Livro As Pessoas Na Organização - Maria T L Fleury PDF
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ORGANIZAÇÃO
Ana Cristina Limongi-França André Luiz Fischer
Arnaldo Jose França Mazzei Nogueira
Eliete Bernal Areilano
Germano Glufke Reis
Gilberto Shinyashiki
Jáder dos Reis Sampaio
Joel Souza Dutra
José Antonio Monteiro Hipólito
Lindolfo Galvo de Albuquerque
Maria Tereza Leme Fleury (org.)
Mansa Eboli
Moacir de Miranda Oliveira Junior
Rosa Maria Fischer
Tânia Casado
Copyright © Editora Gente
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro. SP, Brasil)
As pessoas na organização. São Paulo : Editora Gente, 2002.
Vários autores.
Índices para catálogo sistemático:
1. Gestão de pessoas: Administração de empresas 658.3
2. Pessoas: Gestão: Administração de empresas 658.3
Todos os direitos desta
edição são reservados à Editora Gente.
Rua Pedro Soares de Almeida, 114, São Paulo - SP CEP 05029-030 - Telefax: (11) 3670-2500
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E-mau: genteeditoragente.com.br
1. Introdução
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Neste capítulo define-se o que é um modelo de gestão de pessoas e quais são os fatores
que determinam sua configuração específica em uma organização ou um setor de
atividade. Tendo-se por referência as perspectivas mais influentes da teoria
organizacional, classificam-se as grandes correntes de gestão de pessoas em quatro
categorias, que correspondem a períodos históricos e conceitos articuladores específicos.
São elas: modelo de gestão de pessoas articulado como departamento pessoal, como
gestão do comportamento, como gestão estratégica e, finalmente, como vantagem
competitiva. As principais características de cada uma dessas escolas são analisadas a
seguir.
Entende-se por modelo de gestão de pessoas a maneira pela qual uma empresa se
organiza para gerenciar e orientar o comportamento humano no trabalho. Para isso, a
empresa se estrutura definindo princípios, estratégias, políticas e práticas ou processos
de gestão. Através desses mecanismos, implementa diretrizes e orienta os estilos de
atuação dos gestores em sua relação com aqueles que nela trabalham.
Parece evidente que todo e qualquer negócio é dependente de formas particulares de
comportamento, sendo quase impossível dissociar determinadas marcas e produtos da
expectativa de desempenho formada por seus clientes. Episódios de conhecimento
público, que marcam a história das organizações, demonstram como determinadas
marcas podem sofrer consequências desastrosas quando a ação humana interfere
negativamente nos produtos e serviços prestados aos clientes. Tome-se o exemplo da
Firestone e os pneus que provocaram uma sucessão de acidentes com vítimas entre
proprietários de veículos Ford nos Estados Unidos ou o da Coca-Cola, cujos refrigerantes
contaminados foram distribuídos na Bélgica e em parte da Europa, o que fez desabar o
valor das ações da empresa durante vários meses em todo o mundo, ou os acidentes
ecológicos que abalaram a Shell nos anos 1980. São situações-limite, carregadas de
certa dose de imponderável, que não podem ser creditadas exclusivamente a falhas
humanas, mas que, por sua dramaticidade, ilustram bem como o comportamento das
pessoas no trabalho pode interferir na preservação e na agregação de valor das
empresas.
Alguns poderiam acreditar que, no mundo da informação, da eletrônica, da intangibilidade,
do fast food e da competitividade exacerbada, o comportamento humano perderia espaço
e relevância. Mas o que se vê, ao contrário disso, é que os negócios mais próximos desse
mundo são aqueles que se tomam mais dependentes do comportamento humano. Não é
objetivo deste capítulo analisar a chamada economia virtual e seus impactos em RH, mas
vale dizer que, quanto mais a empresa se concentra no chamado ativo intangível (marcas,
performance, inovação tecnológica e de produto, atendimento diferenciado etc.), mais
forte se torna a dependência dos negócios ao desempenho humano. A máxima high tech,
high touch parece vir a confirmar-se.
Do lado do mercado, parece razoável supor que a concorrência mais ampla é também
fortemente valorizadora do comportamento humano. Quanto maiores
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seres humanos diferentes dos outros. É assim que engenheiros são mais valorizados que
profissionais de escritório em empresas metalúrgicas e de mineração — como
demonstrou Fleury (1986) em seu estudo sobre a cultura organizacional de uma das
maiores empresas brasileiras desse setor de atividade. Especialistas em marketing são
mais considerados que funcionários de produção em empresas de bens de consumo não-
duráveis. Financeiros são verdadeiras referências de comportamento nos grandes
bancos. É notório que as práticas de recursos humanos ao mesmo tempo refletem,
reproduzem e legitimam tais características culturais das organizações (Eboli, 1990; Fleur
1986).
A rigor, tudo aquilo que interfere de alguma maneira nas relações organizacionais pode
ser considerado um componente do modelo de gestão de pessoas. O comportamento
organizacional não é produto direto de um processo de gestão, mas o resultado das
relações pessoais, interpessoais e sociais que ocorrem na empresa. Gestão de pessoas
significa orientação e direcionamento desse agregado de interações humanas.
Nesse sentido, a definição de uma estratégia, a implementação de uma diretriz com
impactos no comportamento dos empregados, a fusão ou transferência de uma unidade
organizacional ou a busca de nova postura de atendimento ao cliente são intervenções de
gestão de pessoas. A concordância com tal perspectiva implica o reconhecimento de que
os limites entre o que é especialidade de recursos humanos e o que está na área de
atuação dos planejadores estratégicos ou dos gestores de produção ou de marketing são
muito tênues e de difícil determinação.
De qualquer forma, ainda que seja para fins didáticos e de delimitação de campos
teóricos de pesquisa, é importante circunscrever os elementos componentes do
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modelo de gestão de pessoas. Eles estão presentes em praticamente todas as
organizações, mas não são identificados de imediato porque se manifestam de diferentes
maneiras: mais ou menos formalizados, consolidados em uma estrutura organizacional
própria ou ainda dispersos e pouco tangíveis, o que depende, fundamentalmente, da
maior ou menor consciência que a própria empresa tem da importância de agir
organizadamente sobre o comportamento humano aplicado ao trabalho.
Embora a gestão de pessoas abranja, acima de tudo, determinado padrão de atitudes e
posturas observáveis pelo analista externo que caracterizam o convívio humano na
organização, é possível decompô-la em elementos menos abstratos. Os componentes
formais de um modelo de gestão de pessoas se definem por princípios, políticas e
processos que interferem nas relações humanas no interior das organizações.
Por princípios entendem-se as orientações de valor e as crenças básicas que determinam
o modelo e são adotadas pela empresa. Especial destaque deve ser dado para as já
referidas anteriormente como fundamentais na definição da cultura de uma organização: o
significado do homem e do trabalho. Observe-se o exemplo de uma das maiores
organizações bancárias brasileiras. O Unibanco, ao definir sua estratégia de negócio no
início da década de 1990, optou pela seguinte formulação: “É nossa diretriz estratégica
atender de forma equilibrada aos interesses de clientes, acionistas e funcionários”. Com
isso a empresa quer tornar público que defende uma cultura na qual esses três agentes
organizacionais têm igual valor. Trata-se sem dúvida de uma definição de princípios de
gestão de pessoas que orientará as características estruturais do modelo de gestão
adotado. Outro exemplo conhecido é o da Disney. Ao definir como valores honestidade,
integridade, respeito, determinação e diversidade, a conhecida corporação americana
estabelece parâmetros de relacionamento entre as pessoas e das pessoas com a
organização. O modelo de gestão deverá não só segui-los e respeitá-los como também
reforçar esses valores na cultura da organização.
As políticas, por sua vez, estabelecem diretrizes de atuação que buscam objetivos de
médio e de longo prazo para as relações organizacionais. Em geral, são orientadoras e
integradoras dos processos especificamente voltados para a gestão de pessoas. A Xerox
do Brasil, por exemplo, definia: “A Xerox deve ser capaz de atrair e reter profissionais
qualificados para diversas funções do negócio. Para isso, o mercado (outras empresas) é
acompanhado continuamente, visando alinhar nossa estrutura de salários e conjunto de
benefícios às empresas mais modernas do mercado”. Nesse caso, mais uma vez se
estabelecem publicamente parâmetros que orientam as práticas de gestão, elementos
balizadores das práticas de gestão de salários que deveriam ser conhecidos e válidos
para toda a corporação.
Os processos são os elementos mais visíveis do modelo, e boa parte da literatura sobre
recursos humanos tem-se dedicado exclusivamente a eles. Processos são cursos de
ação previamente determinados, não podem ultrapassar os limites dos princípios de
gestão e visam alcançar os objetivos traçados, orientados por políticas específicas. São
instrumentalizados por uma ou mais ferramentas de gestão que pressupõem
procedimentos específicos.
Caracterizam-se como processos de gestão os planos de cargos e salários, de
capacitação e de sucessão, a administração de carreiras e as avaliações de desempe-
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nho, de performance e de pessoal. Pesquisas salariais, de clima organizacional e
diagnósticos de cultura são exemplos de processos e ferramentas componentes do
modelo. O importante, quando se fala em processos, é que somente ganham sentido
efetivo num contexto dado, ou seja, o processo depende de um princípio ou crença que
lhe dê conteúdo e direção e de sua capacidade de interferir nas relações organizacionais.
Somente assim um processo poderá cumprir seu papel de orientar ou estimular o
comportamento humano na empresa.
Integra ainda o modelo de gestão de uma organização o estilo de gestão dos gerentes
diretos das equipes de trabalho, ou seja, a maneira pela qual o gestor atua ao estabelecer
limites ou estimular determinados padrões de comportamento. Pela orientação dos
processos de capacitação gerencial ou mesmo da simples divulgação dos perfis de
comportamento desejados a empresa procura intervir no estilo gerencial praticado por
suas chefias dando coerência ao modelo. Assim, a P.hodia, um dos mais importantes
exemplos de processo de mudança organizacional da década de 1980, para consolidar o
novo perfil funcional desejado, começava por definir o estilo gerencial perseguido pela
empresa. Os gerentes da Rhodia deveriam adotar os seguintes princípios:
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à própria organização, sendo razoável supor que, para diferentes contextos históricos ou
setoriais, encontram-se diferentes modalidades de gestão. O que diferencia um modelo
de outro são as características de seus elementos, que, como se estudará a seguir, se
articulam em torno de alguns conceitos-chave, que por sua vez determinam a forma de
operação.
Buscando explicitar e entender esses conceitos articuladores, classificam-se as grandes
correntes sobre gestão de pessoas em quatro categorias principais, que correspondem a
períodos históricos distintos, como já foi mencionado anteriormente. São elas: modelo de
gestão de pessoas articulado como departamento pessoal, como gestão do
comportamento, como gestão estratégica e, finalmente, como vantagem competitiva.
Analisam-se a seguir as principais características de cada uma dessas vertentes.
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nistrados tão racionalmente quanto os custos dos outros fatores de produção”. A raiz do
que viria a ser chamado posteriormente de administração de recursos humanos e que
neste capítulo se denomina modelo de gestão de pessoas estaria na necessidade da
grande corporação de gerenciar os funcionários como custos, o elemento diferenciador de
competitividade da época. Isso levou a NCR a investir em uma área especificamente
voltada para tal finalidade. Tal constatação reforça a premissa de que os recursos
humanos são resultado de um conjunto de necessidades empresariais delimitadas pelas
características sociais e culturais da época — uma função organizacional que surge como
conseqüencia, e não causa, dos processos de mudança que ocorriam na empresa e fora
dela. No caso da grande empresa americana do início do século XX, o modelo de gestão
deveria preocupar-se com as transações, os procedimentos e os processos que fizessem
o homem trabalhar da maneira mais efetiva possível: produtividade, recompensa e
eficiência de custos com o trabalho eram os conceitos articuladores do modelo de gestão
de pessoas do tipo departamento pessoal.
O fato de que condições sociais, econômicas e organizacionais são determinantes das
práticas de gestão de recursos humanos não constitui novidade. Tal conceito é observado
ou é um pressuposto intrínseco para praticamente todos os autores da área (Cave, 1994).
O que surpreende é a freqüência com que, mesmo assim, alguns analistas generalizam
suas recomendações de ótimos modelos, que deveriam ser praticados pelas
organizações sem levar em consideração os ambientes específicos em que estão
inseridas. A produção teórica nacional e internacional apresenta-se recheada de
prescrições genéricas, que buscam antever aquilo que todas as organizações precisariam
fazer com seus recursos humanos para se tornar eficazes, estratégicas ou competitivas‟.
Em contrapartida, essa produção é absolutamente pobre em estudos específicos que
reconheçam por meio da pesquisa aquilo que efetivamente as organizações adotam na
gestão de suas relações com os empregados.
A busca permanente de um padrão ótimo gera outra marca característica da gestão de
recursos humanos: conviverá permanentemente com a tensão entre o modelo idealizado
— concebido pelos teóricos como adequado — e o modelo praticado — efetivamente
implementado pelas organizações.
O divórcio entre teoria e prática começa a ser percebido com o advento das escolas
marcadas pela influência da psicologia humanista. A ideologia organizacional dominante
no início do século XX, a administração científica, era bastante compatível com um
departamento pessoal voltado para a eficiência de custos e para a busca de
trabalhadores adequados às tarefas cientificamente ordenadas. Mas, a julgar pela obra de
Springer, já a partir dos anos 1920 esse descompasso começa a aparecer. Em sua
reconstituição histórica, a autora afirma que, nesse período, os pressupostos taylonstas
continuam sendo adotados por praticamente todas as empresas, enquanto a teoria
avança em outra direção. Elton Mayo e seus seguido-
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Nas décadas de 1970 e 80, um novo critério de efetividade foi introduzido na modelagem
dos sistemas de gestão de recursos humanos: seu caráter estratégico. A
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implementação prática no país. Dentre outras conclusões, o autor destaca que, “muito
embora os resultados da pesquisa não evidenciem uma ligação forte entre planejamento
estratégico de recursos humanos e planejamento estratégico, já se configura uma
tendência de aceitação do planejamento estratégico de recursos humanos por parte da
alta administração das empresas da amostra” (Albuquerque, 1987).
Com referência à participação de recursos humanos nas estratégias de negócio,
Albuquerque constata que o executivo de recursos humanos, na época da pesquisa, era
“envolvido, de uma forma ou de outra, na formulacão das estratégias organizacionais na
maioria das empresas pesquisadas” (Albuquerque, 1987).
Fischer (1998) demonstrou que os formadores de opinião do setor percebem que as
grandes organizações brasileiras enfrentam grandes dificuldades para adotar uma
perspectiva estratégica de gestão de pessoas, embora a pesquisa também tenha
constatado que praticamente todas se orientavam por esse ideal.
De qualquer maneira, essa linha de pensamento trouxe novo conceito articulador do
modelo de gestão: a busca de orientação estratégica para as políticas e práticas de RH.
Seria preciso, a partir de então, intensificar os esforços de adaptação do modelo às
necessidades da empresa, tornando-se insuficientes as soluções padronizadas capazes
de atender a qualquer organização em qualquer tempo. As verdades sobre a gestão do
comportamento humano deixaram de ser gerais para se tornar um problema do negócio e
de sua estratégia. O modelo tornava-se assim cada vez menos prescritível e genérico
para ocupar a função de elemento de diferenciação.
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Famosa por ser considerada a principal responsável pelas conseqüências perversas das
reestruturações empresariais nas décadas de 1980 e 90, a reengenharia, de Hammer e
Champy (1994), propõe a mudança radical de todos os princípios que orientaram a
administração de empresas nos últimos dois séculos. Os autores são enfáticos e radicais
ao demonstrar-se absolutamente convencidos de que dominam a única solução
verdadeira para as grandes questões organizacionais da época. Essa postura, retratada
no caráter quase doutrinário do texto, talvez justifique o estigma incorporado ao conceito:
“Neste livro, dizemos que chegou a hora de aposentar esses princípios e de adotar um
novo conjunto. A alternativa é as empresas fecharem as portas e encerrarem as
atividades”. Em outra passagem, os autores afirmam categoricamente a supremacia de
suas descobertas comparando-as às de Adam Smith:
Demonstramos como as atuais empresas podem se reinventar a si próprias. Chamamos
as técnicas que podem se valer para isso de reengenharia empresarial, as quais estão
para a próxima revolução dos negócios como a especialização do trabalho esteve para a
última. As grandes empresas, inclusive as mais bem-sucedidas e promissoras, precisam
abraçar e aplicar os princípios da reengenhana empresarial ou serão eclipsadas pelo
maior sucesso daquelas que o fizerem (Hammer e Champy, 1994).
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Para tais autores, a história da teoria organizacional começou com sua obra. O passado é
desconsiderado, assim como a história das empresas, que em nada deve pesar em seu
presente e futuro. Antes de tudo é preciso esquecê-lo: “A reengenharia não é mais uma
idéia importada do Japão. Não é outra solução rápida que os gerentes possam aplicar às
suas organizações. […] A reengenhana empresarial não trata de consertar nada. […] A
reengenharia empresarial significa começar de novo, começar do zero” (Hammer e
Champy, 1994).
Utilizando exemplos concretos de mudanças provocadas por iniciativas empresariais em
determinados setores — “A Wal-Mart reinventou o comércio varejista” — os autores
demonstram que alternativas convencionais não são suficientes para fazer frente às três
forças que pressionam as organizações na atualidade: o acirramento inusitado da
concorrência, o controle da relação com a empresa assumido pelo cliente e a mudança
transformada em paradigma básico da gestão empresarial.
A reengenharia tornou-se uma das estratégias organizacionais de competitividade mais
divulgadas e polêmicas dos anos 1990. Foi largamente difundida e implementada, no
exterior e no Brasil, seguindo-se ou não os preceitos de Hammer e Champy. Ao contrário
das demais propostas, a reengenharia não utiliza os conceitos de estratégia, vantagem
competitiva e competitividade. Tais conceitos estão implícitos, e o foco de atenção dessa
linha teórica fica circunscrito à reformulação dos processos empresariais, o que, por
vezes, parece confundir suas propostas com as antigas práticas de organização e
métodos, com uma roupagem radicalizada e adaptada aos novos tempos.
A questão da gestão de recursos humanos, como seria de prever, aparece pouco ou
quase nada na perspectiva de Hammer e Champy. Quando isso acontece, o objetivo é
racionalizar e diminuir o custo fixo com mão-de-obra, como se observa no exemplo da
Ford transcrito a seguir: “O novo processo de contas a pagar da Ford é bem diferente. O
pedido de compra, fatura e o documento de recebimento não são mais cotejados entre si
basicamente porque o novo processo eliminou inteiramente a fatura. Os resultados
revelaram-se drásticos. Em vez de quinhentos funcionários, a Ford conta agora com
apenas 125 para o pagamento de fornecedores”.
A reengenharia de processos provoca impactos fundamentais na gestão de recursos
humanos, e sua introdução nas organizações sem dúvida significou um dos motivadores
principais da emergência do modelo de gestão competitivo. Com base na leitura da
principal obra dos autores que lançaram essa proposta, relaciona-se a seguir uma síntese
das mudanças decorrentes da prática da reengenharia diretamente ligadas a recursos
humanos:
>as unidades de trabalho mudam de departamentos funcionais para equipes de processo;
> os serviços mudam de tarefas simples para trabalhos multidimensionais;
> os papéis das pessoas mudam de controlados para autorizados;
> a preparação para os serviços muda de treinamento para educação;
>o enfoque das medidas de desempenho e remuneração se altera da atividade para os
resultados;
>os critérios das promoções mudam do desempenho para a habilidade;
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tes desejarão nos próximos dez anos e sem nunca ter de redefinir fundamentalmente o
“mercado servido”. Contudo, sem essa reavaliação fundamental, a empresa será
surpreendida a caminho do futuro. A defesa da posição atual de liderança não substitui a
criação da futura liderança (Prahalad e Hamel, 1995).
Citando uma pesquisa de The Wall Street Journal, os autores afirmam que o processo de
reestruturação não garante necessariamente maior valor à empresa, podendo ocorrer até
mesmo o contrário:
A reestruturação raramente resulta em melhoria fundamental da empresa. Na melhor das
hipóteses, consome tempo. Um estudo realizado com 16 grandes empresas norte-
americanas com pelo menos três anos de experiência em reestruturação revelou que,
embora a reestruturação normalmente tenha melhorado o preço das ações da empresa, a
melhoria foi quase sempre temporária. Após três anos da reestruturação, esse preço era,
em média, bem inferior às taxas de crescimento anteriores, registradas na época em que
foi iniciada a reestruturação. O estudo concluiu que um investidor astuto deve interpretar
um anúncio de reestruturação como um sinal para venda, e não para compra (Prahalad e
Hamel, 1995).
A abordagem de Prahalad e Hamel difere da de Porter em alguns aspectos que merecem
ser ressaltados. O primeiro deles refere-se ao foco da transformação organizacional,
dirigido predominantemente para fora. Isso deve acontecer não só do ponto de vista da
busca de informações sobre o ambiente, como o planejamento estratégico tradicional
recomenda e Porter reafirma, mas também como objetivo orientador do próprio processo
de mudança que se quer implementar. Isso significa que, quando advogam a reinvenção
do setor, Prahalad e Hamel afirmam que a competitividade empresarial está condicionada
à possibilidade de a empresa transformar não só a si própria mas também seu setor,
estabelecendo, com isso, uma referência nova para todos os que nele atuam:
concorrentes, fornecedores, clientes etc. É interessante observar como essa posição
reitera o caráter sistêmico dos diferentes níveis de manifestação da competitividade,
demonstrando que os vínculos de dependência entre os diferentes níveis se estreitam no
mundo moderno. A passagem a seguir ilustra essa afirmação:
Muitos gerentes encarregados da tarefa de gerenciar a transformação organizacional se
esquecem de perguntar: “Transformar-nos em quê?” O ponto é que a agenda da
transformação organizacional precisa ser direcionada por uma visão da agenda de
transformação do setor: como desejamos moldar o setor nos próximos cinco ou dez
anos? O que precisamos fazer para garantir que o setor evolua da forma mais vantajosa
para nós? Que habilidades e recursos precisamos começar a desenvolver agora para
ocupar uma posição de liderança no setor no futuro? (Prahalad e Hamel, 1995.)
Para Prahalad e Hamel, a diferença entre empresas competitivas e não competitivas é a
diferença entre empresas líderes e empresas seguidoras dentro do mesmo setor. As
primeiras, ao se reinventar, reestruturam o setor, enquanto as segundas beneficiam-se
das descobertas das líderes e da velocidade com que hoje é possível copiar e
implementar as melhores soluções.
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A principal tarefa do modelo competitivo de gestão de pessoas seria mobilizar essa
energia emocional, ou seja, desenvolver e estimular as competências humanas
necessárias para que as competências organizacionais da empresa se viabilizem. É
assim que, no final dos anos 1980 e início dos 90, a gestão de recursos humanos deixaria
de ser estratégica devido a uma condição genérica, como o fato de as pessoas serem o
principal ativo da organização ou porque pessoas motivadas seriam, por definição, mais
produtivas e engajadas ou ainda por estar alinhada a uma estratégia global. Pessoas
passam a ser estratégicas somente nas situações em que o ser humano “é visto e tratado
como uma fonte de vantagem competitiva” (Kochan e Dyer, 1992).
Essa tendência já podia ser identificada em 1986, quando Hendry e Pettigrew (apud
Brewster e Hegewisch, 1994) demonstravam que a perspectiva estratégica da gestão de
pessoas não podia resumir-se a uma ênfase maior das ações planejadas, integradas e
coerentemente alinhadas à estratégia de negócios da empresa. Reinterpretando o
conceito e introduzindo nele a noção de competitividade, os autores afirmam que é
preciso ir além e fazer com que “as pessoas sejam vistas pela organização como um
recurso estratégico”, ou seja, competências necessárias para atingir um posicionamento
diferenciado.
Reconhecido como um dos principais autores da área, Lawler apresenta alguns indícios
importantes quando demonstra que são quatro as exigências que pesam sobre a função
nas empresas pressionadas pelos tempos de globalização: devem ser estratégicas,
competitivas, focadas nos processos de mudança organizacional e responsáveis pelo
envolvimento do funcionário com elas, seus negócios, processos e produtos.
Os aspectos destacados por Lawler de certa forma sintetizam o que o modelo competitivo
de gestão de pessoas agregou das escolas anteriores. Continua tendo como núcleo de
atuação o comportamento humano, como queria a escola de relações humanas; deve
alinhar esse comportamento às estratégias da organização, sem o que sua ação seria
absolutamente desarticulada e improdutiva; terá de lidar com um ambiente de permanente
transformação, característico destes tempos de turbulência e mudança; e sobretudo terá
de demonstrar sua capacidade de gerar, por meio das pessoas, maior competitividade
para a empresa. Esse será o elemento básico de orientação do modelo competitivo de
gestão de pessoas. Ele é qualificado como competitivo por dois motivos principais: porque
deve ser condizente com o ambiente de competitividade que caracteriza as organizações
contemporâneas e porque privilegia e se articula em torno de competências.
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cias que passam a ser seguidas por aquelas que se espelham no que ocorre com o
chamado mercado. Consultores indicam novos caminhos e profissionais se reciclam por
meio das mais variadas formas de aprendizagem, e assim se institui o novo conceito de
realidade organizacional.
A reduzida distância histórica não permite ainda visualizar o resultado final desse
processo de mudança, mas há alguns sinais consistentes de como as organizações vêm
tentando reposicionar-se. Em primeiro lugar, ao usar o termo modelo em substituição à
idéia de sistema, área ou setor, busca-se ampliar o âmbito das ações de RH dando-lhes
nova dimensão e abrangência. Assim, torna-se mais fluida e flexível a linha divisória que
separa o que faz parte do que não faz parte da gestão de pessoas nas organizações. Isso
leva a considerar não somente a estrutura, os instrumentos e as práticas normatizadas
como elementos componentes do modelo, mas também tudo aquilo que interfere
significativamente nas relações entre os indivíduos e a organização.
O modelo pode abranger, por exemplo, os procedimentos que a empresa utiliza para
envolver os funcionários com suas definições estratégicas, a maneira pela qual estimula
determinado tipo de relação com os clientes ou a imagem que passa internamente de
seus produtos, dos equipamentos utilizados, do desenvolvimento tecnológico e outros
temas organizacionais de relevância. Os profissionais especializados passam a
reconhecer tacitamente que a área de recursos humanos perde o poder de monopólio
sobre o comportamento organizacional para compartilhá-lo com outras instâncias da
empresa, em particular as próprias chefias diretas.
A expressão gestão de pessoas também não significa a simples tentativa de encontrar um
substituto renovador da noção, já desgastada, de administração de recursos humanos.
Seu uso procura ressaltar o caráter da ação — a gestão e seu foco de atenção: as
pessoas. Embora os conceitos de administração e de gestão sejam utilizados como
sinônímos, em geral considera-se gestão uma ação na qual há menor grau de
previsibilidade do resultado do processo a ser gerido. Um navio é dirigido, uma empresa
administrada, uma relação humana pode, no máximo, ser orientada caso se admita que
os dois agentes tenham consciência e vontade próprias.
A opção por utilizar pessoas no lugar de recursos humanos é ainda mais diferenciadora
do novo conceito. A administração tradicional foi construída em torno da idéia de
otimização de recursos. Otimizar máquinas, equipamentos, materiais, recursos financeiros
e pessoas sempre foi seu principal objetivo. Na fase das grandes máquinas mecanizadas,
na fase da segunda onda de produção fabril massificada, como a denomina Toffler
(1994), a “maximização” dos recursos era o paradigma básico. As pessoas foram
transformadas em recursos para que se justificasse o investimento nelas e houvesse um
parâmetro comum de como administrá-las. Essa foi uma maneira eficiente de demonstrar
a preocupação específica da administração com o chamado fator humano na empresa.
