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Circulação de Nobres Na Hispania Medieval PDF

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ANUARIO DE ESTUDIOS MEDIEVALES (AEM)

40/2, julio-diciembre de 2010


pp. 889-924
ISSN 0066-5061

DE E PARA PORTUGAL.
A CIRCULAO DE NOBRES NA HISPNIA MEDIEVAL
(SCULOS XII A XV)1
FROM AND TO PORTUGAL.
THE CIRCULATION OF NOBLES IN MEDIEVAL HISPANIA
(12TH-15TH CENTURIES)

JOS AUGUSTO DE SOTTO MAYOR PIZARRO


Faculdade de Letras / CEPESE
Universidade do Porto (Portugal)
memria de
HENRIQUE DAVID E DE LUS KRUS

Resumo: A anlise da circulao de nobres Abstract: The analysis of the circulation of


entre os diferentes reinos peninsulares, nobles among the various peninsular real-
desde o sculo XII at ao sculo XV, ms, from the 12th to the 15th century, can
poder revelar-se um excelente observat- be an excellent and helpful observatory to
rio para se compreender melhor, quer a a better understanding of the evolution of
evoluo dos poderes nobilirquico e rgio nobiliary and regal powers, as well as the
quer a forma como ambos se articularam, links between them, in a period marked by
num perodo marcado pela gradual afir- the gradual affirmation of national monar-
mao das monarquias nacionais. Para chies. Besides these issues, and with a
alm destas questes, e com um enfoque special emphasis on the relationship bet-
especial nas relaes entre Portugal e ween Portugal and Castille, it can be of
Castela, poder ser muito interessante great interest to verify until when, to the
verificar at quando, para a nobreza, os nobility, the links of blood and the interest
laos de parentesco e os interesses das of lineage were superposed to the growing
linhagens se sobrepuseram cada vez importance of the definition of the political
maior definio das fronteiras polticas frontiers in medieval Hispania.
dentro da Hispnia medieval.
Keywords: Nobility; Monarchy; Political
Palavras-chave: Nobreza; Monarquia; Powers; Frontier, Kinship/Lineage.
Poderes Polticos; Fronteira; Parentes-
co/Linhagem.

1
Desenvolvimento, com pequenas actualizaes bibliogrficas, do texto apresentado oralmente
como Lio-Sntese, em 10 de Julho de 2007, no mbito das provas para Professor Agregado
(Catedrtico Habilitado) do Departamento de Histria e de Estudos Polticos e Internacionais
da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
890 JOS AUGUSTO DE SOTTO MAYOR PIZARRO

SUMRIO

1. Introduo.- 2. A Circulao de Nobres no Espao Ibrico: contextos polticos e relaes


rgio-nobilirquicas.- 3. De Portugal: a emigrao de linhagens portuguesas.- 4. Para Portugal:
a imigrao de linhagens peninsulares.- 5. Concluses.

1. INTRODUO

A 29 de Agosto de 1641, na Praa da Ribeira de Lisboa, foram


degolados D. Lus de Noronha e Meneses (9 Conde e 7 Marqus de Vila
Real, 6 Conde de Alcoutim e 7 Conde de Valena), e o seu filho e herdeiro,
D. Miguel Lus de Meneses (2 Duque de Caminha), acusados de envolvi-
mento numa conjura, encabeada por D. Sebastio de Noronha, arcebispo de
Lisboa, para derrubar o 8 Duque de Bragana, aclamado havia poucos meses
como D. Joo IV, o 21 Rei de Portugal.
Alguns anos antes, em 1624, morria na priso e afastado de todos os
ttulos e cargos D. Pedro Tellez-Girn y Velasco, el Grande (1574-1624),
3 Duque de Osuna (com Grandeza), 2 Marqus de Peafiel e 7. Conde de
Urea, Vice-Rei da Siclia (1610-1615) e Vice-Rei de Npoles (1615-1620),
cado em desgraa perante Filipe IV de Espanha, ou melhor, o todo-poderoso
Conde-Duque de Olivares.
Que far o autor na primeira metade do sculo XVII, interrogar-se-o,
a acompanhar o final dramtico de dois titulares portugueses e de um
espanhol?
Com a morte dos dois primeiros extinguiu-se a Casa dos Condes,
Marqueses e Duques de Vila Real, terminando de uma forma trgica o
exemplo mais notvel de sucesso da implantao em Portugal de uma
linhagem com origem na Coroa de Castela. Quanto a D. Pedro Telles-Girn
que por varonia pertencia linhagem portuguesa dos Cunha, a sua
famlia, exilada em Castela nos ltimos anos do sculo XIV, tinha marcado
profundamente a poltica castelhana de grande parte do sculo XV.
Os de Noronha e Meneses, ou os da Cunha, porm, no foram casos
singulares de fortuna e de sucesso de linhagens nobres em reinos alheios
origem familiar. Ao longo da Idade Mdia peninsular, com efeito, so muitos
os exemplos da circulao de nobres entre os diferentes reinos, a ttulo
individual e at colectivo, ou seja, de um ramo da linhagem, com uma fixao
mais ou menos prolongada, ou mesmo definitiva no reino de acolhimento.
Uma vez que se trata de uma realidade comum a todos os reinos
hispnicos, continuada ao longo de todo o perodo medieval, creio que a
anlise da circulao de nobres no espao ibrico se assume como um
excelente observatrio para uma melhor compreenso de vrios aspectos do
comportamento e das caractersticas do grupo nobilirquico. A anlise deste
fenmeno, por outro lado, que na minha ptica dever ser especialmente
equacionado no mbito mais vasto da Histria poltica, e muito concretamente
no quadro do desenvolvimento dos poderes, rgio e nobilirquico, ao longo

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da Idade Mdia, tambm permite alargar a perspectiva e o campo de reflexo


sobre as relaes entre os diferentes reinos hispnicos.
O vasto mbito geogrfico enunciado, a Hispnia Medieval, serve
apenas, como natural, para evidenciar a conscincia sobre a globalidade do
fenmeno da circulao de nobres. O espao de que disponho, porm, no
permite uma observao to abrangente, pelo que serei obrigado a restringir
o campo de anlise a Portugal e a Castela. Todavia, se a reduo do mbito
geogrfico poder empobrecer a viso daquela globalidade, ela substancial-
mente complementada, na minha perspectiva, pela objectividade de dois
factores: em primeiro lugar, porque, no que a Portugal diz respeito, foi com
os reinos de Leo e de Castela que se viveu com mais intensidade e frequncia
a realidade da circulao de nobres; em segundo lugar, porque a excluso de
Navarra e de Arago permite perspectivar este tema ao longo de uma
cronologia muito mais vasta2.
Creio que este ltimo aspecto deve ser sublinhado, inclusive pelo seu
carcter original, uma vez que os autores que anteriormente se debruaram
sobre esta questo, e foram vrios, conduziram os seus estudos em funo de
conjunturas muito delimitadas, e quase exclusivamente situadas nos finais do
sculo XIV e no sculo XV, ou seja, e como a seu tempo se ver, no contexto
das mudanas dinsticas ou das convulses polticas do final da Idade Mdia

2
Para alm do facto de a incluso dos reinos de Navarra e da Coroa de Arago levantar outro
tipo de problemas: por um lado, porque os contactos entre a nobreza portuguesa e a daqueles dois
reinos, especialmente o primeiro, foram bastante espordicos; a localizao de Navarra e de
Arago junto aos Pirinus, por outro, favoreceu os contactos com espaos polticos exteriores
Hispnia, como a Frana ou a Itlia, o que exigiria uma amplitude excessiva de anlise
bibliogrfica. Ainda assim, parece-me pertinente indicar alguns estudos importantes para a anlise
das relaes da nobreza daqueles dois reinos com as coroas portuguesa e castelhana: Antonio
UBIETO ARTETA, Relaciones de Aragn y Portugal durante el siglo XII, in Actas do Congresso
Histrico de Portugal Medievo, Tomo I, Braga, 1963, pp. 29-40; Francisco de MOX Y
MONTOLIU, La Casa de Luna (1276-1348). Factor Poltico y Lazos de Sangre en la Ascensin
de un Linaje Aragons, Mnster, Aschendorffsche Verlagsbuchhhandlung, 1990; IDEM, Estudios
sobre las relaciones de Aragn y Castilla (siglos XIII-XV), Zaragoza, Institucin Fernando el
Catlico, 1997; Ernesto FERNNDEZ-XESTA Y VZQUEZ, Un Magnate Cataln en la Corte de
Alfonso VII. Comes Poncius de Cabreira, Princeps emore, Madrid, Ediciones Iberoamerica-
nas, 1991; IDEM, Relaciones Familiares entre el Condado de Urgel y Castilla y Len. Discurso
ledo el da 28 de Junio de 2001 en la recepcin pblica del Ilmo. Sr. D. Ernesto Fernndez-Xesta
y Vasquez y contestacin por el Rvdo. e Ilmo. Sr. D. Francisco de Mox y de Montolu,
Catedrtico Emrito de Historia Medieval, Madrid, Real Academia Matritense de Herldica y
Genealoga, 2001; Simon BARTON, Two Catalan magnates in the courts of the kings of Len-
Castille: the careers of Ponce de Cabrera and Ponce de Minerva re-examined, Journal of
Medieval History, 18 (1992), pp. 233-266; Carmen BATLLE I GALLART, Berenguer de Montcada
(1268), un catal a la cort de Castella, i la seva famlia, Acta Historica et Archeologica
Medieavalia, 25 (2004), pp. 137-152; Lus Ado da FONSECA, Contribucin para el estdio de
las relaciones diplomticas entre Portugal y Aragn en la Edad Media: el Tratado de alianza de
1255, in Jaime I y su poca, Actas del X Congreso de Historia de la Corona de Aragn, II,
Zaragoza, Institucin Fernando el Catlico, 1979, pp. 547-556; Henrique DAVID, Amndio
BARROS e Joo ANTUNES, A Famlia Cardona e as Relaes entre Portugal e Arago durante o
Reinado de D. Dinis, Revista da Faculdade de Letras-Histria, II Srie, IV (1987), pp. 69-87;
Armando Lus de Carvalho HOMEM, Um Aragons na Corte Portuguesa: Estvo da Guarda
(1299-1325), in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, I, Porto, INIC,
1987, pp. 195-200; ngeles MASI DE ROS, Relacin Castellano-Aragonesa desde Jaime II a
Pedro el Cerimonioso, 2 vols., Barcelona, CSIC, 1994; Mara Teresa FERRER I MALLOL, Ramn
de Cardona, Militar y Diplomtico al Servicio de Cuatro Reinos, in IV Jornadas Luso-
Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices, Actas, 2,
Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 1433-1451; Salvador CLARAMUNT, La Politica
matrimonial de la Casa condal de Barcelona y real de Aragn desde 1213 hasta Fernando el
Catlico, Acta Historica et Archeologica Mediaevalia, 24 (2003), pp.195-235; Dolors
DOMINGO, A la recerca dAurembiaix dUrgell, Lleida, Universitat de Lleida, 2007.

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peninsular3. Dessa forma, no se puderam percepcionar as linhas evolutivas


do fenmeno, nem detectar os seus traos comuns ou disjuntivos, quer quanto
s relaes Coroa/Nobreza quer quanto s diferentes dinmicas da evoluo
do poder rgio, em Castela ou em Portugal e, tal como acima referi, estes
aspectos so fundamentais para a sua compreenso4.

3
Mais recentemente foi ensaiada uma sntese que vai precisamente at crise dinstica do final
do sculo XIV (cfr. Jos MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular, in
Obras Completas, 1, Naquele Tempo. Ensaios de Histria Medieval, Lisboa, Crculo de
Leitores, 2000, pp. 319-339), mas esta a primeira vez que se apresenta uma reflexo global.
4
A bibliografia sobre as relaes entre Portugal e Castela bastante abundante, pelo que me
limitarei a enunciar alguns dos trabalhos mais significativos, sem separar os historiadores
portugueses dos espanhis: Vicente LVAREZ PALENZUELA, Relaciones Peninsulares en el Siglo
de Alcaices (1250-1350). Regencias y minorias regias, in IV Jornadas Luso-Espanholas de
Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices, Actas, 2, Porto,
Universidade do Porto, 1998, pp. 1045-1070; IDEM, Las Relaciones Castellano-Portuguesas en
el Panorama Poltico Internacional, in Jornadas de Cultura Hispano-Portuguesa. Actas,
Madrid, Universidad Autnoma de Madrid, 1999, pp. 33-50; Humberto BAQUERO MORENO,
Relaes entre os Reinos Peninsulares (1290-1330), in Congreso Internacional, Jaime II 700
Aos Despus. Actas, Alicante, 1997, pp. 29-41; Isabel BECEIRO PITA, Los Poderes Seoriales
en los Territrios Fronterizos al Norte del Duero (Siglos XIII-Incios del XIV), in IV Jornadas
Luso-Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices, Actas,
2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 1085-1100; Mara Eugenia CONTRERAS JIMNEZ,
Noticias de los Hechos Polticos Portugueses en las Crnicas Castellanas de la Baja Edad Media,
in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, I, Porto, INIC, 1987, pp. 293-
315; Mara-Mercedes COSTA, Los Reyes de Portugal en la Frontera Castellano-Aragonesa
(1304), Medievalia, 2 (1981), pp. 27-50; Luis Vicente DAZ MARTN, Las Fluctuaciones en las
Relaciones Castellano-Portuguesas durante el Reinado de Alfonso IV, in IV Jornadas Luso-
Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices, Actas, 2,
Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 1231-1254; Ftima Regina FERNANDES, O Reinado de
D. Fernando no mbito das Relaes Rgio-Nobilirquicas, Porto, Faculdade de Letras, 1996
(Dissertao de doutoramento policopiada); Manuel GARCA FERNNDEZ, Las Relaciones
Internacionales de Alfonso IV de Portugal y Alfonso XI de Castilla en Andaluca: la participacin
portuguesa en la Gran Batalla del Estrecho, 1325-1350, in Actas das II Jornadas Luso-
Espanholas de Histria Medieval, I, Porto, INIC, 1987, pp. 201-216; IDEM, Jaime II y la
minora de Alfonso XI (1312-1325). Sus relaciones com la sociedad poltica castellana, Historia.
Instituciones. Documentos, 18 (1991), pp. 143-181; IDEM, Don Dionis de Portugal y la Minoria
de Alfonso XI de Castilla (1312-1325), Revista da Faculdade de Letras-Histria, II Srie, IX
(1992), pp. 25-51; IDEM, La Poltica Internacional de Portugal y Castilla en el contexto
peninsular del Tratado de Alcaices: 1267-1297. Relaciones diplomticas y dinsticas, in IV
Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no Sculo de
Alcanices, Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 903-943; IDEM, Los hombres del
Tratado de Alcaices (12 de septiembre de 1297), in El Tratado de Alcaices, Ponencias y
comunicaciones de las Jornadas conmemorativas del VII Centenario del Tratado de Alcaices
(1297-1997), Zamora, Fundacin Rei Afonso Henriques, 1999, pp. 219-247; Manuel GONZLEZ
JIMNEZ, Las Relaciones entre Portugal y Castilla durante el Siglo XIII, in IV Jornadas Luso-
Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices. Actas, 1,
Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 1-24; IDEM, Las relaciones entre Portugal y Castilla:
del Tratado de Badajoz (1267) al Tratado de Alcaices (1297), in El Tratado de Alcaices,
Ponencias y comunicaciones de las Jornadas conmemorativas del VII Centenario del Tratado de
Alcaices (1297-1997), Zamora, Fundacin Rei Afonso Henriques, 1999, pp. 155-171; Miguel
ngel LADERO QUESADA, Los Estados Peninsulares a la Muerte de Alfonso X El Sbio, in VII
Centenrio del Infante Don Fernando de la Cerda, Madrid, 1976, pp. 311-337; Gloria LORA
SERRANO, Seorios y Frontera: la Nobleza Extremea ante la Guerra Luso-Castellana de
Sucesin, in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval. As Relaes de Fronteira no
Sculo de Alcanices, Actas, 1, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 385-410; Jos MARQUES,
Relaes entre Portugal e Castela nos finais da Idade Mdia, Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian-JNICT, 1994; IDEM, Relaes fronteirias luso-castelhanas, nos sculos XIV-XV, in
Ibria: Quatrocentos/Quinhentos. Duas dcadas de ctedra (1984-2006), Homenagem a Lus
Ado da Fonseca, Porto, Civilizao Editora, 2009, pp. 91-141; Jos Augusto de SOTTO MAYOR
PIZARRO, Relaes Poltico-Nobilirquicas entre Portugal e Castela: o Tratado de Escalona
(1328) ou dos 80 Fidalgos, in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, As
Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices, Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp.
1255-1277; IDEM, A nobreza portuguesa e as relaes rgio-nobilirquicas no sculo de
Alcanices (1250-1350), in El Tratado de Alcaices, Ponencias y comunicaciones de las Jornadas
conmemorativas del VII Centenario del Tratado de Alcaices (1297-1997), Zamora, Fundacin
Rei Afonso Henriques, 1999, pp. 279-298; Leontina VENTURA, A Fronteira Luso-Castelhana na

