Doenças Milho PDF
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Nos últimos anos, notadamente a partir do final de década de 90, as doenças têm se tornado uma grande preocupação
por parte de tédcnicos e produtores envolvidos no agronegócio do milho. Relatos de perdas na produtividade devido
ao ataque de patógenos têm sido frequentes nas principais regiões produtoras do país. Nesse contexto, vale destacar a
severa epidemia de cercosporiose ocorrida na região Sudoeste do estado de Goiás no ano de 2000, na qual foram
registradas perdas superiores a 80% na produtividade.
É importante entendermos que a evolução das doenças do milho está estreitamente relacionada à evolução do sistema
de produção desta cultura do Brasil. Modificações ocorridas no sistema de produção, que resultaram no aumento da
produtividade da cultura, foram, também, responsáveis pelo aumento da incidência e da severidade das doenças. Desse
modo, a expansão da fronteira agrícola, a ampliação das épocas de plantio (safra e safrinha), a adoção do sistema de
plantio direto, o aumento do uso de sistemas de irrigação, a ausência de rotação de cultura e o uso de materiais
suscetíveis têm promovido modificações importantes na dinâmica populacional dos patógenos, resultando no
surgimento, a cada safra, de novos problemas para a cultura relacionados à ocorrência de doenças.
Dentre as doenças que atacam a cultura do milho no Brasil, merecem destaque a mancha branca, a cercosporiose, a
ferrugem polissora, a ferrugem tropical, os enfezamentos vermelho e pálido, as podridões de colmo e os grãos ardidos.
Além destas, nos últimos anos algumas doenças (como a antracnose foliar e a mancha foliar de Diplodia),
consideradas de menor importância, têm ocorrido com elevada severidade em algumas regiões produtoras. A
importância destas doenças é variável de ano para ano e de região para região, em função das condições climáticas, do
nível de suscetibilidade das cultivares plantadas e do sistema de plantio utilizado. No entanto, algumas das doenças
são de ocorrência mais generalizada nas principais regiões de plantio, como é o caso da mancha branca. As principais
medidas recomendadas para o manejo de doenças na cultura do milho são:
1) utilizar cultivares resistentes;
2) realizar o plantio em época adequada, de modo a evitar que os períodos críticos para a cultura coincidam com
condições ambientais mais favoráveis ao desenvolvimento da doença;
3) utilizar sementes de boa qualidade e tratadas com fungicidas;
4) utilizar rotação com culturas não suscetíveis;
5) rotação de cultivares;
6) manejo adequado da lavoura – adubação equilibrada (N e K), população de plantas adequada, controle de
pragas e de invasoras e colheita na época correta.
Essas medidas, além de trazerem um benefício imediato ao produtor por reduzir o potencial de inóculo dos patógenos
presentes na lavoura, contribuem para uma maior durabilidade e estabilidade da resistência genética presentes nas
cultivares comerciais por reduzirem a população de agentes patogênicos. A mais atrativa estratégia de manejo de
doenças é a utilização de cultivares geneticamente resistentes, uma vez que o seu uso não exige nenhum custo
adicional ao produtor, não causa nenhum tipo de impacto negativo ao meio ambiente, é perfeitamente compatível com
outras alternativas de controle e é, muitas vezes, suficiente para o controle da doença. Para fins didáticos, as doenças
do milho aqui abordadas serão agrupadas de acordo com o órgão da planta infectado, formando os seguintes grupos:
doenças foliares; podridões de colmo e das raízes; podridões de espigas e de grãos; e doenças sistêmicas.
Doenças Foliares
Podridões do Colmo e das Raízes
Doenças sistêmicas
Viroses
Doenças causadas por nematóides
Recomendações para o controle químico de doenças na cultura do milho
Doenças foliares
Epidemiologia: A disseminação ocorre através de esporos e de restos de cultura levados pelo vento e por respingos de
chuva. Os restos de cultura são, portanto, fonte de inóculo local e, também, para outras áreas de plantio. A ocorrência
de temperaturas entre 25 e 30oC e de umidade relativa do ar superior a 90% são consideradas condições ótimas para o
desenvolvimento da doença.
Manejo da Doença: A principal medida de manejo da cercosporiose é a utilização de cultivares resistentes. Além
disso, recomenda-se: evitar a permanência de restos da cultura de milho em áreas em que a doença ocorreu com alta
severidade para reduzir o inóculo do patógeno na área; realizar a rotação com culturas não hospedeiras como a soja, o
sorgo, o girassol, o algodão e outras, uma vez que o milho é o único hospedeiro de C. zeae-maydis; para evitar o
aumento do potencial de inóculo de C. zeae-maydis, deve-se evitar o plantio seguido de milho na mesma área; plantar
cultivares diferentes em uma mesma área e em cada época de plantio; realizar adubações de acordo com as
recomendações técnicas para evitar desequilíbrios nutricionais nas plantas, favoráveis ao desenvolvimento desse
patógeno, principalmente a relação nitrogênio/potássio. Para que essas medidas sejam eficientes, recomenda-se
a sua aplicação regional (em macrorregiões) para evitar que a doença volte a se manifestar a partir de inóculo trazido
pelo vento de lavouras vizinhas infectadas. Em áreas com plantio de cultivares suscetíveis e sob condições ambientais
favoráveis para a ocorrência da doença, o controle químico deve ser avaliado como uma opção para o manejo da
doença.
Epidemiologia: A ocorrência da doença é dependente da altitude, ocorrendo com maior intensidade em altitudes
abaixo de 700m, onde predominam temperatura mais elevadas (25 a 35oC). A ocorrência de períodos prolongados de
elevada umidade relativa do ar também é um fator importante para o desenvolvimento da doença.
Manejo da Doença: As principais medidas recomendadas para o manejo da ferrugem polissora compreendem o uso
de cultivares resistentes, a escolha da época e do local de plantio, a aplicação de fungicidas em situações de elevada
pressão de doença e o uso de cultivares suscetíveis.
