A Dívida Pública Nos Governos Lula e Dilma
A Dívida Pública Nos Governos Lula e Dilma
A Dívida Pública Nos Governos Lula e Dilma
Estadual de Londrina
CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE CINCIAS ECONMICAS
LONDRINA - PARAN
2017
EDUARDO GUILHERME VELOSO RODRIGUES
LONDRINA - PR
2017
2
COMISSO EXAMINADORA
____________________________________
Profa. Dra. Marcia Regina Gabardo da
Camara
Orientadora
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________
Prof. Dr. Carlos Eduardo Caldarelli
Universidade Estadual de Londrina
____________________________________
Prof(a). Dr(a). Terezinha Saracini Ciriello
Mazzetto
Universidade Estadual de Londrina
3
RESUMO
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Evoluo da dvida interna fundada no Imprio (em conto de ris).... 15
Tabela 2 Financiamento do Setor Pblico por Ttulos (% do PIB)..................... 18
Tabela 3 Matriz de Correlao entre variveis selecionadas Brasil 2003-16.. 35
Tabela 4 Matriz de Correlao entre Dvida Pblica e Programa de
Acelerao de Crescimento 2007-2012.............................................................. 36
Tabela 5 Matriz de Correlao entre Dvida Pblica e Investimento Pblico do
Governo - 2003-2016............................................................................................. 36
Tabela 6 Matriz de Correlao entre Dvida Pblica e Operaes de
financiamento do BNDES no automtica 2003-2016........................................ 36
Tabela 7 Matriz de Correlao entre Dvida Pblica e os gastos com o
Programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV) 2009-2015.................................... 36
Tabela 8 Matriz de Correlao entre Dvida Pblica e os gastos com as
Olimpadas de 2016 2014-2016.......................................................................... 37
Tabela 9 Matriz de Correlao entre Dvida Pblica e gastos com o Programa
Bolsa Famlia 2003-2015.................................................................................... 37
Tabela 10 Relao DPMFi e PIB - Brasil : 2003 a 2016..................................... 39
1 INTRODUO...........................................................................................................7
3 METODOLOGIA......................................................................................................25
5 CONCLUSO..........................................................................................................46
REFERNCIAS...........................................................................................................48
7
1 INTRODUO
1
Palestra ministrada por Rogrio Mori no evento Economia em Foco, em So Paulo, em abril de
2016.
9
de Portugal no Brasil.
Contudo, os dficits acentuaram-se aps 1808 devido s despesas vultosas
de sditos de D. Joo VI e do financiamento as tropas portuguesas que lutavam
contra Napoleo. (SILVA, 2009) Neste perodo vrios fatos importantes ocorreram
na economia brasileira como a abertura dos portos, criao do Banco do Brasil e
incio da emisso do papel-moeda. Todavia, o Brasil Imprio passou por muitas
dificuldades financeiras em seus primeiros anos que antecediam a independncia.
Diante disso, a histria da dvida no Imprio comea a tomar rumos importantes,
como a criao da primeira agncia da administrao da dvida pblica,
institucionalizando a dvida interna, amplia-se os mecanismos e os instrumentos de
financiamento e realizam-se operaes de reestruturao de dvida que condizem a
operaes feitas atualmente. No sculo XIX, o Brasil destacou-se entre seus
vizinhos latino-americanos, pois aps essas transformaes, obteve sucesso ao
emitir dvidas e cumprir com o pagamento (SILVA, 2009).
Em 1825 finalmente a dvida pblica interna brasileira toma um carter de
dvida nacional e deixa de ser entendida como dvida pessoal do governante (SILVA,
2009). No ano de 1827, a histria da dvida interna tem seu marco oficial iniciado por
meio da Lei de novembro do mesmo ano que estabeleceu as caractersticas para o
controle de novas dvidas, assim como sua gesto e devidos registros. Conforme a
Tabela 1 pode-se observar o processo de endividamento interno em quatro perodos
desde a primeira emisso de 1827 de 12 mil ris.
controle sobre a dvida pblica no qual s poderia ser elevada com o objetivo de
cobrir dficit no Oramento Geral da Unio. O governo a fim de financiar tais dficits
oramentrios criou as Letras Financeiras do Tesouro (PEDRAS, 2009).
O Brasil no final da dcada de 1980 vivia uma fase difcil e exigia trabalho
rduo. A nica forma de recolhimento era pelo financiamento das LFTs, via emisso
de ttulos. Em 1989 j englobavam 98% do total da DPMFi (PEDRAS, 2009).
por vrios choques externos, como a Crise do Mxico em 1994, a Crise Asitica em
1997, a Crise Russa de 1998, 11 de setembro e Crise Argentina em 2001, alm do
Regime de Metas de Inflao que foi financiado inteiramente por recursos internos
(PEDRAS, 2009).
