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Cerâmica Marajoara

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A cerâmica Marajoara

É a quarta fase arqueológica da Ilha do Marajó. Segundo Heloisa Alberto Torres, a


cerâmica Marajoara evoluiu na própria região e tem como origem a arte da cestaria
com seus lindos traçados. É também considerada como a fase de maior
desenvolvimento, onde encontramos as cerâmicas mais belas e decoradas. Faz parte
da tradição policrônica (conjunto de várias cores). Foi uma Fase exuberante com
variedades de decoração. Utilizavam sempre as cores preta e vermelho sobre o
branco. Os Mounds ou cemitérios arqueológicos da cerâmica Marajoara, estão
localizados, nos campos da metade oriental do Marajó, tendo o lago Ariri como centro.
Existe uma variedade muito grande de peças, citaremos algumas urnas: zoomorfas,
antropomorfas e antropozoomorfas, para sepultamentos secundários; igaçabas para
guardar alimentos e água; tangas, peças ritualísticas, estatuetas, etc.

Técnicas e Rituais para confecção

Dona Lucila, a exemplo das demais mulheres indígenas da Amazônia, trabalhava a


cerâmica de forma ritualística. O barro era extraído dos rios, na Lua Cheia, quando os
espíritos eram evocados, a fim de autorizarem a retirada da argila da terra. A argila era
misturada a cascas da árvore de caraipé, que, queimadas e trituradas, tinham o poder
de desengordurar a massa. Para esse mesmo fim, usava-se o chamote - caco de
cerâmica queimada e triturada no pilão.
Na produção das peças empregava-se o método conhecido pelos caboclos
como pavios (acordelados).
Os pavios se sobrepunham, emendados uns nos outros e, depois, alisados com um
pedaço de cuia. O processo de polimento (caliçar), usado para impermeabilizar as
peças e lhes dar acabamento brilhante, era feito com semente de inajá, fartamente
encontrada na região.
Para efeito de decoração, na época de Dona Lucila, não eram comuns as
técnicas de incisão e excisão, características da cerâmica marajoara. Explorando
motivos florais, os ceramistas utilizavam o engope - argila líquida de diferentes
colorações, aplicadas sobre a peça úmida com uma ponta de capim amassado, que
fazia as vezes de pincel.
A queima era um ritual à parte. A mulher não podia estar menstruada ou comer
farinha durante o trabalho: acreditava-se que isso interferia no processo da queima. Já
bem seca, a peça era queimada durante a Lua apropriada, a fim de reduzir os riscos
de rachadura ou quebra. A queima, geralmente, se fazia à noite, para evitar os efeitos
do calor e dos ventos, e longe dos olhos de pessoas estranhas, pois isso, acreditavam
os ceramistas, poderia prejudicar o resultado final.
Durante a queima, as peças eram colocadas de boca para baixo, sobre uma
camada de pedras e queimadas lentamente, a céu aberto, ao fogo de gravetos e
cascas de árvores. A impermeabilização da cerâmica se fazia no momento da retirada
das peças do forno. Ainda quentes, elas eram untadas, por dentro, com jutaicica - a
goma vegetal extraída do jutaieceiro, árvore muito comum na Amazônia.
A jutaicica é largamente usada como impermeabilizante nas tribos indígenas
da Amazônia. Em contato com a chuva, o calor e vento, esse material endurece,
tornando-se brilhante e transparente. "Com a destruição das florestas próximas da vila
já se torna praticamente impossível usar tintas vegetais e outros produtos extraídos da
mata", lamenta Mestre Cardoso. "As árvores milenares do jutaiceiro foram quase
todas dizimadas", denuncia o artista.
O Renascimento da Cerâmica

