PTE LimaHelena 2014
PTE LimaHelena 2014
PTE LimaHelena 2014
Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto
Maria Helena Salazar da Costa Lima
O poder disciplinar do
empregador
Em especial o seu exercício com
vista ao despedimento do
trabalhador
Trabalho realizado no âmbito de provas
públicas
Título de Especialista
Ramo de conhecimento em Direito
Fevereiro de 2014
Este trabalho não teria sido possível sem o
apoio, incentivo e ensinamentos da minha
família, dos meus amigos e colegas, docentes e
advogados. Em especial, também o devo aos
meus alunos.
O meu muito obrigado.
1
Índice
Índice .......................................................................................................................................... 2
Lista de abreviaturas .................................................................................................................. 5
Introdução .................................................................................................................................. 7
Capítulo I ‐ Enquadramento e aspetos gerais sobre o poder disciplinar do empregador ....... 12
1. Caracterização da relação jurídico‐laboral como centro do poder do empregador ........ 12
2. Os poderes do empregador na relação de trabalho ........................................................ 15
3. O fundamento, titularidade e características do poder disciplinar ................................. 18
3.1 Aspetos gerais ............................................................................................................ 18
3.2 As questões do fundamento e da titularidade do poder disciplinar ......................... 19
3.3 As principais características do poder disciplinar ...................................................... 21
3.3.1 O conteúdo sancionatório e ordenador ............................................................. 22
3.3.2 A natureza funcional e discricionária ................................................................. 22
3.3.3 Direito subjetivo do empregador ....................................................................... 23
Capítulo II – O Direito disciplinar laboral .................................................................................. 24
1. A infração disciplinar: conceito e limites .......................................................................... 24
2. A relevância disciplinar dos comportamentos extracontratuais do trabalhador ............ 26
3. As sanções disciplinares: aspetos gerais .......................................................................... 29
3.1 Os tipos de sanções disciplinares .............................................................................. 31
3.1.1 Repreensão ......................................................................................................... 32
3.1.2 Repreensão registada ......................................................................................... 32
3.1.3 Sanção pecuniária ............................................................................................... 33
3.1.4 Perda de dias de férias ....................................................................................... 34
3.1.5 Suspensão do trabalho com perda de retribuição e de antiguidade ................. 36
3.1.6 Despedimento sem indemnização ou compensação ......................................... 36
3.2 Princípios orientadores para determinação das sanções disciplinares ..................... 37
3.2.1 O princípio da proporcionalidade ....................................................................... 38
3.2.2 O Princípio da unicidade ..................................................................................... 40
3.2.3 O princípio da coerência disciplinar ................................................................... 40
3.3 A possibilidade de agravamento das sanções disciplinares ...................................... 41
3.4 A obrigação de registo das sanções disciplinares ...................................................... 42
3.5 A aplicação de sanções abusivas e os seus efeitos .................................................... 42
4. Os prazos para o exercício da ação disciplinar pelo empregador .................................... 44
4.1 O prazo de prescrição da infração disciplinar ............................................................ 46
4.2 O prazo (de caducidade ou de prescrição) para iniciar o procedimento disciplinar . 48
4.3 O prazo de prescrição do procedimento disciplinar .................................................. 49
4.4 O prazo de caducidade para aplicação das sanções disciplinares ............................. 50
5. O procedimento para aplicação das sanções conservatórias: a audiência prévia do
trabalhador ............................................................................................................................... 51
6. Os mecanismos de controlo da aplicação de sanções disciplinares ................................ 53
6.1 A reclamação interna ................................................................................................. 53
6.2 A impugnação judicial das sanções conservatórias ................................................... 54
Capítulo III ‐ O exercício do poder disciplinar com vista ao despedimento do trabalhador .... 57
1. O despedimento disciplinar: aspetos gerais..................................................................... 57
2
2. O despedimento por facto imputável ao trabalhador ou despedimento disciplinar ...... 58
2.1 A noção de justa causa de despedimento ................................................................. 61
2.2 O conceito geral de justa causa ................................................................................. 63
2.2.1 Comportamento culposo do trabalhador .......................................................... 63
2.2.2 Comportamento grave do trabalhador .............................................................. 64
2.2.3 Comportamento (culposo e grave) que torne imediata e praticamente
impossível a manutenção da relação de trabalho ........................................................... 65
2.3 A exemplificação de justas causas ............................................................................. 67
2.3.1 A desobediência ilegítima às ordens dos responsáveis hierarquicamente
superiores ......................................................................................................................... 68
2.3.2 A violação de direitos e garantias de trabalhadores da empresa ...................... 69
2.3.3 A provocação repetida de conflitos com trabalhadores da empresa ................ 69
2.3.4 O desinteresse repetido pelo cumprimento, com a diligência devida, de
obrigações inerentes ao exercício do cargo ou do posto de trabalho a que está afeto .. 70
2.3.5 A lesão de interesses patrimoniais sérios da empresa ...................................... 70
2.3.6 As falsas declarações relativas à justificação de faltas ....................................... 71
2.3.7 As faltas não justificadas ao trabalho que determinem diretamente prejuízos
ou riscos graves para a empresa, ou cujo número atinja em cada ano civil, cinco
seguidas ou dez interpoladas ........................................................................................... 72
2.3.8 A falta culposa de observância de regras de segurança e saúde no trabalho ... 73
2.3.9 A prática no âmbito da empresa, de violências físicas, injúrias ou outras ofensas
punidas por lei sobre trabalhador da empresa, elemento dos corpos sociais,
empregador em nome individual, seus delegados e representantes .............................. 74
2.3.10 O sequestro ou em geral crime contra a liberdade de trabalhadores da
empresa, de elementos dos corpos sociais, do empregador em nome individual, seus
delegados ou representantes ........................................................................................... 74
2.3.11 O incumprimento ou oposição ao cumprimento de decisão judicial ou
administrativa ................................................................................................................... 75
2.3.12 As reduções anormais de produtividade ............................................................ 75
2.4 As relações entre a cláusula geral do n.º 1 e as situações de justa causa
exemplificadas no n.º 2 do artigo 351.º CT .......................................................................... 75
2.5 As relações entre o n.º 1 e o n.º 2 do artigo 351.º CT: a situação das faltas
injustificadas ao trabalho previstas na alínea g) do n.º 2 .................................................... 77
2.6 Critérios legais para a apreciação das situações de justa causa ................................ 78
3. O procedimento disciplinar com vista ao despedimento do trabalhador: aspetos gerais
80
3.1 As fases do procedimento com vista ao despedimento por facto imputável ao
trabalhador: aspetos gerais .................................................................................................. 83
3.1.1 A fase da acusação do trabalhador: a nota de culpa e a comunicação da
intenção de despedir ........................................................................................................ 83
3.1.2 A fase da defesa do trabalhador: a consulta do processo e a apresentação de
resposta à nota de culpa .................................................................................................. 86
3.1.3 A fase da instrução ............................................................................................. 88
3.1.4 A fase da decisão ................................................................................................ 91
3.2 Formalidades eventuais do procedimento disciplinar: o inquérito prévio e a
suspensão preventiva do trabalhador .................................................................................. 93
3.2.1 O inquérito prévio realizado pelo empregador .................................................. 93
3
3.2.2 A suspensão preventiva do trabalhador ............................................................ 94
3.3 O procedimento simplificado nas microempresas .................................................... 95
Capítulo IV ‐ A ilicitude e a impugnação judicial do despedimento por facto imputável ao
trabalhador ............................................................................................................................... 97
1. Os fundamentos gerais da ilicitude do despedimento .................................................... 98
2. A Ilicitude do despedimento por facto imputável ao trabalhador .................................. 98
2.1 A ilicitude decorrente do não cumprimento dos prazos previstos no artigo 329.º n.º
1 e n.º 2 CT: remissão ........................................................................................................... 99
2.2 A Ilicitude motivada por invalidade do procedimento .............................................. 99
2.2.1 A omissão de envio da nota de culpa ou a inobservância das formalidades
relativas ao seu envio ..................................................................................................... 100
2.2.2 A inobservância das formalidades relativas à defesa do trabalhador ............. 100
2.2.3 A inobservância das formalidades relativas ao envio da decisão de
despedimento ................................................................................................................. 101
3. Os efeitos da ilicitude do despedimento ........................................................................ 101
3.1 A indemnização ao trabalhador por todos os danos causados: danos patrimoniais e
não patrimoniais ................................................................................................................. 102
3.2 O direito à reintegração do trabalhador ou à indemnização em sua substituição . 103
3.3 A oposição à reintegração pelo empregador e a indemnização em sua substituição
104
3.4 O direito aos salários de tramitação ........................................................................ 105
4. A irregularidade do despedimento e os seus efeitos ..................................................... 106
5. A impugnação judicial do despedimento ....................................................................... 107
5.1 A ação de impugnação da regularidade e licitude do despedimento ..................... 108
5.2 O processo declarativo comum ............................................................................... 110
5.3 O procedimento cautelar de suspensão do despedimento .................................... 114
CONCLUSÕES .......................................................................................................................... 117
Bibliografia .............................................................................................................................. 125
ANEXOS ................................................................................................................................... 140
ANEXO I – PROCEDIMENTO DISCIPLINAR COM VISTA AO DESPEDIMENTO E AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO JUDICIAL DA REGULARIDADE E LICITUDE DO DESPEDIMENTO ..................... 141
ANEXO II – PROCEDIMENTO DISCIPLINAR COM VISTA AO DESPEDIMENTO E AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO DO DESPEDIMENTO COM PROCESSO DECLARATIVO COMUM ..................... 142
ANEXO III – PROCEDIMENTO DISCIPLINAR COM VISTA AO DESPEDIMENTO E AÇÃO DE
IMPUGNAÇÃO JUDICIAL DA REGULARIDADE E LICITUDE DO DESPEDIMENTO ..................... 143
4
Lista de abreviaturas
Ac. ‐ Acórdão
BMJ ‐ Boletim do Ministério da Justiça
BTE ‐ Boletim do Trabalho e do Emprego
CC ‐ Código Civil
CCT ‐ Convenção Coletiva de Trabalho
CITE ‐ Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego
CJ ‐ Coletânea de Jurisprudência
CJ (STJ) ‐ Coletânea de Jurisprudência – Supremo Tribunal de Justiça
CP ‐ Código Penal
CPC ‐ Código do Processo Civil
CPT ‐ Código de Processo do Trabalho
CRP ‐ Constituição da República Portuguesa
CT ‐ Código do Trabalho
DL ‐ Decreto‐Lei
DR ‐ Diário da República
IRCT ‐ Instrumento de Regulamentação Coletiva de Trabalho
L ‐ Lei
LCT ‐ Lei do Contrato Individual de Trabalho, aprovada pelo DL n.º 49408 de 24 de novembro
de 1969
LCCT ‐ Lei da Cessação do Contrato de Trabalho, aprovada pelo DL n.º 64‐A/89 de 27 de
fevereiro
LOFTJ ‐ Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais, aprovada pela Lei n.º
52/2008 de 28 de agosto
OIT ‐ Organização Internacional do Trabalho
RC ‐ Tribunal da Relação de Coimbra
RE ‐ Tribunal da Relação de Évora
RG ‐ Tribunal da Relação de Guimarães
RL ‐ Tribunal da Relação de Lisboa
RP ‐ Tribunal da Relação do Porto
STJ ‐ Supremo Tribunal de Justiça
5
TC ‐ Tribunal Constitucional
6
Introdução
O presente trabalho versa sobre o poder disciplinar do empregador, em especial quando se
trata de o exercer com o objetivo de despedir o trabalhador ao seu serviço.
Delimitamos o âmbito do nosso estudo do poder disciplinar do empregador pelo
enquadramento da lei portuguesa, com exceção da matéria disciplinar no âmbito do regime
do contrato de trabalho em funções públicas.
A elaboração deste estudo tem em vista a obtenção do Título de Especialista no ramo de
conhecimento de Direito, apresentando‐se como uma reflexão acerca do enquadramento
dogmático do instituto disciplinar laboral, de onde necessariamente partimos quando o
aplicamos nos processos com intervenção profissional de advocacia própria.
À escolha do tema do poder disciplinar do empregador presidiram várias razões, destacando
o facto de se tratar de uma matéria de aplicação frequente no exercício profissional da
advocacia e dos mandatos que nos são conferidos, quer na qualidade de instrutor de
processos disciplinares por incumbência do empregador, quer enquanto “defensor” do
trabalhador em relação ao qual foi instaurado o procedimento disciplinar.
Não menos importante, à escolha da matéria do poder disciplinar do empregador não foi
estranho o facto de este assunto integrar os conteúdos programáticos das unidades
curriculares lecionadas aos nossos alunos. A sistematização da experiência profissional
acumulada e o estudo aprofundado do instituto disciplinar permitirá solidificar os nossos
saberes e desenvolver a capacidade de transmissão de conhecimentos e o desempenho
pessoal no processo de ensino e aprendizagem nas aulas que lecionamos. Esta é uma
matéria que sempre desperta curiosidade e debate entre e com os discentes, enriquecendo
a prestação enquanto docente.
Acresce às motivações da escolha deste tema ser o poder disciplinar do empregador um dos
mais relevantes e complexos poderes que o legislador entendeu atribuir na lei ao
empregador no âmbito de um contrato de trabalho. Não sendo um instituto privativo das
7
relações assentes num contrato de trabalho, assume características que consideramos
únicas nesta relação jurídico privada, merecedoras de apreciação.
Trata‐se sem dúvida de um dos traços marcantes do exercício da autoridade e direção do
empregador que lhe permite não só organizar a sua empresa ou instituição como,
especialmente, punir ou sancionar o trabalhador em face de violações contratuais dos seus
deveres e obrigações.
Certo é que esta vertente punitiva do poder disciplinar do empregador tem dificuldades
próprias, justificando‐se então que lhe ofereçamos atenção especial neste nosso estudo.
Notaremos que a punição imposta ao trabalhador assume contornos diferentes daqueles
verificados por força do incumprimento no âmbito dos contratos em geral, em particular
porque as consequências produzidas afetam relevantemente a esfera pessoal do
trabalhador. Tal resulta do exercício deste poder punitivo nas situações mais graves, aquelas
em que o comportamento do trabalhador configura justa causa, permitindo ao empregador
fazer cessar o contrato de trabalho.
Não deixando de ser inquietante a possibilidade de, numa relação contratual (de trabalho),
uma das partes (o empregador) dispor de um tal poder em relação à outra (o trabalhador), é
legítimo conjeturarmos sobre se resulta afetado o princípio da igualdade das partes no
domínio das relações jurídico‐privadas.
Este é um tema tradicional na relação laboral e ao mesmo tempo uma questão clássica
fortemente debatida no seio da disciplina do contrato de trabalho, representando ainda
uma das matérias em que a litigância entre as partes, empregador e trabalhador, é mais
expressiva, em especial quando está em causa o despedimento do trabalhador.
Numa outra vertente, atenderemos ao facto do exercício do poder disciplinar pelo
empregador não se apresentar isento de dificuldades de aplicação. Estas adensam‐se não só
na qualificação dos comportamentos do trabalhador enquadráveis como infração disciplinar
e na escolha da sanção adequada a tais comportamentos, mas também nas consequências
ao nível da relação de trabalho.
8
Ao mesmo tempo, é também uma das matérias doutrinais onde não é possível obter uma
convergência de posições e de conceções, designadamente quanto ao fundamento do poder
disciplinar, da sua autonomia face ao poder de direção do empregador, assim como às
finalidades servidas.
Em especial, merece ponderação o facto de o empregador concentrar em si os poderes de
acusação, instrução e decisão, resultando o poder disciplinar um poder com características
únicas e distintas dos demais poderes punitivos, designadamente o direito penal.
A par desta vertente sancionatória, o poder disciplinar também se apresenta com uma
finalidade ordenadora das relações laborais, funcionando igualmente com um cunho
preventivo de futuras infrações pelos demais trabalhadores dentro da mesma organização. A
ação disciplinar é, com este enquadramento, um instrumento essencial para garantir o
sucesso da prossecução dos objetivos de uma organização.
Acresce relevar ter este poder de ser exercido pelo empregador com respeito das normas
institutivas do seu regime substantivo e também das normas procedimentais cuja não
verificação, designadamente ao nível do despedimento, pode determinar a sua ilicitude.
Por fim, não é despiciendo referir a ideia de hierarquia na organização enformada pelo
exercício do poder disciplinar pelo empregador, uma cadeia estruturada de comando onde o
poder é exercido pelos superiores hierárquicos em relação àqueles que estão numa posição
inferior, os subordinados.
Em adição, e globalmente, refletiremos sobre os aspetos referidos ao longo deste nosso
trabalho sem descurar a abordagem jurisprudencial do tema, cuja contribuição é
determinante para o preenchimento de inúmeros conceitos vagos e indeterminados
utilizados no texto da lei.
No estudo empreendido socorremo‐nos da análise crítica da bibliografia relevante, tendo
presente o potencial de riqueza da diversidade dos textos consultados e das visões e
9
opiniões dos seus autores quanto às matérias do poder disciplinar do empregador e do
despedimento. Navegamos interessada e profundamente pela lei portuguesa e pela doutrina
dos tribunais. Ambos ilustram e motivam a discussão ao longo deste nosso trabalho, e
constam da bibliografia consultada.
Determinados a prosseguir os objetivos traçados, estruturamos o nosso trabalho em quatro
capítulos.
No primeiro capítulo, procedemos a um enquadramento geral sobre o poder disciplinar do
empregador, caracterizando não só a relação de trabalho tipicamente aplicada, como
situando‐o na confluência dos demais poderes do empregador. Deter‐nos‐emos também,
mas de forma abreviada, nas questões do fundamento, titularidade e características do
poder disciplinar.
No capítulo seguinte, o segundo, abordaremos o direito disciplinar laboral, tratando do
conceito de infração disciplinar e dos respetivos limites. Relevam especialmente neste
âmbito os comportamentos pessoais e extra contratuais do trabalhador, a que podem
igualmente ser atribuídos efeitos disciplinares. Cuidaremos também das sanções
disciplinares, analisando o seu elenco e reportando algumas dúvidas suscitadas pela sua
aplicação prática. Ainda no que tange às sanções, mencionaremos os princípios orientadores
da respetiva seleção pelo empregador, assim como os efeitos da aplicação de sanções
abusivas. Abordaremos a matéria sensível atinente aos prazos para o exercício da ação
disciplinar pelo empregador, fortemente limitadores da atuação deste em matéria
disciplinar, bem como os procedimentos para aplicação das sanções conservatórias e seu
registo. Finalmente, exporemos os mecanismos de controlo da aplicação das sanções
disciplinares.
No capítulo terceiro, curaremos especificamente do despedimento, cujo estudo decidimos
autonomizar, não só por ser a mais grave das sanções, como também por existir um
conjunto de regras próprias que especialmente o disciplinam. Releva neste âmbito o
conceito legal de justa causa, digna de pormenorizada análise, referindo‐nos aos seus
elementos, às referências exemplificativas utilizadas pelo legislador e bem assim aos
10
critérios para apreciar a justa causa. Trataremos do procedimento disciplinar com vista ao
despedimento, relevando as fases do seu processo e as consequências do incumprimento
das formalidades pelo empregador.
No quarto e último capítulo analisaremos a ilicitude, com enfoque especial nos seus efeitos.
Aludiremos à impugnação judicial do despedimento, abordando os mecanismos processuais
ao dispor do trabalhador para se opor ao despedimento ilícito.
Finalmente, concluiremos de forma tentativa sobre o objeto do nosso estudo, aí municiados
pela sistematização do conhecimento fundamental e aplicado propiciado, não deixando de
referir as matérias onde eventual ponderação e investigação futura poderão ser justificadas.
Para a devida ilustração da nossa prática profissional de advocacia no âmbito do tema aqui
objeto de estudo, quer do lado do exercício do poder disciplinar pelo empregador quer do
lado do trabalhador enquanto objeto de processo disciplinar, juntamos em anexo a este
trabalho cópias de um processo disciplinar que instruímos mandatados por entidade
patronal e de peças de outros processos em que asseguramos a defesa do trabalhador. Por
razões manifestas de sigilo profissional do advogado, obrigamo‐nos a ocultar a identificação
das partes envolvidas nos processos copiados.
11
Capítulo I ‐ Enquadramento e aspetos gerais sobre o poder
disciplinar do empregador
1
Todas as referências ao CT devem considerar‐se relativas ao texto atual do Código do Trabalho, aprovado
através da Lei n.º 7/2009 de 12 de fevereiro.
2
O conceito apresentado equivale ao trabalho subordinado, que é distinto do trabalho autónomo ou
independente essencialmente pelo tipo de obrigação a que o prestador de atividade se vincula, e que no caso
do trabalho autónomo se configura como uma obrigação de resultado. Embora do ponto de vista conceptual a
distinção seja perfeitamente compreensível, não raras vezes apresenta‐se complexa do ponto de vista prático,
em especial no que tange à distinção do contrato de trabalho e do contrato de prestação de serviços.
3
A referência de que o trabalho pode ser prestado “a outras pessoas” foi introduzida na revisão do Código do
Trabalho de 2009 e destina‐se a dar cobertura legal à nova figura do artigo 101.º que passou a admitir
contratos de trabalho com pluralidade de empregadores.
4
Para que possamos falar de um contrato de trabalho, impõe‐se a existência da retribuição como a
contrapartida do trabalho prestado, e que em regra tem correspondência no tempo de trabalho. O trabalho
12
Esta prestação da atividade do trabalhador ao empregador constitui o objeto do
contrato de trabalho e é executada sob o poder do empregador, em especial o poder de
direção do empregador5.
Por força das alterações introduzidas em 2009 no Código do Trabalho, o texto da lei
contempla que a atividade deve ser prestada no âmbito de organização do empregador,
sendo omitida a referência ao poder de direção ‐ mantendo‐se, contudo, a previsão relativa
ao exercício da autoridade pela entidade patronal como traço característico do contrato de
trabalho.
Na verdade só é possível classificar uma relação como contrato de trabalho se existir
subordinação jurídica6 que, neste âmbito, é acompanhada da subordinação económica do
trabalhador na maioria dos casos.
Como sabemos, é através da subordinação jurídica que se caracteriza e distingue o
contrato de trabalho de outras figuras que lhe são próximas, como sucede, especialmente,
com o contrato de prestação de serviços previsto no artigo 1154.º CC.
Não podemos desconhecer que, por vezes, os empregadores utilizam o contrato de
prestação de serviços para “descaracterizar” ou “esconder” a relação laboral, com evidentes
e significativos prejuízos para o trabalhador7.
Importa notar, porém, que a subordinação jurídica não se apresenta em todas as
relações laborais com a mesma configuração, sendo mais evidente na execução de algumas
funções do que noutras. A dependência do trabalhador ao empregador é normalmente
menos patente nas funções em que o trabalhador goza de autonomia técnica, o que sucede
especialmente nas profissões ou atividades mais qualificadas e especializadas.
subordinado é, por natureza, pago; por conseguinte, a atividade executada pelo trabalhador é
obrigatoriamente retribuída pelo empregador, conforme previsto no artigo 127.º n.º 1 b) CT.
5
Sobre a noção jurídica de empregador ver JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações
Individuais de Trabalho, Volume I, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, p. 215.
6
Atualmente prevista no conceito por referência à autoridade que o empregador exerce sobre o trabalhador e
enquadrada pela integração daquele na organização do empregador.
7
Ao longo do tempo, o nosso legislador laboral tem procurado combater aquilo que designa como “os falsos
recibos verdes”, o que fez, desde logo, ao consagrar a presunção de laboralidade (atualmente) no artigo 12.º
CT; sob a perspetiva dos rendimentos no Código do Regime Contributivo da Segurança Social, ao presumir a
existência de contrato de trabalho; e, mais recentemente, através da Lei n.º 63/2013 de 27 de agosto ao prever
mecanismos de combate à utilização do contrato de prestação de serviços em relações de trabalho
subordinado.
13
Em todo o caso, sendo a dependência ao empregador mais evidente nuns contratos de
trabalho do que noutros, tem sempre de se verificar a execução do contrato com um
mínimo de sujeição do trabalhador ao poder de direção do empregador.8
Cabe ao empregador, no âmbito do poder de direção e da autoridade que exerce sobre o
trabalhador, dirigir‐lhe ordens e instruções para a execução da atividade contratada9, ordens
às quais o trabalhador deve obediência conforme o previsto no artigo 128.º n.º 1 e) CT,
sendo o poder disciplinar uma das mais significativas evidências da autoridade patronal.
As ordens a que o trabalhador deve obediência, contudo, têm de ser legítimas10 e não
podem atentar contra os seus direitos e garantias, nomeadamente os previstos no artigo
129.º n.º 1 CT11.
Com efeito, se é verdade que a maioria das ordens dirigidas pelo empregador ao
trabalhador se confina à execução do seu contrato de trabalho, há algumas situações em
que a atuação da entidade patronal extravasa os limites do contrato de trabalho.
Uma questão com especial proeminência neste domínio é a da relevância (em especial
disciplinar) dos comportamentos do trabalhador praticados fora do local e do tempo de
trabalho, casos em que pode estar em causa a liberdade e a personalidade do trabalhador. A
8
Conforme consta do artigo 12.º do Código do Trabalho, presume‐se a existência de um contrato de trabalho
sempre que na situação em concreto se verifiquem algumas das seguintes características: a atividade seja
realizada em local pertencente ao beneficiário ou por ele determinado; os equipamentos e instrumentos de
trabalho utilizados pertençam ao beneficiário da atividade; o prestador de atividade observe horas de início e
de termo da prestação, determinadas pelo beneficiário; seja paga, com determinada periodicidade, uma
quantia ao prestador de atividade como contrapartida da mesma; o prestador de atividade desempenhe
funções de direção ou chefia na estrutura orgânica da empresa.
9
As ordens que o trabalhador recebe podem aparecer sob diversas formas: entre outros, regulamentos
internos, ordens de serviço, circulares internas e comunicados. Especificamente sobre as ordens de serviço
dirigidas ao trabalhador ver ANTÓNIO MONTEIRO FERNNADES, Direito do Trabalho, 16.ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2012, p. 224.
10
Relativamente aos limites do dever de obediência do trabalhador face às ordens do empregador, veja‐se em
especial JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Deve o trabalhador subordinado obediência a ordens ilegais?, in
Trabalho e Relações Laborais, Lisboa, Caderno Sociedade e Trabalho, I, Oeiras, 2001, pp. 179‐187.
11
As ordens dadas pelo empregador devem respeitar os outros direitos do trabalhador. A questão tem especial
acuidade relativamente aos direitos de personalidade do trabalhador, cuja tutela é hoje assegurada não só pelo
Código do Trabalho (artigos 14.º e ss.), mas também pela Constituição da República (artigos 26.º n.º 1), assim
como pelo Código Civil (artigos 70.º e ss.). No que aos direitos de personalidade respeita, as ordens do
empregador devem respeitar nomeadamente a reserva da vida privada do trabalhador, a sua personalidade, a
sua integridade física e a sua imagem. Sobre a relevância dos direitos fundamentais dos trabalhadores nas
relações laborais ver, entre outros, JOSÉ JOÃO ABRANTES, O Novo Código do Trabalho e os Direitos de
Personalidade do Trabalhador, Centro de Estudos Judiciários (coord.), A Reforma do Código do Trabalho,
Coimbra Editora, Coimbra, 2004, pp. 139‐160, e ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, A Liberdade de Expressão do
Trabalhador, in II Congresso de Direito do Trabalho, António Moreira (coord.), Almedina, Coimbra, 1999, pp.
21‐43.
14
resolução desta questão nem sempre é fácil de solucionar face ao tipo de interesses em
confronto.
2. Os poderes do empregador na relação de trabalho
A existência de um contrato de trabalho pressupõe que a execução da atividade
contratada seja feita pelo trabalhador sob a alçada do poder de que o empregador é titular
no domínio do trabalho subordinado.
A posição do empregador na relação de trabalho subordinado é normalmente definida
como uma posição de poder, posição essa que torna o contrato de trabalho desequilibrado e
diferente, podemos mesmo dizer sui generis, quando comparado com a generalidade dos
contratos no domínio do direito privado12, já que no domínio dos contratos em geral, as
partes têm na relação jurídica posições diferentes mas equivalentes, ou seja, com o mesmo
tipo de direitos e deveres.
Para atenuar o desequilíbrio patente na relação de trabalho muito têm contribuído as
leis do trabalho, ao criar institutos jurídicos e mecanismos de defesa do trabalhador,
procurando‐se a diminuição da supremacia do empregador13.
Tal desiderato é tendencialmente conseguido através da introdução de limites à ação do
empregador, garantindo ao trabalhador a manutenção dos elementos essenciais da relação
de trabalho como, entre outros, as funções, a categoria, o tempo de trabalho e a retribuição.
Tem sido peça fulcral na ação protetiva do trabalhador a proteção normativa que lhe
tem sido dirigida, quer pela Constituição da República Portuguesa, quer mais recentemente
pelo Código do Trabalho.
Ganham neste campo especial relevo as normas constitucionais em matéria laboral, ao
elevarem ao patamar de direitos fundamentais alguns direitos dos trabalhadores, como o
direito ao trabalho, o direito ao salário e a proibição dos despedimentos sem justa causa14.
12
De notar que a posição de poder do empregador manifesta‐se mesmo antes do início da prestação de
atividade, porquanto é o empregador que tem o poder de decidir contratar o trabalhador, sendo que o
contrato só se ajustará se houver esta vontade de contratar do empregador.
13
Como refere PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, Almedina, Coimbra, 1990, p. 9, foram o
poder político através das leis e as reivindicações das forças sindicais que introduziram limitações ao arbítrio do
empregador, traduzindo‐se no aparecimento de um direito e de um processo disciplinar.
14
Sobre a questão de saber se as partes no contrato de trabalho podem invocar diretamente os preceitos
constitucionais, J. J. GOMES CANOTILHO E VITAL MOREIRA, in Constituição da República Portuguesa Anotada,
15
Ao mesmo tempo que protegem o trabalhador, estas normas projetam o contrato de
trabalho para além da relação entre trabalhador e empregador, configurando‐o também
como instrumento jurídico de relevo a considerar nas políticas socioeconómicas dos
estados15.
Não obstante, e apesar de toda a proteção normativa ao trabalhador, a posição do
empregador não deixa de ser uma posição de poder, especialmente visível no poder de pôr
fim à relação de trabalho, privando o trabalhador da sua fonte de subsistência. Daí decorre a
preocupação da lei de restringir os poderes do empregador, em especial o poder disciplinar,
quando o exercício determine a cessação do contrato de trabalho.
No atual Código do Trabalho são identificados autonomamente os poderes do
empregador, os poderes de direção16, o poder disciplinar e o poder regulamentar17.
O poder de direção aparece atualmente previsto no artigo 97.º CT, o qual prevê que
compete ao empregador estabelecer os termos em que o trabalho deve ser prestado, dentro
dos limites decorrentes do contrato e das normas que o regem, especialmente: a lei, os
instrumentos de regulamentação coletiva do trabalho e os regulamentos internos da
empresa18.
O interesse deste poder está em que permite ao empregador moldar os contornos da
execução do contrato de trabalho, de forma a alcançar os objetivos da organização. Pelo
exercício deste poder, o empregador pode fixar aspetos essenciais da execução do contrato,
Vol. I, 4.ª Edição, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, pp. 384‐385, respondem positivamente à questão, por
considerarem que todas as entidades privadas têm a obrigação de não impedir ou limitar a aplicação dos
direitos fundamentais.
15
A evidencia desta afirmação resulta dos mais recentes Acórdãos do Tribunal Constitucional; o TC, chamado a
analisar a conformidade das diversas alterações legislativas face aos direitos constitucionais dos trabalhadores,
tem‐se pronunciado no sentido de “resguardar” o trabalhador, declarando por conseguinte a
inconstitucionalidade de diversas normas do CT, com reflexos que se projetam ao nível da economia e das
políticas sociais do estado.
16
Sobre o poder de direção do empregador, ver RUI ASSIS, O Poder de Direcção do Empregador, configuração
geral e problemas actuais, Coimbra Editora, Coimbra, 2005.
17
Alguma doutrina, da qual destacamos MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do
Trabalho, Parte II – Situações Laborais Individuais, 4.ª edição, Almedina, Coimbra, 2012, p. 610, identifica
outros poderes de que o empregador é titular na relação de trabalho ‐ em especial, a autora refere‐se ao poder
organizativo e ao poder de vigilância ou de controlo; já ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho,
cit., p. 221, relativamente ao poder que o empregador possui de determinar as funções ao trabalhador e de as
conformar, configura como poderes autónomos face ao poder de direção do empregador, o poder
determinativo da função e o poder conformativo da prestação.
18
Sobre o poder de elaborar regulamentos internos, apenas se exige actualmente ao empregador que ouça os
trabalhadores e que publicite os regulamentos em local visível da empresa. Com as alterações ao Código do
Trabalho de 2009, deixou de se exigir a comunicação à entidade com competência inspetiva laboral (artigo 99.º
CT).
16
como a atividade do trabalhador, a sua categoria, o local onde exerce as funções, os exatos
termos em que as funções deverão ser exercidas19, assim como controlar ou fiscalizar a
atividade, assegurando desse modo a gestão da sua organização.
Importa referir que no decurso da execução do contrato o empregador pode ainda
lançar mão de diversos institutos através dos quais pode provocar alterações significativas
na execução do contrato de trabalho, designadamente se pensarmos na possibilidade de
alterar as funções contratadas (120.º CT) e de transferir o trabalhador para outro local de
trabalho (194.º CT).
O poder de direção assenta no contrato de trabalho e na subordinação jurídica, que se
impõe ao trabalhador como correlativo do dever de obediência20. Obediência que o
trabalhador não está obrigado a respeitar se as ordens que lhe forem dirigidas forem
ilegítimas. Assim, e não obstante a noção de contrato de trabalho (11.º CT) omitir
atualmente a referência ao poder de direção do empregador, concluímos que este poder do
empregador não perde relevância e intensidade no âmbito da execução dos contratos de
trabalho, pois é intrínseco ao próprio contrato.
De todos os poderes do empregador que a lei enuncia, poder de direção (97.º CT), poder
disciplinar (98.º CT) e poder regulamentar (99.º CT), a posição de supremacia do empregador
face ao trabalhador resulta especialmente do exercício dos dois primeiros, sendo o poder
regulamentar um mero meio para atingir os fins prosseguidos21.
Não há na doutrina uma conceção única sobre as relações que se estabelecem entre os
vários poderes do empregador, em especial entre o poder de direção e o poder disciplinar,
sendo questionado se o poder de direção é autónomo em relação ao poder disciplinar do
empregador.
Na busca da resposta encontram‐se essencialmente duas teses na doutrina: uma
posiciona o poder disciplinar de forma autónoma e independente relativamente ao poder de
19
As instruções do empregador quanto ao modo de realização do trabalho pelo trabalhador podem variar de
empregador para empregador, podem ser mais genéricas ou mais específicas, apresentando conteúdo
diferente e variável. Podem abranger comportamentos que vão para além da própria prestação do trabalho
como, por exemplo, a proibição de fumar nas instalações, a obrigação de usar farda, a limitação quanto à
utilização dos equipamentos informáticos e de comunicação da empresa para fins pessoais, entre outras.
20
Sobre o fundamento contratual do poder de direção, ainda que com algumas nuances, ver FERNANDO JORGE
COUTINHO DE ALMEIDA, Poder Empresarial: Fundamento, Conteúdo e Limites, in Temas de Direito do Trabalho
– Direito do Trabalho na Crise, Coimbra Editora, Coimbra, 1990, p. 318.
21
Tal como PEDRO ROMANO MARTNEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 594, tendemos a considerar o poder
regulamentar como um meio de efetivação do poder de direção, em especial na medida em que permite ao
empregador fazer normas através das quais põe em prática o exercício do poder de direção.
17
direção e que se designa de tese dualista, tese que colhe maior consenso quer na doutrina
nacional quer estrangeira22; diferentemente, a tese monista concebe o poder disciplinar
como uma parte do amplo poder de direção do empregador.
Sem prescindir, vamo‐nos deter agora no estudo do poder disciplinar.
3. O fundamento, titularidade e características do poder disciplinar
3.1 Aspetos gerais
Importa por agora situar o poder disciplinar na lei para melhor compreender as questões
complexas do seu fundamento e titularidade.
O poder disciplinar não vem definido na lei, mas está enunciado no artigo 98.º CT que
prevê que o empregador tem poder disciplinar sobre o trabalhador ao seu serviço enquanto
vigorar o contrato de trabalho23. Esta norma, que está hoje separada das demais normas que
regulam o poder disciplinar24, encontrando‐se inserida na subsecção que trata do
empregador e da empresa25.
Além da previsão do poder disciplinar, o Código do Trabalho consagra as normas
relativas à parte sancionatória do poder disciplinar na Secção III, do Capítulo VI
(incumprimento do contrato) do Livro I, artigos 328.º a 332.º; a estes acrescem os artigos
22
Na doutrina nacional defendem nomeadamente a perspectiva dualista RUI ASSIS, O poder de direcção do
empregador, cit., p. 90, e MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit.,
p. 610, em especial, rejeita a tese monista por considerar que esta perspectiva esvazia o conteúdo do poder
disciplinar, que fica reduzido a mero garante da eficácia do poder de direção.
23
Sobre a possibilidade de o empregador exercer o poder disciplinar apenas enquanto durar o contrato de
trabalho, veja‐se o Ac. RP de 14 de março de 2011, processo n.º 763/09.8TTBRG.P1, disponível em
www.dgsi.pt, que considerou que não obstante estar a decorrer o prazo de aviso prévio num processo de
despedimento por extinção de posto de trabalho, o empregador pode despedir o trabalhador em questão se o
mesmo cometeu uma infração disciplinar que justifique e fundamente a aplicação de tal sanção, desde que a
decisão de despedimento chegue ao conhecimento do trabalhador antes do final do prazo do aviso prévio.
