JAMESON Sobre Os Estudos de Cultura PDF
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Fredric Jameson
Tradução do inglês: John Manuel Monteiro e
Otacílio Nunes
RESUMO
Fredric Jameson resenha a coletânea Cultural Studies, que reproduz os textos apresentados
em uma conferência sobre o tema realizada em Urbana-Champaign no primeiro semestre de
1990. Embora os Estudos de Cultura possam ser vistos como uma planta arquitetônica para
uma nova disciplina acadêmica, Fredric Jameson prefere abordá-los em termos políticos e
sociais, enquanto um projeto para constituir um "bloco histórico" no sentido gramsciano —
uma aliança projetada entre vários grupos sociais —, constituindo-se, assim, numa espécie de
substituto do marxismo.
Palavras-chave: Estudos de Cultura; marxismo; intelectual orgânico; novos movimentos
sociais; utopia.
SUMMARY
Fredric Jameson reviews the collection Cultural Studies, which reprints the papers delivered
at a conference on the subject held in Urbana-Champaign in Spring 1990. In the author's view,
although Cultural Studies may be seen as a floor plan for a new discipline, it is best
approached as a project to constitute a "historic bloc" in the Gramscian sense — a projected
alliance between various social groups —, standing, consequently, as a substitute for marxism.
Keywords: Cultural Studies; marxism; organic intellectual; new social movements; Utopia.
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20). Entretanto, ela não diz a qual disciplina tal problema de pesquisa
deveria pertencer.
Steedman também nomeia, sugestivamente, Burckhardt como pre-
cursor da nova disciplina (ninguém mais o faz); ela também se comprome-
te ligeiramente com o Novo Historicismo, cuja ausência dessas páginas é,
quanto ao mais, realmente muito significativa (com exceção de um
momento em que Peter Stallybrass nega ter qualquer parentesco com o
movimento rival). Pois o Novo Historicismo é certamente competição
básica e, em qualquer visão histórica, um sintoma da mesma natureza dos
Estudos de Cultura em sua tentativa de engalfinhar-se analiticamente com
a nova textualidade do mundo (bem como em sua vocação para ocupar
o lugar de sucessor do marxismo de maneira discreta e respeitável). Pode-
se, é claro, argumentar que os Estudos de Cultura estão ocupados demais
com o presente e que não se pode esperar que eles façam tudo e se
ocupem de tudo; e eu suponho que há aqui vestígios da oposição mais
tradicional entre as preocupações contemporâneas dos estudantes de
cultura de massa ou cultura popular e a perspectiva tendenciosamente
passadista da crítica literária (mesmo quando os trabalhos canonizados são
"modernos" e relativamente recentes no tempo). Mas os textos mais
substanciais dessa coletânea — além do ensaio de Catherine Hall, eles
incluem o estudo de Lata Mani da imolação de viúvas, o ensaio de Janice
Radaway sobre o Clube do Livro-do-Mês, a investigação de Peter Stally-
brass sobre o surgimento de Shakespeare enquanto auteur, e a avaliação
de Anna Szemere da retórica do levante húngaro de 1956 — são todos
históricos no sentido arquivístico, e tendem a sobressair como polegares
inchados. Eles deveriam ser convidados bem-vindos, então por que todos
se sentem incomodados?
A sociologia é outra disciplina aliada, tão próxima que a tradução
entre ela e os Estudos de Cultura parece na melhor das hipóteses difícil,
quando não completamente impossível (como Kafka observou uma vez
sobre o parentesco análogo do alemão com o ídiche). Mas Raymond
Williams não sugeriu em 1981 que "o que se chama agora frequentemente
'estudos de cultura' [é melhor compreendido] como um modo distintivo de
entrada em questões sociológicas gerais do que [...] uma área reservada ou
especializada" (citado na p. 223)? Contudo, esse relacionamento transdis-
ciplinar parece apresentar analogias com aquele que se dá com a história:
trabalho "baseado no texto" aqui, "pesquisa" profissional ou profissionali-
zada lá. A queixa de Simon Frith é suficientemente emblemática para
merecer uma citação na íntegra:
importante é que ele enfoca uma área e um tema que têm sido
sistematicamente (e notavelmente) negligenciados pelos estudos de
cultura: a racionalidade da própria produção cultural, o lugar e o
pensamento dos produtores culturais. Mas o que me interessa aqui (e
esta é a razão pela qual este texto será a partir de agora uma narrativa
completamente diferente) é outra coisa: comparada com o escrito pop
instantâneo, imaginativo, impressionista, improvável de um acadê-
mico de estudos de cultura como, digamos, Iain Chambers, a teimosa
atenção etnográfica ao detalhe e à acurácia é, como Dick Hebdgie
observou uma vez sobre minha abordagem sociológica em contraste
com a de Chambers, um pouco chata. (p. 178)
Janet Wolff sugere razões mais fundamentais para essa tensão: "O
problema é que a sociologia convencional, confiantemente indiferente
quando não hostil a novidades em teoria, é incapaz de reconhecer o papel
constitutivo da cultura e das representações nas relações sociais" (p. 710).
