Tinhorão - Tango Brasileiro
Tinhorão - Tango Brasileiro
Tinhorão - Tango Brasileiro
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'O que Ernesto Nazareth fez foi dar nfase aos gru
pos rtmicos excepcionais da msica brasileira, j emprega
dos abundantemente, por autores antigos, como podemos
ver cm Calado, Chiquinha Gonzaga e at no velho autor
de nosso Hino nacional, Francisco Manuel, no Lundu da
marrequinha,
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Esse tango, tambm conhecido como ,4s laranjas da
Sabina, contava a histria da revolta dos estudantes de
medicina do Rio de Janeiro contra a retirada da vendedora
de laranjas da porta de sua faculdade, Rua da Misericr
dia, e quando o autor da msica, Francisco de Carvalho,
intitulava-a de Fadinho, estava querendo indicar que no
seu ritmo de 2/4 se escondia de fato mais um tpico lundu-
cano da poca.
Alis, se fosse necessrio acrescentar outra prova, se
ria ainda o teatro musicado carioca que a forneceria em
1897 com o exemplo do tango brasileiro de Chquinha
Gonzaga Gacho, composto para a revista Zizinha Maxixe,
do autor Machado Careca. O tango de Chiquinha se des
tinava a um nmero de dana do corta-jaca, denominao
esta por sua vez muito vaga, e no caso desse Gacho servia
apenas para distinguir mais um maxixe cantado.
Dessa forma, a no ser excepcionalmente, em casos
de tangos de Ernesto Nazareth, para alguns dos quais Catu-
lo da Paixo Cearense faria letras Brejeiro, em 1912, e
Favorito, na mesma poca , esse nome lanado na segun
da metade do sculo XIX chegou aos 1900 designando
sempre os mais diferentes gneros de msica cantada, in
clusive carnavalesca.
A canoneta amaxixada Vem c mulata, de Arquime-
des de Oliveira, que aps fazer sucesso no carnaval de
1906 foi transformada num quadro da revista O maxixe,
estreada no Teatro Santana, do Rio de Janeiro, a 30 de
maro daquele ano, aparecera em disco Odeon, da Casa
Edison, com a indicao de tango-chula.
Seis anos depois, outro maxixe surgiria no teatro mu
sicado com a opereta de Lus Peixoto e Carlos Bittencourt
Forrobod, levando a indicao de tango: era o excelente
No se impressione, da Maestrina Chiquinha Gonzaga, de
1912, que acabaria conhecido simplesmente por Forrobod,
ou Forrobod de massada:
Forrobod de massada
Gostoso como ele s
to bom como cocada
melhor que o po-de-l.
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Forrobod de massada
Gostoso como ele s
Chi! a zona est estragada
Meu Deus, que forrobod.
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por exemplo, do tango Caboquinha, de Alfredo Gama, can
tado pelo tenor Pedro Celestino, que era inegavelmente
uma cantiga sertaneja estilizada.
Durante a dcada de 20, finalmente, quando o nome
tango ainda usado com freqncia, antes de desaparecer
de uma vez por todas, a partir dos anos 30, a falta de ima
ginao dos compositores de canes ainda o usaria para
designar dois novos estilos: a cano romntica herdeira
da modinha (o tango-fado Luar de Paquei, de Freire J
nior, sobre versos do poeta Hermes Fontes, de 1922) e a
cano dramtica estilo Vicente Celestino (o tango Pobre
zinho, de Joubert de Carvalho, gravado em 1927 por Pedro
Celestino).
No incio de 1930, a moda do tango argentino no
Brasil, tornando ambguo o uso dessa palavra como indi
cadora de gnero de msica brasileira, contribuiu para fa
zer desaparecer, afinal, a indicao que nunca tivera senti
do em termos de msica cantada. O que tantas vezes fora
chamado de tango passava, desde ento, com muita pro
priedade, a receber os nomes de cano e de cano ser
taneja.
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