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Este artigo visa estudar a representação gráfica realizada por um grupo de crian-
ças encaminhadas para atendimento psicopedag6gico, através do teste do dese-
nho da farnflia, comparando-se a constituição familiar real dos sujeitos e a farnflia
representada graficamente. Foram avaliadas 21 crianças, com faixa etária entre
oito e 11 anos, que cursavam ai! série do I!? grau e apresentavam como ponto
comum dificuldades de aprendizagem escolar. Os resultados encontrados mos-
traram ser esta uma técnica "Útil na caracterização do estado emocional de crian-
ças com dificuldades de aprendizagem, constituindo-se em um instrumento de
avaliação e dia~6stico da personalidade.
1. Introdução
2. Método
2.1 Sujeitos
Para o presente estudo, foram avaliadas 21 crianças (18 do sexo masculino e três
do sexo feminino), com faixa etária entre oito e 11 anos (idade média de nove
anos e quatro meses), cursando predominantemente a I!! série do 12 grau. As
crianças provinham de famílias poucos numerosas e predominantemente viviam
em companhia de um dos pais.
Essas crianças apresentavam como ponto comum dificuldades de aprendizagem
escolar, as quais motivaram seu encaminhamento ao Serviço de Psicopedagogia do
Hospital das Clfnicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universida-
de de São Paulo.
Com exceção de uma criança, todas apresentavam atraso com relação à escola-
ridade, sendo este definido como a defasagem entre a idade cronol6gica e a série
correspondente que a criança deveria estar cursando, tomando como base sete
anos para o ingresso na I!! série. Das 21 crianças, 15 apresentavam mais de uma
reprovação escolar.
Todas essas crianças foram consideradas alfabetizáveis, de acordo com a ava-
liação psicol6gica realizada pelas psic610gas do serviço, utilizando-se, principal-
mente, da avaliação do desempenho nos testes Columbia e Goodenough. Esta ava-
liação é realizada de rotina com o objetivo de caracterizar o nível de dificuldade
da criança e a necessidade de atendimento psicopedag6gico, sendo condição para
o atendimento que sejam consideradas alfabetizáveis.
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2.2 Material
Utilizou-se, para cada sujeito, o seguinte material: folhas de papel sulfite branco,
lápis preto e de cor, borracha, folha de anotação da aplicadora, cronômetro.
2.3 Procedimento
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criança que fizesse um desenho livre, dando-lhe folha de papel, lápis preto e colo-
rido, borracha. Tenninando o desenho, interrogava-se à criança sobre o que havia
desenhado, anotando suas impressões sobre o desenho.
Após esta atividade, era dada a seguinte instrução ao sujeito: "agora vou pedir
que faça outro desenho, usando somente este material (lápis preto, borracha e pa-
pel). Desenhe uma família. Faça como quiser e o melhor que puder". Logo após,
aplicava-se um questionário de investigação do desenho, perguntando: "Com
quem se parece esta famO.ia?" "Quem são?" "O que eles estão fazendo?" "Me
conte uma história sobre esta farnllia?" Frente à história contada pelo sujeito p0-
diam ser feitas perguntas para esclarecer melhor os relacionamentos, sentimentos e
necessidades. As perguntas mais freqüentes foram: "Como eles se sentiam?"; "O
que eles queriam?"; "O que estão fazendo?"; "O que vai acontecer depois?"; "O
que desejam?"
Ao fmal da avaliação, agradecia-se a colaboração da criança no trabalho e en-
cerrava-se a sessão. O tempo de realização das tarefas foi registrado (não havia
tempo limite), bem como a ordem em que foram executados os desenhos. As
sessões tiveram duração média de 30 minutos.
Após a fase de aplicação, foi realizada análise dos dados, com base nos indica-
dores emocionais sugeridos por Klepsch & Logie (1984), considerando-se: cor-
respondência do mimero de membros da farnflia de origem e farnflia representada,
mlmero de pessoas representadas, representação de si, localização do propósito;
figura de maior tamanho, figura representada em primeiro lugar.
Para fmalidade desse trabalho, não serão considerados os aspectos relativos ao
desenho livre e aos conteódos das histórias.
3. Resultados e discussão
Tabela 2
Distribuição da freqüência do grupo de crianças avaliadas com relação à correspondência do
número de membros da famflia de origem e o número de membros representados
~embrosrepresentados Sujeitos
Não-coincidência 18
Coincidência 3
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Tabela 3
Distribuição da freqüência do grupo de crianças avaliadas quanto ao número de pessoas
desenhadas comparada ao número de pessoas da farnflia de origem
Maior 10
Menor 8
Igual 3
To t ai 21
labela4
Distribuição do grupo de crianças avaliadas quanto à freqüência
da representação de si na atividade gráfica
Representação de si Sujeitos
Representação de si 15
Omissão 6
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No grupo avaliado, 15 se representaram no grupo farr,iliar, indicando, segundo
Connan, o sentimento de integração com a fanúlia, sentindo-se parte significativa
desta; seis omitiram-se na representação familiar, possivelmente indicando confli-
tos e sentimentos de não aceitação e integração, sentindo-se excluídos do grupo
familiar.
Tabela 5
Distribuição do grupo de crianças avaliadas quanto à correspondência gráfica da ordem de
nascimento e localização de si, comparando-se a família original e a representação gráfica
Mais novo 10 7
Mais velho 6 2
Único 4 7
Meio 1 5
To t aI 21 21
Das 21 crianças avaliadas, 10 são filhos mais novos, sendo que somente sete se
representaram como tal, seis são filhos mais velhos e somente dois se colocaram
como tal na representação. Quatro são filhos dnicos e sete se representaram como
filhos dnicos. Um é filho do meio e cinco se representaram como tal.
