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Artigo Bretton Woods

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O ACORDO DE BRETTON WOODS: DO PADRÃO OURO ATÉ SUA

DISSOLUÇÃO EM 1971

ROGÉRIO FERRAZ DAS CHAGAS


Estudante de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Acre
Artigo elaborado sob orientação do Dr. Carlos Estevão Ferreira Castelo

Resumo
O presente artigo aborda sobre o Acordo de Bretton Woods, suas características de criação, seus
objetivos, seus resultados e sua dissolução. Contextualiza o Padrão Ouro que precede o acordo
e o pós-acordo. A sua interferência na economia mundial entre guerras e suas consequências
após declinar. Reflete o marco histórico e a possibilidade de que novos acordos econômicos
existam. Artigo produzido através de leituras de periódicos, artigos e sites de internet.

Palavras-chave: Bretton Woods; Padrão Ouro; Keynes; White; Economia.

Abstract
This article deals with the Bretton Woods Agreement, its breeding characteristics, its
objectives, its results and its dissolution. It contextualizes the Gold Standard that precedes the
agreement and the post-agreement. Its interference in the world economy between wars and
their consequences after declining. It reflects the historical milestone and the possibility that
new economic agreements exist. Article produced through readings of periodicals, articles and
internet sites.

Keywords: Bretton Woods; Golden pattern; Keynes; White; Economy.

Destaca-se, inicialmente, que esta conferência foi uma tentativa clara de restabelecer
algumas condições preestabelecidas para viabilidade de um sistema monetário internacional.
Este acordo criou uma cláusula para garantir ajustes de preços relativos. Entretanto se exigisse
dos países participantes a declaração do valor da paridade de suas moedas, permitia-se
alterações de paridade por algum desequilíbrio monetário que algum país membro estivesse
passando. Os negociantes americanos e ingleses discordaram em alguns pontos e impediram
maior precisão dos critérios de recursos à clausula de escape dos países em desequilíbrio. Em
situações de desvalorização de moedas, os países deveriam obter, de início, a concordância do
Fundo Monetário Internacional – FMI. Se não houvesse, poderiam acessar aos recursos do
Fundo bloqueado. Objetivavam, com isso, garantir que os distúrbios indutores de variáveis
cambiais tivessem sido de origem externa e, não ocasionados pelas próprias autoridades. Em
exercício prático, dificilmente os países conseguiram autorização do FMI para desvalorizar suas
moedas. (EICHENGREEN, 1995)
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Baseada na Teoria Quantitativa da Moeda, tem-se a criação do Padrão Ouro, que teria
como objetivo o uso de moedas de ouro como reservas de valores dos países. Essa reserva de
metal precioso serie uma espécie de Lastro para a missão monetária. Fazia-se a necessidade
nesse então, portanto, de uma moeda forte conseguisse trazer confiança. Seria então uma moeda
de troca. O Padrão Ouro foi instaurado para que se evitasse o desequilíbrio nas reservas de
moeda dos países. Estrategicamente o Padrão Ouro visava uma equalização entre os países que
adotaram este padrão. Uma vantagem da qual o Padrão Ouro trazia aos países que o adotaram
era o limite automático estabelecido pelo padrão, fazendo com que os bancos não conseguissem
aumentar os níveis de preços nacionais através de políticas expansionistas. Krugman e Obstfeld
(2001) aponta contradições e pontos negativos ao Padrão Ouro, como:
 Restrições indesejáveis na política monetária para combater o desemprego;
 Vincular o valor da moeda ao ouro assegura um nível de preços geral estabilizado
somente se o preço relativo do ouro e outro bem ou serviço for estável;
 Criar um sistema internacional de pagamentos com base no ouro pode gerar
problemas, pois os bancos centrais não podem aumentar seus estoques de reservas
internacionais de acordo com que suas economias crescem;
 O padrão ouro poderia dar aos países com uma produção de ouro potencialmente
grande como a Rússia e a África do Sul, capacidade considerável de influenciar as
condições macroeconômicas no mundo através de vendas de ouro no mercado.

