Revista de Doutrina e Jurisprudência Do STM - 2018
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PODER JUDICIÁRIO
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR
REVISTA DE
DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA
SUPERIOR MILITAR
Volume 28
Número 1
Julho/2018 a Dezembro/2018
REVISTA DE DOUTRINA
E JURISPRUDÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR
REVISTA DE DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA DO
SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR
Volume 28
Número 1
Jul./2018 a Dez./2018
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Ficha catalográfica
Irregular.
Continuação de: Jurisprudência do Superior Tribunal Militar.
ISSN: 2448-3281
Secretário da Comissão
Ignácio Kazutomo Sette Silva (Analista Judiciário do STM)
Secretária-Adjunta da Comissão
Vivian Alves Evangelista
GALERIA DOS MINISTROS APOSENTADOS – 1986 A 2010 (POSSE)
APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 13
DOUTRINA
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA.
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO
SISTEMA E DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I .... 21
Dra. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha
Gen Div Romeu Costa Ribeiro Bastos
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 ............................................. 51
Alte Esq Carlos Augusto de Sousa
CT Rachel Florim Leal
A LEI Nº 13.491/2017: INOVAÇÕES E DESAFIOS ......................................... 75
Dra. Mariana Queiroz Aquino Campos
JURISPRUDÊNCIA
APELAÇÃO
0000024-05.2015.7.03.0203 ........................................................................ 91
Relator – Ten Brig Ar William de Oliveira Barros
44-28.2015.7.09.0009-MS .......................................................................... 118
Relator – Gen Ex Marco Antônio de Farias
0000101-40.2016.7.11.0111-DF ................................................................ 166
Revisor e Relator para o Acórdão – Alte Esq Carlos Augusto de Sousa
0000193-18.2016.7.01.0201 ...................................................................... 195
Relator – Alte Esq Alvaro Luiz Pinto
7000177-22.2018.7.00.0000 ...................................................................... 215
Relator – Gen Ex Odilson Sampaio Benzi
7000229-18.7.00.0000 ............................................................................... 229
Relator – Alte Esq Marcus Vinicius Oliveira dos Santos
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO
HABEAS CORPUS
MANDADO DE SEGURANÇA
REVISÃO CRIMINAL
1
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informativo.
FRIEDE, Reis. Teoria do Direito. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2018.
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lançamento literário direcionado para o Direito Militar, o Direito
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DOUTRINA
INTRODUÇÃO
O século XV marca a era de ouro do Império Português devido aos
descobrimentos que resultaram em anexações de colônias na África, Ásia e
América, com destaque para Brasil. Após esse período áureo, Portugal
entrou em declínio no interregno temporal que permeou o século XVII e a
primeira metade do século XVIII, passando a desempenhar um papel
periférico em relação à Europa decorrente do seu diminuto
desenvolvimento científico e industrial. 2
2
CARNEIRO, Ana; SIMÕES, Ana; DIOGO, Maria Paula. Enlightenment Science in Portugal:
The Estrangeirados and their Communication Networks. In: Social Studies of Science. London:
SSS and SAGE Publications. 2000, p. 591-619.
3
BOTO, Carlota. A dimensão iluminista da reforma pombalina dos estudos: das primeiras letras à
universidade. In: Revista Brasileira de Educação, v. 15, n. 44, maio/ago, 2010, p. 283.
4
LOURENÇO, Eduardo. Portugal e a Europa. In: Nós e a Europa: ou as duas razões. 4. ed.
Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994, p. 147.
5
O Concílio de Trento foi o décimo nono conselho ecumênico reconhecido pela Igreja Católica
Romana. Foi convocado pelo Papa Paulo III, em 1542, e compreendeu o período entre 1545 e
1563. Recebeu este nome por ter se realizado na cidade de Trento, região norte da Itália.
22 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
6
“Na história de Portugal, o concílio teve grande influência, quer pela participação e apoio dos reis,
quer pela influência que os seus decretos tiveram na vida eclesiástica e social do país.
No 1º período participaram o bispo do Porto, Frei Baltazar Limpo, carmelita, e os teólogos
dominicanos Frei Jerónimo de Azambuja, também embaixador régio, Frei Jorge de Santiago e Frei
Gaspar dos Reis, e ainda o franciscano Frei Francisco da Conceição. Logo que o bispo do Porto
regressou de Trento, mandou D. João III que se reunisse com letrados para estudarem o modo de
pôr em prática os decretos da reforma.
No fim do 2º período, D. João III e o cardeal D. Henrique constituíram assembleias de peritos
para porem em ação um grande plano de reforma, completando com os decretos do V Concílio
Laterense aqueles pontos ainda não promulgados em Trento.
No 3º período, D. Fernando Martins de Mascarenhas e o Dr. André Velho não só atuaram como
hábeis embaixadores, mas também se portaram como grandes senhores. O Frei João Soares,
agostiniano, bispo de Coimbra, levou uma comitiva de umas 30 pessoas, sendo conhecido o seu
teólogo António Leitão. A caminho do concílio morreu o teólogo dominicano Fr. João Pinheiro,
vice-reitor da Universidade de Coimbra. Participou também neste período o Bispo de Leiria D.
Frei Gaspar do Casal, eremita de Santo Agostinho. Acérrimo executor do Concílio foi o arcebispo
de Braga Frei Bartolomeu dos Mártires, promulgando-o para Braga no sínodo bracarense e
adaptando-o a toda a metrópole no IV Concílio Provincial Bracarense de 1566.
A Reforma Católica‐romana foi reforçada pela criação, em 1540, da Companhia de Jesus, ordem
religiosa fundada pelo espanhol Inácio de Loyola. A Companhia de Jesus transformou-se num
verdadeiro ‘exército’ em defesa da manutenção dos princípios católicos e da evangelização na
Europa, na Ásia e nas Américas.” In: Santiago, Emerson (10 de abril de 2010). Concílio de Trento.
In: InfoEscola. Acesso: 2 fev. 2019.
7
O século XVIII foi palco de grandes modificações na Europa, um período no qual as sociedades
sofreram mudanças de conceitos e comportamentos nos campos políticos, intelectual e social.
Neste século, ideias transformadoras que estavam em curso ganharam impulso, daí ser conhecido
como o período do Iluminismo ou a Idade da Razão.
Opunha-se esta nova filosofia aos dogmas católicos e às monarquias absolutas. Nomes como
Immanuel Kant e Jean-Jacques Rousseau pontificavam com seus ensinamentos, introduzindo
uma nova noção de democracia. Precedidos pelos pensamentos de John Locke e Thomas
Hobbes, suas doutrinas suportariam dogmaticamente as revoluções liberais do século XVIII e as
constituições francesas e americanas.
Nesse norte, as Ciências passaram a ocupar lugar proeminente com a fundação da Academia de
Paris e da Royal Society of London, objetivando, para além da pesquisa, a difusão do conhecimento.
Nas exatas, particularmente, na matemática e física, Isaac Newton e Leibniz ofereceram uma
nova maneira de pensar o universo. Por seu turno, Adam Smith revolveria o cenário econômico
com fundamentos que serviram de base à implantação do capitalismo moderno.
Embora tivesse sido a Idade da Razão a quintessência do florescer intelectual, o caldo de
cultura que antecedeu seu advento, indubitavelmente, foi o despotismo esclarecido, entendido
como um movimento de apropriação da realeza dos ideais iluministas, com vistas a transformar
a carcomida monarquia absolutista em um sistema mais palatável e menos obscurantista.
Algumas de suas características são: a supressão do direito divino; o descompromisso com
Deus e a Igreja; a reconstrução do Estado pelo uso da razão; a abolição dos direitos
tradicionais e privilégios de nobres, Igreja, órgãos judiciais e a implementação imediata e
abrupta das referidas mudanças. WALTERS, J.F. AP. European History. Enlightened Despots.
https://www.newhartfordschools.org. Acesso em: 10 nov. 2018.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 23
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
Logo nos primeiros meses de governo uma fatalidade fortaleceria a sua autoridade: o terremoto
de Lisboa, que matou milhares de pessoas e destruiu grande parte da cidade. Naquele
momento trágico, Pombal revelou todo o seu senso de governabilidade, sintetizado na famosa
frase sobre o que deveria ser feito após tamanha catástrofe. Diria ele a propósito, “enterrar os
mortos e cuidar dos vivos.”
Gestor eficiente, angariou o respeito régio, o que lhe permitiu realizar autoritariamente as
reformas que desejava e integrar a casta dos chamados Déspotas Esclarecidos, adepto que era
da filosofia de adoção de leis que visavam o progresso do Estado e a felicidade do povo.
9
In: O reformismo fiscal pombalino no Brasil. Historia Caribe - Volumen XI Nº 29 - Julio-
Diciembre 2016, p. 83-111.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 25
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
10
A respeito escreve Kenneth Maxwell; “It was the earthquake which propelled Pombal to virtual
absolute power which he was to retain for another 22 years until the King’s death in 1777. He
took quick, effective and ruthless action to stabilize the situation.” Op. cit, p. 81-82.
26 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
11
CARDOSO, José Luís; CUNHA, Alexandre Mendes. Discurso econômico e política colonial no
Império Luso-Brasileiro (1750-1808). Lisboa: Tempo, vol.17, nº 31, 2011, p. 65-88.
12
A Congregação do Oratório, hoje Confederação do Oratório, também conhecida como
Oratorianos ou Ordem de São Filipe Néri, é uma sociedade de vida apostólica fundada em
1565, em Roma, por São Filipe Néri, para clérigos seculares, sem votos de pobreza e
obediência, dedicando-se à educação cristã da juventude e do povo e às obras de caridade.
13
Luís Antônio Verney (1713-1792), filho de pai francês e de mãe portuguesa, estudou na
congregação dos oratorianos e foi o mais conhecido estrangeirado. Adepto do iluminismo,
representou o principal inspirador das reformas pedagógicas de Pombal. Escreveu o livro
“Verdadeiro Método de Estudar”, publicado em 1746.
14
MAXWELL, Kenneth. Op. cit, p. 86.
15
“Seu objetivo superior foi criar a escola útil aos fins do Estado e, nesse sentido, ao invés de
preconizarem uma política de difusão intensa e extensa do trabalho escolar, pretenderam os
homens de Pombal organizar a escola que, antes de servir aos interesses da fé, servisse aos
imperativos da Coroa.” CARVALHO, Laerte Ramos de. As Reformas Pombalinas da Instrução
Pública. São Paulo: Editora Saraiva, Ed. USP, 1978, p. 139.
16
Alvará Régio de 1759. Disponível em: http://193.137.22.223/pt/patrimonio-educativo/repositorio-
digital-da-historia-da-educacao/legislacao/seculo-xviii/1751-1760. Acesso em: 12 nov. 2018.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 27
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
17
“The Pombaline educational reforms had a highly utilitarian purpose: to provide a new élite to
staff the state and church bureaucracy. It was here that the reforms would find their
perpetuators and defenders. It is no accident that an almost classic statement of this process
should have come from the pen of D. Francisco Lemos, installed by Pombal as the reformer of
the University of Coimbra: ‘One should not look on the university as an isolated body,
concerned only with its own affairs as is ordinarily the case, but as a body at the heart of the
state, which through its scholars creates and defuses the enlightenment of wisdom to all parts
of the monarchy, to animate, and revitalize all branches of the public administration, and to
promote the happiness of man. The more analyses this idea, the more relationships one
discovers between the university and the state: the more one sees mutual dependency of
these two bodies one on the other, and that science cannot flourish in the university without at
the same time the state flourishing, improving and perfecting itself. This understanding arrived
very late in Portugal, but at last it has arrived, and we have established without doubt the most
perfect and complete example in Europe today’.” Apud: MAXWELL, Kenneth. Op. cit, p. 105.
18
Os Estatutos de Coimbra tinham força de lei e compunham-se de três livros, cada qual
constituindo um curso: Livro I (Teologia), Livro II (Curso Jurídico) e Livro III (Medicina).
19
MONDINI, Fabiane; BICUDO, Maria Aparecida Viggiani. As reformas pombalinas da instrução
pública e o ensino de matemática. XIV CIAEN. México. 2015. Disponível em: http://xiv.ciaem-
redumate.org/ index.php/xiv_ciaem/xiv_ciaem/paper/viewFile/455/210. Acesso em: 15 nov. 2018.
28 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
Limites 20 com a Espanha em 1750, por meio do qual Portugal cedeu a Colônia
do Sacramento em troca de sete reduções comandadas pelos padres na fronteira
com o Brasil. Pombal alegava que os jesuítas fomentavam a revolta indígena
impedindo sua desocupação.
A outra razão foi a forte influência religiosa em praticamente todas as
ramificações sociais, uma ameaça à autoridade absolutista e legítima do
Monarca. A gota d’água, contudo, que desencadeou o processo de expulsão, foi
o atentado sofrido por D. José I, em 1758. Os jesuítas foram acusados de
conspirarem e participarem da tentativa de assassinato do rei, tendo mais de
quinhentos deles sido presos.
Por fim, resta abordar a questão militar e suas repercussões sobre o foro
e os regulamentos castrenses. Conquanto a historiografia atribua ao Marquês de
Pombal desinteresse ou, até mesmo, espírito antimilitarista, o certo é que foi
sob seu governo que se reformulou a concepção bélica de defesa portuguesa
como uma estratégia para evitar a emergência de poderes concorrentes 21.
A reforma introduzida no Exército [...] pelo Conde de Lippe,
mesmo que apenas motivada pelo fator da ameaça externa, visou
modernizá-lo em relação ao que ocorria em outros países. Reviu-se a
organização militar – a substituição dos terços, que procediam do modelo
espanhol do início do século XVI, pelos regimentos de inspiração francesa
– estrutura de fortificações, formas de seleção e de recrutamento,
armamento e disciplina. Princípios estratégicos e organização militar eram
oriundos, entretanto, do modelo prussiano de Frederico II, com sua
valorização da ofensiva, do foco no exército inimigo, [...], da otimização
dos recursos e do novo papel da artilharia. 22
20
O Tratado de Limites ou de Madrid foi firmado na capital espanhola entre os reis João V de
Portugal e Fernando VI de Espanha, em 13 de Janeiro de 1750, para definir os limites entre as
respectivas colônias sul-americanas, pondo fim assim às disputas.
21
WEHLING, Arno e WEHLING, Maria Jose. Exército, milícias e ordenanças na Corte Joanina:
permanências e modificações. In: Revista DaCultura. Fundação Cultural do Exército-FUNCEB-
Ano VIII / Nº 14, Junho de 2008, p. 27.
22
Id, p. 27-28.
Em Portugal, “a questão militar era tema delicado e complexo, já que a organização das forças
terrestres afetava praticamente toda a sociedade; à nobreza, porque, dadas suas atribuições
basicamente militares em uma sociedade que era estamental, desde suas origens medievais havia
sido associada à espada, consequentemente à defesa do território e do soberano. O terceiro estado,
por sua vez, deveria organizar, em uma segunda linha, a milícia e, em uma terceira, as ordenanças,
estas compreendendo todos os homens livres válidos entre 18 e 60 anos. Isso excluía as mulheres, os
jovens, os escravos e os indígenas mesmo aculturados, não obstante estes haverem desempenhado
importantes participações em diferentes circunstâncias bélicas na Colônia.
As milícias e as ordenanças estruturavam-se nas freguesias dos municípios, de acordo com o
domicílio dos habitantes, e eram significativo instrumento de capilaridade social, à medida que
os postos de oficiais de ambas as linhas constituíam-se em meios formais de prestígio e de
reconhecimento social, garantido o acesso de seus detentores e descendentes à ascensão social
em um meio no qual a mobilidade era restrita.” Ibid, p. 26-27.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 29
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
23
Para um aprofundamento sobre os Regulamentos Disciplinares de 1763 consultar: BRITO,
Pedro. Os Regulamentos do Conde de Lippe. In: Libros Relege, Volve, Lege. O Livro Antigo na
Biblioteca do Exército. Mário J. Freire da Silva e Tiago C.P. dos Reis Miranda (coord.), Lisboa:
Biblioteca do Exército, junho de 2018, p. 245-260.
24
Um estudo sobre o período pombalino no Brasil Colonial em seus mais variados enfoques está
em: A “Época Pombalina” no Mundo Luso-Brasileiro. Francisco Falcon e Cláudia Rodrigues
(Orgs.). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
25
Ambas as companhias objetivavam fomentar a agricultura, mas o principal escopo era a
comercialização de escravos trazidos da África para substituir a servidão indígena que havia
sido abolida.
30 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
26
Quinto régio do ouro era o tributo cobrado por Portugal sobre o ouro extraído no Brasil e que
equivalia a 20% do total declarado pelo minerador. Era cobrado nas Casas de Fundição (1719),
onde todo o metal produzido na capitania deveria ser fundido e quintado, ou seja, retirado dele a
quinta parte pertencente à Coroa. Mais tarde, o quinto foi alterado pela cobrança fixa de 100
arrobas. SECO, Ana Paula e AMARAL, Tania Conceição Iglesias do. Marquês de Pombal e a reforma
educacional brasileira. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/ periodo_
pombalino_intro.html>. Acesso em: 16 nov. 2018.
27
Sobre o Diretório, Souza e Lobo escreveram: “Feitas as necessárias e devidas ressalvas, o
Diretório, como gênero textual, pode ser inscrito entre os chamados manuais civilizatórios que
passaram a adestrar o comportamento humano nas sociedades modernas europeias e também
nos seus domínios coloniais. Como tal, instituiu um conjunto de ações de um programa
mínimo, a ser executado com ‘prudência’, ‘suavidade’ e ‘brandura’, para fazer dos índios
brasileiros seres civilizados.” SOUZA, Pedro Daniel dos Santos e LOBO, Tânia. Da aplicação
do Diretório Pombalino ao Estado do Brasil: povos indígenas e políticas linguísticas no século
XVIII. In: Revista A Cor das Letras, v. 17, nº 1, 2016, p. 46-59.
28
Hélio Avellar, citado por Alberto Damasceno, afirma: “A educação no Brasil colonial pode ser
dividida em duas fases: antes e depois de 1760. A primeira foi eminentemente jesuítica, embora
seja discutível o aparente caráter exclusivamente privado da escola, face à união entre o Estado e a
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 31
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
Igreja e aos favores oficiais concedidos aos inacianos. Mas, a partir da expulsão da Companhia, pela
primeira vez, reconhecia-se de maneira inequívoca a educação como dever do Estado”
DAMASCENO. Alberto. A historiografia da educação brasileira, o período pombalino e o diretório
de 1757. In: Revista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 55, mar./2014, p. 104-116.
29
SECO, Ana Paula; AMARAL, Tania Conceição Iglesias. In: Histedbr. Faculdade de Educação –
UNICAMP. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/periodo_pombalino_
intro.html. Acesso em: 17 nov. 2018.
30
MAXWELL, Kenneth. Op. cit, p. 104.
31
Aulas Régias. Arquivo Nacional. MAPA. Memória da administração pública brasileira. 2016.
Disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/menu-de-categorias-2/260-aulas-regias.
Acesso em: 16 nov. 2018.
32
O desmantelamento da estrutura jesuíta revelou-se extremamente desfavorável ao ensino
colonial cujas projeções negativas ainda hoje se mostram presentes. Na análise de MORAIS,
Christianni Cardoso e OLIVEIRA, Cleide Cristina: “A História da Educação Luso-Brasileira
ainda não foi capaz de dimensionar de modo global o impacto da instituição das aulas régias
na América Portuguesa.”. Aulas régias, cobrança do subsídio literário e pagamento dos
32 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
ordenados dos professores em Minas Gerais no período colonial. In: Educação em Perspectiva,
Viçosa, v. 3, nº 1, jan./jun. 2012, p. 81-104.
33
MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. Evolução histórica da estrutura judiciária brasileira. In:
Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Brasília, vol. 65, nº 1, out./dez. 1999, p. 85-114.
34
Sobre o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro consultar: SÁ, Gilmar de Almeida. Justiça e
colonização: juízes e tribunais no Rio de Janeiro. In: Documentação e Memória /TJPE, Recife, PE,
v. 1, n. 1, jul./dez. 2008. E, ainda, SOUZA, Rogério de Oliveira. A Relação do Rio de Janeiro
(1751 a 1808). In: Revista da EMERJ, v. 4, nº 14, 2001.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 33
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
35
SÁ, Gilmar de Almeida. Justiça e colonização. Op. cit, p. 90.
34 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
36
AVELLAR, Hélio de Alcântara. História administrativa do Brasil: administração pombalina. 2. ed.
Brasília: Editora UnB, 1983, p. 256.
37
TELLES, José Homem Correia. Commentarío critico á lei da boa razão el» data de 18 de agosto de
1769. Lisboa: Tipografia Maria da Madre de Deus, 1865. Disponível em: http://www.stf.jus.br/
bibliotecadigital/OR/108523/pdf/108523.pdf. Acesso em: 15 nov. 2018.
38
CABRAL, Gustavo César Machado. A lei da boa razão e as fontes do direito: investigações sobre as
mudanças no direito português do final do antigo regime. In: Anais do XIX Encontro Nacional do
CONPEDI realizado em Fortaleza. 2010. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/
conpedi/manaus/arquivos/anais/fortaleza/3489.pdf. Acesso em: 16 nov. 2018.
39
MACIEL, José Fábio Rodrigues. A Lei da Boa Razão e a formação do direito brasileiro. In:
Jornal Carta Forense, São Paulo, 03/06/2008. Disponível em: http://www.cartaforense.com.br/
conteudo/colunas/a-lei-da-boa-razao-e-a-formacao-do-direito-brasileiro/1668. Acesso em: 30
nov. 2018.
40
CABRAL, Gustavo César Machado. Op. cit.
Sobre ela, MAXWELL. K. tece os seguintes comentários: “The legal formulations of the
Pombaline state were justified as an application of natural law, a secularized system which was
a logical construct where reason (boa razão, as it was expressed) rather than faith or custom
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 35
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
defined justice or injustice. In practice, however, the explicit constructs of the state were
underpinned by the unstated networks of personal relationship, clienteles and self-interest.
Such self-interested was seen in fact by Pombal as a means to fortify the state’s objectives in
economic policy, as well as in government. Yet to work, this required a vision which set the
national interest above private interests.” Op. cit, p. 107.
41
GODOY, Arnaldo Moraes. A completude do ordenamento jurídico na lei da boa razão: a teoria de
Norberto Bobbio e a experiência jurídica pombalina. <http://uniceub.academia.edu/ArnaldoGodoy>.
Acesso: 13/11/2018
42
MACIEL, José Fábio Rodrigues. Op. cit.
43
SILVA, Mozart Linhares da. História da cultura jurídica no brasil: o bacharelismo e a formação
do estado-nação. ANPUH – XXII SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA – João Pessoa, 2003.
44
“Em 1756 rebentava o que se pode considerar uma guerra à escala mundial – a Guerra dos
Sete Anos – entre as potências coloniais, com ramificações na Europa, na América, na África e
36 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
ela arremessado após a batalha naval entre as esquadras dos dois Estados em
águas territoriais lusitanas. A derrota francesa desencadeou protestos que
ocasionaram a invasão do território português pelas forças espanholas, aliadas
da França. A motivação do protagonismo espanhol no episódio deu-se em
razão da ascensão ao trono do rei Carlos III, da Casa dos Bourbons, que,
fundado no Pacto de Família 45, alinhou-se aos franceses. D. José I, chamado ao
pacto por ser casado com uma princesa desta linhagem, recusou-se em virtude
do tratado assinado com a Inglaterra. A consequência foi a invasão da Espanha,
no ano de 1762, em Portugal, que demandou a ajuda inglesa para repeli-la.
O episódio serviu para demonstrar as condições deploráveis nas quais
se encontravam as forças bélicas portuguesas. 46 Afinal, desde a Guerra da
Sucessão de Espanha (1701-1714), o Estado vivia em paz e não se preparara
para participar de um conflito de tamanha proporção. “Os efectivos militares
não chegavam a vinte mil homens, mal armados e indisciplinados. Dizem os
testemunhos da época que as fronteiras se achavam abertas e as praças
desmanteladas, os regimentos incompletos e vazios os depósitos de material de
guerra. Os oficiais eram incompetentes e muitos deles criados de casas fidalgas,
mais ocupados e preocupados com o serviço dos senhores do que com as
tarefas militares. Aos soldados faltavam instrução e a disciplina.” 47
Sem ameaças exteriores e necessitando reduzir o poderio do Exército, o
governo de D. José I descurou-se por completo da defesa nacional. Por
48
Frederico Guilherme Ernesto de Schaumburg-Lippe (em alemão: Friedrich Wilhelm Ernst zu
Schaumburg-Lippe, conhecido em Portugal como Conde de Lippe (em virtude de ser conde
reinante de Schaumburgo-Lippe), foi um notável militar e político alemão que esteve a serviço
do Exército Português, tendo o reorganizado e comandado durante a Guerra dos Sete Anos.
Para maior aprofundamento sobre o Conde de Lippe, consultar: BRITO, António Pedro da
Costa Mesquita. Publicações Alemãs sobre o Conde de Lippe – Uma orientação bibliográfica.
In: Revista Militar, nº 2508 – Janeiro/2011, pp. 83-150. Disponível em: www.revistamilitar.pt/
artigopdf/627. Acesso em: 4 dez. 2018. Trata-se de pormenorizada e detalhista pesquisa
bibliográfica sobre a influência “lippiana” no ensino militar e científico lusitano, com análises
acadêmicas e exaustivas referências de obras em português e alemão que tratam da sua
trajetória, biografia e pedagogia castrense.
49
Um fato a ser rememorado sobre a passagem do Conde de Lippe em Portugal foi a
implantação de um severo código disciplinar que hodiernamente ainda repercute nos
conceitos hierárquicos e disciplinários das Forças Armadas Brasileiras. O código, denominado
Regulamento para o Exercício e Disciplina dos Regimentos de Infantaria dos Exércitos de S.
M. Fidelíssima, também era conhecido como “Regulamento de 1763”. Somente em 1862, o
Duque de Caxias substituiu-o pelo Regulamento Correcional das Transgressões Disciplinares
e foi adotado o primeiro Código Penal Militar no Brasil.
50
“A intensificação dos conflitos com os espanhóis no Rio Grande de São Pedro, Colônia de
Sacramento e Ilha de Santa Catarina gerou pedidos para que a Inglaterra interviesse no
sentido da manutenção do acordo de paz de Paris. Em resposta, os ingleses afirmavam: “[...].
A deplorável situação do Brasil não pode deixar de estimular seus inimigos a conquistá-lo.”
In: Carta de Martinho de Melo e Castro ao Conde de Oeiras. Londres, 20/3/1765. BNL, PBA,
612, fls.62-64. Apud: COTTA, FRANCIS Albert. O “sistema militar corporativo” na América
Portuguesa. Op. cit, p. 8.
51
O Tratado de Paris foi assinado em 1763 confirmando a paz definitiva após o armistício
anteriormente firmado, em dezembro de 1762, pelo Conde de Aranda e o Conde de Lippe.
Sem embargo do término da Guerra, o Conde de Oeiras não quis descuidar-se da questão
militar, protelando o retorno do Conde de Lippe para aproveitar a sua permanência e dotar o
Exército Português de uma nova organização e regulamento. O Conde de Lippe, devido a
sua vasta sapiência, concluiu que o êxito só adviria se se verificasse: i) um total envolvimento
do poder político nessa transformação, que deveria compreender a necessidade de
38 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
54
Segundo WEHLING, Arno, “[...] no período pombalino, a filosofia administrativa que norteou as
ações dos vice-reis e capitães-generais estaria pautada na segurança e defesa mútua das
capitanias.[...] a política defensiva visava estabelecer um sistema militar que articulasse
harmoniosamente tropas de primeira linha, milícias e ordenanças.” Administração portuguesa no
Brasil de Pombal a Dom João (1777-1808). TAPAJÓS, Vicente (coord.). In: História administrativa
do Brasil. Vol. VI, Brasília: Fundação Centro de Formação do Servidor Público, 1986, p. 21.
55
Instruções ao Morgado Mateus. Lisboa, 20/11/1772. In: Revista do IHGB, vol.257, p. 53, Apud:
COTTA, Francis Albert, Op. cit, p.15.
56
Os Regimentos de Bragança e Moura ficariam estacionados, em fins do século XVIII, no Rio de
Janeiro, já o de Estremoz guarneceria a ilha de Santa Catarina, Parati e Angra dos Reis.
40 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
57
MELLO, Cristiane Figueiredo Pagano de. Os corpos de ordenanças e auxiliares. Sobre as
relações militares e políticas na América Portuguesa. In: História: Questões & Debates, n. 45.
Curitiba: Editora UFPR, 2006, p. 29-56.
58
FAORO, Raymundo. Os donos do poder. Formação do Patronato Político Brasileiro, v. I. Porto
Alegre: Globo, 1984, p. 196.
59
Jacques Funck (1715-1788) nasceu e faleceu em Estocolmo, na Suécia. Foi designado para servir,
com a graduação de brigadeiro de infantaria, na Capitania do Rio de Janeiro, fazendo jus a
soldo dobrado e com a missão de aprimorar as defesas do porto e da cidade. Seu nome
vincula-se à introdução do ensino de engenharia do Brasil ao proferir, na Praia Vermelha, uma
aula de Engenharia e Artilharia.
60
OBERACKER Jr., Carlos H. Oberacker. João Henrique Böhn: O fundador do Exército Brasileiro.