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Finalmente, o cunho comparativo e de longa durao dado a esta


abordagem tambm permite revelar alguns desequilbrios e assimetrias
historiogrficos entre Portugal e Espanha leia-se, Coroa de Castela o que
desde logo, e ainda que de forma sinttica, no posso deixar de enunciar.
Por volta dos anos finais da dcada de 60, mas sobretudo a partir dos
anos de 1970, dois historiadores marcaram os estudos posteriores sobre a
nobreza medieval castelhana e portuguesa: Salvador de Mox e Jos Mattoso.
Autores de obras profundamente inovadoras, e ainda hoje incontornveis,
foram de certa forma os responsveis pelo arranque dos estudos sobre a
nobreza medieval peninsular, e ainda, o que se deve sublinhar, pela forma
como aquela passou a ser entendida e estudada nos anos seguintes. Mas
tambm produziram conceitos, ou adaptaram modelos interpretativos aceites
para certas reas geogrficas exteriores Pennsula, durante muito tempo
condicionadores das investigaes posteriores, e que ultimamente tiveram que
ser matizados. Esses acertos ou at correces, todavia, so, como creio, o
melhor tributo que os investigadores mais recentes poderiam prestar aos seus
Mestres, significando a verdadeira importncia das suas obras s as grandes
ideias suscitam a reflexo e a discusso (Isaac Newton). Vejamos dois
exemplos.
Salvador de Mox publicou em 1969 um trabalho intitulado De la
Nobleza Vieja a la Nobleza Nueva, o qual, para alm da sua importncia
intrnseca, lanou na historiografia os conceitos de nobreza velha e de
nobreza nova, ou seja, que a grande maioria das linhagens que passaram a
marcar o panorama nobilirquico castelhano aps a revoluo trastmara
(nobreza nova), pouco ou nada tinham a ver com as linhagens preponderantes
no perodo anterior, isto , que se tinham destacado desde os tempos do
Imperador Afonso VI (nobreza velha)5.
Muito embora o prprio Mox tenha matizado um pouco esta tese em
trabalhos posteriores, o certo que a ideia da existncia de uma nobreza nova
e de uma nobreza velha entrou na linguagem corrente da historiografia
espanhola, extravasando mesmo os limites da Coroa de Castela6. Hoje em dia
essas designaes so bastante discutveis7, graas sobretudo a vrios trabalhos

Idade Mdia, in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira


no Sculo de Alcanices, Actas, 1, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 25-52; IDEM, Relaes
Internobilirquicas e Rgio-Nobilirquicas entre Portugal e Castela no Sculo XIII, in Jornadas
de Cultura Hispano-Portuguesa. Actas, Madrid, Universidad Autnoma de Madrid, 1999, pp.
255-273.
5
Salvador de MOX, De la Nobleza Vieja a la Nobleza Nueva. La transformacin nobiliria
castellana en la Baja Edad Media, Cuadernos de Historia, 3 (1969), pp. 1-210. Deste mesmo
autor refira-se ainda, pelo impacto que teve, La nobleza castellano-leonesa en la Edad Media.
Problemtica que suscita su estdio en el marco de una historia social, Hispania, 114 (1970),
pp. 5-68.
6
Num certo sentido estes conceitos encontram-se numa obra que teve algum impacto em
Portugal nos anos de 1970/80, 6cfr. Joel SERRO, O Carcter Social da Revoluo de 1383,
Lisboa, Livros Horizonte, 1985 .
7
Sobre este aspecto, vejam-se os comentrios de V. LVAREZ PALENZUELA, Los Orgenes
de la Nobleza Castellano-Leonesa, in La Nobleza Peninsular en la Edad Media, VI Congreso
de Estudios Medievales, Len, Fundacin Snchez Albornoz, 1999, p. 69, nota 2; e ainda a sua
excelente anlise sobre o tema em La Nobleza del Reino de Len en la Alta Edad Media, in El

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de reconstituio genealgica que, por um lado, permitem ligar algumas das


linhagens que se destacam no incio do sculo XII com a nobreza condal
anterior como, por outro, conhecer a continuidade biolgica de vrias delas
para alm de 1369, preferindo-se antes a expresso de Nobreza Renovada8.
Seja como for, foi sobre essa nobreza renovada, isto , a Alta Nobreza
trastmara dos sculos XIV e XV, que a historiografia focou a sua principal
ateno, no s pelo poder econmico e social que atingiu, mas tambm pelo
protagonismo poltico que desempenhou at chegada ao trono dos Reis
Catlicos.
Esta opo, porm, produziu um forte desequilbrio relativamente
nobreza leonesa-castelhana at meados do sculo XIV, muito menos estudada
do que aquela, como j h algum tempo sublinhara Pascual Martnez Sopena9,
e mais recentemente Simon Burton e o mesmo Martnez Sopena10, muito
embora a produo de estudos de grande qualidade sobre a nobreza para
cronologias mais recuadas tenha aumentado, sobretudo a partir de meados dos
anos de 198011.

Reino de Len en la Alta Edad Media, VII, Len, Centro de Estudios e Investigacin San
Isidoro, 1995, 149-329.
8
Mara Concepcin QUINTANILLA RASO, La renovacin nobiliria en la Castilla bajomedie-
val. Entre el debate y la propuesta, in La Nobleza Peninsular en la Edad Media. VI Congreso
de Estudios Medievales, Len, Fundacin Snchez Albornoz, 1999, pp. 255-295. Para alm
deste trabalho, sem dvida alguma incontornvel pelo rigor da anlise e pela riqueza da
informao, vejam-se tambm desta autora, ainda que anteriores: IDEM, Nobleza y Seorios en
Castilla durante la Baja Edad Media. Aportaciones de la Historiografia reciente, Anuario de
Estudios Medievales, 14 (1984), pp. 613-639; IDEM, Historiografia de una lite de poder: la
nobleza castellana bajomedieval, Hispania, L/175 (1990), pp. 719-736; IDEM, El protagonismo
nobilirio en la Castilla Bajomedieval. Una revisin historiogrfica, Medievalismo, 7 (1997),
pp. 187-233.
9
Pascual MARTNEZ SOPENA, La Nobleza de Len y Castilla en los siglos XI y XII. Un estado
de la cuestin, Hispnia, LIII/185 (1993), pp. 801-822. Deste mesmo autor veja-se tambm,
mais recentemente, uma excelente anlise de carcter metodolgico sobre a historiografia relativa
nobreza, cfr. La aristocracia hispnica. Castilla y Len (siglos X-XIII), Bulletin du centre
dtudes mdivales dAuxerre, Hors srie, 2 (2009) [mis en ligne le 22 janvier 2009. URL:
http:// cem.revues.org/index10052.html].
10
Simon BARTON, The aristocracy in twelfth-century Len and Castille, Cambridge, Cambridge
University Press, 1997, pp. 1-2; P. MARTNEZ SOPENA, Tradiciones y tendencias en el
Medievalismo espaol, Bulletin du centre dtudes mdivales dAuxerre, 8 (2004) [mis en
ligne le 14 mars 2007. URL: http://cem.revues.org/index931.html.
11
A dissertao de Margarita TORRE SEVILLA-QUIONES DE LEN (cfr. Linajes Nobiliarios en
Len y Castilla (Siglos IX-XIII), Len, Junta de Castilla y Len, 1999) significou, de certa forma,
o corolrio do trabalho de um punhado de investigadores da nobreza dos sculos X-XIII, de entre
os quais destacaria: P. MARNEZ SOPENA, La Tierra de Campos Occidental: poblamiento, poder
y comunidad del siglo X al XIII, Valladolid, 1985 (especialmente pp. 321-421); IDEM, Parentesco
y poder en Len durante el siglo: la casata de Alfonso Daz, Studia Historica, 5 (1987), pp.
33-87; IDEM, El conde Rodrigo de Len y los suyos: herencia y expectativa del poder entre los
siglos X y XII, in Relaciones de Poder, de Produccin y Parentesco en la Edad Media y Moderna
(comp. Reyna Pastor), Madrid, 1990, pp. 51-84; IDEM, Relations de parente et hritage
wisigothique dans laristocratie du royaume de Len au XI.e sicle, in LEurope Hritire de
lEspagne Wisigothique, Madrid, 1992, pp. 315-324; Isabel PREZ DE TUDELA Y VELASCO,
Infanzones y Caballeros, su proyeccin en la esfera nobiliria castellano-leonesa (siglos IX-XI),
Madrid, Universidad Complutense, 1979; Carlos ESTEPA DEZ, La Nobleza Leonesa en los Siglos
XI y XII, Astorga, 1984; Ermelindo PORTELA e Mara del Carmen PALLARES, Elementos para
el anlisis de la aristocracia altomedieval de Galicia: parentesco y patrimnio, Studia
Historica, 5 (1987), pp. 17-32; IDEM, Algunos problemas relativos a la evolucin de las
estructuras familiares de la nobleza medieval gallega, in Parentesco, Famlia y Matrimnio en
la Historia de Galicia (ed. J. C. Bermejo), Santiago de Compostela, 1988, pp. 25-39; IDEM,
Aristocracia y sistema de parentesco en la Galicia de los siglos centrales de la Edad Media. El
grupo de los Traba, Hispania, LIII/185 (1993), pp. 823-840; Mara del Carmen PALLARES

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Como evidente, este desequilbrio tambm se justifica em funo das


fontes. Com efeito, a historiografia castelhana no dispe, por exemplo, de
textos genealgicos com a qualidade dos nobilirios medievais portugueses,
que cobrem com bastante rigor as geraes dos sculos XII at primeira
metade do sculo XIV12, ou das Inquiries Gerais dos sculos XIII e XIV13,
que assim poderiam minorar as dificuldades levantadas pela disperso de
vastos fundos documentais, especialmente monsticos incontornveis para
o estudo da nobreza alti-medieval e naturalmente proporcionais a uma rea
geogrfica muito maior do que a portuguesa.
Em contrapartida, os investigadores da nobreza renovada contaram
com outro tipo de acervos documentais, como sejam os dos arquivos
senhoriais, especialmente notveis para as principais casas tituladas14, j para
no falar de diversos tipos de textos cronsticos ou narrativos riqussimos em
informaes sobre a nobreza15, ou textos genealgicos de primeira qualidade

MNDEZ, Ilduara, una aristcrata del siglo X, Santiago de Compostela, Seminario de Estudos
Galegos, 1998; M. TORRE SEVILLA-QUIONES DE LEN, La Famlia de Diego Ansrez, Conde
de Astorga (Siglos X-XII), Astorica, 16 (1997), pp. 195-204; IDEM, Relaciones Fronterizas
entre Portugal y Len en Tiempos de Alfonso VII: el Ejemplo de la Casa de Traba, in IV
Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval. As Relaes de Fronteira no Sculo de
Alcanices. Actas, 1, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 301-312; IDEM, El Reino de Len
en el Siglo X: El Condado de Cea, Len, Ediciones Universidad de Len, 1998; I. BECEIRO PITA,
Parentesco y consolidacin de la aristocracia en los incios de la Corona de Castilla (Siglos XI-
XIII), Meridies, 2 (1995), pp. 49-71; Jaime de SALAZAR ACHA, Una famlia de la alta Edad
Media: los Velas y su realidad histrica, Estudios Genealgicos y Herldicos, I (1985), pp. 19-
64; IDEM, El conde Fernando Pelez: un rebelde leons del siglo XI, Anuario de Estudios
Medievales, 19 (1989), pp. 87-97; IDEM, Los Descendientes del Conde Ero Fernndez, fundador
del Monasterio de Santa Mara de Ferreira de Pallares, in Galicia en la Edad Media. Actas del
Colquio, Madrid, SEEM, 1990, pp. 67-86; IDEM, El linaje castellano de Castro en el siglo XII:
consideraciones e hiptesis sobre su origen, Anales de la Real Academia Matritense de
Herldica y Genealogia, I (1991), pp. 33-68; Simon BARTON, Sobre el conde Rodrigo Prezel
Velloso, Estudios Mindonienses, 5 (1989), pp. 653-661; Ana RODRGUEZ LPEZ, Linajes
nobilirios y monarquia castellano-leonesa en la primera mitad del siglo XIII, Hispania,
LIII/185 (1993), pp. 841-859; Antnio SNCHEZ DE MORA, La Trama Vasallatica de los Lara:
una aproximacin prosopogrfica, in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval. As
Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices. Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp.
1101-1122; IDEM, La Nobleza Castellana en la Plena Edad Media: el linage de Lara (ss. XI-XIII),
Burgos, 2007; Simon R. DOUBLEDAY, The Lara Family. Crown and Nobility in Medieval Spain,
Cambridge (Massachusetts), Harvard University Press, 2001.
12
Portugaliae Monumenta Historica. Nova Srie. Volume I, Livros Velhos de Linhagens
(Edio crtica por Joseph Piel e Jos Mattoso), Lisboa, Academia das Cincias, 1980; Volume
II (Tomos 1 e 2), Livro de Linhagens do Conde D. Pedro (Edio crtica por Jos Mattoso),
Lisboa, Academia das Cincias, 1980.
13
Portugaliae Monumenta Historica. Inquisitiones, Lisboa, Academia Real das Sciencias,
1888-1979; Portugaliae Monumenta Historica. Nova Srie. Volume III, Inquisitiones. Inquiries
Gerais de D. Dinis. 1284 (Introduo, leitura e ndices por Jos Augusto de Sotto Mayor
Pizarro), Lisboa, Academia das Cincias, 2007.
14
A ttulo de exemplo, vejam-se alguns dos estudos de Alfonso FRANCO SILVA em grande
medida beneficirios dos fundos do Arquivo Ducal de Medina Sidnia (cfr. El Seorio Toledano
de Montalban. De Don lvaro de Luna a los Pacheco, Cdiz, Universidad de Cdiz, 1992; La
Fortuna y el Poder. Estudios sobre las bases econmicas de la aristocracia castellana (S. XIV-
XV), Cdiz, Universidad de Cdiz, 1996; Seores y Seorios (Siglos XIV-XVI), Jan, Universidad
de Jan, 1997; Entre la Derrota y la Esperanza. Don Diego Lpez Pacheco, Marqus de Villena
(mediados del siglo XV-1529), Cdiz, Universidad de Cdiz, 2005; Estudios sobre la Nobleza y
el Rgimen Seorial en Andaluca (Siglos XIV, mediados del XVI), Granada-Cdiz, Universidad
de Granada y Universidad de Cdiz, 2006).
15
Crnicas de los reyes de Castilla: desde Don Alfonso el Sabio, hasta los Catlicos Don
Fernando y Doa Isabel (coleccin ordenada por D. Cayetano Rosell), 3 vols., Madrid, Atlas,
1953; Pero LPEZ DE AYALA, Coronica del rey Don Pedro (edicin y estudio por Constance L.
Wilkins y Heanon M. Wilkins), Madison, Hispanic Seminary of Medieval Studies, 1985; IDEM,

ANUARIO DE ESTUDIOS MEDIEVALES (AEM), 40/2, julio-diciembre 2010, pp. 889-924. ISSN 0066-5061
896 JOS AUGUSTO DE SOTTO MAYOR PIZARRO

para os sculos XIV e XV16, que permitiram o estudo detalhado de muitas das
grandes casas nobres castelhanas da Baixa Idade Mdia, no apenas em termos
de actuao poltica, mas tambm nos planos senhorial e econmico17.
Esta referncia s fontes permite-me fazer o contraponto com a
historiografia portuguesa que se debruou sobre a nobreza medieval. Na
verdade, e como acima referi, os investigadores portugueses contam com
fontes muito mais ricas para o estudo da nobreza dos sculos XI at primeira
metade do XIV do que para o perodo final da Idade Mdia, facto que
plenamente constatvel atravs da produo historiogrfica dos ltimos trinta
anos18.
Alis, a obra de Jos Mattoso e a incidncia cronolgica dos seus
trabalhos veio acentuar ainda mais este desequilbrio, uma vez que foram os

Crnica del Rey Don Pedro y del Rey Don Enrique, su hermano, hijos del rey don Alfonso
Onceno (estudio preliminar de Germn Orduna y Jos Luis Moure), 2 vols., Buenos Aires, 1994-
97;IDEM, Libro rimado de palacio (edicin de Kenneth Adams), Madrid, Ctedra, 1993; Fernn
PREZ DE GUZMN, Generaciones y semblanzas (edicin de Jos Antonio Barrio Snchez),
Madrid, Ctedra, 1998; Lope GARCA DE SALAZAR, Las Bienandanzas e fortunas: cdice del siglo
XV, 4 vols., Bilbao, Grficas Ellacurria, 1967; Mara Consuelo VILLACORTA MACHO, Edicin
crtica del "Libro de las buenas andanas e fortunas que fizo Lope Gara de Salazar": (Ttulos
de los libros XIII, XVIII, XX, XXI, XXIV y XXV), Bilbao, Servicio Editorial de la Universidad del
Pas Vasco, 2005; Pedro CARRILLO DE HUETE, Crnica del Halconero de Juan II (edicin y
estudio por Juan de Mata Carriazo; presentacin por Manuel Gonzlez Jimnez; estudio
preliminar por Rafael Beltrn Llavador), Granada, Universidad, 2006; Crnica de Don lvaro
de Luna, Condestable de Castilla, Maestre de Santiago (edicin y estudio por Juan de Mata
Carriazo), Madrid, Espasa-Calpe, 1940; Hechos del Condestable don Miguel Lucas de Iranzo:
crnica del siglo XV (edicin y estudio por Juan de Mata Carriazo), Madrid, Espasa-Calpe, 1940;
Diego de VALERA, Memorial de diversas hazaas: crnica de Enrique IV (edicin y estudio por
Juan de Mata Carriazo), Madrid, Espasa-Calpe, 1941; Alonso de PALENCIA, Crnica de Enrique
IV (introduccin de A. Paz y Melia), 3 vols., Madrid, Atlas, 1973; Fernando del PULGAR,
Crnica de los Reyes Catlicos (edicin y estudio por Juan de Mata Carriazo), 2 vols., Madrid,
Espasa-Calpe, 1943.
16
A tese de doutoramento de Rafael SNCHEZ SAUS contm indicaes preciosas sobre esse
tipo de fontes (cfr. Caballera y Linaje en la Sevilla Medieval. Estudio Genealgico y Social,
Cdiz, Diputacin Provincial de Sevilla/Universidad de Cdiz, 1989). Veja-se, mais recentemente
e a ttulo de exemplo, a edio primorosa levada a cabo por Arsnio DACOSTA, El Libro de los
Seores de Ayala y otros textos genealgicos. Materiales para el estdio de la conciencia del
linaje en la Baja Edad Media. Edicin y estdio introductrio a cargo de , Vitoria, Universidad
del Pais Vasco, 2007.
17
Longe de pretender ser exaustivo, no poderia deixar de citar alguns trabalhos que, desde
uma perspectiva portuguesa, marcaram especialmente o panorama historiogrfico sobre esta
temtica: M.C. QUINTANILLA RASO, Nobleza y Seorios en el Reino de Crdoba: la Casa de
Aguilar (siglos XIV y XV), Crdoba, Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Crdoba, 1979;
IDEM, La Nobleza Seorial en la Corona de Castilla, Granada, Universidad de Granada, 2008;
Jos GARCA ORO, La Nobleza Gallega en la Baja Edad Media. Las casas nobles y sus relaciones
estamentales, Santiago de Compostela, Editorial Biblifilos Gallegos, 1981; R. SNCHEZ SAUS,
Caballera y Linaje en la Sevilla Medieval, Cdiz, Diputacin Provincial de Sevilla/Universidad
de Cdiz, 1989; IDEM, La Nobleza Andaluza en la Edad Media, Granada, Universidades de
Granada e Cdiz, 2005; Marie-Claude GERBET, La Nobleza en la Corona de Castilla. Sus
estructuras sociales en Extremadura (1454-1516), Cceres, Institucin Cultural El Brocense,
1989; Jess D. RODRGUEZ VELASCO, El debate sobre la caballera en el siglo XV: la tratadstica
caballeresca castellana en su marco europeo [Valladolid], Junta de Castilla y Len, 1996; M.-A.
LADERO QUESADA, Los Seores de Andaluca. Investigaciones sobre nobles y seorios en los
siglos XIII a XV, Cdiz, Universidad de Cdiz, 1998; Margarita CABRERA SNCHEZ, Nobleza,
Oligarqua y Poder en Crdoba al final de la Edad Media, Crdoba, Universidad de Crdoba,
1998; Carlos HEUSCH, La Caballera castellana en la baja edad media: textos y contextos
(colaboracin de Jess Rodrguez Velasco), Montepellier, Universit de Montpellier III, 2000;
Eduardo PARDO DE GUEVARA Y VALDS, Los Seores de Galicia. Tenentes y Condes de Lemos
en la Edad Media, 2 vols., La Corua, Fundacin Pedro Barri de la Maza, 2000.
18
O balano mais recente sobre a produo historiogrfica relativa nobreza medieval j tem
mais de dez anos (cfr. J. MATTOSO, Perspectivas actuais sobre a nobreza medieval portuguesa,
in Obras Completas. 1, 2000, pp. 341-362).

