WOW Ascensão Da Horda (Rise of The Horde)
WOW Ascensão Da Horda (Rise of The Horde)
WOW Ascensão Da Horda (Rise of The Horde)
Eles vieram juntos, respondendo a sua splica. Em uma questo de instantes, eles
limpariam suas mentes para que Velen os deixassem ver o que ele viu, sentir o que ele
sentiu. Por um momento, achou que eles dividiriam os mesmos sentimentos e se
encheu de esperana. Havia uma chance.
Archimonde franziu a testa. Isso no uma viso do futuro que possamos
confiar. Isso apenas um palpite.
Velen encarou seu amigo, ento virou-se para Kiljaeden. Ele no era apegado a
vaidades, era sbio e ponderado
Archimonde est certo, disse calmamente Kiljaeden. No h veracidade,
apenas imagens criadas em sua mente
Velen o observou, dor surgindo em seu peito. Gentilmente, e com pesar, ele
desconectou seus pensamentos dos deles. Agora o que estava em seu corao e mente
era s dele. Ele nunca mais compartilharia algo com esses que chegaram a ser como
extenso de sua alma.
O primeiro e mais confivel aliado que Velen chamou foi Talgath, um velho
amigo que o ajudou no passado. Tudo dependia dele pois diferente de Velen, ele podia
agir sem ser vigiado. Talgath estava ctico at ele conectar suas mentes e mostrar sua
viso. Nada disse sobre os Naaru e a oferta de ajuda, pois no sabia como a ajuda
viria. Apenas assegurou que havia como escapar quele destino, se confiasse nele.
O dia mais longo do ano estava chegando. Com toda a discrio que podia ter,
enquanto Archimonde e KilJaden estavam obcecados com Sargeras, Velen enviou
uma cadeia de pensamentos para aqueles em quem confiava. Outros eram reunidos
por Talgath. Velen ento virou sua ateno aos traidores, que um dia foram seus
amigos, e teceu uma sutil rede mgica em volta deles, para que no percebessem a
agitao acontecendo debaixo de seus narizes.
Com uma rapidez surpreendente e ao mesmo tempo uma demora agonizante,
uma rede complexa estava criada. Quando o dia finalmente chegou, os eredar que
escolheram seguir Velen reuniram-se no topo da montanha mais alta e ele percebeu
que o nmero era insignificante. As pessoas que ele confiava de verdade eram apenas
algumas centenas. No queria arriscar tudo e chamar alguem que pudesse se virar
contra ele.
H algum tempo, ele tirou o cristal atamal do seu lugar. Passou os ltimos dias
criando um falso para que nenhum alarme fosse dado pelo seu desaparecimento. Ele
esculpiu de um cristal simples com muito cuidado, lanando um feitio para que
brilhasse. Mas permanecia inerte ao toque. Se algum esfregasse os dedos no cristal
falso, o roubo seria descoberto.
O verdadeiro cristal atamal estava agora junto ao seu peito enquanto observava
seus compatriotas subirem a montanha com suas pernas e cascos fortes. Muitos j
haviam chegado e olhavam com expectativa, com a pergunta em seus olhos, quando
no em seus labios. Eles se perguntavam se escapariam.
Como escapariam? pensou Velen. Por um momento ele se desesperou, mas ento
lembrou do ser radiante. Eles viriam. Ele sabia. Enquanto isso, cada momento que
passava, a chance de serem descobertos aumentava. Talgath e tantos outros no
estavam aqui ainda.
Restalaan, outro fiel velho amigo, sorriu para ele. Eles chegaro logo ele
assegurou.
Velen concordou. Ele esteve certo por muitas vezes. No havia sinais de que seus
velhos amigos, agora inimigos, foram alertados desse plano audacioso. Eles estavam
consumidos pelo futuro poder que teriam.
E ainda
O mesmo instinto que o preveniu de confiar em Sargeras agora incomodava sua
conscincia. Ele andava a passos largos.
E l estavam eles.
Talgath e muitos outros surgiram sorrindo, acenando e ele suspirou aliviado. Ao
descer para encontr-los, o cristal que segurava pulsou, espalhando energia pelo seu
corpo. Ele o segurou firme com seus dedos azuis enquanto sua mente se abria para o
aviso. Seus joelhos dobraram ao sentir na pele o odor.
Sargeras j havia comeado. J estava criando sua legio hedionda com os eredar
que eram, ou ingnuos demais ou confiavam em Kiljaeden e Archimonde; estava
deformando-os nos manari que havia previsto. Ao alcance da sua viso haviam
milhares deles com diferentes habilidades e caractersticas. Estavam disfarados. Se
ele no estivesse segurando o cristal atamal, no os sentiria at ser tarde demais.
Era tarde demais.
Chocado, ele olhou Talgath e de repente percebeu que a mancha emanava de seu
amigo e tambm da multido de monstros que o seguia a Legio. Uma orao
impelida do fundo de sua alma desesperada estremeceu sua mente.
Kure. Ajude-nos!
Os manari estavam agora escalando a montanha. Perceberam que tinham sido
descobertos e aproximavam-se como predadores prontos para matar. Apenas Velen
sabia que a morte era melhor do que fariam com ele e seus seguidores. Sentindo-se
num beco sem sada, Velen agarrou o cristal atamal e levantou em direo aos cus.
E, como se os cus estivessem se abrindo por vontade prpria, um poo de luz
surgiu. Sua gloria brilhou diretamente no prisma cristalino e diante de seus olhos a luz
dividiu-se em sete raios de cores diferentes. A dor invadiu Velen a medida que o cristal
despedaava. As pontas afiadas cortavam seus dedos. Ele arfou e instintivamente
largou o cristal quebrado, vendo extasiado os pedaos flutuarem no ar, cada qual
transformando-se numa esfera perfeita. Os sete cristais vermelho, laranja, amarelo,
verde, azul, anil e violeta ascenderam e formaram um cerco de luz e volta dos eredar
amedontrados.
Naquele preciso instante, Talgath correu em sua direo, puro dio em seus olhos.
Ele golpeou o crculo de luzes multicolorido como se fosse um muro de concreto e caiu
para trs. Velen virou-se e viu os manari descer, rosnando, babando e escalando o
muro com suas garras. Velen sentiu um rufar profundo. Neste dia de maravilhas, viu
algo que ultrapassara o milagre das esferas de luz. Ele contemplou o que parecia ser
uma estrela cadente, to iluminada que era insuportvel olh-la. A medida que se
aproximava, ele viu que no era algo to volvel como uma estrela no cu, mas uma
estrutura slida; seu centro era suave e redondo decorados com tringulos cristalinos.
Ele chorou abertamente quando uma voz tocou sua mente.
Eu estou aqui, como havia prometido. Prepare-se para abandonar esse mundo,
Profeta Velen
Velen estendeu os braos como uma criana suplicando pelo colo da me. A
esfera acima dele pulsou e ele foi gentilmente arrebatado. Estava flutuando e viu que
os outros tambm estavam sendo elevados em direo anave? Pelo menos era o que
parecia para ele, apesar de vibrar com uma essncia que at ento no compreendia.
Em meio a alegria contida ele ouviu os manari gemerem e gritarem vendo sua presa
fugir. A base da nave abriu-se, e segundos depois Velen viu-se de p. Ele ajoelhou-se
no que parecia ser o cho e viu seus seguidores flutuarem em direo a salvao.
Quando o ltimo chegou, ele esperava que a porta se fechasse e a nave; que parecia ser
de metal que no era metal, de carne que no era carne e da essncia de Kure;
decolasse.
Ao invs disso ele escutou um susurro: Os cristias ele era um, agora so sete.
Recupere-os pois ir precisar deles
Velen inclinou-se para a abertura e estendeu suas mos. E com uma velocidade
chocante os sete cristais ondularam em sua direo, atingindo to forte a palma de sua
mo que ele arquejou. Ele as reuniu ignorando o calor incrvel que emanavam e jogou-
se para trs. A porta desapareceu de repente como se nunca tivesse existido.
Agarrando os sete cristais, seus pensamentos foram to longe que chegaram perto da
loucura, ficando presos por uma eternidade entre a esperana e o desespero.
Eles conseguiram? Escaparam?
Da sua posio como cabea do exrcito, Kiljaeden tinha uma clara vista da
montanha infestada com seus escravos. Por um breve momento sentiu o gosto da
vitria to doce quanto o apetite que Sargeras implantou nele. Talgath fez um timo
trabalho. Velen estar segurando o cristal na hora do ataque foi apenas sorte; caso no
estivesse, seu corpo estaria em mil pedaos agora.
Mas ele estava segurando e foi avisado. Algo havia acontecido luzes estranhas
tinham brotado para abrigar o traidor e algo os resgatou. Enquanto ele observava, a
nave peculiar tremeluziu edesapareceu.
Ele escapou! Maldito seja, ele escapou!
O deleite dos manari, que havia alegrado Kiljaeden segundos antes, havia
virado decepo. Ele tocou a mente de todos eles, mas nada sabiam. O que era aquela
coisa que veio tomar Velen de suas mos? Medo invadiu Kiljaeden. Seu mestre no
ficaria satisfeito com esses acontecimentos.
E agora? perguntou Archimonde. Ele virou-se para seu aliado.
Ns o acharemos, rosnou Kiljaeden. Ns os acharemos e os destruiremos.
Mesmo que leve mil anos.
O ritmo dos tambores ninava os jovens orcs, mas Durotan do cl Frostwolf estava
acordado. Estava deitado com os outros no cho da barraca acumulado de barro. Um
enchimento de palha e uma grossa pele de fenoceronte o protegiam do frio de doer os
ossos. Mesmo assim, ele sentia as vibraes das batidas viajarem atravs da terra e
para dentro de seu corpo enquanto seus ouvidos eram acariciados pelo som ancestral.
Como ansiava sair e juntas-se a eles!
Ainda faltava um vero para que Durotan participasse do Omriggor, o rito da
maturidade. At esse acontecimento to esperado, ele teria que aceitar ficar largado
com as crianas na barraca enquanto os adultos sentavam em volta da fogueira e
conversavam sobre coisas que, sem dvida, eram misteriosas e significantes.
Por mais interessante que Oshugun fosse, Durotan no achava justo que os
xams ficassem l durante o festival todo. Para ele, os xams perdiam toda a diverso.
Porm, pensando bem, as crianas tambm.
Durante o dia havia caadas, jogos e a lembrana de atos hericos dos ancestrais.
Cada cl tinha suas prprias histrias, portanto haviam novas e excitantes aventuras
para escutar, alm das que havia escutado quando criana.
Por mais divertido que fossem, e mesmo gostando delas, ele ansiava para saber o
que os adultos discutiam depois que as crianas caiam no sono em suas barracas;
depois de suas panas estarem cheias de boa comida, de terem fumado e bebido muitas
cervejas.
Ele no aguentava mais. Sorrateiramente sentou-se com os ouvidos atentos para
ver se havia indcios de algum estar acordado. No escutou nada e aps um longo
minuto levantou-se e andou bem devagar at a entrada. Foi um progresso longo e lento
na barraca escura. Havia vrias crianas de tamanhos e idades diferentes dormindo e
um passo em falso as acordaria. Corao acelerado pela animao da sua ousadia,
Durotan pisou cuidadosamente entre os espaos visveis, colocando seu largo p com a
delicadeza de uma ave.
Parecia uma eternidade at que chegasse sada. Ele parou para diminuir o
flego, esticou
E tocou um corpo largo e de pele lisa ao seu lado. Ele puxou bruscamente sua mo
com um silvo de surpresa.
O que voc est fazendo? Durotan cochichou
O que voc est fazendo? o outro orc retrucou. De repente Durotan riu do quo
tolos eles pareciam.
O mesmo que voc respondeu com sua voz ainda suave. Todos dormiam com a
excesso deles. Podemos continuar discutindo ou agir
Durotan podia imaginar pelo tamanho da fraca forma sua frente que o orc
eram um macho grande, provavelmente da mesma idade dele. No conseguiu
reconhecer o cheiro ou a voz, ento ele no era do cl Frostwolf. Era uma idia ousada
no apenas fazer algo proibido, como deixar a barraca sem permisso, e ainda fazer
tudo isso na companhia de um orc que no era de seu cl.
O outro orc hesitou, com certeza dividido pelo mesmo pensamento. Muito bem
finalmente disse Vamos nessa
Durotan esticou-se de novo na escurido, seus dedos roaram na pele da porta e
na curvatura de sua beirada. Os dois jovens orcs puxaram o tecido e adentraram na
noite gelada.
Durotan virou-se para seu companheiro. O outro era mais marrom do que ele e
um pouco mais alto. Em relao a idade, ele era o mais alto do seu cl e no estava
acostumado a algum mais alto do que ele. Era um tanto inquietante. Seu aliado, em
provocao, olhou para ele e ele sentiu estar sendo avaliado. O outro acenou,
aparentemente satisfeito com o que viu. No arriscaram falar. Durotan apontou para
uma rvore enorme perto da barraca e silenciosamente os dois foram em sua direo.
Era provvel que o trajeto no fosse to longo quanto pareceu, mas eles estavam
expostos e qualquer adulto poderia v-los se por acaso virasse a cabea na direo
deles. Apesar disso, no foram descobertos. Durotan sentiu como se estivesse luz do
dia, de to brilhante que a lua estava em contraste com a neve cristalina. E o barulho
da neve quando pisava era to alta quanto um ogro enfurecido. Finalmente
alcanaram a rvore e afundaram-se atrs dela. A respirao de Durotam condensou
quando finalmente exalou. O outro orc virou-se e sorriu para ele.
Eu sou Orgrim, linhagem de Telkar Doomhammer do cl Blackrock disse o
jovem num sussurro orgulhoso.
Ele estava impressionado. Apesar da linhagem Doomhammer no ser de chefes
guerreiros, era muito conhecida e honrada.
Sou Durotan, linhagem de Garad do cl Frostwolf respondeu ele. Agora era a
vez de Orgrim reagir ao fato de estar sentado com o herdeiro de outro cl. Ele acenou
em aprovao.
Ficaram sentados por um instante, divertindo-se com a glria do desafio. Durotan
comeou a sentir o frio e a gua infiltrar pela pele grossa de sua capa at chegar aos
ps. Apontou para a multido de novo e Orgrim assentiu. Espiaram pela rvore com
cuidado, esforando-se para escutar. Certamente agora eles escutariam os mistrios
que tanto ansiavam saber. Entre os sons dos estalos da grande fogueira e as batidas
profundas dos tambores, vozes flutuavam at eles.
O xam ficou atarefado nesse inverno com a febre disse Garad, pai de Durotan.
Ele afagou o gigantesco lobo branco que adormecia perto da fogueira. A besta, sua
pelagem alva que o identificava como sendo dos Frostwolf, ganiu em satisfao. To
logo uma criana curada, outra adoece
Eu estou pronto para a primavera disse outro orc ao levantar-se e jogar um
tronco na fogueira. Tem sido duro para os animais tambm. Quando nos
preparvamos para o festival foi muito difcil achar fenocerontes.
Klaga faz ensopados deliciosos com os ossos, mas recusa-se a falar quais ervas
usa disse um terceiro fitando uma orquisha que estava amamentando um infante. A
fmea em questo, provavelmente Klaga, riu.
A nica que ter a receita esta pequena quando ela tiver idade. respondeu.
De queixo cado, Durotan virou-se para encarar Orgrim, que estava com uma
expresso similar. Isso era o que consideravam to importante e secreto que as
crianas eram proibidas de sair da barraca? Discusses sobre febre e sopas?
Na luz brilhante da lua ele no teve problemas para ver claramente o rosto de
Orgrim. As sobrancelhas dele se juntaram ao franzir a testa.
Voc e eu podemos elaborar algo mais interessante do que isso, Durotan disse
numa voz fraca e tola.
Ele sorriu e concordou. Ele tinha certeza disso.
O festival durou mais dois dias. Quando saiam escondidos, fosse dia ou noite, eles
desafiavam um ao outro em diferentes testes de habilidades. Corridas, escalada, fora,
equilbrio, tudo o que pudessem pensar. E um derrotava o outro como se tivessem
planejado os turnos. Quando, no ltimo dia, Orgrim gritou por um quinto desafio
para desempatar, algo dentro de Durotan o fez falar.
No vamos mais fazer desafios comuns e inferiores disse ele, se perguntando de
onde surgiam as palavras a medida que as pronunciava. Vamos fazer algo nunca
feito na histria de nosso povo
Os olhos cinzas de Orgrim brilharam ao que se aproximou O que voc sugere?
Vamos ser amigos, voc e eu
O queixo musculoso de Orgrim caiu. Mas, ns no somos do mesmo cl. disse
com uma voz que parecia que ele tinha sugerido uma amizade entre um lobo negro e
um meigo talbuque.
No somos inimigos disse com um gesto desdenhoso. Olhe a sua volta. Os cls
se reunem duas vezes ao ano e no h problemas nisso.
Masmeu pai diz que a paz mantida justamente porque nos reunimos pouco.
continuou Orgrim. Preocupado, franziu a testa.
Decepo temperou as palavras de Durotan com amargura. Muito bem. Achava
que era mais corajoso que os outros, Orgrim dos Doomhammer, mas voc no
melhor do que eles acanhado, tmido e relutante em ver alm do que j foi feito e do
que possvel.
As palavras foram de corao e se ele tivesse calculado ou aprimorado elas por
semanas, no poderia t-las escolhido melhor. A face castanha de Orgrim corou e seus
olhos estalaram.
Eu no sou covarde rosnou ele. Eu no fugi de nenhum desafio que props
Ento ele pulou em Durotan, derrubando o orc, que era menor do que ele e os
dois socaram-se at ser preciso chamar os xams para medic-los e censur-los sobre a
incovenincia de brigar em local sagrado.
Garoto impulsivo ralhou a xam do Frostwolf, uma velha orquisha chamada
Me Kashur. Voc no est velho para levar uma surra como uma criana
desobediente, jovem Durotan
O xam que cuidava de Orgrim resmungou semelhantes sons descontentes.
Mesmo com o sangue escorrendo de seu nariz e enquanto via o xam curar um
talho feio no torso de Orgrim, Durotan sorriu. Orgrim olhou para ele e sorriu de volta.
O desafio havia comeado, o desafio final, muito mais importante do que corridas
ou levantar pedras, e nenhum estava disposto a admitir a derrotadizer que a
amizade entre dois jovens orcs de cl diferentes era errado. Durotan pressentiu que
esse desafio em particular acabaria apenas quando um deles morresseou talvez nem
assim.
Ascenso da Horda Captulo 2
Publicado em janeiro 28, 2013 por acervoazeroth
Durotan escutou um grito de guerra atrs dele e seu corao pesou. Como a dele,
a voz de Orgrim ainda estava pegando o tom grave que distinguia um adulto, mas ele
tinha que admitir que j impressionava. Ele tencionou suas pernas a forar mais, mas
elas estavam to pesadas e imveis como se fossem de pedra. Ele viu com pesar do
canto de seu olho, quando Orgrim apareceu em seu campo de viso e ento, com um
ltimo impulso, ultrapassou ele.
O orc de Blackrock esticou seu brao e arrematou, conseguindo bater na rvore
da clareira, que haviam previamente decidido como objetivo, antes de Durotan.
Orgrim continuou por mais alguns passos, como se suas pernas poderosas, uma vez
em movimento, se recusassem a parar. As dele no tinham esse problema e o herdeiro
dos Frostwolf caiu de cara no cho, mal conseguindo se segurar. Deitado com o rosto
na terra fria, que tinha um doce perfume de musgo, recuperando seu flego, sabendo
que deveria sentar-se e desafiar Orgrim de novo, mas exausto demais para fazer
qualquer coisa alm de deitar no cho da floresta e se recuperar.
Ao seu lado, ele escutou Orgrim fazer o mesmo e ento, virou-se para rir.
Durotan riu tambm. Pssaros e pequenos animais que habitavam a floresta Terokkar
estavam em silncio enquanto os orcs diziam palavras de alegria que provavelmente
soavam como um grito feroz que antecipava uma caada.
Ah, grunhiu Orgrim, sentando e socando Durotan de uma maneira amigvel.
um esforo mnimo ganhar de um adolescente que nem voc.
Voc tem tanto msculo que seu crebro est atrofiado, replicou. Habilidade
to importante quanto fora. Mas o cl Blackrock no saberia sobre tais coisas.
No havia maldade no gracejo deles. No comeo os cls estavam preocupados com
a amizade dos jovens, Mas o argumento teimoso de Durotan que s porque algo
nunca havia sido feito no significava que no poderia ser feito divertiu e
impressionou os lderes de ambos os cls. O fato de serem tradicionalmente pacficos
ajudou muito. Se tivessem proposto tal amizade com um membro do cl Warsong ou
Bonechewer, por exemplo, que eram conhecidos por seu orgulho e desconfiana nos
outros, a pequena chama de amizade apagaria rpido. Ento, os ancios observavam e
esperavam que a amizade desaparecesse e cada um voltasse para o seu lugar e manter
a ordem habitual j estabelecida portanto tempo quanto pudessem lembrar.
Eles ficaram desapontados.
A ltima geada do inverno tinha aberto caminho para a primavera e esta agora
para o calor completo do vero, e a amizade continuava. Durotan sabia que estavam
sendo observados, mas contanto que ningum interferisse, ele no se opunha.
Durotan fechou os olhos e deixou o musgo espalhar pelos seus dedos. Os xams
disseram que tudo tinha uma vida, um poder, uma essncia. Eles eram envolvidos
profundamente com os espritos dos elementos terra, ar, fogo e gua E o Esprito
da Natureza e alegavam que podiam sentir a fora vital na terra e at mesmo numa
aparente pedra inanimada. Tudo o que Durotan sentia era uma sensao fria e um
tanto mida de musgo e solo nas palmas de suas mos.
Claro que eles j haviam visto os draenei antes, mas apenas de longe. Eles iam
at os cls de vez em quando para trocar suas ferramentas e armas cuidadosamente
manufaturadas, peas decorativas talhadas em pedra pelos grossos couros dos
animais, cobertores de pele de lobo e matrias-primas que os orcs reuniam da terra e
rochedos. Sempre foi um vnculo de interesse mtuo e os encontros no duravam mais
do que poucas horas. Os draenei pele azulada, fala macia, sinistros e impressionantes
no pareciam querer proximidade e nenhum lder de cl os pediu que ficassem e
aproveitassem de sua hospitalidade. Relaes eram cordiais, mas distantes, e todos os
envolvidos pareciam querer assim.
Agora o lder do grupo que chegou to inesperadamente avanou em direo a
Durotan. No cho onde estava, ele percebeu nos draenei algo que no tinha visto neles
de longe.
Suas pernas no iam eretas dos torsos at o solo. Eram curvadas para trs,
comoos dos talbuques, e terminavam em patas fendidas que eram revestidas de
metal, da pata at em cima. Esim, definitivamente era uma grossa calda sem pelos
que balanava de um lado para o outro. E agora seu dono estava inclinando-se para
ele, oferecendo uma forte mo azulada. Durotan piscou, fitando por mais um momento
a imagem inesperada e da cauda rptil do draenei e levantou-se sem ajuda. Olhou o
rosto que carregava na cabea um metal estranho, como uma armadura que fazia
parte do corpo. Cabelos negros e uma barba flua pelo tabardo colorido, e os olhos
brilhantes e penetrantes eram da cor de um lago invernal.
Est machucado? perguntou o draenei, enrolando a lngua nas slabas to
guturais da linguagem dos orcs.
Apenas meu orgulho Durotan escutou Orgrim falar no dialeto de seu cl. Ele
tambm estava um pouco incomodado. Os draenei salvaram a vida de ambos e com
certeza ele estava agradecido. Mas eles viram dois jovens orcs orgulhosos fugirem do
perigo. Um perigo real, convenhamos, um golpe daquela clava gigante e eles seriam
esmagados mas mesmo assim.
O draenei pode ter ou no ter ouvido ou entendido Orgrim; Durotan pensou ter
visto seus lbios curvarem-se num sorriso. O draenei olhou para o horizonte e, para a
tristeza dele, o sol estava se pondo.
Vocs vagaram muito longe da sua terra e o sol est se ajeitando para dormir.
ele disse A qual cl pertencem?
Eu sou Durotan, do cl Frostwolf e esse Orgrim, do cl Blackrock
O draenei pareceu perplexo. Dois cls diferentes? Estavam desafiando um ao
outro a ponto de irem to longe de seus respectivos lares?
Os orcs trocaram olhares. Sime no disse ele somos amigos.
O draenei arregalou os olhos. Amigos de cls diferentes?
Orgrim concordou. Sim. No tradio, mas tambm no proibido adicionou
defensivamente.
