A Influência Da 3 Hipótese Do Parmênides de Platão Na Filosofia de Plotino E Jâmblico
A Influência Da 3 Hipótese Do Parmênides de Platão Na Filosofia de Plotino E Jâmblico
A Influência Da 3 Hipótese Do Parmênides de Platão Na Filosofia de Plotino E Jâmblico
2013
A INFLUÊNCIA DA 3ª HIPÓTESE
DO PARMÊNIDES DE PLATÃO
NA FILOSOFIA DE PLOTINO E
JÂMBLICO
*
Gabriela Bal
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4th hypothesis, placing the daemons, angels and heroes in estes dons que vêm desse homem digno, todos eles na
the 3rd hypothesis. The position of the soul in the structure medida plena, e guarde-os nas dobras mais íntimas de
of the hypothesis will determine the ascesis proposed by sua mente. “Comentário de Proclo ao Parmênides de
each one of these philosophers: if for Plotinus the ascesis Platão” (DILLON&MORROW, 1987, pp. 19-20)
is intellectual, for Iamblichus, it is brought about, after
2
all philosophical resources have been exhausted, through I – As três primeiras hipóteses do 2. Cf. SAFFREY & WESTERINK
(1968, p. LXXX), define o termo
theurgy, understood as a complement to, and not as opposed Parmênides de Platão hipótese, no caso do Parmênides,
to, philosophy, this being its novelty. dizendo: “Uma hipótese se
define como um grupo de
O fio condutor do Parmênides de Platão atra- conclusões de mesmo valor, sejam
KEY-WORDS: Daemon, dynamis, instant, Parmenides’ vés da visão de cada um dos filósofos neoplatônico todas afirmativas, sejam todas
negativas, sejam todas por sua vez
third hypophesis, theurgy. representa um desafio a ser superado, pois seus afirmativas e negativas”.
3. As traduções do Parmênides
reflexos ultrapassam em tamanho e medida aquilo
seguem a versão em português de
realidade para me impedir de excesso de orgulho quanto que as palavras, se lidas em si mesmas, escondem. 2003. Todas as demais traduções,
seja de comentadores e de suas
à sabedoria e das sendas do erro ao me manterem em Por isso tomaremos como ponto de partida as três
respectivas traduções, são de
interlocução intelectual com aquelas realidades das primeiras hipóteses parmenidianas em si mesmas, minha autoria.
4. Luc BRISSON (1999, p. 45, n.
quais apenas o olho da alma é refrescado e nutrido, dando tempo ao tempo para que elas se insinuem em 95) define o termo dedução como
como Platão diz no Fédro (246e-251b). Rogo aos nós como numa primeira vez, antes de adentrarmos “uma operação através da qual
conduzimos rigorosamente de uma
deuses inteligíveis pela plenitude da sabedoria; aos na apropriação original de Plotino e Jâmblico. ou mais proposições consideradas
deuses intelectuais pelo poder de me erguerem às como premissas a uma proposição
3 que é a sua consequência
alturas; aos deuses super-celestiais que me guiem, 1ª Hipótese - ‘Se é um’ (o Um) (137c). necessária, em virtude de regras
lógicas”.
no universo, a uma atividade livre e despreocupada
5. Ver BRISSON (1999, p. 47-48).
com investigações materiais; aos deuses a quem o A pergunta acima suscita uma cascata de
cosmos é dado, uma vida alada; aos coros angélicos negações através das quais todo tipo de predicação
uma verdadeira revelação do divino; aos bons daemons possível é descartada do Um. Exclui-se do Um, desta
um preenchimento abundante de inspiração divina; e maneira, tudo aquilo que poderia lhe ser acrescenta-
aos heróis uma disposição generosa, solene e elevada. do. E o que poderia lhe ser acrescentado corresponde
Assim, que todas as ordens dos seres divinos ajudem às categorias dedutíveis umas a partir das outras num
4
a preparar-me para compartilhar da mais iluminadora contínuo de deduções até o limite, o limite imposto
e mística visão que Platão nos revela no Parmênides pela linguagem. As negações revelam aquilo que o
com uma profundidade adequada a seu tema; e que Um não é sem, entretanto, dizer o que ele é, ou mes-
nos foi revelada, com suas próprias aplicações muito mo se é que Ele é. Das primeiras hipóteses seguem as
5
lúcidas, através de alguém que era, a bem da verdade, seguintes consequências em relação ao Um:
um membro Bacante com Platão e preenchido total-
mente de verdade divina e que, ao guiar-nos rumo ao a. 1. Ele não é nem Um nem muitos, I
entendimento desta visão tornou-se um verdadeiro (137c3-4); II (143a5-145a4); III (158 c2-3)
hierofante destas doutrinas divinas. Sobre ele eu b. 2. Ele não é nem todo nem partes, I (137
diria que veio aos homens como a imagem exata da c4-d7); II (142d8-145a4); III (158b1-d7);
filosofia para o benefício das almas aqui embaixo, em c. 3. Ele não tem Princípio nem fim, i. e., é
recompensa pelas estátuas, os templos, e todo o ritual ilimitado, I (137d4-7); II (142d8-145a4);
de adoração, e como o principal autor da salvação das d. 4. Ele não é nem reto nem circular, i. e.,
pessoas que agora vivem e por aquelas que virão depois. é sem figura, I (138a1); II (145a4-145B4);
Assim, que todos os poderes mais elevados possam ser e. 5. Ele não está nem em si mesmo nem em
favoráveis a nós e estar disponíveis com seus dons para outra coisa, i. e., não está no espaço I (138 a2-b6);
nos iluminarem com a luz que vem deles e guiar-nos II (145b5-145e5);
rumo ao alto. E você, Asclepiodoto, que tem uma mente f. 6. Ele não está nem em repouso nem em
digna da filosofia e que é meu amigo querido, receba movimento, I (138b7-139b6); II (145e6-146a7);
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g. 7. Ele não é nem o mesmo nem diferente, de uma aparente negação (o ‘nem isso nem aquilo’
nem em relação a si mesmo nem em relação a um da 1ª hipótese) e, depois por uma afirmação que
outro, I (139b4-140e5); II (146a8-147b7); não diz da unidade do Um, mas do ser do Um (2ª
h. 8. Ele não é nem semelhante nem des- hipótese) e que, portanto, nega o Um ao afirmar o
semelhante, nem em relação a si mesmo nem em Um que é, encontramo-nos diante de um paradoxo.
relação a outro, I (139e6-140b5); II (147c1-148d4); A afirmação e a negação, em si mesmas e para si
III (158e1-159a6); mesmas, não dizem a não ser daquele que ao negar
6
6. Desdobramos a oitava dedução 8a. Contato e não contato, II (148d5-149d6); e afirmar se coloca em relação.
conforme proposição de Luc
BRISSON (1999, p. 48).
