Aula 1
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TEXTO 1
Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador e o mantém
submisso a uma situação de exploração.
(1) O trabalho escravo ainda é uma violação de direitos humanos que persiste no Brasil. A sua existência foi
assumida pelo governo federal perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 1995, o que fez
com que se tornasse uma das primeiras nações do mundo a reconhecer oficialmente a escravidão contemporânea
em seu território. Daquele ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de
escravidão em atividades econômicas nas zonas rural e urbana.
(2) Mas o que é trabalho escravo contemporâneo? O trabalho escravo não é somente uma violação trabalhista,
tampouco se trata daquela escravidão dos períodos colonial e imperial do Brasil. Essa violação de direitos humanos
não prende mais o indivíduo a correntes, mas compreende outros mecanismos, que acometem a dignidade e a
liberdade do trabalhador e o mantêm submisso a uma situação extrema de exploração.
(3) Qualquer um dos quatro elementos abaixo é suficiente para configurar uma situação de trabalho escravo:
TRABALHO FORÇADO: o indivíduo é obrigado a se submeter a condições de trabalho em que é explorado, sem
possibilidade de deixar o local seja por causa de dívidas, seja por ameaça e violências física ou psicológica.
JORNADA EXAUSTIVA: expediente penoso que vai além de horas extras e coloca em risco a integridade física do
trabalhador, já que o intervalo entre as jornadas é insuficiente para a reposição de energia. Há casos em que o
descanso semanal não é respeitado. Assim, o trabalhador também fica impedido de manter vida social e familiar.
SERVIDÃO POR DÍVIDA: fabricação de dívidas ilegais referentes a gastos com transporte, alimentação, aluguel e
ferramentas de trabalho. Esses itens são cobrados de forma abusiva e descontados do salário do trabalhador, que
permanece sempre devendo ao empregador.
(4) Quem são os trabalhadores escravos? Em geral, são migrantes que deixaram suas casas em busca de melhores
condições de vida e de sustento para as suas famílias. Saem de suas cidades atraídos por falsas promessas de
aliciadores ou migram forçadamente por uma série de motivos, que podem incluir a falta de opção econômica,
guerras e até perseguições políticas. No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos estados das regiões Centro-
Oeste, Nordeste e Norte, mas também podem ser migrantes internacionais de países latino-americanos – como a
Bolívia, Paraguai e Peru –, africanos, além do Haiti e do Oriente Médio. Essas pessoas podem se destinar à região de
expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de oportunidades de trabalho.
(5) Tradicionalmente, o trabalho escravo é empregado em atividades econômicas na zona rural, como a pecuária, a
produção de carvão e os cultivos de cana-de-açúcar, soja e algodão. Nos últimos anos, essa situação também é
verificada em centros urbanos, principalmente na construção civil e na confecção têxtil.
(6) No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens. Em geral, as atividades para as
quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores buscam principalmente homens
e jovens. Os dados oficiais do Programa Seguro-Desemprego de 2003 a 2014 indicam que, entre os trabalhadores
libertados, 72,1% são analfabetos ou não concluíram o quinto ano do Ensino Fundamental.
(7) Muitas vezes, o trabalhador submetido ao trabalho escravo consegue fugir da situação de exploração, colocando
a sua vida em risco. Quando tem sucesso em sua empreitada, recorre a órgãos governamentais ou organizações da
sociedade civil para denunciar a violação que sofreu. Diante disso, o governo brasileiro tem centrado seus esforços
para o combate desse crime, especialmente na fiscalização de propriedades e na repressão por meio da punição
administrativa e econômica de empregadores flagrados utilizando mão de obra escrava.
(8) Enquanto isso, o trabalhador libertado tende a retornar à sua cidade de origem, onde as condições que o levaram
a migrar permanecem as mesmas. Diante dessa situação, o indivíduo pode novamente ser aliciado para outro
trabalho em que será explorado, perpetuando uma dinâmica que chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”.
Adaptado.SUZUKI, Natalia; CASTELI, Thiago. Trabalho escravo é ainda uma realidade no Brasil. Disponível em:
<http://www.cartaeducacao.com.br/aulas/fundamental-2/trabalho-escravo-e-ainda-uma-realidade-no-brasil/>.
Acesso: 19 mar. 2017.
a) artigo de opinião, pois os autores se utilizam de um tema, a escravidão no Brasil contemporâneo, para defender o
ponto de vista que têm acerca dessa problemática.
b) uma notícia, por expor um fato importante, a existência de escravidão no Brasil contemporâneo, indicando seus
responsáveis, bem como outras informações necessárias, a exemplo de local, momento e modo como este ocorreu.
c) uma reportagem, por oferecer ao leitor informações sobre um tema, a escravidão contemporânea no Brasil, com
extensão e profundidade que caracterizam esse gênero.
d) um texto instrucional, por apresentar as maneiras através das quais é possível evitar que pessoas se submetam ao
trabalho escravo no Brasil.
e) um relato feito por pessoas que já vivenciaram uma situação de escravidão e narram a sequência desse
acontecimento.
