Relações Socioafetivas
Relações Socioafetivas
Relações Socioafetivas
Instituição
FASFI- Faculdade São Fidélis
Conveniada:
Pós-Graduação Lato
Especialização
Sensu Nível:
Curso
Psicopedagogia
As relações sócio-afetivas no contexto do desenvolvimento e da
Disciplina:
aprendizagem.
Ementa:
Objetivos:
Objetivo Geral:
3
Objetivos Específicos:
UNIDADE II – Referenciais
UNIDADE III:
5. METODOLOGIA
CRONOGRAMA
7. AVALIAÇÃO:
4
8. REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
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1988.
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6
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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Editora Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1992.
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JARES, Xéxus R. Educação para a paz: sua teoria e sua prática. Editora ARTMED, Porto Alegre,
2002.
MARIOTTI, Humberto. Outro olhar, outra visão. Prefácio da obra: MATURANA, Humberto e
VARELA, Francisco J. A árvore do conhecimento: as bases biológicas da compreensão humana.
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MEIRIEU, Philippe. Aprender...sim, mas como? Editora Artes Médicas: Porto Alegre, 1998.
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PINTO, Maria Alice (org). Psicopedagogia, diversas faces, múltiplos olhares. Editora Olho
d'Água, São Paulo, 2003.
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PRANDINI, Regina Célia Almeida Rego. Autoria de pensamento e alteridade: temas fundantes
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RAMOS, Marise Nogueira. A pedagogia das competências. Cortez Editora, São Paulo, 2002.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro,1984.
SERRANO, Gloria Pérez. Educação em valores; como educar para a democracia. Editora Artes
Médicas, Porto Alegre, 2002.
WEILL, Pierre et alii. Rumo a nova transdisciplinaridade. Editora Summus, São Paulo, 1993.
9
COLETÂNEA DE TEXTOS
As relações sócio-afetivas no contexto do
desenvolvimento e da aprendizagem
Organizada pelo Prof. João Beauclair,
Sábado, dia 25/11/2017
Site: http://www.profjoaobeauclair.net
E-mail joaobeauclair@yahoo.com.br
Blogs
http://joaobeauclair.blogspot.com
https://profjoaobeauclair.wordpress.com
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Texto I:
RESUMO:
Este artigo apresenta uma análise da relação estabelecida entre a afetividade e o processo de
ensino e aprendizagem, e sua relação que está inteiramente ligada ao desenvolvimento do
aluno.
A questão da afetividade tem sido bastante discutida por professores, pais e educadores em
que é percebida a importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem. Mas o
que é afetividade?
Uma educação entre professores e alunos que não aborde a emoção na sala de aula como a
afetividade traz prejuízos para a ação pedagógica, pois podem atingir não só o professor, mas
também o aluno. E se o professor não souber lidar com crises emocionais isso poderá provocar
desgastes físico e psicológico.
Para fazermos essa relação da afetividade com o processo de ensino e aprendizagem, vamos
falar sobre o desenvolvimento da criança através da interação infantil, pois o professor
competente poderá organizar uma ação adequada para as reais necessidades dos seus alunos.
Interação Infantil
infância, mas ocorrem durante toda a vida. A fase da infância é tomada de perspectivas e de
experiência vivida.
O estudo sobre a infância pode ser analisado e estudado por diversas áreas (Psicologia,
Pedagogia, Pediatria, Fonoaudiologia, sociologia etc.), ao longo do tempo tem sido estudado o
lugar social que a criança ocupa em relação à outra criança, podendo revelar transformações e
orientações necessárias para a compreensão de ser reconhecida, e é através da educação que
a criança se transforma em adultos responsáveis.
Através de novos vínculos sociais, a criança passa a se interagir com novos padrões de
comportamento, conteúdos e valores sociais. Esse conhecimento de mundo ocorre do real
para o mental. Segundo (WALLON apud ALMEIDA, 1993, p. 14):
O desenvolvimento da inteligência, em grande parte, é função do meio social. Para que ele
possa transportar o nível da experiência ou da invenção imediata e concreta, tornam-se
necessários os instrumentos de origem social, como a linguagem e os diferentes sistemas de
símbolos surgido desse meio.
A maior preocupação não é como a criança se socializa, mas como a sociedade socializa a
criança. A concepção moderna de infância é contraditória. Muitas vezes a criança é vista como
ser puro e inocente, sem maldade, que precisa ser protegido. Outras vezes a criança é vista
como um ser de más qualidades, que precisa ser domado para ser útil à sociedade.
O potencial da criança torna-se criativo e expressivo quando ela cria a linguagem e atualiza
culturalmente seus conhecimentos, através da educação familiar ela vive um mundo de
verdades e mentiras, pois os pais lhe escondem certas realidades, com isso ela vive de sonhos
e fantasias. A aquisição da linguagem é, portanto um salto qualitativo na evolução do
pensamento infantil. Segundo Almeida (1999, p. 57):
[..] a criança apropria-se dos bens culturais e, provavelmente, ingressa como elemento do meio
social na medida em que domina os instrumentos de origem social, pois a linguagem e os
diversos sistemas de símbolos possibilitam ultrapassar o nível da experiência ou da invenção
imediata e concreta.
Isso faz com que os adultos e as crianças não se misturam: os pais com seus compromissos
profissionais deixam suas crianças com as babás, televisão, vídeo-games, preenchem a agenda
dos filhos para que eles não sintam falta dos pais ausentes, a ausência de diálogo faz com que,
às vezes as crianças cresçam rejeitadas, desobedientes e agressivas.
adulto proporcionado um mundo próprio. Através dessa exclusão social, a criança reflete a sua
emoção na sala de aula, seja ela alegria, cólera ou medo.
Assim o diálogo dos pais com as crianças muitas vezes depende do diálogo do adulto com o seu
passado, na sua infância, mas é muito importante saber ouvir os filhos. Segundo Tiba (2002,p.
185): "Quando a criança sabe que poderá contar tudo aos pais sente-se mais forte e
participativa. Depois eles não devem deixar de ouvir o que ela que contar. é a maneira de estar
presente mesmo estando ausente".
Visto que as funções da família são: oferecer cuidados e proteção às crianças; dar suporte à
evolução da criança; contribuir para a socialização dos filhos em relação aos valores
socialmente constituídos; controlá-las e ajudá-las no processo de escolarização e de instrução
progressiva em outro âmbito e instruções sociais; dar suporte para as crianças serem pessoas
emocionalmente equilibradas, capazes de estabelecer vínculos afetivos satisfatórios e
respeitosos com os outros.
Sob a influência dos reformadores moralistas, paulatinamente se admitia que a criança não era
preparada para a vida, cabendo aos pais a responsabilidade pela formação moral e espiritual
dos filhos, o que levou ao aparecimento de sentimentos novos nas relações entre os membros
familiares: o sentimento moderno de família.
Já escola deverá garantir a aprendizagem de certos conteúdos essenciais como: leitura, escrita
etc., fazendo com que desperte aluno crítico, interessado e participativo dentro da sociedade.
Mas a maioria das crianças possui a dificuldade em estabelecer clareza entre as funções da
família e as funções da escola, principalmente quando os pais acham que a educação deve
partir da escola.
Segundo Miranda (1994, p. 129), "há dois tipos de pedagogia a Pedagogia Tradicional que traz
à educação ensino das normas e conteúdos morais contrariando a sua natureza selvagem".
Portanto o professor torna-se o centro da aprendizagem, e a Pedagogia Nova que vê a criança
como um ser pleno para a auto - realização, ela valoriza, ensina bem, mesmo que a minoria,
trazendo credibilidade na escola. A autora completa afirmando que:
Através desse processo de socialização vamos perceber como o meio pode proporcionar
condições para a criança construir a sua personalidade.
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O desenvolvimento é um processo contínuo, pois o homem nunca está pronto e acabado, esse
desenvolvimento refere-se ao mental e ao crescimento orgânico, conhecendo as características
comuns de uma faixa etária, reconhecendo as individualidades.
Segundo Almeida (1999, p. 44), "com a influência do meio, essa afetividade que se manifestava
em simples gestos lançados no espaço, transforma-se em meios de expressão cada vez mais
diferenciados, inaugurando o período emocional."
As relações familiares e o carinho dos pais exercem grande influência sobre a evolução dos
filhos, em que a inteligência não se desenvolve sem a afetividade. Segundo Almeida (1999,
p.50):
A afetividade, assim como a inteligência, não aparecem pronta nem permanece imutável.
Ambas evoluem ao longo do desenvolvimento: são construídas e se modificam de um período
a outro, pois, à medida que o indivíduo se desenvolve, as necessidades afetivas se tornam
cognitivas.
Isso mostra que estar presente na vida dos filhos é muito importante: sentar com eles; contar
uma história; contar as vitórias e as derrotas da vida; deixar que eles façam parte do seu
mundo. É muito importante também que os pais brinquem com seus filhos: role no tapete,
jogue bola e participe do seu dia ? a ? dia, essa afetividade pode trazer grandes benefícios para
a aprendizagem escolar da criança.
O desenvolvimento psíquico da criança dá-se através do meio social que ela convive. Segundo
Almeida (1999, p. 63) ao mencionar Wallon ela observa que "são as emoções que unem a
criança ao meio social: são elas que antecipam à intenção e o raciocínio."
Muitas vezes, as crianças não estão preparadas para entrarem na escola, pois essa entrada
significa o primeiro afastamento da família. Com isso o afeto da professora poderá ajudar
muito a criança se interagir com a escola e os colegas.
Segundo Tiba (2002, p.157) "Os pais não devem prometer trazer brinquedos, doces ou
figurinhas quando voltarem. É saudável que a criança sinta que a separação não mata ninguém
e comece a criar dentro de si mesma a noção de responsabilidade."
Conforme a criança vai crescendo, as crises emotivas reduzem os ataques de choro, birras,
surtos de alegria. Cenas tão comuns na infância são controladas pela razão, num trabalho de
desenvolvimento da pessoa. As emoções são subordinadas ao controle das funções psíquicas
superiores, da razão. A criança volta-se naturalmente ao mundo real, numa tentativa de
16
As três principais emoções que exercem ações na sala de aula são: o medo demonstrado
através de situações novas como responder alguma atividade, apresentar algum trabalho etc.;
a alegria, que traz inquietação, também pode trazer entusiasmo para a realização das
atividades; e por ultimo a cólera, que tem o poder de expor o professor diante da classe
trazendo desgastes físicos e emocionais.
Assim na maioria das vezes os professores não sabem lidar com as situações emotivas de sala
de aula, pois elas podem ser imprevisíveis.
Um exemplo disso é a atenção que é algo necessário dentro da sala de aula e qualquer
movimento significa desatenção, que é interpretado muitas vezes como indisciplina, podendo
assim atrapalhar tanto os coleguinhas como a professora. Segundo Almeida (1999, p. 90):
As reações posturais das crianças são normalmente interpretadas como desatenção. Assim, há
uma grande insistência pela contenção do movimento, como se sua simples eliminação
pudesse assegurar a aprendizagem da criança.
E são através desses movimentos que podem gerar emoções como a alegria, que ao se
produzir revela uma grande excitação motora, onde poderá ser trabalhado várias atividades
como: teatro, dinâmicas em grupo etc., fazendo com que seja atividades facilitadoras do
conhecimento.
