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Tecnologia de Bebidas

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Técnico em Alimentos

Luciana Leite de Andrade Lima


Artur Bibiano de Melo Filho

Tecnologia de Bebidas

ISBN 978-85-7946-089-0

UFRPE
Universidade
Federal Rural
9 788579 460890
de Pernambuco

Tec_Beb_capa_z.indd 1 11/10/11 10:42


Tecnologia de Bebidas
Luciana Leite de Andrade Lima
Artur Bibiano de Melo Filho

UFRPE/CODAI
2011
Presidência da República Federativa do Brasil
Ministério da Educação
Secretaria de Educação a Distância

© Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (CODAI), órgão vinculado a Universidade Federal Rural
de Pernambuco (UFRPE)
Este Caderno foi elaborado em parceria entre o Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (CODAI)
da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e a Universidade Federal do Rio Grande do
Norte (UFRN) para o Sistema Escola Técnica Aberta do Brasil – e -Tec Brasil.
Reitor da UFRPE Equipe de Produção
Prof. Valmar Correa de Andrade Secretaria de Educação a Distância / UFRN

Vice-Reitor da UFRPE Reitora


Prof. Reginaldo Barros Profa. Ângela Maria Paiva Cruz

Diretor do CODAI Vice-Reitora


Prof. Juáres José Profa. Maria de Fátima Freire Melo Ximenes

Equipe de Elaboração Secretária de Educação a DistâncIa


Colégio Agrícola Dom Agostinho Ikas (CODAI) / UFRPE Profa. Maria Carmem Freire Diógenes Rêgo

Coordenadora Institucional Secretária Adjunta de Educação a DistâncIa


Profa. Argélia Maria Araújo Dias Silva – CODAI / UFRPE Profa. Eugênia Maria Dantas
Coordenadora do Curso Coordenador de Produção de Materiais Didáticos
Profa. Claudia Mellia – CODAI / UFRPE Prof. Marcos Aurélio Felipe
Coordenador Adjunto Revisão
Prof. Paulo Ricardo Santos Dutra – CODAI / UFRPE Cristinara Ferreira dos Santos
Professores-Autores Emanuelle Pereira de Lima Diniz
Luciana Leite de Andrade Lima Janaina Tomaz Capistrano
Artur Bibiano de Melo Filho Kaline Sampaio de Araújo
Verônica Pinheiro da Silva

Diagramação
José Antonio Bezerra Junior
Rafael Marques Garcia

Arte e Ilustração
Adauto Harley
Anderson Gomes do Nascimento
Leonardo dos Santos Feitoza

Projeto Gráfico
e-Tec/MEC

Ficha catalográfica
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central - UFRPE

L732t Lima, Luciana Leite de Andrade


Tecnologia de bebidas / Luciana Leite de Andrade Lima, Artur Bibiano
de Melo Filho; [coordenadora institucional Argelia Mª Araujo Dias
Silva]. -- Recife: EDUFRPE, 2011.
126 p. : il. -- (Técnico em alimentos)
ISBN 978-85-7946-089-0

Referências.
1. Álcool 2. Bebidas não-alcoólica 3. Bebidas alcoólicas I. Melo Filho,
Artur Bibiano de II. Silva, Argelia Maria Araujo Dias, coord. III. Título
IV. Série
CDD 641.3
Apresentação e-Tec Brasil

Prezado estudante,

Bem-vindo ao e-Tec Brasil!

Você faz parte de uma rede nacional pública de ensino, a Escola Técnica
Aberta do Brasil, instituída pelo Decreto nº 6.301, de 12 de dezembro 2007,
com o objetivo de democratizar o acesso ao ensino técnico público, na mo-
dalidade a distância. O programa é resultado de uma parceria entre o Minis-
tério da Educação, por meio das Secretarias de Educação a Distancia (SEED)
e de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), as universidades e escolas
técnicas estaduais e federais.

A educação a distância no nosso país, de dimensões continentais e grande


diversidade regional e cultural, longe de distanciar, aproxima as pessoas ao
garantir acesso à educação de qualidade, e promover o fortalecimento da
formação de jovens moradores de regiões distantes, geograficamente ou
economicamente, dos grandes centros.

O e-Tec Brasil leva os cursos técnicos a locais distantes das instituições de en-
sino e para a periferia das grandes cidades, incentivando os jovens a concluir
o ensino médio. Os cursos são ofertados pelas instituições públicas de ensino
e o atendimento ao estudante é realizado em escolas-polo integrantes das
redes públicas municipais e estaduais.

O Ministério da Educação, as instituições públicas de ensino técnico, seus


servidores técnicos e professores acreditam que uma educação profissional
qualificada – integradora do ensino médio e educação técnica, – é capaz de
promover o cidadão com capacidades para produzir, mas também com auto-
nomia diante das diferentes dimensões da realidade: cultural, social, familiar,
esportiva, política e ética.

Nós acreditamos em você!

Desejamos sucesso na sua formação profissional!

Ministério da Educação
Janeiro de 2010

Nosso contato
etecbrasil@mec.gov.br

e-Tec Brasil
Indicação de ícones

Os ícones são elementos gráficos utilizados para ampliar as formas de


linguagem e facilitar a organização e a leitura hipertextual.

Atenção: indica pontos de maior relevância no texto.

Saiba mais: oferece novas informações que enriquecem o


assunto ou “curiosidades” e notícias recentes relacionadas ao
tema estudado.

Glossário: indica a definição de um termo, palavra ou expressão


utilizada no texto.

Mídias integradas: remete o tema para outras fontes: livros,


filmes, músicas, sites, programas de TV.

Atividades de aprendizagem: apresenta atividades em


diferentes níveis de aprendizagem para que o estudante possa
realizá-las e conferir o seu domínio do tema estudado.

e-Tec Brasil
Sumário

Palavra do professor-autor 9

Apresentação da disciplina 11

Projeto instrucional 13

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 15


1.1. Considerações iniciais 15
1.2. Bebidas e Legislação Brasileira 17
1.3 A rotulagem das bebidas 22
1.4 A água – bebida mais importante para o homem 26

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 33


2.1. Considerações iniciais 33
2.2 O que são bebidas alcoólicas e não alcoólicas 40
2.3 Sucos de frutas 41
2.4 As infusões 47

Aula 3 – Café e refrigerantes 55


3.1 O café: breve histórico 55
3.2 Os refrigerantes 64

Aula 4 – Bebidas fermentadas I – Cerveja 69


4.1 Fermentação 69
4.2 A cerveja 71

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 83


5.1 Vinho: a bebida dos deuses 83
5.2 Elaboração dos vinhos tranquilos 89
5.3 Elaboração de vinhos espumantes 101

e-Tec Brasil
Aula 6 – Bebidas destiladas 107
6.1 Considerações iniciais 107
6.2 Bebidas fermento-destiladas simples 109
6.3 Bebidas fermento-destiladas retificadas 121

Referências 125

Currículo dos professores-autores 126

e-Tec Brasil 8
Palavra do professor-autor

Prezado aluno,

Neste livro, conversaremos sobre o mundo das bebidas. Nesse contexto, ve-
remos um pouco da história, tecnologia e as características alcoólicas e não
alcoólicas. Para isso, buscaremos sempre evidenciar para você o relevante
entendimento acerca da importância da matéria-prima e das principais eta-
pas do processo de elaboração dos diferentes tipos de bebidas.

Durante o nosso passeio por esse mundo entusiasmante, vamos propor al-
gumas atividades práticas e sugestões para leitura complementar. Em ambos
os casos, procuramos ajudá-los a fazer novas descobertas e a observar me-
lhor as bebidas que consumimos em nosso cotidiano.

Dessa forma, pretendemos consolidar os seus conhecimentos relacionados à


atividade no ramo da tecnologia de alimentos, lembrando sempre que esse
conhecimento lhe permitirá interagir com produtos diretamente ligados com
a saúde e bem-estar do homem.

Sugerimos que você interaja com esta publicação, buscando participar de


tudo o que lhe for proposto. Por fim, para que você reflita um pouco, deixa-
mos a seguinte reflexão:

“Ele não sabia que era impossível, foi lá e fez.”

Bons estudos!

9 e-Tec Brasil
Apresentação da disciplina

Organizamos a disciplina Tecnologia de Bebidas em 6 aulas, sendo importan-


te realizar a cada aula as atividades práticas e os exercícios propostos ao final
de cada uma delas. Dessa forma, você estará avançando no aprendizado da
Tecnologia de Bebidas e consolidando seus conhecimentos.

Passaremos agora a apresentar cada aula.

Na Aula 1, conversaremos um pouco sobre as bebidas e como a nossa legis-


lação designa normas de elaboração, classificação e rotulagem. Além disso,
veremos que a água é uma bebida natural que possui função importante na
grande maioria das demais bebidas.

Depois que conhecemos um pouco sobre o mundo das bebidas, na Aula 2,


vamos entender quais as diferenças entre bebidas alcoólicas e não alcoólicas,
bem como as técnicas empregadas para elaboração de bebidas alcoólicas.
Conversaremos sobre outras bebidas naturais, os sucos de frutas, e sobre a
primeira das bebidas infusórias - o chá.

A Aula 3 abordará assuntos referentes ao café, uma bebida de grande con-


sumo mundial e que pode ser elaborada por técnicas de infusão e decocção.
Além disso, no mundo do café, veremos o seu beneficiamento, tipos e mo-
dos de preparo. Conheceremos também alguns aspectos dos refrigerantes,
bebidas refrescantes, não alcoólicas, elaboradas por carbonatação. No de-
correr da aula, iremos comentar as etapas do preparo dessa bebida: matéria-
prima utilizada, elaboração e legislação.

Na Aula 4, nossa conversa será sobre as bebidas alcoólicas que sempre ini-
ciam seu processo de elaboração com a fermentação alcoólica. Porém, exis-
tem bebidas alcoólicas produzidas apenas com a fermentação, tais como
cervejas e vinhos, e outras que associam um processo de destilação, como
o rum, a vodca ou o uísque. Nesta aula, abordaremos a cerveja, bebida fer-
mentada cujas matérias-primas e a forma de obtenção serão evidenciadas,
assim como as características organolépticas desejadas.

11 e-Tec Brasil
Ainda no mundo das bebidas alcoólicas fermentadas, na Aula 5, conhe-
ceremos um pouco sobre o vinho, bebida apreciada mundialmente e que
sempre acompanhou a história da humanidade. Nesta aula, abordaremos
as matérias-primas e a forma de obtenção dos vinhos branco, tinto, rosé e
espumantes, bem como as características organolépticas desejadas.

Para finalizar o nosso passeio pelo mundo das bebidas, na Aula 6, vamos
trabalhar as bebidas fermento-destiladas ou, simplesmente, as bebidas des-
tiladas, abordando como são obtidas em função da matéria-prima e do pro-
cesso de fabricação.

Espero que você aprecie e se entusiasme com as descobertas e experiências!

e-Tec Brasil 12
Projeto instrucional

Disciplina: Tecnologia de Bebidas (45 horas)

Ementa da disciplina

Recepção e controle da matéria-prima para produção de bebidas. Estoca-


gem. Processo de obtenção de bebidas não alcoólicas e alcoólicas fermenta-
das e destiladas. Equipamentos. Insumos, aditivos e coadjuvantes. Processos
de conservação.

CARGA
AULA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM HORÁRIA
(horas)
Reconhecer os tipos de bebidas de acordo com a legislação brasileira.
1. Conhecendo o mundo das bebidas Descrever o processo de rotulagem das bebidas no Brasil. 7
Identificar as características e tipos de água.

Diferenciar os tipos de bebidas.


Definir o que são bebidas alcoólicas e não alcoólicas.
2. Bebidas não alcoólicas x bebidas
Conceituar sucos e infusões. 8
alcoólicas
Exemplificar sucos e infusões.
Descrever o processo de obtenção de sucos e infusões.

Reconhecer os tipos de cafés e refrigerantes.


Descrever o processo de elaboração do café e refrigerantes.
3. Café e refrigerantes 8
Conhecer as formas de preparação do café.
Avaliar as normas brasileiras e internacionais de classificação do café.

Definir fermentação alcoólica.


Comparar a fermentação alcoólica com os demais tipos de fermentação.
4. Bebidas fermentadas I - cerveja Distinguir os diferentes tipos de cervejas. 7
Descrever o processo básico de elaboração da cerveja.
Identificar os ingredientes da cerveja e suas funções para o processo.

Distinguir os vários tipos de vinhos.


Descrever os processos de vinificação em tinto, branco,
5. Bebidas fermentadas II: vinhos 8
espumante e rosé.
Identificar as principais características organolépticas dos vinhos.

Descrever o processo de obtenção das bebidas fermento-destiladas.


Distinguir os vários tipos de bebidas destiladas e as respectivas ma-
6. Bebidas destiladas térias-primas. 7
Descrever os processos para elaboração das bebidas destiladas.
Reconhecer a cachaça como produto típico brasileiro.

13 e-Tec Brasil
Aula 1 – Conhecendo o mundo
das bebidas

Objetivos

Reconhecer os tipos de bebidas de acordo com a legislação brasileira.

Descrever o processo de rotulagem das bebidas no Brasil.

Identificar as características e tipos de água.

1.1. Considerações iniciais


O consumo de água e diversos líquidos têm a finalidade de suprir nossas ne-
cessidades fisiológicas, já que o corpo humano tem 70% de água. Entretan-
to, a água é a única bebida indispensável à saúde. Para que essa necessidade
fosse atendida com prazer, foram introduzidas na água matérias sápidas e
Matérias sápidas são
estimulantes do paladar, gerando a diversidade de aromas e sabores que substâncias que conferem sabor
conhecemos – refrigerantes, sucos, chás, cafés, néctares, cervejas e vinhos. a outros produtos.

Segundo a legislação brasileira, Lei nº. 8.918, de 14 de julho de 1994, o ter-


mo “BEBIDA” refere-se a todo produto industrializado, destinado à ingestão
humana, em estado liquido, sem finalidade medicamentosa ou terapêutica.
Além disso, a mesma legislação define outros termos de importância para o
estudo da tecnologia das bebidas, tais como:

• matéria-prima: toda substância que necessita passar, em conjunto ou


separadamente, por tratamento para ser utilizada como bebida;

• ingrediente: toda substância, incluídos os aditivos, utilizada na fabrica-


ção ou preparação de bebidas, e que esteja presente no produto final,
em sua forma original ou modificada;

• lote ou partida: quantidade do produto por ciclo de fabricação, devendo ser


homogêneo e identificado por número, letra ou combinação alfanumérica;

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 15 e-Tec Brasil


• prazo de validade: tempo em que o produto mantém suas proprie-
dades, quando conservado na embalagem original e sem avarias, em
condições adequadas de armazenagem e utilização.

Diante da diversidade de bebidas, obtidas por misturas, fermentações e


destilação, identificadas e espalhadas pelo mundo, foi elaborada uma classi-
ficação que permite dividi-las em cinco grandes grupos, são eles:

• bebidas naturais (água, leite e suco de frutas);

• infusões (chás e café);

• bebidas alimentares;

• bebidas refrescantes (coquetéis, sucos, xaropes de refrigerante etc.);

• bebidas alcoólicas (fermentadas, destiladas e destiladas xaroposas –


vinhos, aguardente e licores).

Do grupo das bebidas naturais podemos destacar a água, pois seja qual for o
grupo da bebida a ser ingerida ela estará em sua base. A água que bebemos
e que é utilizada como base das mais diferentes bebidas deve seguir os
padrões de potabilidade. No Brasil, a Portaria nº. 518/2004 do Ministério
da Saúde define estes padrões para água, tendo como base as exigências
da Organização Mundial de Saúde - OMS. Neste caso, o cidadão brasileiro
pode consumir água diretamente da torneira, uma vez que as companhias
de abastecimento seguem os parâmetros dessa portaria, entretanto, deve
estar atento à limpeza e desinfecção dos locais de armazenamento da água
– cisternas, caixas d’água etc.

Água potável é aquela que pode ser consumida por pessoas e animais sem
riscos de adquirirem doenças, podendo ser oferecida à população urbana ou
rural. Quando necessário, deverá ser aplicado tratamento com o objetivo de
reduzir a concentração de poluentes/contaminantes até o ponto em que não
apresentem riscos para a saúde.

e-Tec Brasil 16 Tecnologia de Bebidas


A água mineral, independente da nascente já foi chuva que caiu sobre a
terra, e como tal, nas cidades, sofre transformações por absorção de impu-
rezas na atmosfera e no solo. Porém, a passagem pelas diversas camadas
subterrâneas funciona como filtros e conferem novas características a esta
água por absorção, principalmente de minerais solúveis. A definição de água
mineral implica na fixação de critérios que possam determinar de forma clara
a existência dessas características.

1.2. Bebidas e Legislação Brasileira


Como vimos anteriormente, a nossa Legislação dispõe sobre as bebidas por
meio da Lei nº. 8.918, de 14 de julho de 1994, que estabelece como
bebida todo produto industrializado, destinado à ingestão humana, em
estado líquido, sem finalidade medicamentosa ou terapêutica. A bebida de-
verá conter, obrigatoriamente, a matéria-prima natural, vegetal ou animal,
responsável por sua característica organoléptica predominante.

As bebidas que apresentam características organolépticas próprias da ma-


téria-prima natural de sua origem conterá, obrigatoriamente, esta matéria-
prima, nas quantidades mínimas estabelecidas, a exemplo dos refrigerantes
com o nome das frutas (laranjada) que devem conter, no mínimo, 10% de
suco natural.

Ademais, refrigerante, refresco, xarope, preparado sólido ou líquido para re-


fresco ou refrigerante, serão denominados “artificial” se não apresentarem
em sua formulação a matéria-prima, animal ou vegetal, original, devendo
conter expressão “sabor de...” acrescida do nome da matéria-prima substi-
tuída (Figura 1.1). Com relação aos aspectos olfativos e visuais, as bebidas
que contiverem corantes e aromatizantes artificiais, em conjunto ou separa-
damente, serão consideradas “colorida artificialmente” e/ou “aromatizada
artificialmente”.

Procure em sua residência bebidas com as designações “artificial”, “colorida


artificialmente” e “aromatizada artificialmente”. Em seguida, verifique se
essas bebidas se encontram em conformidade com a legislação em vigência.

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 17 e-Tec Brasil


Figura 1.1: Bebida láctea com a designação “sabor de chocolate”

As bebidas não alcoólicas poderão conter em sua formulação adição de


vitaminas, de sais minerais e de outros nutrientes, conforme estabelecido
pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento e/ou Ministério da
Saúde (Figura 1.2).

Figura 1.2: Composição nutricional com adição de sais minerais e nutrientes

e-Tec Brasil 18 Tecnologia de Bebidas


As bebidas alcoólicas deverão constar, no rótulo, a graduação alcoólica
expressa em porcentagem de volume de álcool etílico, a 20ºC. E, na bebida,
O teor de álcool nas bebidas
alcoólica ou não alcoólica, que contiver gás carbônico, a medida da pressão alcoólicas refere-se à
gasosa será expressa em atmosfera (atm), a 20ºC. quantidade de etanol presente
e pode ser expresso em
percentual de volume (%) ou
ºGL, abreviatura de Gay-Lussac.

Verifique a diferença entre os teores alcoólicos das bebidas que você tem
acesso e, em seguida, registre como se encontram nos rótulos.

1.2.1 Requisitos de qualidade das bebidas


Os principais requisitos de qualidade, considerados na Lei nº. 8.918, de 14 de
julho de 1994, encontram-se dispostos a seguir, sendo considerada impró-
pria para o consumo humano a bebida que não atender a estes requisitos:

• apresentar características organolépticas próprias da sua natureza;

• componentes em qualidade e quantidade próprias da sua natureza;

• ausência de elementos estranhos, principalmente os que indicam altera-


ções, substâncias nocivas e tóxicas, e de microorganismos patogênicos.

Além disso, as diversas atividades relacionadas com a qualidade nas etapas


de produção de bebida encontram-se descritas no Quadro 1.1.

Quadro 1.1: Termos utilizados e atividades relacionadas à produção de bebidas


com descrição
Termo Descrição

Verificação administrativa da produção, industrialização, manipulação, circulação e


Controle
comercialização da bebida e suas matérias-primas.

Acompanhamento tecnológico e sanitário das etapas de produção e manipulação da


Inspeção
bebida e suas matérias-primas.

Fiscalização Ação direta do poder público para verificação do cumprimento da lei.

Especificação quantitativa e qualitativa da composição, apresentação e estado


Padronização
sanitário da bebida.

Classificação Identificação da bebida e do estabelecimento, com base em padrões oficiais.

Procedimento laboratorial para identificar ocorrências de alterações, adulterações,


Análise fiscal
falsificações e fraudes em todas as etapas da produção e comercialização da bebida.

Procedimento laboratorial para confirmar os parâmetros relacionados à veracidade da


Análise de registro
composição apresentada no pedido de registro da bebida.

Análise de orientação Procedimento laboratorial para orientar a produção industrial da bebida.

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 19 e-Tec Brasil


Procedimento laboratorial para controle da industrialização, exportação e importação
Análise de controle
da bebida.

Determinação analítica realizada por peritos, em amostra de bebida, quando contes-


Análise pericial ou perícia de contraprova
tada uma análise fiscal condenatória.

Determinação analítica realizada por perito escolhido de comum acordo ou designado


Análise ou perícia de desempate pela autoridade competente, com a finalidade de resolver divergências encontradas
na análise pericial ou perícia de contraprova.

Fonte: Modificado de Monteiro, Coutinho e Recine (2005).

O controle da matéria-prima é de fundamental importância para a qualidade


da bebida a ser produzida. Conforme a legislação vigente, esse controle
deve ser realizado em função da quantidade e das características físicas e
químicas. No caso do destilado alcoólico, em função do teor alcoólico e pela
quantidade da matéria-prima empregada, a exemplo da cerveja, na qual
cada litro é produzido a partir de 40 g de cevada.

No caso dos destilados alcoólicos, que englobam álcool etílico potável de


origem agrícola, o destilado alcoólico simples e suas variedades, a bebida
destilada e a retificada, as destilarias devem apresentar, anualmente, ao
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentos, declaração das
matérias-primas adquiridas e da produção de destilado alcoólico. O destilado
alcoólico deverá ser estocado em recipiente apropriado, com numeração
sequencial e respectiva capacidade, ficando sua eventual alteração sujeita
à imediata comunicação ao órgão fiscalizador. Além disso, o controle de
envelhecimento dos destilados alcoólicos considera tempo, capacidade, tipo
e forma do recipiente e local de envelhecimento.

Em todas as etapas de produção das bebidas, o material e equipamentos


empregados devem estar de acordo com as exigências sanitárias e de hi-
giene. O transporte de bebida a granel deve ser realizado em veículo que
atenda aos requisitos técnicos necessários para impedir a alteração do
produto, a exemplo de tanques em aço inox – material inerte. No acondicio-
namento e fechamento da bebida, somente poderão ser usados materiais
que atendam aos requisitos sanitários e de higiene, e que não alterem os
caracteres organolépticos, nem transmitam substâncias nocivas ao produto.
Sendo importante lembrar que recipientes utilizados para acondicionamento
de detergentes e outros produtos químicos não poderão ser empregados no
envasamento de bebida.

No caso de bebida destinada à exportação, a elaboração seguirá a legisla-


ção, usos e costumes do país a que se destina, entretanto, a comercialização
no mercado interno não pode ser realizada. As bebidas importadas serão

e-Tec Brasil 20 Tecnologia de Bebidas


avaliadas conforme os padrões de identidade e qualidade adotados para
fabricação de bebidas no território nacional, entretanto, bebidas com tipi-
cidade, enquadradas na legislação do país de origem e de consumo normal
poderão ser comercializadas no Brasil mediante apresentação de certificado
emitido pelo país de origem. Neste último caso um Certificado de Origem
deverá ser expedido por organismo oficial ou credenciado pelo governo
do país de origem da bebida estrangeira, e um Certificado de Análise para
controle, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentos.

Além disso, a importação de bebidas deverá ser previamente autorizada


pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimentos. A bebida enva-
sada no exterior só poderá ser comercializada no território nacional em seu
recipiente original.

1.2.2 Controle nos fabricantes de bebidas


Os estabelecimentos que produzem bebidas devem seguir as exigências
legais e, em função do tipo de bebida, terão normativas específicas.

A disposição legal geral prevê a necessidade de uma infraestrutura básica com


localização e áreas adequadas à natureza das atividades, além de edificações
com iluminação e aeração, pisos revestidos de material cerâmico ou equivalente,
paredes revestidas de material liso, impermeável e resistente. As máquinas e
equipamentos mínimos previstos para cada tipo de estabelecimento deverão ser
dimensionados conforme a linha e o volume de produção industrial.

Como visto anteriormente, a água é o principal componente das bebidas,


quer no produto final ou durante a sua elaboração. Dessa forma, ela deve
estar disponível em quantidade e qualidade correspondente às necessidades
tecnológicas e operacionais do processo de produção.

