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Secretaria Municipal de Educação de São Paulo

Orientações Didáticas
do Currículo da Cidade

ENSINO FUNDAMENTAL Ciências Naturais


Prefeitura da Cidade de São Paulo
Bruno Covas
Prefeito

Secretaria Municipal de Educação


Alexandre Schneider
Secretário Municipal de Educação

Daniel Funcia de Bonis


Secretário Adjunto

Fatima Elisabete Pereira Thimoteo


Chefe de Gabinete
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo

Orientações Didáticas
do Currículo da Cidade

Ciências Naturais

São Paulo | 2019


COORDENADORIA PEDAGÓGICA - COPED EQUIPE DE COORDENAÇÃO E ELABORAÇÃO
Minéa Paschoaleto Fratelli - Coordenadora COORDENAÇÃO GERAL
Carla da Silva Francisco
ASSESSORIA TÉCNICA - COPED Wagner Barbosa de Lima Palanch
Fernanda Regina de Araujo Pedroso Minéa Paschoaleto Fratelli
Tânia Nardi de Pádua
ASSESSORIA PEDAGÓGICA GERAL
DIVISÃO DE ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO – DIEFEM Fernando José de Almeida
Carla da Silva Francisco - Diretora
CONCEPÇÃO E ELABORAÇÃO DE TEXTOS
EQUIPE TÉCNICA – DIEFEM CIÊNCIAS NATURAIS
Cíntia Anselmo dos Santos
Daniela Harumi Hikawa ASSESSORIA
Daniella de Castro Marino Rubio Daniela Lopes Scarpa
Felipe de Souza Costa Lúcia Helena Sasseron
Heloísa Maria de Morais Giannichi
Hugo Luís de Menezes Montenegro EQUIPE TÉCNICA - SME
Humberto Luis de Jesus Claudia Abrahão Hamada
Karla de Oliveira Queiroz Daniela Harumi Hikawa
Kátia Gisele Turollo do Nascimento
Lenir Morgado da Silva COLABORADORES
Paula Giampietri Franco Katia Sayuri Endo
Rosangela Ferreira de Souza Queiroz Marcelo Nastari
Yara Dias da Silva Deise Tomazin Barbosa

NÚCLEO TÉCNICO DE CURRÍCULO – NTC PROJETO EDITORIAL


Wagner Barbosa de Lima Palanch - Diretor
CENTRO DE MULTIMEIOS
EQUIPE TÉCNICA – NTC Magaly Ivanov - Coordenadora
Adriana Carvalho da Silva NÚCLEO DE CRIAÇÃO E ARTE - Editoração e Ilustração
Carlos Alberto Mendes de Lima Ana Rita da Costa - Projeto gráfico
Claudia Abrahão Hamada Angélica Dadario
Clodoaldo Gomes Alencar Junior Cassiana Paula Cominato
Edileusa Andrade de Carvalho Araújo Costa Fernanda Gomes Pacelli
Márcia Andréa Bonifácio da Costa Oliveira Joseane Alves Ferreira
Maria Selma Oliveira Maia
Mariângela do Nascimento Akepeu Pesquisa Iconográfica
Monica de Fátima Laratta Vasconcelos Eliete Caminhoto
Nágila Euclides da Silva Polido
Fotos Capa
Regina Célia Fortuna Broti Gavassa Daniel Arroyo da Cunha
Silvio Luiz Caetano Enzo Maia Boffa
Tânia Tadeu Magaly Ivanov
Vera Lúcia Benedito Paula Letícia de Oliveira Floriano
Viviane Aparecida Costa

CC S
BY NC SA

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Qualquer parte desta publicação poderá ser compartilhada (cópia e redistribuição
do material em qualquer suporte ou formato) e adaptada (remixe, transformação
São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. e criação a partir do material para fins não comerciais), desde que seja atribuído
Coordenadoria Pedagógica. crédito apropriadamente, indicando quais mudanças foram feitas na obra. Direitos
de imagem, de privacidade ou direitos morais podem limitar o uso do material, pois
Orientações didáticas do currículo da cidade : Ciências
necessitam de autorizações para o uso pretendido.
Naturais. – 2.ed. – São Paulo : SME / COPED, 2019.
A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo recorre a diversos meios para
localizar os detentores de direitos autorais a fim de solicitar autorização para
publicação de conteúdo intelectual de terceiros, de forma a cumprir a legislação
128p. : il. vigente. Caso tenha ocorrido equívoco ou inadequação na atribuição de autoria de
alguma obra citada neste documento, a SME se compromete a publicar as devidas
Bibliografia alterações tão logo seja possível.

1.Educação – Currículo. 2.Ensino Fundamental. Disponível também em: <http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br>


3.Ciências Naturais – Orientação didática. I.Título.
Consulte o acervo fotográfico disponível no Memorial da Educação Municipal da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
CDD 375.001
portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Memorial-da-Educacao-Municipal
Código da Memória Técnica: SME175/2018 Tel.: 11 5080-7301 e-mail: smecopedmemorialeducacao@sme.prefeitura.sp.gov.br
Educadores e
Educadoras,
Dando continuidade ao processo de implementação do Currículo da Cidade, estas Orientações
Didáticas constituem-se como mais um desdobramento de toda a discussão e proposição de objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento. Nesse sentido, este documento apresenta possibilidades de tra-
balhos com esses objetivos sem, no entanto, limitar o poder criativo de cada professora e professor em
nossa Rede.
As Orientações Didáticas não foram pensadas de modo complementar ao Currículo da Ci-
dade, mas constituintes desse documento, que abarca diversos saberes e que tem, como principal
finalidade, garantir a aprendizagem de estudantes no Município de São Paulo.
Para tanto, não perdemos de vista os princípios que visam à garantia da: equidade, colabo-
ração, continuidade, relevância, contemporaneidade, educação integral e, como não poderia deixar
de ser, da educação inclusiva, que pressupõe o respeito e a valorização da diversidade, a qual nos
constitui como sujeitos e cidadãos de uma cidade multifacetada.
Assim, os documentos orientadores fazem parte de uma coleção que comporá a formação
continuada de profissionais da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, à medida que apresenta
discussões importantes para que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento ganhem vida e
passem a ser uma realidade possível na ação docente.
É importante dizer que, nas páginas das Orientações Didáticas, o professor e a professora
encontrarão pontos de partida e sugestões de trabalho, mas não “receitas”, pois entendemos que –
numa cidade tão complexa como a nossa – as realidades locais são levadas em consideração. Nosso
esforço está centrado no sentido de empreender estratégias e na proposição de possibilidades para
que estudantes da cidade continuem aprendendo.
Por falar em aprendizagem, o foco maior de nossas ações, organizamos a coleção de Orien-
tações Didáticas por área e por componente curricular: Linguagens (Arte, Educação Física, Língua
Inglesa e Língua Portuguesa), Matemática, Ciências da Natureza (Ciências Naturais) e Ciências Hu-
manas (Geografia e História), Tecnologia para Aprendizagem. Cada volume compreende discussões
orientadoras do 1º ao 9º ano. A novidade, desta vez, é que há um documento especialmente elabo-
rado para a Coordenadora e o Coordenador Pedagógico.
Para além dessa organização, foram pensados aspectos que entrecruzam todos os componentes
curriculares, ou seja, que visam à Matriz de Saberes. Portanto, propomos orientações que considerem: o
pensamento científico, crítico e a criatividade; a resolução de problemas; a comunicação; o autoconhe-
cimento e o cuidado; a autonomia e a determinação; a abertura à diversidade; a responsabilidade e a
participação; a empatia e colaboração e o repertório cultural.
Finalmente, nosso desejo é que as Orientações Didáticas fortaleçam os Projetos Político-Pe-
dagógicos, redimensionem olhares para discussões mundiais, como os Objetivos de Desenvolvimen-
to Sustentável, e que, sobretudo, continuem a garantir a aprendizagem de estudantes.
Bom trabalho!

Alexandre Schneider
Secretário Municipal de Educação
Matriz de
Saberes

Saber mais

Com a
palavra
Ciências Naturais

Sumário

7 Apresentação

11 Gestão da Sala de Aula

47 Avaliação no Ensino de Ciências Naturais

54 Possibilidades para o Desenvolvimento


dos Eixos Temáticos no Ensino Fundamental

87 O Ensino por Investigação na Construção de Percursos


Formativos na Prática de Sala de Aula

107 O Ensino de Ciências como Cultura para Todos

125 Referências
Ciências Naturais

Apresentação

A proposta curricular de Ciências Naturais da Secretaria Municipal de Edu-


cação de São Paulo, além da ação com professores, da consulta à Rede e em tra-
balhos sobre concepções de currículo, fundamentou-se em estudos que analisam e
propõem o papel das ciências na sociedade atual.
“A escola ensina conteúdo”. Essa ideia é bastante comum e difundida; e,
em certos aspectos, é uma ideia correta. Mas a escola ensina mais. Nas aulas de
Ciências Naturais, além dos temas e tópicos de interesse dessa área, podem ser
ensinados os próprios modos de construir conhecimento científico, além das múl-
tiplas relações e influências existentes entre ciência e sociedade.
A escola é para os estudantes um espaço importante de interação. É espa-
ço, ainda, em que suas subjetividades e as suas individualidades destacam-se e se
complexificam, ao mesmo tempo em que convivem com objetividades e individua-
lidades múltiplas de outros.
Qualquer pessoa que tenha frequentado a escola lembrará desse espaço,
trazendo à tona aspectos emotivos, estejam eles ligados às angústias sofridas em
épocas de avaliação, como também às alegrias pelo convívio social e pelas oportu-
nidades de enriquecimento cultural e de desenvolvimento. Fato é que não saímos
ilesos da escola: somos modificados por ela e a modificamos, pelo trabalho com a
formação de novas habilidades cognitivas e novos convívios.
Juízos sobre convivência, amizade, respeito e colaboração são construídos
também em atividades e experiências escolares. Isso reafirma algo que é claro aos
professores: a escola ensina muito mais do que apenas conteúdos disciplinares.
Por vezes o desenvolvimento de ideias e atitudes, como as acima elenca-
das, ocorre espontaneamente, mas em outras, o trabalho é intencional e, por-
tanto, práticas são implementadas com o objetivo de que os estudantes tenham
a oportunidade de envolverem-se com aspectos atitudinais e procedimentais, a
partir dos cognitivos.
Um grande embate que pode surgir na tênue linha que separa e une a abor-
dagem de conceitos do trabalho com outras habilidades igualmente importantes
para o desenvolvimento dos estudantes é trabalhar atitudes e procedimentos sem
relacioná-los com o conteúdo. Pois, ainda que esteja à margem dessa abordagem,
pode gerar o não reconhecimento das atitudes e procedimentos, além das partes
integrantes e dos componentes do conteúdo disciplinar.
Considerando as Ciências Naturais como pertencentes a uma área de co-
nhecimento da humanidade, saberes e práticas foram trazidos para a proposta e

7
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

são igualmente discutidos na apresentação dos eixos norteadores do currículo, dos


objetos de conhecimento a serem trabalhados em aulas de Ciências Naturais e na
proposição dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para o Ensino Fun-
damental. Leva-se em consideração, também, a contextualização da aprendizagem
no interior da Matriz de Saberes assim como nos 17 Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável propostos pela Agenda 2030.
O trabalho escolar voltado para conhecimentos e práticas das ciências pos-
sibilita aos estudantes o contato com modos de produção de conhecimento e, em
decorrência, surge a necessidade de discutir aspectos sociais, culturais e políticos
que interagem mutuamente representando novos conhecimentos, novos modos de
comportamento, outras perspectivas de entender o mundo.
Tendo fundamentado a proposta curricular, o olhar conjunto para práticas
e conhecimentos em aulas de Ciências Naturais deve apoiar o professor no traba-
lho didático e pedagógico. Nas próximas páginas, serão apresentados elementos
mais objetivos sobre como esse trabalho pode acontecer no ambiente escolar.
Bom trabalho!

8
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Daniel Cunha - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Orientações Didáticas do Currículo da Cidade


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Ciências Naturais
Ciências Naturais

Gestão da Sala de Aula

Gerenciar a sala de aula é uma ação que não ocorre apenas nesse espaço:
ela demanda outras atividades que antecedem e que sucedem o trabalho com a
turma. Significa dizer que a gestão não é apenas da sala de aula, mas também do
espaço escolar, pois é necessário identificar locais, materiais, pessoas e entornos
da escola que permitam o trabalho com temas das Ciências Naturais.
Assim considerada, a gestão da sala de aula relaciona-se ao planejamento,
à implementação e à avaliação das atividades didático-pedagógicas. Relaciona-se,
também, ao trabalho mais direto entre professor e estudantes, às interações esta-
belecidas entre eles com foco em conhecimentos e por meio de materiais didáticos.
Tendo por base o documento curricular da Secretaria Municipal de Educa-
ção de São Paulo, é preciso considerar alguns aspectos do ensino de ciências para
melhor apresentar como organizar a gestão da sala de aula.

Alfabetização Científica como objetivo do


ensino de Ciências Naturais

O Currículo da Cidade apresenta a Alfabetização Científica (AC) como ob-


jetivo do ensino de ciências. Isso posto, elementos que a fundamentam precisam
ser ponderados para a gestão da sala de aula de Ciências Naturais.
A Alfabetização Científica é considerada como um processo contínuo e em
constante transformação. Fundamenta-se na concepção de que situações vividas
nos dias atuais relacionam-se a conhecimentos científicos, seja de modo direto,
seja de forma menos óbvia. De mesmo modo, as relações entre sociedade, tecno-
logia e ciência mostram-se próximas e frequentes, explicitando influências mútuas
e múltiplas que repercutem nas formas de agir e de pensar da humanidade e na
própria organização das sociedades.
Ainda que seja um processo vitalício, a Alfabetização Científica pode ser
considerada prioritária para ocorrer na escola e, para tanto, alguns eixos estru-
turantes auxiliam no planejamento, implementação e avaliação de propostas

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

didáticas que visem ao seu desenvolvimento. Conforme Sasseron e Carvalho


(2008, 2011), os eixos estruturantes da Alfabetização Científica são:
1. A compreensão de termos e conceitos científicos básicos: trata-se de
oferecer aos estudantes oportunidades para que os fenômenos e as
situações vivenciadas sejam entendidos com a sistematização que as
ciências trazem. Assim, nomes e conceitos vão sendo definidos a partir
do contato dos estudantes com as novas informações trabalhadas em
sala de aula e pela relação que estabelecem com seus colegas e com o
professor na busca pela solução de problemas.
2. O entendimento de aspectos da natureza da ciência e dos fatores
que influenciam sua prática: esse eixo centraliza-se no desenvolvimento
de características do fazer científico bem como na percepção de que a
atividade científica sofre influências internas e externas ao seu âmbito
que podem impactar nesse próprio fazer. Elementos da investigação e
da resolução de problemas, trabalhados de modo implícito ou explícito
em sala de aula, contribuem para a abordagem desses aspectos.
3. A compreensão de que há relações entre ciência, tecnologia, sociedade
e ambiente: ao trabalhar esse eixo, os estudantes devem ter oportuni-
dade para compreender que ciência, tecnologia, sociedade e ambiente
formam um conjunto coeso, que representa e sofre influências mútuas.
Isso é essencialmente importante para que os estudantes desenvolvam
o entendimento de que modos de produzir conhecimento e expectativas
em relação a esta produção estão interligados, e as ações desempenha-
das em uma dimensão repercutem nas demais.
É preciso ponderar que não há hierarquia entre os eixos estruturantes da
Alfabetização Científica, sendo igualmente importante a consideração de todos no
planejamento de atividades para a sala de aula. Eventualmente, uma aula poderá es-
tar mais diretamente relacionada a um ou outro eixo estruturante, mas, para almejar
a Alfabetização Científica dos estudantes, é preciso que todos eles sejam trabalhados
de modo equivalente nas propostas didáticas trazidas à sala de aula pelo professor.
Ao longo da implementação dessas propostas, novas discussões vão sur-
gindo da interação entre os estudantes, os conhecimentos e suas experiências an-
teriores, sejam elas escolares ou não. O professor pode aproveitar essas interações
para aprofundar aspectos da discussão que não estavam em seu planejamento,
permitindo que a avaliação e a crítica do que se debate, marcas da atividade social
das ciências, possam ser vivenciadas pelos estudantes. Desse modo, o trabalho
com os eixos estruturantes da Alfabetização Científica ocorre de maneira contínua,
explorando aspectos conceituais, assim como características do fazer científico e
as relações que se estabelecem entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Desenvolver a Alfabetização Científica na escola implica a necessidade de


incorporação de práticas científicas pelos estudantes, de tal modo que eles travem
contato com aspectos do fazer científico, com as interferências e influências que
ocorrem e regulam esse processo e com os conceitos deste campo de conhecimen-
to. A discussão sobre as práticas científicas será aprofundada quando tratarem de
aspectos para o planejamento das aulas. No entanto, nesse momento, é importan-
te ter atenção às dimensões que elas podem apresentar em sala de aula.

Dimensões da prática científica em sala de aula

Não é recente o debate sobre a necessidade de que o ensino de ciências


aborde elementos conceituais, epistêmicos e sociais (DUSCHL, 2008). Essa per-
cepção fundamenta e justifica o trabalho com as práticas científicas em sala de
aula, pois reconhece que o ensino de ciências extravasa o âmbito dos conceitos,
sendo necessário abordar formas de construir entendimento sobre fenômenos,
considerando as garantias que são trazidas, como elas são construídas e os dife-
rentes modos de interação entre as pessoas e entre as pessoas e os conhecimentos.
Nessa perspectiva, para pensar a gestão de sala de aula, é importante tra-
balhar com 4 dimensões da prática científica: conceitual, social, epistêmica e ma-
terial (STROUPE, 2014).
A dimensão conceitual da prática científi- Matriz de Saberes
ca preocupa-se com os conceitos, leis, modelos e Das quatro dimensões da prática cien-
tífica, três estão diretamente ligadas a
teorias que são apresentados e discutidos em sala Matriz de Saberes do Currículo trazidos
de aula. Normalmente, essa dimensão é muito no Currículo da Cidade.
A dimensão conceitual alinha-se ao
valorizada pelo professor em seu planejamento e
pensamento científico, crítico e criativo.
nas atividades de implementação e de avaliação. Por meio dele, os estudantes acessam e
organizam o conhecimento.
A dimensão social da prática científica A dimensão social e os saberes envol-
não está apenas relacionada ao contato entre as vidos com a empatia e a colaboração
levam a uma vivência mais solidária na
diferentes pessoas que compõem e interagem em escola. Sentimentos e perspectivas de
sala de aula, mas coloca também em evidência todos são considerados para a constru-
ção de projetos comuns.
os acordos que regem as atividades de manipula-
Saberes como a resolução de proble-
ção, desenvolvimento, crítica e uso de ideias em mas, a autonomia e a determinação,
debate. Essa dimensão está diretamente vincula- juntamente com a dimensão epistêmi-
ca, permitem aos estudantes consoli-
da a acordos explícitos ou tácitos que o professor darem conhecimentos que são fruto de
estabelece com seus estudantes, repercutindo em um processo de investigação.
modos de agir e de se relacionar com diversas pes-
soas e diferentes materiais de sala de aula.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A dimensão epistêmica da prática científica relaciona-se com os modos e


com a maneira que os entendimentos em construção são avaliados, aos quais se
atribui a confiabilidade sobre o que se sabe. Revela processos de reflexão e crítica
sobre os entendimentos que se constrói e deve influenciar como as discussões
ocorrem em aula.
A dimensão material da prática científica, em sala de aula, está voltada
à própria infraestrutura presente no espaço escolar e aos materiais a que se tem
acesso, sejam livros didáticos, revistas, acesso à internet e outras formas de obter
informação. Essa dimensão também se associa aos materiais que vão sendo cria-
dos e recriados em sala de aula, tendo, portanto, um aspecto relacionado às pró-
prias informações ali existentes e como elas são utilizadas. Ao professor, cabe o
papel de planejar ações que possam considerar os materiais existentes neste con-
texto, tanto na sala de aula quanto em outros espaços da escola e de seu entorno.

O ensino por investigação

A realização de atividades de Ciências Naturais em sala de aula não é ta-


refa fácil: assim como não há um método único e rígido para realizar estudos
científicos, não há estratégias e métodos únicos para uma boa abordagem das
ciências na escola, sendo necessário considerar questões particulares para um
bom planejamento e para uma boa implementação de recursos didáticos. Desse
modo, percebemos que o pensamento científico e a criatividade podem caminhar
juntos no processo investigativo.
O trabalho em sala de aula, visando responder a um problema, implica
construir hipóteses que são analisadas, confirmadas ou refutadas, investigando
informações e dados, buscando relacionar conhecimentos e informações. Esses
são procedimentos utilizados por cientistas e, desse modo, o trabalho com eles
permite que o ensino das Ciências Naturais enfatize as ciências como um campo
de conhecimento e não meramente como uma lista de temas a serem trabalhados.
Transformar as ações de investigação científica em atividades didáticas é
um processo que merece atenção e já vem sendo estudado por muitos pesqui-
sadores. Uma das propostas que nos ajudam a visualizar quais ações devem ser
realizadas para o desenvolvimento do ensino por investigação é feita por Pedaste
et al.(2015), sintetizada na figura a seguir.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

DISCUSSÃO
ORIENTAÇÃO

Orientação
CONCEITUALIZAÇÃO

Questão Hipótese Comunicação


INVESTIGAÇÃO

Exploração Experimentação
Reflexão
Interpretação
dos dados
CONCLUSÃO

Conclusão

Fonte: Traduzido de Pedaste et al. (2015).

Figura 1 – Fases e subfases do ciclo de investigação.

Essa figura apresenta cinco principais fases para o desenvolvimento de ativi-


dades de ensino por investigação: orientação, conceitualização, investigação, con-
clusão e discussão. Em algumas situações, essas fases podem se interpor em sala
de aula, mas é importante reconhecer o que caracteriza cada uma delas.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A orientação costuma ser o início de uma investigação em sala de aula e é


marcada pelas ações do professor em buscar o envolvimento dos estudantes com o
tema. É o momento em que a curiosidade é estimulada, seja por meio da recorda-
ção de ideias que os estudantes já possuem, seja pelo inusitado do que está sendo
proposto. Nessa fase, costuma-se propor o problema a ser investigado.
Na fase de conceitualização desenvolvem-se as subfases das questões e
das hipóteses. Importante notar que o problema já poderia ter sido exposto na
fase anterior e, portanto, neste momento, novas questões surgem já como des-
dobramento do problema, na intenção de construir modos para sua resolução,
devendo ocorrer estreita relação entre estas novas questões e as hipóteses que
são construídas.
A investigação caracteriza-se pelos processos de manipulação e organiza-
ção de dados e informações. Nessa fase, surgem as subfases de exploração, expe-
rimentação e interpretação dos dados. É, portanto, o momento em que ocorrem
a manipulação de materiais e o trabalho com informações que podem advir, por
exemplo, de textos, livros e outros itens que estejam à disposição para consulta.
Essas ações levam à coleta de informações que serão analisadas no movimento de
interpretação dos dados.
A fase de conclusão continua o processo de análise de dados, mas, agora,
o foco está em identificar as evidências que permitam explicar o problema investi-
gado. O processo de análise de inferências e hipóteses permite que as explicações
possam se tornar mais precisas e, com isso, pode ocorrer o estabelecimento de
previsões sobre efeitos associados ao problema em estudo.
A discussão perpassa todas as fases anteriores. Podem ser evidenciadas
avaliações de cada ação, o que contribui para o direcionamento do processo, seja
pela continuidade de práticas realizadas ou pela mudança de rumo. Essa fase en-
volve as subfases de comunicação e de reflexão. Na comunicação, são apresenta-
das as ideias que começam a ser construídas e, como decorrência, a reflexão vai se
construindo, permitindo criticar e avaliar processos e informações.
Esse ciclo de investigação pode ser um importante instrumento para ajudar
o professor a planejar aulas de Ciências Naturais e a analisar os momentos de im-
plementação de uma atividade de investigação. Por este motivo, ele será retomado
com mais detalhes ao longo destas Orientações Didáticas.
Importante voltar a salientar que o ensino por investigação não está apenas
relacionado a atividades experimentais. Apesar disso, elas são estratégias muito
características das ciências e, portanto, merecem ser discutidas com mais cuidado.

16
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

As práticas experimentais e os graus de liberdade

Carvalho (2010) estabelece algumas etapas que podem ser encontradas nas
atividades práticas experimentais e relaciona o papel que estudantes e professor de-
sempenham no trabalho com elas, de modo a definir o grau de liberdade intelectual
conferido aos estudantes. As etapas são: a proposição do problema, o plano de
trabalho, o levantamento de hipóteses, a coleta de dados e as conclusões.

