Mensagem Sobre Gênesis 1
Mensagem Sobre Gênesis 1
Mensagem Sobre Gênesis 1
SEMINARY
Hispanic Ministries Program
Abril 2013
Introdução
Acredito que o primeiro capítulo de Gênesis transmite uma mensagem que vai além de um
discurso sobre o princípio de todas as coisas. A linguagem utilizada no texto sem dúvida é uma
linguagem poética, e não um relato de um fato no momento em que está ocorrendo. Quem escreveu
certamente não estava presente no momento em que o ato criador ocorria, mas se prevalece de um
estilo literário para transmitir uma mensagem que expressa o relacionamento de um Deus criador
com sua criação, por meio de um propósito do próprio criador. Vamos ver essa mensagem sob os
Não se pode entender teologicamente um texto sem levar em conta o estilo literário. Sendo a
Bíblia o foco da teologia, está cheia de variados estilos de literatura tendo em vista que a escrita é
um código de comunicação por meio do qual se expressa as diversas realidades, entre elas a
espiritual.
O que se diz da literatura poética é que, ela é uma das primeiras formas de manifestação
linguística do ser humano. Com isso concorda Hans De Wit no seu livro, Tenho visto a aflição de
meu povo, afirmando que, quando o povo de Israel começou a produzir sua literatura, no caso o
Pentateuco, em particular aqui, o Gênesis, já existiam escrituras antigas que falavam da criação do
mundo, do homem e do dilúvio, e cita o poema babilônico da criação, Enuma Elis, como exemplo.
A literatura poética não está presa à realidade absoluta e objetiva, mas utiliza recursos
escritores bíblicos para falar de Deus, que é Espírito, e de sua criação, o homem, que à sua
Paulista) página 73
Pode-se dizer que, dessa maneira, poderemos entender melhor a mensagem teológica de
Gênesis 1, pois conseguimos tirar de diante de nós, as celebres perguntas que disputam com a
ciência, esclarecimentos sobre: quando, como etc... tentando estabelecer uma data para uma
contagem cronológica que firme uma paz entre a teologia e a ciência. Assim afirma José Luis Sicre
(por outra parte, não é missão das ciências afirmar nem negar
van transmitindo, não por ser tão formosos nem por pertencer a
científica de acordo com o período em que o texto bíblico foi escrito. Falar sobre estilo literário
junto com teologia é plenamente aceitável, visto que a teologia estuda as escrituras, e toda escritura
tem seu estilo por ser literatura. Quando falarmos do texto em si vamos perceber esses detalhes
interpretativos e teológicos.
Além da mensagem de Gênesis 1 ser possível compreender por meio de um estilo literário,
existem alguns fatores relativos a mente humana que cabem dentro deste pensamento teológico
interpretativo, para uma crença e aceitação da mensagem teológica de Gênesis. Quando, de Wit
afirma que o texto bíblico são experiências feitas palavras, e se vão transmitindo, não por serem
bonitas ou por pertencerem ao cânon, mas por necessidade; por necessidade se entende as verdades
manifestas da razão por intuição própria que podem ser explicadas com segue de acordo com o
• Não se chega a elas por argumentação nem por meio de evidências, pois ela já possui por
intuição própria seus argumentos e intuições. Embora isso seja próprio da razão; quando se
argumenta, se usa muito essas verdades, visto que, frequentemente, elas são a principal
premissa de um silogismo.
• São verdades de conhecimento certo. A mente percebe que são absolutamente verdadeiras e
• Essa classe de verdade é distinta do entendimento. Ela toma consciência de uma classe de
verdades que pela própria natureza, permanece eternamente à parte dos sentidos, e por
conseguinte, do entendimento.
Essas verdades fazem parte da natureza de cada ser humano e todas as investigações
racional.
Nesse caso não necessitamos de crer ou aceitar a mensagem de Gênesis 1, como uma
verdade imposta ou um dogma, tão poco temos que perder a razão para ser um crente. Se podemos
entender uma linguagem poética ou outro estilo literário, se por natureza temos verdades que se
manifestam, podemos nos aproximar das escrituras com a segurança de que a sua mensagem será
espiritualidade. Essas são as provas que temos que aceitar e nelas nos firmar, pois são
interpretativas e científicas; e não, querer saber quando esses fatos da criação ocorreram, ou se
ocorreram, como já vimos anteriormente, a Bíblia não se propõe à isso. Por outro lado não podemos
simplesmente crer por crer, como religiosos apegados a dogmas que nos proíbe a investigação por
meio da inteligência, que aliás é parte integrante de nosso ser espiritual dado por Deus no ato da
criação. De outra sorte, não podemos achar que ao investigar, estudar e interpretar a mensagem
teologicamente, estamos pondo em dúvida a mensagem por não querer aceitá-la sem suprir uma
necessidade, oriunda da própria natureza humana de manifestar essa verdade racionalmente. Isso
não é algo que nos torna incrédulos ou desrespeitosos da fé bíblica. Ao contrário isso nos ajuda a
firmar mais na fé. Quanto a isso, gostaria de citar um trecho do Dr. Augusto Cury: cientista,
psicoterapeuta e escritor, que de forma simples esclarece esta questão da seguinte maneira:
outros.
