Livro - Ciencias Biologicas - Didática PDF
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Ciências Biológicas
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Didática
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade Noções básicas para o professor de Ciências Biológicas
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.
12
História
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Ciências Biológicas
Didática
Noções Básicas para o Professor de Ciências Biológicas
Geografia
3ª edição
Revista 9
12
Fortaleza - Ceará 3
História
2015
Educação
Física
Ciências Artes
Química Biológicas Plásticas Computação Física Matemática Pedagogia
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados desta edição à UAB/UECE. Nenhuma parte deste material poderá
ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio eletrônico, por fotocópia e outros, sem a prévia autori-
zação, por escrito, dos autores.
Editora Filiada à
São muitas as razões que justificam a produção desse módulo de Didática para
você, estudante de graduação do curso à distância de Ciências Biológicas, ofertado
pela Universidade Aberta do Brasil (UAB) em parceria com a Universidade Estadual
do Ceará (UECE). O argumento mais óbvio certamente reside no fato de se tratar de
uma licenciatura, formação inicial destinada a preparar futuros professores.
Gostaríamos de convidá-lo a receber este material como uma contribuição
para sua vida profissional. As questões nele abordadas visam oferecer subsí-
dios que possam orientar suas decisões quando em efetivo exercício docente.
Nesse sentido, as ideias e práticas nele socializadas, oriundas de nossa vivência
como professores na escola básica e na universidade, afastam-se de qualquer
pretensão de mostrar a melhor maneira de fazer e portar-se. Antes, pretendem
apresentar elementos que despertem a reflexão sobre várias situações que um
docente enfrenta em seu cotidiano de trabalho.
Assim nos colocamos por acreditar que o “chão da sala de aula” nos ensina;
nele e com ele fabricamos nosso modo de ser e estar na profissão docente. Uma for-
mulação, diríamos, artesanal, mas que nada tem de improvisada.
Como autores desse módulo, nosso desejo é que ele instigue em cada um de
vocês a vontade de perguntar que alimenta a fome de pensar e de aprender da qual
nos fala Madalena Freire (2008, p. 85). Em suas palavras:
A pergunta é um dos sintomas do saber. Só pergunta quem tem consciência do que
sabe e quer aprender. Ninguém pergunta no vazio. Pergunta porque constata que, do
que sabe, algo não sabe e só a pergunta desvelará caminho possível a ser seguido.
O que não se sabe, quem sabe é o outro. O outro que, de algum outro lugar,
aponta, retrata e alimenta o que nos falta. Toda pergunta revela o nível da hipó-
tese em que se encontra o pensamento e a construção do novo conhecimento.
Revela também a intensidade da chama do desejo, da curiosidade de vida.
de como fazer bem, visando a padronização das ações didáticas dos profes-
sores e a inculcação da ideologia do pensamento liberal e pragmático, que
concebem como neutra a educação e percebem a competência como uma
qualificação rigorosamente técnica, advinda do domínio de métodos e proce-
dimentos para uso em aula, desobrigada de valores ideológicos e distante dos
projetos políticos e culturais da sociedade.
Para que a escola fosse realmente produtiva, era preciso que raciona-
lizasse o seu trabalho pedagógico, tornando-o mais “científico” - o que
implicava torná-lo observável e quantificável. É claro que os treinamen-
tos de educadores nos anos 70 refletiram, e muito, esta tendência que
valorizava fundamentalmente os meios, as tecnologias e os procedi-
mentos de ensino apresentados sempre como “neutros”, “eficientes” e
“eficazes”. E isto teve consequências negativas na educação escolar
brasileira que perduram até o presente momento (FUSARI, 1988, p. 20).
Atividades de avaliação
Retome o exercício recordando das suas aulas de Ciências e Biolo-
gia, fazendo um relato das suas recordações. Siga com estas perguntas:
...Continuação
como espaço privilegiado para que esses dois processos aconteçam median-
No Ensino Fundamental te a relativização e adaptação, à sua realidade, das regras, códigos e normas
os PCNs correspondentes que regulamentam sua estrutura organizativa. Apresenta-se, portanto, como
aos primeiros ciclos algo vivo, compreendendo tanto uma dimensão racional, ordenada conforme
abrangem: Língua
Portuguesa, Matemática,
as deliberações do poder público, quanto uma dimensão interativa, expres-
História e Geografia, sa nas relações profundas e espontâneas resultantes da integração de seus
Ciências Naturais, membros. Constitui-se numa entidade sociocultural formada por grupos re-
Geografia, Educação lacionais que vivenciam códigos e sistemas de ação num processo que faz
Física, Arte, Meio Ambiente
e Saúde, Pluralidade
dela, ao mesmo tempo, produto e instrumento.
Cultural e Orientação Fonte: FARIAS, I. M. S. de. Inovação, mudança e cultura docente Brasília: Líber Livro, 2006. 215 p.
Sexual, acrescentando,
no caso da 5ª a 8ª serie,
Dialética – Pode ser descrita como a arte do diálogo. Uma discussão na qual
a Língua Estrangeira.
Contém também um há contraposição de ideias, onde uma tese é defendida e contradita logo em
documento introdutório seguida; uma espécie de debate. Sendo ao mesmo tempo, uma discussão
e temas transversais, onde é possível divisar e defender com clareza os conceitos envolvidos. A
entendidos como questões
sua prática surgiu na Grécia antiga, no entanto, há controvérsias a respeito do
que afetam a nossa
sociedade, aquelas ligadas seu fundador. Aristóteles considerava a Zenôn como tal, já outros defendem
á ética, meio-ambiente, que Sócrates foi o verdadeiro fundador da dialética por usar de um método
orientação sexual, discursivo para propagar suas ideias. Em Platão, a dialética é o único caminho
pluralidade cultural, saúde,
que leva ao verdadeiro conhecimento. Em sua Alegoria da Caverna, fala da
ética. Conjunto de textos,
cada um sobre uma área existência de dois mundos: o mundo sensível e o mundo das ideias. Sendo o
de ensino, que serve para segundo alcançado apenas pela dialética, da investigação de conceitos. Em
nortear a elaboração dos Hegel, a dialética se movimenta primeiro pela TESE, que é a ideia, gerando
currículos escolares em
uma ANTÍTESE, que se contrapõe à TESE, surgindo assim a SÍNTESE, que
todo o país. Os PCNs não
constituem uma imposição é a superação das anteriores. Karl Marx reformula o conceito de dialética em
de conteúdos a serem Hegel, voltando-o para a sociedade, as lutas de classes vinculadas a uma
ministrados nas escolas, determinada organização social, surgindo assim, a chamada: dialética ma-
mas são propostas nas
terialista ou materialismo dialético. A dialética materialista une pensamento e
quais as Secretarias e
as unidades escolares realidade, mostrando que a realidade é contraditória ao pensamento dialético.
poderão se basear para Contradições estas, que é preciso compreender para então, transpô-las por
elaborar seus próprios meio da dialética. Marx fala da dialética sempre em um contexto de luta de
planos de ensino.
classes, diferentes interesses, que geram a contradição. Sendo assim, o ma-
Continua... terialismo dialético é uma das bases do pensamento marxista.
Fonte: http://www.infoescola.com/filosofia/dialetica
Síntese do Capítulo 1
O capítulo aborda questões relacionadas ao conceito, à origem e à com-
preensão corrente na literatura sobre Didática. Destaca a importância dessa
área para o fazer docente do professor, tendo como referência a evolução
do ensino de Biologia. Examina as diferentes concepções de Didática e seus
fundamentos numa perspectiva histórica, relacionando às suas implicações
no Ensino de Ciências e Biologia. Além de um diálogo inicial, este percurso
está contemplado em 4 seções, quais sejam: o ensino vivido: um exercício
Didática 31
Atividades de avaliação
1. Com base nos escritos produzidos nos “exercício de memória”, comple-
mentados pela leitura da Unidade, elabore um texto explicitando sua vi-
são do professor e do ensino de ciências. Acrescente à sua analise a(s)
tendência(s) observada por você na área de Ciências e Biologia em sua
vida de estudante. Poste no AVA.
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CARVALHO, A. M. P.; GIL-PÉREZ, D. Formação de Professores de Ciên-
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_________. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
MACHADO, N. J. Epistemologia e didática: as concepções de conhecimen-
to e inteligência e a prática docente. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2002.
