FELIPE, Jane. Estudos Culturais, Gênero e Infância...
FELIPE, Jane. Estudos Culturais, Gênero e Infância...
FELIPE, Jane. Estudos Culturais, Gênero e Infância...
Jane Felipe1
Resumo
O conceito de infncia e sua respectiva educao tm passado por significativas transformaes
ao longo dos ltimos sculos. possvel observar o quanto as crianas vm ganhando
visibilidade, como sujeitos dignos de ateno, seja na rea cientfica, jurdica, poltica ou
tecnolgica. Nesse contexto, o presente artigo pretende descrever o modo como se pode manejar
e analisar pesquisas neste campo, especialmente pesquisas alinhadas com abordagens ps-
estruturalistas.
Palavras-chave: Infncia, educao, Estudos Culturais.
1
Doutora em Educao. Professora da Faculdade de Educao da UFRGS, pesquisadora do
CNPq. Integrante do GEERGE (Grupo de Estudos de Educao e Relaes de Gnero).
2
As pesquisas desenvolvidas no eixo temtico Infncia, gnero e sexualidade, da linha de
pesquisa Educao e Relaes de Gnero (PPGEDU/FACED/UFRGS), tm priorizado o contato
direto com crianas pequenas, especialmente na faixa etria dos 3-7 anos), observando o
cotidiano escolar na qual esto inseridas, as relaes que ali se estabelecem (crianas-crianas,
crianas-adultos), bem como ouvindo suas opinies e impresses sobre a construo das
relaes de gnero.
3
Estamos referindo-nos s pesquisas de Zandra Argello (2004), Bianca Guizzo (2004) e Judite
Guerra (2003), que vm sendo desenvolvidas na Linha de Pesquisa Educao e Relaes de
Gnero, cujos ttulos so, respectivamente, Literatura Infantil no sexista: um dilogo com
crianas na Educao Infantil; Propagandas televisivas ensinando modos de ser menino e
menina e Construo da feminilidade na infncia.
Outro fator importante que precisa ser bem avaliado diz respeito ao
nmero de sujeitos que se quer pesquisar. Em uma de nossas pesquisas,
realizada em uma turma de pr-escola municipal da cidade de Esteio/RS, o
grande nmero de alunos/as (vinte e seis) mostrou-se como um dos impasses
da pesquisa. Nos grupos de discusso propostos muitos/as eram aqueles que
no falavam; talvez por inibio, talvez por falta de oportunidade, embora
tivssemos tido o cuidado de estimular a participao de todos/as. Chegamos a
pensar na possibilidade de convidar apenas algumas crianas para participarem
das discusses, porm, em se tratando dessa faixa etria 6 e 7 anos isso
tornou-se complicado, uma vez que muitas delas poderiam sentir-se frustradas
em razo da possibilidade de no serem escolhidas como sujeitos da pesquisa.
Em outro estudo, observamos o quanto elas ficavam na expectativa,
perguntando pesquisadora quando chegaria a sua vez de serem
entrevistadas4.
4
Trata-se da pesquisa de mestrado desenvolvida por Judite Guerra, intitulada Construo da
feminilidade na infncia.
Com relao s questes ticas nas pesquisas com sujeitos infantis, cabe
mencionar que fundamental a autorizao da famlia para a participao das
crianas5. Quanto exposio dos seus nomes verdicos, o Estatuto da Criana
e do Adolescente bem claro, defendendo a preservao da identidade infantil
e juvenil, o que tem levado as/os pesquisadoras/es a utilizar nomes fictcios.
H pesquisadores/as, no entanto, que defendem a utilizao do nome
verdadeiro das crianas, ou pedem para que elas mesmas escolham um nome
fictcio para si, ou ainda optam em explicitar o nome da escola, por
entenderem que as crianas so os elementos principais da pesquisa, e como
tais, devem ser reconhecidas ou terem a possibilidade de se reconhecerem.
CONSIDERAES FINAIS
Nessa seo de encerramento, gostaramos de destacar o quanto se
mostram relevantes alguns elementos da pesquisa etnogrfica para o
desenvolvimento de investigaes que posicionem o sujeito infantil em
destaque. Como vimos salientando ao longo desse trabalho, a observao e
participao contnuas e sistemticas dos/nos campos de pesquisa (como as
escolas, por exemplo) permitem-nos conhecer um pouco do dia-a-dia desses
locais e da dinmica que ali se estabelece. A partir dessa insero (que inclui
observao e participao) h a possibilidade de percebermos o que, no mbito
de tais locais, (re)produzido em relao aos gneros, os comentrios que se
estabelecem, no s por parte das crianas, mas tambm por parte dos adultos
(professores/as, funcionrios/as, famlias) em relao s expectativas em torno
de meninas e meninos, mulheres e homens (FELIPE, 2004).
Por fim, reafirmamos a importncia de desenvolvermos pesquisas com
crianas pequenas, especialmente em relao s temticas de gnero,
sexualidade, raa e etnia, considerando suas falas, sentimentos e aes. No
entanto, torna-se importante estar consciente dos limites e das dificuldades a
serem enfrentados, como tambm importante no perder de vista que os
5
Temos utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, contendo os objetivos da
pesquisa, a forma como ser desenvolvida , os dados do/a pesquisador/a e enfatizando o sigilo
que dever ser garantido, tanto dos nomes das crianas, quanto da utilizao de suas imagens.
REFERNCIAS
ALANEN, Leena. Estudos Feministas/ Estudos da Infncia: paralelos,
ligaes e perspectivas. CASTRO, Lcia Rabello (Org.). Crianas e Jovens na
construo da cultura. Rio de Janeiro: Nau Editora, 2001.
LOURO, Guacira. Notas para dar conta de uma promessa. Mimeo, 2002.
SILVEIRA, Rosa Hessel. Olha quem est falando agora! A escuta das vozes
em educao. In: COSTA, Marisa (org.). Caminhos investigativos: novos
olhares na pesquisa em educao. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.