Libras Unidade 3
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Libras
Sumrio
CAPTULO 3 Histria da Educao de Surdos e a Lngua de Sinais....................................05
Introduo.....................................................................................................................05
Sntese...........................................................................................................................20
Referncias Bibliogrficas.................................................................................................21
03
Captulo 3
Histria da Educao de Surdos
e a Lngua de Sinais
Introduo
At agora, voc deve ter estudado sobre a cultura surda e alguns aspectos da gramtica e da
lingustica da Libras. Mas voc j parou para refletir sobre como se chegou a esse contexto? Voc
sabe do histrico da surdez e da educao dos surdos? E dos reflexos dessa histria nos dias de
hoje? isso que vamos conhecer neste primeiro momento de estudo.
Ento, especificamente, voc ver neste captulo a histria da educao de surdos e, para isso,
a histria da surdez como um todo e o contexto atual das escolas bilngues para surdos. Assim,
nosso objetivo que voc compreenda o processo histrico que conduziu a sociedade ao bilin-
guismo atualmente, que permite aos surdos serem educados tendo a Libras como primeira lngua
e a Lngua Portuguesa como segunda. Alm disso, importante que voc reconhea os modelos
educacionais existentes na histria das conquistas dos surdos e que perceba os modelos educa-
cionais bilngues presentes no Brasil, podendo relacion-los com suas possveis prticas bilngues
em sala de aula.
No ser fcil entender sem julgar aquilo que era feito com os surdos. Mas faamos esse esforo,
porque cada poca e cada cultura tem seus valores prprios, que mudam constantemente. E
graas a essas mudanas que hoje os surdos podem frequentar as mesmas escolas dos ouvintes.
Veja a seguir.
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Dois grupos marcantes da Idade Mdia foram essenciais para o incio do interesse em tratar
os surdos de uma maneira mais prxima das demais pessoas: o clero e a nobreza. Enquanto o
primeiro grupo tentava salvar as pessoas com deficincia auditiva por meio do ensino dos sa-
cramentos a eles e, de quebra, promovendo a caridade, o segundo desejava manter as riquezas
na famlia e, para isso, precisava integrar sociedade os herdeiros surdos. Evidentemente, isso
ainda era para bem poucas pessoas.
A interseco dessas duas classes na educao dos surdos data do sculo XVI, por meio do monge
Pedro Ponde Len, que desenvolveu um trabalho de ensinar dois irmos surdos, filhos de um
casamento consanguneo de nobres espanhis da famlia Velasco. Entre eles provavelmente se
havia desenvolvido uma sinalizao caseira, que encontrou eco nos sinais beneditinos. O monge
Ponce de Len foi designado anjo da guarda dos meninos e foi a que se deu o cruzamento
histrico dos sinais monsticos com os sinais dos surdos (REILY, 2007, p. 321).
Aps essa iniciativa religiosa, a mais conhecida talvez, o prximo salto na possibilidade de
educao dos surdos veio do leigo Juan Pablo Bonet, que, por volta de 1615, tentou ensinar
um jovem surdo, tambm da famlia Velasco, um primo daqueles irmos j citados. Utilizamos
o termo tentou porque, at 1619, ele teve auxlio de um tutor que j havia ensinado surdos,
mas depois da ida deste, Bonet no teve sucesso. Entretanto, ele conhecido como o criador do
alfabeto manual, publicado em 1620 como Reduccin de las letras y arte para ensear a hablar
a los mudos.
VOC O CONHECE?
Juan Pablo Bonet (1573-1633) foi um dos pioneiros na educao dos surdos e dado
como criador do alfabeto manual publicado em 1620 em sua obra. A inteno seria,
ento, substituir cada letra do alfabeto por um sinal feito com as mos, como ocorre
at hoje. Entretanto, ele no acreditava na comunicao puramente gestual: sua inten-
o era utilizar esse alfabeto at o surdo conhec-lo e reproduzi-lo facilmente, quando
estaria apto a aprender pelo oralismo (SOARES, 1999).
