Pinga Fogo PDF
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SOBRE
MAÇONARIA
Há alguns anos fez muito sucesso na televisão um programa de entrevistas
com esse título. Uma personalidade era convidada para responder a perguntas
sem o conhecimento prévio do conteúdo destas, porém todas dentro do campo de
sua atividade ou especialidade. As perguntas pareciam, e provavelmente eram,
espontâneas e não programadas, formuladas por participantes com interesse no
assunto. Um caloroso debate se estabelecia mantendo vivo o interesse e que
sempre terminava com o esgotamento do tempo previsto e não pelo esgotamento
da matéria.
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“O que é a Maçonaria?”
“O que prega a Maçonaria?”
“Quais os objetivos da Maçonaria?”
“Quais os princípios da Maçonaria?”
Mas, afinal, o que vem a ser a Maçonaria? É uma seita religiosas ou uma
religião? Uma sociedade secreta ou de socorros mútuos? Uma instituição
filantrópica ou filosófica? Uma sociedade de pensamento? Uma escola noturna
para adultos?
Cada uma das respostas dadas por homens letrados e estudiosos, tende a
responder apenas destacando uma de suas facetas. Para compreende-la é
necessário debruçar-se sobre as respostas que poderiam ser dadas às demais
perguntas, acima destacadas. De tanto buscar essa resposta, como tantos outros
que a têm buscado, já se insinuou em minha mente que deveria partir para um
método inverso, pela eliminação seqüente de todas noções que me digam: isto
não é Maçonaria! E depois fixar-me sobre os conceitos que restarem e procurar
dar-lhes uma unidade para chegar à essência do conteúdo destes.
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O maçom Adam Weisshaupt, tão mal compreendido pelos seus
contemporâneos e tão caluniado pelos absolutistas, e particularmente pelos seus
mais ferrenhos adversários, os jesuítas, de quem foi aluno, escreveu em Le
Signifié de la Franc-Maçonnerie, as seguintes palavras, por volta do ano de
1780:
“A Maçonaria é um sistema sacramental que, como todos
sacramentos, tem um aspecto externo e visível, constituído pelo cerimonial,
suas doutrinas e seus símbolos que se podem ver e ouvir, e um aspecto
interno, mental e espiritual, oculto sob as cerimônias, a doutrina, os
símbolos, só é proveitosa para o maçom capaz de valer-se da imaginação
espiritual e de descobrir a realidade existente por trás do véu do simbolismo
externo.”
O maçom, é exercitado a dar, mas não são dados apenas valores materiais,
e foi o que outro grande maçom, Simon Bolívar, entendeu perfeitamente ao
escrever:
“A Maçonaria é uma praia acolhedora. Ditosos aqueles que
podem alcança-la! Felizes aqueles que podem chegar até ela, vencendo as
tempestades do pensamento. No seio da Maçonaria adquirem-se grandes
virtudes e descobrem-se grandes gênios da ação e do pensamento. Na
Maçonaria, o homem aprende a elevar-se sobre o vulgo, não duvida em
esquecer, quando é necessário, de si mesmo, desde que possa oferecer aos
seus Irmãos um pouco de doçura na existência. É uma Instituição sublime.”
Esta pergunta poderia ser respondida com uma palavra de três letras. Antes
de responder, hesitei; o termo filosofia estava acompanhado de um qualificativo:
de vida. Alguns termos, de qualquer idioma, empregados no linguajar cotidiano,
adquirem nuanças e significados até que não correspondem ao pensar mais
erudito, registrado e definido em dicionários. Isto aplica-se, também, ao termo
filosofia. O que pensava o meu consulente quando formulou a pergunta? Na
dúvida, recorri ao Dicionário do Aurélio e este diz assim:
1. Estudo que se caracteriza pela intenção de aplicar incessantemente a
compreensão da realidade, no sentido de aprende-la na sua totalidade, quer seja
pela busca da realidade capaz de abranger todas as outras, o Ser (ora “realidade
suprema”, ora “causa Primeira”, ora “fim último”, ora “absoluto”, “espírito”,
“matéria”, etc., etc., etc.) quer pela definição do instrumento capaz de apreender a
realidade, o pensamento (as respostas às perguntas: que é a razão?; o
conhecimento?; a consciência?; a reflexão?; o que explicar?; provar?; que é uma
causa?; um fundamento?; uma lei?; um princípio?; etc., etc.) tornando-se o
homem tema inevitável de consideração. Ao longo da sua história, em razão da
preeminência que cada filósofo atribuía a qualquer daqueles temas, o pensamento
filosófico vem se cristalizando em sistemas, cada um em nova definição da
filosofia (o grifo é meu). 2. Conjunto de estudos... 3. Conjunto de doutrinas... 4.