a. 9. Ele não é nem igual nem desigual, nem Consideraremos para efeito de hipótese que,
7. Utilizaremos maiúscula ao nos em relação a si mesmo nem em relação a outro, I para que exista relação, sejam necessários dois
referirmos ao Outro enquanto
Alteridade genérica referente (140b6-d2); II (149d7-151e2); termos e que além dos dois elementos exista um
aos cinco gêneros primeiros em b. 10. Ele não é nem mais velho nem mais terceiro elemento a partir do qual se estabeleça
Plotino. Ver PLOTINO Tratado 43
[VI 2], 7-8. jovem, nem em relação a si mesmo nem em relação a relação entre os dois primeiros, nos moldes de
a outra coisa, i.e., não está no tempo, I (140e1- um facilitador ou intermediário entre eles. Ao
-141d5); II (151e3-155c7); considerarmos as duplas de opostos referentes
c. 11. A Ele não cabe nenhuma das afecções, às deduções do Parmênides buscamos vislumbrar
i.e., não tem existência, I (141d6-142a1); II (155c7- aquilo por meio do qual se realiza a passagem
d4) entre os opostos relativos aos pares de deduções,
d. 12. Dele não há nem enunciação, nem do Um ao múltiplo (I), do todo às partes (II), do
ciência, nem percepção, nem conhecimento, I limitado ao ilimitado (III), do reto ao circular (IV),
(141a1-b1); II (155d4-155e2). de si mesmo para outra coisa (V), do repouso ao
movimento (VI), da identidade à diferença (VII), da
As deduções acima partem de uma interro- semelhança à dessemelhança (VIII), da igualdade
gação e, embora a resposta seja aparentemente à desigualdade (IX), de uma idade à outra (X), do
negativa, cabe a elas apenas afirmar do Um aquilo não-ser ao ser (XI) e do conhecimento ao desco-
que ele não é. E o que Ele não é, é tudo o que é; nhecimento (XII) e vice-versa, pois na segunda
ou seja, tudo que tem existência a partir Dele; i.e., hipótese os opostos não são antagônicos, senão
a multiplicidade. Por isso, na sequência do diálogo complementares.
parmenideano, segue-se uma hipótese afirmativa:
3ª Hipótese: ‘o um é e não é; ele muda...
2ª Hipótese: ‘o Um é’ (142b). (155e)
Como no primeiro caso, segue-se uma série de A terceira hipótese suscita já em seu enuncia-
deduções relativas aos mesmos tópicos da primeira do uma contradição ao tentar conciliar de alguma
hipótese, cujas objeções são respondidas não ne- maneira as duas primeiras hipóteses ao mesmo
gando, ao dizer nem isso nem aquilo, mas através tempo. A primeira hipótese nega o ser do Um e a
do estabelecimento de um tipo de relação que se segunda hipótese afirma o ser do Um. Em si mesma
aproxima da analogia, ao dizer, muitas vezes, que a terceira hipótese é aquela que, paradoxalmente,
é tanto isso quanto aquilo. A título de exemplo: permite a passagem de uma hipótese à outra. Entre
as formulações ‘Se o Um é’ ou ‘o Um é’ encontra-se o
“O um que é, penso, é tanto um e múltiplas coisas, meio através do qual se realiza a passagem entre um
7
quanto todo e partes, quanto limitado e ilimitado em e outro, o Um e o Outro, ‘entre’ as duas hipóteses.
quantidade” (145a). ‘Se o Um é’ ele tem predicado e pode se dizer dele
o que ele é. E sendo algo ele seria diferente de si
Ao nos deixarmos ser conduzidos, primeiro por mesmo, não sendo mais nem mesmo Um, estaria
uma indagação respondida ‘afirmativamente’ através então sujeito à mudança e, portanto, ao devir.
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É importante frisar que, por trás da questão ções afirmativa - ‘Um e múltiplo’- e negativa - ‘nem
13
do ser e do não-ser, insinua-se a relação entre o Um Um nem múltiplo’.
8
e o múltiplo. Mesmo que o nosso olhar não esteja A passagem da primeira à segunda hipótese do 8. JACKSON, B. Darrel (1967, p.
318), desenvolve a sua reflexão
voltado para as questões relativas ao ser e ao não- Parmênides corresponde a um enigma, que tanto Pla-
sobre o Parmênides a partir não da
-ser do Um, é importante examinarmos a questão tão quanto Plotino e os neoplatônicos tardios busca- dialética do ser e do não-ser e sim
a partir da dialética da unidade-
ainda sob a perspectiva daquilo que as primeiras ram elucidar, como veremos a seguir na perspectiva de multiplicidade. Embora ele se
hipóteses insinuam. A relação sujeito-objeto da Plotino e Jamblico. Não há evidência de controvérsias proponha a ampliar a reflexão de
DODDS (1928), ao incluir a 3ª
segunda hipótese ‘o Um é’ está ausente da primeira entre as abordagens de Platão e de Plotino no que se hipótese do Parmênides em sua
9
hipótese. Platão, ao adicionar a conjunção ‘se’ da refere à relação entre as duas primeiras hipóteses e análise (JACKSON ,1967, p. 325),
esta re-leitura deixa bastante
primeira hipótese ao ‘Um é’ da segunda hipótese, as duas primeiras hipóstases, o que reforça o caráter a desejar, pois não avança
em relação a DODDS (1928) a
abre uma brecha ou uma condição que permite que exegético dos escritos de Plotino. Com relação à ter-
10 não ser no sentido de apontar
aquilo que é declarado possa não se realizar, e ceira hipótese, no entanto, há controvérsias entre os algumas das duplas de opostos
das duas primeiras hipóteses.
neste sentido não tenha existência, como é o caso scholars a partir do momento mesmo em que alguns,
JACKSON (1967, p. 325), sugere
do Um. Ou seja, o ‘se’ permite que o Um não seja chegam a desconsiderar a existência da terceira hi- que “Plotino faz uso mínimo do
Parmênides para sua doutrina da
e neste sentido ele substitui gramaticalmente a pótese do Parmênides, considerando-a como Hipótese alma porque forneceu material
14
cópula, condição necessária da segunda hipótese. É IIA. Jackson (1967) foi o único estudioso antes abundante sobre a alma em outro
lugar”, como, por exemplo, no
deste modo que a linguagem se ‘contorce’ para dar de Charrue (1987) a dar um tratamento à terceira Timeu 35a.
conta de dizer o que ainda pode ser dito. hipótese do Parmênides em seu estudo que, a nosso 9. O ‘se’ é uma conjunção
subordinativa condicional (e
Como pode ser ainda que o Um seja (múltiplo) ver, deixa a desejar. Ele diz, por exemplo, que “Platão hipotética) que exprime “uma
condição necessária para que se
e não seja (múltiplo)? Isso não seria o mesmo que combina as primeiras duas hipóteses ao introduzir a
realize ou se deixe de realizar o
dizer que o Um é ‘Um e múltiplo’ e que não é ‘nem transição temporal. O Um passa do Um ao muitos, que se declara na oração principal’.
Cf. BECHARA (2001, p. 327).
