Mirian Car Boner Are Visa Da
Mirian Car Boner Are Visa Da
Mirian Car Boner Are Visa Da
UNIVERSIDADE DE SO PAULO
MUSEU DE ARQUEOLOGIA E ETNOLOGIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ARQUEOLOGIA
MIRIAN CARBONERA
So Paulo
Novembro 2014
* Verso corrigida / A verso original encontra-se na biblioteca do MAE.
MIRIAN CARBONERA
So Paulo
Novembro 2014
AGRADECIMENTOS
Aos novos colegas Ester, Wagner, Luis, Helder, Gabriela, Aline e Kadu por todo o
apoio.
Aos funcionrios da biblioteca e da secretaria acadmica do MAE e tambm a equipe
do Anchietano pelas acolhidas sempre carinhosas.
banca de qualificao Dra. Maria Cristina Bruno e Dr. Jos Luiz de Morais pelas
sugestes que contriburam sobremaneira nesse momento de aprendizagem.
Aos proprietrios das terras onde esto localizados os stios arqueolgicos,
especialmente Otto Aigner, Maria Vortmann, Carlos Priediger e famlia Stensseler.
s instituies que foram fundamentais nas diferentes etapas da pesquisa, Uri-Campus
de Erechim; Setor de Laminao e GeoJnior Consultorias ambos do Instituto de Geocincias
da USP; Instituto Anchietano de Pesquisas; Laboratrio de Petrografia da Unisinos; Epagri
Campos Novos; Universidade Estadual de Londrina/PR; Secretaria de Cultura da Prefeitura
Municipal de It/SC; Centro de Divulgao Ambiental de It, Museu Fritz Plaumann.
Especialmente ao Ceom/Unochapec por me apresentar a arqueologia e por apoiar e
incentivar a realizao da pesquisa, gesto e comunicao do patrimnio arqueolgico. L se
vo quase 15 anos de conquistas e muitos desafios.
A Marilandi Goulart pelos anos dedicados pesquisa no Projeto Salvamento
Arqueolgico Uruguai.
A minha famlia, simplesmente a base de tudo!
RESUMO
In the region Alto Uruguai River, archeological research have been deveolped since 1950 and
reinforce the importance of that river for the pre-historical people. The archeological
artifactual variability found in that region, as it had occurred to other Brazilian areas, was
initially organized in phases and traditions, according to Cultural Ecology field. Over the last
decades, research has been raising new information about the collector-hunters related to
Umbu tradition and their technical systems, which had occupied the region in the passage
Pleistocene-Holocene and about the ceramist societies, Guarani and Itarar-Taquara, which
colonized the region Alto Uruguai in the last millennium. By doing this research, it is aimed
to suggest new elements on the cultural contacts established beteween the agricultural
ceramist societies Guarani and Itarar-Taquara, that occupied the Volta do Uv (Alto Uruguai
River), during Late Holocene. The cultural contact is understood hereby, not only as
mecanism for interchange of manufactured goods, but also methods and techniques to
elaborate the ceramic. The technological and stylistic analysis performed in the ceramic sets
Guarani and Itarar-Taquara, left evident two of the cultural traditions differenciated, which
even occupying the region in the same space-time block, they seem to have had a low degree
of cultural interaction, at least related to ceramic sets.
Figura 19. Cermica roletada coletada na superfcie do stio Ricardo Bertoldi (162), linha
Taquarussu, Palmitos/SC..........................................................................................................72
Figura 20. Moradores de Monda/SC com material arqueolgico Guarani, em destaque para os
vestgios de sepultamento.........................................................................................................74
Figura 21. Pontas de colar de material sseo............................................................................76
Figura 22. Stio ACH-SU4, estrutura funerria 4, colar de quartzo e gipsita...........................76
Figura 23. Tembets de quartzo e osso.....................................................................................77
Figura 24. Cachimbo. Acervo: Museu de Itapiranga/SC. Imagem: Mirian Carbonera, 2006.. 77
Figura 25. Cermica Eldoradense de Itapiranga/SC, 1, 3 e 5= Ponteado. 2= Beliscado. 4=
Ponteado arrastado. 6= Simples................................................................................................80
Figura 26. Formas da cermica Eldoradense de Itapiranga/SC................................................80
Figura 27. Stios Tupiguarani e Taquara da regio de Itapiranga/SC.......................................84
Figura 28. (1) Nova It; (2) It Velha; (3) topos convexos a aplanados; (4) plats bem
desenvolvidos e alongados; (5) encosta inferior; (6) meia encosta; (7) encosta superior......129
Figura 29. Localizao da Volta do Uv com os stios arqueolgicos e os afloramentos
registrados...............................................................................................................................135
Figura 30. Stio Valdemar Stensseler (009), na imagem da esquerda vista atual da rea
intensamente alterada por atividades antrpicas.....................................................................138
Figura 31. Stio Valdemar Stensseler (009) rea escavada correspondendo poro menos
destruda da mancha de terra preta e com maior concentrao de material, especialmente
cermico, respectivamente setores C4, D2, D3 e E3..............................................................138
Figura 32: Stio Valdemar Stensseler (009) croqui da escavao...........................................139
Figura 33: Stio Valdemar Stensseler (009), detalhe da escavao do perfil na quadrcula C4,
evidenciando-se os blocos de basalto que constituem o regolito a 65 cm..............................139
Figura 34. Stio Valdemar Stensseler (009) reconstituio do perfil na quadra C4...............139
Figura 35. Stio Valdemar Stensseler (009) pontas de projtil de slex, arenito e calcednia
coletadas na superfcie............................................................................................................141
Figura 36. Stio Valdemar Stensseler (009) machados polidos de basalto coletadas na
superfcie.................................................................................................................................141
Figura 37: Stio Valdemar Stensseler (009) material cermico com acabamento corrugado,
ungulado e alisado...................................................................................................................141
Figura 38. Stio Silvino Prediger I (010) vista geral das trs fogueiras..................................143
Figura 39. Stio Silvino Prediger I (010) croqui da rea escavada.........................................143
Figura 40. Reconstituio do perfil.........................................................................................144
8
Figura 86. Stio Valdemar Stensseler (009), detalhe do corte e da oxidao incompleta.......171
Figura 87 e 88. Stio Valdemar Stensseler (009), lmina que apresenta cor marrom claro a
escuro. Na micrografia pode-se ver intensa porosidade e fraturamento, os poros tm no
mnimo 0,2 mm e so brancos. Os gros pretos com cerca de 0,3 mm so minerais opacos. Em
meio massa bege escura h gros de quartzo e calcednia que no passam de 0,05 mm.
Sendo que a massa um agregado amorfo de gros muito finos...........................................172
Figura 89. Na imagem destaque para o ncleo escuro e gros de chamote e quartzo............172
Figura 90. Stio Valdemar Stensseler (009), face externa corrugada.....................................173
Figura 91. Stio Valdemar Stensseler (009), detalhe do corte e da oxidao incompleta.......173
Figura 92, 93, 94. Stio Valdemar Stensseler (009), na imagem fica evidente a diferena de
cores, marrom claro a escuro. No arcabouo, pode-se ver chamote de cor mais acinzentada do
que o seu entorno, com forma arredondada e alongada. J os gros de quartzo se apresentam
em meio matriz, mas no passam de 0,25 mm. Gros de minerais opacos de at 0,80 mm
apresentam cores pretas at avermelhados. Os poros so arredondados, com cerca de 0,2 mm
de cor branca at acinzentado. A matriz composta por uma massa amorfa de gros muito
finos, de cor marrom avermelhado.........................................................................................173
Figura 95. Stio Valdemar Stensseler (009), face externa ungulada.......................................174
Figura 96. Stio Valdemar Stensseler (009), detalhe do corte e da queima reduzida.............174
Figura 97 e 98. Stio Valdemar Stensseler (009), a lmina de cor marrom escura. A imagem
microscpica demonstra ncleos de cor mais clara do que o restante da lmina, revelando
chamote. H tambm gros de quartzo que no passam de 0,10 mm de cor branca. Espaos
grandes de at 0,20 mm de cor branca representam a porosidade. Uma massa amorfa de gros
muito finos compe a matriz de cor muito escura..................................................................174
Figura 99. Stio Valdemar Stensseler (009), face externa corrugada.....................................175
Figura 100. Stio Valdemar Stensseler (009), detalhe do corte e oxidao incompleta.........175
Figura 101 e 102. Stio Valdemar Stensseler (009), na fotografia da lmina fica evidente o
ncleo marrom escuro quase preto com as bordas marrons claro, demonstrando um
zoneamento na fatia da amostra laminada. Na micrografia se observa porosidade e
fraturamento abundante, sendo representados pelos espaos em branco onde a luz mais
intensa. Um gro, com cerca de 0,7 mm na parte inferior direita, representa um agregado de
calcednia. A parte escura que est presente na maior parte da micrografia uma massa
amorfa de gros muito finos, apresenta uma variao de cor na poro mais esquerda se
tornando mais clara, assim como observado na fotografia da lmina....................................175
11
Figura 103. Stio Valdemar Stensseler (009), destaque para o ncleo escuro, no centro um
gro de chamote, quartzo com tamanhos variados e cavidades..............................................176
Figura 104. Stio Silvino Prediger I (010), face externa simples............................................177
Figura 105. Stio Silvino Prediger I (010), detalhe do corte e da oxidao completa............177
Figura 106 e 107: Stio Silvino Prediger I (010), lmina de cor homognea, bege claro. Na
micrografia pode-se observar a porosidade evidenciada pelos gros brancos com at 0,30 mm.
Os gros pretos so minerais opacos, estes variam de tamanho, contudo no passam de 0,1
mm. Os pontos brancos so quartzo e calcednia. O que compe a maior parte da lmina
uma massa amorfa de gros muito finos de cor bege claro....................................................177
Figura 108. Stio Silvino Prediger I (010), face externa ungulada.........................................178
Figura 109. Stio Silvino Prediger I (010), detalhe do corte e da oxidao incompleta.........178
Figura 110 e 111. Stio Silvino Prediger I (010), na imagem pode-se ver claramente um
zoneamento de cores, sendo o ncleo de cor marrom escuro e as bordas de cor bege. Na
micrografia se pode ver poros com at 0,2 mm de cor branca e arredondados. Gros pretos so
minerais opacos com at 0,3 mm. Os gros brancos de quartzo no passam de 0,5 mm. O
restante da lmina composta por uma massa amorfa de gros muito finos de cor
amarronzada............................................................................................................................178
Figura 112. Stio Armandio Vortmann (011), face externa simples.......................................179
Figura 113. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao incompleta.... 179
Figura 114 e 115. Stio Armandio Vortmann (011), na lmina se v claramente a
diferenciao de cor, bege claro e tons de cinza. Gros de quartzo, feldspato e calcednia
chegam at 0,4 mm de cor branca. Gros de minerais opacos de cor preta atingem at 0,4 mm
e tem forma arredondada. A maior parte da lmina composta por uma massa amorfa de
gros muito finos, colorao bege acinzentado......................................................................179
Figura 116. Stio Armandio Vortmann (011), face externa corrugada...................................180
Figura 117. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao.......................180
Figura 118 e 119. Stio Armandio Vortmann (011), a lmina demonstra cor homognea
marrom claro. Na micrografia pode-se observar vrios gros de quartzo subangulosos com at
0,05 mm. Chamote de cor mais escura que a matriz na poro direta da lmina com 0,7 mm.
Minerais opacos de cor preta com at 1,3 mm. E matriz composta por uma massa amorfa de
gros muito finos de cor marrom............................................................................................181
Figura 120: Stio Armandio Vortmann (011), destaque para a colorao clara devido
oxidao e as incluses, especialmente o chamote, alm dos minerais opacos e quartzo; os
elementos parecem bem integrados e no se notam cavidades...............................................181
12
Figura 137. Stio Otto Aigner 1(013), na lmina alm de alta porcentagem de quartzo,
destaque para chamote (marrom claro) a esquerda da imagem, tambm so evidentes
pequenos gros de minerais opacos........................................................................................186
Figura 138. Stio Otto Aigner 1(013), face externa corrugada...............................................187
Figura 139. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do corte e oxidao incompleta.....................187
Figura 140 e 141. Stio Otto Aigner 1(013), na lmina nota-se uma diferena de cor, partindo
de tons escuros, marrom escuro no ncleo para bege mais claro nas bordas. Na micrografia
pode ser visto fraturamento e porosidade, com cerca de 0,35 mm, de cor branca. Na
extremidade inferior da micrografia, pode ser visto um gro de quartzo com incluses,
medindo 0,8 mm. Os pontos brancos no decorrer da imagem so compostos por calcednia e
feldspato. Os pontos pretos so minerais opacos e no passam de 0,05 mm. O que engloba
todos os minerais descritos uma massa amorfa de gros muito finos..................................187
Figura 142. Stio Silvino Prediger I (010), face externa ungulada.........................................188
Figura 143. Stio Silvino Prediger I (010), detalhe do corte e da oxidao incompleta.........188
Figura 144 e 145. Stio Silvino Prediger I (010), na fotografia da amostra laminada observa-se
cor homognea marrom avermelhada. Na fotomicrografia se veem gros de minerais opacos,
que chegam a medir at 0,1 mm de cor preta. Quartzo com at 0,2 mm e cores brancas e
amarronzadas, formas angulosas e subarredondas. A matriz da lmina apresenta massa amorfa
de gros muito finos, com variao de cor, mais escura direita e mais clara esquerda.....188
Figura 146. Stio Armandio Vortmann (011), face externa impressa.....................................189
Figura 147. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao incompleta.... 189
Figura 148 e 149. Stio Armandio Vortmann (011), a lmina apresenta cor escura e
homognea. A micrografia demonstra muitos gros de calcednia e quartzo com incluses
mficas, chegando at 0,3 mm e gros de minerais opacos muito finos englobados por massa
amorfa de gros de cor avermelhada......................................................................................189
Figura 150. Stio Armandio Vortmann (011), face externa ponteada.....................................190
Figura 151. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao completa.......190
Figura 152 e 153. Stio Armandio Vortmann (011), lmina com grandes cavidades, de cor
homognea marrom avermelhada. Espaos grandes e alongados, com at 0,8 mm, de cor
branca representam a porosidade. Gros de quartzo com incluses que atingem 0,5 mm, de
cor clara e difusa; os minerais opacos (pretos) medem at 0,7 mm. Compe o restante da
lmina uma massa amorfa de gros muito finos de cor marrom............................................190
Figura 154. Stio Armandio Vortmann (011), face externa beliscada....................................191
Figura 155. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao incompleta.... 191
14
Figura 156 e 157. Stio Armandio Vortmann (011), lmina de cor marrom claro com
heterogeneidades mais escuras. Na fotomicrografia, temos gros de minerais opacos de at 0,9
mm, com formas arredondadas e gros de quartzo (brancos), de at 0,4 mm com formas
subarredondadas. A matriz no entorno desses minerais apresenta-se como uma massa amorfa
de gros muito finos de cor marrom claro..............................................................................192
Figura 158. Stio Armandio Vortmann (011), face externa simples e impressa.....................193
Figura 159. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao completa.......193
Figura 160 e 161. Stio Armandio Vortmann (011), a lmina apresenta cor avermelhada de
forma homognea. Quartzo e feldspato com at 0,8 mm, apresentam-se com incluses ou
bastante alterados, de cor clara e difusa a amarronzados. Cristais de minerais opacos, com at
0,7 mm e cor preta. A matriz de cor avermelhada uma massa amorfa de gros muito finos..
.................................................................................................................................................193
Figura 162. Stio Armandio Vortmann (011), face externa beliscada....................................194
Figura 163. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e oxidao incompleta.........194
Figura 164 e 165. Stio Armandio Vortmann (011), lmina com suave diferenciao de cor
marrom claro. Na micrografia muitos gros brancos, arredondados com at 0,5 mm,
representam quartzo e feldspato. Minerais opacos, com cerca de 0,3 mm e cor preta. A lmina
composta por uma massa amorfa de gros muito finos de cor marrom claro......................194
Figura 166. Stio Armandio Vortmann (011), na imagem da esquerda face externa simples.
.................................................................................................................................................195
Figura 167. Stio Armandio Vortmann (011), detalhe do corte e da oxidao incompleta....195
Figura 168 e 169. Stio Armandio Vortmann (011), lmina de cor marrom. Na micrografia
tm-se os minerais opacos com at 1 mm e forma arredondada, de cor preta. Gros de quartzo
e calcednia com at 0,4 mm de cor branca. O que compe a maior parte da micrografia
uma massa amorfa de gros muito finos na cor marrom........................................................195
Figura 170. Stio Otto Aigner 1(013), face externa ponteada arrastada.................................196
Figura 171. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do corte e oxidao incompleta.....................196
Figura 172 e 173. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina de cor escura avermelhada. Gros
alaranjados de at 0,1 mm so compostos por vidro; gros brancos de at 0,2 mm so quartzo
ou feldspato. A matriz avermelhada composta por uma massa amorfa de gros muito finos.
Baixa frequncia de cavidades e o que pode parecer porosidade na verdade so gros de
quartzo e feldspato que no possuem cor de interferncia.....................................................196
Figura 174. Stio Otto Aigner 1(013), face externa simples...................................................197
Figura 175. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do corte e com oxidao completc................197
15
Figura 176 e 177. Stio Otto Aigner 1(013), lmina de cor homognea de tons avermelhados.
A micrografia apresenta como incluses minerais: quartzo (branco), opacos (pretos) e
feldspato alterado (vermelho). A massa amorfa de gros muito finos de cor avermelhada que
compe a maior parte da micrografia.....................................................................................197
Figura 178. Stio Otto Aigner 1(013), face externa ponteada.................................................198
Figura 179. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do corte e da oxidao incompleta................198
Figura 180 a 181. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina de cor marrom claro; j a micrografia
apresenta porosidade em forma arredondada e de cor branca com at 0,35 mm. Quartzo de cor
marrom amarelado e alguns gros brancos, com forma poligonal, com tamanhos de 0,1 mm
at 0,5 mm. Os gros pretos com at 0,3 mm so minerais opacos. Compe a maior parte da
lmina massa amorfa de gros muito finos.............................................................................198
Figura 182. Stio Otto Aigner 1(013), face externa impressa.................................................199
Figura 183. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do corte e da oxidao completa...................199
Figura 184 e 185. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina possui cor homognea marrom escura,
quase preta. Na micrografia temos gros de quartzo com cores brancas e avermelhadas devido
s alteraes que o tingiram, pode chegar at 0,25 mm, com formas geralmente alongadas. Os
minerais opacos se confundem com a matriz devido sua cor escura, podem chegar at 0,25
mm. Os poros so pequenos de cor branca e difceis de serem diferenciados do quartzo.
Chegam at 0,15 mm. A matriz composta por uma massa amorfa de gros muito finos de
cor escura, que se confundem com os minerais opacos..........................................................199
Figura 186. Stio Otto Aigner 1(013), face externa simples...................................................200
Figura 187. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do corte e da oxidao completa...................200
Figura 188 e 189. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina apresenta-se de cor marrom com pontos
mais escuros. Na fotomicroscopia temos muitos gros de minerais opacos, que chegam at 1,1
mm e tm forma subarredondada. Os gros de quartzo, em sua maioria, no passam de 0,05
mm, de cor branca e forma subangulosa. As cavidades tm cerca de 0,2 mm, de cor branca e
forma arredondada. A matriz composta por uma massa amorfa de gros muito finos de cor
marrom claro...........................................................................................................................200
Figura 190. Valdemar Stensseler (009) gro de calcednia (3,8 mm) encontrado em fragmento
de cermica Guarani...............................................................................................................211
Figura 191. Valdemar Stensseler (009), gro de quartzo (5,8 mm) e mineral opaco (1,1 mm)
em fragmento de cermica......................................................................................................211
Figura 192. Armandio Vortmann (011), gro mineral opaco (4,2 mm) em fragmento de
cermica Itarar-Taquara........................................................................................................211
16
Figura 193. Otto Aigner (013), gro de quartzo (4,2 mm) em fragmento de cermica Itarar-
Taquara...................................................................................................................................211
Figura 194. Stio Otto Aigner 1 (013) fragmento SCXIII 54, face externa com a localizao
dos pontos onde foram realizadas as medidas........................................................................219
Figura 195. Stio Otto Aigner 1 (013) fragmento SCXIII 54, face interna com a localizao
dos pontos onde foram realizadas as medidas........................................................................219
Figura 196. Stio Armando Vortmann (011) fragmento SCXI 781, face externa com a
localizao dos pontos onde foram realizadas as medidas.....................................................222
Figura 197. Stio Armando Vortmann (011) fragmento SCXI 781, face interna com a
localizao dos pontos onde foram realizadas as medidas.....................................................222
Figura 198. Stio Armando Vortmann (011) fragmento SCXI 766, face externa com a
localizao dos pontos onde foram realizadas as medidas.....................................................224
Figura 199. Stio Armando Vortmann (011) fragmento SCXI 766, face interna com a
localizao dos pontos onde foram realizadas as medidas.....................................................224
Figura 200. Cor bege onde houve melhor oxidao e marrom escuro quase preto na margem
com oxidao incompleta.......................................................................................................229
Figura 201. Cor bege estende-se por toda a lmina indicando oxidao completa................229
Figura 203. A homogeneidade da cor bege clara indica queima completa............................230
Figura 204. A cor vermelha se estende por toda a lmina resultado da queima completa.....230
Figura 205. Formas da cermica Guarani, 1 yapep; 2 a ou at; 3 amp ou ampiu;
4 cambuch; 5 amb ou tembiir; 6 cambuch caaguba...................................................234
Figura 206. Formas da cermica Taquara...............................................................................235
Figura 207. Tipos de bordas Guarani stio Valdemar Stensseler (009) sendo: A) Extrovertida,
B) Direta e C) Introvertida......................................................................................................239
Figura 208. Tipos de bordas Guarani stio Silvino Prediger I (010) sendo: A) Direta B)
Cambada, C) Extrovertida, D) Introvertida............................................................................240
Figura 209. Tipo de borda Itarar-Taquara stio Silvino Prediger I (010): A) Direta, B)
Extrovertida.............................................................................................................................240
Figura 210. Tipos de bordas Guarani stio Armandio Vortmann (011) sendo: A) Direta B)
Extrovertida, C) Cambada, D) Introvertida............................................................................240
Figura 211. Tipos de bordas Itarar-Taquara stio Armandio Vortmann (011) sendo: A) Direta
B) Extrovertida, C) Direta reforada externamente, D) Direta reforada internamente, E)
Expandida, F) Extrovertida reforada externamente, G) Introvertida....................................240
17
Figura 212. Tipos de bordas Guarani stio Otto Aigner 1 (013) sendo: A) Direta B)
Extrovertida, C) Cambada, D) Direta reforada externamente...............................................241
Figura 213. Tipos de bordas Itarar-Taquara stio Otto Aigner 1 (013) A) Direta B)
Extrovertida, C) Direta reforada externamente, D) Introvertida, E) Expandida, F)
Extrovertida reforada externamente......................................................................................241
Figura 214. Bases Guarani arredondadas dos stios Valdemar Stensseler (b), Armandio
Vortmann (a, c), Otto Aigner (d)............................................................................................242
Figura 215. Bases Itarar-Taquara sendo planas (d, e, g, h, j, l), arredondandas (a, c, f, i, m, n)
e plana-concva (b). As bases correspondem aos stios Armandio Vortmann (b, c, d, e, l, n) e
Otto Aigner (a, f, g, h, i, j, m, n).............................................................................................243
Figura 216. Stio Armandio Vortmann (011) base plana-concva, cermica Itarar-Taquara,
corresponde pea B, figura 215............................................................................................243
Figura 217. Stio Armandio Vortmann (011) base arredondada cermica Itarar-Taquara
corresponde pea C, figura 215............................................................................................243
Figura 218. Stio Otto Aigner (013) base plana Itarar-Taquara, corresponde pea A, figura
215...........................................................................................................................................243
Figura 219. Stio Otto Aigner (013) base plana Itarar-Taquara, corresponde pea G, figura
215...........................................................................................................................................243
Figura 220. Stio Otto Aigner (013), recipiente Guarani A, face externa simples e interna
pintada.....................................................................................................................................244
Figura 221. Representao de recipiente Guarani A, stio Otto Aigner (013). Pea= SCXIII/
928. Dimetro= 24 cm. Altura= 10,3 cm. Volume= 2.468 ml................................................244
Figura 222. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa extrovertida. Pea=
SCIX/410. Dimetro= 21 cm..................................................................................................245
Figura 223. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani ungulada extrovertida. Pea=
SCIX/486. Dimetro= 27 cm..................................................................................................245
Figura 224. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCIX/735. Dimetro= 36,8 cm...............................................................................................246
Figura 225. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCIX/876. Dimetro= 22,5 cm...............................................................................................246
Figura 226. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa direta. Pea= SCIX/415.
Dimetro= 20,5 cm.................................................................................................................246
Figura 227. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa direta. Pea= SCIX/401.
Dimetro= 24 cm....................................................................................................................247
18
Figura 228. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani ungulada direta. Pea= SCIX/799.
Dimetro= 25 cm....................................................................................................................247
Figura 229. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa direta. Pea= SCIX/417.
Dimetro= 18,7 cm.................................................................................................................247
Figura 230. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCIX/442.
Dimetro= 5 cm......................................................................................................................247
Figura 231. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani ungulada direta. Pea= SCIX/663.
Dimetro= 8,6 cm...................................................................................................................248
Figura 232. Stio Valdemar Stensseler (009) borda lisa Guarani introvertida. Pea= SCIX/881.
Dimetro= 25 cm....................................................................................................................248
Figura 233. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCIX/677.
Dimetro= 9 cm......................................................................................................................248
Figura 234. Stio Stio Silvino Prediger I (010) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCX/79. Dimetro= 45 cm.....................................................................................................248
Figura 235. Stio Stio Silvino Prediger I (010) borda Guarani ungulada extrovertida. Pea=
SCX/84. Dimetro= 32 cm.....................................................................................................249
Figura 236. Stio Stio Silvino Prediger I (010) borda Guarani lisa introvertida. Pea=
SCX/81. Dimetro= 36 cm.....................................................................................................249
Figura 237. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani pintada direta. Pea= SCXI/895.
Dimetro= 20 cm....................................................................................................................249
Figura 238. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani lisa direta. Pea= SCXI/869.
Dimetro= 17,4 cm.................................................................................................................249
Figura 239. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani lisa extrovertida. Pea=
SCXI/2018. Dimetro= 12,6 cm.............................................................................................249
Figura 240. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXI/2048. Dimetro= 13,9 cm.............................................................................................250
Figura 241. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXI/868. Dimetro= 7,8 cm.................................................................................................250
Figura 242. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXI/907. Dimetro= 25,5 cm...............................................................................................250
Figura 243. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani lisa introvertida. Pea=
SCXI/908. Dimetro= 40 cm..................................................................................................251
Figura 244. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada direta. Pea=
SCXI/1417. Dimetro= 30 cm................................................................................................251
19
Figura 245. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani corrugada extrovetida. Pea=
SCXIII/1501. Dimetro= 28 cm.............................................................................................251
Figura 246. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXIII/593. Dimetro= 21,5 cm............................................................................................251
Figura 247. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXIII/1799. Dimetro= 25 cm.............................................................................................251
Figura 248. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCXIII/894.
Dimetro= 40 cm....................................................................................................................252
Figura 249. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani lisa extrovertida. Pea= SCXIII/851.
Dimetro= 12 cm....................................................................................................................252
Figura 250. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani lisa extrovertida. Pea= SCXIII/1745.
Dimetro= 24 cm....................................................................................................................252
Figura 251. Stio Otto Aigner (013), recipiente Itarar-Taquara A simples...........................253
Figura 252. Stio Otto Aigner (013), representao recipiente Itarar-Taquara A. Pea=
SCXIII/1004. Dimetro= 13 cm. Altura= 22,2 cm. Volume= 2.946 ml.................................254
Figura 253. Stio ArmandioVortmann (011) recipiente Itarar-Taquara B ponteada.............255
Figura 254. Stio ArmandioVortmann (011), representao de recipiente Itarar-Taquara B.
Pea= SCXI/2157. Dimetro= 10 cm. Altura= 19,4 cm. Volume: 1.522 ml..........................255
Figura 255. Stio Otto Aigner (013), recipiente Itarar-Taquara C ponteado.........................256
Figura 256. Stio Otto Aigner (013) representao de recipiente Itarar-Taquara C. Pea=
SCXIII/711. Dimetro= 8 cm. Altura= 13,4 cm. Volume= 674 ml........................................256
Figura 257. Stio ArmandioVortmann (011) recipiente Itarar-Taquara D ponteado............257
Figura 258. Stio Armandio Vortmann (011) representao recipiente Itarar-Taquara D.
Pea= SCXI/1435. Dimetro= 12 cm. Altura= 17,5 cm. Volume= 1.979 ml.........................257
Figura 259. Stio Armandio Vortmann (011) recipiente E ungulado. Pea= SCXI/2010.
Dimetro= 10 cm. Altura= 16 cm. Volume= 1.256 ml...........................................................258
Figura 260. Stio Armandio Vortmann (011) recipiente F beliscado Itarar-Taquara...........259
Figura 261. Stio Armandio Vortmann (011) representao recipiente Itarar-Taquara F.
Pea= SCXI/CDA. Dimetro= 10 cm. Altura= 12 cm. Volume= 942 ml..............................259
Figura 262. Stio Armandio Vortmann (011) recipiente Itarar-Taquara G, acabamento
ponteado. Pea= SCXIII/654. Dimetro= 8,5 cm Altura= 10,5 cm. Volume= 595 ml..........260
Figura 263. Stio Otto Aigner (013) recipiente Itarar-Taquara H, com acabamento
impresso/ungulado. Na imagem direita detalhe da quebra fresca e gro de hematita bem
integrado a pasta.....................................................................................................................260
20
Figura 264. Stio Otto Aigner (013) representao recipiente Itarar-Taquara H. Pea=
SCXIII/652. Dimetro= 9 cm. Altura: 10 cm. Volume: 635 ml.............................................261
Figura 265. Stio Otto Aigner (013) recipiente Itarar-Taquara I, acabamento ponteado. Pea=
SCXIII/1793CDA. Dimetro= 9 cm. Altura= 12 cm. Volume= 763 ml................................261
Figura 266. Stio Armandio Vortmann (011) recipiente Itarar-Taquara J, acabamento
simples....................................................................................................................................262
Figuras 267. Stio Armandio Vortmann (011) representao Itarar-Taquara recipiente J.
Pea= SCXI/2058. Dimetro= 13 cm. Altura= 5 cm. Volume= 663 ml.................................262
Figura 268: Formas Itarar-Taquara stio Armandio Vortmann (011) stio Otto Aigner (013)..
.................................................................................................................................................263
Figura 269. Stio Silvino Prediger I (010), borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCX/108. Dimetro= 10 cm...................................................................................................264
Figura 270. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples extrovertida.
Pea= SCXI/2020. Dimetro= 11 cm.....................................................................................264
Figura 271. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ungulada extrovertida.
Pea= SCXI/1958. Dimetro= 7,7 cm....................................................................................264
Figura 272. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ungulada/beliscada
extrovertida. Pea= SCXI/2028. Dimetro= 12 cm................................................................265
Figura 273. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara incisa extrovertida. Pea=
SCXI/2057. Dimetro= 8,6 cm...............................................................................................265
Figura 274. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara beliscada extrovertida.
Pea= SCXI/1984. Dimetro= 13 cm.....................................................................................265
Figura 275. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida.
Pea= SCXI/2086. Dimetro= 12 cm.....................................................................................265
Figura 276. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida.
Pea= SCXI/2012. Dimetro= 11 cm.....................................................................................266
Figura 277. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara beliscada/ungulada direta.
Pea= SCXI/975. Dimetro= 9,6 cm......................................................................................266
Figura 278. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples direta com
inclinao interna. Pea= SCXI/2042. Dimetro= 6 cm.........................................................266
Figura 279. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples direta. Pea=
SCXI/2122. Dimetro= 5,8 cm...............................................................................................266
Figura 280. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara beliscada direta com
reforo externo. Pea= SCXI/1434. Dimetro= 11,6 cm........................................................267
21
Figura 281. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCXI/2060. Dimetro= 8 cm..................................................................................................267
Figura 282. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples direta com reforo
externo. Pea= SCXI/2087. Dimetro= 13,8 cm....................................................................267
Figura 283. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara alisada/escovada/impressa
introvertida. Pea= SCXI/620. Dimetro= 13,5 cm................................................................267
Figura 284. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXIII/756. Dimetro= 12 cm...............................................................................................268
Figura 285. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara simples extrovertida. Pea=
SCXIII/837. Dimetro= 11 cm...............................................................................................268
Figura 286. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada/incisa direta com
reforo externo. Pea= SCXIII/862. Dimetro= 11 cm..........................................................268
Figura 287. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXIII/1089. Dimetro= 8 cm...............................................................................................268
Figura 288. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXIII/1246. Dimetro= 11 cm.............................................................................................269
Figura 289. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada extrovertida. Pea=
SCXIII/1706. Dimetro= 8 cm...............................................................................................269
Figura 290. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada extrovertida. Pea=
SCXIII/1780. Dimetro= 10,6 cm..........................................................................................269
Figura 291. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida com
reforo externo. Pea= SCXIII/1101. Dimetro= 10,5 cm.....................................................269
Figura 292. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada/incisa extrovertida.
Pea= SCXIII/487. Dimetro= 10,5 cm..................................................................................270
Figura 293. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada direta. Pea=
SCXIII/1445. Dimetro= 13 cm.............................................................................................270
Figura 294. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada extrovertida. Pea=
SCXIII/1780. Dimetro= 10,6 cm..........................................................................................270
Figura 295. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara impressa direta. Pea=
SCXIII/388. Dimetro= 13 cm...............................................................................................270
Figura 296. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCXIII/893. Dimetro= 11 cm...............................................................................................271
Figura 297. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCXIII/1235. Dimetro= 9 cm...............................................................................................271
22
Figura 298. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara impressa introvertida com reforo
interno. Pea= SCXIII/1593. Dimetro= 14,3 cm..................................................................271
Figura 299. Tratamento de superfcie ponteado, ponteado arrastado, pinado, simples e
ungulado da fase Taquara, tradio Taquara..........................................................................273
Figura 300. Cermica Guarani com pintura interna stios Armandio Vortmann (b, c, d, h, i) e
Otto Aigner (a, c, e, f, g).........................................................................................................274
Figura 301. Cermica Guarani corrugada (a, d, f), pintada (b, c) e ungulada (g, h, i).