A conferência de Bretton Woods inicia-se logo que imediatamente após o sistema que
era vigente na época, que era o padrão ouro. A Segunda Guerra Mundial não havia acabado e
líderes de 44 países já estavam decidindo o futuro do planeta. Um dos objetivos era restabelecer
e reconstruir o capitalismo, com regras financeiras e comerciais, evitando crises como ocorreu
no ano de 1929. O FMI e o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento –
BIRD, foram frutos desta conferência. Embora as homologações dos dois órgãos citados
tivessem sido feitas no ano de 1944, apenas dois anos depois foram oficialmente postos em
funcionamento e em operação. Na conferência, mais de 700 delegados discutiram os graves
problemas provocados pela eclosão do conflito em escala global e suas soluções. Um dos
objetivos da conferência era evitar a repetição de crises geradas pelas fortes flutuações cambiais
no período entre guerras. (GLOBO, 2014)
As instituições criadas na conferência de Bretton Woods nasceram com poderes de
regulação inferiores aos desejados inicialmente por John Maynard Keynes e Dexter White, que
representavam a Inglaterra e os Estados Unidos, respectivamente, nas negociações do acordo.
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White pertenceu à chamada ala esquerda dos New Dealers e foi por isso, depois da guerra,
investigado durante o Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso. Seu plano inicial
previa a constituição de um verdadeiro Banco Internacional e de um Fundo de Estabilização.
Juntos o Banco e o Fundo deteriam uma capacidade ampliada de provimento de liquidez ao
comércio entre os países aliados e seriam mais flexíveis na determinação das condições de
ajustamento dos déficits do balanço de pagamentos. Já Keynes propôs a “União de
compensação”, uma espécie de Banco Central dos bancos centrais. Emitira uma moeda
bancária, o bancor, ao qual estariam referias as moedas nacionais. Os déficits e superávits dos
países corresponderiam a redução e aumentos das contas dos bancos centrais. Entretanto, uma
característica do plano de Keynes era a distribuição mais equitativa do ônus do ajustamento dos
desequilíbrios dos balanços de pagamento dentre deficitários e superavitários. De forma clara,
seria facilitar o crédito para os países deficitários e penalizar os superavitários. A proposta de
Keynes era evitar os ajustamentos deflacionários e manter as economias nacionais na trajetória
do pleno emprego. (BELLUZZO, 1995)
A ideia de organizar formalmente o sistema de pagamentos internacionais nasceu
justamente da insatisfação com as duas formas espontâneas predominantes até a segunda guerra
mundial, o padrão ouro internacional e o sistema de câmbio livre, sob o ponto de vista de
sustentação da atividade econômica. A oposição mais acirrada à restauração do padrão ouro
pós-guerra vinha da Inglaterra. Keynes foi praticamente toda a sua vida um crítico mais radical
do Padrão Ouro, precisamente pelos custos que este impunha, em termos de produto e emprego.
Para o Padrão Ouro, a disponibilidade de moeda dependia de um fator exógeno, independente
da operação dessas economias, que é a disponibilidade de ouro. Se o ouro fosse escasso, poderia
não haver moeda suficiente para que a economia realizasse suas transações normais. Uma forma
de combater a falta de liquidez era a elevação da taxa de juros, de modo a atrair ouro de outros
países. Este mecanismo, no entanto, não apenas era prejudicial à comunidade internacional,
como ao próprio país interessado, já que a elevação dos juros domésticos prejudicava
investimentos e consumidores. (CARVALHO, 2004)
Os Estados Unidos não foram capazes de sustentar a posição do dólar como moeda-
padrão, na medida em que uma oferta excessiva de dólar brotava do desequilíbrio crescente do
balanço de pagamentos, agora sob a pressão de um déficit comercial. O Acordo de Bretton
Woods refletia a hegemonia dos Estados Unidos no pós-guerra. O dólar foi vinculado à
mercadoria que historicamente tem representado o dinheiro universal, antes como o Ouro. As
demais moedas deveriam se alinhar ao dólar, tornando-se convertíveis a taxas de câmbio
relativamente fixas. De 1944 até início dos anos 50, a escassez de dólares manifestava-se em
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superávits nas contas correntes norte americanas e na demanda internacional de dólares para a
constituição de reservas. A situação pós-guerra sequer comportava a livre convertibilidade das
moedas dos principais países industrializados. A convertibilidade das moedas foi alcançada
somente em 1958, mas, a partir de 1960, o dólar já deixava de ser de fato convertível em ouro.
A crise do dólar, resultado do fluxo de capitais dos Estados Unidos para o resto do mundo,
agravou-se demais em 1971 com a inconvertbilidade declarada do dólar e os déficits em contas
correntes e na balança comercial norte americana.
O desdobramento mais significativo da crise do dólar foi, certamente, o
desenvolvimento do mercado europeu de moedas. Na década de 70, o sistema
financeiro foi afetado pela excessiva expansão da liquidez internacional, taxas reais
de juros negativas, inflação, desvalorização do dólar e dois choques de petróleo.
(KILSZTAJN, 1989)

