SP - F.S.E.E - 2004-05 PDF
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DE ENERGIA ELÉCTRICA
CONCEITOS BÁSICOS
O uso do sistema por unidade para exprimir as grandezas eléctricas de forma adimensio-
nal é hoje universal, pelas vantagens que a prática evidenciou. Trata-se assim de um tópi-
co que o engenheiro de sistemas de energia deve dominar perfeitamente, e que será
utilizado ao longo de todo este livro.
Um Sistema de Energia Eléctrica fornece energia aos consumidores que a utilizam, as-
segurando o nível de potência que estes requerem para alimentar o conjunto dos equipa-
6 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
dE
P= (1.1)
dt
∫
E = P dt (1.2)
Assim, para a potência usam-se Kilowatt (1kW=103 W), Megawatt (1 MW=106 W), Gi-
gawatt (1 GW=109 W) e Terawatt (1 TW=1012 W).
Para a energia, a unidade utilizada na prática é Watt.hora (1 Wh=3 600 J) e os seus múl-
tiplos: kWh, MWh, GWh e TWh.
Para um diagrama de carga, define-se utilização diária da ponta como a relação entre a
energia e a potência máxima; e factor de carga diário como a relação entre a potência
média e a potência máxima. Estas grandezas também podem ser definidas para outros
períodos de tempo, por exemplo, o ano: utilização anual da ponta e factor de carga anual.
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 7
4ªfeira 5/1/2000
7000
Pmax=6287 MW
6000
5000
4000
MW
3000
E=117 GWh
2000
1000
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Horas
+
e ~ v Z
-
1
Em alguns países – nomeadamente o Japão – coexistem as duas frequências.
8 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
v = 2 V sen ω t (1.3)
i = 2 I sen (ω t − φ ) (1.4)
ω = 2π f (1.5)
p = v i = 2 V I sen ω t sen (ω t − φ )
(1.6)
= V I cos φ − V I cos (2ω t − φ )
A componente p1 oscila em torno do valor médio V I cos φ com frequência angular 2ω,
nunca mudando de sinal. A componente p2 oscila com idêntica frequência, possui um va-
lor médio nulo e um valor máximo V I sen φ .
• Potência activa
P = V I cos φ (1.8)
• Potência reactiva
Q = V I sen φ (1.9)
Regressando às equações (1.8) e (1.9) e notando que φ pode variar de +π/2 (carga induti-
va pura) a – π/2 (carga capacitiva pura) verifica-se que, enquanto P é sempre positivo, Q
pode ser positivo ou negativo. Será positivo se a carga for indutiva (φ>0), negativo se a
carga for capacitiva (φ<0) e nulo se a carga for resistiva (φ=0). Na prática dos SEE diz-se,
convencionalmente, que uma carga indutiva absorve potência reactiva e uma carga capa-
citiva gera potência reactiva.
10 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
V =V ejδ (1.11)
I = I e jβ (1.12)
Im
I
φ
δ
β
Re
A potência complexa S é definida pelo produto do fasor tensão pelo conjugado do fasor
corrente
S = V I∗ (1.13)
S = V e j δ I e − j β = V I e j ( δ −β ) = V I e j φ
(1.14)
= V I cos φ + j V I sen φ
S = P + jQ (1.15)
A potência complexa S é, assim, uma grandeza complexa cuja parte real é a potência ac-
tiva P e cuja parte imaginária é a potência reactiva Q.
2
Os fasores (grandezas complexas) são representados em tipo carregado; os respectivos módulos (bem
como outras grandezas reais) em tipo normal.
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 11
S = P 2 +Q2 = V I (1.16)
Com efeito:
V =Z I (1.17)
I =Y V (1.18)
S =V Y ∗ V ∗ =Y ∗V 2 (1.19)
S = Z I I∗ = Z I2 (1.20)
Admitindo que a carga é constituída por uma resistência R em paralelo com uma reactân-
cia X, por aplicação da equação (1.19) os valores das potências activa e reactiva consu-
midas são:
V2
P= (1.21)
R
V2
Q= (1.22)
X
Q = −ω C V 2 (1.23)
Se a carga for constituída por uma resistência R em série com uma reactância X, a apli-
cação da equação (1.120) conduz aos valores das potência activa e reactiva consumidas:
12 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
P = R I2 (1.24)
Q = X I2 (1.25)
Se, ao invés, forem conhecidas as potência activa e reactiva de carga para um dado valor
da tensão ou da corrente, as equações (1.19) e 1.20) permitem calcular o valor da admi-
tância ou impedância correspondente, respectivamente:
S∗ P − j Q
Y = = (1.26)
V2 V2
S P + jQ
Z= = (1.27)
I2 I2
Como vimos na secção anterior, a potência eléctrica num sistema monofásico tem natu-
reza oscilante, o que não sucede em sistemas trifásicos, como se mostrará à frente. Esta
característica, se não tem inconvenientes em muitas aplicações, como sejam aquecedo-
res, aparelhos de iluminação ou equipamento electrónico, é indesejável em motores eléc-
tricos – que constituem a parcela mais significativa da carga ligada à rede – por conduzir
a um binário motor também oscilante.
Um gerador trifásico com os enrolamentos ligados em estrela – Figura 1.5a – produz três
forças electromotrizes (tensões em vazio) com frequência angular ω = 2π f , iguais em
módulo e desfasadas de 2π/3 (=120º) – Figura 1.5b – na qual as três fases são designa-
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 13
das por a, b e c (a fase a, dita de referência, possui argumento nulo). O diagrama de faso-
res correspondente está representado na Figura 1.5c.
ea
- + a
~ ea eb ec Ec
eb o
- + b 120
~ 120
o
Ea
2π ωt 120
o
ec
c ωt
- +
~
Eb
n
a b c
A sequência de fases é tal que a fase b está em atraso em relação à fase a e a fase c em
atraso em relação à fase b. Esta sequência é importante em algumas aplicações: num
motor eléctrico, ela determina o sentido de rotação.
ea Z
- + a ia
~
eb Z
- + b ib
~
ec ic Z
- + c
~
v c vb va
n
v a = 2 V sen ω t
v b = 2 V sen (ω t − 2π 3 ) (1.28)
v c = 2 V sen ( ω t + 2π 3 )
Va = V e j 0
Vb = V e − j 2π 3
(1.29)
Vc = V e j 2π 3
Num sistema trifásico, o valor nominal é definido para as tensões fase-fase (ou tensões
entre fases ou tensões compostas,) representadas na Figura 1.7:
Vab = Va − V b
Vbc = Vb − Vc (1.30)
Vca = Vc − Va
Vca
Vc Ic
φ
Va
φ o
30 Vab
Ia
φ
Ib
Vb
Vbc
Figura 1.7 – Fasores de tensão (simples e composta) num sistema trifásico simétrico.
i a = 2 I sen (ω t − φ )
i b = 2 I sen (ω t − 2π 3 − φ ) (1.32)
i c = 2 I sen (ω t + 2π 3 − φ )
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 15
A soma das correntes nas três fases é nula, logo não é necessário um condutor ligando o
neutro do gerador com o da carga. Os dois neutros estão ao potencial da terra, quer no
gerador quer na carga, ainda que porventura não estejam fisicamente ligados a ela.
Num sistema trifásico simétrico, todas as tensões simples podem ser medidas em rela-
ção a um neutro, que tem o mesmo potencial – zero – ao longo de todo o sistema.
p = 3 V I cos φ (1.34)
A potência trifásica instantânea é portanto constante e igual a três vezes a potência activa
por fase. Em termos da tensão entre fases – equação (1.31) – a potência activa trifásica
escreve-se:
P= 3 VL I cos φ (1.35)
Em face deste resultado poder-se-ia supor que a potência reactiva é irrelevante num sis-
tema trifásico, o que não é o caso. Em cada uma das fases, a potência é do tipo descrito
pela equação (1.10) sendo nula a soma das respectivas componentes oscilatórias, tal
como se verifica para as correntes.
A potência reactiva trifásica é definida como a soma algébrica das potências reactivas em
cada fase, ou seja:
Q = 3 V I sen φ
(1.36)
= 3 VL I sen φ
S = 3V I ∗
= 3 Vc I cos φ + j 3 Vc I sen φ (1.37)
=P + jQ
16 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
S = 3 VL I = P 2 + Q 2 (1.38)
A carga trifásica representada na Figura 1.6 está ligada em estrela, ou seja, a tensão apli-
cada a cada impedância de carga Z é a tensão fase-neutro. Outra forma de ligar a carga é
em triângulo, como se mostra na Figura 1.8 (o gerador não está representado), situação
em que cada impedância de carga Z∆ está sujeita à tensão entre fases.
ia
a
vab Z∆ Iab
ib
vca b
Z∆
Ibc Z∆
vbc Ica
ic
c
Vab
I ab = (1.39)
Z∆
Vca
I ca = (1.40)
Z∆
Admitindo Z∆=Z, a amplitude da corrente Ia é três vezes maior que na ligação da carga em
estrela, e o ângulo de desfasagem é idêntico.
A potência absorvida pela carga ligada em triângulo é então três vezes maior que a cor-
respondente à ligação em estrela, para o mesmo valor da impedância de carga.
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 17
Devido à simetria existente nas três fases num sistema trifásico equilibrado, é suficiente
determinar a tensão, a corrente e a potência na fase de referência. Nas outras duas fases
afectam-se as grandezas eléctricas (tensões e correntes) por uma desfasagem de ±120º.
É assim suficiente o uso de um esquema monofásico equivalente – no qual se representa
uma fase e o neutro – para analisar o sistema.
O esquema (ou diagrama) unifilar constitui uma representação ainda mais simples do sis-
tema de energia eléctrica. Ainda que a rede seja trifásica (excepto nos troços finais em
baixa tensão, que podem ser monofásicos ou trifásicos), usa-se apenas um traço para
representar os respectivos elementos – donde a designação de esquema unifilar. Omite-
se a representação do neutro por não conter informação relevante, pelo menos para o
cálculo em regime estacionário.
3
Para corrente contínua, usa-se o sinal de igual (=).
18 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
valor da grandeza
valor p.u. = (1.42)
valor de base
O valor da grandeza pode ser uma quantidade expressa em unidades do Sistema Inter-
nacional, um fasor ou número complexo referente a um circuito de corrente alternada ou
um valor instantâneo.
• Base postulada;
• Base derivada.
Sb
Ib = (1.43)
Vb
Vb Vb2
Zb = = (1.44)
Ib Sb
Ib S
Yb = = b2 (1.45)
Vb Vb
V
V pu = (1.46)
Vb
I
I pu = (1.47)
Ib
S VI* ∗
Spu = = = V pu I pu (1.48)
Sb Vb I b
Z S
Z pu = = Z b2 (1.49)
Zb Vb
Y V2
Y pu = =Y b (1.50)
Yb Sb
Por vezes é necessário converter uma impedância ou uma admitância expressa em p.u.
numa dada base (designada por ‘) para outra base (designada por ‘’). Atendendo às equa-
ções (1.49) e (1.50), é fácil verificar que:
S′b′ Vb′2
Z ′pu
′ = Z ′pu (1.51)
S′b Vb′′2
S′b Vb′′2
′ = Y pu
Y pu ′ (1.52)
S′b′ Vb′ 2
20 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Para sistemas trifásicos, toma-se para base a potência aparente trifásica Sb e a tensão
entre fases Vb. A relação entre a potência aparente, a tensão e a corrente de base é:
Sb = 3 Vb I b (1.53)
Sb
Ib = (1.54)
3 Vb
Vb Vb Vb2
Zb = = = (1.55)
3 Ib Sb Sb
3
3 Vb
3V
Vpu = (1.56)
Vb
I
I pu = (1.57)
Ib
Note-se que a tensão Vpu tem o mesmo ângulo de fase que a tensão fase-neutro V.
S 3V I ∗ 3 3 V I∗ ∗
Spu = = = = V pu I pu (1.58)
Sb 3 Vb I b 3 Vb I b
Note-se que, usando valores p.u. esta equação coincide com a que se aplica a um siste-
ma monofásico. Quanto à impedância e admitância também se mantêm as equações
(1.49) e (1.50).
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 21
I jX
1 2
S12 S21
V1 V2
A corrente que percorre a linha, definida como positiva quando flui do barramento 1 para o
2, é dada por:
V1 − V2
I = (1.59)
jX
V1 = V1 e j δ1 (1.61)
V2 = V2 e j δ2 (1.62)
resulta:
(receptor).