Portanto, o professor tem que ser equilibrado emocionalmente na sala de aula, pois a
inteligência costuma ceder aos caprichos da emoção, o grande desafio é manter o equilíbrio
17
entre a razão e a emoção, para que o estado emocional não implique em exercer determinada
atividade cognitiva.
Muitas vezes os professores se revelam como um alvo frágil e fácil do aluno atingir. Essa falta
de aproximação entre o professor e a emoção deixa-o totalmente cego diante das expressões
na sala de aula.
Como meio social, é um ambiente diferente da família, porém bastante propício ao seu
desenvolvimento, pois é diversificado, rico em interações, e permite à criança estabelecer
relações simétricas entre parceiros da mesma idade e assimetria entre adultos. Ao contrário da
família, na qual a sua posição é fixa, na escola ela dispõe de uma maior mobilidade, sendo
possível a diversidade de papéis e posições. Dessa forma, o professor e os colegas são
interlocutores permanentes tanto no desenvolvimento intelectual como do caráter da criança,
o que poderá ser preenchido individual e socialmente.
Através dessas diversas interações, escola / família, professor / aluno, o meio proporciona
experiências essenciais para a construção da personalidade da criança, caracterizando-a assim
como ser humano, como sujeito do conhecimento e do afeto, possibilitando um maior
crescimento.
Lembrando também que a criança precisa ser reconhecida, ser elogiada, isso nutre a
afetividade da criança, pois demonstra o interesse do professor pela criança, fazendo com que
ela se sinta importante.
As primeiras aprendizagens das crianças ocorrem na primeira relação com a mãe (primeiras
palavras, gestos...). Nesta relação à criança constrói seu estilo particular de aprendizagem, que
sofrerá modificações à medida que a criança se relaciona com outros contextos. Segundo
Almeida (1999, p. 48):
Assim muitas crianças sofrem no primeiro dia de aula e outras não, muitas vezes os professores
não são compreensivos e isso faz com que os alunos não aprendam a matéria prejudicando-os
futuramente. São várias coisas que podem atrapalhar a vida escolar, as crianças que não são
disciplinadas e só fazem o que tem vontade, deixando assim os seus deveres escolares, outras
vezes, os pais só querem cobrar dos filhos fazendo ameaças e isso faz com que a criança não se
18
lembre de tudo que estudou. As crianças também podem ter dificuldades em manter a
concentração pensando na ameaça dos pais, nas brigas.
Os problemas de aprendizagem como leitura e escrita podem ser causas, sinais e evidências de
um processo educacional que está desarticulado ao longo de sua evolução histórica, sendo
necessário um resgate do processo de ensino ? aprendizagem, deixando aos educadores e aos
pais a incapacidade de entender tais problemas como a leitura e a escrita. Segundo Almeida
(1999: 91), "[...] é preciso que o professor esteja muito atento aos movimentos das crianças,
pois estes podem ser indicadores de estados emocionais que devem ser levados em conta no
contexto de sala de aula."
Para Bossa (2000, p. 18): "Sabemos que o sentidos das aprendizagens é único e particular na
vida de cada um, e que inúmeros são os fatores afetivos emocionais que podem impedir o
investimento energético necessário às aquisições escolares."
Mas existem dois fatores principais que interferem na aprendizagem, impossibilitando o fluxo
normal do processo de aprender: Primeiro são os fatores internos de ordem orgânico ou
psicológico (devemos analisar a história da criança, incluindo a avaliação de sua estrutura
familiar, para que se possa identificar como a aprendizagem é significada por este grupo). E o
segundo são os fatores externos ligados à metodologia de ensino, às condições sócio-
econômicas e ainda aos recursos do educador.
Cabe a instituição escolar contribuir para que a criança integre seu convívio na sociedade, de
outro lado à escola deve ajudar a família a solucionar o problema de seus filhos, reintegrando a
imagem que se tem deles. Algumas vezes sendo necessário encaminhamento a profissionais
especializados como psicólogos ou psicopedagogos. A escola, o educador e a família devem,
pois, ser testemunhas da possibilidade do conhecimento.
Para amenizar alguns problemas existem dois profissionais pelos quais trabalham com essa
área:
E o psicopedagogo clínico é aquele que tem uma clínica para atender os alunos também com
problemas escolares.
19
Na escola o psicopedagogo institucional vai atuar junto com os professores para a melhoria das
condições do processo de ensino e aprendizagem.
Uma vez que a ausência de uma educação que aborde a emoção tanto na sala de aula quanto
na família traz prejuízos que não poderão ser corrigidos pela ação pedagógica resultando em
grandes dificuldades de aprendizagem por parte do aluno.
Referências Bibliográficas
BOSSA, N. A. Dificuldades de aprendizagem: O que são? Como tratá- las? Porto Alegre: Artes
Médicas Sul, 2000.
Texto II:
RESUMO
Introdução
O objetivo primeiro deste texto é expor conceitos fundamentais da teoria walloniana para a
compreensão da dimensão afetiva e de sua relevância no desenvolvimento do processo
ensino-aprendizagem. Outro objetivo é suscitar reflexões sobre a prática daqueles que forem
afetados pelo texto.
— integração organismo-meio
• concepção de afetividade:
— emoções
— sentimentos
— paixão
• evolução da afetividade:
• porque podem indicar possíveis direções, que consideramos essenciais para levar em conta
quando se pretende um ensino-aprendizagem mais produtivo e mais satisfatório, tanto para o
professor como para o aluno.
O processo ensino-aprendizagem só pode ser analisado como uma unidade, pois ensino e
aprendizagem são faces de uma mesma moeda; nessa unidade, a relação interpessoal
professor-aluno é um fator determinante. Esses atores são concretos, históricos, trazendo a
bagagem que o meio lhes ofereceu até então; estão em desenvolvimento, processo que é
aberto e permanente.
No pólo ensino temos um professor que, para atingir seus objetivos, deve ter clareza de alguns
pontos:
• que, ao desempenhar todas as suas tarefas no cotidiano escolar, revela diferentes saberes
(conhecimento específico de sua área e de como comunicá-la aos alunos, habilidades de
relacionamento interpessoal, conteúdos da cultura) que são, no dizer de Tardif (2000, 2002),
temporais, plurais e heterogêneos; esses saberes são construídos no tempo, na socialização
familiar, escolar, profissional, numa integração cognitiva-afetiva (conhecimentos, concepções,
crenças, valores);
O grande desafio do professor, que teve uma formação na qual sua integração não foi levada
em conta, é enxergar seu aluno em sua totalidade e concretude.
• nesse meio, professor e aluno são afetados um pelo outro, e, ambos, pelo contexto onde
estão inseridos;
• a não satisfação das necessidades afetivas, cognitivas e motoras prejudica a ambos, e isso
afeta diretamente o processo ensino-aprendizagem:
• Estabelece uma relação fecunda entre Psicologia e Educação. Na aula inaugural no Collège de
France, na cadeira Psicologia e Educação da Criança, criada por Pièron em 1937, afirma Wallon:
"Entre a Psicologia e a Educação as relações não são de uma ciência normativa e de uma
ciência ou arte aplicada". Ou seja, Psicologia e Pedagogia constituem momentos
complementares de uma mesma atitude experimental.
• Embora não sendo um pedagogo, toda sua obra está impregnada de elementos que
permitem elaborar uma proposta de educação, o que levou Snyders a afirmar, ao homenageá-
lo por ocasião do centenário de seu nascimento, no 2º Congresso Internacional de Psicologia
da Criança, realizado em Paris, em 1979:
Nacional, com a incumbência de reformar o sistema de ensino francês após a Segunda Guerra
(durante a qual Wallon trabalhara na Resistência Francesa). Inicialmente, o físico Paul Langevin
foi designado presidente da Comissão, e, após sua morte, a presidência ficou a cargo de
Wallon. A diretriz norteadora do Projeto foi construir uma educação mais justa para uma
sociedade mais justa. As ações propostas repousam sobre quatro princípios:
— Cultura geral — Não pode haver especialização profissional sem cultura geral. Em um estado
democrático, no qual todo trabalhador deve ser um cidadão, é indispensável que a
especialização não seja um obstáculo para a compreensão dos problemas mais amplos; só uma
sólida cultura geral libera o homem dos estreitos limites da técnica; a cultura geral aproxima os
homens, enquanto a cultura específica os afasta.
• É difícil abranger, com uma só teoria, toda a complexidade dos fenômenos estudados; se, por
um lado, ela ilumina alguns aspectos desses fenômenos, outros ficam obscurecidos.
• Integração organismo-meio
• Integração cognitiva-afetiva-motora
Integração organismo-meio
Estas revoluções de idade para idade não são improvisadas por cada indivíduo. São a própria
razão da infância, que tende para a edificação do adulto como exemplar da espécie. Estão
inscritas, no momento oportuno, no desenvolvimento que conduz a esse objetivo. As
incitações do meio são sem dúvida indispensáveis para que elas se manifestem e quanto mais
se eleva o nível da função, mais ela sofre as determinações dele: quantas e quantas atividades
técnicas ou intelectuais são à imagem da linguagem, que para cada um é a do meio!... (Wallon,
1995, p. 210)
• a 3ª distinção, também específica da espécie humana, refere-se a dois tipos de meios: meio
físico, espacial e temporalmente determinado, que é o das reações sensório-motoras, dos
objetivo atuais, da inteligência das situações e meio fundado sobre a representação, no qual as
situações são simbólicas e implicam a utilização de conceitos.
Wallon afirma que o estudo da criança exige o estudo do meio ou dos meios em que ela se
desenvolve. Sobre o meio, conjunto mais ou menos duradouro das circunstâncias nas quais se
desenvolvem as pessoas, esclarece ele:
Integração afetiva-cognitiva-motora
Duas afirmações de Wallon são esclarecedoras da discussão que vamos fazer sobre afetividade,
de per si:
Os domínios funcionais entre os quais se dividirão o estudo das etapas que a criança percorre
serão, portanto, os da afetividade, do ato motor, do conhecimento e da pessoa. (Wallon, 1995,
pp. 131 e 135)
Os conjuntos ou domínios funcionais são, portanto, constructos de que a teoria se vale para
explicar o psiquismo, para explicar didaticamente o que é inseparável: a pessoa.
O conjunto afetivo oferece as funções responsáveis pelas emoções, pelos sentimentos e pela
paixão — e será detalhado oportunamente.
No caso específico do conjunto afetividade, ele tem sua origem nas sensibilidades internas de
interocepção (ligadas às vísceras) e de propriocepção (ligadas aos músculos), que são
responsáveis pela atividade generalizada do organismo. Essas sensibilidades, junto com as
respostas dos outros do seu entorno — sensibilidade de exterocepção (ligada ao exterior) —,
vão provocando sentimentos e emoções cada vez mais específicos: medo, alegria, raiva,
posteriormente ciúmes, tristeza, etc.
• da alternância de direções
• processos afetivos são todos os estados que fazem apelo a sensações de prazer/desprazer ou
ligados a tonalidades agradáveis/desagradáveis;
Afetividade
Emoção
— A emoção aparece desde o início da vida, com os espasmos do recém-nascido. Estes não são
apenas um ato muscular, de contração dos aparelhos musculares e viscerais: existe bem-estar
ou mal-estar tanto no espasmo como na sua dissolução. Tensão é provocada pela energia
retida e acumulada: riso, choro, soluço aliviam a tensão dos músculos;
— Das oscilações viscerais e musculares vão se diferenciando as emoções: medo, alegria, raiva,
ciúme, tristeza. A cada uma, passa a corresponder um padrão postural, que libera ou concentra
28
— A emoção dá rapidez às respostas, de fugir ou atacar, em que não há tempo para deliberar. É
apta para suscitar reflexos condicionados;
• sincretismo subjetivo quando não sabe como se distinguir das outras pessoas;
• sincretismo objetivo quando não sabe como se distinguir das coisas do ambiente;
• portanto, predomínio cognitivo: imagens mais claras; predomínio afetivo: imagens menos
claras.