Nessa fase da teoria organizacional, administrar recursos humanos significava otimizar
sua produtividade, sua competência e seu entusiasmo.
Hoje, quando o papel do homem no trabalho vem-se transformando e suas características
mais especificamente humanas, como o saber, a intuição e a criatividade, vêm sendo
valorizadas, talvez se caminhe para uma transição na qual a empresa finalmente
reconheça que se relaciona com pessoas, e não com recursos.
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33
AUTOR
34
1. Introdução
35
> destacar a administração estratégica de pessoas como pano de fundo para promover
mudanças organizacionais e como instrumento adequado para dar respostas aos desafios
do ambiente empresarial.
36
reconciliar as diferentes tendências nessa área. Utilizando a notória fábula dos cegos que
queriam ver o elefante e a metáfora de um “safári pela selva da administração estratégica”
(Mintzberg et al, 2000), os autores apresentam a classificação e a definição das dez
escolas de pensamento em administração estratégica (as partes do elefante), a
perspectiva de cada uma delas, suas limitações e contribuições e seus autores mais
representativos. A seguir, a conceituação dessas escolas, sua visão do processo
estratégico e seus principais autores.
> Design: estratégia como um processo de CONCEPÇÃO (Silznik Andrews).
> Planejamento: estratégia como um processo FORMAL e sistemático (Ansoff).
>Posicionamento: estratégia como um processo ANALÍTICO (Porter).
> Empreendedora: estratégia como um processo VISIONÁRIO (Schumpeter).
>Cognitiva: estratégica como um processo MENTAL (Simon; March e Simon).
>Aprendizado: estratégia como um processo EMERGENTE (Lindblom; Cyert e March;
Quinn; Prahaiad e Hamei).
>Poder: estratégia como um processo de NEGOCIAÇÃO (Allison; Pfeffer e Solancick;
Astley).
> Cultural: estratégia como um processo COLETIVO (Rhenman e Norman).
>Ambiental: estratégia como um processo REATIVO (Hannan e Freeman).
> Configuração: estratégia como um processo de TRANSFORMAÇÃO (Chandler; Miles
e Snow; Mintzberg).
As três primeiras escolas — design, planejamento e posicionamento — são consideradas
de natureza prescritiva, mais preocupadas em como as estratégias devem ser formuladas
do que em como elas são formuladas; as escolas do segundo grupo — empreendedora,
cognitiva, de aprendizado, do poder, cultural e ambiental — estão mais voltadas para a
análise de como as estratégias são de fato formuladas; finalmente, a escola da
configuração combina contribuições de várias outras, descrevendo a estratégia como um
processo de mudança.
Cada uma dessas escolas, portanto, empresta diferentes sentidos não conflitantes e
complementares à estratégia. Além disso, ajudam a desmitificar a complexidade de um
conceito tão importante e abrangente, fornecendo ao leitor o beneficio dessas diferentes
contribuições. Por outro lado, embora a bibliografia contenha várias definições objetivas
sobre estratégia e administração estratégica, é difícil encontrar uma única que traduza de
forma plena seus diferentes significados. Entretanto, existem certos pontos em comum
entre essas definições que podem auxiliar na formação e no entendimento do conceito de
estratégia. São eles:
> a estratégia dá a direção, fornece o direcionamento da empresa e provê consistência;
>a estratégia resulta de um processo de decisão;
> as decisões são principalmente de natureza qualitativa, interferem no todo da
organização e buscam eficácia a longo prazo;
>a estratégia abrange a organização e sua relação com o ambiente;
>a estratégia envolve questões de conteúdo e de processo, em diferentes níveis.
37
38
Características
Estratégia de controle Estratégia de comprometimento
distintivas / modelo
Redução de nlveis hierárquicos
Altamente hierarquizada,
ESTRUTURA e de chefias intermediárias,
separação “quem pensa” e
ORGANIZACIONAL junção do fazer e do pensar —
“quem faz”
empowerment
Trabalho muito
Organização do Trabalho enriquecido, gerando
especializado, gerando
trabalho desafios
monotonia e frustrações
RELAÇÕES DE
Foco no cargo, emprego a Foco no encarreiramento
TRABALHO
curto prazo flexivel, emprego a longo prazo
Política de emprego
Baixo, trabalho
Nível de educação e Alto, trabalho enriquecido e
automatizado e
formação requerido intensivo em tecnologia
especializado
Participação dos
Baixa, decisões tomadas de Alta, decisões tomadas em
empregados nas
cima para baixo grupo
decisões
POLÍTICA DE
Contrata para um cargo ou
RECURSOS Contrata para uma carreira
para um conjunto
HUMANOS longa na empresa
especializado de cargos
Contratação
Visa ao aumento do
Visa preparar o empregado para
Treinamento desempenho na função
futuras funções
atual
Carreiras rígidas e
Carreiras flexíveis, de longo
especializadas, de pequeno
Carreira alcance, com permeabiíidade
horizonte e amarradas na
entre diferentes carreiras
estrutura de cargos
Focada na estrutura de
Focada na posição da carreira e
cargos, com alto
Salarial no desempenho, com baixa
grau de diferenciação
diferenciação entre níveis
salarial entre eles
39
40
41
42
Com base na ideologia essencial, nos valores e no propósito é que se delineia o futuro
imaginado — a estratégia —, em que são consideradas:
> a análise do ambiente organizacional (cenários, tendências, oportunidades e ameaças);
>a avaliação interna (estrutura, cultura, pessoas, recursos, pontos fortes e pontos fracos
da organização);
>a definição de macrobjetivos, políticas e programas estratégitos prioritários.
43
Figura 1.
Ambiente social e ambiente de tarefa
futuros” (Wright, 1994). Ela tem sido utilizada para identificar as tendências na gestão de
pessoas nas organizações brasileiras submetidas às pressões de competitividade
características do cenário empresarial brasileiro (Albuquerque e Fischer, 2001). Nessa
pesquisa, de caráter longitudinal, 168 respondentes participaram de duas rodadas de
questionamentos e de um workshop, o que permitiu identificar mudanças previstas na
gestão de pessoas no Brasil quanto à filosofia e aos princípios de gestão, às políticas, ao
formato organizacional de recursos humanos e ao perfil necessário ao profissional
especialista na área.
4.2.2 Análise das capacidades internas
A análise das capacidades internas tem por objetivo avaliar os recursos organizacionais,
identificando as forças e as fraquezas da organização no processo de formulação da
estratégia. Além de suportar a definição de opções estratégicos viáveis, serve de
orientação sobre as necessidades futuras de recursos e de competências a serem
desenvolvidas. A capacidade de uma organização de responder positivamente a novas
oportunidades depende, em última instância, da competência de seus colaboradores. O
conhecimento das capacidades internas é essencial, portanto, na formulação das
estratégias de gestão de pessoas.
Analisar as capacidades internas da organização implica, de forma ampla, o
conhecimento de sua estrutura, de seus sistemas e processos, das pessoas que nela
44
trabalham e de sua cultura. Essa análise torna-se fundamental não apenas como subsídio
para a formulação de estratégias (identificar pontos fortes e pontos fracos da organização
vis-à-vis as oportunidades e as ameaças do ambiente) mas também como fonte de
obtenção de vantagens competitivas sustentáveis a longo prazo. Para a formulação da
estratégia de gestão de pessoas, evidentemente, interessa aprofundar os aspectos
relativos às dimensões humanas, ou seja, a cultura e as pessoas, e como a interação das
pessoas com a estrutura e com o sistema pode contribuir para a consecução dos
objetivos estratégicos da organização.
45
(Prahalad e Hamel, 1995), é evidente uma certa superposição entre eles. Segund
Prahalad e Hamel, uma competência essencial da organização permite oferecei
benefícios reais aos consumidores, é de difícil imitação pelo concorrente e possibi lita o
acesso a diferentes mercados. Conclui-se, portanto, que competências e capacidades são
dimensões complementares de uma nova abordagem de estratégia empresarial que
enfatizam os aspectos comportamentais da estratégia.
As competências organizacionais e individuais constituem, atualmente, um importante e
moderna linha de pensamento e de atuação na gestão estratégica de pessoas. Fleury e
Fleury (2000), ao tratar do alinhamento entre estratégia e competências, afirmam que o
processo de formulação estratégica pode partir de dua perspectivas distintas: da
estratégia competitiva e dos recursos da empresa. A primeira, “de fora para dentro”,
procura estabelecer uma vantagem competitiva no setor a partir da “identificação de
oportunidades únicas em termos de produtos mercado”; a segunda, denominada resource
based view of the firm, considera que cada empresa tem um portfólio de recursos
tangíveis e intangíveis, podendo também obter vantagens competitivas “de dentro para
fora”, através da mobilização organização desses recursos.
Essas abordagens não podem ser consideradas excludentes, e sim complementares, pois
procuram alinhar mercados, estratégias e competências. Capacidades e competências
são faces da mesma moeda na obtenção de vantagens competitivas. Como já foi dito
anteriormente, a estratégia de gestão de pessoas baseada em capacidades e
competências assume a premissa de que a gestão de ativos intangíveis é de difícil
imitação pelo concorrente e que os empregados devem agregar valor pelas suas
competências, fator crítico de sucesso na era da informação e do conhecimento.
46
Entretanto, falhas na implementação, ligadas à resistência a mudanças, à falta de
consistência na atuação de diferentes atores envolvidos no desenvolvimento e na
administração de programas estratégicos, entre outras, têm dificultado, e muitas vezes
impedido, que estratégias consideradas bem formuladas sejam implementadas com
sucesso. Fischmann (1987) realizou uma ampla pesquisa a respeito de implementação de
estratégias, na qual apresentou uma síntese com 21 categorias de problemas que
impedem ou dificultam a implementação estratégica, entre as quais se destacam nove
categorias relacionadas mais diretamente com o fator humano e a sua gestão:
[…] as estratégias a serem implementadas estavam em conflito com os valores culturais
da empresa; a liderança e comando dos gerentes não foi eficaz o bastante; a alta
administração não deu sustentação suficiente para a implementação; a coordenação das
atividades de implementação não foi eficiente; a capacitação dos gerentes não foi
suficiente; a disponibilidade de recursos humanos foi imprópria; as instruções e
treinamento dados para o nível médio e subordinados não foram adequados; mecanismos
de compensação, como prêmios e participação nos lucros ou resultados e outros,
atrelados ao desempenho na implementação estratégica, não foram programados ou
explicitados; e metas globais de decisão estratégica não foram bem compreendidas pelos
empregados.
Essas constatações reforçam a tese da importância do processo integrado e participativo
da formulação e implementação estratégica, no qual os limites entre a formulação e a
implementação perdem o sentido, o feedback de informações é contínuo em todas as
etapas e os resultados mais importantes são a participação das pessoas no processo, seu
aprendizado, sua conscientização e seu comprometimento com os intentos da
organização e as formas a serem adotadas para realizá-los.
Kaplan e Norton (2001) citam pesquisas realizadas entre executivos que mostram que a
capacidade de executar a estratégia é mais importante do que a qualidade da estratégia
em si e que 70% dos casos de fracassos de eminentes CEOs decorrem de problemas de
má execução, e não de má estratégia, ou seja, estão relacionados com a implementação
estratégica.
Segundo os autores, as oportunidades para a criação de valor estão migrando da gestão
de ativos tangíveis para a gestão de estratégias baseadas no conhecimento, que
exploram os ativos intangíveis da organização (relacionamentos com os clientes, produtos
e serviços inovadores, tecnologia de informação e bancos de dados, além de
capacidades, habilidades e motivação dos empregados) e exigem ferramentas que
descrevam os ativos com base no conhecimento e nas estratégias criadoras de valor,
construídas a partir desses ativos. Além disso, necessitam de uma linguagem para a
comunicação da estratégia e dos processos que contribuem para a sua implementação.
Para isso, Kaplan e Norton propõem o uso do balanced scorecard como ferramenta
gerencial, originalmente concebida com a finalidade de mensuração, procurando ampliar
o conjunto de indicadores de resultado e incluindo, além dos tradicionais indicadores
financeiros, outros vetores do desempenho futuro. Esse instrumento transformou-se em
um processo gerencial eficaz que possibilita não apenas mensurar resultados estratégicos
mas dar foco e alinhamento à estratégia organizacional.
47
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49
AUTOR
50
1. Introdução
Nos últimos anos, as organizações vêm passando por crescentes mudanças em razão
das transformações ocorridas no ambiente externo — cenário político, econõmico e social
— e no ambiente interno.
Entre as mudanças externas, destaca-se o processo de globalização financeira, comercial
e produtiva, que provoca transformações também na atuação das organizações. Se no
passado a maioria das empresas atuava apenas regionalmente ou nacionalmente
(mesmo empresas multinacionais agiam sob essa lógica), hoje, para competir no mercado
globalizado, precisam ampliar o escopo de atuação. Um exemplo disso são as empresas
que trabalham de forma global o desenvolvimento e a operação de um produto ou serviço,
com o objetivo de ampliar seu mercado: estabelecem as plantas em certos países, as
unidades de concepção e desenvolvimento em outro, os departamentos de marketing,
publicidade em mais outro, deixando a logística e a distribuição próximas dos centros
consumidores. Há, enfim, a necessidade de as empresas definirem melhor sua visão
estratégica, para estar bem posicionadas hoje e futuramente no cenário globalizado.
51
52
Em 1973, McClelland publicou o artigo “Testing for competence rather than intelligence”
(Testando por competências em vez de inteligência), que de certa forma iniciou o debate
sobre competência entre psicólogos e administradores nos Estados Unidos. A
competência, segundo o autor, é uma característica subjacente a uma pessoa
casualmente relacionada com uma performance superior na realização de uma tarefa ou
em determinada situação. Diferenciava, assim, competência de aptidões, talento natural
da pessoa, o qual pode vir a ser aprimorado; de habilidades, demonstração de um talento
particular na prática; e de conhecimentos, o que as pessoas precisam saber para
desempenhar uma tarefa (Mirabile, 1997). Durante a década de 1980, Richard Boyatzis,
reanalisando os dados de estudos realizados sobre competências gerenciais, identificou
um conjunto de características e traços que, em sua opinião, definem uma performance
superior. Os trabalhos de Spencer e Spencer (1993), Mirabile (1997) e McLangan (1997)
marcaram significativamente a literatura americana a respeito do tema competência.
Nessa perspectiva, o conceito de competência é pensado como o conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes (isto é, o conjunto de capacidades humanas) que
justificam uma alta performance, acreditando-se que as melhores performances estão
fundamentadas na inteligência e na personalidade das pessoas. Em outras palavras, a
competência é percebida como um estoque de recursos que o indivíduo detém. Embora o
foco da análise seja o indivíduo, a maioria dos autores americanos aponta a importância
de alinhar as competências às necessidades estabelecidas pelos cargos ou posições
existentes nas organizações.
Tanto na literatura acadêmica como nos textos que fundamentam a prática administrativa,
a referência que baliza o conceito de competência é a tarefa e o conjunto de tarefas
prescritas de um cargo. Nessa linha, a gestão por competência é apenas um rótulo mais
moderno para administrar uma realidade organizacional ainda fundada nos princípios do
taylorismo-fordismo.
53
54
55
Quadro 1.
Competências para o profissional
56
57
5. Exemplificando o modelo
A Embraer é um dos (raros) casos de empresa brasileira que compete por inovação em
produtos. Criada em 1969 por professores do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
ela utiliza o conhecimento acumulado e conta com o apoio das Forças Armadas,
especialmente da Aeronáutica.
Seu primeiro produto — o Bandeirante — pode ser considerado uma inovação radical, por
ter sido desenvolvido para um mercado ainda não bem configurado na época: o de
transporte aéreo regional. Foi nesse mercado que a empresa focou o desenvolvimento de
competências, sendo o projeto de produtos (aeronaves) e do processo produtivo a
competência essencial.
Quando, ainda na década de 1970, precisou ampliar sua competência na área comercial,
a Embraer associou-se à Piper, empresa americana que fabrica e distribui pequenos
aviões em escala mundial. As alianças com parceiros internacionais para o
desenvolvimento de aviões militares criaram as bases da consolidação de competências
para a integração dos sistemas aeronáuticos, mecânicos, hidráulicos e eletrônicos que
compõem a aeronave.
A excessiva ênfase nas competências técnicas pode ser considerada uma das causas
dos projetos malsucedidos no início da década de 1990: os produtos eram tão
sofisticados do ponto de vista tecnológico que o preço inviabilizou sua venda.
58
As empresas que adotam essa estratégia são voltadas para atender a necessidades de
clientes específicos. Especializam-se em satisfazer, e até em antecipar, os desejos do
cliente em virtude de sua proximidade com ele.
A estratégia competitiva adotada pelo Laboratório Fleury, um centro de medicina
diagnóstica, exemplifica o tipo de atuação orientada para serviços. A proposta da
empresa é oferecer um serviço de alta qualidade e confiabilidade para um segmento de
mercado disposto a pagar por ele. O Fleury busca a proximidade com seus clientes e
oferece serviços diferenciados, como exames ultramodernos e específicos, atraindo
determinado público e buscando satisfazê-lo.
59
ESTRATÉGIA
COMPETÊNCIAS ESSENCIAIS
EMPRESARIAL
OPERAÇÕES PRODUTO MARKETING
Manufatura
Excelência Inovações Marketing de produto para
classe
operacional incrementais mercados de massa
mundial
Desenvolvimento
Manufatura de Marketlng voltado para
Orientação para
ágil, soluções e dientes específicos
serviços
flexível sistemas (customização)
específicos
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AUTORA
MARIA TEREZA LEME FLEURY
Vice-diretora e professora titular da Faculdade de Economia, Administração e
Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), atua na área de recursos
humanos. Mestre e doutora em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da USP e pós-graduada pela Universidade Stanford (EUA). Editora da Revista
de Administração da USP (RAUSP) e coordenadora do Programa de Pós- Graduação da
FEA, tendo orientado diversos trabalhos de dissertações de mestrado e teses de
doutorado. Diretora científica da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação
em Administração (Anpad) e responsável por cursos de pós-graduação sobre cultura e
poder nas organizações e módulos sobre processos de mudanças e cultura
organizacional nos cursos de MBA da USE Desenvolve atividades de pesquisa,
diagnóstico de clima e cultura organizacional para empresas estatais e privadas,
nacionais e multinacionais, como FMC, Aracruz Celulose e Dow Química, entre outras.
autora de diversos livros.
61
1. Introdução
63
2. O que é recrutamento?
Recrutamento é a fase inicial do preenchimento de uma vaga em aberto. Lodi (1967
define recrutamento como “um processo de procurar empregados”. Tal procura se faz
com base nas requisições de pessoal emitidas pelos supervisores e no mercadc de
trabalho, no qual de um lado competem os empregadores e de outro os próprios
profissionais. Os empregadores competem em termos de salários, condições de trabalho
e benefícios oferecidos. Os candidatos competem en termos de qualificação pessoal, o
que inclui habilidade, conhecimento, experiência e personalidade.
O recrutamento é influenciado diretamente pelo mercado de trabalho. Em períodos de
recessão, de crise econômica e poucos investimentos, o mercado de trabalho recebe
maior oferta de mão-de-obra que de postos de trabalho. Em períodos de crescimento e
desenvolvimento econômico, a disputa pelos candidatos torna-se acirrada.
Flippo (1961) define o recrutamento como “um processo de procurar empregados,
estimulá-los e encorajá-los a se candidatar” a vagas de determinada organização. Uma
variável importante relaciona-se à imagem que a empresa projeta no mercado de
trabalho. A empresa reconhecida como um bom lugar para trabalhar terá maior
visibilidade e provavelmente maior número de candidatos. No entanto, é sempre
necessário planejar e organizar esforços para estimular e atrair novos talentos, através do
processo de recrutamento que a empresa expõe o grau de profissionalismo com que trata
seus colaboradores. Um processo de recrutamento malconduzido projeta uma imagem
negativa da empresa.
O recrutamento dá subsídios para o processo de seleção. Se não existirem candidatos
com potencial para o preenchimento de uma vaga, não haverá como efetuar a seleção. O
processo de recrutamento necessita de criatividade para atrair o máximo de pessoas que
tenham o perfil desejado e estejam interessadas em participar.
O recrutamento pode ser feito de duas formas básicas:
a) atraindo-se pessoas já contratadas pela empresa, mas que trabalham em outros
cargos;
b) buscando-se candidatos que não têm vínculo direto com a empresa no mercado de
trabalho.
64
66
Por se tratar de um processo em que se pesquisam dados intrínsecos aos candidatos, a
ética deve estar presente acima de tudo. Afinal, a pessoa está procurando emprego e
depara com uma bateria de avaliações com o objetivo de revelar aspectos de sua
inteligência, personalidade, interesses, sociabilidade, vida pessoal e vida profissional. Não
ser contratado após um processo seletivo pode levar o candidato, mesmo sabendo que
apenas um pode ocupar a vaga existente, a questionar suas capacidades e habilidades e
a ter a auto-estima afetada.
Por isso, os resultados devem ser comunicados, os critérios divulgados previamente e a
posição geral da empresa esclarecida. Deve-se evitar personalizar restrições ou falhas
observadas em entrevistas, testes ou técnicas vivenciais. Em casos especiais, deve-se
recomendar melhorias ou investimentos pessoais-profissionais com o esclarecimento das
razões da escolha ou da rejeição de maneira a evitar traumas ou frustrações. Da mesma
forma, os resultados das várias etapas do processo devem ser confidenciais, restritos à
área de seleção ou ao próprio candidato.
A seleção de pessoal não pode ser feita apenas pela avaliação da experiência e do
conhecimento do trabalho a ser realizado. Conhecer aspectos relacionados à
personalidade do candidato é fundamental para verificar se a contratação será positiva
para a empresa e para o empregado. Todos os métodos psicométricos prevêem uma
margem de acerto e erro, por isso não são a expressão do futuro, mas a predição. A
utilização de diversas técnicas que se complementam pode diminuir a possibilidade de
erro na escolha do candidato.
A seguir, serão abordadas as principais técnicas utilizadas no processo seletivo:
4.1 ENTREVISTAS
67
A entrevista pode aprofundar a pesquisa dos dados do candidato. Deve ser realizada por
meio de questões semi-estruturadas, apresentadas no decorrer do diálogo entre
entrevistador e entrevistado. Deve-se permitir a espontaneidade no momento da
exposição do candidato. Quanto menos tensão for gerada e maior a confiança
conquistada por ambos, melhor será a qualidade do diálogo.
Segundo Weiss (1992), a entrevista deve seguir quatro estágios:
> Abertura: é a hora do aquecimento, na qual o entrevistador se apresenta e expõe a
proposta da entrevista e como será conduzida.
>Pesquisa: tem como objetivo obter do candidato as informações necessárias á avaliação
de seu perfil pessoal e profissional.
>Troca: é o momento em que o candidato faz as perguntas que revelam seus interesses,
valores, atitudes e preocupações. Normalmente são perguntas relacionadas ao cargo, às
condições de trabalho e à empresa.
> Fechamento: nesse ponto, o entrevistador deve dar um breve feedback da entrevista e
informar as etapas futuras do processo seletivo.
A entrevista deve pesquisar aspectos de conteúdo profissional e pessoal do candidato
tanto relacionados com a vida pregressa quanto com as expectativas de vida futura.
Alguns tópicos são essenciais para apurar essas informações. O primeiro deles diz
respeito ao desenvolvimento de carreira, em que são abordados aspectos de sua
formação profissional, experiências anteriores, empresas em que trabalhou, motivos pelos
quais saiu dessas empresas, insatisfações na vida profissional, planos e ambições de
carreira. Outro ponto refere-se ao relacionamento profissional, ou seja, como o candidato
se relacionava com colegas, subordinados e chefias nos empregos anteriores. O
ambiente familiar — a estrutura familiar do candidato e as responsabilidades econômicas
que tem — é outro assunto que deve ser abordado.
Além disso, os interesses pessoais, isto é, a investigação de hobbies e hábitos que dão
satisfação ao candidato, podem trazer revelações importantes sobre as preferências e
realizações. Saber como o candidato se relaciona socialmente e se pertence a algum
grupo, associação ou religião possibilitará verificar seu grau de sociabilidade. Finalmente,
discutir as perspectivas futuras do candidato ajudará o entrevistador a verificar que
planejamento de vida e autogestão de carreira o candidato possui e a avaliar de que
maneira a empresa poderá incluir-se nesse projeto pessoal.
Outra maneira de conduzir uma entrevista é a utilização do próprio currículo do candidato
como roteiro, agregando-se as informações não mencionadas por ele.
A linguagem do corpo, ou seja, gestos e posturas que indicam o estado emocional, o grau
de interesse e a reação ao momento, deve ser observada, pois pode acrescentar
informações importantes sobre o modo como o candidato responde a determinada
situação.
68
Podem ser gerais ou específicas. As provas gerais visam avaliar o grau de cultura geral
do candidato. Pode ser, por exemplo, uma simples redação para verificar a fluência
escrita, o conhecimento de português e a ordenação de idéias e pensamentos ou uma
prova de matemática, nos diversos níveis de complexidade, de acordo com a
escolaridade exigida para o cargo. Essas provas têm baixa correlação com o
desempenho profissional imediato, porém servem para entender melhor o universo do
candidato e sua atitude pessoal-profissional.
As provas específicas visam avaliar os conhecimentos profissionais que o candidato
possui, imprescindíveis para o bom desempenho da função. Podem ser de cálculos
matemáticos, matemática financeira, mecânica, idiomas etc. importante que esses
instrumentos sejam desenvolvidos e validados internamente na empresa para não
eliminar bons candidatos.
69
70
Referências bibliográficas
71
AUTORAS:
72
1. Introdução
73
74
75
nal, com maior ou menor velocidade devido a seu potencial e à existência ou não de
determinadas características comportamentais. Cada uma dessas dimensões, resumidas
no Quadro 1, traduz um aspecto importante para a determinação da contribuição do
profissional à organização e, dessa forma, deve ser monitorada.
A não observância da multiplicidade de aspectos pelos quais cada profissional deve ser
avaliado pode ser vista como uma das principais causas das fortes críticas sofridas pelos
processos de avaliação nas décadas de 1980 e 1990. Nessa época, segundo pesquisa
apresentada por Vicere e Fulmer (1998), a avaliação de desempenho passou de uma das
estratégias mais freqüentemente utilizadas no desenvolvimento gerencial a uma das
menos empregadas. Isso significa que a análise do profissional em apenas uma de suas
dimensões ou a avaliação de várias dimensões através de uma única ferramenta dificulta
a boa compreensão dos indivíduos e o planejamento das ações dela decorrentes, tendo
contribuído sobremaneira para a derrocada quase total das sistemáticas de avaliação de
pessoas nesse período.
No entanto, percebe-se forte reaquecimento do tema no final dos anos 1990 (Vicere e
Fulmer, 1998), que traz consigo a preocupação de situar e distinguir diferentes tipos de
avaliação, conforme seus objetivos e sua natureza. É importante compreender tal
diferenciação, pois cada tipo de avaliação impacta na escolha dos conteúdos que se
pretende avaliar, nos instrumentos a serem utilizados e nas ações decorrentes.