V1 V2
P12 = sen δ (1.65)
X
V12 − V1 V2 cos δ
Q12 = (1.66)
X
V1 V2
P21 = − sen δ (1.67)
X
V22 − V1 V2 cos δ
Q 21 = (1.68)
X
A equação (1.65) indica que o sentido do trânsito de potência activa é essencialmente de-
terminado pelo ângulo de desfasagem δ entre as tensões nos barramentos de emissão e
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 23
Q med = 0 (1.72)
Embora a potência média seja nula, o mesmo não se passa com a potência reactiva nos
extremos, que as equações (1.66) e (1.68) mostram ser iguais:
Vn2 (1 − cos δ )
Q12 = Q 21 = (1.73)
X
2Vn2 (1 − cos δ )
QL = (1.74)
X
O valor das perdas de potência reactiva pode em alternativa ser calculado pela equação
(1.25). Sendo a amplitude da corrente no circuito dado por:
V1 − V2
e jδ1 − e jδ2 = n [2 (1 − cos δ )]1/ 2
Vn V
I= = (1.75)
X X X
obtém-se:
2 Vn2 (1 − cos δ )
QL = I 2 X = (1.76)
X
24 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
V1 − V2
I= (1.77)
R
V12 − V1V2
P12 = V1 I = (1.78)
R
V22 − V1V2
P21 = −V2 I = (1.79)
R
(V1 − V2 ) 2
PL = P12 + P21 = = R I2 (1.80)
R
Constata-se desta equação que o trânsito de potência (activa) é regulável através da ten-
são nos extremos da linha, ao invés do que sucede em corrente alternada. Assim, se
V1>V2, o trânsito de potência é no sentido 1→2; se V1<V2, o trânsito é no sentido 2→1.
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 25
1.7.1 Tipologia
As cargas típicas têm carácter indutivo, e são especificadas pelas potências activa PC e
reactiva QC ou pela potência activa PC e factor de potência cos φ (em alternativa, pode
usar-se a tan φ):
PC
cos φ = (1.82)
PC2 + QC2
QC
tan φ = (1.83)
PC
• Motores;
• Iluminação;
• Aquecimento e refrigeração;
• Aparelhos electrónicos.
A carga servida por um SEE é influenciada por um grande número de factores, que se
podem classificar em dois grandes grupos: factores temporais e factores climáticos.
São correntemente utilizados modelos para a previsão do valor da carga em cada barra-
mento da rede, bem como da carga total, quer num horizonte de curto quer de médio ou
longo prazo.
26 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
1.7.2 Elasticidades
PC = f (V , f )
(1.84)
QC = g (V , f )
V = V o + ∆V
(1.85)
f = f o + ∆f
resulta:
PC = PCo + ∆PC
(1.86)
QC = QCo + ∆QC
onde:
∂ PC ∂ PC
∆PC ≈ ∆V + ∆f
∂V ∂f
(1.87)
∂ QC ∂ QC
∆QC ≈ ∆V + ∆f
∂V ∂f
ou ainda:
∆PC ∂ PC V o ∆V ∂ PC f o ∆f
≈ +
PCo ∂ V PCo V o ∂ f PCo f o
(1.88)
∆QC ∂ QC V o ∆V ∂ QC f o ∆f
≈ +
QCo ∂ V QCo V o ∂ f QCo f o
∂ PC V o
εv = (1.89)
∂ V PCo
∂ QC V o
ηv = (1.90)
∂V QCo
∂ PC f o
εf = (1.91)
∂ f PCo
∂ QC f o
ηf = (1.92)
∂ f QCo
Fazendo uso destas grandezas e tomando para valores de referência da tensão e da cor-
rente os valores nominais as equações (1.88) transformam-se em:
∆PC
≈ ε v ∆Vpu + ε f ∆f pu
PCo
(1.93)
∆QC
≈ ηv ∆Vpu + ηf ∆f pu
QCo
Esta é a grandeza mais importante, uma vez que em redes interligadas com elevada po-
tência girante, a frequência é regulada dentro de limites muito estreitos.
PC = CP V kP (1.94)
QC = CQ V
kQ
(1.95)
kP
∂ PC k −1 C Vo
= k P CP V o P = k P P o
∂V Vo V
(1.96)
Po
= k P Co
V
εv = kP (1.97)
ηv = k Q (1.98)
Para uma carga passiva, modelada por uma admitância constante, ligada a um barra-
mento com tensão V, a potência absorvida calcula-se por:
As potências activa e reactiva de carga são especificadas para o valor da tensão nominal
(igual a 1,0 p.u.). Então, a admitância equivalente, em valores p.u. calcula-se por:
YC = SC∗ = PC − j QC (1.100)
PC = GCV 2 (1.101)
QC = − BCV 2 (1.102)
Estas equações revelam que PC e QC variam com o quadrado da tensão. Das equações
(1.97) e (1.98) conclui-se então que:
εv = 2
(1.103)
ηv = 2
Para uma carga modelada por impedância constante, as elasticidades em relação à ten-
são são iguais a 2.
Para uma carga modelada por uma corrente com amplitude IC e desfasagem em relação
à tensão φ C constantes, retirada de um barramento com tensão V, a potência absorvida
calcula-se por:
SC = PC + j QC = V I C e j φC (1.104)
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 29
Admitindo, como é normal, que as potências activa e reactiva são especificadas para o
valor nominal da tensão (V=1,0 p.u.), os valores de IC e φ C são calculados por:
Q
φC = a tan C (1.106)
PC
Para valores variáveis da tensão, as potências activa e reactiva de carga são então dadas
por:
PC = V I C cos φC (1.107)
QC = V I C sen φ C (1.108)
εv = 1
(1.109)
ηv = 1
Para uma carga modelada por corrente constante, as elasticidades em relação à tensão
são unitárias.
Nesta hipótese, as potências são constantes, não variando com a tensão, logo:
εv = 0
(1.110)
ηv = 0
Para uma carga modelada por potência constante, as elasticidades em relação à tensão
são nulas.
• Carga Composta
A carga ligada a cada barramento do sistema eléctrico é composta por parcelas com
elasticidades diferentes, podendo com generalidade ser descrita pela equações:
30 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
PC = ∑C Pi V ε vi (1.111)
i
QC = ∑C Qi V ηvi (1.112)
i
ε v = 1 ,0
(1.113)
ηv = 1,3
Para uma carga modelada por uma impedância constante, é possível calcular analitica-
mente a elasticidade em relação à frequência. Das equações (1.101) e (1.102), tendo
presente que:
Rc
GC = (1.114)
RC2 + X C2
Xc
BC = − (1.115)
RC2 + X C2
XC = ω L = 2π f L (1.116)
X C2
ε f = −2 = −2 sen 2φC (1.117)
RC + X C
2 2
RC2 − X C2
ηf = = 1 − 2 sen 2φC (1.118)
RC + X C
2 2
4
Para uma carga típica é determinante o peso dos motores de indução, cuja elasticidade da potência acti-
va em relação à tensão é praticamente nula.
J. Sucena Paiva Conceitos Básicos 31
motores de indução, a elasticidade em relação à frequência é positiva, uma vez que a sua
velocidade e, por conseguinte, a potência fornecida, é proporcional àquela. Um valor empí-
rico habitualmente utilizado é:
ε f = 1,0 (1.119)
A elasticidade da potência reactiva em relação à frequência não tem interesse prático, não
se indicando, por conseguinte, um valor típico.
CAPÍTULO 2
MÁQUINAS ROTATIVAS E
TRANSFORMADOR
2.1.1 Introdução
cânica a uma carga ligada ao seu veio. Neste modo de funcionamento, a máquina recebe
a designação de motor síncrono.
Uma máquina síncrona é constituída por uma massa metálica fixa – estator – na qual está
instalado o enrolamento induzido e por uma massa metálica rotativa – rotor – no qual está
bobinado o enrolamento indutor ou de excitação. Na Figura 2.1 representa-se esquemati-
camente uma secção transversal de uma máquina trifásica com um par de pólos.
c
b’
a a’
c’ b
O enrolamento indutor é percorrido por uma corrente contínua, fornecida por uma fonte
auxiliar a qual dá origem a um fluxo magnético, que se fecha através do entreferro e do
estator. Devido à forma construtiva da máquina, a distribuição espacial da indução mag-
nética é aproximadamente sinusoidal, como se mostra na Figura 2.2a. Uma vez que o
rotor, accionado pela máquina motriz, roda com velocidade constante, cria-se no entrefer-
ro um fluxo magnético girante.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 35
B e
0 π 2π θ t
a b
O enrolamento do estator é constituído por bobinas, alojadas em cavas, que cobrem toda
a sua superfície interior. A bobina pertencente a uma fase é colocada em cavas diame-
tralmente opostas, sendo os condutores longitudinais paralelos ao veio da máquina. De
acordo com a lei de Faraday, o fluxo magnético girante induz uma tensão nessa bobina,
representada na Figura 2.2b, a qual dará origem a uma corrente num circuito exterior liga-
do entre os respectivos terminais. Dado que está sujeito a um fluxo magnético variável, o
estator é constituído por lâminas de ferro, por forma a reduzir as perdas por correntes de
Foucault.
Os enrolamentos das três fases estão espacialmente desfasados de 120º para que, com
a rotação uniforme do rotor, sejam produzidas tensões induzidas desfasadas de 120º no
tempo, constituindo um sistema trifásico simétrico.
Para uma máquina com um par de pólos, a frequência da tensão induzida em ciclos por
segundo (Hz) iguala a velocidade do rotor em rotações por segundo. Assim para a fre-
quência de 50 Hz, a velocidade de rotação será 3000 r.p.m. (rotações por minuto)5.
A máquina síncrona pode ter um número mais elevado de pares de pólos. Na Figura 2.3
mostra-se uma máquina com 4 pólos, na qual cada fase consiste de um par de enrola-
mentos ocupando quatro cavas na superfície do estator – a1 a1′ e a2 a′2 .
5
Para 60 Hz, seria de 3600 r.p.m.
36 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
a2
N
a'2 S a1'
S
N
b1
c1
a1
Em cada instante, são induzidas tensões iguais nos dois enrolamentos de cada fase, as
quais se somam, uma vez que aqueles estão ligados em série.
a1 a’1 a2 a’2
π 2π θm
0 2π 4π θ
Figura 2.4 – Distribuição espacial da indução magnética para uma máquina de 4 pólos.
(θm – rad. mecânicos;θ – rad. eléctricos).
θ = pθ m (2.1)
n
f=p (2.2)
60
A frequência angular ω da tensão relaciona-se por seu lado com a velocidade angular do
rotor ωr – ambas expressas em rad/s – pela expressão:
ω = pω r (2.3)
Os rotores representados nas Figura 2.1 e Figura 2.3 são de pólos salientes, sendo o en-
rolamento de excitação constituído por bobinas enroladas em torno das peças polares.
Esta forma construtiva é usada para velocidade de rotação relativamente baixas, que é o
caso de geradores movidos por turbinas hidráulicas. Estas máquinas rodam com uma
velocidade baixa – 150 a 300 r.p.m. – o que torna necessário um número de pares de pó-
los elevado – 20 a 10, respectivamente.
Sendo a máquina motriz uma turbina de vapor ou de gás, rodando a velocidades elevadas
– 3000 ou 1500 r.p.m. – a força centrífuga resultante exclui o uso de pólos salientes. Usa-
se então um rotor cilíndrico, de aço maciço, com dois ou quatro pólos, com um enrola-
mento semelhante ao do estator, instalado em cavas talhadas na respectiva superfície,
como se mostra na Figura 2.5.
c
b’
a a’
c’ b
Além dos enrolamentos já referidos a máquina síncrona ainda possui – excepto para po-
tências muito baixas – um enrolamento amortecedor que consiste numa gaiola em curto-
circuito, semelhante ao enrolamento do rotor da máquina assíncrona. Num gerador de
pólos salientes, o amortecedor está embebido nas faces das peças polares; num turbo-
gerador instala-se nas cavas que albergam o enrolamento de excitação.
38 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Em regime estacionário, o amortecedor não desempenha qualquer função, uma vez que
não é percorrido por corrente. Em regime transitório, no qual a velocidade do rotor difere
da de sincronismo, as correntes que nele são induzidas dão lugar a um amortecimento
que contribui para a estabilidade da marcha síncrona.
onde Bmax é o valor máximo medido no centro da cabeça do pólo e α o ângulo medido em
radianos eléctricos a partir do eixo magnético do rotor.
α eixo magnético
do rotor
a
θ=ωt
r N
eixo magnético da
S fase a do estator
a’
O fluxo magnético por pólo é o integral da indução magnética ao longo da área polar:
π 2
Φ =
∫
−π 2
Bmax cos α l r d α = 2 B max l r (2.5)
2B max l r
Φ = (2.6)
p
porque a área polar é 1/p vezes a de uma máquina bipolar com o mesmo diâmetro e
comprimento.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 39
O fluxo ligado com a fase a do estator λ, admitindo que o enrolamento do estator tem N
espiras, é dado por:
λ = N Φ cos θ (2.7)
onde θ é o ângulo do eixo magnético do rotor, medido a partir do eixo magnético do enro-
lamento da fase a do estator.
θ = p ωr t = ω t (2.8)
logo:
λ = NΦ cos ω t (2.9)
Pela lei de Faraday, a tensão induzida na fase a é o simétrico da derivada do fluxo ligado
em ordem ao tempo:
dλ
e=− = ω NΦ senω t
dt (2.10)
= ω NΦ cos (ω t − π 2 )
ω NΦ
E= (2.11)
2
do por 3 . Sendo tanto o fluxo como a f.e.m. grandezas sinusoidais, podemos represen-
tá-las por fasores, como se pode observar na Figura 2.7, na qual se definiram os eixos
directo d e de quadratura q, desfasados de 90º eléctricos.
eixo d
E
eixo q
40 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
λ r = L i a + M ab i b + M ac i c
(2.12)
= L ia + M i b + M ic
i a + i b + ic = 0 (2.13)
donde resulta:
λ r = (L − M ) i a (2.14)
dλr di
er = − = −(L − M ) a (2.15)
dt dt
A tensão aos terminais do gerador em carga obtém-se somando a f.e.m. devida ao indu-
tor com a queda de tensão devida à reacção do induzido:
d ia
v = e + er = e − (L − M ) (2.16)
dt
Dado que se trata de grandezas sinusoidais, podemos representá-las por fasores (para
simplificar a notação, deixou-se cair o índice a da corrente na fase de referência):
V = E − jω (L − M )I
(2.17)
= E − j XsI
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 41
A grandeza Xs recebe o nome de reactância síncrona. Note-se que nesta grandeza está
incluída a reactância de dispersão do enrolamento do estator, a qual não foi considerada
na análise anterior.
