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Revista Ecos 2021

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€co$

Revista de Economia

v. 7, dez. 2021

Sorocaba/SP
Uniso
2021
€CO$: Estudos em Economia é uma publicação anual do Curso de Ciências Econômicas da
Universidade de Sorocaba - Uniso. O objetivo é a divulgação da produção técnico-científica
de alunos de graduação em Ciências Econômicas, ex-alunos e professores da Uniso.
Periodicidade: anual

DECLARAÇÃO DE PRIVACIDADE

Os nomes e endereços informados nesta revista serão usados exclusivamente para os


serviços prestados por esta publicação, não sendo disponibilizados para outras finalidades ou à
terceiros.

EQUIPE EDITORIAL

Editor: Renato Vaz Garcia

Editores Assistentes e Avaliadores:


Lincoln Diogo Lima, Universidade de Sorocaba, Brasil

Marcos Antonio Canhada, Universidade de Sorocaba, Brasil

Glauco Freire da Silva, Universidade de Sorocaba, Brasil

Assessoria Editorial: Silmara Pereira da Silva Martins; Vilma Franzoni

Capa: Luiz Fernando Almeida Santos

CONTATO

Nome: Renato Vaz Garcia


E-mail: renato.garcia@prof.uniso.br
Telefone: (15) 2101-7063
APRESENTAÇÃO

Os textos contidos aqui nessa 7ª edição da Revista €co$ são artigos técnico-científicos
produzidos pelos alunos do curso de ciências econômicas da Universidade de Sorocaba. O
objetivo da revista é promover a melhoria da qualidade do ensino e contribuir para a divulgação
e debate de temas voltados as questões da área de economia e áreas correlatas, de modo a
provocar uma reflexão sobre os temas abordados.
Esta edição apresenta quatro artigos, com base em um pensamento crítico-científico. Os
temas por eles abordados vão desde macroeconomia, eficiência alocativa de gastos públicos,
educação, até previdência é inovações financeiras (fintechs).
No primeiro artigo, o autor Licciardi procura investigar as causas da estagnação
industrial pela qual a cidade de Sorocaba passou entre os anos de 2012 e 2017, além de verificar
se tal fenômeno foi apenas local, por meio da comparação com outros municípios de estruturas
produtivas semelhantes.
Já o segundo e o terceiro artigos têm como base das suas investigações os municípios
da Região Metropolitana de Sorocaba. Enquanto o autor Silva busca analisar a eficiência com
os gastos públicos com educação em cada um dos municípios, a autora Cristofoletti investiga
os efeitos da Previdência Social sobre a distribuição de renda desses mesmos municípios.
Assim, os três primeiros artigos dessa revista contribuem para preencher a lacuna existente na
literatura sobre estudos socioeconômicos no âmbito local.
Por sua vez, o quarto e último artigo busca abordar temas ligados às novas tendências
tecnológicas e inovativas. Considerando um cenário de constante evolução e transformações
financeiras como o que ocorreu na última década, o autor Silva avalia os impactos do
crescimento das fintechs na dinâmica do sistema bancário e financeiro brasileiro entre os anos
de 2016 e 2019.
A revista vem sendo publicada desde 2011, porém, em virtude de eventuais ajustes em
seu formato, a publicação foi suspensa entre 2017 e 2020, sendo retomada em 2021.
Esta breve apresentação tenta demonstrar o mérito da coletânea que o leitor começará a
explorar. Quero aproveitar para parabenizar esses jovens autores pesquisadores e dizer que
espero que seja o primeiro de muitos trabalhos futuros. Aos leitores, desejo uma ótima leitura!

Prof. Me. Lincoln Diogo Lima


Curso de Ciências Econômicas
Universidade de Sorocaba – Uniso
SUMÁRIO

1 A EFICIÊNCIA DOS GASTOS PÚBLICOS COM EDUCAÇÃO BÁSICA DOS MUNICÍPIOS DA


REGIÃO METROPOLITANA DE SOROCABA EM 2017 ...................................................................... 5
Introdução ....................................................................................................................................................... 6
Arcabouço teórico ........................................................................................................................................... 7
A educação na região metropolitana de sorocaba ........................................................................................... 9
Análise estatística de dados........................................................................................................................... 13
Considerações finais ..................................................................................................................................... 18
Referências.................................................................................................................................................... 19

2 A ESTAGNAÇÃO INDUSTRIAL DA CIDADE DE SOROCABA ENTRE OS ANOS DE 2012 A 2017


...................................................................................................................................................................... 21
Introdução ..................................................................................................................................................... 22
Arcabouço teórico ......................................................................................................................................... 24
Apresentação dos dados ................................................................................................................................ 27
Considerações finais ..................................................................................................................................... 35
Referências.................................................................................................................................................... 37

3 EFEITOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA DA REGIÃO


METROPOLITANA DE SOROCABA NA DÉCADA DE 2000 ............................................................. 39
Introdução ..................................................................................................................................................... 40
A estrutura da previdência social e a distribuição de renda no brasil ........................................................... 41
Apresentação dos dados ................................................................................................................................ 44
Metodologia aplicada .................................................................................................................................... 47
Resultados obtidos ........................................................................................................................................ 50
Considerações finais ..................................................................................................................................... 53
Referências.................................................................................................................................................... 55

4 OS IMPACTOS DO SURGIMENTO DAS FINTECHS NO SISTEMA FINANCEIRO BRASILEIRO


ENTRE 2016 A 2019.................................................................................................................................... 59
Introdução ..................................................................................................................................................... 60
Referencial teórico ........................................................................................................................................ 61
Aprofundamento metodológico e demonstração das hipóteses..................................................................... 64
Considerações finais ..................................................................................................................................... 75
Referências.................................................................................................................................................... 76
A EFICIÊNCIA DOS GASTOS PÚBLICOS COM EDUCAÇÃO BÁSICA DOS
MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DE SOROCABA EM 2017

Aron Momberg da Silva*


Marcos Antonio Canhada**

* Bacharelando em Ciências Econômicas pela Universidade de Sorocaba (Uniso). E-mail:


aromomberg@gmail.com
** Orientador do trabalho: Mestre em Engenharia de Produção e professor do Curso de Ciências
Econômicas da (Uniso). E-mail: marco.canhada@prof.uniso.br

Resumo: Como a educação é o segundo maior orçamento do governo, atrás apenas da saúde, o Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica deveria ser alto, mas não é o que ocorre. Assim, o
questionamento sobre a correta aplicação dos recursos públicos destinados à educação é frequentemente
levantado. Isto posto, esse artigo possui o objetivo de analisar a eficiência dos gastos públicos em
educação nos 27 municípios da Região Metropolitana de Sorocaba através da ferramenta DEA. As
hipóteses de que os municípios menos populosos tendem a gastar de forma mais eficiente; que
municípios com maiores gastos por aluno não são necessariamente os mais eficientes; e que a
regionalidade possui relevância, foram corroboradas.
Palavras-chave: DEA. RMS. Economia regional. Eficiência e IDEB.

The efficiency of public spending with basic education of municipalities in metropolitan region
of Sorocaba in 2017

Abstract: As the education the second biggest spend of government, behind only of health, the Index
of Development on Basic Education would be high, but it is not the case. As well, the questioning about
correct application of public resources destined to education is raised. Furthermore, this article has the
objective of analyze the efficiency of public spending on education in 27 municipalities of Metropolitan
Region of Sorocaba through the tool DEA. The hypotheses that municipalities less populous tend to be
more efficient; municipalities with more spends per student are not necessarily the most efficient; and
the regionality is a relevant factor, have been proven.
Keywords: DEA. RMS. Regional economics. Efficiency and IDEB.

Recebido em: 11 de novembro de 2020. Aprovado em: 16 de novembro de 2020.

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Introdução

As aglomerações humanas começaram milhares de anos atrás, segundo Diamond (2013,


p. 5 – 27), os Homo Sapiens passaram de caçadores coletores para agricultores primeiramente
na área denominada crescente fértil, hoje conhecida como Eurásia, e com o decorrer dos anos,
até mesmo milhares, outras áreas do globo foram apresentando outros grupos, ou não, como o
caso dos aborígenes na Austrália e habitantes locais da Nova Guiné. Mas em grande maioria a
concentração de mentes pensantes em um mesmo pedaço de terra fez com que eles tivessem
vantagem, tanto econômica como bélica sobre os caçadores coletores, de maneira que os antigos
nômades foram desaparecendo da face da terra. Assim mostrando que a concentração de seres
humanos proporciona inúmeras vantagens para todos os envolvidos na aglomeração.
Sendo que a aglomeração humana denominada RMS, ou Região Metropolitana de
Sorocaba, é o escopo da nossa pesquisa, e de acordo com a Lei n. 1.241 (SÃO PAULO, 2014,
p. 1) abriga 27 municípios com uma população com cerca de 2,1 milhões de pessoas, com uma
grande participação no PIB do estado. Sendo assim, este trabalho tem como mola propulsora
identificar qual município é mais eficiente na tratativa dos gastos públicos com educação no
ano de 2017.
Esse diagnóstico foi feito através da ferramenta de programação linear chamada Data
Envelopment Analysis1, popularmente conhecido como DEA, elaborado por Charnes, Cooper e
Rhodes na década de 70, com a intenção de verificar a eficiência em instituições que não
possuem o lucro como objetivo final, desse modo tornando possível atingir o objetivo da
pesquisa que é verificar a eficiência dos gastos públicos na RMS no ano de 2017.
Outros trabalhos semelhantes foram feitos, e apresentaram hipóteses diversas, como as
apresentadas por Matetti e Bezerra (2018, p. 42-43), sendo que a primeira delas aponta os
municípios menos populosos como os mais eficientes no gasto com educação devido a maior
facilidade no gerenciamento de recursos disponíveis. A segunda relata que os municípios com
maiores gastos por aluno não apresentam os melhores resultados. Por fim, mostra que os fatores
regionais não interferem na eficiência dos gastos, pois os municípios com melhores resultados
estão dispersos em todo o território analisado.
Enquanto na RMS os dados coletados e posteriormente analisados pelo DEA acatam em
grande parte as hipóteses apresentadas por Matetti e Bezerra, assim validando suas teorias

1 Em português significa Análise Envoltória de Dados.

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levantadas e, abrindo caminho para futuras pesquisas, devido aos surpreendentes resultados
apresentados.
Sendo assim, o presente trabalho está subdividido em cinco tópicos, começando pela
introdução, que apresenta uma visão geral do artigo, na sequência é explanado o arcabouço
teórico, onde os termos técnicos são abordados de forma mais densa. O terceira tópico relata
brevemente o processo de industrialização e seu impacto na educação e, mostra alguns dados
do agrupamento social conhecido como RMS. O quarto trata da análise dos dados através do
DEA. Por fim, há um último tópico dedicada à conclusão.

Arcabouço teórico

O termo economia regional, é entendido por Cruz et al. (2011, p. 18-19), como uma
aglomeração econômica, onde forças opostas estão em constante atividade, sendo a centrífuga
aquela que expele os agentes econômicos que agregam menos valor ao seu produto, como
indústrias têxteis e tabaco, e a segunda força conhecida como centrípeta, responsável por atrair
bens de alto valor agregado, por exemplo indústrias químicas e tecnologia da informação.
Esses dois fenômenos citados acima geram disparidades entre centros econômicos,
alguns extremamente desenvolvidos contrastando com ambientes de pouca evolução
econômica, tendo como um exemplo mundial a separação Norte-Sul. Assim fomentando a
curiosidade de pesquisadores como Johann Heinrich von Thunem, que foi um dos primeiros
entusiastas da área e, Paul Krugman com a microeconomia de aglomeração, em nível nacional
e internacional. (CRUZ et al., 2011, p. 18).
Sendo que no Brasil também é possível observar esse fenômeno das aglomerações, de
tal modo, a aglomeração a ser estudada é conhecida como RMS e é definida conforme a Lei
n. 1241 (SÃO PAULO, 2014, p. 1) como a Região Metropolitana de Sorocaba, composta por
27 municípios, que visa uma melhor integração entre os municípios limítrofes e não limítrofes
da região, procurando afetar diretamente na melhora da qualidade socioeconômica de todos os
2,1 milhões de residentes da área. Sendo o impacto positivo não apenas nos trabalhadores como
também nas empresas, aprimorando o ambiente de negócios, produtividade e
consequentemente viabilizando futuras expansões.
A educação básica pode ser explanada como como uma maneira de instruir o cidadão
para seu desenvolvimento pessoal, impactando diretamente na sua relação socioeconômica.

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Tendo como o estado o dever de oferecê-la a todas as pessoas de forma indiscriminada, ou seja,
é um direito do cidadão, sendo garantido pela Constituição Federal (CURY, 2002, p. 170).
Assim, o governo federal criou em 2007 o IDEB, um índice que pode ser utilizado como
parâmetro de medição de eficiência de gastos públicos com educação, sendo medido
periodicamente, tendo o ano de 2017 como último ano de dados disponíveis do índice, que de
acordo com o Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira criado em 2007 que de
acordo o Índice de Desenvolvimento da Educação Brasileira criado em 2007 (BRASIL, 2018),
para medir a qualidade da educação no Brasil, esse indicador nacional leva em conta a taxa de
rendimento escolar e a média de desempenho em provas nacionais, possibilitando a aplicação
de metas por parte do governo para as instituições de ensino.
Dada a importância da educação básica, o desempenho dos recursos nela empregados
não pode deixar de ser continuamente avaliado. Mello et al. (2005, p. 2520- 2521) discorre
sobre os termos que estão associados a um alto rendimento, como eficácia, eficiência e
produtividade. Sendo que a eficácia trata daquilo que é produzido, a eficiência é avaliada com
base resultados obtidos e a produtividade é a razão entre o que foi produzido e o que foi gasto
com insumos para tal.
A função de analisar a eficiência dos gastos do governo com educação é realizada por
ferramentas estatísticas, como o DEA, conhecida como Data Envelopment Analysis ou, análise
envoltória de dados, que foi desenvolvida por pesquisadores americanos no decorrer do século
passado para analisar a eficiência de órgão cuja razão de existir não é o lucro, como ONGs e
governos. (CASADO; SOUZA, 2007, p. 2).
Ainda sobre o DEA, Mello et al. (2005, p. 2525- 2531) traçam um comparativo entre a
referida ferramenta e a regressão linear, pontuando que o DEA traça uma fronteira de
produtividade, enquanto a regressão traça uma reta.
Seguindo com a Análise Envoltória de Dados, Casado e Souza (2007, p. 9) pressupõe
que determinada DMU, S por exemplo, é capaz de produzir X(S) unidades com Y(S) insumos,
enquanto outra unidade produtiva, a I, produz X(I) unidades com Y(I) de insumo, sendo as duas
DMU’s eficientes, é gerada uma DMU composta. No caso dessa unidade produtiva não existir,
ela é chamada de DMU virtual. Outras DMU’s também são capazes de produzir a mesma
quantidade que uma unidade produtiva ou que a DMU virtual. Tendo a DMU mais eficiente
como base de comparação para as demais, qualquer outra unidade produtiva que apresentar
rendimento abaixo do parâmetro será considerada ineficiente.

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Aprofundando um pouco as características dessa ferramenta, pode se encontrar dois
modelos clássicos, o CCR criado inicialmente por Charnes, Cooper e Rhodes em 1978 e, o
BCC, otimizado por Banker, Charnes e Cooper em 1984. Ambos podendo ter orientação a
output ou input, sendo que os modelos orientados a output têm as entradas fixas buscando a
máxima saída, output, enquanto o modelo orientado a input, possuem a saída, output, fixa,
buscando minimizar a entrada, input. (MELLO et al., 2005, p. 2525 - 2531).
A diferença entre os dois modelos clássicos, segundo Mello et al. (2005, p. 2525- 2531)
ocorre pelo seguinte motivo, a versão inicial apresentada em 1978 interpretava que as entradas
apresentavam retornos constantes de escala, ou seja, um aumento de 10% em determinado input
acarretaria um aumento também de 10% no output. Já a versão atualizada, publicada na década
seguinte, apresentava retornos variáveis de escala, por exemplo, um aumento de 10% na entrada
não necessariamente implicaria um acréscimo nas mesmas proporções na saída.

A educação na região metropolitana de Sorocaba

O advento da 1ª Revolução Industrial na Inglaterra adensou as aglomerações humanas.