O draenei acenou, mas ainda parecia surpreso. Olhou eles por um momento e
virou-se para seus dois companheiros e murmurou algo em sua lngua nativa.Durotan
achou-a profundamente musical, como o som de uma sinuosa correnteza sobre as
pedras, ou o canto de um pssaro. Os dois draenei escutaram atentamente e acenaram.
Um pegou um odre preso a seu cinto, bebeu com intensidade e comeou a correr. Com
passos to suaves e ligeiros como de um talbuque, para o sudoeste, onde as terras dos
Frostwolf ficavam. O outro, em direo ao leste, para as terras dos Blackrock.
O draenei que falava com eles virou-se. Eles iro avisar suas famlias que esto
bem e a salvo. Retornaro para casa amanh. Enquanto isso ficarei feliz em oferecer a
vocs a hospitalidade dos draenei. Sou Restalaan, o lder dos guardas de Telmor,
cidade com a qual ambos cls normalmente negociam. Lamento dizer que no me
lembro de vocs, mas os orcs jovens nos parecem um tanto amedrontados quando
visitamos seu territrio
Orgrim eriou-se. No tenho medo de nada e nem de ningum.
Restalaan sorriu Voc fugiu do ogro
O rosto castanho de Orgrim obscureceu e seus olhos brilharam e raiva. Durotan
baixou a cabea levemente. Como havia temido, Restalaan e os outros testemunharam
a vergonha deles, e agora eles seriam ridicularizados.
Aquilo Restalaan calmamente continuou, como se notasse o efeito de suas
palavras sabedoria. Se no tivessem fugido, estaramos mandando amanh corpos
para as suas famlias ao invs de dois jovens e saudveis orcs. No h vergonha em ter
medo, Orgrim e Durotan. Apenas em deixar que o medo impea que faam a coisa
certa. E no caso de vocs, correr foi definitivamente a coisa certa.
Durotan levantou o queixo. Um dia estaremos crescidos e fortes. E ento sero os
ogros que tero medo de ns.
Para a surpresa dele e com uma expresso amena, Restalaan concordou.
Concordo plenamente. Orcs so caadores eficientes.
Orgrim apertou os olhos, procurando a provocao, mas no havia nenhuma.
Venham disse. H perigos na noite da Floresta de Terokkar que nem os
guardas de Telmor esto dispostos a enfrentar. Vamos.
Apesar de exausto, Durotan achou fora para manter a marcha constante; ele
no seria envergonhado duas vezes em um dia. Correram por algum tempo e, por fim,
o sol se ps no horizonte numa gloriosa exibio de rubro, dourado e finalmente roxo.
De vez em quando ele olhava tentando no parecer rude, mas curioso em ver estes
estranhos mais do que de vrias jardas de distncia. Ele continuava esperando
encontrar sinais de uma cidade estradas feitas por incontveis pegadas por viajarem
pelo mesmo caminho, tochas de fogo iluminando a trilha ou sombra de edifcios contra
o cu escurecido. No viu nada. E a medida que continuavam, ele sentiu uma fisgada
de medo.
E se afinal os draenei no planejavam ajud-los? E se eles iriam captur-los e
pedir resgate? E se fossem fazer algo pior? sacrific-los para algum deus negro ou
Aqui estamos disse Restalaan. Ele desmontou e ajoelhou no cho, tirando
algumas folhas e pinhos. Os jovens se olharam confusos. Eles ainda estavam no meio
da floresta. Nenhuma cidade, nenhuma entrada, nada. Os orcs se juntaram. Estavam
em menor nmero,mas no morreriam sem lutar.
Ainda ajoelhado, Restalaan exps um belo cristal verde. Ele estava
cuidadosamente escondido nas folhagens da floresta. Durotan observou extasiado com
a beleza do item. Caberia na palma da sua mo e ele ansiou por toc-lo, sentir sua
suavidade, o pulsar estranho contra sua pele. De algum modo ele sabia que emitiria
um tipo de calma que nunca havia experimentado. Restalaan proferiu uma srie de
slabas que ficaram marcadas no crebro de Durotan.
Kehla men samir, solay lamma kahl
A floresta comeou a tremer como se fosse um reflexo de um lago imvel em que
fora jogada uma pedra. Durotan suspirou. O tremor aumentou e de repente no havia
mais floresta, rvores, apenas uma larga e pavimentada estrada que conduzia da
lateral das montanhas para um lugar que tinha imagens que Durotan nunca havia
imaginado.
Estamos no corao do condado dos ogros. No era quando Telmor foi
construda h muito tempo. disse ao se levantar. Se os ogros no podem nos ver, no
podem nos atacar.
Durotan achou a fala. Mascomo?
Uma simples iluso, mais nada. Um truquede luz.
Algo no jeito que ele disse aquilo fez a pele dele arrepiar. Vendo a expresso
confusa do orc, Restalaan continuou. No se pode confiar sempre nos olhos.
Pensamos ser real tudo o que enxergamos e que a luz corretamente revela tudo da
mesma maneira todas as vezes. Mas luz e sombra podem ser manipuladas,
direcionadas por aqueles que a compreendem. Ao falar essas palavras e tocar o cristal
eu alterei a maneira como a luz projeta nas pedras, rvores e a paisagem. Ento seus
olhos notam algo totalmente diferente do que achava que havia.
Durotan sabia que ainda o encarava com total ignorncia. Restalaan riu
levemente. Venham meus novos amigos, onde nenhum de seu povo esteve. Andem
pelas estradas do meu lar.
DrekThar no viu as cidades dos draenei quando estavam pacficas. Apenas as viu
quandobom, estou me adiantando. Mas ele disse que meu pai caminhou pelas estradas
brilhantes dos draenei, comeu sua comida, dormiu em seus aposentos, conversou com
eles em igualdade. Observou um mundo to diferente do nosso que at hoje difcil de ter
um vislumbre. Nem as terras dos kaldorei me so to estranhas quanto o que aprendi
sobre os draenei. DrekThar disse que Durotan no tinha palavras para descrever o que
viu; talvez hoje, vivendo nessa terra que leva o seu nome e vendo o que vi, ele teria.
Arrependimento tem um gosto amargo
Ento a refeio havia chegado ao fim. Velen suspirou e seus olhos repousaram
em seu prato, mas Durotan tinha certeza que ele no estava olhando.
Peo sua licena. disse levantando-se. Foi um longo dia e preciso meditar
antes de dormir. Foi uma honra conhec-los, Durotan do cl Frostwolf e Orgrim do
cl Blackrock. Acredito que dormiro bem e profundamente, a salvo nesses muros,
onde ningum do seu povo j esteve.
Ambos levantaram-se com os outros e fizeram uma reverncia. Velen sorriu com
o mesmo pesar que Durotan havia percebido antes.
Encontraremos-nos de novo, jovens. Boa noite.
Os orcs saram pouco depois. Foram escoltados para seus quartos e dormiram
bem, apesar de Durotan ter sonhado com um velho orc sentando silenciosamente ao
seu lado e perguntou-se o que significava.
Noite passada um jovem orc foi iniciado no ritual da maturidade sob a luz da lua e
das estrelas, que pareciam cintilar em aprovao. Foi a primeira vez que pude fazer parte
desse ritual, o Omriggor. Quando jovem, fui negligenciado dos ritos e tradies do meu
povo; e verdade seja dita, todos os orcs foram usurpados destes ritos por muito tempo. E
desde que encontrei meu destino, fui envolvido em batalhas. A guerra me consumiu.
Ironicamente, a necessidade de proteger meu povo da Legio Ardente e achar um lugar
para que nossas tradies renasam me distanciaram de tais coisas.
Mas agora, Durotar e Orgrimar esto consolidadas. Agora, h paz, apesar de frgil.
Agora h xams reivindicando os antigos costumes, jovens orcs crescendo e que, se os
espritos permitirem, nunca conhecero o gosto amargo da guerra.
Noite passada, participei de um ritual atemporal que foi negado a uma gerao
inteira.
Noite passada, meu corao encheu-se de alegria e de um senso de ligao que
sempre desejei.
A escalada foi longa, cansativa, e mais difcil do que uma simples caminhada at o
topo da montanha, e estava agradecida pelo seu cajado firme e a mo forte de
Durotan. Mas hoje, seus ps pareciam mover-se com mais firmeza, seus pulmes
trabalhavam com eficincia enquanto ela e seu companheiro subiam. Era como se os
ancestrais estivessem a encorajando, ajudando seu corpo fsico com o poder dos
espritos.
Pararam em frente entrada da caverna sagrada, que era perfeitamente oval na
superfcie suave da montanha, e como sempre, Kashur sentiu como se estivesse
entrando no ventre do mundo. Durotan tentou parecer valente, mas conseguiu apenas
parecer nervoso. Ela no sorriu para ele; ele tinha que estar nervoso. Estava prestes a
entrar no local sagrado, a pedido de um dos ancestrais morto h muito tempo. Nem ela
estava impassvel a isso.
Ela acendeu um amontoado de ervas secas que deram um aroma doce e acre ao
ambiente, e passou a fumaa sobre ele para purific-lo. Ento o marcou com o sangue
que seu pai derramou especialmente para esse momento, e mantido cuidadosamente
em uma pequena bolsa de couro. Kashur colocou sua mo mirrada na fronte dele,
murmurou uma bno e fez um gesto em aprovao.
Sabe bem que poucos so chamados ante os ancestrais e que no seguem o
caminho dos xams. disse gravemente. Olhos castanhos arregalados, Durotan
concordou. Eu no sei o que ir acontecer. Nada, talvez. Mas se acontecer, comporte-
se com honra e respeito aos que se foram.
Durotan engoliu e concordou de novo. Respirou fundo e endireitou-se, e no corpo
ainda no formado do garoto, Kashur teve uma ideia do chefe do cl que estaria por
vir.
Juntos, entraram; Me Kashur na frente para acender as tochas que ficavam nas
paredes. A iluminao laranja mostrou a eles a descida tortuosa, caminho liso por
anos de contato com os ps descalos ou calados dos orcs. Aqui e l, pegadas foram
marcadas, para fazer os ps dos peregrinos mais seguros. O interior do tnel era
sempre fresco, mais quente que o inverno l fora. Kashur deixava suas mos tocarem
as laterais da parede, lembrando a primeira vez que veio aqui, h muito tempo, com o
sangue mido de sua me em seu rosto, olhos arregalados, corao batendo rpido.
Finalmente, a longa e suave ladeira que desciam diminuiu. No havia mais tochas
na parede, e Durotan a olhou, intrigado.
No vamos precisar de fogo para comparecer ante os ancestrais. disse Kashur.
Continuaram pela superfcie plana, caminhando na escurido. Durotan no estava
com medo, mas pareceu confuso medida que deixavam o conforto do fogo para trs.
Agora estavam no escuro. Kashur alcanou e segurou a mo de Durotan para
gui-lo. Seus dedos fortes e espessos dobraram-se gentilmente em volta dos dela. At
mesmo agora, que eu esperava que apertasse minha mo, ele lembrou-se que elas
doem, pensou. O prximo lder do cl Forstwolf iria ter um corao bondoso.
Continuaram sem trocar palavras. E entosutilmente, como a chegada do
amanhecer depois de uma longa e escura noite, luz comeou a crescer em volta deles.
Agora, Kashur mal podia ver a forma do jovem a seu lado, to mais jovem do que ela,
pois j andava no corpo de um adulto. Ela o observava enquanto prosseguiam; o
milagre da caverna dos ancestrais era familiar para ela, mas a reao de Durotan no
era.
De olhos arregalados, ele respirava depressa enquanto olhava em volta. O brilho
emanava da poa no centro da caverna, projetando uma leve e alva luz. Tudo era
suave, agradvel e um tanto radiante; no havia ngulos afiados ou pedaos speros, e
Kashur sentiu uma profunda paz tomar conta dela. Deixou Durotan olhar a vontade
em silncio. A caverna era enorme, maior do que a rea de festas e danas do festival
Koshharg, e os tuneis ramificados levavam a lugares que Kashur nunca ousou
explorar. Para abrigar todos os orcs que j viveram e morreram, ela tinha que ser
enorme, no ? Ela andou at a gua e ele a seguiu, olhando de perto. Tirou a carga
que levava e instruiu que ele fizesse o mesmo. Com cuidado retirou vrios odres,
abriu-os, e com uma suave orao adicionou a gua na poa brilhante.
Voc tinha me perguntado sobre os odres quando partimos. disse calmamente.
A gua no nativa desse lugar. H muito tempo, oferecemos gua abenoada para
os espritos. Sempre que retornamos, contribumos para a poa sagrada. E no sei por
que, a gua no se perde como se fosse num buraco comum. Esse o poder da
Montanha dos Espritos.
Depois de ter esvaziado os odres, ela sentou-se grunhindo baixo e espiou na
profundeza luminosa. Durotan imitou-a. Ela sabia o ngulo o qual enxergaria seu
reflexo e assegurou que ambos ficassem na posio correta. Inicialmente, tudo o que
via era seu rosto e de Durotan. Suas feies pareciam fantasmagricas refletidas na
poa branca.
Ento, uma terceira pessoa juntou-se a eles, pois o Av Talkraa estava acima de
seu ombro, seu reflexo to ntido quando os deles. Kashur sorriu quando seus olhos se
encontraram.
Ela virou a cabea para olh-lo, mas Durotan continuava a olhar dentro da poa,
como se estivesse procurando l as respostas. O corao de Kashur apertou um pouco,
mas reprimiu imediatamente. Se no era para Durotan seguir o caminho xamanstico,
ento assim deveria ser. Com certeza seu destino seria honrado de qualquer modo,
nascido para liderar seu cl.
Minha tataraneta, falou Talkraa com mais gentileza que Kashur j havia
testemunhado. Voc o trouxe, como eu havia pedido.
Apoiando-se firmemente em seu cajado, to insubstancial quanto ele, o esprito do
Av andou em volta de Durotan, enquanto ele ainda observava a gua. Kashur olhou
ambos orcs de perto. Durotan tremeu e olhou em volta, sem dvida se perguntando de
onde veio esse sbito arrepio. Ele no podia ver o esprito, mas sabia, de alguma
maneira, que ele estava ali.
Voc no pode v-lo.
Durotan levantou a cabea e suas narinas dilataram. Levantou calmamente. Na
luz bruxuleante, suas presas estavam azuladas e sua pele verde.
No, Me, no posso. Masele est presente?
Certamente est. e virou sua ateno para o fantasma. Eu trouxe ele aqui,
como pediu. O que acha dele?
Durotan engoliu seco, mas permaneceu de p enquanto o esprito refletia sua
volta.
Eu pressintoalgo. disseTalkraa. Achei que ele seria um xam, mas se ele
no pode me ver agora, no ver nunca. Mas apesar de no ver os espritos e ser
incapaz de evocar os elementos, ele nasceu com um grande destino. Ele ser de grande
importncia para o cl Frostwolfe tambm para todo seu povo.
Ele serum heri? perguntou, perdendo o flego. Todos os orcs batalhavam
para sustentar um cdigo de coragem e honra, mas poucos eram poderosos o bastante
para ter seus nomes gravados na memria de seus descendentes. Durotan suspirou
com calma, e ela pde ver a antecipao em seu rosto.
No posso dizer, mas instrua-o bem, Kashur, pois uma coisa certa: de sua
linhagem vir a salvao.
E num gesto de ternura, nunca antes visto por Kashur, ele roou seu dedo
intangvel no rosto de Durotan. Ele arregalou os olhos e Kashur percebeu que teve de
lutar contra o instinto natural de recuar, mas no recuou diante da carcia espectral.
Ento, como uma nvoa num dia quente, Talkraa se foi. Kashur vacilou um
pouco; quase se esqueceu de como a energia dos espritos a supriam. Durotan se
apressou e segurou-a pelo brao, e ela ficou agradecida pelo seu tenro vigor.
Me, voc est bem? perguntou. Ela agarrou o brao a acenou com a cabea.
Sua preocupao era primeiro com ela, e no sobre o que o ancestral teria dito ou no
sobre ele. Ponderando as palavras, decidiu no contar a ele. Por mais racional e
bondoso que fosse tal profecia poderia corromper o mais nobre orc.
Da sua linhagem vir a salvao.
Estou bem, assegurou. Mas esses ossos no so jovens e a energia dos espritos
poderosa.
Gostaria de t-lo visto. disse com uma ponta de melancolia. Masmas sei que
pude senti-lo.
Sentiu, e poucos so honrados com isso.
Mepode me falar o que ele disse? Sobre eu ser um heri?
Ele estava tentando agir com maturidade e calma, mas uma ponta de splica
transpareceu. Ela no o culpava. Todos gostariam de manter-se numa gloriosa
lembrana, atravs de estrias de suas aventuras. Ele no seria um orc se no
compartilhasse desse desejo.
Disse ser incerto. afirmou bruscamente. Ele concordou e escondeu bem sua
decepo. Isso era tudo o que tinha planejado dizer, mas algo a fez acrescentar, Voc
tem um destino a seguir, Durotan, filho de Garad. No seja tolo na batalha e no
morra antes de cumpri-lo.
Riu discretamente. Eu desejo servir bem meu cl, e um tolo no faz isso.
Ento, futuro chefe, replicou sorrindo tambm, melhor achar uma
companheira.
E ela gargalhou, pois pela primeira vez na viagem que fizeram juntos, Durotan
pareceu totalmente assustado.
Em reflexo, assim conta DrekThar , essa poca em nossa histria era como um dia
perfeito do incio do vero. Ns orcs tnhamos tudo o que realmente precisvamos: um
mundo hospitaleiro, os ancestrais para nos guiar e os elementos para nos ajudar quando
achavam oportuno. Comida era abundante, nossos inimigos ferozes, mas no invencveis,
e ramos abenoados. Se os draenei no eram nossos aliados, to pouco eram nossos
inimigos. Eles dividiam sua sabedoria e generosidade quando pedamos; fomos ns, os
orcs, que sempre nos contnhamos. E ns, os orcs, que fomos deturpados
involuntariamente para servir outro fim.
dio poderoso. dio pode ser eterno. dio pode ser manipulado.
E dio pode ser criado.
Na escurido visvel, imortal e eterna Kiljaeden jazia. O poder aumentava e
pulsava atravs dele, agora melhor do que sangue, mais substancial do que comida ou
bebida, ao mesmo tempo inebriante e tranquilizante. No era ainda onipresente, ou
mundos cairiam perante ele com apenas um pensamento e no atravs de batalha e
destruio, e no geral, ele estava feliz por isso.
Mas os exilados ainda vivem. Podia senti-los, apesar de sculos terem se passado
para aqueles que o tempo importava. Velen e o resto dos tolos estavam se escondendo.
Covardes demais para enfrentar ele e Archimonde, que trabalhou com ele, como
aliado e amigo, pelasmudanasque passaram quando eram seres simples.
Durotan, como todos do seu povo, foi iniciado com o treinamento de armas desde
os seis anos de idade. Seu corpo j era alto e estava desenvolvendo e o uso de
armamento era natural para eles. Aos 12 anos ele j acompanhava os grupos de caa.
E agora, depois do rito que o marcava como um adulto, ele pde se juntar s caadas
aos ogros e seus mestres grosseiros, os gronns.
Esse ano, com a chegada do outono e do Koshharg, ele se juntou ao crculo dos
adultos depois que as crianas foram mandadas para a cama. Ele e Orgrim
aprenderam no ano anterior que ser um adulto e fazer parte da roda em volta da
fogueira no era muito interessante.
Contudo, a nica coisa que achava interessante, enquanto observava com seus
olhos castanhos, era interagir com pessoas que ele conhecia apenas por nome e nunca
conversavam com ele por ser muito jovem. Me Kashur era do cl e ele sabia que ela
tinha alta estima entre os xams de outros cls e ele se orgulhava disso. Na sua
primeira noite, percebeu que ela se aninhava perto do fogo, um cobertor de pele de
lobo envolto num corpo que mais parecia pele e osso. Ele sabia, sem saber como, que
esse seria o ltimo Koshharg que ela celebraria, e isso o entristecia mais do que
esperava.
Prximo a ela e mais jovem, mas ainda mais velho que os pais de Durotan, estava
o aprendiz de Kashur, DrekThar. Durotan no conversou muito com ele, mas a
lngua ferina e olhos afiados impunham respeito. Os olhos de Durotan continuavam a
obervar a assembleia. No dia seguinte, os xams tero partido para suas reunies com
os ancestrais na montanha sagrada. Sentiu um calafrio ao lembrar-se de sua ltima
visita e a brisa fresca que parecia uma corrente, mas que era algo incomum.
E num canto estava Grom Hellscream, o chefe jovem e um tanto fantico do cl
Warsong. Apenas um pouco mais velho que Durotan e Orgrim, ele era novato em sua
posio. Havia rumores sobre as circunstncias da morte misteriosa do chefe anterior,
mas o cl no desafiou a liderana de Grom. E ele entendia o porqu. Apesar de
jovem, era intimidador. A luz danante da fogueira tremeluzia, deixando-o mais
ameaador. Seu cabelo negro e grosso caia sobre as costas. Ao ascender chefia, teve
seu queixo tatuado de preto. Usava um colar com ossos em volta do pescoo. E ele
sabia o que significava; entre os membros do cl Warsong, era tradio que um
guerreiro novato usasse os ossos de sua primeira caa, com suas prprias runas
inscritas.
Ao lado de Grom estava o grande e imponente Blackhand do cl Blackrock. E ao
lado deste, mastigando em silncio, Kargath Bladefist, chefe do cl Shattered Hand.
No lugar da mo, ele tinha uma foice embutida em seu pulso, e mesmo j adulto,
Durotan ficava inquieto ao ver a lmina cintilar na luz da fogueira. Prximo a ele
achava-se Kilrogg Deadeye, chefe do cl Bleeding Hollow. O sobrenome no era de
famlia e sim adotado por ele. Um olho movia-se rapidamente, enquanto o outro estava
esttico, mutilado e morto. Se Grom era novo para ser chefe, Kilrogg era muito velho.
Mas apesar da sua aparncia, Durotan tinha certeza que seus dias de chefe e de vida
estavam longe de acabar.
Pouco a vontade, virou sua ateno para outro lugar.
esquerda de DrekThar sentava o famoso Nerzhul, do cl Shadowmoon. Por
tanto tempo quanto lembrava, ele liderou os xams. Uma vez foi permitido a ele ir
numa caada na qual Nerzhul estava presente e a maestria de suas habilidades era de
assombrar. Enquanto outros grunhiam e se esforavam para evocar os elementos,
direcionando-os potentemente, mas sem encanto, Nerzhul permanecia tranquilo. A
terra tremia sob seus ps quando ele pedia; relmpagos descendiam dos cus para
atingir onde direcionasse. Fogo, ar, gua, terra e o esquivo Esprito da Natureza, todos
o consideravam como companheiro e amigo. No o viu interagir com os ancestrais, s
os xams poderiam testemunhar tais coisas. Mas era bvio que se os ancestrais no o
favorecessem, no sustentaria o poder to serenamente at hoje.
J o aprendiz de Nerzhul, ele no gostava. Orgrim estava sentado a seu lado e
percebendo onde o olhar dele estava fixado, inclinou-se e cochichou. Eu acho que
Guldan serviria melhor seu povo se fosse usado como isca.
Durotan desviou o olhar para que ningum o visse sorrir. No sabia quo experiente
xam Guldan era; com certeza dispunha de alguma habilidade ou no seria escolhido
para sucesso. Mas ele no era um orc muito predisposto. Mais baixo que alguns, mais
fraco do que a maioria, com uma barba pequena e espessa, no era o exemplo de um
guerreiro orc. Mas Durotan supunha que no precisava ser um heri para contribuir.
Agora, aquela ali sim uma guerreira nata.
E olhou na direo que Orgrim indicou e seus olhos arregalaram um pouco. Dizia
a verdade. De p, imponente e ereta, seus msculos definidos por baixo de sua suave
pele castanha , ela pegou um pedao de carne da carcaa assada do talbuque; a fmea
em questo pareceu a Durotan como a personificao de todos os valores orcs. Movia-
se com a graa feroz dos lobos negros, suas presas eram pequenas, mas mortalmente
afiadas. Se longo cabelo moreno estava amarrado para trs numa trana bem feita,
mas atraente.
Quem quem ela? murmurou. Seu corao j estava apertado, pois com
certeza essa fmea magnfica pertencia a outro cl. Ele notaria tal beldade forte,
flexvel, graciosa se fosse do seu cl.
Orgrim gargalhou e bateu nas costas dele. O som do gesto fez com que vrios
virassem a cabea em sua direo, inclusive, como percebeu, da amvel fmea. Orgrim
inclinou-se para falar as palavras que fizeram seu esprito flutuar.
Uma Frostwolf? Como diabos ele falhou em notar um tesouro desses em seu cl?
Virou-se para observ-la de novo. E notou que ela o encarava e seus olhares
entrelaaram.
Draka!
A fmea levantou e foi embora. Durotan piscou como se voltasse a si.