Voc j tem alguma noo de gramtica da Libras e, assim, poder perceber que o alfabeto de
Bonet era bem semelhante ao que existe atualmente. Observe a Figura 1:
Pouco a pouco, a educao de surdos foi tomando importncia e ganhando ateno de mais
pessoas, especialmente porque as famlias nobres pagavam verdadeiras fortunas para que pro-
fissionais ensinassem os herdeiros com essa deficincia. E, como se sabe hoje, casamentos con-
sanguneos tm maior possibilidade de resultar em filhos com deficincia; naquela poca, isso
era relativamente comum, para manter riqueza e poder.
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Figura 2 Selo de Thomas Gallaudet, personagem importante da histria da educao dos surdos por ter
fundado a primeira faculdade para surdos nos Estados Unidos e tambm por ter defendido o oralismo.
Fonte: Shutterstock, 2015.
NS QUEREMOS SABER!
O que oralismo? a forma de comunicao comum aos ouvintes, por meio da fala
oral. Por muito tempo, houve um grande esforo da comunidade voltada educao
de surdos para que esta fosse a forma padro a ser utilizada no ensino de pessoas com
deficincia auditiva, com o argumento de que esse atributo, a lngua falada, o que
caracteriza um ser humano. Uma observao importante a se fazer que os maiores
defensores do oralismo foram ouvintes, e no surdos (CAMPOS, 2009).
Foi o abade (superior de ordem religiosa) francs Charles-Michel de LEpe (1712-1789), entre-
tanto, quem comeou a defender a utilizao da lngua de sinais em vez de se usar o oralismo na
educao de surdos. Tudo comeou quando LEpe assumiu a educao de duas irms gmeas
aps a morte do professor delas, em 1760. Ele tinha medo de que elas morressem na ignorncia
de sua religio. A educao das meninas, que antes se baseava em gravuras, passou a ser feita
tambm com a ajuda de um alfabeto bimanual, apontando os objetos com uma mo e escre-
vendo o nome correspondente na pedra (lousa) com a outra (REILY, 2007, p. 322).
VOC O CONHECE?
Charles-Michel de lEpe (1712-1789) foi um educador francs com essencial atuao
no processo de ensino-aprendizagem das pessoas surdas. Por ter sido defensor da ln-
gua de sinais e sua influncia ter sido fundamental para o sucesso dessa lngua, ele
conhecido como o Pai dos surdos (BOTELHO, 2002).
Esse mtodo permitiu que ele se aproximasse da gramtica que as irms teriam desenvolvido e,
depois, pudesse torn-la mais parecida com a da lngua francesa. De acordo com Re (2000),
isso tornou LEpe conhecido e sua escola filantrpica passou a receber mais e mais pessoas sur-
das, que contribuam com suas formas peculiares de falar em sinais e aprendiam com as demais
dentro da escola, o que j comeava a dar fora a uma maneira de falar muito mais funcional.
No se pode esquecer, alm disso, que LEpe foi o responsvel pela criao da denominada
linguagem de sinais metdicos. Segundo Reily (2007, p. 323), LEpe apropriou-se de muitos
sinais que os surdos j utilizavam, criou outros tantos e acrescentou movimentos aos elementos
lexicais para demarcar funes gramaticais francesas no conjunto de sinais que considerava fun-
damentais para a comunicao e a aprendizagem das lies. As lnguas de sinais atuais derivam
dessa iniciativa pioneira de LEpe.
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Libras
Alm das pessoas conhecidas pela atuao junto s pessoas surdas, vale destacar dois eventos
emblemticos para essa histria. O primeiro o I Congresso Internacional sobre a Instruo de
Surdos, ocorrido em Paris em 1878. Na ocasio, houve a percepo de que a comunicao com
os surdos seria adequada por meio de leitura labial e gestos. [...] Os surdos tiveram algumas con-
quistas importantes, como o direito a assinar documentos, tirando-os da marginalidade social,
mas ainda estava distante a possibilidade de uma verdadeira integrao social (LACERDA, 1998).
Figura 4 Localizao da Frana na Europa, pas cuja capital Paris, onde ocor-
reu o I Congresso Internacional sobre a Instruo de Surdos.
Fonte: Shutterstock, 2015.
NS QUEREMOS SABER!