Na idade feudal era corriqueiro uma pequena quantidade de pessoas nos feudos, sendo que
pouca coisa mudou nos primeiros séculos da idade moderna. Mas, com o surgimento das
máquinas no século XVIII, a população, que morava majoritariamente no campo, passou a viver
nos arredores das grandes cidades, e os agricultores se transformaram em operários. Sendo que
as revoluções industriais posteriores, tanto a segunda como a terceira, adensaram ainda mais os
grandes centros urbanos. (HOBSBAWM, 2012, p. 32). Portanto, para sobreviver, o trabalhador
do campo foi coagido a mudar para as cidades e a realizar atividades mais complexas nas
indústrias, o que acarretou em um maior investimento em capital humano, ou seja, educação, o
que segundo Schultz (1961 , p. 4) acaba gerando uma diferença salarial entre os trabalhadores
que passaram mais anos nas escolas em relação aos seus semelhantes, que ficaram um período
menor em instituições de ensino.
O Brasil também passou por um processo semelhante, de acordo com Grimaud,
Vasconcellos e Toneto Junior (2017, p. 343 – 361) , apesar das indústrias terem chegado
tardiamente ao país. Enquanto países como a Inglaterra e França iniciaram o processo de
industrialização no século XVIII, a antiga colônia portuguesa na América começou a ver com
bons olhos o setor industrial apenas no início do século XX. Período no qual já existia alguns

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centros urbanos relativamente grandes no país, como Salvador, Rio de Janeiro e São Paulo,
embora o restante do território nacional fosse ainda extremamente agrário, com plantações de
café no interior de São Paulo e a pecuária no Rio Grande do Sul.
Como São Paulo era um grande centro comercial, os tropeiros saíam com as mulas do
Sul para realizar trocas na capital paulista, sendo que o caminho percorrido por eles ficou
denominado como rota dos tropeiros. No decorrer dessa rota, pequenas vilas começaram a
surgir onde os viajantes pernoitavam. Essas vilas com o tempo se transformaram em cidades,
como Sorocaba, Itapetininga, Capão Bonito, Itapeva, etc. Tais núcleos urbanos foram,
futuramente, beneficiados pelos incentivos governamentais concedidos pelo governo Vargas
quanto este decidi industrializar o país.
A estrada de ferro sorocabana foi fundamental para o progresso da cidade de Sorocaba,
e consequentemente, da região. Referência para a indústria nacional devido às fábricas têxteis,
a cidade foi apelidada de “Manchester brasileira”; Com o tempo, a cidade precisou buscar
novos investimentos para manter seu nível de desenvolvimento, dentre os quais o investimento
em educação, que foi consumado com a instalação da primeira Faculdade de Tecnologia
(FATEC) de estado de São Paulo. Pois segundo o jornal Cruzeiro do Sul (1968 apud
OLIVEIRA, 2014, p. 48) era alta a demanda da população sorocabana para cursos voltados
para a indústria, já que o município possuía área reservada para a instalação de uma unidade
educacional.
A importância da educação para o desenvolvimento de uma sociedade é fundamental
segundo Acemoglu e Robinson (2012, p. 17 - 88). O autor cita o exemplo de duas cidades da
América do Norte que possuem o mesmo nome, Nogales, uma fica em território americano,
enquanto a outra situa-se ao sul da fronteira, no México. A Nogales mexicana sofre grandes
problemas sócio econômicos, como baixa expectativa de vida e PIB per capita2, sendo que o
oposto ocorre com sua vizinha do norte, no Estado do Arizona, com alto índice de
desenvolvimento econômico e humano. Sendo que uma das grandes causas dessas disparidades
na qualidade de vida dos cidadãos é a educação, já que na Nogales americana ela é de qualidade
e disponível para todos, desde os primeiros anos de vida, enquanto em suma homônima México
a mesma não recebe a devida importância. Consequentemente a produtividade, que é uma das

2
A palavra per capita deriva do latim, e significa literalmente “por cabeça”.

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medidas utilizadas para determinar se um país, ou região, é desenvolvida, acaba sendo
extremamente desigual entre os habitantes de duas cidades vizinhas.
Portanto, o constante crescimento, não só populacional, mas também econômico, da
cidade de Sorocaba e sua região vem ocorrendo devido a diversos fatores, sendo um deles a
educação, que gera mão de obra qualificada, aumentando a produtividade de Sorocaba e região.
Tendo como pressuposto a importância da educação, foram coletados dados
relacionados aos 27 municípios integrantes da RMS, exibidos na tabela 1, com o fim de verificar
a eficiência dos seus dispêndios relacionados à educação.
Sendo a RMS dividia em três sub regiões, foram coletados os seguintes dados: número
de docentes, escolas, gasto por aluno e PIB per capita, que serão os inputs, e por fim o IDEB,
que será o output. Todos referentes ao ano de 2017, último ano de dados disponíveis do IDEB,
quando da coleta dos dados.
O número de docentes e escolas engloba os dados desde as creches até ensino médio
público, não levando em conta instituições privadas.
O PIB per capita foi coletado com o objetivo de avaliar o quão rico é o município a ser
analisado, e seu provável impacto no produto, ou seja, no IDEB, pois segundo Matetti e Bezerra
(2018, p. 35), os municípios com gastos mais altos em educação tendem a ter uma nota também
mais alta, se comparados com os seus semelhantes que gastam menos com os alunos.
A variável gasto por aluno com educação é de fundamental importância para a pesquisa,
pois possibilita analisar comparativamente se determinado município gasta pouco ou muito com
ensino básico. Sendo essa variável a razão entre o gasto com educação do município e o número
de matrículas em escolas públicas da creche ao terceiro ano do ensino médio.

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Tabela 1 - Dados Necessários para Aplicação do DEA – “Continua”

Gasto por aluno com


Municípios Docentes Escolas PIB per capita IDEB
educação
Sub Região 1
Alambari 81 10 R$ 3.805,74 R$ 17.477,00 4,9
Boituva 641 52 R$ 5.865,19 R$ 46.569,00 5,4
Capela do Alto 227 21 R$ 4.745,21 R$ 14.285,00 5,0
Cerquilho 711 36 R$ 5.817,55 R$ 37.302,00 6,0
Cesário Lange 211 26 R$ 4.759,12 R$ 23.835,00 5,2
Itapetininga 1.642 193 R$ 3.153,37 R$ 27.855,00 5,3
Jumirim 68 5 R$ 7.921,39 R$ 32.107,00 5,5
Sarapuí 131 13 R$ 3.683,79 R$ 14.976,00 4,6
Tatuí 1.266 123 R$ 3.321,28 R$ 32.295,00 4,7
Tietê 561 48 R$ 5.178,47 R$ 42.411,00 4,6
Sub Região 2
Alumínio 216 25 R$ 5.415,64 R$ 101.155,00 5,1
Araçariguama 330 44 R$ 6.836,52 R$ 135.194,00 4,8
Ibiúna 916 139 R$ 3.237,32 R$ 21.050,00 5,1
Itu 1.785 118 R$ 4.487,80 R$ 44.504,00 5,0
Mairinque 619 64 R$ 4.803,52 R$ 36.690,00 4,7
Porto Feliz 547 46 R$ 6.107,34 R$ 36.639,00 5,1
Salto 1.212 71 R$ 3.953,91 R$ 59.118,00 5,3
São Roque 1.086 104 R$ 5.917,86 R$ 30.797,00 4,8
Sub Região 3
Araçoiaba da
325 35 R$ 5.893,88 R$ 20.558,00 5,1
Serra
Iperó 385 30 R$ 5.072,21 R$ 16.164,00 4,7
“Conclusão”
Piedade 632 68 R$ 3.615,57 R$ 22.104,00 5,3
Pilar do Sul 366 29 R$ 3.979,77 R$ 22.309,00 5,3
Salto de
451 41 R$ 4.486,06 R$ 36.783,00 5,3
Pirapora
São Miguel
461 45 R$ 4.237,04 R$ 48.271,00 5,4
Arcanjo
Sorocaba 5.837 411 R$ 3.802,51 R$ 20.551,00 5,2
Tapiraí 121 10 R$ 3.709,86 R$ 18.272,00 4,7
Votorantim 1.074 107 R$ 3.915,90 R$ 25.036,00 5,4

Fontes: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDO E PESQUISAS EDUCACIONAIS. Disponível em:


http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=4353076. Acesso em: 05 out. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-
paulo/pesquisa/13/5913?ano=2017&localidade1=352230&localidade2=350075. Acesso em: 05 out. 2020.
INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Disponível em:
http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx. Acesso em: 05 out. 2020.

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Com os dados organizados na tabela 1, é possível realizar uma análise introdutória das
informações, com métodos da estatística descritiva, para na sequência aplicar a ferramenta DEA
e avaliar a eficiência dos dispêndios públicos com educação.

Análise estatística de dados

A primeira análise a ser feita será simplificada, utilizando apenas ferramentas da


estatística descritiva, que segundo Crespo (2002, p. 79), engloba diversas medidas de posição
como média, moda e mediana, assim como algumas ferramentas de dispersão e variabilidade,
por exemplo desvio padrão e variância.
A média utilizada na tabela 2, abaixo, é a aritmética, que de acordo com Crespo (2002,
p. 80), é aplicada com a finalidade de verificar o número onde as variáveis tendem a se agrupar,
sendo ela o quociente da soma das variáveis pela quantidade total delas.
Enquanto o desvio padrão é a raiz quadrada da variância, ou seja, uma forma mais
prática de interpretar os dados. Sendo aqui aplicada com a intenção de analisar justamente a
disparidade dos valores observados (CRESPO, 2002, p. 111)
Analisando a tabela 2, é possível observar grande disparidade nos dados coletados, por
exemplo, o número de docentes e escolas, sendo que o número mínimo de docentes foi
encontrado no município de Jumirim, sendo 68, enquanto o maior número de professores é
observado em Sorocaba, com 5.837, sendo que a média é de aproximadamente 790 docentes
nos 27 municípios da RMS, e com desvio padrão em torno de 634. Essas duas cidades também
figuram no valor máximo e mínimo de escolas, com Jumirim tendo 5 escolas e Sorocaba com
411, tendo a RMS uma média de 69 escolas por município, e consequentemente um desvio
padrão de 53.
O gasto por aluno com educação também é bastante díspar, com Itapetininga gastando
cerca de R$ 3.153,00 por aluno, e Jumirim por volta de R$ 7.921,00, uma diferença que fica
perto dos 150%. Sendo que a média de gasto dos municípios da RMS fica em torno de R$
4.538,72, acarretando um desvio padrão de R$ 968,93.
A última variável de entrada, input, a ser analisada é o PIB per capita, ou seja, a renda
média dos habitantes de cada município da região. Capela do Alto e Araçariguama figuram no
mínimo e máximo, respectivamente, com o primeiro município possuindo um PIB per capita
de aproximadamente R$ 14.285,00 e Araçariguama com R$ 135.194,00, uma incrível diferença

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de 846%. Tendo a RMS um rendimento médio de R$34.885,04 por habitante, e um desvio
padrão de R$16.919,79.
Por fim, mas não menos importante, a tabela apresenta uma breve análise do output,
também denominado como saída, o IDEB, sendo os valores mínimo e máximo de 4,6 e 6,0,
pertencentes a Sarapuí e Cerquilho respectivamente. A média da RMS na variável analisada
ficou em 4,92, e o desvio padrão em 0,25.

Tabela 2 - Dados Analisados com Estatística Descritiva - ano de 2017 – “Continua”

Variáveis Mínimo Máxima Média Desvio Padrão


Docentes 68 5837 790,41 634,73
Escolas 5 411 69,11 53,28

Gasto por
Aluno com R$3.153,37 R$7.921,39 R$4.538,72 R$968,93
Educação

PIB per capita R$14.285,00 R$135.194,00 R$34.885,04 R$16.919,79


“Conclusão”
IDEB 4,6 6,0 4,92 0,25
Fontes: INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDO E PESQUISAS EDUCACIONAIS. Disponível em:
<http://ideb.inep.gov.br/resultado/resultado/resultado.seam?cid=4353076>. Acesso em: 05 out. 2020.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Disponível em:
<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/sp/sao-
paulo/pesquisa/13/5913?ano=2017&localidade1=352230&localidade2=350075>. Acesso em: 05 out.
2020. INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Disponível em:
<http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx>. Acesso em: 05 out. 2020.

Para identificar qual município da RMS é mais eficiente na tratativa dos gastos públicos,
será aplicada a ferramenta DEA, elaborada por Charnes, Cooper e Rhodes, em 1978, onde os
parâmetros variam de 0 a 1, com o 0 sendo o menor nível de eficiência e 1 a máxima eficiência
alcançável pela unidade no modelo.
A formulação abaixo, elaborada por Charnes, Cooper e Rhodes (1978 apud CASADO;
SOUZA, 2007, p. 10) diz que a orientação a o output, ou seja, orientação a saída, busca o
resultado máximo com os insumos, inputs, fixos:
∑Sj=1 uj Yj0
Máxh0 =
∑ri=1 vi Xi0
Onde:
h0 = eficiência da DMU O (zero)
r = quantidade total de inputs

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 14


s = quantidade total de outputs
Yjk = quantidade de output j para a DMUk
Xjk = quantidade de input i para a DMUk
Uj = peso referente ao input j
Vi = peso referente ao input i

Para realizar os cálculos de programação linear será utilizado um sistema desenvolvido


pela UFF3 denominado como SIAD (Sistema Integrado de Apoio à Tomada de Decisão), que
segundo Meza et al. (2003, p. 2539), foi implementado na linguagem de programação Delphi
7.0, com o algoritmo Simplex 4 de programação linear 5 , devido à crescente demanda por
ferramentas que ajudam na tomada de decisão. Assim, tanto os modelos clássicos, CCR e BCC,
como estudos mais avançados, por exemplo, as atribuições de pesos às variáveis ficam mais
fáceis e intuitivos de serem aplicados.
A tabela 3 apresenta os resultados apresentados pelo DEA através do SIAD. Sendo que
os municípios estão divididos nas três sub-regiões da RMS, e dentro desse conjunto estão
elencados por ordem alfabética.

3
Universidade Federal Fluminense.
4
Algoritmo desenvolvido por Dantzig e publicado em 1948.
5
Área de pesquisa matemática voltada à otimização.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 15


Tabela 3 – Eficiência com gasto em educação dos Municípios da RMS. (continua)
Municípios Eficiência
Sub Região 1
Alambari 1,000000
Boituva 0,678732
Capela do Alto 1,000000
Cerquilho 0,777276
Cesário Lange 0,831209
Itapetininga 1,000000
Jumirim 1,000000
Sarapuí 0,962447
Tatuí 0,908100
Tietê 0,652748
Sub Região 2
Alumínio 0,719291
Araçariguama 0,532297
Ibiúna 1,000000
Itu 0,740887
Mairinque 0,696153
Porto Feliz 0,622367
Salto 0,920372
São Roque 0,573324
Sub Região 3
Araçoiaba da Serra 0,724452
Iperó 0,838061
Piedade 1,000000
Pilar do Sul 0,994667
Salto de Pirapora 0,869012
“Conclusão”
São Miguel Arcanjo 0,926320
Sorocaba 0,937761
Tapiraí 0,983438
Votorantim 0,915673
Fonte: Elaborado pelo autor.

A análise realizada mostra que apenas 6, ou, aproximadamente 22%, dos municípios da
RMS são plenamente eficientes na tratativa dos gastos públicos com educação, ou seja,
apresentam parâmetro de saída igual a 1. Cerca de 41% dos municípios tiveram um
aproveitamento de 0,8 ou mais e 37% ficaram com um grau de eficiência abaixo de 0,8, tendo

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 16


Araçariguama e São Roque os piores resultados, com índices aproximados de 0,53 e 0,57,
respectivamente.
O município de Alambari é um dos 6 municípios plenamente eficientes da RMS,
também é um dos menos populosos, com cerca de 5.600 habitantes com um PIB per capita
igualmente baixo para a região, que fica em torno de R$ 17.400,00, contudo, a boa gestão dos
recursos disponíveis coloca Alambari à frente de municípios muito mais relevantes.
Capela do Alto é outro caso similar ao de Alambari, com uma população aproximada
de 20.000 habitantes, e com o PIB per capita mais baixo da RMS, na casa dos R$14.200,00, no
entanto, a gestão eficiente dos escassos recursos financeiros rendeu a máxima eficiência ao
município.
Itapetininga é o município plenamente eficiente mais populoso, com um número de
habitantes que fica em torno de 158.000, contudo é o que tem o menor gasto por aluno com
educação, cerca de R$ 3.100,00, e é o segundo município com o maior número de escolas e o
terceiro em número de docentes. Assim integrando o pequeno grupo plenamente eficiente.
O município de Jumirim é o menos populoso da região, com cerca de 3.190 habitantes,
apesar disso, é o integrante da pesquisa que possui o maior gasto por aluno com educação,
aproximadamente R$ 8.000,00. Também chama a atenção o seu output, o IDEB, que é o
segundo melhor dentre todos os analisados, com uma nota de 5,5. Assim, Jumirim fica entre os
22% plenamente eficientes.
Ibiúna é um caso parecido com Itapetininga, possui um baixo gasto por aluno, cerca de
R$ 3.200,00, maior apenas do que Itapetininga, mas tem um alto número de professores e
docentes, sendo o terceiro município com o maior número de escolas.
Piedade possui similaridades com Itapetininga e Ibiúna. Os três municípios possuem um
baixo gasto por aluno, mas um alto número de docentes e escolas. Piedade é a terceira DMU
que menos gasta com aluno, com dispêndio em torno de R$ 3.600,00, mas possui um dos
maiores output, IDEB de 5,3. De tal modo, ela figura entre as 6 plenamente eficientes.
No outro extremo da pesquisa se encontra Araçariguama, com o maior PIB per capita
da região, cerca de R$ 135.000,00, igualmente alto é seu gasto por aluno com educação, por
volta de R$ 6.800,00, o segundo maior da RMS, no entanto, é o município que possui uma das
menores notas no IDEB, apenas 4,8. Dessa forma, Araçariguama apresentou o menor índice de
eficiência da região, por volta de 0,53, ou seja, o município é rico, gasta muito e gasta mal.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 17


São Roque é o terceiro município da RMS com maior gasto por aluno em educação,
cerca de R$ 5.900,00, alto também é seu número de escolas e professores, contudo, o coeficiente
de eficiência apresentado por São Roque é o segundo pior da região, aproximadamente 0,57,
ficando à frente somente de Araçariguama, ambas com o mesmo IDEB baixo de 4,8. Sendo
assim, o município gasta muito com cada aluno, tem um alto número de escolas e professores,
no entanto, essas variáveis não geram um bom resultado, fazendo com que São Roque figure
entre os menos eficientes da RMS.