Draka, disse baixo. No de se admirar que no a reconhecesse. No,
Orgrim. Ela no uma guerreira nata, mas uma guerreira feita.
Draka nasceu doente, sua pele era castanho claro como dos cervos ao invs do
castanho escuro e saudvel dos cascos das rvores, marca dos orcs. Por quase toda sua
infncia, Durotan escutava os adultos sussurrando sobre ela, como se j fosse, to
jovem, para juntos dos ancestrais. Uma vez seus pais se referiram a ela com tristeza, se
perguntando o que fizeram de errado para que os espritos os amaldioassem com
uma frgil criana.
Foi logo aps isso, percebeu juntando as peas, que a famlia de Draka mudou-se
para os arredores do acampamento. No a tinha visto muito, j que estava ocupado
com suas obrigaes.
Draka cortou vrios pedaos de carne e levou para sua famlia. Notou que havia
duas crianas junto aos orcs que pareciam ser os pais dela. Ambos estavam em forma
e com sade. Sentindo o olhar dele, ela o encarou com firmeza. Suas narinas dilataram
e sentou-se altiva, como se desafiasse ele a olh-la com d ou piedade ao invs de
respeito e admirao.
No, ela no precisava de compaixo. Pela graa dos espritos, a cura dos xams e
a determinao evidente em seus olhos castanhos, ela teve de livrar-se de sua
fragilidade quando criana para amadurecer-se nessaviso da orc fmea perfeita.
Orgrim o acotovelou e seu flego escapou com um rudo. Durotan olhou seu
amigo de infncia.
Fecha essa boca, ou vou colocar algo nela pra fech-la. grunhiu Orgrim.
Durotan percebeu que estava boquiaberto, e que outros perceberam e sorriam
para ele. Ento prestou ateno no banquete e no olhou mais para ela durante o resto
da noite.
Mas ele sonharia com ela. E quando acordou, soube que ela seria dele. Era
herdeiro da chefia e um dos mais orgulhosos do cl.
Que fmea recusaria ele?
Nunca achou que seria to feliz. Isso era muito diferente do que uma caada
normal. Estavam andando a passos largos e rpidos. Todos os desafios que teve com
Orgrim, deram a ele vigor e preocupou-se em estar indo rpido demais. Mas Draka,
nascida to frgil e agora robusta, o acompanhou sem dificuldade. No trocaram
muitas palavras, no havia o que dizer. Estavam caando, achariam uma presa,
matariam, e levariam para o cl. O silncio era fcil e confortvel.
Diminuiu o passo ao entrarem em territrio aberto e examinaram o solo. No
havia neve na terra, ento rastrear no era uma tarefa simples como no inverno. Mas
Durotan sabia o que estava procurando: Grama remexida, galhos de arbustos
quebrados, um buraco no terreno, mesmo que pequeno.
Fenocerontes. disse. Levantou e analisou o horizonte na direo que tinham
ido. Draka ainda estava agachada, seus dedos movendo com delicadeza a folhagem.
Um deles est machucado. anunciou.
Durotan virou para ela. No vi sangue.
Balanou a cabea. Sangue no, mas o padro das pegadas me diz isso.
Apontou para onde ele olhava. Ele no viu nada que indicasse um animal machucado,
e ficou intrigado.
No essa pegadaa prxima. E a outra depois dessa.
Moveu adiante, colocando seu p cuidadosamente, e corou um bocado. fcil
perceber, voc tambm teria visto. obsevou.
No. admitiu honestamente. No iria. Eu vi as pegadas, mas no reservei
tempo para observar os detalhes. Voc sim. Ser uma excelente guerreira algum dia.
Ajeitou-se e olhou-o com orgulho. Algo caloroso, e simultaneamente fortalecedor
e enfraquecedor percorreram atravs dele. Ele no era de rezar, mas ao olh-la de p
a sua frente, fez uma pequena prece para os espritos: que esta fmea me olhe de
maneira favorvel.
Seguiram a trilha como lobos farejando. Durotan parou de liderar, pois essa
fmea estava em p de igualdade. Eles se complementavam bem. Ele tinha olhos mais
aguados, mas ela enxergava os detalhes. Imaginou como seria lutar ao lado dela. Seus
olhos no solo perante eles, deram a volta. Ele imaginou como seria
O grande lobo preto rodopiou, agachado e rosnando para o mesmo animal que
eles estavam rastreando. Por um instante interminvel, os trs predadores trocaram
olhares. Mas antes mesmo da poderosa besta juntar foras para saltar, Durotan j
havia atacado.
No sentiu o machado pesar quando levantou e o atingiu. O golpe pegou fundo no
torso do animal, mas Durotan sentiu a mordida em retaliao esmagar seu brao.
Sentiu uma dor apavorante e chocante. Libertou seu brao. Foi mais difcil levantar o
machado com sangue se esvaindo, mas ele o fez. O lobo virou sua ateno para
Durotan, seus olhos amarelados fixados no dele, abriu sua boca num rugido. Seu hlito
cheirava a carne podre.
Naquele instante, antes que a mandbula gigante pudesse fechar em sua cabea,
Durotan ouviu um grito de guerra. Viu um borro no canto do olho. Draka avanou
para cima do lobo com sua longa e adornada lana a sua frente. A cabea do lobo foi
jogada para trs assim que foi atingida no tronco. Nesse momento de desateno,
Durotan suspendeu seu machado de novo e trouxe-o para baixo, o mais forte que
conseguiu. Sentiu a lmina cortar atravs do corpo do animal, descendo at atingir
fundo o solo, alojando to firme que no pde tir-la de imediato.
Recuou ofegante. Draka estava ao seu lado. Sentiu que o calor, a energia e a
paixo dela pela caa eram iguais dele. Juntos encaravam a criatura poderosa que
tinham matado. Foram pegos desprevenidos por um animal que normalmente requer
vrios guerreiros maduros para abater, e eles saram vivos. O inimigo jazia morto
sobre a poa de sangue, partido em dois pelo machado de Durotan e o corao varado
pela lana de Draka. Ele percebeu que nunca poderia dizer quem realmente matou o
lobo e isso o deixou ridiculamente feliz.
Sentou-se pesadamente.
Draka foi logo ampar-lo, lavando o sangue de seu brao, apenas para resmungar
ao ver que mais sangue aparecia. Passou blsamo e amarrou firme com bandagens;
juntou algumas ervas e gua, obrigando-o a beber. Depois de algum tempo a tontura
passou.
Obrigado. murmurou.
Ela concordou sem olh-lo. Ento um pequeno sorriso apareceu no canto de sua
boca.
Qual a graa? Eu no conseguir ficar de p?
Foi mais bruto do que gostaria e ela olhou de imediato para ele, surpresa com o
tom.
De maneira nenhuma. Lutou bem Durotan. Muitos teriam largado o machado
depois de uma mordida daquela.
Sentiu-se estranhamente satisfeito pelo comentrio, j que foi feito com
sinceridade e no bajulao. Ento, o que te diverte?
Olhou para ele sorrindo. Eu sei de algo e voc no sabe. Masdepois
dissoacho que vou te contar.
Notou que sorria tambm. Estou honrado.
Eu disse ontem que no tinha idade para a caa de cortejo.
Verdade.
Bemquando disse isso, eu sabia que faltava pouco tempo.
Entendo. disse apesar de no entender. Bome quando ser esse dia?
Seu sorriso aumentou. Hoje.
Ele olhou-a por um longo tempo, ento, sem falar nada, puxou ela para si e
beijou-a.
Talgath tem observado os orcs por um perodo. Agora, afastou-se, pois sua
natureza bestial o ofendeu. Ser um manari era bem melhor. Tirando as criaturas
fmeas com asas de couro e rabo, os manari saciavam seu desejo com violncia, no
copulando. E ele preferia assim. Na verdade, preferiria ter matado os dois na hora,
mas seu mestre foi bem claro sobre intervenes. Se esses dois no voltassem para seu
cl, levantaria suspeita e apesar de serem to importantes como moscas, estas ainda
podiam tornar-se um incmodo. Kiljaeden queria que ele apenas observasse e
reportasse, nada mais.
E assim ele faria.
As lies daquele tempo foram amargas, compradas com sangue, morte e angstia.
Ironicamente, a coisa que quase nos destruiu foi o que nos salvou depois: um senso de
unidade. Cada cl foi leal a si mesmo, intensamente dedicado a seus membros, mas no
aos outros. Sob o que e contra nos unimos foi totalmente errado e ainda estamos nos
corrigindo por isso. Geraes por vir ainda iro arcar com nossos erros. Mas a unio, por
si, foi gloriosa. E uma lio que pretendo resgatar das cinzas. Foi essa lio que me fez
falar com lderes de raas to diferentes, para trabalharmos juntos em prol de algo que
possamos nos orgulhar.
Unidade. Harmonia. Essa a boa lio do passado. Eu a aprendi bem.
Sei bem que ns orcs perdemos mais do que ganhamos. At ento nossa cultura era
preservada, inocente, pura. ramos como crianas que sempre estiveram a salvo, amadas
e protegidas. Mas crianas precisam amadurecer e ns, como povo, fomos facilmente
manipulados.
H lugar para a confiana, ningum pode me acusar de no saber disso. Mas
tambm precisamos ser cuidadosos. Aqueles com rostos sinceros podem enganar e at
mesmo aqueles em quem acreditamos podem ser ludibriados.
A perda da nossa inocncia o que lamento quando penso em como aqueles dias
deveriam ser. E foi a nossa inocncia que nos levou runa.
Era uma longa fila de rostos solenes que olhavam para o grupo de lder dos cls
orcs. Durotan estava ao lado de Draka, com a mo em volta de sua cintura num gesto
protetor, apesar de no saber o porqu sentia que ela precisaria de proteo. Seus
olhos arregalaram quando viu na expresso de seu amigo e conselheiro DrekThar
algo de arrepiar os cabelos.
Gostaria de estar prximo a Orgrim. Eram de cls e tradies diferentes, mas
alm dele e de sua pretendida, no havia outra pessoa em quem confiasse. Mas
obviamente Orgrim estava junto ao chefe Blackhand que olhava os xams com uma
irritao velada.
Ele est h muito tempo sem caar. murmurou Draka indicando Blackhand.
Est procurando por uma briga.
Ele vai conseguir. Olha as expresses deles. Durotan suspirou.
Nunca vi DrekThar desse jeito, nem mesmo quando viu o corpo quebrado de
Me Kashur. disse Draka.
Durotan no respondeu, apenas observou.
Todos abriram caminho para Nerzhul ao que ele avanou para centro da
multido. Comeou a andar em crculos, falando baixo. Ento parou e levantou as
mos. Fogo irrompeu a sua frente, saltando em direo ao cu numa demonstrao
que arrancou sons de admirao at daqueles que j haviam visto esse tipo de coisa
antes.
O pilar ficou ali por um longo tempo e ento abaixou para virar uma fogueira
tradicional, embora mgica.
Ao cair da escurido, de muitas maneiras alm dessa, sentem em volta do fogo.
comandou Nerzhul.
E que tal ns buscarmos uma presa tambm e ajoelharmos obedientes aos seus
ps durante a noite. bradou uma voz furiosa.
Durotan conhecia aquela voz; escutara-a alterada por muitas vezes durante o
Koshharg quando era jovem e seu dono era conhecido por dar gritos que arrepiavam
durante as caadas. Era peculiar e inconfundvel. Virou para olhar Grom Hellscream,
o jovem lder do cl Warsong, e desejou que aquela exploso no atrasasse o que
Nerzhul tinha para falar para eles.
Vermelho e preto eram as cores do cl Warsong e apesar de no usar armadura,
as vestimentas em couro naquelas cores j davam um toque majestoso. Grom ficou a
frente de seu cl e era mais esguio que a maioria dos orcs, mas ainda imponente e alto.
Cruzou os braos e encarou Nerzhul.
O xam no mordeu a isca, apenas suspirou profundamente. Sei que muitos
esto com suas honras ofendidas. Deem-me chance para falar e ficaro satisfeitos de
estarem aqui, assim como os filhos de seus filhos.
Grom resmungou, mas no disse mais nada. Ficou de p por um tempo e encolheu
os ombros ao sentar-se, como se isso indicasse que o fez por vontade prpria. Seu cl
fez o mesmo.
Nerzhul esperou o silncio e ento comeou a falar.
Eu tive uma viso. comeou, de um dos ancestrais que mais confio. Ela me
revelou uma ameaa, espreitando como um escorpio venenoso em um arbusto. Todos
os outros xams podem comprovar isso, e eles iro assim que tiverem oportunidade de
falar. Fico entristecido e furioso em ver como fomos to ingnuos.
Durotan estava hipnotizado pelas palavras do xam, corao batendo rpido.
Quem era esse inimigo misterioso? O que era to obscuro que escapou de suas vistas?
Nerzhul suspirou, olhando para o cho, ento balanou a cabea. Sua voz era
grave e confiante, entrelaada em tristeza.
O inimigo a qual me refiro, disse gravemente, so os draenei
E o caos explodiu.
Durotan fitava, desacreditando no que ouviu. Olhou volta, procurando Orgrim
e encarou os olhos cinza arregalados do amigo, vendo o mesmo choque em seu rosto.
Os draenei? Certamente algo estava errado. Os gronns sim, quem sabe se
encontraram algum conhecimento secreto contra os odiados orcsmas no. No os
draenei.
Eles nem eram guerreiros do nvel dos orcs. verdade que caavam, mas eles
precisavam de carne para sobreviver assim como eles. Eram preo contra os gronns e
s vezes ajudavam alguns grupos de caa. Durotan se lembrou do dia em que dois
jovens orcs estavam fugindo de um ogro cujos passos faziam a terra tremer, e as
esbeltas figuras azuis que apareceram do nada para salv-los.
Por que arriscariam sua segurana para salvar dois garotos se eram mesmo to
malficos quanto Nerzhul acreditava? No fazia sentido. Nada do que havia dito fazia
sentido.
Nerzhul implorava por silncio, mas sem sucesso. Blackhand estava de p, veias
saltadas em seu pescoo enquanto Orgrim fazia de tudo para aplacar a fria de seu
chefe. Ento um rudo terrvel perfurou o ar, ensurdecedor e quase fazendo o corao
parar. Grom Hellscream estava de p, cabea jogada para trs, peito estufado e seu
maxilar preto to aberto quanto de uma cobra ao dar o bote. Nada podia competir
com o grito de guerra de Hellscream, sendo sucedido por um silncio total.
Abriu seus olhos e sorriu para Nerzhul, que parecia completamente sem jeito por
ver um at ento opositor, virar um aliado to rpido.
Deixe o xam continuar. disse. To grande era o silncio depois da sua
exploso que as palavras foram ouvidas por todos apesar de terem sido ditas num tom
normal. Quero saber mais sobre esse novovelho inimigo.
Nerzhul sorriu em gratido. Sei que isso assustou vocs. Fiquei chocado
tambm. Mas os ancestrais no mentem. Esses seres aparentemente benevolentes tm
esperado por anos at o momento certo para nos atacar. Eles se sentam em segurana
atrs de suas estranhas edificaes feitas com materiais que no compreendemos e
guardam segredos que podem nos beneficiar.
Mas por qu? questionou Durotan antes mesmo de perceber que estava
falando. Todas as atenes estavam voltadas para ele, mas no recuou. Por que
querem nos atacar? Se eles guardam tantos segredos, por que precisam de ns? E
como podemos derrot-los se isso for mesmo verdade?
O xam ficou desconcertado. Isso eu no sei, mas sei que os ancestrais esto
preocupados.
Somos em maior nmero. gritou Blackhand.
No tanto assim. devolveu Durotan. Alm do mais, so superiores em
conhecimento. Vieram para c em um navio que navega pelos mundos, Blackhand.
Acha que cairo diante de flechas e machados?
Blackhand franziu as grossas sobrancelhas. Abriu a boca para responder quando
Nerzhul interrompeu, antecipando o argumento. Resoluo e consequentemente
vitria no sero conseguidas da noite para o dia. Peo apenas que fiquem atentos, e
no para entrar em guerra agora. Preparar-se. Discutir com seu xam quais as
melhores medidas a tomar. E abrir seus coraes e mentes para a unificao que
assegurar o triunfo.
Abriu os braos implorando. Somos cls separados, sim, cada um com sua
tradio e legado. No estou pedindo que desistam da sua honrosa histria, apenas que
abram suas mentes para a unificao de cls que so fortes sozinhos e que juntos
virariam uma fora irreversvel. Somos todos orcs! Blackrock, Warsong,
Thunderlord, Dragonmawno percebem quo pouco essas distines
importam? Somos um povo s! No final, queremos lares seguros para nossas crianas,
sucesso nas caadas, companheiras que nos amem, e honra entre os ancestrais. Somos
mais parecidos do que diferentes.
Durotan sabia que o xam falava a verdade e olhou seu amigo que estava atrs de
seu chefe, imponente e solene. Mas quando viu Durotan olhando para ele, acenou em
concordncia.
Houve aqueles que protestaram contra a incomum amizade entre os dois jovens
aventureiros e inclinados a problemas, tinha que admitir. Mas Durotan no seria a
pessoa que hoje se no tivesse se espelhado na firmeza de Orgrim; e sabia do fundo
de seu corao que seu amigo sentia o mesmo.
Mas os draenei
Posso falar?
A voz pertencia a DrekThar, e Durotan ficou surpreso. A pergunta foi
direcionada no apenas para o seu chefe como para o xam que era o mentor de todos
eles. Nerzhul olhou para Durotan que concordou.
Meu chefe, e para o assombro de Durotan, a voz dele tremia, meu chefe, o que
Nerzhul diz verdade. Me Kashur confirmou.
Os outros xams do cl Frostwolf confirmaram. Durotan os encarou. Me
Kashur? Se havia algum que Durotan confiava, era a velha orc sbia. Relembrou o
momento que esteve na caverna, sentindo um ar gelado em seu rosto, que no era ar,
escutando e observando com cada fibra do seu corpo enquanto Me Kashur falava
com algum que ele no podia ver, mas que sabia estar l.
Me Kashur disse que os draenei so nossos inimigos? perguntou no
acreditando no que ouvia.
DrekThar assentiu.
hora de escutarem seus xams, como Durotan acabou de fazer, disse
Nerzhul. Vamos nos reunir ao anoitecer e os chefes iro me comunicar suas
consideraes. Estas so pessoas que vocs conhecem e confiam. Perguntem a eles o
que viram.
A multido comeou a dispersar. Os membros do cl Frostwolf voltavam devagar
para seu acampamento e se entreolhavam cautelosamente. Juntos, sentaram em
crculo e voltaram sua ateno para DrekThar, que comeou a falar aos poucos e com
cuidado.
Os draenei no so nossos amigos. disse. Meu chefesei que voc e o
Doomhammer ficaram uma noite em sua cidade. Sei que voc falou bem deles e que
deram a impresso de terem salvado suas vidas. Mas permita-me perguntarno
estranhou nada?
Durotan recordou do ogro perseguindo eles, gritando enfurecido e balanando
sua clava. E com uma sensao desagradvel lembrou-se de quo rpido os draenei
apareceram para resgat-los. E como no poderiam voltar para casa j que era
convenientemente muito tarde para isso.
Franziu a testa. Era um pensamento insensvel, e ainda
Vejo vincos em sua testa, meu chefe. Posso considerar ento que sua f neles
quando jovem comea a diminuir?
Durotan no respondeu ou olhou para o lder dos seus xams. Olhou para o cho,
no querendo se sentir daquele jeito, mas incapaz de parar a dvida que aumentava
em seu corao, como os dedos glidos de uma manh fria.
Em sua memria, ele reviveu o dilogo que teve com Restalaan, dizendo a ele,
No somos os mesmos.
No so. Restalaan havia dito. Ns observamos que os orcs se desenvolverem
em fora, habilidade e talento. Vocs nos impressionaram.
Sentiu de novo um incmodo, como se o elogio tivesse sido um insulto
cuidadosamente elaborado. Como se os draenei fossem superioresmesmo com suas
peles estranhas e azuladas, pernas como as dos talbuques, com caudas longas
semelhantes a de rpteis e brilhantes cascos azuis ao invs de ps normais como dos
orcs
Fale meu chefe. De que se recorda?
Durotan ento disse numa voz rouca sobre a chegada afortunada dos draenei, da
quase arrogncia de Restalaan. EVelen, seu profeta, fez muitas perguntas sobre
ns, e no era apenas conversa jogada fora. Ele realmente estava interessado em saber
mais sobre os orcs.
Claro que estava. falou DrekThar. Que oportunidade! Estavam conspirando
contra ns desde o comeo. E achar dois desculpe-me, Durotan, mas dois jovens
ingnuos para inform-los sobre tudo o que queriam saber. Deve ter sido um belo
acontecimento.
Os ancestrais no mentiriam para eles, especialmente sobre algo to importante.
Durotan sabia disso. E agora que relembrou com uma nova luz de sabedoria os
eventos daquele dia e noite, era bvio quo suspeita as aes de Velen tinham sido. E
aindaera Velen to incrivelmente dissimulado que toda aquela confiana que ambos
sentiram era mentira?
Durotan abaixou a cabea.
H uma parte de mim que ainda duvida, meus amigos. disse baixinho. E
mesmo assim no posso colocar o futuro de nosso povo em risco em algo to superficial
como minhas dvidas pessoais. Nerzhul no props um ataque amanh, mas para que
comessemos a treinar, observar, preparar e nos aproximar. Isso ser o bastante pelo
bem dos Frostwolves e pelo bem dos orcs.
Olhou para cada rosto preocupado, alguns apenas amigos, outros, como
DrekThar e Draka, conhecidos e amados.
O cl Frostwolf ir se preparar para guerra.
Com que facilidade uma mente amedrontada pode recorrer ao dio uma reao
protetora, natural e instintiva. Concentramos-nos naquilo que nos dividia ao invs do que
nos unia. Minha pele verde; a sua rosa. Eu tenho presas; voc longas orelhas. Minha
pele lisa; a sua coberta de pelos. Eu respiro ar; voc no. Se tivssemos nos apegado a
essas coisas, a Legio Ardente no teria sido derrotada, pois eu nunca teria desejado me
aliar Jaina Proudmore, ou lutar ao lado de elfos. Meu povo no teria sobrevivido e feito
amizade com os taurens, ou os renegados.
Assim foi com os draenei. Nossa pele ento era castanho-avermelhada e a deles azul.
Tnhamos ps e eles cascos e cauda. Vivamos geralmente ao ar livre, eles viviam em
espaos fechados. Ns tnhamos uma vida curta; ningum sabia o quanto eles viviam.
No importa que eles tenham demonstrado apenas cortesia e franqueza; que tenham
comercializado conosco, nos ensinado e compartilhado tudo o que era pedido a eles.
Todos os dias, minha prece por sabedoria para guiar meu povo. E nessa prece se
oculta um apelo; nunca me deixar cegar por diferenas to banais.
Com seu lder Blackhand na dianteira, o cl Blackrock suplicou pela honra de ser
o primeiro a atacar. Houve queixas e ressentimentos, mas todos concordaram que as
habilidades de caa deles eram lendrias, alm de viverem mais perto de Telmor, uma
das menores e mais isoladas cidades. Os primeiros reforos de armaduras, espadas,
flechas com ponta de metal e outras armas para derrubar os draenei foi dado ao cl.
Orgrim montava ao lado de seu chefe, com a Doomhammer amarrada a suas
costas e vestido dos ps a cabea com armadura de metal que o irritava e confinada. O
lobo que o levava tambm parecia no gostar da armadura pesada e s vezes, virava a
cabea rosnando para a perna de Orgrim, como se um inseto estivesse o incomodando.
Tambm parecia estar se esforando ao carreg-lo atravs dos prados, arfando mais
do que o normal e com a lngua para fora.
Ofegando, Orgrim resmungou. Parecia to simples: ir para a guerra contra esse
novo e traioeiro inimigo. Mas quando todos, inclusive Orgrim, tinham concordado e
aplaudido a deciso, ningum parou para pensar como seria difcil se preparar.
Precisariam criar os lobos para ficarem maiores, j que agora eles carregariam
armadura alm de orcs que tinham ossos pesados e msculos.
As armas foram utilizadas. Vrias vezes eles atacaram os ogros, e apesar destes
serem desajeitados e burros, e os draenei rpidos e inteligentes, lutar com eles era
mais parecido com o novo inimigo do que lutar com talbuques. Tiveram algumas
baixas no comeo, estes foram queimados numa pira e honrados pelo nobre sacrifcio.
As armas pareciam estranhas e a armadura os deixava mais lentos, mas cada vez os
ataques eram mais equilibrados. Da ltima vez eles enfrentaram no apenas dois
ogros, mas seu mestre tambm, que no apenas tinha a ferocidade dominada pelos
ogros como uma vil esperteza, tornando-o um inimigo desafiador. Dois bravos
soldados Blackrock caram antes de Orgrim conseguir dar o golpe final, brandindo o
martelo da profecia e levando a destruio ao barulhento gronn.
