. Volumes 1 e li. MUnchen, 1962.
- WESTERMANN, Claus. Das Buch Jesaja. Cap. 40-66. ATD 19,
G!::lttingen, 1966.

Introduo ao Antigo Testamento, por Klaus H o m b u r g. - Editora


Sinodal, So Leopoldo 1975, 1 vol. br. (composio IBM), 155x215 mm,
203 p .
3~ edio, 1979.

O presente volume o resultado de 11111 curso ministrado pelo aut?r,


q~e alemo, na Faculdade Evanglica de So Leopoldo. O manus~nto
fo1 traduzido para o portugus por um grupo de estudantes e amigos
do autor. K. Hamburg se confessa devedor de seu grande mestre G. von
~ad, quanto m e todologia adotada nesta Introduo ao AT. Na descrio do meio-ambiente do antigo mundo oriental o autor se baseia em
estudos de \V . von Soden, e quanto formao do AT na obra de
C . Kuhl-G. Fohrer. Alm de apresentar os elementos introdutrios clssicos (1), o autor aborda os segu intes pontos; li. "As tradies narrativas", o nde aprese nta os vrios gneros narrativos do AT; Ili. "As tradies hist r ic as": o P enta te uco e suas fontes, bem corno os livros do
Dt, Jos, J z, Sam , Rs, Rut, jon e Est. Esta seco inclui dois pargi:afos (14-15) que m erecem d~staquc, enquanto tratam das obras histricas do Deut erono mista e do Cronista. IV. "As tradies profticas":
breve introdu o ao profetismo bib !ico e aos profetas Is, Os, Jcr e
Dutero-l sa as. A !:>ec.'"to se conclui com a apresentao dos principais
gneros literrios proft icos. Um pargrafo, tratando da formao do
cnon, encerra a obn1. Como se v, o auto r no trata dos livros sapienciais, dos profetas menores e dos dutero-cannicos.
A apresenta o de todo es te material concisa e sua disposio
b?-stante didtica. Em geral, ao incio de cada pargrafo fornecida a
bibliografia consulta da pe lu autor. quase sempre alem. A obra poderia
gan har maior valor como manual de introduo se nela fosse includa
bibliografia bblica em lnguG mais acessvel ao nosso leitor brasileiro.

Ludovico Garmus, O.F.M .

1V. B i b 1 i og r a f i a
KRAUS, Hans-Joachim. ln: EICHHOLZ/FALKENROTH, eds. He-

"Revista Eclesistica Brasileira"

- 431 -

- 430 N A T A L

T i

t o

2' 11-14

Ervino Schmidt
1 - Natal - proclamao da "grande alegria"

Ouvem-se l amentaes por parte de pregadores. Eles apontam para as dificuldades que sentem com refe rn cia prdica de Natal.
t verdade que a festa natalina foi, em grande parte, comercializada e desvirtuada. Ela tornou-se uma boa oportunidade para apelos sentimentais. H as mais diversas maneiras
de se comemorar o Natal de modo imprprio. Citamos apenas algumas:Uns o comemoram como "festa da famlia". Sabemos que hoje difci l reunir todos os membros de uma famlia. Um filho trabalha numa cidade em outro estado, outro est uda na
capital e uma filha casou-se com um estrangeiro e mora no
exterior, etc. Nestas circunstncias a festa de Natal se presta como.-_oportunidade para o reencontro de todos na casados
pais. Nisso geralmente se esgota o sentido.
_
Natal para muitos a festa do amor e da comunhao humana.
Natal , freqUentemente, visto como a ocasio de se da r
e receber presentes. H ainda os que entendem esta data como
festa das crianas, criada especialmente para provocar aquele olhar feliz dos pequeninos e tambm dos grandes!
_ Isso tudo faz com que no haja concentrao, qu~ a atenao seja desviada para cousas inteiramente secundarias.
Mesmo Lutero encontrou dificuldades semelhantes. Ele
gostava de pregar por ocasio do Natal. No se cansav~ ~e faz-1?. Era de opinio que, apesar de se trazer a histo~ia do
nascimento de Jesus cada ano, no seria possvel esgota-la.
Mesmo assim ele constata entristecido: "Em toda parte se canta. Mas quantos cantam roncando e com os olhos dormentes,e m
vez de cantarem das profundezas do corao?" Parece que a
mensagem de Natal uma histria "fria" que no aquece os nossos coraes e no evoca a verdadeira alegria.
_
Mas, no h motivos para desespero! A festa natalina e
uma enorme chance para se proclamar a 11 boa nova" . Talvez a-