In: Revista de História da USP. V. 18, nº 38, 1959, p. 339-357. Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/107500/105905. Acesso em: 6 dez. 2018.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 41
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
61
Luís de Almeida Soares Portugal Alarcão Eça Melo Silva e Mascarenhas, quinto Conde de Avintes,
segundo Marquês do Lavradio (1729-1790), combateu os espanhóis na Guerra dos Sete Anos
atingindo o posto de Brigadeiro. Em 1769, foi designado para o posto de décimo primeiro vice-rei
e capitão-general-de-mar-e-terra do estado do Brasil.
62
O legado lippiano, seja na metrópole seja na colônia, centra-se nos seguintes pilares de
sustentação: pessoal, justiça, liderança, ensino, treino e tecnologia. Nesse diapasão, buscou ele
regionalizar o recrutamento; manter a disciplina nas fileiras da tropa; conceber o conceito de
foro militar; adotar o critério meritório para as promoções; criar o real colégio dos nobres, assim
como bibliotecas em todas as unidades militares por acreditar que a leitura servia para formar o
espírito; determinar a execução de manobras periódicas, com o objetivo de ensinar e treinar
práticas bélicas; e restaurar e construir fortalezas. A Partir Pedra: Presença do Conde de Lippe
em Portugal. Op. cit, p. 3-4.
42 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
63
CABEDA, Coralio Bragança Pardo Cabeda. A sombra do Conde de Lippe no Brasil: os artigos de guerra.
Disponível em: http://www.acadhistoria.com.br/outextos/Cabeda%20-0A%20Sombra%20do%20
Conde%20de%20Lippe.pdf2. Acesso em: 7 dez. 218.
Adriana Barreto de Souza, em excelente artigo: A governança da justiça militar entre Lisboa e o
Rio de Janeiro (1750-1820), traça um painel sobre como os militares eram julgados após as
reformas pombalinas no século XVIII. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_
arttext&pid=S2236-332015000200368&lng=en&nrm=iso&tlng=pt. Acesso em: 7 dez. 2018.
64
CAMARGO, Angélica Ricci. Arquivo Nacional. MAPA. Governadores/Comandantes das Armas.
Disponível em: http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/156-comandante-
das-armas. Acesso em: 7 dez. 2018.
65
CABRAL, Dilma. Arquivo Nacional. MAPA. Conselho Supremo Militar e de Justiça. Disponível
em: http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/162-conselho-supremo-militar-
e-de-justica-1808-1821. Acesso em: 7 dez. 2018.
66
Uma aprofundada análise sobre a constituição da Justiça Militar no período pombalino e,
posteriormente, no reinado mariano-joanino está em: SOUZA, Adriana Barreto de. A governança
da justiça militar entre Lisboa e o Rio de Janeiro (1750-1820). In: Almanack. Guarulhos, nº 10,
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 43
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
70
Análises sobre a Justiça Militar da União, também conhecida como Justiça Militar Federal, na
atualidade, podem ser lidas em: A Justiça Militar da União e a História Constitucional do Brasil.
Artur Vidigal de Oliveira e Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha (coords). São Paulo:
Migalhas, 2016. Ver, ainda: Coletânea de Estudos Jurídicos. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira
Rocha e Zilah Maria Callado Fadul Pettersen (coords). Brasília: Superior Tribunal Militar, 2008.
71
WEHLING, Arno e WEHLING, Maria José. Exército, milícias e ordenanças na Corte
Joanina: permanências e modificações. Op. cit, p. 27. “As ações empreendidas nesse espírito
estavam de acordo com as formulações teóricas para o fortalecimento do papel do Estado e
da elite política dirigente, típicos da Europa setecentista. Na intenção extrema dessas
formulações, visava-se ‘tudo nivelar ante o absolutismo’, de modo que o clero, nobreza e
povo se submetessem a um novo ente político, a monarquia absolutista, muito diferente da
monarquia tradicional dos séculos anteriores [...].” Id, p. 27-28.
OS REFLEXOS DAS REFORMAS POMBALINAS NO BRASIL OITOCENTISTA. 45
A EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONJUNTURAL DAS TRANSFORMAÇÕES DO SISTEMA E
DO FORO MILITAR COLONIAL NO REINADO DE DOM JOSÉ I.
72
CORRALES ELIZONDO, Agustín. Las ordenanzas de la Armada. Disponível em:
http://www.armada.mde.es/archivo/mardigitalrevistas/cuadernosihcn/38cuaderno/cap05.pdf.
Acesso em: 28 fev. 2019.
73
SOUZA, Marcelo Weitzel Rabello de. Conde de Lippe (e seus Artigos de Guerra), quando
passou por aqui, também chegou lá. Monografia (mestrado em História) 1999. Disponível em:
http://www.jusmilitaris.com.br/uploads/docs/mestrado.historia_do_direito_ii.pdf. Acesso em:
20 set. 2010.
74
ROQUE, N. Justiça Penal Militar em Portugal, Linhó: Edições Atena. 2000. p. 53.
46 MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA
ROMEU COSTA RIBEIRO BASTOS
REFERÊNCIAS
A ‘Época Pombalina’ no Mundo Luso-Brasileiro. Francisco Falcon e Cláudia
Rodrigues (Orgns). Rio de Janeiro: Editora FGV, 2015.
BRITO, Pedro de. Os Regulamentos do Conde de Lippe. In: Libros Relege, Volve,
Lege. O Livro Antigo na Biblioteca do Exército. Mário J. Freire da Silva e Tiago C. P.
dos Reis Miranda (coords). Lisboa: Biblioteca do Exército, junho de 2018.
SECO, Ana Paula e AMARAL, Tania Conceição Iglesias do. Marquês de Pombal e a
reforma educacional brasileira. Disponível em: http://www.histedbr.fe.unicamp.br/
navegando/periodo_pombalino_intro.html.
TELLES, José Homem Correia. Commentarío critico á lei da boa razão el» data
de 18 de agosto de 1769. Lisboa: Tipografia Maria da Madre de Deus, 1865.
Disponível em: http://www.stf.jus.br/bibliotecadigital/OR/108523/pdf/108523.pdf .
75
Nesse sentido, posiciona-se o jurista Renato Brasileiro.
Disponível em: http://www.mpm.mp.br/portal/wp-content/uploads/2017/11/palestra-nova-
competencia-jm.pdf. Acesso em: 25 fev. 2019.
76
Kazuo Watanabe, ao explicitar o princípio constitucional da inafastabilidade de jurisdição,
sustenta que o acesso à justiça não deve ser apenas formal aos órgãos judiciários, mas sim um
acesso que propicie a efetiva proteção contra denegação da justiça e acesso à ordem jurídica
justa, in verbis: “O princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, inscrito no inciso XXXV
do art. 5º da Constituição Federal, não assegura apenas o acesso formal aos órgãos judiciários,
mas sim o acesso à Justiça que propicie a efetiva e tempestiva proteção contra qualquer forma
de denegação da justiça e, também, o acesso à ordem jurídica justa. Cuida-se de um ideal que,
certamente, está ainda muito distante de ser concretizado, e, pela falibilidade do ser humano,
seguramente jamais o atingiremos na sua inteireza. Mas a permanente manutenção desse ideal
na mente e no coração dos operadores do direito é uma necessidade para que o ordenamento
jurídico esteja em contínua evolução”. (grifos nossos).
Kazuo Watanabe, Tutela Antecipatória e Tutela Específica das obrigações de fazer e não fazer, in
Sálvio de Figueiredo Teixeira (Coord.), Reforma do Código de Processo Civil, p. 20. Citado por
Leonardo Ferres da Silva Ribeiro, no artigo de sua autoria intitulado “Prestação Jurisdicional
Efetiva”. Disponível em: http://silvaribeiro.com.br/artigospdf/a12.pdf. Acesso em: 28 jan. 2019.
54 CARLOS AUGUSTO DE SOUSA
RACHEL FLORIM LEAL
77
Prefácio do livro de sua autoria e coordenação, intitulado “Nova Lei de Drogas Comentada:
artigo por artigo”, publicado, em 2006, pela Revista dos Tribunais. Demais autores: Alice
Bianchini, Rogério Sanches Cunha e William Terra de Oliveira.
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 57
78
Disponível em: https://www.defesa.gov.br/relacoes-internacionais/missoes-de-paz. Acesso em:
15 fev. 2019.
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 59
79
ANDRADE, Raphael Mello. Lei nº 11.343/06 versus art. 290 do Código Penal Militar: uso e
tráfico de drogas em lugar sujeito à Administração Militar à Luz da Lei nº 13.491/17, Revista do
Ministério Público Militar, nº 29, Brasília, 2018.
80
Ibidem, página 346/347.
81
Ordenança Geral para o Serviço da Armada.
62 CARLOS AUGUSTO DE SOUSA
RACHEL FLORIM LEAL
82
Nesse sentido, Raphael Mello de Andrade. Ibidem, páginas 352/354.
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 63
83
“Tendo em vista a especialidade da legislação militar, a Lei nº 11.343, de 23 de agosto de
2006, que instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas, não se aplica à
Justiça Militar da União” (BJM Nº 40, de 22.08.14 e DJe Nº 149, de 02.09.14).
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 67
84
Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9830. Acesso em: 28 jan. 2019.
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 69
85
Publicado em 10/09/2017, atualizado em 25/09/2017. Disponível em: https://oglobo.globo.com/
rio/as-raizes-da-violencia-no-rio-21804502. Acesso em: 29 jan. 2019.
70 CARLOS AUGUSTO DE SOUSA
RACHEL FLORIM LEAL
86
Publicado em 12 de janeiro de 2018. Disponível em: https://www.observatoriodajusticamilitar.
info/single-post/2018/01/12/Novos-crimes-militares-de-drogas. Acesso em: 29 jan. 2019.
87
Art. 2º Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique ou
revogue. § 1º A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja
com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 71
88
Art. 2º É submetido a Conselho de Justificação, a pedido ou “ex officio” o oficial das forças
armadas (...) III - afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares por se tornar
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de funções militares a
ele inerentes, salvo se o afastamento é decorrência de fatos que motivem sua submissão a
processo; IV - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial
concernente a segurança do Estado, em Tribunal civil ou militar, a pena restrita de liberdade
individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado a sentença.
89
Art. 2º É submetida a Conselho de Disciplina, “ex officio”, a praça referida no artigo 1º e seu
parágrafo único. (...) II - afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares, por se tornar
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de funções militares a
ele inerentes, salvo se o afastamento é decorrência de fatos que motivem sua submissão a
processo; III - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação especial
concernente à segurança do Estado, em tribunal civil ou militar, a pena restritiva de liberdade
individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em julgado a sentença.
90
Art. 18. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados na data em que foram praticados, os casos
previstos nesta Lei. Parágrafo único. Os casos também previstos no Código Penal Militar como
crime prescrevem nos prazos nele estabelecidos.
91
Art. 17. Prescrevem em 6 (seis) anos, computados da data em que foram praticados, os casos
previstos neste decreto. Parágrafo único. Os casos também previstos no Código Penal Militar
como crime prescrevem nos prazos nele estabelecidos.
A LEI Nº 13.491/2017 E A LEI Nº 11.343/2006 73
92
Min. STF Ayres Britto, HC nº 103.684/DF, julgado em 21 de outubro de 2010, pelo Plenário
do STF, DJE nº 212, divulgado em 04/11/2010.
74 CARLOS AUGUSTO DE SOUSA
RACHEL FLORIM LEAL
legin/fed/decret/1970-1979/decreto-79388-14-marco-1977-428455-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em: 4 fev. 2019.
GOMES, Luiz Flávio (et al). Coordenação. Nova Lei de Drogas comentada artigo
por artigo: Lei 11.343/2006, de 23.08.2006. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2006.
76 CARLOS AUGUSTO DE SOUSA
RACHEL FLORIM LEAL
M A RI A N A Q U EI R O Z A Q UI N O C A M P O S
J uí z a F e d er al S u bstit ut a d a J usti ç a Milit ar d a U ni ã o
I NTR O D UÇÃ O
N o c o nt e xt o d a fr e q u e nt e d e m a n d a d e at u a ç ã o d as F or ç as Ar m a d as n a
g ar a nti a d a l ei e d a or d e m – vis a n d o à pr es er v a ç ã o d a or d e m p ú bli c a, e m
virt u d e d o a u m e nt o v erti gi n os o d a vi ol ê n ci a, d o es g ot a m e nt o d os m ei os
n e c ess ári os e pr e vist os p ar a f a z er fr e nt e a ess a cri mi n ali d a d e e di a nt e d o
r e c o n h e ci m e nt o f or m al d e i m p ot ê n ci a d o P o d er P ú bli c o – , f oi a pr es e nt a d o n a
C â m ar a d os D e p ut a d os o Pr oj et o d e L ei n º 5. 7 6 8/ 2 0 1 6 ( q u e p ost eri or m e nt e,
n o S e n a d o, r e c e b e u a n u m er a ç ã o P L C n º 4 4/ 2 0 1 6), o bj eti v a n d o alt er ar a
c o m p et ê n ci a d a J usti ç a Milit ar d a U ni ã o n o pr o c ess a m e nt o e j ul g a m e nt o d e
milit ar es q u e, n o â m bit o d e at u a ç ã o e m G L O, vi ess e m a pr ati c ar cri m es
d ol os os c o ntr a a vi d a d e ci vil.
D ess a s ort e, o D e p ut a d o Es p eri di ã o A mi n m e n ci o n o u, n a a pr es e nt a ç ã o
d ess e Pr oj et o d e L ei 9 3 , a n e c essi d a d e d e s e g ar a ntir s e g ur a n ç a j urí di c a à
at u a ç ã o d os milit ar es f e d er ais q u a n d o e m ati vi d a d e d e G L O:
C u m pr e r ess alt ar q u e as F or ç as Ar m a d as e n c o ntr a m -s e, c a d a v e z
m ais, pr es e n t es n o c e n ári o n a ci o n al at u a n d o j u nt o à s o ci e d a d e,
s o br et u d o e m o p er a ç õ es d e g ar a nti a d a l ei e d a or d e m. A c er c a d e t al
p a p el, v al e cit ar al g u m as at u a ç õ es m ais r e c e nt es, t ais c o m o, a o c orri d a n a
o c asi ã o d a gr e v e d a P olí ci a Milit ar d a B a hi a, n a q u al os milit ar es d as
F or ç as Ar m a d as fi z er a m o p a p el d a p olí ci a milit ar d a q u el e Est a d o; a
o c u p a ç ã o d o M orr o d o Al e m ã o, n o Est a d o d o Ri o d e J a n eir o, e m q u e as
F or ç as Ar m a d as s e fi z er a m pr es e nt es p or l o n g os m es es; e, p or fi m, a
93
Dis p o ní v el e m: htt ps:// w w w. c a m ar a.l e g. br/ pr o p osi c o es W e b/fi c h a d etr a mit a c a o?i d Pr o p osi c a o =
2 0 9 0 6 9 1. A c ess o e m: 4 m ar. 2 0 1 9.
78 MARIANA QUEIROZ AQUINO CAMPOS
94
Disponível em: https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=7271930&ts=15478
55926809&disposition=inline. Acesso em: 4 mar. 2019.
95
FOUREAUX, Rodrigo. A Lei 13.491/17 e ampliação da competência da Justiça Militar.
Disponível em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/10/19/lei-13-49117-e-
ampliacao-da-competencia-da-justica-militar/. Acesso em: 16 mar. 2019.
A LEI Nº 13.491/2017: INOVAÇÕES E DESAFIOS 79
MODIFICAÇÕES
REDAÇÃO ANTERIOR NOVA REDAÇÃO COM O ADVENTO DA LEI 13.491/17
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos,
modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II – os crimes previstos neste Código e os previstos na
legislação penal, quando praticados: (Redação dada pela Lei
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam
nº 13.491, de 2017) a) por militar em situação de atividade
com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a)
ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra
assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou
militar na mesma situação ou assemelhado; b) por militar em
assemelhado, em lugar sujeito à administração militar,
situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado,
civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da
ou assemelhado, ou civil; c) por militar em serviço ou atuando
função, em comissão de natureza militar, ou em formatura,
em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em
ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra
formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração
militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Redação dada
militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil;
pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996); d) por militar durante o
(Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996); d) por militar
período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
durante o período de manobras ou exercício, contra militar da
ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar em
reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar
situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio
em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio
sob a administração militar, ou a ordem administrativa
sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar;
militar; f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de
f) revogada. (Redação dada pela Lei nº 9.299, de 8.8.1996)
8.8.1996)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, III - os crimes praticados por militar da reserva, ou
ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se reformado, ou por civil, contra as instituições militares,
como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do considerando-se como tais não só os compreendidos no
inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra
administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em administrativa militar; b) em lugar sujeito à administração
situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário militar contra militar em situação de atividade ou
de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou
função inerente ao seu cargo; c) contra militar em formatura, da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu
ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período
exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício,
manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração acampamento, acantonamento ou manobras; d) ainda que
militar, contra militar em função de natureza militar, ou no fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar
desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da em função de natureza militar, ou no desempenho de
ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem
requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente
legal superior. requisitado para aquele fim, ou em obediência a
determinação legal superior.
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando § 1º Os crimes de que trata este artigo, quando
dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da dolosos contra a vida e cometidos por militares contra civil,
competência da justiça comum, salvo quando praticados no serão da competência do Tribunal do Júri. (Redação dada
contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei pela Lei nº 13.491, de 2017)
nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de § 2º Os crimes de que trata este artigo, quando
Aeronáutica. (Redação dada pela Lei nº 12.432, de 2011) dolosos contra a vida e cometidos por militares das Forças
Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar
da União, se praticados no contexto: (Incluído pela Lei nº
13.491, de 2017)
I – do cumprimento de atribuições que lhes forem
estabelecidas pelo Presidente da República ou pelo Ministro
de Estado da Defesa; (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
II – de ação que envolva a segurança de instituição
militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou
(Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017)
III – de atividade de natureza militar, de operação de
paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição
subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no
art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes
diplomas legais: (Incluído pela Lei nº 13.491, de 2017) a)
Lei nº 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código
Brasileiro de Aeronáutica; (Incluída pela Lei nº 13.491, de
2017) b) Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999;
(Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) c) Decreto-Lei nº
1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo
Penal Militar; e (Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017) d) Lei
nº 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral.
(Incluída pela Lei nº 13.491, de 2017)
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del1001Compilado.htm.
A LEI Nº 13.491/2017: INOVAÇÕES E DESAFIOS 81
96
ROTH, Ronaldo João. Os delitos militares por extensão e a nova competência da Justiça Militar (Lei
13.471/17). Disponível em: https://www.observatoriodajusticamilitar.info/single-post/2018/01/20/
Os-delitos-militares-por-extens%C3%A3o-e-a-nova-compet%C3%AAncia-da-justi%C3%A7a-militar
-Lei-1349117. Acesso em: 5 mar. 2019.
82 MARIANA QUEIROZ AQUINO CAMPOS
97
Súmula 6 STJ: “Compete à Justiça comum Estadual processar e julgar delito decorrente de
acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem
policiais militares em situação de atividade”; súmula 75 STJ: “Compete à Justiça comum
estadual processar e julgar o policial militar por crime de promover ou facilitar a fuga de preso
de estabelecimento penal”; súmula 90 STJ: “Compete à Justiça comum Estadual processar e
julgar o policial militar pela prática de crime militar, e à comum pela prática de crime comum
simultâneo àquele”, e súmula 172 STJ: “Compete à Justiça comum processar e julgar militar
por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço”.
98
CABETTE, Luiz Eduardo Santos. Crimes militares e a Lei 13.491/17 em relação ao direito
intertemporal. Disponível em: https://eduardocabette.jusbrasil.com.br/artigos/527509737/crimes-
militares-e-a-lei-13491-17-em-relacao-ao-direito-intertemporal. Acesso em: 15 mar. 2019.
A LEI Nº 13.491/2017: INOVAÇÕES E DESAFIOS 83
99
ASSIS, Jorge César de. Crime militar & processo: comentários à Lei 13.491/17. Curitiba: Juruá,
2018, p. 53.
84 MARIANA QUEIROZ AQUINO CAMPOS
parte geral do CP quando tal legislação não dispuser de modo diverso (posição
defendida por Jorge César de Assis e Rodrigo Foureaux).
A aplicação da lei penal comum deve ocorrer na íntegra quando o
crime a ser julgado tiver previsão fora do Código Penal Militar. Do
contrário haverá verdadeira lex tertia, isto é, a mistura e combinação de
leis pelo juiz, como se estivesse criando uma terceira lei, inexistente, o
que já foi rechaçado pelo Supremo Tribunal Federal. 100
Nesse viés, cabe destacar a lição de ASSIS:
Mas para a investigação dessa nova classe de crime militar – os
crimes militares por extensão – reafirmamos, deverá ser considerado que,
havendo lei específica à toda evidência, ela tem de ser observada, e, por
consequência, o Código de Processo Penal comum e mesmo o Código
Penal, por se tratarem de legislações mais modernas e afinadas com os
novos institutos que são inexistentes no Código Penal Militar e no Código
de Processo Penal Militar, deverão, sem sombra de dúvida, ser levados
em conta também.
Nem vale aqui defender a índole de processo penal militar, com a
finalidade de se obstar a aplicação do Código de Processo Penal comum
e da legislação que dite rito específico para os novos crimes militares por
extensão.
(...)
Deverá ser considerado que aquela chamada índole de processo
penal militar está diretamente ligada àqueles valores, prerrogativas,
deveres e obrigações que, sendo inerentes aos membros das Forças
Armadas, devem ser observados no decorrer do processo, enquanto o
acusado mantiver o posto ou graduação correspondente.
b) Traslada-se apenas o crime militar por extensão, incidindo a parte
geral do CPM naquilo que for compatível, tendo em vista ser vedada a
combinação de leis (posição de Ronaldo Roth). Nesse sentido discorre o
doutrinador 101:
Assim, por exemplo, não há que se falar na aplicação de pena de
multa, em pena restritiva de direitos (art. 44, CP), pena de advertência
(art. 28, Lei 13.343/06), pena de perda do cargo, função ou emprego e
interdição para seu exercício (art. 1º, § 5º, Lei 9.455/97) e pena
administrativa ou civil (art. 6º, Lei 4.898/65), tendo em vista que a Parte
Geral do CPM não as contempla.
100
FOUREAUX, Rodrigo. A Lei 13.491/17 e ampliação da competência da Justiça Militar. Disponível
em: https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/10/19/lei-13-49117-e-ampliacao-da-
competencia-da-justica-militar/. Acesso em: 16 mar. 2019.
101
ROTH, Ronaldo João. Os delitos militares por extensão e a nova competência da Justiça Militar
(Lei 13.471/17). Disponível em: https://www.observatoriodajusticamilitar.info/single-post/2018/
01/20/Os-delitos-militares-por-extens%C3%A3o-e-a-nova-compet%C3%AAncia-da-justi%C3%
A7a-militar-Lei-1349117. Acesso em: 16 mar. 2019.
A LEI Nº 13.491/2017: INOVAÇÕES E DESAFIOS 85
102
ASSIS, Jorge César de. Crime militar & processo: comentários à Lei 13.491/17. Curitiba: Juruá,
2018, p. 39/41.
86 MARIANA QUEIROZ AQUINO CAMPOS
103
ASSIS, Jorge César de. Crime militar & processo: comentários à Lei 13.491/17. Curitiba: Juruá,
2018, p. 42.
A LEI Nº 13.491/2017: INOVAÇÕES E DESAFIOS 87
REFERÊNCIAS
ASSIS, Jorge César de. Crime militar & processo: comentários à Lei 13.491/17.
Curitiba: Juruá, 2018, p. 53.
_______
EMENTA
APELAÇÃO. ESTELIONATO PREVIDENCIÁRIO. AUTORIA
E MATERIALIDADE COMPROVADAS. PRINCÍPIO DA
FRAGMENTARIEDADE. NÃO APLICAÇÃO. JUSTA CAUSA PARA
PERSECUÇÃO PENAL. DOLO COMPROVADO. CONTINUIDADE
DELITIVA AFASTADA. CRIME PERMANENTE. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
Não há como incidir o princípio da fragmentariedade
quando é acentuada a lesão causada ao Erário. A norma penal
deve ser aplicada para resguardar não apenas o aspecto
patrimonial, mas, em especial, a Administração Pública.
Não se verifica a ausência de justa causa para a ação penal
sob a alegação de mera relação comercial a ser resolvida na esfera
cível. Instâncias independentes.
Mesmo sem a exigência de notificação de óbito ao órgão
pagador, o dolo está configurado ante o silêncio malicioso de
ludibriar a Administração e obter vantagem ilícita por meio de
saques em conta-corrente de falecida beneficiária, mediante o uso
de cartão e senha.
94 APELAÇÃO Nº 0000024-05.2015.7.03.0203
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente o Dr. Carlos Frederico de Oliveira Pereira, Representante do
Ministério Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade,
deu provimento parcial ao recurso defensivo, para manter a condenação da
Civil Marcia Brockstedt Duarte, como incursa no caput do art. 251 do CPM,
reformar a Sentença e reduzir a pena imposta para 2 (dois) anos de reclusão, e
conceder-lhe o benefício do sursis pelo prazo de 2 (dois) anos, nas condições
estabelecidas pelo artigo 626 do Código de Processo Penal Militar, com
exclusão da letra “a”, designando o eminente Juízo a quo, na forma do artigo
611 do mesmo Código, para presidir a audiência admonitória, mantendo-se os
demais termos da decisão recorrida (regime aberto, direito de apelar em
liberdade), nos termos do voto do Relator Ministro William de Oliveira Barros.
A Ministra-Revisora fará declaração de voto.
Acompanharam o voto do Relator os Ministros Maria Elizabeth
Guimarães Teixeira Rocha (Revisora), Alvaro Luiz Pinto, Artur Vidigal de
Oliveira, Marcus Vinicius Oliveira dos Santos, Luis Carlos Gomes Mattos, Lúcio
Mário de Barros Góes, José Barroso Filho, Carlos Augusto de Sousa, Francisco
Joseli Parente Camelo e Marco Antônio de Farias. Os Ministros Odilson
Sampaio Benzi e Péricles Aurélio Lima de Queiroz não participaram do
julgamento. (Extrato da Ata da Sessão de Julgamento, 6/11/2018).
RELATÓRIO
Trata-se de recurso de Apelação interposto pela civil MARCIA
BROCKSTEDT DUARTE contra a Sentença proferida pelo Conselho
Permanente de Justiça para o Exército da 2ª Auditoria da 3ª CJM, de 2 de
agosto de 2017, que a condenou à pena de 3 (três) anos e 4 (quatro) meses de
reclusão, como incursa, por onze vezes, no art. 251, caput, do CPM, c/c o art.
71 do Código Penal comum, com o direito de apelar em liberdade e o regime
prisional inicialmente aberto.
O Ministério Público Militar ofertou denúncia contra a nominada civil,
imputando-lhe a conduta do estelionato previdenciário, descrita no art. 251 do
CPM, nos seguintes termos:
(...) Consta do Inquérito Policial Militar nº 24-05.2015.7.03.0203
que a denunciada MÁRCIA BROCKSTEDT DUARTE, visando obter para
si vantagem ilícita, ao manter em erro a administração militar, apropriou-se
indevidamente da quantia total de R$ 54.026,60 (cinquenta e quatro mil
APELAÇÃO Nº 0000024-05.2015.7.03.0203 95
(...)
Quer-se dizer com isso que, em nossa compreensão (integral) dos
postulados garantistas, o Estado deve levar em conta que, na aplicação
dos direitos fundamentais (individuais e sociais), há a necessidade de
garantir também ao cidadão a eficiência e a segurança, evitando-se a
impunidade. O dever de garantir a segurança não está em apenas evitar
condutas criminosas que atinjam direitos fundamentais de terceiros, mas
também (segundo pensamos) na devida apuração (com respeito aos
direitos dos investigados ou processados) do ato ilícito e, em sendo o
caso, na punição do responsável. (Grifo no original).
(FISCHER, Douglas. Garantismo penal integral (e não o garantismo
hiperbólico monocular) e o princípio da proporcionalidade: breves
anotações de compreensão e aproximação dos seus ideais. Revista de
Doutrina da 4ª Região, Porto Alegre, n. 28, mar. 2009).
Do mesmo modo, não se verifica a ausência de justa causa para
instauração da ação penal pleiteada pela Defesa. Não prospera a alegação de
mera relação comercial a ser resolvida na esfera cível.
Como sabido, não há vinculação entre as instâncias. Uma conduta
pode ser classificada, ao mesmo tempo, como ilícito penal, civil e
administrativo e, por esse motivo, apreciada nas diversas esferas, de forma
independente. Esse também é o entendimento do Subprocurador-Geral da
Justiça Militar Dr. Alexandre Concesi em seu bem elaborado Parecer, cito:
Ora, é conhecida a independência entre as esferas de
responsabilidade do agente. Desse modo, um único fato pode gerar o
dever de indenizar (esfera cível), além de representar um fato típico
(esfera penal) ou uma infração disciplinar (esfera administrativa). (evento
1, 35-PARECER, fl. 492). (Grifo no original.)