A máquina síncrona em regime estacionário (trifásico simétrico) pode então ser represen-
tada pelo esquema monofásico equivalente da Figura 2.8a – uma f.e.m. em série com a
reactância síncrona – ao qual corresponde o diagrama de fasores da Figura 2.8b.
jXs
I
E
δ
+ φ jXs I
V V
E ~
- I
∆
a b
Vn2
X s = X s pu (2.18)
Sn
Na Figura 2.9 apresentam-se formas típicas destas características, que se podem deter-
minar experimentalmente. A característica em vazio exibe uma zona linear (cuja tangente
é a recta de entreferro), para valores relativamente baixos da corrente de excitação. Após
esta zona, quando o fluxo magnético excede um determinado valor limite, manifesta-se a
não-linearidade resultante da saturação do ferro.
A característica em curto-circuito é linear, uma vez que, tendo o fluxo magnético um valor
muito baixo nesta situação, não se manifesta o fenómeno da saturação.
Da equação (2.17), sendo nula a tensão aos terminais V, obtém-se para a reactância sín-
crona saturada (em p.u.):
E 1
Xs = = (2.19)
Icc Icc
O valor da reactância síncrona não saturada, superior ao da reactância não saturada pode
calcular-se pelo inverso da corrente de curto-circuito correspondente à corrente de exci-
tação que conduz à tensão nominal em vazio, usando a recta de entreferro:
1
X sns = (2.20)
′
I cc
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 43
F.e.m.(pu) Corrente de
curto circuito (p.u.)
Recta do Característica
entreferro em vazio
1,0
Característica em
curto-circuito
Ic c
I’ cc
Corrente de
excitação (p.u.)
Tomando a tensão aos terminais V como referência, podemos calcular a potência com-
plexa fornecida pelo gerador por:
44 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
SG = PG + j QG = V I ∗ = V e j 0 I e jφ = V I e jφ (2.24)
PG = V I cos φ (2.25)
Q G = V I sen φ (2.26)
EV
PG = sen δ (2.27)
Xs
QG =
V
(E cos δ − V ) (2.28)
Xs
EV
Pmax = (2.29)
Xs
∆ = E cos δ − V (2.30)
E cos δ = V (2.31)
Q (p.u.)
(a)
(b)
1,0 P(p.u.)
(c)
O modelo desenvolvido não tem em conta a diferença entre a relutância do circuito mag-
nético segundo os eixos directo d e de quadratura q, que assumem particular importância
nas máquinas de pólos salientes. Esta diferença resulta de que o corpo do rotor tem uma
permeabilidade magnética muito mais elevada que a do ar. Mesmo para máquinas de ro-
tor cilíndrico, a relutância do circuito magnético não é rigorosamente igual segundo os
dois eixos, devido às cavas que albergam o enrolamento de excitação.
46 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
A desfasagem da corrente em relação à f.e.m. (φ+δ na Figura 2.8b) afecta por conseguin-
te o fluxo magnético devido à reacção do induzido, o qual pode ser decomposto em duas
componentes, conforme é aparente na Figura 2.11.
eixo d eixo q
B1 Bq
a B2 a’
Bd
I = I d +I q (2.34)
− jX q I q :
V = E − j X d Id − j X qIq (2.35)
j(Xd-X q)Id
Iq Vq E qd E
δ q
φ
jX qI jXqI q
Id
I
Vd
V jX dId
Referência
V = E − j X d I d − j X q (I - I d ) =
= E − jX q I − j (X d − X q )I d
(2.36)
E qd = V + j X q I (2.37)
obtém-se:
E = E qd + j(X d − X q ) I d (2.38)
Uma vez que j(X d − X q ) I d é colinear com E, o mesmo sucede a E qd . Então, em módu-
lo:
E = E qd + (X d − X q ) I d (2.39)
E − X d I d = V cos δ (2.40)
X q I q = V sen δ (2.41)
e também:
I q = I cos (φ + δ ) (2.42)
I d = I sen (φ + δ ) (2.43)
Multiplicando a equação (2.42) por cos δ e a equação (2.43) por sen δ , e somando-as;
multiplicando a equação (2.42) por sen δ e a equação (2.43) por cos δ , e subtraindo-as,
obtém-se:
Substituindo estas últimas equações nas equações (2.25) e (2.26) e fazendo uso das
equações (2.40) e (2.41) obtêm-se as potências activa e reactiva geradas:
48 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
VE V 2 1 1
PG = sen δ + − sen 2δ (2.46)
Xd 2 X q X d
VE cos 2 δ sen 2 δ
QG = cos δ − V 2 +
(2.47)
Xd Xd Xq
VE
PG = sen δ (2.48)
Xs
QG =
V
(E cos δ − V ) (2.49)
Xs
Secção 2.1.6.
nas síncronas, expressos em p.u. na base da potência aparente nominal das mesmas.
Quadro 2.1 – Valores Típicos das Reactâncias das Máquinas Síncronas (p.u.).
O gerador síncrono pode alimentar uma carga isolada ou, mais usualmente, estar inte-
grado numa rede à qual estão ligados outros geradores, rodando em sincronismo.
Na primeira situação – que ocorre raramente6 – o gerador tem, por si só, que manter
aproximadamente constante a frequência e a tensão aos terminais, por meio da acção de
reguladores de velocidade e de tensão, respectivamente.
6
É o caso, por exemplo, de um gerador de socorro, quando falta a alimentação da rede.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 49
Quando uma carga é ligada ao gerador – suposto em vazio, rodando à velocidade nominal
e apresentando a tensão nominal aos seus terminais – a corrente no estator dá lugar a
um binário resistente T (negativo), o qual impõe uma desaceleração do rotor, de acordo
com a equação:
dω r
T =I (2.50)
dt
Uma vez que a frequência é proporcional à velocidade do rotor, a frequência vai baixar,
efeito que tem de ser corrigido através do aumento do binário fornecido pela máquina mo-
triz, ou seja da potência mecânica PM, que está relacionada com aquele pela equação:
PM = Tω r (2.51)
A ligação da carga origina também uma queda de tensão apreciável, devida à reactância
síncrona da máquina, a qual tem de ser compensada por um aumento da corrente de ex-
citação, que eleva o valor da f.e.m.
A potência activa e reactiva fornecida pelo gerador deverá ser igual à pedida pela carga,
adicionada das perdas nos circuitos de ligação.
No caso de o gerador estar integrado numa rede síncrona, antes de ser ligado pelo res-
pectivo disjuntor, tem de ser sincronizado – por meio de um dispositivo designado sincro-
nizador – o qual assegura as seguintes condições:
Uma vez o gerador ligado à rede, há que colocá-lo em carga, isto é, a fornecer potência.
Para tal, actua-se sobre a válvula de admissão da máquina de accionamento, manobra
que requer um servomotor hidráulico devido à elevada força necessária.
Se a potência do gerador for muito menor que a potência girante da rede – potência total
das máquinas em serviço – como é habitualmente o caso, a frequência do conjunto não
será significativamente afectada pelo facto de aquele ser colocado em carga. Na verdade,
a regulação de frequência é uma tarefa executada pelo conjunto dos geradores em para-
lelo, podendo contudo ser atribuída prioritariamente a alguns dentre eles.
50 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Note-se que a máquina síncrona pode também funcionar como motor, recebendo energia
eléctrica da rede e fornecendo energia mecânica a uma carga, como é, por exemplo o
caso das centrais hidroeléctricas com bombagem. Neste tipo de centrais, a água pode
ser bombada de uma cota mais baixa para outra mais elevada nos períodos de vazio,
para ser turbinada nos períodos de ponta. Esta operação tem interesse técnico e econó-
mico, pois a energia tem um valor consideravelmente superior nas horas de ponta. Nos
períodos em que se procede à bombagem, o gerador funciona como motor.
Usada especificamente como motor, a máquina síncrona tem uma limitação importante:
necessita de uma máquina auxiliar para a levar do repouso até à sincronização com a
rede que a alimenta.
Das equações (2.27) e (2.46) resulta que, se δ = 0 , a potência activa é nula. Tal não si-
gnifica contudo que o mesmo suceda quanto à potência reactiva, a qual pode ser positiva
ou negativa (ou nula). Este é um modo de funcionamento possível para uma máquina sín-
crona, que então recebe a designação de compensador síncrono.
7
Neste caso, pode designar-se por reactância síncrona.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 51
E I
E
δ δ
φ
φ V
V
I
0< δ < π/2 0< δ < π/2
0< φ < π/2 - π/2< φ < 0
E
I
φ V
φ E
I
V
δ=0 δ= 0
φ = π/2 φ = -π/2
Considere-se o gerador ligado a uma rede infinita – rede de grande potência, cuja fre-
quência e tensão não são afectadas por variações das potências activa e reactiva gera-
das, respectivamente – através de um circuito com reactância XL, como se representa na
Figura 2.14.
52 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
jxs jxL
+
E ~ V
Sendo a reactância total Xs+XL, a potência activa gerada, desprezando a saliência, é dada
por (ver equação (2.27)):
EV
PG = sen δ (2.52)
Xs + XL
como motor).
PG
Pmax
-π /2
π /2 δ
-Pmax
Motor Gerador
A ligação eléctrica do gerador com a rede assemelha-se a uma ligação mecânica elásti-
ca. Define-se a rigidez eléctrica ou coeficiente de sincronismo pela derivada da potência
gerada em ordem ao ângulo de potência:
∂ PG EV
Cs = = cos δ (2.53)
∂δ Xs + XL
Este coeficiente é máximo quando a máquina está em vazio (δ=0), diminuindo à medida
que vai sendo carregada, em virtude do aumento de δ. O valor máximo teórico de δ é π/2
– ponto em que a máquina perde o sincronismo com a rede – não devendo na prática
exceder 30-40º.
Par uma máquina de pólos salientes, considerando a saliência, a potência activa é dada
por (ver equação (2.46)):
VE V 2 1 1
sen 2δ
PG = sen δ + − (2.54)
Xd + XL 2 X q + X L X d + X L
1442443 144444424444443
a b
A curva correspondente a esta equação está representada na Figura 2.16. O valor do ar-
gumento δ lim, que corresponde à perda de sincronismo, pode obter-se por solução da
equação:
∂PG
=0 (2.55)
∂δ
PG
-π 0 δlim π δ
Da equação (2.52) constata-se que, para a mesma potência activa produzida, quanto
maior for a f.e.m. E, tanto menor é o ângulo de potência δ. Da equação (2.53), conclui-se
que o coeficiente de sincronismo aumenta, o que significa que a estabilidade da marcha
síncrona vem aumentada. Quando a máquina está sobreexcitada, o funcionamento é por
conseguinte mais estável, e inversamente: uma máquina subexcitada é menos estável.
2.2 Transformador
2.2.1 Introdução
A tensão produzida pelos geradores situa-se na gama da média tensão – salvo os de po-
tência muito baixa, que podem operar em baixa tensão – porque esta é a tensão que op-
timiza técnica e economicamente o projecto destes equipamentos.
O transformador é uma máquina estática, constituído essencialmente por dois (ou três)
enrolamentos de cobre, montados em torno de um núcleo de ferro. Este é construído em
chapa laminada, a fim de reduzir as perdas por histeresis e correntes de Foucault. O fluxo
de energia eléctrica é bidireccional, sendo designado por primário o enrolamento que re-
cebe energia e secundário o que a entrega.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 55
i1 i2
1 Φ 2
v1 N1 N2 v2
primário secundário
d λ1
v1 = (2.56)
dt
λ1 = N 1Φ (2.57)
donde:
dΦ
v 1 = N1 (2.58)
dt
O fluxo Φ é o mesmo para os dois enrolamentos, uma vez que não há dispersão. A f.e.m.
induzida no enrolamento secundário (tensão em vazio) v 2 é então:
d λ2 dΦ
v2 = = N2 (2.59)
dt dt
V1 = jω N1F (2.60)
V2 = jω N 2F (2.61)
V1 V1 N1
= = (2.62)
V 2 V2 N 2
Uma vez que desprezámos as perdas, a potência complexa é igual nos dois lados do
transformador:
V1 I 1∗ = V2 I 2∗ (2.63)
donde:
I1∗ V2
= (2.64)
I 2∗ V1
ou seja:
I1 I1 N2
= = (2.65)
I 2 I 2 N1
N1 Vn1
m= = kV/kV (2.66)
N 2 Vn 2
Tomando para tensões de base dos lados primário e do secundário, as respectivas ten-
sões nominais:
Vb1 = V n1
(2.67)
Vb 2 =V n 2
Vn 1pu Vn1 Vb 2
m= = = 1,0 p.u. (2.68)
Vn 2 pu Vb1 Vn 2
Uma vez que a relação de transformação é unitária, o transformador ideal pode ser igno-
rado no esquema equivalente da rede em que esteja integrado.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 57
Núcleo
Núcleo
Enrolamentos
Enrolamentos
a b
O núcleo de ferro possui uma característica B–H não-linear (B e H são a indução ou den-
sidade de fluxo e o campo magnéticos, respectivamente): a partir de um certo valor do
campo, manifesta-se a saturação. Acresce o fenómeno da histeresis, que resulta em que
as trajectórias B–H são distintas para valores crescentes ou decrescentes do campo
magnético, conforme se representa na Figura 2.19.