Eram meados da década de 50 (1956). Antônio Farias de Vieira (o Cabeludo), nascido


na cidade de Vigia - Pará. Casou-se com uma jovem da família Croelhas e veio morar
no bairro do livramento, em Icoaraci. Cabeludo era um pintor letrista, fazia faixas,
murais, etc. Um dia folheando um livro que ganhara, viu um lindo vaso de cerâmica
que resolveu reproduzir. Foi até uma olaria e pediu para o artesão fazê-lo no torno. Em
seguida foi fazer os acabamentos. Era um vaso Marajoara. Após queimá-lo fez as
pinturas reproduzindo as cores Marajoaras (vermelho, preto e branco). Devido a essa
curiosidade do pintor letrista "Cabeludo" foi que surgiu uma nova era para cerâmica de
Icoaraci. Então "Cabeludo" se interessou pelo assunto e começou a ler sobre o
mesmo, e reproduziu várias peças. Isso aconteceu já no início da década de 60. Por
isso afirmamos que nesta época - 1960 - é o marco do renascimento da cerâmica
Marajoara em Icoaraci, com Antônio Farias Vieira "o Cabeludo", que se dedicou,
pesquisou e passou a reproduzir suas peças manuais juntamente com sua numerosa
família: filhos, noras e netos, até os dias de hoje.
Muitos foram seguidores deste grande mestre. Vizinhos, amigos e curiosos.
Cabeludo começou a reproduzir cada vez mais. Tudo que produzia vendia. Os
artesãos também começaram a copiá-lo. Alguns iam trabalhar com ele e depois
caminhavam sozinhos em suas olarias. Filhos, genros, amigos começaram a
reproduzir para si próprios e a cerâmica Marajoara estilizada toma grandes
proporções. O importante é que várias pessoas contribuíram para esse crescimento e
foram aperfeiçoando cada vez mais nossa cerâmica.
Surge também uma outra vertente, que seria de se aperfeiçoar o trabalho de
reprodução das peças cópias Marajoara, Tapajônica e Maracá. Essa área requeria
pesquisa. Encontramos nela o grande Mestre Cardoso, considerado por muitos "nosso
maior pesquisador". Raimundo Ademar Zarança Dias, era quem pesquisava junto com
o Mestre Cardoso no Museu Emílio Goeldi. Em seguida surgem as reproduções do
Mestre Cardoso com sua equipe: Ademar, Gaia, Inês Cardoso e Levy Cardoso. Várias
pessoas também trabalhavam na olaria do "Mestre" e foram aprendendo e
desenvolvendo o trabalho, mais tarde formaram suas próprias olarias. E o artesanato
cerâmico explodiu, rompeu as barreiras e instalou-se nas mais lindas casas, mansões
e museus do mundo todo.

Arte milenar

A arqueóloga norte-americana Ana C. Rosevelt afirma que a cerâmica do Pará tem


sete mil anos, e não quatro mil, como se acreditava até então. A pesquisadora garante,
ainda, que a cerâmica feita pelos povos que habitaram a ilha de Marajó é original da
região, e não oriunda de uma produção colombiana dos Andes, conforme se sustentou
durante muito tempo. Divergências à parte, os pesquisadores são unânimes ao afirmar
que a cerâmica Marajoara está classificada entre as mais belas e elaboradas do
mundo.
No período que antecedeu a descoberta do Brasil, em 1500, muitas
civilizações habitaram a região amazônica. A origem desses povos remonta ao ano
980 antes de Cristo. Eles viviam na região de Santarém, no Rio Tapajós e na Ilha de
Marajó, faixas que cobriam uma extensão de mais de 50 mil quilômetros quadrados.
Até o ano 1350 d.C., quando entraram em processo de extinção, esses povos
produziram peças de inigualável criatividade e beleza.
Os estudos falam das diferentes culturas. Mas, de todas elas, a marajoara foi
aquela que mais se destacou entre as cinco fases distintas classificadas por
arqueólogos: Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Marajoara e Aruã.
Na fase Marajoara (400 a 1650 d.C.), além de se destacarem como produtores
de uma cerâmica altamente elaborada, os marajoaras tornaram-se conhecidos pelas
obras de engenharias. Durante boa parte do ano, os terrenos da ilha eram cobertos
por água e, para sobreviver no local, eles criaram elevações denominadas teso, em
cima das quais construíram suas casas, cemitérios e oficinas de cerâmica. Esses
aterros artificiais, em alguns casos, chegavam a atingir até 200 metros de
comprimento por 30 metros de largura e 10 metros de altura. Os tesos são hoje
objetos de estudo de arqueólogos, na medida em que, muitas vezes, guardam grande
quantidade de peças de cerâmica.
Os marajoaras criaram e desenvolveram a técnica de excisão (relevo),
empregada na produção de peças de cerâmica, tanto para uso doméstico como
ritualístico. Entre suas peças, nas quais aplicavam desenhos altamente elaborados e
sofisticados, sobressaem as tangas, urnas funerárias, vasos e estatuetas.
O povo marajoara desapareceu em 1350 d.C, somente 150 anos antes do
descobrimento do Brasil, deixando um legado inestimável de sua parte. Mas para
Mestre Cardoso, "a cultura marajoara será eternizada através de sua cerâmica".
A fase Aruã (1350 a 1820 d.C.) coincide com a chegada dos portugueses ao
Brasil. O colonizador encontrou na Ilha de Marajó uma cerâmica pobre, sem qualquer
resquício da beleza que caracterizara as peças da fase Marajoara. Os aruãs
produziram uma cerâmica simples, quase sempre utilitária, desprovida de formas ou
características próprias. Foram encontrados vasos aruã associados a pequenas
contas de vidros de procedência européia, o que veio confirmar o contato daquele
povo com os portugueses.
A cerâmica Marajoara foi - e ainda é - altamente disputada pelos
pesquisadores e colecionadores de todo o mundo.