Considerações finais

O bom gerenciamento dos recursos públicos voltados para educação é de extrema


importância para o bem estar social, pois o benefício gerado pela boa formação educacional
extrapola a pessoa do aluno e afeta todos que interagem com o mesmo, gerando um amplo
ganho de benefício marginal social, variável que deve ser levada em consideração em todas as
tomadas de decisões públicas, pois vivemos mais aglomerados do que nunca na história
humana.
Os dados coletados da aglomeração estudada geraram uma análise descritiva, onde foi
possível averiguar grande disparidade nas DMU’s observadas, como o número de escolas, com
desvio padrão em torno de 53, e o número de professores, com desvio padrão de
aproximadamente 635. Assim é possível afirmar que há grande disparidade populacional na
RMS, levantando uma importante variável para a averiguação da eficiência.
Apesar da grande desigualdade econômica dos municípios, a região não apresentou
resultados tão díspares, salvo as exceções São Roque e Araçariguama, com os piores
coeficientes. Sendo que as duas cidades apresentaram nota baixa no IDEB, ambas com 4,8,
apesar de ter municípios com notas mais baixas, como é o caso de Sarapuí com 4,6, mas São
Roque e Araçariguama possuem mais recursos para investir e, consequentemente, deveriam
apresentar uma nota melhor no IDEB. Portanto, é possível afirmar que a má aplicação dos
recursos públicos disponíveis nesses municípios foi relevante para um desempenho tão
insatisfatório.
Destacando a peculiaridade de Araçariguama, que possui grandes fábricas, como a
Gerdau, que elevam o PIB da cidade, no entanto, a maior parte desse montante não circula no
município, pois a proximidade de Sorocaba e São Paulo faz com que os trabalhadores dessas

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 18


empresas acabem preferindo morar em grandes cidades que proporcionam uma maior
diversidade de lazer, consequentemente reduzindo a arrecadação do município e aumentando o
PIB per capita.
No sentido oposto estão os seis municípios plenamente eficientes, Alambari, Capela do
Alto, Itapetininga, Jumirim, Ibiúna e Piedade. Todos eles possuem ao menos um dos inputs,
número de docentes, escolas, gasto médio por aluno e PIB per capita, relativamente baixo,
caracterizando uma boa aplicação dos recursos disponíveis.
Sendo assim, as três hipóteses formuladas foram corroboradas. Os municípios menos
populosos apresentaram um rendimento superior, pois a única DMU populosa plenamente
eficiente foi Itapetininga. Os municípios com gasto elevado não apresentaram plena eficiência,
exceção feita para Jumirim, muito pelo contrário, os municípios com gastos menores são
maioria entre os eficientes. Por fim, a hipótese de que a regionalidade afeta a eficiência foi
acatada, com quatro das seis DMU’s plenamente eficientes pertencentes à sub-região 1, com
Ibiúna representando a sub-região 2 e Piedade representando a sub-região 3.
Portanto, a pesquisa contribuiu para uma melhor análise dos gastos públicos com
educação nos municípios da RMS, deixando evidente a eficácia do DEA e sua importância na
gestão pública, ainda mais em um país rico como o Brasil, que se gasta muito, mas se gasta
mal.
Fica como sugestão de pesquisas futuras a identificação da causa da relevância da
regionalidade, um aprofundamento em determinada cidade, verificando a eficiência das escolas,
e uma análise mais ampla, como a eficiência dos municípios do estado. Sendo que a análise não
deve se restringir à área educacional, o DEA pode, e deve, ser aplicado em outras áreas, como
saúde e segurança.

Referências

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2020.

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A ESTAGNAÇÃO INDUSTRIAL DA CIDADE DE SOROCABA ENTRE OS ANOS
DE 2012 A 2017

João Matheus Ciandrini Licciardi*


Marcos Antonio Canhada**

* Bacharelando em Ciências Econômicas pela Universidade de Sorocaba (UNISO). E-mail:


j.ciandrini@hotmail.com
** Orientador do trabalho: Mestre em Engenharia de Produção e professor do Curso de Ciências
Econômicas da (UNISO). E-mail: marco.canhada@prof.uniso.br

Resumo: O objetivo desse artigo é investigar as causas da estagnação industrial da cidade de Sorocaba
nos anos de 2012 a 2017, tendo como parâmetros o valor adicionado ao PIB municipal e participação
formal empregatícia por setor, além de comparar os resultados com os municípios de Ribeirão Preto e
São José dos Campos. Os dados sugerem que as variáveis analisadas, isto é, taxa de juros, evolução das
importações, exportações e o cenário desfavorável de crise econômica conjuntural interna brasileira
contribuíram para a estagnação no setor secundário em Sorocaba e uma possível desindustrialização no
município no período analisado. No entanto os dados são inconclusivos para as cidades de Ribeirão
Preto e São José dos Campos, uma vez que não se notou comportamento industrial estacionário e
retrativo como o observado em Sorocaba.

Palavras-chave: Estagnação industrial. Sorocaba. Taxa de juros. Exportação e importação. Crise


econômica interna. Desindustrialização.

The industrial stagnation of the city of sorocaba between 2012 and 2017

Abstract: The objective of this article is to investigate the causes of industrial stagnation in the city of
Sorocaba in the years 2012 to 2017, taking as parameters the value added to the municipal GDP and
formal employment participation by sector, in addition to comparing the results with the municipalities
of Ribeirão Preto and São José dos Campos. The data suggest that the analyzed variables, that is, interest
rate, evolution of imports and the unfavorable scenario of Brazilian domestic economic crisis
contributed to the stagnation in the secondary sector in Sorocaba and a possible deindustrialization in
the municipality in the analyzed period. However, the data are inconclusive for the cities of Ribeirão
Preto and São José dos Campos, since there was no stationary and retractive industrial behavior as
observed in Sorocaba.

Keywords: Industrial stagnation. Sorocaba. Interest rate. Exportation and importation. Internal
economic crisis. Deindustrialization.

Recebido em: 11 de novembro de 2020. Avaliado em: 19 de novembro de 2020.

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Introdução

Ao longo das últimas três décadas, Sorocaba se destacou entre as principais cidades do
Brasil, visto seu intenso e diversificado desenvolvimento econômico regional, além da evolução
dos principais indicadores sociais. Tendo como base o ano de 1991, Sorocaba passou de um
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,579 para 0,798 em 2010, sendo
que 1 representa o máximo valor a ser atingido. É expressivo que em menos de 20 anos o índice
tenha experimentado um aumento de cerca de 38%, segundo indica o relatório do IDHM
desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro (FJP), em 2013.
Atualmente, o município conta com uma população estimada de 687 mil habitantes
(IBGE, 2020) e é uma das mais importantes cidades do estado de São Paulo, sendo a 9º em
tamanho de população e a 1º em sua microrregião (IBGE, 2020), onde é a cidade polo da Região
Metropolitana de Sorocaba (RMS), instaurada em 2014 e que representa cerca de 4% do
Produto Interno Bruto (PIB) de todo estado de São Paulo (IBGE, 2019).
Sorocaba, por estar situada estrategicamente entre três polos de grande importância para
o Brasil – São Paulo, Curitiba e Campinas –, alcançou seu desenvolvimento concomitantemente
com o crescimento desses grandes centros (EMPLASA, 2019), o que possibilitou a instalação
de grandes empresas em seu parque industrial, como ZF do Brasil, Johnson Controls, grupo
Schaeffer e muitas outras unidades produtivas ligadas ao setor manufatureiro.
O desenvolvimento da cidade foi puxado fortemente pelo setor industrial que chegou a
representar em seu auge cerca de 40% de todo valor adicionado no PIB municipal entre os anos
de 2004 a 2010, conforme informam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2019 e compilados pela Fundação SEADE. No entanto, desde de 2011, o setor vem
perdendo participação relativa ao que tange o valor adicionado no PIB e número de empregados
formais.
Em vista do panorama apresentado no último parágrafo, infere-se que a problematização
do presente artigo repousa na pergunta “Por que houve estagnação industrial na cidade de
Sorocaba entre os anos de 2012 a 2017?”. Diante disso, o objetivo central é analisar as causas
da estagnação industrial em Sorocaba entre o período sinalizado tendo como referência o valor
adicionado no PIB municipal e a participação dos empregos formais no setor.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 22


Em consonância com o objetivo geral, buscou apurar se as variáveis como taxa de juros,
crise econômica e aumento de custos indústrias, além da participação das exportações e
importações corroboraram para que houvesse desaceleração da atividade industrial no
município. Em paralelo ao objetivo específico, se comparou Sorocaba com outras cidades de
semelhante tamanho populacional como Ribeirão Preto e São José dos Campos, a fim de
estimar se o fenômeno de estagnação industrial é particular ou generalizado às cidades paulistas
com população em torno dos 700 mil habitantes e com estrutura produtiva semelhante.
Dentre as hipóteses acerca da problematização da estagnação industrial em Sorocaba,
destacam-se o comportamento das variáveis como taxa de juros, exportações e importações e
considera o papel da crise conjuntural interna no Brasil como fator determinante para o
travamento produtivo e econômico da cidade, segundo se mostrará ao longo do artigo por meio
de pesquisa bibliográficas acerca do tema. Esse delineamento se dá devido ao artigo apresentar,
em sua estrutura, um caráter explicativo, visto que se busca esclarecer se as variáveis
supracitadas contribuíram para a ocorrência do fenômeno identificado.
Ao que tange à coleta de informações que sustentam a análise, essa se baseia em livros,
artigos científicos e outros meios acadêmicos relacionado ao tema, aliado à pesquisa
documental por meio de fontes primárias de informação, como dados estatísticos históricos e
pesquisas feitas pelo IBGE, Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE),
Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Banco Central do Brasil (BC) e Ministério da
Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), verbi gratia. Em decorrência à análise dos
dados, essa será conduzida mediante a tabulação de dados por meio de tabelas e gráficos e
posterior análise dedutiva, de onde se parte do todo para o particular, amparado com o senso
crítico do autor acerca dos dados.
Discorrendo a respeito da relevância da pesquisa, esse artigo se mostrará relevante para,
ao buscar evidenciar quais as principais variáveis influenciaram no comportamento estacionário
da indústria sorocabana, entendê-las de maneira mais analítica e científica e, eventualmente,
servir como parâmetro para políticas regionais que almejem o aumento da participação no PIB
municipal do setor industrial. Com eventuais políticas industriais, poder-se-á aumentar o
número de empregados formais no setor, o que resultaria num aumento de renda à população,
visto que o setor apresenta o maior rendimento médio (cerca de R$4.321,00 em 2017) se
comparado aos setores de agricultura e de serviços, que apresentaram também no ano de 2017

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 23


rendimento médio de R$1.798,00 e R$2.963,00 respectivamente, segundo Relação Anual de
Informações Sociais – RAIS (BRASIL, 2019).
Na exposição dos dados e da revisão da literatura, se mostrará evidente ao longo do
artigo que de fato as variáveis tratadas impactaram o desempenho econômico do setor industrial
no município, visto que os dados confirmam a diminuição dos investimento na cidade ao
decorrer das elevações da taxa Selic entre 2013 a 2016, o decréscimo das exportações e
importações entre o período analisado e a deterioração das expectativas e aumento dos custos
industriais no decorrer da crise econômica brasileira, segundo a literatura revisada.
Por fim, tal artigo está dividido em cinco seções a contar a introdução como sendo a
primeira; a segunda contém o arcabouço teórico no qual se descrevem as principais teorias
acerca do papel da indústria no desenvolvimento regional e dos fundamentos de relevância na
análise manufatureira; a terceira seção consta a apresentação e análise dos dados decorrente das
hipóteses consideradas; a quarta apresenta as considerações finais acerca da pesquisa realizada;
e, por último, a quinta seção traz as referências utilizadas.

Arcabouço teórico

De imediato, a fim de conceituar a indústria e sua devida importância, convém resgatar


talvez uma de suas primeiras definições descritas por John A. Hobson e Albert F. Mummery
no livro The Physiology of Industry de 1889. De maneira simples e dinâmica, os autores
descrevem o papel primordial da indústria na sociedade capitalista, na qual esta fornece
utilidades e comodidades aos seus demandantes a partir da manipulação da matéria-prima e do
uso do capital como facilitador para essa atividade (HOBSON; MUMMERY,1889, p. 36).
Em complemento, é notável que um dos grandes avanços para o aumento da produção
foi a organização industrial, uma vez que essa aumentou a eficiência do processo produtivo
com a divisão do trabalho e possibilitou que externalidades positivas fossem propagadas, como
a estabilidade no crédito comercial, o advento de novas tecnologias e a melhora na qualidade
de vida de todos àqueles que circundavam os organismos industriais (MARSHALL, 1890, p.
293).
Além disso, Marshall discorre que a firma é um agente que interfere no meio o qual está
inserida e, por sua vez, é impactada por ele, tornando-se um agente ativo e não apenas reativo
às mudanças de mercado. A visão da firma marshalliana difere-se do conceito da firma

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 24


neoclássica tradicional, tendo como base inicial o princípio do equilíbrio geral de Leon Walras,
dado que nessa última, a unidade produtiva é apenas um local que comporta fatores de produção
que se combinados com tecnologia e conhecimento comum gera produção. Ou seja, nada mais
que uma montagem refém às leis dos rendimentos marginais decrescentes, à luz da teoria dos
preços e na adequada e eficiente alocação dos recursos disponíveis, onde a tecnologia e mão de
obra são fatores externos (FEIJÓ; VALENTE, 2004, p. 353-354; TIGRE, 2005, p. 191).
Mais adiante aos neoclássicos, conforme se pode constatar em Miranda (1987, p. 138-
140) a evolução de que a indústria não é apenas um elemento transformador de matéria-prima
com a aglutinação de trabalho e tecnologia, se dá com os escritos de Piero Sraffa e Joan
Robinson, onde esses inserem aos ganhos de escala com aumento de produtividade e reduções
de custos, além de sinalizar a incapacidade da ocorrência de um sistema concorrencial puro e
na fragilidade da homogeneidade dos produtos, respectivamente. Nota-se, portanto, com a
evolução das teorias ligadas à firma, que cada vez mais se tenta retirar a ideia da indústria como
“caixa-preta” e como agente passivo, mas ao contrário, vê-se uma escalada ao protagonismo
industrial para abrangência do desenvolvimento.
Abordando uma literatura mais recente e específica, sabe-se que, segundo Kupfer (2003,
p. 91) desenvolvimento econômico não é apenas crescimento do nível do produto, isto é, manter
um crescimento supérfluo. Em países em desenvolvimento, o crescimento deve ser associado a
uma mudança estrutural de rupturas. Tratando-se de políticas industriais, essas devem fomentar
e acelerar o processo de transformação produtiva que ocorreriam lentamente pelas forças de
mercado tanto no âmbito nacional quanto no regional.
Tratando-se de desenvolvimento regional, como explana Monteiro Neto, Castro e
Brandão (2017, p. 21), a questão é pouco discutida nos assuntos conjunturais do
desenvolvimento econômico e político no país e referem-se às questões estruturais próprias de
determinada localidade a serem equacionadas, removidas ou superadas e proporcionar uma
mudança de sentido e de trajetória nos alicerces do (sub) desenvolvimento. Desta maneira,
pensar o local é: “refletir como cada passo dado numa determinada conjuntura adiciona ou
subtrai passos necessários à árdua caminhada do longo prazo” (MONTEIRO NETO; CASTRO;
BRANDÃO, 2017, p. 21).
Por sua vez, quando se leva em conta a compreensão do regional, é indissociável não
citar a participação da indústria como vetor de transformação para a condução da evolução das
vertentes econômicas, sociais e tecnológicas. Conforme afirma Cano (2017, p. 15), os países

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 25


capitalistas considerados desenvolvidos tiveram como engrenagem motriz a industrialização
como determinante fundamental, além do caráter de um Estado forte e presente. Ainda segundo
o autor, a indústria é responsável por agregar valor aos produtos e dá-los utilidade; permitir o
avanço da ciência e tecnologia nas bases do progresso técnico; acentuar o processo de
urbanização e encadeamento das estruturas de infraestrutura; gerar e estimular padrões de
produtividade e competitividade; além de motivar a modificação e transformação das estruturas
de empregos. Desta forma, é a industrial o agente de transformação no Estado moderno, mas
que atualmente vem sendo fortemente abalada.
Sabe-se que a corrente desenvolvimentista leva em consideração três conjuntos de
elementos que são determinantes para as medidas de estimulo ao setor produtivo: o contexto
específico, ou seja, as características próprias do local; o tempo histórico, isto é, o período de
desenvolvimento que se encontra; e o contexto internacional. De acordo com Ferraz, Paula e
Kupfer (2013, p. 317) a corrente desenvolvimentista defende a atuação do Estado como um
elemento ativo e não apenas corretivo, sendo responsável por agir nas falhas de mercado, mas
também de estabelecer o princípio de legitimidade e de promover e sustentar o desenvolvimento
ao longo do tempo.
Ainda segundo os autores, a maioria dos países desenvolvidos utilizam-se de políticas
industriais para promover a diversificação, ramificação, desenvolvimento econômico e bem-
estar social, apesar dos discursos contrários nos fóruns internacionais. No entanto, a partir dos
anos noventa, a política industrial brasileira sofreu considerável mudança com a abertura
comercial e a partir de 1994 foi veemente subordinada ao processo da estabilização econômica,
como se pode notar em:

A partir de 1994, em função do Plano Real, a política industrial subordinou-se de


forma veemente à prioridade da estagnação econômica, perdendo ainda mais espaço
em relação à política macroeconômica. [..] cresceram, também, as iniciativas dos
estados em promover isenções fiscais para empreendimentos industriais [..], dando
início a um processo de guerra fiscal, nem sempre favorável ao desenvolvimento da
indústria brasileira. (FERRAZ; PAULA; KUPFER, 2013, p. 321-322)

A conjuntura econômica apresentada no parágrafo acima revela uma problemática na


medida que o setor industrial, de acordo com Feijó, Carvalho e Almeida (2005, p. 10),
impulsiona a atividade econômica do país de uma maneira que os outros setores não, uma vez
que possui dinâmica própria e essa ramifica-se aos demais. Pode-se notar que países, tal como
retratam os autores, foram exitosos no crescimento econômico sustentável, então, devido aos

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 26


impulsos via manufatura, o que foi rejeitada no Brasil a partir dos anos 90 em detrimento à
estabilidade macroeconômica.
Em consonância, Cano (2012, p. 845) adiciona que uma política macroeconômica
desregulada e com os juros reais em níveis elevados, a fim de atrair capital estrangeiro,
desfavorece o investimento produtivo interno e gera um acúmulo de capital financeiro
prejudicial ao setor, uma vez que o acesso ao crédito é condição sine qua non para a manutenção
das operações, empregos e salários ou nas palavras de Schumpeter (1964, p. 107).

