Manual APFH Antimicrobianos 1 Edição
Manual APFH Antimicrobianos 1 Edição
Manual APFH Antimicrobianos 1 Edição
APOIO INSTITUCIONAL:
APOIO CIENTÍFICO:
As coordenadoras do curso,
Peptidoglicano
Safranina
Espaço
periplasmático
Membrana
citoplasmática
Gram-positiva Gram-negativa
a) b)
Figura 1 - a) Estrutura geral da camada exterior das bactérias de Gram-positivo e de Gram-negativo. A membrana
externa e o espaço periplasmático estão presentes apenas nas bactérias Gram-negativas. A camada de peptidoglicano
é substancialmente mais proeminente em envelopes gram-positivos; b) etapas da coloração de Gram, em baixo à
esquerda bactérias de Gram-positivo (roxo) e à direita de Gram-negativo (vermelho). Adaptado de Tille, 2015 [2].
Metabolismo bacteriano
O metabolismo bacteriano envolve todos os processos celulares necessários para a
sobrevivência e replicação do organismo, sendo importante o seu conhecimento para entender
as interações bacterianas com as células hospedeiras humanas. Acresce que constitui ainda a
base para os testes e estratégias utilizados para identificação laboratorial de organismos
infeciosos e, portanto, para o diagnóstico em microbiologia. O metabolismo resulta da
integração das reações catabólicas, isto é, da clivagem molecular de nutrientes para obtenção
de energia, e das reações anabólicas que promovem a síntese de novas biomoléculas celulares
usando a energia acumulada no catabolismo (Figura 2).
Uma vez no interior da célula, muitos nutrientes (por exemplo, ferro, magnésio, cálcio,
sódio, compostos orgânicos, aminoácidos, etc.) funcionam como matérias-primas a partir das
quais são produzidos metabolitos precursores para os processos biossintéticos subsequentes.
Esses metabolitos (por exemplo, glucose-6-fosfato, piruvato, etc.) são produzidos através de
duas vias metabólicas principais: a via Embden-Meyerhof-Parnas e o ciclo dos ácidos
tricarboxílicos. A eficiência dessas vias de produção de precursores pode variar
substancialmente, dependendo das condições de crescimento e disponibilidade de nutrientes.
A produção de energia resulta do processo de catabolismo acoplado a reações de oxidação-
redução. Neste processo, o substrato é oxidado à medida que doa eletrões para uma molécula
aceitadora de eletrões, que é então reduzida. Esta transferência de eletrões é mediada por
moléculas transportadoras, como nicotinamida adenina dinucleotídeo e nicotinamida adenina
dinucleotídeo fosfato. A energia libertada pela reação de oxidação-redução é transferida para
compostos contendo fosfato (sendo adenosina trifosfato [ATP] a molécula mais frequente),
onde são formadas ligações fosfato de elevada energia. Quando a fosforilação oxidativa usa
oxigénio como aceitador final de eletrões, o processo é conhecido como respiração aeróbia.
Respiração anaeróbia refere-se ao processo que usa outros aceitadores finais de eletrões (por
exemplo, ião sulfato, ião nitrato, etc.) e não o oxigénio. A respiração anaeróbia é menos eficiente
em termos energéticos que a aeróbia, mas mais eficiente que a fermentação. O conhecimento
de quais mecanismos usados pelas bactérias para gerar ATP é importante para a elaboração de
protocolos laboratoriais para cultura e identificação desses organismos. Por exemplo, algumas
bactérias dependem exclusivamente da respiração aeróbia e são incapazes de crescer na
ausência de oxigénio (bactérias aeróbias estritas), por exemplo o género Pseudomonas.
Bibliografia
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A intuição de Fleming foi de que a penicilina poderia ser usada em larga escala para
tratar o ser humano. No entanto, apenas quando os seus trabalhos atraíram o interesse de
Howard Florey (1898–1968), farmacêutico, e de Ernst Chain (1906–1979), bioquímico, os quais
desenvolveram um método de purificação, foi possível a sua introdução na prática clínica [2]. A
primeira utilização da penicilina ocorreu no dia 30 de novembro de 1940 no tratamento de um
doente com bacteriemia, resultante de feridas cutâneas de combate. O tratamento foi eficaz,
mas a infeção recidivou após a penicilina se ter esgotado, tendo o doente vindo a falecer. A
aplicação do modelo industrial ao fabrico de penicilina permitiu aumentar substancialmente a
disponibilidade deste fármaco, pelo que no desembarque da Normandia em 1944 a penicilina
estava já incluída no equipamento logístico disponibilizado.
O papel da indústria nesta área é assim cada vez mais um papel de responsabilidade social,
sendo muito escasso o lucro expectável com estes medicamentos.
2.2.2. Glicopeptídeos
Apresentam atividade bactericida contra cocos Gram-positivos aeróbios e anaeróbios,
incluindo Methicillin-resistant S. aureus (MRSA).
O seu alto Peso Molecular (PM) diminui a penetração tecidular. Atuam por ligação à parede
celular tornando a mesma instável. O mecanismo mais frequente de resistência é o aumento da
quantidade do alvo (traduzido em microscopia eletrónica por espessamento da parede). São
antibióticos cuja ação depende da exposição ao alvo, sendo o seu parâmetro pharmacokinetic
(PK) /pharmacodynamic (PD) a area under the curve (AUC) / MIC.
Apresentam variabilidade inter e intra individual da PK, pelo que é habitualmente sugerida
a therapeutic drug monitoring (TDM) [7]. A administração em perfusão contínua facilita o
manuseio da dose.
2.2.4. Macrólidos
São fármacos que atuam nos ribossomas bacterianos, subunidade 50S. Inibem a síntese
proteica, pelo que existe “paragem” no metabolismo bacteriano, bem como acumulação de
substâncias tóxicas, o que leva à sua morte.
São antibióticos predominantemente dependentes da exposição às bactérias (AUC/MIC
dependentes). Ainda assim, o facto de terem também atuação a nível intracelular [9], atingindo
concentrações fortemente bactericidas dentro dos macrófagos, leva a que o seu
comportamento bactericida não seja linear. São assim eficazes contra organismos
intracelulares, em particular as bactérias ditas atípicas, causa de pneumonia, incluindo a
Legionella pneumophila.
As suas propriedades anti ribossomas também lhe permitem ter eficácia na prevenção da
síntese dos biofilmes bacterianos. De salientar ainda que, na pneumonia grave da comunidade,
tem sido repetidamente demonstrado que a associação destes fármacos com um ß-lactâmico
melhora o prognóstico do doente [10].
2.2.5. Aminoglicosídeos
São fármacos ativos contra a generalidade dos bacilos Gram-negativos incluindo a P.
aeruginosa. Bloqueiam a síntese das proteínas a nível da subunidade 30S.
Têm um efeito bactericida muito rápido, particularmente contra bactérias em multiplicação
ativa. A sua eficácia é proporcional à relação entre o pico de concentração e a MIC bacteriana.
Apresentam efeito pós-antibiótico prolongado, ou seja, mesmo após a sua concentração ser
sub-terapêutica, não se verifica multiplicação bacteriana durante um tempo longo
(habitualmente 5-8h).
A utilização de doses elevadas com intervalo alargado tem assim diferentes benefícios:
• Aumenta o tempo de vale, permitindo atingir a fase ∂ da curva PK, ou seja, o tempo de
libertação do fármaco dos tecidos;
Esta estratégia foi associada à diminuição da toxicidade e, embora de forma não constante,
à melhoria dos resultados clínicos.
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4.1. Glicopeptídeos
Figura 5 - Resumo das caraterísticas fenotípicas e genotípicas, localização e distribuição dos operões que codificam
para a resistência aos glicopeptídeos.
É ainda de salientar que o operão VanB não é induzido pela teicoplanina, nem pela
telavancina ou dalbavancina e por isso os enterococos com o genótipo VanB são suscetíveis a
estes novos glicopeptídeos. O único glicopeptídeo que retém atividade in vitro contra
enterococos ou S. aureus com o genótipo VanA é a oritavancina devido a especificidades no
mecanismo de atuação por parte deste antibiótico (interfere adicionalmente com a
transpeptidação). De qualquer forma, existem muito poucos estudos clínicos que confirmem in
vivo esta previsão.
• Vancomycin-Variable Enterococci (VVE) – Estes enterococos têm despertado a nossa
atenção em anos mais recentes por estarem a aumentar de número. VVE são enterococos
positivos para VanA mas sensíveis aos glicopeptídeos e com a capacidade de reverterem para
um fenótipo de resistência durante ou após a exposição à vancomicina. O número de estudos
a descreverem estes VVE tem aumentado na última década incluindo em associação com
surtos hospitalares tendo sido também já descritos em hospitais portugueses. Estes casos
podem passar despercebidos na rotina hospitalar e isto constitui um desafio no diagnóstico
clínico com possíveis falhas terapêuticas.
4.2. Lipopeptídeos
4.2.1. Daptomicina
4.3. Polipeptídeos
4.3.1. Polimixina
4.3.2. Bacitracina
Bibliografia
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5.1. Macrólidos
Os Macrólidos, estruturalmente, são lactonas macrocíclicas, classificadas de acordo com o
número de átomos no anel lactónico. Na terapêutica humana utilizam-se macrólidos de 14
(eritromicina, claritromicina e roxitromicina), 15 (azitromicina) e 16 (espiramicina e
miocamicina) átomos no anel lactónico.
5.2. Lincosamidas
As lincosamidas são constituídas por três componentes:
• Um aminoácido;
• Um açúcar;
• Uma ligação amida que conecta os dois componentes anteriores.
Na terapêutica, os mais utilizados são Lincomicina e Clindamicina.
5.3. Estreptograminas
As estreptrograminas foram desenvolvidas devido à dificuldade de tratar infeções por
estafilococos e enterococos.
Estruturalmente são macrolactonas e peptídeos, e em Portugal utiliza-se a associação de
quinupristina (estreptogramina do grupo B) e dalfopristina (estreptrogramina do grupo A),
existindo outras como a pristinamicina e a virginiamicina.
Bibliografia
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3. Manual of Clinical Microbiology. Patrick R. Murray Ed. in chief ASM Press 2007.
4. Antibióticos anti-bacterianos. João Carlos de Sousa. Publicações Farmácia Portuguesa, ANF.
6.1. Aminoglicosídeos
Os aminoglicosídeos são fármacos que já se encontram em utilização clínica há várias
dezenas de anos, tendo sido inicialmente obtidos a partir de actinomicetos do solo. Atualmente,
para utilização clínica sistémica encontram-se disponíveis a estreptomicina, a gentamicina, a
amicacina e a tobramicina. A plazomicina é um novo aminoglicosídeo com utilidade potencial
no tratamento de agentes MDR/Extensively drug-resistant (XDR) mas que ainda não se encontra
disponível em Portugal.
São fármacos bactericidas, com ação dependente da concentração e um importante efeito
pós-antibiótico [1].
6.1.5. Farmacocinética
Os aminoglicosídeos são escassamente absorvidos por via gastrointestinal (<1%),
apresentando excelente absorção pela via IM. Podem ser administrados por instilação em
cavidades corporais e por via inalatória. Ligam-se de forma escassa a proteínas plasmática e têm
um volume de distribuição que é próximo do Volume (V) do fluido extracelular. Apresentam má
penetração nos tecidos e células, sendo excecional as altas concentrações que atingem no
córtex renal, urina e endolinfa e perilinfa do ouvido interno.
São eliminados predominantemente por via urinária e podem ser removidos eficazmente
através de técnicas dialíticas [3].
6.1.6. Toxicidade
As duas principais toxicidades dos aminoglicosídeos são a ototoxicidade e a nefrotoxicidade.
Em relação à ototoxicidade, pode ser auditiva ou vestibular, sendo que a primeira é
frequentemente reversível e a segunda é normalmente temporária. Quanto à nefrotoxicidade,
esta é quase sempre reversível, e é mais frequente em doentes idosos, com doença renal prévia
ou sob terapêutica com outros nefrotóxicos [3].
A utilização em dose única diária permite diminuir a toxicidade destes fármacos e maximizar
as suas características PKs.
6.2.5. Farmacocinética
As tetraciclinas dispõem de excelente absorção oral, mas que pode ser afetada pela ingestão
de catiões divalentes ou trivalentes. A tigeciclina não tem absorção oral relevante, motivo pelo
qual apenas se encontra disponível para utilização por via EV.
Têm excelente penetração na maioria dos tecidos e secreções, incluindo a capacidade de
atravessar a placenta e de serem secretadas no leite materno. As tetraciclinas são largamente
excretadas na bilis e urina, não necessitando de ajuste na disfunção renal. A tigeciclina poderá
necessitar de ajuste de dose de doença hepática avançada [3].
6.2.6. Toxicidade
As tetraciclinas são fármacos habitualmente bem tolerados, apresentando como efeitos
mais comuns a toxicidade gastrointestinal e a fotossensibilidade. Podem apresentar também
toxicidade hepática, em particular na gravidez [3].
6.3. Cloranfenicol
Encontra-se em uso clínico desde o final da década de 40 do século XX. No entanto,
atualmente, a sua utilização nos países desenvolvidos em terapêutica sistémica é bastante rara.
Esta escassa utilização está relacionada com a existência de alternativas terapêuticas com
menor risco de toxicidade.
6.3.5. Farmacocinética
Apresenta boa biodisponibilidade quando administrado por via oral. Trata-se de um fármaco
bastante lipossolúvel e com excelente penetração na maioria dos tecidos. Apresenta
metabolização hepática, com produção de um metabolito inativo. Este metabolito é eliminado
por via urinária. Uma pequena fração do fármaco é eliminada na sua forma inalterada através
de filtração glomerular (FG) [3].
6.3.6. Toxicidade
A principal toxicidade do fármaco é hematológica. A supressão medular é habitualmente
reversível e pode ser antecipada através da monitorização frequente do hemograma. A anemia
aplásica é bastante rara, mas apresenta mortalidade muito elevada e o seu aparecimento é
imprevisível. Adicionalmente, pode causar nevrite ótica, que é habitualmente reversível e
também gray baby syndrome [3].