Conjunto de conhecimentos.... 5. Tratado ou compêndio... 6. Exemplar de um
desses tratados... 7. Razão; sabedoria (o grifo é meu).
A meu ver, as definições 1., 2., 3., 4. e 7. correspondem ao que entendo por
filosofia maçônica; as definições 5. e 6. não correspondem, pois não existem como
tais.
No Brasil, o escritor Manoel Arão definiu a Maçonaria (mais uma definição)
como Sabedoria, não em si mesma, mas pelo modo por que ela se projeta nas
almas, visto que, escreveu ele;
“... a Sabedoria deve ser fonte de toda virtude e de toda fé, ainda
porque, em última análise, estes dois termos se confundem. A virtude que
não é parte da sabedoria não pode ser perfeita, a fé que não participe da
sabedoria, também não pode se sólida. Por que? Por simples princípio de
lógica aplicada ninguém pratica realmente o bem se não o conhece, ninguém
tem fé verdadeira se não conhece igualmente o objeto donde decorre a fé.”
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Segundo o autor citado, a Maçonaria é, pois, uma Escola de Sabedoria e de
Fé, uma peregrinação para o melhor e para o perfeito, uma busca pela certeza e
pela luz. E ele continua:
“Ela não é uma política, nem uma religião, nem uma filosofia, no
sentido particularizado de todas essas coisas. Ela é tudo isso, entretanto,
ao mesmo tempo política sem partido, religião sem dogma, filosofia sem
conclusões obrigatórias. Ela é tudo que reúne o anseio humano de
perfeição, tudo que dá asas ao intelecto e liberta da escravidão das seitas,
tudo que é luz posta ao caminho da vida para a peregrinação interminável
justamente porque busca a perfectibilidade inatingível.”
Acrescentar mais alguma coisa a tudo isto seria pretensão descabida de minha
parte.
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Outro escritor faz a sua contribuição enumerando quais as pessoas que
devem ser afastadas da Maçonaria, dizendo:
“Deveriam (não sei porque ‘deveriam’, eu penso que ‘devem’) ser
afastados da Maçonaria os sectários cuja mentalidade acha-se em oposição
formal com os princípios fundamentais de nossa Instituição; os
pretensiosos que sempre têm resposta peremptória a todas as curiosidades
do espírito, os egoístas que praticam a Fraternidade ‘em sentido único’, os
ambiciosos necessitados de encontrar na Loja apoios, clientes, cabos
eleitorais, de acordo com o seu modo de atividade profissional ou extra-
profissional; os imbecis que são peso morto a arrastar, e enfim os
astuciosos decididos a explorar sob todas as formas possíveis, o altruísmo
dos verdadeiro maçons.”
Note-se que este escritor não se refere apenas aos candidatos; ele dá a
entender que no seio da Maçonaria infiltram-se pessoas com tais atributos
negativos, ou os adquirem depois de terem ingressado na Ordem, e os repudia
com tais declarações.
Na segunda citação é definido quem não pode ser proposto, e com isto
fica a necessidade de uma proposição, o que inibe a pretensão de um eventual
candidato. Isto está sendo obedecido no Estado e o fato de alguém ter de esperar
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ser proposto, ou convidado, está sendo motivo para o afastamento de todo e
qualquer cidadão que reúne as qualidades pessoais exigidas e que concorda com
os princípios da Instituição a ponto de desejar adota-los. Esse cidadão, por não
ter em seu círculo de amizades um membro da Maçonaria e por não poder dirigir-
se diretamente a uma Loja, fica afastado da Maçonaria. Quem perde com isto?
Foi após esta leitura que adquiri a consciência do quanto me falta para ser
Maçom, apesar de ser Irmão de todos os membros da Ordem maçônica. A partir
de então tenho procurado melhorar naqueles pontos em que o meu agir, o meu
pensar, não se enquadravam perfeitamente.
