Bajour Cecilia Ouvir Nas Entrelinhas PDF
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entrelinhas
O valor da escuta nas
práticas de leitura
illa Bajour
pulo do gáto
gata letrado
letrado
OUVIR
OUVIR NAS ENTRELINH
ENTRELINHAS
AS - O VALO
VALOR
R DA ESCUTA
ESCUTA NAS PRÁTICAS
PRÁTICAS DE LErTURA
LErTURA
© edição brasileira: Editora Pulo do Gato, 2012
© Cecília Bajour, 2012
editores Márcia Leite e Leonardo Chianca
c o n s u l t o r a Dolores Prados
t r a d u ç ã o Alexand
Alexandre re Morales
Morales
e d i t o r a a s s i s t e n t e Thais Rimkus
a s s i s t e n t e e d i t o r i a l Vivian
Vivian Pennafid
p r e p a r a ç ã o d a t r a d u ç ã o Márcia Leite
r e v i s ã o Ana
Ana Luiza
Luiza CoutoCouto
p r o j e t o c. r á f i c o e d i a g r a m a ç ã o Mayumi Okuyama
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v alorr da escuta nas práticas de
de
leitura / Cecília Bajour; tradução dc* Alexandre Morales
• São Paulo:
Paulo: Lditora Pulo do Cato,
Cato , vo u . j
I !
I isbn 97tt-05-64
V 74-av 4
1. Iláhitos dc leitura 2. Leitores
Leitores s Ijeilura - Estudo e
j ensino 4. Livros r*
r* leitura
leitura 5. Promoção
Pr omoção da leitura 1. Titulo ;
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r Escrita (Asdcctura) — Bogotá.
.. quando o silêncio já era de confiança,
inteninha na música, passava entre os so jis
cotno um gato com seu grande rabo preto
e os deixava repletos de intenções."
O SILÊNCIO , FELISBERTO HERNÁNDEZ
7 Dahl, Roald. Cuentos en verso pa ra nino s perversos [Revolting Rhy m es, 1982].
Trad. de Miguel Azaola. Buenos Aires: Alfaguara, 2008. (Col. Especiales
Álbum); Perrault, Charles. L a C a p e r u á ta R o j a . Ilustrações de Leticia Gotli-
bowski. Buenos Aires: Eclipse, 2006. (Col. LibrosÁlbum dei Eclipse);
Pescetti, Luis. C ap eru áta R o ja (tal com o se lo contaron a Jorge). Ilustrações de
0 'Kif. Buenos Aires: Alfaguara, 1996. (Col. Infantil).
50 Perrault e dos irmãos Grimm pa ra cotejar, ap re cia r e
reconhecer junto com as crianças as transformações
paródicas e as releituras do escrito que certas ilus-
trações ensejam.
Uma delas, Eleonora, fun da m en tou o p ro ce sso de
escolha deste modo:
10 Ibídem.
A ênfase na capacidade de construir sentidos de
todos os leitores, e não na carência, na diferença e nos
limites, manifestouse com força numa oficina de leitura
realizada por dois mediadores, Roberto e Mariel, com
um grupo de jovens e adultos portadores de diversas
patologias mentais e motoras em um centro de reabi-
litação e estimulação . A proposta consistia em explorar
o gênero "conto maravilhoso" como via para trazer à
tona relações de intertextualidade em contos populares
e em diversas versões contemporâneas. Em seu traba-
lho de final de curso, Roberto começou a se pergun-
tar se era possível "pensar em uma oficina de leitura
para pessoas que não estão alfabetizadas e que em
virtude de suas capacidades in tele ctuais reduzidas
jam ais p o derão ch egar a se alfabetizar".11 A ideia de
Graciela Montes de que "não existem analfabetos de
significação: somos todos construtores de sentido"12
11 Sotelo, Roberto (em colab ora ção com iMariel Danazzo). Todos somos
capaces de ejercer nu estro derecho a l im a g in á rio a través de la lectura [Todos somos
capazes de exercer nosso direito ao im ag iná rio p or m eio da leitura], Buenos Aires:
projeto de final de curso, Postítulo de Literatura Infantil y Juvenil.
2008 [mimeol.
