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Topicos de Geometria Projetiva Castro RB Me Rcla

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Instituto de Geociências e Ciências Exatas


Campus de Rio Claro

Tópicos da Geometria Projetiva

Renata Brandão de Castro

Dissertação apresentada ao Programa de


Pós-Graduação – Mestrado Profissional em
Matemática Universitária do Departamento
de Matemática como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre

Orientadora
Profa. Dra. Elíris Cristina Rizziolli

2012
Brandão de Castro, Renata
Tópicos da Geometria Projetiva/ Renata Brandão de Castro- Rio
Claro: [s.n.], 2012.
94 f.:fig.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista, Insti-


tuto de Geociências e Ciências Exatas.
Orientadora: Elíris Cristina Rizziolli

1. Geometria. 2. Geometria Projetiva. 3. Perspectivas e Pro-


jeções.

Ficha Catalográfica elaborada pela STATI - Biblioteca da UNESP


Campus de Rio Claro/SP
TERMO DE APROVAÇÃO

Renata Brandão de Castro


Tópicos da Geometria Projetiva

Dissertação aprovada como requisito parcial para a obtenção do grau de


Mestre no Curso de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Matemática
Universitária do Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, pela seguinte banca examina-
dora:

Profa. Dra. Elíris Cristina Rizziolli


Orientadora

Prof. Grazielle Feliciani Barbosa


Departamento de Matemática - UFSCAR - São Carlos, SP.

Prof. Dr. Carina Alves


Departamento de Matemática - IGCE/UNESP - Rio Claro, SP.

Rio Claro, 09 de Outubro de 2012


Dedico este trabalho aos meus pais, João Guilherme e Ana Alice.
Agradecimentos

Primeiramente a Deus, pois sem Ele nada conseguiria.


Aos meus pais João Guilherme e Ana Alice que sempre me apoiaram e acreditaram
no meu trabalho.
Aos meus irmãos Murilo e Mateus, que me levaram e me buscaram tantas vezes em
Rio Claro.
Ao meu namorado Gustavo que sempre me deu força e teve paciência nas minhas
ausências.
Ao Geraldo, pai da Letícia, minha amiga e companheira de curso, que nos levava
toda sexta feira para Rio Claro sempre alegre e nos dando força.
Aos colegas de curso por estarem sempre ajudando uns aos outros.
A colega Evelize, quem me acolheu muitas vezes em sua casa com todo carinho e
atenção.
Aos professores desse programa, que estavam sempre prontos a nos ajudar e con-
versar sobre qualquer assunto.
Em especial à minha orientadora e amiga, Elíris, que esteve comigo o tempo todo,
me recebendo sempre alegre e entusiasmada com esse trabalho.
Resumo

Neste projeto tratamos da Geometria Projetiva advinda da generalização da Ge-


ometria Afim do Plano Euclidiano. Estabelecemos um Sistema Axiomático para a
Geometria Projetiva e provamos resultados de sustentabilidade para esta geometria,
sobretudo resultados sobre Perspectivas e Projeções. Também exploramos Cônicas
dentro deste contexto.
O principal livro usado como referência deste trabalho foi [1] de Judith Cederberg
e como textos auxiliares consultaremos [2] e [3].

Palavras-chave: Geometria, Geometria Projetiva, Perspectivas e Projeções.


Abstract

This project dealt with the Projective Geometry arising from the generalization of
the Affine Geometry of the Euclidean Plane. Established an Axiomatic System for
Projective Geometry and prove sustainability outcomes for this geometry, particularly
on results Prospects and Projections. We also explored conics within this context.

Keywords: Geometry, Projective Geometry, Perspectivities and Projectivities.


Lista de Figuras

1.1 Euclides. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.2 Retas paralelas que parecem se encontrar num ponto. . . . . . . . . . . 10
1.3 Filippo Bruneleschi. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.4 Flagelação de Cristo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.1 Triângulo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Triângulos perspectivos por um ponto e por uma reta. . . . . . . . . . . 14
2.3 Quadrângulo completo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4 Quadrilateral completo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.5 Feixe de retas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.6 Feixe de pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2.7 Perspectividade entre dois feixes de pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.8 Perspectividade entre dois feixes de reta. . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.9 Perspectividade entre um feixe de pontos e um feixe de retas. . . . . . . 17
2.10 Projetividade entre os feixes de pontos A, B, C e A”, B”, C” respectiva-
mente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.11 Plano xyz. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.12 Aplicação da F. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.13 Triângulos perspectivos por uma reta (P, Q e R são colineares). . . . . 22
2.14 Conjunto harmônico H(AB, CD) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
2.15 EF G e E  F  G perspectivos pela reta AB. . . . . . . . . . . . . . . 24
2.16 H(AB, CD) ⇔ H(CD, AB). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.17 Conjunto harmônico H(ab, cd). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.18 Projetividade entre os feixes de pontos A, B, C e A”, B”, C” respectiva-
mente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.19 Projetividade entre os feixes de retas a, b, c e a”, b”, c” respectivamente. 27
2.20 Projetividade entre um feixe de retas a, b, c e um feixe de pontos A”, B”, C”
respectivamente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.21 Composição de duas perspectividades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.22 Se H(AB, CD) e ABCD ∧ A B  C  D , então H(A B  , C  D ). . . . . . . 30
2.23 Eixo de homologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.24 Cônica de Pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.25 P e P  , pontos da cônica de pontos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.26 Hexágono. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
2.27 Pontos diagonais J, L e K ,do hexágono P BP  ACD, colineares. . . . . 36
2.28 Hexágono inscrito em um ponto cônico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.29 Os três pontos colineares de um ponto cônico. . . . . . . . . . . . . . . 38
2.30 Os quatro pontos colineares de um ponto cônico. . . . . . . . . . . . . . 39
2.31 Cônica de pontos usando o Teorema de Pascal. . . . . . . . . . . . . . . 39

3.1 Pares ordenados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

4.1 C, ponto invariante e m, reta de referência invariante. . . . . . . . . . . 70


4.2 Retas invariantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
4.3 Colineação perspectiva com centro C. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.4 Colineação perspectiva com eixo m. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
4.5 X não pertence a CP e nem a m na homologia com centro C e eixo m. 74
4.6 X pertende a CP e Y não pertence a CP na homologia com centro C e
eixo m. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
4.7 Cônica de pontos e suas tangentes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
4.8 Triângulo diagonal auto-polar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
4.9 Construção de uma reta polar a um ponto P não pertencente a uma
cônica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
4.10 Reta p interceptando a cônica em pontos distintos R e S. . . . . . . . . 84
4.11 Reta p que não intercepta a cônica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

5.1 S, R e Q são pontos colineares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91


Sumário

1 Introdução 9

2 Elementos da Geometria Projetiva 13


2.1 Sistema Axiomático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.2 Plano Projetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.4 Cônicas no Plano Projetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

3 Modelo Analítico para o Plano Projetivo 42


3.1 Sobre o plano euclidiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.2 Sobre o plano projetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4 Transformações do Plano Projetivo 61


4.1 Colineação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.2 Correlação e Polaridade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74

5 Validação do Modelo Analítico 86

Referências 94
1 Introdução

Do ponto de vista analítico de Klein a definição de geometria projetiva é a gene-


ralização lógica da geometria afim. Na geometria afim, por sua vez, todas as transfor-
mações que preservam o paralelismo e a razão entre segmentos paralelos são chamadas
transformações afins. Muitas vezes, dizemos ainda que as transformações afins preser-
vam as propriedades que são mantidas numa projeção paralela de um plano sobre o
outro. A geometria projetiva é capaz de generalizar afinidades colineares, a transfor-
mação que define essa geometria. O conjunto de pontos contido no plano euclidiano
deve ser ampliado para incluir pontos além de uma linha, a linha muitas vezes referida
como linha ideal.
Ao invés de complicar a geometria, estes novos pontos ideais simplificam a geometria
projetiva e dão a propriedade tão desejada de dualidade. Uma diferença fundamental
da Geometria Projetiva para a Geometria Euclidiana/ Afim é que não é mais necessário
distinguir as seções cônicas entre círculos, elipses, parábolas e hipérboles ou diferenciar
as retas paralelas das não paralelas. Nesta Geometria, qualquer par de retas distintas
é incidente em um ponto e por qualquer par de pontos distintos passa-se somente uma
reta. Esta dualidade é uma das suas características fundamentais, permitindo associar
a ela uma estrutura simétrica caracterizada pelo principio de dualidade.
Euclides (± 330 a.C. - ± 270 a.C.), primeiro professor de matemática do Museu de
Alexandrina, foi o autor da obra monumental Os Elementos constituída por 13 livros
(capítulos). Seu texto intitulado Óptica (Estoichia) foi um dos primeiros trabalhos
escritos sobre perspectivas. A obra não trata apenas de Geometria, inclui também
resultados de aritmética.
Outros notáveis do Museu foram o ex aluno Apollonius de Perga (± 262 a.C. - ±
190 a.C.), com o estudo das cônicas, e um professor do Museu, Papus de Alexadria
(± 290 - ± 350) que ampliou o trabalho de Euclides com resultados diferentes do que
tinham feito até o momento, demonstrando somente novos teoremas que falavam sobre
axiomas de incidência.
A Geometria Projetiva começou de fato, com a introdução de percepção de profun-
didade em pinturas e nos desenhos durante o Renascimento, como uma resposta à busca
por maior realismo nas obras, procurando reproduzir fielmente a "imagem"capturada
pela visão humana, ou seja, obter representações realistas de objetos tridimensionais

9
10

Figura 1.1: Euclides.

em duas dimensões na tela. Por exemplo, ao olharmos para as pistas de uma estrada,
elas parecem se encontrar num ponto. Estes pintores influenciados pela tese de Platão
de que a natureza é matematicamente desenhada, acharam relações que puderam ser
usadas para obter perspectivas. Essa interação da matemática e arte, a importante
tese de Platão e a influência da igreja fazem das origens da geometria projetiva um
episódio fascinante da história da matemática.

Figura 1.2: Retas paralelas que parecem se encontrar num ponto.

Um dos mais importantes destes artistas, para não dizer o mais importante, foi
Giotto di Bondone (1266-1337), pintor e arquiteto de Florença, e considerado o anun-
ciante do Renascimento. Ele revela em suas obras a preocupação em mostrar a idéia de
tridimensionalidade. Filippo Brunelleschi (1377-1466) entrou para história em 1434 ao
concluir a Santa Maria Del Fiori em Florença, primeira cúpula em grandes dimensões.
Ele redescobriu, com base na geometria, as regras da perspectiva linear, que, conhecidos
por gregos e romanos, ficaram esquecidos durante toda a Idade Média. Restabeleceu
na prática o conceito de ponto de fuga, e a relação entre a distância e a redução no
tamanho dos objetos.
Na mesma época, Leon Battista Alberti (1405-1472), arquiteto, escritor, pintor e
escultor, escreveu Tratados sobre todas as áreas em que atuou, propondo que os artis-
tas buscassem no estudo científico, na história e na matemática, fundamentos para o
11

Figura 1.3: Filippo Bruneleschi.

seu trabalho. Escreveu o primeiro manual sistematizado de perspectiva, apresentando


aos escultores normas de proporções humanas ideais. Em um dos tratados, o objetivo
principal de Alberti é precisamente o de estabelecer as bases científico-naturalísticas
da pintura, para os quais o conteúdo objetivamente científico da perspectiva é determi-
nante e o que, por si só, justificava a sua maior qualificação. Também para Brunelleschi,
a representação deveria ter um caráter racional e geométrico-matemático.
O século XV é um período fundamental para o desenvolvimento prático da pers-
pectiva e também para sua teorização. Piero della Francesca (1415-1492), mestre de
matemática do monge franciscano, que além do seu trabalho como pintor, escreve um
tratado dedicado às questões da perspectiva na pintura, o De prospectiva pingendi.
O tratado tem como elementos essenciais a proporção e a mensuração e apresenta
um aspecto didático importante, pois é acrescido de inúmera imagens, desenhos de
projeções em perspectiva. No livro há proposições e demonstrações no mesmo estilo
de Os Elementos de Euclides, por sua estrutura lógica. Em Flagelação de Cristo, sua
obra mais importante, ele aplica de forma exemplar a teoria descrita em seu tratado.

Figura 1.4: Flagelação de Cristo.

Com a retomada do livro Os Elementos apareceram muitos resultados formidáveis


sobre à idéia de incidência. Girard Desargues (1591-1661) e Blaise Pascal (1623-1662)
12

provaram várias propriedades não métricas de cônicas que eram diferentes daquelas
examinadas por Apolônio há dezoito séculos.
O matemático alemão David Hilbert (1862-1943) apresentou um sistema de axiomas
completo para as geometrias euclidianas plana e espacial numa série de conferências na
Universidade de Göttingen. Isto dizia que todos os resultados de Os Elementos ficavam
válidos assumindo seus postulados. Logo após a fixação dos axiomas de Hilbert, o
matemático americano Oswal Veblen (1880-1960) estabeleceu os axiomas da Geometria
Projetiva na sua obra Projetive Geometry, junto com John Wesley Young. Hoje em
dia, o inglês H. M. S. Coxeter (1907-19) é considerado o maior geômetra sintético.
A relevância da geometria projetiva para obter as representações realistas planas
de objetos tridimensionais está atualmente fazendo o estudo da geometria projetiva
um pré-requisito para o estudo da computação gráfica. O valor desse pré-requisito está
se aprimorando, uma vez que a computação gráfica usa a representação analítica de
pontos e retas por coordenadas homogêneas e a representação de transformações de
matrizes desenvolvidas na geometria projetiva.
Este trabalho tem por objetivo apresentar alguns tópicos da Geometria Projetiva
bem como seus elementos, modelo e transformações.
A dissertação inicia-se com a apresentação dos elementos e o sistema de axiomas
dessa geometria. Em seguida, tratamos do modelo analítico e das transformações da
Geometria Projetiva. E por fim encerramos com as verificações desse sistema axio-
mático em nosso modelo analítico.
Observamos ainda que, embora tratamos do Plano Projetivo, as figuras foram feitas
no Plano Euclidiano, em prol de um melhor entendimento dos objetos abordados.
Por fim, os resultados chamados de dual ao outro resultado significa que este ainda
é válido e a demonstração é análoga, bastando trocar a palavra "ponto"pela palavra
"reta"e vice-versa.
2 Elementos da Geometria Projetiva

No que segue apresentamos os elementos da Geometria Projetiva sobre os quais


baseamos este trabalho.

2.1 Sistema Axiomático


Para estabelecer o sistema axiomático é preciso primeiramente elucidar os objetos
centrais da geometria projetiva. Observamos que neste momento apenas apresentare-
mos as definições necessárias para enunciarmos o sistema axiomático para a geometria
projetiva.
Entretanto na seção 2.3 exploraremos resultados concernentes a estes os quais pro-
porcionarão um melhor entendimento. Iniciamos com a definição de triângulo que, em-
bora apresentado de um modo diferente da geometria euclidiana, mantém propriedades
semelhantes a definição clássica.

Definição 2.1. Um triângulo é um conjunto de três pontos não colineares e três


retas determinadas por estes pontos. Os pontos são chamados vértices e as retas são
chamadas de lados do triângulo. (veja figura 2.1)

Figura 2.1: Triângulo.

Definição 2.2. Os triângulos  ABC e  A B  C  são perpectivos por um ponto se


as três retas correspondentes aos vértices, AA , BB  e CC  são concorrentes. Os triân-

13
Sistema Axiomático 14

gulos são perpectivos por uma reta se os três pontos de intersecção correspondentes
aos lados, AB · A B  , AC · A C  , e BC · B  C  , são colineares (veja figura 2.2).

Figura 2.2: Triângulos perspectivos por um ponto e por uma reta.

Definição 2.3. Quadrângulo completo é um conjunto de quatro pontos, a cada três


não colineares, e as seis retas determinadas por esses quatro pontos. Os pontos são
chamados de vértices e as retas são chamadas de lados do quadrângulo. Se A, B, C e
D são os quatro pontos do quadrângulo, então AB e CD, AC e BD, e AD e BC são
denominados pares de lados opostos. Os pontos, nos quais, os pares de lados opostos
se interceptam são chamados de pontos diagonal do quadrângulo. (veja figura 2.3)

Figura 2.3: Quadrângulo completo.

Definição 2.4. (Dual da definição 2.3) Quadrilateral completo é um conjunto de


quatro retas, a cada três não concorrentes, e os seis pontos determinados por estas
retas. Os pontos são chamados vértices e as retas são chamadas lados do quadrilateral.
Se a, b, c e d são as quatro retas do quadrilateral, a · b e c · d, a · c e b · d e a · d e b · c são
denomimados pares de vértices opostos. As retas juntamente com os pares de vértices
opostos são chamados de retas diagonal do quadrilateral (veja figura 2.4)

Definição 2.5. O conjunto de retas incidentes sobre um ponto P é chamado um feixe


de retas com centro P (veja figura 2.5); o conjunto de todos os pontos sobre a reta p
é chamado um feixe de pontos com eixo p. (veja figura 2.6)
Sistema Axiomático 15

Figura 2.4: Quadrilateral completo.

Figura 2.5: Feixe de retas.

Figura 2.6: Feixe de pontos.

Definição 2.6. (a) Uma aplicação bijetora entre dois feixes de pontos com eixos em
p e p é chamada uma perspectividade se cada reta que une o ponto X sobre p
com o ponto correspondente X  sobre p é incidente sobre um ponto fixado O. O
é chamado de centro da perspectividade. Tal perspectividade é denotada por
0
X  X  . (veja figura 2.7)

(b) Uma aplicação bijetora entre dois feixes de retas com centros em P e P  é chamada
uma perspectividade se cada ponto de interseção das retas x e x , pertencentes
aos feixes envolvidos e incidentes sobre P e P  respectivamente, pertence a uma
reta fixada a o. o é chamado o eixo da perspectividade. Tal perspectividade é
o
denotada por x  x . (veja figura 2.8)

(c) Uma aplicação bijetora entre um feixe de pontos com eixo p e um feixe de retas com
centro P é chamado uma perspectividade se cada ponto X sobre p é incidente
sobre a reta correspondente x sobre P . Tal perspectividade é denotada por X  x
Sistema Axiomático 16

ou x  X. (veja figura 2.9)

(d) Em cada uma das definições acima, dizemos que os feixes de pontos e ou retas
estão relacionadas perspectivamente.

Figura 2.7: Perspectividade entre dois feixes de pontos.


Sistema Axiomático 17

Figura 2.8: Perspectividade entre dois feixes de reta.

Figura 2.9: Perspectividade entre um feixe de pontos e um feixe de retas.

Definição 2.7. Uma aplicação bijetora entre os elementos de dois feixes é chamada
uma projetividade se esta aplicação é o resultado de uma composição de um número
finito de perspectividades. Quando uma projetividade existe entre dois feixes dizemos
que estes feixes estão relacionados projetivamente. Ainda, quando a projetividade tem
o mesmo feixe como domínio e contra-domínio, digamos F, simplesmente dizemos
projetividade sobre F.

A seguir ilustramos uma projetividade entre feixes de pontos, veja figura ??.
Plano Projetivo 18

Figura 2.10: Projetividade entre os feixes de pontos A, B, C e A”, B”, C” respectiva-


mente.

Estabelecidos os objetos anteriores podemos enunciar o sistema axiomático para a


geometria projetiva, o qual é composto pelos seguintes axiomas:

Axioma 2.1. Quaisquer dois pontos distintos são incidentes com exatamente uma
reta.

Axioma 2.2. Quaisquer duas retas distintas são incidentes com pelo menos um ponto.

Axioma 2.3. Existem pelo menos quatro pontos, que a cada três não são colineares.

Axioma 2.4. Os três pontos diagonais do quadrângulo completo nunca são colineares.

Axioma 2.5 (Teorema de Desargues 1 ). Se dois triângulos são perspectivos por um


ponto, estes são perspectivos por uma reta.

Axioma 2.6. Se uma projetividade sobre um feixe mantém três elementos do feixe
invariante, então esta mantém todo elemento do feixe invariante. Ou seja, uma pro-
jetividade sobre um feixe que mantém três elementos invariantes é necessariamente a
aplicação identidade.

Observação 2.1. Note que do axioma 2.4 segue que os pontos na diagonal de um
quadrângulo formam um triângulo; esse triângulo é denominado triângulo diagonal.

2.2 Plano Projetivo


Nesta seção apresentamos um modelo geométrico para o plano projetivo, que é
estabelecido via o sistema axiomático apresentado anteriormente.
1
Este resultado conhecido como teorema de Desargues pode ser demonstrado no ambiente da
geometria projetiva para um espaço tridimensional, porém em nosso caso como tratamos da geometria
projetiva plana não é possível demonstrá-lo
Plano Projetivo 19

Definição 2.8. Dizemos que um plano é um plano projetivo se este satisfaz os


axiomas 2.1, 2.2, 2.3 e 2.4.