Blackhand estava de p ao lado dele, ofegante e suando, rosto cheio de sangue,
tanto seu quanto da criatura que acabaram de matar. Limpou o rosto com sua mo e
grunhindo lambeu o sangue.
Dois ogros e seu mestre, murmurou. Deu um tapinha no ombro de Orgrim. Os
patticos draenei no tem chance contra nosso poder.
Orgrim concordou, parado suando sob o sol, o brilho do metal cintilando a ponto
de quase ceg-lo. A sede de sangue cresceu nele. Confiava em Nerzhul e nos xams de
seu cl. Depois ele conversou com Durotan e ambos concordaram que, apesar de terem
sido bem tratados pelos draenei naquele dia, quando foram salvos, havia algo peculiar
neles. Os espritos nunca os haviam guiado erroneamente. Por que iriam agora?
Mas ao montar ao lado de seu chefe em direo a um pequeno grupo de caa, as
dvidas de Orgrim apareciam. E se os draenei fossem esquisitos? Com certeza os orcs
devem ter parecido esquisitos para eles quando chegaram aqui. E seria a morte uma
punio apropriada por ser diferente? Alguma vez houve ataque dos draenei aos orcs?
Ou um nico insulto ou ofensa? Mas agora dezoito guerreiros Blackrock, armados at
os dentes e corpos cobertos e protegido com metal, estavam indo assassinar um grupo
de peles azuis que apenas juntavam alimento para seu povo. De repente e sem que ele
desejasse, a imagem da draenaia que sorriu timidamente para ele surgiu em sua
mente. Era seu pai ou sua me que morreria aqui nesse dia ensolarado?
Perdido em pensamentos? perguntou Blackrock num tom grave, assustando
Orgrim. O que o preocupa?
O rosto de uma rf, pensou, mas no falou. Ao invs disso, disse bruscamente,
Apenas imaginando qual a cor do sangue dos draenei.
Blackhand deu uma calorosa gargalhada. Orgrim escutou o grasnido hostil e a
batida frentica das asas dos corvos ao reagirem risada e seu chefe.
Vou assegurar que seu rosto fique coberto com ele. divertiu-se Blackhand.
O queixo de Orgrim travou e no disse nada.Os ancestrais no mentem, pensou
sombriamente. Uma criana sempre inocente, mas seus pais merecem morrer se esto
conspirando contra ns, como avisaram os espritos.
Aproximaram-se com extrema facilidade e no se incomodaram em disfarar sua
abordagem. O patrulheiro informou que o grupo era num total de onze, seis machos e
cinco fmeas e eles encontraram um rebanho de fenocerontes. Enquanto as feras
grandes e desgrenhadas eram difceis de serem abatidas, no tinham a agressividade
dos talbuques; e o grupo de caa draenei j tinha isolado um deles. O animal urrou,
pisoteando a terra e abaixando a cabea para mirar seu nico chifre nos agressores,
mas o fim j estava assegurado.
Ou teria sido, se os orcs no tivessem aparecido.
Blackhand levou seu grupo para uma pausa em uma serra. Orgrim podia sentir a
excitao de seus irmos. O corpo deles tremia de antecipao em suas novas
armaduras, apertando as mos e querendo usar as armas que estavam comeando a
ficar acostumados. Blackhand estava com sua mo levantada e seus pequenos olhos
atentos movimentao l embaixo, esperando o melhor momento para arremeter
como um falco a um rato do mato.
O chefe dos Blackrock virou-se para o seu xam, que estava na retaguarda. Eles
tambm vestiam armaduras, mas no carregavam armas, pois no precisavam.
Curariam seus semelhantes assim que cassem em batalha, e direcionariam o imenso
poder dos elementos contra o inimigo.
Esto prontos? perguntou.
O mais velho entre eles confirmou. Seus olhos ganharam um tom feroz e seus
lbios curvaram-se num sorriso. Ele tambm queria ver sangue draenei ser
derramado hoje.
Grunhiu ao baixar sua mo. Os guerreiros Blackrock atacaram.
Bradavam seus gritos de guerra ao descerem, e os peles azuis viraram assustados.
Primeiro, em suas expresses foi percebida apenas surpresa. Com certeza estavam se
perguntando por que um nmero to grande de guerreiros orcs estava vindo ajud-los
a matar o fenoceronte. Foi apenas quando Blackhand, montado em seu lobo gigante,
golpeou facilmente com sua espada larga de duas mos partindo o lder em dois, que
os draenei perceberam que eles eram o alvo.
Em seu favor, os draenei no ficaram paralisados de medo, mas imediatamente
agiram. Vozes que apenas demonstravam um discreto tremor de pnico
pronunciavam palavras com sons liquefeitos na sua lngua nativa. Apesar de Orgrim
no reconhecer as palavras Durotan que tinha a habilidade de recordar esse tipo
de coisa o som era familiar. Sabia o que esperar e preparou seus companheiros.
Ento quando o cu estalou com raios anormais azuis e prata, os xams estavam
prontos. Lanaram seus raios em direo aos raios dos draenei. O claro era quase
cegante, e Orgrim abaixou a cabea rapidamente, sua ateno no guerreiro draenei a
sua frente que carregava um basto que brilhava e faiscava. Urrou e levantou a
Doomhammer sobre sua cabea e investiu esmagando o inimigo. A armadura do
draenei no aguentou o ataque e amassou como um fino bracelete. Sangue e miolos
espirraram no cho.
Orgrim olhou para frente, procurando seu prximo alvo. Alguns orcs estavam
presos na rede mgica criada pelo raio artificial e sujo dos draenei. Eram guerreiros
valorosos e fortes, mas as queimaduras sofridas pela rede os faziam gritar em agonia.
O cheiro acre de carne queimada misturada com o odor de sangue tomou conta do
cenrio. Era intoxicante.
Um vento soprou em seu rosto, afastando o odor da batalha e enchendo seus
pulmes de energia. Escolheu o prximo que iria morrer e correu na direo de uma
guerreira que apesar desarmada, estava rodeada de energia azulada pulsante. Ficou
surpreso ao ter a Doomhammer repelida ao bater no escudo, estremecendo a arma e
por consequncia seu corpo inteiro. Um dos xams interveio, o estalo do raio
competindo com a misteriosa energia mgica dos draenei, e Orgrim festejou quando
viu o raio natural benfico repelir o escudo azulado. Atacou de novo, e dessa vez a
Doomhammer esmagou satisfatoriamente o crnio da pele azulada.
Estava quase tudo acabado. Apenas dois permaneciam de p, e num piscar de
olhos caram sob a massa de corpos castanhos. Depois de mais alguns gritos e
grunhidos e o inconfundvel som de lminas perfurando pele e carne, reinou o silncio.
O fenoceronte encurralado fugiu.
Orgrim recuperou o flego, sangue pulsando em seus ouvidos, inflamado pela
agitao da matana. Sempre apreciou as caadas, mas issoele nunca havia sentido
nada como isso. Os animais que caavam s vezes reagiam, mas presas como os
draenei inteligentes, poderosos e que lutavam da mesma maneira que eles era algo
novo. Jogou a cabea para trs e soltou uma gargalhada, imaginando se de algum
modo ficou bbado com a sensao.
O nico som perceptvel na clareira era a vibrao e altas risadas dos orcs
vitoriosos. Blackhand se dirigiu para seu segundo em comando e abraou-o com a
fora que suas armaduras permitiam.
Eu vi a Doomhammer, mas ela era apenas um borro de to rpida. disse
sorrindo. Lutou bem hoje, Orgrim. Fiz bem em escolher voc como meu segundo.
Blackhand parou em frente ao mago, a ltima vtima de Orgrim, e tirou sua luva
de malha. O crnio estava completamente esmagado e havia sangue azul em toda a
parte. Mergulhou seus dedos no fludo vital dos draenei e pintou o rosto de Orgrim
com cuidado. Algo no interior do orc mudou. Lembrou-se de quando fez isso em si
mesmo quando matou pela primeira vez, e de terem feito isso nele no ritual de
Omriggor com o sangue de seu pai. E agora seu lder o ungiu com o sangue do
inimigo.
O sangue azul escuro escorreu para o canto da boca. Orgrim passou a lngua para
provar o gosto e achou-o doce.
Kure
Como? disse uma vez enfurecido. Como minha vida mais importante, mais
valiosa do que a deles?
O agrupamento demorado, admitiu Kure. H outros Naaru, como eu, que esto
tentando persuadir raas mais jovens. Quando estiverem prontos, todos sero reunidos.
Por fim, Sargeras ir cair sob a determinao daqueles que ainda acreditam no que
bom, verdadeiro e harmonioso, o interminvel equilbrio deste universo.
Velen poderia acreditar no ser que havia se transformado em seu amigo, ou virar
as costas para quem havia confiado nele e ser transformados em manari. Ele escolheu
acreditar.
Porm agora, estava confuso. Os orcs tinham comeado a atacar grupos de caa
isolados. No parecia haver razo para as agresses; Velen conversou com alguns
guardas, muito abalados, e nenhum deles reportou nada fora do normal. E mesmo
assim, trs grupos de caa tinham sido mortos at o ltimo draenei. Restalaan, que
havia investigado a chacina, informou que os corpos no foram apenas
assassinadosmas massacrados.
Ento Velen veio at o templo, criado nos primeiros anos dos draenei nesse
mundo. Aqui, cercado por quatro dos sete cristais atamal, que virara um ser muito
tempo atrs, ele podia escutar em sua mente a voz fraca de seu amigo, mas Kure
ainda no tinha respostas.
No haveria fuga para eles se as coisas dessem errado. Kure estava morrendo,
preso na prpria nave que havia cado nesse mundo h duzentos anos.
Grande Profeta, disse Restalaan, sua voz suave e desgastada. Houve mais um
ataque.
Velen abriu os olhos devagar e observou com pesar seu amigo. Eu sei. Eu senti.
Restalaan passou seus dedos espessos pelos cabelos negros. O que faremos?
Cada ataque parece ser mais violento do que o ltimo. Examinando as leses feitas nos
corpos, tudo indica que esto melhorando suas armas.
Velen suspirou profundamente e balanou a cabea. As tranas brancas
danavam com o movimento. No consigo escutar Kure, respondeu serenamente.
Pelo menos, no to bem quanto costumava. Temo que seu tempo esteja acabando.
Restalaan olhou para o cho, a dor evidente em seu rosto. Os Naaru sacrificaram-
se efetivamente por eles; todos os draenei sabiam e entendiam isso. Por mais estranho
e misterioso que o ser fosse, eles passaram a gostar dele. Havia ficado preso e estava
morrendo vagarosamente h duzentos anos. Por algum motivo, Velen achou que
demoraria mais para que o ser morresse.se que morria, at onde entendia dessas
coisas.
Levantou determinado, sua tnica marrom clara flutuando atrs dele. Ainda
tem sabedoria para partilhar comigo, mas no tenho mais a habilidade de escut-lo.
Devo ir at ele. Talvez a proximidade ajude a se comunicar melhor.
Vo-voc quer dizer ir at nave? perguntou Restalaan.
Eu devo. Velen respondeu.
Grande Profetano minha inteno questionar sua sabedoria, mas-
Mas voc questiona mesmo assim, riu Velen e o canto de seus surpreendentes
olhos azuis enrugaram com bom humor. Continue, velho amigo. Sempre valorizo
seus questionamentos.
Restalaan suspirou. Os orcs adotaram a nave como sua montanha sagrada.
Eu sei disso. respondeu.
Ento porque ir contra eles se aventurando l? contestou. Com certeza
entenderiam isso como uma agresso, particularmente agora. Vamos dar motivo para
que continuem nos atacando.
Pensei nisso. Pensei muito e seriamente sobre isso. Mas talvez seja hora de
revelarmos quem somos e o que a sagrada montanha deles. Eles acreditam que seus
ancestrais vivem l, e talvez estejam certos. Se Kure tem pouco tempo, no devemos
aproveitar sua sabedoria e seus poderes enquanto podemos? Se algum ou algo pode
selar a paz entre ns e os orcs, esse ser, maior que qualquer um de ns, tem essa
habilidade. Essa pode ser nossa nica esperana. Kure mencionou sobre achar outras
raas, outros seres para tomar parte da sua jornada por equilbrio e harmonia. Para
se levantarem contra Sargeras e seu vasto exrcito profano.
Velen pousou sua mo alva no ombro de seu amigo. Em minhas meditaes algo
certo me foi revelado. As coisas no podem continuar como esto. Orcs e draenei no
podem viver mais distantes um do outro. No h como voltar atrs, meu amigo.
Haver paz ou guerra. Iro tornar-se nossos aliados ou inimigos. E no poderei me
perdoar se no explorar todos os caminhos para a paz. Entende agora?
Apesar do rosto triste, Restalaan concordou. Sim, acredito que sim. Mas no
gostei. Deixe-me pelo menos mandar uma guarda blindada para acompanh-lo, pois
sei que iro atacar antes de escutar.
Velen balanou a cabea. No. Sem armas. Nada que os provoque. So criaturas
honradas em seus coraes. Pude vislumbrar as almas de dois jovens orcs que ficaram
conosco poucos anos atrs. No h covardia ou maldade, apenas precauo e agora
por algum motivo, medo. Atacaram grupos de caa, no civis.
Sim, grupos que estavam em menor nmero. devolveu Restalaan.
Encontramos sangue derramado que no era nosso naqueles lugares,
relembrou a ele Velen. Levaram de volta corpos para queimar nos rituais, mas havia
bastante sangue orc no solo. E com nosso conhecimento um punhado de draenei pode
facilmente suportar contra muitos orcs. No. Arriscarei tudo nisso. No iro me matar
se eu declarar minhas intenes com honra e no demonstrar minha obvia capacidade
de me defender.
Gostaria de ter sua confiana, meu Profeta. disse Restalaan, resignado ao se
curvar. Ento irei reunir um pequeno grupo de escolta. E no estaro armados.
Guldan
Quando DrekThar contou-me do incidente com meu pai, nunca tive tanto orgulho
dele. Sei como difcil tomar a deciso certa em determinados momentos. Ele tinha tudo
a perder com as escolhas que fez.
Isso no certo.
Ele manteve sua honra. E no h preo alto o bastante para sacrific-la.
Velen suspirou profundamente. No era essa a resposta que sua alma ansiava. O
que aconteceu com os orcs? Por que de repente esto to predispostos a fazer mal aos
draenei, que nunca se opuseram a eles?
No garanto nada, escreveu Nerzhul com uma letra firme.
Muito bem, decidiu Velen. Ento nada est garantido. E sorriu para
Restalaan. Assim como a vida.
Nagrand
Durante a viagem de volta, Durotan lutou com seus sentimentos. Por um lado, ele
dividia a indignao de DrekThar. Oshugun era sagrada para os orcs. A ideia de
algo alm dos ancestrais residir dentro dela de fato, como Velen havia afirmado, era
to poderoso que atraiu os ancestrais para ela, o atingiu em cheio. S podia imaginar
como os xams se sentiram com essa declarao. Tudo se encaixava no que Nerzhul
dizia; que os draenei eram uma praga e deveriam ser eliminados.
O que o preocupara era o motivo. Ele descobriria isso essa noite.
Eles fizeram o caminho rpido, contando os cinco cativos. O sol estava apenas
comeando a nascer quando chegaram. Durotan enviou alguns patrulheiros antes para
das s boas notcias e o cl os esperava ansiosamente. A sua direita estavam
DrekThar e Rokkar, que partilhava da ansiedade dos Frostwolves e a sua esquerda
estava Draka, que permaneceu estranhamente quieta durante o ocorrido. Tinha
certeza que no queria escutar o que ela tinha a dizer; j estava sendo forado em
vrias direes.
Os prisioneiros foram empurrados com estupidez em duas tendas e um guarda
ficou em suas costas. Quatro guerreiros experientes e o xam que DrekThar mais
confiava colocaram-se a sua frente com orgulho, satisfeitos pelo dever confiado. Velen
ficou isolado; queria tratar com ele sozinho.
Depois que a agitao acabou Durotan respirou fundo. Ele no ansiava por essa
conversa, mas era seu dever. Acenou para os guardas e entrou na pequena tenda que
Velen encontrava-se.
Esperava ver o ancio com as mos amarradas, como havia ordenado. Viu que
independente de quem acatou a ordem, o fez com zelo excessivo.
A tenda havia sido levantada perto de uma rvore robusta e Velen estava
amarrado a ela. Seus braos foram puxados para trs num ngulo estranho, as cordas
to apertadas em sua pele branca que, mesmo com a luz fraca, Durotan percebeu a
carne escurecendo. Felizmente, uma corda mais frouxa em volta do pescoo que o
obrigava a ficar com a cabea ereta para no sufocar. Um pedao de pano sujo foi
colocado em sua boca. Estava de joelhos e seus cascos tambm estavam amarrados
atrs dele.
Proferiu um insulto e puxou uma adaga. Velen o olhou, sem vestgio de medo em
seus profundos olhos azuis, mas Durotan percebeu que o draenei pareceu surpreso
quando o orc usou a arma para cortar as amarras ao invs da sua garganta. No
reclamou, mas uma centelha de dor apareceu em seu rosto alvo assim que o sangue
voltou a correr em seus membros.
Pedi que o amarrasse, no que prendesse como se fosse um talbuque.
resmungou.
Parece que seu povo muito vido.
Durotan passou um odre com gua para o ancio e observando enquanto bebia.
Velen no parecia ser uma ameaa, sentado a sua frente, em vestes sujas, engolindo
gua morna, sua pele em carne viva por causa das amarras. Como se sentiria,
perguntou-se, se tivesse escutado o que Me Kashur disse? Tudo parecia errado.
Mesmo assim ela assegurou a DrekThar que o draenei era uma ameaa to fatal que
mal podiam imaginar.
Havia uma tigela de mingau de sangue frio no cho. Com seu p direito, Durotan
empurrou em direo ao prisioneiro. Velen olhou, mas no comeu.
No o banquete que ofereceu a Orgrim e a mim quando jantamos em Telmor.
disse. Mas nutritivo.
Velen sorriu. Foi uma noite memorvel.
Conseguiu as informaes que queria naquela noite? Durotan questionou.
Estava com raiva, mas no de Velen. Estava com raiva por ter chegado a esse ponto,
ter em cativeiro algum que manifestou nada alm de cortesia para com ele. E ento
ele descontou tudo no Profeta.
No entendo. Apenas queramos ser bons anfitries a dois jovens aventureiros.
Durotan levantou e chutou a tigela. Mingau endurecido derramou no cho.
Espera que eu acredite nisso?
Velen no caiu na armadilha. Respondeu calmamente. a verdade. A escolha
em acreditar ou no, sua.
Durotan ficou de joelhos e encostou seu rosto no de Velen. Por que est tentando
nos destruir? O que fizemos a vocs?
Pergunto o mesmo. disse Velen. Um rubor apareceu em seu rosto. Nunca
levantamos uma mo contra vocs, e agora mais de duas dzias de draenei foram
mortos em seus ataques!
A verdade do comentrio deixou Durotan mais furioso. Os ancestrais no
mentem, rosnou. Fomos avisados que vocs no so o que parecem que so nossos
inimigos. Por que trouxe esses cristais seno para nos atacar?
Achamos que ajudaria a nos comunicarmos melhor com o ser na montanha.
disse rapidamente, como se quisesse falar tudo antes de ser silenciado por Durotan. O
ser no um inimigo dos orcs, e nem ns. Durotan, voc inteligente e sbio. Percebi
isso naquela noite. No daqueles que segue cegamente como um animal para o
abatedouro. No sei por que os lderes mentiram para voc, mas eles mentem. S
buscamos interagir pacificamente com os orcs. Voc melhor do que isso, filho de
Garad. No como os outros!
Os olhos de Durotan estreitaram. Voc est errado, draenei. cuspiu ele. Tenho
orgulho de ser um orc e da minha herana.
Velen parecia exasperado. Voc me entendeu mal. No quero difamar seu povo.
Eu apenas-
Apenas o que? Dizer que a nica razo de vermos nossos mortos por causa do
seudeus preso na montanha?
No um deus, um aliado, e seria tambm de seu povo se permitisse que fosse.
Durotan praguejou e levantou-se, andando pela tenda com os pulsos cerrados. E
deu um longo e profundo suspiro, a raiva nele virando cinzas.
Velen, suas palavras so como lenha na fogueira da nossa ira. disse
tranquilamente. Sua alegao arrogante e ofensiva. Ir apoiar aqueles que j esto
preparados para matar o seu povo baseado na palavra dos ancestrais. No entendo
mas voc pede para que eu escolha entre as pessoas que confio e tradies na qual fui
criado, e a sua palavra.
Virou e encarou o draenei. Escolherei meu povo. Voc precisa saber disso. Se
ficarmos frente a frente na batalha, no irei me segurar.
Velen olhou com curiosidade. Vocno me levar para Nerzhul ento?
Durotan balanou a cabea. No. Se ele quisesse voc, deveria ter vindo. Ele
designou que eu tratasse com voc, e eu cumpri minha obrigao como achava
pertinente.
Voc deveria trazer o prisioneiro para ele.
Era para encontr-lo e escutar o que tinha a dizer. concluiu. Se tivesse te
capturado em batalha, tirado uma arma de suas mos, e lutado no cho, a sim, voc
seria um prisioneiro. Mas no h honra em amarrar um inimigo que estende suas
mos de bom grado. Estamos num impasse. Voc insiste que no tem ms intenes
com relao aos orcs. Meus lderes e espritos dos meus ancestrais dizem o contrrio.
De novo, Durotan ajoelhou-se. Eles te chamam de Profeta sabe o futuro ento?
Se sim, diga-me o que ns podemos fazer para evitar o que temo que v acontecer. No
tirarei vidas inocentes, Velen. D-me algo, qualquer coisa, que eu possa levar a
Nerzhul que prove que o que diz verdade!
Percebeu que estava implorando, mas isso no o angustiava. Amava sua
companheira, seu cl, seu povo. Odiava o que estava vendo: uma gerao inteira
apressando-se para a idade adulta com apenas dio cego em seus coraes. Se
implorar para esse ser estranho pudesse mudar isso, assim ele faria.
Os estranhos olhos azuis tinham uma empatia inexplicvel. Velen pousou a mo
no ombro de Durotan.
O futuro no como um livro que algum l. articulou. Est em constante
mudana, como gua corrente, ou o rodopiar da areia. Tenho alguns conhecimentos,
nada mais. Sabia que deveria vir desarmado e olhe s, no fui recebido pelo maior orc
xam, mas por aquele que dormiu a salvo sob meu teto. No acho que foi um acidente,
Durotan. E se algo pode ser feito para evitar isso, depende dos orcs no dos draenei.
Tudo o que posso fazer repetir o que j disse. O curso do rio pode ser mudado, mas
so vocs que devem mud-lo. tudo o que sei e rezo para que seja o bastante para
salvar meu povo.
O olhar em seu rosto antigo e estranhamente enrugado, e o tom da sua voz
transmitiu a Durotan o que as palavras no disseram: que Velen certamente no
achava que isso seria o bastante para salvar seu povo.
Durotan fechou os olhos por um instante, ento se afastou. Ficaremos com as
pedras. disse. Seja qual for o poder que tenha, os xams aprendero a aproveit-la.
Velen assentiu com tristeza. Presumi. Mas tinha que traz-las. Tinha que confiar
que podamos achar uma forma de resolver tudo isso.
Durotan perguntou-se por que nesse momento sentia-se mais prximo daquele
que disseram ser um inimigo do que do lder espiritual do seu povo? Draka deveria
saber. Ela sempre soube. Ela nada disse, pois entendia com uma sabedoria que ele
nunca compreenderia e como chegou at aqui por si prprio. Mas conversaria com ela
essa noite, sozinhos na tenda.
Levanta. disse rudemente para esconder suas emoes. Voc e seus
acompanhantes podem sair em segurana. Sorrindo de repente, emendou. Em
segurana no escuro e sem armas. Se encontrarem a morte esta noite quando no
estiverem em meu territrio, no serei responsvel.
Isso seria deveras conveniente para voc; concordou Velen. Mas de algum
modo, acho que no isso que deseja.
Durotan no respondeu. Saiu da tenda e disse aos guardas, Velen e seus quatro
acompanhantes devem ser escoltados em segurana at o limite de nosso territrio.
Ento, devem ser soltos para que retornem a sua cidade. Nenhum mal deve ser
cometido a eles, fui claro?
O guarda parecia que iria protestar, mas outro guerreiro mais sbio olhou-o com
ferocidade.
Foi sim, meu chefe. o primeiro guarda murmurou. Ao que foram buscar os
draenei, DrekThar correu para Durotan.
Durotan! O que est fazendo? Nerzhul espera pelos prisioneiros!