3. Tipos de avaliação
Na maioria das vezes esse tipo de avaliação é realizado para respaldar promoções,
principalmente em níveis gerenciais. Utiliza intensamente simulações que permitem
verificar o desempenho do profissional em situações com demandas semelhantes às que
encontraria em posições hierárquicas superiores. Pode ocorrer em assess-
76
ment centers, onde o profissional é avaliado por psicólogos em dimensões como
comunicação oral, capacidade de decisão, iniciativa etc.
A avaliação de potencial também pode ter foco no longo prazo, procurando identificar
quanto um indivíduo poderá adaptar-se a uma função gerencial no futuro, após
investimentos maciços em desenvolvimento. Dessa forma, as empresas identificam
pessoas de alto potencial (high potential), que provavelmente ocuparão cargos-chave em
sua estrutura.
Em geral, essa segunda perspectiva apóia-se em algum modelo conceitual de
identificação de potenciais. O modelo desenvolvido por Jaques e Cason (1998), por
exemplo, pressupõe que a capacidade de processar informações, na dimensão cognitiva,
é decisiva no desempenho profissional. Tal dimensão, que para os autores é inata e
amadurece ao longo da vida segundo uma curva específica de potencial, varia de pessoa
para pessoa, permitindo a alguns atingir determinados patamares de capacidade e a
outros não. Essa variável cognitiva determina a forma como uma pessoa consegue
responder a diferentes graus de complexidade em suas atribuições. Com base em
capacidades apresentadas pela pessoa hoje, seria possível prever, com certa precisão, a
evolução dessa dimensão no futuro.
Esse tipo de avaliação tem sido realizado, com freqüência, com os principais gestores das
companhias. O ponto de partida é a identificação dos comportamentos de liderança que a
empresa pretende estimular e que traduzem seus objetivos e valores. Esses
comportamentos são observáveis no ambiente de trabalho e constituem um “inventário de
práticas de liderança”. Exemplos hipotéticos desses comportamentos poderiam ser:
comunicar à equipe os objetivos da companhia, fornecer feedbacks sistemáticos aos
membros de sua equipe, certificar-se de que as necessidades do cliente estejam sendo
efetivamente atendidas, entre outros.
Esse inventário de comportamentos é a base dos questionários de avaliação e auto-
avaliação utilizados no processo. Quando a avaliação tem como foco a análise
comportamental, é freqüente sua aplicação por múltiplas fontes, que se utilizam
defeedbacks provenientes de diversos componentes do network pessoal do avaliado. Os
resultados das avaliações, por sua vez, são cuidadosamente repassados para os
avaliados na forma de relatórios de feedback.
77
Aqueles que fornecem os feedbacks avaliam a freqüência com que o profissional põe em
prática comportamentos considerados críticos para a consecução dos objetivos
organizacionais. Em geral, os avaliadores são treinados previamente e seu número pode
variar entre três e vinte pessoas para cada avaliado, dependendo do caso.
Nos últimos anos, artigos a respeito do assunto têm surgido de forma crescente em
revistas norte-americanas da administração e mesmo na imprensa. Em 1993, uma
pesquisa indicou que 26% das empresas norte-americanas já utilizavam algum tipo de
avaliação de desempenho com múltiplos avaliadores (Newman, 1993). No mesmo ano, a
revista Fortune (edição de 27 de dezembro de 1993) apresentou uma relação de vinte
grandes empresas que desenvolviam essa prática, entre elas Alcoa, AT&T, Bell South,
DuPont, Hewlett-Packard,J.P. Morgan, 3M, Motorola, Procter & Gamble.
No Brasil, empresas como Aracruz, Amex, Merck, Schahin, Shell, Sun Microsystems e
tess são alguns exemplos de corporações que já utilizaram esse técnica. Tanto nos
Estados Uni-
78
dos quanto no Brasil, essa utilização tem sido vinculada principalmente a esforços de
desenvolvimento de lideranças, embora no cenário norte-americano esteja crescendo a
vinculação da avaliação 360 graus a práticas de remuneração, promoção e downsizing, o
que pode ser arriscado para a maioria das empresas, normalmente pouco habituadas ao
intercâmbio franco de feedbacks entre seus profissionais.
79
80
> Definir com clareza a expectativa do resultado a ser alcançado para que as pessoas
possam direcionar seus esforços no sentido de atingi-lo e negociá-lo previamente entre as
partes interessadas.
> Estabelecer antecipadamente critérios de revisão das metas traçadas quando fatores
externos significativamente fortes interferirem na expectativa de resultados a serem
alcançados.
Ao conceber um sistema de avaliação focado na realização de metas e resultados, há
uma tendência natural de buscar indicadores quantitativos — em geral financeiros — para
acompanhamento. Essa escolha, embora dê concretude e maior objetividade à avaliação,
leva, muitas vezes, ao estímulo a ações cujos resultados são observados no curto prazo,
em detrimento da observância de aspectos importantes para a sobrevivência da
organização cujos resultados, porém, não aparecem em curto período de tempo.
Como alternativa, têm-se formulado metodologias de desenvolvimento de medidas de
desempenho que vão além da definição de indicadores de resultados de curto prazo,
como o balanced scorecard, e introduzido estímulos à obtenção de resultados de longo
prazo, como é o caso das stock options.
Como saídas (outputs) do processo de avaliação de metas e resultados, espera-se obter
sincronia das ações individuais e grupais com os resultados desejados pela organização,
a possibilidade de identificar obstáculos à realização dessas ações e o conseqüente
planejamento de medidas para superá-los, a identificação de necessidades de
qualificação dos profissionais ou de revisão das configurações das equipes e a base de
decisões remuneratórias, especialmente no que se refere à remuneração variável.
4. Cuidados especiais
81
82
5. Tendências
83
2. Desempenho futuro: engloba as metas do próximo período e também ações que irão
viabilizar seu desempenho no futuro, o que inclui ações de desenvolvimento de
determinados atributos de liderança.
84
6. Conclusões
Referências bibliográficas
85
AUTORES
JOSÉ ANTONIO MONTEIRO HIPÓLITO
86
1. Introdução
Decisões sobre a estruturação e o funcionamento da sistemática de recompensas e seu
gerenciamento no dia-a-dia organizacional constituem, sem dúvida, uma das dimensões
críticas em gestão de pessoas. Mais que o poder de compra ou o padrão de vida que o
salário ou outras formas de recompensa podem proporcionar, sua importância está
atrelada a um valor simbólico, que representa quanto o indivíduo vale para a organização.
esse caráter simbólico que reforça a importância de uma relação próxima entre aquilo que
a organização valoriza ou quer estimular em seus profissionais e a prática de
recompensas, de modo a incentivar comportamentos e ações que agreguem valor. O fato
de o montante distribuído a título de recompensa representar, na maior parte dos casos,
parcela significativa do total de dispêndio das empresas realça a necessidade de alinhá-lo
à contribuição dos profissionais para a organização, de forma a não gerar desequilíbrio
entre a estrutura compensatóna vigente e os resultados obtidos em sua prática.
Tradicionalmente, o cargo é utilizado por grande parte das organizações como elemento
decodificador do valor agregado pelos profissionais e, portanto, como principal referência
na definição de
87
sua recompensa. Essa pratica, eficiente quando se esperava das pessoas apenas a
reprodução de um conjunto de atividades definidas pelo cargo, vem se demonstrando
frágil em realidades dinâmicas, nas quais a ação do indivíduo é significativamente
influenciada pelas necessidades organizacionais (que mudam com intensidade crescente)
e pelo nível de competência do próprio profissional. Nesse novo contexto, o uso do cargo,
ao despersonificar a recompensa, impede que se reconheçam de forma diferenciada as
pessoas que mais contribuem para a consecução dos objetivos organizacionais.
Este capítulo elucida as limitações das práticas usuais de recompensa e aponta
alternativas alinhadas com o cenário competitivo e com os resultados pretendidos por
meio de sua aplicação. Dentre essas alternativas, destacam-se o uso do conceito de
competências para balizar recompensas, a intensificação do emprego da remuneração
variável e a adoção de benefícios flexíveis, escolhidos e estruturados com base na
análise dos métodos existentes contrapostos ao ambiente, às características e às
possibilidades concretas da organização.
Este capítulo inicia-se com uma retrospectiva da prática de recompensas, apresenta as
limitações dos sistemas de remuneração usualmente utilizados e culmina com a
apresentação das tendências na estruturação e no gerenciamento da prática
compensatória.
Embora a prática de recompensar pessoas pelo seu trabalho esteja presente desde os
primórdios do sistema capitalista de produção, a utilização de métodos sistemáticos para
a definição do padrão de recompensas surgiu somente a partir da Primeira Guerra
Mundial (Albuquerque, 1982), com o crescimento das organizações em tamanho e
complexidade.
Esses métodos surgiram num contexto histórico-social específico, no qual prevaleciam os
princípios tayloristas-fordistas de produção (e de gestão de pessoas), que apregoavam a
estruturação e a divisão de tarefas como as grandes âncoras de todo o processo
produtivo. Esperava-se dos trabalhadores, portanto, a simples reprodução de um conjunto
de atividades definidas em seu cargo e, quanto melhor o fizessem, mais estariam
contribuindo para o sucesso organizacional.
A equação é simples: conhecendo-se os produtos (ou serviços) oferecidos ao mercado e
o conjunto de atividades necessárias para produzi-los, bastava distribuíIas ao longo da
força de trabalho, e sua execução conduziria, naturalmente, à obtenção dos resultados
desejados. Uma vez que as atividades executadas eram quase todas rotineiras e
metodicamente estruturadas, parte do ganho na produção resultava da especialização do
profissional, ou seja, do quanto ele era hábil, veloz e efetivo na realização das atividades
a ele atribuídas. Essa habilidade tendia a desenvolver-se com a prática, reforçando o
conceito de divisão e estruturação do trabalho.
88
89
>seu alinhamento com as necessidades das organizações e com a filosofia de gestão que
preponderou por décadas, centrada na estruturação de tarefas e no comando e controle;
>a percepção de objetividade no método, em função de se utilizarem técnicas estatísticas
sofisticadas para pontuar a importância relativa dos cargos para a organização. A
cientificidade do método serve de argumento para justificar as diferenciações salariais e,
ao ter cargos e não pessoas como foco principal, sugere imparcialidade;
> o fato de ser um método “bem avaliado” e, portanto, estimulado pelos órgãos que
regulam as práticas trabalhistas. Isso porque, ao estabelecer regras para a diferenciação
das recompensas que independem da análise dos individuos, torna-se mais difícil
determinar recompensas por critérios discriminatórios (seja em função de gênero e raça,
seja outro critério). Essa preocupação está bastante presente na literatura, sobretudo a
norte-americana.
A lógica de remunerar conforme o cargo funcionou bem (e em alguns casos ainda
funciona) enquanto suas premissas permaneceram válidas, ou seja, a existência de
situações de trabalho em que se espera dos profissionais essencialmente a reprodução
de uma série de procedimentos previamente definidos. No entanto, à medida que as
organizações mudam (ou são pressionadas a mudar) e passam a utilizar seus
profissionais de outra forma, com muito mais flexibilidade, autonomia e delegação de
responsabilidades, cai por terra a base de sustentação dos sistemas funcionais de
recompensa.
Ao apontar a inconsistência entre o que se paga (e se valoriza) com os sistemas
funcionais e o que se espera dos profissionais nos dias de hoje, Emerson (1991) discute
as limitações dos cargos enquanto parâmetro principal para definir a remuneração.
Analisando-os atentamente, percebe-se que o descompasso é decorrente da
incongruência entre suas premissas e o mundo organizacional atual, levando a uma série
de restrições, dentre as quais destacam-se:
>inflexibilidade, reduzindo a agilidade da organização para acompanhar as mudanças
internas e do mercado de trabalho;
>desalinhamento em relação aos objetivos estratégicos da empresa, por ser definido a
partir de configurações organizacionais momentâneas;
> inviabilidade de descentralizar as decisões de recompensa para os gestores, uma vez
que os critérios utilizados na maior parte das vezes são complexos e restritos à área de
compensação;
> alto custo de atualização do sistema, típico da utilização de métodos comparativos.
Tem-se, portanto, um método que não atende às atuais necessidades das organizações
e, ao focalizar os cargos e não as pessoas que os ocupam, deixa de reconhecer os
talentos, aqueles que realmente se destacam, que assumem responsabilidades e,
portanto, agregam mais valor, com o conseqüente risco de perdê-los para o mercado de
trabalho. Ao mesmo tempo, a complexidade e a padronízação dos sistemas
90
91
O panorama apresentado até aqui servirá de base para a discussão das tendências de
formatação dos sistemas de recompensa a partir da análise de cada um de seus
componentes.
A estruturação de um sistema de recompensas deve considerar, dentre as inúmeras
possibilidades de composição, asforinas mais alinhadas á “filosofia” de gestão da
organização e ao que se quer, de fato, valorizar e estimular. Os possíveis componentes
de um sistema de recompensas são apresentados na Figura 3. Serão analisados somente
os componentes que se relacionam com a categoria de remuneração.
3.1 SALÁRIO
92
94
conceito de cargos. Nesses casos, em geral, opta-se pela manutenção dessas estruturas
em paralelo, como complementares, até que o abandono da estrutura funcional de
recompensas possa ocorrer.
95
3.3 BENEFÍCIOS
96
convênio particular já existente, seja por poder usufruir do plano de saúde do cônjuge. O
autor acrescenta que, para evitar essa situação e potencializar o impacto da prática de
benefícios, algumas empresas estão oferecendo planos de benefícios flexíveis, nos quais
o profissional escolhe a totalidade ou parte do conjunto de benefícios com base em
alternativas oferecidas pela organização. Trata-se, no entanto, de uma opção que
aumenta a complexidade administrativa de manter o pacote de benefícios, aspecto que
deve ser levado em conta antes de sua introdução.
4. Conclusão
Referências bibliográficas
97
AUTOR
98
A GESTÃO DE CARREIRA
1. Introdução
A gestão de carreira por parte das organizações e por parte das pessoas tem sido objeto
de grande discussão em revistas especializadas e na literatura contemporânea. As
discussões tomaram dois rumos:
o primeiro foca o papel da pessoa na gestão de sua carreira e de sua competitividade
profissional e o segundo o papel da organização no estímulo e suporte ao
desenvolvimento da carreira da pessoa.
O objetivo deste capítulo é oferecer uma visão ampla da gestão de carreira. Será
apresentada a evolução do pensamento sobre gestão de carreira e serão discutidos o
papel da pessoa e da organização e as tendências nessa área.
2. Conceituação
99
100
Nos anos 1980, o mercado sofre grandes transformações com a entrada do Japão como
novo concorrente internacional.
As organizações são pressionadas a dar respostas mais rápidas para o mercado, com
mais qualidade e menor custo.
Os pais ficam muito mais preocupados com a carreira de seus filhos.
Esse conjunto de fatores pressiona tanto empresa quanto pessoas a pensarem em
carreira. A produção dos anos 1980 vai naturalmente se especializando em uma literatura
voltada para as pessoas, que apresenta temas como escolha de carreira, mercado de
trabalho, formas de planejar a carreira, como negociar a carreira com a empresa, como se
recolocar etc., além de em livros voltados para as organizações que abordam temas como
estímulo e suporte ao autodesenvolvimento, estruturação de carreiras, acesso
democratizado às oportunidades etc.
A produção dos anos 1990 seguiu essa mesma tendência, ou seja, a segmentação da
produção para as pessoas e para as empresas. Nesse período, o mercado de trabalho
ficou mais exigente, globalizou-se e ganhou mais mobilidade. Com o crescimento do
mercado de comunicações surgem novas e inesperadas carreiras. A discussão sobre
carreira ganha força nas escolas, nas empresas, nos sindicatos e na sociedade como um
todo nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, essa discussão sobre carreira começou a fazer sentido somente nos anos
1990. Existem poucas empresas preocupadas com o tema, e boa parte das pessoas não
pensa sobre o assunto. Enquanto nos Estados Unidos e na Europa há vasta literatura a
respeito do tema, no Brasil a produção é escassa. Existem razões para acreditar que
daqui para a frente haverá grande mudança nesse quadro devido ao desenvolvimento
econômico do país e ao mercado de trabalho cada vez mais exigente.
Para compreensão mais profunda da gestão de carreira, será didaticamente separada a
apresentação do tema, primeiramente com a discussão sobre o papel da pessoa e depois
sobre o papel da empresa.
Há, por parte das pessoas, uma natural resistência ao planejamento de sua vida
profissional tanto pelo fato de encararem a trilha profissional como algo dado quanto pelo
fato de não terem tido nenhum estímulo ao longo da vida. A resistência ao planejamento
individual de carreira é ainda muito grande no Brasil, pois as pessoas tendem a guiar suas
carreiras mais por apelos externos, como remuneração, status, prestígio etc., do que por
preferências pessoais. Embora não existam até aqui pesquisas que confirmem essa
afirmação, há a seu favor inúmeras constatações empíricas oriundas de eventos em que
esse assunto foi discutido, intervenções em empresas e trabalhos com estudantes de
nível superior.
Acredita-se que tal quadro venha a ser modificado nos próximos anos graças a mudanças
de postura e comportamento exigidas das pessoas pelas empresas e pelas pressões
sociais ç econômicas. Observa-se ainda que, em momentos de crise e escassez de
emprego, as pessoas tomam-se naturalmente mais preocupadas em
101
102
103
104
106
Durante a idade adulta, as pessoas podem viver vários ciclos de exploração, cristalização
ou especificação de modo a encontrar a carreira que melhor se adapte a suas
necessidades, interesses e habilidades. Tal processo pode arrastar-se além dos 30 anos
nas pessoas que continuam investindo em seu processo educacional. Uma
escolha mais definitiva da carreira ocorre por volta dos 40 anos, na chamada crise da
meia-idade (HalI, 1976; Super e Bohn, 1972).
Van Maanen (1977) afirma que a abordagem dos sociólogos tem sido bem diversa. Eles
acreditam que diferenças de raça, classe, sexo, religião, nacionalidade, educação, família
ou área de residência têm papel importante não só na escolha da carreira mas também
na construção de expectativas. Dentre os sociólogos, destacam-se três categorias de
abordagem: sociologia industrial, ocupacional e organizacional. Tais categorias
influenciam-se mutuamente e são diferenciadas pelas questões que procuram responder,
pelos modelos de análise empregados e pelo grupo de pessoas com que trabalham —
sociologia industrial com operários, sociologia ocupacional com todos os membros de
determinada atividade e sociologia organizacional com gerentes e profissionais dessa
área (Salaman e Thompson, 1974). Os sociólogos contribuíram com uma visão crítica do
processo de escolha de carreira analisando como as pessoas apreendem normas e
valores de atuação no mundo do trabalho, como o status de uma ocupação influencia sua
escolha e como a ideologia dá suporte a pequenas relações entre pessoas dentro de
determinada carreira.
107
mudança significativa em suas carreiras nessa fase. Tais casos são notados
principalmente em função da turbulência vivida no ambiente profissional, o que obngou as
pessoas a estar em constante reciclagem de conhecimentos. São notados também em
decorrência de mudanças na estrutura familiar, quando os filhos estão deixando o
convívio dos pais, o que faz com que a mulher reveja seu papel e o casal suas relações.
O estágio da velhice (após os 64 anos) é visto como uma fase de declínio das
capacidades físicas e mentais, o que estimula os indivíduos a retirar-se gradativamente
de sua atividade predominante durante a fase adultá e a de maturidade.
Esses estágios, embora não ocorram de forma linear e uniforme em termos individuais,
mostram que a relação das pessoas com a carreira sofre alterações ao longo do tempo.
O comportamento das pessoas em relação à escolha e ao desenvolvimento da carreira
segue padrões determinados por sua condição socioeconômica e racial, pelo sexo, nível
de inteligência etc. Super (1957) agrupa tais determinantes em psicológicas, sociais e
ambientais (guerras, ciclos econômicos, alterações tecnológicas, entre outras).
Schein (1978) encara a questão da carreira como um processo de desenvolvimento da
pessoa como ser integral. Argumenta que, para refletir sobre a carreira das pessoas, é
preciso entender suas necessidades e características, que não estão ligadas apenas à
vida no trabalho. São fruto, isso sim, da interação da pessoa com todos os espaços de
sua vida. Nesse sentido, Schein acredita que as pessoas devem ser encaradas como
parte efetiva de um mundo onde enfrentam múltiplos problemas e pressões. Na
sociedade ocidental, tais pressões e problemas podem ser agrupados em três categorias:
> Pressões e problemas decorrentes do processo biológico e social associado ao
envelhecimento. De forma geral, relacionam-se à idade determinantes de natureza
biológica, como alterações no corpo e alterações na capacidade física e mental, e de
natureza sociocultural. Essa associação permite configurar um ciclo biossocial que irá
influenciar o comportamento e as preferências das pessoas.
> Outro conjunto de pressões e problemas é decorrente das relações estabelecidas entre
a pessoa e sua família. Tal categoria apresenta características peculiares que a
diferenciam da categoria biossocial (embora também possa ser associada a ela). As
pressões aqui estão relacionadas à natureza da relação com a família e aos diferentes
compromissos assumidos, como a condição de casado, solteiro, viúvo, separado ou
divorciado, com filhos pequenos ou não, com filhos adolescentes ou não, com suporte
financeiro e emocional a pais idosos ou não etc. Nessa categoria, também é possível
definir um conjunto de pressões e problemas típicos das várias fases das relações
estabelecidas com a família, configurando-se um ciclo familiar ou de procriação.
>A terceira categoria está associada ao trabalho ou à construção da carreira. As pessoas
têm domínio parcial sobre pressões e problemas decorrentes dessa categoria, uma vez
que estes emanam de necessidades definidas pela sociedade, suas instituições
econômicas, suas tradições e políticas educacionais etc. De
108
outro lado, a relação que as pessoas estabelecem com o trabalho ou com a carreira não
sofre o determinismo das outras duas categorias, já que os indivíduos podem truncar,
mudar ou alavancar a carreira. As relações que as pessoas estabelecem com sua
ocupação ou com empresas formam também um ciclo a cujas etapas ou estágios podem
ser associadas determinadas características.
Os três ciclos são descritos na Figura 2. Percebe-se que há momentos na vida em que,
devido à idade, relação profissional e situação familiar, as pessoas recebem grande
conjunto de pressões. Esses momentos, apresentados na Figura 2, tendem a exercer
grande influência nas decisões sobre projetos de vida pessoal e profissional.
Figura 2. Ciclos de influência sobre as pessoas
Essas fases, ou ciclos, vêm sofrendo alterações nos últimos anos, motivadas
basicamente por dois fatores: aumento da longevidade das pessoas e redução da oferta
de empregos. Observa-se o aumento da expectativa de vida das pessoas graças aos
avanços da medicina. Os futurólogos acreditam que as pessoas nascidas após o ano
2000 poderão contar com uma expectativa de vida de 120 anos. Tal afirmação está
baseada em tendências como o contínuo avanço da medicina e a disposição da
humanidade para investir cada vez mais em pesquisas ligadas à saúde e em formas de
disseminar rapidamente as conquistas desse campo; o aumento da preocupação da
humanidade com o meio ambiente e a busca de maior qualidade de vida; e a maior
consciência das pessoas de si próprias, buscando manter sua integridade física, psíquica
e social.
Futurologias à parte, a maior longevidade não é algo episódico, mas uma tendência
importante que influi decisivamente na vida e na construção de expectativas
e projetos. Alterações importantes de padrões comportamentais em decorrência
109
disso já podem ser observadas: o ápice da carreira profissional, que era aos 40 anos,
deslocou-se, nos países desenvolvidos, para os 50 anos. O mesmo fenômeno pode ser
identificado no Brasil com pessoas da classe média e da alta: os planos de aposentadoria,
que estabeleciam 55 anos como data-limite de retirada da vida profissional até meados da
década de 1980, passaram a ser reformulados, uma vez que as pessoas, aos 55 anos,
estão cheias de vitalidade. Por outro lado, a complexidade das empresas aumentou e elas
necessitam de gente mais experiente. Além disso, não há sistema previdenciário, público
ou privado, que suporte pessoas que contribuem durante trinta ou 35 anos e depois
usufruem outros trinta ou 35 anos. As pessoas afinal não têm mais como objetivo de fim
de vida o ócio. Pelo contrário, estão cada vez mais empenhadas em se tornar úteis e
usufruir a vida. Quanto mais as pessoas têm consciência de si próprias, mais esse
movimento se intensifica.
O fator da longevidade é suficiente para rever alguns aspectos importantes de
expectativas e projetos. Se anteriormente uma pessoa de 40 anos começava a pensar em
aposentadoria, atualmente cultiva projetos de ascensão, de investimento em
desenvolvimento pessoal e visualiza um largo horizonte à frente.
A reflexão sobre tendências oferece munição para pensar com mais clareza sobre as
possibilidades de desenvolvimento e seu dimensionamento no tempo.
Quando as pessoas falam de planos de carreira, têm em mente projetos que deixam
absolutamente claras as possibilidades de desenvolvimento profissional ou apontam com
precisão esse horizonte. Associa-se, portanto, à noção de plano de carreira a idéia de
uma estrada plana, asfaltada e bem conservada que, trilhada pela pessoa, a conduzirá ao
sucesso, à riqueza e à satisfação profissional. Quando se olha para a realidade das
empresas, verifica-se que a carreira é uma sucessão de acontecimentos inesperados de
parte a parte, ou seja, tanto para a pessoa quanto para a empresa. Deve-se pensar a
carreira, portanto, como uma estrada sempre em construção pela pessoa e pela empresa.
Desse modo, ao olhar para a frente, se verá sempre o caos a ser ordenado e, olhando-se
para trás, será possível enxergar a estrada já construída. Uma empresa que administra de
forma compartilhada as carreiras de seus profissionais terá diante de si várias estradas
em construção.
Para uma empresa que trabalha com centenas, milhares ou até dezenas de milhares de
profissionais, seria impossível conciliar as diferentes expectativas de carreira dessas
pessoas com as necessidades organizacionais sem diretrizes, estruturas de carreira ou
instrumentos de gestão, isto é, sem um sistema de administração de carreiras. Tal
sistema não deve ser entendido como uma moldura na qual as pessoas devem
obrigatoriamente se encaixar, mas como a estruturação de opçôes, como forma de
organizar possibilidades e como suporte para que seja possível planejar a carreira dentro
da empresa.
Diversos autores têm apresentado diferentes posições acerca da caracterização do
sistema de administração de carreiras:
110
5.1 PRINCÍPIOS
111
112
Referências bibliográficas
113
SUPER, Donald E.; BOHN JUNIOR, Martín J. Psicologia ocupacional. São Paulo: Atlas,
1972.
SUPER, Donald E. The psychology ojcareers: an introduction to vocational development.
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Er Brothers, 1957.
VAN MA.ANEN, John. Organizational careers: some new perspectives. New York: John
Wiley & Sons, 19
WALKER, James W Human resource planning. New York: McGraw-Hill, 1980.
AUTOR
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1. Introdução
Este capítulo visa delimitar o campo da gestão das relações de trabalho com base num
enfoque crítico e estratégico. Inicia-se por uma breve discussão do conceito de relações
de trabalho e pela análise dessas relações sob dois pontos de vista: da gestão e dos
gestores das organizações e do trabalho e das organizações dos trabalhadores. Discute a
questão dos sistemas de relações de trabalho em alguns países de referência e sua
configuração no Brasil. Relaciona as mudanças recentes dos paradigmas do trabalho e da
gestão e conclui indagando sobre a pertinência da gestão estratégica das relações de
trabalho.
