Rihgb 2019 Numero 0479
Rihgb 2019 Numero 0479
Rihgb 2019 Numero 0479
479
2019 R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 180, n. 479, pp. 9-250, jan./abr. 2019.
REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO
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sociólogos, arquitetos, etnólogos, arqueólogos, museólogos e documentalistas de um modo geral.
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acadêmica do IHGB e demais atividades institucionais. A coleção completa da Revista encontra-se
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Federal: Decreto nº 61.251, de 30 de agosto de 1967 • Historical Abstract: American, History and Life
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A Biblioteca, por compra, doações e permutas, ultrapassa de 500 mil volumes, de grande
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2019
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CONSELHO FISCAL
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Quadrimestral
ISSN 0101-4366
Ind.: T. 1 (1839) – n. 399 (1998) em ano 159, n. 400. – Ind.: n. 401 (1998) – 449 (2010) em n. 450
(2011)
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CONSELHO EDITORIAL
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Arno Wehling – Universidade Veiga de Almeida – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
Carlos Wehrs – Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
José Murilo de Carvalho – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
Manuela Mendonça – Universidade de Lisboa – Lisboa – Portugal
Maria Beatriz Nizza da Silva – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
CONSELHO CONSULTIVO
António Manuel Botelho Hespanha – Universidade Nova Lisboa – Lisboa – Portugal
Fernando Camargo – Universidade Federal de Pelotas – Pelotas-RS – Brasil
Geraldo Mártires Coelho – Universidade Federal do Pará – Belém-PA – Brasil
Guilherme Pereira das Neves – Universidade Federal Fluminense – Niterói-RJ – Brasil
José Marques – Universidade do Porto – Porto – Portugal
Junia Ferreira Furtado – Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte-MG – Brasil
Leslie Bethell – Universidade de Oxford – Oxford – Inglaterra
Luís Cláudio Villafañe Gomes Santos – Ministério das Relações Exteriores – Brasília-DF – Brasília
Marcus Joaquim Maciel de Carvalho – Universidade Federal de Pernambuco – Recife-PE – Brasil
Maria de Fátima Sá e Mello Ferreira – ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa – Lisboa – Portugal
Mariano Cuesta Domingo – Universidad Complutense de Madrid – Madrid – Espanha
Miridan Britto Falci – Universidade Federal do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro-RJ – Brasil
Nestor Goulart Reis Filho – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Renato Pinto Venâncio – Universidade Federal de Ouro Preto – Ouro Preto-MG – Brasil
Stuart Schwartz – Universidade de Yale-Connecticut – EUA
Ulpiano Bezerra de Meneses – Universidade de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil
Victor Tau Anzoategui – Universidade de Buenos Aires – Buenos Aires – Argentina
SUMÁRIO
SUMMARY
Carta ao Leitor 9
I – DOSSIÊ
DOSSIER
A Aclamação de D. João VI – O Rei e o Reino
Reconfigurar a Corte / (re)construir o Estado: 13
o horizonte de expectativas no Brasil do Reino Unido
Reconfiguring the court / (re) building the State: the horizon of
expectations in Brazil of the United Kingdom
Arno Wehling
Historiografia Joanina: confrontos e convergências 49
Historiography on King João VI:
confrontations and convergences
Lucia Maria Paschoal Guimarães
A exaltação da Monarquia na América: 65
D. João e a Aclamação em 1818
The exaltation of Monarchy in America:
D. João and the Aclamation in 1818
Lucia Maria Bastos P. Neves
União dinástica e relações científico-culturais 89
Dynastic Union and Scientific-Cultural Relations
Maria de Lourdes Viana Lyra
“Ao VI, ao grande, ao imortal João”: 101
elogios impressos ao soberano D. João VI
“To the Great and Immortal King”: Printed
Compliments to King D. João VI
Ana Carolina Delmas
A arquitetura efêmera no período Joanino 127
The efemeral architectute at the time of D. João VI
Maria Pace Chiavari
Ordens honoríficas e sociedade: 149
a nobilitação de negociantes na Corte joanina
Honorary Orders and Society: Bestowing Nobility
on Merchants in the Johannine Court
Camila Borges da Silva
A Real Ordem da Torre e Espada 1808-1834: 175
uma Ordem Honorífica Luso-Brasileira
The Royal Order of the Tower and Sword, 1808-1834:
a Portuguese-Brazilian Honorific and Military Order
António Miguel Trigueiros
António Miguel Trigueiros
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Um sábio na Ilha do Governador 209
A wise man in Governor Island
Cybelle Moreira de Ipanema
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
Um estudo biográfico não publicado sobre 217
o médico-botânico Joaquim Monteiro Caminhoá
An unpublished biographical study about the physician
and botanist Joaquim Monteiro Caminhoá
Alex Gonçalves Varela
IV – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
O Cavaleiro Brito e o Conde da Barca: 237
dois diplomatas portugueses e a missão francesa de 1816
Marize Malta
• Normas de publicação 245
Guide for the authors 247
Carta ao Leitor
Em 2018, comemoraram-se os 200 anos da Aclamação de D. João VI
ao trono do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Constituiu-se um
fato inédito no processo histórico do Brasil, que, para além de seu caráter
simbólico, demonstrou a diferença entre o mundo colonial que começava
a ruir e uma nova feição política e econômica que o Reino tomava. Serviu
ainda para reforçar a ascendência do Rio de Janeiro sobre o restante do
país, assim como o peso político da parte brasileira no interior do impé-
rio português. Tais questões orientaram as discussões que repensaram tal
evento, por meio de um Seminário, realizado pelo IHGB e intitulado A
Aclamação de D. João VI no Rio de Janeiro: o Rei e o Reino. Não só se
buscou celebrar a data, por meio da discussão proposta por especialistas
e por estudiosos do Brasil e de Portugal, mas se pretendeu construir uma
memória do acontecimento que trouxesse novas contribuições à historio-
grafia do processo. Investigar práticas políticas e rituais cívicos significa
abrir um leque de possibilidades para se debater as relações da História
com seu passado, além de vislumbrar as articulações simbólicas do po-
der, da sociedade e da cultura na formação do Estado Brasileiro e de suas
repercussões até os dias atuais.
Por conseguinte, os artigos aqui apresentados compõem um dossiê
das reflexões aprofundadas e ampliadas do Seminário. Não se constituem
como uma simples comemoração, sem significado para a memória do
acontecimento histórico, mas como um balanço dessa memória histórica.
O dossiê é iniciado por texto original de Arno Wehling, que propõe
uma análise do horizonte de expectativas no Brasil, entre sua elevação
a Reino Unido em 1815 e os acontecimentos que levaram à sua ruptura
com Portugal, em 1822, demonstrando ainda o papel da Aclamação de
D. João ao longo desse processo. Em seguida, Lucia Guimarães elabora
um balanço crítico sobre o reinado americano de D. João VI, procurando
identificar suas principais vertentes interpretativas, apontando confrontos
e convergências.
Na abordagem da história renovada do político, seguem as contri-
buições de Lucia Bastos Pereira das Neves e de Maria de Lourdes Viana
Lyra. No primeiro trabalho, política e cultura se entrelaçam para se apre-
ender as tensões que se estabeleceram entre as duas partes do Império,
desdobramentos da aclamação realizada nas terras do Reino americano.
No segundo texto, a autora volta sua atenção para demonstrar o Rei, como
defensor do Reino luso, e, depois, como mentor do Reino Unido luso-bra-
sileiro por ele criado. Realça, assim, o alcance da proposta da aclamação
do soberano na parte americana do Império como estratégia em defesa da
própria unidade da Coroa.
Sem abandonar o viés político, mas acrescido de uma perspectiva da
história cultural, cujo principal objetivo é identificar o modo como, em
diferentes lugares e momentos, uma determinada realidade social é cons-
tituída, pensada, dada a ler, nas palavras de Roger Chartier, encontramos
os trabalhos de Ana Carolina Galante Delmas e de Maria Pace Chiavari.
No primeiro texto, Ana Carolina volta-se para a prática do oferecimento
de dedicatórias impressas em um Brasil do início dos oitocentos. Na-
quele momento, as dedicatórias representavam práticas de homenagem,
tornando-se símbolo das relações políticas, apoiadas na hierarquia social
vigente, e das trocas efetuadas em busca por poder e por influência. De-
monstra ainda que a época da aclamação de um soberano, algo inédito
nas Américas, foi espaço de consagração para tais homenagens. Maria
Pace Chiavari propõe uma análise do papel das arquiteturas efêmeras,
especialmente, aquelas projetadas pelos franceses, segundo cânones ne-
oclássicos, como um cenário alegórico que contribuiu para colocar em
evidência a cidade do Rio de Janeiro, transformada em capital do Reino.
A aclamação de D. João VI foi ainda momento fundamental para essa
perspectiva, quando o poder soberano soube explorar o festejo real como
forma de reforçar o poder da Coroa.
As hierarquias sociais e práticas de condecorações e de mercês tam-
bém se fizeram presentes por meio de dois artigos: um, de Camila Borges
da Silva, sobre as ordens honoríficas e a sociedade, analisando a nobi-
litação de negociantes na Corte joanina que direcionavam parte de seu
capital econômico com o objetivo de galgar um lugar social e de prestí-
gio naquela sociedade de feição do Antigo Regime; o outro, de António
Miguel Trigueiros, examina a criação da Real Ordem da Torre e Espada
(1808-1834), que foi criada com o objetivo de ser uma Ordem Honorífica
e Militar luso-Brasileira, que perdurou mesmo após o processo de inde-
pendência do Brasil.
Na parte destinada às Comunicações, em que se divulgam trabalhos
expostos nas sessões da CEPHAS/IHGB, a sócia emérita Cybelle de Ipa-
nema traz uma curiosa informação sobre João Manso Pereira, persona-
gem que viveu entre o século XVIII e XIX e que fabricou louça afamada
com material da Ilha do Governador, pequeno território do município do
Rio de Janeiro.
A seção Documentos apresenta a transcrição de um texto manuscrito
com a biografia do médico-botânico Joaquim Monteiro Caminhoá. Tal
estudo foi localizado na Coleção Claudio Ganns, guardada no Institu-
to Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), sem indicação de autoria.
Nesse documento, encontra-se uma análise sobre a trajetória do cientista
que atuou no Império do Brasil. Ele ainda participou ativamente de diver-
sas instituições e sociedades científicas oitocentistas, bem como publicou
inúmeros artigos e livros no campo da medicina e da botânica.
Finalizando esse número, há a resenha de Marize Malta – De volta
para o futuro... Outras notícias e outros modos de atualizar a Missão Ar-
tística Francesa – sobre o livro de Patricia D. Telles, O Cavaleiro Brito
e o Conde da Barca: dois diplomatas portugueses e a missão francesa de
1816, publicado em Portugal em 2017. Fugindo de uma história oficial,
segundo a resenhista, a autora busca personagens, entendendo-os como
peças de um mosaico de relações, e documentos inéditos que trazem novo
olhar não só sobre os conhecimentos de intelectuais e de cientistas euro-
peus, mas também sobre os elementos que propiciaram a negociação para
a remessa de artistas e de artífices franceses para o Rio de Janeiro.
Aproveitem!