24
Na versão inicial do Código do Trabalho aprovado pela Lei n.º 99/2003 de 27 de agosto, a matéria
encontrava‐se regulada nos artigos 365.º a 376.º (regras substantivas) e nos artigos 411.º e ss. onde se
estabeleciam as regras procedimentais.
25
Nesta nova sistematização parece terem sido acolhidas as críticas que face ao CT 2003 consideravam que, ao
inserir as normas do poder disciplinar apenas na parte relativa ao incumprimento do contrato, o reduziam a um
mero meio de reação relativamente ao incumprimento do contrato; para mais considerações sobre o tema, ver
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 632.
18
351.º a 358.º relativos ao despedimento por facto imputável ao trabalhador que o legislador
separou das restantes normas que integram a tutela disciplinar exercida pelo empregador26.
Em todo o caso, o recurso ao instituto disciplinar laboral aparece, por um lado, como o
meio principal e típico do empregador reagir e combater o incumprimento do contrato e dos
deveres que incidem sobre o trabalhador, e que se afasta do regime regra dos contratos ‐ a
responsabilidade civil27, cuja natureza é essencialmente compensatória; por outro lado,
permite ao empregador marcar a sua posição na relação laboral28 e assegurar a
aplicabilidade do seu poder de direção.
Não obstante a falta do conceito, o poder disciplinar é ainda assim o mais detalhado dos
poderes do empregador, de tal forma que alguns autores falam mesmo da existência de um
“direito disciplinar”29.
Antes porém de analisarmos o seu regime legal, e para melhor o compreendermos,
vamos proceder ao enquadramento dogmático do poder disciplinar do empregador.
3.2 As questões do fundamento e da titularidade do poder disciplinar
Em face das dificuldades surgidas em torno do fundamento e da titularidade do poder
disciplinar, tem cabido à doutrina deter‐se sobre elas no âmbito de um instituto que
apresenta características únicas no seio de uma relação jurídica privada30.
26
A este propósito, MARIA ADELAIDE DOMINGOS, Poder e procedimento disciplinar no Código do Trabalho, in
Reforma do Código do Trabalho, Coimbra Editora, Coimbra, 2004, p. 478, nota que a inserção sistemática do
poder disciplinar no CT 2003, face ao que sucedia na LCCT (DL 64‐A/89 de 27 de fevereiro) não representa
qualquer diferença relativamente à conceptualização e fundamentação do poder disciplinar; já MARIA DO
ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., pp. 608 e 632 e ss., considera ser
melhor a inserção sistemática do poder disciplinar no CT 2009, visto que o situa junto aos demais poderes do
empregador, diferentemente do que sucedia no CT 2003, em especial por considerar que o poder disciplinar
não tem apenas uma vertente sancionatória.
27
Notando a natureza contratual do poder disciplinar, mas cujas características punitivas o afastam do
mecanismo da responsabilidade civil, PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., pp. 596 e ss.
28
PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 597, considera ter um reduzido interesse o poder
disciplinar nas relações laborais sem vertente empresarial; contra esta opinião, MARIA DO ROSÁRIO PALMA
RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 632.
29
Vide PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 21.
30
Discordamos neste ponto de PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 595, que embora
considere o poder disciplinar característico do contrato de trabalho, não entende que seja um regime único no
domínio dos contratos, pelo facto de nos contratos em geral existirem vários mecanismos de autotutela dos
interesses das partes, por exemplo a excepção de não cumprimento (428.º CC), a resolução do contrato com
base no incumprimento definitivo (801.º n.º 2 CC) e o exercício da cláusula penal (810.º CC). Parece‐nos, no
entanto, que o poder disciplinar laboral, maxime a sua natureza sancionatória, lhe confere uma configuração
19
Trata‐se de um poder com atributos predominantemente punitivos, exercido
unilateralmente e de forma algo discricionária pelo empregador, em especial quanto à
oportunidade de o exercer e à escolha da sanção a aplicar. Caracteriza‐se ainda por ser um
direito subjetivo do empregador, que se reconduz às características de um direito
potestativo, porquanto traduz não só a posição de sujeição em que o trabalhador se
encontra face ao seu exercício, como provoca alterações de relevo na esfera jurídica do
trabalhador, designadamente no que ao despedimento respeita31.
Trata‐se de um poder cujos contornos e limites são extremamente difíceis de assinalar,
mas cuja compreensão teórica se impõe para melhor o podermos aplicar 32.
Sobre o fundamento deste poder é possível encontrar duas respostas diferentes, a tese
contratualista e a tese institucionalista, que o concebem e perspetivam de diversos pontos
de vista, que em nossa opinião se complementam entre si33.
Segundo a tese contratualista o poder disciplinar assenta na existência do contrato de
trabalho e tem como fundamento a subordinação jurídica do trabalhador. De acordo com
este entendimento, o empregador mantém o poder ou a faculdade de o exercer enquanto o
contrato durar, conforme previsto expressamente no artigo 98º CT. Para justificar a sua
ligação intrínseca e natural ao contrato de trabalho, os defensores desta tese invocam a
inserção sistemática das normas relativas ao poder disciplinar no capítulo relativo ao
incumprimento do contrato (328.º e ss.).
Defendem esta tese, entre outros, JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES34, que considera que o
fundamento do poder disciplinar é o contrato de trabalho, embora o poder disciplinar sirva
de ponte ou elemento de conexão com a estrutura ou organização em que esse contrato se
insere e da qual constitui um elemento35, e também ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES36, ao
única, manifestamente diferente dos demais institutos em sede da disciplina contratual, como também
considera MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Do Fundamento do Poder Disciplinar Laboral, Almedina,
Coimbra, 1993, p. 424.
31
Sobre as implicações técnico‐jurídicas da classificação deste direito como direito subjetivo ver MARIA DO
ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Os Limites do Poder Disciplinar Laboral, in Estudos de Direito do Trabalho,
Almedina, Coimbra, 2003, p. 187.
32
Sobre o fundamento do poder disciplinar e respectivas correntes doutrinárias ver entre outros, ANTÓNIO
GARCIA PEREIRA, O Poder Disciplinar da Entidade Patronal – Seu Fundamento, Editora Danúbio Lisboa, 1983 e
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Do Fundamento do Poder Disciplinar Laboral, cit., p. 299.
33
No mesmo sentido PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 604.
34
Como refere o autor, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 893, o poder
disciplinar é natural ao contrato de trabalho não podendo as partes pretender excluir a sua existência sem
descaracterizar o contrato de trabalho.
35
Idem, cit., p. 880.
20
considerar que não é possível explicar este poder sem ser por referência ao contrato de
trabalho.
Já quanto à tese institucionalista, o poder disciplinar é concebido no seio de uma
organização, destinando‐se a garantir a satisfação e os interesses económicos daquela, da
qual os contratos de trabalho fazem parte. Invocam ainda que o facto de este poder ser
exercido pelo empregador ou pelos superiores hierárquicos do trabalhador (329.º n.º 4 CT),
assim como a possibilidade de se agravarem as sanções atentas as especiais condições do
trabalho (artigo 328.º n.º 4 CT), enaltece a vertente institucional do poder disciplinar.
Segundo os defensores desta tese, o poder disciplinar permite garantir a organização da
empresa de forma eficaz. Como preconiza PEDRO SOUSA MACEDO37, o poder disciplinar
justifica‐se particularmente pelas necessidades organizativas da empresa, sendo exercido
tendo em vista o interesse da empresa que é o seu titular.
Relacionada com a matéria do fundamento do poder disciplinar, discute‐se também a de
saber quem é o seu titular, importando saber se o poder disciplinar pertence à empresa ou
ao empregador.
No que respeita à nossa lei, este poder é atribuído ao empregador, e apenas se mantém
enquanto o contrato não cessar (98.º CT). Não obstante a titularidade deste poder ser do
empregador, sucede que o poder disciplinar pode ser exercido diretamente pelo próprio
empregador ou, por delegação do seu exercício pelo empregador, pelos superiores
hierárquicos do trabalhador nos termos em que o empregador os estabelecer, conforme
previsto no artigo 329.º n.º 4 CT.
3.3 As principais características do poder disciplinar
Da análise do instituto disciplinar laboral resultam várias características que o
identificam e individualizam. Referiremos de seguida as principais, não deixando de notar
que se trata de uma matéria em que a doutrina aponta uma diversidade de conceções,
valorizando cada um dos aspetos do seu regime, não havendo uma classificação unitária.
36
Direito do Trabalho, cit., p. 236.
37
O Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 10.
21
3.3.1 O conteúdo sancionatório e ordenador
A primeira característica que se aponta ao poder disciplinar resulta do objetivo da
sua utilização pelo empregador; assim, no que tange à finalidade da aplicação do poder
disciplinar, endereça‐se‐lhe um caráter marcadamente punitivo que se materializa na
aplicação das diversas sanções. Contudo, pelas suas características, este instituto distingue‐
se de outros com caráter ressarcitório como sucede com a responsabilidade civil, por
exemplo, na disciplina geral dos contratos.
Destarte, e não obstante considerarmos ser a punição a finalidade principal da
aplicação do instituto da aplicação do poder disciplinar pelo empregador, também
concordamos que ao mesmo tempo lhe possam ser reconhecidos objetivos de ordenação
das relações laborais da empresa38.
A obtenção de tal efeito consegue‐se não só pela criação de normas regulamentares
na empresa, como também pelo efeito de prevenção geral que a aplicação de sanções
produz no seio da empresa39; ou seja, ao mesmo tempo que assegura a punição do
trabalhador que cometeu a infração disciplinar, o poder disciplinar também funciona com
caráter preventivo e dissuasor da prática de outras infrações, e nesse sentido concordamos
quando se menciona que o poder disciplinar serve também para manter a “paz da
empresa”40.
3.3.2 A natureza funcional e discricionária
Outro elemento de relevo do poder disciplinar é a sua vertente de instituto funcional.
Trata‐se de um poder do empregador que se justifica pelos interesses da empresa, mas que
a lei prevê para garantir algum equilíbrio ao trabalhador. O exercício deste poder está sujeito
a vários limites, que o empregador gere sujeito a critérios de oportunidade.
Com efeito, o empregador não está obrigado a punir, apenas o fará se nisso tiver
interesse: ou seja, o poder disciplinar não se apresenta como um poder dever do
38
O Ac. STJ de 3 de junho de 2009, processo n.º 08S3696, disponível em www.dgsi.pt, aponta esta dupla
vertente do poder disciplinar.
39
Neste sentido, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 636.
40
Como expressamente refere JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de
Trabalho, Volume I, cit., p. 885.
22
empregador, mas antes como um poder de que dispõe e que utilizará se tal lhe for
conveniente41. Neste sentido, o poder disciplinar caracteriza‐se como uma faculdade do
empregador.
Ao poder disciplinar é ainda apontada a característica de ser um poder discricionário
que o empregador exerce sempre que julgar oportuno para garantir a tutela dos seus
interesses e que está, pelo menos em parte, sujeito ao “arbítrio” do empregador.
Porém, a liberdade da aplicação de sanções pelo empregador tem vindo a ser
limitada, quer pela tipificação das próprias sanções, quer pela imposição de escolher
corretamente a sanção, assim como pela obrigação de fundamentar e elaborar o respetivo
procedimento.
Com efeito, trata‐se de um direito do empregador cujo exercício está sujeito a vários
limites, especialmente visíveis na preocupação de garantir ao trabalhador a sua defesa
quando a empresa pretende despedi‐lo.
3.3.3 Direito subjetivo do empregador
O poder disciplinar apresenta‐se como um direito subjetivo na sua modalidade de
direito potestativo. A aplicação desta classificação resulta na medida em que, por via do seu
exercício, se confere ao seu titular – o empregador ‐ o poder de impor unilateralmente
alterações na esfera jurídica de outrem – o trabalhador.
Da caracterização do poder disciplinar como direito potestativo sobressai também o
seu caráter marcadamente unilateral e egoísta que permite ao empregador prosseguir os
seus interesses42.
Em suma, parece‐nos ser de evidenciar que o enquadramento dogmático do instituto
nem sempre é consensual e que, apesar de bastante estudado pela doutrina, não deixa de
levantar dificuldades, sendo algumas de um grau elevado de resolução, em particular
quando manifestadas na prática disciplinar que a seguir abordaremos.
41
Contrariamente, ANTÓNIO JORGE DA MOTTA VEIGA, Lições de Direito do Trabalho, 6.ª Edição, Universidade
Lusíada, Lisboa, 1995, p. 341, classificou‐o como um poder dever.
42
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 639, aponta ao poder
disciplinar, entre outras características, as de um direito de conteúdo egoísta, dominial e unilateral.
23
Capítulo II – O Direito disciplinar laboral
1. A infração disciplinar: conceito e limites
Na perspetiva sancionatória, a mais evidente faceta do poder disciplinar, este serve para
o empregador aplicar sanções em face das infrações cometidas pelo trabalhador.
O aspeto mais complexo do exercício desta ação disciplinar do empregador deriva, em parte,
da falta de conceptualização e de tipificação dos comportamentos do trabalhador que são
considerados infração disciplinar43.
Com efeito, nem o Código do Trabalho nem as diversas leis que o antecederam
definiram infração disciplinar, tendência também evidenciada por outros ordenamentos
laborais ‐ diferentemente do que sucede, por exemplo, relativamente às relações de
emprego público, em que o legislador optou por apresentar um conceito, ainda que genérico
de infração44.
A tarefa de construir e limitar o conceito tem sido especialmente difícil, em parte
também porque os deveres que a lei dirige ao trabalhador são meramente exemplificativos,
cfr. artigo 128.º alíneas a) a j) do n.º 1 CT, não sendo consequentemente possível fazer
corresponder os comportamentos violadores dos deveres do trabalhador com as infrações
eventualmente praticadas.
Neste quadro, tem sido a doutrina e em especial a jurisprudência a balizar o conceito
através da resolução dos casos que é chamada a decidir, contribuindo dessa forma para o
preenchimento do conceito e para a caracterização dos comportamentos qualificáveis como
infrações disciplinares45. De notar que os casos que chegam a juízo destinam‐se
essencialmente a apreciar a existência de um comportamento infrator no sentido de saber
43
Tal como considera NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, Coimbra Editora, Coimbra, 2009,
pp. 49 e ss.
44
O Estatuto Disciplinar dos Trabalhadores que exercem Funções Públicas, aprovado pelo DL 58/2008 de 9 de
setembro, no artigo 3.º n.º 1 define infração como o comportamento do trabalhador por ação ou por omissão,
ainda que meramente culposo, que viole os deveres gerais ou especiais inerentes à função que exerce.
45
Sobre o tema vejam‐se, entre outros, os seguintes acórdãos disponíveis em www.dgsi.pt: Ac. STJ de 23 de
novembro de 2011, processo n.º 318/07.1TTFAR.E1.S1; Ac. STJ de 25 de janeiro de 2012, processo n.º
268/04.3TTLSB.L1.S1; Ac. STJ de 12 de setembro de 2012, processo n.º 492/08.0TTLMG.P1.S1; Ac. STJ de 04 de
julho de 2013 processo n.º 7583/11.8T2SNT.L1.S1, e o Ac. RP de 22 de outubro de 2013, processo n.º
318/07.1TTFAR.E1.S1.
24
se existe justa causa para despedir o trabalhador, sendo contributos da jurisprudência
relevantes nessa parte do nosso trabalho.
A contribuição da doutrina para preencher o conceito de infração disciplinar surge
por analogia ao conceito de justa causa previsto no artigo 351.º CT, sendo indispensável a
existência de um comportamento do trabalhador, por ação ou omissão, que seja ilícito e
culposo ‐ comportamento da responsabilidade do trabalhador que lhe possa ser imputável a
título de dolo ou de negligência. Trata‐se de um comportamento merecedor de censura,
independentemente de provocar ou não danos ao empregador.
Como a propósito da justa causa referiremos, o dano não é um elemento essencial
para que exista infração disciplinar46. Sucede porém que a omissão legislativa evidencia
diversas dificuldades: por um lado, deixa ao empregador alguma liberdade de determinar os
comportamentos que considera objeto de sanção; por outro, as atuações que podem
configurar a existência de infração são distintas de empresa para empresa, bem como para
cada atividade ou setor. Não obstante, esta problemática vem atenuada pelos IRCT47.
Acresce que, para construir e limitar o conceito de infração, importa igualmente
perceber se tem de existir sempre uma violação do contrato, assim como saber se o conceito
se pode aplicar a comportamentos do trabalhador que não tenham ligação com a prestação
de trabalho, ou seja, se se pode estender para além da própria prestação do trabalho.
A falta de um conceito e a fixação dos seus limites deixam em aberto um problema
de especial relevo para o trabalhador nesta sede, e que consiste em saber com rigor quais os
comportamentos que o empregador lhe pode exigir, sob pena de lhe serem imputadas
infrações disciplinares48.
Podemos no entanto constatar, que a essência do poder disciplinar assenta na
aplicação de sanções ao trabalhador em face do desrespeito por ação ou omissão de deveres
46
Sobre os requisitos gerais da infração disciplinar ver NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral
cit., pp. 70 e ss. e PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 33.
47
Em relação ao papel das convenções colectivas de trabalho no âmbito do poder disciplinar laboral do
empregador, ver ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Manual de Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 1991, p.
745.
48
PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 32, na perspetiva de caracterizar o conceito
avança com diversas classificações, atendendo ao tipo de infração, aos bens ofendidos, à desnecessidade do
prejuízo e ao dever ofendido.
25
contratuais principais ou acessórios que consubstanciam um incumprimento do contrato de
trabalho49.
Impõem‐se, no entanto, algumas reservas quanto à qualificação das infrações
disciplinares. Com efeito, podem existir condutas ilícitas do trabalhador que extravasem em
tempo e lugar a execução do próprio contrato de trabalho, mas em relação às quais importe
saber se, não obstante o circunstancialismo em que se verificam, podem produzir efeitos
disciplinares, por serem abrangidos no conceito de infração.
Acrescentamos ainda que, com aplicação para além desta matéria, o Código do Trabalho
no seu artigo 126.º estabelece um princípio geral de boa‐fé na execução do contrato de
trabalho e um dever de mútua colaboração de ambas as partes, o que em simultâneo
conforma e limita a atuação do trabalhador em sede de comportamentos aos quais pode ser
atribuída relevância disciplinar50.
Em sede de qualificação dos comportamentos infratores do trabalhador, adquirem
relevo os comportamentos extracontratuais do trabalhador que possam ser qualificáveis
como infração disciplinar. Trataremos o tema de seguida.
2. A relevância disciplinar dos comportamentos extracontratuais do
trabalhador
A existência da infração disciplinar que, como referimos, se traduz numa violação do
contrato e dos deveres do trabalhador, releva essencialmente pelas consequências que
produz na relação de trabalho. Tal conclusão é ainda mais notória na análise das infrações a
que a lei atribui a natureza de justa causa para o despedimento, o que terá de ser apreciado
nos termos do n.º 1 do artigo 351.º CT.
Como já demos nota, ao não definir infração o legislador deixou ao intérprete a
resolução das questões que agora tratamos, o que nos permite ponderar até que ponto é
49
Na perspetiva de delimitar as infrações disciplinares, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de
Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 644, considera que se devem conjugar, por um lado, os deveres do
trabalhador previstos no artigo 128.º CT e, por outro, as situações que integram a justa causa previstas no n.º 2
do artigo 351.º CT, tarefa ainda assim complexa, atento o conteúdo exemplificativo de ambas as normas.
50
Sobre a boa‐fé na disciplina geral dos contratos ver JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em
Geral, Vol. I, 10 ª Edição, Almedina, Coimbra, 2000, pp. 129 e ss.
26
que os comportamentos adotados pelo trabalhador fora do local de trabalho e do tempo de
trabalho podem ou não configurar a existência de uma infração disciplinar51.
Numa abordagem simplista e invocando até o texto da lei, diríamos que o poder
disciplinar é inerente ao contrato de trabalho, logo só deve existir disciplina quando o
contrato está a ser executado.
Aqui coloca‐se, desde logo, a questão do trabalhador saber onde começa e acaba a
sua esfera privada e a sua liberdade face às suas obrigações contratuais laborais.
A proteção da esfera privada do trabalhador está especialmente tratada na lei
laboral, por via da consagração dos direitos de personalidade do trabalhador na relação de
trabalho, o que se verifica nos artigos 14.º e ss. do CT52.
Sucede frequentemente que a ação disciplinar do empregador colide com direitos de
personalidade do trabalhador, e alguns deles constitucionalmente consagrados, o que
também adensa a dificuldade de tratar esta questão.
Em tese, seriam reservadas à esfera privada do trabalhador as condutas praticadas
fora do tempo e do lugar de trabalho, ficando então de fora da alçada disciplinar do
empregador. Porém, e com frequência, encontramos situações em que o comportamento
extracontratual do trabalhador influencia e determina, ainda que indiretamente, a sua
postura na relação laboral, pelo que somos levados a admitir a possibilidade da sua
relevância disciplinar53.
Considerando todavia que a ação disciplinar do empregador possa ultrapassar as
fronteiras do contrato de trabalho, impõe‐se salvaguardar as repercussões de tal
51
Em particular sobre a relevância destes comportamentos do trabalhador, ver DIOGO LEOTE NOBRE, A
relevância dos comportamentos extra‐laborais em sede de justa causa de despedimento, in Revista da Ordem
dos Advogados, ano 68, 2008, pp. 923‐960. Sobre o interesse e os efeitos que estas condutas extracontratuais
podem provocar na esfera jurídica do trabalhador, em especial enquanto justa causa de despedimento, ver
GUILHERME MACHADO DRAY, Justa causa e esfera privada, in Estudos do Instituto de Direito do Trabalho, II,
Coimbra 2001, pp. 35‐96.
52
Sobre os limites da esfera privada do trabalhador ver ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, O respeito pela esfera
privada do trabalhador, in I Congresso Nacional de Direito do Trabalho, Almedina, Coimbra, 1998, pp. 19‐37, e
MARIA MALTA FERNANDES, Os limites à subordinação jurídica do trabalhador, Quid Juris, Lisboa, 2008, p. 148.
53
DIOGO LEOTE NOBRE, A relevância dos comportamentos extra‐laborais em sede de justa causa de
despedimento, cit., p. 936 e ss., apresenta algumas categorias de comportamentos extra‐laborais do
trabalhador que, defende, podem configurar justa causa de despedimento, a saber: comportamentos que
violam o dever de respeito e urbanidade perante a entidade empregadora ou os seus representantes;
comportamentos lesivos da imagem, prestígio ou credibilidade da empresa; prática, no âmbito da empresa, de
violências físicas ou injúrias sobre colegas de trabalho; comportamentos da vida familiar, afectiva e sexual;
factos delituosos cometidos fora da relação laboral; alcoolismo e toxicodependência; doenças infecto‐
contagiosas (HIV ou SIDA); situações de incompatibilidade pessoal grave com o representante do empregador
ou o próprio empregador, entre outras.
27
entendimento, em particular no que respeita à personalidade e individualidade do
trabalhador. Sendo necessário conjugar e ponderar variegados aspetos.
Em prol da relevância disciplinar das condutas extracontratuais do trabalhador
notamos que sendo o contrato de trabalho um contrato intuitus personae, não se desliga da
personalidade do trabalhador. O trabalhador coloca a suas características pessoais ao
serviço do empregador que devem ser por ele atendidas e consideradas. Porém, a
dificuldade resulta de não ser possível estabelecer uma barreira relativa ao que respeita
diretamente à execução do contrato e ao que está para além dela.
Acresce que o próprio princípio da boa‐fé (126.º n.º 1 CT) reportado à execução do
contrato de trabalho obriga a que o trabalhador adeque as suas condutas privadas na
execução do seu contrato54.
Também o princípio da mútua colaboração previsto no artigo 126.º n.º 2 CT, cuja
previsão também condiciona as partes, determina o trabalhador a comportar‐se na sua vida
pessoal e social de maneira a não prejudicar o empregador.
Ou seja, em concreto, fruto da interligação e da complementaridade da vida
profissional e da vida privada do trabalhador, admitimos que este possa ver limitada a sua
esfera privada de ação, mas sem lhe “laboralizar” completamente a sua vida privada55,
retirando‐lhe parte da humanidade.
A doutrina e a jurisprudência têm nesta sede buscado critérios que justificam e
limitam a relevância disciplinar das condutas extracontratuais do trabalhador56. Nos
tribunais, em especial, tem sido proposto que a conduta privada do trabalhador só possa
relevar em termos disciplinares se existir um nexo de causalidade entre os comportamentos
do trabalhador e os seus efeitos sobre o contrato de trabalho57. Entendimento com o qual
concordamos.
54
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 884,
apresenta diversos exemplos em que a atividade concretamente exercida pelo trabalhador pode condicionar a
sua postura pessoal, sob pena de atuação diferente configurar uma infração disciplinar. Assim, considera por
exemplo que cantarolar ou assobiar poderá configurar uma infração pelo incómodo causado aos colegas e pela
perturbação na empresa. Também pode configurar uma infração disciplinar a expressão de felicidade na cara
de um funcionário de uma funerária.
55
A expressão é de DIOGO LEOTE NOBRE, A relevância dos comportamentos extra‐laborais em sede de justa
causa de despedimento, cit., p. 957.
56
No que concerne à relevância destes comportamentos para efeitos de justa causa de despedimento, ver
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 824.
57
A título de exemplo, vejam‐se as seguintes decisões dos tribunais Ac. STJ de 24 de abril de 1996, BMJ 456, p.
276 e Ac. RE de 12 de junho de 1991, in CJ, XVI, TIII, p. 315. No primeiro aresto considerou‐se que tem
relevância disciplinar o comportamento do bancário que fora da relação laboral dá ordem de aquisição de
28
3. As sanções disciplinares: aspetos gerais
O exercício do poder disciplinar pelo empregador materializa‐se na possibilidade que o
empregador dispõe de aplicar ao trabalhador as sanções previstas no n.º 1 do artigo 328.º
CT58. Tal como sucede com os demais institutos, designadamente o de infração disciplinar,
também em matéria de sanções disciplinares, o legislador não apresenta qualquer
definição59.
Em matéria de sanções disciplinares vigora o princípio da tipicidade, embora esta
tipicidade não seja tão apertada como noutros ramos do direito como, por exemplo, no
direito penal.60
O princípio da tipicidade visa especialmente impedir ao empregador a criação de novas
sanções para além das contempladas na lei, nomeadamente prevendo novas sanções
através de regulamentos internos, dada a “facilidade” que o empregador dispõe em elaborar
estes instrumentos.
Pela consagração da tipicidade garantem‐se aos trabalhadores os seus direitos, em
especial, os previstos no artigo 129.º CT, assim como se lhes assegura a sua dignidade
enquanto sujeitos titulares desses direitos.61
No entanto, a temperar esta tipicidade do elenco das sanções, o Código do Trabalho
(328.º n.º 2) admite a existência e aplicação de outras sanções previstas em Instrumento de
Regulamentação Coletiva do Trabalho, desde que não prejudiquem os direitos e garantias do
trabalhador62 e que em concreto possam aplicar‐se àquela relação laboral63.
títulos em bolsa ao banco sem ter saldo na conta que detém no seu empregador para as pagar. No segundo
considerou‐se que tem relevo disciplinar a atuação de um sujeito que exerce as funções de guarda‐noturno
num palácio e que funciona como recetador de objetos furtados. Igualmente o Ac. STJ de 15 de janeiro de
2008, in CJ (STJ), 33, 1, 2008, pp. 268‐270, considerou ser justa causa a venda de droga por um trabalhador aos
seus colegas de trabalho, ainda que o fizesse fora do local de trabalho.
58
De notar que, com a entrada em vigor do Código do Trabalho de 2003 observou‐se uma tendência geral no
sentido do agravamento dos limites das sanções disciplinares, em especial no que respeita à sanção pecuniária
e à suspensão com perda de retribuição e antiguidade.
59
Em especial sobre o tema ver ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, As sanções disciplinares e a sua graduação,
in Estudos Sociais e Corporativos, n.º 36, 1970, pp. 23‐54.
60
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 894
refere, aliás, a existência de um numerus apertus e não de um elenco taxativo no elenco de sanções.
61
Neste sentido, por exemplo, a despromoção é proibida porque viola o direito do trabalhador de não ser
colocado em categoria inferior nos termos previstos na alínea d) do n.º 1 do artigo 129.º CT, o mesmo se diga
em relação à transferência do trabalhador para outro local de trabalho, cuja medida aplicada como sanção
violaria a garantia da inamovibilidade, cfr. alínea f) do n.º 1 do artigo 129.º CT.
62
Nos termos do previsto no artigo 3.º n.º 5 CT existe a possibilidade de esta norma poder ser afastada por
IRCT, mas já não por contrato de trabalho.
29
Em matéria de sanções disciplinares há dois aspetos do seu regime que importa
salientar. Por um lado, a perspetiva conservadora do vínculo laboral64, e, por outro lado, a
sua proximidade relativamente às sanções penais, isto apesar de as primeiras se esgotarem
nos interesses privados que subjazem ao contrato de trabalho e as segundas visarem o
interesse público.
Com efeito, as sanções previstas apresentam uma perspetiva conservatória da relação de
trabalho, exceção feita à mais grave delas: o despedimento é uma sanção expulsiva, em que
a punição é precisamente a cessação do contrato de trabalho65.
Referimos também que encontramos na doutrina diferentes classificações das sanções
disciplinares, consoante a sua natureza e os efeitos que produzem. Na classificação
tradicional das sanções disciplinares distingue‐se entre sanções conservatórias e sanções
não conservatórias – o despedimento sem indemnização ou compensação66. Outras
classificações distinguem entre sanções morais ou não patrimoniais ‐ cujos efeitos incidem
na pessoa do trabalhador e de que são exemplos a repreensão e a repreensão registada ‐ e
sanções de natureza patrimonial cujos efeitos se verificam no património do trabalhador ‐ de
que é exemplo a sanção pecuniária67. Encontramos ainda aquelas cujos efeitos se verificam
ao nível da prestação de atividade, restringindo‐a ‐ são exemplos a suspensão com perda de
retribuição e antiguidade e a perda de dias de férias.
No que concerne à natureza das sanções disciplinares, estas apresentam como já
referimos, um caráter marcadamente punitivo, afastando‐se por essa razão, de outros
63
Como sabemos, a aplicação de uma convenção coletiva de trabalho só pode verificar‐se numas das seguintes
situações: se o trabalhador for filiado na associação sindical que a outorgou, ou que a ela venha aderir, e
simultaneamente preste atividade num empregador que a ela tenha aderido; se existir uma portaria de
extensão que determine a aplicação da CCT às partes; e ainda quando o trabalhador, não sendo filiado, adira
voluntariamente a uma convenção colectiva de trabalho que seja aplicada na sua empresa, conforme previsto
respetivamente nos artigos 496.º, 514.º e 497.º CT.
64
A este propósito JULIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho,
Volume I, cit., p. 885, refere que o caráter conservatório das sanções é o que há de mais específico no poder
disciplinar do empregador.
65
PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 25 considera que a sanção não traduz apenas a
punição, mas também a modificação negativa das condições de prestação de trabalho que tenham por motivo
uma atuação do trabalhador que se pretende reprimir.
66
Sobre o tema ver MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 634,
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 886, e
NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 90.
67
Cfr. NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 91.
30
institutos, como por exemplo, o da responsabilidade civil, que aparece como o meio de
reação comum às situações de incumprimento contratual fora do contrato de trabalho68.
Há porém várias diferenças entre os institutos disciplinar e da responsabilidade civil. Em
especial, porque pela aplicação da sanção disciplinar não se procura ressarcir qualquer dano
ou prejuízo que o trabalhador tenha causado ao empregador, mesmo nos casos em que
apresente natureza patrimonial69. Acresce que as sanções disciplinares apresentam um
cunho eminentemente pessoal, cujos efeitos se projetam particularmente na pessoa do
trabalhador, embora cumpram uma função preventiva e repressiva semelhante às sanções
penais. Pelos aspetos que indicamos, as sanções disciplinares afastam‐se da
responsabilidade civil como meio de reação ao incumprimento contratual laboral,
aproximam‐se por sua vez das sanções penais, designadamente quanto à sua natureza
marcadamente punitiva70.
Com efeito, há vários pontos de contacto entre o exercício da ação disciplinar pelo
empregador e a aplicação de sanções penais pelo estado71.
Feitas estas considerações gerais, analisaremos de seguida o elenco das sanções
disciplinares.
3.1 Os tipos de sanções disciplinares
Analisaremos agora cada uma das sanções previstas no n.º 1 do artigo 328.º CT, apontando
as especificidades de cada uma e os limites que a própria lei estabelece. Seguiremos a
ordem legal que as gradua da menos grave até à mais grave72.
68
Relativamente à possibilidade de aplicar conjuntamente os dois institutos, admitindo‐se a sua utilização
cumulativa por perseguirem finalidades distintas, ver JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐
Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 888.
69
Nesta perspetiva, com a qual concordamos, ver JÚLIO MANUEL VIERA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações
Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 887 e MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do
Trabalho, Parte II, cit., p. 658. Em sentido oposto, admitindo que as sanções disciplinares são semelhantes à
responsabilidade civil, PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 597.
70
Neste sentido ANTÓNIO JORGE DA MOTTA VEIGA, Lições de Direito do Trabalho, cit., p. 385 e JÚLIO MANUEL
VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 887 e 888.
71
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 887,
aponta que ambas visam pessoas singulares, pressupõem a imputabilidade e a culpa do infrator, sendo que
essa culpa não pode presumir‐se.
72
Em relação à legislação em vigor antes do Código do Trabalho, é possível apontar as seguintes diferenças: a
multa passa a designar‐se por sanção pecuniária; prevê‐se uma nova sanção de perda de dias de férias; acresce
31
3.1.1 Repreensão
A sanção de repreensão é a mais leve das sanções previstas no CT. Esta sanção
consiste na chamada de atenção ao trabalhador relativamente a um comportamento por si
adotado e que merece a censura imediata do empregador, esgotando‐se na advertência ou
admoestação que o empregador dirige verbalmente ao seu trabalhador, no sentido de que
futuramente não deverá adotar o mesmo tipo de comportamento.
Ao trabalhador deve sempre ser dada a possibilidade de ser ouvido, assegurando‐lhe
assim a sua defesa, em cumprimento do disposto no n.º 6 do artigo 329.º CT, que prevê que
a sanção disciplinar não pode ser aplicada sem audiência prévia do trabalhador. Ora sendo a
aplicação desta sanção marcada pela oralidade, os momentos de aplicação da sanção pelo
empregador e da defesa do trabalhador podem confundir‐se73.
Existe, no entanto, a dificuldade de compatibilizar a sua aplicação com a obrigação de
registo das sanções disciplinares a cargo do empregador. Sendo esta uma sanção que se
aplica verbalmente, escapa ao registo a que as demais sanções disciplinares estão sujeitas
por força da disciplina do artigo 332.º CT, advindo também desta característica a sua
natureza de sanção mais leve ou menos gravosa para o trabalhador74.
É aliás esta a característica do seu regime que a diferencia da repreensão registada75.
3.1.2 Repreensão registada
Do ponto de vista do conteúdo, esta sanção é equivalente à repreensão não registada
que antes analisamos, mas difere daquela relativamente às consequências ou efeitos.
Tratando‐se igualmente de uma advertência ou censura do empregador relativamente à
uma alteração de terminologia relativamente à sanção mais grave que passa a designar‐se despedimento sem
indemnização ou compensação.
73
No que concerne às dificuldades de aplicação desta sanção, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado
de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 650, alerta para a dificuldade de compatibilizar esta sanção com a
aplicação das regras do processo disciplinar; já ABÍLIO NETO, Processo Disciplinar e Despedimentos.
Jurisprudência e Doutrina, Ediforum, 2004, p. 13, defende a extinção desta sanção enquanto sanção autónoma.
74
Neste sentido, DIOGO VAZ MARECOS, Código do Trabalho Anotado. Lei n.º7 /2009 de 12 de fevereiro,
Wolters Kluwer Coimbra Editora, Coimbra, 2010, p. 781.
75
Diferentemente NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 92, considera que esta sanção
deve ser aplicada por escrito. ANA LAMBELHO E LUISA ANDIAS GONÇALVES, O Poder Disciplinar e a Justa Causa
de Despedimento, Quid Juris Editora, Lisboa, 2012, p. 15, admitem que nada impede que esta repreensão possa
assumir a forma escrita, e que o documento do qual conste a repreensão possa ser arquivado, sem que a
sanção seja registada no processo do trabalhador. Consideram ainda que esta sanção pode ser aplicada por
recurso às novas tecnologias, através da utilização do Messenger e do correio eletrónico.
32
ação do trabalhador, à qual o trabalhador há‐de poder defender‐se, a sua aplicação ficará
registada no registo de sanções disciplinares da organização. A importância do registo desta
sanção releva especialmente se houver necessidade de aplicar ao trabalhador nova sanção
disciplinar.
3.1.3 Sanção pecuniária
A aplicação desta sanção consiste no não pagamento ao trabalhador da totalidade da
sua retribuição (sanção que tomava a designação de multa anteriormente ao Código do
Trabalho)76.
Apesar de a sanção consistir no não pagamento ao trabalhador de parte da sua
retribuição, esse valor não reverte para o empregador, devendo nos termos do disposto no
n.º 3 do artigo 330.º CT ser entregue por aquele ao serviço responsável pela gestão
financeira do orçamento da segurança social77.