Epidemiologia: A ocorrência de prolongados períodos de temperaturas baixas (16 a 23°C), alta umidade relativa do ar
(>90%) e chuvas frequentes favorecem o desenvolvimento da doença. Tais condições são encontradas, mais
frequentemente, em locais de altitude elevada (>800m). Os teliósporos produzidos pelo patógeno germinam e
produzem basidiósporos, os quais infectam plantas do gênero oxalis spp. (trevo), em que o patógeno desenvolve o
estágio aecial (fase reprodutiva). Desse modo, a presença de plantas de trevo na área contribui para a sobrevivência e
para a disseminação do patógeno.
Manejo da Doença: O uso de cultivares resistentes é a principal forma de manejo da ferrugem comum. A escolha da
época e de locais de plantio menos favoráveis ao desenvolvimento da doença e a eliminação de hospedeiros
alternativos também contribuem para a redução da severidade da doença. A aplicação de fungicidas é recomendada
em situações de elevada pressão de doença e uso de cultivares suscetíveis, quando a doença surge nos estádios iniciais
de desenvolvimento da cultura.
Figura 9. Sintomas da mancha foliar de Diplodia (Diplodia macrospora) em folha de milho. Seta indicando
ponto de Infecção.
Figura 10. Lesão estreita e alongada de Diplodia macrospora. Seta indicando ponto de Infecção.
Epidemiologia: A disseminação ocorre através dos esporos e dos restos de cultura levados pelo vento e por respingos
de chuva. Os restos de cultura são fonte de inóculo local e também contribuem para a disseminação da doença para
outras áreas de plantio. A ocorrência de temperaturas entre 25 e 30oC e de elevada umidade relativa do ar favorecem o
desenvolvimento da doença.
Manejo da doença: O manejo da doença pode ser feito através do uso de cultivares resistentes e da rotação com
culturas não hospedeiras.
Figura 12. Sintomas da antracnose (Colletotrichum graminicola) na nervura e queima foliar em formato de “V”
invertido em plantas de milho.
Epidemiologia:A taxa de aumento da doença é uma função da quantidade inicial de inóculo presente nos restos de
cultura, o que indica a importância do plantio direto e do plantio em sucessão para o aumento do potencial de inóculo.
Outro fator a influir na quantidade da doença é a taxa de reprodução do patógeno, que vai depender das condições
ambientais a da própria raça do patógeno presente. Temperaturas elevas (28 a 30 oC), elevada umidade relativa do ar e
chuvas frequentes favorecem o desenvolvimento da doença.
Manejo da doença: As principais medidas recomendadas para o manejo da antracnose são o plantio de cultivares
resistentes, a rotação de cultura e evitar plantios sucessivos, as quais são essenciais para a redução do potencial de
inóculo do patógeno presente nos restos de cultura.
Podridão de Diplodia
Etiologia: Essa podridão pode ser causada por duas espécies de fungos do gênero Stenocarpella, Stenocarpella
maydis (= Diplodia maydis) e Stenocarpella macrospora (= Diplodia macrospora), os mesmos agentes causais da
podridão branca das espigas. A espécie S. macrospora pode, também, causar lesões foliares em milho conforme
descrito anteriormente. S. maydis difere de S. macrospora por apresentar conídios duas vezes menores e por não
causar lesões foliares.
Sintomas: Plantas infectadas por esses fungos apresentam, externamente, próximo aos entrenós inferiores, lesões
marrom claras, quase negras, nas quais é possível observar a presença de pequenos pontinhos negros (picnídios).
Internamente, o tecido da medula adquire coloração marrom, pode se desintegrar, permanecendo intactos somente os
vasos lenhosos sobre os quais é possível observar a presença de picnídios (Figura 15).
Foto: Nicésio F. F. A. Pinto.
Figura 15. Sintomas da podridão do colmo do milho causada por Stenocarpela spp. (=Diplodia spp.) .
Epidemiologia: As podridões do colmo causadas por Stenocarpella spp. são favorecidas por temperaturas entre 28 e
30oC e alta umidade, principalmente na forma de chuva. Esses patógenos sobrevivem nos restos de cultura na forma
de picnídios e nas sementes na forma de picnídios ou de micélio. Apresentam como único hospedeiro o milho, o que
torna a rotação de culturas uma medida eficiente para o manejo dessa doença. A disseminação dos conídios pode
ocorrer pela ação da chuva ou do vento.
Podridão de Fusarium
Etiologia: Essa doença é causada por várias espécies do gênero Fusarium spp., entre elas F. moniliforme e F.
graminearum, que também causam podridões de espigas.
Sintomas: Em plantas infectadas, o tecido dos entrenós inferiores geralmente adquire coloração avermelhada, que
progride de forma uniforme e contínua da base em direção à parte superior da planta (Figura 16). Embora a infecção
do colmo possa ocorrer antes da polinização, os sintomas só se tornam visíveis logo após a polinização e aumentam
em severidade à medida em que as plantas entram em senescência. A infecção pode começar pelas raízes e é
favorecida por ferimentos causados por nematóides ou pragas subterrâneas.
Podridão de Macrophomina
Etiologia: Essa doença é causada pelo fungo Macrophomina phaseolina, um patógeno capaz de causar podridões em
mais de 500 espécies de plantas, incluindo as podridões de colmo nas culturas do milho e do sorgo.
Sintomas: A infecção das plantas inicia pelas raízes. Embora essa infecção possa ocorrer nos primeiros estádios de
desenvolvimento da planta, os sintomas são visíveis nos entrenós inferiores após a polinização. Internamente, o tecido
da medula se desintegra, permanecendo intactos somente os vasos lenhosos (Figura 17) sobre os quais é possível
observar a presença de numerosos pontinhos negros (escleródios) que conferem, internamente ao colmo, uma cor
cinza típica.
