Daniela Jacobucci
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Introduçao
Museus e centros de ciências tiveram histórias até certo ponto distintas
quanto à sua instalação e difusão no Brasil. Enquanto os primeiros museus
de ciências surgiram pela necessidade de abrigar coleções biológicas como
obras de referência para pesquisas e para expor as riquezas do país, os
primeiros centros de ciências surgiram pela necessidade de se buscar
melhorar o ensino de ciências no Brasil através de programas oficiais do
Governo Federal na década de 1960 (Gouveia, 1992; Maurício, 1992;
Gaspar, 1993; Fracalanza, 1993; Fahl, 2003). Atualmente, as
nomenclaturas “museu” ou “centro” de ciências são utilizadas sem
referência ao histórico de constituição desses espaços e, nesse trabalho,
não faremos distinção entre essas denominações, de acordo com o que tem
sido convencionado pela Associação Brasileira de Centros e Museus de
Ciências – ABCMC (BRITO et al., 2005).
Apesar de não haver um levantamento do número de professores que
visitam os núcleos de divulgação científica do Brasil, é de domínio comum
que eles freqüentam esses espaços, seja de forma independente ou com
grupos de alunos. No entanto, poucas pesquisas têm sido realizadas para
investigar o que esses professores buscam nos centros e museus de
ciências e como esses espaços contribuem para sua formação profissional. A
literatura na área de formação de professores em espaços não-formais de
educação ainda é muito escassa no país, com relatos isolados de atividades
em um ou outro centro ou museu de ciências.
Por outro lado, no campo da formação de professores em geral, há uma
vasta literatura que nos permite identificar modelos de formação já
bastante consolidados e praticados ao longo de décadas no Brasil. As
políticas para a formação do professor sofreram influência direta de diversas
concepções teórico-metodológicas oriundas de discussões e práticas
acadêmicas e sindicais ao longo da história, o que refletiu e vem refletindo
na elaboração de propostas que integram diferentes modelos de formação.
Ao visitar diferentes períodos da história da educação brasileira e
observando opiniões de vários autores (Candau, 1982; Damis, 2003;
Pereira, 2000, Palma Filho e Alves, 2003), é possível detectar que se
configuram três grandes concepções de formação de professores: a)
positivista – com alusão ao paradigma da racionalidade técnica; b)
interpretativa – com referência à epistemologia da prática; e c) crítico-
dialética – baseada na perspectiva sócio-histórica. Com base nessas
concepções, propusemos três modelos de formação de professores:
clássico, prático-reflexivo e emancipatório-político.
Os modelos que contextualizaremos a seguir se constituem recortes
dentre várias opções de modelos formativos que podem ser vislumbrados
no campo da formação de professores no Brasil. Cabe destacar que os
modelos de formação de professores sofrem influência das concepções que
os formadores de professores e os próprios professores possuem sobre
ensino.
Em Candau (1997), encontramos a caracterização de um dos modelos de
formação bastante presentes no Brasil desde os anos 1960, pelo menos, até
os dias atuais. Trata-se do modelo clássico, no qual se dá ênfase à
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Região Sul
Região Sudeste
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Região Nordeste
Região Norte
Sala de Ciências
A Sala de Ciências situa-se em Florianópolis, Estado de Santa Catarina,
foi inaugurada em 1999, e é mantida integralmente pelo Serviço Social do
Comércio (SESC). Fica localizada no prédio do SESC e possui
aproximadamente 40 m2, com uma ala para preparação de experimentos e
outra para atendimento ao público escolar.
O programa de formação de professores consiste em Oficinas Temáticas,
nas quais são trabalhados conteúdos de química e física, com sugestão de
material didático e bibliografia para o desenvolvimento do tema em sala de
aula. Toda a estrutura do programa é idealizada pela equipe técnica do
centro e visa a instrumentalização dos professores nos temas abordados. A
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Casa da Ciência
A Casa da Ciência situa-se na cidade do Rio de Janeiro, sendo um Centro
Cultural de Ciências e Tecnologia fundado em 1995 e vinculado à
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ocupa uma casa de
construção antiga, que abriga uma área de exposição interna, um pátio e o
setor administrativo.