Para estabelecer o modelo geométrico para o plano projetivo é preciso estabelecer


uma relação injetora de um determinado plano paralelo ao plano xy de modo que
pontos sejam aplicados em retas e retas sejam aplicadas em planos. Façamos isto.
Sejam Π um plano paralelo (não coincidente) ao plano xy do espaço Euclidiano
xyz e O a origem do sistema. Note que cada ponto P em Π, junto com o ponto O,
determinam uma única reta p. Então podemos dizer que P corresponde a uma única
reta que passa por O, a saber, a reta p.

Figura 2.11: Plano xyz.

Analogamente cada reta l em Π, junto com o ponto O, determinam um único plano


λ, logo podemos dizer que a cada reta l corresponde o único plano que passa por O e
contém l, a saber, λ (conforme figura 2.12). Consequentemente existe uma aplicação
injetora F entre o conjunto de pontos e retas em Π para o conjunto de retas e planos
passando por O, respectivamente.
Para um melhor entendimento podemos visualizar as ações de F no esboço da figura
2.12, onde fazemos o abuso de considerar cópias do espaço xyz
Porém, esta aplicação não é sobrejetora, pois o plano xy e o conjunto de todas as
retas no plano xy passando por O não pertencem a imagem desta aplicação.
Com a aplicação F estabelecida vejamos como é possível gerar um modelo ge-
ométrico para um plano projetivo.
Um modelo, Π , de um plano projetivo é obtido adicionando uma reta, chamada
reta ideal, e pontos, denominados pontos ideais, a Π, de modo que, a aplicação F
também seja sobrejetora e portanto uma bijeção. Via F a reta ideal e os pontos
ideais são aplicados ao plano xy e àquelas retas passando por O e que pertencem
Plano Projetivo 20

Figura 2.12: Aplicação da F.

ao plano xy, respectivamente. Uma vez adicionados, essa reta ideal e esses pontos
ideais são tratados como quaisquer reta e pontos em Π . Grosseiramente falando,
Π = Π ∪ {pontos ideais } ∪ {reta ideal}.
Agora para tratar de resultados envolvendo pontos e retas de Π é necessário des-
crever a interpretação do termo "incidência"entre estes. Para tanto, dado um ponto
P e uma reta r em Π dizemos que estes são incidentes se, e somente se, a reta cor-
respondente ao ponto P passando por O (via F) pertence ao plano correspondente a
reta r passando por O. Dessa maneira, observe que os pontos ideais são incidentes a
reta ideal.
Sob esta interpretação Π é um modelo geométrico do plano projetivo, no seguinte
sentido, Π satisfaz os axiomas 2.1 a 2.4. Com efeito,
Π cumpre o axioma 2.1:
Existência:
Dados dois pontos P1 e P2 no plano projetivo Π sempre existe uma reta r em Π
tal que P1 e P2 sejam coincidentes a esta. De fato, observe que pela definição de F
temos que as imagens de P1 e P2 são retas r1 e r2 , as quais no espaço euclidiano 3D
definem um único plano, digamos λ. Pela bijetividade de F existe uma única reta r
em Π tal que F(r) = λ. Consequentemente, de modo natural, P1 e P2 são incidentes
a reta r, já que as retas r1 e r2 são incidentes ao plano λ.
Unicidade:
Sejam R1 e R2 dois pontos distintos em Π . Mostremos que estes são incidentes a
exatamente uma reta.
Para isto suponha que P1 e P2 são incidentes a duas retas r e s. Veja que como
P1 e P2 são incidentes a reta r segue que as retas r1 e r2 , (imagens de P1 e P2 na F,
respectivamente) são incidentes ao plano λr (imagem de r via F). Como P1 e P2 são
incidentes também na reta s, segue que as retas r1 e r2 são incidentes também ao plano
λs (imagem de s via F). Consequentemente λr e λs são planos coincidentes, porque
Propriedades 21

neste ambiente (espaço euclidiano tridimensional), duas retas determinam apenas um


plano.
Π cumpre o axioma 2.2:
Temos que mostrar que quaisquer duas retas distintas em Π são incidentes com
pelo menos um ponto em Π .
Para isto, sejam l1 e l2 retas distintas em Π . Denotamos por λi as imagens de li
via F, para i = 1, 2.
Afirmamos que λ1 e λ2 são planos concorrentes no espaço euclidiano 3D. De fato,
veja que ambos não são coincidentes, pois l1 e l2 são distintas e F é injetiva. Tampouco
λ1 e λ2 são planos paralelos no espaço euclidiano tridimensional já que se estes fossem,
existiriam retas não concorrentes p1 e p2 em λ1 e λ2 , respectivamente, e este fato gera
um absurdo como veremos a seguir.
Denote por Q1 e Q2 pontos de Π tal que F(Q1 ) = p1 e F(Q2 ) = p2 (que sempre
existem, já que F é sobrejetora). Mas pelo item anterior Q1 e Q2 são incidentes
com exatamente uma reta l, e isto é equivalente a dizer que as imagens de Q1 e Q2 ,
ou seja, p1 e p2 , são retas incidentes a um único plano λ no espaço euclidiano 3D,
consequentemente λ1 = λ = λ2 , porém isto contraria o fato de que λ1 e λ2 são planos
paralelos.
Portanto, λ1 e λ2 são sempre planos concorrentes no espaço euclidiano 3D. Seja r
a reta gerada pela interseção de λ1 e λ2 . Pela sobrejetividade de F existe um ponto R
em Π tal que F(R) = r.
Mas este ponto necessariamente incide sobre as retas l1 e l2 em Π já que a imagem
deste ponto via F é uma reta r incidente aos planos λ1 = F(l1 ) e λ2 = F(l2 ).
Π cumpre o axioma 2.3:
Temos que provar que existe pelo menos quatro pontos tais que cada três destes
não são pontos colineares. De fato isto ocorre pois, caso contrário, isto é, se quaisquer
quatro pontos, cada três destes fossem colineares o axioma 2.1 não seria satisfeito, já
que neste caso teríamos dois pontos distintos incidentes com pelo menos duas retas.
Π cumpre o axioma 2.4:
Observe que três pontos diagonal de um quadrângulo completo nunca são colineares.
Se isto não ocorresse, a existência de três pontos diagonal de um quadrângulo completo
colineares implicaria que o axioma 2.3 não é satisfeito pelo plano Π . Uma vez que
teríamos quatro pontos com pelo menos três destes colineares, a saber os três pontos
diagonal e um dos quatro pontos que originou o quadrângulo completo.

2.3 Propriedades
Uma vez estabelecido um modelo geométrico para o plano projetivo iniciamos o
tratamento de elementos importantes da geometria projetiva plana definidos no seção
2.1. Primeiramente apresentamos resultados que envolvem triângulos perspectivos.
Propriedades 22

Teorema 2.1 (Dual do 2.5). Se dois triângulos são perspectivos por uma reta, eles são
perspectivos por um ponto.

Demonstração. Suponha que ABC e A B  C  são triângulos perspectivos por uma
reta, consequentemente AB · A B  = P, BC · B  C  = Q, e AC · A C  = R são colineares
(veja figura 2.13).
Temos que mostrar que estes triângulos são perspectivos por um ponto, para tanto
é preciso mostrar que AA , BB  e CC  são concorrentes.
Considere O = AA · BB  , então os triângulos são perspectivos por O. Com efeito,
primeiramente veja que os triângulos RAA e QBB  são perspectivos pelo ponto
P , já que P está em RQ (pois P, Q e R são colineares) e P está em AB e em A B 
(pela definição de P = AB · A B  ).
Logo, segue do axioma 2.6 que os triângulos RAA e QBB  são perspectivos
por uma reta. Ou seja, RA · QB = C, RA · QB  = C  , e AA · BB  = O são colineares.
Do fato de C, C  e O serem colineares segue que O é incidente sobre CC  . Portanto,
AA , BB  , e CC  são concorrentes.

Figura 2.13: Triângulos perspectivos por uma reta (P, Q e R são colineares).

Agora introduzimos uma classe especial de conjuntos, peculiar à geometria proje-


tiva, que contém quatro pontos colineares (e conjuntos duais de quatro retas concor-
rentes), a saber, conjuntos harmônicos. Dados três pontos colineares e distintos será
possível construir um quarto ponto colinear a estes a partir de resultados anteriores.
Este quarto ponto, cuja unicidade é garantida pelo axioma 2.5 e seu dual 2.1, terá um
papel fundamental ao tratar de cônicas no plano projetivo, como veremos na seção 2.4.

Definição 2.9. Quatro pontos colineares, A, B, C e D formam um conjunto har-


mônico H(AB, CD) se existe um quadrângulo completo que dois lados opostos pas-
sam por A, dois outros lados opostos passam por B, enquanto os dois lados restantes
Propriedades 23

passam por C e D, respectivamente. C é chamado de conjugado harmônico de D


(ou D é o conjugado harmônico de C) com relação a A e B.

Observação 2.2. Note que A e B são pontos diagonal do quadrângulo que são nomea-
dos primeiro. Também repare que os pontos do primeiro par do conjunto harmônico
são distintos dos pontos do segundo par, mas não há distinção feita entre os pontos do
primeiro par ou pontos do segundo par; isto é

H(AB, CD) ⇔ H(BA, CD) ⇔ H(AB, DC) ⇔ H(BA, DC).

A seguir, dados quaisquer três pontos distintos colineares, A, B, C, construiremos


um ponto D tal que este é o conjugado harmônico de C com relação para A e B.

Teorema 2.2. Se A, B e C são três pontos colineares e distintos, então existe um


único conjugado harmônico, D, de C com relação a A e B.

Figura 2.14: Conjunto harmônico H(AB, CD)

Demonstração. Existência:
Mostramos a existência do ponto D via a construção do seguinte quadrângulo com-
pleto: Seja E um ponto qualquer não pertencente a AB e seja m uma reta que passa
por B distinta de AB e tal que não contém E. Agora considere m·AE = F, m·CE = G
e AG·EB = H. Veja que os pontos EF GH definem um quadrângulo tal que dois lados
opostos passam por A, dois lados opostos passam por B e um dos lados restantes passa
por C e o outro passa por F H · AB (conforme figura 2.14). Logo basta definirmos D
como sendo o ponto F H · AB.
Unicidade:
Propriedades 24

Seja EF GH o quadrângulo completo acima usado para determinar D. Mostremos


que o ponto D derivado da construção deste quadrângulo completo é único. Para tanto,
suponha que exista um segundo quadrângulo completo E  F  G H  e também construído
de modo que E  H  ·F  G = B, E  F  ·G H  = A e E  G ·AB = C. Provemos que D = D.
Observe que o EF G e E  F  G são perspectivos pela reta AB. (Veja figura 2.15).

Figura 2.15: EF G e E  F  G perspectivos pela reta AB.

Então pelo Teorema 2.1, eles são perspectivos por um ponto; isto é, EE  , F F  e
GG são concorrentes. Analogamente EGH e E  G H  são perspectivos por AB
e consequentemente EE  , GG e HH  são concorrentes. Portanto, as quatro retas
EE  , F F  , GG e HH  são todas concorrentes. Desta forma F HG e F  H  G são
perspectivos por um ponto, e pelo Axioma 2.5 disto segue que estes são perspectivos
por uma reta. Logo F H · F  H  , F G · F  G = B e HG · H  G = A são colineares. Mas
F H · AB = D, F  H  · AB = D∗ . Portanto D = D .

No resultado a seguir veremos que além das possíveis mudanças de ordem dos pares
envolvidos no conjunto harmônico, os pares podem ser trocados.

Teorema 2.3. O conjunto harmônico H(AB, CD) existe se, e somente se, H(CD, AB)
existe.

Demonstração. Mostraremos que se H(AB, CD) existe então também existe H(CD, AB).
A afirmação recíproca pode ser demonstrada de modo análogo apenas renomeando os
pontos.
Propriedades 25

Suponha que H(AB, CD) seja um conjunto harmônico formado pelos pontos coline-
ares A, B, C, D, então existe um quadrângulo EF GH tal que A = EF · GH, B =
EH · F G, C = EG · n e D = F H · n, onde n = AB.

Figura 2.16: H(AB, CD) ⇔ H(CD, AB).

Seja S = DG · F C e T = GE · F H e considere o quadrângulo T GSF (veja figura


2.16). Note que as duas retas SF = F C e T G = GE são ambas incidentes com C.
Ainda GS = DG e T F = F H são ambas incidentes em D. Além disso, a reta GF é
incidente com B. Então para mostrar que o conjunto harmônico H(CD, AB) de fato
existe, resta apenas mostrar que T S é incidente com A.
Observe que A = EF · GH. Agora considere os triângulos T HE e SGF . Se
mostrarmos que estes triângulos são perpectivos pelo ponto A, segue que necessaria-
mente A é incidente com T S. Façamos isto, veja que as interseções dos lados correspon-
dentes dos triângulos T HE e SGF são T E · SF = GE · F C = C, T H · SG =
F H · DG = D, HE · GF = B e temos por hipótese C, D, B são colineares, mais ainda,
sabemos que estes pontos são incidentes com a reta n = AB. Logo, estes triângulos
são perpectivos pela reta n e pelo teorema 2.1 estes são perspectivos por um ponto.
Uma vez que, EF · GH = A, segue que, necessariamente, EF · T S = A e T S · GH = A,
pois caso contrário as retas EF e GH teriam dois pontos em comum, sendo portanto
coincidentes, o que não é o caso. Ou seja, são triângulos perspectivos pelo ponto A
como queríamos demonstrar.

Observação 2.3. Denotamos por H(AB, CD) ⇔ H(CD, AB) a afirmação: O con-
junto harmônico H(AB, CD) existe se, e somente se, H(CD, AB) existe.

Corolário 2.1. H(AB, CD) ⇔ H(AB, DC) ⇔ H(BA, CD) ⇔ H(BA, DC) ⇔
H(CD, AB) ⇔ H(CD, BA) ⇔ H(DC, AB) ⇔ H(DC, BA).
Propriedades 26

Como nas seções anteriores, o dual dessa definição de conjunto harmônico de pontos
podem ser formulados.

Definição 2.10. Quatro retas concorrentes, a, b, c, d formam o conjunto harmônico


H(ab, cd) se existe um quadrilateral completo no qual dois vértices opostos pertencem
a a, outros dois lados opostos pertencem a b, enquanto os outros dois vértices restantes
pertencem a c e d, respectivamente (veja figura 2.17) onde retas e, f, g e h formam um
quadrilateral que resulta H(ab, cd).

Figura 2.17: Conjunto harmônico H(ab, cd).

Teorema 2.4. Se retas a, b e c são concorrentes, então d, o conjugado harmônico de


c com respectivos para a e b, é único.

Demonstração. A construção da quarta reta do conjunto harmônico resulta da duali-


dade dos resultados anteriores.

Teorema 2.5. H(ab, cd) ⇔ H(cd, ab).

Demonstração. Resulta de modo natural da dualidade dos resultados anteriores.

Agora retomamos perspectividades e projetividades. Note que uma perspectividade


entre dois feixes de retas ou entre dois feixes de pontos é unicamente determinada
por dois pares de elementos correspondentes, desde que nenhum elemento desses dois
pares estejam sobre ambos os feixes. Em outras palavras, uma vez que dois pares de
elementos correspondentes estão especificados, a imagem de qualquer terceiro elemento
do domínio é unicamente determinada.
Antes de prosseguirmos recordamos projetividade via os três exemplos a seguir,
onde denotamos por ABC ∧ A”B”C” uma projetividade entre os feixes de pontos
Propriedades 27

determinados por A, B, C e A”, B”, C”, respectivamente (figura 2.18); abc ∧ a”b”c”
uma projetividade entre os feixes de retas determinados pelas retas a, b, c e a”, b”, c”,
respectivamente (figura 2.19); abc ∧ A”B”C” uma projetividade entre um feixe de retas
e um feixe de pontos determinados por a, b, c e A”, B”, C”, respectivamente. (figura
2.20)

Figura 2.18: Projetividade entre os feixes de pontos A, B, C e A”, B”, C” respectiva-


mente.

Figura 2.19: Projetividade entre os feixes de retas a, b, c e a”, b”, c” respectivamente.


Propriedades 28

Figura 2.20: Projetividade entre um feixe de retas a, b, c e um feixe de pontos


A”, B”, C” respectivamente.

Estudemos a projetividade P representada na figura 2.18. Veja que P é resultante


da composição das perspectividades P1 , P2 , P3 e P4 tais que: P1 é a perspectividade
definida por P1 (A) = a = AA , P1 (B) = b = BB  e P1 (C) = c = CC  ; P2 é a perspec-
tividade definida por P2 (a) = A , P2 (b) = B  e P2 (c) = C  ; P3 é a perspectividade
definida por P3 (A ) = a = A A”, P3 (B  ) = b = B  B” e P3 (C  ) = c = C  C” e P4 é a
perspectividade definida por P4 (a ) = A”, P4 (b ) = B” e P4 (c ) = C”. Por exemplo,
P(A) = (P4 ◦ P3 ◦ P2 ◦ P1 )(A) = A”.
Observamos que uma projetividade não é obtida de uma maneira única via perspec-
tividades, por exemplo, a projetividade P também pode ser vista como a composição
das perspectividades Q1 e Q2 tais que: Q1 é a perspectividade definida por Q1 (A) = A ,
Q1 (B) = B  e Q1 (C) = C  ; Q2 é a perspectividade definida por Q2 (A ) = A”,
Q2 (B  ) = B” e Q2 (C) = C”. Por exemplo, P(A) = (Q2 ◦ Q1 )(A) = A”.

Observação 2.4. Podemos concluir da definição de projetividade que uma projetivi-


dade não tem um centro ou um eixo, exceto se consiste apenas de uma perspectividade.
Ainda, observamos que a aplicação inversa de uma projetividade e o produto de duas
(ou um número finito de) projetividades são também projetividades.

Teorema 2.6. (Teorema Fundamental). Dados dois feixes quaisquer sempre existe
uma projetividade entre estes. Além disso, esta projetividade é unicamente determinada
por três pares de elementos correspondentes.

Demonstração. Existência:
Caso 1. Dois feixes de pontos: Sejam A, B e C elementos do feixe com eixo p e
A , B  , C  seus elementos correspondentes do feixe com eixo p (p = p ). Agora constru-


imos a reta AA e escolhemos um ponto P = A sobre esta reta. Seja m = p uma
reta qualquer passando por A . Considere B1 = BP · m, C1 = CP · m. Desta forma,
Propriedades 29

P Q
ABC  A B1 C1 . Agora, defina Q = B1 B  · C1 C  . Então A B1 C1  A B  C  e portanto
ABC ∧ A B  C  é a composição das duas perspectividades. (Veja figura 2.21)

Figura 2.21: Composição de duas perspectividades.

Caso 2. Dois feixes de retas: Basta considerar a dualidade com o caso 1.


Caso 3. Um feixe de pontos e um feixe de retas: Segue da combinação dos casos
anteriores.

Corolário 2.2. Dados dois feixes distintos, se uma projetividade entre estes mantém
um dos elementos fixado então esta projetividade é uma perspectividade.

Demonstração. Caso 1. Dois feixes de pontos com um ponto comum: Sejam A, B e


C elementos do feixe com eixo p e A , B  , C elementos correspondentes do feixe com
Q
eixo p (p = p ). Agora, defina Q = AA · BB  . Então ABC  A B  C e portanto
ABC ∧ A B  C por apenas uma perspectividade.
Caso 2. Dois feixes de retas: Basta considerar a dualidade com o caso 1.
Caso 3. Um feixe de pontos e um feixe de retas: Segue da combinação dos casos
anteriores.

Corolário 2.3. Uma projetividade entre dois feixes é composta por no máximo três
perspectividades distintas.

Demonstração. Pelo teorema 2.6 uma projetividade é unicamente determinada por três
pares de elementos correspondentes e pelo corolário 2.2 sabemos que se uma projetivi-
dade entre dois feixes distintos mantém um elemento invariante então essa projetividade
Propriedades 30

é uma perspectividade, sendo assim temos apenas três perspectividades possíveis para
compor essa projetividade, pela unicidade da projetividade. Veja que a composição
com uma quarta perspectividade não é possível, pois esta última deveria manter os
três pares correspondentes inalterados o que é impossível, pois não existe uma perspec-
tividade com este efeito.

No teorema a seguir mostramos que a relação harmônica é invariante sob uma


projetividade.

