Melaleuca Alternifolia
Melaleuca Alternifolia
Melaleuca Alternifolia
ARTIGO DE REVISÃO
MARÇO/2020
MELALEUCA ALTERNIFOLIA: EVIDÊNCIA CIENTÍFICA
Artigo de revisão
Aluna
Maria Inês Mourão Benites dos Santos Barradas
Aluna do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina
Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
ines.barradas476@gmail.com
Orientador
Prof. Doutor Celso Pereira
Professor Auxiliar Convidado da Unidade Curricular de Plantas Medicinais na Prática
Clínica, Faculdade de Medicina, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal –
Azinhaga de Santa Comba, 3000-354, Coimbra
Coorientadora
Dr.ª Beatriz Tavares
Imunoalergologia, Assistente Graduada do Serviço de Imunoalergologia, Centro
Hospitalar da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal – Praceta Prof. Mota Pinto,
3000-075, Coimbra
2
ÍNDICE
Resumo ......................................................................................................................... 5
Abstract ......................................................................................................................... 7
I. Introdução ........................................................................................................ 11
3
4
RESUMO
Este artigo tem por objetivo uma revisão crítica da literatura disponível
referente às aplicações médicas da Melaleuca alternifolia. Para o efeito, procedeu-se à
pesquisa criteriosa de artigos científicos e ensaios clínicos que atentem às
oportunidades terapêuticas e eventuais novas linhas de investigação.
Neste contexto, este fitofármaco tem tido aplicação em inúmeras áreas clínicas.
5
Em investigação experimental tem sido evidenciada atividade antioxidativa e
intervenção em inúmeros processos celulares com efeito oncoprotector, pelo que
estes efeitos alargam o espetro potencial da Melaleuca alternifolia.
6
ABSTRACT
This article aims at a critical review of the available literature regarding the
medical applications of Melaleuca alternifolia. To this end, a careful search for scientific
articles and clinical trials was carried out, regarding therapeutic opportunities and
possible new lines of investigation.
7
The growing number of multidrug-resistant microorganisms turns this medicinal
plant into a target of interest in current scientific research, enabling its rational and
sustained clinical application.
Key words: tea tree oil, Melaleuca oil, terpinene-4-ol, antimicrobial, Candida albicans.
8
LISTA DE ABREVIATURAS
9
10
I. INTRODUÇÃO
11
A substância de interesse farmacológico
nesta planta é o óleo obtido através da destilação
das suas folhas e ramos terminais. Apresenta um
amplo espetro antimicrobiano, particularmente
contra fungos, bactérias gram positivas e gram
negativas, parasitas e vírus. As suas
propriedades anti-inflamatória e cicatrizante
também são amplamente reconhecidas. [3] Os
fitoconstituintes bioativos presentes no óleo, e
que parecem ser os principais responsáveis
pelas propriedades descritas, são os terpinenos,
nomeadamente o terpineno-4-ol, o γ-terpineno e Figura 2: Melaleuca alternifolia (folhas e
o α-terpineno. ramos terminais)
12
Nos últimos anos, tem surgido evidência crescente da potencialidade deste óleo
também noutras áreas, como a ginecologia, oftalmologia, cirurgia, oncologia e em
diversas patologias infecciosas.
Desta forma, este artigo tem por objetivo fazer uma revisão crítica da literatura
referente às potenciais aplicações médicas do óleo de Melaleuca alternifolia, incluindo
ensaios in vitro e in vivo em algumas áreas, estudos clínicos, revisões sistemáticas e
meta-análises dos principais estudos.
