Teoria Da Demonstração em Matemática
Teoria Da Demonstração em Matemática
Teoria Da Demonstração em Matemática
ARGUMENTAÇÃO
TEORIA DA DEMONSTRAÇÃO
em
MATEMÁTICA
.5
Christian Q. Pinedo
ii Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
SUMÁRIO
PREFÁCIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . v
1 LÓGICA MATEMÁTICA 1
1.1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Lógica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.2 O que a lógica não é. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.3 O que é a lógica matemática? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 ENUNCIADOS. PROPOSIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2.1 Noção de verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.2.2 Enunciados abertos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.2.3 Composição de proposições. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.4 Conectivos lógicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2.5 Tabela-verdade de uma proposição composta. . . . . . . . . . . . . . . . . 9
1.2.6 Construção de uma tabela − verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.3 TAUTOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.3.1 Tautologias elementares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3.2 Implicação lógica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
1.3.3 Equivalência lógica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.4 ÁLGEBRA DE PROPOSIÇÕES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4.1 Propriedades da conjunção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
1.4.2 Propriedades da disjunção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4.3 Propriedades da disjunção e conjunção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.4.4 Método dedutivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.4.5 Redução do número de conectivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
1.5 FUNÇÕES PROPOSICIONAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5.1 Função proposicional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
1.5.2 Raiz de uma função proposicional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.6 QUANTIFICADORES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
1.6.1 Negação de quantificadores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2 TEORIA DA DEMONSTRAÇÃO 29
2.1 ARGUMENTO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.1.1 Premissas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
iii
iv Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
2.1.2 Inferência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.3 Conclusão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2.1.4 A implicação em detalhes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.1.5 Validade de um argumento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.1.6 Condicional associada a um argumento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.1.7 Reconhecendo argumentos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.1.8 Argumentos consistentes fundamentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2 INFERÊNCIA LÓGICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.2.1 Regras de inferência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.2.2 Principais regras de inferência lógica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.2.3 Verificação com o uso de tabela-verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.2.4 Verificação sem o uso de tabela-verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
2.3 DEMONSTRAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4 Demonstração matemática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
2.4.1 Demonstrações diretas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4.2 Demonstrações indiretas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.4.3 Ambigüidades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Referências Bibliograficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
PREFÁCIO
Durante o primeiro ano de estudos nos cursos de matemática e ensino da matemática pouco
se dedica à teoria da demonstração, é precisamente neste tópico que se estuda a matemática
em sua essência e estrutura. A teoria da demonstração ou teoria da prova é um ramo da lógica
matemática que trata demonstrações como objetos matemáticos, facilitando a sua análise por
meio de técnicas matemáticas.
Neste sentido, a teoria da demonstração trata da sintaxe, (estuda as regras que governam a
combinatória de regras menores e a formação de unidades maiores a estas), em contraste com a
teoria dos modelos1 , que trata da semântica (o termo semântico se refere a aspectos de significado,
sentido ou interpretação do significado de um determinado elemento, símbolo, palavra, expressão
ou representação formal.)
O exito que tiver um estudante em sua profissão é sim duvidas proporcional a seu aprendizado
e ao desenvolvimento destas habilidades.
v
vi Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Juntamente com a teoria dos modelos, a teoria dos conjuntos axiomática e a teoria da re-
cursão, a teoria da demonstração é um dos “quatro pilares” dos fundamentos da matemática.
Estas notas começa apresentado no primeiro capítulo noções de Lógica Matemática, para
logo no segundo capítulo aplicar estes resultados a conceitos de argumentação e demonstração
em matemática .
“A matemática apresenta invenções tão sutis que poderão servir não só para satis-
fazer os curiosos como, também para auxiliar as artes e poupar trabalho aos homens”.
R. Descartes (1596 − 1650)
LÓGICA MATEMÁTICA
1.1 INTRODUÇÃO
1.1.1 Lógica.
Podemos pensar a lógica como o estudo do raciocínio correto. O raciocínio é o processo de
obter conclusões a partir de suposições ou fatos. O raciocínio correto é o raciocínio onde as
conclusões seguem-se necessária e inevitavelmente das suposições ou fatos.
A lógica procura estudar as coisas da mente, e não as coisas reais. Por exemplo, quando
dizemos: arco-íris bonito, sol distante, vento suave são classificações que damos às coisas, isso
não é lógica. Aplicamos lógica na filosofia, matemática, computação, física entre outros.
Nas matemáticas para demonstrar teoremas e inferir resultados corretos que podam ser apli-
cados nas pesquisas.
Aristóteles é considerado o criador da lógica.
Observe um exemplo da lógica dedutiva de Aristóteles:
• A Terra é um planeta.
É “lógica dedutiva” pelo fato que ao começar com algumas informações, pode-se chegar a uma
conclusão (deduzir!); esta forma de raciocinar é chamada de “Silogismo”.
Esta lógica não se preocupa com o fato de a Terra ser quadrada, mesmo que se saiba que
ela é arredondada. Pouco importa, ela aceita a informação que lhe foi dada. Mas exige que o
raciocínio esteja correto. Preocupa-se com a forma: A = B, então, B = A. Ela não presta
atenção ao conteúdo. Por isso, esta lógica é formal (de forma) e dedutiva (de dedução).
Aristóteles também elaborou a argumentação da lógica indutiva.
1
2 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Ela lhe permitirá analisar um raciocínio e deliberar sobre sua veracidade. A lógica não é
um pressuposto para um raciocínio, porém conhecendo-a, mesmo que superficialmente, torna-se
mais fácil evidenciar raciocínios incorretos.
Primeiro: A lógica não é uma lei absoluta que governa o universo. Muitas pessoas, no passado,
concluíram que se algo era logicamente impossível (dada a ciência da época), então seria
sempre literalmente impossível. Acreditava-se também que a geometria euclidiana era uma
lei universal; afinal, era logicamente consistente. Mas sabemos que tais regras geométricas
não são universais.
Segundo: A lógica não é um conjunto de regras que governa o comportamento humano. Pessoas
podem possuir objetivos logicamente conflitantes. Por exemplo:
Infelizmente, pode ser que Pedro também deseje, por outros motivos, evitar contato com
Carlos, tornando seu objetivo conflitante. Isso significa que a resposta lógica nem sempre
é praticável.
Os ramos da lógica matemática, organizam-se pelo seus aspectos em cinco ramos com suas
especificações próprias interligados entre sim a saber: i) Teoria da demonstração; ii) Teoria
dos conjuntos; iii) Teoria dos modelos; iv) Teoria da computabilidade; v) Lógica matemática
intuicinista/construtivista.
• Fredy é escritor.
Imperativas:
• Segure firme!
Interrogativas:
Exclamativas:
• Parabéns a você!
Exemplo 1.1.
b) 3 + 2 = 6
c) Que hora é?
Exemplo 1.2.
a) p : 5 + 3 = 9. . . . (f)
A lógica matemática adota como regras fundamentais do pensamento os dois seguintes ax-
iomas.
Se, na proposição p : 5 > 4 substituímos o número 5 pela letra x, temos a expressão x > 4,
chamada de enunciado aberto; pois, dependendo do valor numérico que assume a variável x
podemos atribuir valores de verdade (v) ou falsidade (f).
Exemplo 1.3.
São enunciados abertos.
a) x é primo de José.
b) x<y+z
c) x−7=8
Observe que os enunciados abertos são de muita importância na matemática, pois quase a
totalidade de enunciados matemáticos (problemas) utilizam uma ou mais variáveis.
6 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
A negação de uma proposição p escreve-se ∼ p e se lê: “não p” ou “é falso que p”, ou “não é
verdade que p” e; é outra proposição que nega se cumpra a proposição p. A Tabela (1.1) descreve
o comportamento deste conectivo lógico.
p ∼p
v f
f v
Exemplo 1.4.
Suponha a proposição p: 12 é um número ímpar; logo a proposição ∼ p: Não é verdade que
12 seja número ímpar.
Observe que ∼ p somente nega p, e não afirma o oposto de aquilo que afirma p.
Exemplo 1.5.
Seja a proposição p: Maria é bonita, logo ∼ p: Não é verdade que Maria seja bonita.
A proposição ∼ p não afirma que Maria seja feia, pois do fato ser bonita ao fato ser feia
existem outras possibilidades:
bonita feia
| {z }
outras possibilidades
Observação 1.1.
a) Negar uma proposição p não é apenas afirmar algo diferente do que p afirma, ou algo com
valor lógico diferente.
b) Sendo verdadeira uma proposição p, a sua negação é falsa e vice-versa; como consequência,
a negação da proposição ∼ p afirma o mesmo que p, isto é, a negação da negação de p é
logicamente equivalente a p. Escrevemos ∼∼ p ≡ p (≡ lê-se; “logicamente equivalente”).
Coleção Lições de Matemática 7
1.2.4.2 Conjunção. ∧
p q p∧q
v v v
v f f
f v f
f f f
A Tabela (1.2) prevê todas as possibilidades para o valor lógico de uma proposição composta
a partir dos valores lógicos das componentes e dos conectivo lógicos.
Exemplo 1.6.
Consideremos p : 2 + 8 > 5 e q : 8 > 6 , então, temos as quatro possibilidades:
p q p∨q
v v v
v f v
f v v
f f f
Exemplo 1.7.
Se p : 4 + 7 = 11 e q : 15 − 3 = 12 então temos as quatro possibilidades:
8 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
4 + 7 = 11 ∨ 15 − 3 = 12 . . . (v)
4 + 7 = 11 ∨ 15 − 3 6= 12 . . . (v)
4 + 7 6= 11 ∨ 15 − 3 = 12 . . . v)
4 + 7 6= 11 ∨ 15 − 3 6= 12 . . . (f)
Observação 1.2.
Na linguagem do dia-a-dia, a palavra “ou” tem dois sentidos:
1.2.4.4 Condicional. ⇒
p q p⇒q
v v v
v f f
f v v
f f v
Exemplo 1.8.
