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A Ética Esportiva

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A Ética Esportiva

No mundo esportivo, tanto quanto no mundo político, social ou corporativo, a ética é


colocada à prova a todo o momento.

O atleta passa a sua vida profissional tentando se superar, ganhar notoriedade


alcançando bons resultados com o objetivo de ganhar títulos e, principalmente, arrumar
bons patrocínios.

Infelizmente, alguns atletas na ânsia de atingirem essa meta, acabam passando o limite
da ética.

O grande problema é que alguns atletas, por falta de orientação, acabam sendo punidos
e taxados como antiéticos sem ao menos saberem o que está acontecendo.

Neste caso podemos citar alguns exemplos: Como o da Ginasta Daiane dos Santos que
foi pega em um exame antidoping por ter usado um creme para as pernas que continha
uma substância proibida. Resultado: suspensão de provas oficiais.

O mesmo aconteceu com a atleta Maurren Magi que pegou uma suspensão de dois anos
por doping por usar um creme em um tratamento estético que continha substâncias
proibidas.

Este tipo de problema não acontece apenas com atletas do sexo feminino, aja vista o que
aconteceu com o tetra campeão Romário que foi pego no exame antidoping por uso de
uma substância para evitar a queda de cabelo e ficou suspenso por 120 dias.

A ética esportiva está associada diretamente às condutas que demonstram o respeito ao


esporte e aos demais esportistas através da troca de gentilezas entre atletas adversários,
como estender a mão para auxiliar um adversário caído a se levantar, colocar uma bola
para fora do jogo ao notar que um adversário está contundido, reconhecer uma boa
atuação do adversário ou o simples cumprimento do vencido ao vencedor e vice-versa.
Todas estas ações estão intimamente ligadas ao que chamamos de “Fair-Play” (jogo
limpo).

O “Fair-Play” pode ser entendido como uma postura elegante dos participantes de uma
competição esportiva, na qual se insere o respeito, a honestidade, a lealdade, a aceitação
das regras vigentes e, principalmente, do entendimento de que os oponentes são apenas
adversários esportivos e não inimigos mortais, sejam eles vencidos ou vitoriosos, com a
consciência de que o outro é companheiro indispensável na prática do esporte.

É a manifestação da aceitação das decisões dos árbitros, pela vontade de jogar para
ganhar e pela firme rejeição em conseguir a vitória a qualquer custo.

Por isso, o “Fair-Play” pode ser definido como a ética no mundo esportivo.
Infelizmente, o “Fair-Play” é ameaçado por interesses pessoais ou comerciais que nada
coincidem com os objetivos do esporte.
Neste sentido a ética esportiva cede espaço às condutas antiéticas, com o surgimento das
trapaças, subornos, doping, entre outros.

Seja a oferta de dinheiro (mala preta) para facilitar uma vitória ou uma derrota no
futebol, seja coagir o adversário dentro do campo de competição com atitudes grosseiras
representadas por gestos obscenos, violência física ou ofensas pessoais, tais atitudes
devem ser punidas com rigor para que fique o exemplo de que ações antiéticas não
condizem com a decência do esporte.

Podemos destacar aqui duas situações que ocorreram no futebol que representa os dois
lados da ética esportiva.

1° Caso: No primeiro caso, em um jogo do campeonato inglês de futebol ocorreu um


problema físico com um dos jogadores e este colocou a bola para fora para ser atendido.

Ao reiniciar a partida, um jogador do time adversário, utilizando-se do Fair-Play, foi


devolver a bola, mas acabou chutando com muita força e fazendo o gol. Diante de tal
constrangimento, o técnico desse time ordenou que ao dar a saída de bola, seu
comandados, inclusive o goleiro, deveriam permitir que o time que havia sofrido o gol
“sem querer”, empatasse a partida de forma que o placar continuasse igual para as duas
equipes.

E assim foi feito, demonstrando com isso, o que é o Fair-play no seu sentido máximo.