Um nem múltiplo’? A oposição aparente entre um do semelhante ao dessemelhante, do movimento ao
10. SCHROEDER (2002, p. 25)
e outro se anula tanto ao afirmarmos quanto ao repouso. Os membros de cada par são assim vistos sustenta que há “três tipos de
discurso: discussão, revelação e
negarmos o ser do Um. Se a primeira hipótese abre como mutuamente exclusivos” (1967, p. 325), mas declaração”.
uma prerrogativa para que o Um não seja e a segunda não chega àquilo que para nós representa a possibi- 11. O ‘entre’ é uma preposição que
indica, além de outras coisas: a) a
ao afirmar o ser do Um acaba por negar o Um, há, lidade de realizar a passagem não apenas do Um para relação de lugar ou de estado no
de alguma maneira, uma reciprocidade entre elas por o múltiplo, mas especialmente do múltiplo inteligível, espaço que separa duas pessoas ou
15 coisas; [...] b) o espaço que vai
meio da qual tanto a afirmação quanto a negação se o Noûs, para o sensível, através da Alma. de um lugar a outro. Cf. AURÉLIO
Buarque de Holanda Ferreira
anulam reciprocamente não existindo mais nem uma O tempo está atrelado ao ser e tudo o que
(1975, p. 538).
nem outra. O que escapa aqui não diz respeito aos existe tem a sua existência no tempo. Há no tempo 12. Sugerimos uma pausa, um
‘instante de silêncio’, para que o
contrários vistos sob a ótica do tempo numa relação um tempo de ser uma coisa e outra coisa e o tempo
instante insinue à alma aquilo que
de dependência causal, mas, sobretudo ao que está de não ser nem uma coisa nem outra. Aquilo que lhe escaparia de outra maneira.
Aquilo que escapa aos scholars
fora do tempo. A terceira hipótese situa-se não na é Um ou é múltiplo, deixa de ser um e outro, cada pode ser encontrado nas disputas
11
sequência da segunda e da primeira, mas entre as qual a seu tempo, no tempo da mudança, por meio relativas até mesmo à nomeação
12 da terceira hipótese.
duas, em tempo algum: no instante. do qual não é mais nem um nem outro. Isso quer 13. O “e” e o “nem” são
Unidade e multiplicidade se encontram no dizer que cada qual muda no seu tempo de ser um e conjunções coordenativas
aditivas, para unidades positivas e
instante. É difícil conceber a unidade e a multipli- outro, fora do tempo. E eis que a mudança acontece negativas respectivamente. Embora
a conjunção e re-una e, portanto,
cidade em seu conjunto ou mesmo dizer que (Ele) fora do tempo, o que para o Parmênides parece uma
estabeleça relações entre
não seja sendo, ou seja, não sendo, e que aquilo que coisa ‘estranha’, átopos: elementos diversos, como vimos
na afirmação ‘Um e múltiplo’,
(os) desune é o mesmo que (os) une. Para conciliar
aqui a conjunção estabelece
a oposição existente entre as duas hipóteses, anta- E do tempo chegamos assim à ideia, absurda (áto- uma conexão entre ‘opostos’. A
conjunção nem, por sua vez, nega
gônicas em sua aparência, porém complementares, pos) ou, mais exatamente, à ideia que não há lugar tanto um quanto outro elemento,
devido à sua dependência causal, Platão recorre a no tempo do exaiphnes que não está nem movimento sem que se diga nada de um e
de outro. Em seu conjunto, no
um elemento conciliatório aparentemente oculto nem repouso, que está entre o ser e o não-ser, entre entanto, afirmação e negação não
(entre as duas primeiras hipóteses) e que vem a se o devir e o desaparecimento. (WHAL, 1951, pp. 168- dizem do sujeito e, neste sentido,
expressam a sua inefabilidade,
manifestar na terceira hipótese através das conjun- 169. Grifos meus) como veremos adiante.
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O raciocínio de Platão nos conduz assim do mude em direção ao ficar em movimento, é preciso,
que é ‘um e múltiplo’ ao que não é ‘nem um nem certamente, que ele não esteja em nenhum tempo. –
múltiplo’ da segunda hipótese ao afirmar, com ou- Como assim? – ter estado anteriormente em repouso,
tras palavras, que o Um participa do ser e que não e estar posteriormente em movimento; e ter estado
16
14. JACKSON (1967, p. 317) participa do ser. E é neste sentido que a ideia de anteriormente em movimento e estar posteriormente
nomeia a terceira hipótese como
hipótese IIA (155E-157B) em
tempo surge insinuando que ou bem o Um participa em repouso – não seria possível ser afetado por estes
conformidade com CORNFORD do ser ou bem não participa, cada qual a seu tem- dois fatos sem a mudança. – Como seria possível? –
(1958 (1939), pp. 194-204) e
BRUMBAUGH (1961, pp. 146-150).
po, pois há um tempo no qual ele adquire o ser e Mas não há nenhum tempo no qual é possível a algo
15. Convém notar que até aqui outro no qual ele o perde. Chega-se desta maneira a simultaneamente não estar nem em movimento nem em
nossa perspectiva tem sido a
da processão. Ao abordarmos, a algumas das duplas de oposições (aporias) relativas repouso. – Realmente não. – Mas tampouco certamente
seguir, a 3ª hipótese em Jâmblico, às duas primeiras hipóteses, por meio das ideias muda sem o mudar. – Não aparentemente. – Quando,
veremos que para ele esse
elemento terceiro é responsável aparentemente antagônicas de surgimento e desa- então, muda? Pois não é quando está em repouso nem
tanto pela processão (proodos)
parecimento, associação e dissociação, semelhança quando está em movimento que muda, nem quando está
quanto pelo retorno (epistrophé).
16. Convém salientar que a 4ª e dessemelhança, diminuição e aumento. no tempo. – com efeito, não. Assim sendo não é?, há
hipótese do Parmênides de Platão
trata da participação e que, neste
Há um momento, fora do tempo no qual ainda esta coisa estranha na qual estará quando muda. – Qual
sentido, ela complementa a 2ª não somos (aquilo que seremos) nem deixamos de exatamente? – O instante. Parmênides 156 c-d
hipótese ao tratar do ‘outro’ do
Um que é.
ser (o que éramos). Este é o tempo eterno, o agora,
17. Este corresponde ao tema de no qual nada conhecemos de tudo o que pode ser O instante é fugidio e escapa, junto com o
meu doutorado (BAL, 2010): “Em
Busca do Não-lugar: A linguagem conhecido. E a noção de tempo se esvai deixando en- pensamento que tenta apreendê-lo, de alguma ma-
17 18
mística de Plotino, Jâmblico e trever aquilo que nem mesmo lugar tem. A terceira neira. E assim ele brota de onde ele mesmo escapa,
Damascio à luz do Parmênides de
Platão”. hipótese do Parmênides deixa ainda apreender aquilo como que por uma fenda instaurada no nada, a partir
18. Ver tratado 12 [II4], 10, 8;
que se esvai, do que era antes do instante agora. da qual os contrários podem encontrar uma solução.
12, 34 e o Timeu 52b 2 sobre o
‘pensamento bastardo’. É neste espírito que Wahl não nos deixa esquecer: Wahl captou bem o que isso quer dizer:
O que Platão tende a mostrar é que o espírito pode A terceira hipótese nos faz ver o múltiplo nascendo
ir além de todo domínio no qual esteve aprisionado até do um e o um nascendo do múltiplo, como Heráclito
aqui, que podemos, por assim dizer, fender o tempo para e Empédocles haviam dito; mas esta passagem se faz
ir além do tempo. O lugar da terceira hipótese é bem aqui, no instantâneo. (WAHL,1951, p. 170).