O que significa o termo ouvinte? Tal qual ocorre quando o assunto o rdio, o ter-
mo utilizado para definir a pessoa que escuta, em contraposio ao surdo ou pessoa
com deficincia auditiva. Cabe ressaltar, entretanto, que o surdo no difere do ouvinte
apenas porque um ouve e outro no: o surdo, alm de possuir a prpria cultura, tam-
bm desenvolve potencialidades psicossocioculturais particulares.
A partir da, os surdos se reaproximaram de uma condio que eles j haviam superado h tem-
pos: a concepo de que eles eram incapazes, o que os levou evaso dos processos de ensino-
-aprendizagem at ento existentes e at mesmo ao trabalho braal como nica possibilidade.
[...] O oralismo foi o referencial assumido e as prticas educacionais vinculadas a ele foram
amplamente desenvolvidas e divulgadas. Essa abordagem no foi, praticamente, questionada
por quase um sculo. Os resultados de muitas dcadas de trabalho nessa linha, no entanto,
no mostraram grandes sucessos. A maior parte dos surdos profundos no desenvolveu uma
fala socialmente satisfatria e, em geral, esse desenvolvimento era parcial e tardio em relao
aquisio de fala apresentada pelos ouvintes, implicando um atraso de desenvolvimento
global significativo. Somadas a isso estavam as dificuldades ligadas aprendizagem da leitura
e da escrita: sempre tardia, cheia de problemas, mostrava sujeitos, muitas vezes, apenas
parcialmente alfabetizados aps anos de escolarizao (LACERDA, 1998, p. 68-80).
Aps um longo tempo sem marcantes evolues na educao e na histria dos surdos, foi so-
mente no sculo XX que os sinais voltaram a tomar fora na comunicao dessas pessoas. Surgiu,
ento, a chamada Comunicao Total, [...] a prtica de usar sinais, leitura orofacial, amplifi-
cao e alfabeto digital para fornecer inputs lingusticos para estudantes surdos, ao passo que
eles podem expressar-se nas modalidades preferidas (MOURA; LODI; PEREIRA, 1993, p. 118).
Entretanto, tempos aps a Comunicao Total ganhar fora, pesquisadores da rea, com es-
pecial destaque para as professoras brasileiras Lucinda Ferreira Brito e Tanya Amaral Felipe,
comearam a problematizar que talvez esse mtodo no fosse to eficaz assim, porque a lngua
falada sempre sobressaa em relao de sinais. Alm disso, por se tentar usar as duas formas
concomitantemente, ocorria que os sinais eram apenas a lngua falada transformada em um
estmulo visual, sem carter de lngua prpria, como se v atualmente. Foi a partir da que as
lnguas de sinais voltaram com mais fora ainda pelo mundo, e o bilinguismo comeou a surgir
como uma demanda natural e legtima.
Por isso, o passo seguinte, que o mais prximo da concepo de comunicao surda que temos
atualmente, trata-se exatamente do bilinguismo, proposta que reconhece a situao da pessoa
surda como inserida entre duas lnguas. Quando me refiro a bilinguismo no estou estabele-
cendo uma dicotomia, mas sim reconhecendo as lnguas envolvidas no cotidiano dos Surdos, ou
seja, a lngua de sinais brasileira e o portugus no contexto mais comum do Brasil (QUADROS,
2000, p. 54).
As influncias dessa concepo que atualmente vigora no nosso pas sero trabalhadas mais
frente, quando falaremos sobre a concepo de escolas bilngues e os modelos existentes.
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Libras
A origem dessa instituio est em alguns anos antes ainda, por volta de 1856, quando veio
para o Brasil o francs Ernest Huet, conde surdo e ex-diretor do Instituto de Surdos de Paris. Suas
ideias, aqui no pas, foram apoiadas por Dom Pedro II, de forma a culminar com a criao do
Instituto Imperial de Surdos-Mudos. Segundo Moura (2000), Huet trouxe consigo, evidentemente,
a lngua de sinais francesa, que aqui passou a ser mesclada com os sinais utilizados pelos surdos
brasileiros. Esta a origem histrica da lngua brasileira de sinais como conhecemos atualmente.
Evidentemente, o Congresso de Milo passou a surtir efeitos tambm no Brasil a partir de 1880 e
o oralismo passou igualmente a ser regra por aqui. E com a proibio do uso de sinais, ocorre-
ram episdios, inclusive, de crianas com as mos amarradas para impedir que elas sinalizassem
(PASSOS, 2010). Embora eles tenham sido forados oralidade, a lngua de sinais sempre foi
a preferida da comunidade surda.