O objetivo deste capítulo, portanto, é contribuir com a formação de competências dos
agentes de gestão das relações de trabalho nas empresas, nos sindicatos, no governo e
nas organizações da sociedade civil.
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social e econômica capitalista, cuja totalidade está determinada pelo modo de produção
das mercadorias, isto é, pela contradição entre o desenvolvimento das forças produtivas
tecnológicas e do trabalho e as relações sociais de produção. Por estar no campo das
relações sociais, as relações de trabalho são influenciadas por costumes, tradições,
ideologias, culturas e, em especial, pelos valores atnbuídos à categoria trabalho,
originários das sociedades que ingressam de forma particular no capitalismo universal.
As relações de trabalho, apreendidas desse modo mais complexo, distinguem-se da
noção de relações industriais, muito difundida nos Estados Unidos e na Inglaterra, cujo
significado abrange apenas o sistema de normas e regulamentação das relações de
trabalho dentro de uma visão estática e normativa que aspira à estabilidade e à ordem
social, omitindo assim a questão essencial da contradição e do conflito entre capital e
trabalho, que imprime a dinâmica de mudança das relações de trabalho ao longo do
tempo.
Ainda, do ponto de vista conceitual, observa-se que as relações de trabalhc não se
restríngem à noção de relações trabalhistas, dado o corte jurídico e normativo dessa
concepção, geralmente definida em texto de lei ou legislação trabalhista € social, assunto
da especialidade do advogado e do direito social e do trabalho. Tampouco à noção de
relações interpessoats no trabalho, que abrange dimensões individuais e
comportamentais, assuntos da especialidade da psicologia organizacional e
comportamental.
Três pressupostos são essenciais para a atualização do conceito de relações de trabalho
como relações entre forças sociais contraditórias:
as relações entre proprietários e não-proprietários dos meios de produção continuam a
prevalecer mesmo com o >advento da informação, do conhecimento e da imaterialidade
nos processos organizacionais e empresariais;
> o trabalhador assalariado é livre para vender sua força de trabalho, realidade
contradítória incontestável porque, caso não consiga vender sua força de trabalho, deixa
de ser livre para viver;
>a produção de bens e serviços, apesar de coletiva e social, marcada pela
interdependência complexa e internacional dos setores de produção material e imaterial,
as chamadas cadeias produtivas, continua determinada em última instância, em
contrapartida, pela apropriação privada dos resultados e concentrada em pequenos
grupos proprietários e gestores.
Em uma única frase: nunca houve, como hoje, tanta concentração de riquezas e de renda
em parcelas minoritárias da sociedade, o que reforça o caráter contraditório dos sistemas
e das formas de trabalho do capitalismo contemporâneo.
Permanece a desigualdade na origem da relação social estabelecida entre agentes antes
do exercício do trabalho na organização e, com efeito, ainda predominam na organização
o domínio e a subordinação do trabalho com respeito ao capital. Convém observar, de um
lado, o surgimento de novas formas precárias de trabalho e, de outro, os deslocamentos
imigratórios em busca de trabalho, cuja mobilidade e liberdade no campo internacional,
tanto incentivada no passado, hoje tem sido coibida e reprimida em plena universalização
do regime de salariado.
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A novidade principal reside nas relações de trabalho estabelecidas nos proces sos
organizacionais e de trabalho chamados imateriais, informacionais e subjetivos, nos quais
aparentemente ocorre uma individualização e autonomização do trabalho das pessoas.
Na verdade, verificam-se a interface e a dependência direta dessas
atividades com relação às cadeias produtivas complexas e baseadas na tecnologia micro-
eletrônica, de hardware e software.
Assim, as relações de trabalho, como arranjos formais e informais entre capia tal e
trabalho, têm uma dinâmica determinada pelos conflitos otiundos da estrutu) ração da
sociedade capitalista, cuja visualização e entendimento são dados através de um recorte
das dimensões micro, meso, macro e hipermacro sociais, que serão estudadas a seguir.
Introduzir a problemática da gestão estratégica das relações de
s trabalho e informar sobre as competências essenciais para lidar com esse campo tem
como requisito básico o conhecimento dessas dimensões, de acordo com a par
ticularidade das sociedades e economias nacionais, nas quais variam as dimensões que
são mais ou menos determinantes na configuração das relações de trabalho.
A dimensão microssocial abrange o local de trabalho, o processo de trabalho, a empresa
ou a organização, nos quais se estabelecem políticas de recursos humas nos e gerenciais
baseadas em filosofias e culturas organizacionais. Consideram-se também, nessa
dimensão, as novas relações de trabalho estabelecidas com as organizações formais,
desde a subcontratação, a terceirização, o trabalho parcial e temporário até o trabalho
informal.
A dimensão mesossocial abrange principalmente as agências de mediação dos
trabalhadores e dos empresários, tais como sindicatos, associações, federações, os
setores empresariais e as cadeias produtivas. É o espaço dos arranjos e sociais e
institucionais que ultrapassa os limites da empresa ou organização e exige da gestão uma
visão setorial e estratégica que articule tanto o ambiente e interno quanto o externo.
A dimensão macrossocial abrange os arranjos do Estado, as políticas públicas e sociais, a
legislação social e trabalhista, o Parlamento e as relações entre forças políticas, que
representam campos de força cujas decisões interferem na sociedade e na economia
como um todo, em particular no mercado de trabalho, na distribuição de renda, no custo
da força de trabalho, na regulamentação das condições a gerais do trabalho etc. Exige da
gestão uma visão macroestratégica capaz de abranger cenários sociais, políticos e
institucionais complexos.
Uma quarta dimensão poderia ser introduzida como hipermacrossocial global devido à
globalização das economias, à atuação das empresas transnacionais, aos arranjos dos
blocos internacionais, como União Européia, Mercosul, Alca, e ao papel cada vez mais
relevante das agências internacionais, como OIT, ONU, FMI e OMC. Cenário
particularmente interessante, nessa dimensão, ocorreu com a realização simultânea em
janeiro e fevereiro de 2001, respectivamente, do Fórum Social Mundial de Porto Alegre,
que reuniu organizações sociais, ONGs, sindicatos e movimentos alternativos, entre
outros, e do Fórum Econômico Mundial de Davos, que reuniu as principais lideranças
econômicas do mundo, com alguma participação de organizações sociais. Outras
questões conflituosas das relações de trabalho têm mostrado sinais de que problemas
corporativos, setoriais e regionais estão
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sendo encaminhados e decididos de forma global, ou seja, nas matrizes das empresas. O
caso da Multibrás, no primeiro semestre de 2001, e o caso da Volkswagen, no segundo
semestre do mesmo ano, ambos envolvendo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, são
exemplos relevantes.
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Eis a outra parte do problema dos processos de controle das relações de trabalho:
as organizações e as ações coletivas dos trabalhadores, em particular o sindicalismo. No
tópico anterior, foram examinadas a forma de organização do capital inscrita nas escolas
e as abordagens da gestão. Além disso, foi apresentada uma pequena introdução a
respeito dos novos papéis da função de RH em face dos problemas existentes nas
relações de trabalho.
A questão ainda não discutida refere-se à causalidade e ao sentido das mudanças de
gestão. É evidente que a concorrência e a competitividade entre as empresas, a
necessidade de realização e de expansão do capital e dos negócios, o desejo de
aperfeiçoamento técnico e de desenvolvimento tecnológico, entre outros aspectos
objetivos, apresentam a necessidade de mudanças na gestão das organizações. No
entanto, o que se deseja enfatizar é o papel central da contradição entre trabalho e
capital, em especial no momento em que as ações e organizações coletivas dos
trabalhadores são desenvolvidas e pressionam por mudanças nos padrões das relações
de trabalho e de gestão.
Toda a estrutura montada para gerir as relações de trabalho na era contemporãnea do
capitalismo, isto é, durante o século XX, entendido por I-lobsbawm (1995) em um dos
seus últimos livros como a era dos extremos, está na proporção direta da atuação da mais
importante organização dos trabalhadores: o sindicato e suas diversas formas de
organização. Em contrapartida, a dessindicalização da força de trabalho está na razão
direta da desregulamentação, da flexibilização, da precarização do trabalho e das novas
configurações das relações de trabalho, na maioria das vezes inseguras e instáveis.
A questão central que se propõe, desde o nascimento e a consolidação dos sindicatos
como agentes de mediação e controle da força de trabalho, é seu significado para o
cotidiano do trabalho nas organizações. Isso quer dizer o que significam as relações de
trabalho sem e com a representação sindical.
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por se converter em coisificação do social ao ignorar as práticas humanas definidoras das
relações sociais de trabalho no cotidiano. Esse também é um problema da perspectiva da
gestão estratégica das relações de trabalho quando pnoriza o controle e o interesse
instrumental pelos resultados econômicos em detrimento das necesis sidades e
aspirações sociais do trabalho.
Feitas as ressalvas, neste ponto é importante discutir o significado de sistema de relações
de trabalho na teoria e na prática, o que implica examinar como são estabelecidas as
regras, as normas e as instituições das relações entre trabalho e capital. Qual o papel dos
antagonistas sociais diretos e do Estado na configuração do sistema? De que maneira as
dimensões definidoras das relações de trabalho participam da configuração de um
sistema? Quais instituições permanecem e quais são obsoletas? Por que, para quem, em
que momento, em que contexto? Pode-se falar hoje em dia em sistema de relações de
trabalho?
A dinâmica dos sistemas de relações de trabalho é em geral definida por questões como
negociação, acordo, contrato, reivindicação de salário, condição de trabalho, jornada de
trabalho, benefício, introdução de novas tecnologias, políticas de qualificação e de
demissão, garantia de representação e participação sindical, entre outras. Cada país,
entretanto, estabelece seu sistema de regras de acordo com suas realidades e com as
práticas e o jogo de forças entre os agentes privados e públicos.
Um ponto de partida dessa análise reside na formação de uma visão geral dos países
capitalistas avançados, como Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Itália e Grã-
Bretanha, entre outros. Apesar da característica semelhante entre esses países na
adoção de um sistema de relações de trabalho baseado na livre negociação e na
contratação do trabalho sem a intervenção direta nem a tutela do Estado, na realidade
ocorrem diferenças paradigmáticas entre eles.
Pelo menos três padrões diferenciados podem ser visualizados: primeiro, o sistema de
relações de trabalho no qual predomina a dimensão microssocial, que se refere à relação
direta entre trabalho e capital no âmbito da empresa, com a presença ou não do sindicato.
É o caso de Estados Unidos, Japão e Inglaterra. O caso americano e o inglês
apresentaram uma dessindicahzação crescente das relações de trabalho nas últimas
décadas e o caso japonês é o paradigma do sindicalismo de empresa. Segundo, o
sistema de arranjos sociais amplos, no qual a dimensão mesossocial das agências de
mediação — arranjos sindicais setoriais e nacionais — é predominante. É o caso de
Suécia, Itália e Espanha. E terceiro, os sistemas de relações mais burocratizados,
institucionalizados e politizados nos quais predominam a dimensão macrossocial, política
e ideológica. É o caso da França e da Alemanha. O sistema alemão de co-gestão e
previdência e o caso da política de redução da jornada de trabalho para 35 horas na
França na forma de lei podem servir de exemplo.
A negociação e a contratação coletivas podem ser consideradas as características mais
gerais dos sistemas de relações de trabalho. Em um sistema negocial, mais
descentralizado, as partes sociais em disputa, ou seja, os antagonistas sociais — trabalho
e capital — estabelecem com maior autonomia e independência as regras do sistema,
criando uma herança, uma cultura, uma tradição e um acúmulo de experiências e ajustes
dos conflitos e das contradições no âmbito da empresa ou estabelecimento.
123
Diferentes são as negociações e contratações coletivas setoriais e nacionais, que
abrangem as relações entre sindicatos de trabalhadores e o setor empresarial por inteuo,
representado por associações ou sindicatos patronais, que estabelecem regras e
regulamentações válidas por certo período. E ainda negociações de caráter político, que
envolvem o estabelecimento de regras abrangentes e válidas para um país inteiro e
geralmente abarcam sindicatos nacionais, centrais sindicais e partidos políticos que, por
pressão, conseguem criar ou alterar leis ou instituições.
No contexto atual, independentemente do sistema adotado, as tendências de mudanças
ocasionadas pela era da acumulação flexível (Harvey, 1992), baseadas na divisão do
mundo do trabalho — entre o trabalho regular e o irregular, o trabalho formal e o informal,
o sindicalizado e o não-sindicalizado, o trabalho estável e o temporário, o contratado e o
subcontratado, o trabalho de tempo integral e o de tempo parcial —, impõem novos
desafios para as relações de trabalho. Tanto as instituições trabalhistas estatizadas ou
institucionalizadas quanto os arranjos negociados diretamente estão ameaçados. A
impressão que se tem é de uma força estrutural que pressiona para a desregulamentação
geral das relações de trabalho.
Uma hipótese a ser discutida, em parte já realidade, é a inadequação da noção de
sistema de relações de trabalho vis-à-vis a diversidade, a heterogeneidade e a
complexidade das relações de trabalho. Talvez o mais adequado fosse definir “mundos
diversos do trabalho” como as relações específicas de trabalho fragmentadas do ponto de
vista estrutural. Qualquer perspectiva unitária ou de reunificação desse conjunto diverso e
heterogêneo, no sentido da formação de uma consciência de classe trabalhadora, estaria
sobretudo determinada pelo campo da política ampla e pública.
124
ção ao contexto socioeconômico e político mais geral. E, particularmente nos anos 1960,
a criação do Sistema Único de Previdência Pública e do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço completou a organização do sistema. Portanto, criou-se um sistema único federal,
centralizado e formal em um meio heterogêneo.
O fato é que a CLT representava ao mesmo tempo atraso e modernização de acordo com
a diversidade de situações de trabalho no Brasil. Um sistema ambíguo que reconhecia e
regulamentava os direitos sociais do trabalho, mas inibia as lutas trabalhistas e sindicais
por melhores condições salariais e de trabalho. Por outro lado, protegia os empregadores
do conflito, mas gerava a falta de cumprimento da legislação por parte deles (os motivos
iam desde o alto custo da contratação do trabalho até uma cultura de desprezo e
desrespeito pelo trabalho alheio, cujas raízes são históricas), o que acionava
permanentemente a função fiscalizadora e judiciária do aparato estatal do trabalho.
É possível verificar o funcionamento do sistema oficial de relações de trabalho baseado
na CLT desde o início até o fim de um contrato formal e individual de trabalho. A
legislação social — Previdência Social, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço, férias,
décimo terceiro salário, cobertura por acidentes e doenças etc. — estabelece uma relação
de dependência com o vínculo empregatício. O controle e a proteção do trabalhador
individual estendem-se á esfera coletiva de uma categoria ou setor econômico, cuja
atualização das condições de trabalho depende dos arranjos negociais, por meio de
acordos e convenções coletivas de trabalho, cujo processo, definido em lei, nunca poderia
subtrair direitos já definidos na lei maior. O problema social maior ocorre, como se sabe,
quando cessa o contrato de trabalho, pois todo o edifício de proteção social tende a
desmoronar, provocando a chamada precanzação e degradação do trabalho e produzindo
a informalidade e a economia subterrânea.
Enfim, o sistema oficial de relações de trabalho no Brasil tem uma imagem de rigidez
devido a esse caráter corporativista, fiscalizador e de estrutura complexa de controle e
organização, dependente do Estado, sem liberdade plena para os sindicatos, sem a livre
contratação e negociação entre as partes, bastante diferente dos sistemas utilizados nos
países capitalistas avançados, como foi estudado anteriormente. De outro lado, revela-se
o caráter de proteção social importante no mundo de hoje.
Do ponto de vista histórico, o efeito desse processo foram a inibição do nível microssocial
— empresarial e organizacional — para desenvolver e criar formas de gestão das
relações de trabalho de acordo com a emergência dos conflitos nas organizações, a
definição de um sistema de relações burocratizado e controlado entre os sindicatos e os
setores empresariais e a predominância da dimensão macroinstitucional determinada pelo
controle do Estado sobre as partes, o que levou a uma acomodação generalizada em
relação ao sistema (sua longevidade é uma das provas desse argumento).
As mudanças nesse cenário iniciam-se com a transição da ditadura para a democracia e
as relações dialéticas do processo com as relações de trabalho. Emergem um novo
sindicalismo e um padrão mais descentralizado de relações de trabalho, principalmente
nos pólos avançados e dinâmicos do capitalismo brasileiro. A Constituição de 1988
representou uma inflexão nesse processo na medida em
125
Antes de 1930:
1930-45:
1946-63:
>Politização do sindicalismo.
1964-77:
1978-87:
1988-94:
>manutenção do corporativismo.
>Unicidade sindical.
>Monopólio de representação.
>Justiça do trabalho.
1995-2000:
>Terceirização do trabalho.
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127
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8. Considerações finais
Este capítulo termina com uma indagação: é possível a gestão estratégica das relações
de trabalho?
Diante do que já foi estudado, a resposta parece evidente: é possível gerir as relações de
trabalho quando se articulam diversas dimensões complexas, e isso requer visão
estratégica, do micro ao contexto macroglobal, para compreender os arranjos
institucionais e informais de regulação que interferem nas relações sociais e entre classes
sociais, grupos e indivíduos em situação de trabalho.
Na medida em que o planejamento foi separado da execução do trabalho, a gestão das
relações de trabalho se impõe e permeia todo o processo sistêmico de trabalho desde o
ingresso no mercado de trabalho, o recrutamento e a seleção em uma
130
131
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AUTOR
1. Introdução
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Tal visão tem duas implicações relevantes para os estudos de aprendizagem e gestão do
conhecimento. Primeira, o reconhecimento de que recursos implicam ativos tangíveis e
intangíveis. Conjuntos de habilidades e conhecimento, desenvolvidos através de
processos de aprendizagem, são ativos que desempenham um papel estratégico na
“economia do conhecimento”. Segunda, à medida que os recursos específicos da
empresa recebem maior atenção, questões relacionadas a como eles podem ser
desenvolvidos tornam-se cada vez mais relevantes e decorrem de processos de
aprendizagem (Moingeon e Edmondson, 1996). O conhecimento desempenha um papel
central e estratégico nos processos econômicos, e os investimentos nos ativos intangíveis
crescem mais rápido do que os investimentos nos ativos físicos ou tangíveis. Países,
empresas, pessoas com mais conhecimento são mais bem-sucedidos, produtivos e
reconhecidos.
O objetivo deste capítulo é propor o debate dos conceitos de aprendizagem e gestão do
conhecimento, no intuito de clarificar idéias e encaminhar discussões práticas, através do
processo de aprendizagem e gestão do conhecimento que as organizações podem
desenvolver as competências necessárias para a realização de sua estratégia competitiva
(Fleury e Fleury 2000).
2. Recuperação do conceito de aprendizagem
3. Aprendizagem organizacional
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Entretanto, foi a partir da divulgação dos trabalhos de Peter Senge sobre as chamadas
learning organizations, ou organizações que aprendem, que o tema ganhou destaque,
extrapolando o mundo acadêmico. É evidente, porém, que um pesquisador/consultor, por
mais prestigiado que seja, não consegue por si só deflagrar uma nova onda de
pensamento na administração se ela não encontrar ressonância e for consistente com as
necessidades das empresas naquele momento histórico. E foi justamente isso o que
aconteceu com esse conceito e com as propostas de desenvolvimento de dinâmicas de
aprendizagem nas organizações.
É por intermédio do processo de aprendizagem que a organização pode desenvolver as
competências essenciais ao seu posicionamento estratégico. O processo de
aprendizagem está intimamente ligado à gestão do conhecimento nas empresas, como se
verá mais adiante.
As organizações podem não ter cérebros, mas possuem sistemas cognitivos e memórias
e desenvolvem rotinas, ou seja, procedimentos relativamente padronizados para hdar
com problemas internos e externos. Tais rotinas vão sendo incorporadas na memória
organizacional. As mudanças em processos, estruturas ou comportamentos não seriam,
por si sós, indicadores de que a aprendizagem realmente aconteceu: é necessário
também que esse conhecimento sej a recuperado pelos membros da organização.
O conhecimento é um recurso que pode e deve ser gerenciado para melhorar o
desempenho da empresa. Ela, portanto, precisa descobrir as formas pelas quais o
processo de aprendizagem organizacional pode ser estimulado e investigar como o
conhecimento organizacional pode ser administrado para atender às suas necessidades
estratégicas, disseminado e aplicado por todos como uma ferramenta para o sucesso da
empresa.
Conhecimento pode ser definido como “o conjunto de crenças mantidas por um individuo
acerca de relações causais entre fenômenos” (Sanchez, Heene e Thomas,
138
1996), entendendo relações causais como relações de causa e efeito entre ações e
eventos imagináveis e suas prováveis consequências. O conhecimento da empresa é
fruto das interações que ocorrem no ambiente de negócios e se desenvolve através do
processo de aprendizagem. O conhecimento pode ser entendido como o conjunto de
informações associadas à expenência, à intuição e aos valores (Fleury e OliveiraJr.,
2001).
É possível distinguir dois tipos de conhecimento: o explícito e o tácito. O conhecimento
explícito, ou codificado, refere-se ao conhecimento transmissível em linguagem formal,
sistemática, enquanto o conhecimento tácito possui uma qualidade pessoal, tomando-se
mais difícil de ser formalizado e comunicado: “O conhecimento tácito é profundamente
enraizado na ação, no comprometimento e no envolvimento em um contexto específico”
(Nonaka, 1994).
O conhecimento tácito, segundo Nonaka, consiste em parte de habilidades técnicas, o
tipo de destreza informal e de difícil especificação incorporado ao termo know-how
(Nonaka, 2001).
Na visão de Spender (2001), tácito não significa conhecimento que não pode ser
codificado, mas que ainda não foi explicado. O autor menciona que o conhecimento tácito,
rio local de trabalho, apresenta três componentes:
> Consciente: facilmente codificável, pois o indivíduo consegue entender e explicar o que
está fazendo.
> Automático: o indivíduo não tem a consciência de que o está aplicando.
> Coletivo: conhecimento desenvolvido pelo indivíduo e compartilhado com outros; é
resultado da formação aprendida em um contexto social específico.
Pode-se distinguir diversos níveis de interação social através dos quais se cria
conhecimento na organização. É importante que a organização seja capaz de integrar
aspectos relevantes do conhecimento desenvolvido a partir dessas interações. A fim de
apresentar uma compreensão melhor de como o conhecimento é criado e de como a
criação do conhecimento pode ser gerenciada, Nonaka e Takeuchi (1995) propõem um
modelo de conversão de conhecimento. Ele pressupõe quatro formas de conversão de
conhecimento.
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Referências bibliográficas
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AUTORES
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balizado e das mudanças comportamentais que eles desencadearam vem
condicionando empresas e organizações de todos os tipos a reverem suas
“características genéticas”.
O conceito de transformação, no lugar da concepção anterior de mudança
organizacional, reflete também uma profunda alteração da visão de mundo e do
conteúdo ideológico dos modelos de gestão. O paradigma da transformação
pressupõe que o esforço de direcionamento de uma organização deve estar
voltado para o aperfeiçoamento contínuo, e não para a estabilidade de normas,
padrões e regras previamente instaurados e perenemente tornados rotineiros. E
que o gestor deve funcionar como facilitador de condições e recursos que
propiciam o desenvolvimento permanente. Ele não centraliza, mas mobiliza, as
informações e o conhecimento; ele não limita, mas amplia, a participação e o
intercâmbio; ele não restringe a abrangência, mas coordena as ações específicas
de mudança para assegurar sua integração.
2. Modelando o processo de transformação
A concepção e a implantação de um processo de mudança organizacional exigem
que se assuma um conjunto de pressupostos básicos. O primeiro é que nas
modernas organizações complexas que atuam no âmbito do Estado, do mercado
ou do chamado terceiro setor a transformação organizacional é um dos processos
organizacionais inerentes à dinâmica de funcionamento e às estratégias de ação
definidas pela organização. Ela funciona como um processo contínuo de
construção e reconstrução do significado da organização, com o qual se busca
aperfeiçoar sistemas, processos, políticas e práticas que constituem sua gestão e
desenvolver as competências — pessoais e organizacionais — que constituem
seu mais valioso patrimônio. Como um dos mais importantes processos
organizacionais, a transformação não pode ocorrer de forma imprevista e
extemporânea, ao sabor de acontecimentos fortuitos, mas deve ser modelada e
gerenciada com instrumentos que assegurem sua internalização nas esferas mais
íntimas da organização.
O pressuposto seguinte estabelece a conexão entre estratégia e transformação.
Isto é, o diagnóstico de “por que mudar” e “o que mudar” depende da clara
compreensão de como interagem dois pólos de qualquer organização: de um lado,
o direcionamento estratégico, constituído pelo intento estratégico e pelos focos
que direcionam as estratégias propriamente ditas; de outro, o conjunto de
elementos que integram o conteúdo de sua gestão e cuja composição determina
seu nível de excelência.
A Figura 1 ilustra a sinergia entre os componentes da lógica do funcionamento
organizacional. O direcionamento estratégico é a face visível do desempenho
organizacional, como a organização quer ser vista e como ela é vista e avaliada
nas relações estabelecidas com o ambiente externo. É pelo desempenho dessa
engrenagem que ela é mensurada em termos de competitividade externa. Ter
atingido ou não os focos de suas estratégias confere-lhe a medida de sucesso ou
fracasso.
Contudo, apesar de sua visibilidade predominante, a engrenagem do
direcionamento estratégico não tem força motriz própria. Ela depende do
acionamento da
152
:Figura 1.
Sinergia entre os componentes da lógica do funcionamento
organizacional
energia e da velocidade que são produzidas e lhe são transferidas pelo movimento
da engrenagem menor. Esta é composta de todos os elementos constituintes da
configuração organizacional, e seu funcionamento gera um fator que se pode
chamar, provisoriamente, de competitividade interna por analogia com o
desempenho competitivo usado para mensurar a organização. A competitividade
interna não é um indicador de concorrência entre os componentes do contexto
interno, mas do grau de higidez, de condicionamento, de prontidão com que se
apresentam no processo de gerir a organização2.
comum que esses componentes apresentem diferentes graus de desenvolvimento
e aptidão para alavancar a competitividade externa. A organização pode, por
exemplo, dispor de excelentes instrumentos de gestão, porém não oferecer às
pessoas condições de desenvolver habilidades que façam esses instrumentos
funcionar com rendimento máximo. Ou então foram feitos investimentos para
modelar uma estrutura organizacional moderna e flexível, mas nenhum
aperfeiçoamento foi levado a efeito para superar as deficiências de comunicação
interna. Assincronias desse tipo não impedem o funcionamento da organização,
mas acarretam perdas e disfunções que, se não podem ser diretamente
observáveis no movimento da engrena-
153
Figura 2.
Etapas do processo de transformação
organizacional
estocada, otimizando o emprego dos recursos humanos e estimulando o
desenvolvimento de suas competências pessoais e profissionais.
Concebido desse modo, o processo busca delinear um modelo de gestão focado
em resultados; identificar os fatores restntores e facilitadores de sua
implementação; gerar um programa de disseminação que assegure a
compreensão e a adesão do público interno; delinear os instrumentos gerenciais
necessários para alcançar a excelência de gestão.
A metodologia empregada na concepção e implementação do processo de
transformação organizacional pode ser sintetizada no modelo de quatro etapas
interdependentes: auscultação, concepção, disseminação e sustentação. Como as
transformações organizacionais são processos, e não uma sucessão de
mudanças estanques e isoladas, as etapas podem tanto se sobrepor umas às
outras como ser conduzidas concomitantemente, conforme as especificidades do
processo de transformação organizacional. Assim, a nítida separação entre as
etapas do processo mostrada na Figura 2 é apenas um recurso utilizado para
facilitar a compreensão dos objetivos, das finalidades e dos procedimentos
empregados em cada fase.