qui, mais do qu e em outras ocasies, o 11 sucesso 11 da prdica depi:nder da habilidade do pregador.


Nao seria prudente, por exemplo, vociferar contra aque1 es q ue_somen t e por ocas1ao
-a Igreja. Do mesmo
do Natal vem
rnodo, nao surte e feito positivo demorar-se na anlise de problemas histricos como os em torno do censo. O culto de Na,.
t l
a nao e o lugar para se informar os ouvintes sobre o atual estado da pesquisa histrico-crtica. Ele , antes a
o cas .'
1ao para anunciar o nascimento de Jesus de tal maneira
que a luz eter na venha a lanar o seu brilho para dentro
das trevas. 1 ndependente dos motivos que levaram tantos a
freqUentarem o culto de Natal, importa "anunciar Cristo".
E .
isto nao e
outra coisa do que anunciar "grande alegria".
Quem, ao ouvir a histria do nascimento, 11 noexperimenta a
alegria .. . , a este Cristo ainda no nasceu 11 (Lutero). Recomendamos a leitura de 11 Euch ist heute der Hei land geboren",
deH. Meyer.

1 1 - Ref 1 exes exegt i co-teo 1g i cas


a)

Manifestou-se a graa de Deus

Quando ouvimos que a "impiedade'' e as ''paixes munda1


nas' devem ser renegadas e que devemos ser 11 ze 1os os de boas
obras'', pensamos assustados: "Essa no! Nem mesmo na data
~a~al i na r:_odemos poupar ?s nossos ouvintes de admoestaes."
xiste
a1 de fato o perigo de se moralizar. Mas, vejamos
bem!
O texto inicia: "Porquanto a graa de Deus se manifestou s a 1 vado ra a todos os homens" ( v. 11) . t um ato consuma-

do!

Nada neste mundo pde impedi-lo. Deus agiu em seu infinito poder. E nada pode anular este ato de Deus. Ato consumado. ~ss~ tudo expresso pelo aoristo 11 epephane".
Aqui nao se trata de uma projeo do pensamento humano. P:_ manifestao da graa de Deus tambm no um mito.
~la e um.acontecim:nto histrico. 1 'A manifestao da graa
e uma cr1a!:la, um_Judeu, ~m homem que falou e agiu e morreu
n? cruz._Tao historica, tao incontestavelmente real a man1 festaao da graa de Deus quanto tua e minha existncia
sobre a terra" (P. Brunner).
Esta graa, manifesta em Jesus Cristo, a misericrdia de Deus para com os homens desviados e a merecer o ju-