- se ela dever ter um lugar; assentando-se sobre alguma
coisa que é sem lugar - que é o instante, ela não tem E acrescenta com relação ao tempo da passa-
lugar regular em nenhuma parte. Ela é como uma fenda gem de uma hipótese à outra dizendo:
na trama das hipóteses, como o instante, em um sentido,
fende o tempo. O que seria necessário mostrar desde logo Ele é a passagem contínua da 1ª à 2ª hipótese, e da
é precisamente a insondável existência deste tempo de 2ª à 1ª; ele é a unidade que encerra os conceitos con-
onde se desenrolam as hipóteses. (WHAL, 1951, p. 167). traditórios, os une pelo fato de que o pensamento vai
incessantemente de um a outro. (WAHL,1951, p. 171).
Deveríamos aqui fazer mais uma pausa por-
que não há mais para onde ir. No entanto temos A primeira hipótese, ‘Se é Um’, se desdobra
que continuar a partir do lugar de onde paramos. na segunda, ‘O Um é’, e a passagem de uma à outra
A terceira hipótese nos interessa sobremaneira fica como que encoberta como uma linha cujas ex-
porque é através dela que chegamos ao conceito tremidades parecem desconhecer o meio (137e) ou
de ‘instante’ (exaiphnes), este ‘estranho’ lugar onde o que as une e por meio da qual elas se tornam uma
‘está’ o que muda. única e mesma linha, sem ruptura. Se o Parmênides
de Platão nos oferece um enigma ou uma solução
– Mas quando, estando em movimento, venha a dependerá de nossa perspectiva e do nosso olhar
ficar em repouso, e quando, estando em repouso, sobre uma mesma realidade. O novo aparece aqui
117
como a ‘impossibilidade’ que subjaz por trás das pa- quanto difícil, como nos aponta Charrue ao comentar
lavras e do enunciado das hipóteses. Se tomássemos o fato de Plotino “negligenciar” de fato a terceira
o fim pelo começo escreveríamos talvez de maneira hipótese de Parmênides.
diferente aquilo que habilmente Platão nos colocou
como enigma a ser solucionado – a sua 3ª hipótese. Porque Plotino negligenciou a terceira hipótese?
Sugerirmos, de nossa parte, esta explicação que nos
19
II – A leitura de Plotino e de parece a melhor: Plotino conhece o sentido de 155e- 19. Plotino nasceu em Licópolis,
20 no Egito, em 205d.C e morreu
Jâmblico da 3ª hipótese do -157b, mas, como está, fato excepcional, em descordo em 270. Escreveu ao todo 54
Parmênides com Platão, ele teria preferido passar despercebida tratados organizados por Porfírio,
seu discípulo, que redigiu a
esta divergência. (CHARRUE, 1987, p. 109, n. 129). sua biografia e editou sua obra
A terceira hipótese do Parmênides abre para organizando-a em seis volumes
contendo nove tratados cada,
nós uma perspectiva nova a partir da qual vislumbra- Plotino associa, como Parmênides de Eleia (c. denominado Enéadas.
20. Jâmblico nasceu na Síria,
mos uma abertura, como uma fenda entre mundos. 539 a.C – 460 a.C), o ser à ‘imobilidade’ e ao repouso
aproximadamente em 245 e
Uma abertura que permite ver o que se encontra e, consequentemente, o não-ser - ou o vir-a-ser - morreu em 325. O sistema
filosófico de Jâmblico caracteriza-
invisível ‘entre’ e ‘além’ daquilo que foi formulado ao movimento. A passagem de um estado a outro se especialmente enquanto
por Platão nas hipóteses do Parmênides, assim acontece, como vimos na perspectiva de Platão, uma exegese dos escritos de
Platão associada a uma releitura
como nas hipóstases de Plotino. A linguagem nos em outro tempo, no instante. Assim, o movimento dos escritos neopitagóricos e
dois filósofos aparentemente se exaure. E o instante acontece no instante de passagem (mudança) de um dos Oráculos Caldáicos, e cuja
particularidade consiste mais
aparece como aquilo que não pode ser nomeado - lugar a outro por meio do qual o ser que repousa especialmente em seu empenho
apenas vivenciado, como veremos notadamente em e é, deixa de ser e de estar em algum lugar para, em fazer re-viver o pitagorismo
enquanto filosofia. Dentre seus
Jâmblico –, e neste sentido é ele quem faz a ponte no momento da mudança, estar em lugar algum. E escritos destacam-se Sobre os
Mistérios (1993; 2003); Sobre a
entre o final da primeira e da segunda hipótese/ assim, deixando de ser, no instante em que muda,
alma (2002); Protreptico (1989);
hipóstases de Platão e Plotino respectivamente. passa-se do ser ao vir-a-ser eterno, no instante. A Os comentários Platônicos (2009)
– coletânea
Consideradas separadamente elas negam-se uma à continuidade acontece agora, no tempo em que ser 21. “O instante é uma solução
outra sem que cheguemos a lugar algum. Porém, é, pois ser é participar inexoravelmente do tempo justamente porque permite a
reunião, problemática até aqui, de
consideradas em conjunto, elas apontam para a (151e7-152a2). O tempo comporta três momentos: todos os termos contraditórios”.
reconciliação das contradições aparentes entre os passado, presente e futuro (152b2-5). Participar do Cf. CHARRUE (1987, p. 106, n.
123)
opostos que elas evocam. tempo é participar do ser, pois não há ser a não ser
no tempo e no espaço. Ser é ser “agora” (152c-d)
Vejam o que é o instante. Situado no cruzamento de ou “ter se tornado” (154c2) (cf. BRISSON, 1999, pp.
21
todos os contrários, seu papel é trazer uma solução. 71). Seguindo esta mesma linha de raciocínio temos
Sob ele, e sob ele somente, o Um pode ser ao mesmo que a continuidade, tanto no espaço como no tempo,
tempo um e múltiplo e nem um nem múltiplo (155e,5- pressupõe nos encontrarmos seja no estado no qual
6) e, ao mesmo tempo, participar do ser e do não-ser ainda não somos ou no que deixamos de ser, a partir
(sob a forma da existência) (155e,6-7), entretanto do qual, em movimento, não estamos nem aqui, nem
ele mesmo, literalmente, brota, criando uma fenda lá, pois o movimento pressupõe tanto mudança de
no tempo de onde escapa. CHARRUE (1987, p. 106). lugar como de estado. Isso é o mesmo que dizer que
nos tornamos, por meio do movimento, diferentes do
Veremos a seguir que O Parmênides de Platão que éramos antes de sermos o que seremos depois.