Sejam as proposições p: 3 + 2 = 5 e q: 3 < 5, então temos as quatro possibilidades:
Se 3 + 2 = 5 ⇒ 3<5 . . . (v)
Se 3 + 2 = 5 ⇒ 3≥5 . . . (f)
Se 3 + 2 6= 5 ⇒ 3<5 . . . (v)
Se 3 + 2 6= 5 ⇒ 3≥5 . . . (v)
As proposições condicionais são importantes na matemática, e tem varias maneiras diferentes
de enuncia-las, assim por exemplo, p ⇒ q podemos entender como uma das seguintes formas:
• p implica q.
Coleção Lições de Matemática 9
Inversa: ∼ p ⇒∼ q.
Contra-recíproca: ∼ q ⇒∼ p.
Exemplo 1.9.
Escreva a recíproca, a inversa e contra-recíproca de cada uma das seguintes proposições: Se
7 − 7 = 0, então 7 = 7.
Solução.
1.2.4.5 Bicondicional. ⇔
p q p⇔q
v v v
v f f
f v f
f f v
Uma proposição bicondicional obtém-se por definição como a conjunção de uma condicional
e sua recíproca; isto é p ⇔ q é equivalente a (p ⇒ q ∧ q ⇒ p).
P (p, q) : ∼ p ∧ (p ⇒ q)
Q(p, r) : (p ⇒∼ r) ∨ r
R(p, r, s) : (p ⇒∼ s ∧ r)∨ ∼ (s ∧ (p ⇔∼ s))
Observação 1.3.
1o Se você tiver n proposições simples, o número de linhas que resultam de todas as combinações
de verdade (v) e falsidade (f) é 2n .
Assim, para as proposições p, q, r tem-se uma tabela-verdade com 23 = 8 linhas.
2
Por exemplo, dadas as proposições p e q, então podemos obter 22 = 24 = 16 proposições
compostas diferentes a saber:
d) finalmente a coluna relativa aos valores lógicos da proposição composta P (p, q) : ∼ (p∨ ∼ q)
(coluna 4a ).
p q ∼q p∨ ∼ q ∼ (p∨ ∼ q)
v v f v f
v f v v f
f v f f v
f f v v f
1a 2a 3a 4a
Tabela 1.6:
b) em seguida à direita, traça-se uma coluna para cada uma dessas proposições e para cada um
dos conectivos que figuram na proposição composta dada (colunas 2a , 3a e 4a );
c) logo, em uma certa ordem, completam-se essas colunas, escrevendo em cada uma delas os
valores lógicos correspondentes, no modo abaixo indicado (coluna 5a ).
p q ∼ (p ∨ ∼ q)
v v f v v f v
v f f v v v f
f f v f f f v
f f f f v v f
1a 5a 2a 4a 3a 2a
Tabela 1.7:
Exemplo 1.10.
Construir tabela-verdade da proposição: P (p, q) : ∼ (p ∧ q)∨ ∼ (q ⇔ p).
Solução.
p q ∼ (p ∧ q) ∨ ∼ (q ⇔ p)
v v f v v v f f v v v
v f v v f f v v f f v
f v v f f v v v v f f
f f v f f f v f f v f
1a 4a 2a 3a 2a 5a 4a 2a 3a 2a
1.3 TAUTOLOGIA
Os conectivos lógicos, do mesmo modo que servem para construir proposições compostas a
partir de proposições simples, também são utilizados para obter esquemas lógicos muito mas
complexos a partir de proposições compostas.
Em geral ∼ é o conectivo de menor hierarquia, logo seguem ∨ e ∧, esses conectivos tem a
mesma hierarquia; logo ⇒ é o de maior hierarquia. Porém, cada conectivo pode ser de maior
hierarquia, quando o indica o parênteses de coleção.
Lembre que os parênteses ( ) servem para denotar o “alcance” dos conectivos.
Dada uma proposição composta, os valores-verdade de esta proposição são os que correspon-
dem aos valores do conectivo de maior hierarquia presente na proposição.
Exemplo 1.11.
A fórmula p ∨ q∨ ∼ r ⇒ p ⇒∼ q deve-se entender como:
De outro modo, tautologia é toda proposição composta P (p, q, , r, · · · ) cujo valor lógico sem-
pre é verdade (v), quaisquer que sejam os valores lógicos das proposições simples p, q, , r, · · · .
Exemplo 1.12.
A proposição p ∨ ∼ p é tautologia.
p ∼p p∨ ∼p
v f v
f v v
Exemplo 1.13.
Determine a tabela-verdade para a seguinte proposição: P (p , q) : ((p ∨ q)∧ ∼ q) ⇒ p
Solução.
p q ((p ∨ q) ∧ ∼ q) ⇒ p
v v v f f v v
v f v v v v v
f v v f f v f
f f f f v v f
1o 3o 2o 5o 4o
De outro modo, contradição é toda proposição composta P (p, q, , r, · · · ) cujo valor lógico
sempre é falso (f), quaisquer que sejam os valores lógicos das proposições simples p, q, , r, · · · .
Portanto, P (p, q, r, · · · ) é uma tautologia se, e somente se, ∼ P (p, q, r, · · · ) é uma
contradição.
Exemplo 1.14.
A proposição p ∧ ∼ p é uma contradição.
p ∼p p∧ ∼p
v f f
f v f
Exemplo 1.15.
Determine a tabela-verdade para a proposição: P (p) : ∼ ((p ∨ p) ⇔ p)
Solução.
Coleção Lições de Matemática 13
p ∼ ((p ∨ p) ⇔ p)
v f v v v v v
f f f f f v f
6o 1o 3o 2o 5o 4o
De outro modo, uma contingência é toda proposição composta que não é tautologia nem
contradição. As contingências também são chamadas de proposições contingentes ou proposições
indeterminadas.
Exemplo 1.16.
Determine a tabela-verdade para a proposição: P (p, q, r): ∼ ((p ∧ q)∧ ∼ r)
Solução.
p q r ∼ ((p ∧ q) ∧ ∼ r)
v v v v v f f
v v f f v v v
v f v v f f f
v f f v f f v
f v v v f f f
f v f v f f v
f f v v f f f
f f f v f f v
(a) p ⇔ p . . . reflexiva.
(b) (p ⇔ q) ⇒ (q ⇔ p) . . . simetria.
(c) ((p ⇔ q) ∧ (q ⇔ r)) ⇒ (p ⇔ r) . . . transitividade.
5. Lei do absurdo.
(a) (∼ q ⇒ (p ∧ ∼ p)) ⇒ q
(b) (∼ q ⇒ (p ∧ ∼ p)) ⇒ q
(c) ((∼ q ⇒ p) ∧ (∼ q ⇒ ∼ p)) ⇒ q
7. Lei comutativa.
8. Lei associativa.
9. Lei distributiva.
(a) ∼ (p ∧ q) ⇔ (∼ p ∨ ∼ q)
(b) ∼ (p ∨ q) ⇔ (∼ p ∧ ∼ q)
12. Adição.
p ⇒ (p ∨ q)
13. Simplificação.
(a) (p ∧ q) ⇒ p
(b) (p ∨ q) ⇒ p
16. Idempotente.
(a) (p ∨ p) ⇔ p
(b) (p ∧ p) ⇔ p
22. Exportação.
Exemplo 1.17.
Sejam P (p, q): ∼ p ∨ q e Q(p, q): p ⇒ q, temos que:
Exemplo 1.18.
Determine se a proposição R(p, q): p ⇒ q implica logicamente a proposição S(p, q):
p∨ ∼ q.
Solução.
Propriedade 1.1.
A proposição P (p1 , p2 , · · · , pn ) implica logicamente a proposição Q(p1 , p2 , · · · , pn ), se e
somente se a condicional P (p1 , p2 , · · · , pn ) ⇒ Q(p1 , p2 , · · · , pn ) é tautologia.
Demonstração.
Condição necessária. (⇒)
Se P (p1 , p2 , · · · , pn ) implica logicamente a proposição Q(p1 , p2 , · · · , pn ), então não ocorre
que os valores na mesma linha da tabela verdade sejam simultaneamente (v) e (f) nessa ordem;
logo a valor verdade na coluna da tabela da proposição P (p1 , p2 , · · · , pn ) ⇒ Q(p1 , p2 , · · · , pn )
somente é (v), assim esta condicional é tautologia.
Condição suficiente. (⇐)
Se a condicional P (p1 , p2 , · · · , pn ) ⇒ Q(p1 , p2 , · · · , pn ) é tautologia, isto é na última
coluna de sua tabela-verdade temos somente a letra (v), então não ocorre que os valores si-
multâneos correspondentes à mesma linha sejam (v) e (f) nessa ordem. Portanto a proposição
P (p1 , p2 , · · · , pn ) implica logicamente Q(p1 , p2 , · · · , pn ).
Exemplo 1.19.
Mostre que a proposição p implica logicamente a proposição q em cada um dos seguintes casos:
√
π 3
a) p : π > 2; q : tan =
6 3
√
π 3 √ √
b) p : sen = ; q: 8> 32
3 2
c) p : 12 é múltiplo de 4; q : 6 é divisível por 2.
Definição 1.9.
Dizemos que uma proposição P (p, q, r, · · · ) é logicamente equivalente a outra proposição
Q(p, q, r, · · · ), se a tabela-verdade destas duas proposições são idénticas.
Exemplo 1.20.
As proposições P (p, q): p ⇒ p ∧ q e Q(p, q): p ⇒ q são equivalentes.
p q p⇒p∧q p⇒q
v v v v
v f f f
f v v v
f f v v
Exemplo 1.21.
Consideremos a proposição p ⇒ q assim como sua recíproca q ⇒ p, sua inversa ∼ p ⇒∼ q e
sua contra-recíproca ∼ q ⇒∼ p.
