Apostila
Apostila
Apostila
1 Unidades e Medidas 1
1.1 Introdução: a abstração por trás da comparação . . . . . . . . . . . 1
1.2 Padrões de medida: a história do sistema métrico . . . . . . . . . . 2
1.3 Medida de ângulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.4 O Sistema Internacional de Unidades . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.5 Regras de notação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.6 Escalas de tempo e distância . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.7 A expressão de uma medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.7.1 A incerteza de uma medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.7.2 Medidas indiretas e incerteza combinada . . . . . . . . . . 18
1.7.3 Algarismos significativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.7.4 Relatando uma medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.8 Metrologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.9 Leitura complementar: o problema das longitudes . . . . . . . . . . 22
2 Cinemática 26
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
2.2 Fundamentos do Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.1 Partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2.2.2 Sistemas de partículas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
2.2.3 Eixos Coordenados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.2.4 Referencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
2.3 Descrição Matemática do Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.3.1 Funções-Movimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4 Movimento em uma dimensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.1 Deslocamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.4.2 Velocidade média . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
2.4.3 Velocidade instantânea . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
2.4.4 Aceleração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
i
Sumário ii
6 Rotação 146
6.1 Posição, Deslocamento, Velocidade e Aceleração Angular . . . . . 146
6.2 Relacionando as Grandezas Lineares e Angulares . . . . . . . . . . 149
6.3 Cinética do Movimento de Rotação . . . . . . . . . . . . . . . . . 150
6.4 Momento de Inércia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
6.4.1 Teorema dos Eixos Paralelos . . . . . . . . . . . . . . . . . 154
6.5 Torque . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
6.6 Segunda Lei de Newton para Rotações . . . . . . . . . . . . . . . . 157
6.7 Trabalho e Energia Cinética de Rotação . . . . . . . . . . . . . . . 158
12 Oscilações 200
12.1 Movimento Harmônico Simples (MHS) . . . . . . . . . . . . . . . 200
12.2 A Posição no MHS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
12.3 A Velocidade no MHS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 204
12.4 A Aceleração no MHS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
12.5 O Sistema Massa-Mola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
12.6 Pêndulos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
12.7 Energia no MHS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 210
12.8 Movimento Harmônico Simples Amortecido
(MHSA) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212
12.9 Oscilações Forçadas e Ressonância . . . . . . . . . . . . . . . . . . 216
Caros estudantes:
este material foi preparado como uma referência auxiliar para o acompanhamento do componente curri-
cular “Princípios e Fenômenos da Mecânica” do Bacharelado de Ciências e Tecnologia da Escola de Ciências
e Tecnologia. Assim sendo, ele não deve ser tratado com um livro-texto que expresse oficialmente o espectro e
o nível dos assuntos previstos para o componente. De fato, em algumas ocasiões o que será visto nas aulas irá
além do que está presente neste material, enquanto que, noutros casos, ele se apresentará mais profundo do que
a aula.
Ficará claro também que não existe uma unidade no texto. Isso ocorre porque cada professor ficou res-
ponsável por um, dois ou três capítulos. Trata-se, portanto, de uma primeira versão. Contamos com as críticas e
sugestões dos estudantes para que possamos aprimorá-la de agora em diante.
Sejam bem-vindos!
vi
Capítulo 1
Unidades e Medidas
André Bessa
1
Capítulo 1 – Unidades e Medidas 2
Por outro lado, quando analisamos a queda dos corpos próximos à superfí-
Figura 1.3: Em uma boa apro-
cie da Terra, não podemos desprezar as dimensões do nosso planeta. Assim, um ximação, podemos desprezar as
corpo poderá ou não ser considerado uma partícula dependendo da situação física dimensões espaciais do planeta
de interesse. Terra para estudar o seu movi-
mento de translação em torno do
No entanto, existem corpos na natureza que sempre se comportam como par- Sol.
tículas, ou seja, em todos os experimentos realizados até hoje pudemos desprezar
suas dimensões espaciais. Essas são as chamadas partículas elementares, como os
elétrons e os quarks.
Em cada caso, avaliaremos o que é essencial para a descrição do movimento.
Se dois corpos possuírem as mesmas características essenciais, diferindo apenas
em aspectos irrelevantes, poderemos considerá-los equivalentes. É nesse sentido
que devemos entender frases tais como: “Seja uma partícula de massa M”.
Entretanto, sempre que possível, tentaremos em nossa análise abordar aspec-
tos que, embora não-essenciais ao movimento, sejam relevantes para compreender
o funcionamento da ciência e sua relação com a sociedade. Figura 1.4: Na frase “Seja uma
partícula de massa M” a tal “partí-
cula” pode ser uma maçã, se ape-
nas a massa M da maçã for impor-
1.2 Padrões de medida: a história do sistema métrico tante.
Tabela 1.2: Grandezas cujas unidades são derivadas das unidades básicas do SI.
Tabela 1.3: Os múltiplos e submúltiplos de uma unidade são construídos usando-se os prefixos desta
tabela.
• O nome das unidades deve sempre ser escrito em letra minúscula, exceto em
início de frase. Outra exceção é a unidade grau Celsius. Exemplos: watt,
newton, metro cúbico.
• Para pronunciar, o acento tônico recai sobre a unidade e não sobre o prefixo.
Exemplo: micrometro, hectolitro, centrigrama. Exceções: quilômetro, hectô-
metro, decâmetro, decímetro, centímetro e milímetro.
12 h 30 min 6 s
Tabela 1.4: Grandezas fora do Sistema Internacional de Unidades, mas ainda bastante utili-
zadas.
Grandeza Nome Plural Símbolo Equivalência
volume litro litros l ou L 0,001 m3
◦
ângulo plano grau graus π/180 rad
ângulo plano minuto minutos ’ π/10 800 rad
ângulo plano segundo segundos ” π/848 000 rad
massa tonelada toneladas t 10 000 kg
tempo hora horas h 3 600 s
tempo minuto minutos min 60 s
velocidade angular rotação por minuto rotações por minuto rpm π/30 rad/s
(a) (b)
Figura 1.7: Escalas ilustradas de tempo (Figura 1.7(a)) e de distância (Figura 1.7(b))
.
Exemplo 1.2. Tempo de queda livre de uma bola de gude largada do repouso a 3,0
m de altura.
Figura 1.9: Leitura do comprimento de uma barra por comparação com uma régua. No detalhe, a
indicação da extremidade direita da barra.
Figura 1.14: A marcação azul indica onde caiu a bolinha lançada da rampa (ver a montagem expe-
rimental do Exemplo (1.5)).
Pela Figura 1.14, A = 26,6 cm. Mais uma vez, não se pode ingenuamente
pensar que o alcance vale 26,6 cm e ponto final. O que ocorrerá quando repetirmos
a experiência, largando novamente a bolinha da posição prevista? Ao repetirmos
esse procedimento algumas vezes, o que obtemos é algo análogo ao ilustrado na
Figura 1.15.
Figura 1.15: Diferentes marcações para cada realização do experimento. A linha tracejada serve
apenas para auxiliar a leitura da componente x (o alcance).
Observação 1 x1 =26,60 cm
Observação 2 x2 =25,20 cm
Observação 3 x3 =26,59 cm
Observação 4 x4 =26,74 cm
Observação 5 x5 =24,88 cm
Observação 6 x6 =25,68 cm
Observação 7 x7 =25,52 cm
Observação 8 x8 =26,10 cm
Observação 9 x9 =27,21 cm
Observação 1 x1 =26,35 cm
Observação 2 x2 =26,11 cm
Observação 3 x3 =25,61 cm
Observação 4 x4 =26,62 cm
Observação 5 x5 =25,88 cm
Observação 6 x6 =25,95 cm
Observação 7 x7 =25,75 cm
Observação 8 x8 =26,24 cm
Por todos os motivos aqui descritos concluímos que o resultado de uma me-
dida não pode ser resumido em um número indicando quanto vale a grandeza. É
preciso dar informações acerca dos efeitos que influenciam a medida (na verdade,
apenas os efeitos dos quais o experimentador está ciente).
Vimos também que podemos caracterizar esses efeitos em três tipos:
Figura 1.18: Após todas as possíveis correções ainda há uma incerteza na medida que precisa ser
estimada. Essa incerteza define um intervalo cujos valores compatíveis com a medida.
Cientes dos possíveis efeitos que podem influenciar a medida, temos que ava-
liar quão confiável é o valor medido. Convenciona-se fornecer, além do valor da
grandeza, um parâmetro numérico associado à qualidade da medição. Esse parâ-
metro é denominado incerteza da medida e é geralmente denotado pela letra grega
σ (sigma). Ele dá uma informação numérica sobre a dispersão dos valores que
poderiam ser razoavelmente atribuídos à grandeza medida.
Assim, se x é o valor obtido (já corrigido) para a medida de uma grandeza X,
há um intervalo de valores em torno de x que são compatíveis com a medida (ver
a Figura 1.18).
A incerteza é a “margem de erro” que ouvimos falar quando se divulga uma
pesquisa eleitoral: “A pesquisa ouviu 800 eleitores e a margem de erro é de 3 pontos
percentuais para mais e para menos”.
Capítulo 1 – Unidades e Medidas 15
Candidato 1 31%
Candidato 2 27%
Candidato 3 14%
Candidato 4 3%
Brancos e Nulos 10%
Indecisos 15%
média:
v
u n
u 1 X
σ=t (xi − x)2 (desvio padrão da média) , (1.4)
n(n − 1) i=1
Incerteza relativa
Uma incerteza σ = 0,1 mm na medida do comprimento de uma barra pode ser consi-
derada grande ou pequena, dependendo do tamanho da barra e da precisão desejada.
Se a barra tem cerca de 1003,2 mm e será usada para medir tecidos, uma incerteza
de 0,1 mm é pequena; porém se a barra tem 1,5 mm e será usada como um compon-
tente de um motor de um aparelho odontológico, a incerteza pode ser considerada
grande.
Para dar uma real noção do tamanho da incerteza σX de uma grandeza X,
define-se a incerteza relativa, dada por:
σX
σrel = . (1.6)
x
onde x é o valor de X.
No caso da barra de 1003,2 mm, com σ = 0,1 mm, tem-se σrel = 0, 1/1003, 2 ≈
−4
10 = 0, 01%, enquanto que para a barra de 1,5 mm o mesmo σ leva a uma incer-
teza relativa muito maior: σrel = 0, 1/1, 5 ≈ 0, 07 = 7%.
A Figura 1.19 mostra dois conjuntos de dados (azul e vermelho) obtidos por dois
estudantes no lançamento de um projétil, como no Exemplo 1.5. O modelo teórico
prevê um alcance na posição indicada com um ×.
Figura 1.19: Os valores em azul parecem mais corretos, por estarem centrados em torno do valor
teórico. Entretanto, o valor teórico não deve ser confundico com o “valor verdadeiro” para o alcance.
2
Essa regra quase sempre superestima a incerteza da medida.
Capítulo 1 – Unidades e Medidas 18
Y = f (X1 , . . . , XN ) . (1.7)
V = πLR2 . (1.8)
Usando que
∂V 2
(L, R) = πR (1.12)
∂L
e
∂V
(L, R) = 2πL R, (1.13)
∂R
Capítulo 1 – Unidades e Medidas 19
obtemos:
2 2 2
σV2 = πR σL + 2πL R σR ≈ 3, 709 39 × 10−7 m6 , (1.14)
(x − σ, x + σ) , (1.15)
isto é:
partícula é apresentada como sendo m = 10, 0 g espera-se que esse valor tenha sido
obtido com precisão da ordem de 0, 1 g. Se a incerteza fosse superior a 1 g, o mais
correto seria declarar m = 10 g.
Há regras para se operar com algarismos significativos. Se estas regras não
forem obedecidas você pode obter resultados que podem conter algarismos que não
são significativos.
Para começar, note que algarismos 0 à esquerda não trazem informação al-
guma. Assim, expressar m = 10 g como m = 0, 010 kg introduz mais algarismos,
mas não altera o número de algarismos significativos.
Agora vamos supor que você queira fazer a seguinte adição:
138, 164 + 0, 0513 − 23, 7 = 114, 5153 (no visor da calculadora) (1.18)
m = 100,021 47(35) g
m = 100,021 47 (0,000 35) g
m = (100,021 47 ± 0,000 35) g .
A medida do cilindro deve ser relatada como V = (1,70 ± 0,61) dm3 ou ainda
V = (1,7 ± 0,6) dm3 . A medida do alcance deveria ser relatada pelo experimentador
B como A = (26,06 ± 0,12) cm ou A = (26,1 ± 0,1) cm.
1.8 Metrologia
De acordo com o Escritório Internacional de Pesos e Medidas, a Metrologia é a
ciência que abrange todos os aspectos teóricos e práticos relativos às medições,
qualquer que seja a incerteza em qualquer campo da ciência ou tecnologia. Tudo
o que envolve controle de produção (certificações, padronização), aferição de equi-
pamentos (balanças, taxímetros, radares, velocímetro, etc), controle de qualidade
(brinquedos, eletrodomésticos, etc), medições precisas (telecomunicações, comuni-
cações por satétile, GPS, etc) e muitas outras aplicações, tudo isso está relacionado
à Metrologia.
A Metrologia possui três grandes ramificações:
localizar a Estrela Polar. De fato, a latitude será o ângulo que aquela estrela faz com
o horizonte.
No Hemisfério Sul não é possível ver a Estrela Polar e tampouco há uma
estrela visível situada exatamente sobre o Pólo Sul. Entretanto, pode-se determinar
a posição do Pólo Sul utilizando constelações próximas. Tradicionalmente utiliza-
se o Cruzeiro do Sul.
É, portanto, uma tarefa simples se determinar a latitude de um lugar. O mesmo
não se pode dizer da longitude. Com a informação da latitude, sabemos se estamos
numa região polar, tropical ou equatorial, mas não sabemos sobre qual meridiano
estamos. Por exemplo, a latitude de Natal é a mesma de cidades da Colômbia, da
Tanzânia, da Indonésia, etc.
O problema da determinação da longitude foi por um longo tempo o grande
problema das navegações. A partir do século XV, o domínio das navegações era
essencial para o desenvolvimento das economias européias. Saber traçar rotas e se
localizar nos oceanos dependia do conhecimento da longitude. Tratados como o de
Tordesilhas (que separava as terras portuguesas das espanholas por um meridiano)
só teriam aplicação prática se fosse possível dizer com precisão onde passam os
meridianos. Pela a importância da questão, vários reis prometiam prêmios para
quem descobrisse um método razoável de se medir a longitude.
A medida da longitude está estreitamente relacionada à medida do tempo.
Olhando o sol ou as estrelas é possível saber a hora local com precisão razoável.
Exemplo disso são os relógios de sol. Note que um relógio de sol não fornece a
hora oficial, dividida em fusos. Por convenção, fixamos o Meridiano de Greenwich
como sendo a região com longitude igual a zero. Isso é de menor importância,
uma vez que o que nos interessa para o posicionamento global é a diferença de
longitudes.
Conhecendo-se a hora local e a hora de Greenwich, é possível determinar a
Capítulo 1 – Unidades e Medidas 24
Figura 1.22: Podemos saber com precisão quão distante estamos dos pólos: o referido ângulo
(latitude) é o ângulo que a Estrela Polar (ou o Pólo Sul) faz com horizonte.
Pelos seu impacto econômico e pelo tempo que levou a ser solucionado, o
problema das longitudes é considerado um dos problemas tecnológicos mais im-
portantes de todos os tempos. Ainda hoje o posicionamento global impulsiona a
pesquisa por padrões de tempo cada vez mais precisos. Em breve, atingiremos a
precisão da ordem de centímetros na determinação da posição. Isso possibilitará o
uso de aparelhos de GPS para guiar e estacionar veículos.
Capítulo 2
Cinemática
Tarciro Nortarson Chaves Mendes
2.1 Introdução
“Tudo é número, figura e movimento.”
René Descartes
26
Capítulo 2 – Cinemática 27
2.2.1 Partículas
Imaginemos o tipo de corpo físico mais simples possível. Esse corpo é tal que suas
dimensões são desprezíveis quando comparadas a quaisquer distâncias relevantes
no problema em questão. Neste caso, esse corpo pode ser representado por um
ponto geométrico. A esse corpo chamamos partícula ou ponto material.
Em muitas situações práticas o conceito de partícula pode ser aplicado na
descrição do movimento de objetos reais. Como exemplo, suponha que queira-
mos descrever um automóvel em viagem de Natal a Fortaleza. Neste caso podemos
considerá-lo uma partícula, pois a distância Natal-Fortaleza é cerca de 520 km, que é
muitíssimo maior que o comprimento típico de um automóvel, em torno de 4 m. De
fato, se tomarmos um mapa onde essas duas cidades estejam representadas, certa-
mente representaríamos o carro nesse mapa como um ponto. Se, porém, desejarmos
descrever os movimentos de manobra desse carro dentro de uma garagem, não será
mais possível considerá-lo como uma partícula porque nesse caso suas dimensões
são comparáveis as da própria garagem. Como um outro exemplo, se quisermos
descrever o movimento da Terra em torno do Sol, poderemos considerá-la uma par-
Capítulo 2 – Cinemática 28
tícula, uma vez que o diâmetro da Terra (cerca de 12750 km) é desprezível quando
comparado à distância Terra-Sol (cerca de 150 milhões de kilômetros). No entanto,
quando desejamos descrever o seu movimento de rotação em torno de seu próprio
eixo, a Terra não mais pode ser descrita como uma partícula, pois uma partícula
não possui partes que possam girar umas em torno das outras (como, estritamente
falando, uma partícula deve ter um volume nulo, não faz muito sentido falar em
“partes” de uma partícula).
Os exemplos aqui apresentados (dentre muitos outros que se poderia citar)
motram claramente que um mesmo corpo pode ou não ser considerado uma partí-
cula, dependendo do problema em questão. Deve-se observar o tamanho do corpo
em relação aos demais que tomam parte no problema, as distâncias por ele percorri-
das e qual a precisão com que se deseja medir as distâncias e os intervalos de tempo.
Assim, uma partícula não é apenas um corpo de dimensões desprezíveis, mas um
corpo de dimensões desprezíveis em um dado problema.
ou vários corpos. Como cada corpo é um conjunto de partículas, todo sistema físico
(em Mecânica) é um conjunto de partículas ou, em outras palavras, um sistema de
partículas. Um sistema de corpos rígidos (mesmo que haja apenas um corpo rígido)
é chamado de sistema rígido.
Pode-se ser levado a pensar que exemplos aproximados de sistemas rígidos na
natureza devem necessariamente se constituir de objetos “duros”, como vigas me-
tálicas, rochas, peças de madeira, etc. Isso está longe de ser verdade. A constelação
Cruzeiro do Sul (como qualquer outra constelação catalogada), por exemplo, é um
ótimo exemplo de sistema rígido. Constitui-se de cinco estrelas bem separadas, mas
onde as distâncias relativas entre elas mantem-se invariáveis há milhares de anos.
Constelações como o Cruzeiro do Sul, portanto, constituem um exemplo bem mais
eloquente de sistema rígido do que os corpos que encontramos sobre a superfície
da Terra, pois estes últimos estão sujeitos a uma série de interferências que os de-
formam e tranformam ao longo do tempo, provocando variações perceptíveis nas
distâncias relativas entre suas partes e, portanto, não mais satisfazendo à definição
de sistema rígido.
Os conceitos de corpo rígido e de sistema rígido são muito importantes em
Mecânica e, futuramente, uma parte considerável deste curso de Princípios e Fenô-
menos da Mecânica será dedicado ao estudo mais detalhado dos sistemas rígidos.
De imediato, porém, esses conceitos nos serão úteis pois os usaremos na definição
de referencial, sem o qual é impossível uma descrição consistente do movimento.
são usados num dado problema) usamos, além do O da origem, uma outra letra
que é sempre escrita junto ao semieixo positivo. O eixo é identificado pelo par de
letras. Por exemplo, se a segunda letra é X, chamamos o eixo coordenado de eixo
OX. A Figura 2.1 mostra um eixo coordenado OX com um ponto arbitrário P e
sua coordenada x.
Já dissemos anteriormente que uma partícula é representada geometricamente
Figura 2.1: Eixo coordenado OX
por um ponto geométrico, como o ponto P ilustrado. Assim, descrever matemati- e o ponto P de coordenada x.
camente o movimento de uma partícula equivale a descrever o movimento do ponto
P . Em muitas situações práticas um único eixo coordenado é suficiente na descri-
ção do movimento de um dado ponto P , ou seja, uma única coordenada é suficiente
para especificar a posição do ponto P . Dizemos então que o movimento é unidi-
mensional ou retilíneo, pois ocorre sobre uma linha reta. Dicutiremos vários casos
importantes de movimento retilíneo no estudo da Cinemática.
Vejamos agora o caso geral da especificação da posição de um ponto P qual-
quer no espaço. Ao eixo da Figura 2.1, consideremos mais dois eixos coordenados
OY e OZ, todos com a mesma origem O, perpendiculares entre si e ao eixo OX. A
esse conjunto de eixos coordenados ortogonais de sistema de eixos OXY Z. Dado
um ponto P qualquer, sabemos que existe um único plano Σx perpendicular ao eixo
OX e que contém o ponto P . O plano Σx intersepta o eixo OX no ponto Px de
coordenada x. Do mesmo modo, existe um único plano Σy perpendicular ao eixo
OY e que contém o ponto P . Σy intersepta o eixo OY no ponto Py de coordenada Figura 2.2: Sistema de eixos co-
y. Equivalentemente, o plano Σz intersepta OZ no ponto Pz de coordenada z. ordenados OXY Z e o ponto P de
Dessa maneira, para cada ponto P existe um único conjunto de pontos Px , Py coordenadas (x, y, z).
e Pz de coordenadas x, y e z. Isso significa que a posição do ponto P no espaço
fica completamente determinada pela trinca ordenada (x, y, z). Dizemos que estas
são as coordenadas do ponto P em relação ao sistema de eixos OXY Z.
O sistema de eixos coordenados é uma estrutura rígida em relação a qual
podemos especificar a posição de qualquer partícula no espaço. A posição de qual-
quer corpo em relação os eixos coordenados também pode ser especificada, pois
para isso é suficiente especificar as posições de todas as partículas que o compõe.
Com esse procedimento, portanto, o problema de determinar posições no espaço
fica completamente resolvido.
2.2.4 Referencial
Refinando melhor a definição de movimento dada no início da seção 2, podemos
dizer que: movimento é a variação na posição de uma partícula (ou várias partí-
culas) durante um dado intervalo de tempo. Está claro que essa definição implica
sermos capazes de medir tanto a posição de uma partícula como o instante de tempo
em que ela ocupa essa posição. Como vimos na seção anterior, o estabelecimento
de um sistema de eixos coordenados nos possibilita medir posições de modo inam-
bíguo. Vimos também que para que um eixo coordenado seja útil é imprescindível
a existência de réguas para se medir distâncias e, por sua vez, atribuir uma coorde-
nada a um ponto sobre o eixo. De modo análogo, para que possamos determinar o
instante de tempo em que uma partícula ocupa uma dada posição, vamos supor que
Capítulo 2 – Cinemática 31
dispomos de relógios.
Suponhamos que, associado a um sistema de eixos coordenados, temos uma
quantidade ilimitada de relógios (tantos quanto forem necessários) todos sincroniza-
dos e em repouso em relação ao sistema de eixos. O sistema de eixos coordenados,
juntamente com as réguas e relógios, é uma estrutura para medir posições e instan-
tes de tempo. A essa estrutura chamamos sistema de referência ou simplesmente
referencial. Um agente fixo num referencial e capaz de fazer medições (ler as ré-
guas e relógios) é chamado de observador. O observador pode ser uma pessoa ou
um aparelho programado para realizar as medições.
