Anais Blibioteca Nacional
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=31
MINISTÉRIO UCAÇAO
ANAIS
DA
BIBLIOTECA NACIONAL DO
RIO DE JANEIRO
PUBLICADOS SOB A ADMINISTRAÇÃO
DO
DlkETOR
RODOLFO GARCIA
Littecarum sea librorwn
negotium conctudimus homims
esse vitam.
tPhilobiblion. Cap. XVI).
1938
VOLUME LX
sumário : Maria Graham no Brasil : •— I — Correspon-
dência entre Maria Graham e a Imperatriz Dona Leo-
poldina e cartas anexas. II — Escorço biográfico de
Dom Pedro I. com uma notícia do Brasil e do Rio de
Janeiro. — Diário do Capelão da esquadra de Lord
Cochrane, Frei Manoel Moreira da Paixão e Dores.
— Autos de exame e averiguação sobre o autor de uma
carta anônima escrita ao Juiz de Fora do Rio de Ja-
neiro, Dr. Baltazar da Silva Lisboa (1793). — índice
dos Anais da Biblioteca Nacional. Relatório da Diretoria.
Biblioteca Nacional
RIO DE JANEIRO
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
AN/VIS
DA
BIBLIOTECA NACIONAL DO
RIO DE JAN Kl RO
PUBLICADOS SOB A ADMINISTRAÇÃO
DO
DIRETOR
RODOLFO GARCIA
Litterarum seu librorum
negotium concludimus hominis
esse vitam.
(Philobiblion. Cap. XVI).
1938
VOLUME LX
sumario : Maria Graham no Brasil : — I — Correspon-
dència entre Maria Grariam e a Imperatriz Dona Leo-
poldina e cartas anexas. II — Escorço biográfico de
Dom Pedro I. com uma notícia do Brasil e do Rio de
Janeiro. — Diário do Capelão da esquadra de Lord
Cochrane, Frei Manoel Moreira da Paixão e Dores.
—• Autos de exame e averiguação sobre o autor de uma
carta anônima escrita ao Juiz de Fora do Rio de Ja-
neiro, Dr. Baltazar dá Silva Lisboa (1793). — índice
dos Anais da Biblioteca Nacional. Relatório da Diretoria.
- 18 ^
A citar ainda :
Memoivs of the Life of Nicholes Poussin, tradução
do Francês, de De Rocca. London, 1820, in-8.
History of Spain. — London, 1828, in-8,
E mais :
Uma carta à Sociedade de Geologia a respeito do
terremoto de que foi testemunha no Chile, em 1822.
Uma descrição da Capela di Giotto, em Pádua, com
desenhos de Sir Augustus Callcott, em 1835.
Essays towards the History of Printing, 1836.
Prefácio a Scven ages of Man (Coleção de Dese-
nhos de Sir Callcott), 1840.
The little Brackenburners and little Mary's from
Saturdaijs, 1841 .
A Scripiure Herbal, 1842.
RODOLFO GARCIA
Diretor
CORRESPONDÊNCIA ENTRE MARIA GRAHAM
E A
IMPERATRIZ DONA LEOPOLDINA
E CARTAS ANEXAS
NOTA
Senhora,
(2) Sir Thomas Marterman Hardy (1769-1839). Almirante inglês. Teve ce-
lebrldade nas campanhas de Nelson, a cujas ordens imediatas serviu. Foi desde
Agosto de 1819 comandante em chefe da estação naval na América do Sul. Em
Abril de 1834 foi nomeado governador do Hospital de Greenwich ; Vice-almirante
em 10 de Janeiro de 1837. Falece» em 20 de Setembro de 1839. — (E.)
- 34 -
II
Senhora Graham.
Recebi vossa carta de ontem, à qual tenho o prazer de
responder que Eu e o Imperador estamos ambos muito satisfei-
tos em aceitar o vosso oferecimento para ser governante de
- 35 -
No sobrescrito :
Para a Senhora Graham.
Rua dos Pescadores.
III
Senhora
IV
Milady !
No sobrescrito :
A Milady Graham
A Londres
(Com um selo em lacre com as armas imperiais do Brasil
e da Áustria unidas)
Senhora.
Presada senhora
(6) Esse Capitão Mends comandava a Fragata inglesa Blanche. que entrou
no porto do Rio de Janeiro em 21 de Agosto de 1824, procedente de Plymouth por
Lisboa, com 35 dias de viagem. pESsage'rcs 1 ing'ês e sua mulher, — Notícias Marí~
íimas do Diário Fluminense, de 4 de Setembro. Permaneceu aqui até 20 de Outubro,
quando saiu para Baía e Pernambuco. — Diário citado, do dia 22. Nessas noticias
o nome Mends ocorre erradamente Minder, corrigido em outra viagem da Blanche, —¦
Diário citado de 20 de Agosto de 1825. — (E.).
— 40 —
Não vos preciso lembrar que não sou uma fugitiva, cor-
rendo do paiz, — mas uma súdita britânica, retirando-se de
um serviço que não lhe convém.
Mas nada mais direi, para testemunhar à Providência, qué
até agora me protegeu, que enquanto merecer proteção, esta
nunca me faltará.
Sou, senhor, etc.
I
Minha querida amiga !
II
vossa afeiçoada
Maria Leopoldina
III
sou
vossa afeiçoada
Maria Leopoldina
No sobrescrito :
A Madame Graham.
Rua dos Pescadores
IV
Maria Leopoldina
TVo sobrescrito :
A rVjadame Graham
Rua dos Pescadores
No sobrescrito :
A Madame Graham
Rua dos Pescadores
VII (")
(11) Há uma folha em branco, onde deveria estar colada a carta VI. — (T.)
— 45 —
A Madame Graham
nas VArangeiras (sic)
VIII
IX
No sobrescrito :
Para Madame Graham
(13) Estão coladas antes umas folhas em branco, onde provavelmente Maria
Graham pretendia narrar a sua saída do Brasil. — (T.)
{14) Esposa do signatário desta carta, Lady Elisabeth Margaret, filha de
Philipe Yorke, Conde de Hardwicke. Em uma passagem dos Récits d'une Tante —
Mémoires de la Comtesse de Boigne, née D'Osmond, publicados segundo o manus-
crito original por Charles Nicoullaud, vol. II, ps. 148/151 (3." edição, Paris, Plon-
Nourrit õ Cie.. 1907). — a Condessa narra o traitement de que foi objeto Lady
Elisabeth, cerca de 1820, quando seu marido era Embaixador da Inglaterra na Corte
— 47 ~-
Senhora
(17) Sir Robert Gordon (1791-1847), diplomata inglês. Em 1810 foi no-
meado Adido â Embaixada da Pérsia e logo depois Secretário da Embaixada na
Haia. Com o Duque de Wellington. Ministro plenipotenciário. serviu em Viena em
1815, 1817 e 1821. Em Outubro de 1826 veio para o Brasil como Enviado extraor-1
dinário e Ministro plenipotenciário, e serviu de Mediador na negociação do Tratado
de 27 de Maio de 1827, entre o Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata.
Passou depois para Constantinopla e para Viena, como Embaixador extraordinário.
Faleceu subitamente em Balmorai, em 8 de Outubro de 1847. — (E.)
Mareschal (20) .
Para a Europa.
Mareschal (20) .
Para a Europa.
No sobrescrito :
A Madame
Madame Graham
II
No sobrescrito :
A Madame
Madame Graham — Londres (26) .
III
delicado para com seus amigos. O que deve consolar uma mãi
afetuosa é a firme esperança, e posso dizer, certeza, de que ela
fará a felicidade de uma nação fiel e brava e habitará em nossa
querida Europa, que espero ainda rever, pois ao Tempo nada
é impossível.
Espero com bastante impaciência que o Sr. Gordon arran-
je agora meu gabinete de mineralogia. Tenho uma coleção
para a cunhada de Sir Charles Stuart e espero enviar pelo
próximo paquete. Seu cunhado deixou-nos para ir a Lisboa,
de modo que não poude incumbir-se deste encargo.
No sobrescrito :
A Madame
Madame Graham
Em Londres.
IV
sou
vossa afeiçoada
Leopoldina
No sobrescrito :
A Madame
Madame Graham
Em Londres.
VI
No sobrescrito :
A Madame
Madame Graham
Em Londres.
- 58 —
Mareschal
II
Senhora,
Mareschal
Senhor
(34) Lady Elisabeth Holland, filha do milionário Vassal, da Jamaica, foi casada
em primeiras núpcias com Sir Godfrey Webster, de quem se divorciou escandalosamente
para casar-se com Lord Holland (Veja Escorço biográfico, nota 1, a) .
Sua casa em Londres, a famosa Holland's House, foi um dos mais vivos centros
intelectuais e políticos da Inglaterra ; seus salões eram freqüentados por personalidades
como Macaulay, Sydney Smith, Talleyrand e muitas outras ; mas, pelas circunstâncias
do divórcio já aludido, não eram procurados pela alta aristocracia, de costumes rígidos.
e poucas senhoras ali apareciam. Napoleonista exaltada, empregou esforços para sal-
var o vencido de Waterloo. Escreveu o seu Journal, publicado recentemente. Lady
Holland morreu em 1845. ¦— (E.)