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sculos XI e XII que atraram a sua ateno e sobre os quais produziu as suas
anlises mais fecundas, alargando-as depois, a propsito de diversas
temticas, para, sobretudo, o sculo XIII e primeira metade do sculo XIV,
precisamente as cronologias mais trabalhadas pelos seus discpulos19.
Em suma, em Portugal, qualquer sntese que se promova sobre a
nobreza na Idade Mdia ser, ainda hoje, quase seguramente lacunar no que
respeita aos sculos XIV e XV, como as snteses j feitas em Espanha, e que
supostamente pretendem cobrir todo aquele perodo, so construdas
maioritariamente sobre a realidade dos sculos XIV e XV, alargando mesmo
as suas anlises aos incios do XVI, dificultando sobremaneira os estudos
comparativos20.
O caso dos rendimentos das casas senhoriais no sculo XV
paradigmtico do que acabo de afirmar. Naquela centria a casa ducal de
Medina Sidnia auferia anualmente 11 milhes de maravedis, 4 milhes os
Zuiga, ou 1,2 milhes os Sotomayor, condes de Belalccer. Para termos uma
noo da grandeza destes rendimentos, a mesa mestral da Ordem de Santiago
no mesmo perodo rendia 16 milhes de maravedis por ano21. No creio que
seja possvel avanar os nmeros correspondentes para as ordens militares
portuguesas ou para qualquer casa titular, nem mesmo a de Bragana22.
Finalmente, a adopo de modelos interpretativos construdos a partir
de certas realidades da sociedade nobre francesa, e utilizados pela historiogra-
fia ibrica levaram, na minha perspectiva, a uma srie de concluses sobre o
comportamento e a evoluo da nobreza desadequadas realidade peninsular,
ou pelo menos portuguesa e castelhana, como se ver a seguir. Como creio
ter demonstrado, pelo menos para Portugal, a adopo integral do sistema
linhagstico pela nobreza daqueles espaos foi muito mais tardio, e s a partir
da introduo do morgadio, nos finais do sculo XIII ou incio do seguinte,
que esse modelo de estruturao da famlia nobre produziu os resultados

19
J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Os Patronos do Mosteiro de Grij. Estrutura e evoluo da
famlia nobre (Sculos XI a XIV), Ponte de Lima, Edies Carvalhos de Basto, [1987] 1995;
IDEM, Linhagens Medievais Portuguesas. Genealogias e Estratgias (1279-1325), 3 vols., Porto,
Centro de Estudos de Genealogia, Herldica e Histria da Famlia, [1997] 1999; Lus KRUS, A
Concepo Nobilirquica do Espao Ibrico (1280-1380), Lisboa, Fundao Calouste
Gulbenkian/JNICT, [1989] 1994; L. VENTURA, A Nobreza de Corte de Afonso III, 2 vols.,
Coimbra, Faculdade de Letras, 1992; Antnio Resende de OLIVEIRA, Depois do Espectculo
Trovadoresco. A Estrutura dos Cancioneiros Peninsulares e as Recolhas dos Sculos XIII e XIV,
Lisboa, Edies Colibri, [1992] 1994; Maria de Lurdes ROSA, O Morgadio em Portugal (scs.
XIV-XV). Modelos e prticas de comportamento linhagstico, Lisboa, Editorial Estampa, [1993]
1995; Bernardo de Vasconcelos e SOUSA, Os Pimentis. Percursos de uma linhagem da nobreza
medieval portuguesa (sculos XIII-XIV), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, [1996] 2000.
20
I. BECEIRO PITA e Ricardo CRDOBA DE LA LLAVE, Parentesco, Poder y Mentalidad. La
Nobleza Castellana (Siglos XII-XV), Madrid, CSIC, 1990; M.-C. GERBET, Les Noblesses
Espagnoles au Moyen ge, XIe-XVe Sicle, Paris, Armand Colin, 1994.
21
Emilio CABRERA, Los Grupos Privilegiados en Castilla en la Segunda Mitad del Siglo XV,
in El Tratado de Tordesillas y su poca. Congreso Internacional de Historia, I, Madrid,
Sociedad V Centenrio del Tratado de Tordesillas, 1995, pp. 265-290.
22
Maria Helena da Cruz COELHO, O Peso dos Privilegiados em Portugal, in El Tratado de
Tordesillas y su poca, Congreso Internacional de Historia, vol.I, Madrid, Sociedad V
Centenrio del Tratado de Tordesillas, 1995, pp. 291-314; Lus Filipe OLIVEIRA, A Casa dos
Coutinhos. Linhagem, Espao e Poder (1360-1452), Cascais, Patrimonia Historica, 1999;
Mafalda Soares da CUNHA, Linhagem, Parentesco e Poder. A Casa de Bragana (1384-1483),
Lisboa, Fundao da Casa de Bragana, 1990.

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898 JOS AUGUSTO DE SOTTO MAYOR PIZARRO

verificados na Frana do Norte, dois sculos antes23. No ser por acaso,


finalmente, que algumas anlises mais recentes sobre a nobreza castelhana
apontem a segunda metade do sculo XIV e o sculo XV como o verdadeiro
palco das linhagens24.

2. A CIRCULAO DE NOBRES NO ESPAO IBRICO:


CONTEXTOS POLTICOS E RELAES RGIO-NOBILIRQUICAS

A questo que acabei de enunciar, ou seja, a adopo tardia do


sistema linhagstico, essencial para a compreenso dos factores que explicam
o fenmeno da circulao de nobres na Idade Mdia, e permite-me introduzir
o segundo dos exemplos mais atrs enunciado. Com efeito, num dos seus
artigos mais emblemticos, Cavaleiros Andantes: a Fico e a Realidade,
Jos Mattoso equacionou o problema da emigrao de vrios nobres
portugueses, sobretudo para a Coroa de Castela, luz do pressuposto de que
alguns deles eram vtimas da aplicao de medidas que visavam a proteco
da integridade do patrimnio das linhagens, ou seja, a excluso dos filhos
segundos e das filhas da herana paterna. Como consequncia, muitos desses
indivduos tinham procurado a sobrevivncia no reino vizinho, tendo alguns
destes cavaleiros-andantes, poucos, encontrado a fortuna e o sucesso, e
quase todos a morte violenta ou o esquecimento25. A maioria dos exemplos
carreados para esse artigo, porm, estava claramente associada a factores de
ordem poltica. Parece-me que essa a perspectiva correcta para colocar a
questo.
De facto, creio ter demonstrado que a excluso dos filhos secundog-
nitos da herana paterna s aconteceu em Portugal e parece que os meus
colegas espanhis foram chegando mesma concluso para a nobreza
castelhana26, depois da introduo do regime de morgadio27. data da
publicao original daquele artigo (1981), contudo, as hipteses de interpre-
tao avanadas pelo meu Mestre eram as mais plausveis, tendo em conta,
por um lado, as poucas fontes publicadas e, por outro, o que se podia
observar atravs de alguns indcios, entre os quais o exerccio e/ou a
transmisso dos principais cargos curiais e das tenncias, ou seja, do exerccio

23
J. A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesas, 2, pp. 565-592.
24
E. PORTELA e M.C. PALLARES, Aristocracia y sistema de parentesco, pp. 838-840; I.
BECEIRO PITA e R. CRDOBA DE LA LLAVE, Parentesco, Poder y Mentalidad, pp. 51 e 88-107;
M.C. QUINTANILLA RASO, La Renovacin Nobiliaria, pp. 283-287.
25
J. MATTOSO, Cavaleiros andantes: a fico e a realidade, in Obras Completas. 7 A
Nobreza Medieval Portuguesa. A famlia e o poder, Lisboa, Crculo de Leitores, 2001, pp. 259-
271.
26
Ver a bibliografia indicada por J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais
Portuguesas, II, pp. 567-568, nota 52 ( qual se poderia justamente acrescentar o trabalho de E.
PORTELA e M.C. PALLARES, Aristocracia y sistema de parentesco, ou, por mais recente e para
uma rea menos conhecida, a excelente tese de A. DACOSTA, Los Linajes de Bizkaia en la Baja
Edad Media: poder, parentesco y conflicto, Bilbao, Universidad del Pas Vasco, 2003, pp. 191-
210).
27
J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesas, II, pp. 585-591.

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de funes polticas pelos membros das linhagens da alta nobreza de corte28.


Na verdade, o exerccio de funes ou de cargos, assumidos como heredit-
rios por algumas linhagens, no eram passveis de uma diviso entre vrios
herdeiros. Mas, como ento afirmei, e penso que com bons argumentos, esse
agnatismo poltico coexistia com um arreigado cognatismo patrimonial29.
Posta a questo nestes termos, bem se poderia dizer que a fico era
muito mais sedutora do que a realidade. Mas tambm verdade que a partilha
hereditria exercera uma eroso to profunda dos bens familiares, que no
duvido da existncia de exemplos de linhagens, menos favorecidas patrimo-
nialmente, em que cada herdeiro receberia pouco mais do que no caso daquela
suposta excluso. Assim sendo, no me repugna aceitar que em vrios casos
a alternativa de uma vida errante fosse bem real; mas, sublinho, as causas
principais da emigrao de nobres foram os factores polticos30.
Os diversos autores, portugueses ou espanhis, que analisaram a
questo da circulao de nobres no espao peninsular j tiveram a oportunida-
de de definir, ainda que sectorialmente, os principais contextos que traduziram
uma maior ou menor dinmica daquele fenmeno.
Como natural, nem sempre as conjunturas foram semelhantes de um
e do outro lado da fronteira31. Parece-me, contudo, que para a cronologia em

28
Eu prprio, em trabalho de 1987, segui esse modelo interpretativo (cfr. J.A. SOTTO MAYOR
PIZARRO, Os Patronos do Mosteiro de Grij), posteriormente corrigido (vd. nota anterior).
29
IDEM, ibidem, p. 620.
30
Naturalmente houve outros factores, como a trajectria pessoal de um ou outro indivduo,
como foi o caso do Mestre da Ordem de Santiago, D. Paio Peres Correia, ou as alianas
matrimoniais; estas, porm, surgiam as mais das vezes como consequncia de exlios e estes,
quase sempre, tiveram na sua origem razes de natureza poltica, o mesmo acontecendo com
trajectrias que, posteriormente, aparentam caractersticas de aventura (sobre muitos destes
aspectos veja-se o recente e luminoso trabalho de P. MARTNEZ SOPENA, La pennsula, espacio
de la nobleza. Cortes, fronteras y andanzas (ca. 1085-1230), in Viajar en la Edad Media, XIX
Semana de Estudios Medievales (Njera, del 4 al 8 de Agosto de 2008). Actas (coord. de Jos
Ignacio de la Iglesia Duarte), Njera, Instituto de Estudios Riojanos, 2009, pp. 229-272).
31
Para o contexto poltico geral veja-se, para Portugal (uma vez que este trabalho se publica
numa revista espanhola, abstenho-me de indicar a correspondente bibliografia para Castela): J.
MATTOSO, A Monarquia Feudal (1096-1325), in Histria de Portugal (dir. de Jos Mattoso),
II, Lisboa, Crculo de Leitores, 1993, pp. 9-309; IDEM, 1258-1264: o triunfo da monarquia
portuguesa. Ensaio de histria poltica, in Obras Completas. 1, 2000, pp. 529-560; IDEM,
Revoltas e revolues na Idade Mdia portuguesa, in Obras Completas. 1, 2000, pp. 421-437;
IDEM, A crise de 1245, in Obras Completas, 8 Portugal Medieval. Novas. Interpretaes,
Lisboa, Crculo de Leitores, 2002, pp. 47-60; IDEM, A guerra civil de 1319-1324, in Obras
Completas, 8, pp. 217-227; Maria Helena da Cruz COELHO e Armando Lus de Carvalho
HOMEM, Portugal em Definio de Fronteiras. Do Condado Portucalense Crise do Sculo XIV
( III de Nova Histria de Portugal, dirigida por Joel Serro e A. H. de Oliveira Marques,
coordenado por ), Lisboa, Editorial Presena, 1996; A.H. de Oliveira MARQUES, Portugal na
Crise dos Sculos XIV e XV (vol. IV de Nova Histria de Portugal, Dir. de Joel Serro e A.H.
de Oliveira Marques), Lisboa, Editorial Presena, 1987; Maria Joo Violante BRANCO, Portugal
no Reino de Leo. Etapas de uma Relao (866-1179), in El Reino de Len en la Alta Edad
Media, Volume IV, Len, Centro de Estudios e Investigacin San Isidoro, 1993, pp. 533-625;
Jos ANTUNES, Antnio Resende de OLIVEIRA e Joo Gouveia MONTEIRO, Conflitos Polticos no
Reino de Portugal entre a Reconquista e a Expanso. Estado da Questo (Sep. da Revista de
Histria das Ideias, VI), Coimbra, 1984. De bastante utilidade so ainda as recentes biografias
rgias, pouco conhecidas pela historiografia espanhola: J. MATTOSO, D. Afonso Henriques; Maria
Joo Violante BRANCO, D.Sancho I; Hermnia Vasconcelos VILAR, D.Afonso II; Hermenegildo
FERNANDES, D.Sancho II; L. VENTURA, D.Afonso III; J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, D.Dinis;
B.V. SOUSA, D.Afonso IV; Cristina PIMENTA, D. Pedro I; Rita Costa GOMES, D.Fernando; M.H.
C. COELHO, D.Joo I, Lisboa; Lus Miguel DUARTE, D.Duarte; Sal Antnio GOMES, D. Afonso

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que assenta este estudo sculos XII a XV , e para os dois reinos de


Portugal e Castela se podem definir dois perodos, ambos separados pelos
meados do sculo XIV: o primeiro estaria balizado entre o reinado do
Imperador Afonso VI (1065-1109) e as mortes de Afonso XI de Castela e de
Afonso IV de Portugal (1350 e 1357, respectivamente); o segundo perodo
arrancaria, por isso, com os reinados dos respectivos filhos e homnimos
Pedro I, o Cruel de Castela (1350-1369) e Pedro I, o Cruel de Portugal
(1357-1367) prolongando-se at morte de D.Joo II de Portugal (1495).
O reinado de Afonso VI justifica-se, por um lado, pela sua im-
portncia enquanto momento de reunificao das duas entidades polticas mais
importantes do Ocidente peninsular, Leo e Castela, e pelo prestgio que se
estendeu aos restantes reinos hispnicos, atingindo o auge com a conquista de
Toledo, em 1085; para alm, por outro, de ento surgir o Condado Portuca-
lense, em 1096, embrio do reino portugus. Na concluso desse primeiro
perodo vamos encontrar dois reinados que verdadeiramente fecham um ciclo:
em Portugal com Afonso IV, responsvel pela finalizao de uma primeira
etapa de centralizao rgia, cujo incio se poderia fazer recuar a D. Afonso
II (1211-1223), mas que sobretudo notvel a partir dos reinados do seu av
e do seu pai, D. Afonso III (1248-1279) e D. Dinis (1279-1325) ser em
boa verdade entre 1248 e 1357 que se configurou e estruturou o reino de
Portugal; em Castela, com Afonso XI, que devolveu autoridade rgia a
dignidade muitas vezes dissolvida na voragem nobiliria e nas contradies
internas da prpria realeza, factores que, desde os anos de 1260/70, tinham
conduzido a Coroa de Castela para uma instabilidade poltica e social
continuada, ainda para mais agravada por sucessivas menoridades rgias32.
O segundo perodo abre com dois reinados que verdadeiramente
marcam o incio da crise e das mutaes polticas da Baixa Idade Mdia: de
uma forma bvia com o rei castelhano, cuja vida termina tragicamente em
1369, originando uma mudana dinstica (Trastmara), seguida por um largo
perodo de instabilidade que se ir acentuar ao longo do sculo XV
sobretudo durante os reinados de Joo II e de Henrique IV at chegada
ao poder dos Reis Catlicos33; menos evidente com o monarca portugus, pai
de dois reis, D. Fernando I e D. Joo I, que tambm foram agentes de
instabilidade ou de transio dinstica (Avis), vivendo como protagonistas e

V; L.A. FONSECA, D.Joo II (Volumes 1 a 13 da coleco Reis de Portugal), Lisboa, Crculo


de Leitores, 2005-2006. A sempre esquecida ou mal-amada Rainha de Portugal Dona Beatriz
(1383-1385), filha de D. Fernando I de Portugal e mulher de Joo I de Castela, mereceu h pouco
tempo um estudo biogrfico de excepcional qualidade. Cfr. Csar OLIVERA SERRANO, Beatriz de
Portugal. La Pugna Dinstica Avs-Trastmara, Santiago de Compostela, Instituto de Estudios
Gallegos Padre Sarmiento, 2005.
32
verdade que este primeiro perodo se poderia talvez dividir em dois, tendo como charneira
os anos de 1230/1240, com a fuso definitiva de Leo e Castela, por um lado, e, por outro, com
a quase concluso do processo de Reconquista, efectivo para Portugal, com a conquista do Reino
do Algarve, em 1249, notvel tambm para Castela (Sevilha, 1248), mas no conclusivo, uma
vez que o Reino de Granada sobreviver at ao final do sculo XV.
33
Julio VALDEN BARUQUE, Los Conflictos sociales en el reino de Castilla en los siglos XIV
y XV (1986), Madrid, Ediciones Siglo XXI; Maria del Crmen CARL, ET ALII, Las Mutaciones
de los Siglos XIV y XV en Castilla. Reflexiones sobre el tema, Cuadernos de Historia de
Espaa, LXX (1988), pp. 89-152.