Didática 33
Objetivos:
l Estudar as concepções de planejamento de ensino procurando refletir
sobre as teorias pedagógicas que lhes dão suporte
l Conhecer os elementos do processo de ensino: objetivos, conteúdo,
processo relativo aos objetivos que se espera e a previsão das ações peda-
gógicas e administrativas a serem executadas pela equipe escolar de forma a
obter o bom funcionamento da instituição de ensino.
Hoje, espera-se que o planejamento escolar seja desenvolvido com a par-
ticipação de todos os sujeitos que fazem parte da escola (professores, funcioná-
rios, pais e alunos). O planejamento participativo parte da premissa de que cada
escola possui uma realidade específica, logo precisa atentar para os diferentes
entendimentos e aspirações da unidade escolar pela efetiva participação de pais,
alunos, professores e funcionários nas decisões sobre os rumos que a escola
precisa tomar. Normalmente, essas atividades são planejadas com base em um
esquema de ação, que de uma forma geral, obedece a etapas. Conforme Haidt
(2006, p. 96-97) são seis as etapas para elaboração de um plano escolar.
1. Sondagem e diagnóstico da escola:
1.1. características da comunidade;
1.2. características da clientela escolar;
1.3. levantamento dos recursos humanos e materiais disponíveis;
1.4. avaliação da escola como um todo no ano anterior (evasão, repe-
tência, percentagem de aprovação, qualidade do ensino ministra-
do, dificuldades e problemas superados e não superados).
2. Definição dos objetivos e prioridades da escola.
3. Proposição da organização geral da escola no que se refere a:
3.1. quadro curricular e carga horária dos diversos componentes
do currículo;
3.2. calendário escolar;
3.3. critérios de agrupamento dos alunos;
3.4. definição do sistema de avaliação, contendo normas para a adaptação,
recuperação, reposição de aulas, compensação de ausência e promo-
ção dos alunos.
4. Elaboração de plano de curso contendo as programações das atividades
curriculares.
5. Elaboração do sistema disciplinar da escola, com a participação de todos
os membros da escola, inclusive do corpo discente.
6. Atribuição de funções a todos os participantes da equipe escolar: direção,
corpo docente, corpo discente, equipe pedagógica, equipe administrati-
va, equipe de limpeza e outros.
A garantia da participação efetiva de todos os sujeitos que fazem o uni-
verso escolar nas situações de planejamento das atividades cotidianas, bem
como a permissão para que decidam os caminhos que serão seguidos, asse-
gura a produção de um plano vinculado à realidade da instituição e dos seus
42 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Os conteúdos da área (...) desenvolver uma relação de conteúdos para só depois pensar-se
das Ciências Naturais nos objetivos, ou vice-versa. É necessário encarar os elementos glo-
estão organizados nos balmente, caso contrário corremos o risco de termos objetivos muito
Parâmetros Curriculares bem-redigidos, conteúdos ótimos, estratégias instrucionais avançadas
Nacionais do Ensino
e procedimentos de avaliação bem-estruturados, mas um planejamen-
Fundamental em blocos
temáticos. Esta opção to inócuo, em que objetivos como ‘desenvolver a sociabilidade’ estão
é defendida por facilita ao lado de estratégias totalmente diretivas.
tratamento interdisciplinar
dos conhecimentos desse Como são referências que se interligam e, por vezes, são contraditórias,
campo. é preciso cautela quando na elaboração dos objetivos a serem atingidos, pois
São quatro os blocos é necessário considerar, por exemplo, em relação aos conteúdos a serem en-
temáticos propostos para
o ensino fundamental:
sinados, as condições efetivas para que o aluno os aprenda; da mesma sorte,
Ambiente; Ser Humano os valores a serem difundidos na escola, uma vez que tendem a expressar os
e Saúde; Recursos interesses dominantes. Da pertinência dos objetivos pode depender a possibi-
Tecnológicos; e Terra e lidade de maior ou menor aprendizagem dos alunos.
Universo. Os três primeiros
blocos se desenvolvem O professor precisa saber avaliar a pertinência dos objetivos e conteú-
ao longo de todo o ensino dos propostos pelo sistema escolar oficial, verificando em que medida
fundamental, apresentando
atendem exigências de democratização política e social; deve, também,
alcances diferentes
nos diferentes ciclos. O compatibilizar os conteúdos com necessidades, aspirações, expectativas
bloco Terra e Universo da clientela escolar, bem como torná-los exequíveis face às condições
deve ser destacado a sócio-culturais e da aprendizagem dos alunos (LIBÂNEO, 1994, p. 121).
partir do terceiro ciclo.
Cada bloco sugere Apreende-se, portanto, que desse esforço quando da elaboração dos
conteúdos, indicando objetivos depende a clareza e a definição de muitas ações a serem realizadas
também as perspectivas
em relação ao ensino de conteúdos na escola.
de abordagem. Tais
conteúdos podem ser Com suporte neste entendimento, nos parece pertinente reforçar que o
organizados em temas, professor ao planejar não pode esquecer que os objetivos dizem respeito “ao
compostos pelo professor
destino, aos resultados e propósitos da sua ação. Expressam valores, idéias,
ao desenhar seu
planejamento. crenças, projetos sobre o que é e o que deve ser, não só o aluno, mas o homem
e a sociedade” (FARIAS, SALES, BRAGA e FRANÇA, 2009, p.114). Por assim
Fonte: http://portal.mec.gov. compreendermos, destacamos como fundamental assumirmos uma postura
br/seb/arquivos/pdf/blegais.
indagativa contínua frente a esta tarefa, sempre nos questionando: o que nosso
pdf. Acessado em: 08 out.
2010. aluno precisa saber, fazer ou ser? Esta atitude evidencia, sobretudo, que com-
preendemos que os fins últimos do nosso trabalho extrapolam os limites da sala
de aula e dos saberes curriculares que ensinamos.
Na prática do planejamento os objetivos são expressos por meio de
verbos no infinitivo que traduzem comportamentos, habilidades, atitudes e
competências esperadas do aluno. Indicam propósitos amplos e específicos.
O primeiro, identificado como objetivo geral ou formativo (LIBÂNEO, 1994),
refere-se à formação de atitudes, convicções e valores; não são alcançáveis
de imediato e nem de fácil constatação. O segundo, identificado como ob-
Didática 47
Atividades de avaliação
1. Imagine que você está concorrendo a uma vaga de professor da rede pú-
blica de ensino para atuar no Ensino Fundamental II. Você deve entregar
um plano de aula (2h/a para uma turma de 8º ano). Os objetivos constituem
um dos elementos desse documento. Desse modo, escolha um conteúdo
referente a um dos blocos temáticos abaixo, formule um objetivo geral e
dois específicos.
Blocos Temáticos:
l Ambiente
l Recursos Tecnológicos
l Terra e Universo
1. Socialize na rede os objetivos formulados. No encontro presencial, discuta
com seus colegas, procurando perceber aspectos comuns e distintos dos
objetivos formulados pelo grupo.
48 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
2.4.2. Conteúdos
O Programa Internacional
de Avaliação de Alunos
(PISA) – é uma avaliação
internacional que mede
o nível educacional de
jovens de 15 anos por
Fonte: QUINO. Toda Mafalda. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
meio de provas de Leitura,
Matemática e Ciências.
O exame é realizado A tirinha é ilustrativa do não entendimento do conteúdo em estudo pela
a cada três anos pela aluna. E esse parece ser o imperativo do momento nas salas de aula brasi-
OCDE (Organização leiras. Cada vez mais os desempenhos dos alunos nas avaliações em lar-
para Cooperação
ga escala revelam o baixo nível da aprendizagem. Os resultados do Pisa –
e Desenvolvimento
Econômico), entidade Programa Internacional de Avaliação de Alunos, por exemplo, demonstram
formada por governos de que o ensino de ciências no Brasil não vai bem. A imagem abaixo apresenta
30 países que têm como os resultados do Brasil nas suas três participações no Pisa.
princípios a democracia e
a economia de mercado.
Países não membros da Resultados dos brasileiros no Pisa – 2000/2006
OCDE também podem Ano base 2000 2003 2006
participar do Pisa, como Número de alunos participantes 4983 4452 9295
é o caso do Brasil, Ciências 375 390 390
convidado pela terceira
Leitura 396 403 393
vez consecutiva.