13
I – DOSSIÊ
DOSSIER
Resumo: Abstract:
O trabalho apresenta uma análise do horizonte We analyze the horizon of expectations opened
de expectativas aberto no Brasil entre sua eleva- in Brazil between its elevation to the status of
ção a Reino Unido em 1815 e os acontecimen- United Kingdom in 1815, and the events that led
tos que levaram à ruptura com Portugal. Destaca to its rupture with Portugal. We also highlight
a existência de uma política centralizadora do the existence of a centralizing political power
governo joanino, em especial na administração in the Johannine government, especially in the
das capitanias e nos âmbitos judicial e militar, o administration of the captaincies and in the
crescimento econômico do país e, no plano ide- judicial and military spheres; the economic
ológico, o esboço de uma nação brasileira. Fo- growth of the country and, ideologically, the
ram discutidos os caminhos possíveis abertos ao outline of a Brazilian nation. We further discuss
Brasil à época, concluindo-se com a análise do the possible paths open for Brazil at the time,
período 1820-1822, no qual a fórmula do Reino and finally review the period between 1820
Unido caracterizou-se, gradativamente, como and1822, in which the formula for the United
um “desafio perdido”. Kingdom gradually turned out to be a “lost
challenge”.
Palavras-chave: Antigo Regime; Reino Unido; Keywords: Old Regime; United Kingdom;
Justiça; Estado; Constitucionalismo. Justice; State; Constitutionalism.
3 – VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História Geral do Brasil. São Paulo: Melhora-
mentos, 1975, vol. IV, p. 96ss. LIMA, Manuel de Oliveira. Dom João VI, Rio de Janeiro:
Topbooks: 1997, p. 465. FAORO, Raimundo. Os donos do poder. Rio de Janeiro: Globo,
1984, vol. I, p. 249.
4 – ROMERO, Silvio. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olimpio,
1943, vol. III, passim. GARCIA, Rodolfo. Ensaio da história política e administrativa
do Brasil. Rio de Janeiro: José Olímpio, 1956, p. 282. DIAS, Maria Odila da Silva. “A
interiorização da metrópole”. In MOTA, Carlos Guilherme (org.), 1822: dimensões. São
Paulo: Perspectiva, 1986, p. 160ss.
5 – MARTINS, Oliveira. O Brasil e as colônias portuguesas. Lisboa: Bertrand, 1880, p.
105ss. MARQUES, A.H. de Oliveira. História de Portugal, Lisboa: Agora, 1975, vol. I, p.
616. “Joel Serrão, D. João VI”. In SERRÃO, Joel (org.). Dicionário de História de Por-
tugal. Porto: Figueirinhas, 1992, vol. III, p. 442. MACEDO, Jorge Borges de. O Bloqueio
Continental. Lisboa: Gradiva, 1990, p. 119.
6 – VIANA, Helio. História do Brasil. São Paulo: Melhoramentos, 1963, vol. II, p. 84.
MANCHESTER, Allan K., A transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro;
e GRAHAN, Richard, “Comentário”. In KEITH, H., Henry e EDWARDS, S.F. (orgs.).
Conflito e continuidade na sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1970, p. 199, 204 e 222.
7 – CUNHA, Pedro Otávio Carneiro da. “A fundação de um Império liberal”. In HO-
LANDA, Sergio Buarque de (org.). História geral da civilização brasileira. São Paulo:
Difel, 1970, t. I, vol. I, p. 135. LIRA, Maria de Lourdes Viana. A utopia do poderoso
Império. Rio de Janeiro: Sete Letras, 1994, passim.
8 – ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos do Império. Porto: Afrontamento, 1993, pp.
69, 232, 420 e 767. SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Silvestre Pinheiro Ferreira, ideologia
e teoria. Lisboa: Sá da Costa, 1975, p. 32. WEHLING, Arno. Silvestre Pinheiro Ferreira
e as dificuldades de um Império Luso-Brasileiro. In FERREIRA, Silvestre Pinheiro. As
dificuldades de um Império Luso-Brasileiro. Brasília: Senado Federal, 2012, p. 9ss.
9 – WEHLING, Arno. Estado, governo e administração no Brasil joanino ... p.75ss; Ad-
ministração joanina ... p. 32ss.
20 – A “metropolização” do Rio de Janeiro com a instalação da Corte tem sido tradi-
cional objeto da literatura brasileira desde o romantismo, sendo emblemático do tema o
livro de ALMEIDA, Manuel Antonio de. Memórias de um sargento de milícias e também
da historiografia. Exemplos desta são os trabalhos de ABREU, Mauricio de. A evolução
urbana do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Instituto Pereira Passos, 2013; SILVA, Ma-
ria Beatriz Nizza da. Cultura e sociedade no Rio de Janeiro (1808-1821). São Paulo:
CEN, 1978; MALERBA, Jurandir. A Corte no exílio: civilização e poder no Brasil às
vésperas da independência (1808-1821). São Paulo: Cia. das Letras, 2000; SHULTZ,
Kirsten. Tropical Versailles. Empire, monarchy and the portuguese Royal court in Rio de
Janeiro, 1808-1821. Nova Iorque-Londres: Routledge, 2001; SCHWARCZ, Lilian M.,
AZEVEDO, Paulo Cesar de; COSTA, Ângela Marques da. A longa viagem da biblioteca
dos reis. Do terremoto de Lisboa à independência do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras,
2002; SLEMIAN, Andrea. Vida política em tempo de crise: Rio de Janeiro (1808-1824).
São Paulo: Hucitec, 2006; CARVALHO, Marieta Pinheiro de. Uma ideia ilustrada de
cidade. As transformações urbanas no Rio de Janeiro de D. João VI (1808-1821). Rio de
Janeiro: Odisseia, 2008; LOPES, Emilio C.R.. Festas Públicas, memória e representação:
um estudo sobre manifestações políticas na Corte do Rio de Janeiro (1808-1822). São
Paulo: Humanitas/USP, 2004.
21 – Além da discussão sobre se haveria uma “crise do sistema colonial”, como defen-
dido em parte da historiografia brasileira desde os anos 1970, posteriormente refutada
ou nuançada, dados empíricos e questões tópicas vêm apontando tais parâmetros. Para o
primeiro aspecto e seu contraditório, são os trabalhos de NOVAIS, Fernando A. Portugal
e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808). São Paulo: Hucitec, 1979; AR-
RUDA, José Jobson A. O Brasil no comércio colonial. São Paulo: Ática, 1980; FRAGO-
SO, João L. Homens de grossa aventura: acumulação e hierarquia na praça mercantil do
Rio de Janeiro (1790-1830). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 1992; FRAGOSO, João
L. e FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto: mercado atlântico, sociedade
agrária e elite mercantil do Rio de Janeiro, c. 1790-1840. Rio de Janeiro: Diadorim,
1993; ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos... Para o segundo aspecto, LENHARO, Al-
cir. As tropas da moderação: o abastecimento da Corte na formação política do Brasil,
1808-1842. São Paulo: Símbolo, 1978; OLIVEIRA, Cecília Salles de. A astúcia liberal.
Relações de mercado e projetos políticos no Rio de Janeiro (1820-1824). São Paulo: Bra-
gança Paulista - São Paulo: Edusf-Ícone, 1999; GORENSTEIN, Riva. Negociantes e caix-
eiros na sociedade da independência. Rio de Janeiro: SMC, 1993. BEAUCLAIR, Geral-
do. Raízes da indústria no Brasil. Rio de Janeiro: Studio F&S, 1992. PEDREIRA, Jorge.
Estrutura industrial e mercado colonial. Portugal e Brasil (1780-1830). Linda-a-Velha:
Difel, 1994. COSTA, Wilma Peres. “Do domínio à nação: os impasses da fiscalidade no
processo de independência. In JANCSO, István (org.), Brasil: formação do Estado e da
Nação. São Paulo: IJUÍ, Hucitec-Unijuí, 2003, pp.143-193
26 – Por exemplo, para a aliança entre comerciantes do norte fluminense, sul mineiro,
São Paulo e recôncavo baiano, articulados pela liderança de Gonçalves Ledo, OLIVEI-
RA, Cecília Salles de. A astúcia liberal...; sobre São Paulo, MEDICCI, Ana Paula. “De
capitania a província: o lugar de São Paulo nos projetos de Império, 1782-1822”. In COS-
TA, Wilma Peres e OLIVEIRA, Cecília Salles de (orgs.). De um Império a outro. Forma-
ção do Brasil, séculos XVIII e XIX. São Paulo: Aderaldo & Rotschild, 2007, p. 241; sobre
o Pará, MACHADO, André Roberto A.. “Apontamentos para o estudo da reinvenção do
estado no Grão Pará: 1823-1825”. In Costa, Wilma Peres e OLIVEIRA, Cecília Salles
de (orgs.). De um Império..., p. 322; para Pernambuco, BERNARDES, Denis A.M.. O
patriotismo constitucional: Pernambuco, 1820-1822. São Paulo: Hucitec, 2006.
27 – FERREIRA, Silvestre Pinheiro. “Memórias políticas”. In WEHLING, Arno (org.).
As dificuldades de um Império luso-brasileiro. Brasília: Senado Federal, 2012, p. 39.
32 – LIMA, Manuel de Oliveira. D. João VI..., p. 436 e 445. BETHEL, Leslie. A abolição
do tráfico de escravos no Brasil. São Paulo: Expressão e Cultura-Edusp, 1976, p. 26;
ALEXANDRE, Valentim. Os sentidos..., p. 329 e 799; PIMENTA, João Paulo G. “O Bra-
sil e a “experiência cisplatina” (1817-1828)”. In JANCSÓ, István (org.). Independência:
história e historiografia. São Paulo: Hucitec, 2005, p. 75 ss.
33 – LOUREIRO, José Bernardo da Rocha, Memoriais a D. João VI. Paris: FCG, 1973,
p. 59 e 69.
34 – Correio Brasiliense, vol. XVI, 1816, p. 184.
Em 1818, foi a vez de José da Silva Lisboa, nas Memórias dos bene-
fícios políticos do governo de El Rei Nosso Senhor D. João VI, referir-se
à elevação a Reino Unido. Entre os 12 benefícios que atribuiu à política
joanina, o décimo era a declaração do Reino Unido. Nela, o futuro vis-
conde de Cairu viu a aplicação de uma “grande razão de estado”, desta-
cou o potencial econômico do Brasil, a cessação do sistema colonial, a
igualdade de direitos entre portugueses e brasileiros, geradora do novo
“espírito de nacionalidade” e, citando Adam Smith, comparou o Reino
Unido luso-brasileiro às medidas semelhantes que ligaram a Inglaterra
à Escócia e, em seu tempo, à Irlanda. A partir desse ato, afirmou Lisboa,
D. João imprimiu o padrão de uma “economia imperial perpetuando o
“indissolúvel Império Lusitano”37.
– eram a fonte óbvia de poder local e, como tal, atuaram não apenas no
eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais (cuja aliança o regente D.
Pedro alinhavou em pessoa) como também na Bahia, em Pernambuco, no
Maranhão ou no Pará. Ainda deve ser ressaltado o papel dos comerciantes
portugueses em cidades como Rio de Janeiro, Salvador e Recife. No caso
da Corte, somados aos transmigrados e à tropa portuguesa, constituíam
polo importante de poder nesta quadra de 1815-1820.
do, a política das Cortes quando, mais que as discussões de filosofia po-
lítica, definiu posições à ameaça concreta (ou sua percepção como tal) de
uma recolonização do Brasil, com a restauração do sistema colonial. Isso
foi pelo menos o que constatou Saint Hilaire na província de São Paulo,
em 1822. Tal restauração implicaria não apenas o retorno ao exclusivo
comercial português, mas ao autoritarismo dos “governadores capitães-
-generais”, cuja crítica normalmente partia da elite proprietária que, com
eles, conflitava. O mesmo Saint Hilaire, aliás, observou finamente que
“o despotismo dos capitães-generais pesava muito mais sobre os cida-
dãos das principais camadas sociais do que sobre os pobres”43. Os dados,
lançados em Portugal no mês de agosto de 1820, começaram a rolar no
Brasil menos de dois meses depois.