Você, que não pertence à Ordem e pouco sabe a respeito dela, sejas
homem ou mulher, bem pode fazer o exercício de comparar cada item do
enunciado com o teu agir e o teu pensar, para saber o quanto você se aproxima
desse ideal, que não é uma exclusividade do Maçom, pois pessoas com essas
características são encontráveis fora da Maçonaria, mas o reconhecimento delas
geralmente ocorre após o passamento delas para a Eternidade.
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“Qual é o grande mistério da Maçonaria?”
“Se a Maçonaria e tão boa por que ela não é estudada nos
bancos escolares?”
Todas estas perguntas têm relação entre si, pois conduzem à crença de
que a Maçonaria é uma sociedade secreta, acusação que contra ela começou a
pesar poucos anos após o seu nascimento, quando começou a ser dito que,
através de métodos e princípios revolucionários, ela se opõe ao Estado e à Igreja.
Transcorridos quase trezentos anos, muitos ainda assim pensam.
Existe mais uma condição limitadora do ser livre que, nos dias de hoje,
após as grandes transformações ocorridas no panorama mundial, especialmente
no político, pode ocorrer com menor freqüência: é a de o candidato ser adepto de
ideologia ou membro (com juramento prestado) de instituição que não aceita a
existência da Maçonaria.
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Esta pergunta mais parece uma acusação do que uma indagação, pois
insinua uma não existência de homens de pele negra na Maçonaria devido a uma
atitude de segregação dos de pele branca. Não creio, em absoluto, que esta
tenha sido a intenção do perguntador, certamente desconhecedor até dos fatos
mais elementares relacionados com a Maçonaria.
Faz parte do natural recato dos maçons não ostentar a sua filiação à Ordem
em comunidades onde eles não recebem plena aceitação ou aprovação. A sua
revelação em tais circunstâncias desencadearia uma reação que eles não
necessitam sofrer, e o maçom negro numa comunidade predominantemente de
brancos tem motivos para um recato ainda maior; afinal, ninguém tem vocação
para mártir sem necessidade de sê-lo.
Poderiam ser eles mais numerosos? Certamente sim! Por que? Porque o
ingresso na Maçonaria se dá normalmente por meio de convite feito por quem já é
membro da Ordem. Quem convida, convida quem? Convida uma pessoa que
conhece bem e para conhecer bem tem de ter certa convivência – amizade – com
ela. O problema está em que tal convivência no dia-a-dia não é freqüente.
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Devemos tentar entender a pergunta tal como foi colocada. A ligação dos
maçons – e não da Maçonaria – com o Espiritismo, como doutrina e não os
espíritas. Ou será que o perguntador quis dizer: ligação entre a Maçonaria e o
Espiritismo, como Instituições que são?
Em qualquer caso, não existe nenhum elemento concreto que possa
sustentar a existência de qualquer ligação formal, ou mesmo informal, com o
Espiritismo, ou qualquer outra de todas as Religiões existentes.
O Jesus daquele tempo, como não podia deixar de acontecer, era muito
questionado pelos líderes religiosos, também detentores do poder temporal.
Desses questionamentos serviu-se Ele para ensinar ainda mais. Quando acusado
de subversão da Lei de Moisés (os 10 Mandamentos), respondeu: “Não penseis
que vim revogar a Lei e os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir.
Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nenhum i ou
nenhum til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra.”
Isto não foi dito aos católicos, aos protestantes de todas as correntes, aos
espíritas, nem aos maçons: ESTES SIMPLESMENTE NÃO EXISTIAM ENTÃO!
Então o que foi dito era dirigido às pessoas comuns, ignorantes em religião ou
adeptos formais da religião principal de então. O que valia para tais pessoas de
então continua válido para as de hoje!
Para se chegar a Deus ficou tão difícil que muitas pessoas desistiram de
participar de qualquer religião e passaram a ser discriminadas, mais ainda como
apodo de hereges ou ateus, merecendo a fogueira, apesar de em seus
corações amarem a Deus e ao Próximo! Sob tais condições, esses ateus ou
hereges começaram a unir-se em um movimento que acabou culminando na
existência da Instituição que hoje é chamada de Maçonaria.