Os estabelecimentos que industrializem bebidas dietéticas, a exemplo de su-


cos e refrigerantes, deverão dispor de área própria e controlada para guarda
dos edulcorantes.

Ainda conforme a legislação, a fábrica deverá ter em sua equipe o técnico


responsável pela produção, com registro no respectivo Conselho Profissional.
Esse profissional também terá a responsabilidade de não manter nas insta-
lações da empresa substâncias que possam ser empregadas na alteração
proposital da bebida, ressalvados aqueles componentes necessários à ativi-
dade industrial normal, que deverão ser mantidos em local apropriado e sob
controle. Além disso, as substâncias tóxicas necessárias ou indispensáveis às

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 21 e-Tec Brasil


atividades do estabelecimento deverão ser mantidas sob rigoroso controle,
em local isolado e apropriado.

A legislação prevê alterações acidentais em bebidas por causas naturais.


Assim, elas podem apresentar características organolépticas, físicas, quími-
cas ou biológicas modificadas. Entretanto, existem fabricantes que alteram
propositalmente as bebidas e/ou a matéria-prima. Nestes casos, a legislação
entende por alteração:

• adição de substância modificativa de sua composição, natureza e quali-


dade, ou que provoque a sua deterioração;

• bebida contendo aditivo não previsto na legislação específica;

• substituição parcial ou total de seus componentes;

• apresentação de qualidade superior a real ou ocultação de defeitos por


adição de aromatizante, corante ou substância estranha;

• indução a erro quanto à sua origem, natureza, qualidade, composição e


característica própria;

• apresentação de composição e especificações diferentes das menciona-


das no registro e no rótulo, considerando as tolerâncias previstas nos
padrões de identidade e qualidade;

• modificação da composição sem a prévia autorização do Ministério da


Agricultura, Pecuária e Abastecimentos.

1.3 A rotulagem das bebidas


O rótulo é toda e qualquer informação referente a um produto transcrita
na embalagem das mais diversas formas, ou seja, constitui uma forma de
comunicação visual. Ressaltando que a marca comercial do produto também
poderá constar na parte plana da cápsula de vedação.

Nos produtos alimentícios e nas bebidas, as informações contidas no rótulo


são de extrema importância para o consumidor, podendo evitar consumo
de substâncias e produtos prejudiciais à saúde de pessoas com necessidades

e-Tec Brasil 22 Tecnologia de Bebidas


especiais. No Brasil, a regulamentação dos rótulos é função da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

A Lei nº. 8.918, de 14 de julho de 1994 regulamenta a rotulagem das


bebidas normatizando as informações, dimensão e cores gráficas, dizeres
obrigatórios e textos em bebidas para exportação e mercado interno.

No caso das bebidas, será considerada rótulo qualquer identificação afixada


ou gravada sobre o recipiente da bebida, de forma unitária ou desmembrada
(Figura 1.3), ou no material empregado na vedação do recipiente.

Figura 1.3: Rótulo unitário (a) e rótulo desmembrado (b)

O Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento (MAPA) é res-


ponsável pela aprovação dos rótulos. Estes devem constar informações da
bebida em caracteres visíveis e legíveis com os seguintes dizeres:

• nome do produtor ou fabricante, envasador ou engarrafador, e do


importador;

• endereço do estabelecimento de industrialização ou de importação;

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 23 e-Tec Brasil


• número do registro do produto no MAPA ou o número do registro do
estabelecimento importador (bebida importada);

• denominação do produto;

• marca comercial;

• ingredientes;

• expressão "Indústria Brasileira", por extenso ou abreviada (bebidas na-


cionais);

• conteúdo, expresso na unidade correspondente de acordo com normas


específicas, a exemplo mililitros (mL);

• graduação alcoólica, por extenso ou abreviada, expressa em porcenta-


gem de volume alcoólico ou oGL (conforme visto no início desta aula);

• frase de advertência, conforme estabelecido por lei específica;

• grau de concentração e forma de diluição, quando se tratar de produto


concentrado;

• forma de diluição, quando se tratar de xarope, preparado líquido ou só-


lido para refresco ou refrigerante;

• identificação do lote ou da partida;

• prazo de validade.

Identifique como as informações solicitadas pelo MAPA estão presentes nas


bebidas que você tem acesso. Todas seguem as solicitações do MAPA?

No caso do uso de aditivos, estes devem ser utilizados considerando a sua


função principal e no rótulo deve constar o nome completo ou número
do Sistema Internacional de Numeração – Codex Alimenatarius FAO/OMS.
Quando a bebida for embalada em recipientes retornáveis litografados, a
indicação do aditivo pode ser feita na parte plana da cápsula de vedação.

e-Tec Brasil 24 Tecnologia de Bebidas


Para exportação o rótulo das bebidas poderá ser escrito, parcial ou totalmen-
te, no idioma do país de destino, sendo vedada a comercialização da mesma,
com esse rótulo, no mercado interno. Entretanto, para o mercado interno,
marcas e nomes consagrados pelo domínio público deverão conter no rótulo
o texto em idioma estrangeiro e a respectiva tradução em português, com
idêntica dimensão gráfica.

Além disso, a Lei nº. 8.918, de 14 de julho de 1994 prevê a rotulagem de


“conhaque” e brandy devendo seguir as normas:

• em “aguardente composta” mencionar a expressão "conhaque" visível


no rótulo principal acrescida do nome da principal substância de ori-
gem vegetal ou animal empregada em caracteres gráficos de mesma
dimensão e cor da expressão "conhaque". Nesse caso, a denominação
“aguardente composta” deverá constar no rótulo em dimensão gráfica,
no mínimo, correspondente a um terço do tamanho da letra da expres-
são “conhaque”;

• o brandy que utilize uma matéria-prima diferente do vinho deverá acres-


centar o nome da fruta empregada e constará no rótulo principal, em
caracteres gráficos da mesma cor da expressão brandy.

É importante ressaltar que no rótulo de bebida com matéria-prima natural e


adicionada de corante e aromatizante artificiais, em conjunto ou separada-
mente, deverá conter a expressão “colorida artificialmente” ou “aromatiza-
da artificialmente”, de forma legível e contrastante, com caracteres gráficos
em dimensão mínima correspondendo a um terço da maior letra do maior
termo gráfico, excetuando-se a marca.

Com o intuito de permitir aos consumidores escolhas nutricionais mais


saudáveis foi introduzido nas embalagens informações nutricionais, como
visto na Figura 1.2, sendo estipulada, pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (ANVISA), a obrigatoriedade de tais informações serem veiculadas
nos rótulos das bebidas. O Brasil se destaca em termos de obrigatoriedade
das informações nutricionais, sendo também obrigatórias tais informações
em outros países, tais como Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Uruguai,
Canadá, Estados Unidos, Austrália, Israel e Malásia.

Na rotulagem de bebida dietética, além dos dizeres obrigatórios estabe-


lecidos deverá constar a expressão “Bebida Dietética e Baixa Caloria” em

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 25 e-Tec Brasil


tamanhos não inferiores a um quinto do tipo de letra de maior tamanho e da
mesma cor da marca, no rótulo poderá conter o termo diet e a declaração do
valor calórico por unidade de embalagem. No caso de uso de edulcorantes,
o nome do mesmo com a quantidade em miligramas por cem mililitros de
produto deverá constar no rótulo. No caso da adição de aspartame, no
rótulo deverá constar na rotulagem a expressão “Fenilectonúricos: contém
fenilalanina”. No caso de embalagens fracionadas estas informações estarão
expostas ao consumidor.

No caso de suco concentrado, o rótulo deverá conter o percentual de sua


concentração e a expressão “suco adoçado” deverá constar no rótulo, con-
siderando as disposições contidas nos padrões de identidade e qualidade a
serem estabelecidos para cada tipo de suco.

Os rótulos de refrigerante, refresco, xarope e preparados sólidos ou líqui-


dos para refrescos ou para refrigerantes artificiais deverão mencionar sua
denominação, de forma visível e legível, da mesma cor e dimensão mínima
correspondendo à metade da maior letra, excetuando-se a marca. Entretan-
to, fica vedada declaração, designação, figura ou desenho que induza a erro
de interpretação ou possa provocar dúvida sobre sua origem, natureza ou
composição.

Identifique as informações contidas em bebidas diet, sucos e refrigerantes


e, em seguida, verifique se seguem a legislação de rotulagem e as relacione.

A bebida elaborada, exclusivamente, com matéria-prima importada a granel


e engarrafada no território nacional poderá usar a rotulagem do país de ori-
gem, desde que, em contra-rótulo afixado em cada unidade da bebida seja
mencionada a expressão “cortado e engarrafado no Brasil” ou “elaborado e
engarrafado no Brasil”, seguindo a legislação nacional vigente.

1.4 A água – bebida mais importante para


o homem
A água faz parte das bebidas classificadas mundialmente como NATURAIS,
e encontra-se na base da composição de toda e qualquer bebida ingerida.
Essa bebida é uma substância formada por moléculas – combinação de dois
átomos de hidrogênio (H) e um de oxigênio (O). Ademias, a água abso-
lutamente pura, quimicamente H2O, não existe na natureza, pois sempre
apresenta gases e sais dissolvidos, e poeiras e microrganismos em suspensão.

e-Tec Brasil 26 Tecnologia de Bebidas


No organismo humano a água:

• regula nossa temperatura;

• protege os órgãos;

• proporciona um bom funcionamento do intestino;

• auxilia na transformação dos alimentos em energia;

• regula a pressão sanguínea;

• beneficia as articulações;

• elimina toxinas;

• melhora a pele e os cabelos;

• proporciona saúde e a boa aparência.

Além da água in natura, existem outras fontes como: sucos, frutas, hortali-
ças, refrigerantes.

A água que bebemos deve ser suficientemente pura para ser considerada po-
tável. A água completamente pura, obtida por processos de destilação, é ino-
dora e insípida, uma bebida descaracterizada organolepticamente. Entretanto,
a água potável deve estar livre de impurezas e microrganismos patogênicos.

A água deve ter as seguintes características: ser incolor, livre de sabor estra-
nho, íons ferro e matéria orgânica, de baixa alcalinidade e livre de microrga-
nismos contaminantes.

A água pode ser captada de diversas formas, porém, apresentando caracte-


rísticas diferentes e, consequentemente, necessitando de diferentes sistemas
de tratamento. A seguir, citamos as formas de captação e suas principais
características.

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 27 e-Tec Brasil


• Água atmosférica: forma mais pura, com baixo teor de sólidos dissol-
vidos e elevado teores de gases dissolvidos (oxigênio, nitrogênio e gás
carbônico).

• Água superficial: maior concentração de sólidos e matéria orgânica,


com concentração gasosa variável.

• Água de profundidade: apresenta baixos teores de impurezas, enrique-


cida por sais, compostos orgânicos e gases provenientes de decomposição.

Faça uma pesquisa sobre a utilização da água e exemplifique formas de


utilização para a água de atmosfera, superficial e de profundidade.

Os sistemas de tratamento devem incluir etapas de floculação, decantação,


supercloração e sistemas de filtração (química e física), sempre com o obje-
tivo de tornar a água potável para o consumo humano, cujos parâmetros e
efeitos provocados nas bebidas encontram-se descritos no Quadro 1.2. Para
o uso na indústria de bebidas a água deve ser potável, porém com limitações
de cloração e presença de sais minerais.

Quadro 1.2: Parâmetros físico-químicos


com concentrações e efeitos nas bebidas
Parâmetro concentração efeito nas bebidas

Ferro ≤ 0,1 ppm Precipitação de sais, reação com corantes e substâncias de aroma/sabor.

≤ 80 ppm Aroma e sabor, diminuição de acidez, produção de refrigerantes uniformes em


Alcalinidade
CaCo3 cor, sabor, aroma e qualidade.

Cloro 0,0 ppm Descoloração da bebida, formação de clorofenóis (sabor de remédio).

Fonte: Brasil (1994).

Para a elaboração de bebidas, a água não deverá apresentar cor e odor, ca-
racterísticas organolépticas importantes para este produto. Além disso, deve
apresentar cor com 5 unidades (escala Hanzen), baixa turbidez (1,0 mg.L-1) e
ausência de sedimentos. A presença de alguns compostos químicos dificulta
a elaboração das bebidas. Alguns desses elementos devem ser controlados,

e-Tec Brasil 28 Tecnologia de Bebidas


tais como: manganês (0,3 mg.L-1), chumbo (0,1 mg.L-1), flúor (2,0 mg.L-1) e
ferro (0,1 mg.L-1).

A ausência de coliformes e leveduras ausentes em 1 mL ou no máximo 5 em


100 mL, constituem a base para o controle microbiológico para produção
de bebidas.

A seguir, iremos comentar sobre os principais tipos de água disponíveis.

1.4.1 Água mineral


Independente da nascente, esta água já foi chuva e caiu sobre a terra. No
campo é muito possível que toque o solo sem sofrer modificações, mas
nas cidades ou centros industriais agrega, durante sua queda, uma grande
quantidade de substâncias em suspensão no ar, tornando a água, muitas
vezes, imprópria ao consumo.

Entretanto, em termos de modificações, as maiores ocorrem durante a


sua percolação pelo solo. Como a água tem uma grande capacidade de
solubilização, que lhe confere o título de “solvente universal”, ao passar
pelas diversas camadas do solo dissolve e incorpora várias substâncias que
agregam novas características. Pedras hidrossolúveis, calcárias ou argilosas,
dissolvem facilmente em água incorporada com gás carbônico, matéria que
a chuva transporta após sua passagem pelas camadas do ar atmosférico. As
diferentes concentrações das substâncias incorporadas – fosfatos, carbona-
tos, brometos, fluoretos, boratos e sulfatos – podem conferir propriedades
medicinais e terapêuticas.

Como as água minerais são provenientes de fontes subterrâneas, nestes


locais temos a presença de uma estação de bombeamento em ambiente pre-
servado e seguro (Figura 1.4). O principal objetivo das instalações é preservar
as características da água, garantindo que a mesma não seja adulterada
pelos equipamentos ou por ação humana.

Depois de removida dos lençóis freáticos, a água é transportada por meio


de tubulações de inox para ser envasada, sendo importante ressaltar que
ela não deve sofrer nenhum tipo de alteração e que não deve ser acrescida
de aditivos. Os recipientes utilizados, principalmente os retornáveis, devem
passar por criterioso sistema de lavagem e higienização.

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 29 e-Tec Brasil


Assim, as águas minerais são aquelas provenientes de fontes naturais ou
de fontes artificialmente captadas que possuam composição química ou
propriedades físicas ou físico-químicas distintas das águas comuns, com
características que lhes confiram uma ação medicamentosa.

Figura 1.4: Fonte de água mineral


Fonte: <www.maclee.com.br/.../aguamineral.asp>. Acesso em: 10 jan. 2011.
 

1.4.2 Água gaseificada


Quando a água sofre adição de dióxido de carbono passa a apresentar
características diferenciadas, principalmente em função da efervescência
decorrente da adição do gás (Figura 1.5).

Figura 1.5: Água gaseificada

1.4.3 Águas potáveis de mesa


Águas de composição normal, provenientes de fontes naturais ou de fontes
artificialmente captadas que preencham tão somente as condições de pota-
bilidade para a região.

e-Tec Brasil 30 Tecnologia de Bebidas


1.4.4 Águas purificadas adicionadas de sais
Águas preparadas artificialmente a partir de qualquer captação, tratamento
e adicionada de sais de uso permitido, podendo ser gaseificada com dióxido
de carbono de padrão alimentício.

Resumo

Nesta aula, você teve a oportunidade conhecer um pouco do mundo das


bebidas, percebendo como a nossa legislação descreve produto alimentício
e como descreve na sua elaboração e rotulagem. Abordamos também as
diferentes classes das bebidas e observamos na classe das bebidas naturais
a água. Enquanto bebida tem grande importância para a saúde do homem
e enquanto na elaboração de outras bebidas entra como componente prin-
cipal. Sendo observados também os parâmetros de potabilidade e como a
presença de alguns elementos acima de valores preestabelecidos influenciam
nas características organolépticas das bebidas.

Atividades de aprendizagem

1. Defina os termos: bebida, matéria-prima, ingrediente, lote e prazo de


validade.

2. Quais os grupos para classificação das bebidas? Exemplifique cada uma


dessas classes.

3. Diferencie água mineral e água potável.

4. Quais as alterações consideradas irregulares, previstas na legislação para


as bebidas?

5. Cite as informações que devem conter nos rótulos das bebidas.

6. Segundo a legislação vigente como devem ser os rótulos de “conhaque”


e brandy?

7. Descreva água gaseificada e água purificada adicionada de sais minerais.

Aula 1 – Conhecendo o mundo das bebidas 31 e-Tec Brasil


Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X
bebidas alcoólicas

Objetivos

Diferenciar os tipos de bebidas.

Definir o que são bebidas alcoólicas e não alcoólicas.

Conceituar sucos e infusões.

Exemplificar sucos e infusões.

Descrever o processo de obtenção de sucos e infusões.

2.1. Considerações iniciais


Vamos começar relembrando que existem diversos tipos de bebidas que po-
dem ser classificadas em cinco grandes grupos, são eles:

• bebidas naturais (água, leite e suco de frutas);

• infusões e decocções (chá e café);

• bebidas alimentares;

• bebidas alcoólicas (fermentadas, destiladas e destiladas xaroposas –


vinhos, aguardente e licores);

• bebidas refrescantes (coquetéis, xaropes de refrigerante etc.).

Entretanto, antes de começarmos a diferenciar as bebidas não alcoólicas e


alcoólicas, precisamos entender como podemos obter o álcool, componente
que pode estar presente nas bebidas alcoólicas em concentrações que va-
riam de 0,5 a 49% de álcool volume/volume.

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 33 e-Tec Brasil


Considerando as formas de elaboração, as bebidas alcoólicas encontram-se
divididas em dois grandes grupos: fermentadas e fermento-destiladas.
Entretanto, a legislação brasileira faz uma classificação diferenciada, na qual
temos as fermentadas, as misturas e fermento-destiladas, sendo as últimas
subdivididas em destiladas e destilo-retificadas. Como exemplo de cada clas-
se, podemos citar:

• Fermentadas: cervejas, fermentados de cana, fermentados de frutas,


vinhos, espumantes e sidra.

• Misturas: aguardentes compostos, licores e coquetéis.

• Fermento-destiladas: destiladas (aguardente de cana ou cachaça,


aguardente de frutas ou cereais, grappa, brandy, pisco, rum, tequila e
whisky) e retificadas - gim, vodca, vermute.

Então, iremos descrever as características e processos da fermentação alco-


ólica e destilação.

2.1.1. Fermentação alcoólica


Apesar das bebidas alcoólicas apresentarem diferenças organolépticas di-
Características
organolépticas ferenciadas decorrentes, principalmente, da matéria-prima e teor alcoólico,
atributos percebidos pelos todas têm uma origem básica comum, ou seja, são obtidas pelo processo
órgãos dos sentidos.
bioquímico denominado FERMENTAÇÃO ALCOÓLICA. A fermentação alco-
ólica é uma sequência de reações na qual microrganismos (leveduras) atuam
sobre os açúcares, produzindo, principalmente, etanol (álcool etílico) e gás
carbônico. As cepas mais utilizadas para elaboração de álcool são Saccha-
romyces cerevisiae, espécies relacionadas e Schizosaccharomyces pombe.

Os microrganismos se utilizam do açúcar para obter energia para suas fun-


ções vitais e não para produzir álcool.

Durante esta reação bioquímica, a glicose é convertida em piruvato pela glicó-


lise e o piruvato é convertido em etanol e CO2 por meio do seguinte processo:

• Piruvato sofre descarboxilação (perda de carbono) em uma reação irre-


versível catalisada pelo piruvato descarboxilase. Esta reação é uma des-
carboxilação simples e não envolve a oxidação do piruvato. A piruvato
descarboxilase requer Mg2+ e tem uma coenzima firmemente ligada, a
tiamina pirofosfato (coenzima derivada da vitamina B1).

e-Tec Brasil 34 Tecnologia de Bebidas


• Por meio da ação do álcool desidrogenase, o acetaldeído é reduzido a etanol.
Desta forma, os produtos finais da fermentação alcoólica são o etanol e o CO2.

As leveduras são microrganismos que atuam enzimaticamente sobre os gli-


cídios (açúcares - C6H12O6), produzindo etanol (C2H5OH) e gás carbônico
(CO2), conforme a equação:

C6H12O6 → 2C2H2OH + 2CO2.

A fermentação alcoólica possibilita a obtenção de diversos compostos secun-


dários e o teor alcoólico varia de 7 a 16%, pois em concentrações superiores
de etanol as leveduras entram em autólise ou diminuem seu metabolismo.
Além disso, a concentração de álcool que a levedura processa depende do
teor de sólidos solúveis, expresso em oBrix do mosto, que pode ser conside-
rada como a quantidade de açúcar redutor (glicose e frutose) presente.

Geralmente, a fermentação ocorre em tanques (dornas) de fermentação que


podem ser de aço inox ou madeira (Figura 2.1) com tamanhos variados e
devem possuir na extremidade superior uma válvula para escape do gás car-
bônico formado durante a fermentação.

Figura 2.1: Dornas de fermentação de madeira


Fonte: autoria própria.

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 35 e-Tec Brasil


Os carboidratos, substratos da fermentação, podem ser endógenos (consti-
tuintes das leveduras) e exógenos (sacarose, glicose e frutose).

A fermentação alcoólica é uma das formas de transformação de uma maté-


ria-prima em um produto diferente. Pesquise outros tipos de fermentação,
utilizadas na área de alimentos e bebidas, identificando matéria-prima e pro-
duto final.

Após a fermentação, a concentração de água é bastante elevada, dependen-


do do substrato utilizado (ex. frutas), porém a bebida pode ser estabilizada e
consumida como alcoólica. Em busca de uma maior concentração de álcool
e outros voláteis, importantes para a complexidade das bebidas alcoólicas,
temos a etapa de destilação.

2.1.2 Processo de destilação


A bebida destilada (spirits) é o produto da destilação de um mosto após a
fermentação alcoólica para aumento do teor alcoólica. Entretanto, a concen-
tração do etanol possui limites definidos por lei, uma vez que a bebida será
destinada ao consumo humano. Em geral, a destilação levará a bebida a um
teor alcoólico final, geralmente, entre 38 e 60%, não devendo, no Brasil,
ultrapassar os 60%.

O líquido fermentado entra na coluna de destilação em aço inox e sofre


aquecimento gradativo, volatilizando os seus diferentes compostos con-
forme a temperatura em valores diferentes dentro da coluna de destilação
(Figura 2.2). Entretanto, a maior concentração de etanol é volatilizada em
maior quantidade, aproximadamente a 78ºC, sendo essa a região da coluna
de maior interesse para condensação dos vapores produzidos.

e-Tec Brasil 36 Tecnologia de Bebidas


vapor

Refluxo DESTILADO

ALIMENTAÇÃO

vapor

líquido
reevaporadora

Figura 2.2: Esquema da coluna de destilação

Outras regiões da coluna, com temperaturas diferentes das do etanol, mui-


tas vezes evaporam substâncias nocivas à saúde, como o metanol com pon-
to de ebulição de 65ºC. Os líquidos condensados dessas regiões devem ser
descartados ou seguir para uma segunda destilação para aumentar o ren-
dimento do etanol. Na Figura 2.3 podemos observar colunas de destilação.
As colunas de destilação são muito utilizadas pela indústria de bebidas em
função, principalmente, do rendimento e tempo de destilação.

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 37 e-Tec Brasil


Figura 2.3: Colunas de destilação de fluxo contínuo
Fonte: autoria própria.

A destilação também pode ser realizada em alambiques, geralmente de co-


bre ou latão, que podem ser de fluxo contínuo ou de batelada. Os que ope-
ram em bateladas (Figura 2.4), conhecidos como pot, funcionam como uma
grande chaleira que aquece o líquido contido no seu interior. Os vapores
concentram-se na parte superior e chegam ao condensador de serpentinas
por meio de uma tubulação em forma de “pescoço de cisne”. No conden-
sador, devido à diferença de temperatura, os vapores são liquefeitos. Como
não existe separação dos vapores, a bebida produzida apresenta grandes
quantidades de impurezas. Além disso, na primeira destilação, o teor alcoó-
lico ainda é considerado muito baixo para obter concentrações semelhantes
às colunas de destilação, é necessário repetir o processo de 3 a 4 vezes.

e-Tec Brasil 38 Tecnologia de Bebidas


Figura 2.4: Alambique de batelada em cobre
Fonte: autoria própria.