O dolo está configurado na conduta perpetrada, pois, embora não se
exija a notificação de óbito ao órgão pagador, não se pode valer do silêncio
malicioso e do equívoco da Administração para obter vantagem ilícita por meio
de sucessivas retiradas dos valores indevidamente creditados em conta-
corrente, valendo-se de cartão e de senha que não lhe pertencem. Esse é o
entendimento desta Corte, conforme se verifica no julgado abaixo:
Ementa: APELAÇÃO. ESTELIONATO. PRELIMINAR DE
INCOMPETÊNCIA DO CONSELHO DE JUSTIÇA PARA JULGAR CIVIL
SUSCITADA DE OFÍCIO E REJEITADA. AUTORIA E MATERIALIDADE.
CONDUTA TÍPICA. NÃO INCIDÊNCIA DO PRINCÍPIO DA
INTERVENÇÃO MÍNIMA. RELEVÂNCIA DO MONTANTE DA
VANTAGEM INDEVIDA OBTIDA PELA RECORRENTE.
A conduta se adequa perfeitamente ao delito de estelionato, haja
vista a obtenção de vantagem ilícita em detrimento da Organização
Militar, mantida em erro mediante silêncio intencional.
APELAÇÃO Nº 0000024-05.2015.7.03.0203 101
Com efeito, não se trata de delito que tem por bem jurídico tutelado a
administração da justiça, tampouco há menção nos autos dos crimes de uso de
documento falso ou de denunciação caluniosa, em razão de alguma relação
comercial. Da mesma forma, o processo não se encontra na fase de
recebimento da denúncia ou de eventual absolvição sumária, rito este sequer
previsto na Justiça Militar Federal.
Constatada, portanto, a ausência de fundamentação lógica para este
processo, deve incidir, por analogia, o enunciado sumular nº 284 do STF,
segundo o qual “É inadmissível o recurso extraordinário, quando a deficiência
na sua fundamentação não permitir a exata compreensão da controvérsia”.
Inviável, assim, o conhecimento do Recurso nesse ponto.
MÉRITO
No mérito, parcial razão assiste à recorrente.
Consta dos autos ter MARCIA BROCKSTEDT DUARTE, utilizando-se de
cartão bancário e senha de sua genitora/pensionista, falecida em 20/11/2013,
obtido valores depositados pela Administração Militar, a título de pensão,
usurpando a condição de real titular da conta-corrente da de cujus.
Inegável ser a ação cometida pela agente típica e antijurídica, e ela
culpável.
A materialidade delitiva restou comprovada nos autos em face dos
seguintes documentos: DIEx nº 206 - Pens - notícia crime (fls. 12/13 Apenso 1);
Ficha de Apresentação (fls. 14/14v Apenso 1); Certidão de Óbito, com data de
falecimento em 20/11/13 (fl. 15 Apenso 1 e fl. 312); Termo de
Reconhecimento de Dívida (fl. 16 Apenso 1); Folha de Cálculos (fls. 22/28
Apenso 1); Decisão determinando a quebra de sigilo bancário (fls. 44/46
Apenso 1); Título de Pensão Militar (fl. 55 Apenso 1); Ficha Financeira (fls.
56/57 Apenso 1); Laudo de Perícia Contábil (fl. 71 Apenso 1); Demonstrativo
de Débito referente ao período de 25/11/2013 até 11/05/2015 - apropriação
de recursos de pensionista falecido (fls. 72/80 Apenso 1); Demonstrativo de
Débito referente ao período de 30/07/2014 até 11/05/2015 - valor das
transferências efetuadas com saldo atualizado (fls. 81/82 Apenso 1);
Informações da Caixa Econômica Federal sobre movimentações bancárias na
conta-corrente da falecida pensionista (fls. 7/24 Apenso 2); Termo de
Reconhecimento de Dívida em 2017 (fl. 371); e Demonstrativo de Débito (fls.
372/373).
De fato, o expediente de Quebra de Sigilo Bancário instaurado no Juízo
de primeiro piso, a requerimento do Órgão Ministerial, tornou incontroverso o
pagamento de prestações pecuniárias mensais a titular da conta-corrente, então
falecida, e os diversos saques realizados pela acusada em terminais de
autoatendimento e agências lotéricas (Apenso 2).
106 APELAÇÃO Nº 0000024-05.2015.7.03.0203
Cartório; que não foi explicado para a acusada, por ocasião da assinatura
do Termo de Reconhecimento de Dívida, como pagar; que após a
assinatura do TRD, compareceu ao Quartel umas duas vezes, para prestar
esclarecimentos; que confirma o depoimento prestado em sede de IPM, de
fls. 84; que está tentando uma negociação para o pagamento da dívida. (...)
que sua mãe possuía uma situação de saúde bastante complicada; que nos
últimos meses de vida, permaneceu com internações hospitalares seguidas
e em repouso domiciliar (cama, pois estava impossibilitada de caminhar);
que morava em Santa Catarina e após o agravamento da condição de
saúde tanto do seu pai e de sua mãe, mudou-se para Canguçu/RS; que
antes de se mudar para Canguçu, quem cuidava de seus pais era uma tia e
um tio; que após residir com seus pais, passou a cuidar deles, com o apoio
de duas funcionárias; que o dinheiro recebido pela pensão de sua mãe, era
investido em sua saúde; que quando do falecimento do seu pai e de sua
mãe, a situação financeira da acusada era difícil, pois seu pai deixou “caixa
zero”; que utilizou o dinheiro depositado pela Administração Militar
para o sustento de sua família, pois seu esposo estava desempregado e
possuía dois filhos; que trabalhava em Santa Catarina, como voluntária
numa ONG; que havia conhecido seu esposo há pouco tempo e ele
fazia uns bicos, não tinha emprego fixo; que ao chegar em Canguçu, a
acusada começou a administrar os negócios do seu pai, com a ajuda de
seu esposo, mas este não era empregado; que, após o falecimento de
sua mãe, realizou o pagamento de médicos, funcionários, funeral, tudo
com o dinheiro do Exército; que não tem como comprovar todos os
pagamentos, mas tem alguma coisa.
A prova testemunhal arrolada pela acusação corroborou o fato de que a
apelante tinha o conhecimento do dever de comparecimento anual à “prova
de vida”, para efeitos de manutenção do benefício militar. Nesse sentido, veja-se
o relato do Cap Refm Ex Luiz Felipe de Avila Krause (fls. 239/240):
(...) que confirma a assinatura constante no Termo de
Reconhecimento de Dívida, datado de 14/11/2014; que o Termo de
Reconhecimento de Dívida foi assinado pela acusada; que o Termo de
Reconhecimento de Dívida foi assinado pela acusada de forma
espontânea e voluntária; (...) que ao ligar para o telefone que consta da
ficha de apresentação da mãe da acusada, aproximadamente na
virada do mês de novembro de 2014, foi informado pela acusada que
sua mãe havia falecido; que a acusada compareceu na Seção de Inativos
e Pensionistas, levando a certidão de óbito de sua mãe; (...) que ao
conversar com a acusada, ela afirmou que achava que os valores
depositados fossem para ela; (...) que a acusada não informou a razão da
demora na comunicação do óbito de sua mãe; que quando da
implantação dos pensionistas, é uma praxe da seção comunicar tanto
ao pensionista quanto aos seus familiares, de suas obrigações,
inclusive a de comunicar o falecimento, quer seja do pensionista, quer
seja de dependentes; que a pensão de ex-combatente, recebida pela
mãe da acusada, não gerava o direito de ser transmitida para a filha. (...)
108 APELAÇÃO Nº 0000024-05.2015.7.03.0203
__________
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
Relator: Min. Gen Ex Marco Antônio de Farias.
Revisor: Min. Dr. Péricles Aurélio Lima de Queiroz.
Apelantes: Antonio Carlos Siqueira Ribeiro, 2º Sgt Ex; e Douglas Martins
Tiburcio, 3º Sgt Ex.
Apelado: Ministério Público Militar.
Advogados: Dr. Heltonn Bruno Gomes, Dr. Paulo César Nunes da Silva e
Dra. Giselle Debiazi Vicente.
EMENTA
APELAÇÃO. DEFESA. PRELIMINAR DE NULIDADE PELA
FALTA DE ACESSO AOS AUTOS DO IPM. PRELIMINAR DE
NULIDADE POR INOBSERVÂNCIA DO RITO DE
RECONHECIMENTO DE PESSOAS. REJEIÇÃO POR UNANIMIDADE.
ORGANIZAÇÃO DE GRUPO PARA A PRÁTICA CRIMINOSA.
PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO.
CRIME DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. FURTO DE USO.
CARACTERIZAÇÃO. INSIGNIFICÂNCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO.
AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS. CONCURSO DE
AGENTES. RELAÇÃO DE SUPERIORIDADE. AÇODAMENTO DA
PENA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. DECISÃO UNÂNIME.
1. A alegação do cerceamento de defesa, em virtude da
suposta falta de acesso aos autos de IPM, exige prova hábil para
atestar a tese suscitada. Em que pese a natureza sigilosa das
investigações, a Defesa tem amplo acesso às provas acostadas aos
autos, consoante a Súmula Vinculante nº 14 do STF. Ademais,
eventual irregularidade na fase pré-processual não tem o condão
de contaminar a Ação Penal Militar.
2. A doutrina e a jurisprudência convergem que o
reconhecimento fotográfico de pessoas pode ser considerado prova
indireta, como indício relacionado ao fato em apuração.
3. A jurisprudência do STM e do STF admite que o
reconhecimento fotográfico, mesmo sem percorrer o rito
estabelecido no art. 368 do CPPM, tem validade na formação do
convencimento do magistrado.
4. Inexiste lacuna, no âmbito do Processo Penal Militar, no que
diz respeito ao reconhecimento de pessoas – art. 368 do CPPM.
Dessa forma, tendo em vista o Princípio da Especialidade da
Legislação Penal Castrense, não cabe a aplicação do art. 226 do CPP.
5. As elementares do crime tipificado no art. 150 do CPM
estão intimamente ligadas às questões históricas inerentes ao
cenário internacional no âmbito da América Latina, onde imperava
a instabilidade político-social, a qual poderia afetar, sobremaneira,
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 121
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente o Dr. José Garcia de Freitas Junior, representante do
Ministério Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade,
rejeitou a preliminar de nulidade do IPM, suscitada pela Defesa, alegando que
não pôde acessar os autos durante a fase investigativa; por unanimidade,
rejeitou a segunda preliminar defensiva, de nulidade quanto ao
reconhecimento de pessoas, alegando a inobservância de aspectos normativos
na identificação dos agentes por meio de fotografias. No mérito, por
unanimidade, deu provimento parcial ao Apelo da Defesa, para, reformando a
Sentença questionada e operando a desclassificação do delito previsto no art.
150 para o art. 222, § 1º, ambos do CPM, condenar o 2º Sgt Antonio Carlos
Siqueira Ribeiro à pena de 1 (um) ano, 8 (oito) meses e 5 (cinco) dias de
detenção e o 3º Sgt Douglas Martins Tiburcio à pena de 1 (um) ano, 5 (meses)
meses e 15 (quinze) dias de detenção, como incursos nas sanções dos arts.
222, § 1º, e 241, parágrafo único, c/c os arts. 70, inciso II, alínea “g”, 73 e 79,
segunda parte, todos do CPM, convertida em prisão, ex vi do art. 59 do mesmo
Códex, concedendo-Ihes o benefício do sursis pelo prazo de 2 (dois) anos, nos
termos do art. 84 do CPM e do art. 606 do CPPM, devendo cumprir as
condições previstas no art. 626 do referido diploma legal, excetuada as das
alíneas “a” e “c”, e ser observada a obrigatoriedade de comparecimento
perante o Juízo de Execução, na periodicidade a ser definida, designando-se o
122 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
arroladas pelo MPM e não tem nada a alegar contra elas; que somente
conheceu o ofendido na data de hoje, neste Juízo (...); que armou sua
barraca bem próximo ao local em que os Sgts Rudinei, Rosa, Martins e
Quintela, dentre outros, estavam jogando cartas; que esses militares viram
quando o interrogando se recolheu para dormir na barraca; que eles
continuaram no local até às 22h, quando as luzes foram apagadas; que
não se recorda se o chefe da viatura dirigida pelo Sd Dener era o Cap
Palma ou o Ten Willian; que atribui as informações de que o
interrogando foi visto no acampamento na noite dos fatos dentro de uma
viatura Marruá com o Sgt Martins a um equívoco; que naquela noite
ventava muito e o local estava um verdadeiro breu; que entende que a
única resposta seria que a pessoa confundiu o interrogando (...).
O réu 3º Sgt DOUGLAS MARTINS TIBURCIO, interrogado em
10.11.2015, declarou (fls. 52/54 - V.1):
(...) que os fatos narrados na denúncia são falsos; que na data dos
fatos estava empenhado no exercício de tiro de canhão das VBRs; que a
atividade era realizada na Fazenda Piquiri, em Antônio João; que a
atividade foi encerrada naquele mesmo dia, por volta das 16h30; que via
de regra, como a atividade terminou ainda de dia, era para o pessoal
retornar para o regimento; que o Cap Palma optou por pernoitarem no
local; que, por ser um dos mais antigos dos graduados presente, o
interrogando não foi designado para nenhum serviço após o tiro; que
jantou por volta das 18h; que nem montou barraca, tendo jogado um
colchonete no chão e dormido ali mesmo; que estava praticamente
encostado na barraca do Cap Palma; que o Cap Palma foi dormir por
volta das 19h30 e o interrogando até recomendou que o pessoal falasse
baixo para não incomodá-lo; que ficou jogando cartas com os Sgts
Mendonça, Rosa e Quintela; que ainda tinha muita gente em volta; que
jogaram cartas até o momento em que as luzes se apagaram; que não
tinha relógio, mas acredita que isso ocorreu às 22h; que até depois o Sgt
Quintela tentou iluminar o local com uma lanterna, mas ventava muito e
as cartas não paravam no lugar; que então resolveu ir dormir; que
acordou na hora em que tocou a alvorada; que acredita que era por volta
das 6h da manhã; que, em seguida, tomaram rumo de Ponta Porã; que
não acordou de madrugada nem para ir ao banheiro; que o interrogando
se deslocou para o local de exercício e de volta para Ponta Porã em um
blindado; que não saberia dizer porque houve a informação de que o
interrogando foi visto dentro de uma Marruá, na noite dos fatos,
juntamente com o Sgt Antônio Carlos; que, pelo que se recorda, já na
parte da noite, o pessoal que estava no exercício foi acionado para
retornar ao regimento e se recorda que até um sargento de Bela Vista foi
acionado; que o Ten Cel André Luis informou que um pessoal tinha ido
na noite anterior a Antônio João e tinha feito algazarras naquela
localidade; que não foram dados maiores detalhes; que o Tenente que
realizou a sindicância informou ao interrogando que ele (interrogando)
teria sido apontado como um dos participantes da tal algazarra; que
recebeu essa informação formalmente através do comandante do
128 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
com o carro até a delegacia, que ficava na mesma rua; que os militares
não foram atrás do depoente; que chegando na delegacia comunicou os
fatos e pediu para alguns policiais militares que estavam no local fossem
atrás dos militares do Exército; que os PMs foram atrás mas não acharam
ninguém; que não registrou ocorrência porque conversou com seu pai e
seu pai disse para esquecer; que nem ia dar andamento a isso; que foi o
Major Garcia, do Exército, que foi até a sua residência e pediu desculpas
em nome do Exército; que nunca tinha visto aqueles militares; que os
militares aparentavam ter ingerido bebida alcoólica; que os militares do
Exército abordaram o depoente entre meia noite e uma hora da manhã;
que naquele momento estava andando à toa na noite, como às vezes é
de seu costume; que não sabe dizer se o Maj Garcia faz parte do 11º
RCMec; que os militares estavam em uma viatura tipo Jeep, daqueles
mais novos; que realmente foi xingado de vagabundo; que foi o mesmo
militar que deu o soco que o xingou (...); que nenhum momento os
militares pediram dinheiro ao depoente; que após lido o depoente
confirma o depoimento prestado no IPM a fls. 864/866; que o militar que
urinou atrás da viatura foi um que não foi reconhecido pelo depoente
(...); que não fez exame de corpo de delito porque no dia seguinte seu
pai pediu para que não fosse ao hospital e nem retornasse à Delegacia;
que no dia em que fez o reconhecimento por fotos, apresentaram ao
depoente quatro fotos (...).
O MPM arrolou 4 (quatro) testemunhas (fls. 5/6 - V.1).
O 3º Sgt Délio Arguelho Junior, em 10.11.2015, declarou (fls. 58/61
- V.1):
(...) que também estava participando do exercício de adestramento
dos militares formados especificamente nas VBRs; que o exercício foi
realizado na Fazenda Piquiri e terminou na parte da tarde, sendo que o
briefing do Capitão ocorreu por volta das 17h; que se optou por pernoitar
no local porque seria arriscado com um comboio de viaturas blindadas
estarem à noite na estrada; que os cabos e soldados ficaram encarregados
da segurança do local na parte da noite e alguns sargentos seriam os
rondantes; que os mais antigos ficaram sem incumbência nenhuma; que
todos os sargentos que estavam como chefe de viatura blindada estavam
armados de pistola; que realizou sua ronda próximo das 22h ou 23h, não
se recordando ao certo; que confirma que chegou a área das VBRs às
19h30; que confirma que saiu da área das VBRs por volta das 22h50; que
confirma que estavam na área das VBRs naquele horário, além do
depoente, os acusados, os Sgts Paulo Augusto, Alexander, Quintela, Luis,
Rudinei e outros que não se recorda; que confirma que chegou ao local
uma viatura Marruá Cargo, por volta das 20h15; que deseja esclarecer
que na verdade não viu os acusados dentro da viatura; que por volta
daquele horário, se afastou do local das VBRs para dar um telefonema;
que, quando retornou, havia uma viatura Marruá Cargo estacionada na
área das VBRs; que o estacionamento daquelas viaturas leves era em
outro local; que o pessoal presente, não sabendo especificar quem,
130 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
lá; que quando estava deitado durante a noite não ouviu nenhum
barulho; que enquanto estava deitado antes de dormir ainda conversou
um pouco com o Sgt Martins e com o Sgt Rosa; que durante a noite não
viu ou ouviu nada de diferente; que como dormiu não tem condições de
afirmar que o Sgt Martins permaneceu a noite inteira dormindo ao seu
lado; que tomou conhecimento dos fatos descritos na Denúncia somente
no dia seguinte uma vez que o Cap Palma acionou todos os Sargentos
que estavam no exercício de tiro e relatou o que havia ocorrido; que
ninguém falou nada que era proibida a movimentação de viatura; que
não dormiram dentro de uma barraca porque a que lhes foi destinada já
estava cheia e no local o mato estava alto; que em regra para sair com
uma viatura militar é necessário autorização do mais antigo; que a ração
servida na janta na data dos fatos foi ração quente; que no dia não foi
servida bebida alcóolica; que durante o jogo de cartas não foi consumido
bebida alcóolica; que não sabe se algum militar consumiu bebida
alcóolica; que assim que amanheceu o depoente acordou com o barulho
de conversas e do pessoal ligando a viatura; que quando acordou e estava
arrumando as suas coisas o Sgt Martins e o Sgt Rosa estavam recém
levantando; que depois que acordaram foram tomar café somente no 11º
RCMec; que não ficou sabendo de um motorista ter reclamado que a sua
viatura não estava no local em que havia deixado na noite anterior; que
conheceu o acusado Sgt Martins em 2013, no 11º RCMec, e conheceu o
Sgt Antônio Carlos em 2004, na EsSA, mas só veio a servir com ele no 11º
RCMec, no final de 2012; que não é amigo dos acusados, mas colega de
trabalho; que o relacionamento que tinha com os acusados era o mesmo
que tinha com outros militares; que na noite dos fatos o depoente não
recebeu atribuição de serviço; que não sabe dizer se os acusados
receberam atribuição de serviço; que normalmente tem o hábito de
levantar à noite para ir ao banheiro; que na noite dos fatos era uma noite
escura e não sabe dizer se tinha lua; que ventava muito naquela noite;
que ratifica que viu o Sgt Martins e o Sgt Rosa dormindo ao seu lado; que
dava para ver que era uma pessoa que estava dormindo; que os dois
estavam com o cobertor em cima; que tem certeza que era o Sgt Martins
e o Sgt Rosa, apesar de não ter visto o rosto deles; que de onde estavam
dormindo e onde estavam as viaturas Marruá tinha mais ou menos de 20
a 30 metros de distância; que tinha sentinela de serviço naquela noite,
mas não sabe precisar em que locais elas ficaram; que no campo nunca
se dorme bem e por isso o depoente nestas situações não tem sono
pesado (...); que durante a noite não viu se tinha viatura faltando; que do
local onde dormiu ouviu, já no período da manhã, o barulho de viatura
ligando (...); que o exercício de tiro durou um dia; que não levou celular
para o exercício; que se recorda o número do seu celular à época; que
deixou o celular em casa e não sabe dizer se alguém o utilizou; que sua
esposa não sabe a senha do seu celular; que durante o inquérito foram
retiradas fotos do depoente; que durante o IPM foram tiradas fotos de
frente e de perfil do depoente fardado; que não sabe se essas fotos foram
utilizadas para reconhecimento; que não encaminhou mensagem aos
acusados tratando do assunto dos autos (...).
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 135
105
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 150-151.
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 139
106
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 3. ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 451.
107
Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 133.773/RJ. Relatora Min. CÁRMEN LÚCIA.
Segunda Turma. Julgamento em 28.6.2016.
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 143
108
ASSIS, Jorge Cesar de. Comentários ao Código Penal Militar: comentários, doutrina, jurisprudência
dos tribunais militares e tribunais superiores, 5. ed. Curitiba: Juruá, 2004. p. 469.
146 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
109
NEVES, Cícero Robson Coimbra e STREIFINGER, Marcello. Manual de Direito Penal Militar.
4. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. p. 1.223.
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 147
nenhuma viatura leve próxima às VBRs (...); que viu o Sgt Martins
dentro da viatura próximo ao posto do guarda, que ficava mais próximo
das barracas do que dos estacionamentos das VBRs e das viaturas leves;
que esclarece mais uma vez que quando fez a ronda e viu o Sgt
Martins na viatura não passou pelo estacionamento das viaturas leves
(...). (grifei).
Do mesmo modo, o Sd Gean Marçal Penteado, em 10.11.2015,
afirmou (fls. 62/64 - V.1):
(...) que o depoente foi escalado para tirar serviço de plantão na
área das VBRs; que seu quarto de hora foi da meia noite até uma hora da
manhã; que entrou no quarto de hora às 23h55 (...); que entre meia-
noite e quarenta e meia-noite e quarenta e cinco, percebeu uma
viatura Marruá REC vindo da estrada e entrando na Fazenda; que
quando a viatura se aproximou apagou os faróis e estacionou próxima
à área das VBRs; que pôde ver os Sgts Antonio Carlos e Martins saindo
da viatura; que o Sgt Antonio Carlos se dirigiu ao depoente e pediu
que fosse buscar uma garrafa de gelo que estava na região das
barracas; que o depoente foi até a área das barracas e pegou a garrafa
de gelo, tendo retornado e entregue a mesma ao Sgt Antonio Carlos;
que o Sgt Antonio Carlos e o Sgt Martins aguardaram o depoente
retornar com a garrafa no mesmo local; que cerca de 5 minutos
depois chegou a rendição do depoente; que o Sgts Antonio Carlos e
Martins permaneceram no local até pelo menos o depoente ser
rendido (...); que a Marruá em que os acusados estavam ficou
estacionada próxima as viaturas VBRs, isto até amanhecer; que não se
recorda se os acusados estavam fardados (...); que, quando os acusados
chegaram com a Marruá, era só o Sd Paredes que estava a área das
barracas; que somente se aproximou do Sgt Antonio Carlos para entregar
a garrafa, sendo que se afastou logo depois; que confirma que a viatura
em que os acusados chegaram era uma Marruá REC; que no momento
dos fatos, estava mais ou menos claro, mas ventava muito; que não
conseguiu visualizar bem a terceira pessoa; que só a viu quando desceu
da viatura, mas não conseguiu identificar suas características; que não
chegou a notar quem veio dirigindo a viatura Marruá, pois os faróis
estavam apagados (...). (grifei).
As testemunhas confirmaram que viram os réus chegarem, na área de
acampamento, por volta de 00h45 de 3.10.2014, em uma viatura militar
Marruá idêntica àquela subtraída.
Destaca-se que o Cap Fábio Moraes Coronel Palma, Oficial mais antigo
na área de instrução, ouvido em sede de Sindicância, disse que (fls. 255/256 -
Aps. 2):
(...) Após a realização do tiro (...) reuniu todos os oficiais, sargentos,
cabos e instruendos e emitiu as recomendações de segurança para o final do
exercício, pernoite e alvorada do dia seguinte. Entre as recomendações
148 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
110
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral: parte especial. 2. ed., rev.,
atual., e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2006. p. 209.
150 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
111
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3. ed., atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 179 a 183.
152 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
112
LOBÃO, Célio. Op. cit., p. 180-181.
113
LOBÃO, Célio. Direito Penal Militar. 3. ed., atual. Brasília: Brasília Jurídica, 2006. p. 179-183.
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 153
114
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: Parte Geral. 14. ed. São Paulo:
Saraiva, 2009. p. 24.
115
LIMA, Alberto Jorge C. de Barros. Direito penal constitucional: a imposição dos princípios
constitucionais penais. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 149-150.
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 155
116
BONAVIDES, Paulo. O princípio constitucional da proporcionalidade e a proteção dos direitos
fundamentais. Revista da Faculdade de Direito da UFMG, n. 34, p. 279-281, 1994.
156 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
117
Art. 51. § 1º, I, alíneas “a” e “b”, do RDE (Dec. nº 4.346/2002) O comportamento militar da
praça deve ser classificado em: I - excepcional: a) quando no período de nove anos de efetivo
serviço, mantendo os comportamentos “bom”, ou “ótimo”, não tenha sofrido qualquer punição
disciplinar; b) quando, tendo sido condenada por crime culposo, após transitada em julgado a
sentença, passe dez anos de efetivo serviço sem sofrer qualquer punição disciplinar, mesmo
que lhe tenha sido concedida a reabilitação judicial, em cujo período somente serão
computados os anos em que a praça estiver classificada nos comportamentos “bom” ou
“ótimo”; e c) quando, tendo sido condenada por crime doloso, após transitada em julgado a
sentença, passe doze anos de efetivo serviço sem sofrer qualquer punição disciplinar, mesmo
que lhe tenha sido concedida a reabilitação judicial. Neste período somente serão computados
os anos em que a praça estiver classificada nos comportamentos “bom” ou “ótimo”.
158 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
118
Art. 51. § 1º, III, alíneas “a” e “b”, do RDE (Dec. nº 4.346/2002) O comportamento militar da
praça deve ser classificado em: III - bom: a) quando, no período de dois anos de efetivo
serviço, tenha sido punida com a pena de até duas prisões disciplinares; e b) quando, tendo
sido condenada criminalmente, após transitada em julgado a sentença, houver cumprido os
prazos previstos para a melhoria de comportamento de que trata o § 7º deste artigo, mesmo
que lhe tenha sido concedida a reabilitação judicial.
APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS 159
alínea “g”, 73 e 79, segunda parte, todos do CPM, resulta no patamar de 1 (um)
ano, 5 (cinco) meses e 15 (quinze) dias de detenção.
Em que pese ambos os réus terem concorrido para os mesmos crimes,
o quantum das penas finais aplicadas restaram distintas, em virtude das
circunstâncias judiciais de cada acusado.
Quanto ao 2º Sgt ANTÔNIO CARLOS, a sua antiguidade foi o
diferencial nessa fase, já que tinha o dever de orientar aqueles militares menos
experientes.
13. Conclusão
A desclassificação operada nesta Apelação, a qual substituiu o tipo
penal previsto no art. 150 para o art. 222, § 1º, ambos do CPM,
redimensionou as penas anteriormente aplicadas aos réus.
A eventual instauração de Conselho de Disciplina, em caso de militar
com estabilidade assegurada, ou o licenciamento ex officio, por término do
tempo a que se obrigou a permanecer na Força, para aqueles com menos de
10 (dez) anos de efetivo serviço, concerne ao poder discricionário da
Administração Militar.
Salienta-se que a depuração dos recursos humanos da Força, por meio
de procedimentos administrativos próprios, incentiva as boas condutas, valoriza
a qualidade e enaltece atributos essenciais, os quais sustentam a credibilidade
das nossas Instituições armadas.
Ante o exposto, dou provimento parcial ao Apelo da Defesa, para,
reformando a Sentença questionada e operando a desclassificação do delito
previsto no art. 150 para o art. 222, § 1º, ambos do CPM, condenar o 2º Sgt
ANTONIO CARLOS SIQUEIRA RIBEIRO à pena de 1 (um) ano, 8 (oito) meses
e 5 (cinco) dias de detenção, e o 3º Sgt DOUGLAS MARTINS TIBURCIO à
pena de 1 (um) ano, 5 (meses) meses e 15 (quinze) dias de detenção, como
incursos nas sanções dos arts. 222, § 1º, e 241, parágrafo único, c/c os arts. 70,
inciso II, alínea “g”, 73 e 79, segunda parte, todos do CPM, convertida em
prisão, ex vi do art. 59 do mesmo Códex, concedendo-lhes o benefício do
sursis pelo prazo de 2 (dois) anos, nos termos do art. 84 do CPM e do art. 606
do CPPM, devendo cumprir as condições previstas no art. 626 do referido
diploma legal, excetuada as das alíneas “a” e “c”, e ser observada a
obrigatoriedade de comparecimento perante o Juízo de Execução, na
periodicidade a ser definida, designando-se o Juiz-Auditor da Auditoria da
9ª CJM para presidir a audiência admonitória, ex vi do art. 611 do CPPM. E
torno sem efeito, para ambos os réus, a pena acessória de exclusão das Forças
Armadas, ex vi dos arts. 98, inciso IV, e 102, ambos do CPM.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do
Superior Tribunal Militar, em sessão de julgamento, sob a presidência do
168 APELAÇÃO Nº 44-28.2015.7.09.0009-MS
__________
APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
Relator: Min. Dr. José Barroso Filho.
