Colonialidade e Descolonialidade
Colonialidade e Descolonialidade
Colonialidade e Descolonialidade
João B. A. Figueiredo1
“Irmão me dá tua mão, vamos juntos a buscar uma coisa pequenina que se
chama liberdade. Esta é a hora e o justo lugar. Abre a porta que lá fora a Terra não
agüenta mais”. Como bem retrata este trecho da música divulgada por Mercedes Sosa 2,
precisamos tomar consciência do muito que acontece conosco e com o mundo ao redor.
Diante disso, faz-se necessária uma práxis transformadora, como afirma Paulo Freire.
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Professor Pesquisador do Departamento de Teoria e Prática de Ensino da Faculdade de Educação e do
Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará - UFC. E-mail:
joaofigueiredo@hotmail.com
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„Hermano Dame Tu Mano’. Canta Mercedes Sosa. Composição: J. Sánchez / J. Sosa. (P) Phonogram 1971.
Tradução livre de João B. A. Figueiredo.
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Utilizamos este símbolo para levantar a questão política e cultural do sexismo de nossa linguagem, que
transforma o masculino no genérico.
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Neste contexto temos „nossas‟ crenças e valores, bagagem de vida e influências
múltiplas que nos afetam e modificam. É neste entremeio que acontecem, as mais das
vezes, os processos alienantes e mistificadores. É neste lugar imaginário, permeado de
sombras, mitos, crendices, dogmas, preconceitos, marcas que nos foram infligidas, que
temos as principais vendas e lentes que filtram nossa leitura do mundo, das próprias
relações que nos definem e definem nossas definições.
Na letra musical antes citada se afirma que precisamos olhar adiante, pois que a
Terra espera, sem distâncias nem fronteiras, que postemos a mão para o alto numa
postura de ação efetiva, de reconhecimento do nosso potencial. Sem distâncias, nem
fronteiras, esta Terra espera o clamor latino americano para que superemos as cadeias,
os aguilhões, as correntes que nos prendem e limitam nossa compreensão da realidade.
Porém muitas das correntes que nos prendem estão em nossa própria auto-
imagem. Vemo-nos como inferiores, menores, submissos, incapazes, oprimidos por
nossa „própria‟ natureza, incultos, sem civilidade nem cultura, nem mesmo educação...
Por que isto ocorre que muitos de nós? Como estas opressões se consolidam?
Sim esta cegueira deriva dos processos opressores, da opressão como nos
orienta Paulo Freire. Por quê? Ora, diante dos limites criados por outrem, que nos cegam
mais ou menos; que nos reduzem muitas vezes a coisa e coisa inferior; que nos destitui
de um poder inerente ao ser humano; que nos fragiliza; que nos impede mesmo de nos
reconhecermos humanos e do nosso potencial de „ser mais‟. Precisamos reconhecer esta
situação como decorrente da ação opressora, subalternizante, colonializante.
Apenas para ilustrar esta afirmativa, destaco que ainda hoje se faz uma
reverência a data de 11 de setembro de 2001 e, quase nada se fala de uma data que
acredito deveria ter mais relevância: 13 de setembro de 2007, quando foi aprovada a
„Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas‟. Por que
considerar esta data mais importante? No mínimo por se tratar de um projeto em favor
da vida e não um registro da violência que justifica a violência e a opressão de nação
sobre nação. Este documento favorece uma gama enorme de povos e nações, ao
contrário de 11 de setembro que se refere aos Estados Unidos da América - EUA.
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mantêm o capitalismo e os interesses do mercado, mas também para por em cena
conhecimentos diferentes que levam a pensar acerca do estado e da sociedade de
maneira radicalmente diferente. Estas questões nos alertam para sua importante
contribuição ao quadro atual de transformações pelas quais passa a America Latina – AL.