Primeiro devemos provar a afirmação, tão estranha à primeira vista, de que em


princípio ninguém além do empresário precisa de crédito — ou o corolário, mas de
imediato uma afirmação muito menos estranha, de que o crédito serve ao
desenvolvimento industrial. [...] Se ele não o conseguir [o crédito], então obviamente
não pode tornar-se empresário.

Além da importância de se possuir uma conjuntura macroeconômica favorável, políticas


industriais que visem seu dinamismo e fortalecimento, além de níveis coerentes de juros e do
consequente crédito, um outro fator imprescindível ao desenvolvimento econômico é o papel
das exportações e importações, pois são vetores da demanda agregada e geram encadeamento
produtivo e ingerência nos demais setores, conforme se vê em Marconi e Rocha (2012, p. 857).
Em adição ao papel das exportações e importações na participação da industrial como
cadeia de desenvolvimento econômico, outro prisma que se encontra na literatura está na
utilização de insumos importados no processo manufatureiro, no qual resulta em ganhos ao
setor. Por sua vez, a utilização de insumos importados leva à especialização técnica, na qual os
custos das importações são superados pelos benefícios de redução de preços dos produtos e
encadeamento técnico-produtivo, de acordo com Ishikawa e Hummels, Ishii e Yi (1992; 2001
apud MARCONI; ROCHA, 2012, p. 858).
Por fim, é importante enfatizar que o arcabouço teórico utilizado tem como base a
conjuntura brasileira e regional do estado de São Paulo, mas que servirá de parâmetro para a
análise sorocabana, respeitando suas características e particularidades própria de município.

Apresentação dos dados

No ano de 1580, o povoado de Sorocaba constitui-se e é considerado um dos mais


antigos núcleos populacionais do Brasil. O município, desde sua criação, foi marcado pelo
desenvolvimento econômico intenso. Inicialmente, tornou-se centro comercial para suprimento

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 27


de mão de obra indígena às fazendas de cana-de-açúcar do Nordeste e, após o declínio do
comércio escravo, introduziu-se a comercialização de itens ligados a mineração e ao troperismo,
principalmente direcionado à Minas Gerais e mais a diante ao Rio de Janeiro e às capitanias de
São Paulo. Com o desenvolvimento do comércio relativo aos tropeiros e à tradicional feira de
muares, estabeleceu-se a especialização sócio produtiva em volta das feiras e suas decorrentes
demandas. Ao longo dos anos, com a queda da atividade mineira, Sorocaba passa a ser
interposto de transporte de produção agrícola, como açúcar, café e, principalmente, algodão, o
que permitiu um forte crescimento da região e abriu espaço para a sua pré industrialização
(SONODA, 2007, p. 5-11).
Como o acúmulo de capital obtido, principalmente, pela atividade do transporte do
algodão, desenvolveu-se um intenso setor têxtil, tendo assim os primórdios da indústria
sorocabana. Nota-se que a partir desse ponto, ao longo de mais de um século, o setor industrial
do município fortaleceu-se, dinamizou-se e diversificou-se, passando da atividade têxtil para
uma indústria sofisticada e especializada decorrente da desconcentração do setor das grandes
capitais em direção aos interiores ocorrida a partir da década de 1980, como pode suportar em
Cano (1998 apud SONODA, 2007, p. 22). No entanto, atualmente o setor industrial vem
perdendo participação relativa ao que tange o valor adicionado e representa em torno de 31%
do PIB municipal, segundo último levantamento feito em 2019 pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
Antes de apresentar dados das variáveis intrínsecas à estagnação industrial e sua
diminuição relativa para o setor de comércio e serviços, cabe apresentar informações que
corroboram para tal afirmação. Segundo dados do IBGE de 2019 referente a participação no
total do valor adicionado no Produto Interno Bruto Municipal dos setores, pode-se notar que de
2012 a 2017, a indústria sorocabana perdeu cerca de 5 pontos percentuais em um curto espaço
de tempo (6 anos), como pode-se observar na Tabela 1, que mostra o comportamento dos
setores ao que tange ao valor adicionado ao PIB do município.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 28


Tabela 1 - Valor adicionado no PIB por setor (%) - Sorocaba

Setor 2012 2013 2014 2015 2016 2017


Agropecuária 0,1% 0,2% 0,2% 0,2% 0,2% 0,1%
Indústria 35,7% 32,9% 33,3% 32,9% 30,4% 30,9%
Comércio e serviços 64,2% 66,9% 66,5% 66,9% 69,5% 69,0%

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Produto interno bruto dos
municípios 2017. Disponível em:
http://www.imp.seade.gov.br/frontend/#/tabelas. Acesso em: 07 set. 2020.
Nota: elaborado pelo autor.

Em relação à evolução do PIB real da indústria obtida por meio do IBGE e Fundação
SEADE, percebe-se que este indicador experimentou uma redução real de 26% de 2012 a 2017,
deflacionado pelo deflator base 2010=100 utilizado pela fundação SEADE ao PIB Paulista. Por
sua vez, tendo como base os dados sobre empregos formais, percebe-se na Tabela 2 que o setor
secundário de Sorocaba perdeu participação relativa de 5,7% entre os anos de 2012 e 2017,
conforme indicam os dados colhidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio
da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS):

Tabela 2 - Valor adicionado no PIB por setor (%) - Sorocaba


Setor 2012 2013 2014 2015 2016 2017
Agropecuária e afins 0,4% 0,3% 0,3% 0,3% 0,2% 0,2%
Construção 4,5% 5,2% 5,9% 4,5% 4,4% 4,4%
Indústria 31,6% 31,5% 29,9% 28,3% 27,1% 25,9%
Comércio e serviços 63,5% 63,0% 64,0% 67,0% 68,2% 69,6%

Fonte: BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Relação anual de informações sociais – RAIS.
Disponível em: http://www.imp.seade.gov.br/frontend/#/tabelas. Acesso em: 07 set. 2020. (elaborado
pelo autor).

Quando se analisam os dados das cidades de Ribeirão Preto e São José dos Campos,
pode-se constatar que, ao contrário do que ocorreu em Sorocaba onde a participação tanto no
valor adicionado no PIB municipal quanto nos empregos formais da indústria sofreu um
decréscimo de 5%, nas duas outras cidades não se averiguou tal fenômeno. Além disso, essas
duas cidades suportaram, a partir de dados do IBGE e Fundação SEADE, aumento real do PIB

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 29


industrial em 2017 de 65% e 42% em relação a 2012, respectivamente, deflacionado pelo
deflator base 2010=100 utilizado pela fundação SEADE ao PIB Paulista.
Como se pode ponderar nos dados fornecidos pelo IBGE (2019) em relação ao Produto
Interno Bruto dos municípios compilados pela Fundação SEADE, Ribeirão Preto e São José
dos Campos tiveram um aumento de 5,2% e 9,8%, respectivamente, quanto à participação do
setor industrial na composição do PIB municipal entre os anos de 2012 a 2017. Já em relação à
porcentagem dos empregos formais no setor industrial, conforme indicam os dados do MTE
(2019) por meio do RAIS, houve um moderado decréscimo de 1,6% em Ribeirão Preto e de
2,2% no município de São José dos Campos.
Desta forma, percebe-se que, evidentemente, há uma estagnação industrial em Sorocaba
no período analisado e uma consequente perda de sua participação em detrimento do setor de
comércio e serviços, quando se analisa o comportamento do valor adicionado e da participação
de empregos formais por setor. À medida que se busca na literatura, visões que buscam entender
o fenômeno da estagnação industrial e a sua possível desindustrialização, em alguns casos, uma
das primeiras hipóteses acerca desse ponto está incorrida nas taxas de juros praticadas no país,
que acabam por influenciar o setor industrial veementemente, como se vê nos estudos de Cano
(2012, p. 834), Paiva (2017, p. 18) e Bresser-Pereira (2019, p. 5). A partir de março de 2013,
nota-se uma elevação de juros no Brasil, representada pela SELIC, taxa de juros básica da
economia brasileira. Os juros apresentaram uma trajetória de alta até fevereiro de 2016, quando
a partir desse momento, apresentou níveis de queda à patamares da metade de 2010 e final de
2012, de acordo com o Gráfico 1:

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 30


Gráfico 1 - Meta para Taxa Selic (% a.a.)
16
14
14
10,75
12

10
6,5
8

6
7,25
4

Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN. Meta para a Selic (% a.a.). Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/estatisticas/grafico/graficoestatistica/metaselic. Acesso em: 01 out. 2020.
Elaboração própria.

De acordo com Cano (2012, p. 834), as altas taxas de juros praticadas no país fazem
com que o empresário as compare com as taxas de lucros no setor financeiro e setores correlatos,
com o intuito de realizar as alocações de investimento a fim de acumular capital. Com lucros
industriais relativamente contidos quando comparado ao setor monetário ou à setores de
atividades ilícitas, o empresário atenta-se a esse fenômeno e só investe por necessidade e para
manutenção do negócio. Segundo o autor, essas elevadas taxas de juros praticadas inibem os
investimentos produtivos e repelem o seu desenvolvimento, tornando a indústria vulnerável,
obsoleta e aquém de sua plena capacidade técnica-produtiva ou nas palavras do próprio autor:
“Uma indústria que não investe envelhece, torna-se, em parte, obsoleta, não cresce, tem
dificuldades enormes de assimilar progresso técnico no dia a dia”.
De fato, ao passo que se investiga o comportamento dos investimentos confirmados para
a cidade de Sorocaba dentre os anos de 2012 a 2019, pondera-se que os anos em que se teve os
menores níveis de investimentos confirmados para as cidades de Sorocaba, Ribeirão Preto e
São José dos Campos foram justamente os anos em que a SELIC estava em estágios mais
elevados, isto é, entre os anos de 2013 a 2016 (exceto para a cidade de São José dos Campos

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 31


em 2013), segundo mostra o Gráfico 2 referente aos investimentos confirmados
disponibilizados pela Pesquisa de Investimentos Anunciados no Estado de São Paulo, a PIESP.

Gráfico 2 - Investimentos Confirmados (R$ milhões)


5000
4500
4000
3500
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Sorocaba Ribeirão Preto São José dos Campos

Fonte: FUNDAÇÃO SEADE. Pesquisa de Investimento Anunciado no Estado de São Paulo – PIESP. Disponível
em: https://www.piesp.seade.gov.br/. Acesso em 14 set. 2020. Elaboração própria.

Outra hipótese que busca explicar as razões pela qual houve uma estagnação industrial
na economia sorocabana repousa na concepção da participação dos elementos da balança
comercial na produção industrial e em sua representatividade. Segundo indicam os relatórios
do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) referentes aos valores FOB
em dólar das importações e exportações, o município de Sorocaba apresentou redução de 27%
e 23%, respectivamente, tendo como parâmetro base o ano de 2012. Os países que mais
contribuíram para tais decréscimos em Sorocaba foram Estados Unidos, Japão e Reino Unido
no que se refere às importações e Estados Unidos, Uruguai e Alemanha ao que tange às
exportações de acordo com a Tabela 3.
Em relação aos dados de importação dos municípios de Ribeirão Preto e São José dos
Campos, avaliou-se que no primeiro houve uma redução de cerca de 6% em relação a 2012 e
no segundo houve redução de 59% no mesmo período. Já ao que concerne às exportações, nota-
se que há um aumento de 2% no município de Ribeirão Preto e uma redução do valor FOB
exportado na cidade de São José dos Campos em torno de 31% tendo como base também o ano
de 2012. Percebe-se, então, que em relação aos movimentos da balança comercial, São José dos
Campos apresenta um movimento semelhante (e mais intenso) aos números de Sorocaba, como
se vê na evolução do Gráfico 3.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 32


Tabela 3 - FOB (US$ milhões e % base 2012) por ano - Sorocaba
Importações
2012 2013 2014 2015 2016 2017
País US$ % US$ % US$ % US$ % US$ % US$ %
China 628 100% 642 102% 760 121% 480 76% 474 76% 740 118%
Alemanha 408 100% 326 80% 304 75% 304 75% 194 48% 271 67%
Estados Unidos 398 100% 391 98% 350 88% 350 88% 222 56% 179 45%
Japão 387 100% 365 94% 331 86% 331 86% 161 42% 218 56%
Reino Unido 178 100% 160 90% 97 54% 97 54% 27 15% 32 18%
Itália 107 100% 110 103% 100 93% 100 93% 68 63% 62 58%
Demais 0 100% 0 108% 0 119% 0 59% 0 73% 0 78%
TOTAL 2.968 100% 2.923 98% 2.972 100% 2.167 73% 1.775 60% 2.178 73%
Exportações
2012 2013 2014 2015 2016 2017
País US$ % US$ % US$ % US$ % US$ % US$ %
Estados Unidos 612 100% 306 50% 306 50% 299 49% 259 42% 116 19%
Argentina 334 100% 385 115% 470 141% 464 139% 451 135% 657 197%
Alemanha 151 100% 114 75% 73 48% 87 58% 103 68% 110 73%
Chile 69 100% 68 100% 61 89% 55 80% 50 73% 58 85%
Uruguai 56 100% 18 32% 19 34% 17 30% 12 21% 15 26%
México 54 100% 44 81% 43 80% 48 89% 58 108% 58 107%
Demais 463 100% 376 81% 375 81% 309 67% 325 70% 325 70%
TOTAL 1.739 100% 1.311 75% 1.348 78% 1.279 74% 1.259 72% 1.340 77%
Fonte: BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – MDIC. Série histórica de exportação e
importação municípios. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/municipio>. Acesso em 14 set.
2020. Elaboração própria.

Gráfico 3 - % exportações e importações (base 2012)


120%
102%
100%
100%
94%
80%
69%
60%

40% 41%

20%

0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017

EXP. Ribeirão Preto EXP. São José dos Campos


IMP. Ribeirão Preto IMP. São José dos Campos

Fonte: BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – MDIC. Série histórica de exportação e
importação municípios. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/municipio. Acesso em: 14 set.
2020. Elaboração própria.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 33


Segundo Proença (2019, p. 46), graças às transformações ocorridas nas cadeias
produtivas e na divisão social do trabalho de maneira mais acentuada, houve uma reestruturação
da economia em escala internacional a partir dos anos 80 e 90, induzindo uma mudança radical
no quadro produtivo do estado de São Paulo aliado à concentração industrial do mesmo. Esse
fenômeno conduziu à uma alta taxa de urbanização das regiões e à uma maior interação com o
mercado internacional, refletindo nos sustentados níveis de exportações e importações que o
estado e suas principais cidades apresentam, como é o caso de Sorocaba.
Definido tal ponto, explana-se que há, por certo, importância produtiva e de seu
desenvolvimento ao que se tange a relação comercial dos países e, claro, dos municípios.
Mediante ao que descreve Marconi e Rocha (2012, p. 857-860), o encadeamento produtivo e
comercial fortalece a produtividade e tecnologia, sendo um fator essencial ao desenvolvimento
do setor secundário.
Em complemento, outra possível resposta está na desaceleração e posterior crise que
assolou o Brasil desde o terceiro trimestre de 2013. Segundo Rossi e Mello (2017, p. 1), o país
atravessou a maior crise econômica de sua história, pior que as crises dos anos 1930, dos anos
1980 e do governo Fernando Collor de Melo no início dos anos 90. De acordo com os autores,
as medidas recessivas e de ajustes adotadas pelo governo geraram inúmeras externalidades
negativas à economia.
No entanto, um ponto que contribui inexoravelmente à estagnação da atividade
industrial no país e, também, em Sorocaba, foi o aumento dos custos de produção devido ao
reajuste de preços administrados pelo setor público de maneira súbita e não gradual. Como
expressa Rossi e Mello (2017, p. 3) e Barbosa Filho (2017, p. 54), o governo, anteriormente ao
reajuste de preços – combustíveis e energia elétrica, principalmente – havia optado pelo
represamento. Ao deliberar, no ano de 2015, o descongelamento de tais valias de maneira
repentina e não paulatina, a inflação disparou e teve alta de 18%, segundo dados monitorados
pelo IPCA. Como esses tipos de reajustes súbitos têm alto grau de difusão, na qual a formação
de preços é oligopolizada e indexada, tais custos foram imediatamente repassados às empresas
e aos consumidores, elevando os custos produtivos e diminuindo a renda real das famílias, além
de gerar novo impacto danoso à estrutura socioeconômica do país e aos municípios.
Ainda segundo o desaceleramento em 2013 e posterior crise nos anos de 2014 a 2017,
um ponto que influenciou os aspectos produtivos no Brasil e corroborou para a estagnação
industrial em Sorocaba, cidade essa que possui forte ligação com os principais centros do país,

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 34


como São Paulo e Campinas, foi a deterioração das expectativas do setor privado, motivadas
por um ambiente político interno conturbado e pouco entusiasta (PAULA; PIRES, 2017, p.
132).
Além do mais, se vê em Paula e Pires (2017, p. 132), que a partir de 2013, devido à má
eficiência gestacional e no atraso das medidas anticíclicas, a economia de modo geral sofreu
uma série de choques – deterioração dos termos de troca, ajuste fiscal, crise hídrica,
desvalorização da moeda, elevação da SELIC – que contribuíram para o forte breque
econômico.