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vizinhos as perturbaes castelhanas. Ciclo que se encerra com D. Joo II


de Portugal (1481-1495), que de uma forma evidente deu continuidade s
anteriores polticas de centralizao e consolidao do poder rgio, com
consequncias nas relaes com a alta nobreza, a par de uma vigorosa poltica
no mbito da expanso martima e das relaes externas, nomeadamente com
os Reis Catlicos. Estes, finalmente, iniciaram uma slida poltica de cunho
centralizador, que necessariamente tambm passou pelo controle da nobreza.
A chegada Amrica, primeiro, e ndia e ao Brasil, depois, transformaria
definitivamente as relaes entre a Coroa e a Nobreza dos dois reinos
ibricos, pelo que a data da morte de D. Joo II de Portugal (1495) me parece
a mais adequada.
Para o primeiro perodo seria difcil, se no mesmo impossvel,
analisar melhor o contexto poltico dos sculos XII a XIV, do ponto de vista
deste tema, do que j foi feito por Jos Mattoso em um dos seus estudos mais
conhecidos: A Nobreza Medieval Galaico-Portuguesa. A Identidade e a
Diferena, de 198134, complementado e desenvolvido por outros dois, em
1997 e em 199935. Mas esta perspectiva tem que ser necessariamente
complementada por uma viso castelhana da questo, para o que, diga-se, no
to fcil seleccionar um nico autor36.
Em linhas muito gerais, o sculo XII caracteriza-se, na primeira
metade, por um lado, e num quadro de forte presso almorvida, pela morte
e sucesso do Imperador Afonso VI e pelo conturbado reinado de sua filha
Urraca, a braos com a sua complexa unio com Afonso I de Arago e
antagonizada pelos apoiantes, especialmente galegos, do seu filho, o depois
Imperador Afonso VII de Leo e Castela; e, por outro, pela independncia do
Condado Portucalense a partir de 1128, revelando intensas relaes entre as
nobrezas portuguesa e galega o que, de resto, configurava uma continuidade
em relao com a centria anterior, de que resultou a fixao em Portugal
de vrias linhagens com essa origem (Celanova, Soverosa e Valadares, por
exemplo).
A segunda parte do sculo XII continuou marcada pelo longo reinado
de D. Afonso Henriques e pelo do seu filho D. Sancho I, e pela nova

34
J. MATTOSO, A Nobreza medieval galaico-portuguesa. A identidade e a diferena, in Obras
Completas, 8, 2002, pp. 129-147. Como perspectiva geral continua insuperada, na minha
opinio, a sua sntese de 1982, Ricos-Homens, Infanes e Cavaleiros. A nobreza medieval
portuguesa nos sculos XI e XII, in Obras Completas. 5, Lisboa, Crculo de Leitores, 2000, pp.
11-179.
35
A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular e A Nobreza Medieval Portuguesa
(sculos X a XIV), in Obras Completas. 1, 2000, pp. 319-339 e 295-318, respectivamente (os
quais, como o Autor reconhece, eram em muito devedores dos vrios estudos dos malogrados
Professores Henrique David e Lus Krus, e que adiante se referem).
36
V.A. LVAREZ PALENZUELA, La Nobleza del Reino de Len en la Alta Edad Media, 1995,
149-329, e IDEM, Los Orgenes de la Nobleza Castellano-Leonesa, 1999, pp. 67-88; P.
MARTNEZ SOPENA, La aristocracia hispnica. Castilla y Len (siglos X-XIII), 2009; Cesar
GONZLEZ MNGUEZ, La nobleza castellano-leonesa en tiempos de Fernando IV (1295-1312): una
aproximacin desde la historia del poder, in El Tratado de Alcaices. Ponencias y comunicacio-
nes de las Jornadas conmemorativas del VII Centenario del Tratado de Alcaices (1297-1997),
Zamora, Fundacin Rei Afonso Henriques, 1999, pp. 249-277, e IDEM, El Proyecto Poltico de
la Nobleza en el Reinado de Fernando IV de Castilla (1295-1312), in Jornadas de Cultura
Hispano-Portuguesa. Actas, Madrid, Universidad Autnoma de Madrid, 1999, pp. 163-180.

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separao de Leo e Castela, morte de Afonso VII. Muito embora se


continue a assistir chegada a Portugal de linhagens de provenincia galega,
como o caso dos Limas, essa parece ser uma manifestao tardia de um
fenmeno cronologicamente anterior. Na verdade, e para alm de uma clara
aproximao entre as cortes portuguesa e leonesa, de que so expresso maior
as alianas matrimoniais de Fernando II e de Afonso IX de Leo com
princesas portuguesas, tudo leva a entender que a pujana da nobreza galega
esmorece a partir da morte do Imperador Afonso VII, e especialmente com
o cada vez maior protagonismo das nobrezas leonesa e castelhana aps a
diviso de 115737. Isso explicar as alianas de alguns magnates portugueses
com senhoras de origem leonesa, a poderosa influncia na corte dos senhores
de Bragana, com origem idntica, e os significativos exlios polticos na corte
de Fernando II e de Afonso IX de vrias figuras cimeiras da corte portuguesa,
como os alferes Mem Fernandes de Bragana, Pero Pais da Maia ou Martim
Vasques de Soverosa.
Como trao a reter desta poca, sublinharia o facto de serem
desconhecidos exemplos de fixao de linhagens portuguesas fora do reino,
para alm dos referidos exlios polticos de maior ou menor durao mas sem
implicar afastamentos definitivos, e, pelo contrrio, uma significativa entrada
em Portugal de linhagens galegas. Segundo Jos Mattoso, e num quadro de
acentuada dinmica de conquistas (Lisboa e Santarm), a nobreza portuguesa
no tinha necessidade de procurar em outros lugares o que lhe era oferecido
no seu prprio reino, ou seja, alargamento territorial e, logo, a possibilidade
de criar novos senhorios38. Adiante abordarei este aspecto com mais detalhe.
O sculo XIII inverte claramente a tendncia anterior, ou seja, assiste
a uma acentuada emigrao de nobres portugueses para Leo e Castela 39, ao
mesmo tempo que diminui a entrada de nobres do reino vizinho. Num
trabalho j com mais de vinte anos, Henrique David e eu prprio tivemos a
oportunidade de sintetizar os principais momentos dessa realidade, que agora
recupero com mais alguns detalhes40:
O reinado de D. Afonso II (1211-1223), que verdadeiramente coincide
com o incio da poltica rgia de centralizao do poder, e de que um bom
exemplo o bem conhecido confronto entre o rei e as suas irms, levando at
ao exlio trs irmos do monarca, os Infantes Pedro e Ferno Sanches e o
bastardo rgio Martim Sanches, e a mais poderosa linhagem da nobreza, os
senhores de Sousa. Alguns destes exilados passaram pela corte de Afonso IX
de Leo, mas tambm pela de Jaime I de Arago, entre os quais os
trovadores Garcia Mendes de Sousa ou Joo Soares de Paiva;

37
V.A. LVAREZ PALENZUELA, Los Orgenes de la Nobleza Castellano-Leonesa, 1999, pp.
83-87.
38
J. MATTOSO, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, pp. 327-328.
39
Preferentemente, e at unio definitiva de 1230, para a corte de Afonso IX de Leo.
40
Henrique DAVID e J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Nobres Portugueses em Leo e Castela
(Sculo XIII), in II Jornadas de Historia Sobre Andaluca y el Algarbe (Siglos XII-XVIII),
Sevilla, Universidad de Sevilla, 1990, pp. 5-20.

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O conturbado reinado de D. Sancho II (1223-1248), com a Guerra Civil


de 1245-1248, que terminou com a deposio e exlio do monarca, e a
entronizao de seu irmo, D. Afonso III (1248-1279), originando a sada de
um nmero muito considervel de nobres portugueses, presentes nas
campanhas de reconquista levadas a cabo por Fernando III e pelo Infante D.
Afonso, depois Afonso X, o Sbio, na Andaluzia e em Mrcia, sendo alguns
deles beneficiados pelos respectivos repartimientos, como to bem foi
demonstrado atravs dos estudos pioneiros de Henrique David41. Muito
embora a maioria tenha regressado a Portugal, alguns deles fixaram-se em
Castela (Barroso, Portocarreiro ou Vinhal), como veremos depois;
O reinado de D. Afonso III assistiu chegada corte portuguesa dos
Teles, parentes do monarca, a uma presena espordica dos Castro, ou ao
regresso dos Limas, mas tambm sada para Castela onde permaneciam
os Soverosa desde o exlio do monarca anterior, dos Riba de Vizela,
agastados com a renovao dos cargos curiais levada a cabo pelo Bolonhs,
entre 1261 e 1264, no quadro do reforo do poder rgio;
Os ltimos anos de reinado de Afonso X, o Sbio, especialmente os mais
dramticos da sua estncia em Sevilha, para onde se dirigiu a sua filha Dona
Beatriz, rainha viva de Portugal, acompanhada por um squito composto
por alguns membros da alta nobreza da corte portuguesa, agastados com a
atitude centralizadora do jovem D. Dinis, mas que regressaram a Portugal
depois de 1284.

Como se disse, o sculo XIII inverteu a tendncia do sculo anterior,


isto , ficou marcado pela abundante sada de portugueses para Castela e, pelo
contrrio, por uma diminuio acentuada de nobres provenientes dos reinos
vizinhos, excepo feita a alguns membros de poderosas linhagens castelhanas
que ingressam momentaneamente nos quadros cortesos da corte de D.
Afonso III, e a todo um corpo de trovadores e jograis que circulavam entre
algumas cortes senhoriais, como a dos poderosos Sousas e as cortes rgias42.
Corte Rgia, alis, e como o demonstrou de forma soberba Leontina Ventura,
que passa a ser cada vez mais o plo vertebrador do Reino e, como conse-
quncia, tambm da Nobreza43.
Portugal, de resto, no devia ser um espao muito atractivo para a
nobreza dos outros reinos peninsulares. Com efeito, e ao contrrio do que
acontecera aps a reconquista da Andaluzia e do reino de Mrcia, ou do reino
de Valncia, a Coroa portuguesa no procedera a generosas, ainda que

41
H. DAVID, Os Portugueses nos Livros de Repartimiento da Andaluzia (Sculo XIII), in
Actas das I Jornadas de Histria Medieval do Algarve e Andaluzia, Loul, Cmara Municipal,
1987, pp. 271-296, e IDEM, Os Portugueses e a Reconquista Castelhana e Aragonesa do Sculo
XIII, in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, III, Porto, INIC, 1989,
pp. 1029-1041.
42
Antnio Resende de OLIVEIRA, Trovadores Portugueses na Corte de Afonso X, in Actas
das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, IV, Porto, INIC, 1990, pp. 1335-1348;
IDEM, Arqueologia do mecenato trovadoresco em Portugal, in Actas do 2 Congresso Histrico
de Guimares, D. Afonso Henriques e a sua poca, IV, Guimares, 1997, pp. 319-327; Jos
Carlos MIRANDA, Aurs Mesclatz ab Argen. Sobre a primeira gerao de Trovadores Galego-
Portugueses, Porto, Edies Guarecer, 2004.
43
L. VENTURA, A Nobreza de Corte de Afonso III, I, pp. 509-515.

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controladas distribuies de terras pelas principais linhagens44. O Alentejo e


o Algarve eram sobretudo terra reguenga, a par de senhorios episcopais e
monstico-militares45. Pelo contrrio, e exceptuando os perodos mais
conturbados do incio do sculo XIII, depois das Navas, como a morte de
Pedro II em Muret ou a morte acidental e prematura de Henrique I de Castela,
os reinados de Jaime I de Arago, ou de Fernando III e de Afonso X de
Castela foram, globalmente, de expanso, tanto para aquelas Coroas como
para os respectivos grupos senhoriais.
Chegamos, por fim, ltima fase do primeiro perodo desta anlise
a qual, grosso modo, percorre o ltimo quartel do sculo XIII e a primeira
metade do sculo XIV. Uma fase, por coincidncia, verdadeiramente decisiva
para as histrias futuras dos reinos portugus e castelhano, mas com um
sentido muito distinto.
Em Portugal, com efeito, vivem-se os ltimos anos de um reinado que
se caracteriza pela firmeza e sentido poltico de um monarca, D. Afonso III,
a quem porventura se devem os fundamentos essenciais do Estado portugus46,
seguido pelo longo reinado de D. Dinis, marcado, entre outros aspectos, pelo
aperfeioamento dos mecanismos de governo lanados e desenvolvidos pelo
seu antecessor, pela resoluo dos confrontos com o clero e, sobretudo, pela
vontade frrea e obstinada do monarca em controlar os abusos e privilgios
senhoriais47, e, por fim, pelo de D.Afonso IV, no menos firme e autoritrio
no exerccio da potestas regia. Os passos dados no caminho para a centrali-
zao rgia foram decisivos neste perodo, e os sobressaltos derivados dos
protestos clericais ou da pouco consequente revolta nobilirquica de 1319-
24, no chegaram sequer a empalidecer os objectivos conseguidos pelos trs
monarcas48.
Em Castela, pelo contrrio, e pese embora o magnfico edifcio
jurdico e centralizador gizado pelo Sbio Afonso X, a capacidade para o
concretizar foi embotada por uma srie de fracassos pessoais do monarca,
como o sonho imperial, por diversas revoltas internas bastante graves, como
a dos mudjares e da nobreza, acrescidas pela fatalidade do desaparecimento

44
Sobre os repartimientos andaluzes do sculo XIII, veja-se, por todos, M. GONZLEZ
JIMNEZ, En torno a los orgenes de Andaluca. La repoblacin del siglo XIII, Sevilla,
Universidad de Sevilla, 1988; IDEM, La obra repobladora de Fernando III en los reinos de Jan
y Crdoba, Archivo Hispalense. Revista Historica, Literria y Artstica, 2 poca,
LXXVII/234-235-236 (1994), pp. 287-312; IDEM, Poblamiento en la Baja Andaluca: de la
repoblacin a la crisis (1250-1340), in Europa en los Umbrales de la Crisis: 1250-1340, Actas
de la XXI Semana de Estudios Medievales de Estella, 18 al 22 de jlio de 1994, Pamplona,
Gobierno de Navarra, 1995, pp. 63-86.
45
Sobre o processo de senhorializao do territrio, e especialmente do controlo rgio sobre
os territrios situados a sul do rio Tejo, cfr. J. A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais
Portuguesas, II, pp. 495-509, e IDEM, A participao da nobreza na Reconquista e nas Ordens
Militares, in As Ordens Militares e as Ordens de Cavalaria entre o Ocidente e o Oriente, Actas
do V Encontro sobre Ordens Militares (Palmela, 15 a 18 de Fevereiro de 2006), Palmela,
Cmara Municipal/GEsOS, 2009, pp. 143-155.
46
J. MATTOSO, 1258-1264: o triunfo da monarquia portuguesa, pp.529-560.
47
J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, D. Dinis e a Nobreza nos finais do sculo XIII, Revista da
Faculdade de Letras-Histria, II Srie, X (1993), Porto, pp.90-101.
48
IDEM, D. Dinis, pp. 189-200.