O objetivo principal do Pisa Matemática 334 356 370
é produzir indicadores que Fonte: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/internacional/news07_05.htm
contribuam, dentro e fora
dos países participantes,
para a discussão da Os estudantes do Brasil tiveram desempenho similar aos anos ante-
qualidade da educação riores em Ciências, em Leitura houve decréscimo e em Matemática, apre-
básica e que possam sentaram uma melhoria significativa no desempenho. O que está aconte-
subsidiar políticas
nacionais de melhoria da cendo? Os conteúdos não estão sendo ensinados nas escolas? Por que
educação. os conteúdos não estão sendo aprendidos pelos alunos? Quem determina
que conteúdos devem ser ensinados em cada disciplina? De que conteú-
Fonte: http://www.inep. dos estamos falando?
gov.br/imprensa/noticias/
internacional/news07_05. É preciso se partir do princípio de que os problemas relativos ao ensi-
htm no e consequentemente, à aprendizagem, normalmente estão relacionados
aos conteúdos. Sacristán (1998, p. 120) entende que “sem conteúdo, não há
ensino, (...) sem formalizar os problemas relativos aos conteúdos não existe
discurso rigoroso nem científico sobre o ensino, porque estaríamos falando de
uma atividade vazia ou com significado à margem do para que serve”.
Didática 49
O autor critica o uso do termo no seu sentido estritamente discipli- Antoni Zabala
Catalão, formado em
nar e de caráter cognitivo, normalmente utilizado na avaliação da função Filosofia e Ciências
que os conteúdos devem ter no ensino e reitera, exemplificando o caso das da Educação pela
concepções educativas defensoras da formação integral, que adotam outro Universidade de
entendimento para o termo, mais amplo que a única forma de definir as in- Barcelona, na Espanha,
Antoni Zabala preside
tenções educacionais. atualmente o Instituto de
É preciso, ainda, cuidado com os manuais – livros didáticos – or- Recursos e Investigação
ganizados pelas editoras e utilizados nas escolas para o estudo dos con- para a Formação (IRIF)
e é diretor do Campus
teúdos de cada disciplina escolar. O professor precisa organizar esse Virtual de Educação
material, em especial observando a sequência, que nem sempre precisa da Universidade de
ser a que vem determinada no livro didático. É importante que sejam Barcelona. Responsável
consideradas as características do grupo, as necessidades do aluno, a pela maior transformação
do sistema de ensino
inter-relação dos saberes em estudo. Sacristán (SACRISTÁN e GÓMEZ, espanhol, pós-ditadura
1998, p. 258) advoga que “se a inter-relação de saberes não vem dada de Franco, o educador
pelas fontes que originam os conteúdos, é preciso buscá-la pelos meios tornou-se uma referência
pedagógicos: o plano de materiais comuns entre professores/as e a rea- internacional na educação.
lização de projetos pluridisciplinares coordenados”. Fonte: http://www.
Sacristán (1998) reitera que os conteúdos são determinados histo- conexaeventos.com.br/
ricamente, pois o que se ensina expressa os valores e as funções que a detalhe_noticia.asp?id=21
escola difunde num determinado contexto, assim, o conteúdo “reflete uma
certa visão de aluno/a, da cultura e da função social da educação, proje-
tando-se nele não apenas a história do pensamento educativo, mas a da
escolarização e as relações entre educação e sociedade” (SACRISTÁN e
GÓMEZ, 1998, p. 150). Dessa forma, a organização curricular dos conteú-
dos é dependente da sociedade a que serve, embora, por vezes, de forma
inconsciente. Esta organização tanto pode servir para compartimentalizá-
-los, numa visão multidisciplinar ou pluridisciplinar, como criar uma relação
conexa de interdependência, o que chamamos de interdisciplinaridade;
ou, ainda, dizê-los inseparáveis, numa visão integrada, característica da
transdisciplinaridade.
50 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Edgar Morin
Edgar Morin nasceu
em 1921 em Paris. Seu
nome verdadeiro é Edgar
Nahoum. Fez os estudos
universitários de História,
Geografia e Direito na
Sorbonne. Redigiu em
1994, com o semiólogo
português Lima de
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) adotam a interdisciplina- Freitas e o físico romeno
ridade, assegurando não ser mais suficiente apenas relacionar as disciplinas Basarab Nicolescu, um
de uma mesma área, numa visão pluridisciplinar. Nesse sentido, advogam manifesto a favor da
transdisciplinaridade. Em
em favor de um amplo movimento de interação entre diversas possibilidades 1998, promoveu, com o
de conhecimento no âmbito das disciplinas. Para Fazenda (1979), a prática governo francês, jornadas
pedagógica interdisciplinar envolve o exercício de relações de associação, temáticas que originaram
colaboração, cooperação, complementação e integração entre as disciplinas. o livro A Religação dos
Saberes. Ainda diretor de
Pensando nessa forma de organização curricular do conteúdo, e ainda ado- pesquisas no CNRS, ele
tando como referência o tema do exemplo anterior, numa abordagem inter- é doutor honoris causa
disciplinar a fotossíntese pode ser articulada aos conhecimentos Geológicos, em universidades de
revelando uma estreita relação entre as transformações iniciais da terra e da vários países e presidente
da Associação para o
atmosfera com o seu surgimento. Também é possível integrá-la à abordagem Pensamento Complexo.
de conceitos da Química, através da compreensão das reações que transfor-
mam e disponibilizam energia para os seres vivos. Fonte: http://
revistaescola.abril.
A transdisciplinaridade, proposta ainda recente no meio educacional, com.br/historia/pratica-
representa uma possibilidade de integração disciplinar que ultrapassa a inter- pedagogica/arquiteto-
disciplinaridade. Nesse tipo de organização curricular deve existir uma inte- complexidade-423130.
gração mais ampla, que desenvolva uma interpretação complexa dos fatos shtml
e fenômenos em estudo. Essa perspectiva curricular envolve o que está ao
mesmo tempo entre as disciplinas, através das diferentes disciplinas e além
de toda e qualquer disciplina. Sua finalidade é a compreensão do mundo atu-
al, a unidade do conhecimento.
52 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
zar para poder aprender. Esse processo, que normalmente é inicial, pode ser
considerado como diagnóstico. Outra finalidade da avaliação é o acompanha-
mento do que o aluno aprende. Para isso, o professor recolhe informações, de
forma contínua e com uso de metodologias diversas, a fim de poder julgar o
grau de aprendizagem em que se encontra em relação ao grupo [ou classe],
a outro aluno, ou as outras turmas da escola.
Adequar o ensino aos alunos, tanto de forma individual como em
grupo, para alcançar os objetivos propostos no planejamento, também se
constitui como objetivo do processo avaliativo que serve, ainda, para po-
der julgar de forma global o ensino e a aprendizagem. Assim, ao final do
estudo das unidades de conteúdo, é importante realizar uma análise refle-
xiva sobre os objetivos previstos, a fim de revê-los conforme os resultados
apresentados pelos alunos.
Esses são os pressupostos da avaliação formativa que defende a
perspectiva de aprendizagem como um processo marcado por muitos
e contínuos recomeços. Acreditamos que tão somente quando a pers-
pectiva formativa da avaliação for compreendida e assumida por toda a
comunidade escolar e contemplada em seu Projeto Político Pedagógico
esta poderá tornar-se verdadeiramente significativa para a unidade de
ensino; pois, perspectiva avaliativa é projeto coletivo e só será assumi-
do coletivamente se coletivamente for gestado.
As práticas de avaliação presentes no cotidiano escolar permitem di-
mensionar o desafio pedagógico no sentido de tornar a avaliação um pro-
cesso, de fato, formativo, conforme buscamos explicitar no próximo tópico ao
tratar dos instrumentos de avaliação.
Didática 59
Atividades de avaliação
1. Observe a imagem abaixo.
O termo “avaliação em um ou outro tipo e sugere a reflexão sobre seu uso e suas finalidades.
larga escala” serve para
um conjunto enorme de
Essa é a proposta que trazemos nesse item: apresentaremos alguns dos
processos avaliativos, com instrumentos de avaliação mais utilizados pelos professores nos diversos
diferentes objetivos, formas, níveis de ensino. Não pretendemos esgotar a lista, mas refletir sobre suas
propostas. possibilidades de uso.
Nas avaliações em larga
escala são usados itens. Um dos instrumentos de avaliação mais corriqueiros no universo es-
Um tipo de questão que colar é a prova escrita. Esse tipo de exame caracteriza-se por ser realizado
apresenta uma estrutura em momentos específicos, com horários rígidos de início e de fim. Pode ser
semelhante a uma questão e
que, em vez de alternativas,
elaborado com questões objetivas com múltiplas opções, que apresentam
apresentam distratores; apenas uma alternativa correta; ou subjetivas, as chamadas questões aber-
alternativas que apresentam tas, que exigem do aluno a escrita de uma resposta. Nas questões fechadas,
uma resposta plausível, do tipo objetivas, podem aparecer os tipos: verdadeiro-falso, múltipla escolha,
embora não correta.