155
156
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158
159
:Figura 3.
Estrutura de gestão do processo de transformação organizacional
160
O grupo de mobilização passa a ser uma estrutura informal que gere a transição
inicial do processo de transformação. A dinâmica do processo de transformação
tende a alterar as relações de poder na organização e tomar quase inevitável uma
reestruturação organizacional. O grupo de mobilização fica responsável pela
gestão de aspectos estratégicos da organização, podendo, ao menos em
princípio, gerar transformações em larga escala, como modificar a missão, os
objetivos, a estrutura e os principais processos organizacionais.
Da mesma forma, os grupos-tarefa passam a conhecer melhor à organização e
suas atividades. Interagem entre si e rompem as tradicionais barreiras criadas
pela departamentalização. Discutem os principais problemas que prejudicam a
organização e desenvolvem projetos com o objetivo de aperfeiçoar seu modelo de
gestão.
Esses processos configuram uma mudança organizacional que pode estremecer
relações de poder, favorecer o surgimento de novas lideranças e transformar
aspectos da própria cultura organizacional. A profundidade dessas mudanças
pode ser determinante para o papel que caberá aos grupos de mobilização e aos
grupos- tarefa ao término da etapa de concepção. Em geral, quanto mais
profundas as mudanças, maior é a necessidade de redesenho da estrutura
organizacional.
A etapa de disseminação amplia a participação dos funcionários no processo de
transformação organizacional de forma gradativa, em eventos estruturados, nos
quais os seguintes objetivos devem ser atingidos:
disseminar o conteúdo dos produtos elaborados pelo grupo de mobilização que
atuou na etapa de concepção;
aferir o grau de compreensão e adequação das propostas de mudança à realidade
organizacional vivenciada pelos participantes;
adequar ou detalhar propostas/produtos com abrangéncia genérica nas diferentes
áreas organizacionais;
> gerar idéias, sugestões e críticas que aperfeiçoem as propostas originalmente
concebidas, agregando novos valores, adequando suas especificações à
realidade organizacional e propiciando uma efetiva concepção construtivista da
gestão estratégica da organização;
> estimular a adesão consciente dos participantes aos princípios e critérios dos
produtos gerados, para que seja possível obter a intemalização desses princípios,
visível nas práticas cotidianas dos profissionais, e o comprometimento com
resultados, os quais podem ser aferidos com sistemas de avaliação da
performance organizacional.
Tais objetivos indicam que a etapa da disseminação é crucial, porque contrapõe
as propostas geradas na concepção às necessidades da organização e
expectativas dos demais funcionários. Além disso, a disseminação obriga que se
aperfeiçoe a estrutura de gestão do processo de transformação, a qual deve ser
provisória e flexível para facilitar a implementação, mas conter alguns princípios
básicos que serão mantidos na modelagem de uma estrutura permanente: decisão
próxima da ação, processos decisórios consensuais e comunicação interna em
mão dupla e em fluxo permanente, para assegurar a transparência do processo e
a ampliação da participação.
161
Nessa etapa, o grupo de mobilização se amplia e assume papéis cada vez mais
importantes. Os componentes devem transformar-se em multiplicadores,
disseminando conceitos e idéias sobre o processo, conquistando novos
segmentos da organização e a adesão e o comprometimento necessários para a
transformação efetiva.
As atividades de disseminação devem ser planejadas, para que se estabeleça um
equilíbrio entre a difusão de informações, que pode gerar “ansiedade
organizacional”, e a quantidade de gestores comprometidos e em condições de
dar a necessária sustentação ao processo. O grupo de mobilização deve ter
condições de gerir os eventos, multiplicar os facilitadores, absorver as sugestões
de reformulação e atualizar os produtos, conforme a reação dos grupos
participantes dos eventos e o andamento das ações de mudança.
A etapa de sustentação do processo de transformação organizacional envolve um
conjunto de atividades com o propósito de efetuar o monitoramento e a avaliação
das ações e dos rumos do processo. A partir desse momento, os gestores da
organização devem estar capacitados para empregar técnicas de levantamento de
informações que funcionem como uma espécie de auscultação permanente,
trazendo subsídios para o contínuo aperfeiçoamento do processo.
A gestão participativa deve propiciar oportunidades para a discussão dos
principais problemas da organização e a revitalização dos compromissos que
unem os gestores em torno de objetivos comuns.
3. Gerenciando a mudança organizacional
Quando se pensava a mudança no contexto do paradigma da estabilidade, sua
ocorrência era considerada um fenômeno organizacional quase inadministrável.
As ferramentas de gerenciamento existentes limitavam-se a técnicas e
procedimentos da administração de projetos.
O gestor tendia a se sentir impotente, ele era dirigido pelo fluxo da mudança e
respondia de forma reativa a sua manifestação, incapaz de conduzi-lo e controlá-
lo.
O desafio trazido pelas organizações complexas modernas é permanecer em
constante desenvolvimento e, frequentemente, provocar saltos de transformação
organizacional. É um processo que pode e deve ser gerenciado tanto nos
aspectos objetivos, dos aperfeiçoamentos técnicos e administrativos requeridos
em cada situação específica, quanto nos aspectos menos visíveis — como os
padrões culturais e a dinâmica das relações de poder —, subjacentes ao
processo, mas com uma influência tão poderosa quanto os primeiros.
Na consolidação de um processo de transformação organizacional, certos
aperfeiçoamentos são essenciais para alterar tanto os aspectos objetivos quanto a
intimidade da organização. Um deles é a revisão da estrutura organizacional,
entendida como o modo de divisão da organização em diferentes áreas ou
espaços organizacionais que explicitam as competências, as relações de
autoridade e subordinação e os canais formais de comunicação e decisão que
regem o funcionamento da organização. É fundamental que as estruturas sejam
delineadas com base na revisão do modelo institucional e levem em conta os
princípios de flexibilidade, compartilhamento das decisões e descentralização das
atividades.
162
163
AUTORA
ROSA MARIA FISCHER
Professora associada da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
da Universidade de São Paulo (FEA-USP), onde ministra cursos de graduação e
pós-graduação, com mestrado e doutorado pela Faculdade de Ciências Sociais da
USP e livre-docência pela FEA-USP. Foi coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Administração e conselheira do Programa MBA-Executive
Intemational da FEA-USP Coordena o Centro de Estudos em Administração do
Terceiro Setor (Ceats),‟da FEA-USP, e o Programa de Estudos em Gestão de
Pessoas (Progep), da FIA/FEA/USP. Supervisora de projetos de pesquisa,
consultoria, treinamento e desenvolvimento da Fundação Instituto de
Administração (FIA), da FEA-USP, da qual é conselheira-instituidora. Docente
titular do Conselho Departamental e da Egrégia Congregação da FEAUSP
Coordena e ministra seminários, cursos e eventos nas áreas de gestão de
mudanças e de recursos humanos, sociologia das relações do trabalho, inovação
e estratégia, cultura e poder nas organizações. Diretora-instituidora da Fischer &
Dutra Gestão Organizacional, que concebe e implementa projetos de
transformação organízacional para empresas privadas e estatais, órgãos da
administração pública e entidades do terceiro setor. Sócia-fundadora e membro
permanente do Conselho Deliberativo do Centro de Estudos sobre Cultura
Contemporânea (Cedec). Participou da equipe de pesquisadores do Centro
Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap). Conselheira do Núcleo de Estudos
sobre a Violência da USP e integrante do Conselho Editorial da Revista de
Administração. Assessora da Fundação para Apoio à Pesquisa do Estado de São
Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e secretária da Rede Latino-Americana da Intemational
Society for Third-Sector Research (ISTR). , ainda, autora de diversos livros e
artigos.
164
:Figura 1
Relação entre comportamento inovador e criativo de um novato
cultura — que tem sido seu guia efetivo desde o passado, e sua resposta natural é
mantê-lo. Mesmo quando conseguem superar essa miopia, reagem aos eventos
de mudança de acordo com tal cultura (Sapienza, 1990; Lorsch, 1990).
Para o administrador não é suficiente identificar a cultura da organização e a
influência que ela exerce no processo de gestão. É essencial que ele compreenda
como essa cultura é transmitida ou aprendida pelos participantes da organização,
o que possibilita seu gerenciamento. Nesse ponto, a análise do processo de
socialização organizacional — entendido como “o processo pelo qual uma pessoa
aprende valores, normas e comportamentos exigidos, o que lhe permitirá participar
como membro de uma organização, e esse processo é contínuo durante toda a
carreira do indivíduo na organização” (Van Maanen, 1976) — pode lançar luz na
compreensão do que está sendo feito para adaptar os novos empregados à
cultura organizacional (Anthony, Perrewé e Kacmar, 1996; Robbins, 1998). Falhas
na condução do processo de socialização dos empregados podem provocar
(Schein, 1971; Wanous, 1992):
> rejeição, que pode levar o empregado a ser expelido da organização ou a
canalizar sua energia contra os objetivos da empresa;
conformidade, que pode embotar sua criatividade e fazê-lo trabalhar de forma
estéril e burocrática, o que faz com que a organização se torne frágil no contexto
atual;
> aumento do custo da rotatividade e absenteísmo de pessoal.
O desejo de toda empresa é criar um tipo de individualismo criativo. Nesse caso, o
novato aceita os valores essenciais da empresa (que podem ser: realizar um bom
trabalho, obter lucro, produzir com qualidade, acreditar em mercado e competição,
entre outros), mas, cuidadosamente, procura manter-se independente de todas as
normas e valores que são relevantes, mas não essenciais.
Para o administrador de recursos humanos o conceito de socialização é cada vez
mais Util para planejar ações que podem ser inseridas nas políticas e práticas de
166
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169
170
171
tar o estresse, utiliza uma abordagem de tentativa e erro para descobrir quais são
as expectativas de seu superior ou usa mecanismos de defesa que mascaram a
realidade da situação, aumentando, portanto, a probabilidade de ficar insatisfeito e
ansioso com seu papel, distorcendo a realidade e apresentando baixa
performance.
5. Socialização ocupacional
O significado do trabalho perpassa e define fortemente o sentida da vida adulta na
maioria das sociedades ocidentais. Os valores e comportamentos associados com
o trabalho são entrelaçados com o tecido dos indivíduos, da cultura e das
sociedades. O trabalho preenche, em nossa sociedade, um conjunto de
necessidades do indivíduo, como subsistência, realização pessoal, independência,
apoio social, estruturação do tempo e estabelecimento de identidade. Proporciona
um papel ou posição ocupacional que o identifica. “A identidade do papel
profissional está enraizada na sociedade e vinculada a papéis recíprocos e
obrigações que dão significado para a vida e status para o ocupante” (Merton,
1957, apud Katz e Feroz, 1992).
Em uma sociedade que valoriza o trabalho, não estar engajado em uma ocupação
pode levar à desvalorização pessoal. No início da fase adulta, o indivíduo tem de
fazer uma escolha de vital importância, que é a ocupação — escolha que pode
exigir muitos anos de treinamento no sistema educacional.
5.1 IDENTIDADE SOCIAL.
A parte socializada do self é normalmente chamada de identidade e é apropriada
pelo indivíduo num processo de interação com os outros. Somente se a identidade
for confirmada pelos outros é que se torna real para o indivíduo (Berger e Berger,
1979). Identidade é um termo poderoso porque fala da definição de uma entidade
— organização, grupo ou pessoa — e é um construto-chave do fenômeno
organizacional e subtexto de muitas sessões de estratégia, iniciativas de
desenvolvimento organizacional e esforços de socialização. Parte da força desse
construto vem da necessidade que uma entidade tem de responder à questão
“quem somos nós?” ou “quem sou eu?” para poder interagir efetivamente com
outras entidades. Da mesma forma, as outras entidades precisam responder à
questão inicial “quem é ele?” para uma interação efetiva. Portanto, identidades
situam a organização, o grupo e a pessoa (Albert, Ashforth e Dutton, 2000).
Esse construto não é um termo novo na literatura, mas ganhou força na vida
organizacional contemporânea. Numa visão macro, o ambiente se torna mais
complexo e dinâmico, as organizações ficam mais orgânicas com o achatamento
das estruturas hierárquicas, o crescimento do poder dos times e a terceirização de
competências secundárias, e à medida que as formas convencionais de
organização são desmanteladas o são também os repositónos da história e os
métodos organizacionais, assim como os meios organizacionais pelos quais as
organizações se perpetuam. Gradativamente, a organização reside na cabeça e
no coração de seus mem-
172
Numa visão micro, diante do imenso enxugamento das organizações nos últimos
anos, a diminuição de contratos relacionados de longo prazo em favor de
contratos transacionais de curto prazo ( Rousseau,1995 ) e o crescimento das
carreiras
173
boundaryless fazem com que a noção de identificação e a lealdade do funcionário
para com o empregador, grupo de trabalho ou ocupação pareçam fora de moda,
até mesmo ingênuas. Entretanto, é justamente pela perda dessas amarras
organizacionais que a identidade individual é um tema crítico.
Na sociedade pré-industrial era possível antecipar o futuro baseando-se no futuro
dos pais e dos avós. Na era industrial muitas tradições foram erradicadas, mas as
escolhas de identidade no que dizia respeito à ocupação, ao empregador, à
vizinhança e aos amigos tinham uma característica de permanência. Neste tempo
pós-industrial, entretanto, há muito menos identidades atnbuídas; mais opções de
identidade, mais tolerância a diversidades e mudanças de identidade mais
freqüentes no decorrer da vida.
Tais identidades são construídas pelo processo de socialização, que se inicia na
infância, combinando-se os mecanismos de desenvolvimento das capacidades e
de construção de regras, valores e signos proporcionados não só pela família mas
também pelo universo escolar e pelos grupos de idade, nos quais ocorrem as
primeiras experiências de cooperação, fabricando-se as primeiras identidades.
Essa socialização contribui, também, para fornecer as referências culturais com
base nas quais os individuos irão identificar seus grupos de referência, interiorizar
seus traços culturais e antecipar suas próximas socializações. A socialização
contínua é inseparável das mudanças estruturais que afetam os sistemas de ação
e induzem às reconversões periódicas das identidades previamente constituídas e
das construções mentais que lhe são associadas.
As identidades estão em movimento, e essa dinâmica de desestruturação e
reestruturação conduz a uma crise. Cada configuração de identificação toma a
forma de uma mistura no seio da qual as antigas identidades se chocam com as
novas exigências de produção e na qual as antigas lógicas entram em
combinação e, às vezes, em conflito com as novas tentativas de racionalização
econômica e social (Dubar, 1991).
6. Socialização organizacional
Van Maanen (1976) define a socialização organizacional como o processo pelo
qual a pessoa aprende valores, normas e comportamentos esperados, que lhe
permitem participar de um processo contínuo durante sua carreira dentro da
organização.
A socialização bem-sucedida proporciona ao individuo nova auto-imagem, novo
comprometimento, novos valores e novos talentos. O processo motivacional para
assumir o novo papel começa a ser desenvolvido através da seleção ou
socialização por antecipação (isto é, a preparação para o papel começa a ocorrer
antes da entrada formal do indivíduo na organização).
A socialização não se restringe ao momento no qual o indivíduo está no grupo. Há
uma etapa que antecede o contato com a realidade do novo posto de trabalho
(Wanous et ai., 1984; Feldman, 1976; Louis, 1980). Essa etapa possui duas
dimensões importantes:
174
:Figura 2.
Controle sobre o novato: seleção e socialização
organizacional
a imagem que a nova organização tem para a pessoa que vai ser admitida; as
expectativas que esse candidato tem de sua atividade na nova organização.
Tais dimensões:
175
Quadro 1.
Modelo integrado de socialização organizacional
176
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178
179
Quadro 2.
Classificação das estratégias de socialização
180
181
Referências bibliográficas
ALBERT, Stuart; ASHFORTH, Blake E.; DUTTON, Jane E. Organizational identity
and identification:
Charting new waters and buiiding new bridges. The Acadeiny of Manageinent
Review, v. 25, n. 1, p.
13-17,Jan. 2000.
ANTHONY, William P.; PERREWÉ, Pamela L.; KACMAR, K. Michele. Strategic
hurnan resource management.
Orlando: Dryden Press, 1996.
182
183
MARISA EBOLI
1. Introdução
185
186
187
sobre o perfil dos gestores e colaboradores que as empresas esperam encontrar nas
próximas décadas. Exige-se cada vez mais das pessoas uma postura voltada para o
autodesenvolvimento e para a aprendizagem contínua. Para implementar esse novo perfil
é preciso que as empresas implantem sistemas educacionais que privilegiem o
desenvolvimento de atitudes, posturas e habilidades, e não apenas o conhecimento
técnico e instrumental.
Essas tendências apontam um novo aspecto na criação de uma vantagem competitiva
sustentável: o comprometimento da empresa com a educação e o desenvolvimento das
pessoas. Surge assim a idéia da universidade corporativa (UC) como eficaz veículo de
alinhamento e desenvolvimento dos talentos humanos com as estratégias empresariais.
O novo estilo de gestão exigirá que se forme uma verdadeira cultura empresarial de
competência e resultado, o que supõe profundas mudanças não só na estrutura, nos
sistemas, nas políticas e nas práticas mas também essericialmente na mentalidade
organizacional e individual.
A educação corporativa será fundamental nesse processo como energia geradora de
sujeitos modernos, capazes de refletir criticamente sobre a realidade organizacional, de
construí-Ia e modificá-la continuamente em nome da competitividade e do sucesso. Além
disso, favorece a inteligência e o alto desempenho da organização na busca incansável
de bons resultados.
188
modelo de gestão de pessoas que adotam: ABB, Accor Brasil, Alcoa, BankBoston,
Brahma, Citibank, Dow Química, Dupont, Unilever, HP, IBM, 3M, Microsoft, Motorola,
Natura, Nestlé, Rhodia, Siemens e Xerox.
interessante notar que várias dessas empresas, além de ter sólido sistema de educação
corporativa, também se tomaram conhecidas por dispor de uma cultura empresarial
competitiva, que alavanca suas estratégias de negócio. ABB, BankBoston, Brahma, HP e
3M já se tornaram exemplos clássicos no assunto.
Outro resultado importante da pesquisa refere-se aos principais desafios estratégicos de
gestão de pessoas. Os mais mencionados foram:
189
É sabido que, neste milênio, a base geradora da riqueza das nações será constituída pela
organização social e pelo conhecimento criador. Não é por coincidência que o tema
universidades corporativas desperta tanto interesse nas empresas realmente
preocupadas com a competitividade, propiciando ao mesmo tempo encantamento e
polêmica.
A universidade corporativa surge no século XXI como o setor de maior crescimento no
ensino superior. Para compreender sua importância tanto como novo padrão de educação
superior quanto, em sentido amplo, como instrumento-chave de mudança cultural, é
necessário compreender as forças que sustentaram o aparecimento desse fenômeno
(Meister, 1999). Em essência, são cinco:
190
191
Tampouco nada impede que seja adotado o rótulo e não seja incorporada a prática,
mantendo-se os vícios e práticas do mais obsoleto centro de T&D. Mas o que se deve ter
em mente é que a UC é mais que uma nomenclatura que se convencionou.
A UC, portanto, é um sistema de desenvolvimento de pessoas pautado pela gestão por
competências. As UCs estão para o conceito de competência assim como os tradicionais
centros de T&D estiveram para o conceito de cargo.
Ao longo deste capítulo o leitor verá que os termos universidade corporativa e educação
corporativa serão usados livremente, como equivalëntes. Talvez não seja uma
aproximação totalmente correta do ponto de vista conceitual, mas, na medida em que o
surgimento do conceito de universidade corporativa foi o grande marco da passagem do
centro de T&D tradicional para uma preocupação mais ampla e abrangente com a
educação de todos os funcionários de uma empresa, na prática é a universidade
corporativa que traz à tona a nova modalidade de educação corporativa.
Uma forma de avaliar o real fôlego de um projeto de UC é observar se a empresa também
está trabalhando com o conceito de competência em outros subsistemas da gestão de
RH, e não apenas em T&D. Se o conceito de competência é incorporado e assimilado
como um valor da empresa, esta tende a contratar por competência, a remunerar por
competência, a avaliar por competência etc. Torna-se, mais que um conceito, um valor e
uma prática empresarial. Dessa forma, a UC evidencia-se como uma mudança
significativa em relação ao ultrapassado centro de T&D.
A propalada gestão do conhecimento torna-se fundamental para o sucesso das
empresas. Preocupadas, as organizações estão entrando numa nova realidade,
reconhecendo a rápida obsolescência do conhecimento e a necessidade de não só
assimilar mas também gerar conhecimentos, especialmente os vinculados aos negócios
da empresa.
O número de organizações com UC nos Estados Unidos cresceu de 400 em 1988 para
aproximadamente 1.600 em 1998. As experiências mais famosas são as de empresas
como AT&T, Deli, Disney, First Union Bank, Ford, General Electric, General Motors,
Lucent, McDonald‟s, Motorola e Xerox. Os custos ficam em torno dos mesmos 3% a 5%
da folha de pagamento gastos com os centros de T&D tradicionais.
No Brasil, as experiências pioneiras bem-sucedidas são de empresas como Accor Brasil,
Algar, ABN-RealAmiI, Brahma, BankBoston, Carrefour, Datasul, Elma Chips,
Fischer&America, Illy Café, McDonald‟s, Metrô, Motorola, Novartis
Agribusiness, Orbitail, Sabesp, Siemens, Souza Cruz, Telemar, Unimed e Visa.
As organizações que aplicam os princípios inerentes à UC estão criando um sistema de
aprendizagem contínua em que toda a empresa aprende e trabalha com novos processos
e novas soluções e compreende a importância da aprendizagem contínua vinculada a
metas empresariais.
Escanear o futuro para antecipar uma nova onda de tendências, que permita incorporar
práticas organizacionais que façam as pessoas trabalhar cada vez mais, melhor e mais
rápido, é uma preocupação constante.
192
193
194
EDUCAÇÃO CORPORATIVA
PRINCÍPIOS DE SUCESSO
Para que seja construída com sucesso a ponte entre o desenvolvimento de talentos
(competências humanas) e as estratégias de negócio (competências empresariais), o
projeto de educação corporativa deve contemplar a identificação, a formação e a
mobilização dessas competências no sentido de agregar valor ao negócio.
O conceito de competências críticas, criado por C. K. Prahalad e Gary Hamel, dois dos
maiores gurus da estratégia empresarial, é amplamente conhecido e aceito no mundo
corporativo. Os próprios autores têm reforçado com muita ênfase a necessidade de as
empresas reexaminarem suas competências, incorporando e administrando as novas
competências requeridas, por causa das significativas mudanças em andamento no
contexto global.
195
196
O conhecimento como a principal fonte de vantagem competitiva das empresas que visam
ao desenvolvimento sustentável é uma verdade que vem conquistando defensores em
todas as esferas da vida organizacional.
O desafio das empresas realmente competitivas não é mais simplesmente produzir bens
e serviços, mas desenvolver atividades que gerem soluções integradas não só para
clientes e consumidores mas para toda a cadeia de agregação de valor.
Observa-se, na vivência das empresas, que a ênfase principal da gestão do
conhecimento ainda se refere ao aspecto técnico, ou seja, à implantação de um sistema
grandioso e abrangente do ponto de vista da estrutura tecnológica necessária para que a
gestão do conhecimento ocorra. Sem dúvida, a estrutura tecnológica é
197
> Assimilação: diz respeito ao processo de educar as pessoas para que assimilem os
conhecimentos essenciais (compreensão de conceitos e técnicas que permitam que as
pessoas saibam executar determinada atividade).
> Comunicação: é o processo de divulgar os conhecimentos organizacionais para que se
transformem em inteligência empresarial.
> Aplicação: relaciona-se a ações e processos que estimularão o desenvolvimento de
habilidades (aptidão e capacidade de realizar) e atitudes (postura e modo através do qual
se procede em relação a fatos e pessoas do ambiente) para que se possa e queira atuar
aplicando os conhecimentos assimilados de forma consequente, gerando assim
resultados e agregando valor ao negócio. É nesse momento que o conhecimento se
converte em competência.
Neste ponto, chega-se a uma importante reflexão: que ações e práticas gerenciais
poderiam ser implementadas no cotidiano de trabalho de tal maneira que motivem as
equipes a gerar, assimilar, comunicar e aplicar os conhecimentos orga-
198
nizacionais? Tais atividades e práticas darão vida e sustentação ao sistema como um
todo. Pensando-se com seriedade e profundidade nessas práticas, perceber-se-á que um
sistema de gestão do conhecimento também é responsabilidade de todos, e não apenas
da área de tecnologia da informação da empresa.
Só com a participação ativa de pessoas motivadas, envolvidas e comprometidas no dia-a-
dia com todo o projeto é que será construído um sistema de gestão do conhecimento
verdadeiramente eficaz. Para tanto, é essencial que se criem um ambiente e uma cultura
empresarial cujos princípios e valores disseminados sejam propícios à formação e
atuação de lideranças exemplares, que implementem processos de aprendizagem, que
despertem e estimulem as pessoas ao desenvolvimento e à instalação de suas
competências críticas e que as conectem com as estratégias de negócios. Só assim será
possível aumentar a inteligência empresarial e obter patamares cada vez mais elevados e
diferenciados de desempenho.
199
200
dentro do canal central de conteúdo, ele considera isso realmente essencial. Acredita
também que, embora o e-learning ainda esteja dando seus primeiros pas505 no Brasil,
não é apenas mais um modismo das novas tecnologias de informação: ele veio realmente
para ficar e, sem sombra de dúvida, crescerá e será tão importante na sociedade quanto
toda a educação presencial.
Na prática, o que se tem visto, de um lado, é a dificuldade de encontrar no mercado quem
ofereça com a mesma qualidade o trinômio conteúdo-tecnologia-serviços para atender às
necessidades das empresas. De outro lado, muitas vezes as próprias empresas não têm
clareza de suas necessidades nessa área.
De acordo com Marcelo Fernandes, da Mentor Tecnologia, o fator primeiro que tem de ser
considerado para analisar as soluções mais adequadas à aprendizagem mediada por
tecnologia (AMT) é o que se pretende de um projeto dessa natureza: se é um programa
de treinamento, cujo objetivo é melhorar o desempenho das pessoas, com foco em uma
tarefa específica, e de alcance de curto prazo; se é um programa de desenvolvimento,
cujo objetivo é capacitar os profissionais a assumir novas e futuras posições na carreira,
tendo alcance de médio prazo; ou se é um programa de educação, cujo objetivo é formar
a pessoa para sua vida e para o mundo, tendo assim alcance de longo prazo. No
treinamento, o aspecto principal a ser trabalhado é o conhecimento — o saber fazer pela
transmissão de instruções. O tipo de domínio é psicomotor-cognitivo e requer que o
problema seja de tipo bem estruturado, enfatizando a compreensão e a aplicação do
conteúdo assimilado. Já em um programa de desenvolvimento, a tônica é a
implementação de habilidades — o poder fazer, sendo essencial a preparação para
políticas práticas organizacionais. O domínio é cognitivo-comportamental, e o problema
tanto pode ser de tipo bem estruturado quanto pouco estruturado. Finalmente, teríamos
os programas de educação, em que a questão da atitude — o querer fazer — é o principal
ponto a ser desenvolvido mediante a transmissão de valores que orientem a postura
profissional. O domínio é cognitivo-comportamental, e o problema é de tipo pouco
estruturado, privilegiando análise, síntese e avaliação de situações.