A exigência de que os relógios de um dado referencial estejam sicronizados
entre si é para que um único instante de tempo seja atribuído a um dado evento.
Quanto à exigência de que os relógios estejam em repouso, não há justificativa na
Mecânica de Newton, com a qual nos ocuparemos neste curso. De fato, para New-
ton, o estado de movimento de um relógio não pode afetar a marcha do tempo por
ele medida. Essa idéia, aliás, está extremamente enraizada em nossa concepção
de tempo. Vejamos um exemplo. Vamos supor que você resolva sair de casa em
direção à universidade. Nesse instante, você compara seu relógio de pulso com o
relógio de parede na sala de estar. Ambos marcam exatamente o mesmo horário:
7:40 da manhã. Assim que você chega na universidade, consulta o relógio de pulso
e constata que ele marca 8:00 da manhã. Você naturalmente vai inferir que o re-
lógio que ficou em casa marca o mesmo horário e que portanto sua viagem durou
20 min em ambos os relógios (estamos supondo que os relógios não tem defeitos de
fabricação ou devido a mau uso e que, portanto, funcionam perfeitamente). Essa na-
tural conclusão, contudo, não está correta. O movimento sempre afeta o andamento
de um relógio, qualquer que ele seja. Desse modo, dois relógios inicialmente sin-
cronizados só poderão permanecer sicronizados se permanecerem em repouso um
em relação a outro. No exemplo dado, seu relógio de pulso estará de fato um pouco
atrasado em relação ao relógio de parede que ficou em casa (embora esse atraso seja
praticamente imperseptível). Esse é um resultado importante da Teoria da Relativi-
dade Restrita de Einstein, que você terá a oportunidade de aprender posteriormente.
O que importa para nós no momento é que a definição aqui dada para referencial
permite especificar completamente posições e instantes de tempo de modo total-
mente consistente para os fins da Mecânica.
Nos referimos ao sistema de eixos coordenados como uma estrutura rígida.
Em situações práticas, para garantir essa rigidez, nós recorremos a algum sistema
rígido de partículas para nele fixar o sistema de eixos. Por exemplo, se pretende-
mos descrever o movimento de um mosquito numa sala, podemos escolher um dos
vértices da sala como a origem O e nas quinas (linha de interseção entre duas pa-
redes ou entre uma parede e o piso ou o teto) que se encontram em O podemos
fixar os três eixos coordenados, como indicado na Figura 2.3. No exemplo dado
(como em qualquer outro), simplesmente imaginamos os eixos fixos nas paredes.
Diríamos que o referencial é fixo na sala, ou na Terra, pois a sala e a Terra formam Figura 2.3: Sistema de eixos
um sistema rígido. coordenados OXY Z fixos numa
sala.
Dissemos que um referencial é um sistema de eixos coordenados munido de
réguas e relógios. É comum, porém, não se fazer referências aos relógios na especi-
ficação de um referencial. Escolhe-se o sistema de eixos e a existência de relógios
Capítulo 2 – Cinemática 32
fica subentendida. Desse modo, quando nos referimos a um dado referencial, cos-
tumamos especificar apenas o sistema de eixos.
Estamos agora em posição de dar uma definição rigorosa de movimento (no
sentido da Mecânica). Vamos apresentar a definição para uma partícula, já que a de-
finição para um sistema de partículas decorre da definição para uma partícula. Uma
partícula está em movimento em relação a um dado referencial quando sua posição
em relação a esse referencial muda com o tempo. A posição da partícula muda se
pelo menos uma de suas coordenadas mudar. No caso de um corpo, dizemos que
ele está em movimento se pelo menos uma das partículas que o compõe estiver em
movimento em relação ao referencial. Se uma partícula ou um corpo não está em
movimento num dado referencial, dizemos que está em repouso nesse referencial.
Vemos, pela definição anterior, que o conceito de movimento é sempre rela-
tivo a um referencial. Não há sentido em se falar de movimento sem um referencial
a ele subjacente, em relação ao qual esse movimento está sendo medido. Ao se falar
de movimento, fala-se de mudança de posição e o conceito de posição depende de
um referencial. Comumente falamos de movimentos sem mencionar referenciais,
mas isso não significa que não os estamos utilizando. Temos o hábito, por exem-
plo, de localizar referenciais na Terra. Assim, quando dizemos que uma pedra, um
carro, ou o Sol se movem, estamos usando um referencial fixo na Terra, embora
usualmente não tenhamos consciência disso.
Como bem ilustra a citação no início deste capítulo, o movimento é essencial
para a compreensão do mundo. Ele é o objeto fundamental da Física, especial-
mente da Mecânica. Vimos até aqui alguns dos conceitos fundamentais que permi-
tem definí-lo de modo claro e consistente. No próximo capítulo iremos apresentar
os conceitos matemáticos que permitirão uma descrição matemática completa do
movimento e, assim, nos munirmos de todos fundamentos necessários para atin-
girmos a compreenção mais profunda possível do movimento, como abordado pela
Mecânica.
2.3.1 Funções-Movimento
Suponhamos que temos interesse no movimento de uma partícula que ocorre en-
tre os instantes ti e tf . Esse intervalo é representado por [ti , tf ], onde tf > ti . A
pergunta que desejamos responder é qual o conceito matemático que descreve com-
Capítulo 2 – Cinemática 33
numa dada situação e/ou tirar as informações possíveis dessas funções (quando já
conhecidas).
O domínio das funções-movimento é o intervalo [ti , tf ] que, geralmente, não é
especificado. Em muitos casos de interesse é conveniente extender o domínio a toda
reta real, ou seja, [−∞, ∞]. Isso significa que o movimento estudado pode durar
um longo intervalo de tempo, desde um passado remoto até um futuro longíncuo.
Exemplos desse tipo de movimento são o movimento de um pêndulo simples ou o
movimento da Terra em torno do Sol. O contra-domínio das funções-movimento é
o conjunto dos números reais. Isso é natural, uma vez que a imagem das funções-
movimento são as coordenadas da partícula e estas estão definidas sobre os eixos
coordenados.
Vejamos alguns exemplos de funções-movimento:
Exemplo 2.1.
Sejam as funções-movimento de uma partícula dadas por fx (t) = 2, fy (t) = 5 e
fz (t) = 0.
Observa-se que os valores das coordenadas dessa partícula não mudam com
o tempo. A partícula está fixa na posição (2, 5, 0) nesse referencial, para qual-
quer instante de tempo t. Dizemos então que estas são funções-movimento de uma
partícula em repouso.
Exemplo 2.2.
Sejam as funções-movimento de uma partícula dadas por fx (t) = 5t2 , fy (t) = 0 e
fz (t) = 0.
Vê-se imediatamente que as coordenadas y e z da partícula possuem valor
nulo e permanecem inalteradas com o tempo, isto é, y = 0 e z = 0 para qualquer
t. A coordenada x varia com o tempo segundo a Equação x = 5t2 . Assim, o
movimento da partícula se dá unicamente sobre o eixo coordenado OX. Trata-
se portanto de um movimento retilíneo. Para t < 0 a partícula se aproxima da
origem pelo semieixo positivo (move-se no sentido negativo do eixo), enquanto para
t > 0 a partícula se afasta da origem também pelo semieixo positivo (move-se no
sentido positivo do eixo). Em t = 0, portanto, a partícula se encontra na origem
do referencial e inverte o sentido de seu movimento (do sentido negativo para o
sentido positivo); qualquer que seja o intervalo de tempo observado, a partícula
está confinada ao semieixo positivo, pois a coordenada x pode assumir apenas
valores positivos. Dizemos então que a trajetória da partícula no intervalo de tempo
[−∞, ∞] é o semieixo positivo do eixo coordenado OX.
Exemplo 2.3. Sejam as funções-movimento de uma partícula dadas por fx (t) = t,
fy (t) = 0 e fz (t) = 3t.
Neste caso, vemos que a coordenada y é constante e igual a zero, enquanto as
coordenadas x e z variam com o tempo. O movimento, portanto, ocorre no plano
OXZ. Pelas funções-movimento dadas temos x = t e z = 3t. O movimento tam-
bém é retilíneo e ocorre sobre a reta que passa pelos pontos (0, 0, 0) e (1, 0, 3), cuja
Figura 2.4: Trajetória retilínea no
Equação é z = 3x. Dito de outra maneira, a Equação da trajetória da partícula é plano OXZ. A Equação da traje-
z = 3x, conforme mostrado na Figura 2.4. tória é z = 3x.
Capítulo 2 – Cinemática 35
x = fx (t) ,
y = fy (t) .
Vamos admitir que fx possua uma função inversa fx−1 (poderíamos escolher qual-
quer uma das funções-movimento). Então podemos escrever
t = fx−1 (x)
y = fy fx−1 (x) .
(2.4)
z = fz (t) .
y = fy fx−1 (x) ,
(2.5)
z = fz fx−1 (x) .
(2.6)
Estas são as Equações da trajetória de uma partícula num movimento em três di-
mensões. Com estas Equações, para cada valor da coordenada x, conhecemos os
valores das coordenadas y e z. O gráfico desse sistema de Equações em relação
Capítulo 2 – Cinemática 37
2.4.1 Deslocamento
Admitamos que uma partícula pode mover-se apenas ao longo de uma reta. Vamos
escolher nosso sistema de eixos coordenados de tal forma que o eixo OX coincida
com a reta sobre a qual a partícula se move. Neste caso, a posição da partícula é dada
pela trinca (x, 0, 0), ou seja, as coordenadas y e z da partícula são sempre nulas. As
funções-movimento que determinam as coordenadas y e z, obviamente, também
são nulas: fy (t) = fz (t) = 0. Assim, para estudar o movimento da partícula é
suficiente estudarmos a Equação
x = fx (t) , (2.7)
onde, como já sabemos, fx é a função-movimento que dá a coordenada x da partí-
cula no instante t. A coordenada x é geralmente chamada de posição da partícula
Capítulo 2 – Cinemática 38
já que, uma vez que as outras coordenadas são sempre nulas, a posição da partícula
fica completamente determinada quando conhecemos x.
Consideremos um intervalo de tempo [t1 , t2 ] durante o movimento da partí-
cula. Seja x1 a posição da partícula no instante t1 e x2 sua posição no instante t2 .
Definimos o deslocamento ∆x da partícula nesse intervalo como
que maneira a partícula se moveu nesse intervalo. Ela pode ter se movido apenas no
sentido do deslocamento total, mas pode também ter realizado vários deslocamen-
tos no sentido inverso inverso ao do deslocamento total.
Como outro exemplo, suponha que alguém jogue uma pequena pedra verti-
calmente para cima. Consideremos o sentido positivo do eixo OX para cima. No
instante t1 a pedra está na posição x1 e inicia o seu movimento no sentido positivo
de OX. Vamos supor que, nesse instante, a pedra esteja na origem do referencial,
de modo que x1 = 0. Por experiência, sabemos que a pedra subirá até atingir a
altura máxima em x0 = h num instante t0 . Após esse instante a pedra começa a
mover-se para baixo, no sentido negativo do eixo OX, até retornar à posição inicial
num intante t2 . No intervalo [t1 , t0 ], o deslodamento da partícula é
∆x = x2 − x1 = fx (t2 ) − fx (t1 ) = 0 − 0 = 0 .
Vemos que o deslocamento total é zero, embora a partícula tenha se movido nesse
intervalo. Note que o deslocamento no intervalo [t1 , t2 ] pode ser escrito como
∆x = xf − xi = fx (tf ) − fx (ti ) .
Então, o deslocamento no intervalo [ti , tf ] pode ser escrito em termos dos desloca-
mentos associados a cada intervalo [tj , tj+1 ] ∈ ℘n como
e a distância percorrida continua sendo s = 2h. Porém, a soma dos módulos dos
deslocamentos nos intervalos [t1 , t00 ] e [t00 , t2 ] é |∆x1 | + |∆x2 | = |h/2| + | − h/2| =
h 6= 2h, de modo que
s 6= |∆x1 | + |∆x2 | (2.17)
quando ∆x1 e ∆x2 são dados pelas Equações (2.15) e (2.16). Em verdade, a ine-
quação (2.17) é válida para qualquer ℘1 = {[t1 , t], [t, t2 ]}, exceto para t = t0 , onde
t0 é o instante em que a partícula atinge a altura máxima.
Em geral, para um movimento retilíneo qualquer num intervalo [ti , tf ], o re-
sultado (2.17) pode ser generalizado para um conjunto ℘n qualquer como
n
X n
X
s 6= |∆xj | = |fx (tj+1 ) − fx (tj )| . (2.18)
j=0 j=0
Esse resultado pode parecer não muito útil, já que não nos diz como obter
a distância percorrida pela partícula no intervalo de interesse, mas sim como não
calculá-la para um movimento retilíneo qualquer. Contudo, nem tudo está perdido.
Suponha que façamos o número de partições de [ti , tf ] arbitrariamente grande e, ao
mesmo tempo, que o tamanho de qualquer dessas partições se torne arbitrariamente
pequeno. Isso significa que o tamanho de um ℘n qualquer cresce indefinidamente (n
se torna arbitrariamente grande) e que tj+1 − tj ≤ δt para qualquer [tj , tj+1 ] ∈ ℘n ,
onde δt é um número positivo que pode ser feito tão pequeno quanto se queira.
Então, no limite n → ∞ e tj+1 − tj ≤ δt → 0 para qualquer [tj , tj+1 ] ∈ ℘n , a
desigualdade dada em (2.18) se torna numa igualdade, isto é,
n
X n
X
s = lim lim |∆xj | = lim lim |fx (tj+1 ) − fx (tj )| . (2.19)
n→∞ ∆xj →0 n→∞ tj+1 →tj
j=0 j=0
∆x = x2 − x1 = fx (t2 ) − fx (t1 ) .
realizou durante o intervalo em questão, ou seja, não temos como obter a função-
movimento da partícula.
Pode-se perguntar então qual a utilidade de se definir a velocidade média de
uma partícula num dado intervalo se, aparentemente, ela não fornece informações
melhores que as fornecidas pelo deslocamento nesse intervalo. Na verdade, o fato
de a velocidade média ser definida como a razão entre o deslocamento e a dura-
ção dá expressão (mesmo que de modo impreciso) à noção intuitiva de rapidez.
Como exemplo, consideremos mais uma vez a distância entre Natal e Fortaleza,
que é cerca de 520 km. Se uma pessoa fizer uma viagem de carro entre as duas
cidades gastará cerca de 6,5 h, enquanto se fizer a mesma viagem de avião gas-
tará aproximadamente 50 min. O deslocamento nos dois casos é o mesmo, mas a
duração do deslocamento não. A velocidade média da pessoa viajando de carro é
520 km/6,5 h≈ 80 km/h, enquanto a velocidade média da pessoa viajando de avião
é 520 km/50 min≈ 620 km/h. Dizemos então que o avião se moveu mais rapida-
mente que o carro, pois sua velocidade média é maior que a velocidade média do
carro. No exemplo aqui apresentado essa afirmação é uma boa expressão da rea-
lidade porque sabemos que um avião, devido a sua natureza, se move bem mais
rapidademente que um carro, bem como sabemos qual a distância total percor-
rida por cada veículo. Se, contudo, o avião fizer o percurso entre Natal e Forta-
leza 11 vezes (indo e voltando), o deslocamento final do avião será o mesmo en-
quanto a duração do movimento (desprezando-se o tempo que o avião permanece
em solo) será 11×50 min= 550 min≈ 9,2 h, de modo que sua velocidade média será
520 km/9,2 h≈ 57 km/h, que é menor que a velocidade média de um carro que faz
o percurso apenas uma vez. Se dispuzéssemos apenas das velocidades médias, sem
saber qual a distância total percorrida em cada caso, não poderíamos dizer que o pri-
meiro veículo (cuja velocidade média foi ≈ 80 km/h) se moveu mais rapidamente
que o segundo (cuja velocidade média foi ≈ 57 km/h). Neste caso, a velocidade
média não dá uma informação correta da rapidez com que uma partícula realiza seu
movimento pois, como o deslocamento, não permite distinguir exatamente o que a
partícula faz durante o seu deslocamento.
Mesmo assim, a velocidade média é um conceito muito útil, pois a partir dele
poderemos definir, mais tarde, o conceito de velocidade instantânea que, esse sim,
leva em conta todos os detalhes de um dado movimento e dá um significado pre-
ciso para o conceito intuitivo de rapidez (contudo, veremos como fazer isso usando
apenas o conceito de velocidade média no caso particular do movimento retilíneo
uniforme). Na verdade, a velocidade instantânea vai bem mais além pois, como
veremos mais tarde, ela não só define a rapidez com que uma partícula realiza um
movimento mas também a própria trajetória da partícula.
onde a é uma constante positiva. É evidente que este movimento não se trata de um
MRU, pois a função-movimento que o descreve é diferente da função-movimento
do MRU dada pela Equação (2.23). O deslocamento no intervalo [t1 , t2 ] é
Como t2 > t1 , o deslocamento dado pela Equação anterior é sempre positivo, qual-
quer que seja o intervalo [t1 , t2 ] e, portanto, a Equação (2.24) é valida para um
movimento descrito pela função-movimento dada pela Equação (2.26).
Continuando nossa discussão do MRU, consideremos dois intervalos diferen-
tes, [t1 , t2 ] e [t01 , t02 ], que possuem a mesma duração: t2 − t1 = t02 − t01 . Da função-
movimento (2.23) ou, o que é equivalente, do fato de que a velocidade média num
MRU independe do intervalo considerado, temos
x02 − x01 x2 − x1
0 0
= ,
t2 − t1 t2 − t1
x = x0 + vt e x0 = x00 + v 0 t , (2.28)
℘n −→ Vn
[tj , tj+1 ] 7−→ v j . (2.31)
Pelo que foi dito no parágrafo anterior, se conhecermos cada v j ∈ Vn para cada
[tj , tj+1 ] ∈ ℘n saberemos mais sobre o movimento no intervalo [ti , tf ] e esse conhe-
cimento melhora quanto maior for n e quanto menor for a duração ∆tj = tj+1 − tj
de cada intervalo [tj , tj+1 ] ∈ ℘n . Nesse raciocínio, se conhecemos o conjunto Vn
para um dado conjunto ℘n no limite em que n → ∞ e ∆tj → 0, ∀ [tj , tj+1 ] ∈ ℘n ,
deveremos ser capazes de distinguir um dado movimento de qualquer outro possível
no intervalo [ti , tf ].
Capítulo 2 – Cinemática 48
lim Tn −→ [ti , tf ]
n→∞
tj 7−→ t . (2.35)
Naturalmente, em (2.35) está implícito que a duração de cada intervalo [tj , tj+1 ] se
anula quando n → ∞, isto é, ∆tj → 0 ∀ [tj , tj+1 ] ∈ ℘n . O que acontece com o con-
junto Vn nesse limite? Como a duração de cada intervalo [tj , tj+1 ] pertencente a ℘n
tende a zero, cada elemento v j pertencente Vn e associado a cada intervalo [tj , tj+1 ]
de ℘n e, por sua vez, a cada elemento tj pertencente a Tn , tende à velocidade ins-
tantânea no instante tj . Como, no limite, Tn se torna um conjunto denso segundo
(2.35), por (2.34) Vn também se torna um conjunto denso onde cada elemento está
em correspondência biunívoca com um elemento do conjunto dos números reais <,
uma vez que a velocidade instantânea da partícula pode assumir qualquer valor real.
Portanto,
lim Vn −→ <
n→∞
v j 7−→ vx . (2.36)
[ti , tf ] −→ <
t 7−→ vx . (2.37)
O resultado anterior implica que deve existir uma função contínua cujo domínio
é o intervalo [ti , tf ] e cujo contradomínio é o conjunto dos números reais que, a
cada instante de tempo t associa um único único valor para a velocidade instantâ-
nea da partícula. A essa função chamaremos de função-velocidade, por analogia à
função-movimento que, a cada instante t, associa um único valor para a posição da
partícula. Simbolizando a função-velocidade por f˙x , podemos escrever
x = fx (t) . (2.39)
2
Dizemos que um conjunto é denso quando se pode estabelecer uma correspondência biunívoca
entre o conjunto dos números reais e subconjunto qualquer desse conjunto.
Capítulo 2 – Cinemática 50
Comparando esta Equação com a Equação (2.39), vemos que o lado direito de
(2.44) é justamente a função-movimento da partícula em termos da sua a função-
velocidade. Se conhecemos a função-velocidade da partícula e sua posição num
instante inicial t = 0, esta Equação permite saber qual a sua posição num instante
t qualquer. Perceba que o conhecimento da função-velocidade apenas não é sufici-
ente para determinar completamente o movimento da partícula; é preciso dar uma
informação a mais: a posição inicial da partícula.
Capítulo 2 – Cinemática 51
onde usamos o fato de que a duração ∆tj é um número positivo já que tj+1 > tj .
Seguindo argumentação semelhante à utilizada na obtenção de (2.43), pode-se mos-
trar que Equação anterior é justamente a integral do módulo da função-velocidade
no intervalo [ti , tf ], ou seja,
Z tf
˙
s= x dt .
f (t) (2.47)
ti
Esta Equação tem exatamente a mesma forma da Equação (2.23) que dá a função-
movimento de um MRU cuja velocidade média é v. Porém, a Equação (2.48) foi
deduzida a partir da Equação (2.44), onde a constante v é a velocidade instantânea
da partícula num instante qualquer do intervalo [0, t]. Então, comparando (2.23)
e (2.48), concluímos que, num MRU, a velocidade instantânea em qualquer ins-
tante de um dado intervalo é igual à velocidade média nesse intervalo. O resultado
(2.48) também permite que demos a seguinte definição para o movimento retilí-
neo uniforme: o MRU é aquele no qual a velocidade instantânea da partícula é
constante.
Para a distância percorrida pela partícula num intervalo [ti , tf ], a Equação
(2.47) fornece Z tf
s= |v|dt = |v| (tf − ti ) ,
ti
que concorda exatamente com o resultado (2.25).
2.4.4 Aceleração
Nas duas últimas seções nós definimos e exploramos os conceitos de velocidade
média e velocidade instantânea. Vimos que a velocidade média mede a variação da
Capítulo 2 – Cinemática 52
ter uma informação mais detalhada de como a velocidade varia num dado intervalo,
precisamos do conceito de aceleração instantânea.
Consideremos um instante t durante o movimento da partícula e sua veloci-
dade nesse instante que, pela Equação (2.50), é dada por f˙x (t). Tomemos agora um
outro instante t + ∆t, com ∆t 6= 0. A velocidade nesse instante será f˙x (t + ∆t).
A variação da velocidade no intervalo [t, t + ∆t] será dada por
Em resumo,
vx = vx0 − a0 τ 1 − e−t/τ ,
(2.67)
2 −t/τ
x = x0 + (vx0 − a0 τ ) t + a0 τ 1−e . (2.68)
s = |v0 |τ .
Observe que para que a partícula percorra essa distância é necessário esperar um
tempo infinito, ou seja, apenas no limite ∆t → ∞, onde ∆t = t−0 = t é a duração
do movimento, é que a partícula percorre a distância |v0 |τ , que é finita. Portanto,
concluímos que a velocidade média v x = ∆x/∆t da partícula tende a zero no
limite ∆t → ∞. Na prática, isso quer dizer que o deslocamento (2.72) jamais é
atingido. Se considerarmos, contudo, um intervalo finito [0, t] mas com t τ , o
deslocamento total da partícula nesse intervalo será muito próximo do valor dado
pela Equação (2.72). No outro limite, t τ , podemos aproximar a aceleração no
instante t por seu valor em t = 0, e as Equações (2.69), (2.70) e (2.71) assumem a
forma
v0
ax ≈ − , (2.73)
τ
v0
vx ≈ v0 − t , (2.74)
τ
v0
x ≈ x0 + v0 t − t2 , (2.75)
2τ
que é aproximadamente um movimento retilíneo uniformemente variado com ace-
leração ax = −v0 /τ .