Da seguinte tabela-verdade:
p q p⇒q ∼ q ⇒∼ p q⇒p ∼ p ⇒∼ q
v v v v v v
v f f f v v
f v v v f f
f f v v v v
Exemplo 1.22.
a) p∧p⇔p . . . idempotente.
c) (p ∧ q) ∧ r ⇔ p ∧ (q ∧ r) . . . associativa.
Demonstração. a)
Na seguinte tabela-verdade observe que as linhas das proposições p ∧ p e p são idênticas, e
a bicondicional p ∧ p ⇔ p é uma tautologia.
p p ∧ p ⇔ p
v v v v
f f v f
Assim, tanto, p ∧ p quanto p são proposições logicamente equivalentes.
Demonstração. b)
Com efeito, observando as colunas da tabela-verdade para as proposições p ∧ q e q ∧ p
mediante o conectivo ⇔ obtemos uma tautologia.
p q p ∧ q ⇔ q ∧ p
v v v v v
v f f v f
f v f v f
f f f v f
Logo, tanto, p ∧ q quanto q ∧ p são proposições logicamente equivalentes.
i) x 6= 3 ∧ x 6= 3 ⇔ x 6= 3
i) a 6= 3 ∧ | a |≥ 0 ⇔ a 6= 3
a) p∨p⇔p . . . idempotente.
c) (p ∨ q) ∨ r ⇔ p ∨ (q ∨ r) . . . associativa.
Demonstração. a)
Na seguinte tabela-verdade as proposições p ∨ p e p são idênticas, e a bicondicional p ∨ p ⇔ p
é uma tautologia.
p p ∨ p ⇔ p
v v v v
f f v f
Demonstração. c)
Temos que a tabela-verdade para a proposição (p ∨ q) ∨ r ⇔ p ∨ (q ∨ r) é uma tautologia.
p q r (p ∨ q) ∨ r ⇔ p ∨ (q ∨ r)
v v v v v v
v v f v v v
v f v v v v
v f f v v v
f v v v v v
f v f v v v
f f v v v v
f f f f v f
20 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Demonstração. d)
Somente no caso das proposições t verdadeira (v) e s falsa (f) temos que as proposições
p ∨ t ⇔ t e p ∨ s ⇔ p são tautológicas.
Com efeito, temos as tabela-verdade seguintes:
p t p ∨ t ⇔ t p s p ∨ s ⇔ p
v v v v v v f v v v
f v v v v f f f v f
i) x 6= 7 ∨ x = 5 ⇔ x = 5 ∨ x 6= 7
ii) a ≥ 6 ∨ a ≤ 15 ⇔ a ≤ 15 ∨ a ≥ 6
i) (x 6= 7 ∨ x = 5 ) ∨ x ≤ 12 ⇔ x = 5 ∨ (x 6= 7 ∨ x ≤ 12
ii) (a ≥ 6 ∨ a ≤ 15) ∨ (a 6= 7) ⇔ a ≤ 15 ∨ (a ≥ 6 ∨ a 6= 7)
1. Absorção.
(a) p ∧ (p ∨ q) ⇔ p
(b) p ∨ (p ∧ q) ⇔ p
2. Propriedade distributiva.
(a) p ∧ (q ∨ r) ⇔ (p ∧ q) ∨ (p ∧ r)
(b) p ∨ (q ∧ r) ⇔ (p ∨ q) ∧ (p ∨ r)
3. Negação.
(a) ∼ (∼ p) ⇔ p
4. Leis de Morgan.
(a) ∼ (p ∧ q) ⇔ (∼ p ∨ ∼ q)
(b) ∼ (p ∨ q) ⇔ (∼ p ∧ ∼ q)
Coleção Lições de Matemática 21
Demonstração. (a)
Temos a seguinte tabela-verdade para as proposições p ∧ (p ∨ q) e p
p q p ∧ (p ∨ q) ⇔ p
v v v v v
v f v v v
f v f v f
f f f v f
Demonstração. (b)
De modo análogo, temos a seguinte tabela-verdade para as proposições p ∨ (p ∧ q) e p
p q p ∨ (p ∧ q) ⇔ p
v v v v v
v f v v v
f v f v f
f f f v f
p q ∼ (p ∧ q) ⇔ ∼ p∨ ∼ q p q ∼ (p ∨ q) ⇔ ∼ p∧ ∼ q
v v f v f v v f v f
v f v v v v f v v f
f v v v v f v v v f
f f v v v f f v v v
Nas duas tabelas temos tautologia; logo as proposições indicadas são logicamente equiva-
lentes.
Demonstração.
Com efeito, a mostrar que (p ⇒ q) ⇔∼ p ∨ q. Observe a tabela-verdade:
22 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
p q p ⇒ q ⇔ ∼ p ∨ q
v v v v v
v f f v f
f v v v v
f f v v v
Por outro lado, a negação da proposição p ⇒ q é a proposição ∼ (p ⇒ q), isto é ∼ (p ⇒
q) ⇔ ∼ (∼ p ∨ q) ⇔ ∼ ∼ p ∧ ∼ q ⇔ p ∧ ∼ q.
Portanto, ∼ (p ⇒ q) ⇔ p ∧ ∼ q
Observação 1.4.
A condicional, p ⇒ q não satisfaz as propriedades idempotente, comutativa e associativa.
Demonstração.
Com efeito temos que p ⇔ q é logicamente equivalente à proposição (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p),
isto da seguinte tabela-verdade.
p q (p ⇔ q) ⇔ (p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p)
v v v v v
v f f v f
f v f v f
f f v v v
Logo aplicando as regras de Morgan, temos que ∼ (p ⇒ q) ⇔ ∼ ((p ⇒ q) ∧ (q ⇒ p)) ⇔
∼ (∼ p ∨ q) ∨ ∼ (∼ q ∨ p) ⇔ ((p ∧ ∼ q) ∨ (q ∧ ∼ p)).
Portanto, ∼ (p ⇒ q) ⇔ ((p ∧ ∼ q) ∨ (q ∧ ∼ p)).
Observação 1.5.
A bicondicional p ⇔ q não satisfaz a propriedade idempotente, pois é obvio que as proposições
p ⇔ p e p não são logicamente equivalentes.
A bicondicional satisfaz as propriedades, associativa e comutativa.
((p ∧ q) ⇒ p) ⇔ (∼ (p ∧ q) ∨ p) ⇔ . . . tautologia.
⇔ ((∼ p ∨ ∼ q) ∨ p) ⇔ (∼ p ∨ p) ∨ ∼ q) ⇔ . . . comutativa.
Coleção Lições de Matemática 23
⇔ (∼ p ∨ p) ∨ ∼ q) ⇔ (T ∨ ∼ q) ⇔ . . . tautologia.
⇔ (T ∨ ∼ q) ⇔ T . . . tautologia.
Observação 1.6.
Denotamos com T as proposições logicamente verdadeiras (tautologias), e com C proposições
logicamente falsas (contradição)
Exemplo 1.27.
Mostre a implicação: ((p ⇒ q) ∧ p) ⇒ q (modus ponens) é logicamente verdadeira.
Demonstração.
(((p ⇒ q) ∧ p) ⇒ q) ⇔ . . . hipótese.
⇔ (((∼ p ∨ q) ∧ p) ⇒ q) . . . tautologia.
⇔ ((∼ p ∧ p) ∨ (q ∧ p) ⇒ q) . . . distributiva.
⇔ (C ∨ (q ∧ p) ⇒ q) . . . contradição.
⇔ ((q ∧ p) ⇒ q) . . . cancelamento.
⇔ T . . . tautologia.
Propriedade 1.4.
Entre os cinco conectivos lógicos fundamentais:
∼, ∧, ∨, ⇒ ⇔
1o p ∧ q ⇔ (∼ ∼ p ∧ ∼ ∼ q) ⇔ ∼ (∼ p ∨ ∼ q)
2o p ⇒ q ⇔ (∼ p ∨ q)
Demonstração. b)
1o p ∨ q ⇔ (∼ ∼ p ∨ ∼ ∼ q) ⇔ ∼ (∼ p ∧ ∼ q)
2o p ⇒ q ⇔ (∼ p ∨ q) ⇔ ∼ (p ∧ ∼ q)
Demonstração. c)
1o p ∧ q ⇔ (∼ (∼ p ∨ ∼ q)) ⇔ ∼ ( p ⇒∼ q)
2o p ∨ q ⇔ (∼ ∼ p ∨ q) ⇔ (∼ p ⇒ q)
Observação 1.7.
O conjunto de valores da variável, está formado por todos os valores conveniados para a
variável x. O representaremos por D e dizemos que x pertence a D, o qual denotamos x ∈ D.
Isto é, pela definição de enunciado aberto; função proposicional sobre D é toda expressão
p(x) tal que p(a) é verdadeira ou falsa para todo a ∈ D
Exemplo 1.28.
É uma função proposicional, cujo domínio são os números naturais, observe que:
c) r(x) : x é humano
É função proposicional e seu domínio pode ser todo ser animado3 ou inanimado4 , e assim
teríamos por exemplo as proposições:
r(mulher) : Mulher é humano é verdadeiro (v)
r(gato) : O gato é humano é falso (f)
r(caneta) : A caneta é humano é falso (f)
Exemplo 1.29.
Exemplo 1.30.
Seja o conjunto de números A = { 1, 2, 3, 4, 5 } e p(x) : x < 4; então Vp = { 1, 2, 3}
1.6 QUANTIFICADORES
Quando escrevemos x + 6 = 9, não podemos classificar tal enunciado aberto como proposição
verdadeira (v) ou falsa (f), ao menos que sejam atribuídos valores à variável x.
Uma situação bem diferente acontece quando afirmamos que:
Esta sentença é uma proposição evidentemente falsa, porém tornou possível classifica-la como
proposição falsa. Por outro lado se afirmamos:
Exemplo 1.31.