2° Caso: Da mesma forma e no mesmo esporte, há demonstrações de conduta


antiesportiva como o caso de um determinado árbitro que, no campeonato brasileiro de
2005, foi preso por manipular resultados de jogos em que atuou para beneficiar
empresários que trabalhavam com sites de apostas.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) determinou a anulação de 11 jogos


apitados por ele, inclusive os que nitidamente não haviam sido manipulados. Dessa
forma, equipes que se prepararam ao longo do ano foram prejudicadas injustamente

Ética no esporte: uma poderosa ferramenta de formação de caráter

A ética tem como sentido a condução da vida e tem seu propósito maior na conquista da
felicidade. O que isso tem a ver com a prática de esportes?

Talvez você já tenha ouvido a expressão “o esporte forma caráter”. Porém, já parou para
se perguntar de onde ela vem? Por que alguém ligaria o esporte ao caráter, a moral, a
uma postura ética, em primeira instância? Para chegar a esse entendimento, o ideal é
começar definindo as razões para a ética e para o esporte. A ética tem como sentido a
condução da vida e tem seu propósito maior na conquista da felicidade. Já o esporte tem
seu sentido na saúde e bem-estar, e, para o seu propósito, a formação do sujeito ético.

O esportista busca a felicidade através da vitória, acima de tudo - o que já é o fim ético
por si só. Porém, ele ainda é uma pessoa que tem seu meio de vida dentro de regras de
conduta, trabalho em equipe, respeito aos adversários e torcida, ou seja, um
comportamento que o leva à vitória de forma justa e coerente com as regras que
escolheu seguir. Essas são as características de um sujeito ético, em quem o esporte
acaba por potencializar a busca pela felicidade intrínseca ao indivíduo.

Olhando dessa forma, ética e esporte são extremamente ligados. O esporte é realmente
um potente construtor do caminho ético. De acordo com os primeiros filósofos gregos, o
ser humano nasce vicioso, com uma conduta baseada no erro, e, a partir disso, os pais,
mestres, professores, ou treinadores, nesse caso, têm o dever de identificar e corrigir
esses erros de conduta. Temos no esporte um meio prático, coerente e potencializador
desse aprendizado. Através da prática esportiva, o professor incute a boa conduta no
indivíduo vicioso, tornando essa atividade extremamente importante na formação,
sobretudo nos primeiros anos de vida.

Um indivíduo vicioso está sujeito a muito mais infelicidade em sua própria vida, o que
o leva a lidar mal com o próximo e levar muito mais infelicidade para os que estão ao
seu redor. O vício é o erro, a má conduta. Para nós, brasileiros, ou mesmo para os sul-
americanos, pode-se traduzir na forma da “malandragem” ou o tal do “Jeitinho
Brasileiro”, por exemplo, que é uma má astúcia muitas vezes celebrada nos países da
América do sul (“la mano de Diós”, ou melhor: de Maradona), quando na verdade não
passa de uma postura egoísta e sem méritos.

Isso, portanto, não é um defeito exclusivamente brasileiro. Os gregos, inclusive, já


demonstravam isso em seus mitos, o que tem uma importante repercussão ao longo da
história, como foi observado por Joseph Campbell em sua teoria da Jornada do Herói,
um ciclo de atividades que representa ciclos comuns à vida de qualquer pessoa, e que
eram alegoricamente narrados como histórias na antiguidade.

Para Campbell, a jornada de vida de todo ser humano repete alguns passos que são
iguais, em vários pontos, para todo mundo, e eles sempre estão ligados ao
enfrentamento e superação de um obstáculo, que quase sempre é interno e tem a ver
com um vício moral. Na vida cotidiana, o esportista pode buscar um grande contrato,
jogar uma competição mundial. Para os gregos, esse exemplo universal era bem
definido e representado na Odisseia e nos Doze Trabalhos de Hércules. Essas são
histórias famosas, nas quais os heróis, Odisseu em uma e Hércules em outra, passam por
provações até superar seus vícios e, só assim, qualificarem-se para alcançar a felicidade.