Quadro 1: Ações de uma atividade experimental e os graus de liberdade

Grau I Grau II Grau III Grau IV Grau V


Problema P P P P A
Hipóteses P P P A A
Plano de trabalho P P A A A
Coleta de dados A A A A A
Conclusões P A A A A
Fonte: CARVALHO (2010)

Legenda: P= professor / A= Aluno

No grau I de liberdade, o estudante apenas coleta dados a partir do pro-


blema, das hipóteses e do plano de trabalho apresentados pelo professor e das
conclusões já propostas. É um tipo de atividade que muito se assemelha a labo-
ratórios didáticos conhecidos como “receitas de cozinha”. No grau de liberdade
II, já é conferida aos estudantes a possibilidade de construírem conclusões a
partir dos dados obtidos, contudo isso significa uma grande mudança na estru-
tura do problema proposto, pois uma vez que se oferece a possibilidade para a
construção de conclusões, variações podem aparecer nas explicações propostas
pelos grupos. No grau de liberdade III, o grupo de estudantes é convidado a
estabelecer de que modo o trabalho será realizado e, no grau de liberdade IV, o
estabelecimento de hipóteses também fica sob responsabilidade dos estudan-
tes, sendo eles os responsáveis por todo o trabalho operacional e intelectual
para a resolução do problema. O grau de liberdade V caracteriza-se pela ação
dos estudantes em todas as etapas, assemelha-se, portanto, a programas como
“pré-iniciação científica” ou “jovens cientistas” sendo, em nossa realidade, mais
relacionados a projetos extracurriculares. Considerando o exposto, é importante
perceber que quanto mais o estudante se envolver com as etapas, mais liberdade
intelectual será oferecida pelo professor.
O ensino por investigação tem sido proposto como um modo de levar a
investigação em ciências para a sala de aula (CARVALHO, 2010; DUSCHL, 2008).
É, portanto, uma maneira de permitir o desenvolvimento de práticas científicas
entre os estudantes.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Ainda que o nome possa induzir à percepção de que o ensino por investiga-
ção se paute na constituição e implementação de atividades de laboratório, ele não
se restringe apenas a esse modo de ação. As atividades que se vinculam ao ensino
por investigação envolvem resolução de problemas para a qual os estudantes, com
apoio do professor, constroem seus planos de trabalho, considerando hipóteses e
colocando-as em teste, organizam as informações que já possuem, relacionando-
-as às novas, e analisam as variáveis que implicam um fenômeno, para construir
explicações e modelos explicativos.
Nesta perspectiva, qualquer atividade didática pode se tornar uma ativida-
de investigativa, pois é caracterizada pelos modos de interação que ocorrem entre
professor, estudantes e materiais, sendo a promoção de liberdade intelectual entre
os estudantes um dos principais aspectos a se considerar (CARVALHO, 2010). Essa
liberdade intelectual representa a possibilidade conferida aos estudantes para que
eles participem, efetivamente, das diferentes discussões em sala de aula, avaliando
ideias e analisando contextos; processo no qual informações são trabalhadas e o
entendimento sobre elas torna-se mais completo.
O trabalho do professor, para que o ensino por investigação ocorra de
modo bem-sucedido em sala de aula, fundamenta-se em alguns elementos que
podem ser compreendidos como: o problema proposto, a tomada de decisão para
constituição de planos de trabalho, as interações ocorridas em aula e o questiona-
mento das ideias em discussão.
O problema proposto deve advir do reconhecimento de informações, ex-
periências e saberes que os estudantes já possuem sobre um dado tema. Assim,
é imprescindível que o professor analise o que sua turma já conhece em relação
ao fenômeno ou situação em estudo. Isso permite que o problema apresentado
se torne significativo aos estudantes e proposto como desdobramento de outros
conhecimentos sistematizados já trabalhados anteriormente (MACHADO, 2012;
SOUZA, 2015; SOLINO, 2017).
A tomada de decisão para constituição de planos de trabalho para resolu-
ção do problema proposto implica considerar hipóteses construídas, os testes que
se quer fazer, a viabilidade e a necessidade deles, o modo de coleta de informações
e a abordagem que se pretende utilizar para analisá-las (SILVA, 2009; FREIBERG,
2015; SOUZA, 2015). Nas aulas em que não se tem compromisso com o desenvol-
vimento de investigação pelos estudantes, o plano de trabalho costuma ser apre-
sentado pelos materiais didáticos ou enunciado pelo professor. Costuma-se usar
a expressão “receita de bolo” para se referir a este tipo de atividade em que, aos
estudantes, confere-se apenas o papel de registrar os dados obtidos. No ensino por
investigação, o professor oferece suporte, para discussão dos estudantes, que irão
propor modos de agir para que o problema seja resolvido.
A constituição de interações em sala de aula também é uma marca central do
ensino por investigação e ela pode ocorrer pelas interações discursivas entre professor e

18
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

estudantes e entre os próprios estudantes, pelas interações manipulativas em materiais


experimentais, materiais didáticos ou na construção de organização de informações e
conhecimentos (SASSERON, 2008; MACHADO, 2012; FERRAZ, 2015; SOUZA, 2015;
SOLINO, 2017; SACA, 2017). Nessas interações, o problema volta a ser proposto e
novas perguntas relacionadas a ele surgem na concretização do processo de sua reso-
lução. O papel de apresentar perguntas aos estudantes cabe ao professor para que eles
possam considerar aspectos da investigação, aos quais ainda não oferecem atenção.
Essas interações intensificam as oportunidades conferidas aos estudantes para análise
de proposições em construção e de ideias existentes, levando ao possível desenvolvi-
mento de sua liberdade intelectual.
O questionamento de ideias estabelecidas, que ocorre invariavelmente pe-
las interações entre as pessoas e com os materiais, permite a manifestação da
crítica e da avaliação, componentes centrais da atividade investigativa em ciências
(AFONSO, 2011; SOUZA; SASSERON, 2012; FERRAZ, 2015; SACA, 2017). Esse
questionamento ocorre normalmente pela manifestação do professor ao colocar
em debate ideias propostas pelos estudantes, mas também pode acontecer quan-
do eles discutem expressando seus pontos de vista e as conclusões que chegam a
partir da investigação.
Pelo exposto até o momento, a gestão da sala de aula, alinhada ao Currí-
culo da Cidade para o ensino de Ciências Naturais, ancora-se na busca pelo de-
senvolvimento do processo de Alfabetização Científica. Para que se concretize, o
trabalho com práticas científicas, considerando suas diferentes dimensões, pode
ser estabelecido por meio do ensino por investigação. Entende-se que a liberdade
intelectual conferida aos estudantes configura-se, tanto na maneira pela qual a
sala de aula constitui-se em uma comunidade de práticas, como em um modo para
alcançar a Alfabetização Científica.
Na próxima seção, serão discutidos o papel do professor e o papel dos es-
tudantes na perspectiva da Alfabetização Científica.

A sala de aula como espaço para o ensino


e a aprendizagem de Ciências Naturais

É comum ouvir que ensino e aprendizagem são faces da mesma moeda.


Essa analogia nos permite vislumbrar que, uma vez ocorrido o ensino, a aprendiza-
gem acontecerá. Contudo, não há mágica nesse processo e, em muitos casos, pode
haver descompassos entre ambas as ações.

19
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

No ambiente escolar, na maioria das situações, o ensino é tomado como


de responsabilidade do professor. É ele quem planeja o que será apresentado a
seus estudantes, sendo o responsável por tornar o assunto passível de discussão.
Tendo em vista que interações marcam o processo de ensino, podemos afir-
mar que ensinar é uma tentativa de promover aprendizagem, sendo possível haver
situações em que o objetivo não é alcançado. Ensinar é, portanto, uma tarefa que
considera a quem se endereça o ensino, para quem se expõem as ideias, como elas
são apresentadas e com qual finalidade.
Considerando a Alfabetização Científica como um objetivo do ensino de Ci-
ências Naturais, algumas mudanças devem ocorrer em sala de aula, diferenciando-a
de um ensino que se limita à apresentação de temas e conceitos das ciências.
Diferentes estratégias podem ser utilizadas para o desenvolvimento da AC,
como visitas a centros de ciências, espaços de educação não formal, zoológicos e
jardins botânicos, leitura de livros e revistas de divulgação científica, envolvimento
em resolução de problemas, apresentação de informações e sistematização a partir
de debates, entre outros.
Tão importante quanto as estratégias é o envolvimento que professor e es-
tudantes têm com elas. Assim, em um ensino que busque desenvolver a AC entre
os estudantes, é absolutamente essencial a promoção de interações diversas entre
professor e estudantes, entre estudantes, e entre professor, estudantes, informa-
ções e materiais.
O trabalho com as Ciências Naturais busca o desenvolvimento de práticas
científicas, e tem nuances de diferença a cada ciclo do Ensino Fundamental, consi-
derando a progressão nesse desenvolvimento. Portanto, quando estão frente a um
problema, as interações precisam permitir que os estudantes realizem o tratamen-
to de informações, construam e executem planos de trabalho e elaborem explica-
ções para fenômenos em situações em investigação.

Interações discursivas

As interações discursivas entre professor e estudantes e entre estudantes


devem marcar as aulas de Ciências Naturais que visam ao desenvolvimento da
Alfabetização Científica. É comum que o professor interaja discursivamente com
seus estudantes fazendo perguntas e expondo ideias. Nas aulas em que investiga-
ções estão em curso, é necessário que essas interações discursivas sejam mais bem
aproveitadas. Isso quer dizer que perguntas feitas pelo professor devem estimular
a participação dos estudantes e, para tanto, não devem ser apenas perguntas que
podem ser respondidas com um simples “sim” ou “não”, ou que esperam uma res-
posta simples a ser dada de modo irrefletido pelos estudantes. Boas perguntas nas

20
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

aulas de ciências usualmente configuram-se como situações-problema e, por isso,


exigem que informações já existentes entre os estudantes sejam trazidas para a dis-
cussão em que se busca resolver a situação em questão. Esta é uma marca central
do ensino por investigação: fenômenos e situação são investigados em aulas de
ciências, para que os problemas propostos possam ser resolvidos.
Outro aspecto essencial para que as interações discursivas sejam frutíferas
é a habilidade do professor em ouvir o que seus estudantes dizem. Embora isso
pareça óbvio, implica escutar não apenas as respostas corretas, mas todas as hi-
póteses que sejam trazidas. Mesmo respostas que não se aproximem diretamente
daquelas que são esperadas podem ajudar o professor a manter a discussão, ques-
tionando os estudantes sobre o porquê das ideias apresentadas e incentivando-os
a avaliar e reavaliar suas opiniões.
Lembrando das práticas científicas, podem surgir as oportunidades para
que os estudantes comecem a trabalhar com as informações, a construir modos
e planos de trabalho e a elaborar explicações. Esses processos não são simples
e, por isso, as interações discursivas com o professor precisam auxiliar para que
ideias sejam relembradas e hipóteses sejam construídas, considerando sempre o
problema que se investiga.
O trabalho investigativo não ocorre de modo isolado. Sendo similar à inves-
tigação científica, o desenvolvimento do ensino por investigação deve ser eminen-
temente social, congregando ações conjuntas de professor e estudantes. Portanto,
o incentivo ao trabalho em grupos deve acontecer.
No trabalho em grupo, os estudantes podem trocar experiências, informa-
ções e pontos de vista. Similar ao que ocorre no âmbito das ciências, o confronto
de ideias e o trabalho com opiniões e atitudes diferentes podem permitir avanço
no conhecimento, bem como nas práticas que se realizam. No grupo, além de
haver a possibilidade para a aprendizagem de conceitos, os estudantes podem
colaborar entre si, discordar de ideias, realizar críticas, encaminhamentos e refletir
sobre atitudes e conhecimentos. Tudo isso é essencial para seu desenvolvimento
como estudante e como ser humano.

Interações com informações e materiais

As vivências inúmeras ocorridas no espaço escolar e extraescolar implicam


acesso e obtenção de informações pelos estudantes. Adquiridas de modo sistema-
tizado ou não, as informações que chegam às crianças e aos adolescentes consti-
tuem-se em conhecimentos que podem ser utilizados para atividades em sala de
aula. Assim, interações com informações podem ser uma importante estratégia
utilizada pelo professor para que as discussões sobre os temas de aula sejam sig-
nificativas aos estudantes.

21
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

É bastante comum o professor realizar levantamentos sobre o que os estu-


dantes já conhecem a respeito de um tema no início de uma aula ou abordagem por
meio de perguntas. Além de ser uma medida bastante interessante para que o pro-
fessor tome contato com o que seus estudantes já sabem, essa estratégia permite
que eles retomem experiências e informações com as quais já tenham tido contato
em situações formais de ensino ou em outras oportunidades.
Muitas vezes, perguntas do tipo “o que vocês lembram?” podem não ser
muito exitosas, pois permitem que os estudantes respondam com um simples
“nada lembro”. Tornam-se mais profícuas perguntas que se direcionam direta-
mente ao tema em questão, por exemplo, ao abordar a formação de um arco-íris,
o professor pode perguntar “quando vocês observam arco-íris?”. Nesse caso, os
estudantes trazem seu conhecimento sobre a necessidade de haver umidade, ou
mesmo chuva, para que o arco-íris seja observado e, desse modo, a relação entre
a existência de partículas de água no céu e a presença do sol permitem que seja
discutida a formação do arco-íris.
O mais importante nesses casos é que as experiências e os conhecimentos
que os estudantes já possuem estejam claros a eles e ao professor para a investiga-
ção de um novo fenômeno. Isso permite que novas esferas de uma situação sejam
analisadas, configurando uma possibilidade bastante frutífera para a complexifi-
cação dos conhecimentos.
Além das interações com o repertório dos estudantes, é possível interagir
com informações presentes em materiais didáticos. Com isso, suscitar e estimular
o olhar dos estudantes para os livros, revistas e outros materiais existentes na sala
de aula, na biblioteca e em sua casa, além da consulta a sites da internet e conver-
sas com outras pessoas permite um maior levantamento de informações e, do pon-
to de vista pedagógico, promove o desenvolvimento de habilidades para a pesquisa
e pode levar ao surgimento de discussões para avaliação das informações obtidas e
validação da sua importância diante do problema que se investiga.
Outras situações no ensino de Ciências Naturais devem permitir o contato
mais direto dos estudantes com materiais diversos, seja para a experimentação,
seja para a organização de informações. Assim, o uso de materiais de laboratório
ou de materiais semelhantes em sua função permite que aspectos práticos e mani-
pulativos sejam investigados pelos estudantes; ao mesmo tempo, o uso, por exem-
plo, de lupa, para observação, e de régua, para medição, concede aos estudantes
a possibilidade de utilizar instrumentos para a coleta e a organização de dados.
Todas essas interações são importantes no ensino de Ciências Naturais por-
que revelam aspectos do fazer científico e, com isso, aproximam os estudantes do
que sejam as ciências de modo mais completo do que apenas o entendimento de
seus conceitos, leis, teorias e modelos.

22
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

O papel do professor nas aulas de Ciências Naturais

Fazer perguntas, instigar a construção de modos de resolução de proble-


mas, promover a explicitação de hipóteses sobre fenômenos, propor modos de
interação com diferentes informações e objetos, fomentar debates, proporcionar
a avaliação de ideias são todas atividades que um professor deve desenvolver em
aulas de Ciências Naturais. Todas as ações permitem o maior contato dos estu-
dantes com práticas do fazer científico, no entanto, o papel do professor não se
restringe a elas. É necessário que ele planeje suas aulas e modos de interação que
privilegiem ações como as destacadas, possibilitando o contato dos estudantes
com os conhecimentos formalizados das ciências por meio do desenvolvimento
das práticas científicas. Ao realizar tal abordagem, trazendo elementos que revelem
as influências mútuas que existem entre as ciências, as tecnologias e a sociedade,
o professor estará mostrando aos estudantes as oportunidades para o desenvolvi-
mento da Alfabetização Científica.
Portanto, há de se considerar que o papel do professor em aulas de
Ciências Naturais tem forte relação com o planejamento de atividades, mas, ao
se desenvolver, exige atenção para que os objetivos traçados sejam cumpridos e
que tenham considerado diferentes dimensões da formação dos estudantes para
sua Alfabetização Científica.
Ainda que todos os eixos estruturantes da AC sejam abordados com a
mesma importância, o segundo eixo, que faz menção direta ao conhecimento da
natureza da ciência e dos fatores que influenciam sua prática, pode ganhar força
no desenvolvimento das aulas. Isso porque o professor pode levar os estudantes
a se envolverem com ações próprias do fazer científico ao permitir que eles desen-
volvam ações para a resolução de problemas, aspectos como o levantamento de
hipóteses, seu teste (manipulativo ou mental), a coleta e organização de dados e
informações, a busca por variáveis que efetivamente importam para o fenômeno
em discussão, a construção de relações entre variáveis e o estabelecimento de
explicações que permitam previsões de novos efeitos e fenômenos.
Assim, é papel do professor no ensino de Ciências Naturais ser o promotor
de interações dos estudantes com seus colegas, dos estudantes com os materiais
e com as informações já estabelecidas. Também é seu papel ser o orientador das
discussões. Isso é possível porque o professor é a autoridade social da sala de
aula e, portanto, é ele quem organiza o modo como as interações acontecem. De
mesma medida, o professor é a autoridade epistêmica em sala de aula, pois é ele
quem deve ter domínio do conhecimento sistematizado, e validado pela comuni-
dade científica, que está sendo apresentado em aula. Por isso, é ele quem pode
instigar novas ideias e solicitar que os estudantes avaliem o que estão propondo.

23
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

O papel dos estudantes nas aulas de Ciências Naturais

Muitos professores se queixam da falta de atenção dos estudantes em


suas aulas e atribuem a esse comportamento o início da indisciplina e de con-
frontos. Obviamente, há muitas razões para a falta de atenção e interesse dos
estudantes. Em alguns casos, isso pode estar relacionado a pouca ou nenhuma
relação que eles encontram entre o que é debatido em sala de aula e as situações
que vivenciam.

É função da escola abordar ideias que os estudantes não conseguiriam en-


contrar sistematizadas além da educação formal (YOUNG, 2007). Portanto, é pa-
pel da escola apresentar oportunidades aos estudantes para que compreendam
fenômenos e situações vivenciadas em seu cotidiano com base nos conhecimentos
referendados pela comunidade científica, extrapolando o senso comum. Isso per-
mite um avanço na sua própria condição de ser humano e cidadão, podendo inte-
ragir de modo consciente e interveniente no mundo, de forma progressiva e ampla.

Para garantir uma ação bem-sucedida, os estudantes precisam ser inse-


ridos nos processos de ensino e de aprendizagem de maneira significativa; quer
dizer que as aulas devem ser planejadas e executadas considerando que os es-
tudantes não são espectadores e desconhecem o que se ensina. Eles ainda não
formalizaram entendimentos sobre determinados fenômenos e situações, mas
têm alguma vivência que permite a aproximação conceitual.

Assim, cabe ao professor estimular os estudantes a desenvolverem seu


papel no ensino de Ciências Naturais, apresentando as ideias e informações
que já possuem. Também é papel dos estudantes envolverem-se nas discussões
e proporem caminhos para investigação a partir dos conhecimentos que já
possuem. Esse contato com os colegas, com o professor e com o conhecimento
envolve dimensões éticas e morais que se alinham ao fazer ciências e às diferentes
atividades cotidianas em sociedade.

Por meio das diversas interações suscitadas e mantidas em sala de aula,


deve ocorrer o respeito ao pensamento divergente, ao uso de raciocínio lógico,
baseado em evidências, para a tomada de decisões, e à crença de que todo co-
nhecimento tem sua vertente social, histórica e cultural.

Ao longo de todo este processo, a cada aula, os estudantes também de-


senvolvem sua autoridade epistêmica, tornando-se mais cientes dos conhecimen-
tos científicos e dos modos de construí-los.

24
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Planejamento das aulas


de Ciências Naturais

Qualquer planejamento precisa levar em consideração quais os objetivos,


os entornos em que as ações ocorrerão e os agentes do processo. Ao apresentar
pressupostos que fundamentam a ação em sala de aula, em especial, aspectos
da gestão de aula e o modo como os atores da sala de aula interagem entre si e
com o conhecimento, é hora de pensar de maneira mais consciente sobre o pla-
nejamento das aulas de Ciências Naturais.

O planejamento do professor pode ser apresentado como uma lista de


temas a abordar, habilidades a desenvolver, estratégias a utilizar e modos de
avaliar os estudantes. Mas esta linearidade não precisa e nem deve ser realiza-
da durante a elaboração das relações entre temas, habilidades, estratégias e
modos de avaliação.

No Currículo da Cidade voltado ao ensino de Ciências Naturais, há a pro-


posição de um disco dinâmico, que revela como os elementos centrais do currículo
podem se relacionar e serem considerados para o planejamento dos professores.

Considerando a Alfabetização Científica dos estudantes como objetivo


do ensino de Ciências Naturais, todas as ações para o planejamento devem
perpassar os três eixos estruturantes da AC já apresentados. Esses eixos
encontram-se no anel externo do disco dinâmico e, em cada aula, eles devem
ser abordados. Pode ocorrer de, em uma determinada atividade, um ou dois
dos eixos estruturantes serem privilegiados, contudo, na abordagem de um
tema, não deve haver desequilíbrio no tratamento dos três. Isso quer dizer que
a compreensão de termos e conceitos científicos básicos deve ser abordada
juntamente com aspectos que levem os estudantes à compreensão da natureza
das ciências e dos fatores que influenciam sua prática, bem como que permitem
a percepção de que há relações de influência mútua entre ciência, tecnologia,
sociedade e ambiente.

25
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Fonte: SÃO PAULO (2017, p.85)

Figura 2: Disco dinâmico do currículo de Ciências Naturais: representação


da interação entre os diferentes elementos do currículo

Abordagens temáticas

As abordagens temáticas revelam uma perspectiva mais estendida de como


os eixos estruturantes podem ser utilizados no planejamento. Além disso, elas fa-
zem a transição entre os eixos e as práticas científicas.
No documento curricular para o ensino de Ciências Naturais da SME-SP, as
abordagens temáticas são:

26
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

1. Linguagem, representação e comunicação;


2. Práticas e processos investigativos;
3. Elaboração e sistematização de explicações, modelos e argumentos;
4. Relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente;
5. Contextualização social, cultural e histórica.

Para a clareza de apresentação, é possível colocar em lista as abordagens


temáticas, mas elas devem se intercruzar no momento da realização de uma ativi-
dade em aula, uma vez que elas tratam de aspectos que se complementam para o
desenvolvimento da AC. Cada uma das abordagens temáticas permite o desenvol-
vimento de ações mais pontuais em sala de aula.
A abordagem que trata da Linguagem, representação e comunicação co-
loca em cena elementos que podem ser trabalhados em todas as disciplinas que
compõem a base curricular da SME-SP. No caso das Ciências Naturais, aspectos
da linguagem científica podem ser destacados, como o trabalho com quadros,
tabelas e gráficos, evidenciando formas de organizar e representar informações.
O uso de linguagem computacional e tecnológica também pode representar
ações desta abordagem, sendo mais uma maneira de organizar e apresentar in-
formações e ideias. Outra ação marcante dessa abordagem é o desenvolvimento
da argumentação entre os estudantes e o professor, que permite revelar impor-
tantes características do fazer científico: a crítica e a avaliação, como formas de
garantir mais objetividade ao conhecimento que se está construindo.
As Práticas e processos investigativos permitem que os estudantes tenham
contato direto com modos de fazer ciência. O ensino por investigação preconiza
que tal abordagem tenha espaço em aula e, com isso, oportuniza o engajamento
dos estudantes na construção de planos e estratégias de trabalho para a resolução
de um problema. No planejamento para o trabalho com essa perspectiva, o profes-
sor deve considerar os diferentes espaços da escola e de seu entorno que permitem
investigações. Além de contextualizar a apreciação de um tema, tal estratégia leva
os estudantes a colocarem em prática suas hipóteses, testando-as com base em
conhecimentos prévios que possuam pela vivência cotidiana ou por meio do ensino
formal. Essas práticas e processos devem levar os estudantes a tomarem ciência de
padrões de regularidade e das variáveis que efetivamente interferem em um fenô-
meno. Ao mesmo tempo, pelo contato com seus colegas e com o professor, modos
de atuar podem ser analisados e compartilhados, tornando mais amplas as ferra-
mentas e os recursos disponíveis e em uso nas aulas.
Com relação à Elaboração e sistematização de explicações, modelos e ar-
gumentos, o planejamento do professor deve prever de que maneira ações podem
efetivar o desenvolvimento do raciocínio lógico entre os estudantes. A construção
de explicações e de argumentos permite e instiga os estudantes na busca por enten-
dimento de como os dados podem se transformar em evidências e, assim, susten-
tar uma ideia. Isso demanda considerar que alguns fenômenos podem ser vistos e
reproduzidos em sala de aula, no tempo que temos nesse espaço, mas outros, por

27
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

serem mais longitudinais e raros, demandam abstração para seu entendimento e o


reconhecimento de que as evidências podem ser uma maneira de ter contato mais
direto com esses fenômenos. A avaliação e a crítica, já mencionadas como elemen-
tos que permitem a objetividade do conhecimento científico, também devem ser
consideradas nessa abordagem, sendo realizadas para a reflexão acerca de limites
e potencialidades dos modos de investigação propostos.
A abordagem temática que trata das Relações entre ciência, tecnologia,
sociedade e ambiente deve apresentar oportunidades para que os estudantes reco-
nheçam o quão interligadas estão essas esferas e que cada uma representa impacto
e influência para as demais. No planejamento, o professor deve atentar-se para que
seus estudantes tenham contato com princípios éticos, democráticos, sustentáveis
e solidários, reconhecendo e avaliando os avanços e os problemas que surgem pelo
desenvolvimento da ciência, da tecnologia e da sociedade. Isso permite que ocorra
a tomada de consciência sobre como ações individuais e coletivas impactam no
bem-estar e na qualidade de vida, levando os estudantes a desenvolverem o pensa-
mento crítico para a tomada de decisões.
Por fim, a abordagem temática que versa sobre a Contextualização social,
cultural e histórica permite que os estudantes construam uma visão de ciência
como atividade humana, em constante construção, compreendendo que elemen-
tos culturais, históricos e sociais impactam e influenciam na construção de conhe-
cimento científico.
Todas essas abordagens temáticas, ao serem consideradas no planejamen-
to, abrem caminhos para que os estudantes tenham contato com as ciências na
perspectiva de uma área de conhecimento da humanidade que se desenvolve com
base nos esforços e intenções humanos e, com isso, torna-se possível despertar
entre os estudantes o desejo por conhecer mais essa área e nela atuar.

As práticas científicas em sala de aula

No Currículo da Cidade, as práticas científicas podem ser identificadas nos


Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento revelando as ações que precisam
ser realizadas. Essas mesmas práticas científicas também devem ser consideradas
pelo professor na gestão da sala de aula, no planejamento, na implementação e na
avaliação de atividades didático-pedagógicas.
As práticas científicas permitem que o trabalho com os conceitos e temas
das ciências possa ser realizado na perspectiva da complexificação, revelando não
apenas o contato com leis, conceitos e teorias, mas também com ações próprias
do fazer científico. Essas práticas científicas não são essencialmente manipulativas,
mas correspondem a práticas epistêmicas que revelam como os estudantes intera-
gem com processos de construção de entendimento.

28
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

No documento curricular da SME-SP, as práticas científicas estão orga-


nizadas considerando os ciclos de aprendizagem e, portanto, diferentes práti-
cas são mencionadas como essenciais de serem trabalhadas em cada momento
da escolarização.

Quadro 2: Progressão das práticas científicas ao longo dos ciclos do Ensino Fundamental

Tratamento da Plano de Construção de


informação trabalho explicação
Ciclo de Alfabetização Identificação e classifi- Transformação de Construção de relações
curiosidades em ações com base em observações
(1º ao 3º anos) cação de informações
de investigação e hipóteses
Proposição de ações Representação e comu-
Ciclo Interdisciplinar Medição organização
sistematizadas para nicação de informações
e comparação de
(4º ao 6º anos) análise das influências e de ideias em diferentes
informações
em um fenômeno linguagens
Transformação de Construção de planos de Elaboração de relações en-
Ciclo Autoral dados em evidências ação que considerem a tre evidências, hipóteses e
(7º ao 9º anos) para identificação de coerência entre hipótese e predições para construção
padrões problema de investigação de modelos explicativos
Fonte: SÃO PAULO (2017, p. 77).

O desenvolvimento de práticas em aulas de Ciências Naturais pressupõe


colocar os estudantes frente a problemas envolvendo fenômenos que devem ser
estudados por meio das práticas científicas. Assim, esse trabalho permitirá que
os estudantes tenham um contato mais próximo com as ciências como parte
dos conhecimentos da humanidade e não apenas com o componente curricular
Ciências Naturais.
O trabalho em sala de aula com as práticas científicas prevê que professor e
estudantes resolvam problemas e, para isso, construam planos de trabalho, levantem
e testem hipóteses, coletem dados e elaborem explicações. Essas ações acompanham
o registro de informações, a construção de meios para organizá-las, as tomadas de
decisão sobre variáveis em teste e análise, o desenvolvimento da crítica como elemen-
to necessário para aprofundar o entendimento e apresentar ideias que se fundamen-
tam nas evidências obtidas e nas informações já conhecidas.
Assim como a própria Alfabetização Científica, o desenvolvimento das
práticas científicas em sala de aula é um processo que se desdobra ao longo dos
anos escolares, modificando-se em ações e modos de organizar e refletir enten-
dimentos. Permite, portanto, que o desenvolvimento dos estudantes ocorra não
apenas na compreensão mais aprofundada sobre as leis, as teorias e os conceitos
científicos, mas também em uma percepção mais ampla sobre como se estrutura
o pensamento científico, permitindo que, ao longo da escolarização e após ela,
os próprios modos de pensar em sociedade possam ser compreendidos e anali-
sados por esses estudantes.