No entanto, ocorre que o sentimento é mútuo: "A teoria pós-estruturalista e
a teoria do discurso, ao demonstrar a natureza discursiva do social,
funcionam como licença para negar o social" (p. 711). Com muita proprie-
dade, ela recomenda uma coordenação de ambas ("uma abordagem que
integre a análise textual com a investigação sociológica de instituições de
produção cultural e daqueles processos e relações sociais e políticos nos
quais esta se dá" (p. 713)); mas isso não afasta o desconforto ainda sentido
na presença da besta, não mais do que a sugestão de Cornel West de que
a principal vantagem dos Estudos de Cultura é aquela velha coisa familiar
chamada "interdisciplinar" ("os estudos de cultura se tornam uma das
rubricas usadas para justificar o que eu penso ser um desenvolvimento
altamente salutar, isto é, estudos interdisciplinares em faculdades e univer-
sidades" (p. 698). Esse termo abrange várias gerações de programas de
reforma acadêmica, cuja história precisa ser escrita e então reinscrita nele
com um certo cuidado (praticamente por definição ela é sempre um
fracasso): mas o que se sente é que o esforço "interdisciplinar" continua a
ocorrer porque todas as disciplinas reprimem características cruciais mas em
cada caso diferentes do objeto de estudo que elas deveriam compartilhar.
Os Estudos de Cultura, mais do que a maioria desses programas de reforma,
pareciam prometer nomear o objeto ausente, e não parece correto recorrer
à imprecisão tática da fórmula antiga.
Talvez, na verdade, comunicação seja o nome necessário: só os
programas de Comunicações são tão recentes para coincidir em muitos
sentidos (incluindo o pessoal) com o novo empreendimento, restando
apenas a tecnologia das comunicações como uma marca ou característica
distintiva da separação disciplinar (quase como corpo e alma, ou escrita e
espírito, máquina e espectro). É só quando uma perspectiva específica
unifica os vários itens do estudo das comunicações enquanto um campo que
uma luz começa a brilhar, nos Estudos de Cultura bem como em suas
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Por outro lado, não está claro qual o tipo de relação com os
emergentes Estudos de Cultura que está sendo proposto aqui. A lógica da
fantasia coletiva ou de grupo é sempre alegórica2. Esta pode envolver um (2) Como no "casamento infe-
liz do marxismo com o femi-
tipo de aliança, como quando os sindicatos de trabalhadores propõem nismo": ver o recente Around
1981: Academic feminist lite-
trabalhar junto com este ou aquele movimento negro; ou pode estar mais rary theory, de Jane Gallop
próxima de um tratado internacional de algum tipo, como a NATO ou a (Nova York: Routledge, 1992)
para uma exploração mais ela-
nova zona de livre comércio. Mas presumivelmente a "teoria da comuni- borada dos modelos alegóri-
cos através dos quais um femi-
cação canadense" não está disposta a submergir completamente sua nismo emergente buscou con-
tar para si mesmo a história
identidade no mais amplo movimento anglo-americano; também eviden- dessa emergência.
temente, ela não pode universalizar completamente seu próprio programa,
e pedir um endosso em branco do "centro" ao que é necessariamente uma
perspectiva situada e "dependente" ou "semiperiférica". Eu suponho que
o que surge aqui é então o sentido de que em um certo ponto a análise
em questão pode ser transcodificada ou mesmo traduzida: que em certas
situações estratégicas uma dada análise pode ser lida, ou como um
exemplo da perspectiva dos Estudos de Cultura, ou como uma exemplifi-
cação de tudo o que é distintivo a respeito da teoria da comunicação
canadense. As duas perspectivas compartilham assim um objeto comum
(em uma conjuntura específica) sem perder sua própria diferença ou
originalidade específica (como nomear ou descrever melhor essa sobrepo-
sição constituiria então um novo tipo de problema produzido especifica-
mente pela "teoria dos Estudos de Cultura").