O programa de formação desenvolvido denomina-se Oficinas Temáticas,
as quais são oferecidas aos professores durante o período de realização de
uma dada exposição. Toda a estrutura do programa é idealizada pela equipe
técnica, as atividades são propostas no formato de palestras seguidas de
aulas com experimentos simples de ciências, com metodologia de ensino
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Museu da Vida
O Museu da Vida foi criado em 1998, situa-se no Rio de Janeiro e é
vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ). O museu é composto por
cinco espaços interligados, sendo que uma das exposições ocupa o castelo
da FIOCRUZ, prédio com características arquitetônicas únicas, inaugurado
em 1918 e tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Ali desenvolve-se o programa de formação Encontro de Professores,
dividido em Encontro I e Encontro II. O Encontro I é destinado aos
professores que desejam realizar uma visita orientada com os alunos, e
consta de uma rápida apresentação dos espaços e formas de atendimento
oferecidas pelo museu. No Encontro II são realizadas oficinas temáticas
para que o professor tenha contato com os conteúdos abordados em um
espaço temático específico do museu. Não há participação dos professores
na estruturação da atividade, nem mesmo discussão sobre a prática
pedagógica dos professores ou sobre os problemas relacionados ao ensino
de ciências. As oficinas são de curta duração, não sendo possível um
trabalho mais aprofundado com os professores.
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Estação Ciência
O Centro de Difusão Científica, Tecnológica e Cultural Estação Ciência foi
inaugurado em 1987 pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e, a partir de 1990, tem sido administrado pela Pró-
Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo
(USP). A Estação Ciência é aberta à visitação pública em um prédio de
4.600 m2, construído na década de 1930, na cidade de São Paulo.
Nesse espaço foi observado o Programa ABC na Educação Científica -
Mão na Massa. Utiliza metodologia francesa, com módulos de atividades
traduzidos e adaptados à realidade brasileira, voltado aos alunos de
educação infantil e séries iniciais da educação básica. É baseado em
atividades de experimentação simples e no método científico para testar as
hipóteses levantadas pelos alunos. Toda a estrutura do programa é
idealizada pela equipe técnica, todavia, há espaço para que os professores
colaborem na modificação do material de apoio e kit didático dos módulos.
Os professores realizam todas as ações propostas pelo projeto da mesma
maneira sugerida aos alunos. Há grande ênfase para os conteúdos que são
abordados nos módulos e discussão sobre a metodologia do projeto; a
reflexão sobre a prática pedagógica é estimulada durante os encontros nas
escolas. As ações desenvolvidas visam a modificação da prática pedagógica,
no entanto não há aprofundamento sobre os referenciais teóricos e
embasamento pedagógico do projeto.
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Usina Ciência
A Usina Ciência, localizada em Maceió, Estado de Alagoas, foi criada em
1991 pela Pró-Reitoria de Extensão Universitária da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL). Está aberto à visitação pública em um prédio de
aproximadamente 1100 m2 de construção, com sala de exposição, mostra
de equipamentos científicos ao ar livre, auditório e biblioteca.
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Espaço Ciência
O Espaço Ciência é um museu interativo de ciências lançado como um
programa da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente de
Pernambuco em 1994. Atualmente ocupa uma área de 120 mil m2 no
Complexo de Salgadinho, entre as cidades de Olinda e Recife, no Estado de
Pernambuco. O local abriga um manguezal, um espaço de exposição a céu
aberto e a sede, com laboratórios didáticos e setor administrativo.
O principal programa de formação de professores do Espaço Ciência é
denominado Centros de Referência em Ciências e envolve a criação de
laboratórios de ciências em escolas públicas de Pernambuco, equipados com
kits de experimentos. Foi realizado um curso para os professores sobre
temas de ciências, discussão sobre os problemas do ensino, elaboração de
material didático de apoio aos laboratórios e avaliação do programa. Os
professores se organizam em um grupo para a elaboração de experimentos
e de material didático e, a partir de discussões, há modificações no
planejamento do curso. Assim, são incentivados a discutir a própria prática
pedagógica e a refletir sobre os problemas enfrentados no cotidiano escolar,
muito embora tais reflexões não sejam orientadas por estudos de
fundamentação teórica.
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Considerações finais
O oferecimento de programas tão diferenciados, que vão desde o
envolvimento superficial com os professores em atividades desenvolvidas
no modelo clássico de formação, até a constituição de grupos de discussão,
suscita um questionamento sobre quais motivos levam esses núcleos de
divulgação científica a propor atividades de formação de professores. A
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Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação – Universidade Estadual
de Campinas.
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