Frida
Frida
Frida
Conexões entre
mulheres surrealistas
no México
A Ação Educativa do Instituto Tomie Ohtake vem realizando, desde 2002, Esta publicação foi pensada a partir das visualidades presentes na mostra
um intenso programa que promove o acesso, o aprendizado e a participa- Frida Kahlo – conexões entre mulheres surrealistas no México. Os conteú-
ção do público em atividades ligadas à arte e à cultura. Nossas atividades dos e exercícios são propostas para você, professor e educador, comparti-
incluem uma extensa pesquisa sobre arte, visitas mediadas, ações poéti- lhar com seus alunos experimentações: refletir sobre questões da mostra,
cas em ateliê, formação de educadores, projetos socioculturais, prêmios, discutir os processos de produção das artistas, multiplicar posicionamen-
seminários, cursos, oficinas e publicações. Em todas as ações, buscamos tos em relação à arte e aos modos de estar no mundo. Configurando-se
estimular o potencial sensível, reflexivo e imaginativo das pessoas e gerar, como um dispositivo poético-educativo, a publicação é composta por gra-
por meio de formas inventivas de interação do público com a arte e a cul- fismos de folhas e flores, criando uma atmosfera que narra o pátio interno
tura, espaços de autonomia, criatividade e transformação social. da Casa Azul – lugar onde Frida Kahlo passou toda sua vida. A publica-
Esta publicação propõe questões a partir da exposição Frida Kahlo – ção organiza-se em duas brochuras conectadas, nas quais constam:
conexões entre mulheres surrealistas no México e segue o mesmo ideal ao — percursos poéticos das artistas;
buscar contribuir com educadores no trabalho que realizam com crianças — verbetes extraídos dos cernes construtivos das artistas, que atuarão
e jovens, despertando seu interesse por uma investigação pessoal acerca como palavras-chave ou conceitos irradiadores de discussões;
da subjetividade própria da arte, capaz de nos levar ao entendimento mais — exercícios para serem realizados em sala de aula com os alunos – expe-
amplo do mundo e de nós mesmos. riências com o corpo, com o espaço, com dinâmicas de construção de
identidades.
Boas experiências!
Percursos Exercícios
poéticos
e Verbetes
Publicação
Concepção Galciani Neves
Assistência de conteúdo Divina Prado e Julia Viana
Pesquisa educadores da Ação Educativa
Projeto gráfico e ilustrações Vitor Cesar
Revisão de texto Divina Prado e Sílvia Balderama
identidade étnica e social do país, convocando seu universo a partir das The Vergel Foundation / ©2015 Banco de México Diego Rivera & Frida Kahlo Museum Trust. Av. 5 de Mayo
no.2, Col. Centro, Del. Cuauhtémoc 06059, México, D.F / Reprodução autorizada por El Instituto Nacional
persistências da cultura e dos fragmentos de seu ser. de Bellas Artes y Literatura, 2015 / Foto: Gerardo Suter
Alice Rahon
Chenecey-Buillon, França, 1904 — Cidade do México, 1987
Frida Kahlo
[Trecho do diário da artista]
Kati Horna
Budapeste, Hungria, 1912 — Cidade do México, 2000
Para Kati Horna, a fotografia foi uma linguagem para construção de ima-
gens fantásticas e relatos de guerra, assim como um instrumento que
selou seu compromisso político com a luta pela liberdade. Numa época
em que era raro ver uma mulher com uma câmera na mão, ela vivenciou e
documentou os horrores da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra
Mundial e os impactos dos confrontos sobre a população civil. Em 1939,
precisou fugir para o México, onde se deparou com a vertente mágica
do Surrealismo. Ali, atmosferas encenadas, o procedimento de sobrepo-
sição de imagens e a imagem como narrativa poética ganharam força.
Mas Horna seguiu engajada com questões políticas e com procedimen-
tos de registro do cotidiano, sobretudo de mulheres e crianças, buscan-
do expandir os limites da subjetividade de seu olhar e as convenções da
imagem documental.