Revisor e Relator para o Acórdão: Min. Alte Esq Carlos Augusto de Sousa.
Apelante: Thiago dos Santos Ordones.
Apelado: Ministério Público Militar.
Advogado: Defensoria Pública da União.
EMENTA
APELAÇÃO. DEFESA. PORTE DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE EM LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO
MILITAR. ART. 290, CAPUT, DO CPM. PRELIMINARES DA
DEFESA. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO
PARA JULGAR EX-MILITAR. REJEIÇÃO. DECISÃO UNÂNIME.
INCOMPETÊNCIA DO CONSELHO DE JUSTIÇA PARA JULGAR
EX-MILITAR. REJEIÇÃO. DECISÃO UNÂNIME. NULIDADE DO
JULGAMENTO POR VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO LEGAL.
ACOLHIMENTO. DECISÃO POR MAIORIA.
1. A Justiça Castrense, em tempo de paz, é competente para
processar e julgar o feito que trata de conduta tipificada pelo
Código Penal Militar, quando verificadas as condições constantes
do artigo 9º do mesmo Diploma Legal. Ademais, no caso em
concreto, ostentava o Acusado, ao tempo do crime, a condição de
militar, desenvolvendo-se os fatos em área sob a Administração
Militar, despicienda, portanto, a perda superveniente do vínculo
com as Forças Armadas. Preliminar rejeitada. Decisão Unânime.
2. O Conselho de Justiça é competente para realizar
julgamentos em 1ª instância na Justiça Militar da União. Inexiste,
até o momento, a necessária previsão legal para que,
monocraticamente, assim procedam os Juízes-Auditores. Preliminar
rejeitada. Decisão unânime.
3. É inservível ao Feito declaração em desfavor do Acusado,
quando prestadas monocraticamente por membro de órgão
jurisdicional, após o fim de sua jurisdição, sem o conhecimento da
Defesa e fora das fronteiras dos autos.
4. Desautorizada sua fala, correta ou incorretamente, não
deve o membro do Ministério Público Militar entrar em contenda
com o magistrado, nem ignorar suas determinações; pelo
contrário, deve valer-se dos meios recursais adequados para
impugnar o ato que, ao seu entender, prejudicou seus interesses.
5. É nula a Sessão de julgamento em que o membro do
Ministério Público Militar, após o início da colheita de votos,
impugna os argumentos absolutórios recém-proferidos pelo
magistrado, sobretudo quando o contraditório não for reestabelecido
170 APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente o Dr. Edmar Jorge de Almeida, representante do Ministério
Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade, rejeitou a
preliminar de incompetência da JMU para julgar réu civil, suscitada pela
Defensoria Pública da União; por unanimidade, rejeitou a segunda preliminar
defensiva, de incompetência do Conselho Permanente de Justiça, para que o
Réu fosse julgado monocraticamente pelo Juiz-Auditor. Em seguida, pediu vista
o Ministro Péricles Aurélio Lima de Queiroz, após os votos do Relator Ministro
José Barroso Filho, que rejeitava a terceira preliminar defensiva, de nulidade do
julgamento, e do Revisor Ministro Carlos Augusto de Sousa, que acolhia a
preliminar defensiva.
Os Ministros William de Oliveira Barros, Alvaro Luiz Pinto, Artur Vidigal
de Oliveira, Cleonilson Nicácio Silva, Marcus Vinicius Oliveira dos Santos, Luis
Carlos Gomes Mattos, Lúcio Mário de Barros Góes, Odilson Sampaio Benzi,
Francisco Joseli Parente Camelo e Marco Antônio de Farias aguardam o retorno
de vista. Ausência justificada da Ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira
Rocha. Na forma regimental, usaram da palavra o Defensor Público Federal de
Categoria Especial, Dr. Afonso Carlos Roberto do Prado, e o Subprocurador-
Geral da Justiça Militar, Dr. Edmar Jorge de Almeida. A Defesa será
previamente intimada do retorno de vista para a sequência do julgamento.
(Extrato da Ata da Sessão de Julgamento, 22/3/2018).
Góes, Odilson Sampaio Benzi, Francisco Joseli Parente Camelo e Marco Antônio
de Farias aguardam o retorno de vista. Ausência justificada da Ministra Maria
Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha. O Ministro Cleonilson Nicácio Silva não
participou do julgamento. (Extrato da Ata da Sessão de Julgamento, 15/5/2018).
caput, por força do artigo 9º, inciso I, ambos do Código Penal Militar.
(Grifos do autor).
Encontram-se acostados aos autos os seguintes documentos: Laudo
definitivo de Perícia Criminal Federal (fls. 14/18 do Volume 1); Termos de
Apreensão (fls. 6/7 do Apenso 1) e Laudo preliminar de Perícia Criminal (fls.
10/14 do Apenso 1).
Revestida das formalidades legais, a Denúncia foi recebida em 17 de
outubro de 2016 (fl. 10), tendo sido o Réu citado (fls. 25/25v).
Foram ouvidas as testemunhas arroladas pelo MPM: Fernando
Rodrigues da Silva Alves (fls. 41/43); Lucas Miranda da Silva (fls. 44/46) e Bruno
dos Santos Pinto (fls. 47/49v).
Após, o Réu foi qualificado, interrogado e fez uso de seu direito de
permanecer em silêncio frente às perguntas da Dra. Juíza-Auditora (fls. 59/60).
Em alegações escritas, a Representante do MPM requereu a
condenação do Réu, nos termos propostos na Denúncia (fls. 67/72).
Por sua vez, o Representante da Defensoria Pública da União (DPU)
pleiteou a absolvição do Réu, com fulcro no art. 439, alíneas “b”, “c” e “e”, do
CPPM, para que fossem aplicados o princípio do in dubio pro reo e o princípio
da insignificância.
Em caso de não acolhimento, requereu a aplicação da pena no mínimo
legal ou a concessão do sursis (fls. 76/82v).
Em 25 de abril de 2017, o Conselho Permanente de Justiça para o
Exército da 1ª Auditoria da 11ª CJM, por maioria de votos (3x2), julgou
procedente a Denúncia, para condenar o ex-Sd Ex Thiago dos Santos Ordones
à pena de 1 (um) ano de reclusão, como incurso no art. 290, caput, do CPM,
com o benefício do sursis pelo prazo de 2 (dois) anos, o direito de apelar em
liberdade e o regime prisional inicialmente aberto (fls. 97/101).
A Sentença foi lida e publicada em 3 de maio de 2017 (fls. 102/105).
Intimado em 19 de maio de 2017 (fls. 118/118v), o Representante da
Defensoria Pública da União interpôs o presente recurso no dia 23
subsequente (fl. 120).
Nas razões do Recurso, preliminarmente, suscita nulidade do julgamento,
alegando violação ao devido processo legal, por vício de procedimento na colheita
dos votos dos Juízes Militares (fls. 125/125v), in verbis:
A r. Sentença deve ser anulada, pois a conduta da Excelentíssima
Senhora Representante do Ministério Público Militar durante o julgamento,
ao manifestar-se em momento inoportuno, bem como sem direito de
palavra, após o voto do Nobre Juiz-Auditor e antes da colheita dos votos dos
Juízes Militares, para contraditar os fundamentos que ele havia proferido, foi
174 APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
contrária aos preceitos do código de processo penal militar, que não autoriza
impugnação por parte da Promotoria ao voto do Juiz-Auditor, pelo que
houve influência do Parquet antes da colheita dos votos dos Juízes Militares.
No mérito, aduz que não há provas robustas para a condenação, tendo
em vista que nada foi encontrado nos pertences do Réu, havendo dúvidas
quanto à autoria delitiva.
Pugna, também, pela aplicação do princípio da insignificância, ante a
quantidade ínfima de entorpecente – 0,70g (setenta centigramas) de maconha.
Por fim, preliminarmente, pede o reconhecimento da nulidade do
julgamento e, no mérito, a absolvição do Réu por não constituir o fato infração
penal, bem como não existir prova suficiente para a condenação, nos termos
do art. 439, alínea “b” ou “e”, do Código de Processo Penal Militar (fls.
124/132).
Em contrarrazões, a Representante do MPM pugna pela rejeição da
preliminar arguida pela DPU e, no mérito, pelo desprovimento do recurso,
para manter a condenação do ora Apelante (fls. 139/148).
A Procuradoria-Geral da Justiça Militar, em parecer da lavra do Dr.
Alexandre Concesi, Subprocurador-Geral da Justiça Militar, opinou pelo
desprovimento do Apelo (fls. 159/173).
É o Relatório.
VOTO
O presente recurso é tempestivo e atende aos demais requisitos de
admissibilidade, logo deve ser conhecido.
Contudo, antes de adentrar propriamente ao meritum causae da
presente Apelação, faz-se premente analisar as preliminares suscitadas pela
DPU.
PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA DA JMU PARA JULGAMENTO DE
EX-MILITAR PELO CRIME DO ART. 290 DO CPM
Pugna a DPU, em manifestação judicial (evento 22), pelo
reconhecimento da incompetência da JMU para julgar civil, porquanto, no
curso da ação penal, o Acusado deixou de ostentar a condição de militar.
Contudo, não assiste razão à Defesa.
Salienta-se que os fatos ocorreram no interior de uma Organização
Militar, quando o Acusado ostentava a condição de militar.
Conforme mandamento contido no art. 124 da Constituição Federal de
1988, é de competência da Justiça Militar da União o processamento e o
julgamento dos crimes militares definidos no Código Penal Militar.
APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF 175
após o voto do Juiz-Auditor, no qual ele absolveu pelo artigo 439, alínea
“c”, do CPPM, ele perguntou para o Juiz Militar mais moderno qual era o
voto dele, e que antes do Juiz-Militar pronunciar o voto, eu me dirigi ao
Presidente 119 do Conselho, dizendo que tinha uma questão de ordem, e
que ele, nesse momento, não permitiu que o Presidente do Conselho
ouvisse a questão de ordem e começou a falar em tom alterado de que
ela não poderia falar naquela hora, usurpando a função do Presidente do
Conselho. Disse que eu estava tumultuando o julgamento, aí eu me dirigi
ao Conselho, afirmando que eu poderia levantar aquela questão, por
força da Lei Complementar nº 75/93, que me permitia que eu intervisse
sempre que eu julgasse necessário, e que a questão de ordem era
decidida pelo Conselho de acordo com a Lei de Organização Judiciária
Militar. Então ele começou a alterar mais a voz e eu disse que da maneira
que ele tinha pronunciado o voto dele, afirmando que era uma questão
que tinha que ser absolvição para cumprir a lei, que o MPM não tinha
prova de nada e que a confissão do réu não importava. Então eu disse
que, pela fala dele, ele estava acusando o MPM de pedir uma
condenação sem provas e que, em última análise, isso seria me acusar de
abuso de autoridade. Aí o Presidente interferiu, solicitando que fosse
consignada a minha solicitação depois, mas que continuasse a colheita
dos votos. Ai depois de terminar todos os votos, o Dr. Juiz-Auditor disse
que o STM iria anular tudo porque eu teria pressionado o Conselho.
Em suas Contrarrazões de Apelação (fls. 140/150), o Parquet pugnou
pelo não reconhecimento da nulidade aventada pela Defensoria Pública da
União, aduzindo, para tanto, que, durante a Sessão de Julgamento, em
momento algum, “...houve impugnação do voto do juiz auditor substituto nem
questionamento dos seus fundamentos...”. O Parquet esclarece que, em
verdade, dirigiu-se ao Presidente do Conselho de Justiça para apresentar
questão de ordem. Nas suas palavras:
Em vez de relatar o processo, apontando os fundamentos
apresentados pela defesa e pelo MPM e as provas produzidas pelas partes,
e depois, serenamente, proferir seu voto, o Juiz-Auditor Substituto passou a
desqualificar a atuação do Parquet, asseverando que não tínhamos provado
nada e que, para cumprir a lei, a absolvição se impunha. Ao colocar como
verdade absoluta o ponto de vista dele e asseverar que o MPM não
apresentou nenhuma prova, por via transversa, afirmou que o MPM pediu
condenação sem provas. Ou seja, pela ótica do Juiz-Auditor Substituto
teríamos atuado com abuso de poder. Isso sim, é uma tentativa de
influenciar os juízes militares, mas que não surtiu efeito. (fl. 143).
Soma-se aos argumentos ministeriais uma declaração prestada pelo
Presidente do Conselho Permanente de Justiça para o Exército, que presenciou
os fatos em questão e informou que (fl. 142):
119
De acordo com correção aprovada na 31ª Sessão do Conselho permanente de Justiça para o
Exército, foi acrescentada a palavra “Presidente” antes do vernáculo “Conselho”.
APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF 179
réu não importava. Então eu disse que, pela fala dele, ele estava
acusando o MPM de pedir uma condenação sem provas e que, em última
análise, isso seria me acusar de abuso de autoridade...
A manifestação do Ministério Público Militar, portanto, atacou
diretamente o principal fundamento jurídico apresentado pelo Juiz-Auditor em
seu voto. Por meio dela, a Acusação informou aos demais membros do
Conselho que não concordava com as afirmações de “...que tinha que ser
absolvição para cumprir lei, que o MPM não tinha prova de nada e que a
confissão do réu não importava”.
Equivocou-se o Parquet ao concluir que estaria o Magistrado “(...)
acusando o MPM de pedir uma condenação sem provas e que, em última
análise, isso seria me acusar de abuso de autoridade”.
É natural, no exercício de seu mister, que o magistrado avalie a
acusação formulada pelo Parquet, podendo, eventualmente, entender que não
há nos autos prova qualquer que conduza à condenação do Réu. Isso, de
forma alguma, pode ser confundido com uma acusação de ter agido o MPM
com abuso de autoridade.
A garantia do duplo grau de jurisdição, consagrada na Constituição
Federal, faculta ao Ministério Público Militar a interposição de recurso contra
eventual sentença absolutória que tenha se pautado na ausência de provas,
quando, em seu entendimento, elas fartamente existirem nos autos.
Por outro lado, se o MPM entender que um magistrado agiu com
excesso e sem a urbanidade inerente a suas atribuições, esse debate não deve ser
estabelecido no âmbito do Processo, uma vez que nele se apura exclusivamente
a responsabilidade criminal do Acusado. Conforme já mencionado, acaso a
decisão do Conselho não corresponda ao senso de justiça do membro do
Parquet, deve ele se dirigir a esta Corte, por meio do recurso cabível.
Ao constatar que o MPM interrompeu o julgamento já iniciado pelo
Conselho Permanente de Justiça para o Exército, mesmo após ter lhe sido
negada a palavra para se manifestar contrariamente aos fundamentos do voto
absolutório recém-proferido pelo Juiz-Auditor Substituto, premente se faz
analisar se restou algum prejuízo efetivo ao Acusado que justifique a nulidade
de seu julgamento.
Conforme determina o Código de Processo Penal Militar, os votos dos
Juízes Militares são colhidos após o do Juiz-Auditor, seguindo ordem inversa à
antiguidade dos militares que compõem o Conselho 120.
120
Art. 435. O presidente do Conselho de Justiça convidará os juízes a se pronunciarem sobre as
questões preliminares e o mérito da causa, votando em primeiro lugar o auditor; depois, os
juízes militares, por ordem inversa de hierarquia, e finalmente o presidente.
182 APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
devido processo legal, haja vista que não houve interferência por parte da
Representante do MPM na colheita dos votos, conforme se observa das
palavras do Presidente do órgão julgador colegiado, supratranscritas.
Ante o exposto, rejeitei a preliminar de nulidade do julgamento,
suscitada pela DPU.
Superior Tribunal Militar, 1º de agosto de 2018.
Dr. José Barroso Filho
Ministro-Relator
DECLARAÇÃO DE VOTO DO MINISTRO
Dr. ARTUR VIDIGAL DE OLIVEIRA
Apelação Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
Votei, convergindo com o entendimento da douta maioria, pelo
acolhimento da preliminar suscitada pela Defensoria Pública da União, para
determinar a nulidade da 25ª Sessão de Julgamento do Conselho Permanente
de Justiça para o Exército da 1ª Auditoria da 11ª CJM, garantindo ao Acusado
um novo julgamento, com a absoluta observância do Devido Processo Legal.
Consoante se observa dos autos, em 25 de abril de 2017, em sua
25ª Sessão, o Conselho Permanente de Justiça para o Exército da 1ª Auditoria
da 11ª CJM, por maioria de votos (3x2), condenou o ex-Soldado do Exército
THIAGO DOS SANTOS ORDONES à pena de 1 (um) ano de reclusão, como
incurso no art. 290, caput, do CPM, com o benefício do sursis pelo prazo
de 2 (dois) anos, o direito de apelar em liberdade e o regime prisional
inicialmente aberto (fls. 95/95v - 9-VOLUME).
Em seu Recurso de Apelação, dentre outras insurgências, a Defesa
pleiteou o reconhecimento da nulidade do julgamento “em razão da indevida
manifestação da Ilma. Representante do Parquet Militar, que se valeu de
artifício inidôneo de interrupção da declaração de votos, com o fito de
prejudicar a Defesa do réu, cujo julgamento porventura poderia ter sido pela
respectiva absolvição” (fl. 126v - 12-RAZAPELA).
Conforme a Ata da Sessão de Julgamento de 22 de março de 2018, na
qual se iniciou o julgamento do Apelo, os Ministros desta Corte, por
unanimidade de votos, rejeitaram duas preliminares suscitadas pela Defesa (de
incompetência da JMU e de incompetência do Conselho Permanente de
Justiça). Quanto à preliminar de nulidade ora em tela, o Ministro Dr. JOSÉ
BARROSO FILHO (Relator) votou pela sua rejeição e o Ministro Alte Esq
CARLOS AUGUSTO DE SOUSA (Revisor) pelo seu acolhimento. O Ministro Dr.
PÉRICLES AURÉLIO LIMA DE QUEIROZ pediu vista dos autos.
Na Sessão de 15 de maio de 2018, dando continuidade ao julgamento,
houve o retorno de vista do Ministro Dr. PÉRICLES AURÉLIO LIMA DE
186 APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
(...) ela não retrata o que ocorreu. Que após o voto do Juiz-
Auditor, no qual ele absolveu pela alínea 439, alínea “c”, do CPPM,
ele perguntou para o Juiz Militar mais moderno qual era o voto dele, e
que antes do Juiz-Militar pronunciar o voto, eu me dirigi ao Conselho,
dizendo que tinha uma questão de ordem, e que ele, nesse momento,
não permitiu que o Presidente do Conselho ouvisse a questão de
ordem e começou a falar em tom alterado de que ela não poderia
falar naquela hora, usurpando a função do Presidente do Conselho.
Disse que eu estava tumultuando o julgamento, aí eu me dirigi ao
Conselho, afirmando que eu poderia levantar aquela questão, por
força da Lei Complementar nº 75/93, que me permitia que eu
intervisse sempre que eu julgasse necessário, e que a questão de
ordem era decidida pelo Conselho de acordo com a Lei de
Organização Judiciária Militar. Então ele começou a alterar mais a voz
e eu disse que da maneira que ele tinha pronunciado o voto dele,
afirmando que era uma questão que tinha que ser absolvição para
cumprir a lei, que o MPM não tinha prova de nada e que a confissão
do réu não importava. Então eu disse que, pela fala dele, ele estava
acusando o MPM de pedir uma condenação sem provas e que, em
última análise, isso seria me acusar de abuso de autoridade. Aí o
Presidente interferiu, solicitando que fosse consignada a minha
solicitação depois, mas que continuasse a colheita dos votos. Aí depois
de terminar todos os votos, o Dr. Juiz-Auditor disse que o STM iria
anular tudo porque eu teria pressionado o Conselho. (...).
Diante da impugnação, a Juíza-Auditora – Dra. SAFIRA MARIA DE
FIGUEREDO – determinou que os autos fossem colocados em pauta na Sessão
seguinte daquele Conselho Permanente de Justiça para o Exército, que seria
constituído pelos mesmos Juízes Militares, sem, contudo, a presença do Juiz-
Auditor Substituto Dr. CRISTIANO ALENCAR PAIM (fls. 102/105 - 11-VOLUME).
A Ata foi aprovada sem as alterações requeridas pelo MPM.
Nas Contrarrazões à Apelação, a Procuradora consignou o seguinte
(fl. 141 - 14-CONTRAZ):
(...) Ressalte-se que quem se portou indevidamente foi o Juiz-
Auditor substituto. Em vez de relatar o processo, apontando os
fundamentos apresentados pela defesa e pelo MPM e as provas
produzidas pelas partes, e depois, serenamente, proferir seu voto, o Juiz-
Auditor Substituto passou a desqualificar a atuação do Parquet,
asseverando que não tínhamos provado nada e que, para cumprir a lei, a
absolvição se impunha. Ao colocar como verdade absoluta o ponto de
vista dele e asseverar que o MPM não apresentou nenhuma prova, por
via transversa, afirmou que o MPM pediu condenação sem provas. Ou
seja, pela ótica do Juiz-Auditor Substituto teríamos atuado com abuso de
poder. Isso sim, é uma tentativa de influenciar os juízes militares, mas que
não surtiu efeito. (...) (com grifo no original).
188 APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
julgamento, bem como para replicar acusação ou censura que lhe forem
feitas.
Igualmente preceitua a Lei Complementar 75/1993, que dispõe sobre a
organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União:
Art. 20. Os órgãos do Ministério Público da União terão presença e
palavra asseguradas em todas as sessões dos colegiados em que oficiem.
Art. 21. As garantias e prerrogativas dos membros do Ministério
Público da União são inerentes ao exercício de suas funções e
irrenunciáveis.
Parágrafo único. As garantias e prerrogativas previstas nesta Lei
Complementar não excluem as que sejam estabelecidas em outras leis.
Extrai-se do ordenamento pátrio a clara intenção do legislador em
manter a igualdade entre os atores processuais. Entretanto, pelo que relatou a
nobre Procuradora de Justiça, inclusive solicitando a retificação da Ata de
Julgamento, o Juiz-Auditor Substituto não permitiu que ela se manifestasse, o
que gerou uma contenda desnecessária entre eles.
Observa-se que, inicialmente, foi registrado na Ata do dia 25.4.2017
que: “a Exma. Sra. Dra. Procuradora de Justiça Militar, sem pedir permissão e
sem ter direito a palavra, passou a impugnar o voto proferido, impedindo que
fosse colhido o voto do Juiz-Militar mais moderno.” Ato contínuo, o Dr. Juiz-
Auditor Substituto determinou que fosse oficiada a Corregedoria do Ministério
Público Militar a respeito do comportamento da representante do Parquet.
Contudo, a Dra. Cláudia Márcia R. M. Luz requereu a impugnação da
referida Ata e sustentou que ela não retratava o que ocorreu. Assim se
manifestou, conforme a Ata da 28ª Sessão do Conselho Permanente de Justiça
para o Exército:
Que após o voto do Juiz-Auditor, no qual ele absolveu pelo artigo
439, alínea “c”, do CPPM, ele perguntou para o Juiz Militar mais
moderno qual era o voto dele, e que antes do Juiz-Militar pronunciar o
voto, eu me dirigi ao Conselho, dizendo que tinha uma questão de
ordem, e que ele, nesse momento, não permitiu que o Presidente do
Conselho ouvisse a questão de ordem e começou a falar em tom
alterado de que ela não poderia falar naquela hora, usurpando a
função do Presidente do Conselho. Disse que eu estava tumultuando o
julgamento, aí eu me dirigi ao Conselho, afirmando que eu poderia
levantar aquela questão, por força da Lei Complementar nº 75/93, que
me permitia que eu interviesse sempre que eu julgasse necessário, e
que a questão de ordem era decidida pelo Conselho de acordo com a Lei
de Organização Judiciária Militar. Então ele começou a alterar mais a voz
e eu disse que da maneira que ele tinha pronunciado o voto dele,
afirmando que era uma questão que tinha que ser absolvição para
cumprir a lei, que o MPM não tinha prova de nada e que a confissão do
APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF 195
réu não importava. Então eu disse que, pela fala dele, ele estava
acusando o MPM de pedir uma condenação sem provas e que, em última
análise, isso seria me acusar de abuso de autoridade. Aí o Presidente
interferiu, solicitando que fosse consignada a minha solicitação depois,
mas que continuasse a colheita dos votos. [...].
A MM. Juíza-Auditora Dra. Safira Maria de Figueredo determinou que
os autos fossem colocados em pauta na Sessão do dia seguinte, quando estaria
presente o mesmo Conselho de Julgamento do dia 25.4.2017. O referido
Colegiado aprovou a alteração da Ata na Sessão do dia 8.5.2017.
Frise-se, por oportuno, que o art. 28, inciso V, da Lei 8.457, de
4.9.1992, impõe ao Conselho de Justiça a competência para “decidir as
questões de direito ou de fato suscitadas durante instrução criminal ou
julgamento”.
Importante salientar a declaração do Presidente do Órgão Colegiado no
sentido de que a questão de ordem não chegou a ser levantada. Assim se
manifestou:
Em nenhum momento, houve intenção do MPM de impugnar o
voto proferido pelo Juiz-Auditor ou de impedir o voto do Juiz-Militar mais
moderno. Simplesmente, o Juiz-Auditor não permitiu que o MPM
apresentasse uma questão de ordem.
Conforme se manifestou a Procuradoria-Geral de Justiça Militar, em
Parecer da lavra do Subprocurador-Geral da Justiça Militar Dr. Alexandre Concesi:
[...] o ocorrido não configura nulidade, diante da notória ausência
de prejuízo à Defesa, e tampouco representa violação ao devido processo
legal, haja vista que não houve interferência por parte da Representante
do MPM na colheita dos votos, conforme se observa das palavras do
Presidente do órgão julgador colegiado, supratranscritas.
Ademais, o fato foi levado ao conhecimento do Excelentíssimo
Senhor Corregedor do MPM pelo juízo a quo (fl. 106) para eventual
apuração na esfera disciplinar adequada.
Diante disso, não procedem os argumentos defensivos suscitados
em preliminar.
Por conseguinte, não há falar em nulidade da Sessão de Julgamento.
Data vênia, compreendo que a intervenção sumária é direito das Partes em
qualquer fase do processo criminal. Pedir e intervir são comportamentos de
essência das Partes no processo. Deferir o pedido e aceitar a intervenção é
medida de condução do juiz. E, no caso dos autos, o MP sequer obteve êxito
na sua vontade de ser ouvido, circunstância que não pode ser considerada ato
tumultuário. A questão de ordem não foi sequer pronunciada diante da
negativa do Juiz-Auditor Substituto em ouvir a representante do Ministério
Público. No processo penal, o Ministério Público atua em dualidade: dominus
196 APELAÇÃO Nº 0000101-40.2016.7.11.0111-DF
litis e custos legis, senhor da ação penal (Parte) e Fiscal da Lei. No episódio ora
ventilado, a nosso sentir, estava a titular ministerial duplamente autorizada a
manifestar.
Importante frisar que a jurisprudência da Suprema Corte não respalda a
declaração de nulidade por presunção. Portanto, o prejuízo deve ser
devidamente demonstrado pela parte requerente. Isso não houve.
Cito precedentes do Supremo Tribunal Federal:
[...]. O princípio do pas de nullité sans grief exige a demonstração
do prejuízo à parte impetrante que suscita o vício de procedimento, pois
não se pode decretar nulidade processual por mera presunção.
Precedentes [...]. (RMS 26332 AgR, Relator Min. Edson Fachin, DJe
19.12.2017).
_________
APELAÇÃO Nº 0000193-18.2016.7.01.0201
Relator: Min. Alte Esq Alvaro Luiz Pinto.
Revisora: Min. Dra. Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha.
Apelante: Luís Carlos da Silva.
Apelado: Ministério Público Militar.
Advogado: Dr. Washington Luís da Conceição Carvalho.
EMENTA
APELAÇÃO. PRELIMINAR, ARGUIDA PELA DPU, DE
APLICAÇÃO DA LEI Nº 9.099/95. OBSERVÂNCIA DO ART. 79, § 3º,
DO REGIMENTO INTERNO DO STM. SÚMULA 9/96 DESTA
CORTE. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 9.099/95 À JUSTIÇA
MILITAR DA UNIÃO. EXPRESSÕES DEPRECIATIVAS DIRIGIDAS
ÀS SENTINELAS. CRIME DE DESACATO A MILITAR.
ADEQUAÇÃO AO TIPO LEGAL PREVISTO NO ART. 299, CAPUT,
DO CPM. EXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA.
Em que pese a aplicação da Lei nº 9.099/95 ter sido arguida
em preliminar, por se confundir a matéria com o próprio mérito, à
luz do art. 79, § 3º, do Regimento Interno desta Corte, deve ser
tratada quando da análise do mérito.