Correspondem aos stios: Silvino Prediger (g); Valdemar Stensseler (h); stio Armandio
Vortmann (b, d, e, f) e stio Otto Aigner (a) esquerda.........................................................275
Figura 302. Cermica Itarar-Taquara ponteada (a, b, e, f) e impressa (c, d), stio Armandio
Vortmann (b, d, e) e stio Otto Aigner (a, c, f).......................................................................277
Figura 303. Cermica Itarar-Taquara beliscado, stio Armandio Vortmann (a, c, d, e, i, j) e
stio Otto Aigner (b, f, g , h, l)................................................................................................277
Figura 304. Cermica Itarar-Taquara simples, stio Armandio Vortmann (a, b, c, d, e, f, g, h,
k) e stio Otto Aigner (g, i)......................................................................................................278
Figura 305. Cermica Itarar-Taquara ungulada, stio Armandio Vortmann (a, b, d, e, f, g e h)
e stio Otto Aigner (c, i, j, k)...................................................................................................278
Figura 306. Ungulado vertical assimtrico. Pea= SCIX/516................................................279
Figura 307. Ungulado vertical assimtrico. Pea= SCXI/86.................................................279
Figura 308. Ungulado arrastado. Pea= SCX/58....................................................................279
Figura 309. Ungulado semi-circular em linha. Pea= SCXI/1519.........................................280
Figura 310. Ungulado semi-circular em linha. Pea= SCXI/1519. .......................................280
Figura 311. Ungulado em linha vertical. Pea= SCXIII/1792................................................280
Figura 312. Ungulado vertical esparso. Pea= SCXI/2182....................................................280
Figura 313. Ungulado em linha oblqua. Pea= SCXI/1831..................................................280
Figura 314. Ungulado em linha oblqua. Pea= SCXIII/2083................................................280
Figura 315. Ungulado em linha oblqua. Pea= SCXIII/889..................................................280
Figura 316. Ungulado em linha oblqua. Pea= SCXIII/1435................................................280
Figura 317. Ungulado em linha horizontal. Pea= SCXI/1957b............................................281
Figura 318. Ungulado em linha horizontal. Pea= SCXIII/553..............................................281
Figura 319. Ungulado em linha horizontal. Pea= SCXIII/456..............................................281
Figura 320. Ungulado em linha horizontal. Pea= SCXIII/615..............................................281
Figura 321. Ponteado arrastado assimtrico. Pea= SCXIII/1089..........................................282
Figura 322. Ponteado arrastado assimtrico formato de pingo. Pea= SCXI/1212................282
23
Tabela 1 Relao de datas de stios com cermica Guarani na regio do alto rio Uruguai. .69
Tabela 2 Relao de datas de stios com cermica Itarar-Taquara no oeste de Santa
Catarina, alto Uruguai e provncia de Misiones........................................................................82
Tabela 3 Stios arqueolgicos registrados no Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai. 127
Tabela 4 Resultado da anlise granulomtrica por peneiramento e via mida....................133
Tabela 5 Resumo da anlise granulomtrica.......................................................................134
Tabela 6 Sntese de informaes dos stios analisados........................................................135
Tabela 7 Distribuio dos tipos de acabamentos cermicos dos stios analisados..............136
Tabela 8 Stio Valdemar Stensseler (009) distribuio vertical da cultura material por nveis
artificiais.................................................................................................................................140
Tabela 9 Stio Valdemar Stensseler (009) distribuio vertical da cermica Guarani por
nveis artificiais.......................................................................................................................141
Tabela 10 Stio Silvino Prediger I (010) distribuio vertical da cultura material por nveis
artificiais.................................................................................................................................145
Tabela 11 Stio Silvino Prediger I (010), cermica distribuda verticalmente pelos nveis
artificiais.................................................................................................................................146
Tabela 12 Stio Armandio Vortmann (011) distribuio vertical da cultura material por
nveis artificiais.......................................................................................................................151
Tabela 13 Stio Armandio Vortmann (011) cermica distribuda verticalmente pelos nveis
artificiais.................................................................................................................................152
Tabela 14 Datao do stio Armandio Vortmann (011).......................................................153
Tabela 15 Stio Otto Aigner 1 (013) distribuio vertical da cultura material pelos nveis
artificiais.................................................................................................................................157
Tabela 16 Stio Otto Aigner 1 (013) cermica distribuda verticalmente pelos nveis
artificiais.................................................................................................................................158
Tabela 17 Cronologia do stio Otto Aigner 1 (013).............................................................159
Tabela 18: Stio Otto Aigner 2 (013) datas de Carbono-14....................................................162
Tabela 19 Stio Otto Aigner 2 (013) distribuio vertical da cultura material pelos nveis 163
Tabela 20 Composio mineralgica, granulometria e seleo das incluses cermica
Guarani....................................................................................................................................168
26
INTRODUO........................................................................................................................31
Objetivos e hipteses....................................................................................................................34
Conceitos, mtodos e tcnicas.....................................................................................................34
Acervo Marilandi Goulart............................................................................................................38
Estrutura dos captulos..................................................................................................................44
CAPTULO 1 - ANTECEDENTES: PAISAGEM E OCUPAES HUMANAS NO ALTO
RIO URUGUAI-SC..................................................................................................................46
1.1 Ambientao............................................................................................................................46
1.1.1 Aspectos geolgicos e geomorfolgicos..................................................................46
1.1.2 Aspectos da hidrografia...........................................................................................51
1.1.3 Aspectos da cobertura vegetal, solo e clima............................................................53
1.1.4 Aspectos da fauna....................................................................................................57
1.1.5 A transformao do ambiente........................................................................................58
1.2 Ocupaes humanas................................................................................................................61
1.2.1 Caadores-coletores.................................................................................................61
1.2.2 Agricultores ceramistas pr-coloniais......................................................................65
1.2.3 Aspectos etno-histricos dos Guarani e Kaingang no Brasil Meridional................85
CAPTULO 2 - PRESSUPOSTOS TERICO-METDOLOGICOS E TCNICOS.............94
2.1 O legado de Franz Boas e Marcel Mauss.............................................................................94
2.2 Cadeias operatrias e sistemas tcnicos...............................................................................97
2.3 Etnicidade e o contato entre culturas..................................................................................103
2.4 Estilo e o estudo da cermica arqueolgica.......................................................................110
2.5 Paisagens, contexto arqueolgico e sistema de assentamento.........................................113
CAPTULO 3 - PROJETO SALVAMENTO ARQUEOLGICO URUGUAI E OS
ASSENTAMENTOS PR-COLONIAIS DA VOLTA DO UV.........................................117
3.1 Marilandi Goulart e os projetos de pesquisa realizados no alto rio Uruguai..................117
3.2 Contexto ambiental e os stios arqueolgicos....................................................................127
3.3 A Volta do Uv e os stios arqueolgicos analisados.......................................................134
3.3.1 Stio Valdemar Stensseler (009)............................................................................137
3.3.2 Stio Silvino Prediger I (010).................................................................................142
3.3.3 Stio Armandio Vortmann (011)............................................................................146
30
INTRODUO
1
No Brasil no h um consenso quanto denominao desse grupo, os pesquisadores dividem opinies entre os
termos Tupiguarani e Guarani. O termo Tupiguarani (sem hfem) foi criado na dcada de 1960, por
pesquisadores do PRONAPA, para denominar uma indstria cermica que era abundantemente encontrada em
espaos florestados da bacia do rio da Prata, rio So Francisco e litoral, os produtores desse material eram
aparentados com o tronco lingustico Tupi-Guarani (com hfem). J a denominao Guarani ou subtradio
Guarani, foi muito difundida por Jos Justiano Proena Brochado na dcada de 1980, objetivando fazer a ligao
entre os produtores de cermica e os grupos tnicos conhecidos historicamente (LIMA, 2010).
2
Neste trabalho utilizo de forma genrica o termo Itarar-Taquara que trata-se de um complexo arqueolgico
com variaes regionais ainda no totalmente detalhado. Na concepo de Arajo (2001): a) Utilizar o termo
tradio Eldoradense, [...] uma vez que a mesma foi reconhecida dez anos antes na Argentina, e a precedncia do
termo inquestionvel. b) Utilizar o termo tradio Itarar uma vez que a mesma foi definida antes da tradio
Taquara no territrio brasileiro. c) Utilizar o nome composto tradio Itarar-Taquara (ARAJO, 2001, p. 23).
3
uma extensa curva do rio Uruguai, onde desemboca o rio Uv afluente da margem direita, tambm
denominado pela cartografia como rio Engano.
4
O alto Uruguai compreende desde a formao do rio at o salto do Yucum, localizado no municpio de El
Soberbio, Misiones/Argentina e Derrubadas no Rio Grande do Sul.
5
No banco de dados do Sistema de Gerenciamento do Patrimnio Arqueolgico do Instituto do Patrimnio
Histrico e Artstico Nacional, os stios foram cadastrados como: SC488 Valdemar Stensseler; SC489 Silvino
Prediger I; SC490 Armandio Vortmann; SC492 Otto Aigner; contudo, neste trabalho utiliza-se a nomenclatura
dada por Marilandi Goulart e que est nos relatrios analisados.
6
Monografia intitulada Assentamentos pr-coloniais no alto Uruguai: anlise do material sseo dos stios 011 e
013 do municpio de It/SC, apresentada no curso de especializao Lato Sensu em Histria Regional, da
Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Chapec sob orientao do Prof. Dr. Jaisson Lino.
32
7
A prospeco um mtodo que permite o reconhecimento dos stios de uma determinada regio. A delimitao
da regio a ser estudada pode ser demarcada naturalmente, culturalmente ou de forma arbitrria. Ela pode ser
feita de forma superficial, a partir de caminhamentos ou interventiva, quando so realizadas sondagens no
subsolo. A prospeco pode ser extensiva ou intensiva. Ela extensiva quando se renem informaes de reas
prximas, com o objetivo de conseguir perspectivas mais amplas de mudanas da paisagem, uso da terra e os
assentamentos ao longo do tempo. Ela intensiva quando se busca cobrir totalmente um achado extenso ou um
aglomerado deles, poderia ser chamada tambm de prospeco microrregional (RENFREW; BAHN, 1993, p.
67-73)
8
Cabe destacar que na dcada de 1980 os relatrios resultantes dos projetos de arqueologia realizados em Santa
Catarina eram enviados Superintendncia do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional no Rio de
Janeiro, somente em fins daquela dcada que passam a ser enviados 11 Superintendncia Regional de Santa
Catarina.
9
Neste trabalho tambm ser dada nfase histria do projeto que deu origem ao acervo objeto desta pesquisa.
O desenvolvimento desse tpico foi integrado por sugesto da banca de qualificao deste trabalho ocorrida em
outubro de 2012, dada a importncia do tema em termos de arqueologia pblica.
10
Dos stios analisados por Marilandi Goulart, ao menos outros dois apresentaram cermica Guarani e Itarar-
Taquara: Stio Claus R. Papke e Curt Geib (127), localizado na linha Estreito, municpio de Palmitos/SC e Stio
Jos da Rocha (37), localizado na linha Santa Cruz, municpio de It/SC.
33
incio as primeiras pesquisas arqueolgicas realizadas por autodidatas, seguidas por trabalhos
vinculados ao Programa Nacional de Pesquisas Arqueolgicas (PRONAPA), desenvolvido
entre 1965 e 1970, sob a coordenao de Betty Meggers e Clifford Evans. Nos ltimos trinta
anos, devido grande incidncia de obras de impacto ambiental, associadas necessidade de
realizao de estudos arqueolgicos, houve um aumento nas pesquisas de arqueologia
consultiva, resultando num grande nmero de stios registrados e de colees arqueolgicas
(CARBONERA, 2008, 2009, 2011a, 2011b).
Para exemplificar essa questo, Caldarelli e Lavina (2011, p. 64) realizaram uma
consulta aos arquivos da 11 Superintendncia do IPHAN/Santa Catarina e mostraram que as
pesquisas arqueolgicas do Oeste catarinense, em funo de novos empreendimentos, entre
2001 e 2010, foram responsveis pela totalidade de registros de novos stios e pelo estudo de
parte deles.
Como ocorreu em boa parte do territrio brasileiro, as primeiras pesquisas
arqueolgicas realizadas no alto Uruguai classificaram a cultura material recuperada em fases
e tradies. Os stios das populaes de caadores-coletores foram classificados em duas
tradies, Umbu e Humait; e os stios dos grupos agricultores relacionados aos Guarani e
Itarar-Taquara. Destacam-se nesse perodo as pesquisas de Schmitz (1957, 1978), Rohr
(1966, 1968), Miller (1969, 1971) e Piazza (1969a, 1971). Dentre as principais caractersticas
utilizadas para distinguir essas sociedades, estava o tipo da cermica e as reas de ocupao,
os stios Guarani preferencialmente em reas de Floresta Estacional Decidual nas margens do
rio Uruguai, e os stios Itarar-Taquara identificados em reas mais altas de planalto com
presena de Floresta Ombrfila Mista.
A partir do final da dcada de 1970, com os projetos de arqueologia consultiva, foram
registradas outras dezenas de stios arqueolgicos e levantadas novas informaes sobre essas
populaes. A difuso do conhecimento resultante foi realizada por meio de relatrios,
trabalhos acadmicos e artigos cientficos, apontando que este rio foi uma das principais vias
de ocupao humana pr-colonial no que se conhece hoje por Sul do Brasil (ROHR, 1966;
SCHMITZ, 1978; GOULART et al., 1985a, 1987a, 1987b, 1988a, 1988b, 1997a; Museu De
Cincias e Tecnologia/PUCRS, 2001; CALDARELLI, 2010).
34
Objetivos e hipteses
A arqueometria pode ser definida com um ramo da Arqueologia que usa a Qumica,
Fsica, Estatstica, Biologia ou outro ramo da Cincia para estudar problemas arqueolgicos
(BONA, 2006, p. 194). Para Appoloni et al., (1997), na Arqueologia brasileira alm dos
mtodos, de Carbono 14 e Termoluminescncia (TL), at o incio da dcada de 1990,
nenhuma outra tcnica nuclear arqueomtrica era correntemente utilizada para as pesquisas
com cermicas, a no ser em alguns poucos casos. Destaco, nesse sentido, Mrcia Angelina
Alves, que tem conduzido estudos arqueomtricos desde a dcada de 1980, com amostras
cermicas provenientes de stios dos estados de So Paulo e Minas Gerais (ALVES, 1982,
1988, 1994/1995, 2006, 2008; ALVES; GIRARDI, 1989; ALVES et al., 2013).
Um dos recursos analticos empregados foi a Microscopia Petrogrfica de luz
transmitida para anlise mineralgica, com o objetivo de determinar a composio da
cermica e detectar elementos naturais e culturais. utilizada pelos gelogos no estudo das
rochas e minerais, tem sido uma ferramenta de grande utilidade para o estudo de cermica;
Shepard (1956) foi a pioneira a empregar esta tcnica. Para Sol (2004), o trabalho de Anna
Shepard produziu uma verdadeira revoluo analtica, as pesquisas abordavam a composio
da matria-prima, argila e antiplstico, empregadas na confeco de uma vasilha cermica.
Para Stoltman (2001), a microscopia petrogrfica frente s novas e sofisticadas
tcnicas analticas (como ativao neutrnica ou extrao cida) para anlise composicional11
da pasta cermica pode parecer absoleta, porm uma ferramenta valiosa e muitas vezes sub-
utilizada pelos arquelogos. A petrografia e as anlises de elementos no competem entre si,
mas se complementam, juntas podem trazer informaes importantes sobre composio da
cermica. Assim, segundo o autor, a petrografia pode ser utilizada para esclarecer questes
como: classificao, tcnicas de manufatura, produo e intercmbio (STOLTMAN, 2001, p.
297-298).
Ainda para Stoltman (2001) possvel utilizar a petrografia para levantar informaes
sobre a produo cermica, demonstrando se um conjunto produzido localmente ou no,
com base nos materiais disponveis na rea e empregados na pasta. Nesse caso, o autor utiliza
o postulado de provenincia, analisando mediante o estudo da pasta se os sedimentos e outras
unidades litolgicas so locais, se h correspondncia entre as matrias-primas usadas como
tempero, ou se outros elementos cumprem essa funo, o postulado invalidado quando a
composio da cermica no local coincide com os materiais da regio analisada.
11
Os materiais podem ser: minerais; fragmentos lticos (provenientes das rochas gneas ou magmticas; rochas
sedimentares, rochas metamrficas); chamote (cermica triturada); grumos de argila (partculas de argila que se
conservam mesmo depois do cozimento); vidro vulcnico, pigmentos (exemplos: hematita, restos carbonosos);
orgnicos (de origem vegetal); bioclastos (de origem animal), para melhor entendimento ver Sol (2004).
36
12
Participaram: Alexandre Goto, Bruno Trazzi, Carlos Alberto Simes, Guilherme Alayo, Matheus Caseri,
Paula Cepollaro e Osmar Waideman.
37
energticos. Ao retornarem para sua posio inicial, liberam a energia adquirida, a qual
emitida em comprimento de onda no espectro de raios X (BONA, 2006, p. 194). A
metodologia identifica elementos e no sua forma qumica, podendo ser anlise qualitativa
e/ou quantitativa, medindo-se a parte interna e externa da amostra. Se esta no tiver uma
distribuio homognea dos elementos, a anlise de uma poro muito pequena no dar um
resultado do real. um mtodo no destrutvel, os espectros so de fcil compreenso,
medindo amostras muito variadas. Para alguns bens culturais, os resultados da anlise
quantitativa podem no ser muito satisfatrios, porque os elementos no se apresentam em
regularidades e quantidades homogneas.
A Fluorescncia de Raios X foi empregada porque permite identificar os diferentes
elementos qumicos que formam uma amostra. Para esta pesquisa foram realizadas medidas
das pastas da cermica Guarani e Itarar-Taquara, objetivando determinar diferenas nas
composies das argilas utilizadas na confeco dos utenslios. Para a cermica Guarani, o
mtodo foi utilizado tambm para identificar os pigmentos empregados na pintura dos
vasilhames.
As medidas foram processadas pelo Laboratrio de Fsica Nuclear Aplicada,
Departamento de Fsica, da Universidade Estadual de Londrina, realizadas pelo acadmico de
Fsica Gustavo H. dos Santos, sob a superviso do prof. Dr. Carlos R. Appoloni. Foram
medidas quinze amostras Guarani e dezenove Itarar-Taquara, totalizando trinta e quatro
amostras. Na pasta e nas faces (interna e externa), foram feitas trs medidas. J em recipientes
reconstitudos foram realizados entre trs e cinco. O sistema de fluorescncia de raios X
porttil (PXRF) constitudo de um mini-tubo de raios X de 4W com um alvo e filtro de Ag
(modelo FTC 100 Moxtek Inc.), um detector de Si-Drift com resoluo de 139 eV para a linha
de 5,9 keV (Modelo SDD X123 AMPTEK) e eletrnica padro. O detector e o mini-tubo de
raios X so posicionados num suporte com graus de liberdade de translao e rotao em
relao amostra. Foi empregado um colimador de Ag de 3 mm de dimetro na entrada do
detector. Foi utilizado o aplicativo PMCA AMPTEK para a aquisio dos dados. Os espectros
foram analisados e quantificados com o aplicativo WINQXAS (AXIL).
A anlise de granulometria e mineralogia tambm foi utilizada, tcnica usada para
identificao da matria-prima que originou a pea cermica, uma vez que as argilas
sedimentares presentes em territrio brasileiro normalmente contm um frao considervel
de material grosseiro como silte e/ou areia. A frao granulomtrica obtida a partir da
separao por meio de peneiramento de suas fraes e pesagem (GOULART, 2004, p. 255-
256). Aps a realizao das coletas feitas com o auxlio da Dra. Carolina Maluche Barreta, as
38
amostras foram secas ao ar, sendo parte delas encaminhadas para anlise granulomtrica por
via mida no Laboratrio de Anlise de Solos da Epagri Campos Novos/SC, e realizadas
pelo Dr. Milton da Veiga.
Por fim, foram realizadas quatro datas de TL referente ocupao Guarani de cada
stio, processadas pela Dra. Sonia Hatsue Tatumi, em laboratrio da Universidade Federal de
So Paulo (UNIFESP Campus Baixada Santista), facilitadas pela Dra. Mrcia Angelina
Alves. Foram processadas quatro datas de Carbono 14 no Laboratrio Beta Analytic, em
Miami (EUA), trs para as ocupaes Itarar-Taquara e uma para o nvel caador-coletor do
stio Otto Aigner 1; a separao e o envio das amostras foram realizadas pelo Prof. Dr. Pedro
Igncio Schmitz, do Instituto Anchietano de Pesquisas (Unisinos). Outras duas datas de
Carbono 14 foram processadas no Department of Earth System Science, University of
Califrnia (EUA) para a ocupao Itarar-Taquara do stio Otto Aigner 2 (CARBONERA;
LOPONTE, SILVESTRE, no prelo). No total foram processadas seis datas de Carbono 14 e
quatro por TL.
A cultura material dos stios analisados nesta tese integra o Acervo Marilandi
Goulart. Este acervo resultado das etapas de pesquisa do Projeto Salvamento Arqueolgico
Uruguai e Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai UHE It, amplo projeto de arqueologia
consultiva desenvolvido, entre as dcadas de 1980 e 1990, sob a coordenao da arqueloga
Marilandi Goulart13. Inicialmente ela estava vinculada ao Departamento de Antropologia da
Universidade Federal de Santa Catarina e, em meados da dcada de 1990, estabeleceu vnculo
com a Universidade do Vale do Itaja.
Com base no Acervo Marilandi Goulart, entre 2006 e 2008, tambm desenvolvi
trabalho de mestrado14. O Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai compreendeu, na fase
13
Marilandi Goulart nasceu em Florianpolis/SC, no dia 06 de abril de 1947, e faleceu em maio de 1998. O
ensino fundamental e mdio foram cursados em escolas da capital, licenciou-se em Histria, pela Universidade
Federal de Santa Catarina em 1972; doutorou-se em Antropologia Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e
Cincias Humanas da Universidade de So de Paulo (GOULART, 1996). Sob a orientao de Prof. Dra. Luciana
Pallestrini, concluiu a tese em 1982, com o ttulo Novas perspectivas de anlise cermica em pr-histria
brasileira, esta objetivou analisar a cermica arqueolgica do Vale do Paranapanema na margem paulista, tendo
como base a granulometria, a mineralogia, micrscopia, qumica e por difratometria de raio X (GOULART,
1982, p. 1).
14
Meu envolvimento com o Acervo Marilandi Goulart aconteceu, entre 2001 e 2002, como aluna da
especializao latu sensu gerada, em decorrncia do acervo, neste perodo ocorreu o repatriamento do material
inicial, as prospeces realizadas em amplo territrio desde a formao do rio Uruguai at o
municpio de Itapiranga e aconteceram entre 1980 a 1985. Em seguida, teve incio o Projeto
Salvamento Arqueolgico Uruguai UHE It, que compreendeu as etapas de pesquisa
arqueolgica desenvolvidas na rea atingida pelo canteiro de obras e reservatrio do
Aproveitamento Hidreltrico de It, entre 1986 a 1988 e, 1995 a 1996 (GOULART, 1997a;
CARBONERA, 2008; 2010, 2011).
Dos estudos de aproveitamento energtico na bacia do rio Uruguai realizados na
dcada de 196015 identificou-se um potencial para 22 barragens. Em fins da dcada de 1970,
Schmitz (1978), a partir das pesquisas arqueolgicas at ento realizadas no alto Uruguai,
apontou os impactos que estes empreendimentos causariam ao patrimnio cultural pr-
histrico, observando a importncia de serem realizadas pesquisas de salvamento:
17
O resumo das etapas foi feito com base nos relatrios analisados, embora sejam observadas informaes
contraditrias quanto a datas, locais pesquisados, nmeros de stios registrados etc.
18
A etapa de levantamento da barragem de Itapiranga resultou numa publicao em trs tomos datados de 1985,
isso porque a equipe de pesquisa foi dividida. Cada equipe foi responsvel por uma rea especfica do futuro
reservatrio: a margem direita do rio coube ao Laboratrio de Arqueologia da Universidade Federal de Santa
Catarina (Tomo I) e para a Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Tomo III), a margem esquerda coube
Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul (Tomo II) (GOULART, 1997a, p. 89).
Atravs das etapas de pesquisa coordenadas por Marilandi Goulart, foram levantados
310 stios arqueolgicos, destes 227 em Santa Catarina e 79 no Rio Grande do Sul,
distribudos em 15 municpios19. Sendo inventariados 56.784 objetos lticos, 135.488
fragmentos cermicos e 68 vasilhas (algumas inteiras), 844 amostras de sedimentos (areia,
argila e carvo), 317 amostras de material sseo, 26 amostras de material conchfero. Dos 310
stios, 201 estavam localizados na rea atingida pela UHE It, destes 167 foram registrados
nas cotas de desvio do rio Uruguai e de enchimento do reservatrio e 34 na rea do canteiro
de obras; os demais 109 stios seriam atingidos pela UHE Machadinho, Barra Grande,
Itapiranga ou foram estudados devido ao convnio estabelecido com a Prefeitura Municipal
de Chapec (GOULART, 1995a; CARBONERA, 2008).
Aps mais de trinta anos do incio das atividades, o Acervo Marilandi Goulart
constitui-se num dos maiores projetos de Arqueologia Consultiva j desenvolvidos na bacia
do alto rio Uruguai, porque nas suas diferentes etapas reuniu um grande acervo arqueolgico,
envolveu muitas instituies e atingiu uma extensa rea, que compreendia todo o trecho
nacional do rio Uruguai. Os dados desse projeto contriburam para confirmar a importncia
deste rio, que j havia sido caracterizado por Rohr (1966) e Schmitz (1978) como uma das
principais vias de penetrao e desenvolvimento das populaes pr-coloniais do Sul do
Brasil, representadas pelos numerosos stios arqueolgicos localizados em suas margens.
Com o final das atividades de campo e laboratrio em 1997, o acervo arqueolgico foi
mantido em uma coleo nica, que inicialmente estava no Laboratrio de Arqueologia da
Universidade Federal de Santa Catarina, em prdio construdo para este fim com verba da
Eletrosul. J em meados dos anos 1990, o acervo que estava salvaguardado na Universidade
Federal de Santa Catarina, foi transferido para um depsito da Eletrosul, onde ficaria
temporariamente at ser encaminhado para a Universidade do Vale do Itaja, Campus de
Itaja, j que Marilandi Goulart havia estabelecido vnculo com esta instituio
(CARBONERA, 2008; 2010).
Com o falecimento de Marilandi Goulart, em 1998, o acervo arqueolgico acabou
ficando por mais alguns anos num depsito da Eletrosul (Florianpolis). No incio da dcada
de 2000, a 11 Superintendncia Regional o Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional, buscou implementar um projeto de repatriamento 20 do acervo para a regio de
origem, tendo em vista duas universidades regionais como possveis instituies de guarda,
19
Os municpios pesquisados em Santa Catarina foram: It, Concrdia, Ipira, Piratuba, Anita Garibaldi,
Palmitos, Caibi, Monda, Itapiranga, Chapec; no estado do Rio Grande do Sul foram: Marcelino Ramos,
Aratiba, Severiano de Almeida, Mariano Moro, Machadinho.
20
O projeto de repatriamento foi coordenado pelo arquelogo Rossano Lopes Bastos (na poca representante da
11 Superintendncia do IPHAN/SC) e Jos Luiz de Morais (MAE/USP).
sendo elas: a Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Misses (URI-Campus
de Erechim) e o Centro de Memria do Oeste de Santa Catarina (CEOM), mantido pela
Universidade Comunitria da Regio de Chapec (Unochapec). No entanto, a salvaguarda
do material foi concedida URI (Campus de Erechim), atravs da portaria do Instituto do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, nmero 218/2002 que determina o seguinte:
21
Contrato nmero 8.360, celebrado entre URI-Campus de Erechim e Gerasul, em 4 de junho de 2001.
material fotogrfico22 e de relatrios parciais produzidos em: 1980, 1983, 1985, 1986, 1987,
1988, 1989.
A partir das diferentes etapas do Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai, foi
possvel a valorizao e, de certa forma, a difuso do conhecimento sobre o patrimnio
arqueolgico do alto Uruguai, atravs da recuperao de um grande acervo de cultura material
das sociedades pr-coloniais, especialmente dos grupos ceramistas. Durante sua execuo,
possibilitou o envolvimento de muitas instituies, bem como de profissionais de diversas
reas do conhecimento.
No comeo dos anos 2000 com o desenvolvimento do Projeto Usos Mltiplos do
Acervo Marilandi Goulart, teve incio uma nova fase, que permitiu outros desdobramentos,
como: o repatriamento do acervo; a formao de profissionais a partir do Curso de
Especializao Lato Sensu Processos Interdisciplinares em Arqueologia 23; o debate sobre
gesto de colees arqueolgicas advindas de projetos de licenciamento ambiental na regio;
assim como fomentou a criao de dois Ncleos Regionais de Arqueologia: o Ncleo de
Estudos Etnolgicos e Arqueolgicos do Centro de Memria do Oeste de Santa Catarina
mantido pela Unochapec e o Ncleo Regional de Arqueologia mantido pela URI (Campus de
Erechim).
O projeto e a execuo do repatriamento do acervo que se encontrava depositado no
litoral catarinense para a URI (Campus Erechim) possibilitou a realizao de um curso de
especializao lato sensu, que formou recursos humanos numa regio carente de profissionais
especializados em Arqueologia. Alm de formar profissionais, trouxe novas possibilidades de
trabalho com o patrimnio arqueolgico especialmente na sensibilizao da comunidade, na
perspectiva de que esses bens deixem de ser considerados velharia intil para se transformar
em patrimnio caro populao local.
No Ncleo de Estudos Etnolgicos e Arqueolgicos (Neea/Ceom/Unochapec) 24, os
desdobramentos da especializao tm sido frutferos, em trs aspectos principais: a)
realizao de projetos de pesquisas de longa durao; b) salvaguarda de colees
arqueolgicas; c) difuso do conhecimento produzido atravs de exposies itinerantes e de
longa durao, livros, artigos, atividades educativas, entre outros. As atividades visam rever
22
O fotgrafo da cidade de It/SC contratado para produzir as imagens das pesquisas arqueolgicas, referentes a
UHE It, relatou que eram feitas imagens coloridas e tambm em preto/branco, contudo ele no arquivou
nenhum negativo, pois o contrato estabelecido com Marilandi Goulart previa inclusive a entrega dos negativos.
23
Realizado na URI (Campus de Erechim), com uma primeira edio desenvolvida, entre 2001 e 2003.
24
Como dito anteriormente, fui aluna da primeira turma do curso de especializao lato sensu, pude acompanhar
o processo de repatriamento e a criao do Ncleo de Arqueologia do Ceom (Unochapec), onde fui contratada e
continuo at hoje desempenhando atividades tcnicas em Arqueologia o que possibilitou assim dar continuidade
das pesquisas com o Acervo Marilandi Goulart.
concepes arraigadas e preconceituosas que a comunidade atual mantm em relao s
sociedades indgenas pretritas e contemporneas e possibilitar a valorizao e a preservao
desse patrimnio (CARBONERA, ONGHERO, ARGENTA, 2013).
A partir do Acervo Marilandi Goulart, foi concebida tambm uma exposio de
longa durao exibida no Centro de Divulgao Ambiental (CDA), localizado na cidade de
It/SC e mantido pelo Consrcio It. Fica evidente que o Projeto Salvamento Arqueolgico
Uruguai analisado com o conhecimento disponvel hoje teve muitas limitaes, mas o acervo
resultante poder fomentar outras pesquisas a partir de novas problemticas.
25
Este stio ser descrito somente neste captulo, porque foi escavado recentemente, seus dados contribuem para
entender os demais, que foram estudados por Marilandi Goulart.
CAPTULO 1
ANTECEDENTES: PAISAGEM E OCUPAES HUMANAS
NO ALTO RIO URUGUAI-SC
1.1 Ambientao
O municpio de It/SC est a uma altitude mdia de 385 metros; a posio geogrfica
determinada pelas coordenadas de 2717'26" de latitude sul, e 5219'23" de longitude oeste de
Greenwich, situado s margens do rio Uruguai, possui 6.426 habitantes e uma rea territorial
de 165,463 km. Foi elevado categoria de municpio no ano de 1956, quando foi
desmembrado de Seara/SC (figura 1) (IBGE, 2012).
47
26
Vales em V so produtos do entalhamento fluvial, por vezes acompanhando linhas de fratura, em vertentes
ngremes (SUERTEGARAY, 2008, p. 135).
50
Figura 3. Mapa da geomorfologia da rea estudada com indicao da localizao dos stios
arqueolgicos selecionados: 9= Valdemar Stensseler, 10= Silvino Prediger I, 11= Armandio
Vortmann, 13= Otto Aigner 1. Elaborao: Juliana Ramm.
Figura 4. Vista do relevo, vales encaixados e vertentes ngremes. No detalhe da rea circulada
localizao dos stios Otto Aigner 1 e 2. Autor: Daniel Loponte, 2013.
Para Rambo (1935) um dos pontos que chama ateno na fisionomia do alto Uruguai
a forma dos vales, sua estrutura determinante para a formao da paisagem, as encostas
cercam os vales, com serras que mantm uma mdia de 300-330 metros de altura, quase
sempre ngremes nos flancos e planas no topo (RAMBO, 1935, p. 12).
51
A principal drenagem da rea o rio Uruguai, sendo um dos trs grandes rios da bacia
do Prata. A bacia do rio Uruguai ocupa uma rea de 365.000 km, da rea total
aproximadamente 48% encontra-se em territrio brasileiro, sendo 46.000 km situados no
estado de Santa Catarina e 130.000 km no Rio Grande do Sul (MAGRI et al., 2008, p. 11). A
bacia do Uruguai a maior bacia hidrogrfica de Santa Catarina (PRATES et al., 1989, p. 67).
O rio Uruguai nasce na Serra Geral, da confluncia dos rios Pelotas e Canoas, cujas
nascentes se localizam, respectivamente, no Morro da Igreja e no Campo dos Padres
(PRATES et al., 1989, p. 67). O rio Uruguai se forma mais ou menos a 1.200 metros acima do
nvel do mar e percorre um total de 2.262 km at o esturio do Prata, do qual fazem parte
tambm os rios Paran e Paraguai.
Em territrio brasileiro, na sua poro inicial, o rio Uruguai divide Santa Catarina do
Rio Grande do Sul. Nesse trecho, o rio recebe na sua margem direita como afluentes
principais: os rios do Peixe, Rancho Grande, Jacutinga, Engano, Ariranha, Irani, Chapec,
So Domingos, das Antas, Iracema, Macaco-Branco, Peperi-Guau. E na margem esquerda os
afluentes principais so: Forquilha, Ligeiro, Passo Fundo, da Vrzea, Guarita e Turvo. Aps a
confluncia do Peperi-Guau, passa a fazer fronteira com a Argentina e em seguida, da
Argentina com o Uruguai (figura 5).
Figura 5. Mapa da hidrografia da rea estudada. Elaborao: Juliana Ramm.
No seu percurso total, o rio pode ser dividido em trs grandes regies, separadas por
barreiras fsicas: o Salto do Yucum separa o alto do mdio rio Uruguai, enquanto a barragem
de Salto Grande, onde antes havia uma queda dgua de mesmo nome, divide o mdio do
baixo Uruguai (MAGRI et al., 2008, p. 11-12). Sobre a bacia do alto rio Uruguai, na margem
direita, destaca-se a presena de estncias de guas termais, como guas de Chapec, So
Carlos, Piratuba, Palmitos, Caibi e Monda (PRATES et al., 1989, p. 67).
O alto Uruguai apresenta vales bastante encaixados e corredeiras, o que o torna pouco
navegvel, exceto quando as cheias cobrem os saltos. A regio no possui lagoas marginais e
apresenta irregularidade sazonal de chuvas, as quais normalmente so mais intensas no
inverno. Caracteriza-se tambm por apresentar, alm de muitas cachoeiras, quedas dgua e
estreitamentos, trechos de guas paradas formando reas de remanso mais profundas (MAGRI
et al., 2008, p. 12).
Figura 6. Vista da floresta estacional decidual no alto Uruguai, em princpios do sculo XX.
Fotgrafo: Fritz Plaumann, dcada de 1920.
27
Planaltos so constitudos por superfcies topogrficas irregulares. Sua origem associa-se a processos erosivos
que, prolongando-se por longo tempo, ressaltam relevos residuais. Estes podem apresentar configurao variada,
ou seja, formarem-se por um conjunto de morros, colinas, serras e chapadas (SUERTEGARAY, 2008, p. 129).
temperatura deve apresentar mdias mnimas abaixo dos 11,5C e mdia mxima em torno
dos 22C (BEBER, 2004, p. 117).
Para ASaber (1967), a mata de pinhais que a cobertura vegetal predominante em
todo o Planalto Meridional de Santa Catarina, considerada a grande relquia de um passado
geolgico, caracterizado pela presena de clima mais frio e mais seco que o atual (figura 7).
Segundo Klein (1960), a vegetao dos pinhais no se apresenta hoje como uma formao
homognea. Na Mata Pluvial Atlntica e nas Matas de Araucria, bem como nas florestas
subtropicais do oeste paranaense e catarinense, estas associaes se encontram em visvel
desequilbrio dinmico, originando desta forma, vrios estgios sucessionais ou diferentes
tipos de submata nas diversas reas de ocorrncia (KLEIN, 1960). Para o autor, grandes reas
de florestas de araucrias tm sido conquistadas pela floresta subtropical, infiltrando-se nas
associaes mais evoludas dos pinhais, alterando de tal forma o microclima do interior que as
espcies caractersticas dos pinhais no conseguem mais se reproduzir. Tambm a rea
geogrfica do vale do Uruguai, hoje recoberta de floresta subtropical, foi no passado recoberta
de mata de pinhais. Klein (1960), no entanto, calcula que este fenmeno de substituio tenha
ocorrido na regio por volta de 2.000 anos atrs.
Figura 7. Mata de Araucria oeste catarinense. Imagem: Vitorino Zolet, dcada de 1960.
Na regio de It, observam-se solos28 classificados como Cambissolos, possuem
fertilidade natural elevada, so bem drenados, ricos em ferro e alumnio, porm so pouco
profundos e, em alguns locais, apresentam afloramentos rochosos. De um modo geral,
ocorrem na regio solos muito jovens, pouco desenvolvidos e pouco propcios para o
aproveitamento agrcola, associados a relevos mais acidentados (CNEC, 1990, p. 21). O solo
da rea estudada apresenta colorao, textura e composio decorrentes da decomposio dos
distintos horizontes de derrames baslticos (zona vtrea, zona amigdaloide, etc.), que
recobrem praticamente toda a regio (GOULART, 1997b, p. 35). As fontes argilosas
encontram-se nos depsitos de materiais areno-sltico-argilosos situados ao longo das
plancies de inundao das principais drenagens (rio Uruguai, rio Uv), gerados pela
deposio das correntezas durante as pocas de cheias (GOULART, 1997b, p. 48).
Para melhor entender os solos locais, coletaram-se dezesseis amostras em reas
prximas aos stios analisados. Os horizontes O e A foram descartados, sendo considerada
para esta pesquisa a frao mais argilosa, ou seja, o horizonte B. Foram abertos perfis para
identificar a profundidade do horizonte B, este era encontrado em mdia a partir dos 45 cm.
Com as amostras secas ao ar, processou-se a anlise granulomtrica, onde destacam-se solos
muito argilosos, principalmente nos stios Valdemar Stensseler (009) e Silvino Prediger I
(010).
s margens do rio Uruguai, o clima subtropical mido, apresentando duas pocas
distintas: o vero quente possui temperatura mdia superior a 22C (clima que encontrado
alm do extremo oeste, tambm no litoral catarinense), e o inverno apresenta temperaturas
baixas, sendo registradas mdias inferiores a 10oC. Nas reas mais elevadas de Santa Catarina,
no Planalto de Canoinhas e Ocidental, encontra-se clima subtropical com veres brandos, o
ms mais quente tem temperaturas mdias inferiores a 22C, a temperatura suavizada pelo
relevo (PRATES et al., 1989, p. 58-59).