1. A proposição: ∀n ∈ N tal que p(n) : n+8 > 4 é verdadeira; observe que Vp = {1, 2, 3, , · · ·}
Seja p(x) uma função proposicional num conjunto D, e Vp seu conjunto verdade. Quando
Vp 6= D, alguns os elementos de D satisfazem a sentença aberta (p(x), podemos afirmar:
Um quantificador existêncial, é uma expressão da forma: Existe x tal que p(x), onde p(x) é
uma função proposicional.
No simbolismo da Lógica matemática indica-se a palavra “existe” com ∃
A função proposicional que forma parte de uma quantificação recebe o nome de, o quantificado
e à frase que precede, o nome de quantificador.
Exemplo 1.32.
2. A proposição: ∃n ∈ N tal que q(n) : n+10 < 14 é verdadeira; observe que Vq = {1, 2, 3},
e cumpre o fato de existir elementos n ∈ N. Não satisfaz para todos os valores de n ∈ N.
Exemplo 1.33.
Exemplo 1.34.
Suponhamos temos números naturais: a, b, c, · · ·
Observação 1.8.
• Observe que somente p(x) não é uma proposição; somente é uma função proposicional por
conseguinte não tem valor de verdade.
• Quando escrevemos ∀ p(x) ou ∃ p(x) são proposições, portanto tem valor verdade (v)
• Algumas vezes o domínio da variável esta implícito, quando não for assim, devemos indicar
o domínio no mesmo quantificador.
Exemplo 1.35.
1
∀ x ∈ N+ ; > 0, sendo N+ os números naturais positivos.
x
1
Se o domínio de x for implícito escreveríamos: ∀ x; >0
x
Os quantificadores podem escrever-se com funções proposicionais de mais de uma variável.
Exemplo 1.36.
Exemplo 1.37.
Interpretar em palavras o seguinte argumento:
Exemplo 1.38.
Escrever com quantificadores o seguinte argumento:
Solução.
Consideremos as proposições: p(x) : x é homem, q(y) : y é mortal; e nossa variável a :
Sócrates. Logo temos o seguinte diagrama:
∀ x (p(x) ⇒ q(x))
p(a)
q(a)
∼ (∀ x ∈ D : p(x)) ⇔ (∃ x ∈ D : ∼ p(x))
é verdadeira.
Na negação das proposições que contém quantificadores, são verdadeiras as seguintes equiv-
alência de Morgan.
A1 ∼ (∀ x ∈ D /. p(x)) ⇔ (∃ x ∈ D /. ∼ p(x))
A2 ∼ (∃ x ∈ D /. p(x)) ⇔ (∀ x ∈ D /. ∼ p(x))
Exemplo 1.39.
b) ∼ (∃ x ∈ R /. x2 < 0) ⇔ (∀ x ∈ R /. x2 ≮ 0)
Em palavras: Não é verdade que exista um número real x, tal que x2 < 0; isto é logicamente
equivalente a: Para todo número real x, tem-se que x2 ≮ 0.
∼ (∀ x ∈ D /. p(x)) ⇔ (∃ x ∈ D /. ∼ p(x))
isto é, para demonstrar que não é verdade que se cumpra p(x) para todo x ∈ D, é suficiente
mostrar que existe pelo menos um x ∈ D tal que não se cumpra p(x).
Capítulo 2
TEORIA DA DEMONSTRAÇÃO
2.1 ARGUMENTO
Podemos pensar em argumento como:
Argumentar é apresentar uma proposição como sendo uma consequência de uma o mais
proposições. Nosso principal objetivo será a investigação da validade de “argumentos”.
Exemplo 2.1.
Todo homem é mortal, João é homem, logo João é mortal.
1
Cada uma das proposições de um silogismo que serve de base à conclusão.
29
30 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Exemplo 2.2.
É comum após a chuva ficar nublado, está chovendo, logo ficará nublado.
estamos nos referindo a uma proposição falsa (f ). Porém a mesma proposição pode ser expressa
de modo diferente, por exemplo:
ainda assim, continua sendo uma proposição falsa (f ), observe que infelizmente é muito fácil mu-
dar acidentalmente o significado das palavras apenas reorganizando-as. A dicção da proposição
deve ser considerada como algo significante.
É possível utilizar a lingüística formal para analisar e reformular uma afirmação sem alterar
seu significado.
2
Base, fundamento, sustentáculo.
Coleção Lições de Matemática 31
2.1.1 Premissas.
Os argumentos dedutivos sempre requerem um certo número de “assunções-base”. São as
chamadas “premissas”; e é a partir destas premissas que os argumentos são construídos. Isto é,
as premissas são as razões para aceitar-se um argumento. Entretanto, algo que é uma premissa
no contexto de um argumento em particular, pode ser a conclusão de outro.
As premissas de todo argumento sempre devem ser explicitadas, esse é o princípio do “au-
diatur et altera pars3 ”. A omissão das premissas comumente é encarado como algo “suspeito”, e
provavelmente reduzirá as chances de aceitação do argumento.
A apresentação das premissas de um argumento geralmente é precedida pelas palavras:
“Suponha que,. . . ”; “É óbvio que,. . . ”; “. . . se, e somente se,. . . ” e “Demonstre que,. . . ”. É
imprescindível que o leitor concorde com suas premissas antes de proceder com a argumentação.
Utilizar em matemática a palavra “óbvio” tem que gerar desconfiança, o que é “óbvio” para
um leitor, pode ser demasiado complicado para outro. Não hesite em questionar afirmações
supostamente “óbvias”.
2.1.2 Inferência.
Toda vez que existir concordância sobre as premissas, o argumento procede passo a passo
através do processo chamado “inferência”.
Na inferência, parte-se de uma ou mais proposições aceitas (premissas) para chegar a outras
novas. Se a inferência for válida (no sentido de ser tautológica), a nova proposição também deve
ser aceita. Posteriormente essa proposição poderá ser empregada em novas inferências.
Assim, inicialmente apenas podemos inferir algo a partir das premissas do argumento; ao
longo da argumentação entretanto, o número de afirmações que podem ser utilizadas aumenta.
Há vários tipos de inferências válidas. O processo de inferência é comumente identificado
pelas frases “conseqüentemente. . .” ou “isto implica que,. . . ”
2.1.3 Conclusão.
Finalmente se chega a uma proposição que consiste na “conclusão”, isto é, chegamos a uma
proposição que estamos tentando demonstrar. Esta conclusão é o resultado final do processo de
inferência, e só pode ser classificada como conclusão no contexto de um argumento em particular,
podendo ser a premissa de outro.
A conclusão tem respaldo nas premissas e é inferido a partir delas.
Portanto, um argumento é uma sequência finita e ordenada de proposições simples ou com-
postas p1 , p2 , p3 , . . . , pn chamadas premissas das quais deduzimos uma proposição q chamada
conclusão.
Indicaremos um argumento de premissas p1 , p2 , p3 , . . . , pn e conclusão q por:
p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⊢ q
• q é consequência de p1 , p2 , p3 , . . . , pn .
• q deduz-se de p1 , p2 , p3 , . . . , pn .
• p1 , p2 , p3 , . . . , pn implicam q.
Lembre, em todo argumento dedutivo algo que não pode ser feito é partir de premissas
verdadeiras, inferir de modo correto, e chegar a uma conclusão falsa.
Podemos resumir esses resultados em uma tabela de “regras de implicação”.
Regras de implicação
Linha Premissa Conclusão Inferência Argumento
p q p ⇒ q
1a Falsa Falsa Verdadeira verdadeiro inconsistente
2a Falsa Verdadeira Verdadeira verdadeiro inconsistente
3a Verdadeira Falsa Falsa falso (ilógico)
4a Verdadeira Verdadeira Verdadeira verdadeiro consistente
Desse modo, o fato de um argumento ser verdadeiro não significa necessariamente que sua
conclusão seja verdadeira (v), pois pode ter partido de premissas falsas.
Argumentos consistentes obrigatoriamente chegam a conclusões verdadeiras.
Exemplo 2.4.
Este exemplo é um argumento verdadeiro (v), mas que pode ou não ser “ consistente”.
Os seguintes quatro exemplos são de silogismo; porém o exemplo (2.5) é de argumento dedu-
tivo (consistente), os exemplos (2.6) e (2.8) são argumentos inconsistentes, e o exemplo (2.7) é
argumento falso (f ).
Definição 2.6.
Um argumento p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⊢ q válido é consistente se, a conclusão q é verdadeira (v)
sempre que, as premissas p1 , p2 , p3 , . . . , pn sejam verdadeiras (v).
Os Exemplos (2.9) e (2.10) são de argumento consistente, e os Exemplos (2.11) e (2.12) são
de argumento inconsistente.
Fica óbvio que no Exemplo (2.11) o fato de ser argumento válido, necessariamente alguma
das premissas deve ser falsa (f ) com a interpretação intencional o que caracteriza este exemplo
como argumento válido não-correto.
Exemplo 2.13.
Senhor Bertrand: Mostre que se 3 = 2, então você é Deus.
Demonstração.
Se 3 = 2, então 2 = 1 logo 3 = 1.
Pai, filho, espírito santo são três pessoas distintas porém somente um Deus verdadeiro.
Bertrand é filho.
Portanto, Bertrand é Deus. ¤
Embora temos que este argumento seja um sofisma4 , observe que a premissa 3 = 2 é falsa,
logo o argumento é correto independente da conclusão ser verdadeira o falsa.
4
Argumento de aparência válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má-fé por parte de quem o
apresenta; falácia, silogismo erístico.
Coleção Lições de Matemática 35
Observação 2.1.
i) Num argumento consistente, a verdade das premissas é incompatível com a falsidade da con-
clusão.
ii) A Lógica não se preocupa com a validade dos argumentos, nem com a verdade o falsidade
das premissas e conclusões.
iii) Afirmar que um argumento é consistente, significa afirmar que as premissas estão de tal
modo relacionadas com a conclusão que não é possível ter a conclusão falsa se as premissas
são verdadeiras.
Propriedade 2.1.
