Revista Ecos 2021
Revista Ecos 2021
Revista Ecos 2021
Revista de Economia
v. 7, dez. 2021
Sorocaba/SP
Uniso
2021
€CO$: Estudos em Economia é uma publicação anual do Curso de Ciências Econômicas da
Universidade de Sorocaba - Uniso. O objetivo é a divulgação da produção técnico-científica
de alunos de graduação em Ciências Econômicas, ex-alunos e professores da Uniso.
Periodicidade: anual
DECLARAÇÃO DE PRIVACIDADE
EQUIPE EDITORIAL
CONTATO
Os textos contidos aqui nessa 7ª edição da Revista €co$ são artigos técnico-científicos
produzidos pelos alunos do curso de ciências econômicas da Universidade de Sorocaba. O
objetivo da revista é promover a melhoria da qualidade do ensino e contribuir para a divulgação
e debate de temas voltados as questões da área de economia e áreas correlatas, de modo a
provocar uma reflexão sobre os temas abordados.
Esta edição apresenta quatro artigos, com base em um pensamento crítico-científico. Os
temas por eles abordados vão desde macroeconomia, eficiência alocativa de gastos públicos,
educação, até previdência é inovações financeiras (fintechs).
No primeiro artigo, o autor Licciardi procura investigar as causas da estagnação
industrial pela qual a cidade de Sorocaba passou entre os anos de 2012 e 2017, além de verificar
se tal fenômeno foi apenas local, por meio da comparação com outros municípios de estruturas
produtivas semelhantes.
Já o segundo e o terceiro artigos têm como base das suas investigações os municípios
da Região Metropolitana de Sorocaba. Enquanto o autor Silva busca analisar a eficiência com
os gastos públicos com educação em cada um dos municípios, a autora Cristofoletti investiga
os efeitos da Previdência Social sobre a distribuição de renda desses mesmos municípios.
Assim, os três primeiros artigos dessa revista contribuem para preencher a lacuna existente na
literatura sobre estudos socioeconômicos no âmbito local.
Por sua vez, o quarto e último artigo busca abordar temas ligados às novas tendências
tecnológicas e inovativas. Considerando um cenário de constante evolução e transformações
financeiras como o que ocorreu na última década, o autor Silva avalia os impactos do
crescimento das fintechs na dinâmica do sistema bancário e financeiro brasileiro entre os anos
de 2016 e 2019.
A revista vem sendo publicada desde 2011, porém, em virtude de eventuais ajustes em
seu formato, a publicação foi suspensa entre 2017 e 2020, sendo retomada em 2021.
Esta breve apresentação tenta demonstrar o mérito da coletânea que o leitor começará a
explorar. Quero aproveitar para parabenizar esses jovens autores pesquisadores e dizer que
espero que seja o primeiro de muitos trabalhos futuros. Aos leitores, desejo uma ótima leitura!
Resumo: Como a educação é o segundo maior orçamento do governo, atrás apenas da saúde, o Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica deveria ser alto, mas não é o que ocorre. Assim, o
questionamento sobre a correta aplicação dos recursos públicos destinados à educação é frequentemente
levantado. Isto posto, esse artigo possui o objetivo de analisar a eficiência dos gastos públicos em
educação nos 27 municípios da Região Metropolitana de Sorocaba através da ferramenta DEA. As
hipóteses de que os municípios menos populosos tendem a gastar de forma mais eficiente; que
municípios com maiores gastos por aluno não são necessariamente os mais eficientes; e que a
regionalidade possui relevância, foram corroboradas.
Palavras-chave: DEA. RMS. Economia regional. Eficiência e IDEB.
The efficiency of public spending with basic education of municipalities in metropolitan region
of Sorocaba in 2017
Abstract: As the education the second biggest spend of government, behind only of health, the Index
of Development on Basic Education would be high, but it is not the case. As well, the questioning about
correct application of public resources destined to education is raised. Furthermore, this article has the
objective of analyze the efficiency of public spending on education in 27 municipalities of Metropolitan
Region of Sorocaba through the tool DEA. The hypotheses that municipalities less populous tend to be
more efficient; municipalities with more spends per student are not necessarily the most efficient; and
the regionality is a relevant factor, have been proven.
Keywords: DEA. RMS. Regional economics. Efficiency and IDEB.
Arcabouço teórico
O termo economia regional, é entendido por Cruz et al. (2011, p. 18-19), como uma
aglomeração econômica, onde forças opostas estão em constante atividade, sendo a centrífuga
aquela que expele os agentes econômicos que agregam menos valor ao seu produto, como
indústrias têxteis e tabaco, e a segunda força conhecida como centrípeta, responsável por atrair
bens de alto valor agregado, por exemplo indústrias químicas e tecnologia da informação.
Esses dois fenômenos citados acima geram disparidades entre centros econômicos,
alguns extremamente desenvolvidos contrastando com ambientes de pouca evolução
econômica, tendo como um exemplo mundial a separação Norte-Sul. Assim fomentando a
curiosidade de pesquisadores como Johann Heinrich von Thunem, que foi um dos primeiros
entusiastas da área e, Paul Krugman com a microeconomia de aglomeração, em nível nacional
e internacional. (CRUZ et al., 2011, p. 18).