De um modo geral, o estado de Santa Catarina recebe um total anual de chuvas entre
1.250 a 2.000 mm, pequenas regies fogem a essa regra (PRATES et al., 1989, p. 57). Chove
muito na regio do alto Uruguai, as mdias anuais so superiores a 1.400 milmetros
(CONSRCIO IT, 2000, p. 23).
28
O solo considerado como resultado da ao do clima e dos organismos sobre o material de origem no relevo,
durante um determinado tempo. O solo constitudo pelas fases slida (materiais mineral e orgnico), lquida e
gasosa. medida que as rochas se intemperizam, os horizontes ou as camadas se diferenciam entre si. A parte
superior, mais intemperizada do perfil do solo, corresponde aos horizontes A+B. O perfil de solo o conjunto de
horizontes e/ou camadas no sentido vertical, desde a superfcie at o material originrio (PRADO, 2003, p. 3-
10).
1.1.4 Aspectos da fauna
Figura 12. Torres da igreja da cidade velha de It. Imagem: Mirian Carbonera, 2013. Acervo
Ceom/Unochapec.
29
O Estreito Augusto Csar, ou simplesmente Estreito do Uruguai, era um canion com 8.900 metros de
extenso, onde o rio Uruguai, que chega a ter mais de 1 km de largura em alguns pontos, estreitava-se para
poucos metros de largura e, em um certo ponto - com apenas 60 cm - permitia que se colocasse um p em cada
margem do rio.
1.2 Ocupaes humanas
1.2.1 Caadores-coletores
A anlise da cultura material desses stios tem reforado a tradio Umbu e indica que
as populaes de caadores-coletores dessa tradio seriam as primeiras a ocupar a regio,
sendo portadores de um conjunto de pequenos artefatos de tecnologia bifacial atravs da
tcnica unipolar (BRGGEMANN; HOELTZ, 2011, p. 127). Os objetos foram produzidos
especialmente a partir do arenito silicificado, resultando principalmente em pontas de projtil
de tipologias variadas e um conjunto de lminas de gumes finamente retocados, peas
bifaciais de tecnotipos variados, de pequeno porte, medindo entre 5 e 10 cm, apresentaram
tambm uma variedade de resduos de lascamento unipolar (DIAS; HOELTZ, 2010, p. 57). A
produo laminar foi analisada com mais detalhe por Lourdeau, Hoeltz e Viana (2014), o
sistema tecnolgico de produo laminar, segundo os autores, havia sido ignorado at ento
pelos pesquisadores dessa regio e demonstra uma variabilidade na produo ltica que pode
ser analisada de forma macroregional, implicando na necessidade de repensar a coerncia e a
homogeneidade da tradio Umbu no plano tcnico.
Outro stio relacionado ao povoamento mais antigo foi localizado prximo ao rio Pas-
so Fundo, afluente da margem esquerda do rio Uruguai, municpio de Faxinalzinho/RS, De
Masi (2012) registrou e escavou o stio RS-FA-36, processou seis datas: o nvel 10 em 11.710
A.P. (Beta 310711), o nvel 9 em 10.230 A.P. (Beta 308748) e 10.370 A.P. (Beta 301710), o
nvel 8 em 10.490 A.P. (Beta 310712), o nvel 7 datado em 10.260 (Beta 310713) e o nvel 6
datado em 9.240 A.P. (Beta 310714). O material ltico associado aos nveis datados variado,
com a presena de pontas de projtil, na superfcie foi coletado um fragmento de cermica Ita-
rar-Taquara (DE MASI, 2012).
As figuras 13 e 14 trazem um pouco da produo artefatual referente aos caadores-
coletores do alto rio Uruguai. Inclusive na figura 13, percebe-se a presena de uma ponta
estilo rabo peixe (primeira pea da primeira linha, de baixo para cima). Loponte, Carbonera e
Silvestre (no prelo) analisam essa ponta de projtil estilo rabo-de-peixe confeccionada em
calcednia e encontrada por moradores prximo ao rio Irani, afluente da margem direita do
rio Uruguai, a pea esta salvaguardada no CEOM/Unochapec. No artigo tambm so
descritas uma ponta e uma pr-forma desse mesmo estilo confeccionadas em quartzo,
encontradas no sul do estado de Santa Catarina (LOPONTE; CARBONERA; SILVESTRE,
no prelo). Pontas de projtil rabo-de-peixe so marcadores de caadores-coletores que
representam as primeiras ondas de ocupao humana, os contextos que acumulam maior
nmero de dataes radiocarbnicas oscilam entre 11.000 e 10.000 anos, sua distribuio
ampla e vai do centro at o extremo-sul do continente americano, especialmente na parte
ocidental (NAMI, 2014).
Figura 13. Pontas de projtil de arenito, Figura 14. Lminas de arenito, slex e
calcednia, slex e quartzo procedentes da calcednia, stios ALP-AA3, ACH-LP1 e ACH-
regio do alto rio Uruguai. Imagem: Mirian LP3. Imagem: Mirian Carbonera, 2013. Acervo
Carbonera, 2013. Acervo Ceom/Unochapec. Ceom/Unochapec.
Os caadores coletores que ocuparam as florestas do alto rio Uruguai ainda so pouco
conhecidos, existe um lapso temporal difcil de documentar e sobre o qual ainda no se dispe
de informaes, especialmente do Holoceno mdio at a chegada das sociedades agrcolas
tardias. Com as pesquisas realizadas at o momento, observa-se que esses antigos moradores
estavam presentes em toda a extenso do alto Uruguai. Novas pesquisas sero necessrias
para aprofundar o conhecimento sobre essas populaes. Nesse sentido, ao menos dois
projetos esto em andamento, um deles teve incio em 2011, abrange o oeste catarinense e a
provncia de Misiones, objetiva estudar desde as ocupaes antigas at os agricultores
ceramistas (LOPONTE; CARBONERA, 2013)31. Outro projeto teve incio em 2013, reunindo
arquelogos brasileiros e franceses, tem previso de durao minma de quatro anos e objetiva
trazer mais informaes sobre esses antigos caadores-coletores, o ponto de partida o
municpio de guas de Chapec, onde foram registrados os stios ACH-LP-1 e ACH-LP-332.
Por volta de 2.500 anos atrs, duas populaes ceramistas de matrizes culturais
distintas, Tupi e Macro-J, comearam a conquistar o sul do Brasil, implantando e
reproduzindo seus sistemas adaptativos baseados na agricultura. Em 1.000 anos, essas
populaes dominaram as margens das principais bacias hidrogrficas, expulsando,
assimilando ou exterminando os grupos que ali viveram por cerca de 10.000 anos (NOELLI,
1999-2000, p. 228).
Os vestgios das populaes agricultoras ceramistas do Sul do Brasil foram
classificados em trs tradies arqueolgicas, duas ocorrem nos trs estados, a tradio
Guarani e a tradio Itarar-Taquara, j a tradio Vieira foi identificada somente no Rio
Grande do Sul. Neste texto ser dada maior nfase s duas primeiras e sua histria no alto
Uruguai, j que so objeto dessa pesquisa. Os aspectos utilizados para diferenciar os grupos
tm sido principalmente o antiplstico, o tratamento de superfcie e a morfologia dos
recipientes cermicos, muito embora tambm so considerados os tipos dos stios e os
ambientes onde eles so encontrados.
A tradio Vieira associada a populaes que poderiam ter sido ancestrais dos
grupos Charruas e Minuanos, exterminados com a invaso dos europeus. Essas populaes
construam aterros, denominados cerritos, a partir de acampamentos sazonais, tanto em
ambientes litorneos como nos campos do interior, produziam alimentos, mas sua economia
31
Projeto denominado Arqueologia da Floresta Atlntica Meridional Sul Americana (ABAMS), realizado a
partir de convnio entre o Centro de Memria da Universidade da Regio de Chapec (Unochapec) e o
Ministrio da Cultura da Nao Argentina, coordenado pelo Dr. Daniel Loponte e Mirian Carbonera tem
previso de durao de dez anos. Atravs do Projeto ABAMS em 2013 foram escavados trs stios: stio Gruta
Trs de Mayo e stio Corpus ambos em Misiones e, stio Otto Aigner 2 (It/SC).
32
Projeto denominado Primeiros povoamentos do alto rio Uruguai (SC/RS), coordenado pelo Dr. Antoine
Lourdeau e Mirian Carbonera, conta com recursos do Ministrio das Relaes Exteriores da Frana.
dependia muito mais da caa, pesca e coleta. O elemento mais abundante a cermica, de
paredes finas, antiplstico grosseiro, com tratamento de superfcie simples e, em alguns casos
incises (SCHMITZ; NAUE; BECKER, 1991).
As informaes arqueolgicas, etnolgicas e da lingustica histrica comparada
apontam que os Tupi teriam origem amaznica, no atual estado brasileiro de Rondnia
(NOELLI, 2004, p. 18). Para Neves (2007), ainda no h um consenso sobre o local de
origem das famlias lingusticas tupi-guarani, que poderia ser entre os rios Madeira e Tapajs
at o Xingu ou no mdio rio Amazonas. De qualquer forma, o autor sugere que a regio
amaznica foi um campo de disperso de lnguas e da agricultura, j que existem quatro
grandes famlias lingusticas: arawak; tupi-guarani, carib e j (NEVES, 2007).
Brochado (1984) descreveu que a tradio Tupiguarani representa as cermicas
produzidas por dois grupos Tupi distintos: os Guarani e os Tupinamb. Segundo ele, as
distribuies tnicas histricas coincidem precisamente com a distribuio dos materiais
arqueolgicos que representam tradies e subtradies cermicas distintas (BROCHADO,
1984, p. 85). A partir de uma perspectiva notadamente difusionista, Brochado (1984, 1989),
juntamente com seu orientador Donald Lathrap, veem a Amaznia como foco de difuso
cultural. A presso demogrfica teria feito com que os grupos humanos se dispersassem, com
seus artefatos e prticas agrcolas para vrias direes, no incio da Era Crist, dois ramos de
uma cultura tipicamente amaznica teriam invadido o leste da Amrica do Sul. Para o autor, a
cultura Guarani expandiu-se lentamente de leste a sul do Brasil, em levas sucessivas, cobrindo
regies cada vez maiores, enquanto a expanso Tupinamb foi mais rpida atravs do litoral
em direo ao sul, at o rio Tiet, onde encontra-se uma fronteira cultural. Para Brochado:
Um pouco mais tarde, Piazza (1971) pesquisou a regio compreendida entre os rios
Irani e do Peixe. Segundo ele, a rea havia sido intensamente ocupada por sociedades
sedentarizadas, especialmente devido ao aparecimento de cachimbos que indicam a cultura do
fumo. Ressaltou ainda a importncia da subtradio Escovada 34 proporo que as migraes
se dirigem para leste, o que revela ocupaes mais recentes nas terras marginais do rio
Uruguai (PIAZZA, 1971, p. 79).
Porm, por meio das dataes disponveis at o momento, no se pode confirmar a
hiptese de ocupao sentido oeste-leste. Relaciono a seguir (tabela 1) datas de stios com
cermica Guarani do alto Uruguai, as mesmas foram organizadas por municpios, no sentido
oeste-leste:
Tabela 1: Relao de datas de stios com cermica Guarani na regio do alto rio Uruguai
Datas C 14 Laboratrio
Municpio/Estado Stio Fonte
(A.P) N.
770 +/- 100 SC/U/53 SI 439 * Brochado apud Noelli
34
A subtradio Escovada caracteriza-se pelo uso mais popular da decorao escovada. Esta subtradio
representa, provavelmente, o final da cultura indgena, antes de receber a influncia europeia na forma e na
decorao da cermica. A disperso da subtradio Escovada muito pequena, provavelmente pela sua pouca
durao (BROCHADO, 1969, p. 22-23).
Itapiranga/SC
Dos stios Guarani dessa regio, a cermica sem dvida o vestgio mais abundante e
pode contribuir no entendimento dessas sociedades sob diferentes aspectos. Em geral, a tcni-
ca de confeco da cermica era o roletado, as formas podem ser simples e complexas, os ta-
manhos variam de pequenas vasilhas a grandes vasos, e o tratamento de superfcie externo
pode ser simples, plstico e pintado (figuras 15 a 19). A pintura na cermica comum tanto
na face interna como na externa, em geral com traos vermelhos sobre o engobo branco, como
se v nas figuras 16 e 17, mas tambm em alguns casos ocorre o contrrio, na figura 18 as pe-
35
As datas citadas por Noelli foram conferidas com a compilao produzida por Betty Meggers, nela constam
todas as dataes realizadas pelos pesquisadores do PRONAPA. Acervo: Pedro Igncio Schmitz.
as apresentam o engobo vermelho com traos brancos. O corrugado o acabamento plstico
mais frequente, mas so comuns tambm o ungulado, escovado, inciso; o roletado apresenta-
do na figura 19 tambm encontrado, mas menos frequente. Os aspectos estilsticos de for-
ma e acabamento de superfcie sero retomados no captulo 5.
Figura 15. Recipientes cermicos com acabamento simples, corrugado, ungulado e pintado
procedentes do alto rio Uruguai. Peas: Museu Municipal Almiro Theobaldo Muller de Itapiranga;
Museu Municipal Pastor Karl Ramminger de Mondai; Museu de Histria e Arte de Chapec e
Ceom/Unochapec. Imagem: Joana Barros, 2014. Acervo: Ceom/Unochapec. Escala aproximada.
Figura 16. Cermica pintada coletada na Figura 17. Cermica pintada coletada na
superfcie do stio Bernardo Arnold (215), linha superfcie do stio Eric Guisel (041), linha
Capela, Itapiranga/SC. Acervo CDA It. Imagem: Volta Redonda, It/SC. Acervo CDA It.
Andr Onghero, 2014. Imagem: Andr Onghero, 2014.
Figura 18. Cermica pintada coletada na Figura 19. Cermica roletada coletada na
superfcie do stio Ado Sasonowizk, linha superfcie do stio Ricardo Bertoldi (162), linha
Humait, Caxambu do Sul/SC. Imagem: Mirian Taquarussu, Palmitos/SC. Acervo CDA It.
Carbonera, 2014. Imagem: Andr Onghero, 2014.
Figura 20. Moradores de Monda/SC com material arqueolgico Guarani, em destaque para os
vestgios de sepultamento. Fonte: Koelln (1980).
Na imagem possvel ter uma idia de como os stios Guarani na regio eram abun-
dantes. Rohr (1966) somente na regio de Itapiranga descreveu igaabas contendo esquele-
tos em pelo menos dez stios identificados como: SC-U-4, SC-U-5, SC-U-6, SC-U-8, SC-U-
9, SC-U-28, SC-U-35, SC-U-39, SC-U-45, SC-U-53, mais de 40 igaabas continham ossos
humanos e alguns em bom estado de conservao. Segundo o autor era comum ouvir dos co-
lonos antigos que passando o arado pela primeira vez o solo estourava de panelas de bugre e
os bois afundavam com as pernas dentro delas (ROHR, 1966, p. 26). Ao percorrer as mar-
gens do rio Uruguai, ainda hoje comum ouvir relatos dessa natureza.
Mller e Mendona de Souza (2011a) analisaram seis sepultamentos associados
cermica Guarani, encontrados no stio ACH-SU3-C2, municpio de guas de Chapec/SC.
Os sepultamentos foram encontrados entre o stio ACH-SU3-C2 e a barranca do rio Uruguai,
alguns quilmetros acima da desembocadura da foz do rio Chapec no Uruguai. A rea dos
sepultamentos foi parcialmente destruda pela ao de mquina niveladora, por isso das seis
estruturas de sepultamento, apenas trs estavam mais bem preservadas descritas como
estruturas 3, 4, 5 todas apresentavam ossos e dentes humanos, alm de acompanhamentos
funerrios, contas de colar, tembets ou outros vasos. J a estrutura 6, que apesar de ter sido
totalmente revolvida, apresentou, alm dos ossos e dentes de um indivduo adulto, parte de
um recipiente cermico no Guarani. Devido ao estado de destruio dos sepultamentos, no
foi possvel inferir se eram primrios ou secundrios. Quanto s vasilhas onde os corpos
foram depositados, a maioria era corrugada e apresentavam marcas de terem sido utilizadas
para outros fins antes de serem utilizadas para os rituais funerrios, contribuindo com a
hiptese que os Guarani no fabricavam vasilhas destinadas nica e exclusivamente para este
fim. As datas do stio ACH-SU3-C2 revelaram uma idade de 540 a 490 AP e das seis
estruturas, foram escavados oito indivduos: duas crianas, trs adolescentes ou adultos e trs
adultos (CALDARELLI, 2010, p. 702-705, 711; MLLER; MENDONA DE SOUZA,
2011a, p. 176).
Os vestgios arqueofaunsticos presentes nos stios arqueolgicos, alm de
informaes sobre a dieta, tambm do uma ideia do ambiente da poca e das formas de
captura. Apesar das dificuldades de preservao dos vestgios faunsticos na regio do alto
Uruguai, com os dados disponveis, possvel inferir que os Guarani tinham disposio:
mamferos, peixes, aves, rpteis, moluscos, entre outros; alm dos recursos vegetais
(MALABARBA; RICKEN, 2009; CALDARELLI, 2010; SCHMITZ; FERASSO, 2011).
Schmitz e Ferasso (2011) mostraram como os Guarani faziam uso da protena animal, por
meio da caa, pesca e coleta, partindo de vestgios arqueofaunsticos do stio Itapiranga 1,
localizado no municpio de Itapiranga/SC. Os autores evidenciaram que os ossos de
mamferos apareceram em maior nmero, sendo principalmente de veados, porcos do mato e
anta (SCHMITZ; FERASSO, 2011, p. 155).
Malabarba e Ricken (2009) analisaram os vestgios de peixes de sete stios registrados
prximos ao rio Uruguai, na rea de influncia da UHE Machadinho. Dos 2050 vestgios,
foram identificados onze gneros e sete famlias. O maior nmero de vestgios foi associado
famlia loricariideos, destacando-se a espcie Hypostomus ssp., popularmente conhecido
como cascudo (MALABARBA; RICKEN, 2009, p. 470). Embora nestes stios tambm
tenham sido coletados anzis confeccionados em osso, Domiks (2001) observa que a espcie
Hypostomus ssp. no capturada com anzis, o que mostra que eram utilizados outros
aparelhos de pesca nos stios analisados. A dieta desses grupos no era composta apenas de
alimentos de origem animal, muitos produtos vegetais eram cultivados, como o milho por
exemplo. Alm dos produtos cultivados, da caa e da pesca, a alimentao era
complementada com o consumo de plantas e frutos silvestres disponveis no meio ambiente.
Associados aos stios Guarani so comuns tambm serem encontrados adornos,
como pingentes, colares e tembets, confeccionados em argila, pedra e osso, alm de
cachimbos como menciona Schmitz (1957), Rohr (1966), Piazza (1971), Goulart (1997a),
Domiks (2001), Caldarelli (2010), Mller e Mendona de Souza (2011a) (figuras 21 a 24). As
colees mais representativas esto nos museus locais ou com particulares, nestas ganham
destaque a variedade de adornos.
Figura 21. Pontas de colar de material sseo. Figura 22. Stio ACH-SU4, estrutura funerria 4,
Acervo: Museu Municipal Pastor Paul colar de gipsita. Fonte: Adaptado de Scientia
Raminger, Monda/SC. Organizao: Joana Consultoria Cientfica, (2010, p. 687) e Mller e
Barros, 2014. Escala aproximada. Mendona de Souza (2011a, p. 183).
Figura 23. Tembets de quartzo e osso. Figura 24. Cachimbo. Acervo: Museu de
Acervo: Museu Municipal Pastor Paul Itapiranga/SC. Imagem: Mirian Carbonera, 2006.
Raminger, Monda/SC. Organizao: Joana
Barros, 2014. Escala aproximada.
36
O Coronel Telmaco Enias Augusto Morocines Borba foi colonizador, colecionador e escritor na regio do
Vale do Tibagi, estado do Paran.
Por enquanto bastante claro que o conjunto forma uma tradio
tecnolgica e cultural, que ocupa diferentes ambientes contguos: as terras
altas e frias cobertas pela floresta subtropical com pinheiros, onde os stios
tpicos apresentam casas subterrneas, s vezes com aterros, recintos
entaipados e galerias subterrneas; a encosta do planalto, o vale dos rios que
drenam o planalto, cobertos por floresta subcaduciflia subtropical e
tropical, ou mesmo mata atlntica, onde os stios podem ser restos de
aldeias superficiais ou ocupao de abrigos rochosos; o litoral atlntico,
coberto de vegetao caracterstica ou pela floresta atlntica, onde os stios
se apresentam como acmulo de ossos de peixes, conchas e outros restos,
sendo geralmente descritos como sambaquis (SCHMITZ, 1988, p. 75).
Stios com cermica semelhante foram registrados tambm por Piazza (1969a, 1971),
localizados especialmente em topos de montanhas. Onze stios foram reunidos por ele na Fase
Xaxim. Seriam stios-habitao de pequena durabilidade apresentando cermica de pequenas
dimenses, tratamento de superfcie simples ou acabamento plstico, como: inciso, ponteado,
ungulado, pinado, entre outros; o antiplstico composto especialmente por areia fina. Chama
ateno tambm o baixo nmero de fragmentos coletados, de dez stios apenas 730
fragmentos todos de superfcie, as sondagens realizadas por ele no apresentaram material. O
material ltico encontrado junto a esses stios eram lascas, fragmentos de pontas de quartzo e
raspador de arenito (PIAZZA, 1969a, p. 60-70).
As informaes disponveis para as estruturas subterrneas na regio foram levantadas
por Reis (2007). Em altitudes mdias de duzentos a quatrocentos metros, registrou 21 stios,
com 97 estruturas subterrneas e trinta aterros monticulares associados a elas. Os stios foram
localizados: trs em Concrdia, um em Chapec, um em So Carlos, oito em Palmitos, trs
em Pinhalzinho, dois em Ipumirim, dois em Joaaba e um em gua Doce (REIS, 2007).
As pesquisas realizadas nas estruturas subterrneas em regies prximas, como no
planalto catarinense, indicam que elas normalmente aparecem em grupos, como no Rinco
dos Albinos que foram identificadas mais de 100, algumas eram ocupadas sazonalmente,
provavelmente no perodo da coleta do pinho, final do vero e outono (SCHMITZ; ROGGE,
2013a).
Quanto s prticas funerrias desses grupos no alto Uruguai, so conhecidas apenas as
descries dos aterros monticulares de Reis (2007), que no foram escavados. Pesquisas
realizadas no planalto sul brasileiro at a Argentina descreveram montculos com formatos
ovais ou circulares. Em regies prximas ao alto rio Uruguai e oeste catarinense, esses
montculos foram pesquisados no vale do rio Pelotas, um dos formadores do rio Uruguai, por
Cop et al., (2002); de Masi (2003), Caldarelli (2002) e Mller (2008). Os montculos
normalmente aparecem rodeados por estruturas anelares/circulares. Segundo Mller e
Mendona de Souza (2011b), os montculos e stios afins configuram um conjunto cujo
estudo ainda necessita ser aprofundado, mas a escavao de alguns deles j vem confirmando
a prtica de sepultamento de cremaes humanas, no caso do rio Pelotas, essa expresso
funerria ocorreu em ambas s margens, entre meados do sculo XV e XVII. O stio PM01,
localizado em Eldorado/Misiones, foi interpretado como monumento de terra, com complexos
recintos geomtricos e tmulos funerrios em seu interior, associados a reas de festejos
rituais morturios, onde provavelmente se comia carne assada em fornos de terra e se
tomavam bebidas obtidas a partir do milho. Para os autores, esses monumentos morturios
refletem mudanas na subsistncia, crescimento populacional, hierarquizao social incipiente
(IRIATE; MAROZZI; GILLAM, 2010).
No alto rio Chapec, foram registrados e resgatados 33 stios arqueolgicos, quatro do
tipo estrutura escavada e os demais stios lito-cermicos a cu aberto, que provavelmente
estavam associados s estruturas escavadas, conforme comprovaram os estudos laboratoriais.
No caso do material cermico, as formas encontradas a partir da reconstruo grfica das
vasilhas evidenciam a afinidade com a tradio Taquara; quanto indstria ltica coletada nos
stios a cu aberto, observou-se preferncia em utilizar como matria-prima rochas clsticas,
riodacito, basaltos e calcednia, enquanto que, nas estruturas escavadas, a matria-prima mais
empregada o quartzo. Foram realizadas dataes em stios registrados no municpio de So
Domingos/SC, estas revelaram ocupaes do sculo XIX (CALDARELLI; HERBERTS,
2005).
J nas proximidades do rio Irani, devido a projetos de arqueologia consultiva, foram
localizados e resgatados objetos arqueolgicos em 35 stios. A anlise laboratorial mostrou
que as ocupaes do vale do rio Irani se parecem com o contexto observado no rio Chapec,
de populaes reduzidas e refugiadas no extremo oeste catarinense, j em perodo histrico
avanado, um cenrio correspondente aos stios da tradio Taquara (CALDARELLI, 2007,
p. 317).
Embora sejam poucas as dataes associadas aos stios Itarar-Taquara no alto rio
Uruguai, possvel situ-los entre aproximadamente 840 d.C. at meados do sculo XIX
(tabela 2):
Tabela 2: Relao de datas de stios com cermica Itarar-Taquara no oeste de Santa Catarina, alto
Uruguai e provncia de Misiones
Data C14
Municpio/Estado Stio Laboratrio N. Fonte
(A.P)
Schmitz; Brochado apud
Concrdia/SC 975 +/- 95 SC/U/35 SI 825 * Noelli
Miller apud Noelli
Tenente Portela/RS 830 +/- 60 RS/VZ/43 SI 598
Miller apud Noelli
Tenente Portela/RS 160 +/-70 RS/VZ/44 SI 599
Caldarelli e Herberts,
So Domingos 100 QQ-22A 1 Beta 165798 2005
Caldarelli e Herberts,
So Domingos 144 QQ-22A 2 Beta 165799 2005
Caldarelli e Herberts,
So Domingos 122 QQ-22 B Beta 165800 2005
Santa
Terezinha Beta
Passos Maia 1160+/-30 III 317421 Schwengber, 2012
Iriarte e Behling, 2007
Misiones (Argentina) 703 a 518 - -
Eldorado (Misiones/ - Iriarte, Marozzi, Gillam
Argentina) 760+/-40 PM01 (2010)
Eldorado (Misiones/ Iriarte, Marozzi, Gillam
Argentina) 720+/-40 PM01 - (2010)
Eldorado (Misiones/ Iriarte, Marozzi, Gillam
Argentina) 480+/-60 PM01 - (2010)
Fonte: Adaptado de Noelli (1999-2000); Caldarelli e Herberts (2005); Schmitz e Beber (2011); Iriarte
e Behling (2007); Iriarte, Marozzi, Gillam (2010); Schwengber (2012); Schmitz (2013b).
* SI= Smithsonian Institution
No entanto, Rogge (2004, 2005) salienta que na regio de Itapiranga houve a ocorrn-
cia de stios Tupiguarani nos stios Taquara das partes mais altas do vale sem qualquer evi-
dncia de mudana estilstica, os primeiros buscavam ampliar a rea de captao de recursos
dentro de um sistema de fronteira mvel permevel.
Carbonera (2008, 2013) analisou preliminarmente (apenas com base nos relatrios
produzidos por Marilandi Goulart) os quatro stios da Volta do Uv e os comparou com ou-
tros assentamentos Guarani localizados prximos ao rio do Peixe, afluente do rio Uruguai. Na
pesquisa de mestrado, Carbonera (2008) chamou os assentamentos da Volta do Uv de stios
hbridos porque no mesmo local havia sido escavada cermica Guarani e Itarar-Taquara.
Porm, naquele momento, no foi possvel realizar a anlise da cadeia operatria dos conjun-
tos cermicos, tampouco estabelecer cronologias absolutas dos assentamentos, por esse moti-
vo foi dada continuidade pesquisa nessa rea.
37
Palmitos se localiza no oeste de Santa Catarina e tem como limite sul o estado do Rio Grande do Sul, a divisa
feita pelo rio Uruguai.
Para DAngelis (1995), os jesutas no penetraram nesse territrio, suas Redues no Guair
(1609-1629) permaneceram ao norte do rio Iguau e as Redues do Tape, aps 1626, no
mdio Uruguai, ao sul dos campos Kaingang de Nonoai e Erechim. Para as redues eram
levados os ndios Guarani, considerados de maior valor e por possurem uma lngua
conhecida (DANGELIS, 1995, p. 146).
De acordo com o Tratado de Tordesilhas (1494), a regio em questo estava sob
domnio da Espanha; foi aproximadamente no sculo XVII que ela passa a ser percorrida
pelos jesutas. Estes deram origem a uma extraordinria experincia histrica de gradual
insero dos indgenas Guarani na sociedade europeia, atravs das aldeias jesuticas.
Missionrios franciscanos e jesutas iniciaram uma conquista espiritual, buscando civilizar e
cristianizar principalmente os grupos horticultores Guarani da floresta subtropical,
conduzindo-os vida nas aldeias luso-brasileiras ou nos Pueblos de ndios espanhis. As
Misses na Amrica Meridional serviriam como uma espcie de escudo contra a expanso
lusitana em direo ao rio do Prata (KERN, 19??, p. 114).
Mesmo assim, segundo Becker (1992), logo as redues se tornaram um atrativo aos
bandeirantes paulistas, que escravizaram milhares de indgenas, ao mesmo tempo esses
ataques eram uma forma de anular as redues e enfraquec-las. As repetidas investidas das
bandeiras nas Misses faziam os sobreviventes refugiarem-se ao sul. Aps a degradao do
Guayr os paulistas atacaram a Frente Missionria do Itatim, e em seguida o Tape na margem
oriental fazendo com que os moradores atravessassem o rio. Essas entradas terminaram em
1656 em razo dos indgenas cristianizados terem se armado e repelido tais desmandos. As
populaes cristianizadas foram concentrando-se em espaos cada vez menores, mas nem
assim a tranquilidade se instalou, os conflitos de fronteira, envolvendo os povoados
missioneiros, continuaram at o sculo XIX, levando runa completa o trabalho comeado
pelos jesutas (BECKER, 1992, p. 22-24).
Um documento histrico importante para a regio do alto rio Uruguai Mapa
Geogrfico da Amrica Meridional, datado de 1775, no qual identifica-se claramente o oeste
catarinense, povoado por indgenas Guanas e Biturunas, localizados desde o Campo Er
at os campos de Caador, enquanto que os indgenas Tapes ou Guarani estavam entre os
rios Macaco Branco e das Antas na margem direita do rio Uruguai. O autor destaca que, no
mapa de 1775, os ndios Tapes esto muito prximos, seno na mesma rea, ocupada pelos
Mby, descritos 220 anos antes pelo alemo Ulrich Schmidel (DANGELIS, 1995, p. 151).
A partir da descrio de cronistas, o padro bsico de organizao social Guarani
mostra que, estes viviam com os parentes numa mesma casa, cada casa parecia uma aldeia,
essa ligao entre parentesco e habitao era um dos referenciais mais marcantes (NOELLI,
1993, p. 80). Os assentamentos mais poderosos ocupavam as vrzeas e outros ambientes
favorveis subsistncia, principalmente em cotonos, enquanto que os assentamentos mais
fracos encontravam-se em vales mais encaixados (NOELLI, 1993, p. 81).
As casas Guarani e Caygu eram grandes, feitas de madeiras fortes e cobertas de
folhas de palmeiras, normalmente comportavam grande nmero de habitantes, que dormiam
em redes, cada famlia com seu fogo. Possuam utenslios como: panelas de argila, balaios,
peneiras, porongos para carregar gua, cuias, machados, cestos, redes, pilo, colheres, fusos
para fiar, entre outros pequenos utenslios (BORBA, 1908, p. 53-54).
Mabilde ([1897, 1899] 1988, p. 144) observa que os Coroados da provncia do Rio
Grande do Sul procuravam os lugares mais altos para fazerem seus alojamentos, sempre em
meio mata de pinheirais, sacrificavam a comodidade de ter gua prxima dos seus ranchos
para se colocarem sobre um monte elevado e do alto das rvores podiam descobrir tudo e
dominar com a vista a vizinhana.
Sobre as habitaes, ao descrever os ndios do Paran38, Borba (1908, p. 8) observa
que eles no tinham habitao permanente, mudavam todos os anos proporo que se
tornavam escassos os recursos naturais para sua subsistncia. Quando encontravam mel e
caa, construam ranchos de 25 a 30 metros de extenso, sem nenhuma diviso, no centro dos
ranchos eram acesos os fogos, um para cada famlia, dormiam sobre cascas de rvores. Ainda
segundo Borba (1908, p. 9) possuam poucos utenslios: uma panela de barro, um machado de
pedra, um pequeno pilo, cuja m normalmente era de pedra, uma peneira, um cesto, cuias,
porongos ou cabaas, alm de pequenas lascas cortantes. As mos de pilo de pedra eram
geralmente cnicas alongadas, de comprimento varivel e muito bem polidas, os prprios
ndios descreviam sua confeco e a dos machados, como demorada e custosa
(AMBROSETTI, [1894] 2006, p. 42).
Quanto aos produtos agrcolas, Borba (1908, p. 55) descreveu para os Guarani e
Caygu, o milho, feijo, abbora, batatas doces, amendoins, bananas, cana doce, algodo,
mandioca e fumo. Segundo Noelli (1993, p. 279), mesmo com escassas informaes sobre o
equilbrio nutricional vegetal de alimentos oriundos de roas e da coleta, os Guarani deviam
ter um consumo anual variado base de amidos, fibras, protenas e outros nutrientes, para
alm da variedade de cultivares, muitas aves, animais, peixes e mel.
38
importante ressaltar que at 1916 a regio oeste de Santa Catarina fazia parte do Estado do Paran ou
Provncia do Paran, como eram denominadas as unidades administrativas durante o Brasil Imprio.
Esses ndios viviam reunidos em tabas ou aldeias em nmero de cem ou mais
indivduos, que respeitavam a autoridade de um chefe local, o qual era subordinado a um
chefe geral da regio. As habitaes e roas eram feitas em comum (BORBA, 1908, p. 60-
61). Os sepultamentos dos homens eram feitos em covas fundas, junto a grandes rvores; o
morto era carregado na rede em que faleceu, o colocavam na cova e amarravam de forma que
no tocasse o fundo; acima do cadver faziam um forro de paus rolios para evitar o contato
com a terra. Colocavam as armas do morto encostadas na rvore; em cima da sepultura
fincavam uma estaca na qual dependuravam o geguac, tucamby, marac e colares do
morto. Tambm depositavam vasos de argila, contendo caoin, batatas e mandiocas assadas,
isso era feito de tempo em tempo at nascer o mato sobre a sepultura. Entre eles existiam
tradies e supersties, como por exemplo, acreditavam que os mortos ficavam vagando
perto dos lugares onde eram sepultados, por isso teriam as mesmas necessidades dos vivos,
da o costume de depositar alimento sobre as sepulturas (BORBA, 1908, p. 59-62).
A alimentao dos Kaingang de San Pedro (Misiones) era baseada na caa e no milho,
este consumido de diversas maneiras, tambm cultivavam abbora e feijo. Consumiam
pinho, o fruto do caraguat, a jaracati (ou mamo-bravo), a jabuticaba, o vacum (ou fruta-
de-pombo), a guabiroba, o araticum e o buti (AMBROSETTI, [1894] 2006, p. 43). Para o
autor, os Kaingang no conheciam outra forma de pescar, seno atravs do pari39, em linhas
gerais consistia num grande cesto que colocavam nos cursos dgua, para que se enchesse de
peixes (AMBROSETTI, [1894] 2006, p. 66). As caadas eram feitas com flechas, armadilhas
39
Os colonizadores europeus e descendentes, quando se instalam no alto Uruguai passaram a utilizar tcnicas
indgenas de pesca, como o pari e outras tcnicas nativas a fim de sobreviver em meio regio to desconhecida.
A citao a seguir remete a utilizao do pari pelos colonos instalados prximos Volta do Uv: Pscoa,
04/04/1926. Depois das ltimas chuvas o nvel do Rio Irani [afluente da margem direita do Uruguai] subira um
tanto e o nosso vizinho Alcides, aproveitando essa ocasio, pegou no seu paris uma enorme construo tipo
cesto amarrada na corredeira do rio mais de 100 peixes e, por sua gentileza, recebemos de presente seis de 1kg
cada um (SPESSATTO, 2001, p. 78). O relato foi do imigrante alemo Fritz Plaumann que se instalou na regio
em 1925. Plaumann era fotogrfo amador e tornou-se entomlogo. Fotografou a fauna e a flora regional e criou
uma grande coleo entomolgica, que pode ser visitada no Museu Entomolgico Fritz Plaumann, localizado em
Nova Teutnia, municpio de Seara/SC. Nele encontramos mais de 80 mil exemplares, a grande maioria coletada
nas proximidades do rio Uruguai e afluentes, como Irani, Ariranha, Uv. Descreveu boa parte de sua vida num
dirio publicado por Spessatto (2001), nele podemos ter uma boa ideia de como era a fauna e a flora dessa
regio, com muita mata e animais, onas e cobras eram os mais temidos pelos colonizadores europeus. Em outra
passagem ele relata a caada a uma ona, para isso precisaram contar com a experincia de um indgena e um
brasileiro que conheciam bem a natureza da regio: Domingo 20/06/30. Para matar o tigre [ona] que j tinha
roubado, ao redor, tantos porcos e cachorros, um ndio e dois brasileiros colocaram espingardas no mato como
armadilhas. A noite a carga da bala feriu o tigre, que escapou. No dia seguinte, os trs, tendo na frente o ndio
que tinha somente um brao, seguiam para a floresta. Quando o primeiro pulava sobre o tronco de uma rvore
cada enfrentou-se com o tigre ferido, que ficou deitado atrs do tronco. O homem tentou dar um tiro com
revlver na cabea do animal. O cartucho falhou e ento, puxando o revlver para dentro de sua boca o tigre
fechou-a, deu uma pancada e derrubou o homem no cho. Nesse momento chegaram seus companheiros e o tigre
dirigiu-se contra eles. Com o disparo de cinco tiros, os homens espantaram a fera, mas no era possvel persegui-
lo, visto que foi preciso socorrer o chefe que estava ferido e faleceu logo depois (SPESSATTO, 2001, p. 86).
e porretes, caavam queixadas, macacos, ona, paca, pssaros diversos (AMBROSETTI,
[1894] 2006, p. 70-71). Para alm destes animais, Borba (1908, p. 11) descreve: anta, tatetos,
quaty; quando a caa era abundante escolhiam a carne que mais lhe agradava, no comiam a
carne de veados, pacas, cotias, entre outros animais.