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Apesar de a música não desempenhar grande importância nos trabalhos da
Loja, ela exerce forte influência sobre os maçons na medida que estes avançam
em sua carreira, refinando o seu gosto nas Artes, que incluem a Música. Entre os
grandes músicos e compositores que, em seu tempo eram maçons militantes, cito
de memória: Beethoven, Carlos Gomes, Gemini, Haydn, Liszt, Luiz Gonzaga,
Mozart, Sibelius, Verdi e Haendel.
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Não é necessário descrever aqui a condição da Mulher naqueles dias,
como também não é necessário lembrar a sua situação em muitos países do
terceiro mundo de hoje, particularmente na África e no Oriente, para entender que
não havia lugar para ela por falta de capacidade civil, econômica e cultural. Essa
situação perdurou por longo tempo. Em outubro de 1872, no Boletim do Grande
Oriente do Brasil, um artigo especial apreciou a situação da Mulher; desse artigo
pinço apenas algumas palavras que revelam o pensamento dos homens: “...
merecem especial menção as mulheres, cuja índole e sensibilidade são
exploradas... Estas vítimas incautas, estas crianças pelo sexo, não
compreendem, não pressentem a perigosa carreira...” Estas conclusões não
tinham nada com a Maçonaria, citei apenas para evidenciar que a Mulher era tida
como incapaz perante os desafios da vida em sociedade.
Por volta de 1874, uma Loja francesa desobedeceu a regra, fundou uma
“Loja de Irmãs”, fato que provocou enorme agitação na França. Do relatório do
Irmão encarregado de solucionar a crise, transcrevo a parte final: “Não somente
a Loja de mulheres está morta, mas a Loja Nova Era (que deu origem ao caso)
teve de morrer, deixando homens inimigos. Faço-me um dever de
reconhecer, como La Fontaine, que os galos podem viver em paz se não
aparecer uma galinha...”
Existe, todavia, uma enorme barreira a ser superada. Por este relato, quem
não o sabia, tomou conhecimento da existência de uma Maçonaria masculina,
uma andrógina (mista) e uma feminina. As três adotam os mesmos princípios, a
mesma filosofia; todas possuem suas estruturas e cúpulas administrativas, porém
a masculina ainda não foi capaz de absorver e aceitar a existência das outras
duas e se não as hostiliza também nada faz para favorece o seu desenvolvimento.
Silêncio total a respeito e esse silêncio alimenta a crença popular, até entre as
esposas de maçons, que a Mulher não tem acesso aos seus Templos.
Por que não “abrir o jogo”, “pôr as cartas na mesa”, reconhecer e não
esconder a existência de um ramo andrógino e outro ramo feminino da
Maçonaria? Negando à Mulher o direito de acesso, ela está sendo “meio
universal”, não é assim? Proclamar a universalidade da Maçonaria e segregar a
metade dos seres humanos não é uma contradição irrefutável?
O Homem gosta da Mulher, ama-a até! Por que a Maçonaria masculina não
deve gostar de uma Maçonaria feminina!!!?
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E nada mais natural do que isto, posto que é um dever do maçom
trabalhar para diminuir a miséria e o pauperismo que entravam e impedem o
desenvolvimento moral e intelectual da humanidade.
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facilitar aos maçons os meios de pesquisar a Verdade.” (O sublinhamento é
meu).
Creio que o texto acima bem responde às perguntas registradas e falar
mais seria como “chover no molhado”. Porém, cabem algumas observações
pessoais no caso. A Maçonaria inglesa e norte-americana reúnem em seus
quadros muitos milhões de membros e estes milhões, por estarem imbuídos do
dever da solidariedade, têm contribuído para a fundação, manutenção e
desenvolvimento de instituições que, por sua vez têm beneficiado milhões de
pessoas que não fazem parte dela. Como disse o Irmão Aslan, isto não é
caridade, é obra de solidariedade, própria de todo maçom que verdadeiramente
aprendeu a fazer o “desbaste da pedra bruta”.
Para nós, maçons, a “pedra bruta” representa o ser humano em seu estado
natural. A pedra, para servir a alguma finalidade, necessita ser desbastada e deve
adquirir um formato para servir na obra de construção ou de adorno. Em seu
estado natural, bruto, é um entulho sem serventia. Porém, quando trabalhada
pode adquirir mil e uma formas para outras tantas utilidades.