29
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Eixos temáticos e objetos de conhecimento

Os eixos temáticos são amplos espectros conceituais que devem ser abor-
dados nas aulas de Ciências Naturais do Ensino Fundamental da SME-SP. Eles
apresentam fenômenos e objetos de conhecimento das diferentes áreas das ciên-
cias. Os eixos temáticos não variam ao longo de todo o Ensino Fundamental, pois
a cada ano dos ciclos de aprendizagem novos conhecimentos ou suas nuances são
apresentados aos estudantes. É importante deixar claro a eles que o entendimento
sobre um fenômeno ou uma situação pode ser ampliado ao considerar mais ele-
mentos e informações, que o tornam mais completo e aproxima do conhecimento
aceito pela comunidade científica.
Nas aulas de Ciências Naturais, os eixos temáticos a serem tratados são:
Matéria, energia e suas transformações; Cosmos, espaço e tempo; Vida, ambien-
te e saúde.
Por sua característica ampla e também por serem perenes, os eixos te-
máticos assumem facetas, nos ciclos de aprendizagem e em cada ano escolar,
que permitem o trabalho mais direto com conceitos, fenômenos e situações
que envolvam as Ciências Naturais.
Essas facetas são os objetos de conhecimento que dão concretude aos prin-
cipais temas sobre cada eixo temático que deve ser apresentado aos estudantes.

Quadro 3: Progressão dos objetos de conhecimento ao longo do Ensino Fundamental

Ciclo de Alfabetização
Eixo Temático
1º Ano 2º Ano 3ºAno

• Características e • Propriedades e • Transformação


propriedades dos transformações de materiais para
Matéria, materiais. dos materiais. novos usos.
Energia e suas • Fontes de energia e • Uso e conservação de • Luz, som e a relação
Transformações consumo. materiais e recursos. com objetos.
• Materiais e ambiente. • Água no ambiente: uso,
tratamento e poluição.

• Luz e sombra. • Sombras: posição • Movimentos da Terra.


Cosmos, Espaço • Sol, Lua e estrelas e tamanho. • Sistema Sol, Terra
e Tempo • Sol e Lua: observações e Lua.
do céu.

• Reconhecimento • Corpo humano, seu • Corpo humano, hábitos


de partes do corpo funcionamento e e saúde.
Vida, Ambiente e humano. cuidados. • Mudanças nos seres
Saúde • Seres vivos • Seres vivos de vivos e o ambiente.
e ambiente. seu cotidiano.
• Plantas e sua constituição.

30
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Ciclo Interdisciplinar
Eixo Temático
4º Ano 5º Ano 6º Ano

• Reversibilidade e • Elementos ambientais • Propriedade dos


irreversibilidade. e sua influência materiais.
• Recursos renováveis em materiais e • Composição e
e não renováveis. seres vivos. permeabilidade do solo.
• Transformações • Seres vivos e • Fotossíntese.
Matéria, Energia e de energia. transporte e
• Respiração celular.
suas Transformações transformações
de energia. • Decomposição.
• Produção de • Ciclagem de materiais
combustíveis. no ecossistema.
• Fluxo de energia no
ecossistema.

• Características do • Formação do • Formação de rochas


planeta Terra. planeta Terra. e solos.
• Sistema Terra e Lua: • Sol e demais estrelas: • Estrutura geológica
Cosmos, Espaço e movimentos. características. da Terra.
Tempo • Planetas do sistema • Sistema solar • Dia, noite e fases
solar. e movimentos. da Lua.
• Sistema Sol, Terra e
Lua: eclipses.

• Alimentação, • Funções e • Célula como unidade


atividade física características de da vida.
e saúde. órgãos e sistemas do • Adaptações dos vegetais
• Células: estrutura e corpo humano. ao solo.
funcionamento. • Ações e influências • Relação presa-predador
• Microrganismos: humanas no ambiente. e dinâmica populacional.
características e • Saúde: doenças • Sistemas digestório,
Vida, Ambiente e funcionalidade. contagiosas e vacinação. respiratório, circulatório
Saúde • Relações entre e excretor humano.
seres vivos. • Digestão, respiração,
circulação e excreção
em diversos seres vivos.
• Alimentação humana:
valores nutricionais,
conservação de
alimentos e dietas.

31
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Ciclo Autoral
Eixo Temático
7º Ano 8º Ano 9º Ano

• Constituição dos mate- • Transformação química: • Elementos químicos,


riais por substâncias. formação de novos ma- átomos e estrutura da
• Misturas homogêneas e teriais e substâncias. matéria.
heterogêneas. • Mudanças de estados • Transformação química
Matéria, físicos da matéria. em termos de recombi-
• Movimento.
Energia e suas nação de átomos.
• Máquinas térmicas.
Transformações
• Equilíbrio termodinâ- • Eletricidade e matriz
mico. energética.
• Ondas: luz e som. • Magnetismo.
• Eletromagnetismo.

• Propriedades e escalas • Clima. • Origem do Universo e da


dos corpos no sistema • Previsão do tempo. Terra.
solar. • Gravidade.
Cosmos, • Efeito estufa.
Espaço e • Eclipses, marés e • Exploração do espaço
• Camada de ozônio.
Tempo estações do ano. pelo ser humano.
• Medidas de tempo.
• Velocidade.

Vida, Ambiente • Locomoção e sistemas • Impactos da alteração • Origem da vida na Terra.


e Saúde locomotores em diver- do clima nos ecossis- • Hereditariedade e
sos seres vivos. temas. genética (cromossomo,
• Sistema esquelético no • Sistema nervoso e gameta, gene e alelo).
ser humano. órgãos sensoriais de • Seleção natural e pro-
• Reprodução em diver- diversos seres vivos. cessos evolutivos.
sos seres vivos. • Sistema nervoso e • Seleção artificial.
• Adaptação. órgãos sensoriais do ser
• Engenharia genética e
humano.
• Interações ecológicas. bioética.
• Drogas e sistema
• Sucessão ecológica.
nervoso.
• Biodiversidade.
• Sistema imunológico e
• Sistema endócrino e vacinas.
puberdade.
• Vacinação e saúde
• Doenças Sexualmente pública.
Transmissíveis (DSTs) e
métodos contraceptivos.
• Identidade de gênero e
orientação sexual.

Fonte: SÃO PAULO (2017,p. 82-83) .

32
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento

No documento curricular da SME-SP, os Objetivos de Aprendizagem e De-


senvolvimento (OAD) encontram-se listados nos quadros correspondentes a cada
ano do ciclo. Embora pareça que cada objetivo de aprendizagem e desenvolvimento
precisa de uma aula para ser discutido, é no planejamento do professor, individual
ou coletivo, que outras maneiras podem ser previstas.
Importante perceber que os OAD são o centro do disco dinâmico do cur-
rículo e, portanto, no planejamento de aula e no desenvolvimento das atividades
podem se relacionar de diferentes modos com os demais componentes curricula-
res. Isso implica que um mesmo objetivo de aprendizagem e desenvolvimento pode
ser abordado isoladamente ou articulado com outros do mesmo componente ou
de diferentes áreas.
A seguir, serão apresentados exemplos claros sobre como isso pode ocor-
rer. Por ora, vale salientar que os Objetivos de Aprendizagem e Desenvolvimento
podem ser o centro do planejamento, mas não são o único elemento a ser con-
siderado. É muito importante que haja alinhamento curricular entre os OAD, as
práticas científicas e as abordagens temáticas. Isso permitirá que os estudantes
tenham contato com as ciências em uma perspectiva ampliada, como um campo
de conhecimento, tal qual vem sendo defendido ao longo destas Orientações Di-
dáticas. Nessa perspectiva, a Matriz de Saberes aparece como elemento integrador
do currículo, de suas finalidades e de suas práticas.

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS

A Agenda 2030 adotada pela ONU em 2015 propõe 17 Objetivos de Desen-


volvimento Sustentável (ODS), que visam garantir uma vida sustentável, pacífica,
próspera e equitativa para todos, agora e no futuro, em todas as nações do mundo
(UNESCO, 2017).
O currículo da Cidade de São Paulo inseriu os ODS como temas integrado-
res que se articulam aos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento dos diferen-
tes componentes curriculares.
A UNESCO, em 2017, publicou o documento – Educação para os Obje-
tivos de Desenvolvimento Sustentável – que propõe premissas para que os ODS
sejam atingidos e, desse modo, permite que os estudantes sejam capazes de to-
mar decisões conscientes e adotar ações responsáveis. Tal proposta se coaduna
aos objetivos da Alfabetização Científica, elemento que fundamenta o currículo
de Ciências Naturais.
Para cada um dos 17 ODS, são propostos objetivos, sugestões de tópicos e
conceitos a serem desenvolvidos, além de abordagens e metodologias para atingir

33
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

o ODS em questão. Esses aspectos foram considerados ao associar os objetivos


de aprendizagem e desenvolvimento a um ou mais objetivos de desenvolvimento
sustentável. No currículo de Ciências Naturais, os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento se relacionam, com maior ênfase, a 12 ODS:

Fome zero e agricultura sustentável: Acabar com a fome, alcançar a


segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura
sustentável.
Saúde e bem-estar: Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar
para todos, em todas as idades.
Igualdade de gênero: Alcançar a igualdade de gênero e empoderar
todas as mulheres e meninas.
Água potável e saneamento: Assegurar a disponibilidade e gestão sus-
tentável da água e saneamento para todos.
Energia limpa e acessível: Assegurar o acesso confiável, sustentável,
moderno e a preço acessível à energia para todos.
Redução das desigualdades: Reduzir a desigualdade dentro dos países
e entre eles.
Cidades e comunidades sustentáveis: Tornar as cidades e os assenta-
mentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis.
Consumo e produção responsáveis: Assegurar padrões de produção e
de consumo sustentáveis.
Ação contra a mudança global do clima: Tomar medidas urgentes
para combater a mudança do clima e seus impactos.
Vida na água: Conservar e usar sustentavelmente os oceanos, os mares
e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável.
Vida terrestre: Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossiste-
mas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertifica-
ção, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade.
Paz, justiça e instituições eficazes: Promover sociedades pacíficas e
inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso
à justiça para todas e todos e construir instituições eficazes, responsá-
veis e inclusivas em todos os níveis.
Fonte: UNESCO (2017, p. 6).

Para compreender melhor a relação entre Objetivos de Aprendizagem e


Desenvolvimento (OAD) e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), po-
demos tomar como exemplo um dos OAD do 5º ano do Ensino Fundamental
– (EF05C03) Investigar sobre diferentes modos de produção de energia elétrica
e debater sobre os possíveis impactos ambientais. Ao desenvolver esse OAD, a

34
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

investigação permitirá que os estudantes coletem dados e informações sobre os


modos de produção de energia elétrica e os possíveis impactos ambientais gera-
dos por essa ação. A partir da análise e comparação desses dados será possível
construir relações entre produção e consumo de energia elétrica que minimizem
os impactos ao ambiente. Desse modo, os estudantes poderão agir de maneira
consciente e ter conhecimentos sobre esse assunto para comunicar de diferentes
maneiras à sua família e comunidade sobre escolhas de eletrodomésticos, por
exemplo, além de desenvolver atitudes em casa que contribuam para o desen-
volvimento de uma consciência ambiental. Novas fontes de energia limpas ou
sustentáveis, dejetos de pilhas, material farmacológico ou de poluentes químicos
podem ser temas de pesquisas e trabalhos.
Os ODS 7, 12 e 13 se relacionam de maneira muito próxima ao objetivo
de aprendizagem e desenvolvimento referido (EF05C03), nos aspectos cognitivo,
atitudinal e comportamental. O ODS 7 – Energia limpa e acessível – propõe que
o estudante tenha conhecimento sobre os diferentes recursos energéticos reno-
váveis e não renováveis, os impactos ocasionados pela produção de energia a
partir desses recursos e que saibam avaliar quais são os modos de produção de
energia mais acessíveis e sustentáveis. Ao contemplar o ODS 7, o estudante con-
seguirá refletir, também, sobre o ODS 12 – consumo e produção responsáveis –,
pois ao ter consciência de que é preciso favorecer modos de produção de energia
sustentável, contribuirá para que atue de maneira responsável. O estudante que
desenvolve a consciência ambiental ao longo do Ensino Fundamental refletirá
sobre os modos de produção e consumo de energia e, dessa maneira, colocará
em prática ações de sustentabilidade.
Refletir sobre produção e consumo responsável, consciente e sustentável,
contribui, de maneira ampla, para o combate aos impactos ocasionados pela mu-
dança do clima, como propõe o ODS 13 – Ação contra a mudança global do clima.
De forma semelhante, ao trabalhar os demais objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento com os estudantes, estamos fomentando também os Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável propostos pela Agenda 2030.

Implementação de práticas científicas


nas aulas de Ciências Naturais

As discussões sobre planejamento, apresentadas até o momento, evidencia-


ram a importância das ações para organização de uma aula coerente aos objetivos
propostos. Descrever os objetivos de uma aula é tarefa didático-pedagógica. As-
sim, para sua elaboração, é preciso considerar os conceitos a serem trabalhados e

35
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

as práticas que devem ser realizadas, bem como os modos de fazer, ações para a
avaliação e indicadores do tempo necessários para alcançar esses objetivos face às
ações descritas.
Importante considerar que as atividades de aula e as ações para sua im-
plementação precisam estar em concordância com o que se propôs, evidenciando
condições e possibilidades para que o trabalho realizado possa alcançar os obje-
tivos almejados.
Muitas podem ser as estratégias utilizadas para alcançar o objetivo da Al-
fabetização Científica. Contudo, por estar associada à necessidade de desenvol-
vimento de conhecimentos sobre aspectos do fazer científico e da relação entre
ciências e sociedade, é importante que o trabalho com os estudantes traga, como
elemento central, práticas que se assemelham às práticas das ciências. Neste sen-
tido, o ensino por investigação ganha destaque, pois parte da premissa de que os
estudantes devem se envolver com ações científicas e epistêmicas para a resolução
de problemas.
Ainda que em sala de aula seja difícil e mesmo desnecessário colocar de
maneira separada, é preciso que o professor considere dois principais pontos de
atuação para a implementação de aulas investigativas: ações diretamente ligadas
ao trabalho de resolução de um problema e ações vinculadas ao estabelecimento
de uma comunidade de práticas. Logicamente, o estabelecimento de um tipo de
ação impacta e é impactado diretamente pelo estabelecimento do outro ponto,
mas aqui é possível fazer o esforço de entendê-los em separado.

A implementação de atividades investigativas para a resolução


de um problema

Com o objetivo da Alfabetização Científica nas aulas, o professor de


Ciências Naturais deve trabalhar para que os estudantes possam cada vez mais
se envolver com problemas da temática científica e com sua resolução de modo
a que tenham contato com conteúdos e práticas das ciências. Muitas podem
ser as ações realizadas no processo de implementação de atividades de ciências,
mas considerando a investigação como modo de resolver problemas nessa área
de conhecimento, algumas etapas principais devem ser elencadas. Conforme
propostas de Carvalho et al.(1998) e Pedaste et al. (2015), em relação às fases do
ciclo investigativo, as etapas de uma atividade investigativa estão descritas a seguir.

36
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A proposição do problema: do que já se sabe para o que se


pretende que os estudantes conheçam

O problema é um dos aspectos centrais para que a investigação ocorra


em aulas de Ciências Naturais. Ele desencadeia o início das atividades, embo-
ra, não necessariamente, surja no início de uma aula ou de uma sequência de
atividades investigativas.
É bastante comum que o professor inicie uma aula retomando ideias que
foram debatidas em aulas anteriores. Esse movimento não apenas leva os estudan-
tes a lembrarem o que trabalharam, mas também permite que eles tenham cons-
ciência do que já sabem, de modo que estes conhecimentos podem ser utilizados
como terreno no qual o novo problema é proposto. Esse movimento se refere à fase
de orientação do ciclo investigativo descrito no início deste documento.
A proposição de um problema, que corresponde à fase de conceitualização
do ciclo investigativo, apresentada na figura 1, não é simplesmente a enunciação
de uma pergunta. Embora muitos problemas apareçam como perguntas, podem
ser expostos como uma afirmação, pois se relacionam com todo o movimento para
sua proposição e não apenas o momento em que é enunciado.
Outro aspecto central que se vincula à apresentação de um problema aos
estudantes são os critérios estabelecidos para o contorno da situação a ser inves-
tigada. Quanto mais claro forem esses critérios, maiores são as possibilidades de
os estudantes trabalharem para resolver a situação conforme o esperado. Isso não
quer dizer que as ações devem ser apresentadas como um roteiro a ser seguido, o
que impossibilitaria que o desenvolvimento das práticas científicas fosse verdadei-
ramente realizado pelos estudantes. As condições de contorno precisam estar cla-
ras para que os estudantes reconheçam qual é o contexto que estão investigando e
quais são os limites para sua investigação em um dado momento.
Isso tudo implica que a proposição do problema deve estar associada às
condições materiais que já são oferecidas para a investigação. Acesso a livros,
revistas, à internet são elementos que colaboram para a resolução de um pro-
blema. Portanto, no momento da proposição do problema, os materiais que
estarão à disposição dos estudantes para a investigação devem ser mencionados.
Estes elementos devem ser considerados no planejamento das aulas, mas, certa-
mente, a existência deles impacta na implementação da investigação, podendo
refletir no êxito obtido.
Em sendo um problema experimental, por exemplo, algumas considerações
precisam ser feitas para garantir o trabalho dos estudantes. Dentre essas, é preciso
verificar, no momento do planejamento, se há materiais de laboratório necessários
para a resolução do problema em número suficiente para a turma, se o material
a ser utilizado representa risco ao bem-estar físico dos estudantes, se, a partir da

37
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

manipulação direta, o problema pode ser resolvido. Essas condições devem ser
reconsideradas no momento da implementação e os devidos cuidados devem ser
tomados para que o trabalho dos estudantes possa ser o de realizar as ações que
foram planejadas para resolver o problema.
Além disso, ao apresentar o problema aos estudantes, o enunciado deve
estar claro, evitando entendimento parcial ou ambíguo, mas, ao mesmo tempo,
o enunciado deve ser aberto, oportunizando que diferentes formas de busca pela
resolução sejam trabalhadas. Isso implica ter um enunciado que explicite um pro-
blema, mas que não descreva os passos e as etapas a serem realizados.

A resolução do problema: a construção de hipóteses e dos


planos de ação

A partir do problema exposto, iniciam-se os processos para sua resolução.


Neste momento, os estudantes levantam novas questões, constroem hipóteses e as
colocam em teste, o que pode ser relacionado com a fase de conceitualização do
ciclo investigativo. Estas ações podem ser repetidas várias vezes, sendo evidencia-
das tanto pela manipulação dos materiais como pela discussão entre estudantes e
entre estudantes e professor no momento da resolução do problema.
É importante perceber que a resolução não está diretamente relacionada
à compreensão do fenômeno. Resolver, neste caso, envolve realizar ações mani-
pulativas e mentais que colocam em teste ideias que vão sendo construídas para
resolver o problema proposto. A compreensão do fenômeno deve ocorrer em mo-
mentos posteriores, em que as informações obtidas nestes momentos de resolução
sejam analisadas.
Ao longo da resolução do problema, o professor interage com os estudantes
e pode trazer novas perguntas que fomentem a construção e o teste de novas hipó-
teses, mas deve evitar fornecer respostas diretas sobre o que se espera que seja feito.
É importante destacar o papel que as hipóteses têm na resolução do pro-
blema. Identificamos uma hipótese como uma resposta do estudante a uma per-
gunta feita pelo professor. Mas há vários tipos de perguntas que podem levantar
hipóteses, assim como há diferentes modos de trabalhar com estas.
Comumente, em sala de aula, uma maneira de trabalhar com hipótese
acontece quando, por exemplo, o professor realiza uma atividade sobre decom-
posição de materiais em sala de aula e pergunta à turma o que eles pensam que
deve acontecer com uma casca de banana que ficará enterrada por duas semanas.
Neste caso, o arranjo experimental todo já está feito e resta aos estudantes mani-
festarem-se sobre o que esperam ocorrer com a casca de banana; certamente, as

38
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

respostas dos estudantes trarão elementos como “vai apodrecer”, “vai continuar
igual”, “vai decompor” e variações desse tipo.
Em situações que têm caráter mais investigativo, ao solicitar o levantamen-
to de hipóteses, o professor também direciona suas perguntas para a construção
de ações ou de planos de ação para testar a ideia. Assim, no exemplo citado ante-
riormente sobre a decomposição, o pedido para a explicitação de hipóteses pode
surgir como: “o que vocês acham que acontece com uma casca de banana depois
de um certo tempo?”. Uma pergunta como esta pode gerar as mesmas respostas
anteriormente mencionadas, mas, então, o professor, por não ter um arranjo expe-
rimental montado, deve fazer perguntas aos estudantes para que a observação e a
análise possam ser feitas. Assim, provavelmente, surgirão perguntas do tipo “como
podemos saber se a casca de banana vai ou não apodrecer?”, “será que todos os
materiais apodrecem?”, “será que todos os materiais apodrecem ao mesmo tem-
po?”, “como analisar o apodrecimento de diferentes materiais?”
O mesmo trabalho com hipóteses pode acontecer em atividades em que a
investigação não é experimental. Nestes casos, o teste das hipóteses ocorre com
base em organização de informações e de experiências já vividas pelos estudantes
em situações escolares ou cotidianas. De mesmo modo, as perguntas que buscam
as hipóteses que os estudantes construam podem ser questionadas de modo que
surjam ideias e informações que resultem em modos de avaliar a legitimidade da
ideia para resolver o problema em investigação.
Ao longo do processo para a resolução do problema, caso ele seja expe-
rimental, é preciso considerar e avaliar se o trabalho realizado pelos estudantes
permite a observação do fenômeno e a coleta de dados necessários para a análise.
Sendo um problema teórico, as condições para a coleta de dados também preci-
sam ser garantidas e isso pode estar diretamente ligado às informações que são
disponibilizadas aos estudantes no material a eles oferecido e em aulas anteriores.
Importante observar que, em quaisquer destes casos, a resolução do pro-
blema implica oferecimento de condições para a coleta de informações, seja pelo
agrupamento e registro de dados observados, seja por pesquisas em diferentes
fontes, por anotações realizadas de modo livre ou por meio de tabelas e formulá-
rios oferecidos aos estudantes. Todo esse processo envolve a fase de investigação
do ciclo investigativo.
As ações do professor para solicitar e incentivar a participação dos estu-
dantes na construção de modos de resolução do problema proposto impactam
diretamente no papel ativo dos estudantes e também representam aspecto fun-
damental para o desenvolvimento da liberdade intelectual e da criatividade dos
estudantes. A fase de investigação é um rico momento para evidenciar as possibi-
lidades de integração com diferentes áreas, assim como estimular os estudantes
a registrarem de modo que seja possível para o professor analisar o processo de
aprendizagem deles.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A tomada de consciência: o início


da sistematização das ideias investigadas

A investigação de um problema não acaba quando se chega a uma solução


prática para a situação. É preciso continuar o processo para que as explicações
sobre o que ocorreu, bem como possíveis previsões de eventos similares, possam
ser debatidas e construídas, valorizando a fase de discussão do ciclo investigativo.
É bastante comum que durante uma atividade investigativa, no momento
da resolução do problema, os estudantes não prestem a devida atenção nas eta-
pas que são realizadas. Um passo essencial na construção de entendimento sobre
o que se investiga é a tomada de consciência das ações realizadas. A tomada de
consciência pode ser estimulada pelo uso de perguntas do tipo “como?”;“como
você fez?”; “o que ocorria quando algo era feito?”; “como o objeto reagia a uma
determinada ação?”.
A fim de possibilitar que os estudantes explicitem o que foi realizado, ao
finalizar a resolução de um problema, o professor deve promover oportunidades
para que eles descrevam oralmente as ações efetuadas. Nessas condições, tem iní-
cio o processo de tomada de consciência com os estudantes descrevendo passos
e analisando as ações realizadas e os efeitos obtidos. A reconstrução mental dos
passos de uma investigação é marca dessa tomada de consciência. São momentos
da investigação em que as informações são avaliadas, podendo começar a ficar
claras as condições de contorno que existiam e as variáveis que realmente influen-
ciaram para a resolução do problema.
A tomada de consciência pode ocorrer tanto pela discussão com a turma
toda, como pode ser incentivada com a ajuda de outras práticas a serem viven-
ciadas pelos estudantes. A coleta e a organização de informações configuram-se
como passos importantes para a concretização da tomada de consciência. Essa
coleta de dados pode ser sistemática, com a anotação de informações ao longo
de etapas anteriores, ou pode ocorrer de modo indireto, sendo concretizada pela
retomada do que foi feito.
Nesses momentos, o uso de inscrições próprias das ciências tem a possibili-
dade de se tornar mais presente e evidente por meio da organização mais sistemáti-
ca de informações em quadros, tabelas e gráficos. De mesmo modo, as discussões
podem auxiliar que estudantes e professor expressem elementos da linguagem cien-
tífica pela explicitação de uso de raciocínios lógico e proporcional.

40
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A construção de explicações: o estabelecimento de relações


entre ações e resultados

Este é o momento em que as ideias que foram sendo debatidas e construídas


ao longo da atividade começam a ser sistematizadas. A construção de explicações
ocorre pela análise das ações realizadas, das informações e dos resultados obtidos,
buscando relacionar as variáveis relevantes para o problema e procurando identi-
ficar se estas relações são válidas apenas naquele contexto específico ou se podem
ser transpostas para outras situações, tornando-as mais abrangentes e, por vezes,
generalizáveis. Esse processo se relaciona à fase de conclusão do ciclo investigativo.
Para a construção de explicações, a investigação sobre o problema deixa de
estar relacionada apenas às ações realizadas e aos planos de trabalho construídos
e começa a trazer elementos para além do contexto específico de atuação. Esta
análise mais ampla sobre o fenômeno investigado pode ser incentivada quando o
professor questiona seus estudantes com perguntas do tipo “por quê?”: “por que
foi possível obter determinado efeito?”; “por que o comportamento do material
era esse quando se realizava determinada ação?”; “por que quando determinada
ação era realizada obtinha-se certo resultado?”.
Respostas a esses tipos de perguntas não são obtidas pela simples observa-
ção do fenômeno. São construções mentais possibilitadas por meio da análise das
situações e da construção de relações causais para o que se investiga. O aprofunda-
mento de cada tema pode levar o estudante a perceber que outras áreas do conheci-
mento devem ser acionadas para entender melhor o problema e encontrar soluções.
É o momento de articular o trabalho com os professores de outros componentes
curriculares, possibilitando aos estudantes descobrir os vínculos epistemológicos.
Todo o processo investigativo até a obten-
ção de explicações para a situação promoverá con-
A comunicação é um saber que pre-
dições para o estabelecimento de argumentação cisa fazer parte da rotina da escola. A
entre os estudantes e o professor para a realização construção de conhecimentos passa
de análise de fatos e opiniões. Isso reforça a neces- pelo exercício da dialogicidade.
sidade e a ocorrência de avaliações como forma de Além disso, ao propiciar atividades nas
quais há esse tipo de exposição – de for-
considerar os diferentes dados obtidos e a cons- ma intencional –, o professor trabalha a
tatação de evidências e de padrões. Dá-se, então, alteridade, a responsabilidade e a parti-
oportunidade para que previsões sejam estabele- cipação, e o acolhimento aos saberes de
toda turma.
cidas, tornando a explicação mais generalizável e
menos voltada a um único contexto.
Importante dizer que a argumentação é marca
da construção de conhecimentos científicos exatamente porque se apoia na análise
de fatos e opiniões, sendo conduzida pela crítica constante que se sustenta em
padrões e normas de conhecimento e de atuação já reconhecidos e legitimados.

