Ensinar Historia No Sec Xxi PDF
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Dilemas e Perspectivas
SUPERINTENDENTE
Sérgio Augusto Soares Mattos
CONSELHO EDITORIAL
Alexandre Américo Almassy Júnior
Celso Luiz Borges de Oliveira
Geovana da Paz Monteiro
Jeane Saskya Campos Tavares
Léa Araújo de Carvalho
Nadja Vladi Cardoso Gumes
Sérgio Augusto Soares Mattos (presidente)
Silvana Lúcia da Silva Lima
Wilson Rogério Penteado Júnior
SUPLENTES
Carlos Alfredo Lopes de Carvalho
Robério Marcelo Ribeiro
Rosineide Pereira Mubarack Garcia
EDITORA FILIADA À
SOBRE OS AUTORES...........................................................201
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nal, uma relação é uma via de mão dupla. Para compreender o seu
lugar nessa parceria é preciso que aqueles que fazem parte do meio
acadêmico não se vejam como “os que sabem” diante “dos que não
sabem”. Torna-se premente cultivar uma postura de respeito aos sa-
beres de diferentes naturezas, dentre eles os saberes advindos da in-
serção do profissional docente na cultura escolar.
Assim, penso que os profissionais que atuam na pesquisa aca-
dêmica podem contribuir com a escola ao produzir conhecimentos
que permitam ao professor da escola e ao professor universitário que
se compreendam melhor nessa relação. Ao possibilitar que os docen-
tes ligados à Academia percebam que o conhecimento produzido na
Universidade não é “a” verdade, mas uma possibilidade dentre tantas
outras, os pesquisadores já estão cumprindo seu papel.
Esses desafios aparecem associados a uma série de outros que
merecem atenção. Na segunda parte deste texto, apresento um deles:
tomando por base os princípios de um projeto político comprome-
tido com uma perspectiva crítica e de transformação, a necessidade
de se ter, enquanto docentes atuantes, seja no ensino de História
escolar, seja na formação inicial, clareza das próprias concepções his-
toriográficas e de ensino e aprendizagem da História.
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•
O ato do ensino não participaria do ato da produção do
conhecimento, sendo posterior e distinto;
• A questão do ensino passa para um outro campo profissio-
nal: o do didata;
• Não é uma concepção historiográfica, mas uma postura
didática, ou melhor, a ausência dela;
• Das questões acima vem toda a dificuldade em relacionar
ensino e pesquisa, teoria e prática.
Em seguida, o autor discorre sobre concepções historiográficas
tradicionais e ensino de História, definindo-as como
• “aquelas que entendem que a verdade está nas coisas. Mas
não são transparentes, e faz parte da concepção tradicional
identificar que a verdade vira conhecimento ao ser extraída
das coisas através da interpretação dos sábios autorizados
a emitir o discurso competente (na expressão de Marilena
Chauí)” (CERRI, 2009, p. 151-2);
• Para o ensino e aprendizagem a questão é internalizar
aquilo que os especialistas produziram: “o ensino é um
problema de concentração e dosagem do remédio”4;
• O Sujeito aprendente não ocupa o centro do processo;
• O aluno é aprendiz passivo, é objeto5;
4 A teoria empirista – que historicamente é a que mais vem impregnando as repre-
sentações sobre o que é ensinar, quem é o aluno, como ele aprende, o que e como
se deve ensinar – se expressa em um modelo de aprendizagem conhecido como de
“estímulo-resposta”. Esse modelo define a aprendizagem como a substituição de
respostas erradas por respostas certas. A hipótese subjacente a essa concepção é a
de que o aluno precisa memorizar e fixar informações – as mais simples e parciais
possíveis e que deve ir se acumulando com o tempo. Na concepção empirista o
conhecimento está “fora” do sujeito e é interiorizado através dos sentidos, ativados
pela ação física e perceptual (WEISZ, 2000).
5 Ainda na perspectiva empirista, o sujeito da aprendizagem seria “vazio” na sua
origem, sendo “preenchido” pelas experiências que tem com o mundo. Criticando
essa ideia de um ensino que se “deposita” na mente do aluno, Paulo Freire usava
a metáfora “educação bancária” para falar de uma escola em que se pretende “sa-
car” exatamente aquilo que se “depositou” na mente do aluno. Nessa concepção
o aprendiz é alguém que vai juntando informações, sendo visto como receptor
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passivo. Acredita-se que ele seja capaz de aprender exatamente o que lhe ensinam
e de ultrapassar um pouco isso, fazendo uma síntese a partir de uma determinada
quantidade de informações. Na verdade, o modelo supõe apenas a acumulação, e
o que importa é diferenciar os alunos entre os que conseguem e os que não con-
seguem (WEISZ, 2000).
6 Para se acomodar a essa teoria (empirismo), o processo de ensino é caracterizado
por um investimento na cópia, na escrita sob ditado, na memorização pura e sim-
ples, privilegiando a utilização da memória de curto prazo (WEISZ, 2000).