Os alambiques de fluxo contínuo recebem permanentemente o líquido fer-


mentado que entra é preaquecido pelos vapores que saem do recipiente de
cobre. Os vapores formados são condensados, considerando os diferentes
graus de volatilidade, nos condensadores tipo serpentina. Neste processo, a
destilação contínua leva a um aumento do teor alcoólico superior ao alambi-
que de batelada, chegando a, aproximadamente, 96%. O destilado obtido
possui uma concentração de álcool etílico superior aos demais compostos,
que proporciona uma bebida mais neutra sensorialmente, ou seja, mais neu-
tra em relação a aromas e sabores.

As impurezas não são removidas na destilação por alambique. Logo, para


tornar o destilado uma bebida alcoólica capaz de ser consumida, é neces-
sária a intervenção do homem. Durante a destilação, os primeiros vapores
obtidos são de compostos com pontos de ebulição muito baixos – rico em
metanol, aldeídos, cetonas e éteres. Por outro lado, os que evaporam por
último possuem um ponto de ebulição mais elevado que o álcool – alcoóis
superiores (ex. álcool isoamílico) –, que apresentam ponto de ebulição entre
122º C e 138º C, estes álcoois são tóxicos e expressam coloração amarelada,
odor desagradável. Apesar da toxicidade dos vapores iniciais e resíduos finais,
estão presentes nos destilados, pois muitos produtores levam ao máximo

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 39 e-Tec Brasil


os rendimentos da destilação e colocam frações desses produtos na bebida
final. É importante ressaltar, que tanto nos vapores mais voláteis e nos de
menor volatilidade, temos um percentual de etanol, o que poderia ser apro-
veitado com novas destilações.

Todo o destilado obtido por colunas de destilação ou alambique é incolor. A


complexidade de cor e aromas ocorre por meio de envelhecimento em barris
de madeira (flecheira, carvalho e/ou castanheira) ou pela adição de corantes.

Pesquise três vantagens e desvantagens do uso de colunas de destilação e


alambiques na elaboração de bebidas destiladas.

2.2 O que são bebidas alcoólicas e não


alcoólicas
As bebidas alcoólicas sempre estiveram presentes na história da humani-
dade e são tão diferenciadas quanto às etnias. Diversos povos – fenícios,
babilônios, hebreus, egípcios, chineses, gregos e romanos – mencionam e
possuem bebidas alcoólicas diferentes, em função das fontes naturais pró-
prias de açúcares e amiláceos como frutas, cana, milho, trigo, arroz, batata,
centeio, aveia, ceada, raízes e folhas.

Conforme a legislação brasileira, Decreto Lei nº 3.510, de 16 junho de 2000,


a bebida alcoólica é definida como um produto refrescante, aperitivo ou
estimulante, destinada à ingestão humana no estado líquido, sem finalidade
medicamentosa e contendo mais de 0,5ºGL de álcool etílico. Se observar-
mos bem a nossa legislação como está, ela incluiria uma grande quantidade
de produtos, inclusive os totalmente artificiais. Sendo assim, esse Decreto
padroniza por meio de uma classificação restrita e menciona “álcool etílico
potável” (obtido por destilação de mosto fermentado). Assim, dentre todas
as bebidas alcoólicas, só os licores podem ser artificiais.

Como mencionado no início desta aula, as bebidas alcoólicas estão classifi-


cadas em dois grandes grupos – fermentadas e fermento-destiladas -, todas
partindo de um processo de fermentação.

As bebidas não alcoólicas são aquelas nas quais o teor de álcool etílico é
inferior a 0,5 ºGL.

e-Tec Brasil 40 Tecnologia de Bebidas


Indique como as bebidas alcoólicas estão classificadas conforme a nossa le-
gislação e as subdivisões de cada classe.

Agora entraremos no mundo das bebidas não alcoólicas, começando pelos


sucos de frutas.

2.3 Sucos de frutas


Os sucos de frutas, como citado no início desta aula, são bebidas naturais
obtidas pela extração do sumo de frutas limpas, sadias e íntegras com qua-
lidade higiênico-sanitária, pasteurizadas ou esterilizadas, com a adição ou
não de açúcar e aditivos químicos. Entretanto, os sucos podem ser de frutas
e hortaliças e devem ser conhecidos como sucos de vegetais, podendo ser
ou não homogêneos.

Para a elaboração de produtos de qualidade é importante:

• variedade;

• condições edafoclimáticas de cultivo - clima, solo e manejo;

• estado de maturação da fruta – maturação tecnológica (em função dos


açúcares e ácidos);

• forma de colheita – deve ser realizada de forma a não danificar a fruta


para que não ocorram alterações não desejadas, principalmente química,
enzimática e/ou microbiológica;

• transporte – as fábricas para produção de sucos devem estar localizadas


próximas aos locais de colheita, exceto para maçãs e citros, possibilitando
menor tempo de transporte. Em todo caso, o transporte refrigerado é o
mais indicado. Frutas como amoras, morangos, acerolas e framboesas,
ou seja, muito perecíveis, devem ser transportadas e processadas sob
refrigeração e com maior brevidade.

Frutas danificadas devem ser eliminadas do lote, pois mesmo em pequenas


quantidades podem diminuir a qualidade ou estragar o suco por completo.

As etapas de elaboração vistas na seção a seguir sempre terão como princi-


pais objetivos extrair o que as frutas têm de melhor e não extrair compostos
que possam interferir na qualidade dos sucos (Quadro 2.1).

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 41 e-Tec Brasil


Quadro 2.1: Características desejáveis e indesejáveis nos sucos de frutas
em função do que se deve ou não ser extraído
Compostos que se deseja extrair Compostos que não se deseja extrair

Substâncias aromáticas (aldeídos, ésteres, alcoóis etc.) Taninos e compostos fenólicos Adstringentes

Açúcares Óleos essenciais (citros)

Pigmentos (carotenoides e flavonoides) Celulose

Vitaminas hidrossolúveis -

Pectinas (sucos turvos) -

2.3.1 Elaboração de sucos de frutas


A elaboração dos sucos tem início com etapas preliminares de limpeza e
lavagem, seleção e tratamentos específicos em função da fruta. Os
tratamentos utilizados irão depender da fruta a ser processada, e os equipa-
mentos dependerão da quantidade de frutas a ser processada, permitindo
inclusive automação do processo. A seguir, vamos exemplificar o que deve
ser feito com algumas frutas.

• Maçã: frequentemente lavada com detergentes para eliminação de re-


síduos de agrotóxicos, sendo o miolo eliminado e o restante triturado
(trituradores de martelo ou raspadores).

• Uva: deve ser desengaçada (remoção do engaço – “talinho” que susten-


ta as bagas) para evitar a extração elevada de taninos, para tal processo
existem diferentes tipos de desengaçadeiras (Figura 2.5).

Figura 2.5: Desengaçadeira horizontal em aço inox com pás de polietileno


Fonte: autoria própria.

e-Tec Brasil 42 Tecnologia de Bebidas


• Citros: lavagem com detergente.

• Frutas de caroço (acerola, graviola, umbu etc.): lavagem e remoção


dos caroços com cortes na metade, em seguida, são pré-cozidos em água
ou vapor e, geralmente, passam por despolpadeiras.

• Abacaxi: remover cascas e cilindro central e depois triturar.

• Morango, amora, framboesa etc.: lavar e triturar.

A etapa seguinte consiste na extração dos sucos cujo método irá depender
da estrutura da fruta, composição química e características desejadas para o
suco (transparência, viscosidade e adstringência). Devemos ter sempre um
Adstringência
olhar crítico sobre o método, considerando o que desejamos ou não extrair sensação tátil percebida
(Quadro 2.1). na cavidade bucal quando
degustamos frutas ou produtos
com elevado teor de taninos.
Dentre os exemplos clássicos, temos as uvas, nestas a extração de flavonoi- Esta sensação ocorre devido
à precipitação, pelos taninos,
des presentes nas cascas e taninos nas sementes, confere cor e adstringência das proteínas presentes na
cavidade bucal.
ao suco, e os métodos devem ter temperatura, pressão e tempo que garan-
tam qualidade da extração.

No caso dos citros, temos óleos essenciais que são precursores aromáticos,
sendo recomendável 0,02% nos sucos. Concentrações superiores provocam
odores desagradáveis de oxidação de terpenos (limoneno, citral e sinensal) e
excesso de aroma. Nestes casos, deve-se eliminar o óleo com vapor d’água,
recuperar o óleo essencial e incorporá-lo ao suco, livre dos terpenos.

Na maioria dos sucos de frutas, temos alguns glicosídeos (naringina, limoni-


na e hesperidina) responsáveis pelas imperfeições nos sucos. Por exemplo, a
naringina é um flavonoide incolor, pouco solúvel em água e amargo, o que
pode causar turbidez aos sucos e precipitados.

Além disso, é importante controlar alguns parâmetros da extração para pos-


sibilitar a elaboração de sucos de melhor qualidade. Veremos a seguir, alguns
destes parâmetros.

• Rendimento da extração – rendimentos elevados extraem muitos com-


ponentes da casca, como exemplos de rendimento podemos citar 40
L/100 Kg para citros, 50 L/100 Kg para abacaxi e 70 L/100 Kg para uvas.

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 43 e-Tec Brasil


• Temperatura de extração – algumas frutas (maçãs, citros e abacaxi)
são processadas a frio, outras (uvas) podem ser a frio ou a quente (60ºC),
e frutas como pêssego e damasco devem ser prensadas com calor para
evitar o escurecimento enzimático. Além disso, prensagem a quente
apresenta algumas vantagens como aumento do rendimento, redução
do microbiota e inicia a coagulação das proteínas. Como desvantagens:
facilita a extração de taninos nas uvas, proporciona a diminuição no teor
de compostos voláteis e surgimento do “gosto de cozido”.

• Tipos de prensa – podem ser de fluxo contínuo ou bateladas, de cinta,


helicoidal, vertical ou horizontal pneumática (Figura 2.6) ou despolpadei-
ras de tambor rotativo.

Figura 2.6: Prensa vertical pneumática em aço inox


Fonte: autoria própria.

Comente sobre os parâmetros que devem ser avaliados na extração dos su-
cos de frutas.

Após a extração, temos algumas etapas cuja finalidade é conferir atributos


de qualidade ao suco e colaborar com a sua conservação, são os tratamen-
tos pós-extração.

e-Tec Brasil 44 Tecnologia de Bebidas


a) Decantação: utilizado para sucos com apresentação com total limpidez,
a exemplo da uva e maçã.

b) Armazenamento temporário: tratamentos empregados para manu-


tenção da qualidade do suco, do final da extração ao envase. Podemos
exemplificar: pasteurização rápida, atmosfera inerte de CO2 (suco ligei-
ramente efervescente) e armazenamento em tanques esterilizados e sa-
turados de nitrogênio (gás inerte), sendo este último o método de maior
custo, porém com melhores resultados.

c) Peneiramento: conjunto de peneiras (0,8 mm de diâmetro de poro) que


trabalham junto com a extração, sendo utilizadas para sucos com quali-
dade de polpa em suspensão.

d) Centrifugação: elimina material em suspensão, podendo ser usada


como medida complementar, vindo antes da filtração ou clarificação.

e) Clarificação: agentes utilizados para promover a agregação de partícu-


las em suspensão, sendo bastante empregada na elaboração de sucos
claros (uva e maçã). Como agentes clarificantes, podemos citar: gelati-
nas, polieletrólitos (bentonita) e pectino-esterase (degrada pectinas).

f) Filtração: atua na finalização, em conjunto com a pasteurização, de su-


cos que possuem enzimas ativas (uva e maçã). Os filtros podem ser de
prensa ou rotativos a vácuo.

Após esses tratamentos, são estabelecidas etapas de finalização do produto


antes do envase final. Assim, temos a desaeração na qual ocorre remoção
de gases dissolvidos para evitar oxidação precoce alterando cor e sabor, por
borbulhamento de nitrogênio, em alguns sucos com aromas mais delicados,
descaracterizando a bebida. A concentração dos sucos de frutas é a etapa
de finalização que tem como objetivo aumentar a concentração de açúcar,
superior a 65% para evitar a proliferação de microrganismos. Neste caso, o
uso de evaporadores a baixo vácuo ou, ultimamente, os de filme ascendente
ou descendente, reduz o tempo de contato entre o suco e o evaporador e,
consequentemente, alterações de compostos termosensíveis. A concentra-
ção também pode ser realizada por congelamento, em que os compostos
voláteis são conservados, mas os gastos com energia são muito altos.

Além das etapas citadas, a conservação dos sucos irá depender da adição
de substâncias ou etapas complementares, como veremos a seguir:

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 45 e-Tec Brasil


• Agentes antissépticos: adição de substâncias como o anidrido sulfuro-
so, ácido ascórbico e ácido benzoico.

• Filtração com membrana esterilizante (pode provocar perda de compos-


tos de aroma e sabor).

• Congelamento em temperatura inferior a -18ºC.

• Desidratação: por liofilização, atomização ou secagem a vácuo, geral-


mente acompanhada por perdas aromáticas recuperadas por aromatiza-
ção artificial. Nesse caso, temos os sucos em pó que são a base das bebi-
das instantâneas.

• Pasteurização: deve ser feita após o acondicionamento realizado a


quente e resfriado em seguida.

2.3.2 Tipos de sucos


Os sucos podem ser comercializados de várias formas: concentrado, desi-
dratado, integral, na forma de néctar, com ou sem adição de açúcar e con-
servantes, congelados, liofilizados e com ou sem recuperação de aromas. A
legislação vigente, Lei nº 8.918, de 14 de julho de 1994, garante ao consu-
midor reconhecer as formas de comercialização.

Essa mesma lei define néctar como produto com quantidade mínima de
polpa da fruta declarada, a qual deve ser no mínimo de 30% m/m (massa/
massa) para frutas com elevada acidez, conteúdo de polpa ou sabor o con-
teúdo mínimo é de 20% (m/m).

Os sucos tropicais são produtos obtidos pela dissolução, em água potá-


vel, da polpa da fruta polposa de origem tropical (abacate, abacaxi, acerola,
ata, abricó, açaí, abiu, banana, bacuri, cacau, caju, cajá, carambola, cupua-
çu, goiaba, graviola, jenipapo, jabuticaba, jaca, jambo, mamão, mangaba,
manga, maracujá, melão, murici, pinha, pitanga, pupunha, sapoti, seriguela,
tamarindo, taperebá, tucumã e umbu), por meio de processo tecnológico
adequado, não fermentado, de cor, aroma e sabor característicos da fruta,
submetido a tratamento que assegure sua conservação e apresentação até
o momento do consumo.

Os sucos ainda podem ser classificados em função do processamento e cons-


tituição:

e-Tec Brasil 46 Tecnologia de Bebidas


• Suco integral: constituído pela extração do suco da fruta com concen-
tração e composição correspondente à fruta utilizada, podendo inclusive
ser turvo, sendo proibida a adição de açúcar.

• Suco concentrado: produto parcialmente concentrado por desidratação


de modo que a concentração de sólidos solúveis seja equivalente a 65
ºBrix.

• Suco desidratado: produto apresentado na forma pulverizada e com


unidade relativa máxima de 3%.

• Suco reprocessado: produto desidratado que é diluído até a sua con-


centração natural.

Identifique 4 (quatro) tipos de sucos diferentes que você tem acesso e, em


seguida, descreva as informações contidas nos rótulos que evidenciam para
o consumidor suas diferenças.

2.4 As infusões
As bebidas preparadas pela técnica de infusão possuem características orga-
nolépticas próprias e possuem importância socioeconômica no Brasil. Dentre
elas, iremos abordar o chá e o café, nesta aula conversaremos sobre o chá.

2.4.1 Chá
O chá é um arbusto que pertence à família das camélias, conhecido desde a
Antiguidade pelos orientais que acreditavam no seu grande poder de cura.
Escritos antigos revelaram que no século IV d.C., chineses passavam as fo-
lhas de chá pelo vapor e faziam uma pasta e a comiam cozida, temperada
com gengibre, cebola casca de laranja.

Introduzido na Europa por franceses e holandeses, o chá começou a ser co-


mercializado no início do século XVII com boa aceitação na Inglaterra.

Atualmente, o consumo dessa bebida no mundo é muito elevado, a exem-


plo da Inglaterra com 4,4 Kg/habitante ano. O cultivo ocorre em diversos
locais: na China, a produção já ultrapassou 500.000 tonelada/ano; na África
é cultivado e manufaturado em vários países - Guiné, Camarões e África do

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 47 e-Tec Brasil


Sul; na Índia, os plantios cobrem mais de 200.000 ha; na América do Sul,
Brasil e Peru destacam-se na produção.

As folhas podem ter colheita manual ou mecanizada, sendo a colheita ma-


nual realizada inicialmente nas folhas da gema terminal e mais duas folhas
A composição do chá depende
da composição das folhas e imediatamente inferiores, a pekoe. Além disso, o horário de colheita tam-
processo de beneficiamento. Em bém é um diferencial de qualidade, as folhas colhidas nos horários de maior
geral, as folhas contêm teína,
carboidratos, óleos essenciais, insolação produzem uma bebida de melhor qualidade em decorrência de
polifenóis (principalmente uma maior atividade fisiológica.
taninos), ácidos orgânicos,
pectina e vitaminas.
a) A composição do chá e sua importância para a bebida

A composição do chá verde e preto difere, principalmente, pelo teor de ta-


ninos. Outros componentes são importantes para essa bebida, assim temos:

• cafeína (teobromina e teofilina): o teor é superior ao mate e confere


amargor;

• carboidratos: as folhas de chá possuem açúcares livres (polissacarídeos


solúveis em água e glicocosídeos);

• aminoácidos: os chás possuem até 19, sendo a teína o mais abundante


(50%), e são importantes precursores aromáticos;

• óleos essenciais: o chá contém salicilato de metila e um álcool produtor


de aromas, além de glicosídeos terpênicos (geraniol e linalol);

• enzimas (teases): encontradas em maior concentração nas folhas mais


ricas em tanino;

• outros componentes: vitaminas (riboflavina e ácido ascórbico), sapo-


nina e ácido clorogênico. Ainda podemos encontrar nas folhas frescas,
clorofila e carotenoides, os mais ricos em flavor contêm altos teores de
carotenoides.

Conceitue chá e descreva como os seus constituintes conferem característi-


cas organolépticas.

e-Tec Brasil 48 Tecnologia de Bebidas


b) Como o chá é elaborado

O beneficiamento é o ato de preparar as folhas para a comercialização, as


etapas têm como objetivo desenvolver propriedades de aroma e sabor que
conferem características peculiares à infusão, as etapas básicas podem ser
observadas na Figura 2.7.

murchamento quebra das


enrolamento folhas

peneiragem
tostagem fermentação folhas verdes

classificação

Figura 2.7: Fluxograma básico para beneficiamento de folhas de chá

O beneficiamento tem início com o murchamento das folhas logo após


a colheita. As folhas são espalhadas em bandejas de tecido (juta), esteiras
ou telas metálicas dispostas em prateleiras, que facilitam a passagem do ar,
locadas dentro de galpões com o intuito de proteger das intempéries. Os
galpões podem ser abertos ou fechados, estes últimos permitem que o pro-
cesso ocorra sobre condições controladas de umidade e temperatura. Além
disso, esta etapa pode ser realizada em secadores de tambor rotativo com
sistema de aquecimento por vapor ou líquido aquecido. O controle evita a
perda de umidade excessiva das folhas e as prepara para a etapa seguinte,
o enrolamento. No enrolamento as folhas que murcham com falhas podem
ser expulsas da máquina e o suco perdido. As folhas mal enroladas entopem
as peneiras e as mal murchadas exigem mais calor nos tostadores.

O enrolamento (encrespamento ou maceração) é realizada por um rolo


compressor com movimento excêntrico, em única ou dupla ação, que vai
rompendo os tecidos, comprimindo as folhas e as enrolando. O tempo de
amassamento varia conforme o tipo de chá desejado e a temperatura é
importante para o desenvolvimento da fermentação. Durante esta etapa, a
folha libera enzimas (polifenoxidase) que promovem quebras dos polifenóis

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 49 e-Tec Brasil


proporcionando mudanças na coloração, o verde passa a castanho ou aco-
breado, influenciando na qualidade.

A quebra das folhas consiste em diminuir o tamanho das folhas, sendo


seguida por uma etapa de peneiramento que classifica as folhas por ta-
manho, pois as massas que passam pelos rolos possuem pedaços em tama-
nhos diferentes. Entretanto, antes da classificação as folhas passam por um
sistema de moagem. A secagem, como vimos anteriormente, interfere no
tamanho e, consequentemente, na qualidade da bebida.

A fermentação, etapa posterior, é um processo enzimático que tem início


com o enrolamento da folha. Após o peneiramento, as folhas são espalha-
das em camadas finas dando continuidade ao processo oxidativo. Durante
esta etapa os flavonoides são oxidados pelas polifenoxidase endógena, ocor-
rendo a formação de compostos voláteis que influenciam no aroma. Nessa
etapa, a limpeza dos equipamentos é fundamental para que não ocorra
contaminação de maus gostos e odores no novo material a fermentar. Os
chás excessivamente fermentados possuem uma coloração mais intensa. Os
melhores aromas são obtidos quando os períodos de carga nos enroladores
e saída dos fermentadores são relativamente curtos.

Durante a tostagem ocorrem diversas modificações e a fermentação é inter-


rompida, ocorrendo a formação de mais de 140 compostos que contribuem
para a formação dos aromas. Nos sistemas mais modernos a regulagem é
automática, com entrada de ar entre 82º e 94ºC e saída entre 50º e 54ºC,
com variações dependentes do grau de murcha, velocidade de circulação
das bandejas do secador e volume do ar injetado. Chás tostados em tempe-
raturas muito altas perdem a pungência, qualidade e características de sabor
e aroma, porém possuem ótima conservação. O chá é muito higroscópico e
deixado em condições atmosféricas adquire umidade acima de 13% e mofa.

O chá que passa por todo o processo de beneficiamento é preto. O chá


verde não passa pela etapa de fermentação, possui maior intensidade da
cor amarela e maior adstringência, e o tipo oolong possui uma fermentação
parcial, com aparência e sabor intermediários entre o verde e o preto. O chá
branco, suave e menos herbáceo, é especial e raro, sendo elaborado por
botões não totalmente abertos e sem etapas de fermentação.

Quais as etapas de beneficiamento do chá e como interferem nas caracterís-


ticas sensoriais da bebida.

e-Tec Brasil 50 Tecnologia de Bebidas


c) A classificação dos chás

Vamos estudar a classificação dos chás (Quadro 2.2) utilizada internacional-


mente e baseada na classificação chinesa, que como vimos anteriormente,
foi um dos primeiros povos a elaborar e consumir esta bebida. O chá oolong
intermediário entre o preto e o verde possui beneficiamento especial.

Quadro 2.2: Classificação internacional do chá do preto


Denominação Origem Qualidade

Pekoe Gema terminal “Chá de ponta”

Pekoe Primeira folha “Chá de ponta”

Suchong Duas folhas terminais Vários subtipos

Congons Três folhas finais de cada ramo Qualidade inferior

Fonte: modificado de Aquarone et al. (2001).

O chá verde, aquele que não passa por fermentação, possui uma classifica-
ção diferenciada, seguindo também a classificação chinesa (Quadro 2.3.),
entretanto, leva-se em consideração a preparação e origem das folhas.

Quadro 2.3: Classificação internacional do chá verde


Denominação Descrição

Hysons Folhas em gemas, incluem Hyson-hays-wen e Hyson-schu-tang

Grande Pérola -

Cheo-cheu ou Pólvora de Canhão Pequenos glomérulos que inclui o “Chá Imperial”

Hyson-Skin Resíduos de Hyson formados durante a preparação manual

Jonkay Folhas rasgadas durante a colheita ou beneficiamento

Fonte: modificado de Aquarone et al. (2001).

d) Outras formas de preparação

O chá instantâneo ou solúvel é encontrado na forma de pó obtido pela


desidratação, atomização, liofilização ou qualquer outro processo que remo-
ve a água de uma infusão previamente preparada, de forma que o método
de remoção da água não provoque alterações pronunciadas nas característi-
cas organolépticas da bebida pronta. O extrato inicial é elaborado a partir do
chá preto, chá verde ou folhas verdes fermentadas, mas não secas. Seguindo
este método temos uma forma diferenciada de comercialização, mas a qua-
lidade da bebida não é a mesma de uma infusão de folhas.

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 51 e-Tec Brasil


O chá descafeinado é processado de forma a reduzir ou eliminar a cafeína
presente, porém existe uma alteração bastante perceptível das característi-
cas organolépticas.