Sendo que no Brasil também é possível observar esse fenômeno das aglomerações, de
tal modo, a aglomeração a ser estudada é conhecida como RMS e é definida conforme a Lei
n. 1241 (SÃO PAULO, 2014, p. 1) como a Região Metropolitana de Sorocaba, composta por
27 municípios, que visa uma melhor integração entre os municípios limítrofes e não limítrofes
da região, procurando afetar diretamente na melhora da qualidade socioeconômica de todos os
2,1 milhões de residentes da área. Sendo o impacto positivo não apenas nos trabalhadores como
também nas empresas, aprimorando o ambiente de negócios, produtividade e
consequentemente viabilizando futuras expansões.
A educação básica pode ser explanada como como uma maneira de instruir o cidadão
para seu desenvolvimento pessoal, impactando diretamente na sua relação socioeconômica.
2
A palavra per capita deriva do latim, e significa literalmente “por cabeça”.
Gasto por
Aluno com R$3.153,37 R$7.921,39 R$4.538,72 R$968,93
Educação
Para identificar qual município da RMS é mais eficiente na tratativa dos gastos públicos,
será aplicada a ferramenta DEA, elaborada por Charnes, Cooper e Rhodes, em 1978, onde os
parâmetros variam de 0 a 1, com o 0 sendo o menor nível de eficiência e 1 a máxima eficiência
alcançável pela unidade no modelo.
A formulação abaixo, elaborada por Charnes, Cooper e Rhodes (1978 apud CASADO;
SOUZA, 2007, p. 10) diz que a orientação a o output, ou seja, orientação a saída, busca o
resultado máximo com os insumos, inputs, fixos:
∑Sj=1 uj Yj0
Máxh0 =
∑ri=1 vi Xi0
Onde:
h0 = eficiência da DMU O (zero)
r = quantidade total de inputs
3
Universidade Federal Fluminense.
4
Algoritmo desenvolvido por Dantzig e publicado em 1948.
5
Área de pesquisa matemática voltada à otimização.
A análise realizada mostra que apenas 6, ou, aproximadamente 22%, dos municípios da
RMS são plenamente eficientes na tratativa dos gastos públicos com educação, ou seja,
apresentam parâmetro de saída igual a 1. Cerca de 41% dos municípios tiveram um
aproveitamento de 0,8 ou mais e 37% ficaram com um grau de eficiência abaixo de 0,8, tendo
Considerações finais
Referências
ACEMOGLU, Daron; ROBINSON, James. Por que as nações fracassam: as origens do poder,
da prosperidade e da pobreza. São Paulo: Elsevier, 2012.
BRASIL. Ministério da Educação. IDEB: apresentação. 2018. Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/. Acesso em: 03 mar. 2020.
CASADO, Frank Leonardo; SOUZA, Adriano Mendonça. Análise envoltória de dados:
conceitos, metodologia e estudo da arte na educação superior. Revista Sociais e Humanas,
Santa Maria, v. 10, n. 1, p.59-71, jan. 2007. Disponível em: https://periodicos.ufsm.br/.
Acesso em: 26 fev. 2020.
Resumo: O objetivo desse artigo é investigar as causas da estagnação industrial da cidade de Sorocaba
nos anos de 2012 a 2017, tendo como parâmetros o valor adicionado ao PIB municipal e participação
formal empregatícia por setor, além de comparar os resultados com os municípios de Ribeirão Preto e
São José dos Campos. Os dados sugerem que as variáveis analisadas, isto é, taxa de juros, evolução das
importações, exportações e o cenário desfavorável de crise econômica conjuntural interna brasileira
contribuíram para a estagnação no setor secundário em Sorocaba e uma possível desindustrialização no
município no período analisado. No entanto os dados são inconclusivos para as cidades de Ribeirão
Preto e São José dos Campos, uma vez que não se notou comportamento industrial estacionário e
retrativo como o observado em Sorocaba.
The industrial stagnation of the city of sorocaba between 2012 and 2017
Abstract: The objective of this article is to investigate the causes of industrial stagnation in the city of
Sorocaba in the years 2012 to 2017, taking as parameters the value added to the municipal GDP and
formal employment participation by sector, in addition to comparing the results with the municipalities
of Ribeirão Preto and São José dos Campos. The data suggest that the analyzed variables, that is, interest
rate, evolution of imports and the unfavorable scenario of Brazilian domestic economic crisis
contributed to the stagnation in the secondary sector in Sorocaba and a possible deindustrialization in
the municipality in the analyzed period. However, the data are inconclusive for the cities of Ribeirão
Preto and São José dos Campos, since there was no stationary and retractive industrial behavior as
observed in Sorocaba.
Keywords: Industrial stagnation. Sorocaba. Interest rate. Exportation and importation. Internal
economic crisis. Deindustrialization.