A primeira avaliação nacional
relação entre colunas ou preenchimento de lacunas.
de larga escala da educação Hoje, com a proliferação das avaliações em larga escala, muitas têm
básica no Brasil foi o SAEB. sido as orientações sobre a construção de questões. Orienta-se a redação de
O sistema é coordenado pelo
Instituto Nacional de Estudos
4 ou 5 opções para cada questão, procurando fazer com que todas as opções
e Pesquisas Educacionais tenham a mesma extensão e sejam plausíveis. É importante também que haja
Anísio Teixeira (INEP) e cuidado quando da apresentação de uma alternativa em uma questão a fim
foi implantado em 1990. O de que o aluno pense sobre ela e não simplesmente a elimine pela falta de
exame tem caráter amostral
e atualmente avalia os
lógica. Deve-se, ainda, evitar o uso de palavras negativas no enunciado, como
alunos de 4ª e 8ª séries do ‘nenhum’, ‘nunca’, ‘não’ ou que sugiram dúvidas, como ‘às vezes, geralmente,
Ensino Fundamental e da 3ª muitas vezes, é provável’. A correção gramatical é outro aspecto que deve ser
série do Ensino Médio. As observado, bem como a padronização da forma de início das opções.
amostras são representativas
de todos os estados da As questões discursivas devem ser redigidas procurando delimitar o
federação (apenas em 1990 conteúdo com precisão, sem informações desnecessárias e evitando-se: co-
participaram 25 estados e, mente, fale sobre, o que pensa de, escreva o que sabe, dê sua opinião. Esse
em 1993, 26 estados).
No Brasil, os resultados
tipo de expressão torna a questão vaga, admitindo qualquer possibilidade de
desse tipo de avaliação resposta. É importante que o professor organize uma chave de correção [ga-
vêm sendo empregados barito] com antecedência, para identificar falhas na elaboração da questão.
para orientar políticas As questões discursivas permitem a reflexão, a organização de informações,
governamentais voltadas
para a melhoria da qualidade
de pontos de vista, de conceitos e de conhecimentos. Praticamente elimina o
do ensino. fator sorte e possibilita ao aluno aprender a fazer síntese, usar a lógica, argu-
mentar e desenvolver as habilidades de clareza e concisão.
Fonte: Fernanda da
Nos últimos tempos, algumas instituições escolares têm adotado a
Rosa Becker. Avaliação
educacional em larga prova escrita com consulta. Este tipo de prova possibilita ao aluno resolver a
escala: a experiência questão podendo escolher as fontes que lhe forem mais adequadas e delas
brasileira. Retirado retirar as informações que julgar pertinentes. Nesse tipo de prova, prevalecem
do endereço: http://
questões que exigem resenhas, sínteses e relatórios, que ultrapassam a mera
www.rieoei.org/
deloslectores/3684Becker. transcrição do material de consulta. Apesar de a consulta ser um procedimen-
pdf. Acesso em: 8 out. 2010. to, seu uso não garante a nota integral a todos os alunos, pois serão avaliados
Didática 61
2.7. Glossário
Matriz curricular – Conjunto de dados relativos à aprendizagem escolar, or-
ganizados para orientar as atividades educativas, as formas de executá-las
e suas finalidades. Geralmente, exprime e busca concretizar as intenções
dos sistemas educacionais e o plano cultural que eles personalizam como
modelo ideal de escola defendido pela sociedade. A concepção de currículo
inclui desde os aspectos básicos que envolvem os fundamentos filosóficos e
sociopolíticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e
tecnológicos que a concretizam na sala de aula. É um documento que trata
da organização curricular de um curso ou de uma modalidade de ensino. É
parte de um projeto pedagógico e serve para apresentar a estrutura de um
curso e de suas disciplinas. Nesse documento são explicitadas as concep-
ções de mundo, de ser humano, de educação, de conhecimento e de socie-
dade que identificam o Curso e a Instituição a que se referem. Deve estar de
acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e com
os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Normalmente apresenta fun-
damentação teórica, os objetivos e conteúdos de ensino, como também as
orientações didáticas e referências bibliográficas
Fonte: MENEZES, E. T.; SANTOS, T. H. Dicionário interativo da educação brasileira. São Paulo: Midiamix
Editora, 2002. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp>. Acesso em: 10 out. 2010.
70 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Síntese do Capítulo 2
Neste capítulo é discutido o planejamento no âmbito do ensino. Decisões
sobre o que realizar, o que fazer, como fazer, quando fazer, bem como a aná-
lise da ação realizada constituem o ato de planejar. O texto ao tratar das con-
cepções de planejamento de ensino, destaca o plano como um esboço dessa
atividade na prática docente. Traz, em seguida, os elementos constituintes de
um plano: objetivos, conteúdos, procedimentos metodológicos, recursos didá-
ticos e avaliação da aprendizagem. Abre ainda uma reflexão sobre as possi-
bilidades de se “fazer aula”, questionando a existência ou não de um modelo
a ser seguido. Argumenta em favor da necessidade do professor conhecer
melhor os conteúdos a serem ensinados, os sujeitos envolvidos no processo
de ensino e o contexto de sua ação profissional para planejar bem.
Atividades de avaliação
1. Leia a crônica seguinte:
Referências
ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (Orgs.). Processo de ensinagem na
universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville:
Univille, 2004.
APEOESP. Planejamento. Caderno de Formação, n. 10 , p. 1-13, 2001.
BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC, 1997.
DEWEY, J. Democracia e educação. 3. ed. Tradução de G. Rangel e A. Tei-
xeira. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1959.
FARIAS, I. M.; SALES, J. O. C. B.; BRAGA, M. M. S. C.; FRANÇA, M. S. L. M.
Didática e docência: aprendendo a profissão. Fortaleza: Liber Livro, 2009.
FERNANDES, F. S. Planejamento educacional: conceitos, definiçõe e mu-
danças. 2006. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/29ra/29portal.
htm>. Acesso em: 09 ago. 2010.
FREIRE, M. Espaço pedagógico. 2004. Disponível em: <http://www.peda-
gogico.com.br/edicoes/4/artigo2215-1.asp?o=r>. Acesso em: 24 ago. 2010.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educa-
tiva. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
FUSARI, J. C. Planejar evita o excesso de improviso pedagógi-
co. 2008. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/noticias.
html?idEdicao=6&idCategoria=8>. Acesso em: 21 de set. 2010.
_________. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas indagações e
tentativas de resposta. Ideias, n. 8, p. 44-58, 1990.
GRILLO, M. Professor deve usar plano de aula como guia, permanecendo
atento aos imprevistos. 2008. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.
br/conteudoJornal.html?idConteudo=130>. Acesso em: 21 set. 2010.
HAIDT, R. C. Curso de didática geral. 7. ed. São Paulo: Ática, 2006. (Vol.
Série Educação).
LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-
social dos conteúdos. 18. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
_________. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.
LUCKESI, C. C. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
74 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Objetivos:
A resenha ou resumo deverá ser um verdadeiro estrategista, o que justifica a adoção do ter-
crítico é uma redação mo estratégia, no sentido de estudar, selecionar, organizar e propor as
técnica que avalia melhores ferramentas para que os estudantes se apropriem do conhe-
de forma sintética a
cimento (ANASTASIOU e ALVES, 2004, p. 69).
importância de uma obra.