Epidemiologia: A podridão por Macrophomina é favorecida por altas temperaturas (37°C) e por baixa umidade no
solo. A sobrevivência de M. phaseolina no solo, bem como sua disseminação, ocorre na forma de escleródios. Esse
fungo apresenta um grande número de hospedeiros, inclusive o sorgo e a soja, o que torna a rotação de culturas uma
medida de controle pouco eficiente.
Podridões bacterianas
Etiologia: Várias espécies de bactérias do gênero Pseudomonas spp. e Erwinia spp. causam podridões do colmo em
plantas de milho, sendo a mais comum a espécie Erwinia chrysanthemi pv. zeae. Assim como a podridão causada por
P. aphanidermatum, as podridões bacterianas não ocorrem com elevada frequência e são restritas a ambientes
caracterizados pelo excesso de umidade no solo.
Sintomas: As podridões causadas por bactérias são do tipo aquosas e especialmente aquelas causadas por Erwinia
chrysanthemi pv. zeae exalam um odor desagradável típico. Em geral, iniciam-se nos entrenós próximos ao solo e
rapidamente atingem os entrenós superiores. A infecção causada por E. chrysanthemi pv. zeae pode, também, iniciar
pela parte superior do colmo, causando a podridão do cartucho. Os sintomas típicos dessa doença são a murcha e a
seca das folhas decorrentes de uma podridão aquosa na base do cartucho. As folhas se desprendem facilmente e
exalam um odor desagradável (Figura 19). Nas bainhas das outras folhas, pode-se observar a presença de lesões
encharcadas (anasarcas). Podem ocorrer o apodrecimento dos entrenós inferiores ao cartucho e a murcha do restante
da planta. Ferimentos no cartucho causados por insetos podem favorecer a incidência dessa podridão.
Epidemiologia:Essas podridões são favorecidas por altas temperaturas associadas a altos teores de umidade.
Podridão de raizes
Etiologia: As podridões de raízes podem ser causadas por um complexo de patógenos envolvendo várias espécies de
fungus dos gêneros Fusarium spp., Pythium spp. e Rhizoctonia spp. Além disso, bactérias, nematóides e insetos que se
alimentam das raízes podem estar associados às podridões radiculares.
Sintomas: Os sintomas típicos das podridões radiculares incluem o aparecimento de lesões de coloração escuras e,
consequentemente, de raízes apodrecidas (Figura 20). Os sintomas na parte aérea são enfezamento, cloroses, murcha e
redução da produtividade devido à menor absorção de água e nutrientes (Figura 21). Em alguns casos, podem evoluir
e atingir os tecidos do colmo.
Figura 21. Podridão de raízes e colmo (A) e sintomas na parte aérea da planta (B).
Manejo das podridões de colmo e de raízes
Não existe uma medida única recomendada para o controle das podridões de colmo e de raízes em milho. Para se obter
sucesso no manejo dessas doenças, um conjunto de medidas devem ser executadas de forma integrada. A primeira e,
talvez, a mais importante é a escolha correta da cultivar. Nesse caso, deve ser dada preferência para híbridos que
apresentem, além de alta produtividade, satisfatória resistência no colmo. Resultados obtidos pela Embrapa Milho e
Sorgo demonstram a existência de variabilidade quanto à resistência à podridão de colmo e raízes em genótipos de
milho. Outros critérios, como adubação equilibrada, principalmente quanto à relação N/K, manejo de irrigação,
controle de pragas, de plantas daninhas e de doenças, densidade de plantas, época de plantio e colheita, são de
fundamental importância e devem ser considerados num programa de manejo dessas podridões na cultura do milho.
A ocorrência de podridão de colmo não necessariamente resulta em tombamento de plantas no campo. Entretanto,
alguns pontos devem ser considerados. A realização da colheita no momento adequado é um dos principais fatores que
devem ser observados em campos de produção apresentando sintomas da doença. Para isso, o monitoramento da
lavoura passa a ser de fundamental importância. O exame de campo consiste em avaliar, além dos sintomas na casca, a
firmeza do colmo. Nesse caso, a avaliação é feita pressionando-se, com os dedos, o primeiro e/ou o segundo entrenó
do colmo acima do solo. Colmos sadios são firmes e a casca oferece forte resistência à pressão dos dedos. Em colmos
apodrecidos, a casca cede facilmente quando pressionada devido à desintegração dos tecidos vasculares.
Alguns híbridos apresentam a casca bastante resistente, o que impede o tombamento da planta, mesmo quando os
tecidos internos apresentam-se apodrecidos. No entanto, a resistência da casca pode não ser suficiente para evitar o
tombamento se a colheita for retardada e as plantas forem expostas a condições adversas como ventos e chuvas fortes.
Recomenda-se que campos apresentando entre 15 e 20% de podridão de colmo, de acordo com as avaliações descritas
acima, sejam colhidos o mais breve possível para evitar perdas devido ao acamamento de plantas.
Recentemente, grande ênfase tem sido dada ao uso de fungicidas na cultura do milho para o manejo de doenças. No
entanto, existe pouca informação sobre a eficiência desses produtos sobre os patógenos causadores de podridão no
colmo. Resultados recentes da Embrapa Milho e Sorgo sugerem um efeito indireto da aplicação de fungicidas no
controle dos patógenos causadores de podridões. Desse modo, o uso de fungicidas, por promover uma melhor
sanidade foliar e preservar a capacidade fotossintética das plantas, resulta, indiretamente, numa menor necessidade de
translocação de nutrientes do colmo para a espiga, impedindo ou reduzindo sua senescência precoce.