13
14
II. MATERIAL E MÉTODOS
Pharmacological applications
Geral
Properties
Antiparasitic agents
Antiprotozoal agents
Anti-infective agents
Antimicrobiana Antihelmintics
Antibacterial agents
Antifungal agents
Antiviral agentes
Antineoplastics
Anticarcinogenic agents
Oncoprotetora
Antitumor agents
Anticancer agents
Neoplasms
Dermatologic agents
Dermatológica
Acne vulgaris
15
Tabela I: Termos MeSH utilizados e respetiva área de aplicação (continuação)
Seborrheic Dermatitis
Tinea pedis
Onychomycosis
Oral Medicine
Oral Oral Mucositis
Dental plaque
Gynecologic Diseases
16
III. RESULTADOS
Odor Característico --
Adaptado de: ISO 4730: 2017. Essential oil of Melaleuca, terpinen-4-ol type (Tea Tree oil). [6]
17
Os componentes do óleo de Melaleuca estão descritos na Tabela III. Os principais
componentes bioativos são os terpinenos (terpineno-4-ol, γ-terpineno e α-terpineno),
que constituem mais de 50% do óleo e são o componente de maior interesse pela sua
potente atividade antimicrobiana. Quando expostos à luz, calor ou humidade os
terpinenos oxidam e formam p-cimeno. Consequentemente, a quantidade de
terpinenos diminui enquanto a quantidade de p-cimeno aumenta. Desta forma, a
concentração deste componente é considerada um bom indicador da degradação
oxidativa do óleo. [4] De facto, a ISO estipula que o óleo de Melaleuca deve ter um
componenete mínimo de 35% de terpineno-4-ol e um conteúdo máximo de 8% de p-
cimeno. [6]
Tabela III: Perfil Cromatográfico do óleo de Melaleuca
*vestígios: <0,01%
Adaptado de: ISO 4730: 2017. Essential oil of Melaleuca, terpinen-4-ol type (Tea Tree oil) [6]
18
Mecanismos farmacológicos
Alterações na permeabilidade e na
Staphylococcus aureus [7]
morfologia da membrana celular
Interações farmacológicas
19
Segurança e Efeitos adversos
Exposição tópica
Uma revisão dos estudos que avaliaram as reações cutâneas adversas ao óleo
com recurso a testes de contacto revelou uma incidência máxima de 10,7% em
indivíduos testados com óleo 100% puro e um mínimo de 0,9% em indivíduos testados
com uma solução de concentração de 5% de óleo.[15] No entanto, é de notar que
muitas substâncias descritas como óleo de Melaleuca não cumprem os parâmetros
definidos pela ISO, sendo adulteradas com outros contaminantes. Logo, é possível
20
que nem todas as reações adversas que se atribui ao contacto com óleo de Melaleuca
se devam ao mesmo.
Exposição oral
A ingestão de óleo de Melaleuca tem efeitos tóxicos e não está recomendada. [5]
É categorizado como um tóxico de grau 6 na Austrália pela Drugs, Poisons and
Controlled Substances Act 1981. Neste, considera-se que os tóxicos de grau 6
apresentem perigo moderado. Desta forma, considera-se que o óleo de Melaleuca
100% puro deve ser embalado em frascos à prova de crianças e rotulados com um
aviso que aconselhe a não ingestão do óleo.
Contra-indicações
21
Pela ausência de dados que suportem a segurança da exposição a óleo de
Melaleuca nas crianças com menos de 12 anos, na gravidez e na amamentação, o
uso desta substância não é recomendado, como medida de precaução. [4]
2. Atividade Antimicrobiana
Embora poucos sejam os estudos que comprovem a sua eficácia in vivo, muitos
são os que demonstram a eficácia antibacteriana do óleo de Melaleuca in vitro. Vários
trabalhos demonstram que a sua atividade antibacteriana se deve essencialmente a
alterações na permeabilidade e na morfologia da parede e da membrana celular das
bactérias, conduzindo a perda do citoplasma. [7] [9]
Num estudo recente foi testada a eficácia in vitro do óleo de Melaleuca contra
Staphylococcus aureus (MRSA e MSSA), Escherichia coli, Klebsiella pneumoniae
(estirpes sensíveis e estirpes resistentes aos carbapenemes), Acinetobacter
baumannii resistente a carbapenemes e Pseudomonas aeruginosa resistente a
carbapenemes. A Melaleuca mostrou uma atividade bactericida potente contra todos
os microrganismos testados e a sua administração conjunta com os antibióticos de
referência para as diferentes entidades mostrou níveis elevados de sinergismo,
mesmo com concentrações sub-inibitórias de antibiótico, particularmente no caso da
22
oxacilina contra MRSA. Esta atividade indica um possível papel adjuvante da
Melaleuca no tratamento de infeções causadas por estes microrganismos. Um ensaio
com vapores de óleo, também efetuado neste estudo, mostrou alta eficácia contra
Acinetobacter baumannii resistente a carbapenemes, constituindo uma opção
promissora para terapêutica local inalatória nos casos de pneumonia causada por este
agente. [20]
23
germinadas. As conclusões deste estudo demonstram que o óleo de Melaleuca
apresenta não só atividade inibitória mas também fungicida. [25]
24
clínica, tais como: Pediculus humanus capitis, Sarcoptes scabiei, Leishmania spp.,
Trypanosoma spp. e Demodex.