Bibliografia
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4. Mini-Reviews in Medicinal Chemistry, 2012, 12, 44-52
Tabela 1 - Fármacos pertencentes aos grupos das quinolonas e dos inibidores da síntese e da redução de folato.
Ácido nalidíxico
Dapsona
Ciprofloxacina
Delafloxacina
Mafenida
Gatifloxacina
Levofloxacina
Sulfacetamida Pirimetamina
Lomefloxacina
Moxifloxacina
Sulfadiazina Trimetoprim
Norfloxacina
Ofloxacina
Sulfadiazina prata
Ozenoxacina
Prulifloxacina
Sulfametoxazol
Sparfloxacina
Trovafloxacina
7.1. Quinolonas
As quinolonas são agentes bactericidas que inibem a DNA-girase (topoisomerase II) e a
topoisomerase IV [3, 4]. Em geral, as fluoroquinolonas possuem atividade contra S. pneumoniae,
Bacillus anthracis, Escherichia coli, Haemophilus influenzae, Klebsbiella pneumoniae, L.
pneumophila, Proteus mirabilis, P. aeruginosa, Serratia marcescens, espécies de Shigella e
Mycobacterium tuberculosis [1].
2.ª geração
3.ª geração
Ciprofloxacina
Gatifloxacina
Lomefloxacina
Levofloxacina
Norfloxacina
Sparfloxacina
Ofloxacina
4.ª geração
1.ª geração Delafloxacina
Moxifloxacina
Ácido nalidíxico
Prulifloxacina
Trovafloxacina
Quinolonas
No que diz respeito aos principais efeitos indesejáveis, as quinolonas podem causar [21,
22]:
• Mialgia, artralgia, tendinites ou rutura de tendões;
• Diarreia, náuseas, vómitos ou dores abdominais;
• Fototoxicidade ou potencial fotoalergénico e sensibilizante;
• Aumento das transaminases;
• Cefaleias, tonturas, tremores ou parestesias;
• Insónia, alucinações ou agitação;
• Prolongamento do intervalo QT.
Salienta-se que estes fármacos interferem com o desenvolvimento das cartilagens
ósseas e, por isso, não é recomendável a sua utilização em crianças, grávidas e durante a
lactação. Assim, como para qualquer fármaco, a avaliação da relação benefício/risco ditará ou
não a sua utilização terapêutica.
As quinolonas podem ser administradas por diversas vias, como oral (por exemplo,
norfloxacina e ofloxacina), IV (por exemplo, ciprofloxacina, levofloxacina e moxifloxacina) e
cutânea (por exemplo, ozenoxacina). O cálcio e outros catiões divalentes diminuem a absorção
oral destes fármacos.
A maioria destes fármacos é excretada por via renal [23]. Deste modo, é necessário
ajustar a dose na IR. Contudo, a moxifloxacina, como é excretada primariamente pelo fígado,
não requer ajuste de dose na disfunção renal.
7.2. Antimetabolitos
Os agentes antibacterianos antimetabolitos dividem-se em dois grupos principais,
especificamente os inibidores da síntese de folato (por exemplo, sulfonamidas e a dapsona) e
os inibidores da conversão do ácido di-hidrofólico em ácido tetra-hidrofólico (por exemplo,
trimetoprim) [26]. O sulfametoxazol inibe a di-hidropteroato sintetase e o trimetoprim inibe a
di-hidrofolato redutase.
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A resistência aos antibióticos é uma ameaça à saúde publica global, estando associada a
milhares de mortes anuais e a perdas económicas significativas. Se não forem tomadas medidas
urgentes para controlar a emergência da resistência aos antibióticos prevê-se que, no ano de
2050, cerca de 10 milhões de pessoas morrerão anualmente com infeções por bactérias MDR,
número de mortes que ultrapassa aquelas associadas a doenças como o cancro ou diabetes
combinados. A resistência aos antibióticos diminui as alternativas terapêuticas disponíveis,
aumenta o risco de infeções não tratáveis associadas a diversos procedimentos médicos (por
exemplo, cirurgias, uso de imunossupressores), o tempo (T) de tratamento e de hospitalização
dos doentes [1].
Quando as bactérias são classificadas como “resistentes” ao antibiótico existe uma elevada
probabilidade de falha terapêutica se o antibiótico é selecionado como agente terapêutico [4].
Os mecanismos de resistência das bactérias de Gram-positivo podem estar associados a
resistência intrínseca ou adquirida. Quando a bactéria é intrinsecamente resistente a um
antibiótico significa que, naquela espécie, género ou grupo bacteriano, o antibiótico não
consegue chegar ao local alvo ou este não existe e, por isso, não tem atividade. Assim, de forma
a minimizar os erros terapêuticos e a diminuir a testagem laboratorial, o EUCAST disponibiliza
informação relacionada com o que designa de “fenótipos de resistência esperados”, onde estão
incluídos os antibióticos aos quais se espera que >90% de um determinado grupo bacteriano
(espécie, género ou outro) não seja suscetível a eles. Por exemplo, antibióticos como as
polimixinas (o alvo na membrana externa não existe em bactérias de Gram-positivo), aztreonam
(só tem afinidade para as PBPs de bactérias de Gram-negativo) ou ácido nalidíxico não têm
atividade em bactéria de Gram-positivo. Assim, a maioria dos antibióticos associados a
“fenótipos de resistência esperados” em bactérias de Gram-positivo não são considerados
alternativas terapêuticas para infeções por estas bactérias, embora haja exceções.
8.2.1. Anti-parietais
8.2.1.1. -lactâmicos
Os -lactâmicos são antibióticos anti-parietais tendo como alvo as PBPs e inibindo a
formação do peptidoglicano [5,13]. Algumas bactérias de Gram-positivo podem inativar os -
lactâmicos pela produção de -lactamases, mas o mecanismo de resistência mais relevante
consiste na produção de PBPs modificados com baixa afinidade para estes antibióticos [13]. Por
exemplo, PBP2a, codificado pelo gene mecA adquirido por S. aureus, não tem afinidade para
praticamente todos os -lactâmicos. Também os PBP1a, PBP2b, PBP2x de S. pneumoniae ou
PBP5 de E. faecium têm baixa afinidade para diversos -lactâmicos. No entanto, a cefalosporina
de 5ª geração ceftarolina pode ser considerada uma opção terapêutica para Staphylococcus ou
S. pneumoniae resistentes a outros -lactâmicos. Por exemplo, ela é ativa em MRSA porque tem
a capacidade de se ligar a uma zona alostérica de PBP2a, expondo o seu centro ativo e
permitindo a ligação de uma segunda molécula de ceftarolina a este, exercendo a sua atividade.
A EMA recomenda a utilização de ceftarolina para pneumonias da comunidade associadas, por
exemplo, a MRSA ou S. pneumoniae, e SSTI complicadas [13]. Este antibiótico pode ser utilizado
em monoterapia ou em sinergismo com outros como a vancomicina ou daptomicina [14]. São
poucos os isolados com resistência à ceftarolina, havendo descrições de S. aureus clínicos com
mutações nos locais de ligação da ceftarolina ao PBP2a, sobrexpressão de PBP4, entre outros
mecanismos. A resistência à ceftarolina pode ocorrer com ou sem exposição prévia a este
antibiótico [15].
8.2.2. Anti-membranares
A daptomicina interage com os fosfolípidos da membrana celular na presença de cálcio,
despolarizando-a e formando poros, permitindo a saída do conteúdo celular. Está recomendada
para SSTI, bacteriemias, endocardites por Staphylococcus spp., incluindo MRSA, e Streptococcus
-hemolíticos. Tem uma atividade mais reduzida contra E. faecium e E. faecalis, mas tem sido
uma alternativa terapêutica para isolados resistentes à vancomicina [5, 15, 20]. Para
Enterococcus spp. é necessário aumentar a dose de daptomicina mas, ainda assim, há o risco de
falha terapêutica. Daptomicina está recomendada para SSTI, endocardites e bacteriemias. A
interação da daptomicina com os fosfolípidos do surfactante pulmonar faz com que fique inativa
e, por isso, não é um antibiótico recomendado para ITR. A diminuição de suscetibilidade à
daptomicina está frequentemente associada a mutações em genes de homeostasia da parede
celular e a alterações da composição da membrana [15, 20].
A eficácia do tratamento com daptomicina pode ser melhorada quando esta é usada em
sinergia com outras classes de antibióticos, como os -lactâmicos, conduzindo a um aumento
da velocidade da morte bacteriana e diminuindo a probabilidade de emergência de resistência
à daptomicina. Nigo et al, descreveram o tratamento eficaz de uma endocardite com associação
de daptomicina e ceftarolina, sendo o agente etiológico um MRSA resistente à ceftarolina,
tolerante à daptomicina e com heterorresistência à vancomicina [21]. Esta eficácia pode ser
justificada pelo facto de S. aureus expostos à daptomicina expressarem uma maior quantidade
de PBP1 com grande afinidade para a ceftarolina, e dos -lactâmicos aumentarem a afinidade
da daptomicina para a membrana.
8.2.3.1. Tetraciclinas
Entre as novas tetraciclinas disponíveis para bactérias de Gram-positivo difíceis de tratar a
EMA aprovou a tigeciclina (glicilciclina) e a eravaciclina (fluorociclina). São antibióticos de largo
espetro recomendados para o tratamento de SSTI, infeções abdominais polimicrobianas e, no
caso da tigeciclina, ainda para pneumonias comunitárias. Têm atividade em Staphylococcus
spp., Streptococcus spp. e Enterococcus spp., entre outros Gram-positivos [22]. Como todas as
tetraciclinas, tigeciclina e eravaciclina, têm como alvo a fração 30S do ribossoma, mas possuem
maior afinidade para este do que as tetraciclinas de primeira e 2ª geração [22]. Esta
característica permite-lhes ser ativas em bactérias portadoras de genes que codificam para
proteínas associadas à proteção ribossomal ou para bombas de efluxo, mecanismos de
resistência que impedem a atividade das tetraciclinas de primeira e 2ª geração. Resistência à
tigeciclina e eravaciclina entre bactérias de Gram-positivo permanece baixa, embora tenha sido
descrita em espécies de Enterococcus spp., Staphylococcus spp. e Streptococcus spp. de nichos
clínicos e não clínicos [20, 22]. A resistência tem estado associada a vários mecanismos,
nomeadamente sobrexpressão de bombas de efluxo, mutações em proteínas ribossomais, entre
outros. Podem ainda ocorrer combinações de mecanismos de resistência [20,22].
8.2.5. Macrólidos
A resistência aos antibióticos é um problema de saúde pública global. Infeções por bactérias
de Gram-positivo MDR podem ser difíceis de tratar e estar associadas a elevadas taxas de
mortalidade [3]. Ainda assim, estas bactérias permanecem suscetíveis a antibióticos de
diferentes classes disponibilizados recentemente. No entanto, o uso adequado destes
antibióticos é fundamental para minimizar futuros problemas de resistência e mantê-los como
alternativas terapêuticas para infeções por bactérias de Gram-positivo difíceis de tratar.
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De uma forma geral e com o devido enquadramento clínico, valores superiores a 10 mg/dl
associam-se a infeção bacteriana, ou, na presença de febre, o ponto de cut-off pode ser inferior
(8,7 mg/dl), para uma elevada variabilidade intraindividual (30-60%).
• A sua expressão é induzida por infeção bacteriana (não viral ou fúngica) em todo o
organismo;
• Atua como mediador secundário, estimulando a liberação de citocinas (IL-6, IL-8, tumor
necrosis factor [TNF]) e ativação de macrófagos;
Tem vindo a ganhar espaço no contexto das infeções em meio hospitalar, dado que se
correlaciona muito bem com a extensão da resposta inflamatória, podendo, com segurança,
antecipar decisões na gestão dos doentes agudos/críticos [5, 6].
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2016.
A aplicação dos pontos de corte clínicos a resultados obtidos pelo método de difusão
em disco, um dos mais utilizados na rotina, é feita através da correlação estabelecida entre os
valores de MIC com os halos de inibição obtidos para uma quantidade muito significativa de
isolados [6]. A interpretação é feita através de tabelas onde estão definidos os pontos de corte
(baseados na MIC ou nos halos de inibição) para cada categoria e para cada microrganismo-
antimicrobiano (Figura 8) (https://www.eucast.org/clinical_breakpoints/).
O EUCAST definiu ainda os epidemiological cut off value (ECOFF) que definem o
comportamento natural de um determinado microrganismo a um determinado antibiótico. O
ECOFF é definido com base no valor máximo de MIC observado para cada par microrganismo-
antibiótico. Bactérias que apresentam um valor de MIC superior ao ECOFF terão adquirido um
mecanismo de resistência a esse antibiótico.
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Eventualmente uma infeção de órgão ou espaço pode drenar através da incisão. Esta infeção
geralmente não exige re-intervenção cirúrgica e é considerada como complicação da incisão,
pelo que se classifica como infeção incisional profunda.
Foram identificadas diversas estratégias prevenir este tipo de infeções, a ser implementadas
nos três períodos relacionados com a intervenção cirúrgica: pré-operatório, intra-operatório ou
peri-operatório e pós-operatório. São de referir designadamente:
• Otimização peri-operatória dos fatores de risco dos doentes devido à condição médica
subjacente (por exemplo, diabetes, obesidade, hábitos tabágicos, patologias de base,
alergias e comprometimento imunológico);
• Práticas de controlo de infeção, incluindo banho pré-cirúrgico, adesão às práticas corretas
de higienização das mãos;
• Ambientes hospitalares e do bloco operatório;
• Processo de esterilização dos instrumentos;
• Técnicas cirúrgicas meticulosas e minimização de trauma tecidual;
• Temperatura peri-operatória, gestão de fluidos e oxigenação;
• Controlo de glicemia
Tabela 2 – Exemplos de bactérias associadas a ILC, categorizadas por procedimento cirúrgico. Adaptado de Menz et
al., 2021 [15].
Tabela 3 - Antibióticos e alternativas comumente usadas em profilaxia cirúrgica. Adaptado de Menz et al., 2021 [15].
Gram-positivos ++
Cobertura para Gram-positivos e cobertura
Cefazolina ß-lactâmico Gram-negativos + limitada para Gram-negativos. Comum em
Anaeróbios + cirurgias.