Preparavam e apreciavam as bebidas alcolicas, como o kiki, o gio f e o gio kupri,
preparados a base de mel, folhas e milho (AMBROSETTI, [1894] 2006, p. 48-49). Eram
poligmicos e viviam em grupos de 50 a 100 pessoas, sob a direo de um cacique (BORBA,
1908, p. 11). As tribos dos Coroados eram divididas por famlias entrelaadas e parentes
chegados (MABILDE, [1897, 1899] 1988, p. 144).
Os Kaingang tambm tinham fama de belicosos e cruis, para ilustrar a questo
Ambrosetti ([1894] 2006, p. 75-77) descreveu que as guerras no eram travadas somente com
naes distintas, mas tambm com tribos da prpria nao. Nesse sentido, relatou a luta
envolvendo a tribo de Facrn acampada no pinhal de San Pedro e outros Kaingang que viviam
nos campos do Paiquer, situados na Provncia do Paran, do outro lado do rio Iguau.
Quando morria algum o enterravam imediatamente, com seus pertences: arco,
flechas, cur e machado. A cova era superficial, forrada e coberta com madeiras e por cima
terra. Faziam seus vinhos e convidavam os vizinhos para levantar a sepultura, carregando
cestos de terra, colocando sobre a sepultura at ela tomar forma de pirmide cnica, de dois a
quatro metros de altura e seis a oito na base. Ao finalizar o servio, voltavam para o rancho do
morto, para beber, cantar e danar em volta do fogo. As crianas eram enterradas em cova
rasa e para elas no eram feitos festejos (BORBA, 1908, p. 13).
Borba (1908,) descreve que, nas exploraes feitas no Paran no sculo XIX, observou
as duas formas de sepultamento anteriormente descritas, para ndios Guarani e Kaingang.
Porm, encontrou outras duas formas de sepultamento mais antigas na regio de Jatahi. Numa
delas, os sepultamentos eram feitos em vasos de argila, pintados de branco e vermelho, nestas
urnas foram encontrados fragmentos de ossos, dentes e pequenas vasilhas de barro menores.
Nos campos e faxinais desta mesma regio, encontrou montculos de forma cnica,
localizados nos pontos mais elevados das cochilhas (colina), principalmente nas imediaes
das grandes florestas de pinheirais; pela forma trazem memria os tmulos dos Kaingang.
Na escavao de alguns deles eram encontradas lajes de pedra e abaixo carvo e cinzas
sobrepostas outra laje (BORBA, 1908, p. 124-125).
Durante o sculo XIX, ocorreram tentativas do Governo Nacional para ocupao dos
sertes do que se tornaria em princpios do sculo XX em oeste catarinense 40. No incio do
40
Compreende hoje mais de uma centena de municpios. Originalmente foi o territrio cujos limites polticos
sculo XIX, ocorreu a chegada dos luso-brasileiros porque o regente portugus Dom Joo
resolveu ocupar definitivamente os campos de Guarapuava e Palmas 41. As terras eram
cobertas pelas matas de araucria ou pela floresta subtropical, consideradas de pouco valor,
por isso a ideia era ocupar os campos com a criao, principalmente com gado bovino.
Entretanto, havia um obstculo, os ndios Kaingang no queriam aceitar a presena do homem
branco em territrio por eles dominado (WACHOWICZ, 1985, p. 9-10).
Apesar de haver registros de abertura de picadas ainda na segunda metade do sculo
XVIII, foi somente nas primeiras dcadas do sculo XIX que se realizou a ligao permanente
dos campos de Palmas e Guarapuava a capitania de So Paulo. Macedo (1951, p. 133) relata
que os portugueses chegaram aos Campos de Guarapuava, com uma expedio em 1810,
comandada pelo Tenente Coronel Diogo Pinto de Azevedo Portugal, que havia partido de
Santos em 1809. A Real Expedio contava com mais de 200 homens, entre os quais o
Tenente Antonio Rocha Loures, o Alferes Atanagildo Pinto Marques e o Pe. Francisco
Chagas Lima. A regio, conhecida atualmente como oeste de Santa Catarina, foi integrada ao
territrio nacional, devido ocupao do sudoeste, do que hoje conhecemos pelo estado do
Paran. No trecho a seguir, possvel ter uma ideia do pensamento da poca:
As Cartas Rgias de 1808 e 1809 indicam como deviam ser tratados os ndios que
viviam na regio. A primeira carta visava suspender os efeitos de humanidade e considerar
como principiada a guerra contra os ndios bugres que eram habitantes dos campos de
Curitiba e os de Guarapuava, como todos os terrenos que desguam no Paran e formam do
outro lado as cabeceiras do Uruguai. Na carta de 1809, o termo foi suavizado para guerra
eram os dos municpios de Joaaba (chamado Cruzeiro) e Chapec, criados em 1917, um ano aps a assinatura
do acordo de paz entre o Paran e Santa Catarina, definindo os limites entre os estados e pondo fecho questo
do Contestado (RENK, 1997).
41
Os campos de Palmas, em sua maior parte, localizavam-se no atual oeste catarinense, incluindo no estado do
Paran, apenas os municpios de Clevelndia e Palmas, enquanto em Santa Catarina abrangia onze municpios,
de So Loureno do Oeste a Quilombo, a Oeste at Caador, Rio das Antas e Videira, a Leste (DANGELIS,
1995, p. 160-161). A grande rea dos Campos de Palmas compreendia terras do atual planalto catarinense: os
vales dos rios do Peixe, Chapec, vrios afluentes da margem direita do rio Uruguai, estendendo-se at os limites
com o rio Paran. Todo este territrio, nos albores do sculo XX, era considerado vazio em termos de
ocupao humana, mesmo havendo a presena dos grupos nativos.
justa, permitindo a priso e escravizao de indgenas por quinze anos, a partir do seu
batismo (DANGELIS, 1995, p. 154-155).
Essa frente de ocupao objetivou criar novas reas de fazendas de gado, abrir novas
estradas, alm de converter e catequizar os ndios. As fazendas tornaram-se uma atividade
econmica vivel e por isso foram se espalhando nos sertes entre os rios Iguau e Uruguai,
nos campos do Er, ao oeste, e do Irani, ao sul. Essa rea era tradicionalmente ocupada pelos
ndios Kaingang, de norte a sul, e a leste dos campos de Palmas, estavam os Xoklengs
(botocudos). Por isso, na opinio de Santos (1978), a ocupao com os novos moradores no
foi pacfica:
Franz Boas (1858-1942) foi o primeiro antroplogo a fazer pesquisas in situ para a
observao direta e prolongada das culturas primitivas o inventor da etnografia (CUCHE,
2002, p. 39). Empregou o mtodo indutivo e intensivo de pesquisa de campo, em que tudo
devia ser anotado detalhadamente, o detalhe do detalhe (BOAS, [1883-1911], 2004). Boas,
depois de conviver com os esquims e os ndios da costa noroeste do Canad (antiga
94
Colmbia Britnica), a partir da observao direta e participante, coletou muitos textos base
do estilo etnogrfico, queria documentar aspectos da lngua e dos mitos. Boas ([1883-1911],
2004) compreendeu as culturas a partir de uma perspectiva histrica e particularista, foi o
primeiro antroplogo a realizar etnografia, a fazer pesquisas de campo, in loco, observando
diretamente e de maneira prolongada as culturas primitivas. Esse mtodo definido como
indutivo e intensivo, pois tem ligao com as experincias e os estudos desenvolvidos em
campo. De nacionalidade alem, Boas estudou fsica, geografia e prestou servio militar,
ainda fez estgio no Museu do Folclore em Berlim. Seu estudo junto aos esquims foi para
entender o impacto do meio ambiente nesse grupo, sua primeira expedio ocorreu em 1883 e
teve durao de um ano. Tambm procurou entender rotas de viagem e comunicao, mapas,
histria das migraes, mobilidade e distribuio dos esquims, alm do dimensionamento da
ilha de Baffin. Dessa viagem Boas publicou dois livros e foi atravs dela que ele chegou
antropologia, porque percebeu que a cultura influenciava mais a organizao social do que o
ambiente fsico. Em 1886, Boas foi estudar os ndios do noroeste americano Kwakiutl,
Chinook, Tsimshian com o objetivo de compreender a lngua e os mitos nativos, tambm
proporcionou a formao de colees etnogrficas e a elaborao de monografias. Foi a partir
do levantamento de Boas com esses grupos que mais tarde Marcel Mauss falou sobre o
potlatch na regio do noroeste americano (MAUSS, 2003).
A obra de Boas uma tentativa de pensar a diferena, e esta seria de ordem cultural e
no racial. Alis, Boas dedicou-se a desconstruir o que na poca se constitua no conceito de
raa; preferiu usar o termo de cultura, que considerou mais apropriado para dar conta da
diversidade humana (CUCHE, 2002, p. 40-41).
Marcel Mauss exps a noo de totalidade social em seu mais famoso trabalho O
Ensaio sobre a Ddiva, escrito na dcada de 1920. Esse conceito foi ampliado da ideia de
fato social criado por Emile Durkheim, de quem Marcel Mauss, alm de sobrinho, foi
discpulo. Em seu trabalho, Marcel Mauss combina muitos conhecimentos etnogrficos e de
histria antiga, porm nunca foi a campo, reuniu os trabalhos de Franz Boas e Bronislaw
Malinowiski e assim encontrou em diferentes sociedades fenmenos sociais que
apresentavam regras de reciprocidade obrigatria. Como coloca Mauss:
Marcel Mauss foi quem empregou primeiramente a noo de tcnica, para ele tcnica
qualquer ato eficaz e tradicional, sendo o corpo o primeiro e o mais natural objeto tcnico, e
ao mesmo tempo, meio tcnico do homem (MAUSS, 2003, p. 407). Mauss percebeu a
arbitrariedade cultural de nossos comportamentos mais casuais, sendo que as tcnicas
corporais so culturalmente apreendidas, de forma que os gestos tambm seriam. Lemonnier
(1992, p. 1) considerou Marcel Mauss como o inspirador desta que costuma ser chamada de
antropologia das tcnicas.
Mauss (1993) tambm aborda a tecnicidade tradicional como processo, como srie de
etapas de transformao da matria ao tratar das tcnicas nas sociedades primitivas:
Em seu Manual de Etnografia, Mauss no deixa dvidas sobre a busca pelo fato social
total, quando define fato tecnolgico para se chegar a outras dimenses: o objeto, as pessoas,
o sistema:
operaes. A nfase na cadeia operatria no como um fim em si, mas com o objetivo de
entender as escolhas efetuadas ao longo desse processo. Nesse ponto, o trabalho de Leroi-
Gourhan (1984a, p. 24-25) importante porque compara as tcnicas em diferentes sociedades,
parte do mais geral (tendncia), para o mais especfico (fato), passando por uma srie de
estgios (graduaes do fato) nos quais determinados elementos so compartilhados. Ao
procurar entender as sequncias operatrias envolvidas na produo dos artefatos e tambm
na sua utilizao, esse autor procura identificar em que ponto pode haver variaes que sejam
decorrentes de especificidades culturais, particularizando os objetos a grupos culturais
definidos, o que em outros termos pode ser entendido como um grande mapeamento das
escolhas, ou antes, das possibilidades (BUENO, 2007, p. 16-18).
Nesse sentido, cadeia operatria para Lemonnier (1986) uma srie de operaes que
transformam a matria-prima em um produto acabado, ela no precisa necessariamente
apresentar-se de forma linear, mas pode ser interceptada por momentos que se sucedem
simultaneamente ou se sobrepem. As sequncias operacionais indicam o tipo de ao a ser
processada sobre o material, a ferramenta utilizada, o estado do material, a durao, o nome
da operao, a identidade do arteso. Assim, cada tcnica pode ser decomposta em operaes
embutidas uma na outra, cada uma delas constitui uma tcnica, como o autor exemplifica,
dizendo que a construo de uma casa uma tcnica. Lemonnier (idem) destaca as
tecnologias como sistemas de significados vinculados s relaes de gnero, idade ou tnicas.
Lemonnier (1986) considera a tecnologia uma preocupao antropolgica, onde as
escolhas so feitas pelas sociedades a partir de um universo de possibilidades das quais as
tcnicas, em seus aspectos mais materiais, fazem parte. Assim, a tecnologia deve ser
entendida como um sistema de relaes, uma vez que cada tcnica arbitrariamente definida
locus de mltiplas interaes e de constantes ajustes entre os elementos, pois sem a ao que o
anima e o conhecimento de seus efeitos, o artefato no nada. Em uma sociedade, as tcnicas
interagem ao compartilhar os mesmos recursos, conhecimento, stios e atores. Assim, o uso de
algumas tecnologias, bem como a existncia de sequncias operacionais ou princpios
tcnicos em comum, criam mltiplas relaes de interdependncia entre as diferentes tcnicas,
conferindo a estas um carter sistmico. A representao cultural das tcnicas e sua
classificao por um dado grupo contribuem para afirmar seu carter sistmico e ao mesmo
tempo reafirmar as identidades culturais nele representadas. O estudo das relaes entre a
cultura material e a sociedade torna-se, ento, o estudo das condies de coexistncia e
transformao recproca de um sistema tecnolgico e da organizao tecnolgica da sociedade
na qual opera (LEMONNIER, 1986, p. 154-155).
99
46
Os stios arqueolgicos so resultado da produo humana e de processos naturais de deposio, segundo
Schiffer (1972), os remanescentes obtidos em escavaes no so sistemas culturais fossilizados como sugeriu
Binford, j que os artefatos so sujeitos a uma srie de processos culturais e no-culturais que ocorrem entre o
perodo de tempo que foram manufaturados, utilizados, descartados e, posteriormente, evidenciados nas
pesquisas arqueolgicas, logo, o registro arqueolgico um reflexo distorcido ou transformado do sistema
comportamental do passado.
100
47
Fogaa (2001), com base em Leroi-Gourhan, discute a ideia de cadeias operatrias maquinais: Nas essncias
das prticas cotidianas do ser humano encontram-se as cadeias operatrias maquinais [...]. Servimo-nos
constantemente da sequncia de gestos estereotipados (escovar os dentes, escrever, dirigir, etc.) cujo
encadeamento no faz apelo a conscincia, reflexo constante, mas no se constituem tampouco, como as
cadeias operatrias automticas. As cadeias maquinais correspondem a programas operatrios adquiridos pela
aprendizagem (comunicao verbal, imitao, ensaio e erro) desde a pr-adolescncia e nos limites da etnia, da
comunidade social (FOGAA, 2001, p. 108).
101
Essa ideia traduz atividades ou prticas cotidianas do ser humano, as cadeias operatrias
maquinais. O conceito de sistema tcnico e a sequncia de operaes com base na totalidade
de elementos tcnicos e sociais desde a aquisio da matria-prima at o descarte contribui
para o desenvolvimento desta pesquisa, especialmente no detalhamento de procedimentos
necessrios para a produo cermica das sociedades agricultoras Guarani e Itarar-Taquara
que habitaram a Volta do Uv, no alto rio Uruguai.
Nesse sentido, tambm prevalece o conceito de cadeia operatria proposto por Balfet
(1991), segundo ela pode ser entendido como observao, descrio e anlise dos processos
tcnicos com base em elementos sociais e tcnicos. O termo cadeia remete, segundo a
autora, para o encadeamento de procedimentos do qual resulta determinada transformao da
matria, requerendo a anlise das prticas (scio) tcnicas, como primeiro passo, o recorte
desse encadeamento, para efeitos de registro e sistematizao. Ao se definir as etapas ou elos
da cadeia, se estabelece com um conjunto de parmetros de observaes-interpretao: nome
da etapa, tempo, lugar, agentes, gesto, fonte de energia, matria, etc. (BALFET, 1991).
Ainda segundo Balfet (1991), a cadeia operatria entendida como um encadeamento de
operaes mentais e gestos tcnicos visa satisfazer uma necessidade imediata ou no, com
base num projeto pr-existente. A autora entende que uma atividade tcnica de transformao
da matria para se obter um produto recobre uma realidade rica e complexa, mesmo
considerando uma operao tcnica elementar: gesto, instrumento, mas tambm ator, com seu
saber tcnico ligado a sua posio social. Um gesto tcnico pode ser entendido como
instrumento e agente de uma realidade complexa, de atividade tcnica de transformao da
matria (BALFET, 1991). Nessa perspectiva, a cadeia operatria tida com um utenslio de
descrio interpretativa dos processos tcnicos, a descrio orientada em funo das
problemticas a serem elucidadas, sendo que os parmetros de observao-interpretao da
cadeia operatria resultam da escolha do observador.
Desrosiers (1991) entende que o ato tcnico se organiza numa srie de operaes que
envolve trs ordens de fenmenos: matrias-primas, objetos e conhecimentos tcnicos, para
realizao da anlise tcnica. Segundo a autora, os conceitos operatrios em tecnologia
podem variar de autor para autor de acordo com seus objetos de anlise, no entanto, h um
consenso de que o ato tcnico no pode ser analisado isoladamente e est organizado em
102
48
As ideias do primordialismo surgiram em 1915, mas somente em 1957 o termo passou a fazer parte de uma
corrente definidora de identidade tnica (SCHIAVETTO, 2003, p. 75). A identidade cultural vista como uma
propriedade essencial inerente ao grupo porque transmitida por ele e no seu interior, sem referncias aos outros
grupos. A identificao automtica, pois est definido desde seu comeo (CUCHE, 2002, p. 180).
49
Tanto do ponto de vista interacionista quanto instrumentalista, levam-se em conta, sobretudo, os aspectos
generativos e processuais dos grupos tnicos, encarando o contato cultural como fator essencial para a
emergncia e para a persistncia desses grupos (SCHIAVETTO, 2003, p. 78).
104
sociais. Esta concepo dinmica se ope quela que v a identidade como um atributo
original e permanente que no poderia evoluir. Dentro dessa perspectiva cabe ressaltar:
50
Para Setton (2002), o conceito de habitus tem uma longa histria nas cincias humanas, uma palavra latina
utilizada pela tradio escolstica, traduz a noo grega de hexis utilizada por Aristteles para designar ento
caractersticas do corpo e da alma adquiridas em um processo de aprendizagem. Muito mais tarde foi utilizada
por mile Durkheim, com sentido semelhante, mas bem mais explcito: estado geral dos indivduos, estado
interior e profundo, que orienta suas aes de forma durvel. Bourdieu atribuiu um sentido mais preciso ao
conceito (embora j utilizasse o termo em obras anteriores) em 1972, o conceito de habitus surge da necessidade
emprica de apreender as relaes de afinidade entre o comportamento dos agentes e as estruturas e
condicionantes sociais. Mesmo que, formulada em contexto especfico, a noo de habitus adquire um alcance
universal, tornando-se um instrumento conceptual, ao permitir coerncia das caractersticas mais diversas de
indivduos dispostos as mesmas condies de existncia (SETTON, 2002, p. 61-62).
106
A relao entre achados arqueolgicos e etnicidade foi feita primeiramente por Gustav
Kossina (1895-1931) pautado no histrico-culturalismo51. Kossina pode ser considerado quem
inaugurou o paradigma tnico em arqueologia, fazendo a correlao entre os achados
arqueolgicos agrupados no conceito de cultura e grupos tnicos (JONES, 1997;
SCHIAVETTO, 2003). Nas Cincias Sociais na dcada de 1960, houve um movimento de
emergncia da etnicidade, contudo, os arquelogos da chamada Arqueologia Processual ou
Funcionalista52, continuaram a reforar a dicotomia entre ns e eles (indgenas), no caso
brasileiro ainda mais evidente, j que existe uma enorme distncia entre a Arqueologia e a
51
A Arqueologia passa a se estruturar como cincia durante o sculo XIX, ligada ao paradigma histrico-
culturalista e intimamente vinculada s ideias difusionistas. Desde ento, os vestgios materiais foram sendo
interpretados por diferentes vises, j que a cincia arqueolgica tem se construdo ao longo do tempo e no tem
um corpus terico e metodolgico pronto e acabado. Ainda no sculo XIX, por exemplo, observamos os mtodos
de classificao funcional criados por Pitt-Rivers ou Flinders Petrie e sua datao cruzada, influncia do
evolucionismo darwinista, que partia sempre do mais simples para o mais complexo. A Arqueologia histrico-
cultural se caracterizou por uma descrio dos vestgios materiais dentro de uma estrutura espacial e temporal
feita de unidades que so usualmente referidas como culturas e olhadas como o produto de distintas entidades
sociais do passado (JONES, 1997, p. 5). Durante o sculo XX, a Arqueologia vivenciou sucessivas inovaes,
tanto no campo terico como metodolgico. Em termos metodolgicos, conheceu nos perodos seguintes
Segunda Guerra Mundial uma grande quantidade de equipamentos que contriburam para os trabalhos de campo
e laboratrio, como fotografias areas, mtodos matemticos, mtodos de anlise cronolgica (como o carbono
14), computador, microscpio etc. Em termos tericos, ainda na primeira metade do sculo, passou a ser
influenciada pelas ideias de pesquisadores como Grahame Clark (1907-1995) e Gordon Childe (1892-1957), que
aproximaram a Arqueologia das Cincias Sociais (TRIGGER, 2004). Grahame Clark entendia que era possvel
utilizar as analogias etnogrficas para interpretar dados arqueolgicos, para ele um arquelogo pode analisar uma
comunidade pr-histrica da mesma forma que um etnlogo estuda sociedades vivas. Seu pensamento j foi
entendido como uma forma de romper com o enfoque histrico-cultural, que era dominado pelos artefatos,
trabalhando com o enfoque ecolgico assinalava que podemos compreender muitos aspectos das antigas
sociedades estudando como as populaes se adaptaram ao entorno (CLARK, 1939). Na Europa, o histrico-
culturalismo foi crucial para fins nacionalistas, j na Amrica do Norte, atravs da Arqueologia se buscava a
histria do outro (indgena), visto inicialmente como inferior (SCHIAVETTO, 2003, p. 33).
52
A Nova Arqueologia ou Arqueologia Processual trouxe uma grande inovao terica, a forte ligao da
Arqueologia com a Antropologia, a busca de paralelos etnogrficos para interpretar os dados do ponto de vista
funcional e processual (BINFORD, 1972). Esse movimento foi lanado entre as dcadas de 1950 e 1960, por um
grupo de arquelogos norte-americanos do qual Lewis Binford foi o principal interlocutor, visava em linhas
gerais explicar os processos de mudana social, percebendo a cultura como um sistema, que se dividia em trs
subsistemas: econmico, tecnolgico e simblico/ideolgico (TRIGGER, 2004). Podemos assinalar dois
elementos a mudana como processo e os sistemas culturais totais, muito tempo antes dos arquelogos
processualistas, Marcel Mauss j falava em fato social total e percebia a cultura enquanto sistema (sociolgico,
histrico e fisio-psicolgico). O movimento processual formado por um grupo de arquelogos americanos
insatisfeitos com as explicaes tradicionais em Arqueologia, fundamentaram uma Arqueologia explanatria e
no mais descritiva; desenvolveram anlises sobre processos de mudanas ocorridas nos sistemas sociais e
econmicos de determinado grupo humano, isso implicava no uso de leis de dinmica cultural; as hipteses
seriam testadas, inclusive usando modelos estatsticos; as culturas eram consideradas como meios extra-
somticos de adaptao, essa perspectiva ecossistmica, estabelecia relaes entre cultura e meio ambiente, onde
os sistemas culturais so interpretados como respostas adaptativas ao meio ambiente; os vestgios materiais
deveriam ser obtidos a partir de rigorosos mtodos de amostragem, e tratados a partir de testes estatsticos; entre
outros (TRIGGER, 2004; RENFREW, 1994). Binford acreditava na existncia de leis que regem a sociedade, tal
como acontece nas cincias naturais e exatas, sua preocupao estava centrada na busca da cientificidade, caso
contrrio, a Arqueologia nunca chegaria a ser uma cincia, essa ideia foi duramente criticada anos depois,
mesmo assim o movimento processual tirou o foco de uma arqueologia descritiva para uma Arqueologia
explicativa (TRIGGER, 2004).
Antropologia. Por outro lado, os arquelogos ps-processualistas 53 discutem como a
Arqueologia pode contribuir para a compreenso de nossas razes multiculturais, visando
estabelecer como os outros fazem parte do todo social, assumindo um olhar mais crtico
diante dos modelos monolticos de cultura que perpetuaram a identidade indgena como
minoritria e homognea (SCHIAVETTO, 2005, p. 79-80). A autora observa que a
Arqueologia est longe de fornecer as almejadas respostas seguras quanto ao sentimento de
pertena tnica dos povos do passado (SCHIAVETTO, 2005, p. 78). Muitos estudos tnicos
so realizados em contextos histricos, como o caso das pesquisas realizadas por Jones
(1997) na Europa. A autora, nesse trabalho, encara as fontes materiais e histricas como dois
nveis subjetivos diferentes de apreenso da etnicidade de um povo estudado.
Grupos humanos ao longo dos diferentes momentos da histria e pr-histria sempre
mantiveram contato intertnico, para Oliveira [...] entendendo-se como tal as relaes que
tm lugar entre indivduos e grupos de diferentes procedncias nacionais, raciais ou
culturais [...] (OLIVEIRA, 1976, p. 1). possvel entender o contato entre grupos
diferentes como resultado de um conjunto de decises que levam a formas variadas de
interao.
Robrahn-Gonzlez (1999) analisa como a interao cultural abordada pela
Arqueologia durante o sculo XX; aponta que o tema foi tratado sob a luz de diferentes
perspectivas, desde a Escola Difusionista, Escola Determinista, Ecologia Cultural, etc. Ainda
53
As ideias do processualismo influenciaram tambm arquelogos de outras partes do mundo, especialmente
britnicos como Colin Renfrew, Ian Hodder, David Clarke, com o tempo estes comearam a tecer crticas ao
movimento processual. Os crticos como Hodder, Tilley e Shanks estavam embasados principalmente em
enfoques estruturalistas e em pensamentos neomarxistas. Suas crticas abordaram diferentes perspectivas,
observaram a pouca ateno dada aos aspectos simblicos e ideolgicos, destacaram tambm que a arqueologia
afastou-se da histria, reclamaram assim por um maior papel do homem e da cultura material (HODDER, 1994;
RENFREW, 1994). Nesse sentido, observa Hodder e Hutson (2003), a tendncia principal da arqueologia nos
anos setenta, Arqueologia Processual, moldou-se nas cincias naturais. Ela foi desafiada em anos mais recentes
por uma Arqueologia Ps-processual que se fundamenta em uma perspectiva mais ampla da Histria e da
Antropologia Social, que insiste sobre o fato que se deve considerar o contexto e o significado do
comportamento e os usos ideolgicos da Arqueologia devem ser reconhecidos pelos partcipes. Segundo Hodder
(1994), os objetos materiais so mudos, eles no dizem nada de si mesmo, se um arquelogo recebe um objeto
de uma cultura desconhecida ter grande dificuldade de interpret-lo. Assim, analisar objetos por si s no
fazer Arqueologia. Para a Arqueologia, o importante analisar o objeto na camada estratigrfica e, em contexto,
com habitaes, assentamentos, sepulturas, assim poder entender sua cronologia e seus significados, o contexto
oferece a chave para seu significado e o objeto deixa de ser mudo. Contudo, o arquelogo precisa tentar chegar
tambm no significado consciente e inconsciente presente na mente do grupo que produziu e descartou tal
objeto, no s contexto, mas o conjunto de prticas culturais presentes na mente do grupo humano. Clarke
(1973), alm de dizer que a Arqueologia estava perdendo a inocncia por se tornar cada vez mais cientfica,
observou tambm que os arquelogos s conseguiriam chegar a uma parte do conhecimento, pois os vestgios
materiais recuperados dos contextos arqueolgicos so apenas uma amostra e uma amostra precria. Os ps-
processualistas ingleses, influenciados por correntes neomarxistas, ps-positivistas e da hermenutica, tm uma
viso relativista do passado, bem como a convico de que ele algo socialmente construdo. Ao passo que os
registros oferecem informaes sobre os diferentes aspectos do cotidiano, do tempo, do estilo, das tcnicas, das
antigas populaes, no se pode esquecer os homens, e os homens vivendo em sociedade. No se pode esquecer
tambm, que a histria desses homens contada por outros homens que recebem influncias de seu tempo.
segundo a autora, uma grande limitao a dificuldade de estabelecer em contextos
arqueolgicos as distines tnicas, pois elas podem ter se tornado invisveis, sobretudo,
porque persistem lacunas tericas e metodolgicas para o estudo do contato cultural, mas de
qualquer forma:
Trigger (2004) observa que se constatou de forma mais ampla a partir da dcada de
1970 que as sociedades no so sistemas fechados e que seu desenvolvimento pode ser
condicionado, ou influenciado, pela rede social mais ampla de que parte; tambm muitos
arquelogos tm reconhecido que as sociedades podem se modificar no s por presses
econmicas e polticas, mas tambm por ideias emprestadas de grupos vizinhos.
Abordagens recentes sobre contato cultural sugerem cada vez mais este fenmeno
como processo envolvendo relaes mtuas e multidimensionais, de forma que os sistemas
scio-culturais envolvidos estabelecem uma rede de interaes que muito mais complexa do
que simplesmente a relao doador, receptor (ALEXANDER apud ROGGE, 2005).
Para Green e Perlman (1985, p. 4), uma fronteira definida bem literalmente como a
linha frontal de uma sociedade, o que separa um pas de outro pas, a fronteira limita culturas.
Para os autores, os conceitos fronteira e limite esto muito relacionados, assim os estudos
direcionados a fronteiras e contato cultural envolvem tambm a formao de reas em que os
processos de interao entre diferentes sociedades atuam, as zonas de fronteira, cuja noo
se contrape de certa forma a noo clssica de fronteira e, apesar de muito prximos os
dois termos mostram diferenas importantes. Enquanto a noo de fronteira geralmente
implica limite, uma linha divisria que fornece uma sensao de excluso e separao, a
noo de zona de fronteira apresenta uma concepo que envolve muito mais a interao entre
sociedades, que pode tambm envolver excluso e conflito, mas parece estar marcada por
processos de integrao, envolvendo mltiplas formas de inter-relaes (econmicas,
culturais, sociais etc.) entre diferentes sistemas scio-culturais (GREEN; PERLMAN, 1985).
Na opinio de Hodder (1994), a semelhana estilstica entre os objetos aumenta com o
incremento da interao inter-populacional. Segundo o autor, na fronteira entre os grupos
tnicos de Baringo, viu-se que a maior interao tnica correspondia a uma menor semelhana
estilstica, evidenciando a reciprocidade negativa inter-grupal. Portanto, quanto maior a
competitividade entre os grupos tanto mais marcados sero os limites da cultura material entre
eles (HODDER, 1994, p. 16).
Na Arqueologia brasileira, o contato cultural, segundo Rogge (2005, p. 34), foi motivo
de pouco interesse, j que nos primeiros anos as pesquisas arqueolgicas preocuparam-se com
a caracterizao das culturas. Embora a problemtica do contato cultural raras vezes receba na
arqueologia um enfoque central, as pesquisas arqueolgicas realizadas em vrias regies
brasileiras encontraram evidncias de contato cultural, demonstrando a importncia desse
fenmeno na compreenso dos sistemas scio-culturais pr-coloniais. Segundo Rogge, no
Brasil Meridional os estudos de contato so favorveis configurao dos padres
arqueolgicos pr-coloniais, em especial das relaes de grupos ceramistas, responsveis
pelos ltimos episdios que marcaram tais processos, desde pelo menos o incio da Era Crist.
Diferenas na cultura material arqueolgica revelam que as duas unidades
arqueolgicas aqui analisadas possuam traos que as identificavam entre si e as distinguiam
uma da outra. Essas culturas so entendidas como entidades dinmicas e em constante
transformao, onde determinadas caractersticas podem variar no tempo e no espao
ocupado.
Estilo entra em cena quando vemos que os artesos de qualquer grupo (ou
fraternidade) esto cientes de apenas alguns, e muitas vezes escolhem
apenas uma, das opes isocrsticas potencialmente disponveis para eles
quando se realiza uma determinada tarefa, e que as escolhas feitas so
largamente ditadas pelas tradies tecnolgicas dentro das quais eles foram
aculturados como membros dos grupos sociais que delineiam sua etnia. As
escolhas tendem a ser bastante especficas e consistentemente expressas
dentro de um determinado grupo em um determinado momento, embora
estejam sujeitos reviso, como resultado de chances em seus padres de
interao social (e exposio concomitante a opes isocrsticas
alternativas) com outros grupos (SACKETT, 1990, p. 33).
Caractersticas tecnolgicas singulares entre dois conjuntos de artefatos, relacionados
temporal e historicamente em stios arqueolgicos distintos, podem ser consideradas com uma
conexo cultural, j que segundo os pressupostos da variao isocrstica, [...] o arteso de
uma certa sociedade tende a escolher por uma, ou poucas, das opes isocrsticas, que ao
menos em teoria, esto potencialmente disponveis para ele deste espectro (de alternativas)
(SACKETT, 1982, p. 73). De acordo com o modelo isocrstico, o estilo se localiza na
variao formal, tanto na dimenso funcional como estilstica, ou seja, toda a variao formal
estilstica, por isso indicadora de etnicidade (SACKETT, 1990).
A etnicidade, segundo o autor, est expressa em qualquer variao da cultura material,
na medida em que as escolhas isocrsticas representam uma expresso cultural de um tipo de
comportamento que permeia todos os aspectos da vida social. Justamente por isso a
variabilidade isocrstica, proposta por Sackett, tem como base torica a questo de onde o
estilo54 reside, nesse ponto que o impasse entre Sackett e Binford se faz presente. Para
Binford, o estilo reside em um domnio formal distinto e fechado em si mesmo, algo
acrescentado ou acessrio forma essencial ou instrumental que o artefato ocupa. Ele critica a
ideia de estilo como correlato de etnicidade, para ele a variabilidade dos conjuntos de
artefatos funcional e podem caracterizar certos lugares e perodos de tempo. E as escolhas
isocrsticas correspondem essncia da variabilidade organizacional em um grupo tnico,
promovendo-lhe flexibilidade adaptativa para lidar com a dinmica ambiental na qual vive
(DIAS; SILVA, 2001, p. 98-99). Partindo da ideia de Sackett, estilo e funo so aspectos
complementares que determinam a morfologia dos artefatos e as caractersticas das cadeias
operatrias que lhes do origem.
Por outro lado, Wiessner (1990) e Lemonnier (1992) entendem que a noo de
variao isocrstica insuficiente para a anlise dos sistemas tecnolgicos, sendo necessrio
entender as bases sociais das escolhas e como estas se inserem num sistema de significados.
Wiessner (1983, 1990), a partir de um estudo etnogrfico de variao estilstica, diferenciou o
estilo assertivo, com base pessoal que traz informaes sobre identidade individual e estilo
emblemtico que proporciona informaes sobre o grupo, assim o estilo reside na
intencionalidade consciente de gerar informao, na integrao coletiva e grupal ou
54
A partir da perspectiva de tecnologia como sistema, a noo de estilo passa a ser um conceito fundamental
para o entendimento dos conjuntos tecnolgicos dos diferentes grupos culturais, pode ser assim definido: o
modo como as pessoas realizam o seu trabalho, incluindo as escolhas feitas por eles no que se refere aos
materiais e s tcnicas de produo (REEDY; REEDY apud DIAS; SILVA, 2001, p. 96). Ainda segundo Dias e
Silva (2001, p. 96) o estilo tecnolgico permite compreender no apenas como um padro material se manifesta
na morfologia e decorao dos artefatos, mas tambm como algo inerente e subjacente aos processos de
produo a partir dos quais estes aspectos visuais so uma resultante.
individual. J Plog (1978) fez um estudo da decorao cermica do sudoeste dos EUA e
considerou que o grau de similaridade estilstica da cermica de reas vizinhas depende do
grau de interao social.
A noo de estilo analisado a partir da sequncia de operaes contribui na
interpretao dos conjuntos artefatuais de grupos diferentes. Dias e Silva (2001) sugerem que
o estabelecimento da diferenciao de grupos culturais a partir de sistemas tecnolgicos
distintos depende da comparao contextual dos conjuntos artefatuais dos stios de uma
mesma regio para tecer conjecturas sobre a distino de identidades sociais/culturais no
contexto arqueolgico.