Num estudo de 2001, conduzido por Schnitzler et al., avaliou-se o efeito in vitro do
óleo de Melaleuca e do óleo de eucalipto contra os vírus HSV-1 e HSV-2. Numa
primeira fase, os vírus foram expostos a várias concentrações de óleo de Melaleuca e
posteriormente foram utilizados para infetar monocamadas de células. Após 4 dias
comparou-se o número de placas formadas pelos vírus expostos ao óleo e pelos vírus-
controlo (não expostos). A concentração de óleo de Melaleuca necessária para inibir a
formação da placa em 50% (IC50) foi de 0,0009% e 0,0008% para HSV-1 e HSV-2.
Este estudo também demonstrou que a uma concentração de 0,003% o óleo de
25
Melaleuca era capaz de reduzir a titulação de HSV-1 em 98,2% e de HSV-2 em 93%.
Para além disso, ao aplicar-se o óleo em diferentes etapas do ciclo replicativo dos
vírus, demonstrou-se que o maior efeito antiviral ocorria em vírus livre, ou seja, antes
da penetração do vírus na célula do hospedeiro. Assim, concluiu-se que o óleo de
Melaleuca era capaz de exercer efeito antiviral direto no vírus herpes simplex. [5]
3. Atividade Oncoprotetora
26
terpineno-4-ol, eram capazes de impedir o crescimento de células de melanoma M14,
sendo ainda mais eficazes em variantes resistentes à quimioterapia com
doxorrubicina, mostrando que a Melaleuca é capaz de ultrapassar a resistência à
apoptose caspase-dependente exercida pelas células tumorais positivas para a
glicoproteína-P. [10] Mais tarde, em 2011, outro estudo demonstrou que a
M.alternifolia não só consegue ultrapassar as resistências das células de melanoma à
apoptose mas também é capaz de interferir com o seu comportamento agressivo ao
inibir a sinalização intracelular mediada pelo transportador MDR, interferindo com o
processo de migração e invasão das células tumorais. A natureza lipofílica do óleo de
Melaleuca permite-lhe penetrar nas camadas da pele, facto que, aliado à evidência
experimental deste estudo, torna este composto um potencial fitofármaco para o
tratamento do melanoma. [11]
27
colorretais, pancreáticas, prostáticas e gástricas de forma significativa e que o seu
efeito é dose-dependente (inibição de 10% para concentração de 0,005% e inibição de
90% para concentração 0,1%). Este estudo também demonstrou um efeito sinérgico
do terpineno-4-ol com os agentes quimioterápicos oxaliplatina (83%) e fluorouracilo
(91%) na inibição da proliferação celular. Nas células de neoplasia colorretal mutada
para o gene KRAS, a combinação do terpineno-4-ol com cetuximab resultou numa
inibição do crescimento na ordem dos 80-90%. Determinou-se ainda que
concentrações sub-tóxicas deste componente bioativo potenciam a atividade inibitória
dos anticorpos anti-CD24, com uma inibição na ordem dos 90%. Foi observada uma
redução do volume tumoral na ordem dos 40% após administração de terpineno-4-ol
de forma isolada e de 63% quando administrado juntamente com cetuximab. Os
autores deste estudo concluem assim que o terpineno-4-ol potencia significativamente
o efeito dos agentes quimioterápicos e biológicos e defendem o seu potencial como
fármaco oncológico que poderá ser usado isoladamente ou em combinação com
outros tratamentos em diversos tipos de neoplasias. [34]
4. Atividade Antioxidante
28
ensaio com hexanal/ácido hexanóico, 200 µl/l de óleo bruto que exibiu 60% de
atividade inibidora contra a oxidação do hexanal em ácido hexanóico por 30 dias.