Considerações finais

Diante das análises feitas acerca dos indicadores de participação no valor agregado ao
PIB e participação nos empregos formais por setor, os dados sugerem que a indústria
sorocabana estagnou-se e perdeu presença relativa em detrimento aos setores de comércio e
serviço nos últimos 7 anos. Além disso, a análise sugere uma possível desindustrialização em
Sorocaba, visto que o PIB real do setor industrial experimentou redução real de 26% entre 2012
a 2017. Vale destacar que esse comportamento estacionário e desigual do setor secundário não
ocorreu nas cidades de São José dos Campos e Ribeirão Preto, visto que a participação relativa
do PIB e o PIB real deflacionado do setor industrial aumentaram nessas duas cidades.
No que diz respeito às taxas de juros praticadas no período analisado, depreende-se que
essas desempenharam caráter repressivo quanto ao avanço da indústria sorocabana. Essa
hipótese se tornou ainda mais sugestiva quanto se fez o cruzamento da taxa SELIC com os
investimentos confirmados nos municípios analisados. Os dados mostram que nos anos de 2013
a 2016, onde se observou uma trajetória de alta da SELIC, os investimentos sofreram uma
abrupta diminuição (exceto em São José dos Campos em 2013) sendo retomados a partir de
2017, quando a taxa SELIC voltou à patamares de 2010 e 2012. Como o setor industrial é
dependente do crédito e esse fica mais caro quando a SELIC se eleva, é visível que os
investimentos se deteriorarão e tender a afetar o setor industrial, mais fortemente na cidade de
Sorocaba.
Ao que tange à participação das exportações e importações como hipótese para a
estagnação industrial, nota-se que em Sorocaba essa variável desempenhou influência no
desempenho do setor manufatureiro, visto que os dois indicadores tiveram queda de 23% e

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 35


27%, respectivamente, tendo como parâmetro base os valores FOB do ano de 2012. Destaca-
se, em especial, o desempenho das importações no município. Sorocaba possui uma
característica muito própria na conjuntura produtiva; em outras palavras, sua indústria importa
matéria prima e componentes eletrônicos de menor valor agregado para transformá-los e
redistribuí-los de maneira mais intensa ao mercado nacional e em partes ao mercado
internacional. Esse padrão produtivo-comercial se confirma quando se observa a balança
comercial do munício, deficitária desde o ano de 2009. Feita essa (necessária) digressão,
sustenta-se a aflição de se ver os índices de importações reduzirem-se na cidade, resultando em
níveis cada vez menores da participação industrial no município. Já ao tocante nos municípios
de Ribeirão Preto e São José dos Campos, observou-se que as exportações e importações não
sofreram grande variação no primeiro, mas no segundo município a queda se demonstrou
significantemente expressiva: 29% nas exportações e 59% nas importações.
Quando se estuda do ponto de vista da crise interna brasileira no período (a partir de
2013), infere-se que esta contribuiu inexoravelmente para o desempenho industrial ficar
estagnado, visto que Sorocaba possui forte ligação com os demais centros produtivos do país.
Os fatores pontuados, isto é, crise econômica, aumento dos custos industriais e o descompasso
político subsidiaram uma piora nos indicadores e na manutenção dos níveis produtivos,
circunstancialmente retratada na literatura exposta.
Em síntese, no âmbito desta análise, constata-se que a elevação da taxa de juros
resultando numa redução dos investimentos, além da diminuição das exportações e importações
e um ambiente econômico e político hostil gerando uma série de choques ao setor industrial,
podem ter contribuído para a estagnação industrial em Sorocaba, uma vez que os dados colhidos
e analisados corroboram para tal perspectiva. No entanto, os dados são inconclusivos para as
cidades de Ribeirão Preto e São José dos Campos, uma vez que a participação da indústria ao
que tange ao valor adicionado ao PIB e o PIB real deflacionado do setor industrial tiveram uma
evolução positiva nessas duas cidades, não podendo associá-los às explicações ao
comportamento sorocabano. Desta forma, explana-se que tal fenômeno é local e não
generalizado às cidades paulistas de população e estruturas produtivas semelhantes, conforme
pontuado nos objetivos.
Com base no atual artigo, propõe como eventuais contribuições futuras, uma
contextualização histórica do processo industrial brasileiro e sorocabano aliado ao estudo de
qual variável, dentre as levadas em consideração, contribuiu com maior peso para a conduta

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 36


estacionária e retrativa do setor secundário em Sorocaba, por meio de método estatístico-
econométrico, acrescentando na análise uma hipótese adicional para o fenômeno: a taxa de
câmbio. Além disso, visa-se a captura das impressões, por meio de entrevistas, dos agentes
produtivos, ou seja, empresários e instituições ligados à manufatura na região, relacionado o
fenômeno da estagnação e retração produtiva com as hipóteses desenvolvidas.
Por fim, torna-se fundamental o incremento de políticas públicas que visem a retomada
e o fortalecimento do setor industrial na cidade, visto que é esse o responsável por agregar valor,
ser vetor das transformações tecnológicas, do encadeamento produtivo e da propagação do
progresso do desenvolvimento.

Referências

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EFEITOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL NA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA DA
REGIÃO METROPOLITANA DE SOROCABA NA DÉCADA DE 2000

Jéssica Cristina Cristofoletti*


Marcos Antonio Canhada**

* Bacharelando em Ciências Econômicas pela Universidade de Sorocaba (Uniso). E-mail:


jessicristofoletti@gmail.com
** Orientador do trabalho: Mestre em Engenharia de Produção e professor do Curso de
Ciências Econômicas da (Uniso). E-mail: marco.canhada@prof.uniso.br

Resumo: Partindo da inconclusividade da literatura quanto às qualidades distributivas


intrínsecas ao sistema previdenciário brasileiro e sua capacidade de realizar a transferência de
renda entre regiões ricas para as regiões pobres, este estudo tem por objetivo investigar se houve
influência positiva ou negativa do Previdência Social na distribuição de renda dos municípios
da Região Metropolitana de Sorocaba na década de 2000. Para isso foram criados dois modelos
econométricos baseados no método de regressão de Mínimos Quadrados Ordinários que
relacionam os resultados do Regime Geral da Previdência Social com as variáveis de interesse,
bem como mensurados os graus de distribuição através do cálculo das Curvas de Lorenz e
Índices de Gini.

Palavras-chave: Previdência Social. Distribuição de renda. Mínimos quadrados ordinários.


Curva de Lorenz. Índice de Gini.

Effects od social security on income distribution in the metropolitan region of Sorocaba


in the 2000

Abstract: Based on the inconclusiveness of the literature regarding the distributive qualities
intrinsic to the Brazilian Social Security System and its capacity to transfer income between
rich and poor regions, this study aims to determine whether there was a positive or negative
influence of Social Security on the distribution of income in the municipalities of the
Metropolitan Region of Sorocaba in the 2000s. For this purpose, two econometric models based
on the Ordinary Least Squares regression method were created that relate the General Social
Security Regime results to the variables of interest, as well as measuring the degrees of
distribution through the calculation of the Lorenz Curves and Gini Index.

Keywords: Social Security. Income distribution. Ordinary least squares. Lorenz curve. Gini
index.

Recebido em: 11 de novembro de 2020. Avaliado em: 19 de novembro de 2020.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 39


Introdução

Dentro do tema “economia regional”, este trabalho propõe-se a estudar a Previdência


Social como um instrumento de distribuição de renda. A Seguridade Social é um sistema
famoso no Brasil e no mundo por ser uma das principais formas de estabelecer a justiça social
e enfrenta constantes problemas relacionados à sustentabilidade do sistema. Sendo parte da
Seguridade Social, a Previdência garante as condições mínimas de continuidade aos indivíduos
que perderam sua capacidade de trabalho, seja por idade ou devido a sinistros ao longo da vida.
Parte da população se apoia nos benefícios recebidos para a sobrevivência de seu núcleo
familiar e por conta disso, é crescente a cobrança pela adequação do sistema de forma justa e
eficiente.
Neste aspecto, a atuação da Previdência Social sobre a redistribuição de riqueza é
evidente. Mas, existem controvérsias na literatura sobre os reais impactos que o sistema pode
ocasionar na renda destas famílias. A literatura não é unanime e poucos trabalhos buscam
evidenciar tais efeitos a nível nacional e menos ainda a nível regional. Em vista disso, o objetivo
deste estudo foi investigar se houve tais efeitos do Regime Geral da Previdência Social na
distribuição de renda dos municípios que compõem a Região Metropolitana de Sorocaba, dos
anos 2000 a 2009.
A primeira hipótese testada é de que o Regime Geral da Previdência Social brasileira
pode transferir recursos de regiões ricas para regiões mais pobres ao recolher mais contribuições
destas regiões do que concede os benefícios, e fazendo o oposto nas regiões pobres. O estudo
feito por Afonso (2003, p. 107-109) corrobora com este pensamento ao calcular as taxas
internas de retorno (TIR) da Previdência Social e verificar que a região nordeste brasileira
(região pobre) possui maior retorno em comparação com a região sudeste brasileira (região
rica). O autor também verifica que os indivíduos com níveis baixos de educação recebem
relativamente mais benefícios concedidos pela Previdência que os indivíduos com maior nível
educacional, supondo que quanto maior o nível de educação do indivíduo, maior os rendimentos
obtidos por ele.
Não obstante, há também a hipótese contrária na qual os regimes da Previdência Social
brasileira agravariam os níveis de concentração de renda. Ferreira e Souza (2008, p. 15-22)
testam esta hipótese de duas formas diferentes: Primeiramente, o autor separa a população em
“estratos” de acordo com a renda domiciliar per capita, ou seja, as famílias mais ricas (estratos

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 40


superiores) para as mais pobres (estratos inferiores) e a partir dos estratos é calculado a
participação da Previdência Social na composição das rendas domiciliares. Desta primeira
análise, concluiu-se que os recebimentos provenientes das aposentadorias e pensões são
percentualmente maiores na composição da renda dos estratos inferiores. Em seguida, os
autores realizam a decomposição do Índice de Gini, de acordo com os componentes do
rendimento domiciliar per capita, verificando que a concentração de renda no Brasil Urbano e
Rural são maiores que o Índice de Gini Geral, o que contribui com a distribuição desigual de
renda.
Para cumprir tal objetivo, foram colhidos os dados regionais acerca do Regime Geral
Previdência Social (arrecadação e despesas previdenciárias) e Produto Interno Bruto (PIB) e
Produto Interno Bruto per capita dos municípios, bem como as estimativas de população total
e quantidade de idosos em cada município. Com posse dos dados, foram utilizados dois modelos
econométricos e estimadas as Curvas de Lorenz e consequentemente os Índices de Gini. Os
métodos aplicados têm finalidade de testar a hipótese de transferência de renda entre os
municípios e apontaram a progressividade do sistema nos resultados da região estudada.
A partir desta introdução, este estudo possui o seguinte arranjo: na segunda seção, é
retratada a estrutura do Sistema Previdenciário e uma breve discussão sobre a distribuição de
renda no Brasil, bem como a relação entre Previdência Social e distribuição de renda. Em
seguida, são demonstrados os dados utilizados e que dão base a pesquisa realizada. Na quarta
seção são apontadas as metodologias utilizadas para testar a hipótese principal. Logo após é
feita a demonstração dos resultados obtidos. E por último, são apresentadas as conclusões finais
do estudo.

A estrutura da previdência social e a distribuição de renda no Brasil

A Previdência é um direito social previsto pelo art. 6º da Constituição Federal de 1988


e faz parte de um “conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da
sociedade” denominado Seguridade Social (art. 194) que tem como propósito garantir aos
indivíduos os direitos básicos de saúde, previdência e assistência social. (BRASIL, 1988). De
forma indireta, Afonso (2003, p. 4 e 5) cita os três pilares da Seguridade Social e define os
termos conforme a seguir:

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 41


A previdência social tem as características de um seguro social, cujo objetivo é
assegurar aos indivíduos, por meio de um fluxo continuado de pagamentos, as
condições necessárias à sua manutenção e a de seus dependentes. Esses pagamentos
são fruto da redução ou perda da capacidade laboral, usualmente decorrentes da
velhice, embora eventos como acidentes de trabalho ou morte possam ser incluídos
no rol de benefício. [...] o termo assistência social refere-se aos programas de cunho
distributivo, seja por meio de recursos, seja em espécie. Seu objetivo é transferir renda
dos grupos mais ricos para os menos privilegiados. [...] Já a saúde é caracterizada
pelas ações cujo foco é o bem-estar físico e mental dos indivíduos.

Outra característica importante quanto à Previdência Social é que o sistema é organizado


atualmente em três regimes diferentes, de acordo com a Constituição (BRASIL, 1988): o
Regime Geral de Previdência Social (RGPS), responsável pelos benefícios pagos aos
trabalhadores contribuintes do setor privado (art. 201, CF/88); o Regime Próprio de Previdência
Social (RPPS), destinado aos servidores públicos (art.40, CF/88); e, por fim, o Regime de
Previdência Complementar (RPC), operado tanto pelas Entidades Abertas ou Entidades
Fechadas de Previdência Complementar (art. 202, CF/88).
Além disso, Tafner (2007, p. 36-37) alerta à visão comumente empregada pelo meio
acadêmico de que a Previdência também é “um sistema assistencial e redistributivo”, que
garante aos indivíduos um benefício mínimo, independentemente do carácter contributivo
inerente a Previdência Social, ou seja, de que o indivíduo deve efetuar contribuições de forma
regular para poder receber os benefícios posteriormente. O autor, apesar de reconhecer a
capacidade de reduzir a pobreza, ressalta que o uso da Previdência Social com a finalidade de
distribuir renda não corresponde aos objetivos reservados ao programa, e que, mesmo que a
Previdência atinja tais resultados, pode não ser eficaz para este propósito.
A definição de distribuição de renda, para Sandroni (1999, p. 179), refere-se a forma
como é realizada a partilha dos recursos, produtos e riquezas totais de uma população dentro
dos vários agrupamentos pertencentes a sociedade especificada (SANDRONI, 1999, p.179). De
acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano mais recente (2019, p. 107),
desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), uma parcela
equivalente aos 10% mais ricos da população brasileira detinham em torno de 40% a 55% do
rendimento total do país em 2015. No entanto, o índice de desigualdade na distribuição de renda
é aparente há décadas. Cacciamali (2002, p. 23) apresenta dados datados desde 1960, indicando
que houve crescimento no grau de desigualdade até a implantação do Plano Real, e se manteve
consistente até o final da década, com índice de Gini entre 0,58 e 0,59.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 42


Um estudo feito por Hoffmann (2002, p. 02) também analisa alguns aspectos desse
período, destacando que a inflação vista no período “Pré-Plano Real” ajudou a agravar a
situação. Nesta mesma obra, o autor ainda aponta que em 2001 a renda dos 10% mais ricos é
24,5 vezes superior que o rendimento médio dos 40% mais pobres (p.11) e que os altos níveis
de pobreza são consequência da desigualdade da distribuição de renda, e que:

Uma das explicações para essa discrepância no comportamento da desigualdade entre


as duas distribuições é a crescente contribuição, para a desigualdade, da parcela do
rendimento familiar proveniente de aposentadorias e pensões. O fenômeno merece
uma análise específica, levando-se em consideração as mudanças na composição das
famílias. (p. 22)

Em um outro estudo, Silveira et al (2011, p. 29-32) afirma que a tributação tem forte
influência sobre a desigualdade de renda, e que, de 2003 a 2009, o pagamento das contribuições
teve sua participação elevada para 6,9% da carga tributária brasileira. Além disso, o autor
evidencia uma queda de 1,7% no índice de Gini do período, acusando a atuação positiva dos
programas de Previdência e Assistência Social como distribuidor de renda, mesmo tendo pouco
impacto. Outrossim, o autor expõe que em 2009, os 40% mais pobres da população tiveram sua
participação na renda aumentada para 8,3% e houve queda para 6,3% de participação dos 20%
mais ricos.
Ferreira (2003, p. 6-9) afirma sobre o Brasil que “O problema econômico mais grave do
país se chama pobreza. Ao seu lado, tem-se o maior problema estrutural, que é a desigualdade
da distribuição da renda.” De acordo com o autor, ainda que exista um esforço governamental
para criação de políticas em prol do crescimento econômico, diminuindo o grau de pobreza, o
nível de concentração de renda observada no Brasil é preocupante quando comparada à média
de países com renda similar. Mesmo sua tese tendo resultado que a Previdência Social contribui
para a agravar a desigualdade de renda no Brasil (FERREIRA, 2003, p. 125), o autor ainda
atesta que:

Um sistema previdenciário moderno e eficiente pode ser usado para uma melhor
distribuição de renda, não somente porque paga benefícios aos idosos, mas também
por estar diretamente ligado ao governo que detém as normas e leis, e que, portanto,
pode e deve atenuar desigualdades de renda. (FERREIRA, 2003, p. 4).

Num país onde a concentração de renda é tão elevada e a Previdência Social é


atualmente o principal gasto do Governo Federal, o entendimento de que a esta deva

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desempenhar função de assistência social e não somente previdência, é bastante comum. Os
estudos acerca do tema, no entanto, não apresentam consenso em seus resultados e muitas vezes
são realizados em escala nacional, o que dificulta uma análise mais assertiva que permita
averiguar possíveis gargalos na estrutura da Previdência Social.