55
O modelo locacional de carter preditivo, baseia-se no mapeamento dos suportes assumidos como
geoindicadores arqueolgicos, convergindo para a previso dos compartimentos da paisagem potencialmente
aptos a apresentarem assinaturas dos povos indgenas pr-coloniais (MORAIS, 2006, p. 202).
Fagundes (2007) observa que, ao realizar anlises inter-stios de grupos ceramistas,
possvel pensar na mobilidade, captao de recursos, organizao tecnolgica, pensando nos
stios de forma interligada, aventando respostas sobre questes econmicas, sociais, culturais
dos grupos em questo. J as anlises intra-stios, segundo o autor, contribuem no
entendimento de mobilidade, captao de recursos etc., possibilitando criar um modelo
locacional para compreender o sistema regional de assentamento.
Morais (1999-2000, 2006) prope como sistema regional de povoamento a
coordenao entre stios ou conjuntos de stios pautada por relaes sociais, econmicas e
culturais (considerando sua contemporaneidade, similaridade ou complementaridade) define
um sistema regional de povoamento. Segundo o autor, esse conceito tem sua sustentao na
Geografia, pois refere-se disperso das populaes pelo ecmeno terrestre e a consequente
produo de paisagens, com a construo de cenrios que se sucedem. Nesse modelo so
admitidos dois macro-sistemas indgenas pr-coloniais: caadores-coletores e agricultores. Os
macro-sistemas admitem sistemas individualizados. O autor utiliza como exemplo de sistema
individual a maior parte dos stios colinares pr-coloniais do Vale do rio Paranapanema, com
datao em torno de mil anos antes do presente, compondo o sistema regional Guarani
(MORAIS, 1999-2000, p. 202-206, 2006, p. 9).
A noo de sistema de assentamento abordada pela Nova Arqueologia e estruturada
a partir da viso sistmica de cultura, segundo a qual pessoas, coisas e lugares so
componentes de um campo que consiste dos sub-sistemas ambiental e scio-cultural. Para
Binford (1965), cada stio representa uma viso parcial e limitada do comportamento regional.
Em cada stio o uso do espao e a tecnologia desenvolvida so uma resposta especfica a
situaes concretas. Em outras palavras, vislumbram um sistema cultural no qual tiveram
lugar diferentes atividades em espaos distintos (BINFORD, 1965). Para o autor, a noo de
sistema de assentamento pressupe que os stios distribuem-se intencionalmente no espao,
em funo tanto do contexto social quanto do contexto ambiental, no podendo ser explicados
como entidades isoladas, por isso a importncia de se compreender a distribuio espacial dos
assentamentos onde cada stio tem uma funo especfica e complementar dentro de um
sistema mais amplo. Para o Sul do Brasil, posso citar como exemplo as pesquisas de Dias
(2003) e Dias e Hoeltz (2010), desenvolvidas a partir dessa abordagem terica, a primeira
aborda o sistema de assentamento de caadores-coletores do alto vale do rio dos Sinos/RS, e a
segunda analisa a distribuio de stios lticos relacionados aos sistemas de assentamento de
grupos agricultores.
Contudo, a pesquisa arqueolgica muitas vezes se depara com limitaes, j que os
stios inseridos num contexto dinmico sofrem uma srie de processos ps-deposicionais, que
afetam tanto o modo como foram quanto o que aconteceu aps serem enterrados os vestgios
arqueolgicos. Schiffer (1972) fez a distino entre processos ps-deposicionais culturais que
englobam as atividades dos homens na medida em que fabricam, usam e abandonam artefatos,
construes etc.; e processos ps-deposicionais naturais ou no culturais, que determinam
desde o enterro at a sobrevivncia do registro arqueolgico. O que isso introduz o ciclo de
vida ou histria de qualquer elemento os estgios da sua vida em um sistema cultural e
como esses se relacionam com uma transio eventual de elementos para o registro
arqueolgico. Assim, no dizer de Schiffer, Contexto sistmico denota a condio de um
elemento que participa de um sistema comportamental. Contexto arqueolgico descreve
materiais, que passaram por um sistema cultural e que agora so objetos de investigao de
arquelogos (SCHIFFER, 1972, p. 157).
Nesse sentido, Rubin e Carbonera (2011) realizaram anlise sobre o contexto
ambiental de 167 stios registrados na rea do reservatrio da UHE It, buscando refletir sobre
a dinmica da rea, desde o abandono do local pelas populaes pr-coloniais at o momento
do registro do stio e observaram que os dados sobre o meio ambiente que so utilizados para
relacionar com reas de assentamento ou outras atividades so obtidos por arquelogos do
presente e precisam ser relativizados, uma vez que a rea sofre tanto com alteraes
antrpicas como tambm por modificaes naturais (principalmente em relao ao
escoamento superficial, processos erosivos e perdas de solos, alm da dinmica fluvial e
paleoambiente), que nem sempre so levados em considerao. Os autores comentam, com
base nos dados levantados para os stios, que no caso deste projeto
59
Em 1932, quando foi exilado do Brasil pela primeira vez, Paulo Duarte se direcionou para atividades de
pesquisa e preservao arqueolgica. Em 1933 na Frana comeou a ter contato com Paul Rivet, inicialmente
como aluno, a relao com Rivet foi fundamental para que Paulo Duarte fosse aos poucos deixando o jornalismo,
para seguir com as pesquisas em Antropologia e pr-histria. Na dcada de 1930, Paul Rivet era diretor do
Museu do Homem em Paris e, ao longo dessa dcada, o contato entre ele e Paulo Duarte s aumentou. Por sua
vez, Paul Rivet j era um cientista conhecido e respeitado, entre outras realizaes, destaca-se em 1925 a criao
junto a Marcel Mauss e Lucien Lvy Bruhl do Instituto de Etnologia da Universidade de Paris. Paul Rivet
mantinha ligao com Franz Boas, ambos compartilhavam as mesmas crenas na cincia, como mecanismo de
interveno social, na inexistncia de culturas superiores e inferiores. Rivet considerava importante as pesquisas
etnolgicas, pr-histricas e lingusticas, para embasar a origem do homem, percebia as instituies
museolgicas como fundamentais para divulgao, popularizao e comprovao cientfica dessas ideias. Paulo
Duarte inclusive, foi nomeado por Rivet Secretario Geral do Instituto de Altos Estudos Brasileiros em 1945. Foi
nesse perodo que o jornalista transformou-se um estudioso em Antropologia da Amrica Latina,
especificamente em pr-histria (ALCNTARA, 2007).
119
para estudar os sambaquis foi indicao de Paul Rivet, o projeto de pesquisa arqueolgica
visava analisar stios semelhantes em outros pases da Amrica do Sul, como Chile e Uruguai,
com apoio do governo francs (ALCNTARA, 2007, p. 131-143).
Paulo Duarte buscava uma Arqueologia universalista e humanista, em contraposio
ao nacionalismo. Para Alcntara, a influncia iniciou ainda na dcada de 1930, quando Lvi-
Strauss aluno de Paul Rivet esteve na Universidade de So Paulo na dcada de 1930, e na
poca defendeu a criao de um Instituto de Antropologia Fsica e Cultural. As ideias de
Lvi-Strauss para o Instituto eram as ideias de Paul Rivet, Marcel Mauss e Lucien Lvy Bruhl
implantadas no Instituto de Etnologia da Frana e seriam sobre esses pilares que Paulo Duarte
implantaria e tentaria sustentar o Instituto de Pr-Histria, fundado no final de 1950 no Brasil
(ALCNTARA, 2007, p. 146).
Rivet e Duarte almejavam a criao do Museu do Homem Americano no Brasil. Por
isso, na dcada de 1950, quando Paulo Duarte j estava de volta ao pas, buscou implementar
aes em prol da preservao dos stios e da pesquisa arqueolgica e, para isso, continuava
recebendo apoio de Paul Rivet:
60
Em 1989, foi criada uma nova instituio museolgica denominada Museu de Arqueologia e Etnologia
(MAE/USP), com a reunio de pesquisadores e acervos dos extintos Instituto de Pr-histria, antigo Museu de
Arqueologia e Etnologia, os componentes etnolgicos e etnogrficos do Museu Paulista e do acervo etnogrfico
Plnio Airosa at ento vinculado ao Departamento de Antropologia da USP.
120
61
Antes de ser orientanda de Luciana Pallestrini, Marilandi foi orientanda de Ulpiano Bezerra de Menezes,
segundo ele l pelos idos de 1970 ela se inscreveu comigo, mas nem chegou a apresentar projeto definido de
pesquisa, que pudesse revelar seu grau de informao e amadurecimento sobre as questes terico-
metodolgicas que estavam na ordem do dia. S posso dizer que ela estava a par do que propunha o PRONAPA,
com toda sua rigidez. Antes, ela tambm acompanhou comigo a Maria Jos Reis numa sada de campo no
Planalto de Lages (Ulpiano Bezerra de Menezes, correspondncia eletrnica, em 27/02/2013).
122
que pressupunha para o arquelogo, como j ocorria com outras profisses, a existncia de patres ou de
clientes. Um servio arqueolgico determinado realizado por uma remunerao negociada entre as partes
(CALDARELLI; SANTOS, 1999-2000, p. 53). Segundo as autoras, a Arqueologia de Contrato pode ser exercida
por universidades ou museus contratados, ou por arquelogos independentes, que desempenham suas funes
como autnomos ou como pequenos empresrios. Os projetos envolvem a localizao, avaliao e estudo dos
bens arqueolgicos numa rea determinada, para a qual, em geral existe um projeto de engenharia civil que
provocar alteraes no uso do solo. A Arqueologia de Contrato no Brasil teve suas origens na arqueologia de
salvamento, com a assinatura da Lei 3.924/61, sendo que os primeiros trabalhos foram realizados entre o final da
dcada de 1960 e meados da dcada de 1970, sem nenhum subsdio financeiro por parte dos responsveis. Em
Santa Catarina, para as autoras, destaca-se nesse perodo o trabalho de Joo Alfredo Rohr, que atuou ativamente
para impedir a destruio de importantes stios pr-histricos. Inicialmente, para Calderelli e Santos, os
resultados dessas aes em prol do patrimnio arqueolgico foram mais visveis no setor eltrico, que incluiu em
suas diretrizes que os stios arqueolgicos existentes nas reas de inundao de seus empreendimentos fossem
objeto de salvamento antes do enchimento dos reservatrios. Foi somente com a Resoluo do Conama, de
23/02/1986 que se efetiva a Avaliao de Impacto Ambiental e se prev a participao do arquelogo em
projetos de avaliao, mais especificamente na elaborao de EIAs/RIMAS, regularizando e fazendo crescer a
arqueologia de contrato no Brasil (CALDARELLI; SANTOS, 1999-2000).
empreendimentos desenvolvimentistas so condicionados por uma variedade de fatores
especficos de cada projeto, incluindo: os problemas de gesto e de pesquisa a serem
resolvidos; estgio em que se d a investigao; estimativas iniciais da base de recursos
arqueolgicos etc. A pesquisa arqueolgica ligada Gesto de Recursos Culturais, dizem os
autores, demanda a aplicao criativa e flexvel de teoria e mtodo arqueolgicos modernos,
no havendo possibilidade de aplicao de receitas prontas e infalveis (SCHIFFER;
GUMMERMAN, 1977, p. 85).
Como os dados analisados nesta tese so decorrentes de um projeto arqueolgico
desenvolvimentista no caso uma usina hidreltrica, a rea a ser pesquisada foi um recorte
determinado pelo tipo do empreendimento. Projetos de abrangncia regional, segundo
Schiffer, Sullivan, Klinger (1978, p. 2-4), podem utilizar um conjunto de tcnicas para avaliar
os registros arqueolgicos regionais. Assim, para a recuperao dos vestgios arqueolgicos
pode-se aplicar o princpio da amostragem, este depende principalmente de dois fatores: 1) o
primeiro fator no depende do arquelogo, est ligado s caractersticas do meio ambiente e
do material arqueolgico da rea estudada, incluem basicamente os seguintes itens:
abundncia, agrupamentos, [evidncias] discretas, visibilidade e acessibilidade; 2) o segundo
lida com fatores totalmente controlados pelo pesquisador, sendo representado pelas tcnicas e
estratgias de pesquisas, incluindo amostragens probabilsticas.
Nesse sentido, Marilandi Goulart, nos projetos de Arqueologia Consultiva do alto rio
Uruguai, fez uso de diferentes abordagens que estavam sendo desenvolvidas e aplicadas
naquele perodo. Empregando a escola americana para as etapas de levantamento extensivos
dos stios, com a realizao de sondagens e coletas superficiais. O levantamento dos stios na
extensa rea pesquisada deu subsdios para as escavaes realizadas segundo os princpios da
escola francesa, estas ocorreram em poucos stios localizados no canteiro de obras da UHE It
e que apresentaram melhores condies de preservao. Assim, ao analisar esta etapa da
histria da Arqueologia catarinense, pode-se tambm refletir sobre procedimentos terico-
metodolgicos desenvolvidos entre as dcadas de 1950 a 1970, aplicados em um projeto de
pesquisa executado nas duas dcadas posteriores e analisados com os conhecimentos
disponveis atualmente.
inegvel o legado deixado por Marilandi Goulart. Em primeira instncia,
impulsionou as pesquisas no alto rio Uruguai, na poca ainda de difcil acesso, por se localizar
no interior catarinense. O Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai levado a cabo por
Marilandi Goulart, nas dcadas de 1980 e 1990, proporcionou muitos desdobramentos.
Reuniu um grande acervo sobre pr-histria regional com cultura material referente aos dois
momentos de ocupao, desde os antigos caadores-coletores e, sobretudo, das sociedades
agrcolas Guarani e Itarar-Taquara. Promoveu o debate sobre a importncia da preservao e
valorizao dos bens culturais e estimulou a participao da comunidade regional nesse
processo.
O Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai foi extenso, tanto em termos de territrio
pesquisado quanto de durao das atividades. Durante o desenvolvimento das diferentes
etapas, certamente foram muitas as dificuldades: o acesso, trocas constantes de profissionais,
limites oramentrios. Essas questes aliadas s concepes terico-metodolgicas de
Marilandi Goulart devem ser levadas em considerao, para entender os dados analisados.
Neles observam-se algumas limitaes como: a falta de publicaes em revistas cientficas e
mesmo de discpulos que poderiam ter conduzido novas pesquisas. Os resultados de quase
vinte anos de pesquisas foram divulgados somente por meio de relatrios tcnicos, datados
de: 1980, 1981, 1985, 1987, 1988, 1989, 1991, 1994, 1995, 1997, que so encontrados em
diferentes instituies63, o que dificultou o entendimento do acervo, especialmente os dados
de campo, j que no foi possvel acessae todos os relatrios.
Quanto ao item tempo tambm no foram detectados avanos, pois no foram
realizadas dataes absolutas, seja por Termoluniscncia ou Carbono 14, estas permitiriam
estabelecer horizontes temporais para as ocupaes dos caadores-coletores e agricultores
ceramistas idenficados nos stios pesquisados. A informao contida nos relatrios coloca que
o material arqueolgico coletado nos stios foi classificado como pertencente s tradies pr-
cermicas, Umb e Humait e s populaes cermicas, J e Guarani. Entretanto, os stios
arqueolgicos no foram identificados como unicomponenciais e multicomponenciais e
tampouco relacionados s quatro tradies. Para obter tal informao, seria necessrio revisar
a cultura material de todos os stios. Tambm o emprego de camadas artificiais gerou
problemas de estratigrafia dos stios escavados especialmente para entendimento da sequencia
de ocupaes nos stios multicomponenciais.
O falecimento prematuro de Marilandi Goulart, em maio de 1998, ps fim s
atividades do Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai e Projeto Salvamento Arqueolgico
Uruguai UHE It. Seu trabalho marca uma etapa da histria da Arqueologia catarinense e, por
meio dele, evidencia-se como aconteceram os primeiros trabalhos vinculados modalidade de
Arqueologia Consultiva. Neste caso, os estudos foram iniciados antes da Portaria do Conama
63
Tais como: Instituto Anchietano de Pesquisas (Unisinos), Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do
Sul (PUCRS), Scientia Consultoria Cientfica, Universidade do Vale do Itaja (Campus Itaja), Instituto do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (Superintendncias Regionais do Rio de Janeiro e Florianpolis), entre
outras.
de 1986 e das demais portarias do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional,
publicadas a partir da segunda metade da dcada de 1980, objetivando regulamentar as
atividades do arquelogo, especialmente porque nessa poca comeava a ganhar espao no
cenrio brasileiro a Arqueologia consultiva.
Acervos depositados em museus e demais instituies podem tornar-se objetos de
pesquisa das novas geraes de arquelogos, mas no podem ser analisados separados do
contexto de produo. Por isso, as atividades de campo e laboratrio precisam ser uma
preocupao constante dos arquelogos do presente, pois este ser nosso legado s futuras
geraes.
Grfico 1 Distribuio dos stios arqueolgicos pelas sete feies geomorfolgicas registrados na
regio da UHE Ita
Figura 28. (1) Nova It; (2) It Velha; (3) topos convexos a aplanados; (4) plats bem
desenvolvidos e alongados; (5) encosta inferior; (6) meia encosta; (7) encosta superior. Fonte:
Goulart (1997a).
Grfico 2 Distncia dos stios analisados em relao principal drenagem o rio Uruguai
Conforme Goulart (1997b, p. 48) a distncia foi medida em metros, a partir do centro
do stio, considerando a distncia obtida da parte central da rea de distribuio do material
at a drenagem mais prxima. Na distncia de 10 a 99 metros, ocorre a maior frequncia
31,49% dos stios; entre 100 a 199 metros, esto 16,02%; de 200 a 299 metros esto 14,36%,
64
Para classificao das principais drenagens, Marilandi Goulart adotou a classificao de Horton (apud
Christofoletti 1980), que considera canais de 1 ordem aqueles que no possuem tributrios; de 2 ordem, os que
s recebem tributrios de 1 ordem; os de 3 ordem, que recebem tributrios de 2 ordem e de 1 ordem; 4 ordem
recebem tributrios de 3 ordem e tambm de ordem inferior e assim por diante (GOULART, 1997b, p. 43).
de 300 a 499 metros esto 16,60% dos stios; de 500 a 999 metros, 12,70%, e com mais de
1000 metros de distncia esto 8,83%. Os stios mais prximos esto a 15 metros e o mais
distante foi registrado a 4.200 metros do rio Uruguai.
De forma geral, no Projeto Salvamento Arqueolgico Uruguai havia uma
sistematizao para a obteno das informaes bsicas sobre a implantao dos stios
(compartimentao geomorfolgica) e de captao de recursos, principalmente gua,
argilominerais e minerais/rochas. Porm, as questes relacionadas com a dinmica da rea,
principalmente em relao ao escoamento superficial, processos erosivos e perdas de solos,
alm de dinmica fluvial e paleoambiente, ficaram em segundo plano ou no foram
abordados, fato que gerou uma lacuna no conhecimento relacionado ao contexto ambiental
dos stios (RUBIN; CARBONERA, 2011).
Como j pontuado no primeiro captulo, as fontes de matrias-primas, tanto rochosas
quanto argilosas, estavam disponveis abundantemente na rea. Os depsitos de materiais
areno-sltico-argilosos podiam ser encontrados ao longo das plancies de inundao das
principais drenagens, gerados pela deposio das correntezas durante as pocas de cheias, j
as fontes para a indstria ltica estavam em afloramentos de basalto (tanto diclases
horizontais como basalto vesicular e amigdaloidal), mapeados nas proximidades de quase
todos os stios, alm das cascalheiras do rio Uruguai constitudas por uma variedade de
grnulos, seixos, blocos e, em alguns casos, mataces rochosos e minerais, como: quartzo,
gata, calcednia, brechas baslticas, basaltos (GOULART, 1997b, p. 125).
Objetivando detalhar melhor os solos da regio estudada e detectar possveis fontes
argilosas, realizei coleta65 em quatro pontos para cada um dos quatro stios selecionados nesta
tese. Para a anlise foi considerada a frao mais argilosa ou o horizonte B, que estava em
mdia a partir dos 45 cm. As amostras aps secas ao ar foram encaminhadas para o
65
Para a realizao da coleta do sedimento argiloso, procurou-se primeiramente observar os pontos mais
homogneos do terreno, atravs de um reconhecimento preliminar do mesmo. Dentre as condies avaliadas,
destacam-se: declividade da rea, procurando evitar pontos heterogneos entre si, coletando amostras nas
pores mais planas da paisagem e de composio vegetal homognea; e profundidade do solo, buscando
determinar profundidades padres de coleta do solo com predomnio de argila. Tal procedimento permite que, ao
percorrermos a rea para aleatorizar os pontos de coleta de solo, os mesmos sejam os mais homogneos
possveis e representativos do perfil de solo caracterizado. Os locais de coleta esto localizados em posio
similar de topossequncia, e caracterizam-se por um terreno suave ondulado a forte ondulado, apresentando
iguais condies de clima e solo, caracterizado como predominante de Cambissolo. Em cada rea de amostragem
(cada stio arqueolgico), foram coletadas quatro amostras de solo, na profundidade mdia de 60 cm, com a
utilizao de um trado. Para a realizao das coletas, o local era inicialmente limpo com o auxlio de uma
enxada, para posterior tradagem. Para a determinao da profundidade de coleta, foi realizada a abertura de
perfis de solo com dimenses de aproximadamente 1 x 1 metro, e sua abertura foi realizada com ajuda de p e
enxada. Os horizontes O e A foram descartados, sendo considerada para esta pesquisa a frao mais argilosa ou
o horizonte B. Os perfis revelaram que o horizonte B estavam em mdia a partir dos 45 cm. Junto aos horizontes
encontravam-se alguns fragmentos de rocha. A poro mais superficial caracteriza um substrato areno-argiloso.
laboratrio da Empresa de Pesquisa e Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina
Epagri de Campos Novos (SC) para anlise granulomtrica (tabela 4 e 5):
Protocolo Nmero TFSA Cascalho AMG AG AM AF AMF Areia Total Silte Argila
Stio 9
196 Ponto 1 99,7 0,3 9 10 16 22 15 70 356 575
Stio 9
197 Ponto 2 86,1 13,9 14 16 20 28 26 101 296 603
Stio 9
198 Ponto 3 89,0 11,0 37 36 27 31 24 155 218 627
Stio 9
199 Ponto 4 99,3 0,7 11 15 18 26 19 91 250 659
Stio10
200 Ponto 1 99,9 0,1 3 8 12 20 15 59 252 689
Stio 10
201 Ponto 2 99,3 0,7 8 10 14 23 13 69 232 699
Stio 10
202 Ponto 3 99,6 0,4 1 3 10 56 80 151 586 262
Stio 10
203 Ponto 4 99,7 0,3 2 6 14 25 14 62 235 703
Stio 11
204 Ponto 1 100,0 0,0 2 3 58 159 93 316 385 299
Stio 11
195 Ponto 2 100,0 0,0 2 22 110 187 87 408 315 276
Stio 11
205 Ponto 3 100,0 0,0 1 13 232 262 73 587 219 195
Stio 11
206 Ponto 4 100,0 0,0 1 8 109 203 94 417 339 245
Stio 13
207 Ponto 1 100,0 0,0 0 5 139 252 73 471 244 285
Stio 13
208 Ponto 2 100,0 0,0 2 4 106 258 93 465 273 261
Stio13
209 Ponto 3 100,0 0,0 1 6 106 232 92 443 279 278
Stio 13
210 Ponto 4 99,3 0,7 2 8 123 218 78 432 266 302
Legenda e Dimetros das fraes:
TFSA = Terra fina seca ao ar (<2,0 mm); Cascalho (> = 2mm); AMG = Areia muito grossa (1-2 mm); AG = Areia grossa (0,5-1,0
mm); AM = Areia mdia (0,25-0,5 m); AF = Areia fina (0,10 - 0,25 mm); AMF = Areia muito fina (0,05-0,10); Silte = 0,002-0,052
mm; Argila = < 0,002 mm
Fonte: Granulometria do Solo (mtodo da pipeta), realizado em 2013, na Epagri-Campos Novos (SC),
responsvel Dr. Milton da Veiga. Amostras processada em 2013.
Foram realizadas quatro coletas para cada um dos quatro stios estudados, as amostras
dos stios Valdemar Stensseler (009) e Silvino Prediger I (010) apresentaram maior
porcentagem de argila e silte e menos areia. Enquanto nos stios Armandio Vortmann (011) e
Otto Aigner 1 (013) a porcentagem de areia praticamente equivalente a de silte e argila.
Quanto mais silte e argila maior a plasticidade da argila.
Os conjuntos cermicos selecionados para esta pesquisa provm dos stios: Valdemar
Stensseler (009), Silvino Prediger I (010), Armandio Vortmann (011), Otto Aigner 1 (013) e
Otto Aigner 266 (figura 29), em termos cronolgicos os agricultores ceramistas ocuparam a
Volta do Uv tardiamente, muito embora na rea tambm se registrou a presena de
sociedades antigas de caadores-coletores, no entanto, essa ocupao no ser estudada neste
trabalho (tabela 6).
66
O stio Otto Aigner 2 foi includo, j que a escavao realizada no final de 2013 contribuiu para o
entendimento do contexto arqueolgico da Volta do Uv. Por isso, ele ser abordado de forma sucinta, a anlise
completa ser publicada por Carbonera, Loponte, Silvestre (no prelo).
Figura 29. Localizao da Volta do Uv com os stios arqueolgicos e os afloramentos registrados.
Fonte: Adaptado de Goulart (1995a).
Os quatro stios arqueolgicos foram escavados, pois seriam atingidos pelo canteiro de
obras da UHE It, mas principalmente porque estes apresentaram boas condies de
preservao se comparados aos demais stios registrados na regio. Identificados na etapa de
levantamento e prospeco realizada no incio da dcada de 1980, foram escavados em
diferentes etapas entre 1986 e 1989 (GOULART, 1987a, 1987b, 1988a, 1988b; 1997a;
CARBONERA, 2008).
Em 1993, o projeto bsico da usina foi revisto e vrios aspectos alterados, um deles
mudou a posio do eixo da barragem mais montante, evitando assim a inundao de toda a
bacia do rio Uv, com isso as reas dos stios analisados nesta pesquisa no foram impactados
diretamente pelas obras da UHE It. A partir de 2011, revisitei os stios para complementar as
informaes e realizou-se nova campanha de escavao no segundo semestre de 2013, como
ser abordado no final deste captulo. De forma geral, foi constatado que os stios embora no
tenham sido destrudos pelas obras da UHE It como consta nos relatrios de Goulart (1987a,
1987b, 1988a, 1988b), atualmente so impactados negativamente, pois esto na faixa de
depleo do reservatrio da UHE Foz do Chapec.
A seguir, sero descritos os procedimentos adotados nas escavaes dos stios,
objetivando contextualiz-los e reunir o mximo possvel de informaes, uma vez que os
dados destes stios esto descritos em relatrios parciais datados de 1987a, 1987b, 1988a,
1988b, que constituem-se acervo particular e no esto disponveis junto ao Acervo
Marilandi Goulart, salvaguardado no Laboratrio de Arqueologia, da URI-Campus Erechim.
Os dados de cultura material foram sintetizados para esta pesquisa, com base nos Inventrios
datados de 1995 e organizados por nveis artificiais, para comparar quantidade de objetos x
profundidade.
Figura 30. Stio Valdemar Stensseler (009), na Figura 31. Stio Valdemar Stensseler (009) rea
imagem da esquerda vista atual da rea escavada correspondendo poro menos
intensamente alterada por atividades antrpicas destruda da mancha de terra preta e com maior
Imagem: Mirian Carbonera. concentrao de material, especialmente
cermico, respectivamente setores C4, D2, D3 e
E3. Fonte: Goulart (1987b, p. 10).
67
Regolito o material inconsolidado de rochas intemperizadas, de qualquer material de origem, que recobre
extensas reas da superfcie terrestre (PRADO, 2003, p. 3-10).
Figura 32: Stio Valdemar Stensseler (009) croqui da escavao. Adaptado de Goulart (1988a).
Figura 33: Stio Valdemar Stensseler (009), detalhe da escavao do perfil na quadrcula C4,
evidenciando-se os blocos de basalto que constituem o regolito a 65 cm. Fonte: Goulart (1987b, p.
11).
Figura 34. Stio Valdemar Stensseler (009) reconstituio do perfil na quadra C4. Fonte: Adaptado
de Goulart (1987a, p. 48; 1987b, p. 12).
Tabela 8 Stio Valdemar Stensseler (009) distribuio vertical da cultura material por nveis
artificiais
Profundidade Cermica Guarani Ltico Total
Sup. 733 40 773
0-10 115 4 119
10-20 106 22 128
20-30 10 0 10
Total 964 66 1030
Fonte: Com base em Goulart (Volume II, Tomo I, 1995c) e Goulart (Volume III, Tomo I, 1995d).
68
Os dados de cultura material foram sintetizados para esta pesquisa, com base nos Inventrios datados de 1995
e foram organizados por nveis artificiais, objetivando-se comparar quantidade de objetos X profundidade.
Figura 35. Stio Valdemar Stensseler (009) Figura 36. Stio Valdemar Stensseler (009)
pontas de projtil de slex, arenito e calcednia machados polidos de basalto coletadas na
coletadas na superfcie. Acervo da famlia superfcie. Acervo da famlia Stensseler.
Stensseler. Imagem: Acervo Imagem: Acervo Ceom/Unochapec.
Ceom/Unochapec.
Figura 37: Stio Valdemar Stensseler (009) material cermico com acabamento corrugado,
ungulado e alisado. Imagem: Acervo Ceom/Unochapec.
O stio apresentou 964 fragmentos de cermica Guarani (figura 37), sobretudo, partes
do corpo (tabela 9):
Tabela 9 Stio Valdemar Stensseler (009) distribuio vertical da cermica Guarani por nveis
artificiais
Profundidade Bordas Bojos Bases Total
Figura 38. Stio Silvino Prediger I (010) vista geral das trs fogueiras. Fonte: Goulart (1987b, p.
23).
Figura 39. Stio Silvino Prediger I (010) croqui da rea escavada. Adaptado de Goulart (1988a).
Figura 40. Reconstituio do perfil Silvino Prediger I (010). Fonte: Adaptado de Goulart
(1987a, p. 52; 1987b, p. 15).
O perfil atingiu uma seo superficial do stio de 4m, foi escavado verticalmente at a
profundidade de 206 cm, revelando ocupao humana nos nveis I e II. O terceiro nvel
apresentou pouco material arqueologico, conforme se v na descrio a seguir:
Nvel I (0 5 cm): horizonte A solo atual com grande quantidade de razes e fragmentos de
seixos baslticos com dimenses variadas e bastante alterados, neste nvel foi encontrado
maior parte da cermica Guarani;
Nvel II (5 20 cm): onde se encontra o solo antropognico com material arquelogico, que
tem uma evoluo que oscila entre 5 e 15 cm de espessura, associado a esta mancha basalto
bastante alterado;
Nvel III (20 114 cm): apresentou material cermico Itarar-Taquara e ltico na parte
superior do nvel. O solo latertico de cor vermelho claro, sem material orgnico e boa
plasticidade, com presena de basalto alterado, localizado na base da camada e que se
constitui no regolito encontrado a 206 cm (figura 40) (GOULART, 1987a, p. 51-53; 1987b, p.
15-17).
Atualmente a rea do stio utilizada para criao de gado, com cobertura de
gramneas.
O stio Silvino Prediger I (010) apresentou 172 vestgios arqueolgicos, a cermica
com 96 fragmentos Guarani e outros 21 fragmentos Itarar-Taquara, alm de 55 objetos
lticos (tabela 10):
Tabela 10 Stio Silvino Prediger I (010) distribuio vertical da cultura material por nveis artificiais
Cermica
Profundidade Cermica Guarani Ltico Total
Itarar-Taquara
Sup. 96 1 7 104
0-10 0 0 10 10
10-20 0 4 5 9
20-30 0 13 12 25
30-40 0 3 5 8
40-2,00 0 0 16 16
Total 96 21 55 172
Fonte: Com base em Goulart (Volume II, Tomo I, 1995c) e Goulart (Volume III, Tomo I, 1995d).
Figura 41. Stio Silvino Prediger I (010) mo de pilo. Imagem: Acervo Ceom/Unochapec.
Figura 42. Stio Silvino Prediger I (010), Figura 43. Stio Silvino Prediger I (010),
cermica Guarani com acabamento alisado, cermica Itarar-Taquara com tratamento de
corrugado e ungulado. Imagem: Acervo superfcie ungulado e ponteado. Imagem:
Ceom/Unochapec. Acervo Ceom/Unochapec.
Na distribuio da cermica pelos nveis fica evidente que o material Guarani estava
em superfcie, enquanto a cermica Itarar-Taquara foi encontrada, principalmente, entre 20 e
40 cm de profundidade (figuras 42 e 43). Na tabela 11, a classificao dos fragmentos de
cermica de ambas as culturas:
Tabela 11 Stio Silvino Prediger I (010), cermica distribuda verticalmente pelos nveis artificiais
Cermica Guarani Cermica Itarar-Taquara
Profundidade
Bordas Bojos Bases Total Bordas Bojos Bases Total
Sup. 21 63 12 96 0 1 0 1
0-10 0 0 0 0 0 0 0 0
10-20 0 0 0 0 0 3 1 4
20-30 0 0 0 0 2 11 0 13
30-40 0 0 0 0 0 3 0 3
Total 21 63 12 96 2 18 1 21
Fonte: Com base em Goulart (Volume III, Tomo I, 1995d).
Figura 44. Stio Armandio Vortmann (011) Figura 45. Stio Armandio Vortmann (011)
Fonte: Goulart (1987a, p. 61). evidenciao do nvel 35 a 45 cm. Fonte:
Goulart (1987a, p. 35).
Figura 46. Stio Armandio Vortmann (011) croqui da rea escavada. Adaptado de Goulart
(1988a).
Figura 47. Stio Armandio Vortmann (011) detalhe do perfil quadra B2. Fonte: Goulart (1987a, p.
60; 1987b, p. 23).
Figura 48. Stio Armandio Vortmann (011) reconstituio do perfil a partir da quadra B2. Fonte:
Adaptado de Goulart (1987a, p. 60; 1987b, p. 23).
O perfil que atinge uma seo superficial de 4m foi escavado verticalmente at 200
cm, tendo revelado quatro camadas distintas:
Nvel I (0 10 cm): horizonte A solo atual com grande quantidade de razes;
Nvel II (10 75 cm): onde se encontra o solo antropognico, que tem uma evoluo que
oscila entre 10 e 60 cm de espessura, associado ao material arqueolgico ocorrem fragmentos
baslticos de diversos tamanhos e bastante alterados;
Nvel III (75 160 cm): solo latertico, cor vermelho claro, sem material orgnico e boa
plasticidade, verifica-se a presena de seixos arredondados e poucos fragmentos de basalto.
Para Goulart, a natureza arenosa dos gros e a ocorrncia de seixos arredondados indicam
uma provvel inundao do rio e a eventual deposio destes materiais. No foi encontrado o
regolito (figuras 47 e 48) (GOULART, 1987a, p. 59; 1987b, p. 23).
Na escavao do stio, foram descritas duas camadas, a primeira de 15 a 45 cm e, a
segunda de 45 a 65 cm. No nvel de 15 a 45 cm, foram evidenciadas sete concentraes
lticas, nove concentraes lito-cermicas, uma concentrao cermica e duas fogueiras.
Juntamente a uma concentrao lito-cermica, localizada nos setores I3 e I4, estava uma
concentrao ssea. Associado s duas fogueiras tambm foram encontrados objetos lticos e
cermicos. O material ltico dessas concentraes era constitudo principalmente por: seixos,
fragmentos de seixos, blocos e clsticos de basalto, lascas de quartzo (GOULART, 1988a, p.
29-32).
No nvel de 45 a 65 cm, as estruturas predominantes so fogueiras, foram delimitadas
oito no total, cinco concentraes lticas, trs concentraes lito-cermicas. As fogueiras
variavam de 3 a 5 cm de espessura e associadas a elas foram coletados objetos lticos,
cermicos, sseos e carvo. Algumas quadras foram escavadas at a profundidade de 2,30
metros (figuras 49 a 52) (GOULART, 1988a, p. 32-34).
Figura 49. Stio Armandio Vortmann (011) Figura 50. Stio Armandio Vortmann (011)
estruturas de fogueira e concentrao lito- mancha preta localizada na divisa dos setores
cermica entre 50 a 65 cm. Fonte: Goulart E1, F1, -E1 e -F1, entre 57 a 68 cm. Fonte:
(1987a, p. 36). Goulart (1997a, p. 108).
Figura 51. Stio Armandio Vortmann (011) Figura 52. Stio Armandio Vortmann (011)
concentrao de quartzo a 50 cm. Fonte: Goulart concentrao lito-cermica, localizada a 160 cm
(1987a, p. 38). de profundidade nos setores C3, C4, D3 e D4
Fonte: Goulart (1997a, p. 112).
Figura 53. Vista atual do stio Armandio Vortmann (011), a rea circulada foi parte escavada,
observa-se ainda em segundo plano a confluncia do rio Uv no rio Uruguai e ao fundo a UHE It
Imagem: Mirian Carbonera, 2013. Acervo Ceom/Unochapec.