Foram separados do óleo bruto e identificados cromatograficamente os antioxidantes
inerentes: α-terpineno, α-terpinoleno e γ-terpineno. As suas atividades antioxidantes
diminuíram na seguinte ordem nos dois ensaios: α-terpineno > α-terpinoleno > γ-
terpineno. Estes resultados comprovaram que a Melaleuca possui uma atividade
antioxidante. [36]
29
5. Aplicações Clínicas
30
semana foi de 15,1 e na 12ª semana foi de 10,7. A pontuação média da AGI foi de 2,4
no início do estudo. Na 4ª semana foi 2,2, na 8ª semana 2,0 e na 12ª semana 1,9. A
contagem total de lesões e a pontuação média da AGI diminuiram de forma
significativa ao longo do tempo. Não ocorreram eventos adversos graves, apenas
eventos minor locais autolimitados como descamação e secura cutânea. [42]
31
oleosidade. O grupo tratado com o champô de Melaleuca mostrou uma melhoria
estatisticamente significativa (41%) na escala de gravidade, quando comparada com o
grupo tratado com placebo (11%). Também foram observadas melhorias
estatisticamente significativas nos componentes de prurido e oleosidade das
autoavaliações dos indivíduos, mas não na componente descamativa. Não foram
reportados quaisquer efeitos adversos. [43]
A Tinea pedis é uma infecção dermatofítica dos pés e dedos dos pés que afeta
perto de 10% da população. É mais frequentemente causada por Trichophyton
rubrum, T. mentagrophytes e Epidermophyton floccosum e parece estar relacionada
com o uso de calçado oclusivo. O tratamento clássico inclui medidas destinadas a
32
reduzir a hiperidrose (pó talco e uso de sapatos abertos) e tratamentos antifúngicos
tópicos incluindo tolnaftato, imidazóis e terbinafina. [44]
33
modelos demonstrou a capacidade destas formulações na redução do crescimento do
T. rubrum, sendo a inclusão de óleo nas nanocápsulas a mais eficiente. [28]
5.1.5. Herpes
O herpes afeta entre 20 a 40% da população mundial sendo que alguns indivíduos
sofrem de crises frequentes e recorrentes. Estas lesões vesiculares são causadas
pelos vírus HSV-1 e HSV-2 que, após a primoinfeção, permanecem latentes nas
terminações nervosas do nervo trigémio. A terapia sistémica com antivirais é capaz de
suprimir e encurtar a duração das crises mas o custo elevado destes agentes limita a
sua utilidade na prática clínica. O tratamento tópico com antivirais é frequente mas os
estudos que avaliaram a eficácia deste tratamento produziram resultados
inconsistentes. [46]
34
colheram zaragatoas para detecção de HSV por PCR e cultura. Foram diariamente
observados até ocorrer reepitelização e PCR negativa para HSV em 2 dias
consecutivos. Os parâmetros avaliados foram: tempo de reepitelização, tempo até
formação de crostas e tempo até vírus indetetável na zaragatoa. A duração de cada
parâmetro foi medida a partir do momento em que o participante notou a sua lesão. O
tempo médio de reepitelização após o tratamento com óleo de Melaleuca foi de 9 dias,
comparativamente aos 12,5 dias do placebo. O óleo causou uma redução modesta na
duração média da deteção do HSV por culturas, com 3 dias em comparação aos 4
dias do placebo. Apesar disso, não houve diferenças entre os tratamentos no que
respeita à duração média da positividade da PCR (6 dias) e ao tempo médio até
formação de crostas (4 dias). No entanto, apesar das diferenças entre os grupos não
terem significância estatística, a redução do tempo de reepitelização observada no
grupo tratado com o óleo foi semelhante às reduções relatadas noutras terapias
antivíricas tópicas. Desta forma, o óleo de Melaleuca pode ser uma alternativa mais
económica no tratamento do herpes labial. [46]
5.1.6. Verrugas
35
não cumpriu perfeitamente o regime de tratamento, facto que pode ter interferido com
a eficácia da terapêutica. Não foram reportadas reações adversas ao tratamento. [47]
36
crianças preencheram os critérios e apenas 1 no grupo I. Os efeitos adversos
limitaram-se a rubor em redor da base de algumas lesões, sem necessidade de
descontinuar o tratamento. Os resultados deste estudo sugerem um uso sinérgico
seguro de óleo de Melaleuca e iodo no tratamento de molusco contagioso. [4]
37
Assim, a alta eficácia do produto OM/OL sugere o potencial do óleo de Melaleuca,
usado de forma isolada ou em combinação com outros óleos essenciais, no
tratamento da pediculose do couro cabeludo. [51] É importante realçar que a
erradicação dos parasitas só é eficaz se os contactos próximos da pessoa tratada
forem tratados simultaneamente.
5.1.9. Sarna
38
foi de 85% com terpineno-4-ol, 90% com a mistura dos 3 componentes, 60% com óleo
de Melaleuca, 10% com a permetrina e ivermectina e 0% com α-terpineol, 1,8-cineole
e pomada emulsificante. O óleo de Melaleuca e o terpineno-4-ol foram altamente
eficazes na redução do tempo de sobrevivência dos parasitas in vitro, o que indica o
potencial da Melaleuca alternifolia no tratamento da sarna. [52]
O óleo de Melaleuca foi utilizado, com sucesso, num hospital australiano como um
medicamento tópico adjuvante no tratamento de sarna crostosa, incluindo casos que
não responderam aos tratamentos clássicos. Os efeitos cumulativos acaricida,
antibacteriano, antipruriginoso, antinflamatório e cicatrizante da Melaleuca podem ter o
potencial de tratar a sarna e as complicações bacterianas a ela associadas. [49] No
entanto, os dados atuais são insuficientes para justificar uma recomendação ampla do
seu uso no tratamento da sarna.