2. Em relação às impressões transmitidas pelo TEXTO 1, é CORRETO afirmar que ele
a) promove a ideia de que o trabalho escravo é um crime que precisa ser erradicado no país, embora não o faça de
modo enfático, através do posicionamento dos autores.
b) objetiva apresentar cenários favoráveis à escravização de pessoas no Brasil.
c) expõe a existência do trabalho escravo como um mal necessário, pois isso alimenta a economia tanto no meio
rural quanto no urbano.
d) atribui grande relevância aos riscos que correm aqueles que tentam fugir de situações de trabalho escravo, de
modo que desaconselha esse tipo de atitude.
e) centra seu principal objetivo na exaltação das ações governamentais diante da problemática do trabalho escravo
no país, como uma espécie de louvação à postura adotada pelo governo.
3. Considere os seguintes excertos:
i. “Esse tipo de violação não prende mais o indivíduo a correntes, mas acomete a liberdade do trabalhador [...]”.
(subtítulo)
ii. “[…] mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão [...]”. (1º parágrafo)
Assinale a alternativa na qual todas as palavras substituem respectivamente os termos grifados sem que haja
mudança de sentido.
a) Crime, submete, parecidas.
b) Delito, ataca, semelhantes.
c) Atitude, diminui, diversas.
d) Trabalho, atinge, distintas.
e) Situação, amplia, comparáveis.
4. Em relação à forma verbal grifada no trecho “Quando tem sucesso em sua empreitada, recorre a órgãos
governamentais ou organizações da sociedade civil para denunciar a violação que sofreu.”(7ºparágrafo),é CORRETO
afirmar que
a) tem como núcleo do sujeito o termo “empreitada”.
b) o verbo grifado tem sujeito indeterminado, por não ser possível encontrá-lo na oração.
c) o sujeito está posposto ao verbo, sendo ele “órgãos governamentais”.
d) possui sujeito simples o qual, no caso, é “sociedade civil”.
e) o sujeito é oculto, mencionado na oração anterior e, portanto, pode ser compreendido pelo contexto.
5. Em relação à coesão, é correto afirmar que, em
I. “A sua existência foi assumida pelo governo federal perante o país e a Organização Internacional do Trabalho (OIT)
em 1995 […].” (1º parágrafo), o termo sublinhado retoma “violação de direitos”.
II. “Daquele ano até 2016, mais de 50 mil trabalhadores foram libertados de situações análogas à de escravidão em
atividades econômicas nas zonas rural e urbana.” (1º parágrafo), após o termo sublinhado, houve supressão
(eliminação) do termo “situação”.
III. “Essas pessoas podem se destinar à região de expansão agrícola ou aos centros urbanos à procura de
oportunidades de trabalho.” (4º parágrafo), os termos grifados referem-se a “migrantes”.
IV. “No Brasil, os trabalhadores provêm de diversos estados das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, mas
também podem ser migrantes internacionais de países latino-americanos […].” (4º parágrafo), os termos grifados
acrescentam uma informação.
V. “Diante disso, o governo brasileiro tem centrado seus esforços para o combate desse crime […].” (7º parágrafo), o
termo sublinhado refere-se à fuga de trabalhadores escravizados.
a) IV e V.
b) I, II, III e IV.
c) I, II e V.
d) II, III e IV.
e) I, III e V.
6. Assinale a alternativa na qual a vírgula é empregada pela mesma razão que em “Daquele ano até 2016,
mais de 50 mil trabalhadores foram libertados [...]”(1º parágrafo).
a) “[…] as atividades para as quais esse tipo de mão de obra é utilizado exigem força física, por isso os aliciadores
buscam principalmente homens e jovens.” (6º parágrafo)
b) “O trabalho escravo não é somente uma violação trabalhista, tampouco se trata daquela escravidão dos períodos
colonial e imperial do Brasil.” (2º parágrafo)
c) “[…] que podem incluir a falta de opção econômica, guerras e até perseguições políticas.” (4º parágrafo)
d) “No Brasil, 95% das pessoas submetidas ao trabalho escravo rural são homens.” (6º parágrafo)
e) “[…] o indivíduo pode novamente ser aliciado para outro trabalho em que será explorado, perpetuando uma
dinâmica que chamamos de “Ciclo do Trabalho Escravo”.” (8º parágrafo)
Só o homem entediado terá chance de salvação num futuro de smartphones (João Pereira Coutinho)
Assisto a conferências e a moda não engana: metade da sala (no mínimo) está com a cabeça enfiada em smartphones.
Como seriam as conferências antigamente? O que fazia a audiência enquanto alguém falava no palanque?
Provavelmente, escutava. Ou dormia. Ou dormia e escutava, em intervalos saudáveis. Hoje, ninguém dorme. Duvido
que alguém escute. O smartphone é o inimigo do tédio, ou da reflexão, proporcionando uma festa permanente. Este
seria o momento ideal para eu vestir a toga do moralista vulgar, lançando raios homéricos sobre a nefasta tecnologia.