Apesar disso, o instituto que se dedicava educao dos surdos no Brasil ainda teve foco na
lngua de sinais, porque o experiente professor Moura e Silva, aps viagem ao Instituto Francs
de Surdos a pedido do governo brasileiro, percebeu que o oralismo no era adequado a todos os
surdos (BRASIL, 1997), conforme j estava em discusso naquele pas. Cabe destacar, inclusive,
que sempre foi grande a influncia francesa na lngua de sinais brasileira, tanto que a origem da
Libras, a sua base, a lngua francesa de sinais.
De l para c, diversas outras escolas surgiram no Brasil, como o Instituto Santa Terezinha, em
So Paulo, a Escola Concrdia, no Rio Grande do Sul, a Escola dos Surdos de Vitria, o Centro
de Audio e Linguagem Ludovico Pavoni, em Braslia (BRASIL, 1997).
O Ines era a nica instituio voltada educao de surdos no Brasil nessa poca. Por isso,
as crianas com deficincia auditiva eram encaminhadas todas para serem educadas l, o que
acabou causando problemas por causa de uma crise financeira que se instalou por volta da d-
cada de 1960. Por isso, a Associao de Pais e Amigos dos Excepcionais e o Instituto Pestalozzi
passaram tambm a receber os surdos, em um primeiro momento. Posteriormente, cada estado
comeou a desenvolver suas prprias escolas voltadas comunidade surda (ALBRES, 2005).
Por causa disso, o pas precisou estabelecer parmetros mnimos para a educao dos surdos.
Foi da que surgiu, em 1979, a Proposta Curricular para Deficientes Auditivos, que definiu o
oralismo como mtodo a ser utilizado no Brasil. Como a comunicao oral utiliza-se primor-
dialmente da via auditiva, nossos esforos sero dirigidos para utilizao mxima possvel dos
restos auditivos do educando, atravs de treinamento auditivo, com a utilizao adequada do
aparelhamento proposto (BRASIL, 1979, p. 32).
Em paralelo a isso, ocorreram pesquisas mais estruturadas sobre a lngua de sinais, bem como
discusses voltadas para a educao bilngue. De acordo com Lacerda (1998), essa proposta
defende a ideia de que a lngua de sinais a lngua natural dos surdos, que, mesmo sem ouvir,
podem desenvolver plenamente uma lngua visogestual.
A evoluo, a partir da, j fica mais evidente por meio de documentos oficiais, como a Decla-
rao de Salamanca:
A importncia da linguagem de sinais como meio de comunicao entre surdos, por exemplo,
deveria ser reconhecida e proviso deveria ser feita no sentido de garantir que todas as pessoas
surdas tenham acesso educao em sua lngua nacional de sinais. Devido s necessidades
particulares de comunicao dos surdos e das pessoas surdas/cegas, a educao deles pode ser
mais adequadamente provida em escolas especiais ou classes especiais em escolas regulares
(DECLARAO DE SALAMANCA, 1994).
NO DEIXE DE LER...
Embora seja um documento um pouco antigo e trate da educao de pessoas com
deficincia como um todo, importantssimo que voc leia a Declarao de Salaman-
ca. Ela foi um marco na educao dessas pessoas e, por consequncia, no trabalho
pedaggico com o surdo. Voc pode acess-la neste link: <http://portal.mec.gov.br/
seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf>.
Esse e outros documentos, bem como movimentos da comunidade surda, acabaram por influen-
ciar a construo das polticas pblicas no Brasil. Mas, por ora, nos deteremos no prximo tema,
que ser escolas bilngues para surdos.
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Libras
A rede municipal de ensino dessa cidade criou em 2012 as chamadas Escolas Polo para a edu-
cao de alunos surdos. So instituies escolares regulares, de educao bsica, que possuem
todo o aparato fsico e pedaggico para receber e atender adequadamente os alunos surdos.
