ABC Infeccao Hospitalar
ABC Infeccao Hospitalar
ABC Infeccao Hospitalar
Curitiba
2011
NLM WX 167
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º O art. 184 e seus §§ 1º, 2º e 3º do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação, acrescentando-se um § 4º: “Art.
184. Violar direitos de autor e os que lhe são conexos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa. § 1º Se a violação
consistir em reprodução total ou parcial, com intuito de lucro direto ou indireto, por qualquer meio ou processo, de obra intelectual,
interpretação, execução ou fonograma, sem autorização expressa do autor, do artista intérprete ou executante, do produtor, conforme
o caso, ou de quem os represente: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Hoje sabemos que o nosso conhecimento será 50% modificado em cinco anos.
Assim, toda sugestão será muito bem vinda em qualquer época.
Primum non nocere
Bactérias
Bactérias e infecçã
infecção
ohhospitala
ospitalarr..... 105
1. Água em hospital..... 107
2. Ar..... 109
3. Bacteremia..... 110
4. Controle da desinfecção de materiais..... 111
5. Culturas de ambientes..... 116
6. Culturas de materiais..... 118
7. Culturas de pessoa..... 121
8. Culturas de soluções suspeitas de contaminação..... 124
9. Culturas de secreções..... 127
10. Culturas de vigilância..... 130
11. Diagnóstico microbiológico..... 131
12. Epidemiologia das bactérias..... 133
13. Flora normal..... 161
14. Hemoculturas..... 163
15. Informe preliminar..... 165
16. Resistência bacteriana..... 166
Check-list
Check-list do controle
controle de infecção
infecção hospitala
hospitalarr..... 175
1. Água..... 177
2. Açúcar em curativos..... 183
3. Anti-sepsia..... 184
4. Aquecimento da solução fisiológica para curativo..... 188
5. Ar..... 189
6. Avental..... 192
7. Banho de leito..... 194
8. Comissão de controle de infecção hospitalar..... 195
9. Classificação das cirurgias por potencial de contaminação..... 200
10. Como começar o controle de infecção..... 205
11. Conceitos..... 209
12. Controle de multi-resistentes..... 216
13. Controle de infecção em terapia intensiva..... 220
14. Cuidados com imunossuprimidos..... 227
15. Culturas de ambiente e pessoal..... 229
16. Curativos..... 231
17. Desinfecção..... 243
18. Desinfecção de endoscópios..... 244
19. Doença de jakob creutzfeldt..... 250
20. Esterilização e armazenamento de materiais..... 254
21. Farmácia e o controle de infecções..... 260
22. Fisioterapia e ocontrole de infecções..... 266
23. Flores em ambiente hospitalar..... 272
24. Heparinização de cateteres..... 274
25. Higiene das mãos..... 275
26. Investigação de surtos..... 276
27. Material médico-hospitalar..... 280
28. Medidas básicas para a prevenção de infecção..... 282
29. Pacientes transferidos de outro hospital..... 287
30. Papel da enfermagem no controle de infecções..... 288
31. Pasteurização..... 296
32. Planejamento anual..... 298
33. Precauções e isolamentos..... 299
34. Prevenção da infecção cirúrgica..... 306
35. Prevenção da infecção urinária..... 311
36. Prevenção da pneumonia nosocomial e infecção de cateter..... 314
37. Recursos humanos..... 320
38. Regimento interno da CCIH..... 321
39. Transporte de pacientes..... 327
40. Unhas..... 328
41. Visitantes em ambiente hospitalar..... 332
42. Zeladoria..... 335
Antibióticos e infecção 7
Do ponto de vista da enfermagem
Soubemos de uma discussão entre o médico e a enfermeira onde ele solicitava
que a eritromicina fosse dada endovenosamente; ora, não existe a apresentação
endovenosa da eritromicina, o comprimido não pode ser esmagado e ministrado
por via endovenosa, sob sérios riscos, e a enfermagem não é obrigada a obedecer
esta ordem, que contraria também os seus princípios éticos. É importante esclare-
cer o mal entendido, se houver, e preservar a ética de cada profissional.
8 Antibióticos e infecção
Resolução 1552/99 do CFM
Determina que a prescrição de antibióticos nas unidades hospitalares obedeça às
normas da CCIH de cada instituição.
Antibióticos e infecção 9
2. A melhor indicação
de cada antibiótico
Se houvesse uma única e melhor indicação para um antibiótico, quando ele foi,
digamos assim, concebido, atualmente seriam estas que se seguem, naturalmen-
te na minha modesta opinião.
O TEMPO
O ANTIBIÓTICO A DOSE A BOA INDICAÇÃO
DE USO
(continua)
10 Antibióticos e infecção
(Tabela 1 - conclusão)
Antibióticos e infecção 11
Antibióticos de uso e indicação restritos
Certos antibióticos, pelo custo ou pela toxicidade, também pelo potencial de in-
dução de resistência, deveriam ser usados de preferência com cultura e sob anti-
biograma, com restrição do uso. São eles:
Ampicilina/Sulbactam
Aztreonam
Daptomicina
Imipenem
Linezolida
Meropenem
Piperacilina/Tazobactam
Quinupristina/Dalfopristina (fora do mercado)
Teicoplanina
Ticarcilina
Tigeciclina
Vancomicina
3. Alergia à penicilina
Primeiro, checar se a alergia relatada foi clinicamente documentada ou é uma
história inconclusiva. A maioria é uma reação de pele leve; raras vezes são graves e
até fatais. Estima-se uma incidência de alergia de 10 a 40 casos para cada 100.000
aplicações parenterais, sendo 1 a 5 destas, reações anafiláticas. Os óbitos nos Esta-
dos Unidos por anafilaxia são de 400 a 800 por ano. A maioria dos pacientes com
anafilaxia não tem história prévia de alergia. Os óbitos ocorrem em dois casos
para cada 100.000 injeções.
A reação imediata ocorre dentro de 1 a 30 minutos (até mesmo segun-
dos), restrita a urticária ou mesmo edema de glote, broncoespasmos, hipotensão.
12 Antibióticos e infecção
A reação acelerada ocorre até 72 horas após e é do tipo urticariforme. As reações
tardias ocorrem de 3 a 21 dias após e podem ser dermatite de contato, doença do
soro, anemia hemolítica, trombocitopenia, leucopenia, nefrite intersticial aguda.
Testes
Os testes não são práticos e nenhum teste é completamente confiável; nem todos
são disponíveis no Brasil. Assim, recomenda-se administrar a penicilina e esperar
uma hora. São conhecidos: Prick-Test, teste intradérmico, BPO-PLL, RAST.
Importante
O corticóide leva cerca de 30 minutos para agir e pode não ser suficiente para
prevenir a reação anafilática; além disso, no choque, a vasoconstrição periférica
pode impedi-lo de chegar aos tecidos a tempo de impedir as reações graves.