Essas definições tornam possível estabelecer as características mais adequadas ao
projeto de AMT, ou seja, um sistema de suporte ao desempenho, por exemplo, no caso
de treinamento, ou uma classe virtual (assíncrona ou síncrona), no caso de um programa
de educação, ou ainda uma combinação dos dois, no caso de um programa de
desenvolvimento. O Quadro 2 sintetiza essas idéias.
Finalmente, cabe salientar que, além de todos esses fatores, outro aspecto crucial a ser
considerado é a cultura organizacional. Para que a AMT atinja os objetivos desejados é
condição essencial que os participantes dos programas tenham uma nova atitude perante
o seu papel de alunos, que deve necessariamente ser proativa e acompanhada de uma
postura constante de autoconhecimento e de autodesenvolvimento. Do ponto de vista das
lideranças é essencial que estas assumam seu papel de educadores e também se
responsabilizem pelo processo de aprendizagem de suas equipes. E tudo isso, é lógico,
reforçado por uma cultura organizacional cujos valores, traços e pressupostos básicos
consolidem e disseminem a valorização da diversidade, do pensamento sistêmico, da
iniciativa, da inovação, da responsabilidade, da orientação para o futuro, da liberdade, da
comunicação intensa, do
201
202
203
pedagogia para que tenham clareza dos impactos da educação corporativa no processo
de fortalecer, consolidar e disseminar a cultura organizacional. Sempre é oportuno
relembrar que:
> Educação designa o processo de desenvolvimento e realização do potencial intelectual,
físico, espiritual, estético e afetivo existente em cada ser humano (Marques, 2000).
Designa também o processo de transmissão da herança cultural às novas gerações.
Assim sendo, educação diz respeito à influência intencional e sistemática sobre o ser
humano com o propósito de formá-lo e desenvolvê-lo em uma sociedade a fim de
conservar e transmitir a existência coletiva (Luzunaga, 1990).
> Pedagogia refere-se à reflexão sistemática sobre educação. É a reflexão sobre
modelos, métodos e técnicas de ensino, ou seja, é a ciência da educação, a arte e a
técnica de ensinar e está intimamente relacionada com filosofia, psicologia, sociologia etc.
(Luzuriaga, 1990).
Fazendo-se um contraponto dos dois conceitos, pode-se dizer resumidamente que
educação é prática, é experiência e realidade vivida, enquanto pedagogia é teoria, é
pensamento e ideal a ser vivido. Ao analisar a relação entre filosofia e
educação/pedagogia, pode-se dizer que não há uma pedagogia isenta de pressupostos
filosóficos.
Existem basicamente três grupos de entendimento do sentido da educação na sociedade
(Luckesi), que se revelam em três tendências filosófico-políticas para compreender a
prática educacional. Filosóficas porque compreendem seu sentido e políticas porque
constituem um direcionamento para sua ação. São elas:
> Redentora: concebe a sociedade como um conjunto de seres humanos que vivem e
sobrevivem num todo orgãnico e harmonioso com desvios de grupos e individuos que
ficam à margem desse todo. Tem uma visão “não-crítica” da sociedade: o que importa é
integrar em sua estrutura tanto os novos elementos (novas gerações) quanto os que se
encontram á margem. A educação assume seu papel de manter o corpo social,
promovendo a integração e a adaptação dos indivíduos pela correção de seus desvios de
comportamento.
> Reprodutora: afirma que a educação faz parte da sociedade e a reproduz. A
interpretação da educação como reprodutora da sociedade significa entendêla como um
elemento da própria sociedade determinado por seus condicionantes econômicos, sociais
e políticos. Esta, além de crítica, é reprodutivista. Pela aprendizagem de alguns saberes,
envolvidos na ideologia dominante, é que são reproduzidas as relações de trabalho, as
relações de poder e as relações sociais vigentes.
Transformadora: tem por perspectiva compreender a educação como mediação de um
projeto social. Ela nem redime nem reproduz a sociedade, mas serve de meio para
realizar um projeto de sociedade. Propõe-se a compreender a educação dentro de seus
condicionantes e agir estrategicamente para sua transformação. Propõe-se a desvendar e
utilizar-se das próprias contradições da sociedade para trabalhar realística e criticamente
por sua transformação.
204
205
Estou ciente de que o assunto da relação entre educação/pedagogia e as respectivas
posturas filosófico-políticas merece ser discutido com mais cuidado e profundidade.
Procurei aqui apenas trazer à tona essa reflexão. Mas parece indiscutível a necessidade
de termos consciência de que ações e programas educacionais não são neutros com
relação ao modelo social e cultural vigente nas organizações, muito menos no que diz
respeito às relações de poder. Projetos de mudança organizacional sempre implicarão
necessariamente mudanças de ordem cultural e política.
Enfim, refletir sobre qual é o poder de um sistema de educação corporativa de integrar,
reproduzir ou transformar traços, valores e pressupostos básicos de uma empresa é um
dos fatores críticos para construir uma cultura organizacional voltada à aprendizagem e
ao autodesenvolvimento contínuos.
206
diano de trabalho, contemplando sempre a dualidade desses dois mundos corporativos, o
do ideal e o do real, o do abstrato e o do concreto, o da ideologia e o do pragmatismo, o
do pensamento e o da ação, o da realidade idealizada e o da realidade vivida, o do futuro
desejado no longo prazo e o do presente vivenciado no imediato.
Contrapor e ao mesmo tempo integrar e transformar esses dois mundos à luz das teorias
da educação e da pedagogia propiciaria uma enorme consciência do conhecimento
organizacional e permitiria que os líderes construíssem a própria pedagogia para depois
convertê-la nas melhores práticas que legitimariam sua liderança educadora.
O gestor que, baseado nessa postura dialética, criar um ambiente de trabalho em que sua
equipe tenha condições de expressar e questionar opiniões (e elas sejam levadas em
consideração), seja reconhecida e elogiada por um trabalho bem-feito, perceba a
preocupação do gestor com o progresso de seus membros, visualize oportunidades para
que seus membros aprendam, se desenvolvam e se sintam motivados a ensinar outros
membros, com certeza construirá um excelente lugar não só para trabalhar mas também
para aprender e educar.
Trabalhar aprender e educar estará cada vez mais associado e integrado na vida
corporativa, e a prática exemplar da liderança educadora será o alicerce da construção do
ideal organizacional almejado.
207
208
Scott Parry (1997) e Donald Kirkpatrick (1998), dois autores de renome internacional
quando o tema é avaliação e transferência de treinamento, estão convenci- dos de que
apenas entre 10% e 20% do que se aprende em um programa de treinamerito é aplicado
um mês após o retorno do participante às atividades de trabalho.
A idéia dos autores de avaliar os programas de T&D em quatro níveis — reação,
aprendizado, aplicação e retorno sobre investimento — não é nova. Foi por eles proposta
há mais de trinta anos, mas só nos dias de hoje, quando as empresas vivem um momento
de extrema competitividade e restrição, é que se deu destaque absoluto a tal questão, já
que o assunto tem preocupado estudiosos, consultores, responsáveis pelas áreas de RH
e, principalmente, dirigentes empresariais.
Os autores retomaram pesquisa realizada em 1996 pela Amencan Society for Training
and Development (ASTD), que identificou o fato de que um dos aspectos mais
desafiadores para o T&D é avaliar o aumento de desempenho por ele causado. Isso, na
verdade, não causa surpresa, pois há tempos a alta administração das empresas quer
saber qual o resultado para a organização dos milhares de dólares gastos anualmente em
treinamento.
Um programa de treinamento é mais bem-sucedido quando os participantes corretos
(seleção) recebem conhecimentos, habilidades e atitudes corretos ensinados por
métodos, meios e instrutores adequados (processo), no momento e no local certo, de tal
forma que atendam ou superem as expectativas da organização (objetivos e desempenho
voltado para resultados).
Avaliação antes do treinamento
O processo de avaliação deve começar com a análise das necessidades que precede o
treinamento. Treinamento deve ser definido como o processo que permite diminuir a
defasagem entre conhecimentos, habilidades e atitudes que os participantes trazem para
o curso e os que devem levar para ter atuação efetiva no trabalho. O propósito do
treinamento é estreitar o gap entre o comportamento de entrada e o final. Para tanto,
alguns pontos devem ser questionados antes de desenhar, desenvolver e aplicar
programas de treinamento:
>O que os treinandos querem aprender com o treinamento?
>O que os treinandos necessitam aprender com o treinamento?
> Quais as competências requeridas dos participantes?
>Que fatores do ambiente de trabalho irão sustentar o desempenho desejado?
> Quais os resultados esperados? Realísticos? Desejáveis? Mensuráveis?
>Qual a natureza e o tamanho do gap entre o comportamento de entrada e o final?
>Quais os recursos existentes (pessoas, equipamentos, suprimentos) para facilitar a
aprendizagem?
>Qual o custo do treinamento em relação ao benefício estimado?
As respostas a essas questões devem orientar as decisões sobre como desenvolver um
programa de treinamento bem-sucedido na diminuição do gap de entrada
209
É fundamental que sej a realizada uma avaliação durante o treinarnento para tomar
medidas corretivas durante o processo. É importante saber:
>As condições de aprendizagem são confortáveis?
> Os participantes estão aprendendo?
>O conteúdo é relevante?
>Os participantes aproveitam a própria experiência?
Uma explicação completa dos quatro níveis de avaliação de treinamento pode ser
encontrada no livro Evaluating training programs, de Donald Kirkpatnck (1998). Eles são
apresentados no Quadro 3:
> Nível 1. Reação: a avaliação de reação é feita com um questionário que mede as
impressões dos participantes sobre os programas de T&D com relação a côn-
210
Quanto os participantes
1 Reação Gostaram? Formulários
gostaram do curso?
Mensuração
Estão Quanto estão aplicando
3 Aplicação do
utilizando? no trabalho?
desempenho
Qual o retorno
Estão Análise
4 Resultados do treinamento
pagando? custo-benefício
sobre o investimento?
211
212
213
214
215
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AUTORA
MARISA EBOU
217
218
Em 1953, no caso Smith Manufacturing Company versus Barlow, a Justiça americana foi
favorável à doação feita pela em´resa à Universidade de Pinceton, que era contestada por
um grupo de acionistas. A decisão da Suprema Corte de Nova Jersey estabelece em lei a
filantropia empresarial, determinando que uma corporação pode assumir uma estratégia
de desenvolvimento social.
219
220
como simples reedição das proposições originais. Ele passa a ser operado como uma das
funções a ser desempenhadas na administração das empresas privadas, a qual consiste
em responsabilizar-se por uma atuação social que visa reduzir e/ou eliminar carências
que impedem ou prejudicam o pleno desenvolvimento de comunidades sociais nas quais
essas organizações estão inseridas e/ou com as quais mantêm algum tipo de interação.
Nas economias em desenvolvimento, as proposições de atuação social das empresas
apresentam significativo crescimento na década de 1290. Se de um lado isso reforça a
tese de que, no mundo globalizado, as organizações de mercado necessitam manter
certa sintonia entre sua forma de atuar e a de se relacionar com a sociedade civil, de
outro evidencia também que o quadro de desajustes e desequilíbrios socioeconômicos
desses países chegou a um ponto em que eles se tornam disfuncionais para a própria
existência das relações capitalistas de produção.
O ressurgimento da proposição da responsabilidade social nas economias caracterizadas
pela forte exclusão social como elemento restritivo do desenvolvimento sustentado requer
uma reflexão mais aprofundada sobre a própria definição do conceito. preciso esclarecer
quais tipos de atividade configuram o que se pode chamar de atuação social de
empresas. E, nesse aspecto, pode-se dizer que tanto a prática quanto a teoria navegam
em terreno pantanoso.
No plano teórico, a pouca produção sobre o tema, ainda que provinda de estudos sérios,
não autoriza seu emprego como corpo de conhecimento referencial consistente.
Pesquisas, estudos e artigos sobre responsabilidade social no Brasil são produzidos de
forma crescente no campo da Administração e das Ciências Sociais nos últimos cinco
anos, refletindo simultaneamente a percepção da lacuna existente, a constatação do
baixo interesse que havia pelo tema e a necessidade de retomálo dentro da nova ótica de
uma sociedade que se globaliza.
Na prática, a atuação social das empresas preenche uma ampla e variada gama de
atividades, o que toma difícil identificar padrões que permitam uma definição abrangente.
A complexidade aumentou quando o tema responsabilidade social ganhou destaque na
mídia especializada, que se tornou uma eficiente divulgadora da proposição ao ressaltar
casos e experiências que passaram, por sua vez, a ganhar notoriedade. Contudo, essa
excessiva exposição pode levar a que se misturem alhos com bugalhos, fazendo com que
qualquer tipo de iniciativa seja classificada como atuação social, mesmo aquelas que não
passam de instrumentos de marketing institucional ou de política de benefícios da
empresa.
O interesse despertado mostrou às empresas que essa era uma característica que
deveria estar associada às suas marcas. Embora não fosse possível quantificar, ou
mesmo identificar com clareza seu significado, o diferencial de “empresa focada no social”
popularizou-se, tomando-se essencial à formação de uma imagem institucional positiva e
empática.
O fenõmeno foi, no caso brasileiro, reforçado pela presença de outros agentes sociais
interessados em incentivar a atuação social das empresas. Do lado da sociedade civil
organizada, surgiram movimentos associativos, como Instituto Ethos, Gife, Viva o Rio,
Viva o Centro, e também ganharam força organizações já existen-
221
tes cujo ideário enfocava o exercício da cidadania plena‟. Do lado do Estado, foram
marcantes a consolidação da Comunidade Solidária como forma de ampliar a participação
social e a descentralização administrativa, que remeteu ao nível municipal o tratamento
das necessidades sociais locais. Configurou-se, assim, um cenário de amplas
possibilidades para que as empresas ocupassem novos espaços e assumissem outros
tipos de relacionamento com a comunidade, apoiadas por entidades associativas e
estimuladas pelo governo.
Embora essa tendência se mostre irreversível, e justamerte porque se consolidará como
prática empresarial e como responsabilidade gerencial, toma-se essencial proceder a uma
reflexão que contribua para definir com maior precisão o conceito e para orientar sua
operacionalização.
Em primeiro lugar, sugere-se uma ampliação do conceito fundamentada nas mudanças
que ocorreram na realidade empírica das organizações. Atualmente, a responsabilidade
social não pode ser exigida apenas das organizações de mercado, mas de toda e
qualquer forma organizativa, independentemente de quais sejam suas finalidades
expressas, sua constituição jurídica, sua estrutura administrativa e financeira.
O exercício de responsabilizar-se pelo social, por sua vez, deve estar inserido em um
conceito mais amplo e mais abrangente, que é o conceito de cidadania. Mais amplo
porque abarca não apenas as responsabilidades econômico-financeiras mas também
aquelas de ordem política, cultural e social que compõem a textura das organizações e
das sociedades. Mais abrangente porque incorpora os direitos que asseguram a vida em
sociedade: o direito à vida, à liberdade, à segurança, à expressão, com os quais se
estrutura a civilidade entre os seres humanos.
Ao propor o conceito de cidadania organizacional, procura-se integrar de forma
consistente a visão de dentro para fora e de fora para dentro da organização. Isto é,
quando se relaciona com os atores sociais que não fazem parte de sua comunidade
intema — sejam clientes, consumidores e usuários, sejam simples cidadãos —, a
organização deverá pautar-se pelos mesmos valores de civilidade que adota com aqueles
que fazem parte de seu universo interno: funcionários e empregados de qualquer nível ou
acionistas e proprietários. A cultura organizacional não admitirá pesos e medidas
diferentes no que concerne ao exercício da cidadania no âmbito das relações internas e
externas da empresa.
Quando esse exercício se concretiza em atividades que visam, exclusivamente, contribuir
para que a comunidade atinja metas de desenvolvimento, configura-se o quadro de
atuação social da organização. É importante ressaltar: o exercício da cidadania
organizacional não pressupõe, nem exige, que a organização atue socialmente. O
inverso, contudo, não é verdadeiro: para desenvolver estratégias e práticas de atuação
social, é imprescindível que a organização paute seu desempenho por parâmetros de
cidadania.
Tal esclarecimento é essencial para reduzir a nebulosidade em torno do tema, e
principalmente quando o crescimento do interesse por ele pode aumentar a con-.
222
fusão. É alto o risco de empresas mal administradas e que se conduzem por diretrizes
éticas condenáveis buscarem a chancela de “empresas cidadãs” junto ao público através
de investimentos em programas sociais simplesmente usados como veículo de marketing.
Ou, ainda, que boas práticas de gestão de recursos humanos, que beneficiam, exclusiva
ou majoritariamente, os empregados da organização, sejam divulgadas como formas de
atuação social.
Uma gestão de recursos humanos eficiente, mais “generosa”, sempre traz retornos à
organização. Pode e deve ser estimulada como “boa prática” „administrativa, mas não
deve se confundir com as estratégias de atuação social, que visam resultados
e retornos para a comunidade ou a sociedade.
223
Figura 2.
Por número de funcionários
Figura 3.
Por origem do capital
Figura 4.
Por setor
de atuação
Figura 5.
Por região
224
225
Exemplos como esses indicam que, seja por orientação corporativa ou estratégica, seja
para se resguardar de uma eventual indefinição jurídica, as empresas de grande porte e,
principalmente, as multinacionais ou transnacionais procuram ter na fundação ou no
instituto seu “braço de atuação social”, que é articulado na organização mas mantém
autonomia administrativa, legal e financeira. Foi o caminho tomado pela Acesita logo após
sua pnvatização: desativou o antigo Departamento de Relações com a Comunidade da
empresa estatal e o substituiu por uma fundação, que formulou sua missão e escolheu
suas estratégias de atuação.
Uma das questões que se colocam para reflexão é quanto a dicotomia entre atividade
empresarial e atuação social pode se refletir em um distanciamento do funcionário ou
mesmo em completo desconhecimento das atividades das quais poderia se tornar
voluntário.
Algumas empresas não desejam criar outra personalidade jurídica para abrigar sua
atuação social. O relato mais enfático foi o da Natura, que procura promover uma
integração entre a filosofia empresarial, fortemente baseada em crenças, e a orientação
dada ãs atividades sociais. Essa integração é considerada essencial, porque ambos os
tipos de atividade devem reproduzir os padrões da cultura organizacional da empresa.
Nos depoimentos obtidos na pesquisa, observa-se que a maioria das empresas não tem,
a priori, a preocupação de estabelecer uma relação entre sua atuação social e suas
estratégias de negócios. Algumas empresas chegam a ressaltar que as ações sociais são
totalmente desvinculadas do negócio tanto nos aspectos administrativos quanto nos
objetivos estratégicos. Enfatizam que esperar qualquer tipo de retorno das atividades de
responsabilidade social descaracterizaria essa atuação e levaria à perda de credibilidade.
No entanto, mesmo quando as empresas desvinculam as estratégias negociais das
estratégias de atuação social, elas observam resultados positivos para seus negócios,
advindos do exercício das atividades de caráter social.
Há empresas que procuram ressaltar a sinergia entre o negócio e a atuação social, o que
parece conduzir a uma otimização do emprego de recursos próprios em seus projetos
sociais. E isso é ainda mais importante quando os recursos são o talento, a
disponibilidade, a expertise profissional e o conjunto de competências desenvolvido pelas
pessoas. na situação de trabalho que o individuo encontra o espaço e o desafio para se
desenvolver. Quando o voluntariado possibilita o emprego de conhecimentos
especializados, competências profissionais e experiência de trabalho das pessoas, ele
tende a provocar maior satisfação nos colaboradores engajados, resultando em
envolvimento mais profundo.
Alguns casos mapeados na pesquisa são paradigmas da importância dessa sinergia e
indicam que ela pode ocorrer em empresas de qualquer setor econômico ou de quaisquer
características organizacionais; a sinergia foi identificada tanto em empresas prestadoras
de serviços quanto em organizações industriais e comerciais.
A iniciativa de se dedicar a projetos sociais tem diversas origens. Empresas
multinacionais e transnacionais podem receber uma orientação corporativa nesse sentido.
Há empresas que a definem como um dos componentes de seu direcionamento
estratégico. Outras sensibilizam-se pela percepção de problemas sociais do entorno
comunitário em que estão inseridas suas instalações ou de onde provêm
226
227
Um dos maiores desafios, se não o maior, dos modelos inovadores de gestão de pessoas
é exatamente o de propiciar as condiçôes e os recursos para que se desenvolva uma
cultura de cidadania organizacional. Desafio para o qual cada organização deverá
encontrar um caminho, pois as tendências apontam para um futuro, muito próximo, em
que todas as pessoas desejarão sentir-se cidadãs em cada papel que tiverem de
desempenhar, em cada relação em que se envolverem, em cada contexto organizacional
a que estiverem vinculadas.
Para esse cenário futuro, algumas questões que hoje se coldcam no ambiente
organizacional deverão estar resolvidas. Algumas dizem respeito à motivação para o
trabalho: cada vez mais as pessoas desejam obter a satisfação dos chamados fatores
intrínsecos. Sentir-se realizadas, gostar do que fazem, obter valorização e
reconhecimento, mobilizar seu talento e conhecimento são determinantes que fazem as
pessoas eleger um trabalho e se dedicar a ele.
Outras questões dizem respeito ao ambiente social predominante no contexto
organizacional onde se dão as relações de trabalho. Transparência na comunicação,
fidedignidade das informações, condições ampliadas de participação, valorização do
patrimônio de conhecimento coletivo, tratamento digno e respeitoso dado a cada pessoa
são requisitos mínimos da convivência em organizações modernas. Tais características
devem compor a própria cultura organizacional e são um solo propício para o
desenvolvimento da cidadania organizacional. O que não se pode esperar é o contrário.
Isto é, que uma empresa com padrões culturais autoritários e conservadores, com
relações de poder discricionárias e com políticas e práticas gerenciais que não dignificam
o ser humano e seu trabalho, queira estabelecer atividades internas e externas
configuradas como opções cidadãs. O atributo da cidadania organizacional é uma
característica que está nos genes da organização, que se concretiza em cada funcionário
que se percebe como cidadão e, só então, espraia-se na atuação social responsável.
É nas políticas e práticas de gestão de recursos humanos que, em primeiro lugar, se
assegura a presença desse código genético. Identificar a filosofia e os valores que
sustentam a gestão das pessoas para verificar sua consistência com os princípios da
cidadania é um dos passos preliminares para estabelecer uma estratégia de atuação
social. O mesmo critério de valor que a empresa utiliza com seu funcionário deve ser
usado para classificar os demais stakeholders: acionistas, fornecedores, clientes,
consumidores. Para a organização cidadã, não existem graus de cida-
228
dania, não existe cidadão de primeira nem de segunda classe; ou é ou não é cidadão.
Isso se reflete na coerência que deve estar estabelecida entre a estratégia de negócios e
a estratégia de responsabilidade social.
Inicialmente pode parecer difícil e complexo compatibilizar essas diretrizes estratégicas.
No entanto, a prática mostra que é mais um desafio à vontade empresarial do que aos
procedimentos administrativos. O Prêmio ItaúlUnicef de Educação e Participação é um
exemplo de caso bem-sucedido de atuação social em que ela configura uma formulação
estratégica do próprio banco. Ao realizar o p1ê- mio, ao lado de outras ações definidas da
mesma forma, a empresa alia-se a parceiros poderosos e competentes. O Unicef, como
instituição reconhecida mundialmente, lhe dá legitimidade política e social e o Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec) lhe oferece
assistência técnica com padrões de excelência. Mas, além dessas e de outras parcenas
escolhidas de forma criteriosa, o banco utiliza recursos e competências organizacionais
próprios de seu negócio: capacidade de gerenciamento, ampla rede de agências com boa
estrutura de atendimento de público, presença física em centenas de cidades espalhadas
no território nacional.
A sinergia entre o negócio, as competências organizacionais e as formas de operar as
proposições de responsabilidade social vem se mostrando cada vez mais factível. Kanter
(1999) relata em artigo da Harvard Business Review casos de corporacões multinacionais
de setores importantes da economia — informática, tecnologia, telecomunicações — que
vêm abandonando a tradicional postura filantrópica empresarial para assumir uma
parceria com o setor social. Essa parceria se dá no campo do negócio e ao mesmo tempo
mostra resultados na solução de problemas sociais. Escolas públicas, asilos, creches
assistenciais e entidades para aposentados estão deixando de ser o repositório “do que
sobra” ou “do que passou a ser obsoleto” na empresa para se transformar em laboratórios
de inovação, espaços de pesquisa e desenvolvimento de produtos, projetos catalisadores
das mudanças tecnológicas e organizacionais. “Estas companhias têm descoberto que os
problemas sociais são problemas econômicos […] aplicando sua energia em resolvê-los,
estimulam, poderosamente, o desenvolvimento de seu próprio negócio” (Kanter, 1999).
Se a organização consegue assimilar a proposta da atuação social como foco estratégico,
ainda resta um importante desafio de gestão. Onde são operados os programas? Que
áreas organizacionais devem se apropriar da atuação responsável? Em tempos de pouca
importância, a atuação social era relegada a qualquer área, ou até ficava sob a
responsabilidade de um dirigente ou executivo que se interessava, particularmente, por
essa atividade. Em tempos do “modismo da responsabilidade social”, começa a crescer o
interesse de diferentes áreas: Marketing reivindica seu papel de “dona da imagem”, da
marca, dos veículos de comunicação”; a Presidência quer associar a visibilidade positiva
ao nome do executivo principal; a área de Recursos Humanos “carrega o piano” de
implementar projetos, principalmente quando opta por estimular o voluntariado entre os
colaboradores da empresa.
Nesse sentido, é importante ressaltar que a atuação social é um “produto” de toda a
organização; logo, deve ser gerenciado por um mix de áreas que coordenam entre si as
atividades específicas: comunicação interna, comunicação institucional, operação de
programas e projetos etc.
229
Os 10 passos fundamentais
Referências bibliográficas
230
AUTORA
231
TÂNIA CASADO
1. Introdução
O termo indivíduo (Ferreira, 1986), quando substantivo, refere-se a “pessoa humana,
considerada quanto às suas características particulares, físicas e psíquicas”. Uma
organização é composta de pessoas, que trazem para seu interior suas necessidades,
interesses, sonhos, potencialidades e limitações. Quando usado como adjetivo, indivíduo
é sinônimo de indiviso, de algo que não pode ser dividido. E esse significado parece estar
definitivamente incorporado às políticas e ações contemporâneas de gestão de pessoas.
Nela, não se vê mais o papel profissional como desvinculado dos aspectos pessoais e
cada vez mais denota-se a importância de entendimento e integração dos aspectos
pessoais que fazem a diferença no desempenho profissional.
De acordo com Piéron (1964), é diante das demais pessoas que a individualidade se
complementa. Dessa forma, o convívio nos
pos sociais (nos quais se incluem os grupos de trabalho) possibilita a expansão e o
desenvolvimento dos indivíduos. Portanto, o ambiente organizacional oferece a
oportunidade do desenvolvimento integral do ser humano.
Do ponto de vista empresarial, as mudanças a que as organizações estão expostas fazem
com que novas formas de gestão sejam
235
2. Ser indiviso
236
237
4. Um pouco de história
238
Alguns teóricos, entre eles Smith (apud Rodrigues, 1981), definem grupo como uma
“unidade que consiste num número plural de organismos (agentes) que possuem uma
percepção coletiva de sua unidade e que têm o poder de atuar, ou já estão atuando, de
modo unitário frente ao ambiente”.