12 Montes, Graciela. L a gr a n ocasión : la escuela com o soaed ad de lectura 1/1 gran -
de ocasião: a escola como sociedade da leitura 1. 2a. ed. Buenos Aires: Plan Na-
cional de Lectura, Ministério de Educación, Ciência y Tecnologia, 2007.
levouo a repensar sua ideia de alfabetização. Dessa
forma, em sua seleção apostou em
13 Patte, Geneviève. Si nos dejaran Iccr: los ninos y las bibliotecas [Se nos
deixarem ler: as crianças e a biblioteca ]. Trad. de Silvia Castrillón. Bogotá:
Cerlal/Prolectura/Kapelusz, 1984. (Col. Lectura y Educación).]
O tempo todo, pelos seus comentários, verbalizações 55
17 Ibidem.
Falo de uma escuta alimentada com teorias, já qu e
para reconhecer, apreciar c potencializar os achados
construtivos se torna produtivo o manejo de alguns
saberes teóricos por parte do mediador. Não me refiro
à teorizarão como uso de terminologias ou discursos
específicos da teoria literária ou da retórica da imagem
como etiquetas "corretas" de achados interpretativos.
A leitura de um poema, por exemplo, se for apenas
uma via para detectar, isolar, dissecar e mencionar
hipérboles, sinestesias, antíteses, m eloním ias etc., dei
xa de fora a poesia e os leitores.
lí possível falar dos textos de forma profunda e
crítica sem fazê-lo "em jargão". No entanto, essa visão
não subestima os modos particulares que cada teo
ria lem para designar os procedimentos das diversas
artes. Ao contrário, uma escuta sensível, que valorize
os modos pelos quais cada leitor se refere ao conta
to com metáforas, perspectivas inusitadas, alterações
temporais, elipses etc., pode ser uma situação para
que essas descobertas sejam colocadas em diálogo
com algumas denominações técnicas. Trata-se de uma
maneira de transmitir culturas e pôr à disposição sabe-
/ • , .vê
res técnicos sobre a arte que não pretende ser "a ver-
cJade" acerca dos textos. A teoria é mobilizada a partir
daquilo que os leitores dizem sobre os textos, e não
de antemão: quando ela precede a leitura, condicio
na e fecha sentidos.
Mariela, outra professora interessada em desa
fiar a si mesma e aos leitores com textos belos e sem
concessões, e desejosa de "ficar disponível de corpo
e alma para escutar", refletiu sobre essas questões ao
escrever sua experiência de leitura de poesia com
jo ven s entre 13 a 20 an o s d e idade. Seu proje to foi
realizado em um centro comunitário que organiza
atividades culturais e recreativas e oferece almoço e
ja ntar para "ad olescentes em risco social" no sul da
região metropolitana da província de Buenos Aires,
em um bairro bastante m arcad o pela exclusão. Veja
mos um fragmento do registro de um encontro em
que propôs a leitura de um poema que escapasse ao
convencional nas leituras do gênero nessas idades.
18 "Tiem po Tiem po./ M ed iod ía estancado entre relentes./ Bo m ba abu rrida dei
cuartel achica/ Tiempo tiempo tiempo tiempo./ Era Era./ Gallos cancionan escar-
bando en vano./ Boca dei claro día que co njuga/ Era era era eraV M an an a M an a-
na./ El reposo caliente aún de ser./ Piensa el presente guárdame para/ Manana
m a n a n a m a n a n a m a n a n a . / N o m b r e N o m b r e ./ Í Q u é s e l la rt ia a i a n to h e riz a n os ?/
S e ll a m a L o m is m o q u e p a d ec e / N o m b r e n o m b r e n om b re n o n i b rE " (César Vallejo, »
que e ela me indica o "e" maiusculo do final: "É que se
pode ler ao contrário. Não está vendo que termina em
maiúscula? Lê-se também assim", e com o dedo indi
ca uma possível leitura que não respeita a linearidade
convencional. Todo um achado.
Eu o leio e Tino interrompe: "Assim qualquer um escre
ve, com duas palavras e repete, repete, repete". Eles se
riem da "armação”.
Volto a ler em voz alta, acentuando as repetições, 'Tempo
tempo tempo tempo", e as palavras unidas "Omesmo",
"Parece um relógio de um telefone que diz Treze horas,
quatorze minutos, quarenta segundos'", diz Brian, e repe
te: "Treze horas, quatorze minutos, quarenta segundos".
Surpreende-me a perspicácia da associação tão sintoni
zada com o poema, com suas repetições que tematizam
a rotina, com o tempo indiferenciado em "Omesmo".