Existiam, entretanto, dois grandes riscos para o Brasil: uma rebelião es-
crava como a de São Domingos e o retorno ao antigo sistema, quando o
rei perderia Portugal, se fragmentaria o Brasil e D. João “seria rei do Rio
de Janeiro”50.
56 – [...] Para uma análise detalhada da situação nas Cortes nos primeiros meses de
1822, inclusive a constituição da comissão especial para tratar dos assuntos do Brasil,
NEVES, Lucia Bastos Pereira das. Corcundas..., p. 337 e ALEXANDRE, Valentim. Os
sentidos..., pp. 609 e 804, BERBEL, Marcia Regina. A nação como artefato. Deputados
do Brasil nas Cortes portuguesas. São Paulo: Hucitec, 1999.
57 – LOPES, José Pedro. Reflexões sobre a necessidade de promover a união dos es-
tados de que consta o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve nas quatro partes do
mundo. Lisboa: Tipografia de Antonio Rodrigues Galhardo, 1822, pp. 104-105.
49
Resumo: Abstract:
A comunicação tem por objetivo fazer um ba- The purpose of the article is to take stock
lanço da produção historiográfica sobre o rei- of the historiographical production about
nado americano de D. João VI em Portugal e the American reign of King João VI in
no Brasil. Busca-se também identificar as prin- Portugal and Brazil. We also aim to identify
cipais linhagens interpretativas, apontando con- the main interpretive lines and highlight the
frontos e convergências. confrontations and convergences.
Palavras-chave: D. João VI; historiografia joa- Keywords: King João VI; Historiography on
nina; historiografia luso-brasileira. King Joãohn VI; Luso-Brazilian Historiography.
de boa ordem, que não abandonou seus vassalos no Reino à própria sorte,
e conclui que “[...] sob os seus auspícios a Nação portuguesa foi compa-
rativamente a mais feliz das Nações e a que menos sofreu do mal geral da
Revolução e guerra que atormentou a Europa e a América”6.
6 – Idem, p. 189.
7 – Nas notas que acompanham a publicação do poema, António Feliciano de Castilho
faz referência às promessas externadas por D. João em dois documentos: o Aviso Régio
de 11 de julho de 1814 e a Carta Régia de 26 de agosto do mesmo ano. Em relação ao
primeiro, o poeta afirma: “Sua Majestade conheceu a fiel expressão dos desejos, e reve-
rentes votos da Nação Portuguesa, que o Exmos. Governadores do Reino fizeram chegar
ao Trono, de ver restituída à antiga sede da Monarquia Portuguesa, a soberana pessoa de
Sua Majestade e a sua Augusta Família, e declarou que veria com suma satisfação o dia
feliz de se achar entre os portugueses. Quanto ao segundo, Castilho registra que D. João
“[...] avaliou as fiéis expressões dos portugueses, e patenteou os fervorosos desejos de se
ver em Portugal restituído com a Sua Família Real (O grifo é nosso).
Ver, CASTILHO, António Feliciano de. Op. cit., p. 82.
8 – NEVES, José Acúrsio das. História geral da invasão dos franceses em Portugal, e
da restauração d’este reino; notas introdutórias de Antonio Almodóvar e Armando Cas-
tro. Porto: Edições Afrontamento, [s.d]. 2v.
9 – TORGAL, Luís Reis. “Antes de Herculano...”. In: _____, MENDES, José Amado e
CATROGA, Fernando. Historia da história de Portugal sécs. XIX e XX. Volume 1. Lis-
boa: Temas e Debates, 1998, pp. 30-40.
10 – CARVALHO, José Liberato Freire de. Ensaio histórico-político sobre a Constitui-
ção e o Governo do Reino de Portugal; onde se mostra ser aquele reino, desde a sua ori-
gem, uma Monarquia Representativa, e que o Absolutismo, a superstição, e a influência
da Inglaterra são as causas da sua atual decadência. Paris: Casa de Hector Bossange,
1830.
11 – TORGAL, Luís Reis. Antes de Herculano... Op. cit., pp. 37-38.
12 – Refiro-me aqui à conhecida conferência “Causas da decadência dos povos penin-
sulares”, pronunciada por Antero de Quental, em Lisboa, no ano de 1871, no âmbito das
Conferências Democráticas do Casino.
13 – CATROGA, Fernando. In: TORGAL, Luís Reis, MENDES, José Amado e CA-
TROGA, Fernando. Historia da história de Portugal sécs. XIX e XX. Volume 1. Lisboa:
Temas e Debates, 1998, p. 103.
14 – ARRIAGA, José. História da Revolução Portuguesa de 1820. Porto: Livraria Por-
tuguesa Lopes & Cia Editora, 1886 – 1889, 4v.
15 – MARTINS, Oliveira. História de Portugal. Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pe-
reira, 1880, v. 2, pp. 260-261.
16 – Refiro-me ao filme histórico-satírico “Carlota Joaquina princesa do Brasil” (1995),
de Carla Camurati e ao seriado “O Quinto dos Infernos”, produzido pela Rede Globo de
Televisão, exibido no Brasil entre 2000 e 2001.
27 – GUIMARÂES, Manoel Salgado. A disputa pelo passado na cultura histórica oito-
centista do Brasil. In: CARVALHO, José Murilo (org.). Nação e cidadania no Império:
novos horizontes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, pp. 95-122.
28 – VARNHAGEN, F. A. de. História geral do Brasil ... (1854). 5ª edição integral.
Revisão e notas de Rodolfo Garcia. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1956, v. 5, p. 34.
29 – Idem, p. 90
30 – LIMA, Manuel de Oliveira. D. João VI no Brasil (1908). 3ª. edição. Rio de Janeiro:
Topbooks, 1996, pp. 21-22.
31 – NEVES, Guilherme Pereira das. Oliveira Lima – D. João VI no Brasil. In: MOTA,
Lourenço Dantas (org.). Introdução ao Brasil. Um banquete no trópico. v. 2. São Paulo:
editora SENAC São Paulo, 2001, p. 146.
32 – MONTEIRO, Tobias. História do Império: a elaboração da Independência. Rio de
Janeiro: F. Briguiet e Cia, 1927.
33 – NORTON, NORTON, Luiz. A corte de Portugal no Brasil. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1938.
34 – Ver, CALMON, Pedro. O rei do Brasil: vida de d. João VI. São Paulo: Companhia
Editora Nacional, 1943.
35 – MANCHESTER. Allan K. Transferência da Corte Portuguesa para o Rio de Janei-
ro. Tradução de Américo Jacobina Lacombe. Revista do IHGB, Rio de Janeiro, nº 277:
3-44, outubro-dezembro de 1967.
39 – HOLANDA, Sérgio Buarque de. “A herança colonial – Sua desagregação”. In: ___
(dir). História Geral da Civilização Brasileira. O Brasil Monárquico. Volume I. São Pau-
lo: DIFEL, 1962, p. 9.
40 – DIAS, Maria Odila Silva. A interiorização da metrópole (1808-1853). In: MOTA,
Carlos Guilherme (org.) 1822: Dimensões. São Paulo: Perspectiva, 1972, pp.160-204
41 – LYRA, Maria de Lourdes Viana. A utopia do poderoso império, Rio de Janeiro: 7
Letras, 1994.
42 – SHULTZ, Kirsten. Tropical Versailles: empire, monarchy, and the portuguese royal
court in Rio de Janeiro, 1808-1821. Nova York: Routledge, 2001.
43 – PIMENTA, João Paulo e SLEMIAN, Andréia. O nascimento político do Brasil – As
origens do Estado e da Nação. Rio de Janeiro: DP& A, 2003.
44 – SCHIAVINATTO, Iara Lis. Pátria coroada: o Brasil como corpo autônomo polí-
tico. São Paulo: Editora da UNESP, 1999.
45 – RIBEIRO, Gladys Sabina. Liberdade em construção: independência nacional e
conflitos anti-lusitanos no primeiro reinado. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2002.
46 – NEVES, Lucia M. Bastos Pereira das. Corcundas e constitucionais: a cultura polí-
tica da independência. Rio de Janeiro: Revan, 2003. Ver, também, ___. As representações
napoleônicas em Portugal: imaginário e política. São Paulo: Alameda, 2008.
47 – VAINFAS, Ronaldo & NEVES, Lucia Maria B. P. das. Dicionário do Brasil Joani-
no (1808-1821). Rio de Janeiro: Objetiva, 2008.
48 – PEDREIRA, Jorge e COSTA, Fernando Dores. D. João VI: um príncipe entre dois
continentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.
João, cujo governo vem sendo examinado à luz do jogo político e econô-
mico europeu.
65
Resumo: Abstract:
O objetivo do trabalho é analisar os motivos The purpose of this work is to analyze the
que explicam a longa demora para a aclamação reasons for the long delay in the acclamation
de D. João VI, ocorrida em 6 de fevereiro de of D. João VI, which took place on February
1818. Parte-se do pressuposto que essa espera 6, 1818. A common assumption has been that
pode ser explicada em função do cenário de dis- the delay occurred because of the scenario of
putas e de tensões internas no Reino Unido de disputes and domestic tensions that were taking
Portugal, Brasil e Algarves. A possibilidade de place in Portugal, Brazil and the Algarve at the
se optar pela parte americana do Império portu- time. The possibility of choosing the American
guês como local, onde aconteceria a cerimônia, colony of the Portuguese Empire for holding the
aliada ao retorno das ideias de legitimidade e acclamation ceremony, and the return of ideas
de restauração dos valores do Antigo Regime, of legitimacy and restoration of the values of the
acarretou desconfianças dos súditos portugue- Old Regime, led to distrust of the Portuguese,
ses, que se sentiram cada vez mais relegados a who felt increasingly pushed to the side in the
um segundo plano no jogo político de poder no political game of power within the Empire. In
interior do Império. Para se entender essas ten- order to understand these tensions, we reviewed
sões, pretende-se ouvir as vozes do passado, por written testimonies of the past, including
meio dos vestígios e dos discursos que legaram, speeches and addresses, that shed light on how
possibilitando desvendar como vivenciavam the Portuguese coped with and experienced that
aquele momento histórico. historical moment.
Palavras-chave: Aclamação; Sede da Monar- Keywords: Acclamation; Headquarters of the
quia; Reino Unido; Relações de Poder. Monarchy; United Kingdom; Power Relations.
Real, Real, Real pelo muito alto, e muito poderoso senhor Rei Dom
João VI nosso senhor!2
Esse era o pregão que o alferes mor devia proferir, em voz alta, para
a multidão e com a bandeira real desenrolada, exclamado do lugar em que
estivesse, após se realizar as várias etapas do cerimonial de aclamação
do novo soberano do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves,
6 – Ver, sobretudo, LIMA, Oliveira. D. João VI no Brasil. 3ª ed. Rio de Janeiro: Top-
books, pp. 549-569 e o trabalho recente e instigante de HERMANN, Jacqueline. O rei da
América ... pp. 124-158.