Dentro do campo (ou da quadra, da piscina, tatame etc.), o desafio não se limita a
superar o(s) adversário(s), mas implica com igual importância a luta contra a conduta
que só pensa em si mesma, que abandona o outro e só busca o lucro pessoal, seja ele
financeiro ou desportivo: a vitória “de qualquer jeito”, através de atalhos ou trapaças. É
o que acontece quando um atleta se aproveita de um erro de arbitragem, simula uma
falta, induzindo a arbitragem em erro, ou se beneficia de qualquer infração das regras da
modalidade desportiva. A conduta ética ideal é a da autocorreção, mesmo que haja um
prejuízo desportivo imediato na disputa. Por exemplo, um jogador pode “cavar” um
pênalti inexistente, e, com essa marcação incorrera, ser beneficiado, potencialmente
ganhando vantagem decisiva em um jogo difícil; ou prezar pela conduta ética correta e
buscar a vitória sem esse artifício, assumindo o risco da derrota.
Ele, talvez, perderá o jogo? Sim, mas a conduta vem em primeiro lugar. A intensão é o
que conta dentro do campo. Isso tem um peso de responsabilidade e pressão dentro do
jogo, tanto de adversário quanto de companheiros, e, para o esportista tomar a atitude
mais nobre, é, muitas vezes, um dilema difícil de ser vencido. A condição se estende
para fora do campo, quando o prejuízo afeta as torcidas, que, quase sempre,
questionarão o jogador por ter escolhido ser ético e ter “perdido a chance de ganhar”,
mesmo que se saiba que seria uma vitória injusta.

Muitas vezes, sobretudo em esportes populares, o inconsciente coletivo da sociedade,


por vários segmentos, demandarão do esportista a conduta menos nobre, a da trapaça.
Afirma-se que isso “faz parte do jogo”, quando, na verdade, a atitude diz muito mais
sobre a condição ética daquela sociedade. Evidencia-se que a cultura abraça o erro, a
corrupção, o crime, que é conivente com valores errados, sobretudo quando os traz
vantagens, mesmo que em situações mais simples.

O peso do dilema ético é uma dificuldade do esportista, tanto quanto treinar seu corpo.
Treinar sua mente e conduta é igualmente desafiador, pois, só assim, ele se desvincula
de valores errados, perpetuados em uma sociedade falha, e busca através de seu modelo,
incentivar uma conduta superior no jovem: aqueles que veem o atleta como exemplo e
querem praticar a mesma modalidade desportiva, ou aqueles que torcem pelo êxito do
atleta. O caso é que, atualmente, a própria sociedade tem buscado uma proximidade
maior em relação à conduta nobre dentro do esporte, e, cada vez mais, cobra-se dos
esportistas que se siga esse modelo positivo. É uma mostra da mudança social que vai
de fora do esporte para ele, e vice-versa.

A emoção e a legitimidade do esporte, que fomenta a potência de praticar e torcer, está


ligada à imprevisibilidade do resultado desportivo, que só é total e real quando as
condutas são éticas, quando há igualdade de oportunidades agindo para que chances
sejam igualmente adequadas em ambos os lados de uma competição. Assim, o
esportista realmente melhor preparado é quem tem chances de vitória, mesmo com o
acaso agindo como intensificador da emoção de se acompanhar o esporte. A
espontaneidade não surge de um cenário onde há o vício agindo para trapacear. A
verdadeira vitória está em justamente se superar os obstáculos competitivos dentro das
regras da modalidade desportiva. O vencedor só é realmente vencedor se ele enfrenta de
igual para igual seu adversário. O lucro maior está aí.

Uma questão relevante que se coloca nesse prisma é: "qual cultura ética a sociedade
quer praticar?"; o que determina como introduzir a conduta ética aos jovens e, pois, usar
o esporte, essa potente ferramenta, para desenvolver a conduta ética das novas gerações.

Queremos gerações mais éticas ou a competição pelo resultado independentemente do


meio usado?

A Psicologia do Esporte: uma atualização teórica.