O mercado também disponibiliza o chá aromatizado, no qual as caracte-


rísticas de aroma e sabor são alteradas pela adição de óleos essenciais, tais
como laranja, limão, tangerina e hortelã, ou pela adição de pedaços de cas-
cas de frutas. Além disso, temos os chás aromatizados com folhas e pétalas
O chá Lapsang souchong, chá de flores – crisântemo, rosmaninho e jasmim.
aromatizado e preto chinês,
possui aromas de fumaça.
Os chás em bloco são elaborados por meio da prensagem de folhas de chá
verde ou preto.

e) O que conhecemos como chá

Como vimos anteriormente, apesar de o chá ser o produto elaborado com


gemas brotos e folhas da Camellia sinensis ou sua infusão em água, costu-
ma-se principalmente aqui no Brasil, generalizar infusões de folhas, flores ou
partes de outros vegetais. Muitos destes vegetais são conhecidos nossos e
temos exemplares em nossas residências, tais como folhas de capim-limão,
hortelã, orégano, laranjeira, boldo, cidreira e capim-santo, flores de camo-
mila, marcela e jasmim, pedaços do caule, como de canela. Estas infusões
que fazem parte do nosso dia a dia não deveriam ser chamadas de chá, pois
muitas vezes são utilizadas sem nenhum tipo de processamento.

No entanto, as folhas da erva-mate, de grande importância no Brasil e res-


tante da América do Sul, são secas antes da elaboração da infusão e muitas
vezes também sofrem processo de torra.

Relacione 3 (três) produtos chamados de “chá”, verificando se temos chá ou


preparado para infusão. Em seguida, identifique a origem do seu preparado
infusório (flor, folha ou talo).

Resumo

Nesta aula, definimos bebidas alcoólicas e não alcoólicas como bebidas com
concentração de etanol superior a 0,5% e inferior a este valor, respectiva-
mente. Com relação às bebidas alcoólicas, vimos que o álcool potável é sem-
pre obtido por fermentação alcoólica por meio da ação de microrganismos

e-Tec Brasil 52 Tecnologia de Bebidas


(leveduras - Saccharomyces cerevisiae e Schizosaccharomyces pombe) que
atuam sobre os açúcares, produzindo, principalmente, etanol e gás carbô-
nico (CO2). Quanto à fermentação alcoólica, vimos que a concentração de
álcool etílico varia de 8º a 16ºGL para aumento do teor alcoólico a bebida
em formação passa pelo processo de destilação, ou seja, aquecimento, eva-
poração e condensação da fração alcoólica. Vimos também que os sucos de
frutas são bebidas naturais obtidas de frutas sãs e higienizadas, porém com
processos diferenciados em função do que se deseja extrair ou não de cada
fruta. Abordamos ainda que o chá é uma bebida infusória muito antiga feita
com gemas, brotos e folhas da Camellia sinensis secas e fermentadas (chá
preto) ou não fermentadas (chá verde), tendo cada tipo de chá característi-
cas organolépticas próprias.

Atividades de aprendizagem

1. Defina e exemplifique bebidas alcoólicas e não alcoólicas.

2. Descreva o processo de fermentação.

3. Descreva o processo de destilação.

4. Assinale (V) para as afirmações verdadeiras e (F) para as falsas.

( ) Para a elaboração de sucos de qualidade é importante a variedade, as


condições edafoclimáticas de cultivo, estado de maturação da fruta, forma
de colheita e o transporte.

( ) Na elaboração de sucos de frutas precisamos extrair açúcares, taninos,


corantes e óleos essenciais.

( ) Na extração dos sucos o método irá depender da estrutura da fruta,


composição química e características desejadas para o suco (transparência,
viscosidade e adstringência).

( ) Os glicosídeos são causadores de imperfeições na maioria dos sucos


de frutas. Entretanto, a narigina é um flavonoide incolor, pouco solúvel em
água e amargo que proporciona limpidez aos sucos.

Aula 2 – Bebidas não alcoólicas X bebidas alcoólicas 53 e-Tec Brasil


5. Comente como estas etapas listadas a seguir interferem na qualidade
dos sucos de frutas.

a) Filtração

b) Centrifugação

c) Decantação

d) Peneiramento

6. Cite como os sucos de frutas podem ser conservados.

7. Defina chá e as etapas para elaboração dos mesmos.

8. Quais as diferenças de processamento e organolépticas existentes entre


o chá preto e o verde?

9. Quais as características dos seguintes tipos de chá?

a) Pekoe

b) Suchong

c) Congons

10. Comente sobre as diferentes formas de comercialização do chá.

e-Tec Brasil 54 Tecnologia de Bebidas


Aula 3 – Café e refrigerantes

Reconhecer os tipos de cafés e refrigerantes.

Descrever o processo de elaboração do café e refrigerantes.

Conhecer as formas de preparação do café.

Avaliar as normas brasileiras e internacionais de classificação do café.

3.1 O café: breve histórico


O café pertence a família das Rubiáceas e possui mais de 4.500 variedades, en-
tre as quais 60 pertencem ao gênero Coffea É uma bebida saborosa e aromá-
tica cuja planta é nativa da Etiópia (leste da África) A bebida é conhecida em
Kafa há mais de 1000 anos, daí o nome café O primeiro registro comprovado
data do século XV, quando pastores de cabras perceberam que os animais
ficavam mais espertos e resistentes quando comiam uma “cereja vermelha”,
o fruto do café Os pastores passaram a fazer uma pasta com as frutas esmaga-
das e manteiga para consumo próprio Entretanto, foram os árabes, no Oriente
Médio, os primeiros a cultivar o café, dando origem ao nome científico de uma
das mais importantes espécies de café, o Coffea arábica.

Os árabes foram os primeiros a preparar uma bebida a base de café, ao invés


de mascar ou comer O café chegou à Europa levado pelos navegadores ho-
landeses, alemães e italianos No ocidente houve uma época que a Igreja con-
siderou a bebida “demoníaca” e proibiu seu consumo, mas o Papa Aurélio,
apreciador de um bom café, restituiu o consumo da bebida entre os católicos.

A partir do século XVII, o café passou a ser a bebida mais apreciada na Eu-
ropa e passou a fazer parte dos hábitos europeus, apreciado por reis, nobres
e celebridades.

As colônias europeias nas Américas passaram a cultivar o café, principalmente,


devido ao clima As sementes não eram comercializadas, seguindo os costumes
turcos, sendo assim o café só chegou ao Brasil quando o governador do Pará,

Aula 3 – Café e refrigerantes 55 e-Tec Brasil


em 1727, solicitou a Francisco de Melo Palheta, oficial luso-brasileiro, que
trouxesse sementes da Guiana Francesa Em pouco tempo o café tornou-se o
principal produto brasileiro e, estimulado pelo Marquês do Lavradio (vice-rei)
os fazendeiros investiram e cultivaram o café nas regiões sudeste e sul Dessa
forma, foi iniciado um dos principais períodos econômicos da nossa história, o
Ciclo do Café Além disso, o café tornou o Brasil conhecido internacionalmen-
te pela exportação dos grãos, o que permanece até hoje.

O café, atualmente, é cultivado em todo território nacional e gera receita e


empregos diretos e indiretos em todas as suas etapas – produção, industria-
lização e comércio.

3.1.1 Matéria-prima
O café (Figura 3.1) possui diversas espécies, porém, apenas quatro são cultiva-
das com destaque comercial dos grãos de café: Coffea arabica (café arábica),
Coffea canephora (café Robusta ou Conillon), Coffea libérica e Coffea excelsa.

• Coffea arabica: café de melhor qualidade, principalmente por ser uma


espécie cultivada e selecionada há séculos, caracteriza-se pela cor verde-
-azulada, forma achatada e alongada Os arbustos são melhor cultivados
em solos ricos em minerais, principalmente vulcânicos, em altitudes su-
periores a 600m, elabora bebida fina e requintada, com aroma intenso,
sabores variados e variações de corpo e acidez Café de melhor qualidade,
consumido nas cafeterias refinadas.

• Coffea robusta: originário da África Central (Congo) é um café mais


rude, podendo ser cultivado em altitudes inferiores a 400 m, com alta
produtividade, menor custo de plantio e com maior resistência as pragas
e doenças Não apresenta complexidade de sabores nem o refinamento
do café arábica, mas possui um sabor típico e único, o dobro de cafeína,
quando comparado ao arábica Com acidez mais baixa e maior concen-
tração de sólidos solúveis, é o mais utilizado na produção de café solúvel.

• Coffea libérica: originário da Costa do Marfim, é uma planta resistente


e duradoura que produz grãos maiores que o arábica e mais resistentes a
parasitas O cultivo requer temperaturas elevadas e água em abundância,
sendo o arbusto muito usado como porta-enxerto Apesar dos grãos de
qualidade inferior, produz um café com aroma intenso e agradável.

e-Tec Brasil 56 Tecnologia de Bebidas


• Coffea excelsa: planta descoberta no início do século XX (1904), é uma
espécie resistente a doenças e estiagem, com rendimento elevado Os
grãos quando envelhecidos elaboram um café com sabor agradável, se-
melhante ao café arábica.

Polpa
(mesocarpo)
Pergaminho
(endocarpo)

Película
Casca prateada
(epiderme)

Embrião
Grão

Figura 3.1: Representação esquemática da cereja do café

A cultura do café tem início com o preparo das mudas com cuidadosa sele-
ção das melhores sementes, sendo plantado por meio destas mudas.
No Brasil, existem diversas
pesquisas de melhoramento
O plantio é realizado com espaçamento para permitir o crescimento dos ar- genético, sendo realizadas para
produzir plantas com maior
bustos, o trabalho de manutenção da lavoura, do solo e da colheita As áreas produtividade e resistência ao
ataque de pragas e intempéries
de plantio são as mais nobres e a cultura emprega muita mão de obra por
exigir cuidados durante todo o ano O cafezal começa a produzir após 2 anos
de plantio e dura mais de 25 anos, entretanto, as maiores safras são as cinco
primeiras As melhores bebidas são elaboradas com grãos colhidos maduros
e com maior homogeneidade, em lavouras de altitude, clima moderado e
seco durante a colheita, insolação e vento moderado

3.1.2 Processamento do café


A colheita, transporte, secagem, limpeza, beneficiamento (remoção da casca
e pergaminho) e separação por tipo é realizada de junho a outubro A colhei-
ta pode ser realizada com a remoção de todos os frutos ao mesmo tempo
(derriça), como é realizada no Brasil, ou fruto a fruto, escolhendo os melho-
res, como é realizada em outros países da América do Sul e Central No Brasil,
o trabalho tem maior agilidade e pode ser mecanizado, mas o café é menos
uniforme e, consequentemente, menos valorizado no mercado.

Aula 3 – Café e refrigerantes 57 e-Tec Brasil


Após a colheita, os grãos passam por processo de secagem que pode ser
realizado por dois métodos – via seca, mais utilizada no Brasil e via úmida,
mais utilizada na Colômbia

• Método via seca: proporciona migração dos açúcares da polpa para o


grão, deixando a bebida mais encorpada e menos ácida Os frutos colhi-
dos por derriça são espalhados em terreiros e secam ao sol até umidade
de 12%.

• Método via úmida: resulta em uma bebida menos encorpada e mais


ácida, uma vez que passa por uma fermentação de 30 horas, durante
esse período os frutos permanecem nos tanques de lavagem Os frutos
maduros colhidos passam por lavagem, despolpamento, fermentação,
lavagem e degomagem antes da secagem até umidade de 12%.

A classificação é a próxima etapa, realizada por comparação de sabor e


aspecto físico dos grãos Os padrões para classificação da bebida são:

• mole: gosto suave, agradável e adocicado;

• dura: gosto áspero e adstringente;

• riada: gosto ligeiramente químico (iodo);

• rio: gosto mais acentuado do que o riada;

• rio zona: forte gosto químico.

Os grãos são classificados em função do tipo, tamanho e quantidade de


grãos mal formados ou defeituosos por lote Os parâmetros de classificação
para cada atributo serão descritos a seguir.

• Tamanho: classificação por meio de peneiras de 8 e 17/20, sendo os


grãos maiores os mais valorizados.

• Defeitos: podem ser de natureza intrínseca (preto, ardido, verde, chocho,


quebrado e brocado) e extrínseca (casca, paus e pedras).

e-Tec Brasil 58 Tecnologia de Bebidas


Os grãos pretos, verdes e ardidos são os mais prejudiciais à bebida e não de-
vem estar presentes em lotes industriais A quantidade de grãos defeituosos
não deve ser superior a 15%

A mistura de grãos (blend) é o que caracteriza a qualidade do café, cada


tipo de café tem atributos cuja combinação resulta numa composição balan-
ceada de melhor qualidade Essa arte de combinação faz com que as carac-
terísticas se complementem, por exemplo: acidez com doçura, muito encor-
pado com menos encorpado, torra clara com escura etc.

As misturas são realizadas, em sua maioria, com os grãos crus, podendo ser
realizada com os grãos torrados.
As indústrias possuem
blends próprios que devem
O processo de torra permite intensificar os atributos de aroma e sabor de ser reproduzidos ano a ano,
tornando-se um segredo
cada tipo de grão Neste processo, tempo e temperatura são responsáveis pe- industrial e fidelizando clientes.
las mudanças na composição e coloração dos grãos (Figura 3.2), sendo a tem-
peratura média de 220ºC e o tempo variando de 12 a 15 minutos Como vimos
anteriormente, o grão cru possui 12% de umidade, enquanto o grão torrado,
por lei, deve ter no máximo 6%, porém, a indústria trabalha com umidade
próxima a 3% apesar da perda de rendimento Além disso, o grão verde apre-
senta uma complexidade aromática que aumenta consideravelmente com a
torrefação Muitos compostos presentes na semente são precursores aromáti-
cos, ou seja, vão gerar novas substâncias importantes para o aroma e sabor da
bebida A torra pode ser clara, média ou escura (Quadro 3.1.).

Quadro 3.1: Descrição das características da bebida e utilização dos grãos


em função do grau de torra
Grau de torra Características da bebida Utilização do grão

Acentuada acidez, suavidade de aroma e


Clara Máquinas de café expresso.
sabor, e menor amargor.

Média Acentuado aroma e acidez. Coador de pano ou filtro de papel.

Menor acidez, acentuado sabor e cor Coador de pano ou filtro de papel, maior
Escura
mais intensa. economia.

Aula 3 – Café e refrigerantes 59 e-Tec Brasil


Figura 3.2: Grãos de café torrado
Fonte: Autoria própria.

A moagem é utilizada para pulverizar os grãos e facilitar a extração das


substâncias de aroma e sabor da bebida, podendo ser realizada imediata-
mente antes da preparação da bebida (Figura 3.3.) A moagem pode ser fina,
média, média-grossa e grossa, entretanto, a média é a mais encontrada no
mercado A moagem muito fina tornará a passagem da água muito demora-
da, resultando em uma extração intensa, enquanto a mais grossa terá uma
extração menos intensa devido à passagem rápida da água.

Figura 3.3: Moedor de café de bancada


Fonte: Autoria própria.

e-Tec Brasil 60 Tecnologia de Bebidas


O café moído sofre deterioração rápida em função do calor, umidade, ar,
tempo e contato com odores estranhos.

Elabore um fluxograma, ou seja, a sequência de operações detalhada para


a produção do café.

3.1.3 Preparo da bebida


A preparação do café como bebida consiste na extração do sabor e aroma
do café torrado e moído A água potável para preparo não deve ser fervida,
a temperatura deve ser de 90º a 100ºC, sem excesso de cloro.

O café não deve recircular, ou seja, retornar para uma nova extração como
descrita anteriormente, para evitar que fique amargo, áspero e desagradá-
vel, o que também acontece se o tempo de contato com a água for muito
longo O pó de café não deve ser reaproveitado para que a bebida não apre-
sente defeitos de aroma e sabor.

O café pode ser preparado de diversas formas, desde as caseiras até prepara-
ções sofisticadas realizadas por baristas experientes que utilizam o grão seco
e o submetem à torra e moagem adequada para o tipo de preparação que
irão realizar Veja as formas de preparação do café.

a) Filtro de papel: o café deve ser de moagem média e a quantidade de


pó deve variar de 70 a 100g para 1 L de bebida pronta O pó é espalhado
uniformemente no filtro de papel, a água quente deve umedecer o pó
por inteiro e, em seguida, a água deve ser colocada em fio no centro O
tempo de extração deve variar de 4 a 6 minutos.

b) Coador de pano: a moagem e a quantidade de pó são as mesmas utili-


zadas para o filtro de papel Entretanto, o café é colocado na água quente
e deve ser incorporado com uma colher até formar uma espuma cremosa
na superfície do recipiente Esta mistura é colocada no coador de pano e
o pó deve ficar retido no mesmo.

c) Cafeteira elétrica: com a mesma moagem e quantidade dos demais, o café


é colocado no filtro da cafeteira e a água no recipiente apropriado A água irá
aquecer e passar pelo filtro contendo café e a extração será realizada.

Aula 3 – Café e refrigerantes 61 e-Tec Brasil


d) Máquina para café expresso: neste caso, precisamos ter os melhores
blends, o café deve ter torra mais clara e a moagem deve ser de grossa /mé-
dia para que o café não fique excessivamente forte ou fraco O pó é compac-
tado no porta-filtro (Figura 3.4) e o tempo de preparo é de 25 a 30 segundos
O café forma uma espuma uniforme e creme na superfície (Figura 3.5).

Figura 3.4: Pó compactado no porta-filtro


Fonte: Autoria própria.

a b

Figura 3.5: Máquina de café expresso – vista frontal e em funcionamento


Fonte: Autoria própria.

Pesquise e relate como funciona a cafeteira industrial e como é elaborado o


café árabe.

e-Tec Brasil 62 Tecnologia de Bebidas


O café expresso apresenta características diferenciadas em função da extração
(Quadro 3.2).

Quadro 3.2: Características do café expresso em função da extração

Características Extração
café ideal Subextraído Superextraído

Marrom claro com espessura Esbranquiçado, pouco espesso Marrom-escuro com uma
Creme
de 3 a 4 mm e consistente. e com bolhas. mancha branca.

Aroma Forte e característico. Fraco Muito forte.

Adocicado, encorpado e
Sabor Fraco, sem sabor. Forte, amargo e adstringente.
persistente.

Fonte: modificado de Relvas et al (1997).

3.1.4 Características da bebida


O degustador e o barista (preparador do café) devem conhecer, reconhecer
e sentir as principais características da bebida (Figura 3.6).

• Doçura: varia de nula a muito boa O café de qualidade apresenta doçura


própria que permite a sua degustação sem adição de açúcar, entretanto,
os preparados com excesso de grãos verdes, pretos e ardidos não apre-
sentam tal característica

• Amargor: gosto produzido pela cafeína Nos cafés de melhor qualidade


deve ser equilibrado Amargor forte ou muito forte é proveniente de café
de qualidade inferior, torra acentuada ou tempo excessivo de extração
durante a preparação.

• Acidez: sensação de salivação na lateral da língua No Brasil, o café tem


pouca acidez.

• Corpo: sensação de preenchimento da cavidade bucal que enriquece a


bebida O café pode ser sem corpo, leve ou encorpado.

• Aroma: constituído pelos elementos voláteis e percebido pelo olfato Os


aromas variam entre frutados, florais e empireumáticos (chocolate, pão
torrado etc.).

Aula 3 – Café e refrigerantes 63 e-Tec Brasil


Figura 3.6: Xícara de café expresso
Fonte: Autoria própria

Quanto mais ácido, mais aromático é o café.

3.2 Os refrigerantes
Bebida conhecida mundialmente, os refrigerantes fazem parte das bebidas refres-
cantes que geralmente possuem concentrações variáveis de sucos de frutas.

Sendo assim, o refrigerante é uma bebida gasificada com adição de dióxido


de carbono (CO2) e obtida pela dissolução em água potável do extrato de
vegetais, adicionado de açúcar ou não, corante caramelo, acidulantes e aro-
ma natural ou ainda cafeína Além disso, devem ser isentas de etanol (bebida
não alcoólica) e, normalmente, consumidas após ser refrigerada.

Antes do surgimento do refrigerante, as bebidas refrescantes eram as águas mine-


rais, os sucos e os ponches de frutas A história desta bebida tem início em 1767,
quando o químico inglês Joseph Priestley conseguiu adicionar gás carbônico à
água e pela primeira vez foi elaborada a água carbonatada artificial Em 1807, o
farmacêutico americano Townsed Speakman melhorou bastante o gosto da água
carbonatada, misturando açúcar e sumos de frutas, o resultado foi sendo gradual-
mente transformado até chegar ao refrigerante que hoje conhecemos.

3.2.1 Elaboração de refrigerantes


A base para a elaboração de qualquer bebida é a qualidade da matéria-prima
utilizada Os materiais utilizados pela indústria para a elaboração dos refrige-
rantes serão descritos a seguir.

e-Tec Brasil 64 Tecnologia de Bebidas


• Água: deve ser superclorada (7 ppm), em seguida, passar por proces-
so de filtragem com carvão ativo para ser declorada (remoção do cloro)
e não apresentar concentrações elevadas de carbonatos O cloro pode
promover a produção de aromas e sabores indesejáveis e os carbonatos
podem provocar a precipitação A água é armazenada em cisternas.

• Adoçante: pode ser utilizado açúcar cristal, nunca o demerara, ou ado-


çantes sintéticos (sacarina, aspartame etc.) O açúcar deve ser isento de
umidade, fungos e sabores estranhos.

• Sucos naturais e concentrados: todos os refrigerantes com nome de fru-


tas (por exemplo, Fanta Uva ®) deve conter no mínimo 10% de suco natural,
a exceção das limonadas que devem conter 2% Devem ser armazenados
em temperaturas inferiores a 10ºC para evitar concentração e fermentação

• Ácidos e conservantes: o mais utilizado é o ácido cítrico como conser-


vante, exceto nas indústrias de “cola” que utiliza ácido fosfórico, ambos
deixam o pH inferior a 3,0, o que impede a proliferação de bactérias, mas
permite a de leveduras não patogênicas O ácido cítrico também tem a
função de transformar o benzoato de sódio em ácido benzoico, este por
sua vez penetra na célula microbiana se dissociando e eliminando o mi-
crorganismo Armazenar em recipientes de vidro

• Gás carbônico: adicionado ao xarope pelo processo de carbonatação,


pode ser proveniente da elaboração da cerveja – fermentação alcoólica.

• Flavorizantes: substâncias de aroma, podem ser naturais (essências de


citros) ou artificiais (coco, framboesa, abacaxi, laranja etc.) As artificiais
são produzidas por meio de bactérias que sofreram mutação genética e
produzem xantanas que bloqueiam o ciclo de Krebs no α-cetoglutamato
e este se quebra, produzindo a molécula volátil desejada.

• Carvão ativo: carvão mineral com grande área de contato que promove
a remoção de substâncias indesejadas por adsorção iônica.

• Terra diatomácea: agente filtrante para eliminação de partículas em


suspensão.

Aula 3 – Café e refrigerantes 65 e-Tec Brasil


As etapas do processo encontram-se na Figura 3.7 e serão detalhadas a seguir.

Preparação Filtração Preparação xarope


xarope concentrado

Envase Carbonatação Formulação


de bebida

Figura 3.7: Fluxograma da elaboração do refrigerante

O processo inicia com a elaboração do xarope por meio da dissolução de


açúcar cristalino em água potável isenta de cloro e com concentrações mé-
dias de íons de cálcio, sendo usados tanques de inox com camisas de va-
por para evitar o fogo direto que provoca escurecimento A concentração de
sólidos solúveis varia de 55º a 57º Brix Em seguida, ocorre a filtração para
eliminação das impurezas do xarope, a terra de diatomácea e carvão ativo
são utilizados como meio filtrante, esse xarope é a base do concentrado.

O xarope final é elaborado pela adição dos demais ingredientes ao xarope


frio, ou seja, tudo o que vai dar gosto, aroma e sabor ao refrigerante, sendo
a mistura realizada em tanques de inox com agitação Esse xarope é diluído
a 15% com água e segue para a carbonatação.

O gás carbônico, incolor e atóxico, é submetido à desaeração para remoção


do oxigênio que provoca oxidação e desenvolvimento de microrganismos
Os refrigerantes são
isentos de lipídios aeróbios no refrigerante Na desaeração o gás carbônico é incorporado à
e proteínas, mas
contêm sais como
água e pela sua facilidade dissolução o oxigênio é expulso Após a desaera-
sódio e potássio. ção, a água com o gás carbônico é misturada ao xarope final O refrigerante
é envasado (garrafas de vidro, latas de alumínio ou garrafas PET), rotulado
e lacrado

3.2.2 Legislação
A Lei no 8.918 de julho de 1994 dispõe sobre as bebidas e define refrigerante
como “bebida gaseificada, obtida pela dissolução em água potável de suco
ou extrato vegetal de sua origem, adicionada de açúcares” Além disso, o
refrigerante deverá sempre ser saturado de gás carbônico industrialmente
puro Todo refrigerante é considerado bebida não alcoólica, como visto ante-
riormente pode conter até 0,5% de etanol.

e-Tec Brasil 66 Tecnologia de Bebidas


Refrigerantes à base de laranja, tangerina e uva devem conter, no mínimo,
10% em volume do respectivo suco em sua concentração final, no caso das
limonadas e refrigerantes de maçã, este percentual é de 2% e 5% de suco de
limão e maçã, respectivamente Para o guaraná a quantidade é equivalente a
0,02 g de semente de guaraná ou extrato em 100 mL da bebida e as bebidas
cola devem conter noz de cola ou seu extrato.