- 432 zo. Deus lhes devolve gratuitamente a vida qu e e l e s prprios destruram. Desta forma, a graa de Deus algo sem
precedentes e incompreensvel.
Ela pode ser descritacomo graa "salvadora".Salvar ,
pois, a final idade ltima do agir de Deus. A salvao que
vem dele total. No se trata merame nte d a cura de alguns
sintomas.
As razes so atacadas. A doena no era me smo qualquer uma, mas sim 11 doena para a morte 11 (Kier ke gaard),isto
, afastamento de Deus. A graciosa cura consiste e x atamente nisto: Que Deus se tornou to pr x imo de ns, que ele no
milagre de Natal se manifestou como Emanuel
Deus conosco.
Isto graa! E ela vale para todos os homen~. No h distino. Se algum rico ou pobre, feliz ou infeliz, empregador ou empregado, negro ou branco, algum respeitvel ou
um coitado, homem ou mulher, a 11 graa de Deus se manifestou
salvadora a todos os homens 11 (v. ll).
Ningum est e x cludo! E quem foi atingido por ela,
vera transformao.
b) A graa de Deus educa
Ela educa, mas no como um educador da 11 escola antiga".
A vara perde o seu papel no processo educativo. A obra iniciada atravs da graa justificante tem continuidade no dia
a dia do cristo. Em outras palavras: A nossa vida transformada, e isto ex atamente por a graa se manifestar em e x trema fraqueza , ou seja, na criana deitada em uma manjedou~
ra e no homem pendurado numa cruz.
A graa age em ns e faz com que tomemos decises (v.12)
t :espeita~o . que temos vontade prpria. Por isso no h~ uma
aa? automat1ca. A graa cria entre ns algo que poderiamas
designar de 11 responsabilidade pessoal 11 P. Brunner, ao inte:pretar o nosso !e x to, chama ateno para a diferena que
existe entre decisao crist e decises tomadas no mbito da
11
11
iustitia civilis 1 ou de uma tica humanitria. Na
iusti11
tia civilis
ou numa tica humanitria 0 homem encontra-se soz~nho co~ a sua razo. Sob a gra~ diferente . Aqui o
homem nao es~a sozinho com a sua razo. 1 1p 0 rque Deus por
mim , ele esta junto de mim e minha razo com seu Esprito e
com os seus dons. Essa graciosa presena de Deus no esmaga minha responsabilidade pessoal. No obstante seu poder,

- 433 a graa est em relao a mim como a criana da manjedoura


sem fora opressiva. Se a graa de Deus no me convence em'
sua humi Idade e fraqueza, ento ela tambm no regenera a
minha vida .
Assim sendo, a graa liberta humildemente o
nosso querer para responsveis decises e aes pessoais.
Nossas decises, possibilitadas pela graa, voltam-se
contra as razes do mal, contra a 11 impiedade 11 e as 11 paixes
mundanas". O termo 11 mundand 1 deve ser entendido no sentido
d~ 1 Jo 2, 16: 11 Porque tudo que h no mundo, a concupiscncia ~a carne, a concupiscncia dos olhos e a soberba da vi11
da nao_procede do Pai, mas procede do mundo.
11
11
Nao acontece, porm, somente o abandono da i mp i edade
11
11
e das
paixes mundanas , isto , de tudo o que no procede de_Deus. H, sobretudo, uma concretizao
de uma vida
agradavel a Deus.
A vida do cristo assemelha-se aos israe~ i tas quando reconstruram Jerusalm aps o exlio babi lni co. Com uma mo maneja-se a arma contra os inimigos, com
a outra edificado o muro. ( Ne 4, 11)
.
A conduta agradvel a Deus descrita com palavras do
ideal de vida e da tica grega. 11 Com respeito ao prprio eu,
uma vida sensata (disciplinada); com respeito aos semelhantes
.
.
. d asa .
AI.'
uma v1. d a Justa;
com respeito
a Deus, uma v1. d a pie
. 1 onde atua a graa de Deus, torna-se realidade o que a t~ca grega ordenava as foras humanas 11 (J.Jeremias, comentaria, p. 164). O que no era possvel cumprir, agora uma
realidade.
c)

"No presente sculo 11

.
Com isso ns no somos chamados para um mundo imaginrio. No somos arrancados do ambiente em que vivemos. Agraa de Deus no passou de largo pelo nosso mundo como se ele
estivesse fora do alcance da divina inteno salvfica. Ao
contrrio! Exatamente neste mundo que brilha a graa de
Deus. Neste mundo, em que se luta pela sobrevivncia , em
que existe anseio por um salrio mnimo mais justo, em que
os preos sobem assustadoramente; neste mundo, em que pas~s esto preocupados em se sobreporem aos demais a fim de
t1 ra:em sensveis vantagens para si; neste mundo, em que a
corrida armamentista continua, em que os que se empenham
por justia sofrem atentados, exatamente nele que a gra a apareceu. Manifestando-se, ela revelou a debilidade das