A Psicologia do Esporte é uma nova ciência do treinamento esportivo que tem prestado
importantes contribuições para a otimização da performance de atletas e equipes.
Dar aos atletas respaldo psicológico é tão importante quanto lhes fornecer uma alimentação
balanceada, programada por nutricionistas. Afinal, o corpo físico e o mental são as duas faces
de uma mesma unidade e merecem a igual atenção (Becker Jr, 1998). Cuidar do corpo significa
também percebê-lo como um todo unificado, do qual fazem parte emoções e estruturas
mentais. O papel do psicólogo responsável pela saúde psíquica de um time se desenvolve a
partir de uma abordagem das emoções vivenciadas pelos jogadores em sua rotina de trabalho
(Franco, 2000).

É comum ouvir grandes atletas e treinadores dizerem: “temos que nos preparar
psicologicamente para esta partida” ou “fisicamente o time está bem, mas psicologicamente
vem passando por dificuldades” ou, ainda, “temos que elevar o moral para virarmos o jogo”
(Becker Jr, 1998, p. 31).

As demandas psicológicas esportivas são inegáveis. Muitos atletas acabam sucumbindo diante
de dificuldades que poderiam ser minimizadas caso houvesse um maior interesse de
treinadores e dirigentes na contratação de psicólogos esportivos.

Considerando o aspecto bio-psico-social humano, o atleta poderá se deparar com


necessidades em quaisquer das esferas acima citadas: biológica, psicológica ou social
(Weinberg, 2001).

Assim sendo, se existem necessidades no plano biológico é preciso estar atento ao profissional
capacitado para intervir no problema em questão, seja ele o nutricionista, o ortopedista, o
clínico geral, o fisioterapeuta ou o cirurgião. Cada um atuando dentro de sua esfera e área de
competência. O mesmo deve valer para o plano social e psicológico (Becker Jr, 1998).

Existe, na área esportiva, uma necessidade plena de auxílio aos atletas. No entanto, a presença
deste profissional nas Comissões Técnicas não tem sido bem compreendida.

Será que a ciência não deve ser aplicada ao esporte? Será que a psicologia não é tida como
ciência por aqueles envolvidos no esporte? Se a ciência não lhe pudesse ser aplicada,
certamente confiaríamos o joelho lesionado do Ronaldinho a um curandeiro ou qualquer outro
especialista que não tivesse formação científica para solucionar ou propor solução para o
problema.

Para que se alcance o perfeito entendimento acerca da teoria e prática da Psicologia do


Esporte, importa esclarecer seu conceito, proposta e objetivos.

Segundo a American Psychological Association (APA), “a psicologia do esporte é o (a) estudo


dos fatores comportamentais que influenciam e são influenciados pela participação e
desempenho no esporte, exercício e atividade física e aplicação do conhecimento adquirido
através deste estudo para a situação cotidiana”

Benno Becker Jr., presidente da Sociedade Brasileira de Psicologia do Esporte, afirma que “há
uma disciplina chamada psicologia aplicada ao exercício e ao esporte e esta investiga as causas
e os efeitos das ocorrências psíquicas que apresenta o ser humano antes, durante e após o
exercício ou o esporte, sejam estes, de cunho educativo, recreativo, competitivo, ou
reabilitador” (1999, p 17)

A Psicologia do Esporte tem por finalidade investigar e intervir em todas as variáveis que
estejam ligadas ao ser humano que pratica uma determinada modalidade esportiva e, em seu
desempenho (Becker Jr, 1999).

Para muitos, esta nova ciência é aplicada apenas em atletas de alto desempenho. Vale
ressaltar que a Psicologia Esportiva tem um alcance ainda maior do que o acima citado.
Psicólogos esportivos podem atuar em academias de ginástica, escolas, centros recreativos,
clubes e programações educacionais junto a educadores físicos.

Vários outros segmentos da psicologia têm influenciado a Psicologia do Esporte na medida em


que contribuem para a ampliação do conhecimento dos fenômenos psicológicos que
englobam a atividade esportiva. Entre eles, a psicologia social, a do desenvolvimento, a clínica,
a experimental, a organizacional, a da personalidade e a educacional (Weinberg, 2001).