Serve apenas para as outras reações, podendo ser ministrado simultaneamente
à adrenalina, mas nunca sozinho. Tanto o teste cutâneo como o teste intradér-
mico pode provocar reação anafilática, sendo desrecomendados como triagem.
Lembrar que 5% a 25% dos pacientes alérgicos à penicilina apresentam reação
cruzada às cefalosporinas.
Antibióticos e infecção 13
✓Check-list
✓✓Perguntar se já tomou penicilina previamente (oral ou parenteral)?
✓✓Se não, fazer o teste.
✓✓Se tomou, perguntar se houve reações locais ou gerais.
✓✓Se não, fazer o teste.
✓✓Se teve reações locais, fazer o teste.
✓✓Se teve reações gerais do tipo urticária, angioedema, asma, anafilaxia ou cho-
que anafilático, não administrar a penicilina.
penicilina
14 Antibióticos e infecção
4. Antibioticoprofilaxia
em obstetrícia
PROCEDIMENTO ANTIBIOTICOPROFILAXIA
Antibióticos e infecção 15
5. Antibióticos na gestação
Sem inconveniente durante a gestação
Etambutol
Isoniazida
Macrolídeos (contra-indicados no aleitamento)
Penicilina (indicação estrita no aleitamento)
Pirazinamida
16 Antibióticos e infecção
Monobactâmicos
Paromomicina
Rifampicina (contra-indicado no 1º trimestre e no aleitamento)
Sulfonamidas (especialmente no 1º trimestre e no aleitamento)
Vancomicina
Ácido clavulínico
Ácido nalidíxico
Azlocilina (reduzir a dose se houver insuficiência renal simultânea)
Aztreonam (reduzir a dose)
Cefoperazona (reduzir a dose)
Cefotaxima
Antibióticos e infecção 17
Ceftriaxona (reduzir a dose na insuficiência renal simultânea)
Cetoconazol
Ciprofloxacina (reduzir a dose)
Claritromicina
Clindamicina
Cloranfenicol
Cotrimoxazol (reduzir a dose)
Doxiciclina (reduzir a dose)
Eritromicina (principalmente ESTOLATO; reduzir a dose)
Etionamida
Fleroxacina (reduzir a dose)
Fluconazol (reduzir a dose)
Griseofulvina
Isoniazida (reduzir a dose)
Lincomicina
Metronidazol (efeito antabuse)
Mezlocilina (reduzir a dose na insuficiência renal simultânea)
Miconazol (reduzir a dose)
Nitrofurantoína
Norfloxacina (reduzir a dose)
Ofloxacina (reduzir a dose)
Pefloxacina (reduzir a dose)
Piperacilina (reduzir a dose na insuficiência renal simultânea)
Pirazinamida
Rifampicina
Roxitromicina (reduzir a dose)
Sulfonamidas (reduzir a dose)
Tetraciclinas.
Importante
Até o momento existem poucos estudos sobre a antibioticoterapia na insuficiên-
cia hepática. Os quadros indicados são, por isso, incompletos.
18 Antibióticos e infecção
7. Antibióticos no leite materno
Substâncias antibacterianas que ultrapassam o leite
Ácido nalidíxico Isoniazida
Ampicilina Imipenem
Aztreonam Josamicina
Cefazolina Metronidazol
Cefepime Nitrofurantoína
Cefoxitina Norfloxacina
Ceftazidima Penicilinas
Cloranfenicol Pirimetamina
Ciprofloxacina Rifampicina
Cotrimoxazol Sulbactam
Ciclosserina Sulfonamidas
Eritromicina Tetraciclinas
Estreptomicina Tinidazol
Etambutol
Embora seja importante conhecer estes dados para analisar cada caso isolado, o
uso de antimicrobianos não contra-indica o aleitamento materno.
Antibióticos e infecção 19
8. Antibiótico tópico
Penicilina, sulfonamida, tetraciclina, frademicina e neomicina não deverão mais
ser usados topicamente porque eles causam alergia com freqüência e a maioria
dos germes causadores de infecção da pele (Staphylococcus aureus, Streptococ-
cus, Pseudomonas aeruginosa e outros germes gram-negativos) se tornou resis-
tente contra as penicilinas, sulfonamidas, tetraciclina, neomicina e frademicina. A
neomicina é uma das substâncias que mais causam alergia de contacto. Alterna-
tivas são: polimixina (para gram-negativos) ou bacitracina, ácido fusídico (gram-
positivos), mupirocin (estafilococos e estreptococos).
20 Antibióticos e infecção
Contra-indicações
Infecção da ferida cirúrgica com pus ou secreção (p. ex. nebacetin)
Abscessos
Angina
Faringite
Amigdalite
Limpeza de cateter vesical
Queimaduras com pequena superfície
9. Associações antagônicas
ou desnecessárias
Antibióticos e infecção 21
5. Penicilina/ampicilina e cefalosporinas, ambos atuam no mesmo sítio de
ação.
22 Antibióticos e infecção
10. Associações deselegantes
1. Ampicilina + ceftriaxona, mas está correta em infecções abdominais, por
exemplo.
2. Ampicilina + cefazolina, mas está correta em infecções de pele por flora mista
(estafilococo e enterococo), por exemplo.
4. Oxacilina (12g) + ceftriaxona (4g), mas está correta em alguns casos de me-
ningite por S. aureus.
Antibióticos e infecção 23
12. Bacteriúria
Indicações de tratamento
• Ambulatorial (ITU): sintomas de cistite, sem febre e sem sinais sistêmicos.
• Hospitalar (PNA): sintomas urinários, com febre e/ou dor lombar (sinal de Gior-
dano positivo).
Toda infecção urinária na gestante deve ser tratada, sob risco de aborto.
Tempo de tratamento
• 3 Dias (ITU em imunocompetentes, sem complicações e sem recorrência)
• 7 Dias (ITU complicada ou recorrente)
• 10 A 14 dias (PNA).
24 Antibióticos e infecção
Tratamento da bacteriúria assintomática em gestante
1ª opção
• SMT + TMP 800 mg + 160 mg VO 12/12 horas por 3 dias (exceto no 1º e no 3º
trimestre de gestação)
Antibióticos e infecção 25
Antes de iniciar antibiótico
• Hemograma
• Parcial de urina com sedimento corado
• Cultura de urina com antibiograma
• Hemoculturas (Duas amostras colhidas de locais diferentes, meia a uma hora
de intervalo, independente do pico febril) na suspeita de PNA
Tempo de tratamento
• 3 dias (ITU em imunocompetentes, sem complicações e sem recorrência)
• 7 dias (ITU complicada ou recorrente)
• 10 a 14 dias (PNA).
Tratamento ambulatorial por 10 a 14 dias. Preferir tratar conforme antibiograma,
mas não se deve esperar este resultado. Iniciar empiricamente e depois ajustar
conforme antibiograma.