Teorema 2.7. Sejam A, B, C e D pontos que definem o conjunto harmônico


H(AB, CD). Se ABCD ∧ A B  C  D , então os pontos A , B  , C  e D também definem
um conjunto harmônico, ou seja, existe H(A B  , C  D ).

Demonstração. Uma vez que a projetividade plana é a composição de perspectividades


e estamos considerando desde o início a dualidade entre pontos e retas, é suficiente
mostrar que H(AB, CD) implica H(ab, cd) sempre que ABCD  abcd, onde a, b, c e d
são as retas definidas por A e A , B e B  , C e C  , D e D , respectivamente.
Como ABCD  abcd temos que existe O = a · b de forma que a = OA, b = OB, c =
OC e d = OD.
Ainda, H(AB, CD) é um conjunto harmônico, logo existe um quadrângulo com um
vértice em O, a saber OEF G, tal que A e B são pontos diagonal do quadrângulo.
Seja O = a · b, assim a = OA, b = OB e assim por diante.
Já que H(AB, CD), existe um quadrângulo com um vértice em O, OEF G, tal que
A e B são pontos diagonal do quadrângulo, C pertenca a uma diagonal e D a outra.
Veja que A = EF · OG, B = OE · GF, C = OF · AB e D = GE · AB (veja figura
2.22).

Figura 2.22: Se H(AB, CD) e ABCD ∧ A B  C  D , então H(A B  , C  D ).

Agora considere o quadrilateral GF, GE, AE, AB. Assim GF ·GE = G e AE ·AB =
A pertencem a a; GE · AE = E e GF · AB = B pertencem a b; GE · AB = D pertence
a d enquanto GF · AE = F pertence a c. Portanto temos que as retas a, b, c e d formam
o conjunto harmônico H(ab, cd).
Propriedades 31

Teorema 2.8. Se quatro elementos de um feixe, A, B, C, D formam um conjunto har-


mônico, H(AB, CD), e quatro elementos de um segundo feixe A , B  , C  , D formam
um segundo conjunto harmônico, H(A B  , C  D ), então existe uma projetividade que
aplica A, B, C, D em A , B  , C  , D , respectivamente.

Demonstração. Pelo teorema 2.6 , existe uma projetividade tal que ABC∧A B  C  . Seja
D∗ a imagem de D sob esta projetividade. Então pelo teorema 2.7 existe o conjunto
harmônico H(A B  , C  D∗ ). Por outro lado, por hipótese, temos também o conjunto
harmônico H(A B  , C  D ). Mas pelo teorema 2.2 sabemos que o conjugado harmônico

de C  com relação a A e D é único, consequentemente D = D.

Definição 2.11. Sejam A e A , B e B  pares de pontos correspondentes via uma


projetividade, as retas AB  e BA são chamadas de ligações transversais destes
pares de pontos.

Teorema 2.9. Dada uma projetividade entre dois feixes distintos de pontos existe uma
única reta que contém as interseções dos cruzamentos transversais de todos os pares de
pontos correspondentes.

Demonstração. Considere dois feixes distintos de pontos com eixos p e p .


Suponha que ABC ∧ A B  C  , onde P = p · p não é nenhum destes seis pontos.
Existência:
Veja que (A A, A B, A C)ABC e A B  C  AA , AB  , AC  . Logo (A A, A B, A C)∧
(AA , AB  , AC  ). Como A A é aplicado nele mesmo, segue pelo corolário 2.2, que
h
esta projetividade é na verdade uma perspectividade, digamos, (A A, A B, A C) 
(AA , AB  , AC  ) para algum eixo h.
Observe que h contém as interseções dos cruzamentos transversais de todos os pares
de pontos correspondentes. De fato, para mostrar isso é suficiente mostrar que via h é
possível encontrar a imagem de um ponto D (diferente de A, B, C) sobre p. Para isso
construa A D e considere D1 = A D · h, note que D = AD1 · p .
Unicidade:
Para mostrar que h é único, é necessário mostrar que h é independente das escolhas
dos centros dos feixes de retas (no nosso caso denotados por A e A ) e portanto que as
interseções dos cruzamentos transversais de todos os pares de pontos correspondentes
sobre h.
Para fazer isto é suficiente encontrar dois pontos sobre h que sejam independentes
destas escolhas.
Seja Q = h · p e R = h · p.
Usando a técnica descrita anteriormente para localizar a imagem de R, obtemos
R1 = A R · h. Mas A R · h = R, consequentemente R1 = R. Desta forma R =
AR · p = p · p = P ; isto é, a imagem de R é P .
Cônicas no Plano Projetivo 32

Por outro lado, podemos mostrar que a imagem de P é Q. Porém, pelo teorema 2.6
a imagem e a pré-imagem de P são unicamente determinadas. Ainda veja que Q = R
pois esta projetividade não é uma perspectividade.
Logo, h = QR é unicamente determinada.

Definição 2.12. Nas condições acima, a reta h é chamada o eixo de homologia


desta projetividade.

Figura 2.23: Eixo de homologia.

Observação 2.5. Na demonstração do teorema anterior descrevemos o método usado


para construir o eixo h e encontrar a imagem (via h) de qualquer ponto. Observe ainda
que para feixes de retas é possível obter o objeto dual ao eixo de homologia, a saber,
o centro de homologia, com o qual é possível construir a imagem de uma reta sob
alguma projetividade dada entre feixes distintos de retas.

2.4 Cônicas no Plano Projetivo


Estamos interessados em estudar objetos da geometria projetiva que sejam de-
terminados por um conjunto de n pontos que a cada três destes são não colineares.
Para n = 3 definimos triângulos e para n = 4 consideramos objetos conhecidos como
quadrângulos. Agora trataremos de objetos que são unicamente determinados por 5
pontos, a saber, cônicas de pontos, as quais são definidas em termos de projetividade.

Definição 2.13. Uma cônica de pontos é o conjunto de pontos de intersecção de


retas correspondentes de cada duas projetividades, (mas não perspectividade), as quais
relacionam feixes de retas com centros distintos.(veja figura 2.24).
Cônicas no Plano Projetivo 33

Figura 2.24: Cônica de Pontos.

Observação 2.6. Veja que não podemos definir uma cônica de pontos através de uma
perspectividade pois, neste caso as interseções das retas correspondentes são colineares,
ou seja, definem uma reta e não uma cônica.

Observação 2.7. Mais adiante demonstraremos que cônicas de pontos são determi-
nadas unicamente por cinco pontos distintos, a cada três não colineares.

Definição 2.14. Uma tangente a uma cônica de pontos é uma reta que tem exata-
mente um ponto em comum com a cônica de pontos. Esta reta denotada por tg P é a
reta tangente a cônica em P.

Observação 2.8. As definições de cônica de pontos e de tangente, podem ser duali-


zadas para definir outros conceitos na geometria projetiva. A definição dual da definição
2.13 é conhecida como cônica de retas e o ponto descrito na definição dual da definição
2.14 é denominado ponto de contato. A seguir vemos mais detalhes destes objetos.

Definição 2.15. Uma cônica de retas é o conjunto de retas ligando pontos correspon-
dentes a cada duas projetividades, (mas não perspectividade), as quais relacionam feixes
de retas com centros distintos.

Definição 2.16. Um ponto de contato de uma cônica de reta é um ponto que pertence
a uma única reta da cônica de retas.

Observação 2.9. Uma cônica de pontos é determinada por uma projetividade entre
dois feixes de retas, e sabemos que esta aplicação é unicamente determinada quando
três pares de retas correspondentes são especificadas.
Portanto, dados feixes de retas com centros P e P  (P = P  ) podemos arbitraria-
mente escolher três retas a, b e c incidentes com P e três retas correspondentes a , b
Cônicas no Plano Projetivo 34

e c incidentes com P  . Desde que esta correspondência não resulta em uma perspec-
tividade, é possível localizar três pontos da cônica de pontos determinados por esta
projetividade, a saber, a · a , b · b e c · c .
Observe que ao escolher diferentes retas e/ou outras retas correspondentes é definida
outra cônica de pontos.

O teorema a seguir mostra como determinar dois outros pontos desta cônica de
pontos.

Teorema 2.10. Os centros dos feixes de retas na projetividade que define uma cônica
de pontos são pontos desta cônica.

Demonstração. Sejam P e P  os centros dos feixes de retas. Defina m = P P  e considere


m como uma reta no feixe com centro P (veja figura 2.25).

Figura 2.25: P e P  , pontos da cônica de pontos.

Então existe uma reta correspondente a m, m , no feixe de retas com centro em P  .


Note que m = m já que a projetividade não é uma perspectividade.
Consequentemente, m · m = P  . Ou seja, P  é um ponto da cônica de pontos.
Analogamente, considerando desta vez m = P P  como sendo uma reta no feixe
de retas de centro P  e procurando a reta correspondente, n, a esta no feixe de retas
de centro P , temos que n · m = P e consequentemente P é um ponto da cônica de
pontos.

Observação 2.10. Com este teorema dados cinco pontos quaisquer P1 , P2 , P3 , P4 e P5


(cada três não colineares) é possível determinar dois feixes de retas e uma projetividade
Cônicas no Plano Projetivo 35

entre estes de forma que P1 , P2 , P3 , P4 e P5 sejam pontos de uma cônica de pontos


determinada por tais feixes e projetividade, como segue:
Escolha dois pontos, digamos, P1 e P2 , como centro dos feixes e construa as retas
P1 P3 , P1 P4 , P1 P5 e P2 P3 , P2 P4 , P2 P5 .
Veja que desta maneira, a projetividade (P1 P3 , P1 P4 , P1 P5 ) ∧ (P2 P3 , P2 P4 , P2 P5 )
define uma cônica de pontos contendo os pontos P1 , P2 , P3 , P4 e P5 .

Mais adiante, mostraremos que dados quaisquer cinco pontos não colineares definem
uma única cônica de pontos.

Definição 2.17. Um hexágono é um conjunto de seis pontos distintos (aqui não


exigimos que cada três sejam não colineares) chamados de vértices, digamos P1 , P2 ,
P3 , P4 , P5 , P6 e seis retas P1 P2 , P2 P3 , P3 P4 , P4 P5 , P5 P6 e P6 P1 conforme a figura 2.26.
Estas retas são denomimadas os lados do hexágono P1 P2 P3 P4 P5 P6 . Dizemos que os
pares P1 e P4 , P2 e P5 , P3 e P6 são pares de vértices opostos e os pares P1 P2 e P4 P5 ,
P2 P3 e P5 P6 , P3 P4 e P6 P1 são pares de lados opostos e, ainda, dizemos que os três
pontos de interseção de lados opostos são pontos diagonal.

Figura 2.26: Hexágono.

Observação 2.11. Dado um conjunto de seis pontos estes não determinam um único
hexágono, uma vez que um hexágono é determinado pela ordem no qual seus vértices
são nomeados. Na verdade, um conjunto de seis pontos podem determinar 6!/12 = 60
hexágonos diferentes. Portanto, no próximo teorema, é importante notar que P e P  ,
os centros dos feixes de retas usados para definir uma cônica de pontos, são usados
como sendo o primeiro e terceiro vértice do hexágono, respectivamente.
Cônicas no Plano Projetivo 36

Teorema 2.11. Se A, B, C, D são quatro pontos sobre uma cônica de pontos definida
por uma projetividade entre feixes de retas de centros P e P  , então os pontos diagonal
do hexágono P BP  ACD são colineares, e reciprocamente, se os pontos diagonal do
hexágono P BP  ACD são colineares então A, B, C, D são pontos de uma cônica de
pontos determinada por projetividade entre feixes de centros P e P  .
Demonstração. (⇒) Pela definição 2.17 temos que os pontos diagonais, J, L, K, para
o hexágono P BP  ACD são dados pelas interseções de retas a seguir:

P B · AC = J,

BP  · CD = L

P  A · DP = K.
Considere agora os pontos AC · P D = M e AP  · DC = N (veja figura 2.27).
Neste contexto e pelo fato de que A, B, C e D são pontos de uma cônica de pontos
obtemos a seguinte perspectividade:
AJCM ∧ P A, P B, P C, P D ∧ P  A, P  B, P  C, P  D ∧ N LCD, ou AJCM ∧ N LCD.
Uma vez que C ∧ C segue pelo corolário 2.2 que esta projetividade é uma perspec-
tividade entre os feixes de pontos AJCN e N LCD. Consequentemente, como AN ·
M D = JL · AN = M D · JL e AN · M D = P  A · P D = K segue que o centro de
perspectividade é K e ainda que J, L e K são colineares.
(⇐) Segue pelos mesmos argumentos de (⇒) mas no sentido contrário.

Figura 2.27: Pontos diagonais J, L e K ,do hexágono P BP  ACD, colineares.

Com este resultado finalmente é possível mostrar que cinco pontos determinam uma
única cônica.
Cônicas no Plano Projetivo 37

Teorema 2.12. Uma cônica de pontos é unicamente determinada por cinco pontos
distintos, cada três não colineares.

Demonstração. Sejam P1 , P2 , P3 , P4 , P5 , cinco pontos, cada três não colineares. Então


pela observação 2.10 existe uma cônica de pontos determinada pelos feixes de retas
com centros P1 e P2 e pela projetividade (P1 P3 , P1 P4 , P1 P5 ) ∧ (P2 P3 , P2 P4 , P2 P5 ), a
qual contém estes cinco pontos.
Seja D um sexto ponto qualquer sobre esta cônica de pontos. Para mostrar que a
cônica é unicamente determinada, isto é, que o mesmo conjunto de pontos é determi-
nado quando outros pontos diferentes de P1 e P2 são usados como os centros dos feixes,
é suficiente mostrar que D pertence a cônica de pontos definida por feixes com centros
em quaisquer outros dois pontos.
Para tanto, considere o hexágono P1 P4 P2 P3 P5 D. Pelo teorema 2.11, os pontos
diagonais P1 P4 · P3 P5 , P4 P2 · P5 D, P2 P3 · DP1 são colineares. Mas este hexágono é igual
ao hexágono P4 P2 P3 P5 DP1 e consequentemente pela recíproca do teorema 2.11, segue
que D é um ponto da cônica de pontos determinada pelos feixes com centros P3 e
P4 . De modo análogo, usando outros hexágonos com centros P1 e P2 como primeiro e
terceiro vértices, podemos mostrar que D é um ponto da cônica de pontos determinada
pelos feixes com centros em qualquer outros dois dos pontos P1 , P2 , P3 , P4 e P5 .

O próximo resultado é conhecido como teorema do hexagrama místico de Pascal e


foi demonstrado por Pascal em 1640 aos 17 anos. Enquanto que o resultado dual deste
resultado apenas foi provado em 1806 por Brianchon.

Corolário 2.4 (Teorema de Pascal). Se um hexágono está inscrito em uma cônica de


pontos - ou seja, os vértices do hexágono são pontos da cônica de pontos - então seus
pontos diagonais são colineares. (Veja figura 2.28).

Figura 2.28: Hexágono inscrito em um ponto cônico.

Demonstração. Seja P1 P2 P3 P4 P5 P6 um hexágono tal que cada Pi é um ponto de uma


cônica, pelo teorema anterior temos que estes pontos definem uma única cônica na
qual o hexágono está inscrito. Pelo teorema 2.11 segue que os pontos diagonais deste
hexágono são colineares.
Cônicas no Plano Projetivo 38

Corolário 2.5. Se os cinco pontos P1 , P2 , P3 , P4 , P5 são pontos de uma cônica de pon-


tos, então os três pontos P1 P2 · P4 P5 , P2 P3 · P5 P1 , P3 P4 · tg P1 são colineares. (Veja
figura 2.29).

Figura 2.29: Os três pontos colineares de um ponto cônico.

Demonstração. Para demonstrar este corolário é suficiente observar que os pontos

P1 P2 · P4 P5 = L,

P2 P3 · P5 P1 = M,

P3 P4 · tg P1 = K
são pontos diagonais do hexágono P1 P2 P3 P4 P5 Q, onde P1 Q é a reta tangente em P1 à
cônica determinada por P1 , P2 , P3 , P4 , P5 , ou seja P1 Q = tg P1 .
Logo, pelo corolário 2.4 segue o resultado.

Corolário 2.6. Se P1 , P2 , P3 , P4 são quatro pontos de uma cônica de pontos então os


quatro pontos P1 P2 · P3 P4 , P1 P3 · P2 P4 , tg P2 · tg P3 e tg P1 · tg P4 são colineares. (Veja
figura 2.30).

Demonstração. Para demonstrar este corolário consideraremos os seguintes hexágonos


P1 P2 QP4 P3 R e P1 SP2 P4 T P3 tais que : P2 Q = tg P2 ; P3 R = tg P3 ; P1 S = tg P1 e
P4 T = tg P4 . Aplicando o teorema de Pascal 2.4 obtemos que os seguintes pontos são
colineares: P1 P2 ·P4 P3 , tg P2 ·tg P3 e QP4 ·RP1 são colineares já que são pontos diagonais
do hexágono em questão. Também pelo mesmo argumento para o segundo hexágono
segue a colinearidade dos seguintes pontos: tg P1 · tg P4 ; SP2 · T P3 e P2 P4 · P3 P1 . Agora
pelo axioma 2.1 os pontos QP4 · RP1 e SP2 · T P3 são incidentes a uma única reta. Logo
P1 P2 · P4 P3 , tg P2 · tg P3 , QP4 · RP1 , P1 P2 · P3 P4 , P1 P3 · P2 P4 , tg P2 · tg P3 e tg P1 · tg P4
são colineares, consequentemente segue o resultado.
Cônicas no Plano Projetivo 39

Figura 2.30: Os quatro pontos colineares de um ponto cônico.

Observação 2.12. Já sabemos que cinco pontos determinam uma única cônica de
pontos, os demais pontos desta cônica podem ser localizados com seguinte procedi-
mento:
Sejam A, B, C, D, E cinco pontos de uma cônica de pontos. Então qualquer ponto
adicional, F , sobre a cônica de pontos pode ser considerado como o sexto ponto do
hexágono inscrito, ABCDEF . Agora, uma vez que os pontos diagonais P = AB ·
DE, Q = BC · EF e CD · F A são colineares, podemos escolher uma reta m que
passa por E, (neste caso, escolhemos a reta EF ). Observe que se R = CD · P Q então
F = RA · m (veja figura 2.31). Logo localizamos o ponto F nesta cônica. Para localizar
os demais pontos sobre esta cônica, basta escolher outras retas que passam por E.

Figura 2.31: Cônica de pontos usando o Teorema de Pascal.

Os resultados a seguir tratam das retas tangentes à cônica de pontos, em espe-


cial provaremos que uma cônica de pontos é unicamente determinada por três pontos
distintos não colineares e pelas tangentes a dois destes.
Cônicas no Plano Projetivo 40

Teorema 2.13. Para qualquer ponto A de uma cônica de pontos, existe uma única
reta tangente a esta cônica em A.

Demonstração. Sejam B, C, D, E outros quatro pontos da cônica de pontos a qual A


pertence. Então a cônica de pontos pode ser definida pela projetividade, P, que rela-
ciona os feixes com centros A e B dada por (AC, AD, AE) ∧ (BC, BD, BE). Considere
a reta B como uma reta no feixe de centro B, como toda projetividade é uma bijeção,
existe uma reta h no feixe com centro A que corresponde a esta reta. Note que h
contém o ponto A da cônica de pontos e ainda h · AB = A. Provaremos agora que
h é a reta tangente procurada, para isto basta mostrar que o único ponto da cônica
pertencente a h é o ponto A.
De fato, suponha que h contenha um segundo ponto da cônica, X distinto de A.
Agora, analisamos os seguintes casos.
Caso 1. X pertencente a AB.
Neste caso temos que AB = h já que pelo axioma 2.1 dois pontos definem uma unica
reta. Consequentemente h é um elemento fixado pela projetividade P, portanto pelo
corolário 2.2 esta projetividade é uma perspectividade, mas isto contradiz a definição
de cônica de pontos.
Caso 2. X não pertencente a AB.
Se X não pertence a AB então a reta h = AX é a reta correspondente à reta
AB pela definição de h. Por outro lado AX é correspondente a XB pela definição da
projetividade P. Ou seja, as retas distintas AB e BX são correspondentes a AX, mas
isto contradiz o fato de que P é uma função.
Com estes dois casos mostramos que a reta h possui apenas o ponto A em comum
com a cônica de pontos. Ou seja, h é uma reta tangente a cônica no ponto A.
Resta mostrar a unicidade de h. Para isto, suponha que exista uma reta h tangente
a cônica no ponto A. Considerando h como uma reta no feixe com centro A (o que
podemos fazer já que A pertence a h ) temos que existe uma reta m no feixe com centro
em B que corresponde h , via P. Nestas condições segue que m · h é um ponto da
cônica (pela definição de cônica de pontos). Mas, como h é uma tangente em A, esta
contém apenas um ponto da cônica que neste caso é o ponto A. Deste fato segue que
m · h é igual a A, logo A pertence a m; mas sabemos que B também pertence a m,
portanto m é igual a AB e consequentemente pela injetividade de P obtemos h = h.