Sentimento
Paixão
— Revela o aparecimento do autocontrole para dominar uma situação: tenta para isso silenciar
a emoção;
A dimensão temporal do desenvolvimento que vai do nascimento até a morte está distribuída
em estágios que expressam características da espécie e cujo conteúdo será determinado
histórica e culturalmente.
Cada estágio, na teoria de Wallon, é considerado como um sistema completo em si, isto é, a
sua configuração e o seu funcionamento revelam a presença de todos os componentes que
constituem a pessoa.
criança está sendo vista, que ela tem visibilidade no grupo pelas suas diferenças, propor
atividades que mostrem essas diferenças, dar oportunidades para que a criança as expresse.
Nesse estágio, que coincide com o início do período escolar, a aprendizagem se faz
predominantemente pela decoberta de diferenças e semelhanças entre objetos, imagens,
idéias. O predomínio é da razão. Esse predomínio vai se expressar em representações claras,
precisas, que se transformarão, com o tempo — é um processo longo —, em conceitos e
princípios. Levar ou não em consideração o que o aluno já sabe, o que precisa saber para
dominar certas idéias, os exercícios necessários, formas de avaliação, revelam sentimentos e
valores e favorecem ou não essa descberta do mundo.
Outro ponto importante é saber e aceitar que todo conhecimento novo, não familiar, implica,
na sua aprendizagem, um período de imperícia, resultante do sincretismo inicial. Esse
sincretismo inicial vai se desmanchando com as atividades propostas, mas é importante
considerá-lo como parte integrante do processo ensino-aprendizagem. À medida que ele
evolui, a imperícia é substituída pela competência.
Nessa fase, apesar de todas as transformações ocorridas nas anteriores, ele se reconhece como
o mesmo e único ser. É capaz de afirmar com certa segurança: Eu sei quem eu sou. Ou seja,
conhece melhor suas possibilidades, suas limitações, seus pontos fortes, suas motivações, seus
valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais adequadas nas diferentes
situações de vida. Ser adulto significa ter desenvolvido uma consciência moral: reconhecer e
assumir com clareza seus valores e dirigir suas decisões e escolhas de acordo com eles. É essa
definição de valores e compromissos com eles que marca o fim da adolescência, cuja
característica primordial foi a luta por essa definição. Com maior clareza de seus valores, o
adulto estará mais livre e com mais energias para voltar-se para o outro, para fora de si, em
condições de acolher o outro solidariamente e a continuar a se desenvolver com ele. Esse é um
indicador de amadurecimento: conseguir um equilíbrio entre "estar centrado em si" e "estar
centrado no outro", um equilíbrio nas direções para dentro — conhecimento de si — e para
fora — conhecimento do mundo. Daí a importância do professor adulto: tem melhores
condições para o acolhimento do outro, de seus alunos e de seus pares.
• Imitação
• Acolhimento
Importante em qualquer idade: acolhimento da criança e do jovem pelo grupo familiar, grupo
de amigos, grupo de colegas, professores; acolhimento do professor pela direção, pelos seus
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pares, pelo seu entorno, pelos seus alunos. A sala de aula — uma oficina de relações — é/não
é um espaço de acolhimento.
• Situações conflitivas
Quando não são satisfeitas as necessidades afetivas, estas resultam em barreiras para o
processo ensino-aprendizagem e, portanto, para o desenvolvimento, tanto do aluno como do
professor.
• Processo ensino-aprendizagem
— Além da teoria, o planejamento deve incluir os dados da experiência que o professor traz,
decorrente de uma observação sensível no seu contato com o aluno.
33
Referências
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Snyders, G. (1979). Em que sentido podemos falar atualmente de uma pedagogia walloniana?
Enfance, n. 5.
Texto III:
- O que é aprender?
- Aprender é ... como quando papai me ensinou a andar de bicicleta. Eu queria muito andar de
bicicleta. Então ... papai me deu uma bici ... menor do que a dele. Me ajudou a subir. A bici
sozinha cai, tem que segurar andando...
- Dá um pouco de medo, mas papai segura a bici. Ele não subiu na sua bicicleta grande e disse
“ assim se anda de bici” ... não, ele ficou correndo ao meu lado sempre segurando a bici ...
muitos dias e, de repente, sem que eu me desse conta disso, soltou a bici e seguiu correndo ao
meu lado. Então eu disse: Ah! Aprendi!
Este texto tem um encanto simples, mas significativo que relata tantas verdades em poucas
palavras. Leio, releio prazerosamente e percebo o quanto é recheado de afetos e
ensinamentos.
Partindo deste ponto, posso afirmar que o vínculo afetivo quando presente, torna diferente a
relação do sujeito com o aprender, propicia-lhe a oportunidade de ser visto com competências
e olhado com possibilidades e respeito.
Voltou-me com clareza a lembrança de pessoas queridas, que fizeram parte da minha
caminhada e tanto acrescentaram em meu saber. A presença de experiências marcantes vividas
com meus primeiros ensinantes continua atuando positivamente, reforçando a afirmação de
que o vínculo recheado de afeto deixa marcas.
Tenho sido educadora há muitos anos e remetendo-me à esta vivência, percebi que o
sentimento de afeto ao qual delego importância influenciou e até mudou minha postura frente
ao processo de aprender. Inevitavelmente, fiz uma relação entre a aluna que fui e a professora
que sou hoje.
Tenho visto, entretanto rupturas neste importante vínculo, fruto de algumas posturas imaturas
e superficiais na relação professor / aluno, onde o autoritarismo erroneamente confunde o ato
de dar uma nota baixa com a postura de um professor exigente.
Será que ser exigente é fazer uso da nota como meio de controlar o aluno?
Será que ainda estamos vivendo na época em que os acertos de contas professor / aluno eram
feitos através das notas, que ficavam sob o domínio absoluto da subjetividade de cada
professor?
Avaliação e nota de aluno são temas intensamente discutidos nos meios acadêmicos. Ainda
não foi encontrada uma forma absolutamente justa de aplicação. A meu ver, devemos ter
como termômetro, o olhar focado, para detectar o que o aluno sabe.
Quando isto não ocorre e fatos como os citados acontecem, tiramos dele mais do que as notas
no boletim. Tiramos notas da construção, da auto-estima e das possibilidades do indivíduo
constituir-se como SER único.
Em sala de aula, transmitimos mais que palavras; transmitimos também crenças, e conteúdos
que vão além das linhas dos livros.
Acredito naquele professor que se envolve afetivamente e se vê como formador, que crê na
missão de que ensinar vai além dos conteúdos dos livros didáticos.
Com propriedade, Alicia Fernández e Sara Pain nos dizem que para aprender são necessários
dois personagens, o ensinante e o aprendente e um vínculo que se estabelece entre ambos.
(FERNÁNDEZ, 1991.p.48)
Quando este olhar permeado de afetos, em que os diferentes vínculos circularam acontece, há
espaço para que o aluno seja ativo e autor do próprio conhecimento. Aí sim, há um despertar,
uma vontade de apropriar-se do conhecimento. Há então um real aprendizado e o encontro
efetivo de quem ensina com quem aprende. Este envolvimento dá a oportunidade para que
haja um movimento na direção do desabrochar de cada um.
36
Enfim, para concluir, as relações permeadas pelo vínculo afetivo contribuem para reparar
possíveis fraturas no processo de aquisição do conhecimento de cada um dá espaço para que
haja um aprendizado que transforma interiormente propiciando a ele o saber fazer e ser
atuante com possibilidades de posicionar-se frente a uma sociedade exigente e em constante
movimento.
Posso então afirmar que o afeto faz diferença na construção do sujeito e deixa marcas em suas
conquistas.
Cecília G.M. Faro - Psicopedagoga formada pela PUC-SP com especialização em dislexia;
Pedagoga atuando na rede particular,no ensino Fundamental desde 1976.
37
Texto IV:
Introdução
As emoções estão presentes em todo momento de nossas vidas, nas relações com objetos e
principalmente com o outro, onde se criam laços afetivos que levamos pelo resto de nossas
vidas. Foi pensando na afetividade, que todo ser humano precisa para viver é que surgiu o
desejo de estudar a importância da afetividade no âmbito escolar, pois o educador precisa ver
o aluno como um ser inteiro que pensa e que possui sentimentos, afetos, percepções... .
Vivemos em um mundo onde os laços afetivos estão se afrouxando, onde muitas crianças não
conhecem, desde a vida uterina, o que é afeto e buscam nas escolas e muitas vezes com
professores o que lhes faltam em casa. Por isso o professor tem de conhecer o histórico
familiar de cada aluno para poder com carinho e afeto tentar ampliar as referências de mundo
e trabalhar as potencialidades que cada aluno possui aumentando na sua auto-estima.
O vínculo afetivo poderá ser estabelecido, muitas vezes, no primeiro olhar se visto
também na perspectiva dos casais que buscam através da adoção seu filho, é comum ouvir
38
depoimentos, de alguns casais, dizendo que o amor por tal criança nascera pelo olhar que
ambos se lançaram.
Segundo (MANOUG,1998, p.51) quando isto ocorre cabe ao Estado assegurar aos cidadãos tais
direitos para que a criança possa desfrutar de bens que apenas a dimensão afetiva pode
fornecer. O vínculo, neste caso apresenta-se como uma dimensão política e passa a fazer parte
de pautas das políticas públicas.
Todo ser humano necessita do outro significativo para sobreviver e através do contato com
este outro, o indivíduo passa a aprender com ele e criar laços afetivos. Um dos lugares onde a
criança mais se relaciona com o outro é na instituição escola: ela interage, brinca, aprende ...
Com isto fica notória a relação entre a afetividade e o desenvolvimento cognitivo: o sentir e o
pensar estão totalmente ligados.
Metodologia
O quadro teórico foi explicitado pela fundamentação em (ARROYO, 2000), (BOWLBY, 1989),
(TIBA, 1996), (FREUD, 1926), (FERNANDEZ, 1991), (MARCHAND, 1985) (MOULY, 1970), dentre
outros autores da atualidade que orientaram também muitos dos conhecimentos sobre a
constituição do vínculo.
Resultados e discussão
A afetividade não é apenas uma das configurações da pessoa: ela é também uma fase do
desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida puramente orgânica,
um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no início
da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o predomínio da
primeira. (PIAGET, 1980).
Para o autor, as teorias sobre emoções podem apresentar base mecanicista, difíceis de serem
compreendidas. Primeiro, ele as vê como reações sem harmonia entre as idéias e
desordenadas depois destaca o poder de propulsor das emoções vistas como positivas.
A dimensão afetiva, que é de fundamental importância para (WALLON, 1982), seja do ponto de
vista da construção da pessoa como do ponto de vista do conhecimento, será marcante para o
desenvolvimento da espécie humana que se manifesta a partir do nascimento e estende-se
pelo primeiro ano de vida da criança.