A crise do sistema de regulação de Bretton Woods permitiu e estimulou o surgimento


de operações de empréstimos que escapavam ao controle dos bancos centrais. A fonte inicial
dessas operações foram os dólares que excediam a demanda dos agentes econômicos e das
autoridades monetárias estrangeiras. O primeiro choque do petróleo e a famosa reciclagem
privada dos petrodólares ampliaram as bases da oferta de crédito internacional e empurraram o
sistema para a zona de risco crescente. (BELLUZZO, 1995)
Os Estados Unidos em uma decisão unilateral romperam com o Acordo de Bretton
Woods em 15 de agosto de 1971, acabando com a conversibilidade do dólar em ouro, o que,
consequentemente, levou o sistema de Bretton Woods ao colapso e tornou o dólar uma moeda
fiduciária. Muitos veem o Acordo de Bretton Woods como apenas mais um capítulo da
consolidação do império norte americano, uma iniciativa de dotar os Estados Unidos de
instrumentos de dominação econômica mais adequados aos tempos de declínio dos velhos
impérios europeus. Em aspectos políticos, há os que acreditam que a conferencia foi uma
iniciativa movida apenas por propósitos superiores dos países aliados que buscavam,
coletivamente, organizar as relações econômicas internacionais de modo a permitir a busca
mais eficaz da prosperidade mundial. Não se pode esquecer que as propostas levadas a Bretton
Woods refletiam não apenas intenções elevadas, mas também interesses nacionais específicos.
Para Kilsztajn (1989), “O Acordo de Bretton Woods de fato nunca foi efetivo. Nem antes nem
depois de 1971”. Bretton Woods só teria sido seguido à risca se o sistema trabalhasse com
déficits na balança de pagamentos norte-americana exatamente iguais à demanda de dólares
para alimentar a liquidez internacional.
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O Acordo de Bretton Woods foi um marco na história econômica até então e deste são
tirados vários ensinamentos e procedimentos para a condução da economia mundial.
Certamente haverá outros acordos dos quais visarão mudar a economia para melhor, embora
críticos sempre acusarão de estes acordos sejam em benefício próprio dos países idealizadores.
Todo acordo é idealizado e reflete a articulação da economia internacional em períodos
historicamente determinados. E a instabilidade é inerente à dinâmica capitalista.

Referências Bibliográficas

BELLUZZO, Luiz Gonzaga de Mello. O declínio de Bretton Woods e a emergência dos


mercados “globalizados”. Economia e Sociedade, vol. 4, n. 1, jun. 1995. 1995.

CARVALHO, Fernando J. Cardim. Bretton Woods aos 60 anos. 2004. Disponível em:
<https://pt.scribd.com/document/339003008/CARVALHO-Fernando-Cardim-Bretton-
Woods-Aos-60-Anos-2004>. Acesso em 12 mar 2018.
EICHENGREEN, Barry. História e reforma do sistema monetário Internacional. Economia
e Sociedade, vol. 4, n. 1, jun. 1995. 1995.

KILSZTAJN, Samuel. O Acordo de Bretton Woods e a evidência Histórica. O Sistema


financeiro internacional pós-guerra. Revista de Economia Política, vol. 9, n. 4, outubro-
dezembro, 1989. 1989.
KRUGMAN, P. R. & OBSTFELD, M. Economia internacional: teoria e política. São Paulo:
Makron Books, 2001.
O GLOBO. Conferência de Bretton Woods decidiu rumos do pós-guerra e criou o FMI.
2014. Disponível em: <http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/conferencia-de-
bretton-woods-decidiu-rumos-do-pos-guerra-criou-fmi-13310362>. Acesso em 12 mar 2018.

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