Vale ressaltar a importância dos conhecimentos práticos da modalidade esportiva a ser


trabalhada pelo psicólogo. O objeto de estudo deve ser algo familiar ao profissional, para que
o mesmo possa compreender o discurso e as demandas dos atletas.

A Psicologia do Esporte é uma ciência (Becker Jr, 2000). Pesquisas têm sido feitas ao longo dos
anos no intuito de confirmar hipóteses formuladas, consolidar teorias e, enfim, aplicá-las,
intervindo eficazmente junto aos atletas. No Brasil existem alguns centros de publicações
científicas com reconhecimento internacional: o Laboratório de Psicologia do Esporte (LAPES),
na UFMG, cujo diretor é o Dr. Dietmar Samulski e o Departamento da Pós-Graduação da
UFRGS, cujo coordenador é o Dr. Benno Becker Junior.

A Psicologia do Esporte, segundo a Federação Européia de Associações de Psicologia do


Esporte – Fepsac (1996), se refere aos fundamentos psicológicos, processos e conseqüências
da regulação psicológica das atividades relacionadas ao esporte, de um ou mais praticantes
dos mesmos. O foco deste estudo está nas diferentes dimensões psicológicas da conduta
humana: afetiva, cognitiva, motivadora ou sensório-motora (Becker Jr, 1999). Os sujeitos
investigados são os envolvidos nos esportes ou exercícios, como atletas, treinadores, árbitros,
professores, psicólogos, médicos, fisioterapeutas, espectadores, pais etc.

A Psicologia do Esporte visa compreender melhor as demandas implicadas nestas atividades e


dar uma assistência aos seus praticantes propondo um crescimento global e harmônico de sua
personalidade. Objetiva, também, estudar o efeito do exercício sobre a área emocional do
indivíduo como daquele portador de patologias (Becker Jr, 1986). Esta nova disciplina faz parte
das ciências do movimento humano e das ciências do esporte.

A Psicologia do Esporte é o estudo científico de pessoas e seus comportamentos em contextos


esportivos e de exercício e aplicações práticas de tal conhecimento (Gill, 1986). Os psicólogos
do esporte identificam princípios e diretrizes que os profissionais podem usar para ajudar
adultos e crianças a participarem e se beneficiarem de atividades esportivas.
Existe certa dificuldade em determinar o início preciso da Psicologia do Esporte num país, sem
correr o risco de cometer várias injustiças, mormente no Brasil onde estes eventos têm pouca
ou nenhuma divulgação (Becker Jr, 2000). Os registros oficiais mostram quem a Psicologia do
Esporte, no Brasil, está em sua quarta década (Feige,1977). O início se deu com o professor
João Carvalhaes em 1954, no Departamento de Árbitros da Federação Paulista de Futebol.
Quarenta e cinco anos é uma idade que, no ser humano pode significar a maturidade, reflexo
de ricas experiências. Em relação à Psicologia do Esporte, no entanto, o caminho percorrido
ainda não trouxe a desejada maturidade.

Ainda com relação ao professor Carvalhaes, é preciso que sejam tecidas algumas
considerações. Na época em que atuou como psicólogo da Seleção, os testes aplicados por ele
reprovaram o Mané Garrincha que, posteriormente, foi o grande astro da Seleção. O que as
pessoas esquecem é que o jogador faleceu de cirrose hepática, em péssimas condições
psicológicas. Se as ferramentas utilizadas pelo professor não foram eficazes para a seleção e
traço de perfil psicológico esportivo, certamente já davam mostras da fragilidade de um dos
maiores astros do futebol brasileiro de todos os tempos.