O fluxo magnético alternado dá lugar a perdas de energia no núcleo de ferro, devidas: (a)
à histeresis e (b) a correntes de Foucault. As primeiras resultam da dissipação de energia
usada para orientar os domínios magnéticos do material na direcção do campo; as se-
gundas são devidas a perdas de Joule provocadas pelas correntes induzidas no ferro.
Para reduzir estas, o circuito magnético é construído em chapa de ferro laminada.
V
im
+
v ~
-
Im
V1 Gm jBm E1 E2 V2
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 59
Usando valores p.u., o transformador ideal desaparece, uma vez que a relação de trans-
formação m é unitária. Chegamos assim ao esquema equivalente em T, representado na
Figura 2.22.
R1 jX 1 R2 jX 2
I1 I2
1 I1 2
Im
V1 Gm jB m V2
Dado que a corrente de magnetização é pequena, o ramo transversal pode ser levado
para um dos extremos do esquema, conforme se representa na Figura 2.23, onde
R t = R1 + R 2 e X t = X 1 + X 2 .
60 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
I1 Rt jXt I2
1 2
Im
V1 Gm jBm V2
Rt jX t
I1 I2
1 2
2
V1 V2
Uma vez que as correntes expressas em p.u. nos dois enrolamentos são iguais,
I1 = I 2 = I , a relação entre as tensões primária e secundária exprime-se pela equação:
V1 = V2 + Z t I (2.69)
onde Z t = R t + j X t .
In Zt =Zcc
Vcc
I2
2
Z2
I1 Z1
1
N2 V2 V2
V1 N1
Z3 I3
V3 V1
N3 3
V3
Neste caso, definem-se três impedâncias (ou tensões) de curto-circuito, relativas a igual
número de combinações dois a dois, dos três enrolamentos. Dado que a potência aparen-
te nominal dos três enrolamentos não é a mesma (ainda que, em geral, dois deles te-
nham potências nominais idênticas), a impedância de curto-circuito referente a um par de
enrolamentos vem referida à menor das potências nominais. Há assim que convertê-las a
uma base de potência comum.
Z12 = Z1 + Z 2
Z13 = Z1 + Z 3 (2.72)
Z = Z + Z
23 2 3
Daqui resulta:
Dado que a resistência dos enrolamentos é em geral muito menor que a reactância, pode
modelar-se aproximadamente o transformador apenas pelas reactâncias de curto-
circuito.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 63
2.2.6 Autotransformador
I1
V1 N1 I′2
V′1
I2
V2 N2 V2
V1 N1
= =m (2.74)
V2 N 2
I1 N2 1
= = (2.75)
I 2 N1 m
m +1
S1′ = V1′I1 = (V1 + V2 )I1 = V1 I1
m (2.76)
m +1
= S1
m
m +1
S2′ = V2 I 2′ = V2 (I1 + I 2 ) = V2 I 2
m (2.77)
m +1
= S2
m
8
Em geral, despreza-se a resistência.
64 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
corrente em cada enrolamento é a mesma nas duas configurações, as perdas são iguais,
donde resulta um aumento do rendimento energético.
Esta vantagem, que resulta numa apreciável redução de custo, é tanto maior quanto mais
próxima da unidade for a relação de transformação. Por esta razão, em geral usam-se
autotransformadores quando a relação de transformação é inferior a 3:1.
φa φc
b
Uma vez que as tensões fase-neutro têm simetria trifásica, o mesmo sucede aos fluxos
magnéticos no núcleo, cuja soma é nula em qualquer instante. Não é por conseguinte ne-
cessário um circuito magnético de retorno, à semelhança do que sucede para a corrente
em sistemas trifásicos simétricos.
dores trifásicos que se mostram na Figura 2.29: Y/Y, Y/∆ ,∆/Y e ∆/∆9. Nos enrolamentos
ligados em estrela o neutro pode ou não estar ligado à terra; nos enrolamentos ligados em
triângulo, não existe um ponto neutro.
9
Os enrolamentos podem ainda ser ligados em zig-zag, o que por vezes se usa em transformadores de
distribuição..
66 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
a
a
n n
c
b
b c
a
a
a
b
n
b
c
c b
a
a
c
n
b
b c
c
a
a
c b
b c
Em transformadores Y/∆ ou ∆/Y, contudo, existe uma desfasagem entre as tensões pri-
mária e secundária, razão pela qual a relação de transformação é complexa. Considere-
se o transformador Y/∆ representado na Figura 2.30a, ao qual corresponde o diagrama de
fasores da Figura 2.30b.
(
V2ac = V2a 1 − e j 120 º ) (2.80)
= 3 V 2a e − j 30 º
N1 ac
V1a = V2
N2
(2.81)
N
= 3 1 V 2a e − j 30 º
N2
Concluímos assim que a tensão fase-neutro secundária está desfasada de 30º em avan-
ço, em relação à correspondente tensão primária.
N1 − j 30 º
m= 3 e (2.82)
N2
a I1a
Ia2 a
V1a
V2a
Iac
2
Iba
2
c n Ib2 b
V2ac
V1c V2b
I1c Icb
2
Ib1 Ic2 c
b
V2c
V1b a
V2c
V2a
30º
60º
N1 a
I 2ac = I1 (2.84)
N2
Por analogia:
N1 b N1 a − j 120 º
I 2ba = I1 = I1 e (2.85)
N2 N2
I 2a = I 2ac − I 2ba =
N1 a
N2
(
I 1 1 − e − j 120 º )
(2.86)
N
= 3 1 I 1a e j 30 º
N2
ou seja:
I 2a = m ∗ I1a (2.87)
∗ ∗
3 V1a I 1a = 3 V2a I 2a (2.88)
A comutação das tomadas faz variar a relação de transformação, uma vez que altera o
número de espiras do enrolamento. Admitindo que o comutador está instalado no enrola-
mento primário, tem-se:
V1n ± ∆V1
m= (2.89)
V2n
Em valores p.u.:
m = 1 ± ∆V1 (2.90)
A comutação de tomadas pode ser em vazio ou em carga. Neste último caso, o comuta-
dor, accionado por um motor, pode estar integrado num sistema de controlo que automa-
ticamente mantém a tensão num barramento especificado dentro de limites estreitos 10.
m = 1 ± ∆V1
1 2
I1 m:1
I1′ Zcc I2
1 2
V1 V1′ V2
V1
=m (2.91)
V1′
I1 1
= (2.92)
I1′ m
V1 = m (V 2+ Z cc I 2 ) (2.94)
10
Uma vez que a variação da relação de transformação não é contínua, não é possível regular a tensão
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 71
I2
I1 = (2.95)
m
O transformador com regulação de tensão pode ainda ser modelado por um esquema
equivalente em π, conforme se representa na Figura 2.32.
I1 m Zcc I2
1 2
1 1 1 1 1
V1 −1 1 − V2
mm Z cc m Z cc
1 1
V1 = V2 1 − + I 2 m Z cc + V2 (2.96)
m Z cc
1 1 1 1 1
I1 = V1 − 1 + V2 1 − + I2 (2.97)
m m Z cc m Z cc
V1 = m (V 2+ Z cc I 2 ) (2.98)
I2
I1 = (2.99)
m
As últimas duas equações são idênticas às equações (2.94) e (2.95), o que comprova a
validade do esquema equivalente em π.
2.3.1 Introdução
Os motores eléctricos representam uma parcela muito significativa da carga servida pelo
Sistema de Energia Eléctrica. O motor de uso corrente nas mais variadas aplicações in-
dustriais, comerciais e domésticas é o motor assíncrono – também designado motor de
indução – devido à sua simplicidade, robustez, fiabilidade e baixo custo.
Um motor assíncrono recebe energia da rede eléctrica e fornece energia mecânica a uma
carga: é um conversor electromecânico. A velocidade de rotação em vazio é próxima da
de sincronismo – velocidade do campo magnético girante no entreferro – diminuindo à
medida que aumenta a potência cedida à carga mecânica – daqui resulta a designação de
assíncrono.
lamento do rotor uma f.e.m., à semelhança do que se passa num transformador. Uma
vez que o rotor está em curto-circuito (rotor em gaiola) ou fechado através de circuito ex-
terior (rotor bobinado), esta f.e.m. dá origem a correntes que circulam no rotor, produzindo
um binário motor.
Estando o motor em repouso, as correntes no rotor têm uma frequência igual à da tensão
de alimentação; à medida que o rotor acelera, por acção do binário motor, aquela fre-
quência vai diminuindo. Se o motor estiver em vazio, a frequência e a amplitude das cor-
rentes no rotor são muito próximas de zero, só atingindo este valor devido às inevitáveis
perdas mecânica por atrito. Estando o motor a accionar um carga mecânica – que ofere-
ce um binário resistente – a frequência e a resultante amplitude das correntes rotóricas
terão um valor correspondente ao binário motor necessário para estabilizar a marcha da
máquina, a uma velocidade inferior à de sincronismo.
Sendo o estator alimentado por uma tensão trifásica com frequência f e p o número de
pares de pólos do enrolamento do estator, a velocidade de sincronismo ns expressa em
r.p.m. é:
60 f
ns = (2.100)
p
n s − nr
s= (2.101)
ns
Devido à diferença entre a velocidade do campo girante e a do rotor, são induzidas neste
tensões com a frequência de escorregamento fr:
fr = s fs (2.102)
74 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Rs jXs jXr
Is Ir
Im
Rr
s
Vs Es
Gm jBm
Er = s Es (2.103)
E r = s E s = I r R r + j (sX r ) I r (2.104)
ou ainda:
R
E s = r + j X r Ir (2.105)
s
Rr 2
Pr = 3 Ir (2.106)
s
A potência mecânica (desprezando as perdas por atrito) é, por seu lado, igual a Pr dedu-
zida das perdas no rotor:
1 −s
PM = Pr − 3 Rr I r2 = 3 Rr I r2 (2.107)
s
Face a este resultado, o esquema equivalente pode ser modificado conforme se mostra
na Figura 2.34, no qual a resistência Rr(1-s)/s modela a carga mecânica. Tal como no es-
quema equivalente do transformador, deslocou-se o ramo transversal para o lado da fonte
de tensão, obtendo-se um esquema em L. Note-se que a corrente de magnetização da
máquina assíncrona é substancialmente maior que a do transformador, face à corrente de
carga, pelo que esta aproximação é aqui mais grosseira. O valor daquela corrente calcu-
la-se por:
Im
1− s
Rr
s
Vs
Gm jB m
Vs
Ir = (2.109)
R
Rs + r + j ( X s + X r )
s
76 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
I s = Im + Ir (2.110)
Note-se que o motor assíncrono representa uma carga indutiva para a rede de alimenta-
ção, consumindo potência reactiva dada por:
Q r = −3 BmVs2 + 3 ( X s + X r )I r2 (2.111)
Para além da potência, interessa calcular o binário fornecido pelo motor assíncrono:
PM PM
T = = (2.112)
ω r ω s (1 − s )
3 R r I r2
T = (2.113)
sωs
donde:
Vs2
I r2 = 2
(2.114)
R
R s + r + (X s + X r )2
s
Rr
3 Vs2 s
T = (2.115)
ωs R
2
R s + r + ( X s + X r )2
s
A forma geral da característica binário – velocidade para uma máquina assíncrona está
traçada na Figura 2.35. A região de funcionamento como motor corresponde a s>0 ou
seja, a velocidade de rotação é inferior à de sincronismo; o funcionamento como gerador
é caracterizado por s<0, uma vez que a velocidade de rotação é superior à de sincronis-
mo.
J. Sucena Paiva Máquinas Rotativas e Transformador 77
Motor
1 0 -1 s
0 ωs ωs ω
Gerador
3 Vs2 Rr
Tarr = (2.116)
ω s (R s + Rr )2
+ (X s + X r )
2
Rr
sT max = (2.117)
R s2 + ( X s + X r )2
3 Vs2 1
Tmax = (2.118)
2 ω s R + R 2 + (X + X )2
s s s r
Tem ainda interesse conhecer a corrente de arranque do motor, que pode atingir valores
da ordem de seis a sete vezes a corrente nominal. Nesta situação ω r = 0 , logo s = 1 . Do
Vs
I sarr = (2.119)
R s + R r + j (X s + X r )
contudo também o binário de arranque, o que pode ser um inconveniente para alguns ti-
pos de carga mecânica.
zida do factor 3 . O binário vem por consequência reduzido a um terço – ver equação
(2.115). Após o motor atingir uma velocidade suficiente, o enrolamento é automaticamente
ligado em triângulo.