Os grãos de milho podem ser danificados por fungos em duas condições específicas, isto é, em pré-colheita (podridões
de espigas com a formação de grãos ardidos) e em pós-colheita dos grãos durante o beneficiamento, o armazenamento
e o transporte (grãos mofados ou embolorados). No processo de colonização dos grãos, muitas espécies de fungos,
denominados toxigênicos, podem, além dos danos físicos (descolorações dos grãos, reduções nos conteúdos de
carboidratos, de proteínas e de açúcares totais), produzir substâncias tóxicas denominadas micotoxinas. É importante
ressaltar que a presença do fungo toxigênico não implica, necessariamente, na produção de micotoxinas, as quais estão
intimamente relacionadas à capacidade de biossíntese do fungo e das condições ambientais predisponentes, como a
alternância das temperaturas diurna e noturna.
Podridão de Fusarium
Essa podridão é causada por duas espécies de fungos, Fusarium moniliforme e Fusarium subglutinans. Esses
patógenos apresentam elevado número de plantas hospedeiras, sendo, por isso, considerados parasitas não
especializados. A infecção pode iniciar pelo topo ou por qualquer outra parte da espiga, mas sempre associada a
alguma injúria (insetos, pássaros). Os grãos infectados apresentam, normalmente, uma alteração de cor que varia do
róseo ao marrom escuro e, em algumas situações, também apresentam estrias de coloração branca no pericarpo. Com
o desenvolvimento do patógeno, observa-se, sobre os grãos, um crescimento cotonoso de coloração clara a
avermelhada, correspondente ao micélio do fungo (Figura 23). Quando a infecção ocorre através do pedúnculo da
espiga, todos os grãos podem ser infectados, mas a infecção só desenvolverá naqueles que apresentarem alguma
injúria no pericarpo. O desenvolvimento dos patógenos nas espigas é paralisado quando o teor de umidade dos grãos
atinge 18 a 19% em base úmida. Embora esses fungos sejam frequentemente isolados das sementes, estas não são a
principal fonte de inóculo. Como estes fungos possuem a fase saprofítica ativa, sobrevivem e se multiplicam na
matéria orgânica, no solo, sendo esta a fonte principal de inóculo.
Foto: Nicésio F.J.A. Pinto.
Figura 23. Sintomas da podridão da espiga por Fusarium (Fusarium moniliforme).
Podridão de Giberela
Esta podridão de espiga, causada pelo fungo Gibberella zeae (forma imperfeita Fusarium graminearum), é mais
comum em regiões de clima ameno e de alta umidade relativa. A ocorrência de chuvas após a polinização propicia a
ocorrência desta podridão de espiga, que começa com uma massa cotonosa avermelhada na ponta da espiga e pode
progredir para a base (Figura 24). É comum as palhas estarem firmemente ligadas às espigas devido ao excessivo
crescimento micelial do fungo entre as brácteas e os grãos. Ocasionalmente, esta podridão pode iniciar na base e
progredir para a ponta da espiga, confundindo o sintoma com aquele causado por F. moniliforme ou F. subglutinans.
Chuvas frequentes no final do desenvolvimento da cultura, principalmente em lavoura com cultivar cujas espigas não
dobram, aumentam a incidência desta podridão. Este fungo sobrevive nas sementes na forma de micélio dormente.
Grãos ardidos
O termo grãos ardidos refere-se aos grãos produzidos em espigas que sofreram um processo de podridão. São
considerados ardidos os grãos que apresentam, pelo menos, um quarto de sua superfície com descolorações variando
de marrom claro, marrom escuro, roxo, vermelho claro a vermelho escuro (Figura 25). Os principais patógenos
causadores de grãos ardidos são Stenocarpela maydis (=Diplodia maydis), Stenocarpela macrospora (=Diplodia
macrospora), Fusarium moniliforme, F. subglutinans e Gibberella zeae. Ocasionalmente, no campo, há produção de
grãos ardidos pelos fungos do gênero Penicillium spp. e Aspergillus spp. Os fungos G. zeae e S. maydis são mais
frequentes nos estados do Sul do Brasil e F. moniliforme, F. subglutinans e Diplodia macrospora nas demais regiões
produtoras de milho. Como padrão de qualidade, tem-se adotado, em algumas agroindústrias, a tolerância máxima de
6% de grãos ardidos em lotes comerciais de milho.
Figura 25. Comparação de amostras de grãos de milho ardidos (A) e sadios (B).
Micotoxinas
Micotoxinas são metabólitos secundários tóxicos produzidos por fungos, tanto na fase de pré-colheita (ainda no
campo), quanto na fase de armazenamento dos grãos. As principais micotoxinas encontradas nos grãos de milho são
aflotoxinas (Aspergillus flavus e A. parasiticus), fumonizinas (Fusarium moniliforme), zearalenona (Fusarium
graminearum), ocratoxina A (Aspergillus spp. e Penicillium spp.) e desoxinivalenol (F. graminearum). É importante
ressaltar que a presença dos fungos toxigênicos não implica, necessariamente, na existência de micotoxinas nos grãos.
A produção de micotoxinas depende, além da capacidade de biossíntese dos fungos, das condições de ambiente, como
a alternância de temperaturas diurna e noturna. Os fungos do gênero Fusarium spp. têm uma faixa de temperatura
ótima para o seu desenvolvimento situada entre 20 e 25oC.
Contudo, suas toxinas são produzidas em condições de baixas temperaturas, o que indica que esses fungos produzem
as toxinas quando submetidos a choque térmico, principalmente com alternância das temperaturas diurna e a noturna.
Para a produção de zearalenona, a temperatura ótima está em torno de 10-12°C.