Nada dramatiza melhor essa sobreposição de perspectivas disciplina-
res do que os vários ícones brandidos ao longo dessas páginas: o nome do
falecido Raymond Williams, por exemplo, é usado em vão por praticamen-
te todos e invocado para fins de apoio moral a um sem-número de
pecados (ou virtudes)3. Mas o texto que repetidamente volta à tona como (3) Deve-se mencionar tam-
bém Subculture, de Dick He-
um fetiche é um livro cujas múltiplas estruturas genéricas ilustram o bdgie, que inventou, mais do
problema que vimos discutindo aqui. Refiro-me ao estudo da cultura que qualquer outra obra, o esti-
lo e a postura adotados repeti-
jovem inglesa por Paul Willis (a propósito, ausente dessa conferência) damente nessa conferência.
intitulado Learning to labor (1977). Essa obra pode ser pensada como um
trabalho clássico em uma nova sociologia da cultura; ou como um texto
precursor da escola de Birmingham "original" (e abaixo desta); ou ainda,
de novo, como um tipo de etnologia, algo que agora ilumina como um
eixo indo do terreno tradicional da antropologia até o novo território
reivindicado pelos Estudos de Cultura.
Aqui, todavia, o que enriquece a "problemática" interdisciplinar é o
sentido inescapável (também pode se dar o mesmo para as outras discipli-
nas, mas isso pode ser igualmente investigado) de que, se os Estudos de
Cultura são um paradigma emergente, a própria antropologia, longe de ser
um paradigma comparativamente "tradicional", está também em completa
metamorfose e em transformação metodológica e textual convulsiva (como
a presença do nome de James Clifford no lista dos membros dos Estudos de
Cultura sugere aqui). "Antropologia" significa agora um novo tipo de
etnologia, uma nova antropologia textual ou interpretativa, a qual —
apresentando uma semelhança familiar distante com o Novo Historicismo
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Talvez a sugestão daquilo que a teoria deveria ser ("não temos, por
enquanto, uma teoria") dê uma ajuda e um conforto exagerados àqueles que
são alérgicos à "grande teorização", se pensarmos que o conceito de
articulação tal como desenvolvido aqui já constitui precisamente uma teoria.
Ele implica uma espécie de estrutura rotativa, uma troca de íons entre várias
entidades, na qual as pistas ideológicas associadas a uma delas atravessam
e se misturam com a outra — mas apenas provisoriamente, num "momento
historicamente específico", antes de entrar em novas combinações, sendo
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sentido, não é algo que nós mesmos possuímos, uma vez que aquilo que
fazemos nos parece natural e não precisa da motivação e racionalização
desta entidade estranha internalizada; e, de fato, o antropólogo Rodney
Needham mostrou que a maioria das "culturas" não possui o equivalente
do nosso conceito, ou pseudoconceito, de crença (o que é denunciado
como algo que os tradutores projetam ilicitamente nas línguas não impe-
riais e não cosmopolitas).
Ainda assim, acontece que "nós" também falamos frequentemente da
"nossa própria" cultura, religião, crenças, entre outras coisas. Agora é
possível identificá-las como a recuperação da visão que o Outro tem de nós;
daquela miragem objetiva através da qual o Outro formou um retrato de nós
como "possuindo" uma cultura: dependendo do poder do Outro, essa
imagem alienada demanda uma resposta, que pode ser tão inconsequente
como a negação através da qual os americanos descartam os estereótipos do
"americano feio" que eles encontram no exterior ou tão extremada como os
vários renascimentos étnicos por meio dos quais, como no nacionalismo
hindu, um povo reconstrói esses estereótipos e os afirma em uma nova
política cultural-nacionalista: algo que nunca é o "retorno" a uma realidade
autêntica mais antiga mas sempre uma nova construção (a partir do que tem
a aparência de materiais antigos).
Assim, a cultura deve ser sempre vista como um veículo ou um meio
através do qual se dá o relacionamento entre grupos. Embora nem sempre
ela seja vigilantemente desmascarada como uma idéia do Outro (mesmo
quando eu a reassumo para mim), ela perpetua as ilusões óticas e o falso
objetivismo desse relacionamento histórico complexo (consequentemente,
as objeções que foram feitas a pseudoconceitos como "sociedade" são
ainda mais válidas para este, cuja origem na luta de grupo é possível
decifrar). No entanto, insistir nesse programa de tradução (o imperativo de
remontar conceitos de cultura a formas de relacionamento entre grupos
coletivos) oferece um modo mais satisfatório de cumprir os objetivos das
várias formas de um princípio de Heisenberg sociológico do que a atual
recomendação individualista de reconhecer no lugar do observador. Na
verdade, o outro do antropólogo, o observador individual, substitui todo
um grupo social, e é nesse sentido que seu conhecimento é uma forma de
poder, onde "conhecimento" designa algo individual, e "poder" tenta
caracterizar esse modo de relacionamento entre grupos para o qual nosso
vocabulário é tão pobre.