A soda é água potável gaseificada com dióxido de carbono com pressão a 2


atm a 20ºC, sendo opcional a adição de sais E, a água tônica é o refrigerante
com 3 a 5 mg de quinino ou seus sais em 100 mL da bebida.

Pesquise na legislação quais as diferenças em relação ao processamento e


rotulagem dos refrigerantes tipo light.

Resumo

Nesta aula, vimos que o café é uma cereja originária do Oriente Médio e que
os árabes foram os primeiros a transformar estas cerejas em uma bebida es-
timulante devido à presença da cafeína As sementes dessa cereja passaram
a ser beneficiadas realçando sabores e aromas por meio de torra e moagem
Vimos também que a bebida pode ser elaborada por infusão e decocção
Conhecemos um pouco sobre a elaboração dos refrigerantes, bebida refres-
cante, obtida pela saturação de gás carbônico em um xarope concentrado
de sacarose em água com flavorizantes e conservantes.

Atividades de aprendizagem

1. Quais as principais diferenças entre os cafés arábica e conillon?

2. Quais os tipos de torra e que características eles conferem ao café?

3. Descreva as características do café de qualidade.

4. Conceitue refrigerantes.

5. Por que os flavorizantes não podem ser adicionados no xarope quente?

Aula 3 – Café e refrigerantes 67 e-Tec Brasil


Aula 4 – Bebidas fermentadas I – cerveja

Objetivos

Definir fermentação alcoólica.

Comparar a fermentação alcoólica com os demais tipos de fermentação.

Distinguir os diferentes tipos de cervejas.

Descrever o processo básico de elaboração da cerveja.

Identificar os ingredientes da cerveja e suas funções para o processo.

4.1 Fermentação
Ao longo da história, a fermentação foi um dos fenômenos que mais desper-
tou curiosidade no homem, uma vez que proporcionava alterações perceptí-
Na área da fermentação,
veis na matéria-prima, trazendo benefícios aos alimentos e bebidas por meio a maior parte dos estudos
realizados mundialmente
de alterações gustativas e aromáticas e aumento da conservação. foi relacionada à
fermentação alcoólica.
A fermentação é um processo de transformação de uma substância em ou-
tra mais simples a partir de microrganismos, tais como leveduras e bactérias.
Essa transformação bioquímica, que ocorre em produtos de origem animal e
vegetal, é responsável por inúmeros produtos que consumimos diariamente.
As leveduras e bactérias liberam enzimas que crescem o pão e transformam
suco de uva em vinho, produzem diversas substâncias químicas e antibióticos
por meio do controle das condições de fermentação. Da transformação que
ocorre em aerobiose se obtém vinagre e ácido cítrico. Já da transformação por
anaerobiose ocorre a obtenção de cerveja, vinho, iogurte, penicilina etc. Desta
forma, muitos desses microrganismos são considerados aeróbios facultativos.

Assim, a fermentação é uma importante base de processos na indústria de


alimentos, os quais convertem matéria-prima, como grãos, açúcares e sub-
produtos industriais, em produtos diferentes; conservam alimentos de ori-
gem animal (salame, iogurte) e vegetal (picles, chucrute), além de produzem
antibióticos (penicilina).

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 69 e-Tec Brasil


A fermentação alcoólica é utilizada para a elaboração de bebidas alcoólicas,
dentre as quais temos as fermentadas (vinhos e cervejas) e as destiladas
(rum, aguardente, uísque etc.). Os açúcares solúveis presentes nas diversas
matérias-primas são transformados, principalmente, em etanol, o álcool en-
contrado em todas as bebidas alcoólicas. A transformação dos monoglico-
sídeos em etanol e gás carbônico é realizada devido à presença de enzimas
excretadas por leveduras (Saccharomyces cerevisiae e Schizosaccharomyces
pombe). Essas enzimas promovem diversas reações que terminam por trans-
formar, com liberação de calor, um açúcar simples (C6H12O6) em etanol e gás
carbônico, conforme a equação geral:

C6H12O6 → 2 CH3CH2OH + 2 CO2 + 33cal.

O açúcar pode ser fornecido pela uva, cana-de-açúcar, maçã, cevada, ou


seja, por frutas, cereais, raízes e tubérculos em geral, para obtenção de be-
bidas alcoólicas. Dependendo do açúcar presente, são adicionadas leveduras
adequadas à quebra das moléculas para obtenção, principalmente, de eta-
nol e gás carbônico. Os carboidratos são muito usados para complementos
de fermentação porque possuem elevados teores de açúcares fermentescí-
veis e baixos teores de proteínas. Entre os mais comuns estão a sacarose,
glicose, maltose e açúcar invertido (glicose e frutose).

A fermentação alcoólica produz bebidas com teor alcoólico próximo a 15%


porque as enzimas excretadas pelas leveduras são inativadas, produzindo
bebidas muito aquosas.

Além da fermentação alcoólica, temos:

• Fermentação láctica: muito utilizada para a preservação de alimentos


de origem vegetal (picles, chucrute, azeitona) e animal (queijos e sala-
mes). O leite é a principal matéria-prima dessa fermentação, porém, para
conservação de alimentos é realizada a fermentação láctica de hortaliças
e azeitonas, produzindo o picles.

• Fermentação acética: utilizada na indústria de alimentos para a produ-


ção do vinagre. Através dela é obtida a oxidação do álcool na presença
de bactérias acéticas (microflora mista Acetobacter), porém, existem es-
pécies que oxidam o álcool a gás carbônico e água, o que é indesejável
quando o objetivo é a obtenção do vinagre.

e-Tec Brasil 70 Tecnologia de Bebidas


• Fermentação maloláctica: ocorre por meio das bactérias lácticas per-
tencem a diversos gêneros, tais como Leuconostoc e Lactobacillus. Essas
espécies possuem comportamento diferente em função do meio, pH e
temperatura. Quando em condições favoráveis, ocorre a degradação do
ácido málico em ácido láctico e gás carbônico.

Pesquise em sua residência 4 (quatro) produtos (alimento ou bebida) elabora-


dos por fermentação e indique: o tipo de fermentação, a matéria-prima e as al-
terações organolépticas percebidas quando comparado com a matéria-prima.

4.2 A cerveja
A cerveja é a bebida fermentada mais popular e sua história se confunde
com a própria história da humanidade. Atualmente, no Brasil, o consumo
per capita é próximo de 48 L/ano, sendo superior ao leite (11L/ano).

Pesquisas mostram que a cerveja surgiu no Egito ou Oriente Médio. Os pri-


meiros campos de cultivo de cereais surgiram por volta de 9.000 a.C. na Ásia
Ocidental, quando agricultores colhiam grãos e produziam farinha. A cerveja
surge paralelamente com a fermentação de cereais, tais como milho, centeio
e cevada. Além disso, possui valor nutricional semelhante a dos cereais, e já
foi conhecida como “pão líquido”.

Figura 4.1: Elaboração artesanal da cerveja


Fonte: <http://fabrica1.com/blog/wp-content/uploads/16thCenturyBrewer.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2011.

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 71 e-Tec Brasil


Após a Revolução Industrial, as fábricas na Europa (Alemanha, Inglaterra e
Império Húngaro) ficaram cada vez maiores. No Brasil, o hábito de tomar
cerveja vem desde o Império, com D. João VI, no início do século XIX, época
em que a cerveja era importada dos países europeus. Em 1888, foi fundada
na cidade do Rio de Janeiro a “Manufatura de Cerveja Brahma Villigier e
Cia.” E, em 1891, na cidade de São Paulo, a Companhia Antártica Paulista.
Atualmente, essas duas empresas nacionais e uma cervejaria belga encon-
tram-se fundidas, originando a Interbrew, maior grupo cervejeiro do mundo,
com empresas como a Anheuser-Busch (Estados Unidos da América), SAB-
Miller (África do Sul), Heineken (Holanda) e Carlberg (Dinamarca).

A legislação brasileira, por meio do Decreto nº 2.314, de setembro de 1997,


define cerveja como sendo uma bebida obtida pela fermentação alcoólica
do mosto cervejeiro oriundo de malte de cevada e água potável, por ação da
levedura, com adição de lúpulo, podendo o lúpulo ser substituído por seus
respectivos extratos. O cereal poderá ser maltado ou não e substituído por
carboidrato de origem vegetal.

Ainda segundo a mesma legislação, a cerveja pode ser classificada conforme


a Tabela 4.1.

Tabela 4.1: Parâmetros e características das cervejas, conforme a legislação


brasileira vigente.
Parâmetro Característica

Quanto ao extrato primitivo

cerveja leve extrato primitivo ≥ 5% p/pa e < 10,5% p/p

cerveja comum extrato primitivo ≥ 10,5% p/p e < 12,5% p/p

cerveja extra extrato primitivo ≥ 12,5% p/p e < 14% p/p

cerveja extra forte extrato primitivo ≥ 14% p/p

Quanto à cor

cerveja clara > 20 unidade EBC

cerveja escura < 20 unidade EBC

Quanto ao teor alcoólico

cerveja sem álcool < 5% v/vb de álcool, não sendo obrigatório declarar no rótulo o teor alcoólico

cerveja com álcool ≥ 5% v/v de álcool, devendo obrigatoriamente declarar no rótulo o teor alcoólico

Quanto à proporção de malte e cevada

cerveja puro malte 100% p/p de malte de cevada como fonte de açúcar

cerveja ≥ 50% p/p de malte de cevada como fonte de açúcar

e-Tec Brasil 72 Tecnologia de Bebidas


cerveja com nome do vegetal predo-
malte de cevada > 20% e < 50%, como fonte de açúcar
minante

Quanto à fermentação

processo de fermentação que utiliza leveduras ativas a temperaturas baixas (9º a


baixa fermentação
15ºC), com fermentação mais lenta e mais aromas

processo de fermentação que utiliza leveduras ativas a temperaturas mais eleva-


alta fermentação
das (15º a 25ºC), com aromas típicos frutados e, por vezes, condimentados

a: peso/peso; b: volume/volume

Fonte: EBC: European Brewery Convention

A legislação ainda regulamenta os tipos de cervejas, as leveduras, enzimas,


agentes clarificantes, filtrantes e absorventes e aditivos. Estes últimos são
classificados em:

• intencionais - usados intencionalmente para melhorar, corrigir ou preser-


var as características organolépticas;

• incidentais – defensivos agrícolas, solventes da extração do lúpulo e con-


taminantes minerais.

As cervejas, segundo a mesma legislação, não podem apresentar micror-


ganismos patogênicos ou substâncias produzidas por microrganismos em
concentração suficiente para causar danos à saúde humana. Além disso, as
fábricas devem apresentar condições higiênico-sanitárias satisfatórias.

Pesquise na nossa legislação quais os coadjuvantes utilizados na fabricação


da cerveja e a função deles.

4.2.1 Matéria-prima
A fabricação da cerveja em qualquer lugar do mundo, como na Alemanha,
é realizada com três ingredientes básicos e adjuntos. Entretanto, a cerveja é
uma bebida muito versátil que permite muitas variações em função da pro-
porção dos ingredientes, do grau de maltagem do cereal, o tipo de lúpulo e
de fermentação, temperatura e duração das etapas do processo e as formas
de armazenamento e envase.

Os adjuntos são produtos ou materiais que fornecem carboidratos para o


mosto cervejeiro, desde que permitido por lei. Normalmente, são produtos
do beneficiamento de cereais ou outros vegetais ricos em carboidratos, são

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 73 e-Tec Brasil


utilizados principalmente por razões econômicas. Além disso, melhoram as
características físico-químicas e sensoriais da cerveja.

Veja a seguir os seus ingredientes básicos.

4.2.1.1 Malte
A cevada, cereal que apresenta maior facilidade na maltagem (Figura 4.2) é
componente obrigatório da cerveja, mas às vezes pode ser acrescida de ou-
tros cereais (trigo, aveia, arroz e milho), embora mais difíceis de maltar. Além
da facilidade de maltagem, a cevada apresenta características que a tornam
mais adequada para produção de cerveja, quais sejam:

• elevado teor de amido, ou seja, de extrato fermentescível;

Mais de 70% da produção


mundial de cevada é destinada • quando maltada possui elevado teor de enzimas que ajudam no processo
à ração animal. Além disso, de produção do mosto;
atualmente temos o cultivo de
grãos voltado à produção de
biocombustíveis. • contém proteínas que proporcionam a formação de espuma, corpo e
equilíbrio coloidal;

• teor de lipídio relativamente baixo;

• mais barata e mais fácil de maltar.

Figura 4.2: Grãos de cevada


Fonte: <www.thumbs.dreamstime.com/thumb_246/1205222871njihjP.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2011.

e-Tec Brasil 74 Tecnologia de Bebidas


O processo de maltagem é fundamental para a qualidade da cerveja, sendo
o malte o responsável pela cor e pelo paladar da bebida. Além disso, a fer-
mentação alcoólica será realizada pelos açúcares obtidos da transformação
do malte na fabricação do mosto.

Para obtenção do malte, os grãos de cereais são umedecidos a ponto de


iniciarem a germinação. Quando o embrião começa a germinar, produz en-
zimas que quebram as cadeias de amidos e proteínas. A intensidade dessa
quebra é conhecida como grau de maltagem. Nesse ponto, temos o malte
“verde”, que será seco ou torrado. Durante o processo de secagem e tor-
refação a cor sofre alterações. Dessa forma, quanto mais torrado o malte,
mais escura será a cerveja. O mesmo acontece com o aroma, que adquire Genericamente, o malte de
cevada fermentado produz
notas aromáticas diferenciadas (caramelo, chocolate, café etc.). Essas carac- cerveja e o malte de cevada
terísticas são importantes para que o mestre cervejeiro elabore cervejas com destilado produz uísque.

características próprias.

4.2.1.2 Lúpulo
O lúpulo é utilizado em pequena quantidade na fabricação da cerveja, de 40
g a 300 g para 100 L de produto final. O lúpulo, ao contrário do malte, não
altera o teor alcoólico da cerveja, sua presença é fundamental para o amar-
gor típico da bebida. Além disso, possui notas aromáticas – floral, frutado,
herbáceo e condimentado – essencial para muitos estilos de cerveja.

A maior parte da produção de lúpulo ocorre em regiões de clima tempera-


do, entre os paralelos 35º e 55º, nos hemisférios Norte e Sul. Por ser muito
sensível às condições climáticas, apresenta diferenças visíveis em função do
microclima. A produção concentra-se na Alemanha, Estados Unidos, China
e República Checa, responsáveis por 80% da produção mundial.

A comercialização é realizada na forma de cones secos, em pequenos blocos


compactos, e como extrato. Este último, por ser mais estável e concentra-
do, exige menor espaço de armazenamento e é facilmente manipulado na
indústria cervejeira.

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 75 e-Tec Brasil


O interesse industrial recai
sobre as flores em forma de
cone e os frutos resultantes
delas, ou seja, flores
femininas, ricas em lupulina
(resinas, óleos essenciais etc.),
responsáveis pelo aroma e
sabor amargo da cerveja.
Figura 4.3: Lúpulo
Fonte: <http://i1.trekearth.com/photos/382/lupulo_03t.jpg>. Acesso em: 13 jan. 2011.

4.2.1.3 Água
A água é o principal ingrediente para a qualidade do produto final, uma
vez que representa 90% da cerveja, mesmo as de maior concentração. No
passado, a qualidade da água foi um grande diferencial de qualidade para
a cerveja, entretanto, nos dias atuais são produzidas cervejas de excelente
qualidade até com água desmineralizada.

A tecnologia permite ajustar a qualidade da água conforme a necessidade


do cervejeiro, porém, quanto melhor a qualidade da água na fonte, menores
as preocupações, exigindo pouco ou nenhum tratamento. Uma boa água
para elaboração da cerveja deve:

• ser potável, transparente, incolor, inodora e livre de qualquer sabor es-


tranho. Se a água for de superfície, pode necessitar de tratamento para
reduzir ou eliminar a matéria orgânica;

• apresentar na fonte alcalinidade máxima de 50 ppm, pH na faixa de 4 a


9 e teor de cloreto de sódio que varia em função da preferência de sabor.

O gasto de água numa cervejaria varia de 4 a 10 vezes em relação ao volume


de cerveja produzida.

e-Tec Brasil 76 Tecnologia de Bebidas


Além dos ingredientes básicos para que ocorra a fermentação alcoólica,
como vimos no início desta aula, é necessária a presença das leveduras. Com
exceção de algumas raras cervejas, são utilizadas a Saccharomyces cerevisiae
e algumas variedades. As temperaturas de fermentação, ou seja, de ativação
das leveduras, permitem que as cervejas sejam classificadas em alta e baixa
fermentação, como vimos na Tabela 4.1.

Pesquise aditivos, ervas aromáticas e frutas que podem ser adicionados às


cervejas e identifique as características organolépticas que são conferidas ao
produto final.

4.2.2 Elaboração
A elaboração da cerveja pode ser dividida em três etapas. Para um melhor
entendimento, veja a seguir quais são elas.

4.2.2.1 Produção do mosto


A brassagem ou produção do mosto consiste na transformação do amido
e das proteínas presentes no malte em uma solução chamada mosto, rica
em açúcares e outros compostos. O processo tem início com a moagem do
malte, quebrando os grãos e expondo o amido presente no seu interior,
podendo ser realizado por rolos, com preservação da casca, ou por moinhos
tipo martelo, com pulverização do malte. A diferença de granulometria do
malte irá influenciar o tipo de filtração a ser utilizada.

Em seguida, teremos a mostura com adição de água ao malte moído e


variações de temperatura em períodos determinados, obtendo uma mistu-
ra adocicada com bagaço do malte, denominada mosto. Nessa etapa, será
definida a quantidade de açúcar que participará da fermentação alcoólica.
O mosto é então filtrado para eliminação do bagaço do malte em filtros de
placas verticais, nos quais as placas são intercaladas por telas plásticas ter-
morresistentes e malha fina, cuja porosidade determina o rendimento.

A fervura é a etapa seguinte e de importância para a qualidade final da


cerveja. O mosto é esterilizado e influencia na definição de cor e sabor, por
meio de reações de caramelização e reações entre açúcares e proteínas. A
fervura intensa também auxilia nas características aromáticas, eliminando
odores indesejáveis, e confere estabilidade biológica, bioquímica e coloidal.
Nessa etapa, ocorre adição do lúpulo, geralmente em duas fases: a primeira

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 77 e-Tec Brasil


para conferir o gosto amargo e a segunda para contribuir com a complexida-
de aromática, com substâncias voláteis, como vimos anteriormente. Durante
essa etapa é formado o trub, uma aglomeração de proteínas separada por
sedimentação. Quanto mais eficiente o processo de separação, mais sabor e
estabilidade de brilho a cerveja terá. Em seguida, o mosto é resfriado rápido,
evitando aromas indesejáveis e contaminação microbiana, até a temperatura
de fermentação com trocadores de calor de placas.

Figura 4.4: Trub do mosto, produção artesanal


Fonte: <www.henrikboden.blogspot.com>. Acesso em: 13 jan. 2011.

4.2.3.2 Fermentação alcoólica


A fermentação alcoólica se processa em tanques (Figura 4.5.), com a trans-
formação dos açúcares pelas leveduras, basicamente em gás carbônico (CO2)
e etanol. O controle dessa etapa tem como objetivo favorecer a formação de
aromas agradáveis e eliminar os indesejáveis, por meio da temperatura de
fermentação, duração, contrapressão e escolha e quantidade de levedura.
Ao término da fermentação, a levedura sedimenta ou flocula, sendo remo-
vida para utilização em outra fermentação, desde que mantida a qualidade
microbiológica.

e-Tec Brasil 78 Tecnologia de Bebidas


Figura 4.5: Tanques de fermentação
Fonte: <http://www.papodebar.com>. Acesso em: 13 jan. 2011.

4.2.3.3 Maturação
A maturação ocorre em temperatura inferior à fermentação para que acon-
teçam reações físico-químicas que conferem maior qualidade ao aspecto
visual e que produzem alguns aromas e sabores, é o “afinamento” da cer-
veja. Nessa etapa, a carbonatação natural da cerveja ocorre como efeito da
contrapressão exercida pelo próprio tanque de maturação pelo restante do
gás carbônico produzido durante a fermentação. A temperatura mais baixa
favorece a complexação de proteínas e polifenóis, contribuindo com a etapa
de clarificação.

4.2.3.4 Clarificação e carbonatação


A filtração confere à cerveja um acabamento brilhante, eliminando quase
que totalmente as leveduras que ainda restam após a maturação. Geralmen-
te, o meio filtrante é a terra de diatomácea (mineral de origem sedimentar
rico em sílica) e os filtros são de placas verticais ou horizontais. Além dos
filtros, são utilizadas centrífugas para clarificar a cerveja maturada.

A concentração de gás carbônico é corrigida por meio de injeção de CO2 na


cerveja, logo após a filtração.

4.2.3.5 Acondicionamento
Após a carbonatação, a cerveja é acondicionada em tanques pressurizados
com temperatura de 0o a 1ºC. A pressurização dos tanques garante a con-

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 79 e-Tec Brasil


centração de gás carbônico na cerveja. O acondicionamento nesses barris de
aço inox é conhecido como embarrilamento e proporciona a manutenção
da qualidade da bebida e características do produto original, devendo ser
mantido nessas condições até a chegada ao bar.

O acondicionamento em garrafa de vidro, tradicionalmente de vidro escuro


e com 600 mL, surge da necessidade de comercialização da cerveja em me-
nor volume. Como a cerveja é uma bebida que facilmente sofre degradação,
a pasteurização e os sistemas avançados de refrigeração possibilitam maior
estabilidade da cerveja envasada, possibilitando a entrega em locais distan-
tes da cervejaria. No setor de engarrafamento, as condições sanitárias do
local e das garrafas e o controle de qualidade são críticos.

Outra forma de comercialização são as latas de alumínio com revestimento


interno para preservação das características organolépticas. Quando com-
paradas com as garrafas, as latas têm como vantagens o baixo custo, maior
facilidade de manuseio e logística e maior produtividade de envase.

O processo de pasteurização, que como vimos colabora com a manuten-


ção da qualidade da bebida, proporciona aquecimento rápido, em torno de
Apenas no Brasil, o chope é a
cerveja armazenada em barris 60ºC, por um curto período de tempo, garantindo uma estabilidade micro-
e servida por meio de torneiras biológica. O aquecimento excessivo provoca reações que prejudicam o pa-
depois de passar por um
trocador de calor de serpentina. ladar (aumento da adstringência) e o aroma (“caramelado” e “queimado”).

Pesquise as diferenças entre os processos de elaboração da cerveja e da cer-


veja sem álcool.

Resumo

Nesta aula, vimos que a fermentação alcoólica é uma sequência de reações


bioquímicas, na qual as leveduras transformam açúcares e amidos em eta-
nol, gás carbônico e produtos secundários. Esse processo de obtenção de
bebidas alcoólicas é utilizado na produção da cerveja, obtida pela fermen-
tação de cereal maltado (cevada, milho, trigo etc.), sendo a cevada o mais
apropriado, adicionado de lúpulo (elemento que garante amargor e comple-
xidade aromática), água e aditivos. Vimos também que os diversos tipos de
cervejas são obtidos por combinação do grau de maltagem, cereal utilizado
e controles na etapa de fermentação.

e-Tec Brasil 80 Tecnologia de Bebidas


Atividades de aprendizagem

1. Defina fermentação alcoólica.

2. Quais os ingredientes da cerveja e como cada um colabora para as carac-


terísticas do produto final?

3. O que significa maltagem e como é realizada?

4. Elabore um fluxograma do processo de produção da cerveja.

Aula 4 – Bebidas fermentadas I - Cerveja 81 e-Tec Brasil


Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho

Objetivos

Distinguir os vários tipos de vinhos.

Descrever os processos de vinificação em tinto, branco, espu-


mante e rosé.

Identificar as principais características organolépticas dos vinhos.

5.1 Vinho: a bebida dos deuses


Legalmente, o vinho é uma bebida proveniente da fermentação alcoólica
de uvas sãs ou do suco de uvas frescas. Pela legislação brasileira, bebidas
fermentadas elaboradas com outras frutas devem ser rotuladas com a deno-
minação “vinho” seguida do nome da fruta utilizada.

Para entendermos a sua importância para o homem de hoje, precisamos de


alguns dados de sua história. Assim como a cerveja, o vinho é uma bebida
que não precisou ser inventada, surgiu da fermentação espontânea da uva,
provavelmente de maneira acidental. Evidências arqueológicas sugerem que
o primeiro vinho tenha surgido na região do Cáucaso a leste do Mar Negro,
onde temos hoje a Turquia, Geórgia e Armênia, há 8.000 anos antes de Cris-
to. Desde então tem participado da história da humanidade. Nas civilizações
grega e romana, o Deus do Vinho era designado, respectivamente, como
Dionísio e Baco.