A Lei nº 9.099/95 não se aplica à Justiça Militar da União,
conforme já sumulado por esta Corte (Súmula nº 9/96).
Por ser militar da reserva remunerada e exercer suas
atividades laborais em local sujeito à administração castrense,
recai, sobre ele, a jurisdição penal militar.
Ficou comprovado que o militar da reserva desacatou as
sentinelas que se encontravam no exercício de função de natureza
militar. Cometeu, assim, o crime capitulado no art. 299, caput, do
CPM.
O Apelante agiu com dolo, já que ambicionou o resultado,
e atuou com vontade livre e consciente para alcançá-lo.
Militar com larga vivência de caserna e do qual se exigia
conduta diversa. Apelo não provido. Decisão por unanimidade.
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro Lúcio Mário de
Barros Góes, Vice-Presidente, no exercício da Presidência, presente o Dr. Cezar
Luis Rangel Coutinho, representante do Ministério Público, o Plenário do
Superior Tribunal Militar, por unanimidade, negou provimento ao Apelo da
Defesa, mantendo inalterada a Sentença hostilizada, por seus próprios e jurídicos
fundamentos, nos termos do voto do Relator Ministro Alvaro Luiz Pinto.
APELAÇÃO Nº 0000193-18.2016.7.01.0201 199
(...)
No segundo momento, quando o acusado saiu da identificação
secundária e foi interpelado pela sentinela, restou comprovado que ele,
efetivamente, com intenção de menosprezar a autoridade do militar que o
abordou, proferiu as expressões depreciativas. O fato de, por outras vezes, ter
percorrido o caminho de forma indevida não o autorizava a agir de maneira
desrespeitosa quando fosse orientado a fazer o que é correto. Sua justificativa
para a alteração não restou corroborada pelo restante quadro probatório.
Em relação ao segundo desacato, restou comprovada a autoria do
delito.
Já no terceiro momento, quando o acusado retornou ao portão
principal, as declarações do ofendido, que era sentinela, no sentido de
que o acusado não apresentou o crachá quando isso foi determinado e
que adentrou sem a devida permissão foi corroborada pelo que foi dito
pelo próprio acusado em Juízo, já que esse afirmou que questionou a
necessidade de apresentação da identificação e que, efetivamente, entrou
na unidade sem apresentá-la. Agindo assim, deixou de cumprir o que foi
determinado pela sentinela.
Sendo assim, em relação à oposição a ordem de sentinela, o delito
restou comprovado. Mas, conforme já dito, toda a situação analisada
decorreu dentro de um mesmo contexto fático, o da necessidade de
identificação secundária do acusado e, conforme se percebe do texto do
Art. 164 do CPM, que trata do crime de oposição a ordem de sentinela,
este somente ocorre se o fato não constitui crime mais grave.
Como o crime de desacato é mais grave do que o crime de oposição a
ordem de sentinela (já que possui pena máxima maior que este), faz-se
imperioso concluir que, na situação analisada, o primeiro delito, que é maior,
acabou por absorver o segundo delito, que é o menor. (Grifo no original).
Obviamente, não existe qualquer controvérsia no tocante aos
xingamentos proferidos pelo Apelante, bem como a sua entrada na Unidade
Militar conduzindo veículo, sem a devida autorização, tampouco restam
dúvidas acerca da verdadeira intenção de seus atos, conforme comprovam as
fartas provas contidas nos autos.
Os Militares ofendidos foram ouvidos em juízo, oportunidade em que
esclareceram a dinâmica do ocorrido, in verbis:
GUILHERME LUIZ MARCOVISTZ (S2)
(...) que no dia dos fatos o depoente exercia a função de parabala;
mas no momento estava em meu horário de descanso, auxiliando os
demais militares; (...) que quando foi abordado o acusado não aceitou a
recomendação e começou a proferir palavrões contra o depoente,
“caralho”, “vai tomar no cu”, que após proferir os palavrões o acusado,
aborrecido, deu ré no carro e se dirigiu ao local indicado; (...).
APELAÇÃO Nº 0000193-18.2016.7.01.0201 207
121
ASSIS, Jorge César de. Comentários ao Código Penal Militar. 7. ed. Editora Juruá.
122
ROSSETO, Enio Luiz. Código Penal Militar Comentado. 1. ed. Editora Revista dos Tribunais.
208 APELAÇÃO Nº 0000193-18.2016.7.01.0201
123
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. volume IV. 7. ed. Niterói, RJ: Impetus,
2011. p. 500.
APELAÇÃO Nº 0000193-18.2016.7.01.0201 215
incs. XXXIX e LV, e 142, todos da CF; e os arts. 1º, itens 1 e 2; 5º, item 1; 8º,
item 1; art. 11, itens 1, 2 e 3; 17, item 1; 21, itens 1, 2 e 3; 24; 25, itens 1 e 2;
e 26, todos do Pacto de São José da Costa Rica.
O pedido foi feito de forma genérica, não estando fundamentado de
modo adequado em nenhuma parte do arrazoado, em questões específicas e
fáticas, ensejadoras das supostas violações à Norma Constitucional e ao Tratado
Internacional, bem como à legislação infraconstitucional.
Cabe ressaltar o entendimento da Corte Suprema quanto aos pedidos
desse jaez, que devem ser fundamentados em questões concretas,
ensejadoras da infringência à Carta Magna, não bastando sua menção
genérica. Confira-se:
AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO.
CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. ALEGADA
INCONSTITUCIONALIDADE DA MP 2.170 -36/2001. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. SÚMULAS 282 E 356 DO STF. INCIDÊNCIA.
AGRAVO IMPROVIDO. I - O agravante não indica qual dispositivo
constitucional teria sido violado pelo art. 5º, da MP 2.170-36/2001. Em
outras palavras: alega a inconstitucionalidade da citada medida provisória,
mas não esclarece como se deu tal violação, fazendo-a de forma
genérica, de modo a não suprir o necessário prequestionamento. Incide,
na espécie, as Súmulas 282 e 356 do STF. Precedente. II Ao Supremo
Tribunal Federal incumbe conhecer apenas das normas insertas na
Constituição Republicana e, ainda assim, somente daquelas que passaram
pelo crivo da Corte de origem. Precedente. III Agravo regimental
improvido. (AI: 816991 MS, Min. Rel. Ricardo Lewandowski, Data de
Julgamento: 1º/2/2011, Primeira Turma, DJe 25/2/2011).
_________
APELAÇÃO Nº 7000177-22.2018.7.00.0000
Relator: Min. Gen Ex Odilson Sampaio Benzi.
Revisor: Min. Dr. Artur Vidigal de Oliveira.
Apelante: Amadeu dos Santos Marreiros, ex-Sd Ex.
Apelado: Ministério Público Militar.
Advogado: Defensoria Pública da União.
EMENTA
APELAÇÃO. DEFESA. FURTO CONSUMADO E FURTO
TENTADO. CRIME CONTINUADO. PRELIMINARES DE NULIDADES.
REJEIÇÃO. ARREPENDIMENTO POSTERIOR DO AGENTE. NÃO
APLICAÇÃO. SENTENÇA CONDENATÓRIA MANTIDA.
A defesa suscitou a preliminar de nulidade por
incompetência da Justiça Militar da União para julgar civis. Tanto
este Tribunal quanto o STF vêm entendendo que a Justiça
Castrense detém competência para julgar crimes de natureza
militar, independentemente da condição pessoal do infrator.
Decisão unânime.
Igualmente arguiu a preliminar de nulidade do julgamento
para que o ex-soldado fosse julgado por juiz monocrático. Esta
Corte Superior tem entendido que a competência do Juiz-Auditor
está definida no art. 30 da Lei nº 8.457/92, cujo teor não prevê o
julgamento monocrático de civis ou ex-militares. Decisão unânime.
Por fim, suscitou a preliminar de nulidade por falta de
condição de prosseguibilidade da ação penal, ante a perda do status
de militar do acusado. Esta Corte Castrense tem decidido que a
condição de militar não é pressuposto para a continuidade do feito,
de maneira que a perda dessa qualidade não impedirá que o
ex-soldado continue respondendo perante esta Justiça Especializada.
No mérito, foi negado a aplicação da circunstância
atenuante pelo arrependimento posterior, a aplicação da
atenuante de confissão, além da aplicação da circunstância
atenuante, por ser a coisa furtada de pequeno valor.
Recurso negado provimento. Decisão por unanimidade.
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente o Dr. José Garcia de Freitas Junior, representante do
Ministério Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade,
rejeitou a preliminar suscitada pela Defensoria Pública da União, de
incompetência absoluta da Justiça Militar para julgar civis; por unanimidade,
rejeitou a segunda preliminar defensiva, de nulidade do julgamento para que o
APELAÇÃO Nº 7000177-22.2018.7.00.0000 219
VOTO
Estão preenchidos os requisitos de admissibilidade do Recurso,
devendo, pois, ser conhecido.
A Apelação foi interposta pela DPU, por estar inconformada com a
Sentença que condenou o ex-Sd Ex AMADEU DOS SANTOS MARREIROS à
pena de 4 (quatro) meses de detenção como incurso no art. 240, § 2º e 4
(quatro) meses de detenção com espeque no art. 240, c/c art. 30, inciso II,
paragrafo único, totalizando assim a pena de 8 (oito) meses de detenção, na
forma do art. 80, por se tratar de crime continuado, tudo do CPM, com o
benefício do sursis pelo prazo de 2 (dois) anos, o direito de apelar em
liberdade e o regime prisional inicialmente aberto.
Nas razões, a Defesa suscitou, em preliminar, a nulidade por
incompetência absoluta da Justiça Militar para julgar civis, a nulidade do
julgamento para que o civil seja julgado monocraticamente pelo Juiz-Auditor e
a nulidade do julgamento por falta de condição de prosseguibilidade da ação
penal, ante a perda do status de militar do acusado. No mérito, requereu a
absolvição, com base no art. 439, alínea “b”, do CPPM ou a fixação de pena
no mínimo legal. Pugnou, ainda, a aplicação da circunstância atenuante pelo
arrependimento posterior do agente, pela sua confissão e pelo pequeno valor
da coisa furtada. Por fim, requereu o provimento para anular ou reformar a
sentença.
1. PRELIMINAR DE INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA DA JUSTIÇA
MILITAR PARA JULGAR CIVIS
A Defesa sustenta que a Justiça Militar deve ser utilizada apenas para
julgar militares “ativos”, não sendo possível, ante a condição de civil do
Apelante, submetê-lo à seara processual castrense.
Com toda “vênia” à Defesa, mas tal alegação não merece guarida, visto
que o ato praticado pelo Apelante preencheu todas as elementares do delito
de furto, previsto no art. 240 do CPM.
Cabe esclarecer que o Código Penal Militar, publicado em 1969, a
exemplo do Código Penal comum, adotou – com relação à aplicação da lei
penal no tempo – a teoria da atividade. Isso fica claro no art. 5º da referida
legislação castrense, o qual dispõe que “Considera-se praticado o crime no
momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o (momento) do
resultado.”.
Na parte geral da Legislação Substantiva Castrense, o inciso III do art. 9º
prevê que:
APELAÇÃO Nº 7000177-22.2018.7.00.0000 225
considera pequeno o valor que não ultrapasse 1/10 do salário mínimo vigente
no país. Segundo estimativa realizada pelo Parquet Militar, no caso in tela, o
valor subtraído de R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais) representava “41,98%
dos vencimentos do ofendido”, considerando que o soldo de um 2º Sargento
se encontrava, à época dos fatos, no patamar de R$ 3.573,00 (três mil,
quinhentos e setenta e três reais).
Portanto, conforme se verifica, o percentual de quase 50% se encontra
muito acima daquela fração exigida pelo Código Substantivo Castrense para
conceder a atenuação do § 1º do art. 240 do CPM, pretendida pela Defesa.
Aliás, é nesse sentido que este Tribunal vem decidindo acerca da
matéria, a exemplo de quando julgou a Apel. 166-67.2016.7.07.0007, Min.
Alte Esq CARLOS AUGUSTO DE SOUSA, julg. em 29/8/2017.
Assim, não há como considerar de pequeno valor a quantia furtada
pelo acusado, haja vista que o montante subtraído ultrapassou, e muito, o valor
de um décimo do salário mínimo vigente à época dos fatos.
Ademais, é digno de nota lembrar que o réu só devolveu a quantia
subtraída ao seu superior hierárquico após um mês da prática do crime,
quando já estava recolhido à prisão. Como bem disse o Conselho Permanente
de Justiça ao Sentenciar, não foi uma restituição espontânea, de maneira que o
acusado assim procedeu porque se viu obrigado a devolver o valor furtado, por
meio de seu genitor, para poder atenuar a sua situação perante a caserna e
perante a Justiça.
Como se vê, a considerar o conjunto probatório contido nos autos,
infere-se que, se o acusado não tivesse sido flagrado, quando tentava sacar
valores da conta da mesma vítima, pela segunda vez, talvez esse crime ainda
estivesse sem solução, por falta de autoria.
Certo é que a sentença já subiu para este Tribunal com a pena fixada
abaixo do mínimo legal, não fazendo nenhum sentido o pedido da DPU, nas
razões de apelação, em pleitear a aplicação da pena no patamar mínimo.
Além do mais, a alegação de que o acusado estava passando por
dificuldades financeiras, à época dos fatos, não tem o condão de eximi-lo dos
crimes que praticou. Até porque pôde-se verificar na espécie que foi o próprio
réu que deu ensejo às dificuldades alegadas, pois decorreram de empréstimo
por ele adquirido, gastos com o cartão de crédito também realizados por
aquele acusado, além da aquisição de um veículo zero quilômetro.
Por isso, diante das razões apresentadas, entendo que o Colegiado a
quo acertou na condenação do acusado, inclusive quanto à continuidade
delitiva nos termos do art. 80, c/c o art. 79, 2ª parte, ambos do CPM, por
considerar os atos delitivos in tela mais graves que os demais casos envolvendo
o delito de furto, normalmente aqui julgados, pois, além da subtração, o réu,
APELAÇÃO Nº 7000177-22.2018.7.00.0000 231
com sua conduta, feriu princípios importantes que protegem a caserna, bem
como maculou valores éticos, como a confiança, o companheirismo e a
camaradagem.
Por essa razão, a Sentença não merece qualquer reparo, devendo ser
mantida em sua integralidade, uma vez que o fato constituiu infração penal
militar e, como tal, deve ser processada e julgada por essa Justiça Especializada.
Ante o exposto, nego provimento ao recurso da Defesa, para manter
inalterada a Sentença condenatória a quo por seus próprios e jurídicos
fundamentos.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do
Superior Tribunal Militar, em Sessão de Julgamento, sob a presidência do
Ministro Dr. José Coêlho Ferreira, na conformidade do Extrato da Ata do
Julgamento, por unanimidade, em rejeitar a preliminar suscitada pela
Defensoria Pública da União, de incompetência absoluta da Justiça Militar para
julgar civis; por unanimidade, em rejeitar a segunda preliminar defensiva, de
nulidade do julgamento para que o Civil seja julgado monocraticamente pelo
Juiz-Auditor; por unanimidade, em rejeitar a terceira preliminar defensiva, de
nulidade do julgamento, por falta de condição de prosseguibilidade da Ação
Penal, ante a perda do status de militar do Acusado. No mérito, por
unanimidade, em negar provimento ao Recurso da Defesa, para manter
inalterada a Sentença condenatória a quo por seus próprios e jurídicos
fundamentos.
Brasília, 17 de outubro de 2018 – Gen Ex Odilson Sampaio Benzi,
Ministro-Relator.
_________
APELAÇÃO Nº 7000229-18.7.00.0000
Relator: Min. Alte Esq Marcus Vinicius Oliveira dos Santos.
Revisor: Min. Dr. José Barroso Filho.
Apelantes: Gildeone Alves da Silva, ex-Sd Ex, e Gilberto Ferreira de Oliveira,
ex-Cb Ex.
Apelado: Ministério Público Militar.
Advogado: Defensoria Pública da União.
EMENTA
FURTO QUALIFICADO NA FORMA TENTADA. APELAÇÃO
DEFENSIVA. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE.
CONDUTA LIVRE E CONSCIENTE DOS AGENTES. RECURSO
DESPROVIDO.
Praticam o crime de furto qualificado de coisa pertencente à
Fazenda Nacional, mediante abuso de confiança e concurso de
pessoas, na modalidade tentada, os agentes militares que, em
serviço, tentam subtrair combustível do tanque do caminhão
prancha do Exército e são flagrados antes de consumarem seu
intento criminoso.
Autoria e materialidade amplamente comprovadas pela
prova documental, depoimentos das testemunhas e confissão.
Incabível a aplicação do princípio da insignificância na
hipótese dos autos, em razão da alta reprovabilidade da conduta dos
militares. A ação dos agentes não deve ser analisada somente do
ponto de vista econômico, na medida em que violaram outros bens
jurídicos tutelados pelo Direito Penal Militar, tais como a hierarquia,
a disciplina e a confiança, valores que devem ser cultuados dentro e
fora da caserna, máxime em se tratando de militares em serviço.
A conduta de vender combustível pertencente à Administração
Militar é de elevado grau de reprovabilidade e extremamente maléfica
à imagem e ao patrimônio das Forças Armadas.
Os Acusados agiram de forma livre e consciente, inexistindo
qualquer excludente de culpa ou de crime, razão por que deve ser
mantido incólume o decreto condenatório.
Recurso defensivo desprovido. Unânime.
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente o Dr. Giovanni Rattacaso, representante do Ministério
Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade, negou
provimento ao Apelo defensivo, para manter na íntegra a Sentença a quo, nos
termos do voto do Relator Ministro Marcus Vinicius Oliveira dos Santos.
APELAÇÃO Nº 7000229-18.7.00.0000 233
124
Furto simples
Art. 240. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, até seis anos.
§ 5º Se a coisa furtada pertence à Fazenda Nacional:
Pena - reclusão, de dois a seis anos.
§ 6º Se o furto é praticado:
I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;
II - com abuso de confiança ou mediante fraude, escalada ou destreza;
III - com emprego de chave falsa;
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
125
Co-autoria
Art. 53. Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas.
234 APELAÇÃO Nº 7000229-18.7.00.0000
redução de 2/3 prevista no art. 30, inciso II, parágrafo único do CPM 129, em
face da ínfima execução do iter criminis e diante da ausência de retirada do
objeto da esfera de disponibilidade e vigilância do Exército (fls. 654/660).
Em Sessão de Julgamento de 27 de setembro de 2017, o Conselho
Permanente de Justiça da 6ª CJM, por unanimidade, condenou os ex-militares
GILBERTO OLIVEIRA e GILDEONE ALVES à pena definitiva de 1 ano de
reclusão, pela prática do crime previsto no art. 240, §§ 5º e 6º, incisos II e IV,
c/c art. 53, na forma tentada, todos do CPM, com direito de apelar em
liberdade e sursis pelo prazo de 2 (dois) anos. E condenou o civil ADOLPHO
FALCÃO, por desclassificação, no art. 255 130, c/c art. 30, forma tentada, à pena
definitiva de 4 meses de detenção, concedido o direito de apelar em liberdade
e sursis pelo prazo de 2 anos (fls. 694/705).
A Sentença foi lida e publicada no dia 5 de outubro de 2017 (fl. 706) e
transitou em julgado para o Réu civil em 17 de novembro de 2017 (fl. 724).
A Defesa foi intimada em 19/10/2017 (fl. 710) e, no dia 23 de outubro
de 2017, interpôs o presente Recurso de Apelação em favor dos militares (fl.
711). Em suas razões (fls. 715/722), alega não haver nenhuma lesividade ao
patrimônio da Administração Militar. Aduz que nenhum dos atos praticados
pelos Réus militares possui caráter inequívoco de atingir o bem jurídico, o que
denota a mínima ofensividade da conduta dos agentes. Enfatiza que, conforme
o auto de apreensão (fl.65), o combustível foi despejado de volta no tanque da
viatura do qual foi retirado e por isso sequer saiu da esfera da disponibilidade
da vítima e não causou prejuízo patrimonial à União; que os Acusados não
conheciam o civil ADOLPHO, o que demonstra a ausência de premeditação
do crime. Alegou que, no caso, estão previstos todos os vetores traçados pelo
STF para a aplicação do princípio da bagatela, máxime porque o valor do
combustível, R$ 106,00 (cento e seis reais), é reduzido. Alegou que ambos
mostraram arrependimento efetivo quanto à conduta praticada e que o
dinheiro da venda do combustível seria utilizado para compra de lanches e
alimentação no retorno a Barreiras/BA, cuja distância percorrida seria de mais
de 915 km (novecentos e quinze quilômetros).
129
Art. 30. Diz-se o crime:
Tentativa
II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.
130
Receptação culposa
Art. 255. Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela manifesta desproporção
entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
meio criminoso:
Pena - detenção, até um ano.
Parágrafo único. Se o agente é primário e o valor da coisa não é superior a um décimo do
salário mínimo, o juiz pode deixar de aplicar a pena.
240 APELAÇÃO Nº 7000229-18.7.00.0000
__________
Conselho de Justificação
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
Relator: Min. Gen Ex Odilson Sampaio Benzi.
Revisor: Dr. José Coêlho Ferreira.
Requerente: O Exmo. Sr. Comandante da Aeronáutica encaminha, em
cumprimento ao disposto nos termos do art. 48, § 2º, da Lei nº
6.880, de 9/11/80, e art. 14 da Lei nº 5.836, de 5/12/72, os
autos do Conselho de Justificação a que foi submetido o Cap Aer
Marcelo Benedito da Silva.
Advogado: Defensoria Pública da União.
EMENTA
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO. LEI Nº 5.836/72.
PRELIMINARES SUSCITADAS PELA DEFESA E PELA
PROCURADORIA-GERAL DA JUSTIÇA MILITAR (PGJM).
REJEIÇÃO. DECISÃO DE MÉRITO. NÃO JUSTIFICADO. PENA DE
REFORMA.
1. Acolhida a preliminar defensiva de confirmação da
tempestividade do Conselho de Justificação nº 185-26.2015.
7.00.0000. Decisão por unanimidade.
2. Rejeitada a segunda preliminar defensiva de
sobrestamento do feito, nos termos do art. 124 do CPPM e art.
160 do RISTM, porque não há qualquer processo criminal ou cível
tramitando e em condições de influenciar ou obrigar a suspensão
do presente feito. Decisão por unanimidade.
3. Rejeitada a terceira preliminar defensiva, de nulidade do
ato de instauração do Conselho de Justificação porque a Portaria
do Comandante da Aeronáutica, além de legítima, trata apenas da
nomeação dos membros do mencionado Conselho. Decisão por
maioria.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 251
DECISÃO
Presidência do Ministro Ten Brig Ar William de Oliveira Barros.
Presente o Subprocurador-Geral da Justiça Militar, designado, Dr. Giovanni
Rattacaso. Presentes os Ministros José Coêlho Ferreira, Maria Elizabeth
Guimarães Teixeira Rocha, Artur Vidigal de Oliveira, Cleonilson Nicácio Silva,
Luis Carlos Gomes Mattos, Lúcio Mário de Barros Góes, Odilson Sampaio
Benzi, Francisco Joseli Parente Camelo, Marco Antônio de Farias e Péricles
Aurélio Lima de Queiroz. Ausentes, justificadamente, os Ministros Alvaro Luiz
Pinto, Marcus Vinicius Oliveira dos Santos, José Barroso Filho e Carlos Augusto
de Sousa.
O Tribunal, por unanimidade, preliminarmente, confirmou a
tempestividade do Conselho de Justificação nº 185-26.2015.7.00.0000,
alegada pela Defensoria Pública da União; por unanimidade, rejeitou a
preliminar defensiva de sobrestamento do feito, nos termos do art. 124 do
CPPM e art. 160 do RISTM. Em seguida, na forma do art. 78 do RISTM, pediu
vista a Ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, após os votos dos
Ministros Odilson Sampaio Benzi (Relator) e José Coêlho Ferreira (Revisor), que
rejeitavam a preliminar de nulidade do ato de instauração do Conselho de
Justificação, arguida pela Defensoria Pública da União. Os Ministros Artur
Vidigal de Oliveira, Cleonilson Nicácio Silva, Luis Carlos Gomes Mattos, Lúcio
Mário de Barros Góes, Francisco Joseli Parente Camelo, Marco Antônio de
Farias e Péricles Aurélio Lima de Queiroz aguardam o retorno de vista. Na
forma regimental, usaram da palavra o Defensor Público Federal de Categoria
Especial Dr. Afonso Carlos Roberto do Prado e o Subprocurador-Geral da
Justiça Militar Dr. Giovanni Rattacaso. A Defesa será previamente intimada do
retorno de vista para a continuidade do julgamento. (Extrato da Ata da Sessão
de Julgamento, 10/11/2016).
disposto no art. 13, inciso V, alínea “a”, e art. 14, ambos da mesma Lei, em c/c
o art. 6º, inciso II, alínea “f”, da Lei nº 8.457/92, que dispõe da Organização
da Justiça Militar da União (LOJM) (fl. 119).
Ingressando os autos neste Tribunal, este Relator, mediante Despacho,
abriu prazo de cinco dias para que o Justificante constituísse advogado, com
base no art. 158 do RISTM e art. 15 da Lei nº 5.836/1972 (fl. 123).
Por seu turno, o Oficial declarou que não tinha condições financeiras
para tanto, razão pela qual os autos foram remetidos à DPU, que assumiu o
encargo defensório, ocasião em que formulou Manifestação Judicial (fls.
145/198), no qual suscitou 1º) a tempestividade da peça; 2º) a nulidade do ato
de instauração do Conselho de Justificação (Portaria nº R/9 GC-1); 3º) a
inexistência/nulidade do ato de agregação, por falta desse ato administrativo
nos autos; 4º) a nulidade do ato de agregação, por não oportunizar a defesa
nesse momento; 5º) a nulidade do procedimento em razão da licença médica
do justificante impedir a fluência e exaurimento do prazo de dois anos, previsto
no art. 14 da Lei nº 6.923/1981; 6º) a aplicação do art. 124 do CPPM e do art.
160 do RISTM, visando ao sobrestamento do feito até decisão eclesiástica final
no processo religioso; 7º) a nulidade do procedimento por falta de defesa
técnica na fase; 8º) a inconstitucionalidade da deliberação do Conselho de
Justificação em sessão secreta; 9º) a ilegalidade/ilegitimidade da remessa dos
autos pelo Comando da Força ao STM, sem a devida representação da AGU;
10º) o direito do justificante de ser ouvido perante o STM e 11º) o injusto
motivo para a demissão do justificante.
Em suma, requereu o enfrentamento dos pontos da alçada do Ministro-
Relator, na conformidade do artigo 12, inciso I, do RISTM.
Em subsídio à Manifestação apresentada, a Defesa realizou também a
juntada de dois pareceres psiquiátricos expedidos pelo HFA (fls. 167/170), de
vários outros documentos, informando sobre o tratamento de saúde do
Justificante (fls. 187/193), bem como o Decreto do Ordinariado Militar, de
citação, notificação de prova, advertência e exortação (estímulo, coragem),
datado de 26/05/2014 (fls. 171/173), relacionado ao processo religioso, bem
como de outros documentos.
Consta dos autos, ainda, documento emitido pelo Arcebispo do
Ordinariado Militar do Brasil Dom OSVINO JOSÉ BOTH ao Cap MARCELO
BENEDITO, no qual aconselha este Justificante da seguinte forma:
“Recomendo vivamente que o senhor peça ao Santo Padre a graça da
demissão do estado clerical! Caso contrário, terei que proceder!” (fl. 180).
Juntou-se outro documento emitido pelo Vaticano e traduzido por
Dom JOSÉ FRANCISCO FALCÃO DE BARROS informando que (fls. 185/186):
O Bispo é obrigado a promover a disciplina comum a toda a igreja.
(...). Em relação ao fato objetivo e delituoso da paternidade natural de um
262 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
VOTO
Trata-se do Conselho de Justificação instaurado pelo Comandante da
Aeronáutica, por meio da Portaria nº R-9/GC-1, de 12/06/2015, no qual
submete o Cap Capelão MARCELO BENEDITO DA SILVA aos termos do art.
2º, inciso III, da Lei nº 5.836/72, por estar afastado, desde o dia 11/12/2012, do
Ministério Sagrado, que significa privação do exercício da atividade religiosa no
âmbito da Administração Militar (fl. 51). Por meio do Ofício nº R-1/GC1/10636,
de 1º/09/2015, o Comando daquela Força Militar encaminhou a este Tribunal
os autos para julgar o referido Oficial, tendo em vista o disposto no art. 13,
inciso V, alínea “a”, e art.14, ambos também da Lei que trata do Conselho de
Justificação, e art. 48, § 2º, da Lei nº 6.880/80 (Lei do Estatuto dos Militares),
combinado com o art. 6º, inciso II, letra “f”, da Lei de Organização da Justiça
Militar (Lei nº 8457/92) (fls. 118/119).
Recapitulando, então, o ora Justificante foi afastado de suas funções
clericais no âmbito da caserna, pelo Ordinariado Militar, com base no art. 14
da Lei nº 6.923/81 (Lei que regula as atividades dos capelães) (fls. 8 e 19).
Entretanto, foi denunciado (fl. 51) e considerado culpado, conforme relatório
(fl. 114), nos termos do art. 2º, inciso III, da Lei 5.836/72 (que dispõe sobre o
Conselho de Justificação).