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CURRÍCULO PRATICADO
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Cada escola tem sua própria história, viveu sua própria ex-
periência. Cada escola precisa ter seu próprio currículo. Mas todas
as escolas precisam trabalhar, ainda que por processos diversos, na
direção de um mesmo objetivo: a formação do homem, do cida-
dão, orientadas pelos valores universais. Os referenciais curriculares
se fazem, pois, necessários, como orientação para as ações educati-
vas voltadas para a formação de homens e mulheres. São propostas
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ído do currículo nos faz entender que houve, portanto, uma simples
exclusão curricular.
Mas, o que explica que, desde pelo menos 2007, a Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo tenha adotado esta postura de
esvaziamento, diminuição, quase extinção da disciplina de História,
Geografia e Ciências nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Efe-
tivamente, ainda não temos um documento formal explicativo que
justifique essa deliberação. Inclusive, apesar da mobilização realizada
pela Associação Nacional de História – ANPUH, que realizou, em
março de 2013, o Fórum SP Sem Passado: Ensino de História e
Currículo, no auditório da Faculdade de Educação da USP, com
a participação de um público de 120 pessoas, entre professores do
Ensino Fundamental e Médio, estudantes de História e Pedagogia,
além de professores e pesquisadores de ensino de História, e resultou
na elaboração de uma carta aberta veiculada pela internet e encami-
nhada à Secretaria, nenhuma resposta foi apresentada pelos gestores
da Secretaria sobre essa decisão.
Afinal, é importante, ou não, ensinar História para crianças?
Se o ensino de História deve se restringir apenas aos dois últimos
anos do Ciclo I, ele não deve participar do processo de alfabetização
das crianças desde o seu início? A História não contribui para o de-
senvolvimento das capacidades relacionadas à leitura e à escrita dos
alunos? Além disso, quais são as contribuições específicas do ensino
de História para a formação das crianças?
Segundo Bittencourt (2011), o ensino de História sempre es-
teve presente nas escolas elementares ou escolas primárias brasileiras,
ainda que a importância atribuída à disciplina por educadores ou
gestores tenha sido objeto de constantes disputas desde o Século XIX
até hoje. Tanto na época do Império quanto no Período Republi-
cano os programas eram definidos em cada localidade, o número
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nha uma clara concepção sobre como se aprende, qual a teoria mais
apropriada, quais os modelos mais adequados em cada situação, e
que tenha como perspectiva que sua atuação ultrapassa a mera rotina
pedagógica, contribuindo com a formação das novas gerações.
Se pensamos que o ensino não deve ter um modelo uniforme,
pois não atende a diversidade dos alunos, seus ritmos e estilos de
aprendizagem; se pensamos que o processo de aprendizagem não
é meramente cumulativo, nem se resume a transferência de infor-
mações, mas se constitui num processo de construção singular, in-
dividual e complexo; portanto, não podemos pensar no professor
como mero aplicador, como um elo de uma corrente de transmissão
mecânica onde os “experts” são aqueles que estabelecem o que deve
ser ensinado.
Como indicam os estudos sobre currículos, os documentos
curriculares oficiais possuem a particularidade de se constituírem,
independente das intencionalidades expressas por seus elaboradores,
em falas institucionais localizadas no interior do poder estatal. Por
esta mesma razão, seu texto adquire um caráter normativo, oficial,
e formal, indicando estratégias de legitimação e imposição de uma
forma de conhecimento escolar. No entanto, o currículo formal não
possui uma capacidade absoluta de imposição de suas prescrições, às
quais a escola e os professores se curvariam sem resistência. Os currí-
culos, em sua elaboração e implementação, portam processos infor-
mais e interacionais nos quais aquilo que é legislado, é interpretado,
subvertido e transformado. Aliás, todo o processo de elaboração do
currículo, ou seja, de seleção, de organização do conhecimento es-
colar, e sua implementação prática, é um processo constituído de
conflitos e lutas entre diferentes tradições e concepções sociais, guar-
dando momentos de tensões, conflitos, acordos e rupturas. Disto re-
sultam as importantes clivagens entre o currículo real ou interativo,
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mesmo tempo que repele? Por que ela se torna uma disciplina fruto
de tanto interesse e de tantos questionamentos?
Vejam que, no mundo atual, não é difícil entender a impor-
tância da Matemática, da Física, da Química. Afinal, estas discipli-
nas integrantes da área de exatas são muito requeridas nas atividades
industriais e comerciais. Aprender os seus conteúdos significa estar
mais apto para o mercado de trabalho. Mas, e a História?