Para Bion (1975), todo grupo, “por casual que seja, encontra-se para fazer algo”. O autor
afirma que dentro de todo grupo constituído para um fim determinado existem dois outros
grupos: o de trabalho e o assumido. Bion estabelece diferenças entre eles: o grupo de
trabalho produz algo concreto, relacionado à realidade, à maturidade e à cooperação, e o
grupo assumido, com origem nas forças emocionais dos participantes, existe sob a forma
de uma fantasia compartilhada por eles.
Para Pichon-Riviêre (apud Quiroga, 1977), a temática remete necessariamente à
problemática do indivíduo, já que a psicologia do grupo se define com base na concepção
do sujeito segundo a qual ele é ao mesmo tempo agente do processo interativo e fruto da
determinação das relações que constituem as condições concretas de existência do
grupo. Dessa forma, o sujeito tem necessidade do intercâmbio com o meio e está sempre
voltado ao mundo externo (ao grupo), na relação com o outro, em busca da fonte da
gratificação dessa necessidade. O processo entre necessidade e busca da satisfação faz
do sujeito o ator da tarefa do grupo.
Feia Moscovici (1994) distingue os conceitos de grupo e de equipe, deixando claro que
para ela o grupo é um estágio anterior — e talvez mesmo inferior — à equipe. Segundo a
autora, a equipe é “um grupo que compreende seus objetivos e está engajado em
alcançá-los de forma compartilhada. A comunicação entre os membros é verdadeira,
opiniões divergentes são estimuladas. A confiança é grande, assumem-se riscos. A
equipe é um grupo com funcionamento qualificado”.
Katzenbach e Smith (apud Moscovici, 1994) estabelecem diferenças entre suas definições
de grupo e equipe, classificando-os de acordo com seu modo de funcionamento.
Resultam dessa classificação cinco definições:
>Pseudo-equipe: grupo que pode definir um trabalho a fazer, mas não busca nem se
preocupa com o desempenho coletivo. As interações entre os participantes inibem o
desempenho individual e não produzem nenhum ganho oriundo do esforço coletivo.
>Grupo de trabalho: nessa configuração, os membros podem partilhar informações. As
responsabilidades, os objetivos e os produtos, porém, são individuais. Mesmo que sejam
eficientes, esses grupos não produzem trabalho coletivo, já que seus componentes não
vislumbram nenhum motivo para se transformar numa equipe.
>Equipe potencial: modalidade em que há disposição para produzir algo em conjunto.
Seus membros, contudo, precisam de maior entendimento sobre a finalidade, os objetivos
e mesmo sobre a tarefa.
>Equipe real: grupo em que há comprometimento dos membros com os resultados,
atuação responsável e confiança, direcionados por objetivos e missão comuns.
>Equipe de elevado desempenho: essa modalidade de grupo acresce aos requisitos
expostos para a equipe real a legítima e produtiva preocupação e o comprometimento
com o crescimento pessoal e o sucesso de cada um dos membros.
239
Pode-se dizer que o conceito de grupo é menos abrangente que o de equipe, que, por
sua vez, é mais restrito que o de time. Para melhor entendimento, seguem os três
conceitos:
>Grupo é o conjunto de pessoas que compartilham valores, crenças, visões semelhantes
de mundo, possuem uma identidade e podem ser consideradas um todo. A visão de
grupo é de natureza essencialmente relacional, de interação e alianças afetivas, que dão
unidade e identidade ao conjunto de pessoas.
>Equipe é o conjunto de pessoas que buscam um objetiva comum, clara e explicitamente
formulado. Cada uma usa suas habilidades e se esforça no cumprimento de sua tarefa de
acordo com o objetivo maior. Os componentes de uma equipe têm grande clareza da
divisão de responsabilidades e das fronteiras de suas ações, bem como de suas
atribuições. O foco da definição de equipe é a responsabilidade pelo cumprimento das
atribuições que levarão à consecução dos objetivos comuns.
>Time é o conjunto de pessoas com habilidades e potencialidades peculiares a serviço de
um objetivo comum. Elas compartilham valores, buscam resultados comuns e contam
com alto grau de comprometimento, o que as faz responsabilizar-se por mais do que a
simples realização de suas tarefas e atribuições individuais.
Os três conceitos apresentam nítidas diferenças entre si: o grupo enfoca prioritariamente
as ligações afetivas entre os componentes, enquanto a equipe volta-se principalmente
para o resultado. Já o time reUne os aspectos emocionais presentes no conceito de grupo
com a noção de responsabilidade pelo resultado presente no conceito de equipe.
A diferença entre equipe e time pode ser ilustrada pelo depoimento de um executivo ao
referir-se ao desempenho de seu grupo de trabalho: “Todos nós somos muito bons no que
fazemos e cada qual sabe e cumpre seu papel na busca de resultados; só temos um
problema: somos péssimos nas fronteiras”. Por fronteira ele indica a região obscura do
trabalho, com limites indefinidos ou pouco claros, que não compete a ninguém
especificamente, mas sofre as interferências de todos, e sobre a qual qualquer um dos
componentes pode agir, contribuindo para o resultado global. Usualmente, a fronteira
representa o lado mais sutil da interface de trabalho, em que podem desenrolar-se as
relações interpessoais mais delicadas. A habilidade de atuar produtivamente nessa região
diferencia o grupo de um verdadeiro time.
240
Theodore M. Newcomb foi um dos entusiastas dessa abordagem, que enfatiza os tipos de
“entrada” e “saída” do sistema e, como a teoria de campo, tem interesse fundamental nos
processos de equilíbrio. Os estudos de Newcomb demonstraram que as atitudes dos
indivíduos estão fortemente arraigadas nos grupos de que fazem parte e que a influência
do grupo sobre as atitudes de um indivíduo depende da natureza da relação entre eles.
A teoria psicanalítica foi utilizada por Freud para o entendimento da dinâmica de grupos
sociais. Outros seguiram seus passos e talvez, dentre eles, Bion tenha sido o que mais se
notabilizou com o estudo da dinâmica grupal na abordagem psicanalítica. Nesse enfoque,
os conceitos advindos da psicanálise — identificação, regressão, mecanismos de defesa
e noção de inconsciente — apresentam grande relevância.
Essa leitura da dinâmica grupal surgiu pela primeira vez numa conferência do Instituto
Tavistock de Londres, em 1957, e foi levada aos Estados Unidos em 1965, passando a
ser conhecida como Modelo de Grupo de Tavistock. l uma abordagem muito utilizada no
estudo dos grupos organizacionais e oferece excelente compreensão da problemática da
interação entre pessoas na organização, além de metodologias e propostas de ação
viáveis e factíveis. No Brasil, Arakcy M. Rodngues pesquisou, escreveu e realizou
importantes trabalhos voltados a grupos organizacionais nessa abordagem.
241
A matemática foi o ponto de apoio que os estudiosos da dinâmica dos grupos buscaram
para compreender os processos grupais. De acordo com French (apud Cartwright e
Zander, 1967), o modelo formal “tenta integrar resultados anteriores numa teoria
logicamente consistente, a partir da qual é possível derivar hipóteses testáveis para
orientar pesquisas futuras”.
7. Aspectos relevantes na formação de grupos de trabalho
242
pelos resultados. Quando o resultado for bom, o sentimento de orgulho pode ficar
disperso, minimizando a gratificação pelo trabalho bem-feito. Se o resultado ficar abaixo
do esperado, um número grande de participantes pode atribuir a culpa a outrem.
> Regras: a existência de padrões morais, valores e regras de funcionamento nos grupos
auxilia os componentes a saber o que. . esperado, válido e. leg,ttimo em termos de
comportamento. As regras e normas podem ser explícitas ou implícitas e surgem com a
história do grupo, desenvolvendo-se e perpetuando-se na medida de sua evolução.
>Papéis: definir e esclarecer os diversos papéis presentes nos grupos sociais — e, em
especial, nos times de trabalho — auxilia os componentes a entender as expectativas
mútuas e a se situar para um exercício mais proficuo da experiência grupal.
>Ritmo: é importante compreender o ritmo próprio de cada grupo social, representado por
sua dinâmica de forças, pela velocidade de sua comunicação, pela agilidade de suas
ações e pela premência de tomar decisões. No âmbito organizacional, determinados
segmentos podem apresentar ritmos diferentes, interferindo na relação e na
interdependência na busca dos resultados.
>Linguagem: padrões de comunicação expressos na linguagem verbal, não-verbal e
simbólica dos grupos são verdadeiros mapas de diagnóstico de aspectos mais profundos
de sua composição. Atentar para a forma e o conteúdo do discurso dos componentes,
suas expressões idiossincráticas e demais mecanismos de expressão é tarefa
indispensável daqueles que se dispõem a compreender seu funcionamento. Além disso,
como já foi dito anteriormente, a linguagem tem extrema importância como forma de
defesa e sobrevivência dos grupos sociais. Citem-se como exemplo os códigos e jargões
próprios utilizados nas organizações.
243
Componente 1º 2º 3º
A 4 2 1
B 2 1 1
C 1 1 2
D 2 — —
E — 2 1
F — — 2
G — 2 1
H — — 1
I — — 1
Figura 1. Sociograma
244
9. Comentários finais
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AUTORA
TÁNIA CASADO
246
A motivação e o trabalho
TÂNIA CASADO
1. Introdução
A motivação tem sido um dos temas mais estudados em gestão de pessoas e, mesmo
assim, permanece um dos aspectos mais preocupantes do cotidiano das organizações.
Muito se fala, muito se tenta e, na realidade, pouco se avança. São inúmeras as opções
para motivar os empregados, há muitos investimentos em novos e retumbantes
programas motivacionais e, passado pouco tempo, volta-se à estaca zero.
A grande quantidade de teses e artigos sobre o assunto não consegue diminuir a
inadequação da relação das pessoas com seu trabalho e, novamente, surge a culpada: a
motivação.
Quantos gestores não ouviram de seus superiores a célebre frase: “Você tem que motivar
seus subordinados!”? Que sentimentos essa frase tem despertado em cada um dos
gestores que a ouviram?
Ao que tudo indica, existe disparidade entre o que se entende por motivação e o que se
espera dela na prática, ou seja, o que se pratica sobre motivação nas organizações está
muito distante da discussão e do entendimento conceitual dos estudiosos do assunto.
Esclarecer os conceitos básicos do tema, comparar as principais correntes teóricas e
atentar para os principais desafios da gestão de pes-
247
Freud (apud HaIl e Lindzey, 1984) concebe a personalidade como composta de três
grandes sistemas: id, ego e superego. O id é entendido como a representação mais forte
do mundo interno e é composto dos instintos, representações psicológicas do desejo e da
necessidade que geram tensão. O id não tolera aumentos de energia experimentados
como tensão. Sua função é buscar a estabilidade descarregando a tensão através de
ações reflexas ou de comandos para que o ego resolva o desconforto da necessidade
encontrando formas realistas de satisfação. Trata-se de um processo homeostático.
O ego então age para possibilitar a descarga da tensão originada no id pelos instintos. O
ego deve integrar os impulsos dos instintos (id) e as regras morais e sociais advindas do
terceiro sistema, o superego, representante interno dos valores e ideais tradicionais da
sociedade, cuja principal função é inibir os impulsos do id.
O instinto exerce uma pressão determinada por sua força e pela intensidade da
necessidade subjacente; ele é o verdadeiro propulsor da personalidade. A forma de
energia pela qual os instintos realizam sua tarefa é denominada de libido.
248
A preocupação dos gestores com a motivação, tal como se conhece hoje, é relativamente
recente. De acordo com Steers e Porter (1975), antes da Revolução Industrial a
motivação tinha a forma de medo de punição — física, financeira ou social. Entretanto, à
medida que as indústrias de larga escala tomaram o lugar das organizações artesanais,
destruindo formas sociais e de troca nas relações profissionais e demandando maior
complexidade, os processos de interação entre os trabalhadores e seus patrões foram
substituídos por formas frias e tênues de relacionamento entre trabalhadores e empresas.
Essa mudança acarretou alterações nos padrões exigidos para a eficiência e o retorno
dos investimentos, ocasionando transformações nas relações de trabalho. A força
trabalhadora precisava, a partir de então, ser também mais eficiente e lidar com uma
supervisão distante e impessoal. Essas mudanças originaram uma nova filosofia de
gestão, na qual “muitos fatores motivacionais intrínsecos foram substituídos por fatores
extrínsecos” (Steers e Porter, 1975), conhecida como administração científica.
A administração científica, fundamentada em um modelo caracterizado como tradicional e
muito bem definida pelos escritos de Frederick Taylor em 1911, retira do trabalhador o
problema pelo bom ou mau desempenho e eficiência e coloca a responsabilidade sobre o
supervisor. É esperado do gerente que preencha cada posição de trabalho com o mais
adequado trabalhador, forneça treinamento e exerça o controle para garantir resultados.
Uma vez atingidos esses resultados, o gestor deverá recompensar os trabalhadores com
um bom programa de remuneração, que os induza a produzir sempre mais, mais rápido e
melhor.
O modelo tradicional fundamenta-se na seguinte percepção da natureza humana: os
trabalhadores são vistos como mercenários preguiçosos, sem ambições de crescimento
profissional. A natureza do trabalho deve ser simples, repetitiva e fácil de controlar.
249
Sievers (1997) faz duras críticas ao modo tradicional de entender a motivação, afirmando
que ela só passou a ser um tópico quando o sentido do próprio trabalho desapareceu ou
então foi perdido, e essa perda está diretamente ligada à crescente divisão e
fragmentação do trabalho, originada pela busca excessiva de eficácia. Para ele, essa é
uma perspectiva sombria da natureza humana, que não considera o subjetivismo do
homem e reduz sua atuação profissional a mera relação com um sistema que o controla e
dirige.
À medida que o modelo tradicional passou a ser largamente aplicado nas organizações,
alguns problemas começaram a surgir. Ações complexas vindas dos trabalhadores
buscavam simultaneamente o aumento crescente dos salários e a garantia da segurança
dos empregos como resultado de um sistema que, ao aumentar a eficácia do trabalho,
reduzia o número de empregados necessários à produção. Os sindicatos começaram a
ganhar força, a eficiência no trabalho diminuiu e a simplicidade do modelo tradicional e da
administração científica em enxergar o ser humano começou a mostrar sinais de
inadequação. Como decorrência das novas necessidades do mundo organizacional,
surgiu uma revisão das relações de trabalho: o modelo das relações humanas.
Esse modelo, que nasceu no fim dos anos 1920, propunha uma nova abordagem ao falar
de motivação: o homem deveria ser percebido como um todo, pois desconsiderar a
natureza humana do trabalhador resultava em baixa qualidade do trabalho e reduzida
adesão à organização. Por essa visão, a fragmentação e a rotinização das tarefas
reduzem a possibilidade de o trabalhador sentir satisfação no trabalho, o que faz com que
a busque em outro lugar. Assim, o relacionamento com os colegas aparece como uma
possibilidade de satisfação.
O novo modelo indicava como estratégia motivacional: fazer com que os empregados se
sentissem importantes, abrir canais de comunicação para que fossem ouvidos e permitir
que interferissem e opinassem no modo de executar seu trabalho. Quanto à
remuneração, foram encorajados os sistemas de incentivos em grupo. Nesse modelo, a
percepção da natureza humana é eminentemente social.
Há ainda um terceiro modelo geral de abordagem da motivação humana no trabalho, no
qual se encaixam algumas das mais novas teorias sobre motivação: o modelo dos
recursos humanos. Trata-se de uma perspectiva mais complexa da natureza humana
segundo a qual diferentes fatores se inter-relacionam no processo motivacional: dinheiro,
aspectos sociais, o trabalho em si e perspectivas de crescimento. Ponto central dessa
abordagem é que diferentes trabalhadores possuem diferentes fatores motivacionais e,
além de buscar modos de satisfação distintos, também têm diferentes contribuições a
fazer à organização.
Dentro dessa corrente de entendimento da motivação humana no trabalho estão algumas
convicções básicas sobre a natureza do homem. A primeira é que o individuo quer
contribuir para e com seu trabalho; a segunda, que o trabalho não é algo ruim nem
aversivo em si mesmo; a terceira julga que os empregados podem influir positivamente
nas decisões sobre seu trabalho numa direção que favoreça a qualidade para a
organização; e, finalmente, a quarta considera que o incremento da complexidade da
tarefa, assim como o controle de sua execução pelo próprio trabalhador, é um fator que
aumenta a satisfação do empregado.
250
Existem várias teorias que explicam a motivação, cada uma com sua forma peculiar.
Todas elas são a expressão de uma maneira especial de ver o ser humano e nenhuma
representa a verdade absoluta sobre o tema.
251
252
Alderfer (1969) interessou-se particularmente pelo estudo dos fatores apontados por
Maslow e, em 1969, suas pesquisas o levaram a um modelo revisto da hierarquia
proposto por aquele teórico. Ele propõe um modelo de entendimento dos processos
motivacionais que também parte de uma hierarquia, contudo apresenta algumas
diferenças em relação ao de Maslow.
Para Alderfer, existem três níveis de necessidades — existência, relacionamento e
crescimento —, que combinam os cinco grupos de necessidades de Maslow.
Por existência entendem-se as preocupações de garantir as exigências materiais
humanas básicas, correspondentes às necessidades fisiológicas e de segurança de
Maslow. Por relacionamento entende-se o desejo de manter intercâmbios pessoais
relevantes, o que corresponde à necessidade social e ao componente externo de estima
de Maslow. Finalmente, entende-se por crescimento o desejo intrínseco de
desenvolvimento pessoal, equivalente à necessidade de auto-realização e ao componente
interno de estima de Maslow.
Se para Maslow uma necessidade de nível mais alto só surge quando as necessidades
menores já foram atendidas, na abordagem de Alderfer todos os níveis atuam
simultaneamente. Outra característica da teoria de Alderfer é a existência de um
componente de regressão na dinâmica da motivação, o que faz com que a falta de
satisfação de uma necessidade aumente a importância das necessidades de níveis mais
baixos.
Herzberg (1959) começou a trabalhar na teoria dos fatores em meados dos anos 1950.
Inicialmente, seus trabalhos abordaram o estudo das teorias de motivação já existentes.
Baseando-se na revisão conceitual que realizou, Herzberg conduziu uma pesquisa que se
tornou famosa entre os estudiosos de motivação.
Enquanto outras teorias eram baseadas em inferências e deduções dos teóricos ligadas a
sua experiência, Herzberg elaborou uma teoria alicerçada numa pesquisa na qual foram
entrevistados 200 indivíduos, entre engenheiros e contadores.
Nessa pesquisa, perguntava-se em primeiro lugar a respeito de situações em que os
entrevistados se sentiram excepcionalmente bem no trabalho. Em seguida,
253
254
No final dos anos 1960, Edwin Locke (1968) apresentou sua teoria, baseada na
necessidade que as pessoas têm de vislumbrar objetivos claros e diretrizes bem
definidas. Assim, a definição de metas claras e específicas para os trabalhadores
contribui, segundo essa teoria, para a satisfação das necessidades dos indivíduos, O
papel do gestor, portanto, será o de definir e clarificar metas para seus liderados, o que os
fará empregar determinado esforço na sua consecução.
Locke também assinala que metas com razoável grau de dificuldade e definidas com
par(idpaço dos empregados produzem melhores resurtados do que metas muito fáceis ou
que foram definidas sem a participação dos envolvidos na sua consecução. A participação
aumenta a aceitação da meta, o que a torna mais atraente para o trabalhador.
Outro papel importante para o gestor que trabalha sob a orientação dessa teoria é
fornecer feedback adequado aos seus liderados. Se o feedback fornecido pelo supervisor
é importante e ajuda o empregado a manter seu desempenho alinhado com os objetivos,
maior ainda é a importância do feedback autogerado, no qual o empregado tem meios
para avaliar seus progressos e a efetividade de seus esforços.
A teoria motivacional de Locke tem implicações fortes em avaliações de desempenho e
aferições de produtividade, embora ainda não haja evidências de pesquisas que a
relacionem com aspectos de satisfação do trabalhador. Essa teoria também é sujeita a
implicações advindas da cultura do país onde se localiza a organização. Uma aplicação
freqüente da teoria pode ser encontrada no modelo de administração por objetivos (APO).
255
Entre os estudiosos que elaboraram a teoria está E. Lawler. Ele conduziu inúmeras
pesquisas na abordagem da eqüidade, notadamente no tema remuneração de
empregados. Lawler (em Steers e Porter, 1975) observou que as pessoas tendem a
superestimar os salários daqueles aos quais se comparam.
Como foi dito anteriormente, os indivíduos procuram modos de eliminar a iniqüidade, seja
pelo aumento ou diminuição dos insumos (entregas), sej a pelos produtos (recompensas).
Algumas opções para essa situação: mudar insumos (entregar menos, não empregar
tanto esforço), mudar resultados (ter um diferencial de recompensa, solicitar um
aumento), distorcer a percepção de si mesmo (convencer-se de que trabalha mais do que
os demais), distorcer a percepção do outro (convencer-se de que o outro não trabalha tão
bem assim), escolher uma referência diferente (que favoreça a percepção da eqüidade)
ou deixar o campo (pedir demissão, por exemplo).
A teoria da eqüidade preocupa-se não só com a quantidade absoluta de recompensas
mas sobretudo com a comparação com o que outros recebem. Por causa desse aspecto
comparativo, ela é chamada também de teoria da comparação social (Steers e Porter,
1975). As técnicas de avaliação de cargos e alguns métodos de compensação estão
fundamentados nessa teoria.
5.6 TEORIA DA EXPECTATIVA DE VICTOR VROOM
Em 1964, Victor Vroom propôs sua teoria voltada especificamente para o ambiente de
trabalho. E considerada uma teoria de processo, e não simplesmente de conteúdo, pois
identifica relações entre variáveis dinâmicas, que explicam o comportamento das pessoas
no trabalho. Nela, assim como na teoria da eqüidade, o que está sendo estudado é a
relação entre variáveis (resultados, insumos etc.) mais do que a variável (fator de
satisfação, por exemplo) em si mesma.
Vroom (1975), que se baseia nos trabalhos de Kurt Lewin e outros (1935), propõe: “As
escolhas feitas por uma pessoa entre cursos alternativos de ação são sempre
relacionadas a eventos psicológicos presentes no comportamento”. Para explicitar melhor
seus pressupostos, Vroom apresenta três conceitos: valência, expectativa e força.
Valência é a orientação afetiva em direção a resultados particulares. Pode-se traduzi-la
como a preferência em direção, ou não, a determinados objetivos. Diz-se que algo tem
valência positiva se atrai o comportamento em sua direção. Um objetivo de valência zero
é aquele ao qual uma pessoa é indiferente. Um alvo com valência negativa é aquele que
o indivíduo prefere não buscar.
Há que distinguir valência de um objetivo (alvo, resultado) de seu valor para uma mesma
pessoa. Alguém pode desejar muito um objeto (alta valência) e obter pouca satisfação ao
consegui-lo (pouco valor) ou empregar grande esforço em evitar algo que depois lhe traz
satisfação. No primeiro caso, a valência é positiva, embora o valor tenha sido pequeno, no
segundo caso, embora a valência tenha sido negativa, o objeto representou valor para a
pessoa.
256
Expectativa é o grau em que a pessoa acredita, ou espera, que seus objetivos sejam
atingidos. Diz respeito à probabilidade que a pessoa enxerga na consecução de seus
alvos. É definida como a crença de que determinado ato será seguido de um resultado em
particular. Trata-se de uma associação entre ação e resultado da ação.
Para Vroom (1975), o conceito de força é similar ao conceito de energia para a ação.
A teoria da expectativa vê o indivíduo como um ser pensante que tem desejos e crenças e
atua com base na antecipação e no planejamento dos eventos de sua vida, colocando em
suas ações o esforço adequado e a direção apropriada de modo a atingir seus objetivos.
Ou, dito de outra forma, a força da inclinação para uma ação depende da força da
expectativa (probabilidade) de que o ato será seguido por um resultado de alta valência. É
o reconhecimento da capacidade de planejamento do ser humano que diferencia essa
teoria das demais, e ela tem excelente aplicação dentro do modelo de gestão
compartilhada de carreiras.
ções é tarefa por demais complexa, ainda que necessária. Para uma boa compreensão
dos aspectos motivacionais observados nas organizações é necessário conhecer as
principais idéias e estudos sobre o tema. Neste capítulo, se não foram expostas todas as
abordagens e teorias de entendimento da motivação humana no trabalho, apresentaram-
se as mais importantes e relevantes. Contudo, é indispensável lembrar que nenhuma das
teorias consegue abarcar toda a verdade sobre motivação. Cada qual fornece sua
contribuição e também apresenta limitações.
A motivação tem sido vista como uma saída para melhorar o desempenho profissional no
que diz respeito tanto à produtividade quanto à saúde organizacional e à satisfação dos
trabalhadores.
O papel do gestor deverá ser sempre o de identificar os norteadores de comportamento
de seus subordinados, assumindo a natureza intrínseca e individual da motivação de
modo a gerir a direção da energia que naturalmente se encontra dentro de cada um num
sentido compatível com os objetivos da organização e com o crescimento de cada
integrante de seu grupo de trabalho.
Cada teoria apresentada possui uma visão da natureza humana; cada homem tem
peculiaridades, preferências, traços de personalidade e processo motivacional. Cada
teoria se aplica diferentemente às distintas visões do homem e da vida; as diferenças
individuais exercem papel importante nas diversas visões. Portanto, é útil integrar às
teOrias apresentadas a noção de traços de personalidade como diferenciadores do
comportamento humano.
Vários teóricos têm apresentado sua caracterologia, contribuindo para o entendimento de
diversos processos humanos, dentre eles a motivação para o trabalho. Entre as
caracterologias mais válidas e usadas para compreender de forma detalhada os
diferentes processos motivacionais, encontra-se a tipologia junguiana (Jung, 1967), que
tem fundamentado alguns testes psicológicos (Casado, 1998; Briggs-
257
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AUTORA
TÂNIA CASADO
258
1. Liderança
259
2. O líder e a liderança
Stogdill (1948) afirmou que “uma pessoa não se torna um líder por possuir alguma
combinação de traços; o padrão das características pessoais do líder precisa manter
alguma relação relevante com características, atividades e objetivos dos seguidores”.
Maccoby (1977) define liderança com base em quatro grandes funções: pôr em
funcionamento uma política, conceber uma estratégia, mobilizar equipes e fazer alianças
criando uma cultura de empresa que seja motivadora.
Kolb e colaboradores (1978) classificam como os principais problemas do cotidiano de um
líder a responsabilidade e a autoridade, a delegação, o estabeleci-
260
3. Liderança e poder
261
> Poder coercitivo: relaciona-se com a autoridade que aplica punições visando eliminar,
reduzir ou controlar comportamentos e atitudes indesejados em determinado contexto
social.
>Poder de especialização: é a força de influenciar derivada de talentos especiais,
conhecimento e experiência em uma ou mais áreas de informações atrativas para os
liderados.
>Poder de referência: também associado ao carisma pessoal, é a liderança decorrente
do caráter e da legitimidade de conhecimento de uma pessoa.
>Poder de informação: posse de dados estratégicos para unia situação crítica ou de
informações que orientem processos decisórios e escolhas de diversas ordens.
As lideranças possuem ou exercem tais poderes com ênfase em um dos tipos citados ou
em uma combinação de vários deles. Nas equipes, organizações sociais ou em qualquer
outra instituição social, espera-se que a consolidação desses poderes sempre
pressuponha rigorosos padrões éticos e responsabilidade social. Quando isso não ocorre,
pode-se observar, como em inúmeros fatos históricos, graves conseqüências políticas,
sociais e humanas.