~- 64 —
Senhora
(35) Tendo demorado a resposta de Palmela, parece que a então Mrs. Cal-
Icott começou a afligir-se. A este respeito escreve-lhe Lady Holíand o seguinte bilhete:
"Estou
certa de que fizestes muito bem —• e quero contar a Palmela que foi
principalmente por sugestão minha que procurastes a Rainha. Acho que o Sr. Cailcott
faz bem em rir de vossas apreensões. Desejo-os bôa sorte. — E. Hólland. —
Domingo". — (T.).
- 65 -
este titulo, se um dia sua posição consolidar-se na Europa e
ela se separar das pessoas que trouxe consigo provisoriamente
do Brasil. *
Palmella (36)t
No sobrescrito :
»*¦'¦¦
Mrs.
Callcott
4, Kensington Gr.
II
Senhor
ADVERTÊNCIA
tura de seu casamento fez, porem, com que sua casa, a célebre Holland's House.
onde se reunia a fina flor da intelectualidade britânica, fosse olhada um tanto de
soslaio pelas altas e severas camadas da aristocracia inglesa.
Lord Holland escreveu uma biografia de Lope de Vega e traduziu várias
peças espanholas e italianas; escreveu ainda muitos panfletos políticos, um projeto
de Constituição para o Reino de Nápoles, alem de suas Memórias, de edição póstuma
por seu filho Henry Edward, sucessor do titulo e da casa. Sobre ele há um belo
ensaio de Macaulay. ¦— (E).
Maria Callcott
M. C.
(3) A autora escreve Boirée — (T.) Padre Renato Pedro Boiret, mestre
das Princesas, Capelão-mór do Exército Imperial. Fez parte do Apostolado, onde
tinha o nome de Sócrates. Foi nomeado Comendador da Ordem de Cristo, no des-
pacho de 4 de Abril de 1825, — Diário Fluminense, de 6 do mesmo mês e ano.
Era Cônego e faleceu em 23 de Julho de 1828. — Melo Moraes, Brasi/ His-
ronco, 2." série, tomo II, ps. 166, Rio, 1867. — (E).
- 77 ~
(4) La Cenerentola íem francês Cendritlon) que é uma opera bufa em dois
atos, libreto, de Ferreti e musica de Rossini, representada em Roma, pela primeira
vês, no Teatro Valle, em 26 de Dezembro de 1316. O libreto da Cenerentola
nada tem de comum com a Cendrillon, conto de Perrault. — (E) .
— 79 —
(6) Esse edifício, mais tarde incendiado, era maior do que o Teatro Real
(King's Theatre), no Haymarket. — (A.) — Sobre o Real Teatro de São João, veja
Cartas-ãe Luiz Joaquim dos Santos Marrocos in Anais da Biblioteca Nacional, vol.
LVI, ps. 160. Foi construído no antigo Campo dos Ciganos, por Fernando José
<Je Almeida, o Fernandinho, que fora cabeleireiro do Vice-Rei D. Fernando José de
Portugal, segundo planta do Marechal de Campo João Manuel da Silva, ilftforma
Pizarro, Memórias Históricas, vol. V, ps. 78, que acomodava na platéia, sem ve-
xame, 1.020 pessoas, tendo 112 camarotes, distribuídos em quatro ordens: a primeira,
com 30 camarotes, a segunda e a terceira com 28, cada uma, e a quarta com 26.
Foi inaugurado em 12 de Outubro de 1813. Depois de um espetáculo de gala para
solenizar o juramento da Constituição Política do Império, em 25 de Março de 1824,
foi, em poucas horas, devorado por violento incêndio, ficando apenas de pé as pa-
redes laterais. Para sua reedificação o decreto de 26 de Agosto daquele mesmo
ano autorizou a extração de loterias e concedeu outros favores; outro decreto, de 15
¦de Novembro, outorgou ao teatro, que se estava reconstruindo, o titulo de Imperial
Teatro São Pedro de Alcântara.
Sua inauguração efetuou-se a 22 de Janeiro de 1826, com um espetáculo de
¦gala para solenizar o aniversário natalício da Imperatriz D. Leopoldina.
Depois da abdicação de D. Pedro I o teatro teve o nome mudado para Teatro
Constitucional Fluminense. — (E).
- 83 —
(10) Sobre a queda de cavalo que deu Dom Pedro I, em 30 de Junho de 1823,
pelas 6 horas da tarde, vindo de sua chácara Macaco, e ao chegar à ladeira do Paço
de São Cristóvão, publicou o Diário do Governo, de 10 de Julho, uma longa Descripção
histórica da moléstia de S. M. o Imperador, e Diário do seu estado, e tratamento
successivo até ao dia 9 do corrente. O relatório do Médico de Semana Dr. Antônio
Ferreira França, acusa o seguinte :
"1.°
Fractura direita na 7.* costella sternal ou verdadeira do lado direito, no
ponto de reunião do seu terço médio com o posterior ;
"2."
Fractura indirecta ou por contra-pancada na terceira costella sternal do
lado esquerdo, comprehendendo o seu terço anterior ;
"3.*
Diasthese incompleta na extremidade sternal da clavicula esquerda ;
"4."
Emfira, grande contusão no quadril, com forte tensão nos músculos, que
cercam a articulação femoro-iliaca, e com dòr gradativa, principalmente no nervo
schiatico, que, ao depois, ganhou intensidade notável com explicação de dores agu-
dissimas, e de caracter convulsivo". — (E).
- 93 -
dela que minha aluna mais velha Dona Maria da Glória ha-
via recebido esse nome. Quanto ao erro de confundir o
Retrato de Rafael com o. Arcanjo Rafael, foi por demais in-
teressante para que eu o corrigisse. O último caixote que
pude abrir deante deles, já que a volta da Imperatriz se apro-
ximava ¦— e eu confesso que o escolhi maliciosamente — foi
um pacote contendo um par de globos Cary, de dois pés,
lindamente montados, e num canto do caixote, alguns instru-
mentos para fazer observações sobre o tempo e o clima, como
um higrômetro de Leslie, cianômetro, etc. Os gritos de ma-
ravilhoso ! Maravilhoso ! só foram interrompidos pelo ruido
das patas dos cavalos do Imperador e eu não fiquei pouco sa-
tisfeita pela abertura de meus livros ter sido reservada para
as horas sossegadas da noite ou a manhã cedo, quando resol-
vera que a a preta Ana e eu, arranja-los-iamos nas estantes
antes que pudessem ser vistos por qualquer dos nossos com-
panheiros da tarde.
Desci, como estava combinado, para os apartamentos da
Imperatriz, onde encontrei ambas as Imperiais Magestades e
Dona Maria, que me foi formalmente apresentada como mi-
nha pupila, ainda que eu já a tivesse visto. Vários membros da
corte estavam presentes, mas especialmente os que perten-
ciam à casa de Dona Maria. O Imperador, de maneira bem
delicada e falando em tom um tanto alto, desejou que eu ti-
vesse gostado de meus apartamentos e que o Barbeiro tivesse
dado toda o necessário auxílio no desfazer das malas, etc.
Deu-me então uma carta, que, disse ele, tinha resolvido que
eu recebesse somente de suas próprias mãos, anunciando ao
mesmo tempo o seu conteúdo, com altas vozes, para conheci-
mento dos presentes e, certamente, se as palavras transmitis-
sem poder, eu teria, desde esse momento, a absoluta direção
de tudo que se referisse às Princesas (apara usar as palavras
de Sua Magestade) moral, intelectual e fisicamente. Se a mi-
nha situação e conforto dependessem de boas palavras, de
expressões delicadas, de intenções de Sua Magestade ou de
manifestações de perfeita confiança da Imperatriz ou de or-
dens dirigidas a todos do Paço, contidas no documento escrito
que o Imperador poz em minhas mãos, eu deveria ser de fato
uma grande Dama ; e se essa importância e.autoridade pu-
dessem produzir bem estar — ocuparia uma das mais confor-
taveis posições ! Mas, ai de mim, o Barbeiro estava atraz do
palco e em breve apareceria.
- 102 -
(17) Hoje, 1835, toda a esquadra brasileira, é fornecida, para uso dos ma-
rinheiros, com chá crescido e preparado no Brasil. — (A.).
— 107 —
jantar, cada criança poderia ser vista com uma perna de capão
ou de peru na mão para comer, após o que recebiam um peda-
ço de bolo doce ou de fruta. Era uma felicidade para as
crianças terem boas e fortes compleições, aliás teriam sido
prejudicadas pela superalimentação. Talvez se diga no fu-
turo, e eu não me espantarei, que as infelizes doenças, tanto
físicas como mentais, com que a miserável família Bragança
foi perseguida, foram causadas pela alimentação.
Só depois das crianças terem voltado para casa e ceiado
(ceia muito semelhante ao jantar) seus pais voltavam do
passeio. Então, cada dama que pudesse dar uma desculpa
para livrar-se do serviço, corria para cima pelas escadas
particulares, afim de participar do Beija-mão da tarde. As
crianças tomavam a benção em primeiro lugar e as damas se-
guiam-se com mais ou menos fervor, na medida em que es-
perassem ou não alguns desses favores sem importância que
o Barbeiro havia sido induzido a pedir durante o dia. Depois
todo o mundo se retirava e a nossa ala fechava-se por toda
a noite.