Tratamento
• Nitrofurantoína 100 mg VO 6/6 horas por 7 dias (até a 36ª semana) tomar com
alimentos
26 Antibióticos e infecção
14. Controle de antibióticos,
uma questão ecológica
Na Natureza não existe vazio microbiano. Quando alguns elementos são destru-
ídos, outros, provavelmente mais fortes e melhorados geneticamente, ocuparão
o espaço deixado. Esta premissa se tornou hoje um grande problema de saúde
pública, principalmente em hospitais que utilizam muito antimicrobianos, com
o surgimento de cepas bacterianas extremamente resistentes. Voltamos quase
à era pré-antibiótica, onde assistíamos o doente morrer, sem poder fazer nada
por ele, por não haver medicamentos adequados. Hoje, alguns dos antibióticos
recém-lançados se tornam inócuos em bem pouco tempo, pelo uso indiscrimi-
nado. A rigor, a bactéria não sabe distinguir se o uso do antibiótico é correto ou
incorreto. O uso amplo cria uma pressão de seleção bacteriana induzida pela pre-
sença do antibiótico no meio, selecionando aquelas resistentes. Seria ideal que
existisse um antibiótico para cada bactéria, mas de modo geral, os antibióticos
matam aquela bactéria desejada, mas também muitas outras que não precisariam
ser eliminadas, levando assim à indução de resistência.
Em cinco anos vimos aparecer os ERV (Enterococos resistentes a Vanco-
micina), os VISA (Estafilococos com sensibilidade intermediária a Vancomicina) e
já há relatos do aparecimento dos VRSA (Estafilococos com resistência real a van-
comicina). As unidades de terapia intensiva da grande maioria dos hospitais de
grande porte estão povoadas por monstros microbianos multi- e pan-resistentes,
tornando o atendimento hospitalar oneroso, não só no sentido financeiro, como
também com relação à qualidade da assistência. Assim, urge que se tome uma
posição firme – porque o problema é gravíssimo – com relação à utilização de
antimicrobianos.
O que aconteceria se um paciente fosse à farmácia e comprasse doze aspi-
rinas e tomasse todas de uma vez? O único prejudicado seria o próprio paciente,
no sentido biológico, que teria uma úlcera perfurada que poderia sangrar e até
levá-lo a óbito. Outras pessoas não seriam afetadas biologicamente por este mau
Antibióticos e infecção 27
uso. Isto acontece com a maioria dos medicamentos. Não acontece, entretanto,
quando se utilizam antimicrobianos e principalmente antibióticos. Quando se uti-
lizam antibióticos, altera-se toda a ecologia microbiana em torno e, dependendo
da concentração, posologia, via de administração e tempo de uso, poderá haver
a seleção de cepas da mesma espécie, porém altamente resistentes naquele mi-
croambiente.
Vale lembrar que se o antimicrobiano não estivesse presente no ambien-
te, a mutação espontânea seria muito rara, ocorrendo em 1 para cada 1.000.000
de casos. Como a bactéria resistente se multiplica mais lentamente que as sen-
síveis, ela seria rapidamente suplantada por todas as outras colônias sensíveis e
em pouco tempo ela simplesmente não existiria. Porém, a se manter a antibioti-
coterapia por tempo prolongado, é possível que cepas resistentes sobrevivam e
principalmente se disseminem no ambiente.
Busato e colaboradores (Busato, 2000) verificaram que familiares de pro-
fissionais de saúde eram colonizados igualmente por S. aureus, exatamente como
a população em geral; entretanto, quando analisada a resistência bacteriana des-
tas cepas, verificou-se que a resistência de S. aureus nestes profissionais era maior
que a população em geral. Portanto, profissionais de saúde, no grau direto da sua
higiene pessoal em ambiente hospitalar, principalmente os cuidados com a lava-
gem das mãos, entre pacientes e ao sair do hospital, levam bactérias hospitalares
para suas casas e o que é pior, colonizam seus familiares com essas cepas.
Outra possibilidade é que os calçados também transportem bactérias
para os lares, daí a recomendação de que profissionais de saúde com crianças em
idade de engatinhar, troquem seus calçados ao sair do hospital ou ao entrar em
casa. Neste curto trajeto não há tempo para a eliminação das bactérias, mesmo
as resistentes.
Outra questão é o constrangimento dos restaurantes e lanchonetes em
volta dos hospitais, ao receber profissionais de saúde de branco, isto é, com o
próprio uniforme com que freqüentaram as enfermarias, o laboratório ou pacien-
tes em isolamento por doenças contagiosas, sem sequer lavar as mãos para se
alimentar. O que dizer do transporte desses aventais pendurados nos ombros dos
estudantes, verdadeiros “espanadores”, nos ônibus, shoppings, enfim, em locais
de trânsito de pessoas que não desejam entrar em contato com estes germes
hospitalares. Percebo que falta consciência, estar presente no momento. Quem
gostaria de convidar os pseudomonas e os estafilococos, multi-resistentes ou não,
não importa, para o almoço?
28 Antibióticos e infecção
Passos para o controle de antimicrobianos
Padronização
Para iniciar o processo de revisão da padronização de antimicrobianos, ou para
iniciá-lo, existem alguns passos para o caminho:
Prescrição supervisionada
Quando se utiliza um medicamento qualquer em excesso, o prejuízo ficará estrito
apenas ao paciente em questão; quando se utilizam antimicrobianos em exces-
so, seja por excesso de indicação ou de posologia, o prejudicado não é apenas
o paciente, mas todo o ambiente onde se encontra este paciente e mesmo nos
seus familiares, e familiares dos profissionais de saúde, pela alteração da ecolo-
gia microbiana local. Portanto, é de fundamental importância que a prescrição de
antimicrobianos seja supervisionada diariamente por médico infectologista, que
tenha condições de discutir a indicação, corrigir doses e suspender o antibiótico,
tão logo ele se torne desnecessário. Uma estratégia que temos utilizado é a visita
diária aos pacientes, utilizando um carimbo ao lado da prescrição do antibiótico,
anotando o número de dias de prescrição, para tornar esta prescrição consciente
e para que o médico saiba que está sendo supervisionado. Esta medida simples
colabora com a racionalização do uso de antimicrobianos e dá confiança ao corpo
clínico de que, se não houve anotações, o antibiótico estava correto. Qualquer al-
teração detectada deverá ser comunicada pessoalmente ao médico responsável
para correção.
Antibióticos e infecção 29
Ficha de antimicrobianos
Todo paciente em uso de antimicrobianos deverá ter uma ficha preenchida, que
justifique o seu uso, com dados de identificação, idade, posologia, se profilático
ou terapêutico e com o nome do médico que prescreveu. Esta ficha poderá ser
preenchida pelo próprio médico do paciente (ficha individual), que será encami-
nhada ao Serviço de Farmácia para levantamento de dados ou pelo médico da
CCIH, preferentemente infectologista (ficha coletiva) que acompanhará diaria-
mente o uso de antimicrobianos, tendo aí também uma pista para a vigilância
das infecções hospitalares quando houver troca de antimicrobianos ou quando
for iniciado após 72 horas da internação. De forma alguma o não preenchimento
da ficha poderá impedir o paciente de receber medicamentos, porque este não
precisa ser punido pela falta de colaboração de alguns. Entretanto o que vimos ao
longo da prática é que se a ficha de antimicrobianos for preenchida pelo próprio
infectologista, este tem a oportunidade de se dirigir aos colegas e discutir, sugerir,
propor modificações na terapêutica, sem infringir a ética médica realizando o ver-
dadeiro controle de antimicrobianos que é a racionalização do uso.