Gram-positivos ++
Cobertura para Gram-positivos. Reservado
Clindamicina Lincosamida Gram-negativos - para hipersensibilidade imediata a
ß-lactâmicos.
Anaeróbios ++
Gram-positivos -
Cobertura para Gram-negativos. Comumente
Gentamicina Aminoglicosídeo Gram-negativos +++ utilizado em cirurgias urológicas e
Anaeróbios - gastrointestinal.
Gram-positivos +++
Cobertura para Gram-positivos. Reservado
Vancomicina Glicopeptídeo Gram-negativos - para hipersensibilidade imediata a
ß-lactâmicos ou MRSA.
Anaeróbios ++
Alternativas em caso de resistência (uso desnecessário pode potenciar resistências)
Gram-positivos ++
Considerar para ESBL e sensibilidade a
Meropenem Gram-negativos +++
Carbapenemo carbapenemos. Evitar se hipersensibilidade
/ertapenem
Anaeróbios ++ imediata a ß-lactâmicos.
Gram-positivos +
Gram-negativos ++ Considerar na biópsia de próstata complicada
Fosfomicina Oxazolidinona
ou resistência a fluoroquinolonas (E. Coli).
Anaeróbios -
Gram-positivos +++
Considerar para VRE. Considerar para MRSA
Daptomicina Lipopeptídeo Gram-negativos - quando vancomicina ou teicoplanina é
Anaeróbios + contraindicada.
Gram-positivos +++
Considerar para VRE. Considerar para MRSA
Linezolida Oxazolidinona Gram-negativos - quando vancomicina ou teicoplanina é
Anaeróbios + contraindicada.
Gram-positivos ++
Considerar para VRE e MRSA se vancomicina,
Gram-negativos ++
Tigeciciclina Glicilciclina daptomicina ou linezolida é contraindicada.
Anaeróbios ++ Evitar na hipersensibilidade à tetraciclina.
+++ elevada atividade antibacteriana; ++ moderada atividade antibacteriana; + baixa atividade antibacteriana; - mínima ou isento
de atividade antibacteriana.
Tabela 4 - Dosagem de antibiótico, Repetições e tempo de infusão recomendado pela ASHP. Adaptado de Bratzler,
2013 [3].
2g
Cefazolina 30 mg/kg 1.2 - 2.2 h 4h 30 min
3g (peso >120 Kg)
É importante:
• Selecionar o agente antimicrobiano ideal, bactericida, que permita a cobertura dos
microrganismos que, com maior probabilidade de contaminação do local de incisão,
levando também em conta os padrões de resistência local;
• Avaliar o historial de alergias medicamentosas;
• Utilizar o antibiótico de forma adequada: dose baseada no peso do doente;
• Administrar no momento adequado: no período pré-operatório, 60 a 120 minutos antes
da incisão, observando os parâmetros PK/PD do fármaco para garantir as concentrações
ideais aquando da incisão cirúrgica e durante todo o procedimento cirúrgico, podendo
haver necessidade de re-administração, no caso de cirurgias prolongadas ou em que
ocorram grandes perdas de sangue;
• Assegurar uma duração efetiva, mas tão curta quanto possível, sendo recomendadas
geralmente tomas únicas ou até às 24h.
Mais importante do que recomendar quais os antibióticos para tratar as várias infeções,
será definir princípios gerais da sua prescrição e que servirão de base à escolha do ou dos
antibióticos a usar. A resistência das bactérias aos antibióticos é um processo dinâmico que varia
ao longo do tempo e com o local geográfico.
Um antibiótico atualmente eficaz para tratar uma infeção, poderá não o ser num futuro
próximo.
Os princípios gerais da prescrição de antibióticos poderão ser uma ajuda para a tomada
de decisão em relação à escolha da terapêutica.
“Even before the history is elicited and physical examination performed, an immediate
assessment of the patient’s general appearance yields valuable information.
The perceptive physician’s subjective sense that a patient is septic or toxic often proves accurate”
Harrison’s Principles of Internal Medicine, 21 edn, 2022
• Controlo do foco?
Se existir um foco com indicação para drenagem cirúrgica, apenas com a prescrição do
antibiótico correto, não se irá conseguir controlar a infeção
Β-lactâmicos
Macrólidos
• Penicilinas
Fluoroquinolonas
• Cefalosporinas
Tetraciclinas
• Carbapenemos
Cloranfenicol
• Monobactâmicos
Rifampicina
Glicopéptidos
Linezolida
Aminoglicosídeos
Volume de distribuição limitado Elevado volume de distribuição
Não atravessa a membrana por difusão Difusão através da membrana plasmática
Inatividade contra patógeneos intracelulares Atividade contra patogéneos intracelulares
Eliminação renal Eliminação por metabolização hepática
As doenças de causa infeciosa constituem hoje uma das principais causas de mortalidade a
nível mundial, sendo, no seu conjunto, responsáveis por cerca de 20% de todos os óbitos anuais,
de acordo com os dados da OMS [1]. Esta percentagem é ainda maior nos países mais pobres
devido ao menor acesso das populações a condições adequadas de tratamento [1,2].
A antibioterapia empírica inicial deve ser reavaliada pelo menos a cada 72 horas, com
realização de novas colheitas para microbiologia e testes de suscetibilidade aos antimicrobianos.
Caso o doente esteja a melhorar clinicamente, mas não haja ainda identificação do agente e
testes de suscetibilidade aos antimicrobianos disponíveis, o antibiótico inicial poderá ser
mantido por mais três dias ou até se identificar a bactéria e a sua sensibilidade. Se houver
identificação do microrganismo e os testes de suscetibilidade aos antimicrobianos estiverem
disponíveis, a terapêutica deverá ser alterada para o antibiótico ativo que apresente o menor
espectro de ação.
Se a terapêutica empírica inicial tiver sido uma associação de antibióticos e a identificação
microbiana tiver posteriormente demonstrado ser possível tratar com segurança a bactéria em
monoterapia, essa mudança deverá ser efetuada. Existindo estabilidade clínica, particularmente
após as 72 h iniciais, e caso o antibiótico possua uma boa biodisponibilidade por via oral
(linezolida, levofloxacina, etc.), está indicada a substituição para esta via de administração em
detrimento da administração por via endovenosa.
Excetuando infeções complicadas, por exemplo devido a bactérias com resistência muito
alargada, a duração da antibioterapia não deve ultrapassar os 7 dias e pode ser mesmo reduzida
a 3 ou 5 dias em diversas situações, desde que tenha havido uma prescrição inicial correta [15].
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A eficácia terapêutica de cada antibiótico depende por um lado, da sua ligação às bactérias,
função da concentração atingida nos tecidos infetados ao longo do tempo (ou seja, da PK) e, por
outro, da atividade bactericida intrínseca, ou seja, da capacidade dessa concentração causar a
morte ao microrganismo, a sua PD.
15.2. Farmacocinética
A concentração dum fármaco ao longo do tempo depende da dose administrada e da sua
biodisponibilidade, do volume de distribuição e do Clearance. O volume de distribuição é um
conceito Matemático que relaciona a dose administrada com a concentração sérica atingida.
Corresponde ao V do compartimento onde seria necessário diluir a dose administrada para se
obter a concentração máxima (Cmax) atingida no sangue (Volume de distribuição
=(dose*biodisponibilidade)/Cmax). Este conceito assume que há homogeneidade da
distribuição do fármaco no organismo, ou seja, é um modelo unicompartimental.
Antibiótico tempo dependente são aqueles cuja eficácia bactericida está diretamente
relacionada com a fração do tempo em que a sua concentração está acima da MIC. Quando a
concentração é superior a esse limiar verifica-se morte bacteriana persistente, recomeçando a
multiplicação bacteriana (particularmente de bacilos Gram-negativo) [3] quando a concentração
baixa.
É também relevante a própria curva de exposição. Mesmo fármacos com alta taxa de
absorção (fluconazol, fluroquinolonas, flucloxacilina), embora a sua AUC seja similar, têm forma
da curva concentração-T francamente alterada, mais prolongada no tempo, com concentração
inicial mais baixa. Tal pode atrasar o início de ação destes antibióticos, limitando a sua eficácia.
Também após a estabilização clínica, a passagem dos antibióticos para a via oral (mas não
entérica, por sonda), é provavelmente segura, diminuindo o risco de complicações. Tal foi já
demonstrado na endocardite e na osteomielite, passagem a oral ao fim de 10 dias de
terapêutica, desde qua haja boa resposta inicial e infeção não complicada [21].
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O National Institute for Health and Care Excellence define Antimicrobial stewardship
como 'uma abordagem organizacional ou de todo o sistema de saúde para promover e
monitorar o uso criterioso de antimicrobianos para preservar sua eficácia futura' [1].
Enfermagem
Doenças
Epidemiologia
infecciosas
Prevenção da Diretor da
infeção qualidade
Conselho de
administração
Farmacêutico
clínico
Diretor clínico
Sistemas de
Presidente da
informação
CFT
clínica
Intervenientes
na otimização
Laboratório de da utilização de
microbiologia antimicrobianos
Farmacêutico (intensivistas,
clínico cirurgoões, etc.)
especialista
descentralizado
Figura 9 - Abordagem de otimização dos resultados clínicos, através de uma equipa multidisciplinar [2]
• Controlar Custos.
Enquanto o clínico deve estabelecer o diagnóstico, a literatura diz que a definição das
estratégias ideais de seleção de medicamentos, dose, duração e de-escalação para síndromes
comuns de infeção deve ser tarefa da equipa de Antimicrobial Stewardship, onde o farmacêutico
deve assumir esta responsabilidade junto da equipa. Deve existir um foco em:
• Fazer o diagnóstico certo;
• Colheitas de culturas apropriadas e se a terapêutica empírica deve ser iniciada;
• Qual a duração da antibioterapia necessária para o diagnóstico;
• Reavaliar em 2-3 dias e decidir se para, se dirige o antibiótico ou se muda para
terapêutica oral.
• Right Duration (duração certa): Embora a duração ideal da terapia tenha sido definida
por meio de ensaios clínicos bem conduzidos para poucas infeções (por exemplo,
pneumonia associada à ventilação mecânica, cistite), a duração pode ser definida como
tratamento até a resolução da infeção sistémica e melhoria nas manifestações locais da
infeção. Algumas infeções por patógenos menos suscetíveis à erradicação e propensos
a recaídas locais ou distantes (por exemplo, S. aureus) podem ser exceções a este
princípio. Atualmente defende-se que a duração deve ser encurtada (salvo exceções
como por exemplo osteomielites, endocardites).
Medidas Exemplos
• Custo antibiótico/dia/doente
Económicos • Custo de antibiótico/administração
• Custo total por administração
A formação e a educação sobre Antimicrobial Stewardship devem ser uma aposta crucial
destas equipas, devendo ser anual. Os protocolos terapêuticos de antimicrobianos devem ser
bem divulgados por todos os profissionais de saúde e atualizados a cada seis meses, e sempre
que haja uma nova prescrição os intervenientes no processo dos cuidados ao doente devem ser
envolvidos.
Importa também recordar que um antibiótico combinado é aquele em que dois ingredientes
são adicionados para apresentarem um efeito terapêutico adicional, sendo que apenas um ou
ambos os ingredientes podem ser antibióticos. A combinação de antibióticos pode resultar num
efeito sinérgico, aditivo ou antagónico. Que uma combinação de antibióticos atue
sinergicamente ou antagonicamente dependente dos antibióticos selecionados, mas também
estirpe bacteriana na qual atuam. Assim, temos:
• Efeito Sinérgico: efeito mais potente do que se cada antibiótico fosse aplicado
isoladamente.
• Efeito Aditivo: efeito da combinação de antibiótico é aproximadamente igual às
potências combinadas de cada antibiótico isoladamente
• Efeito Antagónico: a potência da combinação é menor que as potências combinadas de
cada antibiótico.
No entanto, não é mandatório que assim seja. De facto, a sinergia não ocorre apenas em
grupos de antibióticos bactericida + bactericida ou bacteriostático + bacteriostático, bem como
não são sinérgicas apenas as combinações de antibióticos que atuam nos mesmos níveis da
estrutura bacteriana.
Figura 11 - Relação entre a eficácia dos antibióticos e a produção de β-lactamases em Enterobactérias. Verde:
Com atividade; Amarelo: atividade dependente da MIC e/ou concentração-alvo; Vermelho: Sem atividade.
Adaptado de: Esposito, S. “Are we running out of antibiotics”. https://www.slideshare.net/WAidid/are-we-
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Para além disso, 15 a 20% dos doentes que recebem antimicrobianos podem apresentar
alguma reação adversa, sendo as mais frequentes as alérgicas, gastrointestinais, hematológicas,
superinfeção por C. difficile, distúrbios hepatobiliares ou renais, entre outros [2, 3].
De acordo com um estudo publicado na revista JAMA que analisou a incidência de
efeitos adversos associados às diferentes famílias de antibióticos numa coorte de 1.488 doentes
adultos hospitalizados que receberam tratamento com antibióticos sistémicos, os β-lactâmicos
produziram mais de 60% das reações adversas, sendo ceftriaxona, cefepima e piperacilina-
tazobactam os fármacos mais frequentemente envolvidos.
Das restantes famílias, vancomicina, fluoroquinolonas e cotrimoxazol foram os que
produziram maior incidência de reações adversas.
Analisando o tipo de reações adversas em geral, as mais frequentes foram
gastrointestinais, renais e hematológicas.
É importante destacar que muitas vezes não é fácil diagnosticar os possíveis efeitos
adversos associados à utilização de determinado antibiótico e que o uso de escalas de
causalidade como a escala de Naranjo pode ser muito útil [5].
Por outro lado, uma das estratégias mais importantes para reduzir o aparecimento de
toxicidade baseia-se no controlo da duração dos tratamentos com antibióticos. Está descrito
que a cada 10 dias adicionais de tratamento existe um aumento de 3% no risco de aparecimento
de reações adversas. Nesse sentido, nos últimos anos têm sido publicados numerosos estudos
que evidenciam a falta de tratamentos mais curtos do que os usualmente recomendados para
doenças tão comuns como a pneumonia adquirida na comunidade, pneumonia nosocomial,
infeções do trato urinário ou infeções intra-abdominais. O farmacêutico hospitalar dentro dos
programas de otimização antimicrobiana pode desempenhar uma tarefa fundamental no
acompanhamento de doentes em terapêutica antimicrobiana [6].