Um argumento p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⊢ q é consistente se, a condicional
p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⇒ q (2.1)
é tautologia.
Demonstração.
Se o argumento é consistente, então as premissas p1 , p2 , p3 , . . . , pn são verdadeiras logo a
proposição p1 ∧ p2 ∧ p3 ∧ . . . ∧ pn é verdadeira.
Sendo o argumento consistente, temos que a conclusão q é verdadeira.
Portanto a condicional (2.1) é tautologia.
Observação 2.2.
Se o argumento:
Exemplo 2.14.
O argumento p, q ⇒ r, ∼ r ⊢ ∼ q é consistente, pois a fórmula (p ∧ (q ⇒ r) ∧ ∼ r) ⇒ ∼ q
é uma tautologia.
Como a premissa ∼ r tem que ser verdadeira (v), então r tem que ser (f ).
A premissa q ⇒ r tem que ser verdadeira, como r é (f ), temos que q é falsa (f ), logo a
conclusão ∼ q é verdadeira (v). É óbvio que p tem que ser verdadeira (v).
O fato que todas as premissas sejam verdadeiras que a conclusão também é verdadeira veri-
ficamos na 4a linha de sua tabela-verdade.
p q r (p ∧ (q ⇒ r) ∧ ∼ r) ⇒ ∼ q
4a linha → v f f v v v
36 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Exemplo 2.15.
Do argumento p ⊢ p ∨ q e da expressão (2.1) segue que os seguintes argumentos são consis-
tentes:
a) (∼ p ∧ q) ⊢ (∼ p ∧ q) ∨ (∼ s ⇒ r)
b) (p ⇒ r ∨ s) ⊢ (p ⇒ r ∨ s) ∨ (∼ r ∧ s)
Exemplo 2.16.
((p ⇒ q ∨ r) ∧ (∼ s ∧ (q ∨ r ⇒ s) ⇒ (s ⇒ p ∧ ∼ q)
é a proposição: p ⇒ q ∨ r, ∼ s, q ∨ r ⇒ s ⊢ s ⇒ p ∧ ∼ q)
Isso não é um argumento, é uma afirmação condicional. Não explícita as premissas necessárias
para embasar as conclusões, sem mencionar que possui outras falhas.
Um argumento não equivale a uma explicação. Suponha que, tentando provar que Albert
Einstein acreditava em Deus, disséssemos:
“Einstein afirmou que - Deus não joga dados - porque creia em Deus”.
Isso pode parecer um argumento relevante, mas não é; trata-se de uma explicação da afir-
mação de Einstein. Para perceber isso, lembre-se que uma afirmação da forma “X, pois Y” pode
ser reescrita na forma “Y logo X”. O que resultaria em:
“Einstein creia em Deus, por isso afirmou que Deus não joga dados”.
Agora fica claro que a afirmação, que parecia um argumento, está afirmando a conclusão que
deveria estar provando.
Ademais, Einstein não creia num Deus pessoal preocupado com assuntos humanos.
2. Simplificação.
a) (p ∧ q) ⊢ p b) (p ∧ q) ⊢ q
3. Conjunção.
a) p, q ⊢ p ∧ q b) p, q ⊢ q ∧ p
4. Modus Ponens.
(p ⇒ q), p ⊢ q
5. Modus Tollens.
(∼ q ⇒ p), ∼p ⊢ q
6. Equivalência.
p ⇔ q, p ⊢ q
7. Silogismo hipotético.
(p ⇒ q), (q ⇒ r) ⊢ (p ⇒ r)
8. Silogismo disjuntivo.
a) (p ∨ q), ∼p ⊢ q b) (p ∨ q), ∼q ⊢ p
9. Dilema construtivo.
(p ⇒ q), (r ⇒ s), (p ∨ r) ⊢ q ∨ s
38 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
11. Absorção.
p ⇒ q ⊢ p ⇒ (p ∧ q)
Exemplo 2.17.
Se você investe no mercado de valores, então você ficará rico.
Se você fica rico, então você será feliz.
Portanto, se você investe no mercado de valores, então você será feliz.
Solução.
p ⇒ q
Seja:
q ⇒ r
p : você investe no mercado de valores,
∴ p ⇒ r
q : você ficará rico,
r : você será feliz.
De modo que este enunciado podemos representar com notação lógica do seguinte modo:
Coleção Lições de Matemática 39
Exemplo 2.18.
Premissa 1: Jorge é médico.
Portanto, Jorge é médico ou Pedro é engenheiro.
Exemplo 2.19.
p ∼p
a) b)
∴ p∨ ∼ q ∴∼p∨ q
p∧q a≤4
c) d)
∴ (p ∧ q) ∨ r ∴ a≤4 ∨ a=8
Exemplo 2.20.
Premissa 1: Jorge é médico e Pedro é engenheiro.
Portanto, Jorge é médico.
Exemplo 2.21.
(p ∨ q) ∧ r p ∧ (∼ q ∨ q)
a) b)
∴ (p ∨ q) ∴∼q∨ q
1. p : ax2 + bx + c = 0 a 6= 0 hipótese.
40 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
b c
2. q : x2 + ( )x + = 0 . . . divisão em R
a a
b c b b
3. r : x2 + 2 x + + ( )2 = ( )2 . . . completando quadrados
2a a 2a 2a
µ ¶2
b b2 − 4ac
4. s : x+ = . . . propriedade em R
2a 4a2
√
−b ± b2 − 4ac
5. t : x= . . . raiz quadrada em R
2a
Exemplo 2.23.
Premissa 1: Se faz calor, então a água da piscina esta quente.
Premissa 2: Faz calor.
Portanto, a água da piscina esta quente.
Exemplo 2.24.
a) ∼ p ⇒∼ q b) (p ∧ q) ⇒ r
∼p p∧q
∴∼q ∴ r
c) x2 = 0 ⇒ x = 0 d) (a ≤ 4 ∨ a = 8) ⇒ a = 3
x2 =0 a≤4 ∨ a=8
∴ x=0 ∴ a=3
a) p b) p
q q
∴ p∧q ∴ q∧p
Coleção Lições de Matemática 41
Seu esquema é
p ⇒ q
∼ q
∴∼ p
Exemplo 2.25.
Premissa 1: Se este volume é um caderno, então é de papel.
Premissa 2: Este volume não é de papel.
Portanto, este volume, não é um caderno.
Exemplo 2.26.
Premissa 1: 4 − 4 = 0 se, e somente se, 4 = 4.
Premissa 2: 4 − 4 = 0.
Portanto, 4 = 4.
Exemplo 2.27.
a) ∼ p ⇒∼ q b) ∼p ⇒q∨ r
∼ q ⇒∼ r q ∨ r ⇒∼ s
∴ ∼ p ⇒∼ r ∴ ∼ p ⇒∼ s
c) x2 = 0 ⇒ x = 0 d) (p ⇒ q) ⇒ r
x=0⇒x+2=2 r ⇒ (q ∧ s)
∴ x2 = 0 ⇒ x + 2 = 2 ∴ p ⇒ (q ∧ s)
a) p ∨ q b) p ∨ q
∼p ∼q
∴ q ∴ p
Exemplo 2.28.
a) x2 = 0 ∨ x2 = 1 b) ∼ (p ⇒ q) ∨ r
x2 6= 1 ∼∼ (p ⇒ q)
∴ x2 = 0 ∴ r
Nesta regra, são premissas duas condicionais e a disjunção dos seus antecedentes; a conclusão
é a disjunção dos consequentes destas condicionais. Seu esquema é:
p ⇒ q
r ⇒ s
p ∨ r
∴ q∨s
Exemplo 2.29.
a) (p ∧ q) ⇒∼ r b) a + b = 5 ⇒ a = −3
s⇒t a + b 6= 5 ⇒ a > −3
(p ∧ q) ∨ s a + b = 5 ∨ a + b 6= 5
∴∼r∨t ∴ a = −3 ∨ a > −3
Nesta regra, são premissas duas condicionais e a disjunção da negação dos seus consequentes;
a conclusão é a disjunção da negação dos antecedentes destas condicionais. Seu esquema é:
p ⇒ q
r ⇒ s
∼q∨ ∼s
∴ ∼ p∨ ∼ r
Exemplo 2.30.
a) ∼q⇒r b) a + b = 5 ⇒ a = −3
p ⇒∼ s b − a = 11 ⇒ a = 8
∼ r∨ ∼∼ s a 6= −3 ∨ a 6= 8
∴ ∼∼ q∨ ∼ p ∴ a + b 6= 5 ∨ b − a 6= −3
2.2.2.11. Absorção.
Esta regra permite, dada uma condicional p ⇒ q como premissa, dela deduzir como conclusão
uma outra condicional com o mesmo antecedente p e cujo consequente é a proposição p ∧ q. Seu
esquema é:
Coleção Lições de Matemática 43
p ⇒ q
p
∴ p ⇒ p∧q
Exemplo 2.31.
a) p⇒q b) p ⇒∼ q
p p
∴ p⇒p∧q ∴ p ⇒ (p∧ ∼ q)
c) x2 = 0 ⇒ x = 0 d) a≥4⇒a=5
x2 =0 a≥4
∴ x2 = 0 ⇒ x2 = 0 ∧ x=0 ∴ a≥4⇒a≥4 ∧ a=5
Exemplo 2.32.
Premissa 1: Todos os humanos se alimentam.
Premissa 2: Carlos é humano.
∴ Carlos se alimenta.
A premissa 2 é o resultado de substituir um elemento do domínio da premissa 1 por um
valor específico.
Exemplo 2.33.
Verificar se a seguinte regra de inferência é válida:
(p ∧ q) ∨ (p ⇒ q)
∼ (p ∧ q)
∴ (p ⇒ q)
Solução.
Tem-se que ∼ (p ∧ q) é verdadeiro (v) sempre que simultaneamente p e q sejam falsas
(f ). Assim a proposição p ⇒ q resulta ser verdadeira (v) conseqüentemente (p ∧ q) ∨ (p ⇒ q) é
verdadeira.