Se eu perguntasse aos leitores e estes pudessem me responder,
será que colocariam que ela é responsável por formar o cidadão crí-
tico e reflexivo e, portanto, caminha nesta direção? Que é através
dela que a consciência histórica é formada? Este seria então o grande
contributo da disciplina escolar. Outros poderiam olhar e dizer que
há um horizonte nebuloso e, portanto, acreditam que ela não serve
para nada, da forma como está sendo lecionada. Contudo, poderiam
também falar de forma objetiva como os meus discentes.
Invariavelmente, nestas turmas em que leciono, sigo com ou-
tra pergunta: por que estudamos História na escola? Invariavelmen-
te as respostas seguem sendo as mesmas já citadas acima. Nenhum
aprofundamento teórico. As falas seguem o senso comum de qual-
quer cidadão brasileiro ao qual se fizessem estas indagações. Isso para
não falar dos que nada responderiam.
Moreira e Vasconcelos nos colocam:
Para entendermos melhor o papel da História em
nossa vida, vamos tomar um exemplo tirado do
filme Blade Runner, o caçador de androides, do di-
retor Ridley Scott. Uma das personagens do filme,
suposta filha de um cientista importante, descobre
que é na verdade um androide, isto é, uma máquina
com forma humana. Todas as lembranças que ela
tinha desde a infância não eram experiências reais
que tinha vivido, mas informações implantadas pelo
cientista em seu cérebro cibernético. A partir do
momento que descobre a verdade sobre si mesma,
ela passa a viver uma intensa crise existencial. Tal
crise, no entanto, não se deve à indignação por a
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Fonte: http://ria-muito.blogspot.com.br/2012/06/30-tirinhas-frank-ernest.html
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Levar tudo isto para a sala de aula: eis o ponto chave. O que
mais ouço dos professores ao interpelá-los sobre um modo diferente
de lecionar a disciplina é: “isto dá muito trabalho, o tempo é pouco,
já tenho muito conteúdo a ministrar”. Como se a formação do su-
jeito fosse dissociada do conteúdo curricular que ele se vê obrigado,
muitas vezes, a trabalhar, mesmo que não concorde com ele. Ou
seja, o trabalho, o conteúdo ou os valores necessários ao cidadão na
atualidade. Digo: estes dois aspectos precisam caminhar juntos. Sem
isso, a História perde o seu valor no currículo da educação básica. O
passado ficará sendo simplesmente o passado. Sem sentido algum.
Não podemos esquecer que é do que julgamos ser que as per-
guntas partem para que possamos nos constituir no sujeito que que-
remos ser, ou que precisamos ser. Não no sentido de julgamento
das ações passadas, se o passado esteve correto ou não, mas para que
possamos entender quais os motivos que nos levam a fazer o que
fazemos hoje. É a partir daí que conseguiremos esclarecer às nossas
crianças, jovens e adultos, por que estudamos História. Enquanto
isso não estiver claro, a importância maior será para Língua Portu-
guesa, Matemática, Física, Biologia. Não se verá a necessidade e a
beleza de se escutar a história de outros povos, de outros tempos.
Nesse sentido, indago: as aulas de História estão incentivan-
do os estudantes a compreenderem a realidade humana e social do
mundo em que vivem? Desde a escola dos Annales (1930) os histo-
riadores profissionais têm buscado novas fontes, novos objetos, no-
vas teorias, novas metodologias. No âmbito da História ensinada,
este movimento muito influenciou as salas de aula quando o coti-
diano e as práticas culturais, tanto da criança como de outros povos,
passaram a ser objeto de debate, de pesquisa. A memorização, por si
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RAZÕES E DILEMAS
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PERFIL DA ESCOLA
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ORDENANDO EVENTOS
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MEDIANDO RELAÇÕES
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para a gente a história de Salvador sem que a aula ficasse chata”. Para
Noemi, Salvador tem uma história “bonita e difícil de ser entendida
e deve haver algo a mais escondido nessas histórias das histórias.
Ficamos perplexos com o que ouvimos, vimos e aprendemos no de-
correr das aulas tanto práticas como teóricas”. Rômulo nos agradece
por termos “valorizado os alunos da escola pública e terem dado um
incentivo para nós, futuros cidadãos”.
O projeto também proporcionou uma mudança em relação ao
gosto pela História: Marcus, ressaltando que fez amigos “que apesar
de estudarem na mesma escola ainda não os conhecia”, declara: “por
causa desse curso estou pensando em fazer História”; Andréia revela:
“Para mim não teve época melhor, afinal eu nunca gostei muito de
História, mas com as aulas aprendi um pouco mais de uma cidade
tão especial como Salvador”; Vanessa reforça: “Para mim, que detes-
to História, foi muito proveitoso”; Artur finaliza:
Tudo isso graças às benditas aulas que recebemos
nos últimos dias... Se antes desse curso eu tinha al-
guma dúvida que profissão seguir agora não tenho
mais, também com boas influências... E vocês com
essas belíssimas aulas nas tardes de sextas-feiras... E
tudo a 0800. Agradeço a todos.
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OUTRAS HISTÓRIAS
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