- 435 -

- 434 estruturas do mundo a ponto de estas no mais poderem ser a


ltima palavra. t nele que devemos agir. t aqui que devemos
tomar nossas decises responsveis, das quais falamos anteriormente. "A graa revelada luz suficiente para o teu p
na escurido do mundo." (P. Brunner)
Todo o nosso agir est carregado pela esperana, pois
a criana na manjedoura j abalou as estruturas e tudo o
que se ope vida j est condenado. O nosso texto diz:
"Vivamos no presente sculo" e continua: "aguardando a bendita esperana e a manifestao da glria do nosso grande
Deus e Salvador Cristo Jesus" (v.13). Se Deus disse A, ent~o ele tambm dir B. Se revelou a sua graa, revelar tambem de maneira definitiva a sua glria. Da luz da graa para a luz da glria, este o caminho do cristo e da Igreja
de Cristo. O incio da glria j se deu com a ressurreio
de Jesus Cristo. Alis, esse fato guarda a graa de cair em
descrdito. No nos entregamos a uma iluso ao confiarmos
no poder vivificante da graa de Deus. Assim sendo, nossas
decises e nosso agir"nestesculo" encontram-se no horizonte da esperana crist.
Com isso no h lugar para uma moral burguesa. As obras
dos cristos so sinais. De nenhuma maneira tero o valor
de mritos aos quais pudssemos recorrer no dia do Juzo Final. A somos remetidos a Jesus Cristo "o qual a si mesmo
se deu por ns" (v.14).
~a partir da que cristos so zelosos de boas obras.
No o so no sentido das obras da lei. Desde que a graa de
Deus se manifestou salvadora, h vida mais humana para a humanidade.
111 - Quanto pr.dica
_Para a comunidade deve ficar claro que o nosso agir
fundamentado exclusivamente na graa de Deus que se
m~n1festou em Jesus Cristo, isto , na entrega deste por
nos. Trata-se de mostrar a que conseqUncias leva a boa nova de Natal. O evangelho deve ser pregado, e no a lei .Sugiro seguir os passos que nos nortearam na exposio acima: a) manifestou-se a graa de Deus
b) a graa de Deus engaja o homem
c) este engajamento d-se no presente sculo
d) agimos em esperana
est~

IV - Literatura:
JEREMIAS,J.Epstolas a Timoteo Y a Tito. Madrid, 1~70.
- DIBELIUS,M/CONZELMANN,H. Die Pastoralbriefe. HNT 13.4- ed.,
1966. - WENDEBOURG, E. Meditao sobre Tito 2,ll-14. ln: Calwer Predigthi lfen. Vol 8. MUnchen, 1969. - BRUNNER,P. Med-r:taao sobre Ti to 2, 11-14. ln: Herr, tue meine Lippen auf.11 Vol.
Wuppertal-Barmen, 1962.

FABER, Heije - VAN DER SCHOOT, Ebel: A prtica da


conversao pastoral, traduo da edio alem por Sllvio
Schneider, 232 pp., 21 x 15 cm, Editora Sinodal, So Leopoldo, RS (Brasil) , 1973.
a
-

2. ediao, 1978.