41
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Obviamente, em se tratando de trabalho didático no Ensino Fundamental,


muitas dessas explicações construídas em aulas pelos estudantes, com o auxílio
do professor, poderão vir a ser revistas e ampliadas na continuidade dos estudos.
Apesar disso, o trabalho para obtê-las mostra um caminho em que os estudantes
emergem em práticas científicas, aprendendo conceitos das ciências assim como
processos que circundam o fazer científico, seu significado mais profundo e as re-
lações entre as ciências e as necessidades da sociedade.

A implementação de atividades
investigativas para a constituição
de uma comunidade de práticas

O currículo de Ciências Naturais da SME-SP está fundamentado no desen-


volvimento de práticas científicas importantes para o estabelecimento do processo
de Alfabetização Científica entre os estudantes. Assim, um passo importante para
o êxito encontra-se na necessidade de que as ciências sejam apresentadas e abor-
dadas em sala de aula como atividade humana. Isso implica criar condições para
que os estudantes tenham contato com as ciências como uma prática social. Nesse
sentido, é relevante a fase de discussão, que envolve tanto a comunicação quanto
a reflexão, estar presente ao longo de todo o ciclo investigativo.
Muitas são as ações que podem ser realizadas pelo professor para a cons-
tituição da aula de Ciências Naturais como uma comunidade de práticas, de refle-
xão e estudos. O próprio currículo da SME-SP, como destacado, propõe que essa
constituição ocorra.

O estabelecimento de fóruns de discussão

Constituir um fórum de discussão em sala de aula é questão essencial para


que os estudantes possam integrar uma comunidade de práticas.
A sala de aula de Ciências Naturais como fórum de discussão torna-se um
espaço em que as construções são feitas coletivamente e colaborativamente. Isso
não se fundamenta na ideia de estabelecimento de um pensamento homogêneo,
nem prevê a inexistência de conflitos de ideias. Pelo contrário: para que possa ser
um espaço de discussões, é importante que os pensamentos divergentes apareçam
em sala de aula. Isso envolve o trabalho do professor em fazer perguntas e em co-
locar em debate as diferentes ideias e opiniões que possam surgir.

42
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A existência de um fórum de discussão é possível quando o professor incen-


tiva as interações discursivas entre os estudantes e deles com o professor. Para sua
concretização, os agrupamentos em sala de aula precisam ser planejados e imple-
mentados em uma lógica que não se coaduna com aquela usualmente estabeleci-
da, ou seja, os estudantes trabalhando isoladamente, interagindo apenas com seus
materiais e com o professor.
O incentivo ao trabalho em grupos, sejam pequenos ou grandes, e à troca
de ideias, informações e opiniões entre os estudantes representam ações realizadas
na dinâmica do dia a dia em sala de aula importantes para a constituição do fórum
de discussões.
Nesse trabalho espera-se que conteúdos das ciências e sobre as ciências
sejam abordados assim como aspectos das relações sociais. Isso deve acontecer
pelo estabelecimento de normas e práticas coletivas que impulsionem o respeito e
posturas reflexivas sobre compromissos éticos e morais do grupo.
É preciso, pois, dar voz aos estudantes. E isso implica que o professor esteja
pronto a escutar as diferentes ideias trazidas e não apenas aquelas que já se rela-
cionam ao tema em discussão. Muitas vezes, as respostas trazidas pelos estudantes
revelam as aproximações que eles estão construindo com o tema em debate, ainda
que isso não pareça claro em uma primeira observação. O ato de explorar essas
ideias torna a discussão mais rica e permite que outras relações, talvez ainda não
vislumbradas pelo professor, sejam construídas.
O acolhimento a diferentes informações e opiniões é uma característica
marcante dos fóruns de discussão e, portanto, para estabelecê-lo é preciso incen-
tivar a participação de todos.

A constituição de autoridade epistêmica entre os estudantes

Conhecer conceitos das ciências e ter acesso a modos de produzir enten-


dimento sobre a natureza que se aproximam dos modos de fazer ciência são ele-
mentos que marcam a autoridade epistêmica. Isso não quer dizer que esta auto-
ridade seja alcançada apenas quando se conhece tudo sobre um dado assunto.
Tão importantes quanto os conteúdos que se conhece é saber sobre as ações que
permitem avaliar o que se sabe e o porquê deste conhecimento ser válido em um
dado contexto. Isso representa a autoridade epistêmica e se mostra essencial para
a formação dos indivíduos nos dias atuais, em que há grande acesso a informa-
ções, sendo muito importante saber avaliá-las para tomada de decisões, posicio-
namento e atuação em sociedade.

43
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Constituir autoridade epistêmica entre os estudantes é um passo relaciona-


do ao estabelecimento de fóruns de discussão, uma vez que participar de debates
contribui diretamente para que as avaliações e críticas que subsidiam e marcam a
autoridade epistêmica sejam trabalhadas.
Ao permitir que os estudantes desenvolvam autoria epistêmica, o profes-
sor está criando condições para que aspectos centrais da Alfabetização Científica
sejam trabalhados, pois o conhecimento dos conceitos das ciências ocorrerá por
meio de aspectos do fazer científico e dos fatores que influenciam essa prática,
bem como pela tomada de consciência sobre como influenciam-se mutuamente
ciência, tecnologia, sociedade e ambiente.

44
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Orientações Didáticas do Currículo da Cidade


45
Ciências Naturais

Avaliação no Ensino
de Ciências Naturais

Todo o currículo de Ciências Naturais da SME-SP está estruturado com o


objetivo de desenvolver a Alfabetização Científica e mostra-se relacionado ao es-
tabelecimento de investigações em sala de aula. A avaliação deste ensino também
deve ter as mesmas metas e ser coerente com a ideia de processo contínuo em que
se fundamenta. Considerando isso, currículo, estratégias didáticas e avaliação são
todos elementos presentes no processo educativo, sendo necessário reconhecer a
especificidade de cada um deles para entender como podem se relacionar.
Antes mesmo de expor modos de avaliar em aulas de Ciências Naturais,
parece oportuno discutir o que seja a avaliação.

A avaliação

A ideia de avaliação fundamenta-se nas ideias de apreciação, análise, esti-


mativa e valor que são construídos e determinados pelos avaliadores. Assim, é pos-
sível entender que avaliação se associa a julgamento. Ao término de uma avaliação,
algo é classificado conforme critérios estabelecidos. Esses critérios podem mostrar
extremos, mas há classificações intermediárias que, de mesmo modo, exprimem o
julgamento realizado. Pode-se dizer, portanto, que a avaliação parametriza dico-
tomias, no sentido de que ela nos oferece resultados em termos de comparação,
podendo oferecer um espectro escalonado de conceitos.
O estabelecimento de critérios para uma avaliação não é mera formalidade,
mas deve revelar as razões que a sustentam e que a garantem. Em igual medida,
o planejamento e a organização de uma avaliação devem considerar que o que
se avalia precisa encontrar coerência com os objetivos sob os quais se sustenta a
avaliação. Isso permitirá que a avaliação apresente um panorama da situação em
análise, explicitando uma maneira de desenhar informações sobre como se relacio-
nam estratégias e ações com os resultados alcançados. Nessa medida, a avaliação
serve como instrumento para acompanhamento de um processo podendo fornecer
informações para o aprimoramento dele.

47
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A avaliação escolar

Como qualquer outra avaliação, a escolar deve construir critérios que per-
mitam o julgamento de uma situação com base e em coerência com os objetivos
que se tem com o ensino e a educação. Assim, é esperado que a avaliação escolar
possa escalonar a apreciação em termos de conceitos ou de notas médias a partir
do diagnóstico de circunstâncias e a tomada de decisões para este cenário.
Podendo ser realizada de muitas maneiras e com muitos focos, uma vez os
contextos e as esferas que compõem a educação formal, assim como as personagens
que se encontram na sala de aula, são diversos, a avaliação escolar deve estar atenta
aos progressos que são feitos pelo grupo, e também pelos indivíduos.
A avaliação assim trazida é uma atividade complexa, que não acontece em
um único momento e não deve contar com um único instrumento como a apli-
cação de uma prova. É preciso considerar que a avaliação está associada, tam-
bém, ao acompanhamento contínuo que se faz das situações escolares. São esses
aspectos que permitem encontrar informações e dados para orientar a descrição
do ocorrido e, portanto, cumprem o papel de diagnóstico para o julgamento e a
tomada de decisões associados ao processo avaliativo.
É importante planejar a avaliação na concordância com os objetivos edu-
cacionais, de modo que a escola não se torne um espaço de ensino para o teste,
focalizando sua atenção apenas para a tarefa de realização de provas, sem se preo-
cupar com as construções de sentido que são feitas pelos estudantes, com o modo
como esses conhecimentos podem ser utilizados por eles em outras situações que
não as escolares e em como o ensino impacta na atuação do indivíduo em socie-
dade. Para tanto, é preciso que as avaliações considerem não apenas os conteúdos
curriculares avaliáveis em provas e testes, mas também os conteúdos relacionados
a procedimentos e atitudes que são colocadas em pauta e na sua execução. No
caso do ensino de Ciências Naturais, com base no Currículo da Cidade, as avalia-
ções permitem analisar como está ocorrendo o desenvolvimento da Alfabetização
Científica entre os estudantes.

Avaliação do ensino e da aprendizagem

O currículo, estratégias didáticas e avaliação são elementos presentes no


processo educativo. É importante também ponderar pela coerência entre eles para
que os objetivos possam ser alcançados de modo exitoso.

48
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Isso posto, o planejamento da avaliação não deve considerar apenas as


estratégias escolhidas para avaliar, mas também a análise sobre o porquê de serem
utilizadas determinadas estratégias pela sua relação com os objetivos planejados
para o ensino. Com isso reforça-se a importância de que os objetivos que se pre-
tendem alcançar com a educação escolar vêm em primeiro plano e os modos para
avaliá-los surgem como um desdobramento. Assim, a própria avaliação está sob
avaliação, pois ela estará mais ou menos adequada a uma situação específica,
considerando a realidade escolar em que está sendo implementada, devendo sofrer
alterações que a tornem mais apropriada àquela realidade.
Neste sentido, o currículo pauta a organização do ensino e, por isso, tem
relação direta com as estratégias didáticas utilizadas.
Para o ensino de Ciências Naturais, presente no Currículo da Cidade, os
conceitos, leis e teorias das ciências são tão importantes de serem ensinados quan-
to os modos de construção de entendimento sobre fenômenos da natureza. Esse
fato fica explícito pela organização dos eixos temáticos e dos objetos de conheci-
mento na sua relação com as práticas científicas. Tais práticas representam ações
para o estabelecimento de investigações e, portanto, em sala de aula, o ensino por
investigação ganha espaço como uma forma de explorar os conteúdos.
As práticas científicas representam processos de construção de entendi-
mento, portanto, a avaliação das Ciências Naturais deve analisar como os proces-
sos são construídos e como eles colaboram para a sua aprendizagem.
De mesmo modo, considerando o que é apresentado no currículo de Ci-
ências Naturais da SME-SP, os objetivos de aprendizagem e de desenvolvimento,
bem como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável representam a tentativa
de abordar conceitos de modo que eles possam ser complexificados por meio do
envolvimento com práticas científicas. Se assim são os conceitos, sua avaliação
deve criar condições para que o processo de complexificação seja analisado.

Algumas ideias sobre a prática da avaliação da aprendizagem

É papel do currículo escolar oferecer aos estudantes oportunidades de con-


tato com múltiplas realidades, para conhecer e entender outras culturas e diferen-
tes formas de construir conhecimento e compreender o mundo que os cerca. Esses
contatos devem estar relacionados, também, ao uso desses conhecimentos adqui-
ridos na escola para a tomada de decisões e para a análise de situações que estão
fora dela, do mesmo modo que as questões e conhecimentos que trazem para a
escola impactam na construção de novos conhecimentos.

49
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

No ensino de Ciências Naturais, com o objetivo da Alfabetização Científica,


devem ser oferecidas condições aos estudantes para que possam utilizar modos de
analisar situações para se posicionar e tomar decisões. Isso justifica a necessidade
de que sejam avaliados os conceitos, os modos de construir entendimento sobre
eles e as ações desempenhadas e construídas para tomada de posicionamento.
Esse olhar para a avaliação nas aulas de Ciências Naturais permite que se
avalie a aprendizagem assim como os processos de interação dos sujeitos com o
conhecimento, com os colegas, com o professor e com áreas de conhecimento.
Assim, avaliar para a aprendizagem implica avaliar diferentes momentos
do processo, usando diferentes estratégias e observando diferentes situações do
trabalho dos estudantes em grupos e individualmente.

Sugestões para fundamentar


a avaliação da aprendizagem

Cada sala de aula funciona com sua dinâmica própria. Tendo contextos es-
pecíficos, as ações realizadas em diferentes salas de aula refletem normas e práticas
construídas por esta comunidade e, por este motivo, é difícil traçar atividades de
avaliação genéricas. No entanto, é possível descrever parâmetros e diretrizes que
auxiliem nesta tarefa.

Para a relação do estudante com grupo

No trabalho realizado em grupo, a avaliação precisa considerar o envolvi-


mento de cada estudante com seu grupo e com a proposta de ensino. Pela análise
do envolvimento com o grupo, pode-se avaliar aspectos de relações interpessoais,
aspectos conceituais e aspectos procedimentais. As relações interpessoais ajudam
a perceber e analisar características de desenvolvimento ético, moral e social dos
estudantes. Para avaliá-las, pode-se lançar mão de questões, por exemplo:

yy O estudante é capaz de ajudar o trabalho do grupo, comprometen-


do-se verdadeiramente para a realização da atividade, mostrando-se
preocupado e consciente de que suas ações são importantes para o
trabalho em grupo?

50
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

yy O estudante é capaz de oferecer opor-


tunidades para que demais colegas A Matriz de Saberes é um elemento
participem da atividade, evidencian- fundamental da organização do currícu-
do seu compromisso com os colegas e lo e por isso pode trazer indicadores dos
processos avaliativos, seja para estimulá-
com a formação deles? -los seja para balizá-los.
Processos de autoavaliação ou da ava-
yy O estudante demonstra iniciativa, ex- liação de trabalhos realizados em grupo
pondo suas ideias e ponto de vista e provocam nos estudantes a necessidade
de refletir sobre responsabilidade, parti-
fazendo-se escutar no grupo? cipação, cooperação, entre outros sabe-
y y O estudante respeita os colegas res presentes na Matriz.
que com ele trabalham, ouvindo a
opinião dos demais mesmo que não
concorde com o que é dito?

Não se espera que todos esses pontos possam ser avaliados em uma única
atividade, até mesmo porque eles podem estar presentes ou ausentes a depender do
modo como o professor organiza as atividades e propõe o trabalho em sala, mas é
necessário que o professor esteja atento às ações dos estudantes, analisando o tra-
balho em grupo e o trabalho de cada estudante frente à turma, procurando observar
e analisar seus comportamentos e a sua evolução.

É fundamental, para a coerência e eficácia dos objetivos da avaliação do


estudante no grupo, que os instrumentos de registro dos resultados das obser-
vações sejam rigorosos e que sejam planejados no momento em que se definam
os objetivos das atividades.

Para a avaliação em ações individuais

Seja no trabalho em grupo ou em ações individuais, é necessário considerar


o desenvolvimento e o envolvimento de cada estudante. São exemplos de questões
que podem nortear esta avaliação:

yy O estudante mostra envolvimento com o tema que é proposto?

yy O estudante mostra interesse em buscar novas formas de construir en-


tendimento sobre questões que são apresentadas em sala de aula?

51
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

yy O estudante é capaz de explicitar relações entre os conceitos apresenta-


dos e trabalhados em situações que extravasam o espaço escolar?

yy O estudante é capaz de emitir opinião sobre os temas em questão?

yy O estudante deixa evidente seu entendimento sobre os temas discuti-


dos em sala de aula, seja por meio do discurso oral, seja por meio de
registros gráficos?

É importante reforçar que essas questões não são listas que devem ser utili-
zadas como itens a serem conferidos. São apenas exemplares de ideias que podem
auxiliar o professor a avaliar o processo de aprendizagem, de construção de enten-
dimento e explicitação de ideias de um estudante ao longo de aulas. São diretrizes,
mas não normas, uma vez que é preciso adaptá-las e avaliá-las à luz dos objetivos
que o próprio professor planejou para suas intervenções de ensino.
A escola é lugar de formação. Como tal, é espaço de avaliação. Mas a es-
cola faz mais do que avaliar: ela forma; e, portanto, há de oferecer condições para
que os processos de desenvolvimento cognitivo, afetivo e moral dos estudantes
sejam favorecidos.

O desafio do professor, ao planejar o instrumento de registro da avaliação, é de-


finir o que será entendido como “envolvimento com o tema” na atividade observada.
Será o estudante ler o texto explicativo ou pedir apoio aos colegas ou ter perguntado
ao professor ou ficar concentrado durante alguns minutos tentando a solução ou
consultar informações em diferentes fontes?
Sem a resposta aos indicadores de “interesse”, o registro ficará subjetivo e
pode estabelecer injustiças no momento da análise dos dados. A forma mais consis-
tente de elaborar instrumentos para a verificação das atitudes favoráveis perante as
atividades é construir os instrumentos de avaliação e registro nas reuniões pedagó-
gicas, junto com os colegas da área ou de outros componentes curriculares. Os co-
ordenadores pedagógicos exercem papel importante neste percurso da construção
dos instrumentos de avaliação, assim como de seu registro e entrega aos estudan-
tes. Será em forma de notas? Ou será com uma conversa pessoal ou diante de toda
a classe? O conjunto destas definições é a base de uma avaliação que se articula
com os objetivos e com a coerência do professor como incentivador e companheiro
do processo de aprendizagem das Ciências.

52
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Orientações Didáticas do Currículo da Cidade


53
Possibilidades para o
Desenvolvimento dos
Eixos Temáticos no
Ensino Fundamental

A seguir você encontra sugestões para integração dos obje-


tivos de aprendizagem e desenvolvimento presentes nos eixos temá-
ticos. Reforçamos que se tratam de sugestões, podendo ser adap-
tadas, rearranjadas e/ou ampliadas em função das especificidades
do contexto escolar.
Ciências Naturais

Percursos formativos

Para que os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento propostos no


currículo da Cidade de São Paulo sejam atingidos, é necessário que o professor
tenha oportunidades de refletir sobre a sua experiência e prática de sala de aula e
sobre como articulá-las com as possibilidades didáticas e metodológicas que pro-
piciem uma verdadeira integração entre os eixos temáticos da área e que forneçam
percursos formativos claros ao longo dos ciclos de aprendizagem.
O primeiro desafio que se apresenta, então, é pensar em como integrar os
três Eixos Temáticos do componente de Ciências Naturais. As Ciências da Natu-
reza agrupam diferentes áreas de conhecimento, como Física, Química, Biologia,
Astronomia e Geologia. Tradicionalmente, os currículos escolares se organizam
de forma a contemplar essas diferentes áreas. Considerando os documentos pro-
duzidos pela Rede Municipal de Ensino de São Paulo e pelo Governo Federal,
há semelhanças em termos dos eixos temáticos nas diferentes propostas. No
documento Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendi-
zagem para o Ensino Fundamental: ciclo II: Ciências Naturais
(SÃO PAULO, 2007), por exemplo, os eixos temáticos
Esses propostos são Vida e Ambiente, Corpo Humano e
agrupamentos Saúde, Matéria e Energia, Terra e Universo. Vida e
evidenciam objeti- Ambiente e Corpo Humano e Saúde são eixos
vos de diferentes eixos mais relacionados à Biologia, em que, são
temáticos para compor
CONEXÕES

enfocadas, respectivamente, as relações en-


um percurso formativo que
tre ser vivo e ambiente e os aspectos hu-
dê significado ao aprendiza-
do durante cada ano do ciclo. manos relacionados à saúde; o trabalho
Além disso, devem possibilitar o mais estreito com conceitos da Física e
trabalho interdisciplinar no cam- da Química e os temas relacionados à
po de diferentes áreas das Ciên- Astronomia está presente nos eixos de
cias da Natureza e com diferentes Matéria e Energia, Terra e Universo.
componentes curriculares, como
a Matemática, História, Geogra- Nos Parâmetros Curriculares Na-
fia, Educação Física e Arte, no cionais: Ciências Naturais (BRASIL, 1998),
qual conceitos e modelos de os eixos propostos são: Vida e Ambiente,
diferentes áreas de conhe-
relacionado mais aos aspectos biológicos
cimentos são mobilizados
para resolver problemas da natureza; Corpo Humano e Saúde, rela-
de investigação. cionado à fisiologia do corpo humano; Terra
e Universo, cujo enfoque é na Astronomia e Tec-
nologia e Sociedade, que chama a atenção para as
relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade.

55
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Apesar da divisão em eixos temáticos acontecer na maior parte dos docu-


mentos e ter o objetivo de estabelecer recortes de conteúdos considerados centrais
para a abordagem das Ciências da Natureza, todos os textos enfatizam a necessi-
dade de trabalhá-los de maneira integrada ao longo dos anos e de todos os ci-
clos do Ensino Fundamental. Dessa maneira, os estudantes podem construir uma
visão ampla de como a ciência pode ajudar a compreender e atuar em soluções
para os problemas do mundo. É possível e desejável que conhecimentos relacio-
nados à Física, Química, Biologia, Astronomia e Geologia estejam presentes em
todos os anos do Ensino Fundamental, desmitificando a ideia de que conheci-
mentos de Física e Química, por exemplo, são muito difíceis de serem aprendidos
por crianças pequenas ou que estão muito distantes de eventos cotidianos.
O Currículo da Cidade de São Paulo (2017) também se articula em torno
de eixos temáticos que trazem os conteúdos essenciais relacionados a cada área de
conhecimento das Ciências da Natureza. Assim, em uma primeira leitura, pode-se
associar mais diretamente o eixo Matéria, energia e suas transformações aos co-
nhecimentos relacionados à Física e à Química; Cosmos, espaço e tempo, à Astro-
nomia e Vida; Ambiente e Saúde, à Biologia. No entanto, as proposições dos obje-
tivos de aprendizagem e desenvolvimento de cada eixo temático não são isoladas
e podem ser agrupadas por afinidade temática, propiciando o trabalho integrado
entre os eixos temáticos ao longo do ano. Nesse sentido, sugerimos o agrupamento
de objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, pertencentes a diferentes eixos
temáticos, que explicitem a articulação entre eles e revelem um percurso de apren-
dizagem ao longo do ano escolar.
Considerando os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento propostos,
é possível enxergar diversas possibilidades de agrupamentos desses OAD, de acor-
do com a experiência de cada professor, do contexto da unidade escolar e das
necessidades e demandas dos estudantes. Nesse sentido, não se deve elaborar o
planejamento de aulas seguindo a ordem em que os objetivos de aprendizagem e
desenvolvimento são apresentados no currículo da Cidade de São Paulo, para cada
ano dos diferentes ciclos. A ordem e numeração estabelecidos são resultados de
uma simples organização em itens que não refletem necessariamente um determi-
nado percurso formativo ao longo do ano. Além disso, um objetivo de aprendiza-
gem pode ser retomado em mais de uma aula ou sequência didática, reforçando o
caráter em espiral do processo de construção de conhecimento.
A seguir, apresentamos uma proposta possível de agrupamento de obje-
tivos de aprendizagem e desenvolvimento dos ciclos para cada ano, explicitando
um percurso formativo. Reitera-se que a proposta aqui apresentada é apenas uma
entre outras possíveis, com a finalidade de ilustrar as relações potenciais entre
os eixos temáticos e as ligações entre os temas trabalhados ao longo do ano. O
professor tem autonomia para inserir no seu planejamento uma leitura diversa de
agrupamento dos objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para dar sentido
ao percurso formativo de seus estudantes.

56
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Daniel Cunha - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Ciências Naturais

Ciclo de Alfabetização

1º ano

Considerando a introdução do estudante no Ciclo de Alfabetização, é im-


portante trazer os conhecimentos das Ciências Naturais como possibilidade de
ler e compreender a realidade ao seu redor. Nesse sentido, a chegada das crianças
em um novo ambiente, em uma nova escola, pode servir como próprio objeto de
produção de conhecimento em Ciências, ao permitir a exploração da escola para
reconhecer e comparar as características do ambiente e de materiais que compõem
objetos de uso cotidiano, além de identificar a presença de seres vivos, distinguin-
do-os dos elementos naturais. Ao se trabalhar todos esses aspectos, contempla-
-se os objetivos de aprendizagem EF01C01 e EF01C02 (do eixo temático Matéria,
energia e suas transformações) de maneira integrada com o objetivo EF01C17 (do
eixo temático Vida, ambiente e saúde).
Dada essa caracterização inicial, um percurso potencial é aprofundar a
importância dos elementos naturais para os seres vivos, focando em um deles,
como a água, e investigando a sua presença em diferentes locais. Dessa maneira,

57
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

é possível integrar os objetivos EF01C05 (Matéria, energia e suas transforma-


ções) e EF01C15 (Vida, ambiente e saúde).
Na sequência, continuando a trabalhar a importância da água para os
seres vivos, o enfoque pode recair nos cuidados de higiene diária para a promo-
ção do bem-estar e da saúde (objetivos EF01C16 e EF01C19 do eixo temático
Vida, ambiente e saúde).
O Sol pode ser abordado como outro elemento natural importante para
os seres vivos, ao serem exploradas as regularidades dia e noite e relacioná-
-las com atividades diárias comumente realizadas durante esses períodos, em
uma escala de tempo próxima dos estudantes, integrando, assim os objetivos
EF01C09, EF01C11 e EF01C12 (do eixo temático Cosmos, espaço e tempo).

Percurso Formativo - 1º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem e Eixos
Formativo Desenvolvimento Temáticos
(EF01C01) Reconhecer as características do ambiente e
1. Conhecendo de materiais que compõem objetos de uso cotidiano. Matéria,
a escola: Energia e suas
(EF01C02) Comparar diferentes materiais e diferentes
Transformações
características localidades do ambiente reconhecendo suas características
e diversidade e propriedades. Vida, Ambiente
de materiais e Saúde
(EF01C17) Identificar a presença de seres vivos na
e seres vivos escola e em outros espaços, distinguindo seres vivos e
elementos naturais.

(EF01C05) Reconhecer que a água no ambiente pode ser


encontrada em diferentes lugares.
Matéria,
(EF01C15) Caracterizar o uso de materiais e recursos Energia e suas
2. A importância naturais em diferentes atividades do cotidiano e reconhecer Transformações
da água para sua importância para os seres vivos.
Vida, Ambiente
os seres vivos (EF01C16) Compreender a importância dos elementos e Saúde
naturais (água, solo, luz e ar) para os seres vivos.
EF01C19) Relacionar os cuidados de higiene diária à
promoção do bem-estar e da saúde.

(EF01C09) Reconhecer o Sol como fonte natural de


luz e calor e relacionar essas características com sua
importância para os seres vivos.
Cosmos,
3. Plantas, solo (EF01C11) Diferenciar os períodos do dia e a escala de Espaço e
e alimento tempo próximo. Tempo
(EF01C12) Distinguir atividades diárias comumente
realizadas durante o dia e durante a noite.