39
nomeadamente no Reino Unido, é rotina erradicar o MRSA em doentes portadores,
por forma a prevenir infeções hospitalares causadas por este agente e também
diminuir o risco de transmissão a outros doentes internados. O tratamento
convencional consiste num regime de antibióticos tópicos: pomada nasal de
mupirocina a 2%, lavagem corporal com sabão contendo gluconato de clorexidina a
4% e aplicação de creme de sulfadiazina de prata a 1% nas soluções de continuidade
cutânea.
40
concluíram que o óleo de Melaleuca aumenta o fluxo sanguíneo cutâneo, propriedade
que pode ser útil no tratamento de soluções de continuidade cutânea, particularmente
nas que apresentam uma perfusão crítica. [56]
5.1.11. Demodicose
41
biópsias da superfície da pele, fotografias e scores clínicos, no ínicio, às 2ª, 5ª, 8ª e
12ª semanas. Os efeitos do tratamento na densidade de ácaros foram estatisticamente
significativos, observando-se melhoria significativa das pápulas, pústulas, eritema,
ardor e ressecamento da pele no lado que recebeu o tratamento, relativamente ao
lado tratado com placebo. A administração de permetrina a 2,5% com gel de
Melaleuca demonstrou boa eficácia e segurança. [59]
5.1.12. Hirsutismo
42
localmente nas áreas afetadas, podem consistir uma terapêutica segura, económica,
prática e eficaz na redução do hirsutismo idiopático ligeiro. [62]
5.2.1. Estomatite
43
nas culturas. Face a estes resultados, os autores concluíram que as soluções orais de
Melaleuca, tanto as alcoólicas como as não alcoólicas, podem constituir uma
alternativa no tratamento da candidíase orofaríngea refratária ao fluconazol, em
doentes VIH positivos. [64]
44
primeira semana. Os resultados demonstraram que a Melaleuca foi significativamente
mais eficaz na diminuição do biofilme dentário e do número de colónias de bactérias
que o dentífrico controlo. Relativamente à análise sensorial, o dentífrico controlo
apresentou melhores resultados que o gel de Melaleuca. Concluiu-se assim que o gel
de Melaleuca é eficiente no controlo do biofilme dentário, sendo necessário melhorar o
seu sabor. [67]
45
negativo. A microscopia mostrou uma flora bacteriana normal constituída
exclusivamente por bacilos gram-positivos. [69]
5.4. Outras
5.4.1. Hemorróidas
46
queratite por Acanthamoeba. Para esse efeito, simularam a queratite por
Acanthamoeba recorrendo a um meio sólido não nutritivo de ágar colonizado por
amebas e cistos, no qual se administrou diariamente 1 gota (25 μl) de óleo de
Melaleuca, durante 5 dias. Este ensaio demonstrou 100% de eficácia contra
Acanthamoeba, tanto trofozoítos como quistos, ao fim dos 5 dias. Este ensaio indica
que o óleo de Melaleuca tem potencial para penetrar nos tecidos e destruir as amebas
e os quistos, mesmo os que se alojam nas camadas mais profundas da córnea. Estes
resultados revelam o potencial importante do óleo de Melaleuca no tratamento rápido
e eficaz da queratite por Acanthamoeba. [71]
47
48
IV. DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Com isto, assiste-se a uma crescente oferta e consequente consumo deste tipo de
produtos, muitas vezes sem supervisão médica e com consequências potencialmente
deletérias para a saúde. Assim sendo, torna-se essencial produzir maior investigação
científica na área das Plantas Medicinais e uma devida regulamentação destes
produtos e formulações. Paralelamente, é também necessário que a comunidade
médica seja sensibilizada e informada acerca dos potenciais efeitos terapêuticos das
plantas medicinais em certas patologias, com o objetivo de os aplicar de forma
racional e sustentada nas várias áreas da prática clínica.
49
A atividade antibacteriana, antifúngica, antivírica e antiparasitária tem sido
amplamente demonstrada. À luz da informação atual, os seus efeitos cutâneos,
especialmente na cicatrização e na acne vulgaris, bem como as suas propriedades
antimicrobianas, particularmente na candidíase vaginal e na blefarite por Demodex,
são as áreas em que a Melaleuca apresenta maior eficácia comprovada.