H professores com noes de Libras e bilngues que so responsveis pelas turmas e fazem os
encaminhamentos gerais das disciplinas, bem como professores intrpretes de Libras. No contra-
turno das aulas comuns, h ainda outras, de nivelamento em Libras, geralmente ministrada por
um professor surdo. Um exemplo dessa iniciativa a escola municipal de educao bilngue para
surdos Professora Nadia Aparecida Issa Pina.
NO DEIXE DE VER...
O Cmais, portal oficial da TV Cultura do Estado de So Paulo, possui um vdeo que
demonstra esse bilinguismo, produzido exatamente na EMEBS Professora Nadia Apare-
cida Issa Pina. Veja o vdeo, leia o restante do texto e reflita a respeito do modelo de
educao bilngue apresentado. Assista em: <http://univesptv.cmais.com.br/pedago-
gia-unesp/d-24-conteudo-e-didatica-de-libras/estudantes-surdos-e-bilinguismo-no-
-ensino-regular>.
H dois documentos bsicos que tratam do assunto: o Decreto Federal n 5.626, de 2005, e a
Poltica Nacional de Educao Especial na Perspectiva da Educao Inclusiva, de 2008. Voc os
conhece? Sabe do que se tratam e quais as implicaes deles para o bilinguismo na educao
brasileira? esse assunto que voc estudar a seguir.
Em linhas gerais, a lei possui vrios dizeres para garantir a educao e a manuteno da Libras,
como polticas pblicas que proporcionem uma educao de qualidade para as pessoas sur-
das, como por exemplo: a lngua de sinais como cadeira obrigatria nos cursos de magistrio e
licenciatura, formao de professores de lngua de sinais e a formao e contratao de intr-
pretes de lngua de sinais (PASSOS, 2010, p. 28). So aes importantes, mas que, na maioria,
demoram longos tempos para se concretizarem. Isso porque, por um lado, existe morosidade por
parte do poder pblico e, por outro, faltam profissionais habilitados para colocar em prtica as
diretrizes da lei.
Percebe-se, ento, que o foco do decreto a educao dos surdos, e no das pessoas com
deficincia de uma forma geral. Alm disso, as discusses dele surgiram no momento em que
a educao inclusiva ganhava fora no Brasil. Segundo Lodi (2013, p. 53), as primeiras dis-
cusses relativas ao reconhecimento e legalizao da lngua de sinais e seu uso nos espaos
educacionais tiveram incio no ano de 1996, a partir da realizao da Cmara Tcnica O Surdo
e a Lngua de Sinais.
Assim, ainda cabe destacar que o decreto foi construdo em dilogo com a academia e com a
comunidade surda. Nesse sentido, o documento define:
A educao bilngue, segundo o Decreto Federal (BRASIL, 2005), est dividida em duas formas
diferentes:
no ensino infantil e nos anos iniciais do fundamental, os professores devem ser bilngues,
em escolas e classes de educao bilngue;
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Libras
Libras-Lngua Portuguesa. Ressalte-se, ainda, que nessas fases no mais obrigatrio que
as escolas e/ou classes sejam bilngues: esses nveis de ensino podem tambm ocorrer em
escolas comuns, desde que satisfeitas essas condies.
Essa diferenciao ocorre, segundo Lodi (2013, p. 54), para que a lngua inicial de instruo
escolar seja a Libras, uma vez que at mesmo a escrita das duas lnguas diferente.
Por isso, seria possvel, ento, executar outra proposta de educao depois de finalizar o ciclo
inicial do ensino fundamental. Ou seja, aps a obteno da lngua materna, a Libras, os alunos
podem aprender com professores falantes da Lngua Portuguesa, com a ajuda de um tradutor
intrprete.
Assim, fica delimitado que o ensino infantil e dos primeiros anos do fundamental deve ser feito
obrigatoriamente em escolas bilngues. Os demais nveis, por sua vez, podem ser realizados em
escolas comuns, desde que com professores com o perfil descrito e intrpretes contratados, sem-
pre com o intuito de viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos e contedos curriculares,
em todas as atividades didtico-pedaggicas e no apoio acessibilidade aos servios e s
atividades-fim da instituio de ensino (BRASIL, 2005). Ento, embora a escolarizao do aluno
surdo possa ocorrer por meio de professores que compreendam as singularidades do ensino de
surdos e de intrpretes, fica claro que essa estrutura no caracteriza mais uma escola bilngue.