58
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Ciências Naturais

Ciclo de Alfabetização

2º ano

O trabalho com a importância dos elementos naturais para os seres vivos


continua no 2° ano do Ensino Fundamental, com possibilidades de construir
novos conceitos a partir da influência da temperatura nas mudanças de estado
físico da água (EF02C02 e EF02C03 do eixo temático Matéria, energia e suas
transformações). A observação do céu possibilitará o planejamento de inves-
tigações sobre a posição do Sol e as fases da Lua, relacionando a formação de
sombras com os diferentes períodos do dia (EF02C02 do eixo temático Matéria,
energia e suas transformações e EF02C07, EF02C08 e EF02C09 do eixo temático
Cosmos, espaço e tempo).
O Sol e a água são fundamentais para a compreensão do desenvolvimento
dos vegetais que, por sua vez, servem de alimento a outros seres vivos, como o
ser humano. Essa é uma boa oportunidade para se trabalhar tanto as partes do

59
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

corpo de plantas, como aspectos relacionados à alimentação como necessi-


dade vital (EF02C11, EF02C12 e EF02C14 do eixo temático Vida, ambiente e
saúde). O solo pode aparecer nesse momento, tanto como recurso necessário
para o desenvolvimento dos vegetais, como local de descarte de materiais
envolvidos na produção dos alimentos. Nos dois casos, é possível trabalhar a
noção de decomposição, no sentido de considerar o tempo de decomposição
de diferentes materiais para classificá-los como perecíveis e não perecíveis. A
presença de animais no solo também pode ser abordada na perspectiva de ini-
ciar raciocínios envolvidos com a classificação (EF02C04 e EF02C05 do eixo
temático Matéria, energia e suas transformações EF02C13 do eixo temático
Vida, ambiente e saúde).

Percurso Formativo - 2º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem Eixos Temáticos
Formativo e Desenvolvimento

(EF02C02) Planejar a observação


de transformações que materiais
1. Mudanças de podem sofrer, distinguindo mudanças
reversíveis e irreversíveis. Matéria, Energia e
estado físico suas Transformações
da água (EF02C03) Comparar as mudanças
sofridas por materiais em diferentes
temperaturas.

(EF02C02) Planejar a observação


de transformações que materiais
podem sofrer, distinguindo mudanças
reversíveis e irreversíveis.

(EF02C07) Observar e registrar a posição


do Sol no céu em um mesmo horário ao Matéria, Energia e
longo de vários dias. suas Transformações
2. Posição do Sol
e da Lua no céu (EF02C08) Relacionar os diferentes
e sombras períodos do dia com luz e sombra e
investigar a relação entre a posição do Cosmos, Espaço e Tempo
objeto e da fonte de luz para a formação
de sombra.

(EF02C09) Perceber e registrar as


diferentes fases da Lua durante
determinado período de tempo.

60
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF02C04) Propor ações para o


descarte adequado de diferentes
materiais do cotidiano.

(EF02C05) Pesquisar em fontes


variadas (internet, livros, revistas,
entre outras) informações sobre
decomposição de materiais para
classificá-los em perecíveis e
Matéria, Energia e
não perecíveis.
suas Transformações
(EF02C11) Reconhecer a importância
da alimentação para os seres vivos,
3. Plantas, solo
identificando-a como necessidade vital.
e alimento
(EF02C12) Conhecer alguns
tipos de alimentos necessários ao
desenvolvimento do corpo.
Vida, Ambiente e Saúde
(EF02C13) Identificar modos de vida
de animais de seu convívio próximo
e propor, coletivamente, modos de
classificá-los.

(EF02C14) Nomear as principais


partes de uma planta e investigar a
importância da luz e da água para elas.

61
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME


Ciclo de Alfabetização

3º ano

Para o terceiro ano do Ensino Fundamental, um percurso possível é


trabalhar o som e a luz na perspectiva de fenômenos que interagem com obje-
tos e a transformação de energia existente nessas interações. Assim, de início,
poderiam ser trabalhados os movimentos da Terra em relação a si e ao Sol,
caracterizando os movimentos de rotação e translação. Em seguida, investi-
gações sobre a reflexão da luz podem oferecer oportunidades de construção
de conhecimento que envolvem processos de transformação de energia. Ao
se trabalhar o som nessa perspectiva, pode-se discutir as implicações de estí-
mulos sonoros para a saúde do corpo humano (EF03C02 e EF03C03 do eixo
temático Matéria, energia e suas transformações, EF03C07 a EF03C10 do eixo
temático Cosmos, espaço e tempo e objetivos EF03C12 e EF03C13 do eixo
temático Vida, ambiente e saúde).
Os aspectos de saúde e hábitos podem, então, serem tratados em ou-
tra perspectiva, por meio da discussão sobre saneamento básico, em que são

62
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
envolvidos ciclo da água, sensações térmicas, tratamento de água e esgoto e
causas da poluição da água (EF03C01, EF03C04, EF03C05 e EF03C06 do eixo
temático Matéria, energia e suas transformações e EF03C15 do eixo temático
Vida, ambiente e saúde). Por meio do grande tema alimentação, também é possí-
vel tratar das questões relacionadas à saúde e à doença, assim como caracterizar
a diversidade de hábitos alimentares dos habitantes de uma determinada região
(EF03C01 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações e EF03C11,
EF03C12 e EF03C14 do eixo temático Vida, ambiente e saúde).

Percurso Formativo - 3º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem Eixos
Formativo e Desenvolvimento Temáticos

(EF03C03) Investigar a interação dos


objetos de diferentes superfícies com a luz,
reconhecendo que objetos mais
lisos e brilhantes têm maior capacidade
para refleti-la.
(EF03C02) Identificar transformações de
energia e variáveis que influem nesse
fenômeno (por exemplo, ao bater na mesa,
transformamos energia mecânica em
energia sonora).
(EF03C07) Nomear e caracterizar os
movimentos da Terra em relação a si e
ao Sol.
(EF03C08) Explicar o dia e a noite com
1. Luz, som referência ao movimento de rotação da Terra Matéria, Energia e
e a relação em torno de seu eixo. suas Transformações
com objetos
(EF03C09) Relacionar o movimento de
translação da Terra e sua inclinação em
relação a um eixo imaginário com as
estações do ano.
(EF03C10) Compreender que a Lua se
movimenta no espaço e relacionar esse fato
com os movimentos de translação e rotação.
(EF03C12) Discutir e relacionar cuidados
de higiene e hábitos cotidianos para
manutenção e promoção da saúde individual
e coletiva.
(EF03C13) Descrever as mudanças nas
fases da vida dos diferentes seres vivos,
relacionando-as ao seu ambiente.

63
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF03C01) Investigar a solubilidade em


misturas, classificando semelhanças
e diferenças.
(EF03C04) Pesquisar em fontes variadas
(internet, livros, revistas, entre outras)
informações sobre o ciclo da água e
analisar sua influência nas sensações
térmicas vivenciadas (por exemplo, dias
secos e dias úmidos).
(EF03C05) Conhecer ações realizadas
para o tratamento da água e do esgoto.
(EF03C06) Pesquisar em fontes variadas
(internet, livros, revistas, entre outras)
informações sobre agentes causadores
Matéria, Energia e
de poluição e discutir sobre modos
suas Transformações
2. Água e de combatê-la.
alimentação: (EF03C11) Identificar alterações de alguns
hábitos e saúde sinais vitais no próprio corpo (por exemplo, Vida, Ambiente e Saúde
febre, desidratação) relacionando-os a
sintomas comuns de diferentes doenças.
(EF03C12) Discutir e relacionar cuidados
de higiene e hábitos cotidianos para
manutenção e promoção da saúde
individual e coletiva.
(EF03C14) Listar os diferentes hábitos
alimentares presentes na alimentação
dos estudantes, identificando a
diversidade cultural.
(EF03C15) Pesquisar e listar algumas
doenças que podem estar associadas à
falta de saneamento básico, propondo
possíveis ações para minimizar o
problema exposto.

64
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
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Ciclo Interdisciplinar

4º ano

As relações entre seres vivos e ambiente são um tema potencial para tra-
balhar aspectos interdisciplinares de diferentes áreas de conhecimento. A com-
preensão de cadeias alimentares e o papel do ser humano nelas podem ajudar a
construir um raciocínio mais ampliado sobre os fatores complexos que interfe-
rem na composição das redes de relações e nos equilíbrios e desequilíbrios envol-
vidos (EF04C16, EF04C17 e EF04C18 do eixo temático Vida, ambiente e saúde).
A partir daí, podemos nos perguntar onde vivem esses seres vivos e como isso se
relaciona com a estrutura do Planeta Terra, além de situá-lo frente a outros pla-
netas do Sistema Solar (EF04C07, EF04C08 e EF04C09 do eixo Cosmos, espaço
e tempo).
Do macro ao micro, podemos agora desenvolver os processos envolvidos
com a alimentação no nível do organismo, abordando o papel dos nutrientes
no corpo humano e as funções dos sistemas respiratório e cardiovascular na
saúde do organismo. As transformações envolvidas na produção de energia para

65
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

as atividades do corpo humano podem também ser exploradas (EF04C12,


EF04C13 e EF04C14 do eixo temático Vida, ambiente e saúde, EF04C04 e
EF04C05 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações).

Percurso Formativo - 4º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem Eixos
Formativo e Desenvolvimento Temáticos

(EF04C16) Analisar e construir cadeias alimentares


por meio de diferentes registros, verificando a
posição do homem e a importância do ambiente
para o seu equilíbrio.
1.Relações entre (EF04C17) Formular hipóteses e explicações
Vida, Ambiente e Saúde
seres vivos sobre as relações entre os seres vivos em
diferentes ambientes.
(EF04C18) Reconhecer fungos e bactérias como
seres microscópicos e sua importância no contexto
ambiental como decompositores.

(EF04C07) Identificar características da Terra com


base na observação, manipulação e comparação de
diferentes formas de representação do planeta.
(EF04C08) Identificar e nomear os elementos
2. Características que compõem o sistema terrestre, sendo capaz Cosmos, Espaço
de descrever características gerais da geosfera,
do planeta Terra hidrosfera e atmosfera.
e Tempo

(EF04C09) Pesquisar em fontes variadas (internet,


livros, revistas, entre outras) os demais planetas de
nosso sistema solar e identificar informações sobre
suas características.

(EF04C12) Compreender que uma alimentação


inadequada compromete a saúde.
(EF04C13) Identificar os principais nutrientes
e compreender a relação entre a nutrição, a
Matéria, Energia e
distribuição dos nutrientes pelo organismo e a
eliminação de resíduos produzidos. suas Transformações

(EF04C14) Comparar as alterações de alguns sinais


vitais, como frequência cardíaca e respiratória,
3.Transformações, antes e após uma atividade física,e relacioná-las à
nutrientes e saúde integração existente entre os sistemas respiratório
e cardiovascular.
(EF04C04) Exemplificar transformações de
energia observadas no cotidiano (por exemplo, o Vida, Ambiente e Saúde
liquidificador transforma energia elétrica em energia
mecânica, no movimento de pás, e energia sonora,
no barulho).
(EF04C05) Propor modos de investigar a relação
entre a alimentação e a obtenção de energia.

66
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Ciclo Interdisciplinar

5º ano

A transformação de materiais, fenômenos e energia é um conceito cen-


tral das Ciências Naturais e, no quinto ano do Ciclo Interdisciplinar, é o enfoque
que orienta o percurso formativo aqui proposto. De uma maneira que relaciona
a escala do dia a dia com processos mais abstratos, conhecer os caminhos pelos
quais a energia elétrica é produzida e chega nas casas pode ser uma possibilidade
para se atingir parte dos objetivos de aprendizagtem e desenvolvimento EF05C03,
EF05C04 (do eixo temático Matéria, energia e suas transformações) e EF05C16
(do eixo temático Vida, ambiente e saúde). O envolvimento de seres vivos nos pro-
cessos de transformação de matéria e energia no ambiente também pode ser tra-
balhado de maneira associada ao uso de combustíveis pelo ser humano (EF05C02
do eixo temático Matéria, energia e suas transformações). A produção e consumo
de energia elétrica e combustíveis, por uma população em crescimento, pode le-
var a discussões e reflexões sobre os impactos causados no ambiente (EF05C03 e
EF05C04 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações e EF05C13 e
EF05C16 do eixo temático Vida, ambiente e saúde).

67
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A energia luminosa que chega, do Sol e de outras estrelas, ao planeta Ter-


ra e está envolvida nos processos de ciclagem de materiais e fluxo de energia na
escala do planeta pode ser discutida em uma perspectiva astronômica, levando-
-se em conta a distância relativa entre as estrelas e a Terra. As interações entre Sol,
Terra e Lua podem causar os eclipses, ampliando a percepção do Planeta Terra no
Sistema Solar (EF05C06 e EF05C08 do eixo temático Cosmos, espaço e tempo).
Novamente do macro ao micro, os processos de transformações po-
dem ser compreendidos no nível do organismo, focando agora no funciona-
mento do sistema nervoso e dos sistemas reprodutores e nas transformações
envolvidas na puberdade (EF05C10, EF05C11 e EF05C12 do eixo temático
Vida, ambiente e saúde).

Percurso Formativo - 5º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem Eixos
Formativo e Desenvolvimento Temáticos
(EF05C02) Explicar que plantas, animais,
decompositores e ambiente relacionam-se no
transporte e na transformação de matéria.
(EF05C03) Investigar sobre diferentes modos de
produção de energia elétrica e debater sobre os
possíveis impactos ambientais. Matéria, Energia e
suas Transformações
(EF05C04) Associar a produção de combustíveis
1.Energia e ao consumo de recursos naturais, reconhecendo
impacto ambiental os possíveis danos ao ambiente decorrentes de
seu uso. Vida, Ambiente e Saúde
(EF05C13) Relacionar ações humanas e alterações
ambientais, de maneira a argumentar e posicionar-
se sobre o assunto estudado.
(EF05C16) Compreender como a tecnologia está
relacionada à produção e consumo dos recursos
naturais, afetando o meio ambiente

(EF05C06) Explicar as possíveis relações entre a


intensidade do brilho do Sol e de outras estrelas e
2. Luz e eclipses a distância que estão da Terra. Cosmos, Espaço e Tempo
(EF 05C08) Relacionar os Eclipses aos
movimentos da Terra, da Lua e do Sol

(EF05C10) Identificar os órgãos internos do corpo


3.Transformações, humano, reconhecendo as relações entre as
funções biológicas.
sistema nervoso,
sistemas (EF05C11) Pesquisar funções do sistema nervoso, Vida, Ambiente e Saúde
reconhecendo a sua importância para o organismo.
reprodutores
e puberdade (EF05C12) Identificar transformações dos sistemas
reprodutores feminino e masculino na puberdade.

68
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Ciências Naturais

Ciclo Interdisciplinar

6º ano

Como último ano do Ciclo Interdisciplinar, o percurso formativo do 6º ano


valoriza a integração entre conhecimentos dos três eixos temáticos, por meio do
estudo sobre o solo, suas características e formação, a relação entre solo e vegetais,
chegando até a alimentação dos seres vivos, incluindo o ser humano e, finalmente,
os usos do solo e a preservação do ambiente. Para trabalhar a caracterização e
comparação de diferentes tipos de solo, propõe-se integrar os conteúdos relacio-
nados com propriedades dos materiais e composição e permeabilidade do solo
(EF06C01 e EF06C02 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações)
com as adaptações dos vegetais ao solo, de modo a associar as características
morfofisiológicas das plantas com as de diferentes tipos de solo (EF06C12 do eixo
temático Vida, ambiente e saúde).
Para construir explicações sobre as características dos diferentes tipos de
solo discutidas anteriormente, faz-se necessário ampliar a compreensão sobre os

69
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

processos geológicos envolvidos na formação e constantes transformações


do solo, abordando então os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento
EF06C07 e EF06C08 (do eixo temático Cosmos, espaço e tempo) e trazendo
conceitos como decomposição e ciclagem de materiais no ecossistema, de for-
ma a criar oportunidades de reflexão sobre as ações antrópicas no uso, explo-
ração e descarte de resíduos e seus impactos no solo (objetivo EF06C06 do eixo
temático Matéria, energia e suas transformações).
Aos poucos, o aprofundamento sobre a ciclagem de nutrientes no ecos-
sistema pode ser construído ao integrar conceitos como fotossíntese e respira-
ção celular (EF06C03 e EF06C05 do eixo temático Matéria, energia e suas trans-
formações). Por meio desse estudo, mais informações ajudam a compreender
e propor soluções para impactos das ações antrópicas no solo, o que permite
retomar o objetivo EF06C06.
Em um diálogo com o nível macroscópico dos eventos astronômicos, as
regularidades do ciclo dia e noite e das fases da Lua ajudarão a explicar os fenô-
menos relacionados à agricultura em diferentes épocas e civilizações (EF06C09
e EF06C10 do eixo temático Cosmos, espaço e tempo).
A alimentação dos seres vivos pode ser abordada neste momento,
ao investigar e comparar os processos de digestão, respiração, circulação
e excreção em diferentes seres vivos, além de relacionar o papel da célula
como unidade funcional na qual esses processos acontecem (EF06C04 do
eixo temático Matéria, energia e suas transformações, EF06C11 EF06C16 do
eixo temático Vida, ambiente e saúde), usando esse conhecimento para cons-
truir explicações sobre a ciclagem de nutrientes e fluxo de energia no ecos-
sistema (retomando o objetivo EF06C05 do eixo temático Matéria, energia
e suas transformações). Pela importância de se conhecer o funcionamento
do corpo humano nesta faixa etária, esses processos são abordados sob a
perspectiva da fisiologia dos sistemas digestório, respiratório, circulatório e
excretor (EF06C04 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações
e EF06C15 do eixo Vida, ambiente e saúde). Em seguida, cabe a articulação
com as especificidades de aspectos socioculturais da nutrição humana, como
técnicas de conservação de alimentos, análise de diferentes dietas e distúrbios
alimentares (EF06C17, EF06C18 e EF06C19 do eixo temático Vida, ambiente
e saúde). Por fim, é possível retomar os conceitos abordados anteriormente
de forma a relacionar os fatores necessários para explicar o equilíbrio dinâ-
mico das populações nos ecossistemas e avaliar soluções para minimizar os
impactos decorrentes da produção de alimentos (EF06C05 do eixo temático
Matéria, energia e suas transformações; EF06C13, EF06C14 e EF06C20 do
eixo temático Vida, ambiente e saúde).

70
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Percurso Formativo - 6º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem Eixos
Formativo e Desenvolvimento Temáticos

(EF06C01) Comparar diferentes tipos de


solo quanto as características, composição e
permeabilidade à água.
(EF06C02) Analisar e interpretar dados sobre
propriedades (compressibilidade, maleabilidade,
dureza e brilho) dos materiais. Matéria, Energia e
(EF06C12) Representar a relação das suas Transformações
características morfofisiológicas das plantas
1. Solo:
com características de diferentes tipos de solo.
caracterização, Vida, Ambiente e Saúde
formação, (EF06C06) Coletar e analisar informações
sobre os impactos provocados ao solo pelas
transformações ações antrópicas (uso, exploração e descarte
e usos de resíduos), considerando o tempo de
Cosmos, Espaço
e Tempo
decomposição dos materiais.
(EF06C07) Construir explicações sobre os
processos geológicos em diversas escalas de
tempo e espaço e sua influência na formação de
rochas e solos.
(EF06C08) Descrever a estrutura geológica do
planeta Terra.

(EF06C03) Construir explicações baseadas em


evidências sobre o papel da fotossíntese na
ciclagem dos materiais e no fluxo de energia no
ecossistema.
(EF06C05) Utilizar diferentes representações para
descrever a ciclagem do carbono e o fluxo de
energia, integrando os processos de fotossíntese, Matéria, Energia e
respiração celular, decomposição, cadeia alimentar suas Transformações
2. Relações entre e a disponibilidades dos fatores abióticos.
plantas e solo e (EF06C06) Coletar e analisar informações Vida, Ambiente e Saúde
regularidades dia sobre os impactos provocados ao solo pelas
e noite e fases ações antrópicas (uso, exploração e descarte
de resíduos), considerando o tempo de
da Lua Cosmos, Espaço
decomposição dos materiais. e Tempo
(EF06C09) Desenvolver e usar modelos e
representações sobre o Sistema Terra, Lua e Sol
para explicar o dia, a noite e as fases da Lua.
(EF06C10) Conhecer explicações de diferentes
épocas, culturas e civilizações sobre dia, noite
e fases da Lua, valorizando a sua relevância
histórica e cultural.

71
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF06C11) Utilizar informações e modelos para


explicar sobre a organização básica, as funções
das células e seu papel como unidade estrutural
e funcional dos seres vivos.
(EF06C04) Descrever as transformações
ocorridas com o alimento no organismo,
envolvendo a produção de novos materiais Matéria, Energia e
e o gasto de energia (respiração celular, suas Transformações
3. Energia e decomposição).
nutrientes nos
(EF06C05) Utilizar diferentes representações
seres vivos Vida, Ambiente e saúde
para descrever a ciclagem do carbono e o
fluxo de energia, integrando os processos de
fotossíntese, respiração celular, decomposição,
cadeia alimentar e a disponibilidades dos fatores
abióticos.
(EF06C16) Comparar o funcionamento da
respiração, digestão, circulação e excreção em
diferentes seres vivos.

(EF06C04) Descrever as transformações


ocorridas com o alimento no organismo,
envolvendo a produção de novos materiais
e o gasto de energia (respiração celular,
decomposição).
(EF06C15) Construir modelos e representações
que integrem o funcionamento da respiração,
digestão, distribuição dos nutrientes e obtenção
de energia e excreção no corpo humano.
(EF06C17) Avaliar diferentes técnicas de Matéria, Energia e
conservação dos alimentos (uso de aditivos, suas Transformações
4. Nutrição humana conservantes químicos, embalagens: vácuo,
UHT, vidro, lata, etc.), considerando as
e saúde
vantagens e desvantagens à saúde humana e Vida, Ambiente e Saúde
ambiental e sua relevância histórica e cultural.
(EF06C18) Analisar e propor diferentes dietas,
considerando valores nutricionais dos alimentos
e aspectos socioculturais presentes na
alimentação humana.
(EF06C19) Conhecer os diferentes distúrbios
alimentares como atitudes de risco que levam
ao comprometimento da saúde física e psíquica,
superando estereótipos sociais.

72
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF06C05) Utilizar diferentes representações


para descrever a ciclagem do carbono e o
fluxo de energia, integrando os processos de
fotossíntese, respiração celular, decomposição,
cadeia alimentar e a disponibilidade dos
fatores abióticos.
(EF06C13) Coletar dados e investigar sobre
a dinâmica populacional, reconhecendo
5. Uso de solo, as relações entre presa e predador como Matéria, Energia e
fluxo de energia importantes para a manutenção do equilíbrio suas Transformações
dinâmico em um ecossistema.
e ciclagem de
materiais, equilíbrio (EF06C14) Avaliar diferentes propostas de
soluções para a manutenção do equilíbrio na Vida, Ambiente e Saúde
e conservação do
dinâmica das populações de seres vivos em
ambiente um ecossistema.
(EF06C20) Utilizar conhecimentos científicos
para identificar maneiras de monitorar e
minimizar impactos humanos no ambiente,
quanto à produção de alimentos, ao uso
de agrotóxicos e ao descarte dos
resíduos alimentares.

73
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME


Ciclo Autoral

7º ano

Uma proposta possível para o sétimo ano é que o estudante reconheça


e compreenda padrões e regularidades, na natureza, em diversas escalas e di-
mensões. Para isso, os conceitos de movimento e velocidade são fundamentais
na construção de ideias sobre eventos que ocorrem no cotidiano e conservação
de energia (eixo Matéria, energia e suas transformações), assim como para a
compreensão de eventos astronômicos, por exemplo os movimentos de rota-
ção da Terra, fases da Lua e eclipses (eixo Cosmos, espaço e tempo), e para a
compreensão de eventos relacionados ao funcionamento dos organismos vivos
(sistema esquelético e muscular no ser humano e outros sistemas locomotores
dos seres vivos, por exemplo, do eixo Vida, ambiente e saúde).
Em um primeiro momento, é possível discutir a noção de tempo por
meio de processos como eclipses, marés e estações do ano, e as concepções
sobre esses fenômenos em diferentes épocas, culturas e civilizações (EF07C05 a

74
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
EF07C08 do eixo temático Cosmos, espaço e tempo). Os ciclos dia e noite geram
padrões de funcionamento nos seres vivos, levando à construção de noções sobre
regularidades e respostas adaptativas nele que, por sua vez, ajudam a entender a
biodiversidade e as interações entre seres vivos e ambiente (EF07C11, EF07C12,
EF07C15, EF07C17, EF07C18 e EF07C19 do eixo temático Vida, ambiente e saú-
de). A compreensão dos conceitos de velocidade, posição e interações físicas são
importantes para o entendimento das adaptações relacionadas com a locomoção
dos seres vivos (EF07C04 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações,
EF07C09 e EF07C10 do eixo temático Cosmos, espaço e tempo).
Uma vez que o tempo e as transformações do e no meio se dão, podemos
pensar no corpo humano e suas mudanças e descobertas, como a sexualidade e as
questões de gênero (EF07C20 e EF07C23 do eixo temático Vida, ambiente e saú-
de). Essas mudanças dos corpos dos seres vivos conectam-se com a possibilidade
de reprodução, conceito que representa mecanismos de manutenção de regulari-
dades e de geração de biodiversidade (EF07C13, EF07C14 do eixo temático Vida,
ambiente e saúde). Na espécie humana, a possibilidade de reprodução também
pode levar a discussões sobre métodos contraceptivos, relacionando-os com a pre-
venção de DSTs e gravidez precoce (EF07C21 e EF07C22 do eixo temático Vida,
ambiente e saúde).
Algumas interferências do ser humano nos ecossistemas geram problemas
ambientais que podem ser tratados por meio de conceitos como o de separação
de misturas (EF07C01, EF07C02 e EF07C03 do eixo temático Matéria, energia e
suas transformações e EF07C19 do eixo temático Vida, ambiente e saúde). Por fim,
ciente dessas ações humanas e suas consequências, é possível ampliar conhecimen-
tos acerca da biodiversidade e elaborar propostas de intervenção para o respeito e
o convívio do ser humano com o meio e as outras espécies (EF07C15, EF07C16 e
EF07C19 do eixo temático Vida, ambiente e saúde).

75
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Percurso Formativo - 7º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem e Eixos
Formativo Desevolvimento Temáticos

(EF07C05) Utilizar dados e representações para


determinar propriedades de escalas dos corpos no
sistema solar.
(EF07C06) Desenvolver e usar modelos sobre o
Sistema Sol, Terra e Lua para explicar padrões cíclicos e
regularidades sobre os eclipses, as marés e as estações
do ano.
(EF07C07) Conhecer explicações formuladas em
diferentes épocas, culturas e civilizações sobre Vida, Ambiente e Saúde
1. Movimentos regularidades do Sistema Sol, Terra e Lua, valorizando
astronômicos e sua relevância histórica e social.
nos seres vivos (EF07C08) Relacionar os movimentos do Sistema Sol, Cosmos, Espaço
Terra e Lua com as medidas de tempo no e Tempo
planeta Terra.
(EF07C11) Comparar, em diferentes seres vivos, as
formas de locomoção e os órgãos associados a
essa função.
(EF07C12) Compreender o funcionamento dos sistemas
esquelético e muscular do corpo humano, relacionando
suas estruturas à locomoção e considerando a
acessibilidade como garantia da qualidade de vida.

(EF07C15) Inferir que características morfológicas são


evidências de adaptações, comparando-as com hábitos
de vida em relação aos diferentes ambientes.
(EF07C17) Coletar e interpretar informações sobre
diversos tipos de interações ecológicas e sua importância
2. Interações na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas.
ecológicas e Vida, Ambiente e Saúde
(EF07C18) Aplicar conhecimentos científicos sobre
adaptações
interações ecológicas para construir explicações sobre
processos de sucessão ecológica.
(EF07C19) Aplicar conhecimentos científicos para
elaborar intervenções que visem monitorar e minimizar
impactos das ações antrópicas na biodiversidade.