A Imperatriz, regularmente, ceiava e retirava-se para os
seus apartamentos particulares durante todo o tempo que
estive com ela. O Imperador ia para a sua ala do palácio,
onde às vezes, recebia algumas pessoas e, não muito raro,
conferenciava com seus ministros sobre negócios públicos.
Não tenho certeza se no seu tempo havia muito jogo
no Palácio, mas antes da volta da velha corte para a Europa,
o jogo e toda espécie de vícios eram animados pela velha
Rainha, pela sua filha mais idosa e pelo infante de Espanha
Dom Sebastião.
Tal era a vida ordinária no Paço e nossas variantes eram
poucas. Uma vez ou outra o Padre Boiret costumava vir
ao quarto da princesa sob o pretexto de dirigir seus estudos
de francês, mas seus hábitos aborrecidos e familiares, indu-
ziram-me a obter da Imperatriz que suas visitas fossem res-
tritas a dias e horas regulares. Uma vez ou duas o respei-
tavel Frei Antônio de Arrábida, confessor ordinário do Im-
perador, procurou-me e conversamos sobre a espécie de edu-
cação que melhor conviria à provável situação da princesa
mais velha, que ele encarava de fato, como todo o mundo,
como possível herdeira do Brasil, supondo que qualquer filho
do Imperador seria chamado ao trono português pela morte
de Dom João VI.
— 111 -
lia tão bem quanto Dona Maria. Este bom humor do Im-
perador, foi-me sem dúvida muito prejudicial. Foi narrado
ao Barbeiro e ao Padre francês e foram tomadas providên-
cias, cujos detalhes me foram sempre desconhecidos, para evi-
tar qualquer interferência de minha parte no prestígio de que
eles dispunham sobre Sua Magestade Imperial.
Melhorando o pé da Princesa, fomos mandadas, algu-
m^s vezes passear de carro, em vez de a pé, pela tarde. A
criança gostava principalmente de sentar-sé sobre meu joelho,
mas como todas as crianças espertas, subia algumas vezes
ora de um lado do carro ora de outro. Isto, soube mais tarde,
foi reparado e guardado para ser utilizado. Parece que ha-
via uma maneira certa e outra errada mesmo de sentar-se em
um carro de um só assento, e," — é terrível dizer, — eu tinha
sido vista, no lugar em que a Princesa de Bragança deveria
estar, enquanto ela tinha sido vista no meu lugar, divertindo-
se em arrancar os grampos do meu chapéu. Contudo, foi
tudo se passando calmamente até que se aproximou o aniver-
sário do Imperador. Percebi então que havia grande emo-
ção nos próprios alicerces de S. Cristóvão. Soube depois,
que devido à idade tenra de Dona Maria, suas amas-gover-
piantes costumavam sempre comparecer à corte nesse dia,
em traje de corte, de setim branco bordado, com uma cauda
de sétim verde bordada a ouro, com plumas verdes e brancas,
e ficavam junto ao trono a postos para quando a criança,
que ficava entre seus pais nessas ocasiões, precisasse do lenço
ou demonstrasse qualquer sinal de fraqueza. As duas aias-
governantes procuravam evitar que este honroso pequeno
serviço fosse por mim reclamado, nem supondo que eu havia
estipulado que me seriam livres os dias de gala, afim de pode-
los passar como preferisse, com meus amigos ingleses, fran-
ceses, russos e americanos. E o Imperador, não somente
concordou, como me prometeu ceder um dos carros do pala-
cio para conduzir-me nestas ocasiões. De acordo com o que
pensavam, pois, nada deixaram de fazer para descobrir se
eu havia encomendado um vestido de .corte e a quem havia
encomendado, Uma delas abordou-me, perguntando-me se
queria experimentar o seu vestido e afirmou que iria muito
bem em meu corpo. Respondi que não pretendia ter unifor-
rae, porque não sendo Criada do Paço, se quizesse ir ao Beija-
mão, iria de certo cora meu vestido à moda inglesa.
-114-
(24) A Imperatriz, sabendo que Plácido, ainda que recebesse de seu amo a
quantia que me era devida pela minha estadia no Paço, nunca me havia dado o mon-
tante, e que nem os livros que eu trourera, nem qualquer outra despesa, me havia
sido paga ; ainda que lhe fizesse muita falta, ofereceu-me dinheiro, que eu recusei
aceitar. — (A.) .
(25) Parece que Plácido mandou uma mensagem secreta a algum dos subal-
ternos para me pregar esta peça! Talvez esperando que eu não me queixasse e
que eles pudessem assim repartir a presa. — (A.).
-123-
"Minha
caríssima amiga.
(27) A excelente Mme. Lisboa e seu digno marido (pais do Cavaleiro Lis-
boa, Miguel Maria Lisboa, agora, 1835, Encarregado de Negócios em Londres)
emprestaram-me uma casa de campo na sua bela chácara, à entrada do vale, durante
todo o tempo de minha estadia no Brasil. — (A.).
-126 —
que, alem dos 40,000 duros que eu recusei de entregar, havia escondido larga sorama
de dinheiro a bordo do Pedro Primeiro, e suggeriu-se a Sua Magestade, que, visto
estar eu vivendo em terra, seria' fácil dar busca ao navio na minha ausência, por cujo
meio podesse p Imperador apossar-se do dinheiro encontrado. Este deshonroso in-
sulto estava a ponto de ser posto em execução, quando um accidente me revelou a
trama ; cujo objecto era deprimir-me na estimação publica, pela accusação que impli-
cava machinação vil, que, desprezível como era, apenas podia deixar de prejudi-
car-me a mim, contra quem se dirigia.
"Um
serão já tarde recebi uma visita de Madame Bonpland, a talentosa mu-
Iher do distincto naturalista Francez. Esta senhora, que tinha singulares opportu-
nidades para vir a saber segredos de estado, veio de propósito dar-me parte de que a
minha casa estava n'aquelle momento cercada por uma guarda de soldados ! Pergun-
tando-íhe se sabia a razão de tal procedimento, informou-me de que sob pretexto de
uma revista que devia ter logar da outra banda da barra na madrugada seguinte,
os ministros tinham feito preparativas para se abordar a capitania, que devia ser com-
pletamente esquadrinhada emquanto eu era detido em terra, tomando-se posse de todo
o dinheiro que se achasse !
"Agradecendo
á minha excellente amiga o aviso tão opportuno, saltei por cima
da parede do meu quintal, o só caminho desembaraçado para a cavalharice, escolhi um
cavallo, e não obstante o tardio da hora, parti para S. Christóvao. palácio de campo
do Imperador, onde, assim que cheguei, requeri fallar a Sua Magestade. Sendo o
meu pedido recusado pelo camarista de semana de maneira tal que confirmava o
que me annunciára Madame Bonpland, disse-lhe "o que visse ao que se arriscava re-
cusando-me entrada ; acrescentando, que negocio por que eu alli vinha podia ter
"as
mais graves conseqüências para
"Sua
Magestade e para o império". — "Mas,
"Não
"— — "Sua Magestade já se foi deitar ha muito
tornou elle"deitado, tempo". —
"virtude importa",
respondi eu. ou não deitado, quero vel-o, em do meu privilegio de
"ter
accesso a elle a qualquer hora. e se V. recusa permÍtir-m'o, lembre-se das
"conseqüências".
Porém, Sua Magestade não estava a dormir, e como a câmara real era imme-
diata, reconheceu elle a minha vóz na altercação com o camarista. Sahindo ã pressa
do seu quarto num des/isfci/Zé-que em circunstancias ordinárias houvera sido incon-
— 128 —
(31) Não teve êxito senão em pequenas intrigas no Rio; a última novidade
que soube a seu respeito, foi que está viajando com um oficial complacente no Pa-
cifico. — (A.) .
(32) A dama de D. Maria da Glória era a Marquesa de Aguiar, Camareira-
mor da Imperatriz, D. Maria Francisca de Paula de Portugal, viuva de D. Fernan-
do José de Portugal, 1.° Marquês de Aguiar. No dia 12 de Outubro de 1824, ani-
versário do Imperador, formou todo o Exército no Campo da Aclamação, sob o coman-
do em chefe do Governador das Armas, Tenente general Joaquim Xavier Curado.
SS. MM.II. chegaram ao Campo ás 11 Vi horas da manhã. O Diário Flu-
"O 13, descreveu o séquito imperial, e entre os coches que o compunham,
minense, do dia
menciona: coche que conduzia S. A. I. a Princeza D. Maria da Glória, com
a Camareira Mor de S. M. a Imperatriz, a Exma. Marqueza de Aguiar, levando
ao lado 2 Moços de Estribaria a cavallo". — (E.).
-131 —
que fez o crime ainda mais atroz foi que tentaram inculpa-lo
ao Capitão Grenfell.