Figura 54. Stio Armandio Vortmann (011) lascas Figura 55. Stio Armandio Vortmann (011)
de quartzo escavadas a 55 cm de profundidade. material ltico lascado em arenito, basalto e
Imagem: Ceom/Unochapec. calcednia. Imagem: Ceom/Unochapec.
69
Vale destacar que o material arqueofaunstico no foi analisado por Marilandi Goulart e equipe. Ele estava
acondicionado em sacos plsticos juntamente com a terra, como foi coletado do stio. A arqueofauna foi objeto
de trabalho monogrfico de Souza (2013).
Dos 5.804 vestgios faunsticos, 559 no foram identificados devido ao tamanho
reduzido, possuem menos de 5 mm ou esto muito deteriorados. Foi possvel analisar 5.245
vestgios, sendo identificadas espcies de mamferos, peixes, rpteis e anfbios, tais como:
tatu; gato e porco do mato; anta; veado campeiro; cascudos; jundias; lagartos; tartarugas;
serpentes; etc. (figuras 56 e 57) (SOUZA, 2013).
Figura 56. Stio Armandio Vortmann (011) Figura 57. Stio Armandio Vortmann (011)
vestgios faunsticos. Imagem: detalhe de artefato sseo. Imagem:
Ceom/Unochapec. Ceom/Unochapec
Tabela 13 Stio Armandio Vortmann (011) cermica distribuda verticalmente pelos nveis artificiais
Guarani Itarar-Taquara
Profundidade
Bordas Bojos Bases Ala Total Bordas Bojos Bases Total
A cermica Guarani totalizou 520 fragmentos, destes 85,57% (445) bojos, 13,07%
(68) bordas e 1,36% (7) bases. J a cermica Itarar-Taquara totalizou 1.536 fragmentos de
cermica, destes 81,90% (1.258) bojos, 13,93% (214) bordas e 4,16% (64) bases (figuras 58 e
59). A partir da unio dos fragmentos Itarar-Taquara, foi possvel remontar seis recipientes
semi-inteiros (captulo 5).
Para o stio Armandio Vortmann (011) foram realizadas duas datas uma por TL e outra
por C 14 (tabela 14):
As datas deste stio o situam dentro do Holoceno final. O conjunto cermico Guarani
est dentro do perodo de ocupao colonial 358 AP, pela data e como o material cermico
estava em superfcie, foram os ltimos a ocupar o espao antes da chegada dos colonizadores
europeus. A ocupao Itarar-Taquara foi datada de 750 30 AP, a cermica foi escavada em
maior quantidade que a Guarani e estava em maior profundidade.
3.3.4 Stio Otto Aigner 1 (013)
Figura 60. Vista atual dos stios, os crculos Figura 61. Vista panormica stio Otto Aigner 1
indicam as reas escavadas, primeiro plano stio (013), aps a retirada da pastagem para a escavao
Otto Aigner 1 e, em seguida rea do stio Otto em 1987. Fonte: Goulart (1987a, p. 64).
Aigner 2. Imagem: Mirian Carbonera, 2013.
Acervo: Ceom/Unochapec.
Figura 62. Stio Otto Aigner 1 (013), rea Figura 63. Stio Otto Aigner 1 (013) detalhe de
decapada. Fonte: Goulart (Vol I, 1997, p. 107). fogueira. Fonte: Goulart (Vol I, 1997, p. 109).
Figura 64. Stio Otto Aigner 1 concentrao de quartzo. Fonte: Goulart (Vol I, 1997, p. 111).
Figura 65. Stio Otto Aigner 1 (013) croqui da rea escavada. Adaptado de Goulart (1988a).
Figura 66. Stio Otto Aigner 1 reconstituio do perfil escavado na quadra L4. Fonte: Adaptado de
Goulart (1995, Tomo I, Vol 1, p. 33; 1987a, p. 66; 1987b, p. 29).
Tabela 15 Stio Otto Aigner 1 (013) distribuio vertical da cultura material pelos nveis artificiais
Cermica Guara- Cermica
Profundidade Ltico Arqueofauna Total
ni Itarar-Taquara
Sup. 12 31 279 0 322
0-10 86 182 1274 5 1547
10-20 107 615 2493 26 3241
20-30 65 306 2460 44 2875
30-40 23 150 1976 173 2322
40-50 23 77 2156 75 2331
50-60 1 12 3310 17 3340
60-70 1 8 4853 5 4867
70-80 0 2 5754 1 5757
80-90 1 2 2224 0 2227
90-1,0 0 1 2454 0 2455
1,00-1,50 1 9 3407 23 3440
1,50-2,10 0 1 473 0 474
2,20-3,00 0 0 135 0 135
Total 320 1396 33248 369 35333
Fonte: Com base em Goulart (Volume II a IV, Tomo I, 1995c), Goulart (Volume III, Tomo I, 1995d),
Goulart (Volume IV, 1995e), Souza (2013).
Figura 67. Stio Otto Aigner 1 (013), 1= Figura 68. Stio Otto Aigner 1 (013), trs
escavada 96 cm; 2= escavada 115 cm; 3= artefatos unifaciais (1,2,4) e um bifacial (3),
escavada 81 cm; 4= foi doada, 5= escavada todos doados pelo proprietrio. Imagem:
119 cm; 6= doada; 7= escavada 69 cm 8= Ceom/Unochapec.
102 cm. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 69. Stio Otto Aigner 1 (013), artefatos Figura 70. Stio Otto Aigner 1 (013), lascas e
lascados em arenito, escavados entre 65 a 99 artefato de calcednia e slex, escavados a 80
cm. Imagem: Ceom/Unochapec. cm. Imagem: Ceom/Unochapec.
Sup. 3 8 1 12 3 24 4 31
0-10 14 71 1 86 33 142 07 182
10-20 17 85 5 107 69 528 18 615
20-30 9 54 2 65 44 245 17 306
30-40 4 19 0 23 09 128 13 150
40-50 7 15 1 23 10 60 7 77
50-60 0 0 0 1 4 8 0 12
60-70 0 1 0 1 1 7 0 8
70-80 0 0 0 0 0 2 0 2
80-90 0 1 0 1 1 1 0 2
90-1,0 0 0 0 0 0 1 0 1
1,00-1,50 1 0 0 1 1 8 0 9
1,50-2,10 0 0 0 0 0 1 0 1
Total 55 254 10 319 175 1155 66 1396
Fonte: Com base em Goulart (Volume III, Tomo I, 1995d).
A cermica Guarani totalizou 319 fragmentos, destes 79,62% (254) so partes do
corpo; 17,25% (55) so bordas e, 3,13% (10) bases. A cermica Itarar-Taquara totalizou
1.536 fragmentos, sendo 82,73% (1.155) bojos, 12,53% (175) bordas e 4,74% (66) bases
(figura 71 e 72). A partir da unio dos fragmentos Itarar-Taquara, foi possvel remontar
quatro recipientes semi-inteiros e uma vasilha semi-inteira Guarani (captulo 5).
Figura 71. Stio Otto Aigner 1 (013) cermica Figura 72. Stio Otto Aigner 1 (013) cermica
Guarani com tratamento corrugado, liso e Itarar-Taquara com tratamento ponteado,
pintado. Imagem: Ceom/Unochapec. impresso, beliscado, ponteado, liso. Imagem:
Ceom/Unochapec.
Dos quatro stios analisados, este apresentou tambm um nvel pr-cermico, como
evidenciou Goulart (1987a; 1987b) durante os trabalhos de campo. Foram realizadas um total
de quatro dataes, uma para o nvel pr-cermico e trs para os nveis cermicos (tabela 17):
70
A escavao do stio Otto Aigner 2 ocorreu dentro das atividades do projeto Arqueologia da Floresta
Atlntica Meridional Sul Americana, desenvolvido por meio de convnio binacional entre a Universidade
Comunitria da Regio de Chapec-Unochapec e o Instituto Nacional de Antropologia e Pensamento
Latinoamericano em parceria com a Prefeitura Municipal de It, atravs da Secretria de Cultura. Processo
IPHAN n. 01510.00172/2013-46, aprovado na portaria 46 de 16 de setembro de 2013.
Figura 73. Stio Otto Aigner 2, vista em 1987. Fonte: Goulart (1987a, p. 70).
Figura 74. Stio Otto Aigner 2, vista geral da escavao. Imagem: Acervo Ceom/Unochapec.
Figura 75. Stio Otto Aigner 2, perfil da quadra 1 e respectivas datas por C 14 realizadas a 20 e 40
cm de profundidade. Imagem: Daniel Loponte, 2013.
Figura 76. Stio Otto Aigner 2 reconstituio do perfil da quadra 3.
O perfil apresentou trs nveis distintos, a sequncia a seguir foi descrita a partir da
quadrcula 3:
Nvel I (0 10 cm): horizonte A solo atual;
Nvel II (10 45 cm): o segundo nvel com solo antropognico associado com material ltico
e cermico. Desde o teto da mancha preta at o seu ncleo, grande concentrao de carvo,
material ltico e cermica em menor quantidade, alm de muitos blocos de basalto, parte deles
termo-alterados. A base da mancha de terra preta apresenta caractersticas transicionais,
diminuio de carvo e materiais de cor mais clara, a densidade da base do solo
antropognico pode variar, mas em muitos pontos chega a 35 cm;
Nvel III (>45 cm): solo latertico argiloso, com baixo nmero de materiais chegando a estril
em muitos pontos. No se nota a presena de blocos de basalto, como ocorre no Nvel II.
Tambm no foi possvel confirmar a ocupao pr-cermica (figura 75 e 76).
As datas inserem a ocupao Itarar-Taquara dentro do Holoceno final (tabela 18),
contudo estas so um sculo mais recente se relacionadas ao stio Otto Aigner 1. Uma
possvel ocupao pr-cermica no foi confirmada.
71
Department of Earth System Science, University of Califrnia (EUA).
No stio Otto Aigner 2, foram escavados apenas 58 fragmentos de cermica todos
Itarar-Taquara e 665 objetos lticos (figura 77 a 80), conforme tabela 19:
Tabela 19 Stio Otto Aigner 2 (013) distribuio vertical da cultura material pelos nveis
Cermica
Profundidade Ltico Total
Itarar-Taquara
Sondagem 8 88 96
Sup. 0 8 8
0-10 3 11 14
10 45 36 346 382
>45 11 212 223
Total 58 665 723
Figura 77. Stio Otto Aigner 2, lascas e Figura 78. Stio Otto Aigner 2, artefatos
artefato de calcednia. Imagem: unifaciais de calcednia e arenito. Imagem:
Ceom/Unochapec. Ceom/Unochapec.
Figura 79. Stio Otto Aigner 2, artefatos lticos Figura 80. Stio Otto Aigner 2, cermica
em arenito e basalto. Imagem: Itarar-Taquara. Imagem: Ceom/Unochapec.
Ceom/Unochapec.
4.1 Pasta
73
A Escala Wentworth (1922) fixa o limite (em 0,06 mm) entre os elementos da matriz e as incluses, muita fina
(0,125 a 0,062 mm); fina (0,250 a 0,125 mm); mdia (0,50 a 0,250 mm); grossa (1,0 a 0,50 mm); muito grossa
(2,0 a 1,0 mm).
74
Com base nas imagens de seleo de materiais clsticos (areias) de Compton (1962).
168
Figura 81. Stio Valdemar Stensseler (009), Figura 82. Stio Valdemar Stensseler (009),
face externa simples. Imagem: detalhe do corte e da oxidao completa.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 83 e 84. Stio Valdemar Stensseler (009), a lmina apresenta cor homognea, tom
bege. Na micrografia notam-se fraturamentos (cor clara em forma de raiz), gros de
quartzo e feldspato (em branco), e matriz composta por uma massa amorfa de gros muito
75
O tamanho dos minerais foi determinado a partir da mdia do maior eixo dos gros.
170
finos (cor marrom). Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior
Consultorias.
Figura 85. Stio Valdemar Stensseler (009), Figura 86. Stio Valdemar Stensseler (009),
face externa pintada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
171
Figura 87 e 88. Stio Valdemar Stensseler (009), lmina que apresenta cor marrom claro a
escuro. Na micrografia pode-se ver intensa porosidade e fraturamento, os poros tm no
mnimo 0,2 mm e so brancos. Os gros pretos com cerca de 0,3 mm so minerais opacos.
Em meio massa bege escura h gros de quartzo e calcednia que no passam de 0,05
mm. Sendo que a massa um agregado amorfo de gros muito finos. Fonte: Corte Setor de
Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 89. Na imagem destaque para o ncleo escuro e gros de chamote e quartzo.
Fotografia Aumento = 40 x. Imagem: Mirian Carbonera.
so xidos de ferro, os gros opacos permeiam a matriz, com diversos tamanhos e formas
angulosas e alongadas (figuras 92 a 94).
Figura 90. Stio Valdemar Stensseler (009), Figura 91. Stio Valdemar Stensseler (009),
face externa corrugada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 92, 93, 94. Stio Valdemar Stensseler (009), na imagem fica evidente a diferena de
cores, marrom claro a escuro. No arcabouo, pode-se ver chamote de cor mais acinzentada
do que o seu entorno, com forma arredondada e alongada. J os gros de quartzo se
apresentam em meio matriz, mas no passam de 0,25 mm. Gros de minerais opacos de
at 0,80 mm apresentam cores pretas at avermelhados. Os poros so arredondados, com
cerca de 0,2 mm de cor branca at acinzentado. A matriz composta por uma massa amorfa
de gros muito finos, de cor marrom avermelhado. Fonte: Corte Setor de Laminao
IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
173
Figura 95. Stio Valdemar Stensseler (009), Figura 96. Stio Valdemar Stensseler (009),
face externa ungulada. Imagem: detalhe do corte e da queima reduzida.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 97 e 98. Stio Valdemar Stensseler (009), a lmina de cor marrom escura. A
imagem microscpica demonstra ncleos de cor mais clara do que o restante da lmina,
revelando chamote. H tambm gros de quartzo que no passam de 0,10 mm de cor
branca. Espaos grandes de at 0,20 mm de cor branca representam a porosidade. Uma
massa amorfa de gros muito finos compe a matriz de cor muito escura. Fonte: Corte
Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
174
Figura 99. Stio Valdemar Stensseler (009), Figura 100. Stio Valdemar Stensseler
face externa corrugada. Imagem: Acervo (009), detalhe do corte e oxidao
Ceom/Unochapec. incompleta. Imagem: Acervo
Ceom/Unochapec.
Figura 101 e 102. Stio Valdemar Stensseler (009), na fotografia da lmina fica evidente o
ncleo marrom escuro quase preto com as bordas marrons claro, demonstrando um
zoneamento na fatia da amostra laminada. Na micrografia se observa porosidade e
fraturamento abundante, sendo representados pelos espaos em branco onde a luz mais
intensa. Um gro, com cerca de 0,7 mm na parte inferior direita, representa um agregado
de calcednia. A parte escura que est presente na maior parte da micrografia uma massa
amorfa de gros muito finos, apresenta uma variao de cor na poro mais esquerda se
tornando mais clara, assim como observado na fotografia da lmina. Fonte: Corte Setor de
Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
175
Figura 103. Stio Valdemar Stensseler (009), destaque para o ncleo escuro, no centro um
gro de chamote, quartzo com tamanhos variados e cavidades. Fotografia Aumento = 40
x. Imagem: Mirian Carbonera.
Figura 104. Stio Silvino Prediger I (010), Figura 105. Stio Silvino Prediger I (010),
face externa simples. Imagem: detalhe do corte e da oxidao completa.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 106 e 107: Stio Silvino Prediger I (010), lmina de cor homognea, bege claro. Na
micrografia pode-se observar a porosidade evidenciada pelos gros brancos com at 0,30
mm. Os gros pretos so minerais opacos, estes variam de tamanho, contudo no passam
de 0,1 mm. Os pontos brancos so quartzo e calcednia. O que compe a maior parte da
lmina uma massa amorfa de gros muito finos de cor bege claro. Fonte: Corte Roberto
Asta. Imagem: GeoJnior Consultorias.
opacos, com tamanho mdio 0,15 mm e formatos alongados; 10% de chamote, medindo 0,8
mm, com formatos alongados e arredondados (figuras 110 e 111).
Figura 108. Stio Silvino Prediger I (010), Figura 109. Stio Silvino Prediger I (010),
face externa ungulada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 110 e 111. Stio Silvino Prediger I (010), na imagem pode-se ver claramente um
zoneamento de cores, sendo o ncleo de cor marrom escuro e as bordas de cor bege. Na
micrografia se pode ver poros com at 0,2 mm de cor branca e arredondados. Gros pretos
so minerais opacos com at 0,3 mm. Os gros brancos de quartzo no passam de 0,5 mm.
O restante da lmina composta por uma massa amorfa de gros muito finos de cor
amarronzada. Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior
Consultorias.
Figura 112. Stio Armandio Vortmann Figura 113. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa simples. Imagem: (011), detalhe do corte e da oxidao
Ceom/Unochapec. incompleta. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 116. Stio Armandio Vortmann Figura 117. Stio Armandio Vortmann (011),
(011), face externa corrugada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao. Imagem:
Ceom/Unochapec. Ceom/Unochapec.
180
Figura 118 e 119. Stio Armandio Vortmann (011), a lmina demonstra cor homognea
marrom claro. Na micrografia pode-se observar vrios gros de quartzo subangulosos com
at 0,05 mm. Chamote de cor mais escura que a matriz na poro direta da lmina com
0,7 mm. Minerais opacos de cor preta com at 1,3 mm. E matriz composta por uma massa
amorfa de gros muito finos de cor marrom. Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP.
Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 120: Stio Armandio Vortmann (011), destaque para a colorao clara devido
oxidao e as incluses, especialmente o chamote, alm dos minerais opacos e quartzo; os
elementos parecem bem integrados e no se notam cavidades. Fotografia Aumento = 40
x. Imagem: Mirian Carbonera.
de calcednia, que mede 0,4 mm e tem forma arredondada; 7% de minerais opacos, que
medem 0,3 mm e tem forma angulosa; 3% de feldspato (alcalino), medindo 0,2 mm e forma
angulosa; >1% de turmalina, medindo 0,05 mm e com formato anguloso e, outros >1% de
zirco, medindo 0,1 mm e com forma angulosa (figuras 123 e 124).
Figura 121. Stio Armandio Vortmann Figura 122. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa pintada. Imagem: (011), detalhe da oxidao incompleta e do
Ceom/Unochapec. corte. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 123 e 124. Stio Armandio Vortmann (011), lmina de cor marrom, com regies de
tons mais escuros e outras mais claras. Na micrografia observam-se gros brancos com
cerca de 0,40 mm que so poros no preenchidos, os gros brancos menores que 0,40 mm
so compostos por quartzo, calcednia ou feldspato alcalino. O chamote corresponde a
massas amorfas de cor bege claro (quase dourado), com tamanhos variados. Os gros
pretos so minerais opacos. O preenchimento dos minerais feito por uma massa amorfa
de gros muito finos de cor bege amarronzado. Fonte: Corte Roberto Asta. Imagem:
GeoJnior Consultorias.
Na lmina, a porosidade representa 20%, a maioria com forma alongada e fina (forma
de fenda), define uma leve orientao, outros so arredondados; 60% matriz, composta por
massa amorfa de gros muito finos de cor marrom; outros 20% so incluses.
As incluses compreendem uma variedade de elementos: o chamote aparece com
maior freqncia, com 53%, seu tamanho mdio de 0,5 a 1,5 mm e formato subarredondado;
20% de calcednia, medindo entre 0,1 a 1,1 mm, com formato arredondado ou lenticular;
10% quartzo, medindo em mdia 0,2 a 1,0 mm, com formato subanguloso, em alguns
pontos arredondados ou lenticulares; 8% feldspato (ortoclsio), que mede 1 mm e tem
formatos subangulosos e muito alterados; 7% vidro, medindo de 0,1 a 0,4 mm, so de forma
homognea e arredondada e colorao marrom clara (bege); os minerais opacos somam
apenas 2%, medem 0,1 mm e tem formato arredondado. Observou-se tambm uma forma
fibrosa76 e zonada, medindo 0,5 mm (Figuras 127 e 128).
Figura 125. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 126. Stio Otto Aigner 1(013),
externa simples. Imagem: detalhe do corte e da queima incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 127 e 128. Stio Otto Aigner 1(013), lmina marrom com variao de cor do ncleo
para as bordas. Na micrografia, podem ser observados os poros, de forma alongada e cor
branca, com cerca de 0,20 mm. Os gros de quartzo, feldspato e calcednia possuem entre
0,1 a 1,1 mm. Os gros pretos com cerca de 0,1 mm so minerais opacos. Destaque para
76
No foi possvel demonstrar na micrografia devido pouca ocorrncia.
183
gro de chamote direita da imagem. De forma geral, o que compe a maior parte da
micrografia e da lmina uma massa amorfa de gros muito finos, onde pode ser vista a
variao de cor, mais escura esquerda, e mais clara direita. Fonte: Corte Roberto Asta.
Imagem: GeoJnior Consultorias.
Amostra 12 Stio Otto Aigner 1(013), pea 51 ungulado/corrugado
A amostra analisada corresponde a fragmento de cermica ungulado/corrugado, pelo
tamanho no se pode estimar a classe tipolgica, apresenta oxidao incompleta (figuras 129
e 130). Na descrio da lmina, 15% porosidade, que apresenta forma alongada e levemente
orientada; 50% matriz, composta por massa amorfa de gros muito finos, cor marrom escuro
e bege claro e, incluses representando 35%.
Nas incluses evidenciou-se com alta frequncia os minerais opacos, com 52%,
tamanho mdio de 0,05 a 0,2 mm, com formas angulosas, podem ter incluses de quartzo;
43% quartzo, que medem de 0,04 a 0,2 mm e tem formatos angulosos a subarredondados;
5% de chamote, medindo 0,2 a 0,5 mm, formatos alongados, angulosos e arredondandos
(figuras 131 e 132).
Figura 129. Stio Otto Aigner 1(013), Figura 130. Stio Otto Aigner 1(013), detalhe do
face externa ungulado/corrugado. corte e da queima incompleta. Imagem:
Imagem: Ceom/Unochapec. Ceom/Unochapec.
.
Figura 131 e 132. Stio Otto Aigner 1(013), lmina que apresenta zoneamento na cor, o
ncleo marrom escuro e as bordas so beges claros. Na micrografia h poros de colorao
branca intensa, com cerca de 0,1 mm; minerais opacos (gros pretos), medindo at 0,2 mm;
184
os gros de quartzo no passam de 0,2 mm e tem cor branca. Englobando os minerais uma
massa amorfa de gros muito finos, apresenta variao na cor (escura direita e clara
esquerda). Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 133. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 134. Stio Otto Aigner 1(013),
externa pintada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 135 e 136. Stio Otto Aigner 1(013), a amostra laminada apresenta diferenciao de
cor, que varia de marrom claro a escuro. Em microscopia temos gros de quartzo com
185
tamanho entre 0,1 mm at 0,4 mm, de cor branca e forma angulosa; os gros pretos com
at 0,2 mm so minerais opacos; os poros so muito semelhantes aos gros de quartzo, tm
o mesmo tamanho e a mesma cor, mas sua forma mais arredondada; a massa amorfa de
gros muito finos compe a matriz da lmina. Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP.
Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 137. Stio Otto Aigner 1(013), na lmina alm de alta porcentagem de quartzo,
destaque para chamote (marrom claro) a esquerda da imagem, tambm so evidentes
pequenos gros de minerais opacos. Fotografia Aumento = 40 x. Imagem: Mirian
Carbonera.
Figura 138. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 139. Stio Otto Aigner 1(013),
externa corrugada. Imagem: detalhe do corte e oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 140 e 141. Stio Otto Aigner 1(013), na lmina nota-se uma diferena de cor,
partindo de tons escuros, marrom escuro no ncleo para bege mais claro nas bordas. Na
micrografia pode ser visto fraturamento e porosidade, com cerca de 0,35 mm, de cor
branca. Na extremidade inferior da micrografia, pode ser visto um gro de quartzo com
incluses, medindo 0,8 mm. Os pontos brancos no decorrer da imagem so compostos por
calcednia e feldspato. Os pontos pretos so minerais opacos e no passam de 0,05 mm. O
que engloba todos os minerais descritos uma massa amorfa de gros muito finos. Fonte:
Corte Roberto Asta. Imagem: GeoJnior Consultorias.
A amostra analisada corresponde a fragmento de cermica ungulada, por ser borda foi
possvel estimar o dimetro de 10 cm, apresenta queima oxidada incompleta (figuras 142 e
143).
A lmina tem 7% de porosidade; 48% de matriz, massa amorfa de gros muito finos,
de cor avermelhada a marrom; os demais 45% so incluses.
As incluses so representadas por 50% so de quartzo, medem 0,2 mm e tm forma
subarredondada; 22% so minerais opacos, com 0,1 mm de tamanho mdio e formato
subarredondado; 17% de calcednia que, medem 0,2 mm e tm forma subarredondada; 11%
de plagioclsio, com 0,1 a 0,6 mm de tamanho mdio, parcialmente alterado e com forma
angulosa (figuras 144 e 145).
Figura 142. Stio Silvino Prediger I (010), Figura 143. Stio Silvino Prediger I (010),
face externa ungulada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 144 e 145. Stio Silvino Prediger I (010), na fotografia da amostra laminada
observa-se cor homognea marrom avermelhada. Na fotomicrografia se veem gros de
minerais opacos, que chegam a medir at 0,1 mm de cor preta. Quartzo com at 0,2 mm e
188
Figura 146. Stio Armandio Vortmann Figura 147. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa impressa. Imagem: (011), detalhe do corte e da oxidao
Ceom/Unochapec. incompleta. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 148 e 149. Stio Armandio Vortmann (011), a lmina apresenta cor escura e
77
O chamote no ficou evidente na micrografia pela interferncia dos abundantes aglomerados de calcednia e
pela baixa quantidade de chamote.
189
Figura 150. Stio Armandio Vortmann Figura 151. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa ponteada. Imagem: (011), detalhe do corte e da oxidao
Ceom/Unochapec. completa. Imagem: Ceom/Unochapec.
190
Figura 152 e 153. Stio Armandio Vortmann (011), lmina com grandes cavidades, de cor
homognea marrom avermelhada. Espaos grandes e alongados, com at 0,8 mm, de cor
branca representam a porosidade. Gros de quartzo com incluses que atingem 0,5 mm, de
cor clara e difusa; os minerais opacos (pretos) medem at 0,7 mm. Compe o restante da
lmina uma massa amorfa de gros muito finos de cor marrom. Fonte: Corte Roberto Asta.
Imagem: GeoJnior Consultorias.
Amostra 18 Stio Armandio Vortmann (011), pea 949 beliscada
A amostra analisada corresponde a fragmento de bojo de cermica beliscada, com
oxidao incompleta (figuras 154 e 155).
Na descrio da lmina, a porosidade chega a 10%, as cavidades so alongadas,
estreitas, difusas e orientadas; 40% de matriz, massa amorfa de gros muito finos e cor
marrom; as incluses somam 50%.
As incluses so representadas por dois minerais, o quartzo com 70%, medindo at 0,7
mm de tamanho mdio do maior eixo dos gros, formatos subangulosos a arredondados; 30%
de opacos, que medem at 1,0 mm, com forma subarredondada e com incluses de quartzo
(figuras 156 e 157).
Figura 154. Stio Armandio Vortmann Figura 155. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa beliscada. Imagem: (011), detalhe do corte e da oxidao
Ceom/Unochapec. incompleta. Imagem: Ceom/Unochapec.
191
Figura 156 e 157. Stio Armandio Vortmann (011), lmina de cor marrom claro com
heterogeneidades mais escuras. Na fotomicrografia, temos gros de minerais opacos de at
0,9 mm, com formas arredondadas e gros de quartzo (brancos), de at 0,4 mm com formas
subarredondadas. A matriz no entorno desses minerais apresenta-se como uma massa
amorfa de gros muito finos de cor marrom claro. Fonte: Corte Setor de Laminao
IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 158. Stio Armandio Vortmann Figura 159. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa simples e impressa. (011), detalhe do corte e da oxidao
Imagem: Ceom/Unochapec. completa. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 160 e 161. Stio Armandio Vortmann (011), a lmina apresenta cor avermelhada de
forma homognea. Quartzo e feldspato com at 0,8 mm, apresentam-se com incluses ou
bastante alterados, de cor clara e difusa a amarronzados. Cristais de minerais opacos, com
at 0,7 mm e cor preta. A matriz de cor avermelhada uma massa amorfa de gros muito
finos. Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 162. Stio Armandio Vortmann Figura 163. Stio Armandio Vortmann
(011), face externa beliscada. Imagem: (011), detalhe do corte e oxidao
Ceom/Unochapec. incompleta. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 164 e 165. Stio Armandio Vortmann (011), lmina com suave diferenciao de cor
marrom claro. Na micrografia muitos gros brancos, arredondados com at 0,5 mm,
representam quartzo e feldspato. Minerais opacos, com cerca de 0,3 mm e cor preta. A
lmina composta por uma massa amorfa de gros muito finos de cor marrom claro.
Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 166. Stio Armandio Vortmann Figura 167. Stio Armandio Vortmann
(011), na imagem da esquerda face externa (011), detalhe do corte e da oxidao
simples. Imagem Ceom/Unochapec. incompleta. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 168 e 169. Stio Armandio Vortmann (011), lmina de cor marrom. Na micrografia
tm-se os minerais opacos com at 1 mm e forma arredondada, de cor preta. Gros de
quartzo e calcednia com at 0,4 mm de cor branca. O que compe a maior parte da
micrografia uma massa amorfa de gros muito finos na cor marrom. Fonte: Corte Setor
de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 170. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 171. Stio Otto Aigner 1(013),
externa ponteada arrastada. Imagem: detalhe do corte e oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 172 e 173. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina de cor escura avermelhada. Gros
alaranjados de at 0,1 mm so compostos por vidro; gros brancos de at 0,2 mm so
quartzo ou feldspato. A matriz avermelhada composta por uma massa amorfa de gros
muito finos. Baixa frequncia de cavidades e o que pode parecer porosidade na verdade so
gros de quartzo e feldspato que no possuem cor de interferncia. Fonte: Corte Roberto
Asta. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 174. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 175. Stio Otto Aigner 1(013),
externa simples. Imagem: detalhe do corte e com oxidao completa.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 176 e 177. Stio Otto Aigner 1(013), lmina de cor homognea de tons
avermelhados. A micrografia apresenta como incluses minerais: quartzo (branco), opacos
(pretos) e feldspato alterado (vermelho). A massa amorfa de gros muito finos de cor
avermelhada que compe a maior parte da micrografia. Fonte: Corte Roberto Asta.
Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 178. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 179. Stio Otto Aigner 1(013),
externa ponteada. Imagem: detalhe do corte e da oxidao incompleta.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 180 a 181. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina de cor marrom claro; j a
micrografia apresenta porosidade em forma arredondada e de cor branca com at 0,35 mm.
Quartzo de cor marrom amarelado e alguns gros brancos, com forma poligonal, com
tamanhos de 0,1 mm at 0,5 mm. Os gros pretos com at 0,3 mm so minerais opacos.
Compe a maior parte da lmina massa amorfa de gros muito finos. Fonte: Corte Setor de
Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
Figura 182. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 183. Stio Otto Aigner 1(013),
externa impressa. Imagem: detalhe do corte e da oxidao completa.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 184 e 185. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina possui cor homognea marrom
escura, quase preta. Na micrografia temos gros de quartzo com cores brancas e
avermelhadas devido s alteraes que o tingiram, pode chegar at 0,25 mm, com formas
geralmente alongadas. Os minerais opacos se confundem com a matriz devido sua cor
escura, podem chegar at 0,25 mm. Os poros so pequenos de cor branca e difceis de
serem diferenciados do quartzo. Chegam at 0,15 mm. A matriz composta por uma massa
amorfa de gros muito finos de cor escura, que se confundem com os minerais opacos.
Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP. Imagem: GeoJnior Consultorias.
42%, os gros medem at 0,25 mm, tem formas subangulosas e so alterados por ferro (figu-
ras 188 e 189).
Figura 186. Stio Otto Aigner 1(013), face Figura 187. Stio Otto Aigner 1(013),
externa simples. Imagem: detalhe do corte e da oxidao completa.
Ceom/Unochapec. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 188 e 189. Stio Otto Aigner 1(013), a lmina apresenta-se de cor marrom com
pontos mais escuros. Na fotomicroscopia temos muitos gros de minerais opacos, que
chegam at 1,1 mm e tm forma subarredondada. Os gros de quartzo, em sua maioria, no
passam de 0,05 mm, de cor branca e forma subangulosa. As cavidades tm cerca de 0,2
mm, de cor branca e forma arredondada. A matriz composta por uma massa amorfa de
gros muito finos de cor marrom claro. Fonte: Corte Setor de Laminao IAG/USP.
Imagem: GeoJnior Consultorias.
A cermica preserva atributos que podem ser analisados nas lminas petrogrficas a
partir da diferenciao bimodal no tamanho dos minerais presentes. No caso do grupo das
incluses, os minerais maiores so envoltos pelos menores, permitindo perceber as diferenas
na composio; j na matriz os minerais menores englobam os maiores e, por fim, a
porosidade ou cavidades. Como veremos, as incluses das lminas Guarani e Itarar-Taquara
200
aqui analisadas tm como elemento principal o quartzo. A seguir, a composio total da pasta
da cermica Guarani (tabela 22):
Silvino
Valdemar Stensseler Armandio Otto Aigner 1
Prediger I
Incluses (009) Vortmann (011) (013)
(010)
1/ 2/ 3/ 4/ 5/ 6/ 7/ 8/ 9/ 10 / 11 / 12 / 13 / 14 /
004 204 473 515 561 075 046 255 317 782 46 51 54 383
Quartzo (%) 40 50 35 25 15 12 60 20 30 35 10 43 60 37
Chamote
(%) 20 8 33 75 45 58 10 4 9 45 53 5 10 40
Opacos (%) 25 35 32 0 0 20 30 41 58 7 2 52 25 5
Calcednia
(%) 0 7 0 0 40 5 0 18 0 10 20 0 5 15
Feldspato
(%) 15 0 0 0 0 5 0 17 3 3 8 0 0 3
0
Zirco (%) 0 0 0 0 0 0 0 0 * 0 0 0 0
Vidro (%) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 7 0 0 0
Turmalina
(%) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 * 0 0 0 0
Total (%) 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
*Menos de 1%
Quartzo (%) 50 11 44 70 25 49 20 25 42 30 45 42
Chamote (%) 0 7 26 0 0 0 0 30 0 0 0 0
Opacos (%) 22 0 30 30 35 27 67 0 40 70 44 58
Calcednia (%) 17 82 0 0 0 5 13 0 0 0 9 0
Feldspato (%) 0 0 0 0 40 19 0 2 8 0 2 0
Plagioclsio (%) 11 0 0 0 0 0 0 0 0 * 0 0
Zirco (%) 0 0 0 0 0 0 * 0 0 0 0 0
Vidro (%) 0 0 0 0 0 0 * 40 0 0 0 0
Turmalina (%) 0 0 0 0 0 0 0 0 5 0 0 0
Biotita (%) 0 0 0 0 0 0 0 3 5 0 0 0
Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
* Menos de 1%
* * * * * * * 0,2 0,3 * * *
Biotita (mm)
Legenda: Arredondado / Subarredondado / Anguloso / Alongados / Subdrico /
Andrico / Subanguloso / Prismtico / Placide / D= Diversas formas e tamanhos /
MF= muito fino /
205
desaparecem durante o processo de queima; outro fator que ocasiona a abertura de poros o
tamanho e forma dos gros no corpo da pasta que podem dilatar e contrair durante o processo
de cozimento da cermica. A porosidade tambm est relacionada com o fato de a
temperatura de queima ter sido abaixo de 800-900C, j que acima desta temperatura ocorre a
sinterizao e vitrificao78, e a consequente diminuio dos poros. A permeabilidade dos
recipientes est relacionada porosidade; contudo, uma cermica pode ser muito porosa, mas
impermevel se houver a selagem dos poros que chegam at a superfcie. O resultado final da
cermica depende muito da porosidade, seja a resistncia mecnica e qumica, a
condutividade de calor, entre outros fatores (RICE, 1987, p. 350-351).
Na pasta a matriz o componente preponderante nas duas unidades arqueolgicas ana-
lisadas. Na cermica Guarani a matriz representa 55,94% do total. Em duas amostras, 6/75 e
7/46, ambas do stio Silvino Prediger I (010), a matriz compreende 70% da composio total,
com gros muito finos formando uma pasta homognea. No entanto, em alguns recipientes
tambm pode ocorrer o contrrio, a porcentagem de incluses ser maior que a matriz, como
acontece na amostra 13/54 (porosidade= 11%, matriz= 36%, incluses= 53%), onde a matriz
foi superada pelas incluses composta principalmente de quartzo.
Na cermica Itarar-Taquara a matriz representa 46% da composio total. Em seis
das doze lminas, a matriz igual ou superior a 50% do total e, em trs amostras 18/949,
25/1499 e 26/1503, a matriz superada pelas incluses formada por quartzo e minerais opa-
cos.
A maior parte da matriz composta por minerais 79 indeterminados, normalmente finos
demais para identificao por microscopia de luz polarizada. Na cermica Guarani a matriz
apresenta uma variao de cores, que vai de bege claro a escuro, marrom claro a escuro e cin -
za. J na matriz Itarar-Taquara nota-se a variao de duas cores principais, vermelho claro a
escuro e o marrom claro a escuro.