Compreende‐se a preocupação do legislador quanto ao destino da sanção, pois
poderia ser especialmente tentador para o empregador a aplicação repetida desta sanção ao
trabalhador como fonte de redução de custos. Aliás, dito de outra forma, para além do
efeito sancionatório que produz no património do trabalhador, resultaria também num
enriquecimento do empregador porque receberia o trabalho mas não o pagaria ao
trabalhador.
A aplicação desta sanção não tem caráter indemnizatório, pelo que não pode ser uma
forma de o empregador se ressarcir de quaisquer danos que o trabalhador eventualmente
tenha provocado.
Constata‐se que o legislador procurou também limitar a aplicação desta sanção
quando na al. a) do n.º 3 do artigo 328.º CT fixou os seus limites máximos, designadamente
tratando‐se de infrações praticadas no mesmo dia, a sanção pecuniária não pode exceder
76
A propósito da alteração da designação, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do
Trabalho, Parte II, cit., p. 649, não concorda que se tenha alterado o nome da sanção invocando especialmente
o argumento que há outras sanções com consequências pecuniárias.
77
Cumprindo‐se assim o princípio geral previsto no n.º 1 do artigo 279.º CT que impede o empregador de, na
pendência do contrato de trabalho, fazer qualquer compensação ou desconto da retribuição do trabalhador.
Este princípio cede, no entanto, no caso da aplicação desta sanção por força da excepção prevista na al. c) do
n.º 2 do mesmo artigo.
33
um terço da retribuição diária do trabalhador e, em cada ano civil, não pode ultrapassar a
retribuição correspondente a 30 dias78.
Procura‐se então evitar que o não pagamento da retribuição ao trabalhador ponha
em perigo a sua subsistência e a da sua família, problema premente sobretudo quando o
trabalhador aufira uma retribuição de valor igual à retribuição mínima mensal garantida.
A previsão desta sanção no ordenamento jurídico‐laboral português não é isenta de
inconvenientes, o que certamente motivou a sua proibição noutros ordenamentos como o
espanhol e o francês79.
3.1.4 Perda de dias de férias
A perda de dias de férias é a mais nova das sanções disciplinares previstas no artigo
328.º n.º 1 d) do Código do Trabalho80, tendo sido introduzida no elenco de sanções com o
CT em 200381. Quando o empregador decide pela aplicação desta sanção são retirados ao
trabalhador determinados dias de gozo de férias.
A aplicação desta sanção está limitada. No artigo 328.º n.º 3 b) CT o legislador previu
que não se pode pôr em causa o gozo de 20 dias úteis de férias pelo trabalhador,
procurando garantir‐se a efetivação do princípio constitucional que consagra ao trabalhador
o direito ao repouso, assente no direito de gozar em cada ano um período de férias pagas,
conforme previsto no artigo 59.º n.º 1 d) da CRP.
Para garantir a aplicação do aludido princípio constitucional, a lei impede o
agravamento desta sanção ‐ conforme se colhe do n.º 4 do artigo 328.º CT. O tratamento
que o legislador conferiu a esta sanção, todavia, é demasiado escasso, pois apenas fixa o
limite que referimos, deixando em aberto diversas questões, não sendo consensual a sua
utilização.
78
Com a entrada em vigor do Código do Trabalho o limite diário máximo da sanção pecuniária passou de 1/4
para 1/3 e o limite máximo em cada ano civil passou de 10 para 30 dias.
79
Como refere NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 94.
80
De notar que a Lei 23/2012 de 25 de junho acabou com a majoração dos dias de férias, pelo que fixou o
número de dias de férias para a generalidade dos trabalhadores em 22 dias úteis (artigo 238.º n.º 1 CT).
81
A propósito da sua inserção no elenco das sanções, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de
Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 648, considera que a sua previsão no texto da lei não é feliz, quer por
razões jurídicas, quer pelas dificuldades práticas que a sua aplicação suscita.
34
Um dos aspetos que a lei não trata é, por exemplo, o de saber se a aplicação desta
sanção importa também a perda do correspondente subsídio de férias82. Na doutrina que
tem versado este tema, encontramos autores que defendem que a sanção compreende
apenas a perda de dias de férias, entendimento maioritário com que concordamos, mas
também autores para os quais a sanção abarca também o não pagamento do respetivo
subsídio de férias83.
Uma outra questão que a lei não resolve é a de saber se a perda de dias de férias
pode ser aplicada a um trabalhador que, em concreto, disponha de um período de férias
inferior aos vinte dias úteis que a lei refere ‐ o que pode acontecer nomeadamente no ano
da contratação do trabalhador ou quando o trabalhador tenha renunciado às suas férias.
Nestas situações, a doutrina tem considerado que não é possível aplicar a perda de dias de
férias84.
Um problema adicional suscitado85 tem origem na fixação pela lei de um prazo
máximo de três meses para a aplicação das sanções (330.º n.º 2 CT), sob pena de caducidade
‐ em concreto pode não ser possível cumprir a sanção se o trabalhador já tiver gozado as
suas férias.
Na verdade, e em relação a esta questão, parece‐nos ser defensável antecipar que se
o empregador não conseguir aplicar a sanção dentro do prazo supra referido, escolherá no
leque de sanções outra que se mostre adequada.
82
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 894,
considera que a previsão desta sanção é uma inovação de bondade duvidosa, já que a perda de dias de férias,
acompanhada da perda do proporcional do subsídio de férias, acaba por lesar simultaneamente os bens
patrimoniais e pessoais do trabalhador.
83
Em defesa da primeira tese MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II,
cit., p. 649, JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I,
cit., p. 894, e MARIA ADELAIDE DOMINGOS, Poder e Procedimento Disciplinar no Código do Trabalho, cit., p.
481. Genericamente consideram que tal prática consistiria noutra sanção. Em sentido oposto, NUNO
ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 96.
84
Neste sentido, MARIA ADELAIDE DOMINGOS, Poder e Procedimento Disciplinar no Código do Trabalho, cit., p.
480, e MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 719.
85
PEDRO ROMANO MARTINEZ, Código do Trabalho Anotado, 9.ª edição, Almedina, Coimbra, 2013, p. 695,
considera que as dúvidas que a aplicação prática desta sanção levanta, não assumem contornos de relevo, visto
que os empregadores recorrem quase exclusivamente a três tipos de sanções disciplinares: a repreensão, a
suspensão de trabalho com perda de retribuição e antiguidade e o despedimento.
35
3.1.5 Suspensão do trabalho com perda de retribuição e de antiguidade
A suspensão do trabalho com perda de retribuição e de antiguidade é a sanção mais
grave do elenco das sanções conservatórias ‐ na gradação de sanções, acima dela existe
apenas o despedimento.
Quando o empregador decide pela escolha desta sanção o trabalhador não presta
trabalho, não recebe pelo tempo em que esteve suspenso, e esse tempo não é contabilizado
para efeitos de antiguidade e direitos dela decorrentes.
Trata‐se de uma sanção destinada a punir infrações disciplinares graves e por isso
produz efeitos relevantes, quer quanto à pessoa do trabalhador, quer quanto ao seu
património. Com efeito, o não pagamento da retribuição redunda num prejuízo que
podemos dizer direto, sendo que a perda dos direitos decorrentes da antiguidade poderá
significar um prejuízo económico com repercussões nos direitos do trabalhador.
Esta sanção também aparece sujeita a limites máximos, aqui previstos no artigo 328.º
n.º 2 al. c), não podendo, por conseguinte, exceder 30 dias por cada infração, nem em cada
ano civil mais de 90 dias86.
Durante o período de aplicação da medida de suspensão, e não obstante não existir
pagamento de retribuição, mantêm‐se as obrigações contributivas das partes87.
3.1.6 Despedimento sem indemnização ou compensação
O despedimento sem direito a qualquer indemnização ou compensação é a mais
grave das sanções disciplinares88, tratando‐se da única sanção não conservatória e, de resto,
a mais grave de todas as que o empregador pode aplicar ao trabalhador.
A aplicação desta sanção, na medida em que faz cessar o contrato de trabalho,
conflitua com o direito à segurança no emprego e com o direito à retribuição. São essas as
razões que levaram o legislador a limitar especialmente a sua aplicação. Assim, e apenas
86
Antes da vigência do Código do Trabalho, na LCT previa‐se como limite máximo por cada infração o período
de 12 dias e em cada ano civil um limite de 30 dias.
87
Conforme o disposto no artigo 46.º, n.º 2 al. u) do Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial
de Segurança Social, aprovado pela Lei 110/2009 de 14 de setembro, o que, em concreto, pode traduzir uma
perda para o empregador que não recebe o trabalho do trabalhador mas tem de manter o pagamento das
contribuições à segurança social.
88
Importa referir que na atual formulação legal se suprimiu a referência à natureza imediata do despedimento,
por se opor à natureza motivada e procedimental do despedimento.
36
quando se verificarem os requisitos apertados previstos na lei, designadamente os que
integram o conceito de justa causa, o empregador tem a faculdade de fazer cessar o
contrato de trabalho. São estas as situações em que a manutenção do contrato se encontra
irremediavelmente comprometida.
Sobre o despedimento disciplinar trataremos mais à frente neste trabalho.
3.2 Princípios orientadores para determinação das sanções disciplinares
Um dos aspetos mais delicados da utilização do poder punitivo do empregador consiste
na escolha da sanção a aplicar em face da infração disciplinar. O poder disciplinar, cujos
contornos de discricionariedade são evidentes, está sujeito a diversos limites e deve ser
utilizado pelo empregador em conformidade com os pressupostos da figura do abuso de
direito prevista no artigo 334.º CC89.
Relativamente à determinação da sanção pelo empregador, a nossa lei estabelece
diversos princípios que a devem orientar cujo objetivo é limitar o exercício do poder de que
o empregador é titular.
Com a sua previsão pretende‐se confinar as hipóteses de uso abusivo deste poder pelo
empregador e diminuir a discricionariedade na sua utilização, inviabilizando nomeadamente
a aplicação de sanções dissimuladas ao trabalhador. Situação a que alguma doutrina refere
como a aplicação de sanções ocultas ao trabalhador e que muitas vezes configuram a
aplicação de sanções abusivas90.
Na senda de garantir a escolha equilibrada e a aplicação justa da sanção, a lei fornece
dois critérios gerais que o empregador deve considerar: o da proporcionalidade da sanção à
gravidade da infração e à culpa do infrator e o da proibição da aplicação de mais do que uma
sanção pela mesma infração.
A norma em referência é uma norma aberta que se limita a fornecer ao empregador os
critérios gerais para a escolha da sanção adequada ao comportamento do trabalhador, cuja
aplicação certamente varia de empregador para empregador.
89
Considera‐se ilegítimo o exercício de um direito quando o titular exceda manifestamente os limites impostos
pela boa‐fé, pelos bons costumes ou pelo fim social ou económico desse direito.
90
Sobre este tipo de sanções ver MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Os Limites do Poder Disciplinar
Laboral, cit., p. 188, e PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 40.
37
O facto de a lei não definir o conceito de infração, nem estabelecer os termos em que as
diversas sanções deverão ser aplicadas, coloca dificuldades não despiciendas na atuação do
empregador.91
A técnica legislativa utilizada sujeita a aplicação de sanções pelo empregador à
sindicância do trabalhador. Seria certamente mais fácil para o empregador se o legislador
tivesse optado por outra fórmula legal, prevendo um elenco de infrações às quais
corresponderia determinada sanção92. Não foi este o caminho seguido, visto que seria
manifestamente impossível tipificar todas as infrações cometidas pelo trabalhador; mais,
fazer corresponder sempre a mesma sanção ao comportamento do trabalhador sem analisar
a culpa e a gravidade da ação do sujeito no caso concreto, poderia revelar‐se injusto e
desadequado 93.
A questão prática que se coloca frequentemente ao empregador é a de saber como
decidir a escolha da sanção a aplicar num caso concreto com respeito pelos princípios
enunciados94.
3.2.1 O princípio da proporcionalidade
O princípio da proporcionalidade consagrado no artigo 330.º n.º 1 1.ª parte CT,
impõe que o empregador escolha a sanção adequada à gravidade da infração e à culpa do
trabalhador infrator. Por aplicação do aludido princípio deve a sanção ser menos grave
quanto mais reduzidas forem a gravidade e a culpa do infrator e, ao contrário, deve a sanção
ser mais grave quanto mais o forem a gravidade e a culpa95.
91
No âmbito do direito penal, diferentemente do que sucede no instituto disciplinar laboral, e visto que a
condução do processo está sujeita a critérios de legalidade estrita, é possível encontrar‐se a previsão exata dos
comportamentos que conduzirão à aplicação das sanções.
92
Como sucede designadamente com o Estatuto Disciplinar da Função Pública.
93
A este propósito NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 107, considera que foi a falta
da definição geral de infração e de infrações em concreto que impediu o legislador de estabelecer uma
correspondência entre infrações e sanções.
94
Importa todavia referir que para o empregador não surge responsabilidade se iniciar o processo disciplinar e
se, no seu decurso, apurar que o trabalhador não cometeu qualquer infração. Neste sentido PEDRO ROMANO
MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 599.
95
PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 56, considera que a aplicação deste princípio pelo
empregador implica uma dupla apreciação; por um lado, a determinação da gravidade da falta; por outro lado,
a efetivação da graduação das sanções.
38
A proporcionalidade na aplicação de sanções é também um corolário do princípio da
boa‐fé que visa impedir a escolha e a aplicação de sanções desajustadas aos trabalhadores.
Com efeito, e apesar de a regra ser perfeitamente percetível, a aplicação casuística do
princípio nela contido levanta diversas dificuldades. Contudo, se os critérios de valoração
utilizados pelo empregador não forem corretos e adequados, o trabalhador pode sindicá‐los
judicialmente96.
A aferição da proporcionalidade na escolha da sanção faz‐se, desde logo, por
comparação entre a escolha de uma sanção conservatória ou não conservatória, pois, o
despedimento, sendo a sanção não conservatória prevista na lei, só se há‐de aplicar se as
punições menos gravosas não se mostrarem justas e adequadas.
Impõe‐se todavia notar que para aplicar o princípio da proporcionalidade o
empregador terá de formular juízos de valor em relação à apreciação da gravidade do
comportamento e à culpa do infrator97, sendo que a consideração destes juízos de valor
reflete vários aspetos de ordem subjetiva e social, que certamente poderão também ser
distintos de empregador para empregador.
Em relação ao comportamento do trabalhador, o empregador terá de aferir
principalmente dois aspetos, a atitude do trabalhador e as suas consequências ao nível da
relação jurídico‐laboral, podendo caber aqui a valoração do dano produzido para o
empregador98, e a conduta anterior e posterior à infração (arrependimento demonstrado),
cabendo aqui especial valoração dos antecedentes disciplinares do trabalhador.
96
Como aliás nota PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 23, o poder disciplinar, como
todo o poder é susceptível de desvio que pode manifestar‐se precisamente pela desproporção entre a
gravidade da infração e a sanção aplicada.
97
Tal como considerou o Ac. STJ de 8 de janeiro de 2013, processo n.º 447/10.4TTVNF.P1.S1, disponível em
www.dgsi.pt, que relativamente ao trabalhador bancário que solicitava empréstimos a clientes da sua
empregadora se achava violado o princípio da confiança, pelo que a sanção do despedimento se mostra
adequada ao princípio da proporcionalidade “O princípio da proporcionalidade, convocado aquando da seleção
da sanção disciplinar tida por adequada, orienta e informa o empregador, enquanto decisor, da necessidade de
observar, no momento próprio, a regra segundo a qual a sanção por que se opte deve corresponder, em
termos de proporcional severidade, à gravidade da conduta infracional, avaliada em si e nas suas
consequências, e ao grau de culpa do infrator, ambas aferíveis pelo padrão convencional do homem
médio/“bonus paterfamilias” e reportadas ao quadro atendível na apreciação da justa causa prefigurado no n.º
3 do art. 351.º do CT/2009”.
98
Como já mencionamos, a generalidade da doutrina considera que para haver sanção disciplinar não é
necessária a existência de um dano; neste sentido, PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p.
56, JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 888,
e NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 108.
39
3.2.2 O Princípio da unicidade
O outro princípio que condiciona a ação do empregador em matéria de escolha da
sanção a aplicar ao trabalhador é o que se encontra enunciado na 2.ª parte do n.º 1 do
artigo 330.º CT, e que prevê que o empregador não possa aplicar mais do que uma sanção
disciplinar pela mesma infração.
Com a previsão deste princípio da unidade da sanção, reflexo ele próprio do princípio
da proporcionalidade, o legislador procurou proteger o trabalhador. Ao impedir a aplicação
de várias sanções pela mesma infração evita que se desvirtue o princípio a que se alude na
primeira parte da norma e, mais do que isso, impede os resultados desajustados a que
eventualmente conduziria.
De notar que, não obstante o princípio da unicidade da sanção, o comportamento do
trabalhador punido disciplinarmente pode também dar lugar à responsabilidade civil ou
mesmo criminal.
A previsão desta norma consagra o designado princípio ne bis in idem, especialmente
relevante em sede de aplicação de sanções penais. A preocupação do legislador é garantir ao
trabalhador que pela mesma infração não lhe será aplicada mais do que uma sanção.
Estranhamente não se faz na lei qualquer referência à situação das infrações
continuadas, assim como ao caso em que existam várias infrações distintas tratadas no
mesmo processo disciplinar, deixando estes casos à consideração do intérprete a decisão de
saber se, nessas situações, deve aplicar uma ou várias sanções99.
3.2.3 O princípio da coerência disciplinar
Impõe‐se referir que para além dos princípios enunciados na lei, vem‐se discutindo
na doutrina e na jurisprudência no sentido de saber se existe a sujeição a um “princípio de
igualdade” na prática disciplinar levada a cabo pelo empregador, também designado de
coerência disciplinar da empresa.
99
Como especialmente menciona MARIA ADELAIDE DOMINGOS, Poder e Procedimento Disciplinar no Código
do Trabalho, cit., p. 485.
40
A esta questão a maior parte da doutrina responde negativamente, admitindo por
conseguinte que a mesma infração possa ser diferentemente punida quando praticada por
trabalhadores diferentes, nas mesmas circunstâncias, ou quando praticada por vários
trabalhadores possa ser punida em relação a um deles e já não relativamente a outros100.
Igualmente a jurisprudência, em especial o Supremo Tribunal de Justiça, têm respondido
negativamente à questão enunciada. Aquele tribunal tem considerado que a prática
disciplinar deve encarar‐se como um corolário do princípio constitucional da igualdade,
admitindo porém que não existe violação do princípio quando o empregador considerou
existir justa causa para despedir um trabalhador e não os outros trabalhadores que
intervieram nos mesmos factos101 ‐ solução com a qual concordamos e que se adequa à
natureza discricionária deste poder disciplinar do empregador.
3.3 A possibilidade de agravamento das sanções disciplinares
Apesar da previsão de limites máximos, o legislador admite que as sanções possam ser
agravadas, podendo ser esse o mecanismo que, em concreto, permita evitar o
despedimento do trabalhador102, já que agravando a sanção o empregador não avança para
a aplicação da sanção mais grave.
No Código do Trabalho prevê‐se a possibilidade de proceder ao agravamento das
sanções, através da sua divulgação no âmbito da empresa nos termos previstos nos n.ºs 4 e
5 do artigo 328.º CT. Assim, relativamente à sanção pecuniária e à suspensão do trabalho,
admite‐se o agravamento até ao dobro dos limites máximos previstos, sempre que esteja
previsto em IRCT, e apenas neste, e as especiais condições de trabalho o justifiquem,
conceito que a lei não explicitou103.
100
Sobre o tema ver JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho,
Volume I, cit., pp. 889 e ss.
101
Sobre o tema vejam‐se os Acórdãos STJ de 06 de dezembro de 2006, processo n.º 006B3458, e de 07 de
fevereiro de 2007, processo n.º 0653320, ambos disponíveis em www.dgsi.pt.
102
Constata‐se uma tendência do legislador de agravar os limites máximos das sanções, em especial no que
toca à sanção pecuniária e à suspensão com perda de retribuição e de antiguidade. A solução legislativa não
tem sido isenta de críticas, especialmente no que respeita à suspensão, que atualmente pode atingir os 6
meses.
103
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 657, considera que o
nosso legislador, relativamente à sanção pecuniária, seguiu a tendência inversa à de outros países e à das
próprias convenções coletivas, cujo sentido tem sido de eliminar esta sanção pelo facto de a mesma colidir com
a função alimentar do salário e da suficiência salarial mínima.
41
O n.º 5 do artigo 328.º CT prevê que todas as sanções possam ser agravadas pela
divulgação no âmbito da empresa, mas não estabelece por que meios esta se pode fazer.
Impede, contudo, que seja usada com caráter vexatório ou humilhante para o
trabalhador104.
O desrespeito dos limites máximos pelo empregador fá‐lo‐ão incorrer em
responsabilidade contraordenacional, prevendo a lei (328.º n.º 6) que se trata de uma
contraordenação grave.
Importa ainda referir que face aos diplomas que o antecederam, em especial a LCT, o
Código do Trabalho de 2003 estatuiu um aumento dos limites máximos das sanções,
tendência que se manteve em 2009, e que corrobora um dos aspetos da reforma assente
numa maior responsabilização das partes quer quanto às obrigações contratuais, quer
quanto ao conteúdo dos IRCT105.
3.4 A obrigação de registo das sanções disciplinares
Nos termos do artigo 332.º CT o empregador deve dispor e manter atualizado para cada
trabalhador um registo das sanções disciplinares aplicadas. Este deve ser elaborado para que
se permita facilmente a consulta e a verificação do cumprimento das normas aplicáveis por
parte das autoridades competentes. A sua falta, nos termos previstos, faz incorrer o
empregador numa contraordenação leve, conforme previsto no n.º 2 do artigo 332.º CT.
3.5 A aplicação de sanções abusivas e os seus efeitos
A previsão no artigo 331.º CT de uma norma sobre sanções abusivas tem por base a ideia
de que, distorcendo os princípios enformadores da aplicação das sanções em geral e o seu
regime em particular, pode o empregador aplicar indevidamente sanções ao trabalhador.
Essencialmente, a proibição de aplicar sanções abusivas é um mecanismo de controlo do
poder do empregador e, acima de tudo, de proteção do trabalhador.
104
Neste sentido JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume
I, cit., pp. 895 e ss., considera que também não se poderá divulgar o motivo da aplicação da sanção.
105
Conforme se colhe do ponto 3.4 da Exposição de Motivos que antecede o Código do Trabalho de 2003.
42
Neste domínio, o n.º 1 do artigo 331.º CT prevê as situações em que a aplicação de
sanção disciplinar ao trabalhador é considerada abusiva, ao passo que o n.º 2, estabelece
uma presunção que configura a aplicação abusiva de uma sanção ao trabalhador.
Em relação à previsão do n.º 1, são consideradas abusivas as sanções aplicadas pelo
empregador pelo facto de o trabalhador ter reclamado legitimamente contra as condições
de trabalho, recusar‐se a cumprir ordem a que não deva obediência nos termos da al. e) do
n.º 1 e n.º 2 do artigo 128.º CT, exercer ou candidatar‐se ao exercício de funções em
estrutura de representação coletiva dos trabalhadores e, em geral, ter exercido, pretender
exercer ou invocar os seus direitos e garantias.
Em relação às ações intentadas com algum dos fundamentos previstos no n.º 1, vigoram
as regras gerais do ónus da prova (artigo 342.º CC) cabendo por conseguinte ao trabalhador
alegar e provar os factos constitutivos do seu direito que evidenciem o uso abusivo da
sanção e que se integrem numa das alíneas a) a d) do n.º 1 do artigo 331.º CT.
No número 2 do mesmo artigo, o legislador estabeleceu uma presunção ilidível (à luz do
regime do artigo 350.º do CC) que dispensa o trabalhador de provar o nexo de causalidade
entre a sanção aplicada e outras infrações que num determinado espaço temporal venham a
ser‐lhe imputadas.
Nos termos da alínea a) presume‐se abusiva a sanção aplicada para punir uma infração
por factos previstos no n.º 1 do artigo 331.º e que ocorra até seis meses após a ocorrência
daqueles factos. No caso da alínea b) quando ocorram até um ano após a reclamação ou
outra forma de exercício de direitos relativos à igualdade e não discriminação nos termos
previstos na alínea b)106.
A regra geral em matéria de efeitos de aplicação de sanção abusiva pelo empregador é a
da indemnização ao trabalhador nos termos gerais, conforme previsto no n.º 3 do artigo
331.º CT, com as especialidades no caso das sanções previstas nos números 4 a 6 do mesmo
artigo, em que o legislador quantifica mínimos para as indemnizações.
Assim, se o tribunal considerar que o empregador despediu abusivamente um
trabalhador, este tem a possibilidade de optar pela reintegração ou por uma indemnização
106
Na revisão de 2009, a presunção do n.º 2 passou a abranger também a alínea c) do n.º 1 do artigo 331.º, o
que até então não se verificava. Nesse sentido passa a beneficiar da presunção a situação em que se verifique
uma punição do trabalhador que exerça ou se candidate ao exercício de funções em estrutura de
representação coletiva dos trabalhadores. Por outro lado, no que concerne à alínea b), estabeleceu‐se
novamente a regra respeitante aos direitos relativos à igualdade e não discriminação, e que já tinham tido
consagração legal artigo 35.º da Lei 35/2004 de 29 de julho, a lei que regulamentou o CT 2003.
43
fixada pelo tribunal entre 30 e 60 dias de retribuição de base e diuturnidades por cada ano
completo ou fração, mas nunca inferior a 6 meses, nos termos previstos do n.º 3 do artigo
392.º CT. Esta indemnização é ainda mais gravosa do que aquela que o CT prevê no 391.º CT
e que o trabalhador pode optar em substituição da reintegração em sede de ilicitude do
despedimento.
Se a sanção que o empregador aplicar abusivamente for a sanção pecuniária ou a
suspensão do trabalho, a indemnização a pagar ao trabalhador deverá ser fixada em
montante não inferior a 10 vezes a importância do valor da sanção ou da retribuição perdida
(n.º 5).
Já se a sanção abusiva aplicada for motivada pelo facto de o trabalhador exercer ou
candidatar‐se ao exercício de funções em estrutura de representação coletiva dos
trabalhadores, o empregador deve indemnizar o trabalhador com uma indemnização não
inferior a 20 vezes o valor da sanção pecuniária ou o dobro da retribuição perdida no caso de
suspensão.
Se neste quadro a sanção abusiva for o despedimento, o tribunal deve fixar a
indemnização ao trabalhador em valor não inferior a 12 meses de retribuição base e
diuturnidades (n.º 6).
O legislador não tomou posição, no caso de a sanção abusiva aplicada ser a perda de
dias de férias, caso em que parece ser suficiente a devolução ao trabalhador dos dias de
férias retirados e dos valores que eventualmente lhe tenham sido descontados.
4. Os prazos para o exercício da ação disciplinar pelo empregador
O elemento temporal tem especial relevo no exercício do poder disciplinar pelo
empregador. Há, nesta matéria, a ideia de que a fixação de prazos que condicionem o
exercício do poder disciplinar resultam em garantias de certeza e segurança jurídica para
ambas as partes, em particular para o trabalhador.
Com efeito, não sendo o exercício do poder disciplinar uma obrigação do empregador,
mas antes uma faculdade, a previsão de prazos permitem ao trabalhador avaliar se
44
determinado comportamento com relevância disciplinar está ainda em condições
(temporais) de ser punido disciplinarmente pelo empregador.
Efetivamente a passagem do tempo sem que haja qualquer sinal da parte do
empregador quer, em regra, significar a irrelevância disciplinar dos comportamentos do
trabalhador ou, eventualmente, uma atitude de perdão do empregador face às infrações
disciplinares praticadas.
Com efeito, o decurso do tempo de que o empregador dispõe para exercer o poder
disciplinar sem que o tenha feito, funciona por vezes como fator libertador do trabalhador,
face à “ameaça” da punição resultante do predomínio do empregador.
A previsão de limites temporais para a utilização da ação disciplinar do empregador pode
justificar‐se, além do mais, por referência ao princípio da imediação. Segundo este princípio,
quanto mais tempo passar desde a prática da infração até ao momento em que a sanção se
efetivar, menor é a sua eficácia punitiva e o seu efeito útil.
Por fim, acresce que a necessidade de conservação das provas justifica o exercício do
poder disciplinar num prazo relativamente curto.
Trataremos agora dos diversos prazos a que o exercício da ação disciplinar está sujeita,
previstos nos artigos 329.º n.º 1, n.º 2 e n.º 3 e 330.º n.º 2 CT, assim como das
consequências que o decurso do tempo produz em matéria disciplinar.
Importa além do mais referir que existe ainda um outro prazo em matéria disciplinar
(relacionado com este) que obriga o empregador a proferir a decisão de despedimento no
prazo de 30 dias após o encerramento das diligências instrutórias ou o recebimento dos
pareceres das entidades que representam os trabalhadores, e que está previsto no artigo
357.º nº 1 CT.
Sobre este prazo em particular trataremos na parte relativa ao procedimento com vista
ao despedimento, referindo por agora os restantes prazos, seguindo a ordem pela qual
aparecem tratados na lei.
45
4.1 O prazo de prescrição da infração disciplinar
O primeiro prazo tratado pelo legislador é o que se encontra previsto no n.º 1 do artigo
329.º CT; segundo esta norma, o empregador tem o direito de exercer o poder disciplinar
até um ano após a prática da infração ou, quando o comportamento do trabalhador
constituir crime, nos prazos previstos na lei penal107/108.
Decorre da leitura da norma que o decurso do prazo de prescrição de um ano começa a
contar‐se a partir da data da infração, independentemente de o empregador conhecer ou
não a prática da infração. O que significa que se o empregador conhecer a prática da
infração decorrido que esteja um ano desde o momento da sua ocorrência, o poder
disciplinar já não pode ser exercido, tendo prescrito o direito de o empregador o exercer.
Esta solução garante ao trabalhador que a “expectativa” da punição não se prolongue
indeterminadamente no tempo, dando‐lhe a tranquilidade necessária para manter uma
relação que se caracteriza como duradoura e que se baseia na confiança.
Adquire especial relevo neste âmbito, por influenciar o início da contagem do prazo
referido, a situação das infrações continuadas, ou seja, nos casos em que os
comportamentos infratores do trabalhador se mantêm no tempo, de forma contínua ou
permanente109.
107
O n.º 1 do artigo 118.º do Código Penal, sob a epígrafe prazo de prescrição, dispõe que o procedimento
criminal extingue‐se por efeito de prescrição logo que sobre a prática do crime tiverem decorrido os seguintes
prazos:
a) 15 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite máximo for superior a 10 anos
ou dos crimes previstos nos artigos 372.º, 373.º, 374.º, 374.º‐A, 375.º n.º 1, 377.º n.º 1, 379.º n.º 1, 382.º,
383.º e 384.º do Código Penal, 16.º,17.º, 18.º e 19.º da Lei n.º 34/87 de 16 de julho, alterada pelas Leis n.ºs
108/2001 de 28 de novembro e 30/2008 de 10 de julho, e 8.º, 9.º, 10.º e 11.º da Lei n.º 50/2007 de 31 de
agosto, e ainda do crime de fraude na obtenção de subsídio ou subvenção;
b) 10 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite máximo for igual ou superior a
cinco anos, mas que não exceda dez anos;
c) 5 anos, quando se tratar de crimes puníveis com pena de prisão cujo limite máximo for igual ou superior a
um ano, mas inferior a cinco;
d) 2 anos nos casos restantes.
108
Relativamente à aplicação desta regra da prescrição do direito criminal às infrações disciplinares, PEDRO
FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, 3.ª edição, Principia Editora Lda., Cascais, 2012, p. 192,
considera que o empregador beneficia do prazo previsto no Código Penal para sancionar o trabalhador, isto
independentemente de ter apresentado a respetiva queixa ‐ o que, em concreto, apenas releva para
determinar a extinção da responsabilidade criminal. No mesmo sentido decidiu o Ac. STJ de 13 de janeiro de
2010, processo n.º 1164/07.8TTPRT.S1, disponível em www.dgsi.pt.
109
Sobre o conceito, ver MANUEL LOPES MAIA GONÇALVES, Código Penal Anotado, 17.ª Edição, Almedina,
Coimbra, 2005, pp. 145‐153.
46
Em relação a estas infrações, e não obstante na lei laboral não existir quanto a elas
qualquer referência, tanto a doutrina como a jurisprudência têm‐lhe atribuído relevância110.
Importa salientar que, do ponto de vista conceptual, para que exista uma infração
continuada é determinante que os comportamentos do trabalhador e os bens jurídicos
violados sejam os mesmos ou que, pelo menos, sejam do mesmo género. Assim, não
havendo qualquer ligação entre os comportamentos do trabalhador não se poderá falar de
uma infração continuada, mas antes da existência de diversos comportamentos que podem
constituir outras tantas infrações disciplinares.
Quanto a este tema da relevância disciplinar das infrações continuadas importa, todavia,
não perder de vista o fim último da consagração dos prazos que condicionam a ação do
empregador e que funcionam como “presunção” da irrelevância disciplinar direta do
comportamento do trabalhador111.
Tem‐se conjeturado a possibilidade de as infrações prescritas poderem ser consideradas
no momento de aplicar outras sanções ao trabalhador. No que tange a este tema, a doutrina
tem vindo a entender que as infrações que prescreveram não podem ser consideradas para
efeito de punição autónoma, mas podem servir, nomeadamente, para valorar a postura do
trabalhador na empresa112.
No que se refere à qualificação das faltas injustificadas do trabalhador como infrações
continuadas tem‐se verificado algumas divergências interpretativas.
No caso previsto na alínea g) do n.º 2 do artigo 351.º CT, a principal questão que se
coloca tem a ver com a eventual relação com o prazo para iniciar o procedimento disciplinar.
Com efeito, o legislador refere que no cômputo dessas faltas são consideradas todas as
faltas dadas pelo trabalhador em cada ano civil, o que lido à letra parece querer dizer que os
prazos para o exercício da ação disciplinar principiariam no início do ano civil seguinte,
opinião que não é consensual113.
110
Quanto à doutrina ver, entre outros, PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 117; INÊS
ALBUQUERQUE E CASTRO, A Repercussão do Tempo no Procedimento Disciplinar. Da Prescrição, Caducidade,
Duração da Instrução e Inobservância do Prazo de Decisão, in, Estudos do Instituto de Direito do Trabalho, vol.
III, Coimbra, 2002, pp. 473‐534; MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte
II, cit., p. 635; e PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 993. No que tange à jurisprudência, e
no sentido de que o prazo de prescrição só começa a contar‐se após a prática do último ato, ver Ac. STJ de 8 de
junho de 2006, processo n.º 05S3731, Ac. STJ de 24 de janeiro de 2007, processo n.º 06S3854, e o Ac. RP de 2
de junho de 2008, processo n.º 0747109, todos disponíveis em www.dgsi.pt.
111
Neste sentido NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 125.
112
Idem, cit., p. 127.
113
Contra esta interpretação PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 199.
47
Importa acentuar que o desrespeito deste prazo pelo empregador torna o despedimento
por facto imputável ao trabalhador ilícito, nos termos do artigo 382.º n.º 1 CT, cabendo ao
trabalhador alegar e provar os factos de onde se conclua a inobservância dos prazos pelo
empregador114.
4.2 O prazo (de caducidade ou de prescrição) para iniciar o procedimento
disciplinar
O segundo prazo que o legislador estabelece, e que o empregador tem de considerar no
exercício da ação disciplinar, é o que está previsto no n.º 2 do artigo 329.º CT. Este prazo diz
respeito ao início da ação disciplinar pelo empregador.
Dispõe a norma que o procedimento disciplinar deve iniciar‐se nos 60 dias subsequentes
àquele em que o empregador, ou o superior hierárquico com competência disciplinar, teve
conhecimento da infração. Da leitura da norma extrai‐se que, enquanto o empregador ou o
superior hierárquico não tiverem conhecimento dos factos ou dos elementos que compõem
a infração disciplinar cometida pelo trabalhador, este prazo não começa a correr. Neste
contexto, é especialmente relevante a identificação autor da infração115.
Perante a falta de tomada de posição do legislador quanto à natureza deste prazo,
diferentemente do sucede nos n.º 1 e 3 deste artigo, em que os qualificou como prazos de
prescrição, a doutrina tem‐se debruçado sobre esta questão.
Para uma grande parte da doutrina, este prazo para o empregador dar início ao
procedimento, após ter conhecimento da infração, é um prazo de caducidade, nos termos
do previsto no artigo 298.º n.º 2 do Código Civil116. A qualificação deste prazo de 60 dias
como prazo de caducidade assenta essencialmente em duas ordens de razões117. Em
114
Neste sentido, entre outros, decidiram os Acórdãos do STJ de 13 de outubro de 2010, in CJ (STJ), 2010, III,
pp. 254‐260, e Ac. STJ de 18 de fevereiro de 2011, in CJ (STJ), 2011, I, pp. 252‐257.
115
Considerando que não basta o conhecimento genérico das infrações, impondo‐se também a identificação
do trabalhador que as cometeu, assim decidiu o STJ no Ac. de 13 de julho de 2004, processo n.º 03S3476, e Ac.
de 12 de setembro de 2007, processo n.º 07S1698, ambos disponíveis em www.dgsi.pt.
116
Assim o consideram, entre outros, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho,
Parte II, cit., p. 653, e MARIA ADELAIDE DOMINGOS, Poder e Procedimento Disciplinar no Código do Trabalho,
cit., p. 487.
117
Sobre os conceitos de prescrição e caducidade ver MANUEL DE ANDRADE, Teoria Geral da Relação Jurídica,
Volume II, Almedina, Coimbra, 1992, pp. 445 e 463.