A grande maioria das reações alérgicas está mal documentada e não é confirmada por
testes. De facto, estima-se que apenas 10% a 20% das alergias inicialmente relatadas pelos
doentes foram confirmadas por testes diagnósticos.
Os métodos de confirmação das alergias incluem a história clínica, que deve ser muito
detalhada (especificando os sintomas, gravidade, duração, tratamentos, infeções ou alimentos
concomitantes), a utilização de testes cutâneos ou de provocação oral.
No entanto, deve-se considerar que tanto os testes cutâneos quanto os orais são caros e
podem levar algum tempo para serem realizados. Existem estudos que mostraram que o uso de
um algoritmo de decisão permitiu identificar casos com baixo risco (BR) de alergia nos quais o
teste oral poderia ser realizado, descartando a alergia que poderiam ser tratados com β-
lactâmicos, evitando assim o uso de outros antibióticos de amplo espectro [11].
O mecanismo pode ser alérgico, por dano direto aos hepatócitos, por precipitação do
fármaco no fígado, ou idiossincrático.
As manifestações clínicas da infeção por C. difficile podem ser muito variadas, desde
assintomáticas até ao aparecimento de diarreia, colite, colite pseudomembranosa, megacólon
tóxico e morte [15-18]. Os antibióticos cujo uso tem sido associado a um risco aumentado de
infeções por C. difficile são cefalosporinas, fluoroquinolonas e clindamicina.
Tem sido descrito que a incidência é maior quando o tratamento é administrado por via
IV mais de 10 dias e quando são utilizadas combinações de antibióticos.
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Neste modelo único da farmacologia em que temos um sistema de tripla face, administração
de fármaco (antibiótico) é sujeito a um processo de ADME (no ser humano) para que, em
equilíbrio, esteja em determinada concentração suficiente para interagir com o agente que está
a provocar infeção (bactéria). Neste sistema, todos os fatores modificadores de resposta podem
ainda ser mais comprometedores da ação do que noutros modelos farmacológicos mais
simplificados. Neste sentido, as interações farmacológicas são críticas de serem reconhecidas e
prevenidas sob pena de: por efeito amplificado poder resultar em reação adversa/de
hipersensibilidade com mais frequência; ou por um efeito de diminuição de
concentração/disponibilidade poder resultar em falta de efeito.
Outras interações potenciais podem ter mais relevo na prática do ambulatório [4].
Fármacos de janela terapêutica estreita, como o exemplo da varfarina; ou de
biodisponibilidade muito elevada (exemplo das quinolonas ou tetraciclinas que têm absorção
oral >95%) são mais criticamente afetados por interações farmacológicas – aos mais diversos
níveis. Em relação à quinolonas [5] e tetraciclinas – fármacos de elevadíssimo valor terapêutico
para infeções específicas e que o clínico conta com a sua excelente biodisponibilidade para
tratamento em ambulatório – são criticamente interferidos na sua absorção, por reações de
quelação, com metais – como seja o cálcio, magnésio ou o ferro. Os primeiros estão muitas vezes
nos antiácidos utilizados e muitas vezes não declarados como fármacos pelos doentes.
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Tão importante quanto a seleção de um determinado antibiótico para tratar uma infeção é
a sua correta preparação, por forma a salvaguardar a sua eficácia e a segurança do doente.
Sendo que a garantia dessa qualidade passa, entre outros fatores, pela salvaguarda das
interações físico-químicas e da estabilidade após reconstituição e diluição.
As soluções de vancomicina devem ter uma concentração inferior ou igual 5 mg/ml, caso
contrário pode precipitar [14 - 16].
A estabilidade do SXT/TMP após diluição num determinado veículo varia em função da
concentração final. Se a diluição for numa proporção de fármaco: veículo de 1:10 V/V é
preferível diluir em glicose a 5%. Contudo, se a diluição for numa proporção de 1:25 V/V pode
ser usado como diluente quer a glicose a 5%, quer o cloreto de sódio a 0,9% [5].
22.2.2. pH da solução
A maioria dos fármacos são suficientemente estáveis para valores de pH compreendidos
entre 4 e 8, quando administrados no período conveniente. Contudo, não devemos esquecer
que fármacos formulados a valores de pH mais extremos podem conduzir a uma rápida
decomposição de outros fármacos se administrados na mesma solução [5]. A vancomicina é um
exemplo, cuja formulação apresenta um pH de 2,5 a 4,5 [14, 15, 16].
Com vista à diminuição de reações de degradação, adiciona-se à formulação um tampão
para manter um pH apropriado, é o caso do ertapenem (Invanz®, Ertapnem fresenius KabiMG)
que contem hidróxido de sódio para ajustar o pH para valores de 7,5 [10, 11].
22.2.3. Solventes
Dos solventes mais utilizados para reconstituição e diluição dos medicamentos destacam-
se a água para preparação de injetáveis, o cloreto de sódio a 0,9%, a glucose a 5%, a solução de
Ringer, a solução de lactato de Ringer. No entanto, nem todos podem ser utilizados na diluição
dos antibióticos. A amoxicilina+ácido clavulânico [17, 18, 18, 19, 20] e o ertapenem [10, 11] por
exemplo, não podem ser diluídos com glucose a 5%, devido ao risco de precipitação. O mesmo
acontece com a ceftriaxona que não pode ser diluída com solventes de uso parentérico que
contenham cálcio, situação que provocou a morte em RN, o que condicionou a alteração do
RCM ceftriaxona [21, 22, 23, 24] alertando para essa precipitação.
- 20 7 dias 11 dias
4 2 dias 4 dias
23 8 horas 17 horas
Bibliografia
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A escolha do antibiótico deve ter em atenção a estabilidade assim como das condições que
afetam a estabilidade do mesmo.
Entende-se por estabilidade do antibiótico, o tempo que este mantém a sua concentração
acima dos 90% e idealmente à temperatura ambiente.
As condições que maioritariamente podem afetar a estabilidade do antibiótico são a dose,
concentração, tempo do antibiótico na solução, temperatura de conservação, administração e
recipiente.
Idealmente os antibióticos devem ser preparados na Farmácia numa unidade centralizada
de Misturas Estéreis para garantia de maior estabilidade, segurança e rastreabilidade.
Se a preparação necessitar de refrigeração superior a 24h, deve ficar no frigorífico do doente
e a temperatura deverá ser registada diariamente.
Toda a terapêutica com antibióticos por via parentérica superior a 5 dias exige hemograma
e bioquímica básica semanal incluindo função renal e hepática.
Bibliografia
https://www.dgs.pt/programa-nacional-de-controlo-da-infeccao/relatorios/infecoes-
e-resistencias-aos-antimicrobianos-2021-relatorio-anual-do-programa-prioritario.aspx
Dulce Pascoalinho, MD
Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano
Citando o famoso Matemático e Físico Britânico do Século XIX, Lord Kelvin, “When you can
measure what you are speaking about and expressing it in numbers you know something about
it; but when you cannot express it in numbers, your knowledge is of a meagre and unsatisfactory
kind…”.
Os indicadores são assim ferramentas que permitem monitorizar objetivos através da
medição quantitativa.
Os indicadores de qualidade (IQ) no âmbito dos programas de antimicrobial stewardship
hospitalar são métricas que têm como principal objetivo avaliar a qualidade da prescrição
antibiótica.
Os indicadores permitem monitorizar os efeitos diretos e indiretos das intervenções, mas só
são realmente úteis e efetivos se soubermos o que pretendemos avaliar. Ou seja, devem ser
desenhados e implementados tendo em conta as várias perspetivas das diferentes partes
interessadas (Stakeholders) dos processos de melhoria.
Os indicadores permitem fazer diagnósticos de situação, comparações, avaliar evoluções e
cumprimento de objetivos, identificar alvos, tomar decisões, aumentar a adesão, intervir e
promover a responsabilização.
Avedis Donabedian, Médico libanês radicado nos EUA após a Segunda Guerra Mundial,
considerado o pai da Qualidade na área da saúde, propôs um modelo de indicadores ainda hoje
utlizado. São eles os indicadores de estrutura, processo e resultado.
Os IQ são indicadores que têm valor intrínseco em si mesmo, refletindo no seu desenho e
resultado (quando aplicados à Stewardship antibiótica) o nível de adequação ou correção da
utilização dos antibióticos, por contraste com as avaliações meramente quantitativas (por
exemplo V ou custos de antibióticos), que apenas ganham valor quando são feitas comparações
(por exemplo entre serviços, entre períodos de tempo, etc.).
Bibliografia
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10.3349/ymj.2018.59.1.4.
Auditoria e retorno
Estratégias de avaliação/interação Avaliar disponibilidade para mudar
Conduzir pequenos teses cíclicos de mudança
Identificar e preparar líderes
Desenvolvimento de relações com as partes Identificar adeptos precoces
interessadas Apreender e partilhar conhecimento local
Promover reuniões locais de consenso
Ajustar estratégias
Adaptar e ajustar ao contexto
Promover adaptabilidade
Facilitação
Disponibilizar assistência interativa
Centralizar assistência técnico-científica
Para tal, estão disponíveis escalas como a Implementation Climate Scale (ICS), a
Organizational Readiness to Change Assessment (ORCA) ou o questionário Determinants of
Implementation Behavior (DIBQ), assim como métodos qualitativos, como o uso de grupos de
foco, a realização de entrevistas semiestruturadas aos intervenientes ou as observações
etnográficas rápidas (em campo).
Podemos assim concluir que a ciência de implementação permite estudar métodos para
implementar na prática clínica intervenções baseadas na evidência de forma otimizada e com
maior nível de controlo. Ainda que as metodologias possam implicar o consumo de tempo e
recursos, o sucesso obtido com programas estruturados de implementação resulta numa
otimização da utilização dos recursos. A publicação dos resultados de estudos de
implementação é um excelente recurso para profissionais que pretendem implementar uma
determinada inovação em saúde.
Bibliografia
Os tipos de estudo dividem-se primeiramente em duas categorias. Estas duas categorias são
comumente designadas como ‘estudos originais’ e ‘estudos de revisão’, denominação essa que
está errada porque dá a entender que entre a categoria de estudos de revisão não existem
estudos originais. A denominação correta deverá ser: ‘estudos primários’ e ‘estudos
secundários’. Os estudos primários são aqueles que usam como unidade de informação os casos,
normalmente os doentes. Os estudos secundários são os que utilizam outros estudos
previamente publicados como unidades de informação. Entre estes últimos, destacam-se as
revisões sistemáticas com ou sem meta-analise.
Dentro dos estudos de investigação primária, podemos diferenciar duas grandes categorias:
experimentais (também chamados intervencionais) e observacionais. A diferença parece
simples: tem ou não tem intervenção. Existe muita confusão em relação ao que é a intervenção.
Por exemplo, o uso de medicamentos pelos doentes poderia considerar-se erradamente uma
intervenção. Para solucionar este erro é mais fácil definir os estudos experimentais como
aqueles em que os investigadores escolhem os casos expostos, e os observacionais como os
estudos em que os investigadores não têm qualquer capacidade de seleção dos casos expostos.
Quer isto dizer que se um doente utiliza o medicamento como parte dos cuidados que está a
receber e que é prescrito pela equipa de cuidados, e não pela equipa de investigação como parte
da investigação, esse é um estudo observacional. O assunto pode complicar-se um pouco
quando a equipa de investigação é a mesma que a equipa de cuidados. Neste casso o raciocínio
deveria ser: a escolha da exposição é feita com parte do cuidado expectável nesse doente?
Existem muitos mais tipos de estudos, tais como stepped wedge randomized controlled,
cross-over, casos-controlo aninhados em coortes, estudos longitudinais, estudos de séries
interruptas, e muitos outros que destacam a necessidade de colaboração entre a prática e a
academia.
Bibliografia
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A este problema é adicionado outro, que concerne o desconhecimento, para a maior parte
dos fármacos da sua biodisponibilidade na grávida, modificando-se esta ao longo dos três
trimestres e na altura do parto, e mais ainda, quando a mãe sofre de patologias que vão alterar
a fisiologia normal da gravidez. De modo análogo, para o feto, variam de acordo com as semanas
de gestação, os períodos críticos de sensibilidade a diferentes fármacos e para um mesmo
fármaco, diretamente dependentes do desenvolvimento e maturação [6].
Várias têm sido as tentativas para disponibilizar uma lista de agentes seguros ou não na
gravidez, e vários sistemas de classificação têm sido criados com o objetivo de expor para cada
fármaco o risco teratogénico. Todavia, apesar de ser tentador confiar nestas listas, por um lado
apresentam algumas limitações, e por outro, nem sempre existe concordância de informação
entre elas, apresentando assim, potencial para induzir uma incorreta gestão da situação clínica
[4, 10-14]. A FDA, desde junho de 2015, usa a Pregnancy and Lactation Labelling Rule,
substituindo as categorias de classificação de teratogenicidade na gravidez "A, B, C, D, X" [15,
16]. Existe também uma Diretriz Europeia com orientações sobre a informação que deve constar
do RCM no que respeita ao risco durante a gravidez e o aleitamento [17].
Hiperbilirrubinémia neonatal
(sulfonamidas)
Descoloração amarelada dos
✓ Infeções (penicilinas,
dentes; inibição crescimento
Antibacterianos cefalosporinas, eritromicina)
ósseo (tetraciclinas)
Surdez (aminoglicosídeos)
Síndroma cinzenta do recém-
nascido (cloranfenicol)
Para mais informação aconselha-se a consulta de Giugliani E, et al. [18], um manual que
descreve em manual informação sobre os medicamentos sistematizada por classes terapêuticas
classificadas em categorias de risco de acordo com a seguinte identificação:
□ Uso compatível com a amamentação: desta categoria fazem parte os fármacos cujo uso
é potencialmente seguro durante a lactação, sem relatos de efeitos farmacológicos para o
lactente.