A evolução da Medicina do Esporte acrescentou um crescimento científico importante, tanto


para a Educação Física quanto para o desporto nacional. Três laboratórios de pesquisa do
exercício (Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro) foram criados. Foi iniciada aí a base para a
evolução das diversas disciplinas que integram as ciências do movimento humano como a
Biomecânica, a Cineantropometria, a Fisiologia e a Psicologia. O início da segunda geração de
psicólogos no Brasil aconteceu em 1975, envolvendo Benno Becker Junior (Porto Alegre)
Sandra Cavasini (São Paulo) e João Alberto Barreto (Rio de Janeiro). A partir de então, quase a
totalidade dos eventos científicos de Educação Física, esporte ou Medicina do Esporte, passou
a contar com a participação da Psicologia do Esporte em suas sessões.

O psicólogo esportivo foi o último integrante da comissão técnica interdisciplinar a ser


reconhecido pelos clubes. Até hoje, o psicólogo sofre com o preconceito e a desinformação
daqueles que, supostamente, deveriam zelar pelo bem estar dos atletas. Quando um novo
profissional da área da saúde ingressa numa equipe de trabalho, mobiliza uma série de
mecanismos psíquicos nos seus integrantes (simpatia, resistência etc.). Se este novo
profissional é um psicólogo, pode ocorrer uma mobilização maior entre os membros da
equipe. A percepção que cada ser humano tem do psicoterapeuta é bastante variável. Pode
incluir desde expectativas de grande ajuda (beirando até o sobrenatural) até ansiedades
persecutórias nos sujeitos mais inseguros. Lacrampe e Chamalidis (1995) afirmam que a
percepção do serviço de Psicologia do Esporte depende da interação de fatores como
experiência passada dos atletas com o Psicólogo esportivo, expectativas do grupo, confiança
mútua e a especificidade da situação. A partir destes elementos, é de grande importância o
modo pelo qual o psicólogo será apresentado aos membros de uma equipe esportiva.

Uma apresentação seguida de um grande currículo pode atrapalhar, pelo desnível que
eventualmente despertará no atleta (e nos outros profissionais), frente a este novo integrante
da equipe técnica e, também, pela tendência a atribuir-lhe onipotência, inclusive através da
idealização de que o psicólogo possui poderes mágicos e que resolverá todos os problemas da
equipe. Esses sentimentos podem, se não forem equacionados rapidamente, concorrer para
um relacionamento cheio de conflitos entre o psicólogo e os demais integrantes da equipe. Se
o psicólogo aceitar esta auréola de mágico, poderá ser, em pouco tempo, rejeitado e
aniquilado pelos integrantes do grupo. Uma apresentação simples, com nome, função,
experiência e objetivos parece suficiente (Becker Jr, 2000).

A apresentação e o pré-projeto psicológico são de extrema valia. Uma explicação simples


sobre o que faz ajudará bastante, pois, embora tenha melhorado muito a informação sobre
suas funções, ainda há quem o classifique como alguém que trata de loucos. Possivelmente, tal
resistência também tenha ocorrido quando do início da atividade do médico e do dentista no
esporte (Becker Jr, 2000).

Atualmente, procura-se um médico diante de qualquer distúrbio orgânico e, quando um dente


dói, seguramente não se pensará em outro profissional que não seja um dentista. Mostrar aos
atletas que cada um deles contribui com seus esforços e sua técnica para alcançar os objetivos
da equipe e de que ele, psicólogo, a partir de agora, fará parte desta equipe utilizando sua
técnica para o progresso do grupo, certamente é o caminho adequado para o início de um
trabalho (Becker Jr, 2000). É também oportuno acrescentar que um trabalho psicológico tem
pouco valor se não for acompanhado de uma preparação físico-técnico-tática e um cuidado da
parte médica e administrativa. Desta forma, o psicólogo tratará por estabelecer, desde logo,
um bom vínculo com a equipe técnica, os dirigentes e atletas.

Dependendo do nível da equipe e do tipo de esporte (no caso o futebol tem, sem a menor
sombra de dúvidas, o maior espaço na mídia), é possível que a imprensa ofereça alguma
divulgação. Será indicado prestar algumas informações aos repórteres e explicar que várias
outras coisas não poderão ser objetos de divulgação—devido à ética profissional.