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do Infante herdeiro D. Fernando de Lacerda, em 127549. Os ltimos anos do


reinado de Afonso X significam, porventura, um dos passos mais amargos e
dramticos dos anais rgios castelhanos50. Num quadro diplomtico peninsular
muito complexo, Sancho IV no teve tempo nem oportunidade para conduzir
a coroa castelhana no sentido da centralizao51, e as menoridades de
Fernando IV e de Afonso XI s serviram para acentuar o poder e a arrogncia
das grandes linhagens aristocrticas, enfrentadas, a par dos numerosos
membros da famlia real, pelo controle dos jovens prncipes e das regncias52.
O governo efectivo de Afonso XI, a partir de 1325, muito embora
enrgico, e em alguns aspectos concretizador dos ideais de Afonso X, no foi
suficiente para colocar o reino castelhano num patamar de centralizao
idntico ao conseguido pelos seus pares portugueses. Olhado distncia, tem
mais os contornos da calmaria que precede a tempestade, do que da bonana
que lhe sucede.
Quanto circulao de nobres, como se poder prever, no diferiu
muito de sentido em relao ao momento anterior, ou seja, sada considervel
de nobres portugueses, mas agora com uma maior diversidade de situaes,
e poucos casos de fixao de nobres vindos para Portugal, muito embora de
elevado estatuto.
Do lado dos que saram, salientem-se desde logo os irmos de
D.Dinis: as Infantas Dona Branca53 e Dona Sancha, e sobretudo o Infante
D.Afonso, Senhor de Portalegre, acrrimo inimigo do monarca seu irmo,
aliado pelo seu casamento e pelos das suas filhas s primeiras linhagens
castelhanas, e que s conseguiu perder todos os importantes senhorios que
constituram o apannage que o seu pai lhe destinara54. Mais tarde, seria a vez
dos bastardos de D.Dinis seguirem o caminho do exlio, primeiro o clebre

49
M.-A. LADERO QUESADA, Los Estados Peninsulares a la Muerte de Alfonso X El Sbio,
1976, pp. 311-337; IDEM, La situacin poltica de Castilla a fines del siglo XIII, in Congreso
Internacional, Jaime II 700 Aos Despus. Actas, Alicante, 1997, pp. 241-264.
50
Antnio BALLESTEROS BERETTA, Alfonso X El Sbio, Barcelona, Ediciones El Albir, 1984;
M. GONZLEZ JIMNEZ, Alfonso X, 1252-1284, Palencia, Ed. La Olmeda, 1999; IDEM, La
sucesin al trono de Castilla, in Congreso Internacional, Jaime II 700 Aos Despus. Actas,
Alicante, 1997, pp. 201-212.
51
Mercedes GAIBROIS DE BALLESTEROS, Historia del reinado de Sancho IV de Castilla, 3
vols., Madrid, Real Academia de la Historia, 1922-1929; Jos Manuel NIETO SORIA, Sancho IV,
1284-1295, Palencia, Ed. La Olmeda, 1994.
52
C. GONZLEZ MNGUEZ, Fernando IV de Castilla (1295-1312). La Guerra Civil y el
Predominio de la Nobleza, Valladolid, Universidad de Valladolid, 1976; IDEM, Fernando IV,
1295-1312, Palencia, Ed. La Olmeda, 1995; IDEM, La Minoria de Fernando IV de Castilla (1295-
1301), in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, As Relaes de Fronteira no
Sculo de Alcanices. Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 1071-1084; IDEM, La
nobleza castellano-leonesa en tiempos de Fernando IV (1295-1312, 1999, pp. 249-277; IDEM, El
Proyecto Poltico de la Nobleza, 1999, pp. 163-180. M. GARCA FERNNDEZ, Jaime II y la
minora de Alfonso XI (1312-1325), 1991, pp. 143-181; IDEM, Don Dionis de Portugal y la
Minoria de Alfonso XI de Castilla, 1992, pp. 25-51.
53
Faustino MENNDEZ-PIDAL DE NAVASCUS, Algunos Monumentos Herldicos portugueses
en Espaa, Armas e Trofus, II Srie, IV/1 (1963), pp. 34-43.
54
Bernardo de S NOGUEIRA, A constituio do senhorio fronteirio de Marvo, Portalegre
e Arronches, em 1271. Antecedentes regionais e significado poltico, A Cidade, Revista Cultural
de Portalegre, 6, Nova Srie (1991), pp. 19-45; J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens
Medievais Portuguesas, I, pp. 171-173.

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Conde D.Pedro de Barcelos, incompatibilizado com o pai, e depois o filho


querido, Afonso Sanches, Senhor de Albuquerque, sacrificado paz entre o
monarca e o Infante herdeiro D.Afonso. Como lgico, no faltaram os
descontentes com a poltica de controlo senhorial levada a cabo pelo Rei
Poeta, como D.Mem Rodrigues de Briteiros ou o 2. Conde de Barcelos,
D.Martim Gil II de Riba de Vizela, filho e neto de outros exilados polticos55.
Mas h um outro conjunto interessante de emigrados, que vamos
encontrar ao servio de poderosos senhores castelhanos, como D.Joo e
D.lvaro Nunes de Lara, ou que, por sua conta ou integrando tropas de
auxlio aos reis castelhanos, perderam a vida na fronteira de Granada ou nos
sucessos da Guerra do Estreito56.
Quanto aos nobres vindos para Portugal, o destaque vai para alguns
refugiados polticos, como D. Joo Afonso Telo II, depois 1. Conde de
Barcelos, D. Pedro Fernandes de Castro, D. lvaro Nunes de Lara e D. Joo
Afonso de Lacerda, e depois alguns nobres aragoneses que integravam o
squito de Dona Isabel de Arago, como o seu meio-irmo, D. Pedro e D.
Raimundo de Cardona57, sem esquecer a insinuante figura de Dona Vataa,
casada na corte portuguesa com o rico-homem D. Martim Anes de Soverosa58.
Serve esta referncia feminina para recordar, como se calcular, os mltiplos
casamentos entre nobres portugueses e senhoras castelhanas, como o
contrrio, abundantemente citados pelos nobilirios medievais.
Todos os autores reconhecem que a fase final deste perodo significou
um grave enfraquecimento da autoridade rgia, mesmo tendo em conta o
governo de Afonso XI, e, na mesma proporo, um desmesurado reforo do
poder senhorial e nobilirquico. Pelo contrrio, Portugal ficava marcado por
uma srie de reinados centralizadores, com monarcas empenhados no reforo
do poder rgio e no controle dos grupos privilegiados, laicos como eclesisti-
cos.
Num quadro global com estas caractersticas, o reino portugus estava
longe de se apresentar como vantajoso para a ambio dos nobres castelhanos,
seguramente bem informados dos infortnios dos seus pares lusitanos. A
liberalidade dos reis portugueses era dirigida sobretudo para os seus filhos,
preferentemente bastardos, ou para uns poucos de validos. O caso da
concesso do condado de Barcelos, como j tive a oportunidade de sublinhar,
paradigmtico do que acabo de afirmar. Um monarca, como D. Dinis, que
no descansou enquanto no recuperou para a Coroa todos os senhorios
criados pelo pai a sul do Tejo, e que manteve uma poltica obstinada de
controlo do poder senhorial, pagou os servios de D. Joo Afonso Telo,

55
IDEM, D. Dinis e a Nobreza, pp. 90-101.
56
J. MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular, pp. 332-333; M.A.
LADERO QUESADA, Portugueses en la frontera de Granada, En la Espaa Medieval, 23 (2000),
pp. 67-100.
57
J. MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular, pp. 334.
58
M.H. C. COELHO e L. VENTURA, Vataa, uma dona na vida e na morte, in Actas das II
Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, I, Porto, INIC, 1987, pp. 159-193.

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porventura o principal artfice de Alcaices, com o primeiro ttulo de conde


que houve em Portugal, certo, mas com um condado situado numa regio
onde nunca poderia crescer, tantos eram os senhorios e coutos que o
rodeavam59. Ao seu cunhado, bastardo do seu sogro Pedro III de Arago, no
deu qualquer senhorio.
De facto, no de estranhar, como refere Jos Mattoso, que os
autores dos livros de linhagens portugueses do sculo XIV revelem o fascnio
crescente pela alta nobreza que rodeia a corte castelhana60, ou, nas palavras
de Lus Krus, que a nobreza de corte castelhana fosse o padro para aferir
a fama e a riqueza dos vares peninsulares61.
Para quem, como eu, circula mais habitualmente entre os sculos XII
e incio do XIV, os ltimos 150 anos medievais tm contornos que raiam j
o paroxismo barroco: Peste Negra, Guerra dos 100 Anos, Fomes, Crise
Demogrfica, Cisma do Ocidente, Navegaes Ocenicas, Turcos, Mudanas
Dinsticas, Revoltas Urbanas, Guerras Sucessrias, Pregaes, Perseguies
Religiosas, Imprensa, Ars Moriendi Enfim, e como diria o senescal Joinville
a Filipe o Belo, nada que chegue aos bons velhos tempos do meu senhor S.
Lus!
A circulao de nobres entre Portugal e Castela, durante a segunda
metade do sculo XIV e o sculo XV, atingiu um verdadeiro pico de
intensidade, com alguns momentos, portanto, espectaculares. O seu impacto
na sociedade e na poltica dos dois reinos, de resto, no passou desapercebido
maioria dos historiadores tardo-medievais, particularmente a partir da
dcada de 196062.

59
J.A. SOTTO MAYOT PIZARRO, Condado de Barcelos. Significado histrico-poltico da sua
concesso e primeiros titulares, in Barcelos Terra Condal. Comemoraes, Barcelos, Cmara
Municipal, 1998, pp.91-118; IDEM, Linhagens Medievais Portuguesas, II, pp. 510-511.
60
Jos MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto (), pp. 335.
61
Lus KRUS, A Concepo Nobilirquica (), p. 80.
62
Salvador Dias ARNAUT, A Crise Nacional dos Fins do Sculo XIV. I, A sucesso de D.
Fernando, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1960; S. de MOX, La Nobleza Castellana en
el Siglo XIV, Anuario de Estudios Medievales, VII (1970-71), pp. 493-511; Emilio MITRE
FERNNDEZ, La emigracin de nobles portugueses a Castilla a fines del siglo XIV, Hispania,
XXVI (1966), pp. 513-525; IDEM, El asentamiento de nobles portugueses en el reino de Len
bajo los primeros Trastmaras, Archivos Leoneses, 42 (1967), pp. 363-371; IDEM, Poltica
Exterior Castellana y Reestructuracin Nobiliria Bajo los Primeros Trastmara (1369-1406),
in La Pennsula Ibrica en la Era de los Descubrimientos, 1391-1492, Actas de las III Jornadas
Hispano-Portuguesas de Historia Medieval, I, Sevilla, 1997, pp. 529-549; Eduardo PARDO DE
GUEVARA Y VALDS, Castilla y Portugal: las dos fidelidades de D. Pedro Fernndez de Castro,
in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, I, Porto, INIC, 1987, pp. 223-
232; H. BAQUERO MORENO, Exilados portugueses em Castela durante a crise dos finais do sculo
XIV (1384-1388), in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, I, Porto,
INIC, 1987, pp. 69-101; IDEM, Exilados, Marginais e Contestatrios na Sociedade Portuguesa
Medieval, Lisboa, Editorial Presena, 1990; IDEM, A nobreza portuguesa na poca anterior ao
Tratado de Tordesilhas, in Las instituciones castellano-leonesas y portuguesas antes del Tratado
de Tordesillas, Valladolid, 1995, pp. 111-119; IDEM, Os Confrontos Fronteirios entre D. Afonso
V e os Reis Catlicos, in La Pennsula Ibrica en la Era de los Descubrimientos, 1391-1492.
Actas de las III Jornadas Hispano-Portuguesas de Historia Medieval, II, Sevilla, 1997, pp.
1705-1715; IDEM, Relaes Castelhano-Portuguesas no Sculo XV: os Exilados Polticos, in
Jornadas de Cultura Hispano-Portuguesa. Actas, Madrid, Universidad Autnoma de Madrid,
1999, pp. 93-103; Lus SUREZ FERNNDEZ, Monarquia hispana y revolucin Trastmara,
Madrid, Real Academia de la Historia, 1994; Rafael SNCHEZ SESA, Don Pedro Tenorio (c.
1328-1399). Aproximacin a la Vinculacin Eclesistica, Familiar y Poltica de un Arzobispo
Toledano al Reino de Portugal, in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval. As

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Sintetizemos, quanto possvel, os principais momentos da Histria


poltica portuguesa e castelhana que propiciaram essa dinmica:
No sculo XIV, como natural, as mudanas dinsticas. Em Castela, as
perseguies movidas por Pedro I, o Cruel, e todos os sucessos que acabaro
por conduzir ao trono o seu irmo, o bastardo Henrique II de Trastmara, em
1369, trouxeram para Portugal refugiados dos dois partidos, com especial
notoriedade para os petristas, sobretudo galegos, abandeirados em torno de
D. Fernando de Castro. Em Portugal, e para alm dos perseguidos por Pedro
I, o Cruel, pela morte de Dona Ins de Castro, destacam-se os exilados na
sequncia da crise dinstica aps a morte de D. Fernando I, em 1383, e que
conduziu ao trono outro bastardo D. Joo, Mestre de Avis, muito embora
o principal fluxo de sadas ocorra na dcada de 1390.
No sculo XV, o destaque vai para o perodo da regncia do Infante D.
Pedro (1439-1449), com alguns exlios durante aquela e aps a sua morte em
Alfarrobeira, e a passagem para Portugal de alguns nobres, especialmente
galegos, que apoiaram D. Afonso V na guerra da sucesso de Castela, aps
a morte de Henrique IV. J no final do perodo, no reinado de D. Joo II,
mais alguns portugueses passam para Castela, aquando das conspiraes
contra o monarca, sobretudo ligados Casa de Bragana.

Em termos globais, parece existir um certo equilbrio na passagem de


nobres entre os dois reinos. Creio, porm, que esse equilbrio mais aparente
do que real, uma vez que so muito mais numerosos os exlios definitivos por
parte dos portugueses do que dos castelhanos. Percebe-se porqu: o fundador
da dinastia Trastmara, com justia ou no, ficou conhecido pelo cognome de
o das Mercs, em virtude dos senhorios que concedeu aos seus familiares e
principais apoiantes; o fundador da dinastia de Avis ficou conhecido por ter
idealizado a Lei Mental concebida para recuperar os senhorios doados pela
Coroa que cassem em sucesso feminina, e o nico dos seus apoiantes
verdadeiramente recompensado foi D. Nuno lvares Pereira. Comparar o que
os Cunha, os Pacheco ou os Pimentel receberam em Castela com o que coube
em sorte aos Lima ou Andrade um exerccio esclarecedor. Mas, para este
perodo, h uma nota importante: extintas em Castela, as seculares linhagens
dos Meneses e dos Castros passam a estar representadas em Portugal, na
companhia de uma nova linhagem, e de justa prospia pela dupla ascendncia
rgia, portuguesa e castelhana os Noronhas.
Tido como bastante generoso, perdulrio mesmo, foi D. Afonso V,
verdade, mas a sua criticada liberalidade para com a Nobreza fica muito

Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices. Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998,


pp. 1479-1492; F.R. FERNANDES, Os exilados castelhanos no reinado de Fernando I de Portugal,
En la Espaa Medieval, 23 (2000), pp. 101-115; Paz ROMERO PORTILLA, Exiliados en Castilla
en la segunda mitad del siglo XIV. Orgen del partido portugus, in Poder y sociedade en la baja
Edad Media hispnica, Estudios en homenaje al profesor Lus Vicente Daz Martn, Valladolid,
2002, pp. 519-539; C. OLIVERA SERRANO, Linajes portugueses exiliados en Castilla a fines del
siglo XIV, in Actas de la XI Reunin Americana de Genealoga. Espaa y Amrica, un escenario
comn, Santiago de Compostela, CSIC-Xunta de Galicia, 2005, pp. 481-486.

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DE E PARA PORTUGAL 909

aqum do que ocorreu nos reinados de Joo II ou de Henrique IV de Castela,


momentos quase estonteantes de engrandecimento nobilirquico63.
Que a ironia de algumas afirmaes anteriores, porm, no faa
esquecer a verdadeira razo de ser dessas diferenas. Portugal, com a nova
dinastia, manteve, de uma maneira geral, o rumo da centralizao traado
desde muito antes, e s assim se pode entender a poltica expansionista,
atlntica e norte-africana dos monarcas portugueses de Quatrocentos. Em
Castela, pelo contrrio, a monarquia Trastmara viveu momentos de
debilidade quase impensveis, fruto de acasos e da incapacidade de alguns
monarcas, certo, mas sobretudo pela existncia de um corpo de privilegiados
incomparavelmente mais poderoso do que o portugus64.

3. DE PORTUGAL:
A EMIGRAO DE LINHAGENS PORTUGUESAS
Ao tratar, agora, com algum detalhe, os casos de sada de nobres
portugueses para Castela, no poderei referir todos os casos conhecidos,
bastante bem conhecidos e divulgados, alis, num nmero muito considervel
de estudos ou de colectneas documentais65. De resto, e como j tem sido
sublinhado por vrios autores, essas sadas, at por serem na maior parte dos
casos exlios polticos, no duravam muito tempo. Nessas circunstncias, s
referirei casos de inegvel relevncia.
Interessa-me, sobretudo, analisar os casos de ausncia muito
prolongada, ou mesmo de fixao definitiva em Castela, e tentar encontrar
indcios de ligao entre exilados em momentos prximos, ou de ligaes de
novos exilados com descendentes de nobres sados em tempos mais recuados.
Essa constatao permitir aferir o grau da pervivncia da memria das razes
familiares, e da permanncia, ou no, de contactos com o reino de origem.
Finalmente, avaliar a dimenso do poder social e poltico conseguido alm-
fronteiras. Critrios que, como bvio, sero observados quando analisar os
casos de passagem de nobres castelhanos para Portugal.