7 – SEBASTIÁN, Javier Fernández. “Hacia una Historia Atlántica de los conceptos po-
líticos”. In: Idem. Dicionario politico y social iberoamericano. Iberconceptos I, Madrid:
Fundación Carolina/Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales/ Centro de Estu-
dios Políticos y Constitucionales, 2009, pp. 25-48; SKINNER, Q.. Visões da política,
Lisboa: Difel, 2005; POCOCK, J. G. A.. Politics, Language and Time. Essays on Political
Thought and History, New York: Atheneum, 1971.
para fazer constar às Câmaras dessa Comarca, não só para que assim
se executem em os seus respectivos Termos, fazendo-se aquelas de-
monstrações de sentimento que são de estilo em semelhantes ocasiões,
mas também para que supliquem a Deus Nosso Senhor auxílio a Sua
Majestade com as suas Divinas luzes para os acertos do Governo com
que deseja felicitar aos seus vassalos15.
ter que se mudar para Portugal a fim de ser aclamado. Tudo isso, por sua
“natural inércia”20.
Regime: rei morto, rei posto em seu cargo, por meio de um ritual que im-
plicava o funeral de um soberano e a exaltação de seu sucessor25. O que
acontecia no Império português implicava a quebra de um protocolo que
significava a tradição da monarquia e a grandeza da realeza.
30 – Cf. NEVES, Guilherme Pereira das. Guardar mais silêncio do que falar: Azeredo
Coutinho, Ribeiro dos Santos e a Escravidão. In José Luís Cardoso (coord.). A economia
política e os dilemas do império luso-brasileiro (1790-1822). Lisboa: Comissão Nacional
para as comemorações dos descobrimentos Portugueses, 2001, pp. 35-37.
31 – Relation de l’Ambassade du Duc de Luxembourg. Transcrita em Jean de Pins.
Sentiment et diplomatie d’après des correspondances franco-protugaises. Contribution
à l’Histoire des mentalités au début du XIXe siècle. Paris: Fund. Calouste Gulbenkian,
1984, pp. 527-540. Para as citações, ver pp. 538-539.
32 – Ibidem. p. 538.
33 – NEVES, Lucia Maria Bastos. P. Tomás Vilanova Portugal. In: VAINFAS, Ronaldo
& NEVES, Lucia Maria Bastos P. (orgs.). Dicionário do Brasil Joanino (1808-1821). Rio
de Janeiro: Objetiva, 2008, pp. 421-422. Para a troca de bilhetes entre o ministro e D.
João, cf. Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Divisão de Manuscritos. 5, 1, 40. Bilhetes
de D. João VI e de D. Carlota Joaquina a Tomás Antônio Villanova Portugal (1816-1821).
34 – Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Divisão de Manuscritos. II-30,32,012. Carta
a D. João VI, sugerindo algumas providencias para acalmar o descontentamento em Por-
tugal, abril de 1820.
emoção que saía da alma do indivíduo, mas, sim, produzida por objetos
externos. O entusiasmo dos homens livres era capaz por si só de elevar
seu pensamento e sentimento sem a ajuda de banalidades como essas que
ocorreram na aclamação de D. João VI. Demonstrava, assim, como as
monarquias ainda estavam profundamente ligadas às “antiguidades”. Os
soberanos encontravam-se muito longe de adotarem os melhoramentos da
época que vivenciavam; “encontravam-se tão afastados da civilização”,
como os indígenas norte-americanos. E concluía com uma questão: “Esta
era a primeira coroação de rei na América – será também a última”?47.
59 – MATTOSO, José. A coroação dos primeiros reis de Portugal. In: BETHENCOURT,
Francisco & CURTO, Diogo Ramada (orgs.). A Memória da Nação. Lisboa: Livraria Sá
da Costa Editora, 1991, pp. 187-200. HERMANN, Jacqueline. No reino do desejado. A
construção do sebastianismo em Portugal, séculos XVI-XVII. São Paulo: Companhia das
Letras, 1998, capítulo 3.
89
Resumo: Abstract:
O objetivo deste texto é realçar a estreita ligação This paper aims to emphasize the close
existente entre o Rei D. João VI e o Reino Unido connection between King D. João VI and the
luso-brasileiro, por ele criado, e, ao mesmo tem- Luso-Brazilian United Kingdom he created, and
po, destacar o alcance político da estratégia por at the same time aims to highlight the political
ele adotada, tanto em prol da sobrevivência do reach of the strategy he adopted, both for the
velho Reino europeu como em defesa da conso- survival of the old Portuguese Kingdom and
lidação do novo Reino Unido sediado no Brasil. the defense of the consolidation of the new
Por meio da reflexão, sob outra perspectiva de United Kingdom based in Brazil. Through some
análise, acerca da atuação do rei, elabora-se uma new reflections and under another perspective
interpretação distinta da versão tradicionalmen- of analysis – about the actions of the king-, a
te construída, aquela que traça a imagem de um different interpretation is constructed, unlike
rei “fraco e fujão” que ainda resiste em manuais the traditional version that traces the image
escolares e na mente da população em geral. of a “weak and runaway” king. A version that
Apresenta-se, assim, uma nova versão sobre os still persists in school textbooks and in the
fatos históricos e sobre as decisões consequen- minds of the population in general. Therefore,
tes tomadas pelo rei, entendendo tais fatores no it is a new version of the historical facts and of
cenário de dinamismo das relações então esta- the consequential decisions taken by the king,
belecidas no plano geral da política e da admi- understanding these factors within a scenario
nistração governamental. Além disto, ressalta of dynamism of the relations established in
o lugar privilegiado desfrutado pelo Brasil, a the general plan of government policy and
partir de 1808, e ampliado no contexto do Rei- administration. In addition, it highlights the
no Unido, bem como o implemento da pesquisa privileged place enjoyed by Brazil, from 1808,
científico-cultural estabelecido a partir da união and extended in the context of the United
dinástica com os Habsburgo, como fatores de- Kingdom, as well as the implementation of
terminantes e decorrentes da política joanina. scientific-cultural research established from
the dynastic union with the Habsburgs, as
determinants and due factors of the Johannine
politics.
Palavras-chave: D. João VI; Estratégia políti- Keywords: D. João VI; Political strategy; Luso-
ca; Reino Unido luso-brasileiro; União dinásti- Brazilian United Kingdom , Dynastic union;
ca; Relações científico-culturais. Scientific-cultural relations.
2 – Sobre essa questão, consultar: Coleção de Leis do Brasil. 1814 – 1815, Carta de
Lei de 16 de dezembro de 1815; HIPÓLITO da COSTA, José. Correio Brasiliense ou
Armazém Literário. “Edição fac-similar”, 2001. Imprensa Oficial do Estado: São Paulo/
Brasília, DF. Vol. XVI, pp. 184-190; e também, ver análise elaborada por LYRA, Maria
de Lourdes Viana. “O Brasil como Reino Unido a Portugal: um modelo de emancipação
colonial”. R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 177, n. 470, pp. 149-172.
3 – Cf. LYRA, Maria de Lourdes Viana. A Utopia do Poderoso Império: Portugal e Bra-
sil – bastidores da POLÍTICA, 1798-1822. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1994.
4 – Cf. LYRA, Maria de Lourdes Viana. Rainhas de Portugal no Novo Mundo. Leopoldi-
na de Habsburgo. Coleção Rainhas de Portugal. Lisboa: Círculo de Leitores, 2011.
5 – Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque. “A herança colonial – sua desagregação”. In: Sér-
gio Buarque de HOLANDA (Org.) História Geral da Civilização Brasileira. São Paulo:
DIFEL, 1970. Tomo II, v.1.
10 – Cf. LYRA, Maria de Lourdes Viana. “A Imperatriz Leopoldina entre o público e o
privado”. D. Leopoldina, e seu tempo: sociedade, política, ciência e arte no século XIX.
Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional, 2016.
11 – Cf. OBERACKER JR, Carlos H. A imperatriz Leopoldina: sua vida e sua época.
Ensaio de uma biografia. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura/IHGB, 1973.
12 – Cf. RAMIREZ, Ezekiel Stanley. As relações entre a Áustria e o Brasil: 1815-1889.
Op. cit.
14 – Cf. WEHLING, Arno. “A conspiração histórica de Von Martius”. R. IHGB, n. 385,
1994.
101
Resumo: Abstract:
O presente artigo debruça-se sobre a prática do The present paper focuses on the practice of
oferecimento de dedicatórias impressas em um offering printed dedications in a Brazil that
Brasil que há pouco se tornara impressor e, ago- had just stepped into the printing world, and
ra, assistia à aclamação de D. João VI. As dedi- was now witnessing the acclamation of D. João
catórias, representativas das práticas de home- VI. The dedications, representative of homage
nagem e das relações de mecenato, são símbolo practices and patronage relationships, were
das relações políticas apoiadas na hierarquia vi- symbols of the political relations supported by
gente e das trocas efetuadas na busca por poder the hierarchy at the time, and of the exchanges
e por influência. Em uma época onde viver da that were made in search of power and influence.
própria pena constituía um desafio, era necessá- In an age when living by one’s own pen was a
rio utilizar-se das convenções para adquirir pa- challenge, it was necessary to use conventions
trocínio e proteção, e o oferecimento público de to gain patronage and protection, and so the
lealdade e de submissão por meio das páginas public offering of loyalty and submission
dos livros abria novas possibilidades. A abertura through the pages of books opened new
da Impressão Régia contribuiu para o despertar possibilities. The opening of the Royal Printing
da vida cultural da nova corte, permitindo tam- House contributed to the awakening of cultural
bém que os impressos fizessem parte da vida life in the new court, while also allowing for
política e das comemorações da corte. Nesse the printed pages to be part of political life and
ambiente, a necessidade de conquistar as boas court celebrations. In this environment, the need
graças do soberano para obter prestígio fez com to get in the good graces of the king in order
que as publicações do início do oitocentos con- to gain prestige encouraged the publications of
tassem com páginas destinadas às dedicatórias, the early nineteenth century to contain pages
cujo tom laudatório visava ao convencimento reserved for dedications with a laudatory tone
sobre o merecimento de mercês e de favores. E in an effort to convince the king that their
a aclamação de um soberano, algo inédito nas authors deserved his grace and favors. And the
Américas, foi espaço de consagração para tais acclamation of a king, something unheard of in
homenagens. Muitas das obras publicadas pela the Americas, was a space of consecration for
Impressão Régia no período joanino foram ex- such homages. Many of the works published
plicitamente dedicadas a alguma figura social by the Royal Printing House in the Johannine
ou política importante, e um número expressivo period were explicitly dedicated to some
dirigiu-se ao soberano D. João. A utilização dos important social or political figure, and an
elogios impressos por muitos letrados permite expressive number of them addressed to King
observar que a prática atravessou o oceano, com D. João. Worth mentioning is that this use of
a Família Real, e perdurou ao longo do oitocen- printed dedications by many men of letters
tos no Brasil. crossed the ocean with the Royal Family and
lasted throughout the 19th century in Brazil.
Palavras-chave: Dedicatórias impressas; So- Keywords: Printed dedications; sociabilities;
ciabilidades; Aclamação. acclamation.
SENHOR,
Três são os motivos, que obrigam os Escritores a dedicar suas obras
aos Grandes Príncipes: procurar que possam correr por todas as partes
livres da censura, a que se expõem todas as obras públicas; esperar do
conhecimento de tão altos Senhores uma pia correção; e finalmente
ganhar por este meio suas Régias considerações: e como todas es-
tas circunstâncias me assistem para com VOSSA MAJESTADE, não
poderia, sem que fosse taxado de ingrato, dedicar este meu primeiro
trabalho senão a VOSSA MAJESTADE, que me pondo a coberto de
qualquer censura, ao mesmo tempo me assegura do acolhimento que
devo esperar de todos, que a exemplo de VOSSA MAJESTADE, se
dedicam ao conhecimento das Artes Ciências2.
15 – CHARTIER, Roger. “O Homem de Letras”. In: Michel Vouvelle (dir.) O Homem do
Iluminismo. Lisboa: Presença, 1997, pp. 121-122.