40
Assim, vemos que para (WALLON, 1982), a afetividade, além de ser uma das dimensões da
pessoa, é uma das fases mais antigas do desenvolvimento, pois o homem logo que deixou de
ser puramente orgânico passou a ser afetivo e, da afetividade, lentamente passou para a vida
racional.
Para o autor, é na escola maternal, que a criança começa a se emancipar da vida familiar. Nesse
período, é necessário disciplina para que a criança seja feliz, uma disciplina de ordem maternal,
diferente da que virá receber mais tarde na escola. É necessário, também, que haja relações de
ordem pessoal entre ela e seu educador, quase que de ordem maternal.
Para Piaget, todo processo de desenvolvimento inerente ao ser humano passa pela dimensão
social e envolve cognição, afeto e moral. Sua teoria, portanto, vem esclarecer e fortalecer mais
ainda a relação professor-aluno, caracterizada, positiva ou negativamente, pelas intenções
afetivas que por ela perpassam.
Segundo ele, durante os últimos trinta anos, tanto psicólogos, quanto educadores, voltaram a
atenção mais para o papel dos conceitos cognitivos do que para os conceitos afetivos da sua
teoria. Ele próprio, mesmo reconhecendo o aspecto afetivo como importante, concentrou sua
atenção mais no aspecto cognitivo. (PIAGET, 1980).
Não há comportamento afetivo sem vínculo cognitivo ou vice-versa, há apenas uma diferença
de natureza. O interesse, para Piaget, é o elemento poderoso e comum de afetividade que, por
sua vez, influencia a seleção de atividades intelectuais, ou seja, a seleção não é provocada
pelas atividades cognitivas, mas pela afetividade.
Nesta perspectiva, o relacionamento entre professor e aluno deve ser de amizade, de troca de
solidariedade, de respeito mútuo, enfim, não se concebe desenvolver qualquer tipo de
aprendizagem.
O professor, em colaboração com seus alunos e de acordo com sua individualidade, modifica
suas próprias idéias em conformação com a realidade, que é móvel e dependente da existência
de todos, e que também deve visar ao interesse de cada um.
A experiência professor-aluno para que seja significativa, deve ser permeada por afetividade, já
que cognição e afeto caminham lado a lado na trilha do conhecimento humano. Por isto
mesmo, aprender é uma forma de desenvolvimento de competências individuais, além de ser
um exercício constante em estar de braços abertos para todo e qualquer conhecimento.
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A busca da realização é uma das motivações básicas do ser humano; pode atuar fortemente
em sala de aula, em benefício da aprendizagem.
Conclusão
É fundamental que a criança seja estimulada em sua criatividade e que seja respondida às suas
curiosidades por meio de descobertas concretas, desenvolvendo a sua auto-estima, criando em
si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida adulta.
É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos no sentido de motivá-
los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem-
sucedida não depende apenas de uma boa escola ou de bons programas, mas, principalmente,
de como a criança é tratada em casa e dos estímulos que recebe para aprender;
É preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando a criança está
em casa.
As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o que acontece
nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado
com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de
aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que promovam o
desenvolvimento.
Referências
- BOWLBY, J. Apego e perda: apego,v.1/John Bowlby. Tradução de Álvaro Cabral. 3ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2002.
- BRUNER, J. Realidade mental, mundos possíveis. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.
- MANOUG, S. K. Família brasileira, a base de tudo. 3. ed. – São Paulo : Cortez; Brasília, Df :
UNICEF, 1998.
MINUCHIN, S. Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.
Tradução de Ana Maria Netto Machado . Porto Alegre, Artes Médicas, 1985.
TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. São Paulo:1ª ed. - Editora Gente, 1996.
43
Texto V:
CAPÍTULO II
2. A EMOÇÃO E A AFETIVIDADE
Falar de afetividade é, de certa forma, falar da essência da vida humana no sentido em que o
ser humano, social por natureza, se relaciona e se vincula a outras pessoas desde sempre,
sendo feliz e sofrendo em decorrência dessas inter-relações.
"As emoções são os mecanismos que desencadeiam os objetivos no mais alto nível do
cérebro."(FIALHO, 201, p. 216)
Uma razão principal para valorizar estes padrões está em que ela fornece alguns conceitos a
serem provados na teoria. Muitos deles referem-se à formação de vínculos afetivos, como os
que ligam os filhos aos pais e os pais aos filhos.
Sendo censurada e desprezada, a criança acaba por inibir seu comportamento de apego e
sufocar seus sentimentos, interferindo desta maneira no seu desenvolvimento intelectual,
social e emocional. Além disso, passa a considerar, como os pais, o seu anseio de amor como
uma fraqueza, sua raiva como um pecado e seu pesar como infantil (BOWBY, 1998: 234).
É impossível pensar que eu nunca mais me sentarei com você e ouvirei seu riso. Que todos os
dias pelo resto de minha vida você estará distante. Não terei ninguém para falar de meus
prazeres. Ninguém para me convidar a caminhar, para ir “ao terraço”. Escrevo meu livro vazio.
Choro num quarto vazio. E jamais poderá haver qualquer consolo. CARRINGTON (1996)
(...) muitas das mais intensas emoções humanas surgem durante a formação, manutenção,
rompimento ou renovação dos vínculos emocionais (...) (BOWBY, 1998: 235).
Para FREIRE (1986), o querer bem não significa a obrigação a querer bem a todos os alunos de
maneira igual. Significa, na verdade, que a afetividade não é assustadora, que não é preciso ter
medo de expressá-la. Significa essa abertura ao querer bem o modo de autenticamente selar o
compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano, separando como
falsa a separação radical entre a seriedade docente e afetividade. FREIRE(1986) diz ainda, que
não é certo sobretudo do ponto de vista democrático, que o professor será tão melhor quanto
mais severo, mais distante e “cinzento”, colocando-se nas relações com os alunos, no trato dos
objetos cognoscíveis que deva ensinar. A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade.
Entretanto, o que não pode-se permitir é que a afetividade interfira no cumprimento ético do
dever de professor e no exercício da sua autoridade.
Para sobreviver, o ser humano necessita estabelecer uma relação estável com um ou mais
adultos em seu ambiente. Essa relação, onde determinados padrões afetivos são
desenvolvidos, fornece a base a partir da qual podem ocorrer as transformações no
comportamento da criança. É, pois, na relação com determinados adultos que o indivíduo
inicia a construção dos seus esquemas (perceptuais, motores, cognitivos, lingüísticos) e de sua
afetividade (DAVIS, 1994:81).
A criança sente necessidade da presença dos pais ou de um outro adulto para lhe dar
segurança física e emocional, levando-a à exploração do ambiente em que está inserida e,
portanto, a aprender. Como elemento essencial, este interagir da criança com uma pessoa
adulta, mais precisamente os pais, envolve a emoção, a afetividade. Assim, é através da
interação com indivíduos mais experientes do seu meio social que a criança constrói as suas
funções mentais superiores, como afirma Vygotsky(1991), ou forma a sua personalidade, como
defende Freud (apub DAVIS, 1994: 82) .
Analisando a teoria freudiana, constata-se que o indivíduo age de acordo com a sua excitação,
com a sua energia, com seus instintos. O aspecto referente às atitudes comportamentais, aos
motivos, pensamentos e emoções constitui o instinto, que é a fonte de todos os impulsos
46
Ao nascer, tem-se uma estrutura psíquica chamada Id; para agir, o recém - nascido dispõe
apenas desta estrutura, que atua como um reservatório de energia instintiva. As ações do bebê
quando nasce visam satisfazer as suas necessidades básicas e imediatas. A criança nasce com
um determinado temperamento, com desejos e necessidades, impulsos e a percepção que é
responsável e auxilia no desenvolvimento. Isso a dirige, portanto, para a busca do prazer. Essa
percepção vai condicionando a criança a se relacionar com as pessoas, com o mundo de forma
diferente umas das outras.
Freud também enfatizou a qualidade instintiva das ligações afetivas que seriam manifestações
do instinto sexual da criança. Por intermédio da sua experiência com o meio em que vive e
dependendo de sua maturação orgânica, a criança atravessa vários estágios de
desenvolvimento que, para Freud, estariam ligados aos lugares do corpo que servem como
fonte primária de prazer. O desenvolvimento da personalidade seguiria um padrão fixo, com
estágios determinados, de um lado, pelas mudanças maturacionais no corpo e, de outro, pelo
tipo de relacionamento que a criança estabelece com adultos significativos do seu meio, em
especial com o pai e a mãe (DAVIS, 1994: 83).
Portanto, merece atenção especial o tratamento e a atenção que a mãe, o pai ou outros
adultos fornecem à criança, interagindo com os desejos e as necessidades do momento.
Acontece, então, a construção da personalidade e da sua identidade através da construção de
significados referente às ligações que o ser humano estabelece com os outros e com o mundo
que o cerca, fazendo com que se diferencie das outras pessoas.
Uma pessoa é diferente da outra, portanto cada uma delas processa as informações ligadas à
perda ou falta de afetividade de sua própria maneira, de acordo com suas características e
relacionadas com a área cognitiva e emocional atingida.
A angústia nas crianças nada mais é, originariamente, do que expressão do fato de estarem
sentindo a perda da pessoa amada. FREUD (1974)
As emoções estão presentes quando se busca conhecer, quando se estabelece relações com
objetos físicos, concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição constituem aspectos
inseparáveis, presentes em qualquer atividade, embora em proporções variáveis. A afetividade
e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos. O afeto pode, assim, ser
entendido como a energia necessária para que a estrutura cognitiva passe a operar. E mais: ele
influencia a velocidade com que se constrói o conhecimento, pois, quando as pessoas se
sentem seguras, aprendem com mais facilidade.
Algumas manifestações, como lágrimas, gritos, sorrisos, um olhar, podem indicar possíveis
sentimentos de uma pessoa, incluindo assim, expressividade e comunicação. Por outro lado, o
afeto é um regulador da ação, que influencia nas atitudes do indivíduo. Dessa forma, amor,
ódio, tristeza, alegria ou medo levam o indivíduo a procurar ou evitar certas pessoas ou
experiências.
GARDNER(1995), baseou sua teoria em muitas idéias diferentes, mas a principal delas sustenta
que as pessoas manifestam as mais distintas habilidades – para compor uma música, construir
um computador ou uma ponte, organizar uma campanha política, produzir um quadro, além de
muitas outras, e que todas estas atividades requerem algum tipo de inteligência, mas não
necessariamente o mesmo tipo de inteligência.
Para GARDNER(1995), as pessoas possuem capacidades, da quais se valem para criar algo,
resolver problemas e produzir bens sociais e culturais, dentro de seu contexto.
• As inteligências se combinam de forma única em cada pessoa: cada pessoa nasce com
todas as inteligências que se desenvolverão durante sua vida, de modo único.
• Nada há como padronizar: as combinações das inteligências são únicas, tal como as
impressões digitais.
GARDNER(1995) afirma que a inteligência é responsável por nossas habilidades para criar,
resolver problemas e fazer projetos, em uma determinada cultura. Segundo ele, cada indivíduo
possui alguns tipos diferentes de capacidade, que caracterizam sua inteligência.
• A inteligência como habilidade para criar: como seres humanos, podemos inventar e
descobrir. Sempre pensamos em fazer coisas de um modo novo, sob um ângulo diferente.