Veja Modelos de Ficha de Antimicrobianos em Anexo I e II (páginas 364 e
365).
• Por clínica.
• Por mês/ano.
• Por antibiótico (ex.: vancomicina, carbapenêmicos, cefalosporinas de 4ª geração).
A informatização da prescrição é um precioso auxiliar neste processo, simplifican-
do a análise.
30 Antibióticos e infecção
Divulgação dos dados de consumo ao corpo clínico
De tudo que se tem escrito sobre controle de antimicrobianos, parece que o mais
eficaz mesmo é a divulgação dos dados de consumo ao corpo clínico e seu res-
pectivo custo. A conscientização dos gastos pode favorecer a escolha de antimi-
crobianos de menor custo e mesma equivalência e também a redução do tempo
de uso.
Antibióticos e infecção 31
15. Critérios de uso de vancomicina
A situação de multi-resistência, especialmente o aparecimento de VRE nos hospi-
tais tem nos levado a dificuldades de manejo e bloqueio de leitos, que quase im-
possibilitam o dia-a-dia. Assim, técnicos dos CDC (MMWR Sept 22, 1995/44 (RR12);
1-13) definiram critérios para utilizar vancomicina, para minimizar os riscos de in-
dução de enterococos resistentes.
32 Antibióticos e infecção
''Terapia empírica de pacientes neutropênicos febris, a menos que haja evidên-
cia de infecção por gram-positivos e a prevalência de MRSA seja substancial.
Antibióticos e infecção 33
16. De-escalonamento
Com a finalidade de reduzir o consumo de antimicrobianos e otimizar os custos,
toda vez que um germe for identificado ou logo que o paciente puder, deve-se
reduzir o espectro antibiótico ou passar o medicamento para via oral. Algumas
drogas têm a mesma biodisponibilidade, se administradas via oral ou endoveno-
sa, por exemplo, ciprofloxacina, levofloxacina, outras quinolonas, metronidazol.
Seguem algumas sugestões:
Ciprofloxacina VO
CIPROFLOXACINA EV
Norfloxacina VO Germe sensível,
sem pielonefrite
LEVOFLOXACINA EV Levofloxacina VO
METRONIDAZOL EV Metronidazol VO
AMPICILINA EV Amoxicilina VO
PENICILINA Despacilina IM ou
CRISTALINA EV Amoxicilina VO
(continua)
34 Antibióticos e infecção
(Tabela 3 - conclusão)
CEFTRIAXONA EV Ceftriaxona IM
Teicoplanina IM MRSA**
Antibióticos e infecção 35
17. Diagnóstico microbiológico
Um diagnóstico microbiológico sólido é essencial para um apropriado e acurado
teste de sensibilidade. É muito importante estabelecer uma base se comunicação
com o laboratório, a fim de dirimir dúvidas e agilizar laudos. A informação de um
resultado preliminar de cultura é uma prática bastante útil à beira de leito. Alguns
achados podem fazer suspeitar de um “mau” laboratório:
36 Antibióticos e infecção
18. Difusão de antibióticos
no líquido amniótico
• Aztreonam + • Penicilinas
• Cefalosporinas ++ No início da gestação negativo
• Isoniazida +++
• Rifampicina +++
• Josamicina +
• Sulfonamidas +++
• Lincomicina ++
• Tetraciclinas +++
• Metronidazol +++
Os demais antibióticos ou não foram feitos estudos ou eles não se difundem su-
ficientemente em concentrações antibacterianas efetivas no líquido amniótico.
Durante infusão lenta atingem-se picos no líquido amniótico mais altos; entre-
tanto deve-se levar sempre em conta que as concentrações suficientes no líquido
amniótico só serão atingidas em 4-6 horas.
Antibióticos e infecção 37
19. Doze passos para prevenir
resistência bacteriana em
pacientes hospitalizados
Os CDC dos Estados Unidos (www.cdc.gov) vêm com uma campanha abrangente
sobre a racionalização do uso de antimicrobianos e sugerem Doze Passos para
prevenir a resistência bacteriana. Confira adiante.
Prevenção de infecção
1º passo: vacine
• Vacinação contra influenza.
• Vacinação contra influenza e pneumococo para pacientes de risco antes da alta.
38 Antibióticos e infecção
• Dirija a terapia definitiva a patógenos conhecidos.
• Otimize o horário, regime, dose, rota e duração.
• Monitore a resposta e ajuste o tratamento quando necessário.
Antibióticos e infecção 39
9º passo: saiba quando dizer “não” à vanco
• Febre e um acesso EV não são indicação de rotina para vancomicina.
• MRSA pode ser sensível a outros antimicrobianos.
• Trate infecção estafilocócica, não contaminantes ou colonização.
Previna a transmissão
40 Antibióticos e infecção
20. Efeitos colaterais
Como todo medicamento, os antimicrobianos também apresentam seus efeitos
colaterais. É importante sempre pesar o risco/benefício ao escolhê-los. Não há
medicamento inócuo e os antimicrobianos, em especial, desencadeiam resistên-
cia bacteriana àqueles germes sensíveis, a depender do tempo de uso.
(continua)
Antibióticos e infecção 41
(Tabela 4 - continuação)
Ceftriaxona
Cefalosporina Cefotaxima
de 3ª geração Náuseas, vômitos, diarréia, trombocitopenia, leucopenia,
Ceftriaxona colite pseudomembranosa; eosinofilia, granulocitopenia e
Cefotaxima mais raramente agranulocitose; reações de hipersensibili-
Ceftazidima dade: urticária, febre medicamentosa; alterações da função
hepática: aumento das transaminases e fosfatase alcalina.
Ceftazidima
42 Antibióticos e infecção
(Tabela 4 - continuação)
Cefalexina
Cefalotina
Antibióticos e infecção 43
(Tabela 4 - continuação)
44 Antibióticos e infecção
(Tabela 4 - continuação)
Antibióticos e infecção 45
(Tabela 4 - conclusão)
21. Endocardite
• Diagnóstico através de 2-3 hemoculturas.
• Parcial de urina (leucocitúria, hematúria, proteinúria).
• Proteína C reativa, VHS, mucoproteínas.
• Hemograma com leucocitose.
• Ecocardiograma (preferível transesofágico).