Uma data marcante é 1492, esta sim marca a humanidade, como se marca o
gado para identificar seu dono. Neste ano temos dois interessantes eventos históricos: a
vitória de Fernando II de Aragão que havia casado com Isabel I (Rainha de Castela),
unindo os dois reinos e formando a monarquia espanhola e com esta a conquista católica
de „Granada‟ diante dos Muçulmanos. Em seguida acontece a invasão marítima
capitaneada por Cristóvão Colombo, que em 12 de Outubro de 1492, sob as ordens
destes regentes católicos da Espanha, atinge as Antilhas, na América Central. No Brasil
isto se dá em 22 de abril 1500, fatídica data para os povos dessa pátria amada quando
aqui chegam as caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. Neste
contexto nosso país recebe um nome imposto que retrata o processo de devastação de
nossas riquezas naturais, já que o nome se associa a exploração do pau-brasil.
Mas o que realmente significa este termo e qual sua relevância na atualidade?
Bem, numa tentativa de resposta podemos interpretar que Aníbal Quijano encontra uma
estratégia bastante favorável de problematizar o quadro, até então, denominado de
colonialismo ou simplesmente de modernidade, numa análise que se restringia a enfocar
uma perspectiva puramente sociológica ou epistemológica. E, ao separar dimensões,
dificultava a compreensão do processo em sua totalidade. Fazia-se necessário um foco
capaz de reunir os esforços, procurar entender tanto o colonialismo quanto a
modernidade no que possuem de mais complexo e imbricado e que envolve inúmeras
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O debate acerca desta questão foi inaugurado com o artigo intitulado “Colonialidad y
Modernidad/Racionalidad”, publicado então na revista „Perú Indígena‟ (vol. 13, No. 29, 1991, pp.11-20, Lima,
Perú), como também num artigo em co-autoria com Immanuel Wallerstein, no „International Journal of Social
Sciences‟(número 134, Nov. 1992, Paris, França), com o título “La Americanidad como concepto o las Américas
en el Moderno Sistema-Mundo”.
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dimensões e um conjunto de ações, ideologias e elaborações que lhe dão força. Na
direção desse desvelamento, essencial à articulação de um potencial de resistência e
contraposição efetivas potencializadora de um „novo mundo possível‟, se propôs esta
categoria integrada de estudo e compreensão que é a colonialidade consorciada com a
modernidade. E, diante do reconhecimento da colonialidade se faz viável propor a
descolonialidade, a superação dessa lógica redutora, excludente, elitista, hierarquizante,
opressora, subalternizante, coisificadora.
Foi com a parceria de Wallerstein que Quijano propôs uma releitura do debate
acerca da modernidade e do colonialismo. Salientamos que colonialidade difere de
colonialismo. Enquanto a discussão acerca da colonização se insere nos modelos
capitalistas que postulam o direito de povos colonizarem outros em razão da pseudo-
supremacia civilizatória, cultural, bélica, tecnológica, econômica, étnica e social, a
colonialidade discute a imposição de uma única lógica hegemônica sobre todas as outras
culturas, epistemologias, possibilidades e modelos civilizatórios.
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O grupo adquire adensamento por meio de novos parceiros que com ele se
associam, tais como Kelvin Santiago, Ramón Grosfoguel e Agustín Lao-Montes,
sociólogos porto-riquenhos, bem como com a pensadora afro-caribenha Sylvia Winters,
muito conhecida nos EUA através de seus trabalhos sobre heranças coloniais; o filósofo
argentino Enrique Dussel com sua Filosofia da Libertação, o semiólogo argentino Walter
D. Mignolo, com reflexões acerca da outra face da pós-colonialidade.
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modo de existência social, que desenharam a sociedade moderna tal como a
conhecemos. Por sua vez, a „colonialidade‟ se caracteriza por um padrão de poder que
deriva da “classificação social da população mundial de acordo com a idéia de raça, uma
construção mental que expressa a experiência básica da dominação colonial e que, desde
então, permeia as dimensões mais importantes do poder mundial...” (Quijano, 2005).
Naquele ambiente histórico acontece uma ruptura com as lógicas que, até
então, predominavam mundo afora. Ganha outro status a idéia de escravidão, servidão,
de exploração de outro ser humano. É evidente que desde quando a história é escrita
tem-se notícia da utilização de um ser humano pelo outro, da classificação de um ser
humano por outro, da noção de superioridade de um ser humano em relação a outro.
Mas, eram acontecimentos pontuais, circunscritos, sem negação de sua humanidade.
