Educação Linguistica1 PDF
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Resumo
O trabalho escolar com a disciplina Língua Portuguesa
precisa se desvincular do tratamento inadequado, segundo
o qual só é recomendável o uso consagrado dos chamados
“bons escritores”. Esse tratamento elege a língua escrita
como único modelo recomendável, além de não reconhecer
as inúmeras realizações contemporâneas do português
brasileiro, procurando neutralizar a variação e controlar
a mudança, processo cujo resultado se denomina norma-
padrão ou língua-padrão. (FARACO, 2008). Para fazer face
a essa equivocada tradição escolar no trabalho com a língua
materna, os estudos contemporâneos propõem um trabalho
de educação linguística. Nesse caso, o ponto de partida
é o reconhecimento da heterogeneidade linguística como
princípio básico para levar os alunos ao desenvolvimento
de competências de sua língua. A análise contrastiva de
estruturas distintas dos diferentes dialetos presentes no
contínuo rural-urbano (BORTONI-RICARDO, 2004)
tem sido uma técnica produtiva para alunos falantes
dos dialetos desprestigiados, para torná-los bidialetais.
Também os contínuos de monitoração estilística e o de
oralidade-letramento oferecem recursos importantes na
educação linguística de alunos falantes de dialetos urbanos
prestigiados, mas que precisam ampliar competências no
domínio das variedades prestigiadas.
Palavras chave: Dialeto padrão. Variedade culta. Educação
linguística.
Abstract
It is necessary to change the idea that the appropriate
treatment for school work in Portuguese Language classes
1
Profesora PPGE / UFJF. email: lucia.cyranka@ujf.edu.br
2
Professora do Colégio Cristo Redentor. malu@acessa.com
Lucia F. Mendonça
Cyranka
is only through the established use of those considered
Maria Luiza Scafutto “good writers”. Besides choosing the written language as
the only accepted model, this treatment does not recognize
the great number of achievements of contemporary
Brazilian Portuguese, since it tries to erradicate variation
and control change, process which result is called “standard
language” (FARACO, 2008). In order to overcome
this wrong school tradition in the work with students’
mother language, contemporary scholars have proposed
a linguistic educational work. he basis of this work is
the ackowledgement of linguistic heterogeneity as a basic
principle to make students develop proiciency in their own
language. Constrastive analysis of diferent structures found
in diferent dialects along the rural-urban continuum
(BORTONI-RICARDO, 2004) has proved to be a
productive technique to make students who speak non-
standard dialects become bidialectic. Stylistic monitoring
and orality-literacy continua also ofer important tools in
the linguistic education of students who speak standard
urban dialects, but who need to widen their competences
in prestigious varieties.
Key-words: standard dialect, pretigious variety, linguistic
education
1 INTRODUÇÃO
3 A SOCIOLINGUÍSTICA NA EDUCAÇÃO
6
Participaram dessa pesquisa os seguintes alunos de Letras da Faculdade de
Educação da UFJF, bolsistas de iniciação cientíica, aos quais agradecemos: Lívia Educ. foco,
Juiz de Fora,
Nascimento Arcanjo, Marcus Vitor Dias Leoni, Marianna do Vale Modesto v. 16, n. 1, p. 41-64,
Paixão, Simone Rodrigues Peron e Patrícia Rafaela Otoni Ribeiro. 51 mar. / ago. 2011
Lucia F. Mendonça
Cyranka
“P: - Quem sabe me dar um exemplo de um jeito de
Maria Luiza Scafutto falar de pessoas da zona rural?
L: - Abre a po[R]tera, muié, prus gado passá.
P: - Ótimo esse exemplo do Lucas. Agora, me digam
por que a gente sabe que esse jeito de falar é da roça?
L: - Eles fala por[R]tera.
F: - E fala [muié].
P: - E aqui na cidade, como é que a gente fala essa
palavra?
L: - A gente fala [mulher].
P:- Ah! mu[lh]er], eles falam mu[ié]. Muito bem. Vocês
se lembram de outras? Por exemplo, como na roça as
pessoas falam a palavra [galho]?
G: - É ga[i]o, fessora.
P: - E [telha]?
F: -É te[i]a
P: - Então como é que eles falam o lh?
L: - Eles num fala.”
Educ. foco,
Juiz de Fora,
v. 16, n. 1, p. 41-64,
mar. / ago. 2011
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Educação linguística:
Expressões e recursos de Número de Sujeitos da Número de para além da “língua
polidez ocorrências pesquisa ocorrências padrão”
E OS DEMAIS ALUNOS?
E, em seguida, propõe:
autênticos observadores dos usos da língua. Tais usos podem 59 v. 16, n. 1, p. 41-64,
mar. / ago. 2011
Lucia F. Mendonça
Cyranka ser comparados com aqueles propostos pelos manuais de
Maria Luiza Scafutto
gramática e, assim, pratica-se a observação, a análise, e o
confronto entre as regras idealizadas e os usos efetivos. Essa
prática ajuda o aluno a perceber a língua como algo vivo, em
constante mudança e cada pessoa como participante desse
movimento.
Também os textos produzidos pelos alunos devem ser
objeto de observação e análise, numa comparação respeitosa
dos recursos usados com outras possibilidades disponíveis,
questionando-se a adequação à situação de produção, a eicácia
comunicativa, as alterações semânticas decorrentes desta ou
daquela escolha, enim, tornando o aluno mais consciente do
seu papel de autor.
Mattos e Silva (2004, p.114-115) aponta o caminho:
a) Sujeitos pospostos:
Pois está a disposição as novas coisas e várias ideias.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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Paulo: Parábola, 2003.
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Juiz de Fora,
v. 16, n. 1, p. 41-64,
63 mar. / ago. 2011
Lucia F. Mendonça
Cyranka
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Maria Luiza Scafutto alguns nós. In: BAGNO, M. (Org.). Linguística da norma. São
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Educ. foco,
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v. 16, n. 1, p. 41-64,
mar. / ago. 2011
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