50
Estranhamente, apesar da elevada eficácia reportada, continua a ser o único estudo
científico que avaliou a potencialidade terapêutica do óleo de Melaleuca no tratamento
de verrugas cutâneas. Para além de estudos futuros que comprovem este efeito, teria
também interesse avaliar a sua aplicabilidade em verrugas vaginais e anais.
O óleo de Melaleuca apresenta uma natureza lipofílica que lhe permite penetrar
nas camadas mais profundas da pele. Este facto, aliado ao seu efeito antioxidante e à
sua eficácia in vitro para células tumorais da pele, nomeadamente de melanoma e
carcinoma espinhocelular, tornam este fitofármaco um potencial agente terapêutico
para as principais neoplasias da pele. Ainda na área da oncologia, estudos in vitro
demonstraram que o terpineno-4-ol potencia significativamente o efeito de agentes
quimioterápicos e biológicos no tratamento de neoplasias colorretais, pancreáticas,
prostáticas e gástricas. Sendo os tumores cutâneos e gastrointestinais dos tumores
mais prevalentes na população mundial, é evidente a necessidade de transpôr esta
eficácia observada in vitro em futuros estudos experimentais in vivo, especialmente em
humanos.
51
Tendo em conta as aplicações clínicas supracitadas, está claro o potencial
terapêutico desta planta. No entanto, os estudos com ensaios in vivo são insuficientes,
especialmente os ensaios clínicos em humanos que avaliam a eficácia terapêutica, a
segurança e a tolerabilidade do óleo de Melaleuca. Torna-se imperioso investir em
estudos clínicos de base populacional, que transponham todo o potencial desta planta
para a realidade clínica, dado que se trata de um óleo essencial, um produto de fácil
produção e com custos reduzidos para os doentes.
52
V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. de Groot AC, Schmidt E. Tea tree oil: contact allergy and chemical composition.
Contact Dermatitis. 2016; 75(3):129-43.
2. Australian Tea Tree Industry Association (ATTIA). History of Tea Tree Oil. 2015
Site: https://teatree.org.au/teatree_about.php (acedido a 10/10/2019).
3. Carson CF, Hammer KA, Riley TVR. Melaleuca alternifolia (Tea Tree) Oil: a
Review of Antimicrobial and Other Medicinal Properties. Clin Microbiol Rev 2006;
19(1):50-62.
5. Hammer KA, Carson CF, Riley T V., Nielsen JB. A review of the toxicity of
Melaleuca alternifolia (tea tree) oil. Food Chem Toxicol. 2006; 44(5):616-25.
6. ISO 4730:2017 Essential oil of Melaleuca, terpinen-4-ol type (Tea Tree oil).
International Organization for Standard. 2017.
7. Carson, CF; Mee, BJ; Riley TV. Mechanism of Action of Melaleuca alternifolia
(Tea Tree) Oil on Staphylococcus aureus Determined by Time-Kill, Lysis, Leakage, and
Salt Tolerance Assays and Electron Microscopy. Antimicrob Agents Chemother. 2002;
46(6): 1914-20.
9. Li WR, Li HL, Shi QS, Sun TL, Xie XB, Song B, et al. The dynamics and
mechanism of the antimicrobial activity of tea tree oil against bacteria and fungi. Appl
Microbiol Biotechnol. 2016;100(20):8865-75.
11. Ramadan MA, Shawkey AE, Rabeh MA, Abdellatif AO. Expression of P53,
BAX, and BCL-2 in human malignant melanoma and squamous cell carcinoma cells
after tea tree oil treatment in vitro. Cytotechnology. 2019;71(1):461-473.
53
12. Liu X, Zu Y, Fu Y, Yao L, Gu C, Wang W, et al. Antimicrobial activity and
cytotoxicity towards cancer cells of Melaleuca alternifolia (tea tree) oil. Eur Food Res
Technol. 2009;229(2):247-53.
14. Carson CF, Riley T V. Safety, efficacy and provenance of tea tree (Melaleuca
alternifolia) oil. Contact Dermatitis. 2001;45(2):65-7.
15. Emma Toni Igras. Tea tree oil derived plasma polymer films: biocompatibility,
antibiofilm effects and fundamental properties. In Master Thesis 2012. James Cook
University; Townsville, Austrália. 1-385.
16. Gummin DD, Mowry JB, Spyker DA, Brooks DE, Osterthaler KM, Banner W.
2017 Annual Report of the American Association of Poison Control Centers' National
Poison Data System (NPDS): 35th Annual Report. Clin Toxicol (Phila).
2018;56(12):1213-415..