Uma boa resenha deve O argumento de Anastasiou e Alves vincula o termo estratégias ao
apresentar:
•Nos parágrafos iniciais: como fazer, aqui entendido como as formas, os procedimentos, as ações
uma introdução à obra e as atividades decorrentes do planejamento e da organização dos pro-
resenhada, apresentando o cessos de ensino e de aprendizagem. É importante lembrar que a escolha
assunto/ tema, o problema desta ou daquela estratégia de ensino não é um ato neutro realizado à
elaborado pelo autor e a
revelia dos fins educativos e do método adotado.
posição do autor diante
deste problema; Deste modo, quando a opção é pelo método dialético, as estra-
•No desenvolvimento, a tégias deverão possibilitar o exercício de operações mentais ligadas
apresentação do conteúdo às capacidades de problematizar, analisar, fundamentar posições e de
da obra, enfatizando as
ideias centrais do texto e
intervir de forma crítica e criativa sobre a realidade. De forma contrária,
os argumentos e ideias se a escolha é o método formal proposto por Herbart, emblemático da
secundárias; pedagogia tradicional, as estratégias concorrem para a memorização,
•Por fim, uma conclusão a assimilação descontextualizada e a reprodução de modelos. Por sua
apresentando sua crítica
vez, no método científico, característico da pedagogia renovada pro-
pessoal, ou seja: uma
avaliação das ideias gressivista, as ações didáticas destacam a formulação de problemas, a
do autor frente a outros construção de hipóteses, a coleta de dados, a experimentação e a apli-
textos e autores, uma cação das descobertas (FARIAS, SALES, BRAGA e FRANÇA, 2009).
avaliação da qualidade do
Essas associações evidenciam que as opções metodológicas são te-
texto, quanto à coerência,
validade, originalidade, cidas e envolvidas por determinados ideais pedagógicos, ou seja, há uma
profundidade, alcance, etc. relação direta entre estratégias de ensino, método e fins educativos. Você já
Estes passos não são havia pensado nisso?
uma norma rígida. Esta
é a estrutura mais usual,
mas como a resenha é
um texto, geralmente,
escrito para publicação em
revistas especializadas,
Atividades de avaliação
cada revista cria suas
próprias regras. Por isso, 1. Todo filme quer colocar em debate temas recorrentes do nosso cotidiano. Via
sempre que um professor de regra, os filmes de caráter educativo chamam atenção para determina-
pedir para você fazer uma dos aspectos da vida das instituições educacionais e/ou dos seus membros.
“resenha” (um resumo
Com esta compreensão, assista ao filme “Nenhum a menos”, produzido por
crítico, pois não será
publicado) você deve Zhang Yimou, na China, vencedor do festival de Veneza de 1999.
pedir que ele lhe dê estes
A película, com duração de 100 minutos, conta a história de uma
parâmetros.
professora substituta, Wei Minzhi (13 anos), de uma escola rural da China.
Tudo começa quando o professor da escola primária de Shuiquan tem de
se ausentar durante um mês e o presidente da pequena aldeia, o professor
Gao adverte-a para que não permita que mais alunos abandonem a escola,
Didática 79
Algumas destas técnicas nos saberes e fazeres docentes em detrimento da participação dos alunos
são abordadas na obra nas experiências de aprendizagem. Uma didática que assegure o desenvol-
Didática e Docência:
aprendendo a profissão
vimento de operações de pensamento que favoreçam a formação de sujeitos
(2009), de Isabel Maria críticos, autônomos e com capacidade de intervir sobre a realidade.
Sabino de Farias, Josete São inúmeras as estratégias de ensino registradas pela literatura sobre
de Oliveira Castelo Branco
Sales, Maria Margarete
o assunto, tais como: debate, dramatizações, seminários, estudo de textos,
Sampaio de Carvalho júri simulado, simpósio, painel, fórum, oficinas, trabalhos de grupo, portifólio,
Braga e Maria do Socorro mapa conceitual, discussão em meios informatizados, dinâmicas de grupo,
Lima Marques França. tempestade mental, estudo dirigido e exposição oral. São referências impor-
Ao tratar do tema
apresenta depoimentos de
tantes na discussão desse tema as obras: Para além dos métodos novos e
professoras que ilustram tradicionais, de Saviani (1985); Os métodos de ensino, de Libâneo (1994);
suas vivências em relação Procedimentos de ensino, de Luckesi (1991); Técnicas de ensino: por que
às estratégias de ensino não? (1998) e Técnica de ensino: novos tempos, novas configurações (2006),
presentes nos processos
formativos vivenciados.
ambas organizadas por Ilma Passos Alencastro Veiga. Este conjunto, obvia-
mente, não esgota as alternativas metodológicas existentes e vivenciadas na
prática docente.
As estratégias podem assumir uma perspectiva tradicionalista, voltada
para a memorização ou dialética, quando baseada na perspectiva de sistema-
tização do conhecimento pelos processos de pensamento desencadeado por
operações mentais encadeadas e de complexidade crescente. Anastasiou e
Alves (2004), baseadas em estudos de Raths et al. (1977), explicitam em sua
obra um quadro que sintetiza essas operações e os conceitos e relações es-
tabelecidos, conforme pode ser visto na reprodução seguinte.
Didática 81
Quadro 1
Operações de Pensamento
OPERAÇÃO DE PENSAMENTO CONCEITO/RELAÇÕES
Examinar dois ou mais objetos ou processos com intenção de identificar relações
Comparação mutuas, pontos de acordo e desacordo. Supera a simples recordação, enquanto
ação de maior envolvimento do aluno.
Apresentar de forma condensada da substância do que foi apreciado. Pode ser
Resumo
combinado com a comparação.
Prestar atenção em algo, anotando cuidadosamente. Examinar minuciosamente,
olhar com atenção, estudar. Sob a idéia de observar existe o procurar, identificar,
Observação notar e perceber. É uma forma de descobrir informação. Compartilhada, amplia
o processo discriminativo. Exigem objetivos definidos, podendo ser anotadas,
esquematizadas, resumidas e comparadas.
Colocar em grupos, conforme princípios dando ordem a existência. Exige análise
Classificação
e síntese, por conclusões próprias.
Processo de atribuir ou negar sentido á experiência, exigindo argumentação para
defender o ponto proposto. Exige respeito aos dados e atribuição de importância,
Interpretação
causalidade, validade e representatividade. Pode levar a uma descrição inicial
para depois haver uma interpretação do significado percebido.
Efetivar julgamento, análise e avaliação, realizando o exame crítico das
Crítica
qualidades, defeitos, limitações. Segue referência a um padrão ou critério.
Supor é aceitar algo sem discussão, podendo ser verdadeiro ou falso. Temos que
Busca de suposições supor sem confirmação nos fatos. Após exame cuidadoso, pode-se verificar quais
as suposições decisivas, o que exige discriminação.
Imaginar é ter alguma idéia sobre algo que não está presente, percebendo
mentalmente o que não foi totalmente percebido. É uma forma de criatividade,
Imaginação
liberta dos fatos e da realidade. Vai além da realidade, dos fatos e da experiência.
Socializar o imaginado introduz flexibilidade às formas de pensamento.
Obter e organizar dados são a base de um trabalho independente; exigem
objetivos claros, análise de pistas, plano de ação, definição de tarefas chaves,
definição e seleção de respostas e de tratamento das mesmas, organização e
Obtenção e organização dos dados
apresentação do material coletado. Requer identificação, comparação, análise,
síntese, resumo, observação, classificação, interpretação, crítica, suposições,
imaginação, entre outros.
Propor algo apresentado como possível solução para um problema. Forma de
fazer algo, esforço para explicar como algo atua, sendo guia para tentar solução
Levantamento de hipóteses
de um problema. Proposição provisória ou palpite com verificação intelectual e
inicial da idéia. As hipóteses constituem interessante desafio ao pensar do aluno.
Aplicação de fatos e princípios a Solucionar problemas e desafios, aplicando aprendizados anteriores, usando a
novas situações capacidade de transferências, aplicações e generalizações ao problema novo.
Agir a partir de valores aceitos e adotados na escolha, possibilitando a análise
Decisão e consciência dos mesmos. A escolha é facilitada quando há comparação,
observação, imaginação e ajuizamento, por exemplo.
Projetar é lançar idéias, intenções, utilizando-se de esquema preliminar, plano,
grupo, definição de tarefas, etapas, divisão e integração de trabalho, questão
ou problema, identificação das questões norteadoras, definição de abrangência,
Planejamento de projetos e
de fontes, definição de instrumentos de coleta dos dados, validação de dados
pesquisas
e respostas, etapas e cronograma. Requer assim, identificação, comparação,
resumo, observação, interpretação, busca de suposições, aplicação de princípios,
decisão, imaginação e crítica.
Fonte: Anastasiou e Alves (2004).
82 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Fonte: http://w3.ufsm.br/
ciclus
Atividades de avaliação
1. Ao longo de nossa vida de estudante vivenciamos inúmeras estratégias de
ensino implementadas por nossos professores visando facilitar ou fomentar
nosso aprendizado. Relembre as estratégias que você experimentou em
seu percurso formativo até hoje. Relacione-as no quadro abaixo, detalhan-
do como eram desenvolvidas. Identifique aquelas que você mais gostou.
Justifique.