76
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF07C04) Identificar evidências sobre a relação entre o


movimento de um objeto e a sua massa.
(EF07C09) Associar a velocidade como grandeza
utilizada para medir movimentos.
(EF07C10) Descrever as relações entre energia cinética,
massa e velocidade de um objeto.
(EF07C20) Compreender o funcionamento do sistema
endócrino com base nos processos químicos glandulares
que promovem a manutenção do metabolismo corporal,
especialmente para explicar as mudanças que ocorrem
na puberdade.
(EF07C23) Reconhecer as múltiplas dimensões Matéria, Energia e
3. Tempo, da sexualidade humana (biológica, sociocultural e suas Transformações
afetiva), valorizando e respeitando a diversidade sem
velocidade e preconceitos baseados nas diferenças de gênero e/ou
reprodução orientação sexual. Cosmos, Espaço
e Tempo
(EF07C13) Comparar diferentes processos reprodutivos
em plantas, animais e microrganismos.
(EF07C14) Explicar a interferência de determinados Vida, Ambiente e Saúde
comportamentos animais e estruturas vegetais na
reprodução, utilizando informações baseadas
em evidências
(EF07C21) Identificar os principais sintomas, modos de
transmissão e tratamento de algumas DSTs.
(EF07C22) Coletar e interpretar informações sobre
a eficácia dos diferentes métodos contraceptivos,
relacionando-os com a prevenção das DSTs e da
gravidez precoce.

(EF07C01) Relacionar a constituição dos materiais por


substâncias em sistemas homogêneos e heterogêneos.
(EF07C02) Construir modelos para classificar misturas
em homogêneas ou heterogêneas.
(EF07C03) Planejar investigações sobre processos de
separação de misturas que podem ser utilizados na
Matéria, Energia e
solução de problemas ambientais.
suas Transformações
4. Regularidades (EF07C15) Inferir que características morfológicas são
na natureza e evidências de adaptações, comparando-as com hábitos
biodiversidade de vida em relação aos diferentes ambientes. Vida, Ambiente e Saúde
(EF07C16) Classificar a biodiversidade em diferentes
locais, utilizando informações que considerem as
relações entre características morfológicas e adaptativas
e as características dos ecossistemas e biomas.
(EF07C19) Aplicar conhecimentos científicos para
elaborar intervenções que visam monitorar e minimizar
impactos das ações antrópicas na biodiversidade.

77
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Foto: Adriana Caminitti - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME


Ciclo Autoral

8º ano

A ideia de interações é uma proposta possível para a integração dos


eixos temáticos no 8° ano. Interações entre os movimentos da Terra e as esta-
ções do ano, entre as propriedades da atmosfera e o clima, entre o clima e os
ecossistemas terrestres. Nessa perspectiva, a compreensão sobre os fatores en-
volvidos no clima e na previsão do tempo é uma boa oportunidade para cons-
truir diversos conceitos de Ciências Naturais (pressão, temperatura, radiação,
convecção). É possível articulá-los com eventos que estão próximos do nosso
cotidiano (como alterações do clima e previsão do tempo), eventos de uma
escala de tempo maior (como a história geológica da Terra) e com as interfe-
rências humanas envolvidas (EF08C03 do eixo temático Matéria, energia e suas
transformações, EF08C11 a EF08C14 do eixo temático Cosmos, espaço e tem-
po, EF08C15 e EF08C16 do eixo Vida, ambiente e saúde). Podemos explorar,

78
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
ainda, o papel do clima na disseminação de doenças e o papel da vacinação para o
controle de epidemias (objetivos EF08C20, EF08C21 e EF08C22 do eixo temático
Vida, ambiente e saúde).
Para incrementar a compreensão de fenômenos relacionados ao efeito es-
tufa, camada de ozônio e outros fenômenos biológicos, podemos formalizar o
conceito de transformação química como formação de novos materiais e subs-
tâncias (EF08C01 e EF08C02 do eixo temático Matéria, energia e suas transfor-
mações e EF08C13 do eixo temático Cosmos, espaço e tempo). Neste momento,
podemos também relacionar conceitos trabalhados anteriormente no tema clima,
como temperatura, calor e propagação de calor, para investigar o funcionamento
de alguns equipamentos e máquinas térmicas (objetivos EF08C04 a EF08C07 do
eixo temático Matéria, energia e suas transformações).
A percepção do mundo pelos seres vivos, inclusive dos aspectos relacio-
nados ao clima, está envolvida com os sistemas sensoriais. O trabalho com esses
sistemas envolve a compreensão tanto dos aspectos biológicos relacionados aos
organismos vivos e ao corpo humano, quanto dos aspectos físicos relacionados
com o comportamento de ondas e transformações associadas com a luz, cores,
imagens e sons (EF08C08, EF08C09 e EF08C10 do eixo temático Matéria, energia
e suas transformações; EF08C17, EF08C18, EF08C19 e EF08C22 do eixo temático
Vida, ambiente e saúde).

79
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Percurso Formativo - 8º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem e Eixos
Formativo Desenvolvimento Temáticos

(EF08C03) Desenvolver modelos que permitam


realizar previsões sobreas mudanças de estados
físicos da matéria, considerando variáveis de pressão
e temperatura.
(EF08C11) Relacionar a variação da incidência de
radiação solar e os movimentos da Terra aos
padrões de circulação atmosférica e oceânica que
determinam climas.
(EF08C12) Elaborar questões para investigar os
fatores que têm causado o aumento da temperatura
global no último século, relacionando-os a padrões de
variação climática da história geológica da Terra.
(EF08C13) Diferenciar efeito estufa e camada de
ozônio e reconhecer as causas e consequências de Matéria,
suas alterações. Energia e suas
1. Clima: estados Transformações
(EF08C14) Coletar informações para investigar as
físicos, ocorrência variáveis envolvidas em processos de previsão
de seres vivos do tempo.
Vida, Ambiente
no planeta, (EF08C15) Identificar e relacionar as influências dos e Saúde
mudanças fatores climáticos (temperaturas, regime de chuvas,
climáticas, luz e relevo) nos processos adaptativos.
epidemiologia Cosmos, Espaço
(EF08C16) Analisar e interpretar dados sobre
e Tempo
catástrofes naturais para avaliar o desenvolvimento de
tecnologias que minimizem seus impactos.
(EF08C20) Relacionar o funcionamento do sistema
imunológico humano com o modo de atuação
da vacina.
(EF08C21) Construir argumentos com base em
evidências sobre a importância da vacinação para a
saúde pública, considerando seu modo de atuação
nos organismos e seu papel na manutenção da saúde
individual e coletiva.
(EF08C22) Coletar e interpretar dados sobre
condições de saúde da comunidade, cidade ou
estado, por meio da análise e comparação de
indicadores de saúde e de resultados de
políticas públicas.

80
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF08C01) Compreender que as substâncias podem


sofrer transformação química.
(EF08C02) Identificar evidências de transformações
químicas e relacioná-las com fenômenos físicos e
biológicos (efeito estufa, chuva ácida, fotossíntese,
respiração celular, decomposição etc.).
(EF08C04) Relacionar a variação da energia cinética
de um corpo à transferência de energia no sistema.
Matéria,
(EF08C05) Aplicar o conhecimento das formas de Energia e suas
2. Transformações propagação do calor para justificar a utilização de Transformações
químicas, determinados materiais (condutores e isolantes) na
termodinâmica vida cotidiana e explicar o princípio de funcionamento
e máquinas de alguns equipamentos (garrafa térmica, coletor Cosmos, Espaço
solar etc.).
térmicas e Tempo
(EF08C06) Analisar o desenvolvimento, os usos e
impactos das máquinas térmicas na vida cotidiana e
na sociedade ao longo da história.
(EF08C07) Diferenciar temperatura, calor e sensação
térmica nas diferentes situações de equilíbrio
termodinâmico cotidianas.
(EF08C13) Diferenciar efeito estufa e camada de
ozônio e reconhecer as causas e consequências de
suas alterações.

(EF08C08) Planejar investigações sobre a formação


das cores que compõem a luz branca, relacionando a
cor de um objeto com a luz que o ilumina.
(EF08C09) Descrever modelos que relacionem a
amplitude e a energia de ondas.
(EF08C10) Desenvolver e usar modelos para
descrever os processos de reflexão, absorção ou
transmissão de ondas em diferentes meios.
(EF08C17) Construir explicações que relacionem Matéria,
estrutura e funcionamento dos órgãos sensoriais, Energia e suas
3. Sistemas comparando as formas de respostas a estímulos do Transformações
sensoriais e ambiente em diversos seres vivos.
sistema nervoso (EF08C18) Explicar as interações do organismo com
Vida, Ambiente
o ambiente, por meio da integração entre os órgãos
e Saúde
sensoriais e os sistemas nervoso e endócrino.
(EF08C19) Comparar o funcionamento do sistema
nervoso em diferentes situações (repouso, estresse,
afetado pelo uso de substâncias psicoativas etc.).
(EF08C22) Coletar e interpretar dados sobre
condições de saúde da comunidade, cidade ou
estado, por meio da análise e comparação de
indicadores de saúde e de resultados de
políticas públicas.

81
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Foto: Enzo Boffa - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME


Ciclo Autoral

9º ano

Um percurso formativo para o nono ano pode ser feito com a integração
entre os temas origens e transformações. Eles possibilitam o trabalho por meio
da construção e avaliação de diferentes modelos explicativos, aspecto impor-
tante envolvido na construção do conhecimento científico e que pode dar opor-
tunidades relevantes para a consolidação do Trabalho Colaborativo de Autoria
(TCA) no fechamento do Ciclo Autoral.
Conhecimentos relacionados com a eletricidade e matriz energética tra-
zem relações entre aspectos biológicos, físicos e sociais, possibilitando a ava-
liação de diferentes soluções para problemas atuais, a argumentação e o po-
sicionamento (EF09C01 a EF09C07 do eixo temático Matéria, energia e suas
transformações). A partir da elaboração de modelos sobre a constituição da
matéria, pode-se também discutir modelos explicativos sobre a origem do Uni-
verso, do Planeta Terra e da vida, considerando-se a relevância histórica e social

82
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
de diferentes explicações construídas ao longo do tempo, por diferentes culturas
e civilizações (EF09C13, EF09C14 e EF09C15 do eixo temático Cosmos, espaço e
tempo, EF09C17, EF09C18 e EF09C19 do eixo temático Vida, ambiente e saúde).
Compreensões sobre a origem da vida geram questões sobre os fatores que
permitiram a sobrevivência dos seres vivos no planeta sob a perspectiva evolucio-
nista (que, por sua vez, também envolve diferentes modelos explicativos sobre a
origem e manutenção dos seres vivos no planeta). A manutenção e a diversidade
da vida na Terra também podem ser explicadas pelos conhecimentos dos fósseis,
de genética e de hereditariedade, que trazem questionamentos sobre os riscos e be-
nefícios desse conhecimento na escolha de características desejáveis nos organis-
mos, seja na agricultura ou na medicina (EF09C20, EF09C21, EF09C22, EF09C23
e EF09C24 do eixo temático Vida, ambiente e saúde).
Modelos sobre a constituição da matéria participam também da elabora-
ção de conhecimentos sobre eletromagnetismo que resultaram, por sua vez, em
aplicações tecnológicas tanto na medicina, na utilização de instrumentos para
diagnóstico de doenças, quanto na área de comunicação humana (satélites, celu-
lares, etc.). Compreender essas aplicações se torna importante para a construção
de posicionamento crítico perante o uso de tecnologias atuais (EF09C01, EF09C08
a EF09C12 do eixo temático Matéria, energia e suas transformações e EF09C16 do
eixo temático Cosmos, espaço e tempo).

83
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Percurso Formativo - 9º ano


Percurso Objetivos de Aprendizagem e Eixos
Formativo Desenvolvimento Temáticos

(EF09C01) Elaborar explicações sobre a constituição


da matéria, considerando modelos construídos em
diferentes épocas.
(EF09C02) Planejar investigações sobre a conservação de
massa em reações químicas.
(EF09C03) Planejar investigações sobre circuitos elétricos
para compreender o funcionamento de equipamentos,
eletrodomésticos e sistemas de iluminação.
(EF09C04) Desenvolver modelos sobre as transformações
de energia envolvidas na produção de energia elétrica e
reconhecer a composição a matriz energética brasileira.
(EF09C05) Argumentar sobre o processo de escolha de
equipamentos elétricos residenciais com base no consumo
de energia, utilizando o raciocínio matemático.
Matéria,
(EF09C06) Coletar e interpretar informações sobre
Energia e suas
acidentes decorrentes da eletricidade e relacionar formas
Transformações
de prevenção para evitá-los.

1. Modelos sobre (EF09C07) Debater, com base em dados e informações,


constituição da sobre os impactos ambientais decorrentes da exploração Vida, Ambiente
dos recursos utilizados na produção de energia elétrica e Saúde
matéria, origem para estimar possíveis relações de custo-benefício.
do universo e
(EF09C13) Comparar explicações de diferentes épocas,
origem da vida Cosmos, Espaço
culturas e civilizações sobre a origem do Universo e da
e Tempo
Terra, valorizando a sua relevância histórica e cultural.
(EF09C14) Comparar a composição da Terra primitiva
(atmosfera e litosfera) com a composição atual do planeta,
de modo a elaborar explicações sobre as causas das
transformações sofridas.
(EF09C15) Construir argumentos baseados em evidências
para descrever o papel da gravidade no movimento entre
galáxias e entre os astros do sistema solar.
(EF09C17) Aplicar conhecimentos sobre efeito estufa e
camada de ozônio para construir explicações sobre a
origem da vida no planeta Terra.
(EF09C18) Conhecer explicações formuladas em diferentes
épocas, culturas e civilizações sobre a origem da vida na
Terra, valorizando sua relevância histórica e social.
(EF09C19) Produzir evidências para questionar a
validade da geração espontânea por meio da história
da ciência.

84
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(EF09C20) Utilizar dados e representações (sobre o registro


fóssil, por exemplo) para determinar escalas de tempo
envolvidas com a história da vida na Terra.
(EF09C21) Diferenciar características genéticas, hereditárias,
congênitas e adquiridas.

2. Diversidade e (EF09C22) Desenvolver e usar modelos que permitam


manutenção da descrever as diferenças entre reprodução assexuada e
sexuada, relacionando-as à variação genética. Vida, Ambiente
vida: evolução e e Saúde
hereditariedade (EF09C23) Construir explicações sobre a influência
de fatores ambientais e genéticos no crescimento dos
dos seres vivos
organismos e as características das populações, aplicando
ideias sobre seleção natural.
(EF09C24) Coletar e sintetizar informações sobre a
interferência da ação humana e da tecnologia na herança
de características desejáveis nos organismos, avaliando os
riscos e benefícios.

(EF09C16) Coletar e interpretar informações sobre as


implicações da exploração do espaço pelo ser humano.
(EF09C01) Elaborar explicações sobre a constituição da
matéria, considerando modelos construídos em
diferentes épocas.
Matéria,
(EF09C08) Compreender as interações entre magnetismo e Energia e suas
eletricidade. Transformações
3. Eletromagnetismo
(EF09C09) Elaborar perguntas sobre os fatores que afetam a
e exploração do
intensidade da força magnética.
espaço: informação Cosmos, Espaço
e comunicação (EF09C10) Coletar dados e produzir evidências sobre a e Tempo
existência de campos magnéticos.
(EF09C11) Aplicar conhecimentos sobre eletromagnetismo
para explicar o funcionamento de diversos equipamentos,
especialmente os que atuam na comunicação humana.
(EF09C12) Avaliar o avanço tecnológico na aplicação da
radiação eletromagnética no diagnóstico e no tratamento
de doenças.

85
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

O Ensino por
Investigação na
Construção de Percursos
Formativos na Prática de
Sala de Aula

Não basta olhar o currículo sob a perspectiva dos conteúdos conceituais e


temas integradores. Um outro desafio apresentado para que os objetivos de apren-
dizagem e desenvolvimento sejam atingidos é pensar no significado das habilidades
relacionadas com as práticas científicas e com as abordagens temáticas propostas
no documento. É importante não privilegiar somente um dos eixos da Alfabetiza-
ção Científica, como o que se refere aos conhecimentos conceituais, mas buscar
integrar conceitos e práticas científicos para construir visões de mundo e proble-
matizar as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. Nesse sentido,
os ODS propostos pela Agenda 2030 se articulam especialmente ao terceiro eixo
da Alfabetização Científica ao trazerem diretrizes humanizadoras, comprometidas
com o futuro, respeitadoras do passado, mas, sobretudo, mobilizadoras das von-
tades e valores dos jovens, e das finalidades da aprendizagem das ciências.
No currículo, as habilidades estão expressas nos objetivos de aprendizagem
e desenvolvimento, na articulação entre os verbos e os objetos de conhecimento.
Esses últimos se referem aos conteúdos conceituais de cada área das Ciências Na-
turais, enquanto os verbos representam as ações e operações que o sujeito precisa
mobilizar para resolver problemas, tomar posição, comunicar ideias. Se analisás-
semos os verbos presentes no currículo, perceberíamos que há uma diversidade
utilizado: reconhecer, comparar, conhecer, identificar, planejar, registrar, explicar,
usar, desenvolver, construir, interpretar, argumentar, descrever, entre outros. Cada
um deles se refere a habilidades cognitivas específicas que podem ser classifica-
das por seu grau de complexidade, por exemplo, identificar pode ser considerada
uma habilidade mais relacionada à memorização, já que envolve lembrar de algo,
reconhecer as mesmas características nele; nesse sentido, é uma habilidade mais
simples que planejar, que envolve além de memorizar as características de algo,

87
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

estabelecer relações entre variáveis e realizar previsões sobre o comportamento


dessas variáveis no tempo. A Taxonomia dos objetivos educacionais de Bloom tem
sido utilizada para classificar as habilidades em diferentes níveis de complexidade
(SCARPA; GERALDI, 2016).
No quadro a seguir está representada uma categorização de diferentes ha-
bilidades de acordo com seu grau de complexidade.

Quadro 4: Grau de complexidade de diferentes habilidades de acordo


com a taxonomia de objetivos educacionais revisada

Categorias de processos cognitivos Habilidades

Criar: relacionar elementos de forma a construir Gerar


um todo novo e coerente ou produzir algo Planificar
original. Produzir

Avaliar: fazer julgamentos baseados em critérios Checar


e padrões. Criticar

Analisar: isolar um fenômeno em suas partes Diferenciar


constituintes e detectar como as partes se Organizar
COMPLEXIDADE

relacionam entre si e com sua estrutura geral. Atribuir

Aplicar: executar ou usar um procedimento em Executar


uma determinada situação. Implementar

Interpretar
Exemplificar
Compreender: determinar o significado das Classificar
mensagens instrucionais, incluindo registros Sumarizar
orais e escritos, imagens, gráficos etc. Inferir
Comparar
Explicar

Lembrar: acessar conhecimento relevante da Reconhecer


memória de longo prazo. Recuperar

Fonte: KRATHWOHL (2002, p. 215, tradução nossa).

88
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Prestar atenção a esses verbos se torna relevante na medida em que um


bom planejamento de ensino considera contemplar habilidades de diferentes ní-
veis cognitivos ao longo do ano escolar. Não se trata de abandonar tarefas que
exijam a memorização, como identificar e reconhecer, mas de oferecer experiências
de aprendizagem em que os estudantes tenham a oportunidade de operar o co-
nhecimento, mobilizando habilidades de diferentes naturezas para tomar decisões.
Além disso, é importante destacar que o significado dos verbos pode mu-
dar de acordo com o uso e a intenção, que assumem em um determinado planeja-
mento de objetivos de aprendizagem e desenvolvimento, o que, por consequência,
poderá modificar sua classificação nas categorias dos processos cognitivos. Por
exemplo, elaborar uma explicação pode exigir que seja realizada uma análise dos
elementos de um fenômeno para, então, relacioná-los de maneira coerente com
a finalidade de servir como explicação para o fenômeno em questão. Nesse caso,
explicar pode ser uma tarefa mais complexa do que executar um procedimento e
pode ser classificada em níveis cognitivos mais complexos, como analisar ou criar.
Ter em mente que a classificação dos verbos em processos cognitivos depende do
uso e da natureza da atividade pedagógica proposta permite que o professor olhe
para a taxonomia dos objetivos educacionais de maneira mais flexível, adequando
o seu planejamento às suas demandas e necessidades, considerando as especifici-
dades de seu contexto de ensino e o que intenciona ensinar.
Os verbos propostos na redação dos objetivos de aprendizagem e desenvol-
vimento revelam mais do que habilidades gerais a serem desenvolvidas no planeja-
mento das atividades e sequências didáticas. No caso do currículo de Ciências Na-
turais, os verbos, em conjunto com os objetos de conhecimento, estão associados
com as Práticas Científicas e as Abordagens Temáticas, permitindo também que
conhecimentos sobre a ciência sejam construídos em sala de aula.
Por exemplo, o sexto objetivo do sétimo ano do Ensino Fundamental,
(EF07C06) Desenvolver e usar modelos sobre o sistema Sol, Terra e Lua para ex-
plicar padrões cíclicos e regularidades sobre os eclipses, as marés e as estações do
ano, articula o eixo temático Cosmos, espaço e tempo; a prática científica Ela-
boração de relações entre evidências, hipóteses e predições para construção de
modelos explicativos; a abordagem temática Elaboração e Sistematização de Expli-
cações, Modelos e Argumentos, contemplando a Alfabetização Científica em seus
dois primeiros eixos (Compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos
científicos e compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos
que circundam sua prática).

89
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Figura 3: Respresentação do objetivo de aprendizagem e desenvolvimento OAD


(EF07C06) a partir dos elementos presentes no disco dinâmico proposto pelo Currículo
da Cidade de Ciências Naturais

90
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Desenvolver é uma habilidade de nível cognitivo superior, que envolve a


criação, a autoria com base na inter-relação entre vários conhecimentos anteriores
construídos com vistas a resolver algum problema. Usar modelos para explicar
padrões envolve aplicar conhecimentos em outros contextos. Considerando o qua-
dro do grau de complexidade das habilidades, percebemos que elas são da ordem
do criar e do aplicar e, portanto, representam o desenvolvimento de raciocínio
complexo. Além disso, elaborar modelos e aplicá-los é uma importante prática re-
alizada na ciência, em que práticas conceituais, epistêmicas e sociais se articulam
para construir e legitimar o conhecimento que circula na sala de aula. Tomando
o desenvolvimento e o uso de modelos como ações realizadas pelos estudantes
e oportunizadas pelo professor, é possível construir concepções sobre a ciência
como um empreendimento em que conceitos são criados a partir do trabalho con-
junto e baseado em evidências.

Outro exemplo é o OAD do 9º ano (EF09C24): Coletar e sintetizar informa-


ções sobre a interferência da ação humana e da tecnologia na herança de caracte-
rísticas desejáveis nos organismos, avaliando os riscos e benefícios. Esse objetivo
articula o eixo temático Vida, ambiente e saúde; a prática científica Construção de
planos de ação que considerem a coerência entre hipótese e problema de investiga-
ção; as abordagens temáticas Práticas e Processos de Investigação e Relações entre
Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente, contemplando os três eixos da Alfa-
betização Científica (Compreensão básica de termos, conhecimentos e conceitos
científicos, Compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos
que circundam sua prática e o Entendimento das relações entre ciência, tecnolo-
gia, sociedade e ambiente). Ver figura 4.

Nesse caso, as ações de coletar e sintetizar estão a favor de uma tercei-


ra habilidade que é avaliar. Duas ações de nível cognitivo mais baixo (aplicar e
compreender) devem ser articuladas para que o estudante realize julgamentos que
permitam a reflexão e a tomada de decisão (processo cognitivo avaliar). Essa arti-
culação é extremamente relevante para que o terceiro eixo da Alfabetização Cien-
tífica seja contemplado, ou seja, com a intenção de o estudante ter oportunidade
de estabelecer relações entre o desenvolvimento do conhecimento na ciência e seus
impactos em outras esferas da sociedade.

91
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Figura 4: Respresentação do objetivo de aprendizagem e desenvolvimento OAD


(EF09C24) a partir dos elementos presentes no disco dinâmico proposto pelo Currículo
da Cidade de Ciências Naturais

No quarto ano do Ensino Fundamental, temos dois objetivos de aprendiza-


gem e desenvolvimento que explicitam a ação de propor: EF04C01 Propor procedi-
mentos para separar misturas e EF04C05 Propor modos de investigar a relação entre
a alimentação e a obtenção de energia. A partir do eixo temático Matéria, energia e

92
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

suas transformações, é enfatizada a prática científica Proposição de ações sistemati-


zadas para análise das influências em um fenômeno, juntamente com a abordagem
temática Práticas e processos investigativos, contemplando a Alfabetização Cientí-
fica em seus dois primeiros eixos (Compreensão básica de termos, conhecimentos e
conceitos científicos e compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e
políticos que circundam sua prática).

Figura 5: Respresentação do OAD (EF04C05) a partir dos elementos presentes no disco


dinâmico proposto pelo Currículo da Cidade de Ciências Naturais.

93
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Atividades de investigação científica são possibilidades criativas que propi-


ciam aos estudantes indicarem variadas e diferentes propostas de solução para um
fenômeno, ao mesmo tempo em que revelam uma característica da ciência, que é
ausência de uma fórmula única para a resolução de questões de investigação. O
importante é que haja coerência entre os procedimentos e modos de averiguação,
realizando formas de registro e análise da questão investigativa, o que permitirá o
trabalho com outras práticas científicas (medição, organização e comparação de
informações; representação e comunicação de informações e de ideias em diferen-
tes linguagens).
Mas como planejar atividades e sequências didáticas que permitam atingir
esse e outros objetivos, além de possibilitar que essas experiências sejam vividas pe-
los estudantes? As fases do ciclo investigativo, descritas na primeira parte deste do-
cumento, podem ajudar a pensar na organização de atividades que estejam relacio-
nadas entre si em prol da resolução de um problema. A esse conjunto de atividades
que possibilitam a coleta ou construção de dados e informações relevantes para a
elaboração de respostas a uma questão de investigação temos chamado de “sequên-
cia didática” investigativa. Uma sequência didática (SD) pode ser caracterizada por
um “conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização
de certos objetivos educacionais, que têm um princípio e um fim conhecidos tanto
pelos professores como pelos estudantes” (ZABALA, 1998, p.18). A SD deve ter uma
coerência entre objetivos, estratégias didáticas e avaliação que devem ser organiza-
dos de acordo com o ciclo investigativo pode auxiliar a planejar essa articulação.
A seguir, alguns exemplos serão discutidos para concretizar o ensino por
investigação como forma de atingir os objetivos de aprendizagem e desenvolvi-
mento e a Alfabetização Científica.

Exemplo 1 – 7º ano Ensino Fundamental1

De acordo com o quadro de percurso formativo sugerido para o 7º ano do


Ensino Fundamental, podemos pensar em construir a noção de tempo baseada nos
ciclos astronômicos, para usar esse conceito na compreensão de padrões e regula-
ridades na natureza em diversas escalas e dimensões. O objetivo de aprendizagem e
desenvolvimento (EF07C06) Desenvolver e usar modelos sobre o sistema Sol, Terra
e Lua para explicar padrões cíclicos e regularidades sobre os eclipses, as marés e as
estações do ano pode ser relacionado a outros OAD desse eixo temático para dis-
cutir como o tempo e suas medidas se relacionam a eventos astronômicos, como as
estações do ano. Em uma primeira sequência didática do ano, é possível trabalhar,
de maneira integrada, os seguintes OAD, do eixo temático Cosmos, espaço e tempo:

1 Esse exemplo é baseado na Unidade 1 do Caderno da Cidade - Ciências Naturais 7º ano material dos estudantes

94
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

EF07C05
Utilizar dados e representações para determinar propriedades de escalas dos corpos
no sistema solar.