Em conseqüência desta feia acusação, o Imperador, a
requerimento de Grenfell, determinou que se organizasse um
Conselho de Investigação. E' inútil dizer que os seus ini-
migos se serviram de todos os meios, e com malícia não he-
sitaram em utilizar quaisquer deles — o próprio perjúrio foi
empregado nesta ocasião pelas pessoas que tendo, aberta ou
secretamente, sustentado a causa da Metrópole, encontraram
então uma boa oportunidade para se declararem adeptas de
Dom Pedro. Muitas delas tinham relações no Rio, algumas
eram mesmo ligadas por laços de família a membros do mi-
nistério, e levavam vantagem num julgamento em que os jui-
zes eram. na maior parte, compostos de seus próprios amigos
e parentes. Felizmente o bom senso natural de Dom Pe-
dro habilitou-o a descobrir e desconcertar esta conspiração
contra o Capitão Grenfell. Os verdadeiros responsáveis pe-
lo crime foram levados à barra do Tribunal e do Conselho e o
Capitão Grenfell não só foi isento de todas as acusações, como
foi promovido de posto, e recebido com honras publicamente
pelo Imperador. E' triste dizer que, a não ser a reprovação
ligada à conduta, os conspiradores e criminosos não recebe-
ram punição alguma. Mas o Império estava ainda muito
moço e o ministério muito fraco e muito interessado em cou-
sas particulares para ousar fazer justiça em relação a'pessoas
ricas, cujas relações comerciais lhes davam uma poderosíssima
influência sobre as províncias do Norte.
Enquanto estas cousas se passavam no Norte, uma guer-
ra fraca se desenrolava no Rio da Prata. O Brasil tinha an-
tigas pretensões sobre a província que fica a nordeste deste
Rio. Os diferentes chefes que se tinham tornado senhores
pendência, ps. 500, onde se narra que o grande número de presos, 253 (ou 256, se-
gundo nota do Barão do Rio Branco) foi recolhido a bordo de uma presiganga, navio
de umas 600 toneladas, no dia 21 de Outubro de 1823, confiada sua guarda a uns
"Encerrados
poucos soldados ao mando do 2." Tenente Joaquim Lúcio de Araújo.
no porão e tentando em massa invadir a coberta, obrigou-os o comandante a se re-
colherem, fazendo disparar alguns tiros para atemoriza-los, e mandou logo correr as
escotilhas. Seguiram-se alaridos, que mal se ouviam, e pareciam um coro infernal,
resoando debaixo da coberta. Pouco a "pouco foi amortecendo, e alguns jorros de
água foram lançados com todas as prevenções. No dia seguinte havia cessado de
todo o barulho. Abriu-se, ainda com todas as cautelas, uma das escotilhas, quando —
horror ! .— não foi visto no porão mais que um monte de cadáveres. Sufocados pelo
calor, em acesso de loucura, se haviam todos despedaçado uns aos outros. Dos 253
havia mortos 249, e só quatro respiravam ainda o alento da vida. escondidos detrás
de umas barricas de água, onde haviam buscado refugio". — (E.)
— 137 —
(40) O novo governo proibiu qualquer nova profissão e como os antigos ha-
bi tan tes dos conventos e mosteiros falecem, os edifícios ou serão vendidos com suas
terras, ou empregados em finalidades públicas, tais como hospitais, quartéis, es-
colas, etc. — (A.). — Em 1828 foi apresentado à Câmara dos Deputados, discutido
e aprovado, um projeto que proibia a admissão e residência no Império a Frades e Con-
gregações religiosas estrangeiras, quer exercessem suas funções em corporação, quer
isoladamente, vedando outrosim a criação de novas ordens de corporação, etc. Esse
projeto não teve andamento no Senado; mas as medidas de que cogitava vieram
a vigorar, em parte, por força do aviso do Ministro do Império Nabuco de Araújo,
de 19 de Maio de 1855, que ordenava que as ordens religiosas não aceitassem novi-
ços, até que o governo fizesse concordata com a Santa Sé sobre a reforma e reorga-
nização desses institutos. Antes dessa circular, as leis de 1830, 1831, 1835 e 1840 já
haviam declarado extintas a Congregação dos Padres de São Felipe Neri, a dos
Carmelitas Descalços, ambas de Pernambuco, a dos Carmelitas de Sergipe, e a dos
Carmelitas Descalços da Baía. — (E,) .
— 139 —
Brasil, tornaram-se os mordomos e os contabilistas dos esta-
belecimentos. Sempre pensei que estes homens pudessem
ser os melhores agentes de civilização e de progrsso do paiz
f41). Mas no baixo nivel de educação e moralidade em
que os encontrei, apesar de alguns receberem e merecerem o
mais respeitoso tratamento, a maior parte deles era olhada
como não melhor que os cães e, realmente, não mereciam
mais. A existência de uma classe de homens, ligando como
estes, os interesses dos brancos com os da população negra,
poderia ser uma circunstância muito favorável para o Brasil
se aproveitada judiciosamente. Penso que não há muito que
temer quanto ao zelo demasiado da parte do alto clero, tanto
quanto pude conhece-lo, mas a falta de bons benefícios e pos^-
tos no interior, desde a expulsão dos jesuítas, faz com que uma
transferência na organização interna da Igreja seja matéria
indiferente ao próprio clero. Já em algumas propriedades
particulares, o dono de duas ou três fazendas, consegue man-
ter uma capela entre elas, bastante grande para conter os
escravos cristãos de todas as suas propriedades e paga um
tal estipêndio ao padre que pode induzir um homem de há-
bitos suficientemente decentes e de boas maneiras a se tor-
nar um companheiro e amigo da Fazenda e aceitar o encargo.
Entre os padres nestas últimas condições, percebi grande ca-
rinho para com os negros, humanidade no serviço do hospital
e das crianças e tenho boas razões para acreditar que a mu-
dança de residência de uma propriedade para outra, por um
período fixo, prejudicaria muito pouco o cuidado com os ne-
gros e daria emprego mais estável, como escrevente, ao
Padre, deixando-o menos exposto às tentações, que são muito
freqüentes na sua vida solitária e que no clima enervante do
Brasil, os tornam peor que inúteis à comunidade. Mas volte-
mos ao Rio e aos meus negócios. (*2)
(41) Especialmente, se a reforma da Igreja Brasileira, de que ouvi falar de-
pois que o que está acima foi escrito, for levada a cabo. Os Bispos propuzeram
agora ao Papa que permitisse ao clero brasileiro o casamento. — (A.) — Não houve
nenhuma proposta dos Bispos brasileiros ao Papa, mas simplesmente uma indicação
do Deputado Ferreira França à Assembléia Geral Legislativa, para fosse permitido
o casamento ao clero do Brasil. Sobre essa indicação manifestou-se o Padre Diogo
Antônio Feijó no Vofo do Sc Deputado- - -. como memoro da Commissão do Eccíe-
siastico, sobre a indicação do Sr. Deputado Ferreira França, em que propõe que o
clero do Brasil seja casado. . . (aos 10 de Outubro de 1827) . Rio de Janeiro, 1827,
in-fol. — Esse Vofo provocou ruidosa polêmica e originou a réplica de Feijó: De-
monstração da necessidade da Abolição do celibato clerical pela Assembléa Geral do
Brasil, e da sua verdadeira e legitima competência nesta matéria. Rio de Janeiro,
1828. in-8. -- (E.).
(42) Aqui termina o trecho cancelado pela Autora. — (T.) .
— 140 —
vossa afeiçoada,
Maria Leopoldina
São Cristóvão — 6 de Novembro de 1824".
"Minha
delicadíssima amiga! Não gosto nunca de li-
songear, mas posso assegurar-vos que somente em vossa cara
companhia, torno a encontrar os doces momentos que deixei
com minha amada e adorada pátria e familia. Só as expan-
soes em um coração de uma verdadeira amiga podem promo-
ver a felicidade.
Aguardo com a maior impaciência a certeza de que estais
completamente restabelecida (45) ; ouso rogar-vos, como uma
amiga que se interessa realmente por tudo que vos diz res-
peito, que espereis que eu promova uma ocasião em que pos-
sais ver meus filhos, porque, por tudo deste mundo, quero
usages et coutumes des habitans de ce Royanme, Paris, 1822, 6 vols., in-8. — Conf.
Visconde de Taunay, Extrangeiros illustres e prestimosos no Brasil (1800-1892), ed.
Weiszflog, ps. 10/11. — O atual representante dessa admirável Familia é o Dr.
Afonso dEscragnolle Taunay, diretor do Museu Paulista, professor da Universidade
de São Paulo, membro da Academia Brasileira de Letras, sócio benemérito do Ins-
tituto Histórico e historiador número um do Brasil. — (E.}.
(62) O trecho que se segue até novo sínalestá riscado no original. — -(T.)
-164 —
vossa afeiçoada
Maria Leopoldina
II
Carta de Maria Edgeworth sobre a ida de Lady Calcott
ao Brasil.
Irlanda — Cidade de Edgeworth, 27 de Abril de 1824.
sentar. E' uma honra para sua terra. Eu não vos posso apre-
sentar ninguém da Irlanda que seja um representante mais
digno dos talentos irlandeses e de suas boas qualidades ca-
racterísticas.
A Senhora Edgeworth, que se recorda de vós com muito
agrado, e minhas irmãs, que tiveram o prazer de passar uma
tão agradável hora comvosco em Paris, desejam-vos os me-
lhores votos e estão quasi tão impacientes quanto eu, em saber
algo a vosso respeito.
Maria Edgeworth.
RODOLFO GARCIA
Diretor.
OFFERTÓRIO
Senhor.
Senhor,
- Abril 1 -
Ás quatro horas da manhã deste dia principiou a Náo a
dar mãos ao seu trabalho para se fazer de vela, com todos os
mais navios de que se compunha a Esquadra, cujos nomes
são os seguintes, seu numero, seus commandantes, sua tri-
pulação e boccas de fogo (í) ;
(í) Das Notícias Maritimas do Diário do Governo, de 3 de Abril de 1823 :
"Sabidas.
