O Horror Gótico No Conto Venha Ver o Pôr Do Sol de Lygia Fagundes Telles
O Horror Gótico No Conto Venha Ver o Pôr Do Sol de Lygia Fagundes Telles
O Horror Gótico No Conto Venha Ver o Pôr Do Sol de Lygia Fagundes Telles
O horror gótico no conto “Venha ver o pôr do sol” de Lygia Fagundes Telles.
"A vida não é divertida sem um bom susto."
—O Estranho Mundo de Jack
Após da sua ascensão e popularização no século XVIII com a publicação da novela de Horace
Walpole, O Castelo de Otranto, em 1764, o horror gótico foi um dos primeiros gêneros em
que as mulheres autores foram realmente abraçadas à medida que as audiências receberam e
poderosa mas condenada que quase sempre acaba na morte, temas como a obsessão e a
assombrados, em fim, uma deliciosa mistura de elementos que com suas diferentes pinceladas
induzem e criam uma imagem de horror. Não é surpreendente que o gênero tenha sobrevivido
e ainda hoje continue a ser reconhecido como um dos mais populares, e que a sua influência
tenha atingido inúmeros autores de diferentes países. “A emoção mais antiga e mais forte da
(LOVECRAFT, 8) é o que diz o escritor de horror H. P. Lovecraft no seu famoso ensaio sobre
a literatura gótica, O Terror sobrenatural na literatura, mesmo que o medo não seja atraente
para todos por não ser uma emoção puramente positiva, ninguém pode negar o poder exercido
encontrei uma curiosa história da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, o conto “Venha
ver o pôr do sol”, este chamou a minha atenção porque, de certa forma, me lembrava ao tipo
de história de horror gótico que eu amo. O enredo em si é bastante simples, trata-se de uma
história de vingança por um amor não correspondido que leva à morte. Uns ex-namorados,
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Ricardo e Raquel, reencontram-se em um cemitério algum tempo após da sua rutura, lá
supostamente eles vão ver o pôr do sol. Depois de uma longa caminhada através do lugar
abandonado, em uma espécie de vingança por se ter separado dele, o Ricardo abandona a
Raquel dentro de um mausoléu para ela morrer. Apesar de sua simplicidade, Lygia Fagundes
suspense e desconforto, através de pequenos elementos e nos faz temer pelo infeliz final que
Embora a noite seja o momento predileto dos romances góticos, no título da história
temos um elemento importante de tempo que prefigura o terrível desfecho da nossa história: o
pôr do sol. Assim como o amanhecer é geralmente um simbolismo cronológico que denota o
início ou o nascimento, pode-se dizer que o pôr-do-sol simboliza o fim ou a morte. O sol
declina e a noite e a escuridão (com todos os seus terrores, entre eles o terror da morte) caem,
marcando o fim ou a morte de um dia. Não é por acaso que a autora escolha esse momento
exato para o desdobramento de sua narração, ela está a usar o pôr do sol como símbolo e
Para alcançar o maior efeito de medo, parte da eficácia da literatura gótica depende do
cenário ou espaço onde ocorre a ação, lugares como as casas assombradas, os castelos
sombrios, em fim, tudo aquilo que gera algum efeito psicológico sobre o leitor e ajuda a criar a
atmosfera sinistra para as personagens se desenvolverem. “Venha ver o pôr do sol” começa
com um cenário muito comum, a descrição de uma paisagem rural calma embora remota, diz
que “as casas iam rareando, modestas casas espalhadas sem simetria e ilhadas em terrenos
baldios. No meio da rua sem calçamento, coberta aqui e ali por um mato rasteiro, algumas
crianças brincavam de roda” (TELLES, 110), o toque de ter crianças a cantar uma cantiga
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infantil tão popular e a brincar no meio da ceia dá um senso de perfeita normalidade no início
do conto como uma maneira de capturar ao leitor, mas é apenas um véu frágil, já que a
muro arruinado [...] o portão de ferro, carcomido pela ferrugem" (110), tudo está morto lá
exceto por um mato rasteiro que cobre a maior parte do cemitério. Agora, o objetivo é criar
um cenário sombrio, misterioso e de inquietação, seja pelo medo de um lugar tão tétrico ou
por causa do abandono do lugar e da perceção mais aguda dos mortos quando se caminha
entre os túmulos. Este desconforto é muito notável na personagem da Raquel, quem expressa
seu desejo de deixar o cemitério, mais de uma vez, e não consegue acreditar, de uma forma
não agradável, a escolha estranha do Ricardo para se encontrarem lá. Finalmente, no clímax da
narrativa, ambos entram em uma escura capelinha, tão abandonada como o resto do cemitério
e na profundidade deste, muito longe de todo e de todos, isso aumenta a sensação de que algo
está errado ou que algo ruim vai acontecer quando descem as escadas para visitar as gavetas
Em quanto às personagens, não se fala muito sobre a Raquel, mas seguindo o padrão
para quase todas as primeiras novelas da literatura gótica, existem duas funções principais nos
papéis femininos: "predador" e "vítima". Embora Raquel não seja necessariamente de caráter
frágil ou vulnerável nem virginal, ela encaixa na categoria de vítima como também no papel
como a heroína da história já que ela possui um senso de aventura quando decide se encontrar
com seu ex-amante apesar dos perigos de ser descoberta por seu novo namorado, e quando
decide seguir ao Ricardo para o cemitério, isto segue, de certa forma, a convenção do desejo
de aventura feminina no que é conhecido como o horror gótico feminino. Foi a escritora
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inglesa Ann Radcliffe que "criou uma narrativa com uma protagonista feminina que é uma
heroína e uma vítima ao mesmo tempo, o que se tornaria uma das características típicas do
Foi a própria Ellen Moers que usou e cunhou o termo de Gótico feminino, para se
referir à ficção gótica escrita por mulheres “como uma expressão codificada dos medos das