Alm disso, o documento, ao informar que as instituies federais de ensino devem prover de-
terminadas formaes, tambm define os papis dos agentes docentes inseridos nas escolas
bilngues: professor ou instrutor de Libras; tradutor e intrprete dessa lngua para a Portuguesa e
vice-versa; professor para o ensino, como segunda lngua para pessoas surdas, do portugus; e
professor regente de classe comum, nas diversas reas de conhecimento, com cincia da singu-
laridade lingustica dos alunos surdos. Esse ponto tambm importante, porque com certa frequ-
ncia h, nas escolas, debates sobre os limites entre a ao do professor da sala e o intrprete,
por exemplo.
fato, tambm, que a educao bilngue definida no decreto coloca um ponto central do pro-
cesso pedaggico a Libras. Isso fica claro com a afirmao de que se deve ofertar, obrigato-
riamente, desde a educao infantil, o ensino da Libras e tambm da Lngua Portuguesa, como
segunda lngua para alunos surdos (BRASIL, 2005). Sendo assim, necessrio que se pense em
formas peculiares de avaliao, tanto para o ensino de Libras como primeira lngua quanto para
o de Lngua Portuguesa como segunda. Por esse prisma, o decreto tambm define que se deve:
Outro ponto que merece destaque, no decreto, a formao de professores para o ensino de
Libras. E um ponto importante dessa viso que ela deve ser:
[...] posta em dilogo com a formao necessria para o ensino do portugus como segunda
lngua. No que diz respeito ao ensino de Libras, o documento, uma vez mais, relaciona essa
formao atuao nos diferentes nveis educacionais e recomenda que pessoas surdas tenham
prioridade em todos os processos formativos, visando garantir, assim, que a apropriao dessa
lngua pelos alunos surdos ou sua aprendizagem por ouvintes, seja realizada por meio de seus
usurios (LODI, 2013, p. 57).
NO DEIXE DE LER...
evidente que no cabe discutir, aqui, o Decreto Federal como um todo. Por isso,
importante que voc, de forma autnoma, leia o decreto, entenda-o e seja capaz
de discuti-lo quando necessrio, para embasar sua prtica e seus anseios na escola.
Acesse-o em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/
d5626.htm>.
Evidentemente, por ser do ano de 2008, tambm levou em considerao documentos mais re-
centes, como as leis n 10.436, de 24 de abril de 2002, e a n 10.098, de 19 de dezembro de
2000, j tratadas, alm do Decreto Federal n 5.626, de 22 de dezembro de 2005, debatido
h pouco.
Pode-se depreender da, e do restante da introduo do documento, que a Poltica Nacional tem
como um dos principais intuitos marcar sua posio em relao ao paradigma Educao Especial
versus Educao Inclusiva. Isso feito ao contrapor a viso de que a Educao Especial deve ser
realizada em uma escola prpria, apartada do ensino comum, por meio de prticas que, em um
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Libras
Veja, por exemplo, o que aponta a Poltica Nacional em relao ao bilinguismo na escola:
Para o ingresso dos alunos surdos nas escolas comuns, a educao bilngue Lngua Portuguesa/
Libras desenvolve o ensino escolar na Lngua Portuguesa e na lngua de sinais, o ensino da
Lngua Portuguesa como segunda lngua na modalidade escrita para alunos surdos, os servios
de tradutor/intrprete de Libras e Lngua Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos
da escola. O atendimento educacional especializado para esses alunos ofertado tanto na
modalidade oral e escrita quanto na lngua de sinais. Devido diferena lingustica, orienta-
se que o aluno surdo esteja com outros surdos em turmas comuns na escola regular (BRASIL,
2008, p. 11).
Observe que esse documento no faz qualquer meno ao termo escola bilngue. Traz, sim,
apontamentos a respeito da educao bilngue e, a partir da, possvel perceber que no h
distino, como ocorre no Decreto Federal, entre os nveis de ensino. Ou seja: mesmo na educa-
o infantil, poder-se-ia chamar de bilngue uma classe na qual haja um intrprete de Libras.