16 – CHARTIER, Roger. “O Príncipe, a Biblioteca e a Dedicatória ...”, pp. 182-199.
Saíram de seus prelos, entre 1808 e 1822, 1428 obras. Destas, 229
foram oferecidas em homenagem, dividindo-se da seguinte forma:
Ano Obras Publicadas Obras oferecidas
1808 37 09
1809 69 21
1810 94 15
1811 73 25
1812 72 22
1813 37 09
1814 35 09
1815 56 07
1816 52 14
1817 66 19
1818 50 17
1819 43 09
24 – Cf. NEVES, Lúcia Maria Bastos P. "Censura, circulação de idéias e esfera pública
de poder no Brasil, 1808-1824". In: Revista Portuguesa de História. t. 33, Coimbra, 1999,
pp. 665-697.
1820 46 07
1821 270 24
1822 428 22
Total 1428 229
Fonte: Ana Maria de Almeida Camargo & Rubens Borba de Moraes. Bibliografia da Impressão Régia do
Rio de Janeiro. São Paulo: Edusp/Kosmos, 1993. V. 1.
25 – CAMARGO, Ana Maria de Almeida & MORAES, Rubens Borba de. Bibliografia
da Impressão Régia do Rio de Janeiro. São Paulo: Edusp/Kosmos, 1993. v. 1
26 – HOLANDA, Sérgio Buarque de apud MALERBA, Jurandir. A Corte no Exílio. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000, p. 216.
No Rio de Janeiro, por sua vez, a nova diplomacia trouxe outra dinâ-
mica cultural. Durante os anos de 1815 e 1820, o Brasil recebeu músicos
e artistas franceses. Atribui-se aos anos de 1817 e 1818 a qualidade de te-
rem sido os mais faustosos da estadia da Corte no Brasil. Entre a chegada
da esposa de D. Pedro e futura imperatriz, D. Leopoldina, em1817, a acla-
mação de D. João, em 1818, e o aniversário do agora Rei, em 13 de maio
do mesmo ano, os fluminenses tiveram a oportunidade de presenciar não
só os festejos, mas também os efeitos do casamento do herdeiro da Coroa
32 – SOUZA, Bernardo Avellino Ferreira e. Relação dos festejos..., pp. 5-6.
33 – SOUZA, Bernardo Avellino Ferreira e. Relação dos festejos..., p.7.
34 – SOUZA, Bernardo Avellino Ferreira e. Relação dos festejos..., pp. 25-28.
37 – SEIXAS, Romualdo Antonio de. Sermão de acção de graças que no dia 13 de maio
celebrou o Senado da Camara desta capital do Pará pela feliz acclamação do muito alto,
e poderoso senhor D. João VI. Rey do Reino Unido de Portugal, do Brazil, e Algarves
40 – Assim intitulou a Camões o celebre La Harpe, Mestre do atual Imperador da Rús-
sia. [nota original da publicação]
41 – Lus. IV. 78. [nota original da publicação]
42 – Ord. Liv. IV. tit. 63.§. 10. [nota original da publicação]
127
Resumo: Abstract:
A proposta deste trabalho é olhar para a acla- The purpose of this paper is to look at the
mação de Dom João VI, acontecida em 6 de fe- acclamation of King John VI, that took place on
vereiro de 1818, como a ocasião utilizada pelo February 6th, 1818, as the occasion used by the
monarca para colocar em evidência a transfor- monarch to highlight the transformation of Rio
mação do Rio de Janeiro, de cidade colonial à de Janeiro from colonial city to the capital of the
capital do Reino Unido. Na passagem históri- United Kingdom. In the thirteen years’ historical
ca de treze anos em que o monarca residiu no passage in which the monarch resided in Brazil,
Brasil, ele soube explorar, nos grandes festejos he was able to explore the role of ephemeral
reais, o papel das arquiteturas efêmeras, tanto architectures in the great royal celebrations,
as tradicionais, projetadas pelos portugueses, both traditional, designed by the Portuguese,
quanto as realizadas pelos franceses segundo and those designed by the French according
os cânones neoclássicos. O resultante cenário to the neoclassical canons. The resulting
alegórico, além de contribuir para converter a allegorical scenario, besides contributing to
imagem da capital do novo reino, deixou im- convert the image of the new kingdom’s capital,
portantes heranças, no que se refere a modernos left important heritage regarding modern urban
códigos urbanos e arquitetônicos, para o futuro and architectural codes for the future Empire.
Império.
Palavras-chave: Arquitetura; Festa; Dom João; Keywords: Architecture; Celebration; King
Rio de Janeiro. João; Rio de Janeiro.
próximos possíveis aos modelos. Para alcançar tão alto nível de ficção
com a mínima despesa, os materiais dos quais podiam então se dispor
eram gesso, papel e papelão pintados, além de colas, de tintas e de grande
variedade de tecidos. Por meio dessa bagagem, era possível conseguir
fingir o material do elemento que se pretendia reproduzir, como estuque,
ouro, bronze e as mais variadas qualidades de mármores e granitos. Para
essa complexa produção, contribuíam artistas e artesãos das mais dife-
rentes especialidades e com diferentes conhecimentos. Sob o olhar do
arquiteto ou do diretor das festas, as mãos dos artífices transformavam
simples apetrechos em soberbas figuras ou objetos alegóricos colocados
a serviço da comunicação política.
7 – O’NEILL, Thomas. A escolta de Dom João VI. In: FRANÇA, Jean Marcel Carvalho.
Outras visões do Rio de Janeiro Colonial. Antologia de textos 1582-1808. Rio de Janeiro:
José Olympio, 2000. pp. 314-315.
10 – BARRA, Sergio Hamilton da Silva. Entre a corte e a cidade. O Rio de Janeiro no
tempo do Rei (1808-1821). Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. p. 151.
O trajeto do cortejo real, que do Arsenal segue pela Rua Direita até
chegar no Largo do Paço, é assinalado por uma série de arcos de triun-
fo. Nessa circunstância, a arquitetura efêmera, resultado de projetos de
artistas franceses, serve para introduzir novas visões urbanas baseadas
na harmonia clássica. A estrutura dos dois primeiros, segundo os relatos,
segue as normas dos arcos de triunfo napoleônicos. Através das memórias
de Luís Gonçalves dos Santos, dito Padre Perereca, é possível obter des-
crições detalhadas dos mencionados arcos e de sua simbologia figurativa,
compensando a falta de documentos iconográficos sobre essas constru-
ções provisórias.
Imagem 4 – Marie Hippolyte Taunay. D. Pedro e Dona Leopoldina passam por debaixo do Arco do Triunfo espe-
cialmente projetado por Grandjean de Montigny. Fundação Biblioteca Nacional.
A aclamação de D. João VI
vido nomear o dia 6 do mês próximo futuro para esta solenidade, que
se há de celebrar na varanda que para este efeito se mandou levantar
no terreiro do Paço17.
Imagem 5 – Caetano Alberto Nunes de Almeida. Planta e prospecto geométrico da régia varanda para a feliz
aclamação de D. João VI na corte do Rio de Janeiro. Fundação Biblioteca Nacional.
do soberano, desde sua entrada até sua chegada à sala do trono, que se
encontra no final do salão, em um estrado mais elevado, em direta comu-
nicação com o Paço. As letras F, G, H, I, L – presentes na legenda do pro-
jeto –, assinalam a tribuna e os balcões onde eram acomodadas a rainha,
as princesas e as infantas. Toda a descrição da cerimônia é relatada por
Luiz Gonçalves Santos18.
Uma ideia mais precisa do interior da varanda pode ser obtida pela
pintura “Aclamação do rei D. João VI no Rio de Janeiro”, realizada por
J.B. Debret. Graças ao talento pictórico do artista francês, a arquitetura
efêmera adquire solenidade e majestade. Ao ver reproduzidos na pintura
os elementos construtivos e decorativos que compõem a sala do trono,
o observador tem a impressão de que tudo o que olha seja verdadeiro. É
o caso do teto realizado em simples madeira e enriquecido por decorati-
vas pinturas ou dos capitéis pintados sobre o mesmo material pobre, mas
apresentados como se fossem de ouro, assim como outros detalhes que
simulam mármore, bronze ou tecidos preciosos. A retratação de Debret da
cerimônia na sala do trono faz parte das imagens documentos. Confirma
isso a presença, no quadro, de todos os membros da família real, assim
como dos componentes da corte, de forma que cada um possa ser reco-
nhecido (imagem 6).
Imagem 6 - Jean Baptiste Debret. Aclamação do rei D. João VI no Rio de Janeiro. 1835.
Fundação Biblioteca Nacional.
18 – SANTOS, Luiz Gonçalves dos. Op. cit., (Vol. 1), pp. 224- 377.
Imagem 7 – Giuseppe Pannini. Decorações temporárias de S.Giacomo degli Spagnoli em Roma. Gravura de
Giovanni Volpato. In: Descrizione dell’apparato funebre per le esequie celebrate dalla nazione Spagnuola nella
sua Chiesa di S. Giacomo in Roma alla memoria di Carlo III. Roma, 1789.
Imagem 8 – Jean Baptiste Debret. Vista do exterior da galeria da Aclamação do rei D. João VI no Rio de Janei-
ro.1835. Fundação Biblioteca Nacional.
Tradição e Modernidade
Fazem parte do processo de transição do modelo arcaico português
da capital colonial para uma estrutura urbana movida pelo progresso, as
fórmulas arquitetônicas adotadas por ocasião da aclamação19. O estilo tra-
dicional e o moderno neoclassicismo determinam a divisória conceitual
entre os projetos de arquiteturas efêmeras que contribuíram à mise-em-
-scène da solene cerimônia.
19 – NEVES, Lucia Maria Bastos P.; MACHADO, Humberto Fernandes. O império do
Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
Imagem 9 – Nicolas-Antoine Taunay. Monumento erigido pelo Senado do Rio de Janeiro, em 6 de fevereiro de
1808, em ocasião da aclamação de D. João VI como Rei do Reino Unido. Palácio Nacional D’Ajuda, Lisboa.
22 – CHIAVARI, Maria Pace; GRINBERG, Piedade Epstein. Arquitetura efêmera, ar-
quitetura de festa. In: 200 anos da chegada da família real portuguesa no Brasil: da aber-
tura dos portos às Nações Amigas e seus reflexos na arquitetura e no espaço brasileiro.
Vol. 1. Rio de Janeiro: PROARQ UFRJ, 2007. p. 48.
Real, em forma de templo grego, cujo acesso era assinalado por um arco
de triunfo.
149
Resumo: Abstract:
O presente artigo tem como objetivo analisar o We analyze in this article the role of the
papel das ordens militares distribuídas durante o military orders bestowed during the stay
período da estadia da corte portuguesa na Amé- of the Portuguese royal family in America.
rica. Esses instrumentos produziam uma hierar- The decorations would produce a social
quização social, visto que permitiam a entrada hierarchy, since those who received them were
do agraciado na nobreza e, como dependiam da incorporated into the nobility. And since the
realização de serviços diversos para serem obti- orders were only bestowed upon provision
dos, eram utilizados pela Coroa portuguesa com of various services, the Portuguese Crown
o intuito de contribuir para a manutenção do used them as a way of holding together their
próprio Estado. A partir da identificação da pre- own state. We first identified the names of the
sença de nomes pertencentes à elite mercantil merchants that belonged to the commercial elite
que habitava a Corte e que detinha um vasto ca- that inhabited the Court and who held a large
pital entre os condecorados, buscou-se verificar amount of capital among those awarded with a
as formas como esses grupos serviam ao Estado, decoration. We then reviewed the ways in which
constatando-se que eles direcionavam à Coroa they served the State. The findings show that
parte de seu capital econômico com o intuito de they allocated part of their capital to the court
alcançar um lugar social prestigioso naquela so- with the aim of achieving a prestigious social
ciedade, ou seja, de adentrar a nobreza. position in society and becoming a member of
the nobility.