Portanto, a capacidade criadora que nos move é uma característica própria da inteligência
humana.
Quanto ao ambiente educacional, GARDNER(1995) chama atenção para o fato de que, embora
as escolas declarem que preparam seus alunos para a vida, a vida certamente não se limita
apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento de
diversas disciplinas básicas; que encoragem seus alunos a utilizar esse conhecimento para
resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a
que pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais, a
partir da avaliação regular do potencial de cada um.
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GARDNER(1995) afirma que não há receitas para promover a educação de acordo com a teoria
das inteligências múltiplas, isso significa que não há uma metodologia das inteligências
múltiplas, pois não existe uma rota direta entre a pesquisa científica e a prática diária da
escola.
À medida que se sente em um meio sobre o qual pode agir e no qual pode discutir, decidir,
realizar e avaliar, o aluno adquire condições para a aprendizagem e vive situações favoráveis a
ela. Dessa forma, nosso trabalho educativo não pode se realizar de maneira eficaz a não ser na
situação de classes cooperativas.
É preciso que os alunos, enquanto estão na classe, se sintam trabalhando em um lugar que tem
sentido para eles, podendo assim se engajar na própria aprendizagem.
O ambiente da sala de aula pode ser visto como uma oficina de trabalho de professores e
alunos, um espaço estimulante e acolhedor, de trabalho sério, organizado e alegre.
50
Pensando assim, os instrumentos úteis para a realização das atividades precisam estar ao
alcance de todos, em uma organização funcional e sugestiva. É possível reservar na sala de aula
um canto para deixar os livros, jogos, material para recorte e colagem, quebra-cabeças etc. a
classe também pode ser organizada de modo a gerar espaços para desenvolver atividades em
grupo, realizar trabalhos em duplas ou individualmente e oferecer condições para o professor
conversar com a classe toda.
O importante nessa organização toda é que seja estabelecido um contrato entre professor e
alunos, para o bom andamento das atividades na comunidade- classe e, consequentemente,
na comunidade-escola. Dessa forma, todos terão consciência dos papéis e das atribuições de
cada um no processo de trabalho escolar, percebendo que há muitos pontos de contato entre
as diferentes funções, mas há também especificidade inerentes a cada uma.
Segundo MARMILICZ (1999, p.133):"A motivação indica fatores internos ao sujeito que, junto
aos estímulos da situação, determinam a direção e a intensidade da conduta daquele sujeito
no momento preciso."
51
Interagir com os colegas auxilia os alunos a construir seu conhecimento, aprender outras
formas de pensar nas idéias e tornar mais claro seu próprio pensamento – enfim, ajuda-os a
construir significados, pois "ensinar não é só falar, as se comunicar com credibilidade".
(MORAN et al. 2000, p.62)
Representar, ouvir, falar, ler e escrever são competências básicas de comunicação. Por isso, se
sugere que o ambiente previsto para o trabalho contemple momentos para:
• Trabalho em grupo;
• Atividades de jogos;
Quando colocada em evidência, a idéia de um aluno provoca uma reação nos demais,
formando uma teia de interações e permitindo que diferentes inteligências se mobilizem no
decorrer da discussão.
Nas primeiras ações planejadas a partir da teoria das inteligências múltiplas, o professor
desempenha o papel de estimulador das competências e organizador das atividades. No
entanto, com o passar do tempo, ele vai propiciando condições para os alunos se tornarem
responsáveis pela aprendizagem e também pelo aprimoramento de seu espectro de
competências.
Os alunos são tratados como indivíduos capazes de construir, modificar e integrar idéias; para
tanto, precisam ter a oportunidade de interagir e relacionar-se com outras pessoas, com
objetos e situações que exijam envolvimento, dispondo de tempo para pensar e refletir acerca
de seus procedimentos.
Estimular o aluno a controlar e corrigir seus erros, refletir sobre seus atos, rever suas respostas
e observar seu progresso permite que ele identifique os pontos em que falhou e aqueles em
que foi bem- sucedido, procurando entender por que isso ocorreu.
A consciência dos acertos, erros e lacunas ajuda o aluno a compreender seu próprio
processo de aprendizagem, desenvolvendo sua autonomia para continuar a aprender. E as
atividades selecionadas pelo professor precisam favorecer tais possibilidades.
Em todas as situações, tanto as colocações do professor quanto as dos alunos podem ser
questionadas, desde que haja um clima de trabalho adequado à participação de todos e à
elaboração de questões.
Isso só ocorre se todos os membros do grupo respeitarem e discutirem as idéias dos outros.
Os alunos devem perceber que ser capaz de explicar e justificar seu raciocínio é tão importante
quanto ouvir e respeitar as explicações dos colegas; e que saber como resolver um problema é
tão importante quanto obter sua solução.
De acordo com a Teoria das Inteligências Múltiplas, cada inteligência deve apresentar um
grupo de componentes que formam a base dos mecanismos de processamento de informações
necessários para lidar com um determinado tipo de situação. Gardner propõe que talvez seja
possível definir a inteligência humana como um mecanismo neural ou um sistema
computacional, geneticamente programado para ser ativado por certos tipos de informação
(GARDNER, 1995). Esse sistema é desdobrado em sete componentes:
• Inteligência corporal cinestésica: é uma das competências que as pessoas acham mais
difícil de aceitar como inteligência. Cinestésia é o sentido pelo qual percebemos nosso corpo –
movimentos musculares, peso e posição dos membros etc. então, a inteligência cinestésica se
refere à habilidade de usar o corpo todo, ou partes dele, para resolver problemas ou moldar
produtos. Envolve tanto o alto controle corporal quanto à destreza para manipular objetos.
Atores, mímicos, dançarinos, malabaristas, atletas, cirurgiões e mecânicos têm uma inteligência
corporal cinestésica bem – desenvolvida.
Devemos pensar nessas sete inteligências pelo menos como sete habilidades que caracterizam
nossa espécie e que se desenvolveram ao longo do tempo. De maneira geral, todos nós temos
parcelas expressivas de cada uma delas, mas o que nos diferencia é a maneira pela qual elas se
configuram, ou o perfil de nossos pontos fortes e fracos. Além disso, uma inteligência nunca se
manifesta isolada, no comportamento humano. Cada tarefa, ou cada função, envolve uma
combinação de inteligência.
O uso mais amplo do termo “inteligência” levou algumas pessoas a perguntar: Por que sete?
Por que não setenta, ou setecentas? Nada há de mágico no número sete. Com o passar do
tempo e a observação, segundo o próprio GARDNER(1995), poderemos constatar que essa
proposta deixou de lado certas inteligências, ou incluiu outras que não deveriam compor o
espectro. Esse espectro é compreendido como o conjunto de habilidades ou de competências,
que formam as inteligências múltiplas – com todas suas combinações, variações e
“totalidades”.
O grande valor da teoria das inteligências múltiplas reside na introdução de critérios de análise
que os pesquisadores podem usar para debater o conceito de inteligência. Recentemente,
Gardner apresentou uma oitava inteligência, a naturalista, relacionada com a sensibilidade
para o meio ambiente. Alguém que é sensível ao mundo natural, como por exemplo, um
jardineiro, um fazendeiro ou um paisagista, possui essa inteligência bem- desenvolvida.
Alguns princípios fundamentais podem ser destacados na teoria das inteligências múltiplas:
2- Apesar das distinções, as inteligências interagem. Nada seria feito, ou nenhum problema se
resolveria, se as distinções e a independência impedissem as inteligências de trabalharem em
conjunto. GARDNER (1995) considera, por exemplo, que seria difícil resolver um problema de
matemática sem utilizar também as dimensões lingüísticas e espacial. Mais que isso, ele afirma
que cada papel cultural assumido pelo indivíduo na sociedade, seja qual for o grau de
sofisticação, requer uma combinação de inteligência.
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3- A inteligência não é única e não pode ser medida. GARDNER(1995) afirma que sua teoria se
contrapõe a esse modo de pensar a inteligência porque questiona o conceito tradicional, uma
vez que tem uma “visão pluralista da mente”. Essa visão reconhece muitas facetas diferentes e
separadas do conhecimento e da percepção humana, acreditando que as pessoas têm forças e
estilos de aprendizagem e conhecimento diferenciado, e até contrastantes. Esses aspectos
jamais poderão ser medidos ou padronizados e são desenvolvidos em uma combinação entre
fatores biológicos, culturais, sociais e tecnológicos, ao longo de toda a vida de cada pessoa.
São inúmeras as possíveis contribuições de uma teoria como a das inteligências múltiplas para
prática escolar. Da organização do trabalho do professor à reflexão aceita do planejamento
curricular, ou o papel da comunidade na escola, muitas coisas podem ser revistas, confirmadas
ou modificadas. No entanto, antes de analisar os reflexos dessa teoria na prática escolar é
preciso pensar a respeito dos conceitos anteriores de inteligência e de sua utilização na
educação.
Segundo MORAN, et al. (2000, p. 95): Os processos pedagógicos que levam em consideração os
oito diferentes tipos de inteligências possibilitarão ao indivíduo uma visão interdisciplinar, que
favorece a formação do homem sensível, responsável, competente, crítico, transformador,
solidário, que luta pelos processos de justiça, de paz, de honestidade, de igualdade, de
amorosidade.
A crença de que a inteligência era apenas hereditária, algo único e passível de meditação,
exerceu grande influencia nas questões de ensino escolar, especialmente após a fase da
apologia dos testes, em diferentes partes do mundo.
"Fica sublinhado, desse modo, que Gardner assume, como ponto de partida, a existência, no
sistema neurológico, de mecanismos de processamento da informação adequados ao
tratamento de tipos específicos de informação que o indivíduo encontra em seu meio, mas o
faz ficando bastante preso ao modelo informático - computacional."
Muitos dos estudos da inteligência desenvolvidos pelos pesquisadores se valiam de testes que,
aplicados em grande escala no sistema educacional, serviam de base para classificar os alunos.
Os indivíduos que não obtinham boas avaliações nos testes escolares eram classificados como
atrasados, fracos, lentos ou pouco inteligentes.
56
Os melhores alunos, aqueles com quociente de inteligência (QI) mais alto, estariam
predestinados a ter sucesso na vida, seguir as melhores carreiras profissionais e ir para as
melhores universidades. Essa perspectiva se baseava na existência de um conjunto básico de
competências e em uma gama determinada de conhecimentos que, supostamente, todos os
indivíduos de nossa sociedade deveriam dominar.
De acordo com essa concepção, alguns indivíduos eram mais capazes que outros, sendo
previsível que dominassem mais rapidamente os conhecimentos transmitidos pela escola.
As escolas deveriam ser organizadas de maneira a garantir aos mais talentosos a possibilidade
de chegar ao topo e, ao mesmo tempo, permitir que o maior número possível de alunos
atingisse o conhecimento básico, da maneira mais eficiente possível.
Segundo FIALHO (2001), "uma vez disparada por um momento apropriado, uma emoção
aciona uma cascata de sub-objetivos que chamamos de pensar e agir."
A possibilidade de mudar esse quadro depende de um trabalho árduo por parte de todos os
envolvidos no processo educacional – do governo aos cidadãos, passando pelos professores e
pesquisadores. Todos têm um papel relevante nesse movimento de mudança.
Um dos principais requisitos para que uma ruptura real aconteça consiste em repensar a
concepção de inteligência que permeia as ações docentes.