O berço da vitivinicultura são os países europeus de clima temperado, tais


como Portugal, Espanha, Alemanha, Grécia, Itália e França. O vinho sai da
Europa no período das descobertas marítimas, chegando à África do Sul,
Austrália, Nova Zelândia, Argentina, Uruguai, Chile e Brasil. E era uma be-
bida mais limpa e segura do que a água, por isso tornou-se elemento para
matar a sede.

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 83 e-Tec Brasil


Após a II Guerra Mundial, os países do Novo Mundo (África do Sul, Austrália,
Brasil, Chile, Argentina, Estados Unidos, Nova Zelândia e Uruguai) promove-
ram uma revolução vinícola pela participação dos seus vinhos no cobiçado e
competitivo mercado internacional, intensificado pela globalização. Degus-
tações históricas promoveram vinhos como Stag’s Leap Wine Cellars Cask 23
(Califórnia), Penfolds Grange (Austrália), Cloudy Bay Sauvignon Blanc (Nova
Zelândia), entre outros, hoje verdadeiros clássicos do Novo Mundo.

A inspiração para produção desses novos vinhos veio do Velho Mundo, nota-
damente do “trio de ferro” da França (Bordeaux, Borgonha e Champagne).
As uvas originárias dessas regiões foram disseminadas e cultivadas em várias
regiões do mundo, passando a exibir um caráter que refletia o seu novo ha-
bitat, e produzindo vinhos diferentes, varietais e com personalidade própria.

No Brasil, a atividade vitícola é bastante antiga, conforme demonstram os


registros de cultivo de uva pelos jesuítas no Rio Grande do Sul, no século
XVII. As primeiras videiras americanas, uvas não viníferas usadas na elabora-
ção de vinhos de mesa, foram trazidas para o Brasil em meados dos anos de
1830 e 1840, devido à maior resistência às pragas e com características de
adaptação ao ambiente brasileiro, onde desde então prosperaram e expan-
diram. Os vinhos finos brasileiros são elaborados com uvas viníferas em três
regiões vitivinícolas bastante distintas - Sul, Sudeste e Nordeste -, das quais
a região Sul responde por 95% da produção nacional. Na produção mundial
de vinhos, o Brasil ocupa o 13º lugar, com 1,21 milhão de toneladas.

5.1.1 Fatores de qualidade no campo


A elaboração de vinhos de qualidade depende em 90% da qualidade da
uva, as condições de cultivo, variedade e manejo são fundamentais para a
elaboração de vinhos estruturados, equilibrados e com características orga-
nolépticas próprias.

A videira, para produzir uvas de qualidade, necessita de solo pobre em ma-


téria-orgânica, déficit de água e um clima com verões amenos e secos e in-
vernos frios. Além disso, temos como parâmetros de campo que influenciam
na qualidade da uva e vinho: clima (marítimo e continental), solo (argiloso,
calcário, marga etc.), sistema de condução - Figura 5.1 - (latada, espaldeira,
arbusto etc.), localização do vinhedo (encosta e planície) e variedade (tintas:

e-Tec Brasil 84 Tecnologia de Bebidas


Cabernet Sauvignon, Merlot, Tannat, Syrah, Sangiovese, Nebiollo, Tinta Cão,
Tempranillo etc. e brancas: Chenin Blanc, Moscato Canelli, Sauvignon Blanc,
Verdejo, Viognier, Gerwürztraminer etc.)

A palavra francesa terroir,


literalmente, significa solo, mas
é usada para descrever todo
o ambiente no qual a vinha
se desenvolve, porém, para a
Enologia (estudo dos vinhos)
é uma combinação única de
clima, topografia e solo, que
modela o caráter das vinhas
que ali crescem e das uvas que
produzem.

Figura 5.1: Sistemas de condução (a) latada e (b) espaldeira


Fonte: do autor.

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 85 e-Tec Brasil


5.1.2 Vitis vinifera e suas características
As uvas podem ser encontradas em inúmeras variedades, porém, para a
elaboração de vinhos, vamos dividi-las em duas classes:

a) Uvas americanas: grupo das uvas de mesa e híbridas que, segundo a nos-
sa legislação, serão utilizadas para os vinhos de mesa, com designação
“vinho de mesa” obrigatória no rótulo.

b) Uvas europeias: grupo das uvas viníferas que, segundo a nossa legisla-
ção, serão utilizadas para a elaboração de vinhos finos, com designação
“vinho fino” obrigatória no rótulo.

As uvas viníferas diferenciam-se das americanas pelo menor tamanho da


baga e cachos mais compactos (Figura 5.2), além disso, possuem maior con-
centração de compostos fenólicos, que são precursores aromáticos, corantes
e responsáveis pela adstringência e amargor dos vinhos.

Figura 5.2: Cacho típico de uva vinífera


Fonte: do autor.

Como vimos anteriormente, existem muitas uvas viníferas e cada uma possui
características próprias e marcantes que se pronunciam quando bem cultiva-
das independentemente das condições edafoclimáticas, ou seja, associação
do clima, solo, manejo do parreiral e localização do vinhedo. A seguir, vere-
mos alguns exemplos.

e-Tec Brasil 86 Tecnologia de Bebidas


• Cabernet Sauvignon: uva tinta francesa que confere ao vinho estrutura e
capacidade de envelhecimento, além do aroma clássico de pimentão ver-
de (pirazina), azeitona preta, cassis, groselha e pimenta-do-reino preta.
Quando amadurecida em carvalho, lembram cedro ou baunilha.

• Syrah: uva clássica do Rhône (França) com vinhos caracterizados pelo


potencial alcoólico, capacidade de envelhecimento, coloração vermelha
rubi, profunda e límpida, taninos estruturados, acidez adequada e com-
plexidade aromática – trufas, tabaco, alcaçuz, frutas vermelhas (grose-
lha, mirtilo e framboesa), floral (violeta), especiarias (pimenta-do-reino,
baunilha e canela) e empireumáticos (defumado e borracha queimada).

• Suvignon Blanc: uva branca com vinhos expressivos no Loire (França) e


Marlborough (Nova Zelândia), e vinhos com aromas marcantes (lima-
-limão, groselha branca, abacaxi, melão, pêssego, aspargos, pimentão
verde e mato).

• Riesling: uva branca, sendo considerada a melhor variedade branca do


mundo. Seus vinhos se caracterizam pela leveza, acidez equilibrada, bri-
lho, baixo teor alcoólico e aromas florais, frutados (pêssego, damasco,
frutas brancas e tropicais), ervas, especiarias, minerais e terrosos.

A colheita das uvas é o primeiro passo para a elaboração dos vinhos, de-
vendo ocorrer conforme a designação do enólogo que considera condição
climática e estado de maturação. A uva apresenta a maturação tecnológica
(razão entre a concentração de ácidos e açúcares) e a fenólica (composição
dos compostos fenólicos). Além disso, pode ser realizada uma colheita pre-
coce (Figura 5.3) no estado de maturação (Figura 5.4) e tardia (Figura 5.5),
cada uma com características diferenciadas para o vinho. Por exemplo, a
colheita precoce confere ao vinho acidez, baixo teor alcoólico e aromas ve-
getais, e a colheita tardia confere menor acidez, teor alcoólico mais elevado
e aromas de frutas em compota.

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 87 e-Tec Brasil


Figura 5.3: Uva, no estado de maturação precoce
Fonte: do autor.

Figura 5.4: Uva no estado de maturação tecnológica


Fonte: do autor.

e-Tec Brasil 88 Tecnologia de Bebidas


Vindima é a operação de
colheita da uva para vinificação.

Figura 5.5: Uva no estado de maturação tardia


Fonte: do autor.

5.2 Elaboração dos vinhos tranquilos


Os vinhos seguem etapas básicas de elaboração, porém, apresentam dife-
renças em função do que se deseja extrair da uva (vinhos tintos, brancos e
rosados) ou das características dos vinhos (espumantes, fortificados, vinhos
de sobremesa). Vamos descrever o método clássico de vinificação e ressalta-
remos seus diferenciais.

Antes de iniciarmos o passeio pela vinificação, é importante conhecer alguns


termos técnicos da enologia. São eles:
Enologia
Estudo das técnicas de
produção e conservação dos
• vinho tranquilo: vinho com ausência de gás carbônico; vinhos.

• vinho espumante: vinho com pressão superior a 5 atm;

• vinho frisante: vinho com pressão próxima a 0,5 atm;

• atesto: ato de completar o volume dos barris de carvalho com vinho de


mesma qualidade;

• trasfega: transferência do vinho em formação de uma dorna para outra;

• dorna: tanque onde é realizada a fermentação do vinho, podendo ser de


carvalho ou inox;

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 89 e-Tec Brasil


• remoagem: recirculação do vinho na mesma dorna;

• degorgemant: remoção das leveduras e material precipitado, após se-


gunda fermentação na garrafa;

• remontagem: giro nas garrafas de espumante quando se trabalha com o


método tradicional, o champonoise.

Voltando ao processo de vinificação, como vimos tudo inicia com a vindima.


Esta pode ser manual ou mecânica e tem como objetivo colher uvas sãs e
no estado de maturação desejado, evitando que sejam esmagadas e que se
inicie um processo de fermentação, fora da vinícola, por leveduras nativas e
selvagens.

As uvas colhidas são recepcionadas na adega para classificação e, no caso de


regiões de clima quente, passam por um sistema de resfriamento para que
atinjam a temperatura de inoculação. O resfriamento pode ser realizado com
a uva inteira (trocadores de calor com contrafluxo (Figura 5.6) ou do mosto,
após desengace (remoção do engaço) e prensagem.

Figura 5.6: Trocador de calor tubular para uvas inteiras


Fonte: do autor.

As uvas resfriadas são desengaçadas (Figura 5.7) e prensadas para obtenção


do mosto. São utilizadas prensas pneumáticas com controle da pressão para
evitar o esmagamento das sementes que tornariam o vinho muito adstrin-
gente, amargo e com notas vegetais pronunciadas.

e-Tec Brasil 90 Tecnologia de Bebidas


Figura 5.7: Desengaçadeira de tubular com espátulas de polietileno
Fonte: do autor.

Obtido o mosto, podem ser realizadas correções nele antes da fermentação,


tais como:

• Acidificação: correção da acidez para valores entre 1,8 e 2,0 g de ácido


tartárico por litro de mosto, por adição de ácido tartárico ou cítrico.

• Desacidificação: diminuição da acidez por processos biológicos (adição


de leveduras), químicos (adição de carbonato de cálcio ou tartarato neu-
tro de sódio ou potássio).

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 91 e-Tec Brasil


• Chaptalização: adição de sacarose de cana-de-açúcar ou beterraba, em
concentração equivalente ao aumento de 1% no teor alcoólico dos vi-
nhos, conforme legislação vigente.

Na maioria das vinícolas, inicia-se a adição de dióxido de enxofre (SO2) na


forma de gás ou metabissulfito de sódio. Para a elaboração de vinhos bran-
cos (vinificação em branco), temos uma etapa de maceração pré-fermentati-
va a frio por 2 a 3 horas, na qual as cascas e sementes (fase sólida do mosto)
ficam em contato com a parte líquida do mosto possibilitando a extração de
substâncias aromáticas e compostos fenólicos. Em seguida, ainda na vinifi-
cação em branco, temos a separação das fases sólida e líquida do mosto,
seguindo apenas a parte líquida para a fermentação (Figura 5.8). Para a
vinificação em tinto, o mosto, partes sólida e líquida, segue direto para as
dornas de fermentação (Figura 5.9).

Figura 5.8: Fermentação na vinificação em branco, interior e exterior das dornas


Fonte: do autor.

Figura 5.9: Fermentação na vinificação em tinto


Fonte: do autor.

e-Tec Brasil 92 Tecnologia de Bebidas


A fermentação é constituída por duas etapas, fermentação alcoólica e ou-
tra maloláctica, nas quais devem ser realizados: controle de temperatura,
supressão de microrganismos indesejáveis (adição de SO2), verificação da
presença de leveduras adequadas ao processo e prevenção da oxidação.

A fermentação alcoólica é a fase decisiva para a elaboração de um bom vi-


nho. Todas as qualidades potenciais da bebida existem na uva e podem ser
exteriorizadas ou desaparecerem durante esse processo. As leveduras (Sac-
charomyces cerevisiae), durante o processo de fermentação, transformam
açúcares fermentescíveis, como a glicose e frutose, em etanol, gás carbônico
e numerosos subprodutos (acetaldeído, glicerol, 2,3 butilenoglicol e ácido
succínico). A temperatura de fermentação na vinificação de brancos e rosés
(8º a 20ºC) é mais baixa para permitir uma maior preservação de aromas e
fixação da cor. Já na vinificação de tintos (25º a 28ºC), ocorre uma maior
extração de compostos aromáticos e de cor. O tempo de fermentação será
mais curto para a vinificação em branco.

A segunda fermentação, maloláctica, ocorre principalmente na vinificação


Por que as leveduras convertem
em tinto para diminuir a acidez e, por meio de bactérias lácticas (Leuconos- álcool a partir de açúcares?
toc e Lactobacillus), transforma ácido málico em láctico. Assim, temos uma No período Cretáceo (80
milhões de anos atrás), um
desacidificação biológica do vinho, pois ocorre diminuição da acidez total. ancestral da S. cerevisiae
Consequentemente, surgem efeitos sobre o sabor do vinho, pois o acúmu- tinha sofrido uma modificação
genética que conferiu a essa
lo de ácido málico tem sabor mais agressivo do que o ácido láctico. Desse nova espécie a capacidade de
produzir álcool mesmo com
modo, o vinho se torna mais leve, macio, menos agressivo e com paladar farta provisão de oxigênio.
mais agradável. Nos vinhos brancos deve ser evitada a fermentação malolác- Nesse caso, a resistência ao
álcool foi obtida por seleção
tica, pois eles são apreciados por sua refrescância e aromas frutados e florais. natural. A capacidade de
sintetizar, a partir do açúcar de
frutos, uma substância tóxica
Após a fermentação do vinho, na vinificação em tinto, temos a prensagem para outros microrganismos
(álcool) e, ao mesmo tempo,
para eliminação da parte sólida. Em ambos os processos de vinificação (em resistir a ela, foi uma vantagem
tinto e em branco), o vinho em formação deverá receber cuidados especiais competitiva que permitiu a
sobrevivência da levedura.
para que não sofra alterações indesejáveis durante sua conservação.

Vamos ver quais são esses cuidados?

Temos a refrigeração, que constitui um dos sistemas usados para a conser-


vação de aromas e sabores no mosto, principalmente para a vinificação em
branco, pois regula a temperatura durante o processo de fermentação. O
processo de fermentação alcoólica é exotérmico, sendo necessário resfriar o
mosto em fermentação para evitar temperaturas elevadas superiores a 30ºC.
O emprego de sistemas de refrigeração garante temperaturas mais baixas

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 93 e-Tec Brasil


e, consequentemente, um alto rendimento de álcool e menores perdas por
evaporação, além de interferir na natureza e qualidade dos compostos se-
cundários formados.

Os vinhos, ao saírem das dornas de fermentação, são turvos devido à grande


concentração de material em suspensão, como mucilagens, matérias pro-
teicas, leveduras/bactérias, restos de cascas etc., que não se sedimentaram
devido ao borbulhamento de dióxido de carbono durante a fermentação,
além de precipitados de tartaratos no fundo das dornas, formados devido
à diminuição da temperatura externa. Toda essa matéria sólida constitui a
borra que pode ocasionar defeitos no vinho e interferir na sua estabilização.

Dessa forma, a enologia tem se esforçado para oferecer vinhos estabilizados


e com qualidade. Para tanto, a turbidez do vinho deve ser eliminada,
pois com isso existe também um aumento na estabilidade do produto.
Técnicas como a filtração, clarificação, centrifugação e pasteurização são
usadas com esta finalidade.

A filtração é uma técnica de clarificação bastante empregada na enologia


para a remoção de partículas sólidas e estabilização microbiológica dos vi-
nhos. Consiste em passar o vinho turvo através de uma camada ou meio
filtrante com porosidade reduzida. Existem vários tipos de filtros para vinhos,
todos baseados em adsorção ou tamisação.

Vinhos turvos com impurezas de grandes dimensões necessitam do prin-


cípio da tamisação, pelo qual são colocadas camadas de meio filtrante
(terra diatomácea) sobre a membrana porosa. Para os vinhos quase limpos
que se pretende tornar límpidos e brilhantes, é usado o princípio da
adsorção, como por exemplo, os filtros de placas de celulose-amianto ou só
de celulose. Nesses filtros, existem placas esterelizantes que retêm os micror-
ganismos (bactérias e leveduras).

A grande vantagem da filtração sobre o método de clarificação por cola-


gem é que temos um processo mais rápido e seguro. Entretanto, a moderna
enologia preconiza a elaboração de vinhos com o máximo de precisão e uma
filtração efetuada sem muita precisão pode remover elementos de estrutura
e intensidade de aromas, por esse motivo a filtração tem se tornado uma
prática dispensável para muitos vinhos de qualidade.

e-Tec Brasil 94 Tecnologia de Bebidas


A clarificação, na enologia, é a eliminação da turbidez do vinho mediante
agregação de substância que por ação superficial se adere às partículas e as
sedimenta, ou ainda provoca a floculação coloidal de um determinado com-
ponente do vinho. Nesse caso, desempenhando certo papel no fenômeno
de perda de carga elétrica. Citaremos a seguir algumas dessas substâncias.

• Hexacianoferrato de potássio: consegue fixar e precipitar os metais,


como ferro, cobre, zinco e magnésio, na forma de sais insolúveis. Porém,
o excesso do sal pode, por ação dos ácidos do vinho, formar cianeto de
potássio e, quando em baixas concentrações, o sal impede que o resulta-
do esperado seja alcançado.

• Gelatina: nos vinhos brancos, é usada como aditivo da clarificação azul.


Nos tintos é um agente de clarificação importante, pois auxilia facilmente
o processo de clarificação devido à concentração de taninos, fazendo
com que a necessidade da clarificação azul seja mais rara. A floculação
da turbidez do vinho ocorre obedecendo ao fenômeno de interação de
cargas elétricas entre coloides carregados com cargas opostas. A flocula-
ção e clarificação se processam tanto mais rápido quanto mais completo
é o intercâmbio mútuo de cargas. A bentonita é uma argila pulverizada
que neutraliza o excesso de carga elétrica dos vinhos, com ampla uti-
lização nas vinícolas. Além desse agente clarificante, temos a gelatina
que provoca uma mudança de carga elétrica nas partículas. Entretanto,
mesmo após a adição da gelatina, muitos vinhos contêm partículas car-
regadas positivamente e tendem a permanecer turvos. Nesses casos, é
necessária a associação com outro agente clarificante – terra diatomácea
que contém de 15 a 30% de ácido silícico coloidal.

• Leveduras: usadas para a clarificação de vinhos com cor muito forte ou


tonalidade parda. As inúmeras células das leveduras formam uma gran-
de superfície, absorvem o pigmento pardo dos vinhos turvos e eliminam
também certo grau de defeitos de aroma e sabor. Uma grande vantagem
do emprego de leveduras na clarificação é que não são colocadas no
vinho substâncias estranhas que, por sua ação redutora, principalmente
das células jovens, diminuem a ação do enxofre.

• Bentonita: a clarificação com esse produto tem a finalidade de promo-


ver a estabilização proteica, pois alguns vinhos podem apresentar teores
elevados de proteínas, o que concorre para a turbidez. Essa argila ex-

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 95 e-Tec Brasil


pande seu volume em água e sua ação clarificante compreende a pre-
cipitação de parte das proteínas e a prevenção da turvação por cobre e
ferro, que são adsorvidos pela argila. As desvantagens de seu uso são a
adsorção da matéria corante e a remoção de vitaminas e aminoácidos. A
bentonita não altera a composição do vinho, mas o ataca com maior ou
menor intensidade.

• Carvão ativo: carvão animal ou vegetal finamente pulverizado e cuida-


dosamente purificado. Tem uma grande força de adsorção de corantes
e pigmentos, assim como de substâncias aromáticas e gustativas. Serve
muito bem para tratar e melhorar vinhos defeituosos, porque fixa em
sua superfície substâncias responsáveis pela cor, odor e sabor dos vinhos.

• Sulfato de cobre: reage no vinho com o ácido sulfídrico e com os mer-


captanos. Estes últimos são compostos de hidrogênio sulfuroso com
componentes orgânicos do vinho, que originam com o passar do tempo
o odor sulfídrico. O sulfato de cobre pode ser usado com sucesso na eli-
minação do odor pertinente ao gás sulfídrico, através da combinação do
cobre com o hidrogênio sulfuroso, precipitando na forma de sulfuroso
de cobre.

• Enzimas pectolíticas: são substâncias que desdobram as pectinas (hi-


dratos de carbono altamente polimerizados, semelhantes aos açúcares).
Aumenta a capacidade de filtração do mosto.

Um dos métodos optativos para eliminação da turbidez em vinhos é a cen-


trifugação, destinada, principalmente, à eliminação de partículas com alto
peso molecular. Também é uma técnica muito apropriada como método de
pré-clareamento do mosto recém-prensado e para a separação de elemento
filtrante, como a bentonita. Os equipamentos são caros, porém, de rendi-
mento elevado e possuem baixo custo de funcionamento, sendo encontra-
dos nas melhores adegas.

As centrífugas podem ser de câmara ou de disco e diferem entre si pelo


espaço destinado para as partículas sólidas (sedimento) do qual depende
o rendimento da máquina. Além disso, existem sistemas de centrifugação
herméticos, nos quais o vinho não entra em contato com o ar, logo não

e-Tec Brasil 96 Tecnologia de Bebidas


tem problemas de oxidação e o buquê é preservado ao final do processo de
clarificação.

No caso da ultracentrifugação, temos a possibilidade de separar leveduras e


bactérias ácido-lácticas. Como esses microrganismos possuem ação de clari-
ficação comparada a de um filtro de diatomácea, nas grandes adegas, subs-
tituem esses agentes nos filtros com maior rendimento.

A pasteurização também é outro método optativo que elimina bactérias


e leveduras, o que evita uma segunda fermentação, pois também garante
estabilidade microbiológica ao vinho. O mosto é aquecido brevemente a
87ºC por 2 minutos em trocadores de placa sem contato com o ar e resfriado
imediatamente a 15ºC. Com esse procedimento são inativadas enzimas oxi-
dativas presentes no mosto, eliminam-se microrganismos nocivos (bactérias
e leveduras) e garante-se a estabilização das proteínas (precipitação). Esse
procedimento diminui a necessidade de dióxido de enxofre nos vinhos, po-
rém, interfere negativamente sobre a autoclarificação da bebida. Os vinhos
que passam por esse tratamento envelhecem mais lentamente e não exibem
nenhuma influência no sabor, desde que o aquecimento seja rápido e na
ausência de ar.

Além dos métodos citados anteriormente, temos a troca iônica, processo


responsável pela eliminação de sais, através da passagem do vinho por um
leito de resinas catiônicas e aniônicas, garantindo maior estabilização aos
processos fermentativos.

As técnicas que visam garantir a estabilidade dividem-se em: tártarica, metá-


lica, proteica e polifenólica. Vejamos cada um desses métodos.

A estabilização tártarica consiste no procedimento de resfriar, a tempe-


raturas negativas, os vinhos. Estes sofrem um processo físico de formação
de sais de potássio ou cálcio, a partir da reação desses cátions com o ácido
tartárico. Embora não causem problemas à saúde, prejudicam o aspecto vi-
sual do vinho, ao se formarem na garrafa. A estabilização com o frio artificial
evita a formação dos sais, por isso o vinho deve ficar por 3 ou 4 semanas a
temperaturas entre -2ºC e -6ºC. A estabilização tartárica resulta na redu-
ção da acidez fixa do vinho.

A estabilidade metálica deve ser realizada para evitar a ocorrência de alte-


rações químicas que podem ser de duas formas:

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 97 e-Tec Brasil


• Férrica: promove a turvação do vinho devido ao alto teor de ferro pre-
sente que normalmente provém da uva e não deve ser superior a 2-3
mg/L. Entretanto, os materiais e equipamentos que entram em contato
com a bebida são de ferro e contribuem para o enriquecimento desse
metal no vinho. Quando o teor ultrapassa 10 mg/L, o vinho está sujeito
à turvação e alterações de coloração. O ferro pode estar na forma fer-
rosa, que não causa maiores danos, pois seus sais são solúveis no vinho
e, férrica, forma de sais insolúveis e coloridos, promovendo turvação nos
vinhos brancos, fosfato de férrico e coloração azulada nos tintos, devido
a combinações com polifenóis.