As doenças causadas pela ingestão de alimentos (grãos, rações, carnes etc.) contaminados com micotoxinas são
denominadas micotoxicoses. As micotoxicoses podem causar, tanto em animais quanto no homem, danos como
redução no crescimento, interferência no funcionamento de órgãos vitais do organismo, produção de tumores
malignos etc.. Dentre as micotoxinas, as aflotoxinas são as que possuem maior potencial de danos à saúde humana
devido à sua elevada toxicidade e à ampla ocorrência, além de serem consideradas como de elevado potencial
carcinogênico. Outro grupo de micotoxinas que merece destaque é o das fumonisinas, que têm sido relacionadas à
ocorrência de câncer de esôfago em humanos.
Doenças sistêmicas
Enfezamentos
Importância e distribuição O s enfezamentos do milho (doenças sistêmicas associadas a infecções dos tecidos do
floema das plantas) são considerados doenças importantes para essa cultura no Brasil pelas perdas elevadas na
produtividade e por sua ampla ocorrência nas principais regiões produtoras de milho. Os plantios tardios e de
safrinha (iniciados a partir de meados de janeiro) contribuem para o aumento da incidência e das perdas causadas
pelos enfezamentos devido ao aumento da população do inseto vetor nesta época. Esse fato pode ser agravado em
sistemas de plantios sucessivos de milho.
Etiologia
Os enfezamentos são causados por patógenos pertencentes à classe dosMollicutes, cuja transmissão é realizada de
forma persistente e propagativa pela cigarrinha Dalbulus maidis. O enfezamento pálido é causado por um
procarionte pertencente à espécie Spiroplasma kunkelli. O enfezamento vermelho é causado por procarionte
pertencente ao gênero Phytoplasma, denominado pelo nome comum fitoplasma.
Sintomatologia
Enfezamento vermelho:
Os sintomas típicos dessa doença são o avermelhamento das folhas, a proliferação de espigas, produção de espigas
pequenas, perfilhamento na base da planta e nas axilas foliares, encurtamento dos entrenós, incompleto enchimento de
grãos e seca precoce das plantas (Figura 26 e 27).
Enfezamento pálido:
Os sintomas característicos são estrias esbranquiçadas irregulares na base das folhas, que se estendem em direção ao
ápice. Em alguns casos, observa-se um amarelecimento das plantas e o surgimento de áreas avermelhadas nas folhas
apicais. Normalmente, as plantas são raquíticas devido ao encurtamento dos entrenós, podendo haver uma proliferação
de espigas pequenas e sem grãos (Figuras 28 e 29). Quando há produção de grãos, eles são pequenos, manchados e
frouxos na espiga. As plantas podem secar precocemente.
Em ambos os casos, os sintomas são mais evidentes na fase de enchimento dos grãos. A identificação precisa dos
enfezamentos com base apenas nos sintomas, no campo, nem sempre é uma tarefa fácil, tornando-se necessário o
uso de exames laboratoriais para a correta diagnose.
Epidemiologia:
Os Molicutes, Spiroplasma kunkelli e Phytoplasma ocorrem somente em células do floema de plantas doentes de
milho e são transmitidos de forma persistente e propagativa pela cigarrinha Dalbulus maidis, que, ao se alimentar em
plantas doentes, adquire os molicutes e os transmitem para as plantas sadias. O período latente entre a aquisição dos
patógenos e a sua transmissão pela cigarrinha varia de três a quatro semanas. A incidência e a severidade dessas
doenças são influenciadas pelo grau de suscetibilidade da cultivar, pela época de semeadura (semeaduras tardias
favorecem a doença), pela temperatura e umidade e pela população do inseto vetor. A ocorrência de temperatura e
umidade elevadas e a alta densidade populacional de cigarrinhas, coincidentes com fases iniciais de desenvolvimento
da lavoura de milho, favorecem o desenvolvimento da doença em elevada severidade. O milho é o único hospedeiro
conhecido da cigarrinha Dalbulus maidis.
Controle:
O controle mais eficiente dos enfezamentos consiste na utilização de cultivares resistentes. Outras práticas
recomendadas para o manejo dessas doenças são: evitar semeaduras sucessivas de milho; fazer o pousio por período
de dois a três meses sem a presença de plantas de milho; e alterar a época de semeadura, evitando-se a semeadura
tardia da cultura. O uso de inseticidas para o controle do inseto vetor não tem apresentado eficiência satisfatória na
redução da incidência dos enfezamentos.
Foto: Rodrigo Véras da Costa .
Figura 26. Sintomas do enfezamento vermelho em planta de milho.
Figura 30. Míldio em milho: sintomas típicos de deformação do pendão, aparecimento de folhas estreitas e eretas e
com presença de estrias esbranquiçadas.
Viroses
Importância e distribuição: A virose Rayado Fino, também denominada risca, pode reduzir a produção de grãos em
até 30% e ocorre nas principais regiões produtoras de milho. Essa doença é transmitida e disseminada pela cigarrinha
Dalbullus maidis.
Sintomas: Os sintomas característicos são riscas formadas por numerosos pontos cloróticos coalescentes ao longo das
nervuras, que são facilmente observados quando as folhas são colocadas contra a luz (Figura 31).
Epidemiologia:O vírus Rayado Fino ocorre sistemicamente na planta de milho e é transmitido de forma persistente
propagativa pela cigarrinha Dalbullus maidis que, ao se alimentar de plantas doentes, adquire o vírus e o transmite
para plantas sadias. O período latente entre a aquisição desse vírus e sua transmissão varia de 7 a 37 dias. A incidência
e a severidade dessa doença são influenciadas por grau de suscetibilidade da cultivar, por semeaduras tardias e por
população elevada de cigarrinha coincidente com fases iniciais de desenvolvimento da lavoura de milho. O milho é o
principal hospedeiro tanto do vírus como da cigarrinha.
Controle: O método mais eficiente e econômico para controlar o vírus Rayado Fino é a utilização de cultivares
resistentes. Práticas culturais recomendadas que reduzem a incidência dessa doença no milho são: eliminação de
plantas voluntárias de milho; fazer o pousio por um período de dois a três meses sem a presença de plantas de milho;
alterar a época de semeadura evitando as semeaduras tardias e sucessivas de milho. A aplicação de inseticidas para o
controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no controle dessa virose.