Nerzhul que pegue os prisioneiros ele mesmo. queixou-se. Eu estava no
comando e esta minha deciso. Voc a questiona?
DrekThar olhou em volta e puxou Durotan para longe de ouvidos curiosos.
Sim, sibilou. Escutou o que ele disse. Ele alega que os ancestrais soso
como mariposas em uma tocha, perto desse deus deles! Arrogantes! Nerzhul est
certo. Devem ser eliminados. Foi nos dito isso.
Se para ser assim, assim ser. concluiu. Mas no hoje DrekThar. Hoje no.
Velen sentia seu corao pesado, enquanto caminhava devagar com seus
companheiros pelo gramado do campo encharcado pelo orvalho, passando pelas
sombras das rvores da floresta Terokkar em direo a cidade mais prxima.
Dois dos cristais atamal estavam agora em poder dos orcs. Ele sabia que as
palavras de Durotan eram corretas e que os xams iriam rapidamente desvendar seus
segredos. Mas deixaram escapar uma.
Isso porque o cristal no quis ser encontrado, e quando se tratava deles, a luz
obedecia a seus desejos e curvou-se para que o cristal violeta permanecesse escondido
dos orcs. Segurou-o junto ao peito, sentindo seu calor em sua pele antiga.
Ele apostou e perdeu. No totalmente, j que ele e seus amigos estavam vivos e a
salvo. Mas esperava que os orcs o escutassem, ou pelo menos o acompanhassem at o
corao da montanha sagrada e testemunhar algo que no renegaria sua f, nem um
pouco, mas que na verdade foi o que a fez nascer.
O prognstico era lgubre. Quando caminhou pelo acampamento dos orcs, viu o
que estava acontecendo. Crianas estavam sendo treinadas to duramente que caiam
de exausto. Forjas a todo o vapor mesmo durante a madrugada. Apesar de andar
livremente agora, Velen sabia que os acontecimentos de hoje no adiantaram de nada
para evitar o que estaria por vir. Os orcs, inclusive os que eram liderados pelo
perspicaz e calmo Durotan, no estavam preparando-se para uma possvel guerra.
Estavam convencidos da certeza dela. Quando o sol nascesse amanh de manh,
testemunharia o inevitvel.
O cristal que segurava em seu peito pulsou, sentindo seus pensamentos. Virou
para seus companheiros e olhou-os com pesar.
Os orcs no sero desviados desse caminho. disse. Portanto, se queremos
sobreviverns tambm devemos andar pelo caminho da guerra.
O que?
O grito indignado de Nerzhul fez seu aprendiz recuar. Durotan no piscou
sequer um olho.
Eu soltei Profeta Velen. disse calmamente o chefe do cl Frostwolf.
As ordens eram para que fizesse ele e os outros prisioneiros! a voz de Nerzhul
aumentava a cada palavra dita. Tinha sido to simples, to fcil. O que Durotan
pensou estar fazendo? Desperdiar uma oportunidade como ossos quando a carne j
foi devorada! Quanta informao poderia ter tirado de Velen? Qual tipo de poder de
barganha poderia ter sobre os draenei?
Mas esse pensamento foi sobrepujado pelo medo esmagador em pensar na reao
de Kiljaeden. O que ele faria quando soubesse que Velen no foi capturado? A
magnfica entidade pareceu to satisfeita com a possibilidade, quando Nerzhul contou
sobre seu plano. Repleto de orgulho pela sua perspiccia, imaginando que a vitria era
certa, Nerzhul tinha inclusive se atrevido a oferecer Velen como um presente. O que
vai acontecer agora? Deu-se conta de que sentiu medo ao invs de decepo em levar
notcias ruins para Kiljaeden.
Fui encarregado da captura, e assim o fiz, respondeu Durotan. Mas no h
honra em aprisionar algum que de bom grado se entrega. Quer que sejamos mais
fortes como um povo do que como cls individuais, mas no podemos fazer isso sem
um cdigo de honra que inviolvel, isso
Durotan continuou discursando com sua voz rouca e grave, mas Nerzhul j no
escutava. Naquele instante, congelado no espao e tempo, Nerzhul teve a repentina
percepo de que talvez Kiljaeden no fosse o esprito benevolente no qual se
apresentou. Durotan, perdido em suas palavras ao explicar sua deciso, no percebeu
a mudana de ateno do xam. Mas sentiu que Guldan o olhava e um novo medo
tomou conta dele, pois seu aprendiz estava testemunhando os primeiros sinais de
dvida de seu mestre.
Qual a coisa certa a se fazer? Como posso servir melhor?
Por que Rulkan deixou de aparecer para mim?
Piscou e voltou a si quando percebeu que Durotan tinha parado de falar. O chefe
olhava Nerzhul atentamente, esperando que o xam falasse.
Como melhor lidar com isso? Durotan era muito estimado entre os cls. Se o
punisse por sua deciso, haveria muitos que olhariam com compaixo para o cl
Frostwolf. E isso causaria um rasgo no tecido que tentava tecer, o tecido firmemente
costurado da nao dos orcsuma Horda, se preferir. Por outro lado, se aprovasse a
ao de Durotan, isso seria um grande insulto para aqueles que apoiavam com fervor
o fato de que os draenei deveriam morrer.
Ele no conseguia decidir. Encarou Durotan que franziu levemente a testa.
Meu mestre est to furioso que no consegue falar, disse a suave voz de
Guldan. Tanto Durotan quanto Nerzhul olharam para o jovem xam. Voc
desobedeceu a uma ordem direta de seu lder espiritual. Volte para seu acampamento
Durotan, filho de Garad. Meu mestre enviar uma mensagem em breve comunicando
sua deciso.
Durotan olhou de volta para Nerzhul e sua averso por Guldan estampava seu
rosto. O xam se recomps e, dessa vez, quando procurou as palavras, ele as
encontrou.
V embora, Durotan. Voc me desagradou, e pior, desagradou o ser que nos tem
ajudado tanto. Ter notcias minhas muito em breve.
Durotan curvou-se, mas no saiu de imediato. H algo que eu trouxe para voc.
comunicou. Estendeu-lhe uma pequena trouxa. O xam aceitou e suas mos tremiam,
e teve esperana de que Durotan e Guldan interpretassem isso como fria e no
medo.
Apreendemos isso com os prisioneiros. continuou. Os nossos xams acreditam
que possam conter algum poder que pode ser usado contra os draenei.
Hesitou por mais um momento, como se esperasse algum comentrio do xam.
Quando o silencio aumentou a ponto de ficar desconfortvel, ele curvou-se de novo e
saiu. Por um longo tempo, mestre e aprendiz ficaram calados.
Perdoe-me pela interrupo, meu mestre. Vi que estava to transtornado que
ficou sem palavras e temi que o inseto interpretasse isso como hesitao ao invs de
raiva.
Nerzhul o investigava com os olhos. As palavras pareceram sinceras, o rosto de
Guldan parecia sincero. E mesmo assim
Houve uma poca onde Nerzhul teria compartilhado com seu aprendiz a sua
dvida. Havia confiado nele. Treinou ele por anos. Mas agora, embora aoitado por
dvidas como se caminhasse contra o vento, sabia com certeza de uma coisa. No
queria que Guldan visse qualquer fraqueza nele.
Realmente estava tomado pela raiva, mentiu Nerzhul. De nada serva a honra,
se prejudica nosso povo.
Deu-se conta que apertava a trouxa que Durotn havia dado a ele. Guldan a
encarava avidamente.
O que lhe ofereceu Durotan, para compensar sua raiva? perguntou.
Nerzhul olhou-o com superioridade. Examinarei primeiro e dividirei com
Kiljaeden, aprendiz. disse friamente. Estava esperando uma reao, e temeu v-la.
Orc xam
Raiva tomou o rosto de Guldan por um breve momento. Ento o orc mais jovem
curvou-se com devoo e disse arrependido. Claro, meu mestre. Foi arrogante da
minha parte esperar estava apenas curioso, apenas isso, para ver se o chefe
Frostwolf contribuiu com algo de valor.
Nerzhul amoleceu um pouco. Guldan o serviu bem e lealmente por muitos anos
e com certeza o sucederia quando a hora chegasse. Estava sendo precipitado.
Claro, disse gentilmente. Irei inform-lo assim que souber de algo. Afinal de
contas, voc meu aprendiz, no?
O rosto de Guldan iluminou-se. Eu o sirvo em tudo, meu mestre, Parecendo
mais feliz, curvou-se e deixou Nerzhul sozinho.
Jogou-se nas peles que serviam como cama. Aninhou a trouxa em seu colo e disse
uma prece para os ancestrais; j que Durotan falhou em trazer o lder draenei, que
pelo menos tivesse conseguido obter algo til.
Respirou fundo, desembrulhou o objeto e arfou. Agasalhados na pele macia
estavam duas pedras brilhantes. Com cautela, tocou a vermelha e arfou de novo.
Energia, excitao e uma sensao de poder fluram por ele. Suas mos ansiavam
em pegar uma arma, apesar de no precisar de uma h anos. Sabia de alguma
maneira que se esse cristal estivesse com ele, seu objetivo seria realizado. Um belo
presente para os orcs! Ele teria que ver como transformar essa paixo vermelha e
quente pela luta que ocultava no centro da pedra para servir seus propsitos.
Foi preciso muito esforo para que soltasse o cristal vermelho. Respirou fundo,
acalmou-se enquanto clareava a mente.
O amarelo era o prximo.
Nerzhul agarrou-o. Desta vez ele j tinha uma noo do que esperar. De novo,
sentiu calor emanando e a sensao de poder. Mas desta vez no era de agitao, ou
urgncia. Ao segurar o cristal amarelo, sua mente clareou e percebeu que at agora
tem visto as coisas apenas como em um vale nublado. No achava palavras para
descrev-lo, mas havia pureza, limpidez e preciso. Era de fato to preciso, to claro
que Nerzhul comeou a sentir essa abertura da mente como dor.
Largou o cristal de volta no colo. A clareza brilhante, afiada, sumiu de repente..
Nerzhul sorriu. Se no tinha Velen em pessoa para presentear a Kiljaeden, pelo
menos ofereceria esses itens preciosos para apaziguar o ser magnfico.
Kiljaeden estava furioso.
Nerzhul tremeu ante a raiva, desmoronando no cho, murmurando, Perdoe-
me enquanto o ser enfurecia-se. Apertou os olhos prevendo uma dor como nunca
sentiu comear a atravessar seu corpo, quando inesperadamente a fria cessou.
Nerzhul arriscou olhar de relance seu benfeitor. Kiljaeden estava mais uma vez
parecendo sereno, equilibrado, calmo e banhado em resplendor.
Estoudesapontado. murmurou. Jogou o peso do seu corpo de um enorme
casco fendido para o outro. Mas digo duas coisas. O lder do cl Frostwolf o
responsvel. E voc nunca mais confiar uma tarefa importante a ele.
A sensao de alvio era to forte, que Nerzhul quase desmaiou. Claro que no,
meu mestre. Nunca mais. Ens trouxemos esses cristais para voc.
No so teis para mim, disse Kiljaeden. O xam recuou. Mas acho que seu
povo pode acha-los vantajosos na sua batalha para destruir os draenei. Essa sua
batalha, no ?
De novo o medo tomou conta do corao de Nerzhul. Claro, mestre! a
vontade dos ancestrais.
Kiljaeden olhou para ele, seus olhos brilhantes em chamas. a minha vontade.
finalizou, e o xam aquiesceu em pnico.
Claro, claro, a sua vontade e obedeo de todas as formas.
O ser pareceu satisfeito com a resposta e concordou. E ento havia partido e
Nerzhul deixou-se cair, esfregando o rosto ensebado de suor pelo medo.
Do canto de seu olho viu um vulto branco. Guldan havia visto tudo.
Havia mais duas mensagens, mas Nerzhul no as leu. No precisava. Apesar dos
detalhes serem diferentes, a essncia das cartas era sempre a mesma. Um ataque bem-
sucedido, glria no massacre, o xtase do derramamento de sangue. Nerzhul olhou a
pilha de cartas que recebeu s esta manh: sete.
Cada ms que passava, mesmo nos longos e inflexveis meses de inverno, os orcs
desenvolviam suas habilidades em matar os draenei. Aprenderam muito sobre o
inimigo com cada vitria. As pedras que Durotan havia dado a Nerzhul provaram ser
realmente valiosas. Trabalhou nelas, sozinho no comeo e depois em companhia de
outros xams. A vermelha eles apelidaram de Corao da Fria, e descobriram que
quando um lder de um ataque o carregava, no somente lutava com mais energia e
aptido, mas todos sob seu comando tambm eram beneficiados. As pedras passavam
de cl para cl a cada nova fase da lua e era muito cobiada. Apesar disso, Nerzhul
sabia que ningum se atreveria a roub-la.
A segunda pedra eles chamaram de Estrela Brilhante, e descobriu que quando
um xam usava o cristal, ele ou ela experimentavam uma profunda clareza e foco.
Enquanto o Corao da Fria incitava as emoes, a Estrela Brilhante acalmava-as. O
pensamento era mais rpido e preciso, e a concentrao dificilmente era quebrada. O
resultado era uma magia poderosa e controlada com exatidooutro artifcio para
uma vitria dos orcs. A formidvel ironia era que eles estavam usando a prpria
magia draenei contra eles, e isso aumentou a moral entre os orcs posteriormente.
Mas nada disso encorajava Nerzhul. A sbita dvida que apareceu quando
conversou com Durotan havia chegado at seus ossos. Lutava contra as suspeitas,
aterrorizado de pensar que de alguma maneira Kiljaeden era capaz de ler sua mente.
Mas elas insistiam em vir, como vermes contorcendo-se num cadver, para assombrar
seus pensamentos tanto acordado quanto adormecido. Kiljaeden era muito, mas
muito parecido com os draenei. Era possvel que, de alguma maneira, eram os
mesmos? E estava ele, Nerzhul, sendo usado numa espcie de guerra civil?
Ento, em uma noite, ele decidiu que no poderia mais suportar. Vestiu-se em
silncio e despertou seu lobo Skychaser, que se espreguiou e piscou para ele,
sonolento.
Venha, meu amigo, disse o xam com afeio ao montar nas costas da criatura.
Ele nunca antes foi at a montanha sagrada montado em seu lobo, ia sempre andando,
como era tradio. Mas ele precisava voltar antes de sentirem sua falta, e tinha certeza
que urgncia da sua misso atenuaria sua ofensa para com os ancestrais.
Nagrand
Ao voltar montado em seu lobo Skychaser, Nerzhul queria apenas ser engolido
pela noite escura, suas mos to geladas e entrelaadas na pelagem preta que se
perguntou se algum dia seria capaz de abri-las de novo. Como poderia retornar para
seu povo sabendo o que havia causado? Por outro lado, como poderia fugir; haveria
um lugar onde Kiljaeden no fosse capaz de ach-lo? Ansiava amargamente pela
coragem de pegar a adaga ritual enfi-la em seu corao, mas sabia que no
conseguiria. Suicdio era visto como um ato desonroso entre seu povo; era uma
resposta covarde para lidar com os infortnios que o afetaram. No seria permitido
que vivesse como esprito se tomasse esse caminho sedutor para escapar dos
problemas. Poderia continuar a fingir no saber de nada e talvez min-lo sutilmente.
Apesar de seus poderes colossais, no havia evidncias de que Kiljaeden tinha a
habilidade de ler mentes. A possibilidade o animou de alguma maneira. Simele
podia diminuir o dano que esse intruso estava tentando fazer a seu povo. Era assim
que poderia continuar a servir.
Durotan estava coberto de sangue, muito do dele mesmo. O que tinha dado
errado?
Tudo tinha ocorrido como deveria. Acharam um grupo de caa, foram at ele,
iniciaram o ataque e esperaram que os xams usassem sua magia para lutar com os
draenei.
Mas eles no o fizeram e ao invs disso, orc atrs de orc caram sob as lminas
brilhantes e magia branca azulada dos draenei. Num determinado momento, brigando
pela prpria vida, Durotan viu DrekThar lutar desesperadamente, usando apenas seu
cajado.
O que havia acontecido? Por que os xams no vieram ajud-los? O que
DrekThar estava pensando? Uma criana empunharia um basto melhor do que ele
por que no usou sua magia?
Os draenei lutaram ferozmente, aproveitando as oportunidades dadas pelo
inexplicvel vacilo dos xams. Pressionaram o ataque mais firme que Durotan j viu.
Seus olhos cintilando como se sentissem pela primeira vez uma possvel vitria. A
grama estava escorregadia de tanto sangue e o cho lhe faltou. Caiu e o agressor
levantou sua espada.
Esse era o momento ento. Morreria em uma batalha gloriosa. Exceto que no
sentia que essa era uma batalha gloriosa. Por instinto, embora seu brao tivesse sido
profundamente cortado na juno da armadura, levantou seu machado para bloquear
o golpe que viria, e seu brao tremeu. Olhou dentro dos olhos daquele que iria mat-
lo.
E reconheceu Restalaan.
Nesse momento, o os olhos do capito da guarda draenei arregalaram ao
reconhec-lo e segurou o golpe. Durotan recuperou o flego, tentando reunir energias
para levantar e continuar a lutar. Restalaan gritou algo em sua lngua nativa, e todos
os draenei pararam quase a meio golpe.
Ao que Durotan ps-se em p, deu-se conta de que apenas poucos de seus
guerreiros estavam vivos. Se a batalha durasse mais um pouco, os draenei teriam
eliminado todos os orcs, com apenas duas ou trs vtimas deles.
Restalaan virou-se para Durotan. Vrias expresses conflitavam em seu rosto
feio: compaixo, repulsa, arrependimento, determinao. Pelo ato de compaixo e
honra que demonstrou ao nosso profeta, Durotan, filho de Garad, voc e aqueles do
seu cl que ainda vivem foram poupados. Cuide de seus feridos e retorne para seus
lares. Mas no pensem que iro receber esse ato misericordioso de novo. A honra foi
paga.
Durotan acenou como se tivesse bebido demais, e sangue derramava de suas
feridas. Forou a ficar de p ao que os draenei sumiam no horizonte. Uma vez que
estavam fora de vista, ele podia parar de obrigar suas pernas a segur-lo e caiu de
joelhos. Vrias costelas haviam sido quebradas ou rachadas, e cada respirao o fazia
sentir uma dor aguda pelo corpo.
Durotan!
Draka
Era Draka. Ela tambm havia sido gravemente ferida, mas sua voz era forte.
Alvio tomou conta de dele. Graas aos ancestrais, ela ainda vivia.
DrekThar correu e colocou suas mos no corao de Durotan, sussurrando entre
cada suspiro. Calor inundou o chefe e a dor parou. Tomou um flego profundo e
gratificante.
Pelo menos eles me deixam curar. disse DrekThar to baixo que Durotan no
teve certeza se escutou as palavras.
Atenda os outros e depois conversamos. pediu Durotan. DrekThar concordou,
no encarando seu chefe. Ele e os outros xams apressaram-se para usar magia para
curar os ferimentos que podiam e tratar com balsamo e bandagens o que no podiam.
Durotan ainda tinha algumas leses, mas nada grave, e ajudou os xams.
Quando fez tudo o que podia, ele levantou e olhou em volta. Nada menos do que
quinze corpos endureciam na grama verde, incluindo Rokkar, seu segundo. Balanou
a cabea em descrdito.
Teria que voltar com carroas para levar os mortos de volta para sua terra.
Queimariam os corpos em uma pira e suas cinzas espalhariam pelo ar e seriam
consumidos pela gua e pela terra. Seus espritos iriam para Oshugun e os xams
conversariam com eles sobre assuntos de profunda importncia.
Ou no iriam? Algo terrvel havia acontecido e j era hora de descobrir o que.
De repente, raiva o invadiu pelo desperdcio ocorrido. Independente do que os
ancestrais haviam dito, algo dentro de Durotan continuava a sussurrar que esse
ataque contra os draenei era um erro grave. Com um rosnado rouco, agarrou o menor
xam, que estava engolindo gua e sentado perto dele e colocou-o de p.
Isso foi uma chacina! Durotan gritou, balanando o orc furiosamente. Quinze
dos nossos jazem mortos perante a ns! A terra bebe de seu sangue e no vi nenhum
de vocs concederem suas habilidades para a luta!
Por um instante, DrekThar no podia falar. O campo estava mortalmente
silencioso ao que cada Frostwolf assistia o confronto. Ento, com uma voz fraca,
DrekThar respondeu, Os elementos no vieram dessa vez.
Os olhos de Durotan estreitaram. Ainda agarrando DrekThar pela frente de seu
gibo de couro, ele exigiu do xam que permaneceu quieto e com os olhos arregalados,
Isso verdade? Eles no concederam sua ajuda a batalha?
Parecendo atordoado e dbil, o xam aquiesceu. Outro acrescentou com uma voz
trmula, verdade, grande chefe. Pedi a sua assistncia. Eles disseramque estava
fora de equilbrio, e que no permitiriam que usssemos seus poderes.
O choque de Durotan foi quebrado por um sibilo de raiva. Virou-se para ver o
rosto franzido de Draka. Isso mais do que um sinal! Isso um brado, um grito de
guerra de que o que estamos fazendo errado!
Devagar, tentando compreender a magnitude do que ocorreu, Durotan acenou. Se
no fosse pela piedade de Restalaan, ele e cada um dos membros do seu grupo de
guerra estariam deitados na terra, seus corpos tornando-se frios a cada segundo. Os
elementos recusaram-se a ajudar. Condenaram o que os xams pediam deles.
Durotan respirou profundamente e balanou a cabea, como se pudesse
fisicamente afastar seus pensamentos sombrios. Vamos levar os feridos de volta para
suas casas o mais cuidadosamente que conseguirmos. E entoenviarei mensagens. Se
o que temo verdade que no apenas os xams Frostwolf foram reprimidos pelos
elementos pelo o que estamos fazendo com os draenei ento devemos confrontar
Nerzhul.
Blackhand olhava por debaixo de suas sobrancelhas grossas e testa franzida. Ele
sempre parecia estar franzindo a testa, provavelmente porque quase sempre o fazia.
No sei Guldan. resmungou. Colocou sua mo, maior do que o normal, no
punho da sua arma e a acariciou, inquieto. Ele concordou quando Guldan pediu para
encontr-lo quinze dias atrs, e trazer seus xams mais promissores, mas no contar a
ningum o que iriam fazer. Blackhand sempre gostou mais de Guldan do que de
Nerzhul, apesar de no saber por qu. Quando o xam sentou com ele para uma
generosa refeio e explicou a situao, Blackhand ficou feliz em ter vindo. Agora
sabia por que gostava tanto de Guldan; o antigo aprendiz e agora mestre era como
ele. Ideais no serviam de nada, apenas praticidades. E ambos desejavam poder, boa
comida, armadura extravagante e derramamento de sangue.
Blackhand era chefe dos orcs Blackrock. No podia mais subir. Pelo menosno
at agora. Quando os cls eram separados, a maior glria era liderar um. Mas
agoraagora trabalhavam juntos. Agora podia ver o brilho da cobia nos olhos
pequenos de Guldan. Conseguia quase sentir o cheiro da ambio emanando do
xam, uma ambio que compartilhava.
Nerzhul um conselheiro honrado e valioso. disse ao mastigar uma fruta seca,
estendendo sua garra para tirar um pedao que havia ficado entre seus dentes. Tem
grande sabedoria, mas foi decidido que eu seria melhor para liderar os orcs a partir de
agora.
Blackhand sorriu ferozmente. Nerzhul no estava em qualquer lugar que
pudesse ser visto.
E um lder sbio rodeado de aliados confiveis. continuou. Aqueles que so
fortes e obedientes; que cumpriro suas obrigaes. E aqueles que, pela sua lealdade,
sero tidos em alto prestgio e ricamente recompensados.
Blackhand se conteve ao ouvir a descrio obedientes, mas comeou a amolecer
quando mencionou alto prestgio e ricamente recompensados. Olhou para os oito
xams que trouxe para Guldan. Estavam reunidos em volta de uma segunda fogueira,
um pouco distante, sendo servidos pelos criados do xam. Pareciam miseravelmente
infelizes e estavam por convenincia fora do alcance para ouvir o que estavam falando.
Voc me pediu os xams. Suponho que saiba o que est acontecendo com eles?
Guldan suspirou e pegou uma coxa de talbuque. Mordeu-a com fora, o suco
escorrendo em seu rosto. Limpou sua mandbula saliente distraidamente, mastigou,
engoliu e respondeu.
Sim, fiquei sabendo. Os elementos no os obedecem mais.
Blackhand o observava com intensidade. Alguns esto resmungando que o
motivo que o que estamos fazendo errado.
Voc acha isso?
Blackhand encolheu seus largos ombros. Eu no sei o que pensar. um
territrio totalmente novo. Os ancestrais dizem uma coisa, mas os elementos no
respondem.