O tema deste livro , como j o indica o ttulo, a conversao


Pastoral. A conversao a forma mais comum de comunicao. Numa
poca como a nossa em que se multiplicam os conflitos interiores, em
9ue a angstia se al astra, m:ais pessoas procuram orientao e aj1Uda
Junto de outros, psiclogos , psiquiatras, sacerdotes e pastores. Fez-se
a experincia que este modo de comunicao entre pessoas no coisa
muito fcil. Tornou-se pois objeto de estudo , de reflexes e de pesquisas
de parte de pessoas sinceramente interessadas em prestar uma ajuda
e orientao mais eficaz aos irmos necessitados . Est udaram pois o
comportamento tanto das pessoas que buscam ajuda e orientao junto
de outros, como t a mbm o comportamento das pessoas que so abordadas p ara este fim. Desses estudos pesquisas e reflexes surgiram
diferentes mtodos e tcnicas conhecidas na psicoterapia, no "counseling"
e na conversao.
natural que esta forma de comunicao ganhasse tambm importncia na pastoral das igrejas. Pois muitas pessoas procuram ainda
hoje orientao junto de seus past ores em suas aflies. Nada mais
}usto e caridoso que o pastor saiba como trat-las para lhes oferecer
uma ajuda e orientao m a is eficaz. Mas n o s os pastores, seno
tambm todos os que desempenham alguma funo no mbito das
igrejas, como diaconisas , auxiliares paroquiais, lderes de juventude,
pessoas que se dedicam ao trabalho social, etc. encontraro neste livro
valiosas orientaes para desempenharem suas funes em maior proveito.
S . A.

"Revista Eclesistica Brasileira"

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RELAO DOS COLABORADORES

RELAO DOS TEXTOS BIBLICOS TRATADOS NOS VOLUMES 1-11


Gnesis 8,15-22 . ...... . ... 1

Joo 4,31-38 ... . . . . . . . . . . . 11

Gnesis 32,23-32 ......... 11

Joo 6,37-40(41-43)44 ..... 11

1 Samuel 2,1-10 ........... 11

Joo 8,31-36 . . . . . . . . . . . . . . ll

Isaas 43,1-7 .. .... ....... 11

Joo 10,1-5.27-30 ... .. 11

Isaas 50,4-9a (9b-l l) .... 11

Joo 1 1 , 1 . 3 . 1 7 - 2 7 . . . . . . . . . 1 1

Isaas 62,1-12 ............ 11

Joo 14, 1 -12 . . . . . . . . . . . . . . 1 1

Is 63, 15-16(17-19) ;64, l-4a.8 1 Atos 17,16-34 .. . . . . . . . . . . . . 1


Jeremias 23,16-29 ......... 11

Romanos 8, 1 -1 l . . . . . . . . . . . . .

Ezequiel 2,3-8a;3, 17-19 ... 11

Romanos 11 ,25-32 ....... 1

Mateus 5,38-48 ............ 11

Co 6,9-14(15-17) 18-20 ... 1

Mateus 6,5-13 ............. 11

Corntios 7,29-32a ... 11

Mateus 10,7-15 ......... ... 11

Corntios 15,19-28. .1

Mateus 12,38-42 ........... 11

2 Corntios 1 , 3- 7 ... 1

Mateus 13,44-46 .......... 11

2 Corntios 5,14-21 .... .1

Mateus 16,13-20 ........... 11

G 1 atas 5 , l - 1 l . . . . . . . . .

Mateus 18,15-20 ........... 11

Filipenses 3,12-16 . . . . . . . . 11

Mateus 19 , 16-26 ........... 11

Filipenses 3,20-21 . . . . . . . . .

Mateus 21 ,14-17 .......... 11

Colossenses 1 ,15-23 ..... ..

Mateus 23 , 1-12 ............ 11

1 Timteo 2, 1-4 . . . . . . . . . . . 11

Mateus 25,14-30 .......... . 11

Ti to 2, 1 1 -1

Marcos 9,43-48 ............ 11

Hebreus 10,19-25 ..... .. . 11

Lucas 2 , l-14 ............. .

Lucas 10,21-24 ........... 11

4 ............. l I

Pedro 2, 1 -1 O . . . . . . . . . . .

