Bioética e Biodireito PDF
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CONPEDI BRASÍLIA – DF
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Vice-presidente Sul - Prof. Dr. Ingo Wolfgang Sarlet – PUC - RS
Vice-presidente Sudeste - Prof. Dr. João Marcelo de Lima Assafim – UCAM
Vice-presidente Nordeste - Profa. Dra. Maria dos Remédios Fontes Silva – UFRN
Vice-presidente Norte/Centro - Profa. Dra. Julia Maurmann Ximenes – IDP
Secretário Executivo - Prof. Dr. Orides Mezzaroba – UFSC
Secretário Adjunto - Prof. Dr. Felipe Chiarello de Souza Pinto – Mackenzie
Conselho Fiscal:
Prof. Msc. Caio Augusto Souza Lara – ESDH
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Profa. Dra. Samyra Haydêe Dal Farra Naspolini Sanches – UNINOVE
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Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas – UFG (suplente)
Secretarias:
Relações Institucionais – Ministro José Barroso Filho – IDP
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Profa. Dra. Monica Herman Salem Caggiano – USP
Prof. Dr. Valter Moura do Carmo – UNIMAR
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Comunicação – Prof. Dr. Matheus Felipe de Castro – UNOESC
B615
Biodireito e direito dos animais [Recurso eletrônico on-line] organização CONPEDI
Coordenadores: Sébastien Kiwonghi Bizawu; Mônica Neves Aguiar Da Silva; Heron José de Santana Gordilho -
Florianópolis: CONPEDI, 2017.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-85-5505-398-6
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desigualdade e Desenvolvimento: O papel do Direito nas Políticas Públicas
Apresentação
Carlos Augusto Lima Franco, Mestre em Ciências da Religião pela Universidade do Estado
do Pará se propõe a analisar, pelo artigo SACRIFÍCIO DE ANIMAIS, PROTEÇÃO
AMBIENTAL E LIBERDADE: UM DIÁLOGO POSSÍVEL?, os aspectos constitucionais da
prática de sacrifícios animais enquanto manifestação da liberdade religiosa. Procura, ainda,
enfatizar que esta só tem sentido enquanto modo de se determinar em razão da crença,
havendo precípua necessidade de respeito às distintas expressões de fé, ainda que não
pertencentes à denominada "cultura majoritária".
Mayana Sales Moreira, Mestre em Direitos Sociais e Novos Direitos, busca analisar pelo
trabalho intitulado "O TESTAMENTO VITAL E O CÓDIGO PENAL BRASILEIRO: UMA
ANÁLISE SOB A ÓTICA DO SEU CONTEÚDO" quais situações casuísticas permitem ou
não a recusa de tratamentos médicos, no sentido de que nem todo conteúdo do testamento
vital poderá ser atendido pelo médico, haja vista a necessidade de se analisar sua
compatibilidade com o Código Penal Brasileiro que proíbe, por exemplo, a eutanásia.
Aracelli Mesquita Bandolin Bermejo e Rita de Cássia Resquetti Tarifa Espolador estudam os
limites da autodeterminação nos negócios biojurídicos e a autonomia bioética a eles aplicada
no artigo A AUTODETERMINAÇÃO NOS NEGÓCIOS BIOJURÍDICOS: UMA
NECESSÁRIA RELEITURA DA AUTONOMIA PRIVADA SOB O ASPECTO LIBERAL.
Temos a certeza de que o público leitor encontrará nesta versão da Revista material de alto
padrão.
Resumo
O problema investigado na pesquisa se refere à necessidade do Biodireito utilizar a Bioética
como fonte, para a construção e aplicação do Direito, onde não é cabível o non liquet. Como
hipótese, constatou-se que o Biodireito amparado pela Bioética, torna-se mecanismo para a
preservação da dignidade humana, já que atua sob o enfoque dos direitos fundamentais,
reforçando o seu caráter preventivo. Nesse sentido, desenvolveu-se o marco teórico do
trabalho como forma de identificar a polêmica em torno do surgimento do neologismo
Bioética, os seus princípios e possíveis de objetos materiais, com o intuito de relacioná-las ao
Biodireito.