17. Carson CF, Riley TV., Cookson BD. Efficacy and safety of tea tree oil as a
topical antimicrobial agent. J Hosp Infect. 1998;40(3):175–8.
18. Comin VM, Lopes LQS, Quatrin PM, de Souza ME, Bonez PC, Pintos FG, et al.
Influence of Melaleuca alternifolia oil nanoparticles on aspects of Pseudomonas
aeruginosa biofilm. Microb Pathog. 2016;93:120-5.
19. de Souza ME, Clerici DJ, Verdi CM, Fleck G, Quatrin PM, Spat LE, et al.
Antimicrobial activity of Melaleuca alternifolia nanoparticles in polymicrobial biofilm in
situ. Microb Pathog. 2017;113:432-7.
21. Liu Z, Meng R, Zhao X, Shi C, Zhang X, Zhang Y, et al. Inhibition effect of tea
tree oil on Listeria monocytogenes growth and exotoxin proteins listeriolysin O and p60
secretion. Lett Appl Microbiol. 2016;63(6):450-7.
22. Concha JM, Moore LS, Holloway WJ. Antifungal activity of Melaleuca alternifolia
(tea-tree) oil against various pathogenic organisms. J Am Podiatr Med Assoc.
1998;88(10):489-92.
54
23. Hammer KA, Carson CF, Riley TV. Antifungal effects of Melaleuca alternifolia
(tea tree) oil and its components on Candida albicans , Candida glabrata and
Saccharomyces cerevisiae. J Antimicrob Chemother. 2004;53(6):1081-5.
24. Hammer KA, Carson CF, Riley TV. In vitro activities of ketoconazole,
econazole, miconazole, and Melaleuca alternifolia (tea tree) oil against Malassezia
species. Antimicrob Agents Chemother. 2000;44(2):467-9.
25. Hammer KA. In vitro activity of Melaleuca alternifolia (tea tree) oil against
dermatophytes and other filamentous fungi. J Antimicrob Chemother. 2002;50(2):195-
9.
28. Flores FC, de Lima JA, Ribeiro RF, Alves SH, Rolim CMB, Beck RCR, et al.
Antifungal Activity of Nanocapsule Suspensions Containing Tea Tree Oil on the Growth
of Trichophyton rubrum. Mycopathologia. 2013;175(3-4):281-6.
29. El Akkad DMH, El-Gebaly NSM, Yousof HASA, Ismail MAM. Electron
microscopic alterations in Pediculus humanus capitis exposed to some pediculicidal
plant extracts. Korean J Parasitol. 2016;54(4):527-32.
30. Valdés AF, Martínez JM, Lizama RS, Vermeersch M, Cos P, Maes L. In vitro
anti-microbial activity of the Cuban medicinal plants Simarouba glauca DC, Melaleuca
leucadendron L and Artemisia absinthium L. Mem Inst Oswaldo Cruz.
2008;103(6):615-8.
32. Pliego Zamora A, Edmonds JH, Reynolds MJ, Khromykh AA, Ralph SJ. The in
vitro and in vivo antiviral properties of combined monoterpene alcohols against West
Nile virus infection. Virology. 2016;495:18–32.
55
33. Ramadan MA, Shawkey AE, Rabeh MA, Abdellatif AO. Expression of P53,
BAX, and BCL-2 in human malignant melanoma and squamous cell carcinoma cells
after tea tree oil treatment in vitro. Cytotechnology. 2019;71(1):461–73.
35. Assmann CE, Cadoná FC, Bonadiman B da SR, Dornelles EB, Trevisan G,
Cruz IBM da. Tea tree oil presents in vitro antitumor activity on breast cancer cells
without cytotoxic effects on fibroblasts and on peripheral blood mononuclear cells.
Biomed Pharmacother. 2018;103:1253-61.
36. Kim HJ, Chen F, Wu C, Wang X, Chung HY, Jin Z. Evaluation of Antioxidant
Activity of Australian Tea Tree (Melaleuca alternifolia) Oil and Its Components. J Agric
Food Chem. 2004;52(10):2849–54.
39. Hammer KA. Treatment of acne with tea tree oil (melaleuca) products: A review
of efficacy, tolerability and potential modes of action. Int J Antimicrob Agents.
2015;45(2):106–10.
41. Enshaieh S, Jooya A, Siadat AH, Iraji F. The efficacy of 5% topical tea tree oil
gel in mild to moderate acne vulgaris: A randomized, double-blind placebo-controlled
study. Indian J Dermatol Venereol Leprol. 2007;73(1):22-5.
