Trajetoria Escrita Memória
Trajetoria Escrita Memória
Trajetoria Escrita Memória
33
ESCOLAR NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
Apresentação
1
Segundo Ricoeur (2007, p.195), são: “a distorção da realidade, a legitimação do
sistema de poder e a integração do mundo comum por meio de sistemas simbólicos
imanentes à ação”.
Revista Práticas de Linguagem. v. 3, n. 1, jan./jun. 2013
35
Revisão da literatura
O foco das reflexões acerca dos relatos escritos pelos alunos centrou-se no
processo de significação, criado nas interações propiciadas nas aulas e com os
próprios escritos. Neste processo, afirma Montiner:
Essas interações, por sua vez, apontam a importância dos papeis das
lembranças que temos enquanto membros de um grupo, exigindo de nós um
deslocamento de ponto de vista do qual somos eminentemente capazes.
Como destaca Ricoeur (2007):
2
Um trabalho que discute a identidade pessoal é o de NASCIMENTO, Cláudio Reichert do.
(2009). Em sua dissertação, intitulada: “Identidade pessoal em Paul Ricoeur”, a
discussão dá-se sob os modos de permanência no tempo da pessoa e como eles são
configurados pela narrativa, que conta a história de uma vida.
Análise
Este trecho nos chama a atenção por dois motivos: apesar de a narradora
afirmar ter citado no primeiro memorial o fato que a deixa perplexa, isto não
ocorre, e ainda, a forma como a escrita se deu. Ao narrar em terceira pessoa,
ainda que a aluna tenha argumentado em seus escritos que o fez “para facilitar
as suas lembranças”, tal postura nos indica a busca de afastamento de si, ou
seja, a negação de sua identidade, que nos dá indícios de outras questões acerca
da responsabilidade de pensar sobre si. Essa suposição deve-se ao fato de que o
fato desagradável, não explicitado no relato, se referia ao preconceito de alguns
colegas em relação a ela, por ter entrado na Faculdade por meio das cotas para
negros.
A identidade, num nível formal, permanece uma relação de comparação
que tem como contraponto a diversidade, a diferença. Como se percebeu nos
trechos apresentados, ao escrever, os alunos buscaram encontrar um sentido em
sua trajetória. A necessidade de sua síntese acarretou omissões, seleção de
acontecimentos a serem relatados e desequilíbrio, na medida em que alguns
relatos foram narrados de forma mais extensa do que outros.
Essas operações, “o autor só é capaz de fazer, na medida em que se
orienta pela busca de uma significação: busca esta que lhe dirá quais
acontecimentos ou reflexões devem ser omitidos e quais (e como) devem ser
narrados.” (ALBERTI, 1991, p.78),
A memória artificial e natural é outra noção que se precisa ter, a fim de se
evitarem os riscos de uma memória exercitada, artificial, que, segundo Ricoeur
(2007), “explora metodicamente os recursos da operação de memorização que
queremos distinguir cuidadosamente, a partir do plano da memória natural, da
rememoração, no sentido limitado da evocação de fatos singulares, de
acontecimentos.” (RICOEUR, 2007, p.72)
3
A fim de garantir o anonimato dos alunos, pois expõem aspectos particulares em seus
memoriais, optei por ocultar seus nomes.
Revista Práticas de Linguagem. v. 3, n. 1, jan./jun. 2013
39
Interpretação
4
Cujas ideias também foram abordadas em Ricoeur (2007, p.132): “Halbwachs observa
que somentenotamos as influências rivais quando elas se enfrentam em nós. Contudo,
mesmo então, a originalidade das impressões ou dos pensamentos que sentimos não se
explica por nossa espontaneidade natural, mas pelos encontros em nós de correntes tem
uma realidade objetiva fora de nós.”
Considerações
Referências
LARROSA, Jorge. Dar a palavra: Notas para uma dialógica da transmissão. In:
LARROSA, Jorge. Habitantes de Babel. (trad. de Semíramis Gorini da Veiga) Belo
Horizonte: Autêntica, 2001.