O chamado trip macroeconmico aplicado pelo governo em 1999 consistia
em gerao de supervit primrio, regime de metas de inflao. Em relao a dvida,
aps a aplicao do regime de metas de inflao a participao das LFTs passaram
de 42% em 1999 para 61% do total da DPMFi em 2003, isso ocorreu devido ao
aumento da taxa de juros. Segundo Bresser Pereira (2003) em nome do combate a
inflao foram promovidas taxas de juros muito elevadas o que inviabilizaram
investimentos internos e fizeram a dvida e o dficit pblico explodirem. J em
relao gerao de supervits, segundo o Banco Central caso atingisse 3% do PIB
ao ano isto seria suficiente para que a relao dvida pblica/PIB chegasse a nveis
inferiores a 46% a.a. Contudo isso no aconteceu e a dvida no foi quitada nos
anos posteriores. (PEDRAS, 2009)
No perodo ps 1990 a dvida externa tinha seu montante maior que a
dvida interna, principalmente por questes de choques externos e dvidas anteriores
com o FMI. Contudo a partir do Governo Collor ocorreu chamada Dolarizao da
Dvida Interna que ocorria quando investidores externos compravam ttulos
indexados ao dlar, trocando dlares por reais. A Dolarizao ocorre normalmente
em perodos de inflao alta. Esse capital era investido no Brasil, porem era muito
sensvel especulao devido aos investidores quererem converter seus ttulos a
cmbios favorveis. Desta forma verificou-se uma troca da dvida externa pela
interna. Em 2002 a dvida interna que j vinha ascendente passou a ser maior que a
dvida externa, que se manteve em queda nos anos seguintes. (VIEIRA; RESENDE;
HOLLAND, 2010)
2.3.4 Evidncias empricas recentes sobre a dvida pblica no Brasil aps 2003
Por fim, a economia artificial criada por Lobo e Oreiro (2012) tem
crescimento econmico de longo prazo, porm convive com constantes flutuaes.
Para estabilizar estes ciclos econmicos o autor sugere que aps o primeiro perodo
de crescimento deva-se extinguir os ttulos ps-fixados e realizar ajuste fiscal por
meio de reduo dos gastos do governo. Isto permitiria supervit primrio, porem
com elevado custo da dvida e baixo crescimento econmico.
queda, porm com expanso dos gastos as contas pblicas foram inevitavelmente
prejudicadas.
Dados dos ltimos anos mostram que a dvida pblica est em crescente
expanso, demonstrando um cenrio de insustentabilidade. Segundo Fatorelli e
villa (2013), o estoque da dvida em 2013 ultrapassou 3 trilhes de reais, sendo a
dvida interna responsvel por 2,5 trilhes que representa 61% do PIB. Os autores
ressaltam, contudo, que a definio de dvida interna e externa no remete a
realidade, os ttulos pblicos emitidos pelo Tesouro Nacional tm sido adquiridos por
instituies estrangeiras. O valor destinado do oramento destinado dvida pblica
chega a quase 50%. Em muitos estudos realizados, utiliza-se a relao dvida/PIB
para efeito de comparao com outros pases. Os autores alertam para o uso deste
mtodo, pois o Brasil pratica taxa de juros elevadas em relao s outras naes e
leva a concluses equivocadas. Alm disso, os juros efetivamente pagos incidem
sobre a dvida bruta. Desta forma, a melhora da dvida lquida que passou de 60%
no governo FHC para 35% nos ltimos anos devido ao crescimento das reservas
internacionais a um alto custo do Tesouro Nacional e do Banco Central irreal.
3 METODOLOGIA
polticas, principalmente em relao aos seus impactos na dvida federal que atingiu
seu pice no ano de 2002. Era extremamente necessria uma poltica de supervit
primrio para honrar o pagamento dos juros da dvida. Em maio do mesmo ano o
refinanciamento da dvida mobiliria federal havia sido suspenso, o que levou a forte
desvalorizao do real (MORAIS; SAAD-FILHO, 2011).
No perodo que se seguiu as polticas neoliberais ficaram praticamente
intactas, mas com propostas complementares de carter novo-desenvolvimentista.
Conforme Morais e Saad-Filho (2011) o novo-desenvolvimentismo tem como objetivo
a estabilidade macroeconmica, que estrategicamente fortalea o estado e o
mercado juntamente com um plano nacional de desenvolvimento compatibilizando
crescimento e equidade social. E tambm, seja capaz de promover a poupana
externa, o investimento e a inovao. Alm disso, o novo-desenvolvimentismo
oferece a afirmao de que no existe reduo de desigualdade sem o crescimento
sustentado e contnuo.