Abstract/Resumen/Résumé
The problem investigated in the research refers to the necessity of the Biolaw to use
Bioethics as a source for the construction and application of Law, where non-liquet is not
applicable. As a hypothesis, it was verified that the Biolaw supported by Bioethics, becomes
a mechanism for the preservation of human dignity, since it acts under the focus of
fundamental rights, reinforcing its preventive character. In this sense, identified the
controversy around the emergence of the Bioethics neologism, its principles and possible of
material objects, with the intention of relating them to the Biolaw.
182
1. INTRODUÇÃO
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Utilizar-se-á de pesquisa bibliográfica e artigos cinetíficos nas áreas da Bioética,
Biodireito, Direito Civil, Direitos Humanos, Direito Intergeracional, legislações
pertinentes.
Iniciamente, apresenta-se a polêmica do surgimento do neologismo Bioética,
os seus princípios e possíveis de objetos materiais (que implicam na classificação:
Microbioética e Macrobioética) com o intuito de relacioná-los ao Biodireito.
1. BIOÉTICA: origens
1
No artigo intitulado Bioética: das origens à prospecção de alguns desafios contemporâneos, Leo Pessini alerta
sobre a autoria do neologismo: “é importante registrar que existe um outro pesquisador que reivindica a
paternidade do termo bioética. É o obstetra holandês André Hellegers, da Universidade de Georgetown, em
Washington D.C., que seis meses após a aparição do livro pioneiro de Potter, Bioethics: Bridge to the future,
utiliza esta expressão no nome de um novo centro de estudos: Joseph and Rose Kennedy Institute of Human
reproduction and Bioethics.” (PESSINI, 2005, p. 308).
184
A proposta de Potter (1971), neste primeiro momento de seu trabalho, era
situar a Bioética como a “ciência da sobrevivência humana”. O pesquisador a definiu
como “a ponte entre a ciência e as humanidades”, propôs o termo Bioética como
forma de enfatizar “os dois componentes mais importantes para se atingir uma nova
sabedoria, que é tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e
valores humanos”.
Para Potter, bio representava o conhecimento biológico; enquanto ética, o
sistema de valores humanos. A Bioética, diante das ameaças à vida humana e ao
meio ambiente, seria uma ponte entre o conhecimento científico e a preservação da
vida no nosso planeta, entre as ciências biológicas e a ética.
Nesta mesma década, André Hellegers, obstetra holandês, da Universidade
de Georgetown, empregou o termo na fundação de um instituto, então denominado
Instituto Joseph e Rose Kennedy para o Estudo da Reprodução Humana e da
Bioética (Joseph and Rose Kennedy Institute for the Study of Human Reproduction
and Bioethics). Posteriormente, o termo Bioética foi retirado do nome deste instituto,
cuja denominação atual é Instituto Kennedy de Ética (Kennedy Institute of Ethics) e
cuja criação vem sendo considerada de extrema importância para a expansão da
Bioética, pois foi o primeiro Centro Nacional de Pesquisa sobre Bioética como
também o primeiro programa de pós-graduação em Bioética do mundo.
A abordagem da Bioética proposta por Hellegers foi muito diferente da de
Potter. Aquele abandonou o viés ambiental deste, tendo restringido a Bioética à ética
aplicada ao âmbito da Medicina e das Ciências Biológicas. Para Hellegers, o termo
deveria ser utilizado apenas para se referir à ética da vida humana. Sua principal
preocupação diante do avanço das Ciências Biológicas é com o ser humano e ao
que ele se relaciona. Assim, pode-se afirmar que há problemas de Macrobioética,
com inspiração na perspectiva de Potter; de outro, problemas de Microbioética ou
Bioética clínica, baseada na visão de Hellegers2, que influenciou as definições
expostas a seguir.