Combinando as Equações (2.69) e (2.70), temos
vx
ax = − . (2.76)
τ
Assim, a aceleração da partícula num instante qualquer depende apenas do valor
de sua velocidade nesse instante. A aceleração é proporcional a velocidade e seu
sentido é sempre contrário ao sentido da velocidade: se a velocidade aponta no
sentido positivo do eixo OX a aceleração aponta no sentido negativo do eixo OX,
e vice-versa. Isso significa, portanto, que o valor do módulo da velocidade sempre
diminue durante o movimento, ou seja, a partícula está sempre desacelerando e
essa desaceleração é tanto maior quanto maior for o valor absoluto da velocidade.
A Equação (2.76) é caracterítica do movimento de uma partícula se movento
num fluido (líquido ou gás) em repouso e apenas sob a ação viscosa desse fluido.
Ela contém toda a informação dinâmica sobre o movimento e, por conseguinte,
leva à função-movimento (2.71). Veremos mais tarde no curso que ela representa
também um dos modelos mais importantes para a descrição de sistemas onde há
dissipação de energia mecânica.
Capítulo 2 – Cinemática 60
onde a0 e φ são constante reais e ω é uma constante real positiva. Usando no-
vamente as Equações (2.57) e (2.60), a velocidade da partícula no instante t será
dada por
Z t
a0
vx = vx0 − a0 cos (ωt0 + φ) dt0 = vx0 − [sen u]u=ωt+φ
u=0
0 ω
a0 a0
vx = vx0 + sen φ − sen (ωt + φ)
ω ω
e a posição é
Z t Z t0
0
x = x0 + vx0 t − a0 dt cos (ωt00 + φ) dt00
Z0 0
a0 t
= x0 + vx0 t − (sen (ωt0 + φ) − sen φ) dt0
ω 0
a0 a0
= x0 + vx0 + sen φ t − 2 (cos φ − cos (ωt + φ)) ,
ω ω
ou seja,
a0 a0
vx = vx0 + sen φ − sen (ωt + φ) , (2.78)
ω ω
a0 a0 a0
x = x0 − 2 cos φ + vx0 + sen φ t + 2 cos (ωt + φ) . (2.79)
ω ω ω
O lado direito da Equação (2.79) dá a função-movimento compatível com a função-
aceleração (2.77). Poderíamos aqui discutir vários movimentos possíveis a partir
da especificação de diferentes condições iniciais, mas deixaremos isso como exer-
cício. Contudo, iremos discutir um caso particular de (2.79) que descreve um mo-
vimento de extrema importância para a Física.
Vamos considerar o caso em que as constantes a0 e φ se relacionam às con-
dições iniciais da seguinte forma:
a0
x0 = cos φ ,
ω2
a0
vx0 = − sen φ .
ω
Neste caso, as Equações (2.77), (2.78) e (2.79) tomam a forma
1 v2
xr = x0 + v0 t0 + at20 = x0 − 0 , (2.87)
2 2a
é chamado de ponto de retorno do MRUV. Na Figura 2.9 nós mostramos um gráfico
de (2.85) com a > 0 e v0 < 0.
Chamamos a atenção para que não se confunda o gráfico da função-movimento
contra o tempo com a forma da trajetória da partícula. A trjetória da partícula em Figura 2.9: Gráfico da posição
qualquer intervalo finito é sempre um segmento de reta, qualquer que seja a função- contra o tempo de um MRUV
movimento, pois estamos tratando de uma partícula que se move apenas sobre o onde x0 > 0, a > 0 e v0 < 0.
eixo OX.
Capítulo 2 – Cinemática 63
onde usamos a Equação (2.90). Se, contudo, o intervalo [t1 , t2 ] é tal que t1 < t0 <
t2 , o sentido do movimento se inverte e a Equação (2.91) não é mais válida. Porém,
nesse caso, o deslocamento no intervalo [t1 , t2 ] pode ser escrito como a soma dos
deslocamentos nos intervalos [t1 , t0 ] e [t0 , t2 ],
Portanto, a distância total percorrida pela partícula no intervalo [t1 , t2 ] com t1 <
t0 < t2 é simplesmente a soma das distâncias percorridas nos dois intervalos,
2 2
vx2 + vx1
s12 = |∆x10 | + |∆x02 | = |xr − x1 | + |x2 − xr | = , (2.92)
2|a|
onde usamos o fato de que a velocidade da partícula é nula em x = xr .
Existem muitos problemas físicos em que o movimento de uma partícula pode
ser modelado por um MRUV. O mais importante deles, talvez, é problema da queda
livre dos corpos.
No início do século XVII Galileu (1564-1642) fez uma descoberta crucial
para o nascimento e desenvolvimento da Física. Ele descobriu que todos os corpos,
idependentemente de suas formas, constituição e peso, caem com a mesma acelera-
ção nas proximidades da superfície da Terra (quando são eliminados os efeitos de
resistência do ar) e que essa aceleração é constante. Se considerarmos agora o eixo
OY com origem em um ponto sobre a superfície da Terra e cujo sentido positivo
é para cima, a posição de uma partícula sobre esse eixo fica completamente espe-
cificada por sua coordenada y. De acordo com a descoberta de Galileu, qualquer
partícula estará então sugeita à mesma aceleração dada por
ay = −g ,
g ≈ 9,807 m/s2 .
onde f˙x e f¨x são as funções dadas pela primeira e segunda derivadas de fx , respec-
tivamente.
Seja vx1 a velocidade da partícula em t1 = t e vx2 sua velocidade em t2 =
t + ∆t, onde ∆t = t2 − t1 é a duração do intervalo. Então, a variação da velocidade
∆vx = vx2 − vx1 nesse intervalo é dada pela Equação (2.56),
Z t+∆t
∆vx = f¨x (t0 )dt0 . (2.98)
t
Suponhamos agora que o intervalo [t1 , t2 ] seja tal que o valor da aceleração da par-
tícula em qualquer instante desse intervalo seja praticamente o mesmo, ou seja,
Neste caso, podemos substituir o integrando em (2.98) por seu valor num instante
t00 qualquer do intervalo, isto é,
Z t+∆t Z t+∆t
∆vx ≈ f¨x (t )dt = f¨x (t )
00 0 00
dt0 = f¨x (t00 )∆t (2.99)
t t
∆vx
=⇒ f¨x (t00 ) = a00x ≈ = ax , (2.100)
∆t
onde a00x é a aceleração da partícula no instante t00 e ax é a aceleração média no
intervalo [t, t + ∆t]. A Equação anterior diz que a aceleração média no intervalo em
questão é aproximadamente igual à aceleração num instante qualquer do intervalo,
o que implica que o movimento em questão é aproximadamente um MRUV com
aceleração cujo valor no intervalo considerado é
no interior do intervalo, isto é, se existe um t0 ∈ [t, t + ∆t] tal que f¨x (t0 ) = 0. Pode-
mos então fazer o seguinte enunciado: qualquer movimento retilíneo num intervalo
suficientemente pequeno pode ser aproximado por um MRUV com aceleração igual
à aceleração ax no início do intervalo, a menos que ax ≈ 0, de onde o movimento
pode ser aproximado por um MRU com velocidade igual à velocidade no instante
inicial do intervalo.
O critério para a escolha do tamanho adequado para duração ∆t depende de
cada intervalo escolhido bem como do tipo de movimento estudado. No exemplo
2.8 da seção 4.5 vimos um caso desse tipo, em que o movimento da partícula pode
ser descrito como um MRUV para instantes no intervalo [0, t] quando t τ , como
mostrado nas esquações (2.73) a (2.75). Portanto, o critério para ∆t nesse exemplo
é ∆t τ , para qualquer intervalo [t1 , t2 ].
A importância das Equações (2.101) e (2.102) está no fato de que a aceleração
pode ser obtida diretamente das forças que atuam sobre a partícula quando usamos
referenciais inerciais na descrição do movimento, como veremos em detalhes no
estudo da Dinâmica. De um modo geral, é muito difícil obter a função-movimento
exata de uma partícula num intervalo [ti , tf ] qualquer de duração ∆tif = tf − ti .
Assim, se conhecemos a posição x0 e a velocidade v0 da partícula no instante ini-
cial t0 = ti , as leis da Dinâmica (Segunda Lei de Newton) permitem sabermos
qual a aceleração a0 sofrida pela partícula nesse instante desde que saibamos, na-
turalmente, como a partícula interage com sua vizinhança. Usando as Equações
(2.101) e (2.102), podemos calcular a posição x1 e a velocidade v1 da partícula
num instante t1 = ti + ∆t1 , com ∆t1 ∆tif . Sabendo x1 e v1 , podemos usar
novamente a Segunda Lei de Newton para saber a aceleração a1 da partícula no
instante t1 . Recorrendo novamente às Equações (2.101) e (2.102), podemos cal-
cular a posição x2 e a velocidade v2 da partícula num instante t2 = t1 + ∆t2 ,
com ∆t2 ∆tif , que por sua vez permite sabermos o valor de a2 através da
Segunda Lei de Newton e calcularmos as novas posição x3 e velocidade v3 num
instante t3 = t2 + ∆t3 . Continuando esse procedimento até o instante tf te-
remos obtido um conjunto Xn = {x0 , x1 , x2 , ..., xj , ..., xn−1 , xn } de posições e
Vn = {v0 , v1 , v2 , ..., vj , ..., vn−1 , vn } de velocidades da partícula em cada instante
pertencente ao conjunto Tn = {ti , t1 , t2 , ..., tj , ..., tn−1 , tf }, de maneira que tere-
mos a função-movimento e a função-velocidade da partícula por interpolação de
todos os pontos de Xn e Vn em função de Tn . Essa interpolação será tanto melhor
quanto maiores forem os conjuntos Xn e Vn , o que implica quanto menores forem
os ∆tj = tj+1 − tj . Assim, poderemos conhecer qualquer movimento por esse
procedimento, justificando ainda mais a importância do MRUV.
interesse, ou seja,
x = fx (t) , (2.104)
y = fy (t) , (2.105)
z = fz (t) , (2.106)
x̂ · x̂ = ŷ · ŷ = ẑ · ẑ = 1 , (2.108)
x̂ · ŷ = x̂ · ẑ = ŷ · ẑ = 0 , (2.109)
x̂ × ŷ = ẑ , ŷ × ẑ = x̂ , ẑ × x̂ = ŷ , (2.110)
onde o símbolo “·” representa o produto escalar entre dois vetores enquanto o sím-
bolo “×” representa o produto vetorial entre dois vetores. As Equações (2.108) e
(2.109) definem o que chamamos em álgebra linear de uma base ortonormal. É uma
base porque constitui-se de três vetores linearmente independentes em termos dos
quais pode-se escrever quaisquer vetores no espaço tridimensional. É ortonormal
porque os vetores da base são vetores de módulo unitário e perpendiculares entre
si. As Equações (2.110) acrescentam uma outra propriedade à base: cada vetor da
3
Frequentemente se usa os símbolos î, ĵ e k̂ no lugar dos símbolos x̂, ŷ e ẑ para se representar
os vetores unitários associados aos eixos coordenados OX, OY e OZ, respectivamente. Optamos
por esses últimos porque seus nomes lembram diretamente os eixos coordenados aos quais fazem
referência.
Capítulo 2 – Cinemática 70
base pode ser obtido a partir do produto vetorial dos outros dois vetores seguindo a
regra da mão direita.
Em termos dos vetores x̂, ŷ e ẑ, o vetor posição definido pela Equação (2.103)
em termos das coordenadas pode ser escrito como
r = x x̂ + y ŷ + z ẑ . (2.111)
r1 = f (t1 ) = x1 x̂ + y1 ŷ + z1 ẑ , (2.113)
r2 = f (t2 ) = x2 x̂ + y2 ŷ + z2 ẑ , (2.114)
∆r = r2 − r1 = ∆x x̂ + ∆y ŷ + ∆z ẑ , (2.115)
onde
onde |∆rj | é calculado segundo a Equação (2.116). Note que ∆rj → 0 se e somente
se ∆xj → 0, ∆yj → 0 e ∆zj → 0 simultaneamente no intervalo [tj , tj+1 ] quando
tj+1 → tj , o que está garantido pela continuidade das funções-movimento fx , fy e
fz .
Consideremos agora o vetor velocidade média. Ele é definido com a razão
entre o vetor deslocamento ∆r = r2 − r1 no intervalo [t1 , t2 ], t2 > t1 , e a duração
∆t = t2 − t1 do intervalo,
∆r f (t2 ) − f (t1 )
v= = , (2.121)
∆t t2 − t1
onde usamos as Equações (2.113) e (2.114). A partir de (2.115), podemos escrever
o vetor velocidade média em termos de suas componentes como
∆x ∆y ∆z
v= x̂ + ŷ + ẑ = v x x̂ + v y ŷ + v z ẑ , (2.122)
∆t ∆t ∆t
onde v x , v y e v z são as velocidades médias ao longo dos eixos OX, OY e OZ,
respectivamente, definidas segundo a Equação (2.20). O sentido e a direção do vetor
velocidade média são os mesmos do vetor deslocamento, ou seja, eles possuem os
mesmos cossenos diretores dados pelas Equações (2.117). Seu módulo
q
|v| ≡ v = v 2x + v 2y + v 2z
∆r f (t + ∆t) − f (t)
v= = .
∆t ∆t
Definimos o vetor velocidade ao limite da razão anterior quanto ∆t → 0, isto é,
∆r f (t + ∆t) − f (t) dr
v = lim = lim = . (2.123)
∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t dt
t deve exitir um, e apenas um, vetor velocidade v pois, se assim não fosse, não se
poderia definir uma única tragetória para a partícula: se num instante t a partícula
pudesse ter um vetor velocidade v0 e outro v00 , por exemplo, num instante t + ∆t
ela teria dois vetores posição r0 e r00 , para ∆t suficientemente pequeno, dados por
r0 ≈ r + v0 ∆t e r00 ≈ r + v00 ∆t ,
onde r é o vetor posição da partícula no instante t. Se v0 6= v00 então r0 6= r00 ,
significando que a partícula estaria ocupando duas posições diferentes no mesmo
instante de tempo, o que é absurdo.
Existe então uma função que para um t ∈ [t1 , t2 ] permite calcular um único v
correspondente cujo domínio é o intervalo [t1 , t2 ] e cujo contradomínio é o conjunto
de todos os vetores velocidade tangentes a todos os pontos de todas as curvas con-
tínuas possíveis pertencentes ao espaço definido pelo sistema de eixos coordenados
OXY Z. Da definição (2.123), vemos que essa função corresponde exatamente à
função derivada da função-movimento vetorial. Representando essa função por f˙,
temos,
v = f˙(t) . (2.124)
Em termos das componentes ao longo dos eixos coordenados, podemos escrever a
Equação (2.123) como
∆x ∆y ∆z
v = lim x̂ + lim ŷ + lim ẑ = vx x̂ + vy ŷ + vz ẑ , (2.125)
∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t ∆t→0 ∆t
onde vj é o vetor velocidade média da partícula no intervalo [tj , tj+1 ]. Assim como
(2.118), a Equação anterior é válida para qualquer conjunto ℘n de partições do
intervalo [ti , tf ]. Tomando o limite de n → ∞ e ∆tj → 0, para qualquer [tj , tj+1 ] ∈
℘n , o vetor velocidade média vj tende ao vetor velocidade no instante tj = t e a
soma anterior tende à integral do vetor velocidade (dado pela Equação (2.124)) no
intervalo [ti , tf ],
Z tf
∆r = f˙(t)dt . (2.131)
ti
onde usamos o fato de que ∆tj > 0 ∀ [tj , tj+1 ] ∈ ℘n . A Equação anterior é
justamente a integral
Z tf Z tf q
s= ˙
|f (t)|dt = f˙x2 (t) + f˙y2 (t) + f˙z2 (t) dt . (2.137)
ti ti
Deve-se lembrar que nas Equações anteriores x e t não são variáveis independen-
tes, pois estão relacionadas pela Equação (2.104): x = fx (t) =⇒ t = fx−1 (x).
Retornando à Equação (2.137), podemos escrever
" #1/2
tf tf f˙y2 (t) f˙z2 (t)
Z q Z
f˙2 (t) + f˙2 (t) + f˙2 (t) dt =
˙
s= x y z 1+ + x dt .
f (t)
ti ti f˙x2 (t) f˙x2 (t)
então
Z xf =x0 q
1 + Ty0 2 (x) + Tz0 2 (x) dx = S(x0 ) − S(x0 ) = 0 . (2.150)
xi =x0
Este resultado está correto, mas ele não representa a distância s percorrida pela
partícula porque a integral em (2.150) é diferente da integral em (2.149) pois, em
geral, dx 6= |dx|. Isso significa que, em geral, não existe uma função tal que a
integral em (2.149) possa ser calculada como a diferença entre os valores dessa
4
Dizemos que uma função F (x) é a função primitiva da função f (x) se, e somente se, f (x) =
F (x), onde F 0 (x) é a derivada de F (x) em relação a x.
0
Capítulo 2 – Cinemática 78
x=A, y=0, z = 0,
Ty (x) = Tz (x) = 0
x = A cos ωt , (2.151)
y = A sen ωt , (2.152)
z = 0. (2.153)
Por essas Equações, vê-se que o movimento da partícula ocorre apenas no plano
OXY , de maneira que a posição da partícula fica completamente especificada se
soubermos suas coordenadas x e y apenas.
No instante t = 0 a posição da partícula é dada pelas coordenadas (A, 0) e
no intante t = 2π/ω ela se encontra novamente na posição (A, 0). Qual a distância
percorrida no intervalo [ti , tf ] ≡ [0, 2π/ω]? Elevando ao quadrado as Equações
(2.151) e (2.152) e depois somando-as, temos
√
y 2 + x2 = A2 =⇒ y = Ty(±) (x) = ± A2 − x2 . (2.154)
(+) (−)
Temos portanto duas funções Ty no intervalo [0, 2π/ω], Ty e Ty . A função
(+)
Ty corresponde ao intervalo temporal [0, π/ω], no qual a coordenada y assume
(−)
apenas valores positivos, enquanto a função Ty correponde ao intervalo temporal
[π/ω, 2π/ω], no qual a coordenada y assume apenas valores negativos. Podemos
então escrever a integral (2.149) como a soma de duas integrais:
Z f (π/ω)=−A r
x h i 2
0(+)
s= 1 + Ty (x) |dx| + (2.155)
fx (0)=A
Z fx (2π/ω)=A r h i2
0(−)
+ 1 + Ty (x) |dx| , (2.156)
fx (π/ω)=−A
onde
x
Ty0(±) (x) = ∓ √
A2 − x2
Capítulo 2 – Cinemática 79
(±)
é a derivada de Ty (x) em relação a x.
A componente x da velocidade num instante t é dada por
vx = −ωA sen ωt ,
Capítulo 2 – Cinemática 80
vy = ωA cos ωt ,
vz = 0 ,
de modo que no intervalo [0, 2π/ω] a distância percorrida é
Z 2π/ω q
s = (−ωA sen ωt)2 + (ωA cos ωt)2 + 02 dt
0Z
2π √
= A sen2 u + cos2 u du = 2πA ,
0
que é exatamente o resultado que obtivemos usando a Equação (2.149) (como deve-
ria ser) só que com um esforço muito menor. Por que então perdemos tanto tempo
na Equação (2.149) ao invés de usar logo a Equação (2.137)? De fato, quando co-
nhecemos as funções-velocidade da partícula, como é o caso aqui, não é vantajoso
o uso da Equação (2.149) em detrimento da Equação (2.137). O problema está
em quando não conhecemos as funções-velocidade, o que é uma situação relativa-
mente comum. Em muitos casos é mais fácil obter as Equações da trajetória da
partícula, ou seja, as funções Ty e Tz , do que encontrar suas funções-velocidade. Se
conhecemos ainda alguma informação adicional, como o sentido em que ocorreu o
movimento ao longo da trajetória, podemos usar (2.149) para calcular a distância
percorrida. Uma outra razão para termos usado (2.149) ao invés de (2.137) é de
origem didática. Calculando a distância por (2.149) utilizamos métodos comuns
ao cálculo de todo tipo de integrais de caminho, o que será importante mais tarde
quando encontrarmos exemplos de integrais mais importantes em Mecânica, Ter-
modinâmica e Eletromagnetismo, que estudaremos em cursos posteriores.
onde f¨x , f¨y e f¨z são as funções-aceleração que dão dos valores das acelerações ao
longo dos eixos coordenados para cada instante t, ou seja,
conjunto de Equações
Z t Z t0
x = x0 + vx0 t + dt 0
f¨x (t00 )dt00 , (2.172)
0 0
Z t Z t0
y = y0 + vy0 t + dt0 f¨y (t00 )dt00 , (2.173)
0 0
Z t Z t0
z = z0 + vz0 t + dt0
f¨z (t00 )dt00 , (2.174)
0 0
onde x, y e z são as componentes do vetor r e x0 , y0 e z0 são as componentes do
vetor r0 .
Os lados direitos das Equações (2.167) e (2.171) dão exatamente a função-
velocidade e função-movimento vetoriais da partícula, respectivamente. Da Equa-
ção (2.171), se conhecemos a função-aceleração vetorial no intervalo de interesse
bem como os vetores posição e velocidade num dado instante inicial do intervalo,
então conhecemos o movimento da partícula nesse intervalo. Isso significa que, se
conhecemos 6 números (as componentes dos vetores r0 e v0 ) e 3 funções do tempo
(as funções-aceleração f¨x , f¨y e f¨z ) o movimento da partícula fica completamente es-
pecificado. Esses 6 números são as chamados de condições iniciais do movimento
da partícula.
A discussão feita na parte final da seção 2.4.4 sobre a importância da acele-
ração no movimento unidimensional se aplica inteiramente ao caso do vetor ace-
leração aqui discutido. A importância da Equação (2.171) reside no fato de que,
quando é utilizado um referencial inercial qualquer para se descrever o movimento,
o vetor aceleração está relacionado diretamente às interações entre a partícula e sua
vizinhança por meio da Segunda Lei de Newton. Quanto às limitações da Equação
(2.171), estas são as mesmas levantadas para a Equação (2.60). Embora a Segunda
Lei nos dê diretamente o vetor aceleração a partir das interações entre as partícu-
las, ela não nos dá a função-aceleração vetorial porque as interações são escritas
em termos das posições e velocidades de todas as partículas do problema (partí-
cula+vizinhança). Isso significa que o vetor aceleração obtido a partir da Segunda
Lei de Newton é dado por uma função das posições e velocidades das partículas
do problema e não por uma função do tempo, como é o caso da função-aceleração
vetorial. Ainda assim, a Equação (2.171) pode ser utilizada para a obtenção do mo-
vimento de uma partícula em muitas situações físicas importantes em que podemos
encontrar a função-aceleração vetorial. Vejamos alguns desses exemplos.
Exemplo 2.10. Considere um movimento cujo vetor aceleração de dado por
a = f¨(t) = a0 , (2.175)
para qualquer t do intervalo de interesse, onde a0 é um vetor constante. Logo,
pelas Equações (2.167) e (2.171), temos
v = v0 + a0 t , (2.176)
1
r = r0 + v0 t + a0 t2 . (2.177)
2
Exploremos agora essas Equações para alguns valores do vetor a0 e para
algumas condições iniciais.