Conforme já referido, a máquina assíncrona também pode funcionar como gerador, sendo
usada em alguns tipos de centrais de baixa potência, alimentadas por fontes renováveis
(em particular, centrais eólicas). A corrente de magnetização necessária ao estabeleci-
mento do campo magnético no entreferro é fornecida pela rede eléctrica, contrariamente
ao que se passa na máquina síncrona que possui um sistema de excitação próprio.
e à potência activa. A máquina assíncrona recebe por conseguinte energia mecânica (de
uma máquina motriz) e fornece energia eléctrica à rede.
Do esquema equivalente da Figura 2.34 verifica-se que, embora a potência activa absor-
vida da rede se torne negativa, a potência reactiva se mantém positiva. O gerador assín-
crono é por conseguinte, um consumidor de energia reactiva, a qual deve ser compensa-
da por meio de uma bateria de condensadores. Esta pode ser dimensionada para tornar o
gerador um fornecedor líquido de potência reactiva, se as condições de funcionamento da
rede o exigirem.
Um gerador assíncrono rodando em vazio com um condensador ligado aos seus termi-
nais pode autoexcitar-se, dependendo do valor da respectiva capacidade. Na Figura 2.36
mostra-se a característica em vazio da máquina (f.e.m. em função da corrente de excita-
ção) – na qual é visível o efeito da saturação do ferro – bem como a recta V = I ω C que
V Característica
em vazio
Condensador
Im I
A ligação do gerador assíncrono à rede pode ser levada a cabo, quer directamente com a
máquina rodando a uma velocidade próxima da nominal – que dá lugar a um pico de cor-
rente resultante de o campo magnético no entreferro ser nulo – quer autoexcitando-a por
meio de uma bateria de condensadores de valor adequado e fazendo o paralelo de forma
semelhante ao de uma máquina síncrona – que não dá origem a qualquer sobrecorrente.
CAPÍTULO 3
3.1 Introdução
Na maioria dos casos, as linhas são aéreas, constituídas por condutores – de alumínio ou
de cobre – apoiados em ou suspensos de isoladores em postes de madeira, de betão ou
metálicos. Sujeitos ao seu próprio peso e a uma força longitudinal, os condutores descre-
vem uma linha designada catenária – a qual para vãos (distância entre postes) relativa-
mente curtos se aproxima de uma parábola.
Em zonas urbanas as linhas podem ser enterradas, sendo designadas por cabos subter-
râneos; quando atravessam troços de mar são referidas por cabos submarinos. Note-se
que a distância máxima a que é possível transportar energia eléctrica em corrente alter-
nada por meio de cabos subterrâneos ou submarinos é limitada a poucas dezenas de qui-
lómetros 11.
A tensão nominal de uma linha condiciona a sua capacidade de transporte: quanto mais
elevada for aquela, maior é a potência transportável. As tensões mais altas exigem natu-
ralmente níveis de isolamento mais elevados, bem como (para as linhas aéreas) maiores
distâncias entre condutores e entre estes e a terra; as estruturas de suporte são corres-
pondentemente de maiores dimensões.
Embora o cobre tenha uma condutividade quase dupla do alumínio, este material prevale-
ce na construção de linhas por razões de custo e de peso mais baixos. Acresce que um
condutor de alumínio tem um diâmetro superior ao do equivalente em cobre, o que reduz
11
Por este motivo, usa-se a corrente contínua, quando a distância a vencer é demasiado grande para o
transporte em corrente alternada.
82 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
o campo eléctrico na respectiva superfície. Quando este campo excede um dado valor
(da ordem dos 3 000 kV/m), manifesta-se o fenómeno da disrupção e ionização do ar en-
volvente, designado efeito de coroa – que provoca perdas adicionais e interferências nas
comunicações.
Para tensões acima de 220 kV, é de regra usar condutores em feixe – ou seja dois a qua-
tro condutores por fase – o que reduz consideravelmente o campo eléctrico à superfície
dos condutores bem como a reactância da linha, aumentando a sua capacidade de trans-
porte.
A forma construtiva dos condutores para linhas aéreas mais usual consiste de um núcleo
central de fios de aço entrançados, que proporcionam resistência mecânica, envolvidos
por várias camadas de fios de alumínio igualmente entrançados, que asseguram a con-
dução da corrente eléctrica – designado condutor de alumínio-aço.
Para os cabos subterrâneos – que podem ser monofásicos ou trifásicos – usa-se o alu-
mínio ou o cobre, sendo o isolamento assegurado modernamente por plásticos da família
dos polietilenos (no passado usava-se o papel impregnado de óleo). Envolvendo os con-
dutores isolados, existe em geral uma bainha de chumbo, para protecção contra a humi-
dade.
A resistência de uma linha é o parâmetro que condiciona as perdas (por efeito de Joule),
donde a sua importância.
ρ
R= (3.1)
S
A resistência varia com a temperatura, sendo em geral especificada para 20º C. A qual-
quer outra temperatura, pode obter-se pela expressão:
R 2 = R1 [1 + α (T2 − T1 )] (3.2)
As variações da resistência com a temperatura não são muito significativas. Por exemplo,
para o cobre uma variação de temperatura de 0º para 40º C resulta numa variação de re-
sistência de 17%.
• Além deste, existe ainda um efeito de proximidade, que reforça a distribuição não uni-
forme do fluxo dentro do condutor, devido à indução mútua entre os condutores de
uma linha. Este efeito é em geral desprezável à frequência nominal de 50 Hz.
Na prática, a resistência dos variados tipos de condutores usados é obtida com recurso
às tabelas fornecidas pelo fabricantes.
Para a condutância transversal G não existe uma fórmula utilizável na prática. Esta con-
dutância é devida à corrente de fuga entre os condutores e a terra, a qual flui essencial-
mente pela superfície das cadeias de isoladores. Ela depende fortemente das condições
atmosféricas, em particular da humidade, da poluição e da sujidade em geral, que condi-
cionam igualmente o efeito de coroa.
3.3 Reactância
mais importante de uma linha eléctrica de energia. A reactância tem a maior influência na
capacidade de transporte e na queda de tensão na linha.
λ
L= (3.3)
I
Vamos em primeiro lugar calcular o coeficiente de indução de uma linha monofásica com
dois condutores, representada na Figura 3.1. Consideram-se por razões de generalidade
que os dois condutores têm raios diferentes, ainda que na prática eles sejam normalmen-
te iguais.
2r1 2r2
1 2
x dx
x2
I( x ) = I (3.4)
r2
86 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
As linhas de densidade de fluxo são concêntricas com o eixo do condutor. Aplicando a lei
de Ampere, obtém-se o campo magnético H:
1 x
H( x ) = I( x ) = I (3.5)
2π x 2π r 2
µµ 0 x
B( x ) = I (3.6)
2π r 2
O fluxo ligado dλ devido à corrente I(x), circulando num elemento tubular de espessura
dx, por unidade de comprimento da linha, é:
µµ 0 x x 2 µµ 0 x 3
dλ = I dx = I dx (3.7)
2π r 2 r 2 2π r 4
r µµ 0 x 3 µµ 0
λ= ∫0 2π r 4
I dx =
8π
I (3.8)
1
Lint = x 10 −7 (3.9)
2
1
H( x ) = I (3.10)
2π x
O fluxo dλ ligado com a corrente total I, circulando num elemento tubular de espessura
dx, por unidade de comprimento da linha, é:
µµ 0
dλ = I dx (3.11)
2π x
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 87
O fluxo total entre dois pontos à distância D1 e D2, respectivamente, conforme represen-
tado na Figura 3.3, calcula-se por integração:
µµ 0 µµ 0 D2
∫
D2
λ= I dx = ln I (3.12)
D1 2π x 2π D1
B1 B2
r
D1
D2
vem finalmente:
(
Lext = 2 x 10 −7 ln ) D2
D1
(3.13)
dada por:
(
L1 ext = 2 x 10 −7 ln ) D
r1
(3.14)
1 D
(
L1 = 2 x 10 −7 + ln ) (3.15)
4 r1
1 D
(
L2 = 2 x 10 −7 + ln ) (3.16)
4 r2
88 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
( 1 D
L = 4 x 10 −7 + ln ) (3.17)
4 r
r ′ = r e −1 4 (3.18)
vem finalmente:
(
L = 4 x 10 −7 ln ) D
r′
(3.19)
Para alargar a análise a linhas com n condutores, é útil considerar que os dois condutores
da linha equivalem a dois circuitos eléctricos magneticamente acoplados, conforme se
representa na Figura 3.4.
∆v1
1 i
2r1
L11
D M12
2 i
2r2
L22
∆v 2
Figura 3.4 – Linha monofásica considerada como dois circuitos magneticamente acoplados.
12
Também designado raio médio geométrico.
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 89
Ignorando a resistência, e sendo i a corrente que percorre a linha, a queda de tensão por
unidade de comprimento ∆v em cada condutor pode escrever-se:
di di
∆v 1 = L11 − M12 (3.20)
dt dt
di di
∆v 2 = M 12 − L 22 (3.21)
dt dt
onde L11 e L22 são os coeficientes de indução própria de cada condutor e M 12 o coeficien-
te de indução mútua entre eles:
1
(
L11 = 2 x10 −7 + ln )
1
(3.22)
4 r1
1
(
L22 = 2 x10 −7 + ln )
1
(3.23)
4 r2
(
M12 = 2 x10 −7 ln ) 1
D
(3.24)
( 1
)1 1
= jω 2 x10 −7 + ln − ln I = (3.25)
4 r1 D
1 D
( )
= jω 2 x10 −7 + ln I
4 r1
∆V 2 = jω (L22 − M12 ) I =
( 1
)1 1
= jω 2 x10 −7 + ln − ln I = (3.26)
4 r2 D
1 D
( )
= jω 2 x10 −7 + ln I
4 r2
∆V1 = jω L1 I (3.27)
∆V 2 = jω L2 I (3.28)
90 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
( 1
)
1 1 1 1
∆V = jω 2 x10 −7 + ln + + ln − 2 ln I =
4 r1 4 r2 D
(3.32)
1
(
= jω 4 x10 −7
) + ln D
4
I
r1 r2
( 1
)
D
∆V = j ω 4 x10 −7 + ln I =
4 r
(3.33)
( D
= j ω 4 x10 −7 ln I
r′
)
onde r’ é o raio equivalente do condutor, dado pela equação (3.18).
Esta equação confirma – confronte-se com a equação (3.19) – que o coeficiente de auto-
indução total da linha é:
(
L = 4 x10 −7 ln ) D
r′
(3.34)
( 1
) 1
Lii = 2 x10 −7 + ln = 2 x10 −7 ln
1
ri′
(3.35)
4 ri
(
M ij = 2 x10 −7 ln ) 1
Dij
(3.36)
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 91
L11
1
1
Lii
Dij
ii Mij
i
2r i
L jj
j
j
Lnn
n
A queda de tensão ∆Vi por metro de condutor escreve-se, por analogia com as equações
(3.25) ou (3.26), e considerando o mesmo sentido positivo das correntes nos n conduto-
res:
n
∆V i = jω Lii I i + ∑ jω M
j =1
ij Ij (3.37)
j ≠i
Vamos agora aplicar ao caso de uma linha trifásica, com os condutores colocados nos
vértices de um triângulo equilátero, conforme ilustrado na Figura 3.6a.
ia
D ib
ic ib ic
D
D D D
∆V a = jω L aa I a + jω M ab I b + jω M ac I c
( 1
) 1 1
= jω 2 x10 −7 ln I a + ln I b + ln I c
(3.38)
r′ D D
92 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
I a + Ib + Ic = 0 (3.39)
vem:
( 1
) 1
∆V a = jω 2 x10 −7 ln I a − ln I a =
r′ D
(3.40)
( D
= jω 2 x10 −7 ln I a
r′
)
Expressões análogas se podem escrever para as fases b e c:
(
∆Vb = jω 2 x10 −7 ln ) D
r′
Ib (3.41)
(
∆Vc = jω 2 x10 −7 ln ) D
r′
Ic (3.42)
A queda de tensão em cada fase só depende da corrente nessa fase, o que permite a
análise por fase usando o esquema monofásico equivalente:
(
L = 2 x 10 −7 ln ) D
r′
(3.43)
Note-se que este coeficiente de indução própria é metade da correspondente a uma linha
monofásica – veja-se a equação (3.34).
