Resenha - Vigiar e Punir
Resenha - Vigiar e Punir
Resenha - Vigiar e Punir
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões. Trad. Ligia M.
Pondé Vassalo. Petrópolis. Ed. Vozes, 1987. 280 p.
A obra Vigiar e Punir: História da Violência nas Prisões de Michel Foucault relata o
período histórico que marca a transição entre a utilização dos suplícios como medida efetiva
O livro parte da análise do sistema penal correcional baseado no suplício; método irracional
e desumano por natureza. Foucault utiliza-se de uma miríade de exemplos pitorescos para
acusado e soberano. A vingança do Estado recai sobre o corpo inerme da vítima com o
Os defensores deste estado de coisas pugnavam que as penas severas deveriam servir de
exemplo para que ficassem inscritas nos corações dos homens. A ameaça constante das
guerras civis que pulularam em toda a Europa faz compreender o porquê da excessiva dureza
das penas. O medo hobbesiano da morte violenta impulsionou o sistema penal em direção ao
suplício como tática calculada para concretização do controle social. O suplício não
restabelecia a justiça, mas apenas reativava o poder, num misto de ignorância e cálculo.
Por força e obra dos operadores do direito aliados ao ideário iluminista, encetou-se a
modernização das leis penais, com a supressão da exclusividade dos costumes na apreciação
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do delito. O advento do processo de codificação foi o passo seguinte para soterrar a idéia de
que o corpo, por excelência, deva ser o alvo da repressão penal como meio de purgar o delito
cometido.
O castigo, como sugere Carnelutti, deve atingir o espírito, não o corpo do condenado. Sob
medida, na supressão do espetáculo do suplício. Mesmo nos países onde se reconhece a pena
A mitigação das penas desencadeou a idéia de penas analógicas que supunha relação exata
entre a natureza do delito e a natureza das punições. Na opinião dos reformadores do sistema
penal, as penas deveriam ser tão pouco arbitrárias quanto possível, bem como deveriam
diminuir o desejo de cometer crime, o que implicaria tornar a pena temível. Outra crítica por
eles formulada centrava-se na reclusão penal, para eles “cara e inútil aos olhos do povo”.
Na obra, o autor tece a gradação do suplício, partindo do castigo como representação teatral
até culminar na arquitetura prisional integrada ao aparelho estatal. Lembra Foucault que o
inicio do século XIX marcou o advento da prisão como a pena mais civilizada, porque
Como medida de controle social, Foucault tece loas à vigilância e ordem com os exemplos
coerção sutil.
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Até aqui vai a contribuição original do livro. Afora a riqueza dos exemplos ilustrativos
punitivo não pode ser “explicado unicamente pela armadura jurídica da sociedade”. Escolhe
então apresentar um estudo do sistema punitivo visto como fenômeno social, dotado de
variadas facetas. Contudo, afirmar que um fenômeno social não deva ser explicado com
auxílio de uma seqüência causal única e universal é apenas afirmar o óbvio. Proclamar que
um fenômeno não deva ser explicado com o auxílio de uma única faceta é renegar toda e
correspondentes aos períodos históricos nos quais estão imersos. Nas civilizações antigas, a
escravidão era tida como punição; no feudalismo, havia os castigos corporais; na economia
comercial, as manufaturas penais. Foucault não deixa dúvida de que seu ponto de partida
influência decisiva na conformação de seu pensamento. Nada ilustra melhor essa afirmação
economia política do corpo para criar docilidade e extrair utilidade das forças corporais".
Foucault não pretende explicar o fenômeno punitivo pela armadura jurídica da sociedade,
eventos sociais convergem para uma explicação de relações de classe com fundamentos
econômicos. Foucault usa e abusa da monocausalidade marxista ao tempo que diz fazer o
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A crítica metodológica persiste em relação à defesa da idéia de que o micro explica o macro.
O autor aborda a questão da disciplina com esse viés e a extrapola para um a realidade mais
quais infere terem sido erguidas para a vigilância permanente, nada mais são do que o
uma certa utopia política”. Utopia de dominação capitalista, de matriz judaico-cristã. Aqui
temos mais uma inconsistência lógica, dessa vez operada via falsificação dos fatos.
Foram os defensores da alternativa ideológica por ele escolhida que levaram às ultimas
notícia, não o contrário. O “[o]lho perfeito a que nada escapa” não é propriamente uma
imortalizou, em obra intitulada 1984, o patrulhamento dos regimes comunistas com a figura
do Grande Irmão, uma paródia que remete aos expurgos stalinistas da ex-União Soviética.
A ironia é que o projeto alternativo com o qual o autor se identifica, levou o problema às
história da humanidade. Basta lembrarmos dos Gulags e das inúmeras outras atrocidades
ações do homem. Sem correr o risco de apontar qualquer correlação direta entre
autor que acrescenta que os crimes, com o advento das práticas capitalistas, passaram a
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crimes contra o patrimônio, menos cruéis que os de outrora, caracterizados como crimes
irracionais e inumanos.
pelo autor. Contudo, em termos metodológicos, Foucault opera uma fraude histórica,
refutada.