A posição do psicólogo esportivo nos clubes deve ser discreta. As informações por ele colhidas
são de uso interno, não sendo passives de conhecimento público.

O psicólogo esportivo tem, por norma de atuação, o respeito por algumas etapas de
implantação de seu programa de Psicologia Esportiva, como veremos a seguir.

ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE PSICOLOGIA ESPORTIVA

1. Informação

Etapa em que o psicólogo informa a todos os componentes do grupo esportivo


(Becker Jr 2000), como funciona um programa de Psicologia Esportiva. Neste momento,
recolherá informações básicas sobre como funciona a instituição e o grupo esportivo em que
vai trabalhar. Para isto utiliza entrevistas, inventários e observações pessoais. É de
fundamental importância ouvir a avaliação do treinador e dos membros da equipe técnica a
respeito de como funciona a dinâmica do grupo esportivo.

1. Pré-programa

O pré-programa, estruturado de acordo com as informações obtidas pelo psicólogo sobre o


funcionamento da instituição e do grupo esportivo, deverá ser apresentado aos dirigentes e
grupo técnico para discussão (Becker Jr, 2000). Se os dirigentes e o grupo técnico aprovarem o
pré-programa, ele passará a ser o programa. Deve haver uma co-responsabilidade de todo o
grupo para a implantação do mesmo.

1. Programa

Sempre que se inicia um trabalho, em qualquer área da atividade humana, é necessária uma
avaliação prévia. Esta deve enfocar o indivíduo e o grupo. Mesmo nos esportes individuais, o
técnico trabalha com um grupo de atletas e devemos verificar sua dinâmica. Assim (Becker Jr,
2000), alguns procedimentos como testes, entrevista e observação de conduta são sugeridos.

Estamos presenciando a evolução da Psicologia (Weinberg, 2001), um momento de


reavaliações das ferramentas de diagnóstico de grupo e individual. Através de entrevistas que
poderão confirmar (ou não) aspectos detectados nos testes, será mais eficaz o levantamento
dos níveis de ansiedade (Becker Jr, 2000), do estado emocional em treinamentos e
competições, da agressividade (extra e intra punitiva) da atenção (concentrada e difusa), da
depressão, da motivação e outros fatores, podem ajudar o psicólogo a conhecer um pouco
mais o desportista objeto de seu estudo.

A avaliação do atleta não é feita através de um teste psicotécnico que aprova ou reprova
candidatos (Becker Jr, 2000). Na Copa de 1962, o psicólogo João Carvalhaes solicitou o
desligamento de vários atletas da seleção pois seus testes eram pobres. Devido à falta de
experiência na área, o profissional colocou em risco o sucesso de sua atuação por não observar
a conduta esportiva dos atletas (Becker Jr, 2000).

Muitos clubes gastam fortunas contratando atletas que são indicados pelos famosos olheiros
(Becker Jr, 2000), observadores de treinos e de partidas que opinam a respeito dos
desportistas. Um fator que todo clube exige é o exame médico (Becker Jr, 2000), para detectar
se o jogador não tem alguma enfermidade encoberta. Em alguns casos, falta a aplicação de um
exame psicológico para complementar o diagnóstico inicial do jogador novato. A conduta de
um atleta dentro de uma nova equipe não será, necessariamente, a mesma que tinha na
equipe anterior, uma vez que o ambiente e os companheiros de equipe são outros (Weinberg,
2001). Desta forma, é importante, além de uma avaliação individual, um exame grupal para
que o psicólogo entenda a dinâmica do grupo com que irá atuar.

Somente através desta primeira investigação, o psicólogo esportivo estará capacitado para
intervir no grupo, utilizando as técnicas e ferramentas desenvolvidas em trabalhos e estudos
científicos.

Respeitar estas normas, utilizando-as com simplicidade, compromisso e ética, determinará o


sucesso de sua empreitada profissional.