5
EF07C06
Desenvolver e usar modelos sobre o Sistema Sol, Terra e Lua para explicar padrões
cíclicos e regularidades sobre os eclipses, as marés e as estações do ano.

EF07C07
Conhecer explicações formuladas em diferentes épocas, culturas e civiliza-
ções sobre regularidades do Sistema Sol, Terra e Lua, valorizando sua rele-
vância histórica e social.

EF07C08
Relacionar os movimentos do Sistema Sol, Terra e Lua com as medidas de
tempo no planeta Terra.

Medida de tempo pode ser o conceito que arti-


cula esses objetivos na sequência didática. Assim, uma
possível pergunta de investigação para organizar todas Matriz de Saberes
as atividades da SD seria “Como medir o tempo sem re- O repertório cultural dos estudantes
lógio?” Ao se propor esse desafio aos estudantes, pode- é ampliado quando o professor traz
mos criar caminhos para atingir os objetivos escolhidos. conhecimentos de diferentes povos e
regiões para falar sobre determinados
A proposta, ou criação, da questão de investi- temas.
gação para a sala de aula, não é necessariamente uma Além disso, tais conhecimentos trazem
tarefa simples, em que o professor apenas a enuncia de a necessidade da abertura à diversida-
maneira expositiva e, então, parte-se para a sua reso- de, que evidencia o respeito e a valori-
zação da diversidade.
lução. Muitas vezes, é importante mobilizar a atenção
dos estudantes para a relevância científica e/ou social
daquela questão, ou dar a oportunidade para que eles
próprios elaborem questões. Esse é o papel da fase de orientação do ciclo inves-
tigativo, em que se procuram atividades para envolver os estudantes no tema e
na problemática abordada. No nosso exemplo, a questão de investigação “Como
medir o tempo sem relógio?” não precisa ser enunciada imediatamente, na pri-
meira aula da SD, mas pode-se apresentar conhecimentos de outros povos, como
os Tupinambás, sobre a influência da Lua nas marés, por exemplo, e na sequência
solicitar que os estudantes busquem informações sobre como as pessoas de sua
convivência compreendem a influência da Lua em fenômenos da vida cotidiana

95
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

(como calendário, agricultura, pesca, parto, entre outros). Com isso, conhecimen-
tos prévios são trazidos para a sala de aula, possibilitando a discussão sobre essas
relações (por exemplo, se, em Lua Cheia, há mais parto normal, concepção que
pode aparecer em entrevistas realizadas pelos estudantes e pode ser testada por
meio da análise de dados coletados e fornecidos a eles). Nesse momento, vale
refletir sobre o que os dados coletados das entrevistas e fornecidos pelo professor
significam, quais são suas limitações, e mostrar o que outras pesquisas concluíram
sobre o assunto. Aqui, o importante não é chegar a respostas afirmativas ou nega-
tivas com relação à influência do ciclo lunar nos partos, mas trazer a problemática
de que os astros, em especial a Lua e o Sol, estão ligados profundamente com o
tempo, na história da humanidade, oferecendo sentido para a apresentação da
pergunta de investigação da sequência didática.
Analisando a descrição acima sobre a fase de orientação do ciclo investiga-
tivo, percebemos que ela pode envolver diversas estratégias didáticas e atividades,
que é importante para dar o contexto e envolver os estudantes na pergunta de
investigação. Além disso, o fato de as atividades ocorrerem em grupo, em que há
a possibilidade de interação entre os estudantes e entre eles e o professor, tam-
bém torna a fase de comunicação presente. A fase de reflexão é explicitada na
medida em que se inicia a avaliação sobre o processo de investigação. Além das
fases do ciclo investigativo, podemos imaginar que várias abordagens temáticas
podem ser exercitadas com as atividades propostas, contemplando os diversos
eixos da Alfabetização Científica: a contextualização social, cultural e histórica é
abordada quando se relaciona conhecimento cotidiano e de outras culturas; prá-
ticas e processos investigativos se manifestam na consideração dos conhecimentos
prévios; linguagem, representação e comunicação estão presentes ao se trabalhar
com leitura de texto, leitura e construção de tabela (para se registrar os resultados
de entrevistas, por exemplo), leitura de calendários e elaboração e sistematização
de explicações, modelos e argumentos, ao terem a oportunidade de refletir sobre
o processo de investigação científica.
Apresentada a questão de investigação, temos a fase de conceitualização
do ciclo investigativo, que envolve tanto o conceito de medição do tempo quanto
o conceito de procedimento de investigação, materializado pela pergunta “como”.
Afinal, para entender o “como”, o estudante terá que descrever outras formas de
medir o tempo (sem o relógio) baseado nos dados e informações discutidos ao
longo da sequência didática. Para complementar essa fase, pode-se solicitar que os
estudantes, em grupos, primeiramente inventem uma forma de medir o tempo sem
relógio de maneira livre. Aqui, há a oportunidade de se discutir formas de registro,
a quantidade de medidas e as unidades de medida escolhidas pelos diferentes gru-
pos. Essa primeira atividade pode servir para trazer as hipóteses e conhecimentos
prévios dos estudantes e trabalhar também as abordagens temáticas, linguagem,
representação e comunicação, além de Práticas e processos investigativos.
Para responder à questão, adentra-se na fase de investigação do ciclo in-
vestigativo, com a proposição de diversas atividades que terão o papel de fornecer
dados e evidências para a elaboração das respostas possíveis. Para que esses ele-
mentos se articulem com os conteúdos explicitados nos objetivos de aprendizagem

96
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
Foto: Daniel Cunha - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

e desenvolvimento – relações entre o sistema Sol, Terra e Lua e estações do ano


e eclipses –, essas atividades deverão tratar de maneira específica esses temas e
conteúdos. Assim, uma atividade pode relacionar observatórios construídos por
outras civilizações (como a civilização de Chanquillo no Peru, no século IV a.C.)
com o movimento aparente do Sol ao longo do ano. Outra atividade pode focar na
inclinação da Terra em relação ao seu eixo de translação como fator fundamental
para a ocorrência das estações do ano, ampliando a compreensão desses fenôme-
nos, considerando agora a escala astronômica. Ainda, outras atividades sobre os
eclipses e as marés podem ser propostas.
Nessas atividades, é possível utilizar diferentes estratégias, como leitura de
imagens, esquemas e gráficos de diferentes naturezas, registro de informações de
diversas formas, análise de dados para responder a pequenas questões de inves-
tigação, leitura de textos considerando a história de eventos e civilizações, ativi-
dades práticas. Tudo isso permitirá que os estudantes realizem ações de análise e
interpretação sobre os dados e informações, construindo e mobilizando conceitos
e modelos explicativos sobre os fenômenos, como previsto nos objetivos de apren-
dizagem e desenvolvimento OAD (EF07C05), por exemplo, que prevê que o estu-
dante utilize dados e representações para determinar propriedades de escalas dos
corpos no sistema solar. Assim, ao se considerar, nas atividades propostas, tanto a
escala terrestre do movimento do Sol quanto a escala astronômica do movimento

97
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

de translação e o eixo de inclinação da Terra permite-se que o estudante use esses


dados e representações para construir conhecimentos sobre as estações do ano,
previsto no objetivo (EF07C06) Desenvolver e usar modelos sobre o Sistema Sol,
Terra e Lua para explicar padrões cíclicos e regularidades sobre os eclipses, as ma-
rés e as estações do ano.
Ao longo da sequência didática, quando são reconhecidas as contrubui-
ções dos povos Tupinambás e Chanquillo, representantes de diferentes civilizações
e períodos históricos, é atingido o OAD (EF07C07) Conhecer explicações formu-
ladas em diferentes épocas, culturas e civilizações sobre regularidades do Sistema
Sol, Terra e Lua, valorizando sua relevância histórica e social.
Pode-se propor, ainda, uma última atividade com a função de sistemati-
zar o conhecimento construído ao longo das atividades anteriores e responder à
questão de investigação, o que configura a fase de conclusão do ciclo investigativo.
Para isso, espera-se que os estudantes utilizem os dados e informações discutidos
no decorrer das atividades anteriores, desenvolvendo a capacidade de construir
explicações e argumentos (abordagens temáticas Linguagem, representação e co-
municação e elaboração e sistematização de explicações, modelos e argumentos),
atingindo o objetivo (EF07C08) Relacionar os movimentos do Sistema Sol, Terra
e Lua com as medidas de tempo no planeta Terra. Esse objetivo está intimamen-
te relacionado à prática científica prevista para o Ciclo Autoral: elaboração de
relações entre evidências, hipóteses e predições para construção de modelos ex-
plicativos. Durante todo o percurso, os estudantes tiveram oportunidades de agir
sobre dados para elaborar explicações tanto para as pequenas etapas de cada
atividade, quanto para responder à questão de investigação que orienta toda
a sequência didática.
Como já apontado neste documento, a interação nos pequenos grupos
e a entre os grupos são extremamente importantes no processo de construção
de conhecimento, de modo a propiciar que as ações e habilidades sejam realiza-
das prioritariamente pelos estudantes. Isso permite não somente a comunicação
entre os sujeitos (fase de comunicação), como também que sejam realizadas
avaliações das falas dos colegas e das suas próprias, a reconfiguração e refor-
mulação de seu posicionamento e legitimação das ideias que circulam na sala de
aula (fase de reflexão).
Todas as ações realizadas pelos estudantes ao longo das atividades pro-
postas poderão ser consideradas como itens de avaliação, não só elencando os
conteúdos conceituais trabalhados, mas verificando se as habilidades foram de-
senvolvidas. Assim, na última atividade, por exemplo, é importante verificar se o
estudante utilizou dados e informações como suporte para suas explicações e não
somente o conteúdo delas. Com isso, o professor consegue avaliar se o objetivo
traçado foi atingido em diversos momentos da sequência didática.

98
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Exemplo 2 – 4º ano Ensino Fundamental2

Considerando o primeiro tema proposto no percurso formativo para 4º


ano do Ensino Fundamental Relações entre seres vivos - os seguintes objetivos do
eixo temático Vida, ambiente e saúde pode ser trabalhos de maneira integrada em
uma primeira sequência didática:

EF04C16
Analisar e construir cadeias alimentares por meio de diferentes registros, verificando a
posição do homem e a importância do ambiente para o seu equilíbrio.

EF04C17
Formular hipóteses e explicações sobre as relações entre os seres vivos em diferen-
tes ambientes.

EF04C18
Reconhecer fungos e bactérias como seres microscópicos e sua importância no contex-
to ambiental como decompositores.

Para atingir esses objetivos, a sequência didática poderia ser planejada com
base em um problema real, ocorrido no início de 2017, em um bairro do municí-
pio de Campinas, no qual muitas serpentes foram encontradas nas ruas e casas,
causando preocupação na população. As atividades da sequência didática podem
ser elaboradas de modo a oferecer elementos para que o estudante construa expli-
cações sobre o fenômeno e proponha soluções para o problema.
Uma primeira atividade, com o objetivo de levantar e registrar as ideias ini-
ciais dos estudantes, seria apresentar o problema, indicando o contexto de manei-
ra bem geral e as espécies encontradas na região afetada. Poderia ser perguntado
aos estudantes o motivo pelo qual isso ocorreu e o que os moradores deveriam
fazer com as serpentes encontradas. Essa primeira atividade constitui as fases de
orientação e de conceitualização do ciclo investigativo.
Para construir os conceitos básicos de Ecologia relacionados ao tema (ca-
deia alimentar, herbívoros, carnívoros, onívoros, produtores), os conceitos relacio-
nados ao processo de produção de conhecimento científico (observações e hipóte-
ses, representação na forma de esquemas) e ainda as noções de escala, a segunda
atividade da SD pode usar o exemplo de dinossauros, tema de grande interesse das

2 Exemplo baseado na Unidade 1 do Caderno da Cidade - Ciências Naturais 4º ano, elaborada por Rodrigo Venturoso Mendes da
Silveira, com coordenação de Maíra Batistoni e Silva e Daniela Lopes Scarpa.

99
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Foto: Paula Letícia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME


crianças dessa faixa etária. A partir de alguns pequenos textos descritivos de carac-
terísticas de determinadas espécies de dinossauros, é possivel explorar a diferença
entre a observação que é realizada pelos cientistas e informações imaginadas – hipó-
teses – por eles. Para formular hipóteses, como intencionado pelo objetivo EF04C17,
é necessário que o estudante saiba o que é uma hipótese, e isso pode ser construído
na atividade por exemplos concretos e não somente pela exposição da definição
de hipótese aos estudantes. Nesse sentido, aspectos do processo de construção do
conhecimento científico são passíveis de análise em sala de aula, contemplando as
abordagens temáticas Práticas e processos investigativos e Elaboração e sistemati-
zação de explicações, modelos e argumentos, além do primeiro e segundo eixos da
Alfabetização Científica.

100
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Ao mesmo tempo, os textos sobre os dinossauros podem oferecer infor-


mações sobre o tipo de alimento de cada espécie, possibilitando a sua categori-
zação em herbívoros, carnívoros e onívoros, e ainda a representação das relações
entre esses seres vivos no esquema típico da cadeia alimentar. A comparação en-
tre os tamanhos dos dinossauros e seres humanos oferece maneiras de construir
noções de escala. Assim, conceitos científicos importantes são desenvolvidos
(contemplando o primeiro eixo da AC), além de aspectos relevantes de registro
e representação na ciência, que estão previstos na abordagem temática Lingua-
gem, representação e comunicação.
Em uma próxima atividade, outros exemplos de cadeia alimentar podem
ser apresentados, com o objetivo de aprofundar e complexificar esse conceito.
Por exemplo, para tratar do número de indivíduos de cada nível trófico; para
estabelecer a relação entre eles sob o ponto de vista da obtenção do alimen-
to e da dinâmica de populações. Além disso, ao considerar a cadeia alimentar
composta por algas marinhas, as quais são fonte de alimento para ouriços-do-
-mar, que, por sua vez, servem de alimento para lontras-do-mar, poderiam ser
apresentados dados que indicassem a quantidade de algas marinhas e de ouri-
ços-do-mar em praias com presença e com ausência das lontras-do-mar. Com
isso, os estudantes seriam capazes de estabelecer a influência da população de
lontras-do-mar nas populações de algas e de ouriços. Outras atividades, como
leitura de texto, pega-pega da cadeia alimentar (em que cada grupo de estudan-
tes representa uma população, podem ajudar a usar os conceitos tratados nas
atividades anteriores em situações diferentes, contribuindo para que o estudante
aprenda e exercite o uso desses conceitos. Ademais, o jogo ainda pode trabalhar
a representação do número de indivíduos em uma população
ao longo do tempo, utilizando tabelas e gráficos (abordagem
temática de linguagem, representação e comunicação) e a im- Em atividades desta te-
portância de cada população na cadeia alimentar, mesmo da- mática, os ODS encontram
rico espaço para os debates
queles animais considerados predadores perigosos e vorazes, o que extrapolam a formação
que pode contribuir para que alguns mitos existentes na nossa de habilidades cognitivas para
sociedade, sobre alguns seres vivos, sejam problematizados. fazerem os estudantes mer-
gulharem em problemáticas
Antes de responder à questão de investigação, o papel sociais, econômicas e inter-
dos microrganismos como decompositores poderia ser inse- disciplinares. Temas desta
natureza, além de tudo, facili-
rido na cadeia alimentar ao se investigar a transformação do tam a compreensão do que é
esgoto, por exemplo, em adubo para certos tipos de plantas educação integral quando são
com outros estudos de caso. Dessa forma, o objetivo EF04C18 trabalhados por várias áreas,
seria trabalhado, ampliando-se a visão sobre o papel dos mi- debatendo-se questões éticas,
corporais, artísticas ou ecoló-
crorganismos no ambiente, por meio da compreensão de sua gicas envolvidas.
função decompositora nas relações entre os seres vivos. O pro-
cesso de decomposição poderia ser trabalhado por meio de
atividade prática, em que pedaços de frutas são submetidos a
dois tratamentos – sem cobertura de solo e cobertas com ele – para se discutir
a transformação do material orgânico pelos microrganismos presentes no solo.

101
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

As abordagens temáticas Linguagens, representação e comunicação, Processos e


práticas investigativos e Elaboração e sistematização de explicações, modelos e
argumentos estão presentes na atividade.
Todos os conceitos desenvolvidos ao longo das atividades seriam retoma-
dos e mobilizados para a construção da explicação do misterioso caso do aumento
da população de serpentes, problema de investigação desta sequência didática.
Assim, as atividades anteriores constituiriam a fase de investigação do ciclo inves-
tigativo, em que os dados e informações fornecidos e interpretados serviram para a
construção dos conceitos e modelos utilizados na resposta ao problema de investi-
gação proposto no início da SD. A última atividade, portanto, representaria a fase
de conclusão do ciclo investigação, em que os estudantes podem ser estimulados a
revisitar suas primeiras respostas para a pergunta e agora as reformular com base
em tudo o que foi discutido e aprendido. Novas informações poderiam ser acres-
centadas, de forma que os estudantes pudessem também apresentar soluções para
o problema encontrado, que está relacionado com ações humanas (o lixo serve de
alimento para os ratos que atraem as serpentes), tratando de equilíbrios e desequi-
líbrios e do papel do ser humano nisso (EF04C16).
Nessa sequência de atividades, é possível visualizar o forte investimento nas
práticas científicas Tratamento da informação, quando os estudantes têm a opor-
tunidade de organizar e comparar informações de diferentes naturezas, e Constru-
ção de explicação, quando há a possibilidade de os estudantes representarem e
comunicarem informações e ideias em diferentes linguagens.
A fase de reflexão do ciclo investigativo está presente em toda a sequência
didática, tanto pelo fato de as propostas apresentarem momentos em grupos e in-
dividuais, quanto pela avaliação do processo acontecer de maneira explícita, como
forma de regular o aprendizado ao permitir que os estudantes encontrem várias
oportunidades para a construção e uso dos conceitos e explicações.

Exemplo 3 – 2º ano Ensino Fundamental3

Considerando os percursos formativos propostos para os dois primeiros


anos do Ciclo de Alfabetização, desde o 1º ano, os estudantes têm a oportunidade
de compreender a importância da água para os seres vivos, reconhecendo a sua
presença em diferentes locais (o que remete aos diferentes estados físicos em que
a água pode ser encontrada). Em uma primeira sequência didática do 2º ano, a
proposta é aprofundar os estudos sobre as mudanças de estado físico da água,
considerando o papel das diferenças de temperatura nesse processo. Assim, os

3 Esse exemplo é baseado na Unidade 1 do Caderno da Cidade - Ciências Naturais - 2º ano, elaborada por Felipe Bandoni de Olivei-
ra, com coordenação de Maíra Batistoni e Silva e Daniela Lopes Scarpa.

102
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
Foto: Jovino Soares - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

seguintes objetivos do eixo temático Matéria, energia e suas transformações pode-


riam ser trabalhados de maneira integrada:

EF02C02
Planejar a observação de transformações que materiais podem sofrer, distinguindo
mudanças reversíveis e irreversíveis.

EF02C03
Comparar as mudanças sofridas por materiais em diferentes temperaturas.

103
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Para atingir esses objetivos, a sequência didática poderia ser planejada com
base em uma questão de investigação bastante relacionada ao cotidiano dos estu-
dantes: de onde vêm as gotas de água que vemos por aí? Em garrafas, no espelho
do banheiro, no vidro da janela etc.? As atividades da sequência didática podem ser
elaboradas de modo a oferecer elementos para que o estudante construa explica-
ções sobre o fenômeno. Imagens de situações que revelem esse fenômeno podem ser
utilizadas para motivar e contextualizar a questão de investigação, caracterizando a
fase de orientação do ciclo investigativo. A apresentação da questão configura a fase
de conceitualização e envolve o estabelecimento do recorte com que o tema será
tratado. Ao enunciar a questão na forma “de onde vem a água?” significa que se
intenciona desenvolver, com o estudante, o caminho e as transformações envolvidas
com a água para ela chegar a formar gotas em superfícies.
Essas duas fases também podem ser trabalhadas por meio de uma ativida-
de de registro a partir da observação detalhada de uma situação na qual o pro-
fessor solicita que os estudantes desenhem uma garrafa de plástico cheia de água
(que ficou por pelo menos meia hora no congelador); primeiro, logo após retirá-la
do congelador e, em seguida, dez minutos depois. Além de contextualizar, apresen-
tar a pergunta de investigação e trazer as concepções prévias dos estudantes, essa
atividade possibilita que algumas práticas científicas sejam desenvolvidas, como
a observação detalhada, o registro na forma de desenho e a comparação de um
fenômeno em duas situações diferentes (abordagens temáticas Linguagem, repre-
sentação e comunicação e Práticas e processos de investigação).
Também pode ser estimulado que os estudantes mostrem e expliquem os
seus desenhos para os colegas, vejam e ouçam as explicações deles. Com isso, a
proposta é que as ideias circulem com espontaneidade em sala de aula e os estu-
dantes tenham a oportunidade de refletir sobre diferentes maneiras de se registrar
o mesmo fenômeno, sobre as formas de organização do desenho no espaço, sobre
a clareza e coerência das explicações, sobre a importância do detalhamento dos
relatos. Caracteriza-se assim a fase de reflexão do ciclo investigativo e da aborda-
gem temática Práticas e processos investigativos (especialmente o item e: Analisar
e comparar diferentes formas de resolução de um mesmo problema, reconhecendo
as diferentes estratégias e hipóteses que foram propostas).
As próximas atividades da SD, caracterizando a fase de investigação do ci-
clo investigativo, fornecerão diferentes tipos de informações para que os conceitos
de vapor de água e vaporização sejam utilizados pelos estudantes para associar a
ideia de vapor à de calor. Assim, podem ser analisadas situações práticas (como
o aquecimento da água em uma panela de pressão), pequenos textos ou imagens
descrevendo o que acontece com uma poça de água, com a louça molhada na pia
e com a roupa molhada no varal depois de um tempo, com o espelho do banheiro
após um banho quente etc. A interpretação dessas situações permitirá que os con-
ceitos sejam construídos na interação em sala de aula para explicar de onde vêm
as gotas de água que aparecem em superfícies. Essas investigações evidenciam, na

104
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

sala de aula, as abordagens temáticas Linguagem, representação e comunicação,


Práticas e processos investigativos e Elaboração e sistematização de explicações,
modelos e argumentos. As práticas científicas para o Ciclo de Alfabetização tam-
bém se fazem presentes (Identificação e classificação de informações e Construção
de relações com base em observações e hipóteses).
A prática científica relativa ao Plano de Trabalho (Transformação de curio-
sidades em ações de investigação) pode se concretizar em uma nova atividade,
em que é trabalhada a transformação da água líquida em sólida, por meio da
produção de geladinho ou sorvete “chup-chup”. Tanto o processo de vaporização
quanto o de fusão podem ser investigados para outros materiais e generalizados
para outras situações, como o derretimento da parafina de uma vela. Dessa forma,
o objetivo é que o estudante estabeleça a relação entre “esquentar” e “esfriar” e as
mudanças de estado físico da água ou de outros materiais. Se o professor achar
pertinente para o ano escolar, o ciclo da água pode ser desenvolvido por meio
de recursos como interpretação de música, esquemas e imagens (abordagem te-
mática Linguagem, representação e comunicação), complexificando os conceitos
trabalhados e ampliando a escala dos eventos estudados. Essa é uma boa oportu-
nidade para que os estudantes relacionem as diferentes mudanças de estado físico
da água com sua presença em diferentes locais (abordagem temática Elaboração
e sistematização de explicações, modelos e argumentos).
Finalmente, como última atividade, os estudantes têm a oportunidade de
retomar as questões respondidas no início da SD e refletir se mudariam suas res-
postas, acrescentariam informações, detalhariam seus desenhos. Com isso, espe-
ra-se que eles utilizem os conhecimentos desenvolvidos ao longo das atividades,
incrementem suas explicações e registros, fechando as fases de conclusão e de
reflexão do ciclo investigativo, e atinjam os objetivos propostos.
O professor pode considerar como avaliação todo o processo desenvolvi-
do pelos estudantes ao longo da sequência didática. Analisar de que maneira o
estudante ampliou suas ideias sobre a questão de investigação, comparar quais
foram os elementos elencados nas primeiras e nas últimas respostas o que pode
fornecer indícios de como o estudante começou a operar com os diferentes con-
ceitos trabalhados.

105
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

O Ensino de Ciências
como Cultura para Todos

Ao longo das últimas décadas, foi possível observar mudanças educacio-


nais significativas, uma ampliação das discussões e, consequentemente, do conhe-
cimento no que se refere à educação especial no Brasil. Essas mudanças foram de-
correntes do percurso histórico e do desenvolvimento cultural do país e do mundo.
Assim, as políticas públicas existentes no Brasil estão em consonância com
as declarações internacionais, posto que, tanto a Lei de Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional nº 9.394, de 1996, quanto a Lei nº 13.146, de 2015, que instituiu
a Lei Brasileira da Pessoa com Deficiência, reiteram que assegurar e promover as
condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da
pessoa com deficiência visa à sua inclusão social e cidadã (BRASIL, 2015).
Para orientar o trabalho realizado nas Unidades Educacionais, considera-
mos o conceito de “deficiência” trazido pela Convenção Internacional dos Direi-
tos das Pessoas com Deficiência, promulgada através do Decreto Presidencial nº
6.949, de 25 de agosto de 2009 (e assim, com status de emenda constitucional),
em seu preâmbulo:

Os Estados Partes da presente Convenção [...] Reconhecendo que a


deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência resulta da
interação entre pessoas com deficiência e as barreiras devidas às atitu-
des e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas
pessoas na sociedade em igualdade de oportunidades com as demais
pessoas, [...]. (BRASIL, 2009).

Nesse sentido, os serviços de educação realizam avaliação pedagógica visan-


do à identificação de barreiras4 que podem impedir determinado educando com
deficiência de participar plenamente das atividades escolares, bem como em estra-
tégias e recursos para removê-las (tarefa essencial da Educação Especial em uma
perspectiva Inclusiva), considerando o meio escolar onde estas barreiras podem ser
produzidas. Por isso, uma avaliação em um ambiente “clínico” não contempla os
mesmos aspectos de uma avaliação pedagógica em ambiente “educacional”, pois a
primeira centra-se exclusivamente no sujeito e em sua aparente “incapacidade”, en-
quanto a segunda busca essencialmente as deficiências do “meio” e como superá-las

4 Conforme o disposto no Decreto nº 6949/11, consideram-se barreiras, dentre outras, quaisquer entraves, obstáculos, atitudes ou
comportamentos que limitem ou impeçam o exercício dos direitos dos educandos e educandas à participação educacional, gozo,
fruição, acessibilidade, liberdade de movimento e expressão, comunicação, acesso à informação, compreensão e circulação.