Dia 11 do corrente : Em Commissão, Náo Pedro /, Com. o Cap. de
Frag. Thomaz Sackville Crosbie, leva a seu bordo o Exmo. Almirante da Esquadra
Lord Cockrane; passageiro o Coronel Antônio (aliás Antero) José Ferreira de Brito,
com um escravo. Dito F. Piranga, Com. o Cap. de Mar è guerra David Jewett,
Dito, C. de guerra Maria da Gloria, Com. o Cap. Ten. Theodoro de Beaurepaire.
Dito, dito Liberal, Com. o Cap. Ten. Francisco Salema Freire Garção. Dito, B. E.
de Guerra, Com. o 1." Ten. Justiniano Xavier de Castro".
— 190 —
AbrÜ2 -
Abril 3 -
— Abril 4 ~
~ Abril 6 —
Abril 7 -
Abril 8 —
Abril 9 —
— ~ '
Abril 10
Abril 11 —
Abril 12 —
Abril 13 -
Abril 14 —
Abril 15 —
Abril 16 -
Abril 17 -
Abril 18 —
~ Abril 19 —
Abril 20 -
Abril 21 —
Abril 22 —
< — Abril 24 ~-
- Abril 25 -
Abril 26 —
Abril 27 —
Abril 28 —
Abril 29 —
Abril 30 — .
Maio 1 —
Maio 2 —
Maio 3 —
Maio 4 —
— Maio 6 —
— Maio 7 —
Maio 8 —
Maio 9 —
— Maio 10 —
— Maio 11
— Maio 12 —
~ Maio 16 —
— Maio 17 —
— Maio 18 —
Maio 19 —
Maio 20 —
Maio 21 —
— Maio 22 ~
Maio 24 —
Maio 25 —
— Maio 26 —
~ Maio 27 —
, :: . — Maio 28 — -,
— Maio 29 —
— Maio 30 ~
Maio 31 —
Junho l.° —
Junho 3 —
Junho 7 —
NOTICIÁRIO.
(15) O nome Vopiér, que aparece três vezes no Diário, é nada mais, nada
menos que Beaurepaire, evidentemente mal ouvido pelo Autor. O Conde de Beaurepaire
era o Commandante militar da Comarca de Porto-Seguro e Ilhéos. Um aviso do Mi-
nistro da Guerra João Vieira de Carvalho, de 28 de Janeiro de 1823, transmitiu-lhe
tias vésperas do embarque para assumir aquele posto as seguintes Imperiais Deter-
mináções, que faziam o essencial de sua Comissão: , 1." o Cpmando da parte militar
dos Distritos de Porto-Seguro e Ilhéos, devendo ali alistar para um ou dois corpos de
milícias da arma que julgasse mais conveniente, fazendo o plano de organização e
proposta de oficiais, o que devia enviar ao General Labatut,-que com suas observações
remeteria à Secretaria de Estado ; 2." 'dando
Deveria pôr em estado de defesa as barras dos
rios mais freqüentados em comércio, conta do que ' mais' precisasse para suã
— 221 —
segurança, alem das armas, pólvora e balas, que se remetiam na ocasião a seu destino. .—
Diário do Governo, de 8 de Fevereiro de 1823. — O Conde Jaques de Beaurepaire
nasceu em Toulon, França, a 17 de Novembro de 1771 e faleceu no Rio de Janeiro,
em 26 de Julho de 1838 ; oficial general do Exército Brasileiro, prestou grandes servi-
ços à Independência na Baía, e foi Comandante das Armas no Piauí. — Conf.
Visconde de Taunay, Estrangeiros ilustres e prestimosos no Brasil, ps. 11-12, ed.
Weiszflog Irmãos. -- Sobre quanto se relaciona com Labatut e acontecimentos em que
foi parte, veja Tobias Monteiro, Historia do Império — Elaboração da Independência,
ps. 585/597, e nota de ps. 598/603, onde a personalidade e os fatos ficaram definiu-
vãmente fixados.
— 222 —
— Junho 8 —
— Junho 12 —
Junho 13 —
Junho 14 —
Junho 15 •—
¦— Junho 17 ¦—
— Junho 18 e 19 —
— Junho 24 — "
Junho 25 —
Junho 26 —
— Junho 28, e 29 —
— Junho 30 —
NOTICIA
— Julho 2 —
— lulho 3 —
- Julho 4 —
REFLEXÃO
- Julho 5 -
9ó^° dia de viagem. Sabbado. — Ao romper do dia
vimos a Esquadra inimiga em pouca distancia, já quasi a nosso
Sotavento, e nós por conseqüência com maiores vantagens
para lhe apresar todos os Navios que se nos offerécesse, visto
não nos ter sido possível ataca-la no Porto, nem poder faze-lo
agora, por se terem dispersado as nossas forças, tendo-se só
conservado em grande distancia Maria da Gloria. Só 3 h. da
tarde, depois de termos dado uma grande caça a uma Gallera
Russa pertencente ao Comboio, e ficar prisioneira, foram a
seu bordo dois escaleres com alguns Officiaes armados, levando
toda a sua guarnição armada de espadas e machadinhas para
— 234 —
— Julho 6 — .
— Julho 7 ~
98.° dia de viagem. 2* feira. — Corremos toda a noite,
com vento fresco, sobre a caça dos Navios, até ás 7 h. da
manhã., Vimos pela nossa proa, a Sotavento, pela distancia
de 4 a 5 léguas, 17 Navios, e 4 por Barlavento. A este tempo
fez a Náo toda a força de vella e para ajudar esta força
mandou o Lord preparar uma vella ao lado de Bombordo,
pouco mais acima da Cevadeira e por baixo da Bujarrona,
a qual, fazendo bom efeito, nos favoreceu muito na caça de
4 Navios, que iam mais na retaguarda dos outros ; de sorte
- Julho" 8 -
— íulho 9 —
Julho 10 —
Julho 11 —
Julho 13 —
— Julho 14 # —
. — Julho 15 —
— Julho 16 -
— Julho 17 —
— Julho 18 —
— Julho 19 —
— Julho 20 —
— Julho 21 —
~ Julho 24 -
— ¦Julho 25 -
Julho 27 —
Julho 28 -
— Julho 29 e 30 —
— Julho 31 —
Agosto 1 •—
Agosto 2 —
Agosto 3 ¦—
v. . — Agosto 4 e 5 —
OBSERVAÇÃO
Setembro 20 —
Setembro 21 —
Outubro :
Novembro :
— Lat. 12.°-34' S. Long, 32.°-35' O.
— Lat. 15.V24' S. Long. 32.°-35' O.
— Lat. 17.°-18' S. Long. 39.°-36' O.
— Lat. 17.a-5T S. Long. 40.°-10* O.
— Meia hora depois do meio dia, estando légua e meia
arredado da Ilha dos Abrolhos do Suéste, principiou a Náo a
bater com a popa em uns baixios, que ficam a Leste da mesma
Ilha, de onde felizmente se safou.
— Lat. 18.°-06' S. Long. 39.°-5l' O.
— Lat. 20.°-24' S. Long. 40.°-14' O.
— Lat. 24.M2' S. Long. 42.°-18' O.
Avistamos terra pelas 6 h. e ás 8 x/2 nos achamos ao Sul
do Cabo-Frio.
-258-
RODOLFO GARCIA
Direfor
AUTOS DE EXAME E AVERIGUAÇÃO SOBRE O AUTOR DE
UMA CARTA ANÔNIMA ESCRITA AO JUIZ DE FORA DO
RIO DE JANEIRO DR. BALTAZAR DA SILVA LISBOA (1793)
A carta anônima :
Amigo.
. Amigo infalível
assistente p" as perguntas <q houver de fazer ; e como este negocio tem
huma immediata conexão com a commissão da Alçada sobre a conju-
ração da Capitania de Mfras, pertendo servir me dos mesmos escrivaens
q p" aquella deligenciá. propus a V. Ex.cia eq V. Ex.cia então aprovou,
a. saber pa escrivão da devaça o Dez.or de Aggravos desta Rellação
Fran.1* Luis Alves da Rocha, e pa assistente o Ouv.01, desta Com.ca
os quais espero q V. Ex.cia tãobem agora aprova. Deos G.'1' a VEx/,a
Rio 12 de Janr" de 1793
DE V. Ex.*"
Mais obzequiozo V."r e C.
Seb.íu X- de Vas.1™
(rubrica ilegível) .
{Tem no verso)
-271 —
Rocha
Termo de Con.8"1
Com os autos
de perguntas
appensos.
O escrivão destes autos numere e' rubrique as
folhas delles e dos appensos, e feito o enserramento
tire de tudo huma legal copia, q me entregará com o
original Rio de Janeiro 24 de Janeiro de 1793
(rubrica ilegível)
. Respondeo, que o Saco das cartas costuma vir. na. .mão do Qespçn-
seiro, de que bem podem pella viagem as pessoas, que.vem no..Navio
meter cartas no Saco toda a ves, que o Despenseiro ¦convier.
Foi perguntado, como costuma, elle Respondente entregar o Saco
¦das cartas ao Patrão mor.