Assumir uma postura dialógica pode ser uma forma de superar as difi-
culdades elencadas na aula expositiva, tratadas no tópico anterior, fazendo-se
ideal quando queremos introduzir um conteúdo por demais conceitual, enfa-
tizar aspectos os quais julgamos essenciais, nos momentos de síntese ou
mesmo quando queremos abordar conhecimentos e experiências as quais
passamos (KRASILCHIK, 2004).
Atividades de avaliação
1. Observe a gravura. Comente as possíveis correlações entre a imagem e a
aula expositiva.
Fonte: http://miriamsalles.info/wp/?p=5019
3.3.3. Seminário
Trata-se de uma atividade que demanda tempo e a sistematização pro-
cessual de cada uma das suas fases. É uma estratégia de ensino desenvol-
vida em grupos. Masetto (2003) caracteriza o seminário como uma “prática
pedagógica coletiva” que requer algumas considerações específicas, pois:
Atividade pedagógica coletiva não é para apenas se justaporem cola-
borações individuais. Para isto não precisamos dessas atividades. O
mínimo que se espera é que um grupo, além de tomar conhecimento
das colaborações dos seus participantes possa discuti-las, analisá-
-las, e com este debate avance os estudos e questões colocados
para resultados que transcendam aqueles já apresentados pelos par-
ticipantes (MASETTO, 2003, p. 106).
Didática 89
Atividades de avaliação
1. O seminário está entre as estratégias mais recorrentes no contexto educa-
tivo, principalmente universitário. Entreviste um estudante sobre a contribui-
ção dessa estratégia para sua formação. Indague sobre como o seminário
foi orientado e desenvolvido, as dificuldades encontradas e as vantagens
desse procedimento.
3.3.6. Oficinas
A oficina é um tipo de estratégia que envolve atividades ligadas ao fazer,
à operacionalização, à consolidação de uma habilidade. Por seu caráter mais
prático que teórico, pode permitir uma aproximação maior entre o professor,
o aluno e o conteúdo em estudo, até porque o seu desenvolvimento requer
preparação prévia de ambiente e de material específico para o desenvolvi-
mento das atividades. Envolve as operações de pensamento, de obtenção e
organização dos dados; interpretação; aplicação de fatos e princípios a novas
situações; decisão; planejamento de projetos e pesquisas e resumo.
Todas essas habilidades, que podem ser desenvolvidas em aulas com
estilo de oficina, precisam de algum tempo para se consolidarem, logo, não
cabe ser feita em apenas um momento, exigem continuidade.
Por oficina, podemos estabelecer estreita relação às atividades
experimentais no ensino de Ciências e Biologia, denominadas de aulas
práticas, aulas de laboratório, sempre objetivando aproximar as convic-
ções teóricas às constatações práticas, discurso amplamente difundido
nessa área do conhecimento.
Marandino, Selles e Ferreira (2009) definem as atividades práticas
como uma forma de “experimentação didática”, modalidade de caráter ativo
que se aproxima do cotidiano de cientistas. Afirmam que a finalidade desses
procedimentos difere dos acadêmicos, uma vez que a “experimentação esco-
lar resulta de processos de transformação de conteúdos e de procedimentos
científicos para atender a finalidade de ensino” (p. 103). Asseveram que o
objetivo não é formar o biólogo, ao contrário, é fazer com que estas ações
permitam a todos os alunos “vivências culturais criativas” e que os “ajudem a
fazer relações com os conhecimentos escolares em Biologia” (p. 107).
Estas autoras sugerem que ao planejar a utilização “experimentação
didática” sejam feitos os seguintes questionamentos: “em que medida esta
atividade ajuda meus alunos a entender determinado tema e/ou conceito?
Como posso instigar a criatividade deles com esta atividade? Em que medida
a atividade proposta pode estimulá-lo a formular questões?” (MARANDINO,
SELLES e FERREIRA, 2009, p. 114).
O importante ao escolher a oficina como estratégia de ensino a ser de-
senvolvida é não perder de vista que ela pressupõe o desenvolvimento de
ações coordenadas, uma espécie de aprender fazendo, olhando, imitando,
mas também criando, reinventando, reaproveitando.
Didática 93
O autor afirma que os mapas não são redes semânticas, pois nem
sempre se organizam por níveis hierárquicos e “não obrigatoriamente incluem
apenas conceitos”; afirma, ainda, que “não devem ser confundidos com ma-
pas mentais que são associacionistas, não se ocupam de relações entre con-
ceitos, incluem coisas que não são conceitos e não estão organizados hierar-
quicamente” (MOREIRA, 2005, p. 38). Portanto, mapas não são diagramas
classificatórios, pois não buscam classificar conceitos, mas sim relacioná-los
e hierarquizá-los.
O uso dessa estratégia para ensinar conteúdos conceituais é imprescin-
dível, pois a elaboração de mapas permite que o aluno perceba as relações
significativas entre conceitos ensinados em uma única aula, em uma unidade
de estudo ou em um curso inteiro. As representações das estruturas concei-
tuais que estão sendo ensinadas facilitam a aprendizagem. Mas, eles não são
auto-instrutivos, logo devem ser explicados pelo professor. Além disso, embo-
ra possam ser usados para dar uma visão geral do tema, é preferível usá-los
como elaboração de síntese final, de modo que sejam significativos e permi-
tam a integração e a diferenciação de significados de conceitos (MOREIRA,
2005). A Figura 3 é representativa do significado de um mapa conceitual.
Neste sentido, seu uso deve ser planejado e valorizado, seja em proces-
sos educativos presenciais ou a distância.
3.4. Glossário
Método Socrático – O método dialógico de Sócrates é constituído por dois
momentos fundamentais: a ironia que denuncia as verdades feitas e o falso
saber daqueles que pretendiam reduzir o verdadeiro ao verossímil; a maiêu-
tica, técnica através da qual se consegue observar como é que uma ciên-
cia desconhecida se transforma progressivamente numa ciência conhecida.
Sócrates considerava a sua arte como a arte de parturejar; só que agora são
homens que dão à luz e é do parto das suas almas que se trata. Sócrates re-
velava aos outros aquilo que eles próprios sabiam sem de tal terem consciên-
cia. Ele pretendia que o seu questionamento sistemático levasse os outros a
um ponto crucial de consciência crítica, procurando a verdade no seu interior,
dando assim lugar ao “parto intelectual”. A maiêutica é, assim, a fase positiva,
construtiva, do método socrático que permite o acordo através das certezas
universais obtidas pela definição após a discussão.
Fonte: www.educ.fc.ul.pt/docentes/met_socrat.htm
Síntese do Capítulo 3
O Capítulo trata das estratégias mais recorrentes no ensino de Ciências
Biológicas na escola básica. Tem como principal propósito favorecer a com-
preensão dos vínculos entre metodologia, estratégias de ensino e objetivos
educacionais. Desenvolve, ainda, reflexões acerca do papel das estratégias
de ensino na promoção de oportunidades de aprendizagens significativas para
o aluno. Nesse sentido, são destacadas, considerando o ensino de Ciências
e de Biologia na Educação Básica, as seguintes estratégias: aula expositiva,
aula expositiva dialogada, seminário, estudo de texto, estudo dirigido, ofici-
na, trabalho em grupo, mapa conceitual, tempestade mental e discussão em
meios informatizados. Estas estratégias são destacadas como ferramentas
que ganham sentido no âmbito dos pressupostos que dão sustentação a sua
mobilização na prática pedagógica, razão pela qual precisamos estar vigilan-
tes aos usos que delas fazemos.
Atividades de avaliação
1. Você já produziu um mapa conceitual? Que tal fazermos este exercício?
Retome a leitura da UNIDADE I desse módulo e produza um mapa concei-
tual. Socialize no ambiente virtual.
100 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Referências
ABBAGNAMO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
ANASTASIOU, L. G. C.; ALVES, L. P. (Orgs.). Processo de ensinagem na
universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville:
Univille, 2004.
BIZZO, N. M. V. Ciências: fácil ou difícil?. 10. ed. São Paulo: Ática, 2007. 144
p. v. 1.
CECCON, C. et al. A vida na escola e a escola da vida. Petrópolis: Vozes,
1986. p. 66-67.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educa-
tiva. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
GADOTTI, M. Pedagogia da práxis. São Paulo: Cortez, 2004.
LIBÂNEO, J. C. Democratização da escola pública: a pedagogia crítico-
social dos conteúdos. 18. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
LIMA, M. S.; SALES, J. D. Aprendiz da prática docente: a didática no exercí-
cio do magistério. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.