□ Uso criterioso durante a amamentação: nesta categoria estão os medicamentos cujo uso
no período da lactação depende da avaliação risco/benefício. Quando utilizados, exigem
monitorização clínica e/ou laboratorial do lactente, devendo ser utilizados durante o menor
tempo e na menor dose possível. Encontram-se nesta categoria novos medicamentos cuja
segurança durante a amamentação ainda não foi devidamente documentada.
Madalena Tuna, MD
Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental
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Liliana Abreu, MD
Hospital de Braga; Centro Hospitalar Universitário de São João; Universidade do Minho
Já considerando esta limitação, a OMS, criou em 2007 a Essential Medicines List for Children
(8ª edição, publicada em setembro de 2021) com o objetivo de servir de orientação de forma a
garantir a disponibilização, para a idade Pediátrica, dos fármacos considerados essenciais, entre
eles os antibióticos [3, 4].
Desde 2017 os antibióticos incluídos nesta lista estão divididos em 3 grupos de acordo com
a classificação AWaRe:
• Grupo Acess: antibióticos de menor espectro (1ª e 2ª linha para a patologia infeciosa
mais comum);
• Grupo Watch: antibióticos de maior espectro;
• Grupo Reserve: antibióticos para infeções por agentes MDR.
Esta classificação pretende servir de orientação para um uso mais racional dos antibióticos
com o objetivo final de evitar o desenvolvimento de resistências [4, 5].
A propósito deste tema, nos últimos anos têm surgido estudos/ artigos, maioritariamente
realizados no doente crítico sob tratamento com β-lactâmicos, indiscutivelmente a classe de
antibióticos mais utilizada em Pediatria [11, 12].
No estudo β -lactam TDM in the PICU, publicado em 2017 na revista Critical Care Medicine,
numa amostra de 82 doentes (4 dias de vida a 18 anos), verificou-se que 95% dos doentes
apresentavam concentrações subterapeuticas dos β-lactâmicos estudados e não alcançaram os
objetivos PK/ PD definidos com as doses pediátricas recomendadas. Depois de ajustado o
esquema terapêutico, que consistiu na redução do intervalo entre doses, obteve-se 100%
resposta microbiológica (nos 28% doentes com identificação de microrganismo) e 96% de
resposta clínica [12].
Apesar das limitações encontradas neste estudo (utilizar amostras pequenas, ser realizado
no doente crítico e incluir idades muito díspares), é possível reconhecer a importância da TDM
assim como a necessidade de considerarmos as características PK/ PD aquando da prescrição de
antibióticos [12].
De uma forma mais orientada para a prática clínica, abordamos de seguida algumas
patologias infeciosas frequentes em Pediatria e respetivo tratamento.
Por último, uma breve referência às fluoroquinolonas, uma classe de antióticos raramente
utilizada em Pediatria. As recomendações contra o seu uso em idade pediátrica surgiram após
serem identificados, em estudos animais, efeitos adversos como artropatia e lesão das
cartilagens de crescimento dos ossos longos, em crescimento [16].
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• ↑ peso corporal
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A pele é o maior órgão do corpo humano. Constitui a principal barreira contra a infeção,
interpondo-se entre o meio exterior e o meio interno, impedindo em condições normais a
penetração de microrganismos, funcionando a regular descamação de camadas celulares mais
superficiais como forma eficaz de eliminar microrganismos.
Pela sua maior frequência, as SSTI de etiologia bacteriana são as usualmente abordadas
nas recomendações. Mas estas infeções podem também ser de etiologia viral, fúngica ou
parasitária [8].
O impetigo é uma SSTI superficial não purulenta que se manifesta por eritema vesicular
pruriginoso, evoluindo com formação de pústulas e crostas. É usualmente causado por
Streptococcus, daí poder complicar-se com glomerulonefrite ou febre reumática, caso circulem
estirpes produtoras das respetivas toxinas e a terapêutica seja ineficaz. A etiologia estafilocócica
MSSA é possível, mas menos frequente. Pode assumir forma de impetigo não bolhoso ou
bolhoso, este provocado por S. aureus. A forma generalizada de impetigo bolhoso,
particularmente grave, constitui a Staphylococcal Scalded Skin Syndrome (SSSS) [8].
As SSTI necrotizantes podem envolver qualquer das camadas dos tecidos moles, desde
a derme superficial ao músculo. Podem assumir designações diversas, como gangrena de
Fournier, infeção necrotizante do períneo e áreas adjacentes. São infeções graves que colocam
muitas vezes em risco um membro ou mesmo a vida do doente. O diagnóstico precoce e
tratamento imediato podem reduzir a mortalidade de 24% para 10%. A clínica pode ser
incaraterística. História de trauma recente (penetrante ou por explosão) e a progressão rápida
(em dois dias) sugerem a presença de necrose, mas a única forma de estabelecer um diagnóstico
definitivo é a imediata exploração cirúrgica da lesão. Devem ser colhidas amostras de sangue e
dos tecidos envolvidos para exame microbiológico. Exames de imagem como ecografia,
Tomografia Computorizada (TC) ou ressonância magnética (RMN), embora possam apoiar o
diagnóstico, não são recomendados no imediato já que irão atrasar a intervenção cirúrgica [8].
As feridas por mordeduras podem infetar em 10% a 20% dos casos, mais as de gato (30%
a 80%) que as de cão (5%), sendo a infeção por vezes tardia (24 a 72 horas após a mordedura).
A profilaxia antibiótica de infeção não é universalmente recomendada, sendo indicada em
feridas recentes e profundas, em localizações críticas (face, mãos, pés, genitais, periarticulares),
perante imunodepressão, diabetes, asplenia, doença hepática avançada ou edema pré-
existente no local da mordedura. Devem cobrir-se anaeróbios. No caso de mordedura humana
precoce, de gato ou de cão, é indicado amoxicilina + ácido clavulânico, 875/125 mg 12/12h, oral,
5 dias. A mordedura humana infetada, após 3 a 24 horas, deve ser tratada com piperacilina +
tazobactam, 4,5 g 8/8h, EV. Não sendo provocadas por mordedura, a doença da arranhadura do
gato deve ser tratada com azitromicina oral, 500 mg/dia, 1 dia, seguida de 250 mg/dia, 4 dias. É
muito importante limpar, irrigar e desbridar, conforme indicado, e não encerrar, apenas
aproximar a ferida, exceto se na face [6,10].
Bibliografia
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20. Bassetti M. 2021. Comunicação pessoal
Joana Alves, MD
Hospital de Braga; Faculdade de Medicina da Universidade do Minho
A artrite séptica é uma emergência e deve ser considerada no doente com início de dor
aguda numa articulação (ou várias articulações) e pode ou não ter sinais inflamatórios
associados como rubor, calor, edema, derrame articular, incapacidade na mobilidade. A febre
pode estar presente [1, 2].
Quando são isolados microrganismos pouco virulentos como por exemplo os gram-
positivos coagulase negativos são necessárias duas amostras para diagnóstico (1 amostra pode
ser apenas contaminação) [2].
A duração de tratamento é habitualmente 3-4 semanas. Os primeiros 7-14 dias devem ser
por via EV, após este período e confirmando melhoria clínica pode ser de-escalada
antibioterapia EV para via oral. A escolha do antibiótico oral deve contemplar a penetração
articular e a biodisponibilidade oral [1, 2].
34.2. Osteomielite
Osteomielite é um processo inflamatório progressivo causado por microrganismos,
resultando em destruição óssea, sendo que pode ser limitada a uma porção do osso ou afetar o
canal medular, periósseo ou partes moles vizinhas. A osteomielite tem várias classificações;
pode ser classificada com base na sua localização, na duração de doença (aguda VS crónica), no
mecanismo de infeção (hematogénica, contiguidade ou inoculação direta) ou na presença de
insuficiência vascular (por exemplo, infeção do pé no doente com Diabetes) [1].
Situações especiais:
• Na osteomielite crónica:
o A antibioterapia é um adjuvante ao tratamento cirúrgico;
o No doente estável, a antibioterapia só deve ser iniciada após diagnóstico
microbiológico e de acordo com testes de suscetibilidade aos antimicrobianos;
o A terapêutica antibiótica deve ter a duração de pelo menos 4 a 6 semanas desde
que o desbridamento cirúrgico seja rigoroso e a evolução clínica favorável.
A infeção de prótese articular pode ser classificada em aguda quando o tempo após
cirurgia de implantação de prótese é inferior a 4 semanas ou crónica quando superior a 4
semanas.
Bibliografia
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7. Li C, Renz N , Trampuz A. Management of Periprosthetic Joint Infection. Hip Pelvis 2018
A peritonite bacteriana secundária ocorre por contiguidade de uma infeção dum órgão
intra-abdominal, na maioria dos casos gastrointestinais. Podem igualmente estar envolvidas as
vias biliares, o pâncreas e, no caso das peritonites localizadas na região pélvica, os órgãos
geniturinários.
De notar que estas alterações podem também ser secundárias a trauma, penetrante [7]
ou fechado [8], devendo a exploração cirúrgica ser mandatária, principalmente na presença de
lesões imagiológicas suspeitas [9].
As manifestações clínicas podem ser atípicas, mas nestes casos, as mesmas refletem os
órgãos primariamente envolvidos. Podem estar presentes dor abdominal com ou sem defesa,
distensão abdominal, febre, náuseas e vómitos, anorexia total e sensação de aversão alimentar,
Diarreia e sede. A perda de trânsito intestinal, incluindo fezes e gases traduz habitualmente
íleos, ou seja, a paragem completa da motilidade do intestino. Radiologicamente, a mesma
traduz-se pela presença de níveis hidroaéreos intestinais. Este tipo de manifestação complica-
se habitualmente pela perda de diferenciação da flora intestinal, uma vez que a mesma resulta
dos mecanismos funcionais de motilidade e da presença de diferentes meios no conteúdo
entérico (diferenças enzimáticas, de pH, entre outras).
A peritonite terciária resulta da falência de controlo do foco de infeção secundária. A
mesma é por definição uma infeção adquirida no hospital e está associada à presença de
microrganismos MDR. Estes, estando já presentes na flora intestinal, são selecionados pela
terapêutica antibiótica prévia (usada no tratamento da peritonite secundária) e tornam-se
dominantes nesta situação [10]. Este tipo de infeções complica-se frequentemente de abcessos
intra-abdominais, os quais necessitam de drenagem (quer cirúrgica quer percutânea), uma vez
que os antibióticos são habitualmente ineficazes.
Para minimizar esta possibilidade e quebrar o círculo vicioso, a terapêutica antibiótica deve
basear-se no conhecimento da epidemiologia local, devendo ser selecionado o antibiótico com
o menor espectro de atividade que seja considerado adequado [18]. No caso de doentes com
fatores de risco para resistência, em particular os que foram tratados com antibióticos nos
últimos 3 meses, deve ser privilegiada a colheita de culturas microbiológicas, sempre que
possível intraoperatórias, particularmente na peritonite terciária e sempre que haja evidência
de coleções abecedadas [19]. No entanto, devem ser minimizadas as culturas de produtos
obtidos através de drenos, que traduzem sobretudo colonização e não infeção.
As propriedades PKs dos antibióticos não foram estudadas de forma suficiente em doentes
com infeções intra-abdominais complicadas. É importante salientar a necessidade de ajuste das
doses de antibióticos, resultantes da alteração da sua PK, particularmente em infeções graves
[20, 21]. A sua concentração peritoneal pode estar aumentada (por exemplo, em doentes com
aumento da depuração renal) ou reduzida (por exemplo, em doentes com lesão renal aguda
[LRA]), tendo que esta situação está insuficientemente estudada na prática clínica.
Uma palavra particular para as infeções fúngicas, a Candida. Estas podem aparecer em
doentes com infeções graves, particularmente sujeitos a antibioterapia previa [25]. A candidíase
intra-abdominal tem mortalidade elevada e o início precoce do tratamento tem benefício
prognostico [26]. Não é, no entanto, claro qual a melhor forma de identificar estes agentes,
sendo que muitos scores de risco foram já introduzidos na prática clínica, mas com utilidade
limitada [27].
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difficile infection and risk factors for unfavorable clinical outcomes: results of a hospital-based study in Barcelona,
O que fazer?
Como regra, as bacteriúrias assintomáticas não devem ser tratadas, exceto na mulher
grávida, dado o risco aumentado de pielonefrites ou complicações da gravidez, e antes de uma
cirurgia que envolva o aparelho urinário, para evitar complicações infeciosas. Sugere-se um
estudo imagiológico do aparelho urinário, uma ecografia renovesical, para excluir eventuais
causas para essa bacteriúria, nomeadamente litíase renal.
O que fazer?
A antibioterapia dos episódios agudos deve ser curta, sendo a Fosfomicina, 3000 mg, toma
única, a terapêutica padrão. Em casos de cistites de repetição, devem ser identificados e
corrigidos os fatores de risco, como o défice de estrogenização ou a obstipação. A profilaxia
antibiótica é frequentemente justificada e, em casos selecionados, a imunoprofilaxia é uma
opção.
37.3. Prostatites
O termo prostatite, frequentemente utilizado na prática clínica, é genérico e impreciso,
englobando entidades clínicas distintas, classificadas em quatro categorias, como referido na
apresentação oral. Abordaremos aqui apenas as categorias de natureza infeciosa.
A etiologia é variável:
O tratamento inclui:
Bibliografia
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2. Rolo F, Parada B, Moreira P. Cistite não complicada na mulher. Guia de Prática Clínica. Associação Portuguesa de
Urologia.
• Sífilis primária – o acidente primário é uma úlcera não dolorosa que pode surgir de 10 dias
a três meses após o contacto e que cicatriza em semanas, mesmo sem tratamento.
• Sífilis secundária – 3 a 6 semanas depois da úlcera surgem lesões cutâneas, quase sempre
palmo plantares, febre, fadiga, queda de cabelo, rouquidão e adenomegalias generalizadas.
• Sífilis tardia – cerca de ⅓ dos indivíduos com sífilis secundária não tratada podem
desenvolver complicações cardiovasculares, neurológicas ou oculares [2].