Para melhor entender esse simbolismo relato uma parábola, que não sei
como nem quando conheci, que serve de ilustração. Certa vez o grande mestre
Michelângelo achava-se no pátio de sua oficina de escultura examinando
atentamente um grande bloco de pedra; caminhava ao redor dela coçando o
queixo e profundamente absorto em pensamento. Chega-se a ele um menino,
filho de vizinho, e lhe pergunta: Mestre, é difícil esculpir um anjo nesta pedra? O
mestre prontamente responde: não, meu filho, é fácil, basta retirar dela aquilo que
não faz parte do anjo! Creio que a poucas pessoas que já viram a célebre
escultura, conhecida como Pietá, de qual uma cópia está em permanente
exibição na Igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul, ocorreu imaginar como era
ela antes do escultor aplicar nela o maço e o cinzel. Era um enorme bloco de
pedra sem serventia, no entanto essa magnífica obra de arte estava nela, foi
necessário apenas retirar da pedra aquilo que não fazia parte da Pietá!
Para os que temem o poder da Maçonaria; para os que pensam que ela
pouco realiza em favor da sociedade no Brasil, tenho a dizer que para cada MIL
habitantes existe apenas UM maçom. Portanto, esses MIL não devem temer o
“poder oculto” da Maçonaria e nem esperar que esse UM possa realizar muita
coisa em seu favor. Em países do chamado primeiro mundo, num deles a
proporção é de UM para 60 habitantes e em outro de UM para 6.000 habitantes,
mas o pensar e o agir desse UM é similar em qualquer país onde existem Lojas
estabelecidas. Essa unidade de pensamento é a força que tem sustentado a
existência e o crescimento, com o estabelecimento de novas Lojas em diferentes
localidades.
O leitor dirá que eu sou um sonhador, que os maçons são sonhadores que
desperdiçam a vida em cousas vãs. Novamente, a história revela quantos sonhos
inacreditáveis se tornaram realidade trazendo fama imperecível aos sonhadores.
Esse sonho poderá necessitar mais dez mil anos para se tornar realidade, mas a
delícia de sonhar é irresistível, é convite permanente a sonhar.
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“A Maçonaria considera todos como irmãos, mas escolhe
seus membros; por que?”
Acho que ela não tem nenhum preconceito – veja os Princípios Gerais da
Instituição! Muitos maçons, porém, os têm. O simples fato do homem ingressar
na Ordem não o torna isento de tais sentimentos; livrar-se deles exige tempo e
dedicação, trabalho que está exemplificado na explicação da “pedra bruta”, na
resposta sobre a “ajuda prestada pela Maçonaria”. Parece-me que o perguntador
teve a intenção de falar sobre o preconceito racial, bastante forte aqui no Sul em
relação aos portadores de sangue africano. Temos numerosos membros desde o
primeiro até o último grau de trabalho. Em outras regiões e situações, existem
Lojas com predominância de membros com sangue africano ou asiático. Em
Israel existem Lojas que reúnem em seu seio judeus e árabes. A primeira tarefa
de quem ingressa na Maçonaria é livrar-se dos preconceitos acumulados em sua
vida pretérita.
Em primeiro lugar são as leis vigentes no país onde ela existe, salvo o caso
de uma lei proibir a sua existência, quando os maçons ficam na clandestinidade.
A constituição de uma Loja, seu registro como entidade civil, e tudo o mais que for
necessário à sua existência e funcionamento, obedece as leis civis. Internamente,
existe um estatuto, que chamamos de Constituição, que define os deveres e
direitos dos seus membros, e das Lojas, uma em relação à outras. Em cada país
a s Lojas se coligam para formar um Grande Oriente, ou uma Grande Loja, que é
presidido por um Grão-Mestre dentro das atribuições fixadas na Constituição. Em
países de grande extensão territorial, como os Estados Unidos e o Brasil, um
Grande Oriente, ou Grande Loja, tem jurisdição sobre a área de um Estado
apenas. Não existe um governo mundial ou internacional, de modo que a
Maçonaria de um País, ou de um Estado, não tem subordinação a outro.
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A Maçonaria não é uma sociedade hierarquizada; por seus princípios ela é
uma fraternidade e como tal não é a única existente. Os seus membros buscam
uma convivência como a de irmãos, que compreende harmonia, paz, concórdia,
fraternização, em todos os lugares e todo o tempo.