Capítulo 2 – Cinemática 83
1. Seja a0 o vetor nulo (a0 = 0). Então as Equações anteriores tomam a forma
v = v0 , (2.178)
r = r0 + vt . (2.179)
x = x0 + vx t , (2.180)
y = 0, (2.181)
z = 0, (2.182)
vx = vx0 + ax t , (2.183)
1
x = x0 + vx0 t + ax t2 , (2.184)
2
que é um MRUV ao longo do eixo OX.
x = x0 + vx0 t , (2.185)
1
y = y0 + vy0 t + ay t2 , (2.186)
2
z = 0. (2.187)
Esta Equação descreve uma parábola cuja concavidade está voltada para
baixo, o que implica que há um valor máximo para a coordenada y que cor-
responde à altura máxima y = ym que pode ser alcançada pela partícula. O
ponto de altura máxima, (xm , ym ), é a solução da Equação
g
Ty0 (xm ) = tg θ − (xm − x0 ) = 0 ,
v02 cos2 θ
o que leva a
v02
xm = x0 + sen 2θ , (2.191)
2g
v2
ym = y0 + 0 sen2 θ . (2.192)
2g
x± = xm ± v0 tm cos θ , (2.193)
v02
A= sen 2θ . (2.197)
g
Deste resultado, vemos que o valor máximo do alcance é aquele para o qual
sen 2θ = 1 =⇒ θ = π/4 ,
ou seja, o projétil terá o maior alcance possível, para uma dada velocidade
v0 , quando o ângulo entre o vetor velocidade inicial e a direção horizontal
(ou vertical) for de θ = 45o .
Finalmente, usando a Equação (2.149), podemos calcular a distância total
percorrida pela partícula em sua trajetória. Para o caso em que 0 < θ < π/2
e y0 = 0, será deixado como exercício mostrar que o comprimento total da
trajetória no intervalo [0, t+ ], com t+ definido pela Equação (2.195), é dado
por
v02
sen θ + cos2 θ ln (tg θ + sec θ) .
s= (2.198)
g
Na Figura 2.10 mostramos os gráficos do alcance A e a distância s dados
pelas Equações (2.197) e (2.198), respectivamente, em função do ângulo de
lançamento θ.
Figura 2.10: O gráfico em azul
Com os exemplos (a), (b) e (c), esgotamos todos os tipos de movimento possí- mostra o alcance do projétil, dado
veis descritos pelas Equações (2.176) e (2.177). É fácil ver que o movimento dado pela Equação (2.197), e o grá-
no exemplo (c), que contém os exemplos (a) e (b) como casos particulares, contém fico em vermelho mostra o com-
primento da trajetória dado pela
todas as informações dadas pela Equação (2.177) pois, uma vez que o vetor ace-
Equação (2.198), ambos em fun-
leração é constante, sempre podemos escolher um dos eixos coordenados de modo ção do ângulo de lançamento θ e
que sua direção coincida com a do vetor aceleração, bem como podemos escolher em unidades de v02 /g.
um dos outros dois eixos de maneira que os vetores velocidade e posição iniciais
estejam no mesmo plano.
Capítulo 2 – Cinemática 86
Exemplo 2.11. Considere agora um vetor aceleração cujas componentes são dadas
por
Existem vários tipos de movimento que podem ser descritos pelas Equações an-
teriores, dependendo dos valores das condições iniciais e de sua relação com as
constantes a0 , b0 e φ. Vejamos alguns desses movimentos.
y0 = z0 = 0 , vy0 = vz0 = 0 , b0 = 0 , a0 6= 0 ,
a0 a0
x0 = 2 cos φ , vx0 = − sen φ . (2.205)
ω ω
Neste caso, temos exatamente o movimento descrito no exemplo 2.9 da seção
2.4.5: um oscilador harmônico que oscila em torno do ponto x = 0 ao longo
do eixo OX com período T = 2π/ω e amplitute A = a0 /ω 2 .
Na Figura 2.11 mostramos a trajetória de uma partícula que segue as funções Figura 2.11: Trajetória de uma
movimento (2.206) a (2.207). partícula dada pela Equação
(2.209).
Capítulo 2 – Cinemática 87
onde
|a0 |
r0 = .
ω2
A Equação (2.215) é a Equação de uma elipse centrada na origem com semi-
eixos A+ e A− cujos valores são dados por
r0 | cos φ|
A± = √ . (2.216) Figura 2.12: Trajetória de uma
1 ± sen φ partícula dada pela Equação
(2.215). A linha azul representa
Na Figura 2.12 mostramos as trajetórias para alguns valores de φ. Para φ =
uma trajetória onde a0 /ω 2 = 1
±π/2 a partícula√realiza o movimento de um oscilador harmônico simples, e φ = π/4. As linhas tracejadas
com amplitude r0 2 e período 2π/ω, ao longo de um dos eixos bissetores aos vermelha e verde representam os
eixos coordenados, dados pelas retas y = −x e y = x. Para quaisquer outros casos limites onde φ = ±π/2. A
valores de φ a trajetória da partícula é uma elipse. Para φ = 0, a trajetória linha pontilhada representa o caso
φ = 0.
é uma circunferência. Discutiremos este caso com mais profundidade logo
depois.
Capítulo 2 – Cinemática 88
Logo, o módulo do vetor velocidade é constante e dado por v = ωr0 . Isso quer dizer
que a rapidez com que a partícula se move é a mesma qualquer que seja o instante
de tempo considerado durante o movimento. O leitor atento deve se lembrar de um
Capítulo 2 – Cinemática 89
r = x x̂ + y ŷ
com
x = r cos θ e y = r sen θ , (2.225)
e onde r = |r|. Logo, se conhecemos os números r e θ num dado instante, sabemos
a posição da partícula nesse instante. r e θ são chamadas de coordenadas polares
da partícula.
Em termos de r e θ, podemos escrever o vetor r também como
r = r ûr , (2.226)
θ = ωt . (2.228)
Usando esse resultado nas Equações (2.221) a (2.223) poderemos escrever o vetor
velocidade no MCU em termos de r e θ como
v = ωr ûθ , (2.229)
Note que
ûr · ûθ = 0 (2.231)
Capítulo 2 – Cinemática 90
qualquer que seja o valor de θ. Isso significa que ûr e ûθ , além de vetores unitários,
são também ortogonais. Logo, assim como os vetores x̂ e ŷ, os vetores ûr e ûθ
podem ser usados como uma base em termos da qual qualquer vetor no plano OXY
pode ser escrito.
As Equações (2.226) e (2.229) dão o vetor posição e o vetor velocidade de
uma partícula em MCU em termos das coordenadas polares r e θ ou, equivalente-
mente, escritos na base formada por ûr e ûθ . Note que os módulos dos vetores r e v
são os mesmos em qualquer instante t, já que r e ω são constantes no MCU, mas a
direção e o sentido de cada um muda constantemente à medida que o tempo passa.
Note também que, pela Equação (2.231), r e v são sempre perpendiculares entre si.
Uma vez que no MCU o sentido de rotação (horário ou anti-horário) não
muda, a distância percorrida pela partícula num dado intervalo [t1 , t2 ] é igual ao
comprimento do arco varrido pela partícula nesse intervalo. De fato, aplicando a
Equação (2.137) para o MCU no intervalo [t1 , t2 ], temos
Z t2 Z t2
s= |v|dt = ωr dt = rω (t2 − t1 ) . (2.232)
t1 t1
θ̇ = ω .
a · v = 0,
v2
acp = −ω 2 r ûr = − ûr . (2.239)
r
Capítulo 2 – Cinemática 92
Esta Equação, que diz que a aceleração centrípeta aponta no sentido contrário ao
raio vetor, varia com o quadrado da velocidade e com o inverso do raio, pode ser
considerada como a definição de aceleração centrípeta. De fato, embora tenhamos
deduzido a Equação (2.239) apenas para o MCU, ela é aplicável para qualquer traje-
tória desde que o raio r e o vetor ûr sejam escolhidos de forma apropriada. Faremos
isso nesta próxima seção.
a = at + acp . (2.240)
Para mostrar que o resultado (2.239) é bem mais geral, consideremos apenas
movimentos num plano, de maneira que o vetor posição da partícula possa ser des-
crito apenas em termos das coordenada polares r e θ, de acordo com a Equação
(2.226). A Equação da trajetória da partícula tem então a forma
r = R (θ) , (2.241)
r0 | cos φ|
r = R (θ) = . (2.242)
(1 + sen φ sen 2θ)1/2
Para determinar ûv , consideremos novamente o vetor posição dado pela Equa-
ção (2.226). Usando a Equação (2.241), temos
Nesta Equação fica evidente que escolhemos o ângulo ξ de tal modo que seu cosseno
seja sempre um número positivo, pois o módulo de um vetor (no caso, o vetor
velocidade) não pode ser um número negativo. Logo,
π π
− <ξ< . (2.249)
2 2
Combinando (2.248), (2.246) e (2.243), podemos escrever
∆θ̇ dθ̇
θ̈ = lim = . (2.254)
∆t→0 ∆t dt
Capítulo 2 – Cinemática 94
Rc = ρûρ , (2.264)
acp = −ω 2 Rc , (2.265)
onde
2
d 2
ω = |θ̇| 1 − 2 [ln R (θ)] cos ξ . (2.266)
dθ
r = rc + Rc , (2.267)
Capítulo 2 – Cinemática 96
ξ = 0,
ρ = r0
para qualquer ponto P da trajetória. Usando esses resultados nas Equações (2.268) e
(2.269), teremos xc = 0 e yc = 0, de maneira que o centro de curvatura Oc coincide
com a origem do sistema de coordenadas para qualquer ponto P da trajetória.
Podemos agora dar uma interpretação bastante simples para os conceitos de
centro de curvatura Oc , raio de curvatura ρ e vetor de curvatura Rc num dado ponto
P de uma trajetória: se colocarmos uma partícula no ponto P se movendo apenas
sob uma aceleração centrípeta acp cujo valor nesse ponto é dado pela Equação
(2.265), então ela realizará um MCU cuja trajetória é um círculo de raio |ρ| e
centro Oc e cuja velocidade angular ω é dada pelo seu valor no ponto P segundo a
Equação (2.266).
2.6 Conclusões
Neste capítulo nós aprendemos os conceitos básicos sobre o movimento. Vimos
que para a descrição de qualquer movimento precisamos antes de tudo definir um
referencial em relação ao qual as medidas de posição e tempo são realizadas. De-
mos então uma definição de movimento a partir do conhecimento da posição da
Capítulo 2 – Cinemática 97
Por que os corpos começam a se mover? O que faz com que a velocidade de um
corpo aumente ou a direção de seu movimento seja alterada? A teoria que descreve
estes fenômenos é a mecânica clássica, ou simplesmente mecânica. Ela foi fun-
dada por Galileo e Newton e aperfeiçoada por seus seguidores, notavelmente por
Lagrange e Hamilton. O sucesso da teoria clássica vai desde a descrição acurada da
dinâmica de objetos de cada dia até o entendimento detalhado dos movimentos das
galáxias.
98
Capítulo 3 – As Leis de Newton e Aplicações 99
todos sistemas de referência que se move com velocidade constante em uma linha
reta com respeito uns aos outros.
Durante seus primeiros vinte anos, Newton postulou três leis do movimento
que forma a base da mecânica clássica. Ele usou elas para resolver uma grande
variedde de problemas incluindo a dinâmica de planetas. As leis do movimento,
primeiro publicados na Principia em 1687, desempenha um papel fundamental na
teoria de Newton da Gravitação; apresentaremos elas a seguir.
Esta lei é conhecida como a lei da inércia, porque “inércia” significa resis-
tência a uma mudança, e a lei afirma que um objeto tende naturalmente a manter a
velocidade vetorial que tiver.
Se F~1 , F~2 , etc, representam as forças individuais exercidas sobre um objeto,
definimos a força resultante como
X
F~ = F~1 + F~2 + F~3 + · · · , (3.1)
e lembrando que a variação da velocidade ~v do objeto em relação ao tempo é a sua
aceleração, a primeira de lei de Newton pode ser enunciada da seguinte forma:
a
P “1 lei de Newton: Se a força resultante sobre um objeto é zero
( F~ = 0), então a aceleração do objeto é zero (~a = 0).”
válida para um sistema de referência fixo na calçada, mas não o é para um sistema
fixo ao carro.
É esta característica que nos leva a definir um tipo especial de sistema de
referência chamado de sistema inercial de referência.
Esta definição implica que qualquer sistema que se mova com velocidade
constante em relação a um sistema inercial é também um sistema inercial e, con-
sequentemente, qualquer sistema que acelere em relação a um sistema inercial de
referência é um sistema não-inercial.
Um sistema de referência que usaremos constantemente para estudar a dinâ-
mica de um objeto na superfície da Terra é um com origem fixo em relação a um
ponto próximo à superfície da Terra e eixos cartesianos fixos em relação à horizontal
e à vertical.
Como sabemos, a Terra completa um giro sobre seu eixo em um dia, e com-
pleta uma revolução em torno do Sol em um ano. Em virtude do movimento de
rotação da Terra em torno de seu eixo, um sistema de referência fixo em sua super-
fície na linha do equador tem uma aceleração de 0,034 m/s2 dirigida para o centro
da Terra, e em razão do movimento orbital, o centro da Terra tem uma aceleração de
0,006 m/s2 dirigida para o Sol. Como essas acelerações são pequenas, seus efeitos
costumam ser insignificantes quando usamos as leis de Newton para estudar muitas
situações que ocorrem na superfície terrestre. Portanto, admitiremos como uma boa
aproximação que um sistema de referência fixo na superfície da Terra é um sistema
inercial de referência.
Aristóteles acreditava que o estado natural do movimento era o de repouso. É
instrutivo considerar a conjuntura de Aristóteles a partir do ponto de vista do Prin-
cípio da Relatividade: as leis de movimento tem a mesma forma em todos sistemas
de referência que se move com velocidade constante em uma linha reta com res-
peito uns aos outros. É o estado natural de repouso consistente com o princípio
geral da Relatividade? Um observador em um sistema de referência movendo com
velocidade constante em um linha reata com respeito ao sistema de referência na
qual o objeto está em repouso poderia concluir que o estado natural do objeto é um
de velocidade constante em uma linha reta, e não o de repouso. Todos observado-
res inerciais, em um número infinito de sistemas de referência, chegariam a mesma
conclusão. Vemos, portanto, que a conjuntura de Aristóteles não é consistente com
este Princípio Fundamental.
d~p d d~v
= (m~v ) = m = m~a, (3.3)
dt dt dt
e portanto temos o famoso enunciado da 2a lei de Newton:
X
F~ = m~a. (3.4)
De acordo com esta equação, para uma dada força resultante, um objeto com
maior massa terá menor aceleração. A massa é a propriedade de um objeto que faz
com que ele resista a qualquer variação de sua velocidade vetorial. Como inércia
significa resistência a uma variação, a massa que aparece na definição da segunda
lei de Newton é também chamada de massa inercial.
A segunda lei de Newton proporciona uma definição do conceito de força:
força é o que faz com que um objeto acelere. Se existe apenas uma força atuando
sobre um objeto, então a aceleração do objeto em relação a um sistema de referên-
cia inercial é proporcional ao módulo da força e tem a mesma direção desta. No
Sistema Internacional de Unidades (SI) a unidade de força é o “newton” (N), cuja
definição a partir da Equação (3.4) é:
hX i
F~ = [m~a] = 1 kg · m/s2 ≡ 1N (3.5)
m1 a1 = m2 a2
m2 a1
= (mesma força resultante) (3.6)
m1 a2
Ou seja, para a mesma força resultante, a razão entre as massas é o inverso da
razão entre as acelerações. Embora possamos usar este procedimento para medir
uma massa desconhecida m2 , é mais prático determinar a massa indiretamente pela
medida do peso do corpo.
“Lei III. A toda ação se opõe uma reação igual; ou, as ações mú-
tuas de um corpo sobre outro têm sempre direções opostas.”
com o seu peso e empurra você para cima. Da mesma forma acontece quando você
está sobre o piso, ele se deforma ainda que você não perceba a olho nú, e o empurra
para cima. O empurrão exercido pelo colchão ou pelo piso é uma força normal N ~.
O nome vem do termo matemático normal, que significa perpendicular. A força que
o piso exerce sobre você é perpendicular à superfície do piso.
Atrito de rolamento
Sabemos que é mais fácil mover uma geladeira sobre um carrinho com rodas do
que arrastá-lo pelo piso. Mas, quanto mais fácil? Podemos definir um coeficiente
de atrito de rolamento µr como a força necessária para um deslocamento com ve-
locidade constante sobre uma superfície plana dividida pela força normal de baixo
para cima exercida pela superfície. Os engenheiros de transportes chamam µr de
resistência de tração. Valores típicos de µr são de 0,002 a 0,003 para rodas de aço
sobre trilhos de aço e 0,01 e 0,02 para pneus de borracha sobre concreto. Esses va-
lores mostram o motivo pelo qual um trem que se desloca sobre trilhos gasta muito
menos combustível do que um caminhão em uma auto-estrada.
3.6.3 Tração
Quando uma corda, um fio, cabo ou outro objeto do mesmo tipo, é presa a um
corpo e então esticada, surge uma força T~ orientada ao longo da corda. Essa força
é chamada de força de tração porque a corda está sendo tracionada (puxada). A
tensão da corda é o módulo T da força exercida sobre o corpo.
Uma corda é frequentemente considerada sem massa (ou de massa desprezível
em comparação com a massa do corpo ao qual está presa) e inextensível (isto é, ela
não se estica, mudando de comprimento). Assim a corda apenas serve para ligar
dois corpos.
Partículas em Equilíbrio
Nesta e nas próximas duas aulas vamos aplicar as leis de Newton para resolver
vários problemas de partículas em equilíbrio e de dinâmica de partículas.
Capítulo 3 – As Leis de Newton e Aplicações 106
Cada componente origina uma equação que pode ser utilizada em um problema.
Uma vez escrito a segunda lei em termos de suas componentes, temos o seguinte
algoritmo útil para a resolução de problemas:
6. Concluímos portanto que o peso do balde com barro é apenas cerca de 26%
do peso do carrinho com o granito quando o sistema está equilíbrio. O que
P se p2 > 0, 26p1 ? E se p2 < 0, 26p1 ? Observe que nem precisa-
aconteceria
mos usar Fy = 0 para o carrinho com o bloco; isso seria útil apenas para
obter o valor da força normal n. Você é capaz de mostrar que n = p1 cos 15o ?
Como comentamos na aula anterior, usaremos esta relação na forma dos com-
ponentes: X X
Fx = max Fy = may (3.19)
Exemplo 3.2. Você empurra uma bandeja de 1,0 kg pelo balcão do refeitório com
uma força constante de 9,0 N. Conforme a bandeja se move, ela empurra um frasco
de leite de 0,50 kg (Figura 3.5). A bandeja e o frasco deslizam sobre uma superfície
horizontal que está tão encerada que o atrito é desprezível. Calcule a aceleração Figura 3.5: Um frasco de leite e
da bandeja e do frasco e a força horizontal que a bandeja exerce sobre o frasco. uma bandeja sendo empurrados.
Retirado da referência [5].
Capítulo 3 – As Leis de Newton e Aplicações 109
Para se resolver um problema antes de qualquer coisa temos que ter em mente
quais as variáveis que se quer conhecer. Neste caso elas são a aceleração da ban-
deja e a força horizontal que a bandeja exerce sobre o frasco. Estas variáveis estão
relacionadas com a segunda lei de Newton, Equação (3.19). Seguindo o algoritmo
de “técnicas de resolução de problemas” dado na aula anterior, temos que o pri-
meiro passo para resolver o problema é construir o diagrama de corpo livre para
cada um dos objetos envolvidos.
O diagrama de corpo livre para o frasco de leite (FL) é apresentado na Figura
3.6.
Note que as acelerações do frasco de leite e da bandeja são iguais! As equa-
ções do componente x da segunda lei de Newton para a bandeja e para o frasco
são: Figura 3.6: Diagrama de corpo li-
vre para o frasco de leite.
X
Frasco : Fx = FB em F L = mF L ax (3.20)
X
Bandeja : Fx = F − FF L em B = F − FB em F L = mB ax (3.21)
São duas equações simultâneas para as duas variáveis que queremos determinar:
ax e FB em F L . (Duas equações e duas incógnitas... é fácil demais!!!) Substituindo
a Equação (3.20) na Equação (3.21) podemos obter a aceleração:
F − m F L ax = m B ax (3.22)
F 9, 0 N
ax = = = 6, 0 m/s2 . (3.23)
mB + mF L 1, 0 kg + 0, 50 kg
Então, substituindo este valor na Equação (3.20) obtemos que:
Assim como a aceleração, esta força resultante dirigida para o centro do cír-
culo é chamada de força centrípeta (Figura 3.8). Note-se que a expressão “força
centrípeta” não se refere a qualquer tipo de interação, como é o caso com a força
gravitacional ou uma força elétrica; indica simplesmente que a força resultante é
dirigida para o centro do movimento circular, sem nenhuma referência a origem de
tal força.
Em alguns casos, é fácil identificar a fonte da força centrípeta, como quando
Figura 3.8: Em um movimento
um aeromodelo preso por um fio-guia voa em um círculo horizontal. A unica força circular uniforme, tanto a acelera-
que puxa o avião para dentro é a tração do fio, logo esta força sozinha (ou uma ção, como a força resultante são
componente dela) é a força centrípeta. Quando um carro se move com velocidade orientadas para o centro do cír-
escalar constante em uma curva sem inclinação lateral, a força centrípeta que man- culo.
tém o carro sobre a curva vem do atrito estático entre a estrada e os pneus. Trata-se
do atrito estático, e não do atrito cinético, pois os pneus não estão deslizando em
relação à direção radial. Se a força de atrito estático for insuficiente, para uma
dada velocidade escalar e um raio da curva, o carro irá derrapar para fora da es-
trada. Veremos nos exemplos e problemas que seguem a força centrípeta em ação e
perceberemos que às vezes a sua fonte não é óbvia.
X v2
Fx = FT sin β = m (3.26)
X R
Fy = FT cos β + (−mg) = 0 (3.27)
ou
v2
x : FT sin β = m (3.28)
R
y : FT cos β = mg (3.29)
mv 2 mg
FT = ou FT = (3.30)
R sin β cos β
e que (dividindo as duas equações):
v2
tan β = . (3.31)
gR
Figura 3.9: A situação.
Para relacionar β com o período T , usamos a definição de aceleração centrípeta:
v2 (2πR/T )2 4π 2 R 4π 2 L sin β
arad = = = = (3.32)
R R T2 T2
v2
= g tan β, (3.33)
R
e substituindo esta expressão na Equação (3.32) tiramos que:
4π 2 RL sin β
g tan β = (3.34)
T2
e portanto, s
L
T = 2π cos β. (3.35)
g Figura 3.10: Diagrama do corpo
livre para o peso.
Observe que para um dado comprimento L, à medida que o ângulo β diminui
o período T se torna menor. Também note que se o ângulo β aumenta a tensão
FT = mg/ cos β no fio aumenta. Tendo em vista tal dependência do período com
β, o pêndulo cônico não serviria como um bom relógio. (Pensem nisto... que valores
teriam o período, a tensão no fio e a velocidade do peso para β = 90o ? Tal situação
poderia existir?)
Capítulo 4
Energia e Trabalho
Marcio Assolin Corrêa
Definir o significado de energia para a física é uma tarefa não trivial, principalmente
devido as diferentes formas de energia que podem estar associadas a uma partícula
ou a um sistema de partículas. Energia térmica, energia elétrica, energia magné-
tica e energia mecânica são exemplos de energias que podem ser transferidas de
um objeto para outro em um determinado sistema físico. Pesquisando em diver-
sas literaturas, percebe-se que tentar discutir o conceito de energia separadamente
do conceito de trabalho é uma tarefa difícil, pois estas duas grandezas físicas es-
tão intimamente ligadas. Podemos definir a energia como uma quantidade escalar
associada ao estado físico de uma partícula ou sistema de partículas que pode ser
transformada em trabalho. Contudo, através de analises experimentais percebe-se
que a energia associada a um sistema físico fechado e isolado se conserva sempre,
ou seja, energia não pode ser criada ou destruída e sim transformada em outros tipos
de energia ou trabalho, fato sintetizado pelo princípio de conservação de energia.