LUCKESI, C. C. Planejamento e avaliação na escola: articulação e necessária
determinação ideológica. Ideias, n.15, p.115-125, 1991.
MARANDINO, M.; SELLES, S. E.; FERREIRA, M. S. Ensino de biologia: his-
tórias e práticas em diferentes espaços educativos. São Paulo: Cortez, 2009.
215 p.
Didática 101
Objetivos:
A figura traz o conceito de ensino como uma prática social que estabe-
lece conexões com fatores contextuais como a intencionalidade, a afetivida-
de, o planejamento didático, o compartilhamento de saberes, a construção do
conhecimento e o rigor metodológico. O professor, no contexto da aula, é o
responsável pela concretização desse processo; a ele cabe tornar aprendível
o saber curricular.
Para Therrien, Mamede e Loiola (2007, p. 6), a matéria do ensino apre-
senta-se como “elemento sine qua non da docência”. Isto porque, segundo os
autores, a relação entre o professor e os alunos, no espaço escolar e dentro
da sala de aula, é componente do processo de mediação e de interação de-
pendente da forma como ele trabalha com os conteúdos de ensino. Noutros
termos, a realização da gestão da matéria, atividade curricular central ao exer-
cício da docência, envolve “um processo de produção e transformação de
saberes nos limites da ética da profissão docente” (THERRIEN, MAMEDE e
Didática 107
Atividades de avaliação
1. Observe a imagem abaixo e elabore um comentário explicitando as refle-
xões que ela provoca em relação à transposição didática.
Fonte: http://miriamsalles.info/wp/wp-content/uploads/amplcharge647.git
110 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
teórico-metodológica para construir o conhecimento”, recorrendo aos termos Desde a década de 1990
assiste-se no cenário
de Demo (1994, p. 33). nacional amplo movimento
Não nos parece ser esta perspectiva que fundamenta a ideia da pes- de reforma curricular no
quisa como princípio formativo. Esta perspectiva adota como premissa o po- âmbito da Educação Básica
e da Educação Superior,
tencial formador da pesquisa, reconhecendo que ela fornece mecanismos com ênfase nos cursos de
que favorecem a articulação teoria e prática e propicia o desenvolvimento da licenciaturas destinados à
capacidade de elaboração própria tanto a quem ensina quanto àquele que formação de professores.
aprende (FARIAS e LIMA, 2009). Sob esta ótica, advoga-se a pesquisa como É neste contexto que foram
produzidos pareceres e
esteio que possibilita promover aprendizagem significativa nos processos for- resoluções, a exemplo
mativos, ou seja, que fomenta a capacidade reflexiva através da articulação das Diretrizes Curriculares
ensino e aprendizagem. Ela é concebida, ao mesmo tempo, como um “prin- Nacionais para a Formação
cípio articulador” do processo de ensinar e de aprender e como “princípio de de Professores da
Educação Básica, em
formação” no qual a aprendizagem procede pela reflexão ou por intermédio nível superior, curso de
de uma prática que capacite para um pensar problematizador e propositivo licenciatura, de graduação
(BOUFLEUER, 2001). Entendida desse modo, a pesquisa se apresenta como plena (Parecer n.º CNE/CP
prática que humaniza ao promover a capacidade compreensiva, crítica e in- 009/2001; Resolução CNE/
CP 01/2002).
terventiva por meio do conhecimento. “O Parecer, referência
Nesta acepção a pesquisa está associada à idéia de atividade orientada conceitual para a
por finalidades emancipatórias, devendo ser compreendida como busca de formulação da Resolução,
expõe a compreensão
conhecimento, atitude política, ferramenta essencial da criação e da possi- e a intencionalidade
bilidade de fomentar a capacidade de elaboração própria (FARIAS e LIMA, dos Conselheiros e
2009). Portanto, capaz de constituir-se em espaço de orientação que leva à do Legislador, abrindo
superação de uma educação reprodutora em direção a uma educação volta- perspectivas amplas e
flexíveis para a elaboração
da para a aprendizagem e o desenvolvimento humano. do Projeto Pedagógico. Por
Como princípio articulador do ensinar e do aprender a pesquisa não outro lado, a Resolução é
comporta a cisão entre teoria e prática, reclamando contínua aproximação normativa e procede através
de uma racionalidade
do ensino à prática social. É este processo que a concretiza como princí- legalista, restritiva e pouco
pio de formação à medida que abre oportunidade para a compreensão da flexível, embora possa
realidade para além de sua manifestação empírica, de seu caráter de des- ser interpretada como
coberta científica, fomentando a capacidade de reflexão e de intervenção predominantemente
indicativa.
mediada pelo conhecimento.
Entendida nessa acepção, a pesquisa cabe, conforme adverte Fonte: Therrien, J. Alguns
Demo (1999), em todos os níveis do processo de formação humana, da elementos centrais do
PARECER CNE/CP
educação da criança pequena à preparação profissional de nível superior. Nº: 5/2005 referente às
No campo da formação de professores, conforme assinalam Therrien e Diretrizes Curriculares
Nóbrega-Therrien (2006, p. 283), Nacionais para o Curso de
Graduação em Pedagogia
(...) o ensino articulado à pesquisa deve objetivar a formação para (Licenciatura). Síntese
a reflexão-na-ação, de modo que o novo profissional seja preparado apresentada na reunião
para os desafios que a prática exige e preparado na pesquisa para plena da UFC/FACED,
Fortaleza, em 13/06/2006.
buscar respostas às indagações advindas dessa prática (Grifo nosso).
112 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
(...) ele procurará conhecer o aluno como uma síntese individual da in-
teração desse sujeito com o seu meio cultural (político, econômico etc.).
Não há tábula rasa, portanto. Há uma riquíssima bagagem hereditária,
Didática 119
4.4.3. Aprendizagem
A pedagogia de projetos entende a aprendizagem sob a ótica do cons-
trutivismo. Jean Piaget, em sua epistemologia, recusa as teses aprioristas e
as empiristas. Para ele, “o conhecimento não está no sujeito nem no objeto,
não está predeterminado hereditariamente nem é simples internalização –
é, sim, resultante da ação do sujeito sobre os objetos de conhecimento”
(ARAUJO, 2003, p. 42).
Aprender é, portanto, um processo pelo qual o indivíduo constrói o co-
nhecimento. Isso significa que o indivíduo é um agente ativo de sua aprendi-
zagem que resulta em sua própria transformação como indivíduo. Assim, ele
não transfere o conhecimento externo para sua memória, ele cria interpreta-
ções do mundo baseadas em sua experiência anterior e suas inter-relações
com outras pessoas.
4.4.5. Avaliação
Partindo da premissa de que o trabalho pedagógico organizado por
projetos ressignifica as relações de ensino e de aprendizagem, parece-nos
lícito afirmar com Hernández (1998) que as três fases da prática docente –
planejamento, ação e avaliação – são interrelacionadas e complementares.
Neste sentido, a avaliação dos alunos relaciona-se aos problemas do próprio
projeto e às intenções docentes reveladas por suas práticas. A ideia é, portan-
to, “recuperar o sentido do processo seguido ao longo de toda a sequência
de ensino e aprendizagem e as interrelações criadas nela a partir de algumas
situações” (HERNANDEZ, 1998, p. 89).
Com suporte nessa compreensão, apresentamos a seguir um roteiro
contemplando aspectos que devem ser considerados na prática avaliativa de
um trabalho pedagógico estruturado em projetos.
A avaliação dos projetos de trabalho
A. Antes da avaliação:
a1. O que se pretendeu ensinar aos alunos?
a2. O que os alunos acreditam que estudaram?
B. Ante a elaboração utilizada para a avaliação:
b3. Planejamento da prova em relação aos antecedentes extraídos
do momento A.
b4. Explicitar o que se pretende valorizar.
b5. Realizar a previsão das respostas.
b6. Realizar a avaliação.
C. Ante a elaboração utilizada para a avaliação:
c7. Explicitar aos alunos os critérios de correção.
c8. Propor-lhes sua auto-avaliação em função desses critérios.
c9. Fazer a correção detectando o sentido dos erros e da aprendizagem
realizada.
c10. Realizar a devolução ao grupo.
c11. Situar cada estudante com relação a si mesmo e ao grupo.
Fonte: HERNÁNDEZ, 1998.
Didática 123
3. O problema da pesquisa
Aborda o tema a ser investigado, explicitando as preocupações que
moveram o interesse em estudar o assunto.