Horna desenvolveu uma curiosa capacidade de se valer de objetos
inanimados, como máscaras, bonecos, fantoches e disfarces, para nar-
rar atmosferas de emoção e impacto, como no retrato de Remedios Varo
acompanhada de uma grande máscara. Se, por um lado, esses objetos
atestam cenas irreais e construídas, por outro, constituem processos de
percepção que parecem invadir o espectador de uma estranha sensação
de indiscernimento: entre algo que pode ser assustadoramente real e,
ao mesmo tempo, fantasticamente inverossímil. É o caso também de sua
série Ode à Necrofilia: a silhueta de uma mulher, ou um corpo feminino
coberto por um tecido negro, surge ao lado de uma máscara e fabula uma
atmosfera de mistério e, ao mesmo tempo, bastante familiar; e do traba-
lho La recámara de Frida, espécie de registro ausente de Frida Kahlo, em
seu quarto, que narra algo a respeito de um espaço esvaziado pela ação
de um corpo tolhido, cujos rastros são informes ou apenas meros gestos
silenciosos da artista em sua casa.
Kati Horna, La recámara de Frida [O quarto de Frida], s.d.
Impressão, prata e gelatina – 23.5 x 19 cm
The Vergel Foundation / Foto: Gerardo Suter
María Izquierdo
San Juan de los Lagos, Jalisco, 1902 — Cidade do México, 1955
Falar sobre si mesmo pode ser embaraçoso. Mas es- Uma narrativa ou um poema pode ser uma construção
sas conversas sempre provocam questões relevantes e, coletiva e a livre associação, um procedimento para
sobretudo, apontam para aspectos da vida que podem essa criação. Muitos poetas surrealistas se valeram de
ser compartilhados. Nesta situação coletiva, a multipli- recursos como este para se livrar das amarras da es-
cidade de perspectivas é capaz de gerar discussões so- trutura literária tradicional e para incorporar o acaso
bre política, sobre vida em sociedade, sobre diferenças como elemento construtivo.
de pontos de vista.
— Em uma folha de papel, sugira aos participantes a
— Convide cada participante para levar um trecho de criação de uma história ou poema coletivo. Para
uma história: pode ser um trecho de um filme, de isso, todos deverão seguir algumas regras.
uma história em quadrinhos, de um livro, uma re- — O primeiro participante escreve a primeira frase
portagem de jornal ou revista, um diálogo ouvido ou verso. O segundo participante lê e escreve a se-
na rua. gunda frase e dobra o papel, de modo a esconder
— Cada participante pode se concentrar nesta história, a primeira frase. O terceiro participante só poderá
individualmente, para refazer o início, o meio ou o ler a frase imediatamente anterior à sua e escrever
fim da narrativa. sua contribuição e, assim, sucessivamente. Ou seja,
— Essa narrativa pode ser construída em texto e/ou cada participante só é autorizado a ler a contribui-
com desenhos e com imagens apropriadas de revista ção do participante imediatamente anterior a ele.
ou jornal. — O conteúdo inteiro da história ou poema só é revela-
— Incentive que a história inventada seja proveniente do no final.
de uma experiência pessoal de cada um. — Proponha leituras coletivas e em voz alta.
— Façam juntos um sarau.
Discuta como a frase de cada um se transformou nesse
contexto. Reflitam também acerca do teor da história
que vocês criaram.
Camadas sobre o corpo Os objetos contam
histórias
Máscaras, vestimentas e ornamentos são utilizados em Os objetos são projetos dos homens, guardam um tan-
muitos rituais sociais. Os índios se preparam com pin- to de nossos gestos e memórias.
turas no corpo para danças que festejam a colheita ou
o nascimento de um novo membro da tribo. Para os — Peça para que os participantes desta ação tragam
orientais, a cor das roupas a ser utilizada durante ri- alguns objetos que consideram importantes em seu
tuais fúnebres é o branco. As fantasias são acessórios cotidiano. Sugira que sejam coisas com formas, co-
bem-humorados no carnaval brasileiro. res, texturas e funções bem diferentes entre si.
— Em uma mesa ou espaço amplo, convide-os a dispor
— Construam máscaras com os mais variados mate- os elementos. Cada um deve fazer uma composição
riais: papéis coloridos, fitas, barbantes, tecidos. escultórica, valendo-se de dois ou mais objetos.
— As máscaras podem ser camadas para revestir não — Atente a todos que os objetos podem ser trocados en-
só o rosto, mas também partes do corpo. tre os participantes, caso eles considerem necessário.