Estava comeando a nutrir uma suspeita sobre os ancestrais tambm, mas no
disse nada. Blackhand sabia que muitos o achavam tolo; ele preferia deix-los pensar
que ele no era nada alm de um brao forte e uma poderosa espada. Dava a ele
vantagens claras.
Guldan o examinou agora, e Blackhand se perguntava se o novo lder espiritual
dos orcs tinha percebido que havia mais no chefe orc do que parecia.
Temos orgulho da nossa raa, disse Guldan. doloroso admitir que no
sabemos de tudo. Kiljaeden e as entidades que comandaah, Blackhand, os mistrios
que guardam. O poder que eles controlam este que pretendem compartilhar
conosco!
Os olhos de Guldan brilharam com excitao. O corao de Blackhand acelerou.
Guldan inclinou e continuou a falar num sussurro admirado.
Somos crianas ignorantes perante eles. Mesmo voc mesmo eu. Mas eles esto
dispostos a nos ensinar. Compartilhar uma parte de seu poder. Um poder que no
depende dos caprichos dos espritos do ar, terra, fogo e gua. Guldan fez um gesto
desdenhoso. Esse tipo de poder frgil, no confivel. Pode abandon-lo no meio da
batalha e deix-lo desamparado.
O rosto de Blackhand endureceu. Testemunhou isso ocorrer, e foi preciso toda a
fora de seus guerreiros para tomar a vitria quando os xams comearam a gritar
desesperados, pois os elementos no trabalhavam mais com eles.
Estou escutando. grunhiu baixo.
Imagine o que poderia fazer se liderasse um grupo de xams que controlasse a
fonte de seu poder, ao invs de implorar e rastejar por ele. continuou. Imagine que
esses xams tivessem servos que tambm poderiam lutar a seu lado; que poderiam,
digamos, fazer seus inimigos fugirem aterrorizados e impotentes. Sugar a magia deles
como os insetos sugam o sangue no vero. Distra-los para que sua ateno no fosse
na batalha.
O chefe dos Blackrock levantou uma sobrancelha. Posso imaginar sucesso sob
essas condies. Sucesso quase sempre.
Guldan aquiesceu, sorrindo. Exatamente.
Mas como saber se isso verdade e no uma falsa promessa sussurrada ao seu
ouvido?
O sorriso do xam aumentou. Porque, meu amigoeu j fiz a experincia.
Ensinarei seus xams ali tudo o que sei.
Impressionante.
Mas tenho mais a oferecer. Seus guerreiros sei de um jeito que far voc e
qualquer um que lute ao seu lado mais poderoso, mais feroz, mais mortal. Tudo isso
poder ser nosso, se reivindicarmos.
Nosso?
No posso continuar a perder meu tempo falando com cada lder de cada cl
toda a vez que tm uma reclamao. disse levantando a mo imperiosamente. H
aqueles que esto de acordo com o que voc e eu pensamos ser o melhor jeito de
procedere aqueles que no esto.
Continue. disse Blackhand.
Mas Guldan no continuou, pelo menos no de imediato. Estava quieto, reunindo
seus pensamentos. Blackhand pegou um graveto e cutucou a fogueira. Sabia bem que
a maioria dos orcs, inclusive alguns de seu prprio cl achavam ele cabea quente e
impulsivo, mas sabia que a pacincia valiosa.
Prevejo dois grupos de lderes dos orcs. O primeiro, um simples conselho
governante que tome as decises pelo todo, seu lder eleito, seus servios administrados
abertamente vista de todos. O segundouma sombra desse grupo. Escondido.
Secreto. Poderoso. mencionou silenciosamente. EsteConclio das Sombras ser
constitudo de orcs que compartilham nosso ponto de vista, e que esto dispostos a
fazer os sacrifcios necessrios para obt-lo.
Blackhand concordou. Simsim, eu vejo. Uma liderana pblicae uma
confidencial.
Os lbios de Guldan formaram um sorriso. Blackhand observou-o por um
momento, e ento perguntou:
E a qual devo pertencer?
Ambos, meu amigo. respondeu com calma. Voc um lder nato. Tem
carisma, fora e at seus inimigos sabem que voc um mestre estrategista. Ser fcil
eleger voc como lder dos orcs.
Guldan
Orgrim Doomhammer
O sono no chegou facilmente para Durotan. E nem para Draka, j que ela
revirava e suspirava. Finalmente desistiu e repassou os acontecimentos do dia. Seus
instintos gritavam que era errado adotar o caminho de uma magia que
descaradamente desenvolvia-se no sofrimento de outro ser. E, no entanto, o que mais
podia ser feito? Os elementos haviam abandonado os xams, apesar dos ancestrais
terem dado aos orcs essa misso. Sem a magia como uma arma adicional, os orcs
seriam dizimados pela sabedoria e tecnologia superior dos draenei.
Levantou-se e deixou a tenda. Acendeu uma fogueira para afastar a friagem da
alvorada e comeu a carne fria em silncio. Assim que quebrou seu jejum e viu o cu
clarear, percebeu um mensageiro se aproximar. Sem parar, ele jogou um pergaminho
para Durotan e seguiu em frente. Ele o desenrolou e fechou seus olhos para o
contedo.
Haveria outra reunio em dois dias, e nela os chefes deveriam eleger um lder que
falasse em nome de todos. Decidir por eles. Iriam eleger um que seria chamado Chefe
Guerreiro.
Um toque suave afagou seus cabelos. Olhou para cima e viu Draka lendo a carta
por cima de seu ombro.
Voc poderia at ficar em casa, disse bruscamente. O desfecho j est decidido
de qualquer jeito.
Ele sorriu com tristeza. Voc no costumava ser to cnica, minha amada.
No costumava viver em tempos como esse. foi tudo o que ela disse. Em seu
corao sabia que ela estava certa. Havia apenas um orc que era bem conhecido e
carismtico o bastante para ganhar votos suficientes para ser Chefe Guerreiro. Grom
Hellscream poderia ser algum desafio para Blackhand, mas Hellscream era muito
impulsivo para ser confiado a essa tarefa. Ele havia sido uma figura visvel desde o
incio, primeiro opondo-se e depois apoiando Nerzhul. Eram seus xams que haviam
tornado-se os primeiros bruxos. Havia sido vitorioso mais vezes contra os draenei do
que qualquer um.
Draka, como na maioria das vezes, estava certa sobre isso. E dois dias mais tarde
assistiu com um olhar tedioso enquanto os votos dos chefes dos cls eram somados e
como Blackhand do cl Blackrock foi escolhido. Viu que vrios olhavam em sua
direo ao que o nome de Blackhand foi anunciado por Guldan, e o grande orc
aceitava o ttulo com falsa modstia. Durotan nem se deu o trabalho de contestar. De
que adiantaria? J estava sob suspeita de deslealdade. Nada do que dissesse poderia
mudar o que estava decidido.
Em um determinado momento, olhou para Orgrim. Para os outros, o olhar do
segundo em comando do cl Blackrock mostrava firmeza e apoio ao seu lder. Mas
Durotan o conhecia melhor do que qualquer um e viu um leve franzido na testa e o
maxilar endurecido, que indicava que estava to descontente quanto ele com essa
deciso. Mas Orgrim tambm no estava em posio para fazer objees. Mas torcia
para que a proximidade de seu amigo com Blackhand pudesse ajudar a diminuir o
prejuzo que certamente o novo lder faria.
Blackhand agora estava de p, acenando e sorrindo para a plateia animada. E
apesar de no se opor, tambm no via razo para aplaudir um orc que representava
tudo o que ele mais desprezava.
Orgrim estava atrs direita de seu lder. Guldan olhava Blackhand com
respeito e Durotan sabia que o xam estava manipulando as coisas, apesar de no
saber como.
Queridos irmos e irms! comeou Blackhand. Recebi de vocs essa honra.
Irei provar-me um Chefe Guerreiro digno desse mar de guerreiros nobres. Ns
aprimoramos nossas armas e armaduras a cada dia. E agora rejeitamos os
imprevisveis elementos e adotamos o verdadeiro poder poder que nossos bruxos
controlam e manejam sem rastejar ou humilhar-se para ningum. Isso liberdade!
Isso fora! Temos um propsito, um foco claro. Iremos varrer os draenei das nossas
terras. No sero capazes de resistir a essa mar de guerreiros e bruxos, esta Horda
arrebatadora. Somos seu pior pesadelo. Para a batalha!
Levantou seus braos e gritou. Pela Horda!
E milhares de vozes apaixonadas seguiram. Pela Horda Pela Horda! Pela
Horda!
Indignados demais para ficar, Durotan e Draka retornaram ao lar logo depois da
eleio do lder. Os xams ficaram para poder treinar. Quando retornaram, muitos
dias depois, Durotan viu que estava confiantes e orgulhosos de novo. Essa nova magia
restaurou a confiana em si mesmos; algo que havia evaporado como o orvalho da
manh, quando os elementos os deserdaram. Durotan estava agradecido por isso.
Amava seu cl e sabia que eram pessoas boas, no gostava de v-los abalados e
desanimados.
No comeo praticavam em animais, juntando-se aos grupos de caa e mandando
as estranhas criaturas atrs de fenocerontes e talbuques. Durotan ainda sentia-se
apreensivo com a agonia que as vtimas sofriam. Com o passar do tempo, as criaturas
sofriam menos no porque a dor havia diminudo, mas porque os bruxos
aprenderam a matar de maneira mais rpida e eficaz. A incluso destes estranhos
ajudantes, ou bichos de estimao, como alguns bruxos afetuosamente se referiam
aos seres que ficavam sob seu controle, parecia fazer toda a diferena.
Blackhand pareceu gostar da sua nova posio. Mensageiros apareciam
diariamente com pergaminhos e tanto eles quanto seus lobos estavam cada vez mais
adornados. Durotan admitiu que saber o que acontecia com os outros cls era til.
Mas um dia, algum que no era um mensageiro, chegou ao acampamento.
Reconheceu o traje; o orc montado em um lobo com uma capa preta lustrosa e
peculiar era um dos bruxos pessoais, Kurkul. Parou seu lobo, desmontou e fez uma
reverncia a Durotan.
Chefe, uma palavra vinda do Chefe Guerreiro. disse com uma voz
aparentemente agradvel. Durotan aquiesceu e gesticulou para que o bruxo o
acompanhasse. Andaram at estarem certos de que no era possvel ouvi-los.
O que pode ser que Blackhand queira ao mandar um de seus mais importantes
bruxos? perguntou.
Kurkul sorriu em volta de suas presas. Estou indo em todos os cls. disse
claramente com a inteno de colocar Durotan em seu lugar. Os Frostwolves no eram
particularmente honrados. Durotan grunhiu e cruzou os braos, esperando.
O fator mais importante em nossa eventual vitria gloriosa sobre os draenei so
nmeros. continuou. Eles so poucos e somos muitos. Mas precisamos de mais.
E o que Blackhand deseja ento? resmungou. Devemos parar de lutar e
copular?
O mensageiro no piscou. No deixar de lutar, mas simencorajar nossos
guerreiros a procriar. Recebero recompensas por cada criana que venha a nascer
em seu cl. Isso vai ajudar. Mas infelizmente, precisamos de mais guerreiros agora,
no daqui seis anos.
Durotan o encarava pasmo. Seu comentrio era apenas uma piada grosseira. O
que estava acontecendo.
Crianas comeam a treinar com seis anos. prosseguiu Kurkul. So fortes o
bastante para batalhar com doze anos. Convoque todos os jovens.
No entendo. Convoc-los para que?
O mensageiro suspirou como se Durotan fosse uma criana tola. Tenho a
habilidade de acentuar seu crescimento. Iremosaceler-los um pouco. Se pegarmos
todos os jovens entre seis e doze anos e deix-los todos com doze anos, dobraremos
nossos nmeros nos campos de batalha.
Durotan mal pde acreditar no que ouvia. Absolutamente no!
Temo que no tenha escolha. uma ordem. Qualquer cl que se recuse a
obedecer ser marcado como traidor da Horda. O cl ser exilado e seu lder e
companheiraexecutados.
Durotan estava hipnotizado. Kurkul entregou o pergaminho. Leu com as mos
tremendo de raiva e viu que o bruxo havia falado a verdade. Ele e Draka seriam
mortos e o cl exilado.
Voc seria capaz de roubar-lhes a juventude, ento?
Pelo futuro deles? Sim. Irei drenar um pouco de suas vidaso equivalente a seis
anos. No sofrero danos. As crianas Blackrock com certeza no sofreram.
Blackhand inclusive insistiu que seus trs filhos fossem os primeiros a serem honrados.
Em troca sero capazes de lutar pela glria da Horda agora, quando podem fazer
diferena.
Durotan no estava surpreso por saber que havia deixado que fizesse isso com
seus filhos. Pela primeira vez sentiu-se agradecido por ter poucas crianas em seu cl.
Apenas cinco que se encaixavam no requisito. Releu a mensagem sentindo fria e
nusea ao mesmo tempo. Essas crianas deveriam ter direito de serem crianas.
O bruxo esperava pacientemente. Ento Durotan disse com um tom
propositalmente rspido para esconder sua dor. Faa o que deve fazer.
Orcs
Velho amigo,
Tenho certeza que no surpresa para voc que est sendo observado. Eles iro
definir uma tarefa para voc, uma que sabem que pode complet-la. E assim voc dever
fazer. No sei o que faro se recusar, mas temo pelo pior.
Orc do cl Frostwolf
Guerreira draenaia
Durotan jogou sua cabea para trs e gritou sua agonia para os ancestrais.
Assim continuaram os orcs, deixando cadveres em seu rastro. A grande maioria
de mortos eram draenei, mas aqui e ali aparecia um corpo castanho de um orc cado.
Alguns orcs que ainda viviam, gritavam por ajuda, mas suas splicas no foram
ouvidas. Xams podiam cur-los com seus feitios, mas aparentemente a magia dos
bruxos no abrangiam as artes da cura. Ento jaziam onde haviam cado, alguns
arfando seus ltimos suspiros ao lado do draenei que haviam matado enquanto a onda
irreversvel despejava-se adiante.
Seguiam pelas ruas atravs dos ps da colina, entrando em cada construo e
matando quem encontrassem. Certamente alguns draenei se esconderam, pensou
Durotan, e rezavam para que no fossem achados. No achava que essas preces seriam
atendidas. Uma vez que a primeira rodada de massacre fosse completada, haveria os
saques e a procura por aqueles que escaparam do ataque. Ele sabia. Foi planejado
assim.
Alcanaram o maior edifcio at ento, aquele que ficava mais alto na montanha,
e Durotan reconheceu imediatamente. Era a casa do magistrado, onde ele e Orgrim
tinham jantado com o Profeta. Pensou com amargura que Velen no era bem um
profeta, se no previu esta situao negra. Nightstalker apressou-se pelos degraus e
Durotan no conseguiu evitar. Durotan virou a cabea e olhou sobre os ombros, em
direo da cidade l embaixo, exatamente como fez a primeira vez que subiu esses
degraus com seus prprios ps.
Naquela poca, a cidade draenei entendia-se como joias em um prado. Agora,
parecia o oposto do que foi uma cidade tomada, quebrada, com sangue e a morte de
no apenas de seus cidados, mas de qualquer esperana de paz, trgua ou negociao.
Durotan fechou brevemente seus olhos com pesar.
Tenho orgulho do meu povo e de nossa cidade, havia ditoe Restalaan, seu corpo
jazia morto e rijo na rua branca junto com incontveis draenei. Trabalhamos duro
aqui. Amamos Draenor. E nunca pensei que teria chance de dividir isso com um orc. As
armadilhas do destino so definitivamente estranhas.
Mais estranha do que qualquer jovem orc ou guarda draenei poderia imaginar.
Os cmodos que fizeram os dois jovens orcs sentirem-se confinados anos atrs,
agora parecia totalmente claustrofbico repleto de dzias de guerreiros orcs. Maioria
estava vazio; houve tempo para evacuar todos os draenei, exceto aqueles que juraram
lutar a servio da cidade. E esses guardas que os atacavam agora, morreram. A bela
moblia ornada foi usada como arma, lanada na cabea dos draenei, a quebradeira
acrescentando emoo da luta. Orcs fazendo buracos nas paredes macias com socos
pelo simples prazer de faz-lo. Camas rasgadas, e esttuas destrudas por machados
ou martelos.
Durotan havia chegado ao seu limite. Pare!, gritou, mas ningum o escutou. As
criaturas controladas pelos bruxos pareciam contentes com esse comportamento. Mas
a hora da destruio j havia passado e a implacvel selvageria dos orcs no serviria
de nada agora que os habitantes de Telmor estavam mortos ou haviam fugido.
Pare! gritou novamente. Desta vez Orgrim o escutou e tambm gritou. O
representante do cl Warsong tambm balanou a cabea, como se para livrar-se de
algo nebuloso e obscuro, e ento tambm tentou acalmar seus guerreiros. DrekThar,
junto com outros bruxos no ficou perdido na sede de sangue como os outros, ento
parou os que ainda lanavam feitios.
Escutem! rugiu Durotan. A maioria j havia chegado ao cmodo onde havia
jantado com Velen. Aquele estava vazio, cadeiras e mesas reviradas, as tapearias da
parede rasgadas e jogadas no cho.
Tomamos a cidade, hora de tirar dela o que precisamos!
Estavam escutando agora, sua respirao em flegos que enchiam o quarto com
um som rouco. Mas pelo menos eles pararam de usar suas armas em qualquer coisa
que se mexiaou s vezes no que no se mexia.
Primeiro vamos ajudar os feridos, ordenou. No deixaremos que nossos
irmos sofram nas ruas.
Alguns pareciam sentir culpa por isso. Durotan percebeu que muitos haviam
esquecido completamente que alguns dos seus ainda permaneciam se contorcendo de
dor l fora, enquanto praticavam a destruio gratuita da esttua do magistrado.
Afastou esses pensamentos e acenou para DrekThar. Os bruxos podem no ter
magias de cura, mas eles haviam sido xams, e sabiam como cuidar das feridas da
batalha de uma maneira mais mundana. DrekThar gesticulou para vrios bruxos e
eles voltaram pelo caminho de onde tinham vindo.
Agora, essa cidade tem suprimentos dos quais nunca havamos visto. H
alimentos em abundancia, armas, armaduras e outras coisas que no conhecemos.
Coisas que serviro a Horda em sua busca para-
Ele no pode terminar a frase como planejou: Em sua busca para varrer os
draenei.Ao invs disso, disse desajeitado, Em sua busca. Somos um exrcito. E um
exrcito marcha junto com seu estmago. Precisamos estar bem alimentados, bem
hidratados, curados, descansados e protegidos. Orgrim voc pega um grupo e
comece pelo fim. Guthor, pegue outro e v direto para os portes. Avance at
encontrar o grupo de Orgrim. Qualquer um que tenha qualquer conhecimento de
cura, apresente-se a DrekThar e faa exatamente como ele mandar.
E os draenei que encontrarmos vivos? perguntou algum.
Realmente, o que fazer? No havia estrutura para cuidar dos prisioneiros, e no
final, o nico propsito para prisioneiros, seria para negociar. Uma vez que ficou bem
claro que a nica finalidade da Horda era o total extermnio da raa draenei, no
havia motivos para fazer prisioneiros.
Mate-os. disse roucamente. Esperou que essa falha em seu tom de voz fosse
interpretada como uma fria crua do que a dor agonizante que era. Mate todos eles.
Ao que os orcs correram para obedecer a suas ordens, Durotan se pegou
desejando que Nightstalker no tivesse sido to rpido em proteg-lo. Teria sido mais
fcil se tivesse perecido pela mo de Restalaan do que ter proferido aquelas palavras.
Com alguma sorte, durante essa campanha horrvel para apagar uma espcie que
nunca levantou a mo para eles, a morte acharia Durotan cedo ou tarde.
Kiljaeden
Aliados.
Eles precisavam de aliados.
Guldan estranhou Kiljaeden no perceber isso. De fato os orcs eram poderosos,
principalmente quando controlados e direcionados de maneira apropriada. Os longos
meses, mais de um ano, que essa guerra se alongou apenas acentuou isso. As melhores
mentes orcs trabalhavam para entender como a tecnologia draenei funcionava.
Construes comeavam no centro da fortaleza, a qual Guldan chamava de Cidadela,
onde um exrcito poderia ser tranquilamente alojado, treinado e equipado. Os orcs
nunca haviam tentado nada parecido com isso e o bruxo estava orgulhoso de ter tido a
ideia. Eram guerreiros, eram xams agora, claro, bruxos curavam e eram artesos.
Os trs primeiros tinham objetivos claros e muitas oportunidades para fazer seu
trabalho. Os artesos contribuam de maneira diferente, criando armaduras, armas e
construes para apoiar aqueles que tinham a glria de assassinar draenei at que seus
corpos ficassem frios e cobertos de sangue.
Alguns poderiam referir-se a eles como uma classe mais baixa de orc.
Secretamente, era assim que o bruxo pensava. Mas era sbio o bastante para saber
que seu ofcio, apesar de no ser nobre ou dificilmente reconhecida, era to necessrio
quanto o desejo de matar de um guerreiro ou a maestria de lanar feitios de um
bruxo. Aqueles que forneciam alimentos, abrigo, armamento os guerreiros e bruxos
no iriam longe sem eles. Ento Guldan fez um espetculo de louvor aos artesos e o
resultado agradvel foi deix-los inspirados para trabalhar mais e melhorar.
Mas apesar de cada orc de cada cl estar trabalhando o mximo que podia e
Guldan tinha espies em cada cl para certificar-se disso no iria ser o bastante. A
tomada de Telmor foi surpreendentemente fcil e o estmulo moral foi grande. Mas
sabia que a vitria dos orcs foi em grande parte devido a sorte. Nenhum draenei que l
vivia tinha razo para achar que seria descoberto e invadido em questo de horas.
Achavam que estavam totalmente a salvo, protegidos pela magia da pedra verde, que
Guldan chamou de Folha Sombria, que os protegia das vistas dos ogros e depois dos
orcs. Aquela vitria fcil no seria repetida. Como
Ogros, disse em voz alta. Tocou seu queixo, pensativo. Ogros
Estandarte do cl Blackrock
Lar.
Independente da raa a qual se pertence, uma palavra, um conceito que faz o
corao encher-se de anseio. Um lar pode ficar em terras ancestrais, ou em um novo
lugar que algum se tornou seu. Pode tambm ser achado nos olhos da pessoa amada.
Mas todos precisam e desejam, pois sem um lar de algum tipo somos incompletos.
Por muitos anos, cada cl tinha seu prprio lar e terras sagradas. Espritos da terra,
ar, gua, fogo e da natureza. A erradicao comeou e continuou cada vez mais
devastadora, at chegarmos a Kalimdor. Aqui, achamos um lar para um povo errante.
Um lugar para repouso, um santurio, onde possamos nos reunir e reconstruir.
Lar, para mim, agora tem o nome de meu pai; a terra de Durotar.
Durotan levantou a cabea para farejar o ar. O aroma que preencheu suas
narinas era de poeira e desidratao, um tipo acre de odor. Parecido a algo
queimando. Antes DrekThar poderia ter sentido esse cheiro melhor do que ele, mas
esses dias j haviam se passado. No era mais um xam, era um bruxo. O vento no
viria ao seu chamado quando solicitado, carregando informaes to detalhadas como
se tivessem sido escritas em um pedao de pergaminho. E pior, nem ele e nem os
outros bruxos do cl pareciam se importar.
Havia algum tempo que no chovia e o vero parecia mais quente do que o
normal. Era o segundo vero no qual a chuva veio escassa, isso quando veio e por um
capricho Durotan ajoelhou e enfiou os dedos no solo. Antes era um barro frtil,
marrom escuro e cheirando a terra. Agora seus dedos mergulhavam facilmente na
poeira e a crosta ruiu entre eles, e dissolviam em areia que no eram capazes de
suportar pasto ou colheitas ou qualquer outra coisa.
Escutou Draka se aproximando, mas no se virou. Sentiu os braos dela em volta
da cintura, abraando-o. E assim ficaram por um longo tempo e ento com um ltimo
aperto, soltou-se e virou para encar-lo. Durotan limpou as mos.
Nunca dependemos muito daquilo que podamos plantar. disse calmamente.
Draka olhou-o com seus olhos negros e sbios. Seu corao doeu ao olh-la. Ela
era melhor do que ele em tantas coisas. Mas era a companheira do chefe, e no o chefe,
e no tinha que fazer as escolhas que ele tinha.
As escolhas que tinha.
Ns dependemos basicamente do que podemos caar, disse. Mas os animais
que caamos se alimentam do que a terra fornece. Somos todos conectados. Os xams
sabiam disso.