Fonte: http://www.icoaraci.com.br/
Icoaraci, pólo de artesanato da Amazônia.
A Cerâmica Marajoara é fruto do trabalho dos índios da Ilha de Marajó. A fase mais
estudada e conhecida se refere ao período de 400/1400 dC.
Marajó é a maior ilha fluvial do mundo, cercada pelos rios Amazonas e Tocantins, e
pelo Oceano Atlântico. Localiza-se no estado do Pará-PA, região norte do Brasil.
Um dos maiores responsáveis, atualmente, pela memória e resgate da civilização
indígena da ilha de Marajó é Giovanni Gallo, que criou em 1972 e administra o Museu
do Marajó , localizado em Cachoeira do Arari. O museu reúne objetos representativos
da cultura da região - usos e costumes.
Para se chegar à ilha leva-se 3 horas de barco, ou 30 minutos, de avião, partindo-se
de Belém, capital paraense. Visando manter a tradição regional, o museólogo criou um
ateliê de cerâmica onde são reproduzidas e comercializadas peças copiadas do acervo.
O barro é modelado manualmente com a técnica das cobrinhas (roletes), sem o uso do
torno de oleiro.
Os índios de Marajó faziam peças utilitárias e decorativas. Confeccionavam vasilhas,
potes, urnas funerárias, apitos, chocalhos machados, bonecas de criança, cachimbos,
estatuetas, porta-veneno para as flechas, tangas (tapa-sexo usado para cobrir as
genitália das moças) – talvez as únicas, não só na América mas em todo o mundo, feitas
de cerâmica.
Os objetos eram zoomorfizados (representação de animais) ou antropomorfizados
(forma semelhante ao homem ou parte dele), mas também poderiam misturar as duas
formas-zooantropomorfos.
Visando aumentar a resistência do barro eram agregadas outras substâncias-minerais
ou vegetais: cinzas de cascas de árvores e de ossos, pó de pedra e concha e o cauixi-
uma esponja silicosa que recobre a raiz de árvores, permanentemente submersas.
As peças eram acromáticas (sem uso de cor na decoração, só a tonalidade do barro
queimado) e cromáticas. A coloração era obtida com o uso de engobes (barro em estado
líquido) e com pigmentos de origem vegetal. Para o tom vermelho usavam o urucum, para
o branco o caulim, para o preto o jenipapo, além do carvão e da fuligem.
Depois de queimada, em forno de buraco ou em fogueira a céu aberto, a peça
recebia uma espécie de verniz obtido do breu do jutaí, material que propiciava um
acabamento lustroso.

Nas urnas funerárias, os índios colocavam os restos de seus mortos-ossos


acompanhados de objetos. Externamente, tais urnas eram decoradas com desenhos
gráficos relativos às crenças e aos deuses adorados.
A decoração da Cerâmica Marajoara era feita com traços gráficos simétricos e
harmoniosos, em baixo e alto relevo, entalhes, aplicações e outras técnicas.