Na mecânica Clássica existem muitos problemas físicos que necessitariam de um
tratamento vetorial adequado e aplicações da cinemática para serem resolvidos. No
entanto, com um estudo energético adequado estes mesmos problemas podem ser
resolvidos com maior facilidade, uma vez que estamos trabalhando com grandezas
puramente escalares. Vamos mostrar esta facilidade no decorrer deste capítulo. E
para isso, iniciaremos definindo a energia associada ao estado de movimento de
uma partícula (Energia Cinética), o Trabalho e a Potência.
112
Capítulo 4 – Energia e Trabalho 113
4.2 Trabalho
Intuitivamente temos em mente o significado cotidiano da palavra trabalho, dize-
mos que ao deslocar um objeto de uma posição inicial até uma posição final reali-
zamos trabalho. Contudo, em alguma situações, realizar um determinado trabalho
não significa deslocar um objeto mas sim dissipar energia “pensando” em um de-
terminado problema. Para a física, o significado de trabalho tem uma formulação
matemática bem definida e está diretamente relacionado à força (F~ ) necessária para
~ de um objeto. Podemos entender fisicamente o trabalho (W)
variar a posição (d)
como a energia transferida para o/do objeto mediada por uma força:
~
W = F~ · d. (4.3)
Perceba que a equação (4.3) é um produto escalar entre dois vetores, de modo
que o resultado é um escalar (o trabalho). Dimensionalmente, no SI temos que:
kg · m kg · m2
[W ] = N · m = · m = =J. (4.4)
s2 s2
O produto escalar na Equação (4.3) nos permite realizar algumas análises
importantes. Podemos calcular o módulo do trabalho tomando o módulo do produto
~ Desta forma, outra maneira de escrever o trabalho é:
escalar (F~ · d).
W = F dcos(θ). (4.5)
~ Quando este ângulo
Na equação 4.5, θ é o ângulo entre os vetores F~ e d.
é zero (θ = 0) temos que cos(0) = 1, assim W = F d. No entanto, quando o
ângulo entre os vetores é normal (θ = 90◦ ) então teremos um trabalho dado por
W = F dcos(90◦ ) = 0, ou seja, o trabalho é nulo para uma força sendo aplicada
normal ao deslocamento do objeto. Desta forma, podemos ter situações em que
a força tem uma componente na direção oposta ao deslocamento do objeto, o que
levará a um trabalho negativo. Posteriormente, quando for analisado o Teorema
Trabalho-Energia Cinética vamos discutir em mais detalhes o que significa trabalho
negativo.
Exemplo 4.1. Considere um objeto que sofre um deslocamento ∆d~ devido a uma
força F~ como mostrado na Figura 4.1. Conhecendo o ângulo θ entre estas duas
grandezas físicas é possível calcular o trabalho realizado sobre o objeto. Consi-
derando θ = 60◦ , F = 30N e supondo que o deslocamento da partícula em um
determinado intervalo de tempo seja de ∆d = 10m então o trabalho é calculado
facilmente por:
Figura 4.1: Objeto sendo deslocado por uma distância ∆d~ sob influência de uma força F~ .
.
N·d J
[P ] = = = W (Watt). (4.16)
s s
Capítulo 4 – Energia e Trabalho 116
1 hp = 746 W. (4.17)
Temos ainda o cavalo-vapor (CV) que tem uma relação com o Watt dada por:
1 cv = 735, 5 W. (4.18)
com o trabalho, podemos definir que o trabalho realizado por uma força conserva-
tiva deve ser igual à diminuição da energia potencial:
Z 2
W = F~ · d~s = −∆U , (4.22)
1
∆Ec = W . (4.30)
Lembrando que,
∆U = −W (4.31)
e substituindo (4.31) em (4.30) temos:
dU (x)
F (x) = − . (4.35)
dx
Como exemplo podemos observar a figura 4.4 onde no primeiro gráfico está
representada a energia potencial atuante sobre o objeto em função da posição x.
Figura 4.4: Gráfico da energia potencial em função da posição (linha azul) e derivada espacial deste
gráfico, indicando a força atuante (linha vermelha) sobre o sistema em função da posição.
∂U ∂U ∂U
Fx = − , Fy = − , Fz = − . (4.36)
∂x ∂y ∂z
Assim podemos escrever F~ na forma:
F~ = −∇U
~ , (4.37)
~ é um operador definido por
onde ∇
~ = ∂ î + ∂ ĵ + ∂ k̂.
∇ (4.38)
∂x ∂y ∂z
4.9.1 Potência
Com o conhecimento da Lei da Conservação da Energia é possível expandir nosso
conceito de potência. Podemos definir potência como a taxa na qual uma a energia
é transformada. Assim,a potência média é calculada na forma,
∆E
Pmed = , (4.42)
∆t
ou ainda, a potência instantânea na forma:
dE
P = . (4.43)
dt
W = Fg dsen(θ). (4.44)
Solução:
Considerando a figura 4.6 podemos encontrar a força resultante na direção
do deslocamento do navio para posteriormente encontrar o trabalho realizado
por estes dois rebocadores sobre o navio petroleiro. Para encontrar a força
resultante basta tomar as componentes das forças na direção norte.
Forças na direção x:
Forças na direção y:
3. Uma força age sobre um objeto de 3, 0 kg, que pode ser tratado como uma
partícula, de tal forma que a posição do objeto em função do tempo é dada
por x = 3, 0t − 4, 0t2 + 1, 0t3 , com x em metros e t em segundos. Determine
o trabalho realizado sobre o objeto pela força de t = 0 até t = 4s.
Solução:
Podemos calcular o trabalho sobre esta partícula utilizando o teorema trabalho-
energia cinética. Desta forma, basta calcular a velocidade da partícula para os
dois tempos determinados e encontrar a variação da energia cinética. O cál-
culo da velocidade é feito a partir da derivada temporal da posição da seguinte
forma:
dx
v= = 3 − 8t + 3t2 . (4.53)
dt
Substituindo os tempos nesta última expressão temos v(0) = 3 m/ s e v(4) =
19 m/ s. Desta forma a variação da energia cinética é dada por:
1 1
∆Ec = Ecf − Eci = mvf2 − mvi2 (4.54)
2 2
1 1
= Ecf − Eci = 3 · 19 − 3 · 32 = 528 J.
2
(4.55)
2 2
Assim, pelo teorema trabalho-energia cinética temos:
4. A força que atua em um objeto varia conforme a figura 4.7. Encontre o traba-
lho sobre o objeto para os seguintes intervalos. (a) x = 0 m até x = 8 m, (b)
de x = 8 m até x = 10 m e (c) de x = 0 m até x = 10 m.
Solução: O cálculo do trabalho pode ser feito a partir da equação (4.13), desta
forma, basta calcular a área sob o gráfico para encontrar o trabalho para um
determinado intervalo de tempo. Assim, temos:
(a) O trabalho para o intervalo de x = 0 m até x = 8 m é:
W = 24 J. (4.57)
1 A
U (x → ∞) = + U0 . (4.62)
2 ∞2
Assim temos que U (x) = U0 = 0 como o próprio enunciado determina.
Conhecendo U0 podemos reescrever a função potencial na forma:
4
U (x) = N · m3 . (4.63)
x2
Capítulo 4 – Energia e Trabalho 124
2M gd2
= 3 (4.69)
(y 2 + d2 ) 2
Substituindo agora y por y 0 temos que
d2 U (y 0 ) 2M gd
2
= 2 3 . (4.70)
dy m
( 4M 2 −m2 + 1) 2
Utilizando a Equação (4.78) e substituindo a força normal Fn na equação para Figura 4.12: Diagrama de força
força de atrito temos que para o bloco sobre o plano incli-
nado com atrito do Exercício 7.
kd − µs mgcos(θ) − mgsen(θ) = 0 , (4.79)
onde o primeiro termo é a força devido a lei de Hooke, o segundo é a força
de atrito e o terceiro componente é o componente do peso na direção x. Desta
forma, podemos isolar d para encontrar a função desejada na letra (a) do
exercício:
mg
d= (sen(θ) + µs cos(θ)). (4.80)
k
(b) Nesta situação temos o atrito no sistema, de forma que uma variação da
energia interna devido a energia térmica surge. Assim podemos escrever a
lei da conservação da energia para tentar alcançar o valor do coeficiente de
atrito. Assim o trabalho realizado pelas forças externas é
Wext = ∆EM + ∆ET , (4.81)
onde ∆EM é a energia mecânica e ∆ET é a energia dissipada em forma de
calor devido ao atrito. Substituindo a energia mecânica e considerando que
tanto no início da análise quanto no final a energia cinética é nula, assim:
Wext = ∆Ug + ∆Ue + ∆ET . (4.82)
Capítulo 4 – Energia e Trabalho 127
Com relação a energia armazenada na mola, temos que inicialmente ela encontra-
se distendida de um valor d e como o enunciado descreve, devemos encontrar
µd quando a mola esta relaxada, ou seja a deformação da mola é nula, assim:
1
∆Ue = − kd2 . (4.86)
2
(a) Considerando apenas a energia armazenada nas molas temos que inici-
almente calcular a elongação de cada uma das molas. Para isso podemos
observar a figura 4.13 e mostrar que
∆L = hip − L, (4.90)
Assim, √
∆L = L2 + x2 − L. (4.92)
(b) Para calcular a força basta fazer uma soma vetorial das forças de cada uma
das molas, esta força pode ser escrita como sendo,
Outra forma de resolver este ítem basta derivar a expressão encontrada para a
energia potencial, pois
dU d √ L
F =− = (k( L2 + x2 − L)2 ) = 2kx(1 − √ ). (4.99)
dx dx L + x2
2
(c) Para traçar o gráfico da energia potencial (Figura 4.14(b)), vamos utili-
zar o programa Mathematica com os parâmetros indicados no exercício. A
estrutura do programa pode ser como indicado na Figura 4.14(a).
Capítulo 4 – Energia e Trabalho 129
(a) Exemplo de programa na linguagem Mathematica. (b) Saída do programa da Figura 4.14(a).
Neste capítulo serão introduzidas diversas novas grandezas físicas, tais como centro
de massa, momento linear e impulso. Todas essas grandezas são extremamente im-
portantes para descrever várias situações da física mecânica que envolve dinâmica
ou estática de corpos extensos, ou seja, de corpos que não podem ser aproximados
por uma massa pontual. Por exemplo: Como aplicar a segunda lei de Newton para
descrever quantitativamente o movimento de um asteróide?
Figura 5.1: Ilustração de distribuição discreta (a) bidimensional e (b) unidimensional de partículas
de massas diferentes.
130
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 131
N
m1 x1 + m2 x2 + m3 x3 + . . . + mN xN 1 X
xCM = = mi xi , (5.1a)
m1 + m2 + m3 + . . . + mN M i=1
N
m1 y1 + m2 y2 + m3 y3 + . . . + mN yN 1 X
yCM = = mi yi , (5.1b)
m1 + m2 + m3 + . . . + mN M i=1
N
m1 z1 + m2 z2 + m3 z3 + . . . + mN zN 1 X
zCM = = mi zi , (5.1c)
m1 + m2 + m3 + . . . + mN M i=1
onde o índice i indica a indexação da i-ésima partícula cuja posição é dada por
(xi , yi , zi ), a massa igual a mi e M é o somatório de todas as massas mi , ou seja, é
a massa total do sistema. No caso da Figura 5.1(a) o sistema é descrito no plano xy.
Assim não há a necessidade de envolver a coordenada z no problema. Portanto as
Equações (5.1a) e (5.1b) para o CM do sistema ilustrado na Figura 5.1(a) ficam:
m1 x1 + m2 x2 + m3 x3 + m4 x4 m 2 x2 + m 3 x3
xCM = = , (5.2a)
m1 + m2 + m3 + m4 m1 + m2 + m3 + m4
m1 y1 + m2 y2 + m3 y3 + m4 y4 m1 y1 + m2 y2
yCM = = . (5.2b)
m1 + m2 + m3 + m4 m1 + m2 + m3 + m4
Nas Equações (5.2a) e (5.2b) considere que as coordenadas (xi , yi ) da Figura 5.1(a)
tenham aproximadamente o mesmo módulo ou tenham a mesma ordem de gran-
deza. Isto implica que
Como a massa m3 é maior do que as outras massas, isto implica que as coor-
denadas x e y do CM serão mais próximas da posição de m3 . No caso limite
de m3 >> {m1 , m2 , m4 }, então m3 x3 >> {m1 x1 , m2 x2 , m4 x4 } e m3 y3 >>
{m1 y1 , m2 y2 , m4 y4 }. Sendo assim as coordenadas do CM ficam aproximadamente
as mesmas da massa m3 :
m3 x3 m3 y3
xCM ≈ = x3 e yCM ≈ = y3 . (5.4)
m3 m3
massa for maior do que a outra, m2 por exemplo, fica claro a partir da Equação
(5.5a) que a posição do CM ficará mais próxima da massa de maior valor, m2 , neste
exemplo.
É possível escrever as coordenadas do CM de uma forma mais formal e com-
pacta usando notação vetorial. Para isto considere que a posição da massa mi é dada
pelo seguinte vetor: ~ri = xi î + yi ĵ + zi k̂. Usando as Equações (5.1a), (5.1b) e (5.1c)
podemos escrever o vetor posição do CM para um sistema de partículas discretas
como:
Z
1
xCM = x dm, (5.7a)
M
Z
1
yCM = y dm, (5.7b)
M
Z
1
zCM = z dm, (5.7c)
M
R
onde M é a massa total do corpo rígido, ou seja, M = ρ dV e as coordenadas
(x, y, z) pertencem ao interior do corpo rígido. A integral é realizada apenas no
interior do corpo rígido. A densidade volumétrica ρ pode ser escrita em função de
infinitésimos da massa dm e do volume dV da seguinte forma:
dm
ρ= ⇒ dm = ρ dV. (5.8)
dV
Substituindo a Equação (5.8 ), nas Equações das coordenadas do CM para sistema
contínuo de partículas (Equações (5.7a), (5.7b) e (5.7c)), podemos reescrever suas
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 133
coordenadas como:
Z
1
xCM = x ρ(x, y, z) dV, (5.9a)
M
Z
1
yCM = y ρ(x, y, z) dV, (5.9b)
M
Z
1
zCM = z ρ(x, y, z) dV. (5.9c)
M
Observe que as Equações (5.9a), (5.9b) e (5.9c) foram escritas explicitando a pos-
sível dependência espacial da densidade volumétrica, quando ρ não é uniforme. No
caso em que ρ é uniforme podemos simplificar as Equações (5.9a), (5.9b) e (5.9c)
usando o fato de que ρ = M/ V = constante, onde V é o volume total do corpo
rígido. Portanto:
Z Z Z
1 ρ 1
xCM = x ρ(x, y, z) dV = x dV = x dV, (5.10a)
M M V
Z Z Z
1 ρ 1
yCM = y ρ(x, y, z) dV = y dV = y dV, (5.10b)
M M V
Z Z Z
1 ρ 1
zCM = z ρ(x, y, z) dV = z dV = z dV. (5.10c)
M M V
Lembrando novamente que a integração deve ser realizada no interior do corpo
rígido e NÃO em todo o espaço.
onde F~R,i é a força resultante atuando sobre a partícula i e mi e ~ai são a massa
e a aceleração da partícula i, respectivamente. No caso de sistemas de partículas
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 134
é importante separar as forças que atuam sobre cada uma das partículas em forças
internas e externas. A classificação de forças internas e externas do sistema depende
fortemente do sistema tratado! Inicialmente será abordado o caso de forças internas
e em seguida forças externas.
Figura 5.3: Ilustração de forças internas de um sistema composto por três partículas; (a) atração
gravitacional entre as massas m1 , m2 e m3 ; (b) atração e repulsão eletrostática entre as cargas q1 ,
q2 e q3 .
Como as forças internas podem ser tratadas pela 3a. Lei de Newton, então
Fi→j = −F~j→i para qualquer par ij. Levando esta relação em consideração, o
~
somatório das forças internas dos sistemas da Figura 5.3 tem o seguinte resultado:
F~1→2 = −F~2→1 ; F~1→3 = −F~3→1 ; F~2→3 = −F~3→2
⇒ F~1→2 + F~2→1 + F~1→3 + F~3→1 + F~2→3 + F~3→2 = 0. (5.13)
Este resultado pode ser generalizado para qualquer sistema de partículas (discreto
ou contínuo), ou seja, o somatório das forças internas de um sistema qualquer de N
partículas é sempre nulo:
XN
F~i→j
internas
= 0. (5.14)
i,j; i6=j
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 135
O significado físico do lado direito da Equação (5.18) está relacionado com a di-
nâmica do CM. Para mostrar isto é necessário voltar à Equação das coordenadas
do CM do sistema (Equação (5.6)). Derivando duas vezes em relação ao tempo a
Equação (5.6), obtemos o seguinte resultado:
N
! N N
d2~rCM d2 1 X 1 X d2~ri 1 X
= ~aCM = 2 mi~ai = mi 2 = mi~ai
dt2 dt M i=1 M i=1 dt M i=1
N
X
⇒ M~aCM = mi~ai . (5.20)
i=1
O resultado mostrado na Equação (5.20) é válido apenas nos casos de sistemas que
conservam a massa, isto é, a massa total do sistema M e a massa individual das
partículas é constante no tempo. Portanto, a Equação (5.20) mostra que o lado
direito da Equação (5.18) está relacionado com a aceleração do centro de massa do
sistema. Usando os resultados das Equações (5.19) e (5.20), pode-se reescrever a
Equação (5.18) da seguinte forma
F~sistema
externa
= M~aCM . (5.21)
Apesar da Equação (5.21) ter sido deduzida para um sistema discreto de partículas,
vale ressaltar que esta relação também é válida para um sistema contínuo de partí-
culas. Observe que a Equação (5.21) tem a forma vetorial e pode ser decomposta
nas direções x, y e z
externa
d2 xCM
Fsistema x
= M (aCM )x = M , (5.22a)
dt2
externa
d2 yCM
Fsistema y
= M (aCM )y = M , (5.22b)
dt2
externa
d2 zCM
Fsistema z
= M (aCM )z = M . (5.22c)
dt2
A Equação (5.21) é a segunda lei de Newton para um sistema (discreto ou contínuo)
de partículas. Esta Equação nos permite concluir que o movimento de translação
do CM de um sistema qualquer (discreto ou contínuo) de partículas é o mesmo de
uma única partícula, cuja massa é igual à massa do sistema, cuja posição é a mesma
do CM e está submetida a uma força externa igual à resultante que atua sobre o
sistema. Em outras palavras, o movimento de translação de um conjunto de partí-
culas discreto ou de um corpo sólido pode ser descrito como se toda a sua massa
estivesse concentrada no CM e a força resultante do sistema estivesse sendo apli-
cada no CM. O movimento de translação de um asteróide, por exemplo, é descrito
como se toda a sua massa estivesse localizada no seu CM. O movimento de rotação
do asteróide será estudado no capítulo seguinte. Existem diversos movimentos de
translação de sistemas discretos e contínuos que são explicados pela segunda lei de
Newton da Equação (5.21). Por exemplo, o movimento de um corpo sólido como
uma pessoa realizando um movimento acrobático como o ilustrado na Figura (5.4).
Este movimento pode ser dividido em translação e rotação da pessoa. Naturalmente,
observa-se a rotação da pessoa em torno de um eixo cujas propriedades física serão
estudadas no capítulo seguinte. O movimento de translação pode ser descrito como
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 137
se toda a massa da pessoa (mp ) fosse localizada em seu centro de massa e a força
externa, neste caso a força gravitacional (F~sistema
externa
= P~ = mp~g ), fosse aplicada no
CM. Por isto, vemos o CM realizando um movimento parabólico, assim como uma
partícula de massa mp .
Figura 5.4: Ilustração do movimento de translação e rotação de uma pessoa durante um movimento
acrobático. A translação da pessoa é descrita como um movimento parabólico como se toda sua
massa estivesse concentrada no centro de massa.
Uma outra situação muito comum vem da Equação (5.21), que pode ser usada
para explicar e prever os resultados é o caso de colisões. Nestes casos, em geral,
não existem forças externas resultante atuando sobre o sistema, como será mostrado
nos exemplos a seguir. Portanto, F~sistema
externa
= 0 = M~aCM , e isto implica que a
aceleração do centro de massa (~aCM ) é nula. Assim o centro de massa irá se mover
com velocidade constante qualquer que seja o processo de colisão. Lembre-se que a
Equação (5.21) é válida apenas para sistemas que conservam a massa durante todo
o seu movimento. O movimento de um foguete é um caso particular de sistema que
não conserva a massa.
dP~
F~sistema
externa
= . (5.27)
dt
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 139
A Equação (5.27) significa que apenas uma força externa resultante não nula é capaz
de mudar o momento linear do sistema de partículas. Em algumas situações físicas
a força resultante sobre a partícula ou sobre o sistema (discreto ou contínuo) de
partículas é nula. Isto implica que o momento linear não varia com o tempo, ou
seja, é constante. Será mostrado nos exemplos resolvidos que este resultado é muito
importante para entendermos e prevermos o que ocorre em colisões.
O gráfico da Figura 5.6(a) mostra uma situação típica da força que atua sobre
a bola de futebol durante a colisão. Os tempos ti e tf são os instantes que o contato
entre a bola e a parede inicia e termina, respectivamente. Note que a força apresenta
um pico que corresponde ao instante de tempo em que a deformação da bola é
máxima. Assim, como a Figura 5.6(a) indica, o impulso é a área abaixo da curva.
Em geral a expressão matemática para a força F~ (t) pode depender de diversas
propriedades físicas dos objetos envolvidos na colisão tais como o material que a
bola é feito, a pressão interna da bola, o material que a parede é feita, a área de
contato, etc. Por isto em várias situações físicas a força F~ (t) não é conhecida,
sendo muito comum realizar uma aproximação, assim como é mostrada na Figura
5.6(b). Nesta figura, os tempos ti e tf são os mesmos da Figura 5.6(a) e o valor da
força média Fmed é tal que a área abaixo da curva da Figura 5.6(b) é a mesma da
Figura 5.6(a). Portanto, embora a dependência temporal das forças de colisão seja
diferente nas Figuras 5.6(a) e 5.6(b) os impulsos possuem o mesmo valor. A Figura
5.6(c), mostra dois gráficos da dependência temporal da força em duas colisões
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 140
(a) (b)
(c)
Figura 5.6: Dependência temporal da força existente em colisões. A área abaixo da curva é o
impulso dado ao objeto; (a) dependência temporal da força numa colisão real; (b) aproximação da
força por um valor médio para facilitar no cálculo do impulso; (c) comparação entre duas colisões
reais onde a dependência temporal da força é diferente, mas o impulso é o mesmo.
distintas. Na colisão 1 a força é dada por F1 (t) e na colisão 2 a força é dada por
F2 (t). A área abaixo de ambas as curvas é a mesma, ou seja, os impulsos em ambas
as colisões é o mesmo. Um exemplo real de colisões mostradas na Figura 5.6(c) é
uma pessoa pulando do décimo andar de um prédio e colidindo diretamente com o
chão, que proporciona um alto valor de força num intervalo de tempo curto (colisão
1, na Figura 5.6(c)) e colidindo com um colchão de ar, que proporciona um baixo
valor de força durante um tempo longo (colisão 2, na Figura 5.6(c)). Portanto a
colisão 2 exemplifica um tipo de colisão não letal, enquanto a colisão 1 é um tipo
de colisão letal.