44 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Mediante o uso da tabela-verdade temos que o fato que todas as premissas sejam verdadeiras
que a conclusão também é verdadeira verificamos na 4a linha de sua tabela-verdade.
p q ((p ∧ q) ∨ (p ⇒ q)) ∧ ∼ (p ∧ q) ⇒ (p ⇒ q)
4a linha → f f v v v
Observe que a regra de inferência é válida, é tautologia.
Exemplo 2.34.
p
Verificar se a seguinte regra de inferência é
q⇒r
válida:
∼r
Solução.
∴∼q
Mediante o uso da tabela-verdade temos que o fato
que todas as premissas sejam verdadeiras que
a conclusão também é verdadeira verificamos na 4a linha de sua tabela-verdade.
p q r (p ∧ (q ⇒ r) ∧ ∼ r ⇒ ∼q
4a linha → v f f v v v
é uma tautologia, logo a regra de inferência é válida.
Exemplo 2.35.
p ⇔ q
q ∨ r
∼r
∴ p
Solução.
Mostra-se que ((p ⇔ q) ∧ (q ∨ r)∧ ∼ r) ⇒ p é tautologia.
Portanto, o argumento (p ⇔ q), (q ∨ r), ∼ r ⊢ p é válido. ¤
Tanto a dedução de teoremas, quanto a demonstração dos mesmos, devem-se explicar uti-
lizando princípios lógicos, isto permite o avanço seguro do moderno pensamento matemático.
Os princípios lógicos são abundantes e adotam como estudamos as mas variadas formas. Não
obstante os mas importantes, devido a seu sua maior utilização são os implicativos, isto porque
facilitam as definições matemáticas e permitem conectar implicativamente os axiomas com os
teoremas. Quase a totalidade dos teoremas são da forma p ⇒ q.
Logo para demonstrar que se cumpre tal implicação devemos utilizar os conceitos de tabela-
verdade para a mesma. Existem duas maneiras fundamentais da teoria da demonstração:
1o Demonstração direta.
2o Demonstração indireta.
2.3 DEMONSTRAÇÃO
Os argumentos formais vistos anteriormente têm a forma p → q, onde p e q podem represen-
tar proposições compostas. Até agora nosso objetivo era demonstrar a validade de um argumento
- verdadeiro (argumento consistente) para todas as interpretações possíveis devido à natureza
interna de sua forma ou estrutura, e não por causa de seu conteúdo ou do significado de suas
componentes. No entanto, muitas vezes queremos provar argumentos que não são universalmente
verdadeiros mas que são verdadeiros em determinados contextos. Pode não ser fácil reconhecer
quais fatos específicos sobre o assunto são relevantes, ou arrumar uma sequência de demonstração
que nos leve logicamente de p a q.
Infelizmente, não existe uma fórmula para a construção de demonstrações e não existe algo-
ritmo geral prático ou programa de computador para provar teoremas. A experiência ajuda, não
apenas porque você vai melhorando com a prática, mas também porque uma demonstração que
funciona para um teorema pode ser algumas vezes modificada para funcionar para outro teorema
semelhante.
Isto é, devemos saber a diferença entre “mostrar ” e “demonstrar ”. Existem provas de afir-
mações que realmente são “mostras” no sentido de somente mostrar, para que se veja com o
olhos que a afirmação é verdadeira. Tal pode ser ocaso de “mostrar ” visualmente o teorema de
Pitágoras; porém não existe razões que justifiquem a necessidade de demonstrar, no sentido de
afastar-se da evidência visual, no caso que está não seja possível ou clara.
Deste modo devemos ter consciência de “o que é ” e “o que não é ” demonstrar, assim
como quando uma demonstração esta concluída, também é bastante importante deixar claro a
diferença entre o processo de descoberta de uma demonstração (heurística) e a formalização e
organização lógica dedutiva dela, o qual constituem a demonstração propriamente dita.
Praticamente todos os teoremas matemáticos estão compostos por implicações do tipo. (p1 ∧
p2 ∧. . .∧pn ) ⇒ q, onde os pi são chamados de premissas ou hipóteses e, q é chamada de conclusão.
“Demonstrar o teorema” é demonstrar que a implicação é uma tautologia. Note que não estamos
tratando de demonstrar que q (a conclusão) é verdadeira, somente que q é verdadeira caso todas
as pi sejam verdadeiras.
Em geral toda demonstração deve começar com as hipóteses, seguidas das tautologias e regras
de inferência necessárias, até chegar à conclusão.
Exemplo 2.36.
Temos a demonstrar o seguinte: “ Dois ângulos que estão em planos diferentes, mas cada
lado de um deles é paralelo ao lado correspondente do outro e está também na mesma direção.
Demonstrar que os dois ângulos são iguais ”.
E sua conclusão é:
Como afirmam Körner e Neale em seu artigo; “A matemática ao ser uma ciência exata,
o conceito de demonstração é fundamental em matemática.”[5]. Há uma variedade de formas
utilizadas para provar alguma proposição, corolário, teorema, etc. nesta ciência. Geralmente, as
demonstrações utilizadas em matemática são do tipo:
• Demonstrações diretas.
• Demonstrações indiretas.
Toda demonstração direta deve começar com as premissas, seguidas das tautologias e regras
de inferência necessárias, até chegar à conclusão; cada passo deve estar acompanhado de sua
respectiva justificativa.
Coleção Lições de Matemática 47
• A prova por contra-exemplo. Neste caso, procura-se um exemplo específico que cumpra a
afirmação p, porém não a condição q.
• Prova por indução matemática. É uma das provas mais sólidas que existem nas matemáti-
cas aplicadas. Começa com uma base de indução e termina-se com uma hipóteses de
indução.
Exemplo 2.37.
Demonstre que se a, b ∈ R+ , tais que a × b = 1, então a + b ≥ 2.
Demonstração.
1. a×b=1 . . . hipótese.
3. 0 ≤ (1 − a) e 0 ≤ (b − 1) . . . propriedade em R.
4. 0 ≤ (1 − a)(b − 1) . . . propriedade em R.
5. 0≤b−a×b−1+a . . . propriedade em R.
7. 2≤a+b . . . propriedade em R.
Portanto, a + b ≥ 2.
Exemplo 2.38.
Sejam A e B duas partes de um conjunto universal U. Demonstrar que: A ⊆ B se, e
somente se, CU (B) ⊆ CU (A)
Demonstração.
(⇒)
3. x ∈
/B . . . (2)
4. x ∈
/A . . . (1), (3)
9. x ∈
/ CU (A) . . . definição de comp.
10. x ∈
/ CU (B) . . . (7), (9)
Exemplo 2.39.
Demonstrar que, se x2 + 2x ≥ 3 e x = 2a − 1, então a2 ≥ 1
Demonstração.
Considere p : x2 + 2x ≥ 3, r : x = 2a − 1 e q : : a2 ≥ 1. O que temos a demonstrar é que
(p ∧ r) ⇒ q é proposição verdadeira (v).
Com efeito:
1. p : x2 + 2x ≥ 3 . . . premissa.
2. r : x = 2a − 1 . . . premissa.
4. p ∧ r : 4a2 ≥ 4 . . . tautologia.
5. q : a2 ≥ 1.
“Não é verdade que para todo elemento x, cumpra a propriedade p(x) é logicamente
equivalente a: Existe algum elemento x que não cumpre a propriedade p(x).”
isto é, para demonstrar que, não é verdade que se cumpra p(x) para todo x, é necessário e
suficiente mostrar que existe pelo menos um x tal que não se cumpra p(x).
Exemplo 2.40.
Demonstrar que todo número natural n, tem-se n + 1 = 5.
Demonstração.
Intuímos que o argumento é falso.
Temos que achar um número natural n tal que não cumpra n + 1 = 5.
Por exemplo considerar n = 6 ∈ N; logo 6 + 1 6= 5.
Logo, existe um número natural n tal que n + 1 6= 5.
Portanto, não é verdade que, para todo natural n, tenhamos n + 1 = 5.
Embora “provar a falsidade por um contra-exemplo” sempre funcione, “provar por um exem-
plo” quase nunca funciona. Uma exceção ocorre quando a conjetura é uma asserção sobre uma
coleção finita. Nesse caso, a conjetura pode ser provada verificando-se que ela é verdadeira para
cada elemento da coleção.
Uma demonstração por exaustão significa que foram exauridos todos os casos possíveis, assim
uma demonstração por exaustão é um método da demonstração matemática em que a proposição
a ser provada é dividida em um número finito de casos e cada caso é mostrado separadamente.
Uma prova por exaustão consiste em duas etapas:
• Prova onde os casos são exaustivos, ou seja, cada instância da proposição a ser provada
coincide com as condições (pelo menos) um dos casos.
Exemplo 2.41.
Demonstrar que todo número que é cubo perfeito tem que ser múltiplo de 9, um múltiplo de
9 mais 1 ou um múltiplo de 9 menos 1.
Demonstração.
Sabemos que todo cubo perfeito é o cubo de algum número natural n. Este número natural
é ou um múltiplo de 3, ou mais ou menos 1 de um múltiplo de 3, então os seguintes casos são
exaustivos:
50 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Para completar a demonstração, os enunciados dos casos 2 e 3 podem ser provados mediante
simples álgebra.
Quantos casos
Não se tem um número da casos na prova por exaustão, algumas vezes são dois ou três
casos, outras muito mais. Existem demonstrações onde os casos são milhares ou milhões. Por
exemplo resolver rigorosamente um problema da final de um campeonato da xadrez pode envolver
a consideração de um número bastante elevado de possíveis situações na árvore do jogo desse
problema
A primeira demonstração do teorema dos quatro cores foi provado por exaustão com 1936
casos.
Esta prova foi controvertida pos a maioria dos casos foram
examinados por um programa de computador não a mão.