4. Justificativa
Neste texto devem ser apresentados os problemas que justificam a ne-
cessidade do projeto, os argumentos que o sustentam e as necessidades as
quais o projeto visa a atender. A justificativa deve conter os motivos que o
tornam viável a uma realidade, conforme as necessidades e prioridades indi-
cadas [surgidas] na fase de pesquisa e elaboração das hipóteses. A redação
deve ser sucinta, algo em torno de 15 a 20 linhas.
124 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
5. Objetivos
Os objetivos são textos breves, iniciados por verbos em sua forma infinitiva,
que definem [traduzem] as mudanças que se pretendem alcançar por meio das
atividades a serem realizadas no projeto. Aparecem divididos em geral e espe-
cíficos. O objetivo geral é a síntese do que se pretende alcançar com o projeto;
os específicos explicitam os detalhes e são um desdobramento operacional do
objetivo geral. Todos devem ser coerentes com a metodologia a ser usada, tanto
em relação ao conteúdo, como às possibilidades de serem atingidos [efetivados;
concretizados]. Devem ser coerentes com o que está proposto na justificativa,
logo devem ser definidos de forma que viabilizem a avaliação dos resultados. Os
tipos de verbos a serem utilizados dependem do tipo de atividade a ser desenvol-
vida, assim, para determinar os diversos estágios cognitivos de um estudo, usa-
mos diferentes verbos. A seguir, exemplos de alguns deles, conforme a finalidade:
l conhecimento: conhecer, definir, enunciar, inscrever, nomear, registrar, re-
latar e sublinhar;
l compreensão: compreender, descrever, esclarecer, explicar, examinar, ex-
pressar, identificar, localizar e traduzir;
l aplicação: aplicar, demonstrar, empregar, ilustrar, interpretar, manipular,
praticar e usar;
l análise: analisar, classificar, comparar, constatar, criticar, debater, distinguir,
examinar, experimentar, investigar e provar;
l síntese: articular, compor, constituir, coordenar, esquematizar, organizar,
reunir e sintetizar;
l avaliação: avaliar, eliminar, julgar, optar, preferir, selecionar e validar.
6. Conteúdos
A descrição dos conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais
a serem estudados em cada uma das etapas do projeto, bem como as re-
lações interdisciplinares existentes entre eles, dependem de fatores como o
conhecimento sincrético [conhecimento prévio] e o nível cognitivo dos alu-
nos envolvidos. Além disso, precisará ser considerado o acervo bibliográfico
disponível na escola, como também a matriz curricular adotada, conforme a
modalidade de ensino.
7. Metodologia
O texto da metodologia define os caminhos que serão trilhados para
a consecução prática da proposta. Deve apresentar todas as etapas de rea-
lização do projeto descritas no tempo e no espaço, bem como definindo os
sujeitos que farão parte de cada uma dessas fases. Trata-se de uma siste-
matização das atividades, das técnicas a serem utilizadas e da definição da
sequência das diferentes atividades ou etapas.
Didática 125
8. Cronograma
Traz as informações relativas ao tempo necessário para que o projeto
tenha início, desenvolvimento e encerramento em cada uma de suas fases.
Normalmente é ajustado conforme o andamento das atividades.
9. Recursos materiais
Devem ser definidos levando-se em conta a metodologia a ser utilizada,
logo, precisam ser previstos considerando o senso do que é possível.
11. Avaliação
O processo avaliativo deve permitir a quantificação e a qualificação
dos resultados das atividades de intervenção, para que se possa reformular
a proposta de ação, ou confirmar a validade do que foi realizado. Trata-se de
um processo que permeia todo o projeto e refere-se aos objetivos propostos.
Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais, “a finalidade principal das
avaliações é ajudar os educadores a planejar a continuidade de seu trabalho,
ajustando-o ao processo de seus alunos, buscando oferecer-lhes condições
de superar obstáculos e desenvolver o autoconhecimento e a autonomia”
(BRASIL, 1998, p. 57).
Atividades de avaliação
1. Leia a entrevista seguinte, de Fernando Hernández, concedida à Revista
Nova Escola.
4.6. Glossário
Apriorismo – Teoria explicativa da origem do conhecimento, inserida nas con-
cepções clássicas (fundadas num modelo fenomenológico), elaborada por
Kant. Define que a elaboração do conhecimento científico é fruto de, numa
primeira fase, captação sensorial da realidade – númeno – de forma limitada
(pelos nossos próprios sentidos) – fenômeno – através de estruturas a priori
no indivíduo (formas a priori da sensibilidade – espaço e tempo) elaborando-se
assim percepções, isto é, sensações estruturadas pelas formas a priori. Estas
percepções irão depois passar à fase do entendimento, onde, pela ascensão ao
longo de 12 categorias (as formas a priori do entendimento), aproximarão esta
percepção de um verdadeiro conhecimento científico. De notar que as formas
organizadoras não mais são que estruturas do sujeito desprovidas de qualquer
valor material, que serão “preenchidas” pelos dados recolhidos pelos sentidos.
Estabelece-se igualmente a distinção entre conhecimento científico e razão, vis-
to que este último refere-se a ideias, localizadas num plano eidético, inteligível.
Fonte: http://www.nuted.ufrgs.br/arquead/glossario.html
Síntese do Capítulo 4
Aborda-se neste capítulo temas emergentes no campo da Didática
que, embora não sejam novos, estão sendo retomados em face dos atuais
desafios em promover a melhoria da qualidade do ensino e da aprendiza-
gem. Um desses temas é a transposição didática, tema examinado com
base nas suas contribuições para a transformação do conhecimento cientí-
fico em conhecimento escolar. A pesquisa como princípio formativo é outro
assunto estudado nesta seção, momento em que se destaca a Pedagogia
de Projetos como uma possibilidade de sua concretização no processo de
ensino e de aprendizagem. Segue, ainda, reflexão sobre os temas transver-
sais, seu significado curricular e possibilidades de abordagem no contexto
da escola e da sala de aula.
Atividades de avaliação
1. Leia com atenção o texto “Uma escola”.
Uma escola
Onde a paixão por aprendermos juntos constitua o guia da relação
pedagógica.
Onde a indagação indique o caminho para chegar ao conhecimento so-
bre o mundo, sobre os outros e sobre si mesmo.
Onde a imaginação pedagógica nos permita inventar, experimentar, e
criar longe de rotinas e de modas.
Onde desafiemos os tempos predeterminados impostos pelas estrutu-
ras e normas generalizadas que tentam impedir que flua o desejo de
aprender.
Onde documentar nossas experiências de aprendizagem nos ajude não
só a ter memória, como também compartilhar com os outros os nossos
percursos.
Onde as famílias não sejam expectadoras, mas partícipes da aventura de
aprender graças à possibilidade de compartilhar.
Onde os muros não sejam uma limitação, mas o desafio de incorporar e
dialogar com o emergente, e não apenas com o existente.
134 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
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cionais para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível supe-
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136 FRANÇA, M. .S. L. M., FARIAS, I. M. S., CARDOSO, N. S.
Sobre os Autores
Maria do Socorro Lima Marques França: Licenciada em Pedagogia (UECE).
Especialista em Gestão escolar (UECE). Mestre em Educação, na área de
Formação de Professores (UECE). Professora substituta da Faculdade de
Educação de Crateús da UECE, atuando nas disciplinas de Didática Geral
e Práticas de Ensino. Professora do ensino básico, na rede pública estadual,
há 13 anos. Atualmente é professora - Secretaria de Educação do Ceará e
Assessora Pedagógica da Secretaria de Educação de Ipaporanga. Tem expe-
riência na área de Educação, com ênfase em Didática, atuando principalmente
nos seguintes temas: formação, leitura, professor, didática e docência.
F
iel a sua missão de interiorizar o ensino superior no estado Ceará, a UECE,
como uma instituição que participa do Sistema Universidade Aberta do
Brasil, vem ampliando a oferta de cursos de graduação e pós-graduação
na modalidade de educação a distância, e gerando experiências e possibili-
dades inovadoras com uso das novas plataformas tecnológicas decorren-
Ciências Biológicas
tes da popularização da internet, funcionamento do cinturão digital e
massificação dos computadores pessoais.
Comprometida com a formação de professores em todos os níveis e
a qualificação dos servidores públicos para bem servir ao Estado, Didática
os cursos da UAB/UECE atendem aos padrões de qualidade Noções básicas para o professor de Ciências Biológicas
estabelecidos pelos normativos legais do Governo Fede-
ral e se articulam com as demandas de desenvolvi-
mento das regiões do Ceará.
12
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