Ficou em silncio quando um dos bruxos mais jovens chegou, com uma pequena
criatura saltitante no seu encalo. Ao passar, a criatura virou para olhar Draka e
sorriu, mostrando a boca repleta de dentes afiados. Draka sentiu um arrepio.
Durotan suspirou e entregou uma mensagem. Acabei de receber. Devemos nos
preparar para uma longa marcha. Vamos deixar nossas terras.
Como assim?
Ordem de Blackhand. Ele mudou-se para a sua nova cidadela, que foi feita para
ele, e quer seu exrcito l. No ser mais suficiente nos juntarmos para atacar.
Devemos viver juntos e estarmos prontos para seguir Blackhand para onde nos
liderar.
Draka o encarava, incrdula, ento baixou seus olhos para a mensagem. Leu
rapidamente, enrolou e devolveu a ele.
Melhor nos prepararmos, disse baixo, e voltou para a tenda.
Ao v-la ir, perguntou-se o que exatamente aconteceu que fez seu corao partir.
Cidadela de Hellfire
Velen estremeceu. Seu assistente foi ampar-lo, oferecendo uma bebida quente e
suave, mas o Profeta recusou. Nenhum conforto poderia vir de uma bebida agora.
Nenhum conforto poderia vir de novo.
Ficou em luto quando recebeu a notcia de que Telmor havia cado, e junto com a
cidade foi-se seu amigo Restalaan. Foi ainda pior saber como o ataque aconteceu.
Velen havia sentido algo especial no jovem Durotan, e o tratamento que teve quando
esteve sob sua custdia, apenas confirmou a f no chefe do cl Frostwolf. E agora isso.
Durotan e Orgrim foram os nicos orcs que presenciaram como a pedra verde havia
protegido a cidade. Um deles inclusive decorou o encantamento que desativaria a
camuflagem protetora. Alguns conseguiram escapar para o Templo de Karabor. Seus
ferimentos foram cuidados, mas no havia nada que ele ou qualquer um pudesse fazer
para curar seus espritos destroados.
Mas havia notcias piores. Os refugiados falaram que as armas dos orcs no eram
apenas arcos, flechas, machados ou lanas. Falaram tambm de setas verdes escuras
que causavam mais dor e tormento do que qualquer magia lanada pelos xams. E
tambm de criaturas que se agitavam e danavam aos ps daqueles que praticavam
tais magias.
Eles falavam dos manari.
De repente, as peas se encaixaram numa lgica espantosa. O ataque abrupto e
irracional dos orcs. O aumento repentino de tecnologia e habilidades. O fato de terem
renegado o caminho do xamanismo, uma religio que, at onde Velen entendia, era
baseada numa relao de dar e receber entre os xams e os elementos. Aqueles que
comandavam os manaris no se preocupavam em equilbrio e harmonia com seus
poderes; eles buscavam controle.
Assim como Kiljaeden e Archimonde.
Os orcs nada mais eram do que pees nas mos dos eredar. Velen sabia que ele e
os exilados eram os alvos reais. A Horda orc, agora expandida com a adio de
criaturas imensamente poderosas, era a maneira com a qual Kiljaeden desejava
destru-lo. Por um breve instante, o Profeta pensou que talvez pudesse racionalizar
com o lder da Horda; se eles se voltassem e lutassem junto com os draenei para
derrubar Kiljaeden, depois de saber que esto sendo usados. Mas desistiu da ideia na
mesma hora. Era provvel que aqueles sendo usados por Kiljaeden sabiam dos
propsitos e da natureza dos eredar, e a oferta por poder parecia real e sedutora. E
Archimonde e Kiljaeden sucumbiram, sendo que eram infinitamente mais sbios
velhos e fortes que qualquer orc.
E agora para piorar a situao, essa viso, da aliana dos orcs com os desajeitados
ogros algo que acharia ser um sonho trazido por uma bebida forte. Agora sabia ser
verdade. Algo mudou de maneira drstica a natureza dos orcs, e to irrevogvel, que
se aliaram a seres que odiaram por geraes, ao contrrio dos draenei, que tentaram
apenas serem amigveis pelo mesmo perodo.
Se houvesse ocorrido em outro lugar, a resposta seria simples. Velen reuniria seu
povo e fugiria, protegido pelos Naaru. Mas a nave havia colidido, e Kure estava
agonizando, e no havia fuga, apenas lutar contra essa Horda, rezando para
sobreviverem de algum jeito.
Ah, Kure, velho amigo. Como sinto falta da sua sabedoria agora, e quo doloroso
saber que jaz junto ao inimigo, que no faz ideia da sua existncia.
Segurou junto ao peito a pedra que era conhecida como Canto do Esprito e
sentiu uma fraca centelha do Naaru moribundo. Velen fechou os olhos e baixou a
cabea.
Guldan olhou a sala com grande satisfao. Tudo estava indo como planejado. O
Conclio das Sombras se reunia h algum tempo e sentia-se confiante. Havia escolhido
bem. Estavam preparados nem, vidos para trair seu povo e buscar suas
aspiraes pelo poder. J realizaram tantas coisas, agindo atravs de seus fantoches
que pensavam fazer parte do Conclio. Foi fcil eleger um Chefe Guerreiro, e contanto
que o Conclio sorrisse e concordassem com ele nas poucas vezes que era chamado
para uma reunio, ele no fazia perguntas. Mas Blackhand sempre ia embora antes
das verdadeiras reunies acontecerem, enviado para uma misso especial que enchia
seu peito de orgulho.
Fundo, no sonho desencarnado, flutuavam os seres que eram feitos de luz. Tinham
memrias do que havia sido e relances do que estava por vir. Residiam aqui por muito
tempo, alimentados pelo Outro, que era como eles, mas no parecidos com eles, e aqueles
que sentiam estavam perto da passagem. At ento, eles jaziam num estado de ser no-
ser de paz e tranquilidade. Mas agora, corrupo e dio havia chegado. Eles no podiam
mais alcanar os amados vivos, e esses no os procuravam como antes, nem para
reabastecer a poa sagrada e involuntariamente manter o Outro vivo. Apenas o Grande
Ludibriado veio, chorando e implorando, mas muito perdido em seu engano para ser
ajudado.
Repentinamente seu sono profundo foi interrompido. Um tremor passou por eles.
Dor os afligiu e pediram ajuda para o Outro, que no podia ajud-los, e no podia ajudar
a si mesmo. Os seres obscuros e profanos, que antes eram belos, estavam chegando. Os
ancestrais sentiam sua aproximao. Irremediavelmente eles surgiam, unindo suas
foras, criando um anel de escurido e fragmentao em volta da base da montanha.
Escurido tangvel danava das coisas que seguiam Sargeras, atrados pela promessa de
poder, alimentados agora pela promessa da total destruio. Os ancestrais sentiram
clera fervente e concentrada fundir numa manifestao de energia verde escura,
aoitando como tentculos, que buscavam se unir. Sua luta aumentou at que uma
corrente de poder sombrio sufocou a montanha, selando-a, prevenindo qualquer orc
perdido a entrar e qualquer alma agitada a sair.
E agora, tambm o Outro, gritou de pesar quando o crculo foi fechado. Sem a gua
que os xams traziam, no podia mais nem tentar curar a si. E sem o Outro, tambm no
haveria ancestrais.
Longe, sonhando, os poucos orcs que secretamente ainda se achavam xams,
tremeram e choraram, seus sonhos corrompidos em pesadelos de tormentos interminveis
e destruio fatal.
Fao parte do segundo grupo de xams, assim como sou lder da segunda, e rezo
melhor e mais sbia, encarnao da Horda. Comuniquei-me com os elementos e
espritos, e os senti trabalhando comigo em harmonia muitas vezes e recusando sua ajuda
tantas outras.
Mas eu nunca vi os espritos dos ancestrais, nem em sonhos; minha alma anseia por
essa ligao. At muito recentemente, aqueles que andam pelo caminho dos xams no
sonhavam poder faz-lo, e mesmo assim foi possvel.
Quem sabe um dia, as barreiras entre ns e os amados finados, tambm seja
derrubada.
Quem sabe.
Mas eu me pergunto se realmente sabem o quanto nos distanciamos dos seus
ensinamentos, se viram o que foi feito em Draenor, com Draenortalvez mesmo agora,
eles virariam as costas nos deixando a merc do destino. E posso dizer que no os
culparia se assim fizessem.
No entendo, disse Ghun. Era o bruxo mais novo do cl e ainda assim idealista,
pensou com amargura Durotan. Viu o jovem torcer o nariz para as criaturas que era
obrigado a usar na batalha contra os draenei e seu rosto repleto de remorso ao ver o
inimigo se contorcer de dor. Durotan tomou conhecimento do bruxo atravs de
DrekThar depois do documento emitido por Guldan. Qual o problema em desejar
que os elementos cooperem conosco de novo? E por que no posso ir a Oshugun?
O chefe no tinha respostas; a ordem que nenhum orc deveria praticar o
xamanismo ou sofreria punies severas exlio ou morte por violaes recorrentes
parecia no ter motivo. Era verdade que os elementos abandonaram aqueles que
seguiam por esse caminho, mas e os ancestrais? Por que diabos Guldan proibiria os
orcs de irem ao seu local mais sagrado nessa hora de necessidade e apuro?
E por no ter respostas para o jovem que as merecia, Durotan ficou furioso. Seu
tom de voz era rouco e spero.
Nosso Chefe Guerreiro fez alguns aliados para poder vencer os draenei. Esses
aliados nos deram os poderes bruxos que agora controlamos. Sei que est feliz com os
resultados, no minta para mim.
Os dedos longos de Ghun estavam cavando a terra seca e removeram uma pedra.
Jogava-a para cima com a palma da mo. Durotan franziu a testa ao olhar a pele do
bruxo. A aridez e as duras condies sob as quais estavam trabalhando h quase dois
anos estavam os afetando. Normalmente os orcs tinham uma pele castanha e suave,
estendida sobre msculos tonificados, mas agora estava ressecada e descascando.
Distrado, Ghun coou onde havia pele spera. Durotan olhou a nova pele embaixo.
Tinha uma colorao esverdeada.
Por um instante, foi tomado por um pnico irracional. Acalmou-se e olhou de
novo. No era um engano a pele estava esverdeada. No fazia ideia do que
significava, mas era recente e estranho, e por instinto no gostou disso. Ghun no
pareceu notar. Arremessou a pedra e viu desaparecer no horizonte.
Se o bruxo fosse mais velho, perceberia o aviso no tom de voz usado pelo seu
chefe, mas era jovem e estava envolto em suas prprias preocupaes e no deu
ateno a advertncia.
Os feitiosas criaturas que me obedecemestou satisfeito com a eficincia,
mas no com a maneira. Pareceparece errado, meu chefe. Matar matar, e os
elementos me davam poderes que aniquilavam os inimigos. Mas nunca me senti assim
quando me davam esse poder. Estamos nessa guerra porque os ancestrais nos
disseram que precisvamos matar os draenei. continuou. E por que agora Guldan
nos probe de falar com eles?
E algo em Durotan estalou. Deu um grito furioso e colocou o jovem de p. Puxou
Ghun pelo tecido de sua camisa ficando a poucos centmetros do rosto perplexo do
bruxo.
No interessa! gritou. Farei o que for melhor para meu cl, e isso significa
seguir as ordens de Guldan e Blackhand. Obedea a essa nova ordem!
Ghun o encarava. A fria foi embora to rpido quanto chegou, deixando dor em
seu rastro. Durotan acrescentou com um tom rspido, sussurrando apenas para que o
jovem bruxo escutasse. No serei capaz de proteg-lo, se no obedecer.
Ghun olhou em seus olhos, e um brilho laranja e estranho apareceu por um breve
instante, ento olhou para baixo e suspirou.
Compreendo, meu chefe. No trarei desonra para o cl Frostwolf.
Durotan o soltou. Ghun endireitou-se, arrumou suas vestes, fez uma reverncia e
partiu. Ele tambm sentia algo de errado em como as coisas estavam se desenrolando.
Mas um nico jovem tentando entrar em contato com os elementos no seria o
bastante.
Nem, pensou com angstia, um nico chefe.
Orcs guerreiros
Shadowmoon Valley
Nerzhul esperou que Guldan terminasse. Ele viu com olhos semi-abertos o
bruxo escrever carta aps carta, manchando seus dedos de tinta e comendo frutas e
carne com esses mesmos dedos sujos. Ento eram cartas importantes; geralmente
Guldan pediria a um escriba bajulador para enviar as mensagens.
O templo havia sidopurgado, essa foi a palavra usada por Guldan. Os
sacerdotes que haviam ficado para brava e estupidamente enfrentar a onda de orcs
haviam sido mortos com rapidez e eficincia. Soube que os corpos foram violados, e
achou compaixo em si para se sentir enojado. Mas os corpos no existiam mais, assim
como os itens sagrados. A maior parte do templo foi fechada; O Conclio e seus servos
no precisavam de tanto espao. Algumas moblias foram utilizadas, outras foram
destrudas ou substitudas por decoraes sombrias e pontiagudas que j estavam
comeando a ficar associada Horda. O local foi renomeado para Templo Negro e
agora abrigava mentirosos e traidores, ao invs de sacerdotes e profetas. E, pensou
com tristeza, ele fazia parte do primeiro grupo.
Finalmente, Guldan terminou. Limpou o p de tinta das mos para evitar
manchas e sentou-se. Olhou para seu antigo mestre com uma repulsa velada.
Enderece e leve at os mensageiros. E faa isso rpido.
Nerzhul inclinou a cabea. Ainda no conseguia fazer uma reverncia para seu
antigo aprendiz, e Guldan no o pressionava, pois sabia quo destrudo estava.
Sentou-se na cadeira que o bruxo havia usado e assim que seu andar pesado no pde
ser mais escutado, comeou a ler as mensagens.
Guldan sabia que leria, e no havia nada que j no sabia. Era convidado para
todas as reunies no Templo Negro, mas era obrigado a ficar no cho frio e no na
grande mesa de pedra, onde os influentes sentavam. No sabia o porqu, apenas que
Kiljaeden o queria l. Caso contrrio, Guldan j teria se livrado dele.
Ficou perturbado ao ler as palavras. Sentiu-se totalmente impotente, como uma
mosca presa a seiva que escorria da rvore olemba. Alis, costumava escorrer. As
rvores haviam sido cortadas para aproveitar a madeira, ou estavam morrendo.
Afastou o pensamento e comeou a enrolar as mensagens. Seus olhos pousaram no
pedao de pergaminho no utilizado e na pena com tinta.
Seria to audacioso, que s de pensar seu corao parou por um instante.
Olhou em volta rapidamente. Estava sozinho, e no havia motivo para que
Guldan voltasse. Guldan, Kiljaeden, o Conclio achavam que estava destrudo, to
inofensivo quanto um lobo velho e banguela que aquecia os ossos junto fogueira
esperando o sono da morte. E talvez estivessem certos.
Talvez.
Nerzhul j havia aceitado que seu poder havia sido tirado. Seu poder, no sua
vontade, pois sem isso no teria conseguido resistir a Kiljaeden. No podia agir
diretamente, mas poderia entrar em contato com quem poderia.
Segurando o pedao de pergaminho, seus dedos tremiam. Teve que se acalmar
para poder escrever algo legvel. Finalmente, escreveu uma breve mensagem, guardou
a tinta e enrolou a mensagem.
O lobo era banguela. Mas o lobo no havia esquecido como lutar.
Templo Negro
Mais ordens para marchar. Durotan j estava cansado. No havia mais trgua,
apenas batalha, consertar armadura, comer carne dura e fibrosa, dormir no cho e
outra batalha. Os tempos de tocar tambores, fazer rituais e banquetear-se acabaram.
O tringulo perfeito que era a Montanha dos Espritos foi substitudo por um pico
negro que s vezes emitia uma fumaa preta. Alguns diziam que uma criatura morava
dentro da montanha e que um dia acordaria. Durotan no sabia no que acreditar.
Quando o mensageiro se aproximou, Durotan abriu a mensagem e leu com olhos
desinteressados. Arregalou os olhos ao ler e quando havia terminado seu corpo estava
tremendo e suando. Olhou para frente e pensou se algum poderia ter imaginado o
contedo da carta s pela expresso que havia feito. Orcs passavam por ele com p
grudado em suas peles grossas e armaduras maltratadas. Ningum sequer o olhou com
interesse.
Correu para encontrar Draka, a nica pessoa no mundo com a qual poderia
dividir essa informao. A reao dela foi a mesma ao ler.
Quem mais sabe disso? disse calmamente, deixando sua expresso firme.
S voc. respondeu.
Vai contar para Orgrim?
Durotan balanou a cabea. No me atrevo. Ele est jurado a contar tudo para
Blackhand.
E acha que Blackhand sabe?
Durotan encolheu os ombros. No fao ideia de nada. Apenas sei que devo
proteger meu povo. E farei isso.
Draka o olhou fixamente. Se o cl no fizer o que est escritoiremos atrair
ateno. Poder ser punido. Quem sabe exilado ou morto.
Durotan furou a carta com o dedo. Qualquer coisa melhor do que ir acontecer
se obedecermos. No. Jurei proteger meu cl. No os entregarei por
Percebeu tarde demais que sua voz estava alterada e alguns orcs prestavam
ateno. No os entregarei por isso.
Os olhos de Draka encheram-se de lagrimas e agarrou seu brao to forte que
suas unhas furaram a carne. E por isso. disse destemidamente. que eu me tornei
sua companheira. Estou to orgulhosa de voc.
Tenho orgulho da minha herana. Tenho orgulho de ter tido Durotan e Draka como
pais. E de Orgrim Doomhammer ter me chamado de amigo e me confiado a liderana do
povo que amava.
Orgulhoso da coragem dos meus paise ao mesmo tempo, gostaria que pudessem
ter feito mais. Mas no passei pelo o que passaram. fcil agora, numa posio segura e
confortvel da minha vida, dcadas aps o ocorrido e dizer Deveria ter feito isso. ou
Deveria ter dito aquilo.
Julgo apenas alguns indivduos que sabiam bem o que estavam fazendo, que
estavam trocando a vida e o destino de seu povo por uma recompensa momentnea. E o
fizeram de bom grado.
Quanto aos outrosposso apenas balanar a cabea e agradecer por no ter sido
forado a fazer as escolhas que fizeram.
Guldan estava to ansioso que mal conseguia se conter. Estava esperando por
esse momento desde a primeira vez que Kiljaeden mencionou. Tentou apressar seu
mestre, mas este apenas sorriu e pediu pacincia.
Ainda no esto prontos. Aprenda a esperar, Guldan. Um golpe dado cedo ou
tarde demais no mata, apenas machuca.
Guldan achou estranha a metfora, mas entendeu o que seu mestre quis dizer.
Mas finalmente os orcs estavam prontos para a ltima etapa.
Havia um ptio central no Templo Negro que era descoberto. Quando pertencia
aos draenei, essa rea tinha um jardim exuberante, com uma piscina no meio. Nas
ltimas semanas os orcs beberam a gua doce e pura, no se importando em
reabastec-la e agora deixando um espao vazio com pedras e ladrilhos. As rvores e
flores que rodeavam a piscina haviam murchado e morrido com uma velocidade
espantosa. Nerzhul e Guldan esperavam ao lado da piscina vazia a pedido de
Kiljaeden. Nenhum deles fazia ideia do que esperar.
Ficaram em total silncio por vrias horas e Guldan se perguntou se havia
desagradado seu mestre. Esse pensamento o fez comear a suar frio e olhou
nervosamente para Nerzhul. Ficou mais animado ao imaginar que talvez hoje o xam
rebelde fosse morto.
Perdeu-se em devaneios, fantasiando vrios tormentos que poderiam ser
aplicados a Nerzhul quando um sbito estalo de um trovo os fez arfar. Guldan
olhou para o cu; onde antes abrigava inmeras estrelas agora havia apenas
escurido. Engoliu seco, olhando fixo as trevas.
De repente a escurido comeou a agitar-se. Parecia uma nuvem negra pulsando,
e ento comeou a formar um redemoinho que aumentava a velocidade a cada
momento. O vento primeiro levantou levemente os cabelos e vestimentas de Guldan,
mas depois ficou to forte que o sentia esfregando sua pele. A terra tremeu e do canto
do olho pde ver Nerzhul falando alguma coisa, mas no conseguia ouvir nada. O
barulho da ventania estava alto e a terra sacudia mais intensamente sob seus ps.
O cu se abriu.
E algo brilhante e ardente despencou na terra em frente Guldan e Nerzhul.
Atingiu o cho com tanta fora que o bruxo foi jogado para trs. Por um longo e
aterrorizante minuto, no conseguiu respirar; ficou apenas se debatendo no cho
como um peixe at seus pulmes voltarem a funcionar e finalmente inalar uma grande
quantidade de ar.
Ficou de p, seu corpo tremia sem controle e perdeu o ar de novo quando viu a
coisa.
Era muito maior do que ele. Quando mexia suas quatro patas, pedaos de terra
voavam e batia as asas, irritado. O cabelo parecia uma juba que flua em cachos
verdes sobre seu pescoo e torso. Os olhos verdes brilhavam como estrelas e ao abrir a
boca suas presas podiam ser vistas na luz fraca. Parecia ter uma fileira de dentes
afiados e Guldan quis cair de joelhos e chorar de medo ao ver a parte inferior do ser.
Este, cerrou os punhos, baixou a cabea e olhou para os orcs amedrontados.
O que aquela coisa? gritou Guldan, em silncio.
E Kiljaeden apareceu de repente, olhando e sorrindo para o bruxo.
Contemplem meu tenente, Mannoroth. Tem me servido bem, e assim
continuar. Em outros mundos conhecido como o Destruidor, mas aqui ele o
salvador. Guldan, ronronou KIljaeden , fazendo-o sentir-se dbil e fraco de novo.
Voc sabe o que estou oferecendo para seu povo.
Mannoroth
Temos uma longa marcha a nossa frente, gritou Blackhand. Foram instrudos
a levar suprimentos e espero que tenham obedecido. Guerreiros, armadura polida e
armas prontas. Curandeiros levem seus medicamentos, poes e bandagens. Mas antes
de marcharmos para a guerra, marcharemos para a glria.
Levantou a mo e apontou a sombria montanha distante, que se projetava no cu
e soprava fumaa negra.
Ser nosso primeiro destino. Subiremos at a montanhae o que acontecer l
ser lembrado por milhares de anos. Ser o tempo no qual os orcs conhecero poder
que nunca antes provaram.
Parou para que pudessem processar o que foi dito e ficou feliz com o murmrio
causado.
Durotan ficou tenso. Entoseria hoje
Conhecido por no falar mais do que era necessrio, Blackhand terminou o
discurso com, Vamos!
A Horda avanou ansiosamente, curiosa e animada com as palavras do seu chefe.
Durotan olhou rpido para Draka, que acenou em apoio ao seu plano. Finalmente,
forando para mover-se, ele seguiu, pego pela mar de orcs.
A meio caminho da montanha havia uma trilha ngreme e estreita que levava a
um grande plat. Para Durotan, era como se esse pedao tivesse sido cortado com uma
espada, de to anormal. Arrepiou s de pensar. Nos ltimos dias, nada de natural
aconteceu na vida dele. Trs grandes placas de pedra negra e polida estavam
parcialmente encaixadas no cho, dispostas em sequncia. Eram, ao mesmo tempo,
belas e sinistras. Os orcs estavam cansados depois da subida sob o sol forte, vestidos
com armadura e carregando suprimentos e tentou encontrar alguma lgica nisso. No
parecia racional deixar os guerreiros exaustos pouco antes da batalha. Talvez ela fosse
acontecer na manh seguinte, depois de descansar.
Para sua surpresa, logo aps todos estarem acomodados e quietos, quem comeou
a falar foi Guldan, e no Blackhand.
No faz muito tempo que ramos um povo disperso. comeou o bruxo.
Reunamo-nos s duas vezes ao ano apenas para cantar, danar, tocar tambor e
caar.
Disse essas palavras com desdm. Durotan baixou a cabea. Os cls se reuniam
durante festival Koshharg fazia sculos. No era algo tolo, como estava implcito pelo
tom de voz de Guldan, mas sagrado e poderoso. Prevenia ataque entre os cls, mas,
pela reao dos orcs a sua volta , parecia que havia acontecido h dcadas. Eles
tambm grunhiam em reprovao e balanavam a cabea, envergonhados. Inclusive
aqueles que haviam sido xams.
Olhe para ns agora! Estamos lado a lado. O cl Laughing Skull junto ao
Dragonmaw; Thunderlord junto ao Warsong. Todos sob uma liderana forte e
perspicaz de Blackhand escolhido por vocs para unifica-los. Por Blackhand!
Gritos de satisfao ecoavam pela plateia. Durotan e Draka ficaram em silncio.