Uma escola que leve em consideração a teoria de GARDNER(1995) deve ter como
propósito desenvolver as inteligências e auxiliar as pessoas a atingir harmonia em seu
espectro de competências.
Para GARDNER (1995), o propósito da escola deveria ser educar para a compreensão e para
ajudar os alunos a encontrar seu próprio equilíbrio. Ao receber essa ajuda, a pessoa se sente
mais engajada e competente, e portanto mais inclinada a servir à sociedade de maneira
construtiva.
Há muitas vantagens em adotar o referencial das inteligências múltiplas como uma das bases
teóricas do trabalho na escola. Talvez a primeira delas seja partir do princípio de que nem
todas as pessoas têm os mesmos interesses e habilidades, nem todas aprendem da mesma
maneira.
Essa perspectiva nos permite olhar para os alunos de modo mais amplo e descobrir que eles
podem ser “inteligentes” não apenas em línguas e matemática, mas também no modo de
movimentar seu corpo seguindo uma música, no modo de produzir uma escultura, ou na
maneira de se relacionar com os outros.
Segundo GARDNER (1995), a escola precisa superar o pensamento ‘estilo QI’, e não mais
enfatizar os testes padronizados, a procura de um indivíduo médio e de leis gerais
de aprendizagem.
Nesse sentido, seria papel da escola buscar uma educação centrada no indivíduo – mas não
individualista, que levasse a sério as inclinações, os interesses e os objetivos de cada aluno.
Em relação a essa nova escola, a teoria das inteligências múltiplas aponta ainda a necessidade
de que a educação busque:
• Encorajar as crianças a utilizar esse conhecimento para fazer tarefas com as quais se
deparam dentro e fora da escola;
• Criar um ambiente para que os alunos se sintam livres para explorar novos estímulos e
situações desconhecidas;
Por fim, com essa teoria surge também a possibilidade de olhar o aluno por inteiro, não apenas
como uma cabeça que se desenvolve lingüística e matematicamente. Quando existe um padrão
único e preestabelecido de competência, é inevitável que muitos alunos acabem se sentindo
incompetentes, especialmente porque esse padrão costuma super-valorizar os aspectos
lingüísticos e lógico – matemático.
Não se trata de olhar o aluno de modo relativista, nem conformista, ou ainda de maneira
paternalista, mas de assumir as diferenças e buscar trabalhar com elas, fazendo com que a
inteligência, uma vez democratizada, seja usada a favor do aluno, e não contra ele.
Enquanto isso, pode-se aceitar que o vínculo afetivo é o ponto central através do qual gira a
vida de uma pessoa, não só enquanto criança, mas também durante toda a vida do ser
humano. É deste vínculo que é retirado o prazer da vida e toda a sua força e prazer a outras
59
pessoas, auxiliando, assim, os que enfrentam dificuldades nas diversas áreas do conhecimento
e impedindo que outras pessoas venham a enfrentá-las.
A maneira como a criança aprendeu por um processo de construção influenciado tanto pelo
equipamento individual como pelas relações afetivas e o meio ambiente, ou seja, a maneira
como ela representa internamente tanto a si mesmo como aos outros e aos vínculos existentes
em sua vida, vai determinar em grande parte suas possibilidades de vincular-se e de
desenvolver-se plenamente ao longo de sua história.
Para tanto, é necessário tornar conscientes conteúdos, atitudes, comportamentos que estão
inconscientes, pois existem desejos, necessidades e falta de afeto que podem ser resolvidos.
No caso de VYGOTSKY (1991), os aspectos mais difundidos e explorados de sua abordagem são
aqueles referentes ao funcionamento cognitivo: a centralidade dos processos psicológicos
superiores no funcionamento típico da espécie humana; o papel dos instrumentos e símbolos,
culturalmente desenvolvidos e internalizados pelo indivíduo, no processo de mediação entre
sujeito e objeto de conhecimento; as relações entre pensamento e linguagem; a importância
dos processos de ensino – aprendizagem na promoção do desenvolvimento; a questão dos
processos metacognitivos. Em termos contemporâneos, Vygotsky poderia ser considerado um
cognitivista, na medida em que se preocupou com a investigação dos processos internos
relacionados à aquisição, organização e uso do conhecimento e, especificamente, com sua
dimensão simbólica.
a si próprios’, dissociado da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses pessoais, das
inclinações e dos impulsos daquele que pensa.
Além dos pressupostos mais gerais de sua teoria mencionados, várias são as “portas de
entrada”, em sua obra, que permitem uma aproximação com a dimensão afetiva do
funcionamento psicológico. Em primeiro lugar escreveu diversos textos sobre questões
diretamente ligadas a essa dimensão ( emoção, vontade, imaginação criatividade), a maior
parte deles não traduzidos do russo e muitos não publicados nem mesmo na União Soviética .
Dentre as grandes contribuições teóricas deste século para a especial, a obra dos cientista
russo Levy Vygostsky apresenta-se em destaque. Apesar de ter vivido apenas 37 anos, ele nos
deixou trabalhos extremamente significativos e contemporâneos.
A partir do trabalho com formação de professores de crianças com os mais diversos tipos de
deficiências, Vygotsky interessou-se pela pessoa com anormalidades físicas e mentais. Dedicou
vários anos de sua pesquisa a esse estudo não só com o objetivo de ajudar na reabilitação das
crianças deficientes, como também de melhor compreender o desenvolvimento dos processos
mentais do ser humano.
Na educação especial, grandes contribuições podem ser observadas no conjunto da sua obra,
onde um dos conceitos que se pode destacar é o da zona de desenvolvimento proximal . A
partir deste conceito percebe-se as possibilidades de desenvolvimento das crianças com
necessidades especiais na escola regular e observa-se que tanto o meio social e cultural, como
o professor e demais alunos das escolas poderão funcionar como mediadores entre a criança e
os objetos culturais, ajudando na formação da funções psicológicas superiores.
Para VYGOTSKY (1991, p.237) essas formações psicológicas são produto da influência social
sobre o ser humano, são a representação e o fruto do ambiente cultural externo na vida do
organismo. Toda pessoa tem essas formas, mas dependendo da história de cada pessoa e da
plasticidade variável de suas capacidades constitucionais originais, elas são ricamente
desenvolvidas em uma pessoa, e, em outra, encontra-se em embrião.
Para Vygotsky o meio é fator determinante para a construção das estruturas mentais onde
cada indivíduo aparece como ativo participante de sua própria existência, construída na inter-
relação com outros sociais. Dentro de cada estágio do seu desenvolvimento a criança
desenvolve a capacidade com a qual ela pode, competentemente, afetar o seu meio e a si
mesma (VYGOTSKY, apud Vasconcelos & Valsiner, 1995, p.46). Essa capacidade vai acontecendo
ao longo do desenvolvimento, onde o indivíduo internaliza as formas culturalmente dadas de
comportamento, num processo em que atividades externas, funções interpessoais,
transformam-se em atividades internas, intrapsicológicas (OLIVEIRA, 1992, p.27).
Nesse sentido podemos dizer que todas as funções psíquicas são de natureza e origem e
social, onde o indivíduo, sozinho, não dispõe de estruturas internas capazes de promover um
desenvolvimento pleno. Isso significa que, de um lado o meio sociocultural é condição
necessária para a constituição do psiquismo humano e, de outro, que essa constituição não é
da origem biológica, mas sim, de origem cultural. Sendo assim, entendemos que o
conhecimento se dá no movimento dialético entre os atores sociais, onde estar junto, em
relações mecânicas não é o suficiente para que ele ocorra, mas sim nas experiências de trocas,
no confronto das idéias, na cooperação, no movimento de dar e receber. Esses pressupostos
reforçam nossa crença na inclusão do aluno portador de necessidades especiais na sala de aula
regular, partindo do princípio de que a heterogeneidade favorecerá o desenvolvimento desses
alunos, podendo ser um fator imprescindível para as interações na sala de aula. Os diferentes
ritmos, comportamentos experiências, trajetórias pessoais, contextos familiares, valores e
níveis de conhecimentos e cada criança (e do professor) imprimem ao cotidiano escolar a
possibilidade de troca de repertórios, de visão de mundo, confrontos, ajuda mútua e
consequente ampliação das capacidades individuais. (REGO, 1997. p. 110).
De acordo com essa idéia, a inclusão poderá ser um caminho com maiores possibilidades de
ganhos na aprendizagem e desenvolvimento do aluno com necessidades especiais. Quanto
menos restrito, mais aberto o plural for o meio em que o indivíduo se desenvolve, melhor será
para a produção de educação e cultura. A diversidade proporcionará benefícios através de
situações de interação distintas, proporcionadas pelo convívio com os mais diversos níveis
intelectuais, além de ritmos e idades diferentes, o que certamente levará a um maior
enriquecimento do universo particular de cada um.
Nos seus estudos sobre as deficiências, VYGOTSKY (1991) discordava da educação entre iguais,
da educação voltada para a homogeneidade, criticava as formas de avaliação e classificação
das crianças para em seguida inseri-las em grupos uniformes, defendia também que o trabalho
educativo a partir de grupos de diferentes níveis de funcionamento proporciona a criança a
transformação de sua capacidades. Nesse sentido, é pertinente a afirmação de BROWN (1989,
p. 25), quando diz que as escolas especiais proporcionam as crianças deficientes um ambiente
demasiado restrito, que resulta empobrecer e contraproducente do ponto de vista educativo,
de altos em função da sua eficácia e ideologicamente inadequado por favorecer a segregação e
a discriminação.
a aprendizagem é um papel da instituição escolar, que é o lugar, por excelência, onde deve
ocorrer a socialização do saber sistematizado universalmente. Para que esse saber ocorra de
forma competente, é necessário a intervenção deliberada do professor, através do uso de
estratégias pedagógicas especiais que proporcionem a interação dos alunos com seus colegas e
com ele próprio.
Essa afirmação reforça a tese de que o ingresso de uma criança com necessidades especiais na
sala de aula regular, aumentará sobremaneira suas possibilidades de conhecimento. Nesse
sentido pode-se afirmar que a escola regular é, potencialmente, um espaço que permite muito
mais a vivência de experiências significativas e diversificadas do que instituições educacionais
que primam pela homogeneidade. É necessário que os educadores que fazem a educação
especial bem como os profissionais de educação de modo geral acreditem na importância
dessa teoria e a partir dessa crença busquem estratégias e instrumentos para que a escola
possa se preparar para trabalhar com todos os alunos.
Para VYGOTSKY (1991), zona de desenvolvimento proximal é “(...) a distância entre o nível de
desenvolvimento real que se costuma determinar pela capacidade de solucionar
independentemente um problema e o nível de desenvolvimento potencial, determinado
através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com
companheiros mais capazes”
Na psicogenética de Henri Wallon, a dimensão afetiva ocupa lugar central, tanto do ponto de
vista da construção da pessoa quanto do conhecimento. Ambos se iniciam num período que
ele denomina impulsivo - emocional e se estende ao longo do primeiro ano da vida. Neste
momento a afetividade reduz-se praticamente às manifestações fisiológicas da emoção, que
constitui, portanto, o ponto de partida do psiquismo.
A afetividade, nesta perspectiva, não é apenas uma das dimensões da pessoa: ela é também
uma fase do desenvolvimento, a mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida
puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade diferenciou-se, lentamente, a vida racional.
Portanto, no início da vida, afetividade e inteligência estão sincreticamente misturadas, com o
predomínio da primeira.