Ao longo das últimas três décadas, Sorocaba se destacou entre as principais cidades do
Brasil, visto seu intenso e diversificado desenvolvimento econômico regional, além da evolução
dos principais indicadores sociais. Tendo como base o ano de 1991, Sorocaba passou de um
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) de 0,579 para 0,798 em 2010, sendo
que 1 representa o máximo valor a ser atingido. É expressivo que em menos de 20 anos o índice
tenha experimentado um aumento de cerca de 38%, segundo indica o relatório do IDHM
desenvolvido pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a Fundação João Pinheiro (FJP), em 2013.
Atualmente, o município conta com uma população estimada de 687 mil habitantes
(IBGE, 2020) e é uma das mais importantes cidades do estado de São Paulo, sendo a 9º em
tamanho de população e a 1º em sua microrregião (IBGE, 2020), onde é a cidade polo da Região
Metropolitana de Sorocaba (RMS), instaurada em 2014 e que representa cerca de 4% do
Produto Interno Bruto (PIB) de todo estado de São Paulo (IBGE, 2019).
Sorocaba, por estar situada estrategicamente entre três polos de grande importância para
o Brasil – São Paulo, Curitiba e Campinas –, alcançou seu desenvolvimento concomitantemente
com o crescimento desses grandes centros (EMPLASA, 2019), o que possibilitou a instalação
de grandes empresas em seu parque industrial, como ZF do Brasil, Johnson Controls, grupo
Schaeffer e muitas outras unidades produtivas ligadas ao setor manufatureiro.
O desenvolvimento da cidade foi puxado fortemente pelo setor industrial que chegou a
representar em seu auge cerca de 40% de todo valor adicionado no PIB municipal entre os anos
de 2004 a 2010, conforme informam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2019 e compilados pela Fundação SEADE. No entanto, desde de 2011, o setor vem
perdendo participação relativa ao que tange o valor adicionado no PIB e número de empregados
formais.
Em vista do panorama apresentado no último parágrafo, infere-se que a problematização
do presente artigo repousa na pergunta “Por que houve estagnação industrial na cidade de
Sorocaba entre os anos de 2012 a 2017?”. Diante disso, o objetivo central é analisar as causas
da estagnação industrial em Sorocaba entre o período sinalizado tendo como referência o valor
adicionado no PIB municipal e a participação dos empregos formais no setor.
Arcabouço teórico
Fonte: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Produto interno bruto dos
municípios 2017. Disponível em:
http://www.imp.seade.gov.br/frontend/#/tabelas. Acesso em: 07 set. 2020.
Nota: elaborado pelo autor.
Em relação à evolução do PIB real da indústria obtida por meio do IBGE e Fundação
SEADE, percebe-se que este indicador experimentou uma redução real de 26% de 2012 a 2017,
deflacionado pelo deflator base 2010=100 utilizado pela fundação SEADE ao PIB Paulista. Por
sua vez, tendo como base os dados sobre empregos formais, percebe-se na Tabela 2 que o setor
secundário de Sorocaba perdeu participação relativa de 5,7% entre os anos de 2012 e 2017,
conforme indicam os dados colhidos pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio
da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS):
Fonte: BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Relação anual de informações sociais – RAIS.
Disponível em: http://www.imp.seade.gov.br/frontend/#/tabelas. Acesso em: 07 set. 2020. (elaborado
pelo autor).
Quando se analisam os dados das cidades de Ribeirão Preto e São José dos Campos,
pode-se constatar que, ao contrário do que ocorreu em Sorocaba onde a participação tanto no
valor adicionado no PIB municipal quanto nos empregos formais da indústria sofreu um
decréscimo de 5%, nas duas outras cidades não se averiguou tal fenômeno. Além disso, essas
duas cidades suportaram, a partir de dados do IBGE e Fundação SEADE, aumento real do PIB
10
6,5
8
6
7,25
4
Fonte: BANCO CENTRAL DO BRASIL – BACEN. Meta para a Selic (% a.a.). Disponível em:
https://www.bcb.gov.br/estatisticas/grafico/graficoestatistica/metaselic. Acesso em: 01 out. 2020.
Elaboração própria.
De acordo com Cano (2012, p. 834), as altas taxas de juros praticadas no país fazem
com que o empresário as compare com as taxas de lucros no setor financeiro e setores correlatos,
com o intuito de realizar as alocações de investimento a fim de acumular capital. Com lucros
industriais relativamente contidos quando comparado ao setor monetário ou à setores de
atividades ilícitas, o empresário atenta-se a esse fenômeno e só investe por necessidade e para
manutenção do negócio. Segundo o autor, essas elevadas taxas de juros praticadas inibem os
investimentos produtivos e repelem o seu desenvolvimento, tornando a indústria vulnerável,
obsoleta e aquém de sua plena capacidade técnica-produtiva ou nas palavras do próprio autor:
“Uma indústria que não investe envelhece, torna-se, em parte, obsoleta, não cresce, tem
dificuldades enormes de assimilar progresso técnico no dia a dia”.