Os matemáticos preferem evitar demonstrações com grandes
números de casos, pois acham que são poucos elegantes -
deixam a impressão que o teorema é somente verdadeiro por
coincidência e não por algum princípio. Não obstante existem
alguns teoremas importantes para os quais nenhum método
de demonstração se conhece. Mapa com quatro cores
Esta técnica de demonstração se aplica a casos específicos. Podemos ilustrar desta técnica
assim:
Suponha que Fulano está subindo uma escada com infinitos degraus. A pergunta
natural é: Será que Fulano é capaz de subir um número indeterminado de degraus ?
Suponha que você faça as seguintes afirmações sobre as suas habilidades de subir escadas:
2o Se Fulano alcançar qualquer degrau, então Fulano será capaz de passar ao degrau seguinte.
proposição novamente Fulano pode chegar ao quarto degrau; e assim sucessivamente. Fulano
pode, então, subir tantos degraus quanto seja possível.
Agora vamos considerar uma propriedade específica que um número natural pode ter. Ao
invés de “alcançar um degrau arbitrário’’ podemos mencionar que um número natural arbitrário
tem essa propriedade. Usaremos a notação simplificada P (n) para denotar que o número natural
n tem a propriedade P (n). Como podemos usar a técnica de subir escadas para provar que para
todos os números naturais n nós temos P (n)?
As duas afirmações de que precisamos para a demonstração são:
2. Para qualquer inteiro positivo k,tem-se P (k) ⇒ P (k + 1) . . . (Se algum número tem a
propriedade P, então o número seguinte também a tem.)
• Se P (1) é verdadeira, e
Exemplo 2.42.
Para todo n ∈ N, mostre que, 80 divide 34n − 1.
Demonstração.
• Por contradição.
• Por casos.
Consiste em supor ∼ q para mostrar que se cumpre ∼ p ; isto é, trata-se de provar que
∼ q ⇒∼ p que é logicamente equivalente à afirmação original.
Assim, a proposição (p ⇒ q) ⇔ (∼ q ⇒∼ p) é verdadeiro. Isto é um exemplo da utilidade
das tautologias na lógica.
Exemplo 2.43.
√
Demonstre que 2 é um número irracional.
Demonstração.
A prova é por contradição.
√ √ p
Suponhamos que 2 ∈ Q, e sejam p , q ∈ Z+ tais que o mdc{ p, q } = 1 , e considere 2 = ,
q
logo a fração foi simplificada, ou seja p e q não têm nenhum fator em comum. Em particular,
p e q não podem ser ambos pares.
√ p
Da expressão 2 = , tem-se:
q
p2 = 2q 2 (2.2)
Observe que p2 é par, logo p também é par; considere p = 2r, substituindo p na equação
(2.2) temos: 2r2 = q 2 .
De qual deduzimos também que q é par, pois q 2 é par. Assim p e q são pares. Porém isto
contradiz o fato que mdc{ p, q } = 1.
√ √
Portanto, supor a afirmação que exista elemento 2 ∈ Q é falsa; assim / Q; tem-se que,
2∈
√
2 ∈ I.
Exemplo 2.44.
Demonstre que se a, b ∈ R+ , tais que a × b = 1, então a + b ≥ 2.
Coleção Lições de Matemática 53
Demonstração.
2. a+b<2 . . . def. de .
7. ab < 1 . . . propriedade em R.
Portanto, a.b = 1 ⇒ a + b ≥ 2.
Exemplo 2.45.
Demonstre que existem infinitos números primos.
Demonstração.
Por definição de número primo, sabemos que são os números naturais maiores do que um (1)
e que podemos decompor como o produto de dois fatores: ele mesmo e a unidade. Este são:
Sabe-se que em, geral todo número natural podemos escrever como o produto de fatores
primos, por exemplo 630 = (7)(5)(32 )(2).
Suponhamos não existam infinitos números primos; isto é suponhamos exista um último
número primo P . Neste caso poderíamos escrever todo o conjunto de números primos na forma:
Com o produto de todos esses números primos, poderíamos escrever um número Q na forma:
Q = (2)(3)(5)(7)(11)(13)(17)(19)(23)(29)(31)(37) . . . (P ) + 1
este Q é maior do que P . Supondo Q número composto, então um dos qualquer números primos
do conjunto (2.3) sería um divisor de Q, o qual é impossível, além disso existiriam P +1 números
primos,´isto contradiz supor que existam somente P números primos.
Portanto, supor que existe um último número primo está errado.
Propriedade 2.2.
Por um ponto exterior a uma reta L num plano, passa uma única reta perpendicular a L.
54 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Exemplo 2.46.
Duas retas de um plano, perpendiculares a uma terceira, são paralelas entre si
Demonstração.
Hipóteses: p : CD ⊥ AB q : EF ⊥ AB
Tese: CD k EF
3. Teríamos que, pelo ponto P passam duas perpendiculares à mesma reta AB , o que é
impossível pela Propriedade (2.2).
Redução ao absurdo Reductio ad absurdum (em latim, que em português significa “redução
ao absurdo”) é, sem dúvida, um dos argumentos mais utilizados quando se utiliza a demonstração
por contradição. No exemplo (2.43) usamos implícitamente este argumento para mostrar que a
raiz quadrada de dois é um número irracional. O “reductio ad absurdum” começou admitindo
que um dos dois inteiros é mesmo e terminou quando foi mostrado que o denominador foi pares
e ímpares, ao mesmo tempo, o que é absurdo.
Formalizado e utilizado por Aristóteles, a demonstração por absurdo mostra a falsidade de
uma suposição derivando dela um absurdo flagrante, se assemelha à ironia, que é o procedimento
predileto do satirista. A ironia adota, com todas as aparências, uma determinada opinião, que é
exagerada e repetida até conduzir a um manifesto absurdo.
É uma forma de demonstrar do tipo indireta e esta segue os seguintes passos quando aplicada
para demonstrar alguma afirmação
5. Como afirmação é verdadeira ou falsa, e já se demonstrou que não pode ser falsa, pois isto
leva a incongruências matemáticas, então q tem que ser necessariamente verdadeira.
Neste caso, usando a redução ao absurdo para sua demonstração chegamos a um número
racional e irracional, ao mesmo tempo, o que é absurdo e assim prova a proposição. Embora
o argumento redução ao absurdo seja uma ferramenta vital das demonstrações por contradição
é importante notar que a prova por contradição não implica redução ao absurdo pois em uma
prova por contradição se chega a uma impossibilidade.
Um absurdo é uma espécie de impossibilidade, mas não é a única, como estudaremos mais
adiante.
Dado um argumento da forma p ⇒ q, para demonstrar que uma conclusão q é verdadeira,
temos a supor ∼ q e procedemos de acordo com alguma dos seguintes três casos:
Caso i) Com a suposição extra ∼ q, mostra-se uma afirmação ∼ p contraditória com outra
afirmação p mostrada anteriormente.
Isto deve-se ao caso que a afirmação [(∼ q ⇒∼ p) ∧ p] ⇒ q é tautologia (Modus Tollens).
Caso ii) Com a suposição extra ∼ q, mostra-se uma afirmação p, logo se prova ∼ p.
Isto deve-se ao caso que a afirmação
o que simbolizamos como [q ⇒ (p∨ ∼ p)] ⇒∼ q, o usamos em forma positiva para provar a
verdade do enunciado q, usando a verdade lógica conhecida como princípio do terceiro excluído
(q∨ ∼ q), para inferir corretamente q a partir de ∼ ∼ q.
Demonstração.
Demonstrarei pelo absurdo.
Seja q : 5 6= 1; a verificar que q é verdadeira.
56 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
4. ∼ q ⇔ ∼p . . . de (3) tautologia.
5. ∼ q ⇒∼ p . . . (2)-(4)
6. (∼ q ⇒∼ p) ∧ p . . . (1) e (5)
7. q . . . Modus Tollens
Portanto, 5 6= 1 é verdadeiro.
Demonstração.
Demonstrarei pelo absurdo.
Seja q : 5 6= 1; a verificar que q é verdadeira.
3. Logo, ∼ p : 5 − 1 = 0 . . . (2).
4. p : 5 − 1 6= 0 . . . (2).
Portanto, 5 6= 1.
Exemplo 2.49.
Demonstre que o argumento p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⊢ q, é verdadeiro.
Demonstração.
Para isto, considera-se a negação da conclusão ∼ q como premissa adicional e conclui-se uma
fórmula F (fórmula falsa do tipo r∧ ∼ r).
De fato, sendo q verdadeira tem-ser o seguinte argumento:
1. p1 , p2 , p3 , . . . , pn ; ∼ q ⊢ F
5. p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⊢ q . . . propriedade de F .
Demonstração.
Neste exemplo, podemos considerar q :∼ s ⇒ p, logo:
1. ∼ p ⇒ q . . . premissa
2. q ⇒∼ r . . . premissa
3. r ∨ s . . . premissa
4. ∼ ( ∼ s ⇒ p) . . . premissa adicional
8. ∼ s ⇒ p . . . (7), contradição
Exemplo 2.51.
Demonstrar que: {[p ⇒ (p ∧ r)] ∧ [(t ∨ s) ⇒ q] ∧ (p ∨ s)} ⇒ q
Demonstração.
1. p ⇒ (p ∧ r) . . . premissa.
2. (t ∨ s) ⇒ q . . . premissa.
3. (p ∨ s) . . . premissa.
4. ∼q . . . premissa auxiliar.
7. ∼t . . . (6) simplificação.
9. ∼s . . . (8) simplificação.
15. Contradição.
• Para a demonstração pelo absurdo do Caso iii) apresentamos dois tipos, aquele que esta-
belece que:
(∼ q ⇒ q) ⇒ q
2o Uma proposição verdadeira que implica sua própria falsidade é falsa; isto é:
(q ⇒∼ q) ⇒∼ q
Demonstração.
Temos as proposições p : n número natural, e q : n ≮ n.