46 Antibióticos e infecção
Critérios possíveis de endocardite
• Pelo menos 1 critério maior e 1 critério menor ou
• 3 critérios menores
Antibióticos e infecção 47
instrumentação endodôntica ou cirurgia que ultrapassa o ápice, colocação de
anéis ortodônticos, anestesia intraligamentar.
48 Antibióticos e infecção
Tabela 5. Esquemas de profilaxia para prevenção de endocardite infecciosa: pro-
pro-
cedimentos odontológicos, vias aéreas superiores e trato digestivo alto.
Antibióticos e infecção 49
Tabela 6. Esquemas de profilaxia para prevenção de endocardite infecciosa: pro-
pro-
cedimentos e/ou cirurgias do trato gênito-urinário e gastrintestinal
50 Antibióticos e infecção
22. Erros mais freqüentes
em antibioticoterapia
Antibióticos e infecção 51
23. Escolher preferentemente
• Escolher preferentemente amoxicilina oral a ampicilina oral.
oral A amoxicilina é
de mais fácil tomada (8/8 horas), facilita a adesão, dá menos diarréia e menos
efeito colateral que a ampicilina, além do custo que é menor.
52 Antibióticos e infecção
• Escolher preferentemente cefazolina à cefalotina.
cefalotina Têm espectros de ação se-
melhantes, mas a cefazolina pode ser dada de 8/8h, facilitando a administração.
Além disso, nas infecções ósseas a cefazolina penetra 16 mais que a cefalotina.
Lembrar que a dose terapêutica de cefazolina é sempre a metade da cefaloti-
na com dosagens máximas diárias de 6g (cefazolina) e de 12g (cefalotina). Na
antibioticoprofilaxia as doses se equivalem. O custo-dia poderá influenciar a
padronização de uma ou outra.
Definir protocolos
As diversas especialidades devem definir os protocolos de tratamento das princi-
pais doenças infecciosas, inclusive com o tempo provável de tratamento. A anti-
bioticoprofilaxia, por exemplo, já está bem definida para a maioria dos procedi-
mentos cirúrgicos. A antibioticoprofilaxia em clínica é clássica e não tem mudado
desde 1984. Algumas infecções já têm definidos os tempos de tratamento, con-
forme experiência da maioria dos experts da área. Seguem-se alguns exemplos
das infecções mais comuns (Tabela 7).
Antibióticos e infecção 53
e resistência bacteriana ao corpo clínico. A CCIH pode ser o elo de divulgação
desses dados para torná-los conhecidos de todos.
Ficha de antimicrobianos
Para cada antimicrobiano prescrito, é necessário que haja uma ficha de antimicro-
biano a ser preenchida sempre que se iniciar um novo ou for trocado um antimi-
crobiano. A critério do hospital, a ficha poderá ser instituída para todo e qualquer
antimicrobiano prescrito (nos sistemas informatizados isto fica muito simplifica-
do) ou apenas para aqueles de maior custo e/ou toxicidade, por exemplo, vanco-
micina, carbapenêmicos ou cefalosporinas de quarta geração (anexo I, p. 364).
Angina estreptocócica 10
Artrite
• Purulenta 21
• Gonocócica 3
Endocardite
• Agente desconhecido 42
(continua)
54 Antibióticos e infecção
(Tabela 7 - continuação)
• Enterococo 42
• Estafilococo 28
Meningite
• Meningococo 7
• Pneumococo 14
Osteomielite,
• Aguda 21-28
• Crônica 56
Pericardite 28
Pneumonia
• Estafilococo 14-21
• Estreptococo, pneumococo,
H. influenzae 7-10
Prostatite
• Aguda 14-21
• Crônica 90-120
Antibióticos e infecção 55
(Tabela 7 - conclusão)
Sepse 10-14
Sinusite 7
Tifo 14
Custos
Deve-se solicitar à farmácia a percentagem que o consumo de antimicrobianos
representa em relação aos gastos totais com medicamentos. Normalmente os
antimicrobianos são responsáveis pela metade dos gastos hospitalares com me-
dicamentos. E normalmente, entre 25% a 35% dos pacientes internados recebem
antimicrobianos, alguns hospitais chegando a 50%. Daí se vê que qualquer pro-
grama de racionalização de uso de antimicrobianos representa redução significa-
tiva de custos.
56 Antibióticos e infecção
25. Histórico
Descoberta em 1945, a penicilina foi usada largamente em todo o mundo e em
menos de 20 anos já se descrevia a resistência de cepas de S.aureus a elas. As
cepas de S. aureus resistentes a meticilina/oxacilina (MRSA) já eram descritas em
1980 nos Estados Unidos. No Brasil, um estudo realizado em 1994 pelo Ministério
da Saúde (Prade, 1995) mostrou que 48% dos pacientes naquele estudo recebia
algum tipo de antibiótico no dia da pesquisa; 16% recebia dois tipos; 3,2% recebia
três tipos; 0,51% recebia quatro tipos; 0,06% recebia cinco tipos e 0,02% recebia
seis tipos (Tabela 8).
ANTIBIÓTICOS PACIENTES
1 tipo 48,00%
2 tipos 16,00%
3 tipos 3,20%
4 tipos 0,51%
5 tipos 0,06%
6 tipos 0,02%
Antibióticos e infecção 57
Sem considerar que apenas 10% dos pacientes com infecção hospitalar
neste mesmo estudo tinham um diagnóstico microbiológico. Não cabe discutir
aqui a qualidade do diagnóstico destes parcos 10% no Brasil afora, nem 20% de
erro inerente aos próprios métodos; por questões metodológicas, 20% das cul-
turas podem ser positivas ou negativas, mesmo nos melhores serviços. Em 1996
surge o primeiro caso clínico de enterococo resistente a vancomicina (ERV) no
Brasil, em Curitiba. Identificado como Enterococcus faecium, cuja cepa foi enviada
ao CDC para caracterização do gene, embora não fosse nenhum conhecido. Em
1997, nos Estados Unidos, foram descritos três casos de S. aureus com resistência
intermediária a vancomicina (VISA). Em 1998, descritos 15 casos de VISA no mun-
do, sendo cinco casos no HC em São Paulo. Em 2002, nos Estados Unidos, descrito
o primeiro caso de resistência real a vancomicina (VRSA). Em 2008 as UTI estão
lidando com germes multi- e pan-resistentes, sem opção terapêutica. O problema
é que não existe antibiótico específico para cada um dos agentes. Ideal se fosse
penicilina só para estreptococos, cefazolina para estafilococos, ampicilina para
enterococos e assim por diante. Estes antibióticos têm espectro não direcionado
e acabam “tratando” outros germes que não aqueles desejados.
58 Antibióticos e infecção
26. Incompatibilidade em soluções
Tabela 9. Incompatibilidade em soluções.
Antibióticos e infecção
ANTIMICROBIANO INCOMPATÍVEL COM ADMINISTRAÇÃO RECOMENDAÇÕES
• Cefaslosporinas, penici- Utilizar solução fisiológica, solução Não misturar com outro
linas, anfotericina B. glicosada a 5%, solução de Ringer medicamento na mesma
AMICACINA com lactato ou Ringer com lactato solução.