De fato, ao passo que se investiga o comportamento dos investimentos confirmados para
a cidade de Sorocaba dentre os anos de 2012 a 2019, pondera-se que os anos em que se teve os
menores níveis de investimentos confirmados para as cidades de Sorocaba, Ribeirão Preto e
São José dos Campos foram justamente os anos em que a SELIC estava em estágios mais
elevados, isto é, entre os anos de 2013 a 2016 (exceto para a cidade de São José dos Campos
Fonte: FUNDAÇÃO SEADE. Pesquisa de Investimento Anunciado no Estado de São Paulo – PIESP. Disponível
em: https://www.piesp.seade.gov.br/. Acesso em 14 set. 2020. Elaboração própria.
Outra hipótese que busca explicar as razões pela qual houve uma estagnação industrial
na economia sorocabana repousa na concepção da participação dos elementos da balança
comercial na produção industrial e em sua representatividade. Segundo indicam os relatórios
do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) referentes aos valores FOB
em dólar das importações e exportações, o município de Sorocaba apresentou redução de 27%
e 23%, respectivamente, tendo como parâmetro base o ano de 2012. Os países que mais
contribuíram para tais decréscimos em Sorocaba foram Estados Unidos, Japão e Reino Unido
no que se refere às importações e Estados Unidos, Uruguai e Alemanha ao que tange às
exportações de acordo com a Tabela 3.
Em relação aos dados de importação dos municípios de Ribeirão Preto e São José dos
Campos, avaliou-se que no primeiro houve uma redução de cerca de 6% em relação a 2012 e
no segundo houve redução de 59% no mesmo período. Já ao que concerne às exportações, nota-
se que há um aumento de 2% no município de Ribeirão Preto e uma redução do valor FOB
exportado na cidade de São José dos Campos em torno de 31% tendo como base também o ano
de 2012. Percebe-se, então, que em relação aos movimentos da balança comercial, São José dos
Campos apresenta um movimento semelhante (e mais intenso) aos números de Sorocaba, como
se vê na evolução do Gráfico 3.
40% 41%
20%
0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Fonte: BRASIL. Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços – MDIC. Série histórica de exportação e
importação municípios. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br/pt/municipio. Acesso em: 14 set.
2020. Elaboração própria.
Considerações finais
Diante das análises feitas acerca dos indicadores de participação no valor agregado ao
PIB e participação nos empregos formais por setor, os dados sugerem que a indústria
sorocabana estagnou-se e perdeu presença relativa em detrimento aos setores de comércio e
serviço nos últimos 7 anos. Além disso, a análise sugere uma possível desindustrialização em
Sorocaba, visto que o PIB real do setor industrial experimentou redução real de 26% entre 2012
a 2017. Vale destacar que esse comportamento estacionário e desigual do setor secundário não
ocorreu nas cidades de São José dos Campos e Ribeirão Preto, visto que a participação relativa
do PIB e o PIB real deflacionado do setor industrial aumentaram nessas duas cidades.
No que diz respeito às taxas de juros praticadas no período analisado, depreende-se que
essas desempenharam caráter repressivo quanto ao avanço da indústria sorocabana. Essa
hipótese se tornou ainda mais sugestiva quanto se fez o cruzamento da taxa SELIC com os
investimentos confirmados nos municípios analisados. Os dados mostram que nos anos de 2013
a 2016, onde se observou uma trajetória de alta da SELIC, os investimentos sofreram uma
abrupta diminuição (exceto em São José dos Campos em 2013) sendo retomados a partir de
2017, quando a taxa SELIC voltou à patamares de 2010 e 2012. Como o setor industrial é
dependente do crédito e esse fica mais caro quando a SELIC se eleva, é visível que os
investimentos se deteriorarão e tender a afetar o setor industrial, mais fortemente na cidade de
Sorocaba.
Ao que tange à participação das exportações e importações como hipótese para a
estagnação industrial, nota-se que em Sorocaba essa variável desempenhou influência no
desempenho do setor manufatureiro, visto que os dois indicadores tiveram queda de 23% e
Referências
Abstract: Based on the inconclusiveness of the literature regarding the distributive qualities
intrinsic to the Brazilian Social Security System and its capacity to transfer income between
rich and poor regions, this study aims to determine whether there was a positive or negative
influence of Social Security on the distribution of income in the municipalities of the
Metropolitan Region of Sorocaba in the 2000s. For this purpose, two econometric models based
on the Ordinary Least Squares regression method were created that relate the General Social
Security Regime results to the variables of interest, as well as measuring the degrees of
distribution through the calculation of the Lorenz Curves and Gini Index.
Keywords: Social Security. Income distribution. Ordinary least squares. Lorenz curve. Gini
index.
Em um outro estudo, Silveira et al (2011, p. 29-32) afirma que a tributação tem forte
influência sobre a desigualdade de renda, e que, de 2003 a 2009, o pagamento das contribuições
teve sua participação elevada para 6,9% da carga tributária brasileira. Além disso, o autor
evidencia uma queda de 1,7% no índice de Gini do período, acusando a atuação positiva dos
programas de Previdência e Assistência Social como distribuidor de renda, mesmo tendo pouco
impacto. Outrossim, o autor expõe que em 2009, os 40% mais pobres da população tiveram sua
participação na renda aumentada para 8,3% e houve queda para 6,3% de participação dos 20%
mais ricos.