Essa diferenciao, na viso de Lodi (2013, p. 54), importante, porque [...] h no Decreto a
preocupao em diferenciar os anos iniciais de escolarizao dos finais, respeitando, assim, o de-
senvolvimento das crianas, as especificidades nos processos de ensino-aprendizagem e a forma-
o necessria para os professores. Isso ns j identificamos no tpico anterior, voc se lembra?
Isso faz bastante diferena, uma vez que se percebe ser exatamente no ensino infantil e nos anos
iniciais do fundamental que as crianas surdas passam pelo processo de aquisio da primeira
lngua, que, nesse caso, deve ser a Libras. Esse processo mais importante ainda para os sur-
dos filhos de ouvintes, uma vez que a lngua dos pais a Lngua Portuguesa e a apropriao
da Libras, assim, precisa da escolarizao para se concretizar. E voc deve se lembrar de que o
responsvel pela aquisio da lngua no processo de escolarizao o professor, papel que o
intrprete, geralmente, no consegue atingir, por no ser essa a sua funo.
Assim, pelo que se pode verificar, h certa discrepncia entre a viso de educao bilngue entre
o Decreto Federal n 5.626/2005 e a Poltica Nacional. Enquanto no Decreto [...] a Libras ad-
quire papel central em toda a educao das pessoas surdas e o portugus, em sua modalidade
escrita, tratado como segunda lngua, a Poltica desloca a Libras de seu status de primeira
lngua para as pessoas surdas (LODI, 2013, p. 58).
Cabe ressaltar, novamente, que um documento no exclui o outro. Porm, o Decreto Federal n
5.626/2005 nasceu da necessidade de se regulamentar pontos dispostos em leis anteriores (a de
nmero 10.436/2002 e o artigo 18 da de nmero 10.098/2000). Assim, um documento com
fora legal. A Poltica Nacional, por sua vez, um documento orientador, que tem por objetivo
sistematizar todas as produes normativas anteriores, ou seja, apenas um resultado de toda
uma trajetria histrica referente ao assunto.
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Sntese Sntese
Ao concluir esse captulo, voc:
aprendeu que histria da surdez no mundo foi marcada por interesses e mudanas na
concepo da melhor forma de educar os surdos. Interesses, porque a vontade de se
trabalhar a rea teria comeado para que os ricos no perdessem suas fortunas que
seriam deixadas para os filhos surdos, que poca no podiam herdar por no serem
considerados seres pensantes. Alm disso, a igreja utilizou-se da caridade para tratar
das pessoas surdas, e algumas das mais importantes contribuies educao dos surdos
vieram da (o monge Pedro Ponce Len e o abade Charles-Michel de LEpe so exemplos).
Tambm marcaram essa histria os congressos ocorridos, como os de Paris e de Milo. O
segundo foi o responsvel por proibir o ensino dos surdos por meio de sinais e instituir o
oralismo. A lngua de sinais, entretanto, continuou a existir e, tempos depois, passou-se a
se considerar a Comunicao Total. Por fim, os movimentos surdos ganharam fora e as
lnguas de sinais voltaram tona;
estudou que o Decreto Federal n 5.626/2005 aponta para uma viso da escola bilngue
mais completa e complexa, pois diferencia a educao dos surdos no ensino infantil e nos
primeiros anos do fundamental com relao aos demais nveis. No primeiro momento,
privilegiam-se escolas ou classes bilngues nas quais o professor tambm seja bilngue
e, assim, garanta a aquisio da primeira lngua do aluno surdo (a Libras) como um
processo natural. Depois que os alunos surdos j possuam a primeira lngua internalizada,
eles podem estudar em escolas comuns, desde que os professores tenham cincia das
suas particularidades de aprendizagem e haja tradutor/intrprete de Libras nas salas;
Assim, espera-se que voc consiga utilizar os conhecimentos obtidos aqui com o intuito de trans-
formar sua prtica pedaggica em um processo cada vez mais inclusivo!
At a prxima!
______. Presidncia da Repblica. Lei n 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispe sobre a Lngua
Brasileira de Sinais e d outras providncias. Dirio Oficial da Unio, Braslia, 25 abr. 2002.
Disponvel em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10436.htm>. Acesso em: 18
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21
Libras
LACERDA, C. Um pouco da histria das diferentes abordagens na educao dos surdos. Cader-
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