Observação 2.13. Esta tangente é a reta correspondente à reta AB considerada como


a reta do feixe que passa por B quando a cônica é definida pela projetividade relativa
dos feixes com centros A e B.

Corolário 2.7. Uma cônica de pontos é unicamente determinada por três pontos dis-
tintos não colineares, e pela tangente em dois deles.
Cônicas no Plano Projetivo 41

Demonstração. Para mostrar que uma cônica de pontos é unicamente determinada por
três pontos, P1 , P2 , P3 , desta cônica e pelas tangentes a dois destes, digamos tg P1 , tg P3 ,
basta definir uma projetividade que envolva tais tangentes unicamente determinadas
pelo teorema anterior. Para tanto considere a projetividade entre os feixes de centro
em P1 e centro em P3 que aplica tg P1 em P3 P1 , P1 P3 em tg P3 e P1 P2 em P3 P2 . Veja
que os outros dois pontos da cônica, Q e R, podem ser obtidos através das interseções
de retas dos feixes com centros em P1 e P3 , respectivamente: P1 Q · P3 Q e P1 R · P3 R.

Observação 2.14. Pela definição, tangentes são as retas que interceptam uma cônica
exatamente uma vez. Outras retas podem ou nao interceptar a cônica, mas como
o próximo teorema mostra, uma reta nunca pode inteceptar uma cônica mais que
duas vezes. Este resultado será usado mais adiante quando usamos uma aproximação
analítica para estudar mais propriedades de cônica de pontos.

Teorema 2.14. Uma reta intercepta uma cônica de pontos em no máximo dois pontos.

Demonstração. Suponha que uma reta r intercepta uma cônica de pontos em três
pontos distintos Q, R e S. Ainda, sejam P e P  os outros dois pontos da cônica e
considere os feixes com centros em P e P  . Então, a cônica pode ser definida em
termos da projetividade entre estes feixes onde Q, R e S são pontos da interseção dos
pares de retas correspondentes P Q e P  Q, P R e P  R, P S e P  S, ou seja, a projetividade
é dada por P Q, P R, P S ∧ P  Q, P  R, P  S. Porém, por hipótese os três pontos Q, R e S
pertencem a r, consequentemente esta projetividade é na verdade uma perspectividade
onde r é o seu eixo de perspectividade, o que contradiz a definição de uma cônica de
pontos.
3 Modelo Analítico para o Plano
Projetivo

No capítulo anterior, sinteticamente, apresentamos o sistema axiomático para a


geometria projetiva, estabelecemos um modelo para o plano projetivo π  e ainda trata-
mos de objetos inerentes a esta geometria. Neste momento trataremos destes objetos
analiticamente.
Primeiramente apresentamos um modelo analítico para o plano euclidiano; este nos
será muito útil posteriormente, uma vez que, o plano projetivo π  é uma extensão do
plano euclidiano.
Estes modelos estão fundamentados sob uma relação de equivalência em R3 a qual
tratamos a seguir:

Proposição 3.1. Defina em R3 a seguinte relação binária: ∀(a1 , a2 , a3 ), (b1 , b2 , b3 ) ∈


R3 ,

(b1 , b2 , b3 ) ∼ (a1 , a2 , a3 ) ⇔ ∃k ∈ R\{0} : bi = kai , i = 1, 2, 3.


A relação ∼ é uma relação de equivalência.

Demonstração. Devemos mostrar que ∼ satisfaz as propriedades: reflexão, simetria e


transitividade. Façamos isto.
Reflexiva: Para todo (a1 , a2 , a3 ) ∈ R3 : (a1 , a2 , a3 ) ∼ (a1 , a2 , a3 ), pois
ai = 1ai , i = 1, 2, 3. Neste caso se k = 1.
Simétrica: Para todo (a1 , a2 , a3 ), (b1 , b2 , b3 ) ∈ R3 :
Se (a1 , a2 , a3 ) ∼ (b1 , b2 , b3 ) então
(b1 , b2 , b3 ) ∼ (a1 , a2 , a3 ),
com efeito, (a1 , a2 , a3 ) ∼ (b1 , b2 , b3 ) ⇒ ∃k  ∈ R\{0} tal que bi = k  ai , i = 1, 2, 3.
Logo, ai = k1 bi .
Então considerando k = k1 , segue que (b1 , b2 , b3 ) ∼ (a1 , a2 , a3 )
Transitividade: Para todo (a1 , a2 , a3 ), (b1 , b2 , b3 ), (c1 , c2 , c3 ) ∈ R3 :
Se (a1 , a2 , a3 ) ∼ (b1 , b2 , b3 ) e (b1 , b2 , b3 ) ∼ (c1 , c2 , c3 ) então
(a1 , a2 , a3 ) ∼ (c1 , c2 , c3 ).

42
Sobre o plano euclidiano 43

De fato, por hipótese sabemos que existem k1 , k2 ∈ R\{0} tal que bi = k1 ai , i =


1, 2, 3 e ci = k2 bi , i = 1, 2, 3.
Assim, ci = k2 bi = k2 (k1 ai ) = (k2 k1 )ai .
Logo, considerando k = k2 k1 , temos que (a1 , a2 , a3 ) ∼ (c1 , c2 , c3 ).

3.1 Sobre o plano euclidiano


O estudo analítico está baseado na premissa de que cada ponto no plano euclidiano
pode ser designado com um par ordenado de números reais. Esta associação é realizada
via um sistema de coordenadas cartesianas, onde duas retas perpendiculares são usadas
como eixos. Ao ponto de interseção destes eixos designamos o par ordenado (0, 0) e
aos demais pontos designamos os pares ordenados como na figura 3.1. Denotamos as
coordenadas de um ponto P por (x1 , x2 ).

Figura 3.1: Pares ordenados.

Com a representação analítica de pontos dado acima, as retas do plano euclidiano


podem ser representadas analiticamente por equações da forma

u 1 x 1 + u2 x 2 + u3 = 0
onde os coeficientes ui são números reais constantes e u21 + u22 = 0. Reciprocamente,
três números reais u1 , u2 , u3 , tais que u21 + u22 = 0, definem uma reta, que denotamos
por [u1 , u2 , u3 ] e dizemos que cada ui é uma coordenada desta reta.
Uma reta não é unicamente representada por suas coordenadas uma vez que, as
equações u1 x1 + u2 x2 + u3 = 0 e ku1 x1 + ku2 x2 + ku3 = 0 representam a mesma reta
para todo número real k diferente de zero.
Porém, existe uma correspondência biunívoca entre as retas do plano euclidiano e
as classes de equivalência definida pela relação ∼ da proposição 3.1.

Definição 3.1. Cada representante [u1 , u2 , u3 ], u21 + u22 = 0 de uma determinada classe
de equivalência (via ∼ da proposição 3.1) é denominado coordenadas homogêneas
da reta que este define.

Ou seja, neste contexto, retas do plano euclidiano são interpretadas como sendo
classes de equivalências de triplas ordenadas [u1 , u2 , u3 ], onde u21 + u22 = 0; qualquer um
Sobre o plano euclidiano 44

dos representantes da classe de equivalência é denominado coordenadas homogêneas


da reta.
Note ainda que, considerando a notação matricial temos que a equação da reta
correspondente a tripla ordenada [u1 , u2 , u3 ] é uX = ⎡ 0 onde
⎤ u é a matriz linha
  x1
⎢ ⎥
u = u1 u2 u3 , X é a matriz coluna X = ⎣ x2 ⎦ e 0 representa matriz nula.
1
 
Por exemplo, u = 2 −3 5 então uX = 0 representa a equação 2x1 − 3x2 + 5 = 0.
Vejamos agora como interpretar os pontos do plano euclidiano como classes de
equivalência (via ∼ da proposição 3.1).
Observe que cada ponto do ponto euclidiano está em correspondência biunívoca
com uma classe de equivalência (via ∼ da proposição 3.1) de uma determinada tripla
ordenada (y1 , y2 , y3 ), com y3 = 0.
De fato, note que cada tripla ordenada (y1 , y2 , y3 ), y3 = 0, é equivalente a terna
y1 y2
( y3 , y3 , 1). Ou seja, cada classe de equivalência tem um representante (único) da forma
(x1 , x2 , 1) e reciprocamente.
Desta maneira , cada ponto (x1 , x2 ) do plano euclidiano está em correspondência
biunívoca com a classe de equivalência a qual (x1 , x2 , 1) pertence. Por exemplo, o ponto
do plano com coordenadas (2, −3) é um ponto com coordenadas homogêneas (2, −3, 1).

Definição 3.2. Cada representante (y1 , y2 , y3 ), y3 = 0, de uma determinada classe de


equivalência (via ∼ da proposição 3.1) é denominado coordenadas homogêneas do
ponto que este define.

Definição 3.3. Dizemos que um ponto do plano em coordenadas homogêneas (x1 , x2 , 1)


é incidente com uma reta [u1 , u2 , u3 ] se, e somente se,

uX = 0,


  x1
⎢ ⎥
onde u é a matriz linha u = u1 u2 u3 , X é a matriz coluna X = ⎣ x2 ⎦ e 0
1
representa matriz nula.

Consequentemente as considerações anteriores nos permitem estabelecer o seguinte


modelo analítico para o plano euclidiano:
Sobre o plano projetivo 45

Termo indefinido Interpretação


Pontos Classe de equivalência de triplas or-
denadas (y1 , y2 , y3 ), onde y3 = 0.
Retas Classe de equivalência de triplas or-
denadas [u1 , u2 , u3 ], onde u21 + u22 =
0.
Incidência Um ponto (x1 , x2 , 1) é incidente so-
bre uma reta [u1 , u2 , u3 ] se, e so-
mente se uX =⎡ 0, ⎤em u =
x1
⎢ ⎥
[u1 , u2 , u3 ], e X = ⎣ x2 ⎦ e 0 a ma-
1
triz nula.

3.2 Sobre o plano projetivo


O modelo analítico para o plano projetivo é inspirado no modelo para o plano
euclidiano. Aqui novamente empregamos a relação de equivalência da proposição 3.1.
A saber,

Termo indefinido Interpretação


Pontos Classe de equivalência não nula de
triplas ordenadas de números reais;
qualquer elemento (x1 , x2 , x3 ) desta
classe de equivalência é denomi-
nada coordenadas homogêneas
do ponto. Ainda denotamos por X
a classe de um ponto X ∈ R3 .
Retas Classe de equivalência não nula de
triplas ordenadas de números reais;
qualquer elemento [u1 , u2 , u3 ] desta
classe de equivalência é denomi-
nada coordenadas homogêneas
da reta .
Incidência A reta [u1 u2 u3 ] é incidente com o
ponto (x1 ,⎡x2 , x3⎤) se, e somente se
x1
⎢ ⎥
[u1 , u2 , u3 ] ⎣ x2 ⎦ = 0, em que 0 re-
x3
presenta a matriz nula.
Sobre o plano projetivo 46

De acordo com [6], toda reta l passando pela origem pode ser representada na
notação vetorial como:

l : (x1 , x2 , x3 ) = t(s1 , s2 , s3 ), t ∈ R,
onde x = (x1 , x2 , x3 ) é o vetor definido da origem a um ponto arbitrário X sobre a reta
l e s é o vetor diretor para a l. Observe que qualquer múltiplo escalar não nulo do
vetor diretor s é também um vetor diretor para a mesma reta.
Também por [6], todo plano τ passando pela origem pode ser representado da forma:

τ : n, x = n1 x1 + n2 x2 + n3 x3 = 0,
onde x = (x1 , x2 , x3 ) é o vetor definido da origem a um ponto arbitrário X sobre o
plano τ e n = (n1 , n2 , n3 ) é um vetor normal ao plano.
Portanto, uma reta l passando pela origem com vetor diretor s pertence ao plano
τ (passando pela origem) com vetor normal n se, e somente se,
n, s = 0. Ou seja, n e s são perpendiculares.
Sendo assim, é possível identificar cada ponto P em π com uma classe de equivalên-
cia de R3 , a saber, o conjunto de todos os possíveis vetores diretores para a reta que
passa pela origem e intercepta π em P . Em outras palavras, P é identificado com a
classe de equivalência de R3 a qual o vetor diretor s pertence.
Analogamente, cada reta l em π pode ser identificada com uma classe de equivalên-
cia em R3 , a saber, o conjunto de todos os possíveis vetores normais ao plano que passa
pela origem e que intercepta π em l. Isto é cada reta l é identificada com a classe de
equivalência de R3 a qual n pertence.
Desta maneira, elementos destas classes de equivalência (a saber, do vetor diretor
normal) foram identificados com coordenadas homogêneas de pontos e retas em π.
Para completar o processo, precisamos encontrar coordenadas homogêneas para os
pontos ideais e para a reta ideal adicionados a π para a obtenção de π  .
Podemos obter isto através da identificação de cada ponto ideal com a classe de
equivalência não nula dos possíveis vetores diretores da reta pertencente ao plano XY
correspondente a este ponto ideal, e identificando a reta ideal com a classe de equivalên-
cia não nula dos possíveis vetores normais ao plano XY .
Agora, as coordenadas homogêneas de um ponto ideal são dadas por (x1 , x2 , 0) e as
coordenadas homogêneas de uma reta ideal dada por [0, 0, u1 ].
Usando esta identificação, estamos habilitados a dizer que pontos em π  são colinea-
res se, e somente se, as retas correspondentes a estes são coplanares, mas da Àlgebra
Linear sabemos que estas retas são coplanares se, e somente se, os respectivos vetores
diretores são linearmente independentes.
Observação 3.1. No que segue a notação P (p1 , p2 , p3 ) significa que (p1 , p2 , p3 ) são as
coordenadas homogêneas do ponto P , assim com u[u1 , u2 , u3 ] significa que [u1 , u2 , u3 ]
são as coordenadas homogêneas da reta u.
Sobre o plano projetivo 47

Teorema 3.1. Três pontos, X(x1 , x2 , x3 ), Y (y1 , y2 , y3 ), Z(z1 , z2 , z3 ) são colineares se, e
somente se o determinante


x1 y1 z1


x2 y2 z2
=0


x3 y3 z3

Demonstração. Sabemos que X, Y, Z são colineares se, e somente se existe uma reta
de coordenadas homogêneas u[u1 u2 u3 ] tal que

u 1 x 1 + u2 x 2 + u 3 x 3 = 0
u1 y1 + u2 y2 + u3 y3 = 0
u1 z1 + u2 z2 + u3 z3 = 0
ou na notação matricial
⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
x1 x2 x3 u1 0
⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ y1 y2 y3 ⎦ ⎣ u2 ⎦ = ⎣ 0 ⎦
z1 z2 z3 u3 0
Se


x1 x2 x3


y1 y2 y3
= 0


z1 z2 z3

segue pela Regra de Cramer que este sistema homogêneo admite como solução apenas
a solução trivial. Mas se este ocorre, ou seja, u1 = u2 = u3 = 0; temos que u1 , u2 , u3
não definem uma reta. Portanto, necessariamente


x1 x2 x3


y1 y2 y3
= 0.


z1 z2 z3

Disto, segue que




x1 y1 z1


x2 y2 z2
=0


x3 y3 z3

já que o determinante de uma matriz coincide com o determinante de sua transposta.

Corolário 3.1. Se P (p1 , p2 , p3 ) e Q(q1 , q2 , q3 ) são pontos distintos, então a equação da


reta P Q pode ser escrita por:
Sobre o plano projetivo 48


x1 p1 q1


x2 p2 q2
= 0.


x3 p3 q3

Vejamos agora como determinar quando três retas são concorrentes e encontrar a
equação do ponto determinado por duas retas. Aqui, no entanto, as coordenadas das
retas são usadas como linhas em vez de colunas.

Teorema 3.2. Três retas, u, v e w são concorrentes se, e somente se o determinante




u1 u2 u3


v1 v2 v3
= 0.


w1 w2 w3

Demonstração. Suponha que as retas distintas u, v e w sejam concorrentes e denote


por (x1 , x2 , x3 ) o ponto em comum.
Consequentemente, considerando [u1 , u2 , u3 ], [v1 , v2 , v3 ] e [w1 , w2 , w3 ] as coordenadas
homogêneas de u, v e w respectivamente, temos que este ponto é concorrente a três retas
se, e somente se,

u 1 x1 + u2 x2 + u 3 x3 = 0
v 1 x1 + v 2 x2 + v 3 x3 = 0
w 1 x1 + w 2 x2 + w 3 x3 = 0
ou em notação matricial
⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
u1 u2 u3 x1 0
⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ v1 v2 v3 ⎦ ⎣ x2 ⎦ = ⎣ 0 ⎦
w1 w2 w3 x3 0.
Se


u1 u2 u3


v1 v2 v3
= 0


w1 w2 w3

segue pela Regra de Cramer que a única solução possível é a trivial, o que não pode
ocorrer já que em nossa interpretação analítica um ponto é uma classe de equivalência
não nula.
Sendo assim, necessariamente,


u1 u2 u3


v1 v2 v3
= 0.


w1 w2 w3

Sobre o plano projetivo 49

Corolário 3.2. A equação do ponto de interseção das retas concorrentes p e q, deno-


tado por p · q pode ser escrita como


u1 u2 u3


p1 p2 p3
= 0.


q1 q2 q3

Exemplo 3.1. Pelo corolário anterior podemos encontrar a equação do ponto de in-
terseção das retas p e q dadas pelas coordenadas homogêneas [−2, 5, 7] e [3, 1, 2]. Veja
que esta equação é determinada por


u1 u2 u3


−2 5 7
= 0.


3 1 2

Expandindo este determinante temos a equação 3u1 + 25u2 − 17u3 = 0, que é a


equação de um ponto. Note que as coordenadas deste ponto são (3, 25, −17).

O próximo teorema é de fundamental importância para reescrevermos projetivi-


dades na forma analítica.

Teorema 3.3. Se P (p1 , p2 , p3 ) e Q(q1 , q2 , q3 ) são dois pontos distintos, então qualquer
ponto R da reta P Q tem coordenadas homogêneas (r1 , r2 , r3 ) onde ri = λ1 pi + λ2 qi , i =
1, 2, 3 e λ1 , λ2 ∈ R e λ21 + λ22 = 0. Reciprocamente, qualquer ponto R com coordenadas
homogêneas desta forma pertence a reta P Q.

Demonstração. (⇐) Suponhamos que o ponto R tenha coordenadas homogêneas (λ1 p1 +


λ2 q1 , λ1 p2 + λ2 q2 , λ1 p3 + λ1 q3 ), com λ1 , λ2 ∈ R∗ . Então:




r1 p1 q1

λ1 p1 + λ2 q1 p1 q1


r2 p2 q2
=
λ1 p2 + λ2 q2 p2 q2
=0




r3 p3 q3

λ1 p3 + λ3 q3 p3 q3

Logo, pelo teorema 3.1, os pontos P, Q


e R são colineares.


r 1 p 1 q1

(⇒) Se R pertence a P Q então


r2 p2 q2
= 0, ou em outras palavras, os


r 3 p 3 q3

vetores correspondentes à estes três pontos são linearmente dependentes. Portanto,


existem λ1 , λ2 , λ3 não todos nulos, tais que λ1 P +λ2 Q+λ3 R = 0. Note que λ3 = 0 já que
P e Q são pontos distintos. Portanto, assumindo λ3 = −1, segue λ1 P + λ2 Q = R.

Definição 3.4. Os pontos P e Q usados no teorema 3.3 são chamados pontos base,
enquanto que λ1 e λ2 são chamados parâmetros homogêneos de R com relação a P e
Q.
Sobre o plano projetivo 50

Observação 3.2. Os parâmetros homogêneos dos pontos base P e Q, com relação a


P e Q respectivamente, são (1, 0) e (0, 1). Em geral, os parâmetros homogêneos de
um ponto dependem dos pontos base escolhidos e de suas coordenadas homogêneas.
Então, coordenadas homogêneas especificas para os pontos base devem ser usadas.
Mesmo assim, não existe um único conjunto de parâmetros homogêneos para cada
ponto, já que (λ1 , λ2 ) e (kλ1 , kλ2 ) representam o mesmo ponto (k = 0); mas a razão
λ = λ1 /λ2 é única.

Definição 3.5. No contexto da observação anterior a razão λ = λ1 /λ2 é chamada


parâmetro do ponto.