Respondeo, que costuma elle Respondente a abrir .o .Saco, ,.e sepa-
rar todas aquellas que vem para pessoas conhecidas, e juntas atallas
com hum fio, e tornar a metéllas no Saco, que entrega, ap Patrão mor,
o que agora também praticou.
Foi perguntado se lhe lembra as cartas que atou com fio, para quan-
tas pessoas, e quantas cartas erão.
Respondeo, que lhe lembra, que atara com fio cartas para elle Con-
seJbeiro, que atara mais com fio cartas para o Ouvidor da Comarca,
cartas para o Doutor Juis de Fora, as quaes todas ajuntou com huma
carta, que vinha no Saco para Jerônimo Teixeira Lobo, e juntas as atou
todas, por lhe parecer, que serião mais prontamente entregues por mão
do dito Jerônimo Teixeira.
Foi perguntado, se lhe lembra quantas erão, as¦-qüe atou com hum
fio para cada huma das pessoas, que deixa referidas ?
Respondeo, que lhe não lembra quantas vinhão para elle Gonse-
lheirò ; que para o Doutor Ouvidor da Comarca Jhe parece qué não pas-
sâvão de duas cartas ; para Jerônimo Teixeira huma carta ; e para" o
Doutor Juis de Fora lhe parece, que também não serião mais de duas
cartas.
Foi perguntado, se depois que o Saco das cartas veio para terra
fallou com Jerônimo Teixeira,Lobo, ç Soube, se elle tinha recebido, não
só a süa, mas as mais cartas, e as tinha entregues.
Respondeo, que só duas vezes tinha fallado.com Jerônimo Teixeira
Lõbo: depois qüe chegou a esta Cidade, a primeira ves a bordo do
Navio, aonde o dito Jerônimo Teixeira foi vizitar a elle Respondente. a
Segunda foi hoje na Rua direita, porem em nenhuma dessas vezes fal-
larão à respeito das sobre ditas cartas.
E sendo lhe mostrada a carta declarada no Auto, que serve de
corpo de delicto, foi perguntado se lhe parece a letra da mesma carta
cóm alguma daquellas, que atou com hum fio para< o Doutor Juis de
Fora.
Respondeo, que não conhecia a letra da carta, nem tem idea algu-
ma da letra das cartas, que atou para julgar, se tjnhão: alguma seme-
Ihança com a letra da carta, que lhe foi mostrada.
E por ora lhe não fes mais perguntas, as quaes sendo lhe lidas
achou, estarem conformes, com o que respondido tinha ; e sendolhe de-
ferido juramento, pello que rtspeitava a terceiro, declarou debaixo do
— 278 —
Respondeo_ que não trouce carta alguma em seu poder para en-
tregar.
Foi perguntado, se sabe a quem o saco das cartas, que vinha no
dito Navio, vinha entregue. Respondeo, que o saco das cartas costuma
entregar-se ao Capitão do Navio, e este ordinariamente costuma mandar
guarda-lo no paiol, cuja guarda he encarregada ao Despenseiro.
Foi perguntado, se sabe, o que se praticou nesta viagem a este
respeito ; se com effeito o saco veio no paiol entregue ao Despenseiro,
ou se vinha encarregado guarda-lo tíutra alguma pessoa.
Respondeo, que nesta viagem sabe que o saco das cartas veio en-
tregue ao Despenseiro, porque antes de chegar a esta terra, querendo
separar-se as cartas, que vem para os commerciantes, ou Ministros desta
Cidade, costumão separar-se as carta para se ajuntarem, as que vem
para a mesma pessoa, e se atarem com hum fio ; e querendo praticar-se
isto mesmo no fim desta viagem, vio que se pedío o saco das cartas
ao Despenseiro, e que elle o trouce do paiol.
E vendo o dito Ministro, que se contradizia com o que tinha de-
clara do, o Despenseiro João Nepomuceno nas perguntas antecedentes,
nas quaes havia declarado, que o saco das cartas nesta viagem lhe não
viera nunca entregue, porque sempre veio na Câmara entregue á guarda
do Capitão ; e mandando logo vir a sua prezença o dito João Nepomu-
ceno para ser acareado com o Respondente sobre esta contradição, con-
vèiò o Respondente, em que o saco' das cartas podia vir na Câmara
entregue ao Capitão, porém como vio, que se pedia o mesmo saco ao
dito acareahte, e que este o trazia debaixo para a tolda, julgou, que
vinha do paiol r-e por esta cauza se persuadio. qye *v_nha entregue á
guarda do acareante ; porque disso não tinha outra certeza ; e por esta
forma ficarão justos, em que o saco podia muito bem vir na Câmara,
e que o acareante fallava verdade ; e que elle acareado se tinha per-
suadido o contrario pella razão, que declarou ; e por esta forma houve
esta acareação por feita a qual sendo lida ao acareante e creado, acha-
rão estar conforme, com o que respondido tinhão; e assignou o dito
Conselheiro acareante e acareado, e Ministro Escrivão assistente, e Eu
o Dezembargador Francisco Luis Alvares da Rocha Escrivão, que o
escrevi.
tinha dito, que lhe tinha entregue mais huma carta, q tinha vindo den-
tro de huma sua de Paulo Jore Guedes, se lembrou, que com effeito
tinha entregue na mesma occazião ao dito Ministro mais a dita carta
aíem das que ja tem referido ; e que dizer o contrario foi equivocação,
e esquecimento.
Foi perguntado, se com a dita carta, que vinha dentro da sua, se
completava o numero das quatro, ou cinco, que dis entregara -ao dito
Ministro ; ou se as ditas quatro, ou cinco cartas erão unicamente as
do masso sem entrar no mesmo numero a carta do dito Paulo Joze
Guedes.
Respondeo, q o numero de quatro, ou cinco cartas, que declarou
entregar ao dito Ministro se refere aquellas que vinhão Unicamente
no masso sem entrar no mesmo Numero a carta, que tem declarado viera
dentro de huma sua.
Foi perguntado, se conhece alguma das letras das sobre cartas,
que entregou, tanto das que vinhão no masso, como da outra de fora
parte.
Respondeo, que não conheceo, de quem era a letra das sobre car-
tas, que entregou ao Doutor Juis de Fora, nem das que vinhão no
masso, nem da que vinha dentro de huma delle Respondente, só sim
sabe, que junto com a carta, que veio dentro de huma delle Respondente
para o Doutor ouvidor desta Câmara, a qual também lhe entregou ; e
se lhe forem mostradas as ditas sobre cartas destas duas cartas entende,
que conhecera serem as mesmas, ou não.
E sendo lhe mostrado a sobre carta daquella, que se acha autuada,
foi perguntado se tinha lembrança de ter entregue ao Doutor Juis de
Fora alguma carta com a sobres, digo com a sobrecarta, que lhe foí
mostrada.
Respondeo, que não tem lembrança, se nas cartas, que entregou,
vindas do maço, vinha alguma com a sobrecarta, que lhe foi mostra-
da neste acto; porque não fes reflecção na letra das sobre cartas,
quando as entregou, porem he certo, que nem conhece, de quem he a
letra da dita sobra carta, que lhe foi mostrada, nem da mesma carta, que
se acha autuada, que também lhe foi mostrada ; porem está bem certo,
que letra das duas sobre cartas, que vinhão dentro da delle Respon-
dente, e que tem declarado ter entregue huma ao Doutor Ouvidor,
outra ao Doutor Juis de Fora não tem semelhança alguma com a sobre
¦carta, e carta,
que neste acto lhe foi mostrada, porque as ditas sobre
cartas para o Doutor Juis de Fora, e Doutor Ouvidor erão em papel
de Olanda, e huma letra muito boa a forma de letra de Secretaria,
circunstancias, que não concorrem na sobre carta, que agora lhe foi
mostrada.
^288-
I
— 289 —
Foi instado, que dicesse a verdade, por quanto a mesma espece que
lhe fés a pergunta do dito Ministro á noite em caza delle Respondente,
porque o vio de capa e volta, a mesma espece lhe tinha feito pella manhã,
o velo triste quando lhe entregou as cartas, e tanta espece lhe fes,
que chegou elle Respondente a perguntar ao dito Ministro se nas ditas
cartas lhe tinha vindo alguma noticia, que o afligisse ; e se pella es-
pece, que lhe fes ver á noite o Juis de Fora de capa e volta, conserva a
lembrança da pergunta e reposta, que deo ao dito Ministro, pella mes-
ma espece, que lhe fes pella manhã o ve-Jo triste, quando leo as ditas
cartas, devia elle Respondente também conservar a lembrança, se o dito
Ministro lhe tinha perguntado, quem lhe dera as cartas, que lhe en-
tregava, e se lhe tinha dado a reposta, de que fora o Capitão do Navio,
que lhas dera.