A data, aliás, seria a mais apropriada: o iPhone nasceu dez anos atrás e o dilúvio começou. Infelizmente, não posso
pregar. Eu também faço parte do clube que prefere o smartphone ao velho e bom cochilo. Especialistas diversos
gostam de explicar a compulsão. É como uma droga, dizem eles: quando espreitamos as mensagens, o e-mail, as redes
sociais, procuramos uma espécie de recompensa neurobiológica muito semelhante a um viciado. O problema se
agrava quando somos privados da nossa dose – e eu sei, o leitor sabe, todos sabemos dessa miserável privação.
Tempos atrás, esqueci-me do celular em casa e parti em viagem. Quando dei conta do estrago, uma inquietude foi
crescendo com o passar das horas. Ainda pensei em pedir ao companheiro do lado para me emprestar o smartphone
dele. Só para eu ler as minhas mensagens. Ou até, sei lá, as mensagens dele. Qualquer coisa servia. Eu era como alguns
alcoólatras que, na ausência de bebidas legais, começam a despejar perfume pela goela. Controlei-me. Telefonei para
casa – de um telefone fixo, entenda – e pedi, com um último fôlego, que me lessem as novidades. Nenhuma delas era
urgente, sequer interessante. Mas o corpo sossegou e mergulhou naquele estranho torpor que Thomas de Quincey
relatou nas suas "Confissões de um Comedor de Ópio". Como se chegou até aqui? Verdade: o tédio sempre foi o
grande terror dos homens modernos. Ter no bolso um aparelho que garante distração permanente é a melhor forma
de afastar o fantasma.
Acontece que o tédio tem as suas vantagens. O filósofo Mark Kingwell tem escrito sobre a matéria (...) Só o tédio,
escreve ele, é capaz de sinalizar a existência de um problema entre nós e o mundo. O tédio é a "suspensão da
suspensão" em que vivemos – uma forma terapêutica, e até brutal, de olharmos para a realidade sem fugas. E de
agirmos em conformidade. Quando abolimos o tédio, e o "dom da escuta" que só ele oferece, desaparece uma parte
da nossa humanidade – aquela parte que reflete, imagina ou cria. E que problematiza, critica, propõe. No futuro, não
será apenas a audiência que estará mergulhada nas telas dos smartphones. Também suspeito que os próprios
conferencistas, privados de pensar e sem nada para dizer, terão o mesmo comportamento. Imagino um encontro de
silêncios, onde todos os presentes estarão ausentes – e só o homem entediado terá chance de salvação.
Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/joaopereiracoutinho/2017/06/1897093-so-o-homem-
entediado-tera-chance-de-salvacao-num-futuro-de-smartphones.shtml>. Último acesso em 06 de julho de 2017.
(Adaptado).
9. Ao longo do texto I, o autor relata um episódio segundo o qual, saindo em viagem, teria ficado sem seu celular.
Esse evento provocou nele
10. Considere o fragmento: “Infelizmente, não posso pregar. Eu também faço parte do clube que prefere o
smartphone ao velho e bom cochilo.” (l. 11-12). Para que se estabeleça uma relação coesiva explícita entre os
períodos, que conectivo poderia figurar entre eles sem perda de sentido original?
(A) porque
(B) no entanto
(C) enquanto
(D) conquanto
(E) caso
11. O texto II, de João Pereira Coutinho, é uma crônica. Enquadra-se afinado, pois, tanto com os gêneros jornalísticos
quanto com os artísticos. Em relação às especificidades destes últimos, cronistas costumam-se valer de recursos
estilísticos que enriqueçam seu texto. Indique a alternativa que demonstra adequada associação entre exemplo
destacado e recurso utilizado na crônica.
(A) “É como uma droga, dizem eles: quando espreitamos as mensagens, o e-mail, as redes sociais, procuramos uma
espécie de recompensa neurobiológica muito semelhante a um viciado.” (l.13-15) – metonímia.
(B) “O problema se agrava quando somos privados da nossa dose – e eu sei, o leitor sabe, todos sabemos dessa
miserável privação.” (l.16-17) – gradação decrescente.
(C) “Eu era como alguns alcoólatras que, na ausência de bebidas legais, começam a despejar perfume pela goela.”
(l.22-23) – hipérbole.
(D) “Ter no bolso um aparelho que garante distração permanente é a melhor forma de afastar o fantasma.” (l.29-30)
– eufemismo.
(E) “Imagino um encontro de silêncios, onde todos os presentes estarão ausentes – e só o homem entediado terá
chance de salvação.” (l.42-43) – paradoxo.
12. O autor do texto I escreve sua crônica praticamente toda de acordo com a norma padrão da Língua Portuguesa.
Um exemplo claro é a regência do verbo assistir, adequadamente aplicada na frase transcrita abaixo:
Marque a única opção que obedece à norma padrão quanto à regência verbal ou nominal nas frases que seguem.