Até aquele momento não se tem notícia de um ser humano caracterizar outro
humano como sem alma, portanto como „não-humano‟. Com o advento da colonialidade
passa a acontecer o processo de „des-humanização‟, ao idealizar uma raça humana
superior e raças inferiores. Com isto temos a mais grave exploração, escravização e
servidão que se tem conhecimento e se alicerça, definitivamente, o capitalismo associado
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ao eurocentrismo e à modernidade. Extrai-se lucro pleno da mão de obra com qualidade
e competência humana de outro que não é mais reconhecido como humano. E o mais
grave ainda é sua propagação por todo o planeta.
Lander ainda nos diz que é possível identificar duas dimensões constitutivas dos
saberes modernos que contribuem para explicar sua eficácia naturalizadora: a primeira
se dá por meio das sucessivas separações ou partições do mundo “real” que ocorrem
historicamente na sociedade ocidental; a segunda, na forma como se articula saber-
poder, especialmente na subordinação colônia/império constituinte do mundo moderno.
Esta lógica dominante forja uma ruptura entre mente e tudo o mais. Aí se
consolida o „humano-mente‟ numa posição externa ao corpo e ao mundo ao derredor e
assim possibilita uma postura instrumental, neutra, dissociada, puramente racional e
subjetiva, frente a eles. O mundo dual – cognição e extensões da cognição como
afirmava Descartes - adquire poder „quase‟ metafísico. As polaridades, disputas,
competições, hierarquizações, ganham status.
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A “cultura moderna” se define com estas separações, como no caso da
diferenciação entre o senso comum do povo e o conhecimento válido dos especialistas. A
questão é a validação e naturalização de uma idéia do real por certo grupo através da
mídia sob seu domínio. Na constituição de uma identidade européia estas sucessivas
fraturas subsidiam o contraste essencial na conformação colonial do mundo na qual a
Europa é, como se tivesse sempre sido referência e modelo único, que canaliza toda a
riqueza e produção para este centro. Esta culminância ocorre entre os séculos XVIII e
XIX. Assim se instaura a noção de um mundo unificado, de uma única história e
geografia universal.
É assim que diálogos em torno dos esfarrapados desse mundo, das questões de
classe, da popularização, da ambientalização, contextualização e racialização de muitos
dos debates contemporâneos, promovem aberturas, brechas, linhas de fuga, neste
sistema que estertora, mas resiste e tenta reinserir, desconstruir e revestir estas
temáticas desde a mesma lógica eurocêntrica-estadunidense. Daí a relevância desses
temas-geradores e potencializadores de outros rumos e lógicas (Figueiredo, 2009c).
Nesta particular reflexão formulada por Catherine Walsh (2008; 2009) podemos
compreender que a colonialidade em seus eixos constituintes, se assim podemos chamar,
articula um processo de alienação que forja a idéia hegemônica – assim nos parece – que
constitui um cenário mundial no qual as riquezas são carreadas, como de “direito” para
os países “ricos”, “desenvolvidos”, “mais avançados”.
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Walsh utiliza o conceito ”descolonização”, porém considero mais pertinente, até para marcar a diferença mais
intensamente utilizar “descolonialização”. Afinal, se trata de uma ação de descolonializar, identificada com a
concepção de colonialidade e para além da idéia de colonização.
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G8 é o grupo que reúne Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá (antigo G7),
mais a Rússia. Em suas reuniões, os membro discutem e deliberam questões de impacto internacional e
decidem grande parte das políticas globais, sociais e ecológicas (Wikipédia. Acessada em novembro de 2009).
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Neste corpus colonializante pode se verificar a desqualificação, negação ou
mesmo a invisibilização dos saberes/conhecimentos/informações que se contraponham
potencialmente a esta lógica. Dessa forma, negam-se os saberes, epistemes e ontologias
que carreguem resquícios, sementes, ou mesmo indícios que possam fomentar
alternativas e brechas no sistema moderno, capitalista, eurocêntrico, colonializante.