Na primeira edição da Enciclopédia de Bioética, coordenada por Warren
3
Reich , Bioética foi definida como “o estudo sistemático da conduta humana no
2
Vários autores afirmam que o sentido atribuído por Hellegers é o que tem prevalecido (FABRIZ, 2003, p. 74);
(HRYNIEWICZ; SAUWEN, 2008, p. 9).
3
O teólogo católico Warren Reich foi um dos colaboradores da fundação do Kennedy Institute of Ethics, editor
das duas primeiras edições da Enciclopédia de Bioética. Até agora foram publicadas três edições da
Encyclopedia of Bioethics (1978, 1995 e 2004). Mas a última delas teve Stephen Post como editor-chefe.
185
âmbito das ciências da vida e da saúde, enquanto esta conduta é examinada à luz
de valores e princípios morais” que “abarca a ética médica, porém não se limita a
ela. A ética médica, em seu sentido tradicional, trata dos problemas relacionados a
valores que surgem da relação entre médico e paciente” (REICH, 1978 apud
PESSINI, 2005, p. 315). Assim, de acordo com essa definição, a Bioética constituiria
um conceito mais amplo que a deontologia profissional médica.
Na segunda edição, de 1995, a Bioética foi definida por Reich como o estudo
sistemático das dimensões morais – incluindo visão moral, decisões, conduta e
políticas –, das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando uma variedade de
metodologias éticas em um cenário interdisciplinar.
Na última das edições publicadas, Stephen Garrard Post, que foi indicado
pelo próprio Warren Reich para substituí-lo na chefia da 3ª edição, não altera a
definição presente na edição anterior. Para Post, a Bioética é considerada o exame
moral interdisciplinar e ético das dimensões da conduta humana nas áreas das
ciências da vida e da saúde (POST apud PESSINI, 2005, p. 316).
Logo após a primeira publicação da Enciclopédia de Bioética, David Roy
(1979), diretor do Centro de Bioética da Universidade de Montreal, definiu Bioética
como o estudo interdisciplinar do conjunto “das condições exigidas para uma
administração responsável da vida humana, ou da pessoa humana, tendo em vista
os progressos rápidos e complexos do saber e das tecnologias biomédicas” (ROY,
1979, p. 59-75).
A concepção restritiva de autores como Warren Reich e David Roy,
vinculados ao Instituto Kennedy de Ética, relaciona a Bioética apenas às questões
referentes às ciências da vida e à área da saúde. Essa concepção também foi
adotada pela base de dados Bioethicsline, serviço de informações bibliográficas
vinculado à Biblioteca Nacional de Medicina (National Library of Medicine),
localizado e mantido pela Universidade Georgetown, de Washington, que definiu
Bioética como “um ramo da ética aplicada que estuda as implicações de valor das
práticas e desenvolvimentos das ciências da vida e da medicina”. (BIOETHICS
TRESAURUS apud GOLDIN, 2005, p. 97-98)
Desde o final dos anos 90, as discussões bioéticas ganham cada vez mais
importância no cenário do mundo democrático, globalizado e informatizado,
sobretudo por causa do progresso tecnocientífico e biomédico. Vários autores
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criaram novas definições e enfoques alternativos à Bioética. Hoje as definições são
diversas, provindas de várias partes do mundo.
A Bioética é transdisciplinar, não possui fronteira em sua atuação, visto que
está sempre aberta a novos conceitos. Além disso, o campo de atuação da Bioética
vem sofrendo ampliações ao longo do tempo, evoluindo e alcançando diversas
áreas, tais como: relacionamento profissional-paciente, saúde pública, pesquisa
biomédica e comportamental, reprodução humana, saúde mental, sexualidade e
gênero, morte e morrer, genética, doação e transplante de órgãos, meio ambiente,
etc. (HRYNIEWICZ; SAUWEN, 2008, p. 11).