se impõe como um elo invisível a tecer a trama que Respeitando uma linha de continuidade, numa
une e separa Plotino e Jâmblico. perspectiva temporal, temos que o que o passado e
o presente dizem do ser, numa perspectiva espacial,
II.I Plotino e a 3ª hipóteses do Parmênides começo-meio-fim, dizem daquele que se reconhece
sempre a partir de algum lugar, a não ser que entre
Associarmos a terceira hipótese do Parmênides eles se encontre, um (terceiro) termo agora, nem
à terceira hipóstase plotiniana é tarefa um tanto aqui, nem acolá, mas no instante de passagem, sem
118
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começo, nem meio, nem fim, porque em contato comovia diferentemente Plotino e Jâmblico. Em sua
(149a-b4), sem intermediários, a não ser que em ânsia por explicar o sofrimento, Plotino elaborou a
26
contato no instante, deixem de ser o que eram e ain- sua “doutrina da alma não-descida”. Segundo esta
da não sejam o que poderiam vir-a-ser, justamente doutrina, a parte mais elevada da Alma não desce ao
porque em contato, no instante, pois aquilo que o mundo sensível e, portanto, não tem contato com
contato une jamais esteve separado. os corpos, nem é corrompida. A parte mais elevada
O terceiro elemento, tanto na linha do tempo, da Alma permanece assim no mundo inteligível, de
como na linha do espaço, corresponde ao “conta- onde irradia uma luz que se inclina para o mundo
22
22. Como vimos acima, na to” e ao “instante” (cf. BRISSON, 1999, p. 62). sensível sem, portanto, descer até ele.
perspectiva de BRISSON (1999,
p. 48) o contato e o não-contato
Contato que só poderia acontecer no instante, no As diferenças entre Plotino e Jâmblico com
correspondem a um desdobramento qual não é nada do que é. E nada podemos dizer relação à descida ou não da Alma nos corpos vieram
da oitava dedução relativa à
semelhança-dessemelhança. Ver a
quando em contato, no instante mesmo em que a a constituir e estruturar de maneira completamente
relação entre contato e instante Presença (parousia) se torna aquilo que deixamos diversa o modo como cada um deles orientava o per-
em BRISSON (1999, p. 62).
23. Ver PLATÃO. Fédon (2000, p. de ser. Platão fala esporadicamente da Presença, curso ascético de seus alunos e discípulos. Se para
137, n. 81). nos primeiros diálogos, ao designar uma qualidade Plotino a ascese era intelectual, não dependendo
24. Porfírio nasceu em Tiro entre
232/234 e morreu entre 304/305. física ou moral, sem uma conotação metafísica de nenhum recurso externo, a não ser do próprio
Foi discípulo de Plotino e escreveu 23
explicita, o que poderia vir a ser um indício de trabalho intelectual do discípulo, decorrente apenas
sua biografia – A vida de Plotino
–, além de organizar seus escritos, que o conceito de parousia em Plotino poderia ser de seu esforço e empenho pessoais, o mesmo não
após sua morte. Sua obra é muito
vasta, sendo que parte dela se
considerado como o desenvolvimento do conceito acontece com Jâmblico, para quem o esforço inte-
perdeu restando apenas 11 obras, de instante do Parmênides, pois o conceito de Pre- lectual conduz apenas até uma etapa do caminho,
das quais destacamos O antro das
ninfas, Isagogê, um Comentário
sença implica necessariamente o contato, por meio a ser complementada pelas práticas teúrgicas com o
às Categorias de Aristóteles, Vida do qual a Presença se realiza, além de nós, como intuito justamente de ultrapassar a distância imensa
de Plotino, Sentenças sobre os
inteligíveis, A vida de Pitágoras, e veremos em Jâmblico. da Alma com relação ao Princípio. Neste sentido,
os Tratados sobre a animação do a teurgia para Jâmblico corresponde a um comple-
embrião e Sobre as abstinências
dos animais, a Epístola a Marcela. II. Jâmblico e a 3ª hipótese do mento da filosofia não podendo ser considerada,
25. Ver a obra clássica de
Parmênides nesta perspectiva, em oposição à mesma, sendo
LEWY, H. (2011) reeditada por
Michel Tardieu e as traduções e esta a sua novidade.
comentários de PLACES (1989) e 24
BAZAN (1991).
Através do contato com Porfírio, discípulo e A meta para Jâmblico consistia na transforma-
26. Utilizaremos o termo “a Alma biógrafo de Plotino, Jâmblico teve a oportunidade ção do homem no sentido de sua deificação, ou seja,
não-descida” ao traduzirmos o
termo do inglês “The undescended
de entrar em contato com a filosofia neoplatônica, unificação de sua Alma, bem como a sua assimilação
soul”. da qual se nutriu, apesar de suas divergências, que às ordens do cosmo. Convém notar que até este
serviriam para delimitar claramente o território a ponto não há divergências essenciais entre o pen-
partir do qual cada uma das escolas de pensamento samento de Plotino e o de Jâmblico. A divergência
dirigiria seus esforços com o intuito de alcançar entre eles consiste mais especificamente na posição
o Princípio Supremo e a unificação da Alma. O da Alma com relação ao Princípio, como veremos a
sistema filosófico de Jâmblico era essencialmente seguir. Para Jâmblico existem dois tipos de Almas,
uma elaboração do platonismo de Plotino acrescido aquelas que estão em união contemplativa com os
25
da influência Pitagórica e dos Oráculos Caldáicos, verdadeiros seres inteligíveis e são semelhantes aos
este sendo considerado como livro sagrado na an- deuses e aquelas almas que já desceram ao mundo
tiguidade tardia. material e estão moralmente corrompidas. O primeiro
O percurso ascético proposto por Plotino e tipo de alma consegue preservar a sua pureza e li-
Jâmblico difere especialmente com relação à posição berdade com relação ao mundo material, sendo sua
da alma na hierarquia das realidades, cujos reflexos meta purificar e aperfeiçoar este mundo. O segundo
podem ser notados em sua teoria relativa à descida tipo de Alma perde a sua independência e se torna
da alma nos corpos. A dor do homem caído, da implicada na existência material, pois antes mesmo
alma mergulhada na existência puramente material de sua descida ela já estava moralmente caída, sendo
119
este justamente o motivo de sua descida, tanto como a quarta hipótese. Ao considerar a Alma humana
punição como para o seu próprio aperfeiçoamento na 4ª hipótese e não na terceira, Jâmblico não
27
(O’MEARA, 2006 [1989], p. 38). viria a rebaixar a Alma humana, como consideram 27. Ver também FESTUGIÈRE
(1953, pp. 216-228) sobre a
A Alma humana, para Jâmblico, está separada as criticas a este respeito. Tendo reconhecido o descida da alma nos corpos.
do Intelecto de onde emana (e essa posição não é caráter anfíbio da alma humana, Jâmblico enaltece,
antagônica à de Plotino) e se situa aparte com rela- através deste artifício, a possibilidade de que esta
ção às realidades superiores da alma, incluindo aí as se eleve ao nível dos heróis ainda na vida terrena
“classes superiores”, ou seja, os daemons, os heróis e, portanto, podendo se colocar na 3ª hipótese de
e as almas puras. Ela é, portanto, intermediária entre modo a cumprir o seu destino também na terra. Para
as entidades superiores e as coisas corpóreas. Sendo Jâmblico, tanto os daemons como os heróis atuam e
intermediária, a alma humana é dupla no sentido de obedecem à vontade divinas, e desse modo atuam em
que ela pode inteligir o que está acima e agir sobre conjunto obedecendo às ordens divinas garantindo
o que está embaixo, através do corpo, quando en- a inquebrável continuidade entre os deuses e os
carnada. A alma humana é duas coisas, cada uma por homens. (SHAW, G.,1995, p. 133)
vez, pois ela não poderia inteligir sempre senão ela Para Jâmblico cumpre aos daemons a função
seria Intelecto, nem poderia estar sempre envolvida de ligar as Almas aos corpos e aos heróis libertar o
em atividades relacionadas à Natureza, pois assim corpo desta ligação. Assim, além da intermediação
ela seria apenas uma alma animal. A alma humana dos objetos materiais na teurgia, há para Jâmblico
está, portanto, em contato com os dois mundos, dos a necessidade de instâncias ontológicas intermedi-
quais participa inexoravelmente. Assim, se por um árias diferenciadas hierarquicamente com relação
lado ela desce nos corpos, por outro lado, por ter à proximidade do deus e dos deuses - os daemons,
descido, ela deverá subir novamente. A subida da heróis, anjos e almas elevadas - para ajudarem o
alma pode acontecer, segundo Jâmblico, tanto após segundo tipo de almas a realizar a passagem entre
a morte ou, ainda nesta vida, através da teurgia. os diversos níveis de realidade, transformando-as
A teurgia corresponde, assim, à ação dos no sentido de sua simplificação, purificando-as de
Deuses – e não à nossa ação sobre os deuses – no todo tipo de impureza material junto à matéria, num
sentido de que as nossas ações para com os deuses contexto ritualizado e não se apartando da matéria,
possam influenciá-los de alguma maneira a nosso mas utilizando-a a favor de sua própria libertação.