• Heparina.
e glicose.
Infundir em 30’ a 1 hora.
59
(continua)
(Tabela 9 - continuação)
60
• Anfotericina B, Diluir cada grama em 20 ml de Administrar o mais
tetraciclinas, água destilada, soro glicosado a 5% lentamente possível ou
aminoglicosídeos. ou soro fisiológico a 0,9%. diluir previamente em
água.
CARBENICILINA • Heparina, vitamina C,
vitaminas do complexo
B, bicarbonato de
sódio, fenitoína,
prometazina.
Antibióticos e infecção
(Tabela 9 - continuação)
Antibióticos e infecção
• Aminofilina, gluconato
Ca++, sulfato Mg++.
• Gluconato de cálcio,
ESTREPTOMICINA
heparina, fenobarbital,
fenitoína, bicarbonato
Na+, cloreto Na+,
cloreto K+.
61
(Tabela 9 - continuação)
62
• Cefalosporinas, penicili- Aplicar lenta e diretamente na veia Não misturar com outro
nas, anfotericina B. ou diluir em 100 a 200 ml de soro medicamento na mesma
fisiológico ou soro glicosado a 5% e solução.
GENTAMICINA • Heparina.
infundir em 1 a 2 horas.
Havendo decoloração da
solução ou formação de pre-
cipitado, desprezar a solução.
Antibióticos e infecção
(Tabela 9 - conclusão)
Antibióticos e infecção
B, bicarbonato de Na+, minutos.
fenitoína, prometazina.
63
64
27. Infecções e agentes mais freqüentes
Tabela 10. Infecções e agentes mais freqüentes.
Antibióticos e infecção
(continua)
(Tabela 10 - continuação)
Antibióticos e infecção
• Agente 42 dias
desconhecido
ENDOCARDITE
AGUDA • S. aureus • Kefazol 2g x 3 Se MRSA: Vancomicina 4 semanas
65
(Tabela 10 - continuação)
66
• Salmonella • Sem AB • Sepsis: Ciprofloxacina 7 dias
500mg x 2 VO
Antibióticos e infecção
(Tabela 10 - continuação)
Antibióticos e infecção
OTITE MÉDIA • Pneumococo • Amoxicilina 500mg x • Ciprofloxacino 500mg x 2 14 dias
AGUDA 3 VO VO + Metronidazol 500mg
x 3 VO
MASTOIDITE/
SINUSITE
67
(Tabela 10 - continuação)
68
• Pneumococo • Penicilina • Ampicilina 7 dias. Máximo
10 dias.
PNEUMONIA
• Estreptococo • Penicilina • Ampicilina
AGUDA
PNEUMONIA
• Sem • Ceftriaxona 2g EV/dia • Associa metronidazol 8-10 dias
agente > 65a
Antibióticos e infecção
(Tabela 10 - conclusão)
Antibióticos e infecção
VO 8/8h
69
70
28. Interações medicamentosas com antibióticos
Tabela 11. Interações medicamentosas com antibióticos.
(continua)
Antibióticos e infecção
(Tabela 11 - continuação)
Antibióticos e infecção
• Álcool • Pode aumentar os efeitos do álcool;
reação menor do tipo dissulfiran
• Aminoglicosídeos
CLORANFENICOL • Pode ocorrer antagonismo
• Anticoagulantes
orais • Aumento do tempo de protrombina
• Fenitoína
71
(Tabela 11 - continuação)
72
ESPIRAMICINA • Alimentos • Prejudica a absorção da espiramicina
Antibióticos e infecção
(Tabela 11 - conclusão)
Antibióticos e infecção
e magnésio
TETRACICLINAS • Hidróxido de Al
• Ca, Mg, Fe
73
29. Leis básicas da antibioticoterapia
Segundo o Professor F. Daschner, da Universidade de Freiburg, alguns princípios
básicos da antibioticoterapia devem ser observados.
3. Toda febre não esclarecida deve ter colhido hemoculturas. A correta retirada
de sangue e o transporte são importantes para o diagnóstico.
6. A antibioticoprofilaxia deverá ser tão curta quanto possível. Dose única já está
consagrada na literatura para alguns procedimentos: histerectomia, colecis-
tectomia ou cirurgias de vias biliares, cirurgia de cólon
• Falta de defesas (pacientes hematológicos podem levar até 7 dias para ter a
febre baixada)
74 Antibióticos e infecção
• Febre pela droga
• Efeitos colaterais
• Toxicidade
10. Na maioria das vezes são necessários 5 dias após a queda da temperatura.
11. Antibióticos são utilizados, em geral, por tempo demais. Preferir o antibiótico
conhecido e de maior experiência pessoal.
2. Antibiótico profilático é aquele que vai prevenir apenas infecção da ferida ci-
rúrgica; não previne outras infecções, como urinária, pneumonia ou infecção
de cateter.
Antibióticos e infecção 75
4. A maioria das cirurgias não necessita antibiótico profilático. Ex.: parto normal,
tireoidectomia, histerectomia abdominal, herniorrafia.
7. O antibiótico profilático deve ser parenteral (IM ou EV) para atingir nível séri-
co suficiente para prevenir infecção.
9. Lembrar que quanto mais geração, menos eficaz a cefalosporina contra esta-
filococos.
1ª. Geração > 2ª. Geração > 3ª. Geração = 4ª. Geração
Comparando cefazolina e cefalotina, lembrar que:
• Dependendo dos preços locais, a dose diária de cefazolina pode ser mais
custo-efetiva que a cefalotina.
• Queimados
76 Antibióticos e infecção
11. Não existe antibiótico que previna a colonização do dreno, não estando indi-
cada a manutenção da antibioticoprofilaxia enquanto tiver dreno.
O ideal é que a profilaxia seja definida por estudos locais bem controlados e adap-
tados a cada especialidade.
• Uso prévio de antibiótico, mesmo que seja apenas uma dose, pode impedir o
desenvolvimento de germes nas hemoculturas.
Antibióticos e infecção 77
• O uso regular de anti-térmico (“de horário”) pode impedir de se evidenciar a
curva térmica do paciente.
Superinfecção
Chama-se superinfecção quando se desenvolve uma infecção durante a vigência
de outra prévia. Muitas vezes este diagnóstico é difícil porque os parâmetros clíni-
cos são os mesmos, mas a cultura pode evidenciar outro germe, diferente do an-
terior. Geralmente ocorre o agravamento do quadro clínico. A suspensão precoce
da antibioticoterapia pode ser o fator a preveni-la.
32. Meningites
Considerar sempre a idade para auxiliar no diagnóstico deferencial das meningi-
tes; crianças podem ter hemófilos enquanto adultos, menos; agosto e setembro
favorecem meningite meningocóccica; afastar sinusite, otite e mastoidite, que
favorecem germes gram-negativos. Seguem algumas sugestões de tratamento
(Tabelas 12, 13 e 15). Não esquecer que na meningite meningocóccica deve-se
tratar o estado de portador do paciente (tabela 14).
