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PARO, V. - Gestao Escolar, Democracia e Qualidade Do Ensino

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Vitor Henrique Paro

GESTÃO ESCOLAR,
DEMOCRACIA E
QUALIDADE DO ENSINO

2ª edição revista
SUMÁRIO

Introdução 9
Capítulo 1: Sobre o conceito de qualidade do ensino
e sua relação com a democracia 15
Capítulo 2: As funções da escola, a estrutura didática
e a qualidade do ensino 35
Funções da escola e qualidade do ensino ........................35
Didática.........................................................................52
Democracia ...................................................................80
Teoria versus prática ......................................................88
Capítulo 3: A estrutura administrativa e a participação
na escola 91
A prática democrática na escola .....................................93
Condições de trabalho ...................................................99
Adesão às mudanças.....................................................105
A estrutura administrativa............................................108
Conclusão: estrutura da escola e qualidade do ensino 123
Referências 131
INTRODUÇÃO

E
ste livro apresenta os resultados de pesquisa realizada no
período de agosto de 2000 a julho de 2003 que teve por
fim estudar as determinações da estrutura organizacional
e didática da escola pública fundamental sobre a qualidade do
ensino – com ênfase na dimensão ético-política dessa qualidade
–, investigar a visão dos atores escolares sobre tais determinações
e discutir as dimensões de uma (re)definição do efetivo papel
sociopolítico da educação escolar.
A ideia da investigação surgiu no contexto da pesquisa
desenvolvida anteriormente por mim (Paro, 2001b), a respeito
da resistência docente à aprovação de alunos, dentro da linha
de pesquisa “Universalização do Ensino e Democratização da
Gestão Escolar”, na qual se insere também este estudo. No
entanto, a preocupação com essas questões vem permeando
meus trabalhos há vários anos, estando presente pelo menos nas
quatro últimas investigações empíricas, alimentando-se de seus
resultados e das constatações que se fizeram em seus contextos.
Em 1991, concluí pesquisa de cunho etnográfico sobre
a participação popular na gestão escolar, realizada em escola
pública estadual da periferia urbana de São Paulo (Paro,
Capítulo 1

SOBRE O CONCEITO DE
QUALIDADE DO ENSINO E SUA
RELAÇÃO COM A DEMOCRACIA

Q
uer no âmbito dos estabelecimentos de ensino e
dos sistemas escolares de modo geral, quer nas
produções acadêmicas e nos discursos sobre políticas
públicas em educação, um dos traços que têm apresentado
permanência marcante nas últimas décadas é o generalizado
descontentamento com o ensino oferecido pela escola pública
fundamental. O que essa insatisfação traz implícita é a denúncia
da não correspondência entre a teoria e a prática, ou entre o que é
proclamado (ou desejado) e o que de fato se efetiva na qualidade
do ensino, muito embora nem sempre haja coincidência a
respeito do conceito de qualidade – conceito esse que, ademais,
raramente aparece explicitado de forma rigorosa. Ora, quando se
atenta para a importância social da educação e para os enormes
contingentes populacionais que as políticas públicas da área
envolvem, mostra-se bastante preocupante essa ausência de
um conceito inequívoco de qualidade. Visto que esta depende
dos objetivos que se pretende buscar com a educação, quando
estes não estão suficientemente explicitados e justificados pode
acontecer de, em acréscimo à não correspondência entre medidas
proclamadas e resultados obtidos, estar-se empenhando na
Capítulo 2

AS FUNÇÕES DA ESCOLA, A
ESTRUTURA DIDÁTICA E A
QUALIDADE DO ENSINO

N
este capítulo examinaremos a visão dos educadores e
dos usuários da escola a respeito do papel da educação
escolar e da qualidade do ensino e suas relações com a
estrutura didática da escola.

Funções da escola e qualidade do ensino

O primeiro ponto refere-se aos fins da educação escolar


e à visão dos educadores e dos frequentadores da escola a esse
respeito. As funções da escola assumidas no projeto de pesquisa,
que encontraram eco na bibliografia crítica consultada e nas
reflexões feitas no contexto desta investigação, têm a ver com
uma concepção educativa da instituição escolar que não se
reduz ao mero provimento de informações a seus alunos de
modo a apenas prepará-los para o mercado de trabalho ou para
o próximo nível escolar. Como explicitado anteriormente, a
escola fundamental é entendida como agência educativa em seu
sentido mais radical, tomada a educação como apropriação da
cultura, e entendida esta como o conjunto de conhecimentos,
valores, crenças, arte, filosofia, ciência, tudo, enfim, que é
AS FUNÇÕES DA ESCOLA, A ESTRUTURA DIDÁTICA E A QUALIDADE DO ENSINO 57

uma coisa muito legal no começo do ano, porque os pais se


sentiram acolhidos também. [...] “Vocês são parte da escola,
vocês são bem recebidos e vocês são responsáveis também
pelo aprendizado das crianças.” Então, eu acho que é um
trabalho que a gente tem que dar continuidade nesse sentido,
de trabalhar as atividades com a criança e com o pai também,
nesses poucos encontros que a gente tem.