favor. Finamore e Dillon definem teurgia dizendo: Compreender a natureza dos daemons e dos
seres superiores é extremamente difícil para aqueles
Teurgia é uma parte conatural da condição humana, cujo Intelecto de suas almas não foi suficientemente
inerente à Natureza, existente para aqueles que são purificado, nos diz Proclo, ao citar Jâmblico (cf.
sábios o suficiente para utilizá-la de modo a poderem DILLON, 2009, pp. 74-75; SEGONDS, 1985, p. 68-69).
elevar as suas almas até os mais elevados aspectos e
cumprir seu papel enquanto entidades verdadeiramente É preciso, em primeiro lugar, dizer como o fez o
mediadoras. (FINAMORE-DILLON, 2002, p. 16). divino Jâmblico, que contemplar a essência dos dae-
mons e geralmente a dos seres que nos são superiores é
O diálogo de Jâmblico com o Parmênides de extremamente difícil para aqueles que não purificaram
Platão extrapola os limites de uma exegese, pois ele totalmente o intelecto de suas almas, daí que ver sim-
vem a modificar de fato a sua estrutura ao intro- plesmente a essência (ousia) da alma não é fácil para
duzir um elemento externo e anterior às hipóteses todo mundo (em todo caso, somente Timeu revelou
do Parmênides, o Inefável, modificando com isso a totalmente a sua essência: Dizer o que ela é é questão
configuração e ordenação das mesmas, ao colocar de uma exposição inteiramente, absolutamente divina
o Inefável separado e antes do deus e os deuses, e de um alto alcance, como diz também Sócrates em
na primeira hipótese, e os anjos, os daemons e os algum lugar do Fedro), mas que alcançar e explicar as
heróis na 3ª hipótese, vindo a deslocar a Alma para suas potências (dynamis) é mais fácil. Ao partirmos,
120
desígnio 10 jan.2013
efetivamente dos atos cujas potências são diretamente 37) (BAZAN,1991, p. 19). Embora ainda haja discor-
as mães, nós chegamos a perceber as essências elas dância entre os scholars a respeito das influências
mesmas, pois a potência é intermediária entre a dos Oráculos no pensamento de Jâmblico, bem como
essência e o ato (enérgeia): de uma parte, ela é com relação à sua posição com relação aos Primeiros
projetada a partir da essência e, de outra, ela engendra Princípios, entendo ser este “equívoco” fruto, na
28
28. Até este ponto o texto de o ato. Em segundo lugar é preciso dizer, de outro maioria das vezes, de uma compreensão erronea dos
Proclo corresponde ao Fragmento
modo ainda, que a potência é muito semelhante aos Oráculos Caldáicos. Por ter um caráter eminentemen-
4 de Jâmblico apresentado na
edição de John DILLON (2009, daemons. Em todo lugar, com efeito, a potência teve a te filosófico-religioso, esta obra e sua utilização por
pp. 74-75).
29. Esta dificuldade inclusive
sorte de receber o meio (centro). Assim, nos inteligíveis Jâmblico foi objeto de controvérsia, vindo inclusive
veio a gerar um mal-entendido é ela que uniu o Pai e o Intelecto: Pois a potência está a influenciar negativamente a recepção da sua
com relação à compreensão e 30
aceitação da filosofia de Jâmblico
com ele e o Intelecto vem dele, e nos intelectivos, é obra na história da filosofia. Retomamos aqui a
por aqueles que, como ele mesmo ela que liga o ato à essência, pois o ato é um rebento leitura da obra de Jâmblico em seu viés filosófico-
diz, não foram purificados e não 31
alcançaram a “flor do Intelecto”. da potência e a essência projeta a partir dela mesma -religioso a partir de SAFFREY-WESTERINK (1978);
30. Ver a este respeito o capítulo as potências. E, portanto, são também os gêneros do PLACES(1975) e HADOT (1968).
“Les entraves de Jamblique”
(ATHANASSIADI, 2006, pp. 145- seres superiores a nós, e que são os intermediários entre Saffrey-Westerink associa o primeiro Princípio
190). Convém salientar também
os deuses e nós, que são designados de uma maneira de Jâmblico aos Oráculos Caldáicos e à primeira
que o Apêndice II do livro de
DODDS (1951, pp. 283-311), apropriada como potência, assim como em todo lugar hipótese do Parmênides.
intitulado Theurgy, influenciou
esta ocupa o lugar intermediário. Porque a verdadeira
negativamente os estudos sobre
teurgia depois dele devido ao essência e o ser verdadeiros se encontram nos deuses, O domínio das primeiras hipóteses é organizado
tom eminentemente negativo
e depreciativo de seu enfoque
a potência que serve aos deuses, está nos daemons, segundo Jâmblico conforme a seguinte hierarquia:
sobre o tema. Ver a crítica de ao passo que o ato (ou produção) que procede para O Totalmente Inefável = Primeiro Deus; O Primeiro
Athanassiadi (1993, pp. 115-116)
ao artigo de DOODS (1951). o exterior graças à sua potência está em nós. (cf. Deus = a Mônada não coordenada à tríade; os deuses
31. Ver o artigo de SMITH (1993). SEGONDS, 1985, pp. 68-69, grifos meus) inteligíveis = a tríade inteligível. Sempre segundo
32. Traduções dos fragmentos de
Numênio (neopitagórico do séc. Jâmblico, o primeiro Deus e os deuses inteligíveis são
II): PLACES (1973); BAZAN (1991).
Interessa aprofundar a compreensão desta demonstrados pela primeira hipótese do Parmênides,
Ver KINGSLEY (1995, p. 304).
33. Sobre Empédocles ver Peter passagem porque a partir dela poderemos compre- o totalmente Inefável ou Deus Um vem dos Oráculos
KINGSLEY (1995). 29
34. Sobre Orfismo ver o estudo de
ender que a dificuldade que ela encerra abre ao Caldáicos. (SAFFREY-WESTERINK, 1978, p. XXXIII).