78 Antibióticos e infecção
Profilaxia do portador nas meningites meningocócicas
• Utilizar sempre máscara na suspeita de meningite de qualquer etiologia.
• Não se recomenda profilaxia indiscriminadamente para todas as pessoas que
atenderam o paciente. Assim, evita-se o uso excessivo de antibióticos; a princi-
pal desvantagem é o rápido desenvolvimento de cepas resistentes de menin-
gococos.
PATÓGENOS TEMPO DE
IDADE ANTIBIOTICOTERAPIA
BACTERIANOS TRATAMENTO
(continua)
Antibióticos e infecção 79
(Tabela 12 - continuação)
Fratura • H. influenzae
base
• Estreptococo
crâneo
B-hemolítico do
Grupo A
80 Antibióticos e infecção
(Tabela 12 - conclusão)
• S. pneumoniae • Vancomicina +
Amipicilina +
• N. meningitidis
Ceftazidima ou
Hospedeiro • L. monocytoge- cefepime
imunocom nes
prometido
• BGN (Pseudomo-
nas aeruginosa)
• S. aureus
TRATAMENTO TRATAMENTO
BACTÉRIA DURAÇÃO
DE ESCOLHA ALTERNATIVO
• Ceftriaxona
• Cloranfenicol
ß Lactamase positiva
(continua)
Antibióticos e infecção 81
(Tabela 13 - conclusão)
• SMT + TMP
Staphylococcus aureus
Meticilino sensível • Oxacilina • Vancomicina
Staphylococcus • Vancomicina
epidermidis
82 Antibióticos e infecção
Tabela 14. Profilaxia do portador na meningite.
MENINGOCOCO
HEMÓFILOS
Antibióticos e infecção 83
Tabela 15. Dose dos demais antibióticos em meningites.
AMPICILINA 12 g 6/6 h
CEFEPIME 6g 8/8 h
CEFTAZIDIMA 6g 8/8 h
CLORANFENICOL 4g 6/6 h
MEROPENEM 6g 8/8 h
OXACILINA 9 – 12 g 4/4 h
84 Antibióticos e infecção
33. Padronização de antimicrobianos
Anualmente o hospital deverá revisar a sua padronização, e sob demanda de no-
vos medicamentos. Quanto aos antimicrobianos, é importante o conhecimento
da flora bacteriana local e perfis de sensibilidade. Embora a referência internacio-
nal seja muito útil, é importante conhecer a realidade local para não estimar para
mais ou para menos a terapêutica antimicrobiana.
INJ. 1g 1g EV de 8/8h
CEFOXITINA MEFOXIN®
só 1 dia
(continua)
Antibióticos e infecção 85
(Tabela 16 - conclusão)
SULFAMETOXA
COMPR. 400mg 2 compr VO 12/12 h
ZOL+ BACTRIN®
+ 80mg
TRIMETOPRIM
86 Antibióticos e infecção
34. Pegadinhas
Algumas situações são muito comuns na prática, mas acabam surpreendendo
quando o doente não vai bem.
• Enterococo não responde a cefalosporinas, nem de 1ª, 2ª, 3ª, e nem de 4ª gera-
ção! Não responde a aminoglicosídeos isoladamente e nem a quinolonas. Não
responde a clindamicina e E. faecium não responde aos carbapenêmicos. Ele só
é sensível a ampicilina/amoxicilina e se for resistente, só responde a vancomi-
cina/teicoplanina. Esperte-se. Ele é o segundo maior causador de infecções do
trato urinário e de colecistites, devendo ser pensado também em peritonites.
• Oxacilina, que pega bem S. aureus, só penetra em SNC se for usado o dobro
da dose, portanto, em vez dos tradicionais 200mg/kg, usar 400mg/kg ou em
vez de 12g/dia, usar 24g/dia (máximo). Há aqui uma dificuldade prática para
esta administração porque as ampolas de oxacilina são de 500mg, o que da-
ria 48 ampolas/dia.
Antibióticos e infecção 87
• Cloranfenicol tem muito boa penetração em SNC, em meninges inflamadas
e não inflamadas, mas é bacteriostático contra S. aureus.
• Vancomicina, caso seja uma cepa MRSA, tem penetração mínima em SNC,
mesmo em meninges inflamadas, e se usada em dose dobrada, leva rapida-
mente a insuficiência renal.
• Deixo aqui um desafio para os experts. Como tratar uma infecção de cateter de
derivação em SNC causada por S. aureus?
88 Antibióticos e infecção
35. Penetração tecidual
de antibióticos
• Ácido clavulínico
• Ácido nalidíxico
• Azlocilina (reduzir a dose se houver insuficiência renal simultânea)
• Aztreonam (reduzir a dose)
• Cefoperazona (reduzir a dose)
• Cefotaxima
• Ceftriaxona (reduzir a dose na insuficiência renal simultânea)
• Cetoconazol
• Ciprofloxacina (reduzir a dose)
• Claritromicina
• Clindamicina
• Cloranfenicol
• Cotrimoxazol (reduzir a dose)
• Doxiciclina (reduzir a dose)
• Eritromicina (principalmente estolato; reduzir a dose)
• Etionamida
Antibióticos e infecção 89
• Fleroxacina (reduzir a dose)
• Fluconazol (reduzir a dose)
• Griseofulvina
• Isoniazida (reduzir a dose)
• Lincomicina
• Metronidazol (efeito antabuse)
• Mezlocilina (reduzir a dose na insuficiência renal simultânea)
• Miconazol (reduzir a dose)
• Nitrofurantoína
• Norfloxacina (reduzir a dose)
• Ofloxacina (reduzir a dose)
• Pefloxacina (reduzir a dose)
• Piperacilina (reduzir a dose na insuficiência renal simultânea)
• Pirazinamida
• Rifampicina
• Roxitromicina (reduzir a dose)
• Sulfonamidas (reduzir a dose)
• Tetraciclinas.
Importante
Até o momento existem poucos estudos sobre a antibioticoterapia na insuficiên-
cia hepática. Os quadros indicados são, por isso, incompletos.
90 Antibióticos e infecção
Tabela 17. Penetração de antibióticos no líquor e abscessos cerebrais.
Ofloxacina
Penicilina G
Piperacilina
sulbactam
Antibióticos e infecção 91
36. Pielonefrite aguda
Indicações de tratamento
Tratamento hospitalar até melhora clínica das queixas urinárias e sem febre por
mais que 24 horas. Completar o tratamento com antibiótico oral em ambulatório
até completar 10 a 14 dias, de preferência conforme antibiograma. Realizar uro-
cultura de controle uma semana após o término do tratamento.
HOSPITALAR (PNA): sintomas urinários, com febre e/ou dor lombar (sinal de Gior-
dano positivo)
Tempo de tratamento
• 10 a 14 dias (PNA).