A dúvida inteligente abre as janelas da inteligência e estimula a
Emocional)
Para colocarmos mais luz nessa questão gostaria de citar mais um trecho do livro de Charles
Finney:
Isso tudo nos ajuda e ter mais liberdade ao tentar entender a mensagem de Gênesis 1, pois
tira de nós o peso do castigo, imposto pelo dogma religioso, de investigar por vias da mente e
raciocínio humano uma linda, profunda e acima de tudo espiritual, mensagem de Deus para a
humanidade.
A mensagem
capítulo de Gênesis pode ser colocada da seguinte forma, baseado no comentário de Walter
A criação não foi acidental nem por acaso, mas certamente foi uma decisão soberana de
Deus, sem perguntar a ninguém sobre como e se deveria criar. Hans de Wit comenta:
palavra está fechada, atrás, por cima e por baixo. Isto significa
Isso significa que frase “no princípio”, não quer indicar um tempo cronológico, mas
simplesmente quer deixar claro que: o principal sobre a criação é, o que não deixa dúvida alguma é;
“Deus criou” .
E o propósito dessa criação é o homem, tendo um lugar onde viver em harmonia com o
criador e as demais coisas criadas. Para isso ele cria céus e terra, demonstrando a ligação entre o céu
de Deus e a terra do homem. Mas a terra estava sem forma e vazia, não havia lugar para cumprir o
propósito da criação. O caos, que fala da oposição à criação, está instalado na terra. Deus não criou
a partir do nada. Havia um caos instalado na terra, contrário ao querer do criador, descrito no verso
dois, o qual foi dissipado pelo chamado soberano do criador à criação dando fim a oposição e
tornando possível a criação. A ordem se instala por meio da palavra e então o céu, a terra e o
A criação começa com a palavra. A criação ouve e responde ao falar de Deus, pois ele chama
a existência as coisas que não existem. Quando a criação não ouve o seu criador, não o pode
responder como criatura, não há interação entre ambos. Por isso que o Senhor Jesus ensina sobre a
importância de ouvir Deus por meio de sua palavra. Comparando os que ouvem como quem edifica
sua casa na rocha e quem não ouve como quem edifica na areia. Nessa parábola de Jesus, de novo
as águas, a enchente, protagoniza a oposição que vem contra o que está edificado. Ou seja só é
possível estabilidade do propósito de Deus quando há uma interação entre quem fala e quem ouve.
Deus não deixa de ser soberano por ter oposição. Até que, de certa forma, a oposição realça
a grandeza de Deus como criador de todas as coisas. A soberania de Deus é demonstrada pelo seu
contínuo chamado à sua criação. Ele nunca deixa de chamar, de falar com sua criação, e essa é a
maior prova da soberania de Deus. A cada chamado, a criação vai se formando, criações diferentes
vão surgindo pela soberania criadora. A diversidade traz a beleza e ao mesmo tempo a harmonia.
A voz de Deus tem autoridade mas não autoritarismo. Um exemplo mais claro sobre isso
está retratado por Wayne Sibley Towner em seu livro Gênesis. Ele cita o teólogo Russo Nicholas
isso que foi criado não é, nem inerte nem dependente, mas é
permanece.
A mensagem de Gênesis 1 trata de um Deus criador e soberano cujo ato criador se confunde
com a libertação. A criação que, em dados momentos, está aprisionada e escrava - da própria
liberdade - por meio de uma existência deformada e fora do propósito de Deus, emerge de um caos
onde a existência dessa deformidade revela essa liberdade. Liberdade essa dada pelo criador como
um ato de graça e bondade. A criação precisa ouvir a voz do seu criador que a chama para uma
verdadeira liberdade, onde o caos e a desordem são dissipados por sua soberana palavra de
autoridade e somente nesse vinculo entre, o que chama e o que atende ao chamado, a liberdade
existirá segura. Por isso a linguagem poética é usada aqui. Pois trata-se na verdade de um romance,
entre um Deus criador e sua criação, diferente dos mitos babilônicos que retratam deuses tiranos
que mantem sua criação escrava para seu próprio beneficio, negando ao ser criado o direito de
liberdade e da própria vida. O Deus de Gênesis 1 chama sua criação como um noivo a sua amada,
que no desejo de conquistá-la lhe oferece, o céu, a terra, o sol, a lua, as estrelas, as flores e tudo
mais. É isso que podemos ver em Gênesis 1: o homem sendo criado por último, no sexto dia, pois
quando ele abre os olhos para vida, o Deus criador mostra-lhe o que criou para ele, e o deixa viver
em liberdade. Acho que ninguém pode expressar isso melhor que um grande poeta por meio de um
Ó Senhor, como são tantas e tão diferentes as tuas obras! Tu fizeste todas elas com
Vejo, por exemplo, o mar imenso, cheio das mais variadas formas de vida, animais
pequenos e grandes.
Por ele passam os navios e as grandes baleias, criadas por Ti para viverem se divertindo
nos oceanos.
Todos, animais e homens, dependem de Ti para receber seu alimento na ocasião certa.
Tu ofereces o alimento e eles recolhem o seu sustento; quando Tu abres a tua mão todas as
respiração dos animais e do homem, eles morrem e acabam como um simples punhado
de pó!
Envias o teu Espírito e novos seres são criados para manter esta terra sempre cheia de
vida.
Deem glória ao Senhor para sempre! Assim o Senhor terá alegria por causa de suas
criaturas.
Brueggemann, Walter, Interpretation, A Bible commentary for Teaching and Preaching (1982)
de Melo, Carlos Augusto, Teoria Literária do curso de Letras da UNIP (Universidade Paulista)
(2011)