Palavras-chave: D. João IV; corte joanina; or- Keywords: D. João IV; Johannine court;
dens militares; condecorações; comerciantes. military orders; decorations; merchants.
Para ser elevado a grão-cruz, era necessário ter passado pelo grau de
comendador e ter mais de quarenta anos. Entre os grão-cruzes, estavam
todos os infantes e as infantas de Portugal, que não necessitavam atingir
a idade mínima exigida para todos os demais. Desse modo, chegar a essa
gradação implicava a participação em um seleto grupo. A lei de 1789
delimitava em doze o número de grão-cruzes para além dos membros da
família real, sendo seis na Ordem de Cristo e três nas ordens de São Bento
de Avis e de Santiago9. Posteriormente, em alvará de 10 de junho de 1796,
o número de grão-cruzes nas ordens de Avis e de Santiago foi equiparado
ao da Ordem de Cristo, por se entender que a diferenciação no número
transmitia a imagem de uma desigualdade entre as ordens, o que tanto a
lei de junho de 1789 quanto o alvará subsequente de 15 de setembro de
1789 tentaram sanar10. Na carta de lei, reservava-se ao monarca o direito
à escolha dos contemplados nesse grau de maneira muito mais direta do
que nos demais, visto que os candidatos a cavaleiros, por exemplo, passa-
vam por um processo altamente burocratizado para alcançar a condecora-
ção11. No caso do grão-cruz, D. Maria I previa que
À Dignidade de Grão-Cruz somente será promovida Pessoa, por qua-
lidade preeminente, ou por Serviços Militares, ou Políticos se faça
recomendável, e benemérito dela: devendo reservar-se ao Supremo
Arbítrio do Grão-Mestre o pesar individualmente, e com a maior cir-
cunspecção as circunstancias dos que se propuser honrar com esta
19 – Arquivo Nacional, cód. 790. Foi tomado como data de corte para o cômputo dos
agraciados o mês de abril de 1821, quando d. João VI retorna a Portugal.
22 – FLORY, Rae. Bahia Society in the Mid Colonial Period: the sugar planters, tobacco
growers, merchants, and artisans of Salvador and the Recôncavo, 1680-1725. Tese - Uni-
versidade do Texas, Austin, 1978. A mesma informação foi confirmada mais recentemente
por SOUSA, Avanete Pereira. A Bahia no século XVIII: poder político local e atividades
econômicas. São Paulo: Alameda, 2012. Para a análise dos comerciantes na região do Rio
Grande, ver OSÓRIO, Helen. Estancieiros, lavradores e comerciantes na constituição da
estremadura portuguesa na América: Rio Grande de São Pedro, 1737-1822. Tese (Douto-
rado em História) - UFF, Niterói, 1999.
23 – SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá de. Na encruzilhada do Império: hierarquias so-
ciais e conjunturas econômicas no Rio de Janeiro (c.1650-c.1750). Rio de Janeiro: Arqui-
vo Nacional, 2003.
24 – Riva Gorenstein já havia abordado a presença desses comerciantes nas primeiras
décadas do século XIX. Cf. GORENSTEIN, Riva. O enraizamento de interesses mercan-
tis portugueses na região do Centro-Sul do Brasil (1808-1822). Dissertação (Mestrado
em História) - USP, São Paulo, 1978.
evidentemente, não deixava de ter seu nome destacado. Com esse intuito,
artistas franceses chegados em 1816 eram contratados para realizarem
verdadeiras obras de arte a céu aberto. Em 1817, no momento da chegada
ao Rio de Janeiro da princesa real da Áustria, D. Carolina Josefa Leopol-
dina, que havia casado por procuração com o príncipe real D. Pedro em
Viena, erigiu-se um arco romano na rua Direita patrocinado pelo “corpo
do comércio” com a administração de dois grandes negociantes, Joaquim
José Pereira do Faro e Francisco Pereira de Mesquita. O arco foi realizado
pelo arquiteto Grandjean de Montigny e pelo pintor Jean Baptiste Debret
e, de acordo com a narrativa do padre Luiz Gonçalves dos Santos, ocu-
pava toda a largura da rua, tendo ainda “cinquenta palmos” de altura. O
material com que foi construído imitava um mármore branco e possuía,
em seus lados, “as figuras do Rio de Janeiro, e do Danúbio”, simbolizadas
pelas armas do Reino Unido, ao qual o Brasil foi incorporado em 1815,
e pelas águias do Império Austríaco, respectivamente. Em baixo relevo,
apareciam “em bronze dourado os emblemas do antigo, e novo mundo”
e o caduceu do comércio “em ação de fazer sacrifícios”. Continha ainda
duas figuras da Fama, uma das quais depositava sobre o altar do Himeneu
as iniciais P, de Pedro, e C, de Carolina. Além disso, o arco todo tinha
inúmeros festões feitos de flores com as iniciais de D. Pedro e D. Leopol-
dina com “medalhões revestidos de seda cor de ouro e além de outros de
seda azul, cujas letras P C eram de ouro”. Em ambos os lados da cornija,
lia-se: “À Feliz União, o Commercio”26. Além do arco descrito acima, a
rua Direita recebeu mais dois deles, que acabavam competindo na busca
pela visibilidade de seus patrocinadores.
26 – SANTOS, Luiz Gonçalves dos. Memórias para servir à História do Reino do Bra-
sil. 2t. Belo Horizonte: Itatiaia, 1981, tomo II, p. 129.
visto que várias partes do arco destacavam seu financiamento por parte
deles.
Amaro Velho da Silva, por conta de sua posição como grande nego-
ciante, já havia alcançado inúmeras distinções extremamente significati-
vas para uma sociedade de Antigo Regime. Logo no momento do desem-
barque da família real no Rio de Janeiro, ele foi escolhido para carregar
uma das varas do pálio no qual estavam D. João e D. Carlota. Isso, pro-
vavelmente, aconteceu, porque a Coroa já tinha conhecimento dos nomes
dos principais negociantes que habitavam a cidade, já que, em 1799, foi
realizado um levantamento dos principais comerciantes situados no Rio
de Janeiro28. Além disso, cedo conseguiu recompensas, pois, em 1808,
recebeu o grau de cavaleiro da Ordem de Cristo. Como apontado, por se
tratar de uma das grandes fortunas do Rio de Janeiro, rapidamente ascen-
deu na Ordem, tendo sido condecorado comendador da mesma em 1811.
Além disso, em 20 de agosto de 1812, recebeu, juntamente a seu irmão,
Manoel Velho da Silva, o título do Conselho, uma grande honraria29, por-
que implicava oferecer aconselhamento ao rei por meio de pareceres30.
28 – FRAGOSO, João e FLORENTINO, Manolo. O arcaísmo como projeto..., p. 202.
29 – Gazeta do Rio de Janeiro, 26 de agosto de 1812, nº 69.
30 – RAMINELLI, Ronald. Nobrezas do novo mundo: Brasil e ultramar hispânico, sécu-
que haviam sido incluídos na nobreza civil “eram aqueles que participa-
vam como acionistas nas Companhias Gerais de Comércio, aqueles que
serviam de deputados da Junta do Comércio, aqueles que frequentavam a
Aula de Comércio para adquirir o saber necessário à sua arte”35. Por conta
dessas transformações, esses grandes negociantes deixaram de necessitar
de “dispensa de mecânica” ao solicitarem mercês honoríficas, o que não
se aplicava ao pequeno e ao médio comerciante. Esse processo foi tam-
bém acompanhado de uma mudança semântica, pois, segundo Silva, a
palavra mercador deixou de ser aplicada ao grupo mercantil de alta renda
na segunda metade do século XVIII, o que remontava à sua valorização
desde o ministério pombalino36.
poderia se tratar de outra pessoa com o mesmo nome ou até um parente do agraciado em
1810. Outros casos semelhantes foram também identificados. Outro aspecto importante
que deve ser ressaltado é que, para a análise das condecorações concedidas a comercian-
tes, estabeleceu-se como objeto de análise a Ordem de Cristo. Isso, porque das demais
ordens, uma, a Ordem de Avis, foca-se apenas em serviços militares, enquanto a outra, a
Ordem de Santiago, é destinada à magistratura.
38 – Segundo Maria Beatriz Nizza da Silva, “Dom” era uma forma de tratamento desti-
nada, de acordo com o alvará de 3 de janeiro de 1611, aos bispos, aos condes, aos filhos
de fidalgos da Casa Real, aos filhos bastardos dos titulares e aos desembargadores. SILVA,
Maria Beatriz Nizza da. Ser nobre na Colônia..., p.26.
39 – Arquivo Nacional. Índice de Condecorações das Ordens de Cristo, S. Bento de Aviz
e Santiago – cód. 790 e Listagem de Matrículas de Negociantes de Grosso Tracto – Real
Junta do Comércio – cód. 170.
Entre aqueles que não foi possível identificar a família entre os con-
decorados, mas que também eram grandes negociantes, estavam João
Francisco da Silva e Souza, Comendador da Ordem de Cristo, em agosto
de 1814, e João Rodrigues Pereira de Almeida, Comendador da Ordem de
Cristo, em março de 1810.
Considerações Finais
Embora o processo de nobilitação de uma elite de negociantes pu-
desse estar em curso desde antes da transferência da família real, o que
teve reflexos na própria mudança da legislação que retirou os grandes ne-
gociantes do rol de ofícios mecânicos43, a presença da corte efetivamente
abriu o leque dessas distinções aos negociantes que habitavam o Rio de
Janeiro. Como se abordou, essa abertura não foi ampla e irrestrita a todos
que viviam do comércio, mas localizada na elite mercantil, especialmente
se tomarmos o grau de comendador da Ordem de Cristo. Conforme a lei
de 1789, a Coroa conseguiu resguardar o lugar de grão-cruz a um círculo
bastante restrito, de modo a não desagradar a nobreza titulada que acom-
panhou a corte na travessia do Atlântico.
175
Resumo: Abstract:
Neste texto “A Aclamação de D. João VI no Rio In this paper “The Acclamation of King João
de Janeiro em 1818: o Rei e o Reino”, o autor VI in Rio de Janeiro in 1818: the King and the
revela alguns documentos inéditos de arquivos Kingdom”, the author reveals some unpublished
e de bibliotecas do Brasil e de Portugal, que documents from national archives and libraries
contam a verdadeira génese da Real Ordem da in Brazil and Portugal that uncover the true
Torre e Espada, de Valor e Lealdade, criada em origins of the Royal Portuguese Order of the
1808, no Rio de Janeiro, acompanhando os seus Tower and Sword, for Bravery and Loyalty,
primeiros passos, o desenho das suas insígnias e created in 1808 in Rio de Janeiro, following
as condecorações concedidas por D. João, até se its first steps, the design of its insignia and the
transformar na mais prestigiada Ordem Militar decorations granted by D. João, until becoming
europeia do período da Guerra Peninsular. Dos the most prestigious European Military Order of
964 agraciados com as insígnias da Real Ordem the Peninsular War. Of the 964 graced with the
nos seus três graus de Grã-cruz, Comendador e insignia of the Royal Order in their three classes
Cavaleiro, mais de metade foram-no durante a of Knight Grand Cross, Knight Commander and
permanência da Corte no Brasil. As atribuições Knight, more than half were awarded during the
das insígnais e as nomeações na Ordem revelam stay of the Court in Brazil. The assignments of
facetas desconhecidas da historiografia portu- the insignia and the appointments in the Order
guesa e brasileira, impondo a Real Ordem da reveal new facets unknown in the Portuguese
Torre e Espada, de Valor e Lealdade, como uma and Brazilian historiography, imposing the
Ordem Honorífica e Militar luso-brasileira. Royal Order of the Tower and Sword, for
Bravery and Loyalty, as a Portuguese-Brazilian
Honorary and Military Order.