Apresentação dos dados

A formação do banco de dados para a presente pesquisa tem base nas informações
disponibilizadas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIB, PIB per capita
e população) e nas estatísticas dos valores totais dos benefícios concedidos e dos valores
arrecadados pelo RGPS, disponibilizadas pelo INSS através do DATAPREV.
A Previdência Social é bastante conhecida por seu sistema deficitário. Considerando o
período de análise escolhido, o gráfico 1 apresenta os resultados do RGPS em escala nacional
(pagamentos de benefícios subtraídos da arrecadação líquida do Instituto Nacional de
Previdência Social - INSS), permitem visualizar tal carência que mantém os valores de
benefícios concedidos superiores em 18% (média do período) aos valores arrecadados,
chegando em 2006 ao déficit de 27,96 bilhões de reais em 2006.
Gráfico 1 - Evolução dos resultados do RGPS (em bilhões de R$) na década de 2000

20,00
15,11
Bilhões

15,00 13,04
8,55
10,00
4,73 4,79 3,81 4,34
5,00 2,40 1,76 2,91

0,00
-5,00 -0,27 -0,34 -0,47 -0,68 -0,81 -0,89 -0,89 -0,86 -0,80 -1,01
-10,00
-9,33 -10,58
-15,00 -11,31
-13,31
-20,00
-25,00 -20,43 -20,50
-22,24
-30,00 -26,77 -27,93 -27,96
-35,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

RESULTADO BRASIL RESULTADO ESTADO SP RESULTADO RMS

Fonte: SINTESE/DATAPREV. Dados abertos. 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.


Acesso em: 18 set. 2020. Elaboração própria.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 44


Já o resultado entre os valores do RGPS apresentou superávits para o estado de São
Paulo, sendo os valores de benefícios concedidos superiores em aproximadamente 15,13% dos
valores arrecadados. A partir destes resultados já é perceptível que há uma certa transferência
de recursos de uma região para outra, porém somente estas informações não garantem que haja
a distribuição da renda de forma positiva. Em seguida, em menor escala, também é possível
verificar resultados deficitários para a Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), que
ultrapassa a marca 1 bilhão negativos em 2009, como pode ser visto no gráfico 1.
A diferença entre os recebimentos e despesas apontados são financiados pelo governo
através de outras rendas. Cechin e Cechin (2007, p. 222 a 228) apontam que em 2005 os gastos
totais do governo com INSS chegaram a 7,5% do PIB enquanto as contribuições somaram
5,6%, apresentando déficit de 1,9%. Parte do desequilíbrio verificado nas contas, é devido a
baixa taxa de natalidade e aumento da expectativa de vida, levando ao crescimento dos números
de aposentados e pensionistas. Ainda de acordo com os autores, em 2007, 9,8% da população
já era considerada idosa (acima de 60 anos) e a previsão é de subida para 17% para 2025 e 25%
para 2050 (p. 228).
Através dos gráficos 2 e 3 é possível visualizar este envelhecimento de forma não
homogênea da população: Nos anos 2000 a parcela da população considerada idosa (acima de
60%) equivalia 8,6% do total no Brasil, já em 2010, esta parcela da população cresceu para
11%. Depois, também é possível visualizar a queda da fecundidade e o encolhimento da base
da pirâmide, que corresponde a população na faixa etária de 0 a 4 anos, que correspondia a
9,6% em 2000 e caiu para 7,3% em 2010.

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Gráfico 2 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. BRASIL - 2000

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo. Disponível em:


https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/frm_piramide.php. Acesso em: 18 set. 2020.

Gráfico 3 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. BRASIL - 2010

Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo. Disponível em:


https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/webservice/frm_piramide.php. Acesso em: 18 set. 2020.

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Afonso (2003, p.11) corrobora com esta constatação afirmando que a incorporação
progressiva de novos beneficiários devido ao envelhecimento da população também é um dos
principais motivos para o descompasso do orçamento previdenciário, já que conforme as
pessoas envelhecem, os benefícios superam as contribuições:

Além de ter sido agravada por questões conjunturais, como o baixo crescimento
econômico, esta situação também carrega o peso de questões estruturais
fundamentais. A primeira é a queda nos índices de formalização (e contribuição
previdenciária) no mercado de trabalho. A segunda é o rápido processo de
envelhecimento da população brasileira, fazendo com que o número de idosos cresça
a taxas bastante elevadas. (AFONSO, 2003, p.11)

Metodologia aplicada

É necessário testar a correlação do resultado entre a arrecadação e despesas (benefícios


emitidos) do Regime Geral Previdência Social e as variáveis PIB per capita municipal e número
de idosos. Pensando no possível comportamento de tais variáveis, foram construídos dois
modelos econométricos que pretendem mostrar a propensão de transferência de renda entre os
municípios. A intenção de apresentar dois modelos diferentes é justamente para testar se os
resultados se mantem firmes em diferentes concepções. A possível divergência entre os
resultados sinalizaria que os dados são distorcidos e circunstanciais. Sendo os modelos:

𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎çã𝑜
(1) 𝑙𝑛 ( ) = 𝛼 + 𝛽1 (𝑙𝑛𝐼𝑑𝑜𝑠𝑜𝑠) + 𝛽2 (𝑙𝑛𝑃𝑖𝑏) + 𝛽3 𝐷𝑢𝑚𝑚𝑦 + 𝜖
𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎

𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎çã𝑜
(2) 𝑙𝑛 ( )
𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎
= 𝛼 + 𝛽1 (𝑙𝑛%𝐼𝑑𝑜𝑠𝑜𝑠) + 𝛽2 (𝑙𝑛𝑃𝑖𝑏𝑃𝑒𝑟𝑐) + 𝛽3 (𝑙𝑛𝑃𝑜𝑝) + 𝛽4 𝐷𝑢𝑚𝑚𝑦 + 𝜖

Em que:
𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎çã𝑜
( ) - Razão entre os valores arrecadados e os benefícios emitidos do
𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎

RGPS nos municípios, no qual um resultado acima de 1 indica superávit, abaixo de 1


indica déficit e igual a zero indica que o município não contribui com o regime;

Idosos - Quantidade de pessoas nos municípios com mais de 65 anos;

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 47


%Idosos – Proporção entre a quantidade de idosos nos municípios e o total da
população;
Pop – Total da população dos municípios;
Pib - Produto Interno Bruto dos Municípios;
PibPerc – Produto Interno Bruto Per Capita dos Municípios;
Dummy – Variável binária que atribui valor 1 aos municípios que não realizem
a contribuição previdenciária e valor 0 aos municípios contribuintes.

Com os modelos de Regressão Linear, é possível estimar a variação percentual entre a


variável dependente (“Y” - o que se pretende explicar) e as variáveis independentes (“Xi” - o
que pode vir a explicar a variável dependente), permitindo assim não somente verificar se há
uma relação positiva ou negativa entre os fatores, mas também quantificar a contribuição de
cada variável dentro dos modelos. Além disso, as regressões são formadas por um intercepto
(α), ou seja, uma constante que indica a parte do valor de Y que independe de Xi; os coeficientes
(β) que indicam o quanto a variação de Xi interfere no valor de Y; e o fator de erro (ϵ), ou seja,
a variação de Y não explicada por Xi (resíduos do modelo). Quanto menor forem os valores dos
resíduos, melhor é a capacidade do modelo de replicar a realidade dos dados. (FIGUEIREDO
FILHO et al., 2011, p. 48-50).
Para calcular os valores dos coeficientes dos modelos, foi escolhido o método de
estimação dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) que, de acordo com Stock e Watson
(2004, p. 67 - 68) baseado na soma dos quadrados dos resíduos, estipula os coeficientes de
forma que a regressão seja o mais fiel possível à representação dos dados. Para isso, os valores
de erro que representam a diferença entre os valores estimados e os valores observados são
elevados ao quadrado, dando maior peso aos maiores resíduos de forma a destacar as
observações que mais se afastam da reta da regressão. Figueiredo Filho et al. (2011, p. 52)
também salienta que o modelo de MQO possui alguns pretextos básicos a serem seguidos,
evitando assim que os estimadores sejam viesados:

(1) a relação entre a variável dependente e as variáveis independentes deve ser linear;
(2) as variáveis foram medidas adequadamente, ou seja, assume-se que não há erro
sistemático de mensuração; (3) a expectativa da média do termo de erro é igual a zero;
(4) homocedasticidade, ou seja, a variância do termo de erro é constante para os
diferentes valores da variável independente; (5) ausência de auto correlação, ou seja,
os termos de erros são independentes entre si; (6) a variável independente não deve
ser correlacionada com o termo de erro; (7) nenhuma variável teoricamente relevante
para explicar Y foi deixada de fora do modelo e nenhuma variável irrelevante para

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explicar Y foi incluída no modelo; (8) as variáveis independentes não apresentam alta
correlação, o chamado pressuposto da não multicolinearidade; (9) assume-se que o
termo de erro tem uma distribuição normal e (10) há uma adequada proporção entre o
número de casos e o número de parâmetros estimados.

Além do teste de correlação entre as variáveis, não se pode ignorar as abordagens mais
comuns para análises relativas à distribuição de renda que são os Coeficientes de Gini e Curva
de Lorenz. A principal vantagem de mensurar a distribuição de renda através destes métodos é
que não são limitados (congelados) como outros índices, como por exemplo a renda per capita,
que se restringe a uma média aritmética entre o número de habitantes e o PIB de um
determinado local.
Conforme Mochón Morcillo (2007, p. 132 e 133), a Curva de Lorenz demonstra
visualmente a relação entre os grupos da população e as suas determinadas participações na
composição da renda total. O gráfico é formado por uma reta em 45º do eixo horizontal,
chamada de “linha de perfeita igualdade” ou “linha de equidistribuição”, em que uma
determinada proporção acumulada da população recebe uma igual proporção acumulada da
renda; e uma curva calculada a partir dos extratos da população e renda. Quanto mais distante
a curva calculada estiver da linha de equidistribuição, maior será a desigualdade de renda.

Gráfico 4 - Representação da Curva de Lorenz e Índice de Gini

Fonte: HOFFMANN, R. A curva de Lorenz e o índice de Gini. HOFFMANN, R. Distribuição de renda.


Medidas de desigualdade e pobreza. São Paulo: Edusp, p. 33-97, 1998. Disponível em:
https://www.cps.fgv.br/cps/Pesquisas/Politicas_sociais_alunos/2012/Site/Hoffmann_3_DL.pdf. Acesso
em: 26 set. 2020.

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Não obstante, é a partir da Curva de Lorenz que é obtido o Índice de Gini, que nada
mais é do que a relação entre a área de desigualdade (representada por α no gráfico 4) e a área
do triângulo formado entre a linha de perfeita equidade e a linha de perfeita inequidade (eixo
horizontal). Em números, o Índice varia de zero (0) a um (1), em que o valor zero (0)
representaria a linha de equidistribuição, e o valor um (1), representando a linha de inequidade,
ou seja, toda a riqueza pertence a uma única pessoa. (MOCHÓN MORCILLO, 2007, p. 133)
Expostas as definições e conceitos dos modelos econométricos, da Curva de Lorenz e
do Índice de Gini, a seguir serão demonstrados os resultados das regressões e análise sobre os
efeitos que a Previdência ocasiona na distribuição de renda entre os municípios da RMS.

Resultados obtidos

Para norte da pesquisa, assumiu-se inicialmente como hipótese a existência de


características que permitem a redistribuição de renda através do Regime Geral da Previdência
Social entre as regiões, seja de forma progressiva ou regressiva. Os indicadores encontrados
através da metodologia escolhida apontam para a existência de tais propriedades intrínsecas do
sistema.
A análise dos modelos econométricos foi feita através do software “Gretl”, que contou
270 observações e base de dados em painel. A saída dos dados no software, testes estatísticos
complementares que comprovam a validade dos modelos e estatísticas descritivas foram
inclusos como Anexos “A”, “B” e “C”. A tabela 1 apresenta os resultados dos modelos testados:

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Tabela 1 - Resultados das regressões

MODELO (1) MODELO (2)


VARIÁVEIS
ln(arrec/desp) ln(arrec/desp)

Const -4,52261 *** -5,34351 ***


(0,569394) (0,881673)

lnIdosos -0,395028 **
(0,0584854)

ln%Idosos -0,512472 **
(0,269083)

lnPop 0,186031 ***


(0,0417277)

lnPib 0,162404 ***


(0,0393618)

lnPibPerc 0,383269 ***


(0,0640677)

Dummy -10,1005 *** -10,0942 ***


(0,194209) (0,188322)

R² 0,932777 0,937134
R² ajustado 0,932019 0,936185
F 1.230,33 987,5768
P-valor (F) 1,4e-155 7,7e-158

erro padrao em parenteses ***p<0.01, **p<0.05, *p<0.1

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pelo IBGE. Estatísticas. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/todos-os-produtos-estatisticas.html. Acesso em: 29 mar. 2020;
SINTESE / DATAPREV. Dados abertos. 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.
Acesso em: 18 aet. 2020.

Percebe-se pelos resultados obtidos certa consistência com conceitos explanados


anteriormente. Os valores negativos para os coeficientes relacionados ao número de idosos
informam que a variação de 1% na quantidade de idosos ocasiona uma variação percentual de
aproximadamente -0,395 (modelo 1) e -0,522 (modelo 2). Ou seja, quanto maior a quantidade
de idosos, maior é a tendência de o município ter déficits na relação entre receita e despesa,
dado que os gastos da Previdência aumentariam.

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Por outro lado, os coeficientes referentes ao PIB e PIB per capita são positivos,
indicando a predisposição de melhora da relação entre arrecadação e concessão de benefícios
da Previdência na medida em que o município é proporcionalmente mais rico. Esse fator
também sugere a distribuição progressiva de renda, pois municípios com maior PIB teriam
melhores resultados previdenciários superavitários, criando a tendência de redistribuir tais
valores “extras” a outros municípios a fim de compensar os resultados deficitários destes. Tanto
no modelo 1 quanto no modelo 2 os sinais dos coeficientes mantêm o mesmo padrão.
Além disso, os cálculos da curva de Lorenz e do Coeficiente de Gini revalidam o cenário
da progressividade do sistema previdenciário em relação a redistribuição de renda.

Gráfico 5 - Curva de Lorenz para Benefício Médio Previdenciário e PIB per capita
municipal

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pelo IBGE. Estatísticas. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/todos-os-produtos-estatisticas.html. Acesso em: 29 mar. 2020;
SINTESE/DATAPREV. Dados abertos, 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.
Acesso em: 18 set. 2020.

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Como pode ser visto no gráfico 5, a curva referente aos benefícios médios
previdenciários é mais próxima à linha de equidistribuição do que a curva referente ao PIB per
capita municipal após o percentil 0,2. Os percentis entre 0 e 0,3 representam os municípios com
os maiores PIBs per capita. Por este motivo, o fato de a curva dos benefícios médios ter ficado
mais longe que a curva dos PIBs per capita nos primeiros percentis corrobora com a hipótese
da progressividade, confirmando que há a transferência de renda entre os municípios, do mais
rico ao mais pobre.
A partir das Curvas de Lorenz, podemos ainda apresentar os Índices de Gini
relacionados às duas variantes. Pela tabela 2 abaixo, podemos validar ainda que a Previdência
possui características intrínsecas que realizam melhor distribuição da renda em comparação
com o PIB per capita, sendo o PIB per capita aproximadamente 51% mais desigual.

Tabela 2 - Índices de Gini Previdenciário e do PIB per capita municipal

Benefício Médio Previdenciário Pib per capita Municipal

Índice de Gini 0,279299 0,421079

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pelo IBGE. Estatísticas. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/todos-os-produtos-estatisticas.html. Acesso em: 29 mar. 2020;
SINTESE/DATAPREV. Dados abertos. 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.
Acesso em: 18 set. 2020.

Considerações finais

Esta pesquisa satisfez-se ao observar o uso do Regime Geral da Previdência Social como
mecanismo de intervenção do Governo Federal na economia brasileira, especificamente como
instrumento indireto de distribuição de renda. Infelizmente, a literatura acerca deste tema ainda
é bastante inconclusiva. Por conta disto, a primeira hipótese aqui testada defende que o sistema
previdenciário realiza transferências de renda regionais de forma positiva, diminuindo
desigualdade de renda, e contrariamente, a segunda hipótese afirma que a Previdência Social
agravaria ainda mais os níveis de concentração de renda.
Para verificar tais possibilidades, a primeira análise realizada foi a partir dos modelos
econométricos, que cumpriram com o objetivo de testar o impacto das variáveis e apontaram a

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progressividade do Regime Geral da Previdência Social em relação a distribuição de renda
regional. Ou seja, demonstram que uma elevação percentual do PIB municipal acarretaria
também no aumento da razão entre os valores arrecadados e os benefícios concedidos pela
Previdência nos municípios estudados. Em seguida, os resultados das Curvas de Lorenz e
Índices de Gini também validaram a hipótese primaria. Estes indicadores apresentaram índices
de desigualdade superior na distribuição do PIB per capita entre os municípios em comparação
com a distribuição dos benefícios médios concedidos. Tais resultados sugerem que a
Previdência Social nesta região possui potencial para reduzir as desigualdades.
Também é importante relembrar que o sistema previdenciário não pode ser considerado
a “única saída” deste problema estrutural, já que seu propósito não é dar assistência social e
sim atuar como um seguro em caso de invalidez laboral. Por isso, não cessa a necessidade de
criação e readequações de políticas regionais que fomentem o desenvolvimento e crescimento
sustentável das economias locais. Tais políticas precisam ser elaboradas de forma que
aumentem a capacidade de geração de renda e concomitantemente parem de realocar recursos
públicos, que são escassos, no financiamento da dívida do sistema previdenciário e passem a
ser alocados nos setores de suma importância, por exemplo saúde, educação e infraestrutura.
Desta forma, a análise da distribuição de renda através da Previdência Social como uma
ferramenta socioeconômica procura contribuir academicamente com o conhecimento das
diferentes formas e métodos de alocação eficaz de recursos para o aumento da renda per capita.
Apesar deste trabalho apresentar as características redistributivas positivas do Regime Geral da
Previdência e que esta pode ser utilizada como um meio de atenuar a concentração de renda a
curto prazo, esta pesquisa limitou-se ao analisar apenas dados referentes ao RGPS. Assim, fica
ainda a sugestão e incentivo ao estudo das hipóteses aplicadas aos demais regimes do sistema
previdenciário, bem como o aprofundamento desta análise com outros instrumentos de
verificação dos efeitos aqui encontrados. Além disso, o estudo dos artifícios econômicos
intrínsecos do sistema previdenciário nacional realizados pela pesquisa, incentivam a realização
de reformas no sistema previdenciário e a criação de Políticas Econômicas governamentais que
visem a justiça social e o bem-estar da população, bem como o desenvolvimento econômico
sustentável de todas as regiões do país.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 54


Referências

AFONSO, Luis Eduardo. Um estudo dos aspectos distributivos da previdência social no


Brasil. 2003. Tese (Doutorado em Teoria Econômica) - Faculdade de Economia,
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Economia Aplicada) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo, Piracicaba, 2003. Disponível em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/11/11132/tde-
17092003-135019/pt-br.php. Acesso em: 30 mar. 2020.
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brasil.pdf. Acesso em: 29 mar. 2020.