Segundo Bresser-Pereira (2006) o novo-desenvolvimentismo contrasta com
o antigo desenvolvimentismo (ou ortodoxia) que fora aplicado no sculo XX, ao
deixar de lado a poltica de substituio de importaes e focar no crescimento com
base nas exportaes. No Quadro 1 o autor resume as diferenas entre as duas
correntes terico-econmicas.
Dessa forma a dvida interna nada mais do que a Dvida Bruta do Governo
Geral menos a Dvida Externa.
crescimento da economia, mas com a taxa de juros real. Supondo o dficit primrio
(PIRES, 2008) nulo a evoluo da relao seria definida pela taxa de juros real.
O Grfico 3 indica a evoluo da Taxa Real de Juros Ex-ante que
calculada a partir da taxa de juros bsica SELIC deduzindo a expectativa de inflao
do mercado pelo ndice IGP. A SELIC a principal taxa de juros definida pela
autoridade monetria e serve como base para as demais taxas. possvel observar
que nos mesmos perodos de aumento da relao do Grfico 2 h aumento da taxa
de juros. Este fato explicito entre 2013 e 2016 com ascendncia de ambas.
Grfico 6 Dvida Lquida do Setor Pblico consolidada (DLSP) (%) do PIB Brasil
2003-16
que incide nos ttulos. Os gestores da dvida desde a dcada de 1990 tem buscado
a melhora na composio da dvida pblica a fim de obter uma maior participao de
ttulos prefixados em alguns momentos, que indica uma melhora na estrutura da
DPMFi. E em outro perodo com participao mais abrangente de ttulos ps fixados.
A partir de 2003 ttulos prefixados com perodos mais longos comearam a ser
emitidos, iniciava-se um processo de alongamento da dvida prefixada. A NTN-F
comeou a ser emitida em 2007 pela primeira vez com prazo de 10 anos, ponto
importante para a gesto da dvida pblica (PEDRAS, 2009).
Com a chegada da crise financeira em 2008, era necessrio tomar medidas
mais conservadoras no quesito composio da dvida afim de no aumentar ainda
mais volatilidade ao mercado. Apesar disso, o ndice de risco de refinanciamento
melhorou e j no mesmo ano houve diminuio na participao dos ttulos
prefixados e aumento na participao dos ttulos indexados taxa Selic, conforme
grfico 4.
Para analistas apesar da dificuldade em alongar a dvida prefixada, este
processo necessrio para que a estrutura da dvida interna se assemelhe a dos
pases desenvolvidos (PEDRAS, 2009).
Observando o Grfico 7 durante o perodo analisado a composio da
dvida evolui para a maioria em ttulos ps fixados, mesmo com o incio da emisso
da NTN-F e com prazos longos. Com uma remunerao real, a quantidade de NTN-
F cresceu ao longo dos anos e em 2016 representou mais de 45% da composio
da DMPFi. Os ttulos pr-fixados (LTN; NTN-F) ao longo do perodo tiveram sua
participao reduzida para menos de 20%.
Pode-se notar que a partir de 2013 as LFTs que vinham em queda nos anos
anteriores voltarem a ascender, isso ocorreu devido a instabilidade econmica no
perodo e maiores riscos, demonstrando a queda de confiana na economia
brasileira. Outro destaque a participao da LTN um tradicional ttulo da DPMFi
que em 2005 chegou a 56% mas no final do perodo representava apenas 15%.
Grfico 7 Participao dos principais ttulos (%) na DPMFi: Brasil - 2003 a 2016
41
5 CONCLUSO
Verificou-se que aps essas anlises apesar de ter como base o novo
desenvolvimentismo, o estado em relao ao mercado exerceu papel majoritrio na
gesto da economia brasileira e a administrao da dvida pblica e polticas
tomadas pelo governo foi funcional as situaes econmicas no decorrer do perodo.
A dvida pblica foi construda historicamente a fim de ser utilizada como
financiamento de dficits desde o perodo colonial e imperial. Atualmente atravs da
poltica de juros exerce poder dirio sobre a economia. Alm de por si s representar
um nus a ser pago por geraes futuras.
O perodo iniciou com a dvida pblica em cenrio crtico. Foram tomadas
medidas com base na economia tradicional neoliberal, incrementadas com o
chamado novo desenvolvimentismo. Com o sucesso do trip econmico e a
economia aquecida internamente e em relao ao cenrio externo, a dvida pblica
correspondeu com trajetria decrescente. Desta forma, o cenrio foi favorvel
dvida pblica.