78
No entanto, Leite (1986) em sua pesquisa de mestrado indica que as transformaes trmicas de cristalizao
so observveis entre 1200 e 1300C.
79
Os minerais presentes nas argilas so unidades que constituem as rochas, definidos como slidos e
homogneos, naturais, apresentando arranjo atmico ordenado e composio qumica definida. Cada espcie de
mineral se caracteriza por apresentar quantidades definidas e proporcionais de determinados elementos qumicos
que se arranjam no espao de maneira organizada e regular. Os minerais mais abundantes da crosta terrestre so:
feldspatos; piroxnios e anfiblios; quartzos, micas (muscovitas e biotitas); existem outros minerais menos
abundantes (clorita, anada, nefelina, turmalina, calcita, dolomita, gipsita, caulin, magnetita, hematita, limonita,
pitita, calcopirita galena, esfarelita (MUGGLER et al., 2005, p. 19-24). Os minerais argilosos so finas partculas
de silicatos de alumnio hidratados que desenvolvem plasticidade ao misturar-se com gua, exemplos: illita,
montmorillonita, caolinita, entre outros. Os minerais no argilosos presentes naturalmente na argila podem ter
granulometria semelhante a dos minerais argilosos ou ser muito maiores, so exemplos: quartzo, calcita,
feldspato, mica, pirita etc. Tambm pode aparecer eventualmente matria orgnica e sais solveis em gua
(CREMONTE, 1983-1985, p. 184).
207
[...] los datos disponibles hoy em da, sealan que las pastas guaranes
poseen una poderosa individualidad gracias a la conjuncin de diferentes
propiedades: menos fluidas, ms cargadas de tiestos molidos de fracciones
diversas y con la presencia de lticos de tamaos pequeos y grandes.
Asimismo, el anlisis de los cortes no demostr variaciones de las pastas
80
Para Sol (2004), a plasticidade a capacidade que a argila tem de ser modelada e manter forma estvel que
prossegue ao longo do processo cermico, isto depende diretamente do grau de umidade da argila, caracterstica
que pode ser perfeitamente controlada. A granulometria dos componentes detrticos e a matria orgnica tambm
influenciam na argila. Segundo as propriedades plsticas, existem dois grupos de argilas: gordas (com muita
liga) e magras (quebradia, com muita areia). A argila gorda muito plstica e pouco consistente, se perde gua
pode deformar-se facilmente. A argila magra pouco plstica, quando perde gua reduz o volume e corre o risco
de quebrar-se, necessita ser misturada com argila mais plstica (SOL, 2004, p. 7). Segundo Rice (1987) para
entender a plasticidade da argila preciso compreender a natureza da gua adicionada. A gua adsorvida pelas
partculas de argila, ou fracamente ligada a sua superfcie ou extremidade e removida a baixas temperaturas; a
gua quando mecanicamente combinada com a argila seca malevel, adsorvida, em vez de lig-la como parte da
estrutura qumica das partculas de argila.
208
Os minerais opacos podem ser xidos e hidrxidos de ferro, sua estrutura cristalina
no permite a transposio da luz, geralmente sofrem alterao tingindo os minerais a sua
volta de cor ocre, apresentam formas variadas, desde angulosos at arredondados. No material
descrito, os minerais opacos aparecem em maior quantidade na cermica Itarar-Taquara
(35,12%) do que na Guarani (23,71%).
Em termos de composio da pasta, os recipientes confeccionados pelos agricultores
ceramistas Guarani e Itarar-Taquara apresentam diferenas sensveis, se comparamos o
primeiro com o segundo grupo, foi identificado maior frequncia de chamote e menor de
minerais opacos e quartzo. Com formas e cores muito distintas da cermica que o contm, o
chamote tambm apresentou tamanhos bem variados entre 0,1 a 2,5 mm, caracterstica que
somada s formas irregulares indicam que foram muito pobremente selecionados. O chamote
ou fragmentos de cermica moda um tempero adicionado intencionalmente, segundo Perez
(2010) se caracteriza principalmente pelos contornos angulosos, composio e densidade
ptica que contrastam com a matriz que os aloja, tamanhos variveis e presena de anis em
seu entorno devido a contrao na nova queima. Representando, portanto, um comportamento
tcnico-cultural. Como exemplo tecnolgico, o caco modo pode ser uma soluo para
diminuir o choque trmico em recipientes utilizados na coco, j que so estveis e possuem
coeficientes similares s das argilas (SHEPARD, 1956; RYE, 1981, RICE, 1987, p. 230).
Pode-se dizer ainda que as incluses nas cermicas analisadas apresentam elementos
de tamanhos maiores do que se pde descrever a partir das lminas petrogrficas, j que estas
representam uma frao pequena de cada recipiente e so uma amostra do conjunto analisado.
Nas imagens a seguir, possvel observar que o tamanho dos fragmentos lticos chegam a
quase 6 mm:
Figura 190. Valdemar Stensseler (009) gro Figura 191. Valdemar Stensseler (009), gro
de calcednia (3,8 mm) encontrado em de quartzo (5,8 mm) e mineral opaco (1,1
fragmento de cermica Guarani. Acervo: mm) em fragmento de cermica. Acervo:
Ceom/Unochapec. Ceom/Unochapec.
210
Figura 192. Armandio Vortmann (011), gro Figura 193. Otto Aigner (013), gro de
mineral opaco (4,2 mm) em fragmento de quartzo (4,2 mm) em fragmento de cermica
cermica Itarar-Taquara. Acervo: Itarar-Taquara. Acervo: Ceom/Unochapec.
Ceom/Unochapec.
Os fragmentos lticos em muitos fragmentos podem ser observados a olho nu, podem
ter origem natural ou terem sido intencionalmente agregados, nas amostras desta pesquisa no
foi possvel fazer esta distino. O tamanho dos elementos esta relacionado tambm ao
tamanho das paredes (RYE, 1981).
Foram feitas ao menos trs medidas para cada amostra, em seguida realizou-se uma
mdia aritmtica simples das contagens obtidas de cada elemento. Em todas as amostras
analisadas foram encontrados os seguintes elementos: K (potssio), Ca (clcio), Ti (titnio),
Cr (cromo), Mn (mangans), Fe (ferro), Cu (cobre), Zn (zinco), Rb (rubdio), Sr (estrncio) e
Zr (zircnio), conforme a tabela 30 e 31:
Valdemar Stensseler (009) diger I (010) Armandio Vortmann (011) Otto Aigner 1 (013) Total
2/204 3/515 4/561 5/46 6/675 7/255 8/317 9/766 10/782 11/46 12/51 13/54 14/383 15/892
K 587 623 174 255 561 448 626 780 1303 398 244 184 688 81 343 7295
Ca 119 257 125 253 146 106 451 1134 1722 476 602 236 902 217 457 7203
Ti 4789 11195 7550 11903 7319 8967 18318 5770 16966 9456 8830 7750 6075 3658 7394 135940
Cr 80 498 138 205 178 143 375 113 375 203 180 77 245 40 128 2978
Mn 329 1967 584 894 647 581 1867 1364 6236 1404 1649 553 1737 539 1296 21647
Fe 65090 446731 104900 114306 103792 102333 288339 90742 192902 138343 135062 70040 160503 40472 68456 2122011
Cu 740 1815 566 1047 397 930 1748 688 913 1070 784 194 284 120 327 11623
Zn 580 970 761 793 451 1054 1790 883 1608 1467 1700 425 880 296 620 14248
Rb 1885 1187 733 909 904 1943 2526 2455 1946 1888 1096 367 707 322 667 19535
Sr 1120 808 509 1010 615 884 2336 4609 2410 2101 1451 413 1110 228 525 20129
Zr 5050 6908 5730 9087 5783 10166 14686 6159 9180 9909 6540 3542 2798 2054 4316 101908
Prediger
I Armandio Vortmann Otto Aigner (013)
16/115- 17/ 18/ 19/ 20/ 21/ 22/ 23/ 24/ 25/ 26/ 27/ 28/ 29/ 30/ 31/ 32/ Total
120 558 672 949 1603 1830 1851 2010 2064 2159 455 465 555 761 842 1499 1503
K 811 613 330 249 928 829 542 317 74 300 98 186 74 505 513 1106 1306 8781
Ca 146 331 277 172 743 919 444 312 307 416 269 328 96 714 634 939 1485 8532
1185 1095 1771
Ti 5669 3946 3937 3287 6405 3161 2561 5942 6090 3058 6868 3714 5711 2996 103867
4 1 7
Cr 123 199 241 83 244 436 202 138 232 272 110 224 146 221 190 502 855 4418
Mn 758 1691 778 746 1677 1994 1977 706 4607 2232 993 1962 1025 2387 1375 2696 6293 33897
2221 2336 1070 2005 2955 2317 13268 17027 1817 1013 1502 1285 1670 1890 3232 5256
Fe 155151 3515715
44 17 64 88 44 80 0 3 13 50 41 77 54 85 15 29
Cu 799 659 570 332 294 442 624 260 138 119 166 173 255 246 281 325 525 6208
Zn 496 578 551 739 593 503 576 289 331 319 317 377 287 612 392 516 1126 8602
Rb 1630 1404 922 1228 1427 842 1469 692 180 307 153 253 215 576 805 735 1342 14180
Sr 811 708 655 696 1247 963 1018 513 269 329 371 352 280 765 597 893 1053 11520
Zr 4082 3117 3060 5582 6674 3111 2490 1393 1258 1507 1005 2224 1358 2253 1808 1924 4277 47123
tipo da queima. A diferena mais marcante est entre as duas unidades arqueolgicas, se
compararmos as quantidades de ferro, por exemplo, na cermica Itarar-Taquara, v-se de um
modo geral que esse elemento se apresenta em maiores quantidades do que na cermica
Guarani.
Como as medidas no so realizadas nas mesmas condies (distncias amostra-
detector), devido s diferentes geometrias dos fragmentos, os elementos de todos os
fragmentos devem ser normalizados. Uma forma de minimizar as diferenas da normalizao
fazer a anlise dos resultados atravs das razes entre elementos. Por isso, foram produzidos
os grficos 3 a 15 das razes entre os elementos, por meio deles foi possvel separar grupos de
cermicas, principalmente de acordo com as duas tradies analisadas:
Grfico 3 Razes entre Fe/Ti x Sr/Rb Grfico 4 Combinao entre Zr/Sr x Zr/Rb
Grfico 5 Combinao entre Sr/Zr x Sr/Rb Grfico 6 Combinao entre Rb/Zr x Rb/Sr
Grfico 7 Razes entre Fe/Ti x Sr/Rb Grfico 8 Razes entre Fe/Zn x Cu/Cr
214
Grfico 9 Razes entre Fe/Ti x Zr/Rb Grfico 10 Razes entre Fe/Ti x K/Cr
Grfico 11 Razes entre Fe/K x Ti/Cr Grfico 12 Razes entre Ti/K x Zn/Cu
Grfico 13 Razes entre Mn/K x Ti/Cr Grfico 14 Razes entre Zn/Mn x Cu/Cr
Nos grficos, onde se l: Stio IX= Valdemar Stensseler (009). Stio X= Silvino Prediger I
(010). Stio XI= Armandio Vortmann (011). Stio XIII= Otto Aigner 1 (013).
Figura 194. Stio Otto Aigner 1 (013) Figura 195. Stio Otto Aigner 1 (013)
fragmento SCXIII 54, face externa com a fragmento SCXIII 54, face interna com a
localizao dos pontos onde foram realizadas localizao dos pontos onde foram realizadas
as medidas. Imagem: Ceom/Unochapec. as medidas. Imagem: Ceom/Unochapec.
Tabela 32 reas lquidas dos elementos encontrados em cada medio da amostra SCXIII 54, com
destaque para os elementos Fe, Ti e Zr
Elemento B1 B2 B3 A1 A2 A3 P1 P2 P3 Media P
Ar 3575 3636 3658 3569 3557 3547 3644 3680 4176 3833,3
K 2814 1627 1574 845 735 758 476 571 403 483,3
Ca 1409 1363 647 1900 1381 1697 709 847 249 601,7
Ti 10237 14801 6503 16496 13352 15487 8207 5793 3155 5718,3
Cr 407 411 213 361 328 286 251 153 56 153,3
Mn 1972 1843 781 2266 2068 2122 2214 1651 1238 1701,0
Fe 243329 351039 160601 349962 311678 322788 237745 159353 84873 160657,0
Ni 350 301 188 256 231 226 227 204 135 188,7
Cu 1753 1617 1216 1540 1203 1375 776 644 366 595,3
Zn 4561 3010 2382 2665 2443 2497 2268 1533 738 1513,0
Ga 234 161 123 176 109 125 77 59 0 45,3
Rb 4984 3271 2594 2509 2381 2572 1435 1285 743 1154,3
Sr 5140 4268 2941 3548 3433 3646 2629 2182 1008 1939,7
Y 960 515 339 326 302 509 303 307 0 203,3
Zr 15317 12366 8360 10374 10063 12632 6790 4799 2141 4576,7
A ltima coluna na tabela mostra a mdia aritmtica simples das trs medidas feitas
sobre a pasta cermica. Fazendo a razo das reas lquidas do ponto com pigmento pela mdia
da pasta cermica (i.e. Ponto B1 / Ponto Media P), os resultados so apresentados na tabela
33.
Tabela 33 Razes entre as reas lquidas da regio com decorao e a mdia da pasta cermica da
amostra SCXIII 54
Elemento B1 / MP B2 / MP B3 / MP
Ar 0,932609 0,948522 0,954261
K 5,822069 3,366207 3,256552
Ca 2,341828 2,265374 1,075346
Ti 1,790207 2,588342 1,137219
Cr 2,654348 2,680435 1,38913
Mn 1,159318 1,08348 0,459142
Fe 1,514587 2,185022 0,999651
Ni 1,855124 1,595406 0,996466
Cu 2,944569 2,716125 2,042553
Zn 3,014541 1,989425 1,574356
Ga 5,161765 3,551471 2,713235
Rb 4,317644 2,83367 2,247185
Sr 2,64994 2,200378 1,51624
Y 4,721311 2,532787 1,667213
Zr 3,346759 2,701966 1,826657
As trs medidas realizadas na face externa (B1, B2, B3) no fragmento SCXIII 54
apresentam grande aumento dos elementos K (potssio), Ca (clcio), Cr (cromo), Cu (cobre),
Zn (zinco), Ga (glio), Rb (rubdio), Sr (estrncio), Y (trio) e Zr (zircnio). Como a regio da
medida B1 sobre uma camada mais grossa de engobo que B2 e B3, pode-se observar que a
razo de alguns elementos em relao pasta decresce de B1 para B3, isto indica que um
pigmento diferente foi utilizado, se fossem retirados do mesmo lugar apresentariam as
mesmas propores entre os elementos, outra possibilidade seria a adio intencional de outro
material no engobo.
As medidas de B2 e B3 trazem, de fato, mais informaes da pasta cermica que a
medida de B1. Porm, quando comparadas com a mdia da pasta cermica, todas as medidas
sobre o engobo branco apresentam quantidades maiores de alguns elementos para as trs
regies. Se fosse o caso desses elementos estarem presentes na pasta cermica e no no
engobo, a quantidade contabilizada pelo detector seria menor.
Considere-se como exemplo o elemento zinco. Quando medido na pasta cermica,
apresentou uma mdia de 1513 contagens. Se o zinco das medidas B1, B2 e B3 fosse
proveniente da pasta cermica, as contagens teriam um valor menor ou no mximo igual.
Entretanto, como as contagens de zinco so maiores, mostram que o engobo contm o
elemento e essa quantidade varia gradativamente de acordo com sua espessura.
A amostra SCXI 781 corresponde cermica pintada na face externa. Apresentou
como queima oxidao incompleta e como incluses na pasta: chamote, quartzo, calcednia,
minerais opacos, feldspato, turmalina e zirco. Caractersticas como a pintura externa, a
espessura entre 15 a 19 mm, pode-se indicar que o fragmento pertena classe tipolgica dos
cambuch. Para este fragmento foram realizadas na face externa quatro medidas de
fluorescncia de raios X, duas sobre a pintura (B1 e B2) e duas sobre as reas onde a tinta foi
erodida (B3 e B4) (figura 196). Outras duas na face interna (A1, A2) e trs da pasta (P1, P2,
P3) (figura 197 e 197). Com as medidas realizadas foram identificados dezesseis elementos
(tabela 34 e 35):
Figura 196. Stio Armando Vortmann (011) Figura 197. Stio Armando Vortmann (011)
fragmento SCXI 781, face externa com a fragmento SCXI 781, face interna com a
localizao dos pontos onde foram realizadas localizao dos pontos onde foram realizadas
as medidas. Imagem: Ceom/Unochapec. as medidas. Imagem: Ceom/Unochapec.
Tabela 34 reas lquidas dos elementos encontrados em cada medio da amostra SCXI 781
Elemento B1 B2 B3 B4 A1 A2 P1 P2 P3 Media P
Ar 678 733 764 704 824 838 835 637 759 743,7
K 568 495 456 416 561 504 405 320 470 398,3
Ca 592 688 672 682 793 730 413 384 631 476,0
Ti 12258 11603 12992 11692 15516 14622 8010 8536 11824 9456,7
Cr 253 285 317 300 401 344 180 192 239 203,7
Mn 1259 1461 1180 2000 5055 5112 601 640 2971 1404,0
Fe 147334 155346 173859 169360 241335 232713 116144 121472 177413 138343,0
Ni 250 234 214 203 217 267 192 264 232 229,3
Cu 1117 1143 1213 1197 1404 1406 1111 1119 982 1070,7
Zn 2344 2230 2137 1969 2430 2803 1232 1264 1905 1467,0
Ga 231 265 215 198 331 277 273 296 252 273,7
As 203 212 208 178 228 167 138 129 163 143,3
Rb 2376 2337 2290 2225 2835 2747 1914 1960 1792 1888,7
Sr 2000 1938 2104 2224 2343 2191 2101 2247 1957 2101,7
Y 1514 1399 1378 1414 803 719 1268 1494 1329 1363,7
Zr 15801 14101 12677 11866 12513 13042 9056 9733 10938 9909,0
Tabela 35 Razes entre as reas lquidas da regio com decorao e a mdia cermica da amostra
SCI 781
Elemento Razo B1 Razo B2 Razo B3 Razo B4
Ar 0,911699 0,985657 1,027342 0,946661
K 1,425941 1,242678 1,14477 1,044351
Ca 1,243697 1,445378 1,411765 1,432773
Ti 1,296228 1,226965 1,373846 1,236376
Cr 1,242226 1,399345 1,556465 1,472995
Mn 0,896724 1,040598 0,840456 1,424501
Fe 1,064991 1,122905 1,256724 1,224204
Ni 1,090116 1,020349 0,93314 0,885174
Cu 1,043275 1,067559 1,132939 1,117995
Zn 1,597819 1,520109 1,456714 1,342195
Ga 0,844093 0,968331 0,785627 0,723508
As 1,416279 1,47907 1,451163 1,24186
Rb 1,25803 1,237381 1,212496 1,17808
Sr 0,951626 0,922125 1,00111 1,058208
Y 1,110242 1,025911 1,010511 1,03691
Zr 1,594611 1,42305 1,279342 1,197497
A pintura do fragmento SCXI 781 apresentou onze elementos K (potssio), Ca
(clcio), Ti (titnio), Cr (cromo), Fe (ferro), Cu (cobre), Zn (zinco), As (arsnio), Rb
(rubdio), Y (trio) e Zr (zircnio); na rea com engobo branco nota-se maior presena de: K,
Zn, As, Rb, Y e Zr.
A amostra SCXI 766 um fragmento de bojo com oxidao incompleta; dado o
tamanho reduzido, no se pode inferir a que classe tipolgica pertenceu. Dos trs fragmentos
analisados, o que apresenta a pintura mais bem preservada, tpica da tradio Guarani, na
face externa faixas vermelhas sobre branco (lado B), na face interna o fragmento est erodido
em muitos pontos (lado A). Os pontos A1, A2 e A3 referem-se s medidas da face interna; na
face externa os pontos B1 e B2 esto sobre a regio de tinta branca, podendo atingir um pouco
de vermelho83, e os pontos B3 e B4 sobre o vermelho com parte do branco (figura 198 e 199).
Com as medidas, foram identificados treze elementos (tabela 36 e 37):
Figura 198. Stio Armando Vortmann (011) Figura 199. Stio Armando Vortmann (011)
fragmento SCXI 766, face externa com a fragmento SCXI 766, face interna com a
localizao dos pontos onde foram realizadas localizao dos pontos onde foram realizadas as
as medidas. Imagem: Ceom/Unochapec. medidas. Imagem: Ceom/Unochapec.
Tabela 36 reas lquidas dos elementos encontrados em cada medio da amostra SCXI 766
B1 B2 B3 B4
Elemento (branco (branco A1 A2 A3 P1 P2 P3 Media P
) )
(verm.) (verm.)
Ar 2667 2586 2488 2667 3029 2826 2719 2724 2669 2793 2728,7
K 1376 1245 1234 1227 558 635 1046 1205 1125 745 1025,0
Ca 1444 1632 2298 1494 440 761 1427 1273 1774 919 1322,0
Ti 14356 12521 13724 15202 5998 9143 16665 17785 20394 11224 16467,7
Cr 264 255 342 281 110 138 275 306 295 169 256,7
Mn 2966 2672 2363 2771 5816 6036 14864 4247 8645 5650 6180,7
Fe 189133 191739 219754 193198 66038 95987 169670 209692 243862 125711 193088,3
Ni 272 295 307 395 156 163 232 353 385 247 328,3
83
preciso ter em mente que o feixe de raios X irradia uma rea um pouco maior do que a largura das faixas da
pintura na face externa. Portanto, pode haver informaes do vermelho misturado nas medidas de branco e vice-
versa nos pontos destas regies de faixas.
Cu 1730 1708 1759 1800 444 684 1036 2041 1795 1030 1622,0
Zn 3642 3466 3533 3223 1154 1599 2963 2407 3716 1919 2680,7
Ga 464 449 466 404 0 152 295 445 347 179 323,7
As 377 403 418 396 0 150 231 350 281 124 251,7
Rb 4682 4596 4959 4528 1314 2063 3251 3960 3360 2009 3109,7
Sr 4704 4726 5493 4795 1803 2733 4350 4560 4643 2962 4055,0
Y 2145 1872 2048 1931 591 917 1090 2125 1368 928 1473,7
Zr 23622 22411 25118 21814 5079 8452 14639 17558 16390 9756 14568,0
Tabela 37 Razes entre as reas lquidas da regio com decorao e a mdia cermica da amostra
SCXI 766
Elemento Razo B1 Razo B2 Razo B3 Razo B4 Razo A1 Razo A2 Razo A3
Ar 0,9774 0,947716 0,911801 0,9774 1,110066 1,035671 0,996457
K 1,342439 1,214634 1,203902 1,197073 0,54439 0,619512 1,020488
Ca 1,092284 1,234493 1,738275 1,130106 0,332829 0,575643 1,079425
Ti 0,871769 0,760338 0,833391 0,923142 0,364229 0,555209 1,011983
Cr 1,028571 0,993506 1,332468 1,094805 0,428571 0,537662 1,071429
Mn 0,479884 0,432316 0,382321 0,448334 0,940999 0,976594 2,404919
Fe 0,979515 0,993012 1,138101 1,000568 0,342009 0,497114 0,878717
Ni 0,828426 0,898477 0,935025 1,203046 0,475127 0,496447 0,706599
Cu 1,066584 1,053021 1,084464 1,109741 0,273736 0,421702 0,638718
Zn 1,358617 1,292962 1,317956 1,202313 0,43049 0,596493 1,105322
Ga 1,433574 1,38723 1,439753 1,248198 0 0,469619 0,911432
As 1,498013 1,601325 1,660927 1,57351 0 0,596026 0,917881
Rb 1,505628 1,477972 1,594705 1,456105 0,422553 0,663415 1,04545
Sr 1,160049 1,165475 1,354624 1,182491 0,444636 0,673983 1,07275
Y 1,455553 1,270301 1,389731 1,310337 0,40104 0,622257 0,739652
Zr 1,621499 1,538372 1,72419 1,497392 0,348641 0,580176 1,004874
4.4 Queima
Figura 200. Cor bege onde houve melhor Figura 201. Cor bege estende-se por toda a
85
No stio Armandio Vortmann (011) no foi identificada a queima de 57 peas e em outras 21 a queima no se
encaixa nos tipos expostos na tabela 38.
86
No stio Otto Aigner 1(013), no foi identificada a queima de 35 fragmentos Itarar-Taquara e de 11 Guarani.
oxidao e marrom escuro quase preto na lmina indicando oxidao completa.
margem com oxidao incompleta. Imagem: Imagem: GeoJnior Consultoria.
GeoJnior Consultoria.
Figura 203. A homogeneidade da cor bege Figura 204. A cor vermelha se estende por
clara indica queima completa. Imagem: toda a lmina resultado da queima completa.
GeoJnior Consultoria. Imagem: GeoJnior Consultoria.
Neste captulo, analisei as diferenas nos aspectos estilsticos dos artefatos cermicos,
a tipologia das formas e o acabamento de superfcie das duas unidades arqueolgicas
presentes na Volta do Uv. A anlise de estilos cermicos contribui na identificao de grupos
de vasos ou fragmentos dentro de classes ou tipos, a partir da presena ou ausncia de
determinadas caractersticas. Assim, na tipologia das formas, os principais atributos
observados foram as dimenses das paredes, os tipos de borda e a forma em si. Quanto ao
tratamento de superfcie foram descritos os tipos simples e plsticos identificados tanto na
cermica Guarani como na Itarar-Taquara, para o primeiro soma-se ainda a pintura tanto na
face externa como interna dos fragmentos.
O processo tcnico de produo cermica influenciado por escolhas que geram
variaes (LEMONNIER, 1992). Para o autor, os comportamentos tcnicos so um gesto
social sobre a matria, a ao tcnica transmite significados sociais, j que a ao
influenciada pelo universo de comportamentos sociais estabelecidos.
Tendo presente o processo tcnico de produo cermica, como abordei no captulo
anterior, as unidades arqueolgicas se distinguem quanto preparao da pasta. Neste
captulo, procura-se elencar as principais diferenas tambm a partir dos elementos
estilsticos. Embora o conceito de estilo seja complexo, Rice (1987) coloca que o estilo so
representaes visuais, especficas de contextos particulares situados no tempo e no espao,
trazendo informao sobre a identidade do grupo que a produz. Os estilos podem ser
estruturados ou padronizados, seus componentes podem ser selecionados a partir de um corpo
de tcnicas inter-relacionadas combinadas com um conjunto de regras. A padronizao no
implica rigidez ou homogeneidade. Estilos so sistemas de expresso abertos mais que
fechados, constantemente recebem e transmitem informao (RICE, 1987).
Um artefato cermico, como qualquer outro vestgio arqueolgico, precisa ser pensado
do ponto de vista tcnico, mas tambm a partir do contexto social onde foi produzido, j que
230
um mesmo artefato pode mudar de funo conforme o contexto social que foi manufaturado e
utilizado87.
A utilizao da cermica est frequentemente vinculada alimentao, sendo trs
funes principais: o processamento (em especial o cozimento), o armazenamento e o
transporte (em especial servir) (RICE, 1999, p. 30). No caso das vasilhas cermicas, segundo
Rice (1987), aquelas destinadas ao preparo (sem fogo) e/ou servio devem ter formas abertas
para facilitar o acesso e ser resistentes; as destinadas para estocar devem ter formas mais
fechadas; os recipientes para comer e beber tm formas abertas de fcil acesso, bases planas,
paredes finas e alta frequncia de tratamento plstico ou pintura; os vasilhames empregados
em rituais tm formas complexas e muito bem acabadas e decoradas. Por fim, segundo a
autora, as vasilhas para cozinhar tm formas globulares e bases redondas, devem ser
resistentes e no geral apresentam pouca decorao, mais speras, facilitando manuseio. Por
outro lado, as miniaturas e peas pequenas desse grupo podem ter sido utilizadas tanto no
consumo de alimentos e/ou bebidas quanto no preparo de pequenas quantidades (RICE, 1987,
p. 238).
Na opinio de Cremonte (1983-1985), o formato dos recipientes deve facilitar a
entrada, a sada e a manipulao do contedo. Contudo, a autora alerta que o uso das formas
para reconhecer a funo um recurso vlido, mas deve-se ter em mente que nem sempre
existe uma relao direta entre forma e funo. Uma mesma forma pode cumprir vrias
funes e distintas formas podem cumprir uma mesma funo. Ainda segundo a autora, dados
etnogrficos, quando existem, so evidncias indiretas da relao forma/funo e devem ser
consideradas como tais em interpretaes arqueolgicas (CREMONTE, 1983-1985, p. 193).
Schiffer e Skibo (1997) enfatizam as razes das escolhas dos artesos como ponto
principal para a variabilidade formal. Tambm deve-se levar em conta as externalidades
comportamentais, sociais e ambientais que atuam sobre a cadeia comportamental de um
artefato e so incorporadas em cada componente especfico da atividade. Neste sentido para
os autores, aspectos como as caractersticas fsico-qumicas das fontes de matria-prima e a
sua facilidade ou dificuldade de explorao, os procedimentos de manufatura, os mecanismos
87
Pensando no uso e posterior descarte, importante refletir nos apontamentos de Schiffer (1972): Alguns itens
sero descartados sem terem sofrido nenhum processo de manuteno. Os itens defeituosos podem ser
descartados logo aps a manufatura. Um elemento sem uso no processo, tal como uma lasca inutilizada,
designada como lixo; isso no significa que tais itens so desprovidos de informao, apenas que eles so
subprodutos no usados de alguma atividade. Ao trmino da vida-til de um elemento (desde que no haja
reutilizao) eles sero descartados. Refugo designa a condio ps-descarte de um elemento a condio de
no mais participar em um sistema comportamental. Embora a maior parte do material refugado consista
daqueles elementos que se quebraram ou desgastaram durante o uso, frequentemente encontram-se em
escavaes elementos inteiros, aparentemente ainda teis (SCHIFFER, 1972, p. 159).
231
88
Brochado e Monticelli (1994) adotaram como procedimento metodolgico para reconstituio grfica dos
fragmentos de cermica os seguintes critrios: Yapep (panela) so as vasilhas usadas para a preparao de
alimentos por fervura sobre o fogo; normalmente apresentam bordas verticais e inclinadas para fora ou para
dentro, com base conoidal e arredondada. Cambuch caguba (tijelas para beber) vaso onde se bebe, so
identificadas por bordas contnuas parede, inclinadas para dentro ou para fora, infletidas ou complexas e
carenadas, a base apresenta-se hemisfrica, elipsoidal ou conoidal; tambm so utilizadas como
acompanhamento funerrio. amb ou tembiiru (pratos para comer) traduzido como prato utilizado para
comer, possui uma forma fcil de ser identificada, pois muito aberto, com borda convexa, contnua com as
paredes, aproximadamente vertical ou inclinada para fora, com base aplanada ou levemente arredondada. at
(caarolas para cozinhar) podiam ser utilizadas para cozinhar alimentos sobre o fogo, possuam uma forma
aproximadamente tronco-cnica, com borda direta contnua com a parede, aproximadamente vertical ou
inclinada para fora, a base aplanada ou levemente arredondada. Cambuch (talhas) vasilhas utilizadas para conter
lquidos, especialmente para guardar bebidas fermentadas alcolicas, ou gua, geralmente pintadas e de grandes
dimenses, podiam ser usadas tambm para sepultamentos primrios e secundrios. Com borda cncava
extrovertida, com base conoidal, arredondada e aplanada. Nampy (prato para tostar) existe grande
probabilidade de serem pratos rasos para torrar farinha de mandioca ou assar beiju, apresentam bordas convexas
baixas. Os autores ressaltam que as classes de amb ou tembiiru e cambuch caguba so compostas por
tigelas, sendo difcil diferenciar uma classe de outra, atravs dos fragmentos de borda. Em vasilhas inteiras se
distinguem principalmente pela forma da base, os amb (ou tembiiru) possuem base aplanada ou levemente
arredondada (BROCHADO; MONTICELLI, 1994, p. 109-116).
232
89
Parte dos stios da fase Xaxim foram identificados por Walter Piazza no oeste catarinense, a cermica possui
vasilhas de pequeno porte, no maiores que 22 cm de dimetro, lbios planos ou redondos, bases planas ou
arredondadas, bojos esfricos em formato de meia calota ou ovide. Quanto decorao, pode ser incisa,
ungulada, ponteada, pinada e inciso-ungulada (BEBER, 2004, p. 63).
90
A fase Itapiranga foi registrada no municpio homnimo, cuja cermica foi feita por cordis, tendo como anti -
plstico areia fina. A cor varia entre marrom e vermelho, com os ncleos aproximadamente da mesma cor. O ali -
samento das paredes apenas regular. A maior parte da cermica alisada, mas existem raros ponteados, pontea-
dos picotados, ponteados arrastados, impressos vrios, pinados, digitados, ungulado secante em linha. Os vasi-
lhames incluem formas em meia calota e pequenos potes de corpo ovoide e colo estreitado. A espessura das pa-
redes vai de 3 a 10 mm. A abertura da boca varia de 6 a 20 cm, predominando as aberturas pequenas. As bases
podem ser convexas, aplanadas ou levemente cncavas (BECKER; SCHMITZ, 1970; SCHMITZ, 1988, p. 87).
233
marcadas podem ser evidenciadas na espessura dos fragmentos, no dimetro da boca, nos
tipos de bordas e nas formas dos recipientes.
A espessura dos recipientes contribui para caracterizar os dois conjuntos cermicos,
por isso, uma categoria analtica empregada foi a medida da espessura mnima e mxima das
paredes dos fragmentos cermicos, uma vez que a espessura esta tambm relacionada com o
tamanho das vasilhas e o uso pretendido (RICE, 1987, p. 227). Ainda segundo a autora, as
paredes dos recipientes podem ser comparadas s paredes de uma casa, dependem muito da
pasta utilizada, no geral vasilhas maiores requerem paredes com maior espessura e mais
antiplstico na argila.
A espessura da cermica Guarani descrita como sendo de paredes grossas
(SCHMITZ, 1991; PROUS, 1992). Enquanto a cermica ligada aos grupos J normalmente
mais fina, segundo Schmitz (1988) as paredes oscilam entre 3 e 10 mm. Para Prous (1992),
possuem entre 3 e 11 mm e, em certas regies sempre menos de 7 mm. A seguir, a espessura
mnima da cermica dos stios analisados (tabelas 39 e 40):
cermica Guarani apresenta maior equilbrio entre as espessuras fina e mdia, fina e muito
fina, constituindo 66,40% do total de fragmentos analisados; a espessura mdia corresponde a
27,22%; j a grossa e muito grossa somam 6,38%. A seguir, a espessura mxima da cermica
das unidades arqueolgicas analisadas (tabela 41 e 42):
Das 160 bordas Guarani que possibilitaram inferir sobre o dimetro, os tamanhos
25 a 28 cm e 17 a 20 cm somam 17,5% cada; j de 21 a 24 cm so 16,88%; de 13 a 16 cm
representam 11,25%; os dimetros 29 a 32 e 33 cm somam 10,62 % cada; outras 9,37%
possuem 9 a 12 cm e, por fim, 6,26% possuem de 5 a 8 cm.
Das 115 bordas Itarar-Taquara que possibilitaram inferir sobre o dimetro, 50,43%
possuem entre 9 a 12 cm; outras 29,58% tm entre 5 e 8 cm; 17,39% tem dimetro entre 13 e
16 cm; e por fim 2,6% possuem de 21 a 24 cm. O dimetro de abertura da boca confirma a
tendncia apresentada na bibliografia para os grupos analisados, o maior nmero de bordas
Guarani est entre 17 e 28 cm, enquanto a cermica Itarar-Taquara tem maior nmero de
bordas com 5 a 16 cm, destacando-se peas com 9 a 12 cm de abertura.
Outra caracterstica que contribui para estabelecer diferenas entre as unidades
arqueolgicas analisadas so os tipos de bordas dos recipientes. Segundo a classificao de
Chmyz (1976), elas podem ser: direta, expandida, introvertida, extrovertida, vazada, cambada,
reforada internamente, reforada externamente. Na tabela 45 os tipos de bordas mais
frequentes das unidades arqueolgicas analisadas:
237
Figura 207. Tipos de bordas Guarani stio Valdemar Stensseler (009) sendo: A) Extrovertida, B)
Direta e C) Introvertida. Desenhos: Mirian Carbonera, Maurcio Mohr.
238
Figura 208. Tipos de bordas Guarani stio Silvino Figura 209. Tipo de borda Itarar-Taquara
Prediger I (010) sendo: A) Direta B) Cambada, C) stio Silvino Prediger I (010): A) Direta, B)
Extrovertida, D) Introvertida. Desenhos: Mirian Extrovertida. Desenhos: Mirian Carbonera,
Carbonera, Maurcio Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 210. Tipos de bordas Guarani stio Figura 211. Tipos de bordas Itarar-Taquara
Armandio Vortmann (011) sendo: A) Direta B) stio Armandio Vortmann (011) sendo: A)
Extrovertida, C) Cambada, D) Introvertida. Direta B) Extrovertida, C) Direta reforada
Desenhos: Mirian Carbonera, Maurcio Mohr. externamente, D) Direta reforada
internamente, E) Expandida, F) Extrovertida
reforada externamente, G) Introvertida.