As IST que cursam com uretrite/cervicite são, na maioria dos casos, causadas por N.
gonorrhoeae ou C. trachomatis. A gonorreia, causada por N. gonorrhoeae, é responsável, no
homem, por uretrite – corrimento uretral purulento e sensação de dor ou ardor ao urinar – e na
mulher pode ser assintomática ou com cervicite – corrimento vaginal mucopurulento e dor ou
ardor ao urinar. De igual modo, pode ser uma causa de proctite e faringite em ambos os sexos
[4]. A N. gonorrhoeae tem a particularidade de desenvolver resistência a todos os antibióticos
que têm sido usados para o seu tratamento [5]. O aparecimento de estirpes resistentes ao
ceftriaxone veio trazer a preocupação do aparecimento de estirpes intratáveis com os
antibióticos atualmente conhecidos. Assim, a terapêutica adequada e a vigilância apertada do
antibiograma das infeções gonocócicas tornaram-se mandatária, sendo em Portugal
monitorizadas pelo laboratório de IST do Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge.
Atualmente recomenda-se o tratamento com ceftriaxone 1 g IM e azitromicina 2 g oral em dose
única [6]. A antibioterapia dupla com ceftriaxone e azitromicina, usada desde 2010, permitiu
mitigar o desenvolvimento da resistência ao ceftriaxone pela N. gonorrhoeae, mas tem como
“danos colaterais” o potencial dano do microbioma e o aumento da resistência à azitromicina
de outros patógenos (N. gonorrhoeae, Mycoplasma genitalium e patógenos entéricos
como Shigella e Campylobacter) [5].
As IST são um problema de saúde pública com repercussão crescente na saúde individual e
das populações e a vigilância epidemiológica e microbiológica é eficaz para monitorização das
populações afetadas, das doenças presentes e dos padrões de sensibilidade/resistência aos
antibióticos dos agentes implicados.
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9. Intl J STD AIDS.DOI: 10.1177/095646241561883
Nélia Neves, MD
Centro Hospitalar Universitário de São João; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
A meningite infeciosa pode ser causada por bactérias, vírus, fungos, TB ou, raramente, por
parasitas. O tempo de evolução está relacionado com o microrganismo responsável, sendo a
doença classificada como aguda ou crónica. A meningite crónica é definida como apresentado
mais de 4 semanas de sintomas, podendo ser progressiva ou recorrente. A meningite infeciosa
aguda é mais frequentemente causada por bactérias ou vírus, enquanto a meningite infeciosa
crónica é geralmente causada por fungos ou micobactérias.
.
Fúngica Bacteriana
Neonatos
Enterovírus
Listeria monocytogenes
Escherichia coli Naegleria
Herpesvírus
Streptococcus galactiae (grupo B) fowleri
Crianças e adultos
Arbovírus Mycobacterium
Streptococcus pneumoniae Angiostrongylus
cantonensis Imunocompetente tuberculosis
Neisseria meningitidis (em ciranças, Haemophilus influenza
embora raro com vacina, deve ser considerado) VIH Histoplamosis
Imunocomprometidos ou >50 anos Balamuthia Blastomycosis Meningovascular syphilis
Vírus da mandrillaris
L. monocytogenes Coccidioidomycosis
coriomeningite
(e outros listados acima) linfocitária Cryptococcus gatti
Derivação ventriculoperitoneal
S. aureus
Staphylococcus epidermidis Imunocomprometido
Cutibacterium acnes Cryptococcus
Neurocirurgia recente/nosocomial neoformans
S. aureus Candida Species
Gram-negativos (Pseudomonas aeruginosa)
Outros
Borrelia burgdorferi
39.1.3. Encefalite
O termo encefalite refere-se à inflamação do parênquima cerebral. Os doentes geralmente
apresentam-se com cefaleia, alteração do estado de consciência, défices neurológicos focais
e/ou crises convulsivas. O diagnóstico diferencial de encefalite inclui primariamente causas
infeciosas e condições imuno-mediadas (por exemplo, encefalite autoimune).
A etiologia mais frequente de encefalite infeciosa é vírica, sendo os vírus do grupo herpes
(por exemplo, VHS-1 e vírus Varicella-zoster [VVZ]), os enterovírus e os arbovírus, os mais
frequentes nos doentes imunocompetentes. Nos doentes imunocomprometidos, o diagnóstico
diferencial deve ser alargado para incluir citomegalovirus (CMV), vírus herpes humano (VHH)-6,
particularmente em doentes submetidos a transplante hematopoiético, Epstein Barr vírus (EBV)
e adenovírus [1, 3]. O tratamento específico para encefalite vírica só está disponível para VHS
Manual da APFH sobre Antimicrobianos 210
(acivlovir), VVZ (aciclovir), CMV (ganciclovir, foscarnet) e VHH-6 (ganciclovir, foscarnet), daí que
o aciclovir seja frequentemente iniciado empiricamente nos doentes com suspeita de encefalite
vírica enquanto se aguarda o diagnóstico definitivo [1, 3]. Quando não é identificada causa
infeciosa, deve ser considerada a hipótese de encefalite autoimune e realizada a pesquisa
adequada de Ac.
Bibliografia
1. Approach to Neurologic Infections by Aaron L. Berkowitz. Continuum 2021;27 (4, Neuroinfectious Disease):818-
835
2. Meningitis by Allen J. Aksamit, and Aaron L. Berkowitz. Continuum 2021;27 (4, Neuroinfectious Disease):836-854.
3. Encephalitis and Brain Abscess by Arun Venkatesan. Continuum 2021;27 (4, Neuroinfectious Disease):855-886.
Estas alterações resultam sobretudo num aumento da exposição ao fármaco, com maior
possibilidade de efeitos laterais e toxicidade, mas nem sempre. Para fármacos com elevada
ligação às proteínas plasmáticas (por exemplo ceftriaxone, flucloxacilina e ertapenem) a
hipoalbuminemia aumenta a fração livre do fármaco, que sai mais facilmente do plasma e se
distribui pelos tecidos exercendo os seus efeitos farmacológicos com maior potencial de
toxicidade pela concentração mais elevada no local. Por outro lado, a hipoalbuminémia
aumenta o volume de distribuição (por edema secundário a diminuição da pressão oncótica) e
a Clearance do fármaco, diminuindo a concentração efetiva no plasma, o que pode diminuir a
sua eficácia [1].
REDUÇÃO DO FLUXO
SANGUÍNEO HEPÁTICO -
-> Maior
SHUNT PORTO- biodisponibilidade e/ou
SISTÉMICO (POR EX concentração sérica HIPOALBUMINEMIA -->
TIPS) --> perda parcial redução da ligação às
ou completa do proteínas plasmáticas
metabolismo à primeira com aumento da
passagem com concentração sérica de
consequente aumento fármaco livre
da biodisponibilidade
ALTERAÇÃO DA Doença
EXCREÇÃO RENAL --> ASCITE --> aumento do
aumento na hepática Volume de distribuição
concentração sérica crónica
GASTROPATIA PORTAL
EDEMA INTESTINAL -->
-->alteração na alteração da absorção
absorção REDUÇÃO DA
ACTIVIDADE DO
CITOCROMO -->
redução do
metabolismo na
primeira passagem e/ou
da Cl
Figura 13- Potenciais alterações da concentração de fármaco disponível nos doentes com doença hepática crónica
Adaptado de Zoratti, 2022 [1]
Tabela 16 - Classificação de Child-Pugh para estratificação da doença hepática crónica. Adaptado de Child CG, 1964
[10].
Pontos
Critérios clínicos
e laboratoriais 1 2 3
Tempo de
protrombina,
<4 4a6 >6
prolongamento em
segundos
A maioria dos fármacos não estão devidamente estudados na doença hepática, de modo
que as recomendações para a sua prescrição são baseadas na sua maioria na experiência clínica
e na opinião de peritos, com as recomendações de ajustes de doses calculadas com base nas
alterações PKs. No seguimento desta lacuna um grupo de médicos e farmacêuticos holandeses
descreveu e utilizou um método de 6 passos para desenvolver recomendações para a prescrição
em segurança de fármacos nos doentes com doença hepática crónica. Entre os 30
antimicrobianos analisados em 13 não existiam estudos que permitissem a sua classificação, 6
foram classificados como seguros, 9 sem riscos adicionais conhecidos e 1 com segurança
dependente do grau de disfunção hepática. A listagem completa pode ser consultada em
www.drugsinlivercirrhosis.org) [3,4].
Tabela 17 - Recomendações para dose de manutenção dos antimicrobianos que necessitam de ajuste de acordo
com a classificação de Child-Pugh da doença hepática crónica Adaptado de Ulldemolins M, 2011 [5][6].
A LRA pode ser estratificada com base na deterioração da Cr sérica ou da taxa de FG e/ou
diminuição do débito urinário, permitindo a classificação em estádios de acordo com escalas
previamente definidas e validadas (ver Figura 14).
Figura 14 - Critérios de RIFLE (Risk–Injury–Failure–Loss–Endstage renal disease) e critérios AKIN. Adaptado de Cruz
DN, 2009 [13].
Apesar da LRA ser frequente, ainda existe muito desconhecimento sobre o metabolismo, a
PK e a PD dos fármacos nestes doentes, particularmente nos doentes críticos com disfunção
multiorgânica com potencial risco de sub ou sobredosagem terapêutica [5]. Nestes doentes
existem alterações em todos os parâmetros PK: ADME, conforme ilustrado na Figura 15.
↓ absorção
entérica -->
administração
EV
↑ V extravascular
↓ eliminação
renal --> ↑ --> ↑ Volume de
LRA distribuição -->
exposição ao
antibiótico [plasmáticas]
subterapêuticas
↓ Metabolismo -->
aumento do fármaco
disponivel
Nas situações de LRA associadas a sepsis, existe além da diminuição da FG, distúrbios na
reabsorção e na secreção tubular, que condicionam uma alteração na eliminação renal dos
antibióticos, o que leva a uma maior exposição ao antibiótico [7].
A avaliação da função renal nos doentes com LRA, especialmente os críticos, é um desafio.
A Cr sérica, que é um marcador endógeno da FG, necessita de ser medida em fase de estado,
logo nenhuma equação permita uma medida precisa da estimativa da FG na LRA.
Na LRA a dose inicial ou de carga, pode ter que ser aumentada em cerca de 25 ou 50 % da
dose habitual devido ao aumento do volume de distribuição. Este ajuste deve ser considerado
particularmente na prescrição de antibióticos hidrofílicos (β-lactámicos, cefalosporinas,
carbapenems) [5, 7].
A TDM deve ser usada sempre que possível, especialmente nos antibióticos com janela
terapêutica estreita, e com risco de nefrotoxicidade, como é o caso da vancomicina e dos
aminoglicosídeos [7].
As equações mais utilizadas para esta estimativa são a conhecida fórmula de Cockcroft-Gaut
e as equações do Estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) e Chronic Kidney Disease-
Epidemiology Collaboration (CKD-EPI).
a. b.
c. d.
Por outro lado, devemos estar atentos ao facto de que tais equações não são aplicáveis a
doentes que se encontrem em situação de instabilidade da função renal, seja por alterações
hemodinâmicas, ou por progressão ou recuperação dessa mesma função.
40.2.3.1. Hemodiálise
Em termos práticos, os doentes em diálise (hemodiálise e diálise peritoneal), devem ser
considerados como tendo uma TFG inferior a 10 ml/min.
Como norma geral, considera-se necessário administrar uma dose adicional no final da
sessão de diálise, quando se estima que esta elimina 30% ou mais do fármaco.
Na diálise peritoneal, a eficácia depurativa dos fármacos é baixa, logo a eliminação da maior
parte dos fármacos é baixa por esta técnica. Assim as doses dos antibióticos são similares às
recomendadas para ClCr <15 ml/min.
Na prescrição de fármacos na doença hepática e/ou renal devemos considerar três fatores
essenciais. As alterações PKs associadas à doença, as alterações PD dos fármacos e o aumento
da suscetibilidade destes doentes a efeitos adversos particularmente hepatotoxicidade e
nefrotoxicidade, escolhendo preferencialmente antibióticos sem toxidade conhecida e na
ausência de alternativas prestar particular atenção à necessidade de ajuste da dose diária.
A primeira dose de antibiótico deve ser sempre uma dose de carga, independente do grau
de disfunção de órgão. Na administração de antimicrobianos cuja concentração eficaz é alterada
por elevado volume de distribuição, devido a alterações na ligação às proteínas plasmáticas e/ou
ascite um aumento da dose inicial é sugerido nas primeiras 24h-48h, particularmente nos
doentes críticos [11].
Bibliografia
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Philadelphia: Saunders 1964:50-64.)
Dulce Diogo, MD
Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; Faculdade Medicina da Universidade de Coimbra
O primeiro transplante hepático com sucesso foi realizado em 1963, em Pittsburgh, por
Thomas Starlz. Os últimos 60 anos trouxeram progressos decisivos nas técnicas cirúrgicas, nos
cuidados pós-operatórios, na imunossupressão e no seguimento a longo prazo dos doentes
transplantados hepáticos, permitindo hoje ambicionar como metas de sobrevivência para os
doentes transplantados hepáticos, 90% e 85 % aos 12 meses e aos 5 anos, respetivamente.
Não invariavelmente, diferentes doentes podem vir a falecer em lista ou ser suspensos
da mesma, quer por agravamento clínico, quer por distintas intercorrências durante a evolução
da sua situação clínica. Esta realidade difere de país para país e é condicionada pela legislação
de doação e transplantação em vigor.
O dador de órgãos pode ser agente de transmissão de quase todos os agentes infeciosos.
De acordo com as regras europeias, devem ser rejeitados órgãos provenientes de dadores com
TB ativa, com infeção diagnosticada por agentes MDR, com infeção por VIH, com infeção fúngica
ou parasitoses ativas. Igualmente devem ser rejeitados dadores com quadros de meningite ou
encefalite sem agente infecioso identificado.
Bibliografia
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Clara Pardinhas, MD
Centro Hospitalar Universitário de Coimbra
Apesar da melhoria dos outcomes de transplante renal nos últimos anos, com melhoria
da sobrevida do doente e do enxerto, as complicações infeciosas continuam a afetar
negativamente a morbimortalidade destes doentes. As complicações infeciosas correspondem
à segunda principal causa de morte em doentes transplantados com enxerto funcionante. O
estado de imunossupressão, a exposição a dispositivos médicos (DM) (sonda vesical, drenos,
etc.) são importantes fatores contribuidores de infeção, bem como, a exposição a ambiente
hospitalar. O risco de infeção é, portanto, dependente de dois principais fatores sinérgicos:
exposição epidemiológica e imunossupressão global/suscetibilidade do doente [1].