Se os condutores não forem equidistantes e sendo Dab, Dbc e Dac as distâncias entre os
três condutores tomados dois a dois, as quedas de tensão nas três fases escrevem-se:
∆V a = jω Laa I a + jω M ab I b + jω M ac I c
1
( )
= jω 2 x10 −7 ln I a + ln
1
I b + ln
1
I c
(3.44)
r′ Dab Dac
∆V b = j ω L bb I b + jω M bc I c + jω M ac I a
1
( )
= j ω 2 x10 −7 ln I b + ln
1
I c + ln
1
I a
(3.45)
r′ D bc D ac
∆Vc = jω Lcc I c + jω M ac I a + jω M bc I b
1
( )
= jω 2 x10 −7 ln I c + ln
1
I a + ln
1
I b
(3.46)
r′ D ac D bc
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 93
Neste caso existe acoplamento entre fases, resultante de a linha não ser um elemento
simétrico, o que em princípio impossibilita a análise monofásica equivalente. Contudo, a
transposição dos condutores da linha – que se representa na Figura 3.7 – permite torná-la
aproximadamente simétrica. Com esta técnica, os condutores vão sendo permutados cir-
cularmente, em troços equidistantes, de forma que cada um ocupa sequencialmente as
três posições possíveis.
a c b
b a c
c b a
Para cada troço da linha transposta aplicam-se as equações (3.44), (3.45), e (3.46). A
queda de tensão na fase a é então a média das quedas de tensão em cada troço:
∆V a =
1
(
jω 2 x10 −7 ) 3 ln r1′ − ln D 1
I a =
3 ab D bc D ac (3.48)
( )
3
Dab Dbc Dac
= jω 2 x10 −7 ln Ia
r′
Concluímos que, para a linha transposta, é válida a análise monofásica equivalente, uma
vez que a queda de tensão em cada fase depende apenas da corrente nessa fase. O
coeficiente de auto-indução por fase (H/m) calcula-se então por:
( )
3
DabDbc Dac
L = 2 x10 −7 ln (3.49)
r′
Confrontando com a equação (3.43), verifica-se que se usa a média geométrica das dis-
tâncias entre os três condutores, tomados dois a dois.
94 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Para uma linha com configuração em esteira – Figura 3.6b – a média geométrica das dis-
tâncias entre condutores é 3 2 D D D = 3 2 D , pelo que a equação anterior devém:
( )
3
2D
L = 2 x10 −7 ln (3.50)
r′
Consideremos por último uma linha trifásica com dois condutores em feixe – Figura 3.8 –
que é usual para o nível de tensão de 400 kV. Vamos calcular o coeficiente de auto-
indução para uma configuração em esteira, transposta, sendo d a distância entre os con-
dutores da mesma fase e D a distância entre fases.
1 2 3 4 5 6
a b c
d
D D
Admitindo que a corrente por fase se reparte igualmente pelos dois condutores, a queda
de tensão por unidade de comprimento no condutor 113 (fase a) no primeiro troço é:
(
∆V a′ = jω 2 x10 −7 ln
′
)
1 Ia
+ ln
1 Ia
+ ln
1 Ib
+ ln
1 Ib
D +d 2
+ ln
1 Ic
+ ln
1 Ic
2 D + d 2
(3.51)
r 2 d 2 D 2 2D 2
( 1
) 1 I 1
∆V a′ = jω 2 x10 −7 ln + ln a + ln I b + ln
1
Ic (3.52)
r ′ d 2 D 2D
13
O mesmo valor se obteria para o condutor 2.
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 95
(
∆V a′′ = jω 2 x10 −7 ln ) 1
Ia (3.53)
r ′d
( ) 1 1 I
∆V a′′′ = jω 2 x10 −7 ln + ln a + ln
′
1 1
I b + ln I c (3.54)
r d 2 2D D
Tomando a média destes três equações, vem para a queda de tensão na fase a:
3 2D
(
∆V a = jω 2 x10 −7 ln
)
I a
(3.55)
r ′d
( )
3
2D
L = 2 x10 −7 ln (3.56)
r ′d
No caso geral de uma linha trifásica com m condutores em feixe por fase, sendo Dab, Dbc
e Dac as distâncias entre os centros dos feixes e R o respectivo raio, o coeficiente de
auto-indução por fase é dada por:
( )
3 Dab D bc D ca
L = 2 x10 −7 ln (3.57)
m
m r ′ R m−1
π
d = 2R sen (3.58)
m
Q
C= (3.59)
V
Q
V = (3.60)
4πε 0 x
1
onde ε 0 = x 10 −9 (F/m) é a constante dieléctrica do vácuo.
36π
Numa linha a carga eléctrica q (expressa em C/m) está distribuída ao longo dos conduto-
res, considerando-se positiva no condutor 1 e negativa no condutor 2. Pode demonstrar-
se que o potencial num ponto P, situado à distância d1 do condutor 1 e d2 do condutor 2
se exprime pela equação:
q d
VP = ln 2 (3.61)
2π ε 0 d1
O potencial é constante ao longo de linhas para as quais a relação d2/d1 é constante, de-
signadas círculos harmónicos, que se representam na Figura 3.9. As superfícies equipo-
tenciais são então cilíndricas e as linhas de força do campo eléctrico são círculos, ortogo-
nais àquelas.
q D
V1 = ln (3.62)
2π ε 0 r1
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 97
d1 = D (r2 << D ) :
q r −q D
V2 = ln 2 = ln (3.63)
2π ε 0 D 2π ε 0 r2
Equipotencial
Linha do campo
eléctrico
2r1 2r2
d1 d2
P V>0 V<0
V=0
q D
V12 = V1 − V2 = ln (3.64)
πε0 r1r 2
A capacidade entre os dois condutores – quociente entre a carga por unidade de compri-
mento e a tensão entre eles – vem então:
π ε0
C 12 = (3.65)
D
ln
r1 r 2
π ε0 1 1
C12 = = x10 − 9 (3.66)
D 36 D
ln ln
r r
O cálculo apresentado não considera a presença da terra, que altera as superfícies equi-
potenciais e as linhas do campo eléctrico e, por conseguinte, a capacidade entre os con-
dutores.
98 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Vamos agora generalizar os resultados obtidos para uma linha com n condutores. A
equação (3.61) pode reescrever-se:
q 1 −q 1
VP = ln + ln (3.67)
2πε 0 d1 2πε 0 d 2
Para n condutores com cargas q1, q2, …,qn respectivamente, o potencial num ponto P às
distâncias d1, d2, …,dn dos condutores – Figura 3.10 – é dado por:
q1 1 q 1 q 1
VP = ln + 2 ln + L + n ln (3.68)
2πε 0 d1 2πε 0 d 2 2πε 0 d n
A soma de todas as cargas tem necessariamente de ser nula. Se assim não fosse, dado
que os condutores têm comprimento infinito, teríamos um excesso (ou defeito) infinito de
carga eléctrica, o que é fisicamente impossível. Então:
q1 + q 2 + L + q n = 0 (3.69)
q1
d1
q2
d2
P dn
qn
A terra constitui uma superfície ao potencial zero, podendo o seu efeito ser considerado
usando a teoria das imagens das cargas. Estas imagens são da mesma grandeza que as
cargas físicas, mas de sinal contrário, estando colocadas a idêntica distância relativamen-
te à terra que aquelas, como está representado na Figura 3.11.
O campo eléctrico resultante das cargas reais residentes nos condutores, na presença
da terra, é equivalente ao que teria origem naquelas e nas respectivas imagens, ignorando
a terra.
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 99
-q
q1 1 q 1 q 1
VP = ln + 2 ln + L + n ln
2πε 0 d1 2πε 0 d 2 2πε 0 d n
(3.70)
− q1 1 − q2 1 −qn 1
+ ln + ln +L+ ln
2πε 0 d1′ 2πε 0 d 2′ 2πε 0 d ′n
ou seja:
q1 d′ q d′ q d′
VP = ln 1 + 2 ln 2 + L + n ln n (3.71)
2πε 0 d1 2πε 0 d 2 2πε 0 d n
q1
d1
d2 q2
P dn
qn
d′n
d′2
-qn
d′1 -q2
-q1
100 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Para uma linha monofásica com dois condutores – Figura 3.13 – o potencial do condutor
1 é:
q 2H −q D′
V1 = ln + ln =
2πε 0 r 2πε 0 D
(3.72)
q 2H D
= ln
2πε 0 r D′
q D′ −q 2H
V2 = ln + ln =
2πε 0 D 2πε 0 r
(3.73)
q D′ r
= ln
2πε 0 D 2H
q -q
1 2
D’
-q q
1’ 2’
q 2H D
V12 = V1 − V2 = ln (3.74)
πε 0 r D′
q
C12 = (3.75)
V12
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 101
πε 0 1 1
C12 = = x10 −9 (3.76)
D 2 H 36 2H
D
ln ln
r D′ r D′
Confrontando com a equação (3.66), constata-se que a diferença reside no factor 2H/D’
no argumento da função logaritmo. Para valores normais dos parâmetros de configuração
da linha, verifica-se que a influência da terra no valor da capacidade é diminuta (inferior a
1%).
q
C= (3.77)
V1
2πε 0 1 1
C= = x10 −9 (3.78)
D 2 H 18 D 2H
ln ln
r D ′ r D′
Considere-se agora uma linha trifásica não simétrica e transposta, com um condutor por
fase, com a configuração apresentada na Figura 3.14.
Dab
Dac
b Dbc c
Figura 3.14 – Linha trifásica com espaçamento entre condutores não simétrico.
1 1 1 1
Va′ = q a ln + q b ln + q c ln (3.79)
2πε 0 r Dab D ac
No segundo troço,
1 1 1 1
Va′′ = q a ln + q b ln + q c ln (3.80)
2πε 0 r D bc D ab
No terceiro troço,
1 1 1 1
Va′′ = q a ln + q b ln + q c ln (3.81)
2πε 0 r Dac Dbc
qa + qb + qc = 0 (3.83)
resulta:
3 D D D
qa
Va = ln ab bc ac
(3.84)
2πε 0 r
2πε 0
C = (3.85)
3 Dab Dbc Dac
ln
r
2πε 0 1 1
C = 3
= x10 − 9 3
(3.86)
2D 18 2D
ln ln
r r
2 πε 0
C = (3.87)
2D
3
2H
ln
r 3 ′ D bc
Dab ′ D ′ac
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 103
2πε 0 1 1
C = = x10 − 9 (3.88)
18
D 2H D 2H
ln ln
r
6
(D 2
+ 4H ) (D
2 2 2
+H2 )
r
6
(D 2
+ 4H 2 ) (D
2 2
+H2 )
D D
a b c
H
D′ab D′ac D′bc
a’ b’ c’
Consideremos agora a linha trifásica transposta com dois condutores em feixe da Figura
3.8. Admitindo que a carga na fase a é qa, distribuída uniformemente pelos dois conduto-
res, e que d << D , o potencial de qualquer um dos condutores desta fase, no primeiro
troço, ignorando a presença da terra, é:
1 qa 1 qa 1 1 1
Va′ = ln + ln + q b ln + q c ln (3.89)
2πε 0 2 r 2 d D 2D
No segundo troço:
1 qa 1 qa 1 1 1
Va′′ = ln + ln + q b ln + q c ln (3.90)
2πε 0 2 r 2 d D D
e no terceiro troço:
104 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
1 qa 1 qa 1 1 1
Va′′′ = ln + ln + q b ln + q c ln (3.91)
2πε 0 2 r 2 d 2D D
3
qa 2D
Va = ln (3.92)
2πε 0 rd
2πε 0 1 1
C= 3
= x10 −9 3
(3.93)
2D 18 2D
ln ln
rd rd
No caso geral de uma linha trifásica com m condutores em feixe por fase, sendo Dab, Dbc
e Dca as distâncias entre os centros dos feixes e R o respectivo raio, a capacidade por
fase é dada por:
2πε0 1 1
C= = x10 −9 (3.94)
3 Dab Dbc Dca 18 3 D D D
ab bc ca
ln ln
m
m r R m−1 m
m r R m−1
Para cabos monopolares com bainhas individuais, a capacidade calcula-se pela expres-
são:
2πε 0 ε r 1 ε
C= = x10 −9 r (3.95)
R 18 R
ln ln
r r
Para cabos tripolares com bainha ou cabos instalados em tubos, pode-se recorrer a da-
dos empíricos.
O modelo de uma linha arbitrariamente longa – também designado modelo exacto – pode
ser deduzido por aplicação das leis de Kirchoff a um troço incremental da mesma, consi-
derando a natureza distribuída dos parâmetros R, L, C e G (valores por unidade de com-
primento).
Considere-se então o troço de uma fase de uma linha trifásica com comprimento infinite-
simal dx, representado na Figura 3.16a, ao qual corresponde o esquema monofásico
equivalente da Figura 3.16b, onde v é a tensão fase-neutro e i a corrente por fase, as
quais são função da distância x medida a partir do extremo emissor
∂ i (x )
v (x ) − v (x + dx ) = R dx i + L dx (3.96)
∂t
A aplicação da primeira lei (lei dos nós), por seu lado, resulta em:
∂ v (x )
i (x ) − i (x + dx ) = G dx v + C dx (3.97)
∂t
14
A menos de infinitésimos de 2ª ordem.
106 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
x dx x dx
a b
∂ v (x )
v (x + dx ) − v (x ) = dx (3.98)
∂x
∂ i (x )
i (x + dx ) − i (x ) = dx (3.99)
∂x
∂v ∂i
− = Ri +L (3.100)
∂x ∂t
∂i ∂v
− = Gv +C (3.101)
∂x ∂t
= (R + jω L ) I
dV
− (3.102)
dx
= (G + jω C )V
dI
− (3.103)
dx
Uma vez que se trata de um regime estacionário, a variável t não consta destas equa-
ções, pelo que as equações às derivadas parciais se transformaram em ordinárias.