ANEXO A – Estatísticas descritivas do conjunto de dados utilizado.

Fonte: Gretl.

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ANEXO B – Saída dos dados e testes estatísticos complementares (Modelo 1).

Fonte: Gretl.

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ANEXO C - Saída dos dados e testes estatísticos complementares (Modelo 2).

Fonte: Gretl.

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OS IMPACTOS DO SURGIMENTO DAS FINTECHS NO SISTEMA FINANCEIRO
BRASILEIRO ENTRE 2016 A 2019

Daniel Matheus da Silva *


Leonardo Dias Nunes**

* Bacharelando em Ciências Econômicas pela Universidade de Sorocaba (Uniso). E-mail:


danielmatheusdasilva@hotmail.com
** Orientador: Doutor em Desenvolvimento Econômico e professor do Curso de Ciências
Econômicas da Universidade de Sorocaba (Uniso). E-mail: leonardo.nunes@prof.uniso.br

Resumo: O objetivo deste artigo é avaliar os impactos do crescimento das fintechs na dinâmica
do sistema bancário e financeiro brasileiro entre os anos de 2016 e 2019. As hipóteses
presumidas são de que houve redução do market share dos bancos, redução dos custos de
transação financeira e desenvolvimento de estratégias de coopetição entre bancos e fintechs. A
análise e verificação das hipóteses se deu por meio da investigação dos dados do Sistema
Financeiro Nacional e pela triangulação de diversas fontes de informação dispostas no
referencial teórico e na demonstração das hipóteses. O estudo demonstrou que a hipótese da
redução do market share dos bancos analisados provou-se verdadeira, porém a hipótese da
redução dos custos de transação não se confirmou, visto que as fintechs ainda não conseguem
gerar economias de escala. A hipótese da estratégia de coopetição evidenciou que uma aliança
estratégica pode gerar benefícios mútuos entre bancos e fintechs.
Palavras-chave: Fintech. Sistema bancário e financeiro brasileiro. Inovação e tecnologia.
Market Share.

The impacts of the emergence of the fintechs in the brazilian financial system between
the years of 2016 and 2019

Abstract: The purpose of this article is to assess the impacts of the fintechs' growth on the
Brazilian banking and financial system’s dynamics between the years of 2016 and 2019. The
assumed hypotheses are that there was a reduction of the banks' market share, a reduction of
the financial transaction costs and the development of a coopetition strategy between banks and
fintechs. The analysis and verification of the hypotheses occurred through the investigation of
the data from the National Financial System and through the triangulation of several sources of
information arranged in the theoretical reference and in the demonstration of the hypotheses.
The study demonstrated that the hypothesis of the reduction of the analyzed banks' market share
proved true, but the hypothesis of the reduction of the transaction costs did not attest accuracy,
since fintechs are not able to generate economies of scale yet. The coopetition strategy
hypothesis has shown that a strategic alliance can generate mutual benefits between banks and
fintechs.
Keywords: Fintech. Brazilian Banking and Financial System. Innovation and technology.
Market Share.

Recebido em: 11 de novembro de 2020. Avaliado em: 16 de novembro de 2020.

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Introdução

As condições de mercado vigentes nos Estados Unidos após a crise financeira global de
2008 possibilitaram o surgimento de empresas como foco na inovação em serviços financeiros.
Em particular, em função de três fatores: i) do aumento da regulação bancária; ii) do
desemprego de profissionais financeiros e iii) da dificuldade que os recém-formados
enfrentavam no mercado de trabalho (ARNER; BARBERIS; BUCKLEY, 2015, p. 16).
As fintechs, abreviação dos termos em inglês financial technology, são empresas que
fazem uso das tecnologias que surgiram durante a terceira e quarta revolução industrial, que
aprimoraram computadores, softwares e outras tecnologias que permitem a interação entre
mundo físico e virtual, 6 sendo que essas empresas possuem como foco principal fornecer
serviços financeiros (ARNER; BARBERIS; BUCKLEY, 2015, p. 3). De acordo com esses
autores, o setor de serviços financeiros foi afetado positivamente após o ano de 2008,
permitindo a diversas empresas adentrarem nesse segmento de mercado.
No Brasil, o crescimento da atuação das fintechs é evidenciado pelo aumento de quase
70% no número de empresas entre agosto de 2018 e agosto de 2020, alcançando a marca de
771 iniciativas em atuação no Brasil7. Apesar do número crescente de empresas voltadas para
o setor financeiro, ainda é possível observar uma concentração bancária no Sistema Financeiro
Nacional, onde os cinco maiores bancos do país possuem 85,5% dos ativos totais e são
responsáveis por 83,1% das operações de crédito do segmento bancário e não bancário, de
acordo com os dados do Relatório de Economia Bancária de 2019, elaborado pelo Banco
Central.
Devido ao crescente número de fintechs no Brasil nos últimos anos, buscou-se na
literatura avaliar de que forma as fintechs impactaram o sistema bancário e financeiro. Foram
consideradas três hipóteses principais para essa análise:
1) a redução do market share dos bancos (BUCHAK et al., 2017, p. 3);
2) a redução de custos de transação (FARIA, 2018, p. 30);
3) a estratégia de coopetição entre as instituições financeiras (SILVA, 2019, p. 2).

6 Agenda Brasileira para a Indústria 4.0. Disponível em: http://www.industria40.gov.br/. Acesso em: 24 set.
2020.
7
Radar Fintechlab (2020). Disponível em: https://fintechlab.com.br/index.php/2020/08/25/edicao-2020-do-
radar-fintechlab-detecta-270-novas-fintechs-em-um-ano/. Acesso em: 05 set. 2020.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 60


A primeira hipótese busca avaliar o market share dos bancos, visto que os bancos
tradicionais têm perdido sua participação de mercado em setores onde possuem uma
participação menos efetiva, devido a políticas de preços mais agressivas por parte das fintechs
(BUCHAK et al., 2017, p. 2-3). A segunda hipótese se baseia na redução dos custos de
transação para operações financeiras, que é elencada por Faria (2018) como um dos possíveis
impactos do aumento das fintechs no país, visto que essas empresas conseguem compartilhar
os custos e os riscos de suas atividades com outros agentes. Por fim, a terceira hipótese é
destacada por Silva (2019), que ressalta que uma aliança estratégica entre bancos e fintechs
permitem a ambas adquirir vantagens competitivas através do modelo de coopetição.
Considerando esses aspectos conjunturais do sistema financeiro brasileiro, este artigo
tem como objetivo avaliar de que forma o surgimento das fintechs impactou o sistema bancário
e financeiro brasileiro entre os anos de 2016 e 2019, período em que o número de empresas
desse segmento se expandiu. Além disso, busca-se evidenciar as mudanças que ocorreram em
relação ao market share dos maiores bancos do país, bem como os efeitos das regulações nas
empresas financeiras.
Para cumprir com este objetivo, além desta introdução, o artigo apresenta as seguintes
seções: o referencial teórico, que busca apresentar a revisão bibliográfica e descrever os
principais elementos teóricos utilizados para a análise dos dados. Em seguida, no
aprofundamento metodológico e na demonstração das hipóteses são apresentados os dados e
desenvolvidas as análises a respeito do impacto do crescimento das fintechs no Sistema
Financeiro Nacional. Por fim, na conclusão são apresentados os resultados da pesquisa e os
comentários a respeito das análises realizadas.

Referencial teórico

A regulamentação do sistema bancário e financeiro após a crise de 2008, de acordo com


Ferrari (2016), se tornou mais rígida devido à imposição de certos requisitos de capital e de
liquidez, que eram examinados constantemente por meio de testes de estresse, definidos como
simulações para determinar potenciais riscos e perdas resultantes de eventos econômicos
extremos, bem como determinar a resiliência de uma instituição ou do sistema financeiro.8

8 Relatório de Estabilidade Financeira (2020). Disponível em: https://www.bcb.gov.br/content


/publicacoes/ref/202004/RELESTAB202004-refPub.pdf. Acesso em: 06 set. 2020

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O Acordo da Basileia III, elaborado após a crise de 2008, passou a exigir das instituições
financeiras maiores requisitos de capital. De acordo com Arner, Barberis e Buckley (2015, p.
17), essa necessidade maior de capital, apesar de ter minimizado os riscos e melhorado a
estabilidade do mercado financeiro, fez com que o montante disponível para empréstimo fosse
desviado das empresas e dos tomadores de crédito individuais para as reservas de proteção dos
bancos. Por conta disso, muitos indivíduos privados passaram a recorrer a empresas de
empréstimo P2P (Peer-to-Peer) para sanar suas necessidades creditícias, sendo que essas
empresas são caracterizadas pela descentralização das funções e ausência de um intermediador
central.
Segundo Arner, Barberis e Buckley (2015, p. 18), as fontes alternativas de
financiamento para indivíduos e empresas surgiram em um momento histórico que coincidiu
com uma série de fatores que beneficiaram o setor financeiro, no que ele chamou de tempestade
perfeita. Entre os fatores, destacam-se: i) o aumento da pressão regulatória para os bancos,
diminuindo sua capacidade de inovação; ii) o aumento do desemprego de profissionais do setor
financeiro, proporcionando um aumento do capital humano disponível para o surgimento de
novas tecnologias e iii) a mudança na percepção pública com relação aos bancos tradicionais,
devido à instabilidade financeira da época.
Guttmann (2008, p. 18) elucida que foi somente a partir da informatização das finanças,
ocorridas principalmente a partir da década de 1990, que a capacidade do sistema financeiro
em inovar se desenvolveu. De acordo com o autor, as inovações financeiras se desenvolveram
principalmente através da implementação de acordos e contratos que buscavam atender as
necessidades de financiamento e de crédito para quem necessitasse. Para ele

Graças à tecnologia ficou muito mais fácil organizar os mercados financeiros via
plataformas de comércio eletrônico, que conectam uma comunidade de investidores e
emissores em busca dos seus fundos. A era do dinheiro e das operações bancárias
eletrônicas já está sobre nós. (GUTTMANN, 2008, p. 18).

De acordo com Arner, Barberis e Buckley (2015, p. 32), as tecnologias precisam de


tempo para adquirirem aplicabilidade prática e se estabelecerem no mercado antes de uma
intervenção regulatória. A disponibilidade de uma nova tecnologia não garante que ela será
amplamente adotada, por isso os reguladores necessitam compreender os benefícios e a
aplicabilidade de uma determinada tecnologia.

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Guttmann (2008) apresenta uma concepção mais acelerada da ideia de maturação das
inovações financeiras. Para ele, uma inovação qualquer é aplicada mais facilmente no setor
financeiro do que no setor industrial, apesar dessa inovação também possuir um ciclo de vida
mais curto, pois é facilmente copiada por outras empresas. Este fato, em sua visão, explica o
motivo pelo qual o sistema financeiro alcançou um ritmo de inovação acelerado em direção a
complexidade e personalização, justamente para dificultar a imitação por parte de empresas
concorrentes. Nesse sentido, Faria (2018, p. 41) sugere que o ritmo das inovações financeiras
também atingiu patamares elevados, com as instituições financeiras tendo que se adaptar e
desenvolver serviços cada vez mais sofisticados e de forma cada vez mais rápida e ágil, a fim
de atender as necessidades dos clientes.
Por outro lado, Ferrari (2016) discorre que os bancos têm concentrado seus esforços em
sanar problemas regulatórios ao invés de enfrentar desafios de mercado. O autor afirma que os
fatores regulatórios desempenharam um papel crucial para comprimir a margem das receitas
dos bancos comerciais, resultando em um aumento nos custos operacionais. Segundo dados do
autor, o custo médio por funcionário dos grandes bancos da Europa aumentou cerca de 68%
entre os anos de 2003 a 2013, apesar das tentativas para reduzir esses custos.
As principais inovações tecnológicas ocorridas após a década de 1980 buscaram evitar
as restrições regulatórias vigentes (GUTTMANN, 2008, p. 18). Segundo o autor, as regulações
que foram dribladas pelas inovações tecnológicas terminaram debilitadas a ponto de não serem
mais eficientes para os propósitos que foram elaboradas. Esse ponto de vista é corroborado por
Arner, Barberis e Buckley (2015, p. 32), que destaca a importância de saber o momento certo
de aplicar uma regulação, visto que a regulamentação precoce pode representar um desperdício
de esforço caso os reguladores desviem recursos para entender cada nova inovação tecnológica
que surge.
A crise financeira de 2008 representou um ponto fundamental para a mudança na
mentalidade dos clientes e tomadores de crédito em relação a quem possui a legitimidade e os
recursos necessários para fornecer e prestar serviços financeiros (ARNER; BARBERIS;
BUCKLEY, 2015, p. 15). De acordo com os autores, essa mudança de perspectiva dos clientes
foi o que alimentou o crescimento das fintechs e das inovações no setor de serviços financeiros.
Mendonça, Galvão e Loures (2011) destaca que há o risco de que uma regulação
excessiva no mercado financeiro pode deixa-lo ineficaz. Segundo os autores, os setores
envolvidos no núcleo da crise financeira de 2008 eram os mais regulados, sendo eles: bancos,

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 63


seguros e financiamento imobiliário. Apesar disso, os autores destacam que é uma linha estreita
aquilo que separa a ineficiência de uma burocracia excessiva e uma regulação saudável para o
sistema financeiro.
A inovação e a consolidação de uma fintech sinaliza a outras instituições financeiras que
a empresa amadureceu e possui uma estrutura e um currículo consolidado (ARNER;
BARBERIS; BUCKLEY, 2015, p. 34). A partir desse ponto, segundo o autor, os bancos buscam
se associar, investir ou comprar essas empresas. Silva (2019, p. 12) comenta que um dos
principais motivos para um banco recorrer a uma parceria estratégica com uma fintech se dá
por conta da inovação digital dessas empresas. Outro motivo elencado é possibilidade de
combater um concorrente mais forte que seja comum a ambos envolvidos nesta parceria.
Segundo Silva (2019, p. 13), essas parcerias entre bancos e fintechs permitem um benefício
mútuo. De acordo com a autora:

Os bancos devem, portanto, delinear uma estratégia de forma a aproveitar as novas


oportunidades tecnológicas e minimizar as possíveis ameaças, se pretendem
sobreviver no ambiente competitivo que será estabelecido com a entrada efetiva das
fintechs no setor financeiro. (SILVA, 2019, p. 13)

Em suma, as fintechs se beneficiam da estabilidade bancária e os bancos se beneficiam


da capacidade digital e de inovação das fintechs. A autora afirma que os bancos perceberam a
relevância da ascensão das fintechs e estão buscando meios de se aliar a elas.

Aprofundamento metodológico e demonstração das hipóteses

Em países desenvolvidos como Austrália, Holanda, Canadá, Suécia e França, bem como
em países emergentes como o Brasil e o México, o setor bancário é caracterizado por sua
concentração, de acordo com dados do Relatório de Economia Bancária de 2017, elaborado
pelo Banco Central. Apesar do segmento bancário possuir essa particularidade, o setor bancário
brasileiro, segundo Paula, Oreiro e Basilio (2013), é o mais complexo da América Latina. Uma
das razões elencadas pelos autores para explicar essa complexidade foi o desenvolvimento de
sistemas de pagamento que buscavam mitigar os efeitos da alta inflação que atingiu o país nas
décadas de 1980 e 1990.
A concentração do sistema financeiro brasileiro pode ser percebida ao compararmos o
número de bancos comerciais que operavam no mercado dos Estados Unidos no ano de 2016
com o Brasil. A análise dos dados mostra que nos Estados Unidos, em dezembro de 2016, a

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 64


quantidade de bancos comerciais em operação havia atingido o patamar de 5.083 unidades,
enquanto no Brasil esse número correspondia a apenas 155, de acordo com os dados
disponibilizados pelo Banco Central.9
A análise dos dados apresentados na Tabela 1 demonstra que no Brasil, o número de
bancos autorizados a operar se manteve em um patamar praticamente constante entre os anos
de 2016 e 2019. Quando comparamos o mesmo período nos Estados Unidos, é perceptível uma
redução da quantidade de bancos em operação, saindo de 5.083 unidades em 2016 para 4.492
em 2019, o que representa uma redução de mais de 11,5%. Esse movimento de redução do
número de bancos corrobora a análise da tendência a concentração do sistema financeiro, que
é elencada por Paula, Oreiro e Basilio (2013) como uma das características desse setor.