GUTHRIE, 1993 [1952]. mesmo tempo um portal para entendermos o cami-
nho proposto por Jâmblico. Ao utilizar a distinção Edouard des Places em A religião de Jâmblico
aristotélica entre os termos ousia, dynamis, enérgeia salienta ainda que a posição de Jâmblico remonta
32
em seu aspecto triádico Jâmblico vem, por meio des- não apenas aos Oráculos e a Numênio, mas muito
ta tríade, a explicar os diferentes graus hierárquicos especialmente a Platão e a Parmênides de Eléa.
existente entre o deus e os seres mais elevados e
entre estes e a Alma humana, o que nos permite Primeiramente, além de Plotino e Porfírio, é preciso
concluir que há para Jâmblico, diferentemente de aqui remontar a Numênio e aos Oráculos Caldáicos. E
Plotino, diferentes níveis de Alma. (Cf. FINAMORE- do mesmo modo, para compreender bem a posição
-DILLON, 2002, p. 129; SHAW, 1995, pp. 70-80) de Jâmblico com relação a Platão até Parmênides de
Para compreendermos a tríade ousia, dynamis, Eléa. Um esforço secular, ou ainda milenar, conduziu
enérgeia faz-se necessário recorrer aos Oráculos o pensamento grego do Um do Parmênides ao Deus
Caldáicos, visto que o Deus Um ou o Inefável cor- Inefável de Jâmblico. (PLACES, 1975, p. 71).
responde ao Primeiro Deus dos Oráculos (SAFFREY-
-WESTERINK,1978, pp. XXXI-XXXVI). Assim, temos A linhagem de Jâmblico, portanto, é muito
que o transcendente ou o Primeiro Deus dos Orácu- antiga, fazendo parte de uma tradição que remonta
los, é Pai (fr. 3, 4, 7, 8,14, 22, 37, 77, 81, 115); é não apenas aos Oráculos Caldáicos, ou a Platão,
o Primeiro (fr. 3 e 5), é Fogo Transcendente (fr. 5), mas que vai muito além, antes deste, incluindo aí,
33 34
é Único (fr. 10), é o Bem (fr. 11), é Soberano (fr. dentre outros o próprio Empédocles, e o Orfismo.
121
O sistema caldáico dos Oráculos remonta, portanto, talvez possa ainda ser explicada com base na tríade
à tradição órfica e se organiza em tríades corres- ousia, dynamis, enérgeia, como sugere G. Shaw:
pondendo a primeira tríade, à mônada do Pai, o
Deus Supremo, e à sua Potência e ao seu Intelecto. O que distinguia as almas incorporadas era a
A segunda tríade corresponde ao segundo Intelecto separação entre suas ousiai e energeiai, uma ruptura
e a terceira às Ideias (cf. HADOT,1968 I, p. 262). A hipostática que as condenava à mortalidade e as sepa-
primeira tríade corresponde à mônada triádica, como rava dos deuses. A teurgia era capaz de estabelecer a
aponta o Fragmento 26: ponte ao unir a energeiai dos mortais à energeiai dos
deuses. Jâmblico explicou que cada alma começou sua
Pois ao te ver mônada triádica o mundo te reveren- vida corpórea de um modo caído e num estado separado
ciou. (PLACES, 1989, p. 72) devido à fraca consistência da alma humana retratada
por Platão em sua metáfora da mistura demiúgica
Os Oráculos distinguiam no Pai três Princípios (Tim. 41d). [...] Perseguindo a sugestão de Proclo,
ativos: a sua Potência, o seu Intelecto e a sua Von- Dillon fala que Jâmblico concebeu a hierarquia das
tade (cf. HADOT,1968 I, p. 96, n. 2). O Pai enquanto almas de acordo com as respectivas distribuições dos
“mônada paterna” reina separado no silêncio do elementos “essência” (ousia), semelhança (tautotés),
35 38
abismo, onde ele forma uma tríade, como vimos, e alteridade (heterotés). A distribuição destes três 35. Neste sentido o Pai ou o
Primeiro Deus são totalmente
com a Potência e o Intelecto. A partir do Pai se elementos, respectivamente, determinou a posição incognoscíveis.
assenta a díade, que tem duas funções, conforme de todas as almas: divina, daimônica, e humana, a 36. HADOT (1968 I, p. 201, n.1)
e FESTUGIÈRE (1954, p. 55) citam
o Fragmento 8: alma humana carregando o maior grau de “alteridade”. este mesmo fragmento utilizando
(SHAW ,1995, p. 73). o termo “sentimento”, ao invés
de “sensação” como fazem BAZAN
Junto Dele reside a díade, pois ela tem duas fun- (1991) e PLACES (1973).
37. Esta passagem é interesante
ções, guardar os inteligíveis no intelecto, porém intro- A alma humana, nesta perspectiva, se encon-
porque coloca o conhecimento de
36
duzir a sensação nos mundos. (BAZAN, 1991, p. 58). tra próxima no fundo mais distante, pois somente si enquanto uma etapa da ascese,
tanto para Proclo como para
nela a Alteridade cria uma separação efetiva com Jâmblico e Plotino.
Mônada, díade e tríade formam um todo e relação à sua essência (divina), sendo inclusive ela 38. Ver DILLON (2009, p. 378);
TROUILLARD (1982, p. 213).
de onde quer que se olhe, vê-se os três aspectos a única a se manifestar num veículo mortal (SHAW, 39. Em meu primeiro estudo
formando um só e, a partir deste, os demais. O as- 1995, p. 77). A ruptura, na alma humana, decorre da sobre Plotino eu afirmava que
a Alteridade em Plotino dizia
pecto triádico das realidades comporta, para além separação entre essência e ato, visto a alma ser, ao respeito àquilo que permitia que
de si mesmo, um aspecto henádico, pois cada termo mesmo tempo, mortal e imortal. Segundo Jâmblico, a ligação jamais fosse rompida.
Aqui, na perspectiva de Jâmblico,
é um e é triplo. No sistema de Proclo, distinguem- somente a Alma humana sofre uma separação radical o que nos separa é a nossa
Alteridade. Ver BAL (1997, pp.
-se duas hênadas: a hênada puramente inteligível não experimentada por qualquer outro tipo de alma,
141-143).
formada pelo encontro entre a tríade caldáica porque nela há um grau muito elevado de Alteridade,
(Pai – Potência – Intelecto) e a tríade platônica sendo exatamente esta a causa da separação entre
(Ser – Vida – Pensamento) e a hênada inteligível- essência (ousia) e do ato (enérgeia) (SHAW, 1995, p.
-intelectual (cf. HADOT, 1968 I, p.260-262). Proclo 77). Assim podemos concluir, a partir de Jâmblico,
39
entende que o conhecimento de si é intermediário e diferentemente de Plotino, que o que nos separa
entre o conhecimento dos seres divinos e a vida do deus e dos deuses é a nossa Alteridade.
que passa ad extra, e que por este motivo a subida A tríade ousia-dynamis-enérgeia ajuda a ex-
na direção do ato mais divino se efetua através do plicar o distanciamento da Alma de modo a reforçar
37
conhecimento de si (de nós mesmos) e explica, ainda mais os argumentos jamblianos com relação à
neste sentido, que Alcibíades (SEGONDS, 1985, p. necessidade da teurgia, pois se a ousia está separada
69) era um amante da Potência, o que está de acordo da enérgeia esta necessita da dynamis para re-fazer
com a meta do diálogo. a ligação, ligação esta representada e atualizada
A divergência entre Jâmblico e Plotino com pelos daemons, seus representantes. Se quisermos
relação à descida (ou não) das almas nos corpos reconhecer os sinais da Presença do deus, de um
122
desígnio 10 jan.2013
arcanjo, de um daemon, de um arconte ou da alma, a essência está separada do ato. Ou seja, a alma
teremos que investigar a respeito da relação entre humana não vive plenamente a sua essência devido
potência e atividade. à sua imensa diferença em relação ao Princípio. A
Alteridade enquanto instância capaz de promover o
[D]e acordo com o Princípio jambliano de que a distanciamento realiza, em cada nível de realidade,
enérgeia revela a ousia, a manifestação visível de uma uma inversão que promove, paradoxalmente, em seu
entidade divina corresponde à sua essência. (CLARKE- centro, uma torção, entendida enquanto movimento
-DILLON-HERSHBELL, 2003, p. 87, n. 121). que cria oposição, mas cujo centro como o infinito,
permite a passagem entre um e outro.