A meu juízo, não se pretende, com esse Conselho de Justificação,
aplicar pena disciplinar ao Cap MARCELO BENEDITO, porque ele não
cometeu qualquer infração administrativa, tampouco condená-lo, penalmente,
porque, até que se prove o contrário, ele não cometeu nenhum crime militar.
Como também não se busca imputar a ele a prática de ato que tenha
afetado o pundonor militar ou decoro da classe, porque, segundo os autos, sua
vida na caserna foi irretocável e exemplar, notadamente com relação ao
exercício de suas atribuições. Muito menos, busca-se tolher ou restringir
qualquer direito fundamental do Justificante, especialmente o direito à
paternidade porque, conforme a Constituição Federal, é uma garantia de todo
cidadão brasileiro.
Por fim, o presente feito não visa julgar, eclesiasticamente, o Oficial,
uma vez que isso efetivamente já foi feito pela autoridade católica competente,
com base no Código de Direito Canônico, tanto que o padre Capelão foi
afastado, em definitivo, do quadro de sacerdote da igreja católica pelo Papa
FRANCISCO, conforme já relatado.
Contudo, em que pese ter tido uma conduta inquestionável e digna de
elogios por seus colegas de farda na vida pública, principalmente no meio
militar, entendo que o mesmo não se pode falar de sua vida particular.
264 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
conforme decreto de afastamento (fl. 63). Tal afastamento foi, mais adiante,
confirmado pelo Conselho de Justificação, na forma do relatório (fls. 105/114).
Posteriormente, quando foi excluído do quadro de padres da igreja
católica pelo Papa FRANCISCO, em 18/02/2016 (fl. 227), além de se tornar
incompatível com o referido cargo militar, passou a não ter também, com a sua
exclusão pelo Vaticano, a condição objetiva essencial para continuar exercendo
as funções sacerdotais no seio da caserna.
Dessa forma, não há como considerar justificado o referido Oficial, uma
vez que, pelo fato de não ser mais sacerdote, deixou de atender os requisitos
mínimos para prosseguir exercendo as atribuições do cargo de capelão,
conforme já relatado, em decorrência de sua privação permanente do
Ministério Sagrado.
Quanto à declaração de indignidade para o oficialato, com a
consequente perda do posto e da patente, também não deve ser aplicada no
caso em exame, tendo em vista que a conduta do Justificante está longe de
configurar a prática de qualquer infração penal, não havendo possibilidade,
consequentemente, de enquadrá-lo em nenhum crime elencado no art. 100
do CPM.
A meu sentir, ao se declarar o militar indigno para o oficialato, além
deste ter incorrido em crime, que não é o caso, torna-se necessário, também,
analisar o contexto fático, sob o prisma da ética militar, relacionado ao
sentimento do dever militar, à honra pessoal, o pundonor militar e ao decoro
da classe, a fim de que se possam formar os requisitos indispensáveis e
suficientes para considerar o Oficial indigno para o oficialato. Ou seja, deve-se
considerar um Oficial indigno para a função que exerce pelo “conjunto da
obra” e não por ter maculado um ou outro requisito ético-militar, num fato
isolado, ocorrido em sua vida pessoal, antes de ingressar nas Forças Armadas,
como é o caso em exame.
Certo é que restou comprovado que Cap MARCELO BENEDITO teve
uma vida pública impecável, notadamente no seio da caserna, embora tenha
cometido um único erro, no âmbito de sua vida privada. Aliás, esse erro – que
o próprio justificante o chamou de “ato de pecado” – já lhe custou muito caro,
tendo em vista que, por causa dele, foi afastado do cargo de capelão pelo
Ordinariado Militar e, posteriormente, excluído do ofício de sacerdote pelo
Vaticano.
Ademais, é digno de nota lembrar mais uma vez que, segundo os autos,
o Justificante, enquanto esteve à frente de seu cargo, cumpriu com todas as
suas obrigações a contento, com retidão, desenvoltura e competência.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 285
vista que prestou concurso para um cargo único, com requisitos bem
específicos, conforme já explanado.
Assim, como não é o caso de considerar o Oficial justificado, tampouco
de declará-lo indigno para o oficialato, com a consequente perda do posto e da
patente, ou, ainda, de demiti-lo, “ex officio”, como determina o parágrafo
único do art. 14 da Lei nº 6.923/81, pelas razões anteriormente expostas e,
levando-se, ainda, em consideração que a motivação do afastamento das
funções do Justificante ocorrera antes do vínculo militar e que o Cap
MARCELO BENEDITO, comprovadamente, serviu às Fileiras da Aeronáutica
por cerca de doze anos, entendo que o caso ora em análise será melhor
delineado se aquele Oficial for enquadrado no dispositivo que trata da reforma
proporcional ao tempo de serviço, à luz da Lei nº 5.836/72, como, aliás, este
Tribunal tem decidido em casos semelhantes, a exemplo de quando julgou o
CJ nº 2001.01.000187-6/DF, Min. Gen Ex GERMANO ARNOLDI PEDROZO,
julg. em 07/03/2002, e CJ nº 163-9, Min. Alte Esq CARLOS EDUARDO CEZAR
DE ANDRADE, julg. em 08/06/1995.
Diante do exposto, julga-se o Cap Aer MARCELO BENEDITO DA SILVA
NÃO JUSTIFICADO, por estar incompatível com o exercício das funções de
Capelão Militar, em decorrência de ter sido afastado, em definitivo, da Ordem
Religiosa pelo Vaticano, faltando-lhe, consequentemente, a condição essencial
para permanecer na ativa, na forma inciso III do art. 2º da Lei nº 5.836/72,
determinando-se, portanto, a sua reforma nos termos do art. 16, inciso II e § 1º,
do mesmo Diploma Legal.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do
Superior Tribunal Militar, em sessão de julgamento, sob a presidência do
Ministro Dr. José Coêlho Ferreira, em dar sequência ao julgamento
interrompido na 85ª Sessão, em 10 de novembro de 2016, após a
confirmação, por unanimidade, em sede de preliminar, da tempestividade do
Conselho de Justificação nº 185-26.2015.7.00.0000, alegada pela Defensoria
Pública da União e após rejeitar, por unanimidade, a segunda preliminar
defensiva de sobrestamento do feito, nos termos do art. 124 do CPPM e art.
160 do RISTM, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por maioria, rejeitou a
terceira preliminar defensiva, de nulidade do ato de instauração do Conselho
de Justificação. Em seguida, por unanimidade, rejeitou a quarta preliminar
defensiva, de nulidade do procedimento pela inexistência formal do ato
administrativo de agregação, por falta de fundamentação legal; por
unanimidade, rejeitou a quinta preliminar de nulidade da agregação, por
ausência de defesa, por falta de amparo legal; por unanimidade, rejeitou a
sexta preliminar defensiva, de nulidade do Conselho de Justificação, por não
ter completado o prazo de 2 anos previsto no art. 14 da Lei nº 6.923/81, por
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 287
132
Art. 142 (...) § 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes,
além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (...) VI - o oficial só perderá
o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por decisão
de tribunal militar de caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em
tempo de guerra;
298 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
II - reforma
III - demissão;
IV - perda de posto e patente;
[...]
§ 1º O militar excluído do serviço ativo e desligado da organização
a que estiver vinculado passará a integrar a reserva das Forças Armadas,
exceto se incidir em qualquer dos itens II, IV, VI, VIII, IX, X e XI deste
artigo ou for licenciado, ex officio, a bem da disciplina. (grifos nossos).
Reafirma-se a situação na qual incorreu o Capelão Marcelo de
suspensão temporária, por mais de 2 (dois) anos do uso de ordem pela
autoridade eclesiástica, gerou a possibilidade de demissão ex officio,
procedimento que não se confunde ou assemelha-se ao Conselho de
Justificação.
Nesse conspecto, caso o militar não seja justificado e,
consectariamente, vier a perder o posto e a patente, ser-lhe-á submetida
situação mais gravosa do que aquela que regime jurídico especial lhe outorga,
a exemplo do direito de ser julgado pelo Conselho Especial de Justiça nos
crimes militares. E ainda que se lhe imponha a pena de reforma com proventos
proporcionais, tal medida não foi a eleita pelo legislador ordinário.
Acerca de não ser o Conselho de Justificação o procedimento hábil à
demissão por perda do exercício do sacerdócio, colaciono excertos da decisão
do TRF4 nos Embargos de Declaração na Apelação Cível nº 5000184-
67.2011.404.7102/RS, que confirmou tal desligamento, tão só, por
procedimento administrativo interna corporis, cito:
ADMINISTRATIVO. MILITAR. DECADÊNCIA. PRAZO.
INTERRUPÇÃO. DEMISSÃO EX OFFICIO. PERDA DA CONDIÇÃO DE
RELIGIOSO. LEI Nº 6.923/1981. SINDICÂNCIA. CONSELHO DE
JUSTIFICAÇÃO. LEI Nº 5.836/72. INAPLICABILIDADE.
Não tendo transcorrido entre a “Declaração de Suspensão de Uso
da Ordem Religiosa” e a Portaria de demissão ex officio do autor mais de
cinco anos, não há decadência a impedir a prática do ato hostilizado,
porquanto, no momento em que a Administração procedeu ao seu
afastamento, deixou de ser inerte, cessando o fluxo do lapso decadencial.
[...]
Em se tratando de hipótese de afastamento do serviço militar
ativo, para reserva não remunerada, como consectário lógico e
inexorável da perda de uma das condições objetivas para provimento
e exercício do cargo de Capelão Militar, em decorrência da privação
de uso da ordem religiosa (arts. 4º e 18, inciso VI, da Lei nº 6.023/81)
– e não de punição militar ou incapacidade –, não era exigível a
instauração de Conselho de Justificação (Lei nº 5.836/72) ou inquérito
300 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
133
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Atlas, 2013.
p. 205-206.
134
Art. 14. O Capelão Militar que, por ato da autoridade eclesiástica competente, for privado,
ainda que temporariamente, do uso da Ordem ou do exercício da atividade religiosa, será
agregado ao respectivo Quadro, a contar da data em que o fato chegar ao conhecimento da
autoridade militar competente, e ficará adido, para o exercício de outras atividades não-
religiosas, à organização militar que lhe for designada.
Parágrafo único. Na hipótese da privação definitiva a que se refere este artigo, ou da
privação temporária ultrapassar dois anos, consecutivos ou não, será o Capelão Militar
demitido ex officio, ingressando na reserva não remunerada, no mesmo posto que
possuía na ativa. (grifos nossos).
306 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
(...)
§ 2º Em sua defesa, pode o justificante requerer a produção,
perante o Conselho de Justificação, de todas as provas permitidas no
Código de Processo Penal Militar. (Grifei).
O Justificante, à fl. 80, aduziu que apresentaria defesa por conta
própria, não pretendia constituir advogado, a não ser que verificasse alguma
incongruência nos autos do processo.
Ocorre, contudo, não se equiparar a autodefesa à correta intercessão
jurídica, de profissional habilitado, e com amplo conhecimento do direito,
processual ou material, que, à evidência, escrutinaria com a devida
percuciência as celeumas enfrentadas em processo cujo gravame é tão
contundente ao militar.
Sem embargo da Súmula Vinculante nº 5, in litteris: “A falta de defesa
técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a
Constituição”, sua aplicabilidade não incide no caso em tela, na medida em
que o Conselho de Justificação não se reduz a um mero processo disciplinar.
Isso porque se trata de um processo sui generis, com características
judicialiformes, que se inicia em sede administrativa e encerra-se
judicialmente, pelo que a defesa técnica deve ser garantida com vistas a dar
efetividade aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Sobre o tema, aponta a doutrina especializada:
Quanto à presença do defensor, esta é indispensável para a
validade dos atos processuais praticados pelo Conselho de
Justificação. Caso tenha sido regularmente intimado (pessoalmente ou
por publicação no Diário oficial) e não compareça, os membros do
conselho deverão nomear um defensor ad hoc para representar os
interesses do acusado em atendimento ao princípio da ampla defesa. 135
(Grifos nossos).
E a respeito da fase instrutória, exemplifica Paulo Tadeu Rodrigues
136
Rosa :
(...) As reperguntas do defensor serão dirigidas ao oficial
interrogante que as fará a testemunha de acusação ou de defesa.
Encerrada a fase de instrução probatória, e entendendo o conselho que
não existe mais nenhuma diligência a ser realizada, uma vez que este a
qualquer momento na busca da verdade dos fatos poderá realizar novas
diligências, ou ouvir testemunhas referidas, abrirá vista dos autos ao
defensor para que este apresente as alegações finais.
135
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Direito Administrativo Militar: teoria e prática. 3. ed. Lumen
Juris: Rio de Janeiro, 2009. p. 152.
136
ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues. Idem, p. 153 e 155.
310 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
137
Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha. Palestra: As Tutelas e Garantias Constitucionais no
Direito Disciplinar da República Federativa do Brasil. Tercer Congreso Internacional de
Abogacía Pública en el año del Bicentenario “Horizontes del Derecho Administrativo en el
Siglo XXI”, promovido pela Escuela del Cuerpo de Abogados del Estado, Procuración del
Tesoro de la Nación de la República Argentina, em Buenos Aires/Argentina, em 3/11/2010.
312 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
138
STF, HC nº 84.517/SP, Relator Ministro Sepúlveda Pertence. Órgão julgador: 1ª Turma.
Julgamento: 19/10/04. Publicação: DJ, de 19/11/04.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 313
139
STF, HC nº 78.708/SP, Relator Ministro Sepúlveda Pertence. Órgão Julgador: 1ª Turma.
Julgamento: 9/3/99. Publicação: DJ, de 16/4/99.
314 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
140
MORAES, Alexandre de. A evolução do direito ao silêncio. Revista Jurídica Consulex – Ano XII -
Nº 281, de 30/9/2008, p. 66.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 315
141
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Op. cit. p. 1024.
318 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
143
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO, Cândido
Rangel. Teoria Geral do Processo. 29. ed. São Paulo: Malheiros, 2013. p. 321-322.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 321
144
DIDIER Jr., Fredie. Curso de Direito Processual Civil: introdução ao direito processual civil, parte
geral e processo de conhecimento. 18. ed. v. 1. Salvador: JusPODIVM, 2016. p. 335-336.
145
FUX, Luiz. Teoria Geral do Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 264.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 323
146
DIDIER Jr., Fredie. Idem. p. 342.
324 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
caráter de peça inaugural da fase judicial, até porque, como visto, a acusação,
no âmbito administrativo, fora firmada pelo Presidente do Conselho, que, por
igual, não dispõe de capacidade postulacional.
Em última análise, sequer está a tratar-se de desrespeito ao pressuposto
processual de validade da petição inicial apta; é mais grave: se inexistente a
inicial, inexistente a própria demanda, por ser ela requisito de existência.
Carente a provocação do legítimo interessado por meio do ato de demandar,
não há processo.
Nesse ponto, assevera Fredie Didier: 147
O terceiro pressuposto processual é a existência de demanda, que
nesse caso deve ser compreendida como continente (o ato de pedir) e
não como conteúdo (aquilo que se pede).
O ato de pedir é necessário para a instauração do processo – é o
seu fato jurídico. Ao dirigir-se ao Poder Judiciário, o autor dá origem ao
processo (art. 312 do CPC); a sua demanda delimita a prestação
jurisdicional, que tem o pedido e a causa de pedir como os elementos do
seu objeto litigioso. Se o ato inicial não trouxer pedido (art. 330, I, c/c
§ 1º, I, do CPC), o caso é de extinção do processo por inadmissibilidade
do procedimento, em razão de defeito do ato inicial.
E leciona Daniel Amorim, in verbis: 148
(...) a jurisdição é inerte, somente se movimentando quando
provocada pelo interessado. O direito de ação, essencialmente abstrato, é
materializado pelo ato de demandar, que significa provocar a jurisdição
por meio do processo. Nesse sentido, cabe ao interessado demandar, e,
sendo o direito de ação um direito disponível, independentemente da
natureza jurídica do direito material que fundamentará a pretensão do
autor, é indispensável que esse ato de provocação seja realizado pelo
sujeito que afirma ser titular de um direito material violado ou
ameaçado.
A relação jurídica processual começa de forma linear, envolvendo
o demandante e o juiz, complementando-se com a citação válida do réu,
mas tudo isso dependerá num primeiro momento da existência da
demanda. Trata-se, portanto, de pressuposto processual de existência do
processo, porque sem a provocação do interessado por meio do ato de
demandar a relação jurídica processual de direito processual nem mesmo
chegará a existir.
Por tudo isso, para a instauração da lide nesta ou em qualquer outra
Corte judicial, a União deve obrigatoriamente oferecer a peça pórtico e ser
presentada por quem de direito: a Advocacia-Geral da União.
147
DIDIER Jr., Fredie. Idem. p. 318.
148
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 8. ed. Salvador: Ed.
JusPODIVM, 2016. p. 111.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 325
149
ROTH, Ronaldo João. A Incompatibilidade da Lei do Conselho de Justificação (Lei Federal
nº 5.836/72) diante da Constituição Federal. Jus Militaris.
326 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
150
Art. 9º, § 1º: “o Justificante deve estar presente a todas as sessões do Conselho de Justificação,
exceto à sessão secreta de deliberação do relatório”.
Art. 12: “Realizadas todas as diligências, o Conselho de Justificação passa a deliberar, em
sessão secreta, sobre o relatório a ser redigido”.
151
Relevante é o pensamento de Biscaretti di Ruffia: “Nos Estados de democracia clássica – tanto
de tendência laica como católica – a doutrina política dominante vê na pessoa humana o
fator prevalente. E os múltiplos grupos sociais (entre eles o Estado), espontaneamente
produzidos ou artificialmente criados pelo homem, não devem ter outra missão senão a de
funcionar no interesse daqueles que os compõem, secundando, portanto, as respectivas
vontades individuais e facilitando o livre e natural desenvolvimento, até que não lese os iguais
direitos de seus semelhantes”. In DI RUFFIA, Paolo Biscaretti, Direito Constitucional
(Instituições de Direito Público). Tradução de Maria Helena Diniz. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 1984, p. 522-523.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 327
152
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de Direito Administrativo. 16. ed. rev. e atual.
Rio de Janeiro: Forense, 2014. p. 391-393.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 331
Nada mais fez. Muito pelo contrário, manteve uma carreira ilibada,
desenvolvendo um brilhante trabalho em suas missões eclesiásticas, tendo
recebido diversas menções elogiosas (fl. 109). Portanto, o seu “erro” – se é que
ter um filho possa ser considerado um erro – ocorreu em tempos longínquos,
antes mesmo dele tornar-se Capelão militar.
Ainda que se queira imputar o dia do afastamento como o lapso
temporal inicial, repiso que o caso sub examine não se enquadra nas taxativas,
como discorri na preliminar de não cabimento do Conselho. Isso porque o art.
2º, inciso III, da Lei nº 5.836/72 trata do afastamento do cargo ”a forma do
Estatuto dos Militares, por se tornar incompatível com o mesmo ou
demonstrar incapacidade no exercício de funções militares a ele inerentes (...)”.
E o referido afastamento está previsto no Capítulo III (Da Violação das
Obrigações e dos Deveres Militares) do Estatuto dos Militares, segundo o qual:
Art. 44. O militar que, por sua atuação, se tornar incompatível com
o cargo, ou demonstrar incapacidade no exercício de funções militares a
ele inerentes, será afastado do cargo.
§ 1º São competentes para determinar o imediato afastamento do
cargo ou o impedimento do exercício da função:
a) o Presidente da República;
b) os titulares das respectivas pastas militares e o Chefe do Estado-
Maior das Forças Armadas; e
c) os comandantes, os chefes e os diretores, na conformidade da
legislação ou regulamentação específica de cada Força Armada.
§ 2º O militar afastado do cargo, nas condições mencionadas neste
artigo, ficará privado do exercício de qualquer função militar até a
solução do processo ou das providências legais cabíveis.
Para além de a norma prever o imediato afastamento do cargo, certo é
que este ocorreria tão logo a conduta incompatível chegasse ao conhecimento
da autoridade militar, pois, no âmbito da caserna, todas as ações são pautadas
com vistas à manutenção da hierarquia e disciplina.
De toda sorte, a prescrição iniciar-se-ia a partir da data em que o fato se
deu, tal como disposto no inciso I e suas alíneas do art. 2º da Lei nº 5.836/72,
nos quais se verificam a data da conduta, e não o dia em que o eventual
justificante seja acusado oficialmente de ter procedido incorretamente no
desempenho do cargo, ter tido conduta irregular ou ter praticado ato que afete a
honra pessoal, o pundonor militar ou o decoro da classe.
Mesmo nas hipóteses de cometimento de crimes, a lei estatui, in verbis:
“Art. 18 (...) Parágrafo único. Os casos também previstos no Código Penal
Militar como crime prescrevem nos prazos nele estabelecidos.”.
332 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
155
MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado, vol. 6, p. 127.
156
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, vol. 1, p. 477.
157
CRETELLA JÚNIOR, J. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. vol. 4, 1991. p. 2.262.
334 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
MÉRITO
Inicialmente, como abordado em sede preliminar, não constou do
Libelo Acusatório (fl. 51) a conduta imputada ao Justificante apta a demonstrar
sua incapacidade de exercer as funções do cargo militar.
Na Peça Pórtico, apontou-se, tão só, a privação temporária da atividade
religiosa, in verbis:
1. O Conselho de Justificação nomeado pela Portaria nº R-9/GC-1,
de 12 de junho de 2015, atendendo ao que preceitua o art. 9º da Lei
5.836, de 5 de dezembro de 1972, encaminha a V. Sa. o seguinte Libelo
Acusatório, segundo o qual lhe é imputado o seguinte fato abaixo
relacionado:
a. Estar afastado, desde o dia 11 de dezembro de 2012, do
Ministério Sagrado, que significa privação do uso da Ordem/exercício da
atividade religiosa nos espaços e ambientes reservados aos militares,
enquadrando-se no Art. 2º, inciso III, da Lei 5.836, de 5 de dezembro de
1972.
Observa-se, então, não se estar a julgar eventual conduta irregular ou
incompatível com o Oficialato, mas a paternidade assumida pelo militar que
gerou a suspensão e que nem de longe configura ato indigno.
Agregue-se não constituir a perda ou a privação do direito ao exercício
do sacerdócio, no âmbito das Forças Armadas, fundamento apto para a
declaração de incompatibilidade.
Em Razões defensivas, o Justificante informou ter sido afastado do
ministério sagrado por um ato administrativo da autoridade eclesiástica, que
visava “prevenir ou reparar escândalos, sobretudo quando assim o requer a
especial gravidade da infração” (cf. cân 1399 e o cân 1722).
Porém, reconheceu a Igreja Católica que sempre soube ter ele tido um
filho, hoje com 14 (quatorze) anos de idade, e somente após mais de uma
década, tomou “medida administrativa e judicial (...) em 2003”, impondo-lhe
“por intermédio de alguns bispos e padres que escolhesse entre ser padre ou
assumir uma família”.
Asseverou o Justificante ter reconhecido desde sempre, sponte propria,
a paternidade e os compromissos de pai biológico, bem como que fora
admitido como Oficial da Força Aérea Brasileira após o nascimento da criança
– em 2005.
Destacou nada haver ao longo de sua carreira militar que o desabone
como sacerdote e Oficial, inclusive tendo recebido vários elogios e destaques
em sua trajetória profissional.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 335
E foi por essa razão, e não outra, conforme a PGJM bem pontuou, que
o Conselho de Justificação deliberou a culpa do Justificante em contraditória
decisão; que reconhece, por um lado, a vida castrense impecável e, por outro,
em aviltante sessão secreta, deliberou sua culpa. Eu indago, culpa de quê, de
ter reconhecido o filho e prover-lhe o sustento?
Ora, a paternidade e seu digno reconhecimento jamais poderão ser
considerados como condutas indignas e, por decorrência, atentatórias ao
Oficialato, aptas a submeter qualquer militar – Capelão ou não – a
Conselho de Justificação. Sem embargo das normas clericais, não está a
administração pública autorizada a violar normas constitucionais e legais
protetivas dispensadas à família, em especial, aos filhos, num Estado laico,
cuja premissa fundante é a neutralidade em relação às questões religiosas.
No caso vertente, o perdimento do posto ou patente, ou a reforma do
oficial em virtude da sua condição de pai, revelar-se-á medida contraposta
aos mandamentos republicanos, o que eleva a estatalidade a uma teocracia
ditatorial.
Nesse mister, ressalto que o vínculo da filiação não possui o condão de
impor aos oficiais das Forças Armadas julgamento em Tribunal Ético, e,
tampouco, ser alçado como discrímen válido para os militares integrantes do
Quadro da Capelania, sob pena de configurar conduta discriminatória
injustificada. Afinal, como ponderou o Min. Marco Aurélio Mello “a garantia do
Estado laico obsta que dogmas da fé determinem o conteúdo de atos
estatais.” 158 (ADPF 54/DF, julgada em 12/4/2012 pelo Plenário do STF). A ética
militar é regra geral de comportamento institucional exigida a todos aqueles
que, indistintamente, envergam a farda, e não a apenas alguns Quadros.
Consectariamente, a paternidade não pode ser exaltada e protegida para
determinados oficiais, e considerada conduta reprovável e antiética para
outros.
158
“Se, de um lado, a Constituição, ao consagrar a laicidade, impede que o Estado intervenha
em assuntos religiosos, seja como árbitro, seja como censor, seja como defensor, de outro, a
garantia do Estado laico obsta que dogmas da fé determinem o conteúdo de atos
estatais. Vale dizer: concepções morais religiosas, quer unânimes, quer majoritárias, quer
minoritárias, não podem guiar as decisões estatais, devendo ficar circunscritas à esfera
privada. A crença religiosa e espiritual – ou a ausência dela, o ateísmo – serve precipuamente
para ditar a conduta e a vida privada do indivíduo que a possui ou não a possui. Paixões
religiosas de toda ordem hão de ser colocadas à parte na condução do Estado. Não podem a
fé e as orientações morais dela decorrentes ser impostas a quem quer que seja e por quem
quer que seja. Caso contrário, de uma democracia laica com liberdade religiosa não se
tratará, ante a ausência de respeito àqueles que não professem o credo inspirador da decisão
oficial ou àqueles que um dia desejem rever a posição até então assumida.” (trecho do Voto
do Ministro Marco Aurélio na ADPF 54/DF (feto anencéfalo), julgada em 12/4/2012, Acórdão
publicado em 30/4/2013).
336 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
159
SARMENTO, Daniel. Legalização do aborto e constituição. In: Diferentes mas iguais. Estudos
de Direito Constitucional. 1. ed, Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p. 95 e 138.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 337
160
LLANO CIFUENTES, Rafael. Relações entre a Igreja e o Estado. 2. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1989. p. 60-61.
161
Decisão da 12ª JCJ de BH no Processo nº 1873/81, Juíza Presidente Alice Monteiro de Barros,
publicada na Revista do TRT da 3ª Região, Belo Horizonte, v. 48, n. 78, p. 273-274, na qual
restou consignado, verbis: “Em princípio, cumpre frisar que o trabalho religioso, como tal,
não configura um contrato de emprego. Isto porque, este trabalho não é considerado
profissional, no sentido técnico do termo. Seus propósitos são ideais e o fim a que se destina
é de ordem espiritual, como bem salienta o Prof. Amauri Mascaro Nascimento, em seu
Compêndio de Direito do Trabalho.
Em se tratando de um trabalho de natureza espiritual e vocacional, destinado à assistência
espiritual e à propagação da fé, transcende os limites fixados pelo art. 3º e 442 da CLT. Quando o
religioso presta o serviço por espírito de seita ou voto, não há contrato de trabalho.
E na hipótese dos autos, o próprio reclamante confessa, em depoimento pessoal, ‘que foi
capelão do hospital em períodos intermitentes; que seus serviços eram apenas de assistência
religiosa’. Também as testemunhas ouvidas foram unânimes em afirmar que as funções do
reclamante eram exclusivamente religiosas e espirituais. Celebrar missa não é relação de
natureza contratual, mas dever da religião, atividade inerente aos objetivos da Igreja e
conferida aos que abraçam a vida religiosa, convocados por razões pessoais.
Esta também é a doutrina de Cabanellas:
‘...As prestações dos sacerdotes ou membros de ordens religiosas, tanto masculinas como
femininas, não enquadram o contrato de trabalho se correspondem à sua específica missão.
(COMPÊNDIO DE DERECHO LABORAL, Omeba, 1968, 1º vol., pág. 274)’.”
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 339
para definir a quebra do vínculo jurídico de oficial das Forças Armadas em face
da corporação.
Neste processo, o Justificante é um servidor público militar, a despeito de
seu status de religioso, e encontra-se sob o abrigo do regime jurídico estatutário.