Palavras-chave: Ordens Honoríficas; Torre e Keywords: Honorary Orders; Tower and Sword;
Espada; Valor e Lealdade. Valour and Loyalty.
Introdução
A história da Real Ordem da Torre e Espada, de Valor e Lealdade,
instituída em novembro de 1808, no Rio de Janeiro, pelo príncipe regente
D. João e extinta, em 1834, com o exílio do rei D. Miguel I, seu último
Grão-Mestre, nunca foi objecto de um estudo completo, com recurso às
fontes documentais coevas dos arquivos nacionais portugueses e brasi-
1 – Sócio Honorário da Academia Portuguesa de História. Sócio Efectivo do Institu-
to Dom João VI. Engenheiro-químico, foi diretor técnico da Casa da Moeda de Lisboa,
vogal da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses e
diretor da Sociedade de Geografia de Lisboa. E-mail: engtrig@sapo.pt
3 – Uma das principais fontes da narrativa desta histórica travessia atlântica, que teve
acesso aos arquivos do Almirantado inglês, é a conhecida obra de Kennett Light, A trans-
ferência da capital e corte para o Brasil 1807-1808. Lisboa: Tribuna da História, 2007.
Que vai dizer D. João nessa carta primeira do seu novo assento
brasileiro? Pedir que lhe mandem roupa, meias de seda, brancas e pre-
tas, lenços de cambraia, galões de prata e dourados? O príncipe regente
de Portugal tem outras ideias, nada quer pedir para si, quer pedir, sim,
mas em favor dos dois oficiais da nau inglesa Bedford que o acompa-
nhou na travessia atlântica, o capitão James Walker e o tenente David
Scott. Vamos acompanhar o pensamento do monarca, transcrevendo a
sua primeira carta do Brasil:
N.º I // Com a chegada de Lord Strangford a essa Capital seria V.
S. sabedor que o Príncipe Regente Nosso Senhor tomou a resolução
de partir de Lisboa com toda a Sua Augusta Família no dia 29 de
novembro do ano passado para o Brazil, em direitura para o Rio de
Janeiro prestando o Contra Almirante Sir William Sydney Smith com
a maior prontidão, e atividade todos os auxílios, e socorros que se lhe
requereram nesta ocasião, destacando tão bem da Esquadra do seu
comando quatro Naus para reforçar a nossa, e a seguirem até ao Porto
do seu destino, as quais se separarão da Nau Príncipe Real, em que
Sua Alteza se transporta com Seus dois Filhos por causa do tempo, na
noite de 8 para 9 de dezembro; e que igualmente aconteceu a quase
todas as Naus, e Fragatas Portuguesas, incorporando-se depois no dia
15 para 16 do dito mês a Nau Inglesa Bedford, comandada por James
Walker. Este oficial é sumamente civil e polido, e tem praticado toda
a qualidade de obséquio e atenção, e Sua Alteza Real não pode deixar
de o recomendar a Sua Majestade Britânica, o que V. S. fará da parte
do mesmo Senhor, que se interessa para que ele seja promovido em
Comissário de Marinha, e o Primeiro Tenente David Scott em Coman-
dante de Navio.
Sua Alteza Real, a Princesa Carlota Sua Augusta Esposa, Seus Filhos
e Filhas, chegaram felizmente a esta Cidade donde em poucos dias
partirão para o Rio de Janeiro, e gozam uma saúde tão perfeita e ro-
busta como lhes desejam todos os seus fiéis Vassalos.
Deus Guarde a V. S.. Bahia 6 de fevereiro de 1808 = D. Fernando José
de Portugal = Sr. D. Domingos Antonio de Souza Coutinho 4.
A primeira carta da Bahia: 6 de fevereiro de 1808. ANTT. MNE, livro 512, fol. 1.
Reprodução autorizada.
4 – Arquivo Nacional de Portugal / Torre do Tombo (ANTT), fundo Ministério dos Ne-
gócios Estrangeiros (MNE), livro 512, fol. 1. Originais recebidos do Brasil, encadernados
em livro.
5 – Ibid, idem, livro 449, copiador dos ofícios de Londres para o Rio de Janeiro, 1808-
1809.
6 – Todos os outros conselheiros do príncipe regente, como D. Rodrigo de Sousa Couti-
nho (futuro conde de Linhares) e António de Araújo de Azevedo (futuro conde da Barca),
viajaram nas embarcações que aportaram ao Rio de Janeiro.
tom a esta Ordem, sem o qual não pode ter a estimação devida, seria
preciso fazer logo um General do Mar, com a Patente que tiveram o
Senhor D. João, e o Marquês de Angeja, assentando bem este grande
Posto na Pessoa do Duque de Cadaval, principalmente nas atuais cir-
cunstâncias, e para o fim de se lhe conferir esta Ordem em primeiro
lugar do que a todos. Segue-se depois o Vice-almirante, que teve a
honra de acompanhar S.A.R.: o 3.º deve ser o Capitão da única Nau
Inglesa, que acompanhou S.A.R. a este Porto. No Rio de Janeiro se
regulará daí por diante tudo o mais que lhe pertencer.
Não pode haver coisa mais simples, nem mais abreviada para não cau-
sar espanto, contudo eu ainda insisto em que melhor seria contentar
o Inglês, se fosse possível por bons modos, com o Retrato de S.A.R.,
principalmente achando votos contrários negativos, que quase sempre
são os melhores, e mais seguros. Não desejo que se siga o meu conse-
lho quando é solitário.
Fundo-me porém em que todos os Príncipes têm Ordens para darem
a Estrangeiros: Que o corpo da Marinha Portuguesa, principal objeto
desta Instituição, merece ser muito considerado: Que não só se deve
ganhar o Governo de Inglaterra, mas as Pessoas que vierem ajudar-
-nos: Que o modo que tenho declarado, e porque entendo se deve isto
fazer, não é de muito aparato: E finalmente, que não é a 1.ª Ordem
Civil, que se inventou neste Reino, porque El-Rei D. Afonso 5.º che-
gou a formalizar uma Ordem chamada da Espada, como se pode ver
na História Genealógica de Sousa, tomo 3.º pag. 6.ª, cuja exergua se
deve aproveitar agora (fol. 2 v.) por memória antiga, suposto que não
é muito feliz, mas a repetição vale nestes casos.
E sobretudo seguro-me mais em que me foi ordenado por S.A.R., que
visse se se podia descobrir algum caminho para o caso que se propu-
nha, e não achando outro de menos espinhos, satisfaço com apontar
em dúvida e com temor, aquele que me lembra: fala o coração, e o de-
sejo de livrar a S.A.R. de um embaraço, que o aflige, e o entendimento
suposto duvida, não repugna pelas razões, que tenho declarado7.
8 – SOUSA, António Caetano de. História Genealógica da Casa Real Portuguesa. Lis-
boa: 1738; nova edição revista, Coimbra: Livraria Atlântida, 1947; fac-simile, Lisboa:
Academia Portuguesa de História, 2007. Tomo 3º, p. 6 (vindo da página anterior) e tomo
4º (estampa D 27)
Era tudo quanto bastava para, “por memória antiga” – como escre-
veu D. Fernando José de Portugal – se aproveitar o desenho do espadim
afonsino e a lenda da torre de Fez, no desenho da venera da nova Ordem
que se vai criar de novo.
Original autógrafo da Carta de Lei de 29 de novembro de 1808 (primeiro e último fólio) existente no Arquivo
Nacional do Rio de Janeiro, Ordens Honoríficas, fundo “BR AN, RIO 69”, caixa 786, Ordem da Torre e Espada,
diplomas de 1808. Reprodução autorizada.
Um aviso que, desde logo, nos permite deduzir que esses desenhos
originais das insígnias da Ordem da Torre e Espada foram os primeiros
gravados na Impressão Régia do Rio de Janeiro. Seriam depois enviados
para Lisboa a 20 de março de 1810, conforme consta na correspondência
com os governadores do Reino em Lisboa13, onde foram copiados e no-
vamente gravados em chapas de cobre na Imprensa Nacional de Lisboa,
que os editou em 1811 (juntamente com o alvará de 23 de abril de 1810).
16 – Arquivo Nacional do Rio de Janeiro (ANRJ). Ordens Honoríficas, fundo “BR AN,
RIO 69”, caixa 786, Ordem da Torre e Espada, diplomas de 1808.
17 – ANTT. fundo Casa Real, ex-AHMF, Livro 3000. “Livro do Assento das Joias que
se fazem para o Real Serviço, Rio de Janeiro, 1808 a 1821”. Assento de 24 de janeiro de
1809, pelo Guarda-Joias de D. João, visconde de Vila Nova da Rainha. Este valor de 2
contos equivaleria hoje a 40.000 euros ou 172.000 reais.
18 – ANRJ. Ordens Honoríficas, fundo “BR AN, RIO 69”, caixa 786, Ordem da Torre e
Espada, diplomas de 1808.
19 – O Rol Geral da Ordem da Torre e Espada de 1808 a 1834, contemplando 964 agra-
ciados nas três classes, vem publicado no nosso livro A Viagem das Insígnias. Valor e
Lealdade, 1808-2018. Lisboa e Rio de Janeiro: ed. do autor, 2018.
SAR costuma enviar aos Oficiais Ingleses, não vão nesta ocasião, e
serão daqui remetidas pelo próximo navio com os seus corresponden-
tes títulos22.
22 – Ibid. Idem. Livro 381, fol. 441; Livro 382, fol. 8; Livro 317, fol. 215; e Livro 381,
fol. 197.
209
II – COMUNICAÇÕES
NOTIFICATIONS
Resumo: Abstract:
A comunicação refere-se, especificamente, a The paper is focused solely on João Manso
João Manso Pereira, personagem do século Pereira, who was born in mid-18 th century and
XVIII ao XIX, morto em 1820, considerado died in 1820. He was considered "a wise
“um sábio”, por suas múltiplas atividades, entre man" for having been engaged in many
as quais a de ter produzido louça afamada com different activities, among which the production
material da Ilha do Governador, pequeno terri- of famous porcelain pieces made of a material
tório do município do Rio de Janeiro. Deixou, from Ilha do Governador, an island in the city of
igualmente, obras publicadas, todas em Lisboa. Rio de Janeiro. He is also the author of a number
Foi lembrado pelo fluminense Joaquim Manuel of works, all published in Lisbon. He has been
de Macedo e pelo dicionarista baiano Sacra- remembered by Joaquim Manuel de Macedo,
mento Blake, e incluído no Índice Alfabético e from Rio de Janeiro, and the lexicographer
Remissivo do Ano Biográfico Brasileiro, orga- Sacramento Blake, from Bahia. His name is
nizado por José Marcello Moreira. included in the Alphabetical and Subject Index
of the Brazilian Biographical Annual organized
by José Marcello Moreira.
Palavras-chave: romantismo; política; sé- Keywords: romanticism; politics; nineteenth,
culo XIX; século XX; século XXI. twentieth and twenty-first centuries.