Note que o parâmetro de Q é 0, e convencionamos o parâmetro de P como sendo


∞. Desta maneira os números reais estão em correspondência injetora com todos os
pontos pertencentes a uma reta, exceto com um, a saber, o primeiro ponto base.

Observação 3.3. Veja que temos o dual do teorema 3.3 para retas, a saber: Se
u[u1 , u2 , u3 ] e v[v1 , v2 , v3 ] são retas distintas e concorrentes então qualquer reta do plano
definido por u e v tem coordenadas homogêneas (w1 , w2 , w3 ) onde wi = λ1 vi + λ2 wi ,
i = 1, 2 e λ21 + λ22 = 0; e reciprocamente, qualquer reta com estas coordenadas pertence
ao plano determinado pelas retas u e v.
As retas u e v em questão são denominadas retas base e os números reais λ1 e λ2
são chamados parâmetros homogêneos de w com relação a u e v.

Teorema 3.4. Uma projetividade entre dois feixes pode ser representada por uma
equação matricial (real) da forma

λ1 a11 a12 λ1
s =
λ2 a21 a22 λ2
com a11 a22 − a21 a12 = |A| = 0, s = 0, onde (λ1 , λ2 ) são parâmetros homogêneos dos
elementos originais e (λ1 , λ2 ) são parâmetros homogêneos das imagens destes, respec-
tivamente, com relação a uma base predeterminada de elementos.

Demonstração. Sejam P e Q pontos base do feixe de pontos e m e n retas base do feixe


de retas.
Considere X(x1 , x2 , x3 ) um ponto sobre a reta P Q, distinto de P e Q com parâme-
tros homogêneos (λ1 , λ2 ) ; suponha que a reta x [x1 , x2 , x3 ] de parâmetros homogêneos
λ1 e λ2 seja a imagem de X sob esta perspectividade.
Note que, pela definição de perspectividade segue que x é incidente ao ponto X,
ou seja,
⎡ ⎤
  x1
⎢ ⎥
x1 x2 x3 ⎣ x2 ⎦ = 0.
x3
Sobre o plano projetivo 51

O que resulta:

x1 x1 + x2 x2 + x3 x3 = 0. (I)


Reescrevendo a equação (I) em termos de componentes temos

(λ1 m1 +λ2 n1 )(λ1 p1 +λ2 q1 )+(λ1 m2 +λ2 n2 )(λ1 p2 +λ2 q2 )+(λ1 m3 +λ2 n3 )(λ1 p3 +λ2 q3 ) = 0.
(II)
Logo,

λ1 λ1 (p1 m1 + p2 m2 + p3 m3 ) + λ1 λ2 (q1 m1 + q2 m2 + q3 m3 )+

λ2 λ1 (p1 n1 + p2 n2 + p3 n3 ) + λ2 λ2 (q1 n1 + q2 n2 + q3 n3 ) = 0 (III)


Para simplificar a equação (III) adotemos a seguinte notação:


3
a21 = pi mi
i=1
3
a22 = qi m i
i=1
(IV )
3
a11 = − pi ni
i=1

3
a12 = − qi n i
i=1

Consequentemente,

a21 λ1 λ1 + a22 λ1 λ2 − a11 λ2 λ1 − a12 λ2 λ2 = 0 (V )


ou seja,

λ1 (a21 λ1 + a22 λ2 ) = λ2 (a11 λ1 + a12 λ2 ) = 0 (V I)


Disto resulta que

λ1 a11 λ1 + a12 λ2



= (V II)
λ2 a21 λ1 + a22 λ2
Mas isto significa que existe s = 0 tal que

sλ1 = a11 λ1 + a12 λ2


(V III)
sλ2 = a21 λ1 + a22 λ2
Em notação matricial:
Sobre o plano projetivo 52


λ1 a11 a12 λ1
s = (IX)
λ2 a21 a22 λ2
Observe que

a11 a22 + a21 a12 =| A |= 0 (X)


uma vez que a perspectividade é uma aplicação injetora.
Ainda, resolvendo a equação (IX) para λ1 /λ2 obtemos uma representação algébrica
para uma perspectividade entre um feixe de retas e um feixe de pontos.
Agora para finalizar a demonstração basta lembrar que qualquer projetividade é
um produto finito de perspectividade e que o produto entre duas matrizes do tipo que
aparece na equação (IX) ainda é da mesma forma destas.

Exemplo 3.2. Procuremos uma matriz da projetividade que aplica pontos sobre uma
reta p com parâmetros homogêneos (1, 3), (1, 2) e (2, 3) a pontos sobre outra reta p
com parâmetros homogêneos (1, −4), (0, 1) e (−1, 1) respectivamente.
Veja que pelo
a b
teorema 3.4, a projetividade pode ser representada por uma matriz , onde:
c d

λ1 a b λ1
s = .
λ2 c d λ2
O objetivo é determinar a, b, c e d. Para isto supondo que o par ordenado (1, 2) é
aplicado em (0, 1) temos:

0 a b 1
s1 =
1 c d 2
ou seja,

0 = a + 2b
(I)
s1 = c + 2d
Veja que da equação (I) segue:

a = −2b. (II)
Com isto e pelo fato de que o par ordenado (1, 3) é aplicado em (1, −4) obtemos a
relação:

1 −2b b 1
s2 =
−4 c d 3
isto é,
Sobre o plano projetivo 53

s2 = b (III)

−4s2 = c + 3d (IV )
Substituindo (III) em (IV ) resulta que

c = −3d − 4b (V ).
Pelas equações (II) e (III) e sabendo que o par (2, 3) é levado em (-1, 1) por tal
projetividade, segue a relação:

−1 −2b b 2
s3 =
1 −3d − 4b d 3
consequentemente,

−s3 = −b (V I)

s3 = −3d − 8b. V II
Tomando s3 = 1 então da equação (V I) temos que b = 1 e da equação (V II) que
d = −3. Desta maneira pelas equações (V ) e (V I) obtemos c = 5 e a = −2.
Portanto a matriz A, é a matriz

−2 1
.
5 −3
Observe que os escalares não precisam assumir os mesmos valores, neste caso, por
exemplo, temos que s2 = 1 = s3 enquanto que s1 = −1.

A seguir apresentamos um teorema com a qual comprovamos que a recíproca do


teorema anterios também vale.

Teorema 3.5. Qualquer aplicação dada por uma equação matricial da forma

λ1 a b λ1
s = ad − bc = 0, s = 0 (3.9)
λ2 c d λ2
é uma projetividade.

Demonstração. Para esta demonstração assumimos que ambos feixes envolvidos são
feixes de pontos, porém por argumentos análogos é possível demonstrá-los para demais
casos.
Sejam P (1, 0) e Q(0, 1) pontos base para o primeiro feixe de pontos e R o ponto
com parâmetros (1, 1) com relação aos pontos P e Q. Desta forma, da aplicação
Sobre o plano projetivo 54

resultante da equação matricial A segue que P  (a, c), Q (b, d) e R (a + b, c + d) são os


elementos correspondentes, via tal aplicação, do segundo feixe de pontos com relação a
uma base predeterminada. Pelo teorema 2.6, existe uma única projetividade P tal que
P : P QR → P  Q R . Mas pelo teorema 3.4 a projetividade P tem a seguinte equação
matricial

λ1 a11 a12 λ1
s =
λ2 a21 a22 λ2
Consequentemente, para demonstrar este teorema é suficiente mostrar que a matriz

a11 a12
a21 a22
é múltiplo escalar da matriz de equação A. Para deteminar a, b, c, d usaremos o fato
de que P é aplicado em P  , Q é aplicado em Q e R é aplicado em R , via P. Uma vez
que o escalar s pode ser diferente em cada situação, podemos permitir que s assuma
diferentes valores em cada um dos casos, ou seja, temos as três seguinte equações
matriciais.

a a11 a12 1 b a11 a12 0
s1 = s2 =
c a21 a22 0 d a21 a22 1

a+b a11 a12 1
s3 =
c+d a21 a22 1

Destas equações matriciais obtemos


s1 a = a11 s2 b = a12 s3 (a + b) = a11 + a12
s1 c = a21 s2 d = a22 s3 (c + d) = a21 + a22
Uma vez que estas seis equações tem sete incógnitas, uma destas podemos escolher.
Digamos então que s3 = 1.
Consequentemente segue,

a + b = a11 + a12 = s1 a + s2 b
c + d = a21 + a22 = s1 c + s2 d
Ou seja,

a(1 − s1 ) + b(1 − s2 ) = 0
c(1 − s1 ) + d(1 − s2 ) = 0
e como ad − bc = 0, a solução s1 = 1 e s2 = 1 é única. Logo,
Sobre o plano projetivo 55

a = a11
b = a12
c = a21
d = a22 .
Portanto segue que a equação matricial

λ1 a11 a12 λ1
s =
λ2 a21 a22 λ2
é a representação de uma projetividade.

Observação 3.4. Pelos teoremas 3.4 e 3.5 podemos concluir então que existe uma
correspondência biunívoca entre os conjuntos das projetividades entre dois feixes com
relação a uma base predeterminada e o conjunto das classes de equivalência das matrizes
2 × 2 com determinantes não nulo, sob a relação ∼ dada por A ∼ B se, e somente se
A = sB para alguma constante diferente de zero.
Com o teorema 3.4 é possível verificar que o modelo analítico definido satisfaz o
axioma 2.6.

De acordo com o axioma 2.6, projetividades sobre feixe (que não seja a identidade)
tem no máximo dois elementos invariantes. O próximo teorema caracteriza as repre-
sentações matriciais de projetividade com dois, um ou nenhum elementos invariantes,
respectivamente.

Teorema 3.6. Uma projetividade sobre um feixe (que não seja a identidade) com
matriz

a11 a12
a21 a22
tem dois elementos invariantes se (a22 − a11 )2 + 4a12 a21 > 0, tem um elemento
invariável se (a22 − a11 )2 + 4a12 a21 = 0, ou nenhum elemento invariante se (a22 −
a11 )2 + 4a12 a21 < 0.

Demonstração. Note que (λ1 , λ2 ) é um elemento invariante se, e somente se



λ1 a11 a12 λ1
s =
λ2 a21 a22 λ2
que é, se, e somente se (λ1 , λ2 ) um vetor característico ou autovetor da matriz. Porém,
existem autovetores se, e
somente se, existe uma

solução s = 0 da equação |A−sI| = 0.

a −s


11 a12

Ou seja, 0 = |A − sI| =

= (a11 − s)(a22 − s) − (a21 a12 ) =

a21 a22 − s

Sobre o plano projetivo 56

s2 − (a11 + a22 )s − a21 a12 s + a11 a22 . Resolvendo para s temos o seguinte:

(a22 + a11 ) ±(a22 + a11 )2 − 4(a11 a22 − a12 a21 )
s=
2
Se a expressão sob o radical é positiva, há duas soluções distintas para s e portanto
dois autovetores linearmente independentes e assim dois pontos invariantes distintos
da projetividade. Se esta expressão é zero, há exatamante uma solução para s e por-
tanto exatamante um ponto invariante da projetividade. Finalmente, se a expressão
é negativa, não existem soluções reais para s e então não há pontos invariantes da
projetividade. Uma vez que esta expressão é algébricamente equivalente à expressão
na instrução do teorema, o resultado segue.

Definição 3.6. Uma projetividade sobre um feixe é denominado hiperbólica, parabólica,


ou elíptica se o número de elementos invariantes é 2, 1 ou 0, respectivamente.

A seguir definimos o objeto Raio Transversal. Veremos que, no contexto do modelo


analítico para o plano projetivo este valor numérico é invariante sob projetividades.

Definição 3.7. Se A, B, C, D são quatro elementos distintos de um feixe com par


homogêneos (α1 , α2 ), (β1 , β2 ), (γ1 , γ2 ) e (δ1 , δ2 ) respectivamente com relação a uma base
de pontos dada, então o raio transversal de A, B, C e D, R(A, B, C, D), é o número
real obtido pela seguinte expressão em termos de determinantes.




γ1 α1

δ1


α1


γ2 α2

δ2 α2

R(A, B, C, D) =


÷

.

γ1 β1

δ1 β1


γ2 β2

δ2 β2

Observação 3.5. Na definição acima se nenhum dos elementos A, B, C, D é o primeiro


elemento da base de pontos considerada, então (α, 1), (β, 1), (γ, 1), (δ, 1) também são
parâmetros homogêneos para tais pontos, respectivamente.
Veja que neste caso,

γ−α δ−α
R(A, B, C, D) = ÷ .
γ−β δ−β
Observação 3.6. É possível mostrar que as 24 permutações possíveis dos quatro ele-
mentos distintos de um feixe podem ser caracterizadas em termos do raio transversal
r em seis possíveis valores: r, 1/r, 1 − r, (r − 1)/r, r/(r − 1) e 1/(1 − r). Por exemplo,
R(A, B, C, D) = R(B, A, D, C) = R(C, D, A, B) = R(D, C, B, A) = r. E ainda,
R(D, C, A, B) = 1/r = R(A, C, B, D) e
R(B, C, A, D) = r − 1 = R(A, D, B, C).
Consequentemente, o raio transversal de quatro elementos distintos de um feixe não
pode ser 0, 1 ou ∞.
Sobre o plano projetivo 57

Teorema 3.7. O raio transversal de quatro elementos distintos de um feixe é invariante


sob uma projetividade.

Demonstração. Temos que provar que se A, B, C, D são elementos distintos de um feixe


correspondendo a elementos distintos A , B  , C  , D de outro feixe, ou seja, ABCD ∧
A B  C  D , então R(A, B, C, D) = R(A , B  , C  , D ). Veja que, sendo M = [aij ] a matriz
que define a projetividade tal que ABCD ∧ A B  C  D segue que




γ1 α1

γ1 α1


a11 a12


;

γ2 α2

a21 a22

γ1 α1


γ1 β1

γ1 β1


a11 a12


;

γ2 β2

a21 a22

γ1 β1


δ1 α1

δ1 α1


a11 a12


;

δ2 α2

a21 a22

δ1 α1


δ1 β1

δ1 β1


a11 a12


,

δ2 β2

a21 a22

δ2 β2

em que A tem parâmetros homogêneos (α1 , α2 ), A tem parâmetros homogêneos (α1 , α2 ),
B tem parâmetros homogêneos (β1 , β2 ), B  tem parâmetros homogêneos (β1 , β2 ), C
tem parâmetros homogêneos (γ1 , γ2 ), C  tem parâmetros homogêneos (γ1 , γ2 ), D tem
parâmetros homogêneos (δ1 , δ2 ), D tem parâmetros homogêneos (δ1 , δ2 ), com relação
a uma base predeterminada. Disto segue que




γ  α

δ  α


1 1

1 1


γ2 α2

δ2 α2

R(A , B , C , D ) =

   
÷


δ β 
=
 


1 1

1 1

γ β




γ2 β2

δ2 β2


a11 a12

γ1 α1

a11 a12

δ1 α1


a21 a22

γ2 α2

a21 a22

δ2 α2


=

a11 a12

γ1 β1

a11 a12

δ1 β1


a21 a22

γ2 β2

a21 a22

δ2 β2


γ α

δ α


1 1

1 1


γ 2 α2

δ2 α 2


γ β
÷
δ β
= R(A, B, C, D).

1 1

1 1


γ2 β2

δ2 β2

Como consequência deste teorema segue que o raio transversal pode ser calculado
diretamente das coordenadas homogêneas dos pontos envolvidos, ou seja:
Sobre o plano projetivo 58

Corolário 3.3. Se A, B, C, D, são pontos com coordenadas homogêneas (a1 , a2 , a3 ),


(b1 , b2 , b3 ), (c1 , c2 , c3 ), (d1 , d2 , d3 ) , são elementos distintos de um feixe, então

1.



c2 a2

d2


a2


c3 a3

d3 a3



÷

= R(A, B, C, D)

c2 b2


d b2


c 3 b3

d3 b3

desde que o feixe não contenha X(1, 0, 0)

2.



c1 a1

d1


a1


c3 a3

d3 a3



÷

= R(A, B, C, D)

c1 b1


d b1


c 3 b3

d3 b3

desde que o feixe não contenha Y (0, 1, 0)

3.



c1 a1

d1


a1


c2 a2

d2 a2



÷

= R(A, B, C, D)

c1 b1


d b1


c 2 b2

d2 b2

desde que o feixe não contenha Z(0, 0, 1)

Assim se Z(0, 0, 1) não é um elemento do feixe, as duas primeiras coordenadas


homogêneas destes elementos podem ser usadas como parâmetros homogêneos no raio
transversal. Porém se o feixe contém Z(0, 0, 1) (então este corolário falha para esta
afirmação), então também não pode conter ambos X(1, 0, 0) e Y (0, 1, 0) e corolários
semelhantes podem ser provados para feixes que não contém X e para feixes que não
contém Y . O uso de uma dessas afirmações semelhantes é vista no exemplo a seguir.
Exemplo 3.3. Vejamos como calcular R(A, B, C, D) onde A(1, 2, 1), B(3, 6, 1), C(2, 4, 1)
e D(1, 2, 0) são pontos sobre a reta l[2, −1, 0].
Note que Z(0, 0, 1) é um ponto em l, logo não podemos usar o item (3), entretanto
o ponto X(1, 0, 0) não incide com l, assim segue do item (1):




4 2

2 2


1 1

0 1
2 2
R(A, B, C, D) =


÷

= ÷ = −1.

4 6

2 6


−2 2




1 1

0 1

Observe que como Y também não incide a reta l, poderíamos ter calculado o raio
transversal usando o item (2), o qual daria o mesmo valor.
Sobre o plano projetivo 59

Teorema 3.8. Se três elementos distintos de um feixe, A, B, C e um número real r


(r = 0, 1) são dados, então existe um único ponto D tal que R(A, B, C, D) = r.
Sejam (a1 , a2 , a3 ), (b2 , b2 , b3 ), (c1 , c2 , c3 ) parâmetros homogêneos dos pontos A, B, C, D,
com relação a uma base predeterminada B. Para determinar tal ponto D basta encon-
trarmos seus parâmetros homogêneos com relação a base B.
Isto segue das equações dadas nos itens (1), (2) e (3) do corolário 3.3, isto é;

1.



c2 a2

d2


a2


c3 a3

d3 a3



÷

= R(A, B, C, D)

c2 b2


d b2


c 3 b3

d3 b3

desde que o feixe não contenha X(1, 0, 0)

2.



c1 a1

1 a1


c3 a3

d3 a3



÷

= R(A, B, C, D)



d


c 1 b1

1 b1


c 3 b3

d3 b3

desde que o feixe não contenha Y (0, 1, 0)

3.



c1 a1

d1


a1


c2 a2

d2 a2



÷

= R(A, B, C, D)

c1 b1


d b1


c 2 b2

d2 b2

desde que o feixe não contenha Z(0, 0, 1)

Destas igualdades temos:


⎧ c a −a c


2 3 2 3
= r

⎪ d2 a3 − a2 d3





⎨ c a −a c
1 3 1 3
= r

⎪ d1 a3 − a1 d3





⎪ c a − a1 c 2

⎩ 1 2 = r
d1 a2 − a1 d2
Ou seja, obtemos um sistema linear de três equações e três incógnitas.


⎨ u11 d1 + u21 d2 + 0d3 = γ1
u12 d1 + 0d2 + u32 d3 = γ2


0d1 + u23 d2 + d33 d3 = γ3
Sobre o plano projetivo 60

em que uij e γk dependem de a1 , a2 , a3 , b1 , b2 , b3 , c1 , c2 , c3 e r dados.


Desta maneira sendo


u11 u12 0


u21 0 u23
= −(u12 u21 u33 + u11 u32 u22 ) = 0


0 u32 u33

é garantida a solução do sistema.

Teorema 3.9. Se A, B, C, D são elementos distintos de um feixe e A , B  , C  , D são


elementos distintos de um outro feixe, com R(A , B  , C  , D ) = R(A, B, C, D), então
existe uma projetividade aplicando A, B, C, D em A , B  , C  , D , respectivamente.

Demonstração. Pelo teorema fundamental 2.6, existe uma projetividade tal que ABC ∧
A B  C  . Seja D∗ a única imagem de D por esta projetividade. Pelo teorema 3.7
R(A, B, C, D) = R(A , B  , C  , D∗ ). Mas, por hipótede R(A, B, C, D) = R(A , B  , C  , D ),
consequentemente R(A , B  , C  , D ) = R(A , B  , C  , D∗ ), logo segue pelo teorema ante-
rior que D∗ = D .

No próximo resultado veremos a relação entre dois objetos importantes da geometria


projetiva, a saber, raio transversal e conjunto harmônico.

Teorema 3.10. Se A, B, C, D são elementos distintos de um feixe, então R(A, B, C, D)


= −1 se e somente se os pontos colineares A, B, C, D formam o conjunto harmônico
H(AB, CD).