48
primeiro lugar, atenta a natureza supletiva do critério da norma do n.º 2 do artigo 298.º CC,
que se aplica sempre que a lei não previr solução diversa; em segundo lugar, a qualificação
da ação disciplinar do empregador como um direito potestativo, cujo exercício fica sujeito ao
instituto da caducidade, por contraposição à prescrição que se verifica nos direitos
subjetivos.
Diferentemente aqueles autores que consideram o prazo referido como um prazo de
prescrição invocam o argumento de que os prazos de caducidade não admitem causas de
suspensão ou de interrupção, o que sucede nomeadamente com este prazo por efeito do
envio da nota de culpa ao trabalhador ou com a instauração do inquérito prévio, conforme
previsto no artigo 353.º n.º 3 CT118.
No que respeita à jurisprudência, a qualificação do prazo que os tribunais têm feito tem
predominado a sua caracterização como prazo de caducidade119, levantando‐se igualmente
a questão acerca do conhecimento oficioso deste prazo120.
No caso do despedimento, se o empregador exercer o poder disciplinar para além do
prazo referido, o despedimento será ilícito nos termos do artigo 382.º n.º 1 CT.
4.3 O prazo de prescrição do procedimento disciplinar
Com as alterações do Código do Trabalho em 2009, introduzidas pela mão da Lei n.º
7/2009 de 12 de fevereiro, acabou por se consagrar na lei um prazo que garante
efetivamente a celeridade e a imediação do procedimento disciplinar. Refira‐se, aliás, que no
domínio da lei anterior, e à falta da consagração de prazo idêntico, considerava‐se que no
exercício da ação disciplinar o empregador estava apenas vinculado a deveres de celeridade
e diligência.
118
Neste sentido PEDRO SOUSA MACEDO, Poder Disciplinar Patronal, cit., p. 116, NUNO ABRANCHES PINTO,
Instituto Disciplinar Laboral, cit., p 119 e PEDRO ROMANO MARTINEZ, Código do Trabalho Anotado, cit., p. 699.
119
Veja‐se neste sentido o Ac. STJ Uniformizador de Jurisprudência 4/2003 de 21 de maio de 2003, processo n.º
02S452, o Ac. RL de 25 de junho de 2006, processo n.º 0746048, e o Ac. STJ de 13 de janeiro de 2010, processo
n.º 1321/06.4 TTLSB.L1.S1, todos disponíveis em www.dgsi.pt, que consideraram que a caducidade do
procedimento disciplinar só se interrompe no dia em que o trabalhador arguido é notificado da nota de culpa,
sendo irrelevante que o procedimento disciplinar tenha sido ordenado antes da comunicação da nota de culpa.
120
O Acórdão Uniformizador de Jurisprudência n.º 4/2003 de 21 de maio de 2003 referido na nota anterior,
decidiu que não constitui matéria de conhecimento oficioso do tribunal a caducidade do procedimento
disciplinar.
49
Atualmente o legislador submete o exercício da ação disciplinar do empregador ao
cumprimento de um outro prazo que introduziu no n.º 3 do artigo 329.º CT.
Esta norma passou a fixar um prazo máximo de duração do procedimento disciplinar.
Dispõe que o procedimento disciplinar prescreve decorrido um ano da data em que é
instaurado quando, nesse prazo, o trabalhador não seja notificado da decisão final.
No caso do despedimento, e atendendo à natureza recetícia da comunicação da decisão
de despedimento, importa notar que a contagem deste prazo principia com o início do
procedimento e termina quando o trabalhador recebe a decisão final do despedimento
prevista no artigo 357.º nº 7 CT.
Diferentemente da solução que o legislador preconizou para a inobservância pelo
empregador dos prazos referidos no n.ºs 1 e 2 deste artigo, conclui‐se que o não
cumprimento do prazo de um ano para conclusão do procedimento disciplinar não
determina a ilicitude do despedimento – opção do legislador para que não se encontram
razões que a justifiquem.
4.4 O prazo de caducidade para aplicação das sanções disciplinares
No que tange ao prazo para aplicar a sanção, o n.º 2 do artigo 330.º CT estabelece um
prazo segundo o qual a sanção deve ter lugar nos três meses subsequentes à decisão da sua
aplicação, sob pena de caducidade121. A qualificação deste prazo como de caducidade
verificou‐se a partir das alterações introduzidas no Código do Trabalho em 2009.
A consagração deste prazo pelo legislador tem levantado na doutrina algumas dúvidas
no que respeita à sua aplicação à sanção de perda de dias de férias. A dificuldade pode surgir
num caso concreto em que o trabalhador já tenha marcado as suas férias e o empregador
não as possa alterar ou em que o trabalhador não disponha de férias no ano em curso, casos
em que a execução da sanção no prazo referido pode não ser viável.
121
Sobre o tema ver o Ac. STJ de 30 de abril de 2013, processo n.º 1154/09.6TTLSB.L1.S1, disponível em
www.dgsi.pt, que decidiu que as diligências probatórias a partir das quais se começa a contar o prazo de
caducidade do direito de aplicar a sanção não se circunscrevem àquelas que o trabalhador haja requerido na
sua resposta à nota de culpa, mas abrangem também quaisquer outras que o instrutor do processo disciplinar
entenda oficiosamente promover.
50
Há na doutrina quem admita a não sujeição do empregador ao cumprimento deste
prazo neste caso específico e outros há que, por sua vez, não admitem esta
argumentação122. A discussão não nos parece especialmente relevante visto que o
empregador dispõe de um leque variado de sanções, e, caso se frustre a aplicação desta
sanção, pode sempre escolher uma outra que se mostre igualmente adequada à punição do
comportamento do trabalhador.
Genericamente tem‐se entendido que a obrigação de aplicar a sanção num curto espaço
de tempo é um corolário do princípio da boa‐fé na execução dos contratos123.
122
Defendendo que o empregador não tem de cumprir neste caso concreto qualquer prazo, PEDRO ROMANO
MARTINEZ, Código do Trabalho Anotado, cit., p. 701. A posição contrária, com a qual concordamos, é sufragada
por MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 648, e JÚLIO
MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 897.
123
Como considera JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho,
Volume I, cit., p. 889.
124
BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER, Procedimentos na empresa para uma visão procedimental do Direito do
Trabalho, in Revista de Direito e de Estudos Sociais, 2007, n.ºs º 1 e 2, p. 42, define o procedimento “como
sequência de actos estabelecidos nas normas de trabalho e por estas normas regulados com vista à realização
de um acto final, no procedimento também compreendido”.
51
Para aplicar qualquer das outras sanções que não o despedimento não se colhe da lei
que o empregador tenha de realizar qualquer procedimento por escrito125.
Em defesa desta ideia, aliás, o n.º 6 do artigo 329.º CT dispõe que a sanção disciplinar
não pode ser aplicada sem audiência prévia do trabalhador126.
O cumprimento desta regra obriga portanto o empregador a ouvir o trabalhador antes
de lhe aplicar qualquer sanção conservatória.
Não se colhe da leitura da lei que o empregador tenha de cumprir outras formalidades,
como por exemplo, que esteja obrigado, nestas situações, a deduzir a acusação do
trabalhador por escrito e que, para além de o ouvir, lhe permita apresentação da sua defesa
por escrito.
Admitimos porém que a realização por escrito do procedimento serve não só para
demonstrar a utilização conforme à lei e não abusiva do poder disciplinar do empregador,
como até, e em certa medida, para proteger o empregador127.
De facto, como pela prática nos é permitido concluir, muitos empregadores utilizam o
procedimento disciplinar nos exatos termos que a lei fixa para o despedimento, mesmo
quando se trata de aplicar as sanções conservatórias, o que se verifica particularmente à
medida que a gravidade da sanção vai aumentando.
Importa referir que perante as sanções previstas na lei dificilmente se possa defender
que a aplicação da sanção de repreensão esteja sujeita a um procedimento escrito, porque,
nesta situação, a isso se opõe a natureza verbal e imediata desta sanção128.
Sobre o procedimento com vista a aplicar a sanção de despedimento trataremos mais
adiante neste trabalho, pelo que é para lá que remetemos.
125
Neste sentido, posição com a qual concordamos, ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho,
cit., p. 231.
126
Se o empregador não respeitar a audiência prévia do trabalhador comete uma contraordenação grave,
prevista no artigo 554.º CT.
127
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume I, cit., p. 896,
considera que o procedimento deve ser feito por escrito para impedir o uso arbitrário de tal poder pelo
empregador.
128
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 652, defende que a
aplicação de qualquer sanção ao trabalhador deve ser precedida de um processo, posição que nos parece
excessiva face à letra da lei.
52
6. Os mecanismos de controlo da aplicação de sanções disciplinares
Aplicada a sanção ao trabalhador, este pode reagir judicial ou extrajudicialmente. De
acordo com o disposto no n.º 7 do artigo 329.º CT, o trabalhador pode reclamar para o
escalão hierarquicamente superior ao que aplicou a sanção, assim como recorrer a processo
de resolução de litígio desde que previsto na lei ou em IRCT.
6.1 A reclamação interna
A admissibilidade da reclamação contra uma sanção que tenha sido aplicada ao
trabalhador é uma forma de procurar resolver este assunto no seio da empresa, evitando
nomeadamente o litígio judicial quanto à aplicação de sanções disciplinares129.
Esta solução é de muito interesse, em especial por permitir “satisfazer” os interesses em
questão sem recurso ao litígio judicial, o que em regra representa a hostilização das relações
entre trabalhador e empregador.
Contudo, nos termos em que a reclamação aparece prevista na lei pressupõe, antes de
mais, que o trabalhador se insira numa organização e que essa organização esteja ordenada
de forma hierarquizada.
Sucede que o legislador laboral não desenvolveu a figura, para além da breve referência
em que manifesta a sua admissibilidade. Não há previsão de regra quanto ao prazo em que a
reclamação deva ser apresentada pelo trabalhador e se a utilização deste mecanismo
suspende os prazos para a impugnação judicial, o que em todo o caso, nos parece não ser
possível.
A reclamação suscitada pelo trabalhador pode ser atendida pelo superior hierárquico e
consequentemente diminuída ou extinta a responsabilidade disciplinar do trabalhador. Já o
contrário não nos parece ser possível, que por via da reclamação se possa agravar a sanção
inicialmente aplicada.
129
Embora a lei não o diga expressamente, este meio adequa‐se às sanções conservatórias, pois no que tange
ao despedimento o legislador referiu expressamente a necessidade de o impugnar judicialmente.
53
6.2 A impugnação judicial das sanções conservatórias
O trabalhador a quem tenha sido aplicada uma sanção que considere ilegal, sem prejuízo
da correspondente reclamação, pode atacá‐la através da impugnação judicial prevista no
artigo 329.º n.º 7 CT.
Para acautelar eficazmente os seus direitos, o trabalhador pode igualmente lançar mão,
se assim o entender, do procedimento cautelar comum (32.º e ss. CPT) com vista a “impedir”
a execução da sanção disciplinar que lhe foi aplicada pelo empregador130.
Impõe‐se notar neste âmbito que, se a sanção aplicada for o despedimento, o
trabalhador dispõe de mecanismos processuais próprios, quer com vista à impugnação, quer
quanto à suspensão do despedimento, e que trataremos separadamente neste trabalho. A
ser assim, o que faz sentido por agora é determo‐nos sobre os mecanismos judiciais ao
dispor do trabalhador para impugnar as outras sanções que lhe sejam aplicadas, que não
sejam o despedimento.
A ação judicial para obtenção da impugnação judicial da sanção será intentada junto do
tribunal do trabalho territorialmente competente131. Contudo, dada a ausência de ação
própria para este fim, o trabalhador terá de impugnar a sanção socorrendo‐se do processo
declarativo comum, previsto nos artigos 51.º e ss. do CPT, e, se for o caso, verificados os
pressupostos relativos ao procedimento cautelar comum, nos termos do artigo 32.º CPT.
A principal questão em torno da impugnação judicial das sanções conservatórias
aplicadas ao trabalhador prende‐se com o prazo de que o trabalhador dispõe para o fazer,
isto porque o legislador não o estabeleceu.
A falta de tratamento legislativo desta matéria faz com que a posição mais difundida na
doutrina seja aquela que considera que o trabalhador deve poder impugnar a sanção que lhe
foi aplicada pelo seu empregador dentro do mesmo prazo em que pode impugnar o
despedimento132.
130
Importa referir que o recurso do trabalhador a qualquer destes mecanismos não suspende os prazos de que
o empregador dispõe para execução das sanções e a que já nos referimos.
131
De acordo com o previsto na alínea b) do artigo 118.º da LOFTJ, os tribunais do trabalho têm competência
em matéria cível para conhecer de todas as questões emergentes de relações de trabalho subordinado.
132
Neste sentido ALBINO MENDES BAPTISTA, Prazo de impugnação judicial do despedimento. A propósito do
Ac. do STJ de 7.2.2007, in Temas de Direito do Trabalho e de Direito Processual do Trabalho, Livraria Petrony,
Lisboa, 2008, p. 153 e ABÍLIO NETO, Processo disciplinar e despedimentos, cit., p. 20, PEDRO ROMANO
MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 641 e JOÃO LEAL AMADO, Uma questão interessante: de que prazo
dispõe o trabalhador para impugnar judicialmente uma sanção disciplinar,? in Reflexões, 2007, n.º 2, p. 22.
54
Posição que encontramos também subscrita em diversos acórdãos. Na essência manda‐
se aplicar, por analogia a esta ação, o prazo para a impugnação do despedimento, o que, até
à criação da nova ação de impugnação de regularidade e licitude do despedimento, era
exclusivamente o prazo geral de prescrição dos créditos previsto no n.º 1 do artigo 337.º CT
– um ano contado desde da data da cessação do contrato de trabalho133. Os argumentos que
presidem à extensão do prazo de um ano a estas situações são genericamente os mesmos
que se invocam quanto ao despedimento e que consideram que o trabalhador só tem
“liberdade” para reagir contra o empregador quando a relação de trabalho acaba.
Contudo a aplicação deste prazo às situações de impugnação de sanções diferentes do
despedimento é tudo menos linear, sendo‐lhe apontadas diversas críticas.
Desde logo, a aplicação do mesmo prazo de que o trabalhador dispõe para impugnar o
despedimento pode parecer excessiva quando se trata de impugnar sanções conservatórias.
A aplicação deste prazo condiciona os efeitos dos atos do empregador relativos à
competência disciplinar que, no limite, vários anos volvidos desde a sua aplicação, poderiam
vir a ser impugnados no ano seguinte ao da cessação do contrato de trabalho.
Sucede que, e em desfavor da aplicação do prazo referido, existe a questão da
conservação das provas, que como é sabido se vão perdendo com a passagem do tempo.
Pelo que a ser assim, a previsão de um prazo tão vasto também não se revela especialmente
útil.
Porém a falta de solução legal tem feito da solução referida, e não obstante as críticas, a
mais aplicada no que tange ao prazo de impugnação das sanções que não despeçam o
trabalhador.
Impõe‐se atualmente uma referência ao prazo de 60 dias previsto para a ação especial
para impugnação da regularidade e licitude do despedimento, prazo que se conta a partir da
data da receção da decisão do despedimento e que está previsto no n.º 2 do artigo 387.º CT.
A questão que hoje faz sentido colocar é a de saber se esta ação especial, e este prazo
de 60 dias contados após a receção da decisão que comunica ao trabalhador a aplicação de
Diferentemente, ANTÓNIO JORGE DA MOTTA VEIGA, Lições de Direito do Trabalho, cit., p. 345, refere que o
prazo que o trabalhador tem para impugnar a sanção deve ser o mesmo prazo de que o empregador dispõe
para a aplicar.
133
Sobre a questão do prazo para impugnar sanções disciplinares que não o despedimento, Ac STJ de 22 de
outubro de 2008, processo n.º 07S3787, Ac. STJ de 6 de dezembro de 2011, processo n.º 338/08.9TTLSB.L1.S1,
e Ac. STJ de 16 de maio de 2012, processo n.º 3982/06.5TTLSB.L1.S1, disponíveis em www.dgsi.pt.
55
uma sanção conservatória, poderão ser uma opção a aplicar analogicamente à impugnação
das sanções disciplinares diferentes do despedimento.
Alvitramos não poder ser esta uma solução, nem este prazo se deva considerar para o
trabalhador impugnar judicialmente a sanção que o empregador lhe aplicou. Parece‐nos, por
um lado, um prazo demasiado curto e que o legislador previu porque o trabalhador não
precisa de “intentar” uma verdadeira ação, bastando‐lhe entregar no tribunal um
requerimento e a decisão de despedimento; e, por outro lado, nesta ação, o ónus da prova é
do empregador, regra que, quando o trabalhador pretende impugnar uma sanção
conservatória, não se deve aplicar134.
Pelo exposto, perante a lacuna que referimos propendemos para aplicar o prazo de
prescrição do 337.º n.º 1 CT às situações de impugnação judicial de sanções conservatórias.
Importa ainda referir que a eventual decisão do tribunal que reconheça a ilicitude da
sanção aplicada condiciona apenas o empregador a alterar a sanção, isto porque
pertencendo o poder disciplinar ao empregador, não poderá o tribunal decidir pela aplicação
de outra sanção.
Da análise realizada foi‐nos permitido concluir que a falta de conceitos, noutras
situações, a utilização de conceitos vagos e indeterminados, e a não tipificação das infrações,
adensam fortemente as dificuldades do empregador no que tange à qualificação das
infrações e à escolha da sanção adequada. Em todo o caso, garante‐se sempre a audiência
prévia do trabalhador e o direito de sindicar internamente ou judicialmente as sanções
conservatórias que lhe sejam aplicadas.
134
Contra NUNO ABRANCHES PINTO, Instituto Disciplinar Laboral, cit., p. 139, defende que nas acções de
impugnação de sanções conservatórias o ónus da prova recai sobre o empregador.
56
Capítulo III ‐ O exercício do poder disciplinar com vista ao
despedimento do trabalhador
1. O despedimento disciplinar: aspetos gerais
Em matéria de despedimento, o Código do Trabalho faz uma distinção consoante o facto,
ou factos, que conduzem ao despedimento serem imputáveis ao trabalhador, ou, pelo
contrário, resultarem de circunstâncias objetivas, ou outras, não imputáveis ao trabalhador,
‐ sendo por conseguinte identificáveis várias espécies de despedimento135.
No artigo 340.º CT, o legislador enumera as modalidades de despedimento136 e agrupa‐
as em função do tipo de causa que lhe está na base137. Encontramos, assim, o despedimento
por facto imputável ao trabalhador, despedimento coletivo, despedimento por extinção de
posto de trabalho e despedimento por inadaptação138.
Em qualquer dos casos o despedimento é uma manifestação de vontade do
empregador139. Trata‐se de uma declaração, vinculada e fundamentada, cujo objetivo é a
cessação do contrato de trabalhador ao seu serviço140. Cessação essa que ocorre assim que a
decisão de despedimento for recebida pelo trabalhador 141.
135
Sobre os antecedentes do despedimento antes do Código do Trabalho de 2003, ver ANTÓNIO MONTEIRO
FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., pp. 470 e ss.
136
O despedimento constitui uma das modalidades de resolução do contrato de trabalho que pressupõe uma
comunicação devidamente justificada ao trabalhador de que o seu contrato vai cessar. Na versão inicial do CT
em 2003, o legislador laboral preferiu a designação resolução do contrato de trabalho pelo empregador em vez
de despedimento. Hoje o CT reservou a expressão resolução do contrato de trabalho para os casos em que o
trabalhador pode fazer cessar o contrato por incumprimento do empregador, nos termos previstos no artigo
394.º e ss. CT. PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., pp. 906 e 910, continua a usar o termo
resolução quando se refere ao despedimento. Contra a configuração do despedimento como resolução do
contrato de trabalho, ver PEDRO FURTADO MARTINS, Despedimento Ilícito, Reintegração na Empresa e Dever
de Ocupação efectiva, in Direito e Justiça – Revista da Faculdade de Direito da Universidade Católica
Portuguesa, 1992, pp. 38 e ss.
137
PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 158, considera tratar‐se igualmente
de um despedimento a cessação da comissão de serviço prevista no artigo 163.º CT. Entende ainda que este
despedimento se configura como um despedimento ad nutum dificilmente compatível com o artigo 53.º CRP.
138
Foi a partir do DL. n.º 64‐A/89 de 27 de fevereiro que se passou a admitir que o despedimento pudesse ser
motivado por outras razões que não um comportamento culposo praticado pelo trabalhador, passando a
distinguir‐se o despedimento por causa subjetiva e objetiva.
139
PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., pp. 151 e ss., admite que essa
declaração possa ser tácita, embora com consequências ao nível da licitude do despedimento. Sobre as
situações que, na prática, configuram um despedimento tácito veja‐se também a jurisprudência que o autor
indica nas páginas referidas.
140
Sobre a natureza contratual do modelo de despedimento presente na nossa lei ver PEDRO FURTADO
MARTINS, Despedimento Ilícito, Reintegração na Empresa e Dever de Ocupação Efectiva, cit., p. 37 e p. 93.
57
Importa porém notar que muitas vezes a declaração do empregador não se configura da
forma descrita, o que leva alguma doutrina a referir‐se à cessação factual da relação de
trabalho142. Nestas e noutras situações, a que nos referiremos mais à frente neste trabalho,
a cessação do contrato de trabalho pode ser posta em crise pelo trabalhador.
Analisaremos de seguida o despedimento por facto imputável ao trabalhador também
designado de despedimento disciplinar143.
Recentemente, em Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 150, o autor admite que esta posição tem de ser
repensada, em especial quando o contrato cessa por questões relacionadas com o redimensionamento da
organização produtiva.
141
Como nota PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 150, apesar de o
despedimento ser uma declaração do empregador, na linguagem corrente é muitas vezes utilizada referindo‐se
à cessação do contrato pelo trabalhador: ouvimos, não raras vezes, “o trabalhador despediu‐se” para referir as
situações em que o trabalhador fez cessar o contrato de trabalho.
142
Sobre o tema ver em especial BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER, et al., Cessação factual da relação de
trabalho e aplicação do regime jurídico do despedimento, Revista de Direito e de Estudos Sociais, 1999, n.º 1,
pp. 41‐49, PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 152.
143
Apesar da natureza disciplinar do despedimento estar consagrada em vários sistemas jurídicos que nos são
próximos, como o Espanhol e o Francês, a qualificação disciplinar do despedimento produz algumas
consequências, designadamente aplicam‐se a este despedimento todos os princípios gerais relativos ao
exercício do poder disciplinar, como defende MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do
Trabalho, Parte II, cit., p. 830.
144
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 816 considera a
expressão despedimento com justa causa preferível à atual que o designa de despedimento por facto
imputável ao trabalhador, visto que nem todos os factos imputáveis ao trabalhador podem levar ao seu
despedimento.
145
Esta lei surgida após a revolução de 25 de abril de 1974, assim como as vigentes daí em diante, dedicaram
especial proteção ao trabalhador e ao seu posto de trabalho; ao mesmo tempo, a CRP de 1976 passou a
58
No Código do Trabalho de 2003147 manteve‐se o mesmo alinhamento no que respeita à
matéria das modalidades de despedimento, sendo a principal diferença relativamente ao
regime atualmente em vigor a separação entre as normas sobre o fundamento para o
despedimento e o seu processo: o legislador de 2003 entendeu separar e, com a revisão do
Código do Trabalho em 2009, voltou a juntar148.
Atualmente as questões relativas à forma e ao fundamento são tratadas em conjunto
para cada modalidade de despedimento149.
A nota distintiva deste despedimento por justa causa em relação aos demais previstos no
Código do Trabalho, é que este radica num incumprimento grave dos deveres do
trabalhador e pelo qual o trabalhador é responsável. Neste caso, o despedimento assume a
natureza de uma sanção disciplinar (artigo 328.º n.º 1 f) CT), tratando‐se de um
despedimento de natureza disciplinar150.
Refira‐se ainda que é no âmbito do despedimento que o legislador tem evidenciado
maior preocupação em limitar o exercício da ação disciplinar pelo empregador, impedindo‐o
de unilateral e livremente fazer cessar o contrato de trabalho151.
Este despedimento assenta em dois elementos distintos, um de caráter substantivo, que
se traduz na existência de um comportamento do trabalhador, que se baseia num
garantir a segurança no emprego e consequentemente a proibir os despedimentos sem justa causa (artigo 52.º
b). Tal mudança de paradigma face às leis anteriores determinou em especial o fim dos despedimentos livres.
146
Até à entrada em vigor do DL n.º 84/76 de 28 de janeiro, e especialmente durante a vigência da LCT (1969),
o contrato de trabalho podia terminar livremente por vontade do empregador através do mecanismo da
rescisão com justa causa, da denúncia unilateral e da extinção do contrato sem justa causa nem aviso prévio.
Admitia a rescisão com justa causa, na qual o empregador podia declarar imediatamente o fim do contrato; a
existência da justa causa dispensava o empregador de aguardar pelo prazo de aviso prévio para consumar o fim
da relação de trabalho. Já a denúncia unilateral permitia a cessação do contrato de trabalho pelo empregador
sem invocação de justa causa, mas com aviso prévio. A extinção do contrato sem justa causa nem aviso prévio
configurava um despedimento livre. Sobre a convivência destes três mecanismos de cessação do contrato no
domínio da LCT, ver em especial, ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 470.
147
Para compreensão das principais alterações nesta matéria no CT de 2003, ver PEDRO FURTADO MARTINS,
Consequências do despedimento ilícito: indemnização/reintegração, 2003, in Código do Trabalho, Alguns
Aspectos Cruciais, Centro de Estudos do Trabalho, Universidade Católica Portuguesa, Principia, 2003, pp. 49‐61.
148
Além das alterações na sistematização do Código de 2009, registaram‐se especialmente alterações no
procedimento e na impugnação do despedimento de que daremos conta mais à frente neste trabalho.
149
Relativamente ao despedimento em geral, são de assinalar algumas alterações entretanto ocorridas através
da Lei n.º 23/2012 de 25 de junho, que resultaram do “Memorando de Entendimento sobre as
Condicionalidades de Politica Económica” celebrado em 17 de maio de 2011, a que sucedeu em 18 de janeiro
de 2012 o “Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego”. Essas alterações foram
especialmente incisivas quanto ao regime das compensações a pagar ao trabalhador nos despedimentos por
extinção de posto de trabalho, despedimento coletivo e despedimento por inadaptação.
150
Neste sentido JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho ‐ Relações Individuais de Trabalho, Volume
I, cit., p. 944 e MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 830.
151
PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 150, refere‐se à necessidade de uma
declaração vinculada do empregador neste despedimento.
59
incumprimento grave dos seus deveres, e que integra o conceito de justa causa; e outro, de
natureza adjetiva, ou seja, o procedimento especial e próprio para pôr em prática tal
despedimento. Com efeito, o regime legal em vigor não admite o despedimento ad nutum
ou sem motivação.
Foi em especial através desta fórmula que o legislador procurou dar consagração ao
princípio constitucional previsto no artigo 53.º CRP que proíbe os despedimentos sem justa
causa152.
A previsão destas regras visa ademais garantir, em especial ao trabalhador, que o uso
deste poder pelo empregador não é arbitrário153. Aliás, também é por essa razão que a falta
de verificação dos requisitos substanciais e procedimentais torna o despedimento ilícito,
conforme previsto nos artigos 381.º e seguintes do Código do Trabalho154.
Relativamente à justa causa para fazer cessar o contrato de trabalho importa referir que
é costume distinguir entre uma justa causa subjetiva e uma justa causa objetiva, consoante a
mesma se funde num comportamento culposo do trabalhador que faz cessar o vínculo, ou
noutros comportamentos relativos à entidade patronal que impedem a manutenção da
relação de trabalho155.
No âmbito deste trabalho releva particularmente a justa causa subjetiva, aquela a que o
legislador assenta na justa causa de despedimento.
Em matéria de despedimento disciplinar no atual CT, o legislador organizou‐o da
seguinte forma: primeiro prevê os comportamentos que consubstanciam a justa causa,
depois trata do processo com vista à sua realização e, finalmente, das situações de ilicitude
do despedimento e dos efeitos que decorrem da sua impugnação judicial.
Tomaremos a ordem legal para o estudo da aplicação desta sanção disciplinar.
152
Sobre a constitucionalização da justa causa de despedimento ver ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito
do Trabalho, cit., pp. 473 e ss.
153
De notar que na aplicação deste poder o empregador comporta‐se simultaneamente como acusador e como
julgador, para além de ser ele que, nalguns casos, faz as leis a que o trabalhador está sujeito no âmbito do
poder regulamentar, o que pode causar especial dificuldade na sua aplicação.
154
A razão de ser dos efeitos é que ambos os elementos substantivo e adjetivo funcionam como garantias para
o trabalhador. Ao mesmo tempo vinculam o empregador à aplicação dos princípios constitucionais de que não
há despedimentos sem justa causa e de que há segurança no emprego.
155
PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 911, refere que o conceito de justa causa se baseia
ou num comportamento culposo ou num motivo de força maior, podendo a primeira das situações encontrar‐
se no despedimento por facto imputável ao trabalhador, enquadrando‐se as situações de força maior nas
causas objetivas de cessação do contrato de trabalho e que permitem o despedimento coletivo, o
despedimento por extinção de posto de trabalho e o despedimento por inadaptação.
60
2.1 A noção de justa causa de despedimento
O conceito de justa causa aparece no Código do Trabalho como um dos fundamentos ou
motivos para o empregador fazer cessar o contrato de trabalho156.
Por via da previsão do artigo 351.º CT dá‐se consagração quer à regra do artigo 53.º CRP
quer ao disposto no artigo 338.º CT, cujo sentido é proibir os despedimentos sem justa causa
ou por motivos políticos ou ideológicos157.
Relativamente ao conceito de justa causa impõe‐se notar dois aspetos que
consideramos relevantes para a sua compreensão. O primeiro é que não se trata de um
instituto privativo do direito laboral, sendo também usado para motivar a cessação de
outros contratos ou obrigações, apresentando‐se por isso como figura transversal a vários
ramos do direito158; o segundo aspeto é que se trata de um conceito intimamente associado
a uma componente marcadamente ideológica e cuja conformação legal e aplicação prática
produzem repercussões a nível social e económico, em especial para o trabalhador
envolvido.
156
Sobre o conceito de justa causa ver, entre outros, JOANA VASCONCELOS, O Conceito de Justa Causa de
Despedimento ‐ Evolução Legislativa e Situação Actual, in Estudos do Instituto do Direito do Trabalho, Volume
II, Coimbra, Almedina 2001, pp. 15 e ss.; JOANA VASCONCELOS, Concretização do Conceito de Justa Causa, in
Estudos do Instituto de Direito do Trabalho, Volume III, Almedina, 2002, pp. 207‐223; PEDRO ROMANO
MARTINEZ, Incumprimento Contratual e Justa Causa de Despedimento in Estudos do Instituto do Direito do
Trabalho, Volume II, Coimbra 2001, pp. 93‐118; ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Justas Causas de
Despedimento, in Estudos do Instituto do Direito do Trabalho, Volume II, Coimbra 2001, pp. 7‐14; e BERNARDO
DA GAMA LOBO XAVIER, Justa causa de despedimento: conceito e ónus da prova, in Revista de Direito e de
Estudos Sociais, n.º 1, 1988, pp. 1‐67, e A Extinção do Contrato de Trabalho, in Revista de Direito e de Estudos
Sociais, 1989, n.ºs 3 e 4, pp. 399‐482.
157
Sobre o sentido e âmbito de aplicação do artigo 338.º CT ver ALBINO MENDES BAPTISTA, A Nova acção de
Impugnação do Despedimento e a Revisão do Código de Processo de Trabalho, 2010, p. 18, e PEDRO FURTADO
MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 162. O primeiro autor considera que esta norma só se
aplica ao despedimento por facto imputável ao trabalhador; já o segundo autor considera que a norma se
aplica a todas as modalidades de despedimento. A divergência deve‐se, segundo entende, à não coincidência
do conceito de justa causa previsto nos artigos 338.º e 351.º CT.
158
Exemplificativamente encontramos o conceito várias vezes utilizado no Código Civil, por exemplo a
propósito da revogação da procuração conferida no interesse do procurador (265.º n.º 3 CC), também no
âmbito do contrato de depósito para o depositário devolver a coisa antes do prazo (1201.º CC), entre outros.
Também no direito societário, por exemplo a propósito da destituição dos gerentes (artigo 257.º n.º 2 CSC) e
da exclusão dos sócios (240.º n.º 1 b) CSC), como nota PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p.
910.
61
Trata‐se de um conceito cujo conteúdo nem sempre é fácil de preencher e de delimitar,
nem de compatibilizar com a CRP, em especial com o já referido artigo 53.º159, no
preenchimento do qual a jurisprudência desempenha lugar de destaque160.
Relativamente ao despedimento por facto imputável ao trabalhador, e no que concerne
ao conceito de justa causa, o artigo 351.º CT tem como epígrafe “noção de justa causa de
despedimento” e apresenta‐se com três números, organizados da seguinte forma: no n.º 1
prevê‐se uma cláusula geral de justa causa, no n.º 2 indicam‐se exemplos de
comportamentos integradores de justas causas, enquanto no n.º 3 se indicam alguns dos
critérios à luz dos quais se deve apreciar a justa causa no seio da empresa.
Do que até agora dissemos resulta claro que o legislador configurou este despedimento
como um despedimento sanção.
Na construção do conceito de justa causa o legislador utilizou diferentes técnicas que
devem conjugar‐se para que, em face de cada caso concreto, se conclua se existe ou não
justa causa para despedir o trabalhador, tratando‐se todavia de um conceito indeterminado
de justa causa161.
Saliente‐se ainda que com o intuito de proteger alguns trabalhadores, que por diversas
circunstâncias se encontram numa posição mais débil em relação ao empregador, a lei
presume quanto a essas categorias de indivíduos que o seu despedimento ocorreu sem justa
causa. Trata‐se de uma presunção ilidível, que o empregador pode afastar mediante a prova
dos factos integradores da justa causa. É o que sucede com os trabalhadores membros de
estrutura de representação coletiva em exercício ou cujas funções tenham terminado há
menos de três anos, conforme previsto no artigo 410.º n.º 3 CT, e as trabalhadoras grávidas,
puérperas e lactantes ou trabalhadores no gozo de licença parental, nos termos previstos no
artigo 63.º n.º 2 CT.
Analisaremos agora o conceito legal de justa causa para fazer cessar por despedimento o
contrato de um trabalhador.
159
Como evidencia PEDRO FURTADO MARTINS, Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 162, na análise que
faz dos Acórdãos do Tribunal Constitucional n.º 107/88 de 31 de maio e 64/91 de 4 de abril, publicados
respetivamente no DR 1.ª Série de 21 de junho de 1988 e DR Série 1ª‐ A de 11 de abril de 1991.
160
Sobre o contributo da jurisprudência para a interpretação do conceito veja‐se PEDRO CRUZ, A Justa Causa
de Despedimento na Jurisprudência, Coimbra, 1990.
161
Como refere ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 476, o conceito de justa causa
não obstante a elasticidade que lhe é própria, corresponde, no ordenamento jurídico português a um certo
tipo de juízo normativo material, com a sua plasticidade mas também com as suas fronteiras, que se evidencia
pela permanência dos elementos essenciais do critério de valoração.
62
2.2 O conceito geral de justa causa
Na previsão da cláusula geral do n.º 1 do artigo 351.º CT, constitui justa causa de
despedimento o comportamento culposo do trabalhador que, pela sua gravidade e
consequências, torne imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de
trabalho162.
Da leitura norma conclui‐se que só um comportamento do trabalhador analisado
casuisticamente, e que preencha cumulativamente os mencionados elementos, pode
constituir razão bastante para o empregador o despedir163.
Trataremos de seguida e separadamente os vários elementos que compõem o conceito
de justa causa.
2.2.1 Comportamento culposo do trabalhador
O conceito de justa causa assenta num comportamento culposo do trabalhador.
Tratando‐se do elemento subjetivo do conceito de justa causa, deve permitir formular um
juízo de censura, podendo ser um comportamento doloso ou negligente, e consistirá num
ato ilícito e censurável que, por ação ou omissão, radica na violação de deveres legais ou
contratuais do trabalhador164, ocorra ou não no local de trabalho165.
162
Como nota ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 478, o conservadorismo
terminológico demonstra a sensibilidade política que a matéria revela; mantém‐se atualmente no conceito
embora por ordem diversa a mesma terminologia que em 2003 (artigo 396.º) e que também constava do DL.
n.º 64‐A/89 de 27 de fevereiro.
163
Tem sido esta a interpretação dos tribunais portugueses ao longo do tempo, ao considerarem em inúmeras
decisões a natureza cumulativa dos elementos integrantes da justa causa, a título exemplificativo referem‐se os
seguintes acórdãos: Ac. STJ de 23 de janeiro de 2008, processo n.º 07S2888; Ac. STJ de 13 de janeiro de 2010,
processo n.º 4583/06. TTL.SB.S1; e Ac. STJ de 2 de dezembro de 2010, processo n.º 637/08.0TTBRG.P1.S1;
todos disponíveis em www.dgsi.pt.
164
Sobre a violação dos deveres contratuais e outros fundamentos de natureza extracontratual que podem
conduzir ao despedimento do trabalhador, ver JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho, Volume I –
Relações Individuais de Trabalho, cit., p. 945.
165
Por exemplo no Ac. RE 15 de janeiro de 2008, in CJ, 3, 2008, pp. 268‐270, admitiu‐se ser justa causa para
despedir um trabalhador quando o trabalhador venda estupefacientes aos seus colegas de trabalho mesmo
fora do local de trabalho.