Respondeo, que pella manhã o satisfes á sua pergunta de o ver
triste, em dizer lhe que estava, agoniado de não ser rendido do lugar
de Juis de Fora, e á noite lhe fes espece por lhe fazer aquella pergunta,
e não se demorar coiza nenhuma. -
Foi instado que dicesse a verdade, por que se pella espece, que lhe
fes o vir o Juis de Fora á noite de capa e volta lhe fas conservar a
lembrança da pergunta, que o Juis de Fora lhe fes, e da reposta, que elle
Respondente lhe deo, muito maior espece lhe fes o ve-lo pela manhã
triste, quando lhe entregou as cartas ; tanto assim, que chegou a per-
guntar-lhe se tinha alguma noticia, que o afligisse, e á noite, quando
o vio de capa e volta, fes lhe tão pouca espece, que lhe não perguntou
adonde hia assim vestido ; e que era natural, que se lhe tivesse feito
alguma espece, que lhe tivesse feito a pergunta, donde hia assim vestido
de capa e volta aquellas horas, pois tinha confiança e amizade para
fazer a dita pergunta, como mostra o haverem lhe entregue o dito masso
de cartas para dar ao dito Ministro ; nem podia fazer-lhe espece ver
o dito Ministro de capa, e volta aquellas horas, sendo aquellas pro-
prias de poder hir assistir a algum enterro, ou poder hir fallar ao Vise
Rey, que a aquellas horas da noite costuma fallar a muitas pessoas ;
e não pode ser novidade que hum Ministro tenha motivo de sahir de
capa e volta, pellas Ave Marias.
Respondeo, que não lhe deo o Juis de Fora tempo para lhe fazer
mais pergunta alguma ; porque lhe aquella digo lhe fes aquella pergun-
ta, e dando-lhe a reposta, que dice voltou logo, perguntando lhe se tinha
a sua sege dezembaraçada, e dizendo-lhe sim, sahio nella : e so depois
pello seu bolíeiro soube que tinha vindo da Caza do Dezembargador
Conselheiro, Juis destas perguntas, e a Palácio, e que depois o foi levar
a sua caza ; e sahio logo, e não lhe dei tempo para mais.
— 290 —
\
-293-
/
— 295 —
dia lhe fizesse a pergunta, de quem lhe tinha dado as ditas cartas ; e
se á noite o acareante fes a dita pergunta ao acareado, como este decla-
ra nas repostas ás perguntas, que lhe forão feitas, parece que he pella
razão, de que pella manha nem o acareante lhe tinha feito aquella per-
gunta, nem o acareado lhe tinha dado a reposta de lhe haver dado as
ditas cartas o Capitão do Navio ; o que sendo ouvido por ambos ; dice
o acareante, que quando o acareado entregou as cartas, dizendo a elle
acareante, que erão cartas de Lisboa ; e perguntando quem lhas havia
entregue, respondeo o acareado — o Capitão do Navio =, e levando
o acareante ao acareado para a janella, abrira as cartas lançando os so-
brescriptos no chão na mesma janella ; e depois de as Ler, se mos-
trará logo efflicto, que deo razão de reparo ao acareado a lhe pter-
guntar, se tinha coiza, que desse cuidado a elle acareante; e dizendo
elle acareante, que não ; só estava afflicto, por não ter ainda noticia de
Successor ; e o acareado tornou ainda a instar, que o acareante tinha
coiza de cuidado, a cuja pergunta lhe dera o acareante semelhante re-
posta, e logo que o acareado se retirou, e humas partes, e pessoas, que
o tinhao. buscado a elle acareante, viera dar parte ao mesmo Conse-
lheiro ; e logo participara não só a entrega das cartas pello acareado,
mas a pergunta, que lhe fes, quem lhe havia entregue as cartas, o que
era muito natural, pois que o acareado de Lisboa ja mais a elle acareante
fes entrega de cartas, e somente as vindas da Bahia do Dezembarga-
dor Marcelíno Pereira Cleto, e da caza dos Paes delle acareante ; nem
era de supor, que elle acareante adivinhasse de manha a resposta, que
o acareado lhe dera em sua caza de serem as cartas entregues pello
Capitão para fazer mensão na parte, que deo a elle Conselheiro, de que
as cartas tinhao sido entregues pello acareado, por lhas haver dado
o Capitão do Navio ; que he verdade que elle acareante, tendo de vir
á noite fallar ao mesmo Conselheiro, fora a caza do acareado primei-
ramente, e chamando-o á janella, lhe tornara a perguntar, quem lhe
havia entregue as cartas, que o acareado lhe havia entregue na manha
do dia des ; o que lhe tornou em reposta, que tinha sido o Capitão do
Navio ; e essa pergunta fizera segunda vez para maior certificação ;
O que sendo ouvido pello acareado respondeo, que era verdade, o que
o acareante acaba de referir nas explicaçoens, que vai a dar ; que lhe
não lembra se em outras occazioens entregou ao acareante algumas
cartas vindas de Lisboa, ou não ; mas que he certo, que no dia des
lhe entregou as sobesditas cartas, as quaes o Capitão do Navio Ped<a
trazia separadas, e atadas com hum fio, e as deo a elle acareado
para as entregar pella razão, de que tendo elle acareado, sido caixa do
Navio na viagem antecedente, e tendo visto então ao acareante com elle
acareado, e que era vizinho do Doutor Ouvidor desta Comarca, jul-
— 296 —
vio, a tempo que elle dava fundo ; que foi em companhia do Capitão
do Navio Luzitana, que he delle Respondente, e Jero, digo Responden-
te ; e também hia na sua companhia Jerônimo Teixeira Lobo, e hum
menino sobrinho delle Respondente ; e ahi fallou com o Capitão, e
com a mais gente, que chegou á falia, e o Capitão veio com elle Res-
pondente no mesmo bote para dar as suas entradas.
Foi perguntado, se nessa ocazião trouce elle Respondente algumas
cartas para terra, que viessem no dito Navio, ou se vio> que aiguem as
troucesse.
Respondeo, que nessa occazião descendo o Capitão do Navio para
vir com elle Respondente, vio que trazia na mão algumas cartas, e que
trazia na copa do chapeo, segundo sua lembrança o livro da carga, o
qual recebeo elle Respondente, e logo principiou a examina-lo para
ver, o que nelle se continha, respectivo aos seus interesses, que he, o
que lhe importava-; e ouvio neste tempo, que Jerônimo Teixeira Lobo
perguntava ao Capitão, se vinha o filho do Basto, ao que o Capitão
respondeo, que não ; e como se esperava, e a elle Respondente fes tam-
bem estranheza, que não viesse, olhou então, perguntando a razão, põr-
que não vinha, e então vio, que Jerônimo Teixeira Lobo vinha lendo
os sobrescriptos de algumas cartas, as quaes nem elle Respondente
sabe quantas erão, nem de quem o mesmo Jerônimo Teixeira Lobo
tinha recebido as mesmas cartas ; e que nada mais vio, porque vinha
muito intertido com o exame do livro da carga, em que tinha bastante,
que examinar a respeito dos seus interesses, e que elle não trouce ou-
trás algumas.
Fói perguntado, se vio, ou lhe consta, que nessa mesma occazião,
se lanÇasse do bordo do Navio algum masso de cartas, que recebesse o
dito Jerônimo Teixeira.
Respondeo, que não vio, nem sabe, que se lançasse masso algum
de cartas do bordo do Navio, pella razão, que ja dice de vir muito
occupado no exame do livro de carga.
Foi perguntado, se reparou, e lhe lembra serem as cartas, que o
Capitão do Navio trazia na mão, quando desceo, soltas, ou se era algum
masso atado com fio.
Respondeo, que não reparou, se as cartas erão soltas, ou atáda^,
porque nem lhe importava, nem era coiza, que lhe parecesse, tinha cir-
cunstancia ; e por vir ocupado em coiza, que mais o interessava.
Foi perguntado, se ao depois chegou a ver, quantas cartas trouce
o dito Jerônimo Teixeira, e se erão soltas, ou atadas.
Respondeo, que nem naquella occazião, nem depois soube, quantas
cartas tinha trazido de bordo o dito Jerônimo Teixeira Lobo, nem se
erão soltas, ou atadas.
- 305 -
digo agoniado ; cuja sobre carta no dia seguinte apareceo com mais
duas na mão de hum cabeleireiro, chamado Jeronimo, que costuma
entrar naquella caza, e as tinha levado ; e depois que apareceo a dita
sobrecarta, ficou o dito Ministro socegado.
Foi perguntado, 'que signaes deo o dito Doutor Juis de Fora,
tanto depois que sahio Jeronimo Teixeira Lobo, como depois quando o
dito Ministro voltou a caza, e entrou a procurar a sobrecarta.
Respondeo, que quando, se despedio Jeronimo Teixeira Lobo,
pareceu a elle Respondente, que o Doutor Juis de Fora estava agonia.-
do, porque logo se vestio, e sahio para fora ; e depois lhe pareceo ago-
niado pello cuidado, e diligencia, com que procurava a dita sobre carta.
E não fes o dito Conselheiro mais perguntas ao Respondente, as
quaes, sendolhe lidas achou estarem conformes, com o que respondido
tinha ; e debaixo do juramento, que lhe foi deferido, declarou ter dito
também a verdade, pello que pertencia a terceiro ; e de tudo mandou
mandou o mesmo Conselheiro fazer este Auto, que assignou com o
Respondente, e Ministro Escrivão assistente ; e eu o Dezembargador
Francisco Luis Alvares da Rocha, Escrivão da Commissão, que o es-
crevi, e assignei.
Vol. VI. (1878-79) . Fase. 1. ¦— Manúscripto guarani sobre a primitiva catechese dos
índios das Missões. Obra composta em castelhano pelo p. Antônio Ruiz Mon»
toya, vertida para guarani por outro padre jesuíta, e agora publicada com a
traducção portugueza, notas e um Esboço grammatica! do abanheem pelo Dr.