O período pós-transplante pode ser dividido em três períodos, de acordo com o risco de
infeção por agentes específicos:
• O período inicial pós-transplante (primeiro mês);
• Um período intermediário (um a seis meses);
• Mais de seis meses pós transplante.
O maior risco de infeção oportunista surge no período intermédio [1, 2].
Esta organização é útil por duas principais razões:
• Facilita o diagnóstico diferencial;
• Guia o desenvolvimento de estratégias preventivas.
Nos últimos anos com a instituição da profilaxia para a infeção CMV, a incidência de infeção
a CMV reduziu significativamente. O principal fator de risco para reativação ou infeção a CMV é
o estado de imunização a CMV do par dador-recetor, mas existem outros fatores de risco:
42.4.1.2. Profilaxia
Deve ser instituída em todos os recetores IgG positivos e nos recetores IgG negativos com
dador IgG positivo:
• Administração de valganciclovir 900mg por dia ou 450mg por dia se TFG < 60mL/min
o Iniciar imediatamente no período pós transplante renal;
o D+/R- durante 6 meses;
o R+ durante 3 meses.
• Para os pares D-/R- não está preconizada profilaxia para CMV (podem fazer aciclovir
200mg 2 vezes por dia durante 3 meses para profilaxia HSV).
A profilaxia com valganciclovir é tão eficaz como ganciclovir, mas com melhor
biodisponibilidade e facilidade na toma [1, 5].
42.4.1.4. Diagnóstico
Os sinais e sintomas de infeção a CMV são inespecíficos e muitas vezes semelhantes a outras
condições infeciosas. São necessários testes laboratoriais para confirmar o diagnóstico, sendo o
mais frequente a pesquisa e doseamento do DNA de CMV por Polymerase chain reaction (PCR)
que tem elevada sensibilidade e especificidade. Pode ser feita a pesquisa no sangue ou qualquer
outro líquido biológico. Em algumas situações é necessário o estudo histopatológico,
nomeadamente se sinais e sintomas de infeção localizada sem proteína C reativa positiva no
sangue. Acontece ocasionalmente em casos de colite a CMV [5].
42.4.1.5. Tratamento
O diagnóstico e terapêutica atempados são a chave para o sucesso da terapêutica. A
abordagem vai depender da clínica.
• Biópsia renal com nefrite túbulo intersticial, vírus símio 40 positivo e inflamação
intersticial.
• Ig 400 a 600mg/kg/mês:
o Tem Ac contra VJC e BK que são ubiquitários na população geral e tem também
um papel importante na rejeição celular, muitas vezes presente
concomitantemente.
42.4.2.2. Prognóstico
Apesar destas medidas, a progressão da disfunção do enxerto e eventual perda do enxerto
ocorre em 15 a 50% dos doentes com nefropatia ou até mais. O re-transplante renal deve ser
protelado até que carga viral no sangue seja negativa. Dado que não existe terapêutica dirigida
ao BK vírus, o rastreio da infeção e medidas preventivas são a abordagem mais eficaz [1, 2, 3].
42.4.3.1. Tratamento
Uma das medidas mais importantes é reduzir a imunossupressão. O tratamento com
radioterapia ou quimioterapia convencionais tem resultados desfavoráveis com taxas de
mortalidade perto dos 80%. O tratamento com rituximab parece ser uma terapêutica eficaz,
estimando-se uma taxa de resposta de 65% [1, 2, 3, 8].
• Preconizada profilaxia secundária nos casos de infeções do trato urinário recorrente [10,
11, 12].
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Sandra Marini, MD
Centro Hospitalar Universitário de Coimbra; Faculdade Medicina da Universidade de Coimbra
A febre no doente neutropénico deve ser considerada uma emergência médica. Esta
situação ocorre entre 10 e 50% dos doentes com tumores sólidos e em mais de 80% dos doentes
com patologias hematológicas submetidos a tratamento com quimioterapia [4, 5].
No que respeita à mortalidade, estima-se que esta se situe entre os 12 e os 42%, elevando-
se até aos 70% se a correta terapêutica antibiótica empírica não for instituída com a devida
brevidade [6].
Por este motivo, a abordagem inicial à neutropenia febril, neste tipo de doentes, prevê a
utilização empírica de antibióticos de largo espectro de forma precoce e assertiva. No entanto,
este tipo de abordagem empírica pode levar à seleção de estirpes bacterianas MDR, à
predisposição a infeções fúngicas ou diarreia associada a C. difficile.
43.1. Definição
Define-se neutropenia febril como a determinação isolada de temperatura oral ≥ 38,3ºC ou
duas medições consecutivas ≥ 38ºC num período de 1hora, associada a uma contagem absoluta
de neutrófilos <500 /µl ou que seja expetável uma contagem inferior a <500 /µl nas 48horas
seguintes. Na ausência de uma causa não infeciosa (perfusão de fármacos citotóxicos ou
transfusão de hemoderivados) [6, 7].
Características Valor
Neoplasia sólida ou ausência de infeção por fungos prévia em doente com neoplasia hematológica
4
A escolha do ß-lactâmico em monoterapia deve ser guiada por local de infeção, marcha
antibiótica prévia e perfil de suscetibilidade anterior (individual e da instituição). Os sinais e
sintomas devem auxiliar esta escolha. Por exemplo, num doente com dor abdominal e diarreia
com elevada suspeita de foco gastrointestinal a alternativa terapêutica deve contemplar a
cobertura para microrganismos anaeróbios, devendo ser utilizado de forma preferencial uma
monoterapia com piperacilina e tazobactam ou uma associação de metronidazol com cefepime.
Os carbapenemos têm uma excelente atividade anaeróbia, mas devem ser reservados para
infeções complicadas por bactérias MDR, por exemplo, microrganismos produtores de
enterobactereaceas. Nesse sentido os carbapenemos não estão indicados como terapêutica de
primeira linha em doentes não complicados e estáveis [10, 11].
Nos últimos 30 anos as infeções por gram-positivos têm vindo a aumentar nestes doentes,
traduzindo o impacto do uso de dispositivos cutâneos como os CVC e da própria epidemiologia
local. A cobertura empírica em primeira linha com glicopeptídeos não deve ser instituída de
forma rotineira. Deve ser reservada apenas para doentes com instabilidade hemodinâmica,
identificação de cocos gram-positivos em culturas (mesmo que antibiograma não se encontre
disponível), suspeita clínica de infeção relacionada com o CVC, SSTI, colonização por S. aureus,
VRE e mucosite grave se doente tiver feito profilaxia com fluoroquinolonas e antibioterapia
empírica com ceftazidima, por risco de infeção por Streptococcos viridans [6, 8, 10].
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44.1. Corticoterapia
A corticoterapia exerce múltiplos efeitos dependentes da dose na imunidade inata e
na imunidade adquirida que predispõem à infeção:
Para além disso, afetam a estabilidade do RNA que codifica IL-1, IL-2, IL-6, IL-8, o TNF
e o Granulocyte-macrophage colony stimulating factor (GM-CSF), suprimindo a produção de
eicosanóides em células fagocitárias e a síntese da ciclooxigenase-2, responsável pela produção
de prostaglandinas em focos inflamatórios.
44.4.1. Corticoterapia
As infeções associadas à corticoterpia podem ser infeções bacterianas comuns
(incluindo aumento do risco de TB), fúngicas (espécies de Candida) ou virais (VHS). O risco
aumentado de pneumonia por P. jirovecii tem sido descrito em doentes em tratamentos
crónicos, mesmo com doses moderadas e de curta duração. Deve também ser considerado o
risco de síndrome de hiperinfeção e ainda estrongiloidíase disseminada em doentes com infeção
crónica pelo parasita e a respetiva gravidade (mortalidade superior a 60%).
44.4.2. VIH
O risco de infeções oportunistas em doentes com VIH está relacionado com a contagem de
CD4, como ilustrado na tabela 20:
Tabela 21 - Alternativas terapêuticas para infeções por P. jiroveci e respetivos efeitos adversos.
+
Primaquina Primaquina: 30 mg (base) por via oral diariamente. - Erupção cutânea, febre,
Recomenda-se verificar previamente se o doente desconforto gastrointestinal,
apresenta deficiência de glicose-6-P-desidrogenase. metemoglobinemia, anemia
hemolítica, neutropenia
- Desconforto gastrointestinal,
Atovaquona 750 mg a cada 12 horas por via oral, com alimentos febre, transaminases elevadas,
erupção cutânea
- Nefrotoxicidade, reações à
infusão, hipercalemia,
hiperglicemia, pancreatite,
arritmias cardíacas,
transaminases elevadas,
Pentamidina 4 mg/kg IV c/24h
hipotensão, hipoglicemia,
hipocalcemia. Alguns efeitos
adversos podem ser críticos,
como hipoglicemia ou
hipotensão.
44.5.2.2. Aspergillus
A administração profilática pode prevenir a aspergilose invasiva. A seleção dos doentes
depende das suas características e da epidemiologia do hospital. Alguns dos tratamentos que
podem ser utilizados são:
• Itraconazol: mais eficaz que fluconazol em doentes com LMA e transplante de células-
tronco hematopoiéticas;
Tabela 22 - Alternativas terapêuticas para a infeção por Aspergillus e respetivos efeitos adversos.
44.5.3.1. Citomegalovírus
A doença por CMV indica presença de infeção por CMV acompanhada de sinais e sintomas.
A síndrome do CMV apresenta febre, mal-estar, leucopenia e trombocitopenia e distingue-se da
doença invasiva por CMV, por esta última estar associada ao envolvimento de órgãos (GI,
pneumonite, hepatite, nefrite, miocardite e retinite, entre outros), sendo mais frequente o
envolvimento do trato gastrointestinal. Para além disso, o CMV pode induzir efeitos indiretos
devido à ação imunomoduladora, aumentando o risco de bacteremia, infeção fúngica, infeção
viral, recorrência de hepatite C após transplante hepático e doenças linfoproliferativas. Foi tem
sido associado a casos de trombose, rejeição e falha do enxerto.
Os antivíricos utilizados na profilaxia são valganciclovir oral ou ganciclovir IV. O ganciclovir
oral não deve ser utilizado devido à baixa biodisponibilidade.
A duração da profilaxia depende da sorologia do doador/recetor e do tipo de transplante,
mas geralmente é de 3 a 6 meses.
O valganciclovir oral atinge níveis sanguíneos semelhantes aos do ganciclovir IV, sendo
o recomendado para o tratamento da doença leve a moderada. Ganciclovir IV é usado no
tratamento de infeções graves por CMV, se não se adequar a via oral ou na presença de alta
carga viral. Para além do tratamento, recomenda-se reduzir a carga de imunossupressão do
doente para obter uma melhor resposta à terapêutica antivírica.
A duração do tratamento deve ser individualizada e orientada pela resolução dos sinais
e sintomas clínicos e monitorização da carga viral.
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aspergillosis: 2016 update by the Infectious Diseases Society of America. Clin Infect Dis. 2016;63(4):e1-e60.
doi:10.1093/cid/ciw326.
http://cid.oxfordjournals.org/content/early/2016/06/22/cid.ciw326.full.pdf+html.27365388.
15. Ramanan P and Razonable RR. Cytomegalovirus Infections in Solid Organ Transplantation
De uma forma global, as queimaduras podem ser descritas como lesões do revestimento
corporal causadas pela transferência de energia a partir de um agente físico ou químico,
geralmente na forma de calor. De acordo com sua profundidade, podem ser classificadas como:
• 1º grau, quando se verifica apenas a presença de eritema e dor, mas sem perda de pele,
com o exemplo clássico das queimaduras solares;
• 2º grau, quando a epiderme e uma parte mais fina ou mais espessa da derme são
afetadas, habitualmente com flitenas e exsudato;
• 3º grau, quando há perda total da pele (epiderme e derme) e eventualmente de tecidos
subjacentes, podendo chegar até aos ossos;
• Alguns autores descrevem ainda um 4º grau quando se verifica carbonização tecidular
marcada, mas esse conceito não é consensual, sendo rara a sua utilização.
A infeção nos doentes queimados pode-se apresentar como uma infeção localizada (por
exemplo, infeção das áreas queimadas, pneumonia isolada, infeção urinária, etc.) ou assumir
um carácter sistémico, com invasão da corrente sanguínea por microrganismos (provenientes
ou não de eventuais infeções localizadas prévias), sua multiplicação e atingimento de órgãos à
distância, caracterizando um quadro de sepsis.
Devido ao grande desenvolvimento das modernas técnicas de ressuscitação e
tratamento intensivo, os processos infeciosos, nomeadamente a sepsis, substituíram o choque
séptico inicial como principal causa de morte em doentes queimados.
O tratamento da infeção local da queimadura pode ser feito pela aplicação de agentes
antimicrobianos tópicos e/ou desbridamento cirúrgico precoce das zonas afetadas, evitando a
disseminação da infeção (controlo do foco infecioso). De entre os agentes tópicos mais
utilizados, quer na prevenção quer no tratamento, da infeção localizada salientam-se:
• Creme de sulfadizina de prata, eventualmente associada a nitrato de cério (para
permitir uma melhor penetração do produto na escara, diminuindo o risco de infeção
das zonas subjacentes);
• Apósitos de libertação lenta de prata;
• Creme de iodopovidona;
• Gel de polihaxanida-betaína;
• Acetato de mafenide, reservado para infeções do pavilhão auricular, por ter uma
aplicação dolorosa, etc.
A aplicação de soluções com nitrato de prata está atualmente abandonada devido à sua
toxicidade e ao facto de manchar todas as superfícies em que era usado. Em alguns países
pobres, mantém-se a utilização de productos de origen natural, como o mel. Obviamente,
sempre que há suspeita de uma infeção invasiva em curso, está indicada a administração de
agentes antimicrobianos sistémicos.