Ferreira (2003, p. 6-9) afirma sobre o Brasil que “O problema econômico mais grave do
país se chama pobreza. Ao seu lado, tem-se o maior problema estrutural, que é a desigualdade
da distribuição da renda.” De acordo com o autor, ainda que exista um esforço governamental
para criação de políticas em prol do crescimento econômico, diminuindo o grau de pobreza, o
nível de concentração de renda observada no Brasil é preocupante quando comparada à média
de países com renda similar. Mesmo sua tese tendo resultado que a Previdência Social contribui
para a agravar a desigualdade de renda no Brasil (FERREIRA, 2003, p. 125), o autor ainda
atesta que:
Um sistema previdenciário moderno e eficiente pode ser usado para uma melhor
distribuição de renda, não somente porque paga benefícios aos idosos, mas também
por estar diretamente ligado ao governo que detém as normas e leis, e que, portanto,
pode e deve atenuar desigualdades de renda. (FERREIRA, 2003, p. 4).
A formação do banco de dados para a presente pesquisa tem base nas informações
disponibilizadas pelo IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIB, PIB per capita
e população) e nas estatísticas dos valores totais dos benefícios concedidos e dos valores
arrecadados pelo RGPS, disponibilizadas pelo INSS através do DATAPREV.
A Previdência Social é bastante conhecida por seu sistema deficitário. Considerando o
período de análise escolhido, o gráfico 1 apresenta os resultados do RGPS em escala nacional
(pagamentos de benefícios subtraídos da arrecadação líquida do Instituto Nacional de
Previdência Social - INSS), permitem visualizar tal carência que mantém os valores de
benefícios concedidos superiores em 18% (média do período) aos valores arrecadados,
chegando em 2006 ao déficit de 27,96 bilhões de reais em 2006.
Gráfico 1 - Evolução dos resultados do RGPS (em bilhões de R$) na década de 2000
20,00
15,11
Bilhões
15,00 13,04
8,55
10,00
4,73 4,79 3,81 4,34
5,00 2,40 1,76 2,91
0,00
-5,00 -0,27 -0,34 -0,47 -0,68 -0,81 -0,89 -0,89 -0,86 -0,80 -1,01
-10,00
-9,33 -10,58
-15,00 -11,31
-13,31
-20,00
-25,00 -20,43 -20,50
-22,24
-30,00 -26,77 -27,93 -27,96
-35,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Gráfico 3 - Distribuição da população por sexo, segundo os grupos de idade. BRASIL - 2010
Além de ter sido agravada por questões conjunturais, como o baixo crescimento
econômico, esta situação também carrega o peso de questões estruturais
fundamentais. A primeira é a queda nos índices de formalização (e contribuição
previdenciária) no mercado de trabalho. A segunda é o rápido processo de
envelhecimento da população brasileira, fazendo com que o número de idosos cresça
a taxas bastante elevadas. (AFONSO, 2003, p.11)
Metodologia aplicada
𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎çã𝑜
(1) 𝑙𝑛 ( ) = 𝛼 + 𝛽1 (𝑙𝑛𝐼𝑑𝑜𝑠𝑜𝑠) + 𝛽2 (𝑙𝑛𝑃𝑖𝑏) + 𝛽3 𝐷𝑢𝑚𝑚𝑦 + 𝜖
𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎
𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎çã𝑜
(2) 𝑙𝑛 ( )
𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎
= 𝛼 + 𝛽1 (𝑙𝑛%𝐼𝑑𝑜𝑠𝑜𝑠) + 𝛽2 (𝑙𝑛𝑃𝑖𝑏𝑃𝑒𝑟𝑐) + 𝛽3 (𝑙𝑛𝑃𝑜𝑝) + 𝛽4 𝐷𝑢𝑚𝑚𝑦 + 𝜖
Em que:
𝑎𝑟𝑟𝑒𝑐𝑎𝑑𝑎çã𝑜
( ) - Razão entre os valores arrecadados e os benefícios emitidos do
𝑑𝑒𝑠𝑝𝑒𝑠𝑎
(1) a relação entre a variável dependente e as variáveis independentes deve ser linear;
(2) as variáveis foram medidas adequadamente, ou seja, assume-se que não há erro
sistemático de mensuração; (3) a expectativa da média do termo de erro é igual a zero;
(4) homocedasticidade, ou seja, a variância do termo de erro é constante para os
diferentes valores da variável independente; (5) ausência de auto correlação, ou seja,
os termos de erros são independentes entre si; (6) a variável independente não deve
ser correlacionada com o termo de erro; (7) nenhuma variável teoricamente relevante
para explicar Y foi deixada de fora do modelo e nenhuma variável irrelevante para
Além do teste de correlação entre as variáveis, não se pode ignorar as abordagens mais
comuns para análises relativas à distribuição de renda que são os Coeficientes de Gini e Curva
de Lorenz. A principal vantagem de mensurar a distribuição de renda através destes métodos é
que não são limitados (congelados) como outros índices, como por exemplo a renda per capita,
que se restringe a uma média aritmética entre o número de habitantes e o PIB de um
determinado local.