42. Malhi HK, Tu J, Riley TV., Kumarasinghe SP, Hammer KA. Tea tree oil gel for
mild to moderate acne; a 12 week uncontrolled, open-label phase II pilot study.
Australas J Dermatol. 2017;58(3):205-10.
43. Satchell AC, Saurajen A, Bell C, Barnetson RSC. Treatment of dandruff with 5%
tea tree oil shampoo. J Am Acad Dermatol. 2002;47(6):852-5.
56
44. Satchell AC, Saurajen A, Bell C, Barnetson RSC. Treatment of interdigital tinea
pedis with 25% and 50% tea tree oil solution: A randomized, placebo-controlled,
blinded study. Australas J Dermatol. 2002;43(3):175-8.
45. Buck DS, Nidorf DM, Addino JG. Comparison of two topical preparations for the
treatment of onychomycosis: Melaleuca alternifolia (tea tree) oil and clotrimazole. J
Fam Pract. 1994;38(6):601-5.
46. Carson CF. Melaleuca alternifolia (tea tree) oil gel (6%) for the treatment of
recurrent herpes labialis. J Antimicrob Chemother. 2001;48(3):450-1.
47. Alsanad SM, Alkhamees OA. Tea Tree Oil (Melaleuca alternifolia)-An Efficient
Treatment for Warts: Two Case Reports. Int Arch Biomed Clin Res. 2016;2(4):2-4.
49. Thomas J, Carson CF, Peterson GM, Walton SF, Hammer KA, Naunton M, et
al. Therapeutic potential of tea tree oil for scabies. Am J Trop Med Hyg.
2016;94(2):258-66.
51. Barker SC, Altman PM. A randomised, assessor blind, parallel group
comparative efficacy trial of three products for the treatment of head lice in children -
melaleuca oil and lavender oil, pyrethrins and piperonyl butoxide, and a “suffocation”
product. BMC Dermatol. 2010;10:6.
53. Thomas J, Davey R, Peterson GM, Carson C, Walton SF, Spelman T, et al.
Treatment of scabies using a tea tree oil-based gel formulation in Australian Aboriginal
children: Protocol for a randomised controlled trial. BMJ Open. 2018;8(5):1-10.
54. Falci SPP, Teixeira MA, das Chagas PF, Martinez BB, Loyola ABAT, Ferreira
LM, et al. Antimicrobial activity of Melaleuca sp. Oil against clinical isolates of
antibiotics resistant Staphylococcus Aureus. Acta Cir Bras. 2015;30(7):491-6.
57
55. Dryden MS, Dailly S, Crouch M. A randomized, controlled trial of tea tree topical
preparations versus a standard topical regimen for the clearance of MRSA
colonization. J Hosp Infect. 2004;56(4):283-6.
58. Tighe S, Gao Y-Y, Tseng SCG. Terpinen-4-ol is the Most Active Ingredient of
Tea Tree Oil to Kill Demodex Mites . Transl Vis Sci Technol. 2013;2(7):2.
60. Koo H, Kim TH, Kim KW, Wee SW, Chun YS, Kim JC. Ocular surface
discomfort and demodex: Effect of tea tree oil eyelid scrub in demodex blepharitis. J
Korean Med Sci. 2012;27(12):1574-9.
61. Cheng AMS, Sheha H, Tseng SCG. Recent advances on ocular Demodex
infestation. Curr Opin Ophthalmol. 2015;26(4):295-300.
63. Catalán A, Pacheco JG, Martínez A, Mondaca MA. In vitro and in vivo activity of
melaleuca alternifolia mixed with tissue conditioner on Candida albicans. Oral Surgery,
Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endodontology. 2008;105(3):327-32.
64. Vasquez JA, Zawawi AA. Efficacy of alcohol-based and alcohol-free melaleuca
oral solution for the treatment of fluconazole-refractory oropharyngeal candidiasis in
patients with AIDS. HIV Clin Trials. 2002;3(5):379–85.
69. Blackwell AL. Tea tree oil and anaerobic (bacterial) vaginosis. Lancet.
1991;337:300.
71. Hadaś E, Derda M, Cholewiński M. Evaluation of the effectiveness of tea tree oil
in treatment of Acanthamoeba infection. Parasitol Res. 2017;116(3):997-1001.
72. Li M, Zhu L, Zhang T, Liu B, Du L, Jin Y. Pulmonary delivery of tea tree oil-β
cyclodextrin inclusion complexes for the treatment of fungal and bacterial pneumonia. J
Pharm Pharmacol. 2017;69(11):1458-67.
59