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O Falso Fausto

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O falso fausto

Laura de Mello e Souza, em Desclassificados do Ouro, faz uma anlise dos indivduos
que se situavam fora das categorias sociais que ocupavam os extremos da sociedade
colonial - senhores proprietrios e escravos - e como eles se encaixavam nessa
sociedade.

A autora usa o termo desclassificados para enquadrar esses indivduos peculiaridade


do sistema colonial, diferentemente de como se deu o processo de marginalizao na
Europa, visto que, a utilizao do trabalho livre e o estabelecimento do capitalismo se
dava de forma diversa naquela parte do mundo. sabido que os desclassificados foram
elementos presentes em toda colnia portuguesa na Amrica, porm a configurao do
surgimento desses indivduos se deu de forma muito peculiar no contexto de Minas
Gerais.
No que diz respeito a seu quadro terico, a autora se alinha ao materialismo histrico e
utiliza os conceitos infra-estrutura, superestrutura e ideologia como base para entender
a dinmica de engendramento dos desclassificados sociais.

No captulo, O falso fausto, a autora apresenta os diversos pensamentos que


explicariam as razes para a decadncia da regio da Minas. O primeiro seria o fato da
Coroa acreditar que a causa da decadncia estava ligada ao extravio e ao contrabando.
O segundo motivo vinha da Academia de Cincias de Lisboa que atribua a decadncia
inadequao dos mtodos utilizados na extrao do metal. E, por ultimo, o
Reformismo Ilustrado do final do sculo XVIII em Portugal explicava a decadncia do
ouro, devido ao seu carter unicamente extrativo. O Reformismo Ilustrado considerava
a minerao um mal e a agricultura a verdadeira riqueza.

No obstante, a crise da sociedade mineira identificada pela autora tendo inicio a partir
de 1748, na comemorao do ureo Trono Episcopal, que foi a criao do bispado de
Mariana, onde o Bispo evita as notcias de sua chegada para que a populao no
gastasse o ouro, que j estava em decadncia. As festas na Regio da Minas foram a
exaltao mxima sociedade mineira, momento em que todos pareciam compartilhar da
riqueza que era a minerao. Em 1735 a o Triunfo Eucarstico marca toda a opulncia
dessa sociedade. Foi uma festa barroca e como tal agradou os sentidos do povo. Ela
criara a falsa impresso de que a riqueza algo desfrutado por todos.

Laura utiliza o conceito de Roberto da Matta em que as funes dessas comemoraes


seriam de: reforo e inverso de uma riqueza e neutralizao dos conflitos e diferena,
criando a iluso de que a sociedade mineira era rica e igualitria. Ou seja, todo o fausto
e ostentao eram falsos. A autora chama a ateno para o fato de que a pobreza no
surge nas minas apenas no perodo de decadncia. A migrao rpida e desestruturada
nessa regio elevou o preo dos alimentos e fez muitos homens pobres morrerem de
fome. Os impostos sobre os escravos e sobre as importaes comprometiam quase
toda a produo das minas, assim poucos conseguiam fazer fortuna. A tributao sobre
os escravos fazia com que muitos senhores alforriassem os seus, visando manter suas
riquezas. Com esse argumento, Laura entra em confrontao com a tese segundo a
qual as alforrias se davam como recompensa ao escravo que encontrasse uma grande
quantidade de ouro ou pelo ouro que os escravos contrabandeavam.

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