63
Para este efeito, a violação dos deveres que preenche o requisito de comportamento
culposo tanto pode incidir sobre os deveres principais, como também sobre os deveres
acessórios do trabalhador166.
Tal como propõe a doutrina, a apreciação da culpa no comportamento do
trabalhador deve ser feita segundo o critério do bom pai de família adaptado à relação
laboral em que se aplica. Assim, a aplicação de tal critério impõe também a apreciação do
grau de diligência que é exigido ao trabalhador face ao tipo de trabalho e à responsabilidade
que assume, o que sucederá diferentemente em relação a um trabalhador indiferenciado ou
a um quadro superior da empresa167.
O comportamento voluntário do trabalhador (de ação ou de omissão) será
censurável, grave, e dele resultarão consequências que afetem indelevelmente a
manutenção da relação de trabalho.
2.2.2 Comportamento grave do trabalhador
O legislador refere‐se também à gravidade do comportamento que serve de base ao
despedimento. A gravidade do comportamento do trabalhador é aferida relativamente ao
comportamento em si mesmo. A valoração da gravidade abstrai‐se, por conseguinte, da
apreciação do montante dos danos que podem até nem existir ou serem insignificantes, mas
que em concreto não descaracterizam o comportamento do trabalhador, que não deixa de
constituir um comportamento grave do trabalhador168.
166
Apesar de no texto da lei (artigo 128.º CT) não se colher esta diferença, a doutrina tem distinguido o dever
principal do trabalhador – prestar a atividade para que foi contratado e de outros deveres que acrescem ao
dever principal, e que o complementam: os designados deveres acessórios do trabalhador, onde cabem por
exemplo o dever de respeito e urbanidade, o dever de assiduidade e pontualidade, o dever de realizar o
trabalho com zelo e diligência e o dever de lealdade, entre outros.
167
Sobre a culpa do trabalhador na economia do conceito de justa causa, ver entre outros, Ac. STJ de 7 de
outubro de 2010, processo n.º 1583/06.7 TBPRD.L1.S1, e Ac. STJ de 13 de outubro de 2010, processo n.º
673/03 ZTTBRR.L1.S1, ambos disponíveis em www.dgsi.pt.
168
Sobre a gravidade do comportamento do trabalhador em si mesmo ver em especial, Ac. STJ de 22 de abril
de 2009 processo n.º 08P3040, Ac. STJ de 3 de junho de 2009, processo n.º 247/11.4 TTGMR.P1.S1, e, mais
recentemente, no Ac. STJ de 3 de abril de 2013, processo n.º 1154/09.6TTLSB.L1.S1, todos disponíveis em
www.dgsi.pt. Neste último acórdão considerou‐se que a gravidade pode resultar da reiteração dos
comportamentos e não de um único ato do trabalhador.
64
As consequências produzidas pelo comportamento do trabalhador para o
empregador devem tornar impossível a relação de trabalho169.
A apreciação da gravidade pelo empregador concretiza também a aplicação do
princípio da proporcionalidade na escolha da sanção a que já aludimos.
169
O Tribunal da Relação do Porto, no Ac. de 4 de fevereiro de 2013, processo n.º 191/11.5TTSTS.P1, disponível
em www.dgsi.pt, decidiu que a diminuição da confiança resultante da violação do dever de lealdade não está
dependente da quantificação dos prejuízos, bastando a criação de uma situação apta a causar prejuízos.
170
Segundo ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 480, a interpretação desta
expressão deve ser feita no sentido de se verificar uma inexigibilidade determinada pelo balanço in concreto
dos interesses em presença – em especial o da permanência da desvinculação e o da manutenção do posto de
trabalho.
171
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 819, chama‐lhe o
requisito objectivo da justa causa.
172
Como refere ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 480.
65
manutenção da relação de trabalho173. Tal conclusão necessita de ser aferida por
contraposição ao princípio da continuidade e da manutenção das relações de trabalho174.
Ou seja, do confronto entre os interesses em conflito, os do trabalhador a manter o
seu trabalho e os do empregador a fazer cessar a relação de trabalho, só existirá justa causa
quando os segundos tiverem necessária e objetivamente de prevalecer sobre os
primeiros175.
Atenta a natureza indeterminada e vaga do conceito, cujo preenchimento se
consegue casuisticamente por recurso a diferentes valorações, tem‐se mostrado
extremamente importante o contributo da jurisprudência para o preencher, em especial no
que concerne à interpretação da expressão da lei que refere “torne imediata e praticamente
impossível a subsistência da relação de trabalho”176.
A interpretação jurisprudencial desta expressão no conceito de justa causa, que se
tem revelado muitíssimo relevante, desenvolve‐se em torno das seguintes ideias: a
inexigibilidade da manutenção do contrato, evidenciada na perda irremediável da confiança
173
Para BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER, A Extinção do Contrato de Trabalho, cit., p. 442, a inexigibilidade
envolve um juízo de prognose sobre a viabilidade de relação de trabalho; já JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES,
Direito do Trabalho, Volume I – Relações Individuais de Trabalho, cit., pp. 952 e 953 considera excessiva a
referência à valoração futura do comportamento incumpridor do trabalhador.
174
Conforme aponta ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 483, esta impossibilidade
prática envolve a referência a um certo padrão de comportamento psicológico. E designadamente a aferição,
se face a esse padrão de comportamento a manutenção do vínculo é compatível com a manutenção das
relações de trabalho, em nome da estabilidade do emprego.
175
Tal como considerou o STJ no Ac. de 13 de novembro de 2013, processo n.º 73/12.3TTVNF.P1.S1, disponível
em www.dgsi.pt, ao decidir que existe justa causa para o despedimento do trabalhador quando está
demonstrado que o mesmo, exercendo as funções de motorista de veículos de transporte de mercadorias
perigosas, à revelia da empregadora, por 18 vezes, e no período de 3 meses, conduziu o referido veículo para
localidades fora do percurso determinado para o transporte da mercadoria desde o local de recolha ao local de
entrega da mesma, o que se traduziu, não só, no acréscimo das distâncias percorridas e do período de tempo
para o efeito despendido, suportados pela empregadora, mas, também, no aumento dos riscos derivados da
circulação do veículo com combustível. Estes factos foram revelados por via da instalação do GPS no veículo
automóvel, que não foi considerado para este efeito como meio de controlo à distância utilizado pelo
empregador.
176
Como decidiu o STJ no Ac. de 5 de julho de 2012, processo n.º 3309/10.1TTLSB.L1.S1, disponível em
www.dgsi.pt, “Provando‐se que o trabalhador, que exercia as funções de diretor de balcão, com o desrespeito
pelos mais elementares deveres de cautela da atividade bancária e sem garantias sólidas, aprovou créditos de
valor considerável, permitiu saldos devedores por montantes e períodos superiores ao regulamentado e
desobedeceu, conscientemente, a normas atinentes à concessão de crédito, violou, culposamente e de forma
grave, os deveres de realizar com zelo e diligência as funções que lhe estavam confiadas, de cumprir as ordens
e instruções do empregador respeitantes à execução do trabalho e de guardar lealdade ao empregador,
previstos no artigo 128.º, n.º 1, alíneas c), e) e f) do Código do Trabalho de 2009. O trabalhador, com o seu
comportamento grave e culposo, pôs em crise a permanência da confiança em que se alicerçava a relação de
trabalho e que, insubsistindo, torna imediata e praticamente impossível a respectiva manutenção, que não é
razoável exigir à empregadora, verificando‐se, assim, justa causa para o despedimento, nos termos do artigo
351.º, n.º 1, do Código do Trabalho de 2009”.
66
do empregador e que exige um juízo de prognose em relação à manutenção futura do
vínculo177. A que se tem juntado uma outra: a de impossibilidade prática da manutenção do
vínculo, no sentido de comprometer desde logo e imediatamente a relação de trabalho178.
A interpretação do conceito indeterminado de justa causa completa‐se, em parte, pelos
diversos exemplos de justa causa elencados pelo n.º 2 do artigo 351.º CT, mas que
preencham os requisitos do n.º 1 da norma.
2.3 A exemplificação de justas causas
Nas alíneas a) a m) do n.º 2 do artigo 351.º CT encontramos a título exemplificativo
comportamentos do trabalhador que constituem, verificados os elementos acima referidos,
e no n.º 1 do mesmo artigo, justa causa para o despedir179.
O legislador avançou assim, com a enumeração dos comportamentos do trabalhador,
por serem os mais frequentes, os mais comuns ou aqueles cuja tradição já consagrava na lei
e que são de molde a motivar o seu despedimento180. Importa notar que os exemplos
elencados pelo legislador não apresentam todos eles a mesma relevância no que tange à sua
177
Neste sentido vejam‐se por exemplo, o Ac. STJ de 13 de janeiro de 2010, processo n.º 4583/06.3 TTL.SB.S1,
e Ac. STJ de 12 de setembro de 2012, processo n.º 492/08.0TTLMG.P1.S1, disponíveis em www.dgsi.pt. Neste
último aresto decidiu o tribunal que “sendo o trabalhador sócio de sociedade comercial com objeto social
idêntico à do empregador, ambas se dedicando à atividade de realização de funerais, aquele, com o
comportamento adoptado, violou, culposamente e de forma grave, o dever de guardar lealdade ao
empregador, previsto no artigo 121.º, n.º 1, alínea e), do Código do Trabalho de 2003, na dimensão da
proibição de concorrência, tendo afetado a relação de confiança que deve existir entre empregador e
trabalhador e gerando fundadas dúvidas sobre a idoneidade futura do desempenho das funções”.
178
Interpretação evidenciada no Ac. RP de 5 de janeiro de 2009, processo n.º 0846103, no Ac. STJ de 15 de
setembro de 2010, processo n.º 254/07.1 TTVLG.P1.S1, e ainda no Ac. STJ de 20 de junho de 2012, processo n.º
417/10.2TTVNF.P1.S1, disponíveis em www.dgsi.pt. Nesta decisão considerou‐se que “a conduta da autora —
divulgar o recibo de vencimento de outra trabalhadora, que lhe foi entregue, por engano, e apossar‐se de um
documento que estava sobre a secretária do Diretor de Produção, fotocopiando‐o e divulgando‐o — violou,
grave e culposamente, o dever de lealdade para com a entidade empregadora, e pôs em crise a permanência
da confiança em que se alicerçava a relação de trabalho, a qual, insubsistindo, torna imediata e praticamente
impossível a sua manutenção, verificando‐se justa causa para o despedimento”.
179
Sobre a natureza exemplificativa das diferentes alíneas do n.º 2 quer a doutrina quer a jurisprudência tem
estado de acordo; ver, entre outros, PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p.
77; PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 916; e JORGE LEITE, Direito do Trabalho, Vol. II,
Serviços de Acção Social da U.C., Coimbra, 2004, p. 211.
180
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 821, agrupa as
diversas justas causas em comportamentos de violação dos deveres relacionados com atividade laboral,
comportamentos de violação de deveres organizacionais e comportamentos violadores de deveres gerais.
67
aplicação, pelo que a nossa análise direcionar‐se‐á especialmente para as situações com
maior interesse prático.
Para a compreensão dos conceitos empregues bem como para a delimitação das
situações abrangidas em cada uma das alíneas tem sido essencial o contributo da
jurisprudência, que apontaremos para cada uma delas.
181
Em especial sobre o tema da desobediência, ver JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Deve o trabalhador
subordinado obediência a ordens ilegais?, in Trabalho e Relações Laborais, Cadernos Sociedade e Trabalho, I,
Oeiras 2001, pp. 179‐187.
182
Sobre as características da desobediência para motivar o despedimento ver entre outras as seguintes
decisões jurisprudenciais: Ac. RL 24/3/1993, in CJ XVIII, T II, pp. 161‐163, Ac. RL de 22/3/1995 in CJ, Tomo II, pp.
170‐171 e Ac. RL de 9 de dezembro de 2004, CJ, 2004, V, pp. 154‐156, Ac RL de 19 de janeiro de 2005, CJ, 2005,
I, pp. 147‐149, Ac STJ de 25 de maio de 2005, CJ (STJ) 2005, II, pp. 261‐264, Ac. STJ de 27 de novembro de 2007
processo n.º 07S2879, disponível em www.dgsi.pt, Ac. de 7 de maio de 2008 processo n.º 08S458, disponível
em www.dgsi.pt e Ac. STJ de 3 de junho de 2009 processo n.º 0853085, disponível em www.dgsi.pt. Mais
recentemente o STJ no Ac. de 25 de janeiro de 2012, processo n.º 666/04.2TTVFR.P1.S1, disponível em
www.dgsi.pt, decidiu que “Viola, grave e culposamente, o dever de obediência o trabalhador que, perante uma
legítima ordem de serviço, se recusa a cumpri‐la, afirmando que só o faria se a mesma lhe fosse dada por
escrito e fundamentadamente, mesmo depois de, num segundo momento, ter sido chamado ao gabinete da
direcção da R., onde lhe foi explicada a necessidade de tal ordem”.
183
Conforme considerou o STJ no Ac. de 8 de março de 1995, in BMJ 445, p. 221, é legítima a recusa da
trabalhadora em cumprir uma ordem de transferência do local de trabalho, que lhe foi dirigida após ter feito
greve, atuação reprovada pelo seu superior hierárquico.
184
Por exemplo no Ac. STJ de 28 de abril de 2004, in CJ, II, pp. 257‐260, considerou‐se ser fundamento de
despedimento com justa causa a falta injustificada do chefe de serviços da secção de design às sessões de
68
2.3.2 A violação de direitos e garantias de trabalhadores da empresa
Nesta alínea, o legislador previu poderem constituir justa causa os comportamentos
do trabalhador que violem os direitos e garantias dos demais trabalhadores da empresa185.
2.3.3 A provocação repetida de conflitos com trabalhadores da empresa
Cabem na previsão desta norma situações em que o trabalhador com a sua conduta
ou postura desadequada provoca repetidamente conflitos com outros trabalhadores da
empresa.
Conclui‐se, portanto, que nem só as atuações do trabalhador em relação ao seu
empregador e superiores hierárquicos são passíveis de justificar o despedimento. Trata‐se
também de proteger a organização, da qual fazem parte os demais trabalhadores da
empresa.
São abrangidos nesta situação da provocação repetida de conflitos com outros
trabalhadores da empresa, a violação do dever de respeito, o direito ao nome e mesmo o
direito à integridade física do trabalhador186.
acção de formação para aquisição e uniformização de conhecimentos no software de tratamento de imagem
de todos os colaboradores das secções de design e pré impressão, apesar de ter sido advertido da importância
e obrigatoriedade da sua presença.
185
Considerou o STJ no Ac. de 3 de dezembro de 2003, processo n.º 03S29244, disponível em www.dgsi.pt, que
se integra na previsão desta alínea a prática de atos de assédio ‐ não provocados nem consentidos – sobre
colega de trabalho, traduzidos em propostas de relações sexuais, atos esses tendentes de coação física
tendentes à respectiva consumação. Também sobre este fundamento, a violação do dever de respeito e
urbanidade relativamente aos colegas de trabalho e superiores hierárquicos, se debruçou o STJ no Ac. de 10 de
dezembro de 2009, processo n.º 08S3695, disponível em www.dgsi.pt.
186
Sobre o tema ver Ac. STJ de 17 de novembro de 2004, processo n.º 03S1400, disponível em www.dgsi.pt.
69
2.3.4 O desinteresse repetido pelo cumprimento, com a diligência devida, de
obrigações inerentes ao exercício do cargo ou do posto de trabalho a que está
afeto
Nesta alínea, o legislador recorreu por diversas vezes a conceitos indeterminados
como por exemplo quando consagra no seu texto expressões como “o desinteresse repetido
pelas obrigações…”.
Mais uma vez, a ação da jurisprudência tem‐se mostrado particularmente relevante
no que tange ao preenchimento destas expressões legais187. Para a boa interpretação desta
norma são igualmente de considerar os contributos em torno do dever de zelo e diligência
previsto no artigo 128.º n.º 1 c) CT188.
2.3.5 A lesão de interesses patrimoniais sérios da empresa
O legislador aponta como justa causa para o despedimento a lesão de interesses
patrimoniais sérios da empresa, que pode nem sempre querer significar prejuízos avultados,
mas antes a referência ao aspeto qualitativo da lesão provocada189.
187
Em concreto decidiu o STJ no Ac. de 10 de outubro de 2007, processo n.º 07S2363, disponível em
www.dgsi.pt, que não integra justa causa de despedimento o comportamento do escriturário de um
departamento financeiro que não cumpriu obrigações inerentes ao exercício do seu cargo num relativamente
pequeno período de tempo, revelando uma menor atenção e entrega ao mencionado exercício, mas sem
revelar um desinteresse repetido quanto aquele cumprimento, nem traduzindo, por qualquer forma, a vontade
de desacatamento de ordens e instruções concretas, ou ao desiderato de faltar à verdade para com os
superiores hierárquicos. Muito embora aquela atuação justifique um sancionamento disciplinar, não constitui
um comportamento grave, reiterado e de consequências gravosas – pois limitou‐se a causar uma
desorganização nos serviços de contabilidade – a tornar imediata e praticamente impossível a subsistência da
relação laboral.
188
Especialmente sobre a violação do dever de zelo e diligência, ver as seguintes decisões dos tribunais: Ac. STJ
de 8 de março de 2001, processo n.º 00S3434; Ac. STJ de 21 de fevereiro de 2006, processos n.º 04S4336 e n.º
05S3738; Ac. STJ de 8 de fevereiro de 2006, processo n.º 05S1963; e Ac. STJ de 25 de março de 2010 processo
n.º 243/07.6TTBJA.S1; todos disponíveis em www.dgsi.pt. Na doutrina, PEDRO MADEIRA DE BRITO, Justa causa
de despedimento com fundamento na violação dos deveres de assiduidade, zelo e diligência, in Estudos do
Instituto do Direito do Trabalho, Vol. II, pp. 119‐134.
189
Sobre o tema ver em especial SOFIA LEITE BORGES, A Justa causa de despedimento por lesão de interesses
patrimoniais sérios da empresa e pela prática de atos lesivos da economia nacional e também JOSÉ ANDRADE
MESQUITA, Tipificações legais de justa causa. “A lesão de interesses patrimoniais sérios da empresa” e a
“prática intencional, no âmbito da empresa, de actos lesivos da economia nacional, ambos os estudos se
encontram publicados nos Estudos do Instituto do Direito do Trabalho, Volume II, Coimbra 2001,
respetivamente pp. 165‐178 e 135‐163.
70
Resulta do texto desta alínea que para que o trabalhador seja despedido com este
fundamento, os danos que provocou à empresa tenham de apresentar uma certa
gravidade190.
2.3.6 As falsas declarações relativas à justificação de faltas
No que concerne à matéria das faltas, o legislador referiu separadamente dois
comportamentos diferentes do trabalhador que podem conduzir ao seu despedimento. Na
alínea g) previu a violação do dever de assiduidade e na alínea f) referiu‐se à prestação de
falsas declarações com vista à justificação das faltas191. No que toca às faltas por doença, e
em consonância com o disposto nesta norma, o n.º 4 do artigo 254.º CT estabelece que a
apresentação ao empregador de declaração médica com intuito fraudulento constitui falsa
declaração para efeitos de justa causa de despedimento. Para efetivar este controlo da
situação de doença do trabalhador ao serviço, o empregador dispõe hoje da possibilidade de
solicitar a verificação da situação de doença do trabalhador, nos termos de legislação
específica (n.º 3 do artigo 254.º CT)192/ 193.
190
Sobre o despedimento assente na lesão de interesses patrimoniais sérios ver o Ac. STJ de 8 de fevereiro de
2006, processo n.º 05S1963, disponível em www.dgsi.pt.
191
Sobre este assunto ver, entre outros, Ac. RP de 7 de abril de 1997, BTE, 2.ª serie, n.ºs 1 a 6, 2000, p. 333, Ac.
RL de 19 de outubro de 2005, CJ, IV, 2005, p. 166, Ac. RC de 22 de outubro de 2009, processo n.º 777/08.5
TTAVR.C1, disponível em www.dgsi.pt, e Ac. RP de 28 de maio de 2012, processo n.º 1462/10.3TTMTS.P1,
disponível em www.dgsi.pt.
192
A regulamentação da matéria consta dos artigos 17.º a 24.º da Lei n.º 105/2009 de 14 de setembro.
193
No Ac. RP de 23 de março de 2013, processo n.º 674/11.7TTMAI.P1, disponível em www.dgsi.pt, considerou‐
se que “o incumprimento do dever de comparência ao exame designado pela Segurança Social para verificação
da doença invocada em justificação das faltas ao trabalho, constituindo uma oposição, sem motivo atendível, à
fiscalização prevista no n.º 3 do artigo 254.º, descaracteriza a situação como impossibilidade da prestação de
trabalho, tornando injustificadas as faltas”.
71
2.3.7 As faltas não justificadas ao trabalho que determinem diretamente prejuízos
ou riscos graves para a empresa, ou cujo número atinja em cada ano civil,
cinco seguidas ou dez interpoladas
Também constitui motivo para despedir o trabalhador a violação do dever de
assiduidade194. Este é seguramente um dos fundamentos mais invocados para motivar o
despedimento do trabalhador.
O trabalhador tem para com o empregador o dever de assiduidade e de
pontualidade, pelo que deve comparecer no tempo e no local de trabalho para prestar o seu
trabalho, conforme o previsto no artigo 128.º n.º 1 b) CT. O trabalhador pode, no entanto,
estar dispensado de o fazer quando tenha motivos que a lei considere válidos para faltar
(justificadamente) ao trabalho e que se encontram previstos no artigo 249.º n.º 2 CT.
As faltas injustificadas ao trabalho podem ser justa causa para despedir o trabalhador
quando determinem prejuízos ou riscos graves para a empresa, ou quando se atinjam em
cada ano civil 5 faltas seguidas ou 10 faltas interpoladas.
As faltas injustificadas são um dos fundamentos mais comuns para justificar o
despedimento de um trabalhador, daí o elevado número de decisões dos tribunais acerca do
tema195.
O entendimento acerca do texto desta norma levanta especiais dificuldades. Por um
lado, a articulação do seu conteúdo com o critério geral do n.º 1, nem sempre é fácil; por
outro lado, a sua aplicação tem‐se revelado controversa tanto na doutrina como na
jurisprudência, particularmente no que tange ao tratamento das faltas injustificadas dadas
pelo trabalhador que se encontra em situação de prisão196.
194
Sobre a violação do dever de assiduidade por faltas injustificadas, ver HELENA TAPP BARROSO, Justa causa
por violação do dever de assiduidade; faltas não justificadas ao trabalho e falsas declarações relativas às
justificações das faltas. Uma abordagem do caso das falsas declarações para justificação de faltas em especial,
in Estudos do Instituto do Direito do Trabalho, Volume II, Coimbra 2001, pp. 179‐191, e PEDRO MADEIRA DE
BRITO, Justa causa de despedimento com fundamento na violação dos deveres de assiduidade, zelo e diligência,
cit., pp. 119‐134.
195
Ver entre outras, as decisões dos seguintes acórdãos: Ac. RL de 24 de junho de 1998, CJ, 1998, III, pp. 172‐
173, Ac. RP de 18 de setembro de 2006, CJ, IV, p. 216, Ac. STJ de 31 de outubro de 2007, processo n.º 07S2885,
disponível em www.dgsi.pt, Ac. STJ de 21 de maio de 2008, processo n.º 07S4651, disponível em www.dgsi.pt,
Ac. RP de 23 de março de 2009, processo n.º 0847321, disponível em www.dgsi.pt, Ac. RL de 14 de julho de
2011, processo n.º 20/10.7TTBRR.L1‐4, disponível em www.dgsi.pt, Ac. RP de 7 de janeiro de 2013, processo
n.º 1813/11.3TTPRT.P1, disponível em www.dgsi.pt.
196
Sobre o tema ver em especial ABÍLIO NETO, Natureza e consequências das faltas dadas por um trabalhador,
motivadas por condenação e pena de prisão, in Revista de Direito e de Estudos Sociais, 1987, I, pp. 49 ‐55;
ALBINO MENDES BAPTISTA, Faltas por motivo de prisão, in Questões Laborais, 11, 1998, pp. 47‐64; e TERESA
72
A matéria das faltas dadas ao trabalho pelo trabalhador que se encontra a cumprir
pena de prisão, não é consensual nem na doutrina, nem na jurisprudência197. De tal maneira
que para alguns autores é relevante saber se o trabalhador está a cumprir pena de prisão
efetiva ou se, pelo contrário, o trabalhador está apenas preso preventivamente198.
2.3.8 A falta culposa de observância de regras de segurança e saúde no trabalho
Ao trabalhador são hoje dirigidos vários deveres em matéria de saúde, segurança e
higiene no trabalho, designadamente as constantes nas alíneas i) e j) do n.º 1 do artigo 128.º
CT. Quando o incumprimento destes deveres assuma as características do conceito de justa
causa presentes do n.º 1 do artigo 351.º CT, o trabalhador pode ser despedido com este
fundamento199.
COELHO MOREIRA, O respeito pela esfera privada do trabalhador: natureza jurídica das faltas cometidas por
motivo de prisão baseada em crimes praticados fora do trabalho, Questões Laborais, Ano 8, pp. 155‐189.
197
Nos tribunais portugueses a corrente maioritária vai no sentido de considerar as faltas resultantes da prisão
do trabalhador (preventiva ou em cumprimento de pena efetiva) como faltas injustificadas, o que, verificados
os demais pressupostos, permite ao empregador despedir o trabalhador com justa causa; a título de exemplo,
assim se decidiu nos seguintes acórdãos: Ac. STJ de 4 de junho de 2008 processo nº 08S601, disponível em
www.dgsi.pt; Ac. STJ de 1 de outubro de 2008, processo n.º 08S718, disponível em www.dgsi.pt; e ainda no Ac.
STJ de 15 de setembro de 2010, processo n.º 254/07.1TTVLG.P1.S1, disponível em www.dgsi.pt. Em sentido
contrário veja‐se o Ac. STJ de 21 de fevereiro de 2000, processo n.º 9941389, disponível em www.dgsi.pt, que
considerou que as faltas dadas pelo trabalhador em prisão preventiva são justificadas se à data do
despedimento ainda não houver decisão condenatória com trânsito em julgado.
198
No sentido de que tais faltas deverem ser consideradas injustificadas, entre outros, ver ABÍLIO NETO,
Natureza e consequências das faltas dadas por um trabalhador, motivadas por condenação em pena de prisão,
cit., pp. 49‐55. Contra esta posição, e considerando que as faltas dadas pelo trabalhador nesta circunstância
devem ser consideradas faltas justificadas, ver MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do
Trabalho, Parte II, cit., p. 506 e ss., e ALBINO MENDES BAPTISTA, Faltas por motivo de prisão, in Questões
Laborais, n.º 11, ano V, 1998, pp. 47‐64. No mesmo sentido, embora apenas para situação em que o
trabalhador se encontre em prisão preventiva, ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., pp.
409 e ss.
199
Sobre o tema ver a seguinte jurisprudência Ac. STJ de 7 de dezembro de 1994, in CJ (STJ), 1994, III, 303‐305,
Ac. RP de 25 de março de 1996, in CJ 1996, II, 259‐261, Ac. (STJ) de 3 de março de 1998, in CJ (STJ), 1998,I, 275‐
277, Ac. STJ 1 de julho de 1998, in CJ (STJ) 1998, III, 295‐296, Ac. STJ de 27 de fevereiro de 2008, processo n.º
07S3523, disponível em www.dgsi.pt, e Ac. STJ de 23 de abril de 2008, processo n.º 08S145, disponível em
www.dgsi.pt. Ver também MILENA SILVA ROUXINOL, Obrigação de Segurança e Saúde do Empregador,
Coimbra Editora, Coimbra, 2008.
73
No âmbito desta alínea assumem especial relevo, atenta a frequência com que
acontecem, as situações em que o trabalhador presta a sua atividade sob efeito do álcool
manuseando máquinas ou conduzindo veículos200.
2.3.9 A prática no âmbito da empresa, de violências físicas, injúrias ou outras
ofensas punidas por lei sobre trabalhador da empresa, elemento dos corpos
sociais, empregador em nome individual, seus delegados e representantes
Na alínea i) do n.º 2 do artigo 351.º o legislador considerou ser um fundamento para
a cessação do contrato de trabalho a existência de condutas do trabalhador que, no âmbito
da empresa, representem violência física, injúrias ou outras ofensas punidas por lei e que
sejam praticadas sobre trabalhador da empresa, elemento dos corpos sociais, empregador
em nome individual, seus delegados e representantes201.
2.3.10 O sequestro ou em geral crime contra a liberdade de trabalhadores da
empresa, de elementos dos corpos sociais, do empregador em nome
individual, seus delegados ou representantes
Trata‐se de comportamentos do trabalhador com relevância criminal e que justificam
a cessação da relação de trabalho, atenta a sua gravidade. Tratou‐se de uma motivação com
especial interesse num determinado contexto histórico de convulsões e lutas sociais dos
trabalhadores que, apesar de continuar na lei, não apresenta atualmente especial
expressividade enquanto justa causa para fazer cessar o contrato de trabalho.
200
A propósito do trabalho sob efeito do álcool, e sobre se este configura a existência de justa causa, quanto à
Relação do Porto pode ler‐se no Ac. de 10 de julho de 2013, processo n.º 313/12.9 TTOAZ. P1, disponível em
www.dgsi.pt, “que, e sem qualquer carácter pejorativo não resulta do bom senso que um “almeida”, um
“homem do lixo”, não possa beber uma cerveja ao almoço, e ir trabalhar a seguir. Ou não possa, consoante as
suas funções concretas, beber bastante mais ao almoço.”.
201
Sobre o tema ver os acórdãos do STJ de 12 de janeiro de 2000, in CJ (STJ) 2000, I, pp. 251‐253, Ac. STJ 16 de
fevereiro de 2000, in CJ (STJ) 2000, I, pp. 263‐264, Ac. STJ de 14 de março de 2000, in CJ (STJ), 2000, I, pp. 280‐
283, Ac. STJ de 10 de dezembro de 2009, processo n.º 08S3695, disponível em www.dgsi.pt e Ac. STJ de 22 de
setembro de 2010 processo n.º 4401/04.7TTLSB.S1, disponível em www.dgsi.pt, e o Ac. STJ de 4 de julho de
2013, processo n.º 7583/11.8T2SNT.L1.S1, disponível em www.dgsi.pt.
74
2.3.11 O incumprimento ou oposição ao cumprimento de decisão judicial ou
administrativa
As situações de desobediência dos trabalhadores às decisões dos tribunais ou das
decisões emitidas por entidades administrativas aparecem também enumeradas como
fundamento possível para o empregador fazer cessar o contrato de trabalho invocando justa
causa.
2.3.12 As reduções anormais de produtividade
O último dos fundamentos que o legislador menciona com caráter de exemplo refere‐se
às reduções anormais de produtividade pelo trabalhador, que aparecem previstas na alínea
m) do n.º 2 do artigo 351.º CT. A expressão legal configura um conceito indeterminado que
só casuisticamente, e verificados os requisitos do n.º 1, se poderá avaliar ser motivo
bastante para o empregador despedir o trabalhador.
2.4 As relações entre a cláusula geral do n.º 1 e as situações de justa causa
exemplificadas no n.º 2 do artigo 351.º CT
Após a análise realizada, a constatação óbvia é a de que neste artigo não estão
elencadas todas as situações que traduzam violação dos deveres do trabalhador. Assim
como não se encontram tipificadas todas as situações de incumprimento expressamente
previstas no artigo 128.º CT nem, por maioria de razão, as outras obrigações que possam,
em concreto, ser impostas ao trabalhador e cuja fonte seja, por exemplo, o próprio contrato
ou os regulamentos internos da empresa.
75
Refira‐se aliás a este propósito que a postura do legislador ao consagrar a título
exemplificativo os motivos da justa causa, está em consonância com a previsão não taxativa
dos deveres do trabalhador 202.
Neste quadro, há portanto que considerar que em face dos comportamentos violadores
dos deveres do trabalhador que não se achem compreendidos no n.º 2 do artigo 351.º CT
serão os mesmos apreciados como condutas motivadoras do despedimento, à luz dos
elementos previstos no n.º 1 do mesmo artigo.
Importa, no entanto, compreender que tipo de relações se estabelecem entre a cláusula
geral do n.º 1 e o elenco exemplificativo do n.º 2.
Após a previsão da cláusula geral, as principais razões que determinaram o legislador a
avançar com alguns exemplos de justas causas, que não deverão ser entendidos como uma
lista exaustiva de motivos para despedir o trabalhador, resulta, por um lado, da necessidade
de concretizar o conceito apresentado no n.º 1 e, por outro, para servir de bitola, de termo
de comparação, perante outros atos praticados pelo trabalhador.
Assim, e se por um lado, a previsão do n.º 2 fornece ao intérprete algumas indicações
relevantes sobre o género de comportamentos que poderão levar ao despedimento, por
outro lado, impõe‐se compatibilizar a aplicação dos requisitos do n.º 1 com as situações
previstas no n.º 2.
A este propósito, o entendimento generalizado da doutrina e da jurisprudência tem sido
no sentido de que mesmo quando o comportamento praticado pelo trabalhador integre
uma das alíneas a) a m) do n.º 2, só será justa causa para despedir o trabalhador se, em
concreto, preencher os elementos do n.º 1203.
202
Comparando os deveres do trabalhador previstos no artigo 128.º CT com o elenco de situações de justa
causa do 351.º n.º 2 constata‐se uma falta de correspondência entre ambas as normas; a situação que tem sido
especialmente notada respeita às condutas do trabalhador violadoras do dever de lealdade. A jurisprudência
tem, no entanto, considerado o relevo destes comportamentos no âmbito da justa causa para despedimento. A
título de exemplo, vejam‐se, entre vários arestos sob o tema, os seguintes acórdãos: Ac. de 27 de maio de
2004, CJ (STJ), 2004, II, p. 267; Ac. RL de 13 de abril de 2005, CJ, 2005, II, p. 154; Ac. STJ de 22 de abril de 2009,
processo n.º 09S0153 e n.º08S3083, disponível em www.dgsi.pt; Ac. STJ de 3 de outubro de 2007, processo n.º
07S1796, disponível em www.dgsi.pt; Ac. STJ de 9 de janeiro de 2008, processo n.º 07S2882, disponível em
www.dgsi.pt; e Ac. STJ de 6 de fevereiro de 2008, processo n.º 07S3906, disponível em www.dgsi.pt.
203
Neste sentido ver, entre outros, os acórdãos do STJ de 30 de maio de 2007, processo n.º 07S673; Ac. de 7 de
maio de 2008, processo n.º 08S458; Ac. de 25 de fevereiro de 2009 processo n.º 08S2461; e Ac. de 13 de
janeiro de 2010 processo n.º 1164/07.8TTPRT.S1; todos disponíveis em www.dgsi.pt.
76
O que significa que só se o comportamento do trabalhador for culposo e grave e afetar
irremediavelmente a relação de trabalho, é que o empregador o pode despedir invocando
para tanto um dos factos previstos no n.º 2.
Impõe‐se, no entanto, referir que no que concerne às faltas injustificadas ao trabalho
previstas na alínea g) subsiste alguma dificuldade em conciliar a aplicação das duas normas:
o critério geral (n.º 1) e a previsão concreta quanto a estas (al. g)), que atenta a relevância
prática trataremos de seguida.
2.5 As relações entre o n.º 1 e o n.º 2 do artigo 351.º CT: a situação das faltas
injustificadas ao trabalho previstas na alínea g) do n.º 2
Relativamente ao fundamento de justa causa previsto na alínea g), designadamente na
parte que contempla o número de faltas injustificadas, tem‐se discutido no sentido de saber
se, perante o critério objetivo consagrado no texto da norma, é indispensável e útil apreciar
os elementos da justa causa consagrados no n.º 1 para que o empregador possa despedir
com este fundamento o trabalhador ao seu serviço204.
A esta questão, e não obstante ser a alínea g) aquela que o legislador consagrou mais
objetivamente, a maior parte da doutrina tem respondido que, não obstante a previsão
objetiva de 5 faltas seguidas e 10 interpoladas no mesmo ano civil, impõe‐se a verificação
dos requisitos do n.º 1 para que o empregador possa fazer cessar o contrato com esta
motivação205.
204
A questão parece não se colocar relativamente à situação também prevista nesta alínea e que se refere às
“faltas não justificadas ao trabalho que determinem directamente prejuízos ou riscos graves para a empresa”,
visto que a apreciação deste fundamento implica, por um lado, a apreciação da ação do trabalhador e, por
outro, dos efeitos que provoca para o empregador.
205
Neste sentido, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 828, e
JORGE LEITE, As faltas ao trabalho no direito do trabalho português, in Revista de Direito e Economia, 1978, pp.
417‐443: o número de faltas presente no texto da lei é apenas um elemento fortemente indicador da gravidade
das consequências do comportamento do trabalhador, que também não dispensa a apreciação dos elementos
do conceito de justa causa. Contra esta posição, ver JOANA VASCONCELOS, Concretização do conceito de justa
causa, cit., p. 223, considera que em matéria de faltas, diferentemente dos outros exemplos de justa causa, o
legislador utilizou um critério objetivo que não carece da subsunção na parte geral da norma e ainda porque,
tratando‐se de uma falta injustificada, é um comportamento culposo do trabalhador.
77
No que tange à jurisprudência, também os tribunais têm decidido pela aplicação dos
elementos do n.º 1 à situação das faltas injustificadas dadas pelo trabalhador206.