Ante sua orientao sagaz, e benfeitoria dos seres que escolheram aliarem-se a
ns, estamos fortalecidos. Tornamo-nos mais gloriosos. Nos ltimos dois anos,
progredimos mais em habilidade e tecnologia do que em dois sculos. A ameaa que se
aproximava dos orcs foi quebrada e precisar apenas de um impulso final para que
seja totalmente destruda. Mas antesprimeiro iremos nos comprometer causa e
receber uma beno em retorno.
Inclinou-se e pegou um clice estranho. Parecia ter sido feita do chifre de algum
animal, mas Dutoran no se lembrava de um fenoceronte ter um chifre to grande.
Era curvado e amarelo, com alguns adornos e inscries que brilhavam timidamente.
O contedo do clice, seja o que fosse, tambm brilhava. Assim que Guldan segurou
perante a si, uma luz amarela esverdeada horripilante iluminou seu rosto, criando
sombras grotescas.
Esta a Taa da Unificao. reverenciou Guldan. o Clice do
Renascimento. Ofereo-o ao lder de cada cl, e este pode oferec-lo a qualquer um de
seu cl que queira ver abenoado pelos seres que foram to bons conosco. Quem vir
primeiro jurar sua lealdade e receber a ddiva?
Guldan virou-se em direo a Blackhand. Este sorriu e ia comear a falar
quando uma voz selvagem e familiar cortou o ar.
No pensou Durotan. Noele no.
Draka apertou seu brao com fora. Vai avis-lo?
A garganta de Durotan travou. No conseguia falar. Ento decidiu: No. Antes
considerava o lder magro, mas imponente, como um amigo. Mas no poderia arriscar
revelar tudo o que sabia.
Nem mesmo por Grom Hellscream.
Grom Hellscream
Shadowmoon Valley
Almas distorcidas era grafada como uma nica palavra na lngua arcaica.
O fluido que passara pelos lbios daqueles que eram amigos e inimigos de
Durotan era sangue desse ser. E Durotan assistiu as almas distorcidas que os orcs
haviam se transformados, comearem a danar como insanos luz das tochas antes de
correrem montanha abaixo, dominados por uma fria e energia anormal, atacar a
cidade mais fortificada que o mundo havia visto.
Almas distorcidas.
Daemons.
Demons.
Demnios.
Os orcs desceram pela trilha, ardendo com uma necessidade feroz de destruio.
Alguns estavam transbordando com tanta clera e dio que golpeavam rochas pelo
caminho, outros gritavam enfurecidos. Havia aqueles que estavam em silncio,
guardando a energia para liber-la no momento certo.
Durante a longa corrida, Durotan teve mais medo de seus companheiros orcs do
que qualquer ogro, ou um bando de talbuques, ou at mesmo um guerreiro draenei
raivoso. Suava frio, mas no temia por si. Tinha medo do que aconteceria depois no
com os draenei, pois seu destino certamente j estava decidido, mas com os orcs. No
conseguia concentrar enquanto corriam para Shattrath como a Horda.
Em um determinado momento, um estrondo terrvel os derrubou. Levantaram-se
e olharam para trs.
Parecia que a montanha havia explodido. Fogo lquido jorrava no cu noturno,
subindo e ento descendo e espirrando do pico. Brilhava e irradiava como o sangue
demonaco que os orcs tinham acabado de beber, s que ao invs de verde, sua cor era
alaranjada. Mais e mais rochas derretidas eram expelidas da montanha. Era uma cena
magnfica, hipnotizante e pavorosa.
Os orcs comemoraram, pois entenderam como um sinal. Depois de festejar
brevemente na prpria montanha, o Trono de Kiljaeden, abenoando sua
empreitada, viraram-se e continuaram sua corrida a caminho da matana.
Diminuram a velocidade h uma milha da cidade. Uma rea havia sido
desobstruda recentemente e os orcs que l chegaram primeiro, observavam, confusos.
Foi dito que se reunissem nesse local; e onde as mquinas de guerra deveriam estar.
E sem aviso prvio, algo se materializou a sua frente. Os orcs recuaram com um
silvo, ento, em vista de tudo isso, comearam a rosnar para o ser gigantesco. Era trs
vezes maior do que o maior ogro; era vermelho desde as patas fendidas at os chifres
salientes. Nunca haviam visto nada naquele tamanho, mas a formaDurotan
encarava. Era nada mais nada menos do que um draenei colossal e com a pele
escarlate. A sbita compreenso de que os orcs foram mergulhados em um conflito
pessoal e que no era de sua conta, atingiu-o como uma onda gigante.
queles que juraram fidelidade a mim, no h nada que devam temer, apenas
celebrar. gritou e sua voz penetrava em seus ossos. Sou Kiljaeden, o Belo, que
esteve com vocs desde o comeo. E estarei durante a batalha mais gloriosa j vista. Os
perversos draenei conspiraram contra os orcs, escondendo uma cidade inteira. Mas
essa cidade foi destruda, junto com outras e seu templo foi conquistado. Esta batalha
tudo o que resta para que a ameaa seja eliminada.
A pedra verde que um dia escondeu a cidade de Telmor agora esconde a
perdio deles. Kehla men samir, solay lamaa kahl!
E a iluso foi dissipada. Dezenas de catapultas, aretes e variadas armas de cerco.
Ao lado estavam os ogros, parados e quietos; seus rostos obtusos cheios de
determinao. Carregavam armas adaptadas para seu tamanho e Durotan percebeu
que havia vrios preparados para lutar. As armas pareciam brinquedos em suas mos.
E tem mais disse e acenou com a mo. Os bruxos gritaram e seguraram a
cabea por um instante, e piscaram com um sorriso no rosto. Novos feitios foram
transmitidos para suas mentes. Use-os bem. Derrotem os draenei agora!
Os orcs moveram-se em um pulo, como se tivessem aberto os portes. Alguns se
precipitaram para as armas com uma fora que Durotan nunca viu antes. Os ogros
juntaram-se aos outros, pegando armamento pesado com rapidez. Alguns orcs ainda
estavam to imersos na sede de sangue que apenas correram em direo da cidade.
No fazia ideia o que fariam quando chegassem l, mas seguiu obedientemente junto
com seu cl.
Shattrath
Infernais
O que devo fazer? Guldan no parecia acreditar nas palavras que saiam de
sua boca, mas estava to aterrorizado que um conselho, seja qual fosse, era melhor do
que esse medo que sentia.
Nerzhul olhou-o com desprezo. A escolha foi sua.
No haja como se no tivesse alguma culpa! rebateu o bruxo.
Claro que no. As minhas escolhas foram egostas, para meu prprio proveito.
Mas nunca joguei fora o futuro do meu povo meu mundo por elas. Cad o poder
que lhe foi prometido, Guldan? Aquele que voc trocou pelo nosso povo?
Tremendo, afastou-se. Sabia que no havia poder e isso fez com que as palavras
penetrassem fundo.
Ao invs de recompensar seu servo com glrias e divindade, Kiljaeden
desapareceu. Tudo o que sobrou de sua presena foram os bruxos e seus demnios,
uma Horda colrica, e uma terra devastada.
No, pensou. No foi apenas isso.
Ainda havia o Conclio das Sombras. E Blackhand, o fantoche perfeito
justamente por no perceber ser um. E apesar da Horda estar infundida com sangue
demonaco e desejar destruio e violncia mais do que alimento, ainda no estava
fora de controle. No ainda.
Convocaria o Conclio para encontrar-se no Templo Negro. Com certeza estariam
tambm tentando arrumar maneiras de salvar o poder que restou.
Sim. Ainda havia o Conclio das Sombras.
A terra est morta. sentenciou Durotan enquanto inspecionava junto com seu
amigo um local que antes havia sido um campo verdejante. Cutucou o solo com a bota.
Chutou a grama amarela ressecada revelando rocha e areia debaixo dela. Sem rvores
para bloquear, o vento assobiava.
Orgrim ficou quieto por um bom tempo. Viu que o amigo tinha razo. Olhou o
leito do rio que havia nadado um dos muitos desafios junto a Durotan, mas que agora
no apresentava vestgios de que gua alguma vez passou por ali. A que havia restado
estava suja, repleta de corpos de animais e sedimentos. Beber arriscaria ficar doente;
no beber, seria morte certa.
Sem gua ou gramado. Havia alguns lugares aqui ou ali que sobreviviam, como a
Floresta Terokkar. Sem pasto para alimentar o rebanho, os orcs estavam definhando.
Nos ltimos trs anos houve mais mortes por inanio e enfermidade do que baixas na
batalha contra os draenei.
Est mais do que morta. disse finalmente Orgrim. Sua voz era rouca e grave e
virou-se para Durotan. Como est o suprimento de gros do cl?
Olhando para si e Durotan, a pele j estava verde. Comparado a outros, como
Grom e Blackhand, ainda estavam mais para o castanho, mas o estrago estava feito.
Especulava que o poder dos bruxos estava atingindo os orcs e o mundo. Porm era
claro que aqueles que beberam a poo que Guldan havia preparado estavam com o
tom mais vvido. A ironia era que a terra estava marrom quando deveria estar verde e
os orcs estavam verdes quando deveriam estar marrons.
Durotan fez uma careta. Vrios tonis foram roubados durante o ataque.
Qual cl?
Shattered Hand.
Orgrim assentiu. O cl Frostwolf estava absorvendo o impacto da recente
epidemia de ataques. Aps a Horda ter tomado Shattrath, o indcio de draenei
encontrados diminuiu. H seis meses que ningum reportou ter visto os seres azulados
e esquivos. O lder dos Frostwolves fez seu cl virar um alvo aps ter se recusado a
beber do clice na noite que a capital caiu. E mesmo aps isso, a relutncia em atacar
os draenei foi percebida e estes, sendo o escape para o aumento da sede de sangue dos
orcs, estavam ficando escassos e alguns achavam que Durotan era o responsvel.
Esqueceram que o objetivo principal, varr-los de Draenor, foi alcanado e que
provavelmente haviam sido caados at a extino.
Trarei alguns quando voltar aqui.
No aceitarei esmola.
Se meu cl estivesse na mesma condio, voc me daria uma surra at me deixar
inconsciente e depois enfiaria comida goela abaixo antes de eu ter a chance de
recusar. disse Orgrim.
Durotan ficou surpreso ao rir. Orgrim apenas sorriu. Ignorando o solo infrtil a
sua volta e a colorao anormal da pele, era como se, por um momento, os horrores
dos ltimos anos no tivessem acontecido.
E assim que a risada de Durotan esvaiu-se o presente reapareceu. Pelo bem de
nossas crianas, irei aceitar. Examinou o terreno. Novos nomes comearam a
aparecer mais sombrios e duros. A Cidadela agora era chamada de Cidadela Fogo
do Inferno, e a rea de Pennsula Fogo do Inferno.
O aniquilamento dos draenei ir induzir aos dos orcs caso algo no seja feito.
expos Durotan. Estamos nos voltando uns contra os outros. Rebaixando-nos ao tirar
comida da boca de crianas, j que a terra est to ferida que no nos nutre mais. Os
demnios que saltitam aos ps dos bruxos podem atormentar ou dizimar, mas no
curam ou alimentam os famintos.
Algum j tentoutrabalhar com os elementos? perguntou em voz baixa. Tais
atividades ainda eram proibidas, mas sabia que o desespero havia feito alguns
pensarem nas velhas prticas.
Foi um fracasso, assentiu Durotan. Encontramos nada alm de silncio.
Demnios ainda guardam Oshugun. No h esperana l.
Entoestamos acabados. disse Orgrim. Olhou para seu machado; a haste
apoiando na perna. Perguntou-se se a profecia da Doomhammer estava sendo
cumprida mesmo agora; se seria o ltimo da sua estirpe. J havia trazido a salvao e
a perdio usando a arma para exterminar os draenei? E como poderia agora ser
usada para fazer justia?
Com tudo morrendocomo poderia ser alterado de novo?
Pode algo ser, ao mesmo tempo, uma beno e uma maldio? Salvao e perdio?
Assim limito o que aconteceu depois histria do meu povo. Por tudo, as energias
demonacas, usadas livremente e sem se importarem com as consequncias, extraindo
tudo de sadio e vital de Draenor. Kiljaeden quis aumentar o nmero de orcs, para que
virssemos um exrcito imenso, e assim fizemos, forando o crescimento de nossos
jovens, roubando assim sua infncia. Agora a populao de orcs nunca foi to alta e no
havia como alimentar a todos. Ficou claro para mim, assim como para aqueles que
viveram em tempos to terrveis, que se permanecssemos em Draenor, nossa raa seria
extinta.
Mas comoe por que partimosesse mundo ainda sangra por isso. Fao o que
posso para curar essa ferida enquanto protejo os interessas da nova Horda que criei, mas
ser que ela um dia cicatrizar?
Vida para meu povo: uma beno. Como conseguimos: uma maldio.
Medivh
O dia chegou.
A noite inteira, enquanto um crculo de bruxos cuidava para que nenhum curioso
testemunhasse o ritual sombrio, pedreiros trabalharam duro, esculpindo o selo final
na base do portal. Uma vez terminado, limparam o suor do rosto, sorriram uns para
os outros e foram rapidamente mortos. Guldan foi informado por Medivh que o
sangue daqueles que criaram o selo, iria prepar-lo. No sentiu que havia razo para
duvidar do novo aliado. Mas os desafortunados pedreiros no seriam os nicos a
morrer aqui.
Foi solicitado que alguns cls ficassem em Draenor. Guldan fez o possvel para
convencer os chefes dos cls Shattered Hand, Shadowmoon, Thunderlord, Bleeding
Hollow e Laughing Skull, que eram necessrios aqui. Foi particularmente difcil e
fazer o mesmo com Grom e seu cl. No comeo, o chefe do Warsong enfureceu-se e
Guldan pensou se foi acertado deixa-lo beber o sangue do demnio. Parecia ter pouco
controle sobre suas emoes; Independente de falar o quo valioso Grom era e o
quanto era importante que ficasse, quis que o chefe permanecesse justamente por seu
comportamento selvagem e imprevisvel. Caso Grom colocasse alguma ideia maluca
na cabea, acabaria desobedecendo a ordens. Guldan no poderia arriscar. Medivh
no iria gostar nada disso.
Blackhand convocou toda a Horda para reunir-se na Cidadela. Muitos que
voltaram para as terras ancestrais, sendo o Frostwolf um deles, agora acampavam na
rea. Obedeceram a ordem para que se armassem como se estivessem indo para uma
batalha, apesar de muitos no entenderem o que de fato acontecia.
Os cls reuniram-se. Cada um com suas cores tradicionais adornadas em uma
faixa ou cinto sobre a armadura, e neste dia quente o vento balanava orgulhosamente
os estandartes.
Guldan e Nerzhul observava a assembleia. Aquele se virou para seu antigo
mentor. Voc e seu cl ficaro para trs. disse brevemente.
O xam concordou, submisso. Imaginei. disse. Andava calado esses dias, o que
agradou Guldan. Chegou a suspeitar que o ancio pudesse brigar pela liderana
depois que Kiljaeden o abandonou, mas pelo jeito estava destrudo demais at para
isso. Lembrou com desprezo da poca em que idolatrava e at invejava Nerzhul.
Como era tolo. Progrediu e aprendeu, inclusive com a amarga decepo. s vezes via
um leve brilho nos olhos do xam, como agora. Olhou com mais cuidado e julgou ser
um truque de luz. Virou sua ateno para os cls reunidos e sorriu.
Apesar de seus projetos irem alm do simples derramamento de sangue, no
podia evitar em ficar animado com a vista. Estavam gloriosos! O sol queimava nas
armaduras, estandartes danavam ao vento, os rostos ansiosos brilhavam. Se o que
Medivh prometeu era verdade, este seria um marco a caminho da grandeza.
Os tambores rufaram. Profundo, primordial e que estremeceu ao longo do solo,
atravs das rochas e nos ossos da Horda. Ao comear a marcha muitos levantaram a
cabea e uivaram, entrando naturalmente em sintonia, mais uma vez um povo
unificado.
Guldan no se apressou. Seria teleportado para o Portal por outro bruxo. Podia
aproveitar o desfile do exrcito descer a estrada pavimentada at o Portal.
Criana draenei
Onde a encontraram? Durotan no havia visto nem sombra dos seres azulados
fazia meses. Foi muita sorte achar qualquer draenei, muito menos uma criana.
Estavam entre os cls Thunderlord e Dragonmaw. A entrada do Portal foi
terminada e parecia linda e aterrorizante. Duas figuras encapuzadas, seus olhos
vermelhos brilhavam, se por magia ou tecnologia no havia como saber, ladeava o
acesso. Uma serpente esculpida enrolava-se no topo, a boca aberta mostrando as
presas. Durotan nunca havia nisto aquilo, e perguntou-se como os pedreiros haviam
criado aquela imagem. Teria sido um pesadelo? De uma maneira geral, era uma
edificao impressionante.
Mal pode terminar de apreciar a habilidade aplicada a esta criao. Sua ateno
foi desviada para o jovem draenei. Era to pequeno em comparao com o enorme
arco minsculo, fraco e machucado. Olhava inexpressivelmente para o mar de orcs
que gritavam em sua direo, to aterrorizado que j nada sentia.
O que vo fazer com ele? perguntou Draka em voz alta.
Pressinto o pior. respondeu Durotan balanando a cabea.
Encarou-o. Vi assassinarem crianas no meio da batalha. A sede de sangue os
dominava no poderia concordar com a atitude, mas entendo o porqu aconteceu.
Mas espero que no faam um ritual com essa criana.
Espero que esteja certa. disse Durotan, mas no via outra razo para que o
pequeno ser estivesse presente. Se esse fosse o caso, no poderia apoiar. No queria
arriscar mais o cl, ento rezou para que estivesse enganado.
Os bruxos cantavam algo e para a surpresa de Durotan, Guldan apareceu diante
de seus olhos. Murmrios rolaram soltos e Guldan sorriu para a Horda.
Hoje um dia glorioso para a Horda! gritou. Viram o Portal ser construdo,
admiraram o artefato e como agora virou um monumento glria da Horda.
Revelarei as vises que tive.
Apontou para o porto. Tenho um aliado em uma terra chamada Azeroth, muito
longe daqui. Ele oferece as suas terras. verde e exuberante, repleta de gua pura e
criaturas robustas para caar. E melhor ainda, continuaremos a nos jubilar no prazer
do derramamento de sangue. Uma raa, chamada humanos, que inimiga de nosso
aliado, tentaro nos impedir de conquistar essa terra. Iremos destru-los. Seu sangue
ir correr em nossas espadas. Assim como aniquilamos os draenei, faremos o mesmo
com os humanos!
Gritos de alegria entre os orcs. Draka parecia no acreditar. Como ainda podem
estar assim? No percebem que acontecer nessa nova terra o mesmo que aconteceu
em Draenor se continuarmos nesse caminho?
Durotan concordou. Mas ao mesmo tempo, no h outra escolha. Precisamos de
gua e comida. Devemos passar pelo portal. Draka suspirou. Havia lgica, apesar de
no gostar da situao.
Nesse momento nosso aliado est abrindo o Portal do outro lado. E agora,
comearemos. Gesticulou para o pequeno cativo draenei. Sangue uma oferenda
pura para aqueles que no concedem esse vasto poder. E o sangue de uma criana
ainda mais puro. Com o fludo vital de nossos inimigos, abriremos o Portal e
entraremos em um glorioso mundo novo uma nova pgina na histria da Horda!
Aproximou-se da criana amarrada, que o olhou com olhos vazios. Guldan
levantou a adaga adornada. E brilhou na luz do sol.
No!
A palavra foi arrancada dos lbios de Durotan. Todos viraram para encara-lo.
Avanou. No poderia se esperar nada de bom, se essa nova iniciativa seria aberta
com o sangue de uma criana inocente. No conseguiu dar trs passos at ser
derrubado. Ao cair no cho banhado pelo sol, ouviu Draka urrar um grito de guerra e
o barulho e metal contra metal. Irrompeu o caos. Lutou para levantar-se e viu a forma
contorcida da criana. Sangue azul escorria da garganta cortada.
Guldan, o que fez conosco! Durotan bradou, mas seu protesto perdeu-se no
rugido dos orcs enfurecidos. Os Frostwolves tomaram ao para defender seu lder, e
os gritos eram ensurdecedores. Durotan perdeu o flego ao ser atacado no sabia de
qual cl. Levantou seu machado para se defender. O agressor desviou, movimentando-
se mais rpido que Durotan esperava, aproximou-se e
A terra comeou a tremer, mudando o teor dos gritos proferidos. A luta cessou
assim que os orcs viraram-se para o Portal. Antes se via a paisagem da Pennsula
atravs do portal. Agora havia escurido cintilada por estrelas como se olhassem um
cu noturno. At os olhos de Durotan ficaram fixos no espetculo. Observou a
escurido ondular e transformar-se numa cena que surpreendeu e intrigou.
Guldan havia falado de uma terra frtil e rica, com animais para caar e cu
azul. Certamente estava olhando para uma terra que nunca havia visto antes, mas em
que nada parecia ao reino idlico que o bruxo havia descrito. Era to mido quanto
Draenor era rida. Uma neblina espessa flutuava sobre a gua salobra e oscilava em
um terreno mido. Um zumbido encheu o ar. Pelo menos, pensou Durotan, havia vida
nesse lugar estranho.
Sussurros descontentes correram pela multido. Este era o local aonde queriam
envi-los? A primeira vista no era muito melhor do que Draenor. Mas de qualquer
jeito, gua significava vida.
Olhou para Guldan, ao que as reclamaes aumentavam. O bruxo tentava
disfarar o prprio choque. Levantou os braos pedindo silncio.
Azeroth um mundo vasto, assim como o nosso! gritou. Sabem quo diferente
a terra pode ser de um lugar para o outro. Tenho certeza que esse o caso. No parece
to atraente quanto fui Sua voz sumiu e voltou a si. Mas observem, pois esta
outra terra! real! Vocs!
Guldan apontou para um grupo de orcs com armadura que esperavam ao lado
do Portal. Pareciam ter acordado. Foram escolhidos para serem os primeiros a
investigar a nova terra. Avancem em nome da Horda!
Hesitaram por um instante e continuaram em direo ao Portal.
O cenrio desapareceu.
Durotan olhou Guldan. O bruxo esforava-se para ficar impassvel, mas estava
intrigado.
So patrulheiros. disse. Voltaro com novidades sobre esse mundo.
E antes que os orcs reunidos pudessem comear a se preocupar, a imagem do
pntano reapareceu e os patrulheiros passaram correndo, com sorrisos de orelha a
orelha. Mais da metade carregava carcaas de grandes animais. Um parecia ser um
reptil, escameado, com cauda longa, patas atarracadas e uma mandbula enorme. O
outro era peludo, com quatro patas com garras, orelhas pequenas e manchas na
pelagem amarelada. Ambos pareciam saudveis.
Matamos e comemos das duas criaturas, disse o lder dos patrulheiros. A
carne sadia. A gua potvel. No precisamos de uma terra bonita, mas de uma que
nos alimente e sustente. E essa Azeroth far isso admiravelmente.
Recomearam cochichos na multido. Sem perceber, a ateno de Durotan estava
nas bestas trazidas e seu estmago roncou. Fazia dois dias que no comia.
Guldan relaxou. Olhou para Durotan e estreitou os olhos. Ficou apreensivo e
sentiu um gosto amargo na boca.
Tanto ele quanto seu cl eram necessrios e sabia disso. Sabia tambm que a
tentativa em defender a criana e a reao desencadeada entre os outros cls, muitos
que vieram em defesa dos Frostwolves no seria esquecida. Chegou a suspeitar que
Guldan o executasse, ou banisse, mas pelo jeito ainda tinham alguma utilidade para
Blackhand e Guldan.
Que seja. Por enquanto, lutaria ao lado da sua raa. Amanh cuidaria de si
mesmo. Qualquer coisa que acontecesse, morreria com a honra intacta.
Guldan olhou para o grupo de orcs e respirou fundo.
Esse o nosso destino, disse. Do outro lado, um novo comeo nos espera. Um
novo inimigo para exterminar. Conseguem sentir, no ? A sede de sangue crescendo?
Sigam Blackhand! Obedeam suas ordens e governem esse novo mundo, como lhes
de direto! O mundo do outro lado do Portal de vocs. Ocupe-o!
Os gritos eram ensurdecedores. A multido avanou. At Durotan foi levado pela
animao desse novo lugar, to abundante, maduro e pronto para ser dominado.
Talvez estivesse se preocupando demais e realmente era um novo comeo. Durotan
amava seu cl e seu povo. Queria v-los prosperar. E, como todos os orcs, divertia-se
em matar.
Talvez, tudo ficaria bem.
Machado em mos, esperana renascendo em seu corao, Durotan juntou-se a
corrida em direo ao Portal e Azeroth. Levantou os braos, soltou um grito que
estava na boca de cada orc ao avanarem:
Pela Horda!