Demonstração. (⇐) Uma vez que o conjunto harmônico H(AB, CD) existe segue
que H(AB, DC) também existe pelo corolário 2.1. Agora pelo teorema 2.8, sabe-
mos que existe uma projetividade tal que ABCD ∧ ABDC. Nestas condições, pelo
teorema 3.7 R(A, B, C, D) = R(A, B, D, C); mas pela observação (3.7) sabemos que
se R(A, B, C, D) = r, então R(A, B, D, C) = 1/r; consequentemente r = 1/r, ou seja,
r2 = 1. Como r = 1 isto implica que r = −1.
(⇒) Seja D um quarto elemento do feixe tal que A, B, C, D formam o conjunto
harmônico H(AB, CD ), a existência de D é garantida pelo teorema 2.2. Logo, pelo
mesmo argumento da demonstração anterior segue que R(A, B, C, D ) = −1. Mas
por hipótese R(A, B, C, D) = −1, ou seja, R(A, B, C, D ) = R(A, B, C, D). Portanto
segue do teorema 3.8 que D = D . Consequentemente existe o conjunto harmônico
H(AB, CD).
4 Transformações do Plano Projetivo

Neste capítulo estudaremos dois tipos de transformações lineares do plano projetivo,


a saber, colineações e correlações. A transformação colineação é caracterizada por
aplicar pontos colineares em pontos colineares, e consequentemente aplica reta em
reta, enquanto que a transformação correlação tem a propriedade de aplicar pontos
colineares em retas concorrentes e esta transformação será crucial para deduzirmos
equações analíticas para cada cônica estudada anteriormente.
Primeiramente vejamos a definição de uma transformação linear:

Definição 4.1. Seja V um espaço vetorial sobre R. Dizemos que uma aplicação T :
V → V é uma transformação linear de V se satisfaz as seguintes propriedades:
i) T (u + v) = T (u) + T (v), ∀u, v ∈ V ;
ii) T (ku) = kT (u), ∀u ∈ V, ∀k ∈ R.

Ainda, dizemos que T é injetora quando u = v implica T (u) = T (v), T é sobrejetora


quando ImT = V e T é uma bijeção quando é injetora e sobrejetora.

Teorema 4.1. T é uma transformação linear bijetora de R3 = {X(x1 , x2 , x3 ) : xi ∈ R}


se, e somente se T (x) = AX, em que A = [aij ]3×3 , |A| = 0 e aij ∈ R.

No que segue, V denota o conjunto U ∪ {(0, 0, 0)}, em que U é o conjunto de pontos


do modelo analítico ( isto é, classes de equivalência não nulas de ternas ordenadas em
R3 ). Observe que V munido das adições e multiplicações por escalares usuais de R3
forma um espaço vetorial sobre R.

Observação 4.1. Veja que uma transformação linear injetora de V = U ∪ {(0, 0, 0)}
está bem definida no seguinte sentido: se u ∼ v então T (u) ∼ T (v), de fato:
Se u ∼ v então: u = kv, k ∈ R∗ , logo T (u) = T (kv) = kT (v), k ∈ R∗ , isto é,
T (u) ∼ T (v).

4.1 Colineação
Definição 4.2. Uma transformação linear T de V = U ∪ {(0, 0, 0)} bijeção é deno-
minada colineação.

61
Colineação 62

Teorema 4.2. T é uma colineação se, e somente se, sX  = AX, [em que A = [aij ]3×3 ,

|A| = 0 e aij ∈ R, s = 0] X  é um ponto de R3 \{0, 0, 0} tal que T (X) = X .

Demonstração. Sabemos que T (X) = X , isto é, T ({kX, k ∈ R∗ }) = {lX  , l ∈ R∗ }, em

que X  é um ponto de R3 \{0, 0, 0} tal que X = X  .
Sendo assim, temos que para determinados k, l ∈ R∗ , c aplica kX ∈ R3 em lX  ∈ R3 .
Como T é uma transformação linear, isto equivale a dizer que c aplica cada X ∈ R3
em sX  ∈ R3 , em que s = kl ∈ R∗ . Desta observação e pelo teorema 4.1 segue que:

sX  = AX, [em que A = [aij ]3×3 , |A| = 0 e aij ∈ R, s = 0] (I).

Teorema 4.3. Uma colineação aplica pontos colineares em pontos colineares. Além
disso, a imagem, u , de uma reta u[u1 , u2 , u3 ] sob uma colineação com matriz A é dada
pela equação matricial ku = uA−1 , k ∈ R∗ , u = [u1 u2 u3 ], u = [u1 u2 u3 ].

Demonstração. Seja P, Q, R pontos colineares e suponha que P é um ponto da reta


QR. Mostraremos que a imagem de P , P  , é colinear com as imagens de Q e R,
denotadas por Q e R respectivamente.
Como P está sobre QR segue do teorema 3.3 que existem λ1 , λ2 ∈ R tal que

P = λ1 Q + λ2 R.

Sendo a equação matricial que define a colineação dada por

sX  = AX (II)

temos:
sP  = AP ⇒ sP  = A(λ1 Q + λ2 R) ⇒ P  = λ1 ( 1s AQ) + λ2 ( 1s AR) = λ1 Q + λ2 R .
Logo, pelo teorema 3.3 P  pertence a reta Q R .
Agora determinemos a equação matricial da imagem da reta u[u1 , u2 , u3 ] pela coli-
neação com equação matricial (II).
Sendo [u1 u2 u3 ]X = 0 a equação que define a reta u e [u1 u2 u3 ]X  = 0 a equação
que define a imagem de u, u , na sX  = AX temos:

1
0 = [u1 u2 u3 ]X  = [u1 u2 u3 ] AX.
s
 
Consequentemente X pertence a reta u se, e somente se X pertence a reta de
equação matricial [u1 u2 u3 ] 1s AX = 0.
Mas, X  pertence a reta de equação [u1 u2 u3 ]X  = 0 se, e somente se, X pertence a
reta de equação [u1 u2 u3 ]X = 0, como colineações são injetoras, segue que as equações
[u1 u2 u3 ] 1s AX = 0 e [u1 u2 u3 ]X = 0, define a mesma reta.
Portanto, necessariamente [u1 u2 u3 ]X = [u1 u2 u3 ] 1s AX ou k[u1 u2 u3 ] = [u1 u2 u3 ]A−1 ,
em que k = 1s .
Colineação 63

Observação 4.2. Dos teoremas 4.1 e 4.3 vemos que podemos descrever a aplicação
de qualquer colineação via uma equação entre pontos quanto via uma equação entre
retas. A matriz A presente em ambos os resultados é denominada matriz da colineação.
Note ainda que a matriz de uma colineação não é única, já que sendo A uma matriz de
colineação então rA, r ∈ R∗ , também é uma matriz de colineação segundo a seguinte
equação matricial equivalente a equação (I)

s1 X = (rA)X, com s1 = sr.

Corolário 4.1. Sob uma colineação, retas concorrentes correspondem a retas concor-
rentes.

Demonstração. Sejam u[u1 , u2 , u3 ] e v[v1 , v2 , v3 ] retas concorrentes, quaisquer.


Pelo teorema 4.3 as respectivas imagens destas retas via uma colineação de matriz
A são dadas por :

k1 u = uA−1 , k1 ∈ R∗
k2 v  = vA−1 , k2 ∈ R∗
e da demonstração do teorema 4.3 sabemos que u X  = 0 se e somente se uX = 0 em
que X  é a imagem de X via a colineação dada.
Sendo P o ponto comum de u e v temos:

uP = 0
vP = 0
Logo, 
u P  = 0
vP  = 0
Consequentemente P  é um ponto comum de u e v  , isto é, u e v  são retas concorrentes.

O seguinte teorema é a ponte para mostrar que as propriedades de raio transversal


e relações harmônicas são invariantes sob colineações.

Teorema 4.4. Uma colineação do plano projetivo induz uma projetividade entre os
elementos de feixes correspondentes.

Demonstração. Mostraremos o resultado apenas para feixe de pontos, para os demais


a demonstração é análoga.
Seja F um feixe de pontos e P, Q, R pontos quaisquer deste. Como P, Q, R são
colineares, pelo teorema 3.3 podemos escrever R = λ1 P + λ2 Q.
Sendo P  , Q e R suas imagens sob uma colineação com matriz A segue que estes
também são colineares, e portanto, R = μ1 P  + μ2 Q ; por outro lado, pelo teorema
4.2, temos
Colineação 64


⎪ 
⎨ s1 P = AP
s2 Q = AQ


s3 R = AR, si ∈ R∗ , ∀i = 1, 2, 3.
Consequentemente,
s3 R = A(λ1 P + λ2 Q) = λ1 AP + λ2 AQ = s1 λ1 P  + s2 λ2 Q .
Logo,
s3 (μ1 P  + μ2 Q ) = s3 R = λ1 s1 P  + λ2 s2 Q , ou seja

μ1 s1 0 λ1
s3 = . (1)
μ2 0 s2 λ2
Com isto concluímos que a colineação aplica feixe de pontos em feixe de pontos e
ainda pelo teorema 3.5 induz uma projetividade dada pela equação (1), já que


s 0



= s1 s2 = 0.

0 s2

Corolário 4.2. Raio transversal e conjuntos harmônicos são invariantes sob colinea-
ções.
Sabemos dos teoremas 2.7 e 3.7 que tanto conjunto harmônico quanto raio transver-
sal são invariantes sob projetividade .
Como toda colineação induz uma projetividade, esta mantém invariantes tais ob-
jetos. Enquanto que projetividades são unicamente determinadas por três pares de
elementos correspondentes, o próximo teorema mostra que colineações são unicamente
determinadas por quatro pares de elementos correspondentes. A prova desse teorema
ilustra uma técnica útil para encontrar a matriz de uma colineação, como veremos em
um exemplo, posteriormente.
Teorema 4.5. Existe uma única colineação que aplica quatro pontos quaisquer (cada
três não colineares) a quatro pontos quaisquer (cada três não colineares).
Demonstração. A verificação deste teorema consiste em encontrar algebricamente uma
matriz A de colineação que relaciona quatro pontos quaisquer P, Q, R, S (cada três não
colineares) a quatro pontos P  , Q , R , S  (cada três não colineares) e observando que
esta matriz é unicamente determinada a menos da relação de equivalência.
Primeiramente, considerando os pontos X(1, 0, 0), Y (0, 1, 0), Z(0, 0, 1) e U (1, 1, 1)
podemos encontrar uma matriz B tal que


⎪ s1 P  = BX

⎨ s Q = BY
2

⎪ s3 R = BZ


s4 S  = BU
Colineação 65

Também podemos determinar uma matriz C tal que




⎪ s5 P = CX

⎨ s Q = CY
6

⎪ s7 R = CZ


s8 S = CU
Observe que tais matrizes nada mais são do que as respectivas matrizes de mudança
de base.
Logo, temos o seguinte:


⎪ s1 P  = BX = Bs5 C −1 P

⎨ s Q = BY = Bs C −1 Q
2 6

⎪ s3 R = BZ = Bs7 C −1 R



s4 S  = BU = Bs8 C −1 S
Implica,
⎧ s1 

⎪ s5
P = BC −1 P

⎨ s2 
s6
Q = BC −1 Q


s3 
R = BC −1 R

⎩ s7
s4 
s8
S = BC −1 S
s1 s2 s3 s4
Ou seja , sendo A = BC −1 , k1 = s2
, k2 = s6
, k3 = s7
e k4 = s8
.
Segue:


⎪ k1 P  = AP

⎨ k Q
2 = AQ

⎪ k3 R  = AR


k4 S  = AS
Com isto, pelo teorema 4.2 temos a colineação que aplica P, Q, R e S em P  , Q , R
e S .

Corolário 4.3. Uma colineação de um plano que mantém quatro pontos fixados (cada
três não colineares) é a transformação identidade.

Demonstração. Seja ⎡ ⎤
a11 a12 a13
⎢ ⎥
A = ⎣ a21 a22 a23 ⎦
a31 a32 a33
a matriz da colineação que mantém os pontos P, Q, R, S (cada três não colineares)
invariantes, logo:
Colineação 66



⎪ k1 P = AP

⎨ k Q = AQ
2

⎪ k3 R = AR


k4 S = AS, ki ∈ R∗ , ∀i = 1, 2, 3, 4.
Ou seja,
⎡ ⎤ ⎡ ⎤⎡ ⎤
P1 a11 a12 a13 P1
⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎢ ⎥
k1 ⎣ P2 ⎦ = ⎣ a21 a22 a23 ⎦ ⎣ P2 ⎦
P3 a31 a32 a33 P3
k1 P1 = a11 P1 + a12 P2 + a13 P3 ⇒ a12 = 0 = a13 e k1 = a11
k1 P2 = a21 P1 + a22 P2 + a23 P3 ⇒ a21 = 0 = a23 e k1 = a22
k1 P3 = a31 P1 + a32 P2 + a33 P3 ⇒ a31 = 0 = a32 e k1 = a33 ,
logo,
⎡ ⎤
k1 0 0
⎢ ⎥
A = ⎣ 0 k1 0 ⎦ , k1 = 0
0 0 k1
Analogamente, podemos mostrar que
⎡ ⎤ ⎡ ⎤
k2 0 0 k3 0 0
⎢ ⎥ ⎢ ⎥
A = ⎣ 0 k2 0 ⎦ = A = ⎣ 0 k3 0 ⎦
0 0 k2 0 0 k3
Logo, a menos de relação de equivalência a matriz A é a identidade. Consequente-
mente a colineação é a transformação identidade.

Exemplo 4.1. Encontremos uma matriz de colineação que relaciona P (1, −3, 2), Q(2,
−1, 3), R(0, 3, −2) e S(−1, 3, 0) em P  (3, 7, 7), Q (0, 0, 1), R (5, 7, 6) e S  (1, 9, 7), respec-
tivamente.

Primeiramente devemos verificar se quaisquer três dos pontos P, Q, R e S não são co-
lineares, isto basta verificar que nenhum dos quatro determinantes |P QR|, |P QS|, |P RS|
e |QRS| são iguais a zero. Analogamente mostramos que três dos pontos P  , Q , R e
S  não são colineares. Façamos isto:


1 2 0


−3 −1 3
= −7


2 3 −2


−1 2 1


3 −1 −3
= −10


0 3 0

Colineação 67


1 0 −1


−3 3 3
=6


2 −2 0


2 0 −1


−1 3 3
= 19


3 −2 0

E ainda:


3 0 5


7 0 7
= 14


7 1 6


3 0 1


7 0 9
= −20


7 1 7


3 5 1


7 7 9
= 48


7 6 7


0 5 1


0 7 9
= 38


1 6 7

Agora, seguindo os procedimentos da demonstração do teorema 4.5 vamos determi-


nar a matriz B, tal que:
s1 P  = BX, s2 Q = BY, s3 R = BZ e s4 S  = BU ou seja:
⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
b11 b12 b13 1 3 b11 = 3s1
⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ b21 b22 b23 ⎦ ⎣ 0 ⎦ = s1 ⎣ 7 ⎦ ou b21 = 7s1 (3.10)
b31 b32 b33 0 7 b31 = 7s1
Substituindo a primeira coluna de B por (3.10) e usando a segunda equação temos:
⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
3s1 b12 b13 0 0 b12 = 0
⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ 7s1 b22 b23 ⎦ ⎣ 1 ⎦ = s2 ⎣ 0 ⎦ ou b22 = 0 (3.11)
7s1 b32 b33 0 1 b32 = s2
Substituindo a primeira coluna de B por (3.10) e (3.11) e usando a terceira equação,
obtemos:
⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
3s1 0 b13 0 5 b13 = 5s3
⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ 7s1 0 b23 ⎦ ⎣ 0 ⎦ = s3 ⎣ 7 ⎦ ou b23 = 7s3 (3.12)
7s1 1 b33 1 6 b33 = 6s3
Colineação 68

E finalmente, de (3.10), (3.11) e (3.12) e da quarta equação temos a igualdade


⎡ ⎤⎡ ⎤ ⎡ ⎤
3s1 0 5s3 1 1
⎢ ⎥⎢ ⎥ ⎢ ⎥
⎣ 7s1 0 7s3 ⎦ ⎣ 1 ⎦ = s4 ⎣ 9 ⎦ 3.13
7s1 s2 6s3 1 7
e por conseguinte o sistema:

3s1 + 5s3 = s4
7s1 + 7s3 = 9s4
7s1 + s2 + 6s3 = 7s4
Resolvendo este sistema vemos que s1 = −19, s2 = 24, s3 = 10 e s4 = −7 é uma
solução e então B é dada por:
⎡ ⎤
−57 0 50
⎢ ⎥
B = ⎣ −133 0 70 ⎦
−133 24 60
Um procedimento análogo é usado para determinar a matriz C via as equações
s5 P = CX, s6 Q = CY , s7 R = CZ e s8 S = CU . Obtemos
⎡ ⎤
1s5 2s6 0
⎢ ⎥
C = ⎣ −3s5 −1s6 3s7 ⎦
2s5 3s6 −2s7
tal que

1s5 + 2s6 = −s8


−3s5 − s6 + 3s7 = 3s8 (3.14)
2s5 + 3s6 − 2s7 = 0
Observe que s5 = 19, s6 = −6, s7 = 10 e s8 = −7 e então C é dada por
⎡ ⎤
19 −12 0
⎢ ⎥
C = ⎣ −57 6 30 ⎦
38 −18 −20
Finalmente, sendo A = BC −1
⎡ ⎤
2 1 −1
⎢ ⎥
A=⎣ 0 3 1 ⎦
−1 2 0

Observação 4.3. O teorema 4.5 nos permite simplificar provas analíticas escolhendo
quaisquer quatro pontos, a cada três não colineares, como os pontos de coordenadas:
X(1, 0, 0), Y (0, 1, 0), Z(0, 0, 1) e U (1, 1, 1).
Colineação 69

Teorema 4.6. Uma colineação tem pelo menos um ponto invariante e uma reta in-
variante.

Demonstração. Para mostrar que uma colineação com matriz A tem pelo menos um
ponto invariante, note que haverá um ponto invariante X se, e somente se existe um
escalar s = 0 tal que sX = AX. Mas sX = AX se, e somente se sIX − AX =
(sI − A)X = 0 em que I é a matriz identidade. Agora esta última equação tem uma
solução não trivial X se, e somente se |sI − A| = 0; mas como A é uma matriz real
3 × 3, temos que |sI − A| é um polinômio do terceiro grau em s e então tem pelo menos
uma solução real não nula para s. Analogamente, para mostrar que a colineação de
matriz A tem pelo menos uma reta invariante, o mesmo procedimento é usado, mas
com a equação ku = uA−1 .

Observação 4.4. A reta invariante de uma colineação não precisa ter todos os seus
pontos invariantes, isto é, embora pontos sobre uma reta invariante devem permanecer
sobre a reta após a aplicação da colineação, os pontos não são necessariamente mantidos
fixados.

Definição 4.3. Uma colineação que mantém fixado todos os pontos de uma reta in-
variante é chamada colineação perspectiva e esta reta é denominada eixo.

Observação 4.5. Temos que a transformação identidade é uma colineação perspectiva


e pelo teorema 4.5 uma colineação perspectiva que não seja a identidade pode ter no
máximo um ponto invariante não fora do eixo.
O seguinte teorema demonstra que existe sempre um ponto invariante sob uma
colineação perspectiva.

Teorema 4.7. Toda colineação perspectiva tem um ponto invariante tal que toda reta
que o contém é invariante sob esta colineação.

Demonstração. Sejam m o eixo da colineação perspectiva e observe que pelo teorema


4.6, esta colineação tem pelo menos um ponto invariante.

Caso 1. Suponha que um ponto invariante C não pertença a m. Neste caso alguma
reta que passa por C intersecta m em um segundo ponto invariante (que existe
pela definição de m) (figura 4.1). Portanto, cada reta que passa por C tem dois
pontos invariantes, a saber, C e o ponto que concorre com o eixo m, consequente-
mente esta tal reta é invariante.
Colineação 70

Figura 4.1: C, ponto invariante e m, reta de referência invariante.

Caso 2. Suponha que todo ponto invariante incide sobre m.


Seja P um ponto que não pertence a m, qualquer.
Agora, considere n = P P  em que P  é a imagem de P sob a colineação perspec-
tiva e defina C = n · m.
Veja que n = CP = CP  é invariante, pois C, P, P  são pontos de n e toda reta
é unicamente determinada por dois pontos.
Se R é outro ponto não incidente a m ou n, analogamente ao procedimento acima
é possível mostrar que existe uma reta invariante, a saber, o = RR .
Considere agora X = o · n (figura 4.2).
Uma vez que o e n são retas invariantes, segue que X é invariante logo, pela
hipótese X pertence a m, ou seja, X = n · m. Mas, C = n · m, logo X = C.
Portanto, todo ponto não incidente sobre m pertence a alguma reta invariante
que passa por C, isto é, toda reta passando por C é invariante.
Colineação 71

Figura 4.2: Retas invariantes.