A Bioética acompanha transdiciplinarmente os avanços científicos,
biomédicos e biotecnologicos, que afetem o ser humano. Ela diáloga com as demais
ciências, estabelecendo um parâmetro moral e coerente com o mundo
contemporâneo. Neste sentido:
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deve-se ter em mente os princípios constitucionais reguladores do
ordenamento jurídico vigente. Portanto, os princípios constitucionais,
juntamente com os princípios da Bioética, constituem o cerne estrutural do
Biodireito. (MOREIRA, 2007, p.123).
Ainda no início dos anos 70, foi criada pelo Congresso dos Estados Unidos,
numa reação institucional aos abusos cometidos nas pesquisas com os seres
humanos durante o nazismo, a Comissão Nacional para a Proteção dos Interesses
Humanos de Biomédica e Pesquisa Comportamental (National Commission for the
Protection of Human Subjects of Biomedical and Behavioral Research), que teve
como proposta uma pesquisa e um estudo completo que identificassem os princípios
éticos básicos que deveriam nortear a experimentação em seres humanos nas
Ciências do Comportamento e na Biomedicina.
Em 1978 os membros desta comissão publicaram o Relatório Belmont
(Belmont Report), no qual foram estabelecidos como básicos três princípios: o
respeito pelas pessoas (autonomia), a beneficência e a justiça.
O princípio da beneficência visa a promover o bem em relação ao paciente
ou à sociedade. O princípio da autonomia diz respeito à autodeterminação humana,
fundamentando a aliança entre médico, paciente e o consentimento a tratamentos.
O princípio de justiça relaciona-se à justa distribuição dos benefícios dos serviços de
saúde, resumindo-se na obrigação de igualdade de tratamento, respeitadas as
diferenças de situações clínicas e a proporcionalidade das intervenções. (PESSINI,
2002, p. 10).
As questões bioéticas passaram, então, a serem analisadas à partir desses
três princípios com os procedimentos práticos deles consequentes, não mais a partir
da letra dos códigos e juramentos.
188
Tom Beauchamp e James Childress na obra Princípios de Ética Biomédica
(Principles of biomedical ethics) incluíram, à lista citada, o princípio da não-
maleficência, que proporcionar benefícios contra riscos e custos. Para esses
pesquisadores, o respeito à autonomia seria uma norma sobre o respeito às
decisões das pessoas; enquanto a não-maleficência, uma norma que previne que se
provoque dano; e por último a justiça, um grupo de normas para distribuição justa.
(BEAUCHAMP; CHILDRESS, 2002, p. 56).
Mas aos clássicos princípios de Bioética, citados acima, há pesquisadores e
teóricos, que defendem a amplicação deste rol, com o acrécimo de outros princípios,
Hans Jonas, por exemplo, defende que o príncipio do respeito, deva ser considerado
um princípio ético, pois proporciona uma perspectiva de diálogo crítico em plena era
tecnológica. Jonas entende que, “sob o signo da tecnologia, a ética tem a ver com
ações de um alcance causal que carece de precedentes (...). tudo isso coloca a
responsabilidade no centro da ética” (JONAS apud BATTESTIN, C.; GHIGGI, G.,
2010).
Verifica-se também, que Bioética ora é considerada disciplina e área de
conhecimento, ora como processo caracterizado por analisar a implicação dos
avanços científicos na vida humana. Entretanto, alguns autores defendem que sua
abrangência é ampliada a qualquer forma de vida animal ou vegetal,
compreendendo todo o meio ambiente.
Toda disciplina autônoma possui um objeto material e um objeto formal que:
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formal, o que se apreende primariamente no objeto formal (FERRATER MORA,
2004, p. 2130).
No caso da Bioética, o objeto material diz respeito a qual conteúdo a
preocupação Bioética se dirige; enquanto o segundo, ao modelo explicativo a ser
adotado, à tomada de decisão em caso de conflito. Apesar da identificação desses
objetos ser um grande problema, neste artigo serão expostas apenas as principais
possibilidades de objetos.