- 437 -

Pedro 2,13-17 . . . . . . . . . . . . 1

Lucas 19, 1 -1 O........ .... 1 1

Apocalipse 3,7-13 . . . . . . . . . ll

Lucas 24,1-12 ............ 11

Apocalipse 4,1-8 .. ...... . 1

ALTMANN, P. Dr . Walter, Faculdade de Teologia, c.p . 14, 93000


So Leopoldo, RS
BAESKE, P. Albrecht, Pastor Regional, c.p. 1419, 29000 Vitria, ES
_
BOSEMANN, P. Wilhelm, Centro de Elaboraao de Material, c.p.
11 , 93000 So Leopoldo, RS
BRAKEMEIER, P. Dr. Gottfried, Faculdade de Teologia, c . p. 14,
93000 So Le opol do, RS
BRANDT, p. Dr. Hermann, Ki rchweg l, 4797 Schlangen 1, RF Alemanha
BUCHWEJTZ, P. Wilfrid, Faculdade de Teologia, c.p. 14, 93000
So Leopoldo, RS
DIETRJCH, P. Breno, Calle Baquedano, 451, Cassilla 737, Puerto Mon t t , Chi l e
DUBBERS, P. Rolf, c.p. 362, 89150 Presidente Getlio, SC
EHLERT, P. Heinz, Pastor Regional, c.p. 1091, 89200Joinville,SC
FISCHER, P. Dr. Joachim, Faculdade de Teologia, c.p.14,93000
So Leopoldo, RS
FRIEDRJCH, P. Reinhard W.,
Alemanha
FUCHs, P. Werner, c.p . 136, 85960 Marechal Cndido Rondon, PR
GERSTENBERGER, P. Dr. Erhard S, Faculdade de Teologia, c.p. 14
93000 So Leopoldo, RS
GR 1J P , p . Dr . K l a u s v . d e r , Ho 1 anda
KAIC K, P. Baldur v., Mag. Theol., Faculdade de Teologia, c . p.
14, 93000 So Leopoldo, RS
KANNENBERG
P. Hi lmar, c.p. 2049, 93500 Hamburgo Velho, RS
KILPP, P. Nelson, c.p. 304, 89800 Chapec, se
KIRST, P. Nelson, Faculdade de Teologia, c.p. 14, 93000
So
Leopoldo, RS
Kll~WER, Dr. Gerd Uwe, Faculdade de Teologia, c.p. 14 93000
Sao Leopoldo, RS
MAEDCHE, P. Arnoldo, c.p. 14, 98800 Santo Angelo, RS
MALSCHJTZKY, P. Harald, Pastor Regional, c.p. 70, 85900 Toledo, PR
MEINCKE, P. Si lvio, c.p. 123, 95880 Estrela, RS
NOR, P. Ricardo, c.p. 438, 96200 Rio Grande, RS
PORATH, P. Renatus, c.p. 6192, 03132 Vi la Prudente, SP
SCHAEFFER, P. Dario G., Pastor Distrital, Rua Getlio Vargas,
29 8 , 89176 Trombudo Central, SC
SCHMIDT, P. Ervino, Mag. Theol. Faculdade de Teologia, c .p.14
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- 438 -

SCHNEIDER, P. Rodolfo J., Secretrio Geral da IECLB, c . p. 2876


90000 Porto Alegre, RS
SCHNEIDER P. Silvio, Rua Trajano Reis, 199, 80000 Curitiba, PR '
SCHWANTES, P. Dr. Milton, Faculdade de Teologia, c . p . 14.93000
So Leopoldo, RS
SIEGLE, P. Manfredo, c.p. 334, 89400 Porto Unio, SC
SPERB, P. Ulrico, c.p. 249, 89160 Rio do Sul, SC
STRECK, P. Edson, c.p. 3, 85900 Toledo, PR
VOLKMANN, P. Martin, Faculdade de Teologia, c.p. 14, 9300~So
. Leopoldo, RS
WANGEN, P. Richard, Mag. Theol., Faculdade de Teologia, c.p. 14
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WEBER, P. Bertholdo, Faculdade de Teologia, c.p. 14, 93000 So
Leopoldo, RS
WEGNER, P. Uwe, Alemanha
WEHRMANN, P. GUnter K. F., c.p. 68, 95680 Canela, RS
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PRLLOTTI

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