A verificar que: p ⇒ q
2. n = n . . . propriedade reflexiva
4. n 6= n isto de (3)
5. Contradição entre (2) e (4), logo a hipótese auxiliar ∼ q não é certa (é falsa).
6. Então, q é verdadeira.
Exemplo 2.53.
Escrever números inteiros usando cada um dos dez algarismos uma só vez, de tal modo que
a soma desses números seja exatamente 100.
Demonstração.
Suponhamos por exemplo o conjunto de números 19, 28, 37, 46, 50, cada algarismo corresponde
só uma vez, sua soma é 180 e não 100.
Poderíamos continuar tentando até obter: 19 + 28 + 30 + 7 + 6 + 5 + 4 = 99.
Naturalmente a primeira parte do problema é satisfeita, porém não chegamos a obter 100
(segunda parte), porém se escrevemos 19 + 28 + 31 + 7 + 6 + 5 + 4 = 100. Observe que a primeira
parte do problema não é satisfeita, o número 1 repete-se duas vezes.
Observe que se somamos 0 + 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8 + 9 = 45, alguns desses algarismos
denotam unidades e outros dezenas.
Suponhamos que o algarismo d seja o das dezenas, então teríamos: 10d + (45 − d) = 100
(lembre que d é número natural). Da última igualdade segue-se que 9d = 55, de onde é impossível
a existência de d ∈ N.
Supor que as duas partes do problema são simultaneamente satisfeitas, é um flagrante ab-
surdo; assim é impossível satisfazer ao mesmo tempo as duas partes do problema.
Logo, chegamos a demonstrar que as duas partes do problema são incompatíveis.
Nosso raciocínio neste último exemplo foi uma típica demonstração por absurdo. Na demon-
stração pelo absurdo, podemos aplicar qualquer das formas da lei do absurdo.
O método da redução ao absurdo tem como caso particular a demonstração por “descida
infinita” que na verdade é um método da prova por contradição, sem chegar a um absurdo,
mas ainda assim chegar a uma impossibilidade. O método é chamado de descida infinita e
foi descoberto pelo matemático e advogado francês Pierre de Fermat aproximadamente 1640,
quando foi usado para provar o caso n = 4, de um dos teoremas mais importantes e famosos da
matemática: Último Teorema de Fermat.
Este método de contradição utiliza como ferramentas muito importante a ordem dos números
naturais, e funciona da seguinte forma:
2. Se começa com duas propriedades importantes dos números naturais, que têm uma ordem
e que têm um limite inferior, ou seja, começar do zero.
3. Conhecido o anterior, a idéia é mostrar que, se certas propriedades ou relações existem num
grupo de números naturais, então existe um procedimento a seguir para gerar um outro
60 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
conjunto de números com as mesmas propriedades, exceto que eles têm um valor absoluto
menor do que os seus equivalente do grupo anterior, criando assim uma descida infinita.
4. Porém é sabido que não pode haver uma descida infinita nos números naturais, já que
existe um limite inferior de zero, criando assim uma contradição.
Exemplo 2.54.
Não existem inteiros x, y, z que satisfazem a equação de Diofanto: z 4 + y 4 = x4 .
Demonstração.
O primeiro a fazer é reescrever a equação na forma (z 2 )2 + (y 2 )2 = (x2 )2
Note que { z 2 , y 2 , x2 } é uma terna Pitagórica (TP). Se eles não forem coprimos devemos
dividir toda a terna pelo seu máximo divisor comum m.d.c. obtendo uma terna de números
primos e obteremos uma primeira terna.
Pela fórmula de Euclides, sabemos que x2 = a2 + b2 , y 2 = a2 − b2 ou y 2 = 2ab. Suponhamos
que y 2 = a2 − b2 , então x2 y 2 = a4 − b4 = (xy)2 de onde (xy)2 + (b2 )2 = (a2 )2 , logo achamos outra
terna TP da forma { xy, b2 , a2 }. Os números desta segunda terna são menores que a primeira
terna.
Continuando assim chegaremos a uma descida infinita o qual é impossível. Logo y 2 = a2 − b2
é absurdo !
Supondo que y = 2ab com a > b, considerando a par e b ímpar (sem perda de generalidade)
tem-se o seguinte: x2 = a2 + b2 , supondo a = 2cd, b = c2 − d2 tem-se x = c2 + d2 com c > d
y2 y
coprimos, logo y 2 = 2ab = 2(2cd)(c2 − d2 ) dividindo por 4 segue que = cd(c2 − d2 ) = ( )2
4 2
2 2
Podemos observar que o produto de c, d e c − d é um quadrado perfeito, pelo que cada um
de eles é um quadrado perfeito, logo: c2 = e2 , d2 = f 2 e c2 − d2 = g 2 . Substituindo na última
equação obtemos (e2 )2 −(f 2 )2 = g 2 = e4 −f 4 , assim achamos outra terna TP {g 2 , f 2 , e2 } menor
do que a primeira terna { z 2 , y 2 , x2 }, criando assim uma descida infinita o qual é impossível.
Portanto podemos concluir que a equação Diofantina z 4 + y 4 = x4 não tem soluções inteiras.
Outros exemplos
Proposição: Pode um número de 600 seis e alguns zeros ser um quadrado perfeito?
Neste problema se utiliza o método de descida infinito junto com a aritmética modular
para mostrar que não existe tal número.
É o caso mais geral da demonstração indireta por descida infinita. Para mostrar que uma
conclusão q é verdadeira, quando temos uma série premissas (os casos) p1 , p2 , p3 , . . . , pn , n≥2
tais que esgotam todas as possibilidades, ou seja que necessariamente se cumpre uma de elas,
isto é o enunciado p1 ∨ p2 ∨ p3 ∨ . . . ∨ pn é verdadeira e além disso prova-se que: se p1 implica q,
se p2 implica q, . . ., se pn implica q.
Pode então se concluir em forma correta que a proposição q, é verdadeira, já que provou-se
o enunciado:
e resulta o argumento:
é válido.
• Logo, para demonstrar a validade de argumentos cuja conclusão é uma fórmula condicional
do tipo p ⇒ q, considera-se o antecedente p, como uma premissa adicional e o consequente
q será a conclusão a ser demonstrada.
1. p1 , p2 , p3 , . . . , pn , p ⊢ q
2. ((p1 ∧ p2 ∧ p3 ∧ . . . ∧ pn ) ∧ p) ⇒ q . . . (1)
5. p1 , p2 , p3 , . . . , pn ⊢ (p ⇒ q) é válido . . . (4).
Exemplo 2.55.
Demonstrar a validade do argumento: ∼ p ⇒ q, q ⇒∼ r, r ∨ s ⊢ ∼ s ⇒ p.
Demonstração.
Observe que a conclusão q : ∼ s ⇒ p.
1. ∼ p ⇒ q . . . premissa
62 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
2. q ⇒∼ r . . . premissa
3. ∼ p ⇒ ∼ r . . . (1), (2)
4. r ∨ s . . . premissa
5. ∼ r ⇒ s . . . (4), tautologia.
7. ∼ s ⇒ p de (6) tautologia.
8. (r ∨ s) ⇒ (∼ s ⇒ p) . . . (4)-(7)
Observação 2.3.
Observe que o problema de determinar o valor de verdade de uma quantificação, podem-se
apresentar os seguintes casos:
4. Demonstrar que: ∃ x /. p(x) é falsa, isto é ∼ [∃ x /. p(x)]. Aqui temos a mostrar que
p(x) não se compre para nenhum elemento do domínio de x.
Exemplo 2.56.
Dado o domínio D = { 1, 2, 3 }, determine o valor verdade para os seguintes enunciados:
Coleção Lições de Matemática 63
1. ∀ a, ∃ b /. a2 + b2 < 12 2. ∃ a, ∃ b ∀ c /. a2 + b2 < c2
Solução. (1)
O enunciado é verdadeiro, observe que para todo a0 ∈ D tem-se existe b = 1, de modo que
a20 + 12 < 12.
Solução. (2)
O enunciado é falso, observe que se c0 = 1, então a2 + b2 < c20 não tem solução em D.
2.4.3 Ambigüidades
Existem casos em que dado uma proposição, esta tenha uma interpretação ambígua, cabendo
primeiro a nos resolver as ambigüidades para logo passarmos a resolver sua formalização.
Observe o enunciado: “Todo motorista tem um santo padroeiro”
Podemos escrever na forma: ∀ x (p(x) ⇒ ∃ y q(y, x)) o também podemos escrever na
forma: ∃ y, ∀ x (p(x) ⇒ q(y, x)).
Estas duas formalizações são equivalentes. Note que o artigo indefinido “um” é utilizado como
significando o mesmo que “um qualquer”, isto é como se for um quantificador universal.
Exemplo 2.57.
No enunciado: “Os diâmetros de uma circunferência cortam-se num ponto”.
Aqui estão implícitos três quantificadores; temos a entender este enunciado na forma: “para
toda circunferência existe um ponto no qual todos os diâmetros se cortam”.
64 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Referências Bibliográficas
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Editora San Marcos 1970.
[3] Halmos R. Paul.- Teoria ingênua dos conjuntos.- Coleção Clássicos da Matemática.-
Editora Ciência Moderna, 2002.
[5] Körner, K., & Neale, V. Proof by Contradiction. Dezembro de 2005. Recuperado el 8 de
Mayo de 2011, de Nrich.
[8] Pinedo Christian Q.- Cálculo diferencial em R.- Universidad de Málaga Espanha, 2008.
[13] Sominski I. S.- Método de Indução Matemática.- Atual Editora. Traduzido por Gelson
Iezzi 1996.
[14] Ulloa A. & Haro Luis.- Matemática Básica.- Editora San Marcos, 1970.
65
66 Argumentação e Teoria da Demonstração em Matemática
Rio de Janeiro.
Decada do 80 Elétrica.
DO MESMO AUTOR
Livros Páginas
Notas de Aula