107
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

de acordo com as singularidades de cada sujeito e considera o potencial do educan-


do para aprender e se desenvolver com o máximo de autonomia possível.
O ensino de ciências apresenta desafios que, segundo Delizoicov et
al.(2002), estão relacionados, especialmente, às transformações da educação, dos
seus saberes estabelecidos e disseminados que dão sinais inequívocos de esgota-
mento e, portanto, se conectam com a superação do senso comum pedagógico,
da transmissão mecânica de informações e da ideia de uma ciência acabada, in-
questionável e morta.
Reconhecer a ciência como cultura e incorporá-la à prática docente é ga-
rantir que a ciência seja uma formação acessível e para toda vida. Ela é o resultado
do desenvolvimento humano ao longo da história e, por isso, não deve estar atrela-
da somente ao livro didático como única referência em sala de aula. Nesse sentido,
ampliar os espaços educativos por meio de experiências planejadas e articuladas,
aproximar a pesquisa acadêmica sobre ensino de ciência com as atividades em sala
de aula favorecem, assim, os processos de aprendizagem mais significativos para
todos. Os apontamentos realizados por Delizoicov et al. (2002) sobre o ensino de
ciências também estão relacionados aos da educação inclusiva, pois ambos esbo-
çam a situação educacional atual e as necessidades da sociedade contemporânea
que é caracterizada pela conectividade e complexidade.
Diante desses desafios, a escola e seus profissionais devem adequar seu tra-
balho às necessidades dos estudantes e não o inverso: sejam eles com ou sem defi-
ciência, sob a perspectiva de uma educação inclusiva que corrobore com o acesso à
ciência e à tecnologia, pois seus conhecimentos podem beneficiar a sociedade com
a melhoria da qualidade de vida, com a promoção de um cuidado verdadeiro do
meio ambiente e dos recursos naturais e, ainda, reduzir os desequilíbrios econômi-
cos e sociais (ONU, 1999).
Essa visão é proposta na Declaração sobre Ciência e a Utilização do Co-
nhecimento Científico (ONU, 1999) que está pautada em uma cultura de paz, na
harmonia entre a ciência, a tecnologia e a sociedade, na democratização da ciência
e diminuição das distâncias de desenvolvimento entre os países, reforçando o di-
reito de acesso ao conhecimento científico que é essencial ao desenvolvimento hu-
mano, pois, segundo o documento, a educação sem discriminação é um requisito
para a democracia, e os governos devem priorizar a melhoria da educação científi-
ca, dedicando-se à erradicação dos preconceitos, promovendo o desenvolvimento
profissional e a atualização de professores e educadores comprometidos com os
sistemas educacionais, novos currículos e metodologias de ensino que levem em
conta a diversidade de gênero e a diversidade cultural, incentivando os estudantes
para o aprendizado da ciência ao longo de toda a vida.
Assim, o ensino de ciências, na perspectiva de uma educação inclusiva, po-
derá corroborar com o desenvolvimento e aprendizagem dos estudantes para além

108
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
Foto: Paula Let[icia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

dos muros da escola, contribuindo para a diminuição das distâncias sociais e a


construção de uma sociedade mais justa.

Ensinar Ciências para todos

Em uma perspectiva de educação inclusiva, os objetivos de aprendizagem e


desenvolvimento propostos no currículo de Ciências Naturais precisam ser garan-
tidos a todos os estudantes da Rede Municipal de Ensino.
A ideia é apresentar algumas possibilidades de ações com todos os estu-
dantes, independente de necessidades específicas que eles apresentem. As propos-
tas sugeridas foram elaboradas a partir da formação realizada com professores de
Ensino Fundamental I e professores de Ensino Fundamental II e Médio de Ciências,
na Diretoria Regional de Educação Pirituba/Jaraguá.
O curso “Alfabetização Científica, tecnologia e inclusão no ensino de
Ciências” que foi promovido pela Divisão Pedagógica (DIPED) da Diretoria
Regional de Educação Pirituba/Jaraguá (DRE PJ), contou com atividades base-
adas em pesquisas e discussões, a respeito do tema, com diferentes professores
e outros profissionais.

109
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A construção foi fundamentada na perspectiva, da filosofia humanista, na


qual Moreira (2017, p.15) destaca que:
A filosofia humanista vê o ser que aprende, primordialmente, como
pessoa. [...] O aprendiz é visto como um todo – sentimentos, pen-
samentos e ações – não só o intelecto. Neste enfoque, a aprendiza-
gem não se limita a um aumento de conhecimento. Ela é penetrante,
visceral, e influi nas escolhas e atitudes do indivíduo. Pensamentos,
sentimentos e ações estão integradas, para o bem ou para o mal. Não
tem sentido falar do comportamento ou da cognição sem considerar o
domínio afetivo, os sentimentos do aprendiz. Ele é pessoa e as pessoas,
sentem e fazem coisas integradamente. (MOREIRA, 2017, P.15).

Assim, a proposta foi possibilitar momentos de reflexão da prática docente,


de modo dialógico, na perspectiva de aperfeiçoar, elaborar e compartilhar ativi-
dades que possam auxiliar o estudante no processo de aprendizagem nas aulas de
ciências, sob o ponto de vista da Alfabetização Científica.
A construção do conhecimento na contemporaneidade é ágil, dinâmica e
realizada por diferentes sujeitos que se conectam pelo planeta com o uso da tec-
nologia. A ciência desempenha um papel importante no desenvolvimento dessas
interações, sendo compreendida como um bem comum e aplicada ao cotidiano
social. Assim, o ensino de ciências é necessário para o desenvolvimento humano e
pode auxiliar na redução das distâncias sociais, econômicas e culturais, e, ainda,
promover a inclusão, viabilizar ações que proporcionem a compreensão da diversi-
dade e diferença existentes no espaço escolar.
Nesse contexto, o ensino de ciências possui alicerces fundamentados na
investigação, na elaboração de hipóteses e na formação de uma consciência crí-
tica, na qual os indivíduos podem organizar seus pensamentos de forma lógica
e estabelecer conexões entre o seu cotidiano e os conhecimentos sistematizados,
ampliando, assim, os seus saberes.
Dessa forma, é importante que todos os processos que envolvem a Alfabe-
tização Científica sejam discutidos, analisados e construídos no ambiente escolar,
bem como possam abranger os sujeitos da ação pedagógica, por meio de diferen-
tes métodos e estratégias, visando à inclusão dos estudantes para a formação de
valores e saberes humanos.
As atividades propostas a seguir foram fruto do curso “Alfabetização Cien-
tífica, tecnologia e inclusão no ensino de Ciências” e buscam ampliar os conheci-
mentos acerca da Alfabetização Científica e do ensino por investigação, bem como
desenvolver materiais e aplicativos adaptados para diferentes necessidades no ensi-
no de ciências. Desse modo, o professor poderá ampliar seu repertório de ativida-
des desenvolvidas e reconhecer, no ensino de ciências, oportunidades que possam
proporcionar a inclusão de todos os estudantes na ação pedagógica.

110
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais
Foto: Paula Let[icia - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Explorando os sentidos
ao ensinar Ciências5

Segundo Guyton (2006), os receptores sensoriais detectam estímulos (tato,


som, luz, dor, frio e calor) e os transformam em sinais neurais que são conduzidos
ao sistema nervoso central, onde são processados. Esses estímulos auxiliam a ela-
boração e a ressignificação das informações, contribuindo para a nossa sobrevi-
vência e a relação com o ambiente em que vivemos.

5 Texto produzido por Kátia Sayuri Endo – DIPED Pirituba/Jaraguá

111
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Considerando encontrar uma metodologia que atendesse às diferentes ne-


cessidades dos estudantes, Soler (1999 apud ANJOS; CAMARGO et al., 2009, p.
193) apresentou a Didática Multissensorial, a qual propõe uma metodologia que
utiliza os sentidos no processo de aprendizagem dos estudantes (com ou sem defi-
ciência), de forma ativa e significativa.
É um método pedagógico de interesse geral para o ensino e aprendiza-
gem das ciências experimentais e da natureza, que utiliza todos os senti-
dos humanos para captar informações do meio que nos rodeia e inter-
-relaciona esses dados a fim de formar conhecimentos multissensoriais
completos e significativos. (SOLER, 1999 apud BASSO et al, 2012 p. 2)

Basso et al (2012), enfatizam que, além do cuidado para a confecção do


material, é necessária uma metodologia para a sua utilização. Os autores sugerem
cinco momentos, baseados na pedagogia histórico-crítica:
1. Prática social inicial do conteúdo: é o momento de elencar os conhecimen-
tos prévios dos estudantes, por intermédio de diferentes metodologias;
2. Problematização: momento de levantar quais são os questionamentos
que eles têm em relação ao assunto. Nesse momento, o professor es-
tará proporcionando ao estudante o conflito entre o conhecimento es-
pontâneo e o conhecimento científico, o saber sistematizado;
3. Instrumentalização: momento da utilização do material didático mul-
tissensorial. No início, o estudante deverá explorar o material, sem a
intervenção docente. O professor poderá trabalhar com pequenos gru-
pos, e com a indicação dos estudantes que devem anotar suas impres-
sões, sensações, dúvidas sobre o material;
4. Catarse: esse momento pode acontecer em qualquer parte do pro-
cesso de ensino-aprendizagem. Uma forma, segundo os autores, para
constatar essa apropriação é o retorno às perguntas da problematiza-
ção e solicitar que os estudantes respondam. As respostas podem ser
registradas por meio de ilustrações, esquemas ou podem ser discuti-
das verbalmente;
5. Prática social final do conteúdo: é nesse momento que o conhecimento
prévio elencado pelos estudantes no primeiro momento será retomado.
Além disso, é possível relacionar os conhecimentos científicos com o
cotidiano da criança.
A seguir são apresentadas duas sugestões de atividades pautadas na Didá-
tica Multissensorial com a intenção de estimular os professores a planejar outras
atividades inclusivas para suas turmas que utilizem diferentes estímulos sensoriais.

112
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Atividade 1:
O Disco de Newton Multissensorial6

A atividade foi adaptada da proposta de Camargo et al.(2009) e ex-


plora diferentes percepções sensoriais, com ênfase na inclusão dos estudan-
tes com deficiência visual ou com baixa visão. Poderá ser desenvolvida por
todos os estudantes. O material aborda os fenômenos relacionados à com-
posição da luz branca e sua propagação.
Em relação aos modelos desenvolvidos:
yy Modelo visual: corresponde ao disco de Newton tradicional com sete cores;
yy Modelo olfativo: para cada cor, utilizada no modelo visual, é atribuída
uma essência diferente;
yy Modelo tátil: para cada cor são conferidas diferentes texturas.
É possível desenvolver o modelo auditivo e palatável também, segundo a
proposta de Camargo et al.(2009).

Materiais
yy EVA: anil, azul, lilás, vermelho, laranja, verde e amarelo;
yy Cola quente;
yy CD ou DVD usados;
yy Papel cartão;
yy Barbante;
yy Sete essências diferentes;
yy Cola branca.

Procedimentos
Os estudantes poderão ser organizados em grupos para o desenvolvi-
mento da atividade e os modelos são sugestões que poderão ser adaptados de
acordo com o perfil e a necessidade de cada estudante.

6 Atividade proposta por Kátia Sayuri Endo – DIPED da DRE Pirituba/Jaraguá (PJ) na formação de professores “Alfabetização
Científica, tecnologia e inclusão no ensino de Ciências”, 2017.

113
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Modelo visual:

a) Os estudantes poderão calcular o diâmetro do disco (confeccio-


nando de papel cartão) ou utilizar o CD e DVD usados como base;
b) De acordo com o círculo confeccionado divida-o em sete partes
iguais (cada uma corresponderá a uma cor diferente);

c) Recorte os EVAs coloridos (duas peças por cor) de acordo com a


proporção de cada parte;
d) Cole as sete partes de EVA no disco com cola branca ou cola quente
e aguarde a secagem;
e) Repita o procedimento no lado oposto do disco com a mesma cor
utilizada
f) Com o auxílio de uma agulha passe o barbante no centro do disco;

g) Rode o disco algumas vezes e tencione o barbante para reali-


zar a rotação;

114
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

h) Questione os estudantes sobre o fenômeno observado e as hipóte-


ses que explicam tal evento.

Modelo olfativo:

Para confecção desse modelo é necessário levar em consideração a sensibi-


lidade dos estudantes em relação ao cheiro. Previamente, consulte-os sobre
possíveis alergias e incômodos, pois haverá a utilização de aromas.
a) Utilizar uma essência diferente para cada cor;
b) Os estudantes poderão sentir o aroma de cada essência isoladamente;
c) Girar o disco e questionar os estudantes sobre o que aconteceu com os
diferentes aromas.

Modelo tátil:

a) Neste modelo, cada cor foi diferenciada por meio de diferentes textu-
ras, utilizando cola quente ou materiais colados em cada parte do disco
para diferenciá-las;
b) Discutir com os estudantes o fenômeno que ocorreu ao girar o disco.
A sugestão de Camargo et al(2009) é promover momentos de discussão,
abordando as múltiplas observações da elaboração e utilização do material,
explorando as diferentes percepções sensoriais, envolvendo estudantes com
ou sem visão.

115
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

. Atividade 2:
Temperando os sentidos7

Esta atividade visa incorporar práticas sensoriais que se fundamentam nos


princípios da aprendizagem autônoma e da formação do sujeito ativo, or-
ganizada em torno de atividades e experimentos diversos, utilizando ervas e
especiarias. Desse modo é possível:
1. Fornecer subsídios aos docentes para trabalharem em sala de aula
os sentidos olfativo, visual, tátil e gustativo, abordando de forma
interdisciplinar as questões relacionadas a diferentes áreas do co-
nhecimento como História, Biologia, Química, Geografia;
2. Estimular os docentes à incorporação de novas abordagens sobre
temas inseridos no currículo escolar;
3. Favorecer a inclusão e integração de pessoas com deficiência.

1) Objetivos da atividade

yy Estimular o uso dos sentidos olfativo, gustativo e tátil com vistas a ex-
plorar os repertórios pessoais, assim como proporcionar aos estudantes o
uso destes sentidos no processo de aprendizagem;
yy Proporcionar a interação e a troca das experiências pessoais;
y y Utilizar a atividade como instrumento de abordagem de temas do
currículo.

2) Preparo da oficina

A partir do tema da aula, o docente, elabora um roteiro para conduzir a


atividade.
Na atividade exemplo, a definição do roteiro de perguntas visa:
1. Demonstrar que o repertório e vivência pessoal, as reações sentidas e a
percepção dos aromas e sabores são distintas para cada pessoa. A exposi-
ção e o debate permitem que o grupo perceba as diferenças pessoais, não

7 Texto produzido por Marcelo Nastari, utilizado como proposta para os professores da DRE PJ no curso Alfabetização Científica,
tecnologia e inclusão no ensino de Ciências.em 2017

116
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

havendo certo ou errado, mas a compreensão de que cada pessoa tem seu
repertório, e a experiência pessoal é única. Ou seja, a partir do mesmo ele-
mento, muitas são as percepções e reações.
2. Explorar as associações feitas entre sentidos (aroma/sabor/textura) e
a culinária para cada estudante ou para o grupo e, a partir das falas, fa-
zer associações pessoais (exemplo: “lembra o tempero de casa, da avó, de
determinada região/estado do país”), possibilitando contextualizá-las com
outros componentes de Geografia e História. Com isso, surgem as pergun-
tas/respostas: Qual a semelhança entre a posição geográfica e alimentação?
Qual a razão histórica do uso de determinados temperos? O uso mais corri-
queiro de pimentas em terras de clima equatorial tem algum motivo? Quais
são? Estes links ajudam a compreender que regiões de climas semelhantes
podem ter o uso de temperos semelhantes. Uma mistura de especiarias moí-
das (como, canela, cravo, cardamomo, cominho, coentro, pimenta do reino
e noz moscada) pode remeter, para alguns, à culinária baiana, mas também
é típica da Índia (neste caso, mistura de temperos descritas acima leva o
nome de Garam Masala).
3. Incentivar o uso dos sentidos olfativo, gustativo e tátil. Isto é, ao trazer
para a sala de aula aromas e sabores “novos” para aquele público, permi-
te-se ir além da visão e audição como principais sentidos na aprendizagem,
estimulando os outros sentidos deixados de lado no dia a dia.

3) Materiais necessários

yy Colheres de café de plástico;


yy Um pote para cada cinco estudantes, contendo mistura de especiarias
moídas na proporção, em peso, dos seguintes temperos:
yy Três partes de canela
yy Uma parte de cravo
yy Duas partes de cardamomo
yy Cinco partes de cominho
yy Cinco partes de coentro
yy Uma parte de pimenta do reino
yy Uma parte de noz moscada
yy Ficha de registro a ser distribuída para que os estudantes preencham os
campos conforme suas percepções:

117
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Sensação (frio, calor, doce, salgado, picante, reações corporais):


Alguma lembrança pessoal?
Remete a alguma culinária regional?
O que você acha que é ?

4) Dinâmica da oficina

1. Os estudantes podem ser organizados em grupos, e cada um deles rece-


be uma ficha de registro das percepções.
2. Durante a distribuição dos materiais, explicar aos estudantes que serão
ofertados potes com temperos para que cada um;
yy sinta o aroma;
yy deguste uma pequena quantidade para que sinta o sabor, se quiser;
yy anote as respostas na ficha de percepções.
3. Uma vez realizada a experiência sensorial, um aluno passa para o colega
seguinte para que ele se submeta à experiência e faça suas anotações.
4. Respondida a ficha completa por toda a classe, o docente fará quatro
rodadas de perguntas, item a item, para identificar as percepções de cada um.
Obs.: as anotações devem ser feitas individualmente e a apresentação pode
ser individual ou em grupo. É importante ressaltar que, ao realizar a ativi-
dade em grupo, a tendência é que as percepções individuais sejam induzidas
pela percepção coletiva. Por outro lado, o tempo da dinâmica é reduzido,
uma vez que a apresentação é feita pelo grupo.
5. Durante a apresentação, sugere-se que o docente anote as percepções
de cada um para a discussão ao final da atividade, fazendo os apontamen-
tos das questões objetivas (conteúdo da matéria/disciplina) e subjetivas
(história de vida pessoal, repertório individual, etc.), destacando os pontos
comuns e os divergentes que se associam ao tema e às relações humanas.
Obs.: Entre as perguntas e respostas que podem ser exploradas du-
rante a parte final da atividade, sugere-se: Qual a semelhança entre a posi-
ção geográfica e alimentação? Qual a razão histórica do uso de determinados
temperos? O uso mais corriqueiro de pimentas em terras de clima equatorial
tem algum motivo? Quais são?

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

A contribuição dos recursos


tecnológicos acessíveis para
estudantes com deficiência8

Segundo Vygotsky (1987), o desenvolvimento humano tem como processo


de apropriação do conhecimento as experiências presentes na cultura. Para a cons-
trução das estruturas mentais superiores à ação, linguagem e processos interativos
têm sua importância nos processos de aprendizagem de cada sujeito.
Em ambientes inclusivos, todos os estudantes expandem as oportunida-
des de sucesso acadêmico, mas é preciso que as Unidades Educacionais vislum-
brem maneiras diferentes de ensinar e aprender, a fim de promover o acesso de
pessoas com deficiência.
Nesse contexto, o universo das Tecnologias de Informação e Comunicação
- TICs surgem como um recurso para que as pessoas com deficiência desenvolvam
suas potencialidades e habilidades e, portanto, as TICs vêm se tornando, de forma
crescente, importantes instrumentos de nossa cultura e, sua utilização, um meio
concreto de inclusão e interação no mundo (LEVY, 1999).
O acesso aos recursos oferecidos pela escola influencia de forma determi-
nante a construção de conhecimento, pois quando as limitações dos estudantes
com deficiência tendem a se tornar uma barreira, dificultando o acesso a outros
ambientes educativos, o uso de determinadas tecnologias auxilia no rompimento
dessas barreiras, proporcionando a eles a oportunidade de desenvolver maior inde-
pendência e qualidade de vida, funções importantes no cotidiano.
Para tanto, percebe-se que mudanças radicais se fazem necessárias ao ide-
ário educacional, e o desafio, neste novo milênio, é repensar a atuação do profes-
sor e do estudante em face aos novos tempos da era midiática, na qual professor
e estudante precisam utilizar-se de instrumentos de investigação e pesquisa para
buscarem a construção do conhecimento e a produção dos saberes. “O professor
precisa ser inovador, reflexivo, criativo e parceiro dos estudantes no processo de
aprendizagem” (FREIRE, 1988).
Assim, cabe aos professores e estudantes assumirem a postura de constru-
tores do próprio conhecimento, demonstrando autonomia, criatividade e ação,
devendo ser sujeitos do seu próprio ambiente, buscando desenvolver a consciência
crítica e formação cidadã.
Nesse contexto, o professor assume o papel de mediador a partir da
viabilização e criação de um ambiente capaz de estimular a aprendizagem do

8 Texto elaborado por Deise Tomazin Barbosa, da DIPED – DRE PJ.

119
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

estudante e precisa criar alternativas metodológicas ou adaptá-las à realidade


contextual dos estudantes, aproveitando os diferentes recursos disponíveis nas
esferas da sociedade.
Nesses percursos formativos, os professores devem ser autores de seu
planejamento, material de apoio, avaliação e midiatização das situações de
construção de conhecimento, pois são eles que promovem as dinâmicas e criam
pontes de funcionamento comuns entre as diferentes realidades educativas.
Para Perrenoud (2000), estas aprendizagens colaborativo-cooperativas são
significativas, pois consideram a singularidade dos sujeitos, estimulando a des-
coberta, desenvolvendo habilidades e competências exigidas para o século XXI.
Esse trabalho cooperativo, aglutinado por momentos de comunicação, de troca
de experiências e de saberes identifica-se, em parte, com a perspectiva de Bernstein
(1982) no seu conceito de escolas abertas, ou seja, identificam-se com as coexis-
tências de grupos heterogêneos quer na idade, quer na escolaridade. Assim, o tra-
balho cooperativo mostra-se como uma estratégia transversal necessária, interpre-
tando-se o momento da comunicação como um tempo de partilha das atividades,
de pesquisa e de criação realizadas por cada grupo.
Seguindo o pensamento da UNESCO (2010), “Aprender a conhecer,
Aprender a ser, Aprender a fazer, Aprender a conhecer” o outro são competências
que deverão ser construídas com estratégia objetiva e conhecimento reflexivo.
Para que ocorra uma mudança significativa na educação, Papert (1997)
afirma a necessidade de viabilizar o acesso de professores e estudantes às novas
tecnologias, por meio da criação de ambientes colaborativos que utilizem a infor-
matização para a pesquisa e a descoberta de metodologias que deem conta de
suprir as necessidades de cada estudante, não apenas daqueles com deficiência.
Nesse ambiente interativo, no qual se respeita a singularidade dos estudan-
tes, é dada a oportunidade de realizar a mesma atividade de maneira diferente,
cabendo ao próprio estudante escolher aquela que julgar mais acessível. A diversi-
dade de sujeitos implica práticas de ensino/aprendizagem adaptadas àquele que
apresenta dificuldades na construção de conhecimento.
O uso da tecnologia na aprendizagem é mais do que objeto, ferramenta,
conhecimento técnico e conceitual, pois envolve postura afetiva, social, simbólica
e conceitual por parte do docente.
A interação com recursos digitais pode auxiliar nas atividades da sala de
aula, laboratório de informática educativa, sala de apoio, sala de recursos, promo-
vendo meios que possibilitem a descoberta de alternativas possíveis de ação para o
desenvolvimento de qualquer estudante, com ou sem deficiência e, pode abranger
as mais diversas áreas do conhecimento humano. Na instituição escolar, isso pode
contribuir para a aprendizagem que é evidenciada pelo uso das TICs por intermé-
dio das Tecnologias Assistivas.

120
Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

As TICs são utilizadas como Recursos Tecnológicos Acessíveis quando o


próprio equipamento, seja o computador ou dispositivos móveis, se torna uma
ajuda técnica para atingir um determinado objetivo. E a Tecnologia Assistiva (TA) é
um termo utilizado para identificar todo arsenal de Recursos e Serviços que contri-
buem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais da pessoa com defici-
ência, dando-lhes maior chance de independência e autonomia, além de melhorar
suas capacidades funcionais (FIGUEIRA, 2016).
Os princípios inclusivistas apresentam desmistificações de preconceitos e in-
capacidades ainda existentes, tornando imprescindível que todos obtenham a mes-
ma possibilidade de acesso às tecnologias. Os recursos tecnológicos oferecem a pos-
sibilidade de ultrapassar os obstáculos, melhorando a qualidade da educação dos
estudantes com deficiência. Desse modo, profissionais que atuam com pessoas com
ou sem deficiência, incorporam alternativas para superação de barreiras na relação
usuário/tecnologia, favorecendo o alcance de objetivos que visem igualar e qualificar
as oportunidades de interação e comunicação do individuo.
Compreendemos que as tecnologias de apoio podem desempenhar um pa-
pel fundamental no desenvolvimento das pessoas com disfunções neuromotoras
graves e incapacidades de comunicação através da fala, dos estudantes com baixa
visão, cegueira, deficiência física, mobilidade reduzida, limitação motora, defici-
ência intelectual, dificuldade de leitura e escrita, deficiência auditiva, por meio do
uso de softwares e componentes de acessibilidade do Windows para sua interação.
Com o apoio da tecnologia nas Unidades Educacionais, é possível que os
professores tenham um ambiente de aprendizagem com altas expectativas a res-
peito de seus estudantes, que entendam as diferenças como um fator positivo,
compartilhem o saber, discutam e troquem experiências.
Reconhece-se que, com o uso dos recursos tecnológicos, as Unidades Edu-
cacionais exercem um papel fundamental no processo acadêmico dos estudantes.
E, ao professor, caberá a função de organizar os ambientes de aprendizagem e ser
o agente mediador e motivador (CRUZ, 1999). Assim, é urgente organizar novos
conceitos e novos pontos de partida, nos quais o trabalho de equipe e de partilha
de conhecimento sejam suportes para a potencialização dos novos recursos.
A Fábrica de Aplicativos é uma plataforma on-line para criação de aplica-
tivos. Essa tecnologia permite que qualquer pessoa crie e compartilhe APPs (apli-
cativos) para smartphones de forma rápida, fácil e sem programação. A propos-
ta da Fábrica de Aplicativos é democratizar o desenvolvimento de tecnologias da
informação, corroborando para o conhecimento humano. Os aplicativos criados
podem ser baixados e instalados nos celulares com sistemas Android e IOS.
O usuário tem a possibilidade de usar o serviço sem nenhum custo, mas
para ter acesso a algumas funcionalidades específicas, é preciso ser assinante dos
planos disponíveis.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Ciências Naturais

Os direitos de propriedade intelectual sobre o material publicado permi-


tem, aos usuários finais, ver e compartilhar o conteúdo. Portanto, os direitos sobre
a mídia e publicidade de terceiros inseridos a critério da FÁBRICA, permanecem na
titularidade dos detentores originais criadores dos APPs.
Aqui, a partir deste conjunto proposto de atividades e reflexões, se
abrem largos campos de aproximação com as aulas desenvolvidas pelo Professor
Orientador de Informática Educativa (POIE), que, nesta proposta curricular,
ganha o espaço de um novo componente curricular, TPA – Tecnologias para a
Aprendizagem. A conversa sobre tais fundamentos das duas áreas e sobre suas
articulações representará uma conquista para a implementação de um currículo
realmente atualizado em direção a uma educação integral.

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Orientações Didáticas do Currículo da Cidade
Foto: Enzo Boffa - Núcleo de Foto e Vídeo Educação / CM / COPED / SME

Orientações Didáticas do Currículo da Cidade


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Consulte as obras disponíveis na Biblioteca Pedagógica


da Secretaria Municipal de Educação.
portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/biblioteca-pedagogica
e-mail: smecopedbiblioteca@sme.prefeitura.sp.gov.br
Telefone: 55 11 3396-0500

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