* * *

63
M.C. QUINTANILLA RASO, La nobleza en la historia poltica castellana en la segunda mitad
del siglo XV, in Congresso Internacional sobre Bartolomeu Dias e a sua poca, I, Porto,
Universidade do Porto-CNCDP, 1989, pp. 181-200; Fernando SUREZ BILBAO, La Transforma-
cin de la Institucin Nobiliria en tiempos de Enrique III, in Medievo Hispano, Estudios In
Memoriam del Prof. Derek W. Lomax, Madrid, SEEM, 1995, pp. 345-360; Mara Jos GARCA
VERA, Poder nobiliario y poder politico en la corte de Enrique IV (1454-1474), En la Espaa
Medieval, 16 (1993), pp. 223-237; Mara Isabel del VAL VALDIVIESO, Los bandos nobilirios
en el reinado de Enrique IV, Hispania, XXV (1975), pp. 249-293; M.A. LADERO QUESADA,
Los Reyes Catlicos y la Nobleza en Espaa, in Hispnia-Austria. Los Reyes Catlicos,
Maximiliano I y los incios de la Casa de ustria en Espaa, Actas del Coloquio Histrico,
Innsbruck, julio de 1992, Mnchen, 1993, pp. 68-85.
64
E. CABRERA, Los Grupos Privilegiados en Castilla, 265-290, e M.H. C. COELHO, O Peso
dos Privilegiados em Portugal, pp. 291-314.
65
Muitos deles referidos por J. MATTOSO, A Nobreza medieval galaico-portuguesa, pp. 129-
147, e IDEM, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto, pp. 319-339.

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Durante o sculo XII, e como ficou dito, no so conhecidos casos de


sada definitiva de nobres portugueses para Leo ou Castela, nem mesmo,
eventualmente, nos squitos das duas princesas portuguesas que desposaram
Fernando II e Afonso IX de Leo, uma vez que tero regressado a Portugal
quando os matrimnios foram anulados canonicamente. Contudo, devem ser
sublinhados os casos dos exlios dos alferes de D. Afonso Henriques, primeiro
de D. Mem Fernandes de Bragana, que de imediato foi nomeado alferes-mor
por Fernando II de Leo, entre 1156 e 115966 inaugurando uma longa srie
de exlios de membros da linhagem, o mesmo ocorrendo com D. Pero Pais
da Maia em 1171 e 117267, depois de ter sido o alferes do rei portugus at
ao desastre de Badajoz (1169), s regressando a Portugal depois da morte de
D. Afonso Henriques68.
O sculo XIII, pelo contrrio, foi abundante em sadas de portugue-
ses. O momento mais significativo foi o final da dcada de 1240, quando uma
srie de apoiantes de D. Sancho II o acompanham no exlio em Toledo,
participando em vrias campanhas da reconquista andaluza e beneficiando dos
respectivos repartimientos69. A maior parte regressou depois a Portugal, mas
alguns ficaram em Castela, como veremos j a seguir.
Antes, porm, e como j ficou apontado, no se pode deixar de
sublinhar no incio da centria as sadas definitivas de dois filhos de D.
Sancho I, os Infantes Fernando Sanches e Pedro Sanches, ambos agastados
com a atitude centralizadora do seu irmo mais velho e novo monarca, D.
Afonso II (1211-1223): o primeiro veio a ser conde da Flandres e o segundo
foi mordomo-mor de Afonso IX de Leo at 1230, passando depois para a
corte de Jaime I de Arago, onde foi conde de Urgel e senhor de Maiorca70.
Vejamos ento os outros casos. Nenhum emigrado portugus ter
ficado to conhecido nos anais peninsulares de Duzentos como o clebre
Mestre de Santiago, D. Paio Pires Correia. A sua trajectria a partir de 1243
bem conhecida, tanto pelo seu papel em vrias campanhas de reconquista,
como Mrcia ou Sevilha, como pela sua incondicional lealdade a Afonso X
de Castela71. Mas tambm, e este aspecto relevante, porque ter sido um
elemento aglutinador de muitos dos seus familiares, directos ou colaterais, que
se exilaram com D. Sancho II, como acima referi.
Entre eles destacam-se os seus primos co-irmos Gonalo Anes e
Martim Anes do Vinhal, presentes na conquista de Mrcia e de Sevilha.

66
J. SALAZAR Y ACHA, La Casa del Rey de Castilla y Len en la Edad Media, Madrid, Centro
de Estudios Polticos y Constitucionales, 2000, p. 418.
67
IDEM, ibidem, p. 420.
68
J. MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto, p. 326.
69
Ver a bibliografia indicada nas notas 38 e 39.
70
J. SALAZAR Y ACHA, La Casa del Rey, pp. 371-372; IDEM, El elemento portugus en la
formacin de la alta nobleza castellana de los siglos XIV y XV, Anales de la Real Academia
Matritense de Herldica y Genealoga, IX (2006), p. 509.
71
J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesa, II, pp. 391-392. Sobre a
sua importncia no mbito da milcia santiaguista, cfr. Carlos de AYALA MARTNEZ, Las rdenes
Militares Hispnicas en la Edad Media (Siglos XII-XV), Madrid, Marcial Pons Historia/Latorre
Literria, 2003.

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DE E PARA PORTUGAL 911

Enquanto o segundo acabou por regressar a Portugal, sendo rico-homem de


D.Afonso III e ainda de D.Dinis, o primeiro, conhecido trovador, ficou em
Castela, onde recebeu vrias doaes rgias, entre as quais a vila e castelo de
Polei; alterando o topnimo para Aguiar o seu apelido materno a origem
da actual Aguilar de la Frontera. Sepultado na capela real de San Clemente,
que Afonso X lhe deu na Mesquita-Catedral de Crdova, foi o fundador da
Casa de Aguilar, uma das mais importantes do entorno cordovs72.
Um caso singular de emigrao ocorre com Pero Gomes Barroso,
outro conhecido trovador. Presente nas campanhas de Mrcia e de Sevilha,
e beneficiado pelo repartimiento de Orihuela, acabou por se fixar em Toledo,
onde casou com a filha de um anterior emigrado, Ferno Pires de Azevedo73.
Ali deu origem a uma ilustre linhagem toledana, muito ligada a um ramo dos
Sotomayor, sendo os ascendentes maternos do clebre cronista Pedro Lpez
de Ayala, sobrinho-neto materno do arcebispo de Cartagena e cardeal D.Pero
Gomes Barroso, em tempos de Afonso XI de Castela. curioso sublinhar
que, num texto genealgico da autoria do pai do cronista, altamente
valorizada a prospia dos Azevedo-Barroso74.
Finalmente, uma referncia obrigatria aos Portocarreiro, cuja
trajectria foi recentemente estudada por Leontina Ventura75. Em linhas muito
gerais, o primeiro membro da linhagem referenciado em Castela D. Ferno
Anes, deo de Braga, e cujo nome est associado fundao, por Fernando
III, do estudo geral de Salamanca, em 124376. Capelo do Papa, conselheiro
de D. Afonso III e privado de Afonso X, o Sbio, deve ter influenciado a
passagem a Castela de um seu sobrinho, Martim Pires de Portocarreiro,
privado de Sancho IV, e pai e av de privados e vassalos de Fernando IV e
de Afonso XI, com bens em San Felices de los Gallegos. Um sobrinho-neto
de Ferno Anes, Martim Fernandes de Portocarreiro, foi o fundador da linha
mais afortunada. Radicado em Castela desde 1300, foi adiantado-mor de Leo
e Astrias e privado de Fernando IV. O seu filho homnimo recebeu de
Afonso XI o senhorio de Villanueva del Fresno e casou com a herdeira do
senhorio de Moguer (Huelva), senhorios mantidos na sua descendncia
(Marqueses de Villanueva del Fresno, Condes de Puebla e Condes de
Medelln)77.

72
Antnia VIEZ SNCHEZ, Reconstruccin histrico-biogrfica del trovador Gonzalo Ib-
ez de Aguilar, in Actas do XIX Congreso Internacional de Lingustica e Filoloxa Romnicas,
VII, A Corua, Fundacin Pedro Barri de la Maza, 1994, pp. 717-729.
73
Tambm referidos por Jean-Pierre MOLENAT, Campagnes et Monts de Tolde du XIIme
au XVme sicle, Madrid, Casa de Velsquez, 1998.
74
A. DACOSTA, El Libro de los Seores de Ayala Vitoria, 2007; Juan TORRES FONTES,
Galicia en la Repoblacin Murciana del Siglo XIII, in Galicia en la Edad Media, Actas del
Colquio, Madrid, SEEM, 1990, pp. 181-189
75
L. VENTURA, Os Portocarreiro: um percurso luso-castelhano (sculos XI-XV), in El
Condado de Benavente. Relaciones Hispano-Portuguesas en la Baja Edad Media, Benavente,
Centro de Estudios Benaventanos Ledo del Pozo, 2001, pp. 95-127.
76
Jos ANTUNES, Portugueses no Processo Histrico da Fundao da Universidade de
Salamanca, Revista de Histria das Ideias, 12 (1990), pp. 19-53.
77
Antonio GONZLEZ GMEZ, Moguer en la Baja Edad Media (1248-1538), Huelva,
Diputacin Provincial de Huelva, 1977.

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Durante a crise dinstica do final do sculo XIV, mais um de


Portocarreiro passou a Castela, agora um descendente de outro sobrinho do
deo de Braga, Joo Rodrigues de Portocarreiro, mordomo-mor de Dona
Beatriz, que acompanhou a Rainha de Portugal e Castela no seu longo exlio
de Toro, cidade onde fundou um novo ramo desta linhagem, verdadeiramente
peninsular78.
Atravs dos Portocarreiro situamo-nos j nos reinados de D. Dinis e
de D. Afonso IV, dos quais apenas destacaria: o exlio e a morte em Castela
do 2 Conde de Barcelos e mordomo-mor do Infante D. Afonso, D. Martim
Gil de Riba de Vizela II, em 1312, no que parece indcio de sina familiar o
seu av e o seu pai estiveram exilados em Castela no tempo de D. Sancho II
e de D. Afonso III79; a sada de Estvo Pires Froio, que em 1286 aparece
como Guarda-mor de Sancho IV, Adiantado-mor de Leo e Meirinho-mor da
Galiza, casando e deixando descendncia em Castela80; finalmente, o clebre
bastardo rgio Afonso Sanches, falecido em Castela j durante o reinado do
seu irmo e inimigo, D. Afonso IV81. Foi pai de D. Joo Afonso, senhor de
Albuquerque e Meneses, mordomo-mor da Rainha Dona Maria, aio e alferes-
mor de Pedro I de Castela, e uma das suas vtimas, morrendo envenenado em
1354, tal como o seu nico filho legtimo e herdeiro, Martinho, assassinado
em 136782. O seu filho bastardo, D. Fernando, foi o fundador da famlia
Albuquerque, de varonia rgia portuguesa e com um apelido que perpetuou
o nome de um dos mais antigos senhorios castelhanos.
Chegados segunda metade do sculo XIV, e dadas as limitaes de
espao, no referirei os Sousas de Crdova, tambm com capela funerria na
Mesquita-Catedral83, ou os Silvas, descendentes de Aires Gomes, o Moo, em
cuja descendncia surgiro, nos reinados de Joo II e Henrique IV os Condes
de Cifuentes, Alferes-mores do Pendo Real de Castela, e mais tarde os
Duques do Infantado, Lerma, Hjar e Pastrana84; ou os Fonseca, entre os quais
se destacam Pero Rodrigues da Fonseca, pela sua lealdade a Dona Beatriz e
tambm fixado em Toro, o seu filho homnimo, o clebre Cardeal Fonseca,
e um neto, no menos clebre arcebispo de Santiago85.

78
Jos Ignacio MORENO NEZ, Los Portocarrero de Toro, Linaje de Ascendencia
Portuguesa. Su afincamiento y consolidacin en Castilla, in Actas das II Jornadas Luso-
Espanholas de Histria Medieval, III, Porto, INIC, pp. 993-1028; J. SALAZAR Y ACHA, El
elemento portugus, p. 514.
79
Sobre estes ricos-homens, cfr. J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais
Portuguesas, I, pp. 535-555.
80
IDEM, ibidem, II, pp. 313-314.
81
IDEM, ibidem, I, pp. 191-196.
82
Esteban RODRGUEZ AMAYA, Don Juan Alfonso de Albuquerque. Canciller de D. Pedro
El Cruel, Badajoz, Diputacin Provincial, 1949.
83
Mara ngeles JORDANO BARBUDO, Linajes de Crdoba en las Capillas Funerrias
Medievales de la Mezquita-Catedral, Meridies, V-VI (2002), pp. 155-170.
84
J. SALAZARY ACHA, El elemento portugus, pp. 523-525.
85
E. PARDO DE GUEVARA Y VALDS, Fonseca o Sotomayor: la nobleza gallega ante el
pleito sucesorio entre doa Isabel y doa Joana, Anuario de Estudios Medievales, 15 (1985),
pp. 561-569; A. SAGARRA GAMAZO, El protagonismo de la famlia Fonseca, oriunda de Portugal
y asentada en Toro, en la poltica castellana hasta el descobrimiento de Amrica, Anuario del

ANUARIO DE ESTUDIOS MEDIEVALES (AEM), 40/2, julio-diciembre 2010, pp. 889-924. ISSN 0066-5061
DE E PARA PORTUGAL 913

Restrinjo-me, por isso, a trs linhagens, verdadeiramente emblemti-


cas deste perodo de emigrao portuguesa: Pimentel, Pacheco e Cunha86:
Joo Afonso Pimentel, chefe da linhagem e cunhado da Rainha Dona
Leonor Teles, oscilar entre a lealdade a Dona Beatriz e ao Mestre de Avis,
acabando por passar a Castela j no reinado de Henrique III, que o far
Conde de Benavente em 1398, ttulo que se manteve na sua descendncia
directa at ao sculo XVII87.
Joo Fernandes e o seu meio-irmo Lopo Fernandes, filhos de Diogo
Lopes Pacheco, um dos carrascos de Dona Ins de Castro, vo ser,
curiosamente, apoiantes dos seus filhos, os Infantes D. Joo e D. Dinis. A
nica filha de Joo Fernandes e de Dona Ins Teles de Meneses, foi a me
do clebre D. Joo Pacheco, que referirei em breve88.
Trs filhos de D. Vasco Martins da Cunha, o grande defensor dos direitos
do Infante D. Joo nas Cortes de Coimbra de 1385 passaram a Castela:
Martim Vasques, Gil Vasques progenitor dos Senhores de Rueda, e
Lopo Vasques, pai do 1 Conde de Buendia, do 1. Duque de Huete e de
Don Alonso Carrillo, famoso Arcebispo-Primaz de Toledo. Quanto a Martim
Vasques, notvel pelo grande valimento junto de Henrique III e Fernando
de Antequera, e tambm pela descendncia dos seus dois matrimnios, o
segundo dos quais com uma filha do prprio Infante D. Joo, o que fez de
Martim Vasques 1 Conde de Valncia de Don Juan Pedro continuou o
condado, Henrique deu origem aos Marqueses de Escalona e Casafuerte,
Fernando, tronco dos Condes de Requena e Beatriz, me do primeiro Conde
de Luna. Do primeiro casamento, com Teresa Telles Girn, teve a Afonso
Telles Girn, que pelo seu casamento com a filha de Joo Fernandes
Pacheco, foi o pai de D.Joo Pacheco e D.Pedro Girn, os quais usaram
apelidos maternos, mas que na verdade eram Cunhas89.

Instituto de Estudios Zamoranos Florin Ocampo, Zamora, 1993, pp. 421-457; C. OLIVERA
SERRANO, Un exiliado portugus en Castilla: Pedro Rodrguez de Fonseca, in Poder y sociedade
n la baja Edad Media hispnica, Estudios en homenaje al profesor Lus Vicente Daz Martn,
Valladolid, 2002, pp. 495-503; J. SALAZAR Y ACHA, El elemento portugus, p. 526.
86
Duas obras capitais para compreender a integrao destas linhagens portuguesas no quadro
das relaes rgio-nobilirquicas castelhanas, Lus SUREZ FERNNDEZ, Nobleza y Monarqua.
Entendimiento y Rivalidad, Madrid, La Esfera de los Libros, 2003, e C. OLIVERA SERRANO,
Beatriz de Portugal, Santiago de Compostela, 2005.
87
ngel GONZLEZ PALENCIA, Los Condes de Benavente y Portugal, Revista de Histria,
XII (1923), pp. 161-177; I. BECEIRO PITA, Los Pimentel, seores de Braganza y Benavente, in
Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, I, Porto, INIC, 1987, pp. 317-
331; B.V. SOUSA, Entre Portugal e Castela. Percursos e destino de uma linhagem portuguesa
(os Pimentis, sculos XIII-XIV), in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, As
Relaes de Fronteira no Sculo de Alcanices, Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp.
1425-1431.
88
A. FRANCO SILVA e Jos Antonio GARCA LUJN, Los Pacheco. La imagen mtica de un
linaje portugus en tierras de Castilla, in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria
Medieval, III, Porto, INIC, 1989, pp. 943-975; Antonio MALALANA e Agustn TORREBLANCA,
Aproximacin al conocimiento de los linajes lusos asentados en Castilla: relaciones entre Dom
Alfonso V de Portugal y Don Diego Lpez Pacheco, in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas
de Histria Medieval, III, Porto, INIC, 1989, pp. 927-941; A. FRANCO SILVA, La Villa
Toledana de Escalona. De Don lvaro de Luna a los Pacheco, Estudios de Historia y de
Arqueologia Medievales, X (1994), pp. 47-82.
89
Juan Ignacio ALONSO CAMPOS e Jos Manuel CALDERN ORTEGA, Los Acua: la expansin
de un linaje de origen portugus en tierras de Castilla, in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas
de Histria Medieval, II, Porto, INIC, 1989, pp. 851-860; J.I. ORTEGA CERVIGN, El Arraigo
de los Linajes Portugueses en la Castilla Bajomedieval: el caso de los Acua en el obispado de

ANUARIO DE ESTUDIOS MEDIEVALES (AEM), 40/2, julio-diciembre 2010, pp. 889-924. ISSN 0066-5061
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Poucos indivduos personificaram to bem a histria poltica castelhana do


sculo XV como estes dois irmos maestres tan prosperados como reyes,
que a los grandes e medianos trajeron tan sojuzgados a sus leyes (Jorge
Manrique): D. Joo Pacheco foi 1. Marqus de Villena, Duque de Escalona
e Conde de Xiquena, Guarda-mor de Joo II e Mordomo-mor de Henrique
IV, Gro-Mestre da Ordem de Santiago e administrador da Ordem de
Calatrava, Adiantado-mor e Marechal de Castela casou em segundas
npcias com Dona Maior de Portocarreiro, Senhora de Moguer; D. Pedro
Girn foi Gro-Mestre da Ordem de Calatrava e 1 Conde Urea. A
influncia dos dois irmos no nimo do rei de Castela era de tal ordem, que
Henrique IV autorizou o casamento de D. Pedro com a sua irm, a Princesa
e futura Isabel a Catlica, que s no se concretizou por o noivo morrer a
caminho do casamento. Senhor de Osuna, foi o progenitor dos Duques de
Osuna que referi no incio deste texto90.