A partir da definição de impulso (Equação (5.28)) é possível correlacioná-lo
com a variação do momento linear da partícula. Para isto a segunda lei de New-
ton expressa com o momento linear (Equação (5.24)) será substituída na Equação
(5.28), resultando em:
Z tf Z p~f
~ d~p
I= dt = d~p = p~f − p~i , (5.30)
ti dt p
~i
onde p~i e p~f são o momento linear inicial e final da partícula. Lembrando que
os instantes inicial e final referem-se à aplicação da força F~ (t) como ilustrado na
Figura 5.6. A Equação (5.30) é conhecida como o teorema impulso-momento linear,
pois estabelece uma igualdade entre o impulso, numa colisão, por exemplo, com a
variação do momento linear da partícula na colisão. Embora o momento linear e a
energia cinética sejam duas grandezas físicas distintas que dependem da massa e da
velocidade, diferenciando apenas na forma matemática, elas possuem significado
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 141
Figura 5.7: Ilustração da colisão de uma bola de futebol com uma parede em que a aceleração da
gravidade é levada em conta. A conservação do momento linear da bola ocorre apenas na direção x,
pois não há força externa resultante nesta direção.
Note que para haver conservação do momento linear é necessário que a força
externa resultante seja nula (sistema isolado) e a massa do sistema seja constante,
isto é, não entra nem sai partícula dos sistema (sistema fechado). Na seção de
exemplos comentados serão discutidos exemplos quantitativos como o ilustrado na
Figura 5.7.
(Pi )x = (Pf )x ⇒
(p1,i )x + (p2,i )x + · · · + (pN,i )x = (p1,f )x + (p2,f )x + · · · + (pN,f )x ⇒
m1 (v1,i )x + m2 (v2,i )x + · · · + mN (vN,i )x = m1 (v1,f )x + m2 (v2,f )x + · · · + mN (vN,f )x
N
X N
X
mk (vk,i )x = mk (vk,f )x , (5.33)
k=1 k=1
Figura 5.8: Ilustração de um caso particular de colisão onde o projétil e o alvo possuem seus vetores
velocidade em sentidos contrários antes da colisão e no mesmo sentido após a colisão.
A Equação (5.34) foi escrita apenas com os escalares, pois a direção do movimento
não muda. Note que dada as velocidades do projétil (vi,p ) e do alvo (vi,a ) antes
da colisão é possível encontrar mais de uma solução para a igualdade da Equação
(5.34). Isto significa que é possível combinarmos, de diferentes maneiras, os valo-
res das velocidades do projétil (vf,p ) e do alvo (vf,a ) depois da colisão para que a
Equação (5.34) seja satisfeita. Isto ocorre devido ao fato de termos duas variáveis
(vf,p e vf,a ) e apenas uma Equação. Estas situações serão abordadas nos exemplos
comentados. Note que o momento linear individual das partículas pode variar, mas
o momento linear do sistema permanece inalterado.
Capítulo 5 – Centro de Massa e Momento Linear 144
Ec,i = Ec,f ⇒
(1) (2) (N ) (1) (2) (N )
c,i + + · · · + c,i = c,f + c,f + · · · + c,f ⇒
c,i
1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2
m1 vi,1 + m2 vi,2 + · · · + mN vi,N = m1 vf,1 + m2 vf,2 + · · · + mN vf,N
2 2 2 2 2 2
N N
X 1 2
X 1 2
mk vi,k = mk vf,k , (5.35)
k=1
2 k=1
2
Rotação
Alexandre Barbosa de Oliveira
No capítulo anterior foram estudadas diversas grandezas físicas, tais como centro
de massa, momento linear e impulso, que estão relacionadas com o movimento de
translação de um sistema (discreto ou contínuo) de partículas. Neste capítulo serão
estudadas novas grandezas físicas que estão relacionadas com o movimento de rota-
ção de um sistema (discreto ou contínuo) de partículas. Inicialmente o movimento
tratado será puramente de rotação, ou seja, não haverá um movimento misto de ro-
tação e translação. Isto implica que o referencial inercial usado é aquele em que o
eixo de rotação do sistema permanece em repouso. A Figura 6.1(a) ilustra um mo-
vimento puramente rotativo (o eixo de rotação permanece em repouso), enquanto
que a Figura 6.1(b) ilustra um movimento composto por rotação e translação.
Para exemplificar a necessidade de distinguir os movimentos de rotação e
translação, considere a ilustração da Figura 6.1. Na Figura 6.1(a), a energia ciné-
tica da roda é originada apenas da rotação com velocidade angular ω, enquanto na
Figura 6.1(b), a energia cinética possui duas contribuições: (i) a rotação das rodas
com velocidade angular ω e (ii) a translação das rodas com velocidade ~v . Como
foi mostrado no capítulo anterior o movimento de translação de um sistema (dis-
creto ou contínuo) de partículas pode ser descrito pelo movimento do seu centro
de massa. Em outras palavras, todas as grandezas físicas (posição, velocidade e
aceleração) pertinentes ao movimento de translação do sistema podem ser descritas
pelo movimento do seu centro de massa. A descrição do movimento de rotação do
sistema é o assunto deste capítulo.
146
Capítulo 6 – Rotação 147
Figura 6.1: Ilustração do movimento de rotação; (a) uma roda de bicicleta realizando um movimento
de rotação pura, onde o eixo de rotação está em repouso; (b) a bicicleta andando, onde além da
rotação das rodas existe o deslocamento linear dos seus eixos de rotação com velocidade ~v . As
velocidades angulares das rodas são iguais porque seus raios são iguais.
Desta forma quando qualquer partícula (no caso de sistema discreto) ou qualquer
elemento infinitesimal de massa (no caso de sistema contínuo) realizar uma rota-
ção de um ângulo ∆θ, todas as outras partículas do sistema também realizaram a
mesma rotação. Um sistema contínuo de partículas que possui esta propriedade
Figura 6.2: Ilustração do movimento de rotação pura, cujo eixo de rotação é o eixo-z, mostrando
as posições inicial e final; (a) sistema discreto de três partículas cujas distâncias entre si são as
mesmas antes, durante e após a rotação; (b) corte transversal de um corpo rígido de forma geométrica
arbitrária ressaltando a posição e o deslocamento angular de um infinitésimo de massa do corpo
rígido.
pelo infinitésimo de massa é s, então sua posição angular é definida como sendo
s
θ= . (6.1)
r
A posição angular definida desta forma é medida em radianos (rad). Note que o
numerador e denominador da Equação 6.1 tem unidade de comprimento, portanto a
posição angular é adimensional. A relação entre o radiano com unidades de posição
angular é obtida da seguinte forma:
comprimento da circunferência 2πr
1 revolução = 1 rev = 3600 = = = 2π rad,
raio da circunferência r
(6.2)
onde a terceira e quarta igualdade foram escritas com base na Equação (6.1).
O deslocamento angular é medido subtraindo a posição angular final da ini-
cial. Esta definição é similar àquela do deslocamento linear, ou seja, é a posição
final menos a inicial:
∆θ = θf inal − θf inal . (6.3)
Na Figura 6.2(b), o deslocamento angular da rotação foi realizado de tal forma
que θf inal > θinicial , portanto ∆θ > 0. Desta forma, as rotações no sentido anti-
horário resultam em deslocamento angular positivo e no sentido horário resultam
em deslocamento angular negativo.
A velocidade angular da rotação de um objeto é definida pelo seu desloca-
mento angular por unidade de tempo, similarmente à velocidade linear. Durante
uma rotação arbitrária, o objeto da Figura 6.2(b), por exemplo, pode girar de forma
constante resultando numa velocidade angular constante ou pode girar com veloci-
dade angular dependente do tempo. Por isto é importante distinguir a velocidade
angular média (ωm ) e a velocidade angular instantânea (ω):
θf inal − θinicial ∆θ
ωm = = , (6.4)
tf inal − tinicial ∆t
onde θinicial e θf inal são as posições angulares nos instantes tinicial e tf inal , respec-
tivamente. A velocidade angular instantânea é a derivada de primeira ordem no
tempo da posição angular.
∆θ dθ
ω = lim = . (6.5)
∆t→0 ∆t dt
Note que o sinal da velocidade angular depende do sinal do deslocamento angular.
Assim, em rotações no sentido anti-horário a velocidade angular é positiva e no
sentido horário é negativa. As unidades mais comuns de velocidade angular são
radianos por segundo (rad/s) ou revoluções por minuto (rpm)
2π rad
1 rpm = ≈ 0, 105 rad/s. (6.6)
60 s
Da mesma forma que a velocidade angular foi definida com a variação da po-
sição angular no tempo, pode-se definir a aceleração angular como sendo a variação
Capítulo 6 – Rotação 149
onde ωinicial e ωf inal são as velocidades angulares nos instantes tinicial e tf inal , res-
pectivamente. A aceleração angular instantânea tem a forma
∆ω dω
α = lim = . (6.8)
∆t→0 ∆t dt
logo,
~a = rαθ̂ − rω 2 r̂, (6.13)
onde o versor r̂(t) = sen(θ)î+cos(θ)ĵ foi utilizado para simplificar a notação e α =
dω
dt
é a aceleração angular. Note que ao derivar um vetor com notação polar (Equação
6.11) resultou em dois outros vetores que também foram escritos em coordenadas
polares (Equação 6.13). É possível reescrever a Equação (6.13) em função dos
vetores cartesianos.
A Figura 6.3 ilustra geometricamente como o vetor aceleração linear obtido
na Equação 6.13 se comporta durante a rotação. O vetor aceleração linear no mo-
vimento circular possui duas componentes vetoriais, uma tangente ~atg (na direção
de θ̂(t)) e outra perpendicular ~ac (na direção de r̂(t)) ao movimento. Note que ~ac
aponta para o centro da circunferência (sinal negativo). O módulo da componente
tangencial é o resultado da derivação da Equação (6.10)
dω
~atg = r θ̂ = rαθ̂. (6.14)
dt
A componente da aceleração na direção de r̂(t) é a aceleração centrípeta:
v 2 v2
~ac = −rω 2 r̂ = −r r̂ = − r̂. (6.15)
r r
rotação. Portanto, o primeiro passo é obter uma expressão matemática para a ener-
gia cinética de rotação. Para obter esta expressão será considerado inicialmente
um sistema discreto de N partículas cujas distâncias entre si são constantes, assim
como no corpo rígido. Em seguida esta dedução será estendida para um sistema
contínuo de partículas, corpo rígido. A energia cinética total (K) de um sistema de
N partículas é a soma da energia cinética de cada partícula, portanto
N
1 1 1 1 X1
K = m1 v12 + m2 v22 + m3 v32 + · · · + mN vN
2
= mi vi2 , (6.16)
2 2 2 2 i=1
2
onde
N
X
I= mi ri2 (6.18)
i=1
é o momento de inércia de um sistema discreto de N partículas. Note que foi possí-
vel escrever a Equação (6.17) dessa forma simplificada pelo fato de todas as partí-
culas do sistema possuírem a mesma velocidade angular ω. Isto só é verdade se as
distâncias entre as partículas permanecerem constantes ao longo do movimento de
rotação.
No caso de um sistema contínuo de partículas, um corpo rígido, o cálculo é si-
milar e no lugar do somatório aparece a integral. Considere o corpo rígido ilustrado
na Figura 6.3. No sistema discreto realizamos a soma da energia cinética sobre
cada partícula, no sistema contínuo (corpo rígido) será feita uma integração sobre
o infinitésimo de massa. Cada infinitésimo de massa dm do corpo está localizado a
uma distância r do eixo de rotação. Portanto a energia cinética de um infinitésimo
de massa é:
1
dK = (dm) v 2 , (6.19)
2
onde v é a velocidade linear tangencial do infinitésimo de massa dm. A energia
cinética total do sistema é dada pela integração da Equação (6.19) sobre o corpo
rígido:
Z Z Z Z
1 2 1 2 1 1
K = dK = v dm = (rω) dm = r dm ω 2 = Iω 2 , (6.20)
2
2 2 2 2
onde Z
I= r2 dm (6.21)
Figura 6.4: Ilustração da rotação de um haltere em torno de dois eixos paralelos, mas em posições
diferentes.
O momento de inércia para rotações em torno do eixo 1 (I1 ) é menor do que aquele
para rotações em torno do eixo 2 (I2 ). Isto implica que para girar o haltere em torno
Capítulo 6 – Rotação 153
do eixo 1 é mais fácil do que girá-lo em torno do eixo 2. Isto se deve ao fato de que
o eixo 1 passa através do centro de massa do sistema.
A Figura 6.5, ilustra uma barra cilíndrica cujo comprimento L é muito maior
do seu raio, ou seja, é uma barra delgada. Na prática esta barra será tratada como
uma “linha” de comprimento L. O material da qual a barra é feita é homogêneo de
forma que sua densidade volumétrica é constante, isto é, ρ = massa/volume =
dm/dV = constante. Aplicando a Equação (6.21) do momento de inércia, para
rotação em torno do eixo 1, para sistema contínuo da Figura 6.5 obtemos:
Z Z
I1 = r1 dm = r12 ρ dV
2
Z L/2 Z 3 L/2
2 x
= ρ x dx dy dz = ρA
−L/2 3 −L/2
M L3 M L3 1
= A = A I1 = M L2 . (6.24)
V 12 AL 12 12
Para obter o resultado final da Equação (6.24) foram usadas duas relações: (i) a
densidade do material da barra é constante e pode ser escrita como sendo a massa
total da barra (M) sobre seu volume total (V): ρ = M
V
; (ii) volume da barra é escrito
como a área transversal (A) vezes seu comprimento (L): V = AL. No caso do eixo
de rotação 2, o momento de inércia fica
Z Z
I2 = r2 dm = r22 ρ dV
2
Z L Z 3 L
2 x
= ρ x dx dy dz = ρA
0 3 0
M L3 M L3 1
= A = A = M L2 . (6.25)
V 3 AL 3 3
Portanto é mais difícil girar a barra em torno do eixo 2 do que em torno do eixo 1,
pois I2 > I1 . Isto se deve ao fato de que o eixo 1 passa pelo centro de massa da
barra.
Figura 6.5: Ilustração da rotação de uma barra delgada em torno de dois eixos paralelos em posições
diferentes.
Capítulo 6 – Rotação 154
IP = ICM + M d2 , (6.31)
√
onde d = a2 + b2 é a menor distância entre o eixo-z e o eixo que passa pelo ponto
P. A Equação (6.31) é o teorema dos eixos paralelos do momento de inércia. Como
ponto de observação fica como exercício verificar a veracidade da Equação (6.31)
nos resultados das Equações (6.22), (6.23), (6.24) e (6.25).
Figura 6.6: Ilustração de um corte transversal de um corpo rígido de forma arbitrária mostrando as
variáveis relevantes para a demonstração do teorema dos eixos paralelos, assim como os eixos de
rotação usados.
6.5 Torque
Nesta seção, será introduzida uma nova grandeza física de muita utilizada no es-
tudo quantitativo e qualitativo da dinâmica e estática de movimentos de rotação.
Para exemplificar isto considere o exemplo de equilíbrio numa gangorra ilustrado
na Figura 6.7. Sabemos que se as massas forem iguais, então para equilibrar este
sistema os comprimentos entre as massas e o ponto de apoio devem ser iguais. Mas
no caso das massas serem diferentes? O comprimento entre o ponto de apoio e a
massa (m1 ) localizada no lado esquerdo é d1 . A outra massa (m2 ) deve ser colo-
cada no lado direito numa posição tal que a gangorra fique em equilíbrio. Para isto
é necessário que a mesma fique na horizontal, caso contrário a gangorra irá deslizar
sobre o ponto de apoio. Qual é a distância (d2 ) entre o ponto de apoio e a massa
m2 para que isto ocorra? Para responder esta pergunta de equilíbrio estático é ne-
cessário analisar uma grandeza chamada torque. Intuitivamente sabemos que para
Capítulo 6 – Rotação 156
Figura 6.8: Ilustração do movimento de rotação de uma barra apoiada num eixo, mostrando as
grandezas físicas relevantes.
provocado pela massa m2 . A força que origina o torque é a força peso. Portanto
P1 d1 = P2 d2 ⇒ m1 d1 = m2 d2 , (6.34)
• O bloco repousa sobre uma superfície sem atrito, e uma pessoa aplica uma
força F~aplicada paralela à superfície, empurrando o bloco para frente;
• O bloco está em queda livre sem resistência do ar, onde o peso faz o papel da
força aplicada (F~aplicada = F~ = m~g ) sobre o bloco.
Capítulo 6 – Rotação 159
Figura 6.9: Ilustração do movimento de rotação da seção transversal de um corpo rígido de forma
geométrica arbitrária, mostrando as variáveis relevantes para a dedução da segunda lei de Newton
da rotação.
Nas duas situações não existe força de atrito, a força externa aplicada ao corpo
é não nula e o movimento é unidimensional. Nestes casos o trabalho realizado (W)
pela força externa pode ser escrito como
Z xf
W = Faplicada dx, (6.38)
xi
Note que a Equação (6.39) não é verdadeira no caso de existência do atrito, pois
o atrito aparece como uma segunda força externa atuando no bloco. Neste caso, a
Equação (6.39) seria escrita da seguinte forma
7.1 Introdução
Desde o início do nosso curso, o estudo da Física aparentemente ficou mais com-
plicado. Iniciamos com a cinemática e a dinâmica para uma partícula e depois
para um sistema de muitas partículas. Aprendemos que os corpos extensos são
analisados como partículas porque o movimento de todas as partículas do corpo é
substituido pelo movimento do centro de massa. Portanto, o sistema de muitas par-
tículas tem somente o movimento de translação pura porque vislumbramos apenas
o movimento do seu centro de massa. Podemos dizer que a Física complica porque
os fenômenos naturais tornam-se mais complexos, mas mais interessantes. Por esse
motivo, aprendemos no capítulo anterior que quando o movimento de um corpo
extenso não pode ser abordado como uma partícula, isto é, através do movimento
do seu centro de massa, devemos levar em conta o movimento de rotação em torno
de um eixo fixo. A partir de agora, estudaremos a combinação dos movimentos
de translação e de rotação dos corpos extensos e que são observados em situações
cotidianas: uma bola num jogo de futebol, a bola de boliche, as bolas de bilhar
após uma tacada, as rodas dos automóveis e motocicletas numa estrada, etc. Todos
esses exemplos são muito complexos, mas é possível, e necessário, simplificar os
sistemas físicos para que possamos interpretá-los.
7.2 O rolamento
7.2.1 A cinemática do rolamento
Para examinar o movimento mais geral de um corpo rígido é essencial definir um
referencial inercial o qual o observador, nesse referencial, verá o corpo rígido se
deslocar. Um cordo rígido adequado, nesse momento, tem simetria esférica e um
eixo imaginário fixo que atravessa o seu centro de massa, o eixo de rotação (Figura
7.1).
Define-se rolamento, o movimento do corpo rígido sobre uma superfície
Figura 7.1: Uma esfera que gira
como uma combinação da translação do seu centro de massa em relacão ao refe- em torno de um eixo imaginário
rencial inercial e de uma rotação de um ponto material do corpo em relacão ao eixo que atravessa o centro de massa.
161
Capítulo 7 – O movimento dos corpos rígidos 162
Figura 7.2: Trajetórias do centro de massa e de um ponto na periferia da esfera. A trajetória curva
é uma ciclóide.
s = θr (7.1)
e diz que para uma esfera de raio r, o ponto de contato com a superfície desloca-se
de uma distância s enquanto a posição angular do mesmo ponto gira de um ângulo
θ em torno do eixo de rotação. Se esse vínculo é satisfeito a esfera rola sem deslizar
como mostrado na Figura 7.3.
A derivada da equação (7.1) em relação ao tempo é a forma escalar para a
Figura 7.3: Quando a condição
velocidade de quaisquer pontos materiais da esfera em relação ao centro de massa de rolamento é satisfeita a esfera
tem o deslocamento s = θr.
vp = ωr, (7.2)
Figura 7.4: Em (a) recordamos que a velocidade ~vp = ω ~ × ~r é uma grandeza vetorial. A esfera
translada com a velocidade do centro de massa (b) e gira com a velocidade angular (c).
Por esse motivo, nas Figuras 7.4(b) e 7.4(c) tomamos o cuidado de desenhar os
vetores velocidades ~vcm e ~vp na periferia da esfera com o mesmo módulo.
~ × ~rAB
~vB = ~vA + ω (7.5)
Figura 7.6: A haste rígida possui
um movimento de translação e ro-
onde ω~ é a velocidade angular da barra e ~rAB é o vetor posição do ponto A ao
tação.
ponto B. O módulo rAB é o comprimento da barra. Dos dados do problema temos
que ~vA = 6î, ~rAB = −4î − 3ĵ e ω~ = ωẑ. Substituindo esses valores na Equação
(7.5), temos
vB ĵ = 6î + [ωẑ × (−4î − 3ĵ)] (7.6)
e calculando o produto vetorial na segunda parcela do lado esquerdo da Equação,
nós encontramos a soma vetorial
0 = (6 + 3ω)î
(7.7)
vB ĵ = −4ω ĵ .
x : 0 = 6 + 3ω −→ ω = − 2k̂ rad/s
(7.8)
y : vB = − 4ω −→ vB = 8ĵ cm/s.
O sinal negativo para a velocidade angular indica que o sentido é para dentro do
papel.
Capítulo 7 – O movimento dos corpos rígidos 164
Kf + Uf = Ki + Ui
1 2 1 2
Iωf + M g ycm,f = Iω + M g ycm,i (7.11)
2 2 i
1 2 L
Iωf + M g (− ) = 0
2 2
e explicitando para ωf r
M gL
ωf = . (7.12)
I
O momento de inércia do centro de massa da barra é I = 1/3M L2 , logo
r
3g
ωf = . (7.13)
L
Esse resultado mostra que a rapidez angular, no movimento de queda livre, não
depende da massa da barra, mas somente da aceleração da gravidade e do com-
primento.
acm = α r (7.14)
e X
~τres = Icm α
~ (7.16)
desde que o eixo de rotação que atravessa o centro de massa seja um eixo de simetria
e não mude de direção em relação ao referencial inercial adotado. A aplicação de
ambas as equações ficará mais evidente no avançar do curso.
(a) (b)
Figura 7.9: (a)Uma bola de sinuca é golpeada por uma força horizontal e acima do centro de massa.
(b) O diagrama do corpo livre para a bola de sinuca.
para o qual a bola rolará, sem deslizar, desde o início. Escreva sua resposta em
termos do raio R da bola.
Quando a bola está apoiada sobre a mesa de bilhar as forças que atuantes
são mostradas no diagrama de corpo livre da Figura 7.9(b). Na direção vertical,
as linhas de ação das forças gravitacional e contato atravessam o centro de massa
da bola, o torque é nulo. Não há atrito entre as superfícies, portanto, o torque
resultante é da força aplicada durante a tacada
τ = F d. (7.17)
Aplicando a segunda lei de Newton para os movimentos de translação
F = macm (7.18)
e de rotação
τ = Icm α (7.19)
podemos utilizar a condição de rolamento acm = α R, e escrever
F τ Fd
= R= R. (7.20)
m Icm Icm
O momento de inércia de uma esfera em relação a um eixo que passa pelo centro
de massa é Icm = 2/5mR2 . Portanto, a distância d que a força deve ser aplicada é
Icm 2
d= = R. (7.21)
mR 5
Atingindo a bola em um ponto mais alto ou mais baixo do que a d = 2R/5 do
centro resultará na bola rolando e deslizando.