Pois o relacionamento entre grupos é, digamos assim, não natural: ele
é o contato externo casual entre entidades que têm apenas uma superfície
interior (como uma mônada) e nenhuma superfície exterior ou externa,
salvo nessa circunstância especial em que é precisamente a extremidade
externa do grupo que — permanecendo o tempo todo irrepresentável —
roça a do outro. Falando sem rodeios, então, teríamos de dizer que o
relacionamento entre grupos deve sempre ser de luta ou violência: pois a
única maneira positiva ou tolerante de eles coexistirem é separarem-se um
do outro e redescobrirem seu isolamento e sua solidão. Cada grupo é assim
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Mas Kipnis vai ainda mais longe do que isso (e do que o próprio
Bourdieu) no modo pelo qual, como é apropriado ao lidar com uma
consciência de classe que é por definição um relacionamento e uma forma
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sintoma cultural que por si só demanda uma análise textual). Assim, não
é de surpreender que um tipo de quadro feudal da dominação e insubor-
dinação pessoal seja às vezes transposto para o universo corporativo sem
face; mas nesse caso trata-se de um texto a ser analisado, mais do que um
código interpretativo ainda útil na decifração de outros textos sociais
contemporâneos (formas de brutalidade pessoal ou simbólica, contudo,
tendendo provavelmente a refletir uma ausência de poder no sentido
social, mais do que sua demonstração).
Mas, por meio desse anacronismo, toda uma teoria política e ideo-
logia liberal flui então nos Estudos de Cultura (e em outras disciplinas);
pois a retórica do "poder" carrega muito mais em sua bagagem — um
repúdio da análise econômica, por exemplo, um tipo de postura anarquis-
ta sincera sobre a própria coisa, o casamento profano entre o heroísmo da
dissidência e o "realismo" de "falar para as instituições". A problemática do
poder, como é sistematicamente reintroduzida por Weber e muito depois
por Foucault, é um movimento antimarxista, destinado a substituir a
análise em termos do modo de produção. Isso abre novos campos e gera
um novo material rico e fascinante; mas os usuários deveriam estar
conscientes de suas consequências ideológicas secundárias; e os intelec-
tuais deveriam acima de tudo precaver-se contra as intoxicações narcisís-
ticas de sua invocação automática.
O imperativo geopolítico
Essa troca me faz perceber que não fui suficientemente explícito sobre
por que o "eurocentrismo" deveria me preocupar em um nível rudi-
mentar numa conferência como esta. É mais uma inquietação que eu
tenho do que uma posição que possa expor, e talvez ela tenha apareci-
do mais no discurso do que no texto de meu paper. Estou intranquilo
acerca do mapa dos estudos de cultura que está sendo construído nesta
conferência, sobre o que não está nesse mapa, mais do que sobre o que
está. Falamos sobre relações locais e globais em um mundo onde
Japão, Coréia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Singapura ou Indonésia
simplesmente não existem, certamente não como forças em estruturas
emergentes de poder mundial. Na única vez que ouvi alguém mencio-
nar a bacia do Pacífico, isso transformou-se numa maneira de falar
sobre relações entre a América do Norte, a Central, e a do Sul — outra
maneira de ficar no continente americano, não uma maneira de
cruzar o oceano. Não estou fazendo uma petição de inclusividade,
trata-se apenas de que certas estruturas globalizantes têm potencial,
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Conclusões e utopia
É hora de resumir as lições desse livro (as lições que eu aprendi com
esse livro): a melhor maneira de fazê-lo é em termos de tarefas futuras, de
uma agenda, embora não necessariamente uma agenda para os "Estudos de
Cultura" no sentido institucionalizado mais restrito ou quem sabe disciplinar
que também vimos emergir dessa coletânea. Essa agenda incluiria grupos,
articulação e espaço; também abriria espaço para uma nova entrada (por
enquanto quase toda em branco) para "mercadorização" [commodification]
e consumo. O fenômeno da luta de grupo — em bell hooks e em Mercer,
por exemplo — nos lembra que, não menos do que para classe, é possível
sempre esperar que os textos culturais, quando decodificados apropriada-
mente, constituam tantas mensagens nesse processo simbólico, e se situem
como tantos movimentos estratégicos ou táticos distintos no que é uma
enorme agonia. Está portanto claro que a hermenêutica apropriada para
classe social também precisa ser aplicada aqui, em uma situação na qual
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