A partir daí, a história da construção da pessoa será constituída por uma sucessão pendular de
momentos dominantemente afetivos ou dominantemente cognitivos, não paralelos, mas
integrados. Cada novo momento terá incorporado as aquisições feitas no nível anterior, ou
seja, na outra dimensão. Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas
realizadas no plano da inteligência, e vice-versa.
depois escrita. A possibilidade de nutrição afetiva por estas vias passa a se acrescentar às
anteriores, que se reduziam à comunicação tônica: o toque e a entonação da voz. Instala-se o
que se poderia denominar de forma cognitiva de vinculação afetiva. Pensar nesta direção leva a
admitir que o ajuste fino da demanda às competências, em educação, pode ser pensado como
uma forma muito requintada de comunicação afetiva.
Em seu último grande momento de construção, a puberdade, retorna para o primeiro plano
um tipo de afetividade que incorporou a função categorial (quando esta se construiu,
evidentemente). Nasce então aquele tipo de conduta que coloca exigências racionais às
relações afetivas: exigências de respeito recíproco, justiça, igualdade de direitos etc. Não
atendê-las tende a ser percebido como desamor; o que ocorre freqüentemente entre
adolescentes e seus pais, quando estes persistem em alimentá-los com um tipo de
manifestação que não corresponde mais às expectativas da sua nova organização afetiva.
Tudo o que foi afirmado a respeito da integração entre inteligências e afetividade pode ser
transposto para aquela que se realiza entre o objeto e o sujeito. Deve-se então concluir que a
construção do sujeito e a do objeto alimentam-se mutuamente, e mesmo afirmar que a
elaboração do conhecimento depende da construção do sujeito nos quadros do
desenvolvimento humano concreto.
Nesta vinculação está uma das mais belas intuições da teoria walloniana: a de que a
sofisticação dos recursos intelectuais é utilizável na elaboração de personalidades ricas e
originais. Neste sentido, a construção do objeto está a serviço da construção do sujeito: quem
fala é nitidamente o psicólogo, e não o epistemólogo. O produto último da elaboração de uma
inteligência, concreta, pessoal, corporificada em alguém, é uma pessoa. A construção da
pessoa é uma auto construção.
Este longo caminho leva de uma forma de sociabilidade a outra. Nunca o ser “geneticamente
social” a que se refere Wallon (apud TAILLE, 1992), poderia passar por uma fase pré-social. O
vínculo afetivo supre a insuficiência da inteligência no início. Quando ainda não é possível a
ação cooperativa que vem da articulação de pontos de vista bem diferenciados, o contágio
afetivo cria os elos necessários à ação coletiva. Com o passar do tempo, a esta forma primitiva
se acrescenta a outra, mas, em todos os momentos da história da espécie, como da história
individual, o ser humano dispõe de recursos para associar-se aos seus semelhantes.
A idéia da construção da unicidade é luminosa; ela tem uma dimensão trágica, entretanto, no
seu destino de obra muito frágil e sempre inacabada. A apreensão de si mesmo parece tão
fugaz quanto uma bolha de sabão, ameaçada pelas simbioses afetivas, pelos estados pessoais
de emoção ou mesmo de mero cansaço.
Alguns dos aspectos desta interpretação da pessoa parecem aplicar-se aos versos do poeta:
Texto VI:
João Beauclair
RESUMO:
66
Concordam comigo que este é um belo texto? Quanta possibilidade de reflexão pode
ser criada com esta história. Uma dessas possibilidades reside no pensar nossa
própria condição: somos humanos porque somos seres históricos e temos um
passado evolutivo com o qual constituímos a VIDA, tecida fio a fio por outros e outras
que nos antecederam. E, claro, por todos nós que, na continuidade desta trajetória,
estamos imersos neste tempoespaço de nossa contemporaneidade.
O resgate da amorosidade, tarefa essencial a todos nós, torna-se profundamente
necessário. Ficamos, a cada dia, mais distantes dos bons sentimentos, das genuínas
emoções e, principalmente de nossa capacidade de conviver em harmonia num
mundo repleto de diferenças. Faz-se necessário emergimos para um novo tempo e
reconstruirmos caminhos para que o conhecimento acumulado por nossa trajetória
humana nos conduza para a tomada de decisões vinculadas à aprendizagem, a
administração dos conflitos e, inevitavelmente, aos processos do autoconhecimento,
da auto-aceitação e da autoconsciência.
Aprimorar-se enquanto sujeitos humanos e históricos é questão de evolução de cada
um de nós e para tanto, é imprescindível iniciar (ou reiniciarmos), enquanto
profissionais de educação e saúde que somos, processos de formação pessoal,
conforme recomendado no Código de Ética da ABPp.
Tais processos de formação pessoal perpassam pelo conjunto de valores e pela visão
de mundo de cada um de nós: somos um emaranhado imenso de influências
resultantes de nossas relações sociais. Fruto do convívio social, cada um de nós
carrega, em nossa personalidade, diferentes influências das quais nem sempre
possuímos clareza e consciência. Repetimos padrões de conduta e comportamento
sem questionarmos suas origens e os motivos pelos quais o fazemos.
O que merece destaque aqui é que cada um de nós possui modos muito particulares
para lidar com os conflitos que vivenciamos em nossa cotidianidade, elaborando
estratégias próprias para compreender nossas angústias, ansiedades e frustrações.
Como nos diz o poeta Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que
é”. Esta constatação me leva a afirmar que, neste movimento, a singularidade de cada
sujeito se expressa de modo muito particular, pois existem as escolhas pessoais, as
experiências do vivido e, principalmente, a própria história de cada um, construída no
percurso da existência e no itinerário de nossas buscas para aprender a viver e a
sobreviver.
Também é importante o reencontro com nossas experiências e conceitualizações,
objetivando a re-significar o vivido, ampliando perspectivas, vislumbrando outras
possibilidades e, principalmente, propondo-se aos processos de construção de autoria
de pensamento.
68
Neste trabalho discuto que precisamos, todos, redimensionar nossas ações e práticas
cotidianas, com o expresso desejo de nos colocarmos em postura amorosa com o
mundo, conosco mesmo e com os outros.
Um texto, de autoria por mim desconhecida, encaminha este pensar:
Cabe-nos pensar, recorrendo mais uma vez a autora citada anteriormente, apesar de
longa a citação, que em
“nosso dia a dia, desde que nascemos até o momento final, temos ao nosso redor,
interagindo e participando intimamente em praticamente todas as situações da vida,
desde a mais próxima e concreta até às mais distantes, pessoas essencialmente
iguais a nós e ao mesmo tempo diferentes, únicas existindo em si próprias, ao mesmo
tempo em que existem conosco e juntos formamos configurações globais, maiores e
mais complexas do que cada um de nós é, ou poderia ser. Essa é, em essência, a
dimensão social da personalidade humana. Isso quer dizer que cada pessoa que
71
existe, ao construir sua maneira própria, individual e única de ser, desenvolve através
da vivência comum com outras pessoas uma conceituação do” outro “, englobando e
integrando todas as percepções diferenciadas em relação às outras pessoas em uma
configuração coerente e que faz sentido para ela. Essa organização de percepções
compõe uma parte de sua própria personalidade, também única, individual e
congruente com a configuração maior, interna, de cada um, a qual, por sua vez,
influencia o comportamento e a maneira própria de ser e interagir com esses mesmos
outros.”
Em tal dimensão estamos imersos. O resgate de valores e direitos humanos é
essencial à práxis psicopedagógica. Cabe estarmos atentos e atuando no sentido de
poder, de certa forma, contribuir para o debate acerca da inserção da Psicopedagogia
no que concerne a amorosidade, compreendida como uma potencialidade humana de
sermos solidários uns com os outros. É um processo de decisão, que perpassa nossas
próprias vidas e que alimenta de horizontes nossa caminhada. É um processo de
escolha e “escolher é apropriar-se do desejar a partir de um trabalho de pensamento”.
Com o sentido de contribuir, deixo-lhes um belo trecho de José Saramago, citado por
Alícia, que instiga nosso desejo de ir além:
“... A aldraba de bronze tornou a chamar a mulher da limpeza, mas a mulher da
limpeza não está, deu a volta e saiu com o balde e a vassoura por outra porta, a das
decisões, que é raro ser usada, mas quando o é, é...”
Façamos, então, como a mulher: tomemos a decisão de fazer do amor meta maior de
nossas ações.
Referências e citações:
Dedico este artigo às alunas, e aluno, concluintes do curso de Especialização em
Psicopedagogia da UNIFOR – Centro Universitário de Formiga, Minas Gerais, onde
lecionei Fundamentos da Psicopedagogia e Psicopedagogia e Ética, nos meses de
novembro e dezembro de 2004. Pela acolhida, amorosidade e respeito, este trabalho
é dedicado, também, a Professora Mestre Dagmar Damasceno, Pró-Reitora de Apoio
Acadêmico, Extensão, Pesquisa e Pós-graduação desta instituição e suas auxiliares,
Celina e Rosamaria.
Desconheço o autor.
Citado em: FAGUNDES, Márcia Botelho. Aprendendo valores éticos. Editora Autêntica,
Belo Horizonte, 2001.
Conferir na página da ABPp.: www.abpp.com.br
BEAUCLAIR, João. Autoria de pensamento, aprendências e ensinagens: novos
modelos e desafios na produção de conhecimento em Psicopedagogia. Artigo
publicado na página da Associação Brasileira de Psicopedagogia: www.abpp.com.br
72
Texto VII
Resumo:
73
I- Introdução:
"A mansidão, a afabilidade
e a doçura conquistam o mundo."
Pedro Poveda
Mansidão, afabilidade e doçura. Três palavras, três focos para o meu pensar enquanto
ser que apreende e aprende no cotidiano repleto de conexões entre o meu "eu" e os
outros "eus". O texto de Pedro Poveda, que serve de epigrafe a esta introdução, me
chegou num momento de minha história como aprendenteensinante onde minhas
74
ações práticas estavam (e continuam a estar) cada vez mais voltadas para a busca,
incessante, por pensamentos, metáforas e referenciais que as subsidiem.
Colocar em prática o ser manso, dócil e afável num mundo cada vez mais
competitivo, globalizado e individualista quase chega a ser um disparate, pois este não
tem sido o principal motor do cotidiano das instituições e empresas, apesar de todas
as discussões onde se apresentam mudanças de paradigmas. Observo que mesmo
com todo o discurso posto em evidência em muitas reuniões, encontros, congressos,
treinamentos, capacitações, etc, o que predomina, infelizmente, é o agir e o pensar
individual, pouco participativo e sem a solidariedade necessária.
Entretanto, o que movimenta cada um de nós é o estar além desta
constatação. É cada vez mais exigido o desenvolver de outros olhares, competências
e habilidades no trato com o/a outro/a: a cada instante é preciso estar atento aos
nossos padrões de atitudes e comportamentos e, além disso, percebermos com mais
consciência e criticidade nossas ações enquanto seres de relação.
A necessidade de mudanças fundamentais e de uma nova visão de futuro para
nossas vidas cotidianas é desafio premente, num mundo cada vez mais
interdependente e, inacreditavelmente, imprevisível.
A restauração de valores, a ampliação dos espaçostempos de leitura e
ensinagem, o conhecimento e as habilidades no estarjuntocom é uma preocupação de
muitos/as que se interessam no desenvolvimento de um outro tempo, de um outro
mundo possível, mais justo, solidário e fraterno.