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 107
d2 V
= (R + jω L )(G + j ω C )V (3.104)
d x2
d 2I
= (R + j ω L )(G + j ω C ) I (3.105)
d x2
ou ainda:
d2V
= zyV (3.106)
d x2
d 2I
= zyI (3.107)
d x2
onde z = R + jω L e y = G + jω C .
z
Z0 = (3.108)
y
γ = zy (3.109)
d 2V
2
= γ2V (3.110)
dx
d 2I
2
=γ 2 I (3.111)
dx
V = C1 e -γ x
+ C2 e γ x
(3.112)
15
Também designada impedância característica de onda.
108 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
C1 e -γ x
− C2 e γ x
I= (3.113)
Z0
As constantes C1 e C2 podem ser calculadas a partir das condições iniciais, para x=0 (ex-
tremo emissor, designado pelo índice e):
Ve = C 1 + C 2 (3.114)
C1 − C2
Ie = (3.115)
Z0
donde:
Ve + Z 0 I e
C1 = (3.116)
2
Ve − Z 0 I e
C2 = (3.117)
2
e θ + e −θ
coshθ = (3.118)
2
eθ − e −θ
senhθ = (3.119)
2
Ve
I=− senh γ x + I e coshγ x (3.121)
Z0
Ve
Ir = − senh γ l + I e cosh γ l (3.123)
Z0
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 109
Ve A B Vr
= (3.126)
I e C D Ir
Z senh ZY
B = Z 0 senh γ l = (3.128)
ZY
senh γ l Y senh Z Y
C= = (3.129)
Z0 ZY
tais, respectivamente.
Para a modelação da linha numa rede interligada é conveniente usar um esquema equiva-
lente em π, que se representa na Figura 3.17. O ramo longitudinal possui uma impedância
B e os dois ramos transversais uma admitância (A-1)/B. Da aplicação da lei dos nós a
este esquema, obtém-se:
A −1 V − Vr AVe − V r
Ie = Ve + e = (3.130)
B B B
Ve − V r A − 1 V − AVr
Ir = − Vr = e (3.131)
B B B
110 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Ie B Ir
Ve A −1 A −1 Vr
B B
Ve = AV r + B I r (3.132)
Da equação (3.130), substituindo Ve dado pela equação anterior e tendo presente que
A = D e que (A 2 − 1 ) / B = C , vem:
I e = CV r + D I r (3.133)
As duas últimas equações são equivalentes à equação matricial (3.126), o que valida o
esquema da Figura 3.17.
Z Y Z2 Y 2 Z3 Y 3
A = D =1 + + + +L (3.134)
2 24 720
ZY Z 2 Y 2 Z 3 Y 3
B = Z 1 + + + + L (3.135)
6 120 5040
ZY Z2 Y 2 Z3 Y 3
C = Y 1 + + + + L (3.136)
6 120 5040
ZY
A = D =1 + (3.137)
2
ZY
B = Z 1 + (3.138)
6
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 111
ZY
C = Y 1 + (3.139)
6
Para linhas até 250 km, é suficiente usar os dois primeiros termos da série para o parâ-
metro A e o primeiro termo para o parâmetro B. A impedância do ramo longitudinal e as
admitâncias das ramos transversais do esquema equivalente em π devêm, respectiva-
mente:
B=Z (3.140)
A −1 Y
= (3.141)
B 2
Ie Z Ir
Y Y
Ve Vr
2 2
Ve 1 + ZY 2 Z Vr
= (3.142)
I e Y (1 + ZY 4 ) 1 + ZY 2 I r
112 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Para linhas aéreas curtas (até 80–100 km) pode em geral desprezar-se a admitância
transversal, sendo a linha modelada unicamente pela sua impedância longitudinal, con-
forme se representa na Figura 3.1916.
Z Ir
Ie
Ve Vr
Supondo que a linha entrega na recepção uma potência complexa Sr=Pr+jQ r e conside-
rando fixa a tensão na recepção Vr, torna-se relativamente simples calcular a tensão na
emissão Ve e a queda de tensão na linha.
Pr + j Q r = Vr I ∗ (3.143)
Pr − j Qr
I= (3.144)
Vr
P r − j Qr
Ve = Vr + (R + j X ) =
Vr
(3.145)
R Pr + X Qr X Pr − R Qr
= Vr + + j
Vr Vr
16
Nos cabos subterrâneos a capacidade é substancialmente mais elevada que nas linhas aéreas, não
sendo legítimo desprezar a admitância transversal no esquema equivalente.
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 113
Ve
X Pr − R Q r
j
Vr
R Pr + X Qr
Vr
Vr
Figura 3.20 – Diagrama de fasores das tensões nos extremos de uma linha curta.
Para valores baixos do ângulo δ – situação normal para linhas curtas e médias – a queda
de tensão ∆V, definida como a diferença entre as amplitudes das tensões Ve e Vr, obtém-
se por:
R Pr + X Q r
∆V = Ve −V r ≈ (3.146)
Vr
Esta equação é válida usando valores por unidade. Usando unidades do sistema interna-
cional, tem-se para um sistema trifásico:
R Pr + X Q r
∆V ≈ (3.147)
3 Vr
onde cosφ é o factor de potência da carga. Esta equação mostra que a queda de tensão
depende fortemente da potência reactiva transmitida pela linha, uma vez que (salvo para
linhas de baixa tensão) a reactância é dominante face à resistência. Por este motivo, a
potência reactiva deve ser gerada localmente, por meio de baterias de condensadores. A
nível da distribuição, esta técnica é designada por compensação do factor de potência.
X Qr
∆V ≈ (3.149)
Vr
Em circuitos de baixa tensão, a resistência é dominante, pelo que se pode calcular a que-
da de tensão aproximadamente por:
R Pr
∆V ≈ = R I cos φ 17 (3.150)
Vr
Se a linha for terminada pela impedância de onda Z0, a relação entre as tensões e corren-
tes ao longo da linha simplifica-se consideravelmente. Tem-se neste caso:
V r = Z0 Ir (3.151)
Ve Vr
= = Z0 (3.154)
Ie Ir
Este resultado mostra que na emissão a linha oferece, tal como na recepção, a impedân-
cia de onda, o mesmo se verificando em qualquer ponto da linha.
Vr Ir
= = e -γ l (3.155)
Ve I e
Vr I r
= = e -αl (3.156)
Ve I e
17
Deixa-se ao cuidado do leitor verificar que as perdas em por unidade da potência de carga PL são dadas
∆V Vr
por PL = .
cos 2 φ
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 115
Destas últimas equações conclui-se que a tensão e a corrente ao longo da linha se vão
atenuando da emissão para a recepção com o factor de atenuação α, ao mesmo tempo
que vão sofrendo uma rotação no sentido negativo, com o factor de desfasagem β conso-
ante se representa na Figura 3.21. Note-se que a impedância de onda é tipicamente ca-
pacitiva (argumento entre 0º e – 15º), pelo que a corrente está avançada em relação à
tensão.
φ Ie
Ve
βl
φ
E
Ir
Vr
Figura 3.21 – Tensão e corrente numa linha terminada pela impedância de onda.
Admitindo uma linha sem perdas, a impedância de onda devém resistiva pura:
L
Z0 = (3.158)
C
γ = jβ = j ω LC (3.159)
1
ν = (3.160)
LC
ω
β= (3.161)
ν
Uma vez que a atenuação é nula, a tensão e a corrente ao longo da linha – que estão em
fase – mantêm-se constantes em módulo. Diz-se neste caso que a linha transporta a sua
potência natural Pn:
Vn2
Pn = (3.162)
Z0
Nestas condições, a potência reactiva gerada pela capacidade da linha iguala a absorvida
pela respectiva reactância:
ω C lV 2 = ω L l I 2 (3.163)
donde:
V L
= = Z0 (3.164)
I C
As linha aéreas são normalmente operadas com uma potência superior à potência natural
(salvo eventualmente em períodos de vazio). Os cabos subterrâneos, cuja impedância de
onda é da ordem de um décimo da das linhas aéreas – uma vez que os respectivos coe-
ficiente de auto-indução e capacidade são substancialmente menor e maior, respectiva-
mente – funcionam com potências inferiores à natural.
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 117
A potência transitada numa linha deve ser compatível com a capacidade de transporte da
mesma, a qual tem necessariamente um limite, que importa estabelecer.
Este limite é determinado pela temperatura máxima admissível dos condutores, pela es-
tabilidade da marcha síncrona, quando existem geradores ligados nos dois extremos da
linha e ainda pela estabilidade de tensão, quando não existe suporte de potência reactiva
na recepção.
Uma linha eléctrica possui uma capacidade de transporte condicionada pela elevação de
temperatura resultante das perdas por efeito de Joule, provocadas pela passagem da cor-
rente eléctrica. A temperatura aumenta até que a taxa de dissipação de calor equilibre a
potência de perdas, tendo o seu valor máximo de ser limitado.
O limite térmico determina a capacidade de transporte nos cabos subterrâneos e nas li-
nhas curtas ou médias (menos de 150-200 km), que constituem a grande maioria das
existentes.
Os condutores das linhas aéreas dilatam por efeito da elevação da temperatura, o que
aumenta a sua flecha, reduzindo a distância a objectos vizinhos, que tem de obedecer a
mínimos regulamentares.
Note-se que o limite térmico das linhas aéreas depende da temperatura exterior, sendo a
35º C cerca de 2/3 do respectivo valor a 15º C.
A constante de tempo térmica é da ordem de vários minutos, razão pela qual se definem
limites térmicos da capacidade de transporte de curta duração e de longa duração, sendo
o último superior ao primeiro.
Considere-se o diagrama da Figura 3.22, que representa um sistema com dois barramen-
tos, ambos com geração e carga, ligados por uma linha.
118 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
Admita-se que os geradores são dotados de reguladores de tensão que mantêm constan-
tes as amplitudes das tensões nos barramentos V1 e V2. Ignorando a admitância trans-
versal da linha (a qual influencia apenas o trânsito de potência reactiva), a corrente na li-
nha, convencionalmente positiva no sentido 1→2 é:
V1 − V2
I= (3.165)
R+ jX
V12 − V1V2 e jδ
S12 = V1 I ∗ = (3.166)
R − jX
As partes real e imaginária desta equação, após alguma manipulação, fornecem as po-
tências activa e reactiva, respectivamente:
R X sen δ − Rcos δ
P12 = V12 + V1V2 (3.167)
R +X
2 2
R2 + X 2
X X cos δ + Rsen δ
Q12 = V12 − V1V2 (3.168)
R +X
2 2
R2 + X 2
V22 − V1V2 e − jδ
S21 = −V2 I ∗ = (3.169)
R− jX
donde:
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 119
R X sen δ + Rcos δ
P21 = V22 − V1V2 (3.170)
R +X
2 2
R2 + X 2
X X cos δ − Rsen δ
Q 21 = V22 − V1V2 (3.171)
R +X
2 2
R2 + X 2
As perdas de potência activa e reactiva na linha calculam-se pela soma de P12 e P21 e de
Q12 e Q21, respectivamente:
PL = P12 + P21 =
R +X 2
R
2
(V
1
2
+ V22 − 2 V1V2 cos δ ) (3.172)
Q L = Q12 + Q 21 =
X
R + X2
2
(V 1
2
+ V22 − 2V1V2 cos δ ) (3.173)
Admitindo que os reguladores de tensão dos geradores mantêm as tensões nos extremos
no seu valor nominal V1 = V2 = Vn , resulta:
X
Pmed = V 2 sen δ
2 n
R +X2
(3.175)
= Pmax sen δ
onde:
X Vn2
Pmax = Vn
2
≈ (3.176)
R2 + X 2 X
Para uma dada linha, o valor máximo do trânsito de potência activa ocorre para δ = ± π 2 ,
que corresponde ao limite de estabilidade estática da marcha síncrona dos dois gerado-
res. O coeficiente de sincronismo, já definido no Capítulo 3 (Secção 3.1.9), é definido por:
∂P
Cs = = Pmax cos δ (3.177)
∂δ
Considere-se um sistema com dois barramentos ligados por uma linha curta com resis-
tência R e reactância X, no qual um gerador ligado a um barramento alimenta uma carga
ligada ao outro – conforme se representa na Figura 3.24.
V1 = V2 + (R + j X ) I (3.178)
Sendo V1 = V1 e j 0 e V2 = V2 e − j δ :
SC∗ PC − j QC
I= = (3.179)
V 2∗ V2 e
jδ
PC − j QC
V1 = V2 e − jδ + (R + j X ) jδ
(3.180)
V2 e
ou ainda:
jδ
V1V2 e = V22 + (R + j X )(PC − j QC ) (3.181)
[ ] ( )( )
V24 + 2 (R PC + X QC ) − V12 V22 + R 2 + X 2 PC2 + QC2 = 0
1444 424444 3 144424443
(3.184)
b c
− b ± b 2 − 4c
V 2= (3.185)
2
Existem duas soluções para a tensão V2 (não considerando as soluções negativas, que
não têm significado físico). O argumento δ pode obter-se da equação (3.183):
X PC − R QC
δ = asen (3.186)
V1V2
Para valores crescentes da potência de carga PC, mantendo-se constante o factor de po-
tência, a tensão V2 varia como se representa na Figura 3.25. Observa-se o fenómeno do
colapso de tensão, quando a potência activa de carga atinge um valor limite, a partir do
qual o sistema se torna instável. O limite de instabilidade de tensão resulta da falta de su-
porte de potência reactiva na recepção da linha.