Usualmente quando uma área do conhecimento se aproxima de outra é devido à necessidade


de que informações de uma área sejam aplicadas na outra. Dentre tantas formas da psicologia
se aproximar e auxiliar a profissionais da área de educação física (técnicos, professores e
atletas), existe o trabalho de psicólogos voltado para o estudo e aprimoramento da
performance de atletas.

Este tipo de trabalho junto a atletas (quer sejam de alto nível ou não) é um trabalho
especializado que exige do psicólogo conhecimentos específicos da psicologia esportiva, de
biologia, de educação física, aspectos culturais da modalidade e do local onde se treina e
compete, entre outros.

Com várias décadas de estudo de alto nível sendo realizados por algumas das maiores
universidades do mundo e aplicados junto a atletas de elite mundial, a psicologia esportiva é
uma ciência bastante utilizada por comissões técnicas de grandes potencias esportivas devido
aos seguintes fatores: resultados positivos obtidos; excepcional relação custo/benefício;
pesquisas constantes que possibilitam novas e úteis descobertas; desenvolvimento de técnicas
não invasivas, de fácil assimilação por parte dos atletas; a possibilidade de trabalhar aspectos
relevantes de ordem comportamental e emocional com critério e profissionalismo.

Em uma nação esportiva que combina características de carência econômica com grande nível
técnico (com inteligência e criatividade) de atletas, como o caso do Brasil, a implementação do
trabalho da psicologia esportiva voltado para a otimização de performance é uma alternativa
valiosa como auxiliar na obtenção de padrões de desempenho mais altos e constantes.
Texto:

Como a ética pode ser vista no esporte?

A Ética, na filosofia é a parte que se dedica ao estudo dos valores, normas de uma
sociedade. Quando levamos esse conceito para a educação física, consideramos varias
situações para que uma partida de determinado esporte seja democrática e não haja
desrespeito entre os que fazem parte da partida (do jogador ao espectador).

Atualmente, a ciência da psicologia do Esporte vem se inserindo nesse meio, devido a


observações de estudiosos da área. Segundo a American Psychological Association (APA), “a
psicologia do esporte é o estudo dos fatores comportamentais que influenciam e são
influenciados pela participação e desempenho no esporte, exercício e atividade física e
aplicação do conhecimento adquirido através deste estudo para a situação cotidiana”; pode-se
afirmar, seguindo essa linha de pensamento, que a psicologia torna visível a relação de corpo e
mente. É possível reforçar essa ideia com o pensamento de Becker Jr., Presidente da sociedade
brasileira de psicologia do esporte , de que “dar aos atletas respaldo psicológico é tão
importante quanto lhes fornecer uma alimentação balanceada, programada por nutricionistas.
Afinal, o corpo físico e o mental são as duas faces de uma mesma unidade e merecem a igual
atenção.”

Um exemplo de conduta adequada foi o caso da partida de futebol entre Dinamarca e


Irã onde, m jogador iraniano confundiu um apito que veio da torcida como sendo o do árbitro,
encerrando o 1o tempo, e pegou a bola com as mãos na grande área. O árbitro marcou pênalti
para a Dinamarca. Mas depois de consultar o treinador da seleção nacional, Morten Olsen, o
jogador Morten Wieghorst chutou o pênalti para fora de propósito, como prova de
honestidade e fair play; e a Dinamarca perdeu por 1-0.

Entretanto, ainda há muitos casos de conduta antiética, um triste exemplo é o doping,


onde o atleta utiliza substâncias para sobressair-se em relação ao(s) adversário(s). Um
escândalo ocorrido, atualmente; foi com a delegação russa dos jogos olímpicos no Rio, onde o
atletismo foi banido, mesmo assim mantiveram-se bicampeões.

Conclusão: Com todas as situações, pode-se deduzir que a ética está presente no
esporte de maneira direta e ela pode fazer com que cause admiração ou desprezo em relação
aos comportamentos de uma partida. Paralelamente a isso, ela também se relaciona com as
emoções do jogador, o que precisa ser trabalhado com um psicólogo específico dessa área.

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