• Cúprica: é o tipo de turvação ocasionada pelo excesso de cobre, que


provém dos tratamentos cúpricos que a uva recebe. Esses sais entram
no processo de vinificação, são precipitados quase que totalmente du-
rante a fermentação alcoólica e eliminados na primeira trasfega. O vinho
recém-fermentado irá conter baixas concentrações, 0,1 a 0,2 mg/L, que
não promovem alterações no mesmo. Porém, caso ocorra contaminação
durante a estabilização e o teor ultrapasse 0,7 mg/L, poderá ocorrer a al-
teração cúprica; se chegar a 1,5-2,0, a turvação e o depósito serão abun-
dantes. Vinhos brancos com excesso de cobre na forma de sais cuprosos
e na presença de gás sulfuroso apresentam precipitados na garrafa após
certo tempo.

As estabilidades proteica e oxidativa são necessárias para prevenir as al-


terações enzimáticas decorrentes da ação oxidásica. Esses tipos de alteração
ocorrem normalmente em vinhos provenientes de uvas em condições sani-
tárias inadequadas ou com podridão parada ou cinzenta. Os vinhos apre-
sentam tendência a turvar ou escurecer em contato com o ar, devido ao
alto teor de enzimas polifenoxidase do vinho que provocam insolubilização
de taninos e matérias corantes. O vinho adquire coloração tinto-âmbar ou
amarelo-âmbar e o gosto de cozido e um pouco amargo – vinho “amadei-
rado”. O gás sulfuroso (dióxido de enxofre) pode evitar esse tipo de reação
por inativação enzimática.

A colagem é uma prática usada com o objetivo de proporcionar estabilida-


de polifenólica aos vinhos. Consiste na adição de substâncias orgânicas,
proteicas, com alto poder coagulante (albumina, caseína etc.) ou de bento-
nita (substância inorgânica de maior uso em escala industrial), conhecidas na
enologia como colas. Essas substâncias reagem com os polifenóis formando

e-Tec Brasil 98 Tecnologia de Bebidas


compostos pesados que ao sedimentarem, arrastam partículas reduzindo a
turbidez, amargor e adstringência do vinho. Deve ser realizada no início da
estabilização e é influenciada por alguns fatores, tal como o teor de taninos
no vinho. Caso exista desequilíbrio na proporção entre taninos e cola, temos
a sobrecolagem, prática em que o vinho volta a turvar após algum tempo. A
temperaturas baixas, que favorecem a colagem, o vinho não deve apresentar
sinais de fermentação, caso contrário não será possível sedimentar os flocos.

A estabilização em barris de carvalho (Figura 5.10) coincide com o ama-


durecimento do vinho, por isso é uma prática recomendada para vinhos
tintos e brancos com estrutura química complexa, de forma que a oxidação
controlada possa beneficiá-los. Os vinhos a serem estabilizados em barris de
madeiras devem apresentar teor alcoólico entre 12º e 13ºGL, acidez volátil
baixa, alto teor de extrato seco e ausência de defeitos ou alterações que
possam ser salientadas no processo. Durante o amadurecimento em carva-
lho ocorre o processo de microxigenação e diversas reações bioquímicas que
garantem maior suavidade aos vinhos tintos, tais como as de polimerização
dos taninos com outros polifenóis ou mesmo com ácidos orgânicos. Nessa
etapa, também se processam reações de polimerização das antocianinas,
garantindo a estabilidade da cor.

Figura 5.10: Amadurecimento dos vinhos em barris de carvalho


Fonte: do autor.

Antes do engarrafamento, o vinho elaborado pode passar pelo corte, uma


etapa opcional na qual são realizadas combinações entre vinhos provenien-
tes de processos diferenciados ou uvas e safras diferentes. Sendo assim, o
corte pode variar desde a mistura de 2 barris que contenham o suco ou
vinho de prensa até a combinação de vinhos de diferentes regiões. Como

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 99 e-Tec Brasil


resultado, o vinho deve ser melhor que cada uma das partes que o consti-
tuem. O corte é uma tarefa extremamente delicada que requer experiência,
um paladar aguçado e a capacidade de prever como os diferentes sabores
combinarão.

O vinho, varietal (sem corte) ou de corte, é colocado em tanques que abas-


tecem as máquinas de engarrafamento. Como esses equipamentos são ca-
ros, muitos produtores pequenos contratam engarrafadores para preservar
o caráter inerente ao vinho pelo engarrafamento cuidadoso, protegido do
oxigênio pelo nitrogênio ou gás carbônico. O vinho, jovem ou envelhecido,
é colocado em garrafas e segue para a comercialização. Engarrafar é a tarefa
mais simples e que exige maior técnica, envolve uma etapa importante para
a longevidade do vinho, a escolha da rolha.

As garrafas de vidro com capacidade de 750 mL e 375 mL são as mais utili-


zadas. No engarrafamento, que pode ser manual ou automatizado, usam-se
máquinas engarrafadoras com controle de nível, de fechamento e de rotula-
gem. As engarrafadoras ao proceder o enchimento injetam N2, substituindo
o ar da garrafa. Esse procedimento evita a ocorrência de oxidação na garrafa
e prepara o produto para a fase de envelhecimento. O espaço livre nas gar-
rafas dos vinhos tranquilos (necessário no caso de alguma dilatação) varia de
13 a 15 mm e para vinhos espumantes em torno de 30 mm.

As rolhas de cortiça natural, consideradas as melhores para conservação de


vinhos, estão sendo substituídas pelas tampas metálicas (screw caps). As ro-
lhas, antes de serem usadas, devem ser conservadas em embalagens fecha-
das com dióxido de enxofre. Para os vinhos tranquilos existem diversos tipos
de rolha, todas com o diâmetro maior do que o diâmetro da boca da garrafa
e devem ser colocadas sob pressão. Para os espumantes e champagne, te-
mos uma rolha de um só tipo, específica para o tipo de garrafa utilizada e
para a pressão que deve suportar.

Os equipamentos para colocação das rolhas podem ser manuais, semiauto-


máticos ou automáticos. E a cápsula de plástico é colocada para proteger a
rolha da desidratação e do crescimento de fungos. O rótulo deve ser detalha-
do, pois o comprador necessita de informações sobre o vinho, procedência,
quem elaborou, em que ano e com que cepa, para depois julgar a qualidade
e o seu valor. Os rótulos também seguem a legislação que regulamenta o
mundo dos vinhos: controle de qualidade e autenticidade. As informações,
à primeira vista complexas, são cada vez mais fáceis de entender. Quase

e-Tec Brasil 100 Tecnologia de Bebidas


todos os países vinícolas estabeleceram o que deve ou não ser mencionado,
através de acordos internacionais unificaram essas leis, de forma que o vinho
possa ser comercializado no mundo inteiro com um rótulo de acordo com a
legislação do país importador. As informações são: origem, qualidade, capa-
cidade, teor alcoólico e safra.

Para uma melhor fixação dos processos de vinificação, elabore fluxogramas


detalhados da vinificação em tinto e em branco.

Na elaboração do vinho rosado, os métodos clássicos são:

• Maceração precoce: vinificação em tinto de uvas tintas, porém, com


período de maceração variando de horas a 2-3 dias.

• Método de prensagem: vinificação em branco de uvas tintas com es-


magamento e prensagem em temperatura mais elevada, possibilitando
maior extração dos compostos de cor (polifenóis).

• Método de mistura: mistura de vinhos branco e tinto, permitido legal-


mente apenas em champagne para elaboração do espumante rosado.

5.3 Elaboração de vinhos espumantes


O espumante pode ser elaborado com duas fermentações (métodos cham-
penoise e Charmat) ou por fermentação única (método Asti). Em todos os
casos, o objetivo é aprisionar o gás carbônico formado durante a fermen-
tação. Existe o método de carbonatação com injeção de gás carbônico no
vinho base pronto, mas trata-se de processo empregado em vinhos de qua-
lidade inferior.

O método champenoise ou tradicional consiste na elaboração de um vinho


base tranquilo ao qual são adicionadas leveduras e o licor de tiragem (vinho
base, leveduras e nutrientes) e engarrafado para que a segunda fermen-
tação se processe na garrafa e o gás carbônico seja aprisionado. Após a
autólise das leveduras, ocorre o processo de remuage, no qual as garrafas
ficam em pupitres (Figura 5.11) e são submetidas, manualmente, à rotação
periódica e inclinações progressivas até que fiquem com o gargalo para bai-
xo. A remuage pode ser automatizada quando realizada em “gyropalletes”.

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 101 e-Tec Brasil


Figura 5.11: Pupitres com garrafas de espumante em remuage
Fonte: <www.temmais.com/blog/perbacco/?param=1209>. Acesso em: 13 jan. 2011.

Durante a remuage acontece o envelhecimento sur lie, ocorrendo transfe-


rência aromática que favorece a complexação do espumante. As leveduras
e demais sedimentos acumulam-se junto à tampa para que ocorra o dégor-
gement, através do qual o gargalo da garrafa é congelado com abertura da
tampa e, pela pressão interna, a parte sólida. Segue o engarrafamento com
adição do licor de expedição (vinho base e açúcar), exceto para o Extra-Brut,
e o fechamento da garrafa com a rolha apropriada e a “gaiola” de arame.

O método Charmat também é realizado por meio de duas fermentações,


entretanto, a segunda fermentação é realizada em tanques de pressão com
aprisionamento do gás formado. O espumante obtido possui aromas e sa-
bores mais frutados. No método Asti, o gás carbônico é aprisionado durante
a fermentação única que ocorre em tanques de pressão. Ambos são mais rá-
pidos, realizados com menor custo e produzem um espumante mais frutado
para consumo imediato.

Pesquise na legislação vigente os tipos de vinhos e como devem ser identifi-


cados no rótulo.

5.3.1 Componentes do vinho e influências nas


características sensoriais
a) Componentes SEM AROMA e SEM SABOR

• Água de origem vegetal


• Matérias nitrogenadas e vitaminas
• CO2: concentração superior a 0,5 atm produz sensações tácteis

e-Tec Brasil 102 Tecnologia de Bebidas


b) Componentes de GOSTO ADOCICADO

• Açúcares residuais (frutose, glicose, arabinose e xilose)


• Álcool etílico: corpo, aquecimento e aroma próprio
• Alcoóis secundários: glicerol, butileno glicol, inositol, manitol

c) Componentes de GOSTO SALGADO

• Sais orgânicos e minerais: potencializa frescor


• Ácido succínico

d) Componentes de GOSTO ÁCIDO

• Ácidos da uva e da vinificação (ácidos tartárico, málico, láctico, cítrico,


succínico)
• Ácidos minerais e orgânicos (acidez total)
• Frescor e vivacidade aos vinhos (sensação de verde)

e) Componentes AMARGOS E ADSTRINGENTES

• Sabor, estrutura, corpo, longevidade


• Polifenóis (antocianinas e flavonóis)
• Taninos: adstringência e aspereza
• Ácidos málico e succínico à adstringência e amargor

f) Componentes VOLÁTEIS – veja quais são esses componentes no Quadro 5.1.

Quadro 5.1: Componentes voláteis presentes no vinho e características


aromáticas que conferem à bebida
Componentes Características

Acetato de etila Solvente químico, adocicado

Acetoína Aroma de manteiga com ligeiro ranço e amêndoas

Acetona Aroma característico, ligeiramente frutado

Ácido feniletílico Aroma de mel e rosas

Ácido acético Odor forte e agressivo; defeito > 0,6 g/L

Ácidos butírico e isobutírico Odores de queijo; defeito > 2 mg/L

Ácidos caprílico, caproico e cáprico Odores de sabão, cera, parafina

Álcool isoamílico Odor ligeiramente frutado

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 103 e-Tec Brasil


Aldeído benzoico Odor de amêndoas amargas

Aldeído fenilpropiônico Odor de lilás

Cinamato de etilo Aroma frutado (figo maduro)

Componentes Características

Diacetilo Aroma de manteiga, baixa concentração de avelã

Etanal Aroma oxidado

Etanol Odor e características ardentes (calor)

Feniletanol Odor característico de rosas

Hexanal Caráter vegetal e herbáceo (ervas secas)

Hexanol Odor tipicamente vegetal ou herbáceo

Metanol Odor empireumático

Fonte: modificado de Benardo (2006).

Resumo

Nesta aula, vimos que o vinho é uma bebida obtida apenas por fermen-
tação de uvas ou suco de uvas. Vimos que os vinhos finos são elaborados
com uvas Vitis viniferas e seguem as etapas genéricas: vindima, desenga-
ço, prensagem, fermentação, clarificação, estabilização, armazenamento e
engarrafamento. Porém, existem etapas que possibilitam a elaboração de
vinhos brancos e tintos, como a maceração pré-fermentativa e a fermenta-
ção maloláctica, respectivamente. Vimos também que os vinhos rosados e
espumantes são elaborados de forma específica para que sejam diferencia-
dos. Para os rosados, coloração de vinho tinto e características gustativas e
olfativas de vinhos brancos, e para espumantes, gás carbônico aprisionado
conferindo refrescância.

Atividades de aprendizagem

1. É possível elaborar vinho branco a partir de uvas tintas? Como?

2. O vinho rosé ou rosado apresenta características de vinhos tintos e bran-


cos. Descreva suas características e as 4 formas de obtenção desse vinho.

e-Tec Brasil 104 Tecnologia de Bebidas


3. Para obtenção de espumantes é realizada a incorporação de gás carbôni-
co ao vinho base. Comente sobre os métodos de espumatização cham-
penoise, Asti e Charmat.

4. Quais as principais diferenças observadas entre a vinificação em branco


e em tinto?

Aula 5 – Bebidas fermentadas II – vinho 105 e-Tec Brasil


Aula 6 – Bebidas destiladas

Objetivos

Descrever o processo de obtenção das bebidas fermento-destiladas.

Distinguir os vários tipos de bebidas destiladas e as respectivas ma-


térias-primas.

Descrever os processos para elaboração das bebidas destiladas.

Reconhecer a cachaça como produto típico brasileiro.

6.1 Considerações iniciais


Como vimos anteriormente na Aula 2 (Bebidas não alcoólicas x bebidas al-
coólicas), as bebidas fermento-destiladas (ou bebidas destiladas) são obtidas
por meio da concentração, por destilação, do etanol obtido durante a fer-
mentação alcoólica. A bebida originada de uma fermentação seguida por
destilação tem várias denominações: spirits (em inglês), spiritueux ou eaux-
de-vie (em francês) e acquaviti (em italiano).

A concentração do álcool obtido por fermentação é realizada em colunas de


destilação ou alambiques. Nesta operação, são destiladas substâncias que
acompanham o álcool – as impurezas voláteis. Estas impurezas contribuem
para conferir características aromáticas e gustativas diferenciadas aos desti-
lados que podem ser intensificadas durante o envelhecimento.

As bebidas fermento-destiladas possuem graduação alcoólica que varia de


38º a 54º GL.
ºGL: grau Gay-Lussac que
refere o percentual de
Mundialmente, as bebidas destiladas apresentam uma ampla diversidade em álcool volume-volume.

função das matérias-primas utilizadas para a produção do etanol na etapa de


fermentação ou em função de etapas específicas em determinados proces-
sos. No Brasil, conforme a legislação vigente, a diversidade de matéria-prima
está relacionada com a presença de açúcares ou substâncias amiláceas, de

Aula 6 – Bebidas destiladas 107 e-Tec Brasil


origem animal (mel de abelha) ou vegetal, susceptíveis a sofrer transforma-
ção por ação de leveduras, produzindo principalmente etanol. Desta forma,
estas matérias-primas podem ser classificadas conforme sua origem:

• de frutas: destilação de fermentados de uva (conhaque e brandy), maçã


(pisco) e de quaisquer outras frutas;

• de amiláceos: destilação de fermentados de grãos (uísque), tubérculos e


raízes amiláceas;

• de agave: destilação da seiva fermentada de agave (tequila);

• de melaço de cana-de açúcar: destilação de fermentado de melaço de


cana-de-açúcar (rum);

• de cana-de-açúcar: destilação de fermentado do caldo de cana-de-açúcar


(cachaça).

Essa classificação pode sofrer alterações em função da origem do produto


ou de sua importância regional.

Segundo a legislação vigente, o destilado alcoólico pode ser:

• simples: não deve conter aditivos em desacordo com a legislação vigente


e recebe a denominação conforme a matéria-prima da qual é originado.
Além disso, pode obter maior complexidade aromática e gustativa em
função do envelhecimento em barris de carvalho ou de outras madeiras;

• retificado: destilados que passam por processos de purificação para re-


moção de impurezas, elevando o teor alcoólico.

Assim, iniciaremos o conhecimento de diversas bebidas fermento-destiladas


e seus diferenciais em termos de matéria-prima e técnicas de produção.

Pesquise no mercado o teor alcoólico das diferentes bebidas destiladas e


identifique-as como simples ou retificadas.

e-Tec Brasil 108 Tecnologia de Bebidas


6.2 Bebidas fermento-destiladas simples
Nesta classificação, temos bebidas com maior complexidade aromática em
função da presença de outras substâncias voláteis que saem da coluna de
destilação junto com o etanol.

6.2.1 Rum
Considerado a bebida fermento-destilada mais antiga, o rum é produzido
mundialmente (Alemanha, França, Reino Unido, Austrália, Tailândia, Filipinas
e Estados Unidos). Entretanto, historicamente os países caribenhos são os
principais produtores.

A matéria-prima utilizada na etapa de fermentação é o caldo de cana e/ou


melaço. Em função do gênero e espécie das leveduras, apresenta diferencia-
ções aromáticas. Após a destilação, a bebida deverá ter graduação alcoólica
entre 36 a 54%. O rum é uma bebida de importante valor econômico e sua
produção segue etapas bem estabelecidas.

A fermentação do caldo de cana-de-açúcar ou do melaço requer uma prévia


O rum da Martinica é conhecido
diluição com água e/ou vinhaça (resíduo líquido da destilação) seguida pela como grand aromê (grande
aroma), devido ao mosto
adição de ácido sulfúrico e sulfatos de amônia. A elaboração de rum com de elevada qualidade e o
caldo de cana-de-açúcar necessita também de etapas pré-fermentativas de envelhecimento em carvalho.
Este rum é conhecido como
clarificação e concentração do caldo a 80º - 85º Brix. O fermentado obtido um licor de elevada qualidade
é destilado em equipamentos descontínuos ou contínuos até obtenção de que pode ser utilizado para
a produção de runs quando
um líquido alcoólico com 55º a 60º GL. As destilarias podem produzir rum misturado com álcool neutro.
branco ou envelhecido.

Conforme a classificação (Quadro 6.1), o rum poderá envelhecer parcial ou


totalmente em barris de carvalho ou madeira similar, podendo ou não nesta
etapa ocorrer a adição de açúcar ou caramelo.

Quadro 6.1: Classificação do rum e suas características.

Grupo Processo Características

Rum branco Não passa em madeira Cor clara e pouco aromático

Cor dourada, corpo médio e complexi-


Rum ambreado Envelhecimento breve em madeira
dade aromática intermediária

Seleção do melhor destilado e enve-


Rum envelhecido lhecimento totalmente por, no míni- Licoroso e encorpado, com aromas
mo, 2 anos em madeira

Fonte: Modificada de Beck et al (2006).

Aula 6 – Bebidas destiladas 109 e-Tec Brasil


Além disso, o rum poderá ser classificado em função do coeficiente congê-
nere, ou seja, um coeficiente de comparação entre as quantidades de álcool
Nas publicações de língua
inglesa, todas as bebidas e não álcool. Desta forma, o rum pode ser considerado: leve (ligth rum),
destiladas que utilizam mosto
para fermentação proveniente
quando o coeficiente de congêneres da bebida for inferior a 200mg/100mL
de derivados de cana-de-açúcar em álcool anidro; e pesado (heavy rum), quando esse coeficiente variar entre
são designadas como rum.
200 e 500mg/100mL em álcool anidro.

6.2.2 Tequila
Bebida destilada, típica do México, obtida pela fermentação de agave, segui-
da de destilação que eleva o teor alcoólico a percentuais entre 36% e 54%
em volume.

O Agave sisalana (Figura 6.1) é uma planta originária do México, da qual são
colhidas as pencas sem folhas. O material colhido é amargo e picante, mas
após ser submetido À hidrolise, por aquecimento com vapor direto por 20
horas, e prensado, obtém-se um líquido doce com mais de 20% de açúcar.
Este líquido é fermentado em dornas por 3 a 5 dias e destilado para obten-
ção de uma bebida com graduação alcoólica entre 45º e 50ºGL que pode ser
engarrafada com ou sem envelhecimento.

Figura 6.1: Agave mexicano


Fonte: <http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://static.panoramio.com/photos/original/1803629.
jpg&imgrefurl=>. Acesso em: 8 jun. 2011.

e-Tec Brasil 110 Tecnologia de Bebidas


6.2.3 Tiquira
Destilado simples e artesanal de mandioca (Figura 6.2), com graduação alco-
ólica para 36 a 54% em volume, produzida em alguns estados do nordeste
do Brasil, principalmente no Maranhão. Este destilado era uma bebida ge-
nuinamente produzida pelos índios na forma fermentada, passando a ser
destilada após a colonização portuguesa.

Figura 6.2: Plantação de mandioca


Fonte:http://3.bp.blogspot.com/_wUxnikir1GI/TQEWtqHynhI/AAAAAAAAAC4/CsSvClGdD1Y/s1600/26-04-2008_11_47_21_.jpg

Para sua elaboração, as raízes são lavadas e separadas da película; em segui-


da, raladas e prensadas até obtenção de uma massa com 50% de umidade
e baixa concentração de substâncias cianídricas de elevada toxicidade. Esta
massa é distribuída uniformemente em chapas aquecidas, nas quais o amido
gomificado forma um bloco coeso e seco chamado de beiju.

Os beijus são armazenados em condições propícias (umidade e temperatura)


para o desenvolvimento de fungos (Neurospora sitophila, Aspergillus oryzae e
Aspergillus niger) na sua superfície. Com alguns dias de desenvolvimento, os mi-
célios penetram na massa e causam sacarificação da massa por atividade enzi-
mática. Neste momento, os beijus são levados à fermentação em tachos de ma-
deira que, após adição de água e agitação por algumas horas, são deixados em
repouso por 2 a 3 dias. A destilação do mosto fermentado após filtração ocorre
em alambiques de fogo direto que confere características empireumáticas ou
dispositivos indiretos. O engarrafamento é realizado sem envelhecimento.

6.2.4 Grappa ou Bagaceira


Bebida obtida pela destilação do bagaço de uva fermentado ou do bagaço
ou borra da produção de vinho até graduação alcoólica entre 48 e 54% de
álcool em volume. A grappa não sofre envelhecimento, conservando o aroma
refrescante e frutado que lembra o tipo de uva utilizada. A designação grappa
é de origem italiana e a marc de origem francesa.

Aula 6 – Bebidas destiladas 111 e-Tec Brasil


6.2.5 Brandy
Destilado envelhecido de vinho, no qual a etapa de destilação é realizada de
forma que a bebida tenha o aroma e o sabor dos elementos naturais voláteis
contidos no mosto fermentado ou provenientes da destilação. O envelheci-
mento ocorre em barricas de carvalho (Figura 6.3) ou madeira similar para
um maior refinamento aromático e gustativo e maior intensidade de cor.

Figura 6.3: Barris de carvalho para envelhecimento


Fonte: <www.turismo.rs.gov.br/multimidia/max1226599451Miolo>. Acesso em: 24 jun. 2011.

A legislação vigente estabelece os seguintes limites de impurezas, por 100


mL de álcool anidrido: 0,1 g de acidez volátil expressa em ácido acético; 0,2
g de ésteres expressos em acetato de etila; 0,02 g de aldeídos em etanal;
0,005 g de furfural, 0,3 g de álcoois superiores e 0,5 mL de metanol.

Na elaboração do brandy, as uvas são colhidas, prensadas e fermentadas e


o líquido obtido destilado em alambiques na presença de cascas e sementes.
Desta forma, as características gustativas e aromáticas são mais evidentes.

e-Tec Brasil 112 Tecnologia de Bebidas


O líquido destilado pode ser dividido em três frações:

• cabeça – primeira fração, topo da coluna de destilação, constituída com


substâncias mais voláteis (aldeídos, éteres e ácidos) com ponto de ebuli-
ção inferior ao etanol, que evapora quando a temperatura da destilação
atinge 76ºC. Este líquido de aroma desagradável representa 5% do vo-
lume final de destilado;

• coração – segunda fração, rica em álcool etílico e com menor concentra-


ção de impurezas. Produto mais fino que contém substâncias aromáticas
de qualidade (ácidos graxos, ésteres, aldeídos, furfural e álcoois superio-
res). Esta fração é separada quando atinge de 67º a 70ºGL;

• cauda – terceira e última fração, base da coluna, reúne todos os produtos


com ponto de ebulição superior ao etanol, tais como álcoois superiores
(isobutírico, propílico e amílico) e água. Esta fração contém entre 50º e
0ºGL e correspondendo a 10% do volume de destilado.