V2
PC
V2 = V1 cos δ (3.187)
J. Sucena Paiva Linha Eléctrica de Energia 123
V12
P12 = sen δ cos δ
X
V2
= 1 sen 2 δ (3.188)
2X
O valor máximo da potência transitada na linha ocorre para δ = π 4 ; admitindo que V1=Vn,
tem-se:
Vn2
Pmax = (3.189)
2X
Este valor é metade do que prevalece quando a tensão é mantida no valor nominal em
ambos os extremos da linha, conforme a equação (3.176).
CAPÍTULO 4
CORRENTES DE CURTO-CIRCUITO
4.1 Introdução
A grande maioria dos curto-circuitos num SEE ocorrem nas linhas aéreas, devido à sua
grande exposição aos fenómenos físicos naturais. Em particular, as descargas atmosfé-
ricas provocam sobretensões elevadas, as quais podem resultar em contornamentos dos
isoladores. Também embates de aves e de ramos de árvores podem dar lugar a curto-
circuitos nas linhas. Em cabos subterrâneos, transformadores e máquinas rotativas, os
curto-circuitos resultam de defeitos no isolamento dos condutores, devidos à deterioração
das suas propriedades físicas, causada por temperaturas excessivas ou campos eléctri-
cos demasiado intensos.
Torna-se, por conseguinte, importante desligar no mais curto tempo possível a secção da
rede onde se deu o defeito. Esta manobra exige a utilização de interruptores capazes de
cortar as correntes de curto-circuito, o que é tanto mais difícil quanto mais elevada for a
tensão. Estes interruptores com poder de corte elevado, designados disjuntores, são ac-
cionados por dispositivos chamados relés, que constituem, em sentido figurado, o cére-
bro de um sistema em que os disjuntores são o músculo.
Note-se que os defeitos causados por descargas atmosféricas são maioritariamente fugi-
tivos, isto é, desaparecem quando a corrente de curto circuito é interrompida. A razão
para esta característica, reside na desionização e consequente recuperação das proprie-
dades isolantes do ar envolvente, após a interrupção da corrente.
Por este motivo utilizam-se em geral para as linhas aéreas disjuntores com religação au-
tomática, ou seja, disjuntores que, após cortarem a corrente de defeito, fecham novamen-
te após um curto intervalo de tempo, por actuação dos respectivos relés. Caso o defeito
persista, o disjuntor abre definitivamente após duas ou três tentativas de religação.
Barramento i
a
In = 0
Uma vez que a corrente de curto-circuito é simétrica, podemos usar o esquema monofá-
sico equivalente que se representa na Figura 4.2a. Este esquema é equivalente ao da
Figura 4.2b, no qual se inseriram em série no percurso de defeito dois geradores fictícios,
ligados em série, com a mesma f.e.m. Vi0 – a tensão no barramento i antes da ocorrên-
i i
Iicc Iicc
+
Vicc
Zdef ~ Vi0
-
-
~ Vi 0
Vi cc
+
Zdef
a b
ligação do gerador fictício com a polaridade invertida (o pólo positivo está ligado ao neu-
tro); os geradores reais são representados unicamente pelas respectivas impedância in-
ternas.
i + i
I =0 I cc
i
+ –
~ Vi0 ~ Vi0
0
Vi – Vi T +
Zdef Zdef
Estado 1 Estado 2
As tensões nodais e as correntes nos ramos pós-defeito obtêm-se pela soma das corren-
tes e tensões obtidas nos dois estados. A corrente no ramo que simula o defeito é a que
se obtém do estado 2, uma vez que no estado 1 tal ramo não existe.
Vi 0
– ~ + i
cc
i
ZT Zdef
Vi 0
I cc = (4.1)
Z def + ZT
i
V i0
I cc = (4.2)
3 (Z def + Z T )
i
Vi0
I cc
i = (4.3)
3 ZT
2
Vi 0
Sicc = 3 Vi 0 I icc = (4.4)
ZT
Vn 2
Sicc = (4.5)
ZT
Em valores p.u.:
1
Sicc = I icc = (4.6)
ZT
E E 1 1 E 1 1
i cc = 2 '
cos ( ωt + α o ) − ( ' + ) cos α o − ( ' − ) cos ( 2ωt + α o ) (4.7)
Xd 2 Xd X q 2 Xd Xq
130 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
onde:
que se dá o defeito.
eixo d. Dado que X d′ < X d a corrente de curto-circuito transitória é maior (de três a
Oferece-se de seguida uma explicação qualitativa do fenómeno em apreço, uma vez que
a análise quantitativa está fora do âmbito deste texto.
Quando o gerador está excitado, rodando em vazio, existe no seu entreferro um fluxo
magnético girante, ao qual está associada energia magnética. Quando se dá o curto-
circuito, a tensão aos terminais da máquina cai bruscamente para zero. Dado que a ener-
gia magnética não pode anular-se instantaneamente, o fluxo magnético no entreferro
manter-se-á após o curto-circuito no seu valor inicial, o mesmo sucedendo à f.e.m.. Re-
sulta assim uma corrente de curto-circuito no estator limitada apenas pela reactância de
dispersão dos enrolamentos, substancialmente inferior à reactância síncrona, que corres-
ponde ao fluxo ligado.
Dado que este enrolamento tem uma resistência não nula, esta corrente vai diminuindo
com uma constante de tempo Td′ ≈ X d′ / X d .Tr (Tr é a constante de tempo do enrolamento
No que ficou dito até aqui ignorou-se a presença do enrolamento amortecedor, constituído
por um conjunto de barras de cobre, localizadas na superfície do rotor e curto-circuitadas
por anéis.
Em regime estacionário este enrolamento não é percorrido por corrente, contudo, quando
a máquina experimenta oscilações resultantes de desequilíbrios de potência, induzem-se
nele correntes que têm um efeito amortecedor.
ros dois a três ciclos, uma vez que a constante de tempo deste enrolamento é bastante
inferior à do enrolamento de excitação. Define-se assim uma reactância subtransitória
X d′′ , inferior à reactância transitória X d′ , que permite calcular o valor eficaz do primeiro
tante nos primeiros ciclos da corrente estatórica, que contudo se desaparece muito rapi-
damente (alguns ciclos). Por outro lado a componente contínua que circula no estator
comporta-se como alternada em relação ao rotor. Gera-se assim no circuito de excitação
uma f.e.m. alternada enquanto dura a componente contínua no estator, que dá origem a
uma ondulação na corrente de excitação.
4.4.1 Gerador
j X d′ (ou j X d′′ )
+
E’ ~
-
4.4.3 Cargas
Quando se modelam as cargas, consideram-se em geral como sendo passivas (ou seja,
de elasticidade igual a 2), o que permite representá-las por impedâncias constantes. Natu-
ralmente, uma carga passiva não contribui para a corrente de curto-circuito.
Note-se que as impedâncias equivalentes das cargas possuem valores elevados quando
comparadas com as impedâncias dos elementos da rede, e apresentam forte componen-
te resistiva, ao invés destas, que exibem carácter reactivo dominante.
Em casos especiais, por exemplo, instalações industriais com motores (síncronos ou as-
síncronos) com potências elevadas, devem modelar-se estes de modo mais rigoroso – o
que significa usar um modelo semelhante ao da máquina síncrona (f.e.m. em série com a
reactância transitória). Com efeito, nos instantes que se seguem ao defeito, os motores
funcionam como geradores usando a energia cinética armazenada nas respectivas mas-
sas girantes, contribuindo para a corrente de curto-circuito.
J. Sucena Paiva Correntes de Curto-Circuito 135
Neste cálculo, considera-se a rede em vazio antes da ocorrência do defeito, com um perfil
de tensão uniforme (igual à tensão nominal ou, por segurança, 5% acima deste valor), o
que corresponde ao desprezo de todas as cargas. Retêm-se apenas as impedâncias dos
geradores, transformadores e linhas aéreas (ou cabos subterrâneos).
Uma vez determinadas as impedâncias dos elementos do sistema numa base comum,
compõem-se de acordo com a respectiva topologia, procedendo-se de seguida à redução
da rede até à obtenção da impedância equivalente de Thévenin vista do ponto de defeito.
Obtido o valor desta impedância, calcula-se a corrente de curto-circuito.
A potência de curto-circuito num dado ponto depende da potência girante dos geradores
em serviço e da configuração topológica da rede. Quanto maior for a primeira e mais den-
sa for a segunda, maior a potência de curto-circuito. Definem-se assim as potências de
curto-circuito máxima e mínima, as quais correspondem grosso modo aos períodos de
ponta e de vazio, respectivamente.
Em redes com uma estrutura radial, pode substituir-se a rede a montante de um barra-
mento pela sua impedância equivalente de Thévenin (também designada por impedância
de curto-circuito). Esta impedância Zcc calcula-se a partir da potência de curto-circuito Scc
imposta pela rede a montante no barramento em questão. Em valores p.u.:
1
Z cc = (4.8)
S cc
Para uma rede com n nós, ilustra-se na Figura 4.8 um barramento genérico i, ligado a ou-
tros, mostrando-se o esquema equivalente em π da linha i-j. O gerador é modelado por
uma fonte de corrente Ii em paralelo com a admitância transitória (ou subtransitória) YGi . A
carga ligada ao barramento, considerada passiva (elasticidade 2) está representada pela
admitância YCi .
YGi Ii
i Ysij
j
Ypij Ypij
Vj
YCi Vi
2 2
Figura 4.8 – Barramento genérico i, com geração, carga e linha ligada ao barramento j.
J. Sucena Paiva Correntes de Curto-Circuito 137
Y pij
∑ Y (V −Vj )
n n
I i = YG i V i + YC i Vi + ∑ j =1 2
Vi +
j =1
sij i
j≠i j ≠i
(4.9)
∑( )
n Y n
= ∑ YG i + YC i + pij + Ys
2 ij
V i +
− Y sij V j
j =1
j ≠i
j =1
j ≠i
circuito e a admitância Y pij é nula. Caso o barramento i não esteja ligado ao barramento j,
Definindo:
n Y pij
y ii = ∑ Y Gi + YC i +
2
+ Ys ij
(4.10)
j =1
j ≠i
y ij = y ji = −Y sij (4.11)
n
I i = y ii Vi + ∑y ij Vj
j =1
j ≠i
(4.12)
n
= ∑y
j =1
ij Vj
y 11 L y 1n
[Y ] = M M (4.13)
y n1 L y nn
Trata-se de uma matriz simétrica, com dimensão nxn. O elemento diagonal yii é a soma
das admitâncias de todos os ramos ligados ao nó i (o seu valor é sempre diferente de
zero); o elemento não diagonal yij (i≠j) é o simétrico da admitância do ramo que liga os
nós i e j (o seu valor é nulo se estes nós não estiverem ligados por um ramo).
I1
[I ] = M (4.14)
I n
V1
[V ] = M (4.15)
V n
[I ] = [Y ][V ] (4.16)
Uma formulação alternativa usa a matriz [Z ] = [Y ]−1 , designada matriz das impedâncias
nodais:
[V ] = [Z ][I ] (4.17)
Por aplicação do Teorema da Sobreposição, o vector das tensões nodais após o curto-
circuito [Vcc] é dado pela soma do vector das tensões pré-existentes [V0] com o vector
das variações de tensão [VT] resultantes da ligação do gerador equivalente de Thévenin
no nó i, no qual se dá o defeito18:
[V ] = [V ] + [V ]
cc 0 T
(4.18)
[I ] = [Y ][V ]
cc T
(4.19)
ou:
[V ] = [Z ][I ]
T cc
(4.20)
A matriz [Z] é simétrica, sendo contudo muito menos esparsa19 que a matriz [Y], pois a
inversão afecta negativamente a esparsidade.
18
Não se considera a ocorrência de defeitos simultâneos.
19
Uma matriz diz-se esparsa quando o número de elementos nulos é muito elevado em face do número
total de elementos.
J. Sucena Paiva Correntes de Curto-Circuito 139
[Icc] é o vector das correntes de curto-circuito injectadas, cujos elementos são nulos à ex-
cepção do que corresponde ao nó de defeito i:
0
M
[I ]cc
= − I icc
(4.21)
M
0
[V ] = [V ] + [Z ][I ]
cc 0 cc
(4.22)
Combinando a i-ésima das equações (4.23) com a equação (4.24) obtém-se o valor da
corrente de curto-circuito:
V i0
I icc = (4.25)
z ii + Zdef
Vi 0
I icc = (4.26)
z ii
140 Fundamentos dos Sistemas de Energia Eléctrica J. Sucena Paiva
z ji
V jcc = V j0 − Vi 0 (4.27)
z ii
ji = Ys ij V j
I cc cc
z ji 0 (4.28)
= Ys ij V j0 − Vi
z ii
j Ysij I cc
ji i
dais – como se observa na equação (4.23) – a qual pode ser obtida sem recurso à inver-
são completa da matriz [Y ] , operação computacionalmente pesada para redes de grande
dimensão. As diversas colunas podem calcular-se uma a uma, à medida que se percor-
rem sequencialmente os barramentos da rede, nos quais se pretende calcular a corrente
de curto-circuito.