92 Antibióticos e infecção
Germes mais freqüentes
1º E. coli.
2º Enterococo, Proteus.
3º Klebsiela.
Tratamento
1ª opção
• CEFAZOLINA (KEFAZOL®) 1 g EV 8/8 horas.
Terapia seqüencial com CEFALEXINA 500 VO 6/6 horas até completar 10 dias.
Se enterococo:
• AMPICILINA 1 a 2 g EV 6/6 horas
Terapia seqüencial com AMOXICILINA 500 mg VO de 8/8 horas até 10 dias.
Antibióticos e infecção 93
37. Pressão de seleção de
cepas resistentes
Tabela 18. Dize-me que antibiótico usas e te direi que bactéria terás.
Carbapenêmicos Acinetobacter R
Polimixina B ???
94 Antibióticos e infecção
Tabela 19. Dize-me que bactéria tens e eu te direi que antibiótico usas.
VRSA Vancomicina
VRE Vancomicina
Ampicilina, cefalosporinas de
Klebsiella
1ª geração
Acinetobacter R Carbapenêmicos
Antibióticos e infecção 95
38. Profilaxia em obstetrícia de
Streptococcusβ-hemolítico
Indicações de tratamento
• Trabalho de parto iniciado antes de 37 semanas, bolsa íntegra ou bolsa rota.
• Bolsa rota > 18 horas, independente da idade gestacional.
• História anterior de sepses neonatal.
• Portadora vaginal de Streptococcusβ-hemolítico, mesmo que tratada, inde-
pendente da idade gestacional.
Contraindicação de tratamento
• Cesárea eletiva, sem início do trabalho de parto, bolsa íntegra, mesmo se por-
tadora.
Tratamento
1ª opção
• AMPICILINA 2 g dose de ataque
• AMPICILINA 1 g EV de 4/4 horas até o parto.
2ª opção
• CEFAZOLINA 1 g EV de 8/8 horas até o parto.
96 Antibióticos e infecção
Ideal
Iniciar 4 horas antes do parto.
Antibióticos e infecção 97
• Empregar um sistema efetivo de controle de infecções
• Selecionar as drogas que vão ser usadas nas rotações
• Selecionar a extensão do ciclo e a ordem
• Identificar o mecanismo e o tipo de resistência genética
• Monitorar o paciente para ele não ser prejudicado com este sistema
As experiências com rotação são limitadas e a maioria realizada em unidades de
transplante de medula óssea (Infection Control and Hospital Epidemiology 2000:
21: S4-S8). Na Universidade de Nebraska estudou-se o tratamento empírico de
neutropenia. Os regimes usados foram ceftazidima mais vancomicina por 6 me-
ses, seguido de imipenem por 4 meses, seguido de aztreonam mais cefazolina por
5 meses, seguido por ciprofloxacina and clindamicina por 4 meses. Os resultados
mostraram uma diminuição na incidência de VRE (Vancomycin Resistant Ente-
rococcus) e nenhum efeito significante no padrão de resistência em quaisquer
destes antibióticos. Outro estudo semelhante foi conduzido no Hospital VA em
Minneapolis onde a gentamicina e a amicacina foram usadas no tratamento de
infecções por gram-negativos.
Indicações de tratamento
Infecções superficiais não têm necessidade de tratamento sistêmico; curativos
locais podem resolver a questão. Só tratar se houver infecção profunda ou sinais
sistêmicos de infecção. A indicação de tratamento hospitalar vai se basear na gra-
vidade do quadro. Internar se houver:
• Abscesso • Sepses
• Deiscência de sutura • Endometrite.
98 Antibióticos e infecção
Antes de iniciar antibiótico
• Hemograma com plaquetas
• Bacterioscopia Gram da secreção
• Cultura para germes comuns e antibiograma
• Hemoculturas (2 amostras colhidas de locais diferentes, meia a uma hora de
intervalo, independente do pico febril) se o paciente apresentar febre.
Coleta
• Limpeza prévia com remoção da secreção com SF a 0,9%
• Secar
• Colher profundamente com swab estéril e colocar em meio de transporte + 2
lâminas a seco.
• Não utilizar PVP-I para esta coleta porque pode inibir o crescimento bacteriano.
• Transporte rápido até o laboratório.
Tempo de tratamento
• 7 dias (sem complicações).
• 21 dias (abscesso abdominal).
Antibióticos e infecção 99
Tratamento
1ª opção
Se houver apenas hiperemia, sem secreção ou com pouca secreção, não necessita
antibioticoterapia; apenas curativo com anti-séptico (PVP-I tópico).
Após coleta de material para cultura, havendo secreção, ambulatorialmente iniciar:
• CEFALEXINA 500 VO 6/6 horas por 7 dias porque o germe mais comum é es-
tafilococo. Em obstetrícia, havendo suspeita de endometrite, com odor fétido,
associar
2ª opção
Sempre sob antibiograma.
Se internar, até resultado de cultura:
• CEFAZOLINA (KEFAZOL®) 2 g EV 8/8 horas até melhora clínica.
Após 72 horas da queda da temperatura, terapia seqüencial com CEFALEXINA
500 VO 6/6 horas até completar 7 dias.
Não havendo melhora em 72 horas, trocar antibióticos conforme antibiograma.
Na gestante:
• CEFOTAXIMA 1 a 2 g EV de 8/8 horas.
Terapia seqüencial com ACETIL CEFUROXIMA 250 mg VO de 12/12 horas até
completar 10 dias, caso não tenha sido identificado o agente.
Tempo de tratamento
• 7-8 dias (imunocompetentes, sem complicações e sem recorrência)
• 10 dias (pneumonia complicada ou recorrente)
• 14-21 dias (estafilococo)
• 21 dias (abscesso pulmonar)
O fato de o paciente estar em UTI não indica aumentar o tempo de tratamento da
pneumonia; quase sempre só vai acelerar o aparecimento de germes resistentes;
após 8 dias de antibiótico o que resta é SIRS.
A indicação de tratamento hospitalar vai se basear na gravidade do quadro.
2º Hemófilos
3º Estafilococo
4º Outros
Tratamento
1ª opção
• PNEUMONIA LOBAR (um só lado):
• PENICILINA CRISTALINA 2 Milhões EV de 4/4 horas ou
Acima de 60 anos
• CEFTRIAXONA 2 g EV ao dia.
Se teve AVC ou suspeita de broncoaspiração, associar METRONIDAZOL.
Temos preferido metronidazol, apesar na pior penetração tecidual que a
clindamicina, porque esta última é a grande vilã na apresentação de colite
pseudomembranosa.
2ª opção
Sempre sob antibiograma, mas o material deve ter sido colhido através de lavado
broncoalveolar ou escovado protegido; culturas de secreção traqueal tem sido o
grande vilão em superestimar o uso de antibióticos, principalmente em terapia
intensiva.