A pergunta, como está redigida, não oferece fato concreto para receber
resposta concreta. O perguntador saberia de alguém que desapareceu por ser
maçom ou depois de ter se tornado tal? E se sabe de alguém, esse alguém não
teria se mudado para outra localidade? Parece-me que a pergunta tem relação
com a acusação comum de que a Maçonaria elimina os que a abandonam. Isto
lembra-me que em duas ocasiões em que debatia assuntos maçônicos, me foi
perguntado: “é verdade que quando alguém abandona a Maçonaria, morre?” Na
primeira vez que isto aconteceu, respondi sem hesitar: “é verdade!”. Após um
instante de pausa, para observar a reação do auditório em expectativa,
acrescentei: “tanto é verdade que aquele que não abandona também morre”.
Assim o risco de morte pesa tanto sobre os infiéis como os fiéis. A eliminação, por
morte, não passa de uma das tantas inverdades sempre assacadas contra a
Ordem. Quando alguém fizer semelhante insinuação, deve ser imediatamente
perguntado: diga quem desapareceu nessas circunstância?
O termo certo seria “fundar” e não montar. Numa localidade onde não
existe Loja maçônica é necessário reunir um certo número de maçons com o
desejo de funda-la; essa tarefa é bastante difícil e complexa. Em localidade onde
existe uma ou mais Lojas, os membros destas podem fundar uma nova.
Ele era membro de uma Loja do interior de Mato Grosso, com pouca
experiência maçônica e, talvez por isso, lançou-se numa campanha que recebeu
grande adesão popular às metas de moralização da vida pública. Nesta foi
extremamente agressivo e ofendeu muitos interesse dos que eram os donos do
poder e que foram impotentes diante da massa de votos populares dados ao
candidato. Anteriormente, como Vereador, Prefeito e Governador de São Paulo,
esteve publicamente identificado com a Maçonaria e isto, certamente, reuniu uma
forte e decidida oposição aos seus propósitos na Presidência da República, onde
a vontade dos eleitores não prevalecia. E deu no que deu. Derrotado e
desiludido, afastou-se até da Maçonaria, cuja influência tinha superestimado, e
não confidenciou a ninguém sobre as circunstâncias que cercaram a sua
renúncia.
Por não ser a Maçonaria uma Religião, não se pode dizer que ela tem um
Deus em particular. Tivesse ela um Deus particularizado estaria em conflito com
as grandes religiões do mundo e, provavelmente, teria um número insignificante
de seguidores. Tendo por propósito reunir todos os homens sob o seu lema de
Liberdade, Igualdade e Fraternidade, como condições essenciais para
subsistência e progresso dos humanos, não poderia escolher para si nenhuma
das concepções pessoais dos seguidores das religiões predominantes na fase de
sua estruturação, no início do Século XVIII.
Teísmo e Deísmo, dois termos que confundem qualquer pessoa não muito
familiarizada com questões de religião; ainda mais, por serem tão semelhantes na
sua grafia confundem-nos quando temos de definir qual é qual. Sem entrar em
considerações filosóficas longas sobre o seu significado, vejamos o que diz o
dicionário do Aurélio:
“Teísmo – doutrina que admite a existência de um Deus pessoal, causa do
mundo”;
“Deísmo – sistema ou atitude dos que rejeitando toda espécie de revelação
divina, e portanto a autoridade de qualquer Igreja, aceitam todavia, a
existência de um Deus, destituído de atributos morais e intelectuais, que
poderá ou não haver influído na criação do Universo.”
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A Maçonaria mundial trabalha em suas Lojas em diferentes Ritos, que
estabelecem as regras e cerimônias na realização dos trabalhos dos maçons
quando reunidos em sessão. Existem muitos Ritos, uns são deístas, outros são
teístas e outros agnósticos. Surpresa!? Pode ser que sim, pois todos os
adversários invariavelmente falam que a Maçonaria é uma religião herética com
finalidade de desviar, roubar adeptos das demais.; etc., etc.. mas ninguém fala da
existência de Ritos agnósticos em seu seio. O que é o agnosticismo? No
dicionário do Aurélio é dito: “Doutrina que ensina a existência de uma ordem de
realidade incognoscível.” “Posição metodológica pela qual só se aceita como
objetivamente verdadeira uma proposição que tenha evidência lógica satisfatória,”
Quem leu a resposta sobre o Deus da Maçonaria sabe que não existe a
menor possibilidade de acontecer qualquer conflito no campo das relações
pessoais sobre religião. Na Maçonaria não existe nenhuma prática de culto ou
adoração que possa, de forma mais leve imaginável, ferir a consciência do
praticante de qualquer religião e muito menos o de um adepto apenas formal
desta.