Conforme Mochón Morcillo (2007, p. 132 e 133), a Curva de Lorenz demonstra
visualmente a relação entre os grupos da população e as suas determinadas participações na
composição da renda total. O gráfico é formado por uma reta em 45º do eixo horizontal,
chamada de “linha de perfeita igualdade” ou “linha de equidistribuição”, em que uma
determinada proporção acumulada da população recebe uma igual proporção acumulada da
renda; e uma curva calculada a partir dos extratos da população e renda. Quanto mais distante
a curva calculada estiver da linha de equidistribuição, maior será a desigualdade de renda.
Resultados obtidos
lnIdosos -0,395028 **
(0,0584854)
ln%Idosos -0,512472 **
(0,269083)
R² 0,932777 0,937134
R² ajustado 0,932019 0,936185
F 1.230,33 987,5768
P-valor (F) 1,4e-155 7,7e-158
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pelo IBGE. Estatísticas. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/todos-os-produtos-estatisticas.html. Acesso em: 29 mar. 2020;
SINTESE / DATAPREV. Dados abertos. 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.
Acesso em: 18 aet. 2020.
Gráfico 5 - Curva de Lorenz para Benefício Médio Previdenciário e PIB per capita
municipal
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pelo IBGE. Estatísticas. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/todos-os-produtos-estatisticas.html. Acesso em: 29 mar. 2020;
SINTESE/DATAPREV. Dados abertos, 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.
Acesso em: 18 set. 2020.
Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados fornecidos pelo IBGE. Estatísticas. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/todos-os-produtos-estatisticas.html. Acesso em: 29 mar. 2020;
SINTESE/DATAPREV. Dados abertos. 2017. Disponível em: https://dadosabertos.dataprev.gov.br/.
Acesso em: 18 set. 2020.
Considerações finais
Esta pesquisa satisfez-se ao observar o uso do Regime Geral da Previdência Social como
mecanismo de intervenção do Governo Federal na economia brasileira, especificamente como
instrumento indireto de distribuição de renda. Infelizmente, a literatura acerca deste tema ainda
é bastante inconclusiva. Por conta disto, a primeira hipótese aqui testada defende que o sistema
previdenciário realiza transferências de renda regionais de forma positiva, diminuindo
desigualdade de renda, e contrariamente, a segunda hipótese afirma que a Previdência Social
agravaria ainda mais os níveis de concentração de renda.
Para verificar tais possibilidades, a primeira análise realizada foi a partir dos modelos
econométricos, que cumpriram com o objetivo de testar o impacto das variáveis e apontaram a
Fonte: Gretl.
Fonte: Gretl.
Fonte: Gretl.
Resumo: O objetivo deste artigo é avaliar os impactos do crescimento das fintechs na dinâmica
do sistema bancário e financeiro brasileiro entre os anos de 2016 e 2019. As hipóteses
presumidas são de que houve redução do market share dos bancos, redução dos custos de
transação financeira e desenvolvimento de estratégias de coopetição entre bancos e fintechs. A
análise e verificação das hipóteses se deu por meio da investigação dos dados do Sistema
Financeiro Nacional e pela triangulação de diversas fontes de informação dispostas no
referencial teórico e na demonstração das hipóteses. O estudo demonstrou que a hipótese da
redução do market share dos bancos analisados provou-se verdadeira, porém a hipótese da
redução dos custos de transação não se confirmou, visto que as fintechs ainda não conseguem
gerar economias de escala. A hipótese da estratégia de coopetição evidenciou que uma aliança
estratégica pode gerar benefícios mútuos entre bancos e fintechs.
Palavras-chave: Fintech. Sistema bancário e financeiro brasileiro. Inovação e tecnologia.
Market Share.
The impacts of the emergence of the fintechs in the brazilian financial system between
the years of 2016 and 2019
Abstract: The purpose of this article is to assess the impacts of the fintechs' growth on the
Brazilian banking and financial system’s dynamics between the years of 2016 and 2019. The
assumed hypotheses are that there was a reduction of the banks' market share, a reduction of
the financial transaction costs and the development of a coopetition strategy between banks and
fintechs. The analysis and verification of the hypotheses occurred through the investigation of
the data from the National Financial System and through the triangulation of several sources of
information arranged in the theoretical reference and in the demonstration of the hypotheses.
The study demonstrated that the hypothesis of the reduction of the analyzed banks' market share
proved true, but the hypothesis of the reduction of the transaction costs did not attest accuracy,
since fintechs are not able to generate economies of scale yet. The coopetition strategy
hypothesis has shown that a strategic alliance can generate mutual benefits between banks and
fintechs.
Keywords: Fintech. Brazilian Banking and Financial System. Innovation and technology.
Market Share.