Estar neste movimento me remete ao pensar complexo, ao estar percebendo
que organismo, emoções, vida, imaginação e sonhos interagem em nossa psique e
fomentam não só os nossos processos de confiar no mundo do século XXI , como
também as nossas capacidades para lidar, de modo operativo e construtivo, com os
seus desafios.
A partir de uma proposta de trabalho, busco aqui refletir sobre o aprendizado
para este nosso século XXI, posicionando-me em relação às exigências de aquisição
cada vez maior de uma ampla área de conhecimentos e de uma gama imensa de
competências e habilidades que, relacionadas intimamente com um elaborado
conjunto de posicionamentos e posturas, ainda estão distantes de fazer parte
efetivamente do cotidiano das instituições.
É preciso resignificar nossas práticas, ampliar nossas visões de seres
humanos e mundo, revermos conceitos e estabelecermos outros modelos de
apreensão da própria vida. Óbvio que as idéias aqui tecidas não esgotam em hipótese
alguma o tema, mas o que proponho é que ilustremos a amplitude do nosso
aprenderensinar no educar na esperança em tempos de desencanto.
Ao acreditar numa abordagem mais holística e sistêmica, nenhuma idéia aqui
apresentada deve ser observada com excludente, exclusiva ou definitiva,
principalmente por saber que nossa capacidade de estabelecer inter-relacionamentos
e interdependências entre elas é infinita, ilimitada.
Numa perspectiva voltada para uma educação global, é fundamental vincular
visões alternativas, direitos e valores humanos, responsabilidades, meio ambiente, paz
e conflito, desenvolvimento sistêmico, relações intra e inter pessoais e cognição.
É o que pretendo estabelecer a seguir: um rol de idéias que, elaborados a
partir de diferentes palavras, - realidade, poder, vontade e desejo- possa despertar
para que mansidão, afabilidade e doçura nas relações humanas sejam resgatadas a
partir de nossas múltiplas vivências nos espaços institucionais. A escolha das palavras
em tela não foi aleatória, e muito menos a seqüência em que aparecem no construir
deste texto. É interessante ainda citar que foi a partir do trabalho de GONÇALVES e
PERPÉTUO (2001) que me dei conta da potencialidade presente em cada uma delas.
Fica aqui expresso o meu convite ao pensar reflexivo sobre o que elaboro a
seguir.
Conhecer a realidade, por si só, não nos impele nem nos possibilita irmos além:
é preciso, a partir da leitura que elaborarmos, considerar a complexidade presente nas
diversificadas interpretações que dela (e nela) podem surgir.
76
"ter segurança dos princípios que se tem e pelos quais se deseja lutar, ou seja,
as posições individuais são a base estrutural para que a análise da realidade e as
inter-relações com as verdades dos outros devem ser percebidas como crescimento e
exercício democrático e não como anulação do próprio conhecimento. "
"ter a faculdade de; ter possibilidade de; estar arriscado ou exposto a; arriscar-
se, expor-se. Ter ocasião, oportunidade, meio de; conseguir; ter força para."
"é escolher o melhor caminho para mudar com eficácia o futuro. Por isso é tão
importante definir bem o objetivo, pois 'para quem não sabe para onde vai, qualquer
caminho serve'.(L.Roccio). A partir daí é preciso definir o poder de realização. Algumas
perguntas podem auxiliar nesta etapa do processo: Com quem poderemos contar?
Quantos somos de fato? Quais recursos teremos? Quais são os nossos limites? Que
problemas podemos prever?"
Claro que existem outros aspectos desta definição, mas selecionei apenas
alguns deles. Podemos observar que há neste substantivo uma enorme potencialidade
de conexão com outras idéias. Aspirar, ansiar, desejar atingir o que nos propomos,
movimentar-se com o intuito de tornar real aquilo que escolhemos, que decidimos
alcançar.
Pensar em vontade leva-me a pensar na importância de estarmos conscientes
da universalidade de nossos comportamentos, dos nossos talentos, das nossas
aspirações; pensar em vontade desvela-me a importância do compartilhar: só
poderemos algo se estivermos com os/as outros/as.
Numa proposição de pensarmos em resolução de conflitos, como é
significativa esta palavra: é e sempre será necessário um movimento de deslocar-se,
de desterritorializar-se, ou seja, num embate, sempre é necessário à configuração de
um espaço de negociação, de redefinição, de aproximação dos desejos envolvidos no
entrelaçamento de cada subjetividade.
Para compreender, é preciso ter esta vontade: aprender a mudar de opinião,
aceitar as idéias dos/as outros/as, possibilitar a si mesmo rever conceitos, resignificar
modelos já cristalizados, encontrar uma outra possibilidade de intervenção com o real.
Somente assim, poderemos entender que "toda realidade é 'dinâmica', está sempre
em 'gênese'. Contemplar o mundo como um 'filho gerado sem cessar', ou seja,
considerar os entes na claridade da bondade que os faz ser..."
Tudo isso remete nosso olhar para o desejo, palavra que expressa nossa
recusa de aceitar a realidade na qual estamos, irremediavelmente, inseridos.
demais aguçar nossos desejos de construção de uma outra realidade. Tal construção
só é possível no convívio fraternal, no estarjuntocom , no agir coletivo, no planejar de
modo participativo a prática e vivência do cotidiano.
Neste sentido, tornar-se manso, afável, dócil é desafio perene, possibilidade
realizadora de outras relações. Claro que isso não significa a ausência de conflitos,
mas possibilita vivenciá-los de modo mais operante, mais significativo e menos
cristalizado. Os conflitos existem para resignificar pensamentos e ações. Os conflitos
existem para apreendermos o real e transformá-lo, os conflitos existem para que
todos/as cresçam e evoluam no que diz respeito a si mesmo e aos outros/as.
É preciso captar a realidade, desenvolver nossas potencialidades de
empoderamento, dinamizar nossa vontade, aguçar nosso desejo, pois é pelo desejo
que
"no finito. Tudo o que tocamos é limitado. Mas nosso o nosso desejo é infinito, é
ilimitado. Então, para sermos fiéis aos apelos de nossa interioridade, é preciso manter
essa abertura infinita."
Estar em paz é uma das mais antigas aspirações humanas, pois desde o começo da
nossa história, de nossa trajetória humana, paz era a denominação dada aos
períodos, geralmente breves, que transcorrem entre duas guerras.
Por paz podemos compreender a relação mútua e a situação de quem não
está em guerra. Poe podemos saber que é a quietude dos Estados e a tranqüilidade
pública, oposto à guerra. Por paz, compreendemos como reconciliação, volta à
amizade e à concórdia.
Em português, paz provém do latim 'pax, pacis'. Paz, em todas as línguas
românicas, é vocábulo comum: em francês, 'paix'; em italiano, 'pace'; em espanhol,
'paz' e em outras línguas, como o inglês 'peace'.
A palavra paz também aparece na origem de 'pacto', que provém do latim
'pactum', e que nessa língua era o particípio passado de 'pascisci' (firmar a paz). Em
latim, 'pactare' significava também pagar tributos, obrigação comum aos vencidos
com o final de uma determinada guerra.
Se desejarmos viver em paz, caminhar em busca de resolução de conflitos é
compreendê-los como uma possibilidade de criação de ambiente de comunicação, de
solidariedade e, principalmente de cooperação. Reconhecer os conflitos que surgem
em suas causas, é buscar saber onde, quando e como se pode propor uma solução
possível; é fundamental, neste movimento, estabelecer normas de reflexão e diálogo
sobre a situação.
É preciso também estar atento/a aos processos de geração de possibilidades
diferenciadas de resolução de conflitos, refletindo sobre as conseqüências das ações
propostas. É mister aproveitar o surgimento de conflitos nos espaçostempos onde
temos algum tipo de inserção, para que possam servir como vivência de formação
para todos/as.
Acredito também ser importante estabelecermos parâmetros para uma análise
crítica do que está intrínseco nas diversas mensagens dos meios de comunicação
sobre o como são demonstradas e apresentadas as mais diversas situações de
conflito. Ao pensarmos em processo de reflexão e formação sobre as respostas
possíveis aos conflitos, acredito também que a cultura de paz e não-violência, a
educação em direitos e valores humanos pode contribuir para a configuração de
estratégias para enfrentá-los nos diferentes espaçostempos onde vivenciamos nossa
trajetória humana.
Pequeno glossário (ou uma tentativa de explicar melhor o jogo, o interjogo das
palavras):
Antes de começar a escrever este pequeno glossário, devo demonstrar aqui minha
busca, vital no meu processo criador, de maneiras novas de fazer, pensar, agir. E o
interessante neste movimento, é que encontro, neste pesquisar constante, nesta
paixão contínua pela leitura, referenciais que fortalecem este meu mover no mundo.
Vejam que interessante esta escritura/fala de Nilda Alves, professora adjunta da UERJ:
"compreendendo que são necessárias novas maneiras para expressar novos modos
de pensar e fazer, com o objetivo de superar a maneira dicotomizada da modernidade,
tenho buscado modos de escrever que, pelo menos, mostrem esta necessidade."
A-
Aprendenteensinante :
82
C-
Competências:
"são modalidades estruturais da inteligência, onde podemos ser aptos, capazes,
adequados e próprios em nossas latentes capacidades de apreciar, avaliar e julgar
determinadas situações e problemas e, por conta disso, sermos capazes de elaborar
propostas de alternativas possíveis para compreender a busca de resoluções."
Estarjuntocom
Um outro jogo semântico que surge aqui: quando penso em estar junto com penso
assim: estar junto mesmo, ligado sem espaços de separação, conexo. A experiência
de viver em coletividade, apesar da complexidade presente em nosso tempo e espaço
social, deve ser re-valorizada, para que possamos, vencer o medo, nutrir a esperança
e construir a paz.
Experenciarmos:
Amarmos as nossas experiências de vida, experimentar com amor, afeto, docilidade e
ternura o estarjuntocom . Experienciar: estar ciente da unicidade de nosso ser ao agir,
pensar sobre a vida e suas complexidades, irmos da imanência à transcendência,
encontrarmos significado e sentido ao nosso ser e estar , ao nosso serestar no
mundo.
F
Fraternura:
A primeira vez que ouvi esta palavra foi da boca/alma de Leonardo Boff, em uma
experiência mística belíssima. Este grande teólogo falava sobre São Francisco de
Assis para mim, e para uma multidão, numa Conferência no Fórum Social Mundial de
Porto Alegre, em janeiro de 2003. Para além da simples junção das palavras
fraternidade e ternura, fraternura remete nosso pensar e sentir para a criação de uma
outra forma de vermos e vivermos em comunhão com os/as outros/as. Remete ao
pensar sobre as enormes possibilidades de criarmos um mundo novo, a partir do
nosso cotidiano.
S:
Serestar:
Interessante o jogo possível que podemos fazer com as palavras, no intuito de criar
um significado/sentido novo para cada uma delas. Serestar, SER E ESTAR. SER-
ESTAR. Uma junção que poderia originar ser-e-estar, estar-e-ser, mas por uma força
qualquer, ganhou a grafia serestar, que nos remete a seresta, música, alegria,
plenitude, beleza e dança. Para ser é precisa estar: atento a plenitude da vida, aberto
ao novo (que sempre chega), curioso com as possibilidades inerentes aos humanos
encontros possíveis.