Nas últimas décadas tivemos grandes conflitos armados – guerras – entre
os seguidores de Jeová e os seguidores de Alá; ambos os lados usaram armas
adquiridas principalmente dos seguidores de Deus. Isto envolve judeus,
muçulmanos e cristãos! Lamentavelmente os líderes dessas facções não eram e
não são maçons, pois na Maçonaria não acontecem tais conflitos. Para melhor
entender isto transcrevo (a tradução é minha) um trecho de uma notícia
transmitida por um correspondente de uma revista maçônica, de língua inglesa,
em Israel:
“A Grande Loja do Estado de Israel tem feito e está fazendo, embora
pouco conhecido, trabalho de promover entendimento humano entre árabes
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e judeus nesta parte atormentada do mundo. Os dirigentes da Grande Loja
determinaram a existência de três altares para o Livro Sagrado, nos Templos
das suas Lojas: um para a Bíblia Hebraica (Tanach), outro para a Bíblia
Cristã, e o terceiro para o Corão.
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desuso, onde não mais existe o perigo de ser identificado o homem como maçom.
Em tempos idos, quando o maçom não raro tinha de enfrentar a morte por causa
de sua convicção, tinha um novo nome conhecido apenas no seio de sua Loja e
este figurava nas atas e registros internos; quando estes eram apreendidos por
autoridade tirânica esta tinha dificuldade para identificar o “herege, ou fora da lei”.
Desde os primórdios o traje dos maçons tem sido o socialmente aceito para
reuniões sérias, acompanhando a moda dos últimos séculos. Eu diria que é o
“traje de Missa”, pois o maçom comparece às reuniões com o mesmo espírito de
reverência dos que vão aos seus Templos religiosos. Sobre esse traje, durante as
reuniões, o maçom sempre usas um avental, que é o símbolo do trabalho, um
dever social do homem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Quando me propus responder por escrito a todas essas perguntas não imaginava o
resultado do trabalho. Estou contente com ele, nele aparecem as minhas opiniões pessoais
quando não transcrevo as de outros escritores. Hoje termino de coloca-lo no meu computador, de
onde posso envia-lo a qualquer pessoa que esteja conectada à Internet. Estou na véspera do meu
80º aniversário e estou relembrando o dia do meu ingresso na Maçonaria em 1958, quando a
Maçonaria era um grande mistério para mim e tinha grande ansiedade por conhece-la. Tive de
buscar o conhecimento por mim mesmo, até as fontes do conhecimento tive de encontrar, pois não
as havia em minha Loja de então. Éramos poucos e todos ignorantes. Um cego guiava outros
cegos! Não sei como superei tanta falta de objetividade em nossas reuniões. Foram muitos os
que desapareceram após o seu ingresso devido a essa falta de compreensão da Maçonaria. Eram
duas pequenas Lojas então e estas tinham juntar-se sempre que havia uma cerimônia de recepção
de novos obreiros. De vagar encontrei outros sequiosos por conhecimento e juntos conseguimos
trazer para Loja o que ela não tinha: o conhecimento do que é a Maçonaria. Não podia nem em
sonho imaginar o desenvolvimento alcançado hoje, mas ele chegou na cidade e na região. Não
estou contente ainda! Muitos entre nós ainda não somos capazes de responder a perguntas feitas
por profanos e, para ocultar sua ignorância, respondem dizendo: isto não posso responder. Quem
ouve a resposta logo pensa que o não posso encerra algum mistério, aumentando a desconfiança
e a impressão de que nós temos algo ilícito e condenável a ocultar. Eu sempre fui franco e leal.
Não podendo responder digo: isto eu não sei, porém se é importante para você irei buscar a
resposta onde ela estiver. Espero que este trabalho ajude a profanos e maçons na divulgação
correta da finalidade da nossa Ordem. Que tenhamos cada vez menos gente suspeitando de nós.
Caxias do Sul, 25 de outubro de 2004
Roberto Schukste – Mestre maçom
Caixa Postal 215 – 95001-970 Caxias do Sul, RS E-mail: schukste@brturbo.com.br
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