Colhe‐se ainda que o empregador tem de fazer a prova dos elementos do n.º 1 (que se
trata de um comportamento culposo e grave que torna prática e imediatamente impossível
a manutenção da relação de trabalho), mas fica dispensado de provar os riscos ou prejuízos
determinados pela ausência do trabalhador, visto que se presume a sua verificação207. Esta
atuação do trabalhador constitui assim violação do dever de assiduidade e, com os
contornos referidos, configura uma infração disciplinar grave conducente ao despedimento
nos termos descritos.
2.6 Critérios legais para a apreciação das situações de justa causa
Através da disposição do n.º 3 o legislador procurou fornecer os critérios com base nos
quais deve ser apreciada a justa causa no contexto em que foi praticada.
Assim, estabeleceu que na valoração do comportamento ilícito, culposo e grave
praticado pelo trabalhador deve atender‐se a vários fatores; estes, ao diferir de organização
para organização, podem implicar alguma discricionariedade do empregador208.
Consagrou que no quadro da gestão da empresa deve atender‐se ao grau de lesão dos
interesses do empregador, ao caráter das relações entre trabalhador e empregador, ou do
trabalhador com os seus companheiros de trabalho, e bem assim às outras circunstâncias
que sejam relevantes na situação em concreto.
206
Como decidiu o Tribunal da Relação do Porto, no Ac. de 19 de março de 2012, processo n.º
626/10.4TTGMR.P1, disponível em www.dgsi.pt, que “Não obstante ter ficado provado que a trabalhadora deu
13 faltas injustificadas e, portanto, com o seu comportamento violou o dever de assiduidade a que, estava
adstrita por imposição legal, certo é para que tal comportamento possa constituir justa causa de despedimento
é necessário que, em concreto, seja culposo e grave, entendida a gravidade no sentido de impossibilidade de
subsistência da relação laboral.
Exigindo‐se embora que o comportamento seja censurável e grave, se o circunstancialismo que o determinou e
as suas consequências, bem como o nível cultural da trabalhadora e a doença de que padece, não permitem
concluir pela sua censurabilidade e atenuam a gravidade dos factos, de tal sorte que, em termos de
razoabilidade e proporcionalidade, não torna imediata e praticamente impossível a subsistência da relação
laboral, é de afastar a justa causa com a virtualidade de legitimar a sanção expulsória.”
207
Neste sentido decidiu o STJ no Ac. de 2 de dezembro de 2004, CJ (STJ) 2004, III, pp. 276‐286, e também no
Ac. de 27 de outubro de 2010 processo n.º 3434/07 0TTLSB.L1.S1, disponível em www.dgsi.pt.
208
Discricionariedade que a jurisprudência tem procurado eliminar por recurso ao critério da coerência
disciplinar na empresa já por nós referido a propósito dos princípios orientadores para aplicação das sanções
disciplinares.
78
Com efeito, com tal previsão (valoração da atuação do trabalhador dentro do quadro de
gestão da empresa) o legislador considera determinante para apreciação do comportamento
do trabalhador, a sua contextualização face à prática da empresa, aos seus valores, ao tipo
de relações mais ou menos formais que se estabelecem entre as partes, à linguagem
utilizada209, entre outros.
O recurso a esta valoração casuística de fatores concede que a aplicação possa ser
diferente de empresa para empresa, e até eventualmente de trabalhador para trabalhador.
Na sucessão de critérios para concretização da justa causa aparece também como
determinante o grau de lesão dos interesses do empregador, isto apesar de o dano não ser
determinante para a existência de infração, nem mesmo o seu valor210. Porém, se existir
dano resultante da ação do trabalhador, este deve ser valorado na perspetiva dos prejuízos
provocados ao empregador. Devendo valorar‐se quer o dano patrimonial quer o não
patrimonial.
Revela‐se também importante a apreciação do caráter das relações daquele trabalhador
com o empregador e com os seus colegas de trabalho, sendo de realçar nesta apreciação as
funções do trabalhador, a sua posição hierárquica na empresa e a sua formação211.
Finalmente, manda a norma que se atendam às demais circunstâncias que no caso sejam
relevantes. Com esta cláusula geral o empregador pode considerar quaisquer situações que
sejam de convenientes na apreciação da conduta do trabalhador212.
Depois de analisadas as situações que podem conduzir ao despedimento, analisaremos
agora o procedimento para que o empregador possa despedir o trabalhador com justa
causa.
209
A propósito da linguagem utilizada, o STJ no Ac. de 16 de fevereiro de 2000, processo n.º 99S255, disponível
em www.dgsi.pt, considerou que determinados excessos de linguagem ou palavrões proferidos pelo
trabalhador no contexto em que o foram não apresentam carácter injurioso dirigido à pessoa, ao nome, à
honra ou ao carácter da pessoa visada. Além de que na área geográfica e no ambiente social e laboral tais
ocorrências são muito comuns.
210
Neste sentido decidiu o STJ nomeadamente nos seus acórdãos de 18 de janeiro de 2005, CJ (STJ) 2005, I, pp.
227‐231, Ac. de 3 de dezembro de 2008, processo n.º 08S3255, disponível em www.dgsi.pt e Ac. de 22 de abril
de 2009, processo n.º 09S153, disponível em www.dgsi.pt.
211
O STJ considerou especialmente grave o comportamento do trabalhador por exercer um cargo de chefia na
empresa, cfr. Ac. STJ de 3 de dezembro de 2008, processo n.º 08S2313, disponível em www.dgsi.pt.
212
Na prática jurisprudencial nesta matéria tem‐se atendido especialmente ao passado disciplinar do
trabalhador, como sucedeu por exemplo no Ac. STJ de 27 de abril de 2006, processo n.º 05S4320, disponível
em www.dgsi.pt e no Ac. STJ de 14 de janeiro de 2009, processo n.º 08S2586, disponível www.dgsi.pt.
79
3. O procedimento disciplinar com vista ao despedimento do
trabalhador: aspetos gerais
Para despedir o trabalhador por justa causa é necessário que o empregador realize um
conjunto de formalidades, que compõem o agora designado procedimento disciplinar e que
na legislação anterior ao Código do Trabalho de 2003 tomava a designação de processo
disciplinar213.
Mais relevante do que a questão terminológica, é de acentuar que a lei estabelece um
conjunto de princípios gerais que enformam este processo e de atos formais tendentes a
rodeá‐lo de todas as garantias, visto que está associado ao poder punitivo do empregador
214
.
Ao mesmo tempo, por via dos formalismos, garante‐se ao trabalhador a aplicação do
princípio constitucional da segurança no emprego do artigo 53.º CRP.
Embora na aplicação desta sanção, o legislador tenha sido mais exigente no rigor das
formalidades que impôs, exige‐se sempre um determinado procedimento do empregador,
exceção feita à repreensão.
Preveem‐se assim duas modalidades de procedimento: o procedimento que se destina a
formalizar a aplicação das outras sanções (artigo 329.º CT) e o procedimento disciplinar com
vista ao despedimento do trabalhador por facto que lhe é imputável (artigos 353.º e ss.
CT)215.
A importância atribuída pela lei ao procedimento disciplinar resulta especialmente
das consequências que a sua falta provoca e que nas situações mais graves conduzirão à
ilicitude do despedimento, tema que trataremos mais à frente neste trabalho216. Acresce
213
Sobre a alteração da terminologia, ver PEDRO ROMANO MARTINEZ, Direito do Trabalho, cit., p. 1059, e
PAULO SOUSA PINHEIRO, Procedimento Disciplinar ou Processo Disciplinar? – Uma questão puramente
terminológica ou verdadeiramente substancial?, in Prontuário de Direito do Trabalho, n.ºs 76, 77 e 78, 2007,
pp. 171‐195.
214
ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 500, considera que a natureza para‐
jurisdicional deste procedimento lhe retira simplicidade e celeridade, provocando o alongamento das crises
disciplinares. Considera ainda que não se trata de um processo que vise o apuramento da verdade ou a
realização da justiça, e por isso não considera invocáveis nesta sede as garantias do processo criminal e
contraordenacional.
215
Desde da Lei dos Despedimentos, aprovada pelo DL n.º 372‐A/75 de 16 de julho, que o legislador criou estas
duas fórmulas processuais distintas com vista a procedimentalizar a aplicação de sanções pelo empregador, o
que não sucedia na versão inicial da LCT em que se previa apenas uma forma de processo.
216
ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 501, tem combatido a ideia de supremacia do
procedimento relativamente ao fundamento do procedimento, naquilo que considera ser uma “hipertrofia
80
que a previsão de regras de natureza contraordenacional que sancionam o empregador
reforça a importância do incumprimento das regras procedimentais.
Compreende‐se a exigência de maior rigor formal quando a sanção tem em vista o
despedimento e cremos que se justifica porque se trata de aplicar a mais grave das sanções
e porque da sua aplicação resulta a cessação da relação de trabalho.
Impõe‐se referir que o procedimento permite não só aferir da existência de um
motivo válido para despedir, como também assegura a ponderação de cada um dos
elementos que compõem a justa causa (especialmente a gravidade e a culpa), auxiliando o
empregador a escolher e a ponderar a sanção adequada, ao mesmo tempo que assegura ao
trabalhador todas as garantias de defesa217.
Relativamente a esta dualidade de procedimentos, consoante a sanção a aplicar,
tem‐se levantado a questão de saber se a escolha do empregador por uma destas duas
fórmulas processuais implica desde logo um juízo de prognose sobre a culpa e a gravidade
da infração praticada pelo trabalhador relativamente a uma infração que em concreto ainda
não foi analisada, o que pode revelar‐se apressado e menos ponderado.
Importa notar que se o empregador valorar inicialmente os factos e considerar que
os mesmos são de molde a levar ao despedimento do trabalhador, deve iniciar o
procedimento com vista ao despedimento, mesmo que no seu decurso venha a concluir que
a infração não é tão grave que o justifique, caso em que, mesmo tendo iniciado este
procedimento, optará por outra sanção menos gravosa.
Por outra via, perspetivada a questão sob o prisma do trabalhador, não parece que o
recurso a um procedimento disciplinar mais rigoroso, ainda que o mesmo não fosse
necessário, resulte para si em prejuízo, isto na medida em que lhe assegura todas as
garantias de defesa, revelando‐se portanto mais seguro e eficaz para a proteção dos seus
interesses.
A situação inversa também pode suceder e pode revelar‐se mais problemática.
Situações há em que empregador na pré‐análise dos factos com relevância disciplinar conclui
procedimental” e que segundo o autor tem servido para inutilizar um bom número de despedimentos com
verdadeira justa causa.
217
Neste sentido também o artigo 7.º da Convenção n.º 158 da OIT, aprovada pela Resolução da Assembleia da
República n.º 55/94 de 27 de agosto, que dispõe que um trabalhador não deverá ser despedido por motivos
ligados ao seu comportamento ou ao seu trabalho antes de lhe terem facultado a possibilidade de se defender
contra as alegações formuladas, salvo se não se puder razoavelmente esperar que o empregador lhe faculte
essa oportunidade.
81
que os mesmos não são suficientemente culposos e graves que justifiquem o despedimento,
pelo que inicia o procedimento disciplinar mais simples porque o seu objetivo é aplicar outra
sanção que não o despedimento.
Todavia, se no decurso deste procedimento se apurarem factos que justificam o
despedimento com justa causa, o empregador não poderá despedir o trabalhador pois não
executou o processo próprio para efetivar tal despedimento, sob pena de fazendo‐o, o
despedimento ser considerado ilícito nos termos previstos no artigo 381.º c) CT218.
Do exposto, conclui‐se que a seleção pelo empregador de uma das modalidades de
procedimento impõe necessariamente uma análise e valoração prévias sobre a conduta do
trabalhador e a sanção aplicar219.
O procedimento disciplinar com vista ao despedimento, quer nas fases que
apresenta220, quer mesmo na terminologia que emprega, evidencia a cada passo
semelhanças com o processo penal221. Este aparece especialmente orientado para a certeza
e rigor da prova como pressuposto da aplicação de qualquer sanção222.
De notar ainda que o Código do Trabalho estabelece um procedimento de
despedimento simplificado que se destina a ser aplicado apenas nas microempresas (aquelas
que tenham até 10 trabalhadores – artigo 100.º CT) e que está previsto no artigo 358.º CT,
que abordaremos mais à frente223.
218
MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 661, considera que
estes atos podem ser considerados como atos de inquérito num futuro procedimento com vista ao
despedimento.
219
Como refere a este propósito MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte
II, cit., p. 661, a existência de um pré‐entendimento sobre os fenómenos é inevitável na aplicação do Direito e
em especial em qualquer ato de julgar.
220
De notar que atenta a semelhança das situações, as fases da acusação, defesa, instrução e decisão são
comuns ao processo disciplinar e ao processo penal.
221
BERNARDO DA GAMA LOBO XAVIER, A Extinção do Contrato de Trabalho, cit., p. 446, critica o facto de este
procedimento ser inspirado no processo penal.
222
De resto, é frequente designar o trabalhador contra quem corre este procedimento como trabalhador
arguido, ou simplesmente o arguido, expressão típica do processo penal para designar aquele que está acusado
de ter cometido um crime.
223
A redação do artigo 358.º dada pela Lei n.º 23/2012 de 25 de junho acentuou a tendência para uma maior
proximidade entre o procedimento simplificado para microempresas e o modelo geral do procedimento, o que
sucedeu nomeadamente pela atribuição da natureza obrigatória da fase da instrução em ambos os processos.
82
3.1 As fases do procedimento com vista ao despedimento por facto imputável
ao trabalhador: aspetos gerais
O procedimento disciplinar com vista ao despedimento é composto pelas fases de
acusação, defesa, instrução e decisão, que analisaremos de seguida.
Cabe ao empregador a condução de todo o processo disciplinar, embora possa delegar o
exercício desses poderes num superior hierárquico do trabalhador ou até mandatar alguém
para o representar, o que sucede através da figura do instrutor (329.º n.º 4 CT).
A condução do processo, ainda que por intermédio de instrutor, impõe no entanto que a
decisão de aplicar a sanção seja tomada pelo empregador224, porque se trata de um poder
seu e pelo qual assume toda a responsabilidade.
3.1.1 A fase da acusação do trabalhador: a nota de culpa e a comunicação da
intenção de despedir
Na fase de acusação o empregador elabora e envia ao trabalhador a nota de culpa.
Não obstante ser esta peça que marca, normalmente, o início do procedimento disciplinar
com vista ao despedimento, o legislador admite que o procedimento possa iniciar‐se com a
realização de um inquérito prévio.
A nota de culpa contém a enumeração de todos os factos que podem conduzir ao
despedimento e, como tal, deve ser escrita e apresentar a descrição circunstanciada no
tempo, modo e lugar de todos os factos que são imputados ao trabalhador, nos termos
previstos no n.º 1 do artigo 353.º CT 225.
224
O Ac. RP de 20 de janeiro de 2003, in CJ, 2003, I, pp. 223‐228, considerou que não obstante ser o
empregador o titular do exercício do poder disciplinar, configura uma mera irregularidade a comunicação da
intenção de despedimento ter sido realizada pelo instrutor do processo. Esta decisão traduz uma tendência
evidenciada nos acórdãos do Tribunal da Relação do Porto que acentua a natureza operativa da nota de culpa
face à defesa do trabalhador.
225
No Ac. RP de 27 de janeiro de 1997 admitiu‐se que a descrição dos factos possa ser feita por remissão para
os documentos que acompanham a nota de culpa, in CJ, 1997, I, p. 273. Já a falta da descrição circunstanciada
dos factos que motivam a nota de culpa determina a ilicitude do despedimento. Mantendo a mesma posição
decidiu o mesmo tribunal no Ac. RP de 04 de março de 2013, processo n.º 392/12.9TTBCL.P, disponível em
www.dgsi.pt; e também o Ac. de 9 de dezembro de 2013, processo n.º 317/11.9TTPRT.P1, disponível em
www.dgsi.pt. Neste último acórdão considerou‐se que “a nota de culpa deve conter uma descrição
circunstanciada dos factos que são imputados ao trabalhador, particularizando para cada um deles as
circunstâncias de tempo, modo, lugar ou outras que identifiquem o comportamento concreto imputado ao
83
A nota de culpa apresenta‐se por isso como a peça chave do despedimento
disciplinar, isto porque não só circunscreve (detalhada e pormenorizadamente) os factos de
que o trabalhador é acusado, e em torno dos quais apresentará futuramente a sua defesa,
como também deverá demonstrar a existência dos pressupostos da justa causa e concretizar
as infrações disciplinares que o trabalhador cometeu e das quais é acusado.
Outra função não menos relevante da nota de culpa consiste em limitar a ação do
empregador em todo este procedimento. A ação do empregador aparece especialmente
limitada porque na decisão final não podem ser ponderados factos que não constem da nota
de culpa, conforme previsto no n.º 4 do artigo 357.º CT.
Não obstante esta ideia de concentrar toda a acusação na nota de culpa, a
jurisprudência tem admitido a possibilidade de se elaborarem aditamentos aquela, quando
após a sua elaboração e envio ao trabalhador o empregador tome conhecimento de outros
factos com relevância disciplinar. O requisito natural que se impõe para se admitir o
aditamento à nota de culpa é que ao trabalhador seja concedido novo prazo de defesa
(incluindo a consulta ao processo) quanto aos novos factos alegados226.
Além dos aspetos enunciados, a nota de culpa elaborada com vista ao despedimento
deve ainda conter a comunicação ao trabalhador de que é intenção do empregador
proceder ao seu despedimento.
Atento o texto da norma do n.º 1 do 353.º CT coloca‐se a questão de saber a própria
nota de culpa pode conter a indicação de que é intenção do empregador despedir o
trabalhador face aos comportamentos que lhe são imputados, ou se, como uma
interpretação literal sugere, a nota de culpa terá de ser acompanhada de uma comunicação
– outro documento – onde se mencione com clareza essa intenção do empregador proceder
ao despedimento. Pensamos que o pretendido pelo legislador com o texto da lei foi a
indicação clara e inequívoca de que é intenção do empregador despedir o trabalhador
trabalhador, de modo a permitir‐lhe uma efetiva possibilidade de defesa. A circunstância do trabalhador, na
resposta à nota de culpa que não contém a descrição circunstanciada dos factos, negar, genericamente, tudo o
que lhe é imputado, não significa que o seu direito de defesa não tenha ficado afetado ou diminuído, pois de
outro modo, estar‐se‐ia a esvaziar de conteúdo útil seja a nota de culpa seja a resposta do trabalhador.”
226
Neste sentido ver o Ac. RP de 11 de novembro de 2013, processo n.º 884/12.0TTPNF‐A.P1, disponível em
www.dgsi.pt.
84
independentemente de tal comunicação seguir num só documento ou em dois documentos
fisicamente independentes227.
Sobre a questão de saber se a nota de culpa deve seguir acompanhada da
comunicação da intenção de despedimento do trabalhador, alguma doutrina tem vindo a
considerar que o facto de o empregador fazer uma pré‐análise e um juízo de prognose
relativamente ao desfecho do processo poder levar ao despedimento, isso enfraquece a
defesa futura do trabalhador e pode condicionar a ação do empregador228. Outra parte da
doutrina, com a qual nos identificamos, considera por seu turno que a comunicação da
intenção de despedimento aparece em consonância com a ideia essencial a transmitir ao
trabalhador – avisá‐lo da gravidade da acusação e da necessidade de se defender
convenientemente229.
Impõe‐se também mencionar que o procedimento disciplinar tem de obedecer aos
prazos gerais para o exercício da ação disciplinar, pelo que o n.º 3 do 353.º CT prevê que
com a notificação da nota de culpa ao trabalhador se interrompe a contagem dos prazos
estabelecidos no n.º 1 e 2 do artigo 329.º CT, como de resto também ocorrerá se for
realizado o inquérito prévio.
Convém referir que a nota de culpa contém uma declaração recetícia, o que significa
que só produz os seus efeitos quando é conhecida do trabalhador, conforme estipulado no
n.º 2 do artigo 224.º CC, embora tal princípio só esteja consagrado expressamente no Código
do Trabalho quanto à decisão de despedimento (357.º n.º 7)230.
Por fim, se na empresa existir comissão de trabalhadores ou se o trabalhador a
despedir for representante sindical, deve o empregador enviar a nota de culpa e a
comunicação da intenção de despedimento à dita comissão de trabalhadores e à associação
sindical respetiva para emissão do parecer.
227
Neste sentido MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 835, e
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 210.
228
Posição com a qual não concordamos e que é defendida por PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do
Contrato de Trabalho, cit., p. 209.
229
Neste sentido ver especialmente ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 621.
230
Nessa conformidade, tal como sucede com a decisão de despedimento, parece que só pode ser exigido ao
empregador que envie a nota de culpa para a morada do trabalhador que lhe foi comunicada.
85
3.1.2 A fase da defesa do trabalhador: a consulta do processo e a apresentação de
resposta à nota de culpa
Recebida a nota de culpa, o trabalhador pode apresentar a sua defesa. Normalmente
quando apresenta a defesa à nota de culpa, o trabalhador elabora a resposta à nota de culpa
e pode negar os factos de que é acusado ou apresentar a sua versão dos factos que lhe são
imputados. Em qualquer caso, na sua defesa o trabalhador procurará esclarecer a sua
participação nos factos que lhe são imputados, nos termos do artigo 355.º CT231. Na resposta
apresentada o trabalhador pode igualmente invocar vícios de procedimento, bem como
questionar a qualificação daqueles comportamentos como infração disciplinar.
A resposta à nota de culpa deve também ser apresentada por escrito, assumindo
muitas vezes (embora a lei não o refira) a forma articulada232.
Para organizar e elaborar a sua defesa o trabalhador dispõe dos 10 dias úteis
seguintes à receção da nota de culpa, atenta a natureza recetícia da nota de culpa, sendo
que a contagem do prazo só se inicia após a receção da acusação233.
Do mesmo prazo de 10 dias úteis dispõe o trabalhador para consultar o processo, o
que lhe pode permitir melhor organizar a sua defesa, razão pela qual normalmente antecede
a apresentação da resposta à nota de culpa.
Note‐se que este prazo geral para o trabalhador organizar a sua defesa pode ser
aumentado pelos IRCT, conforme previsto no n.º 2 do artigo 339.º CT. Ao contrário tem‐se
entendido que não pode ser diminuído por fazer perigar o direito à defesa do trabalhador.
Constata‐se que o legislador omitiu a referência às consequências da não observância
do prazo para apresentação da defesa pelo trabalhador, antes valorizando as suas garantias
de defesa.
231
A propósito do conteúdo da defesa apresentada pelo trabalhador, quer a doutrina, quer a jurisprudência,
têm genericamente considerado que se o trabalhador se defendeu de um facto, ainda que não devidamente
balizado na nota de culpa, tal significa que o compreendeu; portanto, se a nota de culpa foi compreendida pelo
trabalhador, a sua defesa foi eficaz ‐ neste sentido, Ac. RL de 29 de março de 1995, in CJ, 1995, II pp. 175‐176;
Ac. STJ de 25 de setembro de 1996, in CJ (STJ), 1996, III, pp. 228‐232; e Ac. STJ de 9 de abril de 2003, in CJ (STJ),
II, pp. 247‐249. Quanto à doutrina, veja‐se PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho,
cit., p. 212. Idêntica argumentação tem também sido invocada para admitir que a acusação ao trabalhador
possa ser feita por remissão para documentos juntos à nota de culpa, consagrando‐se desta feita o chamado
critério da adequação funcional da nota de culpa, a que alude também ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES,
Direito do Trabalho, cit., p. 622.
232
A apresentação da defesa escrita do trabalhador está hoje (desde as alterações de 2009) generalizada a
todos os tipos de empresas, nomeadamente às microempresas, o que não sucedia na versão inicial do CT em
2003, em que se mostrava suficiente a audição do trabalhador.
233
O Código do Trabalho de 2003 duplicou este prazo que, na lei anterior (LCCT), era apenas de 5 dias úteis.
86
A verificar‐se esta situação, o empregador pode não receber ou não atender à
resposta apresentada pelo trabalhador e concluir o procedimento disciplinar como se a
mesma não existisse, como se colhe do artigo 358.º n.º 3 al. a) CT.
Tratando‐se de um procedimento relevante nesta fase da defesa do trabalhador, o
direito à consulta do processo deve realizar‐se mesmo nos casos em o trabalhador esteja
suspenso preventivamente.
A consulta pode ser realizada pelo próprio trabalhador ou por alguém que tenha
mandatado para o efeito, em especial um advogado. A consulta do processo acontecerá
junto de quem estiver a organizá‐lo, o próprio empregador ou um instrutor, como
frequentemente sucede, e ocorrerá em local certo e determinado234.
O direito do trabalhador a consultar o processo abrange toda a documentação que o
componha. Alguma doutrina coloca a questão relativa à extensão do direito a consultar o
processo, no sentido de saber se abrange nomeadamente o inquérito prévio, assim como se
se esgota apenas na consulta do processo, ou se ao trabalhador nesta fase está assegurado o
direito a reproduzir o processo. A lei não apresenta resposta para qualquer das questões235.
Apesar da configuração exígua lei no que tange ao direito do trabalhador consultar o
procedimento disciplinar, este assume hoje especial relevância dentro do direito à defesa do
trabalhador, de tal forma que é um dos fundamentos da invalidade do procedimento que
poderá conduzir à ilicitude do despedimento, artigo 382.º n.º 2 c) CT236.
Na resposta à nota de culpa o trabalhador deve solicitar ao empregador a realização de
todas as diligências probatórias que considere pertinentes para o apuramento da verdade.
234
Sobre a não indicação na nota de culpa do local e hora para consultar o processo o Ac. STJ de 17 de janeiro
de 1996, in CJ (STJ), 1996, I, pp. 247‐249, considerou que tal omissão não corresponde a nenhuma
irregularidade do processo disciplinar. O Ac. STJ de 24 de janeiro de 2007, processo n.º 06S3854, disponível em
www.dgsi.pt, por sua vez, recusa a existência de uma obrigação do empregador nesta matéria.
235
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 216, admite que possa ser facultada
ao trabalhador a possibilidade de reprodução de documentos, sem que isso represente qualquer obrigação
para o empregador. Posição diferente é preconizada por MESSIAS DE CARVALHO, A Ilicitude do despedimento e
seus efeitos, in Revista de Estudos e de Direitos Sociais, 1989, n.ºs 3 e 4, p. 389, que configura o direito a obter
cópias das peças do processo como uma parte do direito à defesa do trabalhador. No que concerne à
possibilidade do trabalhador consultar o processo de inquérito, MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO,
Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 840, considera que tendo o processo de inquérito natureza
interna, preparatória e reservada, não deve ser facultada a consulta ao trabalhador. Idêntica posição é
defendida por ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 503.
236
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 216, considera a solução radical, e
como tal criticável, por entender ser necessária a ponderação da importância da falta de realização da consulta
na defesa do trabalhador. No mesmo sentido ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Sobre a serventia do processo
disciplinar laboral, in Revista de Direito e de Estudos Sociais, 2004, p. 206.
87
Com efeito, sendo este momento o âmago da defesa do trabalhador cabe‐lhe utilizar
todos os meios necessários e disponíveis que entenda convenientes e relevantes à sua
defesa237. O trabalhador pode assim juntar documentos, arrolar testemunhas, requerer
perícias, entre outras238. Cabe ao empregador a decisão sobre se as realiza ou não239.
Atenta a relevância do direito à defesa do trabalhador, se o empregador não
respeitar o direito do trabalhador a consultar o processo, a responder à nota de culpa ou o
prazo para a resposta, o procedimento poderá vir a ser atacado pelo trabalhador e aquele
ser considerado inválido pelo tribunal nos termos do artigo 382.º n.º 2 c) CT, resultando
deste vício a ilicitude do despedimento 240.
3.1.3 A fase da instrução
Recebida a resposta à nota de culpa, inicia‐se a fase da instrução prevista no artigo
356.º CT, cujo objetivo é a realização das diligências probatórias requeridas pelo
trabalhador241.
Na fase da instrução, o empregador por si ou através de instrutor nomeado
procederá obrigatoriamente à realização das diligências probatórias requeridas pelo
trabalhador na resposta à nota de culpa242.
237
O n.º 2 do artigo 355.º CT considerou contra‐ordenação grave ou muito grave (no caso de o trabalhador ser
representante sindical) o desrespeito pelas regras relativas à defesa do trabalhador, a consulta do processo e a
possibilidade de apresentar a resposta à nota de culpa.
238
No Ac. STJ de 14 de maio de 2008, processo n.º 08S643, disponível em www.dgsi.pt, considerou‐se que a
não disponibilização de filmagens cuja defesa havia solicitado não conduz à nulidade do procedimento
disciplinar. Sobre a admissibilidade da utilização de imagens de videovigilância em sede de procedimento
disciplinar ver o Ac. RE de 9 de novembro de 2010, in CJ, 2010, V, pp. 274‐278.
239
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 218, entende que sobre o pedido
do trabalhador para que seja tomado pelo empregador o seu depoimento ou a realização de acareação do
trabalhador com outras pessoas, a lei nada refere; porém, tendo a defesa natureza escrita, fica na
disponibilidade do empregador aceder na realização destas diligências probatórias.
240
Não deixa de ser interessante a decisão do Ac. RL de 10 de outubro de 2003, in CJ, 2003, IV, pp. 157‐160,
que considerou que tendo sido vedada a consulta do processo ao trabalhador, mas sendo o processo
constituído apenas pela nota de culpa, sendo esta conhecida do trabalhador, esta ação do empregador não
implica a nulidade do processo. Consideramos que tal entendimento pode enfraquecer os direitos de defesa do
trabalhador, porque pode nesta data o empregador não ter, como lhe compete, organizado devidamente o
processo de despedimento, podendo este vício ser invocado pelo trabalhador se futuramente decidir impugnar
o despedimento.
241
Contra a ideia de que a realização da instrução tem como objetivo a comprovação dos fundamentos
invocados pelo empregador e respetiva argumentação, ver PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato
de Trabalho, cit., p. 182.
88
A lei admite, contudo, que o empregador possa não realizar as diligências probatórias
requeridas pelo trabalhador se as considerar patentemente dilatórias ou impertinentes,
casos em que deve alegar fundamentadamente por escrito as razões para a sua não
realização nos termos do previsto na parte final do n.º 1 do artigo 356.º CT243. Impõe‐se
notar que esta decisão do empregador ou do instrutor não é completamente isenta de risco,
nomeadamente se o despedimento vier a ser impugnado pelo trabalhador e o tribunal
valorar diferentemente razões invocadas pelo empregador para a não realização das
diligências probatórias 244.
Na realização das diligências de instrução, e no que à audição de testemunhas
especificamente respeita, importa referir que é o trabalhador que tem a obrigação de
assegurar a comparência das testemunhas por si arroladas, estando apenas o empregador
obrigado a ouvir até três testemunhas por cada facto arrolado na nota de culpa, com um
máximo de 10 testemunhas. O legislador consagrou nesta sede o mesmo número de
testemunhas a ser inquiridas, logo atribuiu a mesma relevância a esta prova testemunhal
como na ação de processo declarativo comum prevista nos artigos 64.º e 65.º CPT. Ainda em
relação à audição das testemunhas, o seu depoimento deverá ser lavrado por escrito, isto
não obstante a lei nada referir245.
242
Uma das alterações introduzidas pela Lei n.º 23/2012 de 25 de junho foi retirar a natureza facultativa à
instrução. A este propósito refira‐se que o Código do Trabalho de 2009, contrariamente ao que até então
sucedeu, e rompendo com uma longa tradição nesta matéria, atribuiu à instrução natureza facultativa,
estatuindo que cabia ao empregador decidir sobre a realização das diligências probatórias requeridas na
resposta à nota de culpa. Este regime, que nunca foi consensual, prendia‐se essencialmente com razões de
celeridade do procedimento disciplinar. Porém, no Acórdão n.º 338/2010 de 22 de setembro, o Tribunal
Constitucional, antecipando a alteração legislativa de 2012, considerou inconstitucional o n.º 1 do artigo 356.º
CT por entender que a norma violava os artigos 32.º e 53.º da CRP, especialmente por pôr em causa dois
princípios essenciais em matéria de despedimento: o direito à defesa e o direito da segurança no emprego.
Sobre considerações diversas ao texto do Acórdão do Tribunal Constitucional ver, entre outros, MARIA DO
ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 842, e PEDRO FURTADO MARTINS,
A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 219. Contra a decisão sufragada no Acórdão do TC, contudo numa
posição claramente minoritária, PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., pp. 183
e ss., aplaude a solução da instrução facultativa presente na versão inicial do Código do Trabalho de 2009, em
especial por considerar a irrelevância da instrução para a prova da fundamentação do despedimento e
igualmente por entender que este regime instrutório fornece uma natureza errada do procedimento, porque o
assimila a outros processos sancionatórios, como por exemplo o processo penal.
243
Sobre as consequências da recusa do empregador em ouvir as testemunhas arroladas pelo trabalhador
alegando já as ter ouvido em processo de inquérito, ver o Ac. RL de 19 de janeiro de 2011, CJ, 2011, I, pp. 168‐
171.
244
A este propósito PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 224, defende que
a omissão das formalidades da instrução por recusa infundamentada do empregador deve ser avaliada
casuisticamente em face da relevância e do efeito das diligências omitidas na defesa do trabalhador.
245
Assim o considerou a Relação de Lisboa no Ac. RL de 24 de maio de 2000, in CJ, 2000, III, pp. 162‐ 163.
89
Atento o caráter privado e não contraditório da instrução, a doutrina tem
considerado que a presença do trabalhador não é obrigatória (assim como a do seu
mandatário) aquando da realização das diligências probatórias requeridas246.
Concluída a fase da instrução247, e em cumprimento do disposto no n.º 5 do artigo
356.º CT (esta formalidade pode ser dispensada relativamente às microempresas – 358.º n.º
1 CT), o empregador deve enviar cópia integral do processo à comissão de trabalhadores e,
se o trabalhador for representante sindical, à associação sindical que integra (ou àquela que
o trabalhador escolher – nos termos do artigo 356.º n.º 6), que podem emitir e juntar ao
processo parecer fundamentado, mas não vinculativo248, num prazo de cinco dias úteis249.
Finda a instrução, e nos casos em que as diligências instrutórias estejam a cargo de
instrutor, deverá este produzir o relatório final que habilite o empregador a decidir na fase
seguinte250.
Contudo, e não obstante o princípio da celeridade, a realização da instrução não
aparece limitada temporalmente, ficando a sua realização sujeita aos prazos gerais do n.º 3
do artigo 329.º CT.
De salientar que ao mesmo tempo que o legislador voltou a revestir a instrução de
caráter obrigatório, desvalorizou as deficiências verificadas nesta fase do procedimento. As
eventuais deficiências de procedimento da instrução, designadamente por omissão das
diligências probatórias referidas no n.º 1 e 2 do 356.º CT, geram apenas uma irregularidade,
cuja consequência é apenas a obrigação do empregador indemnizar o trabalhador em
246
Neste sentido MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p. 844,
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 225, e PEDRO SOUSA MACEDO, Poder
Disciplinar Patronal, cit., p. 225.
247
Se se tratar do despedimento de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante (36.º CT) e de trabalhador no
gozo de licença parental, o empregador, após o encerramento da fase da instrução, tem ainda a obrigação de
obter o parecer da entidade competente na área da igualdade de oportunidades entre homens e mulheres,
CITE (63.º n.º 1 a) CT), que dispõe do prazo de 30 dias (contados da data do pedido) para o emitir e comunicar
ao empregador. Se esse parecer for contrário ao despedimento, por concluir existir ação discriminatória da
entidade patronal, o trabalhador não deve ser despedido, o que só poderá acontecer se a entidade patronal
obtiver sentença que reconheça o motivo justificativo (63.º n.ºs 4 e 6), devendo nesse caso o empregador
intentar a ação nos 30 dias seguintes à receção do parecer. A falta da obtenção deste parecer relativamente a
trabalhador que se encontre em período de licença parental inicial torna o despedimento ilícito, conforme o
previsto na alínea d) do artigo 381.º CT. O parecer da CITE apresenta caráter vinculativo e suspensivo do
despedimento (63.º n.º7). Os pareceres emitidos pela CITE estão disponíveis para consulta em
www.cite.gov.pt.
248
Sobre o caráter não vinculativo deste parecer, ver Ac. RP de 20 de janeiro de 2003, CJ, 2003, I, pp. 223‐228.
249
O incumprimento desta obrigação pelo empregador assume a natureza de uma contraordenação grave ou
muito grave, o que sucede quando o trabalhador for representante sindical.
250
Em regra é o instrutor que propõe ao empregador a sanção a aplicar ao trabalhador e que o empregador
fará constar da decisão final.
90
metade do valor “normal” da indemnização prevista no n.º 1 do artigo 391.º CT. O legislador
assumiu nesta matéria postura diferente relativamente à versão original do CT em 2003.
3.1.4 A fase da decisão
Concluída a instrução, e emitidos os pareceres das entidades competentes, o
empregador tem de proferir a decisão de despedimento. A prolação da decisão deve
verificar‐se no prazo máximo de 30 dias, a contar da data da conclusão das diligências
probatórias ou da data da emissão dos pareceres, nos termos previstos no artigo 357.º n.º
1251. Como se colhe da norma em referência, o não cumprimento do prazo pelo empregador
implica a caducidade do direito do empregador de aplicar a sanção de despedimento252.
A consagração deste prazo evidencia a preocupação do legislador em proteger o
trabalhador dos efeitos que o prolongamento deste processo no tempo poderia produzir, e
que em algumas situações poderia conformar‐se como outra “sanção” para o trabalhador. O
princípio da celeridade aparece como orientador e ao mesmo tempo limitador da atuação
do empregador neste procedimento. Acresce referir que a previsão deste prazo é a que
melhor se coaduna com o conceito de justa causa quando refere que o comportamento do
trabalhador deve tornar imediata e praticamente impossível a manutenção da relação de
trabalho.