Como j foi sublinhado por Cesar Olivera, curioso verificar que o


grupo dos exilados que apoiaram os Infantes D. Joo e D. Dinis, no se
aliaram pelo casamento, salvo raras vezes, com o grupo dos apoiantes da
Rainha Dona Beatriz, sedeados sobretudo na cidade de Toro. Foi tambm o
grupo que estabeleceu as alianas mais prestigiantes com as linhagens da alta
nobreza castelhana91. Seria interessante poder aprofundar esta questo.
Finalmente, e para completar o sculo XV, uma breve nota para
recordar os exilados portugueses na sequncia da batalha de Alfarrobeira92,
alguns dos quais passaram ao servio do Condestvel D. Pedro, filho do
malogrado Regente e tio de D. Afonso V, aquando da sua odisseia catal93;
j para o final do perodo, os vrios implicados nas conjuras contra D.Joo II,
de entre os quais destacaria dois irmos do justiado Duque de Bragana: o
Condestvel D. Fernando e D. lvaro, que esto documentados em vrias das
campanhas que antecederam a conquista de Granada94.

Cuenca, Medievalismo, 16 (2006), pp. 73-92.


90
J. SALAAR Y ACHA, El elemento portugus, pp. 517-521.
91
C. OLIVERA SERRANO, Beatriz de Portugal, pp. 233-251.
92
Humberto BAQUERO MORENO, A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado
Histrico, Loureno Marques, Universidade de Loureno Marques, 1973.
93
L.A. FONSECA, O Condestvel D. Pedro de Portugal, Porto, INIC, 1982; Francisca
SOLSONA CLIMENT, Aspectos de la dominacin angevina en Catalua (1466-1472): la
participacin portuguesa en la revolucin contra Juan II, in Actas do Congresso Histrico de
Portugal Medievo, Tomo I, Braga, 1963, pp. 271-280; H. BAQUERO MORENO, Algumas mercs
concedidas pelo Condestvel D. Pedro, rei da Catalunha, a sbditos portugueses (sep. da
Revista das Cincias do Homem, I, srie A), Loureno Marques, 1970; IDEM, Portugueses
na Catalunha durante a Realeza do Condestvel D. Pedro (1464-1466), in Presena de Portugal
no Mundo, Actas do Colquio, Lisboa, Academia Portuguesa da Histria, 1982, pp. 99-120.
94
Jos Enrique LPEZ DE COCA CASTAER, Portugal y Granada: presencia lusitana en la
conquista y repoblacin del Reino Granadino (S. XV-XVI), in Actas das II Jornadas Luso-
Espanholas de Histria Medieval, II, Porto, INIC, 1987, pp. 737-757; Mara de los
Desamparados MARTNEZ SAN PEDRO, Repobladores portugueses en Almera segn el Libro de
Repartimiento, in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, II, Porto,
INIC, 1987, pp. 721-736; Cristina SEGURA GRAIO, Presencia portuguesa en la conquista y
repoblacin de Almera (siglo XV), in Actas das II Jornadas Luso-Espanholas de Histria
Medieval, III, Porto, INIC, 1989, pp. 841-849; M.A. LADERO QUESADA, Portugueses en la
frontera de Granada, En la Espaa Medieval, 23 (2000), pp. 67-100.

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DE E PARA PORTUGAL 915

Em resumo, no ser por todo o exposto de estranhar que, como j


foi devidamente sublinhado por Jaime de Salazar, quando Isabel a Catlica
subiu ao trono, em 1474, quase 20% das casas tituladas castelhanas perten-
ciam a linhagens de origem portuguesa95.

4. PARA PORTUGAL:
A IMIGRAO DE LINHAGENS PENINSULARES

Como j ficou dito anteriormente, o sculo XII foi particularmente


rico em relao entrada em Portugal de linhagens, especialmente provenien-
tes da Galiza. Jos Mattoso estudou o fenmeno com bastante pormenor, pelo
que o irei resumir brevemente, acrescentando apenas um ou outro detalhe96.
Uma das caractersticas mais interessantes a assinalar a forte relao
de parentesco que existe entre essas linhagens, especialmente por associao
aos Travas. Ramos destes, alis, so os de Tougues97, que acabaram por se
extinguir em meados do sculo XIII, e os da Palmeira, que se ramificam nos
de Froio, Homem e Pereira98. A linhagem de Pereira por demais conhecida
para que seja necessrio dizer muito mais. De qualquer forma, deve-se
sublinhar o facto de que atravessaram uma grande parte do sculo XIII e o
primeiro quartel da centria seguinte numa posio bastante apagada, e que
foi a partir do arcebispo de Braga, D. Gonalo Pereira, e do seu filho e Prior
do Hospital, D. lvaro Gonalves, que a linhagem voltou ribalta; j para
no falar do contributo dado pelos filhos bastardos deste ltimo, de entre os
quais muito se destaca o clebre Condestvel D. Nuno lvares Pereira.
Dos vrios filhos do Conde de Celanova que passaram para Portugal,
e tambm com ligaes aos Travas, sublinhe-se a aliana de um deles com
uma Dona dos de Riba Douro, senhora da honra de Barbosa, cujo nome foi
assumido como apelido familiar pelos seus descendentes. Oscilando entre a
mdia e a alta nobreza de corte durante o sculo XIII, os de Barbosa acabaram
por passar para o nvel da nobreza mdia regional depois do reinado de D.
Dinis99.

95
J. SALAZAR Y ACHA, El Elemento Portugus, p. 527. Para os vrios monarcas castelhanos
do final do sculo XIV e do sculo XV, consultem-se as vrias biografias disponveis (cfr. J.
SNCHEZ ARCILLA, Alfonso XI, 1312-1350, 1996; L. V. DAZ MARTN, Pedro I, 1350-1369,
Palencia, La Olmeda, 1996; J. VALDEN BARUQUE, Enrique II, 1369-1379, 1996; Lus SUREZ
FERNNDEZ, Juan I, 1379-1390, 1994; Fernando SUREZ BILBAO, Enrique III, 1390-1406, 1994;
Pedro PORRAS ARBOLEDAS, Juan II, 1406-1454, Palencia, La Olmeda, 1994-1996; M.I. del VAL
VALDIVIESO, Isabel la Catlica princesa (1468-1474), Valladolid, 1974).
96
J. MATTOSO, A Nobreza medieval galaico-portuguesa, pp. 129-147; IDEM, A Nobreza
Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular, pp. 319-339.
97
Cfr. J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Pela morte se conhece um pouco da vida. A propsito
do testamento de Dona Chmoa Gomes de Tougues, fundadora do Mosteiro de Santa Clara de
Entre-os-Rios, in Carlos Alberto Ferreira de Almeida. In Memoriam (Coord. de Jos
Marques), I, Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1999, pp. 219-233.
98
Sobre todos estes ramos dos Travas, cfr. IDEM, Linhagens Medievais Portuguesas, II, pp.
283-318.
99
IDEM, ibidem, I, pp. 513-533.

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916 JOS AUGUSTO DE SOTTO MAYOR PIZARRO

Os de Soverosa so um caso bastante interessante. Segundo os


nobilirios descendem de Ferno Peres Cativo, um filho do conde galego de
Sobrado, que Jos Mattoso admitiu ser um filho segundo, ou mesmo, mais
recentemente, um membro ignorado da linhagem dos Travas100. Confesso,
porm, que o seu posicionamento imediato como alferes-mor, primeiro, e em
data muito prxima revolta de 1128, e depois como mordomo-mor de D.
Afonso Henriques, torna um pouco inverosmil aquela ascendncia, a qual
poder ter tido outras origens. Com efeito, possvel que at fosse bastardo,
mas com uns pais especiais: o pai seria o conde D. Pedro Gonalves de Lara,
que o teve da sua amante, a Rainha Dona Urraca de Castela101. Essa
ascendncia, que fazia do Cativo um primo co-irmo de D. Afonso Henriques,
ajudaria a compreender melhor a sua trajectria fulgurante como alferes-mor
(1130-1136) e mordomo-mor (1146-1155) passando depois ao servio do
meio-irmo, o Imperador Afonso VII, como mordomo-mor (1155-1156) ,
bem como o estatuto proeminente que a linhagem que originou auferiu na
corte portuguesa at extino, no final do sculo XIII102.
Deixando para o fim deste ponto os Limas e os Teles, refiram-se, para
concluir o sculo XII, os de Valadares que sem terem uma origem to
importante como as anteriores atingiram a rico-homia pelo final da centria,
beneficiando da posio estratgica junto fronteira do rio Minho103.
Centria de Duzentos que, como assinalou o Professor Jos Mattoso,
manteve o fluxo de nobres provenientes da Galiza, muitos dos quais
trovadores, mas com um estatuto bastante inferior ao das linhagens anteriores,
excepo feita, para alm dos de Lima e dos Teles, aos ricos-homens D. Pero
Anes da Nvoa, neto de Ferno Peres de Trava e mordomo-mor de D. Afonso
II entre 1213 e 1223, ou D. Andr Fernandes de Castro, espordico rico-
homem da corte do Bolonhs (1256-1262)104.
Para os reinados de D. Dinis e de D. Afonso IV devem referir-se
alguns nobres castelhanos, poucos, mas da mais alta estirpe: D.Pedro
Fernandes de Castro, o da Guerra, que durante a infncia viveu refugiado em
Portugal ao cuidado de D. Martim Gil de Riba de Vizela, tendo sido criado
por D. Loureno Soares de Valadares (em casa de quem conheceu a me dos
seus dois bastardos D. lvaro de Castro, 1 Conde de Arraiolos e Dona
Ins de Castro)105; um dos Infantes de Lacerda, D. Fernando, e o seu
sobrinho, D. Joo Afonso de Lacerda, Senhor de Gibralen, que casou com

100
J. MATTOSO, A nobreza medieval portuguesa no contexto peninsular, p. 325; IDEM, D.
Afonso Henriques, pp.72-74.
101
J. SALAZAR Y ACHA, La Casa del Rey, pp. 170-171 e 372.
102
J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesas, II, pp. 207-220.
103
IDEM, ibidem, II, pp. 187-205.
104
Cfr. L. VENTURA, A Nobreza de Corte, II, pp. 625-626, 989 e 1006, respectivamente.
105
E. PARDO DE GUEVARA Y VALDS, Los Castro gallegos del siglo XIV. Apuntes para un
anlisis de su proyeccin en la historia poltica de Castilla, Hispania, XLV (1985), pp. 477-
511; IDEM, Castilla y Portugal, pp. 223-232; Paz ROMERO PORTILLA, Implicaciones Gallegas en
el Caso de Ins de Castro, in IV Jornadas Luso-Espanholas de Histria Medieval, As Relaes
de Fronteira no Sculo de Alcanices. Actas, 2, Porto, Universidade do Porto, 1998, pp. 1493-
1508.

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DE E PARA PORTUGAL 917

uma bastarda de D. Dinis106; D. Henrique Manuel filho bastardo do Infante


D. Joo Manuel de Vilhena, que foi Conde Seia e se fixou em Portugal
depois de acompanhar a sua meia-irm, Dona Constana, mulher do rei D.
Pedro I, e foi o tronco dos Manuel de Vilhena107; finalmente, precedendo os
anteriores, D. Joo Afonso Telo, que referirei mais adiante.
Chegados segunda metade do sculo XIV inevitvel a referncia
aos petristas exilados em Portugal, depois do fratricdio de Montiel108. Quase
todos galegos, seguem D. Fernando Rodrigues de Castro, toda la lealtad de
Espaa, mordomo, alferes e adiantado-mor de Pedro I de Castela, e o ltimo
dos seus partidrios. Note-se, contudo, que a grande maioria foi obrigada a
sair de Portugal em 1373, no quadro do Tratado de Santarm, assinado entre
D. Fernando I e Henrique II. Dos que ficaram, muitos eram membros da
pequena nobreza, como Liras, Cames, Queiroz, Pinheiros ou Seabras, mas
outros de linhagens bem antigas como D. Nuno Freire de Andrade, Mestre da
Ordem de Cristo e progenitor da maioria dos membros desta famlia, que ao
longo do sculo XV manteve um estatuto prestigiado. O mais clebre,
contudo, foi D. Joo Fernandes Andeiro, de uma linhagem da mdia nobreza
da Corunha, que por diversos servios foi feito Conde de Ourm109.
No se esquea, finalmente, que no final da 1. Dinastia as 6 casas
tituladas que havia em Portugal estavam na posse de linhagens castelhanas110.
O sculo XV assiste estreia de uma nova linhagem. Duplamente
bastarda, certo, mas duplamente rgia, materializada num dos emblemas
herldicos mais belos da armaria peninsular: o esquartelado de Castela e Leo
com Portugal. Do casamento do mais velho dos bastardos de Henrique II
Trastmara, D. Afonso Henriques, conde de Gijn e Norea, com a filha
bastarda de D. Fernando I, Dona Isabel, nasce a estirpe dos Noronhas, de
imediato elevada ao topo da hierarquia nobilirquica. Receberam os ttulos de
Condes de Odemira e de Linhares e, por casamento, assumiram a varonia da
Casa de Vila Real111.
A campanha do Africano por terras de Castela, em prol dos direitos
da sua sobrinha, a Excelente Senhora, e do trono castelhano, terminou em
Toro, precisamente a cidade que mais acolhera os exilados polticos contrrios
ao Mestre de Avis. Pelo rei portugus se bateu at ao fim uma das figuras
mais emblemticas na nobreza galega: D. Pedro lvarez de Sotomayor, o
Pedro Madruga das lendas e cantares, Senhor da Casa de Sotomayor e

106
J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Linhagens Medievais Portuguesas, I, pp. 202-203.
107
Anselmo Braamcamp FREIRE, Brases da Sala de Sintra, III, Lisboa, Imprensa Nacio-
nal-Casa da Moeda, 1973, pp. 1-41.
108
F.R. FERNANDES, Os exilados castelhanos no reinado de Fernando I de Portugal, pp.
101-115.
109
E. PARDO DE GUEVARA Y VALDS, De las viejas estirpes a las nuevas hidalguas. El
entramado nobilirio gallego al fin de la Edad Media, Nalgures, III (2006), pp. 265-280.
110
Quando D. Fernando I morre, em 1383, os Teles de Meneses detinham os ttulos condais
de Barcelos, Viana e Neiva, os Castro o de Arraiolos, os Manuel o de Seia, e Joo Fernandes
Andeiro o de Ourm (cfr, A.B. FREIRE, Brases, I, pp. 245-252.
111
IDEM, ibidem, I, pp. 43-48.

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918 JOS AUGUSTO DE SOTTO MAYOR PIZARRO

Visconde de Tuy, a quem D. Afonso V concedeu o ttulo de Conde de


Caminha, em 1476112.
Resta-me, para terminar este ponto, analisar duas linhagens que
propositadamente deixei para o final: os Teles e os Limas. As duas de elevada
origem e presentes ao longo de toda a cronologia, e ambas, tambm, com um
percurso deveras singular, marcado pela intermitncia da sua presena em
Portugal, onde acabaram por se fixar.
Os Limas, provenientes da Galiza, descendiam de um rias Calvo,
que confirma diplomas de Afonso VII entre 1125 e 1151, alguns como tenente
de Lima. Deveria ter alguma importncia, uma vez que os seus dois filhos,
Joo e Ferno rias casaram, o primeiro e mais velho, com uma filha de D.
Ferno Peres de Trava, e o segundo com uma prima co-irm da anterior, filha
de D. Bermudo Peres de Trava e da Infanta Dona Urraca Henriques, irm do
nosso primeiro monarca. Casado com uma sobrinha de Afonso I, no estranha
que Ferno rias esteja documentado na corte do primo, D. Sancho I, entre
1186 e 1193113. O seu filho, D. Joo Fernandes de Lima I foi alferes-mor e
mordomo-mor de Afonso IX de Leo, em diversas datas, mas tambm foi
rico-homem de D. Afonso II e alferes e mordomo de D. Sancho II em
diversas ocasies, oscilando assim entre as duas cortes rgias114.
Um seu neto homnimo, D. Joo Fernandes de Lima III, rico-homem
da corte de D. Dinis, casou com uma filha de D. Joo Pires de Aboim,
acabando os seus dias ao servio de Fernando IV de Castela. Aqui terminam
habitualmente os genealogistas com os Limas antigos, comeando os
novos com Ferno Anes de Lima, um partidrio galego do mestre de Avis,
que o beneficiou com vrias terras, entre as quais a de Valdevez, onde possuiu
a torre de Giela, que ainda hoje se pode admirar115. S que, recentemente,
Eduardo Pardo de Guevara reuniu elementos que permitem afirmar que
Ferno Anes descendia de um irmo daquele ltimo Lima antigo, ou seja,
existe continuidade genealgica116.
Foi o pai de D.Leonel de Lima, figura bem conhecida do sculo XV,
que mereceu o ttulo de Visconde de Vila Nova de Cerveira pelo apoio dado

112
Gaspar MASS, Pedro Madruga de Soutomayor, Caudillo Feudal, Santiago de Compostela,
Editorial de los Biblifilos Gallegos, 1975; J. GARCA ORO, La Nobleza Gallega en la Baja Edad
Media, pp. 213-265; A.B. FREIRE, Brases, III, pp. 322-324; H. BAQUERO MORENO, reas de
Conflito na Fronteira Galaico-Minhota no fim da Idade Mdia, in Actas del II Coloquio Galaico-
Minhoto, I, Santiago de Compostela, 1984, pp.53-65.
113
M. Ruben GARCA LVAREZ, Los Arias de Galicia y sus relaciones familiares con Fernando
II de Len y Alfonso I de Portugal, Bracara Augusta, XX/43-44 (Jan.-Jun. 1966), pp. 25-41.
114
Todos os dados relativos a esta linhagem foram muito recentemente estudados por mim, num
trabalho ainda indito mas j no prelo (cfr. J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, Os Limas: da Galiza
a Giela (Sculos XII a XV), in Casa Nobre. Um patrimnio para o futuro, 2 Congresso
Internacional. Actas, Arcos de Valdevez, Cmara Municipal, 2010).
115
Lus Figueiredo da GUERRA, Ferno Anes de Lima, Archivo Historico Portuguez, V
(1907), pp. 266-271.
116
E. PARDO DE GUEVARA Y VALDS, Parentesco y Nepotismo. Los arzobispos de Santiago y
sus vnculos familiares en los siglos XIV y XV, in Los coros de catedrales y monasterios: arte y
liturgia, Actas del Simpsio (A Corua, 6-9 de septiembre de 1999, A Corua, Fundacin
Barri de la Maza, 2001, pp. 67-70.