Definição 4.4. O ponto invariante garantido pelo teorema anterior é denominado


centro da colineação perspectiva.

Teorema 4.8. Sejam m uma reta e C um ponto não incidente sobre m, quaisquer.
Existe uma única colineação perspectiva com eixo m e centro C que aplica um ponto P
dado (P = C e P não incidente sobre m) em um ponto P  dado pertencente a P C.

Demonstração. Caso 1. C não incide sobre m.


Defina D = P C · m e sejam E e F pontos sobre m distintos de D (figura 4.3).
Nestas condições, pelo teorema 4.5 existe uma única colineação que aplica P em
P  , C em C, E em E e F em F .
Note que esta colineação mantém m invariante uma vez que esta aplica E em E, F
em F , respectivamente. Veja ainda que P C = P  C é uma segunda reta invariante.
Portanto D = P C · m é um terceiro ponto invariante sobre m (bem como E e
F ), e disto segue que a projetividade induzida sobre m por esta colineação é a
identidade (conforme teorema 2.6), consequentemente m é uma reta tal que todo
ponto incidente sobre esta é invariante.
Com isto, tal colineação é uma colineação perspectiva com eixo m, e de acordo
com a demonstração do teorema 4.7, o centro pode ser o ponto C.

Caso 2. C incidente sobre m.


Para estes casos, defina D = P X · m, em que X é um ponto não incidente sobre a
reta P C ou não incidente a m (figura 4.4). Veja que esta colineação perspectiva
procurada, deve, necessariamente aplicar X em X  dado por CX ·P  D. Por outro
lado, pelo teorema 4.5 existe uma única colineação que aplica P em P  , X em
Colineação 72

X  , C em C e D em D. Desta forma, m é invariante sob esta colineação já que


C e D, pontos incidentes sobre m, são invariantes.
Veja que C é um ponto tal que toda reta que o contenha é invariante sob esta
colineação já que as três retas CP = CP  , m e CX = CX  são retas invariantes
sob esta colineação e C é incidente sobre as três.
Portanto, como m tem pelo menos dois pontos invariantes segue que necessaria-
mente m é o eixo desta colineação perspectiva.

Figura 4.3: Colineação perspectiva com centro C.

Figura 4.4: Colineação perspectiva com eixo m.

O teorema a seguir explica o nome colineação perspectiva; isto se deve ao fato de


que este tipo de colineação aplica triângulos a triângulos perspectivos.
Colineação 73

Teorema 4.9. Se P  Q R e P QR são triângulos perspectivos a partir do ponto C


e da reta m então P  Q R é a imagem de P QR sob uma colineação perspectiva de
centro C e eixo m.

Demonstração. Suponha que P QR e P  Q R são perspectivos pelo ponto C e pela


reta m. Já que P QR é um triângulo, os três pontos P, Q e R não são colineares.
Portanto pelo menos um destes pontos, digamos P , não pertence a m. Além disso já
que P QR e P  Q R são perspectivos por C, P  pertence a P C. Então pelo teorema
4.8, existe uma colineação perspectiva T com centro C e eixo m que relaciona P em
P .
Resta-nos mostrar agora que T (Q) = Q e T (R) = R . Façamos isto.
Pela demonstraçãodo teorema 4.8, T (Q) = P  D · QC em que D = P Q · m. Mas
P Q · m = P  Q · m, já que os triângulos são perspectivos por m, consequentemente
P  D = P  Q . Portanto T (Q) = P  Q · QC. Por outro lado, Q pertence a QC já que os
triângulos são perspectivos por C, então T (Q) = Q . Analogamente, T (R) = R .

Definição 4.5. Uma colineação perspectiva, que não seja a identidade, é chamada uma
elação se seu centro incide em seu eixo, e é chamada uma homologia caso contrário.

Teorema 4.10. Sob uma homologia com centro C e eixo m, qualquer ponto P que não
incide sobre m (P = C) tem uma imagem P  tal que C, P e P  são colineares e, ainda
se m · CP = Q, então R(C, Q, P, P  ) é constante para todo P .

Demonstração. Observe primeiramente que C, P e P  são colineares pelo teorema 4.8.


Agora mostraremos que se m · CP = Q então R(C, Q, P, P  ) é constante para todo
ponto P , em dois casos:
O fato de C, P e P  serem colineares por todas colineações perspectivas tem sido
observado anteriormente.

Caso 1. X não incide sobre CP e nem a m.


Seja X  a imagem de X sob esta homologia, e defina D = CX · m, E = P X · m,
com isto, temos que X  = XC · EP  , conforme ilustrado na figura 4.5.
E
Consequentemente, CQP P   CDXX  e então pelo teorema 3.7:

R(C, Q, P, P  ) = R(C, D, X, X  ) = constante.

Caso2. X incide sobre CP .


Para este caso, seja Y um ponto não incidente sobre CP (figura 4.6). Pelo caso
1, segue que R(C, Q, P, P  ) = R(C, D, Y, Y  ) e então considerando Y no lugar de
P na argumentação do caso 1 segue o resultado para X.
Correlação e Polaridade 74

Figura 4.5: X não pertence a CP e nem a m na homologia com centro C e eixo m.

Figura 4.6: X pertende a CP e Y não pertence a CP na homologia com centro C e


eixo m.

Definição 4.6. No contexto do teorema anterior, se este raio transversal é igual a −1,
a homologia será chamada uma homologia harmônica.

4.2 Correlação e Polaridade


O segundo tipo de transformações do plano projetivo, conhecido como correlações,
são também transformações lineares injetoras. Aqui, no entanto, as imagens de pontos
são retas.

Definição 4.7. Uma correlação é uma transformação linear bijetora entre o conjunto
de pontos do plano projetivo sobre o conjunto de retas do plano projetivo.

Observação 4.6. Analogamente as colineações, as correlações também podem ser


representadas por uma matriz, que é única a menos de relação de equivalência.
Correlação e Polaridade 75

Teorema 4.11. Uma correlação pode ser representada por uma matriz A real 3 × 3
em que |A| = 0. A equação matricial para a correlação é sut = AX com X ∈ R e
s ∈ R∗ .

Demonstração. Analoga a demonstração teorema 4.2. Observe que foi preciso utilizar
a transposta pois pontos são representados por uma matriz coluna enquanto que retas
são representadas por uma matriz linha.

Teorema 4.12. Uma correlação aplica pontos colineares em retas concorrentes. A


imagem de uma reta u sob uma correlação com matriz A é dada pela equação kX t =
uA−1 , k ∈ R∗ .

Demonstração. Análoga a demonstração do teorema 4.3

Corolário 4.4. Sob uma correlação, retas concorrentes são aplicadas em pontos co-
lineares.

Demonstração. Análoga a demonstraçao do corolário 4.1

Teorema 4.13. Uma correlação de um plano projetivo induz uma projetividade entre
os elementos dos feixes correspondentes.

Demonstração. Análoga a demonstração do teorema 4.4

Corolário 4.5. Raio transversal e conjuntos harmônicos são invariantes sob corre-
lações.

Demonstração. Análoga a demonstração do corolário 4.2

Teorema 4.14. Existe uma única correlação que aplica quaisquer quatro pontos, (cada
três não colineares), em quaisquer quatro retas, (cada três não concorrentes).

Demonstração. Análoga a demonstração do teorema 4.5.

Observação 4.7. Do teorema anterior segue que uma correlação leva quadrângulo em
um quadrilateral e vice-versa.

Definição 4.8. Uma correlação, cuja matriz é simétrica é chamada uma polaridade.
Se uma polaridade aplica um ponto P a uma reta p (e portanto p em P ), então p é
chamada polar de P e P é chamado o pólo de p com relação a polaridade dada.

Observação 4.8. Correlações aplica pontos em retas e retas em pontos, entretanto,


uma correlação que aplica um ponto P a uma reta p não necessariamente aplica a
reta p ao ponto P ; uma vez que uma correlação aplica cada ponto X a uma reta u de
acordo com a equação sut = AX e aplica a reta u ao ponto Y de acordo com a equação
kY t = uA−1 , segue da primeira equação que
Correlação e Polaridade 76

1 1
u = ( )(AX)t = ( )X t At .
s s
Agora se cada ponto X fosse a imagem da reta u, via a segunda equação, sendo
X = Y , então teríamos:

1
kX t = k  Y t = uA−1 = (( )X t At )A−1
s
ou

skX t = X t (At A−1 ).


Mas veja que isto ocorre para todo ponto X se, e somente se, At A−1 = I, ou seja,
se, e somente se, At = A se, e somente se a matriz A é simétrica.
Veja ainda que, como polaridades são correlações, e estas são aplicações bijetoras,
segue que as respectivas retas polares de pontos distintos são retas distintas, e vice e
versa.

Teorema 4.15. Um ponto P incide sobre a reta polar de um ponto Q, sob uma po-
laridade dada se, e somente se, Q incide sobre a reta polar de P , sob esta mesma
polaridade.

Demonstração. Seja C a matriz de uma polaridade, qualquer.


Se q e p são as retas polares de Q e P , respectivamente, temos:

s1 q t = CQ
(∗)
s2 pt = CP
Suponha que P incida sobre a reta polar de Q, q. Neste caso, qP = 0 e por (*)
temos:

s1 q = Qt C,
logo,

Qt CP = 0.
Consequentemente, como C t = C temos P t CQ = 0, isto é, pQ = 0.
Portanto, Q incide sobre a reta polar de P .
De modo similar, trocando de posições P e Q, p e q, temos a afirmação recíproca

Corolário 4.6. P incide sobre a reta polar de Q com relação a uma polaridade com
matriz C, se, e somente se, Qt CP = 0. Em particular, p contém o pólo de q, com
relação a esta mesma polaridade, se, e somente se pC −1 q t = 0.

Demonstração. Segue da demonstração do teorema 4.15.


Correlação e Polaridade 77

Definição 4.9. Dizemos que dois pontos são conjugados com relação a uma polari-
dade dada, se cada ponto incide sobre a reta polar do outro. Um ponto que incide sobre
sua própria reta polar é chamado auto-conjugado.
Ainda dizemos que, duas retas são conjugadas, com relação à polaridade dada se
cada reta é incidente com o pólo da outra. Uma reta que é incidente com seu próprio
pólo é chamada auto-conjugada.

Teorema 4.16. O conjunto de pontos auto-conjugados de uma polaridade com ma-


triz C é o conjunto de pontos X satisfazendo a equação X t CX = 0. Enquanto que
o conjunto de retas auto-conjugadas desta mesma polaridade é o conjunto de retas
satisfazendo a equação uC −1 ut = 0.

Demonstração. Segue do 4.15 e do corolário 4.6 e das definições de retas e pontos


conjugados.

Corolário 4.7. O conjunto de pontos auto-conjugados de uma polaridade com matriz


C é o conjunto de pontos X satisfazendo a equação:

c11 x21 + c22 x22 + c33 x23 + 2c12 x1 x2 + 2c13 x1 x3 + 2c23 x2 x3 = 0

Demonstração. Pelo teorema anterior temos que este conjunto é conjunto de pontos
X(x1 , x2 , x3 ) tais que X t CX = 0, consequentemente
⎛ ⎞⎛ ⎞
  c11 c12 c13 x1
⎜ ⎟⎜ ⎟
x 1 x2 x3 ⎝ c21 c22 c23 ⎠ ⎝ x2 ⎠ = 0.
c31 c32 c33 x3
O que resulta em
⎛ ⎞
  c 11 x 1 c 12 x 2 c 13 x 3
⎜ ⎟
x1 x 2 x3 ⎝ c21 x1 c22 x2 c23 x3 ⎠ = 0.
c31 x1 c32 x2 c33 x3
E logo,
x1 (c11 x1 + c12 x2 + c13 x3 ) + x2 (c21 x1 + c22 x2 + c23 x3 ) + x3 (c31 x1 + c32 x2 + c33 x3 ) = 0.
O que implica
c11 x21 + (c12 + c21 )x1 x2 + (c13 + c31 )x1 x3 + c22 x22 + (c23 + c32 )x2 x3 + c33 x23 = 0
Mas C é uma matriz simétrica, isto é, cij = cji , ∀i, j ∈ {1, 2, 3.}
Portanto,
c11 x21 + c22 x22 x3 + c33 x23 + 2c12 x1 x2 + 2c13 x1 x3 + 2c23 x2 x3 = 0.

No próximo resultado vemos como colineação age em conjunto de pontos auto-


conjugados.
Correlação e Polaridade 78

Teorema 4.17. Uma colineação com matriz A aplica um conjunto de pontos auto-
conjugados com matriz C a um conjunto de pontos auto-conjugados com matriz C  =
(A−1 )t C(A−1 ).

Demonstração. Sejam S um conjunto de pontos auto-conjugados com equação X t CX =


0 em que C é uma matriz 3×3 simétrica, não singular. E A a matriz de uma colineação
arbitrária. Veja que A é também uma matriz 3 × 3 não singular, e a equação ponto
correspondente é sX  = AX. Logo, X = sA−1 X  e X t = s(X  )t (A−1 )t .
Substituindo na equação X t CX = 0 temos,

(X  )t (A−1 )t C(A−1 )X  = 0
ainda

(X  )t ((A−1 )t CA−1 )X  = 0.
Mas (A−1 )t CA−1 é uma matriz 3 × 3 simétrica, não singular,ou seja, esta matriz
define uma polaridade. Portanto X pertence ao conjunto S de pontos auto-conjugados
com matriz C se, e somente se X  pertence ao conjunto S  de pontos auto-conjugados
com matriz C  = (A−1 )t CA−1 .

Teorema 4.18. Um conjunto não vazio de pontos auto-conjugados com relação a


uma polaridade dada é uma cônica de pontos e um conjunto não vazio de retas auto-
conjugadas com relação a uma polaridade dada é uma cônica de retas. Reciprocamente,
uma cônica de pontos é um conjunto de pontos auto conjugados e uma cônica de retas
é um conjunto de retas auto conjugadas, com relação a alguma polaridade.

Demonstração. Verificaremos este resultado apenas para o caso de cônica de pontos;


para cônica de retas segue da dualidade entre estes objetos.
Seja C um conjunto não vazio de pontos auto-conjugados.
Observe que sendo C não vazio segue da bijeção da polaridade e da definição de
ponto auto-conjugado que C tem necessariamente pelo menos três pontos não colineares.
Podemos supor sem perda de generalidade que estes pontos são X(1, 0, 0), Z(0, 0, 1) e
U (1, 1, 1) e ainda que as retas polares de X e Z se interceptam em Y (0, 1, 0).
Ainda, como X e Z são pontos auto-conjugados, cujas retas polares são respecti-
vamente XY [0, 0, 1] e ZY [1, 0, 0]. ⎡ ⎤
c11 c12 c13
⎢ ⎥
Algebricamente, isto significa que existe uma matriz C = ⎣ c21 c22 c23 ⎦ tal que
c31 c32 c33
C[1, 0, 0]t = s1 [0, 0, 1]t e C[0, 0, 1]t = s2 [1, 0, 0]t
Disto segue que c11 = c12 = c23 = c33 = 0 e c13 = 0. Agora do fato de U ser
também auto-conjugado temos C22 = 1 e C13 = − 12 , consequentemente do corolário
4.7 a equação para C é dada por:
Correlação e Polaridade 79

(x2 )2 − x1 x2 = 0.
Com isto nosso problema se resume em mostrar que o conjunto de pontos satisfa-
zendo esta equação é uma cônica de pontos, ou seja, um conjunto de pontos de inter-
seção entre retas correspondentes de duas projetividades de feixes de retas.
Façamos isto.
Sejam X e Z centros de dois feixes. A projetividade que usaremos é unicamente
determinada pela correspondência:

(XY XZ XU ) ∧ (ZX ZY ZU ).
Note que sob esta projetividade, X, Y e U são todos pontos de interseção de retas
correspondentes.
Ainda, uma vez que XY corresponde a ZX, a reta entre os centros dos dois feixes
é tangente a X. Analogamente, ZY é tangente a Y .
Considerando XY e XZ como retas base do primeiro feixe e ZX e ZY retas bases
do segundo feixe, conseguimos uma projetividade com matriz diagonal.
Finalmente, exigindo que XU [0, 1, −1] com parâmetros homogêneos (1, −1) seja
aplicado em ZU [1, −1, 0], também com parâmetros (1, −1), temos a matriz identidade
2 × 2 como a matriz da projetividade.
Agora, seja P (p1 , p2 , p3 ) um ponto qualquer de C. Mostremos que este é um ponto
de interseção de retas correspondentes sob esta projetividade, para isto veja que a
projetividade aplica a reta XP = l[0, −p3 , p2 ] com parâmetros homôgeneos (p2 , −p3 )
à reta l que contém Z e com os mesmos parâmetros homogêneos. Logo l tem co-
ordenadas [−p3 , p2 , 0]. Agora pelo corolário 3.2 segue que (−(p2 )2 , −p3 p2 , −(p3 )2 ) são
as coordenadas do ponto da interseção de l com l , mas P é um ponto de C, ou seja,
satisfaz (p2 )2 = p1 p2 . Consequentemente, o ponto l · l tem coordenadas homogêneas
(p1 , p2 , p3 ). Isto é, o ponto P é um ponto de interseção das retas l e l , relacionadas
projetivamente, se, e somente se P pertence a C.
Note ainda, que tal projetividade não é uma perspectividade, uma vez que a reta
XZ, a reta que une os centros dos feixes envolvidos, não é invariante sobre esta apli-
cação.
(⇐) Mostremos que qualquer cônica de pontos C é o conjunto de pontos auto-
conjugados com relação a uma polaridade. Para tanto, seja P, Q e R três pontos
distintos de C e S o ponto de interseção das tangentes a C em P e Q. Deste modo,
P, Q, R e S são quatro pontos distintos, cada três não colineares.
Uma vez que colineações preservam incidência, e portanto cônicas, podemos as-
sumir que P, Q, R e S são os pontos X(1, 0, 0), Z(0, 0, 1), U (1, 1, 1) e Y (0, 1, 0), respec-
tivamente.
Pelo corolário 2.7 as tangentes em X e em Z, e os três pontos X, Z e U determinam
unicamente uma cônica de pontos. Assim para nosso objetivo, é suficiente mostrar que
Correlação e Polaridade 80

estas tangentes e pontos determinam uma polaridade com matris C relativa a qual C
seja um conjunto de pontos auto-conjugados. Ou seja, procuramos uma polaridade sob
a qual duas retas tangentes sejam auto-conjugadas. Deste fato e com a condição de U
ser ponto auto-conjugado, satisfazem a equação:

(x2 )2 − x1 x3 = 0.
Logo, novamente pelo corolário 4.7, segue que C é um conjunto de pontos auto-
conjugados.

Corolário 4.8. Uma cônica de pontos tem uma equação da forma X t CX = 0 e uma
cônica de retas tem uma equação da forma uC −1 ut = 0 em que C 3 × 3 é uma matriz
3 × 3, simétrica, não singular.

Demonstração. Segue dos teoremas 4.18 e 4.16.

Observação 4.9. Do corolário anterior podemos concluir que qualquer cônica de pon-
tos corresponde a uma matriz simétrica, a saber, a matriz que defina a polaridade
envolvida. Esta matriz é denominada matriz da cônica de pontos. Além disso, se
a reta p corresponde ao ponto P sob a polaridade determinada pela cônica, dizemos
que P e p são o pólo e reta polar com relação a cônica, respectivamente.

Corolário 4.9. Seja P um ponto de uma cônica de pontos C. A reta polar de P com
relação a C é a tangente de C em P ; reciprocamente, a tangente a C em P é reta polar
de P com relação a C.

Demonstração. Segue do teorema 4.18 e das definições dos objetos envolvidos.

Corolário 4.10. Se X é um ponto de uma cônica de pontos C com matriz C , então


u, a tangente a C em X, é dada pela equação sut = CX.

Demonstração. Segue do corolário anterior e teorema 4.11.

Teorema 4.19. As tangentes a uma cônica de pontos são as retas da cônica de retas
determinada pela mesma polaridade.

Demonstração. Seja X um ponto na cônica de pontos com matriz C. Pelo corolário


4.10 do teorema 4.18, u, a tangente de X, é dada pela sut = CX, consequentemente,

X = sC −1 ut (I)
.
Por outro lado, pelo corolário 4.8, como X pertence a cônica de pontos, temos
Correlação e Polaridade 81

X t CX = 0 (II)
Logo de (I) e (II) segue

(sC −1 ut )t C(sC −1 ut ) = 0,
ou ainda

uC −1 CC −1 ut = uC −1 ut = 0.
Assim u satisfaz a equação da cônica de retas determinada pela mesma polaridade.