Infelizmente, um biomarcador com todas estas características ainda não foi descoberto,
embora alguns deles, mesmo apresentando algumas limitações, possam ter bastante utilidade
prática. De entre os mais frequentemente disponíveis na maioria dos hospitais, um dos mais
recomendados para ajudar no diagnóstico da sepsis no doente queimado é a procalcitonina [20].
Em condições normais esta pró-hormona é segregada nas células C da tiroide, sendo
praticamente indetetável no sangue. Esses níveis sofrem um aumento marcado (até 1.000
vezes) logo após 2 a 4 horas do início da sepsis, diminuindo rapidamente após instituição de
uma terapia antimicrobiana bem-sucedida [21]. Evidências científicas corroboram que a
procalcitonina tem boa capacidade de distinguir entre resposta inflamatória sistémica não
infeciosa e quadros sépticos de origem bacteriana nos doentes queimados [22, 23], permitindo
igualmente monitorizar a terapêutica e suspendê-la de uma forma mais segura e mais precoce
[24].
Bibliografia
1. Church D, Elsayed S, Reid O et al. Burn wound infections. Clin Microbiol Rev 2006;19:403-434.
DOI:10.1128/CMR.19.2.403-434.2006.st 2000; 118:146-155.
2. World Health Organization. Burns. https://www. who.int/en/news-room/fact-sheets/detail/burns (WHO, 2018)
Nuno Príncipe, MD
Centro Hospitalar Universitário de São João
Os resultados clínicos com as terapêuticas especificas da sepsis têm sido até ao momento
desapontantes. Este assunto já levou a enormes reflexões junto da comunidade científica
internacional que se dedica à sepsis, chegando-se a algumas conclusões [2]:
• Há uma enorme variabilidade entre os modelos animais utilizados para investigação da
sepsis, o que produz grande variabilidade de resultados, comprometendo a qualidade
da investigação e a sua relevância científica.
• Em humanos, a abordagem “one size fits all” para a sepsis deverá ser substituída pela
doutrina da medicina de precisão, face à enorme heterogeneidade da sepsis, devendo
os doentes ser selecionados para os futuros ensaios clínicos com base em fenótipos
clínicos de sepsis ou através da utilização de biomarcadores que permitam diferenciar
subgrupos de doentes.
Reconhecendo estas, e seguramente outras, limitações à ciência que tem sido produzida até
ao momento na área da sepsis, pode ajudar a não desaproveitar eventuais novos tratamentos
que possam beneficiar “apenas” alguns doentes [2].
Bibliografia
1. Singer M et al. The Third International Consensus Definitions for Sepsis and Septic Shock. JAMA. 2016;315 (8):801-
810.
2. Cavaillon JM et al. Sepsis therapies: learning from 30 years of failure of translational research to propose new
leads. EMBO Mol Med (2020) 12:e10128.
3. Evans L et al. Surviving sepsis campaign: international guidelines for management of sepsis and septic shock 2021.
Intensive Care Medicine. doi.org/10.1007/s00134-021-06506-y
4. Steinhagen F et al. Immunotherapy in sepsis – brake or accelerate? Pharmacology & Therapeutics 208 (2020)
107476.
5. Vignon P et al. New Agents in Development for Sepsis: Any Reason for Hope? Drugs (2020) 80:1751-1761
Roberto Roncon, MD
Centro Hospitalar Universitário de São João; Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
O ECMO consiste num circuito fechado que permite, através de uma bomba propulsora,
que um fluxo contínuo drenado do sangue venoso seja devolvido ao doente, após a passagem
do mesmo por uma membrana oxigenadora. Permite assim tanto a oxigenação como a remoção
de dióxido de carbono.
A principal indicação para o ECMO-VV é o SDRA grave, cuja definição de Berlim inclui
doentes com ratio PaO2/FiO2 < 100 (com pressão expiratória final positiva mínima aplicada de 5
cm H2O). São considerados candidatos a ECMO-VV os doentes que mantêm ratio PaO2/FiO2 <
100 apesar do tratamento convencional otimizado e da implementação precoce do bloqueio
neuromuscular e do decúbito ventral.
Uma vez que a ECMO é um tratamento emergente, faltam estudos de grande escala e
multicêntricos dedicados às alterações PD ou PK dos antibióticos nesta população de doentes
críticos. A maioria dos dados publicados provém de estudos observacionais de pequena
dimensão. Os doentes em ECMO podem apresentar várias e amplas alterações na PK, algumas
atribuíveis ao suporte de ECMO e outras relacionadas com a própria doença crítica. Os
parâmetros alterados observados ex-vivo incluíram o T½, diminuição da depuração e aumento
do volume de distribuição. Alguns desses efeitos podem ser atribuídos ao sequestro no circuito
extracorporal de ECMO. Nomeadamente, está bem estabelecida a necessidade de doses mais
altas de sedativos e analgésicos nos doentes críticos em ECMO, um fenómeno que se estende a
vários antibióticos. Acresce que vários estudos experimentais e clínicos, em RN e adultos
mostraram grande variabilidade e imprevisibilidade significativas na PD de vários antibióticos
durante o suporte de ECMO [4].
Vários parâmetros específicos do circuito de ECMO podem também alterar a PK. Esses
fenómenos dependem das propriedades do fármaco, tipo de circuito extracorporal, tipo de
bomba e formação de biofilme. O circuito da ECMO compreende uma grande área de superfície
que pode sequestrar fármacos, com revestimentos do circuito e componentes próprios que
permitem a adsorção de antimicrobianos, reduzindo assim a sua biodisponibilidade. Esse efeito
pode ser mais pronunciado em fármacos lipofílicos, embora esse efeito possa diminuir à medida
que os locais de ligação saturam. Este aspeto pode também promover o circuito de ECMO como
um reservatório com redistribuição subsequente no plasma. Por exemplo, o meropenem é
fortemente sequestrado (80%), provavelmente afetando sua biodisponibilidade. Sequestro
semelhante é observado para a cefazolina, a ampicilina, a gentamicina, o voriconazol e a
vancomicina, mas a maioria dos estudos foi realizada in vitro. Este aspeto é relevante porque no
caso da cefazolina, o estudo in vivo não conseguiu demonstrar um nível mais baixo do fármaco.
O tipo de oxigenador parece também influenciar a adsorção dos antibióticos, o que está
relacionado com a área de superfície e com as propriedades das membranas. As membranas
antigas de silicone exibiam mais resíduos de fármacos do que as compostas por fibras ocas de
polimetilpenteno presente nos oxigenadores modernos [5].
Bibliografia
1. Akoumianaki, E., Jonkman, A., Sklar, M.C. et al. A rational approach on the use of extracorporeal membrane
oxygenation in severe hypoxemia: advanced technology is not a panacea. Ann. Intensive Care 11, 107 (2021).
2. Tramm R, Ilic D, Davies AR, Pellegrino VA, Romero L, Hodgson C. Extracorporeal membrane oxygenation for
critically ill adults. Cochrane Database Syst Rev 22, 1 (2015).
3. Rao P, Khalpey Z, Smith R, Burkhoff D, Kociol RD. Venoarterial Extracorporeal Membrane Oxygenation for
Cardiogenic Shock and Cardiac Arrest. Circ Heart Fail 11, e004905 (2018).
4. Gomez F, Veita J, Laudanski K. Antibiotics and ECMO in the Adult Population-Persistent Challenges and Practical
Guides. Antibiotics (Basel) 4, 11 (2022).
5. Ha MA, Sieg AC. Evaluation of Altered Drug Pharmacokinetics in Critically Ill Adults Receiving Extracorporeal
Membrane Oxygenation. Pharmacotherapy 37, 221-235 (2017).
Estes estudos epidemiológicos recentes [1–3], bem como outros [7] permitiram igualmente
estabelecer uma ordenação dos focos mais prevalentes da infeção. A infeção mais vezes
associada à sepsis, que mais vezes se complica de choque séptico e necessidade de admissão
em Medicina Intensiva, é a ITR, em particular a pneumonia. Em segundo lugar, encontra-se a
infeção intra-abdominal, embora nesta se verifique uma prevalência anormalmente elevada de
choque séptico. Em terceiro as infeções do trato urinário, em particular a pielonefrite e a
pionefrose. É claro que este tipo de lista é altamente dependente da população em análise.
A esta lista associa-se a importância das infeções adquiridas no hospital, em particular
novamente a pneumonia, aqui com características particulares, a maioria das vezes associada a
fenómenos de aspiração, complicada de hipoxemia e com mortalidade muito mais elevada (8),
a infeção associada a CV, predominantemente o CVC, mas em número não desprezível o cateter
venoso periférico (CVP) [9], e a infeção abdominal, aqui associada ao pós operatório, quer
peritonite terciária clássica (por falência do controlo do foco) quer peritonite do pós-operatório,
complicação de deiscência de anastomose duma “cirurgia limpa”.
A ecografia abdominal é uma alternativa prática e que pode ser realizada à cabeceira do
doente. É limitada pela menor capacidade de detetar lesões de pequenas dimensões,
prejudicada pela interposição de gás (por exemplo, em quadros de ileus) e de osso, pela
obesidade, sendo que a sua acuidade depende da experiência do operador.
A colheita de outros estudos microbiológicos deve ser informada pela avaliação do foco
suspeito, devendo evitar-se a colheita de amostras de focos sem infeção. A presença de
bactérias colonizantes ou a contaminação das amostras pode dificultar a interpretação do caso
clínico e levar à sobreutilização de antibióticos.
Por outro lado, permite manter atualizado o conhecimento sobre a flora microbiana local e
a deteção de surtos por microrganismos menos frequentes.
Neste estudo a percentagem de doentes com pneumonia nosocomial com VM foi de apenas
18.8% [16], em linha com o referido noutros trabalhos, em que a maioria dos doentes com esta
infeção não estava ventilado.
No entanto, os mesmos estudos têm confirmado a alta mortalidade associada a esta infeção
(superior a 30%) pelo que as recomendações internacionais recomendam a utilização de
espectro alargado de antibióticos [18], particularmente nos doentes considerados como tendo
AR de mortalidade.
Este tipo de colonização é também evidente nos CV. Uma vez que os mesmos podem ser
colonizados no seu exterior ou no seu interior, nem sempre os biofilmes estão em contacto com
a pele ou as suas estruturas, pelo que a ausência de sinais inflamatórios não exclui a
possibilidade de infeção. Em doentes críticos com sinais clínicos de infeção “de novo”, sem foco
identificado, é geralmente recomendado a remoção dos CVC sempre que possível [23].
Bibliografia
1. Vincent J-LL, Rello J, Marshall J, Silva E, Anzueto A, Martin CD, et al. International Study of the Prevalence and
Outcomes of Infection in Intensive Care Units. JAMA. 2009;302(21):2323–9.
2. Cardoso T, Carneiro AH, Ribeiro O, Teixeira-Pinto A, Costa-Pereira A. Reducing mortality in severe sepsis with the
implementation of a core 6-hour bundle: results from the Portuguese community-acquired sepsis study (SACiUCI
study). Crit Care. 2010;14(3):R83.
3. Gonçalves-Pereira J, Pereira JMM, Ribeiro O, Baptista JPP, Froes F, Paiva J.-AA, et al. Impact of infection on
admission and of the process of care on mortality of patients admitted to the Intensive Care Unit: The INFAUCI
study. Clin Microbiol Infect. 2014;20(12):1308–15.
Iuri Correia, MD
Hospital Professor Doutor Fernando Fonseca
Se estiverem presentes pelo menos dois destes sinais, então o doente pode estar em últimos
dias (pode ir até 14 dias) ou horas de vida:
• Estertor;
• Acamamento.
Não existem recomendações para a prescrição antibiótica em doentes em fim de vida, mas
se estiverem presentes estes sinais, a maioria dos autores advoga a suspensão da antibioterapia.
Nas demais situações de doença avançada e irreversível, a ponderação sob a antibioterapia
também tem implicações éticas e deve ser feita à luz dos princípios éticos de não maleficência
e beneficência e justiça.
Dado que muitos destes doentes, numa fase avançada de doença apresenta caquexia,
desnutrição, imobilidade e outros fatores que contribuem para a fragilidade do sistema imune,
é natural que haja maior prevalência de infeção. À medida que a doença avança, o risco de
infeção não só aumenta como pode estar relacionado com o evento terminal. O conceito de
infeção como evento de fim de vida é importante para entender a possibilidade de a
antibioterapia ser considerada uma medida distanásica. Se a infeção for o evento terminal
daquele doente, tratá-la e prolongar (de certa forma de modo artificial) a vida do doente uma
vez mais, caso não haja benefício em qualidade de vida do doente, pode ser enquadrado naquilo
que é uma medida distanásica e de encarniçamento terapêutico.
A antibioterapia tem de ser encarada como um ato terapêutico tão definido como instituir
aminas, VMI ou traqueostomia. Tem implicações na quantidade de vida e por isso é lícito que os
doentes com doenças graves e progressivas se pronunciem sobre o uso de antibioterapia em
fim de vida ou situações clínicas irreversíveis.
Mais do que tratar uma infeção, nestes doentes, é importante saber se eles querem ser
tratados. Este item está atualmente presente na minuta do testamento vital, mas sempre que o
doente estiver consciente e orientado, a discussão deve ser feita com o próprio, no contexto
atual. Podem existir condicionantes particulares que justifiquem o prolongamento da vida do
doente, como a espera pela chegada dum familiar ou outras tarefas de fim de vida.
A dicotomia entre infeção e colonização tem de ser devidamente equacionada, pois muitos
destes doentes estão internados há algum tempo, são algaliados cronicamente ou têm feridas
malignas que podem estar colonizadas.
Alguns autores advogam um trial de 72h de antibiótico, quando em dúvida, devendo este
ser suspenso se não se verificar melhoria sintomática.
Deverão ser equacionadas vias menos invasivas, como a SC ou oral e dada primazia à
avaliação clínica e sintomática ao invés da laboratorial.
Em suma, em situação de fim de vida, a antibioterapia pode ser útil para o controlo
sintomático, mas pode constituir uma medida distanásica.
Deve ser refletida, como qualquer outra terapêutica, de acordo com os objetivos do doente,
os princípios éticos e o contexto clínico.
Manual da APFH sobre Antimicrobianos 284