Ortega estuda este fator com relação ao n:enor personagem desenhado e ao per-
sonagem desenhado em primeiro lugar, analisando-o em função da rivalidade fra-
ternal, demonstrando a desvalorização dos primogênitos em comparação ao se-
gundo filho; assim como os segundos filhos, em comparação com os primogênitos
se autodesvalorizam. Nesse estudo não houve coincidência entre a posição da
criança e sua Uautocolocação" na família representada, pois grande parte das
crian~as mudaram sua posi~ão no mlcleo familiar.
Essa distribuição é sugestiva, no geral, de uma não correspondência da repre-
sentação à realidade de vida das crianças, denotando, possivelmente, a presença
de sentimentos proprios frente a esses relacionamentos. Vale destacar que quatro
crianças incluíram-se como filhos do meio, possivelmente caracterizando seu sen-
timento de indiferenciação no grupo familiar. Três crianças incluíram-se como
dnicos, possivelmente caracterizando seu desejo de exclusividade no grupo fami-
liar. Quatro crianças, primogênitos, excluíram-se deste papel, possivelmente tra-
duzindo sentimentos de rejeição ligados às responsabilidades e exigência dos pais
com relação ao primeiro filho.
Segundo Connan, a figura representada em primeiro lugar está diretamente re-
lacionada à valorização e significação dessa na vida do indivíduo. Nove crianças
representaram pessoas extra à sua fanúlia de origem, segerindo ligações afetivas
mais fortes exteriores ao ambiente familiar e dificuldades de contato com seus fa-
miliares, necessitando buscar fora os recursos e afetos de que precisam; 6 crianças
representaram a si em primeiro plano, sugerindo uma tendência narcisística e exal-
tação à imagem de si, possivelmente por dificuldades de valorizar preferencial-
mente as figuras paternas, talvez em função de frustrações afetivas com os pais;
seis crianças representaram o pai ou a mãe em primeiro plano, sugerindo boas re-
lações afetivas com os pais.
Outros 9
A si mesmo 6
Pai 3
Mãe 3
Total 21
Tabela 7
Distribuição da freqüência do grupo de crianças avaliadas com relação à figura de maior
tamanho na representação
Pai 6
Outros 5
Mãe 4
Figuras mesmo tamanho 4
Sujeitos 2
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Ortega conclui em seu estudo que a criança valoriza e identifica-se sexualmente
com a figura parenta! do mesmo sexo, analisando também que, no processo de so-
cialização da criança, as influências sociais e os padrões burgueses podem levar a
criança a valorizar as figuras parentais do mesmo sexo.
Nessa amostra percebe-se que a maioria das crianças não vive em companhia
dos dois pais, e provém de lares pouco estruturados, um fator que pode levá-las à
identificação com o adulto que não precisa ser, necessariamente, uma das figuras
pareniais.
4. Comentários e conclusões
Com base nos resultados encontrados, verificou-se a utilidade desta técnica en-
quanto instrumento tttil de avaliação da personalidade, apontando para áreas de
conflitos, permitindo uma compreensão mais ampla da criança que apresenta difi-
culdades escolares.
As crianças desta amostra tinham como queixa principal a escola, as demais di-
ficuldades eram pouco enfatizadas e explicadas de forma vaga e como parte do
processo ce questionamento colocado pela situação de entrevista. Os dados obti-
dos permitiram explicitar outras dificuldades das crianças, que vão além da difi-
culdade escolar, favorecendo, assim, uma integração maior na forma de atendi-:-
mento dessas crianças, não se limitando a técnicas psicopedag6gicas, mas enca-
rando essas dificuldades como parte de um contexto maior, que diz respeito à pr6-
pria situação de vida das crianças.
Assim, há de se ressahar a qualidade dessa técnica enquanto instrumento que
permitiu caracterizar o estado emocional das crianças, através do significado e
contettdo simb6lico na representação gráfica da família, mostrando-se tttil como
instrumento de avaliação e diagn6stico da personalidade.
As dificuldades emocionais relevadas no desenho da famfiia apontam o nível de
imaturidade emocional das crianças. Os dados sugerem ser esse grupo, apesar das
potencialidades afetivas, muito prejudicado a nível emocional, comprometendo a
adaptação da criança à escola e à vida.
A não-aquisição da leitura parece concretizar e explicitar outras dificuldades,
anteriores à fase de escolarização, que se evidenciam no momento em que novas
exigências e um novo papel são atribuídos à criança, faltando neste momento por
não conseguir responder ao que lhe é permitido.
A interferência de outros fatores na adaptação da criança à escola e na aqui-
sição da leitura não pode ser negada. Essa técnica, através de suas características
projeti vas, favoreceu elementos de compreensão ttteis para caracterizar as dificul-
dades emocionais a nível de interação e de maturidade afetiva que parecem inter-
ferir nesse processo.
A riqueza de elementos fornecidos pela técnica na caracterização da m~,turidade
afetiva, torna esse instrumento tttil na caracterização de crianças com problemas
de aprendizagem, favorecendo uma intervenção psicopedag6gica mais ampla que
considere, além das dificuldades escolares, os recursos emocionais e de maturida-
de apresentado pelas crianças para responderem às demandas colocadas pela esco-
la.
Abstract
The objective of the present investigation was to study the graphic representations
made by a group of children referred to us for psychopedagogic counselling using
Referências bibliográficas
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