Por um lado, no que diz respeito ao enfoque, percebem-se também duas
tendências: uma mais pragmática, que vê a Bioética como um conjunto de cânones
para solução de problemas práticos; enquanto outra, mais teórica, entende-a como
ciência.
Por outro lado, no que diz respeito à amplitude do objeto material, há duas
tendências: uma que tende a ampliá-lo e outra que tende a restringi-lo. A primeira
delas entende que a Bioética deve abordar todas as questões ligadas ao meio
ambiente, enquanto a segunda restringe a abordagem às questões ligadas à vida
humana, deixando para a Ética ambiental os problemas que não dizem respeito ao
homem.
Entretanto, neste presente artigo, será enfatizado apenas a Microbioética,
que seu volta à preocupação com os seres humanos. Onde também se aplicam os
princípios clássicos de Bioética e os princípios do Biodireito, mas antes disso, deve-
se apresentar a relação entre a Bioética e o Biodireito, bem como diferenciá-los.
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apresentado como ramo do Direito, já ocupa lugar nos currículos de algumas
Faculdades de Direito e se encontra pulverizado no ordenamento jurídico brasileiro,
mormente na Constituição Federal e no Código Civil, assim como em legislações
esparsas, sendo, pois, um microssistema do Direito.
O Biodireito é o ramo da Ciência do Direito que estuda e interpreta as
normas relacionadas à vida humana, assim como sua relação com os princípios da
Bioética. Assim, possui uma dimensão teórica que se volta para a prática, como toda
disciplina jurídica, haja vista que a Ciência do Direito tem uma função decisória, a
saber, oferecer subsídios para a solução de casos em que se faz necessária uma
intervenção jurídica,
As imposições trazidas pelo Biodireito são, muitas vezes, posteriores às
situações ocorridas no campo das Ciências Biológicas e Médicas, limitando-se, por
vezes, à responder aos casos concretos com a expectativa de coibir futuros abusos
aos Direitos Fundamentais.
O Biodireito pode regular e assegurar os Direitos Fundamentais das
pessoas, tais como: a liberdade, a dignidade e a vida humana, na esfera do Direito
Público, assim como para reger “as relações entre particulares, devendo-se, pois,
defendê-los frente aos atentados perpetrados por outras pessoas”, na esfera do
Direito Privado. (MATTIA apud TEPEDINO, 2008, p. 32).
Contudo, devido à complexidade de temas bioéticos, tais como o aborto, a
fertilização, o rol dos direitos de personalidade e os avanços tecnológicos e, devido,
ainda, às barreiras religiosas, econômicas, culturais, etc., perquere-se: como
resolver os novos e diferentes casos concretos que se apresentam ao Direito?
Aos operadores do Direito resta recorrer aos princípios gerais de Direito,
expressos no ordenamento brasileiro quase in totum no artigo 5º da Constituição
Federal, à analogia, e aos costumes, conforme previsão legal do artigo 4º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, com o auxílio e a aplicação das Teorias
Discursivas do Direito, propostas por autores como Habermas, Alexy e Dworkin, haja
vista que todas as normas são em princípio aplicáveis. Entretanto, em face das
especificidades do caso concreto, deverá ser escolhida uma norma adequada capaz
de ser assumida como resposta. (SÁ; NAVES, 2015).
