O Reordenamento Urbano
O Reordenamento Urbano
O Reordenamento Urbano
Calcula-se terem morrido dez a quinze mil pessoas nesse dia em Lisboa. O terramoto também
se fez sentir em outras zonas do país, em Espanha e no Norte de África, mas para agentes do
tempo Lisboa fora o único palco da tragédia, e assim ficou conhecida pelos correios
diplomáticos e comercias que levaram a notícia para as cortes europeias, fazendo com que
estas prestassem ajudas materiais.
El rei e a família que estavam numa casa de campo em Belém quando se deu o terramoto.
Saíram logo para o campo onde viveram alguns meses em barracas de campanha. Ali
compareceram em breve os ministros e as pessoas da Corte. D. José, aflito e aterrado não
sabia o que fazer, já naquele tempo havia pronunciada má vontade contra Sebastião José de
Carvalho, porém D. José estimava-o cada vez mais. Assim Pombal sobe impor-se aos
acontecimentos, sendo que desta hecatombe nasceu o poder do Marquês de Pombal. Lisboa
era um acampamento e tudo havia a refazer, tudo se podia executar, nesse momento único da
destruição total do passado, o terramoto era o fim de um Mundo. Nos primeiros dez dias de
novembro, o Marquês de Pombal preveniu as consequências da desgraça funesta. Denunciava-
se uma fome temerosa, já se comiam os cães, os gatos, os ratos e pássaros vivos; já se
devoravam as raízes, as ervas e as cascas das árvores, não havia alimentos nem casas. Umas
das mais urgentes necessidades era sepultar os mortos tão numerosos. Abriram-se valas muito
fundas para nelas se lançar os cadáveres. Como havia falta de gente obrigaram muitos dos que
tinham fugido da cidade a regressarem a ela para auxiliarem estes e outros serviços.
Lisboa foi reconstruída segundo um plano regular estabelecido com toda a ponderação. As
ruas tornaram-se mais largas e desafrontadas e os alinhamentos mais perfeitos em vez da
confusão de ruas, ruelas e becos que anteriormente constituíam o centro da cidade. A
construção dos prédios fez-se com uma fachada de 4 andares sendo proibidos todos os
projetos particulares de forma a preservar a unidade do conjunto, bem como qualquer
elemento exterior que sugerisse a condição social dos proprietários, tudo se processou a partir
de dois centros internos, o Rossio e a Praça da Figueira, por meio de três grandes artérias que
vinham confluir no Terreiro do Paço ( Praça do Comércio ). O centro vivo de Lisboa passava a
ser o Terreiro do Paço expressão da cidade burguesa voltada para o Tejo, porta condigna da
grande capital. Os melhoramentos que recebeu a capital, com os novos arruamentos e
construções, tornaram-na uma das mais belas cidades do mundo.
Dominados pelo sentido prático das Luzes e pelas novas ideias de felicidade humana e de
harmonia com a Natureza, os projetistas adotaram soluções originais para a distribuição de
água ( ás habitações ) e para a drenagem dos esgotos, concebendo, até, um engenhoso
sistema de construção antissísmica. Este conhecido por “gaiola”, era constituído por uma
armação de estacas de madeira que, penetrando até aos alicerces, evitava a derrocada dos
vários andares, em caso de ruína das paredes.
Embora nada possa compensar, como pretendeu Pombal, o imenso património que o
terramoto destruiu, a Lisboa que se ergueu dos escombros constitui um do mais notáveis
conjuntos urbanísticos da Europa e, talvez, o maior legado que os 27 anos de governação
pombalina transmitiram ás gerações vindouras.