Foto: Carlos Roberto Casela.
Importância e distribuição: O mosaico comum do milho ocorre, praticamente, em toda região onde se cultiva o
milho. Calcula-se que essa doença pode causar uma redução na produção de 50%.
Sintomas: Os sintomas caracterizam-se pela formação nas folhas de manchas verde claras com áreas verde normal,
dando um aspecto de mosaico (Figura 32). As plantas doentes são, normalmente, menores em altura e em tamanho de
espigas e de grãos.
Epidemiologia: A transmissão do mosaico comum do milho é feita por várias espécies de
pulgões, sendo a mais eficiente a espécie Rhopalosiphum maidis. Os insetos vetores adquirem os vírus em poucos
segundos ou minutos e os transmitem, também, em poucos segundos ou minutos. A transmissão desses vírus pode ser
feita, também, mecanicamente. Mais de 250 espécies de gramíneas são hospedeiras dos vírus do mosaico comum do
milho.
Controle: A utilização de cultivares resistentes é o método mais eficiente para o manejo dessa virose. A eliminação de
plantas hospedeiras e a realização do plantio mais cedo podem contribuir para a redução da incidência dessa doença. A
aplicação de inseticidas para o controle dos vetores não tem sido um método muito efetivo no controle do mosaico
comum do milho.
Mais de 40 espécies de 12 gêneros de nematóides têm sido citadas como parasitas de raízes de milho em todas as áreas
do mundo onde este cereal é cultivado. No Brasil, as espécies mais importantes, devido à patogenicidade, à
distribuição e à alta densidade populacional, são Pratylenchus brachyurus, Pratylenchus zeae, Helicotylenchus
dihystera, Criconemella spp., Meloidogyne spp. e Xiphinema spp. Resultados de pesquisa demonstram que o
controle químico de nematóides na cultura do milho permitiu o aumento da produção de grãos em 39% em área
naturalmente infestada por Pratylenchus zeae e Helicotylenchus dihystera.
É necessário conhecer muito bem o Fator de Reprodução (FR) das espécies de nematóides que parasitam as cultivares
de milho. O FR expressa se a cultivar é excelente, boa, fraca ou não hospedeira do nematóide presente na área de
cultivo do milho em relação à população inicial presente no solo infestado por este nematóide. Isto é, o FR representa
a população do nematóide no estádio final da cultura em relação à população inicial do nematóide presente na ocasião
de semeadura. Consequentemente, a cultivar de milho a ser utilizada em plantios comerciais ou em rotação com a
cultura da soja deve apresentar
Na avaliação da reação de 107 genótipos de milho a Meloidogyne incógnita raças 1, 2, 3 e 4 e a M. arenaria raça 2,
incluindo populações de polinização aberta, linhagens, cruzamentos intervarietais e híbridos comerciais, os resultados
mostraram que todos os genótipos foram bons hospedeiros desses nematóides. O FR para Meloidogyne incognita raça
1 variou de 8,5 a 24,3 e para a raça 3 variou de 5,3 a 34,8; enquanto que, para M. arenaria raça 2, variou de 16,2 a
31,9. Estes resultados mostram a existência de variabilidade genética entre os genótipos avaliados. Em outro ensaio de
resistência a Meloidogyne incognita raça 3, empregando-se 29 cultivares de milho recomendadas para o estado de São
Paulo, todas as cultivares mostraram-se suscetíveis ao nematóide (FR > 1).
O milho tem sido amplamente recomendado para rotação em áreas infestadas com Meloidogyne javanica. No entanto,
mesmo não mostrando sintomas de galhas evidentes, algumas cultivares permitem uma acentuada multiplicação deste
nematóide. Em avaliação de 36 genótipos de milho em relação à patogenicidade de M. javanica, todos apresentaram o
FR < 1, indicando que estes genótipos diminuíram a população inicial deste nematóide no solo.
Contudo, recentemente, em 18 genótipos de milho avaliados, todos comportaram-se como bons hospedeiros de M.
javanica, com o FR variando de 2,2 a 6,9.
Controle: A utilização de cultivares resistentes é a medida mais eficiente e econômica para o controle dos nematóides
que parasitam a cultura do milho. A rotação de culturas com espécie botânica não hospedeira dos nematóides
presentes na área de cultivo também é recomendada. A utilização de plantas armadilha como Crotalaria spectabilis, as
quais atraem e aprisionam larvas de nematóides, é especificamente recomendada para o controle de Meloidogyne spp.
A espécie Crotalaria juncea possui alto potencial de multiplicação dos nematóides Pratylenchus spp. e
Helicotylenchus spp., enquanto a rotação com mucuna preta (Mucuna aterrima) diminui as populações iniciais de
Pratylenchus spp.. O controle químico dos nematóides parasitas do milho depende da disponibilidade de produtos
registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem como da análise econômica da utilização
desta tecnologia.
Os resultados de pesquisas realizadas pela Embrapa Milho e Sorgo e em outras instituições de pesquisa demonstram
que o uso de fungicidas tem se mostrado uma estratégia viável e eficiente de manejo de doenças na cultura do milho.
Entretanto, alguns fatores devem ser observados para que a relação custo/benefício seja positiva, ou seja, que o
benefício do controle das doenças com o uso de fungicidas seja superior ao custo da sua utilização.
Dentre esses fatores, o conhecimento das principais doenças que ocorrem tanto ao nível de região quanto de
propriedade, o nível de resistência das cultivares às principais doenças, as condições de clima durante o período do
ciclo da cultura, o sistema de produção (plantio direto, rotação de culturas etc.) e a disponibilidade de equipamentos
para pulverização estão entre os mais importantes. O uso de fungicidas na cultura do milho é recomendado nas
situações de elevada severidade de doenças, que são resultantes da combinação de todos, ou alguns, dos seguintes
fatores: uso de genótipos suscetíveis (Figura 33); condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das doenças;
plantio direto sem rotação de culturas; e plantio continuado de milho na área.