Sendo, portanto, necessário mencionar os Direitos Fundamentais da pessoa
humana, antes mesmo de se apresentar os princípios do Biodireito. Os Direitos
Fundamentais que foram adquiridos de forma gradativa, no entanto, sua
191
preservação só foi garantida, definitivamente, com o advento das constituições
formais. Observa-se que a Declaração francesa, tal qual a maioria das
Constituições promulgadas ao longo do Século XVIII e XIX, definiam homens em
igualdade de direitos, entretanto, tal amparo foi meramente jurídico, uma vez que
fruto de uma sociedade liberal que emergia e possuía como maior destaque a
garantia às liberdades individuais. O reflexo deste novo contexto foi um aumento das
desigualdades sociais e a exploração da nova classe social, a dos trabalhadores
proletariados, como assim explica Sá e Naves:
192
No Brasil, o respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana assumiu
um aspecto de preponderância à partir da promulgação da Constituição Federal de
1988, uma vez que no Período Militar (1964 – 1985), foram permitidas práticas
defesas à Declaração Universal de 1948, da qual o Brasil também era signatário.
Referido princípio assumiu um papel tão importante na legislação brasileira
que no caso de colisão entre direitos fundamentais, a dignidade humana figura como
um valor supremo aos demais princípios, seja na esfera pública ou na privada, como
bem defende Novelino “a dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos do
Estado Brasileiro, constitui-se no valor constitucional supremo em torno do qual
gravitam os direitos fundamentais”. (NOVELINO, 2008, p. 248).
Como mencionado já mencionado, os operadores do Direito devem resolver
os conflitos que surgem envolvendo a Bioética. Assim, no Biodireito enquanto
Direito, cabe ao julgador encontrar a solução para toda demanda, isto pois há a
vedação do non liquet, isto é, faz com que sempre seja devida a prestação
jurisdicional, a inexistência da lei para ser aplicada não isenta o julgador do dever de
solucionar o caso concreto, seguindo a analogia, os costumes e os princípios gerais
do direito.
No Brasil, o Biodireito é constituído por regras relacionadas à Bioética e
princípios, que possuem maior generalidade, mas ele vai muito além da sua
previsão normativa, pois também é contruído casuísticamente, à partir de demandas
que chegam ao Judiciário, que é intimado a encontrar uma solução. Os desafios
bioéticos e biojurídicos são muitos e a atualização é imprescindível.
O Biodireito possui com princípios a precaução, a autonomia privada, a
responsabilidade e a dignidade da pessoa humana, assim como utiliza-se dos
princípios da Bioética, ou seja, autonomia, beneficência (e/ou não maleficência) e
justiça. Isto pois, conforme defendem Segre e Cohen (1999), as Ciências devem ser
humanizadas, e o saber e o fazer científico devem ser pautados no respeito à
pessoa, em observância ao princípio da dignidade humana e às liberdades e
garantias individuais.
Assim, verifica-se que Biodireito é complexo e requer que se faça uso
constante da interdisciplinaridade, intergeracionariedade, transdiciplinariedade e da
multidisciplinaridade em cada caso concreto.
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CONCLUSÃO
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REFERÊNCIAS
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito ambiental. 12. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2010.
FERRATER MORA, J. Dicionário de filosofia. Tomo III (K-P), São Paulo: Edições
Loyola, 2004.
FRANCO, L. R., TAVARES, F. H., BOMTEMPO, T. V., DIAS, T. V., DINALI, D. J.,
DOMINGUES FILHA, M. E. M., GODINHO, R. L., LIBRELON, K. F., PÁDUA,
C.B.M.P, RESENDE, V. H. S., Silva Couto, C.P, SILVA, M. F. Bioética e Biodireito.
Virtuajus (PUCMG). , v.8, p.1 - 38, 2009.
195
HABERMAS, Jürgen. O Futuro da Natureza Humana. Trad. Karina Jannini. São
Paulo: Martins Fontes, 2004.
REICH, W.T. (editor), Encyclopedia of Bioethics. rev. ed., New York: Macmillan,
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SÁ, Maria de Fátima Freire de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira. Bioética,
Biodireito e o novo Código Civil de 2002. Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
196
SÁ, Maria de Fátima Freire de; NAVES, Bruno Torquato de Oliveira. Manual de
Biodireito. Horizonte: Del Rey, 2015.
VAZ, Henrique Cláudio de Lima. Ética e Direito. São Paulo: Landy-Loyola, 2002.
197