Um legado epistemológico
“Irmão me dá teu sangue, me dá teu frio e teu pão, me dá tua mão e fecha o
punho que não necessito mais, pois esta é a hora e este é o justo lugar com tua mão e
minha mão irmão comecemos já”. Como diz a música já citada anteriormente, o sangue,
o frio, o pão, a mão ativamente posicionada em situação de compartilhamento viabilizam
que esta seja a hora e o lugar para começarmos a mudança efetiva. Porém, isto implica
em um corpus constituído e constituinte de outros paradigmas.
Relembro então, novamente, Paulo Freire e sua Teoria Dialógica da Ação com a
qual contribui para a DesColonializAção ao afirmar a necessária práxis superadora. Para
que experimentemos uma Teoria Dialógica de Ação na atualidade carecemos de uma
práxis dialógica (Freire, 1983), de uma Perspectiva Eco-Relacional (Figueiredo, 2003), de
uma compreensão da Descolonialidade Ambiental (Figueiredo, 2009b).
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Descolonialidade Ambiental é uma metáfora categorial, um „confeto‟ como diria
Gauthier (1999), interessante para integrar as reflexões acerca da colonialidade do
poder, do saber, do ser, da natureza mãe. Denota sua relevância diante da gravidade do
quadro ambiental planetário nos tempos de hoje. Comprova isto a presença de 120
chefes de estado na Conferência do Clima em Copenhague, em dezembro de 2009.
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sociais entre humanos e não-humanos, vivos e ditos não-vivos; tomar uma postura
politicamente proativa na busca e na práxis de realizAção de processos transformadores
socialmente equânimes e parceiros.
Quanto a sua origem, ela principia com um estudo que resultou em uma
dissertação intitulada de „O Tao Ecocêntrico‟ (Figueiredo, 1999), no qual há uma
investigação acerca da Metateoria Holística, uma perspectiva ecocêntrica, suas
referências científicas, seus contributos para a área ambiental, educacional e sanitária.
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Mundialização seria o processo natural de "aproximação" dos povos e de "encurtamento" das distâncias em
contraposição a idéia da globalização, enquanto estratégia viabilizada por elementos da rede colonialista
mundial (indivíduos, empresas, Estados, etc) (adaptado da Wikipedia - Acesso em 04.01.2010).
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dialógica, eco-relacional a fim de superarmos processos subalternizantes, ainda tão
presentes nos cenários educativos.
Reafirmo que é isto que ocorre nas atividades educativas em geral quando
educador@s e educand@s não reconhecem atuar no fortalecimento do sistema
hegemônico vigente que reforça a lógica excludente e opressora, colonializante e
mantenedora desse estado social que ainda predomina. Isto acontece das mais variadas
maneiras no cotidiano educativo. Acontece nas posturas autoritárias; no centralismo
pedagógico em que o professor e o conteúdo são inquestionáveis; numa educação
bancária que deposita no „aluno‟ o que espera receber de retorno tal como numa
aplicação de capital; num modelo antidialógico de ação (Freire, 1983), em que temos a
invasiva cultura do outro que modela a submissão, a desarticulação dos encontros e
relações amorosas potentes e transformadoras, a desorganização política através do
ordenamento e disciplinamento arbitrário que manipula; na centralidade do cognitivismo,
competitivismo, alienação da aprendizagem.
Como afirma Paulo Freire (1983), a conquista se identifica com uma postura
necrófila, opressora, reificadora, como que tornando os humanos coisas a serem
exploradas e dominadas. O dividir para dominar implica em fragmentação e parcialização
por meio do qual se desarticula grupos e pessoas, dociliza o domínio. A manipulação se
associa a mídias e discursos organizados em torno de “mitos” e pactos sociais elitistas
que afirmam a necessidade de controle externo e disciplinamentos opressores. Já a
invasão cultural é a própria atitude impositiva de valores e normas, pseudoéticas alheias
que homogeneízam e desqualificam os saberes locais e conhecimentos tradicionais, ao
favorecer também a idéia de superioridade de um determinado conhecimento, saber,
lógica, epistemologia.