As condições de mercado vigentes nos Estados Unidos após a crise financeira global de
2008 possibilitaram o surgimento de empresas como foco na inovação em serviços financeiros.
Em particular, em função de três fatores: i) do aumento da regulação bancária; ii) do
desemprego de profissionais financeiros e iii) da dificuldade que os recém-formados
enfrentavam no mercado de trabalho (ARNER; BARBERIS; BUCKLEY, 2015, p. 16).
As fintechs, abreviação dos termos em inglês financial technology, são empresas que
fazem uso das tecnologias que surgiram durante a terceira e quarta revolução industrial, que
aprimoraram computadores, softwares e outras tecnologias que permitem a interação entre
mundo físico e virtual, 6 sendo que essas empresas possuem como foco principal fornecer
serviços financeiros (ARNER; BARBERIS; BUCKLEY, 2015, p. 3). De acordo com esses
autores, o setor de serviços financeiros foi afetado positivamente após o ano de 2008,
permitindo a diversas empresas adentrarem nesse segmento de mercado.
No Brasil, o crescimento da atuação das fintechs é evidenciado pelo aumento de quase
70% no número de empresas entre agosto de 2018 e agosto de 2020, alcançando a marca de
771 iniciativas em atuação no Brasil7. Apesar do número crescente de empresas voltadas para
o setor financeiro, ainda é possível observar uma concentração bancária no Sistema Financeiro
Nacional, onde os cinco maiores bancos do país possuem 85,5% dos ativos totais e são
responsáveis por 83,1% das operações de crédito do segmento bancário e não bancário, de
acordo com os dados do Relatório de Economia Bancária de 2019, elaborado pelo Banco
Central.
Devido ao crescente número de fintechs no Brasil nos últimos anos, buscou-se na
literatura avaliar de que forma as fintechs impactaram o sistema bancário e financeiro. Foram
consideradas três hipóteses principais para essa análise:
1) a redução do market share dos bancos (BUCHAK et al., 2017, p. 3);
2) a redução de custos de transação (FARIA, 2018, p. 30);
3) a estratégia de coopetição entre as instituições financeiras (SILVA, 2019, p. 2).
6 Agenda Brasileira para a Indústria 4.0. Disponível em: http://www.industria40.gov.br/. Acesso em: 24 set.
2020.
7
Radar Fintechlab (2020). Disponível em: https://fintechlab.com.br/index.php/2020/08/25/edicao-2020-do-
radar-fintechlab-detecta-270-novas-fintechs-em-um-ano/. Acesso em: 05 set. 2020.
Referencial teórico
Graças à tecnologia ficou muito mais fácil organizar os mercados financeiros via
plataformas de comércio eletrônico, que conectam uma comunidade de investidores e
emissores em busca dos seus fundos. A era do dinheiro e das operações bancárias
eletrônicas já está sobre nós. (GUTTMANN, 2008, p. 18).
Em países desenvolvidos como Austrália, Holanda, Canadá, Suécia e França, bem como
em países emergentes como o Brasil e o México, o setor bancário é caracterizado por sua
concentração, de acordo com dados do Relatório de Economia Bancária de 2017, elaborado
pelo Banco Central. Apesar do segmento bancário possuir essa particularidade, o setor bancário
brasileiro, segundo Paula, Oreiro e Basilio (2013), é o mais complexo da América Latina. Uma
das razões elencadas pelos autores para explicar essa complexidade foi o desenvolvimento de
sistemas de pagamento que buscavam mitigar os efeitos da alta inflação que atingiu o país nas
décadas de 1980 e 1990.
A concentração do sistema financeiro brasileiro pode ser percebida ao compararmos o
número de bancos comerciais que operavam no mercado dos Estados Unidos no ano de 2016
com o Brasil. A análise dos dados mostra que nos Estados Unidos, em dezembro de 2016, a
Fonte: Banco Central do Brasil(2019) / Federal Reserve St. Louis (2020) - Elaborado pelo autor (2020)
9
Quantitativo de bancos por origem de capital (2014-2019). Disponível em: https://www.bcb.gov.br/
content/publicacoes/evolucaosfn/r201912/T1ES_Quadro%2003%20-
%20Quantitativo%20de%20bancos%20por %20origem%20de%20capitall.pdf. Acesso em: 21 out. 2020
19,4
Banco do Brasil 24,3% 21,4% 22,0% 22,7% 23,3% 23,7% 22,7%
%
17,8
Bradesco 19,4% 19,2% 19,3% 19,3% 18,0% 18,2% 15,9%
%
Caixa 11,9
Econômica 13,2% 12,3% 13,4% 16,4% 17,9% 20,1% 20,2%
%
Federal
26,6
Outros bancos 8,2% 13,1% 12,2% 11,3% 12,6% 6,6% 10,3%
%
40
34
30
20
11
10
6
1
0
2016 2017 2018 2019
O crescimento do número de fintechs nos últimos anos mostra que o market share de
outros bancos, com exceção do Itaú Unibanco, da Caixa Econômica Federal, do Banco do
Brasil, do Bradesco e do Banco Santander, passou a crescer a partir do ano de 2016. O Gráfico
2 evidencia o crescimento da participação de mercado de outros bancos no total de ativos que
constituem o Sistema Financeiro Nacional. Esse aumento de market share ocorreu no mesmo
período em que se deu o crescimento do número de fintechs que passaram a operar no Brasil,
que ocorreu nos anos de 2016 a 2019.