Figura 33. Curva de progresso da mancha branca do milho nas cultivares BRS 1035 (resistente) e DAS 657
(suscetível) submetidas à aplicação de três fungicidas, em uma e duas aplicações, em comparação à testemunha sem
aplicação.
Para o melhor entendimento do modo como os fungicidas atuam na produtividade da cultura do milho, é necessário
considerarmos os componentes de produtividade da cultura, que são cinco:
1) número de plantas por hectare;
2) número de espigas por planta;
3) número de fileiras por espiga;
4) número de grãos por fileira; e
5) peso de grãos.
O primeiro componente, número de plantas por hectare, talvez o mais importante deles, é definido na fase de
germinação e emergência das plântulas, no início do ciclo da cultura. Os componentes 2 e 3 (número de espigas por
planta e número de fileiras por espiga) são definidos entre as fases V5 e V8 (cinco a oito folhas) e o quarto
componente (número de grãos por fileira) é definido entre as fases V12 e VT (12 folhas até o pendoamento).
Finalmente, o último componente de produtividade do milho, peso de grãos, é definido de R1 a R6 (florescimento à
maturidade fisiológica).
Portanto, fica evidente que, quando a cultura atinge a fase do pendoamento,seu potencial produtivo já está definido,
pois os quatro componentes de produtividade que poderiam resultar em aumento do número de grãos já ocorreram. A
partir desse momento, ocorre apenas a realização do potencial produtivo através do enchimento dos grãos. As
aplicações de fungicidas na fase do pendoamento apenas interferem no último componente de produtividade e atuam
preservando o potencial produtivo da cultura através da proteção contra as perdas causadas pelas doenças. É correto
afirmar, então, que a aplicação de fungicidas não aumenta o potencial produtivo da cultura, mas evita perdas na
produtividade em função da proteção conferida durante o período de enchimento dos grãos.
Tem sido demonstrado que alguns fungicidas, notadamente aqueles pertencentes ao grupo das estrobilurinas,
apresentam efeitos que vão além do controle de doenças, denominados efeitos fisiológicos. Dentre esses efeitos,
estão maior resistência a vários tipos de estresses como seca e nutricional, aumento da capacidade fotossintética,
redução da respiração foliar e maio eficiência do uso de água. Os estudos sobre os efeitos fisiológicos de fungicidas
foram bem desenvolvidos na cultura da soja. Na cultura do milho, entretanto, esses efeitos não têm sido tão evidentes,
sendo detectada, em algumas situações, menor produtividade em áreas pulverizadas com fungicidas quando
comparadas a áreas não pulverizadas.
Desse modo, mais estudos são necessários para definir a existência e a magnitude dos efeitos fisiológicos de
fungicidas em plantas de milho. Por outro lado, considerando também a possibilidade de surgimento de populações de
patógenos resistentes às moléculas fungicidas, em função do seu uso intensivo, e os efeitos negativos desses produtos
no meio ambiente, é coerente enxergarmos os fungicidas como ferramenta importante, especificamente para o manejo
de doenças, e buscarmos elevar os níveis de produtividade da cultura através de melhorias e adequações em seu
sistema de produção.
No processo de tomada de decisão sobre a necessidade de aplicação de fungicidas na cultura do milho, o primeiro
fator a ser observado é o nível de resistência da cultivar em relação às principais doenças presentes na região e
na propriedade. De modo geral, não se recomenda a aplicação de fungicidas para cultivares resistentes (Figura 33). Os
maiores retornos econômicos resultantes do uso de fungicidas na cultura do milho ocorrem em situações de alto risco
de ocorrência de doenças em elevada severidade, situação caracterizada, principalmente, pelos seguintes componentes:
uso de genótipos suscetíveis; plantio contínuo de milho na área; e uso do sistema de plantio direto sem rotação de
culturas (Figura 34).
Figura 34. Caracterização de ambientes de maior e menor risco de ocorrência de doenças em elevada severidade e
probabilidade de retorno econômico da aplicação de fungicidas na cultura do milho.
Outro fator importante a ser considerado para a tomada de decisão, tanto sobre a necessidade de aplicação quanto da
escolha do produto a ser utilizado, é que as doenças normalmente ocorrem de modo simultâneo no campo, o que pode
influenciar a eficiência da aplicação. Por exemplo, os fungicidas do grupo químico dos triazóis apresentam uma baixa
eficiência no controle da mancha branca, uma doença de ampla ocorrência nas principais regiões produtoras do país.
Desse modo, para garantir uma maior eficiência das aplicações, é fundamental a realização do monitoramento da
lavoura na fase de pré-pendoamento, antes da aplicação do fungicida.
Considerando que as folhas acima da espiga contribuem, em média, com mais de 90% da produção das plantas de
milho e que as doenças foliares, na sua maioria, aparecem inicialmente nas folhas baixeiras e progridem em direção
às folhas superiores, a folha abaixo da folha da espiga representa uma boa referência para a realização de inspeções de
campo. A presença de sintomas de doenças nessa folha, em cultivares suscetíveis, associados a condições climáticas
favoráveis ao desenvolvimento das doenças, representam um indicação da necessidade de se intervir com a aplicação
de fungicidas (Figura 35). Condições de ambiente caracterizadas por temperaturas elevadas e baixa umidade relativa
do ar desfavorecem a maioria das doenças fungicidas que atacam a cultura do milho. No entanto, temperaturas
moderadas e ambientes úmidos (elevada umidade relativa do ar, chuvas frequentes, irrigação e orvalho) favorecem
essas enfermidades.