João Manso foi águia, a que faltou espaço, foi gênio, a que faltaram
recursos e condições favoráveis para revelar-se na altura de suas facul-
dades.
Da nossa ligação com a História da Ilha do Governador e com os
seus personagens, pareceria um elogio com que faríamos questão de abrir
a trajetória de alguém que, do século XVIII ao XIX, deixou marca indelé-
vel, embora não tão lembrada, de sua passagem. Tal, porém, não é o caso,
senão que a apreciação vem da pena de Joaquim Manuel de Macedo, em
o Ano Biográfico Brasileiro.
3 – MACEDO, Joaquim Manuel de. Ano Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: Tipogra-
fia e Litografia do Imperial Instituto Artístico, 1876, II volume, pp. 199-200.
4 – BLAKE, Augusto Vitorino Alves Sacramento. Dicionário Bibliográfico Brasileiro.
Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1895, vol III, p. 479. (Reimpressão de off-set, Conse-
lho Federal de Cultura, 1970).
De seu interesse por livros, há uma relação dos que adquiriu na “Li-
vraria do Teixeira”, conforme Nireu Cavalcanti5.
Segunda parte
Orientado por seus pais, um ginasiano aluno do Colégio Mendes de
Moraes, na Ilha do Governador, preparou o Índice Alfabético e Remissivo
do Ano Biográfico Brasileiro, de Joaquim Manuel de Macedo.
Com estímulo de José Gabriel da Costa Pinto, foi editado pelo Arqui-
vo Nacional, subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores,
em 1965, no tempo da Direção do Arquivo, de Pedro Moniz de Aragão.
217
III – DOCUMENTOS
DOCUMENTS
Resumo: Abstract:
O artigo tem como objetivo publicar um texto We publish in this paper a handwritten bio-
biográfico manuscrito sobre o médico-botânico graphical text about the botanist Joaquim Mon-
Joaquim Monteiro Caminhoá. O estudo foi lo- teiro Caminhoá. The study was located in the
calizado na Coleção Claudio Ganns, guardada Claudio Ganns Collection, housed in the Bra-
no instituto Histórico e Geográfico Brasileiro zilian Historical and Geographical Institute
(IHGB), não possuindo autoria. O documento se (IHGB), and it´s authorship is not indicated.
revela uma importante análise sobre a trajetória The document reveals an important analysis on
do cientista que atuou no Império do Brasil, que the career path of a scientist who worked in the
participou ativamente de diversas instituições e Empire of Brazil and was an active member of
sociedades científicas oitocentistas, bem como several institutions and scientific societies of the
publicou inúmeros artigos e livros no campo da eighteenth century, having also published nu-
medicina e da botânica. merous articles and books in the fields of medi-
cine and botany.
Palavras-chave: Joaquim Monteiro Caminhoá; Keywords: Joaquim Monteiro Caminhoá; Em-
Império do Brasil; século XIX; Medicina; Bo- pire of Brazil; 19th century; medicine; botany.
tânica.
I – Apresentação do Documento
Joaquim Monteiro Caminhoá foi um dos mais importantes homens
de ciência que atuou no Império do Brasil, tendo, inclusive, uma carreira
consolidada e reconhecida internacionalmente. Ele atuou em instituições
científicas, foi sócio de diversas sociedades científicas e publicou inú-
meros livros e artigos. O estudioso se dedicou a produzir conhecimento
5 – LACAZ, Carlos da Silva. Vultos da medicina brasileira. São Paulo: Laboratório Pfi-
zer do Brasil, 1971.
6 – GIFFONI, Orsini Carneiro. Dicionário Bio-bibliográfico brasileiro de escritos médi-
cos (1500-1899). São Paulo: Nobel, 1972.
10 – SANTOS, Wandir Vieira Leal. A Concepção de espécie na visão do botânico brasi-
leiro Joaquim Monteiro Caminhoá. Dissertação de Mestrado. São Paulo: PUC-SP, 2017.
12 – BOURDIEU, Pierre. A Ilusão Biográfica. In: FERREIRA, Maria de Moraes; AMA-
DO, Janaína. (Org.) Usos e Abusos da História Oral. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio
Vargas, 1996, p. 184.
II – Documento
Apontamentos biográficos sobre o Conselheiro Doutor Joaquim
Monteiro Caminhoá. S/l., S/d. (Coleção Cláudio Ganns) Loc.: Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) 24,4,14
Por esse motivo, foi Caminhoá procurado em sua casa pelo capitão
de fragata Araújo Amazonas, em nome do presidente de Alagoas (Dr. Sá
e Albuquerque), por causa das informações que recebera dele pelo presi-
dente da Bahia.
Em 1860, casou com sua prima Dona Delmira Monteiro, com a qual
teve 3 filhos: o mais velho, com mesmo nome que o pai, formou-se em
Medicina e faleceu há pouco, sendo lente substituto da Faculdade de Me-
dicina do Rio de Janeiro, e 2 filhas, ambas hoje casadas.
Essa obra foi criticada [sic] em grandes elogios dentro e fora do país.
Por tal modo, desobrigou-se ele das três comissões, que recebeu do
ministério da guerra, depois de lido o circunstanciado relatório acom-
panhado de numerosos desenhos, e de modelos de padiólas e de carros
fogões para acompanharem os exércitos em fogo, elogios.
237
IV – RESENHAS
REVIEW ESSAYS
NORMAS EDITORIAIS
• As contribuições deverão ser inéditas e de trabalhos originais do autor, não podendo ter sido publicadas
integralmente ou em parte, tanto impressa ou eletronicamente, ou já submetidas a outras revistas. Os
textos podem ser escritos em português, inglês, francês, espanhol ou italiano.
• Exceto os trabalhos dirigidos à seção Resenhas ou Balanços Bibliográficos, os autores deverão,
obrigatoriamente, apresentar títulos e resumos nos idiomas português e inglês, independentemente do
idioma do texto original, e caso este não esteja em português ou inglês, acrescentar resumo na língua
original, não podendo ultrapassar 250 (duzentos e cinquenta) palavras, seguidas das palavras-chave,
mínimo 3 (três) e máximo de 6 (seis), representativas do conteúdo do trabalho, também em português e
inglês, e no idioma original, quando for o caso.
• Documentos enviados para publicação devem estar transcritos e assinalados o códice ou indicação
arquivística equivalente de onde foram copiados, acompanhados de uma introdução explicativa.
• A Revista reserva-se a oportunidade de publicação de acordo com o seu cronograma ou interesse,
notificando ao autor a sua aprovação ou a negativa para a publicação. Não serão devolvidos originais.
EDITORIAL RULES
• Any submission must be the original work of the author that has not been published previously, as a
whole or in part, either in print or electronically, or is soon to be so published. It may be written in
Portuguese, English, French, Spanish or Italian.
• Except works addressed to the section on bibliography, authors must mandatorily present titles
and
abstracts in Portuguese and English, independently of the language of the original text. If it is not
in Portuguese or English, it will be necessary to add the abstract in the original language as well. The
abstract cannot have more than 250 (two hundred and fifty) words, followed by the minimum of 3 (three)
and the maximum 6 (six) keywords, in English and Portuguese.
• Documents sent to publication have to be transcribed and bring the archival indication from where they
were copied, accompanied by an introduction.
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approval or disapproval of the publication to the author. The original texts will not be returned.
TEXTS PRESENTATION
• Front page: all articles should come with an unnumered front page, which should state its title, the
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mention the complete address and e-mail of the author / authors, to whom any mail will be sent. The
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Roman size 12, and consecutive numbering of pages. The Microsoft Word text editor or a compatible
one should be used. If there are tables, graphs, images or any other pictures, they should be presented in
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the book in italics: subtitle. Edition. City: Publisher, year, p. nn-nn.
• Article: LAST NAME, First Name. Title of the article. Title of the jounal in italics. City: Publisher. Vol.,
n., p. x-y, year.
• Thesis: LAST NAME, First Name. Title of the thesis in italics: subtitle. Thesis (PhD in .....) Institution.
City, year, p. nn-nn.
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E-mail: revista@ihgb.org.br
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Informações básicas
Circulando regularmente desde 1839, a Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro é uma
das mais longevas publicações especializadas do mundo ocidental. Destina-se a divulgar a produção
do corpo social do Instituto, bem como contribuições de historiadores, geógrafos, antropólogos,
sociólogos, arquitetos, etnólogos, arqueólogos, museólogos e documentalistas de um modo geral.
Possui periodicidade quadrimestral, sendo o último número de cada ano reservado ao registro da vida
acadêmica do IHGB e demais atividades institucionais. A coleção completa da Revista encontra-se
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INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO A abreviatura de seu título é R. IHGB, que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé e em
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Estadual: Lei nº 1.068, de 14-9-1966 (Diário Oficial do Estado, parte I, de 20-9-1966) Fontes de indexação
Federal: Decreto nº 61.251, de 30 de agosto de 1967 • Historical Abstract: American, History and Life
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Fundado em 21-10-1838, em plena Regência, por 27 sócios da prestigiosa Sociedade • Classificação dos veículos utilizados pelos programas de pós-graduação para a divulgação da
Auxiliadora da Indústria Nacional, o IHGB originou-se de proposta anterior do marechal de produção intelectual de seus docentes e alunos/Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível
campo Cunha Matos e do cônego Januário da Cunha Barbosa. Pedro II logo o tomou sob seus Superior - QUALIS/Capes - conceito B1.
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estadistas e historiadores, como José Bonifácio, o marquês de Olinda, Varnhagen, Cotegipe, o
conde d´Eu, o visconde de Ouro Preto, Prudente de Morais, Rodrigues Alves, Epitácio Pessoa,
Manuel Barata, Wanderley Pinho, Hélio Viana e Jackson de Figueiredo, entre outros.
A Biblioteca, por compra, doações e permutas, ultrapassa de 500 mil volumes, de grande
interesse para os estudos brasileiros. Some basic information
A Mapoteca dispõe de cerca de 12 mil cartas geográficas, referentes, sobretudo, ao The Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro is published regularly since 1839. It is one
território brasileiro. of the oldest western world specialized publications. It aims at publishing the productions of the
O Museu, criado em 1851 para guardar a memória de varões ilustres em máscaras members of the Institute, as well as the contributions of historians, geographers, anthropologists,
mortuárias, retratos e lembranças pessoais, exibe hoje peças, como a espada de campanha de sociologists, architects, ethnologists, archaeologists, museologists and documentalists in general. It
Duque de Caxias (modelo dos espadins dos cadetes do nosso Exército) ou a cadeira em que is published every for four, but the last publication of each year is dedicated to the registry of the
Pedro II, durante 40 anos, presidiu a 508 sessões do Instituto. Institute's academic life and other institutional activities. The magazine's complete collection is
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A Pinacoteca é rica, abrangendo desde a imensa tela da Coroação de Pedro II, de autoria The abbreviation of its title is R. IHGB. It has to be used in bibliographies, footnotes and
do sócio Araújo Porto-Alegre, até a impressionante galeria de retratos (e bustos) de monarcas, bibliographic references and subtitles.
nobres e personalidades da Colônia à República.
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eleitos vitaliciamente. O corpo social promove conferências, congressos e cursos, anunciados • Ulrich's International Periodicals Directory
com antecedência, e realiza reuniões acadêmicas, de março a dezembro, todas as quartas- • Handbook of Latin American Studies (HLAS)
-feiras. As atas são publicadas pela Revista no último número do ano. • Brazilian Current Briefs
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ISSN 0101 - 4366
479
2019 R. IHGB, Rio de Janeiro, a. 180, n. 479, pp. 9-250, jan./abr. 2019.