Teorema 4.20. O ponto de interseção de duas tangentes para uma cônica de pontos
é o polo da reta ligando os pontos de tangência.

Demonstração. Sejam p e q retas tangentes a uma cônica de pontos nos pontos P e Q.


Logo, p e q são as retas polares de P e Q, respectivamente.
Considere agora, R = p · q (Figura 4.7), veja que R incide sobre as retas polares
de P e de Q e então pelo teorema 4.15, P e Q são incidentes sobre a reta polar de R,
consequentemente P Q é a reta polar de R, e portanto, pela definição, R é o polo da
reta P Q.

Figura 4.7: Cônica de pontos e suas tangentes.

Corolário 4.11. Qualquer ponto incide em, no máximo, duas tangentes para uma
determinada cônica de pontos.

Definição 4.10. Se cada vértice de um triângulo é o pólo do lado oposto deste, com
relação a uma cônica, então o triângulo é chamado auto-polar, com relação à cônica.

Teorema 4.21. Se A, B, C e D são quatro pontos distintos de uma cônica de pontos


então o triângulo diagonal do quadrângulo ABCD é auto-polar.
Correlação e Polaridade 82

Demonstração. Sejam P = CD · AB, Q = CB · AD e R = AC · BD os pontos


diagonais do quadrângulo que definem o triângulo diagonal deste quadrângulo conforme
observação 2.1.
Considere ainda,
S = tg B · tg A, T = tg C · tg D, U = tg C · tg A e V = tg D · tg B
Neste contexto, pelo corolário do teorema 2.12, Q, R, S e T são colineares bem como
P, Q, U e V (figura 4.8). Desta maneira segue do teorema 4.20, que P incide sobre as
retas polares S e T , consequentemente T S = QR é a reta polar de P . Similarmente,
R incide sobre as retas polares de U e V , e assim U V = P Q é a reta polar de R.
Finalmente, já que Q incide sobre as retas polares P e R, segue que P R é a reta polar
de Q.

Figura 4.8: Triângulo diagonal auto-polar.

Corolário 4.12. Se uma reta m passando por um ponto P não pertencente a uma
cônica de pontos intercepta uma determinada cônica então os pontos dessa interseção
são conjugados harmônicos, com relação a P é o ponto de interseção de m com a reta
polar de P .

Definição 4.11. Se a reta polar de P com relação a uma cônica de pontos dada não
intercepta esta cônica de pontos dizemos que P é um ponto interior da cônica. Se a
reta polar de P com relação a uma cônica de pontos dada intercepta a cônica em dois
pontos distintos, P é chamado um ponto exterior da cônica.

Observação 4.10. É possível mostrar que uma reta contém pontos interiores de uma
cônica de ponto se, e somente se, intercepta a cônica em dois pontos distintos.
Correlação e Polaridade 83

Nos exemplos a seguir, mostramos como construir pólos e retas polares especificas.

Exemplo 4.2. Dada uma cônica C e um ponto P que não pertença a C vejamos como
construir a reta polar de P (com relação a polaridade descrita no teorema 4.18).
Para tanto sejam l e m retas passando por P tais que estas interceptam C em dois
pontos: sejam A e B pontos de interseção de l com C e C e D pontos da interseção de
m com C.
Consequentemente, pelo teorema 4.21, A, B, C e D formam um quadrângulo, cujo
triângulo diagonal é auto polar. Ou seja, a reta que une Q = AC · BD e R = AD · BC
é a reta polar de P (veja figura 4.9).

Figura 4.9: Construção de uma reta polar a um ponto P não pertencente a uma cônica.

Exemplo 4.3. Dada uma cônica C e uma reta p não tangente a C, vejamos como
construir o pólo de p.
Observe que se p intercepta C em pontos distintos R e S então, pelo teorema 4.20,

P = tg R · tg S
é o pólo de p (figura 4.10).
Agora se p não intercepta C, sejam R e S pontos distintos incidentes sobre p. Logo
como p não intercepta C, segue da observação 4.10 que todos os pontos sobre p, em
particular R e S, são pontos exteriores da cônica C.
Consequentemente, as retas polares r e s de R e S respectivamente, interceptam a
cônica em dois pontos (cada uma).
Defina P = r · s (figura 4.11).
Uma vez que P pertence a polar de R e a polar de S segue que P é o pólo de p.

Para finalizar este capítulo apresentamos a equação que caracteriza uma cônica, o
seguinte teorema.
Correlação e Polaridade 84

Figura 4.10: Reta p interceptando a cônica em pontos distintos R e S.

Figura 4.11: Reta p que não intercepta a cônica.

Teorema 4.22. Qualquer cônica de pontos C1 pode ser aplicada via uma colineação de
pontos com uma cônica de equação da forma:

(x1 )2 + (x2 )2 ± (x3 )2 = 0 (∗)

Demonstração. Sejam P QR um triângulo auto-polar com relação a uma cônica de


pontos C e seja T uma colineação que aplica P, Q e R em X, Y e Z, respectivamente.
Sendo T uma colineação o triângulo XY Z é auto-polar com relação a cônica
T (C).
Usando um argumento análogo ao da demonstração do teorema 4.18 pode-se mostrar
que um triângulo é auto-polar, com relação a uma cônica se, e somente se, a matriz de
tal cônica é diagonal.
Consequentemente, a matriz que define T (C) é diagonal.
Sobre esta matriz diagonal, temos que entradas da diagonal ou tem o mesmo sinal
ou uma das entradas tem sinal diferente das outras duas. No primeiro caso, usamos
uma representação matricial em que as entradas não nulas são todas positivas; para
o segundo caso, podemos determinar uma colineação adequada para trocar os pontos
X, Y e Z de posição a fim de obtermos uma cônica cuja matriz diagonal tenha as duas
primeiras entradas da diagonal positivas e a terceira não nula. Sendo assim podemos
assumir que a matriz da imagem da cônica T (C) é da seguinte forma:
Correlação e Polaridade 85

⎡ ⎤
a 0 0
⎢ ⎥
C=⎣ 0 b 0 ⎦ , em que a e b são positivas e c é não nulo.
0 0 c
Considere agora S a colineação com matriz
⎡ √ ⎤
a 0 0
⎢ √ ⎥
A=⎣ 0 b 0 ⎦,

0 0 |c|
Pelo teorema 4.17 matriz da cônica ST (C) será:

C  = (A−1 )C(A−1 ).
O que resulta,
⎡ ⎤
1 0 0
⎢ ⎥
C = ⎣ 0 1 0 ⎦
0 0 ±1
Portanto, a cônica ST (C) tem equação da forma

(x1 )2 + (x2 )2 ± (x3 )2 = 0.

Com este teorema apresentamos as seguintes terminologias:

Definição 4.12. No contexto do teorema 4.22 dizemos que C1 é equivalente a C2 e


ainda dizemos que a cônica dada por uma equação do tipo (*) é canônica.
Em particular, uma polaridade associada a uma cônica equivalente a uma cônica
canônica com equação
(x1 )2 + (x2 )2 + (x3 )2 = 0 (∗)
é denominada hiperbólica; enquanto que se for equivalente a cônica canônica com
equação (x1 )2 + (x2 )2 + (x3 )2 = 0 é denominada elíptica.
5 Validação do Modelo Analítico

Reservamos este capítulo para averiguar se o Modelo Analítico é adequado para o


sistema axiomático proposto. Para tanto precisamos mostrar a validade dos axiomas
2.1, 2.2, 2.3, 2.4, 2.5 e 2.6 deste sistema.
Façamos isto:

• Quaisquer dois pontos distintos são incidentes com exatamente uma reta.
Verificação. Sejam P e Q dois pontos dintintos, quaisquer, e (p1 , p2 , p3 ), (q1 , q2 , q3 )
as respectivas coordenadas homogêneas.
Observe que tais coordenadas são todas nulas, assim podemos afirmar que a
matriz

⎡ ⎤
p1 q1
⎢ ⎥
⎣ p 2 q2 ⎦
p 3 q3

tem pelo menos um menor de ordem


2 ( ou
seja, uma submatriz de ordem 2 com

p q


i i

determinante não nulo), digamos,



= pi qj −qi pj = 0, para determinados

p j qj

i, j ∈ {1, 2, 3}.
Por outro lado, estes pontos são incidentes sobre uma reta r, de coordenadas
homogêneas [u1 , u2 , u3 ] se, e somente se,

⎡ ⎤
  p1
⎢ ⎥
u 1 u2 u3 ⎣ p2 ⎦ = 0
p3
e

⎡ ⎤
  q1
⎢ ⎥
u 1 u2 u 3 ⎣ q2 ⎦ = 0
q3

86
87

Ou equivalente, se e somente se,



u 1 p 1 + u2 p 2 + u3 p 3 = 0
S:
u1 q1 + u2 q2 + u3 q3 = 0

Vejamos se existe tal reta, ou seja, se existem u1 , u2 , u3 .


Como as coordenadas homogêneas [u1 , u2 , u3 ] são não nulas e já temos pi qj −qi pj =
0, segue que necessariamente uk = 0, em k = i, j.
No intuito de simplificar o entendimento digamos que i = 2, j = 3 e consequente-
mente k = 1.
Como já sabemos que u1 = 0, resolver o sistema S é equivalente a resolver o
sistema S  :

u2 p2 + u3 p3 = −p1
S:
u2 q2 + u3 q3 = −q1
u2 u3
em que u2 = u1
, u3 = u1
.
Sendo p2 q3 − q2 p3 = 0 temos que o sistema 2 × 2 tem uma única solução, digamos,
(a, b). Ou seja,
 
u2 = a u2 = au1

u3 = b u3 = bu1

Consequentemente, qualquer terna da forma [u1 , au1 , bu1 ], u1 = 0, constitui as


coordenadas homogêneas de uma reta em que P e Q sejam incidentes. Porém,
sob nossa relação de equivalência, [u1 , au1 , bu1 ] ∼ [1, a, b].
Logo, a reta de coordenada homogêneas [1, a, b] é a única reta na qual P e Q são
incidentes, veja que a unicidade se dá pela unicidade do par (a, b) solução de S  .
Na verificação supomos i = 2, j = 3 e k = 1. Porém esta situação deve se adequar
a condição do problema. Por exemplo, se P tem coordenadas homogêneas (1, 0, 0)
e Q(0, 1, 0) temos que

⎡ ⎤
1 0
⎢ ⎥
⎣ 0 1 ⎦
0 0


1 0

tem o menor

= 0, neste caso i = 1 e j = 2, portanto k = 3.

0 1

O sistema S  é dado por:


88


 u1 p1 + u2 p2 = −p3
S :
u1 q1 + u2 q2 = −q3
u1 u2
com u1 = u3
, u2 = u3
.

u1 = 0
S : ⇒ (0, 0)
u2 = 0

é a única solução do sistema e portanto a terna [0, 0, 1] constitui as coordenadas


homogêneas da reta procurada.
Veja que de fato os pontos P e Q são incidentes sobre esta reta, já que:

⎤ ⎡
  1
⎢ ⎥
0 0 1 ⎣ 0 ⎦=0
0
e

⎤ ⎡
  0
⎢ ⎥
0 0 1 ⎣ 1 ⎦ = 0.
0

• Quaisquer duas retas distintas são incidentes com pelo menos um ponto.
Verificação. Dual da verificação do axioma 2.1.

• Existem pelo menos quatro pontos, que a cada três não são colineares.
Verificação. Basta observar que os pontos P, Q, R e S de coordenadas ho-
mogêneas (1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 1, 1), (1, 1, 1) são os pontos procurados já que são,
a cada três, não colineares pois:








1 0 0

1 0 1

1 0 0

1 0 1


0 1 0
= 0,
0 1 1
= 0,
0 0 1
= 0,
0 0 1
= 0,








0 0 1

0 0 1

0 1 0

0 1 1


1 0 0

1 0 0

0 1 0

0 1 0


1 1 1
= 0,
1 1 1
= 0,
1 0 0
= 0,
1 0 0
= 0,








0 1 0

0 0 1

0 0 1

1 1 1


0 1 0

0 1 0

0 1 0

0 1 0


0 0 1
= 0,
0 0 1
= 0,
1 1 1
= 0,
1 1 1
= 0,








1 0 0

1 1 1

1 0 0

0 0 1

89


0 0 1


0 0 1


0 0 1


0 0 1


1 0 0
= 0,
1 0 0
= 0,
0 1 0
= 0,
0 1 0
= 0,








0 1 0

1 1 1

1 0 0

1 1 1


0 0 1


0 0 1


1 1 1


1 1 1


1 1 1
= 0,
1 1 1
= 0,
1 0 0
= 0,
1 0 0
= 0,








1 0 0

0 1 0

0 1 0

0 0 1


1 1 1


1 1 1


1 1 1


1 1 1


0 1 0
= 0,
0 1 0
= 0,
0 0 1
= 0,
0 0 1
= 0.








1 0 0

0 0 1

1 0 0

0 1 0

• Os três pontos diagonal do quadrângulo completo nunca são colineares.


Verificação. Sejam A, B, C e D pontos, cada três não colineares, qualquer.
Queremos mostrar que os pontos diagonais do quadrângulo definido por estes
pontos arbitrários não são colineares.
Uma vez que colineação preservam colinearidade e concorrência, podemos restrin-
gir nossa análise para os pontos particulares X(1, 0, 0), Y (0, 1, 0), Z(0, 0, 1) e U (1,
1, 1) pois o resultado segue bastando definir uma colineãção entre A, B, C e D e
X, Y, Z e U respectivamente, cuja existência é garantida pelo teorema 4.5.
Façamos isto.
Veja que os pontos diagonais deste quadrângulo são:

XY · U Z = P (1, 1, 0)
XZ · U Y = Q(1, 0, 1)
U X · ZY = R(0, 1, 1)

os quais são obtidos pelo corolário 3.1.


De fato:
As equações das retas envolvidas são dadas pelas seguintes equações:

– Reta

XY :


x1 1 0


x2 0 1
= 0 ⇒ x3 = 0


x3 0 0

– Reta

U Z:


x1 1 0


x2 1 0
= 0 ⇒ x1 − x2 = 0 ⇒ x1 = x2


x3 1 1

90

– Reta

XZ:


x1 1 0


x2 0 0
= 0 ⇒ −x2 = 0 ⇒ x2 = 0


x3 0 1

– Reta

UY :


x1 1 0


x2 1 1
= 0 ⇒ x3 − x1 = 0 ⇒ x1 = x3


x3 1 0

– Reta

U X:


x1 1 1


x2 1 0
= 0 ⇒ x2 − x3 = 0 ⇒ x2 = x3


x3 1 0

– Reta

ZY :


x1 0 0


x2 0 1
= 0 ⇒ −x1 = 0 ⇒ x1 = 0.


x3 1 0

Assim,



⎨ XY · U Z = P (p1 , p2 , p3 ) ⇒ p3 = 0 e p1 = p2 , logo P (1, 1, 0).
XZ · U Y = Q(q1 , q2 , q3 ) ⇒ q2 = 0 e q1 = q3 , assim Q(1, 0, 1).


U X · ZY = R(r1 , r2 , r3 ) ⇒ r2 = r3 e r1 = 0, portanto R(0, 1, 1).

Agora,


1 1 0

|P QR| =
1 0 1
= −2 = 0.


0 1 1

Consequentemente pelo teorema 3.1 P QR não são colineares.

• Se dois triângulos são perspectivos por um ponto, estes são perspectivos por uma
reta.
Verificação. Seja os dois triângulos tendo vértices A(a1 , a2 , a3 ), B(b1 , b2 , b3 ),
C(c1 , c2 , c2 ) e A (a1 , a2 , a3 ), B  (b1 , b2 , b3 ), C  (c1 , c2 , c3 ). Suponhamos que estes triân-
gulos são perspectivos por P (p1 , p2 , p3 ). Seja Q = AB · A B  , R = BC · B  C  e
S = AC · A C  . Precisamos mostrar que Q, R e S são colineares. (figura 5.1).
Para fazer isto faremos uso de parâmetros homogêneos. Já que P está na reta
AA , BB  e CC  , temos parâmetros homogêneos (α1 , α2 ), (β1 , β2 ) e (γ1 , γ2 ) no que
diz respeito aos pontos base A e A , B e B  , C e C  , respectivamente. Portanto
as coordenadas homogêneas de P são dadas por pi = α1 ai + α2 ai = β1 bi + β2 bi =
γ1 ci + γ2 ci , i = 1, 2, 3. Os dois primeiros desta igualdade podem ser colocados
91

desta forma α1 ai −β1 bi = β2 bi −α2 ai , assim (α1 a1 −β1 b1 , α1 a2 −β1 b2 , α1 a3 −β1 b3 ) =
(β2 b1 − α2 a1 , β2 b2 − α2 a2 , β2 b3 − α2 a3 ), mas o primeiro destas triplas ordenadas
dá coordenadas homogêneas de um ponto na reta AB, enquanto o segundo dá
coordenadas homogêneas de um ponto na reta A B  . Já que as duas triplas
são iguais, ambas podem ser coordenadas para o ponto Q. Usaremos o primeiro
conjunto. Também podemos mostrar que R(β1 b1 − γ1 c1 , β1 b2 − γ1 c2 , β1 b3 − γ1 c3 ) e
finalmente que S(α1 a1 −γ1 c1 , α1 a2 −γ1 c2 , α1 a3 −γ1 c3 ). Usando estas coordenadas
homogêneas, podemos mostrar que |QRS| = 0, de modo que os três pontos são
de fato colineares.

Figura 5.1: S, R e Q são pontos colineares.


92

• Se uma projetividade sobre um feixe mantém três elementos do feixe invariante,


então esta mantém todo elemento do feixe invariante. Ou seja, uma projetivi-
dade sobre um feixe que mantém três elementos invariantes é necessariamente a
aplicação identidade.
Verificação. Sejam F um feixe de pontos e P uma projetividade F em F que
deixa três elementos do feixe, a saber, P (p1 , p2 , p3 ), Q(q1 , q2 , q3 ) e R(r1 , r2 , r3 )
invariantes, ou seja:

P(P ) = P, P(Q) = Q, P(R) = R.

Considere como elemento base:

(p1 , p2 , p3 ) e (q1 , q2 , q3 ).

Veja que com esta base os parâmetros homogêneos de P são (λ1 , λ2 ) = (1, 0) e de
Q são (β1 , β2 ) = (0, 1); observe que sendo P, Q invariantes temos que (λ1 , λ2 ) =
(1, 0) e (β1 , β2 ) = (0, 1) e ainda que (γ1 , γ2 ) = (γ1 , γ2 ). Com isso queremos
mostrar que se S(s1 , s2 , s3 ) é um ponto qualquer do feixe F, então

P(S) = S.


a11 a12 a13

Para isto basta mostrar que


a21 a22 a23
pertence a classe de equivalência


a31 a32 a33

(A ∼ B se, e somente se, A = sB) da matriz identidade.


Usando os parâmetros homogêneos de P, Q e R temos:

(i)
1 a11 a12 1 s a11
s = ⇒ =
0 a21 a12 0 0 a21

Logo, a11 = s e a21 = 0, consequentemente a11 = 0 e a21 = 0


(ii)
 0 a11 a12 0 0 a12
s = ⇒ =
1 a21 a12 1 s a22

Então, a12 = 0 e a22 = s , consequentemente a12 = 0 e a22 = 0


(iii)
γ1 a11 0 γ1 s γ1 a11 γ1
s = ⇒ =
γ2 0 a12 γ2 s γ2 a22 γ2

Assim, s γ1 = a11 γ1 e s γ2 = a22 γ2 , consequentemente a11 = s = a22 .


93

Ou seja,

a11 a12 s 0
A= = , s = 0.
a21 a22 0 s

Isto é, A ∼ matriz identidade.


Referências

[1] CEDERBERG, J. N. A Course in Modern Geometries. 5. ed. New York: Under-


graduate Texts in Mathematics - Springer, 1989.

[2] FISHBACK, W. T. Projective and euclidean geometry. 2. ed. New York: John
Wiley, 1969.

[3] SAMUEL, P. Projective Geometry. 5. ed. New york: Springer, 1988.

[4] EVES, H. Tópicos de História da Matemática para uso em sala de aula - Geometria.
1. ed. São Paulo: Atual, 1992.

[5] EVES, H. Introdução à História da Matemática. 1. ed. São Paulo: Unicamp, 2007.

[6] BOULOS, P. Geometria Analítica. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2000.

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