Figura 35. Presença de doença na folha abaixo da folha da espiga como critério para auxiliar no processo de tomada
de decisão sobre a aplicação de fungicidas na cultura do milho. Outros critérios, como condições climáticas e
suscetibilidade da cultivar, devem ser considerados de modo conjunto.
Atualmente, todos os produtos comerciais registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o
manejo de doenças do milho pertencem aos grupos químicos dos triazóis e das estrobilurinas, formulados puros ou em
misturas (Tabela 1). As características desses produtos também devem ser consideradas, quando da sua utilização,
visando a uma maior eficiência no controle das doenças. As estrobilurinas atuam a nível de respiração mitocondrial,
sendo mais efetivas nas fases iniciais do ciclo de vida dos fungos, ou seja, na germinação dos esporos e nos processos
inicias de infecção. Os fungicidas triazóis, que atuam a nível da biossíntese de ergosterol, um componente da
membrana celular dos fungos, podem promover o controle de patógenos fúngicos em fases mais avançadas do seu
ciclo, como a colonização (crescimento micelial) e a pré-esporulação.
Portanto, as aplicações de produtos pertencentes a esses grupos químicos apresentam maior eficiência quando são
realizadas nos sintomas iniciais das doenças no campo. Normalmente, as aplicações realizadas em situações de
elevada intensidade de doenças são menos efetivas.
Tabela 1. Grupos químicos e ingredientes ativos de fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária a
Abastecimento para o controle de doenças na cultura do milho.
Fonte: Ministério da Agricultura.
Quanto à decisão sobre a melhor época de aplicação de fungicidas para o controle de doenças na cultura do milho,
dois pontos devem ser considerados:
1) a fase do ciclo da cultura na qual as plantas são mais sensíveis ao ataque de patógenos;
2) o período de ocorrência das principais doenças. Conforme já mencionado anteriormente, na fase compreendida
entre o pendoamento (VT) e grãos leitosos (R3), as plantas de milho necessitam do máximo de sua capacidade
fotossintética, pois começa um intenso período de translocação de fotoassimilados para as espigas. Nessa fase,
qualquer fator que interfira negativamente reduzindo a área foliar e, consequentemente, a sua capacidade
fotossintética, resulta em reduções significativas na produtividade de grãos. Essa é a fase considerada crítica para a
cultura do milho e que deve ser considerada quando se pretende proteger as plantas via aplicação de fungicidas. Se
considerarmos que o período residual máximo dos fungicidas dos grupos das estrobilurinas e triazóis está em torno de
15 a 20 dias e que a fase de enchimento de grãos no milho dura, em média, 60 dias, deve-se ter cuidado com as
aplicações realizadas muito cedo, ainda na fase vegetativa da cultura (como exemplo, no estágio de oito folhas, como
é feito nas aplicações com pulverizadores de arrasto), pois quando as plantas realmente necessitarem da proteção
química os produtos não estarão mais efetivos (Figura 36).
Figura 36. Período residual dos fungicidas em relação ao período de enchimento dos grãos na cultura do milho.
Por outro lado, é necessário considerar, também, o momento do aparecimento das doenças na lavoura. Algumas
doenças, como as ferrugens e, em algumas situações, a mancha branca, podem incidir ainda na fase vegetativa da
cultura e, numa situação de uso de cultivares suscetíveis e de predominância de condições ambientais favoráveis, o
controle químico deve ser considerado de modo a evitar que elevados níveis de doenças alcancem as folhas acima da
espiga na fase de florescimento da cultura. Fica, portanto, evidente que a época ideal para a realização das aplicações
de fungicidas na cultura do milho depende de um monitoramento da lavoura, que deve ser iniciado ainda na fase
vegetativa da cultura. Todos os aspectos acima mencionados devem ser considerados para a tomada de decisão.
A disponibilidade de equipamentos para pulverização é outro fator que influencia a eficiência do manejo de doenças
na cultura do milho através de fungicidas. De modo geral, os equipamentos utilizados são os pulverizadores de arrasto,
principalmente em pequenas propriedades, e autopropelidos e aeronaves, em grandes propriedades. No caso dos
pulverizadores de arrasto, as pulverizações podem ser realizadas em plantas com até 100cm de altura,
aproximadamente, ou seja, por volta do estágio de 8 a 9 folhas definitivas (V8 a V9). Nesse caso, deve-se dar
preferência para o plantio de cultivares que apresentem bom nível de resistência às principais doenças, pois, em
situações de condições favoráveis ao desenvolvimento das doenças e uso de cultivares suscetíveis, a aplicação de
fungicidas muito cedo (V8 a V9) provavelmente será insuficiente para o controle adequado das doenças, com
consequentes perdas na produtividade. Os equipamentos autopropelidos, cuja altura de eixo é de aproximadamente
120cm, permitem a realização de aplicações em fases mais avançadas do ciclo (V10 a VT), quando comparados aos
pulverizadores de arrasto. As pulverizações realizadas com aviões, embora apresentem um custo mais elevado, não
apresentam as limitações mencionadas anteriormente. Os resultados de trabalhos de pesquisa têm mostrado que a
eficiência dessa modalidade de aplicação é equivalente àquela observada nos pulverizadores terrestres.
Atualmente, existem nove fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o
controle de doenças da parte aérea da cultura do milho. Todos esses produtos são pertencentes aos grupos químicos
dos triazóis e das estrubilurinas, formulados isoladamente ou em misturas (Tabela 2). Os fungicidas à base de triazóis
e estrobilurinas são eficientes para o controle de várias doenças na cultura do milho (Figura 37).
Tabela 2. Fungicidas registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento para o manejo de doenças
da parte aérea na cultura do milho.
Figura 37. Eficiência de fungicidas para o controle de doenças na cultura do milho (+ eficiente; - ineficiente).