A descoberta de artefatos marajoaras é dificultada por ser o solo da ilha


extremamente úmido e sujeito a inundações periódicas. Infelizmente, no correr dos anos,
muitos objetos encontrados em escavações arqueológicas foram saqueados e até
contrabandeados para o exterior - um grave desrespeito ao patrimônio cultural brasileiro.

Hoje em dia o mais importante pólo de resgate da cerâmica marajoara no estado do


Pará encontra-se em Icoaraci, localidade próxima à cidade de Belém.
Os artesãos usam o barro colhido nas margens dos igarapés da região, modelam, à
mão ou em tornos-de-pé, réplicas, peças utilitárias e decorativas, queimam em rústicos
fornos a lenha, decoram com engobes, e usam a técnica de brunir.

Através do Liceu de Artes e Ofícios do local, fundado em 1996, são formados novos
artistas do barro voltados para a preservação e a renovação desta cultura. Estes artesãos
redesenham a cerâmica marajoara com novas formas, não deixando, entretanto, de fazer
réplicas.
O Liceu leva o nome do Mestre Cardoso-Raimundo Saraiva Cardoso figura de
destaque nos trabalhos de resgate da cerâmica marajoara. O Mestre e sua mulher Inês
Cardoso trabalham para o Museu Emílio Goeldi fazendo réplicas de peças Marajoaras.
Outros nomes importantes, do passado e do presente, no que se refere à cerâmica
em Icoaraci são: Seu Cabeludo (Antonio Farias de Vieira), Seu Anísio , Amiraldo, Mestre
Rosemiro, Dona Ana, Dona Zuíla, Elias, Cauby, Antonio, Levi, Ademar, Wilson, Júlio,
Manuel, Guilherme Santana e Hildelmar.

Em Icoaraci existem dezenas de ateliês confeccionando peças que são vendidas


para o mercado interno e externo.

Fonte: http://www.ceramicanorio.com/
Norte: Cerâmica Marajoara
A arqueóloga estadunidense Anna Roosevelt, maior especialista mundial em
pré-história amazônica, incluiu entre as grandes civilizações do mundo
antigo os marajoaras, que habitavam a Ilha de Marajó entre os anos 400 e
1300 da Era Cristã. As escavações feitas por ela indicam que a sociedade
marajoara tinha quase tudo o que caracteriza as grandes civilizações. Havia
classes sociais. A agricultura, com base na mandioca e no arroz-bravo, era
desenvolvida, o que favoreceu a vida sedentária. E as aldeias eram
populosas. Algumas chegavam a 10 000 moradores - verdadeiras cidades,
tão grandes quanto muitas das que hoje há na Amazônia.

Mais de 1 000 anos antes do biquini, as marajoaras já usavam tanguinhas


feitas de barro. Elas eram pintadas de vermelho ou decoradas com padrões
típicos. Os cordões que as prendiam passavam por três furos (veja
desenho ao lado), na parte da frente. A maioria dos especialistas acredita
que tenham sido roupas de festa, exclusivas da elite. Mas a arqueóloga
Denise Pahl Schaan, do Museu Paraense Emílio Goeldi, desconfia que
podiam ser parte do gurada-roupa diário. "Algumas têm os furos gastos,
indicando uso freqüente". diz ela.
Essa grandeza se traduzia também na requintada cerâmica cerimonial. O desenho
mais comum é o da serpente, representada por espirais.
As peças mais curiosas dessa arte sacra são as urnas funerárias, nas quais eram
enterrados os figurões da tribo. Em algumas havia crânios deformados
propositalmente, por meio de faixas amarradas à cabeça desde o nascimento. A
prática indicava status e era comum nas culturas andinas.

Os Marajoaras foram exímios ceramistas. Para os estudiosos os potes decorados


de Marajó teriam função religiosa. A parafernália cerimonial incluía vasilhas para
inalar alucinógeos, bancos para os xamãs .
Os marajoaras sumiram misteriosamente por volta de 1300, por causa de brigas
internas ou do ataque de outros povos. Quando os portugueses chegaram, Marajó
era habitada por índios aruaques. Seus antecessores, até onde se sabe, não
deixaram descendentes.

Fonte: http://www.terrabrasileira.net/folclore/regioes/2artes/n-marajo.html

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