Como os demais militares que ingressam no quadro de oficiais da
Aeronáutica, ele deve atender aos requisitos da Lei nº 12.464, de 4 de agosto
de 2011, in verbis:
Art. 20. Para o ingresso na Aeronáutica e habilitação à matrícula
em um dos cursos ou estágios da Aeronáutica destinados à formação ou
adaptação de oficiais e de praças, da ativa e da reserva, o candidato
deverá atender aos seguintes requisitos:
I - ser aprovado em processo seletivo, que pode ser composto por
exame de provas ou provas e títulos, prova prático-oral, prova prática,
inspeção de saúde, teste de avaliação do condicionamento físico, exame
de aptidão psicológica e teste de aptidão motora;
II - estar classificado dentro do número de vagas oferecidas;
III - possuir a formação ou habilitação necessária ao preenchimento
do cargo;
IV - (VETADO);
V - atender aos requisitos de limites de idade decorrentes do
estabelecido no inciso X do § 3º do art. 142 da Constituição Federal, no que
concerne ao tempo de serviço e às idades-limite de permanência no serviço
ativo para os diversos corpos e quadros, devendo estar dentro dos seguintes
limites etários, até 31 de dezembro do ano da matrícula, para ingresso no:
(...)
f) Estágio de Instrução e Adaptação para Capelães da Aeronáutica -
não ter menos de 30 (trinta) anos nem completar 41 (quarenta e um) anos
de idade; (...)
A própria Lei 6.880/80 (Estatuto dos Militares) prevê:
Art. 8º O disposto neste Estatuto aplica-se, no que couber:
(...)
IV - aos Capelães Militares.
(...)
Art. 10. O ingresso nas Forças Armadas é facultado, mediante
incorporação, matrícula ou nomeação, a todos os brasileiros que
preencham os requisitos estabelecidos em lei e nos regulamentos da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica.
Cite-se, também, a Lei nº 6.923/81, que dispõe sobre o Serviço de
Assistência Religiosa nas Forças Armadas:
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 341
162
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 30. ed. São Paulo:
Atlas, 2016. p. 624-625.
163
Idem, p. 626.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 343
164
Ibidem. p. 714.
165
LLANO CIFUENTES, Rafael. Relações entre a Igreja e o Estado. 2. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 1989. p. 58-59.
344 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
166
Disponível em: http://www.vatican.va/archive/cathechism_po/index_new/p2s2cap3_1533-
1666_po.html. Acesso em: 8 abr. 2017.
CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000 345
167
Sobre o direito de administrar os assuntos da comunidade religiosa escreve Claudio Marcelo
Kiper: “El Estado debe abstenerse de intervenir en cuestiones relativas a la disciplina interna
de las comunidades religiosas, a no ser en los casos en los que práctica de uma religión pueda
ser contraria a las exigências del orden público, la moral o la seguridad nacional. También
debe concederse el mismo tipo de libertad con respecto a la administración de los asuntos
financieros de una Iglesia, el nombramiento de sus representantes, la decisión de cuestiones
relativas a las propiedades de la comunidad, y la elaboración de estatutos propios de
organización y funcionamiento.” In: Derechos de las minorías ante la discriminación. Buenos
Aires: Editorial Hammurabi S.R.L, 1998, p. 197-198.
346 CONSELHO DE JUSTIFICAÇÃO Nº 185-26.2015.7.00.0000
__________
Embargos Infringentes e de Nulidade
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE Nº 7000024-86.2018.7.00.0000
Relator: Min. Ten Brig Ar Francisco Joseli Parente Camelo.
Revisor e Relator para o Acórdão: Min. Dr. José Barroso Filho.
Embargantes: Waldelino Candido Rosa Júnior, Gerson Osmar Bruno Magalhães
Senna, Flávio Cavalcante Salomão.
Embargado: Ministério Público Militar.
Advogados: Drs. Wendell do Carmo Sant’ana, Carlos Alberto Gomes, João
Batista da Silva, Victor Korst Fagundes e Defensoria Pública da
União.
EMENTA
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE. DPU E
DEFENSOR CONSTITUÍDO. ESTELIONATO. ART. 251 CPM.
MÉRITO. RECONHECIMENTO FOTOGRÁFICO. IMAGENS
CAPTADAS CIRCUITO INTERNO TV. CONFISSÃO. NULIDADE
POR INOBSERVÂNCIA DO ART. 368 CPPM. PROVAS
ILEGÍTIMAS. DESENTRANHAMENTO. DESPROVIMENTO.
MINORAÇÃO PENA CONDENATÓRIA. AGRAVANTE SUBJETIVA
PREVISTA NO ART. 53, § 2º, INCISO I, DO CPM.
CONTINUIDADE DELITIVA. DESPROVIMENTO. MAIORIA.
TIPICIDADE FORMAL. OMISSÃO IMPRÓPRIA. NÃO
CONFIGURADO O CONLUIO OU CONCURSO NA FRAUDE.
CONCURSO PARA EXECUÇÃO DA FRAUDE NÃO
CONFIGURAÇÃO. ABSOLVIÇÃO. ART. 439, ALÍNEA E, DO
CPPM. ACOLHIDO. DECISÃO POR MAIORIA.
I. As imagens captadas pelo CFTV foram produzidas na fase
inquisitorial e ratificadas na fase processual, pelo Relatório de
Auditoria de Tomada de Contas Especial, prova com natureza
pericial a ocorrência do delito. A confissão do Acusado, submetida
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE Nº 7000024-86.2018.7.00.0000 351
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente a Dra. Arilma Cunha da Silva, representante do Ministério
Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por maioria, nos termos do
art. 79, § 3º, do RISTM, não conheceu dos argumentos defensivos, de nulidade
do processo, por inobservância do disposto no art. 368 do CPPM, contra o
voto da Ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, que os conhecia.
No mérito, por maioria, rejeitou os presentes Embargos Infringentes, para
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única vez, quando este veio na companhia de Damião para uma festa;
que Damião afirmou que prestaria apoio financeiro a filha Daiane
depositando os valores na conta aberta em nome dela depoente, para
não precisar trazer o dinheiro em mãos; que recebeu pelo correio o
cartão de saque da sua poupança abeta na CEF; que entregou o cartão a
Damião a pedido deste; que nunca teve acesso a senha do cartão; que
nunca fez qualquer movimentação financeira na conta; que não sabe se
Damião movimentou a conta; que quando Damião pediu o cartão a ele
depoente não lhe deu nada em troca; que sua irmã Marinalva dos Santos
Gomes também foi abrir uma conta em Campina Grande junto com ela
depoente a pedido de Damião; que Damião não disse por que queria
que Marinalva abrisse a conta; que Marinalva foi com ela depoente ao
banco e preencheu os formulários para abertura da conta; que não sabe
quem realizou os saques na sua conta nos dias 1, 2, 3, 4, 5, 8, 9, 10, 11,
12, 15, 16 e 17 de abril de 2002; que não sabe com quem ficou os R$
22.513,58 (vinte e dois mil, quinhentos e treze reais e cinquenta e oito
centavos); que dentre os acusados apenas conhece Damião, o qual é pai
de sua filha e Carlos Eduardo, sobrinho daquele; que não sabe explicar
por que o Capitão Gerson, utilizando de seu cartão e sua senha realizou
saques na conta aberta pela depoente; (...) que não conhece o Major
Gerson Osmar e nunca teve qualquer contato com este; que abriu a
conta CEF em 2002; que não mandou o cartão e nem ouviu se Damião o
fez para o major Gerson; que não conhece Valdelino Cândido Rosa
Júnior e nunca ou falar ou teve contato com o mesmo; que nunca
recebeu dinheiro de Valdelino.
Pelo depoimento da testemunha, resta inconteste a coautoria de
Damião Barbosa na empreitada criminosa.
O corréu, além de induzir a civil Maria Selma dos Santos em erro para
a abertura da conta poupança na CEF, deteve, em seu poder, o cartão
magnético e a senha relativa à citada conta, com a finalidade de futuras
movimentações financeiras e apropriação dos valores obtidos de forma ilícita.
Em análise ao conjunto probatório composto pelo Laudo Pericial
Contábil, o depoimento da testemunha Maria Selma dos Santos e as imagens
contidas no Relatório de Saques da CEF, constatou-se que:
O Laudo Pericial Contábil (Ev. 1/e-Proc/Volume/fls. 1.033) imputou
responsabilidade individual ao Maj GERSON OSMAR BRUNO MAGALHÃES
SENNA sobre os créditos efetuados na conta poupança nº 013.003086432 -
Agência nº 00414, da CEF, pelo valor original de R$ 22.513,58 (vinte e dois
mil, quinhentos e treze reais e cinquenta e oito centavos) depositados na
referida conta e não revertidos.
As imagens contidas no Relatório de Saques da CEF (Ev. 1/e-
Proc/Volume 45/fls. 832 e 833) apontam dois saques efetuados na conta
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2. DISPOSITIVO
Ante o exposto, quanto ao Cap Ex Flávio Cavalcante Salomão, dou
provimento aos presentes Embargos para, reformando o Acórdão recorrido, tão
somente, absolvê-lo da imputação da prática do crime tipificado no art. 251 do
CPM, c/c o art. 53 e com o art. 251, § 3º, tudo do referido Códex, com fulcro
no art. 439, alínea e, do CPPM. Quanto ao Maj Ex Waldelino Cândido Rosa
Júnior, nego provimento aos presentes Embargos Infringentes, para manter na
íntegra o Acórdão recorrido pelos seus próprios e jurídicos fundamentos.
Quanto ao Maj Ex Gerson Osmar Bruno Magalhães Senna, dou provimento
aos presentes Embargos Infringentes, reformando parcialmente o Acórdão
recorrido, para absolvê-lo do crime previsto no art. 251, caput, e § 3º, c/c o art.
53, caput, do CPM, com fulcro no art. 439, alínea e, do CPPM.
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os ministros do
Superior Tribunal Militar, em sessão de julgamento, sob a Presidência do
Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho Ferreira, na conformidade do
Extrato da Ata de julgamento, por maioria, nos termos do art. 79, § 3º, do
RISTM, em não conhecer dos argumentos defensivos, de nulidade do processo,
por inobservância do disposto no art. 368 do CPPM. No mérito, por maioria, em
rejeitar os presentes Embargos Infringentes, para manter o Acórdão na parte em
que condenou o Maj Ex Waldelino Cândido Rosa Júnior; por maioria, em dar
provimento aos presentes Embargos para, reformando o Acórdão recorrido,
absolver o Cap Ex Flávio Cavalcante Salomão da imputação pela prática do crime
tipificado no art. 251 do CPM, c/c o art. 53, tudo do CPM, com fulcro no art. 439,
alínea e, do CPPM; e, por maioria, em dar provimento aos presentes Embargos
para, reformando o Acórdão recorrido, absolver o Maj Ex Gerson Osmar Bruno
Magalhães Senna da imputação pela prática do crime tipificado no art. 251 do
CPM, § 3º, c/c o art. 53 do CPM, com fulcro no art. 439, alínea e, do CPPM.
Brasília, 12 de novembro de 2018 – Dr. José Barroso Filho, Ministro-
Relator para o Acórdão.
DECLARAÇÃO DE VOTO VENCIDO DO MINISTRO
Ten Brig Ar FRANCISCO JOSELI PARENTE CAMELO
Embargos Infringentes e de Nulidade Nº 7000024-86.2018.7.00.0000
Em sessão de julgamento realizada no dia 12 de novembro de 2018, o
Tribunal decidiu, por maioria, nos termos do art. 79, § 3º, do RISTM, em não
conhecer dos argumentos defensivos, de nulidade do processo, por
inobservância do disposto no art. 368 do CPPM, contra o voto da Ministra
MARIA ELIZABETH GUIMARÃES TEIXEIRA ROCHA, que os conhecia. No
mérito, por maioria, rejeitou os presentes Embargos Infringentes, para manter
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168
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. REGISTRO DE IMÓVEL INEXISTENTE.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO E DO TABELIÃO. IMPOSSIBILIDADE DE
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE Nº 7000024-86.2018.7.00.0000 381
fardados, que estavam realizando os referidos saques (...)”, e cita dentre eles o
nome do ora Embargante (fls. 3.440/3.446).
Para além, os autos mostram que, à época dos fatos, o Cap SALOMÃO
era Adjunto do Setor Financeiro e responsável pelo fechamento mensal da
folha de pagamento e seu respectivo processo de prestação de contas,
portanto, poderia e deveria ter atuado para impedir a consumação do delito.
Todavia, o esquema fraudulento só foi percebido por um gerente da Caixa
Econômica Federal.
No tocante à obtenção da vantagem indevida, o Relatório de Auditoria
de Tomada de Contas Especial (fls. 3.440/3.446) e o Laudo Pericial Contábil
(fls. 1.022/1.033) aponta que o Réu creditou valores nas contas nº
013.000541308 e nº 013.000541251, ambas da agência nº 09225, num
montante de R$ 42.936,58 (fls. 6.363/6.375). Todavia, não há provas de ser o
Cap SALOMÃO o autor de tais movimentações. O que existe, como bem
lançado no laborioso voto minoritário da eminente Ministra Elizabeth, são os
saques filmados pelas câmeras, no dia 08/04/2002, às 9:46:13, 9:52:15 e
9:52:52; e no dia 10/04/2002, às 13:37:31 e 13:38:20, e confirmados nos
mesmos horários das contas cujos titulares eram Derivaldo Luciano de Lima e
Severino Trindade, ambas abertas com o fito de receber valores da fraude. Os
saques foram os seguintes: um de R$ 560,00, dois de R$ 500,00 e outros dois
de R$ 1.000,00, perfazendo um total de R$ 3.560,00.
Denota-se, mais uma vez, como já abordado na análise do recurso do
Maj MAGALHÃES, que a perícia usou de mera presunção para creditar toda a
movimentação ocorrida nas citadas contas ao réu Cap SALOMÃO.
Corrobora com essa assertiva a ressalva do TCU, em seu Relatório de
Tomada de Contas Especial, quando afirma que:
[...] As contas acima não representam a totalidade dos valores
movimentados, sendo que não foi possível identificar por imagens o
movimento das contas restantes. Por serem as 52 contas pertencentes a
falsos pensionistas implantados dentro do CPEx e por terem sido flagrados
militares do próprio CPEx movimentando estas contas, entende-se que
eles sejam responsáveis pela movimentação do saldo remanescente (fls.
3.445/3.446) [...].
Diante desse acervo probatório, é difícil prevalecer a tese de ausência
de provas que levasse a uma absolvição, na medida em que os saques das
contas dos falsos pensionistas nos exatos horários em que o réu usava o
terminal do banco deixam indene de qualquer dúvida sua participação no
esquema de desvio fraudulento da folha de pagamento do CPEx. Assim,
presentes autoria, materialidade e culpabilidade, entendo que deva ser
mantido o édito condenatório.
EMBARGOS INFRINGENTES E DE NULIDADE Nº 7000024-86.2018.7.00.0000 385
EMENTA
HABEAS CORPUS. TRANCAMENTO DE INQUÉRITO
POLICIAL MILITAR. TERCEIRO SARGENTO DO EXÉRCITO
REFORMADO POR ESQUIZOFRENIA E EM EXERCÍCIO DO
CARGO DE VEREADOR. SUPOSTA OMISSÃO DOLOSA DA
SUPERAÇÃO DA CONDIÇÃO DE SAÚDE. PRELIMINAR DE
ILEGITIMIDADE PASSIVA LEVANTADA PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO MILITAR. REJEIÇÃO. JUSTA CAUSA. VERIFICAÇÃO.
I - A instauração do procedimento investigativo originou-se
de requisição ministerial. A doutrina compactua do entendimento
segundo o qual a autoridade policial está obrigada a instaurar
inquérito, ainda que inexista hierarquia entre membros do
Ministério Público e encarregados do Inquérito Policial Militar, por
força do princípio da obrigatoriedade. O Superior Tribunal Militar
é competente para processar e julgar Habeas Corpus quando a
autoridade coatora for membro do Ministério Público Militar.
Preliminar rejeitada. Decisão unânime.
II - Em que pese este writ ser utilizado, geralmente, como
instrumento para obtenção de liberdade ou impedimento de
prisões ilegais, a doutrina e a jurisprudência consagraram a
HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000 389
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro Lúcio Mário de
Barros Góes, Vice-Presidente, no exercício da Presidência, presente o Dr. José
Garcia de Freitas Junior, representante do Ministério Público, o Plenário do
Superior Tribunal Militar, por unanimidade, rejeitou a preliminar suscitada
pela Procuradoria-Geral da Justiça Militar, de ilegitimidade passiva da
autoridade coatora. No mérito, pediu vista o Ministro Péricles Aurélio Lima de
Queiroz, após o voto do Relator Ministro Carlos Augusto de Sousa, que conhecia
do writ e concedia a ordem de Habeas Corpus para trancar o Inquérito
Policial instaurado por intermédio da Portaria nº 008/18 - Asse Ap As Jur/CMP,
de 2/5/2018, relativo ao Paciente Ubiratan Pereira Gouveia, por falta de justa
causa, sem prejuízo do disposto no art. 25 do CPPM.
Os Ministros Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, William de
Oliveira Barros, Alvaro Luiz Pinto, Artur Vidigal de Oliveira, Marcus Vinicius
Oliveira dos Santos, Luis Carlos Gomes Mattos, José Barroso Filho e Marco
Antônio de Farias aguardam o retorno de vista. O Ministro José Coêlho Ferreira
encontra-se em gozo de férias. Ausência justificada dos Ministros Odilson
Sampaio Benzi e Francisco Joseli Parente Camelo. Na forma regimental, usaram
da palavra o Advogado da Defesa, Dr. Wagner de Almeida Januário, e o
390 HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000
VOTO
Por estarem presentes as condições para o seu regular processamento,
o feito merece ser conhecido.
Foi trazida à baila a preliminar de ilegitimidade passiva da autoridade
coatora suscitada pelo Parquet das Armas por ocasião do oferecimento das
Informações.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA DA AUTORIDADADE
COATORA
Ao prestar as informações no presente writ, o membro do Parquet
manifestou-se, preliminarmente, pela sua ilegitimidade passiva. Aduziu que a
autoridade militar que instaurou o IPM deve constar como autoridade coatora,
até para que o STM seja o juízo competente para julgar o presente remédio
heroico, nos termos do art. 6º, inciso I, alínea “c”, da Lei 8.457, de 4.9.1972.
Para identificar a autoridade coatora, faz-se oportuno perquirir como o
Inquérito teve início. No caso, a instauração do procedimento investigativo
preliminar originou-se de requisição ministerial. A melhor doutrina compactua
do entendimento segundo o qual a autoridade policial está obrigada a instaurar
o inquérito policial, ainda que inexista hierarquia entre membros do Ministério
Público e encarregados do Inquérito, por força do princípio da obrigatoriedade,
que impõe às autoridades o dever de agir diante da notícia da prática da
infração penal (Renato Brasileiro de Lima. Manual de processo penal. Volume
único. 6. Edição. Salvador: Editora JusPodivm, 2018).
No caso sub examine, em uma análise açodada, pode-se incorrer na
equivocada conclusão de que, em razão da autoridade coatora compor quadro
do Ministério Público da União (MPU), o foro constitucional para apreciar o
writ não seria o STM. Ressalte-se que não se está a tratar de conduta criminal
imputada ao membro do Parquet, porquanto é consabido que compete aos
Tribunais Regionais Federais, nos termos do art. 108, inciso I, alínea “a”, da
Constituição Federal de 1988, julgar originariamente os membros do MPU, do
qual faz parte o membro do MPM.
Ademais, seria pernicioso ao paralelismo das formas admitir a
competência desta Justiça Especializada para julgar habeas corpus impetrado
contra ato de juízes castrenses, em situações de persecutio criminis na Justiça
Militar, e não conceber o mesmo aos membros do MPM em situação
congênere, para que sejam apreciados perante o Tribunal Regional Federal.
Assim, no tocante à competência, prevaleceu o entendimento perfilhado
nesta Corte, por ocasião do julgamento do HC 39-14.2017.7.00.0000, de
Relatoria do eminente Ministro Artur Vidigal de Oliveira, julgado em 9.5.2017,
bem como do julgamento do HC 199-39.2017.7.00.0000, de minha Relatoria,
julgado em 5.12.2017, cujas ementas seguem na literalidade, in verbis:
HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000 393
169
FERRAJOLI, Luigi. Derecho y razón. Trad. Perfecto Andrés Ibañes et al. Madrid: Trotta, 1995.
p. 33-45.
406 HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000
170
Processo nº 1-000337-1-07-2009-001502-5.
171
STF. MS 35.483 Agr / DF. Rel. Min. Luiz Fux. Primeira Turma. Publicado em 27/6/2018.
HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000 407
Decreto nº 72.304/73:
Art. 1º O militar reformado por incapacidade definitiva em virtude
de ferimento, acidente, doença, moléstia ou enfermidade, cujo
tratamento, por evolução da medicina ou outro motivo, venha a
recuperá-lo para o serviço ativo, poderá ser inspecionado ou requerer
inspeção, por Junta Superior de Saúde, em grau de recurso ou revisão,
para fins de retorno ao serviço ativo. (Grifei).
Depreende-se da leitura do § 1º do art. 112 do Estatuto dos Militares
que o prazo de 2 (dois) anos para o retorno do Paciente ao serviço ativo se
escoou há muito, porquanto seu ato de reforma ocorreu há aproximadamente
11 (onze) anos, permanecendo, no entanto, lapso temporal para, se o caso,
mediante o devido processo administrativo, transferir o Paciente para a reserva
remunerada sobretudo porque possui 44 (quarenta e quatro) anos de idade,
vez que nascido em 19/4/1974.
172
STM. HC 7000232-70.2018.7.00.0000. Rel. Min. Marcus Vinicius Oliveira dos Santos.
Julgado em 22/5/2018.
408 HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000
173
STF. HC 120.495. Rel. Min. Rosa Weber. Primeira Turma. Julgado em 29/4/2014.
HABEAS CORPUS Nº 7000475-14.2018.7.00.0000 409
__________
174
Art 25. O arquivamento de inquérito não obsta a instauração de outro, se novas provas
aparecerem em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado
e os casos de extinção da punibilidade.
§ 1º Verificando a hipótese contida neste artigo, o juiz remeterá os autos ao Ministério
Público, para os fins do disposto no art. 10, letra c.
§ 2º O Ministério Público poderá requerer o arquivamento dos autos, se entender
inadequada a instauração do inquérito.
175
Súmula 524-STF. Arquivado o inquérito policial, por despacho do juiz, a requerimento do
promotor de justiça, não pode a ação penal ser iniciada, sem novas provas.
HABEAS CORPUS Nº 7000818-10.2018.7.00.0000
Relator: Min. Gen Ex Luis Carlos Gomes Mattos.
Pacientes: Igor Mateus Felber e Danrlei Dornelles Rodrigues.
Impetrante: Defensoria Pública da União.
Impetrado: Juiz-Auditor Substituto da 2ª Auditoria da 3ª CJM – Justiça Militar da
União – Bagé.
EMENTA
HABEAS CORPUS. PORTE DE SUBSTÂNCIA
ENTORPECENTE. PRISÃO EM FLAGRANTE. PRISÃO PREVENTIVA.
FUNDAMENTAÇÃO INSATISFATÓRIA. PRINCÍPIO DA NÃO
CULPABILIDADE.
Conforme insculpido no artigo 5º, inciso LVII, da
Constituição Federal, o princípio da não culpabilidade impõe
conceituar a prisão preventiva como medida excepcional, a exigir,
para a sua decretação, fundamentação legal e fática vinculada ao
caso concreto.
À luz de tanto, não bastam para arrimar um decreto de
constrição cautelar da liberdade do indivíduo a mera reprodução
do texto legal e a formulação de considerações genéricas sobre a
gravidade do fato e a nocividade das suas repercussões no universo
da Caserna, mesmo se tratando dos chamados delitos de
entorpecente.
In casu, a Decisão hostilizada efetivamente padece de
fundamentação fática idônea, na medida em que se assenta,
essencialmente, no pressuposto genérico e não substancial de que
a liberdade dos Pacientes ensejaria danos à hierarquia e à
disciplina, ou seja, na vaga e meramente hipotética assertiva de
que tais danos dar-se-iam em razão do modo como a droga foi
apreendida e da existência de testemunhas de que o seu consumo
seria operado no interior da Organização Militar.
O Superior Tribunal Militar não prestigia a prisão preventiva
fora da sua conceituação de medida de cautela de interesse
processual penal, mesmo que, ao sentir comum, as condutas dos
agentes possam ser, conceitualmente, reprováveis e ofensivas a
bens jurídicos de notória relevância nas Forças Armadas. Por isso
mesmo a Corte tem repelido qualquer constrição preventiva de
liberdade do indivíduo, que, extrapolando seus contornos de
medida de natureza cautelar, signifique antecipação de pena
incerta ou, mesmo, medida para desestimular conduta semelhante
por parte de outros militares.
Precedentes.
Conhecimento do Habeas Corpus e concessão da Ordem
para cassar a Decisão hostilizada e conceder a liberdade provisória
aos Pacientes, ratificando a liminar concedida.
Unânime.
HABEAS CORPUS Nº 7000818-10.2018.7.00.0000 411
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente a Dra. Arilma Cunha da Silva, representante do Ministério
Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade, conheceu
do Habeas Corpus e concedeu a Ordem para, cassando a Decisão hostilizada,
conceder a liberdade provisória aos Pacientes Igor Mateus Felber e Danrlei
Dornelles Rodrigues, ratificando a liminar concedida, nos termos do voto do
Relator Ministro Luis Carlos Gomes Mattos.
Acompanharam o voto do Relator os Ministros William de Oliveira
Barros, Artur Vidigal de Oliveira, José Barroso Filho, Odilson Sampaio Benzi,
Carlos Augusto de Sousa, Francisco Joseli Parente Camelo e Marco Antônio de
Farias. A Ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha não participou do
julgamento. Ausência justificada dos Ministros Alvaro Luiz Pinto, Marcus
Vinicius Oliveira dos Santos e Péricles Aurélio Lima de Queiroz. O Ministro
Lúcio Mário de Barros Góes encontra-se em gozo de férias. (Extrato da Ata da
Sessão de Julgamento, 12/112018).
RELATÓRIO
Trata-se de Habeas Corpus, com pedido de liminar, impetrado pela
Defensoria Pública da União, em favor dos Soldados do Exército IGOR
MATEUS FELBER e DANRLEI DORNELLES RODRIGUES, sobre os quais pesa
um decreto de prisão preventiva, de 1º/10/2018, da lavra do Juiz-Auditor
Substituto da 2ª Auditoria da 3ª CJM (evento 1 – item 1).
Conforme ressai dos termos da Inicial e do próprio teor da Decisão
vergastada, os Pacientes, em 27/9/2018, foram presos em flagrante por estarem
portando substância entorpecente no interior do 1º Regimento de Cavalaria
Mecanizado, com sede em Itaqui/RS, onde prestam serviço militar.
Sustenta a Impetrante que a Decisão que decretou a prisão preventiva
dos Pacientes é ilegal, uma vez que, em suma, teria sido proferida pelo
Magistrado a quo “sem requerimento das partes”. Sustenta, ainda, que, como
se tanto não bastasse, tal Decisão assenta-se em fatos que não a justificam,
encontrando-se, por conseguinte, desguarnecida de fundamentação válida.
A Impetrante requer, afinal, o que segue, ipsis litteris:
(1) a concessão liminar da ordem de habeas corpus, a fim de
cassar decisão que decretou a prisão dos acusados, em função da
violação ao sistema acusatório e da ausência de fundamentação idônea
para o encarceramento;
(2) que sejam colhidas as informações da autoridade coatora,
acaso as repute necessárias o relator, e determinada a intimação do
membro do Ministério Público, para que atue como fiscal da lei;
412 HABEAS CORPUS Nº 7000818-10.2018.7.00.0000
__________
Mandado de Segurança
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 7000422-33.2018.7.00.00000
Relator: Min. Ten Brig Ar Francisco Joseli Parente Camelo.
Impetrante: Idovel Danielle Ribeiro Guides.
Advogados: Fernanda Machado Lopes, Francisco Augusto Zardo Guedes, René
Ariel Dotti, Rogéria Fagundes Dotti, Julio Cesar Brotto, Vanessa
Cristina Cruz Scheremeta, André Leonardo Meerholz e Ana
Cristina Aguilar Viana.
Impetrados: Ministro-Presidente do Superior Tribunal Militar – Justiça Militar da
União – Brasília e Entidade – Centro Brasileiro de Pesquisa em
Avaliação e de Promoção de Eventos (CEBRASPE) – Brasília.
EMENTA
MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO PÚBLICO.
SUBMISSÃO DE CRITÉRIOS DE CORREÇÃO DE QUESTÕES DE
PROVA AO CRIVO DO PODER JUDICIÁRIO. MATÉRIA DE
CONTROLE DE LEGALIDADE. IMPOSSIBILIDADE.
A Suprema Corte Federal firmou entendimento, em sede de
repercussão geral (Tema 485), que não cabe ao Poder Judiciário,
no cumprimento do controle de legalidade, avaliar os critérios
adotados pelas bancas examinadoras de concursos públicos na
correção das respostas das provas, exceto quando a matéria se
referir ao cumprimento das regras previstas no edital do certame.
É justificável tal entendimento, pois, ao inverso, estar-se-ia
usurpando a competência das bancas examinadoras, as quais
deverão possuir autonomia até mesmo quando da elaboração e
execução de certames destinados ao Poder Judiciário, na medida
em que não pode atribuir maior conhecimento a ele, Judiciário,
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 7000422-33.2018.7.00.00000 419
DECISÃO
Sob a Presidência da Excelentíssima Senhora Ministra Maria Elizabeth
Guimarães Teixeira Rocha, presente o Dr. Clauro Roberto de Bortolli,
representante do Ministério Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar,
por unanimidade, na forma do art. 78-A do RISTM, determinou o
sobrestamento do feito.
O Ministro Lúcio Mário de Barros Góes encontra-se em gozo de férias.