Da tríade ousia-dynamis-enérgeia se depreende Assim, numa dinâmica também às avessas, ao
não apenas a estrutura hierárquica dos níveis on- relacionarmos as duas tríades acima teremos que o
tológicos superiores de realidade, mas evidencia-se que corresponde ao centro da primeira, a dynamis,
especialmente a dinâmica que ela implica ao permitir corresponde na segunda àquilo mesmo que permite
a passagem entre estes níveis, resultado da interação que a essência seja (ela mesma – tautotés) e, neste
e reciprocidade entre os seus pares. As diferenças sentido, estando a ousia separada da enérgeia ne-
entre Plotino e Jâmblico com relação aos elementos cessitamos da dynamis para refazer a ligação. Assim
que compõe a tríade, e mais especialmente entre dynamis e Alteridade se complementam perfazendo
ousia e enérgeia vêm a justificar a posição defen- cada qual a sua função, a primeira como mediadora
dida por cada um deles com relação à teurgia: para e a segunda permitindo que a separação aconteça.
Plotino, na medida em que a ousia e a enérgeia, Entender o papel da dynamis na dinâmica das
enquanto instâncias ontológicas estão colocadas realidades e o seu papel intermediador entre elas em
num mesmo plano, não havendo diferenças entre as seus representantes nos ajudará a vislumbrar aquilo
almas, não haveria a necessidade de qualquer outro que ela revela e esconde. A dynamis transparece sem
intermediário para fazer a ligação, pois esta estaria aparecer através de instâncias intermediadoras em
dada sem ter sido jamais rompida; para Jâmblico a cada nível de realidade. A contribuição de Jâmblico
enérgeia é uma manifestação da ousia, que por sua neste sentido consiste em recuperar aquilo que já
vez apresenta diferenças devido às diversas possi- estava no Banquete de Platão, ou seja, o conceito
bilidades de interação entre os membros da tríade, de daemon, sinônimo de dynamis, e alocá-lo acima
cuja manifestação reflete diferenças ontológicas da alma enquanto instância mediadora capaz de
significativas fruto da intervenção da dynamis, transpor o infinito abismo existente entre a alma
vindo a influenciar a posição da Alma na hierarquia humana e o deus e os deuses e entre estes e o
40
das realidades, incluindo aí as classes superiores Princípio inefável. Os daemons, enquanto instâncias
40. Damáscio chamava
estas classes superiores de relativas aos anjos, daemons e heróis. intermediárias, sobem e descem estabelecendo
“companheiros eternos” (eternal
a ponte entre as realidades e a passagem por
consortes). Cf. FINAMORE ( 2010).
41. Convém salientar que Jâmblico distinguia conforme a aparência, (1) eles empreendida acontece no instante enquanto
Jâmblico distingue os daemons e
os deuses, (2) os arcanjos, (3) os anjos, (4) os dae- instância atemporal a partir da qual acontece o
os heróis pelo mesmo critério com
que distingue os níveis da alma mons, (5) os heróis, (6) os arcontes sublunares, (7) entrelaçamento cujas teias se estendem em todos
humana. Ou seja, de acordo com
a ousia, dynamis e enérgeia. Cf.
os arcontes materiais, e (8) as almas, de acordo com os níveis, por todo o universo.
SHAW (1995, p. 132-133). a ousia, dynamis e enérgeia de cada classe. (SHAW, As perspectivas dos neoplatônicos diferem
42. Esta tríade, por sua vez se 41
associa à tríade permanência 1995, p. 219) apenas na forma. Se Plotino não fala dos daemons
(moné), processão (proodos), enquanto instâncias mediadoras - como faz Jâmblico
retorno (epistrophé) estabelecida
por Damáscio. Ver COMBÉS& Podemos associar a tríade ousia-dynamis- -, ele fala da Presença como ausência de Alteridade
WESTERINK (2002, p. 126-127).
-enérgeia à tríade ousia - identidade (tautotés) – (BAL, 2007, p. 93). A Presença em Plotino pode
Esta questão será aprofundada 42
no artigo que se seguirá a este, alteridade (heteróstes). Para Jâmblico a causa da ser entendida enquanto índice da potência do Um
intitulado “A influência da 3ª
separação entre essência e ato na alma humana é no mundo. Em Jâmblico, por sua vez, este índice
hipótese do Parmênides de Platão
em Damáscio”. o alto grau de alteridade que esta comporta, pois assume vários nomes, daemon no plano ontológico,
123
e synthema e symbola no plano epistemológico. O BRUMBAUGH, Plato on the One: The Hypotheses in the
Parmenides. New Haven Yale University Press, 1961.
que une, entretanto, estas perspectivas é o instan-
te. Pois a Presença se revela no instante em que CHAIGNET, A.-ED. Commentaire sur le Parmenide. Tome
Premier (1900), tome Deuxième (1900), tome Troisième
abandonamos - após um longo percurso ascético - a (1903). Frankfurt: Minerva G.m.b.H. , 1962.
nós mesmos e as palavras. O mesmo acontecendo na
CHARRUE, Jean-Michel. Plotin, lecteur de Platon. 2e ed.
teurgia na qual, também no instante, reconhecemos Paris: Societé d’Édition. Les Belles Lettres, 1987.
a Presença através de sinais que revelam nada mais CLARKE, Emma C. & DILLON, John & HERSHBELL, Jackson
nada menos que a potência (dynamis) enquanto a P. Iamblichus: On the Mysteries. Atlanta: Society of Biblical
Literature, 2003.
Presença (parousia) daquele que se deixa apenas
COMBÉS, Joseph & WESTERINK, L. G. Damascius: Traité des
antever e não ser visto, mas que é reconhecido de
Premiers Principes. Tome I. De l’1ineffable et de l’Un. Paris:
muitas maneiras, se o deixarmos vir até nós, ao nos Les Belles Lettres, 2002. 1e edition 1986.
rendermos a nada mais que o instante, reconhecido, CORNFORD, Francis Macdonald. Plato and Parmenides -
mais uma vez como ausência de Alteridade. Parmenides’ Way of Truth and Plato’s Parmenides translated
with an Introduction and a running Commentary. London:
E se ainda somos constrangidos a dizer, porque
Routledge & Kegan Paul Ltd., 1958 (1939).
pudemos encontrar uma única palavra no Parmênides
DILLON, John. Iamblichus: The Platonic Commentaries.
de Platão capaz de sintetizar os nossos esforços, essa Great Britain: The Prometeus Trust, 2009.
palavra é o instante. “Instante” breve e fugaz da
DILLON, John & MORROW, Glenn R. Proclus’ Commentary
experiência unitiva de Plotino, instante enquanto on Plato’s Parmenides. Princeton: Princeton University
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