Ressalta-se o processo de desdolarizao da dvida no perodo, sendo
importante no avano na gesto da dvida. Alm disso, a diversificao dos ttulos
tornou o pas menos dependente a instituies internacionais, contudo o aumento da
participao dos bancos na deteno da dvida e consequentemente na influncia
da deciso da poltica monetria abre questionamentos a cerca da manuteno da
dvida.
Observando a evoluo da dvida pblica so perceptveis dois pontos de
inflexo na sua trajetria, a primeira aps polticas anticclicas tomadas a fim de
abastar a crise financeira de 2008 e a segunda iniciando em 2013 que adveio de
polticas que foram tomadas pelo governo a partir de 2011, ressaltando tambm o
percebido desaquecimento da economia. O segundo ponto em questo da situao
da dvida mais grave.
Isso perceptvel na Dvida Lquida do Setor Pblico, que manteve
tendncia de queda em 10 anos e a partir de 2013 voltando a crescer
significativamente. A Dvida Interna durante todo o perodo se elevou, porm, com
aumento mais significativo tambm no ps 2013.
Em relao composio da dvida destaca-se importantes avanos, como
o aumento de ttulos pr-fixados que ocorreu paralelamente ao aumento da
confiana da economia. Deste modo houve impacto no prazo mdio da dvida
determinando o seu alongamento.
48
REFERNCIAS
ALVARENGA, D.; LAPORTA, T.; TREVISAN, K. Standard and Poor's tira grau de
investimento do Brasil. G1 Notcias. So Paulo, 09 de setembro 2015. Disponvel
em:< http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/standard-and-poors-tira-grau-de-
investimento-do-brasil.html> Acesso em: 30 abr. 2017.
ALVERGA, C. A interveno do Estado na economia por meio das polticas
fiscal e monetriaUma abordagem keynesiana. Jus Navigandi, 2010.
APO Autoridade Pblica Olmpica (2017). Matriz e Carteira de Projetos
Planilhas. Disponvel em: http://www.apo.gov.br/index.php/matriz/atualizacao/
Acesso em 05 jun 2017.
BRASIL. Congresso. Lei Complementar n 101, de 04 de maio de 2000. Dirio
Oficial da Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF.
BCB Banco Central do Brasil (2016). Glossrio. Disponvel em:
http://www.bcb.gov.br/GlossarioLista.asp?idioma=P&idpai=GLOSSARIO. Acesso em:
30 de julho de 2016.
BCB Banco Central do Brasil (2017a). Srie histrica da Dvida lquida e bruta
do governo geral. Disponvel em:
<http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/seriehistDLSPBruta2007.asp> Acesso em 02
fev. 2017
BCB Banco Central do Brasil (2017b). Ttulos pblicos e Gesto da Dvida
Mobiliria. Srie perguntas mais frequentes. Disponvel em:
<http://www.bcb.gov.br/conteudo/home-ptbr/FAQs/FAQ%2006-T%C3%ADtulos%20P
%C3%BAblicos%20e%20Gest%C3%A3o%20da%20Divida%20Mobili
%C3%A1ria.pdf>. Acesso em 20 mar. 2017
BCB Banco Central do Brasil (2017c). Operaes Interfinanceiras de Liquidez,
Operaes com Ttulos e Valores Mobilirios e Derivativos. Disponvel
em:<http://www3.bcb.gov.br/aplica/cosif/manual/0902177180abf2b5.htm?
fullName=4.%20Opera%C3%A7%C3%B5es%20Interfinanceiras%20de%20Liquidez,
%20Opera%C3%A7%C3%B5es%20com%20T%C3%ADtulos%20e%20Valores
%20Mobili%C3%A1rios%20e%20Derivativos>. Acesso em 02 mai. 2017
BCB Banco Central do Brasil (2017d).Taxa Selic Dados dirios. Disponvel em:
< http://www3.bcb.gov.br/selic/consulta/taxaSelic.do#>. Acesso em 02 mai. 2017
BCB Banco Central do Brasil (2017e). Sistema de Expectativas de Mercado.
Disponvel em: < https://www3.bcb.gov.br/expectativas/publico/?
wicket:interface=:23::::>. Acesso em 18 mai. 2017
BRESSER-PEREIRA, L. C. O Novo Desenvolvimentismo. Globalizao e
Competio. Campus-Elsevier, v. 20, p. 75-94, 2006
BRESSER-PEREIRA, L. C. O governo Dilma frente ao "trip macroeconmico" e
direita liberal e dependente. Novos Estudos-CEBRAP, n. 95, p. 5-15, 2013.
50
METRI, M. A Dvida Pblica nos Governos Cardoso, Lula e Dilma: uma anlise
comparativa. Disponvel em: < http://jornalggn.com.br/noticia/a-divida-publica-nos-
governos-cardoso-lula-e-dilma-uma-analise-comparativa>. Acesso em 21 mar. 2017