Na mesma linha de pensamento e de ação, o legislador em 2009, na revisão do CT,
estabeleceu outro prazo que o empregador está obrigado a cumprir, e que se sobrepõe ao
anterior. Este está previsto no artigo 329.º n.º 3 e é um prazo de prescrição que opera um
ano após a data da instauração do procedimento e o trabalhador não tenha recebido a
decisão final253.
251
Não tendo havido diligências instrutórias, a prolação da decisão deve ocorrer nos 30 dias seguintes contados
do fim do prazo de que o trabalhador dispunha para apresentar a sua defesa; neste sentido, aliás, o Ac. RP. de
18 de novembro de 2013, processo n.º 86/13.8TTVNF‐A.P1, disponível em www.dgsi.pt.
252
No âmbito da legislação anterior ao Código do Trabalho de 2003 discutia‐se sobre a natureza deste prazo, se
se tratava de prescrição ou de caducidade. O texto da lei resolveu a questão tomando posição expressa de que
se trata de um prazo de caducidade.
253
Sobre o incumprimento dos prazos para o empregador proferir decisão, ou que determine o cumprimento
da sanção para além deles, PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 236,
considera que a consequência do incumprimento só pode ser a invalidade do ato extintivo, o que torna o
despedimento ilícito com os efeitos do artigo 389.º n.º 1 CT.
91
A decisão tem de constar de documento escrito e deve ser fundamentada, nos
termos do n.º 5 do artigo 357.º CT254. O incumprimento destes requisitos conduz à ilicitude
do despedimento nos termos previstos no artigo 382.º n.º 2 d) CT.
A fundamentação deve ponderar as circunstâncias do caso nos mesmos termos que o
n.º 3 do artigo 351.º, avaliando a adequação do despedimento à culpa do trabalhador e os
pareceres emitidos pelas entidades representativas dos trabalhadores (quando exigíveis) nos
termos do n.º 4 do artigo 357.º.
Por força da previsão da parte final da norma referida, na decisão não podem ser
invocados factos não constantes da nota de culpa ou da resposta à nota de culpa, a não ser
quando atenuem a responsabilidade do trabalhador255.
Por imposição da lei, a decisão proferida deve ser comunicada à comissão de
trabalhadores ou à associação sindical se o trabalhador for representante sindical (357.º n.º
6).
A decisão reveste‐se assim de caráter recetício (artigo 224.º n.º 1 CC), o que quer
dizer que só se torna eficaz após ter sido recebida pelo trabalhador ou ser sua conhecida,
produzindo também os mesmos efeitos se apenas por culpa do trabalhador não for recebida
(n.º 7 do artigo 357.º CT) 256.
Além do caráter recetício da decisão de despedimento, é possível apontar‐lhe outras
características, nomeadamente que produz efeitos extintivos da relação de trabalho, e
também constitutivos257, não pode ser revogada pelo empregador258 e não tem eficácia
retroativa.
254
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 151, considera que para que exista
um despedimento, ainda que ilícito, basta que ocorra uma declaração tácita do empregador.
255
Conforme o previsto na alínea d) do n.º 2 do artigo 382.º CT, o despedimento é ilícito se a decisão de
despedimento não constar de documento escrito e se não for elaborada nos termos do n.º 4 do artigo 357.º e
do n.º 2 do 358.º CT.
256
O Ac. RP de 30 de setembro de 2013, processo n.º 706/11.9TTMAI.P1, disponível www.dgsi.pt, decidiu que
“mostrando‐se junta ao procedimento disciplinar uma procuração da trabalhadora a favor de mandatário,
concedendo‐lhe “os mais amplos poderes em Direito”, nestes não se inclui o poder específico para a prática de
ato que a lei comete à estrita pessoa do trabalhador, qual seja o de lhe ser comunicada a decisão final do
procedimento disciplinar”.
257
Referindo‐se à natureza constitutiva do despedimento PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato
de Trabalho, cit., p. 150, salienta que se trata de um ato de vontade do empregador que produz efeitos por si
mesmo, sem necessidade de intervenção judicial. Embora excepcionalmente nalguns despedimentos o
empregador precise previamente de recorrer ao tribunal para poder concretizar o despedimento, é o que
sucede no despedimento de trabalhadoras grávidas, puérperas ou lactantes, bem como trabalhadores no gozo
de licença parental, quando haja parecer desfavorável da CITE quanto ao despedimento, cfr. artigo 63.º CT.
Mesmo nestes casos, será o empregador a decidir o despedimento.
258
Assim considerou o Ac. STJ de 22 de janeiro de 1997, in CJ (STJ) 1997, I, pp. 258‐260.
92
Importa ainda notar que a receção da decisão de despedimento pelo trabalhador produz
determinados efeitos jurídicos conexos com o fim da relação de trabalho, mas que vão para
além dela, entre os quais salientamos o decurso do prazo para o trabalhador obter a
suspensão do despedimento (386.º CT), para impugnar judicialmente o despedimento
(artigo 387.º n.º 2), de prescrição dos créditos salariais (artigo 337.º CT), bem como os
prazos para o trabalhador obter o subsídio de desemprego259.
3.2 Formalidades eventuais do procedimento disciplinar: o inquérito prévio e a
suspensão preventiva do trabalhador
3.2.1 O inquérito prévio realizado pelo empregador
Como referimos supra, se houver necessidade para fundamentar a nota de culpa, o
empregador pode determinar a realização de inquérito prévio (antes da nota de culpa), nos
termos do artigo 352.º CT. Saliente‐se que o inquérito aparece como uma formalidade
eventual do processo disciplinar, o qual só se realizará se existir a necessidade de apurar
factos para fundamentar a nota de culpa.
A norma em referência esclarece que o seu início interrompe a contagem dos prazos
previstos no n.ºs 1 ou 2 do artigo 329.º CT desde que se inicie nos 30 dias seguintes à
suspeita dos comportamentos irregulares pelo trabalhador.
Por sua vez, não se contempla um prazo máximo de conclusão do inquérito, apenas
se referindo a necessidade de o empregador o conduzir de forma diligente e de proceder à
notificação ao trabalhador da nota de culpa no prazo máximo de 30 dias após a conclusão do
inquérito (parte final do artigo 352.º CT).
259
Sobre os pressupostos de atribuição do subsídio de desemprego aos trabalhadores, ver MARIA HELENA
SALAZAR DA COSTA LIMA, Análise do Regime legal de atribuição do subsídio de desemprego, in Revista de
Ciências Empresariais e Jurídicas, ISCAP, n.º 11, 2007, pp. 105‐128.
93
3.2.2 A suspensão preventiva do trabalhador
Outro dos momentos ou formalidades eventuais no procedimento disciplinar com
vista ao despedimento reside na possibilidade prevista na lei de o empregador suspender
preventivamente o trabalhador, impedindo o seu acesso à empresa, nos termos previstos
nos n.ºs 1 e 2 do artigo 354.º CT260.
Com efeito, em regra, em simultâneo com a nota de culpa, ou até 30 dias antes do
seu envio, o empregador pode suspender preventivamente o trabalhador desde que se
mostrem preenchidos dois requisitos: que a presença do trabalhador se mostre
inconveniente na empresa e que ao trabalhador seja assegurado direito à retribuição
enquanto a suspensão se mantiver, nos termos dos n.ºs 1 e 2 do artigo 354.º CT261.
Se a suspensão for comunicada ao trabalhador antes de lhe ser enviada a nota de
culpa por escrito, deve o trabalhador nos 30 dias subsequentes receber a nota de culpa.
Quando o empregador proceder nestes termos, deve alegar factos que demonstrem
que a permanência do trabalhador na empresa é inconveniente262.
Se a ordem de suspensão acompanhar a nota de culpa, a factualidade que a integra
serve para justificar as duas condições impostas por lei. Não sendo assim, na comunicação
da suspensão o empregador deve não só alegar os factos que a motivam como também
evidenciar a inconveniência da presença do trabalhador.
A lei não refere expressamente a possibilidade de o empregador suspender
preventivamente o trabalhador depois de já lhe ter enviado a nota de culpa, no entanto
parece caber no espírito da lei quando a presença do trabalhador se mostre inconveniente
ao normal andamento do processo disciplinar.
Outro aspeto que a lei não trata refere‐se aos efeitos de uma eventual irregularidade
na remessa ao trabalhador da ordem de suspensão, em especial, a falta de fundamentação
ou o não cumprimento do prazo de 30 dias para envio da nota de culpa. Com efeito, a
omissão destes requisitos não gera ilicitude do despedimento, como à partida se poderia
260
No caso específico dos trabalhadores representantes sindicais, nem mesmo durante o período de suspensão
lhes pode ser vedado o acesso à empresa para exercer as funções de representação para as quais estão
mandatos nos termos do artigo 410.º n.º 1 CT.
261
Idêntica previsão se aplica em todos os casos de exercício da ação disciplinar (aplicação de sanção diversa
do despedimento) pelo empregador, conforme o n.º 5 do artigo 329.º CT; uma vez iniciado o procedimento, e
mantendo‐se os pressupostos referidos, pode o empregador suspender o trabalhador.
262
Todavia, a lei não estabelece especiais requisitos de forma para o empregador operar esta comunicação.
94
legitimamente pensar. Alguma doutrina admite que, relativamente ao incumprimento do
prazo, o trabalhador possa invocar a violação do dever de ocupação efetiva caso o
empregador tenda a manter no tempo esta situação, invocando para tal o disposto no artigo
129.º n.º 1 b) CT263. Admitem outros autores que, nas situações mais graves, o trabalhador
possa resolver o contrato de trabalho nos termos do artigo 394.º n.º 2 b) pelo facto de o
empregador violar as suas garantias legais264.
A suspensão preventiva do trabalhador não encerra em si mesma uma sanção265, nem
configura uma situação de suspensão do contrato de trabalho, trata‐se antes de uma medida
cautelar em que se conserva e garante ao trabalhador o direito à retribuição266.
3.3 O procedimento simplificado nas microempresas
O Código do Trabalho no artigo 358.º prevê um regime simplificado para ser utilizado
pelas microempresas que pretendam despedir trabalhadores267.
De notar que este processo só pode ser aplicado se o trabalhador não for membro da
comissão de trabalhadores (o que numa microempresa dificilmente se aplicará) ou
representante sindical.
A simplificação consiste na dispensa de algumas das formalidades que no processo geral
(já por nós abordado) são obrigatórias. Em concreto dispensam‐se as formalidades do n.º 2
do artigo 353.º (comunicação da nota de culpa à comissão trabalhadores ou associação
sindical respetiva), do n.º 5 do artigo 356.º (pedido de parecer à comissão trabalhadores ou
263
Como preconizam MARIA DA GLÓRIA LEITÃO e DIOGO LEOTE NOBRE, in Código do Trabalho Revisto –
Anotado e Comentado, Lisboa, Vida Económica, p. 329.
264
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., pp. 214 e ss., entende que este
expediente não deve ser encarado como automático face ao atraso do empregador. O autor admite que pode
haver situações em que o empregador tenha fundamento para não remeter a nota de culpa no prazo de 30
dias.
265
Como notam JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho, Volume I – Relações Individuais de
Trabalho, cit. p. 1007, e MARIA DO ROSÁRIO PALMA RAMALHO, Tratado de Direito do Trabalho, Parte II, cit., p.
838.
266
ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 507, admite que em concreto possam existir
prejuízos para o trabalhador por força da ordem de suspensão, nomeadamente quando no exercício das suas
funções recebia gratificações ou gorjetas, que por força da não prestação de trabalho deixa de receber.
267
Como se sabe, e de acordo com o disposto no artigo 100.º n.º 1 a) CT, é considerada microempresa aquela
que tiver até 10 trabalhadores.
95
associação sindical no fim da instrução) e dos n.º 1, 2 e 6 do artigo 357.º CT (comunicação da
decisão à comissão de trabalhadores e à associação sindical).
A diminuição dos formalismos é atualmente menos acentuada, em parte, pela atribuição
de obrigatoriedade à instrução, o que atenuou as diferenças entre as duas modalidades de
procedimento disciplinar.
Em conclusão, podemos dizer que o despedimento disciplinar é um instituto complexo e
cujos efeitos são extremamente gravosos para o trabalhador e para a sua família. A garantia
da segurança do emprego e a inexistência de despedimentos livres conduziram o legislador a
um modelo de despedimento rigoroso e vinculado, quer substantiva quer adjetivamente.
Ao empregador impõe‐se‐lhe que apenas possa despedir com justa causa, verificado o
elenco cumulativo e apertado de elementos que compõe o conceito legal.
A noção de justa causa nem sempre é fácil de interpretar atenta a complexidade que
encerra, quer pelos conceitos vagos e indeterminados que são empregues, quer pelas
dificuldades de conjugar os elementos da noção com os exemplos elencados na lei.
Para a boa aplicação do conceito de justa causa têm contribuído a doutrina e de modo
muito particular a jurisprudência.
Para realizar o despedimento do trabalhador com justa causa, o empregador tem de
elaborar um procedimento disciplinar cujos objetivos são não só a demonstração da
existência de justa causa como o permitir ao trabalhador uma defesa eficaz face aos factos
de que é acusado pelo seu empregador.
O legislador comina o despedimento de ilícito sempre que se mostrem ameaçadas as
garantias que por este processo se pretendem assegurar ao trabalhador.
Relevam neste quadro as situações que conduzem à sua ilicitude e os seus efeitos que
trataremos a seguir.
96
Capítulo IV ‐ A ilicitude e a impugnação judicial do
despedimento por facto imputável ao trabalhador
A possibilidade do trabalhador poder sindicar judicialmente a sanção de
despedimento que lhe foi aplicada configura o mecanismo especialmente previsto para
permitir ao trabalhador controlar o exercício do poder disciplinar pelo empregador. Aliás, a
impugnação judicial do despedimento constitui precisamente um meio de controlo a
posteriori do despedimento disciplinar realizado contra a lei pelo empregador.
No caso do despedimento, o legislador preocupou‐se especialmente em garantir a
sua eficácia, o que faz através da previsão de uma série de regras relativas quer à
fundamentação quer à formalidade exigida, preceitos esses que o empregador tem de
observar para despedir o trabalhador268.
Quando o despedimento não se conformar segundo os padrões de forma e de
fundamentação impostos pela lei, ou seja, especialmente quando se revele inválido, a lei
assegura ao trabalhador, em princípio, o regresso ao seu posto de trabalho, o que se
concretiza na figura da reintegração. Pelo que, em certa medida, a reintegração funciona
também como “sanção” para o empregador.
Importa todavia referir que atualmente por força do regime em vigor, nem todos os
vícios de que o despedimento padeça o tornam ilícito, como daremos nota269. A lei prevê
hoje situações em que a desconformidade do despedimento apenas conduz à sua
irregularidade, o que se reflete ao nível do valor da indemnização a receber pelo
trabalhador.
Os efeitos da ilicitude só se produzirão por via da sentença proferida no processo de
impugnação de despedimento que o trabalhador tenha intentado.
Analisaremos brevemente cada uma das situações de ilicitude do despedimento e os
respetivos efeitos, assim como nos referiremos à irregularidade do despedimento.
268
Segundo ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 466, a exigência da motivação, por
um lado, e a processualização do despedimento, por outro, constituem aspetos relevantes no sentido de
condicionar a ação do empregador no exercício da ação disciplinar.
269
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 388, refere a existência de três
tipos de vícios em matéria de despedimento que, consoante os seus efeitos, são classificados de vícios
invalidantes, vícios que geram a irregularidade e vícios irrelevantes.
97
1. Os fundamentos gerais da ilicitude do despedimento
Nos termos do artigo 381.º CT constituem fundamentos gerais da ilicitude em qualquer
modalidade de despedimento, as situações em que o despedimento assente em motivos
políticos, ideológicos, étnicos ou religiosos, ainda que seja invocado motivo diverso270; as
situações em que o tribunal venha a considerar improcedente o motivo justificativo do
despedimento; quando não existir o respetivo procedimento271; e ainda quando, tratando‐se
de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante ou de trabalhador no gozo de licença parental
inicial, não tenha sido solicitado o respetivo parecer prévio à CITE.
Nestes fundamentos gerais da ilicitude do despedimento encontram‐se as situações mais
gravosas. Em especial na alínea a) estão previstas as situações de despedimento por
motivos políticos e ideológicos, étnicos ou religiosos, que a CRP no artigo 53.º também
proíbe 272.
De seguida analisaremos os fundamentos específicos que podem conduzir à ilicitude do
despedimento por facto imputável ao trabalhador, tratando posteriormente os efeitos da
declaração de ilicitude pelo tribunal.
2. A Ilicitude do despedimento por facto imputável ao trabalhador
O artigo 382.º CT trata da ilicitude do despedimento por facto imputável ao trabalhador.
De acordo com o disposto na norma em referência, tornam o despedimento ilícito duas
ordens de fundamentos – o não cumprimento de alguns prazos para o exercício da ação
disciplinar e a invalidade do procedimento com vista ao despedimento.
270
Como já referimos, o Código do Trabalho no artigo 338.º, ao mesmo tempo proíbe os despedimentos sem
justa causa e impede o despedimento por motivos políticos ou ideológicos.
271
O procedimento de despedimento foi a forma encontrada pelo legislador para dotar o processo de cessação
do contrato de trabalho por iniciativa do empregador da certeza e segurança jurídicas necessárias, assim como
de garantir o exercício dos direitos de defesa ao trabalhador. Procura‐se igualmente assegurar uma decisão
justa e equilibrada. Por estas razões, a falta do processo é razão bastante para gerar a ilicitude do
despedimento. Importa ainda notar que a omissão de certas formalidades em cada uma das modalidades de
despedimento pode igualmente conduzir à sua ilicitude.
272
PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho, cit., p. 389, chama aos despedimentos
abrangidos pela alínea a) despedimentos discriminatórios. Considera também que serão abrangidas pela
mesma norma as situações em que o trabalhador seja despedido devido à sua orientação sexual ou por não ser
adepto de determinado clube de futebol, apesar de não previstas na letra da lei.
98
2.1 A ilicitude decorrente do não cumprimento dos prazos previstos no artigo
329.º n.º 1 e n.º 2 CT: remissão
Dispõe o n.º 1 do artigo 382.º CT que o despedimento por facto imputável ao
trabalhador é ainda ilícito se tiverem decorrido os prazos estabelecidos nos n.ºs 1 e 2 do
artigo 329.º CT.
Assim, e como já tivemos oportunidade de referir, a utilização do instituto do
despedimento disciplinar condiciona o empregador à verificação dos prazos previstos nos
n.ºs 1 e 2 do artigo 329.º CT. A concretização do despedimento fora dos aludidos prazos de
um ano a contar da prática da infração ou de 60 dias contados do conhecimento da infração
confere‐lhe caráter ilícito.
Como já demos nota a propósito dos prazos que vinculam o empregador para o exercício
da ação disciplinar, o legislador, sem razão aparente, não considera ilícito o despedimento
que ultrapassar o prazo previsto no n.º 3 do artigo 329.º CT. Remetemos para as
considerações que já fizemos a propósito dos prazos para o exercício da ação disciplinar.
2.2 A Ilicitude motivada por invalidade do procedimento
O outro fundamento com base no qual pode ser declarada a ilicitude do despedimento
resulta da invalidade do respetivo procedimento, conforme dispõe o n.º 2 do artigo 382.º
CT.
Analisada a norma, constata‐se que os motivos capazes de gerar a invalidade do
procedimento são diversos e encontram‐se previstos nas alíneas a) a d) do n.º 2 do artigo
382.º CT 273. Referiremos de seguida cada um desses fundamentos.
273
Diferentemente do que sucedia no CT de 2003 (artigo 430.º n.º2 b)), o texto atual do CT deixou de
considerar motivo de ilicitude do despedimento a falta de realização das diligências de instrução. Atualmente,
a falta de previsão deste fundamento dispõe que a não realização das diligências de instrução não determina
necessariamente a ilicitude do despedimento, pelo contrário, a lei configura tal omissão como uma mera
irregularidade, nos termos do n.º 2 do artigo 389.º CT.
99
2.2.1 A omissão de envio da nota de culpa ou a inobservância das formalidades
relativas ao seu envio
A primeira razão que determina a invalidade do procedimento é, nos termos da lei, a
falta da nota de culpa, como previsto na alínea a).
Com efeito, a falta da nota de culpa equivale à falta da acusação, ou seja, em bom
rigor, não pode o trabalhador saber de forma circunstanciada em tempo, modo e lugar quais
os factos de que é acusado274. Percebe‐se portanto a opção do legislador ao cominar este
despedimento como ilícito.
Também determinará a invalidade do procedimento, conforme se prevê na mesma
alínea, o facto da nota de culpa não ser escrita ou não ter a descrição circunstanciada dos
factos imputados ao trabalhador.
Do disposto na alínea b) resulta que existirá invalidade do procedimento se faltar a
comunicação da intenção de despedimento junto à nota de culpa. O cumprimento desta
formalidade tem como objetivo alertar o trabalhador para as consequências do
despedimento. Com efeito, é imperioso que quando o trabalhador recebe a nota de culpa
tenha exato conhecimento das consequências que estão associadas ao seu envio. Importa
nomeadamente que saiba que o processo iniciado é tendente ao despedimento, para poder
adequar a sua defesa e empregar os meios necessários ao caso concreto.
2.2.2 A inobservância das formalidades relativas à defesa do trabalhador
Outro fundamento da invalidade do despedimento por facto imputável ao
empregador, previsto na alínea c), resulta do facto de não ser respeitado o direito ao
contraditório do trabalhador, em especial, se não lhe for permitido consultar o
procedimento disciplinar, ou responder à nota de culpa, assim como se não lhe for
274
Neste sentido decidiu o Tribunal da Relação do Porto no Ac. de 4 de março de 2013, processo n.º
392/12.9TTBCL.P1, disponível em www.dgsi.pt, ao considerar que “não tendo a Empregadora feito constar da
nota de culpa as circunstâncias de tempo, modo e lugar, para além de outras relevantes, dos factos imputados
à trabalhadora, tais omissões determinam a invalidade do procedimento disciplinar, o que conduz à ilicitude do
despedimento, com as legais consequências.”.
100
concedido o prazo para responder à nota de culpa. Se assim for, o seu despedimento será
declarado ilícito pelo tribunal.
Sobre a razão desta “sanção” já nos pronunciamos quando tratamos do direito de
defesa do trabalhador. Remetemos para o que então dissemos a este propósito.
2.2.3 A inobservância das formalidades relativas ao envio da decisão de
despedimento
Finalmente, na alínea d) prevê‐se que o procedimento será inválido, conduzindo à
ilicitude do despedimento, quando a comunicação da decisão de despedimento ao
trabalhador não for feita por escrito, quando não contenha a ponderação das circunstâncias
do caso concreto, não analise a adequação do despedimento à culpabilidade do trabalhador,
quando o empregador não tenha colhido os pareceres dos representantes dos trabalhadores
(estando a isso obrigado), assim como quando a decisão valorar factos não constantes da
nota de culpa que agravem a situação do trabalhador.
Em síntese, e como resulta da análise das várias alíneas da norma (n.º 2 do artigo
382.º), atribui‐se especial relevância ao procedimento disciplinar, pelo que a omissão das
formalidades referidas conduzirão à ilicitude do despedimento.
As razões de ser desta valorização do procedimento resulta, como já referimos, por um
lado, das necessárias certeza e segurança quanto à fundamentação do despedimento, pois
não existem despedimentos sem justa causa e, por outro, do exercício das garantias de
defesa do trabalhador.
3. Os efeitos da ilicitude do despedimento
Quando no decurso do processo de despedimento se verifiquem os vícios que
analisamos, ou ainda quando não existir fundamento ou procedimento para despedir o
101
trabalhador, o despedimento pode vir a ser declarado ilícito em ação que o trabalhador
intentará para esse efeito, nos termos dos artigos 387.º e 388.º CT.
Impõe‐se que examinemos as consequências da declaração de ilicitude do
despedimento, que são idênticas para todos os despedimentos e que, em regra, constarão
da sentença condenatória proferida pelo tribunal. Tratam dos efeitos da ilicitude os artigos
389.º n.º 1, 390.º, 391.º e 392.º CT.
3.1 A indemnização ao trabalhador por todos os danos causados: danos
patrimoniais e não patrimoniais
Sobre a epígrafe efeitos da ilicitude do despedimento, a alínea a) do n.º 1 do artigo 389.º
CT prevê que sendo o despedimento declarado ilícito, o empregador é condenado a
indemnizar o trabalhador por todos os danos causados275, quer se trate de danos
patrimoniais, quer de danos não patrimoniais276. Resulta desta norma a ideia de que, se o
empregador despediu indevidamente o trabalhador, deve ser responsável por todos os
prejuízos que lhe causou, nomeadamente, aqueles que decorreram diretamente da perda da
sua fonte de sustento: o seu salário277.
O empregador deverá ressarcir o trabalhador desses danos, em função da prova
realizada na ação em conformidade com o princípio da reconstituição natural.
O ressarcimento dos danos ao trabalhador pressupõe, portanto, a verificação dos
pressupostos gerais da responsabilidade civil previstos no artigo 483.º CC278, ou seja, tem de
se verificar um facto voluntário do agente, tem de se tratar de um facto ilícito imputável ao
275
Por força do princípio da reparação integral dos danos o trabalhador terá direito a receber outras verbas
que por força do despedimento tenha deixado de auferir para além da sua retribuição.
276
Como acontecerá, por exemplo, com um despedimento humilhante para o trabalhador, cujos danos não
patrimoniais poderão ser muito significativos.
277
Como sucederá nos casos em que o trabalhador foi despedido e consequentemente deixou de pagar a casa
e por isso foi despejado, deixou de ter acesso a determinados bens ou serviços, deixou de poder andar de
carro, deixou de poder ir ao ginásio, ao cinema, assim como se teve de tirar os filhos de uma escola privada.
278
Dispõe o n.º 1 do artigo 483.º CC que aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o direito de
outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o
lesado pelos danos resultantes da violação.
102
agente, tem de existir um dano, assim como, verificar‐se nexo de causalidade entre o dano e
o facto imputável ao agente279.
No que concerne aos danos não patrimoniais o princípio geral da sua ressarcibilidade é,
como se sabe, o de que só serão indemnizáveis aqueles que pela sua gravidade mereçam a
tutela do direito, devendo o montante indemnizatório ser fixado equitativamente pelo
tribunal, nos termos previstos no artigo 496.º CC280.
3.2 O direito à reintegração do trabalhador ou à indemnização em sua
substituição
Outro efeito da declaração da ilicitude previsto na alínea b) do n.º 2 do artigo 389.º CT é
a condenação do empregador a reintegrar o trabalhador no mesmo estabelecimento da
empresa, sem prejuízo da sua categoria e antiguidade. O pressuposto da previsão desta
norma resulta do facto de o trabalhador ter sido indevidamente despedido e, como tal,
nunca deveria ter saído do seu posto de trabalho. Por esta razão a lei assegura‐lhe a
reintegração no seu posto de trabalho, na mesma categoria e sem perda de antiguidade281.
É ao trabalhador que cabe, em regra, a opção pela reintegração no seu posto de
trabalho. Considerando porém as especiais dificuldades e adversidades do trabalhador em
retomar o seu lugar na empresa (de onde foi despedido, às vezes sob a imputação de factos
gravíssimos que afetaram definitivamente a sua posição na organização), estabeleceu‐se
como princípio geral nesta matéria que o trabalhador tem o direito de optar por uma
indemnização em substituição da sua reintegração na empresa, nos termos previstos no
artigo 391.º CT.
279
Sobre o tema da responsabilidade civil ver entre outros MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA, Direito das
Obrigações, Almedina, Coimbra, 2013, pp. 517 e ss., e JOÃO DE MATOS ANTUNES VARELA, Das Obrigações em
Geral, Volume I, 10.ª edição, Coimbra, 2000, pp. 518 e ss.
280
Sobre a indemnização dos danos não patrimoniais ver, entre outros, Ac. RP de 25 de setembro de 2006,
processo n.º 0612329 disponível em www.dgsi.pt, Ac. STJ de 30 de abril de 2008, processo n.º 08S454
disponível em www.dgsi.pt, Ac. STJ de 5 de novembro de 2013, processo n.º 877/09.4 TTLSB.L1.S1, disponível
em www.dgsi.pt, e Ac. RP de 09 de dezembro de 2013, processo n.º 317/11.9TTPRT.P1, disponível em
www.dgsi.pt. Neste aresto decidiu o tribunal que se justifica uma indemnização a título de danos não
patrimoniais a um trabalhador que, em consequência da instauração do procedimento disciplinar e do
despedimento ilícito, passou a sentir vergonha, stress, mudanças repentinas de humor e desproteção.
281
JÚLIO MANUEL VIEIRA GOMES, Direito do Trabalho, Volume I – Relações Individuais de Trabalho, cit., p.
1019, considera que a reintegração é o efeito normal da ilicitude do despedimento.
103
O primeiro aspeto que se impõe referir é que a escolha de substituir a reintegração pela
indemnização é uma faculdade do trabalhador (com a exceção da norma do artigo 392.º CT).
Este direito de opção pode ser exercido até ao termo da discussão em audiência final de
julgamento e não está sujeito a qualquer justificação ou fundamentação. A segunda nota
prende‐se com o valor da indemnização, o qual será concretamente determinado pelo
tribunal, dentro das molduras legais previstas no n.º 1 do artigo 391.º CT. Caberá portanto
ao tribunal fixar o quantum indemnizatório, entre 15 e 45 dias de retribuição base e
diuturnidades por cada ano de antiguidade ou fração, o que deve fazer atendendo em
especial ao valor da retribuição, ao grau da ilicitude do despedimento e ao tempo decorrido
desde da data do despedimento até ao trânsito em julgado da decisão judicial.
Importa referir que o n.º 3 do artigo 391.º CT fixa um valor mínimo desta indemnização,
que será de pelo menos 3 meses de retribuição base e diuturnidades282.
282
Sobre os contornos deste direito à indemnização ver, entre outros, Ac. RP de 13 de novembro de 2006,
processo n.º 06212743, disponível em www.dgsi.pt, Ac. RP de 19 de dezembro de 2007, processo n.º 0715362,
disponível em www.dgsi.pt e Ac. STJ de 7 de maio de 2009, processo n.º 09S0376, disponível em www.dgsi.pt.
283
O disposto no n.º 8 do artigo 63.º CT proíbe a aplicação desta figura às trabalhadoras grávidas, puérperas
ou lactantes ou a trabalhador no gozo de licença parental.
284
Nestes casos ANTÓNIO MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 473, fala de uma resolução
judiciária do contrato de trabalho.
104
No entanto, neste caso, a lei agrava o valor da indemnização a pagar ao trabalhador285.
O tribunal pode fixar a indemnização entre 30 e 60 dias de retribuição base e diuturnidades
por cada ano completo de antiguidade ou fração, não podendo a indemnização ser inferior a
3 meses de retribuição base e diuturnidades (n.º 3 do artigo 392.º CT). Tratou‐se de uma
forma de compensar o trabalhador, por lhe ter sido “retirado” um direito que é seu, e de
“penalizar” o empregador que pretenda obter tal efeito. Esta indemnização de valor
agravado funciona também como desincentivo para o empregador.
3.4 O direito aos salários de tramitação
A somar aos efeitos da declaração de ilicitude do despedimento, já analisados, decorre
ainda do artigo 390.º CT, o direito do trabalhador receber todas as quantias que deixou de
auferir por causa do despedimento e que tomam a designação de salários de tramitação ou
salários intercalares. Desadequadamente a nossa lei designa‐os de “compensação em caso
de despedimento ilícito”.
Cabem nesta norma todas as prestações com caráter retributivo que o trabalhador
deixou de auferir desde a data do despedimento até ao trânsito em julgado da decisão que
declare a ilicitude do despedimento286. Com a previsão desta norma o legislador procura
retirar os efeitos à decisão de despedir o trabalhador, repondo a sua situação patrimonial
com efeitos à data da decisão de despedimento e até ao momento em que a decisão transite
em julgado.
Nos termos do n.º 2 do artigo 390.º CT, ao valor dessas retribuições deverão ser
deduzidas as importâncias que o trabalhador auferiu com a cessação do contrato, e que não
receberia se não fosse o despedimento; assim como o valor da retribuição relativa ao
período decorrido desde da data do despedimento até 30 dias antes da propositura da ação,
285
A oposição à reintegração não é admitida quando o despedimento for devido a motivo político, étnico ou
religioso ou quando o fundamento de oposição tenha sido culposamente criado pelo empregador (artigo 392.º
n.º 2 CT).
286
Cabem nesta rubrica não só as retribuições de base, como as retribuições de férias e respetivo subsídio, o
subsídio de natal, o subsídio de turno e as diuturnidades, ou seja, todas as prestações que se teriam vencido e a
que o trabalhador teria direito se não fosse o despedimento. Sobre o direito ao trabalhador receber o subsídio
de alimentação, mesmo no caso de não ter estado ao serviço em caso de despedimento ilícito, ver Ac. STJ de
17 de junho de 2010, processo n.º 173/07.1TTMAI.S1, disponível em www.dgsi.pt e Ac. STJ de 5 de novembro
de 2013, processo n.º 877/09.4TTLSB.L1.S1, disponível em www.dgsi.pt. Igualmente o considera ANTÓNIO
MONTEIRO FERNANDES, Direito do Trabalho, cit., p. 562.
105
isto se a ação não for proposta nos 30 dias seguintes ao despedimento. Se o trabalhador
auferiu subsídio de desemprego desde a data do despedimento até ao trânsito em julgado
da decisão, esse valor deve ser descontado do valor a que tem direito e cabe ao empregador
a obrigação de devolver esse valor à segurança social.
Importa realçar que o legislador procurou no Código do Trabalho distinguir os efeitos da
declaração de ilicitude, agravando‐os ou desagravando‐os em função do motivo que
conduziu ao despedimento. Assim, pune‐se o empregador mais severamente quando a
ilicitude assentar, por exemplo, em motivos políticos, do que quando a ilicitude decorrer de
situações de mera irregularidade do procedimento287.
Também se previram efeitos (menos gravosos) para a declaração de ilicitude do
despedimento quando o trabalhador e o empregador tenham celebrado um contrato de
trabalho a termo. Com efeito, a natureza especial do vínculo, e a sua duração limitada no
tempo, justificam a opção do legislador no artigo 393.º CT.
A principal especialidade do regime resulta do facto de, nestas situações, não se prever a
reintegração do trabalhador despedido, consagrando‐se, no entanto, o direito do
trabalhador a receber indemnização pelos danos patrimoniais e não patrimoniais, que
contudo não devem ser de valor inferior às remunerações que o trabalhador deixou de
auferir desde a data do despedimento até ao termo do contrato a termo certo ou incerto, ou
até à data do trânsito em julgado da decisão, se o termo ocorrer posteriormente.
4. A irregularidade do despedimento e os seus efeitos
Com as alterações ao Código do Trabalho introduzidas em 2009, o legislador passou a
admitir que algumas irregularidades do procedimento disciplinar não o invalidam,
diferentemente do que sucede com os vícios que supra analisamos. O principal objetivo do
legislador ao estatuir o regime do n.º 2 do artigo 389.º CT assentou na ideia de distinguir as
287
É este o sentido do n.º 2 do artigo 389.º CT que reduz para metade o valor da indemnização devida ao
trabalhador (391.º n.º 1) quando a ilicitude assentar em mera irregularidade fundada em deficiência de
procedimento, mantendo‐se quanto ao mais inalterados os direitos para o trabalhador decorrentes da
declaração de ilicitude do despedimento.
106
situações mais graves daquelas que são menos graves, fazendo‐o ao nível dos efeitos que
produzem.
Nessa perspetiva e consoante o fundamento da ilicitude radique em aspetos mais
gravosos como sejam a falta de fundamento ou a falta de procedimento, ou noutras
situações meramente procedimentais, cuja inobservância não traduz uma razão
suficientemente forte para o despedimento ser declarado ilícito, a indemnização será
diminuída para metade do valor previsto no n.º 1 do artigo 391.º CT.
Assim, a omissão de formalidades ao nível do procedimento disciplinar, consideradas
menos relevantes pelo legislador e em que se incluem a não realização da instrução e as
diligências relativas à audição das testemunhas (artigo 356.º n.ºs 1 e 3), apenas conduzirão à
irregularidade do despedimento, e só se os motivos invocados para o despedimento forem
declarados procedentes pelo tribunal.
Nestes casos, apenas se garante ao trabalhador metade do valor da indemnização
prevista em caso de ilicitude do despedimento, prevista no artigo 391.º CT.
5. A impugnação judicial do despedimento
A apreciação da regularidade e da licitude do despedimento por facto imputável ao
trabalhador tem de ser obrigatoriamente apreciada judicialmente, conforme dispõe o artigo
387.º CT. Em face da evidente ligação deste tema à matéria que tratamos, entendemos que
se impõe uma referência breve aos mecanismos processuais através dos quais se garante ao
trabalhador a sindicância do exercício do poder disciplinar, em especial quando tem em vista
o despedimento por justa causa do trabalhador.
Da conjugação das normas do Código do Trabalho e do Código do Processo do Trabalho,
resulta que o trabalhador para “atacar” o despedimento de que foi alvo, dispõe hoje da ação
de impugnação da regularidade e licitude do despedimento (artigo 387.º CT e 98.º‐B e
seguintes CPT), que se acha especialmente talhada para a impugnação do despedimento por
facto imputável ao trabalhador, mas que também se aplica ao despedimento por extinção
de posto de trabalho e ao despedimento por inadaptação.