Em função do local de elaboração, a bebida adquire características específi-


cas e nomes diferenciados, vejamos:

a) Cognacs: brandy famoso e fino produzido nas proximidades da cidade de


Cognac (França), seguindo rígidas normas de produção, envelhecimento e co-
mercialização. Para a destilação e redestilação, só é permitido o uso de vinhos
elaborados nos limites geográficos de Charente e Charente Inférieure, com a
cidade de Cognac ao centro. A elevada qualidade da bebida encontra-se rela-
cionada ao processo de destilação e à combinação de solo, clima e sistema de
cultivo das uvas. O envelhecimento é conduzido em barris de carvalho de Li-
moges com capacidade de 500L. Durante esta etapa, o teor alcoólico diminui
cerca de 1% ao ano e a bebida sofre mudanças na coloração, sabor e aroma.
Os melhores lotes, escolhidos para longos períodos de envelhecimento, são le-
vados para barris usados que transferem menos aromas agressivos da madeira.
Conforme o envelhecimento e a seleção, os cognacs são classificados em:

• Very Superior (V.S.) – envelhecimento mínimo de 2 anos em barris;

• Very Superior Old Pale (V.S.O.P.) – mínimo de 4 anos de envelhecimento


em barris;

• Extra Old (E.O.) – envelhecimento mínimo de 6 anos em barris.

Aula 6 – Bebidas destiladas 113 e-Tec Brasil


Todo cognac é um brandy, mas nem todo brandy é um cognac.

a) Aramac: brandy produzido na região da Gasconha (França) com sistema


contínuo de destilação, redestilação e separação das frações de destila-
do (cabeça, coração e cauda). O envelhecimento é conduzido em barris
de carvalho de Gasconha para adquirir complexidade aromática e sabor,
sendo mais seca que o cognac.

b) Pisco: tipo de brandy produzido no Peru, consumido sem envelhecer e


com elevada graduação alcoólica.

c) Metaxa: tipo de brandy doce, escuro e com odor resinoso, produzido na


Grécia. Quando aromatizado com anis, é conhecido como ouzo.

6.2.6 Aguardente de fruta


Tecnicamente, é uma bebida alcoólica obtida pela destilação de fermentados
de frutas, com teor alcoólico que varia de 36 a 54% em volume. A legisla-
ção atual fixa as impurezas entre 200 e 650mg.100mL-1 em álcool anidro. É
importante ressaltar que dentre estas impurezas temos o metanol associado
ao teor de pectina das frutas.

A aguardente de frutas não sofre envelhecimento em madeira e por isto


conserva melhor as características aromáticas e gustativas das frutas que a
originou. Também em função da fruta, é conhecida por nomes diferentes e
pode passar por processos diferenciados de elaboração comuns na região de
origem, por exemplo:

• Mirabella: obtida com o mosto fermentado de ameixa.

• Kirsch: obtida com o mosto fermentado de cerejas. Produzido principal-


mente na França, Suíça, Alemanha e Inglaterra.

• Calvados: obtida com o mosto fermentado de sidra ou suco de maçã


destilado em alambiques, chegando a uma graduação alcoólica entre
70º e 80ºGL e apresenta forte odor de maçã. Diferentemente das demais
aguardentes de fruta, passa por envelhecimento em barris de carvalho
por, no mínimo, 2 anos. Após diluição com água, é comercializada com
graduação alcoólica de 50ºGL, sendo uma bebida típica da Normandia
(França). O applejack é obtido pela destilação do mosto fermentado de
polpa de maçãs e envelhecido por 2 a 5 anos em barris de carvalho, sen-
do originário dos Estados Unidos da América.

e-Tec Brasil 114 Tecnologia de Bebidas


6.2.7 Uísque
O uísque é um destilado de mosto fermentado de cereais, maltados ou não,
e envelhecido em barris de carvalho, apresentado um teor alcoólico final de
38 a 54% em volume. Este destilado pode ser adicionado de álcool potável
de origem agrícola, água para redução alcoólica e caramelo para intensificar
a cor.

A seguir, observe a classificação do uísque em função do malte.

• Puro malte (malt whisky e straight malt whisky) – denominação privativa


ao produto envelhecido e elaborado apenas com cevada maltada.

• Cortado tipo escocês (blended scotch type whisky) – obtido pela mistura
mínima de 30% de uísque de malte, cevada maltada (total ou parcial-
mente) com destilado alcoólico simples de cereais envelhecido ou álcool
etílico potável.

• Cortado tipo Bourbon (straight Bourbon whisky) - bebida obtida com no


mínimo 50% de destilado alcoólico simples envelhecido de milho com
álcool etílico potável.

O uísque é produzido basicamente realizando-se as etapas descritas a seguir:

Com o aumento contínuo no


• maltagem – operação de germinação da cevada ou outro cereal até 3/4 consumo mundial de uísque,
esta bebida passou a ser
do comprimento do grão, em condições especiais de luz, umidade, calor elaborada a partir da mistura
e aeração. Esta etapa proporciona a liberação de enzimas capazes de de malte de cevada e mosto
de cereais não maltados (por
transformar o amido em açúcares redutores; exemplo, o milho). Isto ocorreu
devido ao fato do malte de
cevada ser rico em enzimas com
• produção de mosto (mosturação) – moagem do malte após secagem em capacidade de sacarificar um
volume muito maior de amido
estufa dos grãos maltados e remoção das raízes formadas na maltagem. do que o encontrado nos grãos
Em seguida, são realizados a maceração e o cozimento, com objetivo de de cevada maltada.
liquefazer e sacarificar o amido por ação enzimática do malte;

• fermentação – o mosto é resfriado e fermentado por ação de leveduras


selecionadas, produzindo a “cerveja”;

• destilação – realizada em duas etapas para remoção apenas dos produtos


de “coração” (definição vista anteriormente), obtendo-se um produto
com 70º a 75ºGL;

Aula 6 – Bebidas destiladas 115 e-Tec Brasil


• envelhecimento – o destilado produzido passa por barris de carvalho
branco americano, novos e usados, com capacidade entre 100 e 500 L.

Dependendo da região de produção, o uísque possui características diferen-


ciadas, como você poderá ver a seguir.

• Irlanda do Norte – uísque apenas de cevada.

• Escócia – país de produção de uísque com elevada qualidade em função


da água e pela obtenção de grãos secos não defumados durante a mal-
tagem, utilizando cevada e outros cereais.

• Estados Unidos – elaboração de uísque com grãos de centeio, milho e


cevada. É diferenciado pela graduação alcoólica, tipo de cereal e pelo
A qualidade do uísque não
depende essencialmente do tempo e tipo de refinamento. Por exemplo:
tempo de envelhecimento, mas
da procedência dos produtos
utilizados na mistura. Dessa + Bourbon whisky – produzido com, pelo menos, 51% de milho
forma, a qualidade está muito
mais associada ao degustador para fermentação e envelhecido por, no mínimo, 2 anos em barris
que realiza a mistura anterior novos;
ao envelhecimento.

+ Tennessee whisky – mesmo método do Bourbon, porém, filtra-


do com carvão vegetal;

+ Rye whisky – produzido com, no mínimo, 51% de centeio para


fermentação e utilizado em misturas com a finalidade de fornecer
corpo e estrutura;

+ Corn whisky – bebida de caráter comercial que deve conter no


mínimo 80% de milho para fermentação;

+ Canadian whisky – envelhecido em barris usados por, pelo me-


nos, 3 anos.

Pela legislação brasileira, o uísque ou whisky é uma bebida fermento-destila-


da com 38 a 54% de álcool em volume, sem especificação se é puro malte,
blend ou qualquer outra classificação, elaborado com destilados importados
adicionados de água para diminuir o teor alcoólico. Os uísques ditos “nacio-
nais” geralmente são uma mistura de uísque de malte importado com des-
tilado alcoólico simples de cereais ou cana-de-açúcar de elevada qualidade.

e-Tec Brasil 116 Tecnologia de Bebidas


Pesquise como é realizada a falsificação de uísque no Brasil.

6.2.8 Cachaça (aguardente de cana-de-açúcar)


A cachaça ou aguardente de cana-de-açúcar é a bebida mais popular do
Brasil, com volume de produção de aproximadamente 1 bilhão de litros ao
ano. Como existem muitas destilarias artesanais espalhadas pelo país, fica
difícil precisar estatisticamente o volume produzido.

Além da importância econômica, o consumo da cachaça no Brasil tem raízes


históricas. No início de sua produção, período anterior à II Guerra Mundial, a
aguardente de cana-de-açúcar era elaborada em pequenos engenhos rurais
providos de alambique para destilação. A agricultura familiar da cana-de-
açúcar era a força motriz para elaboração do destilado que depois de produ-
zido era engarrafado e comercializado pela própria família.

Estas cachaças apresentavam variadas características aromáticas e gustati-


vas e não ofereciam padrão de produção, de qualidade e regionalidade.
O envelhecimento não ocorria como forma de melhorar as características
organolépticas da bebida, mas como consequência do armazenamento por
períodos longos devido ao baixo volume de comercialização.

Após a Segunda Guerra, com o aumento populacional e consequentemente


de consumo, houve um aumento nas áreas de plantação de cana-de-açúcar
e do estabelecimento de destilarias com maior capacidade de produção, in-
clusive com a utilização de colunas de destilação com fluxo contínuo. Como
consequência da produção e consumo, muitos investimentos em tecnologia
e pesquisas foram e vêm sendo incentivadas da plantação da cana (matéria-
prima) até o produto final no copo do consumidor.

Diante desses fatos, a elaboração da aguardente de cana-de-açúcar será


detalhada a seguir.

6.2.8.1 Recepção da cana-de-açúcar


No campo, existem diversas formas de trabalhar a matéria-prima com o in-
tuito de aumentar rendimento e qualidade. Neste sentido, avanços tecnoló-
gicos têm permitido que a produção nos canaviais aumente de 50 t/ano para
85 toneladas no mesmo período.

A quantidade de sacarose é um dos principais parâmetros para escolha da va-


riedade, por encontrar-se diretamente relacionada com o rendimento industrial.

Aula 6 – Bebidas destiladas 117 e-Tec Brasil


A cana-de-açúcar recém colhida, perfeitamente madura e sem apresentar
alterações fitossanitárias é inspecionada com relação as suas características
em amostragem realizada no caminhão ou nas esteiras de recepção. Em
seguida, é lavada para remoção de sujidades – folhas, pedras etc. – e para
reduzir a carga microbiana natural da superfície. A cana-de-açúcar passa por
um sistema de facas rotatórias ou por desfibriladores que a preparam para a
moagem, destruindo a estrutura dos colmos.

6.2.8.2 Extração do caldo de cana-de-açúcar


Na sequência, a cana-de-açúcar é submetida aos ternos de moendas. As
destilarias artesanais, em função do volume de cana, trabalham com um
terno apenas, já nas usinas com maior volume de produção, utilizam-se,
normalmente, três ternos. O importante é garantir um maior rendimento
na extração da sacarose presente no mosto. O processo de moagem deve
ocorrer em, no máximo, 36 horas após a colheita para evitar a proliferação
de microrganismos indesejáveis que diminuem o rendimento e a qualidade
da cachaça.

6.2.8.3 Preparação do mosto


Devido à presença de pequenas partículas de fibra da cana (bagacilho), o
mosto é submetido à filtração ou decantação. Em seguida, caso necessário,
o mosto deve ser submetido a correções para que apresente as seguintes
características: baixa concentração inicial de microrganismos e adequada
concentração de açúcares fermentescíveis.

Na tentativa de adequação microbiológica, o mosto irá ter menor conta-


minação inicial se as boas práticas de fabricação dentro da indústria forem
aplicadas, tais como: manter limpas as mesas, as esteiras, as unidades es-
magadoras de cana, os depósitos, as dornas, as bombas e as canalizações
postas em contato direto com o caldo de cana.

Além do controle microbiológico, as usinas utilizam as seguintes formas


de correção:

• diluição: de forma geral, a concentração de sólidos solúveis no mosto


deve ser de 12º a 18ºBrix. Concentrações superiores de açúcares pro-
porcionam teores elevados de álcool que dificultam ou impedem a ação
metabólica das leveduras. Concentrações inferiores a 12ºBrix demons-
tram falta de maturação da cana-de-açúcar e muitas vezes inviabilidade
de utilização nas usinas;

e-Tec Brasil 118 Tecnologia de Bebidas


• acidez: o pH entre 4,5 e 5,0 são ideais para a atividade das leveduras
durante a fermentação alcoólica. Valores de pH neutro ou alcalino são
favoráveis ao desenvolvimento de bactérias.O pH do caldo de cana é
normalmente mais alto do que o ideal 5,6, entretanto, ainda favorece
o desenvolvimento das leveduras sem necessidade de acidificação. Caso
a acidificação seja necessária, será realizada apenas nos “pés de cuba”,
que representam de 10 a 20% do volume total da dorna de fermentação;

• desinfetantes: apesar da aplicação das boas práticas de fabricação, as usinas


utilizam fluoreto de sódio, sulfato de cobre e hexaclorofeno como agentes
desinfetantes como forma de proteger o mosto da ação de microrganismos.

Após as correções, são adicionados ao pé de cuba os agentes de fermentação,


principalmente as leveduras – Sacharomyces cereviseae.

6.2.8.4 Fermentação alcoólica


Constitui a principal etapa do processo de produção da aguardente de cana-de-
açúcar, uma vez que é responsável pela transformação dos açúcares, por ação
de leveduras, em álcool etílico, gás carbônico e outros produtos que são respon-
sáveis pela qualidade do produto final, como já foi visto em aulas anteriores.

6.2.8.5 Destilação
O fermentado é constituído de etanol, água e de congêneres, como ácidos,
álcoois, ésteres, compostos carbonilados, fenóis, hidrocarbonetos, compos-
tos nitrogenados e sulfurados, açúcar e outros. Entretanto, a aguardente é
composta por uma mistura de álcool, água e impurezas voláteis (produtos
secundários da destilação).

Para que o mosto fermentado seja considerado uma aguardente, é neces-


sária uma etapa de purificação – a destilação – baseada na diferença do
grau de volatilização dos seus componentes. A destilação pode ocorrer em
colunas de fluxo contínuo, que permitem flexibilidade na composição e efi-
ciência, ou em alambiques.

Nesta etapa, boa parte da qualidade dessa bebida é estabelecida em fun-


ção da composição qualitativa em ésteres, ácidos, álcoois e aldeídos, mas é
principalmente a proporção adequada desses componentes na mistura que
condiciona o aroma e o sabor típico da bebida.

Aula 6 – Bebidas destiladas 119 e-Tec Brasil


6.2.8.6 Envelhecimento
Apesar da tecnologia e dos parâmetros de controle empregados durante
as etapas de fermentação e destilação, a bebida obtida apresenta caracte-
rísticas gustativas (ardente e seca) e aromáticas não muito agradáveis, em
consequência do elevado teor alcoólico. Para melhorar a aceitabilidade, a
cachaça é submetida ao envelhecimento, etapa importante na tecnologia de
produção de qualquer destilado, pois nela a bebida adquire atributos neces-
sários de aroma e sabor característicos de bebida de alta qualidade.

Diferentemente das bebidas destiladas estudadas até agora, o envelheci-


mento da cachaça é realizado em barris de grandes volumes e utiliza, além
do carvalho, cedro, freijó e bálsamo, dentre outros. O envelhecimento em
barris carvalho, de alta eficiência fornece atributos de qualidade à bebida
por proporcionar oxidação da aguardente, em função do contato com o
ar, perdas do álcool por evaporação, concentração das impurezas voláteis e
enriquecimento da bebida com extratos da madeira. Os barris devem ser es-
tocados em locais frescos, protegidos, limpos e com temperatura e umidade
controladas. O período mínimo para o envelhecimento deve ser de 8 a 12
meses, podendo chegar a mais de 10 anos em edições especiais da cachaça.

Os processos artificiais que simulam o envelhecimento, tal como o tratamen-


to com ozônio e outras substâncias (água, açúcar e caramelo), conferem à
aguardente características de produto envelhecido e homogêneo, porém,
com perdas na qualidade do produto final.

Figura 6.4: Barris para envelhecimento da cachaça


Fonte: Autoria própria.

e-Tec Brasil 120 Tecnologia de Bebidas


6.2.8.7 Engarrafamento
Manual ou automatizada, a etapa de engarrafamento depende da cacha-
çaria e da qualidade da bebida a ser engarrafada. A escolha da embalagem
– vidro, plástico, cerâmica, madeira e outros – também está relacionada com
a qualidade da cachaça. Entretanto, em função da concorrência, é sempre
considerada a melhor forma de apresentação, principalmente observando-se
a facilidade de manuseio, volume de ser consumido e preservação da quali-
dade do produto final.

O rendimento da cachaça é sempre expresso em litros produzidos por peso


de cana moída ou volume de mosto destilado. Entretanto, ambos necessi-
tam de correções, pois, como vimos, o teor de açúcar no caldo de cana é o
maior parâmetro de rendimento do processo.

Identifique as principais características de produção e da bebida quando


comparamos cachaças artesanais e industrializadas.

6.3 Bebidas fermento-destiladas retificadas


Agora conversaremos um pouco sobre as bebidas fermento-destiladas que
passam por novas destilações ou processos para diminuição das impurezas
nelas presentes.

6.3.1 Vodca
A vodca é uma bebida destilada, elaborada a partir de cereais (trigo, aveia
e cevada) ou tubérculos (batata e beterraba). Entretanto, os tubérculos têm
a desvantagem de gerar uma quantidade maior de resíduos a ser removida.
Segundo a legislação brasileira vigente, deve apresentar graduação alcoólica
A vodca originária da
de 36 a 54% em volume a 20ºC. Europa Ocidental é
obtida pela destilação de
mosto de trigo até uma
Na sua produção, a destilação é seguida de retificação com remoção de subs- concentração de álcool
de 75% em volume,
tâncias voláteis indesejáveis, aumentando a graduação alcoólica e filtração, filtrada em carvão ativo
opcional, em filtros de carvão ativo como forma de diminuir as características e diluída com água até
a graduação alcoólica
aromáticas e gustativa da matéria-prima. Além disso, a bebida pode ser adicio- de engarrafamento,
aproximadamente 50%.
nada de aromatizantes naturais de origem vegetal e açúcares até 2g/L. Esse destilado não possui
sabor pronunciado,
apenas ardente pelo
6.3.2 Gim elevado teor alcoólico.
O gim é uma bebida de origem holandesa que data do século XVII, sendo Quando aromatizado
com ervas (zubrowka) na
definida como uma aguardente de cereais de elevada pureza, não envelheci- região de origem, passa
a ser conhecida como
da e aromatizada com bagas de zimbro, fruta que cede óleos essenciais que Zubrowka.
levam à caracterização sensorial do destilado.

Aula 6 – Bebidas destiladas 121 e-Tec Brasil


Apresenta denominações diferenciadas em função do país de produção –
Genever na Holanda, Genièvre na França, Steinhaeger na Alemanha, Borovi-
czka na Hungria e Kranenitter na Áustria. A tradução para o português seria
gim, mas a legislação registrou a bebida como gin, que se refere ao termo
em inglês utilizado na Inglaterra e nos Estados Unidos da América.

Além da nomenclatura diferenciada, as etapas de produção sofrem alterações


em função do local de produção, conforme exemplificado a seguir.

• Na Alemanha: elabora-se uma aguardente de zimbro por meio da des-


tilação do mosto de bagas frescas ou secas – esmagadas, tratadas com
água quente e inoculadas com leveduras – que fermenta por 10 a 14
dias. O óleo residual presente em elevada quantidade no destilado é se-
parado por filtração. E o destilado final é um produto de elevada quali-
dade, utilizado para aromatizar o álcool retificado na proporção de 1:10,
produzindo o Steinhaeger.

• Na Inglaterra: o gim é geralmente elaborado com um mosto fermentado


composto por 75% de milho, 15% de cereal maltado e 10% por cereais
diversos. Após destilado e retificado, apresenta graduação alcoólica de
90ºGL, sendo diluído com água até 60ºGL para que seja redestilado em
alambique na presença de bagas de zimbro ou mistura delas com se-
mentes de coentro, anis, amêndoas amargas, erva-doce, alcaçuz, casca
de laranjas doces e amargas etc. Esse destilado aromatizado tem sua
concentração alcoólica corrigida para 60ºGL com água destilada.

• Na Holanda: a elaboração desse destilado prevê a adição de bagas de


zimbro moídas ao malte. Esse malte pode ser constituído apenas de ceva-
da maltada ou de 70% de cereais não maltados (milho e centeio) e 30%
de malte. O destilado obtido possui graduação alcoólica de 45 a 48ºGL
e elevado coeficiente congênere (elevada concentração de não álcool), o
que justifica a diferenciação entre o Genever e o gin na nossa legislação.

• Na França: o destilado é obtido a partir do mosto fermentado de 75%


de centeio e 25% de cevada maltada. A fermentação ocorre em duas
etapas: primeiro uma fermentação lática da cevada pré-sacarificada por
cozimento, seguida de uma fermentação alcoólica. Na coluna de desti-
lação são acoplados dispositivos por onde os vapores irão passar. Nesses
dispositivos estão as bagas de zimbro destinadas à aromatização.

e-Tec Brasil 122 Tecnologia de Bebidas


• Nos Estados Unidos: o gin é elaborado pela destilação de álcool neutro
de cereais. Durante o processo de destilação os vapores passam por aro-
matizantes, tais como, zimbro e cascas de laranjas.

As bebidas destiladas apresentam teor alcoólico mais elevado e podem ser


provenientes dos mais diferentes mostos fermentados, adquirindo assim ca-
racterísticas específicas e típicas das regiões de produção.

Encerramos aqui o nosso passeio pelo mundo das bebidas ressaltando a


importância destes produtos para a sociedade em termos de satisfação de
necessidades fisiológicas e prazer.

Resumo

Nesta aula, finalizamos o passeio pelo mundo das bebidas abordando as


bebidas fermento-destiladas, também chamadas de destiladas ou aguarden-
tes. Nelas, a concentração alcoólica é elevada pela destilação até 38 e 54%
em volume. Entendemos também como a matéria-prima e as variações no
processo levam à elaboração de bebidas destiladas simples, como o rum, o
uísque e a cachaça. Além disso, vimos os destilados retificados que sofrem
etapas de purificação, como a vodca e o gim.

Atividades de Aprendizagem

1. Diferencie destilados simples e retificados.

2. Na elaboração da tiquira, qual a função do beiju?

3. Quais as principais diferenças entre os tipos de uísque em função do malte?

4. Elabore um fluxograma com as etapas de elaboração da cachaça.

Aula 6 – Bebidas destiladas 123 e-Tec Brasil


Referências
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Fermentec, 2005.

AQUARONE, Eugênio et al. Biotecnologia Industrial. São Paulo: Blucher, 2001.

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FRANCO, Maria Regina Bueno. Aroma e sabor de alimentos: temas e aulas. São Paulo:
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KEEVIL, S. Guia ilustrado zahar vinhos do mundo todo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
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submédio São Francisco. 140f. Tese (Doutorado em Nutrição) – Centro de Ciências da
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VICENZI, Raul. Tópicos especiais em alimentos II : bebidas. Apostila. Universidade


Regional do Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul.

125 e-Tec Brasil

Tec_Beb_.indb 125 17/10/11 09:55


Currículo dos professores-autores

Luciana Leite de Andrade Lima

Professora, Luciana Leite de Andrade Lima é engenheira química de forma-


ção com mestrado e doutorado em Nutrição na área de Ciências dos Ali-
mentos. Desde 2006 dedica-se ao estudo dos vinhos tropicais elaborados no
Vale do Submédio São Francisco (nordeste do Brasil). Atualmente, leciona as
disciplinas de Enologia, Serviço de Bar e Restaurante e Análise Sensorial de
Alimentos e Bebidas, todas pertencentes à grade curricular do curso de Ba-
charelado em Gastronomia e Segurança Alimentar da Universidade Federal
Rural de Pernambuco.

Artur Bibiano de Melo Filho

Possui graduação em Química Industrial pela Universidade Católica de Pernam-


buco (1996), graduação em Licenciatura em Química pela Universidade Federal
Rural de Pernambuco (1990) e mestrado em Nutrição pela Universidade Federal
de Pernambuco (2001). Atualmente, é professor do curso de Nutrição da
Faculdade do Vale do Ipojuca e técnico da Universidade Federal de Pernambuco.
Tem experiência na área de Nutrição, com ênfase em Tecnologia e Análise
de Alimentos.

e-Tec Brasil 126

Tec_Beb_.indb 126 17/10/11 09:55


Técnico em Alimentos
Luciana Leite de Andrade Lima
Artur Bibiano de Melo Filho

Tecnologia de Bebidas

ISBN 978-85-7946-089-0

UFRPE
Universidade
Federal Rural
9 788579 460890
de Pernambuco

Tec_Beb_capa_z.indd 1 11/10/11 10:42

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