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DE E PARA PORTUGAL 919

a D.Afonso V na campanha que terminou em Toro117. Mas este final de sculo


XV, se bem que honroso, no esconde o facto de o afastamento dos Limas dos
meios cortesos, castelhano como portugus, ao longo de grande parte do
sculo anterior, ter debilitado o estatuto inicial da linhagem.
Os Teles, pelo contrrio, mantiveram e, se possvel, acrescentaram-
no118. Considerada como uma das sete principais linhagens de Leo e Castela,
a par dos Laras, Haros, Cameros, Trava, Castro e Giro, contactam pela
primeira vez com Portugal atravs de D. Afonso Teles, senhor de Meneses e
de Albuquerque, que em segundas npcias casou com uma filha bastarda de
D.Sancho I. Os seus filhos frequentaram a corte portuguesa, e o primognito,
D. Joo Afonso Telo I foi alferes-mor do seu primo D. Afonso III. Teve dois
filhos, dos quais o mais velho, D. Rodrigo Anes, casado com uma Soverosa,
foi o pai de D. Joo Afonso Telo II, refugiado em Portugal por desavenas
com Sancho IV de Castela: mordomo-mor de D.Dinis recebeu o ttulo de
conde e a vila de Barcelos, em grande parte pela sua interveno nas
negociaes com a Rainha Dona Maria de Molina, sua prima, que levaram
assinatura do Tratado de Alcaices. Do seu casamento com uma filha bastarda
daquele monarca castelhano, teve apenas duas filhas, seguindo esta linha dos
Teles, apenas por bastardia, nos j referidos Albuquerque.
Do secundognito do alferes-mor de D.Afonso III, D. Gonalo Anes,
rico-homem de Castela e casado com uma Lima, nasceu nico sucessor D.
Afonso Martins Telo, rico-homem em Castela e Portugal, apoiante do Infante
D. Afonso nas guerras com D. Dinis. Casou com Dona Berengria Loureno
de Valadares, tia materna de Dona Ins de Castro, e deste casal descendem
os dois ramos principais de Teles, mais tarde Teles de Meneses. O filho mais
velho, D.Martim Afonso Telo foi pai de D. Joo Afonso Telo V, Almirante
e 6. Conde de Barcelos, que morreu em Aljubarrota combatendo por Joo
I de Castela; Dona Maria Teles, casou com o Infante D.Joo, filho primogni-
to de D. Pedro I e Ins de Castro; Dona Leonor Teles foi Rainha de Portugal,
como mulher de D. Fernando I; D. Gonalo Teles foi o 1. Conde de Neiva,
casado com Dona Maria de Albuquerque, progenitores dos Meneses (Condes
de Cantanhede, Marqueses de Marialva, Condes da Ericeira e Marqueses de
Lourial).
O filho segundo de D. Afonso Martins Telo chamou-se D. Joo
Afonso Telo III, e foi o 4 Conde de Barcelos e 1. Conde Ourm. Grande
valido de D. Pedro I (alferes e mordomo-mor) e de D.Fernando era tio de
Leonor Teles, casou com uma filha do rico-homem D. Lopo Fernandes
Pacheco, de quem teve D. Afonso Telo de Meneses, 5 Conde de Barcelos,
falecido na juventude sem descendncia, e D. Joo Afonso Telo IV, 1 Conde
de Viana, assassinado em 1384 pelos seus vassalos por seguir o partido

117
H. BAQUERO MORENO, Um Fidalgo Minhoto de Ascendncia Galega: Leonel de Lima, in
I Colquio Galaico-Minhoto. Actas, Ponte de Lima, 1981, pp. 259-274; J. A. SOITTO MAYOR
PIZARRO, D. Leonel de Lima (c. 1403-1495), in Figuras Limianas (Coord. Joo Gomes dAbreu
Lima), Ponte de Lima, Cmara Municipal, 2008, pp. 34-36.
118
Ver a maior parte dos principais dados indicados sobre os Teles em A. B. FREIRE, Brases,
I, pp. 101-138.

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castelhano. A sua viva, Dona Mor de Portocarreiro, filha do mordomo-mor


da Rainha Dona Beatriz, e o seu nico filho, rumaram em 1385 para o exlio
castelhano, tendo vivido, com toda a probabilidade, em Toro.
Aquele filho chamava-se D. Pedro de Meneses e mereceu as honras
de uma Crnica de Zurara. Regressado a Portugal por volta de 1403, foi o
primeiro Capito-mor de Ceuta, 1. Conde de Vila Real e 2. Conde de
Viana. O seu filho bastardo, D. Duarte de Meneses, cujos feitos tambm
foram vertidos em crnica por Gomes Eanes de Zurara, deu continuao ao
condado de Viana e foi o progenitor dos Condes de Valena, de Loul e de
Tarouca. A filha primognita herdeira de D. Pedro, Dona Beatriz de Meneses,
casou com D. Fernando de Noronha, 2 Conde de Vila Real, de quem
procederam os restantes condes, Marqueses e Duques de Vila Real, Duques
de Caminha e restantes ttulos desta grande casa119.
Uma pequena nota final. Entre 1384 e 1387, D. Joo I premiou D.
Nuno lvares Pereira com os ttulos de Conde de Barcelos, de Ourm e de
Arraiolos. Como se sabe, a sua nica filha casou com o bastardo rgio, D.
Afonso, que recebera o condado de Neiva e veio a ser o 1 Duque de
Bragana, a casa que reuniu, desde o incio, uma grande parte dos bens que
outrora fora patrimnio dos Teles de Meneses. Em 1489, D.Joo II deu ao 3
Conde de Vila Real o condado de Ourm, confiscado havia poucos anos ao 3
Duque de Bragana, degolado em 1483. Um ms depois f-lo 1 Marqus de
Vila Real, conservando D. Pedro de Meneses o condado de Ourm at sua
morte, em 1499, uma vez que D.Manuel I, quando reintegrou os Braganas
na posse dos seus bens, declarara expressamente que Ourm ficava excluda.
Quando, por volta de 1518-1519, o mesmo D.Manuel ordena a construo da
belssima Sala dos Brases do Palcio de Sintra, o primeiro escudo-de-armas
ali pintado, depois dos do Rei e dos Infantes, o dos Noronha e Meneses. Em
1585 Filipe II elevou Vila Real a Ducado e em 1620 Filipe III concedeu-lhes
o Ducado de Caminha. Finalmente, a 29 de Agosto de 1641, e como se
contou no incio, a Casa dos Duques de Vila Real foi degolada no cadafalso
da Praa da Ribeira.

5. CONCLUSES

O percurso que nos levou ao longo dos sculos XII ao XV por terras
de Portugal e Castela chega ao final. Atravs das vidas de Infantes e
princesas, de ricos-homens e trovadores, at de cavaleiros-andantes uns
afortunados, por certo, e outros menos felizes, seguramente, de ambiciosos
e volveis como de vassalos leais. Nobres de velha cepa com outros menos
antigos, ou mesmo recentes, mas todos irmanados por um trao comum: num
certo momento das suas vidas partiram para outro reino.

119
Nuno Silva CAMPOS, D. Pedro de Meneses e a construo da Casa de Vila Real (1415-
1437), Lisboa, Edies Colibri, 2004.

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DE E PARA PORTUGAL 921

Entre estes dois sculos a nobreza peninsular estruturou-se,


desenvolveu-se e adaptou-se, melhor ou pior, estruturao e desenvolvimen-
to do poder rgio. Foi essa dialctica que gerou alianas e conflitos, e, por
fim, adaptaes mtuas, que se desenrola num espao tambm ele dinmico,
ondulando em torno de uma fronteira cuja marcha acabar por se aproximar
inexoravelmente do Mar. Pelo caminho, alguns indivduos, ou at famlias,
seguiram destinos que os afastaram do seu bero original, lanando razes
noutros espaos polticos.
Resta saber se, para a nobreza medieval peninsular, a Hispnia
corporizou uma geografia retalhada por fronteiras, crists ou muulmanas, ou
antes um espao global, onde as fidelidades e traies se esbatiam perante os
interesses comuns ao grupo e linhagem, ou s simples ambies pessoais.
A perspectiva de longa durao, assumida desde o incio, permite
reforar a concluso tirada pelo Professor Jos Mattoso nos seus trabalhos, ou
seja, o fluxo de nobres entrados em Portugal, sobretudo provenientes da
Galiza, intenso ao longo do sculo XII, decai depois gradualmente a partir do
incio do sculo XIII, no s em nmero mas tambm no nvel do seu
estatuto120. Pelo contrrio, os nobres portugueses no saem seno raramente
at ao final do reinado de D. Sancho I, mas depois com um ritmo sempre
continuado at meados do sculo XIV, e com um pico de intensidade na
crise que leva deposio de D. Sancho II. Depois, e at ao final do sculo
XV, e pese embora o facto de as trocas serem equilibradas durante as
mudanas dinsticas Trastmara-Avis, globalmente so sempre mais
numerosas as sadas para Castela.
Quanto s motivaes, aquela perspectiva tambm permite, creio eu,
desvalorizar a questo dos filhos segundos, uma vez que os factores de
natureza poltica parecem ser amplamente maioritrios. E mesmo que se aceite
a existncia de deserdados, no eram seguramente os que foram beneficiados
pelos repartimientos andaluzes, que depois venderam os bens recebidos e
voltaram para Portugal. Alis, o elevado estatuto dos nobres que entram em
Portugal, muitos deles chefes de linhagem, parece comprovar esta ideia. Com
fortes ligaes familiares dentro do grupo da alta nobreza de corte, a sua
insero neste meio fazia-se com grande normalidade, a mesma com que
podiam depois regressar a Castela, o que no aconteceria se ali no tivessem
um patrimnio razovel.
A facilidade com que os nobres dos dois reinos circulam de um lado
para o outro da fronteira mantm-se sem grandes alteraes praticamente at
ao final do sculo XIV, se bem que a partir dos meados desta centria, e pela
coincidncia de dois monarcas particularmente violentos no trono de Castela
e de Portugal, os exlios no garantam a segurana.
A alterao mais evidente, porm, e directamente articulada com a
questo anterior, prende-se sobretudo com a confiscao de bens. Com efeito,
e at esta altura, um rico-homem servia um monarca durante uma srie de

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J. MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular, pp. 319-339.

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anos, como tenente de uma terra e mesmo como alferes ou mordomo, e


depois, por desavenas ou outros motivos, partia para o reino vizinho, onde
era recebido com as honras devidas ao seu estatuto, no raro com as mesmas
funes ulicas. Meses ou poucos anos depois voltava ao reino de origem, e
repetia-se a mesma situao sem que os seus bens fossem alvo de qualquer
confiscao. Os casos durante os sculos XII a XIV so suficientemente
abundantes para se perceber a sua aceitao pela sociedade cortes e,
sobretudo, pelos monarcas, sendo exemplar a esse ttulo o comportamento dos
Braganos, dos Limas ou dos Teles. A partir de agora as represlias pelo
desservio e a quebra da fidelidade ao rei pagavam-se com a vida, no pior dos
casos, ou com o confisco do patrimnio; o que gerava situaes complicadas
em caso de retorno graa rgia.
Tudo aponta, assim, para a importncia determinante dos factores
polticos sobre qualquer outra razo que explique a circulao de nobres entre
os vrios reinos. Todavia, no parece que a questo se possa colocar em
termos to simples. Creio, alis, que esta ltima concluso se deve articular
com a primeira, isto , com o desequilbrio entre o ritmo de sadas e de
entradas verificado De e Para Portugal, e, acrescente-se agora, com o
processo de centralizao do poder rgio vivido nas duas Coroas ao longo da
cronologia.
A questo bem conhecida e foi aflorada por diversas vezes ao longo
desta anlise. Porventura mais precoce em Portugal, mas seguramente com
mais sobressaltos em Castela, os monarcas portugueses tiveram tambm, h
que admiti-lo, alguma sorte pelo seu lado, como seja uma concluso rpida da
Reconquista sem guerras posteriores de fronteira, uma srie de reinados
longos e sem menoridades rgias significativas, bem como um nmero quase
sempre reduzido de Infantes segundos, face a uma alta nobreza com
patrimnios pouco avultados e que se extinguiu em grande parte, por razes
biolgicas, no final do sculo XIII121. Em Castela a realidade foi muito
diferente, sobretudo a partir da dcada de 1270.
Mas a sorte, como diz o povo, tambm se procura. Ao contrrio do
que sucedeu no reino vizinho, os reis portugueses tiveram o cuidado de no
deixar alterar essa situao claramente favorecida pelas sucessivas partilhas
hereditrias , impedindo a criao de senhorios a sul do rio Tejo, como
D.Dinis fez com a recuperao dos do irmo, promovendo inquiries s
sonegaes das rendas rgias ou a desamortizao dos bens do clero e, desde
muito cedo, terem iniciado o controle das ordens militares. Poltica que a
mudana dinstica no alterou.
Avareza, para uns, e sensatez para outros, o certo que a dinastia de
Avis controlou por completo aquelas milcias atravs dos membros da Famlia
Real, e foi de uma parcimnia absoluta na concesso de ttulos de nobreza,
evitando a consequente criao de mais casas senhoriais. Poucos sabero que
em toda a Europa, e at ao sculo XIX, os reis portugueses foram os nicos

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J.A. SOTTO MAYOR PIZARRO, D.Dinis e a Nobreza nos finais do sculo XIII, pp.90-101.

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que no criaram um nico duque que no fosse parente prximo dos


monarcas, princpio que, mesmo na Monarquia Liberal, raras vezes foi
infringido, e mesmo os ttulos de marqus s foram concedidos a um grupo
muito restrito de famlias.
Em Castela, pense-se na revolta da nobreza de 1271, nas minorias de
Fernando IV e de Afonso XI, nas doaes feitas por Afonso XI aos seus
bastardos, seguidas das mercs concedidas pela maioria dos reis trastmaras,
as benesses desmesuradas feitas a alguns exilados polticos ou os numerosos
ttulos criados. S podiam justificar a cobia e a ambio quase doentia dos
filhos segundos da Casa Real, a jactncia dos Infantes de Arago, as disputas
pelos mestrados das Ordens Militares concedidas aos mltiplos validos rgios,
as guerras civis, etc.
A deciso de optar por Portugal ou por Castela, salvo em situaes de
desespero ou para liminarmente salvar a vida, no deve ter sido muito difcil!

***
Uma reflexo a propsito de uma interrogao final: a nobreza
medieval peninsular tinha um sentimento de nacionalidade? Ao longo desta
anlise assistimos a emigraes e a imigraes, ou antes, pergunto, e
sobretudo em certos momentos, a simples migraes de membros de um
grupo para quem a transposio de uma fronteira ou a mudana de senhor no
parece ter tido grande significado? Se, como j afirmou Jos Mattoso, at ao
final do sculo XIV no parece haver indcios desse sentimento122, Aljubarrota
ou o sculo XV alteraram essa atitude?
Na cripta da Capilla Real de Granada, num pequeno atade, repousam
os restos mortais do Infante D. Miguel da Paz, nascido em Zaragoza em 1498
e falecido em Granada em 1500. Filho primognito de D. Manuel I de
Portugal e de Dona Isabel, a filha mais velha dos Reis Catlicos, fora
reconhecido ao nascer como herdeiro das Coroas de Castela, Arago e
Portugal.
Poucos anos antes, a 13 de Julho de 1491, num desastroso acidente
equestre, falecera o nico filho legtimo de D. Joo II, o Infante D. Afonso,
havia pouco tempo casado com todo o fausto com aquela mesma Princesa
Dona Isabel: tambm eram os herdeiros presuntivos daquelas trs Coroas.
Quando nos interrogamos sobre a noo que a nobreza medieval tinha
de nacionalidade, em funo das suas permanentes migraes entre reinos, das
suas alianas com linhagens externas, com um modelo ideolgico de
parentesco global entre os nobres peninsulares, que noo, repito, poderiam

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J. MATTOSO, A Nobreza Medieval Portuguesa no Contexto Peninsular, p. 338.

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ter quando, nos finais da Idade Mdia, os seus respectivos monarcas tudo
fizeram para unir sob uma mesma Coroa todos os reinos da velha Hispnia
Medieval?
Data de recepo do artigo: dezembro de 2009.
Data de aceitao e verso final: setembro 2010.

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