O Gráfico 2 revela o crescimento do market share de outros bancos no percentual dos
ativos totais do Sistema Financeiro Nacional entre os anos de 2016 e 2019. De acordo com os
dados apresentados, o percentual de participação de outros bancos passou de aproximadamente
3,4% em 2016 para cerca de 14,2% em 2019, um crescimento aproximado de 10,8 pontos
percentuais.
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
2016 2017 2018 2019
Outros bancos Itaú Banco do Brasil
Bradesco Santander Caixa Econômica Federal
Os custos de transação são apontados como uma das razões para a existência de
intermediários financeiros (ALLEN; SANTOMERO, 1998 apud FARIA 2018, p. 30). Segundo
os autores, o agente superavitário incorre em diversos custos para encontrar um agente
deficitário que se encaixe no perfil adequado de risco que ele procura para conceder crédito de
forma direta. Nesses custos estão inclusos os custos de triagem, verificação, análise do perfil
de risco, monitoramento e até mesmo aplicação das leis que garantam o cumprimento do que
foi acordado.
A Equação 1 mostra o cálculo do Custo da Intermediação Financeira (CIF), sendo que
esse modelo, segundo Faria (2018, p. 73), é o modelo adotado e utilizado por Bazot (2013) e
Phillippon (2015). Essa equação foi utilizada para analisar e comparar a eficiência das fintechs
em relação aos intermediários financeiros tradicionais, como por exemplo os bancos
comerciais.
Onde:
Margem Financeira = Receita Financeira – Despesa Financeira;
Despesa Financeira = valor das despesas decorrentes da captação dos recursos utilizados
na intermediação financeira;
Onde:
Nº de
Motivação
vezes
Acesso a novos mercados ou segmentos
21
de mercados
Acesso a recursos 53
Incorporar e desenvolver novas
28
tecnologias
Melhorar a posição e a vantagem
21
competitiva
Compartilhar conhecimento 33
Redução do risco 16
Vontade de desenvolver inovação (novos
49
produtos/padrões de mercado)
Bancos Fintechs
Nº de Nº de
Motivação Motivação
vezes vezes
Digitalização / Inovação digital 10 Economias de escala 5
Este trabalho buscou avaliar de que forma o crescimento das fintechs impactou o sistema
bancário e financeiro brasileiro entre os anos de 2016 e 2019, considerando três hipóteses
principais para avaliar este impacto: a redução do market share bancário, a redução dos custos
de transação e a elaboração e estratégias de coopetição. A investigação das hipóteses e a análise
dos dados foram expostas no aprofundamento metodológico e demonstração das hipóteses.
Destarte, os dados coletados e as análises apresentadas neste trabalho demonstram que
o número de fintechs em operação no Brasil passou de apenas uma em 2016 para cerca de trinta
e quatro em 2019. Além disso, a participação de mercado dos cinco bancos analisados em
relação ao total de ativos do Sistema Financeiro Nacional apresentou uma redução de 10,8
pontos percentuais entre os anos de 2016 e 2019, mesmo período em que se deu o crescimento
das fintechs no país. Essa relação corrobora o fortalecimento da hipótese de que a ascensão das
fintechs no cenário nacional possa ter ocasionado a redução do market share desses bancos.
Observa-se também que a elevação do número de fintechs não provocou uma redução
dos custos de transação. A hipótese de que essas instituições financeiras poderiam reduzir os
custos da intermediação financeira não se provou verdadeira, tendo em vista os dados e o
período analisado. A explicação para esse fenômeno deriva do fato de que o nível de maturação
das fintechs ainda não atingiu um patamar que permita a obtenção de economias de escala,
incrementando a capacidade de fornecer bens e serviços sem um aumento proporcional nos
custos. Ao contrário dos bancos, o nível de atuação das fintechs ainda é um pouco restrito e,
portanto, torna-se improvável obter ganhos de escala, ao menos no curto prazo.
Em um cenário de constante evolução tecnológica e transformações financeiras como o
que ocorreu na última década, bem como as transformações que estão ocorrendo nos dias de
hoje, os dados apresentados em relação as estratégias de coopetição nos permitem identificar
os motivos que levariam um banco e uma fintech, que a princípio são concorrentes, a se unirem.
Os dados apresentados demonstram que uma aliança entre essas instituições permite a aquisição
de vantagens mútuas, como o desenvolvimento de novas tecnologias e o compartilhamento de
know how.
Portanto, podemos concluir que a redução do market share dos bancos brasileiros
analisados decorre, em parte, do aumento do número de fintechs em operação no país. As
fintechs, apesar de demonstrarem enorme capacidade de crescimento, não apresentam
Referências
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