Desenhos: Mirian Carbonera, Maurcio
Mohr.
239
Figura 212. Tipos de bordas Guarani stio Otto Figura 213. Tipos de bordas Itarar-Taquara
Aigner 1 (013) sendo: A) Direta B) Extrovertida, C) stio Otto Aigner 1 (013) A) Direta B)
Cambada, D) Direta reforada externamente. Extrovertida, C) Direta reforada
Desenhos: Mirian Carbonera, Maurcio Mohr. externamente, D) Introvertida, E) Expandida,
F) Extrovertida reforada externamente.
Desenhos: Mirian Carbonera, Maurcio
Mohr.
Quanto base das vasilhas, Chmyz (1976) descreve sete tipos: cnica, arredondada,
plana, cncava, plana cncava, pedestal e anelar. Nos quatro stios analisados nesta pesquisa,
foram classificadas como base 131 fragmentos Itarar-Taquara e 116 Guarani. Em poucos
fragmentos foi possvel identificar o tipo de base, mas em ambas unidades arqueolgicas os
tipos mais frequentes so as planas e em menor proporo as arredondadas, conforme se nota
(tabela 46):
Nos quatro stios com cermica Guarani, 116 fragmentos referem-se base, o maior
nmero de bases foi identificado no stio Valdemar Stensseler (009), este stio apresenta no
geral mais fragmentos Guarani que os demais, sem presena de cermica Itarar-Taquara. Do
total de bases, 13,80% so do tipo plana, 1,72% so arredondadas (figura 214), nos demais
84,48 fragmentos de base no foi possvel definir a tipologia devido ao tamanho reduzido dos
fragmentos. A tabela 47 apresenta as bases Itarar-Taquara:
Nos trs stios com cermica Itarar-Taquara, 131 fragmentos referem-se base, os
stios Armandio Vortmann (011) e Otto Aigner (013) apresentam semelhana quanto
quantidade de bases, o primeiro com 64 e o segundo com 66 fragmentos. Contudo, do total de
bases, identificou-se 32,82% como planas, 8,39% arredondadas e, 0,76% cncavas; para os
demais 58,03% fragmentos de base no foi possvel definir sua tipologia devido ao tamanho
diminuto. Para cermica Itarar-Taquara foi possvel unir alguns fragmentos de base que
possibilitaram entender melhor sua tipologia (figura 215):
Figura 215. Bases Itarar-Taquara sendo planas (d, e, g, h, j, l), arredondandas (a, c, f, i, m, n) e
plana-concva (b). As bases correspondem aos stios Armandio Vortmann (b, c, d, e, l, n) e
Otto Aigner (a, f, g, h, i, j, m, n). Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 216. Stio Armandio Vortmann (011) Figura 217. Stio Armandio Vortmann (011)
base plana-concva, cermica Itarar-Taquara, base arredondada cermica Itarar-Taquara
corresponde pea B, figura 215. Desenho: corresponde pea C, figura 215. Desenho:
Maurcio Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 218. Stio Otto Aigner (013) base Figura 219. Stio Otto Aigner (013) base
plana Itarar-Taquara, corresponde pea A, plana Itarar-Taquara, corresponde pea G,
figura 215. Desenho: Maurcio Mohr. figura 215. Desenho: Maurcio Mohr.
Dos 5.054 fragmentos de cermica analisados, destaco onze tipos de vasilhas, uma
Guarani e dez Itarar-Taquara, para estas foi possvel estimar metade de seu formato. Para
reconstituio das formas Guarani tomei como base Brochado e Monticelli (1994), com a
coleo analisada foi possvel chegar a uma vasilha semi-inteira, como se v nas figuras 220 e
221:
Figura 220. Stio Otto Aigner (013), recipiente Guarani A, face externa simples e interna
pintada. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 221. Representao de recipiente Guarani A, stio Otto Aigner (013). Pea= SCXIII/ 928.
Dimetro= 24 cm. Altura= 10,3 cm. Volume= 2.468 ml. Desenhos: Maurcio Mohr, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 222. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa extrovertida. Pea= SCIX/410.
Dimetro= 21 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 223. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani ungulada extrovertida. Pea= SCIX/486.
Dimetro= 27 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 224. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCIX/735. Dimetro= 36,8 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 225. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCIX/876. Dimetro= 22,5 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 226. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa direta. Pea= SCIX/415. Dimetro=
20,5 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 227. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa direta. Pea= SCIX/401. Dimetro=
24 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 228. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani ungulada direta. Pea= SCIX/799.
Dimetro= 25 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 229. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa direta. Pea= SCIX/417. Dimetro=
18,7 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 230. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCIX/442.
Dimetro= 5 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 231. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani ungulada direta. Pea= SCIX/663.
Dimetro= 8,6 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 232. Stio Valdemar Stensseler (009) borda lisa Guarani introvertida. Pea= SCIX/881.
Dimetro= 25 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 233. Stio Valdemar Stensseler (009) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCIX/677.
Dimetro= 9 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 234. Stio Stio Silvino Prediger I (010) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCX/79. Dimetro= 45 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 235. Stio Stio Silvino Prediger I (010) borda Guarani ungulada extrovertida. Pea=
SCX/84. Dimetro= 32 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 236. Stio Stio Silvino Prediger I (010) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCX/81.
Dimetro= 36 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 237. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani pintada direta. Pea= SCXI/895.
Dimetro= 20 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 238. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani lisa direta. Pea= SCXI/869. Dimetro=
17,4 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 239. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani lisa extrovertida. Pea= SCXI/2018.
Dimetro= 12,6 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 240. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXI/2048. Dimetro= 13,9 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 241. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXI/868. Dimetro= 7,8 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 242. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea=
SCXI/907. Dimetro= 25,5 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 243. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCXI/908.
Dimetro= 40 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 244. Stio Armandio Vortmann (011) borda Guarani corrugada direta. Pea= SCXI/1417.
Dimetro= 30 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 245. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani corrugada extrovetida. Pea= SCXIII/1501.
Dimetro= 28 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 246. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea= SCXIII/593.
Dimetro= 21,5 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 247. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani corrugada extrovertida. Pea= SCXIII/1799.
Dimetro= 25 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 248. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani lisa introvertida. Pea= SCXIII/894. Dimetro=
40 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 249. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani lisa extrovertida. Pea= SCXIII/851. Dimetro=
12 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 250. Stio Otto Aigner 1(013) borda Guarani lisa extrovertida. Pea= SCXIII/1745.
Dimetro= 24 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 251. Stio Otto Aigner (013), recipiente Itarar-Taquara A simples. Imagem:
Ceom/Unochapec.
Figura 252. Stio Otto Aigner (013), representao recipiente Itarar-Taquara A. Pea=
SCXIII/1004. Dimetro= 13 cm. Altura= 22,2 cm. Volume= 2.946 ml. Desenhos: Maurcio
Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 255. Stio Otto Aigner (013), recipiente Itarar-Taquara C ponteado. Imagem: Acervo
Ceom/Unochapec.
Figura 256. Stio Otto Aigner (013) representao de recipiente Itarar-Taquara C. Pea=
SCXIII/711. Dimetro= 8 cm. Altura= 13,4 cm. Volume= 674 ml. Desenhos: Maurcio Mohr,
Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 258. Stio Armandio Vortmann (011) representao recipiente Itarar-Taquara D. Pea=
SCXI/1435. Dimetro= 12 cm. Altura= 17,5 cm. Volume= 1.979 ml. Desenho: Maurcio Mohr,
Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 259. Stio Armandio Vortmann (011) recipiente E ungulado. Pea= SCXI/2010.
Dimetro= 10 cm. Altura= 16 cm. Volume= 1.256 ml. Desenhos: Maurcio Mohr, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 261. Stio Armandio Vortmann (011) representao recipiente Itarar-Taquara F. Pea=
SCXI/CDA. Dimetro= 10 cm. Altura= 12 cm. Volume= 942 ml. Desenhos: Maurcio Mohr,
Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 263. Stio Otto Aigner (013) recipiente Itarar-Taquara H, com acabamento
impresso/ungulado. Na imagem direita detalhe da quebra fresca e gro de hematita bem
integrado a pasta. Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 264. Stio Otto Aigner (013) representao recipiente Itarar-Taquara H. Pea=
SCXIII/652. Dimetro= 9 cm. Altura: 10 cm. Volume: 635 ml. Desenhos: Maurcio Mohr,
Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 265. Stio Otto Aigner (013) recipiente Itarar-Taquara I, acabamento ponteado. Pea=
SCXIII/1793CDA. Dimetro= 9 cm. Altura= 12 cm. Volume= 763 ml. Desenhos: Maurcio
Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
A cermica Itarar-Taquara I91 possui dimetro de boca de 9 cm, 12 cm de altura, a
forma ovaloide, a base arredondada, borda direta com leve inclinao interna e lbio
arredondado. A espessura das paredes oscila de 4 a 5 mm, nota-se uma simetria, j que a
espessura 5 mm foi mantida em boa parte do recipiente. O ponteado foi aplicado como
tratamento de superfcie, a base e a borda foram somente alisadas, assim como a face interna.
A queima oxidada incompleta, e na parte interna possvel evidenciar depsitos de carvo
decorrentes do uso.
Figura 266. Stio Armandio Vortmann (011) recipiente Itarar-Taquara J, acabamento simples.
Imagem: Ceom/Unochapec.
Figuras 267. Stio Armandio Vortmann (011) representao Itarar-Taquara recipiente J. Pea=
SCXI/2058. Dimetro= 13 cm. Altura= 5 cm. Volume= 663 ml. Desenhos: Maurcio Mohr,
Mirian Carbonera, Joana Barros.
91
O remonte foi feito apenas para o desenho e anlise, j que parte da pea se encontra exposta no Centro de
Divulgao Ambiental, no municpio de It/SC.
Das dez formas Itarar-Taquara, como se v na figura 269, os recipientes A, B, C e D
compem um grupo de formas ovaloides e abertas constringidas na parte superior, a primeira
comporta quase 3 litros, B e D tm capacidade entre 1.500 e 2.000 ml e a C de pouco mais de
600 ml. Os tipos E e F tem forma elipsoide e bordas diretas, comportam entre 900 e 1.300 ml.
As peas G e J tm forma ovaloide aberta; a H elipsoide aberta e a pea I ovaloide
fechada. Os cinco recipientes G, H, I e J possuem capacidade para menos de um litro,
variando entre 500 e 800 ml. A pea J, a partir de sua forma, pode-se inferir a funo de prato
ou tijela, refora essa hiptese o fato de que foi a nica que no apresentou depsito de carvo
na face interna.
Figura 268: Formas Itarar-Taquara stio Armandio Vortmann (011) stio Otto Aigner (013).
Desenho: Mirian Carbonera.
As imagens 269 a 298 objetivam trazer mais informaes das formas e do acabamento
de superfcie do conjunto Itarar-Taquara analisado. As bordas so principalmente diretas e
expandidas.
Figura 269. Stio Silvino Prediger I (010), borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCX/108. Dimetro= 10 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 270. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples extrovertida. Pea=
SCXI/2020. Dimetro= 11 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 271. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ungulada extrovertida. Pea=
SCXI/1958. Dimetro= 7,7 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 272. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ungulada/beliscada
extrovertida. Pea= SCXI/2028. Dimetro= 12 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 273. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara incisa extrovertida. Pea=
SCXI/2057. Dimetro= 8,6 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 274. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara beliscada extrovertida. Pea=
SCXI/1984. Dimetro= 13 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 275. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXI/2086. Dimetro= 12 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 276. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXI/2012. Dimetro= 11 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 277. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara beliscada/ungulada direta.
Pea= SCXI/975. Dimetro= 9,6 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera,
Joana Barros.
Figura 278. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples direta com inclinao
interna. Pea= SCXI/2042. Dimetro= 6 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 279. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples direta. Pea=
SCXI/2122. Dimetro= 5,8 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 280. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara beliscada direta com reforo
externo. Pea= SCXI/1434. Dimetro= 11,6 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 281. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCXI/2060. Dimetro= 8 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 282. Stio Armando Vortmann (011) borda Itarar-Taquara simples direta com reforo
externo. Pea= SCXI/2087. Dimetro= 13,8 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 285. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara simples extrovertida. Pea=
SCXIII/837. Dimetro= 11 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 286. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada/incisa direta com reforo
externo. Pea= SCXIII/862. Dimetro= 11 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Figura 287. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXIII/1089. Dimetro= 8 cm. Desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 288. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida. Pea=
SCXIII/1246. Dimetro= 11 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 289. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada extrovertida. Pea=
SCXIII/1706. Dimetro= 8 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 290. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada extrovertida. Pea=
SCXIII/1780. Dimetro= 10,6 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera,
Joana Barros.
Figura 291. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ponteada extrovertida com reforo
externo. Pea= SCXIII/1101. Dimetro= 10,5 cm. Desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera,
Joana Barros.
Figura 292. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada/incisa extrovertida. Pea=
SCXIII/487. Dimetro= 10,5 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 293. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara beliscada direta. Pea=
SCXIII/1445. Dimetro= 13 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 294. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada extrovertida. Pea=
SCXIII/1780. Dimetro= 10,6 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera,
Joana Barros.
Figura 295. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara impressa direta. Pea= SCXIII/388.
Dimetro= 13 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 296. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea= SCXIII/893.
Dimetro= 11 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana Barros.
Figura 297. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara ungulada direta. Pea=
SCXIII/1235. Dimetro= 9 cm. Imagens e desenhos: Maurcio Mohr, Mirian Carbonera, Joana
Barros.
Figura 298. Stio Otto Aigner 1 (013) borda Itarar-Taquara impressa introvertida com reforo
interno. Pea= SCXIII/1593. Dimetro= 14,3 cm. Imagens e desenhos: Marcos Bett, Mirian
Carbonera, Joana Barros.
Aps a pea ser modelada, quando a argila estiver seca na dureza de couro, faz-se o
acabamento e/ou o tratamento de superfcie, que primeiramente objetiva eliminar
irregularidades das peas, essa atividade pode ser feita com auxlio de instrumento como uma
rocha, faca, entre outros (CREMONTE, 1983-1984; RICE, 1987). Alves (2007) descreve que
as mulheres Maxakali alisam as superfcies internas e externas com conchas de molusco ou
com sabugo de milhos.
A pea pode ficar pronta com acabamento alisado, ou podem ser realizados os demais
tratamentos, como o polimento, a pintura, impresses, ponteados etc. Dependendo do
contexto social das peas, esses acabamentos podem contribuir com aspectos estticos ou
funcionais, uma mesma pea pode receber mais que um tratamento em diferentes partes do
corpo (CREMONTE, 1983-1985, p. 188). Outro acabamento a utilizao do engobo ou
barro lquido, consiste numa camada de argila colorida, aplicada na superfcie da cermica
para mudar sua cor, como um detalhe decorativo ou para reduzir a permeabilidade da pea
(RYE, 1981; RICE, 1987; DALGLISH, 2004).
possvel dividir o processo tcnico dos acabamentos em trs grandes grupos: simples
quando a parede somente aplanada ficando lisa; o acabamento plstico, quando a superfcie
da parede modificada de forma tridimensional com a argila ainda moldvel; e a pintura feita
antes ou depois da queima, pode ocorrer tanto na face externa como interna (LA SALVIA;
BROCHADO, 1989; CHMYS, 1976).
O tratamento de superfcie da cermica Guarani dividido em cinco tcnicas
principais, que s vezes esto combinadas:
A cermica Itarar se caracteriza pela raridade da decorao, que nunca atinge 10%
dos cacos, e raramente 5%; j a cermica Taquara em algumas regies apresenta mais de 50%
dos fragmentos decorados, sendo praticamente toda a superfcie dos vasilhames tratados,
permanecendo liso apenas o fundo e uma estreita faixa ao longo dos lbios (PROUS, 1992, p.
322-324). Schmitz e Becker (1991) tambm reforam que a maior parte dos vasilhames
simplesmente alisada, os demais tratamentos podem ser impresses de cestaria, ponteados
simples ou mltiplos, ungulados, pinados, incises lineares.
Na face externa dos 1.899 fragmentos Guarani dos quatro stios estudados, o
acabamento simples foi contabilizado em 58,13%; em seguida o corrugado com 24,33%; o
ungulado soma 4,60% e o pintado 3,63%; os demais 9,11% so acabamentos que aparecem
com baixa frequncia, como: o escovado, o espatulado, imbricado e a composio entre dois
elementos, como corrugado-ungulado, corrugado-espatulado (figura 301). Ao observar as
porcentagens intra-stio, quanto aos tipos de acabamento, estas acompanham a frequncia
verificada no total da amostra.
Figura 300. Cermica Guarani com pintura interna stios Armandio Vortmann (b, c, d, h, i) e
Otto Aigner (a, c, e, f, g). Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 301. Cermica Guarani corrugada (a, d, f), pintada (b, c) e ungulada (g, h, i).
Correspondem aos stios: Silvino Prediger (g); Valdemar Stensseler (h); stio Armandio
Vortmann (b, d, e, f) e stio Otto Aigner (a). Imagem: Ceom/Unochapec.
Beliscado
Ponteado
Impresso
Estocado
Outros*
Simples
Inciso
Total
Stio
Silvino Prediger I 2 18 1 0 0 0 0 0 21
(010) (9,52%) (85,72%) (4,76%) (26,30%) (0%) (0%) (0%) (0%) (100%)
Figura 303. Cermica Itarar-Taquara beliscada, stio Armandio Vortmann (a, c, d, e, i, j) e stio
Otto Aigner (b, f, g , h, l). Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 304. Cermica Itarar-Taquara simples, stio Armandio Vortmann (a, b, c, d, e, f, g, h, k)
e stio Otto Aigner (g, i). Imagem: Ceom/Unochapec.
Figura 309. Ungulado semi-circular em linha. Figura 310. Ungulado semi-circular em linha.
Pea= SCXI/1519. Desenho: Maurcio Mohr. Pea= SCXI/1519. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 311. Ungulado em linha vertical. Pea= Figura 312. Ungulado vertical esparso. Pea=
SCXIII/1792. Desenho: Maurcio Mohr. SCXI/2182. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 313. Ungulado em linha oblqua. Pea= Figura 314. Ungulado em linha oblqua. Pea=
SCXI/1831. Desenho: Maurcio Mohr. SCXIII/2083. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 315. Ungulado em linha oblqua. Pea= Figura 316. Ungulado em linha oblqua. Pea=
SCXIII/889. Desenho: Maurcio Mohr. SCXIII/1435. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 317. Ungulado em linha horizontal. Figura 318. Ungulado em linha horizontal.
Pea= SCXI/1957b. Desenho: Maurcio Mohr. Pea= SCXIII/553. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 319. Ungulado em linha horizontal. Figura 320. Ungulado em linha horizontal.
Pea= SCXIII/456. Desenho: Maurcio Mohr. Pea= SCXIII/615. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 321. Ponteado arrastado assimtrico. Figura 322. Ponteado arrastado assimtrico
Pea= SCXIII/1089. Desenho: Maurcio Mohr. formato de pingo. Pea= SCXI/1212.
Figura 323. Ponteado assimtrico em linha. Figura 324. Ponteado assimtrico em linha.
Pea= SCXI/1982. Desenho: Maurcio Mohr. Pea= SCXIII/725. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 325. Ponteado assimtrico em linha. Figura 326. Ponteado composto simtrico em
Pea= SCXIII/1793. Desenho: Maurcio Mohr. linha vertical e horizontal. Pea= SCXIII/1952.
Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 327. Ponteado simtrico formando Figura 328. Ponteado formando coluna
coluna vertical. Pea= SCXIII/1104. Desenho: horizontal. Pea= SCXIII/1566. Desenho:
Maurcio Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 329. Ponteado arrastado em linha Figura 330. Ponteado composto assimtrico em
vertical. Pea= SCXI/1759. Desenho: Maurcio linha horizontal. Pea= SCXI/2080. Desenho:
Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 331. Ponteado simtrico em linha Figura 332. Ponteado simtrico em linha
vertical. Pea= SCXI/1170. Desenho: Maurcio horizontal. Pea= SCXI/1298. Desenho:
Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 333. Ponteado assimtrico em linha Figura 334. Ponteado composto em linha. Pea=
horizontal. Pea= SCXI/987. Desenho: SCXI/212. Desenho: Maurcio Mohr.
Maurcio Mohr.
Figura 335. Ponteado linha dupla. Pea= Figura 336. Ponteado linha dupla. Pea=
SCXIII/1444. Desenho: Maurcio Mohr. SCXI/641. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 337. Ponteado linha dupla. Pea= Figura 338. Ponteado linha dupla. Pea=
SCXIII/929. Desenho: Maurcio Mohr. SCXI/977. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 339. Ponteado arrastado em linha. Pea= Figura 340. Ponteado composto formando
SCXIII/207. Desenho: Maurcio Mohr. coluna horizontal. Pea= SCXI/1602. Desenho:
Maurcio Mohr.
Figura 341. Ponteado arrastado em linha Figura 342. Ponteado assimtrico em linha
horizontal. Pea= SCXIII/1254. Desenho: horizontal. Pea= SCXI/1789. Desenho:
Maurcio Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 343. Ponteado arrastado em linhas opostas. Pea= SCXI/539. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 344. Beliscado simtrico em linha Figura 345. Beliscado simtrico em linha
horizontal. Pea= SCXI/1592. Desenho: horizontal. Pea= SCXI/1899. Desenho:
Maurcio Mohr. Maurcio Mohr.
Figura 346. Beliscado assimtrico. Pea= Figura 347. Beliscado assimtrico. Pea=
SCXIII/954. Desenho: Maurcio Mohr. SCXIII/1532. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 348. Beliscado espaado. Pea= Figura 349. Beliscado em linha horizontal.
SCXIII/419. Desenho: Maurcio Mohr. Pea= SCXI/1270. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 350. Beliscado aberto para cima. Pea= Figura 351. Beliscado aberto para baixo. Pea=
SCXI/975. Desenho: Maurcio Mohr. SCXI/975. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 353. Impresso simtrico (a partir de Figura 354. Impresso simtrico linha vertical.
sabugo de milho). Pea= SCXIII/1388. Pea= SCXIII/1498. Desenho: Maurcio Mohr.
Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 355. Impresso assimtrio. Pea= Figura 356. Impresso simtrico em linha
SCXIII/1788. Desenho: Maurcio Mohr. horizontal. Pea= SCXI/1310. Desenho:
Maurcio Mohr.
Figura 357. Inciso vertical. Pea= SCXI/2057. Figura 358. Inciso horizontal tracejado. Pea=
Desenho: Maurcio Mohr. SCXIII/968. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 359. Inciso em linha horizontal. Pea= Figura 360. Inciso em linha horizontal. Pea=
SCXIII/1214. Desenho: Maurcio Mohr. SCXI/530. Desenho: Maurcio Mohr.
O corrugado a ao lateral do dedo sobre a superfcie cermica, pressionando uma
parte da argila, por arraste, e formando uma crista de forma semilunar, como resultado do
acmulo da argila arrastada (LA SALVIA; BROCHADO, 1989, p. 35). o acabamento
plstico tpico na cermica Guarani, no ocorre na Itarar-Taquara. Na amostra analisada
representa 24,53% do total, sendo o mais frequente dos tratamentos plsticos Guarani. De
maneira geral, o corrugado no apresenta uma boa simetria e, em muitos fragmentos, ocorre
associado a outros tratamentos, como o ungulado por exemplo. A seguir, so reproduzidos
sete tipos de corrugado que apresentaram boa simetria (figura 361 a 367):
Figura 361. Corrugado. Pea= SCXI/168. Figura 362. Corrugado. Pea= SCXI/717.
Desenho: Maurcio Mohr. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 363. Corrugado. Pea= SCXI/1417. Figura 364. Corrugado. Pea= SCXIII/1501.
Desenho: Maurcio Mohr. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 365. Corrugado. Pea= SCXI/868. Figura 366. Corrugado. Pea= SCIX/951.
Desenho: Maurcio Mohr. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 367. Corrugado. Pea= SCXI/156. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 368. Linhas vermelhas sobre engobo branco. Pea= SCXI/766. Desenho: Maurcio
Mohr.
Figura 371. Impresso e escovado. Pea= Figura 372. Impresso e ungulado. Pea=
SCXI/620. Desenho: Maurcio Mohr. SCXIII/1449. Desenho: Maurcio Mohr.
Figura 373. Beliscado e inciso em linha Figura 374. Beliscado aberto e ungulado. Pea=
horizontal. Pea= SCXIII/862. Desenho: SCXI/ 975. Desenho: Maurcio Mohr.
Maurcio Mohr.
Figura 375. Ungulado com linha horizontal. Figura 376. Ponteado e ponteado arrastado em
Pea= SCXI/1124. Desenho: Maurcio Mohr. linha horizontal. Pea= SCXIII/688. Desenho:
Maurcio Mohr.
Figura 377. Ponteado simtrico composto em Figura 378. Ungulado duplo com sentido oposto
linha horizontal. Pea= SCXIII/1204. em linha horizontal. Pea= SCXIII/1236.
Desenho: Maurcio Mohr. Desenho: Maurcio Mohr.
Nesta pesquisa, analisei em que medida ocorreu o contato cultural entre duas unidades
arqueolgicas, a Guarani e a Itarar-Taquara. Elas apresentam diferenas que englobam desde
a simbologia, o sistema tecnolgico, as formas de ocupar e explorar o meio ambiente e a
organizao social. Para alcanar o objetivo proposto, privilegiou-se a cermica entendida no
sentido amplo de que as tcnicas so parte de um fato social total, integrado as relaes
sociais, simblicas, econmicas e materiais. Nessa perspectiva, o indivduo faz parte de uma
sociedade, educado e adquire tcnicas que so transmitidas ao longo das geraes (MAUSS,
2003). As escolhas tecnolgicas so dinmicas, j que integram um sistema social e podem
ser analisadas a partir da srie de operaes necessrias produo material (LEMONNIER,
1986, 1992). Lana-se um olhar sobre as escolhas tecnolgicas e os padres observados na
cultura material dos grupos analisados e como entender fronteiras e identidades sociais no
registro arqueolgico (STARK, 1998).
A tese foi estruturada a partir da noo de cadeia operatria, nos captulos 1 e 3
apresentei os dados do ambiente e a disponibilidade de matria-prima. No captulo 4 descrevi
a pasta empregada para confeco dos utenslios cermicos, bem como o processo de queima.
Por fim, no captulo 5 apresento o estilo, descrevendo como os grupos analisados alcanavam
as formas desejadas e tipos de tratamentos de superfcie, com essas informaes foi possvel
inferir de forma sutil no uso e reuso dos recipientes cermicos. A comparao e a discusso
dos resultados so apresentados na sequncia.
O contexto arqueolgico dos stios analisados revela que a Volta do Uv foi ocupada
em quatro momentos distintos. Inicialmente com caadores-coletores antigos na passagem
Pleistoceno-Holoceno, por volta de 8.000 AP (grfico 17). No Holoceno tardio, dois grupos
agricultores de matrizes culturais distintas ocuparam a rea. As datas com C14 processadas
indicam que os assentamentos Itarar-Taquara ocorreram entre 690 e 850 AP (grficos 18 a
22).
291
Grfico 17 Stio Otto Aigner 1, C14 nvel Grfico 18 Stio Otto Aigner 1, C14 nvel
pr-cermico cermico Itarar-Taquara
Grfico 19 Stio Otto Aigner 1, C14 nvel Grfico 20 Stio Otto Aigner 2, C14 nvel
cermico Itarar-Taquara cermico Itarar-Taquara
Grfico 21 Stio Otto Aigner 2, C14 nvel Grfico 22 Stio Armandio Vortmann, C14
cermico Itarar-Taquara nvel cermico Itarar-Taquara
Grfico 23 Datas AP realizadas por TL para o nvel Guarani dos quatro stios analisados
292
Os Guarani estiveram no local, segundo as datas de TL, entre 309 e 358 AP 92 (grfico
23), j em perodo colonial, mas aparentemente sem contato com o homem branco. Por fim,
ocorre a colonizao estimulada pelo Estado Nacional, que promove a vinda de famlias
europeias ou seus descendentes, a maioria viviam no estado do Rio Grande do Sul. Assim na
primeira metade do sculo XX as terras foram fracionadas e exploradas com atividades
extrativistas, criao de gado e, sobretudo, com a agricultura.
Os grupos Itarar-Taquara e Guarani tinham conhecimento um do outro, j que
ocuparam a rea no mesmo bloco temporal. No entanto, a nvel cultural, o grau de interao
foi nulo, podendo ser verificado por mltiplas linhas de anlise, com destaque para o material
cermico, conforme apresentei nos captulos quatro e cinco.
Em relao ao contexto dos stios Silvino Prediger I (010), Armandio Vortmann (011)
e Otto Aigner 1 (013), os trs apresentaram cermica Guarani e Itarar-Taquara, e houve a
justaposio das culturas num mesmo espao, evidenciadas principalmente pelas datas
realizadas. A relao espao versus tempo foi observada de maneira mais evidente no stio
Armandio Vortmann (011), j que a cermica Guarani foi coletada na superfcie e a cermica
Itarar-Taquara foi encontrada em profundidade, separao temporal comprovada tambm
pelas datas de radiocarborno e TL.
No stio Otto Aigner 1 (013), os materiais cermicos das duas unidades arqueolgicas
estavam mesclados em quase sua totalidade desde a superfcie at 50 cm de profundidade.
Isso pode ter ocorrido principalmente devido a perturbaes ps-deposicionais difceis de
precisar, atividades antrpicas como a agricultura, relacionadas ao ltimo momento de
ocupao talvez seja a mais provvel. As datas realizadas neste stio separam as duas unidades
arqueolgicas temporalmente, da mesma forma que no stio Armandio Vortmann (011).
92
Para as datas de TL no foi possvel gerar grficos a partir do programa OxCal porque no possuem
calibrao.
293
O rio Uruguai, bem como a fauna e a flora da rea, traziam atrativos econmicos
importantes para a subsistncia e a reproduo dos grupos, propiciando assentamentos
estveis. Os contextos escavados, ao menos nos stios Armandio Vortmann (011) e Otto
Aigner 1 (013), referem-se a unidades domsticas, com fogueiras, produo e utilizao dos
artefatos cermicos e lticos, com o consumo da caa e da pesca. Os vestgios materiais
estavam associados a camadas de terra preta que apresentaram espessuras variadas.
Na anlise comparativa do sistema tcnico-tipolgico e estilstico das unidades
arqueolgicas estudadas, observam-se diferenas tanto na preparao da pasta, na queima,
como no estilo da produo cermica.
A partir da petrografia de luz transmitida, percebe-se que os elementos apresentam
propores bem distintas na pasta, ficando evidente nos minerais opacos e no chamote
(tempero). No grfico 24 a seguir, a representao da composio total da pasta cermica, no
grfico 25 e na Tabela 50 um comparativo entre as incluses presente na pasta cermica dos
grupos da Volta do Uv:
alguns stios do Rio Grande do Sul, nos stios do alto Uruguai ocorreu a interao, mas a troca
no foi suficiente a ponto de acontecerem mudanas estilsticas na cermica de um ou outro
grupo (ROGGE, 2004, 2005).
Os trs stios da Volta do Uv com cermica Itarar-Taquara so a cu-aberto sem a
presena de estruturas subterrneas. A ausncia dessas estruturas tambm foi observada nos
stios da regio de Itapiranga de acordo com De Masi e Artusi (1985). No entanto, os autores
descrevem que naquela rea os stios estavam nos patamares mais altos do vale e eram
caractersticos da tradio Taquara com presena de cermica Guarani. Quanto localizao
dos assentamentos, observa-se o contrrio na Volta do Uv, j que os stios Silvino Prediger I
(010), Armandio Vortmann (011) e Otto Aigner 1 (013) estavam na parte mais baixa do
relevo. O stio Silvino Prediger I (010) est situado a 100 metros do rio Uv e Armandio
Vortmann (011) e Otto Aigner 1 (013) estavam de 15 a 25 metros de distncia do rio Uruguai.
Isto evidencia que os grupos no consideravam os diferentes ambientes como um limite para
sua expanso, j que exploravam o espao e os recursos de um mesmo nicho ecolgico.
Como at o momento no foram recuperados sepultamentos relacionados aos stios
analisados, no se pode inferir sobre essas prticas na regio da Volta do Uv, porm em
outros pontos do alto Uruguai j foram estudados ao menos seis sepultamentos Guarani, em
urnas cermicas encontradas nas proximidades do stio ACH-SU4, municpio de guas de
Chapec/SC. Na estrutura funerria seis, foi encontrada juntamente com os restos sseos
Guarani meia vasilha Itarar-Taquara93 (CALDARELLI, 2010, p. 705; MLLER;
MENDONA DE SOUZA, 2011). Esse contexto funerrio precisaria ser mais bem analisado,
no entanto, a situao de contato observada pelas autoras pode ser relacionado ao fluxo de
objetos por troca, comrcio ou outro aspecto, j que se encontrou apenas a meia vasilha
ItararTaquara dentro do contexto Guarani.
Para os sepultamentos Itarar-Taquara existe uma lacuna no s para a Volta do Uv,
bem como no oeste catarinense, para os quais as informaes provm de regies prximas
como Misiones e das pesquisas realizadas no planalto de Santa Catarina e do Rio Grande do
Sul. As partes mais altas do oeste de Santa Catarina foram ainda pouco estudadas, os dados
existentes foram levantados com pesquisas de arqueologia consultiva, como aconteceu em
pontos do rio Irani (CALDARELLI, 2007; DE MASI, 201?) e do rio Chapec
(CALDARELLI, 2003; CALDARELLI; HERBERTS, 2005), os stios ceramistas foram
93
Segundo a anlise das autoras, associado estrutura funerria foram encontradas entre os cacos partes de um
recipiente de tradio arqueolgica no Tupiguarani. Este pequeno recipiente apresentou 12 cm de dimetro de
boca e capacidade mxima de 970 ml, queima oxidante, acabamento externo simples e marcas de fuligem tanto
na face interna como externa (CALDARELLI, 2010, p.705).
300
hiptese, no entanto, poder ser contrastada com a escavao de novos stios e a realizao de
mais dataes.
Situaes de contato no alto rio Uruguai, especialmente o fluxo de objetos cermicos
em stios Guarani e vice e versa, foram descritas principalmente por De Masi e Artusi (1985),
Rogge (2004, 2005) e Caldarelli (2010). A anlise dos stios da Volta do Uv permitiu avaliar
que os grupos tinham conhecimento um do outro, mas o contato cultural no registro
arqueolgico no revelou o intercmbio de materiais, e principalmente de ideias. Nos stios
Silvino Prediger I (010), Armandio Vortmann (011) e Otto Aigner 1 (013) que apresentaram
materiais cermicos das duas unidades arqueolgicas no h evidncia de interao, mas da
ocupao do mesmo espao em momentos diferentes.
Com efeito, as anlises tecnolgicas e estilsticas realizadas nos conjuntos cermicos
Guarani e Itarar-Taquara da regio da Volta do Uv evidenciam duas tradies culturais
distintas que ocuparam a regio num mesmo bloco espao-temporal, com baixo grau de
interao cultural, ao menos no que se refere aos conjuntos cermicos. Com a pesquisa, foi
possvel caracterizar algumas propriedades bem diferenciadas entre os conjuntos cermicos,
Guarani e Itarar-Taquara, seno tambm avaliar uma srie substancial de diferenas
tecnolgicas e estilsticas que marcam uma notvel descontinuidade entre as duas unidades
arqueolgicas.
Essa descontinuidade implica, por exemplo, a falta de intercmbio de ceramistas entre
os grupos, especialmente de mulheres, j que a fabricao de cermica era uma ocupao
feminina entre a maioria dos grupos seja do Brasil e do mundo, a exemplo das pesquisas de
Miller (1978), Deboer e Lathrap (1979), Lima (1987) e Silva (2000).
A ausncia de interao pode estar refletindo a competio pela explorao do espao
para captao de recursos e o desenvolvimento de estratgias sociais e polticas destinadas a
demarcar os limites sociais entre os dois grupos tnicos. Este esquema, por outro lado,
esperado dentro de sociedades de base agrcola onde a ocupao do espao para produo
crucial para a reproduo social.
O espao temporal analisado aqui muito pequeno para generalizar uma interao
totalmente negativa entre as duas unidades culturais, contudo a tendncia uma baixa
interao social entre os Guarani e Itarar-Taquara. A continuidade das pesquisas na rea nos
permitir aumentar o tamanho da amostra e estender o horizonte cronolgico, a fim de avaliar
a trajetria e a interao de ambas unidades arqueolgicas.
A pesquisa teve como base de dados a cultura material recuperada a partir de projeto
de arqueologia consultiva desenvolvido na dcada de 1980, perodo em que se iniciaram no
303
ALCANTRA, Aureli Alves de. Paulo Duarte entre stios e trincheiras em defesa da sua
dama: a pr-histria. So Paulo, 2007. Dissertao (Mestrado em Arqueologia)
Universidade de So Paulo.
ALVES, Mrcia Angelina. Estudo do stio Prado um stio lito-cermico colinar. So Paulo,
1982. Dissertao (Mestrado em Arqueologia) Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas da Universidade de So Paulo.
ALVES, Mrcia Angelina. Anlise cermica: estudo tecnotipolgico. So Paulo, 1988. Tese
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