Nas nossas situações físicas os corpos rígidos são considerados indeformáveis bem
como as superfícies sobre as quais eles rolam sem deslizar. Essa aproximação teó-
rica da realidade permite-nos dizer que o corpo rígido e a superfície estão em con-
tato apenas por um único ponto. Então, quando o ponto de contato está instanta-
neamente em repouso isso equivale a condição de rolamento sem escorregamento
Capítulo 7 – O movimento dos corpos rígidos 167
Figura 7.10: a) Vários corpos arredondados rolam plano abaixo a partir da mesma altura.
onde m pode ser a massa de qualquer um dos ojetos. A segunda lei de Newton para
as rotações, no eixo x, se deve somente à força de atrito estático fe porque tem
braço de alavanca não nulo, logo
X
τx = Icm α
fe R = Icm α, (7.23)
Capítulo 7 – O movimento dos corpos rígidos 168
onde Icm pode ser o momento de inércia de qualquer um dos ojetos. Se a esfera
desce o plano inclinado sem deslizar a condição de rolamento
acm = αR (7.24)
deve ser satisfeita. Portanto temos um sistema de três equações e três incógnitas.
Resolvendo para fe na Equação (7.22), e para α na Equação (7.24) e substituindo
os resultados na Equação (7.23),
acm
(m g sen ϕ − m acm )R = Icm (7.25)
R
determinamos a aceleração do centro de massa
g sen ϕ
acm = . (7.26)
1 + mIcm
R2
Tabela 7.1: A constante γ assume valores diferentes para cada corpo rígido arredondado.
Para a esfera γ = 2/5, logo tan ϕ = 7/2µe . Conclui-se que para tanϕ for maior
que 7/2µe , a esfera deslizará sobre o plano inclinado.
Quando o corpo rígido rola com deslizamento, o ponto de contato possui uma ve-
locidade diferente de zero, isto é, há uma velocidade entre o corpo e a superfície.
Nesse caso, existe uma força de atrito cinético (fc ) que está relacionado ao mo-
vimento relativo das superfícies de contato. Quando isso ocorre, a Equação (7.4)
ou (7.14) não podem ser aplicadas, mas a força de atrito cinético atuará até que a
condição de rolamento seja satisfeita.Sistematicamente, devemos usar as equações
(7.22) e (7.23) com fe trocado por fc .
Quando os corpos não são idealizados surgem deformações que implicam que as zo-
nas de contato não são pontuais ou lineares, mas abrange uma pequena área. Nesse
caso, dizemos que há um atrito de rolamento, como ocorre entre os pneus de um
meio de transporte e o asfalto. Na realidade, existe sempre uma ligeira deforma-
ção por contato de modo que no rolamento sem deslizamento de um corpo rígido
(não ideal) sempre há perdas de energia devido as deformações das superfícies de
contato. É devido ao atrito de rolamento e à resistência que ocorre dissipação de
energia durante o movimento. Na Figura 7.13(a), ilustramos um instante de uma
esfera de aço que rola sobre uma superfície macia e vemos a deformação na parte
frontal da esfera que aumenta a região de contato. No diagrama de corpo livre da
Figura (7.13(b), força de contato resultante F~r se concentra nessa região mais ex-
tensa, e tem como componentes a força de contato normal, N ~ , e a força de atrito de
rolamento, f~e . A força N
~ produz um torque que se opõe a rotação e a força f~e pro-
vocam um deslizamento da esfera sobre a superfície deformada dissipando energia.
(a) (b)
Figura 7.13: (a) Uma esfera de aço deforma uma superfície macia. (b) O diagrama do corpo livre
ilustra as forças que agem sobre a esfera de aço.
Exemplo 7.6. 1) Considere, então, uma esfera sólida que rola sem escorregar numa
superfície horizontal macia. Mostre que a aceleração do centro de massa é acm =
5
7
g θ.
~ e f~r originam a força resultante F~r , orientada e apli-
As forças de contato N
cada como mostra a Figura 7.13.b. O ponto de aplicação de F~r está deslocado de
um comprimento λ em relação ao ponto p que representa uma situação de rola-
mento sem deformação. A segunda lei de Newton para Equação de movimento de
translação aplica-se à força de atrito
fr = −macm , (7.42)
onde o sinal negativo indica que a força de atrito tem o sentido oposto à taxa de
variação da velocidade do centro de massa, isto é, a aceleração do centro de massa.
A Equação do movimento de rotação é
fr h − N λ = Icm α (7.43)
Capítulo 7 – O movimento dos corpos rígidos 172
onde N = mg e para uma esfera Icm = 25 mR2 . Como a esfera rola sem desli-
zar, a condição de rolamento acm = αR é satisfeita. Após algumas substituições,
chegamos a seguinte Equação
2 acm
− macm h − mgλ = mR2 . (7.44)
5 R
onde λ = Rsen θ ∼ = Rθ, para ângulos muito pequenos. Resolvendo para a acele-
ração do centro de massa, nós encontramos
5
acm = − g R θ. (7.45)
5h + 2R
A altura h e o raio da esfera R se relacionam pela expressão h = R cos θ, e como
supomos que θ é muito pequeno (isso equivale a dizer que a deformação da super-
fície macia é ínfima), temos que h ∼
= R. Consequentemente,
5
acm = − g θ. (7.46)
7
e
fr R − N λ = 0. (7.48)
Como N = P = mg, encontramos que
λmg
F = (7.49)
R
Multiplicando ambos os lados da Equação anterior por R,
F R = λmg → M = λP (7.50)
7.2.6 Aplicações
O ioiô
(a) (b)
Figura 7.15: (a) Ilustração de um ioiô típico. (b) As forças que atuam num ioiô.
forças que atuam sobre o disco são: a força peso, P~ , que atua no centro de massa
do ioiô e a tensão, T~ , da corda que atua tangencialmente ao raio do ioiô, como está
ilustrado na Figura 7.15(b). As equações de movimento de translação
mg − T = macm (7.51)
e de rotação
T r = Icm α. (7.52)
Considerando que o ioiô role e não deslize sobre o barbante, a condição de rola-
mento acm = αr é satisfeita. Substituindo o momento de inércia do disco Icm =
1/2mR2 e resolvendo esse sistema de equações, a aceleração do centro de massa é
2
acm = g, (7.53)
3
portanto, menor que a aceleração de um corpo em queda livre por um fator de 2/3.
Se o ioiô possuir uma forma que não é de um disco, a Equação da aceleração será
idência à expressão (7.26). As equações do movimento retilíneo uniformemente
acelerado fornecem a velocidade e o tempo de queda do disco de uma altura h, a
partir do repouso:
1 2
h = gt (7.54)
2 r
gh
vcm = acm t → vcm = 2 , (7.55)
3
onde conferimos que a velocidade de queda é independente da massa e do raio do
disco, como deveria ser.
O mesmo resultado é obtido a partir da conservação da energia mecânica.
Figura 7.16: As posições inicial e
Para tal, comparamos a posição inical do disco, em repouso, com a situação final final de um ioiô.
do disco, após desenrolar todo o barbante, Figura 7.16. Na posição final, o centro
de massa do disco se move com velocidade do centro de massa e gira ao redor de
um eixo que passa pelo seu centro de massa com velocidade angular ω = vcm /r.
No nosso referencial, enquanto o ioiô cai, a energia potencial diminui do seu valor
máximo Ep = mgh até zero e a energia cinética aumenta de zero até o seu valor
2
máximo Ec = 1/2mvcm + 1/2Icm ω 2 . Portanto, o princípio de conservação de
Capítulo 7 – O movimento dos corpos rígidos 174
energia se escreve
Ei = Ef (7.56)
1 2 1
mgh = mv + Icm ω 2 (7.57)
2 cm 2
1 2 1 vcm 2
mgh = mv + Icm ( ). (7.58)
2 cm 2 r
Resolvendo para a velocidade do centro de massa, obtemos
r
gh
vcm = 2 . (7.59)
3
(a) (b)
Figura 7.17: (a) A força impulsiva age num curto intervalo de tempo. (b) A velocidade do centro
de massa tem o sentido invertido, mas a velocidade angular mantém o mesmo sentido.
8.1 Introdução
No estudo da cinemática de rotação percebemos a analogia entre as grandezas fí-
sicas lineares (s, v, a) e as angulares (θ, ω, α). A partir de agora, vamos ver que
existe uma analogia entre as grandezas físicas lineares e angulares na dinâmica de
rotação. Na aula anterior aprendemos que os movimentos mais gerais são combina-
ções dos movimentos de translação do centro de massa e de rotação em torno de um
eixo. Agora, analisaremos as causas da rotação de uma partícula em torno de um
ponto fixo no espaço e encontraremos as equações que governam o seu movimento
de rotação. Isso é suficiente para entender o movimento atômico clássico do elé-
tron ao redor do núcleo e com alguma extrapolação até o movimento da Terra em
torno do Sol. Esses são os primeiros passos para que na próxima aula sejamos ca-
pazes de compreender movimentos de rotações mais complexos como por exemplo,
a habilidade dos pilotos sobre as motos cruisers , o princípio de funcionamento dos
veículos individuais como os Segway utilizados como um moderno meio de trans-
porte, as cambalhotas de um gato no ar que chega sempre de pé no solo e também a
famosa bicicleta do Rei Pelé.
8.2 O Torque
Aprendemos que o torque é igual ao produto vetorial entre a posição e a força re-
sultante
~τ = ~r × F~ (8.1)
e no SI de unidades é expresso em N.m. A natureza vetorial da Equação (8.1)
implica que o torque é perpendicular ao plano formado pelos vetores ~r e F~ e o
sentido é dado pela regra da mão direita: o polegar aponta na direção e no sentido Figura 8.1: O polegar aponta na
direção e sentido do produto veto-
do torque quando os outros dedos da mão direita giram ~r para encontrar F~ , mas rial ~r × F~ .
varrendo o menor ângulo entre eles, Figura 8.1. A forma vetorial é também um
175
Capítulo 8 – Torque, Momento Angular e a 2a Lei de Newton para a rotação 176
Figura 8.2: O torque em torno da origem do referencial inercial O está na direção do eixo z 0
perpendicular ao movimento da partícula no plano x0 y 0 .
Exemplo 8.1. Uma placa metálica quadrada de lado igual a 0, 180 m possui um
eixo pivotado perpendicularmente ao plano da página passando em seu centro O (
Figura 8.4.a ). Calcule o torque resultante em torno desse eixo produzido pelas três
forças mostradas na Figura, sabendo que os módulos das forças são F1 = 18, 0 N,
F2 = 26, 0 N e F3 = 14, 0 N. O plano da placa e de todas esssas forças é o plano
da página.
Figura 8.4: O torque resultante é a soma vetorial dos torques da cada uma das forças.
τ1 = −l1 F1 = r1 sen φ1 F1
τ1 = −0, 127sen 135◦ 18 = −1, 62N.m (8.7)
τ2 = +l2 F2 = r2 sen φ2 F2
τ2 = +0, 127sen 135◦ 26 = +2, 34N.m (8.8)
τ3 = +l3 F3 = r3 sen φ2 F3
τ3 = +0, 127sen 90◦ 14 = +1, 78N.m (8.9)
Figura 8.5: O momento angular em torno da origem do referencial inercial O está na direção do
eixo z 0 perpendicular ao movimento da partícula no plano x0 y 0 .
Exemplo 8.2. Com uma boa aproximação, podemos supor que a órbita terrestre é
circular. Então, aplicam-se as relações da Figura 8.5. A massa da Terra é 5, 98 ×
1024 Kg e sua distância média ao Sol é 1, 49 × 1011 m. O período de revolução da
Terra em volta do Sol é 3, 16 × 107 s. Assim, (a) qual a velocidade angular média
da Terra em torno do Sol e (b) qual o momento angular da Terra em volta do Sol e
deste em volta da Galáxia?
A relação entre a frequência angular e o período é dada pela Equação
2π 2π
ω= = = 1, 98 × 10−7 s−1 . (8.16)
T 3, 16 × 107
Portanto, o momento angular da Terra em relação ao Sol é
L = mωr2 = (5, 98 × 1024 ).(1, 49 × 1011 ).(1, 98x10−7 ) = 2, 67 × 1041 Kg.m2 s−1 .
(8.17)
De forma idêntica, o Sol move-se em volta do centro da Galáxia e descreve uma
trajetória que é aproximadamente um círculo de raio 3, 0 × 1020 m com uma velo-
cidade angular de 10−15 s−1 . O momento angular do Sol em volta da Galáxia é da
ordem de 1055 Kg.m2 s−1 .
que se traduz como taxa de variação do momento angular de uma partícula é igual
ao torque da força resultante que atua sobre ela. Devemos ter a atenção que ~τ tem
a direção da variação do momento angular dL, ~ mas não do vetor momento angular
~
L.
Na Figura 8.7, ilustramos a mesma partícula em dois instantes distintos a
fim de ver claramente as direções do torque e do momento angular. Eles têm a
mesma direção do eixo de rotação z, logo da velocidade angular ω
~ . Mas dissemos
anteriormente que o torque tem a direção da variação do momento angular, mas na
Figura aparentemente o torque tem a direção do momento angular. Adiantamos que
a nossa afirmação é correta e vamos justificá-la.
d d~ω d~r
~a = (~ω × ~r) = ( × ~r) + (~ω × ) =⇒ ~a = (~
α × ~r) + (~ω × ~v ), (8.21)
dt dt dt
onde associamos a primeira parcela do segundo membro como a aceleração tangen-
~ × ~r, e a segunda parcela como a aceleração perpendicular à
cial à trajetória ~at = α
trajetória ~acp = ω ~ × ~v . A expressão para a aceleração nas coordenadas cilíndricas
polares assume a forma
onde o sinal negativo indica que a aceleração perpendicular é dirigida para o centro
da trajetória circular, isto é, acp é a aceleração centrípeta.
No movimento circular acelerado, o torque não é nulo e a força que o produz
é a força tangencial. Isso fica evidente ao substituir a aceleração (8.22) na Equação
no torque (8.20)
Exemplo 8.3. Uma partícula, de massa m, viaja com uma velocidade constante
~v ao longo de uma linha reta que dista b da origam O. Seja dA a área varrida
pelo vetor posição da partícula, em relação a O, durante o intervalo de tempo dt.
Mostre que dA/dt é constante e igual a L/2m, onde L é a magnitude da quantidade
de movimento angular da partícula em relação à origem.
9.1 Introdução
Quando falamos em sistema de muitas partículas não precisamos nos preocupar em
enumerar todos os objetos, pois a nossa primeira suposição é que todos eles são
idênticos. Também não é preciso estudar o movimento de centenas ou milhares
de objetos, pois como sabemos todos eles transladam juntamente com o centro de
massa. Assim, se há forças externas aplicadas sobre cada objeto podemos substituir
todas essas forças por uma única força resultante sobre o centro de massa e o sistema
se move acelerado em relação a algum referencial inercial. Entretanto, se a força
externa resultante não é aplicada sobre o centro de massa, o sistema vai girar em
torno um ponto ou eixo do referencial inercial ao mesmo tempo que as próprias
partículas do sistemas giram em torno do referencial do centro de massa. Esses
movimentos de rotação são primordiais, pois são responsáveis pela formação das
galaxias, estrelas, planetas e até buracos negros. O próprio movimento de rotação da
Terra em torno do seu eixo dá-nos a noção de dia e noite, enquanto o de translação,
isto é, de rotação da Terra em torno do Sol o ano.
183
Capítulo 9 – Sistema de muitas partículas 184
onde considerando a hipótese de que a linha de ação das forças de vínculo entre
cada par de partícula interajente está dirigida segundo a linha que as une, o torque
resultante correspondente é nulo, ~τvin = 0. Assim, a lei fundamental da dinâmica
para um sistema de partículas
~
dL
= ~τext (9.4)
dt
que significa que a taxa de variação no tempo do momento angular de um sistema de
partículas, em relação a um ponto arbitrário, é igual à soma dos torques, em relação
ao mesmo ponto, das forças externas que atuam sobre as partículas do sistema.
Na Equação (9.4), o ponto o qual o momento angular e o torque resultantes
são calculados é arbitrário, mas deve estar em repouso num referencial inercial.
Contudo, se o ponto escolhido é o centro de massa a Equação (9.4) é válida mesmo
que o centro de massa não seja inercial, isto é, esteja acelerado. Isso é decorrente
da mesma hipótese que a linha de ação da força de vínculo de qualquer partícula
está dirigida segundo a linha que as une. Portanto, a força resultante nesse caso,
é a força externa em relação ao centro de massa. Isso deve ficar mais evidente ao
analisarmos o primeiro membro da Equação (9.1), onde o momento angular total
do sistema de partículas é a soma
~ =L
L ~ int + L
~ orb . (9.5)
onde Z
I= r2 dm (9.10)
Figura 9.2: Momento angular de um elemento de massa ∆mi de um corpo rígido plano que gira
em torno de um eixo fixo perpendicular ao sólido.
Nem sempre o torque e o momento angular têm a mesma direção, por exem-
plo, se o corpo rígido possui uma forma arbitrária e gira com velocidade angular ω
~
constante ao redor de um eixo fixo. Essa situação é ilustrada na Figura 9.3. O ele-
mento de massa ∆m é localizado em relação a origem O por ~r e possui velocidade
linear ~v = ω × ~r. Visto que o movimento é circular uniforme a força resultante
sobre o elemento de massa é a força centrípeta,
F~ = ∆m~acp , (9.12)
Figura 9.4: A componente do momento angular de um corpo rígido arbitrario que gira em torno de
um eixo de simetria tem a mesma direção da velocidade angular.
Porém, se o eixo de rotação passa pelo centro de massa do corpo rígido, isto
é, é um eixo de simetria, para cada elemento de massa ∆mi há outro elemento de
massa ∆mi localizado simetricamente ao eixo de rotação, como ilustrado na Figura
9.4. Consequentemente, o momento angular total pode ser escrito em termos das
suas componentes paralela e perpendicular ao eixo de rotação
X
~ =
L ~ k,i + L
L ~ ⊥,i , (9.20)
i
Capítulo 9 – Sistema de muitas partículas 188
Lk = Icm ωz (9.21)
onde Icm é o momento de inércia em relação ao eixo que passa pelo centro de
massa. A diferença dessa Equação para a (9.9) é que na última a direção do eixo
de rotação pode varia no espaço e o momento angular é independente da origem O
porque é calculado em relação ao eixo de simetria. Além disso, a Equação (9.21)
é independente da forma do corpo. Então, é importante determinar se o momento
angular e o torque são calculados em relação a um ponto em repouso no referencial
inercial ou em relação ao centro de massa.
Finalmente, para um corpo rígido que gira em torno de um eixo de simetria o
torque resultante tem a mesma direção da variação do momento angular,
~
dL
~τ = = Icm α
~. (9.22)
dt
Para cada corpo rígido, mesmo assimétrico, existem pelo menos três direções
perpendiculares entre si, para as quais o momento angular é paralelo ao eixo de
rotação ou a velocidade angular de tal modo que as suas componentes ao longo
desses eixos são Li = Iωi (i = x, y, z). Esses são chamados de eixos principais de
inércia e os momentos de inércia calculados em relação a eles são os momentos de
inércia principais. Quando o corpo é simétrico ( esfera, cilindro, quadrado, etc ), os
eixos principais
P coincidem com os eixos de simetria. Assim, o momento angular
~
total é L = i Ii ω ~ . É fácil perceber isso para um bloco quadrado da Figura 9.5
onde os eixos principais de inércia são também os eixos de simetria. O momento
angular ao longo dos eixos principais de inércia enquanto o bloco gira em torno do
centro de massa com velocidade angular ω é
~ = Ix ωi î + Iy ωj ĵ + Iz ωz k̂
L (9.23)
onde î, ĵ, k̂ são os vetores unitários ao longo desses eixos principais de inércia.
Figura 9.5: Os eixos principais de um corpo simétrico coincidem com os eixos de simetria.
Capítulo 9 – Sistema de muitas partículas 189
Figura 9.6: O movimento de precessão do pião em torno do eixo z enquanto gira em torno do
seu eixo de simetria. O torque é perpendicular ao momento angular, mas é paralelo à variação do
momento angular.
ângulo φ com o eixo z. As forças que atuam sobre ele são a força gravitacional
F~ = m~g aplicada no centro de massa e a força de reação na origem O. O torque
da força de contato é nulo porque o braço de alavanca é nulo, mas o torque da força
gravitacional é
~τ = ~r × m~g , (9.24)
onde ~r é o vetor posição do centro de massa em relação à origem O. Devido a
natureza do produto vetorial, o torque é perpendicular ao plano determinado por ~r
e m~g e tem o sentido antihorário. De outro modo, o torque é calculado como
~
dL
~τ = , (9.25)
dt
indicando que o torque tem a direção da variação do momento angular. Na Figura
9.6 o momento angular do pião é mostrado em dois instantes de tal modo que du-
rante esse intervalo de tempo,
dL~ = ~τ dt (9.26)
~
e ao final do intervalo infinitesimal dt o novo momento angular é a soma vetorial L+
~ isto é, tem o mesmo módulo, mas direção diferente porque dL
dL, ~ é perpendicular
~ ~
a L. Notamos que ~τ , L e ~r giram em relação ao eixo z de um mesmo ângulo
infinitesimal dϕ,
Capítulo 9 – Sistema de muitas partículas 190
τ rmgsen(θ) rmg
ωp = = =⇒ ωp = , (9.28)
Lsen(θ) Iωsen(θ) Iω
O giroscópio
O giroscópio é um aparelho cuja construção mais simples consiste de um disco livre
para girar em torno de um eixo de simetria. A outra extrimidade do eixo é pivotada
sobre uma base fixa e é livre para girar em torno do pivô em qualquer direção. Na
Figura 9.7 ilustramos um giroscópio típico. Para analisar o movimento do giroscó-
pio é útil escolher um referencial inercial com origem sobre o pivô. Posicionamos o
eixo do giroscópio paralelamente ao eixo y do referencial inercial a fim de estudar
o comportamento em duas situações: a roda com e sem uma rotação inicial.
Figura 9.7: Um giroscópio típico sem a rotação sob a ação de um binário. O torque da força peso
tem a direção do eixo y no sentido negativo.
Quando a roda não está girando as únicas forças que atuam no giroscópio são
a força gravitacional F~ = −M g k̂ aplicada no centro de massa do disco e a força
de reação do pivô F~ = F k̂, onde F = M g. A força resultante externa é nula, mas
essas duas forças formam um binário de braço de alavanca igual ao comprimento
Capítulo 9 – Sistema de muitas partículas 191
do eixo ~l = l ĵ. O torque da força de reação do pivô é nulo, mas o toque da força
peso em relação à origem O tem a direção do eixo x no sentido negativo
~τ = ~l × F~ = −M lg î. (9.29)
Figura 9.8: Um giroscópio típico sem a rotação sofre uma queda girando com uma aceleração
angular na direção e sentido do torque resultante.
horário com uma velocidade angular crescente até atingir o chão, como mostrado
na Figura 9.8
O movimento do giroscópio é diferente quando o disco tem uma rotação rá-
pida em torno do seu eixo de simetria, Figura 9.9.
Figura 9.9: Um giroscópio típico com uma rotação rápida tem um movimento de precessão em
torno do eixo z.
Nesse caso, o momento angular inicial não é nulo e tem a direção do eixo
de rotação, mas tal como antes o torque é dado pela Equação (9.29) e a variação
do momento angular pela (9.30). Portanto, o torque muda a direção do momento
Capítulo 9 – Sistema de muitas partículas 192
193
Capítulo 10 – A conservação do momento angular 194
(a) (b)
Figura 10.1: Quando o torque é nulo a força é nula ou central. Em ambos os casos o momento
angular é conservado e perpendicular ao plano do movimento.