Tabela 3 – Número de bancos em operação: Brasil - Estados Unidos (2016-2019)

Ano Brasil EUA


2016 155 5.083
2017 154 4.890
2018 152 4.689
2019 153 4.492

Fonte: Banco Central do Brasil(2019) / Federal Reserve St. Louis (2020) - Elaborado pelo autor (2020)

No Brasil, a participação de mercado, ou market share, de apenas cinco bancos


correspondeu a 85,7% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional no ano de 2019, sendo
que esses bancos foram, especificamente, o Itaú Unibanco, a Caixa Econômica Federal, o
Banco do Brasil, o Bradesco e o Banco Santander.
A participação de mercado dos bancos ilustrados na Tabela 2 foi calculada com base
nos ativos de cada instituição em relação aos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional. De
acordo com os dados da Tabela 2, o market share de outros bancos que não fazem parte do
grupo analisado passou de 26,6% em 2008 para uma média de 10,6% entre os anos de 2009 e
2015. Esse movimento revela a tendência a concentração dos cinco bancos analisados, onde
fica evidente a redução da participação de outros bancos no setor financeiro brasileiro.

9
Quantitativo de bancos por origem de capital (2014-2019). Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
content/publicacoes/evolucaosfn/r201912/T1ES_Quadro%2003%20-
%20Quantitativo%20de%20bancos%20por %20origem%20de%20capitall.pdf. Acesso em: 21 out. 2020

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Tabela 4 – Market Share (% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional) - 2008-2015

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Itaú 16,8% 21,6% 22,1% 21,1% 19,5% 17,9% 19,9% 19,0%

19,4
Banco do Brasil 24,3% 21,4% 22,0% 22,7% 23,3% 23,7% 22,7%
%
17,8
Bradesco 19,4% 19,2% 19,3% 19,3% 18,0% 18,2% 15,9%
%

Santander 7,5% 13,3% 11,9% 12,0% 10,8% 10,3% 11,5% 11,9%

Caixa 11,9
Econômica 13,2% 12,3% 13,4% 16,4% 17,9% 20,1% 20,2%
%
Federal
26,6
Outros bancos 8,2% 13,1% 12,2% 11,3% 12,6% 6,6% 10,3%
%

Fonte: Banco Central,2019. Elaboração própria, 2020.

A partir de 2016, o número de instituições financeiras autorizadas a operar pelo Banco


Central, incluindo as fintech, passou a crescer de forma acentuada. Os dados da Tabela 3
mostram que o número de Sociedades de Crédito Direto (SCD), Sociedades de Empréstimo
entre Pessoas (SEP) e Instituições de Pagamento (IP) passou de apenas uma instituição em 2016
para cerca de 34 em 2019. Esse movimento revela os esforços do Banco Central em formalizar
o funcionamento dessas organizações financeiras, visto o crescente número de instituições que
passaram a oferecer seus serviços.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 66


Tabela 5 – Número de instituições autorizadas, por segmento (2016-2019)

Segmento 201 2017 2018 201


6 9
Dez Dez Dez Dez
133 132 131 132
Banco Múltiplo
21 21 20 20
Banco Comercial
4 4 4 4
Banco de
Desenvolvimento
1 1 1 1
Caixas Econômicas
Estaduais/Federal
14 13 12 11
Banco de
Investimento
3 3 4 5
Banco de Câmbio
53 56 58 59
Sociedade de
Crédito,
Financiamento e
Investimento
1 11
Sociedade de
Crédito Direto
4
Sociedade de
Empréstimo entre
Pessoas
79 75 68 67
Sociedade
Corretora de
Títulos e Valores
Mobiliários
63 61 63 55
Sociedade
Corretora de
Câmbio
101 95 94 94
Sociedade
Distribuidora de
Títulos e Valores
Mobiliários
25 24 21 21
Sociedade de
Arrendamento
Mercantil
4 3 3 3
Sociedade de
Crédito Imobiliário
/ Associação de

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Poupança e
Empréstimo
38 38 36 33
Sociedade de
Crédito ao
Microempreendedo
r e à Empresa de
Pequeno Porte
16 16 16 16
Agência de
Fomento
9 7 6 6
Companhia
Hipotecária
1 6 10 19
Instituição de
Pagamento
Total* 565 555 548 561

* Não foram contabilizados Cooperativa de Crédito e Sociedade Administradora de Consórcio.

Fonte: Banco Central do Brasil, 2019. Elaboração própria, 2020.

Esse crescimento no número de SCDs, SEPs e Instituições de Pagamento se torna ainda


mais relevante a partir do ano de 2017. O Banco Central, em 30 de agosto de 2017, publicou o
Edital de Consulta Pública 55/207, em que apresenta a proposta de constituição e
funcionamento das Sociedades de Crédito Direto e das Sociedades de Empréstimo entre
Pessoas, bem como as regulações que seriam estabelecidas visando aumentar a segurança
jurídica no segmento financeiro.
As propostas do Banco Central para regulamentar essas instituições financeiras se
juntaram em um documento oficial, aprovado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e
disposto através da resolução nº 4656, de 26 de abril de 2018, que se tornou o marco para a
regulamentação das fintechs no país. Essa resolução estabelece os requisitos necessários para o
funcionamento das SCDs e SEPs no sistema financeiro brasileiro, permitindo as fintechs
concederem crédito sem a necessidade de intermediação por parte de um banco.10
O Gráfico 1 mostra a evolução do número de Sociedades de Crédito Direto, Sociedades
de Empréstimo entre Pessoas e Instituições de Pagamento entre os anos de 2016 e 2019. É
perceptível uma tendência de crescimento dessas instituições nos últimos anos, principalmente

10Resolução nº 4656, de 26 de abril de 2018. Disponível em: < https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/


downloadNormativo.asp?arquivo=/Lists/Normativos/Attachments/50579/Res_4656_v1_O.pdf>. Acesso em:
24 set. 2020

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 68


após a importância que o Banco Central atribuiu à essas empresas como forma de aumentar a
concorrência no setor financeiro, onde os dados demonstram que há uma razoável concentração.

Gráfico 3 – Número de SCDs, SEPs e Instituições de Pagamento (2016-2019)

40
34

30

20

11
10
6

1
0
2016 2017 2018 2019

Fonte: Banco Central, 2019. Elaboração própria, 2020.

O crescimento do número de fintechs nos últimos anos mostra que o market share de
outros bancos, com exceção do Itaú Unibanco, da Caixa Econômica Federal, do Banco do
Brasil, do Bradesco e do Banco Santander, passou a crescer a partir do ano de 2016. O Gráfico
2 evidencia o crescimento da participação de mercado de outros bancos no total de ativos que
constituem o Sistema Financeiro Nacional. Esse aumento de market share ocorreu no mesmo
período em que se deu o crescimento do número de fintechs que passaram a operar no Brasil,
que ocorreu nos anos de 2016 a 2019.
O Gráfico 2 revela o crescimento do market share de outros bancos no percentual dos
ativos totais do Sistema Financeiro Nacional entre os anos de 2016 e 2019. De acordo com os
dados apresentados, o percentual de participação de outros bancos passou de aproximadamente
3,4% em 2016 para cerca de 14,2% em 2019, um crescimento aproximado de 10,8 pontos
percentuais.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 69


Gráfico 4 – Market Share (% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional) – 2016-2019

100%

90%

80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
2016 2017 2018 2019
Outros bancos Itaú Banco do Brasil
Bradesco Santander Caixa Econômica Federal

Fonte: Banco Central do Brasil, 2019. Elaboração própria, 2020.

Os custos de transação são apontados como uma das razões para a existência de
intermediários financeiros (ALLEN; SANTOMERO, 1998 apud FARIA 2018, p. 30). Segundo
os autores, o agente superavitário incorre em diversos custos para encontrar um agente
deficitário que se encaixe no perfil adequado de risco que ele procura para conceder crédito de
forma direta. Nesses custos estão inclusos os custos de triagem, verificação, análise do perfil
de risco, monitoramento e até mesmo aplicação das leis que garantam o cumprimento do que
foi acordado.
A Equação 1 mostra o cálculo do Custo da Intermediação Financeira (CIF), sendo que
esse modelo, segundo Faria (2018, p. 73), é o modelo adotado e utilizado por Bazot (2013) e
Phillippon (2015). Essa equação foi utilizada para analisar e comparar a eficiência das fintechs
em relação aos intermediários financeiros tradicionais, como por exemplo os bancos
comerciais.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 70


Equação 1 – Custo da Intermediação Financeira (CIF)

Custo da Intermediação Financeira (CIF) = Margem Financeira / Volume das


Operações

Onde:
 Margem Financeira = Receita Financeira – Despesa Financeira;

 Receita Financeira = valor dos juros recebidos das operações de intermediação


financeira;

 Despesa Financeira = valor das despesas decorrentes da captação dos recursos utilizados
na intermediação financeira;

 Volume das operações = volume médio das operações de intermediação financeira.


A Equação 2 é apresentada por Faria (2018, p. 75) e ilustra a Eficiência Operacional
(EO) das empresas, onde este indicador revela o percentual da receita gerada que é destinada a
cobrir as despesas administrativas e operacionais, além dos custos fixos da instituição
financeira. Para efeitos de análise, quanto menor esse indicador, mais eficiente a empresa é.

Equação 2 – Eficiência Operacional (EO)

Eficiência Operacional (EO) = Despesas / Receitas

Onde:

 Despesas = custos fixos e despesas administrativas (não inclui despesas de


intermediação financeira)

 Receitas = receita operacional (receita líquida da intermediação financeira mais receitas


de serviços)
De acordo com os dados obtidos por Faria (2018, p. 97), ao analisar a média do indicador
de Custo de Intermediação Financeira (CIF) entre os anos de 2015 e 2017, verificou-se que na
amostra das fintechs analisada pelo autor, o custo de intermediação financeira é de duas a três
vezes maior que a média da amostra dos bancos analisados por ele. O custo de intermediação
financeira médio dos bancos oscilou entre 4,3% a.a. e 4,8% a.a., enquanto para as fintechs esse
percentual chegou a 13%.
A segunda análise feita por Faria (2018, p. 100) utilizou a média do indicador de
Eficiência Operacional (EO) para avaliar a diferença entre os bancos e as fintechs entre os anos

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 71


de 2015 e 2017. Verificou-se que na amostra das fintechs analisadas pelo autor, a eficiência
operacional dessas instituições é menor do que a dos bancos. A média de eficiência operacional
da amostra bancária analisada pelo autor oscilou entre 63,2% e 68,7% entre os anos de 2015 e
2017, enquanto da amostra das fintechs ficou entre 119,1% e 129,4%.
O resultado apresentado da eficiência operacional das fintechs demonstra que suas
receitas são insuficientes para cobrir seus custos e suas despesas operacionais. Faria (2018, p.
100) comenta que uma possível explicação para esse fenômeno é o fato das fintechs ainda não
possuírem um grau de maturação que permita a elas obterem benefícios dos ganhos de escala.
Silva (2019, p. 33) realizou uma pesquisa de campo com uma amostra de 18 empresas
do setor financeiro de Portugal, sendo 9 fintechs e 9 bancos, escolhidas com base em quatro
critérios, sendo eles: ser um banco ou uma fintech; já ter estabelecido uma parceria estratégia
com um banco/fintech; ter reconhecimento de mercado; e ter atividade em território português.
Esta pesquisa, de caráter qualitativo, busca explicar os possíveis motivos que levariam os
bancos ou as fintechs a se aliarem, no que a autora chamou de “estratégia de coopetição”, uma
estratégia que engloba alguns aspectos de concorrência e de competição, ao mesmo tempo.
Apesar da pesquisa ter sido realizada em Portugal, é possível traçar paralelos com o
Brasil através dos resultados obtidos pela investigação. Ao analisar as motivações gerais que
levariam um banco ou uma fintech a se aliarem, os dados obtidos pela autora revelam três
motivos principais: o acesso a recursos; a vontade de desenvolver inovações; e o
compartilhamento de conhecimentos.
Os dados obtidos por Silva (2019) são dispostos na Tabela 4. O valor representa o
número de vezes que cada motivação foi mencionada por cada instituição, no decorrer das
entrevistas. É possível observar que o acesso a recursos, que foi a motivação mais citada, está
diretamente relacionado ao aspecto de coopetição elencado pela autora. Segundo ela, essa
motivação é considerada transversal e se aplica a diversos outros setores existentes, inclusive
fora do segmento financeiro.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 72


Tabela 6 - Motivações na formação de alianças estratégicas entre concorrentes

Nº de
Motivação
vezes
Acesso a novos mercados ou segmentos
21
de mercados
Acesso a recursos 53
Incorporar e desenvolver novas
28
tecnologias
Melhorar a posição e a vantagem
21
competitiva
Compartilhar conhecimento 33
Redução do risco 16
Vontade de desenvolver inovação (novos
49
produtos/padrões de mercado)

Fonte: Silva, 2019. Elaboração própria, 2020.

A segunda motivação mais mencionada pelo estudo foi a vontade de desenvolver


inovações. Esse ponto, segundo a autora, “[...] valida o propósito da investigação em curso, ao
evidenciar a inovação como um dos principais objetivos, na formação de alianças estratégicas
entre concorrentes” (SILVA, 2019, p. 46-47). A terceira motivação elencada pelo estudo foi o
compartilhamento de conhecimento. De acordo com Silva (2019, p. 47), as empresas de um
modo geral possuem em seus núcleos operacionais diversas lacunas em determinadas áreas de
conhecimento e isso pode ser preenchido por alianças coopetitivas entre instituições. No caso
do setor financeiro, essas alianças estratégias podem servir para minimizar essas necessidades,
como por exemplo o compartilhamento de know how.

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 73


Tabela 7 – Comparação entre as motivações dos bancos e das fintechs na formação de uma
aliança estratégica

Bancos Fintechs

Nº de Nº de
Motivação Motivação
vezes vezes
Digitalização / Inovação digital 10 Economias de escala 5

Acesso a carteira de clientes dos 4


Agilidade nos processos 15
bancos
Fintechs operam em nichos 2
12 Capital para financiamentos
específicos
Know how tecnológico das fintechs 30 Confiança dos clientes 5

Reduzir custos 4 Regulação 11

Resolução de problemas específicos Conhecimento de mercado dos 7


9
do setor financeiro bancos
Parcerias com bancos disruptivos 4
Preencher nichos onde os bancos
7
não atuam

Fonte: Silva, 2019. p. 52-54. Elaborado pelo autor, 2020.

A Tabela 5 mostra a comparação entre as motivações dos bancos e das fintechs na


formação de uma aliança estratégica. O valor representa o número de vezes que cada motivação
foi mencionada por cada instituição, no decorrer das entrevistas realizadas pela autora. De
acordo com os dados da Tabela 5, o know how tecnológico das fintechs constitui o principal
motivo para um banco promover uma parceria com essas instituições. Segundo Silva (2019, p.
54), esse know how tecnológico das fintechs permite aos bancos sanarem suas dificuldades
tecnológicas, tornando possível atender as necessidades de seus clientes, decorrentes do
desenvolvimento das tecnologias e da digitalização.
Do lado das fintechs, a principal motivação elencada foi o aspecto da regulação. Esse
componente compreende uma série de regras e diretrizes que não se manifestam claramente no
segmento bancário, o que explica a motivação das fintechs em se aliarem aos bancos, para
justamente conseguirem se enquadrar com as normas estabelecidas pelos órgãos reguladores do
sistema financeiro (SILVA, 2019, p. 55).

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 74


Considerações finais

Este trabalho buscou avaliar de que forma o crescimento das fintechs impactou o sistema
bancário e financeiro brasileiro entre os anos de 2016 e 2019, considerando três hipóteses
principais para avaliar este impacto: a redução do market share bancário, a redução dos custos
de transação e a elaboração e estratégias de coopetição. A investigação das hipóteses e a análise
dos dados foram expostas no aprofundamento metodológico e demonstração das hipóteses.
Destarte, os dados coletados e as análises apresentadas neste trabalho demonstram que
o número de fintechs em operação no Brasil passou de apenas uma em 2016 para cerca de trinta
e quatro em 2019. Além disso, a participação de mercado dos cinco bancos analisados em
relação ao total de ativos do Sistema Financeiro Nacional apresentou uma redução de 10,8
pontos percentuais entre os anos de 2016 e 2019, mesmo período em que se deu o crescimento
das fintechs no país. Essa relação corrobora o fortalecimento da hipótese de que a ascensão das
fintechs no cenário nacional possa ter ocasionado a redução do market share desses bancos.
Observa-se também que a elevação do número de fintechs não provocou uma redução
dos custos de transação. A hipótese de que essas instituições financeiras poderiam reduzir os
custos da intermediação financeira não se provou verdadeira, tendo em vista os dados e o
período analisado. A explicação para esse fenômeno deriva do fato de que o nível de maturação
das fintechs ainda não atingiu um patamar que permita a obtenção de economias de escala,
incrementando a capacidade de fornecer bens e serviços sem um aumento proporcional nos
custos. Ao contrário dos bancos, o nível de atuação das fintechs ainda é um pouco restrito e,
portanto, torna-se improvável obter ganhos de escala, ao menos no curto prazo.
Em um cenário de constante evolução tecnológica e transformações financeiras como o
que ocorreu na última década, bem como as transformações que estão ocorrendo nos dias de
hoje, os dados apresentados em relação as estratégias de coopetição nos permitem identificar
os motivos que levariam um banco e uma fintech, que a princípio são concorrentes, a se unirem.
Os dados apresentados demonstram que uma aliança entre essas instituições permite a aquisição
de vantagens mútuas, como o desenvolvimento de novas tecnologias e o compartilhamento de
know how.
Portanto, podemos concluir que a redução do market share dos bancos brasileiros
analisados decorre, em parte, do aumento do número de fintechs em operação no país. As
fintechs, apesar de demonstrarem enorme capacidade de crescimento, não apresentam

€CO$, Sorocaba, SP, v. 7, dez., 2021 75


eficiência operacional no sentido de reduzir os custos da intermediação financeira, conforme os
dados demonstraram. As alianças entre bancos e fintechs podem se intensificar na medida em
que as vantagens da coopetição e as necessidades dos clientes forem crescendo e se alterando.

Referências

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