Na forma regimental, usaram da palavra o Advogado da Impetrante, Dr.
Francisco Augusto Zardo Guedes, a Advogada da União, Dra. Layla Kaboudi, e
o Subprocurador-Geral da Justiça Militar, Dr. Clauro Roberto de Bortolli. As
partes serão intimadas do retorno de vista para a sequência do julgamento.
(Extrato da Ata da Sessão de Julgamento, 13/9/2018).
RELATÓRIO
Trata-se de Mandado de Segurança impetrado por IDOVEL DANIELLE
RIBEIRO GUIDES, candidata do concurso público para provimento do cargo
de Analista Judiciário, área fim, da Justiça Militar da União, nos termos do
Edital nº 1/2017.
Por discordar do resultado final do concurso público, insurge a
Impetrante contra os atos do Sr. Diretor-Geral do Centro Brasileiro de Pesquisa
em Avaliação e Seleção de Pessoas (CEBRASPE) e do Sr. Ministro-Presidente do
Superior Tribunal Militar, apontados como autoridades coatoras, em face
daquele realizar o certame e este homologar seu resultado.
Sustenta que o gabarito do citado concurso restou equivocado nas
questões de números 116, da prova de conhecimentos específicos, e 46, da
prova de conhecimentos gerais, na medida em que tais itens se encontram
eivados de ilegalidade, passíveis de correição pelo Poder Judiciário, porquanto
trata a matéria de mero controle de legalidade, sem adentrar no mérito
administrativo. Embasa seu argumento em decisões do STJ.
Ao apontar o defeito no enunciado da questão de nº 46, cuja redação
é “No Google Chrome, o Menu de Configurações oferece a opção de importar
os arquivos de favoritos e configurações, no caso de se aproveitar a lista de
sítios favoritos e a lista de senhas de acesso salvas, para uso em outros
browsers ou outros dispositivos e computadores”, alega a Impetrante haver
manifesta ilegalidade da questão, vez que não há como importar a lista de sítios
favoritos e a lista de senhas de acesso salvas para outros browsers
(navegadores), pois se trataria de exportação. Por conseguinte, assevera que a
assertiva deveria ser considerada incorreta, como assinalado por ela no
gabarito, mas esse considerou como correto tal enunciado.
Já no que se refere à questão de nº 116, essa apresentou o seguinte
enunciado: “Determinado juiz indeferiu mandado de segurança por verificar
que o pedido visava impugnar ato praticado pelo presidente do STM, estando
tal ato sujeito a recurso administrativo com efeito suspensivo. Assertiva: Nessa
situação, agiu corretamente o juiz”. O gabarito considerou como correta tal
assertiva, mas a Impetrante assinalou como incorreta.
Sustentou patente ilegalidade da questão, considerando que a
competência para julgar ato do Presidente do STM, impugnado pela via do MS,
caberia ao próprio Superior Tribunal Militar, a teor do art. 6º, alínea “d”, da Lei
nº 8.457/92, bem assim o art. 4º, inciso I, alínea “c”, do RISTM. Nesse caso, a
providência cabível seria a remessa dos autos à autoridade competente, após
declinação da competência. Por conseguinte, não caberia a extinção do feito,
conforme apregoado pelo enunciado nº 116.
MANDADO DE SEGURANÇA Nº 7000422-33.2018.7.00.00000 421
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__________
Recurso em Sentido Estrito
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000 429
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000
Relator: Min. Gen Ex Marco Antônio de Farias.
Relator para o Acórdão: Min. Dr. Artur Vidigal de Oliveira.
Recorrente: Ministério Público Militar.
Recorrida: Emanuella Roberta Pinheiro de Lima, 3º Sgt Ex.
Advogado: Dr. Maurício Vicente Fagoni Serafim.
EMENTA
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. MPM. REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA. DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA. AUSÊNCIA DE
RAZOABILIDADE. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A
PROPOSITURA DA AÇÃO PENAL.
Tem-se que a justa causa para a propositura da ação penal
consubstancia-se no exame da acusação sob dois pontos: a
existência de elementos típicos (tipicidade objetiva e tipicidade
subjetiva); e a presença de lastro probatório mínimo e firme acerca
da autoria e da materialidade da infração penal. Inexistindo
razoabilidade e justa causa para a instauração da ação penal militar,
impõe-se a manutenção da Decisão de rejeição da Denúncia.
Recurso conhecido e não provido. Decisão por maioria.
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente o Dr. Alexandre Carlos Umberto Concesi, representante do
Ministério Público, e na forma do art. 78 do RISTM, pediu vista o Ministro
Artur Vidigal de Oliveira, após o voto do Relator Ministro Marco Antônio de
Farias, que dava provimento ao Recurso Ministerial para, desconstituindo a
Decisão questionada, receber a Denúncia oferecida em desfavor da 3º Sgt
Emanuella Roberta Pinheiro de Lima, como incursa no art. 343 do CPM,
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000 431
176
GRAGNANI, Juliana. 11 motivos que levam as mulheres a deixar de denunciar casos de assédio
e violência sexual. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41617235. Acesso em:
14 maio 2018.
177
DATAFOLHA, Instituto de Pesquisas. 42% das mulheres brasileiras já sofreram assédio sexual.
Disponível em: http://datafolha.folha.uol.com.br/opiniaopublica/2018/01/1949701-42-das-
mulheres-jasofreram-assedio-sexual.shtml. Acesso em: 16 maio 2018.
178
GRAGNANI, Juliana. 11 motivos que levam as mulheres a deixar de denunciar casos de assédio
e violência sexual. Disponível em: http://www.bbc.com/portuguese/brasil-41617235. Acesso em:
14 maio 2018.
440 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000
179
ASSIS, Joanna de. Escândalo na ginástica. Disponível em: http://interativos.globoesporte.
globo.com/ginastica-artistica/abuso-na-ginastica/especial/escandalo-na-ginastica. Acesso em:
16 maio 2018.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000 441
hábito, não haveria razão para que se quedasse tão preocupado, a ponto de
buscar redimir-se com a subordinada.
Conforme consignado pelo Juízo a quo, “falta de decoro dá nisso:
oportunidade de ser mal interpretado”.
É pertinente destacar, ainda, que o 1º Tenente ATHUS afirmou ter se
desentendido dentro do quartel com um Oficial mais antigo, o Capitão Ex
NUNES LOPES, à época seu Comandante.
Em sua oitiva, às fls. 269-270 - Vols. 13 e 14, contrariando todas as
informações prestadas pelo 1º Tenente, o Capitão Ex NUNES LOPES asseverou
ter se desentendido com o 1º Tenente ATHUS por problemas na relação de
hierarquia entre eles, fundados, principalmente, nos comportamentos
profissionais do 1º Tenente, contrários aos preceitos da caserna e citou como
exemplos as seguintes ocorrências: chegar atrasado para o expediente, não
participar de formaturas previstas, não obedecer às ordens emanadas por ele,
na qualidade de seu comandante, entre outras.
Dessa forma, consta nos autos que o Capitão Ex NUNES LOPES passou
a orientá-lo, por diversas vezes, visando à melhoria de seu comportamento. No
entanto, o Oficial Subalterno não apresentou evolução em suas condutas,
obrigando-o a seguir o Regulamento Disciplinar do Exército (RDE) e, por essa
razão, no período em que o comandou, entregou a ele, por duas vezes, o
Formulário de Apuração de Transgressão Disciplinar (FATD).
Nesse ponto, vale destacar, conforme já apresentado, que quem
apresenta comportamentos morais e profissionais contrários aos preceitos da
caserna e expõe de forma categórica o Exército Brasileiro é o Oficial 1º
Tenente ATHUS, punido duas vezes por seu Comandante. Por seu turno, em
relação à Graduada, apesar da tentativa do 1º Tenente ATHUS em denegri-la
profissionalmente, extraem-se dos autos elogios acerca da qualidade e do
comprometimento laboral.
Assim, as condutas do 1º Tenente ATHUS acima destacadas, reportadas
por diversos militares pertencentes à Organização Militar, certamente não
condizem com aquelas esperadas de um Oficial das Forças Armadas.
É possível reconhecer que o 1º Tenente ATHUS não guarda o
pundonor militar e o decoro impostos à classe, descumprindo, evidentemente,
as normas de boa educação e conduzindo-se de modo a prejudicar o respeito
e o recato militar, exigidos pelo Estatuto dos Militares.
Diante desses fatos, questiono se é esse tipo de Oficial, que
desmoraliza a instituição, que esta Corte deve considerar vítima, como
pretende o Órgão Ministerial, em detrimento de uma Graduada elogiada por
sua qualidade profissional, reconhecida pelos seus pares e superiores
hierárquicos.
452 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000
postura menos reservada fora dos quartéis, tal circunstância não deve
ser enaltecida para transmudar a sua possível condição de vítima para
acusada de denunciação caluniosa por não ter conseguido comprovar
os fatos que descreveu ter ocorrido.
Também não procedem os argumentos ministeriais de que seria no
mínimo “surreal” que alguém agredida sexualmente viesse posteriormente a
fazer alusões a receio de represálias para justificar que viesse a relatar o
ocorrido somente após transcorridos 47 dias e que, afirma ainda o MPM,
“uma vítima de agressão sexual dificilmente se manteria calma e fria logo
depois do fato, a ponto de chegar a trabalhar normalmente e ainda se manter
suficientemente calma a ponto de despachar com seu Comandante sem que
o mesmo notasse alguma alteração em seu comportamento.
Ora, também nesse ponto as ponderações ministeriais não
merecem qualquer respaldo, sendo cediço que o sofrimento íntimo e
silencioso das vítimas é justamente uma das características dos crimes
dessa natureza e que apenas recentemente tem alcançado devida
publicidade e repúdio por parte no meio social e jurídico provocado a
debruçar o tema.
Ao contrário do que afirmado pelo MPM, o caderno probatório
nada tem de robusto contra a 3º Sgt EMANUELLA, muito pelo contrário.
O fato do IPM contra o 1º Ten ATHUS ter sido arquivado, pelas
dificuldades conhecidas na apuração de crimes dessa natureza, não
enseja, como dito, que a possível vítima automaticamente figure na
condição de denunciada por não ter comprovado os fatos graves que
relatou em algum momento da sua angústia que pode persistir no
tempo, embora esmaecidas as eventuais provas no decorrer dos dias.
(Destaquei).
Outrossim, a Decisão de arquivamento da Denúncia oferecida contra o
1º Tenente Ex ATHUS (fls. 354-366 - Vol. 17) não teve como fundamento a
inexistência de fato ou a negativa de autoria, mas a ausência de elementos
probatórios mínimos e suficientes para o oferecimento da Denúncia.
Portanto, em momento algum ficou comprovado que o assédio não
existiu, apenas não restou provado, o que não pode dar ensejo à afirmação de
que a 3º Sargento Ex EMANUELLA mentiu. Não conseguir provar e mentir são
condutas que não encontram interseção. Uma não decorre da outra.
Se assim fosse, a grande maioria dos inquéritos que não obtivessem
provas suficientes para lastrear a deflagração de uma ação penal desaguariam,
obrigatoriamente, em outra averiguação para investigar suposto crime de
denunciação caluniosa.
Reitero que, diante da inexistência do elemento subjetivo, dolo direto
do art. 343 do CPM, caso a Denúncia contra a 3º Sargento Ex EMANUELLA
fosse recebida, este Tribunal estaria fomentando a prática de atitudes
inaceitáveis em um ambiente profissional, principalmente o militar, inibindo,
458 RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000
da vítima, uma vez que tais crimes, normalmente, ocorrem na surdina, sem a
presença de testemunhas. Exige-se, obviamente, a coerência do relato em
consonância com as demais provas.
Confiram-se os seguintes julgados:
Apelação. Ato libidinoso. Denúncia julgada improcedente. Recurso
do Órgão Ministerial. Apelo provido. O militar que pratica, ou permite
que com ele se pratique, ato libidinoso, em lugar sujeito à Administração
Militar, comete o crime previsto no art. 235 do CPM. A prática a que faz
menção o tipo penal previsto no art. 235 do CPM dificilmente deixa
vestígios; todavia, a ausência do exame de corpo de delito pode ser
suprida por outros elementos probatórios, se hábeis a comprovar a
materialidade do delito. Nos crimes sexuais, o entendimento
prevalecente é no sentido de se atribuir valor probante e
incriminatório à palavra da vítima, já que, por causa da natureza
singular da ação ilícita, raras são as testemunhas; caso contrário,
dificilmente poderia ser comprovada a autoria. Reputa-se como de
inegável valor probante a palavra do ofendido, que atribuiu a autoria do
ato libidinoso ao Apelado, por meio de minudente e coesa versão,
inclusive corroborada por provas testemunhais. Aplica-se como
majorante, na 3ª fase da individualização da pena – método trifásico – a
agravação da pena descrita no art. 237, inciso II, do CPM, ao oficial
condenado pela prática de ato libidinoso previsto no art. 235 do mesmo
codex. Apelo provido. Decisão por maioria. (STM: Apelação nº 3-43.2005.
7.08.0008 (2007.01.050778-7), Ministro Relator Antonio Apparicio Ignacio
Domingues, DJ de 5/6/2009) (grifei).
que inexistiu mínimo indício probatório de qualquer conduta delitiva por ele
praticada.
Dessa forma, como se houvesse consequência lógica, entendeu por
oferecer Denúncia contra a 3º Sgt Ex Emanuella, com fulcro no art. 343 do
Código Penal Militar (CPM), em razão de que a Graduada, com vontade livre e
consciente, falsamente imputou ao 1º Ten Ex Athus fatos descritos na lei penal
militar como crimes sexuais (tentativa de estupro e atentado violento ao pudor)
e de violência contra inferior, apesar de estar ciente da inocência do Oficial e,
em decorrência da falsa imputação, deu causa à instauração de IPM.
A eminente Juíza-Auditora Dra. Flávia Ximenes Aguiar de Sousa
arquivou o IPM no que se refere à conduta do Oficial, sem prejuízo da
apreciação de seu comportamento à luz do Regulamento Disciplinar do
Exército, se assim entendesse necessário a Autoridade Administrativa Militar,
levando-se em consideração a falta de decoro do Indiciado em ajeitar suas
vestes em pleno local de trabalho. Ademais, em profícua argumentação
jurídica, afastou a Denúncia oferecida em desfavor da 3º Sgt Ex Emanuella com
base nos seguintes termos:
[...] Pode até ser que a Graduada tenha dado uma dimensão maior à
conduta do indiciado do que realmente merecia. Mas, dado os hábitos
inconvenientes do Oficial Subalterno, não surpreenderia ter sido mal
interpretado. Destarte, daí a deduzir que tal interpretação distorcida se
traduza no dolo exigido pelo crime de Denunciação Caluniosa, seria super
valorar uma conduta desprovida de fundamento mínimo que o sustente [...].
É fundamental relevar, no entanto, que, apesar de se analisar o
recebimento da Denúncia em desfavor da militar, as condutas do 1º Ten Ex
Athus precisam ser brevemente descritas, uma vez que podem evidenciar
estreita dimensão do elemento subjetivo do crime de denunciação caluniosa
como em brilhante análise trazida no Voto Divergente do eminente Ministro
Dr. Artur Vidigal de Oliveira.
A Terceiro Sargento do Exército Jussara dos Santos Lopes Silveira de
Medeiros noticiou que, quando tirou serviço na função de Graduada ao Rancho
com o 1º Ten Ex Athus, escalado na função de Oficial-de-Dia, foi questionada
por ele sobre o cheiro do perfume usado, momento em que o Oficial disse que
aquele aroma despertava nele um “instinto animal”. No tocante a esse fato,
figura nos autos que, na ocasião, o Oficial teria relatado não conseguir sentir
cheiro de fragrância que o atraísse, porquanto lhe despertava uma “vontade de
pular e rasgar a roupa de quem estivesse usando o perfume”.
A testemunha revelou em seu depoimento que orientou as demais
militares a não utilizarem perfume, para não despertarem naquele Oficial tal
sentimento vil. Constata-se a anormalidade da situação em que, para prevenir
eventuais assédios, houve a conveniência de alterar práticas comuns.
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Nº 7000082-89.2018.7.00.0000 475
__________
Revisão Criminal
REVISÃO CRIMINAL Nº 0000183-85.2017.7.00.0000
Relator: Min. Gen Ex Lúcio Mário de Barros Góes.
Revisor: Min. Dr. Artur Vidigal de Oliveira.
Requerente: Laura Abreu Costa dos Santos.
Advogada: Dra. Jane Maria Parra.
Requerida: Justiça Militar da União.
EMENTA
REVISÃO CRIMINAL. NULIDADES. AUSÊNCIA DE DEFESA
TÉCNICA. NÃO REALIZAÇÃO DE EXAME DE CORPO DE DELITO.
NOVAS PROVAS. DEFERIMENTO PARCIAL.
1. No processo em que o Acusado fora condenado, não foi
minimamente satisfatória a Defesa da Requerente, devendo ser
considerada a sua situação de revelia.
2. Não houve a confissão, uma vez que a Ré foi julgada à
revelia, e os documentos juntados aos autos são meras cópias,
tendo o CPJ nelas se baseado, ao contrário do que dispõe o art.
328 do CPPM.
3. A Requerente apresentou novas provas, principalmente
relativas à entrega de documentos junto à Seção de Inativos e
Pensionistas, informando a morte da falecida pensionista.
4. A Ação de Revisão Criminal é cabível quando há erro
judiciário ou tenham surgido novas provas capazes de afastar a
condenação imposta, tendo sido ambos demonstrados pela
Requerente.
5. Os demais pedidos relativos à Execução na Vara da
Justiça Federal e à responsabilização do verdadeiro autor do delito
não se encontram na esfera de competência do STM.
REVISÃO CRIMINAL Nº 0000183-85.2017.7.00.0000 485
DECISÃO
Sob a Presidência do Excelentíssimo Senhor Ministro José Coêlho
Ferreira, presente a Dra. Anete Vasconcelos de Borborema, representante do
Ministério Público, o Plenário do Superior Tribunal Militar, por unanimidade,
deferiu, em parte, o pedido revisional, para absolver Laura Abreu Costa dos
Santos, com fulcro no art. 439, alínea “e”, c/c o art. 558, tudo do CPPM, tendo
em conta, também, as nulidades apontadas, nos termos do voto do Relator
Ministro Lúcio Mário de Barros Góes.
Acompanharam o voto do Relator os Ministros Artur Vidigal de Oliveira
(Revisor), Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha, Marcus Vinicius Oliveira
dos Santos, Luis Carlos Gomes Mattos, José Barroso Filho, Odilson Sampaio
Benzi, Carlos Augusto de Sousa, Francisco Joseli Parente Camelo e Marco
Antônio de Farias. Declarou-se impedido o Ministro Péricles Aurélio Lima de
Queiroz, na forma do art. 144 do RISTM. Os Ministros William de Oliveira
Barros e Alvaro Luiz Pinto não participaram do julgamento. Ausência justificada
do Ministro Cleonilson Nicácio Silva. (Extrato da Ata da Sessão de Julgamento,
7/8/2018).
RELATÓRIO
Trata-se de ação revisional interposta por LAURA ABREU COSTA DOS
SANTOS, Civil, com fulcro nos arts. 550 e 551, alínea “c”, ambos do CPPM,
objetivando o reconhecimento de error in judicando, com a cassação da
condenação a ela imposta, em 15/12/2005, pelo Conselho Permanente de
Justiça para o Exército da 3ª Auditora da 1ª CJM, nos autos da Ação Penal
Militar nº 55/03-4, na qual lhe foi aplicada a pena de 01 ano e 04 meses de
reclusão, como incursa, por desclassificação, no art. 240 do CPM, com o
benefício do “sursis” pelo prazo de 02 anos, o direito de apelar em liberdade e
o regime prisional inicialmente aberto.
A Petição Inicial (Arquivo 2 - fls. 02/13) baseia-se, em síntese, nos
seguintes argumentos:
(...)
II - BREVÍSSIMO RESUMO DA LIDE
A revisionanda foi denunciada em 06/10/2003 (d. 4/5) por
infringência ao artigo 251 do CPM, pois teria recebido valores
indevidamente, desde o falecimento da Sra. Lea Cunha de Albuquerque
27/09/2000 (d. 5a) até abril de 2002, totalizando a importância de R$
17.579,81, ocasião em que foi excluída pelo Centro de Pagamento do
Exército. (d. 5/6).
486 REVISÃO CRIMINAL Nº 0000183-85.2017.7.00.0000
revelia da Ré, que sequer teve a oportunidade de ter Sentença contra ela
analisada pelo segundo grau de jurisdição.
Assim sendo, no estado de direito e sob o manto das garantias
constitucionais, não é concebível que a Ré seja gravemente prejudicada
simplesmente por desídia ou incúria da Defesa, mormente quando o Defensor
é Público ou nomeado pelo Estado.
Sobre a imprescindibilidade da Defesa técnica, assim prevê a
Constituição Federal:
Art. 5º (...)
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo e aos
acusado em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes.
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos
que comprovarem insuficiência de recursos.
Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça.
Comentando o art. 5º da CF, assim leciona Alexandre de Moraes, hoje,
Ministro do STF:
A Constituição Federal de 1988 incorporou o princípio do devido
processo legal, que remonta à magna Carta Libertatum, de 1215, de vital
importância nos direitos inglês e norte-americano. Igualmente, o art. XI, 1º,
da Declaração Universal dos Direitos do Homem garante que:
‘todo homem acusado de um ato delituoso tem o direito de ser
presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de
acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenha sido
asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa.’
(...)
O devido processo legal configura dupla proteção ao indivíduo,
atuando tanto no âmbito material de proteção ao direito de liberdade e
propriedade quanto no âmbito formal, ao assegurar-lhe paridade total de
condições com o Estado-persecutor e plenitude de defesa (direito à
defesa técnica, à publicidade do processo, à citação, à produção ampla
de provas, de ser processado e julgado pelo juiz competente, aos
recursos, à decisão imutável, à revisão criminal).
(...)
O devido processo legal tem como corolários a ampla defesa e o
contraditório, que deverão ser assegurados aos litigantes, em processo
judicial criminal e civil ou em processo administrativo, inclusive aos
militares, e aos acusados em geral, conforme texto expresso
constitucional.
(...)
REVISÃO CRIMINAL Nº 0000183-85.2017.7.00.0000 501
(...)
Caso a barreira de admissibilidade seja ultrapassada, o
entendimento é de que a Revisão Criminal proposta deve ser provida,
diante da inexistência de defesa técnica efetiva (violação aos
princípios da ampla defesa e do contraditório) e por conta da ausência
de provas suficientes quanto à autoria delitiva, aptas a embasar o édito
condenatório.
Com efeito, temos que a ampla defesa e o contraditório não foram
efetivados no curso da ação penal, gerando sérios prejuízos à defesa da
então acusada Laura Abreu Costa dos Santos, importando em nulidade
absoluta do feito, ainda mais quando se verifica que a mesma respondeu
a citada ação penal na situação de revel. Ademais, ao nosso sentir, existe
fundada dúvida acerca da autoria do delito, nos afigurando como
concreta a possibilidade de ocorrência de incorreção no sancionamento
penal imposto à civil Laura Abreu Costa dos Santos.
No que tange à nulidade absoluta do processo, resta esclarecer os
motivos que, a nosso sentir, levaram a esse entendimento.
O primeiro motivo é que não houve defesa técnica efetiva. Basta ver,
ainda que à guisa de mero exemplo, as alegações escritas que foram
apresentadas pela defesa, condensadas em 06 (seis) linhas rabiscadas, com
uma genérica e infrutífera tentativa de expor teses de negativa de autoria e de
ausência de conjunto probatório apto a embasar a condenação.
(...)
Com as vênias de estilo, o acontecido quando da apresentação das
alegações escritas defensivas foi a síntese do que já havia ocorrido em
outras fases processuais pretéritas, em que a defesa sequer solicitou
provas, como, v. g., perícia nos documentos acostados aos autos – muitos
por cópias não autenticadas e de baixa qualidade, os quais foram
produzidos somente em sede inquisitorial, e a oitiva das testemunhas que
tiveram contato com evento criminoso para, pelo menos, tentar
desqualificar a investigação produzida.
Aliás, a defesa não arrolou nenhuma testemunha e é bom
mencionar que tal não decorreu de impossibilidade física e/ou jurídica.
Isso porque era possível ouvir os militares que trabalhavam na Seção de
Inativos e Pensionistas da 1ª Região Militar, como, a título de mero
exemplo, o agora ex-Cabo do Exército Dos Reis e o ex-Soldado do
Exército Castro, com o objetivo de constatar se a acusada efetivamente
protocolou naquela Seção algum documento que atestasse o óbito da
mencionada pensionista.
Não bastassem todos os possíveis equívocos relatados acima, logo
após a apresentação do arremedo de alegações escritas defensivas, o
Juízo de 1º Grau designou data de julgamento, a ocorrer dentro de seis
dias, e, apenas três dias antes do julgamento, citando uma greve da
Defensoria Pública da União, nomeou defensor dativo à acusada), nada
dizendo acerca da nomeação de curador (o processo transcorria à revelia,
como já anotado), sendo certo que o defensor dativo nomeado sequer
504 REVISÃO CRIMINAL Nº 0000183-85.2017.7.00.0000
foi intimado do julgamento), nada existindo nos autos que aponte que o
referido defensor tenha sequer manuseado o processo, antes da
realização do citado julgamento. Talvez por isto, como se vê na Ata da
Sessão de Julgamento, fls. 391 usque 393, o defensor dativo iniciou sua
fala aduzindo que estava “quase que isento da necessidade de sustentar”
(???), ratificando o pedido de absolvição, por insuficiência de provas. Tal
pedido, “ratificado” na sessão de julgamento, é o constante do arremedo
de alegações escritas, ao qual já nos reportamos.
Mais ainda, no mesmo dia da leitura de sentença e intimação da
defesa dativa, foram fixados os honorários do advogado que atuou no
julgamento, consoante verte à fls. 401, do que se pode inferir que estava
terminada a atuação do mesmo no feito, pelo que não surpreende
(infelizmente) não ter havido apelação da sentença, que acabou por
transitar em julgado.
Cristalina, ao nosso sentir, com tais nuances na tramitação do
presente processo, a ocorrência de ofensa direta aos princípios
constitucionais da Ampla Defesa e do Contraditório, bem como do
Devido Processo Legal, o que aponta para a nulidade do feito. Neste
sentido, destaco da jurisprudência desta Corte Castrense:
“APELAÇÃO. DPU. ENTORPECENTE (CPM, ART. 290).
PRELIMINAR. MPM. NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO.
FALTA DE INTERESSE DE AGIR. PRELIMINAR. PGJM. NULIDADE.
AUSÊNCIA DE DEFESA TÉCNICA. PROCEDÊNCIA. Preliminar do
MPM atuante na primeira instância de não conhecimento do
Recurso por ausência de interesse recursal, uma vez que a Defesa
requereu a condenação do Réu à pena mínima. Com base no
mesmo fato, a PGJM arguiu a nulidade do Processo. Evidenciada a
ausência de defesa técnica, deve ser declarado nulo o Processo, a
partir da nomeação do Defensor dativo, em homenagem aos
princípios constitucionais do Devido Processo Legal e da Ampla
Defesa, com a baixa dos autos ao Juízo de origem para que seja
designado um Defensor Público ou outro Defensor Dativo para atuar
na Defesa do Acusado. Preliminar acolhida. Decisão unânime.”
Do corpo do acórdão, destaca-se a seguinte passagem:
“No presente caso, observa-se que, tendo o Réu declarado a
sua impossibilidade financeira para constituir defensor e, ante a
ausência de Defensor Público no Juízo em questão, foi designado o
Dr. Godofredo Nunes Filho para atuar como Defensor Dativo.
Posteriormente, decretada pelo Conselho de Justiça a situação de
revel do Acusado, foi o citado causídico nomeado também como
Curador do Réu Revel.
Apesar disso, já em Alegações Escritas, o Defensor Dativo
limitou-se a fazer referência, de maneira muito breve (em um
parágrafo de cinco linhas) à aplicação da Lei nº 11.343/2006, e a
pedir, considerando a menoridade do Réu e a pequena
REVISÃO CRIMINAL Nº 0000183-85.2017.7.00.0000 505
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ÍNDICE DE ASSUNTO
A
Administração militar
drogas
posse, 69-72
furto, 238
Aeronáutica
comandante, 251
alteração, 51, 78
séc. XVIII, 41
Concurso público
Conselho de Guerra
estelionato, 100
previdenciário, 92
desacato, 195
qualificado, 229
Entorpecente
Estupro
tentativa, 429
Forças Armadas
Império português
expansão, 21-29
medida provisória, 77
Investigação penal
transferência da, 80
Justiça Militar
Marquês de Pombal
atuação política
Brasil, 29-30
Portugal, 24-29
Militar
capelão, 260-262
coronel reformado
crime doloso, 78
julgamento e processo, 75
Missão de Böhn, 40
Organização militar
Brasil
Processo penal
transferência do, 80
Prova
ilegítima, 356
Regulamento de 1763, 41
Roubo de combustível
tentativa, 229
Vantagem ilícita, 92
Impressão e acabamento:
Gráfica do STM
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Formato: 17 x 26 cm
Papel do miolo: Sulfite 75g/m²
Papel da capa: Couchê 150 g/m² (color)
Fonte: ZapHumnst BT
Número de páginas: 514
Acabamento: Capa dura