Em paralelo à consideração e à atenção para com a família,


especialmente para com os pais e responsáveis diretos pelos
estudantes, um elemento importante de toda
Afeto como prática pedagógica escolar, sobretudo quando
afirmação se trata de crianças e adolescentes, diz respeito
do sujeito ao afeto dedicado aos educandos. Talvez seja
importante esclarecer que o afeto, como foi
entendido no contexto da pesquisa e na fala com os entrevistados,
refere-se a um tratamento essencialmente respeitoso do professor
com o aluno. Respeito não apenas a sua condição de criança,
que deve ser cuidada, protegida e tratada com carinho, mas
também a seu direito de apropriar-se da cultura e de manifestar,
sem constrangimentos deletérios, seu pensamento e sua emoção.
O afeto supõe empatia e compromisso do educador com o
educando, com a preocupação de reforçar a condição de sujeito
deste, estabelecendo uma relação humana que não seja fria e
exterior, ocupada apenas em oferecer conhecimentos para serem
apreendidos, mas sim calorosa e cúmplice da própria formação
da personalidade do educando. Por isso, inclui também o
cuidado do educador em lidar de maneira racional e inteligente
com suas próprias emoções, de modo a não se fazer presa de um
sentimentalismo oco muito presente nas receitas e conselhos
piedosos de alguns pseudointelectuais que, por renunciarem
Capítulo 3

A ESTRUTURA ADMINISTRATIVA
E A PARTICIPAÇÃO NA ESCOLA

A
preocupação com a qualidade do ensino fundamental,
de acordo com uma visão de educação como formadora
de cidadãos, precisa levar em conta, no estudo da
escola, além da estrutura didática desta, também sua estrutura
administrativa. Essa expressão foi empregada no decorrer do
trabalho empírico – e assim entendida pelos entrevistados –
em sua acepção mais usual, como a forma pela qual a escola se
organiza para atingir seus objetivos com base na distribuição do
poder e da autoridade em seu interior. A esse respeito, as escolas
dos vários sistemas de ensino do país se organizam de modo
bastante semelhante, no formato piramidal, em que, no topo,
fica a direção; logo abaixo, hierarquicamente, os profissionais que
prestam assistência e supervisão aos professores (denominados
coordenadores pedagógicos, ou assistentes pedagógicos, ou
supervisores escolares, etc.); a seguir, encontra-se o corpo docente
e, logo abaixo, os alunos. Paralelamente, há os funcionários não
docentes, ocupando o nível intermediário (secretário) e os níveis
subalternos (auxiliares, vigias, serventes, etc.). Além disso, os
sistemas escolares podem contar com órgãos colegiados, como
associação de pais e mestres (existente na grande maioria dos
Conclusão

ESTRUTURA DA ESCOLA E
QUALIDADE DO ENSINO

O
estudo da estrutura administrativa e didática da escola
fundamental exige a consideração de um conceito
de qualidade do ensino mais rigoroso do que aquele
contemplado pelo senso comum. Assim, em lugar de pensar a
escola como mera transmissora de conhecimentos e informações,
esta pesquisa adotou uma concepção de educação – que seria
objeto de provimento pela escola – como atualização histórico-
cultural, ou seja, como apropriação da cultura para a formação
do homem histórico. E a cultura foi entendida em seu sentido
mais amplo e rigoroso, como tudo aquilo que o homem
produz em termos de valores, conhecimentos, objetos, crenças,
tecnologia, costumes, arte, ciência, filosofia, tudo que, enfim, ele
cria para produzir-se historicamente. A educação consiste, pois,
na mediação pela qual se processa a formação integral do homem
em sua dimensão histórica. Dessa perspectiva, considerar a
qualidade do ensino em nossas escolas fundamentais é, como
vimos, levar em conta em que medida se alcança essa formação,
tendo presentes as dimensões individual e social.
A dimensão individual refere-se à própria formação da
personalidade do educando pela apropriação da cultura, de

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