Baptista Caetano de Almeida)Nogueira. (Esg.). „ ,
Vol. VII (1879-80). — Vocabulário guarani pelo Dr. Baptista Caetano de Al-
meida Nogueira. (Esg.).
Vol. VIII (1880-81). —- Memória sobre o exemplar dos Lusíadas da bibliotheca par-
ticular de S. M, o Imperador, por J. F. de Castilho. — Rezultado dos tra-
balhos e indagações statisticas da província de Mato-Grosso, por Luiz D'Alincourt
{Conclusão). — Bibliographia da lingua tupi ou guarani, por A. do Valle Cabral.
Etymologias brazilicas. III, pelo mesmo. .— Diogo Barbosa Machado. III.
Catalogo de suas collecções, por B. F. Ramiz Galvão. (Conf.). (Esg.).
Vol. IX. (1881-82). II. Catalogo da Exposição de Historia do Brazil. Tomo II.
(Esg.).
Vol. XII. (1885-86. Fase. 1. — Historia do Brazil por Fr. Vicente do Salvador,
Diccionário Brazileiro da lingua portugueza pelo Dr. Antônio Joaquim de
Macedo Soares.
Vol. XVI. (1889-90). Fase. 1. — Catalogo dos retratos colligidos por Diogo
Barbosa Machado. Tomo I.
Vol. XVI. (1889-90). Fase. 2. — I. Catalogo dos retratos colligidos por Diogo
Barbosa Machado. Tomo II. — Vocabulário indígena com a orthographia cor-
recta (complemento da Poranduba amazonense), por J. Barbosa Rodrigues.
Vol. XVII. (1891-92). Fase. I — Catalogo por ordem chronologica das bíblias,
corpos de bíblia, concordâncias e commentarios existentes na Bibliotheca Na-
cional do Rio de Janeiro. — Fase. 2. -- I. Catalogo dos retratos colligidos
por Diogo Barbosa Machado. Tomo III. ¦>- Subsídios existentes na Bibliotheca
Nacional para o estudo da questão de limites do Brasil pelo Oyapock.
Vol. XIX. (1897). Introdução. — I. Vida do Padre José de Anchieta, pêlo Padre
Pedro Rodrigues. — II. Cartas inéditas do Padre José de Anchieta, copiadas do
Archivo da Companhia de Jesus. —III. — Historia dos Collégios do Brasil, copia-
da da Bibliotheca Nacional de Roma. — IV. Carta do P. Reytor do Collégio da
Bahia. — V. Cartas do P. Fonseca a respeito de A. Vieira. — VI. Annua
da Província do Brazil. — VII. Resumo histórico. — VIII. Relatório.
Vol. XX. (1898). — Introducção. — I. Catalogo dos retratos colligidos por Bar-
bosa Machado. Tomo V. — II. Catalogo dos retratos colligidos por Barbóza
Machado. Tomo VI. — III. Memórias históricas e militares relativas ã guerra
hollandeza, a ataques dos Francezes ao Rio de Janeiro, &. 1630-1757. — IV.
Varias : Carta do p. Pero Rodrigues, 1597. -~ Memórias sobre as minas de
ouro do Brazil. Por Domingos Vandelli. — V. Relatório do Director. 1897.
— índice alphabetico dos vinte vols. dos annaes
publicados.
Vol. XXI. (1899). — Introducção. I. Catalogo dos retratos colligidos por Bar-
bosa Machado. Tomo VII. — II. Commemoração centenária do nascimento de
Garrett. — III. Marcelino Pereira Cleto. — Dissertação. — IV. Relatório do
Director — 1898.
Vol. XXII. (1900). — I. Historia militar do Brasil. — II. Index da Historia militar
do Brasil. — III. Relatório do Director — 1899.
Vol. LV. (1933). — Inventário dos documentos históricos da casa imperial do Brasil,
"o castelo d'Eu, em França. — Vol. 2. — A Biblioteca Nacional em 1933.
Relatório.
Vol. LVI. (1934). — Cartas de Luís Joaquim dos Santos Marrocos, escritas do
Rio de Janeiro ã sua família em Lisboa, de 1811 a 1821. — A Biblioteca
Nacional em 1934. Relatório.
Vol. LIX1. (1937). — I. Processo das despesas feitas por Martim de Sá no Rio de Ja-
neiro, 1628-1633. — II. Almanaques da Cidade do Rio de Janeiro para os anos
de 1792 e 1794. — A Biblioteca Nacional em 1937. Relatório da Diretoria.
RELATOR/O
QUE AO
0 DIRETOR
Rodolfo Garcia
PESSOAL
NOMEAÇÃO
PROMOÇÃO
"}",
Adolfo Câmara da Mota, bibliotecário da classe pro-
movido por decreto de 17 de Maio, de acordo com o artigo
33, da Lei n. 284, de Outubro de 1936. a bibliotecário da
"K"
classe :
CONTRATADOS
FALECIMENTOS
CONCURRÊNCIA PÚBLICA
Alemanha 117
Bélgica —
Canada — 1
Chile 1 —
Estados Unidos 45 —- ¦
França —
Holanda •. — 3
Hungria —
Itália —
Letônia — 5
Polônia .- —
Portugal. . —
Suiça — 8
75 134
CONTRIBUIÇÃO LEGAL
CONSULTA PUBLICA
74.206
CONSULTA NA BIBLIOTECA
CLASSES E LÍNGUAS
Obras Volumes
121.303 134.076
Sendo em :
121.303 134.076
Consultantes. 59.387
- 11 -
Numero de
documen-
Códices tos neles Avulsos
contidos
Alemão... 1 1
Espanhol. 9 282 450
Francês., 10 88 53
Inglês.. . . 1 ] 176
Italiano. . 1 11
Latim, . . . 6 6
Tupi 1 2
Português 533 80.110 9.780
Alemão.
Espanhol 12
Francês 109 119 —
Inglês 19 25 —
Italiano 11 11 —
Latim ."
Português 55 90 92
212 267 92
- 12 —
N». de
CLASSES E LÍNGUAS Códices documen- Avulsos
tos
CLASSES
N.° de
CLASSES E LÍNGUAS Códices documen- Avulsos
tos
LÍNGUAS
Alemão 1
Espanhol. . . 282 450
Francês 10 88 53
Inglês 1 176
Italiano. . . . II
Latim 4
Tupi 2
Português.. 533 80.112 9.780
OBRAS IMPRESSAS
Anais 22 23
Autógrafos I 2
Bibliografia 23 51
Cronologia 6 9
Diplomática 8 9
Escrita Hieroglífica 4 -4
Etnograf ia 1 1
Geografia 4 9
Lingüística 7 12
Miniatura 4 4
Nobiliarquia 1 1
Paleograf ia 131 142 92
Total 212 267 92
N°. de
CLASSES E LÍNGUAS Códices documen- Avulsos
tos
LÍNGUAS
Alemão 8
Espanhol 7 12 — .
Francês 109 119 —
Inglês 19 23
Italiano 11 ]
Latim õ 92
Português 55 90 —
Total 212 267 92
171 248
- 15 -
20.806
DOAÇÕES
CATALOGAÇÃO
BOLETIM BIBLIOGRÁFICO
CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
História Lite-
Iconografia rária (com apii-
NOM ES e cartografia cação á biblio-
grafia)
AQUISIÇÃO DE LIVROS
Códices | Manuscritos
avulsos
Comp™ 28
Doacão : 14 58.
Remessa da Secretaria 31
51 89
Compra , . . . 14 15
Doação 33
Permuta internacional -
I
i
Contribuição legal. . . .
.Remessa da Secretaria
48 10
— 22 —
121
Coleções
Considerados os meios de aquisição :
Doação 2 vols. "com 89 estampas
Contribuição legal 5 291
44
Serviço de permutas 2 "
Transferência de Secção 1 38
"
\0_ 462
Quanto ao processo
Fotografia 4 vols. com 259 estampas
Fotogravura " "
2 " " 44
Litografia 4 159
" "
10 462
Quanto à nacionalidade :
Brasileiras 6 vols. com 370 estampas
"
Estrangeiras 4 92
" "
10 462
BIBLIOTECA NACIONAL
1" SECÇÃO
o
s
¦r.(8 Total
2 da Total
MESES U co nt ri- Compra Doação Permuta
fl buição geral
c
fi legal
O o V V
Total. 1.066 1.466 38 261 « 64 436 4601 1.785 2.213 886 1.085 651 1.081 584 668 3.906
í 5.047
¦ — 25 -
Quanto à nacionalidade :
Brasileiras 6 obras em 8 vols.
*" com
" 428 ilustrações
Estrangeiros _49 " _56 6.991
" " " " 7.419
55 64
Obras Especiais :
Foram adquiridas 78 obras especiais em 88 volumes do
seguinte modo :
Por
"' compra 33 obras em 34 volumes
"
doação 39 " 47
contribuição legal " 2
serviço de permutas 3
transferência de secção 2
78 " 88
Cartas Geográficas :
Durante o ano foram adquiridas 29 cartas geográficas e
17 atlas com* 1 .043 peças.
Quanto à nacionalidade :
Brasileiras 24 cartas
Estrangeiras 5
29 "
Total
Atlas
PRINCIPAIS AQUISIÇÕES
PUBLICAÇÕES