4. O momento de liderar
5. Teorias de liderança
As teorias apresentadas neste capítulo — teoria dos traços, teoria dos estilos de liderança
e teoria dos enfoques situacionais ou contingencial — representam as tendências
contemporâneas mais utilizadas nos modelos gerenciais e têm subsidiado práticas e
políticas de gestão de pessoas nas empresas.
262
5.1 TEORIA DOS TRAÇOS
A teoria dos traços tem a premissa de que os líderes possuem traços de personalidade
que os auxiliam em seu papel. Essa teoria não enfatiza outras variáveis que podem
interferir na relação líder/liderado, como o contexto em que está inserido e as próprias
necessidades do grupo em que atua. De acordo com esse enfoque, o indivíduo já nasce
líder.
Bryman (1992) cita três grandes tipos de traço:
>Fatores físicos: têm relação com as características físicas do indivíduo, como altura,
peso, aparência física e idade. Não se pode dizer que esses aspectos não sejam
importantes. Uma pessoa cuja voz é alta e empostada consegue chamar muito mais
facilmente a atenção dentro do grupo do que alguém com uma voz baixa e suave. Mas
todos que têm “vozeirões” são líderes? Da mesma forma, dentro de um grupo de
adolescentes é muito mais fácil aceitar um líder jovem, com aparência de vitalidade, do
que um idoso, com larga experiência e vivência. Mas como então explicar o líder político
indiano Gandhi, por exemplo, que era e ainda é admirado por tantos jovens?
> Habilidades: inteligência, fluência verbal, escolaridade e conhecimento são tidos como
características facilitadoras da liderança. Em princípio, quando alguém tem habilidade de
se comunicar ou informar, há maior possibilidade de que atraia a atenção. Mas isso não é
tudo.
>Aspectos da personalidade: moderação, introversão, extroversão, dominância,
ajustamento pessoal, autoconfiança, sensibilidade interpessoal e controle emocional são
as características mais atuantes na aceitação ou não de um líder. Nem sempre uma
pessoa sensível que consegue manter bom relacionamento com as demais assume a
liderança. Não são, necessariamente, aspectos inatos, mas podem ser desenvolvidos
pelas pessoas através de um processo de amadurecimento e autoconhecimento.
O enfoque da teoria dos traços predominou entre 1920 e 1950, e seu sucesso, nesse
período, deveu-se muito à contribuição dada pelas pesquisas desenvolvidas pelos testes
psicológicos. Os aspectos mencionados são importantes para o exercício da liderança,
mas não são os Unicos fatores. 1 excessivo determinismo supor que somente aqueles
que nascem com tais características possam ser líderes. Nesse caso, a crença no
potencial humano para o desenvolvimento deixaria de existir.
Em contraste com a teoria dos traços, pela qual se acreditava que características
individuais são determinantes para a liderança, a teoria dos estilos de liderança acredita
que as pessoas podem ser preparadas para exercer o papel de líder. Para isso, há
necessidade de estudar e de construir as formas de exercício do poder, baseadas nas
crenças básicas sobre o homem e a natureza humana.
Lickert (apud Bergamini, 1994) delineia dois estilos de chefia que representam os
extremos entre participação e submissão: a liderança orientada para o emprega-
263
do, com maior envolvimento dos subordinados, e a liderança orientada para a produção,
na qual os empregados apenas seguem as determinações da chefia. A variação entre os
graus de autocracia e democracia é apresentada em quatro padrões:
>Sistema 1: relação com pouca interação, baseada no medo e na desconfiança, com alto
controle no topo da organização.
>Sistema 2: existe alguma confiança na relação. Os objetivos são estabelecidos no topo
da organização, porém há algum controle em nível mais intermediário.
>Sistema 3: os chefes confiam nos subordinados, mas não totalmente. Algumas decisões
podem ser tomadas pelos subordinados, que são recompensados e se sentem
responsáveis pelo alcance dos objetivos da organização.
>Sistema 4: os chefes têm confiança total nos subordinados, que participam das
decisões dentro da organização, havendo envolvimento no estabelecimento e no alcance
dos objetivos. Há comunicação entre todos os níveis e entre os colegas.
Robbins (1999) relata que foram realizados estudos sobre o comportamento dos líderes
com o objetivo de identificar características relacionadas com a eficácia e de definir os
estilos de liderança. Estudos das universidades de Ohio e de Michigan identificaram duas
dimensões descritas pelos subordinados como características do comportamento das
lideranças:
>Estrutura inicial: extensão em que um líder define seu papel e o dos subordinados para
a realização das metas.
>Consideração: relações de trabalho caracterizadas por confiança mútua, respeito às
idéias dos subordinados e interesse por seus sentimentos.
Líderes com grande pontuação em estrutura inicial e consideração tendiam a atingir alto
desempenho e a conquistar a satisfação de seus seguidores. Pesquisadores da
Universidade de Michigan concluíram haver duas dimensões de comportamento de
liderança: uma orientada para o empregado, que dava maior ênfase às relações
interpessoais, e outra orientada para a produção, com maior ênfase nos aspectos
técnicos ou da tarefa.
Com base nesses estudos, Blake e Mouton (1964) desenvolveram o modelo de grade
gerencial, composto de fatores dominantes do pensamento do líder. Essa grade foi
amplamente utilizada em treinamento de empresas entre as décadas de 1970 e 1990,
pois permite verificar como o líder se posiciona em 81 classificações possíveis nos eixos
preocupação com as pessoas versus preocupação com a produção.
264
265
lidade de que são eles que aceitam ou rejeitam o líder, e a presteza refere-se a até que
ponto as pessoas têm capacidade e disposição de realizar uma tarefa específica.
O conceito apresenta as dimensões de liderança “comportamento de tarefa” e
“relacionamentos”, combinando-as com quatro comportamentos do líder:
>narrar (tarefa alta, relacionamento baixo);
266
Muito se tem discutido sobre as vantagens da participação mais efetiva dos empregados
na organização e seus benefícios, como crescimento da motivação e do
comprometimento com a organização, aumento da produtividade, identificação com os
valores da empresa, auto-realização. Um ponto a ser questionado, porém, é que nem
todo grupo está preparado para ser participativo. Essa preparação pode ser sistematizada
em programas e políticas de gestão que viabilizem o amadurecimento das pessoas a fim
de que elas possam se sentir seguras para tomar decisões.
A inteligência emocional, amplamente difundida nas obras do psicólogo Goleman, tem
sido um conceito importantíssimo no desenvolvimento da habilidade de convivência
social. Em síntese, é a capacidade de a pessoa intuir através de sentimentos, emoções e
sensibilidade social. Os elementos que viabilizam a intuição diferenciada são:
autoconhecimento, automotivação, gerência das relações com outras pessoas,
espontaneidade, empada e gerência das próprias emoções. É a capacidade de
compreensão do universo de cada um e seu modo de perceber a realidade em que vive,
os valores que possui, o grau de motivação que o impulsiona e o tipo de
comprometimento estabelecido com o trabalho e a organização.
O momento atual é caracterizado por mudanças no ambiente externo e no organizacional
relacionadas por Albuquerque e Dutra (2001) como:
>Novas arquiteturas organizacionais e de negócio: poder organizacional mais diluído e
descentralizado.
>Globalização: influência de diversos atores sociais sobre as organizações.
> Maior complexidade organizacional: aumento da qualificação e do nível de informação
do trabalhador, da turbulência ambiental e da importância da liderança organizacional.
Em decorrência dessas mudanças, o líder empresarial tem adquirido novos perfis,
deixando de ser controlador e passando a ser facilitador. Busca uma visão estratégica do
negócio, e não só soluções de curto prazo. Em lugar de pretender a disciplina de seus
subordinados, cultiva o comprometimento deles. O comportamento individual passou a
ser focado na valorização das ações em equipe e formações de times.
Concluindo, liderança é um processo no qual o líder busca, sob a influência e a aceitação
do próprio grupo, o alcance de metas e objetivos específicos através de mobilização,
motivação, informação e comunicação, manejo e solução de conflitos, estabelecimento de
estratégias e definição de políticas. A liderança também é exercida quando há intenção de
direcionar a aceitação dos seguidores em ser liderados, Não existe um líder universal, e a
própria História é exemplo dessa constatação. O
267
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AUTORAS
268
269
TÂNIA CASADO
1. Introdução
Como ser social, o homem possibilitou e garantiu a vida social através dos diferentes
sistemas de comunicação que desenvolveu. Ao interagir com seus semelhantes utilizando
um código comum, inteligível, o homem faz mais do que informar e ser informado sobre
as coisas do mundo: ele agrega novas formas de organização do próprio pensamento,
adquire novos pensamentos e amplia a consciência de si próprio, de seu lugar no mundo
e de sua responsabilidade social.
As organizações, como mais um cenário do desenrolar dos papéis do homem, oferecem
inúmeras possibilidades de comunicação. Ao mesmo tempo, para sua sobrevivência e
aprimoramento, dependem de processos de comunicação cada vez mais claros,
fidedignos e apropriados.
Ao escrever sobre o papel do gestor, Mintzberg (1973) relata a contraposição entre as
características classicamente associadas ao papel do gestor e as respostas que obteve
em pesquisas com gestores ac&rca de suas atividades mais freqüentes. Eles relataram
que sua atividade principal e mais freqüente é estar em interação, em comunicação
contínua com subordinados, pares, clientes e fornecedores,
271
272
273
Um modelo é uma forma simplificada de refletir sobre algo real. Modelos expressos num
diagrama, ainda que simplistas para discutir algo tão complexo como a comunicação,
podem ser úteis para ilustrar aspectos críticos do processo. Sem a pretensão de abarcar
toda a complexidade dos processos de comunicação, ou mesmo de uma apresentação
exaustiva de todos os modelos existentes, são exibidos, a seguir, alguns dos modelos de
entendimento mais conhecidos, conforme propostos por Fisher (1981).
>Canal: qualquer meio através do qual mensagens podem ser enviadas. Nesse modelo, a
escolha do canal, sua natureza e características desempenham papel importante na
efetividade da comunicação. Uma reclamação ou uma advertência por escrito têm peso
maior que as feitas verbalmente, por exemplo.
274
275
4.2.2 Sistêmico
276
5.1 PERCEPÇÃO
277
> Expectativa: em relação a determinados fatos e coisas, faz com que se perceba
realmente o que se quer. São exemplos desse tipo de distorção a profecia auto-
realizável, a percepção seletiva, a projeção e a defesa perceptiva. Todas essas
modalidades partem da expectativa de ver ou não ver determinados objetos ou aspectos.
aqui que age o que se denomina de percepção seletiva: vê-se apenas o que se quer ver.
A percepção e, conseqüentemente, a comunicação são influenciadas por outro
componente humano: a atitude.
5.2 ATITUDE
Gordon Allport (1937) afirma que esse é um dos conceitos mais importantes da
psicologia. Segundo ele, atitude é um “estado de prontidão mental e neural, organizado
pela experiência, exercendo uma influência diretiva ou dinâmica sobre as respostas do
indivíduo a todos os objetos e situações com os quais está relacionado”.
A atitude é a predisposição para reagir a um estímulo de maneira positiva ou negativa.
formada por três componentes básicos: o cognitivo (as crenças e os conhecimentos sobre
o estímulo), o afetivo (as emoções) e o comportamental (tendência a reagir respondendo
ao aspecto cognitivo e ao afetivo). Os três componentes, quando não estão em sintonia,
originam um estado de desconforto interno, de incompatibilidade percebida pelo indivíduo,
que Leon Festinger (1957) denomina de “dissonância cognitiva”.
A atitude também pode ter três direções: favorável, desfavorável ou neutra. Essas
direções interferem na transmissão e na recepção da mensagem, implicando alterações
de comunicação.
278
6. Comunicação empresarial
As redes de comunicação definem os canais por onde passa a informação. São elas:
>Redes formais: geralmente verticais e centralizadas, por elas trafegam os conteúdos
técnico-administrativos do trabalho. Estudos relatam que a comunica-
279
ção e a resolução de problemas e tarefas simples fluem mais rapidamente nas redes
centralizadas, enquanto a comunicação e a resolução de problemas mais complexos
fluem melhor nas redes descentralizadas ou informais.
>Redes informais: enquanto as redes formais obedecem às direções estabelecidas pela
organização, a comunicação que flui por meios informais pode saltar níveis de autoridade
e mover-se em qualquer direção.
280
7. Tendências e desafios
281
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ULRICH, Dave. Os campeões de recursos humanos. São Paulo: Futura, 1999.
AUTORA
TÂNIA CASADO
282
283
284
Segundo Berger e Luckmann, quando um grupo social tem de transmitir sua visão do
mundo a uma nova geração surge a necessidade de legitimação — o processo de
explicar e justificar a ordem institucional prescrevendo validade cognitiva aos seus
significados adjetivados; tem, portanto, elementos cognitivos e normativos e dá origem ao
universo simbólico. Isso porque durante a fase de legitimação se produzem novos
significados já atribuidos aos processos institucionais.
Ao estudar as organizações, é possível observar como certos símbolos são criados e os
procedimentos implícitos e explícitos para legitimá-los. O da empresa como uma grande
família exemplifica essa criação do mito, integrando vários significados e os processos de
sua legitimação.
285
Geertz Hofstede et al. (1990) foi um dos autores que se notabilizaram pelo estudo de
culturas nacionais. Ele teve acesso a 116 mii questionários aplicados entre 1967 e 1973
em 72 subsidiárias diferentes da IBM. Esses questionários foram elaborados com base
em entrevistas em profundidade feitas com empregados de subsidiárias de dez países
distintos. Nesse trabalho, Hofstede identificou quatro dimensões independentes, que
chamou de: “distância do poder”, “evitar incertezas”, “individualismo versus coletivismo” e
“masculinidade versus feminilidade”.
Em estudos posteriores, sua equipe identificou um quinto fator independente denominado
de “dinamismo confuciano”, que opõe a orientação de curto prazo á orientação de longo
prazo e foi usado para construir uma explicação parcial do sucesso das economias do
Extremo Oriente nas últimas décadas.
Apesar da criação desse modelo, Hofstede admite que, após esses estudos, “a pesquisa
transnacional na IBM não revelou nada sobre a cultura corporativa da IBM”, o que o levou
a outros modelos de entendimento da cultura nas organizações.
Tal linha de estudos apresenta riscos teóricos e práticos. Um dos autores mais
conhecidos por seus trabalhos acadêmicos e de consultoria na área de cultura
organizacional, Edgar Schein (2001) mostra alguns deles, relacionados com a
supersimplificação:
Se eu quiser trabalhar na Alemanha, ajuda pouco saber que os alemães são compulsivos:
se eu quiser trabalhar na Itália, não é tão útil saber que os italianos expressam suas
emoções com liberdade e, se um alemão quiser trabalhar nos Estados Unidos, será de
pouca valia saber que os americanos são individualistas. Esses insights podem ser
proveitosos, mas não bastam. As culturas são padrões de elementos que interagem; se
não tivermos como decifrar os padrões, não poderemos entender as culturas.
Linha de
onceito de cuftura
trabalho Visão de organização
286
Linha de
Conceito de cultura Visão de organização
trabalho
Cultura é um sistema de
Organizações são padrões de discurso
simbolos e significados
simbólico. A organização é mantida
partilhados. A ação simbólica Simbolismo
através de modos simbólicos como a
necessita ser interpreta- da, organizacional
linguagem, que facilita os significados
lida ou decifrada a fim de ser
partilhados e as realidades partilhadas.
entendida.
Processos
Cultura é uma projeção da Formas e práticas organizacionais são
inconscientes e
infra- estrutura universal e manifestações de processos
.
inconsciente da mente. inconscientes.
organização
Há três diferentes níveis através dos quais a cultura de uma organização pode
ser apreendida, como se pode ver na Figura 2.
287
288
289
sador e pesquisado, relação medida por um contrato social que leva a organizaçã.o a se
abrir e a pôr à disposição do pesquisador dados e informações de diversas naturezas,
dificilmente acessíveis a qualquer outra pessoa. Nas palavras de Schein; “Eu creio que a
perspectiva clínica provê um contraposto útil para a perspectiva puramente etnográfica,
pois oferece melhores possibilidades de apreender coisas sobre a organização”.
Apesar das fortes raízes antropológicas e psicológicas, essa linha de estudos assume os
sistemas culturais apenas em sua capacidade de comunicação e de expressão de uma
visão consensual da própria organização. A dimensão do poder, intrínseca aos sistemas
simbólicos, e seu papel de legitifnação da ordem vigente e ocultamento das contradições,
das relações de dominação, estão ausentes desses estudos.
Nesse ponto, o trabalho desenvolvido por Max Pagés e seus colaboradores representou
um marco nas pesquisas sobre a temática do poder e suas articulações na vida de uma
organização.
Segundo os autores, na empresa pesquisada os empregados partilham fortemente a
ideologia à medida que participam de sua elaboração, num processo de autopersuasão
que lhes permite contribuir para a própria subjugação. Isso significa que a ideologia não
reside apenas no discurso dos dirigentes, mas é elaborada pelo conjunto de empregados.
Os autores ressaltam que a contribuição do indivíduo à produção depende muito de sua
integração ideológica. A função especial da ideologia não é apenas mascarar as relações
sociais de produção, mas reforçar a dominação e conseguir a exploração dos
trabalhadores.
A importância do trabalho de Pagés não se esgota apenas na análise da produção e das
mediações ideológicas das organizações; avança para outras instâncias da vida
organizacional (econômica, política e psicológica), tecendo um quadro fascinante,
complexo e de certo modo amedrontador das relações de poder entre o individuo e a
organização.
O debate com as várias linhas teóricas que trabalham com a questão da cultura
organizacional apontou a necessidade de elaboração de uma proposta conceitual que,
partindo da concepção de Schein, incorporasse a dimensão política inerente a tal
fenômeno. Na proposta elaborada por Fleury (1989), a cultura organizacional é concebida
como um conjunto de valores e pressupostos básicos, expresso em elementos
simbólicos, que, em sua capacidade de ordenai atribuir signJicações, construir a
identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso como
ocultam e instrumentalizam as relações de dominação.
Analisar, pesquisar e até mesmo procurar gerenciar a cultura das organizações
incorporando essa dimensão política das relações de poder tem sido o desafio de
pesquisadores e profissionais.
4. Temas atuais no debate sobre cultura organizacional
290
291
292
5. Conceitos básicos
>Cultura: na antropologia, foi definida por Tylor como um “complxo total de
conhecimentos crenças, artes, moral, leis, costumes e quaisquer outras aptidões e
hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.
>Cultura organizacional: conjunto de valores e pressupostos básicos expresso em
elementos simbólicos que, em sua capacidade de ordenar, atribuir significações, construir
a identidade organizacional, tanto agem como elemento de comunicação e consenso
como ocultam e instrumentalizam as relações de dominação.
>Cultura nacional ou regional: crenças e valores, expressos ou não em elementos
simbólicos, adquiridos por uma pessoa socializada em determinada nação ou região.
>Nível de artefatos visíveis: nível mais superficial de apreensão de uma cultura, refere-
se a comportamentos, rituais, mitos, crenças e documentos, entre Outros.
>Nível dos valores: nível intermediário de apreensão de uma cultura, consiste nas
convicções básicas que justificam determinados modos de conduta, partilhados pelos
membros de determinada cultura. Geralmente associado a conteúdo emocional, possui
implicações sobre a identidade das pessoas como membros da organização. Essas
convicções podem ou não ser claramente expressas pelos indivíduos.
>Nível dos pressupostos básicos ou suposições básicas: nível mais profundo de
apreensão de uma cultura, consiste nas certezas que fundamentam e permeiam os
demais elementos da cultura organizacional. São geralmente tácitos e referem-se a idéias
amplas como o relacionamento do homem com a natureza, a realidade, a verdade, a
natureza humana, os relacionamentos humanos, o tempo e o espaço. São de difícil
apreensão.
>Subcultura organizacional: conjunto de valores e pressupostos básicos inerentes a um
grupo ou a uma parte da organização. Pode ter contornos próprios às atividades
realizadas e diferenças em relação à cultura organizacional, mas alinhada a ela, ou
constituir uma fonte de conflito com a cultura dominante (nesse caso, alguns autores a
denominam de contracultura)
>Clima organizacional: termo empregado para definir o conjunto de satisfações
e insatisfações dos membros de uma organização em determinado período,
geralmente identificado através de pesquisas calcadas em percepção e opinião.
É mais volátil e menos estrutural que a cultura organizacional
>Diversidade cultural: preocupação contemporânea das empresas, traduzida em
políticas de pessoal e organização do tmbalho que visam manter em seu contexto
pessoas diferentes com relação a gênero, raça, necessidades especiais, regiões de
origem e formas de pensar.
293
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AUTORES
294
1. Introdução
295
296
3. Evolução histórica
O conceito de qualidade de vida no trabalho tem sido avaliado e questionado através dos
anos, definindo-se não como modismo passageiro, mas como um processo que consolida
a busca do desenvolvimento humano e organizacional.
Walton (1973), um dos pesquisadores pioneiros da sistematização dos critérios e
conceitos de QVT, define-a como algo além dos objetivos da legislação trabalhista,
surgido no começo do século XX com a regulamentação do trabalho de menores, da
jornada de trabalho e descanso semanal e das indenizações por acidentes de trabalho.
A QVT também está relacionada com os objetivos do movimento sindical após a grande
crise dos anos 1930, que se centraram na segurança e na salubridade do trabalho, no
tratamento dispensado ao trabalhador e no aumento de salários. também associada ao
enfoque da psicologia surgido na década de 1950, em que se considera a existência de
uma correlação positiva entre estado de ânimo e produtividade e afirma-se que é possível
elevá-los mediante a melhoria das relações humanas. Faz parte dos novos conceitos da
década de 1960, como a igualdade de oportunidades e os inumeráveis esquemas de
enriquecimento do trabalho. Pode-se definir QVT como a junção desses movimentos
reformistas mais as necessidades e aspirações humanas, como o desejo de trabalhar
para um empregador que possua sensibilidade social.
Para Wahon (1976), a QVT deve ter como meta a geração de uma organização mais
humanizada, na qual o trabalho envolva relativo grau de responsabilidade e de autonomia
no que se refere a cargo, recebimento de recursos de feedback do desempenho, tarefas
adequadas, variedade, enriquecimento do trabalho e ênfase no desenvolvimento pessoal
do indivíduo. Em 1976, o autor propõe um modelo conceitual composto de oito categorias
com o objetivo de avaliar a QVT nas organizações:
>Remuneração justa e adequada: trata-se da relação do salário com outros trabalhos,
desempenho da comunidade e padrão subjetivo do empregado. Em síntese, eqüidade
salarial.
>Segurança e salubridade do trabalho: os trabalhadores não devem ser expostos a
condições ambientais, jornada de trabalho nem a riscos que possam ameaçar sua saúde.
>Oportunidade de utilizar e desenvolver habilidades: o uso e o desenvolvimento das
capacidades devem atender a certas condições, como autonoWia, variedade de
habilidades, informação e perspectiva da atividade, significado e planejamento da tarefa.
297
298
Visão democratica
Democracia industrial
>Aumento da participação dos empregados na tomada de decisões.
>Alcance das metas do movimento de relações humanas.
Visão gerencial
Aumento da produtividade
>Melhora dos inputs humanos antes dos Ínputs tecnológicos ou do capital para a
produção.
299
Visão humanista
Satisfação de necessidades
>Satisfação no cargo
>Humanização do trabalho
>Organização personalizada
>Desenvolvimento organizacional
300
De acordo com Bennett (1983), a melhora da produtividade não pode ser discutida sem o
reconhecimento de que o conceito de produtividade vai além da idéia de uma boa
produção ou de eficiência no trabalho. um conceito que encontra raízes no dinamismo
humano por ter uma conexão indispensável com a melhoria da natureza e a qualidade de
vida de cada indivíduo no trabalho.
301
302
303
>Quanto aos métodos para levantar necessidades de QVT, uma pequena parcela
estabelece procedimentos por meio de freqüência de acidentes de trabalho,
movimento no ambulatório, diagnóstico de clima e auditoria interna. Poucas declararam
associação com determinação legal.
> Na maioria das empresas os programas de QVT têm de um a três anos, o que significa
uma posição consolidada modesta desses programas. Um pequeno
grupo de empresas desenvolve programas há mais de cinco anos, o que caracteriza
solidez e visibilidade dessas ações na empresa.
> Não há propostas de novos programas de QVT para os próximos doze meses na
maioria das empresas. Nas que responderam positivamente, a ênfase é em
procedimentos de implantação e consideração dos empregados como foco de ação de
QVT. Uma das empresas associou novos programas ao 5S do projeto de qualidade total.
> As atividades de QVT, em sua maioria, não têm duração prevista. Podem variar de duas
horas a três anos. Houve duas indicações de duração contínua.
Percebe-se, portanto, escopo muito abrangente, caracterizando a ausência de um modelo
homogêneo e referencial de gestão da QVT.
> Não há dotação orçamentária para QVT na maioria das empresas. Quando existe, o
orçamento é e faz parte do programa de saúde ocupacional, o que demonstra frágil
estrutura orçamentária para QVT.
> Na maioria das empresas, a destinação da verba orçamentária não é específica. Nas
que possuem destinações específicas, os critérios são variados: departamento, projeto e
genérico.
> Apenas uma pequena minoria (20%) das empresas calcula o investimento em QVT
sobre o faturamento anual. As porcentagens vão de 0,0 1% a 1,5% da folha de
pagamento mensal.
> Só um terço das empresas possui atividades formais denominadas de QVT; entre elas,
as mais citadas são as campanhas e palestras. Melhoras no posto de
trabalho e mudanças administrativas também são citadas, embora com menor incidência.
> A maioria das empresas não controla os resultados associados à QVT. Entre as que o
fazem, os controles referem-se à saúde e à doença, com dados obtidos por
meio de questionários e controles numéricos. Os comitês de avaliação aparecem em
quase metade das empresas como instrumento de avaliação. Em geral, as
empresas assinalaram múltiplas ferramentas de controle.
> A maioria das empresas considera os programas e as ações de QVT importantes na
certificação ISO 9000. Os motivos giram em torno de questões de qualidade, atendimento
às necessidades pessoais e até ao negócio da empresa, inclusive com relato de pressão
de cliente externo.
> Os programas e as ações de QVT têm valor para a política de negócios da empresa. As
respostas positivas foram maiores com relação a todas as outras
questões. Os motivos apontados associam-se à empresa como um todo, à imagem
institucional, ao envolvimento dos empregados e à auditoria de clientes externos.
304
8. Considerações finais
A qualidade de vida no trabalho vem ganhando expressão cada vez maior no ambiente
empresarial brasileiro dentro das estratégias de gestão de pessoas. Seja por aumentar a
produtividade, seja como peça importante da competitividade e da modernidade da
gestão de pessoas, seja no atendimento a exigências dos clientes, o fato é que, por meio
de melhorias das condições de trabalho, que fazem parte do escopo dos programas de
QVT, os resultados obtidos podem ter alcançado os objetivos empresariais, auxiliando a
organização a enfrentar o ambiente competitivo e a comprometer as pessoas com o
negócio da empresa. Muitas inovações de gestão foram desejadas pelos que trabalham
em sistemas produtivos, O desafio da QVT é aprofundar o reconhecimento da dimensão
essencial do compromisso do ser humano com as organizações e gerar melhores
condições de vida.
Referências bibliográficas
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AUTORAS
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