Carece nos habilitarmos para tecer a u-topia do mundo no qual tod@s sejamos
reconhecid@s como seres sapientes, conscientes, portadores de luz e vida. Só assim
podemos garantir a sustentabilidade e a Descolonialidade do Saber, a Descolonialidade
Ambiental... Isto estabelece diálogos eco-Relacionais, via Pedagogia Eco-Relacional,
dialógica, contextualizante, ambientalizante, intercultural, focada na Descolonialidade do
Saber e na Sustentabilidade Ambiental. Fomenta o enfrentamento e superação dos meios
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inerentes a Micro Colonialidade, essa colonialidade que se dá nas relações do cotidiano,
nos encontros e desencontros ocasionais, tanto quanto nos intencionais.
Nos entrelaços de saber retomo Paulo Freire para integrar à Perspectiva Eco-
Relacional uma Teoria de Ação Dialógica. Essa mistura tem na co-laboração, na relação
com o outro, o que nos constitui. Parceiramente potencializa o reconhecimento da
realidade e atua na emersão acima dos procedimentos fragmentadores; desvela
criticamente o mundo e o quadro opressor. É biófila, pois se filia a vida e aos processos
vitais. Traz união ao reconhecer que é no encontro que podemos avançar.
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A autoria do saber é de cada ser no encontro afetivo com a diferença que no
conflito, no problema, encontra possibilidade de ser mais. Nesse entendimento, o
conhecimento e sabedoria são de autoria de cada ser que é identificado como autor(a)
epistêmic@, ou seja autor(a) de seu próprio conhecimento/saber, porém sem
desconhecer que este saber se consolida e é viabilizado nos encontros com @ diferente.
Ora, nesta metáfora categorial percebe-se o despropósito de centrar e hierarquizar o
saber, o conhecimento, a informação que jamais é de alguém isoladamente, nem de
alguém que é superior aos outros seres humanos/viventes.
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“Olha adiante irmão nesta hora e segura firme a bandeira cerrando forte a mão,
apertando tua bandeira nesta hora adequada com o punho americano marque o rosto do
tirano e a dor será excluída”. Adiante efetivamente implica no horizonte de nosso
percurso desejante que se entrecruza com o trajeto de significação delineado pela
bandeira, símbolo desse sonho possível. Segurar firme nossos sonhos nos impulsiona
adiante. Mas, carece que a marca no rosto do tirano seja reconhecida. Pois que se faz
necessário desvelar a opressão/os processos colonializantes para que possamos viabilizar
a transformação glocal no rumo da democracia radical e parceira.
Também, vale retomar a lenda guarani da „Yvy marã ey’, ou seja, a „terra sem
males‟, lugar no qual não existem guerras, fome, nem doenças. Ali se mantêm no limite
do aceitável as expectativas e os ideais produtivos, que ficam restritos a um grau aquém
do limite possível de rendimento pelo sistema produtivo. É uma alternativa ecológica
procurar por este lugar lendário, um mundo integrado e fraterno (Declaração, 2007).
Destacar estas metáforas é reconhecer outras epistemes, outros saberes importantes e
intensamente necessários para a atualidade.
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Com isto afirmo o quanto temos que aprender com outr@s, com os saberes
ancestrais, característicos do Movimento Indígena de „Abya Yala‟ (Continente Americano).
Como afirmam estes parceiros, pertencemos à Mãe Terra: não somos seus donos. O
capitalismo imperialista demonstrou ser perigoso por sua dominação, exploração,
violência estrutural, senão também porque mata a Mãe Terra e nos leva ao suicídio
planetário. Decidimos construir uma nova forma de convivência parceira, em harmonia
com a natureza para Alcançar o “sumak kawsay”, o bem viver (citado por Walsh, 2008).
Retomo o que afirma Wallerstein (1997) de que a incerteza dessa terra dos
sonhos (Yvy marã ey) de bem viver (sumak kawsay) nos alerta acerca de sua própria
possibilidade. Pois que é exatamente sua capacidade utópica que implica em potenciais
atos-limite superadores dessa situação colonializante opressora.
O limite do que é demonstra o potencial do que pode vir a ser. Reconheço que
estamos em crise e, portanto, como afirma Wallerstein, pequenas ações podem gerar
grandes consequências e diante disso outro provável resultado. Daí, frente ao fato de
que um dos fundamentos da modernidade/colonialidade é a crença nas certezas,
podemos identificar um limite efetivo e habilitador de alternativas distintas.
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