— Discuta a máscara como uma camada que adicio- — Depois, façam um passeio por todos os exercícios
na características aos corpos de cada um, como um e discutam em grupo como cada objeto, em cada
acessório que pode contribuir para a construção de composição escultórica, narra um pouco acerca da
personagens e de identidades distintas das que to- personalidade, da história e das experiências de
dos vivenciam habitualmente. cada um – e como essas associações entre objetos
possibilitam que as histórias se comuniquem.
Para ouvir com o corpo Um ponto colorido
— Convide os participantes para um dia dançante no O corpo é a morada de nossos desejos e anseios. É
espaço em que vocês se encontram. Cada um pode também o meio a partir do qual nos relacionamos com
levar sua música favorita. o mundo.
— Ouçam as músicas e convide todos a dançar. Vocês
podem aprender uns com os outros coreografias no- — Convide os participantes desta ação a indicar com
vas e formas de reagir com o corpo ao som. caneta colorida ou com adesivos coloridos partes do
— Toque também algumas músicas de festas popula- corpo onde já sentiram dor.
res brasileiras (coco, maracatu, xote, forró, bumba- — Coloque uma música calma e relaxante e convide-os
meu-boi, frevo, samba), apresentando a forma como para ir a um ambiente a céu aberto, se possível.
elas são dançadas tradicionalmente. — Proponha que todos se movimentem ou dancem,
— Criem passos coletivamente, deixem-se levar pelos tentando mover, sobretudo, o lugar de incômodo.
ritmos e pelas letras das canções. — Sugira também que fechem os olhos para melhor se
— Conversem sobre as semelhanças e diferenças des- conectarem a esta dança.
sas canções.
Converse com todos sobre a qualidade da dor – física
Você também pode apresentar vídeos de danças popu- ou emocional – e como essas experiências podem ser
lares brasileiras. Discuta com os participantes como é ressignificadas quando transformamos o lugar da dor
o corpo das pessoas, as roupas típicas, o ambiente em em lugar de descontração ou relaxamento.
que estão e os ritos populares que têm essas músicas
como elemento.
Cenas de um sujeito A mesa pode também
feminino ser uma paisagem
Uma roupa diz muito de alguém. Quando nos vestimos, A natureza-morta é um gênero da pintura em que
suscitamos uma linguagem corporal e nos colocamos são representados coisas, seres inanimados, comidas,
diante do outro. O corpo se traveste e sugere muitas utensílios do cotidiano em uma composição. Trata-se,
facetas. em outros termos, de uma espécie de paisagem dimi-
nuta localizada em um espaço comum.
— Proponha aos participantes que tragam de casa um
vestido ou qualquer outra peça de roupa da mulher — Peça para cada participante trazer uma fruta.
que os criou ou com quem conviveram de maneira — Numa mesa, estimule-os à construção coletiva de
próxima (podem ser peças da mãe, tia, avó, madri- uma composição com todas essas frutas.
nha, vizinha). — Discutam, enquanto montam essa “mesa-paisagem”,
— Proponha que cada um escreva três frases que essa os volumes, as relações entre figura e fundo, a com-
pessoa costuma falar ou expressões que os façam posição cromática e a textura dos elementos.
lembrar dela.
— Proponha que os participantes vistam a roupa e ca- Depois, cada participante pode escolher um ponto de
minhem pelo espaço refazendo o jeito, as posturas e contemplação dessa mesa, tal como se estivesse de
os gestos dessa pessoa. frente para uma paisagem. Convide-os a produzir ao
— Convide-os a se comunicarem, valendo-se sempre menos dois desenhos de observação, a partir de dife-
dessas falas e expressões. rentes procedimentos, como, por exemplo, um dese-
— Uma música pode embalar essa caminhada ou ocu- nho em 30 segundos, um desenho feito a partir de uma
pação do espaço. vista panorâmica; ou um desenho de um detalhe da
mesa e outro de um conjunto mais amplo das frutas
Depois do exercício, estimule uma conversa sobre tal na mesa.
experiência. Discuta como cada um pode se perceber Conversem sobre essa paisagem inventada na
como um sujeito que se inventa a partir do outro. mesa e nos desenhos, sobre a diferença entre eles, a
escala das frutas, seus relevos e imagens que sugerem.
Convide-os a montar uma pequena exposição do que
eles produziram. Depois de toda a ação, façam juntos
uma salada de frutas!
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