Figura 10.2: A componente do momento angular no eixo z é constante porque o torque permanece
no plano xy.
Ii ωi = If ωf (10.6)
e como If > Ii por ter os braços próximos do eixo de rotação do seu corpo, a velo-
cidade angular deve aumentar ωf > ωi a fim de satisfazer a igualdade da Equação
(10.6).
Nos movimentos de dos atletas do salto de trampolim e em disância e mesmo
de um gato em queda livre que consegue sempre cair de pé, a única força resultante
significativa é a força gravitacional. Nesses casos, a força gravitacional atua no
centro de massa dos corpos implicando que o torque externo resultante é nulo em
relação ao centro de massa. Mas como esses corpos formam um sistema isolado
podem alterar as velocidades de rotação em torno do eixo que passa pelo centro de
massa através de forças internas para modificar o momento de inércia em relação ao
eixo, mas mantendo o momento angular constante. Por isso, os atletas aproximam
ou afastam os membros em relação ao centro de massa do corpo para aumentar ou
diminuir a velocidade angular no movimento. O gato, por exemplo, faz os mesmo
com as patas e enrola ou desenrola a calda para poder girar em torno do seu centro
de massa, ainda no ar, para cair seguramente com as quatro patas no chão.
Capítulo 11
Equilíbrio e Elasticidade
Ronai Machado Lisbôa
11.1 Equilíbrio
A dinâmica dos corpos rígidos é regida pelas seguintes equações de movimento
dP~
= F~ , (11.1)
dt
dL~
= ~τ . (11.2)
dt
A primeira é responsável pela translação do corpo rígido ou do seu centro de massa
sob a ação da força externa resultante, enquanto a segunda, governa a rotação de
quaisquer pontos do corpo rígido em torno do centro de massa sob o efeito do
torque externo resultante.
Caso as forças e torques externos se cancelem as equações de movimento são
dP~
=0 (11.3)
dt
dL~
= 0. (11.4)
dt
e dizem respeito aos princípios de conservação do momento linear e do momento
angular, respectivamente. Dizemos que o corpo rígido está em equilíbrio quando
essas leis de conservação são satisfeitas, isto é, se P~f = P~i e L
~f = L~ i . O equilíbrio
é dito equilíbrio estático se P~i = 0 e L
~ i = 0, isto é, as velocidades linear e angular
são nulas em quaisquer instantes e o corpo rígido não translada e nem rotaciona
no sistema de referência em que é observado. Portanto, as condições de equilíbrio
estático resumem-se no conjunto de equações vetoriais
P~ = 0, F~ = 0, ~τ = 0. (11.5)
Fx = 0, Fy = 0, Fz = 0, (11.6)
196
Capítulo 11 – Equilíbrio e Elasticidade 197
Figura 11.1: O movimento da tábua é vinculado ao plano xy. O torque resultante está no eixo y.
Para o equilíbrio estático e F~ = 0 e ~τ = 0.
τx = 0, τy = 0, τz = 0. (11.7)
Esse conjunto de seis equações é reduzido a três equações quando o movimento é
vinculado ao plano. Por exemplo, na Figura 11.1, o movimento do corpo rígido é
solidário ao plano xy, as equações remanescentes são
Fx = 0, Fy = 0, τz = 0. (11.8)
Nesse caso, uma das componentes da Equação (11.6) simplesmente não exisitirá e,
consequentemente haverá somente a componente do torque perpendicular ao plano
definido pelas componentes remanescentes da força resultante.
A maior parte dos problemas que vamos resolver sobre o equilíbrio estático
dos corpos rígidos se deve à tendência ou não do equilíbrio sobre a ação de forças
externas e uma delas é a força gravitacional. A força gravitacional atua sobre toda
a extensão dos corpos rígidos, mas podemos considerar que a resultante, a força
peso esteja concetrada em um único ponto chamado centro de gravidade que é de-
finido simplesmente pelo efeito gravitacional. Nas proximidades da superfície da
Terra, onde ~g é o mesmo para todas as partes do corpo rígido, o centro de gravidade
coincide com o centro de massa. Esse resultado é uma aproximação que facilita
bastante a determinação das condições de equilíbrio porque o sistema de forças gra-
vitacionais é equivalente à força-peso resultante aplicada no centro de massa, que é
justamente o centro de gravidade.
11.2 Elasticidade
Os problemas de equilíbrio analisados até agora têm três equações e três incógnitas
e é possível resolvê-los. Caso existam mais incógnitas que o número de equações
temos um equilíbrio indeterminado. Se na natureza os corpos rígidos fossem re-
almente indeformáveis seria impossível obter a solução desse sistema, mas como
dissemos os corpos rígidos são idealizações para facilitar o estudo e a interpretação
das fenomenologias observadas. No mundo real, todos os corpos são deformáveis
sob a ação de forças externas aplicadas e quando isso ocorre, temos que levar em
conta a elasticidade dos corpos que se deformam. Assim, os problemas de equilíbrio
indeterminado são suplementados pelas equações da elasticidade.
Capítulo 11 – Equilíbrio e Elasticidade 198
Figura 11.2: O efeito da tensão T = F⊥ /A sobre o cilindro é uma dilatação linear (tração) por
unidade de comprimento.
Figura 11.3: O efeito da pressão P = F⊥ /A sobre o cilindro imerso num fluido é uma compresão
volumétrica por unidade de volume.
A pressão sobre a superfície do corpo imerso é a mesma seja qual for a orien-
tação da superfície. Portanto, a pressão é uma grandeza escalar, não uma grandez
vetorial. O efeito da pressão é uma variação volumétrica por unidade de volume do
corpo, de modo que definimos o módulo de elasticidade volumétrico
Tensão volumétrica ∆P
B= =− , (11.13)
deformação por unidade de volume ∆V /V
onde o sinal negativo é incluído porque o aumento pressão acarreta uma diminuição
do volume e B é uma grandeza positiva com unidades N/m2 no SI. O inverso do
módulo de compreensão denomina-se compressibilidade
1
κ= , (11.14)
B
e as unidades são m2 /N.
Em todos os casos anteriores, as forças aplicadas são perpendiculares à área
do corpo de modo que o efeito das tensões é de provocar uma tração ou comprensão,
seja de dilatação ou volumétrica. A componente da força paralela à superfície de
um corpo sólido é uma tensão de cisalhamento
Fk
Tensão de cisalhamento = C = , (11.15)
A
e provoca uma deformação de cisalhamento
X
∆d =
, (11.16)
L
como apresentado na Figura 11.4. Portanto, o módulo de cisalhamento define-se
como
Tensão de cisalhamento Fk /A Figura 11.4: O efeito da tensão de
S= = . (11.17) cisalhamento C = Fk /A sobre o
deformação de cisalhamento X/L
cilindro sólido é um cisalhamento
∆d.
Capítulo 12
Oscilações
Lucio Marassi
200
Capítulo 12 – Oscilações 201
[f ] = 1 Hz = 1 osc/s . (12.1)
O tempo que um sistema físico leva para dar uma oscilação completa é deno-
minado de período (T ).
Exemplo 12.1. Se em um segundo temos três oscilações, em quanto tempo teremos
uma oscilação apenas?
O tempo para uma oscilação apenas é chamado de período (T ). Usando essa
definição, podemos fazer a ‘regra de três’ abaixo:
3 osc → 1 s (12.2)
1 osc → T (tempo para uma osc)
segue em uma direção, sofre a ação de uma força, que opera no sentido de fazer
a partícula retornar ao ponto de equilíbrio original. A esta força damos o nome
de força restauradora, e ela apontará sempre em direção contrária ao movimento
da partícula (de modo a restaurar a mesma à sua posição anterior, aproximando-a
do ponto de equilíbrio). Ou seja, matematicamente esta força restauradora, F~ , terá
sinal contrário à posição atual da partícula, ~x(t), e será proporcional ao módulo
desta posição (quanto mais distante do equilíbrio, maior a força será, para restaurar
a partícula ao seu ponto de estabilidade original). Assim, em módulo, podemos
escrever
F ∝ −x(t). (12.5)
F = −k x(t). (12.6)
ma = −kx(t), (12.7)
k
a = − x(t), (12.8)
m
d2 x(t)
k
= − x(t). (12.9)
dt2 m
d2 x(t)
+ C x(t) = 0. (12.10)
dt2
d2 z
= p2 z (12.12)
dt2
e substituimos a solução complexa geral e sua derivada segunda, 12.11 e 12.12 , na
equação original 12.10, obtendo assim
p2 z + C z = 0. (12.13)
Capítulo 12 – Oscilações 203
p2 + C = 0. (12.14)
p = ±iω. (12.16)
Portanto, a solução geral z(t) da equação 12.10 será uma combinação das
soluções usando as duas raízes de p
ωt + φ = ω[t + T ] + φ, (12.22)
ωt = ω[t + T ].
Como a equação 12.19 está contida na equação acima, podemos escrever que
a(t) = −ω 2 [xm cos(ωt + φ)],
~a(t) = −ω 2 ~x(t). (12.31)
k = m ω2, (12.37)
Capítulo 12 – Oscilações 207
12.6 Pêndulos
Os pêndulos são exemplos de Osciladores Harmônicos Simples (OHS), onde a força
gravitacional age como a força restauradora do sistema, provocando o seu movi-
mento periódico.
Podemos imaginar um pêndulo simples, onde um objeto pequeno de massa
m está preso no teto por um fio de massa desprezível, de comprimento L (Figura
12.5(a)). O sistema massa-fio oscila em um plano bidimensional onde, a cada ins-
tante do tempo, o fio esticado perfaz um ângulo θ em relação à linha vertical ima-
ginária do centro das oscilações. As únicas forças atuantes no sistema são a tração
T~ do fio e a força gravitacional F~g = m~g atuando no objeto de massa m, sempre
dirigida para baixo, na vertical (Figura 12.5(b)).
Se decompormos a força gravitacional em um componente perpendicular (Fg cos θ)
e outro tangencial (Fg senθ) ao movimento, notaremos que apenas o componente
tangencial contribui para o movimento do sistema, pois o perpendicular anula-se
com a tração do fio (Figura 12.5(b)). Ainda, o componente tangencial atua como
a força restauradora no sistema, propiciando seu movimento periódico (portanto,
possuirá um sinal negativo, como na equação 12.36).
Contudo, como o movimento pendular é um movimento angular - ou seja, um
Figura 12.5: Pêndulo simples.
movimento cujo deslocamento é quantitativamente obtido pela mudança angular ao
Capítulo 12 – Oscilações 208
longo do tempo - a força restauradora será também uma força angular, chamada de
torque (~τ ), e definida como
~τ = ~r × F~ , (12.40)
onde ~r é o raio do centro do movimento angular até o objeto (portanto, seu módulo
é o comprimento L da corda), e F~ , como já analisamos acima, é o componente
tangencial da força da gravidade, com sinal negativo (−Fg senθ). Como o ângulo
entre ~r e F~ é de 90◦ , o produto vetorial da equação 12.40 é trivial, e o módulo do
torque será então
τ = rF,
τ = L (−Fg senθ) ,
τ = −Lmg senθ. (12.41)
τ = Iα, (12.42)
X = Lθ. (12.50)
E = U + K,
1 2 2
k xm cos (ωt + φ) + sen2 (ωt + φ) .
E = (12.69)
2
Pela trigonometria, sabemos que o termo em colchetes na equação acima é
igual a 1, de modo que a energia mecânica do MHS assume a forma simples
1
E = k x2m . (12.70)
2
Ou seja, a energia mecânica no MHS é sempre constante, ou seja, é inde-
pendente do tempo. Na Figura 12.6-a temos o gráfico ‘Energia X Tempo’, onde
observamos a curva constante, horizontal, da energia mecânica total; no mesmo
gráfico observamos que o comportamento temporal da energia cinética segue uma
função senoidal, enquanto o da energia potencial mostra uma curva cossenoidal, de
acordo com as equações 12.68 e 12.65, respectivamente.
O gráfico ‘Energia X Posição’ (Figura 12.6(b)) pode mostrar ao mesmo tempo
a energia cinética, a energia potencial e a energia mecânica total no MHS. Vemos
que as parábolas de U e K se complementam, e a soma é sempre a constante E.
As curvas são completamente simétricas, e podemos inclusive achar o ponto exato
no eixo vertical (o eixo das energias) onde a energia cinética é exatamente igual à
energia potencial:
1 1 1 2 1
U = K = (E) = k xm = k x2m . (12.71)
2 2 2 4
Substituindo os termos γ = mb e ω 2 = m k
, teremos portanto a Equação
Diferencial Ordinária Linear Homogênea de 2◦ ordem abaixo:
d2~x d~x
+ γ + ω 2~x = 0, (12.75)
dt2 dt
que tem a solução complexa geral na forma
p2 z + γpz + ω 2 z = 0. (12.79)
p2 + γp + ω 2 = 0. (12.80)
Capítulo 12 – Oscilações 214
13.1 Fluidos
Em contraste com um sólido, denomina-se fluido qualquer substância que pode fluir.
Além disto, diferentemente dos sólidos, que sob a ação de uma força, estes reagem
com uma força de mesma intensidade e sentido contrário, um fluido caracteriza-se
por não apresentar resistência quando submetido às tensões de cisalhamento.
Em particular, o termo “fluido” pode ser utilizado para designar tanto gases,
quanto líquidos. Como exemplos de fluidos muito conhecidos, destacam-se a água,
o ar e o sangue. Menos conhecidos, como fluidos, são o vidro e o asfalto.
Até o momento, ao discutir assuntos sobre partículas e corpos rígidos, termos
como massa e força foram vastamente utilizados. Entretanto, tratando-se de fluidos,
os conceitos mais utilizados são os de densidade e de pressão.
218
Capítulo 13 – Mecânica dos fluidos 219
fluido para sua definição, não é necessário que a substância esteja no estado líquido
ou gasoso para definir sua densidade. Assim, através da consideração de um fluido
qualquer e tomando-se um pequeno elemento de volume ∆V , em torno de um ponto
qualquer, cuja massa contida neste elemento de volume é ∆m, tem-se que a densi-
dade, neste ponto, é dada por
∆m
ρ= . (13.1)
∆V
Mais precisamente, a densidade em um ponto qualquer de um fluido deve ser de-
finida no limite desta razão, quando ∆V → 0. Entretanto, no caso de um fluido
homogêneo, ou seja, no qual a massa está distribuída uniformemente sobre todo o
volume, a densidade pode ser definida simplesmente como a razão entre a massa m
e volume V considerados
m
ρ= . (13.2)
V
A unidade de densidade, no SI, é [ρ] = kg/m3 . Entretanto, outra unidade muito
empregada é g/cm3 , onde
13.3 Pressão
Como citado anteriormente, um fluido pode fluir, de modo que ele acaba por se
moldar aos contornos do recipiente que o contém. Porém, este fluido em repouso
Capítulo 13 – Mecânica dos fluidos 220
exerce uma força normal sobre qualquer superfície que esteja em contato com ele.
Por exemplo, a força normal à superfície do recipiente que o contém e a força sobre
qualquer corpo nele imerso. Embora macroscopicamente observa-se que o fluido
esteja em repouso, as moléculas que o constituem estão em movimento, dando ori-
gem a estas forças de contato.
Assim, como mostrado na Figura 13.2, considerando uma superfície hipoté-
tica dentro de um fluido, tem-se que o fluido em torno desta exerce forças normais
iguais e contrárias em ambos os lados da superfície. Deste modo, a pressão p, neste Figura 13.2: Considerando uma
superfície hipotética, de área dA,
ponto da superfície onde a força é aplicada, é definida como o fluido exerce forças normais
dF⊥ iguais em ambos os lados da su-
p= , (13.4) perfície. Retirada da referência
dA [11].
onde dF⊥ é a força normal que atua que atua sobre o elemento de superfície com
área dA. No caso da força ser uniforme, ou seja, quando a força está uniformemente
distribuída por todos os pontos da superfície, sobre uma área plana, tem-se que
p = F⊥ /A.
É importante salientar que a força dF⊥ , em um ponto particular do fluido, é
a mesma independentemente da orientação da superfície hipotética, ou seja, tem a
mesma magnitude qualquer que seja a sua direção. Assim, a pressão é uma grandeza
escalar, não tendo propriedades direcionais.
A unidade de pressão, no SI, é [p] = N/m2 ≡ Pa, chamada de Pascal. Equi-
valentemente, outras unidade podem ser empregadas, como atmosfera (atm), que
indica a pressão média da atmosfera ao nível do mar, o milímetro de mercúrio
(mmHg), o torr, em homenagem a Evangelista Torricelli, e, por fim, a libra por
polegada quadrada (lb/in2 ). Estas unidades estão relacionadas por
1, 01 · 105 Pa = 1 atm = 760 mmHg = 760 Torr = 14, 7 lb/in2 . (13.5)
Exemplo 13.1. Porque, ao andar na neve, fica mais fácil caminhar utilizando-se
raquetes, em vez de tênis, nos pés?
com a interface fluido-ar. Além disto, considera-se uma pequena porção de fluido,
contido em um cilindro hipotético (sua visão lateral é indicada pela linha tracejada
no desenho), de bases inferior e superior A, onde y1 e y2 são as profundidades das
bases superior e inferior, respectivamente.
Como o fluido está em equilíbrio estático, ou seja, está em repouso e a força
resultante
Psobre ele é nula, então sobre a porção delimitada pelo cilindro hipotético,
tem-se F = 0. Neste caso, três forças podem ser identificadas: a força F~1 ,
~
que age sobre a base superior e se deve à quantidade de fluido que está acima do
cilindro hipotético, a força F~2 , que age sobre a base inferior do cilindro e se deve à
quantidade de fluido que está abaixo do cilindro, e m~g , que se deve ao próprio peso Figura 13.3: Um fluido em um re-
da porção de fluido delimitada pelo cilindro hipotético. Considerando as forças cipiente, onde é definido um eixo
indicadas na Figura, na direção y, tem-se de coordenadas y, com sentido
crescente orientado para cima e
y = 0 coincidindo com a inter-
X
Fy = 0, (13.6)
face fluido-ar, e é delimitada uma
pequena porção de fluido, através
F2 − F1 − mg = 0. (13.7) de um cilíndro hipotético (linha
Uma vez que a densidade do fluido é considerada constante, ρ = m/V , onde m e tracejada), com bases de área A,
onde y1 e y2 são as profundidades
V são a massa e o volume da porção de fluido delimitado, respectivamente, e como, das bases superior e inferior, res-
neste caso, é possível utilizar a aproximação p = F/A, tem-se pectivamente. Neste caso, sobre
o fluido delimitado pelo cilindro,
p2 A − p1 A − ρV g = 0, (13.8) são observadas uma força F~1 , so-
bre a base superior, uma força F~2 ,
mas V = A(y1 − y2 ), logo sobre a base inferior e a força gra-
vitacional, m~g , associada à massa
p2 A − p1 A − ρAg(y1 − y2 ) = 0, (13.9) do fluido que está no interior do
cilindro hipotético. Retirada da
p2 − p1 − ρg(y1 − y2 ) ⇒ p2 − p1 = ρg(y1 − y2 ). (13.10) referência [10].
p2 − p1 = −ρg(y2 − y1 ). (13.11)
p = po + ρgh, (13.15)
Sendo assim, o manômetro de tubo aberto é usado para medir a pressão mano-
métrica de um gás. Neste caso, a pressão manométrica é diretamente proporcional
a h.
A pressão manométrica pode ser positiva ou negativa, dependendo se p > po
Figura 13.8: Manômetro de tubo
ou p < po . Por exemplo, em pneus e no sistema circulatório, a pressão absoluta é aberto. Retirada da referência
maior que a pressão atmosférica, de modo que (p − po > 0). Por outro lado, quando [11].
usa-se um canudo para tomar um líquido, a pressão nos pulmões, e na boca, é menor
do que a pressão atmosférica, de modo que (p − po < 0).
pi = po , (13.35)
Fi Fo Ao
= ⇒ Fo = Fi , (13.36)
Ai Ao Ai
ou seja, Fo será maior que Fi se Ai < Ao .
Figura 13.10: Dispositivo hidráulico, como um elevador hidráulico, corresponde a uma aplicação do
princípio de Pascal. Neste caso, embora a força seja amplificada, o trabalho realizado não é, ou seja,
tem-se o mesmo trabalho realizado pelas forças F~i e F~o , de modo que o princípio de conservação de
energia não é violado. Retirada da referência [10].
13.7.1 Empuxo
Para demonstrar tal princípio, a Figura 13.11(a) mostra uma região do espaço deli-
mitada, dentro de um fluido, na qual as setas representam as forças exercidas pelo
fluido vizinho sobre a superfície que delimita a região. Considerando, inicialmente,
que esta região delimitada esteja preenchida pelo fluido, de modo que é possível
dizer que esta porção de fluido está em repouso, ou seja, está em equilíbrio, a força
resultante sobre a porção deve ser igual a zero. Neste caso, a componente x das for-
ças exercidas pelo fluido acaba por se anular. Entretanto, na componente y, a soma
das componentes y das forças que atuam sobre a superfície deve ser uma força re-
sultante, de baixo para cima, com módulo igual ao peso mg do fluido no interior
da superfície. Ela existe porque a pressão do fluido que envolve a região delimitada
aumenta com a profundidade. Assim, a pressão na parte inferior é maior do que
na parte superior, resultanto na força com sentido de baixo para cima. Esta força
resultante, na direção y, recebe o nome de empuxo.
Considerando que a região delimitada seja um cilindro, com bases A e to-
mando apenas as componentes y das forças atuantes na parte superior e na parte
inferior da região delimitada, Fsup e Finf , respectivamente, tem-se que o empuxo,
~ tem módulo dado por
E,
E = Finf − Fsup , (13.44)
Capítulo 13 – Mecânica dos fluidos 227
Pap = P − E (13.48)
Exemplo 13.5. Um iceberg no mar possui grande parte de seu volume escondido
abaixo do nível da água. Que fração do iceberg não pode ser vista?
Tem-se que o peso de um iceberg de volume Vi é
Pi = ρi Vi g, (13.49)
E = Pa = ρa Va g, (13.50)
Capítulo 13 – Mecânica dos fluidos 228
A1 v1 dt = A2 v2 dt (13.54)
logo
Q = A1 v1 = A2 v2 (13.55)
Vazão ≡ Q = Av = constante. (13.56)
Wg = −mg∆y (13.62)
Wg = −(ρ∆V ) g∆y (13.63)
Wg = −ρg∆y∆V. (13.64)
O segundo corresponde ao trabalho externo realizado sobre o sistema, na ex-
tremidade de entrada, para empurrar o fluido para dentro do tubo e pelo sistema, na
extremidade de saída, para empurrar o fluido que está mais adiante no tubo. O tra-
balho realizado por uma força de módulo F , agindo sobre uma quantidade de fluido
contida em uma região com Seção reta A para mover o fluido em uma distância ∆x,
chamado de trabalho realizado por uma bomba, é
W = Wg + Wp = ∆K, (13.68)
Figura 13.15: Tubo de Venturi. A pressão em 1 é maior do que a pressão em 2 pois v1 < v2 . De
acordo com a Figura, define-se que A ≡ A1 e a ≡ A2 .
s
2(p1 − p2 )
v2 = A1 , (13.75)
ρ(A21 − A22 )
sendo que p1 − p2 = ρgh.
Tanque de água
Q = av = Avo , (13.76)
logo
a
vo =v. (13.77)
A
Como a A, tem-se que vo v. Sendo assim, aplicando a Equação de Bernoulli
em y = 0 e y = h, tem-se
1 1
po + ρvo2 + ρgh = po + ρv 2 + ρg(0). (13.78)
2 2
Como vo v, tem-se que vo2 é desprezível, de modo que chega-se a
p
v = 2gh. (13.79)
234