107
O trabalhador dispõe também do processo declarativo comum (artigos 51.º e ss. CPT)
que se aplica a todas as situações não abrangidas pela nova ação.
Prosseguindo finalidades diversas das ações que mencionamos, existe também o
procedimento cautelar especificado previsto nos artigos 34.º e ss. CPT, que o trabalhador
utilizará com vista à suspensão do seu despedimento.
A competência em razão da matéria cabe aos tribunais do trabalho conforme prevê o
artigo 118.º da Lei de Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (Lei n.º 52/2008
de 28 de Agosto.
Acresce que, sempre que esteja em causa o despedimento do trabalhador, e com vista a
assegurar‐lhe o seu efetivo direito à defesa, é‐lhe sempre garantido o direito ao recurso para
o Tribunal da Relação nos termos previstos no artigo 79.º al. a) do CPT288.
Analisaremos de seguida cada um dos meios processuais que de dispõe o trabalhador
para defender os seus direitos quando considere ilícito o seu despedimento.
5.1 A ação de impugnação da regularidade e licitude do despedimento
Esta ação é uma inovadora forma processual de que o trabalhador pode lançar mão para
atacar quer a regularidade, quer a licitude do seu despedimento289.
Esta “nova” e original ação foi introduzida no CPT pelo DL n.º 295/2009 de 13 de
outubro290.
Quando utiliza esta ação, o trabalhador pode opor‐se ao despedimento mediante
apresentação de requerimento em formulário próprio, dispondo para o efeito do prazo
288
Sobre os recursos em processo laboral, ver ANTÓNIO SANTOS ABRANTES GERALDES, Recursos no Processo
do Trabalho, Almedina, Coimbra, 2010.
289
Sobre o tema ver, em especial, ALBINO MENDES BAPTISTA, A nova acção de impugnação do despedimento e
a revisão do Código de Processo do Trabalho, Wolters Kluwer, Coimbra Editora, 2010.
290
Importa compreender o quadro geral em que esta ação aparece. As razões que presidiram à alteração do
quadro legal vigente foram essencialmente a simplificação do procedimento disciplinar e a obtenção célere de
uma decisão judicial que apreciasse a ilicitude do despedimento. Assim, e pela mão da Lei n.º 7/2009 de 12 de
fevereiro, o legislador retirou o caráter obrigatório à realização da instrução em sede de procedimento
disciplinar, que assumiu daí em diante (e até à declaração de inconstitucionalidade em 2010 e posterior
alteração da lei em 2012) natureza facultativa. Dessa forma, e ao mesmo tempo que simplificou o
procedimento disciplinar, o legislador criou esta ação especial, com prazos curtos e tramitação simplificada,
que concentrava o ónus da prova dos fundamentos do despedimento apenas no empregador. A solução nunca
foi consensual, nem isenta de dificuldades.
108
substantivo de 60 dias a contar da data da receção da comunicação de despedimento ou da
data da cessação do contrato de trabalho, se esta for posterior291.
Configura‐se como um processo especial que se aplica apenas quando a decisão de
despedimento for escrita292. De resto, a falta de junção da decisão é um dos casos de recusa
de recebimento do formulário pela secretaria. O trabalhador pode recorrer a esta ação
mesmo que inexista procedimento disciplinar.
Este processo inicia‐se com a entrega do formulário preenchido no tribunal
competente293. O trabalhador não tem sequer de indicar porquê é que discorda do seu
despedimento. A esta ação corresponde uma tramitação simples, rápida (refira‐se que se
ação demorar mais de um ano o estado pode ser chamado a responsabilizar‐se perante o
trabalhador, nos termos previstos no 98.º‐N CPT). Nesta ação, e nesta fase, o trabalhador
não tem de pagar taxa de justiça, assim como não precisa de constituir mandatário judicial.
Estas características, claramente facilitadoras da ação do trabalhador, podem, no
entanto, resultar num aumento considerável da litigância em matéria de despedimento.
Acresce que, por força do disposto no artigo 26.º CPT, o legislador atribuiu a esta ação o
caráter de processo urgente, o que não fez para os despedimentos que ficam sujeitos ao
processo declarativo comum. A ser assim, podemos concluir que há hoje despedimentos
mais urgentes do que outros, embora objetivamente não exista motivo para tal
discriminação.
Recebido o formulário pela secretaria, o tribunal marca a audiência de partes, que se
deve realizar nos 15 dias seguintes. A esta audiência as partes devem comparecer
pessoalmente (artigo 98.º‐F CPT). A falta das partes à audiência de partes produz efeitos
diferentes, consoante seja justificada ou injustificada, e consoante seja o trabalhador ou o
empregador a faltar, nos termos dos artigos 98.º‐H e I do CPT.
291
Trata‐se de um prazo de caducidade (298.º n.º 2 CC) que não é de conhecimento oficioso porque não
respeita a direitos indisponíveis (333.º n.º 2 CC); neste sentido, ALBINO MENDES BAPTISTA, A nova ação de
impugnação do despedimento e a revisão do Código de Processo do Trabalho, cit., p. 57.
292
Para este fim a decisão ou documento entregue ao trabalhador tem de demonstrar inequivocamente que o
empregador pôs fim ao contrato unilateralmente. Se existirem dúvidas quanto ao teor da declaração, deve o
tribunal na audiência de partes procurar resolvê‐las. Neste sentido decidiu o Ac. RP de 10 de janeiro de 2011,
processo n.º 652/10.3 TTVNG.P1, disponível em www.dgsi.pt, e Ac. RL de 23 de junho de 2010, processo n.º
206/10‐4 TTLSB.L1‐4, disponível em wwww.dgsi.pt.
293
O formulário foi aprovado pela Portaria n.º 1460‐C/2009 de 31 de dezembro. No seu preenchimento apenas
se pede ao trabalhador que indique a sua identificação e a identificação do empregador, que a date e assine, e
que anexe a decisão de despedimento.
109
A audiência de partes, que decorre nos termos previstos no artigo 98.º‐I CPT, conduzirá
a um acordo e o processo termina por via do acordo conciliatório que o juiz homologará. Ou
pelo contrário, se as partes não se conciliarem (devendo as razões da não conciliação ficar a
constar do respetivo auto), o empregador é citado para em 15 dias apresentar articulado a
motivar o despedimento, cabendo‐lhe o ónus de alegação e prova dos factos donde possa
concluir‐se pela licitude do despedimento do trabalhador, conforme prevê o artigo 98.º‐J
CPT. Este é o momento processualmente indicado para que o empregador, se pretender, se
oponha à reintegração do trabalhador.
É obrigatória a apresentação do articulado do empregador e a junção dos documentos
que demonstrem ter existido procedimento disciplinar; se o empregador não apresentar o
articulado inicial ou, apresentando‐o, não junte o procedimento disciplinar, o juiz deve
declarar a ilicitude do despedimento consoante o artigo 98.º‐J n.º 3 CPT 294 .
No andamento normal do processo, após a apresentação do articulado do empregador,
segue‐se a apresentação da contestação pelo trabalhador, dispondo este igualmente de um
prazo de 15 dias, cfr. Artigo 98.º‐L CPT.
Importa referir que, se o trabalhador não contestar, consideram‐se confessados os
factos articulados pelo empregador, sendo proferida sentença que julgue a causa conforme
for de direito. (n.º 2 do artigo 98.º‐L CPT).
Findos os articulados, o processo segue os trâmites do processo comum, com a ressalva
de que a produção de prova se inicia com a indicada pelo empregador (98.º‐M CPT), nos
termos que a seguir explicitaremos.
5.2 O processo declarativo comum
O processo declarativo comum, previsto nos artigos 51º e seguintes CPT, destina‐se a
todas as situações em que não tenha aplicação a ação especial de impugnação da
294
Sobre a natureza peremptória deste prazo ver, entre outros, o Ac RP de 25 de junho de 2006, processo n.º
727/11.1TTMAI.P1, Ac. RP de 12 de novembro de 2012, processo n.º 1758/11.7TTPRT.P1, e o Ac. RP de 16 de
setembro de 2013, processo n.º 450/12.0TTGDM.P1; todos disponíveis em www.dgsi.pt. Neste último decidiu o
tribunal que o prazo de 15 dias para a junção do articulado motivador e do processo disciplinar é um prazo
perentório, pelo que, se incumprido, o juiz declara a ilicitude do despedimento do trabalhador (art. 98.º‐J, n.º
3, do CPT).
110
regularidade e licitude do despedimento e, no que ao despedimento disciplinar respeita, não
exista decisão de despedimento com forma escrita.
Assim, por exemplo, nos casos em que o despedimento é verbal, o trabalhador para o
impugnar tem obrigatoriamente de recorrer a esta ação, por falta da decisão escrita.
Refira‐se que esta opção legislativa não é isenta de críticas, nomeadamente por tratar
diferentemente situações de despedimento, tão ou mais graves do que aquelas que se
decidiu sujeitar à ação especial e urgente que referimos supra.
No âmbito do despedimento com justa causa, podem ser fundamentos para esta ação
quer a falta de motivo para o despedimento, quer a violação das regras procedimentais
exigidas para o concretizar.
O trabalhador tem legitimidade para intentar em tribunal esta ação, e tem a obrigação
de elaborar a petição inicial, nos mesmos termos constantes do Código de Processo Civil,
devendo contudo apresentar com o articulado toda a prova ‐ o mesmo valendo para o
empregador quando apresenta a contestação (artigo 63.º CPT)295.
No seu articulado, e visto que a justa causa não é ela própria um facto, deve o
trabalhador alegar os factos suficientes e necessários que permitam ao tribunal concluir pela
inexistência de justa causa, quer porque não se enquadram no conceito, quer porque não
apresentam os contornos e a gravidade que lhe é atribuída pelo empregador.
No que tange ao prazo para intentar esta ação, dada a falta de previsão na lei de outro
prazo, o trabalhador dispõe do prazo geral da prescrição dos créditos salariais previsto no
n.º 1 do artigo 337.º CT296 para a intentar, ou seja, até um ano após a data da cessação do
contrato de trabalho297.
295
Sobre a impossibilidade de recorrer a escutas telefónicas no âmbito do processo disciplinar laboral, mesmo
que os comportamentos do trabalhador sejam ilícitos criminais, ver Ac. RP de 10 de julho de 2013, processo n.º
706/11.9TTPRT.P1, disponível em www.dgsi.pt.
296
Neste sentido, MESSIAS DE CARVALHO, Acção de impugnação judicial da regularidade e licitude do
despedimento, in Direito do Trabalho + Crise = Crise do Direito do Trabalho? Atas do Congresso de Direito do
Trabalho, Catarina de Oliveira Carvalho e Júlio Manuel Vieira Gomes (coord.), Coimbra Editora, Coimbra 2011,
p. 302. Assim decidiu recentemente o STJ nos seus acórdãos datados de 19 de dezembro de 20122, processo
n.º 1115/10.2TTVNG‐AP1.S1, disponível em www.dgsi.pt, e de 29 de outubro de 2013, processo n.º
3575/11.8TTLSB.L1.S1, disponível em www.dgsi.pt.
297
Sobre a articulação da regra prevista no artigo 337.º n.º 1 CT com a do prazo geral para arguição da
invalidade prevista no artigo 287.º CC, ver PEDRO FURTADO MARTINS, A Cessação do Contrato de Trabalho,
cit., pp. 406 e ss.
111
Uma vez entrada a petição inicial, após a realização da distribuição (21.º CPT) e não
havendo lugar a indeferimento liminar, no prazo de 15 dias o juiz designa data para a
realização da audiência de partes, nos termos do artigo 54.º n.ºs 1 e 2 CPT.
Na audiência de partes, o autor e o réu devem comparecer pessoalmente, ou quando tal
não for possível, fazer‐se representar por mandatário com poderes especiais (54.º n.º 3
CPT).
A audiência de partes inicia‐se com uma breve alegação do autor na qual expõe as
razões de facto e de direito em que baseia a sua pretensão, a que se segue a resposta do
réu. Seguidamente o juiz tenta obter a conciliação das partes. Se a conciliação for profícua e
autor e réu se entenderem, é lavrado o auto em que devem ficar especificados os termos do
acordo (artigos 55.º n.º 2, e 51.º a 53.º CPT).
Diferentemente, se não houver acordo entre autor e réu, ficam consignadas no auto as
razões desse desacordo (artigo 56.º CPT) e o juiz notifica o réu para no prazo de dez dias
contestar298; marca a data para a realização da audiência final e, se for o caso, determina a
prática dos atos que considerar necessários ao andamento normal do processo.
No prazo legal de 10 dias, o réu pode apresentar contestação, deve fazê‐lo sob a forma
articulada, podendo defender‐se por impugnação ou por exceção e devendo incluir toda a
prova neste articulado (artigo 63.º CPT)299. O réu pode ainda deduzir pedido reconvencional
nos termos do artigo 30.º CPT300.
A contestação é também o momento processualmente adequado para que o
empregador se oponha à reintegração do trabalhador, exceto nas situações em que o
trabalhador na petição inicial já tenha optado pela indemnização em substituição da
reintegração (artigo 60.º‐A n.º 1 CPT).
298
Neste processo o prazo para o réu contestar, só se inicia após a realização da audiência de partes e se não
houver acordo das partes. Apesar de a petição inicial lhe ser remetida com a citação para comparecer na
audiência de partes, a contestação só será apresentada, e o decurso do prazo para o efeito inicia a contagem,
se na audiência de partes não houver conciliação. Esta é uma das especialidades do processo de trabalho
relativamente ao que se passa no âmbito do processo civil.
299
A falta de contestação do réu que tenha sido regularmente citado ou que tenha constituído mandatário,
determina que se consideram confessados os factos articulados pelo autor, sendo logo proferida sentença a
julgar a causa como for de direito, nos termos previsto no artigo 57.º n.º1 CPT.
300
A reconvenção é admissível se o valor da causa exceder o valor da alçada do tribunal (5.000 € para a 1.ª
instância e 30.000 € para a relação), se aos pedidos do autor e do réu corresponder a mesma forma de
processo, se o pedido do réu emergir do facto jurídico que serve de base à ação ou quando o pedido do réu
tenha com o do autor uma relação de conexão. A conexão é dispensada se apenas estiver em causa a
compensação peticionada pelo réu.
112
Pode haver lugar à apresentação de articulado de resposta pelo autor (no prazo de 10
dias ou de 15 dias se tiver sido deduzida reconvenção) apenas quando o valor da causa
exceda o da alçada do tribunal e o réu se tiver defendido por exceção, e ainda se o
empregador se tiver oposto à reintegração do trabalhador (artigos 60.º e 60º‐A n.º 2 CPT)301.
Finda a fase dos articulados, inicia‐se a fase da condensação e do saneamento (artigos
61.º e seguintes CPT), podendo o juiz considerar que já está na posse de todos os elementos
e, atenta a simplicidade da causa, decidirá sobre o seu mérito.
Porém, se o objeto do processo for complexo, o juiz poderá marcar a realização de uma
audiência preliminar que se destina especialmente a fixar a matéria de facto a realizar a base
instrutória (artigo 62.º CPT).
Seguidamente realizar‐se‐á a audiência de discussão e julgamento, normalmente
assegurada por juiz singular, regra geral do processo de trabalho prevista no artigo 68.º n.º 1
CPT)302.
Traço marcante e singular do processo de trabalho são as sucessivas tentativas de
conciliação das partes que o CPT impõe, o que acontece uma vez mais antes da realização do
início da audiência de discussão e julgamento (artigo 70.º CPT)303.
Refira‐se ainda que as partes devem comparecer pessoalmente à audiência (71.º n.º 1
CPT), podendo também fazer‐se representar por mandatário, sob pena de, faltando, se
considerarem provados os factos alegados pela outra parte e que sejam pessoais do faltoso
(71.º n.º 2 CPT). Já se ambas as partes faltarem injustificadamente, e nem se fizerem
representar por mandatário, consideram‐se provados os factos alegados pelo autor que
sejam do conhecimento pessoal do réu (71.º n.º 3 CPT). Se faltar apenas uma parte ou
ambas, mas se se fizerem representar por mandatários, há lugar à produção de prova e o
juiz julgará a acusa conforme for de direito (71.º n.º 4 CPT).
Na audiência caberá ao trabalhador fazer a prova de que foi despedido tendo o
empregador de provar os motivos que invocou para o contrato cessar304.
301
Se o autor não responder à contestação quando tenha sido deduzida excepção ou à matéria da
reconvenção, consideram‐se admitidos por acordo os factos que não tenham sido impugnados, nos mesmos
termos previstos no CPC (artigo 60.º n.º4 CPT).
302
A regra geral de intervenção do juiz singular em processo de trabalho cede nas seguintes situações: se o
valor da causa for superior à alçada da relação, quando as partes o requeiram e nenhuma delas tiver requerido
a gravação da audiência final (68.º n.º 1 e n.º 3 CPT).
303
No normal andamento de um processo podem existir pelo menos 3 tentativas de conciliação das partes. A
que tem lugar aquando da audiência de partes, a que se verifica na audiência preliminar e a que se verifica no
início da audiência de discussão. A estas diligências conciliatórias pode somar‐se mais uma se tiver corrido o
procedimento cautelar de suspensão de despedimento.
113
Terminada a audiência, é proferida sentença no prazo de 20 dias, que é
obrigatoriamente notificada às partes (artigo 73.º CPT).
5.3 O procedimento cautelar de suspensão do despedimento
O trabalhador tem ainda como meio de assegurar o exercício dos seus direitos a
possibilidade de utilizar o procedimento cautelar com vista a obter uma decisão judicial que
determine a suspensão do seu despedimento, o que deverá fazer segundo o regime dos
artigos 34.º e seguintes do CPT305.
Trata‐se de um procedimento cautelar especificado, sujeito aos princípios gerais dos
procedimentos cautelares previstos no CPC, e a que o trabalhador recorre não para ver
apreciada a ilicitude do seu despedimento, mas antes para paralisar os efeitos de um
despedimento que considera ilegal306.
Em face da natureza urgente e breve deste procedimento a que se chama cautelar, o
tribunal não apreciará as razões que o trabalhador invoca para fundamentar o seu
despedimento. Deve decretar a suspensão do despedimento quando considerar existir a
probabilidade séria de ilicitude do despedimento, designadamente se inexistir procedimento
disciplinar, se o mesmo for nulo ou se inexistir justa causa ‐ conforme vem previsto no artigo
39.º n.º 1 CP.
O trabalhador que pretenda utilizar o procedimento cautelar de suspensão do
despedimento, deve requerê‐lo ao tribunal no prazo de cinco dias úteis contados da data da
receção da comunicação de despedimento, nos termos do artigo 386.º CT.
Quanto à tramitação deste procedimento, inicia‐se com a entrega de um requerimento
pelo trabalhador no qual deve alegar factos que vão de encontro às principais características
dos procedimentos cautelares: a ameaça de interesses de grave e difícil reparação tendo
304
Neste sentido, ver entre outros Ac. STJ de 18 de junho de 2008, processo n.º 08S1294, disponível em
www.dgsi.pt e Ac. STJ de 3 de março de 2010, processo n.º 482/06.7 TTPRT.S1, disponível em www.dgsi.pt.
305
Sobre os procedimentos cautelares laborais, ver PAULO SOUSA PINHEIRO, O Procedimento Cautelar Comum
no âmbito do Direito Processual do Trabalho, 2.ª edição, Coimbra, 2007 e Procedimentos Cautelares Laborais:
procedimento cautelar comum e especificado – perspectiva geral, in Prontuário de Direito do Trabalho, n.ºs 74‐
75, 2006, pp. 119‐158.
306
Assim considerou o Tribunal da Relação do Porto no Ac. de 17 de junho de 2013, processo n.º
1210/12.3TTBRG.P1, disponível em www.dgsi.pt.
114
em conta o periculum in mora da decisão judicial e a summaria cognitio típica dos
procedimentos cautelares que se satisfaz com a aparência do direito invocado – fumus boni
iuris.
Recebido o requerimento de suspensão do despedimento do trabalhador, o juiz, regra
geral, ordena a citação do empregador para se opor e designa data para a audiência que
deve realizar‐se no prazo de 15 dias. Se o empregador quiser apresentar oposição pode fazê‐
lo até ao início da audiência de julgamento (artigos 34.º n.º 1, 33.º e 32.º n.º 1 b) CPT).
Se o despedimento tiver sido precedido de procedimento disciplinar, o tribunal quando
cita o requerido para se opor e marca a data da audiência, notifica‐o igualmente para juntar
o procedimento disciplinar, o que deverá acontecer dentro do prazo que dispõe para
apresentar a sua oposição, ou seja, até ao início da audiência final.
Se o empregador não o juntar, nem apresentar justificação para o efeito, a providência
será decretada (38.º n.º 1 CPT); nos casos em que o empregador não juntou o
procedimento, mas justificou a sua não apresentação – o juiz decidirá a providência cautelar
com base nos elementos constantes do processo (38.º n.º 2 CPT).
Ao contrário, se o empregador juntar o procedimento, então realiza‐se a audiência final.
As partes devem nela comparecer pessoalmente, podendo também fazer‐se representar por
mandatário com poderes especiais. Esta audiência inicia‐se com uma tentativa de
conciliação (artigo 36.º n.º 1 CPT). Se a diligência conciliatória se frustrar, inicia‐se a
produção de prova, devendo a decisão ser logo proferida (36.º n.º 3 CPT) e o tribunal
decretar a suspensão do despedimento se se verificarem os requisitos do artigo 39.º n.º 1
que referimos.
Se a suspensão do despedimento for decretada assiste‐lhe o direito às retribuições
vencidas (39.º n.º 2 CPT) e também o direito a retomar o seu posto de trabalho.
Proferida a decisão relativa ao procedimento cautelar, o trabalhador dispõe de 30 dias a
contar da data em que lhe foi notificada a decisão para intentar a ação principal, sob pena
de caducidade do procedimento cautelar, nos termos dos artigos 40.º A e 34.º n.º 4 CPT.
Esta decisão admite recurso para o Tribunal da Relação nos termos previstos no artigo
40.º CPT.
Qualquer dos mecanismos processuais que referimos garante ao trabalhador o exercício
efetivo do seu direito de defesa e dos direitos que lhe estão associados. Caso o
115
despedimento seja declarado ilícito pelo tribunal, verificam‐se efeitos gravosos para o
empregador, tendo o trabalhador em princípio, garantida a sua reintegração.
116
CONCLUSÕES
O empregador detém nas relações de trabalho subordinado uma posição de poder,
evidenciada pela autoridade e direção que exerce sobre o trabalhador.
À autoridade e direção do empregador corresponde o dever de obediência do trabalhador.
São estes os aspetos característicos do contrato de trabalho que demonstram a existência da
subordinação jurídica típica das relações de trabalho subordinado.
Dos vários poderes que o empregador detém e exerce sobre o trabalhador, o poder
disciplinar, pelas suas características e efeitos, assume contornos únicos nesta relação
jurídico privada.
O poder disciplinar é concebido pelo legislador como um poder autónomo face ao poder de
direção e ao poder regulamentar. Entre os diversos poderes do empregador estabelecem‐se
especiais relações de proximidade.
As questões relativas ao fundamento e à titularidade do poder disciplinar, não apresentam
uma resposta uniforme. A tese contratualista considera que a fonte do poder disciplinar é o
contrato de trabalho, ao passo que a tese institucionalista concebe‐o como um poder da
organização. Ambas as conceções influenciam a questão da titularidade deste poder, que
pertencerá ao empregador ou à empresa consoante a tese que se perfilhar. Na nossa
perspetiva, pertence ao empregador.
As duas teses não são estanques, cremos que se complementam entre si, pois ainda que
consideremos que o poder disciplinar assenta no contrato de trabalho, as mais das vezes é
exercido numa organização, prosseguindo finalidades relevantes nesse âmbito.
Quanto às características do poder disciplinar encontramos na doutrina uma diversidade de
conceções que resultam numa multiplicidade de características deste instituto.
Salientamos a natureza sancionatória deste poder, o seu caráter punitivo, sem contudo
descurar o seu caráter ordenador nas relações laborais.
117
A sua caracterização como poder funcional do empregador, porque representa uma
faculdade do empregador, assim como a natureza discricionária que a lei procura, a cada
passo, limitar.
Apresenta‐se como um direito potestativo do empregador. Pelo seu exercício o empregador
tem o poder de unilateralmente impor alterações relevantes na esfera jurídica do
trabalhador, nomeadamente impondo a cessação do contrato de trabalho.
Na perspetiva sancionatória, o empregador utiliza este poder para aplicar sanções às
infrações disciplinares cometidas pelo trabalhador ao seu serviço.
O Código do Trabalho não define nenhum dos conceitos, causando especiais dificuldades ao
empregador quanto à qualificação dos comportamentos infratores como infrações assim
como a escolha adequada da sanção a aplicar.
A determinação dos comportamentos com relevância disciplinar é feita, não raras vezes, por
aplicação dos elementos que compõem o conceito da justa causa para despedir.
Existe infração disciplinar quando o trabalhador violar por ação ou por omissão os deveres
contratuais principais ou acessórios.
A questão dos limites da relevância dos comportamentos do trabalhador também não foi
tratada na lei e também não se afigura fácil estabelecer uma fronteira entre a vida
profissional e a vida pessoal do trabalhador.
Admitimos com reservas a relevância disciplinar dos comportamentos extracontratuais do
trabalhador, praticados fora do local e tempo de trabalho. O que deve verificar‐se apenas
quando exista um nexo de causalidade entre o comportamento do trabalhador e os efeitos
provocados sobre o contrato de trabalho.
118
Tal conclusão nem sempre é fácil de retirar em face da proteção da esfera da vida privada
que a lei concede ao trabalhador.
Os princípios da boa‐fé e da mútua colaboração entre as partes obrigam o trabalhador a
adequar os seus comportamentos privados à execução do seu contrato de trabalho.
Em defesa dos direitos e garantias do trabalhador estabelece‐se um elenco taxativo de
sanções. Trata‐se de um elenco gradativo em que sobressai a perspetiva conservadora da
relação de trabalho. À exceção da sanção de despedimento todas asseguram a continuidade
da relação de trabalho.
A escolha entre as sanções de repreensão, repreensão registada, sanção pecuniária, perda
de dias de férias, suspensão do trabalho com perda de retribuição e antiguidade e o
despedimento far‐se‐á por aplicação dos princípios orientadores fixados na lei.
Os princípios legais da proporcionalidade e da unicidade orientam e condicionam o
empregador na escolha da sanção adequada à infração praticada pelo trabalhador.
Sem consagração legal, o princípio da coerência disciplinar que a doutrina e a jurisprudência
vêm invocando assegura a uniformidade na prática disciplinar do empregador.
A lei consagra a possibilidade de, verificados certos pressupostos, o empregador agravar os
limites das sanções, definindo nessas situações os limites máximos do agravamento.
A utilização do poder disciplinar pode configurar a aplicação abusiva de sanções pelo
empregador, cujo efeito geral resulta na indemnização ao trabalhador. A indemnização
assume contornos bastante penalizadores para o empregador.
O exercício do poder disciplinar está sujeito a prazos rigorosos. A sua previsão tem
especialmente por finalidade proteger o trabalhador face ao poder do empregador, ao
mesmo tempo que garante a manutenção da relação de trabalho e restabelece a relação de
confiança entre as partes. Relação que o contrato de trabalho pressupõe.
119
São diversos os prazos que condicionam e limitam o exercício da ação disciplinar pelo
empregador. O prazo de prescrição da infração impede o empregador de punir o
trabalhador se já tiver decorrido mais de um ano sobre a prática da infração, exceção feita às
situações em que o comportamento do trabalhador configure um crime, porque nesse caso
os prazos são os previstos no Código Penal.
Caso pretenda punir, o procedimento deve ser iniciado nos sessenta dias seguintes àquele
em que o empregador ou o superior hierárquico tiveram conhecimento da infração.
Iniciado o procedimento o mesmo tem de estar concluído no prazo máximo de um ano, sob
pena de prescrição.
O direito de a aplicar sanção também se afigura temporalmente limitado, dispondo o
empregador para o efeito de três meses sobre a data da decisão que determinou a sua
aplicação.
A matéria dos limites temporais não é consensual, em especial quanto à natureza dos prazos
consagrados na lei, designadamente se são prazos de caducidade ou de prescrição.
Não há qualquer referência às infrações continuadas, o que se mostra preocupante por
influenciar o momento em que a contagem dos diversos prazos se inicia.
O exercício da ação disciplinar é controlado pela previsão de regras procedimentais que se
destinam a torna‐lo transparente, seguro, e especialmente a garantir o direito à defesa pelo
trabalhador.
Os procedimentos divergem consoante a sanção a aplicar seja conservatória ou expulsória.
Para aplicar as primeiras é suficiente que o empregador ouça o trabalhador antes de aplicar
a ação, para despedir o trabalhador exige‐se um procedimento formal e rígido, a que a lei
chama de procedimento disciplinar.
120
Existem mecanismos de controlo de todas as sanções que funcionam também como garantia
para o trabalhador. No caso das sanções conservatórias o trabalhador pode reclamar
internamente ou impugnar judicialmente a sanção.
A impugnação judicial de sanções conservatórias não foi tratada pela lei, suscitando a sua
aplicação dúvidas diversas, designadamente no que tange ao prazo. Tem‐se defendido que o
prazo para este efeito é o mesmo de que o trabalhador dispõe para reclamar os créditos
laborais ao empregador. O trabalhador pode fazê‐lo até um ano após a cessação do contrato
de trabalho, o que pode revelar‐se excessivo.
O despedimento disciplinar por consistir na mais grave das sanções e pelos efeitos que
provoca colhe maior atenção e preocupação do legislador. Em matéria de despedimento há
vários princípios com consagração constitucional.
Para que possa haver despedimento, tem de existir um ou mais motivos que permitam ao
empregador fundamentar o despedimento, e estes devem ser demonstrados pela realização
do procedimento disciplinar.
A falta de justa causa ou a omissão do procedimento, ou ambas, tornam o despedimento
ilícito.
Os fundamentos invocados para motivar o despedimento disciplinar têm de configurar justa
causa. O conceito apresenta uma cláusula geral, um elenco exemplificativo de justas causas
e os critérios à luz dos quais o empregador deve apreciar a existência de justa causa.
O comportamento do trabalhador deverá ser culposo e grave e tornar imediata e
praticamente impossível a manutenção da relação de trabalho. Só existirá justa causa para
despedir quando casuisticamente se concluir pelo preenchimento cumulativo de cada um
dos elementos da cláusula geral.
Com a finalidade de ajudar o empregador a concluir pela verificação de justa causa, o
legislador elencou vários exemplos de comportamentos do trabalhador que configuram
121
justa causa. Exige‐se nestes casos a verificação de todos os elementos da cláusula geral de
justa causa.
Dos exemplos elencados alguns revestem maior interesse prático, especialmente pela
frequência com que se aplicam, como sucede com a desobediência ilegítima às ordens do
empregador, com as faltas injustificadas ao trabalho, e com a violação do dever de zelo e
diligência.
Não convivem harmoniosamente entre si a cláusula geral de justa causa e os exemplos
previstos na lei, especialmente nos casos em que a lei os fixou objetivamente.
Caso paradigmático é o número de faltas injustificadas dadas pelo trabalhador em cada ano
civil que são suficientes para motivar o despedimento. A objetividade do legislador não
dispensa a verificação cumulativa dos elementos da cláusula geral de justa causa.
Cada empregador deve apreciar o comportamento do seu trabalhador considerando, entre
outros aspetos, o grau de lesão dos seus interesses, o caráter das relações estabelecidas com
o trabalhador e as relações entre com os colegas de trabalho.
É pela realização do procedimento que se demonstra a justa causa e que se garante a defesa
do trabalhador e que se avalia a adequação da sanção aos comportamentos do trabalhador.
O procedimento apresenta as seguintes fases: acusação, defesa, instrução e decisão.
Facultativamente o empregador pode realizar um inquérito para apurar os factos, assim
como suspender o trabalhador antes ou aquando do envio da acusação.
As fases da acusação (nota de culpa), defesa (resposta e consulta ao processo) e decisão são
especialmente reguladas e tuteladas. Muitas vezes os vícios de que enfermam invalidam o
despedimento.
A nota de culpa deve conter a descrição circunstanciada em tempo, modo e lugar dos factos
imputados ao trabalhador. Aos factos que lhe forem imputados o trabalhador pode
122
defender‐se e solicitar a realização das diligências probatórias adequadas e necessárias à sua
defesa, após o que o empregador decidirá.
Com a receção pelo trabalhador da decisão de despedimento o contrato de trabalho
extingue‐se.
Ao trabalhador garante‐se que sindique o seu despedimento impugnando‐o judicialmente,
nomeadamente quando não se conformar com os padrões substanciais e formais impostos
pela lei.
A impugnação judicial do despedimento é o principal meio de controlo da ação disciplinar do
empregador, que se revela particularmente relevante para o trabalhador “combater” a
desigualdade que o contrato de trabalho encerra e que o exercício do poder disciplinar por
vezes revela.
A impugnação do despedimento é especialmente relevante quando tem em vista a
apreciação da sua regularidade e licitude.
Conduzem à ilicitude do despedimento a discriminação do trabalhador assente em motivos
políticos, ideológicos, étnicos ou religiosos, a falta do procedimento disciplinar, o facto de se
tratar de trabalhadora grávida, puérpera ou lactante ou trabalhador durante o gozo da
licença parental inicial.
O despedimento por facto imputável ao trabalhador será ainda ilícito se o tribunal vier a
considerar improcedente o motivo justificativo. Também se forem excedidos alguns dos
prazos que condicionam o exercício do poder disciplinar e nas demais situações em que o
procedimento seja cominado com invalidade.
No despedimento ilícito, a premissa base é que o contrato de trabalho não deveria ter
terminado. Os efeitos da ilicitude visam repor a situação contratual do trabalhador, ao
mesmo tempo que penalizam o empregador.
123
O principal efeito da ilicitude é o da reintegração do trabalhador no posto de trabalho de
onde saiu indevidamente, assegurando‐lhe as mesmas funções, categoria e antiguidade. Em
regra é o trabalhador que decide sobre a sua reintegração. Quando a reintegração não se
afigure viável o trabalhador pode optar em sua substituição por uma indemnização cuja
medida é balizada pela sua antiguidade.
Ao trabalhador é também assegurado, consoante a prova produzida, o ressarcimento de
todos os danos patrimoniais e não patrimoniais que sofreu por via do despedimento.
São‐lhe igualmente garantidas todas as retribuições que venceram desde a data do
despedimento até ao trânsito em julgado da decisão que declare a ilicitude do seu
despedimento.
Processualmente, o trabalhador dispõe de vários meios que procuram assegurar‐lhe os seus
direitos e garantias, nomeadamente a ação declarativa com processo comum e a ação
especial de apreciação da regularidade e licitude do despedimento.
Com vista a atingir os fins referidos, estas ações podem ser precedidas de procedimentos
cautelares; estando em causa o despedimento ou a reintegração do trabalhador, garante‐se
sempre o direito ao recurso para o tribunal da Relação.
Realçamos o papel relevante da doutrina, mas muito particularmente da jurisprudência, que
têm decisivamente contribuído para a interpretação e melhor compreensão do instituto
disciplinar no seu todo.
Apesar de bastante estudado o instituto disciplinar continua a colocar questões
interessantes que se manifestam especialmente na nossa prática profissional, que
procuraremos aprofundar após a realização deste trabalho.
124
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139
ANEXOS
140
Nota: juntam‐se algumas das peças elaboradas pela parte contrária para compreensão
adequada da nossa intervenção
141
ANEXO II – PROCEDIMENTO DISCIPLINAR COM VISTA AO
DESPEDIMENTO E AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DO
DESPEDIMENTO COM PROCESSO DECLARATIVO
COMUM
Qualidade em que interveio: no procedimento disciplinar e na ação de impugnação do
despedimento como mandatária do trabalhador
1. Procedimento disciplinar
‐ Nota de culpa
‐ Resposta à nota de culpa
‐ “Decisão de despedimento”
‐ Aditamento à nota de culpa
‐ Resposta ao aditamento à nota de culpa
‐ Relatório final e decisão
2. Ação de impugnação judicial do despedimento
‐ Petição inicial apresentada pelo trabalhador
‐ Contestação do empregador
‐ Resposta à contestação
O processo terminou no fim da fase dos articulados em virtude da insolvência da
entidade patronal, pelo que o trabalhador reclamou créditos no aludido processo e
posteriormente ao Fundo de Garantia Salarial.
Nota: juntam‐se algumas das peças elaboradas pela parte contrária para compreensão
adequada da nossa intervenção
142
ANEXO III – PROCEDIMENTO DISCIPLINAR COM VISTA AO
DESPEDIMENTO E AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO JUDICIAL
DA REGULARIDADE E LICITUDE DO DESPEDIMENTO
Qualidade em que interveio: no procedimento disciplinar e na ação de impugnação do
despedimento como mandatária do trabalhador
1. Procedimento disciplinar
‐ Nota de culpa
‐ Resposta à nota de culpa
2. Ação de impugnação judicial da regularidade e licitude do despedimento
‐ Sentença condenatória: despedimento ilícito (a entidade patronal não apresentou
articulado a motivar o despedimento)
‐ Apresentação de articulado em que se peticionam os créditos laborais devidos ao
trabalhador
A entidade patronal viria a ser declarada insolvente pelo que o trabalhador reclamou
créditos no aludido processo de insolvência e posteriormente ao Fundo de Garantia
Salarial.
Nota: juntam‐se algumas das peças elaboradas pela parte contrária para compreensão
adequada da nossa intervenção
143